GPRO18 14 - Rafael Justi Torrezan PDF
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Trabalho apresentado para obtenção do título de especialista em
Gestão de Projetos – 2018
Resumo
O cotidiano da construção civil voltada à construção de residências convive com a
dificuldade de ajuste entre o montante declarado do cliente e as características da
construção desejada que, sob a ótica da gestão de projetos, recai sobre a gestão de escopo
da construção. É sabido no meio acadêmico que a moderna gestão de projetos está
fortemente ligada à gestão de escopo. Diante dessa problemática, entende-se como
fundamental auxiliar os profissionais da construção, em especial engenheiros e arquitetos,
no que tange ao ajuste do escopo da residência, com uma ferramenta que sintetize e
contraponha o montante declarado e as definições de escopo, e que também apresente o
impacto de determinadas mudanças de escopo no orçamento global, de modo que cliente e
profissional analisem o impacto de cada alteração no custo global da obra e selecionem as
mudanças cabíveis, gerindo dessa forma as mudanças ao longo do período de construção.
Tendo em vista o hiato técnico entre profissional e cliente e as dificuldades inerentes de
comunicação, pretendeu-se com este trabalho produzir uma ferramenta de gestão de
escopo de fácil compreensão, sintetizadora das alterações do escopo e que apresente o
impacto dessas mudanças no custo global da obra, sendo essa representação em formato
de Canvas, a qual se mostrou peculiarmente útil para esse fim, intermediando o ajuste de
escopo de uma residência.
Palavras-chave: (construção civil; gestão de escopo; comunicação; cliente; Canvas).
Introdução
De fato e historicamente, a construção de uma residência perpassa o imaginário
popular. Construir uma habitação envolve, além de recursos financeiros, ideias, sentimentos
e, sobretudo, emoções. Por sua vez, a realização deste sonho, em mãos de engenheiros e
arquitetos, impõe a árdua missão de prospectar a disponibilidade financeira do cliente e
concatenar esse montante com suas expectativas e ansiedades em relação ao escopo do
produto, em termos de área construída, sistema construtivo, padrão de acabamento, entre
outros quesitos, conduzindo à necessidade de uma gestão adequada do escopo do produto,
conforme preconiza o “Project Management Institute” (PMI, 2013), de forma que profissional
contratado e cliente alinhem o montante declarado a características desejadas e cabíveis da
residência. Para tanto, entende-se como indispensável uma gestão visual e condensada do
escopo, de modo que profissional e cliente dialoguem e convirjam sobre o escopo ante ao
montante declarado inicialmente, pois se reconhece a dificuldade de controlar gastos de
construção sem uma ferramenta apropriada.
Identificada esta problemática, estabelece-se o seguinte panorama: um cliente
deseja construir sua residência e contacta um engenheiro civil que, mediante o uso da
representação da gestão do escopo em formato de Canvas, sintetiza e intermedia o
processo iterativo de convergência entre montante declarado e escopo do produto de forma
visual e inteligível.
Segundo a definição do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
(SEBRAE, 2018), o Business Model Canvas, ou apenas Canvas, é uma ferramenta
largamente utilizada para a representação de modelos de negócios, cujo caráter visual
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Materiais e métodos
Para os fins deste estudo, primeiramente presumiu-se que a relação entre cliente e
engenheiro seja de mútua colaboração, uma vez que a convergência entre escopo e
disponibilidade financeira ocorre mediante o diálogo e a reflexão, em termos qualitativos e
quantitativos, entre os dois stakeholders em destaque. Para este estudo, assumiu-se como
objeto de construção uma edícula de 24,0 m², a construir-se no estado de São Paulo, em
janeiro de 2018.
Primeiramente captou-se a disponibilidade financeira do cliente, mediante o
montante declarado, valor que o cliente está disposto a aplicar na construção de sua
residência.
Posteriormente, por meio de bancos de dados de índices da construção civil, de
largo uso no meio profissional, foram introduzidas estimativas de custos, primeiramente
expeditas e posteriormente descritivas, para esquematizar a definição do escopo inicial, de
acordo com o montante declarado, entrando-se num processo interativo até que o montante
suporte a caracterização primária da construção.
