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SOCIEDADE DA SANTÍSSIMA VIRGEM MARIA - SSVM


Instituto de Caridade e Educação Cristã
Sociedade da Santíssima Virgem Maria
[email protected]

VINDE A MIM TODOS!


Compêndio da Mensagem do Sagrado Coração de Jesus
à Irmã Josefa Menéndez

COMPÊNDIOS SSVM
PAULO OLIVEIRA [ORG.]

Montes Claros – Maio de 2016


3
*A presente obra foi compilada do livro Apelo ao amor – Mensagem do
Coração de Jesus ao Mundo e sua Mensageira Soror Josefa Menéndez,2ª
edição, 1953. Editora Santa Maria.

*Como critério de organização, as mensagens do Coração de Jesus fo-


ram por vezes mescladas entre si, sem contudo se alterar minimamente
o conteúdo propriamente dito. Algumas notas de rodapé, não constan-
tes da fonte originária, foram também acrescentadas por terem sido
julgadas oportunas.

4
ÍNDICE

Introdução ................................................................................................ 07

1. Despertar de uma alma ...................................................................... 12


2. Espera ................................................................................................. 12
3. O Coração aberto de Jesus ............................................................... 14
4. Vocação reparadora ........................................................................... 15
5. A prova da dúvida .............................................................................. 18
6. Primeiros passos ................................................................................ 19
7. Lição e perdão de todos os dias ....................................................... 20
8. O apelo das almas ............................................................................. 25
9. Vida ardente e escondida .................................................................. 26
10. Vida de intimidade ............................................................................ 28
11. Os desígnios do Amor ..................................................................... 29
12. Primeiros assaltos ............................................................................ 30
13. Aurora dos votos .............................................................................. 32
14. A oblação .......................................................................................... 33
O perdão oferecido aos pecadores .................................................. 33
15. A mensagem de Amor ...................................................................... 36
16. Os primeiros pedidos ....................................................................... 37
Confiança na Misericórdia ............................................................... 37
17. Apelo às almas escolhidas .............................................................. 39
18. O sentido redentor da vida cotidiana ............................................. 40
Santificação da vida diária ............................................................... 40
“Escuta, Josefa! É loucura que tenho pelas almas!” ........................ 43
19. A via dolorosa ................................................................................... 43
Visitas a Jesus Sacramentado......................................................... 45
Tibieza no trato com a Eucaristia..................................................... 48
Deus é nosso Pai ............................................................................ 49
Queixa amorosa .............................................................................. 50

5
Vontade de Deus ............................................................................. 50
Esfriamento espiritual ...................................................................... 52
Convite aos pecadores .................................................................... 53
Renunciar a si mesmo e tomar a cruz ............................................. 53
20. Vida de fé .......................................................................................... 55
21. Volta a Poitiers.................................................................................. 56
Sobre a Santa Missa ....................................................................... 60
Conversa com Deus ........................................................................ 61
22. Dias de provações ............................................................................ 62
23. A conclusão da Mensagem .............................................................. 62
24. União sobre a Cruz ........................................................................... 64

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INTRODUÇÃO

Em 29 de dezembro de 1923 morria santamente aos trinta e três anos


de idade e quatro de vida religiosa a Irmã Josefa Menéndez. Sua curta vida
de religiosa consagrada na Sociedade do Sagrado Coração foi, no entanto,
repleta de numerosas aparições do Sagrado Coração de Jesus e da Santís-
sima Virgem Maria.

Querendo recordar aos homens o grande amor que o levou a se en-


carnar e morrer por nós, aprouve a Nosso Senhor Jesus Cristo, mais uma
vez na história, se servir de um simples e limitado instrumento humano pa-
ra relembrar sua Misericórdia à humanidade – tal como, séculos antes, o
mesmo Senhor elegeu a Santa Margarida Maria de Alacoque1 para um no-
vo incremento, sentido e alcance da devoção ao Seu Sagrado Coração. Tan-
to melhor assim, pois na debilidade e inaptidão da Irmã Josefa resplandece
com mais claridade a grandeza dos Dons de Deus por ela recebidos. Josefa
várias vezes escutará dos lábios do próprio Jesus a confissão de sua misé-
ria: “Se Eu pudesse encontrar criatura mais miserável, sobre ela teria
fitado o Olhar do meu Amor e, por ela, manifestaria os desejos de Meu
Coração. Mas como não encontrei, foste tu escolhida.”

Tal procedimento da parte do Senhor mantém-na profundamente


humilde, virtude indispensável para a missão à qual é incumbida; conscien-
te do próprio nada, humilhada pelas limitações naturais (como sua dificul-
dade para se exprimir em francês, já que passou sua vida religiosa na Fran-

1
Esta é a Santa que recebeu a missão de espalhar pelo mundo a devoção ao Sa-
grado Coração ofendido pela ingratidão dos homens, precisamente quando o jan-
senismo - espécie de infiltração do espírito protestante dentro da Igreja - destruía
nas almas a noção da misericórdia de Deus. O Sagrado Coração de Jesus apare-
ceu a Santa Margarida Maria, jovem religiosa da Ordem da Visitação, para
transmitir sua mensagem de misericórdia e confiança, a dizer: “Eis o Coração
que tanto amou os homens; que a nada se poupou até se esgotar e consumir, pa-
ra lhes testemunhar o seu amor. E em reconhecimento não recebo da maior par-
te deles senão ingratidões". Foi incompreendida e perseguida, tachada de visio-
nária, histérica, alucinada e mesmo possessa, até que a Providência colocou em
seu caminho o jesuíta São Cláudio La Colombière, que lhe deu orientação segura
e conseguiu fazer com que sua mensagem começasse a ser vista com outros
olhos. Pouco a pouco, essa mensagem foi se impondo aos conventos da Visita-
ção, e depois se espalhou por toda a Igreja.
7
ça), a vida de Josefa é um contínuo crescimento na graça divina. Apesar da
evidência da Ação de Deus, receará sempre enganar-se e enganar aos ou-
tros. Simples e equilibrada, resiste às provas sobre-humanas que Deus lhe
envia, e tal resistência só vem confirmar a sobrenaturalidade dos fatos que
se dão com ela. Os numerosos receios e temores que surgem no coração de
Josefa vão, pouco a pouco, dando espaço para que a Vontade de Deus se
cumpra na sua vida. “Desejo que escrevas e que guardes tudo que Eu te
disser. Tudo se lerá quando estiveres no céu”, vai dizer Nosso Senhor a
ela.

Junto com a missão de mensageira, Josefa recebe também a de víti-


2
ma ; Jesus irá pedir cada vez mais sacrifícios pelas almas à sua humilde
serva. O discípulo perfeito deverá ser como o mestre (cf. Lc 6,40). Em Jo-
sefa Menéndez essas palavras se cumpriram com perfeição. Gradualmente
ela vai se identificando com Cristo Crucificado a fim de alcançar expiação
para os pecadores, já que em si mesma nunca se notou falta alguma real-
mente consentida. Assim, a imensa correspondência à graça que vemos em
Josefa Menéndez alcança merecimento para outras que, sem isso, não seri-
am salvas.3

“Quanto a ti, viverás na mais completa e mais profunda obscu-


ridade, mas, por seres vítima por Mim escolhida, sofrerás e, abismada
no sofrimento, morrerás! Não procures repouso nem alívio: não o en-
contrarás, pois fui Eu que assim determinei. Mas meu amor te susten-
tará e jamais te faltarei”, vai lhe confiar certa vez Nosso Senhor.

Tal participação na obra da redenção de Cristo atiça o ódio de Sata-


nás contra Irmã Josefa, como não poderia deixar de ser. Deus permite então
que a fúria do inferno se lance contra ela. O inimigo da salvação chega
mesmo a tomar as feições de Jesus Cristo para confundi-la. Acontece mes-
mo de ela ser queimada em presença das Superioras, ainda que o demônio

2
Josefa fora escolhida, não apenas para transmitir uma Mensagem às almas, mas
para cooperar efetivamente na sua salvação. Nosso Senhor inscreve em cada pá-
gina de sua vida a unidade de sua missão sob o duplo aspecto, de vítima e de
Apóstolo; é este o sentido verdadeiro de sua vocação.
3
“Muitas almas vão para o inferno por não haver quem se sacrifique e peça por
elas”, vai dizer Nossa Senhora em Fátima.
8
não lhes fosse visível.4 Enfim, fato assaz raro na vida dos santos, Deus
permite que o demônio a faça descer viva ao inferno. Aí passa longas ho-
ras, às vezes uma noite inteira, em angústias inexprimíveis. Desce mais de
cem vezes àquele abismo e sempre lhe parece lá estar mergulhada pela
primeira vez e ter ficado séculos.

Auxiliada pelo socorro do céu, Josefa é redobradamente fortalecida


diante das opressões diabólicas, e o mal que sofre se converte em bem e
maior glória para Deus. Conta com a ajuda da Santíssima Virgem que lhe
diz, exortando à perseverança: “Enquanto sofres, o poder do demônio é
menos forte sobre aquela alma” (por quem Josefa expiava). Como outrora
a Santa Margarida Maria, ela se imola por almas religiosas, sacerdotes, pe-
cadores de toda a espécie, pessoas claramente designadas, mas na maioria
das vezes desconhecidas.

O cerne da Mensagem é o amor do Coração de Jesus por todos, ma-


nifestado pela sua excessiva misericórdia, sobretudo pelos mais pecadores.
Tal amor deve ser pago com espírito de sacrifício no amor, já que devemos
amar a Deus com todo o nosso corpo e alma, efetiva e afetivamente. Tal
entrega redundará para todos em tomar o caminho da cruz, e de modo mais
radical para os sacerdotes e religiosos5.

4
Várias peças de roupas assim queimadas foram conservadas, atestando a reali-
dade da fúria infernal.
5
Religiosos são os cristãos que, por voto solene, se obrigam voluntariamente a
seguir a vida monástica ou conventual, segundo a Regra da Ordem a que perten-
cem. Estado Religioso consiste essencialmente na observância dos três votos de:
pobreza, castidade e obediência. Antes de o cristão se ligar para sempre a uma
Ordem Religiosa ou a uma Congregação, faz o seu Noviciado, isto é, durante um
determinado período de tempo, estuda a vida da Ordem ou da Congregação e
examina as suas próprias forças físicas e morais, para saber se é adaptável ao es-
pírito e às obras próprias da Ordem ou da Congregação. Decorrido o tempo do
Noviciado, se quer abraçar a vida Religiosa e se o Superior o admite, faz a sua
Profissão, isto é, emite os votos e não pode mais abandonar o Estado Religioso.
(Pe. José Lourenço, Dicionário da Doutrina Católica)

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O essencial da Mensagem nada de novo nos traz: descobre somente,
de maneira mais empolgante e mais clara, o que já sabemos pela fé:

“Repito-o ainda: o que digo agora nada tem de novo. Mas assim
como a chama precisa de alimento para não se apagar, assim as almas
precisam de novo impulso, que as leve a progredir, e novo calor que as
reanime”, vai dizer Nosso Senhor a Josefa.

Sobre a autenticidade da Mensagem, tudo concorre para a afirmação


de que conta com o selo do próprio Deus: a ortodoxia dos escritos, os frutos
abundantes que deles são colhidos pelos leitores, as testemunhas da época
(que entre outras coisas, presenciavam os raptos que Josefa sofria do ma-
ligno) e, de forma especial, a santidade de vida da vidente: nunca se enso-
berbeceu da grandeza das revelações, cumpriu exata obediência aos superi-
ores, mantinha paz e equilíbrio inquebrantáveis e estava disposta para, se
mandada fosse, considerar como ilusão tudo o que experimentava. Ade-
mais, o texto das revelações teve o imenso privilégio de ter sido examinado
e recomendado por ninguém menos que o Papa Pio XII – à época ainda
cardeal.

A leitura do presente compêndio não substitui a inigualável experi-


ência de se ler os relatos completos das revelações do Sagrado Coração
contidas no livro “Apelo ao Amor”, que deu origem a esta sinopse. Não
obstante, pode-se desde já, lendo as breves passagens aqui referidas, con-
templar a magnanimidade do amor e da misericórdia daquele Coração que
tanto amou os homens, e que em troca não pede senão amor de correspon-
dência.

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1. DESPERTAR DE UMA ALMA

Josefa nasceu em 4 de fevereiro de 1890 na Espanha. Crismada aos


cinco anos de idade, confessou-se pela primeira vez aos sete. Rezava o ter-
ço em família, junto com os pais e as outras três irmãs. Durante o retiro que
fez para a primeira comunhão, por inspiração divina, prometeu a Jesus ser
virgem, ainda que sem saber o que isso significava. Recebeu desde cedo
esmerada educação religiosa e aprendeu muito bem o ofício da costura. A
Comunhão diária a fortalecia dos perigos do mundo, enquanto se distinguia
também pela prática da caridade com os pobres e enfermos.

O tempo passava assim para Josefa, dividido entre vida de família,


trabalho na oficina de costura e exercício da caridade. A austera lei do
Amor divino ia em breve imprimir-se nessa existência em flor. Era preciso
que o vento da tribulação passasse sobre a frágil planta para prová-la e fir-
má-la.

2. ESPERA

A família de Josefa é então visitada pela cruz. Uma de suas irmãs


morrem e, logo em seguida, a avó materna. Os pais dela ficam doentes.
Abnegada, ela se afasta do emprego para cuidar deles. Tempos depois, vol-
ta ao trabalho, tendo agora que sustentar a família. Todos os dias, missa

12
pela manhã, adoração ao Santíssimo Sacramento após o almoço e reza do
terço à tarde; confissão e direção espiritual aos sábados, além da assistência
a várias missas aos domingos.

Aos poucos, Josefa revela aos pais seu chamado à vida religiosa, mas
não obtêm o pleno consentimento para o intento. Certo tempo depois, após
a morte do pai, começa um postulantado nas Irmãs Reparadoras, ainda que
intimamente sentindo-se chamada para a Congregação do Sagrado Cora-
ção. Na iminência de tomar o hábito, sua mãe então se recusa a consentir
na escolha da filha, e Josefa, aconselhada pelo seu diretor espiritual, volta
para casa.

