Revista Sou-Catequista 18-1

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Editorial
Amigo(a) catequista. Paz e
Bem!
É tempo de oração, de jejum e
penitência. Período de introspecção, de avaliação e
preparação espiritual. É também um tempo favorável
à conversão e à caridade. Tudo isso, muitos de nós
aprendemos cedo, lá atrás, nos primeiros encontros
de catequese. Ainda crianças e jovens demais para
entender o sentido da abstinência, pode ter soado
estranho, algumas vezes, a missa mais curta e
menos festiva, as vestes roxas do padre e a ausência
da carne no almoço de domingo. Mas acompanhar a
lembrança do sofrimento de Cristo e o seu amor por
nós na cruz nos fez entender melhor, a cada ano, o
verdadeiro sentido da Quaresma. Edição 18 | Ano 5 | Março/2017

Então pergunto a você, leitor: qual foi o papel do Direção geral: Sérgio Fernandes
seu catequista nesta descoberta? E qual será a Editora-chefe: Francine de Almeida
importância desse tempo litúrgico para os seus Editora-assistente: Jacqueline Souza
catequizandos? Cabe também a você a missão de Consultor Eclesiástico: Pe. José Alem
incentivar a preparação interior de cada um – a Revisão: Marcus Facciollo
começar por si –, o aprendizado por meio dos nossos Projeto gráfico: Agência Minha Paróquia
próprios pecados e a possibilidade de crescermos Diagramação: Rodrigo Reis
ainda mais como cristãos. De nossa parte, Assistente de arte: João Vitor Pereira
oferecemos uma edição especial para ajudá-lo a Desenvolvimento Web: Matheus Moreira
trabalhar o tema, inclusive com o público jovem. Atendimento: Rafaela Julio
Comercial: Adriana Franco
“A Quaresma é o tempo favorável para nos Projetos: Elen Bechelli de Oliveira
renovarmos, encontrando Cristo vivo na sua Palavra, Banco de imagens: Shutterstock
nos Sacramentos e no próximo”. Que a mensagem do
Santo Padre, o Papa Francisco, também esteja bem
viva em seu coração. Uma santa e abençoada Páscoa
A revista digital Sou Catequista é uma publicação da agência
para você e seus catequizandos! Minha Paróquia, disponível gratuitamente para smartphones
e tablets nas plataformas IOS e Android. Os conteúdos
Francine de Almeida, publicados são de responsabilidade de seus autores e não
Editora-chefe expressam necessariamente a visão da agência Minha
Paróquia. É permitida a reprodução dos mesmos desde
que citada a fonte. O conteúdo dos anúncios é de total
responsabilidade dos anunciantes.

soucatequista.com.br
facebook.com/soucatequista
PARA LER A REVISTA, DESLIZE PARA AS

NESTA EDIÇÃO PRÓXIMAS PÁGINAS OU TOQUE NOS


ITENS DO ÍNDICE.

8 NOSSOS LEITORES QUARESMA

PRÁTICAS
REFLEXÃO
44 PARA QUEM
12 ALIMENTAR-SE DE JESUS QUER CRESCER
EM SANTIDADE

TEMPO LITÚRGICO
14 GRAÇA E CONVERSÃO
CATEQUESE

49 POR UMA CATEQUESE CADA


VEZ MAIS FAMILIAR
MATÉRIA DE CAPA
COMUNIDADE: CONDIÇÃO
NECESSÁRIA PARA PÁSCOA
CATEQUESE
52 A FESTA DA
RESSURREIÇÃO DE CRISTO
20

DINÂMICA
54 AMIGO ORANTE

57 O CATECISMO RESPONDE
CHAMADO
33 SENSIBILIDADE
VOCACIONAL 59 SUGESTÕES DE LEITURA

FORMAÇÃO
64 MENSAGEM DO PAPA
VOCÊ, CATEQUISTA, POSSUI
INTELIGÊNCIA EMOCIONAL?
38
65 CATECINE
NOSSOS LEITORES 8

Excelente, eu acompanhava pela


web, mas ficou bem mais acessível
pelo tablet. Show!
Wagner Azevedo de Araújo

Parabéns a revista, parabéns aos


criadores e mantenedores deste
trabalho magnífico! Todo aquele
que busca a evangelização, seja
dela própria ou do irmão deveria
ter acesso e se deleitar com esse
maravilhoso conteúdo!
Daniella Amaral

Parabéns, os textos são excelentes


está sendo muito útil nos encontros
com os meus catequizados, Jesus os
abençoe.
Maria Dajuda Mota

Para quem procura formação católica,


esse é um caminho interessante.
AJUDE-NOS A CHEGAR Leitura fácil e informativa.
A MAIS CATEQUISTAS!
Cecilia Cardoso da Silva
AVALIE E DEIXE O SEU
COMENTÁRIO SOBRE O
APLICATIVO NA APPSTORE: Somos catequistas, eu e minha
esposa... Que o trabalho de Deus
< CLIQUE AQUI continue em nossas vidas para
sempre!
A SUA AVALIAÇÃO NOS AJUDA A
Jonas Barboza
MELHORAR DE POSIÇÃO NO RANKING
E TER MAIS DESTAQUE NAS LOJAS.
9

A revista Sou Catequista é uma ótima NOSSOS NÚMEROS


iniciativa! Cumpre totalmente o seu
papel de auxiliar e ensinar meios
para que os catequista tenham bons 68.000 assinantes
encontros catequéticos e também

6.000.000
auxiliam na emoção deste serviço.
Lucas Lima
visualizações de páginas

Conheci a revista há pouco tempo e


fiquei maravilhada com a quantidade
e qualidade do conteúdo.
28.348
seguidores no Facebook

4.800
Roberta da Costa Ueira Fonseca

visitantes únicos/dia no site


Adoro as publicações da revista Sou
Catequista, as matérias me ajudam
muito na minha formação cristã e
como catequista. Abraço ! Paz e bem !
Claudinei Ribeiro

Ótima revista parabéns, uma revista


católica com conteúdo de qualidade e
em um aplicativo excelente.
Glicerinho Jr Soares

ENVIE SUA
MENSAGEM PARA
[email protected]
Na última edição da Sou Catequista, a Editora Cinzas e termina no Domingo de Ramos. Ao
Ave-Maria, em parceria conosco, brindou longo deste tempo, sobretudo na liturgia do
a leitora Kelly de Morais César com um domingo, somos incentivados a recuperar o
exemplar exclusivo do livro "Maria poderia ter ritmo e o estilo de vida dos primeiros cristãos.
dito não?", de Valdeci Toledo. A prática dos quarenta dias data do século IV,
quando passou a ser considerada um tempo de
Considerando a importância da formação para penitência e de renovação para toda a Igreja e
catequistas e catequizandos, a Ave-Maria nos de jejum e abstinência para os fiéis.
enviou mais um livro para sorteio. Para recebê-
lo em sua casa, você precisará responder à Então responda: Qual é a importância da
questão-chave do desafio: ressurreição de Cristo na sua vida?
QUARESMA A resposta deve ser enviada em forma de
comentário no site (www.soucatequista.com.
A palavra quaresma vem do latim br). Vale lembrar que os textos publicados
"quadragésima", é o período de quarenta em nossa página oficial no Facebook serão
dias que antecedem a ressurreição de Jesus considerados inválidos. Reforçamos: use seu
Cristo, celebrada no Domingo de Páscoa. Este conhecimento e criatividade à vontade, mas
é o tempo litúrgico de conversão, para nos não se esqueça de ser objetivo. Nossa equipe
arrepender de nossos pecados e mudarmos analisará cada resposta e escolherá um (a)
algo, internamente, para sermos melhores e vencedor (a).
podermos viver mais próximos de Cristo.
O resultado será divulgado no dia 16/04/2017.
A Quaresma tem início na Quarta-feira de Boa sorte! :)
Sobre o livro
ORAÇÃO DE SÃO FRANCISCO TURMA DA MÔNICA
Com essa obra, os pequenos conhecerão a oração de
São Francisco na companhia da Turma da Mônica de
uma forma bem divertida!
REFLEXÃO 12

Alimentar-se de Jesus
Por Pe. Zezinho, SCJ

E
spiritualmente um católico pode alimentar-se de Jesus de muitas maneiras. Uma
delas é pela oração, outra, pela leitura da Bíblia, outra, pelo diálogo fraterno e
pela prática da solidariedade, e outra, pelos sacramentos, mais especialmente o da
Eucaristia. Jesus o deixou como um sinal de sua presença entre nós. Pediu aos discípulos
que quando estivessem reunidos repetissem o seu gesto de partir o pão e partilhá-lo com
o vinho em sua memória. Estava inaugurada a forma do novo culto.

Em vez de sacrifícios de sangue de ovelhas ou novilhos, agora valeria o seu próprio


sacrifício, e o fruto do suor e do trabalho: o pão. Jesus valoriza o pão, alimento universal
como o instrumento do novo rito. Valoriza o vinho, como sinal de partilha e convivência
fraterna. E diz que no gesto estaria a sua presença.

É um milagre real que acontece todo dia. Jesus alimenta nosso espírito com seu corpo
glorificado. Creio que quando recebo aquele pedacinho de pão não estou
fazendo um teatrinho. Estou me comunicando (comungando) com Jesus. Estabeleço
comunhão com Ele.

Eu me comunico com Jesus através daquele gesto e daquele pão repartido. Preciso de
sinais, gosto deles e acredito neles. Jesus pode curar um cego com saliva e lama, pode
também vir a mim sob as formas de pão e de vinho. Sou daqueles que não rejeita milagres.

Não qualquer milagre. Mas o da Eucaristia que é um dos milagres nos quais acredito sem
duvidar. Jesus pode. Todo o poder lhe foi dado. E Ele disse que faria isso. E faz! É a minha
fé católica.

Chame-me de inculto, tolo, burro, ignorante, como queira. Mas há coisas maiores que a
minha inteligência e todos os livros que já li. A Eucaristia é essa experiência. Eu posso me
comunicar com Jesus através desse rito. É o que faço. Respeito quem não crê, mas respeito
é bom e eu gosto. Eu comungo e eu creio! No deserto desta vida, Jesus é o meu maná.
Conheça o livro
Crer - Sabendo que há mais
TEMPO LITÚRGICO 14

Pe. José Alem


15

Caros catequistas. A paz! 2. O que, simbolicamente, representa o


tempo “quarenta” (dias ou anos)? Significa o

C
ada época do ano tem suas carac- tempo suficiente para que algo novo ou ex-
terísticas tanto na natureza, como traordinário se realize. É tempo de espera,
nas nossas organizações civis, so- preparação, de “gestação” do novo, de arru-
ciais. Também a vida cristã está organizada mação, de renovação, de reconciliação, de
de modo que possamos viver durante o ano os reordenamento, de conversão.
aspectos essenciais da fé e assim crescer na
graça e no conhecimento de Cristo. 3. A Igreja sempre celebrou o tempo da
A Quaresma é uma das estações do ano Quaresma? Sim. De início apenas como um
litúrgico com características próprias que fa- tempo, não definido em dias, de preparação
voreçam viver uma experiência de conversão para a celebração da ressurreição de Jesus.
e preparação para a Páscoa. Depois, a partir do final do quarto século,
Nesta edição você poderá ver, de forma a Quaresma começou a ser celebrada em
simples e organizada algumas informações “quarenta dias”, como a celebramos hoje. É
úteis para aprender a viver a Quaresma e cele- interessante salientar, mais uma vez, que o
brá-la com mais fervor. Assim também ajuda- número “quarenta” é simbólico, isto é, ele re-
rá os catequizandos a irem entendendo mais mete à ideia de um tempo especial, de uma
o que é Quaresma, porque celebrá-la, como oportunidade única, no ano litúrgico, de tro-
vive-la e a que ela nos conduz. car o coração de pedra por um coração de
carne (Ez 36,25-27). Assim sendo, “quarenta”
Veja abaixo as orientações e com criativi- dias se torna apenas uma referência de tempo
dade ajude crianças, adolescentes, jovens, e não a observância de exatos quarenta dias.
adultos a entenderem e viverem esse maravi- Mais vale o valor simbólico do que o tempo
lhoso tempo de graça e convesão. em dias.

