Fábulas Selecionadas de La Fontaine - Jean de La Fontaine

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FÁBULAS SELECIONADAS

La Fontaine
TRADUÇÃO LEONARDO FRÓES
POSFÁCIO ORIGINAL DO AUTOR
Sumário

O Alforje
La Besace [livro I, fábula VII]

As orelhas do Coelho
Les Oreilles du Lièvre [livro V, fábula IV]

O Rato e o Elefante
Le Rat et L’Éléphant [livro VIII, fábula XV]

O Leão apaixonado
Le Lion amoureux [livro IV, fábula I]

O combate entre os Ratos e as Doninhas


Le Combat des Rats et des Belettes [livro IV, fábula VI]

O parto da montanha
La Montagne qui accouche[livro V, fábula X]

A Panela de barro e a Panela de ferro


Le Pot de terre et le Pot de fer [livro V, fábula II]

O Burro e o Cachorrinho
L’Âne et le Petit Chien [livro IV, fábula V]

A Galinha dos ovos de ouro


La Poule aux œufs d’or[livro V, fábula XII]

O Cervo e a Videira
Le Cerf et la Vigne [livro V, fábula XV]

O Camelo e os troncos boiando


Le Chameau et les Bâtons flottants [livro IV, fábula X]

O Peixinho e o Pescador
Le Petit Poisson et le Pêcheur [livro V, fábula III]
O Gaio enfeitado com as plumas do Pavão
Le Geai paré des plumes du Paon [livro IV, fábula IX]

A Águia e a Coruja[livro V, fábula XVIII]


L’Aigle et le Hibou

O Homem e o Ídolo de madeira


L’Homme et l’Idole de bois [livro IV, fábula VIII]

O Burro que carregava relíquias


L’Âne portant des reliques [livro V, fábula XIV]

O Velho e seus Filhos


Le Vieillard et ses Enfants [livro IV, fábula XVIII]

A Raposa e o Busto
Le Renard et le Buste [livro IV, fábula XIV]

O Avarento que perdeu seu tesouro


L’Avare qui a perdu son trésor [livro IV, fábula XX]

Os Médicos
Les Médecins [livro V, fábula XII]

A Rã e o Rato
La Grenouille et le Rat[livro IV, fábula XI]

O Lavrador e seus Filhos


Le Laboureur et ses Enfants [livro V, fábula IX]

O Macaco e o Golfinho
Le Singe et le Dauphin [livro IV, fábula VII]

O Pastor e o Mar
Le Berger et La Mer [livro IV, fábula II]

O Burro e o Cão
L’Âne et le Chien [livro VIII, fábula XVII]

O Sátiro e o Passante
Le Satyre et le Passant [livro V, fábula VII]

A Educação
L’Éducation [livro VIII, fábula XXIV]

O Louco que vendia sabedoria


Le Fou qui vend la sagesse [livro IX, fábula VIII]

O Gato e o Rato
Le Chat et le Rat [livro VIII, fábula XXII]

O Cavalo que quis se vingar do Cervo


Le Cheval s’étant voulu venger du Cerf [livro IV, fábula XIII]

As Mulheres e o Segredo
Les Femmes et le Secret [livro VIII, fábula VI]

A Cobra e a Lima
Le Serpent et la Lime [livro V, fábula XVI]

O Coelho e a Perdiz
Le Lièvre et la Perdrix [livro V, fábula XVII]

O Cavalo e o Lobo
Le Cheval et le Loup [livro V, fábula VIII]

O Urso e os dois Parceiros


L’Ours et les Deux Compagnons [livro V, fábula XX]

O Homem e a Pulga
L’Homme et la Puce [livro VIII, fábula V]

Posfácio por Jean de La Fontaine

Sobre o autor
Sobre o tradutor

Créditos
Redes Sociais
Colofão
O Alforje

Júpiter disse um dia: “Que todos os viventes


Perante o meu poder venham se apresentar.
Os que estiverem com seu corpo descontentes,
Podem sem medo reclamar,
Que o mal que houver eu logo ataco.
Em primeiro, não sem razão, fale o Macaco.
Você, ao comparar-se aos outros animais,
Tendo a beleza por viés,
Satisfeito está?”. “Sim”, diz ele, “e até demais.
Não tenho eu, como os restantes, quatro pés?
Meu retrato até aqui não me desabonou;
Já o do amigo Urso apenas se esboçou:
Não se fará pintar jamais, se ele me ouvir.”
Pensou-se que o Urso fosse uma queixa exprimir.
Que nada! Ele só quis sua forma enaltecer,
Menosprezando a do Elefante, que a seu ver
Devia ter mais rabo e orelhas bem menores
Que as de tal massa informe e de beleza isenta.
O Elefante, que nisso atenta
E sensato era, falou como os anteriores.
Julgou que gorda era a Baleia,
Sempre de apetite tão cheia.
Dama Formiga esnobou os Pulgões minúsculos,
Crendo-se um colosso de músculos.
Júpiter, que os censura em mudez, dispensa a todos
Os contentes de si, onde os mais loucos modos
De nossa espécie são. Pois se o Lince bancamos
Perante iguais, Toupeiras somos nos engodos,
Quando a nós tudo e aos outros nada perdoamos:
Ninguém se lança o mesmo olhar que ao semelhante.
O soberano Fabricante
Nos dotou de Alforjes feitos do mesmo jeito,
Quer sejamos de hoje, quer dos tempos de outrora.
Fez o bolso de trás só para os nossos defeitos
E o da frente deixou para os dos outros, fora.
La Besace

Jupiter dit un jour : Que tout ce qui respire


S’en vienne comparaitre aux pieds de ma grandeur.
Si dans son composé quelqu’un trouve à redire,
Il peut le déclarer sans peur :
Je mettrai remède à la chose.
Venez, Singe ; parlez le premier, et pour cause.
Voyez ces animaux, faites comparasion
De leurs beautés avec les votres :
Etes-vous satisfait ? Moi ? Dit-il, pourquoi non ?
N’ai-je pas quatre pieds aussi bien que les autres ?
Mon portrait jusqu’ici ne m’a rien reproché ;
Mais pour mon frère I’Ours, on ne l’a qu’ébauché :
Jamais, s’il me veut croire, il ne se fera peindre.
L’Ours venant là-dessus, on crut qu’il s’allait plaindre.
Tant s’en faut ; de sa forme il se loua très fort ;
Glosa sur I’Éléphant, dit qu’on pourrait encor
Ajouter à sa queue, ôter à ses oreilles ;
Que c’était une masse informe et sans beauté.
L’Éléphant étant écouté,
Tout sage qu’il était, dit des choses pareilles :
Il jugea qu’à son appétit
Dame Baleine était trop grosse.
Dame Fourmi trouva le Ciron trop petit,
Se croyant, pour elle, un colosse.
Jupin les renvoya s’étant censurés tous,
Du reste, contents d’eux ; mais parmi les plus fous
Notre espèce excella ; car tout ce que nous sommes,
Lynx envers nos pareils, et taupes envers nous,
Nous nous pardonnons tout, et rien aux autres hommes :
On se voit d’un autre œil qu’on ne voit son prochain.
Le Fabricateur souverain
Nous créa Besaciers tous de même manière,
Tant ceux du temps passé que du temps d’aujourd’hui :
Il fit pour nos défauts la poche de derrière
Et celle de devant pour les défauts d’autrui.
As orelhas do Coelho

Um animal qualquer feriu com umas chifradas


O Leão que, odiando as espetadas,
Para não sofrer mais suplícios
Baniu de lá dos seus domínios
Todos os animais com chifres na cabeça.
Cabras, Carneiros, Touros logo se arrancaram,
Gamos e Cervos para outros climas mudaram;
E cada qual foi com mais pressa.
Um Coelho, vendo a sombra de suas orelhas,
Temeu que algum Inquisidor,
Ao notá-las tão longas, pudesse supor
Que as orelhas eram chifres, de tão parelhas.
E disse ao Grilo: “Adeus, vizinho, eu parto além,
Minhas orelhas aqui seriam chifres também.
Se até mais curtas que um Avestruz as tivesse,
Mais medo ainda eu teria”. E o Grilo rebateu:
“Chifres, isso? Bobo não sou, esquece,
São orelhas que Deus te deu”.
“Porém por chifres passarão”,
Diz o amedrontado, “e por chifres de Unicórnio.
Eu negarei em vão; minha fala e razão
Acabarão no manicômio.”
Les Oreilles du Lièvre

Un animal cornu blessa de quelques coups


Le Lion, qui plein de courroux,
Pour ne plus tomber en la peine,
Bannit des lieux de son domaine
Toute bête portant des cornes à son front.
Chèvres, Béliers, Taureaux aussitôt délogèrent,
Daims, et Cerfs de climat changèrent ;
Chacun à s’en aller fut prompt.
Un Lièvre, apercevant l’ombre de ses oreilles,
Craignit que quelque Inquisiteur
N’allât interpréter à cornes leur longueur,
Ne les soutînt en tout à des cornes pareilles.
Adieu voisin Grillon, dit-il, je pars d’ici.
Mes oreilles enfin seraient cornes aussi ;
Et quand je les aurais plus courtes qu’une Autruche,
Je craindrais même encor. Le Grillon repartit :
Cornes cela ? Vous me prenez pour cruche ;
Ce sont oreilles que Dieu fit.
On les fera passer pour cornes,
Dit l’animal craintif, et cornes de Licornes.
J’aurai beau protester ; mon dire et mes raisons
Iront aux Petites-Maisons.
O Rato e o Elefante

Se crer celebridade é bem comum na França.


Quem de importante lá se lança
Não passa às vezes de um burguês:
É exatamente o mal francês.
A tola vaidade nos é particular.
Se os espanhóis a têm, diverso é o demonstrar.
Seu orgulho me soa, enfim,
Tão tolo não, mais doido sim.
Veja-se uma imagem do nosso,
Que vale, é certo, outro colosso.
Um Ratinho de nada, ao ver um Elefante
Enorme, zombou do lento andar vacilante
Do animal de alta linhagem
Em tão completa aparelhagem.
Sobre o dorso, em tripla montagem,
Uma Sultana de prestígio,
Com seu Cão, seu Gato, seu Símio,
Todo seu séquito, com a ama e um Papagaio,
Ia, peregrina, em viagem.
Estranhou o Rato que os passantes
Se entusiasmassem vendo a imponente massa:
“Como se ocupar mais ou menos lugar faça
De nós pessoas mais ou menos importantes.
Que tanto admiram nele?”, diz nessa hora.
“Será o peso do corpo, que assusta infantes?
Nunca achamos que nós, tão pequenos embora,
Valemos menos que Elefantes.”
Mais teria dito o frajola;
Mas o Gato sai da gaiola
E a ele mostra num instante
Que um Rato não é um Elefante.
Le Rat et L’Éléphant

Se croire un personnage est fort commun en France.


On y fait l’homme d’importance,
Et l’on n’est souvent qu’un bourgeois :
C’est proprement le mal françois.
La sotte vanité nous est particulière.
Les Espagnols sont vains, mais d’une autre manière.
Leur orgueil me semble en un mot
Beaucoup plus fou, mais pas si sot.
Donnons quelque image du nôtre,
Qui sans doute en vaut bien un autre.
Un Rat des plus petits voyait un Éléphant
Des plus gros, et raillait le marcher un peu lent
De la bête de haut parage,
Qui marchait à gros équipage.
Sur l’animal à tripe étage
Une Sultane de renom,
Son Chien, son Chat, et sa Guenon,
Son Perroquet, sa vieille, et toute sa maison,
S’en allait en pèlerinage
Le Rat s’étonnait que les gens
Fussent touchés de voir cette pesante masse :
Comme si d’occuper ou plus ou moins de place
Nous rendait, disait-il, plus ou moins importants.
Mais qu’admirez-vous tant en lui vous autres hommes ?
Serait-ce ce grand corps, qui fait peur aux enfants ?
Nous ne nous prisons pas, tout petits que nous sommes,
D’un grain moins que les Éléphants.
Il en aurait dit davantage ;
Mais le chat sortant de sa cage
Lui fit voir en moins d’un instant
Qu’un Rat n’est pas un Éléphant.
O Leão apaixonado

À Mademoiselle de Sévigné

Boa amiga, por cujo encanto


Até o das Graças se modela,
Você que, assim nascida bela,
Com isso nem se importa tanto,
Poderia ser complacente
Com um tom de fábula inocente
E ver aí sem se assustar
Um Leão que Amor soube domar?
Amor é um mestre que amedronta.
Feliz quem o conhece e afronta
Seus golpes, ai, somente em lenda!
Pra que a verdade não lhe ofenda,
Ao falar disso a algum momento,
Bem pode a fábula servir.
Esta aqui traz, por certo, o intento
De a seus pés colocar-se vir
Por zelo e reconhecimento.

No tempo em que os bichos falavam,


Os Leões entre outros desejavam
Entrar em relações com a gente.
Por que não, se era equivalente
À nossa então sua bravura,
Tal como a raça, a inteligência
E até a beleza da figura?
Eis como se deu a aventura.
Um Leão de bom nascimento,
Ao passar por um certo prado,
Viu a Pastora e, interessado,
Logo a pediu em casamento.
O Pai teria desejado
Genro um pouco menos terrível.
Dar-lhe a filha era uma agonia,
Mas negá-la um risco seria:
Bastava um não pra ser possível,
Qualquer manhã, ver-se o destino
De um casamento clandestino.
A Bela, de toda maneira,
Melhor partido merecia.
E moça airosa se escondia
Do amor de longa cabeleira.
O Pai então, sem que no instante
Ousasse despachar o Amante,
Diz: “Minha filha é delicada;
Quando a quiser acariciar,
Suas garras poderão machucar.
Permita pois uma aparada
Em cada pata; quanto aos dentes,
Vamos limá-los entrementes.
Seus beijos, sendo menos rudes,
Lhe serão mais deliciosos;
Ela os dará também gostosos,
Estando livre de inquietudes”.
Logo o Leão tudo consente,
De alma pela paixão cegada!
Ei-lo pois, sem garras, sem dentes,
Como fortaleza arrasada.
Soltaram Cães nessa refrega,
Foi-se do herói a resistência.
Do amor, do amor quando nos pega,
Dizer se pode: Adeus, prudência.
Le Lion amoureux

À Mlle de Sévigné

Sévigné de qui les attraits


Servent aux Grâces de modèle,
Et qui naquîtes toute belle,
À votre indifférence près,
Pourriez-vous être favorable,
Aux jeux innocents d’une fable,
Et voir sans vous épouvanter
Un Lion qu’Amour sut dompter ?
Amour est un étrange maître.
Heureux qui peut ne le connaître
Que par récit, lui ni ses coups !
Quand on en parle devant vous,
Si la vérité vous offense,
La fable au moins se peut souffrir.
Celle-ci prend bien l’assurance
De venir à vos pieds s’offrir,
Par zèle et par reconnaissance.

