Livro - Logistica Reversa PDF
Livro - Logistica Reversa PDF
Livro - Logistica Reversa PDF
REVERSA
autor
MARCELO ELIAS DOS SANTOS
1ª edição
SESES
rio de janeiro 2015
Conselho editorial solange moura; roberto paes; gladis linhares
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2015.
isbn: 978-85-5548-117-8
Neste momento, pare um pouco a sua leitura e tente escrever em no máximo vinte pala-
vras o que você entende por desenvolvimento sustentável. Não se preocupe em acertar
ou errar, apenas expresse o que você pensa a respeito desse conceito. Na sequência,
consulte dez pessoas sobre o que elas pensam sobre desenvolvimento sustentável.
Peça para elas escreverem sua opinião em duas linhas e então, após ter todas as res-
postas, circule a palavra chave de cada resposta, ou seja, a palavra que melhor expressa
o que foi relatado. Faça o mesmo com a sua opinião.
Pronto! Agora podemos continuar.
Após essa atividade você irá perceber que praticamente todas as pessoas
já ouviram falar do termo desenvolvimento sustentável e têm ao menos uma
ideia do que significa essa expressão. Durante a avaliação das respostas, você
irá notar que a presença de palavras como futuro, necessidades, meio ambiente
e preservação.
8• capítulo 1
assim, com uma visão apropriada do desenvolvimento sustentável contribua
para o sucesso da organização em que trabalha e para o desenvolvimento do
grupo social no qual convive.
OBJETIVOS
Ao final deste capítulo esperamos que você:
capítulo 1 •9
1.1 Evolução da questão ambiental e social
no mundo e no ambiente empresarial
“Meio ambiente é tudo o que envolve ou cerca os seres vivos” (BARBIERI, 2007,
p. 05). O que envolve os seres vivos e as coisas ou o que está ao seu redor é o Planeta
Terra com todos os seus elementos, tanto naturais, quanto alterados e construídos.
Assim, por meio do meio ambiente se entende o ambiente natural e o artificial, isto
é, o ambiente físico e o biológico e o que foi alterado, destruído e construído pelos
humanos, como as áreas urbanas, industriais e rurais (BARBIERI, 2007).
MULTIMÍDIA
Na seção Multimídia, você será convidado a assistir ao curta-metragem Ilha das Flores. Esse
vídeo exemplifica alguns dos problemas que serão discutidos nesse capítulo. O curta-metra-
gem relata a saga de um tomate desde o momento que foi cultivado até ser rejeitado para o
consumo. Essa é uma produção histórica e muito reconhecida, que expõe muitos dos proble-
mas econômicos, sociais e ambientais da nossa sociedade. A história é cativante e fácil de
seguir, sendo reservada para o final a parte mais comovente.
https://www.youtube.com/watch?v=e7sD6mdXUyg
10 • capítulo 1
Durante os últimos 200 anos a capacidade de intervenção do homem na
natureza agravou o problema ambiental na Terra. É possível verificar essa si-
tuação na contaminação do ar, água e solo, sendo um dos problemas mais vi-
síveis a destinação dos resíduos de qualquer tipo (sólido, líquido ou gasoso)
que sobram do processo produtivo e que afetam o meio ambiente e a saúde das
pessoas (DIAS, 2001).
Os principais casos de desastres ambientais que tiveram grande repercus-
são no século XX estão listados na tabela 1.1
ANO DESCRIÇÃO
Tabela 1.1 – Principais acidentes ambientais do século XX. Fonte: Adaptado de Dias (2011).
capítulo 1 • 11
Todos esses desastres iniciaram um movimento envolvendo organizações e
indivíduos de todo tipo com o objetivo de proteger o planeta e buscar soluções
para questões como a poluição, redução da camada de ozônio, mudanças cli-
máticas e proteção da biodiversidade (BARBIERI, 2007; DIAS, 2011; HELENE e
BICUDO, 1994). Neste processo, o trabalho anônimo de milhares de ativistas de
organizações não-governamentais, que em todo o mundo operaram nos planos
local, nacional e internacional, fortaleceram as redes de uma sociedade civil
emergente sendo chamados por Vieira (2001), em seu livro de “Argonautas1 da
cidadania”.
Sobre essa questão, Vieira (2001) e Barbieri (2007) explicam que o proces-
so de globalização dos problemas ambientais também contribuiu para o en-
fraquecimento dos Estados nacionais, que perderam a capacidade de formular
políticas nacionais autônomas e de garantir os princípios fixados no Tratado de
Vestfália2 em 1648, territorialidade, soberania, autonomia e legalidade.
Nesse contexto, as relações internacionais não poderiam mais ser expli-
cadas apenas em termos de relações entre Estados e mercados sendo que nas
últimas décadas a sociedade civil se agrupou em torno do interesse público er-
guendo as bandeiras da democracia política, diversidade cultural e desenvol-
vimento sustentável, se confrontando no espaço internacional com os interes-
ses dos Estados e das corporações. Um dos principais objetivos desses atores
não-estatais foi assegurar normas que regulassem as operações das empresas
(VIEIRA, 2001).
Nesse contexto, também podemos citar a globalização acelerada que não é
um fenômeno recente na história, a novidade é a rapidez com que mercados de
alcance mundial foram ampliados, por causa dos sistemas de transportes, das
tecnologias de informação e comunicação. A internet consolidou o processo, ao
ligar o mundo todo em rede de computadores. E assim, os negócios passaram
a ser potencialmente globais, iniciando pelo mercado financeiro (MARTINS,
2008).
“A preocupação com o estado do meio ambiente não é recente, mas foi nas
últimas três décadas do século XX que ela entrou definitivamente na agenda
dos governos de muitos países e de diversos segmentos da sociedade civil orga-
nizada (BARBIERI, 2007, p. 01).
1 Os Argonautas são personagens da mitologia grega que teriam ido até Cólquida em busca do Velocíno de Ouro
(GASPARETTO JUNIOR, 2013).
2 Ou Paz de Vestfália corresponde a um conjunto de tratados elaborados que encerrou a Guerra dos Trinta anos.
12 • capítulo 1
Conforme explica Dias (2011, p. 15) “até o ano de 1962, os problemas de-
rivados da relação do homem com o meio ambiente foram abordados de for-
ma muito superficial”. Nesse ano, Rachel Carson publicou o livro Silent Spring
(Primavera Silenciosa), que teve uma grande repercussão por expor os perigos
do inseticida DDT3 .
O livro Primavera Silenciosa funcionou como um alarme que incentivou vá-
rios países a realizarem uma vasta inspeção em rios, mares e terras em busca
de danos causados ao meio ambiente. Como consequência a poluição figurou a
partir de então como um grande problema ambiental no mundo.
No ano de 1968, três encontros foram importantes para equacionar o en-
frentamento dos problemas ambientais na década de 70 e posteriores:
3 No livro A Primavera Silenciosa, Rachel Carson demonstrou que o DDT se acumulava no tecido adiposo dos
animais, inclusive do homem, com a ameaça de provar câncer e problemas genéticos.
capítulo 1 • 13
Como explicam os autores, de modo geral, as preocupações eram direcionadas
à qualidade do ar, contaminação da água e do solo de pequenas áreas ou por
desastres ambientais.
Para entender as implicações desses acontecimentos na realidade brasileira, leia
o texto “Vale da Morte” foi símbolo de Cubatão. Na década de 80, a cidade era co-
nhecida como Vale da Morte, sendo que o município foi apontado pela ONU como a
cidade mais poluída do mundo devido ao impacto ambiental causado.
14 • capítulo 1
O padrão de qualidade da legislação brasileira para o intervalo de 24 horas é de
150 mcg/m3. Um documentário de uma TV francesa traduziu ao mundo o que isso
significava: as crianças da Vila Parisi nunca haviam visto flores nem borboletas, o que
deu ao bairro a alcunha de Vale da Morte.
O então governador Franco Montoro criou o programa de controle da poluição ambien-
tal em Cubatão, dividido em projetos, começando com o controle de fontes de poluição
do ar, água e solo de maior potencial poluidor, classificadas como primárias, entre 1983
e 1994. As empresas passaram a usar os mesmos filtros das correspondentes no ex-
terior, instalaram lavadores de gases e unidades para tratar efluentes pluviais. Há 20
anos, na Eco 92, a ONU outorgava o selo verde a Cubatão, elegendo a cidade como
exemplo de recuperação ambiental. (...).
Quadro 1.1 – “Vale da Morte” foi símbolo de Cubatão. Fonte: Adaptado de Pires (2012).
ATENÇÃO
Qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causa-
da por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta
ou indiretamente, afetem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; as atividades
sociais e econômicas; a biota; e as condições dos recursos ambientais (MMA, 2009, p. 15).
capítulo 1 • 15
Definitivamente a inserção da questão ambiental como limitante ao de-
senvolvimento surgiu com a divulgação do relatório da Comissão Mundial
de Meio Ambiente, Nosso Futuro Comum (1987). O relatório vinculou econo-
mia e ecologia, estabelecendo com muita precisão o eixo em torno do qual se
deve discutir o desenvolvimento (DIAS, 2011). O relatório foi referência e base
para os debates da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento (CNUMAD), que aconteceu no Rio de Janeiro em 1992, a par-
tir da qual se divulgou o conceito de desenvolvimento sustentável.
16 • capítulo 1
Industrial e criou um novo ambiente nas cidades. Essas cidades conviviam
com esses problemas ambientais e eram cobertas de fumaça e impregnadas de
imundície, sendo que os serviços públicos básicos, abastecimento de água, es-
gotos sanitários, espaços abertos, não acompanhavam a migração das pessoas
(DIAS, 2011).
Nesse contexto, entende-se que muitas das medidas que visam maior con-
trole do meio ambiente atingem os processos produtivos da empresas, seus
produtos, e tornam-se uma arma comercial de países e regiões na proteção dos
mercados. Para Dias (2011) é evidente uma nova ordem mundial para ser equi-
tativa deve ser baseada no equilíbrio das opções de transformação produtiva.
Ao mesmo tempo em que as empresas discutem a questão do desenvolvi-
mento sustentável, surge também, o questionamento sobre a real conexão en-
tre a preservação do meio ambiente e o desempenho econômico. No ambiente
empresarial, a percepção de que boas práticas ambientais podem trazer retor-
no a empresa é crescente, embora a relação entre essas ações e o desempenho
financeiro seja inconclusivo (MACHADO FILHO, 2013).
“Uma grande mudança no contexto institucional é o processo de integração
dos mercados que tem induzido as empresas a elevarem seus padrões de com-
portamento ético” (MACHADO FILHO, 2013, p. 14). Assim, a forma peculiar
como algumas empresas conduziam à ética nos ambientes de convivência está
sendo transformada principalmente nas organizações inseridas na economia
global como no caso das multinacionais.
Contribuíram para formação desse novo cenário o crescimento do número
de organizações ecológicas, que se dedicam aos temas relacionados ao meio
ambiente. As Organizações Não-Governamentais Internacionais (ONGIs), em-
bora não tenham o mesmo peso de outros atores, conseguem se contrapor aos
Estados, empresas multinacionais e agências militares com propostas, críticas
e até mesmo ações concretas (DIAS, 2011).
Trata-se de organizações independentes sem fins lucrativos que trabalham
globalmente para promover dirietos humanos, desenvolvimento sustentável,
proteção ambiental, resposta humanitária e outros bens públicos. Essas orga-
nizações atuam em vários países e culturas, assim como um diferente leque de
pessoas, sistemas econômicos, sociais e políticos. Exemplos de organizações
dessa natureza que se baseiam na liberdade de expressão, agremiação e asso-
ciação para atuarem são o World Wildlife Fund (WWF) e o GreenPeace.
capítulo 1 • 17
CONEXÃO
Visite o site oficial do WWF no Brasil para conhecer sua história e entender sua atuação no
país que iniciou com o Programa de Preservação do Mico-leão-dourado.
Disponível em: <http://www.wwf.org.br/>.
Visite também o site do GreenPeace para conhecer sua história e a primeira ação da
organização que foi contra a usina nuclear de Angra. Chegando por mar, ao bordo do navio
Rainbow Warrior, os ativistas fixaram 800 cruzes no pátio da usina, simbolizando o número
de mortos no acidente de Chernobyl. Disponível em: <http://www.greenpeace.org/brasil/pt
Com a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente Humano, realizada em
Estocolmo em 1972, começa a segunda fase que se estende até 1992 e se caracte-
riza pela busca de uma nova relação entre o meio ambiente e desenvolvimento. Essa
Conferência foi marcada pelo antagonismo entre dois blocos: os países desenvolvidos,
preocupados com a poluição e o esgotamento de recursos estratégicos e os demais
países, que defendiam o direito de usarem seus recursos para crescer e assim te-
rem acesso aos padrões de bem-estar alcançados pelas populações dos países ricos
(BARBIERI, 2007, p. 35).
18 • capítulo 1
conferência foi relacionar o meio ambiente e as formas de desenvolvimento.
Desse vínculo, surgiu um novo conceito, denominado de desenvolvimento sus-
tentável (BARBIERI, 2007).
Em 1987, World Commission on Environment and Development (1987), de-
finiu o desenvolvimento sustentável como o desenvolvimento que satisfaz as
necessidades do presente, sem comprometer a capacidade das gerações vin-
douras satisfazerem as suas próprias necessidades. Conforme a comissão, ou-
tros objetivos foram estabelecidos:
ATENÇÃO
Inúmeras são as previsões relativas à escassez de água, em conseqüência da desconsideração da
sua esgotabilidade. A água é um dos recursos naturais fundamentais para as diferentes atividades
humanas e para a vida, de uma forma geral. O Brasil detém 13% das reservas de água doce do
Planeta, que são de apenas 3%. Esta visão de abundância, aliada à grande dimensão continental
do País, favoreceu o desenvolvimento de uma consciência de inesgotabilidade, isto é, um consumo
distante dos princípios de sustentabilidade e sem preocupação com a escassez. A elevada taxa de
desperdício de água no Brasil, 70%, comprova essa despreocupação (MMA, 2009, p. 38).
capítulo 1 • 19
Para Dias (2011) tal definição dá margem a interpretações que de modo geral po-
dem sugerir um desequilíbrio entre os eixos fundamentais do conceito de sustenta-
bilidade, que são: crescimento econômico, preservação ambiental e equidade social.
Ao priorizar um desses eixos, abandona-se o conceito e prioriza-se o interesse de gru-
pos isolados do contexto geral, que compreende a sociedade como um todo.
1.4 A sustentabilidade
Social
Sustenta-
bilidade
Ambiental Econômico
20 • capítulo 1
Como pode ser observado na figura 1.1 a sustentabilidade apresenta três di-
mensões, que são: a social, a ambiental e a econômica. Do ponto de vista econô-
mico as empresas precisam ser economicamente viáveis. O papel da organiza-
ção deve ser cumprido na sociedade considerando o aspecto da rentabilidade.
Sobre o aspecto social, a empresa deve proporcionar boas condições de traba-
lho aos seus funcionários entendendo a diversidade cultural e necessidades de
cada um. Do ponto de vista ambiental, a empresa deve trabalhar a ecoeficiência
de seus processos, ter uma produção limpa, e desenvolver uma cultura da sus-
tentabilidade adotando uma postura ambiental responsável (DIAS, 2011).
“O mais importante na abordagem das três dimensões da sustentabilidade
empresarial é o equilíbrio dinâmico necessário e permanente que devem ter, e
que tem de ser levado em consideração pelas organizações” (DIAS, 2011, p. 45).
Essa é uma nova forma de encarar o progresso, o desenvolvimento de uma co-
munidade, de um país, de uma residência, uma escola ou uma pequena vila.
capítulo 1 • 21
econômico econômico
Ver. Industrial
Ver. Francesa
Desenvolvimento
séc. XVIII
(garantias individuais)
Desenvolvimento
econômico-social social econômico social
séc. XIX econômico
(garantias sociais)
Rel. Brundtland
Desenvolvimento
Sustentável social econômico
séc. XX-XXI econômico social
(garantias coletivas)
ambiental
ambiental
22 • capítulo 1
Para compreender como a questão da sustentabilidade ambiental vem sen-
do tratada no âmbito das organizações, leia o texto “A linha Natura Ekos” e en-
tenda como uma linha de produtos levou a sustentabilidade para o centro dos
negócios da Natura. A nova linha de produtos incorporou várias substâncias
que eram usadas por comunidades indígenas tradicionais. Assim, a Natura,
além de comprar a matéria-prima, estabeleceu parcerias com essas comunida-
des para compartilhar os benefícios resultantes da exploração dos recursos.
capítulo 1 • 23
A Natura sempre soube que a biodiversidade brasileira era um atrativo para o merca-
do internacional; contudo, a falta de tradição no uso sustentado de recursos naturais
representava um obstáculo às ações empresariais. O conceito de sustentabilidade pas-
sou a constituir o grande desafio, mas também a grande oportunidade para a Natura
desenvolver estratégias inovadoras em seu negócio. Para os três presidentes, não se
tratava apenas de uma nova porta para os negócios. A decisão da Diretoria foi unânime
em ampliar as ações da Natura junto às comunidades de onde eram extraídos esses
insumos, conforme atesta Leal:
“Só me interessa estar nesse negócio se for para fazer diferente; se for para interferir
positivamente nas questões sociais e ambientais das comunidades de onde extraímos
nossos princípios ativos. De outra forma, somente para fazer dinheiro, não me interessa.
Preferiria retirar-me dos negócios da Natura e seguir com minha vida”. (...).
Quadro 1.2 – A Linha Natura Ekos. Fonte: Adaptado de Fischer e Casado (2003, p. 04).
“Toda ação humana tem algum impacto ambiental. Isso porque, ao comer, produzir, via-
jar, consumir, o ser humano pratica uma ação que de alguma forma mexe com o meio
ambiente. Do mesmo modo a empresa, para funcionar, depende de matérias-primas e
outros insumos que foram extraídos do meio ambiente ou tem algum impacto ambiental
direto ou indireto” (MARTINS, 2008, p. 37).
24 • capítulo 1
Geralmente os recursos naturais são classificados como renováveis (ener-
gia solar, ar, água, plantas, animais, etc.) e não renováveis (areia, argila, carvão,
petróleo, etc.). Essa é uma classificação muito utilizada, mas temporal huma-
na. Como explica Barbieri (2007), a ideia de esgotamento considera a noção de
tempo e a perspectiva de tempo dos humanos nem sempre é a mesma de que
necessita certo recurso para se renovar. Assim, recurso renovável é aquele que
pode ser obtido indefinidamente de uma mesma fonte, enquanto o não renová-
vel possui uma quantidade finita.
MULTIMÍDIA
Para iniciarmos o estudo desse tema, assista ao documentário “Uma verdade inconveniente”
disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=MwxMrnDkbPU
O documentário foi realizado pelo ex-vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore, e
apresenta um conjunto de informações sobre as mudanças climáticas e suas consequências
para os seres humanos.
Recursos naturais
Não se alteram com o uso: Alteram-se com o uso: Esgotam-se com o uso:
(energia direta solar, (ar, água, espaço, beleza (petróleo, carvão mineral,
ventos, marés) cênica, navegabilidade gás natural, energia nuclear)
dos rios e lagos, polinização,
Alteram-se com o uso: assimilação de poluentes, Esgotáveis, mas podem ser
esgotam-se, mantêm-se ciclo de nutrientes, reutilizados e reciclados:
ou aumentam (colheita regulação do clima, (areia, argila, granito, metais)
anual, rebanhos, animais retenção de sedimentos,
selvagens, cardumes, filtro solar, biodiversidade,
lenha, madeira, solo) controle natural de pragas)
capítulo 1 • 25
“Como qualquer ser vivo, o ser humano retira recursos do meio ambiente para
prover sua subsistência e devolve as sobras” (BARBIERI, 2007, p. 20). Dessa forma,
concluímos que “(...) Não somos sustentáveis porque estamos ameaçando a capaci-
dade de suporte do planeta e dos diferentes ecossistemas (...)” (HELENE e BICUDO,
1994, p. 26). Isso porque as sobras das atividades humanas são denominadas de po-
luição e está, suja, corrompe, contamina, degrada e mancha o meio natural.
Podemos entender a capacidade de suporte de um ecossistema como “a ca-
pacidade de um ecossistema ou de uma região para suportar sustentadamente
um número máximo de população humana sob um dado sistema de produção”
(JUNK, 1995, p. 52). Nesse sentido, o conceito de capacidade de suporte de um
ecossistema está relacionado com a sustentabilidade. Os dois conceitos con-
sideram o número de indivíduos que podem sobreviver de determinada área,
deixando nela seus resíduos, sem degradá-la (HELENE e BICUDO, 1994).
Sob o aspecto do tempo, a capacidade de suporte pode ser classificada em
instantânea ou sustentável. A capacidade de suporte instantânea reflete a taxa
de exploração correspondente à manutenção da sobrevivência e da reprodução
de determinada população, durante determinado período de tempo. A capaci-
dade de suporte sustentável reflete as taxas de exploração de recursos naturais
disponíveis, que não levem à sua degradação por determinada população, ao
longo do tempo (HELENE e BICUDO, 1994).
Para compreender a importância da capacidade de suporte é preciso en-
tender o papel das comunidades tradicionais e sociedades sustentáveis. Para
Helene e Bicudo (1994, p. 29) “os povos indígenas são, atualmente, os únicos
guardiões de habitats naturais preservados nas partes mais remotas dos cinco
continentes”. Esses territórios prestam ao planeta importantes serviços ecoló-
gicos: regulam os ciclos hidrológicos, mantêm a estabilidade climática local e
global e detêm um patrimônio inestimável de diversidade biológica e cultural.
Esses povos, utilizam os recursos naturais, mas priorizam a preservação,
pois suas vidas estão vinculadas a condição natural da terra. Na maioria das
comunidades, desenvolvem apenas o necessário para o sustento e satisfação
das necessidades da comunidade sem produzir excedentes.
Para estudar o conceito de comunidades tradicionais, vinculado a capaci-
dade de suporte do ambiente, você deve ler o texto “Produção de batatas nos
Andes: técnicas de manejo tradicionais” e verificar como a pressão para pro-
duzir batatas mais “comerciais” para os mercados urbanos acabou reduzindo
diversidade genética da região Andina.
26 • capítulo 1
Produção de batatas nos Andes: técnicas de manejo tradicionais
Os Andes são o local de origem das batatas, tubérculo que é, hoje, consumido mun-
dialmente. Por toda esta vasta cadeia de montanhas, espécies silvestres crescem lado
a lado com variedades locais, desenvolvidas pelos próprios plantadores, constituindo
a base da dieta local há séculos. Embora muitos ainda cultivem grande variedade de
batatas, sua diversidade genética está sendo ameaçada pelos governos e pelas forças
do mercado, que estão impondo a prática da monocultura.
Belisário, entretanto, não é um dos fazendeiros “modernos”, que o governo equatoriano
gostaria de ver espalhados pelo país: ele não usa pesticidas nem planta as variedades
desenvolvidas em laboratório, promovidas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Agríco-
las (INIAP) do seu país. Contudo, conhece e planta uma infinidade de plantas: um tipo
de batata que é mais resistente a determinada doença, outro que suporta melhor os
insetos do solo, outro que tolera mais as pesadas geadas da madrugada e outro, ainda,
que pode sobreviver às estiagens prolongadas.
O sabor das batatas é, também, muito importante para a população local, além de ou-
tras razões que contribuem para sua grande aceitação:
capítulo 1 • 27
Para atender às exigências do mercado, a maior parte dos agricultores acaba vendendo seu
gado para comprar mais terra e plantar as variedades do governo. Em conseqüência, tornam-
se dependentes das espécies, dos pesticidas, dos fertilizantes químicos (já que não podem
mais contar com o esterco natural) e, principalmente, dos preços desses insumos e do produ-
to final, estabelecidos pelo mercado internacional.
Enquanto o preço das batatas tem caído sistematicamente, o preço dos fertilizantes e dos
defensivos agrícolas só tem subido. Paralelamente, a pobreza genética das variedades de
espécies do INIAP tem acarretado a disseminação de pragas e a diminuição da produtividade.
Em resposta à tremenda perda de diversidade genética havida em várias regiões do Equador
nos últimos anos; os plantadores resolveram preservar e desenvolver o que eles consideram
parte de sua herança andina: “Nossa cultura índia não é apenas a nossa música ou trajes das
nossas mulheres. É também a maneira como produzimos o nosso alimento e as plantas que
nós e os nossos pais desenvolvemos para tanto”.
Quadro 1.3 – Produção de batatas nos Andes: técnicas de manejo tradicionais. Fonte: Third
World Resurgence apud Helene e Bicudo (1994).
Agora que você leu o texto sobre a origem do problema das batatas, assista
ao vídeo “Cordilheira dos Andes cultiva mais de 4,2 mil tipos de batatas” que
explica o trabalho de recuperação que está sendo realizado no Peru, mas que
beneficia toda a Cordilheira dos Andes, para recuperar espécies tradicionais de
batatas4. O vídeo está disponível na seção Leitura Complementar.
O texto e o vídeo apresentam um exemplo da utilização dos recursos natu-
rais por uma comunidade e a importância do respeito a capacidade de supor-
te da região. Nesse exemplo podemos verificar que as técnicas tradicionais da
comunidade e a variedade de batatas fazem parte do patrimônio cultural das
pessoas e contribuem para a sustentabilidade da comunidade.
Há uma estreita dependência das comunidades tradicionais com o meio
ambiente, retirando dele sua sobrevivência e exercendo um controle local so-
bre ele (HELENE e BICUDO, 1994). Os métodos utilizados pelas culturas tradi-
cionais relacionados a sobrevivência foram desenvolvidos ao longo de gerações
e estão mesclados a ritos e práticas religiosas. Todo o conhecimento é vincula-
do as atuais práticas de manejo e garantem a subsistência das comunidades, ao
mesmo tempo que garantem a preservação do ambiente.
4 O Centro internacional de La papa (CIP), trabalha com o objetivo de proteger os 4.235 tipos de batatas plantados
e comidos ao longo da Cordilheira dos Andes, da Venezuela ao Chile. Assista ao vídeo.
