Cirurgia Geral Vol. 2 - 2020
Cirurgia Geral Vol. 2 - 2020
Cirurgia Geral Vol. 2 - 2020
Cirurgia
convencional ou
laparoscópica?
1.1 INTRODUÇÃO
Com o advento das fibras ópticas de iluminação, conjugado
com o desenho de instrumentais cirúrgicos que
possibilitavam a manipulação dos órgãos internos com
menores áreas de dissecção, surgiram os primeiros
procedimentos videolaparoscópicos. Na década de 1960,
Semm substituiu 75% das operações ginecológicas abertas
pela laparoscopia, com baixo índice de complicações.
Na Cirurgia Geral, a laparoscopia foi utilizada inicialmente
para realizar biópsias hepáticas sob visão direta. Em 1977, De
Kok realizou apendicectomias videoassistidas.
A primeira colecistectomia videolaparoscópica foi realizada
por Mouret, em 1987.
Inicialmente, a cirurgia laparoscópica eleva o custo do
procedimento em termos de equipamentos e manutenção
(Figuras 1.1 e 1.2), bem como no treinamento do cirurgião. No
entanto, as suas vantagens ultrapassam os custos de muitos
procedimentos, tornando-a vantajosa. Entre as principais
vantagens, há menor permanência hospitalar com retorno
precoce às atividades normais, menores trauma cirúrgico e
dor pós-operatória, efeito estético superior, além de diminuir
a resposta metabólica ao trauma.
Figura 1.1 - Rack habitual de videolaparoscopia com monitor, DVD, entrada para
câmera, fonte de CO2 para o pneumoperitônio e fonte de luz
Fonte: Instrumental básico y especializado en la colecistectomía video
laparoscópica, 2012.
Nota: enquanto o cirurgião visualiza o campo cirúrgico, suas ações são realizadas
por meio de controles especiais. Esses movimentos são reproduzidos no paciente
por meio dos braços do robô.
Fonte: MAD.vertise.
2.1 INTRODUÇÃO
Hérnia é a protrusão de um órgão ou de seu revestimento
através da parede ou da cavidade que deveria contê-la. As
hérnias da parede abdominal e inguinocrurais representam
afecções frequentes nos serviços de Cirurgia Geral.
Constituem as operações eletivas mais realizadas, tanto em
serviços privados quanto em públicos, e são denominadas de
acordo com sua região anatômica (Figura 2.1). Na parede
abdominal, encontram-se as hérnias epigástricas, umbilicais,
lombares, ventrolaterais de Spiegel, incisionais e
periestomais. Na região inguinofemoral, sede frequente de
hérnias, podem-se encontrar as herniações inguinais,
femorais e obturatórias.
Figura 2.1 - Tipos de hérnias
Fonte: adaptado de Timonina.
2.4.1 Etiologia
Não há explicação satisfatória para os defeitos na linha
semilunar. Normalmente, a região de Spiegel apresenta
resistência menor, de modo que o bom desenvolvimento
muscular minimiza o aparecimento dessas hérnias. São mais
comuns na oitava década de vida, com discreto predomínio no
sexo feminino.
2.4.2 Quadro clínico
As queixas de dor e abaulamento são mais comuns entre
pacientes magros e longilíneos. Como o orifício geralmente é
estreito, na maior parte dos casos a hérnia não é palpável ao
exame físico. A ultrassonografia é útil no diagnóstico desses
casos. Pode ser necessária tomografia de abdome para
diagnóstico, principalmente em pacientes obesos.
2.4.3 Tratamento
O tratamento é cirúrgico, e o acesso recomendado é por meio
de incisão paramediana pararretal. Nos casos de anel
herniário muito largo, o reparo do defeito pode ser feito com
reforço transversal tipo plicatura, uso de fáscia adjacente ou
de telas.
2.5 HÉRNIA INGUINAL
Constitui o tipo mais comum de hérnia e responde por 75%
dos casos. Pode ocorrer na infância ou na vida adulta, com
mecanismos etiológicos diferentes. É mais comum à direita
(60%), seguida da esquerda (30%) e da bilateral (10%).
Também é mais comum em homens do que em mulheres e,
anatomicamente, divide-se em direta e indireta, esta última a
mais comum (Figura 2.4).
#IMPORTANTE
Epidemiologicamente, a hérnia mais
comum é a indireta, do lado direito.
#IMPORTANTE
Nas crianças, a hérnia acontece pela
persistência do conduto peritoneovaginal
(hérnia indireta).
Legenda: (A) oblíquo interno; (B) fascia transversalis; (C) ligamento inguinal; (D)
oblíquo externo; (E) incisão de alívio.
Fonte: Ilustração Cláudio Van Erven Ripinskas.
2.6.3 Tratamento
O tratamento das hérnias envolve cirurgia.
A principal técnica descrita para o tratamento da hérnia
femoral é a de McVay, pela qual o tendão conjunto é suturado
ao ligamento de Cooper após a abertura da fascia transversalis
(Figura 2.15).
Figura 2.15 - Técnica de McVay
2.7.1 Etiologia
Sua incidência varia de 7 a 13% e pode chegar a 30% em
cirurgias contaminadas. É importante o conhecimento das
principais incisões abdominais, uma vez que algumas são
mais suscetíveis a evolução para hérnias incisionais em
pacientes com os fatores de risco citados no Quadro 2.6.
Quadro 2.6 - Principais incisões abdominais e suas principais características
Incisões Vantagens Desvantagens
2.7.2 Quadro clínico
Consiste em abaulamento na área de cicatriz cirúrgica prévia.
A hérnia incisional pode apresentar complicações locais,
como escoriações e úlceras, ou intra-abdominais, como
encarceramento, obstrução intestinal e fístulas
enterocutâneas. Ultrassonografia e tomografia são os
principais exames que podem ser utilizados.
Os principais fatores de risco são os mesmos das deiscências e
falhas de cicatrização: infecção, desnutrição, estados de
imunodepressão (diabetes, uso de corticoides e quimioterapia
ou radioterapia), aumento da pressão intra-abdominal
(vômitos, íleo prolongado com distensão, obesidade, ascite e
doença pulmonar obstrutiva crônica), técnica cirúrgica
inadequada etc.
2.7.3 Tratamento
É eminentemente cirúrgico e deve ser precoce. É possível a
correção por videolaparoscopia, principalmente utilizando
telas que podem ficar em contato com o peritônio visceral.
Hérnias incisionais volumosas são um desafio para o
cirurgião, e o tratamento deve ser cuidadosamente planejado.
Hérnias com evolução arrastada podem evoluir com a
chamada perda de domicílio do conteúdo herniado. A simples
correção, além de ser tecnicamente difícil, pode evoluir com
restrição respiratória e síndrome compartimental abdominal.
Nesses casos, apesar de alguns autores defenderem o uso de
corticoides no pré-operatório, essa medida não é considerada
consensual.
#IMPORTANTE
Hérnias incisionais volumosas são um
desafio para o cirurgião, e o tratamento
deve ser cuidadosamente planejado.
3.1 INTRODUÇÃO
Define-se abdome agudo como uma síndrome dolorosa aguda
de intensidade variável, que leva o paciente a procurar a
Urgência e requer tratamento imediato, clínico ou cirúrgico.
