Resenha: A - Pedagogia - Das - Competencias - Autonomia - Ou - Adaptaca
Resenha: A - Pedagogia - Das - Competencias - Autonomia - Ou - Adaptaca
Resenha: A - Pedagogia - Das - Competencias - Autonomia - Ou - Adaptaca
da produção flexível, discute o quanto a noção se materializa apenas por um ajustamento cur-
de competência passa a ser reguladora das rela- ricular, pautado pela pedagogia das competên-
ções de trabalho e como este novo princípio de cias, mas estrutura-se também pela compreen-
ordenamento das relações contratuais passa a são da educação a partir de uma lógica economi-
ser também condutor de práticas e de significa- cista, na qual a relação custo-benefício passa a
dos externos aos locais de trabalho. ser o condicionante das políticas educacionais.
Destacando o individualismo e a competi- O livro de Marise Ramos contribui para a
ção entre trabalhadores, a autora chama atenção compreensão do papel que o conceito de com-
para o fato de que a cultura coletiva e de coe- petência tem tido como norteador das relações
são, construída ao longo dos anos sob o modelo intra-escolares, como também para a importân-
de produção fordista, vai aos poucos se esva- cia que o mesmo vem assumindo como justifi-
ziando e dando lugar a uma ética individualis- cativa, no âmbito das relações de trabalho, para
ta e descomprometida com a construção de saí- a individualização do sucesso ou, como é mais
das coletivas, fragilizando, assim, as represen- comum, como justificativa para a exclusão.
tações sindicais. Observaríamos, então, a incor- Ao destacar a relação direta entre a assun-
poração de um individualismo pós-moderno ção do conceito de competência e o desloca-
por parte dos trabalhadores – fortalecido por mento para um plano secundário do conceito de
sua identificação com os interesses da empresa qualificação, o livro não está apenas explicitan-
–, conjugado a práticas contratuais de trabalho do novas categorias estruturantes das práticas
de caráter pré-moderno. educativas, mas também apontando uma mu-
Em virtude da crise do emprego, a noção de dança na correlação de forças entre as classes.
competência passa a ser o significante e legiti- A subordinação da educação ao processo de
ma as relações contratuais. Entretanto, a descar- produção, a precarização do trabalho, a ofensiva
tabilidade da força de trabalho presente no do ideário neoliberal, a diminuição do potencial
atual estágio do desenvolvimento capitalista ar- classista dos sindicatos obreiros, além da genera-
ticula também novos conceitos legitimadores lização de uma cultura individualista e descom-
das relações de trabalho e do conflito entre as prometida com os ideais de transformação social
classes. Junto ao conceito de competência, evi- não expressam apenas uma mudança cultural ou
dencia-se então o de empregabilidade. Este, se- uma nova fase do desenvolvimento capitalista,
gundo o livro, explicita um verdadeiro ‘fascis- mas um movimento estruturado no plano mate-
mo profissional’, na medida em que a conjuga- rial de recomposição ou aquisição da hegemonia
ção entre o aumento de escolarização e o acú- das classes economicamente dominantes.
mulo de competência torna-se a solução indivi- A utilização do conceito gramsciano de “re-
dual para superação da exclusão social. volução passiva” é pertinente para a compreen-
No quinto capítulo, Marise Ramos faz um são de todo o movimento que a autora apontou
movimento semelhante ao realizado no capítulo no interior do seu trabalho. De fato, o movi-
anterior, analisando o ordenamento que o con- mento que o capital estabeleceu, nestes últimos
ceito de competência estabelece no interior das anos, é uma resposta direta aos avanços no pla-
relações educativas. Para ela, a difusão do con- no econômico e político alcançados pela classe
ceito de competência, marcadamente estrutura- trabalhadora. Se, na lógica neoliberal, as políti-
da por uma abordagem cognitivista, estabelece- cas sociais são vistas a partir da relação custo-
se no cenário educativo através da relação entre benefício, tal ação decorre de um movimento
a formação e emprego. A crítica que destaca re- contínuo estabelecido pelas elites ao nível de
fere-se ao fato de que estas competências, ao se- controle direto do fundo público.
rem referenciadas em função das situações com Desta forma, o aumento da pobreza, bem
as quais os alunos poderão se deparar no inte- como da exclusão social, não poderia deixar de
rior do processo de trabalho, acabam conduzin- ser acompanhado pela elaboração de práticas
do os conteúdos curriculares a um processo de conceituais, vislumbrando assegurar a hegemo-
fragmentação. nia cultural estabelecida pelo capital, principal-
Por outro lado, não se pode deixar de consi- mente em virtude de derrotas no plano econô-
derar que a subordinação política, ética e econô- mico e político de existências concretas (reais)
mica da educação aos interesses do capital não do socialismo.