Lingua e Literatura PDF
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Língua e Literatura
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SEGUNDA EDIÇÃO
Campina Grande - PB
2019
© Todos os direitos desta edição são reservados aos autores/organizadores
FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL DA UFCG
Socorro Cunha
Revisão
CONSELHO EDITORIAL
Antônia Arisdélia Fonseca Matias Aguiar Feitosa (CFP)
Benedito Antônio Luciano (CEEI)
Consuelo Padilha Vilar (CCBS)
Erivaldo Moreira Barbosa (CCJS)
Janiro da Costa Rego (CTRN)
Leonardo Cavalcanti de Araújo (CES)
Marcelo Bezerra Grilo (CCT)
Naelza de Araújo Wanderley (CSTR)
Railene Hérica Carlos Rocha (CCTA)
Rogério Humberto Zeferino (CH)
Valéria Andrade (CDSA)
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 19
Denise Lino de Araújo
Elisa Cristina Amorim Ferreira
Aluska Silva Carvalho
CAPÍTULO I............................................................. 33
Aluska Silva Carvalho
Literatura em Sala: discutindo conceitos, repensando
saberes, elaborando propostas......................................................33
Situando Conceitos: ler para quê? Formação de leitores de
literatura.......................................................................................36
Repensando Saberes: perspectivas metodotógicas para a
formação de leitores literários......................................................41
Uma Proposta...............................................................................48
Conhecendo a Proposta: alguns apontamentos............................48
CAPÍTULO II............................................................ 63
Elisa Cristina Amorim Ferreira
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Língua e Literatura Prefácio
como encarar problemas e dificuldades. E ainda que gramática tradicional, enfocando os eixos epilinguístico
tais reflexões sejam desenvolvidas na introdução, elas e metalinguístico.
perpassam toda a estrutura temática e conceitual do livro, Assim, no primeiro capítulo, Literatura em sala:
situado no contexto de discussões de uma Linguística discutindo conceitos, repensando saberes, elaborando
Aplicada (LA) que procura pensar mais em problemas propostas, Aluska Silva Carvalho discute a literatura
e menos em disciplinas (SILVA, 2015), fazendo jus ao como arte sensibilizadora, destacando sua importância
caráter indisciplinar do linguista aplicado. no desenvolvimento e formação do indivíduo. Apresenta
As autoras situam o ensino de língua em uma uma proposta de estudo comparativo entre a crônica e o
perspectiva integradora, o que por si só já imprime um poema, a partir de um tema único, explorando os aspectos
caráter distintivo ao livro e, embora, obviamente, haja formais e intertextuais. A autora avalia positivamente a
outras publicações no mercado editorial brasileiro que inversão dos conteúdos de Literatura proposta pela Base
contemplam o ensino de Línguas em interdependência Nacional Comum Curricular:
com suas Literaturas, sempre se faz necessário demarcar acreditamos que essa inversão conteudís-
esse espaço sem fronteiras quando nos ocupamos dos tica proposta pela Base Nacional Comum
estudos com as linguagens: Curricular incentivará mais nossos jovens
para a leitura da literatura brasileira, uma
consideramos que uma fibra importante vez que a contemporaneidade sendo tra-
do laço que o tece é o ensino de língua balhada na primeira série do ensino médio
portuguesa, aqui entendido como ensino equipara-se mais aos horizontes de expec-
de língua e de suas literaturas, em conexão tativa do aluno, levando-o primeiramente
com o ensino de Artes, Corporalidade e de a gostar de ler para depois compreender
Línguas Estrangeiras Modernas, e substra- os processos históricos e os contextos de
to sobre o qual as demais disciplinas se es- produção que complementam o entendi-
truturam. Em outras palavras, defendemos mento de obras e de autores (CARVALHO,
o ensino de língua e de suas literaturas no 2017, p. 27).
âmbito de uma área chamada linguagens e
em conexão com outras linguagens (p. 5). Nos argumentos e evidências apresentados pela
autora no sentido de reforçar e consolidar a necessidade
Nesse sentido, o livro foi pensado em torno de
do pleno acesso à linguagem literária, ecoa a noção de
três temas de vital importância para o ensino médio
“desprivatização” da leitura e da escrita a que se refere
e para o ensino de língua como um todo: o ensino da
Paulo Coimbra Guedes (2006). Em seu livro, Guedes usa o
literatura, as questões relacionadas com a produção de
termo no sentido de que tais práticas alcancem um maior
texto, especificamente no formato da redação do ENEM,
número de pessoas e não fiquem restritas àqueles poucos
e, por último, a sempre controversa discussão sobre
iniciados no beletrismo, no mais das vezes, excludente.
análise linguística, no que se contrapõe ao ensino de
Tanto neste livro quanto naquele, a literatura é percebida
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Língua e Literatura Prefácio
como elemento de reconhecimento de nossa identidade No terceiro e último capítulo, Análise linguística
cultural e constituição da cidadania. em função da leitura: sugestões metodológicas, Denise
No segundo capítulo, Produção textual socialmente Lino de Araújo retoma uma discussão sempre presente
situada: proposta didática, Elisa Cristina Amorim Ferreira quando se pensa sobre qual a melhor abordagem para
articula conhecimentos teóricos e práticos referentes o ensino de gramática. A autora faz inicialmente uma
às condições de produção da redação do ENEM. Ora, revisão do estado da arte, situando os conceitos e os
pensar o ENEM é, via de regra, polemizar conceitos e autores que já discutiram o tema. Em seguida, percorre um
métodos de avaliação de um processo que tem exercido caminho singular, evitando as dicotomias reducionistas
uma influência decisiva nas práticas de produção de e fragmentárias, a exemplo do que acontece quando,
texto desenvolvidas no ensino médio. Digamos que, equivocadamente, uma tradição, ainda presente no
na contramão da propalada diversidade dos gêneros, ensino de língua, situa ensino de gramática numa ponta
o exame prioriza a redação conceituada pela tipologia e ensino de leitura e escrita em outra. As abordagens
dissertativo-argumentativa, criando um certo embaraço epilinguística e metalinguística não raro também sofrem
por adotar uma isomorfia entre tipo e gênero textual. uma interpretação equivocada e dicotômica em contextos
Sobre essas influências, em pesquisa recente, de formação inicial ou na dinâmica de sala de aula, na
Bruna Costa Silva (2016) investigou de que forma elaboração de atividades, quando se associa a abordagem
as prescrições trazidas nos documentos oficiais que metalinguística apenas ao ensino de nomenclatura, tão
regulamentam a elaboração do ENEM têm orientado frequente no ensino tradicional de gramática. A autora
o trabalho do professor de língua portuguesa, no que ilustra como esses dois movimentos de análise são
se refere às aulas de produção textual, bem como os indissociáveis e perpassam as atividades de leitura, de
reflexos da realização desse trabalho na atividade escrita escrita e da reflexão linguística em si mesma:
dos alunos. Os resultados foram bem significativos no no nosso entendimento, o trabalho com a
sentido de confirmar a influência no modo de conduzir AL precede o trabalho de escritura propria-
as aulas e acompanhar o texto dos alunos para que mente dito, fixando-se no estudo das ca-
atendam às competências previstas no exame. O capítulo racterísticas linguísticas mais relevantes do
gênero que é supostamente desconhecido
de Elisa segue o caminho didático de clarificar para os
da maioria da turma. Por isso, o trabalho a
professores e também para os alunos como se configuram serviço da leitura mostra-se tão relevante
essas competências e como podem ser aperfeiçoadas. aos nossos olhos. Posteriormente, após a
Apresenta sugestões de atividades que contemplam produção textual, é possível que um novo
as condições de produção do gênero, que focalizam trabalho de AL seja realizado desta feita
com foco nos aspectos da língua padrão
os temas, que abarcam a Matriz de Referência e ainda
ainda não sistematizados pelos alunos
discute os critérios de avaliação. (ARAÚJO, 2017, p. 87).
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Língua e Literatura Prefácio
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Língua e Literatura Prefácio
O subtítulo “propostas”, mais do que anunciar um neste livro e, em lugar de fragmentar as nossas ações-expe-
campo fechado de assertivas sobre as possibilidades de riências com a língua em sala de aula, pensar nessa cons-
pensar a relação entre língua e literatura no Ensino Médio, trução de práticas que aproximam e relacionam a acade-
anuncia, ou enuncia, um chamado de múltiplos fluxos cuja mia e a educação básica, a língua e a literatura, entre outras
força se configura na potencialidade que reside em ultrapas- fragmentações que se podem oferecer ao considerarmos o
sar aquilo que se é feito no espaço institucional da academia contexto da língua e da literatura no Ensino Médio e que
para as maneiras de ver implicadas em maneiras de agir para podem, assim, passar a ser fluxo.
além da academia, na Educação Básica, no Ensino Médio. Ao Um dos grandes méritos do livro é pensar não só nas
pensar o ensino de língua e literatura como indissociáveis, os relações de alteridade entre os problemas e as proposições,
desafios que se impõem são muitos, e eles foram anunciados mas sobretudo pensar na indissociabilidade visceral para
na própria composição do livro, mas está longe de ser uma a relação entre língua e literatura propostas que, como já
tarefa impossível, pois como diz Pessoa “Deus ao mar o peri- diz o subtítulo, se manifestam, ou se localizam, no Ensino
go e o abismo deu/ mas nele é que espelhou o céu”. Médio. Esta obra nos auxilia a questionar como ensinar lín-
Com essa deixa, não posso me furtar também de lem- gua e literatura apenas preso aos meandros de um deba-
brar que vivemos tempos tempestuosos, mas que é nas si- te institucional sem ir para o vivido da coisa, sem experi-
tuações-limite, naquilo que, aparentemente, nos imobiliza, mentar aquilo que é posto como reflexividade a partir de
que ao desenvolvermos uma escrita a partir do que se con- práticas concretas que visam, talvez, aquela que seja a fase
figura como impossibilidade, surgem as brechas, as fissuras, mais importante de nosso ofício: formar leitores, formar
e que experimentamos o que é mais visceral, conseguimos leitores críticos, promover o debate com os nossos alunos,
desenvolver uma acuidade melhor sobre os próprios pro- também aprendendo com eles. Dito isto, um outro grande
blemas e chegam as propostas, não com algo que limita, mérito desta obra é pensar diferentes tempos e espaços de
mas como positividade, como propositividade, assim, esta produção de saber sem desconsiderar a simultaneidade dos
obra vem convergir para uma tradição de estudos teórico- tempos, pois contempla o já feito, incide sobre o presente e
críticos e metodológicos que, em meio a diferentes níveis abre portas e janelas para o futuro.
reflexão sobre o ensino, diversas áreas de saber e perspec- Desse modo, considero que o bom encontro é tam-
tivas múltiplas, visualiza campos de ação que são sobretudo bém da pesquisa com o ensino quando propõe, conecta,
mobilizados pelo desejo de superação. associa e possibilita que o professor de língua e literatura
Assim, a escrita destas propostas pode ser lida por nós no ensino Médio provoque as muitas gerações de leitores
como este convite das autoras para que habitemos e, mais a pensar que o mundo não é fixo nem imutável, nem a aula
do que isso, para reconfigurar nossa relações com este ha- de língua portuguesa e literatura, e que na rigidez destes
bitar, grávido de ouvir a nós e a nosso outro, professor, dis- tempos tempestuosos as propostas como as apresentadas
cente em formação, pesquisador, para construirmos juntos neste livro, intencionam mergulhos na temperança, flashes
nossas próprias práticas a partir das propostas apresentadas de lucidez e estratégias de ação para os bons combates.
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Língua e Literatura
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Ensino de Língua e de Literatura no Ensino Médio
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INTRODUÇÂO Ensino de Língua e de Literatura no Ensino Médio
ensino sem uma configuração clara que se articule com dissertativo-argumentativa. Conforme estudo realizado
uma proposta de nação. As últimas modificações políticas por Cruz (2013), à luz da teoria sociorretórica, essa
alteraram de modo significativo o que era praticamente produção é um novo gênero escolar, no sentido de ser
uma instituição nacional, os vestibulares, substituindo- uma ação sociorretórica que se realiza com um propósito
os pelo Exame Nacional de Ensino Médio (ENEM) que, bem definido. Em outras palavras, a ação em curso é a
além da função de diagnóstico (SILVEIRA, 2012) da defesa de um ponto de vista sobre um dado tema, em
última etapa da educação básica, passou a ter também a função de um processo seletivo para o ensino superior.
função de selecionar para o ingresso no ensino superior Outros autores, a exemplo de Kemiac (2011), defendem
(FERREIRA, 2013). Incialmente, apenas as instituições à luz do interacionismo sociodiscursivo que o ENEM é em
federais de ensino superior aderiam a proposta de um si um exemplo de gênero discursivo, com tema, estrutura
exame nacional, mas depois instituições estaduais e composicional (provas), e estilo (questões objetivas e
particulares também o fizeram, tornando o ingresso mais redação) que funciona entre a esfera escolar e a esfera
homogeneizado num país de tantas diferenças culturais. política da sociedade.
Do ponto de vista didático, o ENEM trouxe mudanças Uma mudança como essa tem igualmente impactos
bastante impactantes para o EM, algumas delas, já negativos, dentre esses podemos apontar a entrada em
consolidadas, como a reorganização das disciplinas em cenário da teoria das competências (SACRISTÁN, 2008),
quatro áreas de conhecimento – Linguagens, códigos e criticada por autores estrangeiros (ROPÉ; TANGUY, 1997)
suas tecnologias; Matemática e suas tecnologias; Ciências e brasileiros (RAMOS, 2011), mas fortemente utilizada
Humanas e suas tecnologias e Ciências da Natureza e pelos defensores das teorias sociocognitivas de ensino,
suas tecnologias – demonstrando assim que os saberes inclusive de ensino de língua (ZABALA; ARNAU, 2010;
devem estar interligados na escola, tal como defende o DOLZ; OLLAGNIER, 2004; PERRENOUD, 1999). A noção
paradigma emergente em educação (MORAES, 1997). de competência e habilidades tem sido relativamente
Nesse processo de reorganização que afeta sem dúvida a pouco estudada nos cursos de formação docente no
atuação e a formação docente, dado que o docente deve Brasil, sua entrada no cenário educacional, via ENEM
entender sobre as demais matérias da área em que atua, (INEP, 2005), produziu um deslocamento da autonomia
ganharam relevo os estudos sobre Artes, Corporalidade dos professores, que era um dos ganhos dos documentos
e Língua Estrangeiras Modernas, dentro da área de parametrizadores do ensino, em especial os de EM,
Linguagens, e os de Sociologia e Filosofia dentro da área redigidos no final da década de 90 do século XX e no início
de Ciências Humanas e suas tecnologias. Afora esses do século XXI (SOUSA, 2015). Em lugar da autonomia, dos
impactos macroestruturais, podemos falar também um currículos construídos nas escolas passamos às matrizes
outro, supostamente numa esfera micro, mas que acabou de competência, habilidades e conteúdos (INEP, 2009)
por conferir ao exame uma identidade própria: a redação que devem ser seguidas.
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INTRODUÇÂO Ensino de Língua e de Literatura no Ensino Médio
Além dessa perda político-laboral, vimos o um nó ora fluido, ora firme que possibilite aquele que
deslocamento do lugar da leitura literária na escola e na o usa para alçar outros patamares, fazer resgates. E não
preparação para o exame, tal como demonstra o estudo descartamos para esse nível de ensino as possibilidades
realizado por Silva (2013), assim como o pouco estudo da de ser propedêutico, profissionalizante, integrado e em
literatura, história e geografia regionais. horário integral. Igualmente temos em nosso horizonte
de interpretação que (1) pressões comerciais e políticas
Posto esse cenário, o que pode ser visto de um rondam esse nível de ensino, (2) que em seu termo um
prisma pessimista é, de fato, um nó ou um nó górdio. exame seletivo para o ensino superior se apresenta.
Todavia, queremos apresentar aqui uma outra visão e
Prosseguindo com a metáfora citada, consideramos
uma proposta de ensino. Para isso, nos manteremos com
que uma fibra importante do laço que o tece é o ensino
a metáfora do nó, para apreciá-lo de outro ponto de vista.
de língua portuguesa, aqui entendido como ensino de
Recorrendo à perspectiva dos estudos em língua e de suas literaturas, em conexão com o ensino
Linguística Aplicada mestiça e indisciplinar (MOITA LOPES, de Artes, Corporalidade e de Línguas Estrangeiras
2006, 2013), entendemos o ensino como uma área de Modernas, e substrato sobre o qual as demais disciplinas
disputa por visibilidades, marcada pela ação dos atores se estruturam. Em outras palavras, defendemos o ensino
nela envolvidos, que requer se produzam sobre elas de língua e de suas literaturas no âmbito de uma área
inteligibilidades. E por inteligibilidades entendemos não chamada linguagens e em conexão com outras linguagens.
apenas as pesquisas, mas também propostas de ensino, É em função disto que apresentamos uma proposta de
resultante de práticas, de experiências socialmente ensino que focaliza a leitura do texto literário, a escrita
situadas, tal como apresentamos nesta publicação. do gênero dissertativo-argumentativo, cujas seções
Assim, o nó é aqui tomado como metáfora de construção retóricas são comuns a outros gêneros argumentativos,
artística que une duas pontas, destacando-as. Portanto, se escolares ou não, tal como defendido por Ferreira (2016),
parece muito mais com um nó de um laço. Nesse sentido, e a análise linguística de um dos componentes linguísticos
é tomado como símbolo de conciliação e de identidade. desse gênero. Defendemos uma proposta de ensino que
Unindo as duas pontas da educação brasileira, não se limite ao ENEM, mas que se articule em função da
o ensino fundamental e o superior, e sendo “lugar” de leitura, da escrita e da análise linguística para ultrapassá-
passagem, o EM pode significar também para alguns, se lo, instrumentalizando o aluno para realizá-lo.
quiserem[3], um lugar de chegada. Por isso, precisa ser
Essa proposta articula-se sobre dois princípios
3 - - Defendemos a ideia de que o EM não deve ser definido como lugar de indissociados: a autonomia do professor e a conexão
chegada para uns e de passagem para outros, mas os sujeitos em função temática. Defender a autonomia do professor não
de suas escolhas pessoais e familiares devem definir o que significa o
EM para si. Defendemos que cabe ao Estado oferecer a possibilidade significa não oferecer sugestões. Apresentá-las significa
de passagem para todos os “filhos deste solo” e para aqueles que aqui partilhar conhecimentos e estabelecer a saudável prática
busquem abrigo.
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INTRODUÇÂO Ensino de Língua e de Literatura no Ensino Médio
de troca, que é o esperado como resultado da leitura O conjunto resulta de nossas experiências
deste livro. Portanto, o que apresentamos aqui é mera localmente situadas em Campina Grande e seu entorno,
sugestão. O professor pode e deve alterá-la. por isso, escolhemos como tema gerador A violência
A conexão temática advém de nossa vinculação à Contra a Mulher, dado que fontes jornalísticas noticiam
perspectiva das teorias críticas do currículo (SILVA, 2011), que esse tipo de violência em nosso estado cresceu 260%
de cujos pensadores escolhemos citar aqui Paulo Freire, entre 2003 e 2013 (HORA DO VALE, 2016). Essa região do
por várias razões. Entre elas, o fato de ser um autor estado da Paraíba anota muitos e bárbaros crimes contra
brasileiro e nordestino, mais ainda por ser brasileiro e as mulheres, assim como o Brasil, que para combater
nordestino e ter pensando o ensino (e o mundo) a partir da esse tipo de violência criou a Secretaria da Mulher
rusticidade do nordeste, das exclusões (e inclusões) que e da Diversidade Humana, com status de Ministério.
vivemos aqui. Mas, sobretudo, por ter contribuído para Acreditamos que esse tema deve ser apresentado,
os estudos sobre currículos a partir de posições filosóficas discutido e problematizado na escola como tema
e políticas sobre a leitura, sintetizadas na sentença que transdisciplinar. Para isso, sugerimos que comece com
o imortalizou: a leitura do mundo precede a leitura da a leitura literária, em seus vários gêneros, focalizando
palavra. Sua proposta de ensino leva em consideração a mulher e também sendo escrito por elas, não numa
os temas geradores como eixos articuladores do ensino- vertente que demonize o homem, mas que traga à tona a
aprendizagem. À semelhança disso, a conexão temática questão do forte que é fraco, da minoria que é maioria, do
é, nesse sentido, o pano de fundo para articulação de valente não violento, etc. Essa leitura deve ser ampliada
pontos de vista e de saberes no âmbito do ensino. com a leitura de gêneros não literários sobre o tema, pelo
seu valor investigativo, documental, memorialístico, etc.
