Rihgb2019numero0481 PDF
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Ulrich’s International Periodicals Directory – Handbook of Latin American Studies (HLAS) –
Sumários Correntes Brasileiros – Google Acadêmico - EBSCO
Correspondência:
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Tiragem: 300 exemplares
Impresso no Brasil – Printed in Brazil
Revisora: Talita Rosetti Souza Mendes
Secretária da Revista: Tupiara Machareth
Quadrimestral
ISSN 0101-4366
Ind.: T. 1 (1839) – n. 399 (1998) em ano 159, n. 400. – Ind.: n. 401 (1998) – 449 (2010) em n. 450
(2011)
Ficha catalográfica preparada pela bibliotecária Maura Macedo Corrêa e Castro – CRB7-1142
CONSELHO EDITORIAL
António Manuel Dias Farinha – Universidade de Lisboa – Lisboa – Portugal
José Murilo de Carvalho – Universidade Federal do Rio de Janeiro – Rio de Janeiro-RJ – Brasil
Maria Beatriz Nizza da Silva – Universidade de São Paulo – São Paulo-SP – Brasil
Lucia Maria Bastos Pereira das Neves – Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Rio de Janeiro-RJ-Brasil
Maria de Lourdes Viana Lyra – Universidade Federal do Rio de Janeiro – Rio de Janeiro-RJ – Brasil
CONSELHO CONSULTIVO
Fernando Camargo – Universidade Federal de Pelotas – Pelotas-RS – Brasil
Junia Ferreira Furtado – Universidade Federal de Minas Gerais – Belo Horizonte-MG – Brasil
Luís Cláudio Villafañe Gomes Santos – Ministério das Relações Exteriores – Brasília-DF – Brasília
Maria de Fátima Sá e Mello Ferreira – ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa – Lisboa – Portugal
Miridan Britto Falci – Universidade Federal do Rio de Janeiro – Rio de Janeiro-RJ – Brasil
Nestor Goulart Reis Filho – Universidade de São Paulo – São Paulo-SP – Brasil
Renato Pinto Venâncio – Universidade Federal de Ouro Preto – Ouro Preto-MG – Brasil
15
I – ARTIGOS E ENSAIOS
ARTICLES AND ESSAYS
Resumo: Abstract:
O título apropria uma afirmativa do Governador The title appropriates an affirmative of the
Gomes Freire de Andrada ao avaliar, junto ao Governor Gomes Freire de Andrada as he
Rei, a disputa entre interesses de grupos vincu- evaluate with the King the dispute between
lados às Freguesias do Pilar e da Estrela, ambos interests of groups linked to the Pilar and
em caminhos que levavam às minas no início do Estrela ‘Freguesias’, both on paths leading to
século XVIII. Nesta centúria, o interior da Capi- mines in the early Eighteenth Century. In this
tania do Rio de Janeiro foi desbravado por vias period, the interior of the Captaincy of Rio de
de comunicação que interligavam a capitania Janeiro was explored by ways of communication
fluminense às recém-descobertas áreas minera- that interconnected the ‘fluminense’ captaincy
doras. Nelas, se constituíram localidades inte- to the newly discovered mining areas, in
gradas aos novos circuitos econômicos. A cons- which were constituted localities integrated
tituição do espaço, resultante do complexo das to the new economic circuits. The constitution
relações sociais, deu vida a diversas localidades of space, resulting of the complex of social
que, mesmo quando não desfrutavam de status relations, gave life to several localities
administrativos específicos, como por exem- which, even when not contemplating specific
plo, Vilas, tiveram papel relevante no processo administrative statuses, as for example,
de conquista e de colonização. Os conflitos são Vilas, played a relevant role in the process of
conhecidos, assim como a documentação uti- conquest and colonization. The conflicts are
lizada, mas se pretende pensar o processo no known, as well as the documentation used, but
contexto da política metropolitana de controle this work intends to reason the process in the
context of the metropolitan policy of control and
e de extração sobre a colônia ao qual se juntava
extraction on the colony to which a broad set of
um amplo conjunto de interesses dos diversos
interests of the several social groups and their
grupos sociais e de suas respectivas atividades respective economic activities in permanent
econômicas em permanente disputa, produzindo dispute gathered, producing a situation in which
uma dinâmica na qual interagiam as resistências interact the resistances to colonial control and
ao controle colonial e, ao mesmo tempo, o seu its reinforcements as a possible instrument to
reforço como possível instrumento de apoio a support certain private interests as well. The
determinados interesses privados. As localida- localities, acknowledged as ‘Freguesias’ in the
des, reconhecidas como Freguesias na última last decade of the seventeenth century, were
década do século XVII, estavam “às margens “on the margins of the visible power”, for even
do poder visível”, pois, mesmo sem status ad- without administrative status, they interacted
ministrativo, interagiam por seus sujeitos num by the means of their subjects in a dialectical
processo dialético na regência da governação da process in regency of the governance of the
conquista. conquest.
Palavras-chave: Brasil Colonial; Rio de Janei- Keywords: Colonial Brazil; Rio de Janeiro;
ro; Sociedade Colonial. Colonial Society.
Mapa
Fonte: Carta Topográfica da Capitania do Rio de Janeiro, Manoel Vieira Leão, 1767.
15 – Itinerário Geográfico com a verdadeira descrição dos caminhos, estradas, roças,
sítios, povoações, lugares, vilas, rios, montes e serras que há da cidade de São Sebastião
do Rio de Janeiro até as Minas do Ouro (1732). In: Códice Costa Matoso. Coleção das
notícias dos primeiros descobrimentos das minas na Amnérica que fez o doutor Caetano
da Costa Matoso sendo ouvidor-geral das do Ouro Preto, de que tomou posse em feve-
reiro de 1749 & outros papéis. V.1. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, Centro de
Estudos Históricos e Culturais, 1999, p. 898-910.
27 – Velhas discussões eram retomadas como a tributação do açúcar nas Alfândegas. Se
no início da colonização prevalecera a isenção de 10 anos para pagar-se o dízimo, mas não
a dízima, com larga burla na sua aplicação, agora, era necessário conciliar a captação de
recursos para despesas crescente e os interesses locais.
28 – RAU, Virginia e SILVA, Maria Fernanda Gomes da. op. cit., Vol. 2, Doc. 381, p.
289-291.
29 – AHU Projeto Resgate, Rio de Janeiro. Castro e Almeida (AHU-RJ-CA). AHU_
ACL_CU_017-1, Cx. 13\Doc. 2716
30 – REINGANTZ, Carlos. Primeiras famílias do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Bra-
siliana, 1965, V. I, p. 251.
31 – Documentos Históricos. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1929, Vol. XI, p.263-
268.
32 – SAMPAIO, Antônio Carlos Jucá. Na encruzilhada do império: hierarquias sociais
e conjunturas econômicas no Rio de Janeiro (c. 1650-c. 1750). Rio de Janeiro: Arquivo
Nacional, 2003, p. 148.
vinhos, por três anos, 46.000 cruzados. São Paulo, os dízimos, por três
anos, 60.000 cruzados33.
CONTRATOS VALORES
Dízima da Alfândega 107:600$000
Dízimos Reais 57:630$000
Direitos dos Escravos para Minas 43:200$000
Tabaco 37:200$000
Passagens (Caminhos das Minas) 33:375$00
Brasil, 28.1.1736. AHU Projeto Resgate, Minas Gerais (AHU-MG). Arquivo Histórico
Ultramarino, Minas Gerais, Cx. 32, Doc. 6; Doc. 21. AHU_ACL_CU_011, Cx. 31\Doc.
71.
50 – ANRJ. Códice 756. Ver cartas a D. Lourenço de Almeida, de 16 de novembro de
1711 e a Antônio de Albuquerque a Pedro de Vasconcellos, de 11 de julho de 1712.
51 – AHU-RJ-CA. Parecer do conselheiro Antônio Rodrigues da Costa em consulta do
Conselho Ultramarino, de 20 de janeiro de 1714. AHU_ACL_CU_017-1, Cx. 16. Doc.
3336.
52 – SOUZA, Laura de Mello e BICALHO, Maria Fernanda. 1680-1720: o império des-
te mundo. São Paulo: Cia das Letras, 2000.
53 – CARVALHO, Theophilo Feu. Caminhos e roteiros nas Capitanias do Rio de Janei-
ro, São Paulo e Minas In: Annaes do Museu Paulista. São Paulo: 1931, T. 4º, p. 689-699.
Por outro lado, Estevão Pinto era acusado pelo Capitão Francisco
Tavares, o “Alferes” da Freguesia de Pati, de destruir roças e provocar
outros danos a seus vizinhos, em 1736, denúncia acolhida no Conselho
Ultramarino que determinou a instauração de devassa em 173871.
tenção dos privilégios73 se estendeu pelo menos até 1744, quando Antonio
Proença Coutinho afirmava ainda ter “pendências” a resolver.
41
Província do Maranhão desde 1839 até 1840, de Domingos José Gonçalves de Maga-
lhães que, à época dos eventos, ocupou o cargo de secretário particular de Luís Alves de
Lima e Silva, Governador do Maranhão e futuro Duque de Caxias. Em 1872, um segundo
trabalho historiográfico foi realizado, com o título Notas diárias sobre a revolta civil que
teve lugar nas províncias do Maranhão, Piauí e Ceará pelos anos de 1838, 1839, 1840
1841, escritas em 1854, à vista de documentos oficiais. Desta feita, escrito por José Mar-
tins Pereira de Alencastre, publicado na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasi-
leiro, em 1872. No século XX, a temática continuou a instigar os pesquisadores, e muitos
trabalhos foram produzidos por historiadores do Piauí e do Maranhão. Entre as produções
desse período, podemos apontar o trabalho de Maria Amélia Freitas Mendes de Oliveira,
A Balaiada no Piauí, publicado em 1985, pelo Governo do Piauí, no âmbito do Projeto
Petrônio Portela; e o trabalho de Claudete Maria Miranda Dias, Balaios e bem-te-vis: a
guerrilha sertaneja. Vale mencionar ainda o trabalho de Matthias Rohrig Assunção: De
caboclos a Bem-te-vis, publicado em 2015, pela Editora Annablume, onde entre outras
temáticas relacionadas ao Maranhão o autor aborda o movimento da Balaiada.
4 – Manuel Clementino de Sousa Martins nasceu em 1799 e faleceu em 1839. Militar,
atuou nos conflitos ocorridos no Ceará, em 1832, após a abdicação de D. Pedro I, na Ba-
laiada, em 1839, sendo morto em combate. Era sobrinho, afilhado e genro de Manuel de
Sousa Martins (Visconde da Parnaíba).
5 – Lívio Lopes Castelo Branco e Silva nasceu em Campo Maior, em 1813, e faleceu em
1869. Foi jornalista, advogado e escritor, exerceu cargos públicos no Piauí, sendo ativo
participante da Balaiada e, por este motivo, foi perseguido por Manuel de Sousa Martins,
mesmo após o perdão concedido pelo Imperador Pedro II.
6 – Manuel de Sousa Martins nasceu em Oeiras, Piauí, em 1767, e faleceu em 1856. Foi
personagem importante no processo da independência do Piauí, assumindo a presidência
do Conselho de Governo, no período de 1825-1828 e a presidência do Piauí de1831 a
1843. Por sua participação na política e em contendas militares, sempre se mostrando fiel
aos interesses do Império brasileiro, foi agraciado com os títulos de Barão e posteriormen-
te de Visconde da Parnaíba.
Afirma ainda que suas ações militares, embora breves, trouxeram espe-
rança à legalidade, que, por onde se movimentou, sempre obteve vanta-
gem contra os rebeldes; entretanto, no combate no Morro Agudo, quando
já contava com a vitória, foi mortalmente ferido e acabou sua glória e
carreira18. Segundo Magalhães, a notícia da morte de Manuel Clementino
ensoberbeceu os revoltosos, fez com que ganhassem simpatias e apoios,
ao tempo em que muitos passavam a ver como duvidosa a vitória da le-
galidade no movimento.
Dessa feita, Cruz Monteiro afirma que a casa foi cercada durante
a noite, e a ordem era prender ou matar o proprietário tido como um
líder balaio. Ao amanhecer, a casa foi invadida pelas tropas legalistas e
o proprietário estava ausente. Ato contínuo, os soldados foram autoriza-
dos a saquearem a casa, em seguida a esposa do proprietário, Dona Rosa
Alvarenga, foi levada à presença do comandante, que a interrogou aspera-
mente, indagando sobre o paradeiro do esposo, insultando-a com palavras
grosseiras e mesmo dando-lhe bofetada na face.
24 – A vila de Marvão foi criada ainda no Piauí colonial e tem hoje a denominação de
Castelo do Piauí.
25 – BRITO, Benedito de Sousa. A verdade histórica e o bravo major Manuel Clementi-
no de Sousa Martins, um dos heróis da Balaiada. Revista do Instituto Histórico de Oeiras.
Oeiras, n. 2, p. 153-161, 1980.
26 – BRITO, op. cit., n. 2, p. 154, 1980.
36 – CARVALHO, José Murilo de. A formação das almas. São Paulo: Companhia das
Letras, 1993, p. 55.
37 – NUNES, Odilon. Pesquisa para a História do Piauí. Teresina: FUNDAPI, 2007,
p. 63.
44 – Sobre os padrões masculinos modernos, cf. o artigo de CASTELO BRANCO, Pe-
dro Vilarinho. Masculinidades plurais: a construção das identidades de gênero em obras
literárias. História Unisinos. Rio Grande do Sul, v. 9, n. 2, p. 85-95, 2005.
47 – CASTELLO BRANCO, Moisés Filho. O Piauí na história militar do Brasil - 1759-
1984. Teresina, 1984.
guida para Oeiras, onde ficou detido muitos meses, sem outra culpa a não
ser a de ser inimigo do Barão50.
50 – Clodoaldo Freitas também descreve as ações de um comandante das tropas gover-
nistas contra o Senhor José Pereira da Silva Mascarenhas, proprietário do sítio Buritizal,
às margens do Uruçuí. FREITAS, Clodoaldo. A Balaiada. p. 63-65.
51 – FREITAS, Clodoaldo. A Balaiada, p. 66.
52 – FREITAS, Clodoaldo. A Balaiada, p. 67.