Quaresma: algumas orientações 4. Quando começa e termina o tempo da


Quaresma? Inicia com a quarta feira de cinzas
1. De onde vem a palavra “Quaresma”? e conclui com as celebrações da quinta feira
A palavra “Quaresma” vem da palavra santa, ou aquelas que forem realizadas até
“quarenta”, que é, por sua vez, uma refe- a noite daquele dia. A celebração da Ceia do
rência a alguns fatos bíblicos que estão, Senhor, com o gesto do lava-pés, já não per-
simbolicamente, atrelados (=ligados) ao tence mais à Quaresma; é o início do Tríduo
número quarenta, como, por exemplo, os Pascal.
quarenta dias do dilúvio (Gn 8,6), os qua-
renta dias de Moisés, no Sinai (Dt 9,9), os 5. Por que a Quaresma não tem tempo fixo
quarenta dias de Elias a caminho do mon- no calendário litúrgico, mudando todos os
te Horeb (1Rs 19,8), os quarenta dias de anos? Porque ela precede a Páscoa da Res-
Jonas (Jn 3,4), os quarenta anos do povo surreição, que não tem uma data fixa para
no deserto (Dt 2,7) e os quarenta dias de ser celebrada. Assim, a Quaresma antecede a
oração e penitência de Jesus (Lc 4,1-2). Pascoa, preparando-a.
16

8. Somente o
tempo de Quaresma
é tempo de conver-
"A Quaresma, além de ser são? Não! Todos os
dias são dias propí-
cios à conversão! O
um convite à conversão, é também tempo da Quaresma
é um tempo espe-

um tempo de preparação para a cial – e não exclusi-


vo -, em que a Igreja
convida os cristãos
Páscoa da Ressurreição." a fazerem um es-
forço concentrado
para abrir-se a Deus
e ao próximo, aban-
donando tudo que
6. A Quaresma é um “tempo de tristeza”? é mal e acolhendo o que é bom e justo (cf.
Não. A Quaresma, é antes, um tempo de reco- Ef4,17-23; Cl 3,1-17; 1Pd 4,1-11).
lhimento, de “deserto interior”, de um “voltar-
-se para dentro” (de si mesmo, da família, da 9. O que faz com que o tempo da Quaresma
comunidade). É encontrar e ter tempo de rea- seja caracterizado como um tempo especial?
valiar a própria vida e a vida da comunidade, O tempo da Quaresma é marcado como tem-
descobrindo o que há de errado e o que deve po penitencial porque, ao “olhar” com sinceri-
ser mudado para melhor. dade para o nosso interior, descobrimos que
muitos são os nossos pecados, a começar
7. Por que, até há pouco tempo, se insistia pelo pecado da omissão. Ao descobrir que pe-
para que no tempo da Quaresma não se rea- camos, somos chamados a nos arrepender, a
lizassem bailes, não se fizessem festas e se fazer o propósito de viver uma “vida nova”, a ir
evitasse o barulho excessivo? Essas recomen- ao encontro de Deus e do outro para perdoar-
dações da Igreja – o não falar alto demais, não mos e sermos perdoados. A penitência – que
gritar, não ouvir músicas em volume elevado, é um sinal interno e externo de que estamos
não promover bailes e festas, etc. – nada mais arrependidos do mal que praticamos – consis-
eram – e são – do que “pequenas atitudes” te num exercício de mudança de vida; é uma
que visavam criar um clima favorável à inte- demonstração de que a nossa conversão não
riorização, à meditação, à reflexão, à oração, é de aparência, e visa uma vida nova, funda-
ao exame da própria vida, à decisão de se op- mentada na prática da justiça e da caridade.
tar a ser uma nova criatura. O silêncio externo 10. Que valor tem, no tempo de Quaresma,
visava a abertura e a atenção para o interno os pequenos gestos de penitência? Os peque-
(=interior). Portanto, a Quaresma, tem por ca- nos gestos de penitência realizados no tempo
racterística, não a tristeza, e sim a quietude da Quaresma – como por exemplo, deixar de
que favorece a mudança de vida (conversão). fumar, não beber bebida alcoólica, não comer
17

doce, renunciar a um lazer, deixar de assistir A privação que passamos ao renunciar a algo
a certos programas de TV etc. – têm valor re- legítimo nos remete do que é passageiro para
lativo, isto é, podem ser úteis e proveitosos o que é eterno, do que é superficial para o
ou inúteis. Serão úteis e proveitosos quando que é profundo, do que é criatura para Aque-
forem sinais externos de uma mudança (con- le que é o Criador. Ao jejuar purificamos não
versão interna), ou seja, quando eles não se somente o nosso corpo, mas também o espí-
esgotam em si mesmos, mas ajudam quem rito. E quanto menos apego e coisas houver
os faz a sentir-se forte para operar em si uma em nosso coração, mais espaço haverá para
mudança radical, abandonando o pecado e Deus, nele.
abrindo-se à graça. Contudo, eles serão inú-
teis quando não passarem de ‘rituais’ exter- 14. O jejum é também uma forma de abrir
nos, sem nenhuma correspondência interna, o coração para o próximo? Sim. Ao renunciar
sem que haja o verdadeiro propósito de mu- a bens desse mundo, entendemos que eles
dança de vida. não são exclusivamente nossos, mas que de-
vem ser partilhados com todos. O verdadeiro
11. Por que a Quaresma é tempo de oração? jejum é aquele que leva à conversão a Deus
Porque somos chamados a deixar-nos amar e ao próximo. Inclusive, ao sentir a falta que
por Deus e a amá-Lo; porque somos convida- o alimento nos faz, por exemplo, nós nos so-
dos a fazer a experiência de sermos por Ele lidarizamos com todos os empobrecidos, que
acolhidos e acolhê-Lo. É tempo de intensifi- vivem sem alimento digno o ano todo.
car a vida de oração para continuar a rezar,
de todo coração, durante todo o ano litúrgico. 15. Por que a Quaresma é tempo de dar es-
Ajudados e favorecidos pelo ambiente próprio mola? Porque é tempo de partilha. Se Deus se
da Quaresma, somos chamados para “mergu- entrega por nós, no filho, porque nós não po-
lhar” em Deus, absorvendo dÉle a misericór- demos nos doar uns aos outros, colocando em
dia para depois, no dia-a-dia, partilhá-la com comum o que somos e o que temos? A esmola
o próximo. é aquele gesto de dar até mesmo da nossa po-
breza; é a generosidade de colocarmo-nos ao
12. O tempo da Quaresma é tempo de oração serviço uns dos outros. Não é dar só o que so-
tanto pessoal como comunitária? Sim. A oração bra, nem é oferecer uma coisa qualquer, por
pessoal é necessária; a oração comunitária é desencargo de consciência. É antes abrir-se à
indispensável. Assim sendo, não podemos dis- misericórdia, reconhecer que o outro tem tan-
pensar nem uma nem outra. Ambas tem carac- to direito à realização, à felicidade e à vida,
terísticas que a individualizam e ambas tem ca- quanto nós temos.
racterísticas que as unem. No centro das duas
está a Missa, a “oração das orações”, em que o 16.Dar esmola não é uma forma de hu-
próprio Cristo reza em nós e por nós, oferecen- milhar aquele que a recebe? Não. A esmola,
do-se conosco ao Pai, no Espírito Santo. sendo uma forma de partilha, não humilha
13. Porque a Quaresma é tempo de jejum? e nem diminui aquele que a recebe. Antes o
Porque é tempo de procurar e encontrar o engrandece, porque o faz livrar-se de suas
que é essencial à nossa vida: o próprio Deus! necessidades básicas – estas sim, são sinais
18

de humilhação, não para o empobrecido, mas


para aqueles que, por ganância, o levam à mi- 19. Concluindo. Com a palavra, São Paulo:
séria.. Ainda mais: a esmola vai muito além do “Renovai sem cessar o sentimento de vossa
dar algo; ela parte do urgente, da emergên- alma, e revesti-vos do homem novo, criado à
cia, mas para chegar à caridade que liberta, imagem de Deus, em verdadeira justiça e san-
com a participação em todo o processo, da tidade” (Ef 4,23-24)
pessoa do empobrecido.
Esse material é apenas uma sugestão e
17. A Quaresma é preparação para a Pás- fruto de uma coletânea de informações de
coa? Sim. A Quaresma, além de ser um con- vários textos de autores vários. Você pode
vite à conversão, é também um tempo de pre- pesquisar e desenvolver atividades que favo-
paração para a Páscoa da Ressurreição. Quem reçam aprofundar o assunto como leituras,
vive a Quaresma – e não apenas ‘passa’ por vídeos, pesquisas, entrevistas, cantos, sobre-
ela – abre-se de uma forma única à grande tudo a participação na vida da comunidade.
alegria de celebrar a Ressurreição de Jesus, Se possível solicite a presença de um sacer-
garantia de ressurreição de todos os homens dote para um dia falar para as catequistas e
e mulheres. os catequizandos com seus pais sobre tão im-
portante momento da vida da Igreja.
18. Que ligação existe entre a Quaresma E que todos tenham uma excelente vi-
e a Campanha da Fraternidade? O tempo que vência desse tempo litúrgico da quaresma e
se celebra a Campanha da Fraternidade, coin- procurem vivera experiência fundamental da
cide, propositalmente, com o tempo da Qua- quaresma anunciada pelo profeta Ezequiel:
resma. A Campanha é uma forma concreta de “Eu vos darei um coração novo e porei em vós
transformar a oração, o jejum e a esmola em um espírito novo” (Ez 36, 26). Essa é a expe-
partilha que conduz à justiça. Nesse sentido, riência sempre necessária para crescer na
a Campanha fortalece a decisão de quem se graça e no conhecimento e amor de Cristo.
propõe a trocar o “coração de pedra” por um
“coração de carne”. Santa Quaresma para todos.

Pe. José Alem, cmf

Sacerdote membro da Congregação dos Missionários Filhos do


Imaculado Coração de Maria. Educador e comunicador, Professor
de Filosofia, Espiritualidade, Comunicação, Psicologia da Religião.
Especialista em Logoterapia. Filósofo clínico. Assessor de cursos e
formação através de palestras, retiros, encontros, oficinas. Escritor e
assessor de projetos de comunicação e educação.
Jesus convida! Nós respondemos!
Irmãs Paulinas: a serviço do Evangelho com a comunicação.

Jesus convida! Nós respondemos!


Irmãs Paulinas: a serviço do Evangelho com a comunicação.

VenhaVenha
vocêvocê
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(11) 3043-8100 / 99998-0323 Irmãs
MATÉRIA DE CAPA 20

condição necessária para a catequese


Jo ão Me l o
21

Eu quero ter um milhão de amigos...

Ouça a música

E
ssa música nos faz lembrar que nin- pertencer, querem estar em comu(m-u)nida-
guém é uma ilha. As pessoas sen- de com outras pessoas.
tem a necessidade de pertencer a O Evangelho é uma proposta de vida em
um grupo... Todos nós temos necessidade comunidade. O encontro e a conversão a Je-
de que nos deem certa atenção, que alguém sus Cristo necessariamente levam à comu-
nos conheça bem, nos aceite tal como somos nidade, como nos mostram os discípulos de
e se interesse por nós. Mas nos tempos de Emaús que encontrando Jesus, voltam para
hoje promove-se um individualismo agres- a comunidade de Jerusalém (cf. Lc 24, 13-
sivo onde cada um quer fazer girar tudo à 53).
volta do seu ego. Daí surgem as dificuldades
como ter um relacionamento estável, dificul- A comunidade de Jesus
dade em dialogar, em ouvir o outro, perdoar
e questionar a si próprio. Muita gente sofre Jesus formou um grupo e com eles quis
com o anonimato, com a solidão e com a cultivar verdadeiros laços de comunidade
falta de afeto. No fundo, as pessoas querem (Mt 4,18-22; Mc 1, 16-20), chamou-os pelo
22