Josefa Menéndez, aos 18 anos de idade

13
O trabalho no mundo a aflige; “quanto sofro quando preciso ceder e
vestir essas pessoas de maneira tão pouco modesta”, vai confiar a alguém.
Da Eucaristia diária tira sua força e sua alegria habitual.

Passa o tempo e Josefa decide pedir admissão no “Sagrado Coração”;


é aceita, porém, no dia de sua partida, não resiste às lágrimas de sua mãe e
desiste de prosseguir. Mais um período de espera e surgem vagas em um
convento da congregação na França. Josefa decide ir; sua mãe – desta vez -,
não lhe faz oposição: Deus afastava os obstáculos.
Para evitar a dor do adeus, Josefa deixa a casa sem nada dizer nem levar
coisa alguma. Aos 29 anos e após longa espera, finalmente parte Josefa pa-
ra cumprir sua missão na terra que já havia dado ao mundo Santa Margari-
da Maria de Alacoque. É de lá que o Coração de Jesus vai novamente
transmitir seu apelo de amor.

3. O CORAÇÃO ABERTO DE JESUS

Durante todo o tempo de vida religiosa, Josefa se manteve sempre


simples e silenciosa, toda entregue a seu trabalho, figura apagada no meio
das outras. Como todos os que têm sofrido muito era boa, com aquela bon-
dade que só se aprende na escola da total renúncia e do esquecimento de si
mesmo. Irmã Josefa Menéndez foi uma alma ignorada, cuja história se es-
creve em poucas palavras e cujo exterior nada denunciava dos segredos que
interiormente eram resguardados pelo próprio Deus; a prudência divina,
excedendo os limites de todas as possibilidades humanas, conseguiu guar-
dar oculta a história de Josefa. Com efeito, enquanto os Superiores de Jose-
fa lhe seguem os passos nesse caminho tão imprevisto, a grande casa dos
“Feuillants”, seu convento, ignora até o fim as maravilhas que foram teste-
munhas as suas paredes. Mais tarde, ficará claro que sem especial socorro
de Deus, Josefa não poderia ter sustentado tais contatos com o invisível,
enquanto continuava sua vida sempre igual, de labuta e dedicação.

O início de vida religiosa é repleto de uma felicidade irradiante. O


inimigo de todo o bem, pressentindo o que seria essa alma, escondia entre-
tanto na sombra os primeiros embustes. Aproximava-se a hora em que
Deus lhe permitiria entrar em cena. Logo começam as tentações para aban-

14
donar a vida religiosa e os espancamentos que Josefa sofria em mãos dos
demônios, que apareciam-lhe em figuras medonhas. Ela assim começa uma
luta que vai sustentar durante toda a vida contra o inimigo das almas.6
Ao mesmo tempo, o Coração de Jesus vai cumulando-a de graças
especiais. O Senhor dar-lhe a conhecer o valor dos pequenos atos feitos por
obediência, bem como um maior conhecimento de si mesma: “Vejo-me
(não sei se até o fundo, entretanto) como sou: fria, distraída, pouco mortifi-
cada, pouco generosa... Oh! meu Deus, por que me amais tanto, vós que
sabeis o que eu sou? Mas não perderei a confiança, Senhor!... O que eu não
puder, Vós fareis e, com vosso amor e vossa graça, irei para frente”, vai
dizer-lhe. Pouco tempo depois, começam as aparições de Jesus.

4. VOCAÇÃO REPARADORA

O Coração chagado de Jesus elegeu Josefa para uma participação es-


pecial na redenção das almas e o Mestre divino bem cedo vem lembrar-lhe
sua vocação de vítima; Josefa conhecerá as vicissitudes espirituais através
das quais Jesus lhe forjará a alma; caminho de fé e amor, de humilhantes
experiências de fraqueza e confiantes recursos ao Coração que nunca se
cansa. Dois dias depois da Tomada de Hábito, Jesus, numa aparição, mos-
tra-lhe o Coração trespassado por seis espinhos e diz:

“Josefa, tira-me estes espinhos!”

“No dia seguinte – escreve ela – tinha licença para rezar a Via-Sacra
e fazia em reparação pelas ofensas dos homens e principalmente pela frieza
das almas escolhidas, Jesus veio com a cruz às costas. Colocou-a sobre o
meu ombro e aí a deixou durante a Via-Sacra.”

6
Em outras ocasiões, Josefa chega a ser espancada quando reza ou trabalha e
arrancada da capela por força invisível que a detém. Seu amor, entretanto, protes-
ta dizendo corajosamente: “Senhor, mesmo que me matem, Vos serei fiel.” Rap-
tos se multiplicam. Mesmo sob os olhos maternais das Superioras, que procuram
não perdê-la de vista, ela desaparece de repente sem que se possa dizer de que
maneira, pois é sempre no espaço de um relâmpago.
15
O dom da sua Cruz renova-se nos três dias seguintes. Josefa, fazendo
a Hora Santa7 com as Irmãs, oferece-se a Nosso Senhor, como de costume.

“Lá estava ele – diz ela – com o Coração ensanguentado pelos seis
espinhos. Tirou-os e os enterrou no meu (...). Tentei consolá-lo e amá-lo
pelos que não O amam (...). Depois tomou-me os seis espinhos e deu-me a
compreender que esse momento O consolara.”

Alguns dias depois, Jesus Salvador comunica-lhe pela primeira vez a


alegria de seu Coração quando as almas voltam a Ele.

“Sentia grande desejo de consolá-lo – escreve ela. Ofereci-lhe todas


as ações do dia, dizendo-Lhe que, se quisesse alguma coisa a mais, me fi-
zesse compreender... Prometi-Lhe não esquecê-Lo um só instante (...)”. Je-
sus disse:

“Eu tinha seis espinhos. Tu me tiraste cinco. Só fica um e é o que


mais fere meu Coração. Quero que nada poupes para arrancá-lo (...).
O que quero é que Me ames e me sejas fiel. Lembra-te que só Eu te
posso tornar feliz. Descobrir-te-ei a riqueza do meu Coração. Ama-me
sem medida.”

Josefa conta fatos tais como este, e que não são raros em sua vida,
como se se tratasse de coisa muito natural. Sua fé colocou-a simplesmente
ao nível dessas graças, embora pareçam excepcionais.

“- Não venho para te consolar, Josefa – disse Ele – mas para te


unir a meu sofrimento. Arranca-me este espinho, vê como Me traspas-
sa o Coração. Esta alma está prestes a provocar minha Justiça.”

Será com muito sofrimento que Josefa há de cooperar na salvação


dessa alma. Nosso Senhor a inicia, pouco a pouco, nesta Obra de redenção
que lhe tomará tão grande lugar na vida.

7
Hora Santa é um exercício de devoção pedido por Jesus Cristo a Santa Marga-
rida Maria, o qual deve durar uma hora passada em oração, recordando a agonia
de Jesus no Jardim das Oliveiras. Este exercício pode ser feito em qualquer lugar,
e tanto em particular como em comum; mas é preferível fazê-lo diante do Santís-
simo Sacramento. Deve ser feito de quinta para sexta-feira, e a qualquer hora
desde as 14 horas, mas a hora mais própria é das 23 à meia noite. (Pe. José Lou-
renço, Dicionário da Doutrina Católica)
16
“As ofensas dos homens Me ferem profundamente, mas nada Me
aflige tanto quanto as de minhas Esposas. Dos cinco espinhos que Me
tiraste, os dois primeiros eram almas religiosas que Eu cumulara de
favores, porém elas detinham o coração nas criaturas sem se lembra-
rem de Mim; chamava-as para que voltassem à vida de amor, mas não
Me ouviam e Eu estava prestes a abandoná-las... Agora estão no meu
Coração.

Os outros três eram almas escolhidas, mas tão frias que a medida
de minha Justiça ia transbordar. Eis porque procuro amor... Espero o
amor das almas que resgatei com meu Sangue; mas principalmente o
de minhas Esposas.”

“Perguntou-me ainda:

“Tu me amas?”

“(...) Ele pede como um pobre a mendigar” – vai escrever Josefa.

“ – Se me amas, Josefa, tira-Me este espinho! (...) Este espinho é


uma alma religiosa... Cumulei-a de talentos, ela os atribui a si; o orgu-
lho está a perdê-la. Tenho para cada alma duas medidas - disse – uma
de Misericórdia, e essa transbordou... outra de Justiça que está quase
no auge. Nada Me ofende tanto quanto a obstinação e a resistência des-
sa alma. Vou tocar-lhe o coração; se ela não responder a deixarei en-
tregue a si mesma.”

Josefa intercede por essa alma com orações e súplicas, todavia era
como se Jesus não escutasse. Josefa multiplica, então, oferecimentos gene-
rosos, porém confessa estar em “sofrimento indizível”. “Creio que nunca
tinha compreendido como hoje o que é resistir à graça. Parece-me experi-
mentar algo da dor do Coração de Jesus quando uma lhe resiste.”

“Se está disposta a sofrer - torna Nosso Senhor, - esperarei essa


alma. Mas não posso perdoá-la enquanto ela própria não quiser. Eu a
criei sem ela, mas tem a liberdade de se salvar ou de se perder.”

Alguns dias depois acrescenta:

“ – Quando encontro uma alma que Me ama e Me deseja conso-


lar, estou pronto a dar tudo que Me pede.”

17
“Dizia Ele isto com lágrimas na voz”, observará Josefa. O tempo
passa e ela carrega continuamente o peso dessa alma sobre a sua, acumu-
lam-se dores em todo o seu ser, sem esmorecer seu desejo de reparar. De-
pois de uma noite de angústias e súplicas, Josefa começa a oração matinal
junto das Irmãs.

“De repente – escreve – vi-O... a Ele... tão formoso que não posso
explicar (...). Não pude senão dizer: Meu Jesus, como sois belo!... Capaz de
arrebatar todos os corações! E o espinho? Ele sorriu, o Coração parecia
querer lhe escapar das mãos e respondeu:

“ – Espinho!... Não tenho mais, pois nada há de mais forte que o


amor (...)”.

5. A PROVA DA DÚVIDA

Para provar o espírito que conduz Josefa, lhe proíbem qualquer co-
municação com a aparição que tantas vezes arrebatara sua alma. Recomen-
dam-lhe expressamente afastar-se, sem dar importância alguma ao que por
acaso vir ou ouvir. Porém as aparições continuam; aos chamados do Sagra-
do Coração, Josefa nada responde, foge, se aflige com esta via tão especial
que o beneplácito divino quis para ela, que tanto desejava uma via ordiná-
ria.

“Estás disposta a fazer a minha Vontade?”, argui Nosso Senhor


Jesus Cristo.

“Meu Deus – escreve ela – se sois Vós, ponho-me em vossas Mãos


para que façais de mim o que quiserdes. O que Vos peço é não ser engana-
da e que não haja obstáculo à minha vida religiosa.” Então respondeu Ele:

“Se estas nas minhas Mãos, que poderás temer? Não duvides da
Bondade de meu Coração nem do Amor que tenho por ti.”

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Josefa angustia-se. Debate-se entre o atrativo, às vezes irresistível, o
medo e a obediência que a obriga ao silêncio. Porém, soa-se afinal a hora
em que aquela que jamais se invocou em vão viria inclinar-se sobre sua fi-
lha.

“Recitei as ladainhas da Santíssima Virgem – escreve Josefa – depois


repeti-Lhe de todo o coração o que não cesso de Lhe pedir há muitos dias:

Minha Mãe! Suplico-Vos, por amor de Deus, não permitais que eu


seja enganada e dai a conhecer se tudo isso é verdade ou não.”

Aparecendo, a Virgem Santíssima responde:

- Filha, não estas enganada. Tua Madre o saberá dentro em pouco.


Mas precisas sofrer para dar almas a meu Filho.”

A Mãe de Amor e de Misericórdia tinha intercedido. Entra, desde en-


tão, no caminho que o divino Mestre abre a Josefa. Aí permanecerá até o
fim. Ao lado do Divino Filho, guardará o lugar que lhe compete para de-
sempenhar o papel, discreto e reservado, tão especialmente seu, de terna
compaixão e firme bondade. Deixará, no primeiro plano, o Coração de Je-
sus, não intervindo senão para tranquilizar Josefa nas hesitações, fortificá-
la nos temores ou trazê-la à Vontade de Deus. Admoestando-a ou reani-
mando-a, há de iniciá-la nos caminhos de seu Filho e prepará-la à sua visi-
ta, ensiná-la a se precaver contra as ciladas do inimigo e a reparar suas fra-
quezas. Estará perto, enfim, nos combates perigosos do demônio e a defen-
derá sempre, “poderosa como um exército em ordem de batalha”.

6. PRIMEIROS PASSOS

Sem dúvida, através da história tão leal da


alma de Josefa, Nosso Senhor quer dar o teste-
munho mais vivo de sua Compaixão e de seu
incansável Perdão.

Desde os primeiros contatos com o além,


recomendara-se a Josefa que pedisse licença an-
tes de comunicar com os celestes interlocutores

19
Josefa em ação na sua escrivaninha
e desse contas imediatamente após. Por mais custoso que lhe fosse, subme-
teu-se sempre a tal controle. Assim, com a mais rigorosa exatidão foram
escritas as palavras das quais nenhuma se devia perder segundo dissera o
próprio Nosso Senhor. Tal procedimento só depõe a favor da veracidade da
mensagem, pois sobrecarregada de trabalho e obrigada a pedir permissão
para cada encontro e a prestar contas depois, Josefa não tinha materialmen-
te tempo, nem para preparar, nem para compor seus relatórios, escapando
forçosamente a qualquer premeditação.

7. LIÇÕES E PERDÃO DE TODOS OS DIAS

Estando um dia em adoração diante do tabernáculo, Jesus aparece a


Josefa com o Coração ferido e rasgado de chagas.

“Ó meu Jesus! Sou eu que vos firo assim o Coração?”

“Não és tu, Josefa. É a frieza das almas que não correspondem a


meu Amor. Se soubesses a minha dor de amar e não ser amado!... (...)

