Apostila de Didatica

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A ORIGEM DA DIDÁTICA.

excetuar ninguém em parte alguma, possa ser formada nos


estudos, educada nos bons costumes, impregnada de piedade, e,
COMO SURGIU A DIDÁTICA? desta maneira, possa ser, nos anos da puberdade, instruída em
tudo o que diz respeito à vida presente e à futura, com economia de
As primeiras idéias a respeito da Didática surgiram tempo e de fadiga, com agrado e com solidez (COMÊNIO apud
em países da Europa Central. Dois nomes se destacam como os PIMENTA, 2002, p. 43).
mais importantes educadores dessa época: Ratíquio e Comênio.
Segundo Comênio, o método de ensino deve seguir alguns passos DIDÁTICA COMENIANA
importantes: Princípio da Didática comeniana: O fundamento
• Ensinar tudo o que se deve saber; dá-se na própria natureza. Perfeita, como criação divina, ela fornece
mostrar a aplicação prática de tudo o que é ensinado; explicar em seu processo evolutivo as bases para o ensino, no qual é
de maneira direta e clara; ensinar a verdadeira natureza das preciso: Partir do simples para o complexo; desenvolver cada etapa
coisas, partindo de suas causas; explicar primeiro os a seu tempo; partir da crença de que todo fruto amadurece, mas
princípios gerais; ensinar as coisas em seu devido tempo; precisa de condições adequadas.
persistir em um assunto até sua perfeita compreensão; dar a
devida importância às diferenças que existem entre as coisas. DIDÁTICA GERAL
Comênio escreveu uma obra importantíssima e Disciplina de Núcleo Comum sua verdade é
marcante para a história da Didática: a Didática Magna que possuía demonstrada com exemplos paralelos das artes mecânicas:
um caráter revolucionário e pautava-se por ideais ético-religiosos. criações do homem com base no funcionamento da natureza. O
curso dos estudos é distribuído por anos, meses, dias e horas; e,
Neste documento, foi desenvolvido um método por fim, é indicado um caminho fácil e seguro para pôr em prática
único para ensinar tudo a todos. Comênio preocupava-se essas coisas com bom resultado (COMÊNIO apud PIMENTA 2002,
especialmente com o ato de ler e de escrever, começando pela p. 43). Segundo Castro (1991, p. 16), “tem-se notícias de
língua materna, em uma época em que predominava o latim. Esse experiências educacionais realizadas conforme os princípios
ensino deveria ser destinado a todos, sem a intervenção da Igreja expostos, embora nem todas tivessem tido sucesso”.
Católica, que, a esta altura, já tinha instalado seu projeto
educacional para a educação de jovens e adultos, por intermédio da Um pouco mais tarde, no século XVIII, aparece
Companhia de Jesus, com a obra Ratio atque Institutioni Studiorum Rousseau o autor da segunda revolução da didática. Ele não
(Método Pedagógico dos Jesuítas). Mas, qual a idéia de Didática colocou a didática em prática, nem organizou métodos. No entanto,
para Comênio? sua obra chamada Emílio tornou-se manifesto do novo pensamento
Um processo seguro e excelente de instituir, em pedagógico e assim permanece até nossos dias. Nessa obra,
todas as comunidades de qualquer reino cristão, cidades, aldeias, Rousseau pretendeu provar que é bom tudo o que sai das mãos do
escolas tais que toda a juventude de um e de outro sexo, sem criador da Natureza e que tudo degenera nas mãos do homem.

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Pregou que à criança deveria ser dada a possibilidade de um de ensinar baseados na atividade do aprendiz. Formulado com base
desenvolvimento livre e espontâneo. O primeiro livro de leitura nas contribuições de Pestalozzi (1749-1827), do alemão
deveria ser Robinson Crusoé, considerado um tratado de educação Kerschensteiner (1854-1932) e do francês Decroly (1871-1932),
natural. A educação deveria ser a própria vida da criança. A obra de autores europeus cujas idéias conviviam com a época em que a
Rousseau deu origem a um novo conceito de infância – criança passava a ser valorizada no bojo do desenvolvimento
ressaltando-a e transformando o método de ensinar em um industrial e da expansão da escolaridade pública, considerada esta
procedimento natural, que deveria ser exercido sem pressa. como direito e, ao mesmo tempo, requisito para a formação de mão
A valorização da infância aguardou mais de um de obra do nascente capitalismo. Esse movimento expande-se com
século para concretizar-se. Podemos dizer que Comênio, ao seguir as idéias da médica italiana Maria Montessori (1870-1952) e do
as pegadas da natureza, pensava em domar as paixões das filósofo americano John Dewey (1870-1952), que teve por discípulo
crianças, enquanto Rousseau partiu da idéia da bondade do Anísio Teixeira (1900-1972), principal responsável pela formulação
homem, corrompido pela sociedade (CASTRO 1991). e expansão desse movimento no Brasil (PIMENTA, 2002, p. 44,
No século seguinte, Herbart, desejando ser o grifo nosso).
criador da Pedagogia Científica defendeu a educação pela O movimento escolanovista muda o aspecto da
instrução, criando os passos formais da aprendizagem: clareza (na Didática, enfatizando o aluno como agente ativo da aprendizagem e
exposição); associação (dos conhecimentos novos com os valorizando os métodos que respeitassem a natureza da criança
anteriores); sistematização; método. que a motivassem e a estimulassem a crescer. No entanto, Saviani
(1992) faz uma crítica à Escola Nova, ressaltando que quanto mais
Mais tarde, esses passos receberam nova divisão: se falou em democracia no interior da escola, menos ela esteve
Preparação (da aula e da classe: motivação); apresentação; articulada com a construção de uma ordem democrática. Segundo o
assimilação, generalização e aplicação (dos conhecimentos autor, ao formular sistemas de ensino, a burguesia colocou a
adquiridos). escolarização como uma das condições para a consolidação da
Com essa didática, Herbart enfatizou o papel do ordem democrática.
professor no processo de ensino. Como você pôde constatar,
Rousseau ressaltava a criança, o aluno, como o sujeito que COMO ERA VISTA A DIDÁTICA?
aprende; já Herbart, dava importância ao método, que pode ser
interpretado como uma retomada ao desejo de um método único Infelizmente, a Didática era considerada como
elaborado por Comênio em sua Didática Magna. uma forma de exclusão social. Por quê? Se os alunos aprendem ou
Com Rousseau, temos lançadas as bases da não – embora sejam considerados os sujeitos do processo - a
Escola Nova, que questiona o método único e a valorização dos responsabilidade não é dos professores, de sua didática, de seus
aspectos externos ao sujeito-aprendiz decorrentes de Herbart. métodos, do que ensinam das formas de avaliar e de como se
Pode-se traduzi-la como: Didática Geral. Disciplina de Núcleo relacionam com os alunos, nem das escolas, da forma como estão
Comum Movimento que propôs alteração significativa nos métodos organizadas e selecionam seus alunos. Ambos, escolas e

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professores cumpriam seus papéis. Se os alunos não tinham de ensino.
capacidade para aprender, a responsabilidade escapa à escola e Em certos momentos da História, o ensino foi
aos professores. entendido como modelagem ou Armazenamento; em outros, como
Nesse contexto, no sentido de teoria do ensino, a desenvolvimento ou desabrochamento. Assim, novos modelos de
Didática reduziu-se a métodos e a procedimentos compreendidos interpretar o ensino desencadeiam novos nomes para denominá-lo,
como aplicação dos conhecimentos científicos e traduzidos em como, por exemplo, direção da aprendizagem; conseqüentemente,
técnicas de ensinar. vão surgindo novos adjetivos para a disciplina que dele se ocupa: a
Já nos anos 60, com a informática, acentua-se o Didática.
surgimento das técnicas e das tecnologias, como o novo paradigma O objeto da Didática é o ensino, visto tanto como
didático. Ou seja, o campo do didático se resumiria ao intenção de produzir aprendizagem e sem delimitação da natureza
desenvolvimento de novas técnicas de ensinar, e o ensino, à do resultado possível, quanto desenvolvimento da capacidade de
aplicação delas nas diversas situações. aprender e compreender. Fica fácil entender que, para a Didática
Uma nova conceituação de Didática aparece nesse ganhar qualidade, deve estender suas fronteiras rumo à Psicologia,
cenário: a ela caberia fornecer aos futuros professores os meios e Sociologia, Política e Filosofia.
os instrumentos eficientes para o desenvolvimento e o controle do O itinerário feito do século XVII até nossos dias
processo de ensinar, tento em vista à maior eficácia nos resultados indicou dois marcos no desenvolvimento histórico da Didática:
do ensino. 1° marco: O primeiro objeto de estudo foi o
Nesse panorama de processo-produto, não cabe à Método, que correspondia ao modo de agir sobre o educando, mas
Didática questionar os fins do ensino, uma vez que já estão que recuou quando o aprendiz apareceu como sujeito do processo.
previamente definidos pela expectativa que a sociedade 2° marco: No século XIX, o método foi enfatizado,
(dominante) tem da escola: preparar para o mercado de trabalho- ressaltando as características o de ordem e seqüência no processo
critério para a avaliação do sistema escolar. Essa didática didático antes que a Escola Nova recorresse à Psicologia da
instrumental infiltra fortemente os cursos de licenciatura e passa a criança.
ser desejada pelos licenciados, ansiosos por encontrar uma saída No entanto, a Didática está ainda impregnada da
única – um método, uma técnica – capaz de ensinar a toda e agitação da época e continua sendo objeto de estudo de pesquisas
qualquer turma de estudantes, independente de suas condições e exploração. Libanêo (1990) critica o conceito de ensino quando
sociais e pessoais (PIMENTA, 2002, p. 47). visto apenas como a transmissão da matéria aos alunos, realização
de exercícios repetitivos, memorização de definições e fórmulas.
DIDÁTICA: OBJETO DE ESTUDO Segundo o autor, devemos entender o processo de
ensino como: O conjunto de atividades organizadas do professor e
A partir dos anos 80 e 90, o estudo da Didática dos alunos, visando alcançar determinados resultados (domínio de
tornou-se mais intenso; e essa discussão nos permitirá conhecimentos e desenvolvimento das capacidades cognitivas),
compreender qual é seu objeto no contexto educacional: o processo tendo como ponto de partida o nível atual de conhecimentos,

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experiências e de desenvolvimento mental dos alunos (LIBÂNEO, ativos, críticos, éticos, participativos, reflexivos, colaborativos e
1990, p. 79). conectados com o contexto da atualidade: o entendimento de que a
A especificidade do trabalho do professor é educação é um processo que faz parte do conteúdo global da
combinar a atividade didática entre ensino e aprendizagem, sociedade; A compreensão de que a escola é parte integrante do
mediante o processo de ensino. Para assegurar que o aluno todo social; A visão da prática pedagógica como prática social.
aprenda, ou melhor, apreenda, o professor precisa: ter claro os
objetivos de ensino; saber explicar a matéria (tornar acessível ao COMPONETES DA DIDÁTICA
aluno); buscar conhecer o que os alunos já sabem sobre o assunto
estudado; motivar o aluno para estudar a matéria nova, ou seja, é Componentes do processo didático são saber,
necessário que a matéria tenha significado e utilidade para a vida professor e aluno. Onde o professor tem a função de orientar os
diária dos educandos. Como o professor pode garantir o alunos no processo educativo; o saber, que envolve os conteúdos
desenvolvimento global dos alunos? Ao organizar o processo de ministrados de acordo com o método do professor com a idéia de
ensino, é preciso articular com clareza os seguintes elementos: facilitar a aprendizagem; e o aluno, motivo da existência da escola.
objetivos; conteúdos; métodos e avaliação.
O grande desafio do momento: “a superação de O professor não é apenas, professor, ele participa
uma Didática exclusivamente instrumental e a construção de uma de outros contextos de relações sociais. Assim, de acordo com
Didática fundamental” (CANDAU, 1984, p. 21). experiências, o professor possui algumas características de acordo
com as funções que exercem: por exemplo, técnica –
OBJETO DE ESTUDO DA DIDÁTICA. conhecimentos para exercício de alguma atividade; Didática –
orienta o processo de aprendizagem do aluno; orientadora –
A Didática durante certo tempo tinha o ensino estimulo do aluno; facilitadora – trabalha para que o aluno seja o
como seu objeto de estudo, mas os teóricos ao longo do tempo sujeito e conduza a sua aprendizagem;
perceberam através da práxis, que não se poderia estudar só o
processo de ensino sem levar em consideração a aprendizagem, Então, o enfoque curricular há de ampliar o "que",
ou seja, podemos afirmar que se não houve aprendizagem, não o "porque", o "para que" e em que condições há que levar-se a
houve ensino. cabo o ensino, mas, sempre colocando no centro de suas
considerações o aluno. Para que estes conteúdos curriculares
Ensinar seria guiar, conduzir, o educando a cumpram seus objetivos é necessário uma adequada seleção e uso
aprendizagem. Assim, os pressupostos para a formulação de uma acertado das melhores estratégias didáticas, que não poderão ser
didática que contribua para a elaboração de uma proposta de independentes do conteúdo, dos objetivos e nem do contexto. É
ensino voltada para os professores como mediador do importante para alcançar as metas pretendidas uma estreita
conhecimento, possibilitando ao educando a construção da colaboração entre a elaboração do currículo e a escolha de
aprendizagem e formação de sua cidadania, como indivíduos estratégias didáticas.