nome, sinal de intimidade (Mt 10,24) e apre-


sentou-lhes as exigências da Missão (Mt 10, • Católico Fiscal: É aquele que
25-28). Deu-lhes as necessárias instruções só sabe fiscalizar e criticar as ações
(Mt 10, 5-33), pedindo para que sempre se- de membros da Igreja, mas não faz
jam um (Jo 17,21) e enviou-os de dois em nada para melhorar a situação;
dois (Lc 10,1) em Missão, de forma coletiva • Católico Florzinha de Jesus:
(Mt 10). Fez revisão com eles (Mc 6,31) e ga- Qualquer problema com o padre
rantiu que sempre estará onde dois ou mais ou alguém da comunidade ele fica
deles estiverem reunidos em seu nome (Mt “chagado” e sai da Igreja ou muda
18,20). de pastoral;
Vemos na comunidade de Jesus o mo- • Católico Agente 007: Ele vive a
delo e a inspiração fecunda para as nossas fé de forma camuflada ou no anoni-
comunidades de discípulos missionários de mato total. Ninguém pode saber que
Jesus Cristo ainda hoje. A Igreja é comuni- ele é católico porque tem vergonha;
dade! “Jesus deixou na história uma comuni- • Católico Gabriela: Quer que os
dade viva, a Igreja, para dar continuidade à outros mudem, mas ele está bem
sua missão salvífica” (Diretório Nacional de assim, vai ser sempre assim porque
Catequese, n. 51). São Paulo chega a com- nasceu assim...;
parar a Igreja, enquanto comunidade de fiéis • Católico Homem Aranha: qual-
reunida, a um corpo (1 Co 12,14-20), onde quer problema já está subindo pelas
todos os órgãos têm que estar a serviço do paredes;
conjunto. “A comunidade eclesial conserva • Católico Pipoca: vive pulando
a memória de Jesus, suas palavras e gestos, de pastoral em pastoral, de igreja
particularmente os sacramentos, a oração, em igreja, de comunidade em co-
o compromisso com o reino, a opção pelos munidade, mas não se firma como
pobres” (Diretório Nacional de Catequese, n. membro de nenhuma;
51). Com efeito, a mulher e o homem de fé • Católico de Fã Club: Só vai onde
nunca estão sós: viver em união com Cristo é o padre artista for;
viver integrado no Seu Corpo que é a Igreja. • Católico Kiko da Turma do Cha-
Não há outro caminho. ves: não se mistura com a “genta-
lha” da comunidade;
• Católico com dom de “canto”:
Melhor sozinho que mal acompanhado? Fica lá no canto da Igreja encostado
e não quer ajudar em nada;
Alguns sites e mesmo grupos de redes so- • Católico Kodak: vive de revela-
ciais por vezes circulam informações sobre ções extraordinárias e particulares
alguns “tipos de católicos” que estão pre- “O Senhor me revelou...”;
sentes em nossas comunidades. Eis os que • Católico Machado: Qualquer
aparecem de forma recorrente nessas listas: ideia nova ele já corta logo;
23

Os 5 “tipos de iniciandos” que terminam de hoje. A comunidade de Jesus não era um


a catequese de primeira eucaristia: reduto fechado de pessoas perfeitas e bem
quistas pela sociedade. As nossas comu-
nidades também não. No entanto, isso não
significa que temos que “passar a mão” ou
“fazer vista grossa” sobre tudo que acontece
na comunidade, mas significa dar um basta
confira na intolerância e na hipocrisia que podem
o vídeo existir na Igreja. Todos somos chamados a
conversão e a ajudar-nos no caminho de fé,
e não a sermos juízes uns dos outros.
Historicamente, o que é capaz de explicar
a difusão da Igreja nos primeiros séculos por
aquela comunidade que Jesus formou, ape-
Os discípulos de Jesus também eram de sar dos defeitos e limitações que cada um ti-
todo tipo. Haviam pescadores (Mt 4,18), co- nha, é o amor e a partilha fraterna que exis-
brador de impostos (Mt 9,9) e até um que tiam entre eles (cf. At 2, 42-47). “Na verdade,
fora zelota - espécie de grupo guerrilheiro muita gente encontrava nas comunidades
que era perseguido como terrorista (cf. Lc cristãs não só ajuda material de alimentação
6,15; At 1,13). Jesus mesmo era chamado e de outras necessidades básicas, mas tam-
de “comilão e beberão, amigo de cobrado- bém e não menos importante, a integração
res de impostos e pecadores” (Mt 11,19), comunitária, o sentido de grupo e o apoio
fora do juízo (Mc 3,21) e acabou sendo mor- afetivo dos cristãos” . A Igreja é espaço pro-
to como agitador entre ladrões (Mc 15, 27). pício e capaz de criar comunidades verdadei-
Não podemos dizer que eles eram conside- ras, onde cada um é acolhido e respeitado na
rados “boa companhia” para os padrões da sua personalidade única. Oxalá nossas co-
época e, quem sabe, mesmo para os padrões munidades sejam esse espaço!

Comunidade cristã X Grupo de cristãos

Comunidade cristã Grupo ou ajuntamento de cristãos


Igualdade e enlace entre os batizados por Simplesmente são várias pessoas que
meio da comunhão e participação na vida e estão “juntas”.
na missão da Igreja.
Os integrantes estão reunidos em torno da Os integrantes estão reunidos por afinida-
fé em Jesus Cristo. des, amizades ou interesses comuns não
alicerçados na fé cristã.
Os integrantes estão reunidos por afinida- As partes são mais importantes que o todo,
des, amizades ou interesses comuns não dando espaço à vaidade, ao exibicionismo
alicerçados na fé cristã. e a atitudes de arrogância e superioridade.
24

Catequese e comunidade: lugar de missão que lhes é anunciada. Nós precisamos mos-
trar exemplos e testemunhos de fé porque
Quão marcante você catequista tem sido estes sinais marcam, falam e convencem
na vida dos iniciandos? mais que do que as palavras. A comunidade
Essa é uma pergunta que demanda refle- cristã proporciona esses sinais que dão visi-
xão. “A vida é como uma viagem no mar do bilidade e credibilidade a Palavra nos gestos
mundo, com frequência um mar enevoado de caridade, de misericórdia, de perdão, nas
e tempestuoso, uma viagem na qual pers- celebrações, ritos e símbolos em que se ce-
crutamos os astros que nos indicam a rota. lebra a fé, na oração, no estilo de relação dos
As verdadeiras estrelas da nossa vida são discípulos de Cristo e nas pessoas exempla-
as pessoas que souberam viver com retidão. res que vivem a fé com fidelidade e dedica-
Elas são estrelas de esperança” (cf. Bento ção.
XVI, Spe Salvi, n. 49). O catequista é voca-
cionado a “estrelar” na vida dos iniciandos! Catequese evangelizadora
Ele é também convidado a reconhecer as x
estrelas que Deus pôs ao longo da sua vida Catequese sacramentalizadora
de fé. Se você é capaz de lembrar de alguém
importante na sua trajetória de fé, mesmo
que seja alguém que você sente saudades e
talvez não tenha mais contato, mas sabe do
valor e do papel singular dessa pessoa na-
quele momento da sua vida cristã é porque
você já experimentou o que é ser comunida-
de... talvez haja alguém que também se lem-
bre assim de você.
Com efeito, se não houver uma experiên-
cia de fraternidade e amizade dificilmente
o iniciando permanecerá na comunidade. É
fundamental que os iniciandos façam uma
experiência positiva de atenção, de amizade, Saiba mais
de alegria e que se sintam conhecidos, valo-
rizados e queridos na comunidade paroquial
pelo catequista e pelos outros comunitários. Encontrar Jesus na experiência
A comunidade cristã que inicia na fé são as de comunidade
pessoas que acolhem e partilham o carinho,
a amizade e a experiência de vida cristã. A As experiências de fraternidade, de ami-
comunidade é um espaço onde as crianças, zade, de acolhida, as atividades pastorais e
adolescentes, jovens e adultos experimen- as celebrações, embora sejam fundamen-
tam o amor fraterno que traduz o amor de tais, não são aquilo que definem uma comu-
Deus. nidade cristã. A comunidade se reúne em
Os iniciandos precisam ver sinais da fé torno da mesma fé em Cristo que orienta os
25

projetos de vida de pessoas de diferentes cia pessoal do encontro com Jesus. Se não
tipos, etapas de vida e jeitos de ser. colaborarmos para suscitar esse encontro ao
Todo e cada um dos cristãos experimenta longo do tempo de catequese, o iniciando di-
a presença viva de Deus em sua vida quando ficilmente encontrará sentido em permane-
tem um encontro de fé com Jesus Cristo. A cer na comunidade.
catequese, graças à ação do Espírito Santo,
tem os instrumentos para despertar nos ini- A grande catequista é a própria comunidade
ciandos o fascínio pelo Mestre. O Documen-
to de Aparecida (parágrafo 243 e seguintes) Na catequese de iniciação à vida cristã de
nos guia a alguns lugares, pessoas e dons inspiração catecumenal a comunidade assu-
presentes na comunidade cristã que nos fa- me papel protagonista junto aos iniciandos:
lam de Jesus e nos colocam em comunhão plasmar pela força do Espírito Santo a iden-
com Ele. tidade dos novos discípulos missionários de
Jesus Cristo. “Discípulos” porque convoca-
Lugares de encontro com Jesus Cristo se- dos para seguir Jesus como integrantes da
gundo Documento de Aparecida: sua comunidade e “missionários” porque en-
viados para realizar no mundo a mesma mis-
são de Jesus, por meio do estilo de vida que
assumem. A identidade do discípulo missio-
nário – objetivo da catequese – é formada a
partir da identidade da comunidade eclesial
que comporta três elementos:

1) Chamado: O iniciando percebe-se vo-


cacionado à vida cristã. Esse chamado, em-
bora comum a toda comunidade cristã, se
concretiza de forma diferente, de acordo
com a resposta de vida de cada cristão;
2) Vida em comunidade: A vida cristã é
Leia o texto na íntegra autêntica numa experiência de fraternida-
de e comunhão comunitária que fortalece o
sentido de pertença eclesial;
Jesus está presente em meio a uma co- 3) Missão: Os batizados passam de evan-
munidade viva na fé e no amor fraterno. gelizados a evangelizadores e testemunham
Nela, Jesus cumpre a promessa: “Onde estão a vitalidade do encontro com o Cristo vivo;
dois ou três reunidos em meu nome, aí estou
eu no meio deles” (Mt 18,20). De fato, é a ex- Podemos apontar dois aspectos da parti-
periência do encontro pessoal com Jesus na cipação da comunidade na iniciação à vida
comunidade que muda tudo e dá a vida um cristã de inspiração catecumenal um mais
novo horizonte e um sentido mais profundo. direto e outro, por assim dizer, indireto.
Os iniciandos são “seduzidos” pela experiên-
26

Para saber mais sobre a inspiração ca- movimentos, pastorais, que muitas vezes
tecumenal da Catequese assista ao vídeo convivem sem muito diálogo na instituição,
“Iniciação a Vida Cristã” mas que aqui colocam-se como uma espécie
de “introdutores” que acompanham de for-
ma personalizada o iniciando, o conhecem,
ajudam-no e são testemunhas de seus cos-
tumes, fé e desejo de discipulado (cf. Ritual
da Iniciação Cristã de Adultos, n. 42).

Sobre este assunto falamos em “Quem


confira o vídeo é o introdutor? O perfil do novo ministério
para a catequese de inspiração catecume-
nal”, edição 15 da Revista Digital Sou Ca-
tequista.

E leia “Iniciação cristã com inspiração


catecumenal” na 6ª edição da Revista Digi-
tal Sou Catequista.

A comunidade possui uma participação


mais direta na iniciação por meio do atendi-
mento personalizado ou acompanhamento
individual que ocorre no primeiro tempo da
iniciação à vida cristã - chamado “pré-cate-
cumenato”, tempo propício para o anúncio
testemunhal do Querigma.

