Síndrome de Down

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011

Planejamento de atividades musicais para bebês com Síndrome de Down e


suas famílias

Ricardo José Dourado Freire


UnB
[email protected]

Resumo: As atividades musicais propostas em um curso de música visam estimular aspectos


específicos do desenvolvimento dos bebês com Síndrome de Down (SD), visando superar
dificuldades fisiológicas congênitas além de contribuir para o estabelecimento de vínculos
afetivos essenciais ao desenvolvimento. O planejamento das atividades musicais em grupo
tem como objetivo a criação de um modelo de referência com boa colocação vocal e um rico
repertório de padrões melódicos e rítmicos a partir da interação do adulto com a criança. O
trabalho é realizado junto à família com bebês entre dois meses e dois anos. A aula é
organizada em quatro momentos: 1) recepção e aquecimento, 2) movimento, 3) interações
individuais e 4) carinho e acolhimento. As atividades realizadas são escolhidas entre canções
sem palavras, parlendas, interações melódicas e rítmicas, colocação da voz de cabeça, canções
conhecidas com sílabas específicas, interação com instrumentos e objetos musicais, histórias e
livros musicais, canções do folclore e do cancioneiro infantil. A atuação em grupo permite a
troca de informações entre as famílias e também a interação entre crianças da mesma faixa
etária. O trabalho de estimulação musical é uma parceria do professor com as famílias em
benefício da criança e as atividades são conduzidas de forma que a família possa utilizá-las
em sua rotina, pois as aulas são apenas um pequeno momento da rotina semanal da criança. A
verdadeira estimulação ocorre em casa de forma contínua, quando mães, pais, irmãos e
cuidadores passam a “musicalizar” a vida das crianças.
Palavras chave: Síndrome de down, educação musical, atividades musicais

O Projeto de Extensão “Música para Crianças”, da Universidade de Brasília, oferece


aulas de musicalização para 850 crianças desde o nascimento até o início do aprendizado de
um instrumento musical (FREIRE, 2008). O curso teve inicio em agosto de 2002, com aulas
de musicalização para crianças de 0 a 5 anos, e a partir de 2004 foi criada uma turma
específica para bebês com Síndrome de Down (SD), desde o nascimento até os dois anos de
idade. Este grupo também está aberto para crianças com outras necessidades especiais e teve a
participação de crianças com paralisia cerebral, cegueira, e outras síndromes não
diagnosticadas.
A turma para crianças com Síndrome de Down surgiu a partir da necessidade de se
oferecer um serviço de estimulação precoce e acompanhamento diferenciado para bebês e
suas famílias. O acolhimento de uma família com bebê portador de Síndrome de Down é
fundamental nos primeiros meses de vida, tanto para a integração da criança em um grupo

