Anais Cepe 2020
Anais Cepe 2020
Anais Cepe 2020
encarceramento
Kennedy José de Oliveira Júnior 1 (IC)* ; Elizete Beatriz Azambuja ² (PQ)
Resumo: Este projeto de pesquisa tem como objetivo principal analisar os discursos que naturalizam
a desigualdade social nos discursos sobre o encarceramento, em enunciados nos gêneros textuais
notícia e comentário. Com o nosso estudo, refletimos sobre a naturalização do encarceramento e a
criminalização da pobreza, fundamentando-nos teórica e metodologicamente na Análise de Discurso
de linha francesa que considera discurso/ideologia/sujeito de forma indissociável. Para sustentar as
nossas análises, recorremos a Coelho (2019) Orlandi (2006; 2007; 2008; 2015), Foucault (1987),
dentre outros autores. É um trabalho de caráter bibliográfico que discute o fato de o discurso sobre o
encarceramento em massa ser constituído sócio-histórica e ideologicamente. Em nossa pesquisa,
analisamos a discursividade presente em notícias e comentários on-line, observando as marcas
linguísticas que apontam para uma formação ideológica que se constitui pela naturalização do
aprisionamento da juventude negra. Da mesma forma, apresentamos alguns materiais que ilustram a
formação ideológica de jornais que expõe os sujeitos de diferentes formas em seus enunciados,
levando em conta a condição econômica que esse sujeito se encontra.
Introdução
Resultados e Discussão
Criminalização da pobreza
M3- Após alerta de Anitta, ladrão é preso no bloco das Poderosas no RJ.3
M4- Após alerta de Anitta, suspeito de furto é detido no bloco das
de-bloco-de-carnaval-no-rio/
Poderosas, mas logo liberado por falta de prova. 4
4Disponívelem: https://oglobo.globo.com/rio/apos-alerta-de-anitta-suspeito-de-furto-detido-no-bloco-
das-poderosas-mas-logo-liberado-por-falta-de-provas-23510331
Nos recortes das entrevistas 1, 2 e 3, tanto o juiz, o delegado e o policial
constituem seus depoimentos na mesma formação ideológica, confirmando a nossa
hipótese de que é comum as instituições de Justiça e Segurança no Brasil julgarem
os casos conforme a cor de pele, o local em que houve o flagrante e a condição
econômica do sujeito.
Vejamos o que está posto no Artigo 28 da Lei de Tóxicos – 11.343/2006, em
que observamos como é legitimado o modo de interpretação pelas condições do
flagrante:
Considerações Finais
Agradecimentos
FLAUZINA, Ana Luiza Pinheiro. Corpo negro caído no chão: o sistema penal e o
projeto genocida do Estado brasileiro. 2006. 145 f. Dissertação (Mestrado em
Direito) - Universidade de Brasília, Brasília, 2006. Disponível
em:<http://www.cddh.org.br/assets/docs/2006_AnaLuizaPinheiroFlauzina.pdf.>
Acesso em: 01 de Ago. 2019.
Resumo: O presente estudo tem o objetivo de analisar como a tradução cinematográfica de Rosa
Berardo, André Louco, dialoga com a novela homônima de Bernardo Élis; sobremaneira nos conflitos
miméticos responsáveis por disparar o mecanismo do Bode Expiatório. Trata-se de uma pesquisa
com ênfase na tradução intersemiótica de Plaza, verticalizada com uma análise das relações sociais,
proposta por Girard, estabelecendo uma relação dialógica ao justapor as obras. Constata-se que o
texto literário elucida todos os elementos que caracterizam o bode expiatório girardiano, diferindo-se
da obra cinematográfica e corroborando com a ideia de que o mecanismo vitimário é a transmutação
do “todos contra todos” no “todos contra um”, resguardando a unidade e coesão da malha social ao
sacrificar um único indivíduo. Assim, há um contraste no enfoque narrativo; o texto literário é um
ensaio sobre as interações sociais de uma comunidade do interior do Brasil e de como eles reagem a
presença de André Louco. Enquanto a adaptação de Berardo desenvolve um caráter individualista,
com enfoque na construção da imagem do louco, utilizando recursos do cinema expressionista
alemão ao apresentar a personagem André por meio de distorções e contrastes de luz e sombra.
Introdução
Metodologia
Resultados e Discussão
A Obra Literária
André Louco é uma novela literária, com traços regionalistas, publicada em
1944 ao lado dos contos de Ermos e Gerais, sendo relançada em 1978 em uma
nova edição composta pela novela e mais quatro contos de Bernardo Élis. E é nesse
contexto em que ela se passa.
A narrativa transcorre em uma cidade interiorana do Brasil, situada na
década de 40, com um narrador onipresente que teve sua infância marcada pelos
urros e a figura exótica do louco, assim como pelas lendas e estórias assustadoras
de Joana. Para tanto, há um distanciamento temporal entre os acontecimentos da
novela e sua narração.
Marchezan (2005) ressalta o estilo à base de recursos expressionistas
empregado por Élis, composto pela subjetividade simbólica e análise sutil da
natureza (violenta, grotesca e hipócrita) humana — características importantes na
composição da iconografia da tradução cinematográfica. Portanto, André Louco “é
um construtor de estereótipos” e “representa, mais uma vez, a relação agressiva
entre os homens, reverberada, por contraste, pela natureza” (MARCHEZAN, 2005,
p. XXV).
Eternizando um Brasil mítico, repleto de crendices, medos e lendas
folclóricas, Bernardo Élis remonta um pequeno município caracterizado por uma
linha tênue entre a cidade e o campo, com suas instituições estatais em processo de
formação; propiciando a mediação interna do desejo mimético. Isso quer dizer que
há um maior envolvimento da comunidade na aplicação de leis, proibições e feição
da justiça; comprometendo a capacidade de mediação externa do Estado.
Essas informações são importantes para a contextualização da análise do
primeiro estereótipo persecutório; assim como os posteriores.
Dentro da obra bernardiana, há dois pontos fundamentais na composição da
Crise Indiferenciadora: a situação do município e o desenvolvimento da personagem
João Ferreira, pai do narrador. Nossa percepção quanto a estrutura do espaço se dá
de forma secundária, mas há um momento em que o narrador nos confirma de
forma objetiva: “As condições do município eram más. Foi preciso que se tomasse
dinheiro emprestado ao coronel para mandar reformar o calabouço, que André
arrombara com as unhas” (ÉLIS, 1978, p. 24).
Em outro momento, o narrador nos informa:
Um dia, André gritou demais da conta. O coronel se incomodou. O coronel
era quem receitava remédios, mandava no delegado, mandava no Juiz, no
Promotor, na igreja. Foi lá e perguntou a João Manuel se davam água ao
doente.
— Nhor não, coroné. Ele já botô fora mais de cinco copos da gente. Cada
um custa 5$000, a gente num ganha nem isso numa semana.
Seu coronel deu um copo de água para o louco e nesse resto de dia e resto
de noite o coitadinho não deu um pio sequer
(ÉLIS, 1978, p. 8-9).
Essas passagens elucidam a condição precária do município e de suas
instituições, encontrando-se a mercê do coronel. Além disso, percebe-se o total
despreparo (humano e estrutural) para lidar com André. Estando o ambiente propício
à crise indiferenciadora.
Quanto a personagem de João, Bernardo Élis o utiliza para construir as
interações que levam a concepção de André como um bode expiatório, fazendo
João se colocar como modelo para a sociedade e canalizando a violência no ápice
da crise indiferenciadora. Assim, há uma sequência de acontecimentos que se
somam, levando a personagem ao conflito. Primeiro com Pedro, segundo com os
empréstimos recorrentes de objetos pessoais que irritam João, terceiro com o doutor
alemão, que se torna um modelo mimético para João, culminando em mais violência
contida pelo Degree ao perceber-se desrespeitado ao receber a conta de 5:000$000
cobrada pelo doutor. Assim, João pede dinheiro emprestado ao coronel Bentinho,
desentendendo-se com ele em três momentos: ao receber uma carta cobrando a
dívida do empréstimo; ao ir pedir favores ao coronel que fazia parte do júri no
julgamento de Pedro; e ao fim do julgamento, ao saber que apenas um dos jurados
votou a favor da condenação de Pedro.
Tudo porque desconfiara de que um “não” havia na votação do júri só
poderia ter partido do coronel, daquele parasita social, daquele usuário.
— Pois é, seu Pedro, quando morrer o derradeiro coronel, quando o
derradeiro sujeito que empresta dinheiro for fuzilado, o mundo há de ser
bom e você não matará mais ninguém.
(ÉLIS, 1978, p. 22).
A partir desse momento, João começa a advogar contra o Louco. Joana, que
é movida pelo “pensamento mágico” (GIRARD, 2004), imita a acusação de João e
afirma que André Louco tem parte com o xujo (demônio). Mas a acusação ainda não
encontra terreno fértil, e a mulher de João defende o louco, imitando seu modelo, Sá
Maria (que tem como bode expiatório José Quelemente, e não o louco); causando
alguns conflitos entre eles. Assim, pouco tempo depois:
“um dia , quando o filho do Valentim foi jogar o pacote de ‘comê’ para o
demente, ele deu aquele urro, balançou as grades. O menino confiava nela;
já estava habituado com a cena:
— Bamo vê, André véiu! Força!
E não é que a grade cedeu mesmo? O menino correu. Era tarde, porém.
— André Louco fugiu! ”
(ÉLIS, 1978, p. 28-29).
A Tradução Cinematográfica
Imagem 1 — André Louco (1990), 01:16 Imagem 2 — André Louco (1990), 01:20
Imagem 4 — André Louco (1990), 01:47 Imagem 5 — André Louco (1990), 01:51
Imagem 6 — André Louco (1990), 02:01 Imagem 7 — André Louco (1990), 14:56
Agradecimentos
Referências
ANDRÉ Louco. Direção: Rosa Berardo. Cidade de Goiás: Orion Cinema e Vídeo e
CPCE/UnB, 1990. 16:30 min. Son. P&B, curta-metragem em película 35mm.
Disponível em: <https://vimeo.com/236498928> Acesso em: 01 de agosto de 2018.
CARVALHAL, Tânia Franco. Literatura comparada. 10a ed. São Paulo: Ática, 2006.
GIRARD, René. O Bode Expiatório. 1a ed. Tradução de Ivo Storniolo. São Paulo:
Paulus, 2004.
MARCHEZAN, Luiz Gonzaga. (Prefácio). In: Ermos e Gerais. São Paulo: Martins
Fontes, 2005.
1 2
Maria Laura Moreira Lima , Ewerton de Freitas Ignácio
UEG - Câmpus Anápolis de Ciências Socioeconômicas e Humanas. Av. Juscelino Kubitscheck, 146 -
Jundiaí, Anápolis - GO, 75110-390
Resumo: A presente pesquisa tem como objetivo a discussão analítica do espaço da narrativa
“Desconstruindo Sofia” do escritor goiano Solemar Oliveira. Com a base teórica utilizada, foi possível
destrinchar aspectos em relação à compreensão de como parte da prosa contemporânea de Solemar
Oliveira tem representado o espaço urbano cerratense e goiano, bem como averiguar as implicações
disso no contexto da experiência urbana individual. Além disso, através dessa pesquisa, foi analisado
a maneira pela qual a prosa literária goiana tem dialogado com aspectos que permeiam e configuram
a realidade urbana das cidades; o retrato da experiência urbana de indivíduos que, cada vez mais,
são menos senhores de si mesmos e de suas vidas em meio a um espaço citadino cuja configuração,
paradoxalmente, abriga e entedia/irrita seus habitantes. A partir dessas análises, foi possível também
descrever o modo no qual as peculiaridades de uma obra que tematiza questões caras à
contemporaneidade, como a indagação dos rumos da cidade, dos rumos da vida de seus habitantes e
do próprio sentido (ou não sentido) que o espaço urbano tem assumido nos últimos tempos.
1
Pesquisadora bolsista PIBIC/CNPq. Graduando do curso de Letras do CCSEH/UEG, @[email protected]*
2
Professor Orientador, Docente do Curso de Letras do CCSEH.
Introdução
Nesse trecho é possível perceber sua obsessão e admiração possessivo doentia por
Sofia. A cidade do desespero é formada pelos conflitos internos de Teodoro. É
formada pela desconstrução de Sofia. A cidade do desespero dialoga com a
presença de seus personagens principais.
Segundo Prysthon e Carrero (2004), sentimentos diversos como a melancolia
revelada na obra de Solemar Oliveira, transparecem na descrição e criação dos
personagens da narrativa posta pelo autor, como é possível observar no trecho a
seguir:
“A melancolia se revela outro traço fundamental no cinema da
pós-metrópole. Uma sensação indefinida de tristeza, cuja origem não se
consegue precisar com exatidão, irradia da malha urbana da megacidade, e
é capturada por esses filmes. Uma possibilidade de leitura da melancolia
está na crescente sensação de deslocamento do homem contemporâneo. O
indivíduo descentrado perde as coordenadas de espaço e tempo, vive a
partir de atalhos. Coincidências e encontros fortuitos regem sua trajetória
pessoal.” (2004, Pg. 188)
Considerações Finais
Na obra “Desconstruindo Sofia” é possível compreender que há uma representação
do espaço urbano cerratense goiano, influenciando diretamente no processo da
experiência urbana individual dos personagens presentes na prosa. Em sua
profunda análise, observa-se que o retrato dessa experiência urbana afeta o
comportamento dos personagens, de modo que, paradoxalmente, abriga e entendia
os envolvidos no livro. Diferentes foram as motivações que levaram a construção
dos personagens presentes na obra, Solemar de Oliveira nos prova, dentro de sua
narrativa, que tal construção se deu principalmente por motivações de espaço.
Agradecimentos
Agradeço primeiramente à Deus que, através de sua infinita misericórdia, me permitiu chegar até
aqui. Sem Ele, eu não teria forças e resiliência para superar as dificuldades impostas no meu
caminho. Agradeço à Universidade Estadual de Goiás, que possibilitou o término dessa pesquisa
através de sua estrutura como um todo. Agradeço ao meu orientador de pesquisa, o professor e
doutor Ewerton de Freitas Ignácio, que com paciência e sabedoria guiou as orientações e dúvidas
acerca da pesquisa. Agradeço também aos meus pais pelo incentivo constante, pelo carinho e pela
compreensão. Por último e não menos importante, agradeço à minha família como um todo que
sempre me apoiou nos meus projetos e conquistas.
Referências
BAKTHIN, Makhail. Questões de literatura e estética: a teoria do romance. São
Paulo: Hucitec, 1998.
GOMES, Renato Cordeiro. Todas as cidades, a cidade: literatura e experiência
urbana. Rio de Janeiro: Rocco, 1994.
IGNÁCIO, Ewerton de Freitas. Do campo abandonado para a cidade suportada:
campo e cidade na literatura brasileira. Universidade Estadual de Goiás,2010.
LIMA, Paula Andrea Vera Bustamante de. A cidade fictiva: visões e mundos da
cidade em contos contemporâneos brasileiros, chilenos e portugueses. São
Paulo, 2007.
OLIVEIRA, Solemar. Desconstruindo Sofia. Goiânia: Editora UFG, 2017.
PRYSTHON, angela e CARRERO, Rodrigo. Atalhos na pós-metrópole: acaso,
incomunicabilidade e melancolia em três filmes americanos dos anos 90.
Contemporânea, vol. 2 n., 2. p. 169-188. Dez. 2004.
SANTOS, Luís Alberto Brandão e OLIVEIRA, Silvana Pessoa. Sujeito, tempo e
espaços ficcionais. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
Análise Feminista de Discurso: um campo em construção.
E-mail: [email protected]
1
Universidade Estadual de Goiás, Campus Anápolis de Ciências Socioeconômicas e Humanas, Av.
Juscelino Kubitscheck, 146 - Jundiaí, Anápolis - GO, 75110-390.