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A DIDÁTICA QUE SE ENSINA torna possível que este conheça bem os seus alunos e a própria
escola; têm recursos e materiais em profusão e todo um apoio
Uma questão a meu ver (CANDAU, 2004) poderá técnico-administrativo para fornecer ao professor os recursos e
orientar o “balanço” sobre a didática que se ensina: serviços de que precisam. Entre nós, o professor raramente conta
-O que aconteceria aos cursos de formação de com um “serviço de computação”.
professores se fosse eliminada a cadeira de didática? - “Os professores de didática pretendem, pois, dar
Acredita bastante próxima da verdade a afirmação receitas com ingredientes (importados) que não estão disponíveis
de que não aconteceria nada. Ou seja, em nada se modificaria o no mercado”...
perfil da prática pedagógica da maioria dos professores. A didática - “Não têm vivência de sala de aula e de escolas,
destes cursos é inútil. Os professores entrevistados não souberam nos níveis e com os grupos com que os futuros professores irão
citar nenhum livro ou autor de didática, de que tenham se servido atuar”. Propõem o que nunca aplicaram nas situações e contextos
para subsidiar a prática docente. Nem mesmo destacar, algo do que serão os que o futuro professor enfrentará’.
conteúdo da disciplina, que lhes tenha sido de valia. Nunca -“A didática está sempre cheia de ‘modismos’:
recorreram a tais livros a não ser por ocasião de “concursos trabalho em grupo, ‘criatividade’, objetivos comportamentais,
público”. Nenhum soube citar um professor de didática, ou de avaliação de atitudes, etc. Como um professor pode avaliar atitudes
licenciatura, que tivesse marcado sua formação. (referências aos conselhos de classe) se a cada semestre tem 10
Será tudo uma grande inutilidade? ou mais turmas de 400 a 500 alunos”?
Será que não houve nenhum progresso na área - “O professor que tentar formular suas provas de
hoje, parece-me inegável ter havido um “progresso interno na acordo com os objetivos de Bloom morre de estafa, ou de fome”...
área”: há uma significativa melhora na organização dos conteúdos Enfim, os depoimentos orientam - se no sentido de
da didática, houve uma ampliação desses conteúdos em relação á questionar o professor de didática ‘ com suas regras e técnicas
minha fase de estudante: análise sistêmica, formulação de importadas’ que, no entanto ignoram completamente as condições
objetivos, avaliação, técnicas de trabalho em grupo, etc. Além concretas da prática de nossos professores e da vida da maioria
disso, uma certa “sofisticação científica” da área é indiscutível. dos nossos estudantes.
Entretanto, as principais críticas dós entrevistados
centram-se em: A DIDÁTICA QUE SE USA
-Falta aos cursos de didática “pé na realidade”.
Ou seja, falta a contextualização ou enraizamento na realidade do - “É a que se aprende ensinando e
nosso ensino, das nossas escolas e de suas clientelas e nas experimentando dentro das condições concretas do professor em
condições da prática profissional do nosso professor. nosso sistema de ensino (com alunos x, em escolas a e y nas
-”Cópia de modelos estrangeiros”... “Os países escolas b)”.
desenvolvidos, onde são gerados estes modelos, têm condições de - “Quadro-negro, giz e livro didático são os
fixar o professor em tempo integral em uma única escola, o que recursos usuais da maioria dos professores”.

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-“Quando gosta do que faz soma a isso uma boa A didática que se usa é forjada na prática. Esse
dose de entusiasmo e motivação que se reflete em sua prática e fato, somado ao desprestígio crescente da profissão faz com que
em seus alunos, que se envolvem e por isso aprendem”. seja “campo residual” de mercado de trabalho. Enormes
-“Têm preocupações em adequar o que querem contingentes de “profissionais provisórios” (“se não conseguir... vou
alcançar com aqueles alunos”. Com adequação dos exemplos ser professor”...) entram assim para o magistério, incapacitados de
(concretizações), com a escolha dos exercícios, com o ritmo da “elaborar sua didática na prática”, porque a rejeitam, nela não se
aula, com a diversificação de forma e recursos que dependem envolvem e dela não gostam.
basicamente dos ‘recursos dramáticos’ do professor, do Talvez aí esteja a explicação da pouca efetividade
conhecimento da realidade de cada grupo de alunos, e, algumas da “didática que se usa” em nossas escolas. Ela depende dos que
vezes, dos recursos das próprias escolas. “gostam do que fazem”, dos que “colocam emoção e entusiasmo
Foi unânime a afirmação de que o professor em suas aulas” e esses, dadas as condições concretas da
aprende a ensinar ensinando, ou seja, na prática; é aí que profissão, são uns poucos “vocacionados” que independem da
desenvolve a “sua didática”, obedecendo ao seu estilo. Gostando “didática que se ensina” nos cursos de formação de professores.
do que fazem, colocando no que fazem emoção e entusiasmo, OS DESAFIOS DO SISTEMA DE ENSINO
acabam contrabalançando as precárias condições de sua prática
(muitas horas/aula semanais, ensinar em várias escolas e dos As pesquisas nacionais e internacionais apontam
alunos, etc.). Unânime ainda a queixa de aviltamento das convergentemente para a relação entre nível sócio-econômico e
condições de trabalho do professor, o que aponta, a meu ver, para desempenho escolar. Aluno de níveis sócio-econômicos elevados
a necessidade de ser melhor trabalhada a “dimensão política da tendem significativamente a ter desempenhos mais elevados, não
ação pedagógica”, para que vá além do reconhecimento do aspecto importa em que tipo de escola.
político da educação escolar, até alcançar as condições O aluno de “bom nível” praticamente independe
necessárias para uma prática pedagógica eficiente. de escola; a “boa didática”, a meu ver, deve ser avaliada pelos
Gostar do que faz, segundo os mesmos bons resultados que obtém com os alunos “fracos”. O efeito
depoimentos, implica em dominar a área e os conteúdos que combinado das “variáveis escolares” explicam mais a diferença de
ensina (outro ingrediente, unanimemente apontado como rendimento dos que dependem exclusivamente da escola para
indispensável para ser um bom professor). Quando fazem cursos alcançar os conteúdos e habilidades escolares do que o seu
de aperfeiçoamento, procuram os relacionados á disciplina que background social. Para os “alunos pobres” faz muita diferença a
ensinam; jamais os de técnicas de ensino ou “pedagógicos”. Não qualidade da escola. Caberia, face a isso, perguntarmos por que
estaria aí mais um indicador da distância desses cursos da entre nós, apesar de toda a “evolução” da didática e tecnologia do
realidade da prática dos professores? ensino, ainda não conseguimos um impacto positivo sobre o
Mostraram, de uma maneira geral, uma profunda rendimento escolar?
rejeição pelos “pedagogos”: “Falam do que não dominam”... “Muito As pesquisas estudadas foram unânimes em
discurso, pouca visão de realidade”... afirmar que a escola desenvolve uma prática inteiramente distante

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do universo cultural da maioria da clientela escolar. Está faltando, prática eficaz, é no mínimo quere manter por cima do “gritante
como já colocamos anteriormente, conhecimento da realidade quadro de mediocridade” o esvaziado discurso da grande tarefa do
cultural, e das condições concretas de vida das crianças de educador.
camadas populares, que possa fundamentar a capacitação técnica A expectativa do professor em relação ao
dos professores. desempenho do aluno tem um papel decisivo em seu rendimento
Nenhuma didática será adequada se não se (Profecia auto-realizável). A defasagem entre o aluno real e o
fundamentar neste conhecimento, quer pela sua articulação com as “padrão de aluno”, implícito na maioria das “disciplinas
disciplinas afins, que possam fornecer esses subsídios, quer pela pedagógicas” (inclusive a didática), não é problematizada pelo
busca desses conhecimentos, quando não disponíveis nas professor, que diagnostica precocemente, influenciado por esse
pedagógicas, com os conteúdos de sua área. Estes confrontos, padrão, a “incapacidade” de seus alunos. A única forma de superar
certamente, implicarão numa revisão dos atuais objetivos, tal problema será através de uma fundamentação teórica adequada
conteúdos e prática do ensino da didática e, provavelmente, ao conhecimento do aluno real, presente em nossas escolas, que
constituir-se-á em elemento valioso para a adequação da didática em sua maioria afasta- se do “padrão classe-média”.
às condições concretas da prática do magistério, possibilitando a A burocratização das rotinas e a divisão do
adaptação do ensino ás necessidades da clientela majoritária de trabalho didático dentro das escolas levaram a uma diminuição da
nossas escolas públicas. responsabilidade e autonomia dos professores e a um
Pesquisas que trabalharam com grandes descompromisso com a eficácia de sua prática docente. O que
amostras não encontraram correlação significativa entre nível de caracteriza a burocratização é exatamente a indiferenciação e
habilitação do professor e rendimento dos alunos. A variável rotinização, que leva á imposição de certas normas e padrões. Para
experiência do professor também não tem efeito linear sobre o os alunos das camadas populares, os efeitos desta prática são
rendimento do aluno. Foi encontrado maior rendimento por parte de extremamente negativos, pois, mais do que outras camadas (as
alunos de professores que ensinam em séries de sua preferência. favorecidas), são eles que precisam de diferenciação estratégias e
O gosto pelo que faz, a motivação e o entusiasmo foram alternativas variadas, que só o professor em contato direto e
características citadas unanimemente pelos professores quotidiano com eles será capaz de elaborar, se para isso estiver
entrevistados como básicas para ser um bom professor. O sensibilizado e qualificado.
professor “contagia” os alunos com sua motivação. Será que os É entre os “professores de escolas carentes” que
cursos e professores de didática estão instrumentalizando seus se encontra maior insatisfação com a assistência técnica dos
alunos para uma prática profissional bem sucedida? Será que se o órgãos especializados da instituição escolar, SOE, SOP, etc. Este
fizessem não estariam contribuindo para reverter a atual resultado parece apontar para a inadequação das “propostas
conformação: gosto pelo que faz/capacitação, para técnicas” dos setores especializados da educação. Aqui parece
capacitação/gosto pelo que faz? evidente a distância entre a “racionalização técnica”, as tecnologias
Depender, nas atuais condições, do pequeno educacionais, “laboratórios de currículos”, etc., a as necessidades
número de “vocacionados” para o magistério, para alcançar uma concretas de “competência técnica” para os professores dessas