O que é Querigma? Qual a sua relação confira o site


com a catequese de inspiração catecume-
nal?
Uma catequese de inspiração catecu-
confira menal adequada às exigências atuais deve
o site contar com uma comunidade que se põe em
estado permanente de missão. Mas para isso
a comunidade precisa superar a mentalida-
de “cada um no seu quadrado”, colocando-
-se em colaboração mútua. Se é a catequese
que educa para a vida eclesial, ela precisa
Essa participação direta da comunida- contemplar por inteiro a missão e a ativida-
de é, na verdade, um ministério específico de da Igreja, inclusive a iniciação cristã. “A
exercido por membros dos diversos grupos, Igreja deverá iniciar os seus membros – sa-
27

cerdotes, religiosos e leigos - nesta ‘arte do professamos” (Catecismo da Igreja Católica,


acompanhamento’, para que todos apren- n.197). Na catequese de inspiração catecu-
dam a descalçar sempre as sandálias diante menal em que a entrega do Símbolo da fé
da terra sagrada do outro (cf. Ex 3,5)” (Papa adquire especial relevância, o sentido comu-
Francisco, Evangelii Gaudium, n. 169). Se a nitário que ele possui, deve ser transmitido
grande catequista é de fato a própria comu- para valorizar ainda mais o rito. Com efeito,
nidade ela toda deve compreender-se como “a catequese nasce da profissão de fé da co-
responsável no processo de iniciação à vida munidade e conduz à profissão de fé vivida
cristã e não só os catequistas (cf. Diretório em comunidade” (Sínodo de 1977 sobre a
Nacional de Catequese, n. 237). catequese).
De uma forma que aqui chamamos de “in-
direta”, mas nem por isso menos importan- Catequese: porta de entrada
te, podemos apontar o testemunho de vida para a comunidade
cristã da comunidade. O nosso Diretório Na-
cional de Catequese chega a dizer que “onde Como instrumento de educação da fé, a
há uma verdadeira comunidade cristã, ela se catequese ajuda o iniciando a se sentir co-
torna uma fonte viva da catequese, pois a fé munidade quando está integrada com as
não é uma teoria, mas uma realidade vivida outras pastorais e articulada com as demais
pelos membros da comunidade. Nesse sen- atividades da comunidade paroquial. “A ca-
tido ela é o verdadeiro audiovisual da cate- tequese se beneficia dessa articulação ao
quese. Por outro lado, ao educar para viver mesmo tempo que contribui para uma pas-
a fé em comunidade, esta se torna, também, toral orgânica ou de conjunto” (Diretório
uma das metas da catequese” (DNC, n. 52). Nacional de Catequese, n.13j). Na prática,
Além de acolher e integrar os iniciandos na isso significa fazer com que a catequese se
vida e na missão da Igreja, a comunidade é realize num contexto comunitário, que ela
convidada a rezar por eles e também a parti- seja um processo de inserção na comunida-
cipar dos ritos e celebrações que marcam o de eclesial e que a comunidade seja toda ela
seu itinerário catequético. catequizadora (cf. Diretório Nacional de Ca-
Há, inclusive, um rito específico que é tequese, n.14i).
ocasião privilegiada para imprimir nos ini- Se a catequese de eucaristia com crian-
ciandos o sentido de pertença à comunidade ças já tratar de boa parte dos conteúdos bá-
cristã: A Entrega do Creio. De fato, o “Sím- sicos da fé, a catequese de confirmação com
bolo da fé é, pois um sinal de identificação e jovens não deve ser uma revisão desses con-
de comunhão entre os crentes” (Catecismo teúdos, ela é outra coisa. Reuniões do grupo
da Igreja Católica, n.188). A catequese que de catequistas de todas as etapas da inicia-
prepara os iniciandos para a celebração da ção e o estudo de alguns materiais didáticos
entrega do Credo deve explicar que “recitar pode ajudar a discernir essa questão. Nesse
com fé o Credo é entrar em comunhão com sentido, é oportuno que a catequese de con-
Deus Pai, Filho e Espírito Santo. E é também firmação seja tempo especial de crescimen-
entrar em comunhão com toda a Igreja a to espiritual e de vida em comunidade. Por
qual nos transmite a fé e em cujo seio nós a isso, um projeto de catequese de crisma com
28

inserção pastoral é fundamental. comunidades.


Para demostram uma tentativa de cate- Inicialmente, é o catequista quem indica
quese com jovens imbuída do espírito e com- para qual pastoral e para qual comunidade
promisso missionário tanto em seu jeito de o jovem deve ir. Além disso, eles precisam
fazer quanto em seu conteúdo, apresenta- identificar os jovens que tem disponibilida-
mos um esboço de catequese de confirma- de para participarem de atividades pastorais
ção com uma proposta de favorecer o enga- durante a semana.
jamento pastoral de jovens iniciandos e uma Ao término do ano, cada jovem escolhe
maior comunhão entre pastorais, movimen- uma das pastorais que mais se identificou ao
tos e grupos paroquiais. Trata-se de uma in- longo do ano para, no ano seguinte, acompa-
tuição e não de um modelo pronto e acabado. nhá-la de forma fixa.
É um exemplo que pode e deve ser adaptado Essa proposta ajuda jovens e agentes de
e que visa a implementação de um processo pastorais a percebem o conjunto da Igreja.
continuado de educação da fé de jovens ini- A catequese é o instrumento mais adequado
ciandos na prática da caridade por meio da para dar conta da construção de um espíri-
participação em atividades paroquiais. to que nos faz ver a Igreja por inteiro. Esse
A sugestão é que em uma ou mais sema- modelo pode ser adaptado para a catequese
nas de cada mês, intercalando com os tradi- com adultos e também, de algum modo, até
cionais encontros de catequese, os jovens para a catequese com crianças.
iniciandos sejam destinados para as pasto- Sobre a catequese infantil ainda é ne-
rais, movimentos e grupos paroquiais e par- cessário dizer que muitas das crianças que
ticipem das atividades propostas nos horá- chegam à catequese se mostram carentes de
rios próprios de cada uma delas. atenção e carinho. O catequista, que precisa
Os coordenadores de cada pastoral e pes- ensinar e dar o programa, muitas vezes tem
soas por eles indicadas serão responsáveis de dispor de tempo para ouvir, acarinhar e
por acolher, integrar e orientar os jovens e sua prestar atenção a elas.
participação nas atividades da pastoral, movi-
mento ou grupo paroquial que participam. Catequista: voz profética na comunidade
É importante que os grupos envolvidos
sejam dos mais variados da vida da comu- O catequista tem uma grande tarefa: ser
nidade paroquial (Liturgia, Grupos de Rua, a voz eloquente que busca resgatar a di-
Terço dos Homens, Grupo de Oração da RCC, mensão catequética e missionária presente
Apostolado da Oração, Pastoral do Dízimo, na vida pastoral da comunidade. Ele é peça
Pastoral da Catequese, Pastoral da Criança, chave nesse processo. Mas antes de motivar
Pastoral da Sobriedade, Pastoral da Saúde, uma comunidade, é preciso primeiro parti-
Ministros da Eucaristia, Ministério de Músi- cipar da vida da comunidade, unindo-se as
ca e etc). pessoas das diversas pastorais. O catequis-
Os catequistas podem ainda articular um ta olha corajosamente para a comunidade
modo em que os jovens também participem como lugar de missão e tomado dos senti-
nas atividades de pastorais, movimentos e mentos de responsabilidade e de confiança
grupos paroquiais que só existem em outras percebe que não está só: sabe que é a força
29

do Espírito Santo que o move.


Essa postura é diversa do Catequ-ilha
que, infelizmente, tem uma visão mesqui-
nha sobre o que faz. O Catequ-ilha é aquele
que prefere usar excessivamente expressões
como “Minha catequese”, “Meus catequizan-
dos”, possui grande dificuldade de trabalhar
em duplas de catequistas (cf. Lc 10,1) ou em
equipe e não faz ideia de como funciona ou o
que acontece nas outras etapas de iniciação
que não a dele. Prega as suas devoções, his-
tórias ou crenças particulares e não a fé da
confira o vídeo
Igreja. Falta-lhe espírito comunitário.
O catequista entregue a sua missão na
vida da Igreja sabe que ela é desafiadora, Que o povo seja forte na fé, apesar dos
mas é bela! Pode começar com coisas sim- problemas. E saiba que os milagres virão
ples, como propor um dia de reflexão, con- quando a gente se organizar. Que saiba
fraternização e oração dos catequistas – di- viver a verdade, juntos e em comunidade.
ferente das reuniões e planejamentos - ou Seja feliz no que diz e naquilo que faz, seja
com outros membros da comunidade... ou forte na justiça e na paz.
mesmo estar mais atento para despertar na Que a tua Igreja santa e pecadora, Se-
comunidade novas vocações catequéticas nhor. Também se torne justa e libertadora.
que ajudarão na missão. Que o nome de Jesus se torne cada vez mais
Algumas atitudes são essenciais como nossa luz e nossa paz...
comunicação entre as pessoas: telefone, Fa-
cebook, What´s App... mesmo com os mais
distantes. Só há voz profética quando há
comunicação. As pessoas não adivinham as Para refletir com o grupo:
coisas até que alguém lhes diga. Só assim
poderemos formar comunidades catequiza- - O que Jesus quer de nós quan-
doras. Além disso, deve-se ter a preocupação do nos vocaciona, nos inclui em sua
de planejar cuidadosamente a ação catequé- comunidade de vida e nos envia
tica de acordo com o plano diocesano e na- para a missão?
cional da ação evangelizadora da Igreja. - Como levar os iniciandos a des-
cobrir e a fazer a experiência de co-
munidade?
Em 1993 o Pe. Zezinho, SCJ lançou a mú- - Como tornar os iniciandos fer-
sica Oração pela Igreja, atual, sua letra é mento e missão da comunidade?
uma verdadeira oração... que ela seja hoje - Como pode o catequista ser
a nossa... construtor de comunidade?
30

Principais indicações bibliográficas:

CATEQUESE E COMUNIDADE. http://www.abcdacatequese.com/partilha/recursos/catequese/


2363-catequese-e-comunidade/file Acesso em 14/01/2017.

D. Manuel Pelino. A COMUNIDADE CRISTÃ LUGAR PRIVILEGIADO DE CATEQUESE. http://www.


abcdacatequese.com/partilha/recursos/catequese/formacao-de-catequistas/2080-a-comunidade-
-crista-lugar-priveligiado-de-catequese/file Acesso em 14/01/2017.

CRUZ, Therezinha Motta Lima. A CATEQUESE NA RENOVAÇÃO DA PASTORAL ORGÂNICA. In.


CNBB. 3ª Semana Brasileira de Catequese. Brasília: Edições CNBB, 2010, p. 219-32.

CNBB. DIRETÓRIO NACIONAL DE CATEQUESE. São Paulo: Paulinas, 2007.

João Melo
Graduado em Filosofia e especialista em
Catequese. É acadêmico dos cursos de Teo-
logia (PUC-SP) e Jornalismo (FAPCOM).
Leciona Filosofia, Sociologia e História.
Atua na formação de agentes de pastorais
ligados a iniciação à vida cristã na Arqui-
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CHAMADO 33

A
sociedade atual tem demonstrado tir do desenrolar da novidade no cotidiano da
uma incessante busca por alguma vida surgem novas crenças, emergem novas
chama que a ilumine e aqueça a interpretações sobre a condição humana, ao
existência, à qual podemos denominá-la de passo que também desponta como alterna-
vida interior ou simplesmente, de espiritua- tiva aos desafios prementes – a dimensão
lidade. Na verdade, destaca-se no seio da transcendente da pessoa.
modernidade o desejo por algo que viabilize Diante do exposto, vale salientar que o
o rumo da existência ao mobilizar a dinâmica termo “espiritualidade” pode ser traduzido
dos seres na grande festa da vida com os ou- como caminho existencial de evolução espi-
tros. Sobressai-se cada vez mais a necessi- ritual de uma pessoa ou grupo, enquanto re-
dade de respostas concretas e efetivas aque- lacionado com a totalidade da realidade. No
las insistentes perguntas: Por que vivemos? contexto atual, a espiritualidade é a “ponte”
Para que existimos? Para onde vamos? Que pela qual será ressignificada os diversos ele-
mundo estamos construindo? mentos da realidade para que esta seja, efe-
É notório que o projeto de vida tanto a tivamente, mais promessa do que crise, de
nível coletivo, como no pessoal, se resume maneira que torne possível que os homens
numa preocupação frenética com o imedia- retornem a viver como seres humanos. A es-
to, projetos utópicos e/ou duradouros não piritualidade carrega como “aroma fundan-
entusiasmam. Infelizmente existe uma fragi- te” a novidade da história que caminha com
lidade na compreensão do sentido global da o conteúdo fundamental de propiciar a vida,
existência, as convicções perderam força e mesmo sem ser vista a potência espiritual
espaço nessa mudança de civilização. A par- garante vigor e fecundidade.
34