- Escuta – disse – quero que me dês almas. Para isso não te peço
outra coisa senão Amor em todas as tuas ações. Faze tudo por amor,
sofre por amor, trabalha por amor, e sobretudo abandona-te ao Amor.
Quando te faço sentir a angústia e a solidão, aceita-as e sofre no amor.
Quero servir-Me de ti como do bordão sobre o qual se apoia uma pes-
soa cansada... Quero possuir-te, envolver-te, consumir-te toda inteira,
mas tudo isso com grande suavidade, de modo que, sofrendo um mar-
tírio de amor, desejes sempre sofrer mais.8 (...)

8
Vale notar neste ponto a concordância do ensinamento do eminente tomista Re-
ginald Garrigou-Lagrange acerca das qualidades do amor de Jesus por nós: “o
que mais impressiona no amor de Jesus, quer por seu Pai, quer por nossas almas,
é a união maravilhosa e muito íntima da mais profunda ternura e da força a mais
heróica no sofrimento e na morte: Fortiter et suaviter. Estas duas qualidades do
amor estão, muitas vezes, separadas em nós e no entanto só podem viver intima-
mente unidas. A ternura sem a força torna-se langorosa e piegas, a força sem ne-
20
- Venho repousar em ti, pois são tão pouco amado! Procuro amor
e não encontro senão ingratidão. Raras são as almas que Me amam de
verdade.”

“Estava sem luz em torno de Si, e como um pobre – vai dizer Josefa.
Fiquei em silêncio. Mas como Ele me olhava com tristeza atrevi-me a falar
e disse sobretudo meu desejo ardente de consolá-Lo.”

“Sim, hoje deves consolar-Me e, para que não me esqueças um só


instante, ficarei a teu lado.”

“No fim da meditação, como Ele não se ia, eu disse: agora, Senhor,
tenho que ir varrer. Mas bem sabeis que tudo que faço é unicamente por
vosso amor. Duas vezes ainda durante o trabalho perguntou se O amava.”

“Repete-me, a miúdo, para suprir o esquecimento de tantas al-


mas!”

Aquele dia passou Josefa inteiramente na divina companhia.

“Ele sempre ali – escreve ela – sem nos separarmos um só instante.”

De tempos em tempos Jesus a detém no meio da tarefa: enquanto ela


varre o antigo claustro do velho mosteiro forrado de ladrilhos primitivos:

“ – Por que estás fazendo isso?” – pergunta.

E parece alegrar-se com a resposta que já sabe de antemão, mas que


espera que se Lhe repita:

“Senhor, porque Vos amo. Vedes todos os ladrilhos desse corre-


dor?... tantos são, tantas vezes vos digo que Vos amo!”

Mais tarde, quando vai buscar carvão no jardim:

“ – Que estás fazendo?”

“Senhor, esforço-me para provar meu amor nessas pequeninas coi-


sas. Ele continuou:

nhuma suavidade, transforma-se em rudeza e amargura.” (Do Amor de Deus e da


Cruz de Jesus)

21
“Há muitas almas que julgam que o amor consiste somente em
dizer “Eu Vos amo, ó meu Deus! Não, o amor é suave, age porque ama
e faz tudo amando. 9 Quero que ame deste modo, no trabalho como no
repouso, na oração e no consolo como na mágoa e na humilhação, pro-
vando-Me sem cessar esse amor com tuas obras, pois é isso o amor. Se
as almas compreendessem isso como se adiantariam na perfeição, e
como Me consolariam o Coração!”

“Um pouco antes do meio-dia, pedi-Lhe que se fosse, pois precisava


servir as meninas no refeitório. Mas Senhor, não Vos esquecerei, mesmo
assim! Jesus respondeu:

“Vai dizer à Madre que estou contigo e pergunta o que deves fa-
zer... Vamos juntos.”

Docilmente parte Josefa à procura da Madre Assistente e lhe expõe


seu embaraço. Mas é impossível libertá-la daquela tarefa. Ela se desculpa
junto ao Mestre pela inutilidade da tentativa.

“É verdade, Josefa, mas fizeste assim um ato de humildade e


obediência.”

Se agora Jesus se torna visível para Josefa, não será para reanimar
mais tarde em muitas almas a fé na realidade invisível – quanto mais autên-
tica e mais segura! – de sua Presença pela graça? A presença habitual com
que favorece Josefa não tem outro fim, nos planos divinos, senão o de ma-
lear o instrumento e adaptá-lo à Mão que o quer utilizar para a salvação do
mundo. Cada vez mais deverá ela ocupar-se das almas.

9
“É preciso, aqui, não negligenciar a consideração do que São Francisco de Sales
chama as pequenas virtudes que são como flores da caridade sem as quais as
relações com o próximo se tornam tensas e quase impossíveis: doçura, afabilida-
de, prontidão no prestar serviço, em interpretar acontecimentos com bons olhos,
etc... É preciso não se contentar com vagas generalidades sobre o fim proposto;
não é suficiente dizer: “É preciso fazer tudo pelo amor de Deus”; é preciso ver,
cada dia, em que consistem nossos deveres de estado, que são um dos grandes
meios de santificação para nós, de conformidade com a vontade de Deus. É pre-
ciso não negligenciar os deveres de estado por uma piedade idealista e sentimen-
tal, mal entendida, que não passará de uma fantasia piedosa.” (Frei Reginald Gar-
rigou-Lagrange, Perfeição Cristã e Contemplação).

22
“No dia seguinte – escreve Josefa – pedi-Lhe que desse a todas as
Irmãs, assim como me dá, a alegria de estar a seu serviço. No mesmo ins-
tante veio e me disse:”

“Estás satisfeita, mesmo sofrendo?”

“Sim, Senhor, porque é por Vós.”

“Queres carregar o fardo de outras almas?”

“Sim, Senhor, contanto que Vos amem!”

“Pois bem, tu sofrerás porque és vítima de meu Amor, mas no


amor, na paz e na alegria, sempre e em tudo.”

Foi por esse tempo que Nosso Senhor lhe disse:

“Unirei à tua a fidelidade de muitas almas.”

E pela primeira vez, sempre tendo em vista as almas, vai dar-lhe par-
te nas dores da sua Coroa de Espinhos.

“ – Deixar-te-ei um momento minha Coroa, Josefa, e verás o que


é meu Sofrimento!”

Desde então, a coroa de espinhos entra na vida reparadora de Josefa.


Ora será o testemunho de sua união com Jesus crucificado, ora a parte de
sofrimento confiada a seu amor, ora o sinal do perdão longamente deseja-
do. Em outras épocas, não lhe deixará a fronte. Sofrimento misterioso, ali-
ás, do qual não trará marca visível.

“Não posso exprimir o que sofro – escreve Josefa – Minha alma pa-
rece longe dele... meu corpo esgotado e sem coragem...”

Pergunta ao Mestre o que quer fazer dela nesse estado de impotência


e aflição.

“O que quero – responde – é que vivas tão unida a meu Coração


que nada seja capaz de te afastar dele.”

E solicitando-lhe sempre mais generosidade:

“Quero repousar em ti – diz – Não Me recuses o que Me perten-


ce.”

23
“Eu que tenho tanto medo de não ter mais tempo de trabalhar, con-
fessa Josefa, disse: mas Senhor, vou ficar atrasada no meu serviço!

“Não sabes que sou o Dono do teu coração e de todo o teu ser?

Ela se furta ao apelo e Jesus desaparece. Muitas resistências contra


esse caminho extraordinário exigirão múltiplas renovações de perdão. So-
mente através de incessante luta aprenderá pouco a pouco a “ciência do
abandono”. Seu apego à vida comum permanecerá até o fim, como fonte de
repugnâncias e tentações. O Mestre deixa-lhe matéria de combate para ter,
ao que parece, a alegria de lhe descobrir cada vez mais sua incansável Mi-
sericórdia.

“Não O vi mais!... Mas não posso viver sem Ele... e desde que partiu
não cesso de pedir perdão – escreve ela. Ontem, depois do trabalho estive
um instante na tribuna diante do Santíssimo Sacramento exposto: ó meu
Jesus! Não mereço ver-Vos, mas dai-me alguma prova de vosso perdão.
Fiquei sem dizer nada. De repente, todas as tentações destes últimos dias
desapareceram e senti em torno da cabeça a coroa de espinhos.” Sinal do
perdão divino...

“No dia seguinte, depois da santa comunhão, apresentou-se a mim,


como um Pai que espera a filha. Disse-Lhe como essas graças me amedron-
tam porque não as mereço.”

“Eu sei que não as mereces. Mas o que quero é que as recebas.”

A Virgem Santíssima também aparece e lhe diz:

“Filha, não temas nunca nem os sofrimentos, nem os sacrifícios, os


caminhos de Deus são assim. Eu não te abandonarei, pois sou tua mãe.
Não somente tua felicidade, mas a de muitas almas, depende de tua gene-
rosidade. Se fores fiel e se te abandonares, muitas almas aproveitarão dos
teus sofrimentos. Se soubesses o que vale uma alma!...”10

10
Em outro lugar de seus cadernos, Josefa vai escrever: “Compreendo o valor
dos menores sacrifícios. É grande cegueira evitar o sofrimento, mesmo nas pe-
quenas coisas, pois não somente é de grande valor para nós, mas serve para pre-
servar muitas almas de tão grandes tormentos.”
24
8. O APELO DAS ALMAS

Há cinco meses que Josefa tomou o hábito religioso. Em um domin-


go pela manhã, ouve a tão conhecida voz do Mestre:

“Josefa.”

Lá estava Ele...

“Se és pobre, sou rico. Se és fraca, sou a própria Força. O que te


peço é que nada Me recuses. Eu te defenderei, te levantarei. Nunca te
deixarei só. Abandona-te e farei tudo. (...) Já que estás pronta para so-
frer, soframos juntos. Pouco importa tua pequenez, sou Eu que te sus-
tentarei. (...) Coragem! Sofrer é o melhor dom que te possa fazer pois é
o caminho que escolhi para Mim.”

Numa outra aparição, pouco depois do Natal de 1920, “Jesus veio –


narra ela simplesmente – Eu não sabia como olhar para Ele porque não ou-
so fitar-Lhe o rosto. Ele me atraiu a Si e ouvi bater seu Coração. Então en-
trei como num sono que não sei bem explicar. Vi primeiro uma luz muito
viva, mas que não cansa a vista, e um espaço imenso cuja entrada era pe-
quenina. Ali, parece que todos os sentidos encontram delícias enquanto a
alma se acha envolvida por Deus. Creio que fico perdida nele... embriagada
por Ele... (...) Nada me disse Ele. Minha alma, entretanto, nunca foi mais
inundada de felicidade. Depois tudo desapareceu. Na mesma tarde Jesus
me deixou só.”

Será ainda necessário por em evidência o método divino pelo qual


Nosso Senhor a desapega bruscamente desses gozos sobrenaturais e puros?
São apenas, aqui na terra, como um relâmpago destinado a iluminar, por
um instante, o caminho abrupto que leva aos cumes.

Nos dias seguintes, a alma de Josefa é atormentada por terríveis ten-


tações diabólicas. Jesus a consola, dizendo:

“O ouro se purifica no fogo, assim tua alma se purifica e fortale-


ce na tribulação e o tempo da tentação é grande proveito par ti e para
as almas. (...) Permito-as para dois fins – primeiro para te convencer
de que sozinha não és capaz de nada e que minhas graças não tem ou-
tra causa senão minha Bondade e o grande amor que te tenho. Segun-
25
do, porque quero servir-me de teus sofrimentos para a salvação de
muitas almas. (...) A alma que ama deseja sofrer. O sofrimento aumen-
ta o amor. O amor e o sofrimento unem estreitamente a alma a seu
Deus e fazem dela uma só coisa com Ele.”

E insistindo Josefa sobre sua fraqueza, diz o Mestre:

“Nada temas. Eu sou a própria Força. Quando o peso da cruz


parecer maior que tuas forças, pede socorro a meu Coração. (...) Toma
a Cruz e nada temas. Nunca ultrapassará tuas forças, pois medi-a e
pesei-a na balança do Amor. (...) Deixa-te guiar. Eu tenho os Olhos fi-
tos em ti, fita os teus em Mim e abandona-te.”

9. VIDA ARDENTE E ESCONDIDA

Aproxima-se o período de carnaval. Jesus aparece a Josefa e, mos-


trando o Coração em chamas, diz:

“Nestes dias em que o inferno se abre para arrastar tantas almas,


quero que te ofereças a meu Pai como vítima, para salvar o maior nú-
mero possível delas.

Consola-me, Josefa, pois as almas Me estão de novo crucificando.


Meu coração é um abismo de dor... Os pecadores Me desprezam e me
espezinham. Nada há para eles menos digno de estima que seu Cria-
dor!11

“Quantos pecados se estão cometendo! Quantas almas se per-


dem! (...) Meu sangue é inútil para elas! Por que me tratam assim? Não
lhes dei já muitas vezes provas do meu Amor?”

Ficou em silêncio um instante ainda e desapareceu.

11
Nosso Senhor mostrava-se a Josefa como que revestido atualmente da dor dos
pecados de hoje. Sabemos que sua Humanidade santa e gloriosa não pode mais
sofrer. Ele atualizava diante dela, como fez para Santa Margarida Maria e muitas
outras almas privilegiadas, os sofrimentos que lhe causaram na Paixão os peca-
dos e as ofensas das almas de hoje.
26
No domingo das Quarenta Horas12, renova o mesmo apelo. Logo de
manhã Josefa se oferecera para reparar as ofensas dos pecadores. Pelas três
horas da tarde estava na capela quando Jesus se aproximou.

“Fazia dó – escreve ela; - com a Face, os Braços, o Peito, cobertos de


golpes e de poeira; o sangue escorria-Lhe da Cabeça, mas o Coração estava
resplandecente de luz e de beleza.”

“É a falta de amor que assim Me fere – disse – é o desprezo dos


homens que correm como loucos à perdição.”

“Por que então, Senhor, apesar dos pecados do mundo, vosso cora-
ção está hoje tão belo e ardente?

Respondeu:

“Meu coração nunca é ferido senão por minhas Almas escolhi-


das! Os pecados que se estão cometendo são tão numerosos e tão gra-
ves que a Cólera divina transbordaria se não estivesse detida pela re-
paração e pelo amor de minhas almas escolhidas. Quantas almas se
perdem!

“Então é assim tão grande o número dos pecadores, Senhor?”, ex-


clama.

“É, mas uma alma fiel pode reparar e obter misericórdia por
muitas almas ingratas.”