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escolas. Parece inadiável a revisão dos princípios que vêm Atualmente podemos citar dois fatores (além dos já
norteando a formação dos especialistas em educação e dos citados) que são grandes desafios não somente para a didática,
próprios cursos de didática. mas para todo o sistema de ensino que são, a legislação
A prática de planejamento dos professores é educacional brasileira e a política neoliberal. Sabemos que estes
formalizada, ritualística, normalmente cópia de um produto ideal fatores são regidos por influências políticas, que as conduzem
acabado. O planejamento é”pro forma”, para o simples mediante seus interesses. “Há um reducionismo técnico da didática
cumprimento de normas burocráticas. Se os professores tivessem orientada pelos documentos legais que norteiam a formação de
aprendido uma forma útil e adequada de planejamento para professores” (VEIGA, 2006a, p.46-47).
desenvolvimento de seu trabalho, que lhes garantisse eficácia e A legislação educacional é influenciada
rendimento a um “custo” equivalente, certamente o utilizaria. Aí sim diretamente pela visão neoliberal, que busca formar o professor
teríamos a “instrumentalização técnica” do professor. através de uma pedagogia por competências e ligada a avaliação
Os alunos de camadas populares são absorvidos de resultados, ou seja, um professor pragmático. Não há uma
pelas escolas de condições mais precárias. Este é um “efeito preocupação com a formação crítica e contextualizada, sendo
perverso” de nosso sistema de ensino encarado como “natural” assim, a didática e toda a formação do futuro professor fica
pela maioria dos professores. Não caberia á didática desenvolver desvinculada do contexto social, gerando a formação de caráter
recursos e meios menos sofisticados e mais ligados ao contexto técnico, onde o professor é um mero executor de leis impostas pelo
das escolas das camadas populares, revertendo assim a tendência sistema e que não é nem capaz de enxergar a ideologia que o
de oferecer piores condições de ensino, exatamente para os que cerca, muito menos criticá-la buscando transformações. Tem-se
dependem exclusivamente da escola para ter acesso ao saber que assim, o professor pragmatista, que concebe a didática como um
tem valor social? conjunto de informações técnicas apenas, distorcendo-a.
Outro ponto muito importante que a didática
OS DESAFIOS ATUAIS DA DIDÁTICA possui como desafio atualmente é à busca da qualidade e
democratização do ensino, como é possível que um professor que
São muitas as questões que influenciam a vive preso a uma ideologia de concepção de ensino, regida por
didática e que se colocam como desafios ao seu desenvolvimento. interesses políticos e que exerce uma didática passiva e acritica,
Podemos citar os aspectos políticos, econômicos, sociais, de lute pela qualidade e acesso de um ensino para todos. O professor
formação, amor, dedicação, pragmatismo, unidimensionalidade, deve ter primeiro, certeza de seu objetivo como educador para
enfim, a didática vem sendo conduzida por alguma finalidade que a posteriormente compreender que suas escolhas e postura é que
transforma ou distorce de seu verdadeiro sentido. Segundo Castro afirmarão se está percorrendo o caminho certo. Se o professor opta
(2006, p.22) os adjetivos que são acrescentados à didática por ser um profissional crítico, suas atitudes deveram ser críticas,
parecem periodicamente cumprir esse papel de alterá-la ao sabor justas e reflexivas, não somente em palavras, mas em ações
do seu conteúdo. concretas. Caso escolha ser um profissional neutro seguirá a
ideologias impostas, cobrará apenas resultados á partir de técnicas

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de ensino, sem considerar a realidade em que os alunos vivem e discentes o senso crítico que os auxiliará, não somente no
aprendem. processo de mudança social, mas também durante toda sua vida.
Podemos perceber que a busca atualmente é por
uma formação do professor que possua uma didática condizente Para que o professor possa alcançar seus
com o momento e a realidade de nossos dias e que irá atuar objetivos em sala de aula, é necessário que ele tenha uma
futuramente, essa formação deverá compreender subsídios que metodologia capaz de despertar em seus alunos, a vontade de
conscientizem o futuro professor de que a maioria das crianças que construir seu próprio saber, através da formulação e reformulação
educará advém da classe média baixa (clientela da escola pública), de idéias. Algumas pessoas podem ter o dom da docência, mas a
pois elas caracterizam a situação econômica e realidade social do arte de ensinar e as metodologias que nela são encontradas só
país, e que possuem o direito de acesso e qualidade de ensino podem ser alcançadas com o estudo da didática.
que, inclusive está prevista em lei.
DIDÁTICA E ENSINO
Os profissionais da educação que se
disponibilizarem a levar a sério esta profissão deverão fazer valer Já que existe uma ligação entre o ensino como o
os direitos de cada criança, enquanto cidadão, só assim o professor objeto de estudo da Didática, e as matérias que são propostas pela
demonstrará competência, criticidade e respeito em sua profissão, a ementa escolar. No processo de ensino do conhecimento, não se
podendo exigir o mesmo de todos, pois “... a incompetência pode desconsiderar as evoluções que ocorreram nas áreas
profissional desqualifica a autoridade do professor” não somente a científicas e pedagógicas. Dessa forma, apreenderemos a função
autoridade sobre a classe, mas sobre toda a sociedade (FREIRE, da Didática constituída por crítica e transformação do processo
2004, p. 93). ensino aprendizagem no ambiente escolar.

DIDÁTICA E EDUCAÇÃO A Didática auxilia o educador no ato de ensinar e


apresenta ao educando meios de como se pode aprender, ou seja,
A palavra didática pode ser entendida como o objetivo da mesma é que o ensino seja constituído por pesquisa,
ciência e a arte do ensino. Através do estudo desta ciência, coletas e formulações de soluções aos questionamentos feitos pela
podemos conhecer estratégias a serem usadas pelo docente com o pratica dos alunos. Assim, a Didática abrange todas as situações
intuito de facilitar o processo de ensino-aprendizagem. É fazendo que envolvem o ensinar e o aprender, também as condições
uso das metodologias e ensinamentos passados por ela que o pedagógicas, e as praticas educativas e seus elos, de ligações com
professor poderá criar ambientes que estimulem e favoreçam a as suas propostas.
aprendizagem do aluno. Através da educação, o professor pode
auxiliar seus alunos para que estes venham transformar sua O processo de ensino formado pelo trabalho
realidade, pois fazendo uso da didática de modo crítico, o educador escolar seqüencial do educador e do educando, com a finalidade
tem em mãos a possibilidade de ajudar a desenvolver em seus da absorção do conhecimento e do desenvolvimento de habilidades

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dos alunos. Que por sua vez estão inseridos no processo de A aprendizagem ocorre, segundo Piletti (1990),
educação formal. O objetivo do ensino é a aprendizagem, mas nem em fases, sendo a primeira da observação de uma situação
sempre ela ocorre. Por isso a Didática tem a função de orientar o concreta, cuja primeira percepção é geral e difusa. A segunda é a
educador, de modo que possa levar o educando a construção de da análise, que considera a diversidade dos elementos que
seu saber. Para isso é necessário que o professor tenha integram o conjunto de circunstâncias em que o aprendiz está
competência Didática, por exemplo, capacidade de utilizações de inserido. A terceira, a fase da síntese, é onde ocorrem as
recursos aptos a tornarem fecundos os formadores de ensino. conclusões.
Logo, cabe ao professor nas transmissões do conteúdo levar os
alunos a assimilação do novo saber, verificando e avaliando os Libâneo (1994) destaca que é necessário
conhecimentos adquiridos. O professor deve planejar o curso ou a distinguir a aprendizagem casual, espontânea, que se efetua
disciplina a ser ministrado segundo o projeto pedagógico da escola, através da interação entre as pessoas e o contexto, da organizada,
orientando atividades que permitam aos alunos alcançarem os que assimila determinados conhecimentos e normas de
objetivos propostos, através da supervisão da aprendizagem. convivência social, sendo planejada e sistemática. Durante o
processo de ensino, somente quando este provoca uma
DIDÁTICA E APRENDIZAGEM modificação na estrutura das funções psíquicas do aluno é que se
produz o desenvolvimento que conduzirá a novas formas de
A escola, como instituição histórica, coloca-se interação do sujeito com a sua realidade social. Assim, a
entre a relação daquele que vai à escola procurando e querendo aprendizagem e o ensino são processos sociais de enriquecimento
aprender, e todos que compõem o corpo da escola, que se propõe individual e grupal, na interação como a realidade social e de como
a ensinar. Nesse processo, Pilletti (1990) destaca três tipos de o sujeito reproduz a informação. Neste sentido, o professor deve
aprendizagem, que são: ser o mediador do processo de ensino-aprendizagem, construindo
uma relação de colaboração com autenticidade, segurança e
a) motora ou motriz (simples habilidades motoras, respeito ao desenvolver atividades.
como andar de bicicleta, até habilidades verbais e gráficas, como a
fala e a escrita); Desse modo, a sala de aula é um espaço
interativo de transformação e a qualidade da aprendizagem está
b) cognitiva (informações e conhecimentos em como o sujeito desenvolve a atividade, pelo trabalho coletivo,
simples ou complexos); níveis de cooperação, o diálogo, rumo à construção do trabalho
coletivo. O professor deve considerar a capacidade de
c) afetiva (sentidos e emoções). aprendizagem do sujeito, a sua subjetividade, motivação e, com
isso, facilitar o ensino. A capacidade de aprendizagem está
permeada por duas dimensões que acontecem vinculados a um
conhecimento das experiências e vivências do sujeito. São elas a

10
operacional (recursos cognitivos, afetivo-emocionais e particulares ou públicas, proporcionando a noção e a prática da
psicomotores) e a processual (se efetiva através da qualidade com sociabilidade necessária à infância e à adolescência, atuando,
que o processo transcorre e não somente com os resultados da nesse caso, em duplo sentido: ajustar o indivíduo imaturo aos
aprendizagem). Essa mesma capacidade está ligada aos objetivos padrões de comportamento da geração adulta e exprimir as
dos alunos (metas e aspirações pessoais) que se dará pelas necessidades e tendências das novas gerações como instrumento
mediações da aprendizagem, que, com elas, o sujeito elege, de socialização das gerações mais jovens, reduzindo as tensões
coordena e aplica suas habilidades (PROFORMAR, 2006). sociais ao nível de relações de acomodação e cooperação entre
adultos e jovens.
Tais propostas procuram desenvolver as As diferentes concepções sociais e políticas, bem
estratégias cognitivas do aluno, tentam ajudar o aluno a como as condições dos alunos, determinam o aparecimento de
desenvolver a sua capacidade de aprender, de refletir e exercê-las instituições escolares de tipos muito diversos, de acordo com as
sozinho. Após ter preparado o aluno, o professor esforçar-se em finalidades a que se propõem. Assim, segundo a condição física e
levá-lo a refletir por si mesmo, a construir sua autonomia. mental dos alunos, a escola pode ser dirigida a crianças normais e
a crianças excepcionais e de acordo com a idade dos alunos, pode
A função do professor já não é apenas transmitir ser educação infantil, ensino fundamental, médio e pós-médio (para
conhecimentos, mas agir de modo que os alunos aprendam, ele aperfeiçoamento de adultos).
torna-se um intermediário entre o saber e o aluno, levando em A didática insere nesse processo um importante
consideração os processos de aprendizagem, facilitando a papel como elemento estruturante do seu método, ora estudando,
elaboração do sentido das aprendizagens e envolvendo o aluno retomando, discutindo e se adaptando a teoria e a prática da
num processo de construção do sentido. técnica de ensino. “Todo processo de formação de educadores
especialistas e professores – inclui necessariamente componentes
O PAPEL DA DIDÁTICA NA FORMAÇÃO DO curriculares orientados para o tratamento sistemático do “que fazer”
PROFESSOR educativo, da prática pedagógica. Entre estes, a didática ocupa um
lugar de destaque.” (CANDAU 2001, p. 13).
O papel da didática na formação do educador do Dentro do processo de formação, a didática limita-
ponto de vista pedagógico, o método a que o professor recorre, se os seguintes componentes básicos: o educador, o método a que
com vistas à organização racional de todos os recursos didáticos se recorre, o educando, a matéria que se ensina e os objetivos a
que levam a um objetivo educacional, deve apresentar-se como um atingir para que se educa. Luckesi (2001, pp.27 e 28) afirma que a
plano ordenado a ser seguido no ensino. Sob o ponto de vista didática destina-se a atingir um fim – “a formação do educador”,
psicológico, o método deve construir-se numa ordem natural e que não se restringe apenas à escola, como também em todos os
necessária das funções mentais, no processo de elaboração ou de processos de aprendizagem estruturados num projeto histórico que
aquisição de conhecimentos, principalmente a partir do século XX, manifesta as aspirações e o processo de crescimento de
quando a escola elementar torna-se universal , tanto propriedade desenvolvimento do povo, onde a ação pedagógica não poderá ser,

