ALBERTI Et Al O AT e A Psicanálise Pequeno Histórico e Caso Clínico
ALBERTI Et Al O AT e A Psicanálise Pequeno Histórico e Caso Clínico
ALBERTI Et Al O AT e A Psicanálise Pequeno Histórico e Caso Clínico
Psicopatologia Fundamental
ISSN: 1415-4714
[email protected]
Associação Universitária de Pesquisa em
Psicopatologia Fundamental
Brasil
Alberti, Sonia; Cavalcante Teixeira, Leônia; Moura Beteille, Irene; Wan Der Maas
Rodrigues, Sonia; Braga de Souza Martinez, Carla Renata
O Acompanhamento Terapêutico e a psicanálise: pequeno histórico e caso clínico
Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, vol. 20, núm. 1, enero-marzo,
2017, pp. 128-141
Associação Universitária de Pesquisa em Psicopatologia Fundamental
São Paulo, Brasil
Rev. Latinoam. Psicopat. Fund., São Paulo, 20(1), 128-141, mar. 2017
http://dx.doi.org/10.1590/1415-4714.2017v20n1p128.9
O Acompanhamento Terapêutico
e a psicanálise:
pequeno histórico e caso clínico*1
Sonia Alberti*2
Leônia Cavalcante Teixeira*3
Irene Moura Beteille*4
Sonia Wan Der Maas Rodrigues*5
Carla Renata Braga de Souza Martinez*6
1
Utiliza-se por convenção, no campo da saúde mental, a denominação Acompanhamento
Terapêutico (AT) — com letra maiúscula — para designar a prática clínica e acompanhante
terapêutico (at) — com letra minúscula — quando se tratar do profissional que exerce tal prática.
Marcamos o at em itálico, para melhor distingui-lo no texto.
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de dois anos. Ele pouco saía de casa e era apenas levado para um “centro
de reabilitação” por um motorista, diariamente: o AT também é um recurso
quando há impossibilidade de acesso à via pública por parte do sujeito,
mantido em uma “atmosfera pesada e asfixiante” (Palombini, 2009, p. 300).
E foi nessa atmosfera que encontramos Daniel na primeira visita à sua casa:
ele andava de um lado a outro, sem conseguir parar, comia vários objetos que
via pela frente, e quando falava era para responder uma ou outra pergunta,
geralmente repetindo a última palavra pronunciada. Nas primeiras semanas,
nos mantivemos na casa do paciente, apesar de sua visível indiferença.
Por vezes algumas palavras soltas eram proferidas de forma bastante
rápida, o que tornava difícil a compreensão. Em sua fala e ações, os
significantes pareciam dispersos, o que demonstrava faltar ao sujeito um
sustentáculo que minimamente pudesse organizar esses significantes. Quinet
(2000, p. 88) mostra que, na esquizofrenia, a dispersão dos significantes
mestres (S1) testemunha a falta de um suporte das representações-meta, o que
impede aos pensamentos terem uma meta comandada pelo desejo. Foi então
essa a hipótese diagnóstica com a qual iniciamos.
A razão que nos leva a querer compartilhar esse caso aqui, baseia-se no
surpreendente efeito que se seguiu à condução de Daniel para fora de sua casa, 133
graças ao dispositivo clínico AT. No momento em que passamos a sair e a
caminhar pelas imediações de sua casa, Daniel pareceu mudar radicalmente: seu
andar não pareceu mais desnorteado e seu hábito de andar com as mãos dentro
das calças subitamente cessou; é como se, na rua, algo o contivesse. Tal efeito já
fora apontado por Palombini (2007) quando comentava outra experiência:
o inconsciente a céu aberto da psicose encontra no espaço aberto da rua,
em sua acepção de espaço público, uma via privilegiada de expressão. Na
diversidade de seus elementos, ao mesmo tempo em que a rua é propícia à
presentificação, para o psicótico, da desmedida de seu Outro, ela é pródiga,
também, na oferta de meios com que lhe impor comedimento. Mas além disso,
a rua é campo fértil para a extração de materiais com os quais o psicótico pode
trabalhar na direção de produzir seu sintoma, na sua amarração singular ao
laço social. (p. 158)
O próprio território e a organização social que dentro dele se estabeleceu
funcionaram como substratos para que Daniel pudesse estabelecer um
afastamento em relação à sua condição autística. Essa possibilidade de
resgatar o contato com a realidade confirma os dizeres de Freud em uma bela
passagem do “Esboço da psicanálise”, onde afirma que o afastamento em
relação à realidade na psicose não é absoluto e nem irreversível:
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Referências
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Resumos
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Citação/Citation: Alberti, S., Teixeira, L. C., Beteille, I. M., Rodrigues, S. W. D. M., &
Martinez, C. R. B. S. (2017, março). O Acompanhamento Terapêutico e a psicanálise: pe-
queno histórico e caso clínico. Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental,
20(1), 128-141.
Editores do artigo/Editors: Profa. Dra. Ana Cristina Figueiredo e Profa. Dra. Andréa Maris
Campos Guerra.
Rev. Latinoam. Psicopat. Fund., São Paulo, 20(1), 128-141, mar. 2017
SAÚDE MENTAL
SONIA ALBERTI
Professora Associada do Instituto de Psicologia da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro – IP/UERJ (Rio de Janeiro, RJ, Br); Pesquisadora do CNPq (Brasília, DF, Br);
Membro do Colegiado do Programa de Pós-graduação em Psicanálise do IP/UERJ;
Membro da Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano (Rio de Janeiro, RJ,
Br); Membo do GT Psicanálise, Política e Clínica da ANPPEP.
Rua João Afonso, 60 casa 22
22261040 Rio de Janeiro, RJ, Br.
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