53 – Sobre as reformas políticas do Estado Imperial brasileiro no final do período re-
gencial e no segundo reinado ver: CARVALHO, José Murilo de. A vida política. In: A
construção nacional: 1830-1889. Rio de Janeiro: Objetiva, 2010, p. 83-130.
54 – Sobre as novas propostas para a economia brasileira no início do Segundo Reinado,
cf.: PAULA, João Antônio de. O processo econômico. In: A construção Nacional. 1830-
1889. Rio de Janeiro: Objetiva, 2010, p. 179-223.
55 – MONTEIRO, Carlos Augusto de Figueiredo. Tempo de Balaio. Florianópolis:
UFSC, 1993.
71
Introdução
Ao nos dedicarmos à leitura dos documentos do Arquivo da Casa
Imperial do Brasil, formado pela documentação de caráter privado da
7 – II-POB-Maço 110. Doc. 5430. Luiz Augusto May a d. Pedro II. Museu Imperial/
Ibram/Ministério do Turismo.
9 – SODRÉ, Nelson Werneck. História da Imprensa no Brasil. 4. ed. São Paulo: Livraria
Martins Fontes, 1999.
13 – MATTOS, I. R. de. O gigante e o espelho. In: GRINBERG, K.; SALLES, R. (Orgs).
O Brasil Imperial: 1831-1870. v. 2. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009, p. 40.
15 – VIANNA, Helio. D. Pedro II, da Maioridade à Conciliação. In: Jornal do Com-
mercio. Rio de Janeiro. Ano 1964. Edição 00180 (1), de 08/05/1964. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=364568_15&pasta=ano%20
196&pesq=da%20maioridade%20%C3%A0%20concilia%C3%A7%C3%A3o Acesso
em: 05.02.18.
16 – Conforme o Guia da Administração brasileira: Império e Governo Provisório
(1822-1891), organizado por Angelica Ricci Camargo e Dilma Cabral, e publicado pelo
Arquivo Nacional, em 2017.
são, e que, a partir dos anos 1830, ganhavam espaço entre as ideias que
então passaram a circular21.
Conclusão
De acordo com as nossas pesquisas, Helio Vianna foi o historiador
que mais se aprofundou no estudo sobre a vida de Luiz Augusto May e,
portanto, não nos passou despercebido o fato de ter minimizado a capaci-
dade política e até mesmo intelectual do redator de A Malagueta. Apesar
de Vianna, dentro das leituras que fizemos, não ter se dado conta de que,
aposentado em 1824, May havia sido reintegrado ao seu cargo de Oficial-
-maior na Secretaria d’Estado de Negócios da Marinha, e tenha subesti-
mado a sua relação com d. Pedro II, o debate dessa questão é secundário
para o nosso trabalho.
95
Introdução
A Guerra do Paraguai foi um conflito que marcou profundamente
a História brasileira e latino-americana, por isso, foi amplamente retra-
tado pelos diversos pintores da época, entre eles Victor Meirelles (1832
7 – Com essas características, podem-se citar: CASTRO, Isis Pimentel de. Pintura, Me-
mória e História: a pintura histórica e a construção de uma memória nacional. Revista de
Ciências Humanas, Florianópolis: n.38 p. 335-352, 2005. CASTRO, Isis Pimentel de. Os
Pintores de História: A relação entre arte e história através das telas de batalhas de Pedro
Américo e Victor Meirelles. Dissertação (Mestrado em História Social) Universidade Fe-
deral do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2007.
8 – Sobre isso, ver SCHWARCZ, Lilia Katri Moritz. A batalha do Avaí. A beleza da bar-
bárie: a Guerra do Paraguai pintada por Pedro Américo. Rio de Janeiro: Sextante, 2013;
CUNHA, Luiz Carlos da. Representações em tempos de guerra: Marinha, Civilização e
o quadro Combate Naval do Riachuelo de Victor Meirelles (1868 – 1872). Dissertação
(Mestrado em História) Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2009;SILVA, Graziely
Rezende. Combate Naval do Riachuelo: da história para a pintura. Revista Virtú, Juiz de
Fora, v.1, p. 1-7, 2008.
9 – LE GOFF, Jacques. História e memória. Tradução. 4 ed. Campinas, SP: Ed. da Uni-
camp, 1992.
10 – NORA, Pierre. Entre história e memória: a problemática dos lugares. Revista Pro-
jeto História, São Paulo, v. 10, p. 7-28 1993, p.22
11 – LEMAD - LABORATÓRIO DE ENSINO E MATERIAL DIDÁTICO, USP – Uni-
versidade de São Paulo disponível em < http://lemad.fflch.usp.br/> acesso em 21 de maio
de 2019
co, “Batalha do Avaí”, 1879, também de Pedro Américo e “Batalha Naval do Riachuelo”,
1875 de Edoardo De Martino.
29 – MAKOWIECKY, Sandra; Cherem, Rosangela. Fragmentos-construção I: acade-
micismo e modernismo em Santa Catarina. Florianópolis: Ed. da UDESC, 2010, p.121.
30 – CASTRO, Isis Pimentel de. Os Pintores de História: A relação entre arte e história
através das telas de batalhas de Pedro Américo e Victor Meirelles. Dissertação (Mestrado
em História Social) Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2007, 181p.
31 – CASTRO, Isis Pimentel de. Pintura, Memória e História: a pintura histórica e a
construção de uma memória nacional. Revista de Ciências Humanas, Florianópolis: n.38
p. 335-352, 2005, p. 338.
Foi essa colocação de Jacques Le Goff que nos levou a pensar que
a obra pictórica Combate Naval do Riachuelo foi concebida e tratada ao
longo do tempo para ser um lugar de memória da Guerra do Paraguai,
mesmo porque essa visão de que as obras de arte deveriam ajudar a en-
sinar e ter uma função moralizadora foi largamente utilizada pela AIBA,
como vimos neste artigo.
Nesses locais, a memória não seria espontânea, mas sim uma me-
mória-arquivo que seria relembrada “integralmente” no momento em que
fosse necessária, ou a memória artificial, como coloca Jacques Le Goff55.
56 – NORA, Pierre. Entre história e memória: a problemática dos lugares. Revista Pro-
jeto História, São Paulo, v. 10, p. 7-28 1993, p. 22.
57 – ABREU, José Guilherme. Arte pública e lugares de memória. Revista da Faculdade
de Letras ciências e técnicas do património, Porto: v. IV p. 215 – 234, 2005, p. 215.
58 – BENJAMIN, Walter. A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica. Porto
Alegre: L&PM 2013.
63 – SQUINELO, Ana Paula. Revisões historiográficas: a guerra do Paraguai nos livros
didáticos brasileiros – PNLD 2011. Diálogos, Maringá, v. 15, n. 1, 2011.
64 – CASTRO, Isis Pimentel de. Os Pintores de História: A relação entre arte e história
através das telas de batalhas de Pedro Américo e Victor Meirelles. Dissertação (Mestrado
em História Social) Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2007, 181p.
65 – CASTRO, Isis Pimentel de. Os Pintores de História: A relação entre arte e história
através das telas de batalhas de Pedro Américo e Victor Meirelles. Dissertação (Mestrado
em História Social) Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2007, 181p,
p. 33.
66 – LACERDA, Joaquim Maria de. Pequena História do Brasil por Perguntas e Res-
postas. 2. ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves e Cia, 1907.
67 – MOREIRA, Kênia Hilda. Livros didáticos de história no Brasil do século XIX:
questões sobre autores e editores. Educação e Fronteira, Dourados, v. 3, n. 5, jan./jun.
2010.
68 – RIBEIRO, João. Rudimentos da História do Brasil. Rio de Janeiro: Francisco Alves
e Cia, 1910 e 1936.
69 – RIBEIRO, João. História do Brasil. 5 ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves e Cia,
1914.
nona edição70, o que permite pensar que essa produção atingiu um grande
número de indivíduos ao longo de décadas.
obra História do Brasil para o quarto ano ginasial foi publicada entre as
décadas de 1930 e 1970, tendo atingido um vasto número de indivídu-
os, pois esse foi um período marcado pela expansão do ensino primário,
principalmente no governo Vargas77. O livro Compêndio de História do
Brasil foi publicado entre as décadas de 1960 e 1970 cuja tiragem anual
girava entre 150.000 e 250.000 exemplares78.
Fonte: Tabela adaptada do IBGE, séries estatísticas retrospectivas, 1970; INEP/MEC; Revista Brasileira de estu-
dos pedagógicos, n. 101 apud OEI, Sistema educativo nacional.
77 – MOREIRA, Kênia Hilda. Livros didáticos de história do Brasil para o ensino se-
cundário (1889-1950): procedimentos de localização, seleção e acesso. Educação e Fron-
teira, Dourados, v. 7, n. 20, maio/ago. 2017, p. 67-90.
78 – FERTIG, André Átila; THESING, Neandro. O processo de independência em li-
vros didáticos tradicionais: instrumentos a nação. Revista Latino-Americana de História
– UNISINOS, São Leopoldo, n. 6, v. 2, ago. 2013, p. 684-699.
79 – SCHWARTZMAN, Sergio. BROCK, Cesar. (Org.) . Os desafios da educa-
ção no Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, v. 1, 2005.
Considerações Finais
A Guerra do Paraguai foi um conflito de grande magnitude e que
marcou profundamente a história de todos os envolvidos. Durante esse
período, o Estado brasileiro, por meio da Academia Imperial de Belas
Artes, buscava criar uma Arte Brasileira que contasse a História Nacional
oficial por meio da pintura e, ao mesmo tempo, contribuísse para constru-
ção da identidade nacional.
80 – ARAÚJO, Aline Praxedes. Há tantas formas de se ver o mesmo quadro: uma leitura
de O Combate Naval do Riachuelo de Victor Meirelles (1872/1883). Dissertação (Mestra-
do em História) – Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2015.
123
Gustavo Pereira1
Resumo: Abstract:
Busca-se refletir sobre como, em Portugal e no This paper is an attempt to understand how
Brasil, lidou-se no século XIX com comemo- celebrations of important individuals and
rações em torno de homens e de episódios de episodes of the past were perceived in 19th
relevo – maneira peculiar de narrar o passado. century’s Portugal and Brazil – a peculiar way
Remonta-se ao início da década de 80, quando of narrate the past. It takes in consideration
houve celebrações centenárias (como a pomba- the early 1880s, when centenaries celebrations
lina) nos dois lados do Atlântico, e recua-se às (such as the one commemorating Pombal), were
décadas de 20 e 30, quando se estabeleceram e held on both sides of the Atlantic, and goes back
atualizaram festividades relacionadas a D. Pe- to the 1820s and 1830s, when festivities were
dro (I do Brasil, IV de Portugal), apreciado, de established and continuously updated around
diferentes maneiras, ao longo do tempo. different perceptions regarding D. Pedro (I of
Brazil, IV of Portugal), a man appreciated in
diferent ways over time.
Palavras-chave: História; Memória; Comemo- Keywords: History; Memory; Celebrations.
rações.
Do passado, do presente
Ao longo do Oitocentos, discutiam-se, no Instituto Histórico e Geo-
gráfico Brasileiro (IHGB), fundado em 1838, parâmetros para a história
nacional que se pretendia afirmar para o Império do Brasil (1822-1889).
Sobre seu neto D. Pedro V, diz Séguier, que dele ficou uma lembran-
ça “bem idealmente simpática”. Ele deixou “uma espécie de lenda que
envolve a sua recordação num adorável luar”. Morreu também prematu-
ramente, em 11 de novembro de 1861 (aos 24 anos), sendo logo objeto
de textos e de rituais laudatórios que excediam os do costume no libera-
lismo. Despertou um sentimento de perda, associado à idealização de sua
figura. Demarcando-se da ideia que se fazia da família real, conservou-se
sua imagem como inteligente e honesto, que se interessava por fazer o
país progredir12.
No que diz respeito ao Brasil, importa pensar sua figura desde o pós-
-independência (1822). Na narrativa nacional que então se conformava,
afirmaram-se como marcos quatro episódios relacionados à trajetória do
príncipe herdeiro português proclamador da independência: o Dia do
Fico (nove de janeiro de 1822), o Grito do Ipiranga (sete de setembro de
1822), sua aclamação como D. Pedro I, imperador constitucional e prote-
tor perpétuo do Brasil (12 de outubro de 1822, também seu aniversário)
e a outorga da Constituição (25 de março de 1824). Inicialmente, não
havia definição sobre quando comemorar a fundação do Império, mas se
fixaram essas datas no calendário de festividades cívicas, ao qual ainda se
adicionou uma quinta: a abertura do parlamento (três de maio, segundo a
constituição)20. Tal calendário estabeleceu-se ainda na primeira sessão da
tico e culto cívico dos mortos em Portugal (1756-1911). Coimbra: Minerva, 1999, cap. V.
19 – O monumento foi inaugurado para o centenário da independência (1922), mas con-
cluído apenas em 1926. O traslado deu-se na efeméride seguinte, quando os restos fúne-
bres percorreram o país. CORDEIRO, J. M. Lembrar o passado, festejar o presente: as
comemorações do Sesquicentenário da Independência entre consenso e consentimento
(1972). Tese de Doutorado, História. Niterói: PPGH-UFF, 2012.
20 – KRAAY, H. Days of national festivity in Rio de Janeiro, Brazil, 1823-1889. Stan-
ford: Stanford University, 2013, p. 13-30.
Sua ideia contemplava sete dias e foi criticada pelo visconde de Bar-
bacena (1772-1842), para quem “se nós quisermos fazer um projeto de
festas nacionais de todos os acontecimentos memoráveis, teremos o in-
conveniente de, em pouco tempo, metade do ano ser toda de festas, além
de que todos os objetos mais estimáveis, quando se multiplicam, perdem
todo o seu valor”. Como quase todos os dias sugeridos eram “de um só
homem”, seria “melhor que reuníssemos todos em um só, que é o dia 12
de outubro, que deu ao mundo o imperador que declarou a independência
e efetuou a fundação do império”23.
