Apostila de Pastoral Urbana e Missão
Apostila de Pastoral Urbana e Missão
Apostila de Pastoral Urbana e Missão
e Missão
03
04 Pastoral Urbana e Missões
Pastoral Urbana e Missão
Unidade - 1
Revisão dos Conceitos Pastorais I: Pastoral
Eclesiocêntrica x Pastoral Eclesial – Parte A
Introdução
Objetivos
05
Revisão dos Conceitos Pastorais I: Pastoral
Eclesiocêntrica x Pastoral Eclesial
Servos livres de uma pastoral eclesiocêntrica para uma pastoral eclesial
07
Tal tensão se dá entre o sentido amplo da teologia pastoral como
sendo teologia prática e como ciência que trata das ações da Igreja. Este autor
define a teologia pastoral como “a reflexão teológica sobre o conjunto de
atividades com as quais a Igreja se realiza, com a finalidade de definir como
essas atividades deveriam ser desenvolvidas, levando em consideração a
natureza da Igreja, sua situação atual e a do mundo!” (p.11).
A história da teologia pastoral – no catolicismo, segundo
Szentmártoni foi construída em quatro etapas. A primeira, tida mais
em sentido prático e não teológico, data de 1777 com a reforma do
ensino universitário feito pela imperatriz Maria Teresa. Naquele
momento era entendida como o ensino da profissão pastoral através
dos manuais sobre os deveres e atividades de pastores. Era muito ética
e pouco referencial às Escrituras Sagradas, sendo entretanto, prática
tendo como base os costumes e as tradições. A segunda etapa foi
definida como “orientação bíblico-teológica” na qual torna-se uma
ciência sobre a qual a Igreja se construiu. O “cunho eclesiológico”,
diz que o objeto da teologia pastoral não é a figura pastoral, mas a
Igreja que edifica o cristianismo. Já, na “reforma querigmática”, o reino
de Deus é critério para a pregação que é tarefa fundamental da ação
pastoral. Embora não esteja esgotada a discussão sobre a natureza da
teologia pastoral, Szentmártoni, afirma que o conteúdo e os temas
sobre o assunto apresentam várias concepções e novas perspectivas.
Em Mateus 28.8-20 encontra-se o tríplice mandato que os apóstolos
receberam de Cristo: a pastoral profética que se dá através da “ação
da igreja no exercício de mediação do anúncio da palavra em suas
diversas formas”; a pastoral litúrgica que manifesta na “ação eclesial
no exercício do culto da nova aliança, inteiramente pascal”; na pastoral
caritativa que é a “ação eclesial no exercício completo da caridade,
que compreende tanto a o aspecto da moral evangélica como da
organização de um governo na vida do Corpo de Cristo” (p.16).
Para Floristan Samanes e Useros Carretero, citados por
Szentmártoni, a teologia pastoral divide-se em pastoral fundamental e
pastoral especial. A primeira estuda a natureza e a dinâmica da Igreja
e a segunda diz respeito à edificação da Igreja através do estudo da
Palavra de Deus, da liturgia e do serviço cristão e, à tarefa da relação
da Igreja com o mundo.
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A tabela que segue nos ajuda a entender e comparar a pastoral
eclesial da pastoral eclesiocêntrica:
Eclesiocêntrica Eclesial
Ad intra e ad extra: o lócus passa a ser
Ad intra também o mundo
Não dialoga com a Está aberta e inserida nas situações de
sociedade vida
Dons: a serviço da igreja Dons: a serviço do mundo
Espiritualidade para dentro Espiritualidade para a vida
A igreja é o centro Cristo é centro
Centralizadora Agente de reconciliação
Visão institucional Visão missionária
Ministério pastoral de Ministério pastoral a serviço da missão
manutenção
Monopólio de poder Poder para servir
Alienadora Transformadora
Programas e Atividades Processos
Modelos Missão
Atração Encarnação (Serviço)
Uniformidade Diversidade/Unidade
Profissional Apaixonada
Decisões Discípulos
Expectadores sentados Embaixadores
Monumento Movimento
Pastorcêntrica Povo de Deus
Organização Organismo
Personalista Equipe
Tabela: Quadro comparativo da pastoral eclesiocêntrica versus a pastoral eclesial
11
• Dons a serviço da igreja: os dons espirituais, nessa perspectiva
de pastoral, são instrumentos para o crescimento da própria
igreja, quer seja conceitual ou numérico. Faz-se necessário
repensar o texto de Efésios 4:11-14, que diz:
E ele designou alguns para apóstolos, outros para profetas,
outros para evangelistas, e outros para pastores e mestres, com
o fim de preparar os santos para a obra do ministério, para que
o corpo de Cristo seja edificado, até que todos alcancemos
a unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, e
cheguemos à maturidade, atingindo a medida da plenitude
de Cristo. O propósito é que não sejamos mais como crianças,
levados de um lado para outro pelas ondas, nem jogados para
cá e para lá por todo vento de doutrina e pela astúcia e esperteza
de homens que induzem ao erro.
A versão NVI fala com o fim de preparar os santos para a obra
do ministério. Já a RVA fala de para o desempenho do seu serviço. A
palavra traduzida ministério ou serviço no grego é διακονιας.
A mesma palavra, διακονει, é encontrada em 1 Pedro 4:11:
Cada um exerça o dom que recebeu para servir os outros,
administrando fielmente a graça de Deus em suas múltiplas formas.
Se alguém fala, faça-o como quem transmite a palavra de Deus. Se
alguém serve, faça-o com a força que Deus prova, de forma que em
todas as coisas Deus seja glorificado mediante Jesus Cristo, a quem
sejam a glória e o poder para todo o sempre. Amém.
Esse serviço diaconal deve ser um instrumento para a missão
da igreja, para dentro e para fora. A (1) edificação, a (2) a unidade
da fé, (3) o conhecimento do Filho de Deus, (4) a maturidade e (5) a
medida da plenitude de Cristo não podem ter apenas a igreja como
destino final de atuação. A pergunta crucial em relação a todos esses
propósitos é: por que a igreja deve buscar a edificação, unidade da fé,
conhecimento do Filho de Deus, maturidade e a medida da plenitude
de Cristo? Por que ela busca ser edificada? Por que ela busca conhecer
mais e mais a Cristo? Por causa dela mesma? De jeito nenhum. Se a
resposta para essas perguntas não for - para ser melhor preparada,
treinada e qualificada para a missão - então estamos diante uma de
uma pastoral eclesiocêntrica.
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Essa “reorientação que leva congregações para ver o trabalho da
missão de Deus em toda a sua comunidade” é encontrada na pastoral
de Paulo na Igreja de Tessalônica. Sua ação pastoral nesta igreja pode
ser vista, pelo menos, de duas maneiras: pastoral de manutenção da fé
e pastoral missional.
Primeira ação pastoral, a manutenção da fé dos cristãos: trata-se
da manutenção da fé, e não uma pastoral de manutenção da instituição.
Manutenção da fé é expressão do cuidado pastoral. Paulo quer saber
sobre o estado da fé
(1) Por isso, quando não pudemos mais suportar, achamos por
bem permanecer sozinhos em Atenas (2) e, assim, enviamos
Timóteo, nosso irmão e cooperador de Deus no evangelho de
Cristo, para fortalecê-los e dar-lhes ânimo na fé, (3) para que
ninguém seja abalado por essas tribulações. Vocês sabem muito
bem que fomos designados para isso. (4) Quando estávamos
com vocês, já lhes dizíamos que seríamos perseguidos, o que
realmente aconteceu, como vocês sabem. (5) Por essa razão, não
suportando mais, enviei Timóteo para saber a respeito da fé que
vocês têm, a fim de que o tentador não os seduzisse, tornando
inútil o nosso esforço. (6) Agora, porém, Timóteo acaba de
chegar da parte de vocês, dando-nos boas notícias a respeito
da fé e do amor que vocês têm. Ele nos falou que vocês sempre
guardam boas recordações de nós, desejando ver-nos, assim
como nós queremos vê-los. (7) Por isso, irmãos, em toda a nossa
necessidade e tribulação ficamos animados quando soubemos da
sua fé; (8) pois agora vivemos, visto que vocês estão firmes no
Senhor. (9) Como podemos ser suficientemente gratos a Deus
por vocês, por toda a alegria que temos diante dele por causa de
vocês? (10) Noite e dia insistimos em orar para que possamos vê-
los pessoalmente e suprir o que falta à sua fé (1 Ts 3:1-10).
Paulo envia Timóteo para saber a respeito da fé que eles têm, a
fim de que o tentador não os seduzisse, tornando inútil o seu esforço
(v. 5). A versão RVA diz: “mandei [Timóteo] indagar o estado da vossa
fé”. E grande foi sua alegria afirmando que “Timóteo acaba de chegar
15
Conclusão
Introdução
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• Voltada para programas e atividades: essa tem sido uma forte
expressão da pastoral eclesiocêntrica – foca os programas, as
atividades com a intenção de atrair as pessoas para dentro
da igreja. Quanto mais programas e atividades, melhor!
Assim, essa igreja poderá oferecer uma gama de programas
e atividades para todos os gostos e necessidades. Quem são
os membros dessa igreja? São funcionários-operários dessa
fábrica. Enquanto trabalham (a nisso reside sua utilidade)
são valorizados. Se isso não acontecer, são desprezados, por
uma postura utilitarista e mercadológica. Sua força de atração
está no produto (programas, as atividades) e não no poder
do evangelho. Mas qual o perigo e problema? É uma inversão
(sutil) de valores. Qual? De valorizar e amar a pessoa por aquilo
que ela faz, não pelo que é. De forma linda e impressionante,
Deus precisou assegurar para Jesus, que estava prestes a
começar seu ministério público aos 30 anos de idade (Lc 3:23),
que ele é e seria amado por Ele pelo fato de ser Seu filho.
E aconteceu que, ao ser todo o povo batizado, também o foi Jesus;
e, estando ele a orar, o céu se abriu, e o Espírito Santo desceu
sobre ele em forma corpórea como pomba; e ouviu-se uma voz
do céu: Tu és o meu Filho amado, em ti me comprazo (Lc 3:21).
O amor de Deus-Pai para com esse Filho não estava ou estaria
condicionado com o que Jesus viesse e não viesse a fazer. Até esse
momento, Jesus não havia curado pessoa alguma, também não havia
realizado nenhum milagre, nenhuma libertação demoníaca havia
acontecido e nenhum ensino havia sido dado. Deus o ama porque é
Filho. Sua identidade (e nossa também) reside no fato dessa filiação
e não naquilo que fazemos. Não existe nada que podemos fazer para
aumentar o amor de Deus por nós; mas também não existe nada
que fazemos que possa diminuir esse amor. Deus simplesmente e
profundamente nos ama.
Essa mesma lição, de construção de identidade, uma vez
aprendida, foi que Jesus passou aos seus discípulos (nesse caso, os 70):
Então, regressaram os setenta, possuídos de alegria, dizendo:
Senhor, os próprios demônios se nos submetem pelo teu
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(igreja-pastor-instituição-denominação) estará no centro.
Colocar outra coisa que não Deus no centro é a síndrome da
grandeza da Torre de Babel: “tornemos célebre o nosso nome”
(Gn 11:4). Por isso a palavra é célebre – celebridade – se o
nome destes estivesse no centro, Deus estaria fora. Isto não
ficou sem consequência: “Vinde, desçamos e confundamos
ali a sua linguagem, para que um não entenda a linguagem
de outro” (Gn 11:7). E assim Deus os dispersou para eles não
ficassem no centro, sentindo poderosos e autossuficientes.
A construção de uma igreja-monumento não deve ser a ambição
de um pastor. Somos chamados para edificar o Reino de Deus, cujo
fundamento é Jesus Cristo. Porém,
se o que alguém edifica sobre o fundamento é ouro, prata,
pedras preciosas, madeira, feno, palha, manifesta se tornará a
obra de cada um; pois o Dia a demonstrará, porque está sendo
revelada pelo fogo; e qual seja a obra de cada um o próprio fogo
o provará (1 Co 3:12-13).
Em vez de monumento devemos entender que fazemos parte de
um movimento – o movimento do amor de Deus ao mundo. Tanto
nossa pastoral como a igreja estão a serviço desse movimento. Sempre
que o movimento se tornou num momento a missão sofreu e paralisou.
Isso foi o que aconteceu, em minha opinião, com a Igreja de Jerusalém:
Tendo Jesus saído do templo, ia-se retirando, quando se
aproximaram dele os seus discípulos para lhe mostrar as
construções do templo. Ele, porém, lhes disse: Não vedes tudo
isto? Em verdade vos digo que não ficará aqui pedra sobre
pedra que não seja derribada (24.1-2).
Uma das grandes paixões da pastoral eclesiocêntrica são
as “construções do templo”. Os discípulos chamam a atenção de
Jesus para mostrar as construções do templo. Talvez estes discípulos,
impressionados coma grandiosidade daquele monumento, haviam se
esquecido que o próprio Jesus, ao entrar nesse mesmo templo,
... expulsou todos os que ali vendiam e compravam; também
derribou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam
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• Monopólio de poder: o monumento inevitavelmente nos leva
a sermos íntimos do poder, pois “onde reina o amor, não
há vontade de poder, e onde o poder tem primazia, falta o
amor. Um é a sombra do outro” (Jung, 2000, p. 51). Ou se
vive debaixo da sombra do amor ou do poder! Com muita
propriedade afirmou Abraham Lincoln (2006, p. 130): “Se
quiser por à prova o caráter de um homem, dê-lhe poder”
(2006, p. 130). Foi exatamente isso que satanás tentou fazer
com Jesus para provar seu caráter e identidade no deserto (Lc
4:1-10). A prova foi feita e o resultado foi:
Passadas que foram as tentações de toda sorte, apartou-se dele
o diabo, até momento oportuno. Então, Jesus, no poder do
Espírito, regressou para a Galiléia, e a sua fama correu por toda
a circunvizinhança (Lc 4.13-14).
A lógica do reino de Deus é que quanto mais poder uma pessoa tem
tanta mais serva ela foi. É poder para servir e poder que vem do servir –
“o próprio Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e
dar a sua vida em resgate por muitos” (Mc 10:45). O poder em Jesus era
servir a ponto de dar sua própria vida. Quem quer poder que emana do
monumento, seja via igreja-instituição-denominação, esse poder terá.
Do mesmo modo que se recebe, também é tirado. Esse é o poder dos
escravos que pensam que são livres. São escravos deles mesmos e das
instituições. Poder emana a quem nos curvamos – “se prostrado me
adorares” – Jesus afirma a satanás que Ele não se curva ao seu poder, mas
ao poder de Deus – “Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a ele darás culto”
(Lc 4:7-8). Sim, Jesus se curva, mas a Deus. Consequência: “Então, Jesus,
no poder do Espírito, regressou para a Galiléia” (Lc 4:14).
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Precisamos de pastores que amem mais o reino de Deus e o
Deus do reino. Sem essa conversão o ministério pastoral não passa de
empreendimento humano, que por fim busca a glória destes reinos. Em
sendo pastores de Deus, também somos pastores do reino, e isto nos é
muito caro e inegociável.
Ouçamos o desafio de René Padilha (2011, p. 64):
A missão exige uma “desclericalização” dos ministérios e
uma “laicização” dos clérigos. Em outras palavras, exige o
reconhecimento do caráter apostólico de toda a igreja, o qual
implica, por um lado, que todos os membros, só pelo fato de
serem discípulos de Cristo, participem do envio ao mundo, por
parte de Jesus Cristo, como suas testemunhas, por outro lado,
que os dirigentes façam parte do laos – povo de Deus – como
todos os demais seguidores de Cristo, sem serem mais nem
menos que eles.
Isto é pastoral eclesial!
Refletindo...
Este capítulo tem o propósito de te fazer refletir sobre
o onde do ministério pastoral. Onde se realiza o ministério
pastoral? Eu só vejo uma resposta: no mundo!
Jesus disse que “o campo é o mundo” (Mt 13:38). A pastoral
eclesial é aquela que prepara as pessoas para irem “por todo o mundo
e pregar o evangelho a toda criatura” (16:15). Jesus orou ao Pai: “Não
peço que os tires do mundo, e sim que os guardes do mal. Assim
como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo” (Jo
17:16, 18). Qual o locus da reconciliação? Por que ir para o mundo?
Ora, “se Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não
imputando aos homens as suas transgressões”, quanto mais nós, pois
Ele “nos confiou a palavra da reconciliação” (2 Co 5:19).
A igreja não é centro da ação pastoral. Ela mesma não existe por
causa dela mesma. A igreja local não é o fim último do ministério
pastoral, mas a plataforma para um ministério transformador no
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Referências
Objetivos
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Revisão dos Conceitos Pastorais II: Pastoral de
Repetição-Imitativa x Pastoral Contextual
Servos livres de uma pastoral de repetição-imitação para uma
pastoral contextual-transformadora
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propósitos, desenvolvimento natural da igreja, entre outros. Lourenço
Stelio Rega (2011) tem uma visão crítica dos mesmos, afirmando que
Os dons e ministérios são vistos como ferramentas para
fazer a máquina eclesiástica funcionar. Nenhum dos modelos
desenvolve uma visão adequada da vocação, pois, como já
disse, não estão interessados em espalhar os cristãos para servir
o mundo, como José do Egito, mas apenas em recrutar pessoas
que façam a estrutura eclesiástica funcionar.
Além dos modelos importados, existem os modelos das próprias
denominações. Ao longo da história, cada denominação desenvolveu
seu modelo ideal de ser igreja. A sacralização desses modelos conspira
contra a criatividade e dinamismo que cada contexto desafia a
pratica missionária e pastoral. Essa igreja faz as mesmas coisas e
utiliza os mesmos métodos do passado. O problema é que o mundo
é uma constante mudança, impondo novos desafios. É muito mais
fácil se render ao tradicionalismo do modelo do que ser criativo.
Nessa rendição, os pastores dizem estar sendo fieis a tradição da
sua denominação e se escondem atrás dessa falácia, pois ser criativo
e contextual implica em estudar, pesquisar, investigar não apenas a
igreja, mas também seu contexto.
A resposta para a pastoral de repetição-imitação é a pastoral
contextual. A tabela que segue demonstra suas diferenças:
Repetição-Imitação Contextual
Constrói modelos a partir da
Adota modelos prontos – pré-fabricados
realidade
Comportamentos mecânicos Comportamentos espontâneos
Modismo Identidade definida
Inflexível Adaptável
Visão mais empresarial Visão na necessidade
Descontextualizada Encarnada
Reprodução Produção
Visa métodos que dá certo – pragmatismo Visa a transformação
Foco no método Foco nas situações e pessoas
Centrada no carisma da personalidade Centrada no Reino de Deus
Repetição Autóctone
31
realidades. A ação pastoral é e sempre será contextual. Dividiremos
estas geografias em três momentos: (1) Galiléia, (2) Judéia-Samaria e
(3) Jerusalém.