11
então, um “que fazer neutral”, mas um “que fazer” ideologicamente a escola continua sendo lugar de mediação cultural, e a pedagogia,
definido. ao viabilizar a educação, constitui-se como prática cultural
Todo educador deverá exercer as suas atividades intencional de produção e internalização de significados para, de
consoante as suas opções teóricas, ou seja, uma opção filosófico- certa forma, promover o desenvolvimento cognitivo, afetivo e moral
política pela opressão ou pela libertação; uma opção por uma teoria dos indivíduos. O modus faciendi dessa mediação cultural, pelo
do conhecimento norteadora da prática educacional, pela repetição trabalho dos professores, é o provimento aos alunos dos meios de
ou pela criação de modos de compreender o mundo. aquisição de conceitos científicos e de desenvolvimento das
Dessa forma, a prática educacional é vista como capacidades cognitivas e operativas, dois elementos da
uma ação comprometida ideológica e efetiva, capaz de formar o aprendizagem escolar interligados e indissociáveis.
educador, criando condições para que ele se prepare
Com efeito, as crianças e jovens vão à escola
filosoficamente, cientificamente e tecnicamente para que sirva de
para aprender cultura e internalizar os meios cognitivos de
base efetiva o tipo de ação que vai exercer, fazendo-o reconhecer
compreender o mundo e transformá-lo. Para isso, é necessário
que um educador nunca estará definitivamente pronto, ao contrário,
pensar – estimular a capacidade de raciocínio e julgamento,
o fazer do dia-a-dia o tornará apto a meditar a teoria sobre a sua
melhorar a capacidade reflexiva, desenvolver as competências do
prática, fazendo-o compreender, globalmente, o seu objeto de
pensar. A didática tem o compromisso com a busca da qualidade
ação, pois aprendemos bem aquilo que praticamos e teorizamos.
cognitiva das aprendizagens, esta, por sua vez, associada à
E sobre a questão de que o educador deva
aprendizagem do pensar. Cabe-lhe investigar como ajudar os
reconhecer nunca estar devidamente pronto, disse Freire (1977, p.
alunos a se constituírem como sujeitos pensantes e críticos,
55): “Aqui chegamos ao ponto de que talvez devêssemos ter
capazes de pensar e lidar com conceitos, argumentar, resolver
partido. O do inacabamento do ser humano. Na verdade, o
problemas, em face de dilemas e problemas da vida prática. A
inacabamento do ser ou sua inconclusão é própria da experiência
razão pedagógica está também, associada, inerentemente, a um
vital. Onde há vida, há inacabamento.”
valor intrínseco, que é a formação humana, visando a ajudar os
outros a se educarem, a serem pessoas dignas, justas, cultas,
aptas a participar ativa e criticamente na vida social, política,
profissional, cultural.
Este texto apóia-se em duas crenças, uma,
que a escola continua sendo uma instância necessária de
OS DESAFIOS DA ESCOLA E DA DIDÁTICA HOJE E A
democratização intelectual e política; outra, que uma política
CONTRIBUIÇÃO DA TEORIA HISTÓRICO-SOCIAL DA
educacional inclusiva deve estar fundamentada na idéia de que o
ATIVIDADE
elemento nuclear da escola é a atividade de aprendizagem,
lastreada no pensamento teórico, associada aos motivos dos
Em face das necessidades educativas presentes, alunos, sem o que as escolas não seriam verdadeiramente

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inclusivas. das práticas sociais da juventude (por ex., Porto, 2003; Belloni,
2002; Engestrõm, 2002), das tecnologias e dos meios
Estudos recentes sobre os processos do pensar e
informacionais, dos crescentes processos de diversificação cultural,
do aprender, para além da acentuação do papel ativo dos sujeitos
afetando os processos de ensino e aprendizagem.
na aprendizagem, insistem na necessidade dos sujeitos
desenvolverem competências e habilidades cognitivas. Para É em razão dessas demandas que a didática
Castells, a tarefa das escolas e dos processos educativos é o de precisa incorporar as investigações mais recentes sobre modos de
desenvolver em quem está aprendendo a capacidade de aprender, aprender e ensinar e sobre o papel mediador do professor na
em razão de exigências postas pelo volume crescente de dados preparação dos alunos para o pensar. Mais precisamente, será
acessíveis na sociedade e nas redes informacionais, da fundamental entender que o conhecimento supõe o
necessidade de lidar com um mundo diferente e, também, de desenvolvimento do pensamento e que desenvolver o pensamento
educar a juventude em valores e ajudá-la a construir supõe metodologia e procedimentos sistemáticos do pensar. Nesse
personalidades flexíveis e eticamente ancoradas (in Hargreaves, caso, a característica mais destacada do trabalho de professor é a
2001, p. 16). Também Morin expressa com muita convicção a mediação docente pela qual ele se põe entre o aluno e o
exigência de se desenvolver uma inteligência geral que saiba conhecimento para possibilitar as condições e os meios de
discernir o contexto, o global, o multidimensional, a interação aprendizagem, ou seja, as mediações cognitivas.
complexa dos elementos. Ele escreve:
O suporte teórico de partida é o princípio
[...] O desenvolvimento de aptidões gerais vigotskiano de que a aprendizagem é uma articulação de processos
da mente permite melhor desenvolvimento externos e internos, visando a internalização de signos culturais
das competências particulares ou pelo indivíduo, o que gera uma qualidade auto-reguladora às ações
especializadas. Quanto mais poderosa é a e ao comportamento dos indivíduos. Esta formulação realça a
inteligência geral, maior é sua faculdade de atividade sócio-histórica e coletiva dos indivíduos na formação das
tratar problemas especiais. A compreensão funções mentais superiores, portanto o caráter de mediação cultural
dos dados particulares também necessita da do processo do conhecimento e, ao mesmo tempo, a atividade
ativação da inteligência geral, que opera e individual de aprendizagem pela qual o indivíduo se apropria da
organiza a mobilização dos conhecimentos experiência sócio-cultural como ser ativo.
de conjunto em cada caso particular. (...)
Todavia, considerando-se que os saberes e
Dessa maneira, há correlação entre a
instrumentos cognitivos se constituem nas relações intersubjetivas,
mobilização dos conhecimentos de conjunto
sua apropriação implica a interação com os outros já portadores
e a ativação da inteligência geral. (Morin,
desses saberes e instrumentos. Em razão disso é que a educação
2000, p. 39)
e o ensino se constituem formas universais e necessárias do
Outros estudos vêm mostrando o impacto dos desenvolvimento mental, em cujo processo se ligam os fatores
meios de comunicação na configuração dos modos de pensar e socioculturais e as condições internas dos indivíduos.

13
O que está em questão é como o ensino pode especialmente a teoria do ensino desenvolvimental de V. Davídov,
impulsionar o desenvolvimento das competências cognitivas para as tarefas da didática em relação à aprendizagem do pensar e
mediante a formação de conceitos e desenvolvimento do do aprender.
pensamento teórico e por quais meios os alunos podem melhorar e
potencializar sua aprendizagem. Em outras palavras, trata-se de PRESSUPOSTOS TEÓRICOS DA DIDÁTICA
saber o que e como fazer para estimular as capacidades
investigadoras dos alunos ajudando-os a desenvolver A Didática é um conjunto de conhecimentos e
competências e habilidades mentais. Em razão disso, uma didática técnicas de dirigir e orientar a aprendizagem tornando o ensino
a serviço de uma pedagogia voltada para a formação de sujeitos eficaz.
pensantes e críticos deverá salientar em suas investigações as Portanto, a Didática não pode trabalhar isolada,
estratégias pelas quais os alunos aprendem a internalizar ela tem que se aliar a outras ciências como: Psicologia, Biologia,
conceitos, competências e habilidades do pensar, modos de ação, Sociologia e outras. Ela tem que levar em consideração a ordem
que se constituam em “instrumentalidades” para lidar praticamente dos valores e dos fins. Pois, o êxito do procedimento didático só
com a realidade: resolver problemas, enfrentar dilemas, tomar será eficaz se a ação pedagógica intervir na realidade dos
decisões, formular estratégias de ação. Davídov explicita seu educandos, ou seja, a escola, os professores, tem que buscar
entendimento dessas questões: parcerias com a família, com a comunidade.
O saber contemporâneo pressupõe que o O professor tem que ter: - proximidade com seus
homem domine o processo de origem e alunos para poder diagnosticar suas dificuldades; facilitar a
desenvolvimento das coisas mediante o aprendizagem, empregando técnicas variadas de ensino; buscar o
pensamento teórico, que estuda e descreve aluno que tem problemas; chamar a família para trabalhar em
a lógica dialética. O pensamento teórico tem parceria; mostrar e relacionar o porquê do aluno aprender
seus tipos específicos de generalização e determinado conteúdo; relacionar a teoria com a prática.
abstração, seus procedimentos de formação O professor para ser educador tem que ter
dos conceitos e operações com eles. compromisso com a educação. Pois o papel da Didática e facilitar o
Justamente, a formação de tais conceitos ensino-aprendizagem.
abre aos escolares o caminho para dominar Portanto, os procedimentos didáticos não podem
os fundamentos da cultura teórica atual. (...) ser considerados como atividade neutra, isenta de pressupostos. A
A escola, a nosso juízo, deve ensinar às Didática tem compromisso com a ordem, ética e valores.
crianças a pensar teoricamente. (Davídov, in
Golder, 2002, p. 49) A DIDÁTICA EM SUAS DIMENSÕES
O objetivo deste estudo é, assim, explorar as As instituições de ensino, ao longo dos anos, vêm
contribuições teóricas da teoria histórico-cultural da atividade, transformando a educação em mercadoria, fruto do capitalismo, o

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qual acaba por deturpar o conceito e a importância da didática no prática serve de base para um conjunto de mudanças significativas
ensino. Como assevera Martins: “A didática expressa uma prática que requerem profissionais não só inventivos, mas que tenham
pedagógica que decorre da relação básica do sistema capitalista olhos abertos para a realidade da qual fazem parte. “Penso que a
num momento histórico determinado. Portanto, as formas como as didática, para assumir um papel significativo na formação do
classes sociais se relacionam vão se materializar em técnicas, educador, deverá mudar os seus rumos”.
processos, tecnologias, inclusive processos pedagógicos que se Não poderá reduzir-se e dedicar-se tão-somente
realizam através de uma certa relação pedagógica.” ( Martins 1988, ao ensino de meios e mecanismos pelos quais se possa
p.23). desenvolver um processo ensino-aprendizagem, mas deverá ser
Reconhecendo a didática como ciência que é, um elo fundamental entre as opções filosófico-políticas da
sendo pesquisa e também uso de técnicas de ensino, deve-se educação, os conteúdos profissionalizantes e o exercício diuturno
conceber a idéia de sua importância na contribuição para a da educação. Não poderá continuar sendo um apêndice de
formação do cidadão desde a educação básica, até o ensino orientações mecânicas e tecnológicas. Deverá ser, sim, um modo
superior. É nesses passos que o professor deve buscar na didática crítico de desenvolver uma prática educativa, forjadora de um
as verdadeiras técnicas de ensino, as quais só serão alcançadas projeto histórico, que não se fará tão-somente pelo educador, mas
através do trabalho pedagógico bem estruturado. O trabalho do pelo educador, conjuntamente, com o educando e outros membros
professor em sala de aula muitas vezes se resume em repassar os dos diversos setores da sociedade”. (Luckesi 1994, p. 30)
conteúdos aos alunos, sem estimular nestes a interpretação, a A didática deve servir ao professor como
crítica e a criatividade, pois, “... ensinar não é transferir instrumento de inspiração e criatividade, fazendo-o compreender o
conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria processo de ensino em suas múltiplas determinações, para articulá-
produção ou a sua construção”. (Freire 1996, p. 47). lo à lógica, aos interesses e necessidades da maioria da clientela
Para realizar um trabalho didático-pedagógico, o presente nas escolas hoje, propondo, também, reflexões sobre a
professor deve ser crítico, perspicaz para estimular seus alunos, prática e formas de organização voltados aos interesses na atual
(sem que estes percebam que estão sendo provocados organização da escola, suas políticas implícitas na seleção de
criticamente), ético, uma vez que o professor é formador de conteúdos, objetivos, métodos, técnicas, recursos e avaliação para
opinião, ter vocabulário ilibado, ser reflexivo da prática constante de o ensino, conforme reza a questão política do trabalho pedagógico,
seu trabalho, reconhecer a cultura de seus alunos, enfim, ele deve condizente a cada escola. Outrossim, a didática como “arte de
antes de tudo conhecer seu campo de atuação. Seja qual for a ensinar”, consiste em motivar os alunos sobre o conteúdo exposto.
técnica de ensino explorada por este, ela deve ser permeada pelo Ela deve ser a “atitude” do mestre para com seus aprendizes.
pensamento reflexivo, o raciocínio e a interpretação. Atitude esta compreendida na criticidade e com a finalidade
O professor que age didaticamente, orienta e precípua de ensinar.
acompanha seus alunos. Assim, para ensinar, é necessário que o
professor pesquise o assunto a ser retratado, se atualizando diante A didática, no bojo da pedagogia crítica,
dos conteúdos propostos em sala de aula. A didática colocada em auxilia no processo de politização do futuro