21 – O decreto estabelecia nove dias de grande gala e nove de pequena gala, sobretudo
de teor religioso e relacionados à família imperial – com exceção do dia da proclamação
do sistema constitucional (26 de fevereiro). Da listagem referida, constava apenas o 12
de outubro, sem menção ao sete de setembro. Collecção das leis do Imperio do Brazil de
1822, v. I, pt. II. Rio de Janeiro, 1887.
22 – O projeto foi apresentado no senado em 20 de junho, passou por três discussões e
foi aprovado em 17 de julho, sendo então remetido à câmara dos deputados – onde se deu
a inclusão do três de maio; “dia em que o Brasil viu pela primeira vez a nação reunida e
legitimamente representada” (Teixeira de Gouveia, Annaes do Parlamento Brazileiro, t.
III, 1826. Rio de Janeiro, 1874).
23 – Annaes do Senado do Imperio do Brazil… anno de 1826. t. II. Rio de Janeiro, 1878.
Sessão do dia 20 de junho.
e civil. Enfim, todas elas são subordinadas, ainda que pela associação
de ideias, reunidas na festa nacional de 12 de Outubro, que será a
nossa grande olimpíada27.
Numa altura em que se buscava afirmar a nação, concedia-se grande
relevo ao discurso que se construía sobre a consolidação de sua indepen-
dência, sobre a fundação de suas principais instituições e também sobre
os indivíduos que desempenharam papel importante em tempos preté-
ritos. O debate parlamentar em torno do calendário indicia a relevância
atribuída à preservação e à conformação da memória nacional. As festivi-
dades cívicas, para alguns, deveriam ter lugar cimeiro na pedagogia sobre
o passado nacional – visto que instruíam e reavivavam tal memória pela
via dos sentimentos. Para outros, contudo, a primazia caberia à história
in folio (narrativa escrita sobre esse passado), auxiliada quotidianamente
por práticas que transmitissem diferentes aspectos do discurso acerca do
percurso da nação.
35 – LAW, D. The legacy of Brazil’s Pedro I: memory and politics during the empire and
republic. Dissertation, Doctor of Philosophy. Baltimore: Johns Hopkins University, 2015.
Aborda-se como se lidou com o legado de D. Pedro no Brasil, incluindo sua reabilitação
no Segundo Reinado, atribuída em grande parte a seu histórico em Portugal. Para Portu-
gal: CATROGA, F. O culto…
36 – Para o Brasil: KRAAY, H. Days of national… E Portugal: ANDRADE, L. O. &
CATROGA, L. R. Feriados…
37 – Annaes do Senado… ano de 1826, t. II. Sessão do dia 17 de julho. Grifos meus.
Do passado, do futuro
Mantendo o foco nas comemorações históricas, uma vez mais cruza-
-se o Atlântico, avançando no calendário até a década de 80 do século
XIX – “o ‘século da História’, porque foi igualmente o ‘século do culto
dos mortos’”39. Parte-se, neste passo do texto, de leituras sobre o cente-
nário da morte do marquês de Pombal (1699-1782), que agitou ruas e
impressos em Portugal e no Brasil em 188240. As mobilizações para fes-
tejar a efeméride iniciaram-se em 1881, sendo não apenas relatadas, mas
também apreciadas de formas diversas em periódicos coetâneos. Lê-se,
assim, em um jornal católico ainda em outubro:
nos custa revolver a história de Sebastião José de Carvalho e Mello e
apresentar à luz da publicidade as numerosas crueldades que o seu gê-
nio ou os costumes do seu tempo o levaram a praticar e mais nos custa
ainda por sabermos que os descendentes do marquês de Pombal cons-
38 – Para Marc Ferro (A História Vigiada. Rio de Janeiro: Martins Fontes, 1989 [1985],
p. 54-60), “a comemoração acusa os silêncios, desloca os fatos e os seleciona. Como a
narrativa histórica, ela é um ponto de conflitos”. De acordo com Oliver Ilh (“Commemo-
ratio”, L’Observaroire, n. 50, 2017, p. 12), pode-se falar de comemorações como mise en
scène; ritos, símbolos e manifestações evocando um passado reivindicado no presente.
Durval Muniz de Albuquerque Jr. (O tecelão dos tempos. São Paulo: intermeios, 2019, p.
179-189) entende que a comemoração é “atravessada e constituída por um enredo, é uma
forma de fazer ver e de dizer o passado. […] põe em cena, torna visível, materializa dadas
memórias, dadas versões e visões do passado […] como a narrativa histórica, cria efeitos
de real, apoia-se em vestígios, testemunhos, em outras narrativas que chegam do passado
para construir versões verossímeis sobre o que teria ocorrido […] é, por fim, um dos usos
que se pode fazer do passado”.
39 – CATROGA, F. O céu da memória… p. 315.
40 – Ver, deste autor: PEREIRA, G. “Passado em papel-jornal: Pombal, ‘A Folha Nova’
e ‘A Palavra’ – impressões em disputa no centenário do marquês (Porto, 1882)”. Tem-
poralidades – revista de história, v. 11, n. 2, 2019. Os embates em torno do centenário
pombalino de 1882, dos dois lados do Atlântico, são o ponto de partida da tese de dou-
torado (História, Universidade Nova de Lisboa) em elaboração, intitulada Os “homens
do futuro” e o passado pombalino: representações do marquês nas comemorações do
primeiro centenário de sua morte.
tituem uma família das mais respeitáveis do nosso país […]. E seria
bastante o respeito que como católico devemos a essas nobilíssimas
pessoas, para deixarmos em paz, no silêncio do túmulo e na vida eter-
na, o corpo e a alma do homem de que nos temos ocupado em vários
artigos. Mas o cinismo com que a Revolução e os seus homens quer
fazer alarde do quanto adora o marquês de Pombal pelo fato único de
ser o algoz da Companhia de Jesus impele-nos a pena e obriga-nos a
apresenta-lo à luz pública com todas as suas crueldades, com todos os
seus despotismos41.
Em outro jornal católico, já durante os festejos, lê-se mais uma críti-
ca à recuperação da figura histórica do marquês:
se o horror que os demagogos professam à tirania e aos tiranos fosse
sincero e verdadeiro, deixariam esquecidos debaixo do pó dos séculos
o marquês de Pombal e diriam com muito bom senso: as tiranias e
prepotências daquele malvado, daquele déspota foram superiores, e
muito superiores, a algumas obras boas que fez e portanto o seu nome
deve ser esquecido e até detestado por aqueles que amam sinceramen-
te a liberdade42.
Diferentemente da reflexão sobre meios para se contornar o esque-
cimento – pela via da comemoração e por diferentes suportes para a nar-
rativa histórica –, tais críticos (católicos) da homenagem a Pombal (de
teor republicano) sugerem não só a interdição de uma temática polêmica
considerada ainda próxima do presente, mas também a conveniência de
se esquecer um passado percebido como assaz negativo.
45 – A colônia portuguesa contou com grande apoio dos brasileiros. Em Paris, os fes-
tejos foram conduzidos pelo brasileiro Miguel Lemos (1854-1917). PAREDES, M. M.
Configurações luso-brasileiras: fronteiras culturais, demarcações da história e escalas
identitárias (1870-1910). Sarbruque: Novas Edições Acadêmicas, 2013, pt. II.
46 – Não se pensava a exemplaridade inserindo-se os acontecimentos em totalidades
finitas, sem que uma lógica autossuficiente comandasse o devir universal – como nas
filosofias da história. Nessas, os grandes homens, emanações subjetivas da consciência
da nação/humanidade, são percebidos como quem (mesmo sem se dar conta dos efeitos
de suas ações) pôs em prática o “espírito de seu tempo”, atendendo a suas demandas.
Para julga-los devidamente, era necessário levar em conta o sentido do progresso. Para o
que aqui importa, remete-se à sistematização realizada por Auguste Comte (1798-1853)
e continuada por positivistas de diferentes matizes em Portugal e no Brasil. CATROGA,
F. “Ainda será a História Mestra da Vida?”, Estudos Ibero-Americanos, n. 2, 2006, p. 13,
25-26.
tenários por muitos anos. Até será fácil organizar um calendário sob
esse ponto de vista55.
Teófilo Braga (1843-1924), professor do Curso Superior de Letras
e um dos iniciadores do positivismo em Portugal, é uma boa referência
para compreender como os estudantes lisboetas (por ele influenciados),
ao apreciarem o governo pombalino, entendem poder a um tempo prever
o futuro e teleologicamente julgar o passado. Refletindo sobre os cente-
nários de Camões (de que foi promotor) e de Pombal, ele afirma que o
primeiro contava com a simpatia por sua personalidade, reconhecendo-se
facilmente sua contribuição histórica.
Do futuro, do passado
Apontou-se, ao longo deste texto, como, no Oitocentos, considera-
va-se necessário um distanciamento cronológico e afetivo para a justa
apreciação do passado – o que implicava uma série de interditos à crítica
histórica, por se entender que apenas aos historiadores do futuro caberia
o julgamento de questões polêmicas/candentes. Apontou-se, ainda, como,
para contornar o esquecimento, coligiam-se vestígios e testemunhos do
passado (e também do presente) e se reavivam memórias sobre homens e
sobre episódios pretéritos – viabilizando a futura escrita/crítica da histó-
ria e também mobilizando e instruindo a população. Apontou-se, por fim,
como mudanças políticas e a crítica/escrita da história paulatinamente
conformavam diferentes pontos de vista sobre indivíduos e sobre acon-
tecimentos e como muitas cerimônias oficiais, mesmo passando por uma
série de revisões, foram perdendo sua eficácia, confrontadas por iniciati-
vas diversas.
153
1 Introdução
O presente artigo trata de uma das matrizes do discurso jurídico au-
toritário brasileiro no contexto da Primeira República. Aponta, como uma
das principais referências para a formação e concretização desse discurso,
a Constituição do Estado do Rio Grande do Sul promulgada em 14 de ju-
lho de 1891 sob a influência intelectual de Júlio de Castilhos (1860-1903).
Com base no próprio texto constitucional e nos argumentos de Castilhos
e de seus defensores, afirma-se que a Constituição Castilhista estabeleceu
as bases de uma gramática jurídico-autoritária que influenciou modelos
constitucionais ao longo de nossa história republicana.
Além de longevo, visto que durou de 1891 até 1935, o projeto cons-
titucional castilhista transcendeu seu contexto local, estabelecendo-se
como inspiração do vindouro projeto de Estado autoritário de Vargas4.
Mais do que a justificação teórica e intelectual de suas ideias, o propósito
do texto é destacar a gênese desse discurso voltado para a construção de
instituições jurídico-políticas, isto é, um discurso pragmático voltado à
institucionalização.
3 – Cf. arts. 31 e 32 da Constituição Política do Estado do Rio Grande do Sul (1891). In:
A Constituição Federal e as Constituições dos Estados da Republica do Brazil. v. 1. Porto
Alegre; Pelotas: Livraria Universal; Echenique & irmão Editores, 1895. Disponível em:
www2.senado.leg.br/bdsf/item/id/224222. Acesso em: 24.08.18.
4 – Cf. nesse sentido as declarações do biógrafo de Getúlio Vargas, Leal de Souza, que
em livro publicado sob aprovação do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP),
afirmava que Júlio de Castilhos seria não apenas a matriz ideológica do então Presidente,
como seu precursor na formulação de um sistema de governo coincidente com outros
regimes autoritários do período. NETO, Lira. Getúlio. Do Governo Provisório à ditadura
do Estado Novo (1930-1945). São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p. 326.
como diz Pocock, sugere um jogo e uma manobra tática e sua identifica-
ção depende da “nossa compreensão da situação prática na qual ele [um
autor] se encontrava, do argumento que ele desejava defender, da ação ou
norma que ele desejava legitimar ou invalidar, e assim por diante”10. No
caso específico da Constituição Castilhista, o “lance” é estabelecido sobre
a linguagem constitucional ao efetivar mudanças de sentido nos termos e
nos conceitos caros ao constitucionalismo liberal. Como assinala Pocock,
“esses lances podem ser retóricos e implícitos, executados sem alarde e
deixados produzindo seus efeitos, ou explícitos e justificados por meio de
alguma linguagem crítica, criada para justificar e elaborar seu caráter”11.
Quem promove esses lances são atores linguísticos conscientes de seus
atos de fala e de seus efeitos. Para o caso específico desse trabalho e em
razão das fontes utilizadas, a identificação do ator linguístico não se limi-
ta à figura de Júlio de Castilhos. De forma mais ampla, trabalha-se com
um discurso promovido e articulado por vários agentes a partir de uma
agenda de poder criada com a figura de Castilhos e que será denominado
pela expressão “castilhismo”. Nesse sentido, entende-se que a linguagem
não se restringe apenas a uma maneira de falar determinada, mas é essen-
cialmente “um tema de discussão prescrito para o discurso político”12 em
que se articulam vários agentes para promover o debate discursivo.
do cálculo do quociente previsto em lei para garantir a representação das minorias, o Par-
tido Federalista elevou sua participação para três cadeiras. In: AXT, Gunter. Constitucio-
nalidade em debate: a polêmica carta estadual de 1891. Revista Justiça & História, Porto
Alegre: Tribunal de Justiça do Estado do RS, v. 2, nº. 03, p. 12. Disponível em: www.tjrs.
jus.br/export/poder_judiciario/historia/memorial_do_poder_judiciario/memorial_judi-
ciario_gaucho/revista_justica_e_historia/issn_1676-5834/v2n3/doc/13-Gunter_Axt.pdf.
Acesso em: 28.07.18, p. 16.
22 – AXT, Gunter. Constitucionalidade em debate: a polêmica carta estadual de 1891...,
p. 10; RUSSOMANO, Victor. História Constitucional do Rio Grande do Sul..., p. 197.
23 – AXT, Gunter. Constitucionalidade em debate: a polêmica carta estadual de 1891...,
p. 16-18.
25 – CONSTITUIÇÃO do Estado do Rio Grande do Sul de 1891. In: A Constituição Fe-
deral e as Constituições dos Estados da Republica do Brazil. v. 1. Porto Alegre; Pelotas:
Livraria Universal; Echenique & irmão Editores, 1895, p. 61-86. Disponível em: www2.
senado.leg.br/bdsf/item/id/224222. Acesso em: 24 ago. 2018.
31 – A Federação, nº22, ano XL, Porto Alegre, 25 jan. 1923, p.3.
