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Matemática Básica - Cap01MA109

Este documento apresenta conceitos fundamentais de estruturas algébricas como grupos, corpos e funções. Aborda tópicos como operações binárias, fechamento, grupos, corpos comutativos e ordenados, números reais e complexos, relações binárias e aplicações.

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Matemática Básica - Cap01MA109

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MA 109 Matemática Básica

Notas de Aula

Petronio Pulino

4.5

3.5

2.5

1.5

0.5

0
0 1 2 3 4 5
MA 109 Matemática Básica
Notas de Aula

Petronio Pulino
Departamento de Matemática Aplicada
Instituto de Matemática, Estatı́stica e Computação Cientı́fica
Universidade Estadual de Campinas
E-mail: [email protected]
www.ime.unicamp.br/∼pulino/MA109/

23 de Março de 2012
Conteúdo

Prefácio iii

1 Estruturas Algébricas 1
1.1 Operação Binária. Grupos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
1.2 Corpo Comutativo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
1.3 Corpo com Valor Absoluto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
1.4 Corpo Ordenado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
1.5 Valor Absoluto num Corpo Ordenado . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
1.6 Números Reais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
1.7 Números Complexos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
1.8 Caracterı́stica do Corpo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35

2 Relações Binárias e Aplicações 37


2.1 Relações Binárias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
2.2 Propriedades de uma Relação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
2.3 Aplicações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
2.4 Aplicações Injetivas e Sobrejetivas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
2.5 Composição de Aplicações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
2.6 Inversa de uma Aplicação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
2.7 O Plano Cartesiano IR2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
2.8 Funções Monótonas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94
2.9 Funções Pares e Funções Ímpares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97
2.10 Operações com Funções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99

3 Função Afim 104


3.1 A Função Afim . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105
3.2 Gráfico da Função Afim . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106

i
3.3 Posição Relativa de Retas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113
3.4 Função Poligonal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119
3.5 Função Rampa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121

4 Transformações Geométricas 129


4.1 As Transformações Elementares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 130
4.2 Transformações Elementares e Gráficos . . . . . . . . . . . . . . . . . 144

5 Função Quadrática 161


5.1 A Função Quadrática . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 162
5.2 Forma Canônica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 165
5.3 Gráfico da Função Quadrática . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 166
5.4 Raı́zes da Função Quadrática . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 173
5.5 A Função Derivada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 180

6 Função Valor Absoluto 207


6.1 Valor Absoluto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 208
6.2 Função Valor Absoluto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 215
6.3 Equações com Valor Absoluto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 217
6.4 Desigualdades com Valor Absoluto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 220

7 Álgebra de Polinômios 226


7.1 Função Polinomial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 227
7.2 Polinômio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 232
7.3 Equações Polinomiais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 237
7.4 Interpolação Polinomial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 245
7.5 Gráficos de Polinômios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 257

8 Álgebra de Matrizes 265


8.1 Matrizes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 266
8.2 Tipos Especiais de Matrizes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 276
8.3 Inversa de uma Matriz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 285
8.4 Operações Elementares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 291
8.5 Forma Escalonada. Forma Escada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 297
8.6 Matrizes Elementares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 300

Bibliografia 307

ii
Prefácio

iii
1
Estruturas Algébricas

Introdução

1
Petronio Pulino MA 109 Matemática Básica

1.1 Operação Binária. Grupos

Definição 1.1.1 (Operação) Seja IE um conjunto não vazio. Uma operação


binária em IE é uma aplicação, que denotamos por ⋆, que a cada par ordenado
(x, y) ∈ IE × IE associa o elemento x ⋆ y ∈ IE.

Definição 1.1.2 (Fechamento) Seja ⋆ uma operação binária sobre IE. Dizemos
que o subconjunto A ⊆ IE, não vazio, é fechado com relação a operação ⋆ se para
todo par ordenado (x, y) ∈ A × A tem–se que x ⋆ y ∈ A.

Exemplo 1.1.1 Considere

IN = { 1, 2, 3, 4, · · · }

o conjunto dos números naturais. Podemos verificar que o conjunto IN é fechado com
relação a operação de adição de números naturais, que denotamos por +, e também
com relação a operação de multiplicação de números naturais, que denotamos por ×.

Exemplo 1.1.2 Considere

Z = { · · · , −2, −1, 0, 1, 2, · · · }

o conjunto dos números inteiros. Podemos verificar que o conjunto Z é fechado com
relação a operação de adição de números inteiros, que denotamos por +, e também
com relação a operação de multiplicação de números inteiros, que denotamos por ×.

2
Petronio Pulino MA 109 Matemática Básica

Definição 1.1.3 Uma operação ⋆ definida em IE pode ter as propriedades:

(a) Dizemos que uma operação ⋆ definida em IE é associativa se ∀ x, y, z ∈ IE


tem–se que (x ⋆ y) ⋆ z = x ⋆ (y ⋆ z).

(b) Dizemos que uma operação ⋆ definida em IE é comutativa se ∀ x, y ∈ IE


tem–se que x ⋆ y = y ⋆ x.

(c) Dizemos que o elemento e ∈ IE é o elemento neutro da operação ⋆ se


∀ x ∈ IE tem–se que x ⋆ e = e ⋆ x = x.

(d) Dizemos que o elemento x ∈ IE é simetrizável para uma operação ⋆ com o


elemento neutro e se existe um elemento x ∈ E tal que x ⋆ x = x ⋆ x = e.

Exemplo 1.1.3 Considere IE = IR o conjunto dos números reais. Vamos definir


em IE uma operação ⋆ da seguinte forma: para cada par ordenado (x, y) ∈ IR×IR
associamos o elemento x ⋆ y = (x + y) + (x × y). Podemos mostrar facilmente que
a operação ⋆ é associativa, comutativa e possui elemento neutro.

Definição 1.1.4 (Grupo) Seja G um conjunto não vazio e ⋆ uma operação


definida sobre G. Dizemos que G tem uma estrutura de grupo em relação a
operação ⋆ se essa operação possui as seguintes propriedades:

(a) Associativa

(b) Elemento Neutro

(c) Todo elemento de G é simetrizável

Utilizamos a notação (G, ⋆) para denotar que o conjunto G tem uma operação ⋆
definida nele. Se a operação definida no grupo G for a adição, dizemos que (G, +) é
um grupo aditivo. Se a operação definida no grupo G for a multiplicação, dizemos
que (G, ×) é um grupo multiplicativo. No entanto, existem grupos com outras
operações em vários ramos da matemática.