Introdução
O presente texto apresenta o trabalho de Iniciação Científica desenvolvido
sobre o que chamamos aqui de “Análises Feministas de Discurso”. A construção do
trabalho em questão se deu a partir do projeto — da grande área de Linguística — A
Troca de Receitas de Sabão Caseiro: Uma análise feminista de discurso. O projeto
objetivou a produção de uma revisão bibliográfica sobre estudos discursivos de viés
feminista e também uma compilação dos trabalhos de Michelle Lazar (2005, 2007)
sobre Análise Feminista Crítica de Discurso. Tais teorias foram aplicadas na
construção de uma tentativa própria de análise de discurso de perspectiva feminista
trabalhando com as narrativas produzidas no âmbito do projeto de extensão
“Mulheres que fazem sabão caseiro: receitas, performances e narrativas”, ação
executada durante o ano de 2018, numa cooperação entre o Curso de Pedagogia do
Campus da UEG Jaraguá e o Curso de Cinema e Áudio Visual do Campus de
Laranjeiras. A análise em questão se encontra em fase final de produção e constará
em futuras publicações referentes a esse mesmo projeto de pesquisa.
Resultados e Discussão
A Análise Crítica do Discurso (ACD) pode ser compreendida como uma
prática cujo interesse fundamental consiste em investigar criticamente como a
desigualdade social é expressa, sinalizada, constituída e legitimada no discurso
(WODAK, 2004). Assim, é evidente a importância de se estudar como relações de
poder e hierarquias sociais pautadas nas diferenças de gênero têm sua
manutenção, conquista e garantida através do discurso. Nesse contexto, Michelle
Lazar (2007) estabelece algumas das principais motivações para se explicitar um
rótulo feminista na ACD: grande parte dos estudos que analisam as relações de
gênero no discurso já o fazem criticamente com o intuito de transformar as
condições de existência dessas relações; a ausência do rótulo nesses estudos
acaba por representar uma série de analistas feministas críticas do discurso que não
possuem organização suficiente para unirem-se em um fórum comum. Dessa forma,
entende-se que esses estudos em grande parte já existem, mas falta promover
medidas e ações que possam organizá-los de modo que sejam mais facilmente
localizados quando necessário.
O trabalho de Michelle Lazar é uma versão explicitamente feminista da já
conhecida análise crítica do discurso que tem sido extremamente influente no campo
dos estudos críticos de gênero e sexualidade. No que diz respeito à linguística
feminista, a obra de Lazar se insere no campo das teorias neomarxistas da
linguagem que examinam como o poder ideológico é encenado, especialmente
através de discursos institucionais como a mídia, a política e a educação. Essa
abordagem tem raízes nos ramos marxistas e socialistas do feminismo material que
defende que a subordinação das mulheres é uma consequência da opressão de
classe (BUCHOLTZ, 2014). O interesse do trabalho Lazar naturalmente vai ao
encontro dos próprios interesses da análise de discurso crítica feminista — como
esclarecido pela própria no texto Feminist Critical Discourse Analysis: Articulating a
Feminist Discourse Praxis (2007) —preocupando-se não apenas com desconstrução
acadêmica de textos e fala, mas também com os efeitos transformadores que as
questões tratadas podem gerar para determinados grupos de homens e mulheres,
visando uma compreensão do modo como poder e ideologia atuam dentro do
discurso para sustentar os arranjos sociais de gênero.
Considerações Finais
A partir do exposto, evidencia-se que a análise crítica do discurso se
preocupa não só com a análise de textos, mas também em — a partir dessa análise
— atuar em diversas práticas sociais como um meio de transformação das
condições das relações de poder pautadas na diferença de gênero.
Dessa forma, o trabalho desenvolvido durante o período de execução desse
plano de trabalho — assim como as futuras publicações e análises decorrentes do
mesmo — cumprem seu papel de colaborar com a construção de um corpus textual
composto por estudos discursivos críticos de perspectiva feminista em Língua
Portuguesa, tanto para formação de corpo bibliográfico quanto para inspiração de
futuros trabalhos desta mesma área de estudos.
Agradecimentos
Aos autores que constituem as referências dos trabalhos produzidos a partir desse projeto de
Iniciação Científica.
À Universidade Estadual de Goiás pela oportunidade de cursar a graduação em Letras.
À orientadora deste projeto Profa. Dra. Lúcia Gonçalves de Freitas pelo suporte, apoio,
correções e incentivos.
Referências
LAZAR, Michelle (Ed.). Feminist critical discourse analysis: Gender, power and
ideology in discourse. Springer, 2005.
Resumo: A língua é um objeto de luta dos indivíduos, e quando se fere a forma de falar de alguém,
fere também sua identidade. Dessa forma, o preconceito linguístico é um julgamento depreciativo da
forma de falar dos indivíduos, portanto, é necessário combater e estudar essa prática. A partir dessa
problemática, o presente artigo tem como objetivo analisar o preconceito linguístico presente na rede
social facebook, visando elencar pontos que ajudem a combatê-lo, principalmente nas escolas de
ensino fundamental apresentando novas práticas de ensino da língua portuguesa. A abordagem é
qualitativa, por meio de pesquisa empírica, analisando as relações entre os atores e sua função na
constituição da sociedade. Esperamos ao fim dessa pesquisa, levantar questões importantes para a
abordagem de novas práticas pedagógicas que auxiliem os professores no combate ao preconceito
linguístico.
Palavras-chave: Preconceito linguístico. Prática de ensino de língua portuguesa. Redes sociais.
Facebook.
Introdução
A intervenção humana na língua, de acordo com Calvet (2007), não é
novidade. Sempre houve indivíduos tentando legislar, ditar o uso “correto”, ou intervir
na forma da língua. Tais intervenções são frutos de muitos equívocos produzidos
pela sociedade sobre a língua, assim como descreve Bagno (2007) “uma breve
revisão do que tem sido publicado na imprensa brasileira nos últimos quinze anos
sobre a língua e ensino de língua mostram o quanto a intolerância reina nestes
campos das relações sociais”.
A posteriori, Bagno (2007) em seu livro nada na língua é por acaso, destaca
que a língua portuguesa no Brasil, possui muitas variedades dialetais, na qual essas
variedades são identificadas geograficamente e socialmente. No entanto, o
conhecimento dessas variedades não exclui a possibilidade do preconceito, nesse
caso, o preconceito linguístico, que está totalmente imbuído a um preconceito
altamente social. Dessa forma, a escola tem um papel fundamental para
desconstrução desse preconceito, como o próprio Bagno cita:
Referencial Teórico
De acordo com Bagno (2003, p. 17), afirmar ou acusar alguém de não saber a
própria língua materna é tão absurdo, quanto acusar alguém de não saber “usar”
corretamente a visão”. No entanto, essa afirmação equivocada da língua está
arraigada em um preconceito, que foi se construindo dia após dia, e que se camuflou
e naturalizou-se na sociedade.
Posto isto, seguimos para o conceito de redes sociais, que é importante para
definição desse ciberespaço. Recuero define redes, como estruturas de dados
comumente encontradas em quaisquer serviço de mídias sociais que permitam às
pessoas construir grupos de conexões. (RECUERO, 2018, p. 11). Para análises
destas redes sociais, é necessário o conhecimento de dois parâmetros, o do
discurso e o da análise de redes sociais (ARS). A análise de redes sociais refere-se
a uma abordagem de cunho estruturalista das relações entre os atores e sua função
na constituição da sociedade. (RECUERO, 2018, p. 39).
Por fim, é mister citar que o preconceito linguístico está ligado, à “aquilo que
se diz, significa em relação ao que não se diz, ao lugar social do qual se diz, para
quem se diz, em relação a outros discursos.
Resultados e Discussão
No anos 2000, a internet popularizou-se em todo mundo e, como uma das
principais consequências, houve a necessidade de plataformas que fossem capazes
de criar uma maior interação entre os usuários de todo mundo. (SCHAEFFER,
2016). E nesse período, surgem os ciberespaços, e assim surge a necessidade dos
usuários de estarem cada vez mais conectados. No entanto, por meio da ferramenta
Sentimonitor (2019), conseguimos notar como as relações entre as pessoas se
tornaram líquidas, e como a falta de empatia está predominante entre as pessoas.
Durante um período de 4 semanas foram coletados mais de 58.000 comentários da
página Português da Depressão, e desses tantos, uma grande porcentagem era
negativa e que podem ser analisados na Tag cloud1: Nesta seção as discussões
estão voltadas especialmente aos comentários que aparecem nas redes sociais,
sendo que as demais questões norteadoras apresentadas inicialmente estão sem
mapeados para serem apresentados posteriormente.
1
Nuvem de palavras (são as palavras que são mais citadas)
“kkkkkkk” que significa risada, ironia, deboche.... Isso pode ser confirmado por meio
do próximo comentário, que foi retirado do post que gerou a Tag.
Considerações Finais
Por fim, supradito a importância do combate ao preconceito linguístico, é
necessário primeiro acabar com o seu círculo vicioso. Bagno (1999) conceitua esse
círculo vicioso de forma irônica como “santíssima Trindade”, formado por três
elementos: a gramática tradicional, o ensino tradicional e os livros didáticos. Após a
quebra desses três paradigmas, é necessário problematizar mais essa liberdade que
os usuários possuem na rede, que os dão vantagem financeira, mas que de certa
forma se perdem em meio a não conhecimento, de tantas diferenças na língua.
Em todos os dados e análises feitas, os usuários tendem a conceituar a língua
como gramática normativa, o que acaba gerando essa grande problemática. Por
isso, nessas primeiras análises consegue-se ver o potencial que esta pesquisa tem,
ao tentar reverter essa problemática geradora, e transformar esses dados em algo
que possa ser discutido em sala de aula para combater muito mais que o
preconceito linguístico, mas a intolerância nas relações sociais, principalmente
ocasionadas pelas desigualdades sociais.
Agradecimentos
ANTUNES, Irandé. Aula de português: encontro & interação. São Paulo: Parábola
Editorial, 2003.
BAGNO, Marcos, Preconceito linguístico: o que é, e como se faz. 49. ed. São Paulo:
Loyola, 1999. 183 p.
BAGNO, Marcos. Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação
Linguística. São Paulo: Parábola, 2007.
BAGNO, Marcos. A norma oculta: língua e poder na sociedade brasileira. São Paulo:
Parábola Editorial, 2003.
BAGNO, Marcos. Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação
linguística. São Paulo: Parábola Editorial, 2007.
FARACO, Carlos Alberto. Norma culta brasileira: desatando alguns nós. São Paulo,
SP: Parábola Editorial, 2008.
POSSENTI, S. Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas: Mercado das
Letras, 1996.
RECUERO, Raquel. Análise de redes para mídia social. Porto Alegre: Sulina, 2018.
ZUIDEMA, Leah A. Myth education: rationale and strategies for teaching against
linguistic prejudice. Journal of adolescent e adult literacy, maio, 2005.
APROXIMAÇÕES ENTRE NARRATIVAS HÍBRIDAS: HISTÓRIAS DA DITADURA
NA LITERATURA E NO CINEMA LATINO-AMERICANO
A partir do final do século XX o ideal ficcional assume uma nova postura, na qual a ficção passa a ter
um acentuado e volumoso viés de pluralidade quanto às suas tendências. A literatura contemporânea
ergue-se em meio a esse aglomerado de características que trazem espanto ao leitor, onde também,
há o ressurgimento do romance histórico, policial (BETTAZZA, 2014) Essa perspectiva intercultural
sustenta-se no processo de negociação ou relação de saberes, sentidos ou significados. Essas
relações visam ultrapassar as fronteiras do conhecimento e dos sujeitos, transcendendo a uma
experiência mista, ampla e sem barreiras de regionalidade, gênero, cultura, nacionalidade, religião, cor,
ou etnia (AUGUSTIN, 2008). Dessa forma, tonar-se competente aos estudos teórico-literários analisar
obras e produções, que contemplem essa pluralidade de sentidos, e interculturalidade a fim de agregar
cada vez mais saberes aos estudos da contemporaneidade e interculturalidade. Para tal, a presente
proposta, visa observar o romance contemporâneo Cova 312 de Daniela Arbex e a produção
cinematográfica dirigida por Juan José Campanella, O segredo dos seus olhos, a fim de analisar suas
características hibridas, e como elas se comunicam.
Palavras-chave: Interculturalidade. Memória. Literatura.
Introdução
Material e Métodos
Resultados e Discussão
Considerações Finais
O livro Cova 312, além de ser um romance, ele também pode ser pensado
como uma reportagem, um romance histórico ou também um romance policial, haja
vista que possui características de todos esses, narrando à jornada da repórter
Daniela Arbex, procurando no passado a resposta para o assombroso mistério
envolvendo a morte do militante Milton Soares de Castro. E em cada um desses
pontos citados encontramos um equivalente na obra O segredos dos seus Olhos de
Juan Campanella, de um lado temos Daniela, do outro Benjamin, Milton e Liliana, e
dois crimes jogados para de baixo do tapete por um poder abusivo.
Por meio de todas as considerações, teorias e argumentações vistas,
podemos chegar a conclusão de que cinema e literatura estão intimamente
conectados por meio da interculturalidade. No caso das obras analisadas na pesquisa
em questão, essa relação intercultural se mostra ainda mais carregada de elos,
tranças e amarras, por conta da característica hibrida presente em ambas, isso se dá
pelo fato de que, se cogitarmos que um gênero se relaciona com outro, logo, uma obra
ou uma produção, que possui múltiplas faces, ou melhor, múltiplas características
textuais ou de gêneros, possui ainda mais ligamentos os quais podem estabelecer
ainda mais tipos de relações. Contudo, este estudo possibilitou a compreensão
dessas relações, assim como a compreensão de sua coexistência, algo que, sem
sombra alguma de dúvidas é de grande valia aos estudos literários e interculturais.
Agradecimentos
Agradeço primeiramente a Deus, pela graça da vida, pelo constante auxilio nos momentos
de aflição e de dificuldades.
Agradeço à minha professora e orientadora, Dra Émile Cardoso Andrade, por todo apoio
e por depositar em mim a sua confiança.
Agradeço à minha família, a minha esposa, por sempre estarem ao meu lado me
encorajando.
Agradeço aos meus amigos e colegas de iniciação científica, Edivaldo e Rosely, pelas
conversas e os socorros em qualquer hora.
Agradeço ao programa de bolsas de iniciação cientifica PBIC/UEG, pela oportunidade e
pelo auxilio prestado a essa pesquisa.
Referências
É a partir do reino da imaginação que surgem os impulsos que substanciam o mundo poético. Tal
imaginação se estabelece essencialmente com a lei dos quatro elementos naturais, sendo eles fogo,
ar, água ou terra. O elemento natural selecionado para substanciar esta pesquisa foi a água, dando
enfoque aos rios e sua simbolização para a literatura goiana. Nessa perspectiva esse projeto teve
como objetivo selecionar e estudar poetas goianos que apresentassem em sua poética a
simbolização do rio, analisando os múltiplos imaginários constituintes desta matéria. Para realização
desta pesquisa principiou-se pela pesquisa bibliográfica, com o intuito de selecionar poetas e teóricos
que abordassem o tema aqui proposto. Durante a realização desta pesquisa pôde-se perceber que o
rio se faz amplamente importante na literatura goiana, e que o mesmo pode ser fonte de múltiplas
inspirações, uma vez que sua representação pode se diferir entre diversos poetas. Sendo assim,
conclui-se que há um rio interior que substancia os múltiplos imaginários dos poetas, fazendo existir,
portanto, diferentes formas de exploração desta matéria poética.
Introdução
III
Confusos, torturados, feridos
os homens chegaram
de muitos caminhos:
vieram lavar suas dores,
desatar os nós das almas
na doce água do rio.
Araguaia, Araguaia,
antiga é tua memória
-mais antiga do que os homens.