28 • capítulo 1
Após o lançamento da linha Ekos que foi apresentado nessa mesma unida-
de, a Natura intensificou a busca por novos princípios ativos que poderiam ser
incorporados a essa linha. O ponto forte da empresa é a sua capacidade de in-
teragir com as comunidades locais, sertanejos e ribeirinhos dedicados à coleta
de recursos naturais, apresentando a empresa e a proposta da certificação aos
comunitários, ao mesmo tempo em que procura conhecer as características
das comunidades tradicionais.
Nesse momento, leia o texto “As comunidades tradicionais” que relata o for-
talecimento das alianças do Projeto Ekos.
As comunidades tradicionais
As matérias-primas vegetais e os óleos naturais utilizados na Ekos eram oriundos das
regiões mais longínquas, extraídos por habitantes de comunidades e vilas localizadas
desde o norte do País, na extensa Amazônia Brasileira até o sul, nas faixas preservadas
da Mata Atlântica nativa. A extensão territorial do Brasil e as distâncias físicas entre as
regiões de extração e as plantas industriais da empresa aumentavam a complexidade
desse processo produtivo. Do mesmo modo, essa complexidade impactava os projetos
de atuação social que a empresa pretendia desenvolver para as comunidades envolvi-
das com a produção da Ekos.
ESTADO ATIVO
Amazonas Andiroba
Amapá Castanha do Brasil e Copaíba
Rondônia Cupuaçu
Pará Cumaru
Piauí Buriti
Bahia Cacau e Guaraná
Minas Gerais Maracujá
São Paulo Pitanga
Paraná Camomila e Macela do campo
R.Grande do Sul Mate verde
Regiões de extração de insumos para o projeto Ekos.
capítulo 1 • 29
Distantes dos centros urbanos, esses grupos careciam de condições mínimas de
saúde, educação e informação em geral, restringindo sua visão de mundo ao que se
passava nos limites de sua aldeia. A maior parte dessas comunidades não era suprida
de serviço telefônico ou energia elétrica. Algumas delas possuíam geradores de ener-
gia, que as habilitavam a usarem alguns aparelhos elétricos básicos, algumas horas
por dia. O acesso em transporte precário consumia muito tempo e oferecia muitos
riscos e dificuldades.
Essas comunidades se organizaram de diversas formas, para se constituírem como
parceiros da aliança no projeto Ekos. Eram representadas por uma entidade coletiva,
capitaneada por um líder na comunidade ou organizavam-se como cooperativas de
trabalho. Havia ainda a figura do produtor individual, que trabalhava na coleta para ga-
rantir sua sobrevivência e que aceitou as orientações sobre como fazer seu trabalho,
assegurando os princípios da sustentabilidade exigidos pela empresa.
Tais comunidades retiravam sua sobrevivência da terra há várias gerações. Portanto,
tinham alguma noção da importância dos recursos que extraíam da natureza. Mas,
embora respeitassem a natureza, muitas vezes desconheciam os efeitos devastadores
que algumas de suas práticas acarretavam para o meio ambiente. Fatores como esse
podiam gerar resistência às orientações vindas da empresa.
As comunidades tinham outras peculiares questões culturais: por exemplo, o trabalho
infantil como meio de socialização e de comunicação da cultura às novas gerações.
A parceira Natura, cuja política de Responsabilidade Social era comprometida com
programas nacionais de erradicação do trabalho infantil, teve que compreender e
assimilar tais diferenças culturais para efetivar as alianças com essas populações.
Em decorrência dessas características, quando a Natura iniciou o projeto Ekos, surgiu
nas comunidades locais um conjunto contraditório de expectativas e percepções:
desconfiança sobre as intenções da empresa e esperança de que ela fosse resolver
todos os problemas de sobrevivência das comunidades.
30 • capítulo 1
“A gente chega na comunidade e vai andando, falando que vai ter uma reunião ‘para a
gente conhecer vocês e vocês conhecerem a gente... eu sou da Natura’. Falamos isso
para deixar claro que não há nenhum vínculo com a cooperativa ou outro grupo que já
exista na comunidade. A primeira reunião é sempre à noite, fora do horário de trabalho
das pessoas, pois queremos ter todo mundo lá: vão adultos, crianças, homens e mulhe-
res e até animais de estimação (...) No primeiro momento, eu apresento a Natura e se
alguma fornecedora vai comigo se apresenta também. Em seguida, peço que se apre-
sentem: quantos são na comunidade, que produtos têm, se contam com algum apoio de
alguma organização da sociedade civil, como estão estruturados, se há cooperativas.”
(FISCHER e CASADO, 2003, p. 08).
“a produção afeta o consumo (por exemplo, quando restaurantes com práticas susten-
táveis estimulam que os clientes também as adotem em suas casas), mas o consumo
também afeta a produção (na medida em que as escolhas dos turistas influenciam as
decisões de como os donos de hotéis destinam seu lixo)” (PNUMA, 2014, p. 11).
capítulo 1 • 31
Após a apresentação do conceito de desenvolvimento sustentável pelo docu-
mento “Nosso Futuro Comum”, publicado em 1987 pela Comissão Brundtland,
a sociedade entendeu que o modelo de desenvolvimento adotado pelos países
industrializados e reproduzido pelas nações em desenvolvimento utilizava em
excesso os recursos naturais e não se comprometia com a capacidade de supor-
te dos ecossistemas (PNUMA, 2014).
Alguns anos depois como desdobramento do Plano de Joanesburgo, aprova-
do na Rio 92, teve início o Processo de Marraqueche, assim chamado pelo fato
da reunião ter sido realizada na cidade do Marrocos e que foi concebido para
dar aplicabilidade ao conceito de Produção e Consumo Sustentáveis (PCS).
Dessa forma, PCS refere-se à aplicação de uma abordagem integrada entre
produção e consumo com vistas à sustentabilidade, entendendo-se que existe
uma relação de influência e dependência recíproca entre essas duas dimensões
da ação humana. Em outras palavras, a PCS corresponde a práticas de produ-
ção e consumo que respeitem princípios e no longo prazo irão garantir a sus-
tentabilidade ambiental do ponto de vista local e global.
1.6.2 Ecoeficiência
32 • capítulo 1
Para o CEBDS (2015) a ecoeficiência pode ser obtida pela entrega de bens e
serviços com preços competitivos que satisfaçam as necessidades humanas e
tragam qualidade de vida, reduzindo progressivamente impactos ambientais
dos bens e serviços, através de todo o ciclo de vida, em linha com a capacidade
estimada da Terra em suportar.
Barbieri (2007) informa que esse modelo de gestão ambiental empresarial
baseia-se na ideia de que a redução de materiais e energia por unidade de pro-
duto aumenta a competitividade da empresa, ao mesmo tempo em que res-
guardo o meio ambiente, seja como fonte de recursos ou depósito de resíduos.
O modelo indica que as empresas devem promover uma relação com o con-
sumidor para reduzir os impactos do consumo, assumindo, por exemplo, a res-
ponsabilidade estendida do produto, que estudaremos no capítulo 5.
“A reciclagem interna e externa é muito valorizada pela ecoeficiência, dife-
rentemente da P+L (Produção mais Limpa), na qual essa é a opção de segun-
do e terceiro níveis” (BARBIERI, 2007, p. 138). Entende-se que a preocupação
com os produtos na P+L é basicamente prevenir a poluição durante a produção
enquanto para a ecoeficiência, preocupa-se com os impactos ambientais do
produto e sua durabilidade. Mesmo com algumas diferenças, os dois modelos
possuem muitas semelhanças e são propostas similares.
Nesse momento leia com atenção a tabela 1.2 que apresenta um exemplo de
ecoeficiência na indústria química.
capítulo 1 • 33
PRODUÇÃO MÉDIA ANUAL: 36.500 t de produtos diversos ou 25.000 itens
MUNICÍPIO: Sumaré
Identificação da oportunidade
• A empresa fabrica um adesivo à base de borracha sintética, vendido para outras em-
presas que o utilizam na fabricação de fraldas descartáveis e absorventes higiênicos.
• O transporte desse adesivo do local de sua fabricação até as fábricas de absorventes
higiênicos e fraldas era feito em caixas de papelão siliconizado, para evitar a adesão do pro-
duto à própria embalagem. O papelão não podia ser reciclado pelos métodos tradicionais,
por conter silicone, fazendo com que os compradores do produto tivessem como resíduos,
cerca de 24 t/ano dessas caixas, gerando custos extras para o seu gerenciamento.
Medidas adotadas
34 • capítulo 1
Você acompanhou um exemplo de reutilização de componente pela 3M
onde a solucionou, o problema das caixas de papelão com silicone ao desenvol-
ver uma embalagem de borracha sintética compatível com o adesivos que eram
transportados. Assim, a embalagem passou a ser incorporada ao produto no
momento da sua utilização.
COMENTÁRIO
Pense nisto! “Transforme suas matérias-primas em produtos e não em resíduos! Com a P+L
podemos: evitar a geração de passivo ambiental e de custos ambientais, o que é do interes-
se da empresa; reduzir os impactos ambientais, o que interessa aos órgãos ambientais e à
sociedade; e – o que talvez ainda não esteja tão claro para você neste momento – melhorar
a qualidade dos produtos, a saúde e a segurança dos trabalhadores” (CEBDS, 2015, p. 10).
capítulo 1 • 35
Com o tempo a responsabilidade pelos crimes ambientais passou a ser co-
letiva e surgiram também as certificações de empresas pela ISO 14001. Ou seja,
comprovantes de que as empresas cumprem a legislação ambiental e estão
comprometidas com a preservação dos recursos naturais.
Porém, “muitas empresas, mesmo certificadas, começaram a perceber que
o custo ambiental, ou seja, o custo para tratar seus resíduos, aumentava na
mesma proporção do crescimento da produção” (CEBDS, 2015, p. 08). Assim,
produzir mais era sinônimo de gerar mais resíduos e gastar mais para tratá-los.
A resposta para a questão: “Como produzir mais com menores custos ambien-
tais?” é deixar de gerar resíduos e isso é possível com a identificação de oportunida-
des de melhoria que levam em conta aspectos técnicos, ambientais e econômicos.
A Produção mais Limpa (P+L) consiste na aplicação contínua de uma estra-
tégia ambiental preventiva integrada aos processos, produtos e serviços para
aumentar a ecoeficiência e reduzir os riscos ao homem e ao meio ambiente
(PNUMA, 2004). Aplica-se a:
Na área governamental:
36 • capítulo 1
• falta de conhecimento sobre a qualidade ambiental, decorrente da inexis-
tência ou inadequação de rede de monitoramento que permita um diagnóstico
ambiental eficiente.
Na indústria:
No âmbito geral:
capítulo 1 • 37
Um fato a ser considerado no contexto da P+L é acrescentar o custo do trata-
mento o valor pago pela matéria-prima que, após serem processadas, transfor-
maram-se em resíduos. Esse detalhe faz notar que todos os resíduos que estão
sendo gerados pela empresa foram anteriormente adquiridos com o preço de
matéria-prima. Dois exemplos, segundo a CEBDS (2015) são:
• Grãos com impurezas: as impurezas têm preço de grãos, pois esses são
comprados por peso.
• Chapas ou barras de aço para fabricação de peças: os cavacos gerados fo-
ram pagos pelo preço de matéria-prima.
APRESENTAÇÃO DA METODOLOGIA
- Nessa etapa são realizadas reuniões técnicas para apresentar os objetivos de
TAREFA 04 cada etapa da metodologia e como alcançá-los.
PRÉ-AVALIAÇÃO
TAREFA 05 - Identificar como está o Licenciamento Ambiental da empresa.
ELABORAÇÃO DOS FLUXOGRAMAS DO PROCESSO
TAREFA 06 - Realizar um avista na fábrica e elaborar os fluxogramas qualitativos.
TABELAS QUANTITATIVAS REFERENTES AOS FLUXOGRAMAS GLOBAL E INTERMEDIÁRIO
- Preencher os dados quantitativos em tabelas referentes aos fluxogramas
TAREFA 07 global e intermediário.
INDICADORES
TAREFA 08 - Definir os indicadores com base nos dados coletados.
AVALIAÇÃO DOS DADOS COLETADOS
TAREFA 09 - Fase das medições específicas que serão utilizadas no Balanço Específico.
38 • capítulo 1
BARREIRAS
- Nessa etapa pode surgir alguma barreira quanto aos altos valores de resíduos
TAREFA 10 gerados e de consumo de materiais de cada área avaliada.
SELEÇÃO DO FOCO DE AVALIAÇÃO E PRIORIZAÇÃO DAS AÇÕES
- Com base na análise anterior e recursos a equipe deverá definir etapas,
TAREFA 11 processos, produtos ou equipamentos que serão priorizados para as efetivas
medições e realização dos balanços de massa.
BALANÇOS DE MASSA E/OU ENERGIA
- Após definir os pontos críticos, deverá ser planejada a realização do balanço
TAREFA 12 de massa ou energia.
AVALIAÇÃO DE CAUSAS DE GERAÇÃO DOS RESÍDUOS
- Feito o balanço de massa o Ecotime deverá avaliar as causas da geração de
TAREFA 13 cada resíduo identificado.
GERAÇÃO DE OPÇÕES DE MELHORIA
- Momento de identificar oportunidades de mudar a situação, ou seja, opções
TAREFA 14 de P+L para deixar de gerar o resíduo.
AVALIAÇÃO TÉCNICA, AMBIENTAL E ECONÔMICA
TAREFA 15 - Avaliação técnica, econômica e ambiental de cada opção identificada.
SELEÇÃO DA OPÇÃO
- Dentre as opções avaliadas deverão ser escolhidas aquelas que apresentem
TAREFA 16 a melhor condição técnica e maiores benefícios ambientais e econômicos.
IMPLEMENTAÇÃO
- Em função da disponibilidade financeira, inicie a implementação pelas ações
TAREFA 17 mais simples e de menor custo que geralmente são a maioria.
PLANO DE MONITORAMENTO E CONTINUIDADE
- Após a implementação é necessário estabelecer um plano de monitoramento
TAREFA 18 para avaliar o desempenho ambiental.
Nas organizações nós temos o processo produtivo e os produtos que são fa-
bricados, certo? Quase isso! Temos as pessoas, o processo, os produtos e os re-
síduos que na maior parte das vezes são inertes ao processo. Para exercer qual-
quer tipo de tarefa precisamos das pessoas e da sua colaboração, por isso, elas
precisam ser sensibilizadas e na P+L não é diferente.
A maior barreira para implementação da P+L é a resistência as mudanças
como um problema cultural, por dificuldade de acesso a informação e finan-
ciamento. É importante destacar que a P+L nem sempre requer a aplicação de
novas tecnologias e equipamentos, geralmente seu apoio começa com boas
práticas de operação. As técnicas mais utilizadas são:
capítulo 1 • 39
• Mudança de tecnologia;
• Reciclagem interna;
• Redesenho de produtos;
MUNICÍPIO: Taubaté
Identificação da oportunidade
40 • capítulo 1
tipos de óleos e emulsões oleosas de corte, eram depositados em três caçambas mó-
veis, para a separação do óleo/emulsões dos cavacos, pelo processo de decantação. A
quantidade total de óleo/emulsões decantada era da ordem de 35,2 t/mês, represen-
tando, aproximadamente, 9,5 % do peso total do cavaco gerado. Os óleos/emulsões
decantados no fundo das caçambas móveis eram drenados e conduzidos diretamente
para um canalete impermeabilizado interligado à rede coletora de efluentes industriais
e, por gravidade, seguiam para a ETE-Estação de Tratamento de Efluentes.
Medidas adotadas
capítulo 1 • 41
Resultados obtidos
Tabela 1.4 – Reuso de óleos e emulsões na indústria mecânica. Fonte: Adaptado de CETESB
(2002).
42 • capítulo 1
PRODUÇÃO MÉDIA ANUAL: 5.000.000 hl de bebidas
MUNICÍPIO: Jaguariúna
Identificação da oportunidade
• No processo de fabricação de bebidas existe um elevado consumo de água, em
função dos processos de limpeza de equipamentos, geração de vapor, pasteurização,
bem como a água incorporada aos produtos, neste caso, cerveja, chope, isotônicos e
água mineral.
• A água utilizada pela empresa é captada do rio Jaguari, pertencente à Bacia do Rio
Piracicaba, Classe 2, de acordo com a Resolução CONAMA 20/86, e submetida a
tratamento físico-químico antes de sua utilização. Em vista do intenso crescimento po-
pulacional e industrial da região, a Bacia do Rio Piracicaba vem apresentando níveis
críticos de abastecimento de água, especialmente nos períodos de estiagem.
• Com relação aos indicadores de consumo de água, foi relatado que antes de 2000,
a unidade de Jaguariúna apresentava um consumo médio de 7,20 litros de água por
litro de bebida produzida, sendo esse valor considerado superior à média das demais
unidades do mesmo grupo.
• O consumo excessivo de água, aliado ao problema de escassez de água na região
motivaram a empresa a identificar oportunidades para redução do uso de água no pro-
cesso produtivo e em outras áreas da fábrica.
Medidas adotadas
capítulo 1 • 43
Investimentos
- reuso das águas de descarte do pasteurizador – as águas, antes descartadas, são
segregadas e armazenadas em um tanque para posterior uso na limpeza dos pisos;
- eliminação dos vazamentos – são realizadas inspeções programadas e manutenção
em dutos, uniões, cotovelos, registros e válvulas existentes nos diversos setores;
- recuperação das águas de lavagens dos filtros (retrolavagem) da Estação de Trata-
mento de Água (ETA), por meio de bombas e dutos que conduzem a água recuperada
para a entrada da ETA;
- reuso dos produtos de limpeza, em até 30 vezes, utilizando-se controle analítico da
concentração da solução para assegurar a sua qualidade e ação de desinfecção, as-
sepsia, higienização, necessários ao processo;
- treinamentos para conscientização dos funcionários, por meio de campanhas para
uso racional da água;
- normatização e otimização do consumo de água dos banhos nos vestiários, com subs-
tituição de
algumas torneiras comuns por automáticas, sob pressão. Foram eliminados cinqüenta e
três banheiros, sem prejuízo da higiene e assepsia necessária aos funcionários;
- eliminação de 60% das torneiras destinadas à irrigação dos jardins e
- detecção, seguido da eliminação de vazamentos em tubulações subterrâneas.
Investimentos
• O investimento total das medidas implantadas foi de R$ 97.500,00, incluindo: insta-
lação do sistema de recuperação da água de lavagem dos filtros na ETA, aquisição de
torneiras, registros, válvulas, mão-de-obra e outros materiais não especificados.
Resultados obtidos
• As medidas implantadas resultaram na redução do indicador de consumo de
água, que passou de 7,20 hl água/hl bebida produzida para 5,89 hl água/hl bebi-
da em 2002, economizando cerca de 1,3 litros de água por litro de bebida produ-
zida. Considerando uma produção anual de 5.108 litros de bebidas e consumo
de 200 litros de água/ hab. dia, tem-se que esta economia representa aproxima-
damente 650.000 m3 de água não captada do rio Jaguari, suficiente para o con-
sumo de uma população de aproximadamente 9.600 habitantes durante um ano.
44 • capítulo 1
O uso racional de água na empresa resultou em economia anual R$ 249.503,00, de-
corrente da redução do uso de insumos (produtos químicos, energia), mão-de-obra etc,
nos sistemas de tratamento, sendo:
R$ 46.348,00/ano no tratamento de água e
R$ 203.155,00/ano tratamento de efluentes industriais.
O segundo exemplo tem como tema o uso da água em uma planta indus-
trial. Também nesse caso é possível perceber que após algumas medidas a em-
presa obteve ganhos ambientais e financeiros com a ação implementada.
Há divergências sobre o fato de uma única empresa ser sustentável. Todavia,
podemos estabelecer que a contribuição individual das organizações para
sociedade possui uma grande importância. A ecoeficiência é uma meta para
ser alcançada e as práticas de P+L constituem o caminho para chegar até ela.
Conceitos e instrumentos como a Responsabilidade Social e a Engenharia do
Ciclo de Vida, apóiam essa estratégia e serão estudados nos próximos capítulos.
LEITURA
CORDILHEIRA DOS ANDES cultiva mais de 4,2 mil tipos de batatas. Produção de: Nélson
Araújo. Reportagem. Brasil: Globo Rural, 2015. Disponível em: <http://g1.globo.com/economia/
agronegocios/noticia/2015/02/cordilheira-dos-andes-cultiva-mais-de-42-mil-tipos-de-batatas.html>.
Acesso em: 05 abril 2015.
DE ONDE VEM A CASTANHA da Natura Ekos?”. Produção: Natura. Divulgação. Brasil:, Natura, 2015.
Disponível em: <http://naturaekos.com.br/biodiversidade/castanha/>. Acesso em: 05 abril 2015.
ILHA DAS Flores. Direção: Jorge Furtado. Produção: Casa de Cinema de Porto Alegre. Brasil,
Rio Grande do Sul, 1989. (documentário, 13 min.). Disponível em: <http://portacurtas.org.br/
filme/?name=ilha_das_flores>.
UMA VERDADE Inconveniente. Produção de: Davis Guggenheim. Documentário. Estados Unidos:
Paramont Pictures, 2006. (1h 40 min.). Disponível em: <http://vimeo.com/24857305>.
capítulo 1 • 45
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CEBDS – Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável. Guia da produção
mais limpa. Disponível em: <http://www.cebds.com>. Acesso
em: 05 abril 2015.
CIP – Centro Internacional de la Papa. Internaitional Potato Center. Disponível em: <http://cipotato.
org/es/>. Acesso em: 04 abril 2015.
CETESB – Companhia Ambiental do Estado de São Paulo. Eliminação do descarte de embalagens
siliconizadas. 2002. Disponível em: <http://www.cetesb.sp.gov.br/Tecnologia/producao_limpa/
casos/caso04.pdf>. Acesso em: 06 abril 2015.
CETESB – Companhia Ambiental do Estado de São Paulo. Reúso de óleos e emulsões na
indústria mecânica. 2002. Disponível em: <http://www.cetesb.sp.gov.br/Tecnologia/producao_
limpa/casos/caso10.pdf>. Acesso em: 06 abril 2015.
CETESB – Companhia Ambiental do Estado de São Paulo. Redução do consumo de água na
indústria de bebidas. 2003. Disponível em: <http://www.cetesb.sp.gov.br/Tecnologia/producao_
limpa/casos/caso24.pdf>. Acesso em: 06 abril 2015.
DIAS, R. Gestão ambiental: responsabilidade social e sustentabilidade. 2. ed. São Paulo:
Atlas, 2011.
BARBIERI, J. C. Gestão ambiental empresarial: conceitos, modelos e instrumentos. 2. ed. São Paulo:
Saraiva, 2007.
FISCHER, R. M.; CASADO, T. Natura-Ekos: Da floresta a Cajamar.Social Enterprise Knowledge
Network (SEKN). Harvard Business Review, Boston, 2003. Disponível em: <http://dc166.4shared.
com/doc/0FU54XhC/preview.html>. Acesso em: 04 abril 2015
GASPARETTO JUNIOR, A. Argonautas. 2013. Disponível em: <http://www.infoescola.com/mitologia-
grega/argonautas/>. Acesso em: 03 abril 2015.
GREENPEACE. Quem somos? Disponível em: < http://www.greenpeace.org/brasil/pt/>. Acesso
em: 05 abril 2015.
HELENE, M. E. M.; BICUDO, M. B. Sociedades sustentáveis. São Paulo: Scipione, 1994.
(Coleção Cenário Mundial).
JUNK, W. J. Capacidade suporte de ecossistemas: Amazônia como estudo de caso. In: TAUK-
TORNISIELO, S. M.(Org.). Análise ambiental: uma visão multidisciplinar. Rio Claro: UNESP, 1995.
MACHADO FILHO, C. P. Responsabilidade social e governança: o debate e as implicações. São
Paulo: Cengage Learning, 2013.
MARTINS, J. P. S. Responsabilidade social corporativa: como a postura responsável
compartilhada pode gerar valor. Campinas: Komedi, 2008. (Coleção Sustentabilidade
Corporativa).
46 • capítulo 1
MMA - Ministério do Meio Ambiente. Agenda ambiental na administração pública. 5. ed. Brasília:
MMA, 2009.
NAGEL, C.; MEYER, P. Caught between ecology andeconomy: end-of-life aspects of
environmentally conscious manufacturing. Computers & Industrial Engineering, Los Angeles, v. 36, n. 4,
p. 781-792, 1999.
OLIVEIRA, I. D.; MONTAÑO, M.; SOUZA, M. P. Avaliação ambiental estratégica. São Carlos:
Suprema, 2009.
PIRES, F. Vale da Morte foi símbolo de Cubatão. 2012. Disponível em: <http://www.valor.com.br/
brasil/2570976/vale-da-morte-foi-o-simbolo-de-cubatao>. Acesso em: 03 abril 2015.
PLANETA SUSTENTÁVEL. Glossário. Disponível em: <http://planetasustentavel.abril.com.br/
glossario/e.shtml?plv=ecoeficiencia>. Acesso em: 06 abril 2015.
PNUMA - Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. A produção mais limpa e o
consumo sustentável na América Latina e Caribe. 2004. Disponível em: <http://www.cetesb.
sp.gov.br/Tecnologia/producao_limpa/documentos/pl_portugues.pdf>. Acesso em: 05 abril 2015.
PNUMA - Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. Ecoeficiência em
empreendimentos turísticos: orientações práticas. Brasília: PNUMA, 2014
THIRD WORLD RESURGENCE. As batatas dos Andes. In: HELENE, M. E. M.; BICUDO, M. B.
Sociedades sustentáveis. São Paulo: Scipione, 1994.
TIVY, J.; O’HARE, G. Human impacto n the ecosystem. Edimburg: Oliver & Boyd, 1991.
VIEIRA, L. Os argonautas da cidadania: a sociedade civil na globalização. São Paulo: Editora
Record, 2001. 403 p.
WORLD COMMISSION ON ENVIRONMENT AND DEVELOPMENT. Our common future. United
Kingdom: Oxford University Press, 1987.
WWF - World Wide Fund for Nature. Quem somos? Disponível em: <http://www.wwf.org.br/>.