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professor contribuindo para ampliar a sua ferramenta de grande relevância, muito embora alguns lingüistas
visão quanto às perspectivas didático- discordem dessa hipótese.
pedagógicas mais coerentes com nossa A dosagem da expressão teatral também deve ser
realidade educacional. Sob esse enfoque, o considerada como objeto didático com o objetivo de favorecer e
ensino é concebido como um processo desinibir os tímidos e abrandar os hiper-ativos. Para que haja
sistemático e intencional de difusão e eficácia na didática aplicada, é preciso que a dramatização abranja
elaboração de conhecimentos culturais e a grade curricular de modo integral de acordo com o nível escolar e
científicos de forma que os alunos deles se faixa etária de cada aluno. O cenário pode ser natural e de acordo
apropriem. (ILMA PASSOS 1991, p. 78). com o tema da aula a ser ministrada pelo professor. A prática da
oralidade na educação é um dos objetivos específicos que deve ser
Portanto, a didática deve ser a mola propulsora do trabalhado com mais ênfase, os alunos devem ser provocados
entusiasmo de ensinar, pois só assim o educador fará a diferença, sutilmente para o trabalho da oralidade em sala de aula.
despertando no educando a vontade de aprender. A grosso modo, O gosto pela leitura também é um diferencial para
podemos dizer que a Didática é uma ciência cujo objetivo que o desempenho escolar dos alunos seja eficaz e pode acalmar
fundamental é ocupar-se das estratégias de ensino, das questões os ânimos, a impulsividade, de modo geral. . Deve-se desenvolver
práticas relativas à metodologia e das estratégias de um trabalho didático consistente e prazeroso ao aluno
aprendizagem. Sua busca de cientificidade se apóia em posturas proporcionando diferentes formas de aquisição de conhecimentos
filosóficas como o funcionalismo, o positivismo, assim como no através da “leitura”. Sabe-se que a dramatização, para os jovens, é
formalismo e o idealismo, funcionando como elemento um estímulo para a leitura e a escrita, já que a maioria sente
transformador da teoria da prática. Na atualidade a sua perspectiva dificuldade em se expressar através do texto descritivo, narrativo ou
fundamental é assumir a multifuncionalidade do processo de dissertativo.
ensino-aprendizagem e articular suas três dimensões: técnica, O mecanismo da leitura pode estar associado ao
humana e política no centro configurador de sua temática. teatro, pois, este auxilia na conjugação verbal, na dicção, clareza
das idéias lingüísticas, e na formação de palavras. Isso faz com
NOVAS ESTRATÉGIAS DIDÁTICAS: PARA ALÉM DO que a postura do aluno como ser social seja melhorada, no que se
CONFRONTO (TEORIA E PRÁTICA) refere ao relacionamento com seus semelhantes aprendendo a
exercitar e a socializar seu pensamento.
Vários são os fatores comportamentais que
impedem o aluno a assimilar o que é ensinado em sala de aula. Didaticamente falando, é provado que uma aula
Inibição e dispersão são problemas que se sobressaem e dinâmica, aparentemente informal e descompromissada com livros
notadamente prejudicam o relacionamento professor – aluno. didáticos e roteiros, com certeza renda muito mais e gere
Acredita-se que a inserção de novas estratégias didáticas e do resultados positivos do que uma aula formal. Nesse prisma,
teatro possam ser recursos facilitadores da aprendizagem, uma entende-se que os resultados didáticos devem se afastar do

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convencional e da enfadonha sala fechada e buscar ambientes sua concretização. E exige conhecimentos relativos à evolução
descontraídos. histórica das instituições e à legislação que as rege.
Mas, existe rejeição de alguns profissionais de
educação que consideram desnecessário, educar ou ensinar o DIDÁTICA E PRATICA INTERDISCIPLINAR
aluno por meio de formas diferenciadas do chamado “método
tradicional”. Dizem, até que é perda de tempo, uma análise Defini-se Didática como sendo a Arte de Ensinar;
prematura e sem consistência. o procedimento pelo qual o mundo da experiência e da cultura é
A inserção da informática, uma ferramenta transmitido pelo educador ao educando, nas escolas ou em obras
disponível na atualidade, como recurso criativo no ensino é um especializadas. / Conjunto de teorias e técnicas relativas à
meio de aprendizagem viável e moderna do ponto de vista transmissão do conhecimento. O vocábulo didática deriva da
pedagógico, todo o professor tem e deve trabalhar com seus alunos expressão grega Τεχνή διδακτική (techné didaktiké), que se traduz
a importância da multimídia na aquisição de conhecimentos. por arte ou técnica de ensinar. O ensino é uma forma sistemática
Infelizmente, ainda encontra resistência. Mas é um recurso de de transmissão de conhecimentos utilizada pela pedagogia para
grande importância e de aceitação ímpar. instruir e educar seus semelhantes, geralmente em locais
conhecidos como escolas.
Alarcão (1977) enfatiza a designação “Tríptico
Didático” para designar a tripla dimensão ou a Pedagogia é a ciência ou disciplina cujo objetivo é
multidimensionalidade da Didática: Investigativa, Curricular e a reflexão, ordenação, a sistematização e a crítica do processo
Profissional. A primeira diz respeito ao trabalho do investigador educativo.
nesta disciplina; a segunda refere-se à formação curricular, inicial
e/ou contínua, em didática dos formadores e futuros formadores; A Didática é a parte da pedagogia que se ocupa
finalmente, a terceira, refere-se às práticas do professores no dos métodos e técnicas de ensinos destinados a colocar em prática
terreno escolar. as diretrizes da teoria pedagógica. A didática estuda os processos
O Professor precisa dispor de conhecimentos e de ensino e aprendizagem.
habilidades pedagógicas, que podem ser obtidas e aperfeiçoadas
mediante leituras e cursos específicos. Estes conhecimentos e
Os elementos da ação didática são:
habilidades podem ser definidos como requisitos técnicos e
envolvem:
a) Estrutura e funcionamento do Ensino Superior O professor,
– o professor deve ser capaz de estabelecer relações entre o que O aluno,
ocorre em sala de aula com processos e estruturas mais ampla. A disciplina (matéria ou conteúdo)
Isto implica a análise dos objetivos a que se propõe o ensino
universitário brasileiro, bem como dos problemas que interferem em O contexto da aprendizagem,

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As estratégias metodológicas. da elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento de
ensino a qual ele pertença.
PLANEJAMENTO ESCOLAR
O PLANEJAMENTO DE ENSINO COMO CONSTRUÇÃO DE
O planejamento escolar é uma tarefa docente que
AÇÕES PREVISTAS A PARTIR DO COTIDIANO ESCOLAR
inclui tanto a previsão das atividades didáticas em termos da sua
O PLANEJAMENTO E A LDB organização e coordenação em face dos objetivos propostos,
quanto a sua revisão e adequação no decorrer do processo de
Em 20 de Dezembro de 1996, o presidente ensino. O planejamento é um meio para se programar as ações
Fernando Henrique Cardoso sancionou a Lei de Diretrizes e Bases docentes, mas é também um momento de pesquisa e reflexão
da Educação, proposta pelo senador Darci Ribeiro, depois de oito intimamente ligado à avaliação.
anos de tramitação pelo Congresso Nacional. Ela estabelece
normas e procedimentos que afetam todos os níveis do sistema
educacional. PLANEJAMENTO EDUCACIONAL, DE CURRÍCULO E DE
No que diz respeito à organização da educação ENSINO
nacional cabe salientar que de acordo com a LDB, o planejamento
Se qualquer atividade exige planejamento, a
fica delegado aos cuidados da instituição de ensino, juntamente
educação não foge dessa exigência. Na área da educação temos
com o corpo docente, que tem um importante papel a desempenhar
os seguintes tipos de planejamento:
nesse sentido que é o da aplicação desse planejamento, levando
em consideração que o docente necessita, acima de tudo, zelar
pela aprendizagem dos alunos, bem como estabelecer estratégias
PLANEJAMENTO EDUCACIONAL
de recuperação para os alunos de menor rendimento escolar, ou
seja, cabe também ao docente reorganizar o seu planejamento Consiste na tomada de decisões sobre a
conforme as necessidades educacionais do aluno, visando o seu educação no conjunto do desenvolvimento geral do país. A
objetivo, que é o da preparação dos alunos, não só para encarar o elaboração desse tipo de planejamento requer a proposição de
futuro com confiança, mas, sobretudo fornecer a eles condições de objetivos em longo prazo que definam uma política da educação. É
aprendizagem necessárias ao indivíduo para que ele possa o realizado pelo Governo Federal, através do Plano Nacional de
sobressair de situações que exijam raciocínio lógico. Educação e da legislação vigente.
Segundo a LDB o professor tem como
incumbência não só ministrar os dias letivos e horas aulas
estabelecidas, mas também participar de forma integral dos PLANEJAMENTO DE CURRÍCULO
períodos dedicados ao planejamento, além de participar, também, O problema central do planejamento curricular é
formular objetivos educacionais a partir daqueles expressos nos

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guias curriculares oficiais. Nesse sentido, a escola não deve
simplesmente executar o que é prescrito pelos órgãos oficiais.
O trabalho docente é uma atividade consciente e
Embora o currículo seja mais ou menos determinado em linhas
sistemática, em cujo centro está a aprendizagem ou o estudo dos
gerais, cabe à escola interpretar e operacionalizar estes currículos.
alunos sob a direção do professor.
A escola deve procurar adaptá-los às situações concretas,
selecionando aquelas experiências que mais poderão contribuir O planejamento é um processo de racionalização,
para alcançar os objetivos dos alunos, das suas famílias e da organização e coordenação da ação docente, articulando a
comunidade. atividade escolar e a problemática do contexto social. A escola, os
professores e os alunos são integrantes da dinâmica das relações
PLANEJAMENTO DE ENSINO
sociais; tudo o que acontece no meio escolar está atravessado por
Podemos dizer que o planejamento de ensino é a influências econômicas, políticas e culturais que caracterizam a
especificação do planejamento de currículo. Consiste em traduzir sociedade de classes. Isso significa que os elementos do
em termos mais concretos e operacionais o que o professor fará na planejamento escolar – objetivos, conteúdos, métodos – estão
sala de aula, para conduzir os alunos a alcançar os objetivos recheados de implicações sociais, têm um significado
educacionais propostos. Um planejamento de ensino deverá genuinamente político. Por essa razão, o planejamento é uma
prever: atividade de reflexão acerca das nossas opções e ações; se não
pensarmos detidamente sobre o rumo que devemos dar durante o
• Objetivos específicos estabelecidos a
ano, ficaremos entregues aos rumos estabelecidos pelos interesses
partir dos objetivos educacionais. dominantes na sociedade.
• Conhecimentos a serem aprendidos A metodologia do planejamento escolar enquadra-se no
pelos alunos no sentido determinado pelos objetivos. cenário da educação como uma tarefa docente que inclui tanto a previsão
das atividades didáticas em termos da sua organização e coordenação em
• Procedimentos e recursos de ensino face dos objetivos propostos; quanto a sua previsão e adequação no
que estimulam, orientam e promovem as atividades de decorrer do processo de ensino.
aprendizagem. Segundo Libâneo (1994, p. 222) o planejamento
• Procedimentos de avaliação que tem grande importância por tratar-se de: “Um processo de
racionalização, organização e coordenação da ação docente,
possibilitem a verificação, a qualificação e a apreciação
articulando a atividade escolar e a problemática do contexto social”.
qualitativa dos objetivos propostos, cumprindo pelo menos a
Sob essa linha de raciocínio que Libâneo adota ao definir a
função pedagógico-didática, de diagnóstico e de controle no
importância do planejamento, fica evidente uma preocupação em
processo educacional.
integrar a coordenação da ação docente à problemática do
contexto social em que o seu público alvo está inserido, visando,
IMPORTÂNCIA DO PLANEJAMENTO ESCOLAR sobretudo com essa integração, um maior rendimento escolar, pois

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facilitará e muito aos alunos, verem conteúdos que falem sobre a Sendo assim, podemos dizer que cabe à Escola a elaboração de
realidade que eles vivenciam em seu dia -a - dia. seus planos curriculares, partindo da orientação dada pela Lei ou
Adentrando no conceito de planejamento e da pelos sistemas, com a finalidade de atender às características locais e
importância dessa metodologia Libâneo (1994, p. 222) ainda às necessidades da comunidade e, sobretudo às necessidades do aluno.
salienta que: A ação de planejar é uma atividade consciente de
previsão das ações docentes, fundamentadas em opções político-
A ação de planejar, portanto, não se reduz pedagógicas, e tendo como referência permanente situações
ao simples preenchimento de formulários didáticas concretas (isto é, a problemática social, econômica,
para controle administrativo, é, antes, a política e cultural que envolve a escola, os professores, os alunos,
atividade consciente da previsão das ações os pais, a comunidade, que interagem no processo de ensino).
político – pedagógicas, e tendo como
O planejamento escolar tem, assim, as seguintes
referência permanente às situações
funções:
didáticas concretas (isto é, a problemática
social, econômica, política e cultural) que • Explicitar princípios, diretrizes e
envolve a escola, os professores, os alunos, procedimentos de trabalho docente que assegurem a
os pais, a comunidade, que integram o articulação entre as tarefas da escola e as exigências do
processo de ensino. contexto social e do processo de participação democrática.