33
ao meu redor. O curioso é que não havia gados por perto para que o
vento pudesse trazer o cheiro deles. Foi nesse momento que um pastor
se aproximou de mim e me abraçou, sentindo feliz por um brasileiro
estar entre eles. Percebi que o cheiro vinha dele. Perguntei a um amigo
missionário entre eles por que aquele homem tinha tanto cheiro do
gado. Ele me respondeu com a maior naturalidade: “Ele é pastor de
gado e acabou de chegar do seu trabalho”. Fiquei impressionado em
perceber que o pastor estava impregnado do cheiro do gado. Isso
nos ajuda a entender qual cheiro deve ter o pastor: o da ovelha! Deve
estar impregnado pelo cheiro das pessoas que ele serve. Mas isso tem
sido um dilema muito grande nos dias atuais. Existem muitos outros
cheiros atraindo os pastores modernos: a sala pastoral, o computador,
as tecnologias, o templo, email, planejamento estratégico, o sermão,
a liturgia e coisas do tipo. Sem a Galiléia os pastores perdem o cheiro
do povo. Perder o cheiro do povo é a triste constatação de rumar
para a insensibilidade pastoral. Veja se não é assim mesmo: pastores
insensíveis normalmente estão longe do povo, dos seus dramas, das
vitórias, das derrotas, das crises. Foi bem ali, na Galiléia, entre o povo,
que Jesus disse: “Alguém tocou em mim; eu sei que de mim saiu poder”
(Lc 8:46). Esse toque só é possível quando se está no meio de gente. O
poder (pastoral) é um serviço à vida!
Esse foco pastoral está em crise nos dias atuais. O modelo
de igreja que prevalece em nossos dias é mais o gerencial do que o
relacional. O pastor está mais para o gerente de uma empresa do que
para o mentor de vidas. Tem-se mais prazer em estabelecer propósitos
para a igreja do que estar com uma ovelha em fase terminal de vida.
Alguns colegas pastores dizem que não tem o dom da visitação, de
ir aos hospitais, de estar perto das ovelhas em crise. Um tremendo
engano! Para ser pastor é necessário alguns requisitos e um deles, que
é inegociável, é o cuidado das ovelhas. A palavra pastor está sendo
emprestada e empregada para outras atividades que não pastorais,
como, por exemplo, pastor-administrador.
Na Galiléia Jesus está com o povo e é aquele que faz, o realizador.
Lucas escreveu a Teófilo para mostrar o que Jesus fez (e ensinou): “Em
meu livro anterior [evangelho], Teófilo, escrevi a respeito de tudo o
que Jesus começou a fazer e a ensinar” (At 1:1). Os dois discípulos no
35
Note a palavra para. Poder é sempre para os outros. Não devemos
buscar poder para nós mesmos. Os outros são os beneficiários do
poder que temos. Existe muito poder no meio pastoral que nem
sempre é para o outro, mas poder para si mesmo. Nesse sentido, muito
da identidade do pastor e sua relação com o poder está mais vinculado
com o modelo do poder-político do que com o modelo do poder-servo.
É muito importante realçar a pergunta que João Batista pede
para que alguns de seus discípulos façam a Jesus: “És tu aquele que
haveria de vir ou devemos esperar algum outro?” (Lc 7:19). João tem
em mente o messias com implicações políticas. A resposta à pergunta
de João foi: “Naquele momento Jesus curou muitos que tinham males,
doenças graves e espíritos malignos, e concedeu visão a muitos que
eram cegos” (Lc 7:21). Que riqueza de resposta - naquele momento
Jesus curou muitos. Jesus não respondeu com palavras, mas ações
concretas. Isso nos lembra Paulo, que disse:
Minha mensagem e minha pregação não consistiram de palavras
persuasivas de sabedoria, mas consistiram de demonstração do poder
do Espírito, para que a fé que vocês têm não se baseasse na sabedoria
humana, mas no poder de Deus (1 Co 2:4-5).
...o nosso evangelho não chegou a vocês somente em palavra, mas
também em poder, no Espírito Santo e em plena convicção. Vocês
sabem como procedemos entre vocês, em seu favor” (1 Ts 1:5).
37
Conclusão
Introdução
39
a Samaria e a Galiléia (“A caminho de Jerusalém, Jesus passou pela
fronteira entre Samaria e Galiléia” – Lc 17:11, versão NVI) e à cidade
de Jericó, quando Jesus a atravessava. Está cidade é mencionada em
Lucas 19:1 e em 10:30, na parábola do Bom Samaritano.
Encontramos as cidades de Sodoma (Lc 10:12; 17:29), Corazim
(10:13), Betsaida (9:10; 10:13), Tiro (10:13-14), Sidom (10:13-14),
Cafarnaum (10:12-15) e Nínive (11:32) mencionadas como exemplos
de cidades que não receberam as boas novas do Reino. Jesus pronunciou
o seu julgamento contra cada cidade. Também encontramos Jesus
mencionando a Torre de Siloé (Lc 13:4). Por três vezes Jesus mencionou
a cidade de Jerusalém: a primeira na parábola do Bom Samaritano (Lc
10:30); a segunda para expressar a sua tristeza por ela (Lc 13:34); e a terceira
como uma predição de que o Filho do Homem morreria (Lc 18:31).
É uma parte importante do evangelho no que diz respeito
à maneira como afetou os seguidores de Jesus, já que ele subia
para Jerusalém acompanhado dos discípulos. Eles iriam se tornar
testemunhas autênticas de tudo o que ele havia ensinado e de tudo o
que havia feito. O relato da viagem, além do mais, torna-se um recurso
especial usado por Lucas para o treinamento posterior daquelas
testemunhas da Galiléia [...] Se Jesus vai para a cidade do destino, de
acordo com o que tinha sido determinado, ele equipa os seus seguidores
para a missão de proclamá-lo e à sua mensagem de salvação, depois de
sua morte e ressurreição, “até aos confins da terra” (At 1.8). O relato
de viagem se torna, então, uma coleção de ensinamentos para a jovem
igreja missionária, na qual as instruções aos discípulos se alternam
com debates com os seus oponentes (FITZMYER, 1981, p. 826).
O segundo foco ministerial de Jesus, portanto, são os discípulos.
Isso não significa que Jesus desprezou ou não teve olhos para o povo,
mas que sua atenção principal está em seus discípulos. Jesus passa a
ensiná-los a partir dos valores do Reino de Deus.
Estar com o povo é imprescindível para a construção da
sensibilidade. Estar com os discípulos é imprescindível para a
construção de uma comunidade madura e missionária. Uma ênfase não
anula a outra, ao contrário, traz sentido, porque a missão do discípulo,
nos moldes de Jesus, deve ser entre o povo.
É comum escutar pastores dizendo que não têm tempo para
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primeiro grupo normalmente são os que reclamam das condições e
recursos onde se encontram. O segundo são aqueles que em tudo vê
possibilidades e oportunidades. Se Jesus fosse esperar o crescimento de
seus discípulos, nunca teria feito nada com eles. Lá na Galiléia (porque
agora estamos na Samaria e Judéia), Jesus chama seus discípulos:
Depois disso, Jesus saiu e viu um publicano chamado Levi,
sentado na coletoria, e disse-lhe: “Siga-me” Levi levantou-se,
deixou tudo e o seguiu (Lc 5:27-28).
Note: “Jesus saiu e viu um publicano chamado Levi”. Ele viu nesse
homem, um coletor de impostos, a possibilidade e lhe conferiu uma
oportunidade. Quem vê possibilidades age no sentido de oportunizar.
Durante o período na Galiléia, o que mais Lucas nos informa sobre o
que Mateus (Levi) fez? Apenas uma coisa: que ele deu uma festa para
seus amigos publicanos e convidou Jesus para estar com eles. Jesus viu
Mateus e o chamou. Agora é a vez de Mateus ver o que Jesus ia fazer
para poder aprender com ele. Isso é discipulado. Chamo a sua atenção
que, para nós hoje, discipulado tem a ver com ensinar conceitos sobre
Deus, a bíblia, o reino e a igreja, doutrinas. Mas para Jesus conceito se
ensina a partir da prática. Na Galiléia os discípulos estavam vendo, não
para assistir, mas para aprender. Hoje, quando alguém quer ensinar
sobre fé, fala-se de conceitos – fé é... Quando Jesus queria ensinar sobre
fé aos discípulos, ele fazia.
Chamo esse bloco de Lucas 9:51 a 19:27 de o discipulado
missionário. Jesus tinha consciência de que esse era o momento oportuno
para estar com os discípulos. Ao chegar na cidade de Jerusalém, Jesus
não iria ter a presença deles como foco em seu ministério. Assim, essa
parte, também chamada de narrativa da viagem (da Samaria-Judéia
para Jerusalém) merece toda a nossa atenção e concentração. É nesse
momento que Jesus investe tempo com os discípulos e os treina, pois
mais tarde eles iriam ser os agentes da missão de Deus no mundo. Para
entender o que realmente significa discipulado, precisamos olhar esse
bloco com muito cuidado. Muito se fala de discipulado, mas poucos
imitam o que Jesus fez. Por que? Porque discipulado virou sinônimo
de treinar as pessoas para a igreja, de treinar líderes para que sejam
maduros na igreja. O problema do nosso discipulado está no propósito,
43
“Senhor, até os demônios se submetem a nós, em teu nome” (Lc 10:17).
Nesse momento os discípulos vão aprender uma lição muito profunda:
a identidade deles não está baseada naquilo que fazem ou deixam de
fazer. A identidade deles está no fato de serem filhos de Deus. Foi por
isso que Jesus disse: “Contudo, alegrem-se, não porque os espíritos se
submetem a vocês, mas porque seus nomes estão escritos nos céus”
(Lc. 10:20). Essa alegria ninguém pode tirar: uma vez filho, filho
sempre será! Nossa identidade é essa: somos filho do Pai, do Pai que
nos ama. Se isso não nos basta, certamente nada nos bastará.
Destaco que Jesus ensina e discípula esses homens usando
uma metodologia muito diferente da nossa. Ele simplesmente conta
estórias. Esse método é chamado de narrativa. Ele, para ensinar ou
ilustrar algo, narrava. Por isso é que quase todas as parábolas contadas
por Jesus estão nesse bloco. Cansamo-nos de ler Jesus dizendo: “Certa
vez”, “certa ocasião” (10:25; 11:1); “e lhe propôs uma parábola” (12:16;
13:6; 15:3; 18:1); “e contou ainda aos seus discípulos” (16:1). Jesus
ensinava a partir da vida e não a púlpito. Ou se quisermos colocar de
forma positiva, o púlpito de Jesus era sua própria vida. E é a caminho
(para Jerusalém) que Jesus ensina seus discípulos. Esses ensinos
tinham pelo menos quatro perspectivas missionárias:
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contas, eles eram a autoridade final no Templo, especialmente com
respeito a assuntos religiosos. A questão teológica era a respeito da
origem do batismo de João: era do céu ou era de homens? Eles não
tinham escolha a não ser declarar a sua ignorância a respeito deste
assunto. “Por fim, responderam que não sabiam” (Lc 20:7). Jesus
declarou sua autoridade diante deles dizendo: “Pois nem eu vos digo
com que autoridade faço estas coisas” (Lc 20:8).
O segundo ensinamento é a parábola dos lavradores maus (Lc
20:9-19). Mesmo que esta parábola fosse destinada “ao povo” (Lc
20:9,16), “os escribas e os principais sacerdotes procuravam lançar-
lhe as mãos, pois perceberam que, em referência a eles, dissera esta
parábola; mas temiam o povo” (Lc 20:19). Jesus, nesta parábola, estava
falando a respeito de lavradores maus e servos. Jesus se colocava como
um servo, aquele que seria morto pelos lavradores maus da vinha.
Jesus era “a pedra que os construtores rejeitaram”, que “veio a ser a
principal pedra, angular” (Lc 20:17).
O terceiro ensinamento é a controvérsia a respeito do pagamento
de impostos a César (Lc 20:20-26). Lucas declara a motivação desta ação
no início do episódio: “Observando-o, subornaram emissários que se
fingiam de justos para verem se o apanhavam em alguma palavra, a fim
de entregá-lo à jurisdição e à autoridade do governador” (Lc 20:20). Mais
uma vez percebemos uma disputa pelo poder. Os líderes não estavam
convencidos ou satisfeitos com a autoridade de Jesus. Eles agora propõem
uma questão mais oficial, referente a impostos que deviam ser pagos a
César. Ao dizer “dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de
Deus”, Jesus estava desafiando-os a serem coerentes e comprometidos com
o sistema econômico ao qual se submetiam, sob o domínio de César. Mais
uma vez, “não puderam apanhá-lo em palavra alguma diante do povo; e,
admirados da sua resposta, calaram-se” (Lc 20:26).
O quarto ensinamento é a controvérsia a respeito da ressurreição
(Lc 20:27-40). Os líderes tentavam de tudo para pegar Jesus numa
armadilha. De uma questão política pularam para uma religiosa. Esta
controvérsia, sobre a ressurreição, é eminentemente hermenêutica.
Os saduceus vieram com sua exegese rabínica legalista e tentaram
pegar Jesus numa cilada a respeito do que a Lei de Moisés dizia a
respeito do levirato. A questão central era: “Esta mulher, pois, no dia
47
lançarem suas ofertas no gazofilácio. Viu também certa viúva pobre
lançar ali duas pequenas moedas” (Lc 21:1-2). É possível que Jesus
tenha flagrado a exploração religiosa do sistema do Templo, alienando
os pobres. Esta interpretação é congruente com a visão de Lucas do
Templo. Devemos nos lembrar de que a primeira ação de Jesus em
Jerusalém foi ao Templo, e ele havia dito profeticamente que sua casa
de oração tinha sido transformada em “covil de salteadores” (Lc 19:46).
Se temos espaço em nossa teologia para entendermos esta passagem
desta forma, então esta casa, ornamentada pelas oferendas (de ricos e
pobres), estará sob o julgamento de Jesus.
É nítida a diferença do foco do ensino de Jesus em Jerusalém
comparado com a seção anterior, na Samaria e Judéia. Aqui o
ensino tem um corte profético. Por isso, como demonstrado nos sete
ensinos, a controvérsia é aparente. Jesus está no templo todos os dias e
proclamando, de modo profético, a palavra de Deus. Talvez essa seja a
expressão mais clara de suas profecias:
Alguns dos seus discípulos estavam comentando como o templo
era adornado com lindas pedras e dádivas dedicadas a Deus. Mas
Jesus disse: “Disso que vocês estão vendo, dias virão em que não
ficará pedra sobre pedra; serão todas derrubadas” (Lc 21:5-6).
Lucas diz que “Jesus passava o dia ensinando no templo; e, ao
entardecer, saía para passar a noite no monte chamado das Oliveiras”
(21:37). Ensinar é uma tarefa cansativa – ele passava o dia ensinando.
Ao final da tarde, ia para monte para descansar, estar em solitude, estar
a sós com o Pai. Jesus tinha esse costume. Era claro que fazia parte da
sua vida ir para o monte. “Como de costume, Jesus foi para o monte
das Oliveiras, e os seus discípulos o seguiram” (Lc 22:39).
Pensando no pastorado hoje, se gasta muito tempo com o templo.
Muitas vezes o templo conspira contra a espiritualidade pastoral. O
monte não pode ser esquecido ou desprezado. Ele é deve ser uma
expressão do cuidado espiritual e emocional do pastor. Paulo disse:
“Cuidem de vocês mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito
Santo os colocou como bispos para pastorearem a igreja de Deus que
ele comprou com o seu próprio sangue” (At 20:28). Pastores que não
cuidam de si mesmos não têm condições (espirituais e emocionais)
de cuidar dos outros. Essa geografia é imprescindível no ministério
Refletindo...
Este quarto capítulo tem o propósito de te fazer refletir sobre o para
que do ministério pastoral. Qual a finalidade do ministério pastoral?
Eu só vejo uma resposta: transformação! Sem dúvida o alvo último é e
sempre será a glória de Deus (1 Co 10:31). Nesse sentido, é correto dizer
que o alvo penúltimo da tarefa pastoral é a transformação.
Uma pastoral transformadora será aquela que também se permite
ser transformada. Emprestando a ideia de Paulo, em Romanos 12:2,
muito da pastoral atual brasileira é fruto da conformação dos métodos e
modelos que são de repetição e imitação do que existe. A transformação,
que vem por meio da renovação da mente, tem por finalidade nos fazer
experimentar qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.
Creio que o projeto para a nossa pastoral é um projeto que experimenta
transformação. Não é possível que nós pastores não desejemos a
transformação das vidas, situações e realidades as quais o próprio Deus
nos colocou como seu instrumento de graça.
Parafraseando Paulo Freire (que disse que “o mundo não é, está
sendo”), a pastoral não é, está sendo. A pastoral que é ou pensa que é,
na realidade é estática e não dinâmica e aquela que imita-repete já é
cópia não daquilo que é, mas do que já se foi (modelos importados). A
pastoral se constrói no cotidiano; reinventa-se no dia-dia; cria a partir
do seu contexto; é resposta às necessidades; tem sua própria cor e aroma
(do seu povo e realidade); é viva; não atua para que os outros vejam,
mas para que ela mesma veja os outros; caminha em discernimento,
sensível e solidária; transforma para agir e age para transformar; ama
os pequenos começos; valoriza as iniciativas simples; sua espalhafatosa
ambição é o amor; não conta os números para ver quantos têm, mas
para ver quem se perdeu – essa pastoral só pertence aqueles que se
entram pela porta da conversão – ela exige conversão enquanto que outra
(repetição-imitação), conformidade. Ela é libertadora e não permite que
nenhum método lhe oprima e, consequentemente, torne-se opressora,
pois batalha pela vida de Cristo e luta contra os reinos de morte.
49
Conclusão
Referências
Introdução
Lembre-se...
Pastoral implica em escolhas. Nossas escolhas revelam
nossa visão bíblico-teológica. Essa conduz as nossas práticas
e ações. As ações vão determinar nossos hábitos. Os hábitos
formam nosso caráter que por sua vez torna nosso destino, o
modo de vida.
Objetivos
51
Revisão dos Conceitos Pastorais III: Pastoral de
Manutenção x Pastoral Missão
53
É claro que isso não é nada novo para o cristianismo, mas esse é o
momento no qual somos chamados e desafiados a dar respostas. Essas
respostas certamente não serão via uma pastoral de manutenção. Essa
só reforçará a secularização.