Isto posto, resta-nos apresentar a proposta. Este E deve prosseguir com o estudo das escolhas linguísticas
é um livro escrito por professoras e para professores dos textos lidos; sendo impossível estudar todas elas,
e professoras de língua portuguesa e suas literaturas; sugerimos pelo menos que uma, a mais recorrente ou
resulta de nossas experiências com o ensino médio, ora a mais singular, seja estudada. Dizendo isto, estamos
na condição de regentes dessas turmas, ora na condição pensando num currículo que se articule em função de um
de estagiárias, depois como supervisoras de estágio e tema, aprofunde o estudo de um gênero e de aspectos
mais recentemente como pesquisadoras sobre ensino de específicos da literatura e da língua nesse gênero. Não
língua e de literatura. Esse livro começou a ser escrito faz parte da proposta ora apresentada o improviso nem a
há alguns anos e precisou de um tempo para ser escrito assistematicidade.
enquanto maturávamos as experiências atando-as de
modo a terem noção de conjunto, período em que ficou Assim, o capítulo I, escrito por Aluska Silva
“de molho” e muitas vezes dele saiu para, por fim, chegar Carvalho, baseado na noção de literatura como uma
a esta versão. arte sensibilizadora, responsável por desautomatizar os
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INTRODUÇÂO Ensino de Língua e de Literatura no Ensino Médio
sujeitos ao mesmo tempo em que os faz refletir sobre proposta da tríade de Geraldi (uso-reflexão-uso) faz,
sua condição de ser e estar no mundo, organiza-se em pela primeira vez, a descrição pública de um dos seus
três seções que visam: (1) situar conceitos referentes à temas de aula: a quadríade USO-REFLEXÃO-DESCRIÇÃO
formação de leitores de literatura; (2) repensar alguns METALINGUÍSTICA-USO. Sua proposta é a de que “o
saberes referentes à metodologia de ensino de literatura, estudo da língua avance da reflexão epilinguística para a
sobretudo na fase final do EM; e (3) propor uma metalinguística, uma vez que esta faz parte do patrimônio
abordagem do texto literário, baseada em princípios da científico-cultural de uma língua. Outra razão para esse
estética da recepção e da análise comparada. estudo diz respeito ao fato de que a reflexão, quando
O capítulo II, escrito por Elisa Cristina Amorim acompanhada da descrição metalinguística, contribuirá
Ferreira, baseado na noção de gênero como forma textual para novos e conscientes usos de recursos linguísticos.”
relativamente estável, histórica e socialmente situada, (3) Apresentando uma proposta é a seção na qual autora
com composições, objetivos e estilos característicos, propõe um conjunto de atividades e tarefas (MATÊNCIO,
conforme discutida por estudiosos como Marcuschi 2011) que visam sistematizar, na leitura de gêneros não
(2008), organiza-se em três seções. As seções (1) Situando literários, o reconhecimento dos recursos de adjetivação
Conceitos, (2) Sugestão Metodológica e (3) Sugestões de com elementos de argumentação.
Atividades objetivam apresentar ao professor subsídios Para concluir, esperamos ter fisgado o leitor com
teóricos e práticos para fazer o aluno do ensino médio um laço que o leve aos próximos capítulos, nos quais
ler, analisar e produzir o gênero textual dissertação de defendemos que tudo o que se faça para tornar esse
acordo com as especificações do ENEM, dando suporte laço mais articulado repercutirá rápida e eficazmente nas
também para a produção do gênero em outras situações duas pontas, entregando alunos mais bem preparados
comunicativas, principalmente situações avaliativas para o ensino superior e mercado de trabalho, assim
(concursos, vestibulares, seleções de estágio e emprego como inspirará o ensino fundamental a modificações
etc.). eficazes. Para isso, muito pode contribuir o ensino de
Por fim, o capítulo III, escrito por Denise Lino de língua portuguesa e de suas literaturas.
Araújo, tem por objetivo apresentar o conceito análise
linguística com base em uma revisão sistemática dos vários Campina Grande, 15 de junho de 2017
autores que trataram do tema a partir da propositura de
Geraldi ([1984]1997) e desvelar uma metodologia para o
seu ensino associado ao ensino de leitura. Esse capítulo
está organizado em três seções, a saber: (1) Situando
o Conceito, na qual a revisão é feita. (2) Descrevendo
a metodologia, na qual a autora além de apresentar a
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INTRODUÇÂO Ensino de Língua e de Literatura no Ensino Médio
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CAPÍTULO I
Literatura em Sala:
Discutindo conceitos, repensando
saberes, elaborando propostas
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CAPÍTULO I Literatura em Sala
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CAPÍTULO I Literatura em Sala
Silva (2009) ainda aponta dois elementos essenciais a figura do mediador para além do professor de língua
para a formação leitora: a motivação para leitura e a portuguesa, para os outros professores, o bibliotecário,
disponibilidade de livros adequados para o público-alvo. os agentes educacionais e os próprios jovens, de modo
A existência de alunos motivados depende, muitas vezes, que esses mediadores não ensinem literatura, mas que
da existência de professores motivadores, que conheçam a vivenciem dentro e fora da escola. Há um subcapítulo
bons textos e saibam indicá-los aos alunos, respeitando bem sugestivo da autora que diz: “O mediador não pode
sua fase de amadurecimento enquanto leitor. dar mais do que tem”. Lembro-me que, quando aluna do
Essa motivação deve existir não somente no âmbito ensino fundamental e médio, pouco recorria à biblioteca
literário, mas na escolha dos gêneros que serão abordados; da escola, apesar de ser apreciadora dos textos literários,
suas temáticas e suas reflexões precisam estar ao alcance não por falta de vontade, mas por falta de mediadores
da compreensão do público-alvo. Pensando na recepção, e de livros que me atendessem enquanto leitora. Os
é entender o horizonte de expectativa do aluno. De um professores pouco indicavam livros e quando o faziam,
modo geral, muitos professores não apresentam uma normalmente, tal atitude estava ligada a uma indicação
formação leitora suficiente para serem bons mediadores, presente no livro didático. A experiência de empréstimos
não tendo um repertório de leitura adequado para de livros com meus amigos atendia muito mais aos meus
oferecer aos seus alunos. Esse fato ocorre devido a desejos de leitora, do que as sugestões da sala de aula,
uma carga-horária exaustiva, limitada às indicações de que partiam, na maioria das vezes, do proposto pelo
textos do livro didático que, além de congeladas em uma Livro Didático, não por uma experiência de leitura vivida
cronologia, apresentam questões que não oferecem um pelos professores. Desse modo, acreditamos que a leitura
caminho para reflexão, princípio básico para a formação compartilhada, ainda que não direcionada pelo professor,
leitora, além disso, deve-se também a não “afinidade” do aquela que surge da própria experiência do leitor, pode
professor de língua portuguesa com a literatura. proporcionar momentos prazerosos de discussão de
livros, como impressões gerais, expectativas e apreciação
Acerca da disponibilidade de livros para os jovens estética.
leitores, acreditamos que “para entender a proposta de
leitura da literatura infantil e juvenil é preciso atender à Constitui-se, portanto, um desafio para os
interação entre as obras e os leitores de uma sociedade e professores nos dias atuais levar o aluno a entender as
de um momento determinado”. (COLOMER, 2007, p. 76). razões pelas quais ele deve ser um leitor proficiente,
A sugestão de livros que estejam na biblioteca da escola sobretudo de literatura, uma vez que essa nova geração
deve ser feita pelo professor, respeitando os horizontes de leitores está imersa na sociedade do audiovisual, que
de expectativas do leitor. Nesse sentido, Petit (2009) apresenta um universo atrativo, o que, talvez, não lhe dê
discorre em seu livro Os jovens e a leitura, entre outras a mesma experiência.
coisas, sobre o valioso papel do mediador, ampliando
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CAPÍTULO I Literatura em Sala
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CAPÍTULO I Literatura em Sala
da sala de aula, sobretudo nas disciplinas humanísticas. primeiro passo para a efetivação do gosto pela leitura é
Esse fenômeno de trazer para o contexto escolar, gêneros a criação do hábito. Para tanto, além da oferta de livros,
que inicialmente não têm essa finalidade recebeu o nome é de fundamental importância a postura do professor em
de “escolarização”. relação aos interesses de leitura dos alunos. “Os alunos
Magda Soares (2001, p. 20) diz que “Não há como são sujeitos diferenciados que têm, portanto, interesses
se ter escolas sem ter a escolarização do conhecimento”. de leitura variados.” (AGUIAR; BORDINI, 1993, p. 19).
Hoje em dia, o termo “escolarização” vem sofrendo Portanto, a seleção de textos e temáticas abordadas
no ensino de literatura não deve estar “engessada” em
atribuições negativas, no entanto, esse processo é
programas de vestibulares ou a livros didáticos.
necessário porque se quer formar leitores de literatura
no contexto escolar. O problema, muitas vezes, está na Para que seja criado o hábito e o gosto pela leitura
forma como essa escolarização é realizada em sala de no ambiente escolar é importante proporcionar uma
aula. identificação entre o texto literário e o aluno, uma vez
que grande parte das obras foi/é produzida em contextos
Os saberes escolares passaram por modificações
culturais diferentes do que ele se encontra e “o aluno não
e, à medida que as sociedades, sobretudo a ocidental,
se reconhece na obra, porque a realidade apresentada
foram crescendo e se industrializando, o processo de
não lhe diz respeito.” (AGUIAR; BORDINI, op. cit., p. 18).
ensino foi deixando de ser individualizado: a ideia de
Nessa multiplicidade de sentidos e contextos literários,
mestre e discípulo deu lugar a prédios com várias salas
a forma de abordagem do texto não deve ser impositiva
de aula e a um professor para vários alunos; o modelo
e repleta de informações históricas, pelo menos não
de sistematização de espaço e tempo de ensino; a
na fase de formação do “gosto” pela leitura literária. É
separação de alunos por faixa etária e por assimilação do
preciso “vivenciar as obras” como dizem as autoras,
conhecimento fez surgir:
passando por graus que a escola deve proporcionar. A
os graus escolares, as séries, as classes, os escolha dos textos deve ser cuidadosa, aguçando um
currículos, as matérias e disciplinas, os pro-
senso crítico nos alunos convidando-os a entrar no jogo
gramas, as metodologias, os manuais e os
textos - enfim, aquilo que constitui até hoje de significações que o texto literário oferece. Benjamin
a essência da escola. (SOARES, ibid., p. 21, (1984 apud AGUIAR; BORDINI, 1994, p. 27) diz que:
grifos da autora).
todo hábito entra na vida como um jogo
Uma vez escolarizado, o gênero literário será que exige repetição contínua e renovada.
Por essas vias, chega-se, por certo, ao há-
inevitavelmente didatizado de modo que é preciso
bito da leitura literária, que permite a mul-
fazer com que a aproximação do aluno com o texto tiplicação do prazer, através da experiência
não venha permeada de informações conteudísticas sempre recomeçada de viver os sentidos
e históricas. Aguiar e Bordini (1993) postulam que o do mundo em cada texto percorrido.
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CAPÍTULO I Literatura em Sala
O professor, como principal motivador dessa de leitura diversificado e adaptado para suas turmas,
criação de hábitos de leitura, deve oferecer um acervo tarefa difícil, mas não impossível. Uma escolha textual
literário[2] que explore significações culturais, sem nunca vai agradar a toda a turma, nem precisa, mas é
pensar inicialmente em classificar essa ou aquela obra necessário estar afinada com as preferências da maioria
como pertencente a escolas literárias; em um segundo até para saber instrumentalizar os alunos para lerem os
momento, permitir uma sistematização com bases textos adequadamente. Essa leitura indicada, no contexto
teóricas, com uma instrumentalização do conhecimento escolar, sempre será alvo de avaliação, “a leitura sempre
literário, sempre tendo o texto como ponto de partida. será avaliada, por mais que se mascarem também as
formas de avaliação” (SOARES, 2001, p. 24). Por ser
O processo de escolarização da literatura, se bem avaliativo, o processo de escolarização não necessita ser
realizado, levará o aluno a possuir instrumentos para diminuído, pois como vimos, para que as obras cheguem
ler diferentes gêneros literários e ser um apreciador da até o aluno, inevitavelmente, elas serão escolarizadas.
literatura enquanto arte e de forma aproximada com
a sua vida, recriando espaços e valores relacionados Algumas modificações são necessárias para que
ao seu universo. De acordo com Soares (2001) existem as obras possam ir à sala de aula. Muitas vezes essas
três instâncias de escolarização da literatura, sobretudo modificações não são tão salutares à conservação de sua
“originalidade”, fato que conta negativamente no processo
na fase infantil, a saber: a biblioteca escolar, a leitura
de escolarização, como por exemplo, a fragmentação e a
e estudo de livros de literatura e a leitura e estudo de
repetição das obras no livro didático (LD). Entendemos
textos em geral. Para cada instância, a autora apresenta
que não se pode reproduzir um romance inteiro no
os “pré-requisitos” para uma melhor instrumentalização.
LD, mas também não concordamos com a reprodução
Na biblioteca escolar deve constar um acervo apenas de dois parágrafos que pouco dizem da obra e,
diversificado de livros e ter um local próprio. O aluno posteriormente, retomar esse fragmento para o trabalho
deve “ser iniciado” nesse ambiente, ele necessita ir de alguma classe gramatical ou escola literária. Exige-se
sozinho à biblioteca saber qual o tempo de leitura, quais pouco do aluno com essa prática e ele não vê sentido em
as indicações, participar de aulas de leitura, saber que a ler a obra na íntegra se não foi conduzido a isso durante
biblioteca é local de silêncio e, ainda, que o livro deve ser as aulas.
conservado etc. Essa rotina pode parecer insignificante, De forma a conciliar o estudo do texto literário
mas é ela que estimula a criação do hábito. com um componente requerido pela Base Nacional
A leitura da literatura e de outros textos sempre será Comum Curricular – o estudo de textos contemporâneos
majoritariamente escolhida pelo professor, conforme no Ensino Médio – elaboramos uma proposta que visa
já discutido, isto posto, ele necessita de um repertório favorecer a discussão e o debate na sala de aula. Os textos
sugeridos estão na íntegra e com eles algumas sugestões
2 - - Lembramos ao professor que as escolas dispõem de um acervo
literário bastante diversificado através do PNBE – Programa Nacional de abordagem ancoradas em toda a discussão até aqui
Biblioteca na Escola. realizada.
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CAPÍTULO I Literatura em Sala
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CAPÍTULO I Literatura em Sala
abordados nesse contexto podem ser atuais e, ao mesmo O material que selecionamos não está dividido
tempo, atemporais. Em seguida, destaca-se a importância em aulas, para não “limitarmos” as possibilidades de
do diálogo, de modo que o aluno perceba que a literatura trabalho do professor que pode, sem sombra de dúvidas,
é uma forma de conhecimento de si e do mundo, além da ampliar o estudo proposto e, ainda, relacionar com os
forma estrutural (prosa e verso) e dos procedimentos de capítulos de análise linguística e de produção textual
construção do texto. Entende-se que há uma mudança de presentes neste livro ou fazer um estudo interdisciplinar,
paradigma para o ensino de literatura. tão solicitado no contexto atual. Apresentamos duas
Partindo de tais pressupostos, delineamos assim propostas que dialogam entre si, com o tema - mulher e
nosso objetivo de trabalho: relacionamentos amorosos – e com as autoras, Martha
Medeiros e Adélia Prado.
Objetivo: Analisar, comparativamente, textos
contemporâneos de gêneros distintos, crônica e poesia, Como são duas abordagens distintas, o professor
a partir de um tema motivador: a perspectiva da mulher poderá realizá-las em momentos diferentes, dividindo-as
nos relacionamentos amorosos. em módulos, por exemplo. Há uma sugestão de sequência
Objeto: bastante utilizada contemporaneamente presente no
livro Letramento Literário: teoria e prática, de Rildo
Proposta 1: Crônica “Casamento Aberto”, de Martha
Cosson (2004), que pode nortear as aulas de literatura. Os
Medeiros; Poema “Casamento”, de Adélia Prado.
momentos são divididos em: Motivação: estabelecimento
Proposta 2:Crônica “Doidas e Santas”, de Martha de laços estreitos com o texto que se vai ler; Introdução:
Medeiros; Poema “A serenata”, de Adélia Prado.
uma apresentação do autor e da obra; Leitura: contato
com o texto que se deseja trabalhar; e Interpretação:
Conhecendo a Proposta: reflexões temáticas e estéticas. Preferimos não seguir
Alguns apontamentos estritamente o proposto por Cosson, entendendo que
o modelo de sequência didática pode ser adaptado de
Ao trabalharmos com gêneros literários é acordo com as especificidades do objeto com o qual se
importante que o professor lembre que há especificidades está trabalhando e com os objetivos do professor, de
que precisam ser consideradas. Para não teorizarmos modo que nossa proposta se flexibilizará com a sequência
muito nossa conversa, sugerimos que, para aprofundar o de Cosson, mas também com a sua, professor, se assim
estudo sobre composição dos gêneros, consulte-se o livro desejar.
Versos, sons e ritmos, de Norma Goldstain (2006), para a
poesia, e os textos “O discurso da cidade”, de Eduardo
Portella (2002), e “Teoria da crônica”, de Affonso Romano
de Sant’Anna (2000), para crônica.
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CAPÍTULO I Literatura em Sala
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CAPÍTULO I Literatura em Sala
de uma maneira antitradicional, fruto de sua atitude no abordado no texto. Esse será o gancho necessário para se
velório do marido François Mitterrand quando permitiu estabelecer relações com o poema, o viés temático como
a presença da amante e da filha do ex-presidente. Uma elemento de comparação.
sugestão de trabalho com o gênero seria ler com a turma
essa carta e mostrar o processo de construção da crônica, CASAMENTO
o que já seria uma forma de análise de construção do
texto e seus diálogos intertextuais. Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
Primeira abordagem: trabalhar a perspectiva da mas que limpe os peixes.
crônica como gênero híbrido, fazendo relações com o Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
texto “real” - a carta, e o texto “ficcionalizado” – a crônica. ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
Seguindo com o estudo da crônica, observaremos de vez em quando os cotovelos se esbarram,
que a narradora apresenta-se em constante diálogo ele fala coisas como “este foi difícil”
com o leitor, escreve em primeira pessoa e mostra-se “prateou no ar dando rabanadas”
consciente de que se está escrevendo para que alguém e faz o gesto com a mão.
O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
leia. Esse pode tornar-se outro ponto de discussão em atravessa a cozinha como um rio profundo.
sala, observando quais os traços que apontam para essa Por fim, os peixes na travessa,
proximidade autor-leitor. Alguns trechos que comprovam vamos dormir.
nosso dizer: “Agora está se defendendo com uma reflexão Coisas prateadas espocam:
que serve para todos nós” (primeiro parágrafo); “Li somos noivo e noiva.
outro dia” (segundo parágrafo); “Estamos falando de PRADO, Adélia. (1981)
casamento aberto, sim,...” (quarto parágrafo); “Enquanto
não renovarmos nossa ideia de romantismo” e “Eu não
O poema de Adélia está presente no livro Terra
conheço nada mais difícil, mas também nada mais bonito”
de Santa Cruz, publicado em 1981, reflete sobre uma
(quinto parágrafo).
experiência muito cotidiana nos relacionamentos. O
Acerca da temática, achamos que seria interessante encontro na cozinha, a metáfora da pesca, a comparação
discutir qual tipo de relação a autora quer defender entre as outras mulheres e o do eu-lírico e a epifania do
com a crônica, observando que o sentido do casamento encontro são alguns aspectos que podem ser confrontados,
aberto é diferente do de relacionamento aberto; pode primeiro no universo da própria compreensão do poema,
também elencar o que se considera “permitido” e “não e depois em comparação com a crônica Casamento
permitido” na visão da autora e estabelecer um debate Aberto. Sugerimos sempre que, antes da comparação
sobre essa construção estabelecida a partir do que será entre os dois textos se faça uma análise completa dos
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CAPÍTULO I Literatura em Sala
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CAPÍTULO I Literatura em Sala
Primeira abordagem: ler o poema mais de uma vez, Existe mulher cansada, que é outra coisa. Ela deu tanto
de preferência finalizando com a leitura do professor, e, azar em suas relações, que desanimou. Ela ficou tão sem dinheiro
em seguida, conversar sobre aspectos constitutivos do de uns tempos pra cá, que deixou de ter vaidade. Ela perdeu
poema, seu título, por exemplo, evoca uma experiência tanto a fé em dias melhores, que passou a se contentar com dias
que pode ter sido vivida pelos pais, avós ou vistos em medíocres. Guardou sua loucura em alguma gaveta e nem lembra
mais.
filmes. Perguntar se eles sabem o que é uma serenata
Santa mesmo, só Nossa Senhora, mas, cá entre nós, não é
e porque eles acham que foi dado este título ao poema.
uma doideira o modo como ela engravidou? (Não se escandalize,
Discutir com os alunos sobre a chegada da idade e a não me mande e-mails, estou brin-can-do.)
não concretização de um relacionamento. A chegada Toda mulher é doida. Impossível não ser. A gente nasce
da velhice sem estar com um parceiro ocorre da mesma com um dispositivo interno que nos informa desde cedo que,
forma para homens e mulheres? Por quê? sem amor, a vida não vale a pena ser vivida, e dá-lhe usar nosso
poder de sedução para encontrar “the big one”, aquele que será
DOIDAS E SANTAS inteligente, másculo, se importará com nossos sentimentos e não
nos deixará na mão jamais. Uma tarefa que dá para ocupar uma
“Estou no começo do meu desespero/ e só vejo dois vida, não é mesmo? Mas além disso temos que ser independentes,
caminhos:/ ou viro doida ou santa.” São versos de Adélia Prado, bonitas, ter filhos e fingir, às vezes, que somos santas, ajuizadas,
retirados do poema “A serenata”. Narra a inquietude de uma responsáveis, e que nunca, mas nunca, pensaremos em jogar tudo
mulher que imagina que mais cedo ou mais tarde um homem virá para o alto e embarcar num navio pirata comandado pelo Johnny
arrebatá-la, logo ela que está envelhecendo e está tomada pela Depp, ou então virar uma cafetina, sei lá, diga aí uma fantasia
indecisão - não sabe como receber um novo amor não dispondo secreta, sua imaginação deve ser melhor que a minha.
