Caminho Iniciático
Caminho Iniciático
Caminho Iniciático
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Vitalidade e consciência constituem o mundo como o conhecemos. Estão
sempre juntas (não são duas coisas, é um fluxo só!), embora tenham
características opostas. A vitalidade expande a substância e diminui a
consciência, funcionando na inconsciência e promovendo a inconsciência. A
consciência paralisa e limita a vitalidade, diminuindo a vitalidade e a
inconsciência e aumentando a consciência. Assim as formas são criadas no fluxo
da transformação que é a Vida. Consciência e vitalidade substancializam,
movem e informam a transformação e se, em determinado momento, a
vitalidade se retira, a transformação cessa e as formas quedam abandonadas,
como substância inanimada que se deposita na matéria, e como memória e
informação que se deposita na mente. A Vida nunca abandona o Universo,
seguindo, seguindo sempre. Forma é o que aparece quando na transformação
que é a Vida a corrente da vitalidade se interrompe naquele local.
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Não é a mente que fragmenta o Universo. Mente é o vasto campo
informacional do fluxo da Vida e matéria é o vasto campo substancial do fluxo
da Vida. Mente e matéria são face e dorso do Mesmo. Mente é também
conhecida como campo espiritual, ou mundo espiritual, ou “campo Ponto Zero, o
campo dos campos” (Laszlo, 2008). O campo mental, com sua inteligência
universal e impessoal, sensível e perceptiva, flui como consciência, junto da
vitalidade que é o fluxo a partir do campo material.
II
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matéria aparecem na Vida ao olhar observador da consciência individualizada,
ou consciência pessoal: a pessoa.
Lembrando mais uma vez que as duas vão sempre juntas, onde tem uma
tem a outra, em diversas proporções, mas sempre os dois aspectos juntos; o
que acontece é que parece que predomina a vitalidade na corrente energética
que vai da matéria em direção à mente; e parece que predomina a consciência
na corrente energética que vai da mente em direção à matéria. Devido a essa
predominância é que dizemos que são duas correntes; uma corrente ascendente
e a outra uma corrente descendente, pois tomamos como referência a cabeça e
as pernas com os pés. Os pés na terra e a cabeça no céu; a terra está embaixo
dos nossos pés, e o céu está acima de nossas cabeças. Experimentamos, assim,
a noção espacial de um eixo vertical da cabeça aos pés, ou ainda mais profundo:
do espírito ao corpo.
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Repetindo: as duas correntes são simultâneas, não é primeiro uma e
depois a outra, embora à nossa visão possa parecer assim. Uma não existe sem
a outra em si. Como o símbolo chinês do Tai Chi, conhecido de todos, onde um
círculo apresenta-se com duas “baleias se acasalando”, uma preta e a outra
branca, na preta um ponto branco, e na branca um ponto preto; a figura toda
simbolizando as duas correntes de energia yin e yang, que em seu fluir
constroem o universo e todos os seres, estando sempre juntas, uma dentro da
outra, como uma coisa só. Consciência e vitalidade são o yin e o yang da Vida, e
criam todas as coisas e seres vivos.
Assim, podemos dizer que em todo ente humano vemos sempre esses
dois aspectos que o identificam e o individualizam: uma consciência de si mesmo,
ou princípio espiritual, que o leva a reconhecer-se como distinto e separado dos
outros e dizer “Eu sou” para si mesmo; e um corpo físico, ou princípio material
que lhe dá substância e corporalidade, que pode ser identificada e reconhecida
pelos outros.
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regulam os relacionamentos, a se organizarem socialmente, procurando regular
o fluxo do poder e da autoridade, e conter o abuso que surge por uns usarem o
poder sobre os outros. Seguindo o fluxo descendente, a consciência permeada
pela vitalidade, leva cada entidade a buscar sua expressão singular, ser autor
de seus dias e assumir a responsabilidade pela sua expressão e suas
consequências para todos os outros, incluindo a si mesmo. Isso caracteriza um
novo nível de experiência para cada um.
Vemos assim que onde se configura o ser humano, oito níveis estão
presentes, em quatro pares simultâneos, segundo os fluxos descendente e
ascendente. Podemos numerá-los aos pares, cada par expressando um mesmo
nível, em seus aspectos espiritual e corporal dependendo da orientação do
olhar: “Identidade espiritual” e “corpo” como primeiro par; “vínculos kármicos”
e “vínculos emocionais”, segundo par; “expressão individual e responsabilidade”
e “ordem e leis sociais”, o terceiro par; e “egoidade” e “ideais” como quarto par.
