Amilcar Cabral

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Amílcar Cabral

Político da Guiné-Bissau
Amílcar Cabral

Representação em selo da Alemanha Oriental


(DDR)
Nome Amílcar Cabral
nativo
Nascimento 12 de setembro de 1924
Bafatá
Morte 20 de janeiro de 1973 (48 anos)
Conacri
Cidadania Primeira República Portuguesa,
Estado Novo
Alma mater Universidade Técnica de Lisboa
Ocupação político, engenheiro agrônomo,
engenheiro
[edite no Wikidata]

Amílcar Lopes Cabral (Bafatá, Guiné


Portuguesa, actual Guiné-Bissau, 12 de
setembro de 1924 — Conacri, 20 de
janeiro de 1973) foi um político,
agrônomo e teórico marxista da Guiné-
Bissau e de Cabo Verde.[1]

Biografia
Filho de Juvenal Lopes Cabral (cabo-
verdiano[1]), professor, e de Iva Pinhel
Évora (guineense de ascêndencia
caboverdiana[1]) nasceu em Bafatá,
Guiné-Bissau, onde o seu pai foi
colocado à época, como professor[2].

Ao aos oito anos de idade, sua família


mudou-se para Cabo Verde,
estabelecendo-se em Santa Catarina
(ilha de Santiago), que passou a ser a
cidade de sua infância, onde completou
o ensino primário. De seguida mudou
com a mãe os irmãos para Mindelo, São
Vicente, onde veio a terminar o curso
liceal em 1943, no Liceu Gil Eanes. Como
apontado por Patrícia Villen,[3] sua
adolescência remete a um período de
intensa seca e fome na ilha, nos ano 40,
por exemplo, essa crise provocou a
morte de 50 mil pessoas, além da
imigração em massa de cabo-verdianos.

No ano seguinte, mudou-se para a


cidade de Praia, na Ilha de Santiago, e
começou a trabalhar na Imprensa
Nacional, mas só por um ano pois, tendo
conseguido uma bolsa de estudos, no
ano de 1945 ingressou no Instituto
Superior de Agronomia,[1] em Lisboa.
Único estudante negro de sua turma,
Cabral logo se envolve em reuniões de
grupos antifascistas e, ao lado de outros
alunos vindos da África, tais como Mário
de Andrade, Agostinho Neto e Marcelino
dos Santos que conheceu na Casa dos
Estudantes do Império "conhece vetores
culturais da reafricanização dos espíritos
do movimento da negritude dirigido por
Léopold Sédar Senghor".[3] Após graduar-
se em 1950, trabalhou por dois anos na
Estação Agronómica de Santarém.

Contratado pelo Ministério do Ultramar


como adjunto dos Serviços Agrícolas e
Florestais da Guiné, regressou a Bissau
em 1952. Iniciou seu trabalho na granja
experimental de Pessube percorrendo
grande parte do país, de porta em porta,
durante o Recenseamento Agrícola de
1953 adquirindo um conhecimento
profundo da realidade social vigente.
Suas atividades políticas, como a criação
da primeira a Associação Esportiva,
Recreativa e Cultural da Guiné, aberta
tanto aos "assimilados" quanto aos
indígenas, reservam-lhe a antipatia do
Governador da colônia, Melo e Alvim, que
o obriga a emigrar para Angola. Nesse
país, une-se ao MPLA.[1]

EM 1955 Cabral participa da Conferência


de Bandung e toma conhecimento da
questão afro-asiática. Em 1959
juntamente com Aristides Pereira, seu
irmão Luís Cabral, Fernando Fortes, Júlio
de Almeida e Elisée Turpin, funda o
partido clandestino Partido Africano para
a Independência da Guiné e Cabo Verde
(PAIGC). Em 3 de agosto de 1959, o
partido teve participação na greve de
trabalhadores do porto de Pidjiguiti,
fortemente reprimida pelo governo
colonial, resultando na morte de 50
manifestantes e no ferimento de outras
centenas. Quatro anos mais tarde, o
PAIGC sai da clandestinidade ao
estabelecer uma delegação na cidade de
Conacri, capital da República de Guiné-
Cronacri. Em 23 de janeiro de 1963 tem
início a luta armada contra a metrópole
colonialista, com o ataque ao quartel de
Tite, no sul da Guiné-Bissau, a partir de
bases na Guiné-Conacri.
Centro Cultural Amílcar Cabral, em João Galego, em
Cabo Verde

