Tecnicos em Radioterapia - Cap2 PDF

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Os Equipamentos

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CAPÍTULO 2 - OS EQUIPAMENTOS

Objetivo:
• Desenvolver o domínio do processo de trabalho do técnico em radioterapia
pelo conhecimento dos equipamentos de uso mais frequente e algumas noções
de segurança.

2.1 - Raios X: superficial e de ortovoltagem


Os protocolos básicos de tratamento, de dosimetria clínica e física, de técnicas de
simulação e posicionamento, foram criados a partir da experiência acumulada com a
utilização dos equipamentos de terapia superficial e ortovoltagem.
Vimos no capítulo anterior que as primeiras aplicações das radiações ionizantes
em terapia apareceram com a invenção do tubo de raios catódicos, logo após a descoberta
dos raios X.
Assim, nos primórdios da radioterapia, foram desenvolvidos os equipamentos ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

que tinham em sua constituição básica um tubo de raios X alimentado com tensões variáveis Estativa é
um termo derivado do
entre 30 kV e 100 kV para raios X superficiais, e 100 kV e 300 kV para ortovoltagem.
inglês stand (sustentar),
Os aparelhos de terapia superficial (figura 2.1) e ortovoltagem (figura 2.2) são e denomina a base fixa
que sustenta o braço
constituídos de um cabeçote com um tubo de raios X, uma estativa, um console de (gantry) e o cabeçote do
comando e uma mesa para posicionamento do paciente. equipamento.
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Esses aparelhos funcionam segundo os mesmos princípios físicos, geométricos e
eletrônicos dos equipamentos de raios X para fins diagnósticos.
Foto: IAEA

Figuras 2.1 e 2.2 - Equipamento de terapia superficial Philips RT100 (esq.); e equipamento de ortovoltagem
Siemens (dir.)
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Para obter um determinado feixe, Foto: hospitaline.com

utiliza-se um tubo de raios X de anodo


fixo embutido em um cabeçote
refrigerado (figura 2.3), geralmente a
óleo, onde as características do feixe são
determinadas por parâmetros como:
• A corrente elétrica do tubo F igura 2.3 - Tubo de raios X dentro de um cabeçote

(medida em miliAmpère - mA),


para o rendimento do feixe.
• A tensão (medida em kilovolt - kV) para a energia ou penetração do feixe.
• A filtração adicional (HVL, do inglês half value layer = camada semirredutora),
para a qualidade do feixe obtido.
• O tempo de tratamento para administração da dose adequada.

Como funcionam os tubos de raios X?

O tubo de raios X é um tubo de vidro especialmente produzido para resistir a altas


temperaturas. O seu funcionamento é baseado na emissão de radiação devido à interação do feixe de
elétrons com alvos metálicos.
Nesse tubo, quando uma corrente elétrica (medida em mA) passa pelo filamento
(figura 2.4 - K), este se aquece e libera elétrons por emissão termoiônica.
Para se obter os raios X, os elétrons liberados pelo filamento são acelerados por campos
elétricos decorrentes da tensão (figura 2.4 - U, medida em kV) aplicada no tubo até interagirem com o
alvo metálico (figura 2.4 - A) que, por estar com polarização positiva, atrai os elétrons que têm carga
elétrica negativa.

Foto: wikipedia.org

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Emissão
termoiônica é o processo
pelo qual os elétrons
atingem, por meio do
calor, energia suficiente
para escapar da superfície
de um filamento metálico.
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Figura 2.4 - Esquema dos elementos de um tubo de raios X
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Foto: Roberto Salomon