Visto de forma esquemática, teríamos o seguinte:
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entidade multidimensional, pois cada um desses níveis aparece como uma
dimensão diferente da experiência humana, correspondendo a um grau
diferente de consciência, com diferentes abrangências, constituindo as
diferentes dimensões do ser humano.
Será isso mesmo? Será que esses níveis, esses oito níveis, abarcam
realmente toda entidade humana e todas as entidades existentes? Não.
Percebemos que falta algo essencial.
III
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Representamos esses níveis como triângulos porque assim apareceram
em seu corpo, na percepção interior de Theda. E de fato, foi uma
representação acurada de cada um desses níveis. Triângulos, quando isósceles,
são figuras geométricas que provocam a impressão de movimento, e indicam
movimento em uma direção ao apontar na direção de seu ângulo diferente –
triângulo isósceles é aquele que tem dois ângulos iguais e o terceiro, diferente.
Representando cada triângulo isósceles com uma base horizontal onde estão
adjacentes seus dois ângulos iguais (visíveis ou virtuais) e seu ângulo oposto
apontando para cima ou para baixo, de acordo com o fluxo que queiramos
representar, pudemos criar assim a imagem de um fluxo ascendente e de um
fluxo descendente, obedecendo o mesmo eixo vertical. Temos então quatro
triângulos “ascendentes” e quatro triângulos “descendentes” (cuja base e
ângulos iguais são virtuais, aparecendo como que “abertos”, intencionalmente
apoiados no círculo).
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Triângulos, estruturas de compreensão do ser humano.
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O terceiro triângulo descendente, cujo ângulo descendente repousa na
garganta, se abrindo para o círculo, representando o impulso para a expressão
individual, a autoria, e a tomada de responsabilidade pelos próprios atos; e o
terceiro triângulo ascendente com sua base também paralela à base do
quadrado, repousando sobre o vértice ascendente do segundo triângulo,
abarcando a região do plexo solar e os princípios da autoridade e da ordem
organizadora da esfera social, com suas leis, normas e poder.
Ser humano não se limita ao que pode ser nomeado e conhecido. Ser
humano, como a Vida, está imerso no desconhecido e ilimitado, onde vive seu
potencial criador, um campo de infinitas possibilidades, que não é o campo
espiritual, ou mental, posto que o campo espiritual, ou mente, é apenas um dos
aspectos da Vida. Que também não é o campo material, embora os
materialistas acreditem que a matéria seja o campo das infinitas possibilidades,
sendo responsável pelo surgimento da consciência, da noção de espírito, e do
próprio Deus. Tanto uma visão como a outra erram ao ignorar que campo mental
e campo material são simultâneos e uma coisa só, que chamamos “a Vida”. A
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Vida aparece no Ser. Ser é a condição fundamental onde surge a Vida com
todos seus aspectos. E Ser é ilimitado e infinitivo. Tudo que parece acontecer
acontece no Ser, o que é o antes e é o depois; e é o durante também. Ser, um
verbo infinitivo, ação, movimento sem começo e sem fim. O que não pode ser
nomeado, nem conhecido.
Assim podemos entender o que fica óbvio: o que buscamos nunca iremos
encontrar no âmbito dos quatro pares de triângulos, ou seja, no âmbito de
corpo, alma e espírito. O que buscamos, a Unidade e seus absolutos, como a
liberdade, a confiança, o amor e a paz, jamais estarão no âmbito do corpo, da
alma ou do espírito; nem na consciência autoidentificada nem na consciência
corporificada, em nenhum estado de consciência, nem na inconsciência. O que
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buscamos não é um estado de espírito tampouco; não é um determinado estado
especial entre estados, a ser alcançado através de uma prática, ou de um
método, nem de um processo no tempo.
Quando Theda recebeu o mandato para criar a Escola DEP de seu mestre
interior, ou Campo de Sabedoria Universal, ela recebeu como: “Faça uma escola
para ensinar o que ninguém ensina”; o que é que ninguém ensina? O que não pode
ser ensinado. “Faça uma escola onde se aprenda o que não pode ser ensinado”. E
o que é isso que não pode ser ensinado? O caminho para ser o que se é. Pois já
se é o que se é. Para ser o que se é não existe caminho. Já somos o que somos.