Em 1970, Amílcar Cabral, fazendo-se


acompanhar de Agostinho Neto e
Marcelino dos Santos, é recebido pelo
Papa Paulo VI[4] em audiência privada.
Em 21 de novembro do mesmo ano, o
Governador português da Guiné-Bissau
determina o início da Operação Mar
Verde, com a finalidade de capturar ou
mesmo eliminar os líderes do PAIGC,
então aquartelados em Conacri. A
operação não teve sucesso.
Em 20 de janeiro de 1973, Amílcar Cabral
é assassinado em Conacri, por dois
membros de seu próprio partido. Amílcar
Cabral profetizara seu fim, ao afirmar:
"Se alguém me há de fazer mal, é quem
está aqui entre nós. Ninguém mais pode
estragar o PAIGC, só nós próprios."
Aristides Pereira substituiu-o na chefia
do PAIGC. Após a morte de Cabral, a luta
armada se intensifica e a independência
de Guiné-Bissau é proclamada,
unilateralmente, em 24 de Setembro de
1973. Seu meio-irmão, Luís de Almeida
Cabral,[5] é nomeado o primeiro
presidente do país.

Frases
"Perguntar-nos-ão se o colonialismo
português não teve uma ação positiva na
África. A justiça é sempre relativa. Para
os africanos, que durante cinco séculos
se opuseram à dominação colonial
portuguesa, o colonialismo português é
o inferno; e onde reina o mal, não há
lugar para o bem". Amílcar Cabral. A
arma da teoria.[3]

"O nosso povo africano sabe muito bem


que a serpente pode mudar de pele, mas
é sempre uma serpente". Amílcar Cabral.
Um povo que se liberta.[3]

"Como sabe, nós temos uma longa


caminhada juntamente com o povo
português. Não foi decidido por nós, não
foi decidido pelo povo português, foi
decidido pelas circunstâncias históricas
do tempo da Europa das Descobertas e
pela classe de "antanho", como se diz em
português antigo; mas é verdade, é isso!
Há essa realidade concreta! Eu estou
aqui falando português, como qualquer
outro português, e infelizmente melhor
do que centenas de milhares de
portugueses que o Estado português
tem deixado na ignorância e na miséria.
[§] Nós marchamos juntos e, além disso,
no nosso povo, seja em Cabo Verde seja
na Guiné, existe toda uma ligação de
sangue, não só de história mas também
de sangue, e fundamentalmente de
cultura, como o povo de Portugal. [...]
Essa nossa cultura também está
influenciada pela cultura portuguesa e
nós estamos prontos a aceitar todo o
aspecto positivo da cultura dos outros."[6]

"Nós, em princípio, o nosso problema


não é o de nos desligarmos do povo
português. Se porventura em Portugal
houvesse um regime que estivesse
disposto a construir não só o futuro e o
bem-estar do povo de Portugal mas
também o nosso, mas em pé de absoluta
igualdade, quer dizer que o Presidente da
República pudesse ser de Cabo Verde, da
Guiné, como de Portugal, etc., que todas
as funções estatais, administrativas, etc.
fossem igualmente possíveis para toda a
gente, nós não veríamos nenhuma
necessidade de estar a fazer a luta pela
independência, porque todos já seriam
independentes, num quadro humano
muito mais largo e talvez muito mais
eficaz do ponto de vista da História. [§]
Mas infelizmente, como sabem, a coisa
não é essa; o colonialismo português
explorou o nosso povo da maneira mais
bárbara e mais criminosa e quando
reclamamos um direito de ser gente, nós
mesmos, de sermos homens, parte da
humanidade."