Du temps que les bêtes parlaient,


Les Lions entre autres voulaient
Être admis dans notre alliance.
Pourquoi non ? Puisque leur engeance
Valait la nôtre en ce temps-là,
Ayant courage, intelligence,
Et belle hure outre cela.
Voici comment il en alla.
Un Lion de haut parentage,
En passant par un certain pré.
Rencontra Bergère à son gré :
Il la demande en mariage.
Le Père aurait fort souhaité
Quelque Gendre un peu moins terrible.
La donner lui semblait bien dur ;
La refuser n’était pas sûr :
Même un refus eût fait possible
Qu’on eût vu quelque beau matin
Un mariage clandestin.
Car outre qu’en toute manière
La Belle était pour les gens fiers,
Fille se coiffe volontiers
D’amoureux à longue crinière.
Le Père donc ouvertement
N’osant renvoyer notre Amant,
Lui dit : Ma fille est délicate ;
Vos griffes la pourront blesser
Quand vous voudrez la caresser.
Permettez donc qu’à chaque patte
On vous les rogne ; et pour les dents,
Qu’on vous les lime en même temps.
Vos baisers en seront moins rudes,
Et pour vous plus délicieux ;
Car ma fille y répondra mieux,
Étant sans ces inquiétudes.
Le Lion consent à cela
Tant son âme était aveuglée !
Sans dents ni griffes le voilà,
Comme place démantelée.
On lâcha sur lui quelques Chiens :
Il fit fort peu de résistance.
Amour, amour, quand tu nous tiens,
On peut bien dire : Adieu prudence.
O combate entre os Ratos e as Doninhas

Lá na terra das Doninhas,


Como no país dos Gatos,
Nenhum bem se quer aos Ratos:
E sem as portas fininhas
Das suas habitações,
O animal de longa espinha
Faria, essa é a ideia minha,
Enormes destruições.
Num ano bom, de fartura,
O rei dos Ratos, monarca
que era o Ratão patriarca,
Pôs suas tropas à procura.
Mas as Doninhas ligeiras
Já desfraldavam bandeiras.
A se crer na Nomeada,
Bem que a Vitória oscilou:
Mais de um campo se adubou
Com o sangue da bicharada.
Porém perda mais notada,
Por toda parte maior,
Teve o povo roedor
Com sua derrota inteira.
Fizeram tudo Artarpax,
Psicarpax, Meridarpax
Que, rolando na poeira,
Sustentaram longamente
O esforço dos combatentes.
Tanta resistência em vão:
Por fim, cedendo à má sorte,
Cada um fugiu mais forte,
Do Soldado ao Capitão.
Estando os Príncipes mortos,
A ralé, que pelos tortos
Buracos logo se aninha,
Retrocede e escapa às pressas.
Mas os Senhores, que tinham
Seus penachos na cabeça,
Que tinham chifres, peninhas,
A fim de se destacar
Ou então para as Doninhas
Ainda mais amedrontar,
Não puderam se salvar,
Sem buraco, brecha ou falha
Grande assaz para emplumados.
Visto pois como a gentalha
Sumia em quaisquer vazados,
A principal derrocada
Foi dos Ratos principais.
A cabeça empenachada
Cria transtornos fatais.
Tão soberba maquiagem
Pode até, numa passagem,
Causar um impedimento.
Em qualquer caso, os pequenos
Se safam sem sofrimento;
Os grandes, nem isso ao menos.
Le Combat des Rats et des Belettes

La nation des Belettes,


Non plus que celle des Chats,
Ne veut aucun bien aux Rats ;
Et sans les portes étrètes
De leurs habitations,
L’animal à longue échine
En ferait, je m’imagine,
De grandes destructions.
Or une certaine année
Qu’il en était à foison
Leur Roi nommé Ratapon
Mit en campagne une armée.
Les Belettes de leur part
Déployèrent l’étendard.
Si l’on croit la Renommée,
La Victorie balança :
Plus d’un guéret s’engraissa
Du sang de plus d’une bande.
Mais la perte la plus grande
Tomba presque en tous endroits
Sur le peuple Souriquois.
Sa déroute fut entière,
Quoi que pût faire Artarpax,
Psicarpax, Méridarpax,
Qui, tour couverts de poussière,
Soutinrent assez longtemps
Les efforts des combattants.
Leur résistance fut vaine :
Il fallut céder au sort :
Chacun s’enfuit au plus fort,
Tant Soldat que Capitaine.
Les Princes périrent tous.
La racaille, dans des trous
Trouvant sa retraire prête,
Se sauva sans grand travail.
Mais les Seigneurs sur leur tête
Ayant chacun un plumail,
Des cornes ou des aigrettes,
Soit comme marques d’honneur,
Soit afin que les Belettes
En conçussent plus de peur :
Cela causa leur malheur.
Trou, ni fente, ni crevasse
Ne fut large assez pour eux,
Au lieu que la populace
Entrait dans les moidres creux.
La principale jonchée
Fut donc des principaux Rats.
Une tête enpanachée
N’est pas petit embarras,
Le trop superbe équipage
Peut souvent en un passage
Causer du retardement.
Les petits en toute affaire
Esquivent fort aisément ;
Les grands ne le peuvent faire.
O parto da montanha

Uma Montanha engravidada


Soltava berros tão aflitos,
Que lá quem vinha à barulhada
Supunha que ela, com seus gritos,
Uma cidade maior do que Paris parisse;
E ela pariu um Rato, ao que se visse.

Eu, com esta Fábula entretido,


Sendo ilusório o seu relato,
Mas verdadeiro o seu sentido,
Penso no Autor que, antes do fato,
Diz: “Eu hei de cantar a guerra
Feita pelos Titãs a Zeus, senhor da Terra”.
É promessa demais: e o que sai deste intento?
O vento.
La Montagne qui accouche

Une Montagne en mal d’enfant


Jetait une clameur si haute,
Que chacun au bruit accourant
Crut qu’elle accoucherait, sans faute,
D’une cité plus grosse que Paris ;
Elle accoucha d’une Souris.

Quand je songe à cette fable,


Dont le récit est menteur
Et le sens est véritable,
Je me figure un auteur
Qui dit : Je chanterai la guerre
Que firent les Titans au Maître du tonnerre.
C’est promettre beaucoup : mais qu’en sort-il souvent ?
Du vent.
A Panela de barro e a Panela de ferro

Quis a Panela de ferro


Com a de barro ir em viagem.
Esta, avessa a esse desterro,
Disse não. Dela a vantagem
Era estar sempre ao fogão,
Pois um simples esbarrão,
Qualquer coisinha, podia
Quebrá-la toda algum dia,
Sem nada que aproveitar.
Daí à outra ela falar:
“Mais que eu, tens bem dura a pele,
Não vejo o que aqui te atrele”.
A de ferro replicou:
“Proteção total te dou.
Se alguma matéria dura
Te ameaçar porventura,
Entre as duas passo eu
E assim livro o corpo teu”.
Essa oferta a persuade.
A que a fez, por amizade,
Põe-se logo ao lado dela.
Vão-se então nossas panelas
Aos encontrões, como podem,
Mancando tanto, que pelas
Sacolejadas colidem.
Leva a pior a de barro; após dar cem passos,
Pela companheira ela foi feita em pedaços,
Sem ter como se queixar.
Não nos associemos senão com iguais a nós;
Ou teremos de enfrentar
Destino assim tão atroz.
Le Pot de terre et le Pot de fer

Le Pot de fer proposa


Au Pot de terre un voyage.
Celui-ci s’en excusa,
Disant qu’il ferait que sage
De garder le coin du feu ;
Car il lui fallait si peu,
Si peu, que la moindre chose
De son débris serait cause.
Il n’en reviendrait morceau.
Pour vous, dit’il, dont la peau
Est plus dure que la mienne,
Je ne vois rien qui vous tienne.
Nous vous mettrons à couvert,
Repartit le Pot de fer.
Si quelque matière dure
Vous menace d’aventure,
Entre deux je passerai
Et du coup vous sauverai.
Cette offre le persuade.
Pot de fer son camarade
Se met droit à ses côtés.
Mes gens s’en vont à trois pieds,
Clopin-clopant comme ils peuvent,
L’un contre l’autre jetés,
Au moindre hoquet qu’ils treuvent.
Le Pot de terre en souffre : il n’eut pas fait cent pas,
Que par son Compagnon il fut mis en éclats,
Sans qu’il eût lieu de se plaindre.
Ne nous associons qu’avecque nos égaux ;
Ou bien il nous faudra craindre
Le destin d’un de ces Pots.
O Burro e o Cachorrinho

Quem não se atém ao seu talento


Nada jamais fará com graça.
Um pesadão, faça o que faça,
Não será galante no intento.
Poucas pessoas, que o Céu ama com algo a dar,
Têm infuso na vida um dom para agradar.
Vale isso a fim de que ninguém
Possa ao Burro da Fábula ser comparável.
Esse, querendo mais amável
E caro ao Dono ser, a acarinhá-lo vem,
Malgrado ao vir ainda reclame:
“O Cachorro, que é tão lindinho,
Vive de par, agarradinho
Com o Maioral e com Madame.
Eu só apanho em meu cantinho,
E ele o que faz? Dada a patinha,
Tem uma beijoca a ganhar.
Se eu for também, fazendo isso, uma gracinha,
Não me custa nada tentar”.
Com a bela ideia na cabeça,
E vendo o Dono alegre, ele pesadamente
Levanta um casco usado à beça
E o leva ao queixo do patrão mui ternamente.
A acompanhar a ousada ação, o som potente
Do seu canto gracioso em volta se esparzia.
“Quanto carinho, ó Deus, e quanta melodia!”,
diz o homem correndo: “Pau nele é que é bom!”.
Senta-se-lhe o pau e o Burro muda de tom.
Tinha se acabado a comédia.
L’Âne et le Petit Chien

Ne forçons point notre talent ;


Nous ne ferions rien avec grâce.
Jamais un lourdaud, quoi qu’il fasse,
Ne saurait passer pour galant.
Peu de gens que le Ciel chérit et gratifie
Ont le don d’agréer infus avec la vie.
C’est un point qu’il leur faut laisser ;
Et ne pas ressembler à l’Âne de la fable,
Qui pour se rendre plus aimable
Et plus cher à son Maître, alla le caresser.
Comment, disait-il en son âme,
Ce Chien parce qu’il est mignon
Vivra de pair à compagnon
Avec Monsieur, avec Madame !
Et j’aurai des coups de batôns !
Que fait-il ? Il donne la patter ;
Puis aussitôt il est baisé.
S’il en faut faire autant afin que l’on me flatte,
Cela n’est pas bien malaisé.
Dans cette admirable pensée,
Voyant son Maître en joie, il s’en vient lourdemen
Lève une corne toute usée,
La lui porte au menton fort amoureusement ;
Non sans accompagner pour plus grand ornement
De son chant gracieux cette action hardie.
Oh, oh ! quelle caresse, et quelle mélodie !
Dit le Maître aussitôt. Holà, Martin batôn.
Martin batôn accourt ; l’Âne change de ton.
Ainsi finit la comédie.
A Galinha dos ovos de ouro

Tudo perde a Ganância que tudo quer ter.


Basta-me para a descrever
O tal cuja Galinha, o que a Fábula explica,
Punha por dia um ovo de ouro.
Ele achou que ela em seu corpo tinha um tesouro.
Matou-a e abriu e em tudo então a viu idêntica
Às de ovos normais que não rendiam vintém.
Ele mesmo deu cabo do seu maior bem.
Boa lição para a avareza.
Ultimamente, já de quantos não falaram
Que da noite para o dia pobres se tornaram
Por querer logo mais riquezas?
La Poule aux œufs d’or

L’avarice perd tout en voulant tout gagner.


Je ne veux pour le témoigner
Que celui dont la Poule, à ce que dit la fable,
Pondait tous les jours un œuf d’or.
Il crut que dans son corps elle avait un trésor.
Il la tua, l’ouvrit, et la trouva semblable
À celles dont les œufs ne lui rapportaient rien,
S’étant lui-même ôté le plus beau de son bien.
Belle leçon pour les gens chiches :
Pendant ces derniers temps, combien en a-t-on vus
Qui du soir au matin sont pauvres devenus
Pour vouloir trop tôt être riches ?
O Cervo e a Videira

Ao se esconder sob uma altíssima videira,


Como as que são em certos climas tão frequentes,
Salvou-se o cervo de morrer logo entre dentes.
Os caçadores, supondo os cães em bobeira,
Os chamam pois. O cervo, livre da ameaça,
Pasta a própria benfeitora, que ingratidão!
Ouvindo-o, o bando volta e o desentoca e passa
A dar-lhe morte em pleno chão.
“Eu mereci”, diz ele, “esse castigo justo.
Aproveitem, ingratos.” E tombou ao susto,
Feito carniça da matilha. Deu em nada
Ainda implorar aos caçadores por seu fado.
Perfeita imagem de quem o Abrigo degrada
Que o tinha preservado.
Le Cerf et la Vigne

Un Cerf, à la faveur d’une Vigne fort haute


Et telle qu’on en voit en de certains climats,
S’étant mis à couvert, et sauvé du trépas,
Les Veneurs pour ce coup croyaient leurs Chiens en faute.
Ils les rappellent donc. Le Cerf hors de danger
Broute sa bienfaitrice ; ingratitude extrême ;
On l’entend, on retourne, on le fait déloger,
Il vient mourir en ce lieu même.
J’ai mérité, dit-il, ce juste châtiment :
Profitez-en, ingrats. Il tombe en ce moment.
La Meute en fait curée. Il lui fut inutile
De pleurer aux Veneurs à sa mort arrivés.
Vraie image de ceux qui profanent l’asile
Qui les a conservés.
O Camelo e os troncos boiando

Tal novidade era o Camelo,


Que o primeiro fugiu ao vê-lo;
O segundo aproximou-se; o terceiro, presto,
Pôs no Dromedário um cabresto.
Tudo se torna assim familiar com o hábito.
O que antes parecia assustador e insólito
Se acomoda à nossa visão
Quando já é repetição.
Aliás este caso do qual estamos falando
Lembra o das pessoas que, olhando
Longe no mar algo impreciso balançando,
Garantiram ter pela frente
Um navio todo imponente.
Mas momentos depois tornou-se aquilo um bote,
Ora foi balsa, ora caixote,
Sendo por fim troncos boiando.
Bem sei que a muitos, circulando,
Convém no mundo esta tirada:
De longe é alguma coisa, de perto não é nada.
Le Chameau et les Bâtons flottants