Sempre somos o que somos. Isso não requer tempo, nem processo no tempo.
Não seremos o que somos no futuro; não alcançaremos esse estado de “ser o
que somos”. Ser o que somos não é um estado de ser. É Ser. Simplesmente ser.
Caminho Iniciático é ser, não é um caminho no tempo. É fora do tempo e é fora
do espaço.
IV
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tem a ver com a maturação cerebral, que se prolonga até o fim do
desenvolvimento do lobo pré-frontal por volta dos 21 anos de idade, quando se
diz que o jovem entrou na idade adulta.
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experiências no pós-morte, voltando a reencarnar para completar suas lições
inacabadas, enfrentar novas lições vindas do futuro, a aprender e realizar seus
ideais, em um processo contínuo, até atingir a Unidade como espírito pleno.
Espírito que é visto como a essência da pessoa e que sobrevive à pessoa, como
realidade transpessoal, a reencarnar seguidamente, tantas reencarnações
quanto necessárias até atingir a plenitude do “espírito realizado”, em um mundo
puramente espiritual, entre seres puramente espirituais, que já completaram
seu desenvolvimento e vivem na unidade do mundo espiritual. Que pode então
encarnar livremente, para ajudar os outros no caminho, e é visto na terra como
indivíduo pleno, que é o “Eu sou”, um Deus encarnado, que está no corpo, mas é
além do corpo, que é imortal e eterno, vivendo ao lado de Deus, como seu igual.
Crença que nos prende na armadilha do tempo e da continuidade, acenando com
a imortalidade no fim de um processo de desenvolvimento contínuo;
imortalidade que é vista como o fim da busca, posto que traz a felicidade
eterna, e a tão sonhada Unidade. Prometendo gato e entregando lebre.
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consciência por outras regiões da mente – mente que está em tudo o que existe,
junto com a matéria, e é o arcabouço informacional de tudo o que existe; isso a
amplia a estados que a pessoa experimenta como não-usuais de consciência
onde muitos segredos se desvelam, e resignificações acontecem. Conexões
transpessoais podem acontecer, vindas tanto do passado quanto do futuro, no
tempo que se mostra finito e circular. Padrões ancorados em crenças
impensáveis revelam-se à consciência assim ativada, liberando-a de cargas que
as vezes se mostram muito antigas. A consciência identificada está
identificada com uma memória, ou um padrão, uma crença; podemos dizer que a
consciência fica aprisionada em uma memória, seja de “uma criança interior em
sofrimento”, seja de “um trauma emocional por uma relação abusiva no passado”,
seja de “um acontecimento de uma outra vida”; e assim por diante.
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circunscrevendo-se sobre si mesmo, dando-se conta de si mesmo, tornando-se
consciente de si mesmo, como um Deus criador que aparece no movimento
indistinto da totalidade criando uma bolha de consciência de Si mesmo onde
todo universo aparece, com todas suas criaturas.
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Autoconhecimento é ver o que se é. Conhecer-se a si mesmo. Educação
verdadeira é o autoconhecimento. É além do corpo, da alma e do espírito. Não é
pessoal. Só acontece no momento presente, nem antes nem depois. Nenhum
processo no tempo pode realizar. É além da arte, da religião e da ciência.
Embora seja uma arte. A arte de distinguir o gato da lebre. A arte de
distinguir o verdadeiro do falso e o falso do verdadeiro, e não tomar um pelo
outro. Autoconhecimento é o caminho iniciático. É ser em seu Ser essencial,
além do seu estar individual e pessoal. Um campo de infinitas possibilidades.
Reconheça quem você é, e saiba que não existe, nem nunca existiu nenhuma
separação. Absoluta Totalidade, absoluta Unidade, absoluto Amor, isto é o
que você é. Ainda assim, buscar é um jogo dramático que a vida joga consigo
mesma. Buscar preencher aquele vazio na minha vida que parece ser tão
doloroso. Buscar algum tipo de segurança ou satisfação permanente, na
esperança de que um dia eu vou encontrar o que estou buscando. O que quer
que seja, o que está acontecendo agora nunca parece ser suficiente...