nosso Criador, o qual sempre


"Educar à fé no processo vocacional se acompanha e aperfeiçoa com pa-
ciência sua obra; inclina-se con-
traduz na formação de uma sensibilidade tinuamente a nosso favor e, como
Espírito “doador de vida”, colo-
que possibilite a “construção” de uma es- ca-nos em pé, abre-nos os olhos
colha de vida alicerçada no projeto divino" e faz-nos caminhar com nossos
próprios passos, a esse encontro
entre o humano e o divino chama-
mos espiritualidade cristã.
Como proposta espiritual aos clamores Vale ressaltar que a vivência
que brotam da humanidade podemos esta- da espiritualidade cristã só pode ser expe-
belecer um diálogo com a espiritualidade rimentada na perspectiva de uma verdadei-
cristã, tendo em vista que ela preenche es- ra inculturação. Ela passa necessariamente
sas lacunas com seu projeto de vida, con- pelas mediações culturais, no entanto, a sua
cretizado em Jesus e apresentado como he- origem profética deve contribuir de forma
rança a seus seguidores como ideal utópico eficaz para a libertação e purificação das
e realização possível, embora sempre com culturas e das pessoas. A fé encarnada con-
características incipientes. fere sabor, qualidade e cor à existência, não
Assim, podemos entender espiritualida- retira o ser humano de suas tarefas tempo-
de cristã como o jeito próprio de viver o se- rais, e sim possibilita realizá-las com motiva-
guimento de Jesus, um estilo de vida vivido ção mais profunda e crítica. Nesse processo
no Espírito, onde há forte coincidência en- espiritual, o profetismo ganha corpo e voz à
tre o espírito humano e o Espírito divino (cf. medida que evoca o sonho de um mundo di-
Gl 5,,22-26). A vitalidade da espiritualidade ferente na confusa trama da história humana
cristã é estruturada por meio de um projeto com a missão de realizar o projeto de Deus.
de resgate do que é verdadeiramente huma- No processo relacional entre o transcen-
no e divino, em sintonia com a potencialida- dente e o humano surge mais um elemento
de vivenciada pelo próprio Cristo em que as nesse itinerário espiritual: vocação.
dimensões humana e divina da nossa reali- Vocação é um chamamento, uma desti-
dade estiveram unidas sem se confundirem. nação e um futuro. Perguntar pela vocação
Convém esclarecer que a espiritualidade de alguma coisa ou de alguém é perguntar
cristã não se confunde com uma ideologia a que ele está destinado e a qual futuro está
nem com algum movimento para transfor- chamado. A vocação orienta-se eminente-
mar este mundo. Como também não admite mente para um futuro. Deve realizar-se no
a fuga para outro mundo separado e inde- presente, mas sempre com abertura e chan-
pendente do que agora temos. Por sua vez, ce para o futuro. Por isso a vocação é uma ta-
a espiritualidade cristã é fonte de esperança refa constantemente a ser realizada. Na raiz
e legado de elevação espiritual para toda a da palavra vocação está a palavra vox, vocis,
humanidade. voz. Que voz se faz ouvir dentro da vida do
Dessa maneira, reverencia-se Deus como homem e do mundo que constitui a cantiga
35

essencial e o sentido profundo do mundo e de despertar a sensibilidade humana a tan-


do homem? A que eles são chamados e voca- tos sinais da presença divina. Sendo assim, o
cionados? (Boff, 1973, p.11) desafio é instigar uma conversão da sensibi-
É interessante interiorizar que a vocação lidade, a recuperação dos sentidos humanos
cristã revela prioritariamente algo de Deus, para que estejam sintonizados na percepção
como aspecto fundamental de sua identida- do Deus que nos envolve integralmente.
de divina, por isso se afirma que a vocação é A sensibilidade vocacional tem como
já, em si mesma, sinal do amor de Deus pelo marca fundante a experiência da fé, articu-
homem, independentemente de seu conteú- lada por elementos de confiança e abandono
do. Por outro lado, percebe-se que a voca- que se exprimem na entrega de si ao outro,
ção é um movimento que se desdobra pau- à consciência plena de Deus. Educar à fé no
latinamente e a sua descoberta é realizada processo vocacional se traduz na formação
por fases, deixando compreender que Deus, de uma sensibilidade que possibilite a “cons-
o autor da vocação, é mistério. Portanto, é trução” de uma escolha de vida alicerçada
importante entender e viver bem a identida- no projeto divino. Por conseguinte, é o entre-
de do chamado, ou seja, o ser humano deve laçamento entre “o impossível humano e o
abrigar-se no pequeno mistério do próprio possível divino” numa entre ajuda gestando
eu imerso no profundo mistério de Deus, ou uma atitude confiante e audaz.
descobre sempre mais a si mesmo como par- O dinamismo da sociedade com toda
te do mistério divino. gama de riquezas e desafios que ela carrega
Na verdade, cada situação existencial consigo exige que cada pessoa seja artífice
para o ser humano torna-se e é vocação, o da cultura do bem viver. Ademais, como con-
evento do chamado se plenifica como algo tributo no horizonte da “caçula” humanida-
totalizante. A revelação de Deus através da de bem mais humana e sensível, injetamos o
vocação transmite a extraordinária beleza cultivo de uma ousada e revolucionária vida
do rosto do Eterno que atinge o indivíduo, é interior com sentidos aguçados para expe-
a genuína manifestação do amor de Deus ao rimentar uma relação excitante com o Deus
exprimir sua atenção e preocupação à pes- de Ternura. A resposta está em nossas mãos,
soa chamada. Em suma, a vida é vocação, é deixemos fluir a sensibilidade que nos irma-
um chamado constante que nos interpela de na no movimento da globalização do amor.
maneira gradativa.
Conscientes que somos seres intrinse-
camente vocacionados e que nossa vida se REFERÊNCIAS:
desenrola no dualismo: chamado – resposta,
se faz necessário que a ação vocacional pro- BOFF, LEONARDO. O destino do homem e do
voque um envolvimento mais global do su- mundo: Ensaio sobre a vocação humana. 2. Ed.
jeito ao desenrolar um laboratório experien- Rio de Janeiro, Vozes, 1973.
cial, cuja matéria-prima seja a concretude
da vida com suas diversas nuances. A partir CENCINI, AMEDEO. Construir cultura vocacio-
do chão histórico de cada um, pode-se puri- nal. São Paulo, Paulinas, 2013.
ficar a ideia da relação com Deus no intuito
36

ESPEJA, JESÚS. Espiritualidade Cristã. Rio de Janeiro, Vozes, 1994.

MURAD, AFONSO. Gestão e Espiritualidade: uma porta entreaberta. São Paulo, Paulinas, 2007.

SOBRINO, JON. Espiritualidade da Libertação: Estruturas e Conteúdos. São Paulo, Loyola, 1992.

SOBRINO, JON. Espiritualidade da Libertação: Estruturas e Conteúdos. São Paulo, Loyola, 1992.

José Sotero dos Santos Neto

Religioso do Instituto dos Irmãos Maristas. Graduando em Teo-


logia (ISTA), formado em Letras-Português (UNIT), especialista em
Língua Portuguesa (UNIT). Coordenador da Escola Catequética Ma-
rista Ir. Lourenço em Belo Horizonte/MG.
Somos uma Família Missionária comprometida com a
EVANGELIZAÇÃO DOS POBRES.
Somos enviados pelo Pai àqueles que ainda 
não ouviram a mensagem do Evangelho e 

aos oprimidos e desfavorecidos


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FORMAÇÃO 38

Você, catequista, possui


inteligência emocional?

O
lá querido e querida catequista! E claro, isto é um de-
Benção e paz para a vida de vocês! safio para todos cristãos
ou melhor para todos os
Quero falar com vocês sobre inteligên- seres humanos.
cia emocional para a função de catequista e A coerência da fé ou
vamos começar refletindo sobre o que é ser com a fé, é uma das maio-
catequista. res virtudes que todos deve-
Se buscarmos no dicionário acharemos a mos cultivar em todas as cir-
definição de catequista como: “Aquele que cunstancias do dia a dia, inclusive
ensina a Palavra de Deus e a doutrina da em nossos relacionamentos.
Igreja, é um anunciador de Cristo. ” Por tanto, ser catequista exige uma
Bonito e profundo, não é mesmo? postura de coerência muito especial, pois
Ser catequista é ser e levar a outros a se- como diz a sabedoria popular: “as palavras
rem também, um verdadeiro imitador de Je- convencem, enquanto os exemplos arras-
sus Cristo, é tê-Lo como centro da vida. tam”. Infelizmente a maioria dos exem-
39

plos que tem ficado, em todos os setores da teligência emocional é preciso que procure-
sociedade não tem sido positivos. mos aprender sobre o universo das emoções,
É preciso que comecemos a pensar em entender como elas nos direcionam a fazer
coerência como algo a ser trabalhado com nossas escolhas diárias.
muito amor e dedicação. A simples decisão de ser catequista, foi
Para continuar nossa reflexão, vamos originada por uma emoção, uma forma de
pensar em inteligência como a ca- perceber o assunto, que originou uma rede
pacidade, que podemos desenvolver, de pensamentos, e estes originaram um sen-

de fazer as melhores es- timento que direcionaram o comportamen-


colhas diante um deter- to, e o resultado de se tornar um catequista
minado assunto, focado aconteceu.
em solução e resultados A Inteligência Emocional é muito impor-
positivos, do assunto em tante para proteger as pessoas das vulnera-
questão. bilidades emocionais e até mesmo de doen-
Quando entendemos in- ças físicas e emocionais.
teligência desta forma, fica fácil Que as emoções são muito importantes
entender que Inteligência Emo- para os seres humanos e que direcionam
cional é a habilidade em fazer as os comportamentos e os resultados que as
melhores escolhas, focado em pessoas têm em sua vida, acredito que seja
resultados positivos diante senso comum, mas o que são e como agem,
das próprias emoções e das a grande maioria das pessoas não foram trei-
emoções dos outros. nadas para saber, ou observar, e saber lidar
E também observarmos com elas.
que para desenvolver a in- É importante entender que as emoções
40

são um conjunto de respostas químicas e Trabalhar a Inteligência emocional é mui-


neurais que formam um padrão diferente to importante para alcançarmos os resulta-
do habitual no cérebro e no corpo humano. dos que desejamos e para ser um catequis-
Estas respostas são produzidas quando o ta que trabalhe positivamente seus alunos
cérebro, recebe um estímulo que quebra o e cumpra seu papel de verdadeiro cristão,
equilíbrio, desencadeando uma sensação. é muito importante desenvolver a sua. Pois
E devido às emoções serem inconscientes, por melhor que ela possa ser, nada é tão bom
nem sempre correspondem à verdade. que não possa ser melhorado, não é mesmo?

Algumas características de pes-


soas com uma inteligência emocio-
nal bem trabalhada

- Autoconsciência - Percebem as
próprias emoções;
- Autogerenciamento - Conse-
guem raciocinar e agir sob pressão;
- Consciência Social - Percebem
as emoções dos outros;
- Gestão de relacionamentos – confira o vídeo
Conseguem desenvolver relaciona-
mentos saudáveis.

