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Aula 1 - A Demanda Clínica da Criança: Uma Psicanálise Possível

- Quem é a criança que chega para tratamento psicológico?


- Quais as particularidades do adoecimento na infância?
- Do ponto de vista psíquico, como tratar um sujeito que ainda se encontra em constituição?
- Qual o papel do brincar na clínica psicanalítica?
- Na tentativa de encontrar possíveis respostas a essas questões, torna-se importante retomar
algumas considerações teóricas sobre as especificidades da clínica psicanalítica com crianças.
- “A psicanálise com crianças possui seu início em várias vertentes, destacando como pioneiros(as):
Sigmund Freud; Anna Freud [filha]; Melanie Klein; Françoise Dolto; Donald Winnicott; Maud
Mannoni [analisante de Dolto] e Arminda Aberastury. Apesar de em alguns aspectos esses(as)
autores(as) seguirem caminhos e perspectivas diferentes, todos possuem um denominador comum,
colocando a criança no lugar que merece: “Ser respeitada em sua própria capacidade de viver e a de
ser escutada a partir de seu próprio desejo” (Blinder, Knobel & Siquier, 2011, p. 25). É a partir
desse pressuposto que existe toda e qualquer psicanálise com crianças.”
- “A delimitação entre o mundo adulto e o infantil é tênue, e as crianças, muitas vezes, na ânsia de
corresponder aos desejos, ainda que inconscientes, dos pais, procuram compensar suas frustrações,
corresponder às suas expectativas, apaziguar suas angústias, negando sua própria infância (Zornig,
2008).”
- “Nesse sentido, se a criança não corresponde ao ideal1 imposto pela família e a cultura e “falha”
em algum desses aspectos, surge a demanda para atendimento psicológico.”
- “O trabalho psicanalítico com crianças é considerado, portanto, paradoxal. Elas contam com certa
ambiguidade: são sujeitos autônomos – pois possuem vontade própria – enquanto, por outro lado,
dependem dos adultos quando não são capazes de responder por si, enquanto artefatos cognitivos
(Brandão Júnior, 2008). Elas ainda não chegam para o tratamento em nome próprio, e sim pela
queixa de um terceiro.”
- “A partir dessas particularidades, vemos na literatura autores debatendo a possibilidade ou não da
clínica psicanalítica com crianças. O próprio Freud (1909/2006) apontou inicialmente alguns limites
no atendimento infantil, afirmando em Análise de uma fobia em um menino de cincos anos que a
análise do Little Hans só fora possível porque fora conduzida por intermédio de seu pai.”
- “A regra fundamental da psicanálise, a associação livre, é possível questionar: como uma criança,
que ainda está inserida em um processo de desenvolvimento, de maturação biológica e cognitiva,
ainda desenvolvendo sua fala, irá associar livremente? Lacan dirá que o tratamento psicanalítico se
baseará na escuta do inconsciente, este estruturado como uma linguagem. Portanto, para a
psicanálise, o processo da consciência, bem como os processos cognitivos, estará em segundo plano
(Brandão Júnior, 2008). Ou seja, o sujeito inconsciente antecede o consciente, pois “ele é sempre
pré-intelectual, por ser efeito do significante”.
- “As crianças repetem experiências desagradáveis pela razão adicional de poderem dominar uma
impressão poderosa muito mais completamente de modo ativo do que poderiam fazê-lo
simplesmente experimentando-a de modo passivo. Cada nova repetição parece fortalecer a
supremacia que buscam. Tampouco podem as crianças ter as suas experiências agradáveis repetidas
com frequência suficiente, e elas são inexoráveis em sua insistência de que a repetição seja idêntica
(Freud, 1920)”.
- “O conceito da repetição, considerado por Lacan como um dos quatro conceitos fundamentais da
psicanálise – junto dos conceitos de pulsão, inconsciente e transferência –, mostra-se crucial na
clínica psicanalítica. A repetição é um ato que abre caminho à atuação (acting out), e que, de modo

