Hipotese II Direitos Reais
Hipotese II Direitos Reais
Hipotese II Direitos Reais
II
Hipótese Prática
Em março de 2015, Armindo decidiu arrendar a sua casa de Portimão a Berta, pelo período
de 6 meses e mediante a quantia mensal de 550 €, tendo sido combinado que a mudança de
Berta se faria em duas semanas. Todavia, uma semana depois, Armindo decide arrendar a
mesma casa de Portimão, desta vez a Carlota e pelo mesmo período, que lhe ofereceu o
dobro do preço pago mensalmente por Berta, tendo as chaves do apartamento lhe sido
entregues de imediato.
Quid juris?
Relativamente ao arrendamento:
Estamos perante um contrato de locação (1022º) – de acordo com o CC a locação é o
contrato pelo qual uma das partes de obriga a proporcionar à outra o gozo temporário
de uma coisa mediante retribuição. Tendo em conta que o objeto da locação é neste
caso o um imóvel estamos perante um arredamento nos termos do 1023º.
Tendo em conta que estamos perante uma casa de férias, em principio estaremos
perante um prédio urbano.
o Os prédios urbanos são todos os prédios que não devam ser classificados
como rústicos, designadamente habitacionais – estes são edifícios ou
construções que foram licenciadas para tal, ou que na falta de licença tenham
como destino normal cada um destes fins.
Os direitos pessoais de gozo possibilitam deste modo ao seu titular o gozo direto e
autónomo de determinada coisa, o qual, porém, diversamente do que sucede com os
direitos reais de gozo, tem sempre por fundamento uma relação obrigacional, de que
nunca se desprende.
Embora haja quem defenda que o direito pessoal de gozo deverá ser considerado um
direito real na medida em que pode opor este direito contra o locador e terceiros nas
condições dos artigos 1037 º e 1057º
Contudo, tendo em conta o elemento sistemático (a locação está localizada no livro
das coisas) e o domínio associado aos direito reais que faz com que o legislador não
tenha considerado necessário a criação destes mecanismos para os direitos reais, visto
que os mesmos já se encontram subentendidos não é correto, a nosso ver, considerar
neste caso, o direito do locatário um direito real
O Código Civil (art. 407º) fixa um critério de superação da incompatibilidade aparente
entre direitos pessoais de gozo, estabelecendo como princípio a prevalência do direito
mais antigo em data.
o Seguinte este critério o direito pessoal de B prevaleceria sobre o direito
pessoal de C uma vez que o mesmo foi celebrado primeiro.
Contudo importa neste caso ainda referir que B não tinha a posse do imóvel à data de
celebração do novo contrato de arrendamento sobre o mesmo imóvel com C.
o 1251º: posse é o poder que se manifesta quando alguém atua por forma
correspondente ao exercício do direito de propriedade ou de outro direito real
o 1263º: a posse adquire-se através dos meios tipificado no preceito legal
o Enquanto que B não parece ter posse do imóvel; Por sua vez C tem posse
deste, uma vez que houve tradição simbólico do imóvel através da entrega das
chaves.
o Tendo em conta estes factos em principio B não poderá opor contra C nenhum
dos instrumentos de defesa da posse previstos no artigo 1276º e ss (remissão
1037º que prevê que o locatário que for privado da coisa do seu direito pode
recorrer, mesmo contra o locador dos meios facultados ao possuídor no 1276º
e ss)
Conclusão, em principio prevalece o segundo contrato de locação uma vez que ao
contrário do que ocorre com os direitos reais de caracter quod effectum (a titularidade
transmite-se com a celebração do contrato) que beneficiam de oponibilidade erga
omnes, nos direitos pessoais de gozo, tal como se deduz da interpretação do 1037º,
requer-se que haja posse do bem para o locatário possa opor os meios de defesa
previstos pelo legislador contra a pessoa impeça o gozo da coisa.
O direito pessoal de gozo apresenta-se inicialmente como direito a uma prestação, para
depois a actividade do titular (o gozo) se centrar directamente sobre a coisa. Mas o poder de
gozo mantém-se sempre intimamente conexionado com a relação pessoal ou obrigacional
que lhe subjaz. Este direito de gozo há-de dimanar duma vinculação obrigacional daquele a
quem competia o gozo da coisa.
O direito pessoal de gozo exige a entrega da coisa – tem de ter o poder fatico da coisa. O
407º só se aplica quando haja entrega da coisa.