Uma vez aprovado o escopo inicial da construção, montou-se uma apresentação em
Canvas, representando-se o montante declarado do cliente e os custos expedito e descritivo
da obra. Em seguida, introduziram-se alterações pontuais do escopo, com os impactos
traduzidos em variação do custo global por pacote de serviços, apresentadas no Canvas. A
ferramenta permitiu a análise da viabilidade econômica e abriu campo para uma ferramenta
que se utiliza de processos iterativos de ajuste do escopo. Um sequenciamento de fichas de
Canvas configura-se, desse modo, um documento do histórico de mutação e gerenciamento
do escopo.
Finalizado o Canvas, para o exemplo proposto, apresentou-se a ferramenta como
aplicável a vários portes e finalidades de construção, podendo-se inclusive estender seu uso
a produtos de naturezas diversas.
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Resultados e discussões
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▪ Instalações hidráulico-sanitárias;
▪ Instalações elétricas;
▪ Pintura;
▪ Acabamento;
▪ Demolições e retiradas;
Assim, definidos os pacotes, o profissional passa ao orçamento descritivo estimativo,
no qual se desmembram os pacotes em seus serviços isolados, com a finalidade de
quantificar o CO de forma detalhada. Para essa estimativa, são consultados os bancos de
dados de referência da construção civil, dentre os quais o já mencionado SINAPI, a
Companhia Paulista de Obras e Serviços [CPOS], a Secretaria Municipal de Infraestrutura
Urbana e Obras da Prefeitura da Cidade de São Paulo [SIURB], dentre outros. Esses
bancos de dados são referência nacional na estimativa de custos da construção, pois, por
meio de composições, estimam, por unidade de aferição, os custos de mão de obra e de
materiais, para cada serviço da construção. A Tabela 1 exemplifica uma composição tomada
do SINAPI (2018), para a quantificação dos custos relativos ao serviço de execução de um
metro quadrado de piso cerâmico, na qual se encontram computados as unidades de
medição dos custos de mão de obra (azulejista e servente) e dos custos de materiais (piso
cerâmico, argamassa e rejunte), parametrizados em torno da unidade de medição m².
Segundo o mesmo boletim, o valor unitário dessa composição é de R$ 43,73 m-2, ou seja,
para o caso hipotético de uma área de 100 m² de piso cerâmico, o custo de execução seria
de R$ 4373,00.
Desse modo, por meio deste artifício, quantificam-se, serviço a serviço, os custos da
construção. Portanto, para estimar o custo global da obra, tabulam-se todos os serviços
necessários à construção, de acordo com as composições dos bancos de dados descritos
acima ou de outros, de reconhecida confiabilidade. Para estimar os quantitativos de
execução de cada serviço, empregam-se memórias de cálculo, que garantem a conferência
desses valores. Sugere-se a Tabela 2, na qual os serviços estão classificados em pacotes,
discriminados pelo código e descrição do item, pela fonte, pela unidade de medição, pelo
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custo unitário do item, pelo quantitativo e pelo custo de execução correspondente ao item,
de acordo com as colunas da tabela. Desse modo, tem-se uma tabulação que discrimina e
quantifica item por item e pacote por pacote os custos da construção, facilitando ao
profissional o processo de cálculo.
Uma vez computado o CO pela primeira vez, chega-se ao primeiro comparativo do
montante declarado com o custo total da obra. Sabendo que o processo de convergência do
escopo é iterativo, elabora-se um mecanismo de análise da influência de alterações do
escopo no custo global, individualizando a influência de cada pacote na variação do custo
global. Seguindo a nomenclatura da Tabela 2, pode-se tabular as variações por pacote,
conforme a Tabela 3, onde ΔC representa a variação do custo global e cada ΔCi representa
a variação do custo dos pacotes da obra, sendo as células preenchidas por valores decimais
ou porcentagens (x100). Ainda, pode-se empregar essa tabulação para analisar o impacto
de sub-pacotes no valor global, refinando a análise.
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7 Pintura
7.1
7.i
Total
8 Acabamento
8.1
8.i
Total
9 Limpeza
9.1
9.i
Total
Custo total da obra
Fonte: Resultados originais da pesquisa
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24,0m², projeto padrão de referência CR.1-3Q e padrão de acabamento normal. Com esses
parâmetros, no banco de dados do SINAPI (2018), obtém-se um CUB de R$1214,91.