Le premier qui vit un Chameau


S’enfuit à cet objet nouveau ;
Le second approcha ; le troisième osa faire
Un licou pour le Dromadaire.
L’accoutumance ainsi nous rend tout familier.
Ce qui nous paraissait terrible et singulier
S’apprivoise avec notre vue,
Quand ce vient à la continue.
Et puisque nous voici tombés sur ce sujet,
On avait mis des gens au guet,
Qui voyant sur les eaux de loin certain objet,
Ne purent s’empêcher de dire
Que c’était un puissant navire.
Quelques moments après, l’objet devint brûlot,
Et puis nacelle, et puis ballot,
Enfin bâtons flottants sur l’onde.
J’en sais beaucoup de par le monde
À qui ceci conviendrait bien :
De loin c’est quelque chose, et de près ce n’est rien.
O Peixinho e o Pescador

Grande o peixinho há de ficar,


Se Deus lhe der vida futura.
Porém soltá-lo e isso esperar
É para mim pura loucura:
Pois incerto é depois tê-lo outra vez pescado.
Um filhote de Carpa, ainda muito mirrado,
Por um Pescador foi trazido à beira-rio.
“Tudo entra em conta”, diz ele em face do achado.
“Eis com esse pouco um banquete já começado;
Na minha bolsa eu logo o enfio.”
A pobre Carpinha tenta opor-se ao suplício:
“Que irá você fazer de mim? Eu não daria
Mais que meia e magra porção.
Deixe eu crescer até que um dia
Me pegue enfim como um peixão.
Por alto preço um Bacana irá me comprar.
Mas você terá de encontrar
Uns cem ainda do meu porte
Para fazer um prato. E qual? Nada que importe”.
“Nada que importe, é?”, replica o Pescador.
“Pois bem. Você que é Peixe e banca o Pregador
Cabe bem na panela; inútil reclamar,
Pois logo mais vou te fritar.”
Mais vale ter um na mão que dois ao deus-dará,
Um está certo, o outro não há.
Le Petit Poisson et le Pêcheur

Petit poisson deviendra grand,


Pourvu que Dieu lui prête vie.
Mais le lâcher en attendant,
Je tiens pour moi que c’est folie ;
Car de le rattraper il n’est pas trop certain.
Un Carpeau qui n’était encore que fretin
Fut pris par un Pêcheur au bord d’une rivière.
Tout fait nombre, dit l’homme en voyant son butin ;
Voilà commencement de chère et de festin :
Mettons-le en notre gibecière.
Le pauvre Carpillon lui fit en sa manière :
Que ferez-vous de moi ? je ne saurais fournir
Au plus qu’une demi-bouchée.
Laissez-moi Carpe devenir :
Je serai par vous repêchée.
Quelque gros Partisan m’achètera bien cher :
Au lieu qu’il vous en faut chercher
Peut-être encor cent de ma taille
Pour faire un plat. Quel plat ? croyez-moi, rien qui vaille.
Rien qui vaille et bien soit, repartit le Pêcheur ;
Poisson mon bel ami, qui faites le Prêcheur,
Vous irez dans la poêle ; et vous avez beau dire ;
Dès ce soir on vous fera frire.
Un Tien vaut, ce dit-on, mieux que deux Tu l’auras.
L’un est sûr, l’autre ne l’est pas.
O Gaio enfeitado com as plumas do Pavão

Pavão na muda; um Gaio pega-lhe a plumagem


E depois nela se acomoda.
Depois, entre outros Pavões se emproa em roda,
Crente que é um belo personagem.
Alguém porém o reconhece: e ei-lo vaiado,
Com seu ridículo apontado
Por Senhores Pavões que o desemplumam na hora.
Quando entre iguais já havia se refugiado,
Foi posto o Gaio porta afora.
Muitos bípedes há como este em seus meneios,
Que vezeiros se adornam de despojos alheios
E são chamados plagiários.
Sem ser do ramo, sem querer lhes dar receios,
Calo-me pois sem comentários.
Le Geai paré des plumes du Paon

Un Paon muait ; un Geai prit son plumage ;


Puis après se l’accommoda ;
Puis parmi d’autres Paons tout fier se panada,
Croyand être un beau personnage.
Quelqu’un le recconut : il se vit bafoué,
Berné, sifflé, moqué, joué,
Et par Messieurs les Paons plumé d’étrange sorte ;
Même vers ses pareils s’étant réfugié,
Il fut par reux mis à la porte.
Il est assez de Geais à deux pieds comme lui,
Qui se parent souvent des dépouilles d’autrui,
Et que l’on nomme plagiaires.
Je m’en tais, et ne veux leur causer nul ennui :
Ce ne sont pas là mes affaires.
A Águia e a Coruja

A Águia e a Coruja, cessando enfim suas brigas,


Até se abraçam como amigas.
Jura aquela como um Rei, e essa por seu nome,
Que filhote da outra nenhuma agora come.
“Conhece os meus?”, pergunta a Ave de Minerva.
“Não”, a Águia diz. “Então”, retoma a indagadora,
“Por eles temo: ante a Senhora,
Sorte tem quem os bem preserva.
Rei que é Rei nunca lembra de considerar
Nada e ninguém. Deuses e Reis põem dia a dia
Tudo na mesma categoria.
Perderei minha Prole, se a Senhora a encontrar.”
E a Águia diz: “Se a descrever ou me mostrar,
Garanto, eu manterei distância”.
Fala a Coruja: “São filhos fortes, faceiros,
Os mais lindos de todos os seus companheiros.
É fácil reconhecê-los por essa marca.
Não a esqueça; retenha-a bem para que não
Em meu ninho a maldita Parca
Entre trazida em sua mão”.
Dada por Deus à Coruja progenitura,
Certa noite, enquanto ela vagava à procura,
Nossa Águia viu numa aventura,
Largados numa rocha dura
Ou numa toca muito escura
(Nem sei direito em qual dos ninhos),
Uns horripilantes monstrinhos,
Birrentos e tristes qual Megeras berrando.
“Jamais serão da minha amiga estes rebentos,
Posso comê-los”, pensa a Águia. E seus intentos
Cumpre com calma, como faz se alimentando.
A Coruja de volta não acha senão
Os pezinhos, ai, dos seus Pimpolhos queridos.
E aos Deuses suplica, gemendo de emoção,
Castigar o culpado pelo luto sentido.
Alguém lhe diz então: “Somente acusa a ti
Ou a lei que reina por aí,
Mandando achar os semelhantes
Fortes, bonitos, cativantes.
Dos filhos teus pintaste à Águia este retrato.
Eram eles assim de fato?”
L’Aigle et le Hibou

L’Aigle et le Chat-huant leurs querelles cessèrent,


Et firent tant qu’ils s’embrassèrent.
L’un jura foi de Roi, l’autre foi de Hibou,
Qu’ils ne se goberaient leurs petits peu ni prou.
Connaissez-vous les miens ? dit l’Oiseau de Minerve.
Non, dit l’Aigle. Tant pis, reprit le triste Oiseau.
Je crains en ce cas pour leur peau :
C’est hasard si je les conserve.
Comme vous etês Roi, vous ne considérez
Qui ni quoi. Rois et Dieux mettent, quoi qu’on leur die,
Tout en même catégorie.
Adieu mes Nourrissons si vous les rencontrez.
Peignez-les-moi, dit l’Aigle, ou bien me les montrez,
Je n’y toucherai de ma vie.
Le Hibou repartit : Mes Petits sont mignons,
Beaux, bien faits, et jolis sur tous leurs compagnons.
Vous les reconnaîtrez sans peine à cette marque.
N’allez pas l’oublier ; retenez-la si bien
Que chez moi la maudite Parque
N’entre point par votre moyen.
Il avint qu’au Hibou Dieu donna géniture
De façon qu’un beau soir qu’il était en pâture,
Notre Aigle aperçut d’aventure,
Dans les coins d’une roche dure,
Ou dans les trous d’une masure
(Je ne sais pas lequel des deux),
De petits monstres fort hideux,
Rechignés, un air triste, une voix de Mégère.
Ces enfants ne sont pas, dit l’Aigle, à notre ami,
Croquons-les. Le Galand n’en fit pas à demi.
Ses repas ne sont point repas à la légère.
Le Hibou de retour ne trouve que les pieds
De ses chers Nourrissons, hélas ! pour toute chose.
Il se plaint, et les Dieux sont par lui suppliés
De punir le brigand qui de son deuil est cause.
Quelqu’un lui dit alors : N’en accuse que toi
Ou plutôt la commune loi,
Qui veut qu’on trouve son semblable
Beau, bien fait, et sur tous aimable.
Tu fis de tes enfants à l’Aigle ce portrait :
En avaient-ils le moindre trait ?
O Homem e o Ídolo de madeira

Um Pagão mantinha em casa um Deus de madeira,


Desses que, embora tendo orelhas, surdos são.
Mas dele maravilhas esperava o Pagão,
Que o idolatrava sem canseira.
Tudo eram votos e oferendas,
Sacrifícios de bois ornados de guirlandas.
A Ídolo igual jamais se deu
Tal tratamento de senhor.
Mas nem assim seu adorador recebeu
Ganhos no jogo, tesouro, herança, um favor.
Além disso, quando qualquer calamidade
Se avizinhava por má sorte,
Mais o Pagão abria a mão, dando à vontade.
A voracidade do Deus sempre era forte.
Por fim, enfezado por nada merecer,
Ele agarra uma barra e despedaça o Ídolo,
Que acha cheio de ouro. E diz: “Eu a fazer
Teu bem, e não me retribuis nem só com um óbolo?
Sai de vez do meu lar, procure outros altares.
Tu te assemelhas aos de ares
Obtusos, tristes e ordinários
Dos quais só com pancada se extrai algo bom.
Mais eu te enchia, mais tinha os bolsos vazios.
Ainda bem que mudei de tom”.
L’Homme et l’Idole de bois

Certain Païen chez lui gardait un Dieu de bois,


De ces Dieux qui sont sourds bien qu’ayant des oreilles.
Le Païen cependant s’en promettait merveilles.
Il lui coûtait autant que trois.
Ce n’étaient que vœu et qu’offrandes,
Sacrificies de bœufs couronnés de guirlandes.
Jamais Idole, quel qu’il fût,
N’avait eu cuisine si grasse,
Sans que pour tout ce culte à son Hôte il échût
Sucession, trésor, gain au jeu, nulle grâce.
Bien plus, si pour un sou d’orage en quelque endroit
S’amassait d’une ou d’autre sorte,
L’Homme en avait sa part, et sa bourse en souffroit.
La pitance du Dieu n’en était pas moins forte.
À la fin se fâchant de n’en obtenir rien,
Il vous prend un levier, met en pièces l’Idole,
Le trouve rempli d’or. Quand je t’ai fait du bien,
M’as-tu valu, dit-il, seulement une obole ?
Va, sors de mon logis : cherche d’autres autels.
Tu ressembles aux naturels
Malheureux, grossiers et stupides :
On n’en peut rien tirer qu’avecque le bâton.
Plus je te remplissais, plus mes mains étaient vides :
J’ai bien fait de changer de ton.
O Burro que carregava relíquias

Levando relíquias, um Burro


Imaginou que era adorado.
Andava pois todo afetado,
Como se o incenso e os cânticos fossem por seus zurros.
Notando o erro, alguém se expressa:
“Tire essa ideia, Mestre Burro, da cabeça,
Tola e vaidosa bobagem.
Não é a você, mas à Imagem
Que cabe a glória do instante
E tanta honra é prestada.
De um magistrado ignorante
A toga é que é respeitada”.
L’Âne portant des reliques

Un Baudet chargé de reliques


S’imagina qu’on l’adorait.
Dans ce penser il se carrait,
Recevant comme siens l’encens et les cantiques.
Quelqu’un vit l’erreur, et lui dit :
Maître Baudet, ôtez-vous de l’esprit
Une vanité si folle.
Ce n’est pas vous, c’est l’Idole,
À qui cet honneur se rend,
Et que la gloire en est due.
D’un Magistrat ignorant
C’est la robe qu’on salue.
O Velho e seus Filhos

Se não se unir, toda força irá fraquejar.


Disso Esopo, o escravo frígio, soube falar.
Se acrescento algo de meu à sua invenção,
Não é por inveja: quero só retratar
Nossos costumes. Eu não tenho outra ambição.
Fedro, quando às vezes diz mais, almeja a glória;
Ideia assim a mim seria inadequada.
Mas passemos à Fábula, ou melhor, à História
Daquele que tentou unir sua Filharada.

Um Velho que partia aonde a morte o chamava


Aos Filhos queridos a lição ensinava:
“Se quebrarem estas Flechas, em feixe atadas,
Hei de explicar o nó que as mantém amarradas”.
Tenta o mais velho, que, apesar do grande porte,
Logo desiste e diz: “Passo a prova ao mais forte”.
O segundo o sucede, falha na aventura,
E também do caçula foi vã a postura.
Todos perderam tempo, o feixe resistiu;
Dessas Flechas juntas nenhuma se partiu.
“Pobres crianças!”, diz o Pai. “Vou lhes mostrar
Como age a minha força em caso similar.”
Os Filhos riem, achando que eram chalaças.
Mas sem esforço ele separa e quebra as Flechas.
“Vejam vocês”, prossegue, “o efeito da Concórdia.
Fiquem juntos assim, com amor, em harmonia.”
Outro assunto não teve, estando doentio,
E afinal pediu, já com a vida por um fio:
“Vou aonde estão, queridos meus, os Anciãos.
Prometam que sempre viverão como Irmãos;
Se me dão esta graça, posso em paz finar”.
Cada Filho diz sim, todos três a chorar.
O Pai os pega pelas mãos; e morre; e os três
Recebem grandes bens, mas tudo com um talvez.
Um Credor faz cobrança; um Vizinho, um processo.
Safa-se o Trio, no começo, com sucesso.
Mas sua amizade foi curta, por ser rara.
Como o sangue os juntou, o interesse os separa.
A inveja e a ambição, junto com os Conselheiros,
Entram nessas questões de herança o tempo inteiro.
Vai-se à Partilha, contestam, armam-se ardis,
Sobre cem pontos condena os três o Juiz.
Depressa, Vizinhos e Credores replicam,
Ora alegam que há um Erro, ora com um Termo implicam.
Os Irmãos desunidos pensam ao contrário,
Um quer o acordo ao qual o outro é refratário.
Todos perdem seus bens. Pois agora era tarde
Para juntar de novo as Flechas, sem alarde.
Le Vieillard et ses Enfants

Toute puissance est faible, à moins que d’être unie.