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geral, se apresenta na análise como uma força que atualiza componentes psíquicos, em que o
analisando repete ou atua – daí o termo acting out – o que “não pode” ser recordado. Em “Recordar,
repetir e elaborar”, Freud assinala que muitas vezes “o paciente não recorda coisa alguma do que
esqueceu ou reprimiu, mas expressa-o pela atuação ou atua-o. Ele o reproduz não como lembrança,
mas como ação; repete-o, sem, naturalmente, saber o que está repetindo”.
- “O brinquedo e o brincar, numa perspectiva trabalhada a partir dos estudos de Melanie Klein,
“permitem à criança vencer o medo aos objetos, assim como vencer o medo aos perigos internos”.
Em outras palavras, na perspectiva da psicanálise lacaniana, é no brincar que as crianças expressam
e lidam com suas angústias e ansiedades, que articulam o real, o simbólico e o imaginário, pois o
ponto de intercessão entre os três registros é o que Lacan intitulou de objeto a: objeto que move e
que causa o desejo.”
- O brincar possui estreita relação com o sintoma – contudo, não somente com este, mas também
com o fantasma, que “é o que permite ao sujeito suportar a castração do Outro”, em que na neurose,
acrescentamos, o fantasma, portanto, a fantasia opera como tela protetora. O fantasiar nas crianças,
como adverte Freud , “começa já nas primeiras brincadeiras infantis, e, posteriormente, [é]
conservado como devaneio”. Esse mecanismo permite colocar algo frente à castração, numa atitude
que se ajusta ao desejo. Dito de uma outra forma, a manifestação do sintoma na criança pode
apontar para a presença de um ser desejante.
- A criança deve se situar em relação ao lugar que ela ocupa no desejo dos pais, e o seu processo de
análise abre espaço para ela repetir, diante da transferência – fio condutor que “autoriza” uma
análise –, os buracos da demanda do Outro, este visto inicialmente como a mãe.

Aula 2 - As principais contribuições de Winnicott à prática clínica

Donald Woods Winnicott, (1896 – 1971)


Pediatra e psicanalista, nasceu numa próspera família de Plymouth, na Grã-Bretanha, em 7
de abril de 1896, e morreu em Londres, em 25 de janeiro de 1971. Donald tinha duas irmãs mais
velhas e aos 14 anos foi para um internato. Posteriormente ingressou na Universidade de Cambridge
onde estudou biologia e depois medicina. Entretanto, irrompeu a guerra de 1914-18, o que o levou a
servir como estagiário de cirurgia e oficial médico em um destróier. Em 1923, foi indicado para o
The Queen’s Hospital for Children e também para o Paddington Green Hospital for Children, onde
permaneceu pelos 40 anos seguintes, trabalhando como pediatra, psiquiatra infantil e psicanalista.
A distinção de seu trabalho, metodologicamente, em relação a Freud e outros, foi a decisão
de estudar o bebê e sua mãe como uma “unidade psíquica”, o que lhe permitia observar a sucessão
de mães e bebês e obter conhecimento referente à constelação mãe-bebê, e não como dois seres
puramente distintos. Assim, não há como descrever um bebê sem falar de sua mãe, pois, no início, o
ambiente é a mãe e apenas gradualmente vai se transformando em algo externo e separado do bebê.
O ambiente facilitador é a mãe suficientemente boa, porque atende ao bebê na medida exata
das necessidades deste, e não de suas próprias necessidades. Esta adaptação da mãe torna o bebê
capaz de ter uma experiência de onipotência e cria a ilusão necessária a um desenvolvimento
saudável.
Conceito de transferência: Winnicott, de certo modo, manteve a conceituação de transferência
como aplicável aos pacientes que, em seu amadurecimento, já haviam atingido o estado de
integração, já habitavam o próprio corpo, tinham um limite separando o eu do não-eu e já podiam se