De cima-para-baixo De baixo-para-cima
Tabela 1: Quadro comparativo da pastoral de manutenção versus a pastoral de missão
55
A sedução do cativeiro
É óbvio que esse cativeiro cativa. Nesse modelo o pastor está no
topo da pirâmide (do poder). Experimenta uma posição privilegiada,
recheada de ternos e gravatas, status e títulos. Fica impressionado
com toda a estrutura (máquina) ao seu redor. O púlpito ocupa
normalmente 30% do espaço físico do templo para que ele e seus líderes
subordinados fiquem em lugar de destaque, onde todos possam vê-los
(e normalmente quem estão ali são homens). São, via de regra, os donos
dos sacramentos (ceia e batismo). Algumas igrejas oferecem boas
condições materiais, além de salário, casa ou apartamento pastoral,
carros novos, seguros de vida e saúde. Andam por bons restaurantes e
viagens por conta do povo.
Mas esse cativeiro que cativa tem seus preços e consequências.
Nada na vida é de graça. Um dos preços é vender a integridade no
altar da popularidade. A popularidade pode corromper a integridade.
Sábias são as palavras de Salomão: “Quem anda com integridade anda
com segurança, mas quem segue veredas tortuosas será descoberto”
(Pv 10:9). Nossa segurança está no fato de agirmos com integridade.
Rejeitamos os caminhos tortuosos que nos são oferecidos no ministério
pastoral. “Cuida da tua integridade que Deus cuidará da tua reputação”
(Simon Bolívar). Não podemos ser guiados e conduzidos por esse
cativeiro sedutor, pois “a integridade dos justos os guia” (Pv 11:3). Um
dos homens mais ricos do mundo nos aconselhou: “melhor é o pobre
que vive com integridade” (Pv 19:1). E ainda esse sábio conselho: “em
seu ensino, mostre integridade” (Tt 2:7).
Levo cativo o cativeiro
“Quando ele subiu em triunfo às alturas, levou cativo o cativeiro,
e deu dons aos homens” (Ef 4:8). Jesus levou cativo o cativeiro. Não
parece que esse cativeiro seja um lugar, mas uma condição. O ser
humano estava no cativeiro (condição) da morte: a morte pelo pecado
de Adão. Ao levar cativo o cativeiro ele destronou o poder do mal e
ainda estabeleceu uma nova forma de poder: poder compartilhado e
descentralizo. Ou seja, destronou esse poder e “designou alguns para
apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, e outros para
Povo
tenderam a centrar seu papel para dentro da
igreja (ad intra), estando o pastor no topo da
pirâmide. Outros propõem que quem deve
estar no topo é a igreja (o povo).
O povo no topo e o pastor na base como
servo é uma louvável tentativa de redefinir a Pastores
57
liderança pastoral em termos de serviço e empoderamento dos leigos,
mas o modelo continua problemático. Nesse caso, o pêndulo continuará
indo de um extremo para outro, mantendo a dicotomia entre o servo e
liderança diretiva. Eles não devem ser opostos!
No modelo da cristandade o líder pastoral está voltado para dentro
da igreja e para o bem-estar das pessoas. Aqui, o pastor é um símbolo da
natureza da igreja eclesiocêntrica. Isto é o que tem de mudar.
Melhor seria se esse triângulo ficasse de lado, invertendo a ordem
direcional. Isso ajudaria aos membros da igreja e aos pastores perceberem
suas tarefas como fruto da missão, indo em direção ao mundo e se
orientando para além de sua própria auto-preservação ou crescimento
interno. O lugar da liderança não é nem no topo nem embaixo no do
triângulo, mas à extremidade principal, modelando o compromisso com
a missão de Deus, cuja pastoral e membresia estão a serviço dessa missão
(de Deus) no mundo. Tal modelo expulsa a visão eclesiocêntrica do papel
da pastoral para um compromisso missional e eclesial (de todo o povo).
Há implicações
pastores
estruturais para esta
mudança. Tal liderança
mundo não pode funcionar em
Missio um modelo sola pastoral.
Dei Em lugar do profissional
igreja onisciente, correndo por
toda a vida interna da igreja,
há uma equipe, ou liderança múltipla e compartilhada, no coração
da igreja. Cuidado pastoral, adoração, proclamação e administração
são partes do trabalho de todo o povo de Deus e não um território de
propriedade exclusiva de um sacerdote – o sacerdócio real de Deus é
o povo (1 Pe 2:9). O pastor é aquele que equipa/edifica igrejas como
sendo comunidades da missão, moldadas pelos encontros do evangelho
na cultura, estruturando a forma da congregação de modo a conduzir
as pessoas para fora, em um encontro missionário. Assim, o discipulado
emerge da oração, estudo, diálogo e adoração por uma comunidade
que aprende a fazer perguntas em obediência, estando diretamente
comprometida em missão. Um pastorado missional terá de ser capaz de
conduzir esse encontro com a cultura para transformá-la.
59
é um presente de Deus ao mundo. Os pastores são chamados “para
pastorearem a igreja de Deus, que ele comprou com o seu próprio
sangue” (At 20:28). Essa igreja não é dos pastores, é a igreja de Deus
que “Cristo amou... e entregou-se por ela para santificá-la, tendo-a
purificado pelo lavar da água mediante a palavra, e para apresentá-
la a si mesmo como igreja gloriosa, sem mancha nem ruga ou coisa
semelhante, mas santa e inculpável” (Ef 5:25-27). Nessa igreja de Deus,
comprada com o sangue de Cristo, é nosso privilégio pastorear “o
rebanho de Deus que está aos seus cuidados” (1 Pe 5:2). Nessa igreja
não existe lugar para pastores com motivações impuras em relação ao
rebanho, mas antes que “olhem por ele, não por obrigação, mas de
livre vontade, como Deus quer. Não façam isso por ganância, mas com
o desejo de servir. Não ajam como dominadores dos que lhes foram
confiados, mas como exemplos para o rebanho” (1 Pe 5:2-3).
Terceiro, como pastor, você começará a ver o mundo de forma
diferente. A igreja só existe por causa da missão de Deus ao mundo.
Uma igreja que conhece sua missão não poderá e nem quererá,
em nenhuma de suas funções, persistir em ser igreja por amor de si
mesma. Existe o “rebanho de crentes em Cristo”, porém dito rebanho é
enviado... A igreja vive de sua missão de arauto, é a compagnie de Dieu!
Ali onde vive a Igreja, deve perguntar se está a serviço dessa missão ou
se é um fim em si mesma. Se é o segundo, normalmente começará a ter
um sabor de “sacro”, a imperar o pietismo, o clericalismo e o desânimo
(BARTH, 2000, p. 169-170).
A missão da igreja não é para igreja. Isso é denominacionalismo.
Por que ela existe para o mundo? “Porque Deus tanto amou o mundo...”
(Jo 3:16). O mundo é objeto e alvo do amor de Deus.
Não é que Deus tem uma missão para a igreja no mundo
Mas Deus tem uma igreja para a Sua missão no mundo
Missão não foi feita para a igreja
A igreja é que foi feita para a missão – missão de Deus!
Existe um ódio latente no mundo em relação a Deus (e também
por sua igreja). Isso não é nada novo. Jesus já havia nos alertado sobre
a reação do mundo em relação aos seus discípulos: “e o mundo os
odiou, pois eles não são do mundo, como eu também não sou” (Jo
Deus Igreja
Pastoral
Mundo
61
Klaus Hemmerle, bispo de Achen (Alemanhã), numa jornada
de estudo da Conferência Episcopal Alemã, convida a um exame de
consciência, o que chamou de decálogo do sacerdote:
1. É mais importante como eu vivo o sacerdócio, do que aquilo
que faço enquanto sacerdote.
2. É mais importante o que Cristo faz através de mim, do que
aquilo que faço eu.
3. É mais importante que eu viva a comunhão no presbitério, do
que lançar-me até à exaustão sozinho no ministério.
4. É mais importante o serviço da oração e da palavra, do que o
das mesas.
5. É mais importante seguir e ajudar a formar, espiritual e
culturalmente, os colaboradores, do que fazer eu mesmo e sozinho o
mais possível.
6. É mais importante estar presente em poucos, mas centrais
setores de ação, com uma presença que irradie vida, do que estar em
tudo à pressa ou a meias.
7. É mais importante agir em comunhão com os colaboradores,
do que sozinho, mesmo que me considere capaz; ou seja, é mais
importante a comunhão do que a ação.
8. É mais importante, porque mais fecunda, a cruz do que
os resultados muitas vezes aparentes, fruto de talentos e esforços
simplesmente humanos.
9. É mais importante ter a alma aberta sobre o “todo” (comunidade,
diocese, igreja universal, humanidade), do que fixada em interesses
particulares, ainda que me pareçam importantes.
10. É mais importante que a fé seja testemunhada a todos, do que
satisfazer todos os pedidos habituais (2006).
Ou você acaba com a pastoral de manutenção ou ela acabará
com você. Perceberá inevitavelmente que investiu muito do seu
tempo para a denominação-instituição achando que poderia receber
algo em troca. Nunca se esqueça de uma coisa: se for necessário
fazer uma opção ou escolha entre a instituição e você, certamente a
instituição prevalecerá – ela é eterna! Não se trata aqui de fazer guerra
Refletindo...
Esta unidade tem o propósito de te fazer refletir sobre o porquê
do ministério pastoral. Por que existe o chamado dom e ministério
pastoral? Eu só vejo uma resposta: a missão de Deus! Isso aprendi com o
63
teólogo Orlando E. Costas (1975, p. 89), que em visão impressionante,
no ano de 1975, disse que
a ação pastoral responde a um fenômeno maior: a missão de
Deus. É necessário, pois, que ver a teologia pastoral com uma
ótica missiológica.
A missão de Deus é esse fenômeno maior e tudo que o mais está
abaixo dela e, portanto, fenômenos menores. No caso desse capítulo,
denominações e institucionais não passam de fenômenos menores.
Nunca a missão de Deus deveria ser sacrificada por causa delas, mas
pelo contrário, elas deveriam ser sacrificadas e se sacrificarem por
ela. Você só é pastor porque Deus tem uma missão no mundo e não
porque você foi ordenado em uma igreja ou denominação particular.
Sua fidelidade maior e primeira é para com Deus e sua missão.
Quando Paulo foi vocacionado pelo Senhor, junto veio o porquê
da vocação: “Mas o Senhor lhe disse: Vai, porque este é para mim um
instrumento escolhido para levar o meu nome perante os gentios e
reis, bem como perante os filhos de Israel” (At 9:15). Porque Paulo
passaria a ser instrumento para a missão de Deus.
Da mesma forma, por que Jesus veio para se pastor? “Porque Deus
amou o mundo...” (Jo 3:16). Quem te “considerou fiel, designando-
te para o ministério” (1 Tm 1:12) foi o teu Supremo Pastor e não a
denominação. O relatório que você deve prestar contas deve ser
enviado primeiro para Deus.
Um ministério pastoral que está a serviço da missio Dei é uma
prova evidente do seu amor para com Deus e de priorizar o que Ele
prioriza. Quando me perguntam: Por que você é pastor?” Sem titubear,
minha resposta é: “porque Deus tem uma missão a ser cumprida no
mundo e me colocou como um pastor em seu reino para que Sua
igreja seja fiel à sua missão”. Isso é revolucionário e seu ministério,
a partir dessa mudança de paradigma, será todo re-inventado. Suas
pregações, visitações, programa de educação cristã, as finanças da
igreja, atividades e programas, o culto, e tudo o mais que fizer, serão re-
dimensionados – todos passarão a ser instrumentos desse fenômeno
maior – a missão de Deus!
Referências
65
Revista Missões: a missão no plural, São Paulo, n. 5, p.26-27, jun. 2005.
HEMMERLE, Klaus. Decálogo do sacerdote. Bispo de Aachen (Alemanha).
Disponível em: <http://maranus2005.blogs.sapo.pt/5052.html>. Acesso em:
31 mar. 2006.
MARTO, António. Um novo olhar pastoral: paróquia, vigararia e missão do
vigário. Bispo de Leiria-Fátima. Disponível em: <http://www.leiria-fatima.
pt/sim/biblioteca/publicacoes_online/875/Novo%20olhar%20pastoral.
pdf>. Acesso em: 08 jun. 2011.
NICOLOSI, Gary. Stepping on the dung. Disponível em: <http://www.bc.anglican.
ca/content/CDOSteppingOnTheDung.pdf>. Acesso em: 30 mar. 2010.
OGDEN, Greg. New reformation: returning the ministry to the people of
God. Grand Rapids: Zondervan, 1990.
Introdução
Lembre-se...
Pastoral implica em escolhas. Nossas escolhas revelam
nossa visão bíblico-teológica. Essa conduz as nossas práticas
e ações. As ações vão determinar nossos hábitos. Os hábitos
formam nosso caráter que por sua vez torna nosso destino,
o modo de vida.
Objetivos
67
Revisão dos Conceitos Pastorais IV: Pastoral
Profissional x Pastoral Relacional
69
de Deus (Jesus Cristo), confronta e muito as determinações sociais.
Algumas dessas determinações sociais (ou demandas) hoje são:
a valorização da quantidade em detrimento da qualidade, o modelo
manager de liderança pastoral, os programas em detrimento das
pessoas. Vejamos...
71
Note as palavras: mandachuva operacional, empreendedor, chefe
operacional, supervisor, gerente e equipe. Todas advindas do modelo
gerencial de pastoreio. Ele continua nessa linha...
Então, quando a igreja cresce além dos 400 membros, o pastor
deve ter o papel de executivo. Você sabe o momento de estar
nesse nível quando você admite um pastor administrativo
para trabalhar com você, alguém que lide com os detalhes
para você. Nesse nível executivo você avalia, toma decisões e
prega. Você lidera, alimenta e permite que outros lidem com os
detalhes menores. A função chave do pastor nesse estágio é a de
visionário (N. do T.: dar a visão ao povo). Ele dá o tom e o tema
da igreja através de suas palestras; o que ele diz, sobre o que fala
e o que compartilha.
Agora, quando ultrapassa 400 membros, o pastor precisa mudar
de um executivo para um pastor administrativo. Qual o papel do
executivo? Avaliação, tomar decisões, pregar, alimentar. Aqui ele é o
visionário, aquele que dá o tom e o tema da igreja.
No terceiro nível, congregações-múltiplas, (quando você tem
400 ou mais frequentadores) - então a chave para isso é o
gerenciamento da equipe. Você precisa de um assistente que seja
bom em administração, de modo que você tenha tempo para se
dedicar á pregação. Quanto maior a igreja fica, mais poderoso
o púlpito precisa ser para apresentar as direções que a igreja
deve seguir. Para que sua igreja cresça do nível célula-simples
para célula-múltipla ou de célula múltipla para congregação-
múltipla, você precisa estar apto para responder positivamente
às necessidades de mudanças por mudar primeiramente o seu
próprio papel pastoral.
Agora surgem as palavras: gerenciamento da equipe, administração,
maior a igreja fica, direções, crescimento e mudança.
Para Rick Warren existem três tipos de estruturas de igreja:
baseada em (1) células-simples, (2) múltiplas-células e (3) congregações-
múltiplas. De acordo com ele, para que haja crescimento e migração
de uma fase para a outra, o pastor “precisa estar apto para responder
positivamente às necessidades de mudanças por mudar primeiramente
o seu próprio papel pastoral”.
73
sua força... Ao invés de prematuramente jogar fora a imagens
pastorais como sem sentido a consciência moderna, é melhor
ouvi-las cuidadosamente e perguntar como elas vitalmente
argumentam com as aspirações humanas contemporâneas.
Ouça atentamente as analogias contemporâneas de pastoreio
em João 10:1-18:
• A intimidade do conhecimento que o pastor tem da ovelha.
Ele segura-as em seu braço.
• O modo como o pastor chama cada uma pelo nome.
• O pastor não pula a cerca, como o ladrão, mas entra de modo
próprio pelo portão, sendo totalmente autorizado para fazer isso.
• As ovelhas ouvem a voz do pastor. Elas distinguem essa voz
de outras vozes.
• O pastor as conduz para as áreas de segurança conhecidas
como sendo as melhores para elas - alimentando-as,
liderando-as para sair e voltar.
• O pastor caracteristicamente está “a frente” delas, não apenas
guiando-as, mas olhando, por antecipação, para o bem-estar delas.
• Confiando no pastor, as ovelhas são estão salvas de estranhos
que podem tentar liderá-las abruptamente daquele que elas
aprenderam a confiar, através de uma história de fidelidade.
• Jesus é novamente chamado como o incomparável bom
pastor que se dispõe a dar sua vida pelas ovelhas.
• O bom pastor é contrastado com os trabalhadores contratados
ou temporários que, tendo pouca experiência, pode correr
para longe quando o perigo se aproxima.
• Todos os membros do rebanho o qual Jesus é o pastor são
um, unidos por ouvir sua voz (p. 51-52).
Diante dessas imagens e tão rica analogia da tarefa é a figura
pastoral, pois “quem diz que as pessoas ordinárias modernas não
podem compreender essas imagens tão poderosas, comovedoras,
simples?” (ODEN, 1982, p. 55). Essas imagens, retiradas da analogia de
75
leigo e clero não pode ser adequadamente estabelecida com
base na linguagem de superior e subordinado. Antes, ela espera a
sensível aplicação da analogia interpessoal íntima com aqueles
que estão pastoreando, nutrindo e empaticamente cuidando,
que intrinsecamente respeita as potencialidades latentes do
recipiente [itálico nosso] (ODEN, 1982, p. 55).
É importante esse esclarecimento porque muito se fala em nosso
meio que não existe nenhuma diferença entre leigo e clero. Ao afirmar
isso, é uma tentativa (correta) de se combater a perniciosa distinção
de que um é inferior (leigo) e o outro é superior (clero). Não se pode
enfatizar essa não-bíblica distinção. Mas por outro lado, existe sim
o serviço representativo – e isso é uma questão funcional, de dom
ministerial. Nem todo leigo é pastor ou exerce o pastoreio. O que se
deve acentuar não é a diferença - superior-inferior. Isso não é bíblico.
Enfatiza-se sim o chamado e dom que cada pessoa tem no corpo de
Cristo. Biblicamente, o governo da igreja é plural. Deus proporciona
ao seu rebanho os benefícios que vêm da multidão dos conselheiros.
