Comunicação Na Gestão Pública e Gestão de Redes Organizacionais

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Comunicação na Gestão Pública e Gestão de Redes Organizacionais 

Contexto da comunicação no ambiente público 


  

Uma sociedade verdadeiramente democrática deve incluir, necessariamente, o acesso dos 


cidadãos à informação e à participação popular (princípios inerentes à democracia), 
garantindo aos indivíduos, grupos e associações, o direito não apenas à representação 
política, mas também à informação e à defesa de seus interesses, possibilitando-lhes, 
ainda, a atuação e a efetiva interferência na gestão dos bens e serviços públicos. 

  

A democracia representativa refere-se à incorporação plena dos indivíduos no processo de 


desenvolvimento nacional, por meio do fortalecimento dos mecanismos democráticos para 
formulação e implementação representativa e participativa das políticas públicas em 
escala nacional e global. 

  

De acordo com Constituição Federal, §1º, Art. 37, “​A publicidade dos atos, programas, 
obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, 
informativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou 
imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos.​”. 
Dessa forma, busca-se evitar que os gestores públicos utilizem a máquina pública para 
promoção pessoal, o que caracterizaria desvio de finalidade, além de ferir diversos 
princípios administrativos, tais como legalidade, moralidade e impessoalidade. 

  

A comunicação no setor público, como se percebe, é mais que uma necessidade 


mercadológica; é um direito do cidadão em muitos casos. A relação hierárquica já não se 
resume a transmitir e direcionar o uso de dados, mas inclui a constante negociação sobre 
sua busca, processamento e uso. Dessa forma, dirigentes tratam com subordinados 
possuidores de informações suficientes para formar novas perspectivas e novo sentido de 
direção para a organização. Novos limites ao desenvolvimento da iniciativa são criados 
para que até os menores conflitos ou decisões sejam direcionadas às ações coletivas e, 
assim, as manifestações individuais e grupais para novas propostas sobre gestão são mais 
livres e aceitas. 

  

Classificação da comunicação pública 


  

A comunicação voltada para o cidadão pode ser diferenciada conceitualmente em três 


esferas distintas: comunicação ​pública​, comunicação ​governamental ​e comunicação 
política​. 

  
O conceito de comunicação ​pública ​diz respeito ao aparato estatal e as ações 
governamentais. A comunicação pública se destina a ser um espaço de debate e 
publicação de decisões referentes à gestão, fiscalização, controle e solução de conflitos 
em um Estado soberano. 

  

Para Heloiza Dias (2005)​[1]​, a comunicação pública se situa, necessariamente, no espaço 


público, sob o olhar do cidadão. As informações veiculadas nesse espaço, salvo raras 
exceções, são de domínio público, pois assegurar o interesse geral implica a transparência. 
A comunicação pública ocupa, assim, na comunicação exercida no âmbito da sociedade, 
um lugar privilegiado, relacionado aos papéis do poder público de regulação, de proteção 
ou de antecipação (preparação do futuro). Suas finalidades, portanto, não devem estar 
dissociadas das finalidades das instituições públicas. 

  

A comunicação ​governamental ​busca difundir junto à opinião pública questões ou temas 


significativos que ocorrem na esfera do governo visando o conhecimento e a participação 
do cidadão. Nesse sentido, a comunicação governamental se difere da pública pelo fato de 
aquela ser mais pontual em divulgar as ações de governo com finalidade propagandística, 
ou seja, de promover tais ações com o objetivo de atingir a opinião pública. 

  

A comunicação governamental compreende todas as atividades e ações desenvolvidas pelo 


Governo Federal, pelos Governos Estaduais e Municipais e pelos seus órgãos (secretarias, 
ministérios e empresas), no sentido de colocar-se junto à opinião pública, democratizando 
as informações de interesse da sociedade e prestando contas de seus atos. (BUENO apud 
DIAS, 2005) 

  

Já a comunicação ​política ​(marketing político) envolve formadores de opinião e o mundo 


político. Sua finalidade é acompanhar as modificações dos comportamentos sociais, as 
mudanças políticas e econômicas como um todo, e relacionando-se com interlocutores de 
todas as esferas governamentais e com a mídia, transmitindo uma imagem coerente de 
poder público, de atividade ligada ao interesse público. 

  

Redes organizacionais 
  

Uma rede nada mais é que um conjunto de pessoas, organizações etc. ligados através de 
um conjunto de relações sociais de um tipo específico (amizade, transferência de fundos 
etc.). Assim, segundo Nohria (1992)​[2]​, a estrutura de qualquer organização deve ser 
entendida e analisada em termos de múltiplas redes de relações, incluindo-se 
fornecedores, distribuidores, agências reguladoras e outras organizações. 
  

Na opinião de Lipnack e Stamps (1994)​[3]​, três ondas dividem a humanidade em quatro 


grandes épocas, denominadas: era nômade, agrícola, industrial e de informação. Cada 
nova época de civilização traz em si a sua forma principal de organização. 