Exemplo 1.1.4 Podemos verificar que o conjunto dos números inteiros Z possui
uma estrutura de grupo com relação a operação usual de adição.

3
Petronio Pulino MA 109 Matemática Básica

Exemplo 1.1.5 Podemos verificar que a Tabela 1.1 proporciona uma estrutura de
grupo ao conjunto G = { e, a, b, c }, isto é, (G, ⋆) é um grupo. A regra de operação
na tabela é definida de forma que o elemento aij = ai ⋆ aj .

Tabela 1.1: Grupo de Klein

⋆ e a b c
e e a b c
a a e c b
b b c e a
c c b a e

Definição 1.1.5 (Grupo Comutativo) Seja (G, ⋆) um grupo. Dizemos que (G, ⋆)
é um grupo comutativo, ou grupo abeliano, se a operação ⋆ for comutativa.

Exemplo 1.1.6 O conjunto Z dos números inteiros possui uma estrutura de grupo
abeliano em relação a operação usual de adição. Assim, dizemos que (Z, +) é um
grupo aditivo abeliano.

Exemplo 1.1.7 O conjunto das matrizes reais de ordem n, que denotamos por
IMn (IR), tem uma estrutura de grupo aditivo abeliano, isto é, (IMn (IR), +) tem uma
estrutura de grupo abeliano, onde + indica a operação usual de adição de matrizes.

Exemplo 1.1.8 O conjunto


√ √
Q( 2) = { a + b 2 / a, b ∈ Q }

tem uma estrutura de grupo multiplicativo abeliano, com relação a operação usual de
multiplicação dos números racionais.

Definição 1.1.6 (Subgrupo) Seja (G, ⋆) um grupo. Dizemos que um subconjunto


S ⊂ G não vazio é um subgrupo de G se S for fechado com relação a operação
⋆ e (S, ⋆) tem uma estrutura de grupo.

4
Petronio Pulino MA 109 Matemática Básica

Exemplo 1.1.9 Dado n ∈ IN , o subconjunto Zn ⊂ Z definido da forma:

Zn = { x ∈ Z / x = n × m ; m ∈ Z}

é um subgrupo do grupo aditivo (Z, +), onde × é a operação de multiplicação


definida no conjunto dos números inteiros Z.

5
Petronio Pulino MA 109 Matemática Básica

Exercı́cios

Exercı́cio 1.1 Verifique se (E, ⋆) tem uma estrutura de grupo abeliano. Em caso
negativo, dizer quais propriedades não são satisfeitas.

(a) E = IN0 = { 0, 1, 2 · · · } e x ⋆ y = x + y

(b) E = Z e x⋆y = x + y − 1

(c) E = Z e x⋆y = x + y + 1

(d) E = Z e x⋆y = 2×x + y

(e) E = Z e x⋆y = x×y

onde + denota a operação usual de adição e × denota a operação usual de


multiplicação, definida no conjunto dos números inteiros.

Exercı́cio 1.2 Considere o conjunto dos números reais IR munido da operação ⋆


definida por:
x⋆y = x + y + 4.
Mostre que (IR, ⋆) tem uma estrutura de grupo comutativo.

Exercı́cio 1.3 Considere o conjunto dos números reais IR munido da operação ⋆


definida por:
x⋆y = x + 2×y − 4.
Verifique se (IR, ⋆) tem uma estrutura de grupo comutativo. Em caso negativo, dizer
quais propriedades não são satisfeitas.

Exercı́cio 1.4 Considere o conjunto dos números reais positivos IR+ , isto é,

IR+ = { x ∈ IR / x > 0 } ,

munido da operação ⋆ definida por x ⋆ y = x + y + 8. Verifique se (IR+ , ⋆)


possui uma estrutura de grupo comutativo.

6
Petronio Pulino MA 109 Matemática Básica

Exercı́cio 1.5 Considere o conjunto dos números reais positivos IR+ munido da
operação ⋆ definida por:
x⋆y = x + y − 6.
Verifique se (IR+ , ⋆) possui uma estrutura de grupo comutativo.

Exercı́cio 1.6 Considere o subconjunto IR∗ dos números reais definido por:

IR∗ = { x ∈ IR / x 6= 0 } ,

Mostre que (IR∗ , ×) possui uma estrutura de grupo multiplicativo abeliano, com
relação a operação usual de multiplicação de números, que denotamos por ×.

Exercı́cio 1.7 Verifique se (IMn (IR), ⋆) tem uma estrutura de grupo multiplicativo,
onde ⋆ é a operação usual de multiplicação de matrizes.

Exercı́cio 1.8 Considere o subconjunto S ⊂ IMn (IR) definido por:

S = { A ∈ IMn (IR) / A é invertı́vel } .

Verifique se (S, ⋆) tem uma estrutura de grupo multiplicativo, onde ⋆ é a operação


usual de multiplicação de matrizes.

Exercı́cio 1.9 Considere S = { A ∈ IMn (IR) / A é invertı́vel }. Verifique se


(S, ⋆) tem uma estrutura de grupo multiplicativo abeliano, onde ⋆ é a operação
usual de multiplicação de matrizes.

Exercı́cio 1.10 Considere o conjunto dos números reais IR. Definimos em IR uma
operação ⋆ da seguinte forma: para cada par ordenado (x, y) ∈ IR × IR associamos
o elemento x ⋆ y = x + (x × y). Faça um estudo sobre as propriedades da operação
⋆, onde + indica a operação usual de adição e × indica a operação usual de
multiplicação.

Exercı́cio 1.11 Mostre que (Z, ×), onde × é a operação usual de multiplicação de
números inteiros, não possui uma estrutura de grupo multiplicativo.

7
Petronio Pulino MA 109 Matemática Básica

Exercı́cio 1.12 Considere o conjunto G = { e, a, b, c }. Se (G, ⋆) tem uma


estrutura de grupo, complete a tabela abaixo.

⋆ e a b c
e e a b c
a a
b b c
c c e a

A regra de operação na tabela é de forma que o elemento aij = ai ⋆ aj .

