Cena Do Sapateiro - Questionario

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Auto da Barca do Inferno – Cena do Sapateiro

1. Comenta a ironia com que o Diabo recebe o Sapateiro.


Ao utilizar os adjectivos santo e honrado para caracterizar o Sapateiro, o Diabo pretende
criticá-lo e não elogiá-lo. O Diabo atribui a estas palavras um significado oposto àquele que na
realidade têm, indiciando e simultaneamente denunciando os pecados do Sapateiro: não é santo
— é pecador; não é honrado — é ladrão.

2. Indica os crimes praticados pelo réu e justifica com passagens do texto.


O Sapateiro é acusado pelo Diabo e pelo Anjo de ter enganado e roubado o povo no
exercício da sua profissão, ou seja, não viveu com rectidão. Assim o Diabo dirige-lhe as
seguintes acusações: “calaste dous mil enganos. / Tu roubaste bem trinta anos / o povo com teu
mester.” (w. 325-328); “Ouvir missa, então roubar —/ é caminho per’aqui” (vv. 334-336); e os
dinheiros mal levados, / que foi da satisfação” (vv. 338 -339). O Anjo reforça essas mesmas
acusações: “Essa barca que lá está / leva quem rouba de praça” (vv. 350-351); “Se tu viveras
direito, / elas foram cá escusadas” (vv. 358 -359).

3. Relaciona os pecados imputados ao Sapateiro com os símbolos cénicos que traz consigo.
Tanto o avental como as formas funcionam corno provas de acusação. O avental está
relacionado com a sua profissão, através da qual ele roubava o povo; as formas tinham sido
compradas com o dinheiro que o Sapateiro roubara aos seus clientes e eram como que a
materialização dos seus pecados.

4. Expõe os argumentos a que recorre o Sapateiro para mostrar que não devia entrar na Barca
do Inferno.
Os seus argumentos são de ordem religiosa. O réu alega que morreu confessado e
comungado (v. 321), assistiu a missas (v. 332) e deu esmolas (v. 336).

5. Explica em que medida o Sapateiro pode ser considerado uma personagem-tipo.


Trata-se de uma personagem-tipo, pois o Sapateiro representa o grupo dos artesãos que
roubam o povo no preço das mercadorias.

6. Explica a intencionalidade crítica desta cena.


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Nesta cena, há uma crítica de teor socioprofissional e económico, na medida em que o Sapateiro
explora os fregueses com o seu comércio; no entanto, prevalece uma crítica religiosa. De facto,
trata-se de uma cena de carácter moralista que pretende demonstrar que é mais importante
actuar com espírito evangélico do que assistir ou cumprir os atos externos do culto. Assim, de
nada valeu ao Sapateiro ter morrido confessado e comungado (v. 321), ter assistido a missas (v.
332) e ter dado esmolas (v. 336). Põe-se, deste modo, em causa a hipocrisia das crenças e
práticas religiosas. Esta é a posição reformista de Gil Vicente.

7. Analisa o tipo de cómico dominante nesta cena.


É essencialmente através da linguagem que se consegue provocar o riso, uma vez que
o Sapateiro utiliza frequentemente o calão e obscenidades, como se pode verificar nas seguintes
passagens: “puta da barcagem” (v. 319), “puta da badana” (v. 341) e “quatro forminhas cagadas”
(v. 355).

8. Expõe sucintamente a importância que os níveis de língua têm na caracterização (tanto social,
como profissional) desta personagem.
O Sapateiro utiliza uma linguagem vulgar, com ressaibos técnicos. Por um lado,
podemos encontrar nas suas falas termos grosseiros, que fazem parte do calão, como por
exemplo puta (vv. 319, 341) e cagadas (v. 355). Por outro, recorre a vocabulário usado por um
grupo profissional restrito, neste caso, os sapateiros. Assim, os termos técnicos que utiliza, tais
como cordovão (v. 340) e badana (v. 341), não são facilmente compreendidos pelos que não
fazem parte do seu grupo profissional, e constituem um exemplo de gíria. Podemos, pois,
concluir que a linguagem utilizada pelo sapateiro, de nível essencialmente popular, contribui de
forma evidente para a sua caracterização, na medida em que se coaduna com a sua actividade
profissional através da qual explorava o povo.

9. Na origem, a palavra “fogo” significava o lar onde se acendia o lume. Explica a evolução
semântica deste vocábulo.
Enquanto que, inicialmente, o vocábulo “fogo” se referia ao lar onde se acendia o lume,
nos nossos dias, fogo significa o próprio lume.

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