  

O pequeno grupo caracterizava a era nômade, a hierarquia cresceu com a agricultura, a 


burocracia nasceu na era industrial e a era de informação está trazendo a rede, “(...) uma 
forma de organização, como a hierarquia e a burocracia, um dos desenhos básicos que nós 
usamos para construir o nosso mundo social” (LIPNACK; STAMPS,1994). 

  

No entanto, cada forma organizacional constitui-se sobre as outras, incluindo o passado. 


Particularmente, as redes são inclusivas pela própria natureza. Ou seja, na era das redes, 
continuarão a existir hierarquias e burocracias, assim como continuam a existir fazendas e 
fazendeiros nos dias de hoje. 

  

Para os autores Armand Mattelart e Michèle Mattelart​[4]​, a multiplicação das formas de 
comunicação, acionadas pelas organizações não governamentais ou por outras associações 
da sociedade civil, constitui realidade inédita do processo de mundialização; essas novas 
redes sociais passam a fazer parte do debate sobre a possibilidade de um espaço público 
em escala planetária. Em todas as latitudes, a problemática da transformação do espaço 
público, nacional e internacional, tende, aliás, a ocupar lugar de destaque nas abordagens 
críticas inspiradas pela sociologia, pela ciência política e pela economia política. 

  

 
  

Espaço público​, no contexto descrito pelos autores, refere-se às formas de comunicação 


entre as organizações não governamentais como forma de influenciar as decisões políticas 
dos governantes. Eles exploram a tendência de expandir esses espaços de debate para 
além das fronteiras dos países, atingindo um público multinacional. 

  

De acordo com Paludo (2016)​[5]​, a comunicação pública compreende não somente a 


comunicação praticada pelos entes públicos, mas principalmente a que ocorre em espaços 
públicos comuns, envolvendo governos, seus órgãos, entidades paraestatais e não 
governamentais, e a sociedade em geral, e que de alguma forma envolve o interesse 
público. 

  
Podemos elencar como características principais das redes organizacionais: 

  

● descentralização organizacional; 
● ausência de controle hierárquico entre atores; 
● relações mais horizontalizadas, complementares e abertas; 
● pluralismo e diversidade cultural; 
● forma democrática e participativa, em torno de causas afins; 
● estruturas flexíveis e estabelecidas horizontalmente; 
● atuações colaborativas que se sustentam pela vontade e afinidade de seus 
integrantes; 
● objetivos específicos em comum; 
● participantes definidos; 
● pessoas interligadas com ampla utilização da tecnologia da informação; 
● multiplicação de lideranças; 
● livre trânsito entre os níveis hierárquicos da organização; 
● inovação; 
● rapidez de resposta às demandas ambientais; 
● estimula o desenvolvimento e a competitividade. 
  

Mas, nem tudo são flores! Sobral e Peci (2008)​[6]​ destacam alguns pontos fracos da 
estrutura em rede: 

  

● dificuldade para apurar responsáveis por alguma situação ou problema; 


● inexistência de um sistema de controle ativo por causa da dispersão de unidades, 
tornando a organização dependente de contratos, coordenação, negociações e 
conexões eletrônicas; 
● possibilidade de perda de uma parte importante da estrutura (por exemplo, 
falência de um parceiro), com impactos imprevisíveis para a organização; 
● dificuldade de desenvolvimento de uma cultura organizacional forte, o que diminui 
a lealdade dos membros à organização (podem ser substituídos por uma parceria a 
qualquer momento). 
  

Fica fácil inferir que a opção por esse tipo de gestão requer abrir mão de questões sobre 
poder. No caso da Administração Pública, a escolha dessa relação envolve um caráter mais 
político, uma atuação mais cooperativa. 

  

Surge daí o conceito de Estado-rede. Segundo Manuel Castells (1999)​[7]​, o Estado-rede 


combina vários princípios de atuação administrativa: 

  

● subsidiariedade​ - o Estado deve ser substituído pela sociedade em tudo o que não 
seja essencial; 
● adoção de tecnologias​ - modernizar a gestão pública mediante investimentos em 
equipamentos, softwares e treinamento de pessoal; 
● transparência​ - tornar públicas as ações/decisões como medida para combater a 
corrupção e o nepotismo (atuação conjunta dos órgãos de controle e da sociedade); 
● participação dos cidadãos​ - fomento à participação dos cidadãos com vistas ao 
fortalecimento da democracia, aumento da legitimação dos governos e formação 
de novos canais de comunicação; 
● novos agentes da administração​ - capacitar os servidores públicos e remunerá-los 
melhor do que a iniciativa privada, a fim de atrair os melhores profissionais; 
● flexibilidade​ - estrutura administrativa flexível para adaptação às constantes e 
diversas mutações nacionais e globais; 
● coordenação​ - estabelecer meios de cooperação entre as instituições públicas e os 
demais atores; 
● aprendizado​ - aprender com os erros constatados, e utilizá-los para aperfeiçoar a 
gestão. 
  

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