Não tratado, evolui para piora dos sintomas e progressiva
deterioração do estado geral.
As características semiológicas, observadas no exame clínico
por meio da anamnese e do exame físico, são os principais
fatores que conduzirão o médico ao diagnóstico e à possível
conduta. As condições clínicas que simulam um abdome
agudo devem ser afastadas para que haja a correta abordagem
terapêutica.
Nem toda dor abdominal é um quadro de abdome agudo. Pode
tratar-se de um falso abdome agudo, e isso ocorre quando o
paciente tem dor abdominal, mas a origem do problema é
extra-abdominal. Como exemplo, podemos citar os quadros
de uremia aguda ou de cetoacidose diabética, que podem
cursar com dor abdominal intensa.
3.2 AVALIAÇÃO
3.2.1 Anamnese e exame físico
Muitas afecções agudas do abdome apresentam
características peculiares que podem ser sugeridas no
momento da anamnese e do exame físico. Para tanto, dados
relevantes, como início dos sinais e sintomas, características
semiológicas de dor, febre, náuseas, vômitos, distensão
abdominal, ruídos hidroaéreos intestinais, hematêmese e/ou
melena, entre outros, são de vital importância.
A dor é o principal sintoma na síndrome do abdome agudo. A
investigação das características da dor pode, muitas vezes,
orientar a etiologia do quadro (Quadro 3.1). É possível
classificar a dor em 3 tipos: visceral, somática e referida.
A dor visceral normalmente é mal localizada, ao longo da
linha média, causada por distensão ou estiramento dos
órgãos, e costuma ser a primeira manifestação das afecções
intra-abdominais, principalmente no abdome agudo
inflamatório. A dor somática é mediada por receptores ligados
a nervos somáticos existentes no peritônio parietal e na raiz
do mesentério, sendo responsável por sinais propedêuticos,
como a contratura involuntária e o abdome “em tábua”.
Por fim, a dor referida é decorrente da convergência no corno
posterior da medula, de nervos provenientes das vísceras e da
pele, o que explica a sensação dolorosa superficial nesses
quadros.
Quadro 3.1 - Características da dor nos diversos tipos de abdome agudo
Figura 3.1 - Principais localizações de dor referida, de acordo com a etiologia
Fonte: Alena Hovorkova.
4.1 DEFINIÇÕES
Didaticamente, o termo “abdome agudo inflamatório”
envolve as afecções intra-abdominais que geram quadro de
peritonite secundária a processo infeccioso ou inflamatório.
De modo geral, o quadro caracteriza-se por dor lenta,
insidiosa e progressiva no início, normalmente com intervalo
longo entre o começo dos sintomas e a ida à Emergência. Na
propedêutica abdominal, a palpação pode revelar defesa
localizada ou generalizada, por meio da contração voluntária
da musculatura abdominal. É um mecanismo de defesa, tendo
em vista o comprometimento peritoneal. As causas mais
comuns são apendicite, colecistite, pancreatite e diverticulite
agudas.
4.2 APENDICITE AGUDA
A apendicite aguda é a principal causa de abdome agudo e é a
afecção cirúrgica mais comumente atendida na Emergência.
Epidemiologicamente, é a principal causa de abdome agudo
em crianças, adolescentes e adultos jovens.
Figura 4.1 - Risco de apendicite com a idade
Fonte: Blamb.
5.1 ETIOLOGIA
O abdome agudo perfurativo resulta da peritonite secundária
a uma perfuração de víscera oca com extravasamento de
material na cavidade abdominal. Em perfurações gástricas, a
etiologia mais comum é a úlcera péptica perfurada, de modo
que é comum o relato de uso de Anti-Inflamatórios Não
Esteroides (AINEs) ou de ácido acetilsalicílico. Perfurações do
delgado são raras e devem alertar para a ingestão de corpo
estranho. As perfurações colônicas normalmente estão
associadas a patologias de base, como divertículos ou
tumores. Doenças infecciosas, como citomegalovírus e
tuberculose, podem ser causas de perfuração intestinal em
imunodeprimidos.
Em perfurações gástricas, a etiologia mais
comum é a úlcera péptica perfurada, de
modo que é comum o relato de uso de
Anti-Inflamatórios Não Esteroides (AINEs)
ou de ácido acetilsalicílico.
5.3 TRATAMENTO
O tratamento do abdome agudo perfurativo é eminentemente
cirúrgico, mas a conduta intraoperatória dependerá da
etiologia do quadro. Úlceras perfuradas, na maioria das vezes,
podem ser suturadas, com associação ou não à proteção com
retalho do omento maior (Figuras 5.2 e 5.3). É recomendado o
uso de fios inabsorvíveis. A gastrectomia é rara e fica
reservada a úlceras de grande diâmetro, terebrantes para o
pâncreas ou para suspeita de neoplasia.
Figura 5.2 - Sutura simples de úlcera pré-pilórica
Fonte: Ilustração Claudio Van Erven Ripinskas.
6.1 CLASSIFICAÇÃO
Qualquer afecção que dificulte ou impossibilite o trânsito
gastrintestinal pode ser definida como obstrução intestinal, a
qual constitui a segunda afecção abdominal aguda mais
frequente. A obstrução de delgado é mais comum do que a de
intestino grosso. Pode ocorrer em qualquer faixa etária, e a
letalidade varia de 7 a 30%, dependendo da precocidade do
diagnóstico e da instituição de terapêutica adequada.
A classificação dos casos de obstrução pode ser adotada tanto
para o diagnóstico diferencial quanto para a conduta
terapêutica. Didaticamente, as obstruções podem ser
divididas em altas (acima da válvula ileocecal) e baixas;
funcionais (decorrentes de causas sistêmicas, como fatores
metabólicos ou infecciosos) e mecânicas (decorrentes de
causas extrínsecas ou intrínsecas ao cólon) ou simples e
complicadas (com sofrimento vascular).
6.2 ETIOLOGIA
Historicamente, com o maior acesso ao atendimento médico,
as hérnias foram suplantadas pelas aderências ou bridas
como as causas mais comuns de obstrução intestinal de
tratamento cirúrgico. Outras causas de obstrução mecânica
são neoplasias, volvos e intussuscepções, corpos estranhos,
íleo biliar, doença inflamatória intestinal, estenoses
isquêmicas, divertículo de Meckel, bolo de áscaris e
hematomas intramurais.
Observa-se que as hérnias estão presentes em todas as faixas
etárias, de modo que essa hipótese diagnóstica deve ser
investigada em todos os indivíduos com obstrução intestinal.
1. Causas mecânicas mais prevalentes de obstrução intestinal:
a) Bridas ou aderências pós-operatórias;
b) Hérnias de parede abdominal ou internas;
c) Tumores;
d) Volvos;
e) Intussuscepção;
f) Divertículo de Meckel;
g) Corpos estranhos intra ou extraluminares;
h) Estenoses benignas.
7.1 ETIOLOGIA
Definem-se como Abdome Agudo Hemorrágico (AAH) os
casos de dor abdominal associados ao quadro clínico de
choque hemorrágico por sangramentos intracavitários. As
principais causas são gravidez ectópica rota e rotura de
aneurisma da aorta abdominal, porém outras etiologias mais
raras devem ser consideradas.