mais de juventude. E encerra: “De que modo vou abrir a janela, se Eu só conheço mulher louca. Pense em qualquer uma que
não for doida? Como a fecharei, se não for santa?” você conhece e me diga se ela não tem ao menos três destas
Adélia é uma poeta danada de boa. E perspicaz. Como pode qualificações: exagerada, dramática, verborrágica, maníaca,
uma mulher buscar uma definição exata para si mesma estando fantasiosa, apaixonada, delirante. Pois então. Também é louca.
em plena meia-idade, depois de já ter trilhado uma longa estrada E fascinante.
onde encontrou alegrias e desilusões, e tendo ainda mais estrada Todas as mulheres estão dispostas a abrir a janela, não
pela frente? Se ela tiver coragem de passar por mais alegrias e importa a idade que tenham. Nossa insanidade tem nome: chama-
desilusões - e a gente sabe como as desilusões devastam - terá se Vontade de Viver até a Última Gota. Só as cansadas é que se
que ser meio doida. Se preferir se abster de emoções fortes e recusam a levantar da cadeira para ver quem está chamando lá
apaziguar seu coração, então a santidade é a opção. Eu nem fora. E santa, fica combinado, não existe. Uma mulher que só
preciso dizer o que penso sobre isso, preciso? reze, que tenha desistido dos prazeres da inquietude, que não
Mas vamos lá. Pra começo de conversa, não acredito que deseje mais nada? Você vai concordar comigo: só sendo louca de
haja uma única mulher no mundo que seja santa. Os marmanjos pedra.
devem estar de cabelo em pé: como assim, e a minha mãe??? Martha Medeiros. 13 de abril de 2008. In: Doidas e Santas,
Nem ela, caríssimos, nem ela. 2008
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CAPÍTULO I Literatura em Sala
Como podemos observar, Doidas e Santas, de é importante pedir sempre que as respostas sejam
Martha Medeiros, apresenta explicitamente uma relação argumentadas a partir de fragmentos dos textos, de
com o poema “A serenata”, de Adélia Prado, constituindo- modo que os alunos saibam diferenciar o que o texto diz
se num diálogo bastante interessante e ampliando na sobre o assunto do que ele pensa sobre o mesmo.
crônica a reflexão iniciada no poema. Através de uma Acreditamos que esta proposta também pode ser
linguagem coloquial e dialógica, Martha conversa com ampliada com um trabalho maior. Neste caso, pode-se
seus leitores e inicia seu texto fazendo uma análise do refletir com os alunos sobre relacionamentos na terceira
poema de Adélia, transpondo sua interpretação do eu- idade, questões relacionadas à diferença social atribuída
lírico para a autora. Após esse percurso intertextual, ao homem e à mulher, e até mesmo, a relação semiótica
Martha trabalha a noção de loucura e santidade entre da crônica com a peça teatral homônima, estrelada por
as mulheres, desconstruindo paradigmas cristalizados Cissa Guimarães com texto de Regiana Antonini. Como
socialmente. não encontramos a peça inteira disponível na internet,
sugerimos que se o professor observar entusiasmo da
Segunda abordagem: trabalhar aspectos de
turma pelo tema, pode-se criar um projeto de adaptação
construção da crônica e do poema. Quem fala no texto? da obra para um pequeno jogo dramático ou outra forma
Diferenciação entre narrador e eu-lírico e ambos de de manifestação artística.
escritor/autor. Explicação da natureza da crônica (os textos
A relação entre literatura e ensino precisa deixar de
teóricos sugeridos irão ajudá-lo nessa transposição);
ser vista como de difícil efetivação no dia a dia da sala
Terceira abordagem: trabalhar o conceito de de aula. Defendemos um ensino menos pragmático, mais
intertextualidade a partir da comparação entre os textos. próximo das experiências dos leitores e, portanto, mais
Sugerimos a leitura do capítulo “Intertextualidade” reflexivo. À medida que o aluno sentir que a literatura faz
do livro Os sentidos do texto, de Mônica Magalhães parte da sua vida porque fala de suas dúvidas, seus sonhos,
Cavalcante (Contexto 2014), caso o objetivo de sua aula seus anseios, seus medos, suas fantasias, ele enfrentará
seja trabalhar o conceito de intertextualidade. Se o melhor o texto literário. Acreditamos que essa inversão
objetivo for leitura comparativa, você pode apenas fazer conteudística proposta pela Base Nacional Comum
menção ao recurso utilizado pela autora, sem uma longa Curricular incentivará mais nossos jovens para a leitura da
conceituação. literatura brasileira, uma vez que a contemporaneidade
sendo trabalhada na primeira série do ensino médio
Quarta abordagem: realizar a atividade de equipara-se mais os horizontes de expectativa do aluno,
comparação temática entre os textos: 1) quais as levando-o primeiramente a gostar de ler para depois
diferenças entre a representação da mulher no poema e na compreender os processos históricos e os contextos de
crônica? 2) como a noção de envelhecimento é retratada produção que complementam o entendimento de obras
nos textos? Ao fazer perguntas de cunho interpretativo, e de autores.
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CAPÍTULO I Literatura em Sala
Como vimos, a partir de duas propostas básicas, PARAÍBA, SEC. Referenciais Curriculares para o Ensino Médio da
Paraíba: Linguagens, Códigos e suas tecnologias. V. 1. João Pessoa:
com textos relativamente pequenos, podemos adentrar
[s.n.], 2007.
em temas e procedimentos de construção do texto
literário que são necessários para a formação do leitor PAULINO, Graça; COSSON, Rildo. Letramento literário: para viver a
literatura dentro e fora da escola. In: ZILBERMAN, Regina; RÖSING,
literário sem encher os alunos de informações teóricas Tania (Orgs.). Escola e leitura: velha crise; novas alternativas. São
demais, que se tornam abstratas para a compreensão. Paulo: Global, 2009.
BRASIL. Orientações Curriculares para o Ensino Médio. Linguagens, SANT’ANNA, Affonso Romano de. Teoria da crônica. Brasília:
códigos e suas tecnologias. vol. 1. Brasília: Ministério da Educação, Letraviva, 2000.
Secretaria de Educação Básica, 2006.
SILVA, Vera Maria Tietzmann. Leitura literária & outras leituras -
CANDIDO, Antonio. Literatura e Sociedade. 9.ed. Rio de Janeiro: impasses e alternativas no trabalho do professor. Belo Horizonte:
Ouro sobre Azul, 2006. RHJ, 2009.
CARVALHAL, Tania Franco. Literatura Comparada. São Paulo: Ática, SOARES, Magda. A escolarização da literatura infantil e juvenil. In:
2004 BRANDÃO, H. M. B.; EVANGELISTA, A. A. M.; MACHADO, M. V. (org.).
A Escolarização da Leitura Literária. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica,
COLOMER, Teresa. Andar entre livros: a leitura literária na escola. 2001.
Trad. Laura Sandroni. São Paulo: Global, 2007.
GOLDSTEIN, Norma. Versos, sons, ritmos. 14. ed. São Paulo: Ática,
2006.
60 61
CAPÍTULO II
Produção Textual
Socialmente
Situada:
Proposta didática
Situando Conceitos
O Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), em
1998, ano da sua criação, e até há pouco tempo, tinha
por objetivo, segundo INEP (BRASIL, 2005), possibilitar
uma referência para autoavaliação, tendo por base
competências e habilidades; e, de forma secundária,
servir como “modalidade alternativa ou complementar
aos processos de seleção para o acesso ao ensino superior
e ao mercado de trabalho” (BRASIL, op. cit., p.7).
Porém, desde 2009, como parte de uma política
governamental, o Novo ENEM vem sendo usado
como forma de seleção de alunos para a entrada em
instituições públicas de ensino superior, em substituição
parcial ou total ao vestibular tradicional, afastando-se,
assim, de seu objetivo inicial e modificando algumas de
suas características. O exame, portanto, tem atualmente
a responsabilidade de selecionar quem está (ou não)
habilitado a ingressar na universidade. Ou seja, o ENEM,
em sua nova configuração, delimita o perfil do aluno
que vai ingressar nas instituições de ensino superior
e, consequentemente, parece influenciar o perfil do
profissional que será formado.
A dissertação, gênero textual bastante presente no
ambiente escolar, nesse novo contexto, ganhou ainda
mais destaque, por ser o texto requerido pelo ENEM e,
também, por ser a única forma de avaliação de escrita
de um exame que averigua as habilidades de leitura
através de questões objetivas. Assim, podemos dizer
que o candidato tem, nessa atividade de produção,
a oportunidade de demonstrar efetivamente suas
habilidades enquanto usuário da língua (aquele que
lê, reflete, posiciona-se sobre determinado assunto e
escreve) e não apenas falante (aquele que desempenha
habilidades de leitura instrumental).
65
CAPÍTULO II Produção Textual Socialmente Situada
A definição da dissertação como gênero textual pode interligado ao outro. Eles não subsistem isolados nem
soar estranha já que, tradicionalmente, é confundida com alheios um ao outro. Em todos os gêneros textuais
o tipo textual dissertativo. A confusão entre tipo textual e realizam-se tipos textuais, sendo um tipo, comumente,
gênero textual ainda ocorre com frequência entre alunos, predominante em cada gênero. Quando se nomeia
professores e até mesmo materiais didáticos, apesar da um texto como “narrativo”, por exemplo, não se está
diferenciação não ser recente. De acordo com Marcuschi nomeando o gênero, mas sim, o tipo de sequência
(2008, p. 154), textual base de diversos gêneros textuais, como conto,
tipo textual designa uma espécie de cons- fábula, lenda e novela. Logo, para se definir um gênero,
trução teórica (em geral uma sequência leva-se em consideração o seu tipo textual e, também,
subjacente aos textos) definida pela na- suas características de ação prática, circulação sócio-
tureza linguística de sua composição (as- histórica, funcionalidade, conteúdo temático, estilo e
pectos lexicais, sintáticos, tempos verbais, composicionalidade (cf. MARCUSCHI, 2002; 2008).
relações lógicas, estilo).
A dissertação, conforme afirma Souza (2003), é
Os tipos são, assim, sequências linguísticas limitadas um gênero textual que pertence ao domínio discursivo
em cinco: narração, argumentação (também chamada da escola (agência de letramento escolar), cuja função
de dissertação), exposição, descrição e injunção. Ainda é o ensino/aprendizagem da escrita. Nos últimos anos,
conforme o mesmo estudioso, o gênero vem extrapolando sua esfera comunicativa,
gênero textual refere aos textos materia- passando a fazer parte das práticas sociais fora da escola,
lizados em situações comunicativas re- haja vista sua requisição nos exames de admissão, nos
correntes [...], que apresentam padrões vestibulares e nos concursos públicos, o que lhe trouxe
sociocomunicativos característicos defini- modificações.
dos por composições funcionais, objetivos
enunciativos e estilos concretamente reali- No ENEM, a dissertação sofre uma alteração
zados (op. cit., p.155). importante que a torna uma variante do gênero
produzido na escola e requerido em outros exames: a
Os gêneros textuais, desse modo, são formas
presença de proposta de intervenção. Propor uma forma
textuais relativamente estáveis, histórica e socialmente
de intervenção para o problema abordado na produção
situadas, ou seja, são textos materializados, constituindo
textual, respeitando os direitos humanos, é , ao nosso ver,
uma grande variedade: carta pessoal, carta comercial,
uma forma de avaliar a capacidade de o aluno/candidato
bilhete, e-mail, conta de luz, piada, conferência, resenha,
relacionar o tema à discussão desenvolvida no texto e,
resumo, artigo científico, artigo de opinião, notícia,
com isso, avaliar a capacidade de raciocínio e reflexão.
poema, receita culinária, receita médica, declaração,
Além disso, a requisição de uma proposta de intervenção
entre tantos outros.
em um exame avaliativo de abrangência nacional pode
Em outras palavras, gênero e tipo apesar de ser vista como uma importante ouvidoria nacional.
diferentes não são opostos. Um é complementar e
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CAPÍTULO II Produção Textual Socialmente Situada
Desse modo, se a função principal da dissertação o tema e o ponto de vista a ser tratado; elege o objetivo
no ambiente escolar é ensinar o aluno a escrever (e a com que vai escrever; escolhe os critérios de ordenação
refletir), ao determiná-la como o gênero fixo do ENEM, das ideias; prevê as condições de circulação do texto
pressupõe-se que todos os candidatos, advindos de e dos possíveis leitores; decide quanto às estratégias
boa ou precária escolarização, dominam esse gênero. A textuais que podem deixar o texto adequado à situação),
adoção de um único gênero para a avaliação da escrita escrever (etapa em que o sujeito/autor escreve; coloca
seria, portanto, pelo menos teoricamente, uma forma de no papel aquilo que foi planejado) e reescrever (etapa
garantir a igualdade entre os candidatos. Pois, mesmo em que o sujeito/autor revê o que foi escrito; confirma
que estes nunca tivessem estudado gêneros de outras se os objetivos foram cumpridos; avalia a continuidade
esferas sociais (carta, palestra escrita, memorial, abaixo temática; observa a concatenação entre os períodos,
assinado, por exemplo) teriam visto e/ou produzido uma entre os parágrafos, ou entre os blocos superparágrafos;
dissertação. Dentro desse mesmo pensamento, ao adotar avalia a clareza; avalia a adequação do texto às condições
um único gênero, que se repete em todas as edições da situação de produção e circulação; revê a fidelidade
do exame, esperam-se alunos/candidatos com maior de sua formulação linguística às normas da sintaxe e
domínio das características desse texto, já que apenas a da semântica, conforme prevê a gramática da estrutura
temática é mutável. da língua; revê aspectos da superfície do texto, tais
Aliada à perspectiva de gênero textual, está a como a pontuação, a ortografia e a divisão do texto em
concepção de linguagem como processo de interação parágrafos).
(cf. TRAVAGLIA, 2008). Nessa concepção, a produção Posto isso e diante da importância atual desse
textual é tida como um processo, no qual o autor (sujeito gênero textual, este capítulo, subdividido nesta seção
psicossocial, ativo na produção de sentidos, construído introdutória e em duas outras seções, a primeira de
na e pela linguagem) busca interagir com os demais sugestão metodológica e a segunda com sugestões de
sujeitos, com finalidade específica. O texto enquanto atividades[1],visa apresentar uma proposta de trabalho
processo, dessa forma, é o próprio lugar da interação, didático com dissertação requerida pelo ENEM. Logo, o
produzindo sentido conforme a situação, em oposição ao objetivo da proposta é apresentar ao professor subsídios
texto enquanto produto pronto e acabado, dependente teóricos e práticos para fazer o aluno do ensino médio
da capacidade de criatividade individual. ler, analisar e produzir o gênero textual dissertação de
Didaticamente, a produção textual, segundo acordo com as especificações do ENEM, dando suporte
Antunes (2003), compreende três etapas distintas e 1 - - Algumas atividades apresentadas foram elaboradas com base na
interligadas de realização, as quais implicam a tomada (re)construção de propostas desenvolvidas pelo Programa de Educação
Tutorial (PET) do curso de Licenciatura em Letras da Universidade Federal
de várias decisões por parte do escritor: planejar (etapa de Campina Grande (UFCG), em especial, pelo grupo de graduandos do
em que o sujeito/autor amplia seu repertório; delimita ano de 2010, sob orientação da tutora do grupo na época, Denise Lino
de Araújo, do qual a autora deste capítulo fez parte até 2011.
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CAPÍTULO II Produção Textual Socialmente Situada
também para a produção do gênero em outras situações Desde 1998, os temas abordados pelo ENEM foram
comunicativas, principalmente situações avaliativas variados, mas todos proporcionavam reflexão sobre a
(concursos, vestibulares, seleções de estágio e emprego, sociedade e os direitos humanos: Viver e aprender (1998);
etc.). Cidadania e participação social (1999); Direitos da criança
e do adolescente: como enfrentar esse desafio social
Sugestão Metodológica
(2000); Desenvolvimento e preservação ambiental: como
Produzir um texto adequado à situação comunicativa, conciliar os interesses em conflito? (2001); O direito de
ao gênero textual e à temática estabelecida requer, como votar: como fazer dessa conquista um meio para promover
sinalizado anteriormente, um trabalho processual que as transformações sociais que o Brasil necessita? (2002);
nem sempre o aluno sabe da necessidade de realizá- A violência na sociedade brasileira: como mudar as
lo e/ou como realizá-lo. A mediação do professor, por regras desse jogo? (2003); Como garantir a liberdade de
isso, é essencial. Com o sujeito mais maduro linguística informação e evitar abusos nos meios de comunicação
e criticamente, ele deve proporcionar ao aluno o (2004); O trabalho infantil na sociedade brasileira (2005);
aprendizado/aprimoramento de textos escritos e O poder de transformação da leitura (2006); O desafio
também orais. No caso do ENEM, o destaque vai para a de se conviver com as diferenças (2007); Como preservar
dissertação, um gênero tradicional que ganhou aspectos a floresta Amazônica: suspender imediatamente o
diferenciados no exame. desmatamento; dar incentivos financeiros a proprietários
Nesta seção, serão apresentadas algumas sugestões que deixarem de desmatar ou aumentar a fiscalização
de encaminhamento do trabalho com a dissertação e aplicar multas a quem desmatar? (2008); O indivíduo
para o professor realizar com seus alunos, através do frente à ética nacional (2009); O trabalho na construção
uso de atividades presentes na seção posterior. Vale da dignidade humana (2010); Viver em rede no século XXI:
salientar que, como qualquer proposta, as atividades os limites entre o público e o privado (2011); Movimento
e os procedimentos sugeridos podem e devem ser imigratório para o Brasil no século XXI (2012); Os efeitos
adaptados de acordo com o contexto de suas aplicações da implantação da Lei Seca no Brasil (2013); Publicidade
e os sujeitos envolvidos. É possível, também, modificá- infantil em questão no Brasil (2014); A persistência da
la através da troca da temática por outras de ordem violência contra a mulher na sociedade brasileira (2015)
social, científica, cultural ou política que permitam e Caminhos para combater a intolerância religiosa no
discutir posicionamentos e propostas de intervenção Brasil (2016).
(crise hídrica, preconceito racial e regional, limites da O estudo do tema para a produção da dissertação
liberdade de expressão, transporte urbano, terceirização pode propiciar um trabalho interdisciplinar na escola,
do trabalho, movimentos sociais, culto ao corpo, redução construindo no alunado a consciência de que o primeiro
da maioridade penal, por exemplo). passo para se escrever uma redação nota mil é “ter o
70 71
CAPÍTULO II Produção Textual Socialmente Situada
que dizer”, assim, as várias disciplinas escolares e seus discutida oralmente. Nessa discussão, o professor pode
diferentes focos de observação e reflexão contribuem, aprofundar as respostas dadas pelos alunos, fazendo-
bem como experiências de vida e de leitura. lhes refletir sobre cada questão. O professor não deve
Sete são as atividades presentes neste capítulo, ter pressa, propostas de redação do ENEM de anos
abordando quatro aspectos: proposta de redação anteriores (http://enem.inep.gov.br/) podem ser trazidas
(atividade 1); gênero dissertação (atividades 2, 3 e para complementar a atividade.
4); critérios de correção e avaliação (atividade 5); e A proposta de redação do ENEM até o ano de 2016
produção (atividade 6 e 7). As atividades, por já estarem foi aplicada no segundo dia de provas, juntamente com
direcionadas aos alunos, foram elaboradas para serem as provas de “Linguagens, Códigos e suas Tecnologias”
reproduzidas e aplicadas, todavia, caso o professor sinta (45 questões) e “Matemática e suas Tecnologias” (45
a necessidade, elas podem ser modificadas. A seguir, questões). A partir de 2017, a proposta de redação será
apresentamos algumas sugestões de encaminhamento aplicada no primeiro domingo de prova, juntamente com
metodológico. as provas de “Linguagens, Códigos e suas Tecnologias”
A atividade 1 aborda o estudo da proposta de (45 questões) e “Ciências Humanas e suas Tecnologias”
redação, sua estrutura e seu contexto de produção[2]. É (45 questões)[3].Um total de 90 questões objetivas mais
importante que o aluno conheça esses aspectos, pois, a redação que devem ser respondidas pelos alunos/
como são relativamente fixos, ao conhecê-los, ele pode candidatos em, no máximo, 5h30min. Um tempo
direcionar sua leitura e sua produção desde o início, relativamente curto em decorrência de a grande maioria
ganhando tempo e criando um texto mais adequado à das questões estar relacionada a textos, demandando
situação comunicativa. Para o professor, o conhecimento maior tempo para resolução. Se o tempo de 5h30min
da estrutura e do contexto também é importante para guiar fosse destinado apenas às questões objetivas, os
a correção e a avaliação das produções dos alunos. Logo, alunos/candidatos teriam 3min33s para ler e responder
os objetivos para essa atividade são: identificar e refletir cada questão mais 30min para marcação do Caderno
sobre o contexto de produção do gênero dissertação no de Respostas, tempo que já nos parece curto e que se
ENEM; identificar e refletir sobre a estrutura da proposta estreita mais devido à redação. Afinal, quanto tempo
de produção de redação do ENEM. dedicar à redação quando se tem tão pouco tempo? A
resposta não é tão simples.