A Toda a comunidade escolar necessita integrar-se • Expressar os vínculos entre o


visando resultados positivos no ensino aprendizagem do aluno, sendo que posicionamento filosófico, político-pedagógico e profissional,
um aliado importante nessa integração é o planejamento, pois é através as ações efetivas que o professor irá realizar em sala de
dele que prevemos ações docentes voltadas para a problemática social, aula, através de objetivos, conteúdos, métodos e formas
econômica, política e cultural que envolve toda a escola e, por organizativas de ensino.
conseqüência dessa integração, conseguimos alcançar resultados positivos • Assegurar a racionalização,
quanto à educação do corpo discente. organização e coordenação do trabalho docente, de modo
O método do planejamento é útil e, sobretudo, muito que a previsão das ações docentes possibilite ao professor
importante, mas o mais importante é o maior ou menor conhecimento que a realização de um ensino de qualidade e evite a
se tenha do aspecto da realidade em que se está agindo, de sua inserção no improvisação e rotina.
conjunto.
Tendo em mente a importância de uma metodologia • Prever objetivos, conteúdos e métodos
que direciona o processo educativo, precisamos ainda mais saber que a partir da consideração das exigências propostas pela
planejar é tomar decisões, mas essas decisões não são infalíveis, o realidade social, do nível de preparo e das condições sócio-
planejamento sempre está em processo, portanto em evolução. culturais e individuais dos alunos.

20
• Assegurar a unidade e a coerência do estaremos fazendo uma Sondagem, isto é, buscando dados.
trabalho docente, uma vez que torna possível inter- Uma vez realizada a sondagem, deve-se estudar
relacionar, num plano, os elementos que compõem o cuidadosamente os dados coletados. A conclusão a que chegamos,
processo de ensino: os objetivos (para que ensinar), os após o estudo dos dados coletados, constitui o Diagnóstico.
conteúdos (o que ensinar), os alunos e suas possibilidades
(a quem ensinar), os métodos e técnicas (como ensinar) e a Sem a sondagem e o diagnóstico corre-se o risco
avaliação, que está intimamente relacionada aos demais. de propor o que é impossível alcançar ou o que não interessa ou,
ainda, o que já foi alcançado.
• Atualizar o conteúdo do plano sempre
que é revisto, aperfeiçoando-o em relação aos progressos
feitos no campo de conhecimentos, adequando-os às REQUISITOS PARA O PLANEJAMENTO
condições de aprendizagem dos alunos, aos métodos,
técnicas e recursos de ensino que vão sendo incorporados • Objetivos e tarefas da escola democrática: estão ligados às
na experiência cotidiana. necessidades de desenvolvimento cultural do povo, de
modo a preparar as crianças e jovens para a vida e para o
• Facilitar a preparação das aulas: trabalho.
selecionar o material didático em tempo hábil, saber que
tarefas professor e alunos devem executar, replanejar o • Exigências dos planos e programas oficiais: são as
trabalho frente a novas situações que aparecem no decorrer diretrizes gerais, são documentos de referência, a partir dos
das aulas. Para que os planos sejam efetivamente quais são elaborados os planos didáticos específicos.
instrumentos para a ação, devem ser como um guia de • Condições prévias para a aprendizagem: está condicionado
orientação de devem apresentar ordem seqüencial, pelo nível de preparo em que os alunos se encontram em
objetividade, coerência, flexibilidade. relação ás tarefas de aprendizagem
ELABORAÇÃO DO PLANO
ETAPAS DO PLANEJAMENTO DE ENSINO A partir dos dados fornecidos pela sondagem e
CONHECIMENTO DA REALIDADE interpretados pelo diagnóstico, temos condições de estabelecer o
que é possível alcançarem o que julgamos possíveis e como avaliar
Para poder planejar adequadamente a tarefa de os resultados. Por isso, passamos a elaborar o plano através dos
ensino e atender às necessidades do aluno é preciso, antes de seguintes passos:
qualquer coisa, saber para quem se vai planejar. Por isso, conhecer
o aluno e seu ambiente é a primeira etapa do processo de • Determinação dos objetivos.
planejamento. É preciso saber quais as aspirações, frustrações,
• Seleção e organização dos conteúdos.
necessidades e possibilidades dos alunos. Fazendo isso,

21
• Análise da metodologia de ensino e dos procedimentos previstas. Na execução, sempre haverá o elemento não
adequados. plenamente previsto. Às vezes, a reação dos alunos ou as
circunstâncias do ambiente dispensa o planejamento, pois, uma
• Seleção de recursos tecnológicos. das características de um bom planejamento deve ser a
• Organização das formas de avaliação. flexibilidade.

• Estruturação do plano de ensino.


AVALIAÇÃO E APERFEIÇOAMENTO DO PLANO
Segundo Ricardo Nervi (1967, p. 56) estas são as
Ao término da execução do que foi planejado,
características essenciais do bom plano de ensino.
passamos a avaliar o próprio plano com vistas ao replanejamento.
• COERÊNCIA: as atividades planejadas devem manter perfeita
coesão entre si de modo que não se dispersem em distintas Nessa etapa, a avaliação adquire um sentido
direções, de sua unidade e correlação dependerá o alcance dos diferente da avaliação do ensino-aprendizagem e um significado
objetivos propostos. mais amplo. Isso porque, além de avaliar os resultados do ensino-
• SEQÜÊNCIA: deve existir uma linha ininterrupta que integre aprendizagem, procuramos avaliar a qualidade do nosso plano, a
gradualmente as distintas atividades desde a primeira até a ultima nossa eficiência como professor e a eficiência do sistema escolar.
de modo que nada fique jogado ao acaso. O PLANO DA ESCOLA
• FLEXIBILIDADE: é outro pré-requisito importante que permite a
O plano da escola é o plano pedagógico e
inserção sobre a marcha de temas ocasionais, subtemas não
administrativo da unidade, onde se explicita a concepção
previstos e questões que enriqueçam os conteúdos por
pedagógica do corpo docente, as bases teórico-metodológicas da
desenvolver, bem como permitir alteração, de acordo com as
organização didática, a contextualização social, econômica, política
necessidades ou interesses dos alunos.
e cultural da escola, a caracterização da clientela escolar, os
• PRECISÃO E OBJETIVIDADE: os enunciados devem ser claros, objetivos educacionais gerais, a estrutura curricular, diretrizes
precisos, objetivos e sintaticamente impecáveis. As indicações não metodológicas gerais, o sistema de avaliação do plano, a estrutura
podem ser objetos de dupla interpretação, as sugestões devem ser organizacional e administrativa.
inequívocas.
O plano da escola é um guia de orientação para o
planejamento do processo de ensino. Os professores precisam ter
EXECUÇÃO DO PLANO em mãos esse plano abrangente, não só para uma orientação do
seu trabalho, mas para garantir a unidade teórico-metodológica das
Ao elaborarmos o plano de ensino, antecipamos, atividades escolares.
de forma organizada, todas as etapas do trabalho escolar. A
execução do plano consiste no desenvolvimento das atividades

22
ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DO PLANO DA ESCOLA COMPONENTES BÁSICOS DO PLANEJAMENTO DE ENSINO
• Posicionamento sobre as finalidades da educação escolar
na sociedade e na nossa escola; O plano de ensino é um roteiro organizado das
• Bases teórico-metodológicas da organização didática e unidades didáticas para um ano ou semestre. É denominado
também de plano de curso, plano anual, plano de unidades
administrativa: tipo de homem que queremos formar tarefas
didáticas e contém os seguintes componentes: ementa da
da educação, o significado pedagógico-didático do trabalho
disciplina, justificativa da disciplina em relação aos objetivos gerais
docente, relações entre o ensino e o desenvolvimento das
da escola e do curso; objetivos gerais; objetivos específicos,
capacidades intelectuais dos alunos, o sistema de
conteúdo (com a divisão temática de cada unidade); tempo
organização e administração da escola.
provável (número de aulas do período de abrangência do plano);
• Caracterização econômica, social, política e cultural do desenvolvimento metodológico (métodos e técnicas pedagógicas
contexto em que está inserida a nossa escola. específicas da disciplina); recursos tecnológicos; formas de
avaliação e referencial teórico (livros, documentos, sites, etc.)
• Características sócio-culturais dos alunos;
• Objetivos educacionais gerais da escola;
DIDÁTICA - A AVALIAÇÃO DO PROCESSO ENSINO-
• Diretrizes gerais para elaboração do plano de ensino da APRENDIZAGEM
escola: sistema de matérias – estrutura curricular; critérios AVALIAÇÃO NA CONTEMPORANEIDADE
de seleção de objetivos e conteúdos; diretrizes
metodológicas gerais e formas de organização do ensino e Você conhece a história “A volta do velho
sistemática de avaliação. professor”? Leia abaixo, ela é bastante interessante para iniciarmos
a discussão sobre a avaliação atual.
• Diretrizes quanto à organização e a à administração:
A VOLTA DO VELHO PROFESSOR
estrutura organizacional da escola; atividades coletivas do
Em pleno século XX, um grande professor do
corpo docente; calendário e horário escolar; sistema de
século passado voltou a Terra e, chegando à sua cidade, ficou
organização de classes, de acompanhamento e
abismado com o que viu: as casas altíssimas, as ruas pretas,
aconselhamento de alunos, de trabalho com os pais;
passando umas sobre as outras, com uma infinidade de máquinas
atividades extra-classe; sistema de aperfeiçoamento
andando em alta velocidade; o povo falava muitas palavras que o
profissional do pessoal docente e administrativo e normas
professor não conhecia (poluição, avião, rádio, metrô, televisão...);
gerais de funcionamento da vida coletiva.
os cabelos de umas pessoas pareciam com os do tempo das
cavernas... e as roupas deixavam o professor ruborizado.

23
Muito surpreso e preocupado com a mudança, o A avaliação é parte integrante do processo
professor visitou a cidade inteira e cada vez compreendia menos o ensino/aprendizagem e ganhou na atualidade espaço muito amplo
que estava acontecendo. Na igreja, levou susto com o padre que nos processos de ensino. Requer preparo técnico e grande
não mais rezava em latim, com o órgão mudo e um grupo de capacidade de observação dos profissionais envolvidos. Segundo
cabeludos tocando uma música estranha. Visitando algumas Perrenoud (1999), a avaliação da aprendizagem, no novo
famílias, espantou-se com o ritual depois do jantar: todos se paradigma, é um processo mediador na construção do currículo e
reuniam durante horas para adorar um aparelho que mostrava se encontra intimamente relacionada à gestão da aprendizagem
imagens e emitia sons. O professor ficou impressionado com a dos alunos. Na avaliação da aprendizagem, o professor não deve
capacidade de concentração de todos: ninguém falava uma palavra permitir que os resultados das provas periódicas, geralmente de
diante do aparelho. caráter classificatório, sejam supervalorizados em detrimento de
Cada vez mais desanimado, foi visitar a escola – suas observações diárias, de caráter diagnóstico. O professor, que
e, finalmente, sentiu um grande alívio, reencontrando a paz. Ali, trabalha numa dinâmica interativa, tem noção, ao longo de todo o
tudo continuava da mesma forma como ele havia deixado: as ano, da participação e produtividade de cada aluno. É preciso
carteiras umas atrás das outras, o professor falando... e os alunos deixar claro que a prova é somente uma formalidade do sistema
escutando, escutando, escutando... escolar. Como, em geral, a avaliação formal é datada e obrigatória,
deve-se ter inúmeros cuidados em sua elaboração e aplicação.

ARGUMENTAÇÕES ACERCA DO PROCESSO DE AVALIAÇÃO FUNÇÕES DO PROCESSO AVALIATIVO

As funções da avaliação são: de diagnóstico, de


verificação e de apreciação.

• Função diagnóstica - A primeira abordagem, de acordo com


Miras e Solé (1996, p. 381), contemplada pela avaliação
diagnóstica (ou inicial), é a que proporciona informações
acerca das capacidades do aluno antes de iniciar um
processo de ensino/aprendizagem, ou ainda, segundo
Bloom, Hastings e Madaus (1975), busca a determinação da
presença ou ausência de habilidades e pré-requisitos, bem
como a] identificação das causas de repetidas dificuldades
na aprendizagem.