Suspeita-se de gravidez ectópica nas mulheres em idade fértil
com atraso menstrual e quadro clínico sugestivo. Rotura de
miomas subserosos pode causar sintomatologia semelhante.
A suspeita de rotura de aneurisma da aorta abdominal deve
ser levantada em pacientes com frêmitos ou massas pulsáteis
abdominais ou que já se saibam portadores de aneurismas.
Ainda que mais raramente, lesões da artéria esplênica podem
ocorrer, principalmente em gestantes ou em pacientes com
antecedente de pancreatite. Outra causa de abdome agudo
hemorrágico é a ruptura de tumores hepáticos,
principalmente o adenoma, que é um tumor benigno mais
comum em mulheres jovens e usuárias de anticoncepcional.
7.2 DIAGNÓSTICO
A dor abdominal costuma ser súbita, porém de localização
difusa. Entre as alterações hemodinâmicas, a taquicardia é o
sinal mais precoce, seguida de queda da pressão arterial,
palidez, sudorese fria e agitação. É possível quantificar a
perda volêmica por meio de sinais clínicos. Sinais de
hemorragia retroperitoneal – Cullen e Grey Turner – podem
estar presentes, à semelhança de quadros de pancreatite
aguda grave. O sinal de Kehr é um sinal de ocorrência de dor
aguda no ombro devido à presença de sangue ou outros
irritantes na cavidade peritoneal homolateral, quando uma
pessoa está deitada e com as pernas elevadas. O sinal de Kehr
no ombro esquerdo é considerado um sinal clássico de
ruptura de baço.
A ocorrência de hematoma do músculo iliopsoas na vigência
de tratamento anticoagulante é rara. Sua apresentação é
usualmente unilateral, com sintomatologia relacionada à
compressão do plexo nervoso do membro inferior e com
diagnóstico diferencial abrangendo diversas áreas clínicas.
Quadro 7.1 - Classificação do choque hemorrágico
Exames laboratoriais gerais servem para avaliação global,
mas são inespecíficos. A reposição volêmica não deve se
basear nos valores de hemoglobina e hematócrito na fase
inicial do atendimento.
Toda mulher com hipótese diagnóstica de abdome agudo
hemorrágico e em idade fértil admitida na Emergência deve
ser submetida a dosagem de beta-HCG e teste qualitativo.
Esses exames podem confirmar a suspeita de gravidez
ectópica.
Entre os pacientes estáveis hemodinamicamente, os exames
de imagem podem colaborar para a confirmação diagnóstica.
A ultrassonografia abdominal pode diagnosticar as 2
principais causas de AAH. Na suspeita de aneurisma da aorta
abdominal, a tomografia computadorizada pode oferecer
mais dados, como altura do aneurisma e comprometimento
das camadas da parede arterial.
Figura 7.1 - Tomografia computadorizada que evidencia aneurisma da aorta
abdominal infrarrenal
Legenda: (A) aneurisma da aorta abdominal infrarrenal até bifurcação das ilíacas
e (B) aspecto tomográfico após a colocação de endoprótese.
Fonte: Tratamento endovascular dos aneurismas de aorta abdominal: experiência
inicial e resultados a curto e médio prazo, 2006.
Fora os traumatismos
abdominais, o que mais
pode causar um
sangramento intra-
abdominal?
As principais causas são gravidez ectópica rota e
rotura de aneurisma da aorta abdominal. À
semelhança dos pacientes de trauma, a estabilização
hemodinâmica e a reposição volêmica são
fundamentais no seu manejo.
Quando suspeitar de um
quadro de abdome
agudo vascular? É um
quadro grave?
8.1 DEFINIÇÕES
O abdome agudo vascular representa uma das formas mais
graves entre as urgências abdominais, com índices de
mortalidade de 46 a 100%. A insuficiência vascular intestinal,
por sua vez, pode ser dividida em aguda (infarto intestinal) ou
crônica (angina abdominal).
Figura 8.1 - Irrigação sanguínea do intestino
Para diagnóstico e tratamento, é necessário conhecer a
anatomia vascular abdominal, em especial a irrigação do
intestino. A Artéria Mesentérica Superior (AMS) é um ramo
direto da aorta de onde saem ramos jejunais, ileais, artéria
ileocecocólica, artéria cólica direita e artéria cólica média.
Além disso, é responsável pela irrigação de todo o intestino
delgado, ceco e cólons ascendente e transverso, até o ângulo
esplênico, por meio das anastomoses marginais.
A Artéria Mesentérica Inferior (AMI) também é ramo direto
da aorta e emite a artéria cólica esquerda, 3 ou 4 artérias
sigmoidianas e a artéria retal superior, irrigando o cólon
esquerdo e o reto.
A chamada arcada de Riolano consiste em
um arco anastomótico que comunica as
artérias mesentéricas superior e inferior no
nível do ângulo esplênico, área de maior
suscetibilidade à isquemia nas ressecções
colônicas.
8.2 FISIOPATOLOGIA
A lesão isquêmica da mucosa intestinal ocorre quando há
privação de oxigênio e nutrientes para o tecido manter o
metabolismo e a integridade celular. A resposta
fisiopatológica a um fluxo reduzido é inicialmente o aumento
acentuado na atividade motora intestinal, o que resulta em
aumento na demanda de oxigênio.
À medida que a integridade capilar é comprometida, o
intestino torna-se hemorrágico e edemaciado, com aumento
da pressão hidrostática intraluminal, e passa a comprometer
mais ainda o fluxo sanguíneo. Além disso, a produção de
metabólitos tóxicos pode exacerbar a lesão isquêmica. Com a
perda da barreira de proteção da luz intestinal, aumentam as
condições para translocação bacteriana e sepse.
Os mediadores vasoativos e as endotoxinas bacterianas
liberadas na cavidade peritoneal acarretam uma variedade de
efeitos fisiológicos, como depressão cardíaca, choque séptico
e insuficiência renal aguda. Esses efeitos podem levar a óbito
antes mesmo da necrose completa da parede intestinal.
8.3 DIAGNÓSTICO
O quadro clínico varia e depende do grau de oclusão arterial.
Na fase inicial, os sintomas são inespecíficos, com
predomínio de dor abdominal tipo em aperto de forte
intensidade e de difícil localização, podendo ser referida pelo
paciente como surda ou em cólica. Antecedentes como
arritmia cardíaca ou insuficiência vascular periférica devem
ser investigados.
Uma das características mais marcantes dos quadros de
abdome agudo vascular é a dissociação entre a queixa do
paciente e o exame físico. O primeiro relata dor de forte
intensidade, mas o exame físico não mostra sinais de
peritonite. Isso acontece quando já há necrose intestinal
instalada e denota prognóstico ruim.
A angina abdominal, comum nos quadros de isquemia
crônica, consiste em episódios de dor abdominal,
normalmente desencadeados no período pós-prandial, e,
com isso, o paciente fica com “medo de comer” e pode perder
peso. As dores abdominais melhoram espontaneamente, mas
aumentam de frequência e intensidade. Outro achado
bastante sugestivo de isquemia intestinal é a presença de
fezes mucossanguinolentas ao toque retal (fezes “em geleia
de framboesa”).
