Artigo - Internacionalizacao Da Natura
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Vitória-ES, set - dez 2010.
p. 66 - 90 ISSN 1807-734X DOI: http://dx.doi.org/10.15728/bbr.2010.7.3.4
Correspondência autores*:
† Ω ¥
Doutora em Administração pela Mestre em Administração pela Mestre em Administração pela Universidade
Universidade de São Paulo Universidade UNINOVE UNINOVE
(FEA/USP) Vinculação: Contax Contact Center, Vinculação: Professor da Universidade UNIP
Vinculação: Professora titular da gerente de Projetos Endereço: Av. Francisco Matarazzo, 612,
Universidade UNINOVE Endereço: Av. Francisco Matarazzo, prédio C, São Paulo, SP - Brasil, CEP 05001-100
Endereço: Av. Francisco 612, prédio C, São Paulo, SP - E-mail: [email protected]
Matarazzo, 612, prédio C, São Brasil, CEP 05001-100 Telefone: (11) 36659342
Paulo, SP - Brasil, CEP 05001-100 E-mail: [email protected]
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Nota do Editor: Esse artigo foi aceito por Antonio Lopo Martinez.
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Estratégia de internacionalização e canais de distribuição no mercado externo 67
1. INTRODUÇÃO
A
abertura de mercado e o avanço da tecnologia determinaram novo
cenário competitivo para as empresas, no qual os negócios
tornaram-se globais e essas pressionadas pelo aumento da
competitividade internacional precisam repensar suas estratégias
(GONÇALVES, 1998; GABRIEL, 2004).
Dawar e Frost (1999) sugerem quatro possíveis posicionamentos para estas empresas:
esquivar-se, focando no mercado local, vendendo a empresa ou ingressando em uma joint-
venture; defender-se, fortalecendo suas vantagens atuais e focando em nichos não explorados
pelas multinacionais; enfrentar, desenvolvendo habilidades para competir no mercado
doméstico com as multinacionais; ou “estender”, ampliando sua atuação para o mercado
externo usando as competências desenvolvidas em seu país de origem.
De acordo com Fleury e Fleury (2007), o Brasil durante muito tempo foi um mercado
fechado e com uma política protecionista em relação a suas empresas nacionais e hoje é uma
economia considerada emergente, sendo que algumas de suas empresas que estão entrando
gradualmente em mercados externos são consideradas como entrantes tardios.
2. ANTECEDENTES TEÓRICOS
De acordo com Barretto e Rocha (2003), internacionalização é um processo pelo qual
uma empresa se envolve com outros países que não o doméstico, podendo dar-se de duas
maneiras: para dentro (inward), por meio de importações, licenças de fabricação, contratos de
franquia ou tecnologia; ou para fora (outward) por meio de exportações, concessão de
licenças de fabricação, contratos de franquia ou tecnologia ou investimento direto no exterior.
as decisões sejam descentralizadas em cada unidade de negócios que opera nestes países. Por
outro lado, este autor destaca que na estratégia global a empresa adota produtos padronizados
para competir mundialmente e a definição da estratégia competitiva é centralizada e
controlada pelo escritório central. Yip (1989) diferencia as duas estratégias afirmando que na
multidoméstica a empresa busca maximizar o desempenho mundial por meio da maximização
de vantagens, receitas e lucros locais. O autor destaca que na estratégia global a empresa
busca maximizar o desempenho mundial por intermédio do compartilhamento e integração de
recursos.
outras variáveis que interferem na comunicação da empresa com o mercado e clientes. Ainda
segundo esses autores, a internacionalização das empresas inicia-se em locais similares aos
das operações existentes (menor distância psíquica). Entretanto a Escola de UPPSALA possui
limitações devido à sua visão linear, incremental, esquemática e determinista, não
considerando a possibilidade de queimar etapas ou de que a seqüência e velocidade no
processo de internacionalização podem ser ditadas por tipos diferentes de ambientes ou
indústrias (ANDERSEN, 1993; BARRETTO, 2002).