Mas nós nunca confundimos o


"colonialismo português" com o "povo de
Portugal", e temos feito tudo, na medida
das nossas possibilidades, para
preservar, apesar dos crimes cometidos
pelos colonialistas portugueses, as
possibilidades de uma cooperação
eficaz com o povo de Portugal, numa
base de independência, de igualdade de
direitos e de reciprocidade de vantagens
seja para o progresso da nossa terra,
seja para o progresso do povo
português. [§] O povo português está
submetido há cerca de meio século a um
regime que, pelas suas características,
não pode ser deixado de ser chamado
fascista. [§] A nossa luta é contra o
colonialismo português. Nós somos
povos africanos, ou um povo africano,
lutando contra o colonialismo português,
contra a dominação colonial portuguesa,
mas não deixamos de ver a ligação que
existe ente a luta antifascista e a luta
anticolonialista.

Nós estamos absolutamente


convencidos de que, se em Portugal se
instalasse amanhã um governo que não
fosse fascista, mas fosse democrático,
progressista, reconhecedor dos direitos
dos povos à autodeterminação e à
independência, a nossa luta não teria
razão de ser. Aí está a ligação íntima que
pode existir entre a nossa luta e a luta
antifascista em Portugal; mas também,
vice-versa, estamos absolutamente
convencidos de que, na medida em que
os povos das colónias portuguesas
avancem com a sua luta e se libertem
totalmente de dominação colonial
portuguesa, estarão contribuindo de uma
maneira muito eficaz para a liquidação
do regime fascista em Portugal. [...] Nós
queremos entretanto exprimir
claramente o seguinte: nós não
confundimos a nossa luta, na nossa
terra, com a luta do povo português;
estão ligadas, mas nós, no interesse do
nosso povo, combatemos contra o
colonialismo português. Liquidar o
fascismo em Portugal, se ele não se
liquidar pela liquidação do colonialismo,
isso é função dos próprios portugueses
patriotas, que cada dia estão mais
conscientes da necessidade de
desenvolver a sua luta e de servir o
melhor possível o seu povo." [7]

Ver também
Lista de pessoas que participaram na
guerra colonial portuguesa

Referências

1. Enciclopédia Larousse (Vol.4) pág.


1299 ISBN 978-972-759-924-0
2. Benzinho, Joana; Rosa, Marta (2018).
Guia Turístico - À Descoberta da Guiné-
Bissau. Coimbra: Afectos com Letras, UE.
16 páginas
3. Villen, Patrícia (2013). Amílcar Cabral e
a Crítica ao Colonialismo 1 ed. São Paulo:
Expressão Popular
4. «Fundação Mário Soares» . Fundacao-
mario-soares.pt
5. «Centro de Estudos Africanos da
Universidade do Porto»
6. Tomás Medeiros (2012). A Verdadeira
Morte de Amílcar Cabral. [S.l.: s.n.]
ISBN 978-989-683-023-3 Verifique
|isbn= (ajuda)
7. Tomás Medeiros (2012). A verdadeira
Morte de Amílcar Cabral, pp. 96-101. [S.l.:
s.n.] ISBN 978-989-683-023-3 Verifique
|isbn= (ajuda)

Ligações externas
Amilcar Cabral - Site não-Oficial
Amílcar Cabral - 30 anos da sua morte,
artigo de «O Militante» - N.º 262
Janeiro/Fevereiro de 2003
Fundação Mário Soares (Alocução de
Amilcar Cabral, aos microfones de "A
Voz da Liberdade" em 2 de Julho de
1966)
CIDAC - Centro de Informação e
Documentação Amílcar Cabral
Cultura, resistência e transformação
na Teoria de Amílcar Cabral - Patrícia
Villen, em Capoeira, Revista de
Humanidades e Letras, nº 1, ano 1.
Amílcar Cabral e a libertação coletiva
(DW África)
Livros de Amilcar Cabral
Disponíveis On-Line
Alguns Princípios do Partido, Amilcar
Cabral
Amilcar Cabral, Revolution in Guinea:
An African People’s Struggle (London:
Stage 1, 1967), pp. 57.

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