Sugerimos que o trabalho com a atividade seja em
duplas, por ser uma atividade inicial e com um grau médio
de dificuldade, monitorada pelo professor e, em seguida, 3 - - Outras mudanças também ocorreram em 2017, por exemplo: o
ENEM deixou de ser instrumento para certificação de conclusão do
ensino médio; o exame ao invés de ser aplicado em um único fim de
2 - - Para saber mais sobre contexto de produção, consultar Bronckart semana (sábado e domingo) passou a ser aplicado em dois domingos
(2012). seguidos.
72 73
CAPÍTULO II Produção Textual Socialmente Situada
Ao realizarem a prova do ENEM, em decorrência (leitura, elaboração de ideias, rascunho, reescrita e versão
do pouco tempo, alguns alunos/candidatos optam por final), 20min para preenchimento do cartão-resposta,
elaborarem a proposta de redação após a resolução de assim, restarão aproximadamente 2min77s para cada
todas as questões. Essa estratégia, geralmente, força o uma das 90 questões.
aluno/candidato a produzir a redação em poucos minutos Estratégias de resolução da prova e tempo são
e sem a atenção que uma produção textual requer, pois, questões importantes para serem discutidas com os
o tempo corre contra ele. Outros alunos/candidatos alunos na preparação para o ENEM, visto que influenciam
escolhem realizar inicialmente a proposta de redação, a redação, e mostram-nos a sua complexidade. Além disso,
mas, em alguns casos, o tempo restante não permite a atentamos para a necessidade de realizar simulados do
resolução de todas as questões objetivas. exame, nos quais os alunos possam identificar a estratégia
Em outras palavras, independente da ordem de de resolução da prova mais adequada para cada um.
realização da prova do ENEM, o candidato corre “riscos” As atividades 2, 3 e 4 tratam do estudo do gênero
e dá, mesmo que inconscientemente, prioridade a uma dissertação, assim, objetivam refletir sobre algumas
ou a outra parte do material avaliativo. dessas especificidades do gênero.
Em decorrência disso, sugerimos uma terceira De acordo com o que apontam os documentos
estratégia: primeiro, ler a proposta, planejar e rascunhar oficiais do ENEM, a prova de redação requer do aluno/
a redação; segundo, partir para a resolução das questões candidato a elaboração de texto do gênero dissertação
objetivas, buscando não demorar muito em cada uma (dissertativo-argumentativo) sobre uma temática
delas (caso uma questão desperte muita dificuldade, pular específica. A dissertação, como qualquer gênero textual,
para a próxima); terceiro, voltar para a redação e finalizá- precisa ser estudada como um todo, considerando não
la através de leitura e reescrita, “passando a limpo” na só aspectos linguísticos, mas também aspectos textuais
folha de redação; quarto, voltar para as questões não e discursivos. Ocorre, muitas vezes, o estudo apenas de
realizadas (aquelas “puladas”) e preencher o cartão- questões gramaticais em detrimento aos outros aspectos,
resposta. Isso, permitiria ao aluno/candidato controlar prejudicando a qualidade textual.
o tempo dedicado a cada etapa e, o mais importante, ir
pensando sua redação ao decorrer da prova, podendo Na atividade 2, o aluno deve ler dissertações,
modificá-la. observar o posicionamento dos autores no tocante à
temática solicitada e julgar se as dissertações atenderam
Independente da estratégia empregada, uma coisa à proposta, se os argumentos utilizados foram
é certa: é preciso manter a concentração e a atenção pertinentes, e se há respeito aos diretos humanos. Por
ao tempo. A conta é a seguinte: se o tempo total é de isso, sugerimos que o aluno exponha suas conclusões
5h30min, sugerimos que se destine 60min para a redação oralmente, a fim de aprimorar seu conhecimento sobre
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CAPÍTULO II Produção Textual Socialmente Situada
aspectos do gênero e desenvolver capacidades ligadas preservar a face do autor; na modalidade escrita formal
à oralidade formal argumentada. Já as atividades 3 e 4, da Língua Portuguesa, como requerido na proposta.
sugerimos que sejam realizadas por escrito, nelas o aluno Ligando toda a redação, para que haja unidade, é
irá, a partir das dissertações lidas na atividade 2 e outros imprescindível o uso correto de conectores em prol da
exemplos, estudar a estrutura composicional do gênero argumentação e, consequentemente, da coesão textual
dissertativo, os tempos verbais, as pessoas do discurso, o (cf. ANTUNES, 2005), isto é, palavras ou expressões
contexto de produção e a variedade linguística, além de os que organizam/sequencializam o que está sendo dito
mecanismos de conexão que funcionam como operadores nas diferentes porções do texto, relacionando frases,
argumentativos. É interessante que o professor justifique, parágrafos e ideias. É importante realizar um trabalho
relacionando-os, a importância do uso correto de cada um de “análise do dito”: além de identificar os conectores e
desses aspectos. Caso seja necessário, o professor pode possíveis substitutos, mantendo o mesmo sentido, como
revisar tempos verbais, pessoas do discurso, variedade requer uma das questões da atividade 4, sugerimos que
linguística e conectores com seus alunos. se observe o uso desses conectores, as ideias que estão
Com as atividades 2, 3 e 4, o professor poderá sendo relacionadas, a pontuação empregada, o tipo de
conscientizar seu alunado de que a dissertação para o argumento presente, por exemplo. Essa análise pode se
ENEM é um texto criado em contexto avaliativo, no qual dar de várias formas, analisando os trechos impressos,
o aluno/candidato busca ser aprovado. Em linhas gerais, transcritos no quadro negro ou projetados pelo datashow,
deve ser organizada em introdução, desenvolvimento e por exemplo.
conclusão, apresentando tese (posicionamento/opinião A atividade 5 enfoca os critérios de correção e
do autor da dissertação sobre o tema dado; geralmente, avaliação. Seu objetivo é conhecer os principais pontos
presente na introdução) alicerçada em argumentos sobre a correção e a avaliação da redação do ENEM,
(proposições utilizadas para justificar, provar, dar razão, conforme o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
convencer o outro de que a tese dada é a correta; presente Educacionais Anísio Teixeira, responsável pelo exame.
no desenvolvimento) e que resulte em uma proposta
de intervenção real (possíveis soluções para a questão Aliado aos conhecimentos da proposta de produção
discutida que compõem a conclusão) que respeite os e do gênero textual está o conhecimento sobre os critérios
direitos humanos e a diversidade sociocultural. de correção e de avaliação do ENEM. Saber a forma de
correção e avaliação permite ao aluno/candidato guiar
Assim sendo, a dissertação costuma ser redigida, seu texto de acordo com os critérios estabelecidos e ao
predominantemente, no presente, trazendo o passado professor corrigir e avaliar os textos produzidos em sala
para exemplificações e o futuro para especulações e conforme os mesmos critérios, preparando melhor seus
propostas; em primeira pessoa do plural e/ou formas de alunos.
impessoalidade, como formas de envolver o leitor e de
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CAPÍTULO II Produção Textual Socialmente Situada
A atividade requer do aluno leitura atenta para mostrando-lhe seus erros e acertos. É interessante, ainda,
compreensão dos critérios de correção e avaliação, por que o professor, após trabalhar as atividades do capítulo
isso, a mediação do professor é essencial. Na primeira de Análise Linguística deste livro, incentive a reescrita
questão, é interessante que o professor leia com os alunos das dissertações produzidas.
o que dizem os trechos do edital do ENEM, pausadamente, A atividade 7, assim como a anterior, traz uma
elucidando dúvidas. Na segunda, os alunos têm um jogo proposta de produção, desta vez sobre a temática “(Des)
para verificarem seu aprendizado. Na terceira questão, Igualdade de gênero”. A zona temática trata também da
propomos que os alunos avaliem uma dissertação de mulher, contudo, o foco é diferenciado. Sugerimos que,
acordo com os critérios do ENEM. nessa produção, seja simulada a situação de produção
As atividades 6 e 7 trazem duas propostas de real do ENEM, com marcação de tempo, folha de rascunho
produção elaboradas conforme as características do e folha de redação.
ENEM. O objetivo é o aluno produzir uma dissertação nos
moldes do exame, preparando-se para a avaliação real.
Sugerimos que, antes da atividade 6, seja realizado
um trabalho com a temática “Violência doméstica
e familiar contra a mulher”. Esse trabalho pode ser
realizado de várias formas: os alunos podem pesquisar
textos e vídeos para exporem para a turma; o professor
pode selecionar textos e trazê-los para discussão em sala;
o professor pode realizar um trabalho interdisciplinar,
trazendo as outras disciplinas escolares para a discussão;
os textos abordados nos capítulos de Leitura Literária e
de Análise Linguística deste livro podem ser retomados;
entre outras. Assim, o aluno terá mais subsídio para
a escrita do texto e poderá ver a importância de um
conhecimento amplo sobre questões atuais. Ao fim
das produções, o professor pode propiciar ao aluno um
momento de avaliador do seu próprio texto ou do texto de
um colega (de acordo com a escolha do docente) e deve
propiciar ao aluno uma avaliação seguindo os critérios do
ENEM, já estudados, através da utilização de uma cópia
da ficha de avaliação presente na questão 2 da atividade,
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CAPÍTULO II Produção Textual Socialmente Situada
Dissertação 1
Sugestão de Atividades
Atividade 1:
Leia atentamente a Proposta de Redação do ENEM
2015 e uma redação, em seguida, responda ao que se
pede.
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CAPÍTULO II Produção Textual Socialmente Situada
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CAPÍTULO II Produção Textual Socialmente Situada
__________________________________________________
A proposta de redação traz geralmente três ou quatro
textos (verbais e não verbais) como apoio temático para a
construção do texto dissertativo-argumentativo.
Os textos são de origem variada, com recorrência de
textos informativos advindos do meio digital e midiático. Em
decorrência do curto tempo para a realização da produção, os
textos costumam ser fragmentos e/ou adaptações.
__________________________________________________
A proposta de redação traz, em forma topicalizada,
instruções sobre: o local para rascunho e para o texto definitivo,
quantidade de linhas, etc. Além de indicações de situações que
resultam em nota zero. Essas indicações normativas são, em
outras palavras, regras a serem seguidas à risca, por se tratar
de um exame avaliativo.
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CAPÍTULO II Produção Textual Socialmente Situada
Atividade 2:
__________________________________________________ 1. Para a produção de um texto adequado à Proposta de
O comando indica, inicialmente, a leitura dos textos Redação do ENEM, é importante conhecer exemplares
de apoio, em seguida, salienta que a redação a ser redigida de dissertação elaborados para o exame. Por isso, leia
deve levar em consideração não só as ideias presentes nesses atentamente as dissertações, a seguir, escritas a partir
textos, mas também os conhecimentos construídos em toda a
da proposta de redação do ENEM 2014.
formação escolar do aluno/candidato.
Posteriormente, temos a indicação do gênero a ser
escrito - dissertação (texto dissertativo-argumentativo), além
da modalidade da língua portuguesa a ser usada (escrita
formal), do tema e da necessidade da apresentação de uma
“proposta de intervenção” que respeite os direitos humanos.
A necessidade de uma proposta de intervenção é uma
característica da dissertação do ENEM e avalia a capacidade
do aluno/candidato em relacionar a temática com soluções
práticas para os problemas levantados.
As últimas indicações dizem respeito às operações
mentais (“selecione, organize e relacione”) que o candidato
deve realizar para a produção da dissertação coerente, coesa
e com argumentos e fatos que sustentem o ponto de vista
defendido.
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CAPÍTULO II Produção Textual Socialmente Situada
Dissertação 2 Dissertação 3
Texto de Carlos Eduardo, Rio de Janeiro. Disponível em:< http://oglobo. Texto de Dandara Luíza, Pernambuco. Disponível em:<http://g1.globo.
globo.com/sociedade/educacao/enem-e-vestibular/enem-2014-leia- com/educacao/enem/2015/noticia/2015/05/leia-redacoes-do-enem-que-
-exemplos-de-redacoes-nota-1000-15050154>. Acesso em: 30 jan. 2016. tiraram-nota-maxima-no-exame-de-2014.html>. Acesso em: 30 jan. 2016.
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CAPÍTULO II Produção Textual Socialmente Situada
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CAPÍTULO II Produção Textual Socialmente Situada
Para exercitar o planejamento e conhecer um pouco 7. Com as questões anteriores, você viu que uma
mais sobre o gênero dissertação, releia a dissertação 2, dissertação requer introdução, desenvolvimento
presente na atividade 2, e complete o esquema a seguir: e conclusão e que cada uma dessas partes tem
características próprias, mas não fixas, que as
distinguem, ou seja, há várias possibilidades para se
introduzir, desenvolver e concluir uma dissertação.
Nesta questão, você irá estudar um pouco mais sobre
isso.
a) “Como introduzir?”. A introdução deve apresentar o
tema e a tese, de forma objetiva e clara, indicando
sua linha de raciocínio e buscando atrair a atenção e
a adesão do leitor. A seguir, há algumas maneiras de
iniciar uma dissertação (coluna II) e suas respectivas
nomeações (coluna I). Leia com atenção e associe
as duas colunas.
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CAPÍTULO II Produção Textual Socialmente Situada
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CAPÍTULO II Produção Textual Socialmente Situada
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CAPÍTULO II Produção Textual Socialmente Situada
Coluna I Coluna II 8. Trinta linhas pode até parecer muito para alguns,
I. (__) Consiste em fazer uma conclusão que mas quando se pensa em introduzir, desenvolver
decorra de todo o raciocínio desenvolvido ao e concluir um tema complexo, defendendo uma
longo da redação. Essa forma de encerramento, tese, apresentando argumentos bem elaborados e
em geral, utiliza conjunções conclusivas, como
consistentes e uma proposta de intervenção, vemos que
por exemplo: logo, portanto, então, assim, por
isso, por conseguinte, de modo que, em vista trinta linhas pode ser pouco. Por isso, é imprescindível
disso, entre outras. Exemplo: A leitura, portanto, pensar na organização das informações, das partes
é fundamental para a vida plena na sociedade, composicionais da dissertação, nessas trinta linhas.
devendo ser motivada [...].
II. (__) Consiste em sumarizar as ideias que foram
Com base nas informações adquiridas nas questões
abordadas ao longo da dissertação, confirmando anteriores, demarque na “folha de redação” quantas
a tese que normalmente aparece na introdução linhas aproximadamente deve ocupar cada parte
do texto. Exemplo: Como apresentado, o composicional da dissertação: introdução (tema + tese),
1. Dedução trabalho infantil é um mal da humanidade que
2. Síntese ceifa infâncias e extingui futuros [...].
desenvolvimento (dois ou três argumentos) e conclusão
3. Questionamento (proposta de intervenção).
4. Citação
III. (__) Consiste em trazer trecho de texto de um
autor considerado importante na abordagem
do tema, que sintetize o que apresentado na
dissertação. Exemplo: Como já bem disse Paulo
Freire “a leitura do mundo precede a leitura da
palavra”, ou seja, a leitura precisa ir além da
alfabetização [...].
IV. (__) Consiste em apresentar uma indagação
resultante das discussões apresentadas no
texto que busca levar o leitor a reflexão final.
Exemplo: E o que temos a ver com isso? A falta
de apoio aos imigrantes pode causar além de
danos econômicos, mais uma mancha dolorosa
na história [...].
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CAPÍTULO II Produção Textual Socialmente Situada
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CAPÍTULO II Produção Textual Socialmente Situada
2. Leia os trechos de dissertações do ENEM do anos de condição de parentesco essa que desencoraja a vítima a
2015, 2014 e 2013, apresentados abaixo, identifique prestar queixas, visto que há um vínculo institucional e
os conectivos neles presentes, suas funções e indique afetivo que ela teme romper.
conectivos que poderiam substituí-los mantendo a Outrossim, é válido salientar que a violência de
mesma relação de sentido, use o que você aprendeu gênero está presente em todas as camadas sociais,
na questão anterior como apoio. camuflada em pequenos hábitos cotidianos. Ela se revela
a) Tema 2015: A persistência da violência contra a não apenas na brutalidade dos assassinatos, mas também
mulher na sociedade brasileira. nos atos de misoginia e ridicularização da figura feminina
Dissertação: Sem título em ditos populares, piadas ou músicas. Essa é a opressão
Candidata: Izadora Peter Furtado simbólica da qual trata o sociólogo Pierre Bordieu: a
violação aos Direitos Humanos não consiste somente
Conforme previsto pela Constituição Brasileira, no embate físico, o desrespeito está –sobretudo– na
todos são iguais perante à lei, independente de cor, perpetuação de preconceitos que atentam contra a
raça ou gênero, sendo a isonomia salarial, aquela que dignidade da pessoa humana ou de um grupo social.
prevê mesmo salário para os que desempenham mesma
c) Tema 2014: Publicidade infantil em questão no
função, também garantida por lei. No entanto, o que se
Brasil.
observa em diversas partes do país, é a gritante diferença
Dissertação: Sem título
entre os salários de homens e mulheres, principalmente
Candidato: Juan Costa da Costa
se estas foram negras. Esse fato causa extrema decepção
e constrangimento a elas, as quais sentem-se inseguras e Um aspecto a ser considerado remete à evolução
sem ter a quem recorrer. Desse modo, medidas fazem-se tecnológica vivenciada nas últimas décadas. Os carrinhos
necessárias para solucionar a problemática. e bonecas deram lugar aos “smartphones”, videogames e
outros aparatos que revolucionaram a infância das atuais
b) Tema 2015: A persistência da violência contra a gerações. Logo, tornou-se essencial a produção de um
mulher na sociedade brasileira. marketing voltado especialmente para esse consumidor
Dissertação: Violação à dignidade feminina mirim – objetivando cativá-lo por meio de músicas,
Candidata: Cecília Maria Lima Leite personagens e outras estratégias persuasivas. Tal fator é
Com efeito, ao longo das últimas décadas, corroborado com a criação de programas e até mesmo
a participação feminina ganhou destaque nas canais voltados para crianças (como Disney, Cartoon
representações políticas e no mercado de trabalho. As Network e Discovery Kids), expandindo o conceito de
relações na vida privada, contudo, ainda obedecem a Indústria Cultural (defendido por filósofos como Theodor
uma lógica sexista em algumas famílias. Nesse contexto, Adorno) – o qual aborda o uso dos meios de comunicação
a agressão parte de um pai, irmão, marido ou filho; de massa com fins propagandísticos.
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CAPÍTULO II Produção Textual Socialmente Situada
d) Tema 2014: Publicidade infantil em questão no Diante disso, a maneira de pensar e de agir em
Brasil. relação a essa famigerada dupla – bebida e direção – é
Dissertação: Sem título modificada a partir da conscientização. Na noite das
Candidata: Rosely Costa Sousa principais cidades do país, é cada vez mais comum a
Sabe-se que a educação, tanto nas escolas quanto presença de cooperativas de taxistas unidos aos bares e às
no lar, é a melhor opção para se chegar a um objetivo casas noturnas para melhor atender os frequentadores.
promissor, além de promover o desenvolvimento Por sua vez, a cidade de Porto Alegre já dispõe de uma
integral da criança, porém tal fato tem sofrido mudanças linha de ônibus exclusiva durante a madrugada para
ultimamente decorrentes do avanço tecnológico e de facilitar o deslocamento dos moradores que saem para a
inovações ideológicas quanto à forma de aprimorar e balada. Assim, comprova-se a importância de a Lei Seca
preparar a criança, desde o nascimento, para receber as estar associada a alternativas para a mobilidade.
informações que há no mundo exterior. Diante disso, as f) Tema 2013: Efeitos da implantação da Lei Seca no
escolas e os pais devem preocupar-se em desenvolver na Brasil
criança, o seu lado consumidor, através de situações do Dissertação: Sem título
dia a dia, auxiliando-a e orientando-a a se tornar um bom Candidato: Matheus da Silva Lins
consumidor, sendo necessário e importante para se obter A venda de automóveis é estimulada pelo governo
uma aprendizagem significativa da sua realidade. por meio da redução de vários impostos acarretando
e) Tema 2013: Efeitos da implantação da Lei Seca no assim em grandes vendas. Hoje a frota de veículos no Brasil
Brasil. chaga a 76,8 milhões, ou seja, é quase um automóvel para
Dissertação: Sem título cada três pessoas. Junto com este estímulo do governo
Candidato: Marcello José Ferreira Silva para aumentar as vendas, vem a falta de mobilidade
De acordo com a pesquisa de uma universidade urbana e a não consciência da maioria dos motoristas
americana, o consumo de uma lata de cerveja é suficiente sobre os efeitos do álcool.
para reduzir a atenção e a autonomia do sistema motor 3. Volte às redações 1, 2, 3 e 4 e responda:
do indivíduo. Dessa forma, os acidentes no trânsito se a) Identifique os conectivos presentes nas redações.
multiplicam e cessam muitas vidas. Com a lei de tolerância Em seguida, cite outros conectivos que possuem as
zero para o motorista alcoolizado, o número de infrações mesmas funções, podendo substituí-los mantendo
começa a diminuir. Logo, os brasileiros se tornam o mesmo sentido.
personagens principais no processo de multiplicação da
paz ao volante. b) Olhe agora para os argumentos. Quais formas de
argumentos estão sendo relacionados por cada
conectivo?