Écoutez là-dessus l’esclave de Phrygie.
Si j’ajoute du mien à son invention,
C’est pour peindre nos mœurs, et non point par envie ;
Je suis trop au-dessous de cette ambition.
Phèdre enchérit souvent par un motif de gloire ;
Pour moi, de tels pensers me seraient malséants.
Mais venons à la Fable, ou plutôt à l’Histoire
De celui qui tâcha d’unir tous ses Enfants.

Un Vieillard prêt d’aller où la mort l’appelait :


Mes chers Enfants, dit-il (à ses Fils il parlait),
Voyez si vous romprez ces Dards liés ensemble ;
Je vous expliquerai le nœud qui les assemble.
L’Aîné les ayant pris, et fait tous ses efforts,
Les rendit, en disant : Je le donne aux plus forts.
Un second lui succède, et se met en posture ;
Mais en vain. Un Cadet tente aussi l’aventure.
Tous perdirent leur temps, le faisceau résista ;
De ces Dards joints ensemble un seul ne s’éclara.
Faibles gens ! dit le Père, il faut que je vous montre
Ce que ma force peut en semblable rencontre.
On crut qu’il se moquait, on sourit, mais à tort.
Il sépare les Dards, et les rompt sans effort.
Vous voyez, reprit-il, l’effet de la Concorde.
Soyez joints, mes Enfants, que l’amour vous accorde.
Tant que dura son mal, il n’eut autre discours.
Enfin se sentant prêt de terminer ses jours :
Mes chers Enfants, dit-il, je vais où sont nos pères.
Adieu, promettez-moi de vivre comme Frères ;
Que j’obtienne de vous cette grâce en mourant.
Chacun de ses trois Fils l’en assure en pleurant.
Il prend à tous les mains ; il meurt ; et les trois Frères
Trouvent un bien fort grand, mais fort mêlé d’affaires.
Un Créancier saisit, un Voisin fait procès.
D’abord notre Trio s’en tire avec succès.
Leur amitié fut courte, autant qu’elle était rare.
Le sang les avait joints, l’intérêt les sépare.
L’ambition, l’envie, avec les Consultants,
Dans la succession entrent en même temps.
On en vient au partage, on conteste, on chicane.
Le Juge sus cent points tour à tour les condamne.
Créanciers et Voisins reviennent aussitôt ;
Ceux-là sur une Erreur, ceux-ci sur un Défaut.
Les Frères désunis sont tour d’avis contraire ;
L’un veut s’accommoder, l’autre n’en veut rien faire.
Tous perdirent leur bien, et voulurent trop tard
Profiter de ces Dards unis et pris à part.
A Raposa e o Busto

Máscaras teatrais são os Ilustres da pátria,


Cuja aparência induz o povo à idolatria.
Só pelo que vê o Burro pode julgar.
Mas a Raposa, primeiro, tudo examina,
Vira e revira; caso venha a constatar
Que não têm mais que a estampa fina,
Ela a eles aplica o que um Busto de herói
A fez dizer e a calhar foi.
Era um Busto vazado, maior que em natura.
A Raposa, louvando o esforço da Escultura:
“Que bela cabeça”, disse, “mas não tem cérebro”.
Quantos Ilustres há que são Bustos em dobro!
Le Renard et le Buste

Les Grands pour la plupart sont masques de théâtre ;


Leur apparence impose au vulgaire idolâtre.
L’Âne n’en sait juger que par ce qu’il en voit.
Le Renard au contraire à fond les examine,
Les tourne de tout sens ; et quand il s’aperçoit
Que leur fait n’est que bonne mine,
Il leur applique un mot qu’un Buste de héros
Lui fit dire fort à propos.
C’était un Buste creux, et plus grand que nature.
Le Renard, en louant l’effort de la sculpture :
Belle tête, dit-il, mais de cervelle point.
Combien de grands Seigneurs sont Bustes en ce point !
O Avarento que perdeu seu tesouro

Somente o uso dá às posses serventia.


Que vantagem terão esses que têm mania
De acumular, juntando sempre o que lhes venha,
Que vantagem terão que o homem comum não tenha?
Diógenes, sábio pobre, era rico como eles.
O Avarento, a seu exemplo, usa roupas reles.
O do Tesouro oculto, de que fala Esopo,
Há de servir ao nosso escopo.
Esse Infeliz ainda esperava,
Para gozar de seus bens, uma segunda vida;
Não possuía o ouro; o ouro o escravizava.
Mantinha na terra, junto à Soma escondida,
Seu coração; seu único prazer
Era com aquilo se entreter
E tornar sua Posse, só para si, sagrada.
Fosse aonde fosse, bebesse ou se alimentasse,
Nada ele jamais fazia sem que pensasse
No lugar precioso da quantia enterrada.
Tanto rondou por lá que um Cavador o viu,
Desconfiou, calou o bico e tudo roubou.
Só o nicho vazio o Avaro descobriu,
Um dia, em lágrimas; ele geme, suspira
E, atormentado, ele delira.
Um Passante lhe pergunta a razão do estouro.
“É que levaram meu tesouro.”
“Tesouro?”, estranha o outro, e aponta para a terra:
“Por acaso é tempo de guerra
Para o trazer tão longe? Melhor não seria
Deixá-lo em casa, onde estaria em garantia,
Em vez de o carrear para fora?
Lá era fácil de apanhar a qualquer hora”.
“Como assim, apanhar? Meu Deus, dinheiro então,
Que custa a vir, deve ir em vão?
Eu nunca tocava em nada.” E o outro a arrematar:
“Sendo assim, não vejo a razão de tanta dor.
Já que a Grana guardada não era pra usar,
Ponha uma pedra no lugar,
Que terá o mesmo valor”.
L’Avare qui a perdu son trésor

L’usage seulement fait la possession.


Je demande à ces gens de qui la passion
Est d’entasser toujours, mettre somme sur somme,
Quel avantage ils ont que n’ait pas un autre homme.
Diogène là-bas est aussi riche qu’eux,
Et l’Avare ici-haut comme lui vit en gueux.
L’homme au trésor caché qu’Ésope nous propose,
Servira d’exemple à la chose.
Ce Malheureux attendait
Pour jouir de son bien une seconde vie ;
Ne possédait pas l’or, mais l’or le possédait.
Il avait dans la terre une somme enfouie,
Son cœur avec, n’ayant autre déduit
Que d’y ruminer jour et nuit,
Et rendre sa chevance à lui-même sacrée.
Qu’il allât ou qu’il vînt, qu’il bût ou qu’il mangeât,
On l’eût pris de bien court, à moins qu’il ne songeât
À l’endroit où gisait cette somme enterrée.
Il y fit tant de tours qu’un Fossoyeur le vit,
Se douta du dépôt, l’enleva sans rien dire.
Notre Avare un beau jour ne trouva que le nid.
Voilà mon homme aux pleurs ; il gémit, il soupire.
Il se tourmente, il se déchire.
Un Passant lui demande à quel sujet ses cris.
C’est mon trésor que l’on m’a pris.
Votre trésor ? où pris ? Tout joignant cette pierre.
Eh sommes-nous en temps de guerre.
Pour l’apporter si loin ? N’eussiez-vouz pas mieux fait
De le laisser chez vous en votre cabinet,
Que de le changer de demeure ?
Vous auriez pu sans peine y puiserà toute heure.
A tout heure, bons Dieux ! ne tient-il qu’à cela ?
L’argent vient-il comme il s’en va ?
Je n’y touchais jamais. Dites-moi donc, de grâce,
Reprit l’autre, pourquoi vous vous affligez tant
Puisque vous ne touchiez jamais à cet argent :
Mettez une pierre à la place,
Elle vous vaudra tout autant.
Os Médicos

O Médico Bem Mal teve de ir ver um Doente


Visto também por seu Colega Bem Melhor.
Esse tinha esperança; aquele achou o cliente
A caminho da tumba: cada vez pior.
Divergindo os Doutores no tocante à cura,
Foi-se o Enfermo pagar tributo à Natura,
Como se o laudo de Bem Mal ele acatasse.
Mas os dois seguiram a discutir o impasse:
“Morreu”, dizia um, “como eu previ à altura”.
E o outro: “Vivo estaria, se me acreditasse”.
Les Médecins

Le Médecin Tant-Pis allait voir un Malade


Que visitait aussi son Confrère Tant-Mieux.
Ce dernier espérait, quoique son Camarade
Soutînt que le Gisant irait voir ses aïeux.
Tous deux s’étant trouvés différents pour la cure,
Leur Malade paya le tribut à Nature,
Après qu’en ses conseils Tant-Pis eut été cru.
Ils triomphaient encor sur cette maladie.
L’un disait : Il est mort, je l’avais bien prévu.
S’il m’eût cru, disait l’autre, il serait plein de vie.
A Rã e o Rato

Quem tenta enganar os outros, disse Merlim,


Às vezes cai no estratagema.
Pena é que o dito seja tão antigo: a mim
Sempre pareceu ter uma eficácia extrema.
Mas falo agora, cumprindo minha intenção,
De um Rato gordo, de ótima disposição,
Que não jejuava nem se era Advento ou Quaresma.
Com ele à beira de um brejo, alegre, em distração,
Uma Rã se aproxima e diz na sua língua:
“Venha me visitar que eu lhe faço um banquete”.
O Rato achou bom o convite.
Mesmo sem ser necessária mais longa arenga,
Ela louva as delícias que o banho promete,
O prazer da viagem, tão sensacional,
Cem raridades a ver pelo Pantanal:
Um dia ele contaria para os seus netos
Que os lugares são lindos; os costumes, retos;
E que havia governança da coisa pública
Aquática.
Não mais que um ponto mantinha o Belo cismado:
Nadando mal, de ajuda ele precisaria.
Mas uma solução a isso a Rã daria,
Pondo o Rato a seu pé pela pata amarrado
Por uma tira de taboa.
Entrados no brejo, nossa Comadre boa
Tenta puxar bem para o fundo o Convidado,
Contra o direito das pessoas e a promessa,
Mas já pensando em ter ali carniça à beça
(Para seu gosto, era um excelente bocado).
Já em espírito a Sedutora o mastiga.
Ele clama aos deuses; a Pérfida nem liga.
Ele resiste; ela puxa. É um choque pesado
E um Gavião que planava, fazendo a ronda,
Vê do alto o coitado a se debater sobre a onda.
Ele o ataca e pega; e arrasta na mesma via
A Rã e o nó que o prendia.
Tudo se foi; se diria
Que com essa presa dobrada
A Ave sai encantada,
Porque terá no jantar
Carne e peixe a se fartar.

A mais secreta cilada


Pode atingir o inventor.
E a perfídia está voltada,
Muitas vezes, contra o autor.
La Grenouille et le Rat

Tel, comme dit Merlin, cuide engeigner autrui,


Qui souvent s’engeigne soi-même.
J’ai regret que ce mot soit trop vieux aujord’hui :
Il m’a toujours semblé d’une énergie extrême.
Mais afin d’en venir au dessein que j’ai pris,
Un Rat plein d’embonpoint, gras, et des mieux nourris,
Et qui ne connaissait l’avent ni le carême,
Sur le bord d’un marais égayait ses esprits.
Une Grenouille approche, et lui dit en sa langue :
Venez me voir chez moi ; je vous ferai festin.
Messire Rat promit soudain :
Il n’était pas besoin de plus longue harangue.
Elle allégua pourtant les délices du bain,
La curiosité, le plaisir du voyage,
Cent raretés à voir le long du marécage :
Un jour il conterait à ses petits-enfants
Les beautés de ces lieux, les mœurs des habitants,
Et le gouvernement de la chose publique
Aquatique.
Un point sans plus tenait le galand empêché.
Il nageait quelque peu ; mais il fallait de l’aide.
La Grenouille à cela trouve un trés bon remède :
Le Rat fut à son pied par la patte attaché ;
Un brinc de jonc en fit l’affaire.
Dans le marais entrés, notre bonne Commère
S’efforce de tirer son Hôte au fond de l’eau,
Contre le droit des gens, contre la foi jurée ;
Prétend qu’elle en fera gorge-chaude et curée ;
(C’était à son avis un execellent morceau.)
Déjà, dans son esprit la Galande le croque.
Il atteste les dieux ; la Perfide s’en moque.
Il résiste ; elle tire. En ce combat nouveau,
Un Milan qui dans l’air planait, faisait la ronde,
Voit d’en haut le pauvret se débattant sur l’onde :
Il fond dessus, l’enlève, et, par même moyen,
La Grenouille et le lien.
Tout en fut ; tant et si bien
Que de cette double proie
L’Oiseau se donne au cœur joie,
Ayant de cette façon
À souper chair et poisson.

La ruse la mieux ourdie


Peut nuire à son inventeur ;
Et souvent la perfidie
Retourne sur non auteur.
O Lavrador e seus Filhos

Trabalhem, sim, com esforço forte:


É o que menos riscos impõe.
Um rico lavrador, perto sentindo a morte,
Chama os filhos e, sem testemunhas, propõe:
“Não pensem nunca em vender este patrimônio
Pela família transmitido,
Pois nele há um tesouro escondido.
Onde, eu não sei; mas, gastando um pouco de hormônio,
Vocês o encontrarão, vocês hão de vencer.
Revirem a terra após a safra colher.
Cavem, afofem, busquem, não fique um torrão
Sem passar, repassar a mão”.
Morrendo o Pai, eis cada filho lá na enxada,
Tudo ao redor lavrando; e ao fim da temporada
Rendeu a terra muito mais.
Nada escondido havia. Mas foi sábio o Pai
Ao lhes mostrar, mostrando o ouro,
Que o trabalho em si é um tesouro.
Le Laboureur et ses Enfants

Travaillez, prenez de la peine :


C’est le fonds qui manque le moins
Un riche Laboureur sentant sa mort prochaine
Fit venir ses enfants, leur parla sans témoins.
Gardez-vous, leur dit-il, de vendre l’heritage
Que nous ont laissé nos parents.
Un trésor est caché dedans.
Je ne sais pas l’endroit ; mais un peu de courage
Vous le fera trouver, vous en viendrez à bout.
Remuez votre champ dès qu’on aura fait l’août.
Creusez, fouillez, bêchez, ne laissez nulle place
Où la main ne passe et repasse.
Le Père mort, les fils vous retournent le champ
Deçà, delà, par tout ; si bien qu’au bout de l’an
Il en rapporta davantage.
D’argent, point de caché. Mais le Père fut sage
De leur montrer avant sa mort,
Que le travail est un trésor.
O Macaco e o Golfinho

