4 - Ciência e Conhecimento Científico PDF
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Trabalho Científico
CLARA MENDONÇA
VERA PEREIRA
Unidade 1
Ciência e conhecimento
científico
Habilidades
• C
ompreender a importância da produção científica para a ciência.
Descritores de desempenho
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Apresentação da unidade
O objetivo desta unidade é familiarizá-lo com os diversos tipos de conhecimentos que
circulam na sociedade. Os conhecimentos, por apresentarem diferentes naturezas, não
podem ser classificados em melhores ou piores, o que existe é uma adequação para
o meio em que eles circulam. Você não pode utilizar uma linguagem informal, ou seja,
aquela que você utiliza em um ambiente descontraído, para apresentar um trabalho
científico, pois na Academia o interlocutor é outro, e é onde circula o conhecimento
social.
Você deve estar se perguntando: como saber utilizar as linguagens de cada meio de
circulação social? É justamente sobre isso que vamos tratar. Veremos os diversos tipos
de conhecimentos que a humanidade acumulou e suas características.
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Naturalmente, esse fato que o autor reporta como “ciência” não é exatamente essa
ciência sobre a qual nos referimos hoje.
Atenção
Ciência é o conjunto de teorias que tendem a explicar
uma determinada realidade e cujas conclusões po-
dem ser repetidas.
Assim, as disciplinas de Sociologia, História, Geografia etc. podem ser entendidas como
ciência porque abrigam uma série de teorias que se propõem a explicar determinada
realidade, seguindo dada metodologia e cujas conclusões podem ser generalizadas. A
Metodologia Científica insere-se nesse contexto: também é uma ciência, não por possuir
em seu título a palavra “científica”, mas porque engloba várias teorias e possui um
sistema próprio de proceder (metodologia), cujas conclusões podem ser generalizadas
e aplicadas em outras ciências e, também, em sua vida.
Evidentemente que o homem paleolítico não tinha consciência do que estava fazendo:
ele realizava suas ações seguindo seus instintos para sobreviver. No entanto, no
momento em que age e começa a pensar no “porquê” faz algo, esse homem ancestral
passa a elaborar teorias: passa, portanto, a construir ciência.
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Figura 1.2: O salto do conhecimento
Reflita
Teoria é toda lei, valor, fundamento e condicionantes
que um pesquisador elabora para explicar um fenô-
meno em particular.
É por meio dessa e de outras regras, capazes de explicar determinado fenômeno social
ou natural, que se constitui uma ciência. Então, podemos entender que a teoria é um
tipo de engrenagem capaz de articular relações do cotidiano abstratamente, ou seja, é
a teoria que retira da realidade o objeto e o transforma em representação.
As ciências podem ser divididas por áreas, é o que veremos a seguir.
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• Ciências exatas: são todas aquelas que têm a Matemática como funda-
mento. Assim, a Matemática, a Física, a Astronomia, as ciências da compu-
tação e as engenharias podem ser classificadas como exatas.
• Ciências biológicas: são aquelas que têm como base o estudo dos seres
vivos em seus aspectos biológicos. São exemplos de biológicas a Medici-
na, a Odontologia, a Educação Física, a Agronomia, a Fisioterapia e a Fo-
noaudiologia.
Conhecer é atividade especificamente humana. Ultrapassa o mero 'dar-se conta de', e sig-
nifica a apreensão, a interpretação. Conhecer supõe a presença de sujeitos; um objeto que
suscita sua atenção compreensiva; o uso de instrumentos de apreensão; um trabalho de
debruçar-se sobre. Como fruto desse trabalho, ao conhecer, cria-se uma representação do
conhecido - que já não é mais o objeto, mas uma construção do sujeito. O conhecimento
produz, assim, modelos de apreensão - que por sua vez vão instruir conhecimentos futu-
ros. (FRANÇA et al., 2011, p. 140).
Em segundo lugar, é importante entender que o conhecimento não é, e nem pode ser,
somente individual. Diz-se isso porque ninguém sabe tudo sobre determinado assunto.
Cada um sabe um pouco sobre algo, e esse pouco individual se junta para formar um
conhecimento ainda maior.
O conhecimento que a sociedade tem hoje dos diversos setores que a formam foi
algo construído com o tempo. Lembre-se de que nosso antepassado pré-histórico foi
desenvolvendo as tecnologias aos poucos, pois, no início, nem o fogo ele sabia acender.
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Este foi um dos primeiros conhecimentos fundamentais para o desenvolvimento da
humanidade.