O apóstolo Pedro reconhece o princípio de pluralidade de liderança
quando reflete sobre o ministério pastoral, dizendo: “apelo para os
presbíteros que há entre vocês, e o faço na qualidade de presbítero
como eles” (1 Pe 5:1). O apelo que Pedro faz em relação às motivações
e métodos pastorais passa pelo reconhecimento de que a liderança
pastoral é plural: “faço na qualidade de presbítero como eles”. Esse
“como eles” reflete o reconhecimento de uma liderança plural e de
mutualidade. Não existe espaço para hierarquia entre pastores; existe
sim espaço para tarefas e funções distintas que devem nos completar.
Temos muita dificuldade de ordem prática para lidar na base da
correspondência e codependência, pois em nossa mente fica a ideia
de quem manda, quem tem a última ou palavra final, quem é o líder
dos líderes. O apelo de Pedro não é feito na qualidade de manager,
administrador ou alguém superior. Ele faz “na qualidade de presbítero
como eles” – ele é epíscopos como também são seus colegas.
Um epíscopos antes de ser epíscopo é diáconos. Todos no corpo,
antes de serem chamados para exercer uma função ou ministério
específico, são chamados para serem diáconos e diaconisas. Uma coisa
iguala todos os cristãos – todos pertencem ao ministério da diaconia.
epískopos diákonos
bispo mordomo
presbuteros doulos
ancião servo
77
mesmos subordinaram. Certamente você já viu isso acontecendo
em sua ou alguma igreja, ou seja, a concorrência pelo poder (ver
BOURDIEU, Pierre. A dominação masculina. Rio de Janeiro: Bertrand
Brasil, 2003).
Conclusão
Introdução
79
relacionados ao crescimento e maturidade da pessoa, mas naquilo
que ela pode oferecer para a igreja e para o ministério do pastor. Daí,
passar a ser uma engrenagem da máquina para servir os programas e
ao próprio sistema é um pulo. Nesse processo, a pessoa é útil somente
quando produz. Deixou de produzir, passa a ser descartada, desprezada
e esquecida. Os programas são feitos para as pessoas e não as pessoas
para os programas. Quantas vezes vemos pessoas na igreja sacrificando
suas famílias, filhos, casamento, etc, em função dos programas.
Isso vem com a força espiritual pastoral que valoriza na igreja quem
produz. Desejando servir ao Senhor de coração, essa pessoa entra num
processo de produção que aos poucos vai perdendo sua pessoalidade
e individualidade. O que deveria ser flexível (programas) torna-se
sagrado e rígido, exigindo que as pessoas sejam flexíveis (em seus
horários, agenda, compromissos, prioridades, etc).
Um modelo gerencial pode produzir um ministro, cujos
interesses são apenas tangencialmente relacionadas com o bem-
estar de suas ovelhas. Alguns ministros ficam felizes em ficar até
11h00 em uma reunião de planejamento, mas são menos felizes
em ficar até 11h00 em uma visita hospitalar ou com um casal
cujo casamento está prestes a se dissolver. O Bom Pastor, pelo
contrário, dá a vida pelas suas ovelhas, não para os programas.
Ele gasta seu trabalho, suas energias, seus recursos com suas
ovelhas. Paulo, o apóstolo, a quem consideramos um brilhante
pensador e teólogo, foi também um pastor, cujo ministério aos
Efésios foi acompanhado “com muitas lágrimas” (Atos 20:19),
e que disse coisas como estas sobre a sua afeição por aqueles
que servia: “Embora, como apóstolos de Cristo, pudéssemos
ter sido um peso, fomos bondosos quando estávamos entre
vocês, como uma mãe que cuida dos próprios filhos. Sentindo,
assim, tanta afeição por vocês, decidimos dar-lhes não somente
o evangelho de Deus, mas também a nossa própria vida,
porque vocês se tornaram muito amados por nós” (1 Ts. 2:7-8)
(GORDON, 2011).
Quando uma pessoa da igreja começa a perceber que ela
vale apenas enquanto produz e decide sair desse sistema que está
sacrificando sua esposa, filhos, saúde, espiritualidade, a força pastoral
Refletindo...
Esta unidade o propósito de te fazer refletir sobre
o quem do ministério pastoral. Quem o pastor valoriza e
prioriza? Eu só vejo uma resposta: pessoas!
81
foi divulgada por McMillan e Chavis em 1986). Eles definem a como
sendo
o sentimento de pertença que os membros possuem, que
se preocupam uns com os outros e com o grupo e uma
fé partilhada de que as necessidades dos membros serão
satisfeitas através do compromisso de estarem juntos
(MCMILLAN; CHAVIS, 1986, p.9).
2. Influência
Uma outra dimensão do Sentido de Comunidade é a Influência,
a qual nos remete para uma relação de bidirecionalidade, isto
é, para uma pessoa se sentir atraída a um grupo, esta deve
ter alguma influência sobre o grupo, por outro lado, a coesão
grupal depende da capacidade do grupo para influenciar os
seus membros para a conformidade (MARANTE, 2010, p. 8).
83
• Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal,
preferindo-vos em honra uns aos outros (Rm 12:10)
• Tendo purificado a vossa alma, pela vossa obediência à
verdade, tendo em vista o amor fraternal não fingido, amai-
vos, de coração, uns aos outros ardentemente (1 Pe 1:22)
• Porque a mensagem que ouvistes desde o princípio é esta:
que nos amemos uns aos outros (1 Jo 3:11)
• Ora, o seu mandamento é este: que creiamos em o nome de
seu Filho, Jesus Cristo, e nos amemos uns aos outros, segundo
o mandamento que nos ordenou (1 Jo 3:23)
• Amados, amemo-nos uns aos outros, porque o amor procede
de Deus; e todo aquele que ama é nascido de Deus e conhece
a Deus (1 Jo 4:7)
• Amados, se Deus de tal maneira nos amou, devemos nós
também amar uns aos outros (1 Jo 4:11)
• Ninguém jamais viu a Deus; se amarmos uns aos outros, Deus
permanece em nós, e o seu amor é, em nós, aperfeiçoado (1 Jo 4:12)
• E agora, senhora, peço-te, não como se escrevesse
mandamento novo, senão o que tivemos desde o princípio:
que nos amemos uns aos outros (2 Jo 1:5)
• A ninguém fiqueis devendo coisa alguma, exceto o amor com
que vos ameis uns aos outros; pois quem ama o próximo tem
cumprido a lei (Rm 13:8)
• Ora, o Deus da paciência e da consolação vos conceda o
mesmo sentir de uns para com os outros, segundo Cristo
Jesus (Rm 15:5)
• Portanto, acolhei-vos uns aos outros, como também Cristo
nos acolheu para a glória de Deus (Rm 15:7)
• Levai as cargas uns dos outros e, assim, cumprireis a lei de
Cristo (Gl 6:2)
• E o Senhor vos faça crescer e aumentar no amor uns para
com os outros e para com todos, como também nós para
convosco (1 Ts 3:12)
85
• Não nos deixemos possuir de vanglória, provocando uns aos
outros, tendo inveja uns dos outros (Gl 5:26)
• Antes, sede uns para com os outros benignos, compassivos,
perdoando-vos uns aos outros, como também Deus, em
Cristo, vos perdoou (Ef 4:32)
• Não mintais uns aos outros, uma vez que vos despistes do
velho homem com os seus feitos (Cl 3:9)
• Irmãos, não faleis mal uns dos outros. Aquele que fala mal do
irmão ou julga a seu irmão fala mal da lei e julga a lei; ora, se
julgas a lei, não és observador da lei, mas juiz (Tg 4:11)
• Irmãos, não vos queixeis uns dos outros, para não serdes
julgados. Eis que o juiz está às portas (Tg 5:9)
Referências
87
Anotações
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Introdução
Objetivos
89
O Modelo de Pastoral de Moisés
Quando nós falamos sobre pastoral é necessário falar sobre modelos.
Existem diferentes modelos para diferentes contextos e situações. A
Bíblia nos dá os princípios. O contexto nos fornece a arena na qual a
pastoral será desenvolvida. Essencialmente, a atividade pastoral (ou
ministério) no Antigo Testamento é, em primeiro lugar, contextual.
Orlando Costas afirma que a nossa pastoral “deve estar orientada as
situações concretas” (1975:100) em que vive o ser humano. Isso significa
que a práxis pastoral depende de sua própria situação. A pastoral não
é um fim em si mesma. Ela é uma maneira para desenvolver a missão
e a prioridade de Deus. Ela é um serviço (ministério) para alcançar o
amor redentivo de Deus no mundo. Ela é contextual porque depende
das circunstâncias específicas de cada contexto.
Se a atividade pastoral tem a mesma forma e modelo para todos
os lugares, ela torna repetitiva e imitativa. O alvo é ser autóctone porque
ela é uma resposta ao seu próprio contexto. Isto é o que acontece no
Antigo Testamento. Por exemplo, quando José estava no Egito, ele
desenvolveu uma pastoral com um estilo administrativo. Quando o
povo de Deus estava vivendo como escravos no Egito, Moisés tem
que desenvolver uma pastoral de libertação. Ester desenvolveu uma
pastoral em busca de conquista, promoção e defesa dos direitos civis.
Ezequiel teve que desenvolver uma pastoral política em tempos de
crise. Esses exemplos demonstram a necessidade e importância de
desenvolvermos uma pastoral que seja relevante ao seu contexto atual.
A pastoral só será relevante, criativa e efetiva se for contextual.
Em segundo lugar, a práxis pastoral no Antigo Testamento é uma
resposta a missão de Deus. É uma resposta porque Deus age primeiro.
Neste sentido, pastoral no Antigo Testamento é pastoral a caminho
-- em movimento, seguindo a ação de Deus. Paul Hiebert disse que
a “ação missionária é primeiramente e acima de tudo o trabalho do
próprio Deus” (1985:295). Deus é o pastor que lidera seu próprio povo.
Se ele envie seu povo ao Egito, ao deserto, ao Cativeiro Babilônico, ou
qualquer outro lugar, a atividade pastoral deve ser uma responsável
resposta ao agir e controle de Deus. Isso significa submissão ao seu
comando e autoridade. Deus é o primeiro interessado em salvar o
91
se multiplique, e seja o caso que, vindo guerra, ele se ajunte com os
nossos inimigos, peleje contra nós e sai da terra” (Êx 1:9-10).
Neste momento nós podemos ver o contexto sociopolítico no qual
Moisés foi chamado para ser líder. O problema fatual sociopolítico aqui
era um conflito de classe – Israelitas (classe dominada) versos Nós (classe
dominante) (Êx 1:9). É agora um conflito entre duas nações: Israel e Egito.
É um conflito entre uma sociedade dominante urbana contra uma classe
rural pobre e dominada. Israel estava vivendo fora do Egito, em um contexto
de agrícola e trabalhadores rurais. David Filbeck define uma sociedade
camponesa como “uma sociedade dependente da elite ou dominante
sociedade...Como uma sociedade, camponeses são dependentes da elite
urbana que é econômica e politicamente mais poderosa” (1985:34).
Quando os irmãos de José foram ao Egito, depois do dramático
encontro com eles e seu velho pai, José os advertiu a dizer o seguinte
a Faraó: “Os teus servos somos pastores de rebanho” (Gn 47:3). Faraó
permitiu José conceder uma parte de Gósen aos seus irmãos. “Então, José
estabeleceu a seu pai e a seus irmãos e lhes possessão na terra do Egito,
no melhor da terra, na terra de Ramessés, como Faraó ordenara” (Gn
47:11). No meio desta história existe uma frase muito importante que
não pode passar despercebida de nós, que diz: “todo pastor de rebanho
é abominação para os egípcios” (Gn 46:34). A palavra abominável (em
hebraico “Tow` ebah” - to-ay-baw’) tem muitos significados duros:
detestável, repugnável, infame, nauseante. Em outras palavras, ser pastor
(de ovelha) era uma carreira despreza no Egito. A questão central era:
por que todo pastor de rebanho era abominado para os egípcios? Era
porque existiam diferenças culturais. Israel possuía um estilo de vida
rural. Os egípcios possuíam um estilo de vida em sociedade de classe
urbana. Ser um pastor era ter um estilo de vida rural, consequentemente,
uma carreira rude para um povo rude.
Qual era o problema por detrás das cortinas? É claro: poder e
dominação. Poder e dominação são as raízes das muitas injustiças e
opressões no mundo.
A guerra prevista pelo rei como uma ameaça não é uma guerra
para a destruição do “nós” em nosso texto, mas uma guerra da
libertação, uma guerra para escapar do país. Isto é intolerável
aos olhos do rei e seus associados, e eles decidiram tomar
medidas necessárias (Pixley 1987:3).
93
1. O chamado e suas crises
Cada chamado exige uma resposta. A resposta pode ser
positiva ou negativa. Entre o chamado e a resposta existe um período-
espaço de tempo no qual a pessoa chama e a chamada desenvolve um
relacionamento que envolve diálogo, incertezas, dúvidas, obediência,
desobediência, medo, crises de identidade e talvez confrontação. Deus
é que chama; Moisés é o chamado.
95
do chamado, a inevitável pergunta: “eu Senhor, tem certeza?”.
A resposta de Deus a pergunta de Moisés “quem sou eu?” Ele
disse, “Eu serei contigo; e este será o sinal de que te enviei: depois
de haveres tirado o povo do Egito, servireis a Deus neste monte” (Êx
3:12). A resposta de Deus ao questionamento de Moisés é um sinal, o
qual é Sua própria presença (“Eu serei contigo”). Deus estava tentando
comunicar a Moisés que Sua presença, como um sinal, iria mostrar
a faraó que Ele o havia enviado até ele. Em outras palavras, Moisés
seria o agente humano, mas de fato Deus está por detrás da cena. Não
convencido, acordo não fechado, surge a segunda crise.
97
Deus de Jacó, me enviou a vós outros; este é o meu nome eternamente,
e assim serei lembrado de geração em geração” (Êx 3:15). Esta ponte
mostraria que Moisés estava conectado com Israel, Terceiro, Deus
fornece a Moisés uma instrução específica sobre a liderança e tradição
de Israel – “Vai, ajunta os anciãos de Israel e dize-lhes: O Senhor, o
Deus de vossos pais, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de
Jacó, me apareceu dizendo: Em verdade vos tenho visitado e visto o que
vos tem sido feito no Egito” (Êx 3:16). Agora Moisés esta preparado
para ir e superar a crise sobre Deus e Seu povo. Moisés sabe que Deus
é “Eu Sou”. Ele também sabe como estar conectado com o povo e com
se relacionar com a liderança (anciãos) de Israel. Ele esta preparado
para ir, mas a terceira crise explode.
99
1.1.4. A Crise de Inadequação-Influência Pessoal
101
Um membro da minha igreja veio até mim dizendo que seu marido
havia chegado em casa com o carro amaçado na frente, e que ela viu
cabelos grudados ao sangue no para-choque. Enquanto cozinhava,
ela ouvia rádio e escutou uma reportagem dizendo de um acidente
na rodovia, que uma carro havia atropelado um homem, que morreu
na hora, e que o motorista não havia parado para socorrer. Ela vem
a mim e conta tudo. Como um pastor, que votou voto e obediência
a Deus pela justiça, resolvi ir conversar com este homem que tinha
fama de matador. Mas antes de ir eu disse para Deus: “eu vou, mas
não sozinho, preciso de alguns companheiros”. Quem iria falar com
o homem era eu, e não meus companheiros, mas a presença deles me
enchia de coragem. Moisés conhecia não somente a fama de Moisés,
mas também suas ações como político poderoso.
Assim Deus não somente dá a Moisés um companheiro mas
também um cajado, com qual poderia realizar sinais maravilhosos (Êx
4:2). O cajado era um símbolo muito importante da práxis pastoral
de Moisés. Esta palavra aparece 22 em Êxodo. “O cajado de Moisés é
um atributo simbólico válido para aquele que pastorearia uma nação
para fora do Egito” (Wildavsky 1984:38). O cajado era um símbolo e
um instrumento. Em Meribá, o povo reclama contra Moisés e Arão. E
Deus disse assim:
8 Toma a vara, e ajunta a congregação, tu e Arão, teu irmão,
e falai à rocha perante os seus olhos, que ela dê as suas águas.
Assim lhes tirarás água da rocha, e darás a beber à congregação
e aos seus animais.
9 Moisés, pois, tomou a vara de diante do senhor, como este lhe
ordenou.
10 Moisés e Arão reuniram a assembleia diante da rocha, e
Moisés disse-lhes: Ouvi agora, rebeldes! Porventura tiraremos
água desta rocha para vós?
11 Então Moisés levantou a mão, e feriu a rocha duas vezes com
a sua vara, e saiu água copiosamente, e a congregação bebeu, e
os seus animais (Nm 20:8-11).
Deus disse “fale à rocha”. Mas Moisés por sua conta e risco bate
nela duas vezes, num ato de desobediência. Como resultado, Deus
Conclusão
103
Anotações
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Introdução
105
erros e quedas. Moisés foi alguém que experimentou ambos, vitória e
fracasso. Apesar de tudo isso, a Bíblia nos afirma que Moisés era, em
seu caráter, um homem de Deus.
2.1.1. Fidelidade
“o qual é fiel aquele que o constituiu, como também o
era Moisés em toda a casa de Deus” ... “E Moisés era fiel em
toda a casa de Deus, como servo, para testemunho das coisas
que haviam de ser anunciadas” (Hb 3:2, 5).
Este verso nos mostra que a fidelidade de Moisés é espelhada em
Deus, e no Sumo Sacerdote Jesus, o qual é fiel aquele que o constituiu.
Moisés também é encontrado fiel na tarefa pela qual foi designado, em
toda a casa de Deus. Paulo diz que “o que se requer dos despenseiros
é que cada um deles seja encontrado fiel” (1 Co 4:2). Fidelidade e
eficiência demonstram nossa lealdade para com Deus como também
nosso desejo de buscar o melhor para Deus. Encontramos líderes que
são fiéis mas não são eficazes. Por outro lado, encontramos líderes que
são eficazes mas não são fiéis. Nosso alvo deve ser o de integrar ambos,
como Moisés fez em seu ministério.
Em Hebreus 11:23-29 nós podemos ver como Moisés é classificado
como alguém que realmente viveu e trabalhou pela fé. O texto diz:
2.1.2. Servo
“Assim, morreu ali Moisés, servo do Senhor...” (Dt 34:5).
“...Lei de Deus, que foi dada por intermédio de Moisés, servo de
Deus...” (Ne 10:29).
“...escritas na Lei de Moisés, servo de Deus...” (Dn 9:11).
“Lembrai-vos da Lei de Moisés, meu servo...” (Ml 4:4).