Receba-os mais uma vez,
canta com eles o canto,
penetra o sonho dos homens,
o sono,
o amanhecer.
E eles se olharão nos olhos,
trarão peixes, amarão.
Serão alegres os homens
Serão melhores que são.
I
Vou ao encontro do rio
que vive dentro de mim
vou ao encontro da índia
que canta dentro de mim
Rio pai
Água mãe
Da vida
correnteza dentro de mim
(BUFÁIÇAL, 2009, p. 17)
Observa-se que a imagem do rio expressa na poesia é uma imagem que vem
do devaneio, da imaginação do eu-lírico, uma vez que, por mais material que seja a
água, ela consegue envolver os sonhos e servir de fonte de inspiração poética,
como no caso da poesia observada (GRATÃO, 2002).
Outra característica essencial dos imaginários constituintes do rio é a
transitoriedade. O homem nunca pode se banhar no mesmo rio duas vezes, pois, a
água do rio renova-se incessantemente (HERÁCLITO, 1996). E, juntamente com a
transição do rio, o poeta encontra em seu devaneio formas de se renovar ao banhar-
se em sua correnteza. Tal transitoriedade pode ser analisada na seguinte estrofe do
poema IX de Bufáiçal:
IX
[...]
É possível compreender que a imagem que se tem do rio que “corre” pode ser
assemelhada com o curso da própria vida, que está sempre em transição. Segundo
Chevalier e Gheerbrant (2007, p. 781):
rio revoando
o fundo do sol
molhando de acordes o vento
com seus peixes correntes,
elos entre a madeira das nuvens,
nós na corrente sanguínea
do deus por quando nossas aves caminham
Agradeço à minha orientadora Dr. Maria Severina Batista Guimarães, por ter
confiado em mim para fazer parte de suas pesquisas, pelos ensinamentos que
levarei para toda vida, especialmente por ter me ensinado a beleza da poesia
goiana. Agradeço também por não ter desistido do projeto pela falta de
remuneração, e sempre compreender a minha dificuldade em comparecer à
instituição no contraturno das aulas para a realização de orientações, que foram
feitas, em suma maioria, via Whatsapp devido à falta de subsídio necessário para
meu deslocamento.
Agradeço também à Universidade Estadual de Goiás por proporcionar-me,
além de um ensino de qualidade, a realização de pesquisa através do projeto de
iniciação científica, enriquecendo assim meu currículo e minha bagagem
profissional.
Referências
1 2
Daniela Santana Santos (IC)*, Nismária Alves David (PQ), [email protected]
Resumo: Este trabalho relata os resultados obtidos a partir da pesquisa de Iniciação Científica,
desenvolvida no periodo de agosto de 2018 a julho de 2019. O objetivo central dedicou-se ao estudo
do romance Pão cozido debaixo de brasa, do escritor goiano Miguel Jorge. O referido livro foi
publicado em 1997, vindo a ser ganhador do Prêmio Machado de Assis 1997 de Literatura da
Biblioteca Nacional. Por meio de sua análise, foi possível compreender as relações entre Literatura e
História e revisitar a memória da tragédia do Césio-137, ocorrida na cidade de Goiânia no ano de
1987. Esta abordagem foi compartilhada em uma sala de aula de Ensino Fundamental da rede
pública de ensino, na cidade de Pires do Rio - GO. Trata-se de uma iniciativa que buscou contribuir
com a área de Estudos Literários, especialmente aos estudos de literatura produzida por autores
goianos, por levar a produção literária de Miguel Jorge para a escola.
Introdução
Material e Métodos
Resultados e Discussão
Por meio da pesquisa bibliográfica, foi possível constatar que Pão cozido
debaixo de brasa, diferente do romance histórico tradicional em que a história é
reconstruída mediante pesquisas documentais, Miguel Jorge reinterpreta e
reescreve o fato histórico com artimanhas ficcionais como ambiguidade, ironia,
acontecimentos insólitos, fazendo conviver personagens reais e fictícias. Revivem,
pela memória e pela palavra, os acontecimentos e fatos, recriando-os por intermédio
da imaginação.
Chama a atenção o modo de apresentação da cidade que se traduz, nas
palavras de Carla Reis de Oliveira (2015, p. 68), da seguinte forma: “A cidade de
Pão cozido debaixo de brasa é como se fosse um ser vivo, instaurado por meio da
linguagem do narrador, construída no texto para dar voz aos seus habitantes, seres
vulneráveis submetidos à opressão”.
Em “Os outros intestinos: a escrita experimental-visceral de Miguel Jorge”, o
professor Ravel Giordano Paz, ressalta que Miguel Jorge conjuga experimentação
formal e profunda preocupação com a realidade social, possivelmente uma herança
da participação do romancista no Grupo dos Escritores Novos (GEN), no período de
1964 a 1968 em Goiânia, em torno da poesia-práxis de Mario Chamie (PAZ, 2008).
O livro de Miguel Jorge não possui uma estrutura linear na narrativa, há uma
fragmentação do texto na intercalação de dois núcleos de personagens, o que
manifesta o caráter lúdico na atividade literária de narrar. Esse experimentalismo
narrativo de Jorge, que joga com o real e o fictício, é materializado por imagens
visuais (que lembram quadros e cenários) e linguagem, associando sentidos
próprios e figurados, o que permite as interpretações.
Para Staiger (1997), a atitude lírica de recordação serve à presentificação do
passado. No romance em foco, vê-se essa atitude lírica e, assim, reviver o passado
é uma forma de lhe atribuir sentido. Por recontar a tragédia histórica do Césio-137,
Miguel Jorge permite a leitura do tecido social, mas também apresenta a busca
incessante do ser humano no que se refere a entender o passado, o presente e o
futuro.
Após a pesquisa bibliográfica, foi elaborada uma sequência didática com o
propósito de ser aplicada em sala de aula. Quanto à pesquisa de campo, esta foi
desenvolvida com alunos de 7° e 9° anos (Ensino Fundamental) de uma escola da
rede estadual de ensino, na cidade de Pires do Rio-GO. O objetivo que direcionou a
elaboração da sequência didática foi a consciência da necessidade da leitura de
literatura e de que como esta pode dialogar com fatos históricos. Dessa forma,
destacou-se o livro Pão cozido debaixo de brasa e como se dá o seu diálogo com a
História de Goiás.
Para a condução da aula, contamos com a colaboração da professora regente
das turmas escolhidas. Adotamos a perspectiva sócio interacionista que valoriza a
interação entre professor-aluno e aluno-aluno, por meio da comunicação e da troca
de conhecimentos.
Com base no levantamento prévio de informações relevantes para a
compreensão da tragédia do Césio-137, primeiramente, em sala de aula, buscamos
identificar se os alunos conheciam os fatos históricos. Trata-se da sondagem inicial
que foi importante para o desenvolvimento da aula. Isso oportunizou aos alunos a
expressão oral, bem como lhes permitiu voltar para a história de sua região e, como
um processo de autorreflexão, constatarem o quanto conheciam ou não seu
passado coletivo.
Após os alunos manifestarem oralmente acerca do que sabiam sobre o Césio-
137, passamos a explanar acerca dos fatos ocorridos na cidade de Goiânia. Os
alunos demonstraram bastante interesse sobre o assunto, ouvindo com atenção,
participando ativamente da aula e questionando com curiosidade.
Cabe ao professor decidir o que vai ser ensinado ao aluno, a partir da definição
dos objetivos que pretende alcançar, e assim definir quais ações concretas serão
adotadas. Dessa maneira, entregamos uma folha impressa com a seleção das
informações mais relevantes sobre o acidente radioativo. Para esclarecer aos
presentes em sala de aula, empregamos o projetor de slides que possibilitou a
visualização de imagens do fato. Tratamos sobre as possíveis causas e as principais
consequências do ocorrido. Recorremos a recursos audiovisuais como, por exemplo,
documentário, reportagem e filme que abordavam a tragédia.
Na sequência, passamos a abordar a literatura goiana, questionando se os
alunos já conheciam o romance Pão cozido e o escritor Miguel Jorge. Também
apontamos outros livros que abordam o Césio-137, mas, é claro, demos destaque
para o livro miguelino. Os alunos não tinham conhecimento nem experiência de
leitura de literatura goiana. Foi apresentado o referido livro, salientando as
diferenças entre a linguagem literária e a linguagem não-literária. À medida que o
aluno pode constatar essas diferenças, pode também reconhecer as características
do gênero textual literário.
Para finalizar o trabalho, foi solicitada aos alunos a produção de um texto que
abarcasse, em seu conteúdo, os fatos históricos e a literatura de Miguel Jorge,
oferecendo a opinião crítica sobre todo o conteúdo discutido. Essa atividade de
expressão escrita foi feita individualmente, dando a oportunidade aos alunos de
argumentação e de desenvolvimento de sua competência linguístico-discursiva, em
outras palavras, passou-se para a produção autoral de textos.
O gênero solicitado foi um artigo de opinião cuja estrutura deveria trazer uma
tese, os argumentos da tese e a conclusão retomando a tese. Enfim, devemos
informar que as análises dos textos produzidos pelos alunos serão objeto de estudo
de um trabalho futuro.
Considerações Finais
Agradecimentos
Referências
JORGE, Miguel. Pão cozido debaixo de brasa. Porto Alegre: Mercado Aberto, 2004.
Resumo: A literatura é um importante alicerce que sustenta a nossa sociedade. Ela nos permite
enxergar a partir de novas visões e perspectivas os diversos aspectos que nos rodeiam,
possibilitando uma melhor compreensão de nossa história. Com ela percebemos melhor as relações
sociais que rodeiam um contexto, dando maior clareza ao estudo da sociedade humana. Nesse
projeto de pesquisa analisamos a representação de campo e cidade na literatura goiana, mais
especificamente em Abaixo do Paraíso, obra de André de Leones, buscando levantar os elementos
que constroem uma cidade e a dão vida.
Palavras-chave: Literatura. Campo. Cidade.
Introdução
Do que é feito uma cidade? Quais componentes possibilitam dar forma a esse
espaço? É caracterizada por elementos semelhantes que a eleva a essa categoria
ou por particularidades que a torna única? Esse espaço que abriga uma gama de
povos carrega em sua essência elementos que são definidos de acordo com a
sociedade que a compõem e, simultaneamente, forma essa sociedade em todos os
aspectos de sua vivência social. Segundo Fustel de Coulanges (2009) a cidade não
é uma reunião de indivíduos: mas sim a união de vários grupos distintos, que se
constituíram antes mesmo de sua formação.
Um ponto importante no estudo das cidades é a forma em que elas são
retratadas e descritas. Na obra de Ítalo Calvino, As cidades invisíveis (1972), o
viajante Marco Polo descreve as cidades que visitou para o imperador Kublai Khan,
levantando suas características particulares, mas, sobretudo, seus encontros em
semelhanças, com uma rica narrativa. Nasr Chaul, em seu estudo da construção da
capital do Estado de Goiás, traça em algumas linhas características da cidade
Goiânia, de uma forma poética que se assemelha com as descrições de Marco Polo:
Goiânia é bonita e perigosa. Agora aos 80 anos, está mais astuta, cada vez
mais experiente, mesmo sem dar conta das rugas violentas que o tempo
moldou a contragosto em sua face mais real e menos poética. A Capital se
porta com elegância e destaque na paisagem de eterna primavera de suas
praças e jardins suspensos de outras babilônias. Senhora entre lindas
mulheres, caminha na multiplicação de seus problemas, quase que
indiferente às mudanças de suas ruas e trajetos, quase que ignorando seus
passageiros políticos, quase sem notar a onda de cultura que transforma
seu sertão em mar. Goiânia é também, sobretudo, a criatura que sobrevive
aos criadores. (CHAUL, 2015, p. 25).
Dessa forma as cidades são únicas, e, ao mesmo tempo, são iguais. Únicas
em seu sentido, em sua organização, em todo um espécime que aparata um
sentimento harmonioso de identidade, que alcança uma simples e complexa
definição dessa singularidade, e iguais em seus objetivos de constituição e
necessidade, em sua inclinação natural, acompanhada ao processo de
modernização, algumas com maior disposição e outras com menor, mas sempre
presente, o que é perceptível na linha temporal histórica dessa cidade, remontado
em seu passado e refletido em seu futuro, entretanto,
a cidade não conta seu passado, ela o contém como as linhas da mão,
escrito nos ângulos das ruas, nas grades das janelas, nos corrimãos das
escadas, nas antenas dos para-raios, nos mastros das bandeiras, cada
segmento riscado por arranhões, serradelas, entalhes, esfoladuras.
(CALVINO, 1990, p.14-15).
Ao definir o que forma a cidade, consequentemente se consegue defini-la e
observar a que necessidades humanas ela atende. Mas antes de pensar a cidade,
ou analisar suas representações, deve-se antes compreender a sociedade que
preenche seu espaço, que existe desde antes da criação das cidades, e até os dias
de hoje, apesar de em menor grau, reside em outro espaço que não a cidade, mas
que se opõe a ela, e ainda sim fundamental para a existência humana: o campo.
Esse espaço apesar de se localizar fora do perímetro urbano mantém uma relação
com a cidade e vice-versa. Dessa forma a sociedade existente em um espaço se
relaciona e dialoga com outro espaço, o que mostra a importância da formação e
organização social para o núcleo espacial. Com isso a cidade carrega não só sua
história, mas a história de uma sociedade, bem como os costumes e culturas de
seus antepassados.
Desse modo, a sociedade humana, nessa raça, não cresceu à maneira de
um círculo que se ampliasse pouco a pouco, alargando-se paulatinamente.
São, ao contrário, pequenos grupos que, constituídos muito tempo antes, se
agregam uns aos outros. Várias famílias formaram a fratria; várias fratrias, a
tribo; várias tribos, a cidade. Família, fratria, tribo, cidade são, de resto,
sociedades extremamente semelhantes entre si, nascidas uma da outra por uma
série de federações. (COULANGES, 2009, p. 143).
Dessa forma a cidade nos mostra sua história, nesse caso a história de uma
ruptura, de uma transição de capital, e lançando a cidade ascendente como um
símbolo de modernidade, que serviria para erradicar o marasmo do interior do
cerrado.
Naquele momento da vida política nacional e estadual, mudar a Capital
significava erguer uma bandeira de luta em torno de uma ideia, e não havia
outra. A mudança da Capital passava ao seu significado mais global: um
símbolo de ascensão ao poder, uma representação do progresso, do
moderno, um divisor de águas entre o velho e o novo Goiás. (CHAUL, 2015,
p. 14).
Cristiano então parte de Goiânia rumo à cidade pujante de Anápolis, com seu
caraterístico marco industrial, DAIA, e sua monotonia espalhada pelas avenidas.
A “Manchester goiana não tinha traço distintivo, algo que a tornasse única.
Comportava-se como um vila interiorana que inchara demais e nas direções
mais esdrúxulas. O distrito industrial e a base militar eram elementos
cruciais para essa metástase, mas se situavam acima ou abaixo daquele
amontoado urbano descolorido e, dizia-se, superpovoado por evangélicos.
(LEONES, p. 60).
Cristiano prossegue então para outra cidade, onde um passado mais vívido o
aguarda, um presente de quem ele havia deixado para trás, sua cidade natal,
Silvânia. Nesse ponto há o confronto entre a cidade e o campo, onde vive seu pai,
onde nasceu e cresceu. Aquele lugar mudara muito a seus olhos, embora ainda
visualizasse como era, mas para seu pai, Lázaro, as mudanças não eram tão
visíveis.
Mas não só o campo e a cidade se transformam sob a condição de espaços
concretos em constante mutação sócio-histórica: também os modos como
ambos são assimilados pelas pessoas, ao longo dos tempos, tem mudado,
de acordo as peculiaridades de cada contexto histórico. (IGNÁCIO, 2010, p.
29).
Considerações Finais
CALVINO, Ítalo. As cidades invisíveis. São Paulo: Companhia das Letras. 1990.