Para aumentar a eficiência dessa atração,
os tubos de raios X são construídos com vácuo
em seu interior. Assim, os elétrons perdem
menos energia em seu deslocamento e têm mais
chance de chegar ao alvo, onde interagem e
produzem os raios X.
Durante esse processo de interação,
os elétrons são freados, perdendo 99% de sua
energia em forma de calor e 1% em forma de Figura 2.5 - Cones de tratamento
raios X. Para a retirada desse calor, que é
indesejável, o tubo é colocado dentro de um cabeçote metálico, antigamente refrigerado à água
(figura 2.4 - C e W) e hoje, a óleo.
Para a utilização de aparelhos de raios X em radioterapia, foram desenvolvidos acessórios
específicos, tanto para os equipamentos de terapia superficial como para os de ortovoltagem. Neles, a
determinação do tamanho de campo de radiação era feita através de colimadores luminosos ajustáveis
ou cones aplicadores de diferentes tamanhos e formas (figura 2.5), que facilitavam a determinação da
distância fonte-superfície (DFS) e ainda diminuíam a zona de penumbra.
Os aparelhos de raios X superficiais utilizavam cones aplicadores, e os de ortovoltagem, tanto
cones aplicadores como colimadores luminosos. Esses cones existiam normalmente em duas ou três
distâncias fonte-superficies:
- Terapia superficial: DFS de 10, 15 e 25 cm.
- Ortovoltagem: DFS de 30, 40 e 50 cm.
Os equipamentos de raios X foram utilizados por muitos anos para tratamentos de radioterapia
externa (teleterapia), formando a base da radioterapia atual. Os equipamentos de ortovoltagem foram
muito úteis para o tratamento de lesões superficiais, normalmente tumores de pele. Entretanto, devido
às suas limitações de penetração do feixe (energia), de tamanho de campo e de taxa de dose, não
forneciam as condições necessárias para todas as terapias desejáveis.
Mesmo com a construção de novos equipamentos com tensões maiores, da ordem de 200 kV
a 500 kV, as aplicações se limitavam a tratamentos de câncer de pele, de cicatriz queloideana, e de lesões
superficiais. Para tratar tumores profundos, como os de pulmão e órgãos da pelve, a dose máxima ainda
era depositada muito próxima à superfície da pele, resultando num maior índice de reações adversas.
Os aparelhos de ortovoltagem caíram praticamente em desuso com o aparecimento dos
aparelhos de Co-60 e, posteriormente, dos aceleradores lineares de fótons e elétrons para uso médico.
Contudo, ainda há hospitais utilizando aparelhos de ortovoltagem para o tratamento de lesões superficiais.
Antes do início de qualquer tratamento, o técnico em radioterapia era o responsável por
programar o equipamento, pré-fixando a tensão (em kV), a corrente (em mA), a filtração adicional (em
HVLs), a DFS, o tamanho do campo de irradiação e o tempo de tratamento determinados para cada
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paciente. Para a irradiação do paciente, este era posicionado em uma mesa semelhante às de raios X
diagnóstico (figura 2.6). Os cabeçotes desses aparelhos permitiam movimentos verticais e longitudinais,
além de diferentes angulações.
Para a delimitação de áreas irregulares a serem irradiadas e proteção de tecidos sãos, eram
confeccionadas máscaras de chumbo (figura 2.7) específicas para cada paciente, com espessuras variando
de 1 mm até 3 mm.
Foto: IAEA Foto: Acervo PQRT

Figura 2.6 - Técnico em radioterapia Figura 2.7 - Máscara de chumbo


posicionando um paciente para tratamento

Os novos equipamentos, que produzem feixes de fótons com energias muito maiores,
possibilitam tanto o tratamento de lesões mais profundas com doses mais baixas na pele (Co-60 e
aceleradores lineares), quanto o de lesões superficiais com feixes de elétrons (aceleradores lineares).