Exercı́cio 1.13 Considere o conjunto dos números racionais


 
p
Q = / p, q ∈ Z , q 6= 0 .
q

Mostre que (Q , +) possui uma estrutura de grupo aditivo abeliano, com relação a
operação usual de adição.

Exercı́cio 1.14 Considere o subconjunto S ⊂ IMn (IR) definido por:

S = { D ∈ IMn (IR) / D é uma matriz diagonal invertı́vel } .

Mostre que (S, ⋆) tem uma estrutura de grupo multiplicativo abeliano, onde ⋆ é a
operação usual de multiplicação de matrizes.

8
Petronio Pulino MA 109 Matemática Básica

1.2 Corpo Comutativo

Definição 1.2.1 Um corpo comutativo é um conjunto não vazio IF munido de


duas operações, denominadas adição e multiplicação, que vamos denotar por +
e ×, respectivamente, que satisfazem os seguintes axiomas:

Axiomas de Fechamento

(F1 ) O conjunto IF é fechado com relação a operação de adição, isto é, para todos
x, y ∈ IF temos que x + y ∈ IF .

(F2 ) O conjunto IF é fechado com relação a operação de multiplicação, isto é, para
todos x, y ∈ IF temos que x × y ∈ IF .

Axiomas da Operação de Adição

(A1 ) Associatividade: para todos x, y, z ∈ IF temos que

(x + y) + z = x + (y + z) .

(A2 ) Comutatividade: para todos x, y ∈ IF temos que x + y = y + x.

(A3 ) Elemento Neutro: existe um único elemento em IF , denotado por 0IF , tal que
x + 0IF = x ; ∀ x ∈ IF .

(A4 ) Elemento Simétrico: todo elemento x ∈ IF possui um único elemento


simétrico (−x) ∈ IF tal que x + (−x) = 0IF .

Axiomas da Operação de Multiplicação

(M1 ) Associatividade: ∀ x, y, z ∈ IF temos que (x × y) × z = x × (y × z).

(M2 ) Comutatividade: ∀ x, y ∈ IF temos que x × y = y × x.

(M3 ) Elemento Neutro: existe um único elemento em IF , denotado por 1IF , tal que
x × 1IF = x para todo x ∈ IF .

(M4 ) Inverso Multiplicativo: todo elemento x ∈ IF com x 6= 0IF possui um único


elemento x−1 ∈ IF tal que x × x−1 = 1IF .

9
Petronio Pulino MA 109 Matemática Básica

(D1 ) Distributividade: ∀ x, y, z ∈ IF temos que

x × (y + z) = (x × y) + (x × z) .

É interessante observar que (IF, +) tem uma estrutura de grupo aditivo abeliano, e
considerando o conjunto

IF ∗ = { x ∈ IF / x 6= 0IF } = IF − { 0IF } ,

observamos que (IF ∗ , ×) tem uma estrutura de grupo multiplicativo abeliano.

Definição 1.2.2 (subcorpo) Seja IF um corpo. Dizemos que um subconjunto


S ⊂ IF , não vazio, é um subcorpo de IF se S possui uma estrutura de corpo com
relação às operações de adição e multiplicação definidas em IF .

Teorema 1.2.1 Sejam a, b, c ∈ IF com a + b = a + c. Então b = c.

Demonstração – Pelo Axioma (A4 ) de corpo, temos que existe um único elemento
d ∈ IF tal que a + d = 0IF . Desse modo, obtemos

b = (a + d) + b = d + (a + b) = d + (a + c) = (a + d) + c = c ,

utilizando os Axiomas (A1 ) e (A3 ) de corpo, completando a demonstração. 

Essa propriedade é denominada Lei do Cancelamento para a Adição. Temos que,


em particular, essa propriedade mostra a unicidade do elemento neutro da adição.

10
Petronio Pulino MA 109 Matemática Básica

Teorema 1.2.2 Sejam a, b ∈ IF . Então, existe um único x ∈ IF tal que a + x = b.

Demonstração – Pelo Axioma (A4 ) de corpo, temos que existe um único elemento
d ∈ IF tal que a + d = 0IF . Seja o elemento x = d + b. Assim, temos que

a + x = a + (d + b) = (a + d) + b = 0IF + b = b ,

utilizando os Axiomas (A1 ) e (A3 ) de corpo, completando a demonstração. 

Denotamos o elemento x = b − a para indicar a diferença entre os elementos a e b.


Em particular, 0IF − a é simplesmente escrito como −a que é denominado negativo
ou simétrico do elemento a. A operação que a cada par (a, b) ∈ IF ×IF −→ a − b
é denominada subtração.

Teorema 1.2.3 Sejam a, b, c ∈ IF com a×b = a×c e a 6= 0IF . Então


b = c.

Demonstração – Como a 6= 0IF , pelo Axioma (M4 ) de corpo, temos que existe um
único elemento d ∈ IF tal que a × d = 1IF . Desse modo, obtemos

b = (a × d) × b = d × (a × b) = d × (a × c) = (a × d) × c = c ,

utilizando os Axiomas (M1 ) e (M3 ) de corpo, completando a demonstração. 

Essa propriedade é denominada Lei do Cancelamento para a Multiplicação. Em


particular, essa propriedade mostra a unicidade do elemento neutro da multiplicação.

Teorema 1.2.4 Sejam a, b ∈ IF com a 6= 0IF . Então, existe um único elemento


x ∈ IF tal que a × x = b.

Demonstração – Como a 6= 0IF , pelo Axioma (M4 ) de corpo, temos que existe um
único elemento d ∈ IF tal que a × d = 1IF . Seja x = d × b. Assim, temos que

a × x = a × (d × b) = (a × d) × b = b ,

utilizando os Axiomas (M1 ) e (M3 ) de corpo, completando a demonstração. 

11
Petronio Pulino MA 109 Matemática Básica

b
Denotamos o elemento x = para indicar o quociente do elemento b pelo elemento
a
1
a. Em particular, é simplesmente escrito como a−1 e é chamado recı́proco do
a
elemento a.

b
A operação que a cada par (b, a) −→ , definida para todo elemento b ∈ IF e
a
a ∈ IF não–nulo, é denominada divisão.

Teorema 1.2.5 Sejam a, b, c ∈ IF .

(a) a × 0IF = 0IF .

(b) (−a) × b = a × (−b) = −(a × b).