Era costume no mar grego,


Tendo as viagens duração,
Levar consigo, por chamego,
Símios e cães de estimação.
Um navio, tendo-os na equipe,
Perto de Atenas foi a pique.
Seria o fim sem os Golfinhos,
Que são de nós bons amiguinhos,
Como diz Plínio em sua História
Natural, de cabal memória:
O que pôde a espécie salvou.
Até um Macaco, na ocorrência,
Tirou partido da aparência
E dever-lhe a vida pensou.
Um Golfinho o tomou por homem
E no seu dorso o fez sentar-se
Dignamente, como a igualar-se
A Arion, poeta de renome.
E o Golfinho, tão envolvido
Com a salvação, pergunta apenas:
“Por acaso você é de Atenas?”
“Sim, lá sou muito conhecido”,
Diz o Símio. “Qualquer questão,
Fale comigo que há parentes
Meus nas funções mais eminentes.
Meu primo é o Juiz mais mandão.”
E o outro diz: “Muito obrigado;
Pireu também está listado
Entre os honrados por você?
Creio que com frequência o vê?”.
“Todo dia; é um amigo dado,
Parceiro velho em quem se crê.”
Tomava o Mono, sem ter fontes,
Nome de porto por de gente.
Pessoas tais há sempre aos montes,
Que acham ser Roma a aldeia em frente
E, cacarejando incessantes,
Falam do que não viram antes.
O Golfinho ri. E afinal,
Para o Macaco olhando bem,
Nota que o náufrago que tem
Nas costas é um tolo animal:
Joga-o na água e vai buscar
Um homem real ao qual salvar.
Le Singe et le Dauphin

C’était chez les Grecs un usage


Que sur la mer tous voyageurs
Menaient avec eux en voyage
Singes et chiens de bateleurs.
Un navire en cet équipage
Non loin d’Athènes fit naufrage.
Sans les Dauphins tout eût péri.
Cet Animal est fort ami
De notre espèce : en son Histoire
Pline le dit, il le faut croire
Il sauva donc tout ce qu’il put.
Même un singe, en cette occurrence,
Profitant de la ressemblance,
Lui pensa devoir son salut.
Un Dauphin le prit pour homme,
Et sur son dos le fit asseoir,
Si gravement qu’on eût cru voir
Ce chanteur que tant on renomme
Le Dauphin l’allait mettre à bord,
Quand par hasard il lui damande :
Êtes-vous d’Athènes la grande ?
Oui, dit l’autre, on m’y connaît fort ;
S’il vous y survient quelque affaire,
Employez-moi ; car mes parents
Y tiennent tous les premiers rangs :
Un mien cousin est Juge-Maire.
Le Dauphin dit : Bien grand merci :
Et le Pirée a part aussi
À l’honneur de votre présence ?
Vous le voyez souvent ? je pense.
Tous les jours ; il est mon ami ;
C’est une vieille connaissance.
Notre Magot prit pour ce coup
Le nom d’un port pour un nom d’homme.
De telles gens il est beaucoup,
Qui prendraient Vaugirard pour Rome,
Et qui, caquetants au plus dru,
Parlent de tout et n’ont rien vu.
Le Dauphin rit, tourne la tête,
Et, le Magot considéré,
Il s’aperçoit qu’il n’a tiré
Du fond des eaux rien qu’une bête.
Il l’y replonge, et va trouver
Quelque homme afin de le sauver.
O Pastor e o Mar

Um vizinho de Anfitrite, a deusa do mar,


Contente vivia do que rende um Rebanho.
Muito modesto era seu ganho,
Porém seguro o amealhar.
Grandes tesouros na praia descarregados
Tanto o tentaram que ele vendeu seu plantel:
Traficou prata que depois, entre água e céu,
Sumiu num barco naufragado.
Seu Dono reduziu-se a simples guardador
De Ovelhas; não mais um venturoso Pastor
Com Carneiros próprios pastando pela margem:
Quem antes se tinha por homem de valor
Tornou-se alguém em desvantagem.
Passado um tempo, ele porém ficou melhor
E comprou novos animais.
Num dia em que o vento, não soprando no cais,
Deixava os navios atracar sem delongas:
“É prata o que quereis, bem sei, Senhoras Ondas”,
Disse ele. “Pois procurai outro camarada,
Que de mim não tereis mais nada.”

Não é um conto de invenção que se tem aqui.


Só da verdade eu me servi
Para mostrar por experiência
Que um centavo seguro em si
Vale cinco em mera esperança;
Que é bom se contentar com sua condição;
Que aos conselhos vindos do Mar e da Ambição
Nós não devemos dar ouvidos.
Por um que se gabar, dez mil se queixarão.
Promete o Mar cimos floridos,
Mas cuidado: os ventos e os ladrões se erguerão.
Le Berger et La Mer

Du rapport d’un troupeau dont Il vivait sans soins


Se contenta longtemps un voisin d’Amphitrite.
Si sa fortune était petite,
Elle était sûre tout au moins
À la fin les trésors dechargés sur la plage
Le tentèrent si bien qu’il vendit son troupeau,
Trafiqua de l’argent, le mit entier sur l’eau ;
Cet argent périt par naufrage.
Son Maître fut réduit à garder les Brebis ;
Non plus Berger en chef comme il était jadis,
Quand ses propres Moutons paissaient sur le rivage :
Celui qui s’était vu Coridon ou Tircis
Fut Pierrot et rien davantage.
Au bout de quelque temps il fit quelques profits ;
Racheta des bêtes à laine :
Et comme un jour les vents retenant leur haleine
Laissaient paisiblement aborder les vaisseaux :
Vous voulez de l’argent, ô Mesdames les Eaux,
Dit-il, adressez-vous, je vous prie, à quelque autre :
Ma foi, vous n’aurez pas le nôtre.

Ceci n’est pas un conte à plaisir inventé.


Je me sers de la vérité
Pur montrer par expérience
Qu’un sou quand il est assuré
Vaut mieux que cinq en espérance ;
Qu’il se faut contenter de sa condition ;
Qu’aux conseils de la Mer et de l’Ambition
Nous devons fermer les orielles.
Pour un qui s’en louera, dix mille s’en plaindront.
La Mer promet mots et merveilles ;
Fiez-vous-y, les vents et les voleurs viendront.
O Burro e o Cão

É preciso ajudar-se, é lei da natureza


Que o Burro um dia desprezou.
Nem sei por que não a acatou,
Tendo ele tanta singeleza.
Transpunha a terra acompanhado de um Cão,
Nada pensando e caladão,
Indo o dono dos dois atrás.
Esse dormiu; e o Burro foi pastar em paz,
Posto num vasto capinzal
Que convinha ao gosto animal.
Cardos não tendo, deles se abstém logo o Jegue.
Mas nem sempre se deve ser tão delicado;
Se falta um prato que é do agrado,
Raramente a festa prossegue.
Nosso pacífico Jerico
Soube passar sem isso. Mas o Cão, faminto,
Lhe pede: “Abaixe um pouco, caro companheiro,
Para eu pegar na cesta o de comer que cheiro”.
Neca de resposta; e o Burro mudo, distinto,
Temeu perder essa parada
Levando em breve uma dentada.
Fingia ser surdo de orelha,
Mas enfim falou: “Este amigo te aconselha
Esperar que o sono do teu dono termine,
Pois ele te dará, quando se reanime,
Tua costumeira ração.
Não falta muito para tanto”.
Um Lobo rápido, entretanto,
Cheio de fome sai da mata e entra em ação.
O Burro berra e ao Cão então pede socorro.
O Cão, sem se mexer, lhe diz: “Amigo, acerte
O passo e fuja antes que o dono enfim desperte.
Não falta muito; corra para aquele morro.
Se o Lobo te pegar, quebre-lhe o maxilar
Com um coice de mestre; se em mim acreditar,
Você o liquidará”. Com o discurso em jorro,
O Lobo estrangulou o Burro sem penar.
Concluo que urge se ajudar.
L’Âne et le Chien

Il se faut entraider, c’est la loi de nature :


L’Âne un jour pourtant s’en moqua :
Et ne sais comme il y manqua ;
Car il est bonne créature.
Il allait par pays accompagné du Chien,
Gravement, sans songer à rien,
Tous deux suivis d’un commun maître.
Ce maître s’endormit ; l’Âne se mit à paître :
Il était alors dans un pré.
Dont l’herbe était fort à son gré.
Point de chardons pourtant ; il s’en passa pour l’heure :
Il ne faut pas toujours être si délicat ;
Et faute de servir ce plat
Rarement un festin demeure.
Notre Baudet s’en sut enfin
Passer pour cette fois. Le Chien mourant de faim
Lui dit : Cher compagnon, baisse-toi, je te prie.
Je prendrai mon dîné dans le panier au pain.
Point de réponse, mot ; le panier le Roussin d’Arcadie
Craignit qu’en perdant un moment,
Il ne perdît un cup de dent.
Il fit longtemps la sourde oreille :
Enfin il répondit : Ami, je te conseille
D’attendre que ton maître ait fini son sommeil ;
Car il te donnera sans faute à son réveil,
Ta portion accoutumée.
Il ne saurait tarder beaucoup.
Sur ces entrefaites un Loup
Sort du bois, et s’en vient ; autre Bête affamée
L’Âne appelle aussitôt le Chien à son secours.
Le Chien ne bouge, et dit : Ami, je te conseille ;
De fuir en attendant que ton maître s’éveille ;
Il ne saurait tarder ; détale vite, et cours.
Que si ce Loup t’atteint, casse-lui la mâchoire.
On t’a ferré de neuf ; et si tu me veux croire,
Tu l’étendras tout plat. Pendant ce beau discours,
Seigneur Loup étrangla le Baudet sans remède.
Je conclus qu’il faut qu’on s’entraide.
O Sátiro e o Passante

Dentro de um antro grosseiro,


Um Sátiro e sua prole
Tomavam do costumeiro
Caldo vil que o clã engole.

No musgo sentavam juntos,


À falta de algum tapete,
Ele e a Dona e seus Bestuntos,
Todos de ótimo apetite.

Da tempestade fugindo
Entra um Passante encharcado
Que é um convidado bem-vindo
Mesmo sem ser esperado.

O Anfitrião, logo atento,


Nem insiste com arremedos.
Desde já, soprando vento,
A visita aquece os dedos.

No que lhe dão a comer


Também sopra, delicado,
Levando o outro a dizer:
“Quanto bafo! E a que cuidado?”.

“Um esfria a minha sopa,


Outro esquenta a minha mão.”
Isso o Selvagem não topa
E o despacha em explosão:

“Não durmo na mesma toca


Com gente tão repelente.
Fora aqueles cuja boca
Sopra o frio e sopra o quente!”
Le Satyre et le Passant

Au fond d’un antre sauvage,


Un Satyre et ses enfants
Allaient manger leur potage
Et prendre l’écuelle aux dents.

On les eût vus sur la mousse


Lui, sa Femme, et maint Petit ;
Ils n’avaient tapis ni housse,
Mais tous fort bon appétit.

Pour se sauver de la pluie


Entre un Passant morfondu.
Au brouet on le convie.
Il n’était pas attendu.

Son Hôte n’eut pas la peine


De le semondre deux fois ;
D’abord avec son haleine
Il se réchauffe les doigts.

Puis sur le mets qu’on lui donne


Délicat il souffle aussi ;
Le Satyre s’en étonne :
Notre Hôte, à quoi bon ceci ?

L’un refroidit mon


L’autre réchauffe ma main.
Vous pouvez, dit le Sauvage,
Reprendre votre chemin.

Ne plaise aux Dieux que je couche


Avec vous sous même toit !
Arrière ceux dant la bouche
Souffle le chaud et le froid !
A Educação

Ladino e César, cães irmãos que descendiam


De pais famosos, belos, fortes, destemidos,
Tendo cabido a dois donos, em tempos idos,
Um na floresta, outro na cozinha viviam.
Outros nomes de início a esses cães foram dados.
Mas a criação desigual,
Num fortificando a natureza ancestral,
Noutro a alterando, fez um cozinheiro irado
Chamar Ladino o esfomeado.
O irmão, que acuou Cervos pelo matagal
E abateu Javalis com a intrepidez de um rei,
Foi o primeiro César da canina grei.
Trataram de impedir que uma vil namorada
Fizesse em filhos seus degenerar a raça.
Mas Ladino, largado, pega por amada
A primeira que em frente passa.
De povoar jamais se cansa:
Vira-latas que ele tornou comuns na França
São aí como um enxame a esvoaçar nos ares,
Povo que é o antípoda dos Césares.
Nem sempre se prossegue como o avô ou o pai.
O tempo, a incúria, tudo a decadência atrai.
Não cultivada a natureza com seus dons,
Césares tornam-se Ladinos, aos montões.
L’Éducation

Laridon et César, frères dont l’origine


Venait de chiens fameux, beaux, bien faits et hardis,
À deux maître divers échus au temps jadis,
Hantaient l’un le forêts, et l’autre la cuisine.
Ils avaient eu d’abord chacun un autre nom ;
Mais la diverse nourriture
Fortifiant en l’un cette heureuse nature,
En l’autre l’altérant, un certain marmiton
Nomma celui-ci Laridon :
Son frère, ayant couru mainte haute aventure,
Mis maint Cerf aux abois, maint Sanglier abattu,
Fut le premier César que la gent chienne ait eu.
On eut soin d’empêcher qu’une indigne maîtresse
Ne fit en ses enfants dégénérer son sang :
Laridon négligé témoignait sa tendresse
À l’objet le premier passant.
Il peupla tout de son engeance :
Tournebroches par lui rendus communs en France
Y font un corps à part, gens fuyants les hadards,
Peuple antipode des Césars.
On ne suit pas toujours ses aïeux ni son père :
Le peu de soin, le temps, tout fait qu’on dégénère :
Faute de cultiver la nature et ses dons,
Ô combien de Césars deviendront Laridons !
O Louco que vendia sabedoria

Jamais convém se pôr ao alcance de um louco.


De dar melhor conselho a sensatez me exime.
Não há lição que se aproxime
À de evitar cabeças com miolo pouco.
Na corte as vemos atuantes
Para o prazer do Príncipe, que circunstantes
Mantém os tolos, os larápios e os ridículos.
Um doido gritava por todos os quadrantes
Que vendia sabedoria; os mortais crédulos
Correram à compra, cada qual mais ligeiro.
E o que eles viram? Palhaçada,
Ganhando após, por seu dinheiro,
Um barbante comprido e boa bofetada.
A maioria se zangou, inoperante.
Foram os mais gozados; melhor era rir
Ou se calar e embora ir
Com seu sopapo e seu barbante.
Quem quis à coisa dar sentido
Achincalhado foi como grande ignorante.
Quando enfim a razão garante
O que um doido faz? Ao acaso é decidido
O que se passa num cérebro estropiado.
Mas, com o bofetão e o tal cordão intrigado,
Um dia um dos otários a um sábio indagou,
Que nem sequer titubeou
Em lhe dizer: “São símbolos a decifrar.
Quem for prudente, quem quiser bem proceder,
Entre si e os malucos deverá manter
A distância deste cordão; se se embolar,
Carícia levará como essa.
Nosso doido vendeu sabedoria à beça”.
Le Fou qui vend la sagesse

Jamais auprès des fous ne te mets à portée.