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CAPÍTULO II Produção Textual Socialmente Situada
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CAPÍTULO II Produção Textual Socialmente Situada
Trecho 2: Competências
MATRIZES DE REFERÊNCIA PARA REDAÇÃO II. Compreender a proposta de redação
e aplicar conceitos das várias áreas de
Baseada nas cinco competências das Matrizes conhecimentopara desenvolver o tema, dentro
de Referência para Redação, a proposta da Redação dos limites estruturais do texto dissertativo-
do ENEM é elaborada de forma a possibilitar que os argumentativo em prosa.
participantes, a partir de uma situação-problema e de [A competência II não tem nível 0, uma vez
subsídios oferecidos, realizem uma reflexão escrita sobre Nível 0 que corresponde às situações de “Fuga ao tema” e
um tema de ordem política, social ou cultural, produzindo 0 pontos “Não atendimento ao tipo textual”, ou seja, nesses
um texto dissertativo-argumentativo em prosa. casos tem-se nota 0.]
Apresenta o assunto, tangenciando o
Competências
Nível 1 tema ou demonstra domínio precário do texto
I. Demonstrar domínio da modalidade escrita 40 pontos dissertativo-argumentativo, com traços constantes
formal da língua portuguesa. de outros tipos textuais.
Nível 0 Demonstra desconhecimento da modalidade Desenvolve o tema recorrendo à cópia de
0 pontos escrita formal da língua portuguesa. trechos dos textos motivadores ou apresenta
Nível 2
Demonstra domínio precário da modalidade escrita 80 pontos
domínio insuficiente do texto dissertativo-
Nível 1 formal da língua portuguesa, de forma sistemática, com argumentativo, não atendendo à estrutura com
40 pontos diversificados e frequentes desvios gramaticais, de proposição, argumentação e conclusão.
escolha de registro e de convenções da escrita. Desenvolve o tema por meio de
Demonstra domínio insuficiente da modalidade Nível 3 argumentação previsível e apresenta domínio
Nível 2 escrita formal da língua portuguesa, com muitos desvios 120 pontos mediano do texto dissertativo-argumentativo, com
80 pontos gramaticais, de escolha de registro e de convenções da proposição, argumentação e conclusão.
escrita. Desenvolve o tema por meio de
Demonstra domínio mediano da modalidade Nível 4 argumentação consistente e apresenta bom
Nível 3 escrita formal da língua portuguesa e de escolha de 160 pontos domínio do texto dissertativo-argumentativo, com
120 pontos registro, com alguns desvios gramaticais e de convenções proposição, argumentação e conclusão.
da escrita. Desenvolve o tema por meio de argumenta-
Demonstra bom domínio da modalidade escrita Nível 5 ção consistente, a partir de um repertório sociocul-
Nível 4 200 pontos tural produtivo e apresenta excelente domínio do
160 pontos
formal da língua portuguesa e de escolha de registro, com
poucos desvios gramaticais e de convenções da escrita. texto dissertativo-argumentativo.
Demonstra excelente domínio da modalidade
escrita formal da língua portuguesa e de escolha de
Nível 5
200 pontos
registro. Desvios gramaticais ou de convenções da escrita
serão aceitos somente como excepcionalidade e quando
não caracterizem reincidência.
110 111
CAPÍTULO II Produção Textual Socialmente Situada
Competências Competências
III. Selecionar, relacionar, organizar e IV. Demonstrar conhecimento dos
interpretar informações, fatos, opiniões e mecanismos linguísticos necessários para a
argumentos em defesa de um ponto de vista. construção da argumentação.
Apresenta informações, fatos e opiniões não Nível 0
Não articula as informações.
Nível 0 0 pontos
0 pontos
relacionados ao tema e sem defesa de um ponto
de vista. Nível 1
40 pontos
Articula as partes do texto de forma precária.
Apresenta informações, fatos e opiniões
Nível 1 Articula as partes do texto, de forma
40 pontos
pouco relacionados ao tema ou incoerentes e sem Nível 2
defesa de um ponto de vista. 80 pontos
insuficiente, com muitas inadequações e apresenta
repertório limitado de recursos coesivos.
Apresenta informações, fatos e opiniões
relacionados ao tema, mas desorganizados ou Articula as partes do texto, de forma mediana,
Nível 2 Nível 3
contraditórios e limitados aos argumentos dos 120 pontos
com inadequações, e apresenta repertório pouco
80 pontos
textos motivadores, em defesa de um ponto de diversificado de recursos coesivos.
vista. Articula as partes do texto com poucas
Nível 4
Apresenta informações, fatos e opiniões 160 pontos
inadequações e apresenta repertório diversificado
Nível 3 relacionados ao tema, limitados aos argumentos de recursos coesivos.
120 pontos dos textos motivadores e pouco organizados, em Nível 5 Articula bem as partes do texto e apresenta
defesa de um ponto de vista. 200 pontos repertório diversificado de recursos coesivos.
Apresenta informações, fatos e opiniões
Nível 4 relacionados ao tema, de forma organizada, com
160 pontos indícios de autoria, em defesa de um ponto de
vista.
Apresenta informações, fatos e opiniões
Nível 5 relacionados ao tema proposto, de forma
200 pontos consistente e organizada, configurando autoria,
em defesa de um ponto de vista.
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CAPÍTULO II Produção Textual Socialmente Situada
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CAPÍTULO II Produção Textual Socialmente Situada
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CAPÍTULO II Produção Textual Socialmente Situada
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CAPÍTULO II Produção Textual Socialmente Situada
3. Como foi visto, o ENEM tem critérios bem específicos de a) Dividam-se em cinco grupos. Cada grupo deverá
avaliação, com competências e níveis de conhecimento explicar uma das competências e as especificidades
associados. Esses critérios podem ser organizados da de cada nível. Volte à questão 1, desta atividade,
seguinte maneira: para leitura dos trechos se necessário.
120 121
CAPÍTULO II Produção Textual Socialmente Situada
TEXTOS MOTIVADORES
TEXTO I
Porém igualmente
É uma santa. Diziam os vizinhos. E D. Eulália apanhando.
É um anjo. Diziam os vizinhos E D. Eulália sangrando.
Porém igualmente se supreenderam na noite em que,
mais bêbado que de costume, o marido, depois de surrá-la,
jogou-a pela janela, e D. Eulália rompeu em asas o vôo de sua
trajetória.
COLASANTI, Maria. Porém igualmente. In: Contos de amor
rasgados. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
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CAPÍTULO II Produção Textual Socialmente Situada
PROPOSTA DE REDAÇÃO
A partir da leitura dos textos motivadores e com base
nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação,
redija texto dissertativo-argumentativo em modalidade escrita
formal da lingua portuguesa sobre o tema “Violência domástica
e familiar contra a mulhaer”, apresentando proposta de
intervenção que respeite os direitos humanos. Selecione,
organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e
fatos para defesa de seu ponto de vista.
124 125
CAPÍTULO II Produção Textual Socialmente Situada
2. De acordo com os critérios de correção e avaliação NÍVEIS (DE 0 À 5) E PONTUAÇÃO (DE 0 À 200)
do ENEM presentes no quadro a seguir, avalie a sua Nível 0 Nível
COMPETÊNCIAS Nível Nível Nível
dissertação produzida na questão anterior ou, em Muito
1 2 3
4 Nível 5
baixo/ Muito Excelente
duplas, troque sua redação com um colega e avalie-a. Ausente
Baixo Mediano Bom
Bom
Por fim, redija um comentário sobre o texto avaliado V. Elaborar proposta
contendo os pontos positivos e negativos (aqueles que de intervenção para o
precisam ser melhorados). problema abordado, 0 40 80 120 160 200
respeitando os direitos
NÍVEIS (DE 0 À 5) E PONTUAÇÃO (DE 0 À 200) humanos.
Nível 0 Nível Nota: _____________
COMPETÊNCIAS Nível Nível Nível Comentário sobre a dissertação:
Muito 4 Nível 5
1 2 3
baixo/ Muito Excelente
Baixo Mediano Bom
Ausente Bom
I. Demonstrar domínio
da modalidade escrita
0 40 80 120 160 200
formal da língua
portuguesa
II. Compreender a
proposta de redação
e aplicar conceitos
das várias áreas de
conhecimentopara
desenvolver o tema, --- 40 80 120 160 200
dentro dos limites
estruturais do
texto dissertativo-
argumentativo em
prosa.
III. Selecionar,
relacionar, organizar e
interpretar informações,
0 40 80 120 160 200
fatos, opiniões e
argumentos em defesa
de um ponto de vista.
IV. Demonstrar
conhecimento dos
mecanismos linguísticos
0 40 80 120 160 200
necessários para
a construção da
argumentação.
126 127
CAPÍTULO II Produção Textual Socialmente Situada
128 129
CAPÍTULO II Produção Textual Socialmente Situada
130 131
CAPÍTULO II Produção Textual Socialmente Situada
132 133
CAPÍTULO II
Sugestões metodológicas
globo. 14 jan. 2015. Disponível em: <http://oglobo.globo.com/
sociedade/educacao/enem-e-vestibular/enem-2014-leia-exemplos-
de-redacoes-nota-1000-15050154>. Acesso em: 30 jan. 2016.
134
Análise Linguística em Função da Leitura: Sugestões
Metodológicas [1]
Situando o conceito
O objetivo deste capítulo é apresentar o conceito
análise linguística (AL) a partir de uma revisão sistemática
dos vários autores que trataram do tema, desvelando
uma metodologia para o seu ensino associado ao ensino
de leitura. Para isso, está organizado em três partes.
Nesta primeira, fazemos a revisão teórica; na segunda,
expomos os princípios fundamentais da metodologia; na
terceira exemplificamos os princípios fundamentais com
a apresentação de sugestões de atividade.
O conceito de análise linguística (AL) não é novo
no campo de ensino de língua portuguesa. Um marco de
sua divulgação é a publicação em 1984 do livro O texto
na sala de aula, organizado por João Wanderley Geraldi.
Nesse livro, o organizador é também o autor de um
capítulo seminal intitulado Unidades Básicas do Ensino
de Português, no qual são apresentadas três práticas de
ensino, a saber: prática de leitura, de produção e textos e
de análise linguística.
Tal como apresentadas, as três práticas são
inovadoras e dessas nos interessa, neste capítulo, a
terceira que está definida de modo sumário nas notas de
rodapé 5 e 6 da referência citada da seguinte forma:
a AL inclui tanto o trabalho sobre as ques-
tões tradicionais da gramática quanto
137
CAPÍTULO III Análise Linguística em Função da Leitura: Sugestões
Metodológicas
questões amplas a propósito do texto. [...] e de ensino de língua materna. As críticas a um ensino
Essencialmente a prática de AL não poderá de gramática desconectado dos usos da linguagem
limitar-se à higienização do texto do aluno
em seus aspectos gramaticais e ortográfi- aparecem nos trabalhos desse autor ([1991] 2006), bem
cos, limitando-se à correções. [...] Chamo como a proposição de que as atividades sobre a língua
atenção para os aspectos sistemáticos da são de três naturezas, a saber: atividades linguísticas,
língua e não para a terminologia gramatical epilinguísticas e metalinguísticas (op. cit, 95). Essa crítica
com que a denominamos. O objetivo não
é o aluno dominar a terminologia (embora de Franchi juntava-se, à época, a toda uma crítica sobre
possa usá-la), mas compreender o fenôme- a escola brasileira que mantinha práticas de ensino que
no em estudo. (abreviação nossa). (GERAL- não cumpriam o papel de incluir as novas classes sociais
DI, [1894] 1997. p. 74). na escola, críticas estas que iam muito além do ensino
Como se pode observar, a definição aponta para de língua propriamente dito (cf. CECCON et al, 1984;
uma proposta de ensino dos aspectos gramaticais e SOARES, 1986; FREIRE, 1987).
textuais a partir da reflexão e do entendimento do Cabe esclarecer, com base em Bezerra e Reinaldo
funcionamento da língua, tendo como base os textos dos (2013, p. 13), que, no campo dos estudos linguísticos,
alunos. Essa proposta desconstrói a importância antes no Brasil, desde a década de 70 do século passado, a
dada à memorização da nomenclatura e de conceitos expressão análise linguística aparece em concorrência
como sinônimo do ensino de português e à redação como com a expressão descrição linguística, cuja perspectiva é
ensino de escrita. Assim, para a AL, o objeto de estudo de descrição da estrutura e funcionamento das línguas,
é o texto/enunciado produzido pelos alunos, e não mais em oposição à perspectiva de prescrição que caracteriza
a frase; filia-se academicamente, portanto, aos estudos os estudos gramaticais. Assim, do ponto de vista teórico,
da Linguística Textual e da Semântica Enunciativa, que na faz-se análise linguística a partir de variadas concepções
década de 80 do século XX capitanearam uma revolução teóricas, como mostram as autoras.
no campo dos estudos linguísticos no Brasil[2].
Com a guinada dos estudos linguísticos para a
Todavia, não podemos creditar somente a Geraldi pesquisa sobre o texto, como unidade linguística básica,
a autoria dessa proposta. É preciso lembrar que os a partir da disseminação do enquadre teórico citado
trabalhos de Franchi ([1987] 2006), publicados na década anteriormente, as críticas ao ensino da norma linguística
de 80 do século passado, foram o ponto inicial de toda passaram a ficar ainda mais consistentes. Assim sendo, a
uma reflexão sobre processos de descrição linguística AL passou a ser não apenas um conceito, mas, sobretudo,
2 - - Para acompanhar o percurso teórico-metodológico e acadêmico de uma perspectiva metodológica de ensino relativa aos
J. Wanderley Geraldi, leia GERALDI, J. W. Por que práticas de produção aspectos funcionais e estruturais da língua. Do ponto
de textos, de leitura e de análise linguística? In.: SILVA, L. L. M. et al. de vista conceitual, diz respeito ao trabalho de análise
(Orgs) O texto na sala de aula: um clássico sobre o ensino de Língua
Portuguesa. São Paulo: Autores Associados, 2014. p. 207 - 222 do funcionamento da língua, concebendo-a como ação
138 139
CAPÍTULO III Análise Linguística em Função da Leitura: Sugestões
Metodológicas
entre interlocutores socialmente situados. Do ponto repensar o conceito de análise linguística. Na obra Portos
de vista metodológico, diz respeito a uma proposta de de Passagem, publicada em 1991, esse autor retoma o
ensino dos aspectos estruturais da língua que parte da tema afirmando que a análise linguística só pode ser
reflexão sobre usos socialmente situados em textos para realizada no âmbito de atividades interativas, como a
chegar a construir uma descrição de funcionamento. produção de texto e a leitura (1991, p. 189). E define essa
Como dissemos, a memória do ensino de atividade da seguinte forma:
língua portuguesa relaciona a Geraldi a autoria dessa com a expressão ‘análise linguística’ pre-
propositura teórico-metodológica, em face da publicação tendo referir precisamente este conjunto
de atividades que tomam uma das carac-
do livro já citado, que é também um marco para uma terísticas da linguagem como seu objeto
metodologia do ensino de leitura e de produção textual de estudo: o fato de ela poder remeter a
(cf. SILVA; FERREIRA; MORATTI, 2014). A prática de si própria, ou seja, com a linguagem não só
análise linguística, tal como aparece na obra de 1984, falamos sobre mundo ou sobre nossa re-
lação com as coisas, mas também falamos
articula simultaneamente dois eixos do ensino de língua sobre como falamos.
materna, de um lado o eixo do estudo sobre a língua, ou
do conhecimento linguístico, como denominam alguns, Mais adiante, no mesmo texto, tal como Franchi
que abandonava a vertente normativa, e, de outro, o ([1987] 2006), esse autor distingue com base no critério
eixo do ensino de escrita, pois, a proposta toma o texto de reflexividade, dois subconjuntos de atividades a serem
de aluno como ponto de partida. Operava-se, assim, a realizadas em sala de aula com a língua. O primeiro
substituição do conceito de redação, pelo de produção, subconjunto é o das atividades epilinguísticas, cuja
pois o foco na correção deslocava-se da higienização do reflexão está voltada para os usos situados da linguagem,
texto (JESUS, 1997; SERCUNDES, 1997) para a prática ou seja, a reflexão focaliza as escolhas linguísticas e
de análise linguística com base na reescritura, coletiva seus efeitos de sentido. Já o segundo conjunto, o das
e individual. O autor sugeria como material didático atividades metalinguísticas, volta-se para a reflexão
essencial para isso o Caderno de Redação do aluno, que analítica sobre os recursos expressivos que levam à
seria não apenas o repositório das produções textuais, construção de noções (metalinguagem) com as quais se
mas uma coletânea de textos, (re)escritos a partir da torna possível categorizar tais recursos (GERALDI, 1991,
reflexão sobre os aspectos linguísticos (cf. GERALDI, p. 190-191), ou seja, volta-se para a categorização das
[1984] 1997, p. 74). A propositura inicial aponta que estruturas linguísticas e dos efeitos de sentido.
devem ser tratados na reescrita problemas relacionados Assim, vemos que, para esse autor, conceito e
à estrutura textual, à ordem sintática, morfológica, metodologia tornam-se dois lados de uma mesma
fonológica e estilística (Ibidem, notas de rodapé 5 e 6). moeda e só por questões didáticas são separados. Todo
A continuação dos trabalhos levou Geraldi a o trabalho didático tem início com o conceito de língua
140 141
CAPÍTULO III Análise Linguística em Função da Leitura: Sugestões
Metodológicas
adotado[3] – interação –, prossegue com a apreciação de Gramatical Brasileira, ensinando-a de modo situado, a
atividades linguísticas reais e não especialmente criadas partir de usos da linguagem.
para exemplificar um dado conceito, e, por fim, avança O segundo aspecto diz respeito à formulação de um
para a análise dos aspectos epilinguísticos para culminar currículo, pois o autor entendia que a AL deslocava um
com os metalinguísticos. currículo consagrado historicamente e o lugar que ficara
Com essa proposta, o autor dialogava não apenas vazio precisava ser preenchido. Se o ponto de partida
com os estudos linguísticos, mas com toda uma tradição eram os usos e não mais a nomenclatura, como ordenar
de formação docente baseada na autonomia[4] do um currículo? A resposta a essa pergunta dada pelo autor
professor para construir currículos localmente situados a é a seguinte:
partir das experiências e necessidades dos alunos (FREIRE, é impossível prever todas as atividades
1987; ERICKSON, 1987; MORAES, 1997; APARÍCIO, 2014). de análise linguística que podem ocorrer
numa sala de aula. ...[é possível] distinguir
Sabendo das dificuldades da ação docente em função das atividades levando em conta uma certa ca-
condições de trabalho, o próprio autor alertava para dois tegorização de problemas que, emergindo
aspectos fundamentais na execução da proposta. em textos dos alunos, poderiam orientar
as reflexões possíveis, comparando os re-
O primeiro deles diz respeito ao fato de que, naquela cursos expressivos usados pelos alunos e
época, não propugnava por um abandono da gramática. os recursos expressivos mais próprios da
Essa observação é redigida nos seguintes termos: “não assim chamada língua culta. (1991,p. 193).
estou banindo das salas de aula as gramáticas (tradicionais Dessa definição, destacamos o fato de o texto
ou não), mas considerando-as fontes de procura de do aluno ser o ponto articulador de toda a proposta
outras reflexões sobre as questões que nos ocupam nas apresentada. Parte-se do texto do aluno, estudam-se os
atividades epilinguísticas.” (GERALDI, 1991, p. 191). Ou aspectos epi e metalinguísticos e volta-se para o texto do
seja, os compêndios gramaticais passavam a ter uma aluno, a fim de que, empoderado pelo conhecimento das
nova função, que era a de serem livros de pesquisa com formas linguísticas prestigiadas pela variedade padrão,
uma dada descrição sobre a língua. Tanto este autor como possa usá-las a seu favor. Nesse sentido, a proposta de
vários outros que defendem essa proposição conceitual e sistematização curricular avança dos aspectos estruturais
metodológica para o ensino de língua (TRAVAGLIA, 2004; da composição textual para os aspectos das operações
MENDONÇA, 2006; KLEIMAN; SEPULVEDA, 2012) não discursivas, definidas como operações interlocutivas.
propõem a invenção de uma terminologia gramatical nova.
Pelo contrário, adotam a nomenclatura da Nomenclatura
3 - - Veja nota 2.
4 - - Veja referência citada em 2, especificamente a página 272 sobre a
aposta na autonomia do professor.