Na quarta-feira de Cinzas daquele ano de 1921, recebe a primeira re-


velação de outro desígnio que o Amor a chamava. Pela primeira vez, Jesus
lhe confiou seus Projetos:

“O amor que tenho às almas, e especialmente à tua, é tão grande


– disse – que não pude conter as chamas de minha ardente Caridade.

12
A devoção das “Quarenta Horas” consiste em passar 40 horas em oração diante
do Santíssimo Sacramento exposto, desde domingo de carnaval até terça-feira
seguinte. Esta devoção tem por fim: a) aplacar a justiça divina, gravemente ofen-
dida pelas desordens nos dias de carnaval; b) desviar das loucuras e dos grossei-
ros e impuros divertimentos desses dias, aqueles que poderiam ser arrastados na
corrente dos maus costumes; c) afervorar os fiéis no amor a Jesus, recordando as
40 horas que decorreram desde a sua condenação à morte até à sua ressurreição.
(Pe. José Lourenço, Dicionário da Doutrina Católica)
27
Apesar de tua indignidade e miséria, Me servirei de ti para realizar
meus Desígnios”.

Esse apelo, pouco a pouco, se tornará mais claro, deixando entrever o


alcance do dom e do abandono que lhe deverão corresponder.

10.VIDA DE INTIMIDADE

Escreve Josefa:

“Eu estava servindo no refeitório como todos os dias. Faltou do pri-


meiro prato. Fui à cozinha. Não havia mais. Eu não sabia o que fazer... e
como tenho o hábito de Lhe falar de tudo, disse logo: meu Jesus, não há
mais nada que comer! Quando saí outra vez do refeitório, vi-O de repente...
tão formoso! Estava diante da pia, perto da cozinha, com os Braços abertos
e me disse sorrindo:

“É culpa minha, Josefa, que não haja mais nada?

“Ele desapareceu logo e eu não sei como pude acabar de servir pois
era tão bom, tão belo, que se diria do céu. É assim que Lhe digo tudo que
me acontece. Se estou varrendo e deixo cair qualquer coisa, digo: ó meu
Jesus!... acordei-Vos com este barulho! Se perco minhas coisas, pergunto:
Onde deixei aquilo, Senhor? Vamos procurar juntos. Quando estou cansa-
da, confio a Ele. Se fico atrasada na minha tarefa, como tantas vezes me
acontece, pois tenho muitas caminhadas a fazer com tudo que esqueço, di-
go-Lhe: vamos, Senhor, temos que nos apressar hoje porque já é tarde e
temos muito que fazer, principalmente no sábado com as pilhas de roupa e
os sapatos a distribuir nos dormitórios das meninas.

Enfim, conto-Lhe todas as minhas preocupações. Nem sempre O ve-


jo mas falo-Lhe certa de que está comigo. Há dias em que lhe digo tudo
que me passa pela cabeça.”

“Quero-te em tal esquecimento de ti mesma e tão abandonada à


minha Vontade que não te permitirei a menor imperfeição sem te ad-
moestar. Deves ter sempre presente, teu nada de um lado, e minha Mi-
28
sericórdia de outro. Não te esqueças que é de teu nada que brotarão
meus Tesouros”, diz a ela o Divino Mestre .

11.OS DESÍGNIOS DO AMOR

Quantas lutas vai custar à alma de Josefa a aceitação dos desígnios


do Amor! Deus assim permite, sem dúvida, para atestar com mais evidente
garantia a autenticidade de sua ação. Pode-se dizer que Josefa nunca cessa-
rá de temer tal missão e os três anos que se vão seguir marcarão continua-
mente as dolorosas alternativas entre o abandono que ela quer praticar e as
apreensões que a apavoram.

Estando na capela onde o Santíssimo Sacramento estava exposto,


Nosso Senhor lhe aparece:

“Se te ocupares de minha Glória – disse – Eu me ocuparei de ti.


Firmarei em ti meu Reino de Paz e nada te poderá perturbar. Estabe-
lecerei em tua alma meu Reino de Amor e ninguém poderá roubar tua
alegria.”

Durante a oração, Josefa pede explicações sobre o que Ele entende


por “salvar almas”. “Ele veio – disse – e me fitou com muito amor. Depois
respondeu:

“Escuta, Josefa. Há almas cristãs e mesmo piedosas a quem um


apego basta, às vezes, para retardar no caminho da perfeição. 13 O ofe-
recimento, porém, que outra Me faz de ações unidas a meus Méritos
infinitos, obtêm-lhes sair daquele estado e retomar a carreira de antes.
Muitas outras também vivem na indiferença e mesmo no pecado. Auxi-
liadas do mesmo modo, recobrarão a graça e se salvarão um dia.

13
“Uma alma torna-se atrasada também pela recusa dos sacrifícios exigidos para
romper com uma afeição demasiado sensível, com o gosto de confortos, com
uma certa tendência à vaidade, ou à dominação. Tornamo-nos atrasados recusan-
do seguir a inspiração que nos levaria a ser mais esforçados, mais generosos no
serviço de Deus, mais atentos às necessidades da alma do próximo.”(Frei Regi-
nald Garrigou-Lagrange - A Santíssima Trindade em nós)
29
Outras ainda, e bem numerosas, ficam obstinadas no mal e cegas
pelo erro. Perder-se-iam caso as súplicas de uma alma fiel não obtives-
sem que a graça lhes tocasse afinal os corações. Mas tão grande é sua
fraqueza que se arriscariam a cair na vida de pecado: aquelas levo sem
tardar para a eternidade e assim as salvo.”

“Perguntei como poderia eu salvar-lhe muitas almas.”

“Une todas as tuas ações às Minhas, quer trabalhes, quer descan-


ses. Une a meu Coração tuas respirações e mesmo as palpitações do
teu. Quantas almas ganharás assim!”

Josefa vai acrescentar em outro lugar: “Compreendo o valor dos me-


nores sacrifícios: Jesus os recolhe e se serve deles para salvar almas. É
grande cegueira evitar o sofrimento, mesmo nas coisas pequeninas, pois
não somente é de grande valor para nós, mas serve para preservar muitas
almas de tão grandes tormentos”.

12.PRIMEIROS ASSALTOS

Entram agora em nova fase os admiráveis Desígnios de Deus sobre a


vida de Josefa.

Desde o fim do mês de agosto de 1921, suas notas revelam a depen-


dência mais estreita que lhe é imposta. Não poderá mais, fora dos tempos
ordinários de oração, responder ao Chamado do Mestre sem prévia permis-
são. Josefa se submete com toda a sua alma à direção da obediência, mas
quanto custará ao pudor natural de sua índole, tão reservada nesses assun-
tos, ter que falar, explicar, responder às perguntas, por tudo sob a agora du-
pla vigilância das duas Madres e se sentir alvo de observação ainda mais
rigorosa!

Nesta nova fase, o Senhor a encaminhará para a noite da grande pro-


va que só iria terminar no dia da sua Consagração religiosa. É o batismo de
dor que a dedica à Obra redentora da qual terá que ser testemunha e colabo-
radora antes de ser mensageira.

30
Chegou pois a hora do príncipe das trevas e Josefa vai defrontar-se
com ele. Desde então o encontra a cada passo do caminho.

Mas Jesus, que combate nela, prepara ao inimigo a mais humilhante


derrota. Faz-lhe sentir o limite de seus esforços, a inutilidade de seus meios
e a impotência de seus artifícios. Se ele deixa ao demônio a aparência de
fáceis triunfos, se abandona Josefa a esse adversário que parece sobrepujá-
la, se consente que ela desça aos abismos onde não se pode mais amar,
permanece porém no fundo daquela alma que escolheu como vítima e am-
para com a fidelidade de seu Amor. Nunca lhe terá ficado mais intimamen-
te presente do que nas horas de verdadeiro martírio onde só a Ação divina
poderia compensar provas e humilhações que escapam às experiências hu-
manas. Através da fragilidade do instrumento, é verdadeiramente a luta en-
tre Deus e Satanás, entre o Amor e o Ódio, entre a misericordiosa Bondade
que se quer mostrar uma vez mais ao mundo e o inimigo das almas que
adivinha o Plano divino e levanta contra ele a fúria satânica.

Num dia daquele mês de agosto, fiel à ordem recebida, Josefa entra
na cela da Superiora.

Está envolta em recolhimento que faz adivinhar uma presença invisí-


vel. Em poucas palavras, pede licença para seguir um instante a Nosso Se-
nhor, “pois – diz ela – Ele está aí.”

Dizem-no ainda melhor seus olhos baixos, a fisionomia, a atitude de


oração, o esforço que faz para falar.

“Quando saí, Madre – escreve ela – disse a Nosso Senhor: tenho li-
cença.

Ele andava a meu lado e me levou à tribuna. Comecei por dizer o que
a Madre me recomendou: se Vós sois de verdade Aquele que penso, Se-
nhor, dignai-Vos não Vos ofender se me obrigam a pedir licença todas as
vezes, para Vos ouvir e Vos seguir.” Ele respondeu:

“Não me sinto em nada ofendido; pelo contrário. Quero que


obedeças sempre e eu também obedecerei.”

“Ele parecia um pobre dizendo isso.” Noutro dia, Ele disse:

31
“Tuas Madres Me consolam certificando-se com tanto ardor de
que sou mesmo Eu. Hoje fica unida meu Coração e repara por muitas
almas (...).

Tenho uma alma que Me ofende e venho consolar-Me contigo.


Vai pedir licença para ficares um pouquinho comigo; não te ocuparei
por muito tempo. Não temas se te sentires desamparada, pois te farei
participar da angústia de meu Coração. Pobre alma... como se vai pre-
cipitando no abismo!”

“Durante três horas, deixou-me a Cruz e a Coroa” – acrescenta Jose-


fa. O mesmo acontece durante vários dias, nesta cooperação que o Senhor
pede para o regresso da ovelha desgarrada.

“Ainda tens que sofrer – diz Nosso Senhor. Oferece todas as tuas
ações banhadas no meu Sangue e a nada te poupes pois tudo servirá
para aquela alma.”

Alguns dias depois, escreve Josefa: “Invadiu-me a alma imensa paz.


Ali estava Jesus, belíssimo, resplandecente de luz, a Túnica parecia de ouro
e o coração estava como um incêndio.”

Aquela alma – disse – nós a ganhamos!

13.AURORA DOS VOTOS

Josefa entrara no retiro que antecedeu a profissão dos votos perpé-


tuos.

“Jesus me deu o ser, a vocação, os meios de servi-Lo segundo seu


Plano, - escreve. Tem todo direito sobre mim, Devo abandonar-me à sua
Vontade com a mais inteira submissão. Se o caminho me custa, pouco im-
porta...

A medida do meu abandono será um dia a de minha felicidade e


acharei sempre a verdadeira paz, fazendo a vontade de Deus pela inteira
renúncia de mim mesma...”

32
14.A OBLAÇÃO

Estamos no mês de julho de 1922. É dia 16 de julho, dia da tão so-


nhada consagração religiosa, e ninguém suspeitava as maravilhas que se
realizavam na Irmãzinha Josefa Menéndez. Deus guardara-a ciosamente à
sombra de sua Face. Fizera dela Obra sua. Formara-a, trabalhara nela, tritu-
rando-a para ajustá-la às suas Mãos. Guiara-a ao longo de seus caminhos.
Reduzira a pó os planos de Satanás. Triunfa agora sua Misericórdia sobre
aquela miséria e seu Poder sobre aquela fraqueza.

Começa a santa missa. Quando chega o momento solene da comu-


nhão, sozinha à Santa Mesa, fitando a Hóstia que o sacerdote eleva diante
dela, Josefa pronuncia levemente, com toda a intensidade de sua vontade e
de seu amor, os Votos que a unem para sempre ao Sagrado Coração de Je-
sus... momento comovedor, para quem sabe a que preço foi obtido, através
de que tempestades a barquinha chegou ao porto, e que milagres de amor
lhe prodigalizou o Coração que se encantara com sua pequenez! Leiamos o
relato do que se segue da pena da própria Josefa:

“Depois veio o momento de ler, com que emoção e com que ale-
gria!... a fórmula dos Votos. Depois comunguei... Então vi Jesus formosís-
simo. O Coração estava abrasado, a Chaga aberta; saia dele uma força que
me atraiu, me fez entrar até o fundo e me achei perdida dentro do seu Cora-
ção!”

“Agora vou começar minha Obra.” (...)

O perdão oferecido aos pecadores

Darei a conhecer que minha Obra repousa sobre o nada e a mi-


séria e que é esse o primeiro anel da cadeia de amor que preparo para
as almas desde toda a eternidade. Eu me servirei de ti para mostrar
que amo a miséria, a pequenez e o nada. Darei a conhecer às almas até
que ponto meu Coração as ama e lhes perdoa e como suas próprias
quedas Me servem de complacência... sim, escreve isso, de complacên-
cia. Vejo o íntimo das almas, seu desejo de Me agradarem, de Me con-
33
solarem, de Me glorificarem e o ato de humildade que são obrigadas a
fazer vendo-se tão fracas, é exatamente o que consola e glorifica o meu
Coração. Pouco se me dá sua pequenez. Suprirei o que lhes falta.

Darei a conhecer como é que meu Coração se serve de sua pró-


pria fraqueza para dar vida a muitas almas que a perderam.

Darei a conhecer que a medida de meu Amor e de minha Miseri-


córdia para com as almas caídas não tem limites. Desejo perdoar. Re-
pouso perdoando. Estou sempre esperando com amor que as almas ve-
nham a Mim! Não desanimem! Venham!... Atirem-se nos meus Braços!
Não tenham medo! Sou seu Pai! Muitas Esposas minhas não compre-
endem bastante tudo que podem fazer para atrair a meu Coração al-
mas que estão mergulhadas num abismo de ignorância, sem saberem
quanto desejo aproximá-las de Mim para lhes dar Vida... a Vida ver-
dadeira.

Sim, Eu te ensinarei os meus segredos de Amor, Josefa, e serás


exemplo vivo de minha Misericórdia, pois se tanto amor e tanta predi-
leção tenho por ti, que não és mais que miséria e nada, que não farei
por outras almas muito mais generosas que tu! (...)