Je ne te puis donner un plus sage conseil.
Il n’est enseignement pareil
À celui-là de fuir une tête éventée.
On en voit souvent dans les cours.
Le Prince y prend plaisir ; car ils donnent toujours
Quelque trait aux fripons, aux sots, aux ridicules
Un Fol allait criant par tous les carrefours
Qu’il vendait la sagesse ; et les mortels crédules
De courir à l’achat : chacun fut diligent.
On essuyait force grimaces ;
Puis on avait pour son argent
Avec un bon soufflet un fil long de deux brasses.
La plupart s’en fâchaient ; mais que leur servait-il ?
C’étaient les plus moqués ; le mieux était de rire,
Ou de s’en aller sans rien dire
Avec son soufflet et son fil.
De chercher du sens à la chose,
On se fût fait siffler ainsi qu’un ignorant.
La raison est-elle garant
De ce que fait un fou ? Le hasard est la cause
De tout ce qui se passe en un cerveu blessé.
Du fil et du soufflet pourtant embarrassé,
Un des dupes un jour alla trouver un sage,
Qui sans hésiter davantage
Lui dit : Ce sont ici hiéroglyphes tout purs.
Les gens bien conseillés, et qui voudront bien faire,
Entre eux et les gens fous mettront pour l’ordinaire
La longueur de ce fil ; sinon je les tiens sûrs
De quelque semblable caresse.
Vous n’êtes point trompé ; ce Fou vend la sagesse.
O Gato e o Rato

Quatro animais (o Gato, um ás da pilantragem,


O Mocho triste, o espertalhão Rato guloso
E a Doninha, com fina imagem),
Todos de espírito maldoso,
Viviam no tronco de um pinheiro selvagem.
Tanto ali se entocavam que em redor do pinho
O homem passou à noite uma rede. E o Gatinho
De madrugada à caça ia.
Estando ainda muito escuro, ele não via
A rede, que o retém, e cai para morrer.
Mal mia o Gato, vem o Rato a se meter,
Um cheio de desespero, outro de alegria
Por achar no laço seu mortal inimigo.
Aflito, o Gato diz: “Amigo,
Suas mostras de benevolência
São comuns pelo meu rincão.
Ajude-me a sair do ardil em que a ignorância
Me fez cair. Eu, com razão,
Só por você, dos seus, um amor singular
Sempre nutri. O amor que dei, longe das massas,
Não o lamento em nada. Aos Deuses rendo graças.
Ia aliás a eles rezar,
Como um Gato devoto faz assim que acorda.
Tenho a vida em suas mãos, preso pela corda.
Venha desmanchar esses nós”. “Que recompensa
Terei então?”, pergunta o Rato.
“Juro que uma eterna aliança
Farei contigo”, explica o Gato.
“Confiando em minhas garras, ganhe em segurança:
Contra todos e tudo te protegerei.
Dona Doninha eu comerei,
Mais o marido da Coruja,
Dois que te seguem.” O Rato diz: “Idiota!
Ser eu seu salvador? Só se eu fosse pateta”.
Mas logo ele se encaramuja,
Ao dar de cara com a Doninha.
O Rato sobe mais. E do alto o Mocho vinha.
Perigos por toda parte. A saída urgente
Era voltar ao Gato e recorrer ao dente
Para cortar um elo aqui, outro adiante,
E enfim o hipócrita soltar.
O homem surge nesse instante.
Os novos aliados fogem, a debandar.
Passado um tempo, de longe avistou o Gato
O Rato em guarda, sempre alerta pela mata.
“Olá, irmão, dê-me um abraço; seu recato
Estranho”, diz. “Você me trata
Como inimigo e não aliado.
Pensa que esqueço eu ser salvado
Por você, a quem devo a vida?”
E o Rato diz: “Nem eu esqueço como é pérfida
Sua natureza; que exigência
Pode forçar um Gato à eterna gratidão?
Alguém confia em união
Feita só por conveniência?”
Le Chat et le Rat

Quatre animaux divers, le Chat Grippe-fromage,


Triste-oiseau le Hibou, Ronge-maille le Rat,
Dame Belette au long corsage,
Toutes gens d’esprit scélérat,
Hantaient le tronc pourri d’un pin vieux et sauvage.
Tant y funrent qu’un soir à l’entour de ce pin
L’homme tendit ses rest. Le Chat fut grand matin,
Sort pour aller chercher sa proie.
Les deniers traits de l’ombre empêchent qu’il ne voie
Le filet ; il y tombe, en danger de mourir ;
Et mon Chat de crier, et le Rat d’accourir.
L’un plein de désespoir, et l’autre plein de joie ;
Il voyait dans les lacs son mortel ennemi.
Le pauvre Chat dit : Chèr ami,
Les marques de ta bienveillance
Sont communes en mon endroit ;
Viens m’ainder à sortir du piège où l’ignorance
M’a fait tomber. C’est à bon endroit
Que seul entre les tiens par amour singulièr,
Je t’ai toujours choyè, t’aimaint comme mes yeux.
Je n’en ai point regret, et j’en rends grâce aux Dieux.
J’allais leur faire ma prière ;
Comme tout dévot Chat en use les matins.
Ce réseau me retient, ma vie est en tes mains :
Viens dissoudre ces nœuds. Et quelle récompense
En aurai-je ? repit le Rat.
Je jure éternelle alliance
Avec toi repartit le Chat.
Dispose de ma griffe, et sois en assurance :
Envers et contre tous je te protégerai,
Et la Belette mangerai
Avec l’époux de la Chouette.
Ils t’en veulent tous les deux. Le Rat dit : Idiot !
Moi ton libérateur ? Je ne suis pas si sot.
Puis il s’en va vers sa retraite.
La Balette était près du trou.
Le Rat grimpe plus haut, il y voit le Hibou :
Dangers de toutes parts ; le plus pressant l’emporte.
Ronge-maille retourne au Chat, et fait en sorte
Qu’il détache un chaînon, puis autre, et puis tant
Qu’il dégage enfin l’hypocrite.
L’Homme paraît en cert instant.
Les nouveaux alliés prennent tous deux la fuite.
A quelque temps de là, notre Chat vit de loin
Son Rat qui se tenait à l’erte et sur ses gardes.
Ah! mon frère, dit-il, viens m’embrasser ; ton soin
Me fait injure. Tu regards
Comme ennemi ton allié.
Penses-tu que j’aie oublié.
Qu’après Dieu je te dois la vie ?
Et moi, reprit le Rat, penses-tu que j’oublie
Ton naturel ? Aucun traité
Peut-it forcer un Chat à la reconnaissance ?
S’assure-t-on sur l’alliance
Qu’a faite la nécessité ?
O Cavalo que quis se vingar do Cervo

Não nasceu o Cavalo para o uso de humanos.


No tempo em que os homens só frutas consumiam,
Cavalo, Asno e Mula nas florestas viviam.
Não se viam, como depois por tantos anos,
Tantas selas em tais meneios,
Tantos arreios para torneios,
Tantos coches com seus rocins,
Não estando os lugares cheios
De tantas núpcias e festins.
Porém com um Cervo teve uma rixa um Cavalo,
Por questão de velocidade.
Como não pôde numa corrida alcançá-lo,
Pediu ao Homem que o ajudasse, por piedade.
O Homem lhe pôs um freio, montou-o e zás:
Sem o deixar um instante em paz
Foi, veloz, pegar o Cervo, que lá morreu.
Logo o Cavalo agradeceu
Ao seu humano benfeitor: “Conte comigo
E adeus; de volta agora para a selva eu vou”.
O Homem diz: “Melhor você ser nosso amigo,
Seu serviço me interessou.
Fique conosco que aqui será bem tratado,
Com palha fofa em bom cercado”.
De que vale a comodidade
Quando se perde a liberdade?
Notou o Cavalo estar marcando bobeira;
Era tarde demais, porém: sua cocheira
Esteve pronta a vida inteira.
Lá no cabresto ele morreu.
Perdoando a ofensa leve, far-se-ia sensato,
Pois qualquer prazer de vingança por seu ato
Saiu caro, se um bem em troca ele cedeu
Sem o qual nada mais valeu.
Le Cheval s’étant voulu venger du Cerf

De tout temps les Chevaux ne sont nés pour les hommes.


Lorsque le genre humain de gland se contentait,
Âne, Cheval, et Mule, aux forêts habitait ;
Et l’on ne voyait point, comme au siècle où nous sommes,
Tant de selles et tant de bâts,
Tant de harnois pour les combats,
Tant de chaises, tant de carrosses,
Comme aussi ne voyait-on pas
Tant de festins er tant de noces.
Or un Cheval eut alors différend
Avec un Cerf plein de vitesse,
Et ne pouvant l’attraper en courant,
Il eut recours à l’Homme, implora son adresse.
L’Homme lui mit un frein, lui sauta sur le dos,
Ne lui donna point de repos
Que le Cerf ne fût pris, et n’y laissât la vie.
Et cela fait, le Cheval remercie
L’Homme son bienfaiteur, disant : Je suis à vous,
Adieu. Je m’en retourne en mon séjour sauvage.
Non pas cela, dit l’Homme ; il fait meilleur chez nous :
Je vois trop quel est votre usage.
Demeurez donc ; vous serez bien traité,
Et jusqu’au ventre en la litière.
Hélas que sert la bonne chère
Quand on n’a pas la liberté !
Le Cheval s’aperçut qu’il avait fait folie ;
Mais il n’était plus temps : déjà son écurie
Était prête et toute bâtie.
Il y mourut en trainant son lien.
Sage s’il eût remis une légère offense.
Quel que soit le plaisir que cause la vengeance,
C’est l’acheter trop cher, que l’acheter d’un bien
Sans qui les autres ne sont rien.
As Mulheres e o Segredo

Nada pesa mais que um segredo;


Damas porém levam-no alhures.
Sei mesmo que há, havendo enredo,
Muitos homens que são mulheres.
Para testar a sua, um marido exclamou,
De noite, ao lado dela: “Ó deuses, como estou
Sendo rasgado; não me aguento!
Botei um ovo, vê se pode!”. “Um ovo?” “Dou
Minha palavra: fresco e novo. Tenha tento,
Não fale disso, ou vão me chamar de galinha.”
A dona, que acerca não tinha
Noção, como de quase nada,
Acreditou e lhe jurou ficar calada.
Mas tal promessa se desfez
Quando a noite acabou de vez.
Indiscreta e grossa, a esposinha
Pulou da cama, mal o dia começado,
Para ir correndo até a vizinha:
“Comadre”, diz, “temos um caso complicado.
Nada comente, se não uma surra me dão.
Meu marido, de noite, pôs um ovo grandão.
Peço por Deus tomar cuidado,
Não divulgar esse mistério.”
“Sossegue”, a outra diz. “Quando sei que o caso é sério,
Eu sou, você bem sabe, um túmulo fechado.”
A mulher do poedeiro volta para casa.
De espalhar a notícia a outra não se atrasa:
Recontou-a em mais de dez lugares; e, em vez
De um ovo só, dizia três.
Isso não foi tudo. Houve ainda uma fulana
Que disse quatro, cochichando sobre o enredo,
Precaução vã, já quase insana,
Pois nada mais era segredo.
Como o número de ovos, com essa cantilena,
De boca em boca só crescia,
Antes de terminado o dia
Já chegava além da centena.
Les Femmes et le Secret

Rien ne pèse tant qu’un secret ;


Le porter loin est difficile aux Dames :
Et je sais même sur ce fait
Bon nombre d’hommes qui sont femmes.
Pour éprouver la sienne un Mari s’écria
La nuit étant près d’elle : Ô Dieux! qu’est-ce cela ?
Je n’en puis plus ; on me déchire ;
Quoi ! j’accouche d’un œuf ! D’un œuf ? Oui, le voilà
Frais et nouveau pondu. Gardez bien de le dire :
On m’appellerait Poule. Enfin n’en parlez pas.
La Femme neuve sur ce cas,
Ainsi que sur mainte autre affaire,
Crut la chose, et promit ses grands dieux de se taire.
Mais ce serment s’évanouit
Avec les ombres de la nuit.
L’Épouse indiscrète et peu fine,
Sort du lit quand le jour fut à peine levé :
Et de courir chez sa voisine.
Ma commère, dit-elle, en cas est arrivé :
N’en dites rien surtout, car vous me feriez battre.
Mon Mari vient de pondre un œuf gros comme quatre.
Au nom de Dieu gardez-vous bien
D’aller publier ce mystère.
Vous moquez-vous ? dit l’autre. Ah, vous ne savez guère
Quelle je suis. Allez, ne craignez rien.
La Femme du pondeur s’en retourne chez elle.
L’autre grille déjà de conter la nouvelle :
Elle va la répandre en plus de dix endroits.
Au lieu d’un œuf elle en dit trois.
Ce n’est pas encor tout, car une autre commère
En dit quatre, et raconte à l’oreille le fait,
Précaution peu nècessaire,
Car ce n’était plus un secret.
Comme le nombre d’œufs, grâce à la renommée,
De bouche en bouche allait croissant,
Avant la fin de la journée
Ils se montaient à plus d’un cent.
A Cobra e a Lima

Vizinha de um Relojoeiro, a Cobra entrou


(Assim se diz dessa vizinha intrometida)
Por sua loja, procurando o que comer.
Mas não achou outra comida
Além da Lima de aço que se pôs a roer.
Essa Lima lhe diz, sem raiva demonstrar:
“Desista, sua boba, que não vai dar.
Eu sou mais dura que você,
Ô cabeça louca, ô Cobrinha!
Antes de arrancar seja o quê,
De mim somente uma lasquinha,
Irá gastar a dentição:
E eu só do tempo temo a ação”.

A vós vai isso, ó Espíritos de baixa ordem


Que, não servindo a nada, sempre tudo mordem,
Tanto se atormentando em vão.
Crede que ainda gravem ofensas vossos dentes
Em obras tão excelentes?
De aço, diamante e bronze para vós elas são.
Le Serpent et la Lime

On conte qu’un Serpent voisin d’un Horloger


(C’était pour l’Horloger un mauvais voisinage),
Entra dans sa boutique, et cherchant à manger
N’y rencontra pour tout potage
Qu’une Lime d’acier qu’il se mit à ronger.
Cette Lime lui dit, sans se mettre en colère :
Pauvre ignorant ! et que prétends-tu faire ?
Tu te prends à plus dur que toi.
Petit Serpent à tête folle,
Plutôt que d’emporter de moi
Seulement le quart d’une obole,
Tu te romprais toutes les dents :
Je ne crains que celles du temps.