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relacionar como pessoas totais com outras pessoas totais; neles já se constituía um consciente e um
inconsciente dinâmico, com a censura e a repressão. Nesses pacientes, o passado recalcado viria ao
presente na relação analítica. Entretanto, no grupo que não atingiu esse estado evolutivo, não se
pode falar de transferência, mas de “viver pela primeira vez”, na relação analítica, os cuidados
ambientais adequados – o passado não vem ao presente; o presente deve ser o passado que não
aconteceu. Isto se dá quando ocorre o fenômeno da regressão à dependência absoluta.
Para Winnicott, a regressão é o oposto da progressão, e nada tem a ver com regressão da
libido a etapas anteriores do desenvolvimento libidinal. A regressão à dependência absoluta se
refere à fase em que a criança depende absolutamente dos cuidados maternos, mas não tem
condições de reconhecê-los como procedentes do exterior. A isso ele denomina de “dupla
dependência”, pelo fato de o bebê depender dos cuidados maternos, que no início devem ser quase
perfeitos, e desconhecer a origem deles. Mais tarde, quando o self (si-mesmo) estiver mais
desenvolvido e o ego mais fortalecido, teremos a fase de dependência relativa, rumo à
independência. Então os cuidados maternos serão gradativa e sensivelmente retirados, de acordo
com a tolerância do bebê.
Winnicott define regressão como a volta ao ponto em que o amadurecimento do self foi
interrompido, num estágio anterior ao estabelecimento do si- mesmo como entidade, ao longo de
um processo que envolve a disponibilidade do par analítico. No passado ocorreu a falha materna,
que assumiu o caráter de invasão e mobilizou a reação do bebê para se defender das ameaças de
aniquilamento; isso leva à dissociação do núcleo do self (o verdadeiro si- mesmo) dos elementos
defensivos, que vão redundar no falso-self submisso ao ambiente, o qual encapsula o self verdadeiro
e interrompe o processo de amadurecimento natural do “vir-a- ser” do bebê.
É na regressão à dependência absoluta que esses estágios primitivos podem ser retomados,
com a assistência adequada do analista, que fornecerá a possibilidade de integração, com a
elaboração das emoções até o momento inomináveis. Com seu holding, o analista poderá entrar em
contato com as mais profundas ansiedades que aguardam ser experienciadas e nominadas na nova
provisão ambiental: “O paciente regride porque uma nova provisão ambiental permite a
dependência absoluta que é necessária para retomar o desenvolvimento”.
A regressão ocorre por se reconhecer a experiência intrusiva ou de privação e pela
capacidade do analista de conter a raiva, a dor e o temor sem ser destruído, sem interromper a
análise. É “sobrevivendo” que o analista pode levar o paciente à retomada do desenvolvimento.
Despistar, desviar ou evitar qualquer elemento assustador é uma resposta perigosa, passível de ser
captada pelo paciente mesmo que o analista não esteja se dando conta do que lhe sucede. Quando o
paciente manifesta desapontamento com o analista, o risco é que este devolva na mesma moeda,
que dispute com o paciente, que se autodefenda, replicando a falha provisional básica e agindo por
vezes como a mãe que quer impedir as manifestações de dor e raiva de seu bebê, ou que tenta
aquietá-lo distraindo-o do foco doloroso. Dar crédito, poder comentar oportunamente e reconhecer
abertamente os próprios erros torna-se crucial nesses momentos.
O respeito ao silêncio do paciente e a tentativa de uma compreensão mais ampla desse
silêncio foram um dos aspectos clínicos expandidos por Winnicott. Nem sempre o paciente está se
defendendo através do silêncio; ele pode estar se comunicando, silenciosamente, com seu núcleo
pessoal. Portanto, o mergulho na comunicação silenciosa com os objetos subjetivos ocorre
periodicamente, mesmo em casos menos graves, como uma forma de restaurar o sentimento de
realidade.