Irei assim consumindo tua pequenez e tua miséria. Agirei em ti,


falarei por ti, me darei a conhecer por meio de ti. Quantas almas en-
contrarão vida nas minhas Palavras! Quantas criarão ânimo compre-
endendo o fruto de seus esforços. Um pequeno ato de generosidade, de
paciência, de pobreza... pode tornar-se um tesouro e obter para meu
Coração grande número de almas... Tu, Josefa, desaparecerás breve;
as minhas palavras permanecerão.”

34
Josefa no ofício de costura

35
15.A MENSAGEM DE AMOR

Muitíssimas vezes, de maneira tangível, Nosso Senhor se dignou


mostrar a Josefa o que o amor pode fazer das mínimas ações unidas com
Ele. De tal modo queria reanimar nas almas a ventura de crerem nessa ri-
queza ao alcance de todas.

Aqui tocamos no dogma que parece ser o nó deste magnífico ensi-


namento, o da participação nos méritos infinitos de Jesus Cristo. Nosso Se-

36
nhor frequentemente recorda a Josefa o poder conferido à alma batizada
sobre os tesouros da Redenção.

Um dia Josefa fará esta pergunta ao Mestre: “Senhor! Não compre-


endo o que é essa Obra de que sempre me falais – “Não sabes qual é mi-
nha Obra? – responderá Ele – É de Amor!!... Quero servir-Me de ti pa-
ra tornar ainda mais conhecidos a Misericórdia e o Amor de meu Co-
ração... As palavras e os desejos que transmito por teu intermédio des-
pertarão zelo em muitas almas, impedirão a perda de muitas outras e
darão a conhecer, cada vez mais, que a Misericórdia de meu Coração é
inesgotável.

Jesus quer, por meio desta nova efusão de seu Coração, obter, não
somente a reciprocidade do amor, mas também a resposta da confiança, que
lhe é mais preciosa ainda, porque é a prova do mais terno amor e a fonte do
amor mais generoso.

16.OS PRIMEIROS PEDIDOS

Nosso Senhor aparece na cela de Josefa e diz a ela:

“Agora escreve como as minhas Almas hão de tornar conhecido


meu Coração de Pai pelos pecadores.”

Então enquanto Nosso Senhor fala, Josefa, ajoelhada diante da mesa,


vai escrevendo:

Confiança na Misericórdia

“Conheço o fundo das almas, suas paixões, sua atração pelo


mundo e pelos prazeres. Sei, desde toda a eternidade quantas almas
Me hão de encher o coração de amargura e que, para grande número,

37
meus Sofrimentos e meu Sangue serão inúteis!... Mas, como as amei
assim as amo... Não é o pecado que mais fere meu Coração...

O que o despedaça é não quererem as almas refugiar-se em Mim


depois de o terem cometido.

Sim, desejo perdoar e quero que minhas almas escolhidas deem a


conhecer ao mundo como meu Coração, transbordando de Amor e de
Misericórdia, espera os pecadores.

“Aqui, nota Josefa, eu Lhe disse que as almas já sabem disso e que
ele não se esquecesse de que eu não passo de uma miserável capaz de lhe
estorvar todos os Planos.”

“Já sei que as almas sabem – responde com firmeza e bondade –


mas de vez em quando preciso fazer novo apelo de amor. E agora que-
ro servir-Me de ti, pequena e miserável criatura. Nada tens que fazer:
ama-Me e permanece abandonada à minha Vontade.

Eu te guardarei escondida no meu Coração. Ninguém te desco-


brirá. Só depois de tua morte se lerão minhas palavras.

Lança-te no meu Coração. Amparo-te com imenso Amor... Amo-


te, não o sabes? Já não te dei provas bastantes?...

E como Josefa opusesse ainda a essa escolha suas inúmeras fraque-


zas:

“Eu as vi desde toda a eternidade – respondeu simplesmente – e é


por isso que te amo.” (...)

Quero falar-te das almas que tanto amo. Quero que possam
sempre achar em minhas Palavras remédio para suas enfermidades.
(...)

Muitas almas Me recebem cordialmente quando as visito com a


consolação. Muitas Me acolhem com alegria na comunhão. Mas há
poucas que me abram de boa vontade quando lhes bato à porta com
minha Cruz. Quando uma alma está estendida sobre minha Cruz e ali
se abandona, aquela alma Me consola... é a mais próxima de Mim.

38
17.APELO ÀS ALMAS ESCOLHIDAS

Outubro de 1922. Nosso Senhor se prepara para começar oficialmen-


te sua Obra, confinado a Josefa os primeiros ditados da Mensagem.

Aparecendo mais uma vez a Josefa, diz:

“Nada temas. Se eu te escolhi, tu, tão miserável, foi para que,


mais uma vez, se saiba que não procuro grandeza, nem santidade.14
Procuro amor e farei Eu mesmo todo o resto. Eu te direi ainda os se-
gredos do meu Coração, Josefa. Mas o desejo que Me consome é sem-
pre o mesmo; que as almas conheçam cada vez mais meu Coração.”

Assim se escreviam as primeiras linhas da Mensagem de Amor. Os


ditados celestes alternam desde então, ao longo dos dias de Josefa, com as
lições diretas do Mestre. São como que a teoria desse ensino vivo e prático.

Não precisará ela mesma progredir ainda nas sendas do abandono


que o Amor quer vê-la trilhar sem desejos nem apego? Continua o Mestre:

“Pobres almas! Muitas não Me conhecem, é verdade. Porém


maior ainda é o número das que Me conhecem e me desprezam em
troca da vida de prazeres.

Há tantas almas sensuais no mundo! E mesmo entre minhas al-


mas escolhidas, há tantas que procuram gozar!... Desviam-se, portanto,
porque meu Caminho é feito de sofrimentos e de cruz.”15

14
Nosso Senhor não exige de seus apóstolos uma santidade imediata para que
possam começar a trabalhar em sua vinha – de fato, se só santos das últimas mo-
radas pudessem fazer apostolado, bem poucos seriam os apóstolos... Vemos isso
exemplarmente na figura de Pedro, rude e inconstante como era, e no entanto foi
a ele que Cristo confiou o primado apostólico. Tender à perfeição é sim uma
obrigação a qual devemos corresponder (Mt V, 48), porém não se dispensa aos
caminhantes que possam esperar se santificarem para evangelizar, porque a pró-
pria evangelização é via de santificação.
15
O Apóstolo São João Evangelista, aparecendo certa vez a Josefa, vai dizer: “O
sofrimento é a vida da alma e a alma que compreendeu o valor do sofrimento
vive da verdadeira Vida.”
39
18.O SENTIDO REDENTOR DA VIDA COTIDIANA

Josefa escuta e transcreve as palavras que caem graves e ardentes do


Lábios divinos:

“Falarei primeiro para minhas almas escolhidas e para todas as


que Me são consagradas. É preciso que Me conheçam a fim de ensina-
rem às que lhes confio a Bondade e a Ternura de meu Coração e de
dizerem a todas que, se sou Deus infinitamente justo, sou também Pai
cheio de Misericórdia. Que minhas almas escolhidas, minhas Esposas,
meus Religiosos, meus Sacerdotes, ensinem às pobres almas quanto
meu Coração os ama! (...)

Continuarei a falar-te e tu passarás minhas Palavras às almas


com zelo ardente. Deixa-me agir pois Me glorifico e as almas se sal-
vam... Lembra-te que quero ser servido na alegria e não esqueças a
inutilidade do instrumento.

Em outro dia, Jesus vai continuar:

Santificação da vida diária

A alma que faz de sua vida constante união com a Minha, Me


glorifica e trabalha enormemente em proveito das almas. Estará ela
fazendo trabalho de pouco valor... se o banhar em meu Sangue ou uni-
lo ao que Eu próprio fazia durante minha vida mortal, que fruto obte-
rá para as almas!... maior talvez do que se estivesse pregando ao mun-
do inteiro!... E isso, quer estude, fale ou escreva... quer cosa, varra ou
descanse... contanto, primeiro que essa ação seja determinada pela
obediência ou pelo dever e não pelo capricho; segundo, que essa ação
seja feita em união íntima comigo, recoberta com meu Sangue e em
grande pureza de intenção.

Desejo tanto que as almas compreendam isso! Não é a ação em si


que tem valor, é a intenção pela qual é feita... Quando Eu varria ou
trabalhava na oficina de Nazaré, dava a meu Pai tanta glória quanto
com minhas pregações no decorrer de minha vida pública.

40
Há muitas almas que, aos olhos do mundo, tem importantes en-
cargos e obtêm grande Glória para meu Coração, é certo; mas tenho
muitas almas escondidas, que em seus humildes trabalhos são operá-
rias utilíssimas à minha Vinha pois é o Amor que as impele e elas sa-
bem, banhando suas pequenas ações no meu Sangue, recobri-las de ou-
ro sobrenatural.

Meu Amor vai tão longe que, do nada, minhas Almas podem re-
tirar grandes tesouros. Quando, desde a manhã, unindo-se a Mim, me
oferecem todo seu dia com ardente desejo que meu Coração dele se
sirva em proveito das almas... quando, por amor, fazem seu dever, ho-
ra a hora, e momento a momento, que tesouros não acumulam em um
dia! (...)
Quero pois que saibam quanto o desejo de sua perfeição Me con-
some e como a perfeição consiste em fazer as ações comuns e ordiná-
rias em íntima união comigo. Se compreenderem isto, divinizarão sua
vida e toda a sua atividade, por meio de estreita união com meu Cora-
ção; e quanto vale um dia de Vida divina!...16

Quando uma alma arde em desejos de amar nada lhe é difícil;


mas, se cai na frieza e perde o entusiasmo, tudo se lhe torna penoso e
duro...

Venha então a meu Coração e crie coragem!... Ofereça-Me esse


desalento!... Una-o ao ardor que Me consome e fique tranquila pois seu
dia será de valor incomparável para as almas. Meu Coração conhece
todas as misérias humanas e tem delas imensa compaixão.

Não desejo somente, porém, que as almas se unam a Mim de mo-


do geral, quero que essa união seja constante e íntima como é a união

16
Magistralmente, Garrigou-Lagrange comenta esta doutrina do sentido redentor
e santificador da vida cotidiana: “Muitos vão muito lentamente e tornam-se al-
mas atrasadas. (...) Como uma alma torna-se atrasada? Isso ocorre-lhe sobretudo
pela negligencia às pequenas coisas na pratica das virtudes e da piedade. (...) As
pequenas coisas do serviço de Deus são pequenas em si mesmas, mas grandes
pelo fim ao qual são ordenadas e pelo espírito de fé e de amor com o qual seria
preciso cumpri-las (...). Estas pequenas coisas são a oração antes e depois do es-
tudo, antes e depois das refeições, a prática atenta até aos detalhes das virtudes da
humildade, da paciência, da doçura, da polidez. (...). Assim mantém-se uma uni-
ão não só habitual, mas atual com Deus.” (A Santíssima Trindade em nós)

41
daqueles que se amam e vivem perto um do outro, porque, se não fa-
lam constantemente, ao menos olham-se e têm mútuas atenções e deli-
cadezas que são fruto do amor.

Quando a alma está em paz e consolação, é sem dúvida fácil pen-


sar em Mim. Mas se a desolação e a angústia dela se apoderarem, não
tema!

Basta-Me um olhar! Compreendo-o. E esse olhar, por si só, obte-


rá de meu Coração as mais ternas delicadezas.

Repetirei ainda às almas quanto as ama meu Coração! Pois que-


ro que Me conheçam a fundo a fim de Me darem a conhecer àquelas
que Meu Amor lhes confie.

Desejo ardentemente que todas as almas escolhidas fixem os


olhos em Mim e não mais os desviem... que, entre elas, não haja medio-
cridade, que é ordinariamente fruto de uma falsa compreensão de meu
Amor. Não! Amar a meu Coração não é nem difícil, nem duro, mas
suave e fácil. Não é preciso algo de extraordinário para atingir um alto
grau de amor: pureza de intenção na ação, pequena ou grande... união
íntima com meu Coração e o Amor fará o resto!(...)

Meu Coração não é somente um Abismo de Amor, é também um


Abismo de Misericórdia! E, conhecendo todas as misérias humanas
que se encontram mesmo nas almas mais amadas, Eu quis que as ações
delas, por mais pequenas que sejam, possam revestir-se, por meu in-
termédio, de valor infinito para o bem dos que precisam de socorro e
para a salvação dos pecadores.

Nem todas podem pregar, nem todas podem evangelizar ao longe


povos selvagens, mas todas, sim, todas podem tornar conhecido e ama-
do o meu Coração, todas podem ajudar-se mutuamente para aumentar
o número de eleitos, impedindo a perda eterna de muitas almas... e isso
por efeito de meu Amor de minha Misericórdia.

Direi às almas que meu Coração vai mais longe ainda: não so-
mente se serve de sua vida ordinária e de suas mínimas ações, mas
quer utilizar também, pelo bem das almas, suas misérias... suas fra-
quezas... até suas próprias quedas.”

42
“Escuta, Josefa! É loucura que tenho pelas almas!”

“Não tenham minhas almas medo de Mim! Não se afastem de


mim os pecadores... venham refugiar-se em meu Coração! Os receberei
com o mais terno e mais paternal Amor. (...) Não se afastem de Mim!
Amo-as tanto!... todas as almas! (...)

Nunca lhes recuso a minha graça, nem mesmo quando estão car-
regadas dos mais graves pecados, e que não as separo então daquelas
que amo com predileção. Guardo-as todas no meu Coração, para dar a
cada uma os socorros necessários a seu estado. (...)

Queria dar-lhes a compreender que não é pelo fato de estarem


em pecado mortal que devem afastar-se de Mim. Não julguem que já
não há remédio para elas e que nunca mais serão amadas como o fo-
ram outrora!... Não, pobres almas, não são estes os sentimentos de um
Deus que derramou todo o seu Sangue por vós!

Vinde a Mim e não temais, porque Eu vos amo! Eu vos purifica-


rei no meu Sangue e vos tornareis mais brancas que a neve. Os vossos
pecados serão mergulhados nas águas da minha Misericórdia e não
será possível arrancar do Meu Coração o amor que vos tenho.”