32 – A Federação, nº 145, Porto Alegre 23 jun.1891, p. 01; A Federação, Porto Alegre,
nº 147, p. 01, 25 jun. 1891.
33 – De modo sintético, o corporativismo do século XX defende que a ordem política,
social e econômica não pode ser atrelada nem ao indivíduo, como defende o liberalis-
mo, nem às classes sociais, como afirma o marxismo. A sociedade deveria se constituir
por agrupamentos profissionais organizados na forma de corporações, tuteladas por um
Estado autoritário. A representação dos vários interesses, por esse modelo, não se faria
por meio de partidos, mas por meio de grandes corporações profissionais que teriam suas
demandas reguladas pela mediação do Estado como forma para prevenir possíveis con-
flitos entre as partes. CODATO, Adriano. Corporativismo. In: TEIXEIRA, Francisco M.
P. (coord.) Dicionário Básico de Sociologia. São Paulo: Global Editora, 2012. Disponí-
vel em https://adrianocodato.blogspot.com/2012/10/verbete-corporativismo.html. Acesso
em: 15.04.19.
uma das outras, na qual cada membro teria uma função autônoma e espe-
cializada, mas com um fim de organização do todo.
mente personalista, que tinha como único objetivo a luta pelo poder, em
prejuízo de um projeto que contemplasse os interesses do país. No já ci-
tado texto sobre a “Constituição do Estado”, lê-se uma crítica ao “sistema
inglês” de representação parlamentar:
A história sincera de todas as nações regidas pelo sistema inglês dirá
que esse é o grande móvel das resoluções parlamentares. Resulta disso
uma sistemática hipocrisia e a maior irresponsabilidade. Todos os er-
ros são imputados, ora pelo chefe de Estado ao parlamento, que votou,
ora por este aquele [sic], denunciando o poder pessoal que subjuga a
livre manifestação das câmaras etc. E neste jogo de empurra, como se
diz vulgarmente, que o anonimato consagrado pelo sistema favorece,
escapam-se os culpados, ficam sem punição os atos dos mais crimino-
sos, ludibriando o povo, a quem se prometem garantias43!
formulada pelo Apostolado Positivista do Brasil em janeiro de 1890 para a primeira cons-
tituinte da República. Isso demonstra a forte influência do positivismo no pensamento
político castilhista. In: PAIM, Antônio (org.) O apostolado positivista e a República. Bra-
sília: Universidade de Brasília; Câmara dos Deputados, 1981, p. 81.
51 – CONSTITUIÇÃO do Estado do Rio Grande do Sul de 1891..., p. 71-72.
52 – FRANCO, Sérgio da Costa. Júlio de Castilhos e sua época..., p. 180-191; RUSSO-
MANO, Victor. História Constitucional do Rio Grande do Sul..., p. 289-305.
60 – Para Habermas, foi Max Weber quem introduziu um “conceito positivista do di-
reito, segundo o qual direito é aquilo que o legislador, democraticamente legitimado ou
não, estabelece como direito, seguindo um processo institucionalizado juridicamente”. In:
HABERMAS, Jürgen. Direito e moral (Tanner Lectures 1986) In: HABERMAS, Jürgen.
Direito e democracia: entre a facticidade e validade. v.2. Tradução de Fábio Beno Siebe-
neichler. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997, p. 193.
61 – Sobre a fraude eleitoral no Rio Grande do Sul da República velha, ver AXT, Gun-
ther. Votar por quê? Ideologia autoritária, eleições e justiça no Rio Grande do Sul Bor-
gista. Revista Justiça & História, Porto Alegre: Tribunal de Justiça do Estado do RS, v.
1, nº 1 e 2, 2001, 31 p. Disponível em: www.tjrs.jus.br/export/poder_judiciario/historia/
memorial_do_poder_judiciario/memorial_judiciario_gaucho/revista_justica_e_historia/
issn_1676-5834/v1n1_2/doc/06._Gunter_Axt.pdf. Acesso em: 26.09.18.
74 – JASMIN, Marcelo Gantus; FERES JÚNIOR, João. História dos conceitos: dois
momentos de um encontro intelectual. In: JASMIN, Marcelo Gantus; FERES JÚNIOR,
João. (Orgs.). História dos Conceitos: debates e perspectivas. Rio de Janeiro: Loyola;
PUC-Rio; IUPERJ, 2006, p. 21.
75 – POCOCK, J. G. A. O conceito de linguagem e o métier d´historien: algumas consi-
derações sobre a prática. In: POCOCK, J. G. A. Linguagens do ideário político. Tradução
Fábio Fernandez. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2003, p. 63-82, p. 70.
187
fin de siècle. Atuou no Itamaraty até 1951, mas permaneceu sendo refe-
rência na área diplomática até a sua morte, em 1985. Roberto Campos
acedeu ao órgão em 1939, em um dos primeiros concursos promovidos
pelo Departamento Administrativo do Serviço Público, e se desligou, ofi-
cialmente, na década de 1980, falecendo em 2001. A vida funcional e a
atuação pública dos dois abrangem, em linhas gerais, quase todo o século
XX. Fator, igualmente, relevante é a disponibilidade de fontes. Os dois,
ademais, redigiram livros de memórias e deixaram acervo relevante de
pronunciamentos públicos, de correspondências e de textos publicados
em jornais e em revistas.
fusão dos quadros que se processou em duas fases (em 1931 e em 1938).
A mudança mais significativa foi no número dos que acederam ao órgão
por intermédio de concurso ou de prova de habilitação: 72 (21,95% do
total). Isso fez toda a diferença para Roberto Campos. Quando chegou ao
Rio de Janeiro, contava só com uma carta de apresentação de um paren-
te para o político Filinto Muller, chefe do Departamento de Imprensa e
Propaganda, que recebia dezenas de cartas semelhantes de conterrâneos
do Mato Grosso5. Não era suficiente nem para um cargo de extranume-
rário. Sua experiência acadêmica naquele momento era nula, bem como
sua vivência no jornalismo – duas potenciais rotas de acesso ao Itamaraty.
Nem sua apresentação física era adequada. Gilberto Amado, que o conhe-
ceu anos depois, disse: “Eu achava que ele não tinha muito futuro, pois
usava roupa preta com sapatos amarelos”6. Foi, desse modo, o concurso
que lhe abriu as portas para seu brilhante futuro profissional. E isso, como
veremos, foi produto direto das ações de Maurício Nabuco. No ano da
aposentadoria de Campos, em 1982, só quatro diplomatas da ativa não
haviam acedido por concurso.
Início burocrático
O início da carreira dos dois diplomatas guarda algumas similari-
dades. Ambos desempenharam atividades entediantes. Nabuco, como
falava alemão, cuidava das cartas que o ministério recebia no idioma,
traduzindo-as e as resumindo9. Roberto Campos foi lotado na Divisão de
Material10. A diferença era que, no estertor da Belle Époque, o jovem ser-
vidor precisava, inevitavelmente, exercer atividades mundanas. Nas dé-
cadas de 1920 e 1930, houve uma explosão de contratação de cartógrafos,
arquivistas, bibliotecários, datilógrafos, calígrafos, contínuos, serventes,
redatores, contabilistas e outros profissionais. Foi só com a expansão dos
servidores de apoio que os jovens terceiros cônsules e secretários (a base
da carreira consular e diplomática) foram liberados do tédio administra-
tivo para atuar predominantemente como assessores das chefias em ativi-
dades mais analíticas.
A “nova” diplomacia
As diferenças entre Roberto Campos e Maurício Nabuco são ainda
maiores quando examinamos o que cada um deles pensava sobre o pa-
pel do diplomata brasileiro. Nabuco, para iniciar, não acreditava que a
formação diplomática era a mais apropriada para “alargar o espírito” em
decorrência da alta probabilidade de seus membros serem sequestrados
pelo “brilho da alta investidura, a representação pecuniária vantajosa, as
instalações principescas”, despertando a vaidade e acanhando o espírito.
Para ele, era o político o tipo perfeito para atuar na condução da diploma-
cia, inclusive como ministro das Relações Exteriores13.
18 – ROSS, Dorothy. The origins of American social science. Cambridge, U.K.: Cam-
bridge University Press, 1991, p. Xiii.
19 – WATERBURY, J. The long gestation and brief triumph of import-substituting in-
dustrialization. World Development. v. 27, n. 2, p. 323-341, 1999, 324.
20 – CAMPOS. A lanterna na popa: memórias. Rio de Janeiro: Topbooks, 1994, p. 48.
Repensando o Itamaraty
Maurício Nabuco definiu um estilo no corpo diplomático – o “orga-
nizacionista” e o “estilista” –, caracterizado por ausência de conteúdo po-
lítico substantivo22. Essa, contudo, é uma visão limitada ao velho Nabuco,
pois o jovem esteve muito além desses adjetivos e exerceu profunda influ-
ência na reestruturação institucional do órgão na década de 1920. Como
subchefe do gabinete do ministro Otávio Mangabeira, promoveu várias
causas de sucesso. A primeira foi a uniformização de materiais usando
fornecedores nacionais. O primeiro benefício, em sua opinião, era a dimi-
nuição dos custos; o segundo, o “estímulo à indústria brasileira”. Por fim,
estava a propaganda que tal mobiliário faria em consulados e em postos
diplomáticos no exterior. “A boa qualidade depende de boas especifica-
ções e boa fiscalização. Ambas fáceis de obter”. Esse era o modelo a ser
transplantado para o DASP23. Esse nacionalismo, contudo, era limitado
por uma visão de custos, daí sua preferência para que muitos materiais
fossem produzidos pela Harrison & Sons que, da Inglaterra, abastecia
todos os postos brasileiros a custos mais baixos24. Seu trabalho nesta área
introduziu o planejamento na área-meio, buscando superar soluções ad-
40 – Ata da 19ª reunião. 4 de dezembro de 1952. CPDOC/AAS 1952.05.22 daI. Pasta II.
41 – Em dezembro de 1952, Vasco Leitão da Cunha envia carta a San Tiago Dantas,
instando-o a participar da reunião que discutiria as sugestões de Campos. Segundo Leitão
da Cunha, se ela fosse aprovada e adotada, “aniquilaria a própria carreira diplomática”.
Ele buscava influenciar San Tiago a externar as “vantagens de preservar a hierarquia di-
plomática na ocupação das funções de chefia da Secretaria de Estado.” Carta de Vasco
Leitão da Cunha para San Tiago Dantas. 8 de dezembro de 1952. AN/Q8. Cx. 47 (31).
Pacotilha 4. Arquivo Nacional. Sobre Campos na reforma, ver FARIAS, Rogério de Sou-
za. O iconoclasta planejador: Roberto Campos e a modernização do Brasil in: ALMEIDA,
Paulo Roberto de (ed), O homem que pensou o Brasil: trajetória intelectual de Roberto
Campos. Curitiba: Appris, 2017, p. 45-70.
42 – Ata da 5ª e 6ª Sessões da Comissão de Estudo do Projeto de Reforma do MRE. 25
e 28 de agosto de 1952. CPDOC/AAS 1951.05.22 DAI/1.
43 – NABUCO. Reflexões e reminiscências. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001, p.
230 e 237; CAMPOS. A lanterna na popa: memórias. Rio de Janeiro: Topbooks, 1994,
p. 1124.
47 – LIMA, Paulo Tarso Flecha de. Itamaraty, intérprete fiel das aspirações comerciais
brasileiras. Resenha de Política Exterior do Brasil. v. I, n. III, p. 51-54, 1974.
51 – De Maurício Nabuco para João Neves da Fontoura. Rio de Janeiro, 15 de outubro
de 1951. Expedida, 1948-1951. CPDOC/AMN.
52 – De Maurício Nabuco para Raul Fernandes. Washington, 2 de julho de 1948. Expe-
dida, 1948-1951; De Carolina para Maurício Nabuco. Rio de Janeiro, 30 de junho de 198.
Recebida, 1948 (junho-julho). CPDOC/AMN.
53 – De João Neves da Fontoura para Maurício Nabuco. Rio de Janeiro, 3 de julho de
1951. Expedida, 1948-1951. CPDOC/AMN.
Essa foi uma situação muito diferente na qual vivera durante a sua
adolescência. Seu pai, Joaquim Nabuco, convivia cotidianamente com
Elihu Root, então na chefia do Departamento de Estado. O próprio
54 – De Maurício Nabuco para Pedro Leão Veloso. Rio de Janeiro, 10 de março de 1925.
Expedida, 1926-1936. CPDOC/AMN.
55 – De Maurício Nabuco para Adolf Berle. Rio de Janeiro, 24 de julho de 1958. Expe-
dida. 1929-1977. CPDOC/AMN.
56 – De José para Maurício Nabuco. Washington, 2 de março de 1950. Correspondência
familiar, 1950-1951. CPDOC/AMN.
58 – Roberto de Oliveira Campos oral history interview – 5/29-30/1964. May 29, 1964.
JFKOH-RDOC-01. Disponível em: https://www.jfklibrary.org. Acesso em: 20/08/2018.
Liberalismo diplomático
Ao analisar a biografia intelectual dos dois diplomatas, é possível
observar claro vínculo entre a política interna e a proposta que apresen-
taram sobre as relações internacionais do Brasil. Havia a preponderân-
cia do que podíamos definir como cosmopolitismo liberal – uma verten-
te claramente minoritária no governo brasileiro na segunda metade do
século XX. Os dois sofreram o que Campos denominou de “solidão da
impopularidade”61.
59 – Ibid.
60 – CAMPOS, Roberto e DRUMMOND, Aristóteles. O homem mais lúcido do Brasil:
as melhores frases de Roberto Campos. São Luiz: Resistência Cultural, 2013, 43.
61 – CAMPOS, Roberto “marcarei este dia com pedra branca”. O Jornal. 29 de julho
de 1961.
62 – CAMPOS, Roberto “marcarei este dia com pedra branca”. O Jornal. 29 de julho
de 1961.
riais73. Ele não titubeava em afirmar: “nossos reais interesses estão com o
Primeiro Mundo, pois, ali, se encontram os mercados e, dali, provêm os
investimentos e a tecnologia”74.