Entre os exames complementares, a acidose metabólica
persistente é um parâmetro importante no diagnóstico de
infarto intestinal. As enzimas séricas (desidrogenase láctica,
fosfatase alcalina, amilase e creatinofosfoquinase) costumam
estar aumentadas, mas são inespecíficas.
A radiografia simples pode fornecer sinais indiretos, como
pneumoperitônio, líquido livre na cavidade, espessamento na
parede das alças e gás na circulação portal. O sinal
classicamente descrito como “alças carecas” é altamente
sugestivo de isquemia intestinal. Outros exames de imagem,
como tomografia e ultrassonografia, são pouco elucidativos.
A laparoscopia pode ser alternativa tanto para diagnóstico
quanto para evitar laparotomia desnecessária.
Caso a condição clínica permita, o estudo
angiográfico pode ser indicado para
descartar uma embolia da AMS.
9.2.3 Conduta
A prioridade no tratamento são as estabilizações respiratória
e hemodinâmica. A reposição volêmica deve ser feita por meio
de acessos venosos periféricos calibrosos. Dependendo da
estimativa da perda volêmica, pode ser necessário o uso de
hemoderivados. Sempre que possível, os pacientes devem ser
monitorizados em ambiente de terapia intensiva.
O uso de Inibidores da Bomba de Prótons (IBPs) deve ser
precoce, assim como a suspensão dos agentes que possam ter
desencadeado o quadro. A aplicação de IBP também tem
impacto sobre o ressangramento. Alguns autores defendem a
infusão contínua desse medicamento em pacientes
submetidos a procedimentos hemostáticos.
#IMPORTANTE
O uso de IBPs deve ser precoce, assim
como a suspensão dos agentes que
possam ter desencadeado o quadro.
Figura 9.3 - Causas raras de hemorragia digestiva alta: câncer gástrico avançado
e precoce
Fonte: arquivo pessoal dr. Marcelo Simas de Lima.
10.1 EPIDEMIOLOGIA
A hemorragia varicosa responde por 20 a 30% dos casos de
Hemorragia Digestiva Alta (HDA) e é consequência da
hipertensão portal. Esta última pode causar varizes,
entretanto a cirrose é o resultado mais comum. Sessenta por
cento dos hepatopatas desenvolvem varizes de esôfago, e
cerca de 35% dos pacientes com hipertensão portal e varizes
sangrarão, a maioria pela rotura de varizes esofágicas. O
sangramento das varizes gástricas e duodenais é um evento
menos frequente. Aproximadamente 40% dos sangramentos
por varizes cessam espontaneamente, contudo a mortalidade
chega a 20% nas primeiras 6 semanas após o primeiro
episódio.
10.2 FISIOPATOLOGIA
As varizes do esôfago traduzem um desvio de sangue do
sistema venoso portal para o sistema cava superior, em
consequência da hipertensão portal, criando, assim, o fluxo
hepatofugal. Quando o gradiente de pressão entre a veia porta
e as veias supra-hepáticas é maior do que 6 mmHg, o sangue
portal flui por intermédio de circulação colateral, havendo o
risco de hemorragia. Os valores pressóricos associados a
sangramento na forma de hipertensão portal sinusoidal e
pós-sinusoidal são, respectivamente, 10 e 12 mmHg.
Figura 10.1 - Mecanismos envolvidos na fisiopatologia da hipertensão portal
Figura 10.3 - Aspecto endoscópico de varizes com red spots (vasos sobre
varizes)
11.1 DEFINIÇÃO
Considera-se Hemorragia Digestiva Baixa (HDB) qualquer
sangramento cuja origem seja distal ao ângulo de Treitz (após
a transição duodenojejunal), o que abrange quase todo o
intestino delgado, todo o segmento colônico e o reto. A
maioria das HDBs se origina no segmento colorretal (95% dos
casos), e as apresentações clínicas possíveis são
hematoquezia, enterorragia e melena. A gravidade do
sangramento é bastante variável, mas a maioria dos episódios
se caracteriza por pequeno volume de hematoquezia.
Independentemente da apresentação inicial, o sangramento
costuma ser autolimitado, com parada espontânea em até
85% dos casos, e a taxa de mortalidade é de
aproximadamente 3%.
11.2 ETIOLOGIA
Existem inúmeras causas para HDB, cuja frequência pode
variar com a literatura estudada. De maneira geral, as
principais causas são:
1. Doença diverticular dos cólons;
2. Isquemia;
3. Anorretal (hemorroidas, fissura anal, úlceras retais);
4. Neoplasia (pólipos ou cânceres);
5. Angiodisplasia;
6. Doenças inflamatórias intestinais;
7. Outras colites (infecciosa, associada a antibióticos,
isquêmica, idiopática);
8. Idiopáticas.
11.4 CONDUTA
A abordagem inicial dos casos consiste na estabilização
hemodinâmica. Segue-se o esforço diagnóstico para
primeiramente localizar e posteriormente tratar o foco
hemorrágico. A exclusão de sangramento digestivo alto deve
ser a primeira medida, uma vez que alguns casos de
sangramento acima do ângulo de Treitz podem manifestar-se
como enterorragia. Portanto, a EDA é o primeiro exame a ser
realizado, mesmo na suspeita de HDB.
O limite dos esforços diagnósticos é determinado pela
repercussão clínica da hemorragia. Assim, pacientes com
sangramento de pequena monta, sem repercussões, não
devem passar por procedimentos invasivos e de maior risco,
enquanto aqueles com hemorragia muito grave podem não
ter condições de cumprir todas as etapas diagnósticas.
Portanto, a EDA é o primeiro exame a ser
realizado, mesmo na suspeita de HDB.
12.1 INTRODUÇÃO
O transplante consiste em um procedimento cirúrgico que
visa à reposição de um órgão (coração, pulmão, rim, fígado,
pâncreas e intestino) e/ou tecido (córnea, esclera, pele, osso,
cartilagem, tendão, menisco, fáscia muscular, válvula
cardíaca e vaso sanguíneo) doente por outro em condição
normal proveniente de um doador vivo ou morto (Westphal et
al., 2016). O transplante é, por vezes, a única escolha a
portadores de alguma doença terminal, representando uma
alternativa terapêutica segura e eficaz, capaz de promover
melhoria na qualidade e perspectiva de vida.
No Brasil, durante o ano de 2017, foram incluídos 16,6
doadores efetivos por milhão de população (pmp), colocando
o país em vigésimo primeiro lugar na lista de doadores e
mantendo um número ascendente (Figura 12.1). De acordo
com o Ministério da Saúde, o Sistema Único de Saúde (SUS) é
o principal responsável pela captação, retirada e transplante
de órgãos e tecidos: aproximadamente 97% das cirurgias de
órgãos sólidos são realizadas pelo SUS, que também financia
todo o procedimento de doação de medula óssea.
Figura 12.1 - Evolução anual dos doadores efetivos no Brasil – pmp (por milhão
de população)
12.2 ATIVIDADES DE
TRANSPLANTES NO BRASIL
As atividades de transplantes no Brasil tiveram início na
década de 1960, porém a organização para notificação de
potenciais doadores e alocação ocorria de maneira pouco
estruturada. A procura por doadores era realizada pelos
próprios transplantadores nas unidades de tratamento de
pacientes graves, sem nenhuma organização voltada para o
doador. Tais atividades foram regularizadas somente em
1997, com a promulgação da Lei 9.434/97 e do Decreto
2.268/97, que regulamentaram as atividades de transplantes
e criaram o Sistema Nacional de Transplantes (SNT).