Para você saber como está a sua


Inteligência Emocional, analise se
você é alguém que:

-  Conhece os seus pontos fortes e


fracos?
- Está aberto a mudanças e novas
ideias?
-  É otimista mesmo quando as coi-
sas vão mal?
- Compreende com facilidade os
pontos de vista da outra pessoa?
Saiba mais sobre - Sabe identificar as reais emoções
inteligência emocional dos outros?
41

Abaixo segue uma parte do livro “Jesus,


maior psicólogo que já existiu” do Augusto
Você poderá aumentar o seu Cury, que fala da grandeza deste Deus que
quociente de Inteligência se fez homem para nos ensinar como ser hu-
Emocional, colocando em prá- manos.
tica:

• Conhecer a si próprio;
• Entender o outro;
• Treinar a Comunicação não
verbal;
• Treinar a comunicação verbal;
• Aprender a ouvir;
• Ser assertivo;
• Praticar a misericórdia;

Como seres humanos quando estamos


em sintonia com nossa forma de pensar, fa-
lar e agir, temos uma congruência entre pen-
samentos e ações o que nos traz muita paz. confira no site
E a Inteligência Emocional nos ajuda mui-
to na construção desta congruência.
Assim como a Inteligência Emocional é
“Jesus sabia que quase tudo o que faze-
importante para ser um bom catequista, a
mos na vida baseia-se simplesmente na fé.
Inteligência Espiritual é imprescindível.
A maior parte das nossas decisões é toma-
Como vimos a inteligência é a habilida-
da inicialmente em razão do que sentimos
de em fazer as melhores escolhas diante de
ou acreditamos. Só depois racionalizamos
uma situação, por tanto Inteligência Espi-
para justificar nossas escolhas. Jesus usa-
ritual é a capacidade em fazer as melhores
va parábolas para nos obrigar a lidar com
diante da fé que professamos. Estude cada
as nossas crenças, e não com nossos racio-
vez sobre a Igreja e sobre os ensinamentos
cínios lógicos. A pessoa verdadeiramente
que Cristo nos deixou, leias as encíclicas do
sábia é sempre humilde. Jesus nunca es-
Papa e saiba de fontes fiéis e confiáveis a po-
creveu um livro, sempre falou por meio de
sição da Igreja sobre tudo o que acontece na
parábolas e conduziu as pessoas à verdade
sociedade.
através do seu exemplo vivo. Ele era con-
Busque aprender cada vez mais sobre Je-
fiante sem ser arrogante, acreditava em
sus e seus ensinamentos, pois assim sua con-
valores absolutos sem ser rígido e tinha
gruência estará sempre equilibrada. Só ama-
clareza sobre sua própria identidade sem
mos o que verdadeiramente conhecemos.
42

julgar os outros. Jesus abordava as pessoas embora fosse um deles. Jesus não os cen-
com técnicas psicológicas que estamos surava pelo conhecimento que possuíam,
apenas começando a entender. Em vez de mas pela arrogância que demonstravam.
mostrar-se superior, dando palestras eru- Para ele era claro que quanto mais apren-
ditas baseadas no seu conhecimento teo- demos, mais deveríamos perceber que
lógico, ele humildemente dizia o que que- existem muitas coisas que ainda não sa-
ria através de simples histórias. Falava de bemos. A arrogância é sinal de inseguran-
um modo que levava as pessoas a ouvirem, ça. Jesus entendia que as ideias humanas
porque sabia o que as fazia querer escutar. nunca expressam totalmente a realidade,
Jesus foi um poderoso comunicador por- e seu estilo de ensinar sempre levou este
que compreendia o que a psicologia está fato em consideração. Acredito que se de-
nos ensinando hoje: que baseamos a nos- sejarmos ser comunicadores mais eficazes
sa vida mais no que acreditamos do que no precisamos aprender o que Jesus sabia a
que sabemos. Suas críticas mais severas respeito da relação entre o conhecimento
eram dirigidas aos professores de religião, e a humildade. 1 Os grandes pensadores
43

são sempre humildes. Eles compreendem geralmente diz coisas muito proveitosas.
que a vida está mais ligada à fé do que ao Sempre o considerei um homem humilde,
conhecimento. POR QUE JESUS FALAVA no melhor sentido da palavra. Eu estava
POR MEIO DE PARÁBOLAS "E não lhes fa- sentado na cozinha da casa dele, com um
lava nada a não ser em parábolas." ar deprimido e sentindo-me sem esperan-
Marcos 4:34. Jesus compreendia a for- ças, quando meu irmão disse: "Sabe, Mark,
ma de pensar das pessoas. Ele foi um dos recentemente, quando eu estava fazendo
maiores professores da história porque uma pesquisa geológica, notei uma coisa
sabia que cada pessoa só pode compreen- interessante a respeito da maneira como
der as coisas a partir da sua perspectiva o mundo é feito. Nossa equipe escalou
pessoal. Por isso ele ensinava por meio a montanha mais alta da região e a vista
de parábolas. A parábola é uma história nos deixou emocionados. As experiências
que nos ajuda a compreender a realida- no alto das montanhas são magníficas.
de. Podemos extrair dela as verdades que No entanto, nessa altitude as árvores não
formos capazes de entender e aplicá-las conseguem sobreviver. No topo da mon-
em nossas vidas À medida que crescemos tanha nada cresce, mas quando olhamos
e evoluímos, podemos rever as parábolas para baixo notamos uma coisa interessan-
para descobrir novos significados que nos te: todo o crescimento está nos vales.”. A
guiem em nossos caminhos. As parábolas parábola de Tim me ensinou uma verdade
me ajudaram a entender a vida. Isso acon- essencial: o sofrimento nos causa dor, mas
teceu, sobretudo durante um dos períodos também nos faz crescer. Nunca esquecerei
mais difíceis, quando eu não estava con- o que Tim disse naquele dia. As palavras
seguindo compreender meu sofrimento. dele não eliminaram a minha dor, mas de
Foi uma época em que passei a ques- certa maneira a tornaram mais tolerável.
tionar tudo, pensando: como pode existir As parábolas não alteram os fatos da nossa
um Deus se estou sofrendo tanto? Eu es- vida - elas nos ajudam a olhá-los de outra
tava completamente desesperado e nada maneira. Era o que Jesus pretendia ao con-
era capaz de me ajudar. Nessa ocasião, fui tar as parábolas. PRINCÍPIO ESPIRITUAL:
à casa do meu irmão para me queixar da Só podemos entender as coisas a partir da
minha situação. Tim é geólogo e passa a nossa própria perspectiva. COMO CONHE-
maior parte do tempo ao ar livre. Ele não CEMOS A VERDADE "Eu sou o caminho, a
costuma falar muito, mas, quando o faz, verdade e a vida." João 14:6

Marilda Sene
confira no site
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Psicologia Multifocal e
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Inteligência Emocional
QUARESMA 44

práticas para

quem quer crescer em

santidade

T
odos são vocacionados à santida-
de. São Pedro escreve em sua carta:
“A exemplo da santidade daquele
que vos chamou, sede também vós santos,
em todas as vossas ações, pois está escri-
to: Sede santos, porque eu sou santo” (1Pd
1,15-16). A santificação, portanto, consiste
em cada cristão ser “um outro Cristo” como
diziam os santos Padres. Em outras pala-
vras, alguém se torna santo a medida que
se assemelha a Jesus.
E o que é ser santo? Ser santo não é ser
perfeito, alguém que nunca comete erros.
É preciso levar em conta o lado humano. O
caminho da santidade consiste em, dentre
algumas coisas, com a graça de Deus traba-
lhar as imperfeições, buscando a cada dia
ser melhor.
Assim como uma casa precisa de uma
reforma, o coração também necessita. Isso
leva tempo... e por que digo isso?
Porque adentramos na Quaresma. Época
a qual realizamos a preparação para a Pás-
coa. Um período de quarenta dias propícia
para o início – ou para a continuação - da
45

restauração que comentei. Tempo de re- da reconciliação com Deus leva a uma ver-
colhimento, para revisão concreta de vida dadeira «ressurreição espiritual», à resti-
a fim de ver se estamos verdadeiramente tuição da dignidade e dos bens próprios da
amando Deus sobre todas as coisas e aos vida dos filhos de Deus, o mais precioso dos
nossos irmãos assim como Jesus ensina. quais é a amizade do mesmo Deus” (CIC
(Cf. Mt 22,34-39). Isso será útil para a san- 1468).
tificação, para se ter os traços do Filho de Um coração purificado é atraído pro-
Deus. fundamente pelo amor de Deus através da
Então, assim como Cristo foi conduzido Sagrada Eucaristia. A hóstia consagrada
pelo Espírito Santo ao deserto (Mt 4,1), nós é o próprio Jesus. Ensina o Catecismo que
também devemos ser sensíveis ao apelo “receber a Eucaristia na comunhão traz
desse mesmo Espírito, que quer nos levar consigo, como fruto principal, a união ín-
ao deserto para nos falar ao coração (cf. Os tima com Cristo Jesus.” (CIC 1391). “A Co-
2,14). munhão afasta-nos do pecado” (CIC 1393).
No parágrafo 1438, o Catecismo da “Tal como o alimento corporal serve para
Igreja Católica nos ensina que os dias da restaurar as forças perdidas, assim também
Quaresma “são momentos fortes da práti- a Eucaristia fortifica a caridade que, na
ca penitencial da Igreja. Estes tempos são vida quotidiana, tende a enfraquecer-se; e
particularmente apropriados para os exer- esta caridade vivificada apaga os pecados
cícios espirituais, as liturgias penitenciais, veniais” (CIC 1394). “Pela mesma caridade
as peregrinações em sinal de penitência, as que acende em nós, a Eucaristia preser-
privações voluntárias como o jejum e a es- va-nos dos pecados mortais futuros” (CIC
mola, a partilha fraterna (obras caritativas 1395). Posto isto, o jovem que busca since-
e missionárias)”. ramente ir à Santa Missa mais vezes recebe
Partindo do exposto acima, será expla- em si mais graças para crescer nas virtudes.
nado um pouco sobre como podemos apro- Também, o rapaz e a moça que desejam
veitar de diversas maneiras este itinerário uma experiência profunda com o Senhor
quaresmal: também tem sede pela Palavra. A Igreja
Um jovem, uma jovem, que quer tri- «exorta com ardor e insistência todos os
lhar por esta via procura o Sacramento da fiéis [...] a que aprendam "a sublime ciência
Confissão. São Francisco de Sales ensina de Jesus Cristo" (Fl
em seu livro Filoteia: “nunca permitas, Fi- 3, 8) na leitura fre-
loteia, que o teu coração permaneça por quente da Sagrada
muito tempo contaminado do pecado, ten- Escritura”. Por-
do um remédio tão eficaz e simples contra que, como
a sua corrupção”. “Naqueles que recebem d i z
o sacramento da Penitência com coração
contrito e disposição religiosa, seguem-se-
-lhe «a paz e a tranquilidade da consciên-
cia, acompanhadas duma grande consola-
ção espiritual». Com efeito, o sacramento
46

São Jerônimo, "a ignorância das Escrituras que abram o acesso às suas insondáveis
é ignorância de Cristo". Há um trecho da Bí- riquezas”. Portanto, neste momento que
blia que diz muito: “Como é que pode um antecede a Páscoa, é muito pertinente a
jovem levar uma vida pura? Guardando tua contemplação dos mistérios dolorosos e,
palavra!” (Sl 119,9). E bem-aventurados os além disso, lembrar que na Igreja é feita a
puros de coração, porque verão Deus! (Mt Via Sacra recordando e meditando a Paixão
5,8) de Cristo e todo o seu sofrimento para a sal-
A Quaresma é tempo para a oração, pois vação da humanidade.
só vivendo uma vida de oração uma pessoa Algo muito oportuno também para
compreenderá a vontade de Deus para sua esses 40 dias – assim como tudo o que foi
vida, e assim, amar a sua vontade. Jesus dito, e também para o ano inteiro! – é o je-
por diversas vezes ensinou sobre isso: “É jum. Muitas vezes, os desequilíbrios vão
necessário orar sempre sem jamais deixar tomando espaço até que o coração seja
de fazê-lo” (Lc 18,1b); “Vigiai e orai para movido, predominantemente, por desejos
que não entreis em tentação” (Mt 26,41a); e impulsos mais instintivos. E praticando-a
“Pedi e se vos dará” (Mt 7,7). E São Paulo é recobrado o equilíbrio, a liberdade inte-
recomendou: “Orai sem cessar” (I Ts 5,17). rior. São Pedro Crisólogo afirma: “O jejum
Por meio da oração, por exemplo, o Espírito é o leme da vida humana e governa todo o
Santo suscitará atitudes que devem ser mu- navio do nosso corpo”. Neste caso, é acon-
dadas ou a serem tomadas. selhável procurar um padre ou uma pessoa
Seguindo ainda nesta linha, há o com conhecimento para indicar o tipo de
Santo Rosário ou Santo Terço. Diz São João jejum mais adequado.
Paulo II, em sua carta apostólica Rosarium As privações voluntárias também
Virginis Mariae, que “recitar o Rosário nada são válidas. O que seria isso? Basicamente,
mais é senão contemplar com Maria o ros- algo que implique em certo sacrifício. Pen-
to de Cristo”. Ainda inclusive diz: “por sua se: qual é o pecado que você precisa arran-
natureza, a recitação do Rosário requer car da sua vida? Se, por exemplo, a luxúria
um ritmo tranquilo e uma certa demora a lhe atrapalha, lute para a viver a castidade;
pensar, que favoreçam, naquele que ora, a se é o orgulho, procure a humildade; se é
meditação dos mistérios da vida do Senhor, a gula, corte ou reduza certas comidas ou
vistos através do Co- bebidas que são consumidas em excesso e
ração d'Aquela que lhe são bastante apetitosas (o que acha dos
mais de perto esteve doces e salgadinhos?). E assim por diante...
em contato com o Ademais, a Igreja nos orienta sobre
mesmo Se- a esmola e atitudes fraternas. É muito co-
n h o r, mum pensar que simplesmente se deve dar
e para os outros aquilo que sobra. A esmola
quaresmal é totalmente diferente. Aquilo
que é conquistado, pode ser ofertado a al-
guém. O que e como você poderia fazer isso
para os necessitados? Quanto aos atos de
47

fraternidade, que tal de aconselhar amigos pequenos papéis e dobre de maneira que
que estão trilhando por um caminho errado você possa sortear. Faça uma oração pedin-
ou que precisam de uma palavra de conso- do ao Espírito Santo que te ilumine e que
lo? O Papa Francisco nos incentiva muito à lhe auxilie a ser um jovem cheio de amor
cultura do encontro, ir até o outro. por Deus. Escolha um e pronto! Aproveite
Por fim, gostaria de partilhar uma ideia esta temporada para pedir sua intercessão
que eu e minha esposa aprendemos com a e conhecê-lo melhor, sabendo sobre os de-
Comunidade Católica Shalom e praticamos talhes de sua história.
em nossa casa com as pessoas que vem nos Espero ter lhe ajudado com as propostas,
visitar. Aproveitando que é início de ano que são muitas. Aliás, não se preocupe em
e preparação a grande festa do ano litúr- cumprir todas. Faça conforme houver pos-
gico, por que você não escolhe seu santo sibilidade. Comece aos poucos. O que im-
amigo e protetor para 2017? Como fazer porta é perseverar! Desejo do fundo do meu
isso? Por exemplo, escreva o nome dos san- coração que a sua vontade pela santidade
tos que você conhece - ou cresça cada vez mais. Que você faça uma
até pesquisou - em ótima preparação para a Páscoa, lembran-
do sempre de resplandecer em alegria, sen-
do luz do mundo e sal da terra em todos os
ambientes que esteja. O Senhor te chama e
diz: o teu lugar é o Céu!