(c) (−a) × (−b) = a × b.

Demonstração – (a) Utilizando o Axioma (D1 ) de corpo, temos que

a × 0IF = 0IF + a × 0IF = a × (0IF + 0IF ) = a × 0IF + a × 0IF .

Pela Lei do Cancelamento da Adição, obtemos a × 0IF = 0IF .

(b) Pelo Axioma (A4 ) de corpo, o elemento −(a × b) é o único elemento em IF tal
que (a × b) + ( −(a × b) ) = 0IF . Além disso, o elemento −a é o único elemento
em IF tal que a + (−a) = 0IF . Desse modo, temos que

a × b + (−a) × b = ( a + (−a) ) × b = 0IF × b = 0IF .

Assim, mostramos que (−a) × b = −(a × b). De modo análogo, podemos provar
que a × (−b) = −(a × b).

(c) Aplicando duas vezes o resultado do item (b), obtemos

(−a) × (−b) = −( a × (−b) ) = −( −(a × b) ) = a × b ,

que completa a demonstração. 

12
Petronio Pulino MA 109 Matemática Básica

Exemplo 1.2.1 O conjunto dos números racionais


 
p
Q = / p, q ∈ Z , q 6= 0
q

tem uma estrutura de corpo, com as operações usuais de adição e multiplicação.

Exemplo 1.2.2 O conjunto dos números inteiros

Z = { · · · , −2, −1, 0, 1, 2, · · · } ,

não possui uma estrutura de corpo, pois o Axioma (M4 ), da definição de corpo, não
é satisfeito, exceto para n = 1 ou n = −1.

Exemplo 1.2.3 O conjunto dos números reais, denotado por IR, tem uma estrutura
de corpo, com as operações usuais de adição e multiplicação.

13
Petronio Pulino MA 109 Matemática Básica

1.3 Corpo com Valor Absoluto

Definição 1.3.1 Seja IF um corpo. Definimos o valor absoluto em IF como


sendo uma aplicação v(·) que associa a cada elemento x ∈ IF um número real
v(x), que possui as seguintes propriedades:

(a) v(x) ≥ 0.

(b) v(x) = 0 se, e somente se, x = 0IF .

(c) v(x × y) = v(x)v(y).

(d) v(x + y) ≤ v(x) + v(y).

Definição 1.3.2 Seja IF um corpo. A aplicação v(·) que associa a cada elemento
x ∈ IF um número real v(x) definida por:

 1 se x 6= 0IF
v(x) =
 0 se x = 0IF

é denominada valor absoluto trivial em IF .

Lema 1.3.1 Sejam IF um corpo com valor absoluto v(·) e x ∈ IF tal que
xn = 1IF para todo inteiro positivo n. Então, v(x) = 1.

Demonstração – Primeiramente vamos observar que v(1IF ) = 1. De fato,

(1IF )2 = 1IF × 1IF = 1IF =⇒ v((1IF )2 ) = v(1IF )v(1IF ) = v(1IF ) .

Assim, concluı́mos que v(1IF ) = 0 ou v(1IF ) = 1. Note que, se v(1IF ) = 0, então


v(a) = 0 para todo a ∈ IF . Portanto, temos que v(1IF ) = 1.

Finalmente, tomando xn = 1IF , obtemos

v(xn ) = v(1IF ) =⇒ (v(x))n = 1 =⇒ v(x) = 1 ,

o que completa a demonstração. 

14
Petronio Pulino MA 109 Matemática Básica

Lema 1.3.2 Seja IF um corpo com valor absoluto v(·). Então,

v(−x) = v(x) para todo x ∈ IF .

Demonstração – Sabemos que

(−1IF )2 = −1IF × −1IF = 1IF × 1IF = 1IF .

Portanto, obtemos v(−1IF ) = 1. Desse modo, temos que

v(−x) = v(−1IF × x) = v(−1IF )v(x) = v(x) ,

o que completa a demonstração. 

Lema 1.3.3 Seja IF um corpo com valor absoluto v(·). Então,

v(x) − v(y) ≤ v(x + y) para todos x, y ∈ IF .

Demonstração – Considerando x = x + y − y e a propriedade da desigualdade


triangular, isto é,

v(x + y) ≤ v(x) + v(y) para todos x, y ∈ IF ,

obtemos

v(x) = v(x + y − y) ≤ v(x + y) + v(−y) = v(x + y) + v(y)

Portanto, temos que v(x) − v(y) ≤ v(x + y). 

15
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1.4 Corpo Ordenado

Definição 1.4.1 Um corpo ordenado é um corpo IF com uma relação de ordem,


que vamos denotar por < , e escrevemos x < y para indicar que o elemento x ∈ IF
é menor que o elemento y ∈ IF , satisfazendo os seguintes axiomas:

(O1 ) Princı́pio da Comparação:


Se x, y ∈ IF , então uma e somente uma das seguintes relações é satisfeita:

x < y , y < x , x = y .

(O2 ) Transitividade:
Se x, y, z ∈ IF , com x < y e y < z, então x < z.

(O3 ) Consistência da Adição com a Relação de Ordem:


se x, y, z ∈ IF e y < z, então x + y < x + z.

(O4 ) Consistência da Multiplicação com a Relação de Ordem:


Se x, y ∈ IF , com 0IF < x e 0IF < y, então 0IF < x × y.

Equivalentemente, podemos definir um corpo ordenado da forma a seguir.

Definição 1.4.2 Seja IF um corpo. Assumimos que existe um subconjunto IF + ⊂


IF , denominado conjunto dos elementos positivos, o qual satisfaz os seguinte
axiomas:

(O1 ) Se x, y ∈ IF + , então x + y ∈ IF + e x × y ∈ IF + .

(O2 ) Para todo elemento x 6= 0IF , temos que x ∈ IF + ou −x ∈ IF + .

(O3 ) O elemento neutro 0IF 6∈ IF + .

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Petronio Pulino MA 109 Matemática Básica

Note que num corpo ordenado, se x 6= 0IF , então x2 ∈ IF + . De fato, como o


elemento x 6= 0IF , temos que x ∈ IF + ou −x ∈ IF + .

No primeiro caso, isto é, x ∈ IF + , obtemos x × x = x2 ∈ IF + .