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com atividades musicais, quanto para o contato da família com outras famílias de crianças
SD.
O trabalho com bebês e crianças portadores de Síndrome de Down (SD) é
significativamente marcado pelas relações afetivas dessas crianças com seus pais, mães e
irmãos (MATIAS; FREIRE, 2005). A aceitação da criança e a superação do “luto” pela
família são aspectos fundamentais para que o acompanhamento e estimulação precoce da
criança SD tenha êxito. A partir dos relatos das mães e observação das respostas das crianças,
foi possível verificar que as atividades musicais tornaram-se muito importante para as
famílias como mediadoras das relações afetivas. Além de estimular o desenvolvimento
musical, cognitivo, social e psicomotor dos bebês, a música também teve impacto no
desenvolvimento dos pais e mães, auxiliando estes na superação do “luto”.
Voivodic (2004) considera importante que, desde os primeiros anos de vida da criança
com Síndrome de Down, seja realizada uma estimulação precoce que "leve em conta seus
diferentes modos e ritmos de aprendizagem, em função de suas necessidades especiais"
(p.31). Considera também que a família tem um papel de fundamental importância no
desenvolvimento social, emocional e cognitivo durante o período crítico (primeiros meses de
vida) das crianças SD. Segundo diretrizes do MEC/SEESP de 1995, estimulação precoce "é o
conjunto de atividades e recursos humanos e ambientais incentivadores que são destinados a
proporcionar à criança, nos seus primeiros anos de vida, experiências significativas para
alcançar pleno desenvolvimento no seu processo evolutivo" (s.p.).
A turma realiza as aulas todas as sextas-feiras, no período da tarde, com duração de 50
minutos. Quando as crianças completam 2 anos e já andam, são encaminhadas para a
integração nas turmas com crianças comuns da mesma idade cronológica. A participação
nesta turma é considerada fundamental como preparação para a integração efetiva nas turmas
regulares, pois as crianças que participam da turma para bebês SD já conhecem a rotina da
aula e conseguem acompanhar com ótimo desempenho as turmas da mesma faixa etária.
Os conceitos e as referências para a montagem da estrutura de aula se baseiam na
proposta de Dourado e Millet para o trabalho na área de artes cênicas: “Para uma melhor
dinamização da aula, o mais eficaz seria dividi-la em quatro etapas sequenciadas: 1)
aquecimento, 2) relaxamento-concentração, 3)elaboração e, 4) avaliação” (DOURADO;
MILLET, 1998, p. 30). Estes conceitos são observados como diretrizes e adaptados aos
objetivos de cada semestre para incluir e combinar etapas no processo, dessa forma, foi
possível estabelecer um modelo próprio de rotina de aula que tem se mostrado produtivo para

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o trabalho na turma específica. A estrutura da aula consiste em quatro momentos: recepção e


aquecimento, 2) movimento, 3) interações individuais, e 4) carinho e acolhimento.

Atividades musicais

As atividades realizadas em aula são concebidas de forma que mães, pais e cuidadores
também possam realizar atividades musicais em casa. O professor estimula as crianças em
sala e orienta as famílias sobre como realizar brincadeiras musicais em casa. A criança com
SD necessita de modelos consistentes e bem realizados em casa, uma vez que a repetição de
um bom modelo irá facilitar a aprendizagem da criança.
O repertório musical consiste de canções do universo infantil brasileiro, baseadas no
folclore de diversas regiões, parlendas faladas, brinquedos musicais e canções da MPB.
Dentro do Projeto “Música para Crianças”, foi criado um repertório especifico para
musicalização infantil, formado por canções sem palavras nas quais são utilizadas músicas em
diversos modos e também parlendas rítmicas em compassos irregulares. De acordo com
Gordon (2000), a variedade de métricas e modos é fundamental para o desenvolvimento
cognitivo musical da criança.

1- Recepção e Aquecimento

A chegada da criança e o início da aula podem ser considerados com uma transição
entre as atividades cotidianas e o ambiente da musicalização. A aula é iniciada com a
formação de uma roda, com as pessoas sentadas no chão, e começa com a canção de abertura
que estabelece o padrão de interação musical entre as pessoas presentes. Cada semestre possui
uma canção própria, sendo que todas as canções permitem a apresentação de cada criança e
adulto presente na roda. O professor deve dar atenção a todos os participantes, mantendo
contato visual e falando o nome de cada pessoa. Neste momento o professor estabelece o
primeiro contato com a criança e sua família, abrindo as portas do relacionamento e
permitindo que seja criado um vínculo de confiança entre ambas as partes.

a) Respiração e Concentração

A respiração, além de sua importância na expressividade musical, é um aspecto que


deve ser muito estimulado com as crianças SD. Devido à fisiologia do nariz e uma propensão
a irritações nas vias aéreas, as crianças SD apresentam tendência a desenvolver uma
respiração curta e com pouco consumo de oxigênio. Nas aulas são realizadas atividades de