Conclusão
Este artigo apresentou uma comparação das trajetórias profissionais
de dois diplomatas (Maurício Nabuco e Roberto Campos) para compre-
ender algumas transformações da diplomacia no século XX. Inicialmente,
buscou-se inserir a origem regional e a formação acadêmica dos dois den-
tro do grupo de servidores do Itamaraty. O período que vai da entrada do
primeiro até a aposentadoria do segundo representa uma revolução no
órgão, com o uso consistente e exclusivo do concurso público de provas
como mecanismo de recrutamento. Demonstrou-se que as oportunidades
profissionais abertas a Roberto Campos foram bem mais aproveitadas,
em especial no âmbito do multilateralismo econômico – uma particula-
ridade do período pós-guerra. Os dois deixaram muitas reflexões sobre o
papel do diplomata no contexto da expansão de temas econômicos, com
Campos demonstrando a insuficiência de o país focar só em questões
domésticas ao lidar com o processo de desenvolvimento. A relevância
dos constrangimentos e das oportunidades no âmbito internacional era
essencial para expandir a diplomacia como profissão e colocar o ofício na
vanguarda da modernização nacional.
219
1 Introdução
No atual estágio das pesquisas, há mais dúvidas que certezas acerca
das características da cultura jurídica brasileira2 do século XIX. Apesar
1 – Professor adjunto de História do Direito – Universidade Federal do Paraná. Mestre
e doutor em Direito do Estado pela Universidade Federal do Paraná; Programa de De-
senvolvimento com Estágio no Exterior (doutorado-sanduíche) no Centro di Studi per
la Storia del Pensiero Giuridico Moderno, Università di Firenze. Professor Adjunto de
História do Direito na Universidade Federal do Paraná. Professor no Mestrado em Direito
do Centro Universitário Internacional. E-mail: [email protected].
2 – Toma-se a expressão “cultura jurídica” no mesmo sentido sugerido por Ricardo Fon-
seca, como “o conjunto de significados (standards doutrinários, padrões de interpretação,
marcos de autoridade doutrinária nacionais e estrangeiras, influências e usos particulares
de concepções jusfilosóficas) que, efetivamente, circulavam na produção do direito e eram
aceitos nesta época no Brasil” – FONSECA, Ricardo Marcelo. Os Juristas e a Cultura Ju-
Isso faz com que o olhar dirigido pelos historiadores sobre a cultura
jurídica brasileira do século XIX usualmente padeça de duas graves limi-
tações que tendem a eclipsar a adequada percepção de suas peculiarida-
des: por um lado, a carência de empiria, em abordagens exclusivamente
teóricas que, sem as necessárias mediações, limitam-se a transplantar ao
continente americano temas e preocupações típicos da Europa pós-re-
volucionária, e nem sempre compatíveis com os verdadeiros problemas
enfrentados por nossa cultura jurídica; e, por outro, a carência de juridi-
cidade, em pesquisas que, sem reconhecer a dimensão civilizacional do
fenômeno jurídico, reduzem-no a objeto inerte livremente manejado por
conservadores e por liberais como instrumento de disputa política4.
rídica Brasileira na Segunda Metade do Século XIX. In: Quaderni Fiorentini per la storia
del pensiero giuridico moderno, n. 35. Milano: Dott. A. Giuffrè Editore, 2006, p. 339-371.
3 – José Reinaldo Lima Lopes fornece uma síntese do panorama existente, ressaltando
a existência de estudos de história das ideias, sobre a profissão jurídica, sobre as escolas
de direito, sobre o papel dos bacharéis, sobre instituições, mas pouquíssimas análises em-
piricamente fundadas sobre os debates propriamente jurídicos do século XIX – LOPES,
José Reinaldo. O Oráculo de Delfos: o conselho de Estado no Brasil-Império. São Paulo:
Saraiva, 2010, p. XIV.
4 – Uma versão mais completa dessa crítica pode ser encontrada em GUANDALINI JR.,
Walter. O Poder Moderador: ensaio sobre o debate jurídico-constitucional no século XIX.
Curitiba: Prismas, 2016, p. 111; e GUANDALINI JR., Walter. Chave ou Fecho? O debate
jurídico erudito sobre a responsabilidade do poder moderador. In: Quaestio Iuris, vol. 09,
nº 02. Rio de Janeiro: UERJ, 2016, p. 1054.
h) Imprensa Estrangeira
Passemos, então, à análise dos resultados.
Nessas 235 páginas, o autor realiza 1269 citações – 5,4 citações por
página distribuídas na seguinte proporção:
Quadro 2 – Elementos de Direito Administrativo Brasileiro (Rego, 1857)
Categorias Gerais Categorias Específicas Citações Percentual Total
Constituição do Brasil 76 5,97%
Ato Adicional 30 2,35%
Lei Interpretativa 3 0,23%
Legislação Mo- 951
Legislação Brasileira Moderna 317 24,92%
derna (74,76%)
Regulamentos do Executivo Brasileiro 497 39,07%
Legislação Francesa Moderna 25 1,96%
Legislação de Outra Nacionalidade 3 0,23%
Doutrina Brasileira 7 0,55%
Doutrina Mo- 139
Doutrina Francesa 122 9,59%
derna (10,92%)
Doutrina de Outra Nacionalidade 10 0,78%
Jurisprudência Jurisprudência Brasileira 6 0,47% 7
Moderna Jurisprudência Estrangeira 1 0,07% (0,55%)
Direito Romano 4 0,31%
Direito Canônico 3 0,23%
Direito Natural 3 0,23% 116
Direito pré-1822 (9,11%)
Ordenações 18 1,41%
Legislação Antigo Regime 48 3,77%
Legislação 1808-1822 40 3,14%
Natureza das Coisas 10 0,78%
Experiência Prática 0 0,00%
Experiência Francesa 41 3,22%
59
Realidade Experiência Outros Países 5 0,39%
(4,63%)
Ciência 3 0,23%
Parlamento 0 0,00%
Imprensa 0 0,00%
1272
TOTAL (100%)
19 – SOUSA, Paulino José Soares. Ensaio sobre o Direito Administrativo. Rio de Janei-
ro: Typographia Nacional, 1862, p. 7 – grifos no original.
20 – SOUSA, Paulino José Soares. op.cit, p. 42.
21 – Sobre a polêmica ver GUANDALINI JR., Walter. O Poder Moderador: ensaio so-
bre o debate jurídico-constitucional no século XIX. Curitiba: Prismas, 2016; e GUAN-
DALINI JR., Walter. Chave ou Fecho? O debate jurídico erudito sobre a responsabilidade
do poder moderador, In: Quaestio Iuris, vol. 09, nº 02. Rio de Janeiro: UERJ, 2016, p.
1031-1059.
Nas 597 páginas dos dois volumes, foram realizadas 1089 citações,
em uma média de 1,82 citações por página. A média é bastante inferior à
das demais obras analisadas, o que talvez se explique pelo tipo de fontes
predominante empregadas no seu texto: as citações de textos legislativos
tendem a se repetir em grande quantidade, em razão da necessidade de
referência explícita a diversos dispositivos de uma mesma norma, ou até
mesmo diversas normas que regulam um mesmo assunto; as referências
doutrinárias e contextuais, porém, são usualmente mencionadas apenas
uma vez e, a partir delas, se desenvolvem livremente os argumentos pro-
postos pelo autor. Estas últimas tem uma participação proporcional no
texto bastante superior à verificada em outras obras do período, como se
infere da tabela abaixo:
Quadro 4 – Ensaio sobre o Direito Administrativo (Sousa, 1862)
Categorias Gerais Categorias Específicas Citações Percentual Total
Constituição do Brasil 52 4,77%
Ato Adicional 13 1,19%
Lei Interpretativa 2 0,18%
Legislação Brasileira Moderna 83 7,62%
368
Legislação Moderna Regulamentos do Executivo Brasileiro 96 8,81%
(33,78%)
Legislação Francesa Moderna 65 5,96%
Legislação Portuguesa Moderna 21 1,92%
Legislação Americana Moderna 12 1,10%
Legislação de Outra Nacionalidade 24 2,20%
Doutrina Brasileira 9 0,82%
Doutrina Francesa 234 21,48%
322
Doutrina Moderna Doutrina Inglesa 37 3,39%
(29,56%)
Doutrina Espanhola 10 0,91%
Doutrina de Outra Nacionalidade 32 2,93%
Jurisprudência Mo- Jurisprudência Brasileira 21 1,92% 27
derna Jurisprudência Estrangeira 6 0,55% (2,47%)
Direito Romano 13 1,19%
Direito Canônico 0 0,00%
Direito Natural 3 0,27% 42
Direito pré-1822 (3,85%)
Ordenações 6 0,55%
Legislação Antigo Regime 17 1,56%
Legislação 1808-1822 3 0,27%
quando se observa que a maior parte das citações não se refere à sua expe-
riência prática como administrador (1,01% do total) ou à sua atuação po-
lítica (5,40% do total, somando-se os debates parlamentares e na impren-
sa), mas ao conceito geral de “Natureza das Coisas” (9,64% do total) e à
experiência prática francesa (5,05% do total). Talvez, então, elas possam
ser melhor interpretadas como efeitos da influência do pensamento de
Montesquieu na teoria jurídica brasileira do século XIX, e da concepção
segundo a qual a interpretação do direito não deve se limitar à tradução
semântica do texto normativo, mas à explicitação da racionalidade objeti-
va que a fundamenta, na medida em que é compreendido como resultado
de relações objetivas derivadas da natureza das coisas23.
23 – MONTESQUIEU, Charles Secondat. De L’Esprit des Lois. Paris: Gallimard, 1995,
p. 22.
3 Conclusões
A análise dos dados coletados nos conduz a resultados gerais que
permitem traçar um panorama abrangente das fontes de produção do di-
reito administrativo brasileiro durante o século XIX, conforme o quadro
abaixo:
TOTAL 100%
38 – SOUSA, Paulino José Soares. Ensaio sobre o Direito Administrativo. Rio de Janei-
ro: Typographia Nacional, 1862, p. 128.
39 – MONTESQUIEU, Charles Secondat. De L’Esprit des Lois. Paris: Gallimard, 1995,
p. 22.
Fontes Legislativas
Predominância de Regulamentos do Executivo
Ênfase nas atribuições do imperador
Importância do direito constitucional no início e no final do período
Transição da doutrina francesa para a doutrina brasileira
Fontes do Direito
Irrelevância da jurisprudência
Direito anterior a 1822 como contexto histórico
Atenção à “natureza das coisas”
Sem diálogo com a “baixa cultura jurídica”
Influência da Escola da Exegese
255
possível dizer que a graça se adapta bem à cul- suits Brazilian legal culture of the 19th century
tura jurídica brasileira oitocentista, por causa da well. Some reasons are: its connection to the
sua ligação com o poder moderador, o contexto pouvoirmoderateur, a favorable international
internacional favorável e a sua utilidade em cor- context and its usefulness in correcting
rigir falhas legislativas. legislative flaws.
Palavras-chave: Graça; Poder Moderador; Li- Keywords: Pardon; Moderating Power; Parole;
vramento Condicional; Perdão. Forgiveness.
tífica, e faz parte do projeto, também financiado pela FAPEMIG, intitulado “História do
direito penal brasileiro em perspectiva comparada”, edital Demanda Universal n. 1/2017.
Este artigo propõe uma análise relevante, uma vez que a historio-
grafia anterior nunca enfrentou diretamente esses problemas. Em relação
ao século XIX, há uma importante quantidade de estudos sobre a graça
em diversos países, mas nenhum outro autor trata especificamente de sua
4 – BOER, Emile de. Les dossiers de grâce des auteurs d’attentats politiques dans la
France du XIXe siècle. La Révolution Française: Cahiers de l’Instituted’Histoire de
la RévolutionFrançaise, online, n. 1, v. 1, 2012, http://lrf.revues.org/416. Acesso em:
11.10.2017; DEVERAUX, Simone. Imposing the Royal Pardon: Execution, Transpor-
tation, and Convict Resistance in London, 1789, Law and History Review, nº 25, p. 101-
138, 2007; DORRIS, J. Pardoning the Leaders of the Confederacy. The Mississippi Val-
ley Historical Review, v. 15, n. 1, p. 3-21, Jun., 1928; DORRIS, J. Pardon Seekers and
Brokers: A Sequel of Appomattox. The Journal of Southern History, v. 1, n. 3, p. 276-292,
Ago., 1935; KESPER-BIERMAN, S. La grazia nella Germania dello XIX secolo. In:
HÄRTER, Karl; NUBOLA, Cecilia (Org.). Grazia e giustizia: figure dela clemenza fra
tardo medioevo ed età contemporanea. Bologna: Il Mulino, 2011, p. 323-360; KOTKAS,
Thomas. Pardoning in nineteenth century Finland: at the interface of early modern and
modern criminal law, Rechtsgeschichte, Frankfurt am Main, v. 5, n. 10, pp. 152-168, jul/
dez, 2007; KOTKAS, Thomas. Kant on the right of pardon: a necessity and ruler’s perso-
nal forgiveness, Kant studien: philosophisches zeitschrift der Kant-Gesellschaft, v. 102,
n. 4, pp. 413-421, 2011; MODONA, G, Perdono e clemenza di stato nella giustizia penale
italiana. In: HÄRTER, Karl; NUBOLA, Cecilia (Org.), Grazia e giustizia: figure dela
clemenza fra tardo medioevo ed età contemporanea. Bologna: Il Mulino, 2011, p. 575-
590; NUBOLA, Cecilia. Giustizia, perdono, oblio: la grazia in Itália dall’età moderna
ad oggi. In: HÄRTER, Karl; NUBOLA, Cecilia (Org.), Grazia e giustizia: figure dela
clemenza fra tardo medioevo ed età contemporanea. Bologna: Il Mulino, 2011, p. 11-42;
PHILLIPS, J. The operation of royal pardon in Nova Scotia, 1749-1815, University of
Toronto Law Journal, n. 42, p. 401-449, 1992; PRAYER, K. Crime, the criminal law and
reform in post-revolutionary Virginia. Law and History Review, Cambridge, v. 1, n. 1,
p. 53-85, 1983; SALNKIN, B. The pardoning power in antebellum Pennsylvania. The
Pennsylvania Magazine of History and Biography, v. 100, n. 4, p. 507-520, Out., 1976;
STRONATI, Monica. Il più bel gioiello della corona: la grazia nella tradizione costitu-
zionale italiana. Giornale di storia costituzionale, n. 7, vol. 1, p. 259-179, Macerata, jan./
jun., 2004; STRONATI, Monica. Il governo della “grazia”: giustizia sovrana e ordine giu-
ridico nell’esperienza italiana (1848-1913). Milano: Giuffrè, 2009; STRONATI, Monica.
