Etnocentrismo Relativismo e o Proposito PDF
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Pós-graduação em Antropologia
Breno Bertoldo Dalla Zen
Caxias do Sul
2018
A antropologia, em seu princípio, ainda no final do Século XIX, bebia muito da
influência darwinista e do artifício comparativo que era próprio de sua metodologia, ainda
muito pouco esclarecida na época. Nestes termos, pouco se discutia a questão do
etnocentrismo nas vias acadêmicas, uma vez que que o estudo das culturas ainda estava em
um estágio inicial, de viés comparativo. O evolucionismo estaria prestes a influenciar toda
uma geração de pesquisadores.
“A Origem das Espécies”, obra de Charles Darwin publicada em 1859, foi um marco
muito importante nas ciências biológicas e na ciência como um todo, influenciando também
os estudos de antropologia. Nesta obra, Darwin teoriza o processo de evolução das espécies
por meio de modificações lentas e progressivas, de acordo com o ambiente em que vive. O
autor baseou seus estudos em viagens que fez ao redor do globo terrestre e percebeu
diferenças e semelhanças entre espécies primas que viviam em diferentes continentes;
também realizou por muitos anos estudos comparativos entre espécies selvagens e
domesticadas, percebendo a importância da adaptação para a sobrevivência do
indivíduo/espécime e, em uma escala maior, percebendo também que aplicada a muitas
gerações, esta necessidade de adaptação se aplicaria às espécies como um todo, uma vez que
uma espécie só poderia dar sequência a sua vida em grupo caso se adaptasse, e este processo
possibilitaria que uma nova espécie aflorasse, mais adequada ao meio em que ela vive - um
processo natural de adaptação, repleto de variações acidentais que surgiam por necessidade.
Obviamente, este processo evolutivo se daria através de milhares de anos, implicando em
uma incessante luta pela sobrevivência geração após geração.
É neste estudo que Darwin relaciona também a espécie humana com a família dos
símios, inspirando antropólogos e demais cientistas sociais a questionarem se a sociedade
humana também não teria uma forma de comportamento semelhante com o comportamento
de espécies que lutam para que não sejam extintas. Assim surge a corrente do Darwinismo
Social, que busca justificar o desenvolvimento das sociedades a partir de princípios
relacionados à Teoria da Evolução.
Pela primeira vez, os pesquisadores tinham respaudo acadêmico para traçar vias
evolutivas também no que tange o estudo das culturas humanas: partia-se de um pressuposto
de que a sociedade partia de um modo mais simplificado de padrão de vida e ia evoluindo
para um modo de vida mais complexo através dos tempos; sem levar em conta a pluralidade
das culturas, acreditava-se que para obter conhecimento acerca do passado da humanidade,
bastava investigar o modo de vida de “povos mais primitivos”, como tribos que se
desenvolveram isoladas.
Esta abordagem sobre o desenvolvimento sociocultural mostra uma influência
bastante clara do darwinismo sobre o estudo antropológico e seus questionamentos acerca da
natureza do homem, tanto enquanto espécie quanto enquanto ser social. Trata-se de uma
tentativa primária de tornar a antropologia uma disciplina mais conectada com as outras
disciplinas científicas, assim podemos entender.
Talvez o teórico mais importante desta linha de pensamento seja o antropólogo
norte-americano Lewis Morgan. Em sua clássica obra “A Sociedade Antiga”, ele traça
inúmeras definições que expressam muito bem o pensamento da antropologia evolucionista e
dos estudos sociais desta época pós-Origem das Espécies - e vale destacar que trata-se de uma
abordagem bastante divergente do que se construiu em antropologia por todo o Século XX -
mesmo que sua obra date do final do Século XIX, a mesma fora publicada originalmente em
1877. Segundo o autor:
Pode ser observado, finalmente, que a experiência da humanidade tem seguido por
canais quase uniformes; que as necessidades humanas, em condições similares, têm
sido substancialmente as mesmas; e que as operações de princípio mental têm sido
uniformes em virtude da identidade específica do cérebro em todas as raças da
humanidade. (MORGAN, 2009. Pp. 55)
CASTRO, C. Evolucionismo Cultural - Textos de Morgan, Tylor e Frazer. Jorge Zahar Ed.
Rio de Janeiro, 2009. Pp. 44 e 108.
BOAS, F. Alguns Problemas de Metodologia nas Ciências Sociais. In: CASTRO, C. (Org).
Antropologia Cultural. Jorge Zahar Ed. Rio de Janeiro, 2007.