investimentos diretos das empresas no exterior, principalmente a partir dos anos 90, com a
explosão do fenômeno da globalização. Entre estas razões é possível destacar: o crescimento
das integrações regionais, resultado da maturação dos blocos econômicos a exemplo do
NAFTA e União Européia; e maior quantidade de políticas de atração de investimentos
diretos de empresas estrangeiras.De acordo com Alem e Cavalcanti (2005) a
internacionalização possibilita às empresas expandir seus mercados, obter ganhos de escala,
aumentar sua especialização, obter aprendizado e fortalecer sua base financeira possibilitando
novos investimentos e desenvolvimentos tecnológicos.
De acordo com Forner (1999), os tipos de canais e agentes que colaboram com a
distribuição e colocação do produto nos distintos mercados internacionais são: trading
companies, comercial exportadora, consórcio de exportação, representantes de vendas no
exterior, importador-distribuidor e varejistas (Dealers). Uma das alternativas para
comercialização e distribuição dos produtos é a venda direta que Coughlan (2002) define
como a venda de um produto ou serviço ao consumidor face a face, distante de uma
localização varejista fixa. Para a Associação Brasileira de Empresas de Vendas Diretas –
ABEVD (2007) a venda direta é “um sistema de comercialização de bens de consumo e
serviços diferenciado, baseado no contato pessoal, entre vendedores e compradores, fora de
um estabelecimento comercial fixo, [...] presente em todo o mundo e envolvendo os mais
diversos setores da economia de produtos de limpeza a automóveis”.
Os produtos do setor de higiene pessoal e cosméticos são distribuídos por meio de três
canais básicos de comercialização: distribuição tradicional, incluindo o atacado e as lojas de
varejo, venda direta e franquia (ALMEIDA, 2006). Segundo Garcia (2005), as empresas com
portfólio de produtos bastante diversificados optam pela distribuição e comercialização via
supermercados e hipermercados. Por outro lado, as empresas com portfólio concentrado no
setor de perfumaria e cosméticos optam pela distribuição via lojas especializadas ou
alternativamente por meio das vendas diretas (door-to-door).
vendas diretas realizadas no país. Segundo Ferreira (2000), (apud ALMEIDA, 2006), a
grande maioria dos vendedores diretos é constituída de empreendedores independentes (na
maioria mulheres) que aceitam a responsabilidade com os riscos inerentes ao negócio em
busca de complementação da renda familiar, encarando a atividade como uma alternativa ao
trabalho tradicional. A venda direta leva até os consumidores os benefícios da conveniência e
do serviço especializado, com demonstrações e explicações detalhadas sobre o produto e a
entrega destes em casa.
3. METODOLOGIA
Para atender ao objetivo deste trabalho foi escolhida como unidade de análise a
empresa NATURA (Natura Cosméticos S.A.) por ser considerada como exemplo notável de
empresa brasileira que optou em sua estratégia de internacionalização no ingresso em
mercado de grande distância psíquica usando canal de distribuição totalmente diferente do de
vendas diretas, que lhe proporcionou sucesso no mercado doméstico por mais de 30 anos. Isto
permite analisar o alinhamento entre canal de distribuição e estratégia de internacionalização
com base em caso único de empresa brasileira que adotou diferentes canais de distribuição
para internacionalização em países de culturas distintas.
Este tipo de pesquisa tem por finalidade, especialmente quando se trata de pesquisa
bibliográfica, proporcionar maiores informações sobre determinado assunto; facilitar a
delimitação de uma temática de estudo; definir os objetivos ou formular as hipóteses de uma
pesquisa ou, ainda, descobrir um novo enfoque para o estudo que se pretende realizar
(RICHARDSON, 1999; SELLTIZ et. al., 1965).
forma de pesquisa bibliográfica ou de estudo de caso. O presente estudo optou pela pesquisa
bibliográfica, mas possuí também caráter descritivo, pois centrou nas informações disponíveis
sobre uma empresa específica, no caso a NATURA. Em geral a pesquisa descritiva procura
observar, registrar, analisar, classificar e interpretar os fatos ou fenômenos porém, segundo
Gil (1999) as pesquisas descritivas podem ir além da simples identificação da existência de
relações entre variáveis, pretendendo determinar a natureza dessa relação e, embora definidas
como descritivas a partir de seus objetivos, acabam servindo mais para proporcionar uma
nova visão do problema, o que as aproxima das pesquisas exploratórias.