Acesso em: 05 abril 2015.
capítulo 1 • 47
48 • capítulo 1
2
Gestão Social e
Ambiental
Nesse capítulo iremos estudar o conceito de responsabilidade social, mas an-
tes de continuar, leia os textos “O beco ao lado” e “O título funerário” apre-
sentados no quadro 2.1. Esses textos reatam dois episódios que ocorreram
em 2001 quando o ABN AMRO Real tentava colocar de lado o pensamento
de que responsabilidade social só poderia ser obtida através da filantropia.
Nessa época o banco buscava um foco estratégico, com responsabilidade cor-
porativa com o objetivo de fazer a coisa certa de maneira sistemática.
O beco ao lado
Um dos diretores do banco mencionou um beco sujo e abandonado ao lado do banco
que servia como ponto de distribuição de drogas e de assaltantes. Mudar o mundo
não seria um objetivo crível se o banco não fosse capaz de transformar o beco vizinho.
Ao invés de depender da polícia, o banco decidiu assumir a responsabilidade. Com o
envolvimento da comunidade local, um jardim foi criado, a calçada e iluminação foram
substituídas e dois quiosques, empregando jovens de famílias de baixa renda, foram
instalados, tornando a rua segura e agradável. “A partir daquele ponto sabíamos o que
precisava ser feito. Se cada um de nós mudasse o beco vizinho, poderíamos mudar o
mundo, um executivo mencionou.
O título funerário
Um empregado do banco vendeu um título que não venceria por décadas a um senhor
de 70 anos e que levaria a um prejuízo caso fosse liquidado antecipadamente. Quando
a família do cliente descobriu sobre o caso, utilizou a Internet para denunciar a falta
de ética profissional do banco. Os líderes rapidamente cancelaram a transação, mas o
dano já havia sido causado. A lição: é melhor perder um negócio do que um relaciona-
mento. Fábio disse:
Não seríamos capazes de construir uma marca baseada na satisfação do cliente, res-
ponsabilidade social e sustentabilidade ambiental se não adequássemos nossa cultura.
A partir desse ponto, sabíamos que as ações deveriam ser implementadas a partir de
dentro do próprio banco.
Quadro 2.1 – O beco ao lado e O título funerário. Fonte: Adaptado de Kanter e Reisen de
Pinho (2006, p. 5).
50 • capítulo 2
Agora que você leu os textos percebeu que os dois eventos enviaram sinais
importantes que serviram como símbolos. Sobre esses eventos, qual foi o even-
to positivo e qual foi o negativo? Pense também sobre as oportunidades que
surgiram com as situações e os desafios que a partir de então o banco deveria
enfrentar.
“A incorporação de aspectos sociais nas decisões e ações estratégicas em-
presariais é hoje o maior desafio das corporações de todos os portes em todo o
mundo” (SEBRAE, 2005, p. 7). O mercado recebe melhor as empresas que não
poluem, poluem menos ou deixam de poluir e não as organizações que despre-
zam as questões ambientais e priorizam o lucro (DONAIRE, 1999).
O termo responsabilidade social começou a ser utilizado na década de 1970,
apesar de alguns aspectos da responsabilidade social já serem trabalhados des-
de o final do século XIX. No passado, o foco da responsabilidade social eram
os negócios. Sendo o termo “responsabilidade social empresarial” (RSE) mais
conhecido que responsabilidade social (ABNT, 2010).
Inúmeras razões contribuíram para a conscientização sobre a responsa-
bilidade social como a globalização, maior mobilidade e acessibilidade. Com
mais disponibilidade de comunicação, as pessoas no mundo inteiro podem
acompanhar as decisões e atividades das organizações próximas e distantes e
as questões ambientais e sociais têm alcance maior
Um grande desafio hoje é incorporar a responsabilidade social na gestão
empresarial. Como não é mais possível tratar aspectos de planejamento, cus-
tos, finanças, mercado, tecnologia isoladamente, é preciso reunir a responsa-
bilidade social ao cenário gerencial, uma vez que as organizações possuem um
novo papel na construção do desenvolvimento social (SEBRAE, 2005).
“A característica essencial da responsabilidade social é a disposição da or-
ganização de incorporar considerações socioambientais em seus processos
decisórios, bem como a accountability1 pelos impactos de suas atividades na
sociedade e no meio ambiente (ABNT, 2010). Isso implica um comportamento
transparente que contribua para o desenvolvimento sustentável, esteja em con-
formidade com as leis aplicáveis e seja consistente com as normas internacio-
nais de comportamento.
1 Condição de responsabilizar-se por decisões e atividades e prestar contas destas decisões e atividades aos
órgãos de governança de uma organização, a autoridades legais e, de modo mais amplo, às partes interessadas da
organização (ABNT, 2010).
capítulo 2 • 51
OBJETIVOS
Ao final deste capítulo esperamos que você:
52 • capítulo 2
2.1 Definição de Responsabilidade Social
capítulo 2 • 53
Para Martins (2008, p. 15) a responsabilidade social pode ser descrita como:
A nova forma de gerir e administrar os negócios, gerando mais valor para a empresa e
os acionistas, e também para a sociedade em geral, a partir de postura ética, de cuida-
dos, responsável, com os diferentes públicos de relacionamento, com as redes em que
essa empresa está inserida”
Responsabilidades
Voluntárias
Responsabilidades
Éticas
Responsabilidades
Legais
Responsabilidades
Econômicas
54 • capítulo 2
A figura 2.1 demonstra a responsabilidade legal posicionada após a respon-
sabilidade econômica, o que indica que a empresa deve cumprir sua missão
econômica dentro da legalidade. Na sequência, a responsabilidade ética, que
está na terceira dimensão da pirâmide de Carroll, representa o comportamen-
to esperado pela sociedade por parte da empresa, mesmo que a atividade em
questão não faça parte das obrigações legais ou dos negócios da organização.
Finalmente, a responsabilidade discricionária (ou voluntária) surge sem uma
indicação definida da sociedade, ficando a cargo de escolhas e julgamentos
individuais.
Apesar do sucesso, o modelo de Carroll recebeu críticas por sugerir uma hie-
rarquia entre as quatro responsabilidades e, também por colocar a responsabi-
lidade filantrópica no topo da pirâmide sugerindo que ela é a mais importante.
A partir dessas constatações um novo modelo foi apresentado por Schwartz e
Carroll (2003 apud Barbieri e Cajazeira, 2012, p. 57), onde foram utilizados cír-
culos para indicar os três campos de domínio da responsabilidade social: eco-
nômico, legal, ético, figura 2.2.
Exclusivamente
ético
Econômico/ Legal/
ético ético
Econômico/
legal/ético
Figura 2.2 – Modelo dos três domínios da Responsabilidade Social Empresarial. Fonte: Adap-
tada de Schwartz & Carroll (2003, p. 509 apud BARBIERI e CAJAZEIRA, 2012, p. 57).
capítulo 2 • 55
No novo modelo a filantropia deixou de ter uma dimensão específica. Na
maioria dos casos é difícil separar as atividades éticas de atividades filantrópi-
cas. Além do mais, as atividades filantrópicas podem ter realizadas apenas por
interesses econômicos.
Em alguns casos, a responsabilidade social empresarial é confundida com
filantropia ou ação social. Oliveira (2008) explica que a ação social corresponde
as doações ou projetos que beneficiam, por exemplo, uma comunidade e a fi-
lantropia é a ação social com projetos não ligados ao negócio da empresa como
doações a instituições beneficentes. Por outro lado, a responsabilidade social
envolve atitudes com as partes interessadas.
As partes interessadas possuem interesses que podem afetar as decisões de
uma organização. O interesse dá a parte uma participação na organização que
não precisa ser formalizada ou mesmo reconhecida. As partes interessadas po-
dem também ser chamadas de stakeholders .
Em resumo, os argumentos que suportam ou vão contra as ações das or-
ganizações consideram aspectos ideológicos e pragmáticos, como a visão dos
stakeholders.
CONCEITO
Stakeholders: Qualquer pessoa ou grupo que tem interesse ou possa ser afetado pelas
ações de uma organização. Exemplos: público interno, fornecedor, consumidor, cliente, ins-
tituição pública, comunidade, proprietários, sindicatos, órgãos governamentais, entre outros
(BARBIERI e CAJAZEIRA, 2012, p. 247).
56 • capítulo 2
sim. O argumento instrumental em favor da responsabilidade social é baseado
em um tipo de cálculo racional, segundo o qual o comportamento socialmente
responsável beneficiará a empresa como um todo, ao menos no longo prazo.
Os argumentos contra as ações sociais são baseados na função institucional
das organizações ou na perspectiva de direitos de propriedade. O conceito de
função institucional assume que outras instituições, como o governo, sindica-
tos, igrejas e organizações civis, existem para realizar o tipo de função requeri-
da pela responsabilidade social.
Outro argumento colocado por Machado Filho (2013), indica que os gesto-
res de empresas de mercado não possuem habilidades ou tempo para imple-
mentar ações de cunho público. Esse fato se sustenta na premissa do autoin-
teresse, de acordo com o qual a resultante para a sociedade seria melhor se as
empresas se concentrassem em seu objetivo de gerar lucro.
Outro argumento contrário às ações de cunho social é baseado no direito de
propriedade, também enraizado na análise econômica neoclássica. Esse argu-
mento defende que os administradores devem, em primeiro lugar, aumentar
o valor do acionista. Nessa perspectiva a empresa deve utilizar seus recursos e
engajar-se em atividades delineadas para incrementar lucros tanto quanto pos-
síveis dentro das regras do jogo, qual seja, engajar-se em um mercado livre e
competitivo sem fraudes (MACHADO FILHO, 2013).
Machado Filho (2013), afirma que mesmo com relação ao componente da
responsabilidade filantrópica podem existir convergências. A relação coope-
rativa entre empresa e sociedade é justificada pelo fato da empresa se benefi-
ciar de um ambiente positivo de relacionamento social, por meio de melhoria
de imagem ou reputação que gere criação de valor no longo prazo. Outra si-
tuação acontece quando os acionistas obtêm algum retorno não-pecuniário a
partir de uma postura socialmente positiva, em concordância com os demais
stakeholders.
Dessa forma, a empresa teria retorno econômico pelo aumento da sua repu-
tação. No caso dos acionistas obterem outros tipos de retornos não-pecuniários
de ações sociais, mesmo sem ganhos econômicos, também não haveria desali-
nhamento de interesses.
capítulo 2 • 57
2.3 Princípios da responsabilidade social
Conforme a ABNT (2010), a responsabilidade social possui sete princípios que apre-
sentam como objetivo aumentar a contribuição para o desenvolvimento sustentável.
Mesmo quando essa contribuição se apresenta como um desafio para a organização
convém que seu comportamento seja pautado em normas, diretrizes ou regras de
conduta de modo a respeitar as diversidades sociais, ambientais, jurídicas, culturais,
políticas e organizacionais assim como diferentes condições econômicas.
Os princípios citados pela ABNT (2010) na norma de “Diretrizes de
Responsabilidade Social” são:
Accountability
Transparência
58 • capítulo 2
Convém que a organização seja transparente em relação a:
Comportamento ético
capítulo 2 • 59
Respeito pelo estado de direito
O princípio é: convém que uma organização aceite que o respeito pelo estado
de direito é obrigatório.
O estado de direito refere-se à supremacia da lei e, à ideia de que nenhum indi-
víduo ou organização está acima da lei e que o governo também está sujeito à lei.
Convém que uma organização:
ATENÇÃO
No contexto jurídico, cumplicidade é definida como estar envolvido em um ato ou omissão
com efeito substancial no cometimento de um ato ilegal. Fora do contexto jurídico, a organi-
zação pode ser considerada cúmplice quando colaborar com o cometimento de atos indevi-
dos por outros que desrespeitem ou não sejam consistentes com normas internacionais de
comportamento que a organização, por meio do exercício da due diligence, saiba ou convém
que saiba que provocariam impactos negativos na sociedade, na economia ou no meio am-
biente (ABNT, 2010, p. 12).
60 • capítulo 2
Respeito pelos direitos humanos
capítulo 2 • 61
Sociedade
e Meio
Ambiente
Impactos
Organização
Expectativas
Impactos
Partes
interessadas
Interesses
Figura 2.3 – Relação entre a organização, suas partes interessadas e a sociedade. Fonte:
ABNT (2010).
62 • capítulo 2
Visão holística
Envolvimento e
desenvolvimento Direitos
da comunidade humanos
Questões
relativas ao Organização Práticas
consumidor de trabalho
Práticas
Meio
leais de
ambiente
operação
Interdependência
Fábio Barbosa: Realmente, as taxas de juros são altas. Para reduzi-las, precisamos
entender e agir sobre as causas que são a raiz do problema e não focar as taxas em si.
Permita-me simplificar o assunto, começando com a lei de oferta e procura. Quando o
dinheiro é escasso, como é o caso do Brasil atualmente, a tendência é que o dinheiro se
capítulo 2 • 63
torne mais caro. Também há impostos que são cobrados sobre certas transações finan-
ceiras, encarecendo os produtos e serviços bancários. É do nosso interesse aumentar
a oferta de crédito dos bancos para que possamos fortalecer as bases das nossas
atividades empresariais e assim facilitar o crescimento econômico sustentável. Porém,
antes disso, há muitos outros pontos que devem ser considerados, tais como inflação,
depósitos compulsórios, mudanças legislativas e a existência de uma economia infor-
mal. Embora uma discussão sobre taxas de juros não inclua apenas essas questões,
com diálogo e participação de todos os setores da economia, poderemos nos tornar um
banco ainda melhor para nossos clientes.
Sônia Mesquita: Eu me aborreço pela forma com que os bancos tratam seus clientes.
Muitas vezes, a equipe do banco é cortês a qualquer um com terno e gravata. Ao mes-
mo tempo, eles subestimam pessoas com uma aparência mais simples. Mas esses são
precisamente os clientes que mais se beneficiariam de assistência especializada sobre
suas finanças.
Fábio Barbosa: Concordo com você. É por isso que temos trabalhado para conscien-
tizar nossa equipe de que clientes satisfeitos é que viabilizam nosso negócio. E para
satisfazer nossos clientes, devemos todos, independentemente da nossa área, dar o
melhor de nós mesmos.
Sônia Mesquita: O que você quer dizer por dar o melhor de si?
Fábio Barbosa: Bem, isso não deveria ser algo artificial, como obrigar a equipe a dar
bom dia a qualquer um que entrasse numa agência. É algo mais profundo que isso.
Membros da equipe que se sentem respeitados pelo banco serão educados com os
clientes. Se algum empregado não se entende com a organização, ele ou ela jamais
terá a atitude certa para lidar com o público. No mais recente estudo interno que reali-
zamos, descobrimos que mais de 90% dos nossos empregados se sentem orgulhosos
de trabalhar para o banco e 89% dizem que eles gostam do que fazem. Esse nível de
satisfação nos ajuda a atingir nossas metas.
Sônia Mesquita: Teoricamente, todos pagam impostos para que o Estado retorne esse
dinheiro sob a forma de serviços. Na prática, porém, muitas pessoas deixam de pagar
seus impostos porque eles acreditam que uma boa parte desse dinheiro não é usado em
benefício da sociedade. Isso acaba criando um enorme círculo vicioso. Conheço muitas
pessoas que se indignam ao pagar por uma escola particular para seus filhos porque nos-
sas escolas públicas não são boas o bastante. Não é difícil quebrar esse círculo vicioso?
64 • capítulo 2
Fábio Barbosa: Aqueles que não pagam não têm direito de reclamar sobre serviços
ruins. Seria hipócrita não pagar seus impostos e então reclamar sobre buracos na estra-
da. A solução do problema começa com uma mudança nos valores. Devemos mudar os
valores das pessoas e do país. Ao longo da nossa história, criamos um ambiente onde
se tornou aceitável estar acima da lei. Eu me lembro de quando estava na escola. Eu
sempre fui um bom aluno, mas ao chegar na faculdade, como eu queria fazer parte do
grupo, eu dizia aos outros estudantes que não tinha estudado para uma prova e havia
ficado assistindo à TV porque qualquer um que estudasse estava por fora. Quando fui
ao exterior, descobri exatamente o contrário. Lá, qualquer um que não estudasse quan-
do deveria é que estava por fora. Foi um choque cultural, mas me ajudou a perceber
como nossa sociedade cultiva valores errados. Felizmente, porém, isso está mudando.
Sônia Mesquita: Eu me preocupo com essa onda de terceirizações. Essa é uma ferra-
menta usada por muitas empresas para se tornarem mais competitivas. Para competir,
muitos dos fornecedores só podem oferecer serviços de baixo custo não registrando
seus empregados.
Sônia Mesquita: Concordo que cada um de nós precisa oferecer um pouco do nosso tem-
po para consertar o que está errado. Me agrada que o ABN Amro Real realmente esteja
determinado a praticar uma nova forma de capitalismo. Veja essa reunião por exemplo...
Ela realmente mostra que o banco está disposto a conversar com a sociedade.
Quadro 2.2 – O CEO e o Cliente: Trechos de um Diálogo entre Fábio Barbosa e Sônia
Mesquita. Fonte: Adaptado de Kanter e Reisen de Pinho (2006, p. 28).
capítulo 2 • 65
Fornecedores: A empresa pode ter uma relação responsável, ética, com os seus for-
necedores quando procura contribuir com o crescimento sustentável dos negócios
desses fornecedores. Isso acontece quando a empresa torna clara para os fornecedo-
res a sua política, as suas posturas de responsabilidade social e ambiental, motivando
esses fornecedores a seguir a mesma trilha, em benefício deles mesmos, da comuni-
dade onde atuam, do país e do planeta. Exemplo clássico é quando uma empresa deixa
explícito que não irá de forma alguma adquirir produtos ou matérias-primas resultantes
de mão de obra infantil ou de destruição ambiental.
Público interno: Uma empresa responsável com seu público interno é aquela que
segue as exigências da legislação trabalhista e pratica política salarial compatível, mas
também procura, acima de tudo, o desenvolvimento pessoal dos colaboradores. Para
isso investem capacitação permanente e contribui para a elevação da consciência de
cidadania. Isso tudo em um ambiente de trabalho saudável, seguro, de respeito em
todos os sentidos.
66 • capítulo 2
Governo e sociedade em geral: O relacionamento ético, transparente, responsável,
com os órgãos governamentais e a sociedade geral é outra dimensão da responsabili-
dade social e ambiental. É possível contribuir com propagandas e projetos em benefício
da sociedade em geral, estimular a consciência de cidadania de seus colaboradores no
sentido da importância do processo eleitoral e outras formas de atuação política e cida-
dã. A imagem da empresa como um todo deve refletir a consciência de que a corrupção
é antiética e contrária aos interesses de todos.
Quadro 2.3 – Públicos com os quais a empresa se relaciona. Fonte: Adaptado de Martins
(2008, p. 15-18).
Em 2001, logo depois que as discussões informais sobre sustentabilidade foram reali-
zadas, um executivo do banco, enquanto usava a garagem privativa da matriz do banco,
notou um grupo de empregados do serviço externo de limpeza almoçando entre a fu-
maça do escapamento dos carros. O que poderia passar despercebido ou simplesmen-
te ignorado agora era visto como uma aberração a ser reportada à direção do banco.
José Luiz lembra-se:
Era inaceitável pensar que a responsabilidade era da empresa contratada e não nos-
sa. Devíamos assim analisar não apenas nossos clientes e empregados, mas também
nossos fornecedores. Como poderíamos desenvolver relacionamentos com empresas
que degradavam o ambiente, utilizavam mão-de-obra infantil ou não pagavam seus en-
cargos trabalhistas?
capítulo 2 • 67
Assim, o ABN AMRO REAL mobilizou-se para forjar um novo tipo de relacionamento
com seus 4.000 fornecedores ativos, começando com um esforço piloto. O comitê de
mobilização de fornecedores (...) selecionou 15 empresas bem diversificadas (...) indo
desde empresas gigantescas com profissionais altamente treinados, como a IBM, até
pequenos prestadores locais de serviços. A idéia por trás da combinação de empresas
aparentemente tão diferentes entre si era criar um processo de aprendizado mútuo. Os
fornecedores selecionados foram convidados a uma reunião na matriz da empresa, em
novembro de 2001, para discutir o conceito ainda vago de Banco de Valor. Nenhum
dos fornecedores sabia o que seria discutido mas todos temiam que envolvesse o corte
de despesas. Um executivo de TI descreveu as reações:
Quando chegamos ao banco, estávamos nervosos em relação ao que aconteceria.
Mesmo tendo um relacionamento antigo, não era comum sermos chamados para dis-
cussões de qualquer tipo. Como estávamos perto do fim do ano, nossa primeira reação
foi a de que seria uma renegociação de contratos. Quando o CEO entrou e começou a
falar, meu primeiro pensamento foi: O que quer que isso seja, é sério. (...).
O objetivo do ABN AMRO REAL não era revisar contratos. Fábio e Maria Luiza queriam
que os fornecedores se juntassem ao banco e adotassem os princípios de responsa-
bilidade social.
“Fiquei aliviado e entusiasmado com a reunião”, disse Ione Antunes, proprietária da
Help Express, uma pequena empresa de couriers. Os motoboys eram famosos pelas
loucuras no trânsito, devido aos elevados níveis de estresse. A Help Express, que já
oferecia melhores salários e benefícios que seus concorrentes, foi estimulada a es-
crever um código de ética (por exemplo, proibir que seus motoboys fechassem outros
motoristas) e envolver mais seus empregados no auxílio de comunidades carentes. (...).
As reuniões de encontros com fornecedores continuaram e outras 45 empresas fo-
ram convidadas. Em uma típica reunião em 2003, 150 pessoas ouviram uma palestra
oferecida pelo Instituto Ethos e se dividiram em 7 pequenos grupos para comparar
anotações sobre suas auto-avaliações quanto à responsabilidade social. (...).
O compartilhamento de idéias levou a projetos em conjunto. Advanta, um fornecedor de
TI, começou um programa de qualificação tecnológica para jovens de comunidades ca-
rentes próximas à sua matriz. A NEC (entre outros) forneceu o equipamento enquanto
outro fornecedor o instalou e empregados da Advanta cuidaram do treinamento. Dois
centros com capacidade para quase 1.000 estudantes foram criados.
68 • capítulo 2
Em 2003, novas diretrizes para relacionamento com fornecedores foram definidas por
uma força-tarefa subordinada ao departamento de compras, que vinha trabalhando
para sistematizar os procedimentos de responsabilidade sócio-ambiental. A idéia não
era desenvolver uma lista negra contendo fornecedores que não se adaptassem aos
princípios, mas um manual que estimulasse boas práticas em relação à administração
de recursos humanos e ao relacionamento com a comunidade.
Foi pedido aos fornecedores que assinassem termos de serviço declarando que co-
nheciam as políticas do banco, que desejavam segui-las e que o ABN AMRO REAL
também poderia monitorar e avaliar a aderência às obrigações contratuais através de
inspeções. Maria Luiza explicou que o banco poderia fazer exigências para aderência
legal e transparência, mas não podia ir além e forçar os fornecedores a atender a todas
às suas exigências de responsabilidade social.
O ABN AMRO REAL sugeriu a seus fornecedores de mobília que obtivessem um selo verde
(certificação da madeira) para suas linhas de produção, sinalizando que poderia desqualificar
fornecedores que não aderissem a essa regra. Surgiram novos fornecedores que atendiam a
essas exigências, inclusive com preços competitivos. Mas isso ainda era um esforço marginal
dentro de um universo extremamente complexo e ainda desconhecido de possibilidades.
“O ser humano vive em sociedade, convive com outros seres humanos e, portanto, ca-
be-lhe pensar e responder à seguinte pergunta: “Como devo agir perante os outros?”.
Trata-se de uma pergunta fácil de ser formulada, mas difícil de ser respondida. Ora,
essa é a questão central da Moral e da Ética” (ME, 2007, p. 49).
capítulo 2 • 69
“A ética é um padrão moral não governado por lei que focaliza as conse
quências humanas das ações” (MACHADO FILHO, 2013, p. 33). Exige um com-
portamento que atinja padrões mais altos que os estabelecidos por lei, acima
de ações calculadas para produzir um benefício tangível. Complementando, a
ética trata de juízos de valor, qualificando a conduta humana do ponto de vista
do bem e do mal, seja a determinada sociedade ou de modo absoluto.
Conforme Machado Filho (2013), a ética propõe teorias que destacam dife-
rentes stakeholders. Existem duas visões sobre a ética, que podem gerar inter-
pretações conflituosas do que seria ético ou antiético, visão consequencialista
e não-consequencialista. A primeira sugere que a avaliação moral de uma ação
está ligada aos resultados que a ação produz, irá produzir ou intensiona produ-
zir. E a segunda, sugere que é a natureza do ato que importa, não o resultado.
Tais teorias e argumentos demonstram a complexidade do tema ética. O
conceito de ética já é complexo quando aplicado ao comportamento humano,
e mais ainda quando se trata de organizações. Uma empresa é um conjunto
de indivíduos, ou ainda, um conjunto de contratos que colocam juntos cola-
boradores com interesses diferentes, geralmente conflitantes. Dessa forma,
Machado Filho (2013) comenta que as empresas não se comportariam de for-
ma ética ou antiética, mas, sim, os indivíduos.
Uma empresa comprometida com a sustentabilidade apresenta uma série
de contribuições como economia forte, com produção e geração de renda; pro-
teção ao meio ambiente em benefício das atuais e futuras gerações; e desenvol-
vimento integral da sociedade, com justiça social, inclusão, respeito à diversi-
dade e valorização da cultura loca.
70 • capítulo 2
Atitude sustentável
Esperançosa para os envolvidos.
Transformadora de realidades.
Inovadora nas metodologias.
Construtiva nos processos.
Atenta para o futuro, sempre otimista.
Métodos sustentáveis
Específicos no foco.
Tempo definido para uma ação.
Indicadores para medir ações e resultados.
Comunicação e documentação.
Afinados com objetivos nobres, positivos, mas realísticos.
Quadro 2.5 – Para ser sustentável, a empresa procura ser triplamente ética. Fonte: Martins
(2008, p. 22).