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respiração acompanhadas do movimento dos braços para representar o fluxo da respiração. A


aula inicia com o som de uma respiração profunda, realizada pelo nariz, acompanhada da
movimentação dos braços se abrindo ou se movimentando para cima e para baixo. Em
seguida são feitas várias brincadeiras com a movimentação das mãos acompanhadas de
diversos tipos de respiração: rápida e devagar, funda e rasa, sibilar e nasal, utilizando vários
sons e sílabas.
O foco na respiração visa ilustrar a importância do ato de respirar antes de cantar ou
falar. Esta abordagem também auxilia na concentração, uma vez que o grupo começa a
respirar junto e o silêncio torna-se um fator de concentração coletiva. Todos acompanham o
ato de inspirar e expirar, focalizando nos movimentos do grupo e despertando para a
importância do outro dentro da roda.

b) Voz de Cabeça

Crianças com SD apresentam como característica a hipotonia muscular. Sua


musculatura é mais flácida e apresenta maior dificuldade para criar tônus muscular. No caso
do desenvolvimento da linguagem, os músculos da laringe também apresentam hipotonia e
necessitam de um cuidado específico para o desenvolvimento do registro agudo. As vozes
infantis apresentam nos primeiros anos uma tessitura específica entre Ré 3 (297 hz) e Lá
3(440hz) sendo possível estender esta tessitura para uma oitava, até Ré 4 (594 hz). Algumas
crianças SD apresentam uma voz muito grave e fora do registro infantil, sendo que a tessitura
grave não permite uma definição de altura e prejudica muito a afinação musical. Torna-se,
assim, muito importante trabalhar com as mães a construção de um modelo vocal que valorize
o registro agudo e as crianças possam interagir com vozes agudas em casa, estimulando a
procura de um timbre que utilize a “voz de cabeça” e não o timbre grave da “voz de peito”.
Atualmente, na cultura brasileira, existe uma valorização extrema da voz feminina
muito grave, sendo que as principais cantoras da MPB utilizam o registro de peito para cantar.
Podemos observar o uso da voz grave em cantoras como: Ivete Sangalo, Ana Carolina, Zélia
Duncan e Maria Bethânia. No entanto existem poucos modelos de vozes agudas e muitas
mães se mostram desconfortáveis ao cantar com a voz aguda. Para que a criança possa
desenvolver o registro agudo são realizadas várias atividades enfatizando a importância da
“voz de cabeça”. Atividades específicas consistem em começar uma música mais grave e
modular por graus conjuntos ascendentes até chegar ao registro infantil. Outra atividade visa
explorar vozes de personagens ou animais que fazem sons agudos. O estimulo do uso do

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registro agudo é fundamental para conseguir desenvolver o senso de afinação nas crianças, e o
desenvolvimento da voz de cabeça precisa da participação e engajamento das mães na
valorização da voz aguda da criança.

c) Interação com instrumentos e objetos musicais

A utilização de instrumentos musicais de sopro, corda ou percussão permite um foco


em uma fonte sonora específica. Cada instrumento apresenta um timbre único que chama a
atenção da criança, principalmente quando a frase musical é acrescentada de um gesto ou
movimento. Instrumentos de sopro (flauta-doce, flauta, clarineta) possuem um
direcionamento específico que permite a identificação do local de onde o som é gerado. Os
instrumentos de percussão (pandeiros, tambores, chocalhos, agogôs) possuem uma
característica visual muito forte e chamam atenção pela movimentação das mãos e do corpo.
Os instrumentos de cordas dedilhadas (violão e cavaquinho), em geral oferecem apoio
harmônico e rítmico para as canções, e atraem o contato direto das crianças que apreciam
sentir a vibração das cordas. Permite-se que a criança entre em contato com os instrumentos,
desde que haja cuidado para criança não se machucar ou haver dano para o instrumento.
Algumas crianças SD desenvolvem perda auditiva devido ao acúmulo de secreção no
canal auditivo e faz-se necessário verificar a lateralização auditiva das crianças,
principalmente ao usar instrumentos que possam ser tocados atrás das crianças e observar se a
criança acompanha o direcionamento do instrumento com os ouvidos. Neste caso, é
importante não mostrar os instrumentos musicais na frente da criança, pois ela irá acompanhar
o movimento do som com os olhos. Uma estratégia é colocar o estímulo musical por trás e
observar se a criança tenta localizar com os olhos a fonte sonora que está tocando.
Durante as aulas é possível observar a capacidade de reorganização emocional da
criança, para tanto acontecem pequenos sustos durante as aulas. O professor pode exagerar na
dinâmica de uma palavra ou tocar um instrumento um pouco mais forte. Muitas vezes as
crianças choram nos primeiros encontros, mas o período de recuperação emocional torna-se
cada vez mais rápido e as crianças passam a não se desequilibrar emocionalmente quando
ocorrem sons inesperados.