O instrumento de investigação e coleta dos dados secundários foi por meio de website
de busca na internet, ferramentas de busca de revistas e periódicos eletrônicos, bibliotecas
universitárias digitais de teses e dissertações, anais de simpósios, encontros e seminários de
Administração, do website da NATURA e de associações vinculadas à indústria de
cosméticos, distribuição e varejo. Para análise dos dados foi adotada estratégia de análise de
conteúdo das diversas fontes de dados citadas acima, seguindo as etapas e procedimentos
definidos por Bardin (2008). Segundo essa autora a análise de conteúdo se realiza em três
momentos: a pré-análise, a exploração do material e o tratamento dos resultados por meio de
inferência e interpretação.
A NATURA decidiu, depois de três décadas de existência, passar por uma profunda
reorganização para crescer nos mercados nacional e internacional. Desde 1999 a empresa tem
usado como estratégia enviar colaboradores do Brasil com a missão de transmitir o modelo de
negócios e a visão institucional para as operações internacionais, além de integrar este modelo
e esta visão à cultura local (GOMES, 2006).
Mazzola (2005), afirma que os resultados obtidos pela NATURA no mercado dos
países vizinhos podem ser considerados insignificantes, dado que estes representam menos de
3% do volume total de negócios. Segundo o autor, estes resultados ruins devem-se ao uso
excessivo de expatriados brasileiros ao invés de se aproveitar a capacidade local, à pouca
credibilidade dos brasileiros junto aos clientes locais e também ao sistema de vendas diretas
que esbarrou numa saturação de mercado, pois as potenciais vendedoras da NATURA já são
vendedoras de produtos de concorrentes como Avon. Mazzola (2005) reforça que “a
experiência latino-americana, apesar dos resultados insuficientes, revelou-se um importante
aprendizado”.
A linha Ekos, escolhida para entrada no mercado europeu, era percebida como um
produto de alto valor agregado com posicionamento de preço alto, preferindo optar por
distribuição seletiva em “grands magasin” ou “boutiques” (NATURA, 2007a).
Em 2005, a NATURA decidiu abrir uma loja em Paris, que mostrou ser a cidade
européia que mais se identificava com os produtos da empresa, a biodiversidade brasileira e a
filosofia de desenvolvimento sustentável. Por ser um dos mercados mais competitivos do
mundo, este seria um excelente teste para a empresa avaliar a possibilidade de expandir para
outras localidades da Europa (GOMES, 2006).
A idéia da loja, que foi batizada de Casa NATURA, é promover a cultura brasileira,
além de comercializar os produtos da linha Ekos (derivados de matéria-prima da
biodiversidade brasileira). Enquanto o cliente conhece os produtos da NATURA, pode tomar
um cafezinho brasileiro, experimentar sucos de fruta, além de apreciar revistas, livros e
música brasileira (NATURA, 2007a).
Os planos para o mercado mexicano são ambiciosos porque o país é o segundo maior
mercado de cosméticos da América Latina (atrás do Brasil) e o terceiro maior mercado do
mundo em venda direta (depois de EUA e Japão). A NATURA está desenvolvendo alguns
produtos específicos pelo fato de as consumidoras mexicanas gostarem de fragrâncias mais
fortes, mais doces e frutais, ao contrário das consumidoras de países latino-americanos de
clima mais quente, como o Brasil, que preferem essências mais suaves e florais (GOMES,
2006). Essas adaptações estão sendo feitas pela empresa por acreditar que precisa se adequar à
cultura do país no qual está iniciando suas operações, garantindo assim, a fidelidade dos
consumidores.