No segundo caso, isto é, −x ∈ IF + , obtemos

(−x) × (−x) = −( x × (−x) ) = −( −(x × x) ) = x × x = x2 ∈ IF + .

Em particular, num corpo ordenado, o elemento −1IF não é o quadrado de nenhum


elemento de IF .

Num corpo ordenado IF , podemos escrever x < y para indicar que y − x ∈ IF + ,


isto é, o elemento y − x é positivo. De modo análogo, escrevemos y > x para
indicar que o elemento y é maior que o elemento x. Em particular, escrevemos
x > 0IF para dizer que x ∈ IF + , isto é, o elemento x é positivo. De mesmo modo,
escrevemos x < 0IF para dizer que o elemento x é negativo, isto é, o elemento
−x ∈ IF + .

A partir dos axiomas da Definição 1.4.2 vamos mostrar os axiomas da Definição 1.4.1.

(O1 ) Princı́pio da Comparação


Dados os elementos x, y ∈ IF . Pelo axioma (O2 ) da Definição 1.4.2, temos as
seguintes possibilidades:

(1) y − x ∈ IF + (2) − (y − x) ∈ IF + (3) y − x = 0IF .

Assim, podemos concluir que ou x < y ou y < x ou x = y.

(O2 ) Transitividade
Considere os elementos x, y, z ∈ IF com x < y e y < z . Assim, podemos
afirmar que y − x ∈ IF + e z − y ∈ IF + . Pelo axioma (O1 ) da Definição 1.4.2,
temos que o elemento (y − x) + (z − y) ∈ IF + . Logo, o elemento z − x ∈ IF + .
Assim, podemos concluir que x < z.

(O3 ) Consistência da Adição com a Relação de Ordem


Considere os elementos x, y, z ∈ IF com y < z, isto é, o elemento z − y ∈ IF + .

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Petronio Pulino MA 109 Matemática Básica

Desse modo, temos que z − y = (z + x) − (y + x) ∈ IF + . Assim, podemos


concluir que y + x < z + x.

(O4 ) Consistência da Multiplicação com a Relação de Ordem


Considere os elementos x, y ∈ F com 0IF < x e 0IF < y , isto é, x ∈ IF +
e y ∈ IF + . Logo, temos que x × y ∈ IF + , pelo axioma (O1 ) da Definição 1.4.2.
Assim, podemos concluir que x × y > 0IF .

Portanto, tomando os elementos x, y, z ∈ IF com x < y e 0IF < z , isto


é, y − x ∈ IF + e z ∈ IF + . Pelo axioma (O1 ) da Definição 1.4.2, temos que o
elemento (y − x) × z ∈ IF + , isto é, o elemento y × z − x × z ∈ IF + . Desse modo,
podemos concluir que x × z < y × z .

De modo análogo, a partir dos axiomas da Definição 1.4.1 podemos obter os axiomas
da Definição 1.4.2. Assim, essas definições são equivalentes. Para um estudo mais
detalhado sobre corpos ordenados podemos consultar a referência [?].

Exemplo 1.4.1 O conjunto dos números racionais


 
p
Q = / p, q ∈ Z , q 6= 0
q

é um corpo ordenado, com as operações usuais de adição e multiplicação. O conjunto


dos números racionais positivos Q+ é definido por:
 
+ p
Q = / p, q ∈ IN .
q

Exemplo 1.4.2 O conjunto


√ n √ o
Q( 2) = a + b 2 / a, b ∈ Q

é um corpo ordenado, com as operações usuais de adição e multiplicação.

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Exemplo 1.4.3 Considere o seguinte conjunto

Zp = { 0, 1, 2, · · · , (p − 1) } ,

onde p é um inteiro positivo, no qual definimos as operações:

⊕ Adição:
a ⊕ b = c, onde c é o resto da divisão da soma a + b pelo inteiro p, isto é,

a + b = mp + c para algum m ∈ IN ∪ { 0 } .

⊗ Multiplicação:
a ⊗ b = d, onde d é o resto da divisão do produto ab pelo inteiro p, isto é,

ab = mp + d para algum m ∈ IN ∪ { 0 } .

Como Zp deve ser fechado com relação as operações, temos que c, d ∈ Zp .

Podemos mostrar que Zp tem um estrutura de corpo quanto p é um número primo.


Considere como exemplo Z5 = { 0, 1, 2, 3, 4 } . Faça a verificação que Z5 satisfaz
os axiomas de corpo.

Exemplo 1.4.4 O corpo Z5 = { 0, 1, 2, 3, 4 } não é um corpo ordenado. De fato,


tomando por exemplo 2 + 3 = 0 em Z5 . Entretanto, num corpo ordenado a soma
de dois elementos positivos deve ser igual a um elemento positivo. Assim, mostramos
que Z5 não comporta uma relação de ordem.

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1.5 Valor Absoluto num Corpo Ordenado

Definição 1.5.1 Seja IF um corpo ordenado. O valor absoluto em IF é uma


aplicação | · | : IF −→ IR , que associa a cada elemento x ∈ IF um número real
| x | , definida por: 
 x se
 x > 0
|x| = 0 se x = 0

−x se x < 0

Podemos observar que | x | é escolhido o maior elemento entre x e −x. Logo,


temos que | x | ≥ x e | x | ≥ −x. Portanto, podemos concluir que

−|x| ≤ x ≤ |x|

para todo x ∈ IF .

Teorema 1.5.1 Sejam IF um corpo ordenado e os elementos x, a ∈ IF . As


seguintes afirmações são equivalentes:

(a) −a ≤ x ≤ a.

(b) x ≤ a e −x ≤ a.

(c) | x | ≤ a.

Demonstração – Temos que

−a ≤ x ≤ a ⇐⇒ −a ≤ x e x ≤ a

⇐⇒ a ≥ x e a ≥ −x

⇐⇒ a ≥ |x|

a última equivalência vem do fato que | x | é o maior elemento entre x e −x. 

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Corolário 1.5.1 Sejam a, b, x ∈ IF . Então,

|x − a| ≤ b se, e somente se, a − b ≤ x ≤ a + b.

Demonstração – Pelo Teorema 1.5.1, temos que

|x − a| ≤ b ⇐⇒ −b ≤ x − a ≤ b ⇐⇒ −b + a ≤ x ≤ b + a ,

o que completa a demonstração. 

Teorema 1.5.2 Sejam x, y ∈ IF . Então, | x × y | = | x | | y |.