O quadro 2.5 indica que para ser sustentável, a empresa precisa ser ética em
triplo. Na primeira linha estão os objetivos maiores de toda organização, que
compreendem a economia forte, terra protegida, informação como base pro-
dutiva, comunidade fortalecida e abertura no olhar. A segunda linha destaca a
atitude assumida e os métodos adotados.
Acrescenta-se a esse contexto a complexidade da atuação das empresas em
ambientes diversos, quando alguns padrões são aceitos em determinados am-
bientes e rechaçados em outros. Assim, a conduta das empresas, nas suas práti-
cas, pode variar em função do ambiente institucional no qual ela opera.
capítulo 2 • 71
As iniciativas de diferentes origens, que buscam conduzir à gestão responsável
das empresas, são dividas em dois grupos. Os princípios diretivos que podem servir
para a formulação de políticas empresariais de responsabilidade social como con-
tribuição para o desenvolvimento sustentável. O segundo grupo será visto no pró-
ximo tópico e trata dos instrumentos gerenciais que oferecem procedimentos es-
pecíficos sobre responsabilidade social para que as diretrizes se tornem realidade.
“Considerando que os povos das Nações Unidas reafirmaram, na Carta da ONU, sua
fé nos direitos humanos fundamentais, na dignidade e no valor do ser humano e na
igualdade de direitos entre homens e mulheres, e que decidiram promover o progresso
social e melhores condições de vida em uma liberdade mais ampla, … a Assembleia
Geral proclama a presente Declaração Universal dos Diretos Humanos como o ideal
comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações…” (DUDH, 2015, s/p).
MULTIMÍDIA
Assista a entrevista “Brasileiro no Sudão do sul explica crise no país”, realizada com Amadeu
Manto que lidera a missão de observadores militares no estado de Northem Bahr el Ghazal.
Ele explica por telefone, como a crise está afetando os civis. Disponível em: https://www.
youtube.com/watch?v=HC1a136euzo
72 • capítulo 2
“Os direitos humanos são direitos inerentes a todos os seres humanos,
independentemente de raça, sexo, nacionalidade, etnia, idioma, religião ou
qualquer outra condição” (DUDH, 2015, p. s/p). Os direitos humanos incluem
o direito à vida e à liberdade, à liberdade de opinião e de expressão, o direito ao
trabalho e à educação, entre muitos outros.
O Direito Internacional dos Direitos Humanos estabelece as obrigações
dos governos de agirem de determinadas maneiras ou de se absterem de certos
atos, a fim de proteger os direitos humanos e as liberdades de grupos ou indi-
víduos. Desde o estabelecimento das Nações Unidas em 1945, seus objetivos
fundamentais tem sido promover o respeito aos direitos humanos para todos.
Barbieri e Cajazeira (2012), explicam que embora os direitos humanos te-
nham sido elaborados com foco nos entes públicos, como os Estados, eles tam-
bém devem ser observados nas organizações, pois é nelas que muitos direitos
se realizam, como os direitos relacionados ao trabalho, que incluem o direito
ao salário igual por trabalho igual, o direito ao repouso, o direito a um padrão
de vida suficiente para assegurar a saúde e o bem-estar e o direito à educação e
de participar da vida cultural da comunidade.
Os direitos da DUDH fazem parte do direito positivo brasileiro, como o di-
reito ao repouso e lazer, a limitação de horas da jornada de trabalho e férias
remuneradas. Todavia, o objetivo é que os dirigentes de empresas se compro-
metam em adotá-los, mesmo se o país onde a empresa estiver instalada não
tenha incorporado os direitos elencados na declaração em sua legislação. Caso
eles sejam incorporados a legislação nacional, a empresa deve cumprir as leis
do país, já que uma das dimensões da responsabilidade social é a responsabi-
lidade legal. Ainda nesse caso, ao comprometer-se com esses direitos de modo
efetivo e no nível estratégico demonstra a importância que os dirigentes atri-
buem a esses direitos.
MULTIMÍDIA
Assista ao filme “Após 20 anos da Conferência de Viena, direitos humanos são mais impor-
tantes do que nunca”, ele demonstra que mesmo após os progressos das últimas décadas
desde a convocação de uma conferência global de direitos humanos em Viena, milhões de
pessoas ainda sofrem com a falta de direitos básicos. Disponível em: <https://youtu.be/
I4bTmVyAXDg>
capítulo 2 • 73
2.7.2 Agenda 21
74 • capítulo 2
que diferentes segmentos da sociedade possam contribuir para o alcance dos
resultados esperados.
Uma ação que já realiza esse trabalho é a Agenda 21 Local, que trata do
processo de planejamento participativo de um território que envolve a im-
plantação, de um Fórum de Agenda 21. Esse fórum é composto por governo
e sociedade civil, sendo responsável pela construção de um Plano Local de
Desenvolvimento Sustentável, que estrutura as prioridades locais por meio de
projetos e ações de curto, médio e longo prazo.
CONEXÃO
Para conferir todos os princípios da Declaração sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento
consulte o site da ONU, acesse: http://www.onu.org.br/rio20/img/2012/01/rio92.pdf
Com o fim de proteger o meio ambiente, o princípio da precaução deverá ser ampla-
mente observado pelos Estados, de acordo com suas capacidades. Quando houver
ameaça de danos graves ou irreversíveis, a ausência de certeza científica absoluta não
será utilizada como razão para o adiamento de medidas economicamente viáveis para
prevenir a degradação ambiental” (ONU, 1992, s/p).
capítulo 2 • 75
Esse princípio condena a transferência de sujeira para outros países, por
ser uma postura execrável do ponto de vista moral e dos objetivos do desen-
volvimento sustentável, a adoção desse princípio segundo Barbieri e Cajazeira
(2012) requer que a empresa procure resolver seus problemas socioambientais
e não transferi-los para os fornecedores, ou subcontratados ou membros do ca-
nal de distribuição2.
2 Para entender a resolução de um caso envolvendo o Princípio 14, leia a reportagem “Ibama encontra 290
toneladas de lixo vindas da Inglaterra no Porto de Santos”. Disponível no tópico Leitura Recomendada.
76 • capítulo 2
Os temas apresentados pela Carta da Terra podem ser aplicáveis as empre-
sas, pois a Carta não está restrita às questões relacionadas ao direito internacio-
nal público, como no caso da Declaração do Rio de Janeiro de 1992 (BARBIERI e
CAJAZEIRA, 2012). Os 16 princípios estão divididos em gerais que representam
compromissos com o futuro do planeta e demais princípios para consecução
desses compromissos, conforme o tabela 2.1.
Integridade ecológica
• Princípio 5 – proteger e restaurar a integridade dos siste-
mas ecológicos da Terra;
• Princípio 6 – prevenir o dano ao ambiente como o melhor
método de proteção ambiental;
PARTE 2 • Princípio 7 – adotar padrões de produção, consumo e re-
produção que protejam as capacidades regenerativas da
Terra, os direitos humanos e o bem-estar comunitário; e,
• Princípio 8 – aprofundar o estudo da sustentabilidade eco-
lógica e promover a troca aberta e uma ampla aplicação do
conhecimento adquirido.
capítulo 2 • 77
Justiça econômica e social
• Princípio 9 – erradicar a pobreza como um imperativo ético,
social, econômico e ambiental;
• Princípio 10 – garantir que as atividades econômicas e ins-
tituições em todos os níveis promovam o desenvolvimento
humano de forma equitativa e sustentável;
• Princípio 11 – afirmar a igualdade e a equidade de gêne-
PARTE 3 ro como pré-requisitos para o desenvolvimento sustentável
e assegurar o acesso universal à educação, ao cuidado da
saúde e às oportunidades econômicas; e,
• Princípio 12 – defender, sem discriminação, os direitos de
todas as pessoas a um ambiente natural e social, capaz de
assegurar a dignidade humana, a saúde corporal e o bem
-estar espiritual, dando especial atenção aos direitos dos
povos indígenas e minorias.
78 • capítulo 2
2.7.5 Objetivos de Desenvolvimento do Milênio
1 2 3
Promover a
4
Reduzir a
Erradicar a Atingir o
extrema ensino básico igualdade de mortalidade
pobreza universal. gênero e a infantil.
e a fome. autonomia das
mulheres.
5 6 7
Garantir a
8
Estabelecer
Melhorar Combater o
a saúde HIV/AIDS a sustentabilidade uma parceria
materna. malária e outras ambiental. mundial para o
doenças. desenvolvimento.
Figura 2.5 – Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Fonte: Adaptado de ODM Brasil (s/d, s/p).
capítulo 2 • 79
• Erradicar a extrema pobreza e a fome: reduzir pela metade, entre 1990 e 2015, a
proporção da população com renda inferior a um dólar PPC5 por dia.
• Atingir o ensino básico universal: garantir que todas as crianças, de ambos os sexos,
terminem um ciclo completo do ensino básico.
• Promover a igualdade de gênero e a autonomia das mulheres: eliminar a disparidade
entre os sexos nos ensinos primário e secundário, se possível até 2005, em todos os
níveis de ensino.
• Reduzir a mortalidade infantil: reduzir em dois terços, entre 1990 e 2015, a mortalida-
de de crianças menores de cinco anos.
• Melhorar a saúde materna: reduzir em três quartos, entre 1990 e 2015, a taxa de
mortalidade materna.
• Combater o HIV/Aids, a malária e outras doenças: Até 2015, deter a propagação do
HIV/Aids e a incidência da malária e de outras doenças importantes e começado a
inverter a tendência atual.
• Garantir a sustentabilidade ambiental: integrar os princípios do desenvolvimento sus-
tentável nas políticas e programas nacionais e reverter a perda de recursos ambientais.
• Estabelecer uma parceria mundial para o desenvolvimento: avançar no desenvolvi-
mento de um sistema comercial e financeiro aberto, fundamentado em regras, previsí-
vel e não discriminatório.
Quadro 2.6 – Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Fonte: Adaptado de PNUD (2015, s/p).
O Brasil cumpriu a maioria das metas dos ODM antes de 2015, mas o grande
destaque é a redução da fome e da pobreza. Em 1990 eram 36,2 milhões de bra-
sileiros que viviam na extrema pobreza e em 2003, o Brasil adotou metas mais
rigorosas que as internacionais, de reduzir a pobreza a um quarto do nível de
1990, e conseguiu superar a meta em 2008.
A maior parte dos ecossistemas mundiais estão em destruição. Prevê-se que as mu-
danças climáticas e o crescimento da população mundial exacerbarão estes desafios.
(...) O setor privado tem um papel decisivo nesta empreitada, e está cada vez mais.
80 • capítulo 2
adotando a Sustentabilidade – definida pelos resultados de longo prazo obtidos pelas
empresas em termos financeiros, sociais, ambientais e éticos, em sua agenda. Por meio
do Pacto Global das Nações Unidas, mais de 6.000 empresas foram comprometidas a
conduzir seus negócios em plena sintonia com princípios nas áreas dos Direitos Huma-
nos, Trabalho, Meio Ambiente e Combate à Corrupção (ONU, 2015, s/p).
Direitos Humanos
• Princípio 1 – as empresas devem apoiar e respeitar a proteção de direitos humanos
reconhecidos internacionalmente;
• Princípio 2 – assegurar-se de sua não participação em violações destes direitos.
Trabalho
• Princípio 3 – as empresas devem apoiar a liberdade de associação e o reconhecimen-
to efetivo do direito à negociação coletiva;
• Princípio 4 – a eliminação de todas as formas de trabalho forçado ou compulsório;
• Princípio 5 – a abolição efetiva do trabalho infantil;
• Princípio 6 – eliminar a discriminação no emprego.
capítulo 2 • 81
Meio Ambiente
• Princípio 7 – as empresas devem apoiar uma abordagem preventiva aos desafios
ambientais;
• Princípio 8 – desenvolver iniciativas para promover maior responsabilidade ambiental;
• Princípio 9 – incentivar o desenvolvimento e difusão de tecnologias ambientalmente
amigáveis.
Contra a Corrupção
• Princípio 10 – as empresas devem combater a corrupção em todas as suas formas,
inclusive extorsão e propina.
82 • capítulo 2
OBJETIVOS EXEMPLOS
Projeto Sigma
Garantir a integração e compati-
Guia ISO 72
bilidade entre sistemas de gestão.
PAS 99
capítulo 2 • 83
é criar normas que facilitem o comércio e promovam boas práticas de gestão
e o avanço tecnológico, além de disseminar conhecimentos. As normas mais
conhecidas são a ISO 9000, para gestão da qualidade, e a ISO 14000, para gestão
do meio ambiente.
No Brasil, a única representante da ISO e um dos seus fundadores é a
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), também reconhecida pelo
governo brasileiro como Fórum Nacional de Normalização.
LEITURA
Neste momento leia o artigo “Influência da demanda ambiental na acreditação de organis-
mos de avaliação da conformidade”, que está disponível no tópico Leitura Complementar. O
artigo explica a função de cada organização que participa e colabora com a rede de acredi-
tação e certificação no Brasil.
As normas ISO 14000 são uma família de normas que buscam estabelecer
ferramentas e sistemas para a administração ambiental de uma organização.
De fato, procuram padronizar algumas ferramentas de análise como a audito-
ria ambiental e a análise do ciclo de vida (DIAS, 2011).
Conforme Dias (2011), as normas ambientais possuem como eixo central a
norma ISO 14001, que estabelece os requisitos necessários para a implantação
de um Sistema de Gestão Ambiental (SGA). O objetivo é conduzir a organização
dentro de um SGA certificável, estruturado e integrado à atividade geral de ges-
tão, especificando os requisitos que devem apresentar e que sejam aplicáveis a
qualquer tipo e tamanho de organização.
A consolidação da ISO na concepção de normas de gestão foi viabilizada
pelo enorme sucesso da ISO 9001 e pela criação do conceito de certificação de
sistema de gestão, tornando possível a comprovação do seu desempenho por
meio de uma auditoria de terceira parte (BARBIERI e CAJAZEIRA, 2012).
A norma AS 8000 foi criada em 1998, pela Social Accountability International
(SAI), a partir da necessidade de padronização das atividades sociais em indús-
trias globais, após o caso Nike. Para muitos especialistas essa norma é a mais
propícia para aplicação global em processos de auditoria de locais de traba-
lho, podendo ser aplicada em instalações de qualquer porte, região ou setor
industrial.
84 • capítulo 2
Antes de continuar, leia o quadro a seguir que descreve o Caso Nike e a im-
portância dos grupos que influenciam ou afetam as empresas, ou são influen-
ciados ou afetados por elas, mas não estão engajados em transações e tampou-
co são essenciais para sobrevivência delas.
ESTUDO DE CASO
O sucesso dos tênis da Nike e de sua estratégia comercial, associando-se aos superstars
do esporte, como Michael Jordan e Tiger Woods, levaram a companhia a obter um valor
recorde de suas ações: US$ 76,00 por ação em 1997. Entretanto, no ano fiscal de 1998,
a companhia teve perdas surpreendentes, chegando ao primeiro prejuízo em 13 anos.
Suas ações caíram na Bolsa de Valores de Nova York para um valor de US$ 42,00 por
ação. Essa perda está ligada às denúncias feitas pela imprensa e entidades da sociedade
civil acusando a empresa de pagar salários desumanos na Indonésia, dar péssimas condi-
ções de trabalho no Vietnã e de utilizar trabalho forçado na China.
O trabalho feminino para a fabricação do material esportivo na Indonésia tinha uma
jornada de 60 horas semanais e o salário era de US$ 1,60 por dia. Ou seja, além de não
pagar o salário mínimo local, o que evidencia uma infração legal, a opinião pública chocou-
se ao saber que um trabalhador indonésio, que produzia tênis da marca Nike, precisaria
trabalhar 44.492 anos para receber o equivalente ao contrato da empresa com o astro do
esporte norte-americano Michael Jordan.
A primeira reação da empresa foi não reconhecer sua responsabilidade diante dos
fatos denunciados. Ela procurou se esquivar da responsabilidade, alegando que suas ope-
rações eram terceirizadas. Porém, o argumento da Nike de que a fabricação dos tênis
nas mãos de terceiros lhe eximia da responsabilidade social foi considerado insuficiente
e cínico não só aos olhos dos denunciantes, mas também de grandes contingentes de
consumidores, que deixaram de comprar os tênis da marca. Esse fato fez com que o presi-
dente da Nike, Phil Knight, promovesse uma reestruturação significativa na empresa, que
passou a adotar em todas as fábricas espalhadas em diversos países normas de trabalho
exigidas pela legislação norte-americana. No processo de reestruturação, a Nike contou
com a participação da Business for Social Responsability, uma organização empresarial
não lucrativa sediada em São Francisco, Califórnia, que tem entre seus objetivos prover
soluções sobre responsabilidade social aos seus membros.
Quadro 2.8 – Caso Nike. Fonte: Cusman (2004 apud BARBIERI e CAJAZEIRA, 2012, p. 28-29)
capítulo 2 • 85
A norma AS 8000 parte do princípio de que a empresa deve cumprir as leis
nacionais relativas aos empregados e terceirizados e adotar as disposições das
convenções da OIT concernentes aos Direitos e Princípios Fundamentais no
Trabalho, mesmo quando não foram incorporados à legislação do país.
Após a criação dessa norma, surgiram outras iniciativas de normalização
no campo da responsabilidade social. A norma AA 1000 define práticas para a
prestação de contas a fim de assegurar a qualidade da contabilidade, da audito-
ria e do relato social e ético e a norma OHSAS 18001 é um padrão para sistemas
de gestão da segurança e da saúde ocupacional.
No campo da responsabilidade social, a norma-guia SD 2100 propõe re-
comendações para ajudar a adaptar, técnica e culturalmente, um sistema de
gerenciamento para que ele venha a integrar os objetivos do desenvolvimento
sustentável dentro de uma organização. Já a norma brasileira de responsabili-
dade social é a NBR 16001, que estabelece requisitos mínimos para a criação e
operação de um sistema de gestão de responsabilidade social. Ela foi criada em
2004, e uma nova versão foi publicada em 2012, incluindo recomendações da
ISO 260003 que estabelece diretrizes sobre responsabilidade social.
O balanço social é o relatório feito por uma empresa sobre sua ação em res-
ponsabilidade social corporativa em determinado ano, compreendendo suas
relações com os interlocutores imediatos, a sociedade e o setor público e le-
gislativo (MARTINS, 2008). O relatório deve envolver as iniciativas próprias, ou
realizadas em parceria, que ajudam na promoção do desenvolvimento social na
comunidade onde a empresa atua.
Para Iudícibus et al. (2000) o balanço social tem como objetivo demonstrar
o grau de responsabilidade social assumido pela empresa e assim prestar con-
tas à sociedade pelo uso do patrimônio público. Tinoco (2001) acrescenta que
o balanço social é um instrumento de gestão que visa evidenciar informações
econômicas e sociais aos mais diferentes usuários, entre estes os funcionários.
Para Martins (2008) a elaboração do balanço deve seguir indicadores de or-
ganizações reconhecidas, como o Instituto Ethos e o Ibase. Caso a empresa seja
3 Assista ao filme “ISO 26000 a norma de responsabilidade social” disponível no tópico Leitura Complementar
para entender a dimensão e a importância dessa norma de responsabilidade social.
86 • capítulo 2
filiada, deve citar a relação entre diversas informações com os indicadores do
GRI. Da mesma forma se for adepta do Pacto Global, deve citar a relação com
os principais princípios, assim como com os Objetivos de Desenvolvimento do
Milênio.
Para entender o uso dos indicadores Ethos veja o vídeo “Política de uso dos
indicadores Ethos”, disponível no tópico Leitura Complementar. Nesse vídeo o
diretor-presidente do Instituto Ethos Jorge Abrahão fala sobre a política de uso
dos indicadores.
capítulo 2 • 87
A GRI é uma organização não-governamental composta por uma rede mul-
tistakeholders, que foi fundada em 1997. Sua missão é uma economia global
sustentável onde organizações podem medir seus desempenhos e impactos
econômicos, sociais e ambientais bem como os relacionados à governança, de
maneira responsável e transparente.
88 • capítulo 2
LEITURA
APÓS 20 ANOS da Conferência de Viena, direitos humanos são mais importantes do que nunca.
Produção de DUDH. Brasil: ONU, 2013. Disponível em: <https://youtu.be/I4bTmVyAXDg>. Acesso
em: 19 abr. 2015.
BRASILEIRO NO SUDÃO do Sul explica crise no país. Produção de DUDH. Brasil: ONU, 2014.
Disponível em: <https://youtu.be/HC1a136euzo>. Acesso em: 19 abr. 2015.
IBAMA ENCONTRA 290 TONELADAS DE LIXO vindas da Inglaterra no Porto de Santos. Produção
de Globo São Paulo. Disponível em: <http://g1.globo.com/Noticias/SaoPaulo/0,,MUL1220980-
5605,00-ibama+encontra+toneladas+de+lixo+vindas+da+inglaterra+no+porto+de+santos.html>.
Acesso em: 19 abr 2015.
ISO 26000 a norma de responsabilidade social. Produção de ISO. Suiça: ISO, 2015. Disponível em: <
https://www.youtube.com/watch?v=kYV5ZYdx2L4>. Acesso em: 19 abr. 2015.
ONU – Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento. Declaração
sobre o meio ambiente e o desenvolvimento. 1992. Disponível em: <http://www.onu.org.br/rio20/
img/2012/01/rio92.pdf>. Acesso em: 19 abr. 2015.
POLÍTICA DE USO dos indicadores Ethos. Produção de Ethos. Disponível em: <https://www.youtube.
com/watch?v=WJjg4IRQ6jY&feature=youtu.be>. Acesso em: 19 abr. 2015.
SANTOS, M. E.;OLIVEIRA, S. V. B.; COSTA, A. L. Influência da demanda ambiental na acreditação de
organismos de avaliação da conformidade. RA´EGA, v. 28, p. 05-25, 2013. Disponível em: <http://ojs.
c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/raega/article/view/32299/20506>. Acesso em: 20 abr. 2015.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR ISSO 26000:2010. Diretrizes de
responsabilidade social. Rio de Janeiro, 2010.
BARBIERI, J. C.; CAJAZEIRA, J. E. R. Responsabilidade social empresarial e empresa
sustentável: da teoria à prática. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2012.
CARROL, A. B. A three-dimensional conceptual modelofcorporate performance. Academyof
Management Review, v. 4, 1979.
_______. The pyramidofcorporate social responsibility: toward the moral management of
organizational stakeholders. Business Horizons, 34: (4), p. 39-48, 1991.
CUSMAN, J. Hitting the wall: Nike and international labor practices. In: BARTLETT, C. A.; GHOSHAL,
S.; BIRKINSHAW, J. Translational management: text, cases, and readings in cross-border
management. 4. ed. Boston: Irwin, 2004.
capítulo 2 • 89
DIAS, R. Gestão ambiental: responsabilidade social e sustentabilidade. 2. ed. São Paulo:
Atlas, 2011.
DONAIRE, D. Gestão ambiental na empresa. 2 ed. São Paulo: Atlas, 1999.
DUDH. Declaração dos Direitos Humanos. Disponível em: <http://www.dudh.org.br/>. Acesso em:
19 abr. 2015.
G1. Ibama encontra 290 toneladas de lixo vindas da Inglaterra no Porto de Santos. Disponível
em: <http://g1.globo.com/noticias/saopaulo/0,,mul1220980-5605,00-ibama+encontra+toneladas+
de+lixo+vindas+da+inglaterra+no+porto+de+santos.html>. Acesso em: 19 abr. 2015.
GOMES, A.; MORETTI, S. A responsabilidade e o social: uma discussão sobre o papel das
empresas. São Paulo: Saraiva, 2007.
GRI – Global Reporting Initiative. Introdução. Disponível em: <https://www.globalreporting.org/
languages/Portuguesebrazil/Pages/default.aspx>. Acesso em: 19 abr. 2015.
INMETRO. Contextualização. Disponível em: <http://www.inmetro.gov.br/qualidade/
responsabilidade_social/contextualizacao.asp>. Acesso em: 19 abr. 2015.
IUDÍCIBUS, S.; MARTINS, E. G. E. R. Manual de contabilidade das sociedades por ações. 5. ed.
São Paulo: Atlas, 2000.
KANTER, R. M.; REISEN DE PINHO, R. ABN AMRO REAL: Crescendo sustentavelmente. Social
Enterprise Knowledge Network (SEKN). Harvard Business Review, Boston, 2006.
MACHADO FILHO, C. P. Responsabilidade social e governança: o debate e as implicações. São
Paulo: Cengage Learning, 2013.
MARTINS, J. P. S. Responsabilidade social corporativa: como a postura responsável compartilhada
pode gerar valor. Campinas: Komedi, 2008. (Coleção Sustentabilidade Corporativa)
ME - Ministério da Educação. Ética e cidadania: construindo valores na escola e na sociedade. Brasília:
Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2007. Disponível em: <http://portal.mec.gov.
br/seb/arquivos/pdf/Etica/liv_etic_cidad.pdf>. Acesso em: 19 abr. 2015.
MMA - Ministério do Meio Ambiente. Agenda 21. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/
responsabilidade-socioambiental/agenda-21>. Acesso em: 19 abr. 2015.
_______. Carta da Terra. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/estruturas/agenda21/_arquivos/
carta_terra.pdf>. Acesso em: 19 abr. 2015.
ODM BRASIL – Objetivos de desenvolvimento do milênio. Objetivos do milênio. Disponível em:
<http://www.odmbrasil.gov.br/os-objetivos-de-desenvolvimento-do-milenio>. Acesso em: 19 abr.
2015.
OLIVEIRA, J. A. P. Empresas na sociedade: sustentabilidade e responsabilidade social. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2008.
ONU – Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento. Agenda 21.
Brasília: Câmara dos Deputados, Coordenação de Publicações, 1995. (Série ação parlamentar; n. 56).
90 • capítulo 2
_______. Declaração sobre o meio ambiente e o desenvolvimento. 1992. Disponível em: <http://
www.onu.org.br/rio20/img/2012/01/rio92.pdf>. Acesso em: 19 abr. 2015.
PLANETA SUSTENTÁVEL. Carta da Terra. Disponível em: <http://planetasustentavel.abril.com.br/
blog/riomais20/2012/06/05/carta-da-terra-na-rio20-evento-debate-importancia-do-documento-
para-transicao-para-futuro-sustentavel/>. Acesso em: 19 abr. 2015.
