Prática Discursiva
Prática Discursiva
Prática Discursiva
RESUMO: O presente artigo tem por objetivo apresentar, para discussão, uma reflexão sobre
a prática discursiva que se constrói por meio de textos, linguagem como instrumento de
interação discursiva, como único canal de comunicação do ser humano que se concretiza por
intermédio da língua, integrando todo ato de enunciação. Além disso, apresenta a linguagem
como código ideológico dentro do universo discursivo, elemento importante na formação da
compreensão de mundo de grupos sociais. Para isso, realizou-se uma pesquisa bibliográfica
de base qualitativa, considerando as contribuições de teóricos como Brandão (2004), Fiorin
(1993), Orlandi (2008) entre outros. Desse modo, inferiu-se que cada formação ideológica
corresponde a uma formação discursiva, a qual é ensinada para cada componente de uma
sociedade ao longo do processo de aprendizagem linguística. Sendo assim, o discurso
dominante vai ser a base que refletirá no comportamento do homem. Portanto, língua,
linguagem, ideologia e discurso fazem parte de uma teia indispensável para a construção da
concepção da Análise do Discurso de filiação francesa (ADF), que é uma teoria especializada
em analisar ideologias que permeiam situações discursivas de textos impressos.
Palavras-chave: Prática Discursiva. Língua. Linguagem. Ideologia. Discurso.
ABSTRACT: This article aims at presenting, for discussion, a reflection on the discursive
practice that is constructed through texts, language as an instrument of discursive interaction,
as the only channel of communication of the human being that is concretized through
language, integrating every act of enunciation. Moreover, it presents language as an
ideological code within the discursive universe, an important element in the formation of the
world understanding of social groups. For this, a qualitative bibliographical research was
carried out, considering the contributions of theoreticians like Brandão (2004), Fiorin (1993),
Orlandi (2008), among others. In this way, it was inferred that each ideological formation
corresponds to a discursive formation, in which each component of a society is taught
1
Doutoranda em Cognição e Linguagem
2
Mestrando em Ciências das Religiões
throughout the process of linguistic learning. Thus, the dominant discourse will be the basis
that will reflect on the man’s behavior. Therefore, language, ideology, and discourse are part
of an indispensable web for the construction of the French Discourse Analysis (FDA)
conception, which is a theory specialized in analyzing ideologies that permeate discursive
situations of printed texts.
Keywords: Discursive Practice. Language. Language. Ideology. Speech.
Introdução
A noção de textualidade ou textura pressupõe que não existe texto sem coesão
e coerência, portanto, são esses elementos que fazem a sequência linguística ser
reconhecida como texto, e não um amontoado aleatório de frases. Reconhecer a
sequência como texto significa dizer que aquele que a recebe é capaz de percebê-la
como unidade significativa global.
A coesão está relacionada com a construção de sentido do texto, ao modo
como os elementos linguísticos presentes na superfície do texto encontram-se
interligados, por meio de recursos também linguísticos, formando sequências
condutoras de sentido. E a coerência, de acordo com Koch (1997, p. 256), “diz respeito
ao modo como os elementos subjacentes à superfície textual vêm a construir, na
mente dos interlocutores, uma configuração veiculadora de sentidos”.
Assim, os estudiosos passam a postular que a comunicação é estabelecida por
meio de textos e o trabalho da competência comunicativa corresponde ao
desenvolvimento da capacidade de produção e compreensão de textos nas mais
diferentes situações de interação comunicativa a fim de que se representem situações
discursivas de enunciação.
No sentido de corroborar com o assunto exposto, Fonseca F. e Fonseca J.
(1997, p. 84-85) enfatizam que
reunindo não só o conjunto de enunciados por ele produzido em tal situação, como
também o evento de enunciação, que é regulada por uma exterioridade sócio-histórica
e ideológica, que determina as regularidades linguísticas e seu uso, sua função.
Segundo Koch e Travaglia (2000, p. 67):
A terceira função do texto é a mnemônica. Como bem diz Lótman, “o texto não
é somente o gerador de novos significados, mas também um condensador de
memória cultural. Um texto tem a capacidade de preservar a memória de seus
contextos prévios” (LÓTMAN, 2007, p. 22). Esse processamento se faz possível por
meio da tradução de tradições (LÓTMAN, 1993, p. 19). Por isso, os textos que estão
na cultura estão em encontros explosões semiótica.
Koch e Travaglia (2012, p. 79) apontam que
Quando se lê, considera-se não apenas o que está dito, mas também
o que está implícito: aquilo que não está dito e que também está
significando. E o que não está dito pode ser de várias naturezas: o
que está suposto para que se entenda o que está dito; aquilo a que o
que está dito se opõe; outras maneiras diferentes de dizer o que se
disse e que significa com nuances distintas etc.
Igualmente, para alcançar esse objetivo, será preciso que o receptor ponha em
funcionamento todos os componentes e estratégias cognitivas que tem a disposição.