“E Moisés era fiel em toda a casa de Deus, como servo, para
testemunho das coisas que haviam de ser anunciadas” (Hb 3:5).
“e entoavam o cântico de Moisés, servo de Deus...” (Ap. 15:3)
Ser um servo é uma condição para todas aquelas pessoas que
desejam ser líderes. Moisés era um servo. Somente um servo pode
suportar todas as circunstâncias que Moisés passou. O povo o
confrontou, negligenciou, desobedeceu e o traiu, mas Moisés continua
liderando-os para conquistar a terra prometida e sua liberdade. Ele foi
chamado por Deus “meu servo” (Ml 4:4). Muitos líderes preocupam-
se sobre como o povo os chama (pastor, reverendo, mestre, doutor),
do que sobre como Deus pensa a nosso respeito. Precisamos sempre
nos lembrar que Deus assim deseja dizer a nosso respeito: “Muito
107
bem, servo bom e fiel; sobre o pouco foste fiel, sobre muito te colocarei;
entra no gozo do teu senhor” (Mt 25:21). Liderança é serviço em ação para
aquelas pessoas as quais Deus nos deu a responsabilidade de cuidar. Por isso,
imitamos Jesus, que disse que “o Filho do homem não veio para ser servido,
mas para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos” (Mc 10:45).
Líderes são pessoas que devem “andar como ele andou” (1 Jo 2:6).
2.1.3. Humildade
“Ora, Moisés era homem mui manso, mais do que
todos os homens que havia sobre a terra” (Nm 12:3.)
Como um homem de Deus Moisés foi um servo humilde. A Bíblia
diz que “Ele [Deus] escarnece dos escarnecedores, mas dá graça aos
humildes” (Pv 3:34). E também que “Deus resiste aos soberbos, mas
dá graça aos humildes. Humilhai-vos, pois, debaixo da potente mão de
Deus, para que a seu tempo vos exalte” (1 Pe 5:5-6). Uma das questões
centrais na vida do Faraó era o orgulho. Moisés e Aarão precisaram
confrontá-lo, dizendo, “Assim diz o Senhor, o Deus dos hebreus: Até
quando recusarás humilhar-te diante de mim? Deixa ir o meu povo,
para que me sirva” (Êx 10:3). O testemunho bíblico sobre Moisés,
nesta questão da humildade, é incrível Afirma que este homem “era
homem muito humilde, mais do que todos os homens que havia sobre
a terra” (Nm 12:3)
2.1.4. Oração
Ação pastoral sem oração é o mesmo que ação sem permissão.
A maioria dos pastores sofre nesta área de suas vidas. Os dois
principais problemas na vida dos pastores são: a falta de atenção
na sua espiritualidade e a falta de atenção na vida de sua família.
Moisés ajuda-nos a entender quão crucial é a oração no ministério,
especialmente em relação a aquelas pessoas que são osso duro de roer,
que nos traíram. Moisés ora pelo povo, e por seu irmão Aarão, que o
traiu incitando povo. Diante desta trágica experiência Moisés disse:
18 Prostrei-me perante o Senhor, como antes, quarenta dias e
quarenta noites; não comi pão, nem bebi água, por causa de
109
Na tarefa da liderança pastoral nós facilmente corremos o risco de
transformar amor em ódio. Quanto pastores que passaram por igrejas
e experimentaram essa relação. Como resultado, muitos pastorados
passam a ser desenvolvidos na base da frustração. A oração não somente
é um poderoso instrumento no ministério, mas também nos torna mais
silente e mais dependente de Deus. Também permite que coloquemos
nossas dores, frustrações e qualquer sentimento de traição nas mãos de
Deus. Somente assim podemos vencer essas situações e sentimentos. Se
falharmos nesse processo, a derrota nos espera.
2.1.5. Profeta
“E nunca mais se levantou em Israel profeta como
Moisés, a quem o Senhor conhecesse face a face, nem
semelhante em todos os sinais e maravilhas que o Senhor
o enviou para fazer na terra do Egito, a Faraó: e a todos os
seus servos, e a toda a sua terra; e em tudo o que Moisés
operou com mão forte, e com grande espanto, aos olhos de
todo o Israel” (Dt 34:10-12).
Moisés não somente era o homem mais humilde da face da terra.
Mas também um profeta sem igual em Israel. No início Moisés teve
problemas para aceitar o ofício de profeta. Mesmo que Deus tenha
dito que o ajudaria a falar e o ensinaria o que ele deveria falar (Êx
4:12). Moisés rapidamente recusou. E neste contexto, Deus disse: “Eis
que te tenho posto como Deus a Faraó, e Arão, teu irmão, será o teu
profeta” (Êx 7:1). Moisés era para ser o profeta e não Arão. Moisés logo
aprendeu que Deus era mais poderoso que Faraó e ele mesmo torna-se
o homem “a quem o Senhor conheceu face a face” (Dt 34:10). Esta era
a fonte da sua autoridade: o próprio Deus.
2.1.6. Realizador
“E em tudo o que Moisés operou com mão forte, e
com grande espanto, aos olhos de todo o Israel” (Dt 34:10).
Finalmente, Moisés foi um homem que realizou obras
maravilhosas (de poder). Ele era não somente humilde, não somente
111
santificardes diante dos filhos de Israel, por isso não introduzireis esta
congregação na terra que lhes dei” (Nm 20:12). Assim, Moisés e outras
pessoas não entrariam na terra prometida. Muitas discussões existem
sobre o porque disto. Menciono quatro delas:
113
exemplo, quando líderes mudam-se ou através de um novo desafio
em suas vidas, ou por meio de uma intervenção negativa, como más
atitudes, mau caráter e desobediência.
Continuidade é o elo de conexão com alguma coisa ou algo
relacionado ao presente e futuro. Na vida de Moisés podemos ver
claramente este processo de continuidade e descontinuidade. Sua
desobediência acelerou o processo no qual afetou sua liderança.
Definitivamente isto veio da sua falta de fé. Deus disse a Moisés,
“Porquanto não me crestes a mim, para me santificardes diante dos
filhos de Israel, por isso não introduzireis esta congregação na terra
que lhes dei” (Nm 20:12). Disse Deus ainda, “porquanto no deserto
de Zim, na contenda da congregação, fostes rebeldes à minha palavra,
não me santificando diante dos seus olhos, no tocante às águas (estas
são as águas de Meribá de Cades, no deserto de Zim)” (Nm 27:14).
Mesmo que Moisés tenha falhado em obedecer a Deus, ele teve uma
incrível preocupação para com o povo. Moisés pediu a Deus um líder
para ficar em seu lugar. Isto nos mostra que sua preocupação para com
o povo era maior do que sua preocupação para ele mesmo. O povo não
poderia viver como ovelhas que não tem pastor. Por causa disso, Deus
chamou Josué para ser o sucessor de Moisés, para continuar o 0processo
de libertação que Deus havia começou no Egito. Como mencionado
anteriormente, Moisés demonstra sua humildade agindo desta forma.
Moisés disse a Deus, “Que o senhor, Deus dos espíritos de toda a carne,
ponha um homem sobre a congregação, o qual saia diante deles e entre
diante deles, e os faça sair e os faça entrar; para que a congregação do
Senhor não seja como ovelhas que não têm pastor” (Nm 27:15-17).
Conclusão
115
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Introdução
Objetivos
117
O modelo da pastoral em Paulo
Levou tempo para que Paulo pensasse em si mesmo como um
pastor. Originalmente ele acreditava que ele tinha feito o seu dever,
estabelecendo igrejas e por ficar com eles por um ano ou mais, a fim
de iniciá-los sobre o que significava viver como cristãos. Então, ele
confiou-lhes o Espírito Santo, e se sentiu livre para avançar para novos
campos missionários. Esta foi a maneira como ele tratava as igrejas
da Galácia e Filipos. Quando ele deixou essas igrejas, não há nenhum
indício de que ele pretendia voltar ou até mesmo de manter relações.
Esta atitude mudou em Tessalônica. Quando Paulo foi forçado
a fugir da cidade, ele sabia que os convertidos ali estavam sendo
perseguidos. Ao chegar em segurança em Atenas, ele estava desesperado
para obter informações. Por razões inexplicáveis, ele não foi capaz para
voltar pessoalmente a Tessalônica, mas foi capaz de enviar Timóteo.
O retorno da Timóteo com a boa notícia da sobrevivência da
comunidade foi a ocasião da primeira carta de Paulo, que deu iniciou
a uma correspondência na qual ele lidou com um número problemas
pastorais dos Tessalonicenses. Paulo tinha descoberto a necessidade
de manutenção.
Esta atitude mudou em Tessalônica. Quando Paulo foi forçado a
fugir da cidade, ele sabia que seus convertidos e líderes que ali estavam
não possuíam uma teologia (sistemática) pastoral. Eles lidavam com
os problemas específicos que iam surgindo em suas comunidades
individuais. Sob as particularidades das soluções, no entanto,
encontram-se princípios de valor perene.
O Jesus histórico
As cartas de Paulo abundam em pistas que indicam o quanto
ele sabia sobre as ensinos e ações do Jesus histórico. Paulo certamente
extraiu seu conhecimento das muitas testemunhas oculares, mas não
pode haver dúvida de que a principal fonte de tal conhecimento foi Pedro,
que tinha vivido com Jesus, já que ambos tinham sido discípulos de João
Batista, e com quem Paulo passou duas semanas no início de sua carreira
como cristão (Gl 1:18). Infelizmente, do ponto de vista dos estudiosos
119
A segunda razão para a importância que deu ao Jesus histórico é
que ele não poderia impor aos convertidos uma série de mandamentos
que iria determinar o seu modo de ser cristão. A razão para isto veremos
a seguir. Mas mesmo assim tinha de lhes dar alguma orientação. A
única alternativa era um modelo que eles poderiam imitar. O candidato
único possível era Jesus, a quem eles tinham que saber tão bem quanto
possível: “Levem os fardos pesados uns dos outros e, assim, cumpram
a lei de Cristo” (Gl 6:2). Em sua pessoa e comportamento Jesus
tanto articulado sua procura de Deus e, ao mesmo tempo modelou
a resposta pela qual é exigida dos cristãos. A nova lei não era uma
lista de requisitos articulados pelos líderes cristãos, mas o desafio da
personalidade do Jesus histórico, o que, naturalmente, era muito mais
abrangente do que qualquer código de preceitos.
121
Altos princípios muitas vezes criam problemas práticos. Uma era
rejeitar o apoio financeiro em princípio, mas rapidamente se tornou
claro para ele que, conforme o número dos seus convertidos crescia,
menos tempo ele tinha para se dedicar a ganhar seu próprio sustento
como fazedor de tendas. Sua renda diminuiu na proporção do seu
investimento no ministério pastoral. A solução de foi aceitar subsídios
apenas das comunidades nas quais ele já não vivia mais entre elas.
Assim, por exemplo, enquanto trabalhava em Tessalônica, por duas vezes
recebeu ajuda financeira de Filipos (Fl 4:16). As igrejas da Macedônia
vieram em seu auxílio quando ele trabalhou em Corinto (2 Co 11:9).
Nestes casos, o presente veio como um montante fixo, que deixou os
doadores individuais anônimos. Foi um presente da comunidade, e ele
não teve nenhum problema em ser servo dela, particularmente quando
a distância fez exigências práticas improváveis.
123
Bondade por compulsão
A pedra angular da prática pastoral de Paulo era sua convicção de
que ele não poderia impor uma decisão moral sobre seus convertidos
por meio de um comando direto. Ele sentiu que não poderia tratar de
uma igreja como se fosse um exército de que ele era o oficial superior.
Esta visão crucial para compreender a sua teologia é perfeitamente
ilustrada por dois incidentes. Onésimo era um escravo que tinha
ferido seu mestre Filemon. Na esperança de amenizar sua punição,
ele correu para pedir-lhe que interviesse. É claro, concordou, e sua
intercessão está contida na carta a Filemon. diz a Filemon que ele tem
a autoridade para ordenar que fizesse o que era necessário, ou seja,
tratar Onésimo como um irmão em Cristo e não como um criminoso
culpado. Veja o que ele afirma:
Por isso, mesmo tendo em Cristo plena liberdade para mandar
que você cumpra o seu dever, prefiro fazer um apelo com base
no amor (v. 8-9).
Teria sido mais simples para dar um comando de ordem
expressando seu desejo em relação a Onésimo, mas ele sentiu que não
tinha escolha senão tomar a arriscada opção de persuasão. Por quê?
Felizmente nenhuma especulação é necessária, porque o próprio
responde à pergunta: “Mas não quis fazer nada sem a sua permissão,
para que qualquer favor que você fizer seja espontâneo, e não forçado”
(v. 14). Se tivesse dado um comando para Filemon, este teria se sentido
obrigado a respeitar. Como por “obrigação” ele seria um prisioneiro e
não poderia ter agido livremente. Sua ação teria sido imposta por , não
livremente escolhida por ele próprio. Basta refletir um pouco sobre
a “bondade por compulsão” para perceber o que é uma tremenda
contradição implícita. Ela vai contra a própria natureza do ser humano.
Fez um “apelo” para que Filemon ativasse seu “livre arbítrio”. Só uma
ação livremente escolhida tem qualquer valor moral.
Este incidente envolvendo Filemon não é único nas cartas de
Paulo. Precisamente o mesmo tipo de questão moral estava envolvido
na coleta para os pobres de Jerusalém. Naturalmente queria que
os Corintos fossem tão generoso quanto possível, e sem vacilar ele
adiciona mais imperativo na lista de destaque deles:
125
falsos (“pecado”), que governou a sociedade. Os judeus deram a
obediência cega à Lei, que os ordenara, e eles se submeteram. Como os
prisioneiros nem judeu nem pagão poderia mudar sua condição. Eles
estavam programados. Eles não poderiam escolher livremente. viu
com clareza o que é típico de sua inteligência incisiva que a salvação
deve acima de tudo ser caracterizada pela liberdade: “Foi para a
liberdade que Cristo nos libertou. Portanto, permaneçam firmes e
não se deixem submeter novamente a um jugo de escravidão” (Gl
5:1). Assim, para Paulo, dar ordens sobre ações morais ao seu rebanho
seria devolvê-los ao seu estado impenitente. Seria para reduzi-los ao
nível de bonecos manipulados por um boneco mestre. Ela (ordem)
destruiria a maturidade que é indispensável para a vida adulta moral.
Os líderes locais
Dada a sua atitude para com os comandos em comunidade, torna-
se claro porque não seleciona pessoas para ocupar cargos de autoridade
em suas igrejas. Seria impor uma estrutura de comunidade a qual deveria
se evoluído por ela mesma. Para a comunidade de Tessalonicenses ele
diz: “Agora lhes pedimos, irmãos, que tenham consideração para com
os que se esforçam no trabalho entre vocês, que os lideram no Senhor e
os aconselham. Tenham-nos na mais alta estima, com amor, por causa
do trabalho deles. Vivam em paz uns com os outros” (1 Ts 5:12-13).
A situação aqui prevista é dos crentes, que por sua própria iniciativa,
usam seus dons de contribuição para atender às necessidades da
comunidade. Eles assumem a liderança para ministrar os outros. Eles
não são selecionados ou convidados. O sucesso do ministério deles é
afirmado pelo “trabalho/trabalhar”. O propósito da intervenção de
Paulo é para alertar a comunidade para o que ela já está fazendo. Líderes
de fato devem ser reconhecidos como tal.
A mesma situação é desenvolvida em Corinto:
Vocês sabem que os da casa de Estéfanas foram o primeiro
fruto da Acaia e que eles têm se dedicado ao serviço dos santos.
Recomendo-lhes, irmãos, que se submetam a pessoas como eles
e a todos os que cooperam e trabalham conosco (1 Co 16:15-16).
127
A voz determinante era a da comunidade. Paulo tinha o direito
de insistir na importância do valor da autoridade, mas era o dever da
comunidade determinar a estrutura na qual ela estava encarnada.
A imagem de pastor
Paulo tira o véu de sua vida interior porque ele submeteu sua
vontade a Deus e ele está escrevendo inspirado por Deus e Deus quer
que Sua vida interior seja vista pelos cristãos. O instrumento escolhido
por Deus para levar o Evangelho aos gentios retira o véu, porque suas
palavras são universalmente aplicáveis. Existe o perigo de idealizar os
santos e cair sob a frustração de olhar para eles, não como homens, mas
como seres angelicais. Quem não experimentou em algum momento
de sua vida o conflito que Paulo apresenta em Romanos 7?
15 Não entendo o que faço. Pois não faço o que desejo, mas o
que odeio. 16 E, se faço o que não desejo, admito que a lei é boa.
17 Neste caso, não sou mais eu quem o faz, mas o pecado que
habita em mim. 18 Sei que nada de bom habita em mim, isto é,
em minha carne. Porque tenho o desejo de fazer o que é bom,
mas não consigo realizá-lo. 19 Pois o que faço não é o bem
que desejo, mas o mal que não quero fazer, esse eu continuo
fazendo. 20 Ora, se faço o que não quero, já não sou eu quem
A Realidade do Mal
Paulo compartilha com sua época a crença em poderes
demoníacos, porém assegura que os cristãos não precisam temê-los
(Rm 8:38-39) e que Jesus triunfou sobre eles na cruz (Cl 2:15). Mas,
apesar de derrotados, estes poderes ainda resistem, estão ativos e
nós devemos estar prevenidos contra eles (Ef 6:10-20). Para a mente
moderna, a personificação do mal é muitas vezes repugnante. Ninguém
129
nega a existência do mal, porém se interpreta como complexo
psicológico, determinismos sociológicos ou impulsos biológicos. O
mundo moderno está lutando contra o mal apesar de ter dificuldade
em aceitar o Mal com um M maiúsculo, como Paulo aceitou. O espírito
racionalista percebe os males ou sistemas de males considerados como
independentes entre si. Não encontra a evidência de que existe algum
poder, ou algum ser pessoal que de alguma maneira conecte todos
estes males isolados. Santo Agostinho já dizia: “O melhor truque de
Satanás é convencer-nos de não existe”. Jesus disse: “Asseguro-lhe que
nós falamos do que conhecemos e testemunhamos do que vimos,
mas mesmo assim vocês não aceitam o nosso testemunho” (Jo 3:22).
Segundo o testemunho dos Evangelhos, Jesus acreditava na existência
de Satanás. Paulo foi à mesma linha de pensamento.