19.A VIA DOLOROSA

Durante outra experiência mística, Josefa relata a Jesus seu medo do


demônio e de suas ameaças. Responde-lhe o Mestre:

“Por que temes? Não sabes que sou mais poderoso do que ele e
do que todos os teus inimigos? O demônio com toda a sua fúria não
pode causar dano maior do que o permitido por meu Amor. Sou eu
que permito o sofrimento das almas que amo.17 Esse sofrimento é ne-

17
Em outra oportunidade, vai dizer Jesus: “Crês que alguma coisa possa acon-
tecer sem que Eu o permita? Eu disponho tudo para o bem de todas as al-
mas e de cada uma delas. Por mais obscura que te pareça esta hora, meu
Poder a domina e minha Obra resplandecerá. Sou tudo para ti, Josefa, nada
43
cessário a todas e especialmente a minhas escolhidas! Ele as purifica e
posso assim servir-Me delas para arrancar muitas almas ao inferno.”

Josefa pergunta ingenuamente:

“Como é que – escreve ela – a gente reza por uma alma meses e me-
ses a fio, e a oração parece nada obter?... Como, Ele que tanto deseja a
conversão dos pecadores, não lhes comove corações para que se não per-
cam tantas preces e tantos sacrifícios?”

“Quando uma alma ora por um pecador com o desejo ardente de


sua conversão – responde Ele condescendentemente – obtém, quase sem-
pre, o que pede, quando não seja antes, no último momento, e, sempre,
o meu Coração encontra nessas súplicas a reparação da ofensa recebi-
da.

De qualquer maneira, a oração nunca é perdida, porque, por um


lado, repara a injúria causada pelo pecado e, por outro, alcança mise-
ricórdia, senão para aquele pecador, ao menos para outros prontos a
recolherem o fruto dessas súplicas. (...)

Seja esta tua constante oração, Josefa:

Eterno Pai, que por amor às almas entregastes à morte vosso Fi-
lho Único, pelo seu Sangue, pelos seus méritos e pelo seu Coração, ten-
de piedade do mundo inteiro e perdoai todos os pecados que se come-
tem.

Recebei a humilde reparação das vossas almas escolhidas e uni-


as aos méritos do vosso divino Filho.

Ó Pai Eterno, tende piedade das almas! e não esqueçais que ain-
da não chegou o tempo da justiça mas sim da Misericórdia.

E agora – continua Ele – vou retomar minhas Confidências.

receies, pois não estás só. Não te conduzi aqui para tua perdição, mas por
amor e porque convém que tudo seja assim.”
44
Visitas a Jesus Sacramentado

“É por amor às almas que sou Prisioneiro na Eucaristia. Ali


permaneço para que possam vir com todas as suas mágoas consolar-se
junto do mais terno e melhor dos pais e do Amigo que nunca as aban-
dona.

A Eucaristia é invenção do Amor!... E este amor que se esgota e


se consome pelo bem das almas não encontra correspondência!...

Habito entre os pecadores para lhes ser Salvação, Vida, Médico e


ao mesmo tempo Remédio em todas as doenças geradas pela natureza
corrompida. Em paga, eles afastam-se, ultrajam-Me e desprezam-
Me!...

Ah! pobres pecadores! Não vos afasteis de Mim!

Noite e dia, espero-vos no Tabernáculo... Não vos censurarei os


crimes cometidos, não vo-los lançarei em rosto. Mas lavá-los-ei no
Sangue das minhas Chagas... não tenhais medo e vinde! Não sabeis
quanto eu vos amo!...

E vós, almas queridas, por que sois tão frias e indiferentes ao


meu Amor?... Sei que as necessidades de vossa família... de vossa casa...

45
as exigências do mundo... vos solicitam incessantemente. Mas não te-
reis um instante para Me dar alguma prova de amor e gratidão?

Não vos deixeis arrastar por mil preocupações inúteis e reservai


um momento para visitar e receber o Prisioneiro do amor!...

Quando está vosso corpo enfraquecido ou doente não encontrais


tempo para ir ao médico que há de curar-vos?... Vinde, pois, Àquele
que pode dar à vossa alma força e saúde e dai uma esmola de amor a
este Prisioneiro divino que vos espera, chama e deseja!...

46
47
Tibieza no trato com a Eucaristia

A Eucaristia é a invenção do Amor. É Vida e Força das almas,


Remédio para todas as fraquezas, Viático para a passagem do tempo à
eternidade. Nela os pecadores encontram vida para suas almas... os tí-
bios, calor verdadeiro... os fervorosos, repouso e saciedade para seus
desejos, os perfeitos, asas para se elevarem à maior perfeição... as al-
mas puras, mel dulcíssimo e o mais delicado alimento. (...)

Escreve o que sofreu o meu Coração naquela hora em que (...),


contemplando então todas as almas que se alimentariam do Pão divino,
vi ao mesmo tempo as ingratidões de tantas almas consagradas... de
tantos sacerdotes... e que tristeza para meu Coração! Vi as que pouco a
pouco, se haviam de abandonar à rotina... e pior ainda... ao fastio, ao
tédio e à tibieza!...

E no entanto, estou no tabernáculo toda a noite e espero essa al-


ma... Desejo ardentemente que Me venha receber... que Me exponha
suas penas, suas tentações, seus sofrimentos, que Me peça conselho e
solicite a graça de que precisa para si ou para outrem... Talvez tenha
ela a seu cargo ou na sua família almas em perigo e afastadas de
Mim?...

Vem, digo-lhe, fala-Me de tudo com inteira confiança... Interes-


sa-te pelos pecadores... Oferece-te para reparar... Promete-Me que ho-
je não Me deixarás sozinho...

Depois pergunta se meu Coração não deseja alguma coisa de ti


para O consolar...

Eis o que Eu esperava dessa alma e de muitas outras... Mas, ao


receber-Me, mal Me diz uma palavra... está distraída, cansada, absor-
vem-na os negócios... preocupa-a a família... o próximo a importuna...
a saúde a aflige... E não sabe o que Me dizer... está fria, aborrece-se e
tem pressa em retirar-se.

É assim que Me recebes, Alma que Eu escolhi e que esperei du-


rante a noite inteira?...

Sim, esperava-a para nela repousar e aliviar-Lhe as inquietações.


48
Tinha-lhe preparado novas graças; mas ela nem sequer as dese-
ja!... Nada Me pede, nem conselho, nem força... queixa-se, mas sem se
dirigir a Mim!... Parece que só veio cumprir uma formalidade ou por
costume... porque nenhuma falta grave a impede de vir... Não é o amor
que a impele, nem o verdadeiro desejo de se unir intimamente a Mim.
Não, esta alma não tem as delicadezas que Meu Coração dela espera-
va.”

Deus é nosso Pai

“Quando vosso coração sofre mais, deveis também chamar a


Deus vosso Pai. Suplicai-Lhe que vos ajude, expondo-Lhe os vossos so-
frimentos... os vossos temores... os vossos desejos...

Dizei-Lhe que vosso corpo está extenuado... que vosso coração es-
tá opresso até a morte... que vossa alma parece experimentar o suor de
sangue... Orai com confiança de filha e esperai tudo daquele que é vos-
so Pai. Ele próprio vos consolará e vos dará a força necessária para
atravessar a tribulação ou o sofrimento, seja este vosso ou das almas
que vos são confiadas. (...)

Quanto o Centurião veio suplicar-Me a cura do seu servo, disse-


Me com profunda humildade:

‘Não sou digno de que entreis na minha morada...’

Mas, cheio de fé e de confiança, acrescentou:

‘Todavia, Senhor, dizei uma só palavra e o meu servo será cura-


do.’

Este homem conhecia o meu Coração. Sabia que não posso resis-
tir à súplica duma alma que espera tudo de Mim. (...)

Entre as almas que Me são consagradas, poucas são as que têm


em Mim confiança verdadeira, porque poucas vivem em união íntima
comigo. Quero que saibam que amo as almas tais quais são. Sei que sua
fragilidade as levará a cair mais de uma vez. Sei que em muitas ocasi-

49
ões não cumprirão o que Me prometem. Mas a sua determinação Me
glorifica, o ato de humildade que fizeram depois da queda, a confiança
que em Mim depositam Me honram tanto que Meu Coração derrama
sobre elas torrentes de graças.

Queixa amorosa

Alma querida! por que te deixas arrastar por essa paixão? Por
que lhe deixas campo livre?... Não está sempre em teu poder te livrares
dela, mas só te peço combate-la, lutar e resistir-lhe... Que são os praze-
res momentâneos?... senão os trinta dinheiros por que Judas Me ven-
deu e que só serviram para sua perdição?

Quantas almas Me têm vendido e Me venderão ainda pelo preço


vil de um deleite passageiro...

Trabalhai sem descanso a fim de que vossos defeitos e vossas más


inclinações não cheguem a se transformar em hábitos. (...) A alma deve
vigiar e endireitar com cuidado as suas tendências defeituosas. Nem
sempre é uma falta grave que abre caminho a desordens piores. O pon-
to de partida das maiores quedas é frequentemente pouca coisa: um
pequeno gozo, um momento de fraqueza, um consentimento, talvez lí-
cito, mas pouco mortificado, um prazer legítimo em si, mas que não
convém...

Tudo isto aumentando e multiplicando-se, a alma vai caindo na


cegueira, a graça tem menos preponderância, a paixão se fortifica e
afinal triunfa.”

Vontade de Deus

“Consenti que Me cobrissem os ombros [na Paixão] com um


manto de escárnio e Me tratassem como louco a fim de que muitas al-

50
mas não desdenhassem seguir-Me numa trilha que o mundo julga vil e
baixa e que lhes parece indigna de sua condição.

Não, almas queridas, caminho algum, situação alguma é vil e


humilhante quando se trata de seguir a Vontade de Deus.

Vós que vos sentis interiormente atraídos a tal estado... não resis-
tais... não procureis, com vãs e orgulhosas razões, fazer a Vontade di-
vina querendo seguir, ao mesmo tempo, a vossa própria vontade... Não
julgueis encontrar paz e felicidade em condição mais ou menos bri-
lhante aos olhos das criaturas. Não as encontrareis senão na submissão
à Vontade de Deus e no inteiro cumprimento de tudo que vos pedir...

Há também no mundo muitas almas que procuram fixar aqui na


terra seu futuro... Talvez uma ou outra sinta inclinação ou secreto
atrativo por alguém em quem descobre muitas qualidades, honradez,
fé, piedade, consciência profissional e compreensão das virtudes da
família... tudo que corresponde a seu desejo de amar... Mas de súbito o
orgulho lhe invade o espírito. Sem dúvida o coração ficaria satisfeito
desse lado, mas não a vã ambição de brilhar aos olhos do mundo. En-
tão a alma se desvia para procurar alguém que melhor atraia em si a
atenção das criaturas, fazendo-a parecer exteriormente mais rica e
mais nobre... Ah! como esta alma está se tornando voluntariamente
cega!... Não achareis certamente a felicidade que buscais neste mundo
e oxalá, depois de vos terdes metido em tão perigosa situação, a encon-
trareis no outro!

E que dizer de tantas almas que chamo ao caminho de perfeição


e do amor e que fazem como se não ouvissem a minha Voz!...

Quantas ilusões naquelas que Me dizem estarem dispostas a fa-


zer-Me a Vontade e unir-se a Mim... e todavia enterram na minha Ca-
beça os espinhos da coroa. (...)

Compreendei, almas queridas: viver conhecidas ou desconheci-


das dos homens, utilizar ou não os talentos recebidos18... ser pouco ou

18
Aqui não se trata de receber em vão os talentos de Deus, contudo em submeter
tudo aos pensamentos do Senhor, que são superiores aos nossos, como fica bem
explicado em outra passagem que Josefa relata a seguinte lição do Mestre: “Du-
rante trinta anos conheci os rudes trabalhos da vida operária. Sofri com
51
muito estimada... gozar ou não de saúde... nada disso constitui, por si
mesmo, vossa felicidade... Conheceis a única coisa que vo-la garanti-
rá?... fazer a Vontade de Deus, abraçá-la com amor, unir-vos e con-
formar-vos com tudo que ela exija para sua Glória e para santificação
vossa (...).

Ah! se as almas compreendessem perfeitamente que nunca são


tão livres quando entregando-se inteiramente a Mim, e que nunca es-
tou tão disposto a realizar seus desejos como quando as vejo decididas
a cumprir a Minha vontade! (...)

Dirijo a todos o meu Apelo: às almas consagradas e às do mundo,


aos justos e aos pecadores, aos sábios e aos ignorantes, aos que gover-
nam e aos que obedecem. A todos venho dizer: se quereis felicidade, Eu
sou Felicidade. Se procurais riqueza, Eu sou a Riqueza infinita. Se de-
sejais paz, Eu sou a Paz. Sou a Misericórdia e o Amor! Quero ser o
Rei!

Esfriamento espiritual

Falarei também para aquela alma que viveu primeiro na fiel ob-
servância de minha Lei, mas que se foi esfriando pouco a pouco até à
tibieza de uma existência cômoda. Ela esqueceu a própria alma, pode-
se dizer e também suas elevadas aspirações. Deus pedia-lhe mais esfor-
ços, mas os defeitos habituais cegaram-na e caiu nos gelos da tibieza,
piores que os do pecado, pois a consciência, surda e adormecida, não
sente mais remorsos e não ouve mais a Voz de Deus.

Venha uma sacudidela que a desperte subitamente? Sua vida lhe


parece então inútil e vazia para a eternidade... Perdera inúmeras gra-
ças... e o demônio, que não quer largar a presa, explora-lhe a angústia,

meu pai, São José, os desprezos daqueles para quem trabalhava... Não achei
indigno de Mim ajudar a minha Mãe no cuidado da pobre casa... E, entre-
tanto, não tinha Eu mais talento do que o necessário para desempenhar o
modesto ofício de carpinteiro? Eu que já aos doze anos de idade instruíra os
doutores do Templo? Era, porém, aquela a Vontade de meu Pai Celeste, e
era assim que mais glória Lhe podia dar...”
52
mergulha-a no desânimo, na tristeza, no abatimento e, pouco a pouco,
submerge-a no temor e no desespero.