2- Movimento e Dança

O movimento do corpo é essencial para o desenvolvimento da musicalidade, sendo


que bebês e crianças são muito beneficiados da movimentação com um adulto. Podem ser

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realizadas diversas atividades de movimento com os adultos dançando com as crianças em pé.
Canções de roda permitem que todos se movimentem juntos, já a dança em pares permite uma
interação muito íntima entre adulto e criança. Outra atividade é brincar de estátua: dançar
quando tem música e parar quando houver pausa, neste caso enfatiza-se a relação entre
música e movimento. Dançar vários tipos de ritmos oferece uma possibilidade de interação
única, na qual a comunicação corporal é o elemento central na relação adulto-criança.

3- Interações Individuais

A interação individual professor-criança é um aspecto essencial nas aulas com bebês e


crianças pequenas. O ato de olhar no olho, cantar e estabelecer uma comunicação não-verbal
de cunho musical modifica a relação com a criança. A interação musical permite a troca de
sons, balbucios, sílabas e movimentos entre professor e criança, possibilitando que o
professor entre em sintonia com as expressões da criança. A partir das interações individuais é
possível estabelecer um diálogo sonoro que favoreça a organização do material musical em
pequenas unidades: os padrões musicais. Um padrão musical ocorre quando dois ou mais
sons/ritmos são organizados como uma unidade musical. Por exemplo, dois sons que juntos
fazem o movimento Lá – Ré ou duas sílabas (pa-pa) que juntas formam duas colcheias.
Os bebês entre 6 e 18 meses estão na fase inicial de aquisição da linguagem, este
período de tentativa no uso de sílabas e palavras é denominado balbucio e Gordon (2000)
considera que existe também um período de tentativas na utilização dos elementos musicais à
qual denomina balbucio musical. Nesta fase a criança começa a explorar os sons do ambiente
e a organizá-los em pequenas unidades, para as quais serão associados significados musicais.
A criança começa a emitir sons que podem ser relacionados com as notas de determinadas
músicas ou padrões melódicos que estão sendo cantados na aula, ou interagir dentro de um
acorde de tônica ou dominante. Do ponto de vista rítmico existe um balbucio específico,
quando as crianças começam a criar grupos de sons que podem ser relacionados a figuras
rítmicas e frases rítmicas. A realização de parlendas com sílabas neutras estimula que as
crianças a emitirem sons que podem ser imitados pelo professor como um padrão rítmico. A
emissão de qualquer som pode ser o início de um diálogo musical no qual, muitas vezes o
professor inicia a comunicação e a crianças imita o professor, mas também acontecem
situações nas quais a criança toma iniciativa e o professor imita a criança.

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a) Histórias e livros musicais

Crianças com necessidades especiais terão um processo de alfabetização próprio, serão


alfabetizadas a partir das suas capacidades e precisarão desenvolver recursos de leitura de
diversos códigos visuais. A estimulação da leitura também começa com os bebês, e a
preparação da família para a alfabetização pode ser iniciada nos primeiros anos. A partir do
momento que a criança começa a fixar o olhar, é possível a interação por meio de livros
infantis. O uso de ilustrações claras, que ofereçam um foco visual por página, permite a
criação de uma trilha sonora para os personagens e objetos que reforçam o conteúdo do livro.
O livro pode ser considerado como um brinquedo interativo, que deverá ser mediado por um
adulto. A leitura de histórias e poesias também reforça a capacidade de concentração da
criança, pelo ritmo da leitura e pela musicalidade das frases que embalam as histórias.