CHAUL, Nasr Nagib Fayad. Goiânia: a capital do sertão. In: SILVA, Ademir Luiz da. &
OLIVEIRA, Eliézer Cardoso de. Goiânia em mosaico – visões sobre a capital do
cerrado. Goiânia: Ed. da PUC Goiás, 2015.
GOMES, Renato Cordeiro. Todas as cidades, a cidade: literatura e experiência
urbana. Rio de Janeiro: Rocco, 1994.
IGNÁCIO, Ewerton de Freitas. Do campo abandonado para a cidade suportada:
campo e cidade na literatura brasileira. Universidade Estadual de Goiás, 2010.
LEONES, André de. Abaixo do Paraíso. Rio de Janeiro: Rocco, 2016.
CONSTRUÇÕES DA TRANSEXUALIDADE DA SUJEITO-PERSONAGEM NOMI
NA SÉRIE SENSE8.
¹'² Universidade Estadual de Goiás — Campus Morrinhos. R. Quatorze, 327 - Jd. América, Morrinhos -
GO, 75650-000
Introdução
Isto posto, além de haver uma procura por uma adequação do corpo com
aquilo presente no imaginário do sujeito como a figura capaz de o representar dentro
do gênero o qual se identifica, os outros ao seu entorno observam essa transição
com o intuito de validar ou não a sua identidade transgênero. As modificações pelas
quais o corpo trans passa, também podem visar uma passibilidade cisgênero, se
vivemos em uma insensata dicotomia de gênero cuja qual compõe-se unicamente
pelo ―masculino‖ e ―feminino‖, a estranheza proporcionada por corpos
biologicamente inversos a identificação de gênero do sujeito é acompanhada de uma
cobrança por um processo de metamorfose capaz de o fazer mais correspondente.
É importante pontuarmos que apesar dessa espera externa,
O gênero é, antes de tudo, prostético, ou seja, não se dá senão na
materialidade dos corpos. É puramente construído e ao mesmo tempo
inteiramente orgânico. [...] O gênero se parece com o dildo. Ambos, a final
vão além da imitação. (PRECIADO, 2014, p. 29)
Assim, como mulher trans, as mudanças que Nomi Marks decide empregar
ao próprio corpo, são acima de tudo, uma transformação que revoluciona sua
imagem para a satisfazer, não com o intuito de copiar e/ou falsificar uma identidade
biológica. Toda a tecnologia sexual (Preciado, 2014) adotada e praticada pela
sujeito-personagem a constrói como a mulher que habita sua psique. Não é — ou
não deveria ser; necessário que se prove sua constituição transgênero, a partir do
momento em que seu corpo não deveria existir para ser legitimado por segundos e
terceiros.
FOUCAULT, Michel. ―Corpos Dóceis‖. In: Vigiar e punir: nascimento da prisão. 42.
Ed. Petrópolis, Rio de Janeiro: Editoras Vozes, 2014.
email:[email protected]
Introdução
Agradecimentos
FREITAS, Lúcia Gonçalves de. O filme da Barbie e o jogo do Counter Strike como
dispositivos pedagógicos: gêneros, letramento e multimodalidade. In: SANTOS,
Débora Cristina; FREITAS, Ewerton Ignácio.; ADÃO, Manoel,. (Org.). Pesquisa e
formação docente na sociedade do conhecimento. Anápolis: UEG, 2014 p. 93-
112.
Introdução
Resultados e Discussão
Considerações Finais
Agradecimentos
Referências
Resumo: Este artigo tem por objetivo analisar as formações discursivas a respeito do cárcere e dos
sujeitos encarcerados, em enunciados produzidos por agentes prisionais, considerando as relações
sócio-históricas e ideológicas construídas nesse lócus significativo. Em nossa análise, levamos em
conta os princípios de missão, visão e valores do Departamento Penitenciário Nacional (Depen),
observando as recorrências discursivas a partir das enunciações dos agentes nas entrevistas que
fazem parte do corpus que organizamos. Para isso, fundamentamo-nos na Análise de Discurso de
linha francesa, tomando como base as reflexões produzidas, principalmente, pelos teóricos Orlandi
(2001; 2006; 2009), Foucault (1987; 1979), Pêcheux (1995), Travaglia (1996), entre outros autores
que consideram a relação indissociável entre sujeito, língua e o contexto no qual se inserem. Com
este trabalho, buscamos compreender melhor o cenário postulado sobre a prisão, que sustenta
inúmeros pré-conceitos. Por meio da análise discursiva dos enunciados dos agentes penitenciários,
os quais convivem diariamente no espaço da prisão, nos foi possível observar que eles desacreditam
na eficácia do sistema carcerário, principalmente em relação à possibilidade de ressocialização dos
detentos e egressos do sistema. Além disso, os enunciados analisados apontam para o fato de os
sentidos produzidos pelos agentes serem afetados sócio-histórica e ideologicamente, atravessados
pelos discursos de seus superiores, da sociedade midiática e da população em geral, apropriando-se
de uma relação de poder acima de sua função, a de julgar.
Introdução
1
Disponível em: http://depen.gov.br/DEPEN/depen/missao-visao-e-valores-1 Acesso em: 30.08.2018.
Assim, partindo desses ideais, buscamos refletir sobre o papel e os
enunciados reproduzidos por estes agentes, investigando a relação entre os sujeitos
que se encontram nesse lócus significativo por meio da análise discursiva. Para o
nosso estudo, fundamentamo-nos na Análise de Discurso de linha francesa,
tomando como base as reflexões produzidas vários teóricos que consideram a
relação indissociável entre sujeito, língua e o contexto sócio-histórico e ideológico.
Para isso, partimos da definição de discurso pensada por Orlandi (2006,
p.17):
Material e Métodos
Resultados e Discussão
Com base nesses enunciados, nota-se uma certa cautela dos agentes ao se
tratar do assunto, visto que há várias regularidades enunciativas em que
observamos que houve uma tentativa de amenizar os efeitos de sentidos. Dentre os
recursos linguísticos, citamos os enunciados divididos, pelo uso do mas, às vezes e
agora, e as posições que se inserem em determinadas situações, como o uso da
ironia presente no último enunciado.
A violência com que, historicamente, os aprisionados são tratados de alguma
forma é trazida nos enunciados produzidos pelos agentes. Observamos o
funcionamento ideológico que produz um efeito de inquestionabilidade, em que os
sentidos aparecem como “naturais”, como se todos soubessem que a violência é
“necessária” e “já faz parte” dos procedimentos.
Nesse ponto, para que compreendamos melhor o funcionamento da ideologia,
noção teórica preciosa para a Análise de Discurso, trazemos Pêcheux (1995, p. 159-
160) que explica:
[...] é a ideologia que, através do ‘hábito’ e do ‘uso’, está designado, ao
mesmo tempo, o que é e o que deve ser [...] é a ideologia que fornece
evidências pelas quais ‘todo mundo sabe’ o que é um soldado, um operário,
um patrão, uma fábrica, uma greve, etc., evidências que fazem com que
uma palavra ou enunciado ‘queriam dizer o que realmente dizem e que
mascaram, assim sob a transparência da linguagem’ aquilo que
chamaremos o caráter material do sentido das palavras e enunciados.
(grifos do autor).
O principal tema abordado, em duas questões do questionário, foi a
possibilidade de ressocialização. Foi possível constatar que os oito agentes
entrevistados, por unanimidade, não acreditam no potencial ressocializador do
sistema carcerário brasileiro. Vejamos as sequências discursivas produzidas por
eles:
Sobre a possibilidade de ressocialização dos detentos:
*Em sua maioria o sistema prisional brasileiro não tem potencial efetivo de
ressocialização do preso [...] (entrevistado 01)
*[...] não há possiblidade, pois falta uma gestão e investimentos para que haja
ressocialização. (entrevistado 02)
*O sistema prisional brasileiro atual tem um caráter punitivo apenas [...]
(entrevistado 03)
*Não acredito por causa que os servidores trabalham no limite do sistema e
precario falta de verbas (entrevistado 04)
*Sim. Mas para a ressocialização dos detentos, seria necessário mudanças
radicais. (entrevistado 05)
*Grande parte do sistema prisional brasileiro não possuí nível de
ressocialização como prevê as diretrizes. (entrevistado 06)
*Em grande parte o sistema prisional brasileiro não tem força efetiva para a
ressocialização do sujeito, [...] (entrevistado 07)
*Não. Pois o sistema e precario. (entrevistado 08) (Grifos da autora).
*Só acho que a sociedade vê os agentes como vilões da história e os bandidos que
são os presos ficam sendo os mocinhos, mas na realidade arriscamos nossas vidas
todos os dias para que todos tenham dias felizes. (entrevistado 04)
Considerações Finais
Agradeço, primeiramente, a Profa. Dra. Elizete Beatriz Azambuja, por ter me concedido a
honra em participar de seu projeto de extensão, que me possibilitou várias reflexões sobre o presídio
como um lócus provido de significados. E, posteriormente, por me convidar para o projeto de
pesquisa, em que pude compreender muitos pré-conceitos, que eu mesma tinha a respeito da
Unidade Prisional e de pessoas encarceradas.
Estendo meus cumprimentos à Coordenadoria de Bolsas da Universidade Estadual de Goiás
por aprovar e disponibilizar para o projeto as bolsas de Iniciação Científica, as quais contribuíram
para que pudéssemos adquirir a um grande agrado em fazer parte.
Referências
Resumo: Neste texto, retomamos o percurso transcorrido ao longo da pesquisa de iniciação científica
com bolsa do PIBIC CNPq/Ensino Médio, denominada “O feminicídio em Jaraguá”. O projeto teve
como objetivo realizar um levantamento teórico sobre o tema do feminicídio e suas relações com os
estudos de gênero. O intuito foi usar tal levantamento para apoiar uma melhor compreensão sobre
esse tipo de crime no contexto da cidade de Jaraguá. Para isso, foram selecionados, lidos, fichados e
compilados textos que resultaram em uma narrativa sobre o feminicídio como um crime de gênero,
conforme apresentamos aqui.
Introdução
Material e Métodos
Resultados e Discussão
Embora, de longas datas as mulheres tenham sido mortas por homens que se
consideram donos delas, o termo feminicídio propriamente no sistema penal é
recente, uma vez que a lei do feminicídio (lei N 13.104/2015) foi aprovada penas em
2015 (BRASIL, 2016). À época do projeto de pesquisa, em 2018, tínhamos uma
percepção de que o tema era praticamente desconhecido em nossa cidade,
Jaraguá, interior de Goiás. Muitas pessoas aparentemente ouviam falar, mas não
entendiam do que se tratava propriamente. No entanto, a violência contra a mulher é
muito grande em nosso município. No trabalho de pesquisa realizado por Freitas e
Pinheiro (2012) sobre violência contra as mulheres, durante os anos de 2008 a
2010, embora as pessoas de Jaraguá pensassem que o crime local mais recorrente
seria a falsificação de roupas, os dados dos processos criminais do Fórum da cidade
mostravam que no município o número de processos enquadrados na lei Maria da
Penha, por exemplo, só perdia para o crime de roubo e furto juntos, conforme mostra
o gráfico a seguir (FREITAS e PINHEIRO, 2012, p. 230)
GRÁFICO I
PRINCIPAIS PROCESSOS PENAIS DO FÓRUM DE JARAGUÁ 2007-2008
Outros
Lei Maria da Penha
20%
21%
Falsificação
4%
Corrupção ativa
3%
Dentre os casos que foram julgados segundo a lei Maria da Penha, segundo
esse estudo, 5% eram feminicídios, embora naquele momento não fossem assim
enquadrados (FREITAS e PINHEIRO, 2012). E o que é feminicídio? A seguir
apresentamos nossa compilação de textos sobre esse conceito e sua relação com
questões de gênero.
O conceito de feminicídio
O conceito de feminicídio foi utilizado pela primeira vez por Diana Russel em
1979, no tribunal internacional sobre crimes contra as mulheres, realizados em
Bruxelas para caracterizar o assassinato de mulheres pelo fato de serem mulheres.
O feminicídio é um tipo de homicídio praticado contra uma mulher em razão do seu
gênero, ou seja, justamente pela associação de que o sujeito feminino deve se
subordinar ao masculino. Muitas pessoas confundem femicídio com feminicídio, mas
existe um diferença entre os dois conceitos. O femicídio é a morte de uma mulher
sem que haja ódio ou desprezo ou repulsa pela sua condição de ser mulher, ou seja,
é o nome dado ao assassinato de qualquer mulher. Usa-se o termo como uma forma
de homicídio no feminino. Já o Feminicídio é o assassinato de uma mulher pela
condição de ser mulher. São crimes que ocorrem geralmente na intimidade dos
relacionamentos e com frequência caracterizam-se por formas extremas de violência
e barbárie. São crimes cujo impacto é silenciado, praticados sem distinção de lugar,
de cultura, de raça ou de classe, além de serem a expressão perversa de um tipo de
dominação masculina ainda fortemente cravada na cultura brasileira. Em geral
cometidos por homens contra as mulheres, suas motivações do feminicísdio são o
ódio, o desprezo ou o sentimento de perda da propriedade sobre elas.
Segundo a socióloga Lourdes Bandeira, o feminicídio representa a última
etapa de um continuam de violência que leva à morte. Precedido por outros eventos,
tais como abusos físicos e psicológicos, que tentam submeter as mulheres a uma
lógica de dominação masculina e a um padrão cultural que subordina a mulher e que
foi aprendido ao longo de gerações, trata-se, portanto, de parte de um sistema de
dominação patriarcal e misógino. O cenário que essa barbaridade acontece
geralmente é em bairros mais pobres, cenários familiares e domésticas, já que a
família na sociedade patriarcal confere todo o poder ao homem e nas relações entre
parceiros íntimos as mulheres são consideradas propriedade do marido, namorados
e ex- companheiros.
A palavra gênero foi utilizada pela primeira vez nas ciências médicas, na
psicologia e depois na sociologia e, a partir dos anos 1980, na história das mulheres.
Na França, nos anos 1970, para falar deste conceito, segundo Louro (2007),
falávamos antigamente de “sexo social” ou de “diferença social dos sexos”. Em
1972, Ann Oakley, socióloga britânica, queria diferenciar o sexo do gênero, pois
quando falamos em gêneros estamos falando de desigualdade social, desigualdade
que a sociedade impõe. O fato de a biologia dotar-nos com o sexo feminino ou
masculino e suas diferenças próprias, não justifica as diferenças sociais que serão
associadas a cada sexo e que têm reservado às mulheres um papel subalterno e de
submissão em relação aos homens.
As desigualdades de gênero começam desde a infância, é dizer, a
socialização primária. O indivíduo, desde a socialização primária aprende as
diferenças de gênero e, dependendo de seu contexto social, será instruído a
desempenhar papéis que são estabelecidos nesses contextos. Nos anos 1930, a
etnógrafa Margareth Mead estudou diferentes sociedades e pôde atestar que cada
uma delas codificava os papéis masculinos e femininos de formas bem particulares e
diversas de uma sociedade para outra. Ela demonstrou que em determinados
grupos humanos a caça era atribuição dos homens, enquanto a pesca era das
mulheres. Há sociedades em que é o homem quem repousa após o nascimento de
um filho, enquanto as mulheres trabalham logo após o parto. Essas diferenças são
sociais e não biológicas, variam, portanto de um grupo humano para outro e de
tempos em tempos.
O gênero, portanto, é um conceito que busca captar essas diferenças sociais
que são atribuídas ao sexo biológico. O aspecto descritivo da categoria facilita
compreender como as construções sociais se apropriam das diferenças sexuais e
biológicas entre homens e mulheres e conferem a cada sexo atributos opostos.
Estas atribuições foram associadas a papéis e esferas sociais distintas, que são
valorizadas econômica, política, social e culturalmente também de forma distinta.