Atualmente, a Resolução 2.173/17 substituiu a de 1.480/97 e
atende o que determinam a Lei 9.434/97 e o Decreto
Presidencial 9.175/17.
Até a criação dessa lei, vigorava a doação de órgãos
consentida, na qual era necessária a autorização dos
familiares do Potencial Doador (PD). A partir da publicação da
lei, a doação passou a ser presumida, ou seja, todo cidadão era
um PD, a não ser que expressasse posição contrária em algum
documento de identificação. Tal medida causou um debate
acalorado na sociedade, de forma que, em 2001, a doação
voltou a ser consentida, sendo, até hoje, necessário o
consentimento por escrito de parentes de primeiro ou
segundo graus, na linha reta ou colateral, ou do cônjuge.
A organização do processo de doação de órgãos no Brasil
segue 2 modelos: o espanhol e o norte-americano. O primeiro
se baseia na coordenação de transplantes em níveis nacional,
autônomo e hospitalar. Os 2 primeiros níveis são financiados
pela administração sanitária nacional, enquanto o último se
refere à coordenação intra-hospitalar – um médico atua
como coordenador, e uma equipe de pessoas treinadas do
próprio hospital realiza as atividades relativas à captação de
órgãos. Assim como a Espanha, o Brasil conta com essas
comissões intra-hospitalares de doação de órgãos e tecidos.
Por outro lado, o modelo norte-americano se baseia nas
Organizações de Procura de Órgãos (OPOs), e o governo
determina áreas delimitadas para cada OPO realizar a busca
ativa de potenciais doadores, educação e captação de órgãos.
O Brasil também organiza o seu modelo com base nas OPOs,
sendo que a maior parte dessas organizações se vincula a
hospitais-escola e recebe financiamento do Ministério da
Saúde.
12.3 SISTEMA NACIONAL DE
TRANSPLANTES
O SNT foi criado em 1997, formalizado pelo Decreto 2.268/97
e regulamentado, em nível técnico, pela Portaria 2.600/09,
que determinou os itens de estrutura e sua forma de
funcionamento, com detalhamento de seus componentes. As
funções de entidade central do SNT são exercidas pelo
Ministério da Saúde por meio da Coordenação Geral do
Sistema Nacional de Transplantes (CGSNT).
A CGSNT é assessorada, por um lado, por Grupos de
Assessoramento Estratégico (GAEs) e, por outro, pelas
Câmaras Técnicas Nacionais (CTNs). Aos GAEs competem a
elaboração de diretrizes, propostas de melhorias na legislação
dos transplantes, identificação de indicadores de qualidade
para as atividades de doação e transplante e emissão de
pareceres, quando solicitados pela CGSNT. Por sua vez, as
CTNs atuam nas partes técnicas específicas do processo de
doação e transplante de órgãos e tecidos.
Em termos logísticos, a coordenação do processo de captação,
retirada e distribuição do material para transplantes é de
responsabilidade da Central Nacional de Transplantes (CNT),
em nível nacional, e da Central de Notificação, Captação e
Distribuição de Órgãos (CNCDO), em nível estadual. De
maneira regionalizada e em parceria com as Comissões Intra-
Hospitalares de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante
(CIHDOTTs), as OPOs participam desse processo de
coordenação, de forma a proporcionar educação continuada
na área da doação de órgãos; auxílio aos hospitais para a
identificação dos potencias doadores; auxílio no processo de
diagnóstico de Morte Encefálica (ME), bem como na
conclusão do processo de doação e transplante.
Figura 12.2 - Organização do Sistema Nacional de Transportes, conforme
Portaria 2.600/09
12.6 IDENTIFICAÇÃO DO
POTENCIAL DOADOR
A identificação de potenciais doadores é o primeiro passo de
todo o processo de doação e transplante, e, para essa
identificação, é fundamental a participação do Coordenador
Intra-hospitalar de Transplantes e/ou do Coordenador da
OPO. Em geral, não existe restrição absoluta à doação de
órgãos, mas esta pressupõe alguns critérios mínimos como
causa da morte, doenças infecciosas ativas, entre outros.
Além disso, não poderão ser doadores os indivíduos que não
tiverem documentação ou os menores de 18 anos sem a
autorização dos responsáveis.
Considera-se como PD todo paciente em ME, que é definida
como condição neurológica compatível com coma arreativo e
ausência de circulação sanguínea e das funções metabólicas e
elétricas do córtex cerebral, do telencéfalo e do tronco
cerebral.
Pela resolução anterior (1.480/97), a ME deveria ser
diagnosticada por 2 médicos, sendo que 1 teria de ser
obrigatoriamente neurologista, mas o outro não precisava ter
nenhuma habilitação específica. Agora, os 2 médicos devem
ser especificamente qualificados, sendo que 1 deles deve,
obrigatoriamente, possuir uma das seguintes especialidades:
Medicina Intensiva Adulta ou Pediátrica, Neurologia Adulta
ou Pediátrica, Neurocirurgia ou Medicina de Emergência. O
outro deve ter, no mínimo, 1 ano de experiência no
atendimento a pacientes em coma, acompanhado ou
realizado pelo menos 10 determinações de ME ou realizado
curso de capacitação. Nenhum dos 2 médicos deve fazer parte
da equipe de transplantes.
A Resolução 2.173/17 também estabelece quais procedimentos
devem ser realizados. Diz, por exemplo, que o quadro clínico
do PD deve apresentar todos os seguintes pré-requisitos:
presença de lesão encefálica de causa conhecida e irreversível;
ausência de fatores tratáveis que confundiriam o diagnóstico;
temperatura corpórea superior a 35 °C; e saturação arterial de
acordo com critérios estabelecidos pela Resolução (Quadro
12.2).
Quadro 12.2 - Comparação das resoluções sobre as condições para o
diagnóstico de morte encefálica
As contraindicações absolutas para a doação de órgãos e
tecidos são poucas e de responsabilidade do coordenador
hospitalar ou da OPO ou CNCDO, enquanto a decisão sobre a
utilização de determinado órgão ou tecido pertence à equipe
de transplante.
1. Contraindicações absolutas para a doação de órgãos e
tecidos, segundo a Associação Brasileira de Transplante de
Órgãos (2009):
a) Tumores malignos, exceto os carcinomas basocelulares
da pele, carcinoma in situ do colo uterino e tumores
primitivos do sistema nervoso central;
b) Sorologia positiva para HIV ou para HTLV I e II;
c) Sepse ativa e não controlada;
d) Tuberculose em atividade.
12.7 MANUTENÇÃO DO POTENCIAL
DOADOR
O objetivo da manutenção do PD é otimizar a perfusão
tecidual, assegurando a viabilidade dos órgãos para a
obtenção de um enxerto de qualidade. O processo de ME
promove diversas alterações fisiopatológicas decorrentes da
inativação de centros de controle pressórico, hormonal e
respiratório. Dessa forma, são indispensáveis a identificação e
a intervenção precoces dessas alterações.