Nesse contexto, hoje, a humanidade domina uma gama tão grande de conhecimento
que estes foram sendo divididos em setores. Veja que o conhecimento de um padre ou
de um pastor é totalmente diferente do conhecimento de um médico. Para curar uma
doença, por exemplo, o médico vai pedir exames, receitar uma medicação, já o padre
ou o pastor pode realizar uma oração em benefício da cura do doente. Qual deles é o
melhor conhecimento? Nenhum, pois não há juízo de valor para isso. Nos dois casos,
pressupõe-se que tanto o médico quanto o pastor ou o padre sejam estudiosos de
suas áreas de conhecimento. O diferencial entre uma área e outra é a linguagem e a
metodologia aplicadas por quem constrói o conhecimento. Assim, quando o estudioso
vai a fundo em seus estudos, ele pode ser considerado um pesquisador.
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anterior, ampliando os horizontes dos saberes e produzindo novas perguntas que
culminarão em novos conhecimentos.
Diante desse contexto, observe que a construção do conhecimento, seja para entender
a regra de um jogo desportivo ou uma complexa organização social, ocorre a partir da
inquietude, curiosidade e proatividade de quem investiga.
Curiosidade
Você sabia que o conhecimento é resultado das dúvi-
das daquele que estuda determinado assunto?
A história humana é a história das lutas pelo conhecimento da natureza para interpretá-la
e para dominá-la. Cada geração recebe um mundo interpretado por gerações anteriores.
Esta história está constituída por interpretações místicas, proféticas, filosóficas, cientí-
ficas, enfim, por ideologias. Cada indivíduo que vem ao mundo já o encontra pensado,
pronto: regras morais estabelecidas, sociedade organizada, religiões estruturadas, leis co-
dificadas, classificações preparadas. No entanto, tal estruturação do mundo não justifica
a alguém se sentir dispensado de repensar este mundo, porque caso contrário tem-se o
lugar comum, a mediocridade e, o que é pior, a alienação.
Cervo e Bervian (2010) lembram que, por meio do conhecimento, o homem entra em
várias áreas da realidade, porém, é preciso ressaltar que a própria realidade apresenta
natureza diferenciada. Por isso, o conhecimento humano foi classificado em níveis, ou
tipos. São eles: o senso comum, o conhecimento teológico, o conhecimento artístico,
o conhecimento filosófico e o conhecimento científico. Se você se tornar um estudioso
da área e for aprofundar seus conhecimentos para além do que for apresentado aqui,
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verá que pode haver modificações na classificação dos níveis de conhecimento. Mattar
(2014) comenta que a divisão tradicional dos níveis de conhecimento mostra-se a partir
de um exame mais apurado e muito frágil, pois o conhecimento artistístico também
pode ser um nível de conhecimento, ao passo que o conhecimento mitológico pode ser
agregado ao conhecimento teológico. Neste material, adotamos a abordagem proposta
por Mezzaroba e Monteiro (2017), Cervo e Bervian (2010) e Lakatos e Marconi (2009),
que não apresentam o conhecimento artístico, mas o conhecimento mitológico.
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tenha sido alertado sobre isso, pois alguém já teve a experiência de levar um choque
quando colocou o dedo ou um objeto na tomada. Daí vem o nome empirismo.
Mezzaroba e Monteiro (2017) lembram que o senso comum é resultado de informações
trocadas entre as pessoas com o passar do tempo; são conhecimentos que passam
por gerações, sendo adaptados e assimilados pela cultura popular. Esse conhecimento
é acessível a qualquer pessoa, pois o indivíduo não precisa ser especialista no assunto
para repassar esse tipo de conhecimento.
No entanto, a fragilidade desse tipo de conhecimento consiste no fato de ele ser
destituído de teor crítico. Simplesmente é aceito do jeito que é enunciado. Lembre-se
de que o conhecimento desse tipo pode gerar preconceitos ou ser transformado em
verdades absolutas.
Essa forma de construção do conhecimento não é científica, não é filosófica, e tem a
particularidade de, muitas vezes, estar isenta de argumentações. O senso comum atende
às necessidades imediatas da sociedade, e todos nós possuímos conhecimentos de
senso comum. Quais são os seus?
É importante destacar que os conhecimentos de senso comum são usados, também,
para resolver problemas do cotidiano. Contudo, trata-se de um conhecimento limitado,
posto que "[...] não é sistemático, nem eficiente, e não permite identificar conhecimentos
complexos ou relações abstratas" (GRESSLER, 2003, p. 27).