“Ninguém nasce mulher: torna-se mulher”, afirmou Simone de Beauvoir, estudiosa
da condição feminina. Para ela, “nenhum destino biológico, psíquico, econômico
define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da
civilização que elabora esse produto intermediário entre o macho e o desqualifica a
feminino” (LOURO, 2007). O conceito serve, assim, como uma ferramenta analítica
que é, ao mesmo tempo, uma ferramenta política.
O Centro de Integração da Mulher (CIM, 2018), em sua página on-line lista
os seguintes planos de gênero:
• Plano sociocultural: o gênero é um sistema de organização social que
outorga maior poder e privilégios aos homens, e que se apoia em uma série de
crenças que legitimam e mantêm esta estrutura social. Os valores, costumes,
tradições e estereótipos junto às leis de um país regem o modelo de organização
social.
• Plano relacional: o gênero é um processo dinâmico de representação;
uma representação do que significa ser mulher ou homem em situações cotidianas,
o que, por sua vez, influencia a forma como se comportam homens e mulheres e
como são tratados.
• Plano pessoal: neste nível, o gênero é um aspecto que também
influencia a identidade e as atitudes pessoais. Seriam o conjunto de expectativas,
interesses, fantasias e crenças que estão associadas a modelos mais ou menos
aceitáveis do que significa ser um homem masculino ou uma mulher feminina em
uma cultura específica.
O feminicídio é uma violência de gênero na medida em que é motivado pelo
menosprezo ou discriminação à condição da mulher. As Diretrizes Nacionais
Feminicídio, documento nacional de que orienta o tratamento desse crime no Brasil,
detalha as motivações baseadas em gênero que podem estar por trás de episódios
violentos: sentimento de posse sobre a mulher; controle sobre seu corpo, desejo e
autonomia; limitação da sua emancipação profissional, econômica, social ou
intelectual; tratamento da mulher como objeto sexual; e manifestações de desprezo
e ódio pela mulher e por sua condição de gênero. Algumas estudiosas do tema
alegam que o termo feminicídio se originou a partir da expressão "genocídio", que
significa o assassinato massivo de um determinado tipo de gênero sexual. Por todas
essas características, pode-se afirmar que o feminicídio é uma violência de gênero,
como está caracterizado na Lei Maria da Penha e como foi discutido para o projeto
de lei que resultou na chama Lei do Feminicídio.
Em 2015 o Congresso Nacional aprovou uma lei que mudou o artigo 121,
que define homicídio no Código Penal. Esse artigo foi alterado e teve o feminicídio
incluso como um tipo penal qualificador – como um agravante ao crime. O
feminicídio qualifica o assassinato quando a mulher é morta por questões de gênero.
A condição do feminicídio como uma circunstância qualificadora do homicídio o inclui
na lista de crimes hediondos, termo que é usado para caracterizar crimes que são
encarados de maneira ainda mais negativa pelo Estado e que são ainda mais cruéis
do que os demais. Por isso, há penas mais duras. Latrocínio, estupro e genocídio
são exemplos de crimes hediondos – assim como o feminicídio.
Segundo Oliveira e Oliveira (2018) o feminicídio pode ser classificado em
três situações:
• Feminicídio íntimo: quando há uma relação de afeto ou de parentesco
entre a vítima e o agressor;
• Feminicídio não íntimo: quando não há uma relação de afeto ou de
parentesco entre a vítima e o agressor, mas o crime é caracterizado por haver
violência ou abuso sexual;
• Feminicídio por conexão: quando uma mulher, na tentativa de intervir, é
morta por um homem que desejava assassinar outra mulher.
A Lei do Feminicídio (Lei 13.104, de 2015) não introduziu um “crime novo” no
Código Penal. A rigor, o feminicídio é um agravante do crime de homicídio, uma
circunstância específica que transforma o ato em homicídio qualificado. O tempo da
pena aplicável ao feminicídio poderá ser aumentado se o crime for praticado contra
pessoa portadora de doenças degenerativas que acarretem condição limitante ou de
vulnerabilidade física ou mental. O crime receberá igual tratamento se for cometido
na presença física ou virtual de descendente ou ascendente da vítima. A pena para o
crime vai de 12 a 30 anos de reclusão. Mas pode ser elevada em até 50% caso o
crime seja praticado na presença de filhos, pais ou avós da vítima, durante a
gestação ou nos três meses imediatamente pós-parto e ainda contra vítima menor
de 14 anos, maior de 60 anos ou com deficiência.
Considerações Finais
Agradecimentos
Referências
[email protected]
Universidade Estadual de Goiás – Campus Formosa.
Resumo: Este trabalho dedica-se a investigar, por meio de teorias da comparabilidade literária, a
relação entre o romance inaugural, O Engenhoso Fidalgo Dom Quixote da Mancha, da autoria do
escritor castelhano, Miguel de Cervantes, e três obras pertencentes à filmografia do diretor
cinematográfico francês, Jean Pierre-Jeunet; sendo elas O Fabuloso Destino de Amélie Poulain
(2001), Eterno Amor (2004) e O Ladrão de Sonhos (1993). Essa relação é construída a partir da
ideia de liberdade e loucura, que abraça os protagonistas de cada obra a que nos dedicamos nesta
pesquisa. Caminhar entre esses conceitos é o que tentamos fazer neste trabalho que busca
compreender a loucura atrelada à liberdade, longe da ideia patológica à qual se relaciona em alguns
ideários. Para isso tomaremos o herói cervantino como espelho para as ações dos protagonistas dos
filmes, acreditando que o diretor, além de leitor do Quixote, é mais um dos indivíduos que, inseridos
na cultura ocidental, não pôde distanciar-se da influência que o Dom Quixote exerce até os dias
atuais.
Introdução
Resultados e Discussão
A principal obra de Cervantes, O Engenhoso Fidalgo Dom Quixote da
Mancha, não foi tida com algo sério para os seus contemporâneos, mas sim como
uma comédia sobre os heróis das novelas de cavalaria que, nesse período, já
estavam em declínio; ainda assim a obra foi um grande sucesso. Porém, foram as
gerações posteriores que elevaram essa literatura ao cânone mundial e analisaram
seu teor crítico.
Nas entrelinhas da primeira parte de Quixote, o leitor experimenta o
sentimento de liberdade total, um senhor de idade que constrói seu próprio ideal
guiado por suas obras de cavalaria e encontra um mundo de histórias e aventuras
para si, nos encaminha para experienciar o sentimento de ser absolutamente livre,
vivendo dentro de si. É também ao longo dessa primeira parte que conhecemos
personagens que representam com maior exatidão a vivência histórica do autor. Em
umas das passagens mais famosas da obra, o cura e o barbeiro, apoiados pela ama
e pela sobrinha de Dom Quixote, selecionam livros para “salvar” da fogueira que
acendem para queimar os livros supostamente causadores da “doença” do velho
Quixada. Os livros salvos são os livros aprovados, como leituras edificantes, pelo
cânone clérigo europeu.
A influência exercida por Dom Quixote na obra do cineasta francês é tal que
evidencia partir de um leitor de Cervantes. Assistir sua filmografia, principalmente a
mais famosa, O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, é deliciar-se em um legado
que o Quixote envia para a contemporaneidade, fazendo-se mais vivo e atuante do
que foi, em sua própria época. Quando Amelie inicia sua trajetória em busca de
ajudar as pessoas em seu cotidiano, descobrindo mistérios e rememorando
histórias, é uma clara leitura quixotiana. A busca de Amélie tem uma liberdade,
fugida de padrões, que somente o Dom Quixote poderia experienciar e difundir.
Não é tão diferente quando falamos dos personagens dos outros dois filmes
trabalhados, que também buscam coisas extremamente fora da margem do que se
compreende como normalidade no cenário em que a narrativa se insere. Porém, os
dois caminham por lugares distintos da Amélie e do Dom Quixote, ainda que ligados
por essa fuga à normalidade, pela ganância do que vem a ser liberdade dentro de
suas histórias e pela, muito presente, ideia de loucura.
Ao final dessa investigação, pudemos concluir que o Dom Quixote ainda é
muito influente na cultura ocidental. Ainda que essas semelhanças não sejam
propositais, elas existem e estão evidentes na forma de criar do século XX. A
influência do Quixote marca, até mesmo aqueles que estão isentos dos escritos de
Miguel de Cervantes.O Dom Quixote está implícito no imaginário ocidental.
É inegável a semelhança dos personagens de Jean Pierre-Jeunet com o
herói cervantino. Traços como o altruísmo de Amélie, a convicção de Mathilde e a
loucura de Frank, cruzam-se formando o efeito de liberdade que torna essas obras
tão evidentemente inspiradoras e humanas. A liberdade é o que une esses
personagens ao Dom Quixote, revisitando um tipo de loucura que passa ao longe da
ideia de insanidade, para aproximar-se da ideia de afastamento de um padrão que
cobra um tipo de comportamento que faria desses personagens indivíduos
“normais”. Longe disso, eles quebram amarras e tornam-se livres.
Considerações Finais
Este estudo resulta em uma reflexão acerca da comparabilidade no ramo da
literatura. Nos tempos atuais, a literatura é uma soma e abrange mais do que
apenas as letras, estendendo-se para as mídias contemporâneas, nas quais o
cinema se insere. Analisar essa obra tão importante para o imaginário ocidental é
enfatizar sua relevância para os dias em que estamos vivendo. Em Amélie Poulain
ouvimos que “são tempos difíceis para os sonhadores” e, ao ler a obra de
Cervantes, vemos que isso não era diferente nos tempos de Dom Quixote.
Relacionar essas obras contribui para a aproximação do passado com o
presente, com a busca da nossa própria história. O progresso é uma ideia instável e
a história é um ciclo pelo qual estamos passando. Nossos antepassados
compartilham de nossas angústias e não poderia ser de outra forma. Assim sendo,
devemos nos recordar de que as memórias de Quixote no cinema pop de Jean
Pierre-Jeunet, são as memórias que guardamos daquilo que não se esvai, mas
permanece para nós na literatura mundial, influenciando tudo que foi criado depois
disso.
Agradecimentos
Gostaria de agradecer, de forma inicial, à fé em Deus, que move e incentiva àqueles que
n’Ele acreditam. Posteriormente, gostaria de registrar uma gratidão imensa ao meu orientador, Pirajá,
que me acolheu, mesmo sem um rumo de projeto por onde trilhar e me ajudou a traçar todo o
caminho desta pesquisa, me aconselhando, estruturando e apoiando em momentos de dificuldade.
Também gostaria de agradecer à sua esposa, Lilian, pela ajuda no título e em todas as outras
discussões deste trabalho.
Quero agradecer à minha família, pelo apoio e paciência, mesmo sem a compreensão exata
do que eu estava fazendo. E gostaria, ainda, de agradecer ao meu namorado, Pedro, pela imensa
força em segurar momentos de possível desmoronamento, e também por acreditar e afirmar que tudo
sempre terminaria bem, ajudando para que eu não me permitisse desistir, fazendo-se assim, mais do
que qualquer coisa, um grande amigo. Enfim, quero registrar esse agradecimento a todas as pessoas
que cruzaram o meu caminho trazendo algo bom, e a todos os amigos que a universidade,
gentilmente, colocou na minha vida. E, em especial, ao meu grupo de pesquisa, por embarcarmos
nisso juntos, obrigada!
Referências
CERVANTES, Miguel de. Dom Quixote de la Mancha. Tradução de Almir de
Andrade, Milton Amado. São Paulo: Nova Fronteira, 2016.
Ladrão de Sonhos. Direção: Jean-Pierre Jeunet; Marc Caro, produção: Elias
Querejeta. França, 1995.
O Fabuloso Destino de Amélie Poulain. Direção: Jean-Pierre Jeunet, produção:
Claudie Ossard; Helmut Breuer; Jean-Marc Deschamps. França, 2001.
Eterno Amor. Direção: Jean-Pierre Jeunet, produção: Angus Finney, Jean-Louis
Monthieux. França, 2004.
ARENDT, Hannah. Entre o passado e o futuro. São Paulo, Perspectiva, 2005.
_______________. Origens do Totalitarismo: anti-semitismo, imperialismo,
totalitatismo. Trad: Roberto Raposo. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.
AGAMBEN, Giorgio. O que é contemporâneo e outros ensaios. Chapecó: Argos,
2009.
BERNARDO, Gustavo. O livro da metaficção. Rio de Janeiro: Tinta Negra, 2010.
BLANCHOT, Maurice. O Espaço Literário. Tradução Álvaro Cabral. Rio de Janeiro:
Rocco, 2011.
BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007.
ECO, Umberto. A estrutura ausente: introdução à pesquisa semiológica. Tradução
Pérola de Carvalho. 2. ed. São Paulo: Perspectiva, 1974.
FLUSSER, Vilém. Filosofia da caixa-preta. Ensaios para uma futura filosofia da
fotografia. São Paulo: Hucitec, 1985.
FLUSSER, Vilém. O mundo codificado. São Paulo: CosacNaify, 2007b.
LIMA, Luiz Costa. História, ficção, literatura. São Paulo: Companhia das Letras,
2006.
RICOEUR, Paul. A Memória, a História, o Esquecimento. Campinas: Editora da
Unicamp, 2007.
ROTTERDAM, Erasmo. Elogio da Loucura. Porto Alegre: L&PM, 2003.
SANTOS, L.A. Brandão & OLIVEIRA, S. P. Sujeito, tempo e espaços ficcionais.
São Paulo: Martins Fontes, 2001.
WHITE, Hayden. Trópicos do discurso: ensaios sobre a crítica da cultura. Tradução
Alípio Correia de Franco Neto. São Paulo: EdUSP, 1994.
ZIZEK, Slavoj. Bem-vindo ao deserto do real! São Paulo: Boitempo, 2003.
ZUMTHOR, Paul. Performance, recepção, leitura. Tradução: Jerusa Pires Ferreira e
Suely Fenerich. 2ª edição. São Paulo: Cosac Naify, 2007.
O discurso de universitários a respeito dos cárceres
1 2
Gabriela Magalhães Sabino (IC)*; Elizete Beatriz Azambuja (PQ)
1
[email protected]; Universidade Estadual de Goiás – UEG/Câmpus São Luís de Montes
Belos. Rua da Saudade com Viela B, nº 56, Vila Eduarda, São Luís de Montes Belos - GO, CEP:
76.100-000
² Universidade Estadual de Goiás/ Câmpus São Luís de Montes Belos/GO
Resumo: Essa pesquisa tem como finalidade compreender o imaginário social acerca do discurso
dos universitários a respeito dos cárceres. Desse modo, com a análise das entrevistas é possível
perceber o discurso midiático que circula em nossa sociedade sobre o cárcere que predomina no
espaço acadêmico monte-belense. Para isso, tomamos como material de análise enunciados
produzidos por universitários da Universidade Estadual de Goiás - Câmpus São Luís de Montes
Belos. Verificamos quais sentidos são atribuídos para os cárceres, observando o funcionamento
ideológico nas regularidades enunciativas no referido espaço social. Ao longo dos estudos,
também buscamos observar os efeitos sócio-históricos que se apresentam nos discursos
produzidos e assim entender como funciona o imaginário que constitui os discursos dos
universitários sobre os cárceres. Para nossa pesquisa, fundamentamo-nos nas noções teóricas da
Análise de Discurso, teoria que considera a relação indissociável entre sujeito, língua e o contexto
sócio-histórico e ideológico. Para o estudo do corpus que organizamos, recorremos,
principalmente, a autores como Orlandi (2015; 1996), Travaglia (2009), Foucault (2008; 1979),
Pêcheux (1995).
Introdução
[...] não trabalha com a língua enquanto um sistema abstrato, mas com a
língua no mundo, com maneiras de significar, com homens falando,
considerando a produção de sentidos enquanto parte de suas vidas, seja
enquanto sujeitos seja enquanto membros de uma determinada forma de
sociedade. (ORLANDI, 2015, p.13-14).