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
2.2 - Telecobaltoterapia
Fonte selada ou
encapsulada é aquela em A criação de equipamentos com fontes de Co-60 foi um grande avanço para a
que não há a possibilidade radioterapia. Por serem aparelhos com feixes mais energéticos, permitiram o tratamento
de contato com o material de lesões mais profundas. Eles foram fundamentais em todo o processo de evolução,
radioativo.
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ implantação e implementação de novas técnicas de tratamento. Até hoje, são utilizados
em muitos centros de radioterapia do país.
O equipamento de Co-60 é composto basicamente por uma estativa ou base
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ fixa, uma parte móvel ou braço (gantry) com um cabeçote (onde fica a fonte de Co-60),
Urânio uma mesa móvel e um console de comando.
exaurido é composto
principalmente pelo isótopo O cabeçote (figura 2.8) é o coração do equipamento de telecobaltoterapia.
estável do Urânio-238. Por
não emitir mais radiação e Este componente contém uma fonte selada de Co-60 dentro de uma
ter densidade superior à do blindagem de urânio exaurido. A forma geométrica dessa fonte é a de um cilindro
chumbo, faz dele um metálico de aproximadamente 2 cm de diâmetro por 2 cm de altura, com o elemento
material utilizado para
blindagens de radiação radioativo confinado em seu interior.
ionizante.
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ A fonte de Co-60 tem duas possíveis posições dentro do cabeçote: a posição
de repouso (OFF) e a de irradiação (ON).
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Foto: Thauata 2005

Figura 2.8 - Cabeçote de um aparelho de Co-60 modelo Theratron 780

A movimentação da fonte dentro desse cabeçote é feita, em geral, por um sistema


mecânico pneumático que a desloca da posição de repouso (OFF) até a posição de irradiação
ou "janela" de saída do feixe (ON), retornando-a quando terminado o tempo de irradiação
pré-fixado. A posição da fonte é indicada por um sinal visível no exterior no cabeçote.
Nessa "janela", existe um colimador que determina o tamanho do campo de
irradiação.
Os primeiros equipamentos de Co-60 foram construídos em montagens com
apenas uma estativa e um cabeçote, que se deslocava verticalmente nessa estativa
(figura 2.9). Com esse movimento, definia-se a distância fonte-pele ou DFS.
Este tipo de montagem (não isocêntrica) foi usado por muitos anos em alguns
centros de radioterapia do Brasil, mas foi superado pelos equipamentos com montagem
isocêntrica (figura 2.10), que permitiram o desenvolvimento de técnicas de tratamento
mais práticas e eficientes.

Foto: Britannica.com Foto: Roberto Salomon

Figuras 2.9 e 2.10 - Aparelho de Co-60 com estativa vertical - Eldorado (esq.); e
aparelho com montagem isocêntrica - Theratron 80 (dir.)
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Um equipamento com montagem isocêntrica (figura 2.10) é construído de