De forma geral, é recomendada a manutenção das funções
orgânicas, corrigindo disfunções e agilizando a retirada de
órgãos para transplante, idealmente, no prazo de até 12 a 24
horas a partir do diagnóstico de ME. Para isso, é importante
estabilizar hemodinamicamente, corrigir o déficit de
oxigenação, tratar infecções bacterianas, reverter a
hipotermia, monitorizar e corrigir distúrbios metabólicos, em
especial a hipernatremia, tratar alterações endócrinas, renais
e hepáticas, bem como corrigir distúrbios de coagulação e
qualquer outra alteração orgânica reversível.
As ações relacionadas à manutenção do PD podem ser
acessadas com maior detalhamento no material desenvolvido
pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) e
pela Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO),
que sintetizaram as melhores evidências científicas para
determinar as intervenções cabíveis na manutenção de
pacientes que são PDs de órgãos e tecidos.
12.8 ENTREVISTA FAMILIAR PARA
DOAÇÃO DE ÓRGÃOS E TECIDOS
A validação do PD ocorre somente após o estabelecimento do
diagnóstico de ME e a conscientização da família com relação
à morte do seu ente, sendo, então, efetivada a entrevista
sobre a opção de doação. O sucesso da entrevista está
diretamente associado ao atendimento hospitalar recebido e à
habilidade e ao conhecimento do entrevistador, além da
predisposição da família à doação.
A entrevista familiar deve ser realizada após a comunicação
do óbito à família e apenas nos casos em que estão excluídas
as contraindicações clínicas para a doação. Esta deve ser
realizada pelo médico do próprio hospital (os profissionais
responsáveis pelo processo de doação podem ou não estar
presentes para acompanhar a comunicação da má notícia) e
seguir uma metodologia sequencial com fases claras e bem
definidas: acolhimento, comunicação do óbito pelo médico do
hospital, elucidação de dúvidas sobre a ME, doação de órgãos
e/ou tecidos e finalização cordial, com orientações quanto aos
procedimentos necessários para as cerimônias fúnebres.
Durante o acolhimento, o entrevistador deve verificar se os
familiares compreenderam o óbito e se estão em condições
emocionais para receber informações acerca da possibilidade
de doação. O entrevistador deve sempre respeitar e aceitar a
decisão dos familiares, atentando-se aos motivos da recusa
no caso da não doação, situações estas em que é necessário
esclarecer sobre a suspensão do suporte terapêutico ao
paciente com ME. Vale ressaltar que a principal função da
entrevista familiar não é conseguir doações, mas acolher a
família e apoiar suas decisões.
A entrevista se encerra quando a família expressa sua vontade
em doar ou não. Havendo o consentimento para a doação, os
familiares (parentes até segundo grau ou cônjuge) e mais 2
testemunhas devem apresentar os respectivos documentos
originais (RG ou CNH), bem como os do doador, e assinar 2
vias do termo de consentimento. Neste momento, a família
deve ser orientada quanto ao que se sucede à assinatura do
termo: procedimento cirúrgico empregado, necessidade de
realização de exames laboratoriais para avaliação dos órgãos
e tecidos doados, tempo para obtenção dos resultados de
exames, tempo para notificação e seleção de receptores,
tempo de cirurgia etc.
O consentimento familiar deve ser informado à OPO, que, por
sua vez, informará a CNCDO, a qual realizará a alocação dos
órgãos autorizados para doação, de acordo com os critérios
legais vigentes. O tempo preconizado pelo SNT para o início
da cirurgia de extração de múltiplos órgãos é de 6 horas após
a aprovação da equipe transplantadora, ou seja, cabe à
CIHDOTT monitorizar esse tempo, a fim de garantir agilidade
no processo de doação.
12.9 DOAÇÃO EFETIVA
Após a autorização da doação pelos familiares, as condições
clínicas e laboratoriais do PD são rigorosamente analisadas,
visto que influenciam diretamente na qualidade do órgão para
o transplante. Dessa forma, são realizados exame físico
minucioso e coletados exames específicos (Quadro 12.3) para
verificar a viabilidade dos órgãos e para excluir riscos de
transmissão de doenças neoplásicas ou infecciosas aos
receptores. Além do exame físico e coleta de exames, deve ser
realizada uma anamnese detalhada no prontuário do falecido
e também junto aos familiares, de forma a obter informações
para compor a Ficha de Notificação do Doador de Múltiplos
Órgãos.
Na anamnese detalhada, após consentimento para doação de
órgãos e tecidos, são investigados os hábitos prévios
alimentares, comportamentos de risco (uso de drogas ilícitas,
alcoolismo, tabagismo, comportamento sexual etc.),
processos febris, enfermidades neurológicas, antecedentes
familiares, verificação de peso, altura e circunferência
torácica na linha mamilar, entre outros aspectos.
Caso seja identificada alguma contraindicação, a decisão em
não prosseguir com o processo de doação de órgãos é de
responsabilidade da equipe da CIHDOTT ou do coordenador
da OPO. Após a classificação de riscos, a CIHDOTT ou a OPO
deve informar à CNCDO, que, então, informará às equipes de
transplantes, as quais ficarão responsáveis por definir se irão
assumir ou não os riscos para o procedimento.
Os critérios utilizados para essa tomada de decisão são
fundamentados nas Diretrizes Básicas para Captação e
Retirada de Múltiplos Órgãos e Tecidos da Associação
Brasileira de Transplante de Órgãos.
Quadro 12.3 - Exames mínimos para avaliação do potencial doador de órgãos e
tecidos
1 O resultado pode ser obtido após a realização do transplante.
2 Para pacientes com mais de 45 anos.
Fonte: Diretrizes básicas para captação e retirada de múltiplos órgãos e tecidos
da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos, 2009; Manual do Núcleo de
Captação de Órgãos, 2014.
13.1 INTRODUÇÃO
Enquanto neoplasia significa o crescimento anormal de
células em qualquer tecido corpóreo do hospedeiro, câncer é
aquela neoplasia com potencial de malignidade – baixa
diferenciação, alto potencial de invasão, grande capacidade
metastática, crescimento acelerado etc. Essas células
anormais proliferam-se localmente, invadem e atravessam as
barreiras tissulares normais, reproduzindo-se
indefinidamente. As massas de células neoplásicas malignas
disseminam-se pelo organismo, levando à morte se não
erradicadas.
Por muito tempo, a cirurgia foi o único método de tratamento
do câncer. Atualmente, com os avanços da Farmacologia e dos
estudos da Biologia Tumoral, é possível compreender a
evolução dos tumores e o uso terapêutico de drogas
antineoplásicas. A radiação ionizante de alta energia também
se mostrou útil na terapia do câncer. Utilizam-se ondas
eletromagnéticas de raios X e raios gama ou partículas
subatômicas, como as partículas beta, elétrons e nêutrons.
Desta maneira, cirurgia e radioterapia constituem medidas de
tratamento locorregional, enquanto a quimioterapia é
utilizada como tratamento sistêmico, como, por exemplo, nos
casos em que estão presentes metástases.