Em 2006, a NATURA iniciou testes do modelo de vendas diretas em Paris, local onde
também inaugurou seu primeiro laboratório de pesquisas fora do Brasil (NATURA, 2007b). O
próximo passo internacional da NATURA em 2007 foi iniciar as operações na Venezuela e
Colômbia.
O objetivo é consolidar a posição da empresa nos países que consomem 80% de todos
os produtos cosméticos, de perfumaria e higiene pessoal na América Latina. No Brasil a
marca já atinge mais de 20% de market-share contudo, na América Latina este índice não
passa de 0,3% (SPOTORNO, 2006). A empresa anunciou que planeja ingressar nos Estados
Unidos e Rússia (NATURA, 2007b), enquanto buscará atingir pela primeira vez o break even
nas operações em fase de consolidação (Argentina, Chile e Peru).
destacado por Garcia (2005) e Urban (2006), a NATURA aproveitou as suas competências e
capacidades técnico-produtivas e tecnológicas bastante desenvolvidas e consolidadas no
mercado doméstico para conquistar novos mercados nos países vizinhos.
Por outro lado, o caso NATURA contradiz em parte o processo gradual e seqüencial
de comprometimento definido pelos precursores da escola de UPPSALA. A NATURA ao
invés de iniciar seu processo de internacionalização pelas exportações diretas ou indiretas,
contando com parceiros de comercialização ou distribuidores independentes, optou pelo
investimento direto no exterior, criando sua própria estrutura de comercialização e
distribuição (estruturas para coordenação e controle das vendas diretas ou estrutura de loja
personalizada). Como relatado neste trabalho, a NATURA preferiu assumir o risco de entrar
BBR, Braz. Bus. Rev. (Port. ed., Online), www.bbronline.com.br
Vitória, v. 7, n.3, Art. 4, p.66 - 90, set. - dez. 2010
82 Zilber, Mora Júnior e Silva
Somente após uma boa exposição da marca NATURA para o público francês a
empresa optou por iniciar testes com o modelo de venda direta. Contudo, a efetividade destes
testes ainda não foi divulgada. O Quadro 1 sintetiza as principais conclusões em relação aos
objetivos de pesquisa deste estudo:
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O propósito deste estudo foi descrever o processo de internacionalização de uma
empresa brasileira e os canais de distribuição escolhidos para operar no mercado externo,
utilizando como unidade de análise a empresa brasileira NATURA Cosméticos S.A., que
começa a atuar em mercados distintos da América Latina e Europa, com intenções de
expansão para Estados Unidos e Rússia. Conforme Ricupero e Barreto (2007) e relatório da
FDC (2002), não existem fatores determinantes específicos que diferenciem os motivos de
internacionalização de empresas brasileiras das de outros países.
Numa análise sob a abordagem econômica segundo Dunning (1988), pode-se perceber
que a NATURA obteve a vantagem de propriedade (ownership) no que tange ao quesito
biodiversidade, por utilizar-se de matéria-prima obtida da flora brasileira (Amazônia), sendo
essa inimitável, além da habilidade em transformar esses princípios ativos obtidos da
biodiversidade em produtos que trazem benefícios cosméticos aceitos mundialmente:
fragrâncias únicas e tratamentos para a pele, entre outros. A questão da biodiversidade pode
também ser considerada uma vantagem de localização, no caso, o fato da maior parte da
floresta Amazônica estar em terreno brasileiro. A NATURA ainda não está auferindo os
benefícios financeiros comparáveis aos obtidos com as vendas no Brasil, uma vez que teve
que efetuar pesados investimentos para sua internacionalização, e pelo fato de não ter adotado
o modelo de exportação, licenciamento ou alianças estratégicas, optando por criar uma
estrutura própria no mercado externo, utilizando canais de distribuição próprios.
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