forma que seu braço gire sempre em torno de um eixo central, no qual está definido
seu isocentro. O isocentro do equipamento é um determinado ponto, definido como a
interseção entre o seu eixo central de rotação e o eixo central do feixe de radiação. A
distância da fonte ao isocentro (DFI) também é conhecida pela sigla inglesa SAD (source
axis distance).
Os equipamentos isocêntricos mais antigos trabalham com DFIs de 60 cm ou
80 cm. Os equipamentos mais modernos trabalham com distâncias fonte-isocentro de
80 cm ou 100 cm.
Os equipamentos modernos de Co-60 permitem vários graus de liberdade de
movimentação, tanto do cabeçote como da mesa (figura 2.11), a saber:
• Movimentos do gantry e do colimador:
- Rotação do gantry (indicada pela seta vermelha).
- Rotação do cabeçote (indicada pela seta azul).
- Rotação do colimador (indicada pela seta amarela).
• Movimentos da mesa (indicados pelas setas verdes):
- Translação vertical.
- Translação longitudinal e lateral.
- Rotação do tampo da mesa (stretch rotation).
- Rotação do pé da mesa (couch rotation).
Os equipamentos isocêntricos facilitam muito os tratamentos, já que o paciente, uma
vez posicionado na mesa, não precisa mais ser movimentado para localização e irradiação de
cada um de seus campos de tratamento.
Foto: IAEA Training Material on Radiation Protection in Radiotherapy
Nesses equipamentos, os movimentos
da mesa e do gantry (figura 2.11)
permitem a convergência de todos os
campos para um mesmo ponto
(isocentro).
As montagens isocêntricas
possibilitaram melhor reprodutibilidade
nos tratamentos, bem como a aplicação
de uma maior dose de radiação no
volume tumoral com menor dose nos F igura 2.11 - Principais movimentos do gantry, do colimador e
da mesa nos equipamentos de Co-60
tecidos sãos (menores reações na pele).
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Foto: Varian
2.3 - Acelerador Linear
A adaptação dos aceleradores
lineares para aplicações médicas
proporcionou um grande avanço nas
técnicas de tratamento em radioterapia.
Esses equipamentos (figura 2.12)
possibilitaram a realização de tratamentos
Figura 2.12 - Acelerador linear Varian Clinac 2300
tanto com feixes de elétrons, bem
melhores do que os obtidos pelos antigos
Betatrons, quanto com feixes de fótons de altas energias (4 MV a 25 MV).
Como nos equipamentos de terapia superficial e ortovoltagem, os aceleradores
lineares (linacs, abreviação em inglês) também utilizam a interação dos elétrons com um
alvo metálico para a produção dos fótons (raios X). A obtenção desses feixes, mil vezes
mais energéticos que os de ortovoltagem, era impossível com a tecnologia dos antigos
tubos de raios X devido às suas limitações na aquisição e no isolamento de altas tensões.
Nos aceleradores lineares, para acelerar os elétrons a grandes velocidades
(4 MeV a 25 MeV), utilizam-se micro-ondas em um tubo com vácuo. Numa extremidade
do tubo, os elétrons, agora muito mais velozes, chocam-se com um alvo metálico de alto
número atômico, produzindo feixes de raios X; ou atingem uma folha espalhadora,
produzindo feixes de elétrons.
Como já vimos anteriormente, os feixes gerados pelos aceleradores lineares
têm energia maior do que os feixes do Co-60, sendo, portanto, mais penetrantes. Na
tabela a seguir, para as energias de 6 MV e 10 MV, tem-se o ponto de dose máxima
localizado, respectivamente, a 1,5 cm e 2,5 cm de profundidade. Essa característica
possibilita a irradiação de tumores profundos com doses altas e baixos efeitos na pele.

Tabela 2.1 - Capacidade de penetração dos feixes de diferentes energias

Os aceleradores de fótons e elétrons são equipamentos complexos, que utilizam


alta tecnologia para produção de feixes com propriedades dosimétricas e geométricas
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bem definidas. Esses equipamentos são compostos basicamente por uma estativa (stand)
e uma parte móvel, ou gantry, com um cabeçote. No suporte (stand) estão instalados
os sistemas de refrigeração, os componentes elétricos geradores das micro-ondas
(magnetrons ou klystrons) e os demais componentes eletrônicos. No gantry, temos a
seção aceleradora e o cabeçote com os colimadores.
Um acelerador linear de uso clínico é constituído por vários componentes
(figura 2.13), a saber:
1. Canhão de elétrons: filamento onde são gerados os elétrons para serem acelerados.
2. Seção aceleradora: estrutura onde os elétrons são acelerados até atingirem a
energia desejada.
3. Bomba de vácuo: equipamento responsável por manter o vácuo na seção
aceleradora.
4. Circuito gerador de micro-ondas: fonte geradora de micro-ondas (klystron ou
magnetron).
5. Guia de onda: estrutura responsável por transportar as micro-ondas até a seção
aceleradora.
6. Circulador e carga d'água: componentes responsáveis por absorver as micro-ondas
que não chegam à seção aceleradora.
7. Magneto de deflexão: componente responsável por conduzir o feixe de elétrons
até o carrossel.