Almas que amo, não deis ouvidos a esse cruel inimigo. Vinde de-
pressa atirar-vos a meus Pés e, penetradas de viva dor, implorai minha
Misericórdia e não temais. Perdoo-vos. Começai novamente vossa vida
de fervor, recuperareis os méritos perdidos e minha Graça não vos fal-
tará.”

Convite aos pecadores

“Vós, que estais mergulhados no mal e que há mais ou menos


tempo viveis errantes e fugitivos por causa de vossos crimes... se os pe-
cados de que sois culpados vos endureceram e cegaram o coração; se,
para satisfizerdes as vossas paixões, caístes nos piores escândalos... ah!
quando vossa alma reconhecer o seu estado, e os motivos ou os cúmpli-
ces de vossas faltas vos abandonarem, não deixeis que de vós se apode-
re o desespero. Enquanto tiver o homem um sopro de vida, poderá re-
correr à Misericórdia e implorar perdão. (...)

Se passastes voluntariamente a maior parte da vida na impieda-


de ou na indiferença e, de repente, ao se aproximar a eternidade, o de-
sespero tente vos vendar os olhos... ah! não vos deixeis enganar, é ainda
tempo de perdão!... Mesmo se não vos resta senão um segundo de vida,
neste segundo podeis comprar a eternidade!”

Renunciar a si mesmo e tomar a cruz

Há almas tão interesseiras, tão egoístas, que, estando dispostas a


seguir-Me, mais por si mesmas do que por Mim, não aceitam senão
aquilo que não podem evitar ou que as obriga estritamente... Essas al-
mas ajudam-Me a carregar pequenina parte de minha Cruz e, de tal
modo, que adquirirão apenas os merecimentos indispensáveis à sua
salvação. Mas na eternidade, verão quão atrasadas ficaram no cami-

53
nho.(...) Aceitam, sim, ajudar-Me a levar a cruz, mas sempre desejosas
de consolo e repouso! Consentem em seguir-Me e, com esse fim, abra-
çaram a vida perfeita, mas sem abandonar o próprio interesse que con-
tinua sendo o seu primeiro cuidado. Por isso vacilam e deixam cair a
minha Cruz quando a sentem muito pesada. Procuram modo de sofrer
o menos possível, calculam sua abnegação, evitam certo cansaço, certa
humilhação, certo trabalho e, lembrando-se talvez com pena do que
deixaram, tratam de conseguir ao menos alguns prazeres. (...)

Pelo contrário, outras almas há, e numerosas, que, movidas pelo


desejo de sua salvação, mas muito mais ainda, pelo Amor daquele que
sofreu por elas, decidem seguir-Me no caminho do Calvário.(...) Se mi-
nha Cruz se apresentar sob forma de enfermidade, ou se esconder num
emprego contrário a seus gostos e aptidões... se tomar aparências de
esquecimento ou de oposição da parte das pessoas que as rodeiam, sa-
berão reconhecê-la e aceitá-la com toda a submissão de que é capaz sua
vontade.(...) 19

Convencei-vos pois, de que, se vossa abnegação e vossos sofri-


mentos tardam a frutificar e parecem, às vezes, não dar fruto algum,
nem por isso foram vãos e inúteis. Um dia a colheita será abundan-
te.(...)

Quando um homem trabalha no campo que lhe pertence, aplica-


se a arrancar todas ervas daninhas e não se poupa nem a trabalhos,
nem a fadigas, até que o consiga. Assim quero Eu que as minhas almas
escolhidas, desde que conheçam os meus desejos, trabalhem com zelo e
ardor no seu cumprimento, não recuem diante de nenhum esforço, de
nenhum sofrimento, para aumentar a minha glória e reparar as ofen-
sas do mundo.(...)

19
“É isto o que nós vemos nas vidas dos santos, em particular por sua aceitação
das contrariedades quotidianas que eles oferecem imediatamente ao Senhor, e
que assim se tornam ocasião de crescer constantemente na caridade; cada uma
destas contrariedades é assim como um degrau de escada que os aproxima de
Deus.” (Frei Reginald Garrigou-Lagrange, As sete leis superiores da vida da
graça)

54
O caminho da virtude e da santidade é feito de abnegação e so-
frimento. (...) A minha Cruz é a porta da Verdadeira Vida, (...) e a al-
ma que soube aceitá-la tal qual lhe dei, entrará por ela nos esplendores
da vida eterna.

Compreendes, agora, quão preciosa é a Cruz? Não a receies...


Ama-a, pois se sou Eu quem te dá, nunca deixarei sem a força necessá-
ria para sustentá-la. Vê como a carreguei por amor de ti. Carrega-a tu,
por amor de Mim.”20

20.VIDA DE FÉ

Só nove meses separam Josefa da entrada no Reino dos Céus. A


Santíssima Virgem lhe diz que Jesus quer que ela, como sacrifício, vá tem-
porariamente morar em outra casa religiosa da congregação.

“Não te assustes, filha – diz Maria com voz suave e convincente -,


os caminhos de Deus são impenetráveis aos olhos das criaturas... Nada

20
“O austero Luiz de Chardon diz com profundidade a este respeito, comentando
São Paulo: ‘Depois de termos admirado a violenta e insaciável inclinação do es-
pírito de Jesus para a Cruz compreenderemos melhor como Ele a distribui pelas
almas que lhe pertencem pelos vínculos da graça... Entendemos igualmente por-
que quanto maior é a elevação da alma em união com o espírito de Jesus tanto
maior será sua obrigação quanto ao sofrimento... Também seria uma desordem
da graça e das máximas do santo amor, se membros alimentados por confeitos
estivessem ligados a uma cabeça transpassada de espinhos...

Os membros são santificados pela mesma graça, que está em Jesus como em sua
fonte universal.(...). É indispensável que esta graça incline do mesmo modo, com
o mesmo rigor as almas predestinadas, a fim de que o corpo místico não pareça
um todo monstruoso na ordem da graça, onde o espírito de Jesus seria contrário a
si mesmo, sendo um nos membros e outro na Cabeça...

Assim, porque a graça decorre da alma de Jesus como de sua fonte original onde
ela produz um impulso dirigido para o fim pelo qual Jesus se fez homem, é uma
necessidade que a graça cause esta mesma disposição naqueles que recebem a
dignidade de nela participarem.” (Frei Reginald Garrigou-Lagrange - O amor de
Deus e a Cruz de Jesus)
55
temas. Este sacrifício é necessário para a tua alma como para muitas ou-
tras”.

Jesus, numa aparição, diz a Josefa:

“Quero que Me dês esta prova de amor, é preciso que a minha


Obra passe pelo cadinho do sofrimento. Ninguém descobrirá o segredo
que te envolve (...).

Começa agora nova fase de tua vida. Viverás de paz e de amor


e, durante este tempo, nos prepararemos à união eterna. Já nada nos
pode separar, Josefa. Tu Me amas, Eu te amo... as almas se salvam; o
resto, que importa?

Este período amadurecerá a alma de Josefa e ao mesmo tempo tra-


rá uma prova mais evidente da Ação divina, que lança nela os alicerces da
obra de que é instrumento.

21.VOLTA A POITIERS

Retornando à sua comunidade de origem, Josefa recebe uma apari-


ção de Jesus em que Ele, em verdadeira efusão de Coração, pronuncia as
seguintes palavras:

Viverei em ti e tu em Mim. Falarei em ti, e minhas Palavras


irão às almas, e não passarão. Amar-te-ei, e as almas descobrirão meu
Amor no Amor que te tenho. Perdoar-te-ei, e as almas conhecerão a
minha Misericórdia pelo perdão com que te envolverei.

Há muitas almas que crêem em Mim, mas poucas que crêem


em meu Amor... e entre as que crêem em meu Amor, pouquíssimas que
contam com a minha Misericórdia...

Muitas Me conhecem como Deus, mas poucas confiam em Mim


como Pai.

Manifestar-me-ei... e às minhas Almas, sobretudo aquelas que


são objeto de minha predileção, farei ver em ti que nada peço do que

56
não tenham. Só exijo que me dêem tudo o que possuem, pois tudo Me
pertence.

Ainda que só tenham misérias e fraquezas, Eu as desejo...


mesmo se só tiverem faltas e pecados, suplico que Me dêem.(...)

Sou o Amor! O Meu Coração não pode mais conter a chama


que O devora.

Amo a tal ponto as almas que dei a minha vida por elas. Por
amá-las, quis ficar prisioneiro no tabernáculo.

Desde há vinte séculos, estou ali, de noite e de dia, velado sob


as espécies de pão, oculto na pequenina hóstia, suportando por amor, o
esquecimento, a solidão, os desprezos, as blasfêmias, os ultrajes, os sa-
crilégios...

Por amor às almas, quis deixar-lhes o Sacramento da Penitên-


cia, a fim de lhes perdoar, não uma vez ou duas, mas tantas vezes
quantas tiverem necessidade de recuperar a graça. É ali que as espe-
ro... ali desejo que venham lavar as suas faltas, não com água, mas no
meu próprio Sangue.

No decurso dos séculos, tenho revelado de diferentes modos o


meu Amor aos homens: tenho-lhes mostrado quanto Me consome o de-
sejo de sua salvação. Dei-lhes a conhecer o meu próprio Coração. Esta
devoção tem sido como luz derramada sobre o mundo. Hoje é o meio
de que se servem, para tocar os corações, a maioria dos que trabalham
por estender o meu Reino.

Quero agora mais alguma coisa; pois se peço Amor em corres-


pondência ao que Me consome, não é a única resposta que desejo das
almas: desejo que creiam na minha Misericórdia, esperem tudo da mi-
nha Bondade e não duvidem nunca do meu Perdão. Sou Deus, mas
Deus de Amor! Sou Pai, mas Pai que ama com ternura e não com seve-
ridade.

Meu coração é infinitamente sábio, mas também infinitamente


santo, e como conhece a miséria e a fragilidade humanas, inclina-se
para os pobres pecadores com Misericórdia infinita.

57
Amo as almas, depois que cometeram o primeiro pecado, se
vêm pedir humildemente perdão...

Amo-as ainda, quando choraram o segundo pecado e, se isso se


repetir, não digo um bilhão de vezes, mas milhões de bilhões. Amo-as e
perdoo-lhes sempre, e lavo no mesmo sangue o último como o primeiro
pecado!

Não me canso das almas, e o meu Coração espera sempre que


venham refugiar-se nele, por mais miseráveis que sejam! Não tem um
pai mais cuidado com o filho que é doente, do que com os que têm boa
saúde? Para com esse filho, não são maiores as delicadezas e a sua soli-
citude? Assim também o meu Coração derrama sobre os pecadores,
com mais liberalidade do que sobre os justos, a sua Compaixão e a sua
Ternura.

Eis o que desejo explicar às almas: Ensinarei aos pecadores


que a Misericórdia do meu Coração é inesgotável; às almas frias e indi-
ferentes, que meu Coração é fogo, e fogo que deseja abrasá-las, porque
as ama; às almas piedosas e boas, que o meu Coração é caminho para
se adiantarem na perfeição e chegarem com segurança no termo feliz.
Enfim, às almas que me são consagradas, aos padres, aos religiosos, às
minhas almas escolhidas e preferidas, pedirei uma vez mais que me
dêem o seu amor e nunca desconfiem do Meu, e sobretudo que Me dê-
em a sua confiança e não duvidem da minha Misericórdia! É fácil es-
perar tudo do meu Coração!”

58
59
Sobre a Santa Missa

“Ide, pois [...] à Igreja. [Deus] lá vos espera dia e noite; e, em ca-
da domingo ou dia de festa, dai-Lhe essa hora, assistindo ao mistério
de Amor e Misericórdia que se chama a Missa.21

Durante ela, falai-Lhe de tudo; da vossa família, dos vossos fi-


lhos, dos vossos negócios, dos vossos desejos... Apresentai-Lhe as vossas
penas, as vossas dificuldades, os vossos sofrimentos...

Se soubésseis como Ele vos ouvirá e com que Amor vos atende-
rá!...

Talvez me digais: ‘Não sei assistir à Missa! Há tanto tempo que


não entro numa igreja!’

Não vos atemorizeis. Vinde! Passai simplesmente essa hora a


meus pés. Deixai que a consciência vos diga o que deveis fazer, e não
fecheis os ouvidos à sua voz. Abri vossa alma... Então a minha graça
vos falará... Mostrar-vos-á, pouco a pouco, como deveis proceder em
cada circunstância da vossa vida, como haveis de comportar-vos com
vossa família ou nos vossos negócios... como deveis educar os vossos
filhos, amar os vossos inferiores, respeitar os vossos superiores. Ela vos
dirá, talvez, que deveis abandonar este plano, quebrar aquela amizade
má, afastar-vos energicamente daquela reunião perigosa.

Ela vos dirá que odiais tal pessoa sem razão, e que, ao contrário,
esta outra pessoa que consultais e amais, deveis separar-vos e fugir dos
seus conselhos... Experimentai e, pouco a pouco, vereis como se vai es-

21
“Não há nada de pequeno na vida cristã: os atos mais simples, necessários para
a prática dos deveres de estado mais elementares, têm alguma coisa de grandioso
em relação ao fim último sobrenatural e à caridade que nos deve inspirar em vista
deste fim. Compreende-se assim que a perfeição não consiste em fazer coisas
brilhantes, extraordinárias, mas em fazer extraordinariamente bem as coisas ordi-
nárias da vida cristã: assistir bem à santa missa, preparar-se seriamente para a
santa comunhão, fazer bem a ação de graças, e viver deste tesouro da vida divina,
praticando nossos deveres com uma intenção sempre mais pura e mais firme,
apesar das dificuldades e atropelos [...]” (Frei Reginald Garrigou-Lagrange, Per-
feição Cristã e Contemplação).

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tendendo a cadeia das minhas graças. Porque acontece com o bem co-
mo com o mal, basta começar. Os anéis da cadeia prendem-se uns aos
outros. Se hoje ouvirdes a minha graça e a deixardes trabalhar em vós,
amanhã a ouvireis melhor; mais tarde, ainda melhor, e assim, de dia
para dia, a luz aumentará, a paz crescerá e preparareis a vossa felici-
dade eterna!”