Demonstração – Primeiramente vamos observar que x2 = | x |2 , para todo x ∈ IR,


pois | x | = x ou | x | = −x e vale x2 = (−x)2 .

Desse modo, temos que

| x × y |2 = (x × y)2 = x2 × y 2 = | x |2 | y |2 .

Assim, temos que | x × y | = ± | x | | y |. Entretanto, como | x × y | e | x | | y | são


ambos positivos, concluı́mos que | x × y | = | x | | y |. 

Teorema 1.5.3 Sejam x, y ∈ IF . Então, | x + y | ≤ | x | + | y |.

Demonstração – Pela definição de valor absoluto em IF , temos que

−|x| ≤ x ≤ |x| e − |y| ≤ y ≤ |y| .

Somando as duas desigualdades acima, obtemos

−( | x | + | y | ) ≤ x + y ≤ ( | x | + | y | ) .

Pelo Teorema 1.5.1, concluı́mos que | x + y | ≤ | x | + | y |. 

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Teorema 1.5.4 Sejam x, y ∈ IF . Então, | | x | − | y | | ≤ | x − y |.

Demonstração – Considerando x = x − y + y e o Teorema 1.5.3, obtemos

|x| = |x − y + y| ≤ |x − y| + |y|

Assim, temos que | x | − | y | ≤ | x − y |.

De modo análogo, obtemos | y | − | x | ≤ | y − x |. Podemos verificar facilmente


que | y − x | = | x − y |. Portanto, mostramos que

|x| − |y| ≤ |x − y| e − (| x | − | y |) ≤ | x − y |

Pelo Teorema 1.5.1, obtemos

| |x| − |y| | ≤ |x − y| .

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1.6 Números Reais

O conjunto dos números reais, denotado por IR, tem uma estrutura de corpo com
relação as operações usuais de adição e multiplicação. Assim, o conjunto dos números
reais tem as propriedades apresentadas na seção 1.2. Considerando que existe um
subconjunto IR+ ⊂ IR, denominado conjunto dos números positivos, que satisfaz os
seguintes axiomas:

(O1 ) Se x, y ∈ IR+ , então x + y ∈ IR+ e xy ∈ IR+ .

(O2 ) Para todo elemento x 6= 0IR , temos que x ∈ IR+ ou −x ∈ IR+ .

(O3 ) O elemento neutro 0IR 6∈ IR+ .

temos que o conjunto dos números reais IR tem uma estrutura de corpo ordenado.
Desse modo, no corpo ordenado IR valem as observações apresentadas na seção 1.4.
Com os axiomas de ordem, obtemos importantes desigualdades que apresentamos no
teorema a seguir.

Teorema 1.6.1 Considere a, b, c ∈ IR.

1. Se ab = 0, então a = 0 ou b = 0.

2. Se a < b e c > 0, então ac < bc.

3. Se a 6= 0, então a2 > 0.

4. Se a < b e c < 0, então ac > bc.

5. Se a < c e b < d, então a + b < c + d.

6. Se ab > 0, então a e b são positivos ou ambos são negativos.

Demonstração – A prova pode ficar a cargo do leitor. 

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Definição 1.6.1 Para x ∈ IR, definimos seu valor absoluto, ou módulo, que
vamos denotar por | x | , como sendo o número real não negativo

 x se
 x > 0
|x| = 0 se x = 0

−x se x < 0

Podemos observar que | x | é escolhido o maior número entre x e −x. Logo,


temos que | x | ≥ x e | x | ≥ −x. Portanto, podemos concluir que

−|x| ≤ x ≤ |x| .

Teorema 1.6.2 Seja a ≥ 0. Então, | x | ≤ a se, e somente se, −a ≤ x ≤ a.

Demonstração

(=⇒) Da definição de módulo de um número real, temos que

−|x| ≤ x ≤ |x| ,

isto é, | x | = x ou | x | = −x.

Tomando a hipótese que | x | ≤ a, podemos escrever

−a ≤ − | x | ≤ x ≤ | x | ≤ a .

Assim, provamos que −a ≤ x ≤ a.

(⇐=) Tomando por hipótese que −a ≤ x ≤ a. Desse modo, se x ≥ 0, temos que


| x | = x ≤ a. Se x < 0, temos que | x | = −x ≤ a. Portando, provamos que
| x | ≤ a, o que completa a demonstração. 

Corolário 1.6.1 Sejam a, b, x ∈ IR. Então,

|x − a| ≤ b se, e somente se, a − b ≤ x ≤ a + b.

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Teorema 1.6.3 Sejam x, y ∈ IR. Então, | xy | = | x | | y |.

Demonstração – Primeiramente vamos observar que x2 = | x |2 , para todo x ∈ IR,


pois | x | = x ou | x | = −x e vale x2 = (−x)2 .

Desse modo, temos que

| xy |2 = (xy)2 = x2 y 2 = | x |2 | y |2 .

Assim, concluı́mos que | xy | = ± | x | | y |. Entretanto, como | xy | e | x | | y | são


ambos positivos, obtemos que | xy | = | x | | y |. 

Teorema 1.6.4 Sejam x, y ∈ IR. Então, | x + y | ≤ | x | + | y |.

Demonstração – Pela definição de valor absoluto de um número real, temos que

−|x| ≤ x ≤ |x| e − |y| ≤ y ≤ |y| .

Somando as duas desigualdades acima, obtemos

−( | x | + | y | ) ≤ x + y ≤ ( | x | + | y | ) .

Pelo Teorema 1.6.2, podemos concluir que | x + y | ≤ | x | + | y |. 

Essa propriedade é denominada desigualdade triangular para números reais.

A seguir, apresentamos a desigualdade triangular numa forma que é mais utilizada


na prática.

Fazendo x = a − c e y = c − b, temos que x + y = a − b. Agora, utilizando


a desigualdade triangular | x + y | ≤ | x | + | y | , obtemos

|a − b| ≤ |a − c| + |b − c| .

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Teorema 1.6.5 Sejam a1 , a2 , · · · , an números reais quaisquer. Então,


n n
X X
ak ≤ | ak | .



k=1 k=1

Demonstração – A prova é feita por indução utilizando a desigualdade triangular. 

Teorema 1.6.6 Sejam x, y ∈ IR. Então, | x | − | y | ≤ | x − y |.