Foto: SCAFF 1997

Figura 2.13 - Esquema dos principais componentes de um acelerador linear


Os Equipamentos
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8. Carrossel: componente responsável pela localização dos filtros específicos para


obtenção de feixes de elétrons ou de fótons.
9. Colimadores: componentes responsáveis pela definição do tamanho de campo de
radiação a ser utilizado.
10. Circuito d'água: responsável pela refrigeração de todo equipamento.
Foto: KARZMARK 1981

Figura 2.14 - Esquemas do cabeçote de um acelerador para produção de fótons e elétrons

Foto: KARZMARK 1981


Os elétrons gerados são
acelerados e conduzidos até o cabeçote
do acelerador para atingir um alvo
metálico de tungstênio, quando se deseja
produzir um feixe de fótons, ou uma
folha espalhadora de alumínio, para
obtenção de um feixe de elétrons (figura
2.14). Esses feixes, após sua produção,
são colimados por sistemas específicos
para cada caso.
No cabeçote do acelerador
(figura 2.15), estão localizados os Figura 2.15 - Detalhes dos componentes do cabeçote de um
acelerador linear
sistemas de seleção, colimação e
monitoração utilizados para se obter um feixe homogêneo de radiação. O conjunto das
estruturas que compõem o cabeçote é blindado com chumbo, para reduzir a radiação de
fuga a 0,1% da dose que chega ao isocentro do equipamento.
Para definição do tamanho dos campos de irradiação e da homogeneidade do feixe, é
utilizado no cabeçote um sistema de dimensionamento, a saber:
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1. Colimadores primários: esses colimadores são fixos e determinam o maior campo


de irradiação (normalmente 40 cm x 40 cm). São feitos normalmente de chumbo ou
tungstênio e localizados perto do alvo (figura 2.14).
2. Câmaras monitoras: dois pares de câmaras de ionização interceptam o feixe,
detectando sua intensidade e realimentando um sistema eletrônico que verifica a
homogeneidade e controla a estabilidade desse feixe.
3. Filtro achatador: dispositivo responsável por deixar o feixe de fótons mais
homogêneo.
4. Folha espalhadora: componente responsável pela criação de um feixe uniforme
de elétrons.
5. Colimadores secundários: sistema móvel de colimadores que delimita o tamanho
do campo de irradiação.
6. Cones aplicadores: utilizados para definir os diferentes tamanhos de campo de
feixes de elétrons.
7. Sistema ótico: indicador luminoso do tamanho do campo de radiação e da DFS.
Os colimadores secundários são compostos por dois pares de colimadores
metálicos ("X e Y" na figura 2.16). Nos equipamentos mais antigos, esses pares eram
simétricos, ou seja, moviam-se juntos. Os Ilustração: Victor Gabriel

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ equipamentos mais recentes têm colimadores


Radioterapia assimétricos, isto é, os pares de colimadores movem-
conformada ou se de modo independente entre si.
conformacional é uma
modalidade de tratamento,
Nos aceleradores mais modernos, é
no qual os campos de possível utilizar um sistema conhecido por multileaf
irradiação são definidos colimator ou colimador de múltiplas lâminas (MLC)
segundo o volume-alvo, para execução da radioterapia conformada.
poupando os tecidos sadios Figura 2.16 - Colimadores assimétricos
próximos do campo. Esse sistema contém um colimador formado
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
por 52, 80 ou 120 lâminas, medindo cada uma de 3 mm a 10 mm de largura, e de 20 cm
a 40 cm de comprimento.
As lâminas são comandadas individualmente por um sistema computadorizado.
Elas podem se deslocar de forma independente, possibilitando moldar campos de
irradiação com formas irregulares (figuras 2.17 e 2.18) de acordo com as formas dos
volumes a serem tratados.
Foto: Roberto Salomon Foto: Roberto Salomon

Figuras 2.17 e 2.18 - Colimador de múltiplas lâminas (MLC) (esq.); e


campo irregular definido pelas lâminas (dir.)
Os Equipamentos
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Essa tecnologia corresponde ao avanço do que era feito com as máscaras de


chumbo e os blocos de chumbo ou Cerrobend® (liga metálica que substitui o chumbo).
Para alguns tipos de tratamento, como os de câncer de mama com campos
tangentes, os colimadores assimétricos oferecem mais praticidade na execução, pois sua
movimentação independente viabiliza a correção da divergência do feixe (figura 2.19).

