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4 AS LEVADAS DE FORRÓ NO BAIXO
Este capítulo apresenta material transcrito e criado que exemplifica
levadas de forró e suas ou variantes no contrabaixo elétrico, com intenção de
criar linhas de acompanhamento no contrabaixo elétrico.
4.1 A criação de linhas de baixo
Como o estilo do forró abrange uma vasta variedade de gêneros
musicais,, focaremos aqui nos mais comuns do forró. Vamos começar com o
que talvez seja o gênero mais simples, o baião.
Como mostrado anteriormente, quando o contrabaixo elétrico cria
levadas no forró, ele imita a levada de instrumentos de percussão, geralmente
se baseia em instrumentos mais graves como surdos, bumbos, tantas,
atabaques entre outros. O baião possui uma célula rítmica bem simples “[...]
este estilo é executado no compasso 2/4 e sua principal característica é a
acentuação presente entre o final do primeiro
pr tempo e o início do segundo, que
acaba sendo apenas prolongamento.” (GIFFONI,
( p.34).
Na figurar a baixo podemos ver a célula rítmica básica do baião utilizada
geralmente pela zabumba:
Figura 1 - celula ritmica do baião
Fonte: dados do autor.
Através dessa célula rítmica, podemos dar seguimento a levada básica
do baião no contrabaixo elétrico, como podemos observar na imagem abaixo:
abaixo
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Figura 2 - levada basica do baião
Fonte: dados do autor.
O baixo utiliza essa mesma intenção rítmica para imitar os instrumentos
mais graves de percussão, no exemplo a cima se utiliza apenas a tônica do
acorde, essa é a levada mais básica do baixo no baião.
Também podemos usar a tônica e a quinta dessa maneira:
Figura 3 - levada com a 5ª
Fonte: dados do autor
Podemos observar na próxima imagem a levada da zabumba no baião:
Figura 4 – levada da zabumba
Fonte: dados do autor
Observamos que a zabumba acrescenta mais uma nota na segunda
colcheia do segundo tempo com a batida do bacalhau que simula a caixa da
bateria, variado a célula rítmica que vimos anteriormente. Pensado nisso
podemos também basear a levada do baixo acrescentando essa nota:
nota
Figura 5 – levada acrescentando a 5ª
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Fonte: dados do autor
Além da quinta também podemos acrescentar a sétima na levada:
Figura 6 – levada com a sétima
Fonte: dados do autor
No exemplo acima foi utilizado uma levada sobre o acorde de Dó com
sétima. pois no baião os acordes com sétima menor são característicos do
estilo por isso esses acordes com sétima menor são mais comuns de se tocar,
inclusive os modos característicos
característico do baião são o Mixolidio que possui a b7
(sétima menor) e o Lídio b7 que possui a 4# (quarta aumentada) e a b7 (sétima
menor) como característica principais.
principa Podemos ver na melódia a baixo a
presença da sétima menor:
menor
Figura 7 - “Baião” de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira
Fonte: Faria, (1995,, p 120).
120)
Até agora vimos a criação de levadas com base nas notas do arpejo do
acorde, mas também podemos enriquecer nossas linhas de condução do baixo
com certas técnicas, como a utilização de notas mortas, mais conhecida como
“Ghost Notes”,
”, que dão uma intenção mais percussiva e balanço a levada
como no exemplo a baixo:
Figura 8 – levada com ghost notes
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Fonte: dados do autor
Também pode-se
se usar de notas de passagem, ligaduras e entre outras
técnicas podendo mistura-las
mistura resultando em novas sonoridades como no
exemplo a abaixo:
Figura 9 – levada com variações
Fonte: dados do autor
O xote é um ritmo que assim como o baião tem a formação instrumental
originalmente formada por sanfona, triangulo e zabumba. Esse estilo é
executado no compasso 4/4, o contrabaixo
contrabaixo executa a mesma célula rítmica que
a zabumba:
Figura 10 – levada básica do xote
Fonte: dados do autor
Essa é a levada básica do xote no contrabaixo, podemos observar a
utilização da tônica juntamente com a quinta sobre a célula rítmica da
zabumba.. Podemos adicionar notas mortas a levada como uma nota de
preparação simulando o caixa da bateria além de dar mais balanço a levada:
Figura 11 – levda com ghost notes
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Fonte: dados do autor
Também é muito comum a utilização de frases de preparação
prepar com
colcheias,, essas freses antecedem o próximo acorde:
Figura 12 – levada com frases
Fonte: dados do autor
Assim como no baião no xote a mistura de diferentes recursos técnicos
trazem diferentes sonoridades a levada, mas para isso primeiro devemos
entender os conceitos básicos do estilo, no xote segundo Giffoni:
A interpretação deve ser suave e bem marcada, de forma
a fornecer a base para os instrumentos de harmonia e
percussão. As quintas, as notas de tensão e cromatismos
fazem parte das características do xote. (GIFFONI, p. 41).