PNUD – PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO. Os Objetivos de
Desenvolvimento do Milênio: 8 objetivos para 2015. Seção Objetivos do Milênio. Disponível em:
<http://www.pnud.org.br/ODM.aspx>. Acesso em: 19 abr. 2015.
SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. Responsabilidade social nas
micro e pequenas empresas do Estado de São Paulo. São Paulo: SEBRAE, 2005.
TINOCO, J. E. P. Balanço social: uma abordagem da transparência e da responsabilidade pública das
organizações. São Paulo: Atlas, 2001.
UNCTAD . Publicación de información sobre la repercusión de lãs empresas em la sociedad:
tendências y cuestiones actuales. Informe de la Secretaría de la UNCTAD, Genebra, TDN/B/COM.2/
ISAR/20, 2003.
ZADEK, S.; LIGTERINGEN, E. The future of corporate responsibility codes, Standards, and
framework. 2006. Disponível em: <http://www.accoutability.org.uk/news>. Acesso em: 20 abr. 2015.
capítulo 2 • 91
92 • capítulo 2
3
Avaliação do Ciclo
de Vida
Para iniciar os estudos desse capítulo assista a animação “História das coi-
sas” disponível no tópico Leitura Complementar. A animação fala sobre a ob-
sessão da sociedade em descartar “coisas” e o impacto desse comportamento
no meio ambiente. O filme aborda a degradação ambiental, resultado da ação
de empresas de manufatura que priorizam o lucro.
Nesse momento, após ver a animação, pense sobre o sistema de produção
linear que você viu na animação e sobre todas as fases que compõem esse pro-
cesso. Relembre também os conceitos de obsolescência programada e obso-
lescência perceptiva e em seu caderno escreva dois exemplos para cada um dos
conceitos de obsolescência.
Pronto? Agora você pode continuar sua leitura.
Durante as décadas de 1960 e 1970 as ações ambientais relacionadas com os
produtos eram de fim de tudo (end-of-pipe) e soluções para a recuperação. Em
1980 e 1990 a ecoeficiência tornou-se a palavra de ordem e foi caracterizada por
redesenhar produtos existentes. A Avaliação do Ciclo de Vida (ACV), Ecodesign,
Ecologia Industrial e os Rótulos Ambientais entraram no léxico ambiental com
o foco em identificar oportunidades para reduzir resíduos e poluição em seto-
res que utilizavam muita matéria-prima.
Muitas organizações ainda estão na fase de reparação e utilizam metodolo-
gias como EcoDesign, Design for the Environment e Environmentally Bening
Manufacturing que são tentativas para mudar a atual situação. Por outro lado,
outras empresas olham para sustentabilidade com foco não apenas na ecoefi-
ciência (impactos ambientais e econômicos), mas também para os impactos
sociais e aspectos éticos das suas operações (HAUSCHILD, JESWIET e ALTING,
2005).
A Avaliação do Ciclo de Vida é conhecida pela expressão do berço à cova (cra-
dle to grave), berço indicando o nascedouro dos insumos primários mediante a
extração de recursos naturais e cova, o destino final dos resíduos que não serão
reusados ou reciclados (GUARNIERI, 2011). Esse ciclo não deve ser confundido
com o ciclo mercadológico, pelo qual um produto segue desde a sua introdu-
ção no mercado até a sua retirada do mercado, passando por crescimento da
demanda, maturidade e declínio (BARBIERI, 2007).
94 • capítulo 3
Materiais Energia Água
Extração da Disposição
Fabricação Distribuição Uso
matéria-prima final
Figura 3.1 – Ciclo de vida sem os impactos ambientais. Fonte: Coltro (2007a).
De acordo com o conceito do berço à cova (cradle to grave), tudo que é pro-
duzido e consumido deve ser incinerado ou disposto em um aterro sanitário,
ou seja, enterrado. Nesse caso, Guarnieri (2011) explica que a cova é o destino
comum para todos os produtos e materiais. Todavia, os resíduos que são enter-
rados ou incinerados, por serem tóxicos, podem liberar substâncias nocivas ao
meio ambiente e à saúde humana.
Considerando esse contexto, o conceito do berço à cova não pode mais ser
considerado viável economicamente e ambientalmente e muito menos eficien-
te, pois muitos resíduos podem ser reinseridos no processo produtivo e não de-
vem ser incinerados ou dispostos em um aterro sanitário .
ATENÇÃO
Aterro para lixo residencial urbano com pré-requisitos de ordem sanitária e ambiental. Deve
ser construído de acordo com técnicas definidas, como: impermeabilização do solo para que
o chorume não atinja os lençóis freáticos, contaminando as águas; sistema de drenagem
para chorume, que deve ser retirado do aterro sanitário e depositado em lagoa próxima que
tenha essa finalidade específica, vedada ao público; sistema de drenagem de tubos para os
gases, principalmente o gás carbônico, o gás metano e o gás sulfídrico, pois, se isso não for
feito, o terreno fica sujeito a explosões e deslizamentos (CETESB, 2015, s/p).
capítulo 3 • 95
Dessa forma, um novo conceito de ciclo de vida visa propor solução para o
desafio da sustentabilidade dos negócios. Este conceito é chamado de modelo
do berço ao berço (cradle to cradle) e propõe que a sociedade continue com o
consumo e desenvolvimento, porém, deve ser alimentado o ciclo biológico da
Terra e o ciclo tecnológico das indústrias (BARBIERI, 2007). Assim, o que não
pode ser utilizado como nutriente para o meio ambiente, deverá ser quebrado
em elementos que possam ser reabsorvidos pelas indústrias como matérias
-primas de qualidade (GUARNIERI, 2011).
O modelo do ciclo de vida indica que o projeto dos produtos e dos proces-
sos produtivos sejam feitos de forma a possibilitar que todos os materiais uti-
lizados para a fabricação do produto final, após o seu descarte possam ser to-
talmente reutilizados em novos produtos e processos, aumentando a vida útil
destes bens. Portanto, no conceito do berço ao berço, o reprocessamento do
produto descartado possibilita a criação de um novo produto que possua quali-
dade igual ou superior ao original.
Além desses fatores, é importante que os processos de produção sejam realiza-
dos de forma ambientalmente correta, como através da Produção mais Limpa e do
uso de matérias-primas eco-friendly1 , como as feitas de materiais biodegradáveis ou
de fácil revalorização. Nesse sentido, são geradas novas formas de construção e utili-
zação de recursos naturais, que viabilizam a agregação de valor aos resíduos, esten-
dendo sua vida útil e reinserindo-os no ciclo de negócios produtivo novamente.
Guarnieri (2011) destaca que muitas empresas utilizam o modelo do berço ao
berço como a Ford que possui uma planta industrial em River Rouge (Michigan,
EUA) que serve como base para criar produtos inovadores. A Adidas que divulgou
sua intenção de utilizar 40% de Better Cotton2 até 2015 e 100% até 2018. E a Nike
que está testando uma nova borracha “limpa” que será um nutriente para biológico
para o meio ambiente e poderá causar um impacto em muitos setores industriais.
De acordo com os exemplos, o conceito de logística reversa é totalmen-
te aplicável e atua no sentido de viabilizar a aplicação do modelo do berço ao
berço, pois propõe o retorno dos resíduos gerados nos processos produtivos e
de vendas ao ciclo produtivo, proporcionando a revalorização e preservação do
meio ambiente (GUARNIERI, 2011).
1 O termo em inglês aplica-se às atitudes ecologicamente corretas, tomadas por empresas instituições ou pessoas.
Atesta que elas agem em concordância com o que há de mais sustentável naquele segmento. Sua tradução para o
português seria “amigo da natureza” (ECOD, 2015).
2 O Better Cotton é o algodão produzido com uma relevante redução do consumo de água e pesticidas na cultura
e produção.
96 • capítulo 3
Ao decidir adotar processos de design e gerenciamento do ciclo de vida eco-
ecoeficientes, a empresa precisa considerar em primeiro lugar a ética nos ne-
gócios e o respeito ao consumidor. Poucas organizações estão preparadas para
adotar o conceito do berço ao berço, pois, isso depende de grandes mudanças
estruturais, culturais e quebra de paradigmas. O novo ciclo de vida dos produ-
tos, sob o aspecto do modelo berço a berço é apresentado na figura 3.2.
Manufatura
Matéria-prima Produtos
finais
Reciclagem
CICLO DE VIDA Embalagem
Remanufatura
Coleta Transporte
seletiva
Uso
Reuso
Figura 3.2 – Ciclo de vida ambiental berço à berço. Fonte: Guarnieri (2011).
capítulo 3 • 97
Ao estimar o custo para um produto, todas as fases do seu ciclo de vida de-
vem ser consideradas, inclusive seu fluxo reverso. Da mesma forma, uma análi-
se ambiental do produto deve observar o impacto dele durante a sua vida útil e,
também, seu destino ao finalizar sua vida útil. Ou seja, é necessário fazer uma
abordagem sistêmica, para que todas as fases do ciclo de vida sejam observadas
e adequadamente atendidas (CAMPOS, 2006).
OBJETIVOS
Ao final deste capítulo esperamos que você:
98 • capítulo 3
3.1 História da avaliação do ciclo de vida
“Os estudos de ACV tiveram início na década de 60, com a crise do petróleo, que levou
a sociedade a se questionar sobre o limite da extração dos recursos naturais, especial-
mente de combustíveis fósseis e de recursos minerais. Os primeiros estudos tinham
por objetivo calcular o consumo de energia e, por isso, eram conhecidos como “análise
de energia”. Estes estudos envolviam a elaboração de um fluxograma de processo com
balanço de massa e de energia” (COLTRO, 2007, p. 7).
A Avaliação do Ciclo de Vida tem sua origem nas décadas de 1970 e 1980
quando foram realizados os primeiros estudos ambientais sobre os recipientes
de bebidas utilizados pela Coca Cola. Um pesquisador britânico, Ian Bousted,
usou uma abordagem similar em 1970 para estimar o total de energia usada
para fabricar diferentes tipos de embalagens (JENSEN, et al., 1997).
As primeiras orientações para a ACV foram publicadas em 1993. O guia pu-
blicado foi denominado de “Code of Practice” e desenvolvido por um grupo
de trabalho da SETAC – Society of Environmental Toxicology and Chemistry
(BARBIERI, 2007). O guia apresentou a ACV como um termo geralmente acei-
to como método para avaliar o desempenho ambiental. Atualmente, as orien-
tações seguem o conjunto de normas internacionais ISSO 14040, que mesmo
sendo mais detalhadas, não contemplam o mesmo nível de detalhamento
quanto ao melhoramento proposto no guia da SETAC (JENSEN et al., 1997).
Coltro (2007) destaca que o interesse por estudos de ACV enfraqueceu após
a crise do petróleo. Porém, a ACV ressurgiu na década de 80 em decorrência do
crescente interesse pelo meio ambiente. A partir de 1990, os estudos de ACV
se expandiram e foram impulsionados pela normalização proporcionada pela
série de normas ISO 14040, com consequente aumento do número de estudos,
publicações, conferências e congressos.
Para Curran (2012) o conceito de ciclo de vida estava plenamente desenvolvido
quando a política ambiental se tornou uma questão importante em todas as so-
ciedades industrializadas, no final dos anos sessenta e no início dos anos setenta.
Ficou claro nessa época que as medidas de fim-de-tubo eram cada vez mais caras.
De modo geral, os estudos consideram que os impactos ambientais não de-
vem ser considerados de forma pontual, em uma determinada etapa do pro-
cesso, mas por meio de uma avaliação global de toda a cadeia do produto. Ao
capítulo 3 • 99
considerar essa visão, a manufatura está se tornando cada vez mais responsável
pela performance do produto, a partir de seus estágios, desde a extração da ma-
téria-prima até a disposição final (OMETTO, 2005).
Fabricação /
produção
Recursos /
extração
Transporte /
distribuição
Fim da vida /
reciclando
Use /
consumo
Figura 3.3 – Fases consideradas em uma ACV. Fonte: Adaptado de HydroQuébec (2015).
100 • capítulo 3
3.2 Princípios e estrutura da Avaliação do Ciclo
de Vida
“No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste
tomado; porquanto és pó e em pó te tornarás”
Gênesis 3:19
capítulo 3 • 101
A ACV destaca os aspectos ambientais e os impactos ambientais potenciais ao lon-
go do ciclo de vida de um produto, desde a aquisição das matérias-primas, produção,
uso tratamento pós-uso, reciclagem até a disposição final, ou seja, do berço ao túmulo.
Um estudo de ACV possui as seguintes fases:
102 • capítulo 3
Como dois processos diferentes de
Quais são as contribuições das
fabricação para o mesmo produto podem
diferentes fases do ciclo de vida do
ser comparados em termos de utilização
produto para as emissões ambientais
dos recursos naturais e das emissões
totais?
ambientais?
Tabela 3.1 – Por que fazer uma ACV? . Fonte: Barros e Lemos (2008)
capítulo 3 • 103
a transparência é um princípio orientador importante na
TRANSPARÊNCIA execução de ACVs, de modo a assegurar uma interpre-
tação adequada dos resultados.
Definição de
objetivo e escopo
Aplicações diretas
- Desenvolvimento e
aperfeiçoamento de produtos
Análise de - Planejamento estratégico
Interpretação
inventário - Elaboração de políticas públicas
- Marketing
- Outras
Avaliação de
impacto
104 • capítulo 3
Os resultados da ACV podem ser subsídios úteis para uma variedade de proces-
sos decisórios. A interpretação do ciclo de vida utiliza um procedimento sistemáti-
co para identificar, conferir, qualificar, avaliar e apresentar as conclusões baseadas
nas constatações de uma ACV, com o objetivo de satisfazer aos requisitos da aplica-
ção descritos no objetivo do estudo. A interpretação do ciclo de vida pode também
viabilizar a vinculação entre ACV e outras técnicas de gestão ambiental ao enfatizar
as potencializadas e os limites de uma ACV com relação à sua definição de objetivo.
A ACV modela o ciclo de vida de um produto por meio de seu sistema de produ-
to, que desempenha uma ou mais funções definidas. “A propriedade essencial
de um sistema de produto é caracterizado pela sua função e não pode ser defini-
da somente em termos dos produtos finais” (ABNT, 2009, p. 12). Os sistemas de
produtos são compostos por processos elementares ligados uns aos outros por
fluxos de produtos intermediários e de resíduos para tratamento. A subdivisão
de um sistema de produtos nos processos elementares que o compõem facilita
a identificação das entradas e saídas do sistema de produto.
Exemplo:
capítulo 3 • 105
A coleta de dados pode demandar muitos recursos, assim, convém que res-
trições práticas quanto à coleta de dados sejam consideradas. Os dados podem
ser classificados em:
106 • capítulo 3
3.2.5 Avaliação de impacto do ciclo de vida (AICV)
Elementos opcionais
Cálculo da magnitude dos resultados dos indicadores
relativamente a informações de referência (normalização)
Agrupamento
Ponderação
capítulo 3 • 107
A interpretação também tem como objetivo fornecer uma apresentação
compreensível, completa e consistente dos resultados de uma ACV e as cons-
tatações podem tomar a forma de conclusões e recomendações aos tomadores
de decisão.
Finalmente, os resultados e conclusões da ACV devem ser relatados para o
público-alvo, enfocando os dados, métodos e pressupostos aplicados no estudo
assim como as limitações associadas.
108 • capítulo 3
3.3.1 Eco-indicator 99
capítulo 3 • 109
3.3.2 EDIP 1997 – EDIP 2003
110 • capítulo 3
• A atividade da colheita de cana apresenta o maior potencial de impacto para o con-
sumo de recursos renováveis, o aquecimento global, a formação fotoquímica de ozônio
troposférico, a acidificação e a toxidade humana.
• O preparo do solo apresenta maior potencial para o consumo de recursos não reno-
váveis e para a ecotoxidade da água.
• O trato cultural apresenta maior influência na eutrofização e na ecotoxidade do solo.
• Pela exergia, verifica-se que, para cada litro de álcool consumido, há uma perda de
exergia pelas emissões atmosféricas de seu ciclo de vida, considerando que 25% da
cana colhida seja crua, equivalente à exergia de, aproximadamente, 1,38 litro de álcool.
• Pela emergia, 69% do consumo de energia solar equivalente é realizado pelo veículo
automotor.
• Indica-se a eliminação da queimada, a redução do uso de agrotóxicos, de combustível
fóssil e formas mais eficientes de uso do álcool combustível.
capítulo 3 • 111
A rotulagem ambiental é um ato voluntário de certificação de desempenho
ambiental que é praticada em todo o mundo. O rótulo ambiental identifica a
preferência ambiental de um produto ou serviço dentro de uma categoria es-
pecífica de produto ou serviço baseando-se em considerações sobre o ciclo de
vida, sendo concedido por programas de rotulagem ambiental de terceira par-
te, imparciais (COLTRO, 2007b).
O objetivo dos rótulos e declarações ambientais é atrair consumidores ou
usuários que se preocupam com o meio ambiente, destacando as qualidades
do produto ou serviço em termos ambientais. Os rótulos e declarações ambien-
tais podem ser tornar instrumentos da estratégia de marketing da empresa na
medida em que diferenciam os produtos e serviços em função dos seus impac-
tos ambientais.
Enfim, não faltam pressões para que as empresas adotem medidas de pro-
teção ao meio ambiente e os selos e certificados sejam tratados como ferramen-
tas de comunicação sobre os aspectos ambientais do produto ou serviço. Nesse
contexto, as organizações buscam certificações que atendam ao contexto que
atuam de acordo com as informações apresentadas no tabela 3.2.
112 • capítulo 3
TIPO I TIPO II TIPO III
ISO 14024 ISO 14021 ISO 14025
Exemplos:
Blue Angel – Alemanha
Nordic Swan – Países Exemplo: Feito com x% Exemplo: Folhe da Volvo
Nórdicos de material reciclado para o automóvel S80
The Flower – União Euro-
péia
capítulo 3 • 113
• ISO 14020 – Environmental labels and declarations – General principles
(1998);
• ISO 14021 - Environmental labels and declarations – Type II Self-declared
environmental claims (1999);
• ISO 14024 - Environmental labels and declarations – Type I environmen-
tal labeling – Principles and procedures (1999);
• ISO/TR 14025 - Environmental labels and declarations – Type III environ-
mental declarations (2000).
As normas NBR ISO 14020, NBR ISO 14021 e NBR ISO 14024 foram interna-
lizadas no Brasil pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), sendo
os três tipos de rótulos ambientais normalizados pela ISO:
Rótulo Ambiental Tipo I: conhecido como “Selo Verde”, baseia-se em critérios múl-
tiplos obtidos de estudos de ACV setoriais e tem por objetivo reduzir os impactos am-
bientais da categoria de produto selecionada. O “Selo Verde” consiste em um símbolo
impresso no rótulo da embalagem e é concedido por um programa de terceira parte
(normalmente um Órgão de Certificação nacional, que no caso do Brasil é a ABNT)
que fornece uma licença autorizando o uso do rótulo ambiental. Os dados das ACVs
setoriais são utilizados como orientação na definição dos parâmetros de controle das
categorias de produtos;
Rótulo Ambiental Tipo II: declarações de cunho ambiental que a empresa divulga
no rótulo das embalagens de seus produtos e que fazem referência ao desempenho
ambiental do produto, como por exemplo “reciclável”, “consumo de energia reduzido”,
etc. As autodeclarações foram normalizadas pela ISO com o objetivo de evitar o uso de
expressões indefinidas, tal como “produto verde”.
Rótulo Ambiental Tipo III: contém uma série de dados ambientais quantitativos ba-
seados em estudos de ACV desenvolvidos por terceira parte especificamente para o
produto em questão, devendo ser submetido a uma revisão crítica. Por ser complexo,
este rótulo tende a ser mais aplicado em relações comerciais ao invés de ser divulgado
ao público em geral.
114 • capítulo 3
Em síntese, os rótulos do Tipo I são os clássicos “selos verdes”. Os do Tipo II
são as declarações efetuadas pelos próprios fabricantes, as autodeclarações. E
os do Tipo III consistem, essencialmente, no estabelecimento de categorias de
parâmetros a partir de uma ACV e na divulgação dos dados quantitativos para
esses parâmetros, todos verificados por uma terceira parte (BARROS e LEMOS,
2008).
Para entender os detalhes dos procedimentos de acreditação e certifica-
ção leia o artigo de Santos et al., (2013), “Influência da demanda ambiental na
acreditação de organismos de avaliação da conformidade” disponível no tópi-
co Leitura Complementar. O artigo esclarece o papel de cada organização que
compõe e sustenta o processo de acreditação e certificação no Brasil.
A norma NBR ISO 14024, que trata do Rótulo Tipo I, estabelece os princípios e
procedimentos para o desenvolvimento de programas de rotulagem ambiental,
incluindo a seleção, os critérios ambientais e as características funcionários
dos produtos (BARROS e LEMOS, 2008). A norma estabelece também os proce-
dimentos de certificação para concessão do rótulo ambiental por meio de audi-
toria realizada por um órgão independente chamado de “terceira parte”.
Conforme Coltro (2007b) existem 28 programas principais de rotulagem
ambiental Tipo I e sete desses programas são responsáveis pela certificação de
mais de mil produtos. No Brasil há apenas selos verdes setoriais, como no setor
de papel e celulose.
capítulo 3 • 115
3.4.1.2 Canadá - EcoLogo
O Canadá possui um programa de rotulagem ambiental que ajuda os consumi-
dores a identificarem produtos e serviços que são menos prejudiciais ao meio
ambiente. O EcoLogo, possui três pombas interligadas em forma de folha que
simbolizam consumidores, indústria e governo trabalhando juntos para me-
lhorar o meio ambiente (GUÉRON, 2003).
116 • capítulo 3
mais de 6.000 produtos em 117 categorias de produtos incluindo produtos de
limpeza, material de escritório, eletrodomésticos, produtos de informática e
materiais de construção (ECOLABEL INDEX, 2015).
O Rótulo Tipo II, tratado na norma NBR ISO 14021, especifica os requisitos
para as autodeclarações ambientais, incluindo textos, símbolos e gráficos, no
que se refere aos produtos. Nesse caso o rótulo não está vinculado a uma audi-
toria de certificação independente, ou realizada por produtores, comerciantes,
distribuidores ou por quem se beneficie de tal reivindicação, para informar aos
consumidores as qualidades ambientais de seus produtos.
A autodeclaração é uma afirmação de qualidade ambiental do produto,
como, por exemplo:
65%
65%
65%
Figura 3.6 – Valor percentual quando se utiliza o Ciclo de Mobius4 . Fonte: ABRE (s/d, s/p).
4 O ciclo de Möbius é o símbolo internacional da reciclagem e quando acompanhado por uma percentagem, indica
que o produto é fabricado a partir de materiais reciclados. Sem menção de uma percentagem, significa que o produto
é reciclável. A utilização do ciclo de Möbius não é controlada por uma autoridade reconhecida. Todavia, há variações
do ciclo utilizadas em países como Taiwan que utilizam o espaço negativo (observe o espaço branco no centro da
imagem para ver as quatro flechas).
capítulo 3 • 117
• Um equipamento que economiza energia, ver a figura 3.7, selo Procel;
• O produto atum em conservas, que foi pescado com dispositivos que sal-
vam os golfinhos das redes; e
• o refrigerador que não contém substâncias nocivas a camada de ozônio.
118 • capítulo 3
Apesar de voluntárias, um edital internacional pode incluir o Selo Verde
Tipo III entre seus pré-requisitos, sem que seja considerada uma barreira co-
mercial. Um exemplo é o Rótulo Tipo III da Forest Conservation Program Label,
emitido pela SCY, e que informa que a madeira utilizada foi obtida em uma
floresta com manejo ambiental certificado.
• Função;
• Desempenho;
• Segurança e saúde;
• Marketing do produto; e
• Requisitos legais e regulatórios aplicados ao produto.
• Baixar custos;
• Otimizar o uso de materiais e energia;
• Diminuir a disposição de resíduos;
• Desenvolver processos mais eficientes;
• Estimular inovação e criatividade;
capítulo 3 • 119
• Identificar novos produtos;
• Atingir e prever expectativas dos consumidores;
• Trabalhar a imagem da empresa;
• Aumentar a fidelidade do consumidor;
• Atrair investidores com consciência ambiental;
• Motivar os empregados; e
• Melhorar a comunicação interna e externa da organização.
120 • capítulo 3
A comunicação é parte integrante da incorporação dos aspectos ambientais
no desenvolvimento de produtos. A informação externa à organização contri-
bui no aumento do valor agregado para os tomadores de decisão, e na divulga-
ção das propriedades no uso e fim-de-vida dos produtos, já a comunicação in-
terna aos empregados da organização é uma divulgação da política da empresa
(QUEIROZ e GARCIA, 2007).
Os objetivos ambientais relacionados à estratégia do produto são: o menor
impacto ambiental, mantendo ou aumentando a funcionalidade do produto,
conservação de recursos, reciclagem, recuperação de energia e prevenção da
poluição, redução de resíduos e outros impactos ao meio ambiente. As etapas
de um planejamento de DfE, são apresentadas na figura 3.8.
Planejamento
Ideias de projeto
Projeto conceitual
Conceito de projeto
Melhoria Contínua
Projeto detalhado
Solução de projeto
Protótipo/teste
Protótipo
Produção e lançamento
no mercado
Produto
Revisão do produto
capítulo 3 • 121
Na prática, a integração das considerações ambientais devem encontrar sua
posição entre as demais prioridades consideradas durante o desenvolvimento
de um novo produto, como demonstra a figura 3.9.
Design
Durabilidade Segurança
Materiais Tecnologia
Desenvolvimento do produto
Meio ambiente
Custos
- ciclo de vida
- todos os impactos relevantes
Legislação
122 • capítulo 3
Para compreender o tema das embalagens biodegradáveis, leia o quadro 3.3.
capítulo 3 • 123
Existe um custo ambiental para produção dos materiais de embalagem, desde a ex-
tração dos recursos naturais até seu processamento, custo este que não deve ser
desperdiçado. Ou seja, materiais que não se degradam permitem sua revalorização no
pós-consumo com maior facilidade, permitindo que o material seja usado mais de uma
vez. Com isso, poupam-se recursos naturais, água e energia, ou seja, os recursos do
meio ambiente são utilizados de maneira sustentável.