Ilustração: Chester Martins

F igura 2.19 - Tratamento de mama com campos assimétricos

Nos equipamentos com colimadores simétricos, a retificação da divergência é


feita com um bloqueador de meio-campo (figura 2.20).
Os aceleradores lineares foram construídos também com montagem isocêntrica,
tornando os tratamentos mais práticos. Nos equipamentos mais recentes, a DFI é definida
como 100 cm. Entretanto, ainda há equipamentos antigos com DFI de 80 cm.
Os graus de liberdade na movimentação dos aceleradores lineares (figura 2.21)
são iguais aos do simulador convencional, com exceção da DFI, que não varia nesses
aceleradores.

Foto: Roberto Salomon Foto: Revista Gazeta de Fisica

Figura 2.20 - Bloqueador de meio-campo Figura 2.21 - Alguns graus de liberdade dos movimentos
do acelerador linear: rotação do gantry (seta vermelha),
rotação da mesa (setas verdes). A "estrela" vermelha define o
isocentro, que está localizado na intercessão entre as linhas
pontilhadas
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2.4 - Simuladores de tratamento


Os simuladores de tratamento foram desenvolvidos com o objetivo de
melhorar a qualidade da localização do tumor, do planejamento dos campos de tratamento
e do posicionamento do paciente.
Apesar de alguns centros de radioterapia ainda realizarem essa simulação no
próprio aparelho de tratamento, os simuladores são os equipamentos mais adequados
para este fim, já que não ocupam o tempo de tratamento do equipamento de teleterapia.
Na etapa de simulação, são executadas:
• A localização e a definição do volume a ser tratado.
• A localização dos órgãos de risco a serem protegidos.
• A definição da técnica empregada.
• A escolha dos acessórios adequados à localização e imobilização do paciente.

2.4.1 - Simulador convencional Foto: IAEA Training Material on Radiation Protection in Radiotherapy

Os simuladores convencionais
(figura 2.22) são constituídos basicamente
de um tubo de raios X diagnóstico
(convencional ou para fluoroscopia) fixo em
um gantry com montagem isocêntrica
idêntica à montagem dos equipamentos de
tratamento.
Neles, definem-se o isocentro do
tratamento, os campos de irradiação para a
região a ser tratada e escolhem-se os
acessórios de posicionamento e Figura 2.22 - Simulador convencional
imobilização do paciente, para garantir a sua
reprodutibilidade durante todo o tratamento.
Todo o processo de localização do tumor e de definição do tamanho dos campos
de irradiação é feito com base em parâmetros ósseos, que também definem as regiões
a serem protegidas.
A definição dos campos de irradiação (quadrados ou retangulares) é feita com
colimadores luminosos. A mesa do simulador tem os mesmos movimentos das mesas
de tratamento. Assim, o simulador convencional reproduz as condições geométricas
do tratamento que será realizado na unidade de teleterapia.
O processo de simulação convencional é feito com imagens radiográficas em
filmes ou imagens de fluoroscopia, do qual os técnicos de radioterapia participam
Os Equipamentos
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Foto: IAEA Training Material on Radiation Protection in Radiotherapy


