OLIVEIRA-ABRAMOWICZ - Infancia Raça e Paparicação
OLIVEIRA-ABRAMOWICZ - Infancia Raça e Paparicação
OLIVEIRA-ABRAMOWICZ - Infancia Raça e Paparicação
Fabiana de Oliveira*
Anete Abramowicz**
* Doutora em Educação pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar); Docente Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL).
E-mail: [email protected]
** Doutora em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP); Docente do Departamento de Metodologia de Ensino
e dos Programas de Pós-Graduação em Educação e Sociologia da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). E-mail:
[email protected]
Introdução
ças negras também dobram esse fora e acabam vendo a si mesmas como
ruins, feias e todos os atributos com os quais a sociedade ocidental desig-
na o diferente, o outro.
No entanto, isso pode ser favorecido pela instituição com base
nas concepções e nos valores das profissionais envolvidas com essas
crianças e, também, é claro, da mídia, que atua de forma bastante forte na
veiculação de imagens e ideias que acabam fortalecendo o grupo racial
dos brancos e estigmatizando negativamente o grupo racial dos negros.
Há décadas, o Movimento Negro e outros movimentos sociais
como o de mulheres, por exemplo, propõem uma educação no sentido de
que todos se vejam incluídos. Isso será muito importante tanto para as
crianças negras quanto para as brancas, pois os alunos negros encontra-
rão na escola uma fonte para o desenvolvimento de uma possibilidade
positiva de pertencimento, e os alunos brancos terão oportunidade de
adquirir abertura maior para as diferenças.
Isso implica, por parte da escola e dos educadores/professores,
uma nova postura frente aos seus alunos de diferentes classes sociais,
raças, gêneros, religiões, etc., com diversas formas de entendimento de
mundo, o que leva à necessidade de trabalhar com as diferenças no
ambiente escolar, em contraposição à visão hegemônica de aluno que, na
maioria das vezes, não corresponde ao aluno que se tem em sala de aula,
pois há uma questão racial que perpassa a instituição escolar desde a edu-
cação infantil, como as pesquisas apresentadas mostraram.
Na realidade, a escola brasileira funda-se na ideia de escola única
e igual para todos, mantendo, de forma oculta, uma ética de indiferença
em relação às diferenças, já que a convicção na qual ela se apoia é a de ser
indiferente aos territórios, à cultura de origem das famílias, ou seja, há
uma indiferença ao outro como fundamento da escola.
A seguir, são apresentados os dados que deram origem ao pre-
sente artigo e que foram coletados na creche, para analisarmos como a
questão racial aparece nesse espaço que acolhe crianças ainda tão peque-
nas e apresentam a necessidade de os educadores possuirem um saber
específico para tratar da questão racial no ambiente escolar.
A pesquisa
Considerações finais
Notas
1
Pesquisa do Projeto Negro e Educação financiada pela Fundação Ford, pela Ação
Educativa e pela ANPED.
2
Esta pesquisa, desenvolvida na cidade de São Carlos, tem como resultado a dissertação
de mestrado Um Estudo sobre a creche: o que as práticas educativas produzem e revelam sobre a
questão racial?, de Fabiana de Oliveira, sob orientação da Profa. Dra. Anete Abramowicz,
do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de São Carlos
(UFSCar).
3
O industrialismo, como sistema de organização econômica e social surgido da
Revolução Industrial, nos legou, entre várias outras coisas, tanto a influência do aspecto
material sobre o moral e intelectual quanto a “promessa” de superação de todos os par-
ticularismos presentes nas organizações socioeconômicas anteriores. É por isso que os
cientistas sociais têm mantido, por muitos anos, que a industrialização e as forças da
modernização tenderiam a diminuir o significado de raça e etnicidade em sociedades
heterogêneas. Eles pensavam que, com o desmantelamento de pequenas unidades sociais
particularistas e a emergência de grandes e extensas instituições burocráticas impessoais,
as lealdades pessoais (e dos povos) e identidade seriam primariamente direcionadas para
o estado nacional mais do que para comunidades raciais e étnicas. O desenvolvimento
oposto, no entanto, parece ter caracterizado o mundo contemporâneo (SILVERIO,
2009, mimeo.).
4
Ver FOUCAULT, M. Em defesa da sociedade. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
5
Dados obtidos por meio das entrevistas com as profissionais da creche.
6
Nomes fictícios.
7
A utilização desse conceito no contexto brasileiro serve apenas como categoria analíti-
ca para pensarmos a questão das relações estabelecidas na creche entre adultos e crian-
ças, e não com o intuito de transpor para a nossa realidade a discussão teórica do histo-
riador sobre a construção social da ideia de infância a partir do século XVIII.
8
Exclusão: a palavra não está sendo utilizada para designar um ato de segregação em
relação às crianças negras, mas referindo-se ao recebimento de um carinho diferenciado,
tal com a menor paparicação.
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