Uma das passagens mais importantes para compreender o
ministério pastoral de Paulo é Gálatas 6:1-10. Em 6:1 Paulo diz: “Se
alguém for surpreendido (pego) em algum pecado”. Uma pergunta:
surpreendido por quem? Logo em seguida ele diz: “Cuide-se, porém,
cada um para que também não seja tentado”. Tentado por quem? É
claro que Paulo está se referindo a Satanás como um ser capaz de
tentar o ser humano. O verbo grego traduzido por “cuide-se” (skopéo)
poderia ser traduzido como “estar em vigilância”, “estar preparado”.
Talvez seja a imagem implícita do cristão como um soldado, tão usada
por Paulo. A realidade do mal deve ser sempre levada em consideração
no ministério pastoral.
131
Devemos ser humildes diante de Deus e do nosso próximo. Só
assim seremos livres e construiremos uma comunidade de libertos,
como fruto de uma pastoral libertadora.
Um segundo aspecto da abordagem pastoral de Paulo é o amor.
A diferença com o aspecto anterior, é que o amor é consequência do
trabalho de Deus no pecador que se arrependeu e procura alcançar a
plena humanidade de Cristo. É a obra do Espírito Santo no ser humano.
Quando a Igreja de Corinto estava convulsionada pelas divisões, o
ministério pastoral de Paulo concentrou-se no amor: “Ainda que eu
fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o
sino que ressoa ou como o prato que retine”. O capítulo 13 é o caminho
mais excelente (12:31). Note que Paulo apresenta o amor como um
carisma. Escrevendo aos Gálatas diz que o amor é o primeiro fruto do
Espírito (5:22). Começa o sexto capítulo da epístola com as palavras:
“Irmãos”. O que significa isso? Como você entende essa palavra à luz
de 3:1? (“Ó gálatas insensatos! Quem os enfeitiçou? Não foi diante dos
seus olhos que Jesus Cristo foi exposto como crucificado”). Podem
esses insensatos ser irmãos? Não é que a palavra escapou sem perceber!
Nos seis capítulos de Gálatas, Paulo usa a palavra “irmãos” 11 vezes.
É somente pela presença do Espírito Santo que Paulo pode amar os
Gálatas, mesmo quando ele odeia tudo o que está acontecendo nessas
congregações. Hoje os psiquiatras afirmam que é realmente o amor
que cura. Diz que todos os mandamentos da lei de Deus se resumem
no amor ao próximo e o cumprimento da lei de Deus é amor:
8
Não devam nada a ninguém, a não ser o amor de uns pelos
outros, pois aquele que ama seu próximo tem cumprido a lei.
9
Pois estes mandamentos: “Não adulterarás”, “não matarás”,
“não furtarás”, “não cobiçarás”, e qualquer outro mandamento,
todos se resumem neste preceito: “Ame o seu próximo como
10
a si mesmo”. O amor não pratica o mal contra o próximo.
Portanto, o amor é o cumprimento da lei (Rm 13:8-10).
Intelectualmente estamos todos convencidos de que o amor é o
primeiro fruto e assumimos que todos os cristãos têm a presença do
Espírito Santo. O problema nevrálgico surge quando somos obrigados
a lidar com situações da vida diária que são intrigantes e na qual se
supõe que, como discípulos de Cristo, devemos agir pelo amor.
133
também não seja tentado”). Devemos ajudar nosso irmão(ã) como
se a ferida fosse a minha. também fala da Igreja como um só corpo
em Cristo (Rm 12, 1 Co 12, Ef. 4). Platão, na República, afirma que
ninguém diz que tem dor em um dedo, sem que o dedo não doa. A dor
de um irmão(ã) ferido, um membro do corpo ferido, é a dor de todo o
Corpo de Cristo. Se é que realmente somos o Corpo de Cristo, se é que
realmente somos de fato igreja.
Restaurar, essa é a tarefa da igreja como comunidade terapêutica.
O verbo grego é katartidso no Evangelho tem o sentido de “reparar ou
consertar as redes” (Mt 4:21, Mc. 1:19). Ou seja, fazer com que as redes
se tornem adequadas para cumprir a missão para a qual foram criadas.
Isto sugere uma imagem que os apóstolos precisavam ser remendados
a fim de se tornarem pescadores de homens. Jesus disse: “Sigam-me, e
eu os farei” (Mt 4:19, Mc 1:17, Lc 5:10). O homem que segue a Cristo
é capaz de alcançar a plena humanidade. A mesma ideia é encontrada
em Efésios 4:12, no contexto dos dons espirituais, diz que entre as
razões por detrás desses dons está “aperfeiçoamento dos santos”. No
original não há um verbo, mas um substantivo - katartismós, que
vem de katartidso. Os santos são restaurados para a humanidade
que Deus os criou, seguindo a Cristo para se tornar verdadeiramente
humanos. Todos devemos chegar (katantáo) a unidade da fé. Todos
nós terminamos nossa jornada como seres humanos tornando-
se completos, acabados, integral, que é o que fala em Efésios 4:13
traduzido por a “plenitude de Cristo” (anér teleiós). Este homem deve
ter a medida da estatura da plenitude de Jesus Cristo. nos apresenta
dois extremos, por um lado homem de integridade, acabado, por
outro lado fala do bebê (nepios), que é levado para lá e para cá sem
ser capaz de detê-lo (Ef 4:14). A restauração dos santos é o processo
de crescimento que leva o crente a estar de acordo com a estatura da
plenitude de Cristo.
Em resumo, a técnica pastoral de Paulo tem, pelo menos, três
pontos fundamentais:
• O primeiro lugar Paulo recomendou atitude compreensiva e
solidária para com o pecador. Não convertermos em juízes,
mas sim em pastores e cada pastor tem um cajado não bater
nas ovelhas, mas para salvá-los do abismo.
Conclusão
135
Anotações
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Introdução
Objetivos
137
A pastoral como mobilização, treinamento e
supervisão
A pastoral exige três grandes momentos: mobilização, treinamento
e supervisão. A mobilização refere-se ao processo de convocar as pessoas
para uma mesma finalidade, fazendo com que o povo ande unido no
mesmo propósito. O treinamento refere-se ao passo de capacitar quem
foi mobilizado. Mobilização sem treinamento é defraudação. Se houve
um convocatório para se fazer algo, então será necessário o treinamento
para tal. Supervisão é o processo de revisão e acompanhamento daquilo
que foi feito, visando encorajamento e concerto.
A ideia
Valores e visão informam a estratégia e estruturas.
Eles estabelecem propósito para a ação. Valores e visão são
diferentes.
139
Passo 2: Alinhe as estruturas com as estratégias
2.1. O que isso significa:
- alinha a igreja através de alguns processos;
2.2. Como funciona:
- avalie o nível de estratégia e clareza tática;
- decida a melhor estratégia de engajamento das pessoas.
A ideia
No passado, igrejas se organizaram por meio de
estruturas verticais para obter melhor vantagem dos experts
funcionais (pastores). Na estrutura
hierárquica vertical cada pessoa
entende onde deve ser colocada e
qual a sua função. A direção é clara
porque o processo de decisão está no
topo da pirâmide. Infelizmente, neste
tipo de organização estrutural, clareza
é alcançada à custa dos membros.
Na estrutura vertical muitas pessoas
não entendem ou possuem uma visão geral da igreja, seus
objetivos e estratégias e como o ministério delas podem
contribuir para o desenvolvimento da missão.
141
• A audiência – pathos ‘estado emocional’, levar o público: a
identificar-se, influenciar-se e sentir chama em aceitar =
refere-se ao estado emocional da audiência, pessoas reagem
de diferentes formas conforme o momento. Isso exige do
comunicador sensibilidade e adaptação flexível ao momento.
143
Toda igreja local é uma verdadeira representação do corpo de
Cristo quando as pessoas servem o mundo em missão. Se a igreja
local falha em “ir” e ao invés disso, as pessoas esperam que os outros
“venham” até elas, então são desobedientes. Se as testemunhas da igreja
estão dentro das próprias paredes e não “Jerusalém, Judéia, Samaria e
nos fins da terra” (Atos 1:8), a igreja negligencia sua vocação primária
como sacerdote para o mundo. William Temple, arcebispo anterior
de Canterbury, disse que “a Igreja de Jesus Cristo é a única sociedade
cooperativa que existe para o benefício dos não membros”. A igreja
local tem que recuperar sua reputação como agente-de-missão, que
intensamente apaixonada responde ao mundo para a glória do Deus.
Examinemos as características de igrejas missionais agora.
1. Igreja Missionais
1.1. Igrejas missionais abandonam o modelo
Constantiniano
Uma prioridade frequente da igreja local é atrair as pessoas para vir aos
espaços físicos da igreja para incluir os “pagãos” na vida dela. Este modelo
começou com o Império romano, especialmente depois da conversão de
Constantino e Cristianismo se tornou a religião romana oficial. Desde
aquele tempo, o “Modelo Constantiniano” levou a igreja a enfatizar que o
que acontece dentro do espaço físico da igreja ou culto é “igreja”.
Consequentemente, igrejas oferecem cultos e programas de
educação, mas é fraca em seu ministério fora do seu próprio edifício.
Se esses quiserem se juntar à vida de fé, eles têm que deixar sua
cultura e têm que se unir a nossa igreja. A igreja não vai até eles. Este
modelo “venha a nós” funcionou na Igreja Ocidental nessa cultura de
Cristandade. Sem muito esforço, pessoas vieram as nossas igrejas e
se adaptaram a nossa cultura. Muito frequentemente, os missionários
Ocidentais plantaram igrejas Constantinianas em terras de não cristãs.
Em cada época, cristãos veem o modelo Constantiniano rachado.
Eles veem a encarnação de Jesus como um chamado para a igreja
deixar seu edifício “seguro” e se mover em direção ao mundo daqueles
que estão tentando servir. Estes cristãos missionais se adaptam à
145
culturais, pode haver diferenças que estão dentro das culturas, como a
cultura das crianças, cultura do surdo, cultura do viciado, ou a cultura
do ferido com AIDS. Frequentemente a primeira tarefa de uma igreja
simplesmente é escutar. Com o passar do tempo, igrejas de missionais
buscam falar de Cristo para uma cultura diferente.
Nenhuma cultura é superior a qualquer outra cultura, assim o
missionário é encorajado a não ver sua própria cultura como superior.
Pedro falou a Cornélio, um gentio: “agora percebo verdadeiramente
que Deus não trata as pessoas com parcialidade [em relação a qualquer
cultura]. Mas de todas as nações [cultura, as pessoas se agrupam]
aceita todo aquele que o teme e faz o que é justo” (At 10:34-35).
147
seu suporte financeiro por três meses, ele achou modos para
prover sua família. Ela viu Robert lidar com uma filha adotiva
difícil. Ela o viu dar generosamente para aqueles que estavam
em necessidades maiores que as dele. Depois de dois anos
convivendo com o Robert e sua família essa mulher se tornou
uma seguidora de Jesus. Ela foi equipada como uma missionária
para a sua própria aldeia. Depois de três semanas, quinze dos
seus amigos e parentes desejaram ser batizados. Existem mais
de cem cristãos na aldeia dela.
149
primitivas da Ásia Menor, Grécia e Roma, nós achamos estruturas
diferentes. Uma estrutura com anciões (presbyteroi) como em Éfeso,
uma estrutura com supervisor ou bispo (episkopos) como em Roma,
ou uma estrutura de liderança compartilhada como em Corinto.
O Novo Testamento não apresenta só uma estrutura válida para
a igreja local, mas deixa claro que organismo requer organização. Nós
exploraremos as estruturas de igreja missional agora.
151
crescimento! Nas igrejas do New Life Fellowship em Mumbai, Índia, a
igreja cresceu porque não havia nenhum edifício de igreja disponível e
as pessoas se encontraram em grupos nas casas conduzidos por líderes
leigos. Como resultado, o movimento cresceu em centenas de igrejas.
153
de todos os crentes e convocamos a igreja para equipar, encorajar
e capacitar as mulheres, homens e jovens para cumprir a vocação
como testemunhas e colaboradores na grande tarefa mundial de
evangelização”. Nós somos desafiados para ser o que a igreja sempre foi:
pessoas de carne e sangue que levam a realidade do evangelho dentro
delas através do seu ser e ação. Nós acreditamos então fortemente que
o sacerdócio de todos os crentes será a estrutura básica para a igreja
local e para missão no futuro. Em um pequeno folheto preparado para
o Foro de Evangelização Mundial, 2004, C. Rene Padilla escreve:
... a perspectiva do Novo Testamento não provê nenhuma base
para uma instituição hierárquica na qual uma elite pequena segura
um monopólio de dons e ministérios, deixando a maioria para se
limitar a “submeter” a missão dos líderes... Missão integral demanda
a recuperação do sacerdócio de todos os crentes na extensão na
qual a Igreja se torna uma comunidade onde todos os membros,
igualmente, encorajam um ao outro para descobrir e desenvolver
os dons espirituais e ministérios nas incontáveis áreas da existência
humana que precisa de transformação pelo poder do evangelho.
Um evangelista de Lagos explicou porque uma igreja na Nigéria
está crescendo a uma taxa incrível. “Disseram ao nosso povo que
pastores não geram ovelha. Que ovelhas geram ovelha. A tarefa da
evangelização pertence à elas. Assim os pastores e as ovelhas encorajam
um ao outro para levar a evangelização seriamente”. O evangelista
Nigeriano relacionou que se qualquer um em uma igreja da Nigéria
(ou pelo menos os do conhecido deste evangelista) viesse para igreja
durante um mês sem trazer alguém que era não-alcançado, diziam
que eles estavam vivendo em pecado”. Evangelização foi considerado
um imperativo divino para todos os crentes. Trazendo pessoas para
igreja pelo menos uma vez por mês era uma responsabilidade mínima.
Como na igreja primitiva, o sacerdócio de todos os crentes
combina com o redescobrimento dos dons do Espírito formando um
espectro bíblico amplo. Quando estes dons são concedidos, constroem
o corpo e enviam a igreja para Jerusalém, Judéia, Samaria e aos confins
da terra. Entre estes dons encontramos o equipamento básico para
evangelização, comunicação, serviço e liderança.
155
4:19). Pastores não precisam estar envolvidos em tudo o que a igreja
tenta fazer, mas deveriam estar envolvidos regularmente em algum
programa evangelístico e ministério compassivo.
Os Manifesto de Manila afirmou que “Jesus não só proclamou
o Reino de Deus, ele também demonstrou sua chegada por meio de
obras de misericórdia e poder”. Na Alemanha surgiu um programa
chamou Falando Quietamente Sobre Sua Fé (Speaking Quietly About
Your Faith). Sua proposta era mobilizar o corpo inteiro de crentes
para sentirem-se confortáveis em falando uma linguagem como sobre
a fé. Eles começam falando com outros cristãos. Uma vez eles estão
confortáveis em falar sobre a fé com outros cristãos eles foram mais
bem preparados para falar abertamente com os fora da igreja.
Conclusão
157
Anotações
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Introdução
Objetivos
159
Continuando com nosso tema que tem sido negligenciado em
muitas igrejas pois mobilizar envolve muito tempo e muito preparo,
queremos desafiar você a colocar os membros de sua comunidade em
ação para a expansão do Reino de Deus.
161
local como para o próprio líder. Por exemplo, a igreja pode ser manipulada
facilmente e o líder solitário falha na responsabilidade de prestar contas.
Além disso, nós sabemos pela experiência que a saúde da igreja
local e a multiplicação da mesma requer espaço a líderes múltiplos.
Deus é glorificado e a missão de Deus avança quando grupos de
cristãos dão as mãos para juntos fazer o trabalho de expansão do reino.
A Bíblia deixa claro que existe um amplo espectro de líderes na
igreja local e que não tem mais status que o outro, mas têm funções
diferentes dentro do corpo de Cristo. Na maioria dos lugares, o pastor
é ainda o influenciador fundamental nas igrejas locais. O desafio
do pastor é conduzir na direção de Deus e não na direção de suas
preferências pessoais.
O papel dos líderes não é fazer o trabalho, mas conduzir e
encorajar o corpo inteiro na missão. A paixão dos líderes tem que ser
para todas as pessoas e vice-versa.
163
Líderes missional frequentemente são apóstolos – aqueles
transformam visões em realidades, pintando a visão da comunidade
diante os olhos dos mesmos, fazendo isto de forma tão atraente que
os tornará mensageiras Deus em uma terra nova, uma cultura e
tempo novo. João Batista chamou e treinou pessoas para seguir outro.
Professores e seminaristas fazem isso sempre. Liderança e discipulado
devem treinar e equipar pessoas para serviço em outras situações,
para altos propósitos, alcançar os não alcançados. Lideres locais criam
caminhos para a Judéia, Samaria e os confins da terra.
165
a oportunidade da igreja local caminhar ao lado de indivíduos em
desacordo com o sistema de justiça criminal que procuram apoio,
enquanto a reintegração na vida da comunidade. Essa parceria
foi elogiado por causa do testemunho para o mundo exterior e do
fortalecimento dos membros.
167
igrejas, muito pelo contrário, há quem defenda que a igreja deve se
preocupar com pessoas ou “almas” e não com a terra, porém, desde a
criação Deus deu ao ser humano o mandato de cuidar da terra e das
demais criaturas.
A expressão eco de ecologia, economia, ecumenismo, ecossistema,
é derivada do termo grego oikos que significa “casa”, por isso também,
pode ser traduzido por “ambiente”, “habitat”. A preocupação com a
natureza e ecologia, com o desenvolvimento econômico sustentável
não é uma forma de se preocupar com algo estranho ao reino de
Cristo, mas de se preocupar com nossa habitação.
A preservação do meio ambiente é uma forma de guardarmos e
cultivarmos o “jardim” que Deus criou. A igreja muito provavelmente
não desenvolverá projetos de preservação e proteção, porém, apoiará
indivíduos e organizações que se envolvem com essas questões.
169
Algumas dicas no processo de supervisão:
2. Escute as dificuldades
3. Examine os sentimentos
4. Redirecione os erros
7. Agradeça
Conclusão
Introdução
Objetivos
171
O que Deus pensa e deseja para a cidade
Muitas vezes com o sentimento de impotência em relação às
complexidades da cidade, não sabendo o que fazer. Para nos ajudar
em nossa prática missional para com a cidade, duas perguntas são
importantes para nortear nossa reflexão enquanto caminhamos e
vivemos nas cidades modernas:
173
justiça. Compaixão por que tem a capacidade de chorar e derramar
lágrimas por estado da cidade. Jesus ao ver Jerusalém chorou (Lc
13:34-35). Foi um choro que demonstrou o quanto ele amava aquela
cidade e também por ver seu estado de pecado em que se encontrava.
Foi como o choro de uma mãe que sente a dor de uma filha que dela se
afasta (por isso a imagem da galinha e pintinhos).