Ceci s’adresse à vous, esprits du dernier ordre,


Qui n’étant bons à rien chercher sur tout à mordre.
Vous vous tourmentez vainement.
Croyez-vous que vos dents impriment leurs outrages
Sur tant de beaux ouvrages ?
Ils sont pour vous d’airain, d’acier, de diamant.
O Coelho e a Perdiz

Dos desditosos jamais se deve zombar:


Quem se assegura que feliz sempre será?
O sábio Esopo, ao fabular,
Disso mais de um exemplo dá.
Este que em versos ponho à mão
E os dele a mesma coisa são.
O Coelho e a Perdiz, cidadãos se associando,
Viviam num estado, consta, assaz tranquilo,
Quando uma Matilha chegando
Força o primeiro a ir no mato buscar asilo.
Lépido foge o perseguido. Engana os três
Cachorros, da primeira vez,
Porém acaba se entregando
Pelas emanações do seu corpo esquentado.
Um Cão, sobre o cheiro tendo filosofado,
Conclui que é presa sua e, em fúria se largando,
Ataca. Um outro, que nunca foi de mentir,
Diz que o Coelho vai sumir.
Na própria toca vem morrer o desditoso.
Dele a Perdiz caçoa e diz:
“Que fez você do seu famoso
Passo veloz?”. Mas, enquanto ri, a infeliz
Também foi encontrada; ela voa e no céu
Se crê a salvo de qualquer golpe extremado.
Coitada! Não tinha contado
Com o Falcão de garra cruel.
Le Lièvre et la Perdrix

Il ne se faut jamais moquer des misérables :


Car qui peut s’assurer d’être toujours heureux ?
Le sage Ésope dans ses fables
Nous en donne un exemple ou deux.
Celui qu’en ces vers je propose
Et les siens, ce sont même chose.
Le Lièvre et la Perdrix, concitoyens d’un champ,
Vivaient dans un état, ce semble, assez tranquille,
Quand une Meute s’approchant
Oblige le premier à chercher un asile.
Il s’enfuit dans son fort, met les Chiens en défaut,
Sans même en excepter Brifaut.
Enfin il se trahit lui-même
Par les esprits sortant de son corps échauffé.
Miraut sur leur odeur ayant philosophé
Conclut que c’est son Lièvre, et d’une ardeur extrême
Il le pousse ; et Rustaut, qui n’a jamais menti,
Dit que le Lièvre est reparti.
Le pauvre malheureux vient mourir à son gîte.
La perdrix le raille et lui dit :
Tu te vantais d’être si vite ;
Qu’as-tu fait de tes pieds ? Au moment qu’elle rit,
Son tour vient ; on la trouve. Elle croit que ses ailes
La sauront garantir à toute extrémité ;
Mais la Pauvrette avait compté
Sans l’Autour aux serres cruelles.
O Cavalo e o Lobo

Um certo Lobo, na estação


Em que o vento faz, quente, o verde renascer
E os animais saem de casa à viração
Para ir buscar do que viver,
Um Lobo pois, após o Inverno rigoroso,
Notou, posto a pastar, um Cavalo fogoso.
Imaginem só que alegria!
“A bons dentes”, diz, “eis a caça garantida.
Se fosse um Carneiro, não teria saída.
Mas ao pegar esta presa é preciso astúcia.”
Ele assim vem e a passos mansos se declara
De Hipócrates um seguidor
Que conhece as propriedades de cada rara
Erva que ali já se plantara;
Diz que é um modesto curador
De qualquer mal. Se Dom Corcel à luz do dia
Não ocultasse seu estado,
Grátis Dom Lobo o curaria.
Pois vagar como ele no prado,
Sem que nada o amarrasse, à cata,
Em Medicina era sintoma de algum mal.
Disse o cavalar Animal
Ter um problema numa pata.
“Não há parte mais sujeita”, o Doutor dizia,
“A sentir tanta esquisitice.
Tenho a honra de atender à alta Cavalice
E também faço Cirurgia.”
Não queria o esperto senão tempo ganhar
Para abocanhar seu doente.
Mas o outro desconfia e manda-lhe um potente
Coice que foi suficiente
Para a queixada espatifar.
“Bem feito”, diz a si mesmo o Lobo chateado.
“Que a seu ofício cada qual se dê inteiro.
Você, de Sábio disfarçado,
Nunca passou de um Açougueiro.”
Le Cheval et le Loup

Un certain Loup, dans la saison


Que les tièdes Zéphyrs ont l’herbe rajeunie,
Et que les animaux quittent tous la maison,
Pour s’en aller chercher leur vie ;
Un Loup, dis-je, au sortir des rigueurs de l’hiver,
Aperçut un Cheval qu’on avait mis au vert.
Je laisse à penser quelle joie !
Bonne chasse, dit-il, qui l’aurait à son croc.
Eh ! que n’es-tu Mouton ? car tu me serais hoc :
Au lieu qu’il faut ruser pour avoir cette proie.
Rusons donc. Ainsi dit, il vient à pas comptés,
Se dit Écolier d’Hippocrate ;
Qu’il connaît les vertus et les propriétés
De tous les Simples de ces prés,
Qu’il sait guérir, sans qu’il se flatte,
Toutes sortes de maux. Si Dom Coursier voulait
Ne point celer sa maladie,
Lui Loup gratis le guérirait.
Car le voir en cette prairie
Paître ainsi sans être lié
Témoignait quelque mal, selon la médecine.
J’ai, dit la Bête chevaline,
Une apostume sous le pied.
Mon fils, dit le Docteur, il n’est point de partie
Susceptible de tant de maux.
J’ai l’honneur de servir Nosseigneurs les Chevaux,
Et fais aussi la Chirurgie.
Mon Galand ne songeait qu’à bien prendre son temps,
Afin de happer son Malade.
L’autre qui s’en doutait lui lâche une ruade,
Qui vous lui met en marmelade
Les mandibules et les dents.
C’est bien fait (dit le Loup en soi-même fort triste)
Chacun à son métier doit toujours s’attacher ;
Tu veux faire ici l’Arboriste,
Et ne fus jamais que Boucher.
O Urso e os dois Parceiros

Dois Parceiros, já sem dinheiro,


Venderam a pele de um Urso
Vivo a um Vizinho, bom Peleiro.
E era o Rei dos Ursos, segundo seu discurso,
Que os bravos muito em breve prometiam matar.
Faria o Mercador fortuna com uma pele
Que protegeria dos frios de rachar,
Dando para forrar vários casacos dele.
Tanto a esse Urso os dois Parceiros se apegavam
Que julgam ser a pele sua, não da Fera.
Dizem que em dois dias apenas a entregavam
E, combinado o preço, vão se pôr à espera.
Surgindo lá, veloz avança o Urso ao vê-los
E assusta meus Amigos como um raio que cai.
Quem indenização pedir a um Urso vai,
Se o negócio gorar, e não sem atropelos?
Um dos Parceiros trepa no alto de uma árvore;
O outro, mais frio do que mármore,
Deita no chão e faz-se morto de mentira,
Pois de alguém antes tinha ouvido
Que Urso em geral passa batido
Por um corpo que jaz e que já não respira.
O grande Dom Ursão caiu feito um bobinho:
Vê o corpo esticado e o crê mesmo finado.
Mas, temendo ser enganado,
Vira-o pra cá, pra lá, e sonda com o focinho
A ver se hálito ainda resta.
“É um Cadáver”, diz. “Já me vou que está fedendo.”
E com esta conclusão se embrenhou na Floresta.
O primeiro Malandro, da árvore descendo,
Corre ao Comparsa e diz: “Que bom não ter havido,
Além do nosso medo, nenhum outro mal.
Mas e a pelagem do Animal?
Que te falou ele no ouvido,
Quando tão perto e atento esteve
A te apalpar como um Doutor?”.
“Disse-me que jamais se deve
Contar com o Ovo que a Galinha ainda há de pôr.”
L’Ours et les Deux Compagnons

Deux Compagnons pressés d’argent


À leur voisin Fourreur vendirent
La peau d’un Ours encor vivant ;
Mais qu’ils tueraient bientôt, du moins à ce qu’ils dirent.
C’était le Roi des Ours au conte de ces gens.
Le Marchand à sa peau devait faire fortune :
Elle garantirait des froids les plus cuisants ;
On en pourrait fourrer plutôt deux robes qu’une.
Dindenaut prisait moins ses Moutons qu’eux leur Ours :
Leur, à leur compte, et non à celui de la Bête.
S’offrant de la livrer au plus tard dans deux jours,
Ils conviennent de prix, et se mettent en quête ;
Trouvent l’Ours qui s’avance, et vient vers eux au trot.
Voilà mes Gens frappés comme d’un coup de foudre.
Le marché ne tint pas ; il fallut le résoudre :
D’intérêts contre l’Ours, on n’en dit pas un mot.
L’un des deux Compagnons grimpe au faîte d’un arbre.
L’autre, plus froid que n’est un marbre,
Se couche sur le nez, fait le mort, tient son vent,
Ayant quelque part ouï dire
Que l’Ours s’acharne peu souvent
Sur un corps qui ne vit, ne meut, ni ne respire.
Seigneur Ours, comme un sot, donna dans ce panneau.
Il voit ce corps gisant, le croit privé de vie,
Et de peur de supercherie
Le tourne, le retourne, approche son museau,
Flaire aux passages de l’haleine.
C’est, dit’il, un cadavre : ôtons-nous, car il sent.
À ces mots, l’Ours s’en va dans la forêt prochaine.
L’un de nos deux Marchands de son arbre descend ;
Court à son Compagnon, lui dit que c’est merveille
Qu’il n’ait eu seulement que la peur pour tout mal.
Et bien, ajouta-t-il, la peau de l’Animal ?
Mais que t’a-t-il dit à l’oreille ?
Car il s’approchait de bien près,
Te retournant avec sa serre.
Il m’a dit qu’il ne faut jamais
Vendre la peau de l’Ours qu’on ne l’ait mis par terre.
O Homem e a Pulga

Com votos importunos os Deuses fatigamos;


E às vezes por razão de todo descabida.
Parece até que o Céu, ao longo desta vida,
Por nós tenha de olhar por onde quer que vamos
E que o menor de todos, em raça tão mortal,
A cada passo dado, à coisa mais banal,
Deva envolver o Olimpo e os Deuses em sossego,
Como se Troia ora enfrentasse o poder grego.
Uma Pulga mordeu no ombro de um Boboca
E em dobras do lençol foi se abrigar.
“Ó Hércules”, diz ele, “peço a Terra livrar
Dessa Hidra, um monstro, que na Primavera ataca.
Que fazes, Júpiter, tu que em nuvens descansavas,
Se daí não te mexes, não vens me vingar?”
Pra matar uma Pulga ele queria obrigar
Os Deuses a por ele lançar raios e clavas.
L’Homme et la Puce

Par des vœux importuns nous fatiguons les dieux :


Souvent pour des sujets même indignes des hommes.
Il semble que le Ciel sur tous tant que nous sommes
Soit obligé d’avoir incessamment les yeux,
Et que le plus petit de la race mortelle,
À chaque pas qu’il fait, à chaque bagatelle,
Doive intriguer l’Olympe et sous ses citoyens,
Comme s’il s’agissait des Grecs et des Troyens.
Un Sot par une Puce eut l’épaule mordue.
Dans le plis de ses draps elle alla se loger.
Hercule, ce dit-il, tu devais bien purger
La terre de cette Hydre au printemps revenue.
Que fais-tu, Jupiter, que du haut de la nue
Tu n’en perdes de la race afin de me venger ?
Pour tuer une Puce il voulait obliger
Ces Dieux à lui prêter leur foudre et leur massue.
POSFÁCIO
por Jean de La Fontaine