Materiais degradáveis não constituem solução para o problema de resíduos sólido ur-
bano, pois mesmo degradáveis (bio ou não) requerem coleta e continuam a ocupar
lugar em aterros, uma vez que a taxa de biodegradação não é tão rápida nesses am-
bientes. Além disso, se a biodegradação ocorre em aterros, há produção de gases de
efeito estufa, como Dióxido de Carbono (CO2) e Metano (CH4), sendo este último um
dos maiores problemas na gestão de aterros tanto ao longo de sua vida útil como após
o fechamento e revitalização das áreas ocupadas (...).
LEITURA
GALDIANO, Guilherme de Paula. Inventário do ciclo de vida do papel offset produzido no Brasil.
2006. Dissertação (Mestrado em Engenharia Química) - Escola Politécnica, Universidade de São
Paulo, São Paulo, 2006. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/3/3137/tde-
13122006-163035/>. Acesso em: 26 abr. 2015.
GARCIA, E. O mito da degradação de embalagens. Informativo CETEA, v. 25, n. 1, 2013. Disponível
em: <http://www.cetea.ital.sp.gov.br/informativo/v25n1/artigos/v25n1_artigo2.pdf>. Acesso em: 02
maio 2015.
OMETTO, Aldo Roberto. Avaliação do ciclo de vida do álcool etílico hidratado combustível pelos
métodos EDIP, exergia e emergia. 2005. Tese (Doutorado em Hidráulica e Saneamento) - Escola de
Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2005. Disponível em: <http://www.
teses.usp.br/teses/disponiveis/18/18138/tde-10072008-151015/>. Acesso em: 26 abr. 2015.
SANTOS, M. E.; OLIVEIRA, S. V. B.; COSTA, A. L. Influência da demanda ambiental na acreditação
de organismos de avaliação da conformidade. RA´EGA, v. 28, p. 05-25, 2013. Disponível em:
<http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/raega/article/view/32299/20506>. Acesso em: 02 maio 2015.
STORY OF Stuff (História das Coisas). Direção: Louis Fox. Produção: Free Range Studios. Tides
Foundation, 2010. (21 min.). Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=7qFiGMSnNjw>.
Acesso em: 26 abr. 2015.
124 • capítulo 3
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR ISO 14040 Gestão Ambiental: Avaliação de
ciclo de vida – Princípios e estrutura. Brasil: ABNT, 2009.
ABRE - Associação Brasileira de Embalagem. Diretrizes de rotulagem ambiental para
embalagens: autodeclarações ambientais rotulagem do tipo II. 2010. Disponível em: <http://www.
abre.org.br/wp-content/uploads/2012/07/cartilha_rotulagem.pdf >. Acesso em: 26 abr. 2015.
BANRICOOP. Entenda para que serve e como funciona o selo Procel. [s/d]. Disponível em:
<http://www.banricoop.coop.br/blog/post/entenda-para-que-serve-e-como-funciona-o-selo-
procel/397/5>. Acesso em: 26 abr. 2015.
BARBIERI, J. C. Gestão ambiental empresarial: conceitos, modelos e instrumentos. 2. ed. São Paulo:
Saraiva, 2007.
BARROS, R. L. P.; LEMOS, H. M. Gestão do ciclo de vida dos produtos e rotulagem ambiental
nas micro e pequenas empresas. Rio de Janeiro: Comitê do Programa das Nações Unidas para o
Meio Ambiente, 2008.
CAMPOS, Tatiana de. Logística reversa: aplicação ao problema das embalagens da CEAGESP.
2006. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Sistemas Logísticos) - Escola Politécnica,
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/
disponiveis/3/3148/tde-05092006-135636/>. Acesso em: 26 abr. 2015.
CETEA - Centro de Tecnologia de Embalagem. Sustentabilidade: Pesquisa, Desenvolvimento e
Inovação. Disponível em: <http://www.cetea.ital.sp.gov.br/sustentabilidade.php>. Acesso em: 26 abr.
2015.
CETESB - Companhia Ambiental do Estado de São Paulo. Glossário. Disponível em: <http://www.
cetesb.sp.gov.br/institucional/institucional/70-glossario#>. Acesso em: 26 abr. 2015.
COLTRO, L. Avaliação do ciclo de vida – ACV. In: COLTRO, L. (Org.) Avaliação do ciclo de vida como
instrumento de gestão. Campinas: CETEA/ITAL, 2007a.
_______. Rotulagem ambiental. In: COLTRO, L. (Org.) Avaliação do ciclo de vida como instrumento
de gestão. Campinas: CETEA/ITAL, 2007b.
CURRAN, M. A. Life cycle assessment handbook: a guide for environmentally sustainable products.
Cincinnati: Wiley, 2012.
ECOD - Eco Desenvolvimento. Glossário de termos. Disponível em: <http://www.
ecodesenvolvimento.org/glossario-de-termos/glossario-de-termos/>. Acesso em: 26 abr. 2015.
ECOLABEL INDEX. Green Mark. [s/d]. Disponível em: <http://www.ecolabelindex.com/ecolabel/
green-mark>. Acesso em: 26 abr. 2015.
ECOMARK. Institution of the Eco Mark. [s/d]. Disponível em: <http://www.ecomark.jp/english/
ecomark.html>. Acesso em: 26 abr. 2015.
capítulo 3 • 125
GEO POLITICAL MONITOR. Taiwan’s Recycling Revolution: Lessons for Canada. Disponível em: <
http://www.geopoliticalmonitor.com/taiwans-recycling-revolution-lessons-for-canada-4816/>. Acesso
em: 26 abr. 2015.
GLOBAL ECOLABELLING NETWORK - GEN. Annual report 2004. Tokyo: GEN, 2004.
GREENERIDEAS. Ecologo. 2012. Altura: 540 pixels. Largura: 540 pixels. 52,2 KB. Formato: JPEG.
Disponível em: <http://www.greenerideal.com/lifestyle/1031-ontario-responsible-consumption/>.
Acesso em: 26 abr. 2015.
GUARNIERI, P. Logística reversa: em busca do equilíbrio econômico e ambiental. 1. ed. Recife: Ed.
Clube de Autores, 2011
GUÉRON, A. L. Rotulagem e certificação ambiental: uma base para subsidiar a análise da
certificação florestal no Brasil. 2003. Tese (Mestrado em Ciências em Planejamento Energético) –
Universidade Federal do Rio de Janeiro: Rio de Janeiro, 2003.
HAUSCHILD, M; JESWIET, J; ALTING, L. From life cycle assessment to sustainable production:
status and perspectives. Annals of the CIRP, v. 54, n. 2, 2005.
HYDROQUÉBEC. Life cycle assessment at Hydro-Québec. Disponível em: <http://www.
hydroquebec.com/sustainable-development/documentation-center/life-cycle-analysis.html>. Acesso
em: 26 abr. 2015.
JENSEN, A. A.; HOFFMANN L., MOLLER, B. T.; SCHMIDT A.; CHRISTIANSEN, K.; e ELKINGTON, J.
Life Cycle Assessment: A guide to approaches, experiences and information sources. Environmental
Issues Series no. 6. Copenhagen: European Environmental Agency, 1997.
LADVOCAT, G. Qualidade ambiental ABNT. 2010. [s/d]. Disponível em: <http://www.
desenvolvimento.gov.br/arquivos/dwnl_1283452952.pdf >. Acesso em: 26 abr. 2015.
MENDES, Natália Crespo. Métodos e modelos de caracterização para avaliação de impacto
do ciclo de vida: análise e subsídios para a aplicação no Brasil. 2013. Dissertação (Mestrado
em Processos e Gestão de Operações) - Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São
Paulo, São Carlos, 2013. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/18/18156/tde-
15102013-085143/>. Acesso em: 26 abr. 2015.
NORDIC ECOLABEL. The Nordic Ecolabel - Limiting CO2 Emissions. [s/d]. Disponível em:
<http://www.nordic-ecolabel.org/>. Acesso em: 26 abr. 2015.
OMETTO, Aldo Roberto. Avaliação do ciclo de vida do álcool etílico hidratado combustível pelos
métodos EDIP, exergia e emergia. 2005. Tese (Doutorado em Hidráulica e Saneamento) - Escola de
Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2005. Disponível em: <http://www.
teses.usp.br/teses/disponiveis/18/18138/tde-10072008-151015/>. Acesso em: 26 abr. 2015.
QUEIROZ, G. C.; GARCIA, E. E. C. Integração de aspectos ambientais no desenvolvimento de
produto. In: COLTRO, L. (Org.) Avaliação do ciclo de vida como instrumento de gestão. Campinas:
CETEA/ITAL, 2007.
126 • capítulo 3
SCS GLOBAL. Forest Management Certification. [s/d]. Disponível em: <http://www.
scsglobalservices.com/fsc-certified-responsible-forestry>. Acesso em: 26 abr. 2015.
SOUZA, D. M. Proposta de um modelo de caracterização de impactos do uso da terra,
segundo indicadores de biodiversidade, em AICV: cálculo de fatores de caracterização para
ecorregiões brasileiras. Tese (Doutorado) – Universidade Federal de Santa Catarina, Centro
Tecnológico. Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental. Florianópolis, 2010.
TACHIZAWA, T. Gestão ambiental e responsabilidade social corporativa: estratégias de negócios
focadas na realidade brasileira. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2011.
THE BLUE ANGEL. Eco-Label with Brand Character. [s/d]. Disponível em: <http://www.blauer-engel.
de/en/blauer_engel/index.php>. Acesso em: 26 abr. 2015.
capítulo 3 • 127
128 • capítulo 3
4
Logística Reversa
de Bens de
Pós-Consumo
A partir de agora estudaremos como a velocidade de lançamento de produtos,
o rápido crescimento do comércio eletrônico, a busca por competitividade por
meio de novas estratégias de relacionamento entre empresas e, principalmen-
te, a conscientização ecológica relativa aos impactos que os produtos provocam
no meio ambiente, estão modificando as relações de mercado em geral e justi-
ficando de maneira crescente as preocupações estratégicas das empresas, do
governo e da sociedade em relação aos canais de distribuição reversos.
Nas guerras era preciso realizar movimentação, suprimento e manutenção de
forças militares para que fosse possível vencer. A partir dessas ações e de seu plane-
jamento, surgiu a logística, termo com origem no verbo francês loger, que significa
alojar, acolher, acomodar e suprir (PIGNATTI DE FREITAS; JABBOUR, 2013).
Com o tempo, o conceito de logística desenvolveu-se e começou a ser uti-
lizado por empresas em geral, no sentido de reduzir custos, diminuir prazos
de entrega, gerenciar a disponibilidade de produtos, flexibilizar a fabricação,
aumentar a confiança na entrega, facilitar a gestão de pedidos, na redefinição
de processos e adequação dos negócios.
Conforme Novaes (2001), por logística se entende o processo de planejar,
implementar e controlar, de maneira eficiente, o fluxo e a armazenagem de
produtos, bem os serviços e as informações associadas, cobrindo desde o pon-
to de origem até o ponto de consumo, com o objetivo de atender aos requisitos
do consumidor. Porém, após a década de 1950 com a expansão dos mercados
consumidores, a logística tornou-se alvo do interesse das organizações e, com a
ajuda de computadores, desenvolveu-se, tornando-se um diferencial estratégi-
co e gerando vantagem competitiva a algumas empresas.
Dessa forma, em meados da década de 1970, o grande consumo e a produ-
ção capitalista começaram a ser encarados como os responsáveis pela degra-
dação ambiental que o planeta vinha e vem sofrendo (PIGNATTI DE FREITAS;
JABBOUR, 2013). Assim as pessoas começaram a apresentar um novo posicio-
namento, a cultura do consumo caracterizada pela ideia do ciclo “compre-use-
disponha” e adotada sem questionamento até recentemente, abriu espaço para
uma nova cultura, que pode ser sintetizada pelo ciclo “reduza-reuse-recicle”,
conforme a figura 4.1 (LEITE, 2009).
130 • capítulo 4
Cultura de sustentabilidade
· Cultura de consumo · Comprar
· Comprar · Usar
· Usar · Reutilizar, reparar, reciclar, recuperar
capítulo 4 • 131
Materiais novos Processo logístico direto
Materiais
reaproveitados Processo logístico reverso
132 • capítulo 4
OBJETIVOS
Ao final deste capítulo esperamos que você:
A alta visibilidade atual da logística reversa pode ser explicada pela grande quantidade
e variedade de produtos que vão para o mercado (...). Produtos com reduzidos ciclos
de vida mercadológicos são elaborados para satisfazer pessoas de diferentes sexos,
diversas idades e etnias (...). Isso propicia rápida obsolescência, complexos sistemas lo-
gísticos de distribuição e controle, bem como o aumento de produtos de pós-consumo
a serem retornados (LEITE, 2009, p. xii).
A logística pode ser entendida como uma das mais antigas e inerentes ativi-
dades humanas na medida em que sua principal missão é disponibilizar bens e
serviços gerados por uma sociedade, nos locais, no tempo, nas quantidades e na
qualidade em que são necessários aos utilizadores. Conforme Leite (2009), embora
seja decisiva em operações militares históricas, sua introdução como atividade em-
presarial tem sido gradativa ao longo da história empresarial, de uma simples área
de estocagem de materiais a uma área estratégica no atual cenário concorrencial.
Nesse cenário de alta velocidade de resposta, torna-se necessária a locali-
zação logística das empresas fornecedoras, o controle e o transporte de supri-
mento de componentes com alta frequência e em pequenas quantidades, o
contrato de compra e venda de longo prazo, a garantia de qualidade dos com-
ponentes que entram na linha de produção, o rigor no cumprimento dos prazos
capítulo 4 • 133
e quantidades, entre outros aspectos, exigindo planejamento, operação e con-
trole logístico de alto desempenho nos níveis estratégico, tático e operacional.
“A logística empresarial assume um papel relevante no planejamento e con-
trole do fluxo de materiais e produtos desde a entrada na empresa até sua saída
como produto finalizado (LEITE, 2009, p. 3)”. O processamento dos pedidos e o
serviço oferecido aos clientes são diferenciais estratégicos nas empresas, regu-
lando, dessa forma, as quantidades a serem produzidas e os modelos a serem
fabricados, sua sequência de fabricação, as quantidades e as datas de entrega
das matérias-primas e os componentes diretos da fabricação, os estoques de
insumos e de produtos intermediários e acabados, dentre outros, tornam-se
fundamentais para o cumprimento das estratégias empresariais.
Na década de 1980, o advento de computadores pessoais, os sistemas de co-
municação e a digitalização das informações permitiram acelerar o ritmo em-
presarial, reduzindo os tempos de comunicação e as distâncias pelos espaços
virtuais. Contribuiu para esse processo o advento do código de barras que per-
mitiu a identificação de produtos e materiais em diversos estágios de seu fluxo,
digitalizando as informações e modificando a velocidade desses fluxos.
Para conhecer a origem do código de barras leia o texto “A Origem do Código
de Barras”, disponível no tópico Leitura Recomendada.
©© ALAIN LACROIX | DREAMSTIME.COM
134 • capítulo 4
O mercado mundial de prestação de serviços ficou cada vez mais atrativo
a grupos internacionais e nacionais, desencadeando desdobramentos, aqui-
sições e fusões de empresas para entrar nesse novo segmento de serviços.
Simultaneamente, empresas líderes em seus segmentos, buscam novas formas
de obter competitividade ao identificarem novas possibilidades de aumento da
eficiência em custos e serviços aos clientes por meio de uma visão sistêmica da
cadeia de suprimentos.
A figura 4.5 apresenta as quatro áreas operacionais da logística empresarial
atual. Destacam-se a logística de suprimentos, a responsabilidade das ações
necessárias para suprir a empresa dos insumos materiais; a logística de apoio
à manufatura, responsável por planejamento, armazenamentos e controle dos
fluxos internos. Há ainda a logística de distribuição, que se ocupa da entrega
dos pedidos recebidos, e a logística reversa, a mais nova área da logística, res-
ponsável pelo retorno dos produtos de pós-venda e de pós-consumo e de seu
endereçamento a diversos destinos (LEITE, 2009).
Mercado Mercado
Organização
fornecedor consumidor
Logística de
Logística de Logística de
apoio à
suprimentos distribuição
manufatura
Reintegração ao
Logística Pós-venda
ciclo de negócios
reversa Pós-consumo
ou produtivo
capítulo 4 • 135
empresarial (LEITE, 2009). Assim, a RL torna-se uma importante ferramenta
estratégica quando é utilizada sob a forma de agregação de valor econômico ou
de obediência a legislação ou de reforço de marca e imagem empresarial.
RL se refere a sequência de atividades requeridas para coletar os produtos
usados pelos consumidores com a finalidade de reutilizar, reparar, remanufa-
turar, reciclar ou descartá-los (AGRAWAL et al., 2015).
De acordo com o American Reverse Logistics Executive Council, logística
reversa é definida como:
136 • capítulo 4
Matéria-prima Manufatura Distribuição Varejo Consumidor
Aquisição de
produtos
Coleta
Inspeção e
Disposição
classificação
Processo
logístico direto
Processo
logístico reverso Descarte
Figura 4.6 – Processo logístico direto e reverso. Fonte: Agrawal et al. (2015).
Figura 4.7 – Ciclo de logística reversa. Fonte: Adaptada de Pignatti de Freitas e Jabbour (2013).
capítulo 4 • 137
4.2 Os Canais de Distribuição Reversos
(Cdrs)
Muitos fabricantes acham que o seu trabalho está encerrado quando o produto sai da
fábrica. No entanto, eles deveriam tomar cuidado com a maneira como o produto é le-
vado para outros países. Deveriam, enfim, ter uma visão de “canal total”, para entender
melhor a distribuição do produto até o usuário final (KOTLER e KELLER, 2006, p. 688).
138 • capítulo 4
consumidos, sua utilidade se esgota, os bens tornam-se obsoletos, danificam-
se ou estragam (COMETTI, 2009).
Sobre os canais reversos, Kotler e Keller (2006) informam que eles são im-
portantes nos seguintes casos: a) reutilização de produtos ou contêineres (como
tambores para produtos químicos); b) no recondicionamento de produtos (como
circuitos impressos ou computadores) para revenda; c) na reciclagem de produ-
tos (com papel); e d) no descarte de produtos e embalagens (como lixo reciclável).
Vários intermediários atuam nos canais reversos, incluindo os centros de remis-
são dos fabricantes, grupos comunitários, intermediários tradicionais como os
de latas e garrafas de refrigerantes, especialistas em coleta de lixo, centros de re-
ciclagem, agentes de reciclagem de lixo e usinas de processamento.
Um canal de distribuição transfere mercadorias dos fabricantes para os
consumidores, ele preenche as lacunas de tempo, local e posse que separam
as mercadorias e os serviços daqueles que deles precisam ou desejam. Porém,
as empresas também precisam estabelecer estratégias para gerenciar o fluxo
reverso de produtos que é proporcional ao fluxo direto. Para verificar como a
Hewlett-Packrd administra essa questão, leia o quadro 4.1.
capítulo 4 • 139
No dia do Planeta Terra, no centro de suporte da Starbucks em Seattle, e no dia seguin-
te no terminal rodoviário Grand Central, de Nova York, a HP recebeu computadores e
periféricos produzidos por qualquer fabricante e os reciclou sem custo. A HP também
incentivou consumidores individuais e empresas a contratá-la para reciclar PCs e mo-
nitores antigos por meio de seu programa Recicle-pelo-correio, que custa de 15 a 46
dólares dependendo do tamanho do equipamento.
140 • capítulo 4
Fluxos
R R
Mercado D Mercado
E E
secundário I secundário
V V
R
E E
E
R R
T
S S
O
O O
S
S S
Reciclagem
Mercado
primário
Desmanche
Retorno
Reúso
Disposição
Pós-venda Pós-consumo final
Na figura 4.8 é apresentado o fluxo dos produtos nos canais de distribuição di-
retos, desde as matérias-primas virgens, ou seja, primárias, até o mercado. O flu-
xo direto pode se processar por meio de diversas possibilidades conhecidas como
etapas de atacadistas ou distribuidores, chegando ao varejo e ao consumidor final.
Os canais de distribuição reversos de pós-consumo são constituídos pelo
fluxo reverso de uma parcela de produtos e de materiais constituintes origina-
dos no descarte dos produtos, após finalizada sua utilidade original, retornam
ao ciclo produtivo de alguma maneira. Esse canal se caracteriza por produtos
oriundos de descarte após o uso e que podem ser reaproveitados de alguma for-
ma e, em último caso, descartados (COMETTI, 2009).
Existem três subsistemas reversos: os canais reversos de reúso, de manu-
fatura e de reciclagem. A figura 4.8 apresenta a possibilidade de uma parcela
desses produtos de pós-consumo ser dirigida a sistemas de destinação final,
capítulo 4 • 141
seguros ou controlados, que não provocam poluição, ou seguros, que provocam
impactos maiores no meio ambiente (LEITE, 2009).
Os canais de distribuição reversos de pós-venda são constituídos pelas di-
ferentes formas e possibilidades de retorno de uma parcela de produtos, com
pouco ou nenhum uso, que fluem no sentido inverso, do consumidor ao varejis-
ta ou ao fabricante, do varejista ao fabricante, entre as empresas, motivados por
problemas relacionados à qualidade em geral ou a processos comerciais entre
empresas, retornando ao ciclo de negócios de alguma maneira.
Mesmo existindo muitas interdependências, a distinção é necessária, por que
os canais de distribuição reversos pelos quais fluem os produtos, assim como os
objetivos estratégicos e as técnicas operacionais utilizadas em cada área de atua-
ção, pós-venda e pós-consumo, geralmente não são as mesmas (COMETTI, 2009).
142 • capítulo 4
A Justiça vai leiloar o material decorrente do desmonte de 17 aviões que pertencem à
massa falida da Vasp. Serão abertos nesta sexta-feira os lances pela internet. O leilão
presencial está marcado para o dia 30, às 14h, na Casa de Portugal, em São Paulo.
A empresa aérea teve a falência decretada pela Justiça paulista em 2008, e confirma-
da pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) em junho deste ano.
São 16 Boeings e um Airbus A300, que juntos somam 448 toneladas de sucata. O
preço mínimo de cada lote foi fixado entre R$ 15 mil e R$ 60 mil. O valor varia con-
forme o peso e corresponde a R$ 1.000 por tonelada. Os recursos arrecadados serão
destinados ao pagamento de credores da empresa aérea.
Os 17 aviões a serem leiloados estão nos seguintes aeroportos: Cumbica-SP (4, sendo
um deles o Airbus), Salvador (3), Brasília (3), Recife (2), Manaus (2), Viracopos-SP (1),
Galeão-RJ (1) e Confins-MG (1). Todos foram vistoriados e classificados pela Agência
Nacional de Aviação Civil (Anac) como não aproveitáveis para aviação.
Outros bens pertencentes à massa falida da Vasp, como cadeiras, mesas, quadro e
armários, também irão a leilão. Os lances eletrônicos podem ser feitos até 26 de setem-
bro. O leilão faz parte do programa Espaço Livre - Aeroportos, do Conselho Nacional de
Justiça (CNJ) e será realizado pela 1ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais de
São Paulo, responsável pelo processo de falência da Vasp.
Quadro 4.2 – Leilão da massa falida da Vasp. Fonte: UOL Economia (2013).
capítulo 4 • 143
crescimento em todo o planeta. Conforme Leite (2009), o comércio eletrônico
entre a empresa e o consumidor final apresenta as mesmas características do
comércio de vendas por catálogo. Ambos pertencem ao setor de “canal direto
de vendas”, ou seja, um nível de devoluções por não conformidade com as ex-
pectativas do consumidor de 10% no Brasil, o que o caracteriza como um dos
mais importantes canais de distribuição reversos de bens de pós-venda.
As preocupações da logística de distribuição no e-commerce são diferentes,
pois o produto logístico tradicional apresenta embalagens unitilizadas e paleti-
zadas, os clientes são conhecidos e a demanda é previsível. Todavia, no caso do
e-commerce, os produtos a serem entregues são de pequeno porte, acomoda-
dos em embalagens individuais, normalmente os clientes são desconhecidos e
a demanda a ser satisfeita é solicitada pelo pedido.
Tabela 4.1 – Lógistica tradicional versus e-logistic. Fonte: Fleury e Monteiro (2003).
144 • capítulo 4
• Canal reverso de pós-consumo: embalagens descartáveis.
capítulo 4 • 145
e natureza original. Quanto ao desmanche, Leite (2009) destaca que é um proces-
so industrial no qual um produto durável de pós-consumo é desmontado em seus
componentes. As partes em condições de uso ou de remanufatura são separados
e destinados à remanufatura industrial e os materiais para os quais não existem
condições de revalorização são enviados para a reciclagem industrial.
A reciclagem, por sua vez, é o canal reverso de revalorização em que mate-
riais constituintes dos produtos descartados são extraídos industrialmente,
transformando-se em matérias-primas secundárias ou recicladas, que serão
reincorporadas à fabricação de novos produtos. Os metais são os melhores
exemplos, pois são extraídos de diferentes produtos descartados e constituem
matérias-primas secundárias a serem reintegradas ao ciclo produtivo, fechan-
do seu ciclo de reciclagem.
A disposição final é o último local de destino para o qual são enviados pro-
dutos, materiais e resíduos em geral sem condições de revalorização. Os resí-
duos são direcionados para um aterra sanitário, seguro do ponto de vista eco-
lógico, nele os resíduos sólidos são estocados entre camadas de terra para que
ocorra sua absorção natural, ou são incinerados, obtendo-se a revalorização
pela queima e extração e extração de sua energia residual.
Dessa forma, o fluxo reverso dos bens de pós-consumo nos canais de distri-
buição reversos de bens de pós-consumo refere-se a uma parcela do total existen-
te, sendo a outra parte destinada a disposições seguras ou não seguras. Conforme
Leite (2009) esses produtos ou materiais de pós-consumo, quando não retornam
ao ciclo produtivo de alguma forma, em quantidades adequadas, constituem-se
em acúmulos que excedem, em alguns casos, as diversas possibilidades e capaci-
dades de estocagem, transformando-se em problemas ambientais.