Material e Métodos
Resultados e Discussão
Pesquisadora : O que você pensa sobre o fato do Brasil ser o terceiro país
com a maior população carcerária do mundo, atrás apenas dos Estados
Unidos e da China ?
Estudante : Isso é o reflexo de uma sociedade que não se preocupa com a
educação, e que não incentivo de retorno do bandido que já cumpriu a sua
pena, mas por falta de opção voltou para o mundo do crime.
Foi possível perceber que, através da resposta do entrevistado, que ele tem
conhecimento que o sistema prisional é falho e que a população carcerária é
numerosa, devido à falta de investimento na educação e que não há políticas
públicas que atendam as pessoas egressas do sistema carcerário.
Considerações Finais
Agradecimentos
Referências
FOUCAULT, M. Vigiar e Punir: Nascimento da Prisão. Trad. Raquel Ramalhete.
Petrópolis: Vozes, 2008.
_____. Microfísica do Poder. Tradução Roberto Machado. Rio de Janeiro: Editora
Graal, 1979.
GRECO, R. Sistema Prisional: colapso atual e soluções alternativas. Niterói, RJ:
Impetus, 2017.
ORLANDI, E. P. Análise de Discurso: princípios e procedimentos. Campinas, SP:
Pontes, 2015.
_____. A linguagem e seu funcionamento: as formas do discurso. Campinas, SP:
Pontes Editores, 1996.
TRAVAGLIA, L. C. Gramática e interação: uma proposta para o ensino gramática.
São Paulo: Cortez, 2009.
O ETHOS NAS PRÁTICAS DISCURSIVAS DOS PROFESSORES DE
LÍNGUA PORTUGUESA
Erick Samuel Silva Thomas (IC)* [email protected], Silvair Félix dos Santos (PQ)
Universidade Estadual de Goiás
Resumo: Este trabalho aborda de forma crítica o ethos nas práticas discursivas dos professores de
língua portuguesa por meio da atuação docente no Estágio Supervisionado. Tem como objetivo
identificar nos relatos dos estagiários do curso de Letras, o ethos de professores da escola campo onde
esses estagiários estão situados. Para isso, recorremos à pesquisa bibliográfica e de observação de
dados. Para o desenvolvimento teórico deste trabalho, utilizamos autores da Análise de Discurso como
Amossy (2008), Bakhtin (2003, 2006), Fairclough (2001), Maingueneau (1997 e 2008), Orlandi (2001),
dentre outros. Os resultados das análises demonstram algumas modalidades de ethos encontradas
nos relatos dos estagiários, bem como, a associação destas com as práticas dos docentes em sala de
aula.
Introdução
Esta investigação é parte do projeto de pesquisa “formação de professor: uma
análise das práticas discursivas da formação e da atuação docente no estágio
supervisionado” que traz, dentre outros contextos-problemas, compreender como são
as práticas discursivas dos professores de língua portuguesa que atuam no estágio
supervisionado.
Esta produção foi concebida como resultado parcial de uma pesquisa de
Iniciação Científica na modalidade Voluntário - PIVIC que gerou encontros semanais,
debates teóricos a respeito de textos base para fundamentação da pesquisa, assim
como, de definição de um corpus obtido em relatos contidos em “diários de campo”
de estagiários em formação em um curso de Letras. Nesses relatos conseguimos
apontar algumas questões referentes ao ethos sobre a formação de professores e,
sobretudo, do Estágio Supervisionado na perspectiva da Análise do Discurso.
Compreendemos que os relatos obtidos sobre as práticas discursivas em sala de aula
retratam parte das ações utilizadas nas atividades de estágio e servem de base para
as análises de representações do ethos nos contextos sociais e linguísticos
desenvolvidos no estágio supervisionado de língua materna.
As expectativas é que os resultados revelem o ethos docente nos diferentes
modos das práticas discursivas utilizadas pelos professores em suas aulas de língua
portuguesa durante o processo de ensino-aprendizagem de estágio supervisionado.
Como proposição específica, delimitamos que o objetivo principal desta
investigação é analisar a influência do ethos nas práticas discursivas dos professores
de língua portuguesa no estágio supervisionado. Assim, analisar as relevâncias
significativas dos discursos pedagógicos que constroem o ethos docente, e como, a
partir das linguagens dos professores, eles podem contribuir para um melhor processo
de ensino-aprendizagem de língua portuguesa.
Material e Métodos
A metodologia se fundamenta nos princípios teórico-epistemológicos que
sustentam uma concepção de um sujeito social. Pois acreditamos que a orientação
histórico-crítico-social é a que mais contribui para a formação de um profissional
reflexivo e a que melhor ressignifica suas experiências e suas atividades nos
diferentes contextos de atuação. Como instrumento teórico, a pesquisa qualitativa é
uma categoria de pesquisa que analisa profundamente o objeto a ser pesquisado.
Assim, esta investigação oportuniza maior interação com os discursos obtidos dos
locais da pesquisa por meio de registros produzidos pelos estagiários, os quais nos
proporciona uma maior aproximação com o fenômeno social, educacional e discursivo
estudado (TRIVINOS, 2008). Este tipo de pesquisa, segundo Marconi (2005, p.125),
“baseia-se na observação dos fatos tal como ocorrem na realidade”. Nesse sentido,
dialogando com Pimenta (2006), esse momento é o de fazer emergir a teoria na
prática e esta naquela.
Resultados e Discussão
Muito se tem discutido sobre as abordagens do ethos e as suas implicações
para as ciências sociais, sendo investigadas através dos eventos discursivos,
associando-os às teorias do discurso, da argumentação e da enunciação. Dentre
essas três teorias, optamos pela que mais se aproxima com aquela que trata da
Análise do Discurso, especialmente a de linha francesa. Desse modo, explicitamos
aqui a diferença entre as duas abordagens que fazem problematizações acerca das
ideologias presentes em nossa linguagem. São elas: a Análise do Discurso Francesa
(ADF) e Análise de Discurso Crítica (ADC). Quanto a primeira ideologia, Orlandi (2001,
p. 15) afirma que “procura-se compreender a língua, fazendo sentido, enquanto
trabalho semiótico, parte do trabalho social geral, constitutivo do homem e da sua
história”. Esta disciplina (ADF) sofreu inúmeras influências de teóricos de outras áreas
do saber, bem como, os trabalhos de Michel Pêcheux, Michel Foucault e, sobretudo,
de Mikhail M. Bakhtin. Por isso, hoje se fala em Análise de Discurso bakhtiniana,
foucaultiana e pecheuxtiana.
Neste contexto discursivo e ideológico, o conceito de ethos pode ser
investigado em uma dessas perspectivas. Já a ADC, que surgiu em 1990, é uma
disciplina não muito reconhecida, mas não menos importante. É um campo de
pesquisa teórico-metodológico que aborda questões referentes à relação entre
linguagem e poder. Tem se em Norman Fairclough um dos grandes fundadores dessa
disciplina, o qual colaborou para o desenvolvimento de outros conceitos para a ADC,
exemplificados em um de seus livros “Discurso e Mudança Social (2001, p. 90) - a
‘linguagem como prática social’”. Destarte, a ADC não investiga o ethos como na
perspectiva da escola francesa, mas um outro conceito similar a este, o de
“identidade”. Portanto, aqui neste trabalho, relacionam as práticas sociais vivenciadas
em sala de aula com as linguagens que constroem a representação do professor no
contexto da docência
A prática discursiva [...]envolve processos de produção, distribuição e
consumo textual, e a natureza desses processos varia entre diferentes tipos
de discurso de acordo com fatores sociais. (FAIRCLOUGH, 2001, p. 106 -
107).
Desse modo, as atuações docentes constroem práticas discursivas em sala
de aula que permitem constatar determinados ethos discursivos de cada professor em
relação aos processos de ensino-aprendizagem com seus alunos. Situar o ethos nas
práticas discursivas dos professores é um caminho para analisar o ensino-
aprendizagem da língua portuguesa. Pois, os professores em suas aulas percebem
as formas e os modos de linguagens empregados e como são refletidas no “tom” do
processo de ensino-aprendizagem da língua portuguesa, por parte dos alunos do
estágio. Por meio do estágio supervisionado, os estagiários podem atuar com suas
práticas discursivas e perceberem quais os discursos dos professores em sala de aula
que são considerados de caráter essenciais nas crenças e nos conhecimentos.
Para isso, utilizamos o conceito de “ethos” e suas implicações discursivas na
formação do docente em Letras, a partir do que Garcia-Reis (2017) discute sobre o
ensino e a aprendizagem de língua portuguesa na perspectiva textual e discursiva.
Em diálogo com a temática sobre o ethos, Conceição (2010) trata das representações
do papel de professor de língua portuguesa em que considera as questões
relacionadas às práticas do letramento e das representações sociais da escrita. Estas
representações sempre foram ensinadas por meio de uma visão tradicionalista e que
ainda está muito presente nas escolas. Ela defende que a escola deveria assumir o
compromisso de trazer o letramento de seus alunos através de uma prática de leitura,
de escrita e de oralização de diversos gêneros, e não apenas o exercício do conteúdo
descontextualizado. Para Conceição (2010), o ensino tradicional prevaleceu por muito
tempo e, atualmente, está sendo confrontado com contribuições teóricas como as de
gêneros textuais/discursivos (Bakhtin, 2003), das relações intergenéricas (Corrêa,
2008) e de língua semiófora 1 (Conceição, 2008a), dentre outras.
Nesse contexto teórico, Maingueneau (2008) apresenta a noção do ethos no
discurso desenvolvido no início dos anos 1980 na perspectiva de uma concepção mais
clara do ethos, que está constituída de um interesse mais prático e não apenas teórico.
O ethos se traduz também no tom, que se relaciona tanto ao escrito quanto
ao falado, e que se apoia em uma “dupla figura do enunciador, aquela de um
caráter e de uma corporalidade” (MAINGUENEAU, 1997, p. 220 - 221)
Ele retoma os estudos tradicionais, como o de Aristóteles que foi o primeiro
autor a tomar uma direção a respeito deste tema, em que o ethos, na visão aristotélica,
está relacionado a arte da persuasão sobre o auditório, isto é, o convencimento por
parte do auditório. Nessa concepção, são três qualidades fundamentais que o
auditório lança mão para ouvir o enunciador: a phronesis, ou prudência, a aretè, ou
virtude (sabedoria prática), e a eunoia, ou benevolência. Esses componentes ou
qualidades influenciam o convencimento do auditório em relação a imagem de si do
enunciador que está no discurso. Para tanto, essa abordagem deve ser minuciosa e
com uma perspectiva de interpretação daquilo que os sujeitos dizem e expressam em
suas práticas sociais. Dialogando com as conceituações de Maingueneau, Marcel e
Cruz (2018) abordam o ethos de professores referenciais, em que
Concebe-se Professor Referencial como aquele professor formador que, por
sua ação pedagógica, pelo que faz em sala de aula e pelo que é como
personalidade docente, adquire, para o professor em formação, um status
diferenciado de seus pares, formadores de professores, em termos de
qualidade – o de arquétipo de prática para o professor em formação (p. 366).
Dessa forma, um Professor Referencial é um profissional diferente daqueles
outros que estão inseridos no contexto da docência. Suas ações pedagógicas
influenciam no processo de ensino-aprendizagem de seus alunos. Tem uma
personalidade docente e por este fator adquire um perfil diferente de outros docentes.
Marcel e Cruz (2018) trazem questões referentes aos conhecimentos tácitos dos
professores referenciais que foi constituído na relação entre os professores e seus
estudantes. Porém, é válido afirmar que é um conhecimento tácito, algo construído na
interação entre sujeitos no contexto da docência. Um outro termo que os autores
utilizam é o de ethos.
Concebe-se êthos docente como a singularidade de cada professor, produto
de sua constituição pessoal e profissional: “[...] caráter pessoal; padrão
relativamente constante de disposições morais, afetivas, comportamentais e
intelectivas de um indivíduo” (Houaiss; Villar, 2009). Nesse sentido, ethos
docente seria a personalidade profissional docente, um amálgama de
saberes docentes, profissionais, explícitos, e também tácitos, dos
professores, de faces intelectivas, morais, afetivas e comportamentais
(Marcel e Cruz, 2018, p. 367)
A partir dessas premissas, o ethos está presente em todo o discurso docente,
trazendo visões pessoais e profissionais de cada professor em que suas ideias e seus
valores são demonstrados em seu ethos. Dessa forma, esse fenômeno está bem
conectado às várias perspectivas, tanto morais, afetivas e/ou intelectuais. O
comportamento do professor em sala de aula revela seu ethos, como exemplificado
por Pompeu (2016), em que analisa os relatos de duas professoras sobre o ensino de
língua espanhola e a relação com a formação identitária do professor de línguas, mais
especificamente, o professor de língua espanhola. Quanto as questões referentes ao
conceito de ethos e de como este conceito é trabalhado nas linhas teóricas de cada
campo do saber, Ferreira (2009) aborda por meio de uma visão interdisciplinar, o ethos
desde o seu surgimento, migrando da Retórica para outros estudos, bem como a
semântica argumentativa, a pragmática e a Análise do Discurso. Dessa maneira, o
ethos é um dos três pilares da argumentação, juntamente ao logos (conjunto
harmônico de leis) e ao pathos (forma de persuasão). Para Aristóteles, o ethos tinha
por função representar o aspecto ético ou moral que o enunciador deixava entrever
através de seu discurso, conduzindo a boa argumentação, da qual levava ao
convencimento. Para reforçar, Eggs (2008) e Maingueneau (2008) afirmam que, “o
ethos não é dito, mas mostrado através da seleção de recursos estilísticos e
linguísticos, dentre as inúmeras possibilidades existentes”.
Já Bortolotto e Guimarães (2016) citam Brait (2002) em que afirma “se por um
lado não há como desvincular linguagem das atividades humanas, por outro, tal
relação constitutiva não inviabiliza a possibilidade de análise das particularidades da
linguagem em relação às diferentes atividades humanas”. Nessa mesma direção,
Furlanetto (2011) elenca os conceitos de discurso e interdiscurso na visão de
Maingueneau e destaca uma posição (social) na visão bakhtiniana em que focaliza as
práticas discursivas. Ela questiona se o texto é estrutura ou acontecimento? e na
abordagem da prática discursiva? Vale de início, o conceito de Bakhtin (2003, p.308)
para texto
[...] o texto, aqui, como enunciado, ou seja, como material concreto em
circulação no meio social e produzindo seus efeitos em situações reais.
Nessa perspectiva, o texto é acontecimento da vida social.
Dessa forma, para Furlanetto (2011), a prática discursiva “pode referir-se de
modo geral a qualquer atividade discursiva, ou a uma prática específica”. Ao
tomarmos a palavra no campo das práticas sociais geramos uma imagem de nós
mesmos um fenômeno conhecido como ethos. Desse modo perguntamos o seguinte:
qual é a imagem que se tem da atuação do professor em sala de aula? trata-se de
uma modalidade de ethos? Se sim, de qual forma devemos entender esta modalidade
de ethos? Respondendo às perguntas anteriores, podemos dizer que sim, pois o
professor em sala de aula exerce um ethos. No entanto, alguns autores entendem
esta imagem como “ethos docente”, que na concepção de Marcel e Cruz (2018,
p.367), seria “a personalidade profissional docente, um amálgama de saberes
docentes, profissionais, explícitos, e também tácitos, dos professores, de faces
intelectivas, morais, afetivas e comportamentais”.
Para melhor fundamentar nossa análise Eggs (2008, apud FERREIRA, 2009,
p. ...) afirma que “o ethos está no discurso e ele pode ser mostrado através das
escolhas realizadas pelo orador”, assim como Amossy (2008) reforça que esta
escolha está em nossas crenças e em nossas competências linguísticas e
enciclopédicas e que todo ato de enunciar, de tomar a palavra e realizar ações faz
com que construímos uma imagem de nós mesmos, sem que precisamos detalhar
nossas qualidades. Assim, o conceito de ethos nas práticas discursivas da docência
pressupõe um diálogo com o conceito de professor que, segundo Loureiro (1986),
citado por Cunha (2010, p.42) o bom professor “deve ser capaz de desenvolver e de
promover nos alunos a “[...] aptidão para ser tudo o que se pode ser”, e conclui que “a
verdade é que não existe, apesar de tudo, um consenso universal relativamente à
ideia do que se possa considerar um bom professor” (p. 43).