Thiago Thomaz
Puccini

É formado em
administração de
empresas com
especialização
em Marketing.
Atualmente, é Mi-
nistro Extraordinário
da Sagrada Comunhão na Paróquia Santa
Teresinha, em São Paulo - Capital e tam-
bém gosta de colaborar com a produção
de artigos voltados ao catolicismo.
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CATEQUESE 49

Por uma

cada vez mais familiar

M
uito se fala sobre a falta do formação cristã das nossas crianças.
envolvimento dos pais na Na família, aprendemos os valores
vida de catequese de seus morais e cristãos que irão nortear nos-
filhos. E, infelizmente, esta pode ser a sa vida. Também é na família que tere-
realidade de muitas das nossas paró- mos, ou não, o primeiro contato com
quias. Deus e poderemos, então, formar, a
Mas, ao invés de olharmos com pes- partir da crença praticada, a nossa pri-
simismo para esta questão, devemos meira imagem de Deus.
lançar uma luz de esperança sobre Se em casa a criança tem um am-
como as famílias podem participar da biente de amor, partilha e diálogo com
educação cristã de seus filhos. Deus, é esta imagem, é este Deus amor
Tertuliano, primeiro escritor latino, que, desde cedo começa a crer.
já dizia que “O cristão não se nasce, tor- A Palavra de Deus é clara: “Pais, não
na-se”. Portanto, é, desde os primeiros exaspereis os vossos filhos. Pelo con-
convívios familiares que damos inicio à trário, criai-os na educação e na dou-
50

Familiar desde o ano de 2006. São, por-


tanto, 10 anos, enfrentando com dispo-
sição o desafio de acolher, acompanhar,
valorizar e ajudar a fazer a experiência
de fé não só dos catequizandos, mas de
toda a família.
As realidades adversas a esta forma-
ção cristã de toda a família são enca-
radas com paciência e sabedoria pelos
catequistas. Busca-se criar situações
que ajudem as crianças, adolescentes
e jovens em suas iniciações cristãs e
também motivem toda a família em di-
trina do Senhor” (Ef 6, 4). reção à vida da comunidade.
A Igreja ensina que os primeiros ca- Acreditamos que este processo de
tequistas são os pais. É no colo deles evangelização contribui eficazmen-
que toda criança deve aprender a co- te para a transformação do ambiente
nhecer a Deus, aprender a rezar e dar familiar, pois, enquanto os filhos vi-
os primeiros passos na fé; conhecer os venciam inúmeras atividades catequé-
Mandamentos e os Sacramentos. ticas, faz com que boa parte dos pais
Os pais devem ser o modelo de fé de passe a perceber e crescer em si o zelo
seus filhos. Se os pais rezam, os filhos pelo Reino, dispondo-se a assumir tare-
aprendem a rezar; se os pais vivem con- fas pastorais na Comunidade.
forme a lei de Deus, os filhos também Durante cada ano de catequese são
vão viver assim. realizadas atividades extra encontros
Não é raro encontrarmos também que aproximam a família da vida de
uma realidade contrária: pais que não formação de seus filhos e mais, apro-
praticam a religião, que não colaboram ximam pais e filhos, pais e catequistas.
na educação cristã de seus filhos, mas,
mesmo assim, querem que seus filhos
façam a catequese em busca somente
dos sacramentos.
À pastoral da catequese cabe enfren-
tar estas realidades e, com criatividade
e muito ardor missionário, evangelizar
não somente os catequizandos, mas fa-
zer do período de catequese um tempo
privilegiado de formação cristã intensi-
va para toda a família.
A paróquia Santa Teresinha, na ci-
dade de Sumaré, adotou a Catequese
51

Atividades como as celebrações com


os pais, terço e chá da tarde das mães,
tarde de pipas com os pais, gincana bí-
blica, retiros e acampamentos, partici-
pação da pastoral nas solenidades da
Igreja e festas da paróquia, tardes de
lazer, passeios e o Festival da Cateque-
se - apresentações que envolvem tea-
tro, música e dança e encerra cada ano
de formação, favorecem a interação e
o convívio entre catequistas, pais e co-
munidade.
A atuação conjunta das pastorais da ir ao encontro das famílias, se elas não
Catequese e Familiar também amplia vem até nós por espontânea vontade.
as possibilidades de acolhimento das Que a cada dia mais, pais e catequis-
famílias na vida comunitária. A oração tas assumam suas “almas missioná-
do terço da família nas casas e as edi- rias”, ou seja, desejem fervorosamente
ções mensais da Pastoral Familiar Kids, evangelizar nossas crianças e jovens
que são encontros com teatro de evan- diante de qualquer situação e trans-
gelização, brincadeiras e partilhas ao formem nossos lares em verdadeiras
ar livre muito contribuem neste proces- “igrejas domésticas”. Afinal, família é
so de estreitar os laços de fraternidade lugar de oração!
entre comunidade e família.
O objetivo é não esmorecer diante
das dificuldades. Como Igreja missio- Adriana Verri Maciel
nária, sempre darmos o primeiro passo,
Catequista
Paróquia Santa
Teresinha
Sumaré/SP

www.stateresinha.org/


facebook.com/Stateresinha.org

facebook.com/PastoralFamiliar
SantaTeresinha
PÁSCOA 52

“Com a sua morte destruiu a morte e


com sua Ressurreição deu-nos a vida.”

A
Páscoa já era celebrada solene-
mente pelo povo judeu desde Moi-
sés, para comemorar a passagem
do Mar Vermelho, onde sucumbiram as for-
ças do Faraó que perseguia o povo de Deus.
Foi a passagem da escravidão do Egito para
a liberdade da Terra Prometida por Deus a
Abraão. Por isso os judeus a celebravam, e
ainda celebram solenemente.
Cristo celebrava a Páscoa como bom ju-
deu, fiel às Sagradas Escrituras, e celebrou-
-a juntamente com os seus Apóstolos na
Última Ceia, onde nos deixou o memorial da
sua Paixão: a Eucaristia.
A Páscoa cristã, que tem as sua imagem
na dos judeus, é a celebração da Ressurrei-
ção de Cristo, a vitória da Vida sobre a mor-
te, o triunfo da graça sobre o pecado, da luz
sobre as trevas. Cristo desceu à mansão da
morte para destruir a morte. “Com a sua
morte destruiu a morte e com sua Ressurrei-
ção deu-nos a vida.”
Esta é a alegria e a esperança cristã. O
53

verdadeiro cristão jamais se dá por vencido A verdade da Ressurreição de Cristo é que


porque sabe que já é vitorioso Naquele que explica a força dos Apóstolos a saírem pelo
venceu a morte. mundo pregando Jesus vivo e presente entre
Cada criança ao ser batizada participa eles. Nesta certeza eles enfrentaram o impé-
desta Morte e da mesma Ressurreição de rio romano e o tornaram cristão. Nesta certe-
Cristo; é regenerada; e vive uma vida nova na za eles enfrentaram os dentes dos leões sob
liberdade dos filhos de Deus. Nero, Dioclesiano, Vespasiano, Domiciano
Jesus, sendo Deus e Homem ao mesmo e outros imperadores que os massacraram.
tempo, trazendo em si de modo harmonioso Foi na força da Ressurreição de Jesus que a
as duas naturezas, pôde morrer como ho- Igreja sempre venceu todos os seus inimi-
mem e oferecer á Justiça divina, como Deus, gos: as heresias, o comunismo, o nazismo,
um sacrifício de valor Infinito, e assim pôde o ateísmo, o racionalismo, as perseguições
conquistar para todos os homens de todos os terríveis da Revolução Francesa e as do sé-
lugares e de todos os tempos, o resgate do culo XX na Espanha e no México.
pecado e da morte. Acreditar que a Igreja chegou até nós com
Após a Ressurreição Jesus instituiu no 2000 anos de vitórias, sem acreditar na Res-
mesmo domingo desta, o Sacramento do surreição de Cristo, seria acreditar num mi-
perdão, a Confissão; na verdade Ele estava lagre maior do que a própria Ressurreição.
ansioso para distribuir aos homens o perdão Cristo Ressuscitou e vive entre nós. Ele
que Ele haveria de conquistar com sua mor- disse aos Apóstolos antes da Ascensão ao
te e Ressurreição; por isso no mesmo dia em Céu: “Eis que estou convosco todos os dias,
que ressurgiu dos mortos Ele enviou os seus até o fim do mundo”.
Apóstolos a perdoar aos pecados em seu Coragem meu irmão, Jesus venceu a mor-
Nome. “Aqueles a quem vocês perdoarem os te, venceu a dor, venceu o pecado … não tenha
pecados, os pecados serão perdoados” (João medo, porque Ele caminha conosco.
20,22). Feliz Páscoa!
Cristo ressuscitou e vive entre nós; isto é um fato
histórico que os Evangelhos narram. São Paulo afirma Por Prof. Felipe Aquino
na Carta aos Coríntios que “Ele apareceu para mais de
quinhentos, dos quais muitos ainda são vivos”. Doutor em Engenharia
Mecânica pela UNESP e
mestre na mesma área
pela UNIFEI. Foi diretor
geral da FAENQUIL (atual
EEL-USP) durante 20 anos e
atualmente é Professor de História da Igreja
do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Dio-
cese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro
da Ordem de São Gregório Magno, título con-
Assista a Mensagem cedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012.
de Páscoa
DINÂMICA 54
55

O
nome Quaresma vem da contração
da palavra latina quadragésima, re-
ferente ao quarentésimo dia que en-
cerrava esse período. O número quarenta tem
um simbolismo próprio na tradição bíblica e,
resumidamente, evoca um grande período de
tempo. A duração de quarenta dias rememora
os “quarenta anos” de peregrinação dos he-
breus no deserto após sua saída do Egito. A
palavra evoca também os “quarenta dias” de Materiais:
jejum passados no deserto por Jesus, entre o
seu batismo e o começo de sua vida pública. E • Filipetas de papel
a métrica simbólica do quarenta marca o ca-
lendário católico, seus dias santos e de tabela
os feriados do ano civil. Os domingos não fa-
zem parte da Quaresma e não são contados.
Na prática, a Quaresma não dura quarenta
dias e estende-se sobre quarenta e seis. • Canetas
(Fonte: Guia de Curiosidades Católicas,
VOZES)

Objetivos
Levantamento de expectativas individuais, • Imagem de Jesus crucificado
compromisso consigo mesmo e com o próxi-
mo, sensibilização e reflexão sobre a proposta
do tempo litúrgico.

