A Intolerancia Religiosa Como Impedimento A Aplicacao Da Lei N o 10639 03 Nos Anos Finais Do Ensino Fundamental I
A Intolerancia Religiosa Como Impedimento A Aplicacao Da Lei N o 10639 03 Nos Anos Finais Do Ensino Fundamental I
A Intolerancia Religiosa Como Impedimento A Aplicacao Da Lei N o 10639 03 Nos Anos Finais Do Ensino Fundamental I
1. INTRODUÇÃO
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Graduanda de Pedagogia pela Faculdade Multivix Cariacica.
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Graduanda de Pedagogia pela Faculdade Multivix Cariacica.
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O texto da lei 10.639/03 diz que o conteúdo programático deve abranger todos os
aspectos da cultura da África, em seu artigo 1º diz que:
Essa lei foi modificada pela Lei nº 11.645 de 2008, que altera os artigos 26 A em
seus parágrafos primeiro e segundo:
Outro ponto que precisa ser providenciado pelos sistemas de ensino é que os
processos de formação inicial e continuada dos educadores sejam realizados em
articulação com as instituições de ensino superior, os centros de pesquisas, os
Núcleos de Estudos Afro-Brasileiros (NEABs), as escolas, a comunidade e os
movimentos sociais, com a criação de grupos de trabalho nos diferentes sistemas
que debatam e coordenem o planejamento e a execução. Além disso, é necessário
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A democracia racial é um termo usado por algumas pessoas para descrever relações raciais no
Brasil. O termo denota a crença de alguns estudiosos que o Brasil escapou do racismo e da
discriminação racial [...] Os críticos que se opõem à ideia da democracia racial, afirmando que ela
seja um mito, frequentemente usam como base a alegação genérica de que não seria possível
impossível definir com exatidão à qual raça uma pessoa pertença realmente, visto que os próprios
indivíduos não são capazes de se definir. Muitos pesquisadores relatam estudos em que demonstram
a discriminação generalizada nos campos do emprego, educação e política eleitoral. O uso
aparentemente paradoxal da democracia racial para obscurecer a realidade do racismo tem sido
referido pelo estudioso Florestan Fernandes (1978) como o "preconceito de não ter preconceitos". Ou
seja, porque o Estado assume a ausência de preconceito racial, ele não consegue fazer cumprir o
que existem poucas leis para combater a discriminação racial, pois acredita que tais esforços sejam
desnecessários.
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Sabe-se que a religiosidade dos africanos que para o Brasil foram trazidos é
inseparável dos seus modos de organizar a vida e as comunidades onde vivem.
4. CONCEITOS FUNDAMENTAIS
4.1 Racismo
O preconceito está introjetado em quem o comete e pode acontecer até por meio de
um pensamento, não é sempre que o preconceito é efetivado em algum ato
discriminatório.
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5. PESQUISA
natal e outras datas cristãs que são ensinadas na escola eles se negaram a
responder.
O que foi possível observar é que até mesmo para conversar informalmente sobre o
assunto os professores se mostraram arredios e houve até um professor que se
mostrou surpreso com a existência da Lei 10639/03 e, quando questionado sobre
África e cultura africana, o mesmo perguntou qual a real necessidade de ensinar
esse tema para as crianças? O que dialoga perfeitamente com o relato de Santos
(1997), apesar de serem escolas distintas e em estados distintos a fala dos docentes
é a mesma:
Em conversa com os alunos perguntou-se sobre o que eles sabiam sobre a história
dos negros e a fala dos mesmos mostrou o quanto é necessário que haja uma
desmistificação da história dos negros e de toda sua cultura quando questionados
sobre as religiões de matrizes africanas as falas vieram carregadas de preconceitos,
as crianças ainda tem uma visão “demonizada” dessas religiões.
Pode-se afirmar que com as ações afirmativas que ocorrem dentro das políticas
públicas de promoção da igualdade racial, que foram implantadas nos últimos anos,
foram denunciadas diversas formas de discriminações e o racismo silencioso que faz
parte da sociedade brasileira tornou-se visível. Portanto, a Lei 10.639/2003 é uma
das ações que buscam diminuir as desigualdades entre os brasileiros,
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Em julho de 1997, passou a vigorar uma nova redação do artigo 33 da LDB 9394/96 (a lei n.º 9.475):
“O ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante da formação básica do cidadão e
constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, assegurado o
respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo. § 1º Os
sistemas de ensino regulamentarão os procedimentos para a definição dos conteúdos do ensino
religioso e estabelecerão as normas para a habilitação e admissão dos professores. § 2º Os sistemas
de ensino ouvirão entidade civil, constituída pelas diferentes denominações religiosas, para a
definição dos conteúdos do ensino religioso [...]”.