Legislazione, scienza giuridica e pratica del »perdono« tra Otto- e Novecento: continuità
e mutamenti. In: HÄRTER, Karl; NUBOLA, Cecilia (Org.). Grazia e giustizia: figure
dela clemenza fra tardo medioevo ed età contemporanea. Bologna: Il Mulino, 2011, p.
101-126; STRONATI, M. L’eccezione che conferma la regola. Grazia, potere giudiziario
e circolari ministerial tra XIX e XX secolo. In: COLAO, Floriana et al, Perpetue apendici
e codicilli alle legge italiane: Le circolari ministerial, il potere regolamentare e la politica
del diritto in Italia tra Otto e Novecento. Macerata: EUM, 2011, p. 669-682; STRONATI,
Monica. La grazia e la giustizia durante il fascismo. In: LACCHÉ, Luigi (Org.), Il diritto
del duce: giustizia e repression nell’Italia fascista. Roma: Donzelli, 2015.
5 – COSTA, Arthur Barrêtto de Almeida. Pardoning and Punishing in Times of Transiti-
on: The Pardon Appeal (Recurso de Graça) on the Brazilian Council of State (1828-1834).
Revista Direito e Práxis, Rio de Janeiro, v. 10, nº 4, p.2341-2366, set/dez 2019.
essas fontes é trabalhar com um direito filtrado e mutilado; mas esse filtro
é o mesmo que se apresentava na época, e que constrangia o trabalho do
próprio jurista brasileiro oitocentista: é o espelho no qual a própria cul-
tura jurídica representava o seu objeto de trabalho – o direito14. Analisar
o direito “completo” – a série “total” das decisões, complementada por
outras fontes – seria valoroso, mas também seria um outro trabalho15.
Por trás desse imbróglio está uma questão fundamental para a defi-
nição da natureza do recurso de graça: a sua natureza ordinária ou extra-
ordinária, ou, e outros termos, se ela é ou não um direito do réu. Se for
considerada um direito dos condenados, converte-se em procedimento or-
dinário20, e faz sentido – ao menos juridicamente – que o Imperador tenha
o compromisso de revisar absolutamente todas as causas – ele se converte
em “3ª instância”21; se, pelo contrário, é um procedimento extraordinário,
que deve levar em consideração questões de ordem superior, extrajurídi-
cas, não pode gerar um direito subjetivo ao cidadão que a procura. Nas
palavras do então Visconde de Caravelas, “essas razões não são para a
peal (Recurso de Graça) on the Brazilian Council of State (1828-1834). Revista Direito e
Práxis, Rio de Janeiro, v. 10, nº 4, p.2341-2366, set/dez 2019.
17 – BRASIL. Annaes do Senado Imperial. 1826. Rio de Janeiro: Tipografia do Imperial
Instituto Artístico, 1874. Tomo 2, p. 148.
18 – Tentou-se estender a obrigatoriedade da avaliação do poder Moderador para outros
tipos de sentença além da de morte, sob o argumento de que o problema da demora não se
restringia apenas aos condenados a pena capital. Cf. MEDEIROS, Luiz José de. Questão
jurídico-legal. A constituição, 21 de junho de 1866. Disponível em: http://memoria.bn.br/
DocReader/235334/1094. Acesso em: 3.05.2017.
19 – BRASIL. Annaes do Senado Imperial. 1826. Rio de Janeiro: Tipografia do Imperial
Instituto Artístico, 1874. Tomo 2, p. 154.
20 – Em 1854 foi regulamentado o procedimento para a petição de graças: Decreto nº
1458 – de 14 de outubro de 1854. Regula o modo por que devem ser presentes ao Poder
Moderador as petições de graça, e os relatorios dos Juizes nos casos de pena capital, e
determina como se devem julgar conformes as amnistias, perdões, ou commutaçoes de
pena. In: Coleção das leis do Império do Brasil (Atos do Poder Executivo) (T. XVIII, p.
II). Rio de Janeiro: Tipografia Nacional, 1854.
21 – BRASIL. Annaes do parlamento brasileiro. 1826. Rio de Janeiro: Tipografia do
Imperial Instituto Artístico, 1874. Tomo 4, p. 296.
baratas não têm razão: a lei de 10 de junho de 1835: os escravos e a pena de morte no
Império do Brasil (1822-1889). Rio de Janeiro: Renovar, 2005, p. 334.
27 – BRASIL. Decreto nº 1310 – de 2 de janeiro de 1854. Declara que o Artigo quarto
da Lei de 10 de Junho de 1835, que manda executar sem recurso as sentenças condemna-
torias contra escravos, compreende todos os crimes commettidos pelos mesmos escravos
em que caiba a pena de morte. In: Coleção das leis do Império do Brasil de 1854 (t. XVII,
p. II). Rio de Janeiro: Tipografia Nacional, 1854.
28 – Carl Schmitt diria que justamente aí ele mostrava seu caráter de soberano – por
decidir a respeito da exceção.
29 – FONSECA, Ricardo Marcelo. Os juristas e a cultura jurídica brasileira na segunda
metade do século XIX. Quaderni fiorentini per la storia del pensiero giuridico moderno,
Firenze, v. 35, pp. 339-371, 2006.
30 – PETIT, Carlos. Discurso sobre el discurso: oralidad y escritura en la cultura jurí-
dica de la España liberal. Madrid: Universidad Carlos III de Madrid, 2014.
31 – A relevância da cultura oral aparece também de outras formas. Sobre a obtenção
do título de doutor e os concursos de professor, ver: ROBERTO, Giordano Bruno Soares.
História do direito civil brasileiro: ensino e produção bibliográfica nas academias jurí-
dicas do Império. Belo Horizonte: Initia Via, 2016; VENANCIO FILHO, Alberto. Das
arcadas ao bacharelismo: cento e cinquenta anos de ensino jurídico no Brasil. São Paulo:
Perspectiva, 1977.
32 – DUTRA, Pedro. Literatura jurídica do império. Rio de Janeiro: Topbooks, 2004.
33 – BRASIL, Lei de 11 de agosto de 1827 – crea dous cursos de sciencias jurídicas e
sociaes, um na cidade de S. Paulo e outro na de Olinda. In: Colecção das leis do Império
do Brasil de 1827. Parte Primeira. Rio de Janeiro 1878. Verdadeiras universidades só
seriam criadas na década de 1920.
34 – Para uma lista e análise desses trabalhos, ver: cf. SONTAG, Ricardo. “Curar todas
as moléstias com um único medicamento”: os juristas e a pena de prisão no Brasil. Re-
vista do Instituto Histórico e Geográphico Brazuleiro, v. 177, p. 45-72, 2016. O primeiro
tratado da disciplina publicado no Brasil foi o “Tratado de Direito Penal”, de Franz von
Liszt, em tradução de José Hygino: LISZT, Franz von. Tratado de Direito Penal Alemão.
Traduzido e comentado por José Hygino Duarte Pereira. Rio de Janeiro: 1899. Sobre essa
tradução, cf. SENA, Nathália N. E. de; SONTAG, Ricardo. The Brazilian Translation of
Franz von Liszt’s Lehrbuch des deutschen Strafrechts (1899): a History of Cultural Trans-
lation between Brazil and Germany. Max Planck Institute for European Legal History
Research Paper Series, v. 2019-17, p. 1-28, 2019.
tor e seus editores35. Era esse o caso da graça: durante a época impe-
rial, publicaram-se dois livros que tinham aquela prerrogativa imperial
como seu tema único e exclusivo. A primeira era O direito de graça36,
de José Antônio de Magalhães Castro. O outro era O recurso de graça37,
de Antônio Herculano de Souza Bandeira Filho, a principal fonte das in-
vestigações deste artigo. O primeiro texto tem um estilo mais genérico
e mais político. O segundo, uma obra de quase 130 páginas, lida com
uma grande quantidade de detalhes técnicos a respeito do instituto do
qual deriva o título. Sua centralidade e qualidade foram reconhecidas por
algumas publicações de sua época: o Jornal da Tarde, em 1º de fevereiro
de 1878, faz uma breve resenha da obra de Bandeira Filho, descrevendo-
-a como de “utilidade prática inegável”38. A única crítica dizia respeito à
falta de direito comparado. O Cruzeiro, no dia 18 do mesmo mês, também
publicou uma descrição elogiosa da obra39.
pena deve ser média. Ao optar por este sistema, o Brasil estava seguindo
um movimento europeu por uma maior restrição ao poder dos juízes que
vinha ganhando força desde a instauração do iluminismo penal, como
discutido em alguns modelos apresentados, sobretudo, na França, sendo
o principal representante, porém, o pensador italiano Cesare Beccaria. O
Poder Judiciário francês era composto antes da revolução de alguns dos
mais notórios membros da nobreza, e seu despotismo permaneceu vívido
nas mentes dos legisladores logo após os eventos de 178948. Até o século
XVIII, os sistemas jurídicos seguiam as chamadas penas arbitrárias: os
juízes podiam impor praticamente qualquer punição por um crime sem
que houvesse um efetivo limite legal. Em reação a isso, o código francês
de 1791 estabeleceu o sistema de penas rígidas: para cada crime, uma
única punição possível. No entanto, algumas desvantagens vieram des-
sa estrutura: as injustiças tornaram-se claras e, muitas vezes, os juízes
decidiram contra o que ficara comprovado apenas para evitar uma con-
denação desproporcional. O código francês de 1810 criou o intervalo de
penas para evitar esta situação intolerável, que desafiava a legalidade49.
O Brasil escolheu um caminho intermediário entre esses modelos50 ao
restringir o poder dos juízes, mas não tanto quanto haviam ousado os
revolucionários51.
48 – Nesse sentido, Lima Lopes afirma: “é também notável que a doutrina da separação
dos poderes não visse na administração a fonte do absolutismo, pelo menos não para al-
guns ilustres e ilustrados juristas. Antes, via-a na justiça”. LOPES, José Reinaldo de Lima.
O oráculo de delfos: o Conselho de Estado no Brasil império. São Paulo: Saraiva, 2010.
(Série Produção Científica. Direito, Desenvolvimento e Justiça), p. 219.
49 – Sobre o Código de 1810, cf. CAVANNA, Adriano. Storia del diritto moderno in
Europa: le fonti e il pensiero giuridico, 2. Milano, 2005, p. 590-597.
50 – Para uma análise mais ampla das fontes do Código Criminal de 1830, cf: COSTA,
Vívian Chieregati. Codificação e formação do Estado-nacional brasileiro: o Código Cri-
minal de 1830 e a positivação das leis no pós-independência. Dissertação (Mestrado em
Cultura e Identidades). Instituto de Estudos Brasileiros, Universidade de São Paulo. São
Paulo: 2013.
51 – “Não deve haver arbitrio, quando se tem de avaliar circumstancias; por isto que
não ha neste codigo nada que o autorise, havendo perigo em pesal-as segundo o criterio
de cada um, muitas vezes sob a impressão do momento, que exclue toda a calma; sendo
verdade que a lei criminal deve basear-se em regras certas e fixas, no intuito de evitar
os abusos, que são sempre prejudiciais, quando se trata da applicacão da lei”. PESSOA,
Vicente de Paula. Código criminal do Império do Brasil: comentado e anotado com os
princípios do direito; legislação de diversos povos, leis do país, decretos, jurisprudência
dos tribunais, avisos do governo, interpretando, alterando ou revogando diversas das suas
disposições, até o anno de 1884, 2nd edition, Rio de Janeiro 1885, p. 62. Sobre arbítrio
judicial, cf. FARIA, Aléxia Alvim Machado. Peita, suborno e a construção do conceito
jurídico-penal de corrupção: patronato e venalidade no Brasil imperial (1824-1889). Dis-
sertação (Mestrado em Direito). Faculdade de Direito, Universidade Federal de Minas
Gerais. Belo Horizonte: 2018, pp. 182-191
Mas a graça não era usada apenas com o propósito que ele recomen-
dava, desvio esse que estimulou críticas da parte de Magalhães Castro. O
principal problema era a incerteza na distribuição das graças53. Perdões
imerecidos eram frequentemente concedidos, enquanto outros que se-
riam de justiça ficavam retidos. Por exemplo, os imperadores brasilei-
ros frequentemente perdoavam os condenados com a única finalidade de
celebrar a paixão de Cristo54, sem nenhuma consideração pelos méritos
e pelas falhas de cada um deles. Ao mesmo tempo, certos condenados
esperavam longos anos enquanto seus justos pedidos pegavam poeira
nos arquivos da burocracia imperial: “Mas esta reserva na concessão das
Graças tão poucas para tão vasto Império é um grande mal; e tirando aos
condemnados a esperança da recompensa contrasta com o fim das peni-
tenciarias, revellando defeito de seo regimen”55. A pequena quantidade de
graças concedidas era mostra, em sua visão, da irracionalidade por trás
das concessões. O problema não estava no instituto em si, mas na forma
errônea com que ele era utilizado.
56 – Essas eram, de acordo com a circular de 18 de junho de 1865: “1ºnome do peticio-
nario; 2º pena á que foi condemnado; 3º data em que foi imposta, por qual juiz ou jury;
4º o crime que commeteu, e em que tempo; 5º se foi condemnado a outras penas; 6º se
está preso ou solto, e desde que dia; 7º desde quando começou a cumprir sentença; 8º
informação do Juiz da condemnação; 9º informação do Director da Casa de Correção, ou
do carcereiro da Cadêa em que estiver preso”. BRASIL. Circular em 28 de Junho de 1865
– Indica quaes as informações que devem acompanhar as petições de graça. In: Coleção
das decisões do governo do Império do Brasil de 1865. Rio de Janeiro. 1866.
57 – PERDIGÃO, Carlos. Da condemnação do inocente. Gazeta jurídica: revista sema-
nal de legislação, doutrina e jurisprudência, Rio de Janeiro, Ano II, v. 5, n. 92, S. 121-129,
4th october 1874, S. 129.