Para ampliar tal ideia vale ressaltar que em todo discurso existe um sujeito
destinador e um sujeito destinatário, entre os quais se firmam valores e crenças a ser
compartilhadas. Um sujeito sempre responde ao outro, a outros sujeitos, por isso todo
texto é dialógico. Também importa saber que todo texto é discursivo, portanto, importa
considerar o discurso como práxis enunciativa. Discini (2005, p. 33) destaca que:
Seguindo essa linha de raciocínio, pode-se afirmar que todo texto deve ser
considerado situação de comunicação, o que supõe um enunciador em relação a um
enunciatário. A enunciação, sempre pressuposta ao anunciado, compreendendo o
sujeito do dizer, que se biparte entre enunciador, projeção do autor, e enunciatário,
projeção do leitor. Para Fiorin (2008, p. 56):
e assume a língua, ele implanta o outro face a ele, qualquer que seja o grau de
presença que ele atribuía a esse outro”. Logo toda enunciação é, explicitamente ou
implicitamente uma alocução (discurso breve).
Assim, dentro tal processo, declara-se que existe uma relação de interação
entre esses sujeitos. Segundo Travaglia (2000, p. 69) “[...] quando usamos a língua
para comunicar agimos sobre o outro. Mas essa ação não é unilateral, tem mão dupla,
o que acontece é uma interação, uma ação entre o produtor e o receptor do texto”.
Bakhtin chamou tal relação de dialogismo. Por outro lado, a crítica literária contribuiu
com esse postulado ao dizer que o escritor deveria se preocupar com a estética da
recepção.
Dessa forma, uma concepção de ideologia redutora, faz com que o termo seja
visto apenas com as noções de erro, mentira, ilusão, ou até mesmo instrumento de
dominação. Para Fiorin (1993, p. 28):
Ainda de acordo com Fiorin (1993, p. 29), “nem toda ideologia é uma ‘falsa
consciência’. Numa perspectiva histórica, há aquelas que são consciência invertida
da realidade e aquelas que não são”.
Ao visualizar um conceito mais amplo, a ideologia é uma visão de mundo, ou
seja, o ponto de vista de uma classe social, de um determinado grupo a respeito da
realidade. Logo se pode dizer que existem tantas visões de mundo numa dada
formação social quanto forem às classes sociais.
O homem aprende a ver o mundo pelos discursos que assimila e, na maioria
das vezes, reproduz esse discurso em sua fala. Nesse sentido afirmar-se que o
discurso não é a expressão da consciência, mas a consciência é formada pelo
conjunto de discurso recebido e interiorizado pelo indivíduo no decorrer da vida.
A consciência é social, porque o homem não é apenas uma individualidade que
reside no espírito e a consciência é construída por meio do discurso assimilado por
cada membro de um grupo social, onde o homem está limitado, por isso falar que o
discurso tem uma função citativa e que a liberdade discursiva é muito pequena, pois
o enunciador é suporte da ideologia, seu dizer é na maioria das vezes o dizer reproduz
inconsciente do dizer de seu grupo social. Seguindo esse raciocínio, Fiorin ressalta
(1993, p. 44) que “na medida em que o homem é suporte de formações discursivas,
não fala, mas é falado por um discurso”. A linguagem condensa, cristaliza e reflete as
práticas sociais, ela é governada pelas práticas ideológicas.
A ideologia é constituída pela realidade e da realidade, porque o indivíduo não
pensa, nem fala o que quer, mas o que realidade impõe que ele pense e fale a partir
dos conflitos e das contradições existentes na realidade. A ideologia não é um
conjunto de ideias que surge do nada ou da mente privilegiada de muitas pessoas.
Por vezes declara-se que ela é determinada, em última instância, pelo nível
econômico. Embora não signifique que a ideologia seja mero reflexo do nível
econômico.
Para Engels, em carta a Bloch (1890) diz que “o elemento determinante da
história, em última instância, é a produção e a reprodução da vida real”. Assim,
demonstra que nem ele, nem Marx disseram que o elemento econômico é o único
determinante, pois as formas políticas das lutas de classe e os seus resultados, as
formas jurídicas, as teorias políticas, jurídicas, filosóficas e as concepções religiosas
exercem também influência nas lutas históricas e podem até determinar sua forma.
Apesar de o elemento econômico não ser determinante único das lutas históricas, é o
determinante em última instância, que significa que o modo de produção determina as
ideias e os comportamentos dos homens e não ao contrário.
Embora exista, em uma formação social, tantas visões de mundo quanto forem
as classes sociais, a ideologia dominante é a ideologia da classe dominante. No modo
de produção capitalista, a ideologia dominante é a ideologia burguesa. Por isso dizer
que o homem não é senhor absoluto de seu discurso, uma vez que temas, figuras,
valores, juízos etc., provêm das visões de mundo estabelecidas na formação social.
Diante de todos esses conceitos e posicionamentos apresentados sobre a
ideologia, deve-se levar em conta que essa visão de mundo não existe dissociada da
linguagem. Logo, cada formação ideológica corresponde a uma formação discursiva,
na qual é ensina a cada componente de uma sociedade ao longo do processo de
aprendizagem linguística. E o discurso dominante vai ser a base dominante que
refletirá no comportamento do homem.
Conforme evidencia Fiorin (1993, p. 55),
Considerações finais
Referências
DISCINI, N. A noção de texto. In: A Comunicação nos textos. São Paulo: Contexto,
2005. p. 13-43.
________. Linguagem e Ideologia. 3. ed. São Paulo: Editora Ática S.A., 1993.
(Princípios)
________. A coerência textual. 18. ed. 1º reimpressão. São Paulo: Contexto, 2012.
LÓTMAN, I. As três funções do texto. In: ______. Por uma teoria semiótica da
cultura. Belo Horizonte: FALE: UFMG, 2007.