A continuação do texto de Ezequiel 16 deixa claro essa maneira
compassiva e justa do olhar de Deus para com a cidade:
(15) “Mas você confiou em sua beleza e usou sua fama para se
tornar uma prostituta. Você concedeu os seus favores a todos os
que passaram por perto, e a sua beleza se tornou deles. (16) Você
usou algumas de suas roupas para adornar altares idólatras,
onde levou adiante a sua prostituição. Coisas assim jamais
deveriam acontecer! (17) Você apanhou as joias finas que eu lhe
tinha dado, joias feitas com meu ouro e minha prata, e fez para
si mesma ídolos em forma de homem e se prostituiu com eles.
(18) Você também os vestiu com suas roupas bordadas, e lhes
ofereceu o meu óleo e o meu incenso. (19) E até a minha comida
que lhe dei: a melhor farinha, o azeite de oliva e o mel; você lhes
ofereceu tudo como incenso aromático. Foi isso que aconteceu,
diz o Soberano, o SENHOR. (20) “E você ainda pegou seus
filhos e filhas, que havia gerado para mim, e os sacrificou como
comida para os ídolos. A sua prostituição não foi suficiente? (21)
Você abateu os meus filhos e os sacrificou para os ídolos! (22)
Em todas as suas práticas detestáveis, como em sua prostituição,
você não se lembrou dos dias de sua infância, quando estava
totalmente nua, esperneando em seu sangue. (23) “Ai! Ai de
você! Palavra do Soberano, o SENHOR. Somando-se a todas
as suas outras maldades, (24) em cada praça pública, você
construiu para si mesma altares e santuários elevados. (25) No
começo de cada rua você construiu seus santuários elevados e
deturpou sua beleza, oferecendo seu corpo com promiscuidade
cada vez maior a qualquer um que passasse. (26) Você se
prostituiu com os egípcios, os seus vizinhos cobiçosos, e
provocou a minha ira com sua promiscuidade cada vez maior.
(27) Por isso estendi o meu braço contra você e reduzi o seu
território; eu a entreguei à vontade das suas inimigas, as filhas
175
ira contra você diminuirá e a minha indignação cheia de ciúme
se desviará de você; ficarei tranquilo e já não estarei irado. (43)
“Por você não se ter lembrado dos dias de sua infância, mas ter
provocado a minha ira com todas essas coisas, certamente farei
cair sobre a sua cabeça o que você fez. Palavra do Soberano, o
SENHOR. Acaso você não acrescentou lascívia a todas as suas
outras práticas repugnantes? (44) “Todos os que gostam de citar
provérbios citarão este provérbio sobre você: ‘Tal mãe, tal filha’.
(45) Você é uma verdadeira filha de sua mãe, que detestou o seu
marido e os seus filhos; e você é uma verdadeira irmã de suas
irmãs, as quais detestaram os seus maridos e os seus filhos. A
mãe de vocês era uma hitita e o pai de vocês, um amorreu. (46)
Sua irmã mais velha era Samaria, que vivia ao norte de você
com suas filhas; e sua irmã mais nova, que vivia ao sul com suas
filhas, era Sodoma. (47) Você não apenas andou nos caminhos
delas e imitou suas práticas repugnantes, mas também, em
todos os seus caminhos, logo se tornou mais depravada do
que elas. (48) Juro pela minha vida, palavra do Soberano, o
SENHOR, sua irmã Sodoma e as filhas dela jamais fizeram o
que você e as suas filhas têm feito. (49) “Ora, este foi o pecado
de sua irmã Sodoma: ela e suas filhas eram arrogantes, tinham
fartura de comida e viviam despreocupadas; não ajudavam
os pobres e os necessitados. (50) Eram altivas e cometeram
práticas repugnantes diante de mim. Por isso eu me desfiz delas,
conforme você viu. (51) Samaria não cometeu metade dos
pecados que você cometeu. Você tem cometido mais práticas
repugnantes do que elas, e tem feito suas irmãs parecerem mais
justas, dadas todas as suas práticas repugnantes. (52) Aguente
a sua vergonha, pois você proporcionou alguma justificativa às
suas irmãs. Visto que os seus pecados são mais detestáveis que
os delas, elas parecem mais justas que você. Envergonhe-se,
pois, e suporte a sua humilhação, porquanto você fez as suas
irmãs parecerem justas. (53) “Contudo, eu restaurarei a sorte
de Sodoma e das suas filhas, e de Samaria e das suas filhas, e
a sua sorte junto com elas, (54) para que você carregue a sua
vergonha e seja humilhada por tudo o que você fez, o que
serviu de consolo para elas. (55) E suas irmãs, Sodoma com
suas filhas e Samaria com suas filhas, voltarão para o que elas
eram antes; e você e suas filhas voltarão ao que eram antes. (56)
177
2. Onde está Deus na cidade?
Onde está Deus em tudo isso? Essa é a pergunta que muitos
fazem em meio ao caos urbano. A resposta é simples: Deus esta bem
no meio de tudo isso! O Verbo não se fez carne? Encarnou no meio
do quebrado e contundido, do atordoado e desorientado, do fraco e
vulnerável, do moribundo e excluído. Ele não está confortavelmente
sentado em uma poltrona celestial, assistindo a vida humana com um
controle remoto em suas mãos. Ele está aqui, no meio da vida humana.
E esse é o lugar onde a igreja deve estar também. Aqueles que creem
que Deus esta longe assistindo a drama da vida, tendem também a
ter uma igreja distante, que não participa da vida cotidiana. Tendem
a desenvolver uma espiritualidade de geografias, os seja, de lugares
sagrados para com Ele se encontrar. Por esta razão muitas pessoas
oram assim ao entrar na igreja: “Senhor, agora que entramos em tua
presença...” E a pergunta que fica é esta: qual saiu? Simples: ao sair da
igreja. Deus, portanto, é refém da nossa visão. Estes percebem mais o
Deus absconditus do que o Deus conosco-Emanuel.
179
Conclusão
Introdução
Objetivos
181
O que Deus quer que sua igreja seja na cidade?
Na Unidade anterior refletimos duas perguntas crucias:
1. O que Deus pensa da cidade?
2. Onde está Deus na cidade?
183
ministério protetor e salvador de Cristo. Ao filho de Deus de
todas as épocas, foi disposto recorrer por salvação, ao refúgio
único e certo que é a Justiça de Cristo.
Talvez a palavra asilo possa ser pertinente aqui. Ela oferece asilo
para pessoas que:
- estão passando por situações de crises;
- estão pressionadas pela muitas atividades de uma vida cotidiana
estressante;
- estão solitárias e sem amizades sólidas;
- estão confusas e não tem ninguém que as ouça;
- estão famintas e sedentas para achar o verdadeiro Deus;
- estão cheias de angústias por seus pecados e necessitam de
libertação.
Muitas vezes o fato de termos um estoque de cestas básicas em
algum lugar da igreja fala mais do que até mesmo encher a barriga
de alguém. Demonstra nossa preocupação de sermos asilo para o
desamparado. Revela nossa intencionalidade. Isto me faz lembrar uma
história de um sacerdote católico da cidade de Los Angeles, que fomos
(eu e um grupo de alunos do Fuller Theological Seminary) visitar por
ser sua paróquia uma comunidade urbana, em meio as gangs de Los
Angeles. Ele nos contou a seguinte história:
Certa vez um homem que no passado havia pertencido a
nossa paróquia veio nos visitar. Depois de conversarmos um
pouco, ele assim me disse. “Padre, foi aqui nesta paróquia que
foi batizado, onde aprendi as coisas a respeito de Deus, onde
minha fé foi alimentada. Porém, hoje este lugar não mais parece
ser uma igreja, pois olhe aquele mendigo sentado lá no fundo.
E aquele lugar ali que costumava ser uma sala de oração virou
banheiros onde os mendigos se banham. Antes este lugar era
organizado, agora é uma baderna, um entra e sai de gente. Isto
mais se parece como uma rodoviária do que com uma igreja. É,
de fato, isto costumava ser uma igreja”.
O padre, sabendo exatamente o que se passava no coração
185
Havia um homem cujo corpo estava to inchado (Lc 14:1-2) e Jesus
faz a seguinte pergunta para os religiosos: “Se um de vocês tiver um
filho ou um boi, e este cair num poço no dia de sábado, não irá tirá-lo
imediatamente?” (Lc. 14:5). A resposta deles foi o silêncio: “e eles nada
puderam responder” (Lc 14:6). Em vez de se posicionarem um função
da vida, escolheram a covardia da tradição. É triste ter que chegar
a esta conclusão por causa das tradições: “Hoje é sábado, não lhe é
permitido carregar a maca” (Jo 5:10).
Creio que também precisamos aprender o que Jesus disse aos
que refutavam sua participação com os pecadores: “vão aprender o
que significa isto: ‘Desejo misericórdia, não sacrifícios’. Pois eu não vim
chamar justos, mas pecadores” (Mt 9:13; 12:7). É possível fazer as coisas
e até mesmo liderar a igreja de Deus sem misericórdia. Por isso Jesus
disse: “Ai de vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas! Vocês dão o
dízimo da hortelã, do endro e do cominho, mas têm negligenciado os
preceitos mais importantes da lei: a justiça, a misericórdia e a fidelidade.
Vocês devem praticar estas coisas, sem omitir aquelas” (Mt 23:23).
Sem misericórdia (compaixão) a missão não passa de técnica
priorizando os métodos. Esse pequeno vídeo (duração 4m24s) -
Historia de compaixão - musica “Angel” Sara Mclachlan – é um
incentivo a nutrirmos a compaixão.
Conclusão
187
não se envergonha de ser chamado o Deus deles, e lhes preparou uma
cidade” (Hb 11:6).
Para isso, me esforcei em demonstrar três perspectivas a partira
das Unidades anteriores como desta também. São elas:
• Como Deus vê a cidade? Ele vê (1) com os olhos do amor, (2)
como se sendo sua, (3) com olhos compassivos e justos, e (4)
com olhos que busca e redime sua criação.
• Onde está Deus na cidade? Bem no meio dela. Como eu afirmei
anteriormente, Deus está no meio do quebrado e contundiu,
do atordoado e desorientado, do fraco e vulnerável, do
moribundo e morte. Ele não está confortavelmente sentado
em uma poltrona celestial, assistindo a vida humana com um
controle remoto em suas mãos. Ele está aqui, no meio da vida
humana. E esse é o lugar onde a igreja deve estar também.
• E o que Deus quer que sua igreja seja na cidade? Um
centro! Centro não para si mesma, mas pra o outro. Um
centro de hospitalidade. Um centro de refúgio. Um centro
de misericórdia-esperança-vida. Um centro sinalizador do
Reino de Deus. Assim como o farol esta para o mar, assim
também esta a igreja para a cidade.
Conclusão
189
Anotações
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Introdução
Objetivos
191
Esperança para as cidades
Existem alguns sinais de esperança para a cidade no Antigo
Testamento:
• Deus ama a cidade: É conhecido de todos nós, por experiência
própria, o amor de Deus. Deus amou Jerusalém como também
amou Damasco: “Como está abandonada a cidade famosa, a
cidade da alegria!” (Jr 49:25). Jonas foi duramente criticado
por Deus quando ele não quis compartilhar com Nínive o
Seu amor: “Contudo, Nínive tem mais de cento e vinte mil
pessoas que não sabem nem distinguir a mão direita da
esquerda, além de muitos rebanhos. Não deveria eu ter pena
dessa grande cidade?” (Jn 4:11). O ingrediente vital para o
ministério urbano é o amor doador de Deus pela cidade.
• O ministério dos profetas: Miquéias disse: “A voz do
Senhor está clamando à cidade; é sensato temer o seu nome!
‘Ouçam, tribo de Judá e assembleia da cidade!’ ” (6:9). Muito
frequentemente sua mensagem era avisar que vinha um
julgamento, mas Deus se importa o suficiente pela cidade
a ponto de enviar um mensageiro a ela. Os profetas de
Deus receberam várias revelações sobre a vida urbana e as
características das cidades. A cidade de Deus (Jerusalém)
é prefigurada no Antigo Testamento como uma cidade
restaurada, uma cidade sem muros, totalmente segura.
• Deus usa a cidade: O Salmo 107 celebra os benefícios da vida
urbana, contrastando-o com a hostilidade da vida no deserto
e nas regiões afastadas. A cidade aparece como a solução de
Deus para as necessidades humanas. Apesar da sua rebelião
no início de tudo, Deus graciosamente adota a cidade e a usa
como restauradora de necessidades. E isso nos traz esperança.
• As cidades refúgios: As cidades refúgio são uma demonstração
significante da boa vontade de Deus para usar a cidade (Js 20:1-
9). Ele não somente usa a cidade construída pelo ser humano,
como também a usa de modo similar. Caim construiu uma
193
à grande cidade e prega contra ela...” Sim, Deus é contra situações que
conspiram contra a dignidade da vida.
Jonas sabia muito bem para onde ia. Mas se esqueceu com quem ia
– com o Senhor e sua Palavra – “a palavra do Senhor veio a Jonas” (1:1;
3:1). Depois de suas dramáticas experiências de recusa, “Jonas entrou
na cidade e percorreu durante um dia, proclamando...” (3:4). Eram
necessários três dias para percorrer a cidade, mas ele vira recordista,
e faz em apenas um dia (3:3-4), numa possível demonstração de
insatisfação e desinteresse. Como “a salvação vem Deus” (2:9c), prova
evidente da missio Dei, o milagre acontece e toda a cidade se arrepende
(cobrem-se de pano de saco homens e animais – 3:9). Isso provoca
Jonas a trazer do fundo do seu coração sua justifica de fuga missionária:
“foi por isso que me apressei em fugir para Társis. Eu sabia que
tu és Deus misericordioso e compassivo, muito paciente, cheio
de amor e que promete castigar mas depois te arrependes”
(4:2). E é nesse momento que pede para Deus tirar sua vida! O
que devia ser motivo de alegria tornou-se motivo de desgosto
e desilusão. Assim, “sentou-se num lugar a leste da cidade... e
esperou para ver o que aconteceria com a cidade” (4:5). Já que
195
“Em vez de abandonada e odiada, sem que ninguém quisesse
percorrê-la, farei de você um orgulho, uma alegria para todas as
gerações. 16 Você beberá o leite das nações e será amamentada
por mulheres nobres. Então você saberá que eu, o SENHOR,
sou o seu Salvador, o seu Redentor, o Poderoso de Jacó. 17 Em
vez de bronze eu lhe trarei ouro, e em vez de ferro, prata. Em
vez de madeira eu lhe trarei bronze, e em vez de pedras, ferro.
Farei da paz o seu dominador, da justiça, o seu governador.
18 Não se ouvirá mais falar de violência em sua terra, nem de
ruína e destruição dentro de suas fronteiras. Os seus muros
você chamará salvação, e as suas portas, louvor”.
Isaías 62:12
“12 Eles serão chamados povo santo, redimidos do SENHOR; e
você será chamada procurada, cidade não abandonada”.
Isaías 65:17-25
“17 Pois vejam! Criarei novos céus e nova terra, e as coisas
passadas não serão lembradas. Jamais virão à mente! 18
Alegrem-se, porém, e regozijem-se para sempre no que vou
criar, porque vou criar Jerusalém para regozijo, e seu povo
para alegria. 19 Por Jerusalém me regozijarei e em meu
povo terei prazer; nunca mais se ouvirão nela voz de pranto
e choro de tristeza. 20 “Nunca mais haverá nela uma criança
que viva poucos dias, e um idoso que não complete os seus
anos de idade; quem morrer aos cem anos ainda será jovem,
e quem não chegar{1} aos cem será maldito. 21 Construirão
casas e nelas habitarão; plantarão vinhas e comerão do seu
fruto. 22 Já não construirão casas para outros ocuparem, nem
plantarão para outros comerem. Pois o meu povo terá vida
longa como as árvores; os meus escolhidos esbanjarão o fruto
do seu trabalho. 23 Não labutarão inutilmente, nem gerarão
filhos para a infelicidade; pois serão um povo abençoado pelo
SENHOR, eles e os seus descendentes. 24 Antes de clamarem,
eu responderei; ainda não estarão falando, e eu os ouvirei. 25 O
lobo e o cordeiro comerão juntos, e o leão comerá feno, como o
boi, mas o pó será a comida da serpente. Ninguém fará nem mal
nem destruição em todo o meu santo monte”, diz o SENHOR”.
Salmo 107
“1 Deem graças ao SENHOR porque ele é bom; o seu amor dura
para sempre. 2 Assim o digam os que o SENHOR resgatou, os que
livrou das mãos do adversário, 3 e reuniu de outras terras, do oriente
e do ocidente, do norte e do sul{1}. 4 Perambularam pelo deserto e
por terras áridas sem encontrar cidade habitada. 5 Estavam famintos
e sedentos; sua vida ia se esvaindo. 6 Na sua aflição, clamaram ao
SENHOR, e ele os livrou da tribulação em que se encontravam 7 e
os conduziu por caminho seguro a uma cidade habitada. 8 Que eles
deem graças ao SENHOR por seu amor leal e por suas maravilhas em
favor dos homens, 9 porque ele sacia o sedento e satisfaz plenamente
o faminto. 10 Assentaram-se nas trevas e na sombra mortal, aflitos,
acorrentados, 11 pois se rebelaram contra as palavras de Deus e
desprezaram os desígnios do Altíssimo. 12 Por isso ele os sujeitou a
trabalhos pesados; eles tropeçaram, e não houve quem os ajudasse. 13
Na sua aflição, clamaram ao SENHOR, e eles os salvou da tribulação
197
em que se encontravam. 14 Ele os tirou das trevas e da sombra mortal,
e quebrou as correntes que os prendiam. 15 Que eles deem graças
ao SENHOR, por seu amor leal e por suas maravilhas em favor dos
homens, 16 porque despedaçou as portas de bronze e rompeu as
trancas de ferro. 17 Tornaram-se tolos por causa dos seus caminhos
rebeldes, e sofreram por causa das suas maldades. 18 Sentiram
repugnância por toda comida e chegaram perto das portas da morte.