Para continuarmos com esse debate é necessário que incluamos os conceitos
de texto e de prática discursiva segundo as leituras da Análise do Discurso. O texto,
de acordo com Bakhtin (2003, p. 308) citado por Furlanetto (2011, p.46), é a ‘“realidade
imediata das ciências ditas humanas (e isso inclui a musicologia e a teoria e história
das artes plásticas), e todo texto ‘tem um sujeito, um autor (o falante, ou quem
escreve)’”. Furlanetto (2011. p. 46) afirma que “ele [Bakhtin] olha o texto, aqui, como
enunciado, ou seja, como material concreto em circulação no meio social produzindo
seus efeitos em situações reais. Nessa perspectiva, o texto é acontecimento da vida
social”. Pois, segundo Fairclough (2001, p. 106 - 107) a prática discursiva “envolve
processos de produção, distribuição e consumo textual, e a natureza desses
processos varia entre diferentes tipos de discurso de acordo com fatores sociais”. Em
contrapartida, Furlanetto (2011, p.48) afirma que a prática discursiva “pode referir-se
de modo geral a qualquer atividade discursiva, ou a uma prática específica”.
Os relatos dos professores de língua portuguesa, neste contexto, representam
a análise de uma “amostra” das práticas discursivas da profissão docente a qual nos
possibilita dialogarmos com o conceito de ethos em suas vivências profissionais no
cotidiano. Nos trechos extraídos a seguir, encontramos as modalidades representadas
de acordo com os seus respectivos estudiosos:
Gostei da atitude da professora, a leitura fez conter a turma além de poder
aprender interpretar textos. Não sei se teria a mesma atitude naquela hora,
mas só tenho a elogiá-la. (P. F. 1); O objetivo da docente era discutir os
elementos de um conto (clímax, enredo, etc.). Nota-se que a mesma é
sociointeracionista (sua metodologia), deixando os alunos darem suas
opiniões e falar (expor) suas percepções. (P. F. 3); A professora mostrou que
sabia o conteúdo e modo como ensina para os alunos é claro e objetivo,
interagindo e conversando com os mesmos. (P. F. 3); O relacionamento que
a docente tem com os alunos (9° ano e 8° ano) chamou minha atenção. A
mesma é bem animada e humorada; os alunos gostam de suas brincadeiras.
(P. F. 3)
Como representado nos relatos anteriores dos professores em formação (P.
F) 1 e 3, percebem os ethe 3 caracterizados discursivamente em “tom, que se
relaciona [...e] que se apoia em uma “dupla figura do enunciador, aquela de um caráter
e de uma corporalidade” (MAINGUENEAU, 1997, p. 220 - 221), neste caso, o de um
profissional que representa uma prática dialética, um domínio metodológico e que são
agregadas à admiração e a valoração de ‘bom-professor” como apresentado por
Loureiro (1986). No entanto, o ethos a seguir, é representado da seguinte perspectiva:
Quando o sino bateu, fomos para o 8° A. Antes de entrar, a professora
comentou, bem baixinho, “agora você vai entrar no inferno”. (P. F. 2)
Neste exemplo de formação do ethos, compreendemos que a prática
discursiva representa o valor de um professor imbuído de “preconceito, sem diálogo,
autocrático”, como exemplo de ethos pré-discursivo segundo Maingueneau. Ainda
com as mesmas percepções, os professores em formação, apontaram que:
Fui bem recebida pela minha professora, mas ouvi um comentário bastante
infeliz: “escraviária, escraviária”. (P. F. 2); Hoje, durante as aulas, me senti
mais “útil”. A professora me permitiu participar mais ativamente das aulas,
ajudei nas correções e atividades propostas. (P. F. 4).
Nestes últimos exemplos, as práticas discursivas apresentadas, revelam a
constituição do ethos como uma postura profissional do docente que conduz,
necessariamente, os professores em formação (P.F. 2 e 4) a uma “reflexão,
identificação da situação e uma tomada de consciência” das práticas sociais
manifestadas pelos discursos docentes, exemplificando a noção de ethos de
professores referenciais de acordo com Marcel e Cruz. Nesta mesma perspectiva
teórica, as posturas ilustradas a seguir, retomam outras práticas sociais em que
reforçam a questão do ethos com a formação do professor com a metodologia
utilizada:
A professora deu um longo sermão, falando sobre como eles seriam
massacrados / trucidados no conselho de classe de sexta. Apesar de suas
palavras duras, ela soou mais como mãe que como professora. (P. F. 2); Ela
não tem o hábito de usar o quadro, pelo que percebi prefere fazer as
correções oralmente. (P. F. 4).
Como se pode observar, as escolhas do método da professora para interação
e aplicação dos conteúdos são permeadas de valores subjetivos que dialogam com
os ideais em que a docente acredita como a mais pertinente para a formação de um
cidadão.
A professora soube contê-los [os alunos] rapidamente, pois, estavam
voltando do recreio. (P. F. 1); Acredito que os alunos tem medo da professora,
pois quando ela olha para eles já ficam com cara de medo. (P. F. 1)
Como se pode constatar, a partir da “disciplina dos alunos em sala de aula”,
relatada pelo professor em formação 1, o ethos da professora é representado pela
maneira em que esta conduz a sala de aula. Isto representa um breve diálogo com o
conceito de ethos na visão aristotélica, em que se relaciona a arte da persuasão sobre
o auditório, ou seja, o convencimento por parte do auditório.
Considerações Finais
O objetivo principal deste artigo foi o de analisar a influência do ethos nas
práticas discursivas dos professores de língua portuguesa através dos relatos dos
estagiários do curso de Letras. De forma geral, as análises dos relatos permitiram-nos
situar o ethos e elencar algumas de suas modalidades. Desse modo, ao fazermos a
discussão sobre os relatos percebemos como o ethos está presente nos discursos
docentes e, sobretudo, nas práticas discursivas relacionadas à atuação dos
professores no contexto da Educação Básica.
Agradecimentos
Agradeço à Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação da UEG pela oportunidade de
participar da seleção do Programa de Bolsas de Iniciação Científica. Além disso, agradeço ao professor
Ms. Silvair Félix dos Santos pelas orientações. E, por último, direciono meus agradecimentos à UEG
pelo incentivo à iniciação científica.
Referências
AMOSSY, Ruth (Org.). Imagens de si no discurso: a construção do ethos. São
Paulo: Contexto, 2008
BAKHTIN, M. (Voloshinov). Estética da criação verbal. Tradução do russo por
Paulo Bezerra. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e Filosofia da Linguagem. Tradução s/n. 12. ed. São
Paulo: Hucitec, 2006.
BORTOLOTTO, Nelita; GUIMARÃES, Joice Eloi. Dimensões discursivas e
linguísticas no campo do ensino da língua portuguesa–notas de uma prática
docente. Linguagem em (Dis) curso, v. 16, n. 2, p. 353, 2016.
CONCEIÇÃO, Rute Izabel Simões. As representações do papel do professor de
português. Revista Brasileira de Linguística Aplicada. v. 10, n. 3, p. 681-698, 2010.
CUNHA, António Camilo. Representação do “bom” professor: o" bom professor
em geral e o" bom" professor de educação física em particular. Educação em
revista, v. 11, n. 02, p. 41-52, 2010.
CUNHA, Maria Isabel da. A relação professor-aluno. In: VEIGA, Ilma Passos
Alencastro (Coord.). Repensando a didática. 25. ed. Campinas, SP: Papirus, 2007.
p. 149-159.
FAIRCLOUGH, Norman. Discurso e Mudança Social. Trad. Izabel Magalhães,
coordenadora da tradução, revisão técnica e prefácio. Brasília: UnB, 2001.
FERREIRA, Luciane Todeschini. O ethos do professor de língua portuguesa na
escrita diarista de alunas estagiárias. UFRGS. Porto Alegre, 2009.
FURLANETTO, Maria Marta. Ensino de língua portuguesa: focalizando as
práticas discursivas. Uniletras, Ponta Grossa, v. 33, n. 1, p. 43-59, 2011.
GARCIA-REIS, Andreia Rezende. Práticas de linguagem na formação dos
professores de Língua Portuguesa: uma perspectiva de análise do Projeto
Pedagógico do curso de Letras. Revista Veredas, v. 21, 2017.
LOUREIRO, J. E. Elementos para uma política de formação de formadores em
educação. Ludens, Lisboa, v. 10, n. 3/4, p. 7-10, 1986.
MAINGUENEAU, Dominique. A propósito do ethos. Ethos discursivo. São Paulo:
Contexto, p. 11-29, 2008.
MAINGUENEAU, Dominique. Novas Tendências em Análise do Discurso. Trad.
Freda Indursky. Campinas, SP: Pontes: Universidade Estadual de Campinas 3.ed.
1997.
MARCEL, Jules; CRUZ, Giseli Barreto da. Êthos docente de professores
referenciais. Educação e Realidade. v. 43, n. 1, p. 363, 2018.
MARCONI, M. de A. Fundamentos de metodologia científica. 6. ed. São Paulo:
Atlas, 2005.
ORLANDI, Eni Pucinelli. Análise de Discurso: princípios e procedimentos. São
Paulo: Pontes, 2001.
POMPEU, Alex Lobato. O ethos discursivo e a formação identitária do professor
de espanhol em Belém do Pará. Trabalhos Completos ALED BRASIL, v. 2, n. 1.
2016.
TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa
qualitativa em educação. Atlas. São Paulo, 2008.
Pedagogia Feminista e Religião: A Rede de Mulheres Teresianas.
Email: [email protected]
Introdução
Material e Métodos
Resultados e Discussão
A participação ativa das mulheres na politica é algo que as freiras lutam para
conquistar, ao longo de seus trabalhos faz-se necessário educar as mulheres
politicamente, para que o movimento da rede e a atuação aconteçam cada vez mais
atuantes, em prol de ganhar força feminina nos vários ambientes sociais e políticos.
Busca-se romper com a presença das mulheres como uma figura anódina nestes
ambientes.
Considerações Finais
Agradecimentos
Referências
Resumo: O presente artigo tem como objetivo relatar as experiências adquiridas com a realização da
pesquisa “A reescrita dos contos de fadas em Libras” através do Programa Institucional de Bolsas de
Iniciação Científica (PIBIC/CNPq). De acordo com Araújo (2009), a sociedade brasileira tem
contribuído para a inclusão, ao realizar diversos trabalhos para permitir o acesso do surdo à sua
cultura e à cultura ouvinte. Em termos educacionais, há muitas iniciativas que emergem e
expandem-se com efeitos satisfatórios, alimentados pela crescente pesquisa na área de Libras,
dentro de diversas instituições. Logo, percebemos que o paradigma da inclusão é uma temática que
não pertence apenas à educação especial, mas envolve reforma do ensino, teoria do currículo,
multiculturalismo, acesso e permanência do aluno surdo e outros no ensino regular, interação social
facilitada e educação especial. (ARAÚJO, 2009). E, nesse sentido, a postura do professor diante de
seus alunos é importantíssima para promover o respeito e valorizar a diversidade de forma inclusiva.
A partir desses fatores, que surgiu a ideia de propor esta pesquisa que teve como objetivo levar
alunos e professores a conhecer um pouco da história da Libras e refletir sobre os contos de fadas
em Libras e sobretudo a inclusão.
Introdução
Material e Métodos
A inclusão de surdos no mundo ouvinte é uma temática que não pertence apenas à
educação especial, já que envolve vários aspectos dessa grande área como a
reforma do ensino, a teoria do currículo, o multiculturalismo, o acesso e a
permanência do aluno surdo e outros no ensino regular, a interação social facilitada,
a presença constante dos suportes técnicos, entre outros aspectos.
Inúmeras histórias são contadas em línguas de sinais pelos surdos, porém elas não
têm registros em livros para a divulgação e leitura nas escolas e nas comunidades,
geralmente pelas dificuldades de tradução, pelo desconhecimento da língua de
sinais, pela falta de incentivo e incrementos para publicação, entre outros fatores.
Assim o registro de produção literária de surdos termina sendo algo ainda incipiente
e que só bem recentemente, acreditamos, começa a se fazer presente entre as
comunidades ouvintes. A rigor, as línguas de sinais são extremamente importantes
para o desenvolvimento humano da pessoa surda e se constitui um sistema
linguístico de comunicação e expressão que contribui para situações de relatos de
vivências, de experiências, da realidade relacionada ao contexto dos surdos.
Ademais:
os alunos surdos devem ter a oportunidade de relatar na língua
brasileira de sinais -LIBRAS situações diretamente relacionadas com
o seu contexto, sua vivência, sua realidade, suas experiências,
eleitas por eles como importantes para esse fim. Esses relatos são
compartilhados com o grupo. A partir disso, os alunos escolhem um
fato considerado mais relevante e expressam-no por meio de
desenhos. A função dessa expressão é intermediar o relato na língua
de sinais e a produção escrita. Quando a criança expressa, pela via
escrita, o seu relato, ela se baseia, exclusivamente, no desenho,
utilizando a estrutura básica da língua de sinais. Um dado importante
a ser considerado é que nessa relação significativa, normalmente
não foi observado o uso da expressão oral simultaneamente ao uso
de sinais. Acredita-se que esse fato evidencia a relação espontânea
da sua vivência com a escrita (BRASIL, 1997, p. 167).
Acreditamos que compartilhar histórias, contá-las, seja por meio da fala ou
sinalizando-as, representam um processo de aprendizado e uma oportunidade para
desenvolver a interação entre crianças surdas e o mundo que as cerca. Para tanto, a
contação de histórias, como o faz de contas, as fábulas e os contos de fadas, pode
ser uma maneira de facilitar a integração da criança surda com outras crianças
surdas e ouvintes e também uma forma de capacitação para professores e
interessados em literatura e Libras.
Nesse sentido, vemos a importância da postura do professor, diante de seus alunos,
para promover o respeito e valorizar a diversidade. Por ter consciência da
importância para o desenvolvimento humano do processo de apropriação das
experiências presentes em nossa cultura, a leitura e tradução de contos de fadas
pode possibilitar um meio concreto e significativo de inclusão e interação com o
mundo, quando nos referimos a pessoas com necessidades especiais. De acordo
com Araújo (2009), a sociedade brasileira, de maneira geral, tem contribuído para a
inclusão ao realizar diversos trabalhos para permitir o acesso do surdo à sua cultura
e à cultura ouvinte. Contudo a iniciativa ainda é tímida.
Nessa perspectiva, a investigação obteve resultados satisfatórios, através da leitura
de algumas obras, trabalhos, artigos e resumos conseguimos nos aprofundar,
resultando na realização do nosso principal objetivo: a reflexão e a representação
dos personagens femininos na Literatura e na Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS),
tendo como destaque os contos de fadas: Cinderela surda e Rapunzel surda de
Hessel, Rosa e Karnopp (2003).
Cinderela Surda
Em Cinderela surda, encontramos uma menina surda e que se comunica pela língua
de sinais, a bela jovem era de bom coração e havia perdido a mãe ainda criança, e
assim como no conto tradicional o pai de Cinderela acaba morrendo e a jovenzinha
passa então viver sob a guarda da madrasta viúva e suas duas filhas. Cinderela era
a única que trabalhava em casa, sua madrasta era má e egoísta e aproveitava do
bom coração da enteada para realizar os afazeres de casa.