Demonstração – Utilizando a desigualdade triangular para os números reais e o


fato que x = x − y + y, obtemos

|x| = |x − y + y| ≤ |x − y| + |y| .

Portanto, obtemos | x | − | y | ≤ | x − y |, o que completa a demonstração. 

Finalmente, podemos dizer que IR é um corpo ordenado com um valor absoluto | · |,


que vamos fazer referência como sendo o valor absoluto usual.

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1.7 Números Complexos

Definição 1.7.1 Definimos o conjunto dos números complexos da seguinte forma:

C = { a + bi / a, b ∈ IR }

onde i = −1 é a unidade imaginária.

Considere os números complexos z = a + bi e w = c + di. A operação de adição


de dois números complexos é definida por:

z + w = (a + bi) + (c + di) = (a + c) + (b + d)i .

A operação de multiplicação de dois números complexos é definida por:

z · w = (a + bi) · (c + di) = (ac − bd) + (bc + ad)i .

Em particular, temos que i2 = i · i = −1, que é compatı́vel com a definição da


unidade imaginária.

Definição 1.7.2 Considere o número complexo z = a + bi. Definimos a parte


real como sendo o número real Re(z) = a e a parte imaginária como sendo o
número real Im(z) = b.

Teorema 1.7.1 O conjunto dos números complexos C com as operações de adição


e multiplicação definidas acima tem uma estrutura de corpo.

Demonstração – A prova pode ficar a cargo do leitor. 

Devemos observar que C não é um corpo ordenado. De fato, num corpo ordenado
IF , para todo elemento x 6= 0IF , tem–se que x2 > 0IF . Desse modo, considerando
z = i ∈ C, que é diferente do elemento neutro, temos que z 2 = −1 < 0. Logo,
provamos que C não é um corpo ordenado.

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Petronio Pulino MA 109 Matemática Básica

Definição 1.7.3 Definimos o complexo conjugado do número complexo

z = a + bi ,

que denotamos por z, como sendo o número complexo z = a − bi.

Definição 1.7.4 O valor absoluto, ou módulo, do número complexo

z = a + bi, ,

que denotamos por | z | , é definido como sendo o número real não negativo

|z| = a2 + b 2 .

Definição 1.7.5 Considere o número complexo z = a + bi. O argumento prin-


cipal do número complexo z é definido da seguinte forma:
 
b


 arctan para a 6= 0



 a


π

arg(z) = para a = 0, b > 0


 2


 −π


para a = 0, b < 0

2
onde θ = arg(z) indica o ângulo formado entre o eixo 0x e a reta que passa pela
origem do plano IR2 e pelo ponto (a, b).

Definição 1.7.6 Considere o número complexo z = a + bi. A forma polar do


número complexo z é definida da seguinte forma:

z = | z | exp(iθ) = | z | cos(θ) + i | z | sin(θ)

onde θ = arg(z).

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Teorema 1.7.2 Considere os números complexos

z = a + bi e w = c + di .

Então,

(a) z = z.

(b) z + z = 2Re(z) e z − z = 2iIm(z).

(c) z · z = | z |2 e | z | = | z |.

(d) z + w = z + w.

(e) z · w = z · w.

Demonstração – Vamos fazer a prova o item (e). Temos que

z · w = (a + bi) · (c + di) = (ac − bd) − (ad + bc)i

= (a − bi) · (c − di) = z · w .

Vamos fazer a prova o item (d). Temos que

z + w = (a + bi) + (c + di) = (a + c) − (b + d)i

= (a − bi) + (c − di) = z + w .

A prova dos outros ı́tens pode ficar a cargo do leitor. 

29
Petronio Pulino MA 109 Matemática Básica

Teorema 1.7.3 Considere os números complexos

z = a + bi e w = c + di .

Então,

(a) | z · w | = | z | | w |.

(b) | Re(z) | ≤ | z | e | Im(z) | ≤ | z |.


1 z z
(c) z −1 = = = com z 6= 0.
z z·z | z |2

Demonstração – Vamos fazer a prova o item (a). Pelo Teorema 1.7.2, temos que

| z · w |2 = (z · w) · (z · w) = (z · z) · (w · w) = | z |2 | w |2 ,

o que completa a prova do item (a).

A prova dos outros ı́tens pode ficar a cargo do leitor. 

Exemplo 1.7.1 Considere o número complexo z = 3 + 4i. Como z 6= 0, temos


que
z 3 − 4i
z −1 = 2 = .
|z| 25

Exemplo 1.7.2 Considere os números complexos z = 3 + 4i e w = 1 + 2i.


Como z 6= 0, temos que

w w·z w·z (1 + 2i) · (3 − 4i) 11 + 2i


= = 2 = = .
z z·z |z| 25 25

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Lema 1.7.1 Se z, w ∈ C, então

| z + w |2 = | z | 2 + | w |2 + 2Re(z · w) .

Demonstração – Inicialmente, vamos escrever

| z + w |2 = (z + w) · (z + w) = z · z + w · w + (z · w + z · w)

= | z |2 + | w |2 + (z · w + z · w)

Podemos observar que, z · w é o conjugado de z · w. Portanto, temos que

z · w + z · w = 2Re(z · w) ,

o que completa a prova. 

Teorema 1.7.4 Se z, w ∈ C, então | z + w | ≤ | z | + | w |.

Demonstração – Utilizando o resultado do Lema 1.7.1, temos que

| z + w |2 − (| z | + | w |)2 = − 2 | z | | w | + 2Re(z · w) .

Sabemos que Re(z · w) ≤ | z · w | = | z | | w |. Logo,

| z + w |2 − (| z | + | w |)2 ≤ 0 ,

o que completa a prova da desigualdade triangular para os números complexos.




Lema 1.7.2 Sejam z e w dois números complexos. Então, | z | − | w | ≤ | z + w |.

Demonstração – Utilizando a desigualdade triangular para os números complexos


e a propriedade | z · w | = | z | | w |, temos que

| z | = | (z + w) − w | ≤ | z + w | + | −w | = | z + w | + | w | .

Portanto, temos que | z | − | w | ≤ | z + w |. 

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Petronio Pulino MA 109 Matemática Básica

Lema 1.7.3 Se z, w ∈ C com w 6= 0, então


z z z |z|
= e = .

w w w |w|

Demonstração – A prova pode ficar a cargo do leitor. 