O uso de quimioterapia e/ou radioterapia antes de uma
cirurgia, seja com intuito de diminuir o tamanho do tumor
primário, seja melhorar o controle locorregional, é chamado
tratamento neoadjuvante. Quando essas modalidades são
usadas após a cirurgia, com intuito curativo, diz-se que são
adjuvantes. O uso de quimioterapia ou radioterapia em lesões
irressecáveis ou disseminadas, em que há poucas chances de
controle da doença, é chamado paliativo.
13.1.1 Epidemiologia do câncer
O câncer resulta da interação entre suscetibilidade genética e
fatores ambientais. Pode ter uma causa genética e tornar-se
hereditário, contudo na maior parte das vezes está
relacionado com o estilo e as condições de vida do indivíduo.
A incidência do câncer é diferente ao redor do mundo. Nos
países em desenvolvimento e subdesenvolvidos, a incidência
de tumores relacionados a vírus – colo uterino e HPV, fígado e
vírus de hepatite – é maior quando comparada à dos países
desenvolvidos.
Os Quadros 13.1 e 13.2 mostram um comparativo da incidência
e mortalidade de diferentes tumores, por gênero, no mundo e
no Brasil.
Quadro 13.1 - Incidência e mortalidade de câncer, por gênero, no mundo
13.2.1 Biópsia
A biópsia pode ser incisional, quando retira um fragmento da
lesão, ou excisional, quando a retira toda. A biópsia por
punção com agulha grossa (tipo Tru-Cut® ou core biopsy –
Figura 13.1) permite a avaliação histológica, enquanto a
Punção Aspirativa por Agulha Fina (PAAF – Figura 13.2)
permite a avaliação citológica e tem indicações precisas
(exemplo: tireoide e linfonodos). Deve-se planejar a biópsia
de modo a não comprometer o tratamento definitivo. Assim,
as biópsias de membro devem ser feitas sempre no sentido
longitudinal, seguindo o maior eixo do membro. Já aquelas no
tronco e no dorso devem acompanhar as linhas de força da
pele. É comum a congelação em alguns tipos de tumor. O
material retirado durante a cirurgia é imediatamente avaliado
pelo patologista, que pode determinar o comprometimento de
margens cirúrgicas, por exemplo.
Figura 13.1 - Biópsia agulha tipo Tru-Cut® ou core biopsy
Fonte: adaptado de Value of artisanal simulators to teach ultrasound-guided
percutaneous biopsy using a tru-cut needle for veterinary and medical students,
2018.
13.2.2 Cirurgia
Os tumores podem se disseminar por contiguidade pelas vias
linfática e hematogênica. Esse mecanismo justifica a retirada
em bloco e a necessidade da linfadenectomia nas cirurgias
com intuito curativo.
A retirada da área de drenagem linfática faz parte da cirurgia
de diversos tipos de tumor. Em alguns casos, pode ser feita
para amostragem (exemplo: linfadenectomia ilíaco-
obturatória na prostatectomia radical), para completar
estadiamento (exemplo: linfadenectomia regional no câncer
colorretal) ou ter valor terapêutico (exemplo:
linfadenectomia em cadeia acometida por melanoma e câncer
de mama).
Diversos procedimentos cirúrgicos em Oncologia podem ser
realizados por laparoscopia e/ou cirurgia robótica. A teoria de
que o pneumoperitônio realizado nas cirurgias por vídeo
poderia causar disseminação tumoral já se mostrou
infundada. Entre as vantagens dessas técnicas, estão
recuperação mais rápida, melhor efeito estético e, na cirurgia
robótica, melhor ergonomia para o cirurgião.
O uso combinado de radioterapia e cirurgia proporciona
melhor controle locorregional. Atualmente, é possível
empregar a radioterapia intraoperatória, que consiste em
aplicar, no próprio leito cirúrgico, a radiação ionizante após a
retirada do tumor primário. A quimioterapia no leito cirúrgico
é empregada para doenças específicas (pseudomixoma
peritoneal e mesotelioma peritoneal), além de outras
aplicações, como na carcinomatose peritoneal.
Figura 13.3 - Citorredução com quimioterapia intraperitoneal hipertérmica
Legenda: (A) disseminação peritoneal; (B) tumor mucinoso de apêndice cecal;
(C) cavidade abdominal com cânulas de perfusão e termômetros; (D) sistema de
perfusão intraperitoneal hipertérmico.
13.3.2.2 Terapia-alvo
13.4.1.2 Braquiterapia
13.5.2 Medulares
13.5.2.1 Neutropenia
13.5.2.2 Anemia
13.5.3 Neurológicas
Os quimioterápicos podem acometer o sistema nervoso
central ou periférico. As alterações no sistema nervoso central
são diversas, como insônia, alteração da memória e
dificuldade de concentração. Não há tratamento específico. A
ifosfamida em altas doses pode desencadear quadros graves
de ataxia.
A neuropatia periférica pode ocorrer com diversas classes de
drogas: platinas (cisplatina, oxaliplatina), taxanos
(paclitaxel, docetaxel) e alcaloides da vinca (vincristina).
Também pode causar formigamentos e parestesias. O
tratamento visa reduzir sintomas. Em geral, são utilizados
neurolépticos, como a gabapentina.
13.5.4 Cardiovasculares
A toxicidade cardíaca não é comum entre os quimioterápicos.
Aqueles com maior cardiotoxicidade são as antraciclinas
(doxorrubicina e epirrubicina). Essas drogas podem causar
disfunção aguda do miocárdio e arritmias, assim como
toxicidades tardias, levando à insuficiência cardíaca. Outro
quimioterápico com ação cardiotóxica é a 5FU, que causa
principalmente vasoespasmo, podendo provocar angina e
infarto agudo do miocárdio.
Entre as drogas-alvo, é de importância o trastuzumabe,
utilizado principalmente no câncer de mama. Essa droga pode
acarretar queda da fração de ejeção, com necessidade de
monitorização periódica. Há drogas-alvo que atuam
diretamente inibindo fatores de crescimento do endotélio
vascular e seus receptores, como o bevacizumabe e o
sunitinibe. Essas drogas são utilizadas em diversos tipos de
tumores e podem causar hipertensão, tromboses e
proteinúria.
13.5.5 Cutâneas
13.5.5.1 Alopecia
13.5.6.2 Fadiga
14.1 CARACTERIZAÇÃO
As neoplasias decorrentes de síndromes hereditárias
correspondem a um pequeno percentual de todos os tumores,
uma vez que a grande maioria das neoplasias tem origem
esporádica.
Entre as principais síndromes genéticas hereditárias, podem-
se citar as relacionadas aos tumores de mama, ovário e cólon.
Menos frequentemente, são vistos tumores de estômago,
endométrio e sarcomas.
As principais síndromes genéticas vistas em Oncologia serão
descritas a seguir.
14.2 SÍNDROME DE
PREDISPOSIÇÃO HEREDITÁRIA AO
CÂNCER DE MAMA E OVÁRIO
O câncer de mama é o tumor mais prevalente em mulheres,
contudo somente 5 a 10% dos tumores decorrem de herança
de mutações genéticas.
Da mesma maneira, o câncer de ovário é o tumor ginecológico
com maior mortalidade em mulheres, e cerca de 15% das
pacientes apresentam alterações hereditárias.