24
A avaliação diagnóstica pretende averiguar a • Função somativa – Tem como objetivo, segundo Miras e
posição do aluno face a novas aprendizagens que lhe vão ser Solé (1996, p. 378) determinar o grau de domínio do aluno
propostas e a aprendizagens anteriores que servem de base em uma área de aprendizagem, o que permite outorgar uma
àquelas, no sentido de obviar as dificuldades futuras e, em certos qualificação que, por sua vez, pode ser utilizada como um
casos, de resolver situações presentes. sinal de credibilidade da aprendizagem realizada. Pode ser
chamada também de função creditativa. Também tem o
• Função formativa - A segunda função á a avaliação propósito de classificar os alunos ao final de um período de
formativa que, conforme Haydt (1995, p. 17), permite aprendizagem, de acordo com os níveis de aproveitamento.
constatar se os alunos estão, de fato, atingindo os objetivos A avaliação somativa pretende ajuizar do progresso
pretendidos, verificando a compatibilidade entre tais realizado pelo aluno no final de uma unidade de
objetivos e os resultados efetivamente alcançados durante o aprendizagem, no sentido de aferir resultados já colhidos
desenvolvimento das atividades propostas. Representa o por avaliações do tipo formativa e obter indicadores que
principal meio através do qual o estudante passa a permitem aperfeiçoar o processo de ensino. Corresponde a
conhecer seus erros e acertos, assim, maior estímulo para um balanço final, a uma visão de conjunto relativamente a
um estudo sistemático dos conteúdos. Outro aspecto um todo sobre o qual, até aí, só haviam sido feitos juízos
destacado pela autora é o da orientação fornecida por este parcelares.
tipo de avaliação, tanto ao estudo do aluno como ao
trabalho do professor, principalmente através de A AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM COMO PROCESSO
mecanismos de feedback. Estes mecanismos permitem CONSTRUTIVO DE UM NOVO FAZER
que o professor detecte e identifique deficiências na forma
de ensinar, possibilitando reformulações no seu trabalho O processo de conquista do conhecimento pelo
didático, visando aperfeiçoá-lo. aluno ainda não está refletido na avaliação. Para Wachowicz &
Romanowski (2002), embora historicamente a questão tenha
Para Bloom, Hastings e Madaus (1975), a evoluído muito, pois trabalha a realidade, a prática mais comum na
avaliação formativa visa informar o professor e o aluno sobre o maioria das instituições de ensino ainda é um registro em forma de
rendimento da aprendizagem no decorrer das atividades escolares nota, procedimento este que não tem as condições necessárias
e a localização das deficiências na organização do ensino para para revelar o processo de aprendizagem, tratando-se apenas de
possibilitar correção e recuperação. A avaliação formativa pretende uma contabilização dos resultados.
determinar a posição do aluno ao longo de uma unidade de ensino,
no sentido de identificar dificuldades e de lhes dar solução. Quando se registra, em forma de nota, o resultado
obtido pelo aluno, fragmenta-se o processo de avaliação e introduz-
se uma burocratização que leva à perda do sentido do processo e
da dinâmica da aprendizagem. Se a avaliação tem sido

25
reconhecida como uma função diretiva, ou seja, tem a capacidade mudança da avaliação de resultados para uma avaliação de
de estabelecer a direção do processo de aprendizagem, oriunda processo, indicando a possibilidade de realizar-se na prática pela
esta capacidade de sua característica pragmática, a fragmentação descrição e não pela prescrição da aprendizagem.
e a burocratização acima mencionadas levam à perda da
dinamicidade do processo. INSTRUMENTOS E CRITÉRIOS AVALIATIVOS

Os dados registrados são formais e não Se você já atua como docente, pense nas
representam a realidade da aprendizagem, embora apresentem experiências com seus alunos. Se ainda não atua, pense no seu
conseqüências importantes para a vida pessoal dos alunos, para a processo de escolarização, na sua vida estudantil. Com base
organização da instituição escolar e para a profissionalização do nessas vivências vamos situar a avaliação e seus pressupostos.
professor. Uma descrição da avaliação e da aprendizagem poderia Vale ressaltar que além das formas e instrumentos de avaliação, é
revelar todos os fatos que aconteceram na sala de aula. Se fosse necessário especificar os critérios que serão utilizados, os quais
instituída, a descrição (e não a prescrição) seria uma fonte de devem estar totalmente relacionados com a finalidade da atividade,
dados da realidade, desde que não houvesse uma vinculação com os objetivos e com os critérios estabelecidos previamente
prescrita com os resultados. sobre a construção do conhecimento. Segundo Moretto (2004), a
avaliação da aprendizagem é um momento privilegiado de estudo e
A isenção advinda da necessidade de analisar a não um acerto de contas.
aprendizagem (e não julgá-la) levaria o professor e os alunos a
constatarem o que realmente ocorreu durante o processo: se o • A avaliação é um conjunto de
professor e os alunos tivessem espaço para revelar os fatos tais procedimentos visando acompanhar o ato educativo e
como eles realmente ocorreram, a avaliação seria real, assegurar a consecução de seus objetivos. Por isso, implica em
principalmente discutidos coletivamente. No entanto, a prática das tomadas de decisão, observação e conhecimento do aluno,
instituições não encontrou uma forma de agir que tornasse possível tanto por ações pontuais como por diagnose permanente, para
essa isenção: as prescrições suplantam as descrições e os pré- correção de rumos. O processo avaliativo tem como funções
julgamentos impedem as observações. principais subsidiar o planejamento, ajustar políticas e práticas
curriculares e aprimorar o processo ensino-aprendizagem. Para
A conseqüência mais grave é que essa arrogância que isso se efetive, é necessário definir métodos, instrumentos
não permite o aperfeiçoamento do processo de ensino e e critérios. Os métodos podem ser:
aprendizagem. E este é o grande dilema da avaliação da • Cooperativo: onde o trabalho desenvolvido
aprendizagem. O entendimento da avaliação, como sendo a é coletivo, são os famosos trabalhos de equipe. Nessa
medida dos ganhos da aprendizagem pelo aluno, vem sofrendo modalidade, a cooperação, a ajuda mútua, a responsabilidade e
denúncias há décadas, desde que as teorias da educação escolar o respeito pela expressão e produção do outro são aspectos
recolocaram a questão no âmbito da cognição. Pretende-se uma fundamentais.

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• Avaliação individual: são as atividades Configurado esse quadro, torna-se necessário
realizadas por um único aluno, podendo ser prova ou qualquer delinear as respostas que o governo brasileiro vem dando às novas
outro tipo de trabalho previamente orientado pelo professor. demandas de educação e, conseqüentemente, de formação de
• Auto-avaliação: é a avaliação que o aluno faz de si mesmo, professores, por meio da legislação e das políticas públicas a partir
de 1990.
destacando seu desempenho em um dado período de estudos,
sua participação nas aulas e atividades propostas pelo
professor, dentre outros aspectos que o professor julgar O primeiro aspecto a registrar é o empenho do
necessário elencar para que o aluno reflita sobre seu governo em reformular o projeto da LDB, elaborado pela sociedade
autodesenvolvimento. Importa lembrar que quando realizada, a civil e seus representantes no Congresso, que, fundado em uma
auto-avaliação deve apresentar critérios claros que sirvam de concepção de Estado do bem-estar social, atribuía ao poder público
parâmetro para a auto-análise do aluno. a obrigação de dar cumprimento aos direitos à educação em todos
Como podemos observar, quaisquer das os níveis e modalidades, incluindo a educação profissional, com
modalidades de avaliação requer a seleção de um instrumento e o especial destaque para a universalização progressiva do Ensino
estabelecimento de seus respectivos critérios. O instrumento deve Médio. Esse princípio correspondia ao preceito constitucional que
ser um documento através do qual professor e alunos obterão os apontava a educação como direito, a não ser impedido por
devidos registros de informações pertinentes à avaliação. Os discriminação de qualquer natureza, inclusive de natureza
instrumentos podem ser: Inquirição: questionário, entrevista - nas econômica, cabendo ao Estado assegurar a universalização, pela
modalidades oral ou escrita; Relatório: exposição de dados, por gratuidade, nos estabelecimentos oficiais em todos os níveis.
escrito; Portfólio: reunião de material produzido ao longo de um
processo de trabalho; Memorial reflexivo: exposição escrita de Tal concepção supõe um forte investimento em
caráter subjetivo, cujo objeto pode sermemória de vivência educação, e portanto guarda organicidade com a concepção de um
acompanhada de análise crítica ou exposição de uma situação Estado que exerce seu papel de mediador das relações entre
vivenciada; Prova: verificação de domínio de conteúdo.Os critérios capital e trabalho, protegendo e viabilizando os direitos de
das avaliações devem ser especificados tomando como parâmetro cidadania, típica de um modelo de Estado e de desenvolvimento
os objetivos do plano de curso, de unidade ou de aula, a depender econômico que já vinha sendo superado pela mundialização do
da amplitude da avaliação. capital, que passou a determinar outro tipo de relação entre as
Esses critérios precisam estar claros para o esferas política, econômica e social, constituindo-se o modelo
avaliador e para o avaliado, a fim de o resultado não seja surpresa neoliberal a partir das economias mais desenvolvidas.
para ambas as partes e possa ser o mais justo possível.
Segundo o discurso oficial, as amarras presentes
AS POLÍTICAS DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES NO na proposta de LDB não eram compatíveis com a realidade do país
CONJUNTO DAS POLÍTICAS PARA A EDUCAÇÃO: A imerso em profunda crise institucional e econômica, que
RESPOSTA PARA AS NOVAS DEMANDAS demandava um modelo que fosse ao mesmo tempo mais flexível e

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mais genérico, assegurando um caráter mais permanente à mesmo assim de forma hierarquizada para atender às demandas
legislação. Aprovada a proposta do governo em 1996, a LDB, pelo dos postos existentes, com níveis crescentes de complexidade, que
seu caráter geral, possibilitou um conjunto de reformas que foi se são adquiridos nos pós-médios à pós-graduação.
processando de forma isolada, mas que correspondia a um bem
elaborado plano de governo, que, articulando os projetos para as Em virtude do elevado investimento que seria
áreas econômica, administrativa, previdenciária e fiscal, foi dando necessário para universalizar pelo menos 11 anos de escolaridade
forma ao novo modelo de Estado. através do Ensino Fundamental e médio, aproximando-se dos
índices educacionais dos países desenvolvidos, o Banco Mundial
Os professores e suas organizações, divididos de tem recomendado que os países pobres priorizem o Ensino
acordo com a especificidade de suas áreas de atuação, Fundamental, deixando de investir em educação profissional
vislumbraram o conjunto apenas quando as reformas já estavam especializada e de elevado custo como estratégia de racionalização
ultimadas, embora, agora se sabe todas as concepções e financeira com vistas ao atingimento das metas de ajuste fiscal.
propostas já estivessem claramente explicitadas no planejamento Esta recomendação vem respaldada em pesquisa encomendada
estratégico do MEC, dado a conhecer em 1995. Esse conjunto de pelo próprio Banco, que conclui ser o nível fundamental o de maior
reformas, que inclui o novo modelo de formação de professores, retorno econômico e ser irracional o investimento em um tipo de
responde às novas demandas do mundo do trabalho, do ponto de formação profissional cara e prolongada em face da crescente
vista da acumulação flexível, em conformidade com as políticas das extinção de postos e da mudança do paradigma técnico para o
agências financeiras internacionais para os países pobres, tecnológico.
assumidas integralmente pelo governo brasileiro.
Ao mesmo tempo, a pesquisa aponta a
As novas políticas, não obstante a cansativa irracionalidade do investimento em educação acadêmica e
repetição do compromisso com a universalização, na prática, prolongada para aqueles que, segundo seus resultados, são a
conduzem à polarização das competências, por meio de uma maioria e não nascem competentes para o exercício de atividades
concepção de sistema educacional que articula formação e intelectuais: os pobres, os negros, as minorias étnicas e as
mercado, de tal modo que se assegure à maioria da população o mulheres. Para estes, mais racional seria oferecer educação
acesso à educação fundamental, única modalidade a ser fundamental, padrão mínimo exigido para participar da vida social e
generalizada a curto prazo, embora sem qualidade, a ser produtiva nos atuais níveis de desenvolvimento científico e
complementada com uma formação profissional que permita o tecnológico, complementado por qualificação profissional de curta
exercício de alguma ocupação precarizada na informalidade, posto duração e baixo custo. (Kuenzer 1999)
que a economia "teima" em não responder às ordens do governo
em relação a crescimento econômico, sempre projetado para o Evidentemente, a adesão a essa política
"próximo ano". A oferta de educação científico-tecnológica de corresponde à adoção do princípio da racionalidade econômica,
qualidade fica restrita a um pequeno número de trabalhadores, e inclusive porque a educação fundamental é um bom antídoto contra

28
a barbárie, desde que articulada a alguma forma de preparação que assegurem qualidade, e o baixo nível de produtividade do
para a sobrevivência na informalidade. Em decorrência desse Ensino Médio, que atende a 25% dos jovens entre 15 e 19 anos,
princípio, o conceito de universalidade do direito à educação passa segundo as estatísticas oficiais do MEC (Parecer 15/98/CNE),
a ser substituído pelo de equidade, segundo o qual dá-se a cada apontam para dois cenários que aos poucos vão se comprovando:
um conforme sua diferença, para que permaneça desigual, em face o progressivo repasse das responsabilidades do Estado para a
de suas "dificuldades naturais" para o exercício do pensamento esfera privada e a ampliação progressiva da massa de excluídos do
lógico-formal, para o domínio das linguagens e de outros atributos sistema educacional, porquanto já excluídos da economia e da
inerentes à atividade intelectual. sociedade.