Para Lakatos e Marconi (2009, p. 18, grifo nosso) o senso comum "[...] não se distingue do
conhecimento científico nem pela veracidade, nem pela natureza do objeto conhecido:
o que os diferencia é a forma, o modo ou o método e os instrumentos do 'conhecer’".
Todavia, recebe pejorativamente a denominação de conhecimento vulgar ou popular.
Para Petrin (2014), senso comum é:
[...] aquele tipo de conhecimento que se estende a todos os indivíduos e vem, inclusive,
sem que percebamos, como uma herança genética de geração em geração. Isso é usa-
do diariamente mesmo que a gente não se dê conta, em atividades comuns como por
exemplo o uso das ervas para confecção de chás e cura de doenças. Nós simplesmente
confiamos, mesmo sem nos perguntar porque funcionam, apenas acreditando em tudo
que ouvimos a respeito, principalmente dos mais velhos. (PETRIN, 2014, s.p.).
O senso comum também é capaz de produzir aquilo que as ciências chamam de dogmas.
Mezzaroba e Monteiro (2017) definem dogmas como algo que se aceita como verdade,
sem a presença de questionamentos, e trazem como exemplo de dogma as ações dos
terroristas islâmicos, que carregam bombas e sacrificam sua vida para matar pessoas
que não aderem à sua religião.
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Portanto, o modo de se combater o dogmatismo é a atitude crítica. Conversar, debater,
pesquisar sobre ideologias e crenças é um modo salutar de combater as intolerâncias
que o dogma pode acarretar.
Você, com certeza, já pôde perceber que o conhecimento mítico é um modo lúdico, ingê-
nuo, fantasioso, anterior a toda reflexão, e não crítico de buscar explicações para fatos
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desconhecidos pelo homem. Isso é assim porque o mito se apresenta como uma verdade
instituída, que dispensa a apresentação de provas para ser aceito.
• inspiracional: dadas pela divindade, e, por esse motivo, tais verdades são
consideradas indiscutíveis;
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1.3.4 Conhecimento filosófico
Mattar (2014) argumenta que um dos grandes patrimônios da Filosofia é a sua própria
história, que teve início na Grécia Antiga. De acordo com o autor, é a partir da Filosofia
que nasce a própria ciência, logo, os dois níveis de conhecimento (filosófico e científico)
relacionam-se pelo rigor, que se traduz pela presença do método e pela busca da verdade.
Entretanto, a Filosofia encontra-se sempre à procura do que é mais geral, interessando-
se pela formulação de uma concepção unificada e unificante do universo. Para tanto,
procura responder às grandes indagações do espírito humano, buscando até leis mais
universais que englobem e harmonizem as conclusões da ciência.
O conhecimento filosófico pode ser caracterizado como:
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O conhecimento científico propriamente dito é uma conquista tardia da humanidade. Foi
entre os séculos XVI e XVII, com a revolução científica deflagrada por Copérnico, Bacon,
Galileu, Descartes e outros pensadores, que a Ciência conquistou campo próprio de inves-
tigação e de reflexão. Daquele momento em diante, ela passou a utilizar métodos próprios
de pesquisa, separando-se, então, definitivamente do conhecimento filosófico.
O desenvolvimento da ciência a partir do século XVI foi tão expressivo que o homem
começou a estudar e entender profundamente os objetos, fatos e coisas existentes no
mundo, de modo que ele se tornou capaz de prever acontecimentos e melhorar a vida
da sociedade em diversos setores, tais como saúde, transporte e educação.
Importante também compreender que o conhecimento sobre determinado assunto
sempre pode ser revisitado, pois a tecnologia permite que novos fatos sejam
descobertos. Na Biologia, por exemplo, os primeiros estudos sobre as células não
apontaram a existência de organelas celulares. Com o advento de microscópios mais
modernos, descobriu-se a existência das organelas celulares e a intrincada arquitetura
dessas minúsculas estruturas.
Podemos elencar algumas características do conhecimento científico:
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Figura 1.6: O ciclo do conhecimento científico
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Síntese
Saiba mais
Consulte a obra “O que é ciência, afinal?”, de Alan
Chalmers, publicado pela Editora Brasiliense. Vale a
pena ler para entender um pouco mais sobre o assun-
to, acesse o link: <http://www.academia.edu/down-
load/38987094/chalmers_o_que_e_ciencia_afinal2.
pdf>.
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Referências
CERVO, A. L.; BERVIAN, P. A. Metodologia científica. 6. ed. São Paulo: Makron Books
do Brasil, 2010.
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