58 – BANDEIRA FILHO. Antônio Herculano de Souza. O recurso de graça segundo a
legislação brasileira: contendo a indicação e análise das leis, decretos, avisos do governo
e consultas do Conselho de Estado sobre a matéria. Rio de Janeiro: Typographia do Impe-
rial Instituto Artistico, 1878, p. 49.
59 – SOUZA, Brás Florentino Henriques de. Poder Moderador: Ensaio de direito con-
stitucional, contendo a análise do tit. V, cap. I da constituição política do Brasil. Recife:
Tipografia Universal, 1864, p. 249.
60 – Sobre esse conceito e a sua relação com a noção de graça: HESPANHA, Antônio
Manuel. As outras razões da política: a economia da “graça”. In: HESPANHA, Antô-
nio Manuel. A política perdida: ordem e governo antes da Modernidade. Curitiba: Juruá,
2010.
61 – É o primeiro fundamento da graça que ele apresenta, em conjunto com os outros,
mais tradicionais: “quando o criminoso tem prestado relevantes serviços ao Estado, ou se
faz recomendável por suas qualidades eminentes; se certas circunstâncias fazem o crime
desculpável; se os criminosos são em grande número; se a razão particular da Lei não for
applicavel”. RAMALHO, Joaquim Inácio. Elementos do processo criminal: para uso das
Faculdades de Direito do Imperio. São Paulo: 1856, p. 146.
71 – A última execução no Brasil ocorreu em 28 de abril de 1876. RIBEIRO, João Luís.
No meio das galinhas, as baratas não têm razão: a lei de 10 de junho de 1835: os escravos
e a pena de morte no Império do Brasil (1822-1889). Rio de Janeiro: Renovar, 2005, p.
306.
72 – PIROLA, Ricardo. Escravos e rebeldes nos tribunais do império: uma história so-
cial da lei de 10 de junho de 1835. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2015, p. 143 ss.
73 – BRASIL. Annaes do parlamento brasileiro. 1871. Rio de Janeiro 1874, v. 1, p. 32.
74 – No mesmo debate, alguns deputados afirmaram que o direito estatuía a pena de
morte e, por conseguinte, deixar de aplica-la seria ilegal. Teixeira Júnior respondeu que
“É a lei: mas é a primeira de nossas leis, a constituição, que outorga à corôa a atribuição
de comutar as penas” BRASIL. Annaes do parlamento brasileiro. 1871. Rio de Janeiro:
1874, v. 1, p. 130.
75 – O Conselho de Estado foi um órgão composto por 10 cidadãos brasileiros respon-
sáveis por ajudar o imperador no exercício do poder moderador e na condução política
da nação.
O problema para os críticos não era a graça em si, mas a forma sis-
temática com que ela vinha sendo empregada. No Senado, essa qualidade
“sistemática” era um mote para muitas disputas entre senadores, alguns
apontando o “sistema” por trás das comutações, e outros defendendo que
as comutações continuavam a ser uma mera medida excepcional. Em
1879, Silveira da Mota defendeu assim as suas posições:
Como não tem sido por systema, quando, salvo um ou outro caso ra-
rissimo, não se tem dado uma só execução? [...] como não hei de di-
zer que é systema do poder moderador, que é a influencia de Victor
Hugo, que tem dado logar á commutação em todos os outros casos de
pena ultima? O nobre senador não apresenta outros exemplos, é um no
meio de mil. Pois quando ha um exemplo no meio de mil, não posso
dizer que é systema? É systema, mas systema errado77.
para o código penal, em seu artigo 18, § 10. Era obrigatório que a pena
imposta fosse a imediatamente inferior: prisão com trabalho vitalício. No
entanto, o juiz prescreveu a pena capital. O Conselho de Estado, após de-
liberar, recomendou a comutação. Pode-se ver aqui a correção de um erro
judicial por meio do perdão. O outro réu também recebeu uma comutação
para galés perpétuas87. A justificativa era que “supposto não exista outra
prova mais do que a confissão do réo Francisco Cassange, é ella comtudo
revestida de circumstancias taes, que, se não provam plenamente a quali-
dade de autor bem descobrem a complicidade daquelle réo”88; portanto, a
ausência de força das provas foi o motivo da redução da pena89. De fato,
a lei de 10 de junho de 1835 exigia que qualquer condenação por mais
de dois terços dos votos do júri resultaria em uma sentença automática
morte: após a definição de que um crime foi praticado, o resultado deveria
ser implacável. Distanciando-se da rigidez da lei, o Conselho de Estado
sugeriu a comutação: as provas pareciam indicar a culpa, mas não davam
suficiente segurança para levar à morte.
A graça foi uma forma de assegurar aos réus os recursos que a lei
de 1835 lhes negava. Era também uma maneira de fazer com que a pena
única fosse mitigada por outras considerações. Quanto à circunstância
atenuante da minoridade, uma interpretação mais tradicional negaria a
redução da pena, por exemplo. A lei era especial e criada após o código:
ela deveria prevalecer, segundo dois dos critérios tradicionais utilizados
para resolver conflitos entre normas jurídicas. No entanto, não foi isso
que aconteceu: O Conselho de Estado se esforçou para flexibilizar essa
lei escravista. Esse processo foi percebido pelas classes proprietárias de
escravos, como mostrado anteriormente. João Luís Ribeiro90 e Ricardo
87 – Galés eram um tipo específico de pena. Os condenados a ela eram obrigados a an-
dar acorrentados e ajudar nos trabalhos públicos.
88 – CAROATÁ, José Próspero jeová da Silva. Imperiaes resoluções tomadas sobre
consultas da Seção de Justiça do Conselho de Estado desde o anno de 1842, em que co-
meçou a funcionar o mesmo conselho, até hoje, coligidas em virtude de autorização pelo
Exmº. Sr. Conselheiro Manoel Pinto de Souza Dantas, ex-ministro e secretário de Estado
dos negócios da justiça. Rio de Janeiro: B.l. Garnier, Livreiro Editor, 1884, p. 34.
89 – Algo parecido é amplamente observado para o antigo regime. Mais em ALESSI,
Giorgia. Il processo penale: profilo storico. Roma; Bari: Laterza, 2000.
90 – RIBEIRO, João Luís. No meio das galinhas, as baratas não têm razão: a lei de 10
A questão dos recursos, por sua vez, não era um problema exclusivo
dos escravos. A legislação geral também tinha falhas que exigiam cor-
reção por meio da prerrogativa real. Quando todos os outros caminhos
para a reforma da sentença terminavam, a opção comum para quaisquer
réus era o recurso de revista. Ele tinha importantes semelhanças com a
graça: era um último recurso e sua função era manter o judiciário em bom
funcionamento92. É nesse sentido que Bandeira Filho reconhece à graça
o papel de cobrir as falhas do recurso de revista: “as sentenças criminaes
proferidas em ultima alçada, ainda que laborem em nullidade, só pódem
ser cassadas por meio das revistas, e quando succeda que a lei não admitta
a revista, ahi está o Poder Moderador para perdoar a pena a que fôr injus-
tamente condemnado” 93.
5 O quarto poder
Se a graça podia ser considerada frequentemente como um instituto
de natureza processual, por que não permitir que os próprios juízes resol-
vessem os problemas de que ela tratava?
Mas o problema é mais profundo. Não havia apenas uma certa de-
preciação do judiciário: a própria separação de poderes no Brasil era di-
ferente do tradicional esquema tripartido: no Império, ela era estruturada
com o acréscimo de um quarto poder, o moderador. Essa configuração foi
trazida da França100, a partir dos escritos de Benjamin Constant. De acor-
do com a noção originalmente elaborada por esse pensador, o monarca te-
ria direito a certos poderes específicos para controlar o campo de batalha
política do país. Seu princípio orientador seria a inércia do rei, ou seja, as
ações políticas nunca deveriam vir inicialmente dele. O Imperador sim-
plesmente poderia reagir aos abusos dos poderes executivo, legislativo ou
judicial, reprimindo ações que pudessem perturbar a ordem constitucio-
nal ou a separação de poderes. A pedra angular do sistema, originalmente,
seria a separação entre o poder moderador e o executivo, para evitar a
concentração excessiva de prerrogativas. No entanto, quando o projeto
constitucional foi posto em prática no Brasil, a redação do capítulo rela-
98 – FARIA, Aléxia Alvim Machado. Peita e suborno como delitos de corrupção no Bra-
sil Imperial (1824-1889). Revista Brasileira de Ciências Criminais, São Paulo, v. 131, ano
25, pp. 21-55, maio 2017.
99 – CAVANNA, Adriano. Storia del diritto moderno in Europa: le fonti e il pensiero
giuridico, 2. Milano: Giuffrè, 2005, p. 41.
100 – LYNCH, Christian Edward Cyrill. O discurso político monarquiano e a recepção
do conceito de Poder Moderador no Brasil (1822-1824), DADOS – Revista de Ciências
Sociais, Rio de Janeiro, Vol. 48, no 3, pp. 611 a 654; SALDANHA, Nelson. A teoria do
“poder moderador” e as origens do direito político brasileiro, Quaderni Fiorentini per la
Storia del Pensiero Giuridico Moderno, v. 18, pp. 253-265, jan./dez. 1989.
113 – SOUZA, Brás Florentino Henriques de. Poder Moderador: Ensaio de direito con-
stitucional, contendo a análise do tit. V, cap. I da constituição política do Brasil. Recife:
Tipografia Universal, 1864, pp. 413-414.
114 – “Art. 142. São Atribuições do Imperador: [...] Agraciar os condemnados perdo-
ando em todo ou minorando as penas, excepto aos ministros de estado, a quem poderá
somente perdoar a pena de morte”. BRASIL. Annaes do parlamento Brazileiro. Assem-
blea Constituinte. 1823. Tomo quinto. Rio de Janeiro: Tipografia do Imperial Instituto
Artístico, 1874 P. 12. Sessão de 1º de setembro de 1823.
115 – “Art. 19. A Regência não poderá: [...] Perdoar aos Ministros e Conselheiros de
Estado, salvo a pena de morte, que será comutada na imediata, nos crimes de responsa-
bilidade”. BRASIL. Lei de 14 de junho de 1831 – sobre a forma da eleição da regência
permanente, e de suas atribuições. In: BRASIL. Coleção das leis do Império do Brasil de
1831. Primeira parte. Rio de Janeiro: Tipografia Nacional, 1875.
124 – LEAL, Aurelino. Germens do crime. Bahia: Livr. Magalhães, 1896, p. 171 ss.
125 – LEAL, Aurelino. Germens do crime. Bahia: Livr. Magalhães, 1896.
E uma análise mais ampla das opiniões dos juristas mostra que a posição
de Siqueira foi a que prevaleceu.
133 – “No tempo do império não havia nem a revisão dos processos, nem o regimen
penitenciário. O perdão era o único recurso para o erro judiciário, para libertar o innocente
da pena injusta a que fora condemnado. Servia também de recompensa aos criminosos
regenerados pela pena, que na prizão tinhão por uma conducta exemplar dado sobejas
provas do seu arrependimento, de sua correcção. Foi por estes motivos que o decreto de
28 de Março de 1860 regularisou o modo da concessão do perdão. O poder moderador
precisava ser instruído sobre o processo, si tinha havido um erro na condemnação, si forão
preteridas formalidades essenciaes, si, finalmente, o criminoso pelo seu comportamento
na prizão merecia a graça que impetrava. Hoje, porém, o perdão não é mais um recurso
judiciário, como foi no tempo do império, e sim um acto de generosidade, de clemência
do Chefe do Estado. Para os erros judiciários ha a revisão perante o Supremo Tribunal
Federal, revisão que restabelece a innocencia do condemnado, que lava a mancha da con-
denação fazendo brilhar a verdade, e portanto de effeitos jurídicos muito mais latos do que
o perdão, que simplesmente affecta o cumprimento da pena. Para galardoar a regeneração
do criminoso ha hoje o livramento condicional estabelecido nos artigos 50 e seguintes do
Código Penal. [...] Mas hoje com a revisão, com o livramento condicional, o perdão é um
simples acto de clemência, uma attribuição do Presidente da Republica. Não é mais um
recurso judiciário, ê uma prerogativa do Chefe do Estado. E como tal não está sujeito a
formas e exigências, depende unicamente do critério e do bom senso da autoridade su-
prema que o confere e demittir livremente os seus ministros e secretários, assim também
pôde perdoar livremente os condemnados”. VIVEIROS DE CASTRO, Augusto Olímpio.
Questões de direito penal. Rio de Janeiro: J. Ribeiro dos Santos, 1900, p. 184-185.
134 – O principal livro sobre o assunto é: ARAÚJO, João Vieira de. A revisão dos pro-
cessos penaes, Rio de Janeiro: J. Ribeiro dos Santos, 1899.
135 – BRASIL, Decreto n. 846 – de 11 de outubro de 1890. Organiza a Justiça fede-
ral. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1851-1899/d848.htm.
Acesso em: 20.08.2016
136 – Contrariedade à lei; ausência de formalidades; suspeição ou incompetência do
juiz; contradição com outra sentença sobre o mesmo crime; sentença contrária às provas;
descoberta superveniente de prova da inocência do réu.
137 – “em todos esses casos, ficará ao direito de graça exercer sua influência bemfeitora,
mas não pode ter lugar a revisão” ARAÚJO, João Vieira de. A revisão dos processos pe-
naes. Rio de Janeiro: J. Ribeiro dos Santos, 1899, p. 62.
138 – Para uma descrição aprofundada dessas mudanças: QUEIROZ, Rafael Mafei
Rabelo de. A modernização do direito penal brasileiro: sursis, livramento condicional e
outras reformas do sistema de penas clássico do Brasil, 1924-1940. São Paulo: Quartier
Latin, 2007.
305
Introdução
O Solar Góes Calmon, sede da Academia de Letras da Bahia, foi
originalmente residência da família do governador Francisco Marques de
Góes Calmon (1897-1943), que imprimiu, com o bom gosto de colecio-
nador, o caráter cultural à moradia que permanece apesar das mutações e
das reformas. Anos após o seu falecimento, o imóvel e as coleções foram
adquiridos pelo governo estadual para sede do Museu do Estado e da
Pinacoteca, inaugurados em 2 de julho de 1946. Desde 7 de março de
1983, é a sede da Academia de Letras da Bahia.