Para responder a essa necessidade, o Estado A compreensão da concepção de educação


retoma a dualidade estrutural desde o Ensino Fundamental, ao adotada pelo governo em tempos de acumulação flexível só se
separar a educação profissional da escolaridade acadêmica, completa com a análise das políticas para o ensino superior, já
segundo o MEC "agora para a vida", recriando o Sistema Nacional delineadas na LDB e, mais recentemente, nas propostas oficiais
de Educação Profissional por meio do decreto 2208/97, que para a autonomia.
viabilizará, pela utilização das redes pública (Escolas técnicas e
Cefets) e privada (Sistema S) existentes, bem como da A principal mudança, com profundos impactos
terceirização, cursos de "formação profissional" básica, sobre a atuação e a formação de professores, diz respeito à
independentemente de escolaridade anterior, cursos técnicos autonomia didática no ensino superior. Até a LDB, havia estreita
modulares concomitantes ou seqüenciais ao Ensino Médio, de novo articulação entre formação e emprego, assumindo o Estado,
secundarista e propedêutico, ou cursos tecnológicos, em nível segundo o modelo de bem-estar social, a regulação da relação
superior, cuja especificidade e cuja natureza ainda não estão bem entre instituições formadoras e mercado de trabalho pelo controle
definidas. O resultado final é que voltam a existir duas redes que no processo, dos currículos, da certificação e da qualidade da
não se articulam formalmente por meio de mecanismos que oferta, estabelecendo critérios rigorosos de qualidade que se
permitam equivalência ou continuidade na rede regular. O acesso constituíam em condições para autorização de funcionamento e
ao nível superior se dá exclusivamente pelo Ensino Médio, não reconhecimento de cursos. Segundo o entendimento do Banco
profissionalizante, tal como na Reforma Capanema, que havia sido Mundial, a transferência das atribuições do Estado para a esfera
superada pela LDB 4024, de 1961. privada exige duas ordens de providências: a articulação dos
cursos de formação às demandas do mercado e a "flexibilização"
A inexistência de programas públicos do modelo tradicional de universidade, que articula ensino e
comprometidos com o resgate da escolaridade de uma população pesquisa, acompanhada do rebaixamento dos critérios de
economicamente ativa que tem em média 3,4 anos de qualidade, transferindo o controle do processo para o do produto,
escolaridade, a disseminação indiscriminada de propostas de de modo a estimular a iniciativa privada pela redução dos custos de
aceleração, correção de fluxo e ciclagem sem condições materiais formação. Desnecessário fazer referência para os leitores deste

29
artigo à organicidade das reformas que vêm se processando no substituirá a formação já insuficiente, por "percursos" aligeirados,
ensino superior e às políticas do Banco (Banco Mundial 1995). mas de baixo custo, que satisfarão a demanda por formação
superior.
É preciso, contudo, aprofundar a discussão sobre
a autonomia didática, ainda pouco estudada. A partir da LDB, os O ingresso no mercado de trabalho, para as
currículos mínimos, certamente rígidos, cartoriais e inadequados profissões que continuam nobres, continuará a ser regulado pelas
em face da nova realidade, foram substituídos por diretrizes ordens e corporações, agora sem a mediação do Estado, que ao
curriculares, que deveriam corresponder aos padrões mínimos de reconhecer a validade nacional dos diplomas assegurava um
qualidade defendidos pelos professores progressistas ao longo dos mínimo de igualdade de direitos. Sem essa mediação, as ordens
últimos 15 anos. Basta a leitura do Edital 04/97 da Secretaria de determinarão o que vale e o que não vale, segundo os interesses
Ensino Superior do MEC, que orientou a apresentação de da corporação, continuando a exercer o poder de defesa de suas
propostas e a ação das comissões de especialistas, para fatias de mercado por meio dos exames.
compreender que "diretrizes curriculares" correspondem a
princípios gerais, amplos, que assegurem a cada instituição No nível individual, a relação entre candidato a
formadora a "flexibilidade" para definir propostas que atendam às emprego e empregador agora é mediada por empresas
novas demandas do mercado local e regional, e às especificidades terceirizadas de seleção que privilegiam as atitudes e os
institucionais e do alunado. Segundo esse edital, cada curso deverá comportamentos considerados adequados à qualidade da formação
ser "um percurso", de modo a atender às demandas de formação científico-tecnológica, secundarizada em face da simplificação das
flexível, que exige uma base genérica, inespecífica, de modo a não tarefas pela crescente automação, fenômeno chamado por Gorz de
oferecer profissionalização estrito senso, que certamente logo será banalização das competências, porque todos podem aprender a
anacrônica, em face das mudanças científico-tecnológicas, ou fazer quase tudo (Tedesco, 1998).
inadequada, em face do binômio redução de postos/diversidade de
demandas em qualidade e quantidade. Essa relação passa a ser determinada pelo novo
conceito de empregabilidade, que repousa na existência de
Assim, o velho modelo de graduação tem sua atributos individuais que não mais igualam a partir da mesma
morte decretada em nome da racionalidade econômica que a formação, mas diferenciam pelas distintas trajetórias que são
articula a um mercado que tem demandas cada vez mais reduzidas viabilizadas pelo poder econômico, transformando a qualificação
em termos de pessoal e cada vez mais diversificada em termos de num grande shopping, onde quem tem mais tempo e dinheiro
formação. As diretrizes esboçadas pelas comissões de compra mais, e certamente consegue os melhores trabalhos.
especialistas, nessa linha, propõem a redução dos conteúdos
obrigatórios, básicos e específicos, a par da criação de ênfases e O Estado, ao abandonar seu poder regulador,
opções entre percursos e disciplinas que reinventam a taylorização, apenas atribuindo uma nota ao produto por intermédio dos exames
agora pós-moderna, com a justificativa da flexibilização, que nacionais, contribui para essa diferenciação; do ponto de vista da

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qualidade, restringe-se a critérios formais – relativos a instalações, não-universitário, que pode terceirizar a realização de cursos ou a
número de livros, qualificação dos profissionais, número de força de trabalho, ou até mesmo ser virtual. Assim, o governo
produções bibliográficas e técnicas, alunos formados –, adotando responde à demanda de formação em "nível superior" de um
uma concepção economicista de produtividade, a ser medida por grande contingente de professores para cobrir as necessidades de
modelos quantitativos e matrizes, pretensamente dotados de universalização do Ensino Fundamental e de expandir, na medida
objetividade, que sempre privilegiarão os já mais bem dos recursos disponíveis, uma versão secundarista e propedêutica,
posicionados, sempre candidatos à excelência e, em decorrência, portanto barateada, de Ensino Médio.
aos recursos disponíveis.
Igual raciocínio deve ser feito em relação às
Embora cruamente elitista esse modelo é diretrizes curriculares para as licenciaturas, que em muitas áreas
perfeitamente orgânico às novas demandas do mundo do trabalho estão adotando o aligeiramento e a desqualificação do professor
flexível na sociedade globalizada, em que a ninguém ocorreria pela redução da carga horária total e das disciplinas e atividades
oferecer educação científico-tecnológica e sócio-histórica relativas aos conteúdos responsáveis pela formação para a
continuada e de qualidade, portanto cara, aos sobrantes. Estes docência e para a pesquisa, sem análise mais aprofundada do
sobram; precisam apenas de educação fundamental para que não perfil do professor em face das novas demandas, dando
sejam violentos – embora usem drogas e comprem armas para cumprimento às orientações oficiais relativas à formação básica
alimentar os ganhos com o narcotráfico –, para que não matem inespecífica. Essa discussão ainda não está encerrada, restando
pessoas, não explorem as crianças, não abandonem os idosos à um espaço, à data da redação deste texto, para a reação
sua sorte, não transmitam AIDS, não destruam a natureza ou organizada por parte das licenciaturas e faculdades de educação,
poluam os rios, para que o processo capitalista de produção possa desde que se articulem para superar um certo movimento
continuar a fazê-lo, de forma institucionalizada, em nome do autofágico que parece ter contaminado a área.
"desenvolvimento".
Ao substituir o princípio da universalidade pelo da
Da mesma forma, a ninguém ocorreria formar equidade, essa política de formação de professores reveste-se da
professores em cursos de graduação universitários, lógica do modelo: como a educação média científico-tecnológica e
complementados por bons cursos de pós-graduação, para esses a educação superior não são para todos, é desperdício investir na
sobrantes, ou para os candidatos a sê-lo, em futuro próximo. É formação qualificada de professores para os trabalhadores e
nesse contexto que se explica a recente homologação da resolução sobrantes, que provavelmente serão clientes dos cursos de
que regulamenta os Institutos Superiores de Educação, criados formação profissional. Para os sobrantes, professores
pela nova LDB. precariamente qualificados, e, em decorrência, com salários
rebaixados e condições precárias de trabalho. Já para os cursos
Formação aligeirada e de baixo custo, a superiores, a LDB determina que a formação de professores ocorra
concentrar formação específica e formação pedagógica em espaço em cursos de pós-graduação, nas universidades.

31
Em relação à formação de professores para o de construção da identidade de um professor qualificado para
ensino profissional, o que se tem é a proposta do decreto 2208/97, atender às novas demandas, o que justifica baixos salários,
que atribui essa competência às licenciaturas e aos Centros condições precárias de trabalho e ausência de políticas de
Federais de Educação Tecnológica. Não há, contudo, formação continuada, articuladas a planos de carreira que
determinações precisas que permitam novas análises, além da já valorizem o esforço e a competência. Ou seja, as atuais políticas de
levada a efeito em artigo anteriormente publicado (Kuenzer 1998b). formação apontam para a construção da identidade de um
Neste texto, já se evidencia que os professores de educação professor sobrante.
profissional são de outro tipo, devendo ser formados em espaços e
por atores diferenciados; dada a clientela desses cursos, essa No que se refere às demandas do mundo do
concepção não foge à lógica aqui explicitada. trabalho, tomando-se a tendência à drástica redução dos postos de
trabalho no mercado formal, o modelo também revela sua
Como a análise levada a efeito demonstra, as organicidade. A contradição se evidencia apenas quando se faz a
políticas de formação descaracterizam o professor como cientista e análise do ponto de vista dos trabalhadores e excluídos, baseada
pesquisador da educação, função a ser exercida apenas por na escola pública: quanto maior a precarização econômica e
aqueles que vão atuar no ensino superior. cultural, quanto menores os investimentos, mais bem qualificado
precisará ser o professor. Conquistar essa nova qualidade, só por
À grande maioria compete a função de divulgação meio da organização, processo permanente de construção através
de conhecimentos em níveis diferenciados, para o que se propõe da saudável e permanente discussão das diferenças, desde que o
uma qualificação também diferenciada, e tão mais aligeirada e sonho continue sendo a destruição das condições de exploração,
menos especializada quanto mais se destine às classes para que finalmente nasça a nova sociedade.
subalternas, objeto "natural" de exclusão, para o que não se
justificam longos e caros investimentos. (Kuenzer 1998b)

Ao retirar da universidade a formação do


professor, o governo nega a sua identidade como cientista e
pesquisador, ao mesmo tempo em que nega à educação o estatuto
epistemológico de ciência, reduzindo-a a mera tecnologia, ou
ciência aplicada, ao mesmo tempo em que reduz o professor a
tarefeiro, chamado de "profissional", talvez como um marceneiro,
encanador ou eletricista, a quem compete realizar um conjunto de
procedimentos preestabelecidos. Nessa concepção, de fato,
qualquer um pode ser professor, desde que domine meia dúzia de
técnicas pedagógicas; como resultado, destrói-se a possibilidade

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LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1991.

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