A indulgência que se teve por algumas de minhas Fábulas permite-me esperar o


mesmo favor para esta Coletânea.[1] Não que um dos Mestres de nossa
Eloquência[2] tenha desaprovado a intenção de as pôr em Verso. Ele apenas
presumiu que o principal ornamento delas é não ter nenhum; e que a constrição
da Poesia, por outro lado, junto com a severidade de nossa Língua, me
embaraçaria em muitas passagens e baniria da maioria destes relatos a brevidade,
que se pode considerar com acerto a alma do Conto, pois é de todo inevitável
que ele enfraqueça sem ela. Essa opinião não poderia partir senão de um homem
de gosto refinado; eu simplesmente pediria que ele a tornasse um pouco menos
rigorosa e acreditasse que as Graças lacedemônias[3] não são assim tão inimigas
das Musas francesas a ponto de não podermos com frequência fazê-las andar em
companhia.
Todavia, não me dei a tal empresa a não ser pelo exemplo, não direi dos
Antigos, que não tem consequências para mim, mas sim pelo dos Modernos. Em
todos os tempos, e em todos os povos que fazem profissão de Poesia, o Parnaso
tomou isso por parte de seus domínios. Mal vieram à luz as Fábulas atribuídas a
Esopo, Sócrates achou oportuno vesti-las com as roupagens das Musas. O que
Platão diz a respeito[4] é tão agradável que não me posso impedir de utilizá-lo
como um dos ornamentos deste Prefácio. Diz ele que, estando Sócrates
condenado ao último suplício, adiou-se a execução da Sentença, por causa de
certas Festas. Cebes[5] foi vê-lo no dia de sua morte. Sócrates lhe disse que os
deuses o tinham advertido várias vezes, durante o sono, de que ele deveria
dedicar-se à Música antes de morrer. De início ele não entendera o que
significava esse sonho: pois de que adianta se ligar à Música, se ela não torna o
homem melhor? Por certo havia ali um mistério; ainda mais que os Deuses não
se cansavam de enviar-lhe a mesma inspiração, que lhe viera ainda numa
daquelas Festas. Assim foi que, pensando nas coisas que dele o Céu podia exigir,
Sócrates refletiu que a Música e a Poesia têm tanta relação entre si que era talvez
dessa última que se tratava: sem harmonia não há boa Poesia; mas também
nunca o há sem ficção. Sócrates, que não sabia senão dizer a verdade, chegou
enfim a um meio-termo: escolher Fábulas que contivessem algo verdadeiro,
como são as de Esopo. Por conseguinte, utilizou para colocá-las em versos os
últimos momentos de sua vida.
Sócrates não foi o único a considerar como irmãs a Poesia e nossas Fábulas.
Fedro deu testemunho de ser da mesma opinião, e pela excelência de sua obra
podemos julgar a do Príncipe dos Filósofos. Após Fedro, Avianus tratou do
mesmo assunto, e por fim os Modernos os seguiram. Disso temos exemplos, não
só entre os Estrangeiros, mas também entre nós. É verdade que, quando nossos
compatriotas trabalharam nessa linha, a Língua era tão diferente do que é, que
não nos cabe considerá-los senão como Estrangeiros. Isso não me desviou de
meu projeto; pelo contrário, deixei-me lisonjear pela esperança de que, se eu não
seguisse por essa trilha com sucesso, dar-me-iam pelo menos a glória de a ter
aberto.
Bem pode acontecer que meu trabalho faça surgir noutras pessoas a vontade
de levar a coisa mais longe. Tanto não é verdade que a matéria esteja esgotada
que ainda restam mais fábulas para pôr em versos do que as que eu pus.
Selecionei realmente as melhores, isto é, aquelas que assim me pareceram. Mas,
além de eu poder ter me enganado na escolha, não será difícil dar outra forma às
escolhidas por mim e, se essa forma for menos longa, será sem dúvida mais
aprovada. Seja o que for que acontecer, sempre irão reconhecer-me; ou por ter
tido minha temeridade êxito, caso eu não me tenha afastado muito do rumo que
era preciso manter, ou apenas por ter estimulado outros a fazer melhor.
Penso ter justificado suficientemente minha intenção; da execução o Público
será juiz. Não se encontrará aqui nem a elegância nem a extrema brevidade que
tornam Fedro recomendável; são qualidades além do meu alcance. Como me era
impossível imitá-lo nisso, presumi que era preciso, em compensação, alegrar a
obra mais do que ele o fez. Não que eu o acuse de ter sido hesitante nesse ponto:
a língua latina não pedia mais que isso; e, se atentarmos na questão,
reconheceremos nesse Autor o verdadeiro caráter e o verdadeiro gênio de
Terêncio. Nos dois grandes homens, a simplicidade é magnífica; eu, não tendo as
perfeições da linguagem tal como tidas por eles, não a posso elevar a tanta
altura. Foi preciso portanto compensar alhures: o que fiz com ousadia tão maior
por ter Quintiliano dito que ninguém saberia tornar as Narrativas mais divertidas.
Não se trata aqui de acrescentar uma razão para isso; basta que Quintiliano o
tenha dito. Considerei entretanto que, sendo estas fábulas conhecidas por todo
mundo, nada eu faria se as não tornasse novas por alguns traços que realçassem
seu sabor. É o que se pede hoje em dia. Novidade e diversão é o que se quer. Não
chamo de diversão o que provoca o riso; mas um certo encanto, um tom
agradável que se pode dar a assuntos de todo tipo, até mesmo os mais sérios.
Contudo não é tanto pela forma que dei a esta Obra, quanto por sua utilidade
e matéria, que se deve calcular seu valor. Pois o que há de recomendável nas
produções do espírito que não se encontre no Apólogo? Trata-se de alguma coisa
tão divina que vários personagens da Antiguidade atribuíram a maior parte
destas Fábulas a Sócrates, escolhendo para servir-lhes de pai aquele que, dentre
os mortais, tinha mais comunicação com os Deuses. Não sei como nunca fizeram
provir do Céu estas mesmas Fábulas e por que nunca designaram um Deus para
assumir sua direção, como ocorreu com a Poesia e a Eloquência. O que digo não
é de todo desprovido de fundamento, já que, se me for permitido misturar o que
temos de mais sagrado com os erros do Paganismo, vemos que a Verdade falou
aos homens por Parábolas; e a Parábola não é a mesma coisa que o Apólogo, ou
seja, um exemplo fabuloso, que justamente por ser mais comum e mais familiar
se insinua com mais facilidade? Quem não nos propusesse imitar senão os
mestres da Sabedoria dar-nos-ia um motivo de desculpa; mas tal motivo não
existe quando Abelhas e Formigas são capazes daquilo mesmo que nos pedem.
Por essas razões foi que Platão, tendo banido Homero de sua República, nela
concedeu a Esopo um lugar muito honroso. Ele deseja que as crianças suguem
estas Fábulas com o leite; e recomenda às Amas que as ensinem para elas, pois
por si só ninguém tão cedo se acostuma com a sabedoria e a virtude; antes de
sermos reduzidos a corrigir nossos hábitos, é mister trabalhar para torná-los bons
enquanto eles ainda são indiferentes ao bem ou ao mal. Ora, que método pode
contribuir mais utilmente para isso do que estas Fábulas? Diga a uma criança
que Crasso, indo contra os partas, enveredou pela terra deles sem saber como de
lá sairia; e que isso o fez perecer, a ele e seu exército, por mais esforço que
fizesse para se retirar. Diga à mesma criança que a Raposa e o Bode desceram ao
fundo de um poço para aí matar a sede; que a Raposa saiu depois de usar à guisa
de escada os ombros e os chifres de seu Companheiro; ao contrário, o Bode
ficou no fundo do poço por não ter sido tão previdente; por conseguinte, sempre
é preciso em qualquer coisa considerar o fim. Pergunto-me qual desses dois
exemplos causará mais impressão à criança. Não se prenderá ela ao último,
como mais conforme e menos desproporcionado que o outro à pequenez de seu
espírito? Não convém me alegar que as ideias da infância já são em si muito
pueris para que ainda se lhes acrescentem novas graçolas. Mas tais graçolas não
o são senão na aparência; porque elas trazem no fundo um sentido bem sólido. E
assim como, pela definição do ponto, da linha, da superfície, e por outros
princípios bem familiares, nós chegamos aos conhecimentos que enfim medem o
céu e a terra, assim também, pelos raciocínios e consequências que podemos
extrair destas Fábulas, formam-se o juízo e os costumes, tornamo-nos capazes de
grandes coisas.
Elas não são apenas morais, dão além disso outros conhecimentos. As
propriedades dos Animais e seus diferentes caracteres estão expressos aí; por
conseguinte, também os nossos, pois que somos a síntese do que há de bom e de
mau nas criaturas irracionais. Prometeu, quando quis dar forma ao homem,
pegou a característica dominante de cada Fera. Dessas partes tão diferentes ele
compôs nossa espécie e fez esta obra chamada o pequeno mundo. As fábulas são
assim um quadro onde cada um de nós se encontra retratado. O que elas nos
representam confirma as pessoas de idade avançada nos conhecimentos que a
prática lhes deu e ensina às crianças o que é preciso que elas saibam. Como essas
últimas são recém-chegadas ao mundo, não conhecem ainda seus habitantes,
nem ainda conhecem a si mesmas. Não devemos deixá-las nessa ignorância, a
não ser no mínimo possível: é preciso ensinar-lhes o que é um Leão, uma Raposa
e todo o restante; e por que às vezes comparamos um homem a esta Raposa ou
àquele Leão. É para isso que as Fábulas trabalham: delas provêm as primeiras
noções sobre essas coisas.
Já ultrapassei a extensão habitual dos Prefácios; no entanto ainda não dei
conta da disposição de minha obra. O Apólogo é composto de duas partes, uma
das quais se pode chamar de Corpo, sendo a outra a Alma. O Corpo é a Fábula; a
Alma, a Moralidade. Aristóteles não admite na fábula a não ser os Animais, dela
excluindo os Homens e as Plantas. Essa regra é menos por necessidade do que
por conveniência, já que nem Esopo, nem Fedro nem nenhum dos Fabulistas a
reteve; justamente ao contrário da Moralidade, que nenhum deles dispensa. Se a
mim aconteceu de o fazer, não foi senão em lugares em que ela não pôde entrar
com leveza, e onde é fácil para o leitor supri-la. Só o que apraz é levado em
consideração na França. Essa é a grande regra e, por assim dizer, a única. Não
supus portanto que fosse um crime passar por cima dos Costumes antigos
quando eu não os podia pôr em uso sem deturpá-los. No tempo de Esopo a
fábula era contada simplesmente, a moralidade separada, e sempre em
sequência. Mas veio Fedro, que não se submeteu a essa ordem: ele embeleza a
Narrativa e às vezes transporta a Moralidade do fim para o começo. Ao tornar-se
necessário encontrar lugar para ela, não me furto a esse princípio, a não ser para
observar um outro não menos importante. É Horácio quem a nós o fornece. Não
agrada a esse Autor que um escritor se obstine contra a incapacidade de seu
espírito, ou contra a de sua matéria. Nunca, pelo que ele pretende, um homem
desejoso de êxito chegará a tanto: ele abandona as coisas das quais bem vê que
nada saberia fazer de bom.

Et quae
Desperat tractata nitescere posse relinquit.[6]

Foi o que fiz no tocante a algumas Moralidades, com o sucesso das quais eu nem
havia contado.
Mais não me resta que falar da vida de Esopo. Não vejo quase ninguém que
não tenha por fabulosa a que Planudes nos deixou. Imaginam que esse autor quis
atribuir ao Herói um caráter e aventuras que correspondessem às suas Fábulas.
Isso a princípio me pareceu especioso. Mas por fim constatei haver pouca
certeza nessa crítica. Em parte ela se baseia no que se passa entre Xanto e Esopo:
muitas bagatelas aí se encontram; e qual o sábio a quem nunca acontecem tais
coisas? Nem toda a vida de Sócrates foi séria. O que me confirma em minha
opinião é que o caráter que Planudes dá a Esopo é semelhante ao que Plutarco
lhe deu em seu Banquete dos Sete Sábios, isto é, o de um homem sutil e que não
deixa nada passar. Dir-me-ão que o Banquete dos Sete Sábios também é uma
invenção. É fácil duvidar de tudo; quanto a mim, não vejo bem por que, nesse
tratado, Plutarco tenha querido impor à posteridade, ele que em qualquer outra
parte faz questão de ser verdadeiro, e conservar para cada um seu caráter.
Quando tal se desse, não estaria eu senão mentindo com base na crendice de um
outro; acreditarão menos em mim, se eu me ativer à minha? Pois o que posso é
compor um tecido das minhas conjecturas, ao qual intitularei: Vida de Esopo.
Ninguém aí terá segurança, por mais verossímil que eu o torne; e, Fábula por
Fábula, o leitor sempre preferirá a de Planudes à minha.

1 Este é o prefácio de Jean de La Fontaine (1621-95) para a primeira edição de suas Fábulas (1668).
Antes de impressas em livro, muitas no entanto já tinham sido apresentadas a amigos e em círculos de
letrados. [Todas as notas são do tradutor]

2 Olivier Patru (1604-81), advogado, escritor e integrante da Academia francesa, da qual La Fontaine
também foi membro.

3 Ou seja: do laconismo ou modo breve.


4 No diálogo Fédon, fragmentos 60b-61b.

5 Um dos discípulos que dialogam com Sócrates no Fédon.

6 “E deixa de lado o que não espera poder tratar com brilho.” Horácio, Arte poética, versos 149-50.
Jean de La Fontaine foi um fabulista e poeta francês, nascido em Château
Thierry, no ano de 1621. Cresceu no conforto de uma família abastada. Após
uma breve tentativa de estudar teologia e direito, La Fontaine assumiu o cargo
do pai, de inspetor de águas. Porém, logo se mudou para Paris e se pôs a serviço
do ministro das finanças Nicolas Fouquet, o mecenas de La Fontaine,
possibilitando que ele se dedicasse ao ofício da escrita.
Sua primeira contribuição para a literatura se deu em 1654 com a tradução
do latim da obra O Eunuco, do romano Terêncio. Em homenagem a Fouquet,
escreveu os poemas Adonis (1658) e Elégie aux Nymphes de Vaux (1661). Ao
longo de sua carreira literária, La Fontaine contou com o apoio de diversos
mecenas que o sustentaram, entre eles a duquesa de Bouillon e a duquesa
d’Orleans. Em 1668 publicou sob o título Fábulas escolhidas a coletânea que o
tornaria mundialmente reconhecido. A coletânea passaria por diversas reedições,
e sua última versão só seria publicada em 1693. Um ano após a primeira
publicação das fábulas, La Fontaine publica a novela Os amores de Psiquê e
Cupido, adaptada para o teatro por Molière, e para ópera em 1678, sob o nome
Psiquê.
Em 1683, Jean de La Fontaine foi aceito na Academia Francesa de Letras.
Faleceu em Paris, em 1695.
Poeta, tradutor e ensaísta, Leonardo Fróes é autor de treze livros, entre os quais
os de poemas Argumentos invisíveis (1995), Vertigens, Obra reunida 1968-1998
(1998) e Chinês com sono (2005), e o de contos Contos orientais: baseados em
fontes da antiga Ásia (2003), todos publicados pela editora Rocco. Ganhou o
Prêmio Jabuti de Poesia (1996), de tradução da Biblioteca Nacional (1998) e da
Academia Brasileira de Letras (2008). Para a Cosac Naify, já traduziu os Contos
completos de Flannery O’Connor (2008) e de Virginia Woolf (2005), além de O
africano (2007), Refrão da fome (2009), Pawana (2009) e História do pé (2012)
de J. M. G. Le Clézio, A Árvore dos Desejos (2009), de William Faulkner,
Virginia Woolf: A medida da vida (2011), de Herbert Marder, e O valor do riso e
outros ensaios (2014), de Virginia Woolf.
© Cosac Naify, 2013, e-book, 2015
© 2013 Calder Foundation, New York / Licenciado por AUTVIS, Brasil, 2013

Tradução baseada na edição Œuvres complètes.


Bibliothèque de la Pléiade. Paris: Gallimard, 1991.

Coordenação editorial ISABEL LOPES COELHO


Projeto gráfico original FLÁVIA CASTANHEIRA e PAULO ANDRÉ CHAGAS
Revisão DÉBORA DONADEL e MARINA RUIVO
Tratamento de imagem WAGNER FERNANDES
Adaptação e coordenação digital ANTONIO HERMIDA
Produção de ePub JOANA DE CONTI

1ª edição eletrônica, 2015

Nesta edição, respeitou-se o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.


Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

La Fontaine, Jean de [1621-95]


Fábulas selecionadas de La Fontaine:
Jean de La Fontaine
Título original: Selected Fables of La Fontaine
Tradução: Leonardo Fróes
São Paulo: Cosac Naify, 2015

ISBN 978-85-405-0938-2

Fábulas - Literatura infantojuvenil


I. Calder, Alexander. II. Título.

Índices para catálogo sistemático:


1. Fábulas: Literatura infantojuvenil 028.5
2. Fábulas: Literatura juvenil 028.5

Cet ouvrage, publié dans le cadre du Programme d’Aide à la Publication 2013


Carlos Drummond de Andrade de la Médiathèque de la Maison de France,
bénéficie du soutien du Ministère français des Affaires Etrangères et
Européennes.

Este livro, publicado no âmbito do programa de auxílio à publicação 2013


Carlos Drummond de Andrade da Mediateca da Maison de France, contou com
o apoio do Ministério francês das Relações Exteriores e Europeias.
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Este e-book foi projetado e desenvolvido em março de 2015, com
base na 1ª edição impressa, de 2013.

fonte FAKT
SOFTWARE LibreOffice e Writer2ePub de Luca Calcinai

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