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prepara para enfrentar certos desafios, torna a vida mais confortável, permite
um melhor trânsito social, ser melhor na sua área de atuação, aperfeiçoar-se
em seus talentos, enfim, sair-se bem no cotidiano, realizando sonhos e desejos,
conquistando o sucesso. Mas isso não é autoconhecimento. O autoconhecimento
não produz tudo isso também? Pode produzir, é claro! Mas essa não é a meta do
autoconhecimento. Autoconhecimento é a realização da verdade acerca de si
mesmo. É um ato livre de qualquer condição, qualquer motivo ou finalidade. O
ser humano livre é o que é, não está interessado em tornar-se o que não é; está
em paz. Ama. Isso é Ser. Autoconhecimento é jornada iniciática.
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prazer. Momentos súbitos depois de um esforço intenso ou dedicação profunda
a uma determinada atividade. O perfume da Presença é sentido e
experimentado; um momento fugaz. Deixa aquela saudade impossível, aquele
anseio profundo, uma tristeza sem pé nem cabeça. Momentos numinosos, que
nos marcam fundo. Com certeza, todos experimentamos isso. Presença é mais
próxima de nós do que nós mesmos. Está sempre aqui. Nunca foi embora. Nós é
que aparentemente nos encolhemos. E adormecemos em nós mesmos. Nem
existimos de fato. Caminho Iniciático é o “caminho” que começa e termina no
que é. Começa e termina antes mesmo de começar. Sem ninguém a caminhar.
Estamos conversando sobre nossa própria vida, não fazendo suposições sobre
a vida de outras pessoas. De fato, estamos juntos como dois amigos, neste lugar
tranqüilo, investigando nossos problemas. Somos sérios, interessados e
comprometidos com a solução dos problemas humanos, porque sentimos, como duas
pessoas, que nós somos o mundo e o mundo é o que nós somos.
Por que você não começa pelo outro lado, o lado que você não conhece? Da
outra margem, a qual você não tem possibilidade de ver desta margem? Comece do
desconhecido, ao invés de começar do conhecido; pois esse constante exame e análise
somente fortalecem e condicionam ainda mais o conhecido. Se a mente vive a partir
do outro lado, então esses problemas não existem.
"Mas, como vou começar do outro lado? Eu não o conheço, não sei onde está,
não posso vê-lo”.
Quando você pergunta: “Como vou começar do outro lado?” – você está ainda
perguntando a partir deste lado. Portanto, não pergunte isto, mas comece do outro
lado; do lado que você não conhece nada; comece de outra dimensão, que o
pensamento, por mais astuto que seja, não pode apreender.
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"Não posso imaginar como começar de outro lado. Em verdade, não
compreendo essa asserção vaga; essa afirmação que, para mim, não tem significado
nenhum. Só posso ir onde conheço”.
Mas, o que é que você conhece? Você só conhece o que já está acabado,
concluído. Você só conhece o passado. E estamos dizendo: comece daquilo que você
não conhece, e viva a partir daí. Se você diz: "Como vou viver a partir desse lugar?" –
então você está convidando o padrão do passado. Mas, se você vive a partir do
desconhecido, você está vivendo em liberdade, agindo a partir da liberdade e isso,
afinal, é amor. Se você diz: "Eu sei o que é o amor" – então você não sabe. Pois o amor
não é conhecimento, não é memória, nem a lembrança de um prazer. E como não é uma
memória, nem uma lembrança, então viva daquilo que você não conhece.
“Realmente não sei do que você está falando. Você está tornando as coisas
ainda mais difíceis".
Estou propondo uma coisa muito simples. E estou dizendo que, quanto mais
você procura, mais você tem para procurar. O próprio procurar é o condicionamento, e
cada passo constrói um caminho que não leva a parte alguma. Você quer que novos
passos sejam dados para você; ou você quer dar seus próprios passos esperando que o
levem a uma dimensão totalmente diferente. Mas, de fato, você não sabe o que tal
dimensão é, então sejam quais forem os passos que você dê, só poderão levá-lo àquilo
que já é conhecido. Assim, largue tudo isso e comece do outro lado. Fique em silêncio,
e você vai descobrir.
Aí está você de novo perguntando "como", querendo “saber como” para depois
“fazer certo”, e não há um fim para o "como". Todo saber está do lado errado. Se
você sabe, você já está morto. Ser não é saber.
VI
Você quer?
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Referências:
Krishnamurti, J. - “A Única Revolução”, Terra sem Caminho, RJ, 2001, pág 145.
Parsons, T. - “All There Is”, Open Secret, Inglaterra, 2003, pág. 108.
Leituras Complementares:
Renard, G.R. - “The Disappearance of the Universe”, Hay House, USA, 2004.
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