ativamente. Nesta etapa, aplica-se todo o
conhecimento da radiologia convencional e da
fluoroscopia adquirido na formação do técnico em
radiologia, porém é importante ter em mente a
maior complexidade do simulador convencional em
relação aos equipamentos diagnósticos, como por
exemplo, os graus de liberdade de seus
movimentos (figura 2.23).
Terminada a simulação, as imagens
radiográficas do paciente são enviadas para os
cálculos da dose e do tempo de tratamento desse ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Figura 2.23 - Graus de liberdade de um
simulador convencional de tratamento paciente. CT-simulador
= computerized
Mais detalhes do processo de simulação serão discutidos posteriormente nos capítulos tomography, que significa
5 e 6. em português tomografia
computadorizada.
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
2.4.2 - Tomógrafo simulador
Foto: The Modern Technology of Radiation Oncology A Compendium for Medical Physicists and Radiation Oncologists - J. Van Dyk
A evolução das técnicas de
aquisição de imagem, principalmente
a invenção da tomografia por raios
X, trouxe uma grande inovação para
as técnicas de simulação em
radioterapia, pois possibilitou a
realização da simulação virtual do
tratamento.
O CT-simulador (figura 2.24)
F igura 2.24 - Esquema de uma sala com um CT-simulador
é um equipamento de tomografia
computadorizada adaptado para aplicação em radioterapia.
Tomógrafos utilizados em radiodiagnóstico podem ser também utilizados em
radioterapia, mas necessitam de uma mesa plana especial, semelhante à utilizada nas
unidades de tratamento, além de lasers fixos em sua sala, para auxiliar na localização do
paciente e na determinação do isocentro de simulação.
A abertura do gantry do tomógrafo pode ser um fator limitante quando há
necessidade de utilização de acessórios de posicionamento do paciente, como a "rampa
de mama" (breast board). Entretanto, alguns equipamentos novos já são projetados e
comercializados especificamente para uso em radioterapia.
Esse processo de simulação que utiliza o tomógrafo para aquisição de imagens
sem que o paciente passe por um simulador convencional é chamado de simulação virtual.
Atualização para Técnicos em Radioterapia
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Para o processo de simulação virtual, são feitas aquisições de imagens


tomográficas no plano transversal do paciente (figura 2.25). Nesta etapa, assim como
na simulação convencional, os técnicos de radioterapia normalmente auxiliam na
imobilização do paciente e na localização do isocentro de simulação, além de participarem
na operação do tomógrafo.

Foto: Victor Gabriel

Figura 2.25 - Cortes tomográficos, começando pela esquerda no sentido horário: corte transversal, reconstrução
tridimensional do paciente com os campos de tratamento, corte sagital e corte frontal

As imagens adquiridas no tomógrafo, que contém todas informações anatômicas


do paciente, são enviadas para uma estação de planejamento (workstation) constituída
por um computador provido de um programa específico denominado sistema de
planejamento de tratamento (Treatment Planning System - TPS).
O conjunto de imagens tomográficas é processado e transformado em um
"paciente virtual" em três dimensões (3D) (figura 2.26). Com essa imagem
tridimensional do paciente, é feita, como na simulação convencional, a determinação:
Foto: Victor Gabriel
• Do isocentro de
t r a t a m e n t o
(normalmente definido no
centro do tumor).
• Dos tamanhos dos
campos de irradiação.
• Das regiões a serem
protegidas.
Figura 2.26 - Simulação virtual 3D
Os Equipamentos
35

Como as radiografias na simulação convencional, as radiografias digitalmente


reconstruídas (DRRs - digital reconstructed radiographs) servem como importantes
parâmetros de verificação do posicionamento do paciente e da definição dos limites dos
campos de irradiação.
As DRRs são obtidas a partir das imagens tomográficas, usando o sistema de
planejamento, conforme pode ser Foto: Victor Gabriel

visto na figura 2.27.


Assim como na simulação
convencional, as imagens
radiográficas do paciente são
enviadas para os cálculos da dose e
do tempo de tratamento desse
paciente.
Figura 2.27 - DRRs de um tumor de cabeça e pescoço