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O espaço da escola também vem sendo palco de desrespeito. Alunos relatam que
ao manifestarem sua fé no ambiente escolar são muitas das vezes agredidos
verbalmente por colegas, são motivos de piadas e “brincadeiras”, e estas quase
sempre são tratadas pela equipe docente como bullying5 ou então são ignoradas, o
que é um erro, a escola precisa ao se deparar com essas situações entender que se
trata de racismo, e encarar esses fatos como uma oportunidade para intervir e
efetivar a aplicação da lei 10.639/03.
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Bullying é um termo da língua inglesa (bully = “valentão”) que se refere a todas as formas de
atitudes agressivas, verbais ou físicas, intencionais e repetitivas, que ocorrem sem motivação
evidente e são exercidas por um ou mais indivíduos, causando dor e angústia, com o objetivo de
intimidar ou agredir outra pessoa sem ter a possibilidade ou capacidade de se defender, sendo
realizadas dentro de uma relação desigual de forças ou poder.
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Cada religião tem símbolos que a representam e utilizam estes significados para
expressar-se, porém, o uso de tais símbolos referentes às religiões de matriz
africana como, por exemplo, fios de conta e turbantes, são entendidos como
afrontas; assim relatam alunos que foram impedidos de entrar na escola portando
seus fios de conta. Isso só mostra que os alunos e alunas, além de não terem os
conteúdos referentes à sua religião, ou os terem de forma superficial ainda têm seus
corpos desrespeitados e sua liberdade de crença cerceada, levando à evasão de
educandos praticantes das religiões de matriz africana.
Com o objetivo de extinguir a discriminação racial que além de todos os males que
provoca, promove ainda o preconceito religioso, especialmente em relação às
religiões de matrizes africanas precisa-se compreender que o desafio que temos
hoje é saber quais as concepções, os conteúdos e as metodologias podem
promover a igualdade entre os povos, esses desafios podem ser expandidos para a
criação de livros e materiais didáticos respeitosos, bem como a formação de
professores que os permitam entenderem o seu verdadeiro papel enquanto
educador.
Durante essa pesquisa foi possível observar que alguns educadores, especialmente
os evangélicos, reduzem a Lei 10.639∕2003 apenas à questão religiosa, e se
esquecem de que a aplicação da lei diz respeito a um conjunto de temas
relacionados ao continente africano e à sociedade brasileira, pois os negros
africanos e brasileiros precisam ser entendidos em sua totalidade; e a religião é
apenas uma das dimensões, dentre outras formas para enxergar o mundo.
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7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O processo de construção de uma sociedade que seja verdadeiramente democrática
precisa levar em conta a diversidade racial, de classe e de gênero e o inicio desse
processo de construção social se faz no ambiente escolar.
A implantação da lei é uma das formas de diminuir o espaço deixado pelo sistema
educacional no que diz respeito às religiões de matriz africana e com ela se
reconhece as contribuições religiosas como ferramentas importantes na construção
e reconstrução da identidade. As religiões foram e são essenciais na escrita da
história do negro brasileiro e foi por meio dela que muitos afrodescendentes deram
partida para a sua liberdade e deixaram sua marca social, como, por exemplo, Mãe
Menininha, Joãozinho da Gomeia, Eduardo de Paula, Mãe Senhora, dentre outros.
Nesse sentido, a efetiva aplicação da lei citada, em todos os seus aspectos não
acontecerá enquanto não houver uma mudança em toda a estrutura educacional, e
cabe à escola fazer uma revisão da postura dos profissionais envolvidos. Essa
revisão deve considerar alteração curricular não só do ensino fundamental I que foi o
pesquisado aqui, mas em todos os níveis do ensino, na medida em que o racismo
ocorre em todo o sistema educacional e social.
escolar, sobretudo dos docentes também é um fator marcante, vimos que não existe
esforço para desmistificar os aspectos religiosos e culturais da história de negros e
negras do Brasil, e por isso os professores se acomodam e continuam a repetir
discursos errôneos, ensinando sempre aos alunos através do olhar branco.
REFERÊNCIAS
AMÂNCIO, Iris Maria da Costa; GOMES, Nilma Lino; JORGE, Miriam L. dos Santos.
Literaturas africanas e afro-brasileiras na prática pedagógica. Belo Horizonte:
Autêntica, 2008.
SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil africano. 2. Ed. São Paulo: Ática, 2007.
176 p.