Assim, podemos dizer que C é um corpo com um valor absoluto | · |, que vamos
fazer referência como sendo o valor absoluto usual. Finalmente, podemos apresentar
os seguintes exemplos de subcorpos de C.

Exemplo 1.7.3 O conjunto dos números reais IR é um subcorpo do corpo dos


números complexos C.

Exemplo 1.7.4 O conjunto dos números racionais Q é um subcorpo do corpo dos


números complexos C.

Exemplo 1.7.5 O conjunto


√ n √ o
Q( 2) = a + b 2 / a, b ∈ Q

é um subcorpo do corpo dos números complexos C.

32
Petronio Pulino MA 109 Matemática Básica

Exercı́cios

Exercı́cio 1.15 Calcule o módulo e o argumento dos seguintes números complexos.


2 + 3i 1
(a) z = (1 + 2i) · (3 − i) (b) z = (c) z =
2+i (1 + i)2

Exercı́cio 1.16 Determine a forma polar dos seguintes números complexos.


1
(a) z = (1 + i)2 (b) z = 2 + 2i (c) z =
(1 + i)

Exercı́cio 1.17 Verifique que os números complexos

z = 1+i e w = 1−i

satisfazem a equação z 2 − 2z + 2 = 0.

Exercı́cio 1.18 Seja z um número complexo. Mostre que



|z| 2 ≥ | Re(z) | + | Im(z) | .

Exercı́cio 1.19 Sejam z, w, u ∈ C com | z | 6= | w | , mostre que



u |u|
z + w ≤ | |z| − |w| | .

Exercı́cio 1.20 Faça a representação gráfica no plano complexo dos subconjuntos.

(a) S = { z ∈ C / | z | = 1 } .

(b) S = { z ∈ C / z + z = 1 } .

(c) S = { z ∈ C / z − z = i } .

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Petronio Pulino MA 109 Matemática Básica

Exercı́cio 1.21 Determine os números reais a e b tais que


100
X
ik = a + bi .
k=0

Exercı́cio 1.22 Expresse o número complexo


1+i
z = .
2−i
na forma z = a + bi.

34
Petronio Pulino MA 109 Matemática Básica

1.8 Caracterı́stica do Corpo

Definição 1.8.1 Seja IF um corpo. Definimos a caracterı́stica do corpo IF como


sendo o menor inteiro positivo p tal que 1IF + 1IF + · · · + 1IF = 0IF , com p termos
no somatório. O corpo IF tem caracterı́stica zero se 1IF + 1IF + · · · + 1IF 6= 0IF ,
para qualquer quantidade de termos no somatório.

Podemos verificar que se o corpo IF tem caracterı́stica p 6= 0, então

x + x + ··· + x = 0 ,

com p termos no somatório, para todo x ∈ IF .

Exemplo 1.8.1 O corpo do números reais IR tem caracterı́stica zero.

Exemplo 1.8.2 O corpo do números racionais Q tem caracterı́stica zero.

Exemplo 1.8.3 O corpo do números complexos C tem caracterı́stica zero.

Exemplo 1.8.4 O corpo Z2 = { 0, 1 } , veja o Exemplo 1.4.3, tem caracterı́stica


p = 2. De fato, 1 + 1 = 0 no corpo Z2 .

Exemplo 1.8.5 O corpo Z5 = { 0, 1, 2, 3, 4 } tem caracterı́stica p = 5. De fato,


1 + 1 + 1 + 1 + 1 = 0 no corpo Z5 .

Podemos verificar facilmente que se IF é um corpo de caracterı́stica zero, então


IN ⊂ IF . De fato, fazendo a identificação 1IF = 1, temos que
n
X
1+1 = 2 , 1+1+1 = 3 e 1 = 1 + 1 + 1 + ··· + 1 = n.
i=1

Finalmente, os elementos simétricos −n dos elementos n ∈ IN também pertencem


ao corpo IF . Desse modo, temos que IN ⊂ Z ⊂ IF . Em particular, todo corpo de
caracterı́stica zero é infinito.

35
Petronio Pulino MA 109 Matemática Básica

Todo corpo ordenado tem caracterı́stica zero, tendo em vista que

1 + 1 + 1 + · · · + 1 6= 0

para qualquer quantidade de termos no somatório, uma vez que no corpo ordenado a
soma de elementos positivos é sempre um elemento positivo.

Definição 1.8.2 Seja IF um corpo de caracterı́stica p. Definimos n em IF da


seguinte forma:
n := 1IF + 1IF + · · · + 1IF
com n termos no somatório.

Podemos observar que vamos tomar n como sendo o resto da divisão do somatório

1IF + 1IF + · · · + 1IF

pelo inteiro positivo p, que é a caracterı́stica do corpo IF .

36
Bibliografia

[1] Benedito Castrucci – Fundamentos da Geometria: Estudo Axiomático do Plano


Euclidiano, Livros Técnicos e Cientı́ficos Editora SA, 1978.

[2] Elon Lages Lima, Paulo Cezar Pinto Carvalho, Eduardo Wagner e Augusto César
Morgado – A Matemática do Ensino Médio, Volume 1, Nona Edição, Coleção do
Professor de Matemática, Sociedade Brasileira de Matemática, 2006.

[3] Elon Lages Lima, Paulo Cezar Pinto Carvalho, Eduardo Wagner e Augusto César
Morgado – A Matemática do Ensino Médio, Volume 2, Quinta Edição, Coleção
do Professor de Matemática, Sociedade Brasileira de Matemática, 2004.

[4] Fred Safier – Pré–Cálculo, Coleção Schaum, Bookman, Primeira Edição, 2003.

[5] Gelson Iezzi, Osvaldo Dolce, David Degenszajn e Roberto Périgo – Matemática,
volume único, Atual Editora, Segunda Edição, 2002.

[6] Hygino H. Domingues e Gelson Iezzi – Introdução à Álgebra, Atual Editora, 1976.

[7] Hygino H. Domingues e Gelson Iezzi – Álgebra Moderna, Atual Editora, 2003.

[8] Manoel Jairo Bezerra – Matemática para o Ensino Médio, Editora Scipione,
Quinta Edição, 2004.

[9] The High School Tutor Algebra, Research & Education Association, 2006.

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