O valor econômico e a correspondente importância da cadeia produtiva re-
versa são funções de diversos fatores, por exemplo, o ferro que a economia rever-
sa representa 40% de sua cadeia produtiva direta, e o alumínio que a economia
reversa representa 30% da respectiva cadeia direta confirmam a importância da
economia de alguns casos de canais de distribuição reversos de pós-consumo.
Os impactos ambientais dos produtos e por processos industriais, contri-
buem para a mudança dos hábitos de consumo de alguns países, bem como a
percepção das empresas sobre a importância dos canais reversos sobre a ima-
gem corporativa. Os conceitos, técnicas e procedimentos visto até aqui são al-
ternativas para reduzir o impacto dos produtos no meio ambiente e justificam
146 • capítulo 4
o interesse crescente pelas oportunidades e riscos dos canais de distribuição
reversos do pós-consumo.
Como a preocupação da logística reversa é o estudo dos processos e cami-
nhos que os bens percorrem após o término de sua vida útil, a classificação dos
bens de utilidade que adotamos, refere-se a duração da sua vida útil.
Os bens e os seus materiais constituintes transformam-se em produtos deno-
minados “de pós-consumo” e podem ser enviados a destinos tradicionais, como in-
cineração ou aterros sanitários, que são considerados meios seguros de estocagem
e eliminação ou retornar ao ciclo produtivo, por meio dos canais de “desmanche”,
“reciclagem” ou “reuso” em uma extensão de sua vida útil segundo Leite (2009).
As alternativas de retorno ao ciclo produtivo constituem a principal preo-
cupação do estudo da logística reversa e dos canais de distribuição reversos
de pós-consumo. “A vida útil de um bem é entendida como o tempo decorrido
desde sua produção original até o momento em que o primeiro possuidor se
desembaraça dele” (LEITE, 2009, p. 38). Esse desembaraço pode se dar pela ex-
tensão de sua vida útil, com novos possuidores ou pela disponibilização por ou-
tras vias, como a coleta de lixo urbano, as coletas seletivas, as coletas informais,
entre outras, passando-o a condição de bem de pós-consumo.
Os produtos fabricados pelo homem apresentam durações de vida útil que
se estendem desde alguns dias até algumas décadas. Dessa maneira, para efei-
to da abordagem da logística reversa e dos canais de distribuição reversos de
pós-consumo dos materiais, consideram-se três categorias de bens produzi-
dos: os bens descartáveis, os bens semiduráveis e os bens duráveis. Em casos
intermediários, podem haver dificuldades de classificação, sendo assim, Leite
(2009) estabelece as seguintes características gerais:
capítulo 4 • 147
• Bens semiduráveis: são os bens que apresentam duração média de vida
útil de alguns meses, raramente superior a dois anos. Trata-se de uma categoria
intermediária que, sob o foco dos canais de distribuição reversos dos materiais,
apresenta características de bens duráveis, ou de descartáveis. São bens como
baterias de veículos, óleos lubrificantes, baterias de celulares, computadores e
seus periféricos, revistas especializadas, dentre outros.
148 • capítulo 4
• Lançamento de novos produtos: a velocidade de lançamento de produtos
é uma das características da competitividade das empresas, utilizando uma série
de procedimentos de projetos simultâneos que permitem ganhos extraordiná-
rios na época de lançamento de novos produtos. Essa “corrida” de lançamentos
é imposta pela redução dos ciclos de vida mercadológicos dos produtos, devido a
fatores como moda, status de um novo modelo, novas tecnologias etc.
• Lixo urbano: se trata de um fenômeno ocorrido em todas as grandes me-
trópoles mundiais, resultado de urbanização constante das últimas décadas e
as mudanças de hábitos de consumo. De acordo com a Associação Brasileira de
Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (2010), a geração diária de
Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) em 2009, de cerca de 180 mil toneladas, é 6,6%
superior a geração observada em 2008.
• Produção de eletrônicos: em 2008 a quantidade de computadores em uso
no mundo superou a marca de 1 bilhão de unidades. O crescimento de vendas
aumentou em todas as partes do mundo em função do crescimento da globali-
zação e da velocidade de lançamentos de produtos mais baratos e com constan-
tes modificações tecnológicas.
• Produção de materiais plásticos: é notável a visibilidade da poluição de
excessos provocada pelos materiais plásticos, em particular as garrafas, que so-
brenadam em córregos e rios e são depositadas impropriamente em diversos
locais nas grandes metrópoles, gerando uma imagem corporativa negativa à
cadeia produtiva direta desses produtos.
Sobre o tema, veja o curta “Plastic Bag” , disponível no tópico Leitura recomen-
dada, que conta os dilemas existências de um saco plástico de supermercado que vai
permanecer por séculos no meio ambiente. O filme é comovente e a última frase dita
pelo plástico é: “Queria que me fizessem de forma que eu pudesse morrer”.
Conforme os exemplos citados, a descartabilidade é crescente, e tanto a lo-
gística reversa de pós-consumo como a de pós-venda serão decisivas no equa-
cionamento dessas enormes quantidades de bens descartados. A figura 4.9 re-
sume algumas da ideia apresentadas até agora sobre o tema.
capítulo 4 • 149
Tecnologia Marketing Logística
· Introdução dos plásticos · Lançamento de novos produtos · Embalagens descartáveis
· Miniaturização eletrônica · Obsolescência planejada · Velocidade de resposta
· Informática · Moda · Custo
150 • capítulo 4
Fabricante de matérias-primas novas
Bens de consumo
Descartáveis/semiduráveis Duráveis/semiduráveis
Sobras Componentes
Intermadiários
(sucateiros)
Incineração
Remanufatura
Indústria de reciclagem
capítulo 4 • 151
4.2.5 Fluxos logísticos direto e reverso dos bens
Retorno ao
ciclo produtivo
Canais diretos
Canais diretos
Produtos de pós-consumo
FR = FD → Equilíbrio → F(R) = F(D)
Figura 4.11 – Relação entre fluxo direto e reverso. Fonte: Leite (2000).
152 • capítulo 4
4.2.6 Ciclos reversos abertos e fechados de reciclagem
Uma parcela dos bens de pós-consumo poderá ser reintegrada ao ciclo produ-
tivo, fluindo pelos canais reversos de reciclagem, ocorrendo a revalorização de
seus materiais constituintes, podendo ser reintegrados ao ciclo produtivo na
fabricação de um produto similar ao que lhe deu origem ou a um produto dis-
tinto (LEITE, 2009).
Dessa forma, foram estabelecidas duas categorias de ciclos reversos de re-
torno ao ciclo produtivo: canais de distribuição reversos de ciclo aberto e de
ciclo fechado.
Os canais de distribuição reversos (CDRs) abertos são constituídos pelas
diversas etapas de retorno dos materiais dos produtos de pós-consumo, como
metais, plásticos, vidros, papéis etc., nos quais esses materiais são extraídos de
produtos de pós-consumo, com o objetivo de reintegrá-los ao ciclo produtivo e
substituir matérias-primas novas.
Caracteriza essa classe o retorno ao ciclo produtivo de todo o ferro e aço pro-
venientes de sua extração de bens como automóveis. Portanto, os canais aber-
tos, não distinguem os produtos de origem do pós-consumo, mas têm seu foco
na matéria-prima que os constitui. Outra característica dos canais reversos é a
especialização por natureza do material constituinte.
A figura 4.12 apresenta exemplos de dois materiais, destacando alguns bens
de origem e alguns produtos realizados com sua reintegração.
Automóveis
Chapas
Navios
Vergalhões
Pontes Extração do
Barras
Máquinas material ferroso
Lingotes
Eletrodomésticos
etc.
etc.
capítulo 4 • 153
O Projeto do Produto para Reciclagem (Design for Recycling) formata os pro-
dutos de modo que facilite a desmontagem, utilize um número reduzido de mate-
riais, de ligas e misturas de materiais de naturezas diferentes no mesmo produto. A
quantidade de plásticos nos componentes de automóveis, por exemplo, apresenta
problemas nas linhas de desmontagem reversas, como observou-se na Figura 8.
Por outro lado, os canais de distribuição reversos de ciclo fechado são cons-
tituídos por etapas de retorno de produtos de pós-consumo, nas quais os mate-
riais constituintes de determinado produto descartado, ao fim de sua vida útil,
são extraídos para a fabricação de um produto similar ao de origem.
Conforme Leite (2009) nesses casos, por interesses tecnológicos, econômicos,
logísticos ou de outra ordem, todas as fases da cadeia produtiva reversa são espe-
cializadas para revalorização do material constituinte de determinado produto.
As baterias de veículos são um exemplo dessa categoria de canal reverso em que
os materiais principais são liga de chumbo e a carcaça de plástico polipropileno.
Uma das características dos canais reversos fechados é apresentar alta efici-
ência no fluxo reverso em razão da importância econômica do uso de seu mate-
rial constituinte, conforme os exemplos da tabela 4.2.
Tabela 4.2 – Exemplos de canais reversos de ciclo fechado. Fonte: Leite (2009).
154 • capítulo 4
Fabricante de matérias-primas
Resíduos
industriais Mercado primário
Bens de pós-consumo
Figura 4.13 – Canais reversos dos bens duráveis. Fonte: Leite (2009).
capítulo 4 • 155
revalorização. A aquisição é realizada por comerciantes estabelecidos, em-
presários de remanufatura especializados por tipo de bem, como automóveis,
computadores, etc. (MAGALHÃES, 2011).
No caso do canal reverso de remanufatura, empresas industriais, comerciais
e de serviços que trabalham com o processo de retorno dos produtos ou compo-
nentes duráveis de pós-consumo, carcaças, recapturam o valor. Nessas empresas,
após serem classificados, segredados, transportados, os produtos são limpos,
desmanchados e submetidos a testes nos seus componentes para seu eventual
reaproveitamento, sendo um novo produto montado e distribuído para venda.
O quadro 4.3 apresenta o exemplo da Xerox onde a logística reversa e os cui-
dados na montagem da rede reversa, em nível internacional, fazem parte da
estratégia empresarial, com bons resultados.
Quadro 4.3 – Canal reverso de reúso e remanufatura de copiadoras da Xerox. Fonte: CLM (1993).
156 • capítulo 4
4.2.8 Canais de distribuição reversos de pós-consumo de bens
descartáveis
Consumidor final
(empresa/pessoa física)
Bens de pós-consumo
Semiduráveis descartáveis
Aterros
Seleção
Catadores
Seleção
Intermediários sucateiros
Incineração
Indústria de reciclagem
Figura 4.14 – Canais de distribuição dos bens descartáveis. Fonte: Leite (2009).
capítulo 4 • 157
O processo de recuperação inicia-se com a coleta, no qual os tipos dos pro-
dutos são localizados, selecionados, coletados e transportados (SOUZA et al.,
2012). Após a coleta, observa-se que uma parcela dos materiais são comercializa-
dos com intermediários sucateiros cuja principal função é consolidar e realizar a
prensagem, afim de melhorar a densidade para facilitar o transporte.
Os materiais podem ser comercializados com fabricantes de matérias-primas
originais, como no caso do ferro e do aço, que são comercializados diretamente
com as siderúrgicas. Os produtos reciclados geram materiais secundários que
são comercializados com as indústrias de fabricação de bens diversos ou com as
indústrias de fabricação de matérias-primas, em substituição em parte, as maté-
rias primas novas.
O desenvolvimento da sociedade tende a aumentar as necessidades de coleta
de lixo. Em décadas anteriores, observou-se o aumento de resíduos pela substi-
tuição de embalagens retornáveis por descartáveis, pelo aumento de conteúdos
de materiais plásticos nos produtos. Quando não existe outro sistema de capta-
ção de descartados, o lixo urbano é o destino natural de tudo o que se torna inser-
vível no domicílio, materiais orgânicos e inorgânicos, de diferentes tamanhos,
misturados e colocados à disposição dos órgãos públicos que se apropriam dele,
em geral por legislação.
Após a coleta de lixo urbano domiciliar, não havendo escoamento reverso for-
mal e estruturado, via coleta seletiva, as quantidades descartadas dos domicí-
lios, são dispostas e se acumulam em aterros urbanos e em outros locais menos
adequados, conhecidos como lixões (MAGALHÃES, 2011), figura 4.15.
©© MARPALUSZ | DREAMSTIME.COM
158 • capítulo 4
O aterro sanitário é um sistema de disposição de lixo projetado para esse
fim, no qual são utilizadas técnicas de engenharia sanitária de recobrimento
do material em camadas, sistemas de escoamento de líquidos e emanação de
gases produzidos pelos materiais orgânicos, impermeabilização do solo, entre
outras, visando evitar a contaminação de lençóis freáticos e a degradação am-
biental nas regiões vizinhas (LEITE, 2009).
Figura 4.16 – Aterro sanitário do município de São Carlos - SP. Fonte: Cedido exclusivamente
pelo autor Marcelo Elias Santos para este livro.
capítulo 4 • 159
Figura 4.17 – Captação de chorume no aterro sanitário do município de São Carlos - SP.
Fonte: Cedido exclusivamente pelo autor Marcelo Elias Santos para este livro.
LEITURA
PLASTIC BAG. Produção de Adam Spielberg. United States: Adam Spielberg, 2009. (18
min.). Disponível em: <https://vimeo.com/48549103>. Acesso em: 02 maio 2015.
SUPER INTERESSANTE. Descubra a origem do código de barras. 2012. Disponível em:
<http://super.abril.com.br/cultura/descubra-origem-codigo-barras-703988.shtml>. Acesso
em: 17 maio 2015.
160 • capítulo 4
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AGRAWAL, S.; SINGH, R. K.; MURTAZA, Q. A literature review and perspectives in reverse
logistics. Resources, Conservation and Recycling, v. 97, p. 76-92, 2015.
KOTLER, P.; KELLER, K. L. Administração de marketing. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2006.
ASSOCIAÇÃO BRASIELIRA DE EMPRESAS DE LIMPEZA PÚBLICA E SERVIÇOS ESPECIAIS.
Caderno Especial: Panorama mundial dos resíduos sólidos. In: _______. Panorama dos resíduos sólidos
no Brasil, 2007. São Paulo: ABRELPE, 2007.
CLM - Council of Logistics Management. Reuse and recycling reverse logistics opportunities.
Illinois: Council of Logistics Management, 1993.
CLRB – Conselho de Logística Reversa do Brasil. História do CLRB - Conselho de Logística Reversa do
Brasil. Disponível em: <http://www.clrb.com.br/site/clrb.asp?area=historia>. Acesso em: 05 jun. 2015.
COMETTI, J. L. S. Logística reversa das embalagens de agrotóxicos no Brasil: um caminho
sustentável?. 2009. 152 f., il. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Sustentável) - Universidade de
Brasília, 2009.
FLEURY, P. F., MONTEIRO, F. J. R. O desafio logístico do e-commerce. 2003. Disponível
em: <http://lvf2j.wordpress.com/2010/05/18/o-desafio-logistico-do-e-commerce/>. Acesso em: 17
maio 2015.
LACERDA, L. Logística reversa: Uma visão sobre os conceitos básicos e as práticas operacionais.
Artigos Sargas - Competência em Logística, 2009. Disponível em: <http://www.sargas.com.br/site/
index.php?option=com_content&task = view&id=34&Ite.>. Acesso em: 17 maio 2015.
LEITE, Paulo R. Canais de distribuição reversos: a primeira etapa dos canais reversos. Revista
Tecnologística. São Paulo, 1998.
LEITE, Paulo R. Canais de distribuição reversos: fatores de influência. São Paulo: III SIMPOI,
2000.
LEITE, Paulo R. Logística Reversa: meio ambiente e competitividade. São Paulo: Prentice Hall,
2009.
MAGALHÃES, Ana Paula de Souza. Logística reversa de eletrodomésticos da linha branca:
processo de escolha pelo Método de Análise Hierárquica (AHP). 2011. Dissertação (Mestrado
em Planejamento e Operação de Sistemas de Transportes) - Escola de Engenharia de São Carlos,
Universidade de São Paulo, São Carlos, 2011. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/
disponiveis/18/18144/tde-17062011-171728/>. Acesso em: 2015-06-05.
NOVAES, A. G. Logística e gerenciamento da cadeia de distribuição: estratégia, operação e
avaliação. Rio de Janeiro: Campus, 2001.
capítulo 4 • 161
PIGNATTI DE FREITAS, T.; JABBOUR, C. J. C. Logística Reversa. In: TONETO JUNIOR, R.; SAIANI, C.
C. S.; DOURADO, J. Resíduos sólidos no Brasil: Oportunidades e desafios da Lei Federal nº 12.305.
Barueri: Manole, 2013.
ROGERS, D. S.; TIBBEN-LEMBKE, R. S. Going backwards: Reverse logistics trends and practices.
Reno: Center for Logistics Management, University of Nevada, Reverse Logistics Executive Council,
1998.
SOUZA, M. T. S. de.; PAULA, M. B. de.; SOUZA-PINTO, H. de. O papel das cooperativas de
reciclagem nos canais reversos pós-consumo. RAE-Revista de Administração de Empresas, v. 52,
n. 2, março-abril, 2012.
UOL ECONOMIA. Sucata de 17 aviões da Vasp vai a leilão, a partir de R$ 1.000 por tonelada.
Disponível em: <http://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2013/09/20/sucata-de-17-avioes-da-
vasp-vai-a-leilao-a-partir-de-r-1000-por-tonelada.htm>. Acesso em: 17 maio 2015.
WU, H.; DUNN, S. C. Environmentally responsible logistics. International Journal of Physical
Distribution & Logistic Management, n. 259, v. 2, p. 20-37, 1995.
162 • capítulo 4
5
Logística Reversa
dos Bens de
Pós-Venda e
Desafios Brasileiros
Algum dia você já deve ter questionado o que acontece com as revistas antigas
expostas em bancas de jornal, quiosques e lojas de departamentos assim que
chegam as novas edições. Na prática, quando expira o prazo de exposição e de
venda do produto na banca, inicia-se a distribuição reversa das publicações.
É isso que estudaremos nesse capítulo, o retorno dos produtos com pouco ou
nenhum uso que são devolvidos entre os elos da cadeia de distribuição direta
e pelo consumidor final.
A qualidade dos serviços logísticos ofertados é o principal responsável para
uma relação duradoura e a fidelização de clientes. Compõem a qualidade do
serviço características como, rapidez, confiabilidade nas entregas, frequência,
disponibilidade de estoques e mais recentemente a prestação de serviços em
assistência técnica que agregam valor ao cliente. A figura 5.1 apresenta essas
características ao relacionar pós-consumo e pós-venda.
Bens de
pós-consumo
· Imagem corporativa
· Competitividade
164 • capítulo 5
consumidores como um atributo do produto, tanto quanto a qualidade, o pre-
ço, o design e seu rendimento. Sua organização, portanto, é de grande impor-
tância principalmente para empresas de bens duráveis em geral.
Dessa forma, a logística reversa de pós-venda é entendida como a área espe-
cífica de atuação da logística reversa que se ocupa do planejamento, da opera-
ção e do controle do fluxo físico e das informações logísticas correspondentes
de bens de pós-venda (LEITE, 2009). O objetivo estratégico é agregar valor a um
produto devolvido por razões comerciais, erros no processamento dos pedidos,
garantia dada pelo fabricante, defeitos, avarias, entre outros.
Leia o quadro 5.1 e conheça a ferramenta que os Correios disponibilizam
para as empresas operacionalizarem a logística reversa de bens de pós-venda
no comércio eletrônico.
capítulo 5 • 165
Por telefone, o gerente da loja faz o atendimento, lembrando que a loja possui contrato
com os Correios:
O Senhor não se preocupe. Estou encaminhando nesse momento, por e-mail, um e-
ticket com o Código de Autorização de Postagem, daí basta se dirigir a uma agencia
própria dos Correios para despachar o celular com defeito e depois nós estaremos
encaminhando outro para o Senhor.
O gerente faz isto através do sistema de Logística Reversa no site dos Correios. Este
sistema emite o e-ticket. e informa sobre a coleta do objeto pela agência. Esta informa-
ção é muito importante, pois o Gerente não precisa aguardar o retorno do produto para
encaminhar o outro. Assim não perde tempo e atende o cliente de forma rápida e a loja
ganha alguns posts positivos no Twitter.
Quadro 5.1 – Ferramenta de logística reversa dos correios. Fonte: Correios (2015).
OBJETIVOS
Ao final deste capítulo esperamos que você:
166 • capítulo 5
5.1 O produto logístico de pós-venda
capítulo 5 • 167
5.2 Canais de distribuição reversos de bens
de pós-venda
168 • capítulo 5
jista para o fabricante ou para o distribuidor-atacadista, ou da empresa cliente
para a empresa fornecedora, nos casos de canais empresariais.
Nesse contexto, a logística reversa de pós-venda deve equacionar as diver-
sas possibilidades de coleta desses produtos em diferentes elos da cadeia de
distribuição direta, estabelecer as condições de consolidação e selecionar os
produtos e os destinos dados em cada caso. Na figura 5.2, são apresentadas as
fases da distribuição direta e as correspondentes fases reversas após a disponi-
bilização dos produtos como pós-venda.
Mercado Mercado
Reciclagem
secundário secundário de Fornecedor
industrial
de produtos componentes
Fabricante
Desmanche Seleção de destino Remanufatura
Fluxo
Reparos ou Distribuidor
de
consertos retorno
Consolidação
Coletas
Consumidor
Produtos de pós-venda
capítulo 5 • 169
O quadro 5.2, apresenta alguns exemplos de retorno existentes.
170 • capítulo 5
Bens de pós-venda
Retorno ao Desmanche
Disposição Remanufatura
ciclo de
final de produtos
negócios Reciclagem
A figura 5.3 resume as diversas categorias de retorno dos bens de pós-venda utili-
zadas na logística reversa. São destacados também parte dos canais reversos de pro-
dutos de pós-consumo, como destaque para a interdependência entre os fluxos.
Destacam-se, na classificação dos retornos comerciais, duas grandes subdi-
visões, quadro 5.3: retornos contratuais e retornos não-contratuais, que envol-
vem movimentos logísticos reversos de mercadorias devolvidas devido a erros
de expedição, excesso de estoque no canal de distribuição, em consignação,
liquidação de estação, pontas de estoque, etc., que segundo Leite (2009) são
retornadas ao ciclo de negócios por meio de redistribuição.
RETORNOS NÃO-CONTRATUAIS
capítulo 5 • 171
RETORNOS NÃO-CONTRATUAIS
172 • capítulo 5
RETORNOS COMERCIAIS CONTRATUAIS
capítulo 5 • 173
RETORNOS COMERCIAIS CONTRATUAIS
Quadro 5.3 – Categorias de retornos comerciais no varejo e na internet. Fonte: Leite (2009).
174 • capítulo 5
• Desmanche
O destino de desmanche ocorre quando o bem retornado apresenta-se sem
condições de funcionamento para a utilidade de projeto e existe valor de uso
em seus componentes.
• Remanufatura
O processo de remanufatura ocorre quando os componentes do desmanche
de bens retornados apresentam defeitos e devem ser refeitos para encaminha-
mento ao mercado secundário.
• Reciclagem industrial
Da mesma maneira que os produtos de pós-consumo, tanto os subconjun-
tos quanto as partes da estrutura dos bens são comercializados com empresas
especializadas na reciclagem dos materiais constituintes desses produtos.
• Disposição final
Não havendo outra solução para agregar valor de qualquer natureza ao produto
retornado ou a suas partes ou materiais, eles são destinados a aterros sanitários ou
ao processo de incineração, dependendo das peculiaridades de cada país ou região.
Para encerrar os estudos deste tópico, leia o quadro 5.4 “Distribuição de re-
vistas em bancas”. O estudo de caso reforça a ideia de que o produto logístico
de pós-venda constitui-se em bens com pouco ou nenhum uso que retornam ao
ciclo de negócios, devido ao fato de serem devolvidos para ajustar condições lo-
gísticas de canais de distribuição entre os elos da cadeia de distribuição direta.
O setor editorial de revistas é apontado pela literatura como um dos mais expressivos
em termos de retorno de produtos, devido à alta perecibilidade das revistas em geral. O
caso estudado restringiu-se à distribuição reversa de revistas em bancas de jornal de
rua e em quiosques de lojas de departamento.
O processo logístico de distribuição de publicações no território nacional inicia-se com
o recebimento da publicações das editoras clientes. As publicações são separadas e
organizadas em lotes, em quantidades previamente definidas pela área de logística em
função das vendas nas regiões atendidas. O modal de transporte predominante é o
rodoviário e em alguns casos são utilizados o aéreo e o fluvial. Grande número de cen-
tros de distribuição regional (CDRs) no país se encarregam de distribuir as publicações
para os pontos de venda no varejo, as bancas e revistarias. O sistema de venda é de
consignação em cascata ao longo da cadeia direta, ou seja, da empresa distribuidora
para os centros de distribuição e destes para as bancas e revistarias em cada região.
capítulo 5 • 175
A distribuição reversa das publicações, Figura 4, inicia-se ao expirar o prazo de exposição
e venda do produto nas bancas. É emitido pela área de distribuição um documento deno-
minado “chamada de encalhe” que avisa ao varejista sobre o término do prazo para a ven-
da da publicação. O varejista devolve ao CDR toda a publicação não vendida e é realizado
o acerto financeiro das publicações vendidas e respectivas comissões. O CDR, por sua
vez, encarrega-se de devolver à empresa toda a publicação recebida de seus varejistas e
de fazer o acerto financeiro das publicações vendidas. As revistas não vendidas passam a
ser chamadas de “encalhe”. O retorno físico do encalhe após as consolidações nos CDRs
é encaminhado à empresa; ele é conferido e é feita a consolidação final de retorno em
lotes padrão, o que facilita o controle e manuseio posterior das publicações devolvidas.
Na fase de seleção de destino, as publicações podem ser devolvidas à editora cliente, ser
destinadas à armazenagem na própria empresa, com possível utilização em mercados
secundários, ou à reciclagem, transformando-se em aparas de papel.