142 143
CAPÍTULO III Análise Linguística em Função da Leitura: Sugestões
Metodológicas
Essa proposta encontrou eco[5] em muitos outros sobre o que podemos chamar de as múltiplas camadas
autores que se voltaram para pesquisas aplicadas e da língua (estrutural, textual, discursiva, pragmática).
mesmo para o estudo do conceito, como a obra de Quanto ao segundo, podemos parafraseá-lo afirmando
Bezerra e Reinaldo (2013), já citada. Dentre os inúmeros que essa reflexão tem uma função, qual seja a de
autores[6] destacamos a contribuição de Mendonça (2006, desenvolver as habilidades de recepção/produção textual
p. 208) para a construção do conceito de AL. Segundo e de análise dos fenômenos linguísticos. Em outras
essa autora: palavras, o segundo critério diz respeito ao fato de que
a AL é parte das práticas de letramento es- o trabalho com a AL deve ser feito sistematicamente,
colar, consistindo numa reflexão explícita e repetidamente, para atingir aos objetivos pretendidos
sistemática sobre a constituição e o funcio- com a proposta metodológica em tela, qual seja o de levar
namento da linguagem nas dimensões sis-
têmicas (ou gramatical), textual, discursiva o aluno/usuário da língua a entender o funcionamento da
e também normativa, com o objetivo de língua e fazer escolhas[7] tão conscientes quanto possível
construir para o desenvolvimento de habi- na composição/revisão de textos orais/escritos.
lidades de leitura e de escuta, de produção
de textos orais e escritos e de análise e sis- A propositura dessa autora amplia significativamente
tematização dos fenômenos linguísticos. a de Geraldi, pois, de acordo com ela o
A contribuição dessa autora nos leva a perceber trabalho de AL é reflexão recorrente e sis-
temática, voltada para a produção de sen-
AL como central num currículo situado, tanto no que tidos e/ou para a compreensão mais ampla
diz respeito aos alunos e suas experiências culturais, dos usos e do sistema linguísticos, com o
partindo das que conhecem para as que não conhecem, fim de contribuir para a formação de lei-
como situado no sentido que é indispensável ao ensino tores-escritores de gêneros diversos, aptos
de língua associar a AL às práticas de letramento (leitura, a participarem de eventos de letramento
com autonomia e eficiência. (MENDONÇA,
escrita e oralidade). Ademais, o conceito de Mendonça 2006, p. 208).
nos leva a entender que a reflexão sobre a língua deve
obedecer a dois critérios – (1) ser explícita e (2) ser Em conversa com essa autora[8] sobre esse trecho,
sistemática, recorrente. Quanto ao primeiro, podemos ela confirmou a ideia de que tínhamos desde a leitura
parafraseá-lo dizendo que é uma reflexão que se faz da proposta de Geraldi: ter o texto do aluno como ponto
5 - - O mesmo ocorreu com propostas estaduais de ensino, a partir
de partida é apenas uma das possibilidades de processo
da década de 80; tome-se como exemplo a do estado de São Paulo metodológico de AL, pois se o ponto de partida e o de
e posteriormente os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua chegada forem o mesmo – o texto do aluno – perdemos
Portuguesa de 3º e 4º ciclos do ensino fundamental
6 - - Ver exaustivo levantamento na dissertação de Souza, I. G. S. 7 - - Ou a avaliar essas escolhas quando se tratar da leitura de textos de
(2015) Do advento à proposta: a didatização da análise linguística terceiros.
em documentos parametrizadores do ensino médio. Elaborada no 8 - - Diálogo mantido durante a qualificação de Isabelle Guedes da Silva
Programa de Pós-graduação em Linguagem e Ensino, UFCG Souza, em 27 de maio de 2015.
144 145
CAPÍTULO III Análise Linguística em Função da Leitura: Sugestões
Metodológicas
de vista o trabalho com o patrimônio linguístico elaborado A observação acima indica que houve progressiva
sincrônica e diacronicamente que só é possível de ser ampliação do conceito de AL e que, a partir da contribuição
apreendido a partir da leitura. Assim, ter como ponto de de outros autores, passou, na década de 2000-10, a
partida os exemplos dos textos dos alunos é reforçar a significar mais especificamente o trabalho sistemático e
ideia de ter essas produções como objeto de correção e reflexivo sobre os usos da linguagem. Essa especificidade
começar por onde devemos terminar. Ter como ponto de se deu, em parte, graças a divulgação das teorias sobre
partida a análise de textos de diferentes gêneros, bem gêneros textuais que passaram a subsidiar de modo mais
escritos e que cumprem determinados papeis sociais, consistente o ensino de leitura e de escrita.
é igualmente válido. E esse é o ponto de partida que Podemos assumir que o conceito de AL, inicialmente
defendemos. Esse é também o ponto de partida de apresentado por Franchi, desenvolvido e divulgado por
alguns livros didáticos que fazem uma abordagem da AL Geraldi, bem como investigado e ampliado por inúmeros
a serviço da leitura, isto é, a serviço da compreensão do pesquisadores, representa uma verdadeira revolução no
funcionamento de um dado gênero ou texto. que diz respeito ao ensino de Língua Portuguesa, dado
que o trabalho com a AL se estende aos demais eixos de
A contribuição de Geraldi sobre AL não estava
ensino. De acordo com Geraldi, em entrevista concedida
acabada na primeira obra. Ao contrário. As sucessivas
a Paula (2014, p. 201), os pesquisadores que trabalharam
publicações de O texto na sala de aula[9], bem como
com esse conceito e essa proposta, e particularmente ele,
as obras subsequentes- Portos de Passagem (1991),
foram pioneiros: “fomos os primeiros a levar para dentro
Linguagem e Ensino (1996) e Aula como Acontecimento
da sala de aula a perspectiva enunciativa e nela sustentar
(2010) - levaram a uma lapidação do conceito e da
um modo de ensinar a língua materna de forma coerente
metodologia de ensino. Conforme apontam Bezerra e
em todos os seus aspectos, incluindo a gramática.”
Reinaldo (2013, p. 67), observando a contribuição de
Geraldi, Assim sendo, parece-nos natural que esse conceito
tenha saído do âmbito acadêmico para o âmbito político,
o conceito de AL evolui de uma reflexão
focada na correção e reescrita do texto do no sentido de ter sido incorporado aos documentos
aluno (anos 80) para uma reflexão focada parametrizadores do ensino, produzidos na década de
na correção, reescrita e produção de texto 90 do século XX, tal como apareceu nos Parâmetros
(anos 90) e na correção, reescrita do texto Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997, 1998) de terceiro
do aluno, na leitura e produção de textos,
orientadas por teorias de gênero, e nos
e quarto ciclos de ensino fundamental[10]. O próprio
próprios recursos da língua (anos 2000). Geraldo afirma:
ter presente um conjunto tão heteróclito
de abordagens que então apenas come-
9 - - Aparício (2006) indica que na segunda edição do livro Geraldi
acrescentou uma nota de rodapé a fim de esclarecer para seus leitores 10-� - Estes ciclos correspondem hoje ao 4º e 5º anos do Ensino
o que vem a ser a prática de AL. É a nota 6 a que no referimos antes. Fundamental I e ao 6º a 9º anos Ensino Fundamental II.
146 147
CAPÍTULO III Análise Linguística em Função da Leitura: Sugestões
Metodológicas
çavam a se firmar no mundo da pesquisa dos relacionados às dimensões pragmática
para iluminar procedimentos de ensino- e semântica da linguagem, que por serem
-aprendizagem na escola era um risco e inerentes à própria atividade discursiva,
dificilmente seria assumido, não fosse o precisam, na escola, ser tratados de manei-
ambiente político que começava a permitir ra articulada e simultânea no desenvolvi-
respirar e que demandava das universida- mentodas práticas de produção e recepção
des respostas outras às questões sociais, de textos. (1998, p. 78)
incluída a questão da educação escolar.
Como podemos observar, essa definição já inclui a
No volume do PCN destinado ao terceiro e quarto revisão feita por Geraldi no texto de 1991, em relação ao
ciclos do ensino fundamental[11], a AL é apresentada nos de 1984, e avança um pouco na direção do que propôs
seguintes termos, na seção Prática de Análise Linguística Mendonça (2006). Primeiro, assume-se a AL como um
(1998, p. 78): dos eixos do ensino de Língua Portuguesa, ao lado dos
eixos de leitura/recepção e de produção de textos orais e
além da escuta, leitura e produção de escritos. Depois, assume-se que a prática de AL realiza-se
textos, parece ser necessária a realização por meio das atividades epi e metalinguísticas, tal como
tanto de atividades epilinguísticas, que
envolvam manifestações de um trabalho
propostas por Geraldi (1984, 1991), embora nenhuma
sobre a língua e suas propriedades, como referência se faça a esse autor ou a seus textos. Terceiro,
de atividades metalinguísticas, que en- assume-se como de fundamental importância para o
volvam o trabalho de observação, descri- desenvolvimento global do aluno a reflexão sobre fatos
ção e categorização, por meio do qual se da língua. E, por fim, apresenta-se uma definição indireta
constroem explicações para os fenômenos para AL, afirmando que não é uma nova denominação
linguísticos característicos das práticas
discursivas. Por outro lado, não se podem
para o ensino de gramática, mas sim um procedimento
desprezar as possibilidades que a reflexão de ensino sobre a língua que toma o texto como objeto
linguística apresenta para o desenvolvi- de estudo. Em nossa opinião, essa definição é de
mento dos processos mentais do sujeito, fundamental importância, a fim de que se entenda o
por meio da capacidade de formular expli- trabalho feito a partir do raciocínio indutivo sobre os
cações para explicitar as regularidades dos fatos da língua para se chegar a definição/descrição de
dados que se observam a partir do conhe-
cimento gramatical implícito.
dados elementos linguísticos, utilizando-se para isso da
Entretanto, a prática de análise linguís- nomenclatura gramatical brasileira.
tica não é uma nova denominação para A difusão do conceito de AL em larga escala deve-
ensino de gramática. Quando se toma o
texto como unidade de ensino, os aspectos
se aos Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua
a serem tematizados não se referem so- Portuguesa, 3º e 4º Ciclos do Ensino Fundamental (BRASIL,
mente à dimensão gramatical. Há conteú- 1998), que consagrou uma expressão correntemente
usada nos dias de hoje até mesmo entre os professores
11-� - Esse ciclo era composto pela 3ª e 4ª séries do ensino fundamental,
hoje 5º e 6º anos, respectivamente. em formação: USO-REFLEXÃO-USO. No documento em
148 149
CAPÍTULO III Análise Linguística em Função da Leitura: Sugestões
Metodológicas
referência, uma das formas em que este ciclo sistêmico é tual e enunciativa com o objetivo de contri-
apresentado é a que segue: buir para o desenvolvimento das habilida-
des de escuta/leitura, produção de textos
organizados em torno do eixo orais/escritos e análise e sistematização de
USO->REFLEXÃO->USO e reintroduzidos fenômenos linguísticos. (PARAÍBA, 2006, p.
nas práticas de escuta de textos orais e de 44).
leitura de textos escritos, de produção de
textos orais e escritos e de análise linguís- Observamos que a definição proposta pelos
tica, os conteúdos de Língua Portuguesa referenciais da Paraíba sobre AL segue a direção
apresentam estreita relação com os usos que anteriormente havíamos destacado no texto de
efetivos da linguagem socialmente cons-
Mendonça (2006), qual seja a de uma prática sistemática
truídos nas múltiplas práticasdiscursivas.
(BRASIL, 1998, p. 40). e recorrente de letramento escolar. Em outras palavras,
é o mesmo que afirmar que vacinas são procedimentos
Essa forma de apresentação parece ter-se feitos em postos e clínicas que, se não forem realizados
consolidado no imaginário dos professores de Língua nestes ambientes, o cidadão não os encontrará em
Portuguesa como aquela que representa bem as outros lugares. Assim, é na escola que se estuda a língua,
atividades linguísticas, as epilinguísticas e novamente as sua constituição e funcionamento. Se esse direito for
atividades linguísticas reflexivamente fundamentadas, subtraído, os alunos serão severamente prejudicados
diríamos. Essa tríade trouxe, então, para o centro da como usuários da língua e como cidadãos.
discussão a importância das atividades epilinguísticas
para a consolidação de uma das funções sociais da escola Por fim, cabe dizer que outro aspecto importante
no âmbito do ensino de língua que é a instrumentalização desta definição e que contribui para que situemos esse
para intervenção na vida social. quadro geral do conceito diz respeito ao fato de que a
análise linguística não despreza nem a descrição nem a
Além desses documentos voltados para o ensino normatividade, duas conquistas dos estudos linguísticos.
fundamental, encontramos uma sistematização sobre o Além disso, a AL leva a perceber que ensinar uma língua
conceito e os procedimentos de ação didática com AL nos implica demonstrar sua perspectiva multidimensional,
Referenciais Curriculares para o Ensino Médio na Paraíba ou seja, não há aspectos da língua que não possam ser
(PARAÍBA, 2006), suprindo uma lacuna dos documentos estudados à luz desse conceito, que é também uma
federais (BRASIL, 2004 e 2006). No documento regional, metodologia de trabalho didático como se verá no item
encontramos a seguinte definição: a seguir.
a análise linguística é entendida como uma
prática de letramento escolar que consiste
na reflexão explícita e sistemática sobre a
constituição e o funcionamento da língua(-
Descrevendo a metodologia
gem). Abrange o ponto de vista descritivo A construção de uma metodologia para o ensino de
e normativo, as dimensões gramatical, tex- leitura, produção textual ou análise linguística tem como
150 151
CAPÍTULO III Análise Linguística em Função da Leitura: Sugestões
Metodológicas
ponto de partida a filiação de um paradigma de ciência boa ou ruim. Para ilustrar, tomamos aqui uma citação de
e de ensino, no âmbito do qual se define um conceito Geraldi a esse respeito:
de língua(gem). No caso em pauta, o paradigma a que
uma coisa é saber a língua, isto é, dominar
nos filiamos é o sócio interacionista no qual se abrigam as habilidades de uso da língua em situa-
os estudos relativos à língua como um sistema em uso e ções concretas de interação, entendendo
os relativos à enunciação e ao discurso. É nesse âmbito e produzindo enunciados, percebendo as
que a língua(gem) é vista como atividade constitutiva diferenças entre uma forma de expressão
e outra. Outra coisa é saber analisar uma
do humano, dado que pensamento, comunicação e
língua dominando conceitos e metalin-
ação são entendidos indissociavelmente juntos e só guagem a partir dos quais se fala sobre a
por efeito didático podem ser separados. É a partir língua, se apresentam suas características
dessa compreensão que a língua(gem) entendida como estruturais e de uso. (2014, p. 211-212).
interação (KOCH, 1992; BAKHTIN, 1992; MORATO, 2004).
Em suma, no paradigma reflexivo ensina-se a
De modo geral, os estudos que se abrigam sob pensar sobre a língua a partir das situações de uso. O
esse grande mosaico de concepções sócios entendem a trinômio difundido pelos PCN de EF II serve como resumo
interação não apenas como o “lugar” do acontecimento da perspectiva aqui defendida.
linguístico, mas como sendo um lugar marcado linguística,
Esse paradigma, por sua vez, está associado a um
discursiva e enunciativamente, cuja base é a tentativa de
paradigma de educação, igualmente, emergente e ainda
“colonização” do outro.
não preponderante como o paradigma reflexivo. Esse
Quanto ao paradigma de ensino de língua, podemos paradigma pensa uma educação localmente situada,
citar que existem basicamente dois, que aqui vamos crítica e emancipatória. Os estudos de Freire (1987, 1992,
sumariamente denominá-los de paradigma da reprodução 1996) e de outros estudiosos (ERICKSON, 1987, GIROUX,
e da reflexão. O primeiro pauta-se pela memorização da 1994) ajudaram a construir esse paradigma. Cabe aqui a
metalinguagem, desconhece a variação linguística e prevê citação de Freire (1996, p 41):
que decorando regras o aluno estará preparado para ler
uma das tarefas mais importantes da prá-
e escrever com propriedade nas diversas circunstâncias. tica educativo-crítica é propiciar as con-
O segundo pauta-se pela reflexão e está vinculado ao dições em que os educandos em suas re-
chamado discurso da mudança (PIETRI, 2003) e em cujo lações uns com os outros e todos com o
âmbito se consolidou a concepção de AL. Esse paradigma professor e a professora ensaiam a expe-
prevê como foco de ensino a reflexividade sobre a língua riência profunda de assumir-se. Assumir-
se como ser social e histórico, como ser
e linguagem, a introdução na análise de situações de uso pensante, comunicante, transformador,
da linguagem, a descrição da língua apoiada em estudos crítico, realizador de sonhos...Assumir-se
linguísticos e a análise da língua(gem) como adequada como sujeito porque capaz de reconhecer-
ou não em dada situação e não como certa ou errada, se como objeto. A assunção de nós mes-
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CAPÍTULO III Análise Linguística em Função da Leitura: Sugestões
Metodológicas
mos não significa a exclusão dos outros. É a • para cada aula de prática de análise
‘outredade’ do ‘não eu’, ou tu, que me faz linguística, o professor deverá selecionar
assumir a radicalidade do meu eu. um problema;
• fundamenta essa prática o princípio:
Isto posto, resta saber por onde começar. Segundo ‘partir do erro para a autocorreção.’ (p. 74)
a proposta metodológica de Geraldi (1996, p. 131), o (destaques presentes no original).
trabalho de AL tinha como objetivo “contrapor à prática Duas notas relativas a essa descrição metodológica
tradicional do ensino de conteúdos gramaticais uma ajudam a compreender melhor a proposição do autor.
prática baseada em textos enquanto uma alternativa cujas Segundo a nota 5,
preocupações fundamentais fossem as operações de
a AL inclui tanto o trabalho sobre ques-
construção de textos” Logo, o foco era o que chamamos de tões tradicionais quanto questões amplas
AL a serviço da produção textual. Outros autores deram a propósito do texto, que vale a pena citar:
prosseguimento ao desenvolvimento nessa vertente (cf. coesão e coerência internas do texto, ade-
BUIN, 2004), assim, ampliaram para a AL em função quação aos objetivos pretendidos; análise
dos gêneros (ARAÚJO, 2012; KRAEMER, 2013; PEREIRA, dos recursos expressivos utilizados; orga-
nização e inclusão de informações. Essen-
2013), em função do estudo conhecimento linguístico cialmente a prática de AL não poderá limi-
(APARÍCIO, 2014; MANINI, 2013; LEMES, 2013; COSTA tar-se à higienização do texto do aluno em
VAL, 2002; MENDONÇA, 2006). Porém, defendemos que seus aspectos gramaticais e ortográficos,
é possível também a sistematização do trabalho com a limitando-se a ‘correções’. Trata-se de tra-
análise linguística em função da leitura, conforme será balhar o texto do aluno para que ele atinja
seus objetivos junto aos leitores a que se
demonstrado na seção 3 deste capítulo. destina. (1984/ 1997, p. 74).
A proposta original de Geraldi (1984/ 1997) previa A nota 6 diz:
que o professor elencasse os “erros” dos textos dos O objetivo essencial da análise linguísti-
ca é a reescrita do texto do aluno. Isso não
alunos. Conforme se pode ler nos excertos a seguir, exclui, obviamente, a possibilidade de nes-
retirados de O Texto na Sala de Aula: sas aulas o professor organizar atividades
sobre o tema escolhido, mostrando com
• A análise linguística que se pretende
essas atividades os aspectos sistemáticos
partirá não do texto ‘bem escritinho’, do
bom autor selecionado pelo ‘fazedor de da língua portuguesa. ([1984] 1997, p. 74).
livros didáticos’. Ao contrário, o ensino
gramatical somente tem sentido para Como podemos observar, nessa proposta, o ponto
auxiliar o aluno. Por isso, partirá do texto de partida e o de chegada são exatamente os mesmos.
dele; Embora, isso seja louvável da perspectiva da escola como
• a preparação das aulas de prática de
análise linguística será a própria leitura dos agência de letramento, enxergamos nessa proposta
textos produzidos pelos alunos nas aulas uma tautologia metodológica se o trabalho de AL não
de produção de textos; se articular também ao trabalho de leitura, no qual os
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CAPÍTULO III Análise Linguística em Função da Leitura: Sugestões
Metodológicas
textos de bons autores[12] que escrevem nas mais diversas ção, na elaboração do texto.
instâncias forem tomados como objeto de leitura e de
Ou seja, para esse autor, a AL está a serviço da
apreciação dos recursos linguísticos, daquilo que o autor
leitura ou da escrita. Nesse sentido, entendemos que
chama de “aspectos sistemáticos da língua”.
trabalho de AL com produção de textos, diferentemente
Assim, tomando a propositura desse autor como do que propõe Geraldi, não começa com o texto do
inspiradora, entendemos, hoje, à luz da contribuição dos aluno, mas sim com o levantamento de gêneros que se
estudos sobre gêneros, tanto na versão de gêneros textuais prestam ao ensino de aspectos relativos à língua (LINO DE
como discursivos (ROJO, 2005), que se faz indispensável ARAÚJO; SOUZA, 2014); estudo dos aspectos temáticos,
compreender quais são os gêneros que se prestam estilísticos e composicionais que caracterizam o gênero;
apenas para a leitura na escola, em função do projeto seleção de um ou mais aspectos para serem estudados
pedagógico da escola e dos objetivos da comunidade sistematicamente em sala de aula, tendo em vista a
escolar, e aqueles que se prestam às atividades de leitura produção desse mesmo gênero. Essa proposição tem por
e de produção. Nos dois casos, o trabalho com a AL deve base a noção de planificação textual, tal como proposto
levar em consideração bons modelos, no sentido de que por Cristovão et al, (2006).
se o aluno não sabe como escrever, nunca viu dados
Se a articulação é com a produção de textual,
recursos linguísticos jamais os utilizará em seus textos.
entendemos que uma produção não surge como resultado
Os textos bem escritos servem como fontes inspiradoras
de um dom, ao contrário, é situada em função de um
e não como decalques.
tema, de uma situação de produção ou de um evento
De acordo com Perfeito (2005, p. 60) comunicativo. Como uma prática letrada, é preciso que
a prática de análise linguística deve ser le- seja contextualizada e, para tal, um importante momento
vada em dois momentos: na mobilização é o do estudo das características linguística do gênero
dos recursos linguístico-expressivos, propi- alvo da produção. Só a partir desse conhecimento e pela
ciando a coprodução de sentidos no pro- repetição das experiências de escrita, o aluno poderá,
cesso de leitura; no momento da reescrita
textual, local de análise da produção de como usuário da língua, construir um estilo.