b) Canções com sílabas específicas

Em geral, o trabalho de desenvolvimento da linguagem é realizado com especialistas


da área de fonoaudiologia, que são os responsáveis diretos por estimularem a colocação da
língua, o desenvolvimento dos músculos faciais e promoverem a articulação das sílabas. A
aula de música faz uma estimulação indireta, ao promover a articulação e a expressividade da
palavra cantada e das músicas que são apresentadas em aula. Uma atividade que promove a
intersecção das duas áreas é a realização de músicas conhecidas dos adultos com o uso das
sílabas recomendadas pelos fonoaudiólogos. Em cada aula existe um momento em que os
adultos escolhem uma música que todos conhecem, olham diretamente para as crianças e
cantam repetindo a mesma sílaba do começo ao final da música. As sílabas mais comuns para
o uso com crianças pequenas são PA, DA, MA e BA, mas existem variações na utilização das
vogais E, I, O e U. Esta estimulação é feita para que a música cantada com sílabas específicas
seja inserida nas atividades cotidianas de estimulação da criança.

4- Canções de acolhimento e carinho

O processo de aceitação de uma criança SD é diferente para cada uma das famílias. A
realização de canções de acolhimento em grupo é um forte estímulo para as famílias
superarem o luto e fortalecerem os vínculos com a criança. Canções de carinho permitem a
expressão musical de pequenos atos de amor para com a criança. As atividades de carinho são
realizadas ao final da aula, quando o professor pede para que as mães e pais sejam os
protagonistas das atividades musicais e o professor passa a oferecer o acompanhamento
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musical para as interações dos adultos com as crianças. Neste momento, a aula adquire a
característica de promover os encontros autênticos entre crianças e adultos, sendo estes
encontros mediados pela música, que se torna muito significativa para as famílias
participantes na aula.

Conclusão

A música pode ser parte do processo de estimulação de bebês e crianças com SD


desde os primeiros meses de vida. Sabe-se que a maior parte do tratamento clínico é realizado
de maneira individual e as famílias possuem poucas oportunidades de observar o
comportamento de outras crianças da mesma idade. Aulas de música para bebês com
Síndrome de Down podem ser a primeira experiência escolar da criança. Nas aulas de música
a interação entre crianças e entre famílias é um aspecto muito positivo que permite a troca de
informações tanto sobre as crianças, como também sobre clínicas de acompanhamento e
escolas que oferecem serviços de boa qualidade.
Entretanto, trabalhar a estimulação precoce de crianças SD exige um planejamento
rigoroso e cuidadoso. Os planos de aula visam valorizar a concentração e a interação durante
as atividades realizadas na aula. Cada bebê é visto como capaz de estabelecer uma
comunicação musical e estimulado a responder aos estímulos feitos em grupo e
individualmente. Qualquer som emitido pelo bebê é incorporado nas atividades e o contato
visual torna-se elemento fundamental para que a criança possa imitar os adultos e crianças
presentes na aula. Bons modelos vocais e rítmicos são fundamentais para que a criança possa
construir sua experiência musical de maneira sólida. A colocação da voz de cabeça e
valorização do movimento corporal são elementos que preparam a crianças para serem
integrados de maneira efetiva tanto em atividades musicais futuras quanto na escola regular.
O trabalho de estimulação musical é uma parceria do professor com as famílias em
benefício da criança, e as aulas são apenas um pequeno recorte na vida da criança. A
verdadeira estimulação ocorre em casa, quando as mães, pais, irmãos e cuidadores passam a
“musicalizar” a vida das crianças, colocando música em vários momentos do dia. Desde a
hora de acordar, passando pelas brincadeiras do dia a dia, os passeios no carro, hora de comer,
hora de tomar banho e também na hora de dormir. As atividades musicais podem ser um
elemento de alegria e descontração, ao permitir pequenos prazeres musicais que são essenciais
no cotidiano das famílias.

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Referências

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