Quadro 14.1 - Principais fatores de risco para a suspeição da síndrome
hereditária do câncer de mama e ovário
15.1 INTRODUÇÃO
Os Sarcomas de Partes Moles (SPMs) correspondem
histogenicamente às neoplasias malignas com origem na
célula mesenquimal primitiva, que reproduzem os
componentes de partes moles, exceto os tumores ósseos e as
neoplasias de origem hematolinfopoética. Incluem-se, nesse
conceito, músculos, tendões, tecidos fibrosos, gordura, vasos
sanguíneos, nervos e tecidos ao redor das articulações (tecido
sinovial). São mais comuns nas extremidades do corpo e em
volta de órgãos, como no retroperitônio.
Epidemiologicamente, cerca de 43% dos sarcomas de partes
moles ocorrem nas extremidades, principalmente nos
membros inferiores; 34%, ao redor de órgãos (exemplo:
retroperitônio); 10%, no tronco; 13% em outros locais, sendo
os subtipos mais comuns os lipossarcomas e os
leiomiossarcomas. Podem ocorrer em adultos e crianças, com
diferenças epidemiológicas e de abordagem.
Quadro 15.1 - Exemplos de sarcomas em adultos
Quadro 15.2 - Exemplos de sarcomas na infância
15.2 FATORES DE RISCO
A origem de muitos SPMs não é conhecida. Entretanto,
exposição à radiação ionizante e certos produtos químicos
podem ser fatores de risco para alguns desses tumores.
A radiação externa é o fator de risco mais bem estabelecido
para os SPMs. Pacientes tratados com radioterapia para
cânceres de retina, mama, cabeça e pescoço, testículos ou
sistema linfático têm maior probabilidade de desenvolver
SPMs. Outro fator de risco é a exposição a certos produtos
químicos, incluindo substâncias como arsênico, herbicidas e
conservantes de madeira à base de clorofenóis.
Outras doenças associadas podem aumentar o risco para
SPMs. Muitos estudos demonstraram que têm alto risco os
portadores de síndrome de Li-Fraumeni (associada a
alterações do gene supressor tumoral – p53), doença de von -
Recklinghausen (também chamada neurofibromatose tipo 1 –
associada a alterações no gene NF1), leiomiomatose
hereditária e síndrome do câncer de células renais (alterações
do gene FH) e retinoblastoma hereditário (alterações no gene
RB1). É importante atentar para essas síndromes genéticas,
uma vez que se deve evitar tratamento com radioterapia
nesses pacientes para não aumentar ainda mais a
probabilidade de lesões radioinduzidas.
15.3 QUADRO CLÍNICO
A apresentação clínica dos SPMs é, geralmente, o surgimento
de nódulo ou massa, de consistência sólida ou adenomatosa.
Raramente são dolorosos ou causam outros sintomas.
Dados que sugerem malignidade nos SPMs são o tamanho > 5
cm, crescimento rápido e consistência da lesão. A história de
traumas prévios, apesar de presente em alguns casos, não
tem nenhuma relação com o surgimento da lesão.
A biópsia é fundamental para diagnóstico dos SPMs e seus
subtipos histológicos. A preferência é por biópsias tipo core
biopsy guiadas por exame de imagem, como ultrassonografia
ou tomografia, que permitem avaliação histológica do
material retirado.
Para estadiamento, é fundamental
avaliação com tomografia de tórax, uma
vez que as metástases pulmonares são
comuns.
O sistema TNMG é o mais comumente usado no estadiamento
dos SPMs e considera o tamanho do tumor – se superficial ou
profundo –, a situação dos linfonodos regionais, a presença
ou a ausência de metástases a distância e o grau histológico
de malignidade – G1: bem diferenciado; G2: moderadamente
diferenciado; G3: pouco diferenciado; e G4: indiferenciado.
Vale ressaltar que o grau de diferenciação é considerado o
principal fator prognóstico dos sarcomas.
Quadro 15.3 - Estadiamento dos sarcomas de partes moles
Fonte: American Joint Comittee on Cancer (AJCC), 2019.
16.1 INTRODUÇÃO
As neoplasias de pele não melanoma constituem o tipo de
câncer mais comum no Brasil e no mundo. Infelizmente, a
maioria dessas lesões é negligenciada pelo paciente ou até
mesmo pelo médico que presta o primeiro atendimento.
Ainda hoje, é comum a retirada de lesões cutâneas não
enviadas para estudo anatomopatológico.
Pelo comportamento biológico e pela incidência, as
neoplasias de pele podem ser divididas nos casos de não
melanomas e melanomas.
16.2 LESÕES PRÉ-MALIGNAS
As lesões cutâneas são queixas frequentes na prática médica.
Existem as benignas e outras de comportamento incerto, que
podem ser consideradas pré-malignas (Quadro 16.1).
Quadro 16.1 - Lesões cutâneas benignas e pré-malignas
Acredita-se que a ceratose actínica e cornos cutâneos podem
preceder o carcinoma espinocelular (Figura 16.2 - B e D). A
doença de Bowen (Figura 16.2 - C) equivale ao carcinoma
espinocelular in situ que, quando ocorre no pênis, recebe o
nome de eritroplasia de Queyrat (Figura 16.1).
A papilomatose oral corresponde ao carcinoma in situ da
cavidade oral. A remoção cirúrgica é indicada para
diagnóstico e tratamento das lesões.
Figura 16.1 - Eritroplasia de Queyrat
Fonte: Diseases caused by human papillomaviruses (HPV), 2009.
16.4.3 Estadiamento
O estadiamento tem importância prognóstica e orienta o
tratamento. É feita uma análise anatomopatológica e do nível
de invasão, de acordo com Clark e Breslow (Figura 16.6).
Figura 16.6 - Níveis de Clark e Breslow
17.1 INTRODUÇÃO
Os pacientes oncológicos apresentam maior risco de diversos
tipos de emergências médicas. As principais emergências são
as estruturais, relacionadas ao próprio tumor e a quadros
obstrutivos, mas também existem as metabólicas e as
infecciosas.
Há também situações que demandam atendimento imediato e
que são secundárias ao tratamento oncológico. Nesse
contexto, é importante saber se o paciente está em vigência
de quimioterapia citotóxica convencional ou de novas
modalidades de tratamento, como imunoterapias ou
terapias-alvo, uma vez que cada uma dessas classes de
medicação apresenta um padrão próprio de efeitos adversos.
17.2 EMERGÊNCIAS METABÓLICAS
17.2.1 Hipercalcemia
A hipercalcemia é uma das emergências oncológicas mais
comuns, chegando a acometer até 20% dos pacientes
oncológicos, sendo uma síndrome paraneoplásica frequente.
O principal mecanismo da hipercalcemia é a secreção do
peptídio relacionado ao PTH (PTHrP) pelas células tumorais.
Outras causas menos comuns são a hipercalcemia secundária
a lesões osteolíticas e a produção aumentada de 1,25-
hidroxivitamina D. Esse último mecanismo é visto
principalmente em linfomas.
A hipercalcemia é vista principalmente nos
pacientes com mieloma múltiplo e
tumores de mama, pulmão, rim e cabeça e
pescoço, além de ser sinal de mau
prognóstico, com elevada mortalidade em
30 dias.
Fonte: adaptado de Superior Vena Cava Syndrome with Malignant Causes, 2007.