Conversa com Deus

“ [As almas] não devem contentar-se com falar-Me só quando es-


tão ao pé do Tabernáculo. Estou lá, é certo, mas também vivo nelas e
agrada-me viver em união com elas. É preciso que Me falem de tudo!...
Consultem-Me em tudo... tudo Me peçam!...

Vivo nelas para ser a sua vida, moro nelas para ser a sua Força.
Sim, repito, não esqueçam que Me agrada ficar unido a elas, lembrem-
se que estou nelas... Ali as vejo, as ouço, as amo. Ali, espero que cor-
respondam ao Amor que lhes tenho.

Há muitas almas que, todas as manhãs, fazem oração. Mas esta é


mais uma fórmula do que uma entrevista de amor... Ouvem ou cele-
bram Missa e recebem-Me na comunhão, mas saídas da igreja, não se
deixam elas absorver pelas suas ocupações, a tal ponto que mal pensam
em Me dirigir uma palavra no resto do dia?...

Estou nessa alma como num deserto, ela nada Me diz, nada Me
pede... E, quando tem necessidade de consolação, o mais das vezes vai
pedi-la a uma criatura que tem de ir procurar, e não a Mim, seu Cria-
dor, que estou e vivo nela!...

Não é isto falta de união, falta de vida interior22 ou, o que dá no


mesmo, falta de amor?”

22
“Para fazer compreender o que deve ser a vida interior, convém compará-la
com a conversa íntima que cada um de nós tem consigo mesmo. Sob a influência
da graça, se formos fiéis, essa conversa íntima tende a se elevar, a se transformar
e se tornar uma conversa com Deus (...) É uma vida sobrenatural que, por um
verdadeiro espírito de abnegação e de oração, nos fez tender à união com Deus e
61
22.DIAS DE PROVAÇÕES

À medida em que o termo desta vida se aproxima, é preciso que Jo-


sefa se apresse em completar em si o que falta à Paixão de Cristo; é preciso
que seja vítima no mais amplo sentido da palavra e que a Mensagem de que
é intermediária entre o Coração de Jesus e as almas passe ao mundo por
meio de suas próprias dores. Nenhuma oposição, nem perseguição humana
alguma, melhor que as diabólicas, nem com a mesma intensidade e justeza,
poderiam atingir as profundezas que Deus determinou santificar pelo so-
frimento. Não é de se espantar, pois, os dias tenebrosos que vão decorrer.
Admiremos as sendas secretas por onde o Senhor encaminha as almas, sem
que o sintam, e prepara nelas, através da noite, os esplendores da Luz per-
pétua.

23.A CONCLUSÃO DA MENSAGEM

O Advento desponta com o mês de dezembro de 1923, último e sole-


ne mês da vida de Josefa. Avisada pelo Senhor que o dia de sua partida pa-
ra o céu se aproxima, prepara diligentemente seus últimos dias neste vale
de lágrimas. Não será inoportuno citar aqui as cartas de despedida que es-
creve à mãe e às irmãs, e que ela pede às Madres não enviarem senão de-
pois de sua morte. Nestas cartas, fica em evidência a afeição terna e ao
mesmo tempo sobrenatural que o Amor de Jesus, longe de destruir, trans-
forma e vivifica!

Dizia à mãe: “Estou contente de morrer, porque sei que é a Vontade


daquele que amo. E também minha alma deseja tanto possuí-Lo e vê-Lo
sem o véu que no-Lo esconde aqui na terra! Não chorem e não fiquem tris-
tes, a morte é o começo da vida para a alma que ama e espera. Nossa sepa-
ração será curta, pois a vida passa depressa e em breve nos acharemos reu-
nidas para a eternidade. Do alto do céu, cuidarei na minha mamãe e rezarei
para que tenha o necessário e que morra na paz e na alegria daquele que é o

a ela nos conduz.” (Frei Reginald Garrigou-Lagrange, As Três Idades da Vida


Interior)
62
nosso Fim, nossa Felicidade, nosso Deus. Não ponha luto por mim, mas
reze muito para que eu vá para o céu. Não sei qual será o dia de minha
morte, mas meu desejo é morrer a 12 deste mês. Será também esta a vonta-
de de Jesus? Estou disposta a tudo o que Ele fizer. Não pense que estou
triste! Estes quatro anos de vida religiosa foram quatro anos de céu. A úni-
ca coisa que desejo para minhas irmãs é que sejam felizes como eu fui, e
que saibam que nada dá tanta paz quanto fazer a vontade de Deus. Não
pensem que morro de sofrimento ou de tristeza, antes pelo contrário; minha
morte?... creio que é de amor!”

À sua irmã Mercedes, religiosa coadjutora na Sociedade do Sagrado


Coração, abria-se mais intimamente: “Morro feliz e nada me dá esta alegria
senão saber que fiz a Vontade de Deus. Conduziu-me por caminhos de todo
contrários a meus atrativos e meus desejos, mas recompensa-me nestes úl-
timos dias em que me acho envolvida com uma paz do céu. Tu, também,
minha irmã querida, suplico-te que sirvas a teu divino Senhor e à Sociedade
nossa Mãe, com alegria e fervor, no emprego que Ele te der e na casa em
que te colocar, sejam quais forem as tuas Superioras, sem olhar nem para
tuas simpatias, nem para tua repugnância.

Nada dá tanta paz na hora da morte quanto ter renunciado a si mes-


ma, para fazer a Vontade de Deus. Não te entristeças com as tuas misérias.
Jesus é bom e nos ama como nós somos. Vejo-o bem por experiência: con-
fiança em sua Bondade, em seu Amor, em sua Misericórdia. Morro na feli-
cidade. A Sociedade foi para mim terna e verdadeira mãe. Jesus me deu
Superioras que me cercaram com as maiores delicadezas. Sobre a terra não
lhes posso pagar, mas no céu terei Nossa Senhora que me dará tudo o que
por elas eu pedir.” Termina com as seguintes linhas:

“Sempre nos quisemos tanto, irmã querida, e agora esta separação de


alguns anos há de nos unir mais intimamente e mais fortemente ainda.
Adeus, espero-te no céu, onde seremos unidas por nossos lações de irmãs e,
mais ainda, por nosso amor de religiosas.”

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24.UNIÃO SOBRE A CRUZ

Chegaram os últimos dias da vida de Josefa, dias de sofrimento, de


graças e de provas através das quais se completa a sua missão aqui na terra.

Durante a Ação de graças da Missa, Jesus lhe aparece:

“Josefa, – disse – venho pessoalmente preparar-te para entrares


na pátria celeste.”

“Será no dia 12, Senhor?...” pergunta ingenuamente.

“Se quiseres, estou disposto a dar-te essa alegria” – responde.

“Mas não serás bastante generosa para Me dares alguns dias a


mais, dos quais tenho necessidade para as almas?”

Perguntas destas são provocações ao amor, diante das quais Josefa


não tem mais desejos.

“Bem sabeis que sou vossa e que vos entreguei tudo.”

“Sim – prossegue o Senhor com bondade indizível – guardo-te, to-


mo cuidado de ti. Deixa-Me fazer a Minha Vontade e escolher a hora.”

Nos dias que se seguem a saúde de Josefa definha consideravelmen-


te. Entre provas e aparições – as últimas nesta terra -, Jesus vai completan-
do a sua Obra de Amor.

“Josefa, por que Me amas?”

“Senhor, porque sois Bom.” (...)

“Sim, bem dizes: sou Bom! Para compreendê-lo, só falta uma


coisa às almas: união e vida interior. Se minhas almas escolhidas vives-
sem mais unidas a Mim, haveriam de Me conhecer melhor.”

“Senhor, - responde Josefa ingenuamente – é difícil... porque às ve-


zes elas tem tanto para fazer para Vós!...”

“Sim, bem sei, e é por isso que, quando se afastam, procuro-as


para as aproximar de Mim.

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Eis o nosso trabalho do alto do céu; ensinar as almas a viverem
unidas as Mim, não como se Eu estivesse longe delas, mas nelas, pois
pela graça vivo dentro delas e durante o tempo da comunhão minha
santa Humanidade, por assim dizer, nelas se encarna.”

A graça de reunir condições para comungar não faltará a Josefa em


nenhum de seus derradeiros dias e a Sagrada Comunhão a acompanhará até
o fim. Vários pensamentos, ditos em alta voz, são recolhidos dos lábios da
religiosa:

“Fico contente quando me vejo pior, porque compreendo que a Von-


tade de Deus se está cumprindo. Nada há que dê paz e consolo como a
Vontade de Deus.

Vou morrer porque é Vontade sua... Desde a minha entrada aqui


nunca fiz a minha... porque todas essas coisas não foram minha escolha!
Mas o que agora me dá paz é ter lutado e sofrido para fazer a Vontade de
Deus e morrer fiel. (...)

Se soubessem... não procurariam outra coisa na terra senão a Vonta-


de de Deus. Ninguém pode calcular esta felicidade... é a única coisa que dá
Paz... Ah! morrer religiosa, nesta Paz, compensa mil vezes e ainda mais,
tudo o que sofri!”

“Sei para onde vou... nada receio, nada desejo... dei tudo!”

Não obstante tudo o que Josefa padece, o Senhor ainda permite que
Josefa seja vítima de uma possessão demoníaca que muitíssimo a faz so-
frer, lapidando cada vez mais a alma do pequeno lírio de Jesus.

Por fim, é tarde do dia 29 de dezembro de 1923. Josefa, sofrendo


muito, porém serena, torna a ler o capítulo décimo terceiro do livro da Imi-
tação – seu capítulo preferido – e troca ainda com suas Superioras algumas
palavras cheias de fervor e de terna gratidão.

Sente-se que está toda ocupada com Jesus e com as almas, em meio
às dores que somente a sua fisionomia revela. Declina o dia, cai o silêncio
envolvendo cada vez mais a oblação de Josefa. A simplicidade daquela tar-
de, tão parecida com as outras, esconde, mesmo aos olhos das suas Madres,
a iminência do sacrifício. Jesus assim permite para guardar para Si o segre-
do desta última preparação, deste acabamento, desta suprema consumação.

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É noite. Pelas sete e meia, a Irmã enfermeira pergunta à querida do-
ente se alguma coisa poderia aliviá-la. “Oh! Tudo o que quiser, Irmã... Es-
tou bem – posso ficar sozinha”, pois tocam as Ave-Marias e ela sabe que a
hora regular chama a Comunidade à refeição da tarde.

Misteriosa conduta de Deus e de sua Vontade adorável! Por um con-


junto de circunstâncias imprevistas, Josefa, que suas Madres nunca haviam
deixado, revezando-se uma a outra, noite e dia, desde 9 de dezembro, fica
só!...

E nessa solidão e nesse abandono querido por Ele, o Mestre divino


passa de repente, imprimindo na alma de sua privilegiada o Selo da supre-
ma configuração com a sua Cruz e sua Morte, no mais inteiro desprovimen-
to de tudo!...

Quando alguns instantes depois, a Irmã enfermeira volta à pequena


cela, Josefa estava morta!... Está estendida, com a cabeça ligeiramente in-
clinada para trás, os olhos semicerrados, dolorosa expressão contraindo-lhe
a fisionomia: tudo nela parece lembrar Jesus crucificado, morrendo no
abandono de seu Pai.

“Deixa-me escolher o dia e a hora”, dissera Ele.

Não seria o cêntuplo dessa hora em que, no abandono da terra, na


solidão... na aflição talvez, se realizava a Palavra de Nosso Senhor?

“Sofrerás e, abismada em sofrimento, morrerás!”

Jesus quis revelar esta passagem do céu na pequena cela solitária


com um sinal evidente, testemunha da sua incomparável delicadeza: pelas
onze horas da noite, quando se tratava de vestir a cara Irmãzinha com o há-
bito religioso, qual não foi a surpresa das Madres desoladas, verificando
que “alguém” já o tinha feito. Sob as cobertas, bem esticadas até em cima e
melhor que ninguém o poderia ter feito, Josefa, com os braços estendidos
ao longo do corpo, está vestida com seu saiote cinzento, amarrado na cintu-
ra e cuidadosamente esticado até os pés. Quando? Como? Quem fizera
aquilo?

Ninguém entrara em sua cela, fato incontestável. Sinal do céu que


concorda com a virginal modéstia de Josefa que sempre receara ser tocada
depois da morte.

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Assim acaba a história do Amor fidelíssimo, naquele sábado, 29 de
dezembro de 1923.

Depressa a fisionomia de Josefa se iluminou de paz e serenidade, en-


quanto uma impressão sobrenatural de graça se derramava por toda a casa.

Na manhã do dia 30 as religiosas souberam, com emoção indizível, o


Segredo divino daqueles quatro anos, segredo que ninguém suspeitara.

“É justo, escrevera a Madre Geral, que sejam elas as primeiras a re-


colherem as graças.”

A cela em que Josefa repousa, cercada de lírios, é um santuário. O


céu parece ali estar presente, todas as religiosas correm pressurosas, em
veneração e prece. O belo semblante reflete a serena estabilidade da eterni-
dade, com impressionável majestade.

“Não me parecia estar diante de um leito fúnebre, escreve uma reli-


giosa que a velara durante a noite seguinte, mas diante de um altar todo
branco, em volta do qual as palmeiras e os lírios já cantavam o triunfo da
pequena vítima tão bela que ali estava estendida, numa derradeira atitude
de oblação.”

A sepultura das Religiosas do Sagrado Coração acha-se numa das


extremidades do cemitério da cidade. Lá, uma grande concessão encerra os
numerosos túmulos em torno da cruz. Diante da grade da entrada, na fossa
preparada cuidadosamente, algumas semanas antes da sua morte, os precio-
sos restos de Josefa são depositados. Seu túmulo em nada difere do das ou-
tras religiosas, mas parece abrigar-se sob o manto virginal de Maria, estan-
do próximo de uma estátua de Nossa Senhora que domina um antigo jazi-
go.

Ali repousa a humilde privilegiada do Coração Sagrado de Jesus,


aquela que, de ora em diante, será conhecida com o nome de: “Mensageira
da sua Obra de Amor”.

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“Minhas palavras serão luz e vida para um número
incalculável de almas. Todas serão impressas, lidas e
pregadas, e dar-lhes-ei graça especial, a fim de que
esclareçam e transformem almas.”

(PALAVRAS DE JESUS À IRMÃ JOSEFA MENÉNDEZ)

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