Um exemplo com esses recursos:
Figura 13 – levada mais elaborada
Fonte: GIFFONI, (1997,, p.41).
p.41)
O forró romântico ou forró reggae que também é popularmente chamado
de forró das antigas é um estilo de forró que surgiu na década de 90, esse foi o
período onde o forró sofreu mais transformações por decorrência da influência
de diversos outros estilos musicais como a música sertaneja, romântica, brega
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e até do axé, e essas transformações também se refletiram nas levadas de
baixo no forró.
Apesar dessas influencias e transformações na maneira de tocar a
levada do baixo mantém a característica de imitar a célula rítmica da zabumba
ou do bumbo da bateria, a princípio as levadas podem usar as tríades dos
acordes, que são um conjunto de três notas que formam um acorde simples,
simples
essas são a tônica, a terça e a quinta.
As tríades aplicadas na levada do forró romântico:
Figura 14 – levada com tríades
Fonte: dados do autor
Percebemos que houve algumas mudanças em relação as levadas de
baião e xote,, agora além das quintas também utilizamos as terças nas levadas
dando uma sonoridade diferente. Também há uma pequena mudança na
harmonia, pois agora a pesar de serem usados acordes com sétima menor não
há predominância desses acordes deixando a harmonia um pouco mais
simples.
Também podemos utilizar somente a tônica e a quinta na levada:
levada
Figura 15 – levada com a quinta e a oitava
Fonte: dados do autor
Essa levada é bem parecida com as levadas do xote, mas como uma
variação da célula rítmica básica que vimos anteriormente, essa levada talvez
seja a maneira mais comum de se tocar o forró eletrônico, se escutarmos
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gravações desse estilo podemos perceber esse padrão em quase todas
tod as
levadas de baixo.
Podemos usar esse mesmo padrão com tônica e quinta e varia-lo
agregado as notas mortas para dar uma intenção mais percussiva e balaço a
levada:
Figura 16 – levada com ghost notes
Fonte: dados do autor
Embora essa levada derive da levada tradicional de forró podemos
p
perceber a grande transformação que o forró sofreu vendo que a levada do
baixo está cada vez mais distante da levada do forró tradicional e bem mais
parecida com a levada do forró vaneirão moderno.
O vaneirão
ão é um estilo musical e dança que surgiu por volta do fim dos
anos de 1990 e inícios dos anos 2000 de origem do estado do Rio Grande do
Sul, esse estilo tem influência da Habaneira cubana e geralmente feito para ser
tocado por grupo instrumental. Foi trazido para o nordeste por artistas como
Gaúcho da fronteira, e dessa
d junção do forró surgiu um estilo de vaneirão que
era mais rápido que o ritmo original.
A levada do baixo no vaneirão é bem parecida com a levada do forró
eletrônico, mas no vaneirão as levadas são um pouco mais rápidas e mais
elaboradas:
Figura 17 – levada de vaneirão
Fonte: dados do autor
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Podemos perceber a enorme diferença da levada do vaneirão para os
estilos anteriores. Na atualidade, as levadas são tocadas em andamentos mais
rápidos e com mais notas, uma das características mais marcantes na levada
do baixo são as notas mortas que quase sempre estão presentes tornado a
levada muito mais percussiva e elaborada. O timbre característico do baixo
nesse estilo é uma sonoridade mais voltada
a para as frequências de médio,
usando geralmente o captador da ponte aberto e o captador do braço fechado,
pois esse captador próximo a ponte naturalmente soa mais médio, para extrair
melhor esse timbre devemos tocar com a mão direita próxima a ponte,
ponte
semelhante
elhante ao modo como Jaco Pastorius (1951- 1987) tocava:
Foto 1 – Jaco Pastorius
Fonte: BBC.CO.UK, [20--?].
No vaneirão os baixistas começaram a aplicar novas técnicas
técnica a levada
agregado a maneira como tocava o forró tradicional como notas de
aproximação, cromatismos, tapping e dentre outras.
Figura 18 – levada de vaneirão elaborada
Fonte: dados do autor