Por se tratar de uma obra recontada, na obra Cinderela surda, encontramos algumas
características estruturais que remetem à versão tradicional, como por exemplo, a
má comunicação e a rejeição no relacionamento da madrasta malvada e as filhas
com Cinderela, sendo que da mesma forma que havia rejeição da parte delas na
história tradicional, conseguimos notar de forma explícita os mesmos sentimentos.
Cinderela tinha dificuldade em comunicar-se com os demais “familiares” pelo fato
de ser surda e eles não compreenderem a linguagem de sinais, o que gerava um
sentimento de rejeição e exclusão sobre a menina. O ambiente que era para ser
acolhedor e familiar era algo assombroso. A história termina de forma emocionante,
e no lugar do sapatinho de cristal o príncipe encontra a luva de Cinderela, que
possui um caráter muito representativo das mãos, que é o meio de comunicação do
surdo.
Considerando os elementos mencionados, conseguimos fazer uma reflexão sobre o
contexto em que Cinderela vivia e fazer um paralelo entre a personagem e muitos
surdos hoje em dia, para tal, nos atentamos para o fato de que, assim como a
madrasta de Cinderela tinha muita dificuldade para compreendê-la, por não saber a
língua de sinais, hoje muitas pessoas surdas são limitadas de se comunicarem com
outras exatamente pelo mesmo fator, já quem nem todos possuem a oportunidade e
também o interesse de aprender LIBRAS.
Rapunzel Surda
A obra Rapunzel surda trata-se de uma releitura da obra clássica Rapunzel. A
História apresenta várias semelhanças com o conto clássico, entretanto, enfatizando
características próprias da cultura surda. Na obra de Hessel, Rosa e Karnopp,
Rapunzel é uma moça surda que por causa de uma maldição foi criada por uma
bruxa e cresceu longe dos pais e de toda sociedade.
Por ser surda, Rapunzel teve que aprender a se comunicar, então, conforme a
menina foi crescendo ela aprendeu a fazer gestos, contudo, a menina não tinha
conhecimento da língua de sinais. Aqui, podemos observar algo bastante relevante,
que é a aquisição da linguagem e também a variação linguística em Libras, já que
existem os gestos e a língua de sinais.
No entanto, a problemática surge no fato de que Rapunzel vivia exilada da
sociedade, e assim, não havia como a jovem aprender a língua de sinais, visto que a
bruxa em si não sabia. Porém esse paradigma frustrante é quebrado quando o
Príncipe resgata Rapunzel não só da prisão física, mas também intelectual e social,
desse modo, Rapunzel estava livre para aprender a língua de sinais e a se socializar
com outras pessoas.
Refletindo sobre os elementos da história citados acima, chegamos a conclusão de
que precisamos nos atentar para o fato de que infelizmente, mesmo estando em
pleno século XXI muitos deficientes auditivos ainda permanecem limitados de
conhecimento e também de se comunicarem com outras pessoas.
Considerações Finais
Referências
HESSEL, C.; ROSA, F.; KARNOPP, L. B. Cinderela Surda. Canoas, RS: ULBRA,
2003. ______. Rapunzel surda. Canoas, RS: ULBRA, 2003.
UEG-Câmpus Cora Coralina - Av. Dr. Deusdeth Ferreira de Moura, Centro, CEP: 76600-000, Goiás –
GO, Tel: (62)3936-2161 / 3371-4971 / (62) 3936-2160, e-mail: [email protected],
website: www.coracoralina.ueg.br.
Introdução
A memória é um tema debatido há séculos. Os primeiros registros datam
desde a Grécia antiga, que lhe consagrou um status divino, conhecido pela figura da
deusa Mnemósine. Esta divindade inspirava os aedos e concedia a eles o dom de
resgatar as memórias de grandes feitos heroicos. Pela grande relevância, mesmo
após o declínio dos deuses, Mnemósine continuou em evidência, porém não mais
com o valor divino e sim como um saber interior tornando-se “no homem a própria
faculdade de conhecer” (VERNANT, 2002, p. 161). Neste sentido, esse tema
começou a ser discutido por grandes filósofos, dentre os quais destacamos Platão
ao defender, por meio de Sócrates, em Fédon (2004) que o saber vem da
espiritualidade e está inato em nosso espírito, necessitando somente de estímulos
para ser recordado, de modo que o conhecimento é adquirido no Mundo das Ideias.
Esse conhecimento fica adormecido na passagem pelo Lete, o “rio do submundo
que confere esquecimento as almas dos mortos” (WEINRICH, 2001, p. 24) e é
recordado, gradualmente, após a reencarnação para o mundo material.
Portanto, podemos compreender até aqui que, com base nesse conceito
filosófico a memória, na antiguidade clássica, era tratada como um saber
internalizado, fruto de um armazenamento subjetivo em relação aos indivíduos.
Essa constituição do indivíduo pode ser entendida como construção ou
ressignificação da identidade, pois há uma forte discussão, na modernidade, da
relação entre memória e identidade. Michael Pollak (1992, p. 201), por exemplo,
aponta que a memória se caracteriza como um fenômeno mutável que pode ser
individual ou coletivo.
Já Aleida Assmann (2016, p. 18) entende a memória como um monumento,
tendo em vista que, se por um lado o tempo tem o poder de aniquilar as memórias,
os monumentos atuam como uma contrapartida, com o intuito de eternizá-las.
Assmann também discute a memória como práticas culturais, as quais podem ser
passadas de geração em geração preservando as memórias de um povo.
E Joël Candau, no livro Memória e identidade, explora o conceito de memória
como uma reconstrução do passado, que sofre interferências externas e não se
constitui em seu estado puro. Neste sentido a identidade, associada a memória, está
em constante mutação, em decorrência das diversas relações e contatos sociais que
experienciamos.
Pensando na suma importância da memória e da identidade para os estudos
literários, e da vasta influência destes temas nos romances da atualidade, tomamos
com corpus a narrativa Olho de gato, de Margaret Atwood, tendo em vista que esse
romance foi fonte para uma pesquisa que realizamos acerca dos estudos
memorialísticos e identitários.
Em Olho de gato, a personagem principal, Elaine, une vivências da infância,
adolescência e vida adulta, rememorando aspectos importantes relacionados à
trajetória e à formação identitária da personagem. Elaine, que é uma pintora, narra
as próprias experiências a partir do resgate de suas memórias. Tal resgate é
estimulado por meio de uma viagem que a ela faz a Toronto (cidade em que viveu da
infância a grande parte da vida adulta) para fazer uma exposição retrospectiva de
seus quadros, que são fortemente influenciados por suas experiências da infância.
No regresso à sua cidade natal, Elaine se depara com lugares que estimularão o seu
relato memorialístico. Estes lugares têm grande valor simbólico para a personagem,
pois são lugares de memória, conforme explica Pierre Nora (1993, p. 21): “Mesmo
um lugar de aparência puramente material, como um depósito de arquivos, só é um
lugar de memória se a imaginação o investe de uma aura simbólica”. Logo,
percebemos que o que torna o lugar um „„lugar de memória‟‟ é o valor subjetivo
atribuído por um sujeito antropológico e sua relação de identificação, como é o caso
do local em que estava situada a escola que Elaine estudou na infância, e que era
um lugar de importante significado pessoal para ela.
Um aspecto curioso da narrativa é que o relato de uma quinquagenária
(Elaine), quando se refere à infância, utiliza o tempo verbal no presente, como se
existissem duas Elaines, uma criança, sofrendo o doloroso processo de
amadurecimento, a outra, já bastante experiente, que decide contar sobre o seu
passado. As narrativas se intercalam e se misturam, em uma polifonia, como se
Elaine nunca tivesse deixado de ter nove anos, mesmo tendo cinquenta. Isso se
deve às experiências marcantes que a personagem vivenciou na infância.
Material e Métodos
Para esta pesquisa utilizamos uma metodologia de cunho qualitativo, pois
sendo a literatura uma área ampla e subjetiva, o nosso propósito foi de identificação
de aspectos imensuráveis, como as relações entre a memória e a construção
identitária de um sujeito, e com isso refletir, de forma analítica e perceptiva, sobre as
experiências de uma personagem. O corpus desta pesquisa será o romance Olho de
gato, com o qual será feita uma assimilação e reflexão com o aparato teórico
selecionado.
Resultados e Discussão
O período que influenciou grande parte da obra da personagem Elaine é
referente aos anos quarenta, um período pós-guerra, que faz um intertexto histórico
como o fim da Segunda Guerra Mundial (que durou de 1939 a 1945). Neste
momento a personagem havia acabado de se mudar para uma casa em Toronto,
levando em conta, que antes do fim da guerra ela e a família não tinham uma
moradia fixa e viviam migrando de um lugar para outro no Canadá.
Esse novo período está relacionado aos oito e nove anos de idade da
protagonista e é descrito como formativo para a vida e arte da pintora: “muitas das
minhas cores são cores dos anos quarenta” (ATWOOD, 2007, p. 101), confessa ela.
As vivências de Elaine são formadoras e constituintes da pessoa que ela se tornou,
já que a identidade é constituída simultaneamente com a memória por meio das
experiências, como pode ser compreendido através de Michael Pollak (1992, p.
204), que afirma ser “a memória é um elemento constituinte do sentimento de
identidade”.
A personagem Elaine passa por experiências traumáticas devido a sua
ingenuidade e falta de construtos femininos da época, sofrendo opressões por parte
de sua primeira amiga: Grace, e outras amigas, o que marca profundamente a vida
dela. Essas opressões são uma forma de perversidade da infância, mas também
uma forma de castigo pela “diferença” de Elaine, que era desprovida desses
regimentos sociais de sua época.
A pintora, na época que vivenciou essa amizade opressora com Grace
Smeath, Carol Campbell e Cordélia (a líder do grupo), passou por momentos
desagradáveis, e se surpreendeu ainda mais com a descoberta da participação da
sra. Smeath nos assédios, o que refletiu muito na arte de Elaine, chegando ao
ponto dela produzir vários quadros como uma forma de crítica a essa senhora
opressora.
No entanto, o regresso e a retrospectiva de Elaine, também, possibilitaram a
ela uma rememoração e confrontamento de sua identidade, já que a pintora, ao ter
acesso aos lugares de memória e se confrontar com a própria identidade constituída
na infância, consegue encontrar uma ressignificação identitária. Os lugares da
memória estimularam a rememoração de Elaine e possibilitaram a ela uma chance
de superação ou mesmo assimilação dos traumas sofridos.
Considerações Finais
No decorrer desta pesquisa pudemos analisar as experiências de uma
personagem que tem a identidade marcada (tanto no âmbito pessoal, quanto no
artístico), fortemente ligada às memórias marcantes da infância. Nesse sentido a
personagem, ao realizar uma reconstrução memorialística, possibilitada pelos
lugares de memória percorridos por ela, tem a chance de compreender e conquistar
uma ressignificação identitária, para assim assimilar e quem sabe superar os
assombros da infância.
Agradecimentos
Agradeço a UEG pelo incentivo a pesquisa e ao orientador deste Projeto de Pesquisa: Prof.
Dr. Adolfo José de Souza Frota, pelas contribuições em discussões sobre as leituras realizadas e
pelas orientações no desenvolvimento de nossa pesquisa. Agradeço, também, a minha amiga:
Amanda Cristina Borges, pela parceria em discussões e leituras, as quais compartilhamos em nossas
pesquisas.
Referências
ASSMANN, Aleida. Espaços da recordação. Formas e transformações da memória
cultural. Tradução de Paulo Soethe (coordenador da tradução). Campinas: Unicamp,
2016.
WEINRICH, Harald. Lete: arte e crítica do esquecimento. Tradução de Lya Luft. Rio
de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001.
Teatro para crianças, de Marietta Telles Machado, e sua encenação na
escola
1 2
Tatiane Pereira de Almeida Marra (IC)*, Nismária Alves David (PQ), [email protected]
Resumo: Este trabalho relata os resultados finais obtidos com a pesquisa de Iniciação Científica,
desenvolvida no período de agosto de 2018 a julho de 2019. O objetivo principal foi o de estudar o
livro Teatro para crianças, publicado no ano 1992, de autoria da goiana Marietta Telles Machado.
Após o estudo, levou-se uma de suas peças teatrais ao público leitor infantil de uma escola da rede
pública municipal de ensino, na cidade de Pires do Rio - Goiás. Nessa direção, buscou-se
compreender aspectos teóricos sobre o gênero dramático, conhecer a biografia de Marietta Telles
Machado, propor a leitura e a encenação de uma peça teatral na escola, a fim de verificar a recepção
por parte das crianças. A partir disso, reconhece-se a necessidade de contribuir para que o nome da
escritora seja mais conhecido no meio literário e também colaborar para que se identifiquem algumas
das formas e vertentes que definem a literatura infantil goiana.
Introdução
Material e Métodos
Esta pesquisa, num primeiro momento, teve um caráter bibliográfico. Para seu
desenvolvimento, pesquisou-se sobre a escritora Marietta Telles Machado, fizeram-
se a leitura e a análise das peças teatrais de Teatro para crianças (1992) e
selecionou-se a peça “A traição nas terrinhas do coelho” para trabalharmos em sala
de aula. Em seguida, fundamentando-nos em Jauss (1994) acerca do horizonte de
expectativa, elaborou-se um roteiro de encenação para a peça escolhida, sempre
considerando o público receptor de leitores de 5. Ano do Ensino Fundamental. Já,
num segundo momento, com base em Vygotsky (1989), realizou-se uma atividade
prática de interação, isto é, a experiência de leitura que consistiu na encenação da
referida peça teatral e, assim, observou-se o envolvimento dos alunos.
Resultados e Discussão
1
Consta como paratexto no livro MACHADO, Marietta Telles. Teatro para crianças. Goiânia:
CEGRAF/UFG, 1992.
festa. Nesta festa, cada um deveria levar um pouco de comida. Todos poderiam ir,
exceto o lobo.
Os animais organizaram toda a casa do coelho e ajudaram no cultivo das
terras. Começou a festa. Tudo estava acontecendo normalmente: todos rindo e se
divertindo. De repente, chega o lobo furioso, porque não tinha sido convidado. Todos
os animais, com muito medo, escondem-se e resolvem parar a situação que sempre
se repetia, na qual o lobo comeria toda a comida e iria embora. Então, vão até o
fundo do quintal e pegam vassouras e ferramentas. O macaco encoraja os amigos, o
papagaio fala que o lobo não era líder deles e, por fim, prendem-no. Com isso, a
festa continua e todos voltam a cantar e a dançar, ficando muito felizes.
A partir do resumo da história, fez-se uma reescrita das falas das personagens
para ser levada à escola. Também se confeccionou o cenário no qual as ações
aconteceriam. A realização do teatro com os alunos ocorreu em um dia letivo. Na
sala de aula, estavam presentes 16 alunos. Para começar a atividade, a bolsista fez
a apresentação pessoal aos alunos. Foi perguntado a eles se gostavam de histórias
e todos disseram que sim. Surpreendentemente, alguns disseram que gostavam de
histórias de terror.
Em seguida, foram revelados dois cenários que consistiam em um painel de
terra devastada e outro de terra fértil. Todos observaram atentamente e descreveram
as imagens verificadas. Também foram apresentadas as personagens para, depois,
contar a história. Durante todo o momento, tiveram interações dos alunos que
responderam as perguntas feitas pela narradora. A turma foi dividida em três grupos
para que preparassem a apresentação espontânea das versões da peça teatral
construídas por eles.
Considerações Finais
Agradecimentos
Agradecemos à escola, às professoras e aos alunos pelo acolhimento do teatro de Marieta
Telles Machado. E esperamos que a UEG possa regularizar a oferta de bolsas de PBIC que são muito
importantes para o desenvolvimento acadêmico.
Referências
MACHADO, Marietta Telles. Teatro para crianças. Goiânia: CEGRAF/UFG, 1992.
JAUSS, Hans Robert. A História da Literatura como Provocação à Teoria Literária. Tradução Sérgio
Tellaroli. São Paulo: Ática, 1994.