19 Na sua aflição, clamaram ao SENHOR, e ele os salvou da tribulação
em que se encontravam. 20 Ele enviou a sua palavra e os curou, e os
livrou da morte. 21 Que eles deem graças ao SENHOR, por seu amor
leal e por suas maravilhas em favor dos homens. 22 Que eles ofereçam
sacrifícios de ação de graças e anunciem as suas obras com cânticos de
alegria. 23 Fizeram-se ao mar em navios, para negócios na imensidão
das águas, 24 e viram as obras do SENHOR, as suas maravilhas nas
profundezas. 25 Deus falou e provocou um vendaval que levantava as
ondas. 26 Subiam aos céus e desciam aos abismos; diante de tal perigo,
perderam a coragem. 27 Cambaleavam, tontos como bêbados, e toda
a sua habilidade foi inútil. 28 Na sua aflição, clamaram ao SENHOR,
e ele os tirou da tribulação em que se encontravam. 29 Reduziu a
tempestade a uma brisa e serenou as ondas. 30 As ondas sossegaram,
eles se alegraram, e Deus os guiou ao porto almejado. 31 Que eles
deem graças ao SENHOR por seu amor leal e por suas maravilhas
em favor dos homens. 32 Que o exaltem na assembleia do povo e o
louvem na reunião dos líderes. 33 Ele transforma os rios em deserto e
as fontes em terra seca, 34 faz da terra fértil um solo estéril, por causa
da maldade dos seus moradores. 35 Transforma o deserto em açudes
e a terra ressecada, em fontes. 36 Ali ele assenta os famintos, para
fundarem uma cidade habitável, 37 semearem lavouras, plantarem
vinhas e colherem uma grande safra. 38 Ele os abençoa, e eles se
multiplicam; e não deixa que os seus rebanhos diminuam. 39 Quando,
porém, reduzidos, são humilhados com opressão, desgraça e tristeza.
40 Deus derrama desprezo sobre os nobres e os faz vagar num deserto
sem caminhos. 41 Mas tira os pobres da miséria e aumenta as suas
famílias como rebanhos. 42 Os justos veem tudo isso e se alegram, mas
todos os perversos se calam. 43 Reflitam nisso os sábios e considerem
a bondade do SENHOR”.
1
MARTINS, Antônio Henrique Campolina. A importância fundamental da hermenêutica no contexto
social Revista Ética e Filosofia Política. Nº 12 –Volume 1 – Abril de 2010.
199
A cidade de Jerusalém
Conclusão
201
Anotações
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Introdução
Objetivos
203
Os desafios da nova evangelização
Nas igrejas de tradição protestante tem sido bem escassa a reflexão
teológica sobre o tema da nova evangelização. O termo tem sido
mais usado e debatido dentro dos círculos do catolicismo romano. Ao
utilizarmos a terminologia “nova evangelização”, estamos apontando para
a necessidade de mais reflexão sobre o papel da evangelização na prática
das igrejas evangélicas no mundo pós-moderno.
Historicamente os evangélicos são conhecidos pelo ímpeto
evangelístico. Em se tratando de Brasil, a atuação da igreja evangélica,
quando aqui inserida nos meados do século XIX, se deu dentro de um
contexto religioso católico; ainda que houvesse religiões africanas e
indígenas, o grande alvo da ação evangelística foi em direção aos católicos.
O anticatolicismo era “uma das grandes características da pregação
missionária protestante no Brasil” (Mendonça; Velasques Filho, 1990, p.
100). Já são bastante conhecidos os estudos realizados nesse campo1.
No Congresso Mundial de Evangelização, ocorrido na cidade
de Berlim no ano de 1966, o Rev. Benjamin Moraes, representando
o Brasil, afirmou que após o Concílio Vaticano II o relacionamento
entre católicos e protestantes havia melhorado. Assim sendo,
asseverou que “essa área do relacionamento é hoje uma grande porta
aberta para evangelismo no Brasil. Desafortunadamente a maioria
dos evangélicos não reconhece essa oportunidade e são cautelosos, até
mesmo medrosos dessa amizade com os católicos” (Moraes, 1967, p.
277). Como podemos perceber, a evangelização tinha como objetivo
converter os católicos ao Cristo, e também ao protestantismo. Caso
um católico se declarasse convertido e relutasse em abandonar a igreja
católica para afiliar-se a uma igreja protestante, a sua conversão era (e
ainda é) colocada em dúvidas. O próprio Moraes,quando descrevendo
sobre os obstáculos para o evangelismo no Brasil, afirmou: “A tradição
católica no Brasil é muito forte. Muitas pessoas aceitam o evangelho
intelectualmente, mas falta coragem para deixar a igreja de seus pais”
(Moraes, 1967, p. 278).
1
Ver as seguintes obras: DUNCAN, Reily. História documental do protestantismo no Brasil. São Paulo:
ASTE, 1984; MENDONÇA, Antônio G. O celeste porvir: a inserção do protestantismo no Brasil. São
Paulo: Paulinas, 1984; LEONARD, Emile G. O protestantismo brasileiro: estudo de eclesiologia e história
geral. Rio de Janeiro: JUERP, São Paulo: ASTE, 1981; RIBEIRO, Boanerges. Protestantismo e cultura
brasileira: aspectos culturais da implantação do protestantismo no Brasil. São Paulo: CEP, 1981.
205
na sociedade. Para discorrermos sobre essa nova evangelização,
precisamos fazer uma pergunta básica: qual a razão de ser da igreja?
Entendemos que a comunidade da fé deriva sua força e inspiração
da missio Dei. Percebemos ainda que a igreja tem uma origem divina,
conforme as palavras de Jesus Cristo: “... edificarei a minha igreja,
e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16.18). Isto
significa dizer que Cristo assumiu algumas responsabilidades em
relação à igreja. A primeira é a da edificação. O termo traz a ideia de
construir uma casa, erigir uma edificação. Metaforicamente, significa
promover o crescimento da igreja na sabedoria, afeição, graça, virtude e
santidade cristã. A segunda é a de proteger a igreja dos ataques externos,
especialmente das forças malignas. Isto significa que as forças do mal
jamais superarão a força (divina) da igreja. No dizer de Cristo, a derrota
da igreja é uma impossibilidade devido ao fato de que ele foi e continua
sendo o construtor do edifício. Se as forças do mal lograrem destruir a
igreja, logo o próprio Cristo seria desacreditado e ridicularizado.
Outro texto que nos ajuda e muito a entender o relacionamento
de Cristo com a igreja vem do Apóstolo Paulo na carta aos Efésios,
capítulo cinco. Ali aprendemos que Cristo é cabeça, salvador e senhor
da igreja; que ele a ama profundamente e por ela sacrificou-se. Essa
narrativa de Paulo exemplifica o alto grau de compromisso de Cristo
com o seu povo, colocando-o em elevado patamar. A igreja, portanto,
não é uma organização de valor irrisório.
Aprendemos ainda que a igreja está edificada “sobre o fundamento
dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra
da esquina; no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo
santo no Senhor” (Ef 2.20-21). Paulo revela que a igreja tem uma
herança especial. Ela não surgiu de algum evento corriqueiro ou de
um fato ordinário. A igreja tem nas suas bases uma história de lutas
e vitórias nas pessoas dos apóstolos, dos profetas e de todos quantos
seguiram nesse caminho. Isso não deve ser negligenciado e muito
menos subestimado pela igreja contemporânea.
Ter uma origem divina e estar sob o controle e orientação de
Cristo é muito importante, mas a igreja não se resume apenas a esse
relacionamento vertical. Ela, enquanto peregrina na terra, tem uma
missão a cumprir - a missão do seu senhor e salvador, ou seja: sua
207
de hoje, tem-se a ideia de que Deus é glorificado quando alguma coisa
produziu resultados positivos. Se der certo, louvado seja Deus; se der
errado, choro e lamento. Esse pragmatismo evangélico é extremamente
prejudicial para o entendimento do que significa glorificar a Deus.
Esse glorificar a Deus se enquadra no primeiro aspecto do que
ensinou Jesus sobre a razão de existir do ser humano: “O primeiro de
todos os mandamentos é: Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único
Senhor. Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de
toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças;
este é o primeiro mandamento” (Mc 12.19-30). A teologia de Jesus segue
o primeiro mandamento do decálogo (Ex 20). Podemos então concluir
que a razão última da existência da igreja é glorificar a Deus.
209
boas obras, e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus” (Mt 5.16).
Note que o Pai será glorificado se essas boas obras forem realizadas.
Por isso é importante que essas boas obras sejam feitas em nome de
Deus e para a glória de Deus. Assim sendo, o cristão caminha nesses
dois trilhos: anonimato e publicamente. Como discernir o que deve
ficar escondido e o que deve ser visto? Essa orientação é do Espírito
Santo e cada um de nós deve ouvir o seu conselho.
211
A igreja evangélica brasileira precisa urgentemente rever a sua
prática, tirar os pés do templo e andar nas ruas do bairro, da vila e da
cidade. O exemplo de ministério bondoso vem de Jesus, que “percorria
todas as cidades e aldeias, ensinando nas sinagogas deles, e pregando o
evangelho do reino, e curando todas as enfermidades e moléstias entre
o povo” (Mt 9.35). O mundo não quer mais ouvir, mas ver Cristo em
nós, a esperança da glória (Cl 1.27).
213
É senso comum entre teólogos, especialmente entre missiólogos,
que o testemunho e o ministério da igreja se dão fora dos limites da
comunidade local. O laicato, enfatizamos uma vez mais, precisa entender
e internalizar que ele é a igreja de Deus no mundo. Não existe outra. A
igreja institucional e hierárquica nada pode fazer. Os cristãos necessitam
passar por um processo restaurador da fé, receber uma renovação
interior que vem do Espírito Santo e que possa fortalecer a cada um para
o cumprimento da missão. A acomodação dos cristãos e a impotência
frente aos desafios da sociedade são barreiras a serem vencidas.
215
inter-religioso que se questiona o conteúdo do evangelho como único.
A tendência por parte das teologias modernas é descaracterizar a
unicidade da salvação. O movimento hoje é em direção a um mundo
harmonioso onde cada pessoa busca sua maneira de ser feliz. Em um
artigo com sugestivo título, Claudio de Oliveira Ribeiro deixa bem
claro essa tendência ao defender:
Não basta meramente condenar as formas fundamentalistas,
pois elas possuem raízes mais vigorosas e na maioria das vezes
com significado social profundo. No caso de movimentos
fundamentalistas contemporâneos no islã, por exemplo, muitos
têm sido vistos como reação defensiva aos impactos da cultura
ocidental, percebida como destruidora de valores sociais e
religiosos. Algo similar pode se dizer sobre o conversionismo
exacerbado de grupos cristãos, que gera uma identidade rígida,
mas forma um sentimento de pertença em um mundo de
despersonificação e anomia. Talvez, uma comunicação mais
dialógica entre as religiões pudesse contribuir para que todas
identificassem as próprias limitações e se voltassem, assim,
para a promoção dos valores humanos e para o bem-estar de
todos (Ribeiro, 2012, p. 102).
Retornamos assim ao velho humanismo como sendo o alvo
último da existência humana. No Brasil temos até mesmo um ditado
popular que poderia ser aplicado aqui: “Cada um para si e deus para
todos”. Deus com inicial minúscula ou ainda substituir “Deus” por “ser
celestial”, entidade divina ou algo similar. A outra conclusão é também
interessante. Qualquer um que enfatizar o papel de Cristo como o
único mediador entre Deus e a humanidade será imediatamente
classificado como fundamentalista.
O caráter do evangelismo dialógico é em verdade altamente
respeitoso. O outro tem o direito de continuar crendo na sua própria
maneira de se salvar ou de não crer em nada do que diz respeito
à pós-morte. Podemos não concordar, mas temos que aceitar e
conviver pacificamente com todas as pessoas tenham elas credos
religiosos ou não. Na evangelização dialogal o evangelizador também
é evangelizado. As proposições que ele/ela faz ao outro retornam à
mente com um grande e retumbante eco: “As perguntas, as inquirições
217
do evangelho. Esse lado social era uma das bandeiras da teologia liberal,
mas que encontrava resistências nos setores mais conservadores da igreja.
Temos outra declaração do Pacto que chama a atenção: “... na
ânsia de conseguir resultados para o evangelho, temos comprometido
a nossa mensagem, temos manipulado os nossos ouvintes com
técnicas de pressão, e temos estado excessivamente preocupados com
as estatísticas, e até mesmo as utilizando de forma desonesta. Tudo isto
é mundano. A igreja deve estar no mundo; o mundo não deve estar
na igreja” (Pacto de Lausanne, Art. 12). Esse é o resultado da falta da
missão integral como elemento norteador da evangelização. A igreja
perde o seu referencial e também sua identidade a ponto de cometer
deslizes para alcançar seu crescimento numérico.
Creio que não podemos mais nos contentar com uma obsoleta
forma de evangelização, que pressupõe apenas o interesse pela alma da
pessoa. Essa evangelização é meramente um rodízio de batizados. Um
ano em uma igreja, outro período em outra. Falta respeito para com os
valores do reino de Deus quando fazemos do proselitismo uma arma
para encher os templos.
O Congresso Brasileiro de Evangelização (CBE I), realizado em
Belo Horizonte em 1983, tinha como um dos objetivos reavaliar a
prática de evangelização “perguntando por sua fidelidade à Palavra de
Deus e sua eficácia metodológica, buscando superar nossas limitações
e propondo novos modelos de evangelização” (Steuernagel, 1985, p.
13). Não creio que esse ideal se concretizou na prática. A luta continua
e a obstinação da liderança evangélica um dia será vencida e o ideal de
Cristo e seu reino triunfarão.
Os postulados da missão integral ainda permanecem como um
grande desafio para quase a totalidade das igrejas evangélicas. Grande
parte dos pastores e líderes é formada em seminários teológicos onde
o tema não está incluído na grade curricular. Se essa liderança não
fizer um curso extra ou participar de alguma conferência sobre o tema,
certamente que as pessoas debaixo de sua liderança não entenderão
o que significa missão integral. Nesse sentido, a Faculdade Teológica
Sul Americana, em Londrina, procura desenvolver a sua educação
teológica. A missão integral é o guarda-chuva que abriga todas as
matérias a serem ensinadas. A pergunta feita a/por cada professor é:
Considerações finais
Sentindo-se acuada e não sabendo dialogar com essa nova
sociedade, a igreja retrai-se ainda mais para dentro de seus portões e
abandona sua missão transformadora por sentir-se inadequada frente
à sociedade. Para que a igreja pratique a nova evangelização com os
postulados acima defendidos, creio serem necessários alguns ajustes.
Em primeiro lugar, deve-se ter um compromisso de substituir a
evangelização proselitista que ocupa lugar central na prática de quase
todas as denominações evangélicas. No passado, esse proselitismo se
dava em relação aos católicos romanos, que, por sua vez, não eram
considerados como salvos por Jesus Cristo. Hoje, esse proselitismo
é inclusivo, direcionado a todas as denominações. O incentivo para
se trocar de comunidade é intenso e incessante. Voltamos ao tempo
em que “fora da igreja não há salvação”. Fora da denominação do
evangelizador não existe a menor possibilidade de salvação! Daí a
insistência para mudar de comunidade.
Historicamente, podemos afirmar que a evangelização proselitista
não resultou ou não produziu mudanças significativas no seio da
sociedade. A simples mudança de uma denominação para outra não
tornou o novo “crente” em um cristão consciente de sua identidade e
papel na missio Dei. A pessoa mudou de endereço eclesiástico, mas
continuou com a mesma apatia em relação a participar da missão
de Deus no mundo. Qualquer estatística brasileira demonstrará que
a sociedade piora a despeito do crescimento das igrejas evangélicas.
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Creio não ser necessário, dado ao limite de espaço, elaborar mais sobre esse tema. Há muitos autores
para ser lidos, tais como C. René Padilla, Orlando E. Costas, Samuel Escobar, Caio Fábio, Robinson
Cavalcanti, Júlio Zabatiero, dentro tantos outros. Podem-se ver ainda os documentos dos CLADE (até
a quarta edição) em: LONGUINI NETO, Luiz. O novo rosto da missão: os movimentos ecumênico
e evangelical no protestantismo latino-americano. Viçosa, MG: Ultimato, 2002. Para uma boa
introdução ao assunto da missão integral, ver: CARRIKER, Timóteo. Missão integral: uma teologia
bíblica. São Paulo: Editora Sepal, 1992.
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Portanto, se no passado culpava-se a igreja romana como sendo
responsável pelas mazelas brasileiras, hoje essa acusação não faz
mais sentido. O católico apenas se tornou protestante, mas continua
igualmente ignorante de seu papel de sal da terra e luz do mundo.
Em segundo lugar, como consequência do que foi anteriormente
afirmado, a nova evangelização deve passar pela superação de duas
tradições que se encastelaram na história da igreja protestante, quais
sejam: eclesiocentrismo e denominacionalismo. A igreja centralizada
em si própria é uma aberração bíblica e teológica. Ela mesma não pode
ser o alvo último de sua razão de ser, de sua missão. Nesse sentido, parece
que a igreja se assemelha ao profeta Elias quando se volta para Deus
e diz: “e só eu fiquei” (1Rs 19.10). A síndrome de Elias faz com que a
comunidade e seus membros, influenciados pela liderança, pensem ser
os únicos salvos na terra e que todos os demais membros de qualquer
outra igreja estão perdidos e por isso necessitam de conversão - por
“conversão”, aqui, entenda-se “mudança de comunidade”.
A veneração denominacional é consequência do eclesiocentrismo.
As igrejas locais vivem não somente para si mesmas, mas também para
fazer crescer a sua denominação. Esse ideal não é necessariamente um
problema, mas se torna um problema quando passa a ser o alvo último
da igreja. A denominação precisa ser desenvolvida, mantida e protegida
dos ataques dos inimigos - nesse caso, as outras denominações e o
próprio mundo com seus encantos. Apela-se então para a história da
igreja, seus feitos e seus heróis. Celebra-se muito o passado.
A tragédia dessas duas tradições é que elas roubam da igreja
exatamente a sua missão hoje. O potencial transformador, a energia e
os recursos viram pó e se perdem dentro das paredes do templo. O fiel
é ativamente feliz, quando imerso nos diversos programas e atividades
locais, e extremamente ineficiente, quando inserido no mundo onde
as trevas fazem a festa.
Finalmente, mas não esgotando o tema, a evangelização não
deve ser baseada em eventos intramuros onde foco da mensagem
é apenas (e novamente) o individuo e o objetivo é a mudança de
domicilio eclesiástico. Esse tipo de evangelização não possui conteúdos
suficientes para que a pessoa possa fazer uma decisão consciente.
O resultado da mesma é a produção em larga escala de pessoas que
Conclusão
Referências
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LONGUINI NETO, Luiz. O novo rosto da missão: os movimentos
ecumênico e evangelical no protestantismo latino-americano. Viçosa, MG:
Ultimato, 2002.
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Concórdia Editora, 1999.
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VOLF, Miroslav. A public faith: how followers of Christ should serve the
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Anotações
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