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Winnicott chama de “apercepção criativa” a experiência subjetiva que o bebê tem do
ambiente materno, o que permitiria à criança se desenvolver a partir de seu núcleo. Somados ao
“elemento feminino puro” materno, os cuidados adequados permitem ao bebê a ilusão de “criar o
seio”, necessária à onipotência ilusória da fase de dependência absoluta. Se o paciente regride a essa
fase, o analista precisa proceder de modo a não impor a própria presença como objeto não-eu, o que
muitas vezes demanda silêncio atencioso, mais que qualquer fala ou interpretação.
Segundo Winnicott, o holding existe quando entramos em contato com o paciente de modo
profundo. Para isso o analista funciona em dois níveis simultâneos: de um lado, suspendendo suas
defesas contra as mesmas ansiedades, as mesmas ameaças de aniquilamento, o mesmo medo de
perda de identidade que tem o paciente, e, de outro, mantendo o sentimento de identidade própria e
de realidade. É dessa forma que empresta sua estrutura egóica, quando isso se torna mais importante
do que suas interpretações.
O conceito de “Preocupação Materna Primária” pode ser comparado a um estado de
retraimento da mãe e é necessário para que ela possa estar envolvida emocionalmente com seu
bebê. Uma grande contribuição do autor refere-se ao conceito dos objetos transicionais e fenômenos
transicionais que surgem na superação do estágio de dependência absoluta em direção à
dependência relativa, sendo que não é importante o objeto que está sendo utilizado, mas sim, o uso
que a criança faz desse objeto. Ele se coloca na zona intermediária, na separação entre a mãe e o
bebê, ajudando a tolerar a angústia de separação e ausência materna.
A teoria de Winnicott baseia-se no fato de que a psique não é uma estrutura pré-existente e
sim algo que vai se constituindo a partir da elaboração imaginativa do corpo e de suas funções – o
que constitui o binômio psique-soma. Essa elaboração se faz a partir da possibilidade materna de
exercer funções primordiais como o holding (permite a integração no tempo e no espaço), handling
(permite o alojamento da psique no corpo) e a apresentação de objetos (permite o contato com a
realidade).
Winnicott foi um dos primeiros autores a hierarquizar o papel da mãe no funcionamento
mental da criança. Ele considerou que a mãe intervém como ativa construtora do espaço mental da
criança. Na teoria psicanalítica de Winnicott o ser humano não é apresentado como um objeto da
natureza, mas sim como uma pessoa que para existir precisa do cuidado e atenção de um outro ser
humano.
Winnicott acreditava que a mãe suficientemente boa é aquela que possibilita ao bebê a ilusão
de que o mundo é criado por ele, concedendo-lhe, assim, a experiência da onipotência primária,
base do fazer-criativo. E a percepção criativa da realidade é uma experiência do self, núcleo
singular de cada indivíduo.
Na visão winnicottiana, no início da vida o ambiente é representado pela mãe, sendo
fundamental para a constituição do self o modo como ela toca seu bebê, o movimenta, o aconchega,
fala com ele, pois este cuidado promove para o bebê uma continuidade entre o inato, a realidade
psíquica e um esquema corporal pessoal. Na etapa inicial de desenvolvimento a questão primordial
é a presença de uma mãe-ambiente confiável que se adapte às suas necessidades de maneira
virtualmente perfeita.
Winnicott utiliza o termo “mãe suficientemente boa” para designar o cuidador capaz de se
identificar com a criança e atender às suas necessidades básicas, possibilitando ao bebê a ilusão de
que o mundo é criado por ele, concedendo-lhe a experiência da onipotência primária, base do fazer-

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criativo. Ou seja, ao fornecer todo o cuidado e afeto que o bebê necessita, a mãe dedicada lhe dá a
sensação de onipotência e plenitude, fazendo-o crer ser detentor de todas as possibilidades.
Winnicott acredita que há três espaços psíquicos. O interno, o externo e o transicional. O
espaço transicional é uma zona intermediária, que vai do narcisismo primário ao julgamento de
realidade. No início há objetos que não são internos nem externos, só depois virá a delimitação
entre ambos. A mãe deve juntar os pedacinhos, permitindo que a criança se sinta dentro dela. A mãe,
ao nomear o filho unifica-o.

Fase de Dependência Absoluta:


Características:
Total dependência do meio – Primeiros 6 meses
O bebê desconhece seu estado de dependência
O bebê necessita da presença da “Mãe suficientemente boa” – Estado psicológico associado ao
exercício da função materna.

Fase de Dependência Relativa


Características:
Compreende de 6 meses a 2 anos.
Trata-se de uma fase onde a mãe intervém de uma maneira frequente na vida da criança.
Nesta fase a criança começa a reconhecer objetos e pessoas. Porém percebe a mãe de uma maneira
unificada, pensa que está relacionando-se com duas mães.
Mãe suficientemente boa X Mãe insuficientemente boa.

Fase de Independência Relativa


Após a criança ter alcançado a diferenciação entre ela e o ambiente, tendo se adaptado em
certa medida à realidade – absorvendo pautas objetivas dela, que modificam suas fantasias - o
último passo que deve dar é integrar em um todo as diferentes imagens que tem de sua mãe e do
mundo.
Ao adaptar-se à realidade, o bebê pode passar ao período de independência relativa, em que
desenvolve meios para poder prescindir do cuidado materno. Isto é conseguido mediante a
acumulação de memórias de maternagem, da projeção de necessidades pessoais e da introjeção dos
detalhes do cuidado maternal, com o desenvolvimento da confiança no ambiente.