sentidos, de aplicação de elementos refe-
rentes ao arranjo composicional às marcas
linguísticas (do gênero) e enunciativas (do Assim, tomando como exemplo a Dissertação
sujeito autor), de acordo com o gênero(s) Escolar (CRUZ, 2013), tal como solicitada pelo ENEM,
selecionado(s) e com o contexto de produ-
gênero que focalizamos no capítulo três deste livro,
12-� - Por bons autores, entenda-se: literatos, jornalistas, políticos, entendemos que é importante começar pelo estudo de
intelectuais de diversas áreas, cidadãos comuns que usam a escrita para um tema. Na prova do ENEM, o candidato tem acesso a 3
defender uma causa, para falar da dimensão humana, das descobertas
científicas, para comentá-las, etc.
ou 4 textos motivadores, mas, no percurso de didatização
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CAPÍTULO III Análise Linguística em Função da Leitura: Sugestões
Metodológicas
desse gênero na escola, é importante que o aluno tenha de um ou outro gênero. Ou ainda, um planejamento de
acesso a um estudo de um tema, tal como proposto longo curso que alcance todos ou a grande parte dos
no capítulo 1 deste livro. Para isso, a temática deve ser recursos linguísticos de um gênero que seja considerado
estudada a partir de uma coletânea de gêneros, na qual muito importante pela comunidade escolar. Estamos nos
se inclua, preferencialmente, também, como objeto de referindo a aspectos como regência e, consequentemente,
leitura, algum exemplar do gênero que será tomado, às preposições, aos termos da oração, aos aspectos da
posteriormente, como gênero para produção. Pensamos convenção linguística, como ortografia e grande parte
no acesso a uma antologia temática de gêneros variados do emprego da pontuação, são supragenéricos, i.e,
e bem escritos, cuja finalidade é colocar o aluno em estão acima e além de qualquer gênero manifestando-
contato com um acervo de ideias diferentes e bem se neles praticamente da mesma forma, por que são
escritas sobre o tema. Dentro dessa antologia deve haver aspectos da língua cuja modificação se dá ao longo do
um subconjunto com vários exemplares do gênero alvo tempo e de modo lento. Se o planejamento for para
da produção, a fim de que o aluno tenha contato com vários gêneros postos para a produção ao longo de um
exemplares bem escritos, uma espécie de repositório a tempo (séries, ciclo, níveis de ensino) considere a relação
ser estudado focalizando “como o autor usou o recurso com os aspectos tipológicos e com as esferas sociais de
X?” e “que efeito de sentido gera o recurso X?”. Para circulação (cf. DOLZ et al, 2004), se o planejamento for
isso, o professor deve escolher um ou mais aspectos para um mesmo gênero ao longo de um dado tempo (ano
para sistematizá-los em exercícios que envolvam a letivo), considere a necessidade de pensar em formas
tríade (USO-REFLEXÃO-USO), por exemplo: coesão por de reapresentação que não torne cansativo o estudo
substituição lexical, operadores argumentativos, tempos e que instigue os alunos a prosseguirem. Só a título
verbais, os recursos de adjetivação como elementos de de exemplificação, parafraseamos aqui a fala de uma
argumentação etc. Depois, esse estudo pode ser revisado professora, com a qual trabalhamos e que aplicava esse
quando da correção coletiva de uma das produções tipo de proposta, com as devidas adaptações. Ela nos
textuais dos alunos. Para uma visão sobre como a disse que só era possível sistematizar o trabalho com um
produção textual do gênero pode ser conduzida e levar gênero por bimestre letivo.
a geração de dados para este estudo de aspectos da AL,
Se a articulação do estudo da AL for feita com a
sugerimos ler o capítulo 2 desta obra. leitura, então, o trabalho poderá seguir também de forma
Cabe lembrar que há aspectos da língua que estão indutiva partindo de levantamento e análise de um dado
acima de qualquer gênero e que podem e devem ser recurso linguístico, recorrente em vários exemplares de
sistematizados tendo qualquer um deles como referência. um mesmo gênero ou singular no estilo de um autor num
Para isso, o professor deve ter um planejamento de determinado texto. Ou ainda na observação dos usos e
longo curso, a fim que não sistematizar apenas aspectos na reflexão sobre os mesmos em textos de diferentes
autores em um mesmo gênero, tendo em vista identificar
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CAPÍTULO III Análise Linguística em Função da Leitura: Sugestões
Metodológicas
os efeitos de sentido pretendidos e/ou gerados a partir em relação a uma matéria jornalística (artigo, notícia,
desses usos. Em suma, é preciso ler e analisar a construção reportagem, entrevista); para saber mais a esse respeito,
do texto. veja Silva; Lino de Araújo (2008).
Nesse caso, a proposta é observar como os A fim de que o trabalho de AL a serviço da
escritores eficientes conseguem alcançar seus propósitos leitura, assim como o da escrita ou daqueles aspectos
através da escrita; e nesse caso não estamos falando de supragenéricos e supratextuais a que nos referimos
escritores consagrados, mas de escritores que atingem antes, seja exitoso é fundamental um planejamento de
seus objetivos. Para o trabalho didático, é importante longo curso, também chamado de espiralado (DOLZ et
ter em mente que nem todos os gêneros podem ser al, 2004), para que o trabalho tenha sistematização. Uma
apreciados na escola. Uma reportagem longa, por forte crítica a ser feita a muitos os que se arvoram a fazer
exemplo, por vezes, precisa ser adaptada. Assim, a AL a a AL ou dizem que aplicam essa metodologia é o trabalho
serviço da leitura volta-se para o destaque e análise dos episódico que realizam. Ora em função de um texto,
recursos linguísticos de composição e estilo usados para porque pareceu interessante ao professor ou ao tema
convencer, emocionar, persuadir, tranquilizar, exaltar, estudado pela turma, ora em função de uma reescrita
difamar, informar, entre outros, que são mobilizados pelo efetivada. Trabalho com AL supõe sistematicidade e
escritor. planejamento de longo alcance.
No nosso entendimento, o trabalho com a AL precede A articulação do trabalho de AL com a descrição
o trabalho de escritura propriamente dito, fixando-se no gramatical nos moldes da normatividade deve ser
estudo das características linguísticas mais relevantes do feita porque a descrição gramatical é um patrimônio
gênero que é supostamente desconhecido da maioria da científico tal qual a descrição de fenômenos das leis
turma. Por isso, o trabalho a serviço da leitura mostra-se naturais, dos quais destacaríamos as leis de Newton, cujo
tão relevante aos nossos olhos. Posteriormente, após a conhecimento, não apenas da nomenclatura, mas das
produção textual, é possível que um novo trabalho de AL três leis[13], é relevante para nos situarmos no mundo.
seja realizado desta feita com foco nos aspectos da língua
padrão ainda não sistematizados pelos alunos. Nesse 13-� - As leis de Newton são 1) Princípio da inércia segundo qual um
corpo em repouso tende a permanecer em repouso, e um corpo em
sentido, a metodologia que estamos defendendo aqui movimento tende a permanecer em movimento.” Importante para que
tem como ponto de partida o estudo de uma temática, se compreenda, por exemplo, casos de colisão no trânsito, pois, um
seguida do estudo das características linguísticas do corpo só altera seu estado de inércia, se alguém, ou alguma coisa aplicar
gênero que se quer produzir e que é importante para a nele uma força resultante diferente se zero. 2) Princípio Fundamental da
Dinâmica, segundo o qual Força é sempre diretamente proporcional
expressão da temática. Por exemplo, para escrever cartas ao produto da aceleração de um corpo pela sua massa. Importante
de leitor, é preciso ler e estudar outras cartas de leitor, para que se compreenda, por exemplo, como questões relacionadas a
suas características linguísticas e discursivas, bem como içamento de corpos. 3) 3ª Lei de Newton - Princípio da Ação e Reação
segundo o qual as forças atuam sempre em pares, assim, para toda força
é preciso entender que esse gênero está sempre situado de ação, existe uma força de reação.
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CAPÍTULO III Análise Linguística em Função da Leitura: Sugestões
Metodológicas
Dito isto, cabe apresentar nossa versão para a tríade sivamente à correção de pretensas impro-
proposta por Geraldi – USO-REFLEXÃO-USO –, também priedades linguísticas dos alunos. [...] Não
quero dizer com isso que o ensino norma-
adotada pelos documentos parametrizadores do ensino. tivo deva ser suprimido. É preciso, apenas,
Em nossa opinião, sobretudo no nível médio de ensino, colocá-lo em termos mais realistas. [...]
para o qual se volta este livro, o que é uma tríade deve ser Concordo, portanto, que é necessário en-
uma quadríade composta por USO-REFLEXÃO-DESCRIÇÃO sinar o português padrão; mas esse ensino
(o “ensino normativo” da língua) deve ser
METALINGUÍSTICA-USO. Estamos propondo que o atacado com muita cautela e com toda a
estudo da língua avance da reflexão epilinguística para a diplomacia. (p. 33-34).
metalinguística, uma vez que esta faz parte do patrimônio
científico-cultural de nossa língua. Outra razão para esse Por fim, cabe destacar que essa articulação deve
estudo diz respeito ao fato de que a reflexão, quando ser feita com a Nomenclatura Gramatical Brasileira
acompanhada da descrição metalinguística, contribuirá porque, apesar das várias críticas aos conceitos, os
para novos e conscientes usos de recursos linguísticos. termos transitam nos vários âmbitos de divulgação do
conhecimento sobre a linguagem, como livros didáticos,
Sobre esse tema, cabe dizer também que saber vídeoaulas, exames de larga escala, revistas de divulgação.
bem uma língua com a finalidade de usá-la em favor Adotamos para isso a mesma justificativa de Kleiman e
de uma causa que precise ser defendida, de uma Sepúlveda (2012, p. 16):
história que precise ser contada, de fato que precise ser
embora a metalinguagem utilizada perten-
apresentado/explicado etc; implica conhecer também
ça à Gramática Tradicional, o nosso enfo-
a dimensão metalinguística para mobilizá-la quando que incorpora elementos funcionais na
(e se) necessário. Todavia, ninguém mobilizará se não apresentação e discussão das categorias
estudar. Por outro lado, para apreciar em profundidade gramaticais.
um texto, em seu contexto de produção, por vezes faz-
Ademais, consideramos que metalinguagem
se necessário mobilizar conhecimentos metalinguísticos,
incorpora-se ao conjunto das nomenclaturas das várias
que associados aos epi, compõem um quadro amplo dos
matérias aprendidas na escola e usadas largamente nesse
usos da linguagem. Sobre o conhecimento da descrição
contexto, a exemplo de polinômios, matrizes, conjunto,
linguística e da metalinguagem de que nos servimos para
território, nação, estado, genoma etc.
apresentá-la, Perini (1995), afirma:
Na seção, a seguir, apresentamos sugestões
o ensino normativo não é um mal em si,
mas tem sido aplicado de maneira preju-
de como fazer AL associada à leitura apoiando-se na
dicial aos alunos. [...] O grande perigo é nomenclatura e nos conceitos da gramática tradicional
transformar a gramática – uma disciplina já de modo indutivo, associado à reflexão sobre o uso.
em si um tanto difícil – em uma doutrina
absolutista, dirigida mais ou menos exclu-
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CAPÍTULO III Análise Linguística em Função da Leitura: Sugestões
Metodológicas
Apresentando uma proposta capítulos: (1) Conhecendo a redação do
ENEM; (2) Refletindo sobre a temática
As propostas de atividades e tarefas (MATÊNCIO, – Violência contra mulher; (3) Estrutura
2001) de AL apresentadas a seguir visam sistematizar, composicional da Dissertação solicitada no
no âmbito da leitura de gêneros não literários, o ENEM. No primeiro, os alunos serão leva-
dos a conhecer a organização e os critérios
reconhecimento dos recursos de adjetivação como
de correção da redação nesse exame de
elementos de argumentação. Essas atividades baseiam- larga escala e a produzirem um primeiro
seno módulo temático Mulher: o frágil que é forte (LINO texto. No segundo, o eixo relacionado a
DE ARAÚJO et al, 2012), elaborado por estagiários em saber o que dizer é apresentado a partir da
leitura de vários textos sobre a temática
Letras[14], Língua Portuguesa, para ser usado em escola
focalizada. No terceiro, o eixo relacionado
pública da cidade. Escolhemos esse material por que: a saber como dizer – estratégias argumen-
o presente módulo foi elaborado para tativas e processos de adjetivação – é apre-
subsidiar as aulas relacionadas ao compo- sentado a partir de várias atividades.
nente Língua Portuguesa [no âmbito de Assim organizado, este material está
um projeto em que se ensinaria também profundamente vinculado à proposta de
Literatura Brasileira]. Nele, o modelo que ensino elaborada pelas estagiárias e, às
se procurou seguir foi o de ensino de um aulas por elas ministradas, de modo que
gênero – a dissertação escolar nos moldes não se pode compreendê-lo bem ou usá-lo
do ENEM – a partir de uma temática ampla adequadamente fora deste contexto.
– Mulher: o frágil que é forte – , tendo em
vista estudar um aspecto linguístico impor- Da apresentação, acima, destacamos os traços
tante para a apresentação do tema e do que se coadunam com a proposta aqui defendida:
gênero: recusos de adjetivação.
temática definida, (a escolhida tinha um forte valor
Quanto à inspiração geral para apre-
sentação do conteúdo, o módulo baseia-se social para o contexto de ensino em que alunos,
na noção de ensino de gêneros associada à estagiárias, professora, supervisora estavam inseridas),
noção de ensino de análise linguística. Para antologia diversificada para leitura, trabalho indutivo e
isso, adota o raciocínio indutivo como prin- sistemático com um conjunto de recursos linguísticos a
cípio norteador para a resolução das ativi-
serviço da argumentação tanto nos textos lidos como no
dades e tarefas. Quanto à formulação de
atividades, o material baseia-se livremente gênero que seria alvo da produção, a saber: adjetivos,
no modelo que conjuga questões discursi- locuções adjetivas, orações subordinadas restritivas e
vas direcionadas e objetivas. explicativas[15]. Tais recursos já eram do conhecimento
Este material está organizado em três dos alunos de 3º ano de ensino médio, alvo do trabalho
14-� - Trabalho elaborado por Camila Silva Lima, Camilla Maria Martins de ensino planejado com o módulo citado, mas haviam
Dutra, Fernanda Laíra, Larissa Gabrielle Lucena Gonsalves, Laryssa sido estudados em si mesmos, com apoio num livro
Layse, Marília Aguiar, Marina Macedo s. Martins, sob a supervisão da
Profa. Denise Lino de Araújo, no período letivo 2011.2. Agradecemos as 15-� - Além desses, há ainda o predicativo do sujeito e do objeto que não
elaboradoras a cessão de uso das atividades. foram estudados.
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CAPÍTULO III Análise Linguística em Função da Leitura: Sugestões
Metodológicas
didático com perspectiva meramente gramatical, cujo etapa de sistematização do conhecimento linguístico
foco era a definição pela definição, sem que a finalidade com formulação de conceitos e exemplificação. Por fim,
no processo de argumentação fosse sublinhada. volta-se, na sexta etapa, ao USO, quando os alunos, em
Destacamos ainda que a concepção da tríade da AL, atividades de leitura realizada sem a ajuda do professor,
conforme divulgada pelos PCN de Ensino Fundamental, vão testar o conhecimento sistematizado.
orientava as atividades do módulo. Quanto a isso cabe Todas as atividades estão baseadas em textos a
destacar que o terceiro elemento da tríade, o uso serviço da unidade temática que se desenvolve através
orientado pela reflexão, só é possível de ser visto em de tarefas. Matêncio (2001, p. 107-108) faz uma distinção
situações reais. As atividades aqui apresentadas auxiliam entre atividades didáticas e tarefas. Segundo a autora,
a leitura atenta dos textos.
a atividade didática é considerada como
Quanto aos recursos elencados para o estudo, vale uma operação de ensino/aprendizagem
salientar que da perspectiva da AL é desejável ter mais de complexa, englobando ao mesmo tempo
várias sequências didático-discursivas, as
um nível de descrição linguística associado. No caso aqui tarefas têm como objetivo justamente re-
proposto, reunimos o estudo de uma classe de palavras alizar a atividade.
(adjetivo), um grupo nominal (locução adjetiva) – nível
morfológico - e duas orações (subordinadas adjetivas Portanto, para essa autora, há uma diferença
restritivas e explicativa) - nível sintático - não apenas hierárquica entre atividades e tarefas, sendo a primeira
para definir, mas para focalizar seu funcionamento e seus mais ampla do que a segunda. Em outras palavras, ela
sentidos em textos tendo em vista a argumentação – nível se refere a elementos (tarefas) que estão contidos num
semântico pragmático. Como se poderá observar, o papel conjunto (atividade). Para ilustrar sua proposição, usa
como exemplo o estudo de texto na aula de português,
meramente atribuidor de uma qualidade, que é uma das
que pode ser realizado através de atividades diferentes,
principais características desses elementos gramaticais
como a leitura, a interpretação e a análise. A atividade
na perspectiva normativa, não serão enfatizados.
de leitura, por sua vez, pode ser desmembrada em duas
Sugerimos que o estudo seja feito em 6 etapas, para tarefas diferentes: a leitura silenciosa e a leitura oral. Da
as quais vamos apresentar uma atividade para cada uma mesma forma, a atividade de interpretação requer várias
delas. A perspectiva é de avanço espiralado do conteúdo, tarefas, entre elas, por exemplo, verificar o sentido global
assim, a primeira etapa começa com o reconhecimento do texto ou de alguma de suas partes, depreender a
do adjetivo, avança para o reconhecimento da locução intenção do autor. Já a atividade de análise do texto pode
adjetiva, passa para oração subordinada adjetiva restritiva envolver tarefas de identificação dos recursos linguísticos
e depois para a explicativa. Vencidas essas etapas de selecionados pelo autor para demonstrar sua intenção
USO e de REFLEXÃO, através do reconhecimento de ou criar efeitos de sentido no texto. Quanto ao número,
cada um dos recursos de adjetivação, passa-se a uma entendemos que uma atividade pode ser composta
por uma ou mais tarefas, cuja definição dependerá do
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CAPÍTULO III Análise Linguística em Função da Leitura: Sugestões
Metodológicas
objetivo a que ela se propõe. Posto isso, resta saber a que Mulher Boazinha
finalidade se prestam as atividades. De modo geral, as Martha Medeiros
atividades prestam-se a duas grandes finalidades: fixação
e verificação do conteúdo. Qual o elogio que uma mulher adora receber?
Bom, se você está com tempo, pode-se listar aqui uns setecentos:
Tendo esse conceito como referência, a nossa mulher adora que verbalizem seus atributos, sejam eles físicos ou
proposta é que qualquer texto a ser usado como objeto morais.
Diga que ela é uma mulher inteligente, e ela irá com a sua cara.
de apreciação da constituição linguística passe antes Diga que ela tem um ótimo caráter e um corpo que é uma
para etapa de objeto de leitura, seja objeto de tarefas provocação, e ela decorará o seu número.
de leitura silenciosa, oral[16] (ora por um só aluno, ora Fale do seu olhar, da sua pele, do seu sorriso, da sua presença de
espírito,
por mais de um dependendo do texto), compreensão da sua aura de mistério, de como ela tem classe: ela achará você
do texto com base em questões objetivas, inferenciais e muito observador e lhe dará uma cópia da chave de casa.
objetivas (LINO DE ARAÚJO, 2017), discussão das possíveis Mas não pense que o jogo está ganho: manter o cargo vai depender
intenções do autor. Por fim, os aspectos mais importantes da sua
perspicácia para encontrar novas qualidades nessa mulher
desse primeiro processo de recepção/compreensão do poderosa, absoluta.
texto devem ser registrados numa atividade. Conforme Diga que ela cozinha melhor que a sua mãe, que ela tem uma voz
o andamento do estudo da temática, essa etapa poderá que faz você pensar obscenidades, que ela é um avião no mundo
ser mais longa e mais detalhada, ou mais rápida e mais dos negócios.
Fale sobre sua competência, seu senso de oportunidade, seu bom
geral. Só após, é que deve passar ao estudo dos aspectos gosto musical.
linguísticos focalizados. Agora quer ver o mundo cair?
Diga que ela é muito boazinha.
Para a primeira etapa acima mencionada, sugerimos Descreva aí uma mulher boazinha.
a apreciação de como os adjetivos são usados na crônica Voz fina, roupas pastel, calçados rente ao chão.
Mulher Boazinha de Martha Medeiros (2001), a partir da Aceita encomendas de doces, contribui para a igreja, cuida dos
sobrinhos nos finais de semana.
qual surgem as seguintes questões: Disponível, serena, previsível, nunca foi vista negando um favor.
Nunca teve um chilique.
Atividade 1 – Reconhecimento do Adjetivo Nunca colocou os pés num show de rock.