Assim exposto, calcula-se o custo global da obra, aplicando-se um BDI de 25%:
𝐶𝑢𝑠𝑡𝑜 𝑑𝑎 𝑂𝑏𝑟𝑎 = Á𝑟𝑒𝑎𝑒𝑞𝑢𝑖𝑣𝑎𝑙𝑒𝑛𝑡𝑒 𝑥 𝐶𝑈𝐵 𝑥 𝐵𝐷𝐼
𝐶𝑢𝑠𝑡𝑜 𝑑𝑎 𝑂𝑏𝑟𝑎 = 24,0 𝑥 1214,91 𝑥 1,25 = 𝑅$ 36447,30
Portanto, a estimativa o CO é de R$ 36447,30 para a construção da edícula. A
seguir, define-se o orçamento descritivo, que fornece uma estimativa mais precisa e
discrimina os custos por pacotes, conforme Tabela 4. Os valores unitários foram retirados do
SINAPI (2018) e do CPOS (2018).
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partes interessadas façam uma análise sucinta do plano. Com o mesmo objetivo, utiliza-se
essa representação para a ferramenta de ajuste de escopo proposta. A Figura 2 apresenta a
primeira cartilha do Canvas, passando-se a explicar o significado das informações inseridas,
a forma como se relacionam entre si e orientam a tomada de decisões a respeito do ajuste.
No topo do Canvas, está registrado o título da ferramenta, seguida da numeração da
cartilha. A Figura 2 apresenta a cartilha n°1, admitindo que as alterações de escopo
mencionadas anteriormente configurem o primeiro ajuste de escopo.
Em seguida constam os cálculos e o dimensionamento do custo expedito da
estimativa. Nesse ponto estão arrolados os parâmetros influenciadores dessa estimativa,
como: o valor da área equivalente de construção, que no caso é de 24,0 m²; padrão de
acabamento, que influencia significativamente a estimativa do custo, no caso é padrão
normal; o escopo-base que é uma descrição das características da planta-baixa da
construção, descrevendo-se o tipo de construção e os cômodos; o valor do montante
declarado pelo cliente, para ser o valor limítrofe do custo descritivo; por fim, a duração, em
dias, prevista para a construção.
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Conclusão
A construção civil convive com a problemática da gestão de escopo, haja vista que
frequentemente a construção possui restrição orçamentária e, uma vez não gerida
criteriosamente, poderá implicar no congelamento do projeto, cancelamento ou queda no
padrão de qualidade. Desse modo, buscou-se apresentar uma ferramenta de ajuste de
escopo que enfrenta a disponibilidade financeira enunciada de antemão, voltada a obras
residenciais, exemplificando-se sua utilização para o caso específico de uma edícula,
ressaltando-se que esta ferramenta é cabível para qualquer tipo e porte de construção,
dimensionando-se o grau de especificação do Canvas para cada caso.
A ferramenta proposta sintetiza as diversas informações envolvidas na análise da
viabilidade econômica da construção, pois conforme visto, começa-se com o registro da
estimativa expedita do custo da construção, que comparada ao montante declarado, orienta
na idealização do tipo e porte da construção. Em seguida apresenta-se a estimativa
descritiva do custo da construção, por meio da definição do escopo do produto e da
segmentação dos custos por pacotes de serviços. Esta fase permite a discussão
pormenorizada dos materiais e sistemas construtivos, sendo a etapa mais laboriosa, pois ela
é o pontapé do processo iterativo. Uma vez definido esta primeira metade do Canvas,
procede-se com a consecução das discussões, que podem gerar alterações do escopo. A
segunda metade do Canvas apresenta o registro das mudanças pretendidas, com os
respectivos impactos nos custos dos pacotes e, por consequência, no custo global da
construção, permitindo a análise de viabilidade econômica sem, contudo, haver
compromisso de que essas mudanças realmente ocorram. Uma vez aprovadas do ponto de
vista financeiro, as mudanças pretendidas são dialogadas e são assimiladas somente
aquelas que resistirem às avaliações. O histórico de discussões forma um caderno de fichas
que relatam a gestação do escopo do produto, servindo de orientação ao profissional que
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Referências
Companhia Paulista de Obras e Serviços [CPOS]. 2018. Boletim Referencial de Custos –
Tabela de Serviços com Desoneração. Disponível em:
<http://boletim.cpos.sp.gov.br/cns_download_documento/cns_download_documento_doc.ph
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