Aula 3 - As Principais Contribuições de Anna Freud

Nascida em 1895, em Viena, Anna Freud foi a sexta e última filha de Sigmund e Martha
Freud, e a notícia de mais uma gravidez não foi bem aceita por seus pais. Anna Freud lutou por ser
reconhecida no seio de uma família na qual só se esperava que os homens fossem talentosos. Na
idade adulta, tentou se aproximar do pai entrando para o círculo de seus discípulos. No entanto,
como estava impossibilitada de ingressar na universidade e estudar medicina, não lhe restou outra
escolha senão tornar-se professora primária, profissão que exerceu durante os anos de 1914 e 1920,
apesar de não estar convencida de que esta era realmente sua vocação.

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- No outono de 1918, tornou-se analisanda de Freud uma vez que havia sido decretado no
Congresso de Budapeste que a análise pessoal era uma precondição para tornar-se analista. Essa
análise durou dois anos tendo retornado em 1922 e sido concluída em 1924.
- Foi no campo da psicanálise com crianças que Anna Freud tornou-se reconhecida pelos seus
trabalhos. Em 1927 publicou sua obra principal, O tratamento psicanalítico das crianças.
- Anna Freud recomendava ao analista de crianças desempenhar um papel ativamente pedagógico.
Estudou o comportamento das crianças em jardins-de-infância. Observou que tipos de brinquedos
eram mais utilizados nas diferentes etapas do desenvolvimento, e, aplicando conceitos
psicanalíticos a essas observações, forneceu uma orientação prática às professoras.
- Segundo Anna Freud, há uma impossibilidade de se estabelecer uma relação puramente analítica
com uma criança em função de sua imaturidade e dependência do meio ambiente. A criança não tem
consciência de sua doença, nem acha que tem um “problema” para resolver. Normalmente são seus
pais que estão preocupados ou angustiados diante de suas dificuldades. Neste sentido, falta à criança
o elemento fundamental para a entrada de um paciente em análise, que é o mal-estar em relação a
seu sintoma e a necessidade de tratamento.
- Anna Freud associava medidas pedagógicas aos meios analíticos, numa tentativa de conquistar a
confiança da criança, facilitando seu engajamento no processo psicanalítico, ou seja, trabalhar
sempre em transferência positiva. Explicava em que consistia a análise e tentava convencê-la, a
partir de um lugar de saber, de autoridade, de compreensão e de aliada da criança.
- Outros pontos abordados por Anna Freud foram: a criança não consegue associar livremente como
o adulto; não estabelece uma neurose de transferência em função de sua ligação com os pais da
realidade;
Se o tratamento psicanalítico com adultos visa a suspensão do recalque, ela acredita que a
análise com crianças não se dá da mesma maneira, pois se as tendências pulsionais forem liberadas
do recalque, a criança irá buscar sua satisfação imediata.
- Em relação à transferência no tratamento psicanalítico com crianças, Anna Freud sustenta que a
criança não estabelece uma neurose de transferência durante o processo analítico, porque a reedição
das relações com os pais dentro da análise é impossível, já que a primeira edição ainda não foi
esgotada. Em outras palavras, o fato de a criança estar, na realidade, vinculada a seus pais é um
obstáculo para o deslocamento de suas relações afetivas com eles para o analista.
- O que Anna Freud propõe é uma análise pedagógica. No entanto, sabemos que esta não pode
basear-se nos processos conscientes do eu que, conforme Freud já havia demonstrado, é a fonte das
resistências. Ao contrário, o processo analítico tem que se apoiar no inconsciente, nas forças
psíquicas recalcadas.
- Parece que podemos atribuir a ela e aos seus colaboradores de Viena os desenvolvimentos teóricos
posteriores que deram origem à tão conhecida psicologia do ego e à chamada “psicoterapia de
orientação psicanalítica”. Nessa
abordagem, o analista tem uma função pedagógica e dirigese ao eu do analisando a fim de fortalecê-
lo.

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