2.5 - Aspectos gerais de segurança dos equipamentos


Os parâmetros básicos de segurança e funcionamento de instalações médicas,
que possuem equipamentos radiativos, são regulados por normas específicas, como as
NN-3.01, NE-3.06 e NE-6.02 da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), que
estabelecem requisitos básicos de radioproteção em radioterapia, e a resolução RDC-20,
da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que é um regulamento técnico para o
funcionamento de Serviços de Radioterapia.
É importante que os técnicos tenham conhecimento do que dizem essas normas.
O técnico em radioterapia é o profissional que mantém o contato diário com os
equipamentos do Serviço, o que lhe permite conhecer bem o desempenho de todos eles,
podendo assim identificar possíveis problemas e prevenir, com o auxílio de outros
profissionais, funcionamento inadequado e quebra, e/ou parada dos mesmos.
Nesse sentido, o técnico deve estar sempre atento a itens como a integridade do
cronômetro mecânico ou digital, a existência de ruídos estranhos no sistema pneumático,
e a movimentação do equipamento (no caso de equipamento de Co-60).
Nos simuladores, um cuidado especial deve ser dado aos aspectos mecânicos do
equipamento (lasers, tamanho de campo etc.). Qualquer erro no processo de simulação e localização
será propagado por todo o tratamento, podendo comprometer seriamente a sua qualidade.
A melhor maneira de monitorar o desempenho diário dos equipamentos é
estabelecer um programa de controle de qualidade, pois este é o método mais eficaz de
reduzir problemas, gastos, incidentes e acidentes.
Atualização para Técnicos em Radioterapia
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A proteção radiológica do paciente e da equipe está intimamente ligada à garantia


de qualidade, ou seja, ao funcionamento correto de todos os equipamentos.
Por essa razão, diariamente, antes do início do expediente, devem ser realizados
todos os testes estabelecidos no programa de controle de qualidade da instituição,
conforme normas específicas.
Assim sendo, um técnico em radioterapia, conhecedor de sua função e
importância, é personagem fundamental tanto na realização diária dos tratamentos
como no zelo pelo melhor desempenho dos equipamentos, conhecendo bem as suas
características e as exigências básicas para seu funcionamento correto.
Agora que você já conhece os equipamentos de uso mais frequente em
radioterapia e seu funcionamento, vamos conhecer, no próximo capítulo, os acessórios
utilizados para posicionamento do paciente e para modificação dos feixes de radiação
durante as sessões de tratamento.

Referências
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Teachers and Students. Vienna: International Atomic Energy Agency; 2005.
International Atomic Energy Agency. External Beam Radiotherapy: Equipment and Safe
Design. Training Material on Radiation Protection in Radiotherapy. Vienna: International
Atomic Energy Agency; 2007.
Johns HE, Cunningham JR. The Physics of Radiology. 3rd ed., Chicago: Thomas; 1969.
Nandi DM. Estudo de Funcionalidade e Segurança para Aceleradores Lineares Utilizados
em Radioterapia - uma Contribuição para Gestão Tecnológica Médico-Hospitalar.
(dissertação). Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina; Programa de Pós-
Graduação em Engenharia Elétrica; 2004. 141 f.
Tauhata L, et al. Radioproteção e Dosimetria - Fundamentos. Rio de Janeiro: CNEN,
Instituto de Radioproteção e Dosimetria; 2001.
Van Dyk J, (Technical Editor) The Modern Technology of Radiation Oncology: a
Compendium for Medical Physicists and Radiation Oncologists. Madison, Wis.: Medical
Physics Pub; c1999.
Wallace RP. Cobalt and Radiation Therapy: the Benefits in the Treatment of Cancer.
Ontario, Ca: Theratronics International Limited; 1997.
Wolfgang S. 3D Conformal Radiation Therapy: a Multimedia Introduction to Methods
and Techniques. [S.n.t]

Sugestões para pesquisa

http://pt.wikipedia.org/wiki/Raios_X - Sítio na internet com informações sobre a


produção de raios X.
Os Equipamentos
37

http://www.ionactive.co.uk/multi-media_video.html?m=8 - Sítio na internet com


animações sobre a produção de raios X
http://en.wikipedia.org/wiki/External_beam_radiotherapy - Sítio na internet com
informações sobre equipamentos de tratamento com radiação.
www.cnen.gov.br - página de internet da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN)
onde são encontradas as normas brasileiras de proteção radiológica e requisitos para
licenciamento para serviços de radioterapia.
http://e-legis.anvisa.gov.br/leisref/public/showAct.php?id=20741&word - Sítio da Anvisa
com as regras para o funcionamento dos serviços de radioterapia.

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