Se amplo é o solar, com boa testada de frente, não menor era o ter-
reno de fundo onde funcionava um campo de futebol, referido por Pedro
Calmon (1995, p. 64) em suas memórias: “Foi o período futebolístico”.
Segundo o depoimento de Ana Maria, suas irmãs Maria Constança (Tança)
e Maria dos Prazeres (Zeza) organizavam partidas e também praticavam
o novo esporte. Agregamos uma frase do depoimento: “nasci, me criei e
brinquei naquela casa”. A família Góes Calmon era vizinha dos Berbert
de Castro e Prisco Paraíso, pela parte posterior do prédio. Um segmen-
to desse terreno é onde, hoje, se ergue a atual Escola Estadual Eduardo
Bizarria Mamede, edificada no início da década de sessenta, onde deveria
ter sido o campo de futebol. Ainda no andar térreo, funcionava o gabinete
de Góes Calmon e, ao lado, havia uma sala de aula equipada com ba-
nheiro. Certamente, aí se reunia o grupo de amigos para discussões como
aquela que dissolveu a academia infantil, como nos conta Pedro Calmon.
O local também conta com jardim de frente e do lado esquerdo, que dá
acesso à entrada por uma imponente escada de mármore que nos leva à
agradável varanda lateral.
Era, como raros, apaixonado das cousas do Belo. E, como entre nós, tinha a
intuição dos valores estéticos, em considerável número de ramos da ciência
do connaisseur.
Móveis e alfaias, pintura e cerâmica, o entusiasmavam. E a finura do bom
gosto lhe valeu a coleção admirável com que criou o belíssimo ambiente bra-
sileiro tradicional em sua esplêndida vivenda do Caquende, verdadeiro museu
das artes decorativas nacionais.
Era destes selecionadores que amam a volúpia da caçada, dos que sedimentam
, peça por peça, os seus acervos e não os conquistam a golpes de dinheiro,
dos que verdadeiramente sofrem quando concorrentes mais felizes acaso os
vencem numa disputa; dos que, inexprimivelmente gozam, ao realizarem des-
cobertas e aquisições inesperadas e valiosas.
Do seu tio e pai adotivo, o Dr. Inocência Marques de Araújo Góes Júnior,
outro colecionador finíssimo, fora discípulo.
Anexo 1
Resumo da entrevista de Ana Maria de Góes Calmon, filha caçula
de Góes Calmon, Salvador, 12 out. 2001.
No dia do casamento, os meus pais, Francisco Marques de Góes Cal-
mon e Julieta do Couto Maia, foram morar na casa do Caquende, em
19 de março de 1897. Era uma casa de andar térreo. Não sabe quem
a construiu. Foi reformada em 1918 e 1919, quando colocaram o se-
gundo andar. Em 19 de março de 1919, casou a filha Majú (Maria
Julieta Calmon Vilas Boas) com Jaime Vilas Boas. Ana Maria nasceu
em 26 de julho de 1919. O governador Góes Calmon morreu em 29 de
janeiro de 1931, tendo nascido em 6 de novembro de 1874. Em 6 de
novembro de 1970, dia, portanto, do seu natalício, o governador Luiz
Viana Filho inaugurou o Solar Góes Calmon, depois de inteiramen-
te reconstruído. O prédio foi vendido para ser Museu do Estado, em
Anexo 2
Lei n. 3.928 de 26 de outubro de 1981
O governador do Estado da Bahia,
Faço saber que a Assembleia Legislativa decreta e eu sanciono a
seguinte Lei:
Art. 1º – Fica o Poder Executivo autorizado a doar à Academia de
Letras da Bahia o imóvel de propriedade do Estado da Bahia, situado
nesta Capital, à Avenida Joana Angélica n. 198 da porta e 21.643 da
inscrição municipal, também conhecido sob a denominação de “PRÉ-
DIO GÓES CALMON”, adquirido em 27 de março de 1944, confor-
me escritura pública lavrada nas Notas do Tabelião Marback sob o
número 1418, às fls. 21 v., 202 e registrada, em 10 de agosto de 1944,
no Cartório do 1º Ofício de Imóveis e Hipotecas desta Capital, sob. n.
8087, às fls. 150 do livro 3-k.
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329
II – COMUNICAÇÕES
NOTIFICATIONS
Gilberto Freyre era então um jovem de 25 anos que voltara dois anos
antes ao Brasil de uma temporada de estudos nos Estados Unidos (segui-
da por uma breve passagem pela Europa). Reinstalara-se no Recife e es-
crevia regularmente artigos para o Diário de Pernambuco, onde divulgava
com desenvoltura o que aprendera no exterior e muito frequentemente
torcia o nariz diante da produção nacional impressa. Segundo o testemu-
nho de José Lins do Rego4:
Gilberto Freyre chegara da Europa e eu quis aproximá-lo da nova po-
esia brasileira. Não houve porém contato que satisfizesse o jovem que
chegava cheio de tantas prevenções contra a nossa pobre literatura.
Ele mesmo dissera, sobre Gonçalves Dias, que nós não havíamos tido
um grande poeta, mas pedaços de grandes poetas em Castro Alves,
Álvaro de Azevedo, Gonçalves Dias.
da doença é antes uma cultura íntima. De “sua fina e doce ferida” lhe
escorre o fio da emoção por alguns versos nada mórbidos ou doentios.
Ninguém lhe vê a ferida [...] sua emoção.
conhece o pudor [...] é a emoção íntima da doença criando no poeta
um estado de alumbramento:
“Eu vi os céus! Eu vi os céus!
Oh, essa angélica brancura
Sem tristes pejos e sem véus!
... E vi a Via – Láctea ardente
Vi comunhões... Capelas... véus
Súbito... alucidamente”8.
Mas nesses aparentes olhos de meninos em dia de Primeira Comunhão
[...] ardem volúpias em torno de coisas da terra [...] em que ardem
também lúbricas pontas de dedos em busca de formas de mulher[...]
E entretanto são versos que por vezes terminam no desencanto da vo-
lúpia erótica:
“A volúpia é bruma que esconde
Abismos de melancolia”9.
Nunca se falou em voz tão baixa na poesia brasileira. Nunca, entre
nós, poeta nenhum cantou o amor por mulher nessa voz misticamente
grave...10
Para Octavio Paz, em o O arco e a lira12, poesia era como uma metá-
fora do instantâneo, a conjunção entre um olhar que arruma, por analogia,
por contiguidade ou por diferenças certas imagens, sons ou palavras; e
encontra outro olhar, cúmplice e receptor que os receba, os compreenda
e os aprecie. “Forma natural de expressão dos homens”, “pertencendo
a todas as épocas”, ela é uma possibilidade permanente no mundo que
pode ser extraído ou suscitado a todo o momento. Fincada na linguagem
humana, “no fundo de cada homem”, “algo que se confunde com o pró-
prio tempo e também conosco, e que sendo de todos também é único e
singular”.
11 – CARVALHO, Maria Alice. “A propósito de Vida, forma e Cor e do Perfil de Eu-
clides da Cunha”. Texto apresentado no Seminário Novo Mundo nos Trópicos, Fundação
Joaquim Nabuco, Recife, 2000, p.1.
12 – São Paulo: Cosac Naify, 2013.
17 – DIMAS, Antonio. “Joaquim Nabuco & Gilberto Freyre: Memorialistas que se en-
caixam e se continuam”, Revista Letras, Curitiba, n. 94 jun./dez. 2016, p. 127.
18 – 1936.
19 – Cf. “Manuel Bandeira, recifense”. In: Perfil de Euclides e outros perfis. Rio de
Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1944, p.175.
20 – Diário de Pernambuco.
Tomásia
Rosa
Fiquei satisfeitíssimo por ver que você o entendeu exatamente como
eu quis e trabalhei para que o sentido fosse entendido: a impressão
tranqüila e grandiosa da morte; o ciclo da vida. [...] Tive de corrigir
alterar [sic], procurar até achar “as vozes daquele tempo”; precisavam
ser vozes de afeto mas que não sugerissem nem de leve os meus lu-
tos pessoais. (O luto dos avós tem um sorriso de aposentadoria com
todos os vencimentos) Depois os avós datam. Escolhi a dedo Totô-
nio Rodrigues, Tomásia. (Você terá sentido que era a velha cozinheira
ex‑escrava?) e Rosa, a mulata magra ama seca [sic, sem hífen].
37 – ARRIGUCCI JR., Davi. O cacto e as ruínas. São Paulo: Duas Cidades: Editora 34,
2000, p. 37.
38 – Carta de 10.01.1928. In: Arquivo Museu de Literatura, Fundação Casa de Rui Bar-
bosa, Rio de Janeiro.
39 – Uma curiosidade: note-se a semelhança de “Apresentação”, com “Política Literá-
ria”, de Carlos Drummond de Andrade, publicado em Alguma Poesia – Poemas (Belo
Horizonte, Edições Pindorama, 1930): Política literária / O poeta municipal / discute com
o poeta estadual / qual deles é capaz de bater o poeta federal. / Enquanto isso o poeta
federal / tira ouro do nariz. / “Política Literária” é oferecido a Manuel Bandeira.
349
III – RESENHAS
REVIEW ESSAYS
NORMAS EDITORIAIS
• As contribuições deverão ser inéditas e de trabalhos originais do autor, não podendo ter sido publicadas
integralmente ou em parte, tanto impressa ou eletronicamente, ou já submetidas a outras revistas. Os
textos podem ser escritos em português, inglês, francês, espanhol ou italiano.
• Exceto os trabalhos dirigidos à seção Resenhas ou Balanços Bibliográficos, os autores deverão,
obrigatoriamente, apresentar títulos e resumos nos idiomas português e inglês, independentemente do
idioma do texto original, e caso este não esteja em português ou inglês, acrescentar resumo na língua
original, não podendo ultrapassar 250 (duzentos e cinquenta) palavras, seguidas das palavras-chave,
mínimo 3 (três) e máximo de 6 (seis), representativas do conteúdo do trabalho, também em português e
inglês, e no idioma original, quando for o caso.
• Documentos enviados para publicação devem estar transcritos e assinalados o códice ou indicação
arquivística equivalente de onde foram copiados, acompanhados de uma introdução explicativa.
• A Revista reserva-se a oportunidade de publicação de acordo com o seu cronograma ou interesse,
notificando ao autor a sua aprovação ou a negativa para a publicação. Não serão devolvidos originais.
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• Except works addressed to the section on bibliography, authors must mandatorily present titles
and
abstracts in Portuguese and English, independently of the language of the original text. If it is not
in Portuguese or English, it will be necessary to add the abstract in the original language as well. The
abstract cannot have more than 250 (two hundred and fifty) words, followed by the minimum of 3 (three)
and the maximum 6 (six) keywords, in English and Portuguese.
• Documents sent to publication have to be transcribed and bring the archival indication from where they
were copied, accompanied by an introduction.
• The R. IHGB limits the opportunity of publication according to its schedule and interest, notifying
the
approval or disapproval of the publication to the author. The original texts will not be returned.
TEXTS PRESENTATION
• Front page: all articles should come with an unnumered front page, which should state its title, the
author’s / authors’ whole name(s) and institution(s) to which he / she / they belong. A footnote should
mention the complete address and e-mail of the author / authors, to whom any mail will be sent. The
author’s / authors’ identification should not appear anywhere else;
• Texts should be presented in format A4, margins 2,5cm, space between lines 1,5cm, font Times New
Roman size 12, and consecutive numbering of pages. The Microsoft Word text editor or a compatible
one should be used. If there are tables, graphs, images or any other pictures, they should be presented in
the proper place into which they fit. Pictures and images have to be scanned in 300 dpi in format jpg and
approximately dimensioned to 5 x 5 cm;
• Translations, preferably unpublished, should have the author’s authorization and the respective original
text.
• Notes must come at the end of the page. No bibliography should apppear at the end.
• Norms for presenting footnotes:
• Books: LAST NAME, First Name. Title of the book in italics: subtitle. Translation. Edition. City:
Publisher, year, p. or pp.
• Chapters: LAST NAME, First Name. Title of the chapter. In: LAST NAME, First Name (ed.). Title of
the book in italics: subtitle. Edition. City: Publisher, year, p. nn-nn.
• Article: LAST NAME, First Name. Title of the article. Title of the jounal in italics. City: Publisher. Vol.,
n., p. x-y, year.
• Thesis: LAST NAME, First Name. Title of the thesis in italics: subtitle. Thesis (PhD in .....) Institution.
City, year, p. nn-nn.
• Internet: LAST NAME, First Name. Title. Available at: www....., consulted dd.mm.yy.
• Originals may only be submitted to the e-mail below.
Only the texts presented accordingly to the rules defined above will be
accepted.
Contact Adress :
Revista do IHGB/IHGB
E-mail: [email protected]
REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO BRASILEIRO
Informações básicas
Circulando regularmente desde 1839, a Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro é uma
das mais longevas publicações especializadas do mundo ocidental. Destina-se a divulgar a produção
do corpo social do Instituto, bem como contribuições de historiadores, geógrafos, antropólogos,
sociólogos, arquitetos, etnólogos, arqueólogos, museólogos e documentalistas de um modo geral.
Possui periodicidade quadrimestral, sendo o último número de cada ano reservado ao registro da vida
acadêmica do IHGB e demais atividades institucionais. A coleção completa da Revista encontra-se
disponível para consulta on line, no endereço: http://www.ihgb.org.br/rihgb.php
A abreviatura de seu título é R. IHGB, que deve ser usada em bibliografias, notas de rodapé e em
referências e legendas bibliográficas.
Fontes de indexação
• Historical Abstract: American, History and Life
• Ulrich's International Periodicals Directory
• Handbook of Latin American Studies (HLAS)
• Sumários Correntes Brasileiros
• Classificação dos veículos utilizados pelos programas de pós-graduação para a divulgação da
produção intelectual de seus docentes e alunos/Coordenação de Aperfeiçoamento Pessoal de Nível
Superior - QUALIS/Capes - conceito B1.
Patrocinadores
A publicação recebe apoio do seguinte órgão:
• Ministério da Cultura
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