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CAPÍTULO III Análise Linguística em Função da Leitura: Sugestões
Metodológicas
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CAPÍTULO III Análise Linguística em Função da Leitura: Sugestões
Metodológicas
Observe também que além do reconhecimento do Assim, após o trabalho com a recepção do texto,
adjetivo propriamente dito, como uma classe gramatical, mais ou menos nos moldes resumidos anteriormente,
importa identificar no texto os adjetivos no diminutivo, devem ser apresentadas as questões que servirão de
o que deve levar à revisão do processo de formação de apoio ao raciocínio indutivo dos alunos , a partir de cujas
palavras por sufixação. Vale informar que todas essas respostas o(a) professor(a) calcará sua exposição oral.
questões devem ter suas respostas negociadas pelos Sugerimos as que seguem.
alunos em grupo, incialmente, e, depois, numa plenária, Atividade 2 – Reconhecimento da Locução Adjetiva
as respostas devem ser validadas (ao não) pelo grande
grupo com auxílio do(a) professor(a), ocasião em que 1. Leia texto com o objetivo de Substituir os termos listados por sinônimos.
se valendo da exposição oral deve revisar o conceito a) Trabalho dos homens - Trabalho _______________________________
de adjetivo e de formação de palavras, dar outros b) Leis trabalhistas - Leis _______________________________________
exemplos, solicitar diferentes exemplos do texto a serem c) Assinatura da mãe - Assinatura ________________________________
d) Mercado de trabalho - Mercado _______________________________
apresentados pelos alunos. e) Interesse coletivo - Interesse __________________________________
f) Lugares do Brasil - Lugares ____________________________________
Finalizada essa primeira atividade acompanhada de g) Evolução da economia - Evolução _______________________________
exposição oral, estará consolidada a primeira etapa do
estudo: a revisão da classe de palavra Adjetivo, uma de
2. Agora responda: as palavras que foram destacadas recebem a mesma
suas formas de composição e seu valor como elemento classificação gramatical e desempenham no texto a mesma função das
de argumentação numa crônica. que foram substituídas? Justifique sua resposta.
____________________________________________________________
A sequência do trabalho deverá ser realizada com ____________________________________________________________
a leitura de um outro texto. Sugerimos uma reportagem
adaptada, publicada inicialmente na Revista Veja, 3. De acordo com a gramática tradicional, as palavras destacadas no texto
intitulada Gritos que Fizeram História, de Marta Goés são classificadas como:
(2010). A entrada da reportagem como objeto de leitura
a) substantivos e verbos
e de apreciação de recursos de adjetivação deve-se tanto b) adjetivos e locuções adjetivas
pela ampliação da temática para uma visão cronológica c) substantivo e adjetivo
d) pronomes e locuções adjetivas
das lutas de superação da mulher contra o discurso de e) artigo e verbo
incapacidade, criticado na crônica, anteriormente lida,
como porque esse texto permite a revisão do estudo das
4. Considerando a resposta correta do quesito anterior, qual a finalidade
locuções adjetivas e a desmistificação de que locuções da autora ao utilizar-se de tais recursos no texto?
e adjetivos têm o mesmo valor semântico, como se ___________________________________________________________
pudessem ser substituídos impunemente num texto. ____________________________________________________________
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CAPÍTULO III Análise Linguística em Função da Leitura: Sugestões
Metodológicas
Como se pode observar, as questões envolvem Atividade 3 - Reconhecimento de Orações
tarefas de síntese, reconhecimento, comparação e Subordinadas Adjetivas Restritivas
reflexão que auxiliadas pela exposição oral do professor
levarão os alunos a reconhecerem as locuções adjetivas
bem como sua função argumentativa.
Após o reconhecimento desses dois recursos, o
trabalho deve prosseguir para o estudo das orações
subordinadas adjetivas e restritivas. Para isso, foi
inicialmente realizada uma revisão oral sobre orações,
imaginamos que esse assunto já tenha sido estudado
pelos alunos. Sugerimos a construção de um mapa Disponível em: http://www.marcianeurotica.com.br/
mental, no quadro, com exemplos de orações simples Vamos explorar um pouco a linguagem a partir do texto do segundo quadrinho
desta tira.
e compostas retiradas dos textos lidos[17] até então. O 1. Experimente substituir a oração que se encaixa em meu perfil por um adjetivo ou
trabalho deve ser realizado em duas etapas indissociadas: uma locução adjetiva que você julgue se adeque ao contexto e ao substantivo que
antecede a oração.
(1) reconhecimento e distinção de orações subordinadas
2. Reflita sobre a coerência com a tira, levando em conta os quadros 1 e 3
adjetivas restritivas e explicativas; (2) reflexão sobre os 3. Discuta as respostas com o colega e professora. Anote as conclusões.
sentidos exercidos por essas orações nos textos lidos, 4. Reflita sobre a relação entre adjetivo e oração subordinada adjetiva restritiva: o
que há de comum entre ambos?
conforme as atividades a seguir:
O objetivo desta atividade é levar os alunos ao
reconhecimento de que a oração subordinada adjetiva
tem o valor de um adjetivo, impõe uma qualidade,
particularizando o termo que a antecede, que nem
sempre pode ser substituída por um adjetivo ou por uma
locução e, mesmo que seja possível, deve-se sempre
levar em consideração a situação de uso: o texto, os
adjetivos já empregados ou outras tantas orações da
mesma natureza.
17-� - Valemo-nos aqui da ponderação de Bronckart (1999, apud Costa O prosseguimento do trabalho levará à análise da
Val 2002, p. 120) “ quando se refere ao eixo gramatical do ensino, [o oração subordinada explicativa. A seguir, apresentamos a
autor] propõe que se possibilite ao aluno observar e analisar conjuntos
de frases previamente selecionados para daí inferir e formular conceitos atividade que pode servir de apoio à exposição oral do(a)
e regras do sistema da língua, referentes, por exemplo à constituição de professor(a).
sintagmas e frases, à conjugação verbal.
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CAPÍTULO III Análise Linguística em Função da Leitura: Sugestões
Metodológicas
Atividade 4 - Reconhecimento de Orações Vejamos que essa atividade, composta basicamente
Subordinadas Adjetivas Explicativas de tarefas de reconhecimento e de identificação, visa
Com base na leitura da entrevista Nenhuma mulher gosta de apanhar,
levar os alunos a inferirem o significado e a composição
concedida por Iriny Lopes, ministra da Secretaria de Políticas para as da oração subordinada adjetiva explicativa. Como se
Mulheres, (disponível em: http://saraiva13.blogspot.com.br/2011/10/ pode observar, a última tarefa leva o aluno a confirmar
nenhuma-mulher-gosta-de-apanhar.html), analise alguns dos recursos
linguísticos de adjetivação nas questões a seguir:
o trabalho com a subordinada explicativa já apontada no
enunciado 1.
1- Sublinhe, nos trechos abaixo, as orações adjetivas explicativas.
TRECHO 1- “Na novela “Fina Estampa”, que está no ar, a personagem de Finalizada a correção dessas tarefas, o passo
Dira Paes apanhava muito no começo”. seguinte deve ser uma exposição oral para sistematizar
TRECHO 2- “No aniversário de cinco anos da Lei Maria da Penha, nós
recuperamos a personagem Raquel, vivida pela atriz Helena Ranaldi em
as semelhanças e diferenças entre as subordinadas
“Mulheres Apaixonadas”, que passou em 2003”. adjetivas a partir dos exemplos coletados nas duas
últimas atividades. Cabe destacar que na metodologia
2 - Nos trechos acima, indique que explicação foi acrescentada pela
oração ao termo antecedente. usada, a exposição oral do(a) professor(a) para instigar,
___________________________________________________________ para induzir e para sistematizar as anotações na lousa,
____________________________________________________________ são de fundamental importância. Não se pode esperar
3 - Leia o seguinte trecho da entrevista e responda: que, num trabalho de AL, os alunos uma vez expostos às
“O problema é o conteúdo de certo e errado, que induz à compreensão atividades consigam realizá-las sozinhos sem a mediação
equivocada de que as mulheres precisam do corpo como instrumento, em
do docente que tanto é um usuário mais experiente
primeiro, segundo e terceiro lugar, para se impor”.
___________________________________________________________ quanto um especialista. Dito isto, convém também
____________________________________________________________ destacar que o conceito e a metodologia da AL têm como
De acordo com a ministra, qual o problema de utilizar o “certo” e o
característica a mediação do docente como fundamental
“errado” na propaganda? à reflexão, que se faz apoiada nas atividades. Nesse
sentido, nestas sugestões, o Professor ocupa um lugar de
4 - Escreva o trecho que lhe permitiu responder a questão suscitada
anteriormente. destaque, tal como descrito por Lessard e Tardif (2009, p.
___________________________________________________________ 63): “professor é o sol do sistema pedagógico: as ações
____________________________________________________________ dos alunos giram em torno dele”.
5 - O trecho que você transcreveu na resposta anterior exerce que função Para sumarizar a sistematização oral, os alunos
dentro da oração?
___________________________________________________________
devem receber uma ficha, como a abaixo reproduzida,
____________________________________________________________ para anotar os conceitos e exemplos, a título de uma
espécie de “capítulos de uma gramática que vamos
6 - Sabendo que esse trecho é uma oração, classifique-a.
____________________________________________________________ escrevendo”.
____________________________________________________________
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CAPÍTULO III Análise Linguística em Função da Leitura: Sugestões
Metodológicas
Atividade 5 – Sistematização de Conceitos Para concluir, os alunos responderão
individualmente, sem o auxílio direto do professor,
Formulando conceitos, exemplificando e refletindo sobre o Uso porém com consulta ao material utilizado no módulo, a
um exercício de verificação da aprendizagem (LINO DE
A partir do que lemos, discutimos e anotamos, elabore definições e ARAÚJO, 2017). Os erros e acertos devem ser conferidos
apresente exemplos, retirados dos textos estudados, para os termos
abaixo. Se for necessário, consulte seu livro didático. na hora da correção coletiva e os alunos poderão se
automonitorar quanto à aprendizagem. Esse pode ser um
Adjetivos e locuções adjetivas acordo feito entre o(a) professor(a) e a turma: os alunos
___________________________________________________________
___________________________________________________________ se “darão” uma nota com base nos acertos. Essa atividade
___________________________________________________________ é a que segue:
Orações adjetivas explicativas Atividade 6 – Verificação da aprendizagem
___________________________________________________________
1. Leia o texto abaixo e complete as lacunas com termos adequados aos
___________________________________________________________
enunciados.
___________________________________________________________
“Venho por meio deste relatar a minha experiência enquanto
Orações adjetivas restritivas
mãe de um filho anencéfalo. Sou estudante de Direito do 9º semestre da
___________________________________________________________
Universidade Católica de Brasília. Há três anos, em virtude de um namoro,
___________________________________________________________
engravidei e devido a circunstâncias ______________ acabei por ficar
___________________________________________________________
sozinha. À época tinha 19 anos.
Tive que enfrentar todas as questões familiares, a vergonha,
Relacionando os conceitos aos textos lidos e às discussões, qual a função
enfim, todo o constrangimento de uma gravidez no fim da adolescência.
desses termos num texto?
Felizmente, não obstante todo o sofrimento que experimentaram, meus
___________________________________________________________
pais, por serem católicos, me acolheram.
___________________________________________________________
Passaram-se três meses e, enfim, o pai da criança resolveu
___________________________________________________________
acompanhar-me numa ecografia: era o dia em que conheceríamos
o sexo do bebê. Naquela oportunidade, a médica ecografista foi
bastante____________, mas não havia como omitir a anomalia que sofria
Como se pode observar, a ficha sugere, caso
meu filho, ele era anencéfalo.
seja necessário, a consulta ao livro didático. Essa Obviamente tal notícia assustou-me e eu, a principio, não fui
recomendação deve-se ao fato de que esse material é, capaz de absorver a realidade, até porque nunca tinha ouvido falar em
algo semelhante. Já naquele momento, a doutora trouxe a possibilidade
para os alunos alvo desse projeto de ensino, praticamente do aborto, mesmo não se mostrando muito favorável.
a única referência de manual de descrição linguística. No mesmo dia, à tarde, procuramos outro médico em um hospital
Acreditamos que, após o processo de reflexão, eles particular de Brasília (Hospital da Unimed) e este me disse: “Menina, pra
quê você quer uma coisa que___________?”; “Se fosse minha paciente eu
estarão melhor equipados para ler o livro didático, extrair te levaria agora para a curetagem.”
o que for de seu interesse, deparar-se com informações Não sabia o que era curetagem, quando me explicaram tratar-se,
novas, dúvidas e assim criar um interesse para prosseguir naquela situação, de um eufemismo para a palavra aborto. Felizmente,
pude contar com o acompanhamento de uma outra médica particular e,
com os estudos reflexivos sobre a língua. então, dei continuidade ao pré-natal.
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CAPÍTULO III Análise Linguística em Função da Leitura: Sugestões
Metodológicas
Desde o primeiro dia, quando foi constatada a má-formação, a 3) Qual a função desempenhada pelas palavras que você inseriu no texto
ecografista e também a minha ginecologista-obstetra, informaram-me lacunado? De que forma essas palavras contribuem para a construção da
acerca de uma equipe médica- especialista nestes casos que atendia no coerência textual?
HMIB – Hospital Materno-Infantil de Brasília. Na oportunidade, disseram- ____________________________________________________________
me que se tratava de uma equipe médica especialista em casos de ____________________________________________________________
gestação de ________risco, seja para mãe ou para o filho. ____________________________________________________________
Alguns dos amigos da faculdade aos quais relatei a situação, me
disseram que o Ministério Público concedia autorizações para mulheres 4) A partir do que discutimos em sala, transcreva do texto uma oração
que desejassem fazer o aborto, principalmente àquelas que recorressem subordinada adjetiva restritiva e uma oração subordinada adjetiva
a referida equipe médica do HMIB. Por isso, a princípio, resisti em explicativa e, a seguir, indique por que cada uma delas está no período
marcar uma consulta naquele hospital. Contudo, visando as __________ em que foi retirada.
condições para mim e para o meu filho, busquei um encaminhamento no ____________________________________________________________
posto de saúde do Núcleo Bandeirante, tendo em vista que se tratavam ____________________________________________________________
de especialistas e eu queria que, após o parto, o meu filho recebesse os ____________________________________________________________
cuidados necessários, caso viesse a sobreviver depois do corte do cordão
umbilical. Analisando outro texto
Realmente, eu já estava___________ a não abortar o meu filho.
Tal possibilidade somente passava na minha mente à força das palavras, 5) No anúncio de uma campanha publicitária de uma empresa de
muitas delas_________, que ouvia dos médicos, mas tal possibilidade não cosméticos, apresenta-se a imagem de uma modelo vestida como a
emanava do meu interior. Queria conviver com o Thalles o tempo que personagem Branca de Neve do conto de fadas e ao lado dessa imagem,
fosse possível, já estava no sétimo mês da gestação e não fosse o fato de central e ampla, o seguinte texto verbal “Você pode ser o que quiser. Era
que ele era anencéfalo, tudo mais corria na maior naturalidade. Sentia- uma vez uma garota branca como a neve. Que causava muita inveja não
me________, não tive alterações fisiológicas, além daquelas naturais da por ter conhecido sete anões. Mas vários morenos de 1,80m.
gestação como, por exemplo, o aumento de nove quilos no meu peso.
Enfim, qual foi a minha surpresa ao constatar a realidade do Considerando o texto verbal:
atendimento naquela equipe de excelência, pois, todo o tempo fui
compelida a realizar o aborto. Naquele hospital, eram marcadas uma vez a) Qual a classificação da oração ... “Que causava muita inveja não por ter
na semana, consultas, com a referida equipe. Ficavam numa ante-sala, conhecido sete anões.”?
sem assentos suficientes, por volta de 12 mulheres e seus respectivos b) Que sentido essa oração acrescenta à oração principal?
acompanhantes ou não, aguardando a consulta. Todas elas estavam ___________________________________________________________
grávidas de crianças com as mais diversas má-formações – das quais nunca ___________________________________________________________
tinha ouvido falar. Algumas, muito __________, outras que já haviam tido ____________________________________________________________
filhos com aquelas deformidades anteriormente, conversavam entre si,
enquanto eu as observava. Percebi que eu era a única que tinha um filho
anencéfalo. Como se pode verificar, do ponto de vista temático,
Enquanto aguardávamos, pude presenciar um momento que me os textos escolhidos para o exercício (depoimento e
chocou deveras. É que elas estavam conversando a respeito de uma mãe
que tinha passado por ali, algumas semanas antes, e que naquele dia anúncio) dão continuidade à apresentação das versões
estava realizando a interrupção da gravidez. Pude presenciar aquela mãe em que fragilidade e fortaleza podem ser atributos da
sentada no corredor do hospital, chorando muito após o parto. Ela estava mulher. Uma novidade é a atividade de completar lacunas,
lá _______________– porque não permitem acompanhantes no pós-
parto de maiores – e sequer, conforme relatou e porque não permitiram, ou teste cloze (LINO DE ARAÚJO, 2017), que é uma das
conseguiu ver o seu filho direito, o que lhe causou muito sofrimento. variações de questões objetiva e muito interessante para
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CAPÍTULO III Análise Linguística em Função da Leitura: Sugestões
Metodológicas
trabalhar a noção de campo semântico, pois as lacunas Referências
precisam ser preenchidas com palavras que completem
o sentido do texto; podem ser as mesmas que o autor APARÍCIO, A.L.M. Análise linguística na sala de aula: modos de
construir um percurso de investigação. In.: GONÇALVES, A. V.; SILVA,
usou ou não e essa possibilidade de variação dá margem W. R.; GÓIS, M. L. (Orgs.). Visibilizar a linguística aplicada: abordagens
a uma interessante e, às vezes, acalorada discussão sobre teóricas e metodológicas. Campinas, SP: Pontes Editores, 2014.
qual a melhor opção, qual a intenção do autor, quais os ______. A produção da inovação em aulas de gramática do ensino
efeitos de sentido que cada escolha pode acarretar. O fundamental II da escola pública estadual paulista. Tese (Doutorado
em Linguística Aplicada). Universidade Estadual de Campinas,
texto escolhido presta-se muito bem a essa discussão. Campinas, SP , 2006.
Do ponto de vista da AL, a atividade visa avaliar o
ARAÚJO, K. D. S. Gêneros e Práticas de Análise Linguística: estratégias
reconhecimento dos recursos de adjetivação, sobretudo de diálogo. In.: REINALDO, M. A.; MARCUSCHI, B.; DIONISIO, A.
o uso de adjetivos e sua importância na construção da Gêneros textuais: práticas de pesquisa e práticas de ensino. Recife,
função emotiva do depoimento, destaque a ser feito PE: Ed. Universitária da UFPE, 2012.
oralmente pelo(a) professor(a). O nível de complexidade BAKHTIN, M. [VOLOCHÍNOV]. Marxismo e Filosofia da Linguagem.
nessa atividade está no fato de que todos os recursos de São Paulo, SP: Editora Hucitec, 1992.
adjetivação estão presentes no texto. Em cada atividade BEZERRA, M. A. ; REINALDO, M. A. Análise linguística: afinal, a que se
anteriormente realizada os alunos lidavam com um refere? São Paulo, SP: Cortez, 2013.
recurso, feita a sistematização, conforme atividade 5, BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Primeiro e Segundo
nesta, eles precisam reconhecer todos os recursos. Ciclos Ensino Fundamental: Língua Portuguesa. Brasília: MEC/SEF, do
1997.
Por fim, cabe dizer que a proposta ora apresentada ______. Parâmetros Curriculares Nacionais: Terceiro e Quarto Ciclos
contém em si o desafio de levar os alunos a refletirem do Ensino Fundamental: Língua Portuguesa. Brasília: MEC/SEF, 1998.
sobre os usos da língua(gem). Esse é um aprendizado ______. Orientações curriculares do ensino médio. Secretaria de
que demanda um processo, um trabalho espiralado e Educação Básica. – Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de
sistemático, cuja resposta será vista em situações reais, Educação Básica, 2004.
na produção de texto, na revisão de textos de colegas, ______. Orientações curriculares para o ensino médio; volume 1.
na apreciação de outros gêneros. Esperamos que as Linguagens, códigos e suas tecnologias / Secretaria de Educação
Básica. – Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação
sugestões inspirem outros(as) professores(as) e seus Básica, 2006.
alunos a experiências semelhantes.
BUIN, E. A gramática a serviço do desenvolvimento da escrita. In.:
Rev. Brasileira de Linguística Aplicada, v. 4, n. 1, 2004.
CECCON, C.; OLIVEIRA, M. D.; OLIVEIRA, R.D. A vida na escola e a
escola da vida. 10ª. Ed. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 1984.
COSTA VAL, M. G. A gramática do texto, no texto. Revista de Estudos
Linguíticos, Belo Horizonte, v.10, n. 2, p.107-133, jul./dez. 2002.
182 183
CAPÍTULO III Análise Linguística em Função da Leitura: Sugestões
Metodológicas
CRISTOVÃO, V. L., et al. Cartas de pedido de conselho: da descrição ______. A aula como acontecimento. São Carlos, SP: Pedro & João
de uma prática de linguagem a um objeto de ensino. Linguagem & Editores, 2015.
Ensino, Vol. 9, No. 1, 2006.
GIROUX, Henry A. Os Professores Como Intelectuais. Porto Alegre,
CRUZ, S. X. Um novo uso para a “antiga‟ dissertação: caracterização RS: Artmed Editora, 1997.
da proposta de redação no ENEM, à luz da sócio retórica. Dissertação
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CAPÍTULO III Análise Linguística em Função da Leitura: Sugestões
Metodológicas
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Formato: 15x21 cm
Tipologia: Calibri
Papel do Miolo: Offset 90g/m2
Número de Páginas: 190