• Pequena caixa decorada

Desenvolvimento
Distribua um pedaço de papel com o nome
de todos os catequizandos, inclusive do(s)
56

catequista(s). Cada um deve escrever no seu ção, ele nomeou cada um de nós para ser anjo
respectivo papel, alguma intenção especial na vida de alguém durante esses dias. Todos
para essa Quaresma. Ex: saúde ou recupera- devem rezar secretamente pela pessoa que
ção de um ente querido, mudança de atitude/ sorteou, pedindo a Deus, com muita fé, que
comportamento, união na família, ação soli- atenda a intenção especial do seu amigo. É
dária, etc. importante orientar as crianças para manter
sigilo e não contar para ninguém o nome do
Prepare uma imagem de Jesus crucificado amigo e o pedido dele. Somente você e Jesus
e coloque uma caixinha próximo da imagem. podem saber este segredo.
Pedir para todos dobrarem o papel e depo-
sitarem seus pedidos aos pés de Jesus. Em Ao final da Quaresma, o catequista prepa-
seguida, o catequista passa a cai- ra um momento especial para todos revela-
xinha para cada um sortear rem por quem eles rezaram. Neste momento,
um amigo, lembrando pode-se fazer uma reflexão sobre a importân-
que ninguém pode fi- cia de rezarmos uns pelos outros. Pedir para
car com seu próprio cada catequizando comentar um pouco sobre
nome. a sua experiência, perguntar se alguém teve
seu pedido atendido e se deseja partilhar com
Após o sorteio, todos... Enfim, é o momento de celebrar e for-
explique para os talecer ainda mais a união do grupo. Como
catequizandos que sugestão, pedir para que cada catequizando
nós recebemos a im- traga um presente, algo ele mesmo tenha
portante missão de confeccionado/preparado (uma planta, uma
ajudar Jesus nesta comida, um artesanato, uma poesia, etc.)
Quaresma. Como Je- para oferecer ao seu amigo orante.
sus recebe muitos pe-
didos de ora-
Rogério Bellini

Formado em Psi-
cologia (UNIP) e Ad-
ministração de Em-
presas (UNISO), possui
Especialização em Jogos
Cooperativos (UNIMONTE) e MBA
em Recursos Humanos com certificação in-
ternacional em Inovação pela UC Berkeley
School of Information. Escritor, Compositor
e Contador de Histórias. É também Formador
de Catequistas e Coordenador da Catequese
Infantil na Arquidiocese de Sorocaba/SP.
O CATECISMO RESPONDE 57
58

Como foi que Jesus nos redimiu?

Jesus redimiu-nos cumprindo a Vontade de Deus Pai até morrer na Cruz pelos nossos
pecados, dando assim a sua vida para a nossa salvação, e ressuscitando gloriosamente.

Quando foi que Jesus ressuscitou?

Jesus ressuscitou do sepulcro no terceiro dia depois de ter morrido.

Os apóstolos viram Jesus ressuscitado?

Sim, os Apóstolos viram Jesus ressuscitado. Primeiro apareceu a São Pedro e depois
a todos os Apóstolos, em várias ocasiões, numa delas quando estavam juntas mais de
quinhentas pessoas. Viram as suas chagas gloriosas e até chegaram a comer com Ele.

Quanto tempo Jesus ressuscitado permaneceu


na Terra?

Jesus ressuscitado permaneceu na Terra quarenta dias, para poder estar com os
Apóstolos, que eram os alicerces da Igreja Católica fundada por Ele.

Por que a data da Páscoa não é fixa?

A primeira data que é marcada no Calendário Civil é a data da Páscoa, isto varia
a cada ano por causa do ciclo da Lua; a Páscoa é no primeiro domingo depois da
primeira Lua Cheia, após 21 de março. Em função dessa data são marcadas todas
as festas que têm data variável. A quarta-feira de cinzas é marcada 40 dias antes
do domingo de Ramos, e o Carnaval são os dias antes.
SUGESTÕES DE LEITURA 59

Catequese na primeira infância:


Antigo testamento e Novo Testamento
De Rachel Lemos Abdalla, Stella Marcondes Martins e colaboração de Carmen Augusta
Frare Gonçalves, Daniela Frattini Colla e Maria Beatriz de Miranda Ferreira

Editora Paulinas

Essa é uma coleção para catequizar crianças de 3 a 7 anos. A coleção “Pequeninos do Se-
nhor” abrange dois livros para catequistas e duas pastas para catequizandos, recheadas de
fichas de atividades fundamentadas nos livros.
60

Catecismo Breve
De Enrique Pèlach

Editora Quadrante

Catequese Infantil
De Alaice Mariotto Kater

Editora Ave Maria

Elementos de didática na
catequese
De Solange Maria do Carmo

Editora Paulus
SUGESTÕES DE APP 61

NOVO
APLICATIVO

C
onheça o novo aplicativo Sou
Catequista! Agora, além de baixar as
revistas no seu smartphone ou tablet,
você também pode ler os artigos, dinâmicas
e acessar os temas do mês em qualquer
lugar e na palma de sua mão. Além disso,
o aplicativo traz a liturgia diária, diversas
orações, a bíblia online e a área restrita aos
sócios do Clube do Livro. E mais: conheça
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para a interação entre os usuários.

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MENSAGEM DO PAPA 64

Esperança Cristã
"É preciso amar como Deus ama, sem hipocrisia"

N
o mês de março, após o seu retiro quaresmal, o papa Francisco retomou o ciclo de
catequeses sobre a esperança cristã e falou sobre a alegria de amar, pedindo para
que os fiéis amem como Deus: sem hipocrisia, diante de 12 mil fiéis reunidos na
Praça São Pedro.
A reflexão foi inspirada em um trecho da Carta aos Romanos que fala sobre a alegria de
amar, o grande mandamento deixado por Jesus: amar a Deus e ao próximo como a si mesmo.
“Somos chamados ao amor, à caridade. Esta é a nossa vocação mais sublime, a nossa vo-
cação por excelência”.

Assista a catequese
na integra
65
CATECINE

C
omplexamente imersiva, esta nova certeza daquilo que esperamos e a prova das
produção dirigida pelo grande Mar- coisas que não vemos”.
tin Scorsese e baseada no livro do Um Scorsese muito mais contido e con-
escritor japonês Shûsaku Endô, é um mer- templativo, mas não menos pungente em
gulho pelas tortuosas águas da fé, seus de- sua proposta, por vezes visceralmente belo,
sígnios e consequências. Fé. Crer em algo por vezes dolorosamente revoltante, con-
ou alguém, ainda que não haja nenhum tipo tudo, sempre inexoravelmente profundo.
de evidência que comprove a veracidade da Uma produção que discute as extensões da
proposição em causa. No contexto religio- fé e suas implacáveis consequências dentro
so, a fé é uma virtude daqueles que aceitam do indivíduo. Neste caso, dois missionários
como verdade absoluta os princípios difun- católicos portugueses, Padre Sebastião Ro-
didos por sua religião. Ter fé em Deus é acre- drigues (Andrew Garfield) e Padre Francis-
ditar na sua existência e na sua onisciência. co Garupe (Adam Driver, o Kylo Ren de Star
A fé cristã implica crer na Bíblia Sagrada, na Wars: O Despertar da Força), que viajam para
palavra de Deus, e em todos os ensinamen- o Japão no século 17, à procura de seu men-
tos pregados por Jesus Cristo, o enviado de tor, o Padre Cristóvão Ferreira (Liam Nee-
Deus. Lê-se em Hebreus 11:1 que “a fé é a son), que desapareceu em terras nipônicas
66

enquanto tentava pregar o cristianismo no back Mountain, O Lobo de Wall Street), que
país, numa época em que tal vertente era imprime uma textura clássica e dramática à
proibida e punível com a morte. produção. Aqui, ao contrário de todo o res-
Silêncio é um trabalho monumental, e tante de sua carreira como diretor, Scorsese
também um trabalho extremamente doloro- acertadamente abdica do uso de trilha-so-
so. O filme coloca o espectador à bordo de nora, apoiando seu filme nos sons, e princi-
uma verdadeira viagem ao inferno, sem uma palmente, nos silêncios.
promessa de libertação. Além de cercar o Silêncio que, metaforicamente, funciona
público de questões e propostas, sensações como o fiel da balança de seu protagonista,
e experiências. A profundidade absurda do que tem sua fé testada incessantemente ao
texto de Endô ganha sua perfeita tradução longo de toda a produção. Vista como blas-
na mão do monstro Scorsese, que vinha tra- fêmia e pecaminosamente mortal pelos ja-
balhando na produção há décadas, desde poneses, a fé e a doutrina cristã são massa-
que ele leu pela primeira vez o livro no qual cradas no filme. Scorsese, católico confesso,
o filme é baseado, publicado em 1966. O não poupa sua fé de blasfêmias e opressão
compassado e rico roteiro de Jay Cocks (de violenta, seja ela física ou principalmente,
outros trabalhos de Scorsese, como Gan- espiritual. Os conflitos internos do persona-
gues de Nova York e A Época da Inocência), gem interpretado por Garfield, logo se tor-
em parceria com o próprio diretor, toma seu nam motor dos conflitos de todos no filme,
tempo, e escava fundo por dentro das tortu- o que garante um caráter reflexivo e religio-
radas almas de seus protagonistas, especial- samente perigoso para a produção, e rende
mente o Padre vivido por Garfield, mais uma algumas sequências primorosas ao filme. A
vez impecável. cena da crucificação em meio ao mar revol-
A produção é visualmente mesmerizan- to do Japão, por exemplo, é uma das cenas
te. As locações são de tirar o fôlego em sua mais belas e dramaticamente demolidoras
aparência estéril e estranhamente bela. O do cinema nos últimos anos.
design de produção à cargo do colaborador A mão sempre decisiva de Scorsese refle-
habitual do diretor, Dante Ferretti, é outro te-se também em seu elenco, todo irrepreen-
show à parte, mas nada no mesmo nível de
impecabilidade do que a fotografia à cargo
do mexicano Rodrigo Prieto (Babel, Broke-
67

sível. Apesar do pouco tempo em cena, o fan- valiosos esforços de Scorsese no âmbito do
tástico Liam Nesson e o feioso Adam Driver cinema diretamente teológico, com dramas
estão muito bem, assim como o japonês Ta- como Kundun (1997) e principalmente, A
danobu Asano (47 Ronins, Ichi: O Assassino), Última Tentação de Cristo (The Last Tempta-
no papel de um cínico intérprete, que serve tion of Christ, 1988). É exatamente no limbo
de tradutor para Rodrigues, quando este é entre estes dois gêneros tão distintos, entre
capturado pelos homens do Inquisidor ja- estes “silêncios” que permeiam seu cinema,
ponês responsável pela perseguição aos por assim dizer, que Scorsese captura e ex-
cristãos que vivem escondidos no país. Mas pressa-se tão bem em torno da concepção do
é mesmo Garfield, em um papel cujo per- caráter humano, inclusive o espiritual. Para
sonagem vive conflitos desoladores, quem um católico não tão praticante, o cineasta
comanda a ação, e simplesmente dá a alma com certeza enxerga o mundo em todos seus
que o filme precisa para funcionar. imponderáveis e seus testes espirituais. Tal-
Mas é na construção descomunal de seu vez, em uma realidade alternativa, Scorsese
drama, que Scorsese mais uma vez conquis- tenha se tornado um padre. E eu aposto que
ta público e crítica. Sempre mantendo o es- ele seria um dos bons.
pectador longe de sua zona de conforto, o
filme incomoda, machuca, às vezes à distân-
cia, às vezes, mantendo seus personagens
perto demais, quase que como mostrando o
ponto de vista do homem, e o ponto de vista
de Deus, para todas as atrocidades cometi-
das e testemunhadas por ambas as partes,
tudo, em nome da fé (ou de sua renúncia),
mas nunca de maneira que a negligencie ou ASSISTA O TRAILER DO
a desrespeite. FILME "SILÊNCIO"
Mesmo sendo um cineasta cuja verve re-
side no cinema “criminal” e marginal nor-
te-americano, onde títulos como Os Bons
Companheiros (Goodfellas, 1990), Taxi Dri-
ver (1976) e Os Infiltrados (The Departed,
2006) saltam à mente, é bom lembrar dos
GOSTOU?
A próxima edição chega em
breve e queremos que nos
ajude a torná-la ainda melhor.
Envie um e-mail para
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elogios, críticas, ou mesmo
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