©© TAN WEI MING | DREAMSTIME.COM
Cerca de 50 a 60% das publicações retornam sob a forma de encalhe, o que justifica a
preocupação com a estruturação do canal reverso como forma de recuperar parte do valor
investido na realização das publicações e garantir o controle do faturamento da empresa.
A revalorização econômica também pode acontecer por meio da venda de publicações
encalhadas em mercados secundários, ou seja, países que falam a língua portuguesa.
[...]. Os produtos retornados podem servir para atividades de marketing, sendo utiliza-
dos como “degustação”, considerada reúso pela literatura consultada e que consiste
em oferecer ao cliente um exemplar de determinada revista para sua experimentação.
A empresa aloca de forma dedicada recursos de mão-de-obra ao tratamento de enca-
lhe, além dos custos de movimentação interna com o uso de empilhadeiras, armazena-
mento e transporte.
176 • capítulo 5
O tratamento do encalhe pode servir como fonte para projetos que visem a educação
e o bem-estar social. O encalhe também pode atender solicitações dos clientes por
edições passadas. Essa atividade objetiva estreitar as relações entre a empresa e o
cliente, buscando sua fidelidade.
capítulo 5 • 177
Revenda no mercado primário: compreende os bens retornados pelo rema-
nejamento de estoques, por motivos comerciais, entre áreas ou regiões diferen-
tes, de forma geral conservam as características de novos sem alterarem as em-
balagens alcançando assim os mesmos níveis de preço dos originais.
Venda no mercado secundário: são os produtos que retornam ao longo da
cadeia de distribuição direta e não podem voltar ao mercado original. Dentre
os principais motivos destacam-se mercadorias em fim de estação ou aquelas
que passaram por reformas ou remanufatura e retornaram ao mercado de re-
posição de peças.
Provavelmente você já tenha observado produtos refurbished em alguns
anúncios na internet. Quando falamos de computadores, a palavra refurbished
refere-se àqueles que foram devolvidos ao fabricante para a correção de algum
problema ou pequeno defeito e que, depois de consertados, foram novamente
comercializados. Para entender compreender melhor o tema e tirar as dúvidas
leia a matéria ”Quando vale à pena comprar um produto refurbished?”, dispo-
nível no tópico Leitura Recomendada.
Ganhos econômicos por meio de desmanche: o objetivo é a revalorização
dos produtos por meio do reuso, por meio do desmanche dos bens, aproveitan-
do o valor residual dos componentes, por meio da remanufatura do bem, por
meio da reciclagem e finalmente com a disposição final.
178 • capítulo 5
5.5.3 Objetivo legal
capítulo 5 • 179
CONCEITO
A palavra recall, de origem inglesa, é utilizada no Brasil para indicar o procedimento, previsto
em lei, e a ser adotado pelos fornecedores, de chamar de volta os consumidores em razão
de defeitos verificados em produtos ou serviços colocados no mercado, evitando, assim, a
ocorrência de acidentes de consumo (PROCON-SP, 2015).
• Política
O papel das autoridades públicas na abordagem IPP deve ser, na maior parte dos casos,
mais de facilitação do que de intervenção direta. A ideia geral é que a política deve cen-
trar-se em definir os principais objetivos e proporcionar aos diversos intervenientes meios
e incentivos para alcançarem esses objetivos. Nesse contexto, a IPP poderá também ser
útil na procura de soluções com orientação empresarial para problemas ambientais, em
contato e colaboração com os intervenientes, e na preparação de legislação.
• Integrada
O termo “integrada” representa a integralidade do ciclo de vida dos produtos, abrangen-
do todas as fases, desde a de extração de matérias-primas até às de produção, distri-
buição, utilização, reciclagem/valorização e destino final, e bem assim de uma ampla
abordagem que integra vários instrumentos visando o objetivo de “ecologização” dos
produtos, com base na cooperação com os intervenientes.
180 • capítulo 5
• Relativa aos produtos
Em princípio, todos os produtos e serviços são incluídos no âmbito desta política, cujo
objetivo é conseguir uma melhoria global nos impactos ambientais dos produtos. Na
prática, as ações poderão incidir em todos ou somente alguns produtos, selecionados
com base na discussão com os intervenientes por força da sua importância e do seu
potencial de melhoria.
capítulo 5 • 181
• A concepção ecológica dos produtos:
Para desenvolver a concepção ecológica dos produtos é necessário incitar as
empresas a produzir e publicar informações sobre o impacto ambiental dos pro-
dutos ao longo de todo o seu ciclo de vida. Os Inventários do Ciclo de Vida (ICV)
e as Análises do Ciclo de Vida (ACV) constituem bons instrumentos. A definição
de orientações em matéria de concepção ecológica, bem como de uma estratégia
global de integração do ambiente no processo de concepção, poderiam ser utiliza-
das como instrumentos de promoção do conceito de ciclo de vida nas empresas
(KANCELKIS et al., 2010).
É muito importante que o ambiente seja tomado em consideração no pro-
cesso de normalização. A utilização da nova abordagem destinada à promoção
da concepção ecológica constitui igualmente uma possível área de atuação.
Entende-se que a estratégia da política integrada relativa aos produtos baseia-
se nas três etapas do processo de decisão que condicionam o impacto ambiental do
ciclo de vida dos produtos, ou seja, na aplicação do principio do poluidor-pagador,
na escolha informada dos consumidores e na concepção ecológica dos produtos.
A estratégia proposta necessita da participação de todas as partes interes-
sadas, a todos os níveis de ação possíveis e ao longo de todo o ciclo de vida dos
produtos. A concepção ecológica deve acontecer junto às empresas para que os
produtos oferecidos respeitem mais o meio ambiente e tenham suas vantagens
informadas ao consumidor. Por sua vez, os consumidores devem optar por pro-
dutos com essas características e utilizá-los de forma a prolongar o seu período
de vida e a reduzir o impacto ambiental.
182 • capítulo 5
• Linha Verde: computadores desktop e laptops, acessórios de informática,
tablets e telefones celulares.
Ao fim de sua vida útil, esses produtos passam a ser considerados resíduos
de equipamentos eletroeletrônicos (REEE). Os produtos chegam a esse ponto
ao serem esgotadas todas as possibilidades de reparo, atualização ou reuso
(ABDI, 2012). Alguns deles, como os equipamentos de telecomunicações, têm
um ciclo de obsolescência mais curto e devido à introdução de novas tecnolo-
gias são descartados mais rapidamente.
Na perspectiva da IPP, a União Européia (UE) estabeleceu medidas para pre-
venir a formação de resíduos elétricos e eletrônicos e fomentar sua reutilização
com a reciclagem e outras formas de valorização. O objetivo é reduzir a quanti-
dade de resíduos e melhorar os resultados ambientais dos agentes envolvidos
em sua gestão. Além disso, para contribuir com a valorização e a eliminação de
resíduos de aparelhos elétricos e eletrônicos, assim como a proteção a saúde
humana, a UE também estabeleceu medidas sobre a limitação do uso de subs-
tâncias perigosas nos aparelhos (UNIÃO EUROPÉIA, 2003).
A norma 2002/96/CE do Parlamento Europeu se aplica as categorias de
REEE seguintes:
capítulo 5 • 183
Além disso, algumas características próprias dos REEE justificam a exigên-
cia de processos específicos de gerenciamento. A figura 5.5 evidencia a dificul-
dade para separar e reaproveitar todos os componentes do material descartado.
©© SELENSERGEN | DREAMSTIME.COM
184 • capítulo 5
material tanto o consumidor como as pessoas envolvidas na coleta e a segunda
está relacionada com a contaminação do meio ambiente. A tabela 5.1 apresen-
ta alguns metais pesados presentes nos REEE e que inspiram cuidados com a
saúde das pessoas envolvidas no processo.
Tabela 5.1 – Alguns metais pesados presentes nos REEE. Fonte: ABDI (2012).
capítulo 5 • 185
Na prática, os consumidores de aparelhos elétricos e eletrônicos deveriam
receber informações necessárias sobre a obrigação de não misturar esse tipo
de resíduo com os resíduos comuns, também deveriam cumprir as normas
da coleta seletiva, dos sistemas de coleta e devolução, entender sua contribui-
ção com a revalorização dos resíduos, entender o efeito dos resíduos no meio
ambiente e o significado do símbolo que foi colocado nos aparelhos (UNIÃO
EUROPÉIA, 2003).
A partir de 2005, os fabricantes da UE começaram a colocar nos produtos a
figura 5.6.
186 • capítulo 5
5.6.2 Gestão de veículos em fim de vida
capítulo 5 • 187
©© TAMAS PANCZEL - EROSS | DREAMSTIME.COM
188 • capítulo 5
O primeiro mapa global sobre resíduos eletrônicos “E-waste World Map”
idealizado pela iniciativa Step (parceria da ONU com empresas e governos de
todo mundo), revela que no mundo foram gerados em 2012 cerca de 49 milhões
de toneladas de resíduos eletrônicos, ou seja, 7 kg por habitante (LEITE, 2009;
STEP, 2015). Conforme o mapa, nesse ritmo, o planeta terá de suportar 65,4
milhões de toneladas de lixo eletrônico em 2017.
Conforme o Step (2015) os EUA foram quem mais geraram resíduos eletrô-
nicos em 2014, 9,4 milhões de toneladas o que representa 29,8 kg por habitan-
te, seis vezes mais do que a China a segunda colocada no rancking. Na América
Latina o Brasil é destacado, pois, nosso país produziu 1,2 milhão de toneladas
de resíduos eletrônicos, o equivalente a média global de 7 kg por habitante.
Para 2015, o volume estimado é de 1,4 milhão de toneladas (ABDI, 2013). A
quantidade dos resíduos gerados tende a crescer com a evolução da renda e do
consumo e da mudança de hábitos associada à urbanização. Todas as cidades
enfrentam o problema do que fazer com seus resíduos. A gestão desse serviço
é responsabilidade do município, que pode provê-lo de diferentes formas, seja
diretamente, seja por meio de terceiros (TONETO JUNIOR et al., 2013).
Esses serviços não devem apenas coletar e afastar os resíduos, pois, isso se-
ria retirar o problema da frente de seus cidadãos e despejá-los em outro lugar.
Para Toneto Junior et al., (2013) os resíduos devem ter uma destinação correta
para evitar os problemas ambientais e de saúde que podem surgir do manejo
inadequado dos mesmos.
A crescente geração de resíduos gera outras preocupações além da coleta e
correta destinação. A preocupação ambiental conduz a campanhas pela menor
geração de resíduos e seu reaproveitamento, que pode acontecer por diferentes
tecnologias: compostagem, recuperação e aproveitamento energético dos ga-
ses, entre outros.
O Brasil apresenta uma série de problemas associados aos resíduos sólidos
urbanos. Uma parcela significativa dos resíduos gerados é disposta de forma
inadequada em lixões ou aterros não controlados, gerando problemas sociais e
de saúde para famílias que vivem nesses ambientes.
Em resposta as crescentes preocupações ambientais relacionadas à preser-
vação dos recursos naturais e aos impactos ambientais e sociais gerados pelo
crescimento econômico e pela geração de resíduos, foi sancionada em 2 de
agosto de 2010, a Lei n. 12.305, que instituiu a Política Nacional de Resíduos
Sólidos (PNRS) que reúne o conjunto de princípios, objetivos, instrumentos,
capítulo 5 • 189
diretrizes, metas e ações adotadas pelo Governo Federal, isoladamente ou em
regime de cooperação com estados, Distrito Federal, municípios ou particula-
res, com vistas à gestão integrada e ao gerenciamento ambientalmente adequa-
do dos resíduos sólidos (ABDI, 2012).
A PNRS representa um marco para a sociedade brasileira no que toca à ques-
tão ambiental, com destaque para uma visão avançada na forma de tratar o lixo
urbano (ABDI, 2012). Ela prevê ações para solucionar o problema do manejo
dos resíduos sólidos urbanos destacando a educação ambiental, a não geração
de resíduos, a reutilização, a reciclagem, o reaproveitamento e a correta desti-
nação (TONETO JUNIOR et al., 2013).
A PNRS traz uma concepção de vanguarda, ao compartilhar, com todas as
partes relacionadas ao ciclo de vida de um produto, a responsabilidade pelo
gerenciamento ambientalmente adequado dos resíduos sólidos. Dessa forma,
o setor público, iniciativa privada e população ficam sujeitos à promoção do
retorno dos produtos às indústrias após o consumo e obriga o poder público a
realizar planos para o gerenciamento do lixo.
Dentre as diversas determinações da Lei, destacam-se as apresentadas no
quadro 5.6.
Fechamento de lixões:
Até 2014 não devem mais existir lixões a céu aberto no Brasil. No lugar deles, devem
ser criados aterros sanitários. Os aterros são impermeabilizados e seu solo é preparado
para evitar a contaminação de lençóis freáticos. Captam o chorume que resulta da de-
gradação do lixo e podem contar com a queima do metano para gerar energia.
Só rejeitos poderão ser encaminhados aos aterros sanitários:
Os rejeitos são o material restante depois de esgotadas todas as possibilidades de
reuso e reciclagem do resíduo sólido. Apenas 10% dos resíduos sólidos são rejeitos. A
maior parte do restante é de matéria orgânica, que pode ser reaproveitada em compos-
tagem e transformada em adubo; ou materiais recicláveis, que devem ser devidamente
separados através da coleta seletiva;
Elaboração de planos de resíduos sólidos nos municípios:
Os planos municipais serão elaborados para ajudar prefeitos e cidadãos a descartar
seu lixo da maneira correta.
190 • capítulo 5
Entende-se que a lei prevê uma série de ações para a superação de diver-
sos problemas existentes nos país que atingem as diversas partes interessadas,
Figura 8. Todavia os desafios para sua implantação são significativos: a realiza-
ção dos planos municipais, a inexistência de recursos humanos qualificados
para este fim, os levados investimentos para implantação de aterros sanitários,
centros de triagem, usinas de reciclagem, equipamentos de coleta, entre outros
(TONETO JUNIOR et al., 2013).
capítulo 5 • 191
tendência de crescimento. Para que isso aconteça é importante que cada parte
relacionada entenda sua participação com a nova PNRS conforme o tabela 5.2.
192 • capítulo 5
PARTE ANTES DEPOIS
RELACIONADA
capítulo 5 • 193
(2013), com esses números a recuperação de resíduos por meio da reciclagem
fica comprometida, representando um desafio para o cumprimento da Lei n.
12.305, pois a PNRS definiu a coleta seletiva e a reciclagem como prioridades.
Por fim, outro importante desafio para o cumprimento da Lei n. 12.305 re-
fere-se a destinação e à disposição finais dos resíduos sólidos e rejeitos, que de-
vem ser ambientalmente adequadas. Para isso uma alternativa é o aterro sanitá-
rio (SAIANI e TONETO JUNIOR, 2013). Para tanto, dois problemas relacionados
aos aterros precisam ser resolvidos, o primeiro é a existência de catadores de
materiais recicláveis nas áreas dos lixões e a necessidade de incluir socialmente
esses trabalhadores. Outra questão está relacionada ao aproveitamento energé-
tico do biogás gerado pela decomposição dos resíduos em aterros sanitários.
194 • capítulo 5
aos estabelecimentos comerciais, a resolução impôs a redução gradativa, dos
limites de mercúrio, cádmio e chumbo na composição das pilhas e baterias.
Quanto à destinação final, as baterias de sistema eletroquímico chumbo-á-
cido, níquel-cádmio e óxido de mercúrio, não podem ser incineradas nem dis-
postas em qualquer tipo de aterro sanitário. Para informar os consumidores
sobre a destinação final destes produtos, as embalagens devem conter as se-
guintes informações:
capítulo 5 • 195
e acumuladores elétricos, 8,4%. Todos os demais segmentos, tanto da indústria
eletrônica (-32,5%), como elétrica (-10,2%), apresentaram retração.
Relacionado ao consumo de baterias, a Abinee (2015) também destaca que
o crescimento das vendas de celulares teve origem nas vendas de smartphones,
que estão ocupando o espaço dos telefones tradicionais. No primeiro trimestre
de 2014, as vendas desses aparelhos representaram cerca de 70% do mercado.
196 • capítulo 5
está totalmente pronto para receber as lâmpadas usadas e destiná-las correta-
mente (CINTRA, 2013).
O Comitê Orientador para a Implantação da Logística Reversa (CORI) apro-
vou, recentemente duas propostas de acordos setoriais: de embalagens em ge-
ral e de lâmpadas. Os acordos prevêem responsabilidade compartilhada pelo
ciclo de vida dos produtos e propicia que esses materiais, depois de usados,
possam ser reaproveitados (MMA, 2014).
No caso de lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz
mista, as duas propostas inicialmente apresentadas foram unificadas e adequa-
das. No acordo setorial das embalagens em geral, a proposta da coalizão, que
conta com 20 entidades representativas de comerciantes e fabricantes, além da
participação dos catadores de material reciclável, foi aprovada. As outras duas
propostas seguem em negociação com o objetivo de, também, se transformar
em acordo de embalagens (MMA, 2014).
capítulo 5 • 197
Outras alternativas são a queima da borracha nos fornos das cimenteiras
como o uso de sistemas de filtração e retenção e a trituração dos pneus para ob-
tenção de borracha regenerada, mediante a adição de óleos aromáticos e pro-
dutos químicos. Segundo o Cempre (2015) no Brasil há tecnologia que produz
borracha regenerada por processo a frio, obtendo um produto reciclado com
elasticidade e resistência semelhante ao do material virgem.
No Estado de São Paulo a Secretaria Estadual do Meio Ambiente autorizou
a disposição de pneus usados em aterros sanitários, desde que devidamente
retalhados ou triturados e previamente misturados com resíduos domiciliares,
de forma a garantir a estabilidade dos aterros. A figura 5.12 demonstra pneus
inteiros nas valas de drenagem de um aterro sanitário (CETESB, 2015).
Figura 5.12 – Pneus inteiros em um aterro sanitário. Fonte: Cedido exclusivamente pelo
autor Marcelo Elias Santos para este livro. © Todos os Direitos Reservados
Conforme a Cetesb (2015) para efeito de disposição final, os pneus são classi-
ficados como resíduos inertes, não havendo impedimento à sua destinação em
aterros sanitários, desde que observadas as técnicas adequadas de manejo. A exi-
gência de retalhamento ou trituramento fixada na resolução estadual foi uma for-
ma encontrada para reduzir seu volume e a possibilidade dos pneus voltarem à su-
perfície, devido à dificuldade de compactação. As restrições à sua disposição a céu
aberto estão nos problemas de saúde e higiene e nos riscos de incêndio e poluição.
198 • capítulo 5
Os pneus abandonados em terrenos baldios ou armazenados à espera de
destinação final tendem a acumular água no seu interior e representam um
criadouro potencial do mosquito "Aedes aegypti", cujas larvas proliferam na
água parada. A preocupação ambiental com os pneus considerados inservíveis
já havia motivado a publicação da Resolução Conama n. 258, de 26 de agosto de
1999, determinando que os fabricantes e importadoras passassem a dar desti-
nação final ao produto.
capítulo 5 • 199
LEITURA
ABRELPE – Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais.
Panorama dos resíduos sólidos no Brasil, 2013. Disponível em: <http://www.abrelpe.org.br/
Panorama/panorama2013.pdf>. Acesso em: 02 maio 2015.
CETESB – Companhia Ambiental do Estado de São Paulo. Glossário. Disponível em: <http://
www.cetesb.sp.gov.br/userfiles/file/residuos-solidos/glossario-31032015.pdf>. Acesso
em: 02 maio 2015.
PROCON-AL. Cartilha do consumidor. Disponível em: <http://www.procon.al.gov.br/legisla-
cao/cartilhadoconsumidor.pdf>. Acesso em: 06 jun. 2015.
TECMUNDO. Quando vale a pena comprar um produto refurbished? 2011. Disponível em: <
http://www.tecmundo.com.br/8228-quando-vale-a-pena-comprar-um-produto-refurbished-.
htm>. Acesso em: 02 maio 2015.
TELEVISÃO ESPANHOLA; RTVE. Obsolescência Programada. Produção de Davina Breillet.
Espanha: Cosimar Dannoritzer, 2010. (52 min.). Disponível em: <https://youtu.be/pDPsWA-
NkS-g>. Acesso em: 02 maio 2015.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABDI – Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial. Logística reversa de equipamentos
eletrônicos: análise de viabilidade técnica e econômica. Brasília: ABDI, 2012.
ABINEE – Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica. Produção física do setor recua
21,8% no mês de abril. Disponível em: <http://www.abinee.org.br/noticias/com423.htm>. Acesso em:
02 maio 2015.
ABRELPE – Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais. Panorama
dos resíduos sólidos no Brasil, 2013. Disponível em: <http://www.abrelpe.org.br/Panorama/
panorama2013.pdf>. Acesso em: 02 maio 2015.
CEMPRE - Compromisso Empresarial para Reciclagem. Pneus: O mercado para reciclagem. 2013. Disponível
em: < http://cempre.org.br/artigo-publicacao/ficha-tecnica/id/7/pneus>. Acesso em: 02 maio 2015.
CEMPRE - Compromisso Empresarial para Reciclagem. Política Nacional de Resíduos Sólidos - Agora é
lei. 2013. Disponível em: <http://cempre.org.br/artigo-publicacao/artigos >. Acesso em: 02 maio 2015.
CETESB – Companhia Ambiental do Estado de São Paulo. Disposição de pneus em aterros.
Disponível em: < http://www.cetesb.sp.gov.br/residuos-solidos/residuos-urbanos/5-disposicao-de-
pneus-em-aterros>. Acesso em: 02 maio 2015.
200 • capítulo 5
CINTRA, L. Por que é importante descartar lâmpadas fluorescentes corretamente. 2013. Disponível em:
<http://super.abril.com.br/blogs/ideias-verdes/tag/logistica-reversa/>. Acesso em: 02 maio 2015.
CONAMA. Estabelece os limites máximos de chumbo, cádmio e mercúrio para pilhas e baterias
comercializadas no território nacional e os critérios e padrões para o seu gerenciamento
ambientalmente adequado, e dá outras providências. Resolução n. 401 de 4 de novembro de 2008.
Publicada no DOU n. 215, Seção 1, p. 108-109, 2008.
CORREIOS. Pós-venda e Logística reversa. Disponível em: <http://www.correios.com.br/para-sua-
empresa/comercio-eletronico/pos-venda-e-logistica-reversa>. Acesso em: 06 jun. 2015.
COMISSÃO DAS COMUNIDADES EUROPÉIAS. Livro Verde sobre la Política Integrada Relativa
aos Produtos. Bruxelas, 2001. Disponível em: <http://eur-lex.europa.eu/LexUriServ/site /pt/
com/2001/com2001_0068pt01.pdf>. Acesso em: 02 maio 2015.
UNIÃO EUROPÉIA. Directiva 2000/53/CE do parlamento europeu e do conselho de 18 de
Setembro de 2000 relativa aos veículos em fim de vida. Jornal Oficial da União Européia. 2000.
Disponível em: <http://eur-lex.europa.eu/resource.html?uri=cellar:02fa83cf-bf28-4afc-8f9f-
eb201bd61813.0009.02/DOC_1&format=PDF>. Acesso em: 06 jun. 2015.
UNIÃO EUROPÉIA. Directiva 2002/96/CE do parlamento europeu e do conselho
de 27 de Janeiro de 2003 relativa aos resíduos de equipamentos elétricos e eletrônicos (REEE). Jornal
Oficial da União Européia. 2003. Disponível em: <http://eur-lex.europa.eu/resource.html?uri=cellar:ac89e64f-
a4a5-4c13-8d96-1fd1d6bcaa49.0010.02/DOC_1&format=PDF>. Acesso em: 06 jun. 2015.
KANCELKIS, B. S.; SIMIÃO, J. SANTOS, M. E. OMETTO, A. R. Política integrada do produto: uma
análise da realidade brasileira. Proceedings of Safety, Health and Environment World Congress, v. 10,
p. 480-484, 2010.
LEITE, Paulo R. Logística Reversa: meio ambiente e competitividade. São Paulo: Prentice Hall, 2009.
MMA - Ministério do Meio Ambiente. Governo federal aprova duas propostas de acordos setoriais de
logística reversa. 2014. Disponível em: <http://www.ministeriodomeioambiente.gov.br/informma/
item/10225-governo-federal-aprova-duas-propostas-de-acordos-setoriais-de-log%C3%ADstica-
reversa>. Acesso em: 06 jun. 2015.
PROCON-SP. Recall. Disponível em: < http://www.procon.sp.gov.br/recall.asp>. Acesso em: 06 jun.
2015.
SAIANI, C. C. S., TONETO JUNIOR, R. Manejo dos resíduos sólidos no Brasil: desigualdades e
efeitos sobre a saúde. In: TONETO JUNIOR, R.; SAIANI, C. C. S.; DOURADO, J. Resíduos sólidos no
Brasil: Oportunidades e desafios da Lei Federal nº 12.305. Barueri: Manole, 2013.
STEP – Solving the e-waste problem. Step e-waste world map, 2015. Disponível em: <http://www.
step-initiative.org/step-e-waste-world-map.html>. Acesso em: 15 jun. 2015.
capítulo 5 • 201
SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. Ter assistência técnica
influencia na decisão do cliente. Disponível em: <http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/
artigos/Ter-assist%C3%AAncia-t%C3%A9cnica-influencia-na-decis%C3%A3o-do-cliente>. Acesso
em: 06 jun. 2015.
TONETO JUNIOR, R.; SAIANI, C. C. S.; DOURADO, J. Resíduos sólidos no Brasil: Oportunidades e
desafios da Lei Federal nº 12.305. Barueri: Manole, 2013.
TRIGUEIRO, P. H. R.; DIAS FILHO, L. F. SOUZA, T. R.; LEITE, Y. Y. P. Disposição de pilhas, consumo
sustentável e adequação do ciclo de vida. XII Silubesa. Anais. Figueira da Foz, Portugal, 2006.
202 • capítulo 5
ANOTAÇÕES
capítulo 5 • 203
ANOTAÇÕES
204 • capítulo 5
ANOTAÇÕES
capítulo 5 • 205
ANOTAÇÕES
206 • capítulo 5
ANOTAÇÕES
capítulo 5 • 207
ANOTAÇÕES
208 • capítulo 5