TESE - Luis Flavio - Versão 24-07 1 PDF
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BELÉM/PARÁ
2019
LUÍS FLÁVIO MAIA LIMA
BELÉM
2019
LUÍS FLÁVIO MAIA LIMA
Data de avaliação__________________
Conceito: _________________________
BANCA EXAMINADORA:
____________________________________
Prof. Dr. Danilo Araújo Fernandes
(FACECON/ICSA/UFPA – Orientador)
_____________________________________
Profa. Dra. Jurandir Novaes
(FACECON/ICSA/UFPA – Coorientador)
_____________________________________
Prof. Dr. Cláudio Alberto Castelo Branco Puty
(FACECON/ICSA/UFPA – Membro)
_____________________________________
Prof. Dr. José Raimundo Barreto Trindade
(FACECON/ICSA/UFPA – Membro)
_____________________________________
Profa. Dra. Andréa Bittencourt Pires Chaves
(FACS/IFCH/UFPA – Membro)
_____________________________________
Membro
Para Orlanda Maia Lima, minha mãe,
por tudo.
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos trabalhadores invisíveis, que estão nas ruas ou nos seus pequenos
estabelecimentos e buscam, todo dia, sob o sol ou a chuva, sobreviver com dignidade e
respeito, na fronteira que o capital permite. Meu muito obrigado pela acolhida e
solidariedade, pois sem essa atitude o presente trabalho não teria passado de um sonho.
Meu respeito a vocês, visíveis aos meus olhos e alcançáveis pelas minhas mãos.
Agradeço ao professor Dr. Danilo Araújo Fernandes, pela oportunidade e pela
orientação. Também sou grato à professora Dra. Jurandir Novaes, pela coorientação,
sugestões e indicações, que contribuíram com o presente trabalho.
Ao professor Dr. Ricardo Bruno, meu agradecimento pela ajuda e paciência.
Aos demais professores do Programa Márcia Diniz, Marcelo Diniz, José Raimundo
Trindade, Waldemar Sampaio e Gilberto Marques agradeço pela convivência, pelos
ensinamentos e solidariedade nos momentos necessários.
Agradeço à professora Dra. Andrea Chaves e ao professor Dr. Carlos Puty, que
compuseram a banca de qualificação, pelas leituras atentas e contribuições.
Meu muito obrigado a Carlos Azevedo, secretário da Pós-Graduação, pela
atenção e diversos S.O.S.
Meus agradecimentos a Carlos Alexandre Abati, que permitiu, através do seu
esforço pessoal, minha liberação para as atividades do Doutorado. Obrigado amigo, sem
esse apoio não teria sido possível cursar e escrever este trabalho.
Agradeço a Álvaro Brito, Diretor da Arcon que, remando contra a maré,
permitiu a minha liberação para o Doutorado. Meu agradecimento e respeito.
À Rosana Gam, que coordenou o trabalho de campo na região metropolitana, a
Janildo Costa, Márcia Silva, Iziones dos Santos, Aldenor de Souza, Jorge, Suellen,
Remison Ramos e Suany Furtado Vinagre, que colaboraram na pesquisa de campo.
Aos funcionários do Credcidadão, especialmente à Tetê Santos, Rogério Pinto e
Pedro Paz.
Agradeço a Jorge Antunes, do Banpará, que com muito boa vontade abriu os
canais de contato com vistas ao fornecimento de informações.
Obrigado Akemin Arakawa, que ao longo dos anos cuidou da minha qualidade
de vida, com suas agulhas, ventosas e mãos, permitindo às minhas costas sobreviverem
ao Doutorado.
Agradeço a Túlio Gonçalves pelo auxílio com as TDIC e os ajustes finais deste
documento da tese.
Aos meus amigos e mestres, Adriano Velloso, Aluízio Lins Leal, Glênio Bruck
Andrade e Renato Pinheiro Condurú Jr., que compartilharam seus conhecimentos ao
longo dos anos, ensinando-me e abrindo portas, meu eterno reconhecimento e gratidão.
Aos meus irmãos Emmanuel Augusto, Luís Fernando e Paulo Vitor agradeço
pela energia e amor, que contribuíram para esta jornada. Este trabalho concretiza esse
esforço e as lutas passadas, que estão na memória e no coração.
Obrigado, meus colegas de turma, que dividiram as angústias, os medos, as
alegrias e compartilharam seu tempo e esforço. Grato a Carlos, Márcia, Adjard, Djalma,
Marília, Ellen, Leônidas e Carol.
À Mônica Oliveira e Adilson pela colaboração e apoio em Bragança, meu muito
obrigado.
Agradeço à Carminha, minha colega do antigo Idesp, excelente pesquisadora,
pela amizade e solidariedade na cidade de Bragança.
Ao Fundo Ver o Sol, especialmente a Olinto Cei, Celso e Cadmiel, obrigado
pela atenção e fornecimento do cadastro. Estendo os agradecimentos à Rosicléa Garcia
de Oliveira Garcia, da SECON, que permitiu acesso a espaço estratégico para realização
de algumas fotos.
Aos colegas da Arcon, solícitos, compreensivos e apoiadores, especialmente ao
Frederico e ao Marcelo, que me ajudaram no decorrer do Doutorado.
Meus agradecimentos à Adelaide Silveira e Sheldon Austin pela cessão de
tempo e atenção na realização das fotografias internacionais.
Ao Fabrício Santa Brígida, grato pela ajuda e apoio na faculdade durante esta
jornada.
A minha outra família, que alicerçou também esta jornada dando carinho,
proteção, apoio e amor. Meu reconhecimento e agradecimento a Calcilda Barbosa,
Adilson Freitas e Joecy Freitas, Juraci Barbosa, Helyelson Carmo, Mariano Carmo,
Joana, Larissse e Tatiane Torres.
Muito obrigado a essa força universal, Deus, pela fé, energia, pela presença em
minha vida, que é luz.
Aos amigos, que construí ao longo do curso de Economia agradeço pelo apoio,
preocupação e força. Aos que me apoiaram ao longo dessa jornada e que estão sempre
na torcida, muito obrigado. Grato por nossos bons encontros e que possamos nos manter
juntos na nossa juventude, através dos nossos risos. A cada um, meu fraterno abraço.
À Guaciara Freitas, que através do seu cuidado, pelo debate sobre a evolução da
tese, a troca de ideias e, principalmente pelo seu amor, foi fundamental para superar as
dificuldades e avançar com tranquilidade esta jornada. Este trabalho lhe pertence. Muito
obrigado pelo seu amor.
A minha tia Therezinha de Jesus, que cuidou, e ainda cuida de mim, meu
obrigado pelo seu amor e carinho. Este trabalho também é fruto disso.
Aos meus mais pais, Orlanda Maia Lima e Messilindo Texeira Lima, que
durante esta jornada do Doutorado, partiram. Não tenho palavras que signifiquem a
dimensão do quanto lhes sou grato. Este trabalho representa a pequena e justa
homenagem que lhes faço, pois é o resultado dos seus esforços, sem os quais, não
haveria nem eu, nem esta tese. Meu amor aos dois mestres economistas da minha vida.
Carta para Josefa, minha avó
Tens noventa anos. És velha, dolorida. Dizes-me que foste a
mais bela rapariga do teu tempo — e eu acredito. Não sabes ler.
Tens as mãos grossas e deformadas, os pés encortiçados.
Carregaste à cabeça toneladas de restolho e lenha, albufeiras de
água.
The thesis proposal examines the presence of an informal category, called business
informality, which is named by other authors as identified in the bibliographic survey
process, without becoming the object of categorization or characterization, resulting
from a process of approach that does not focus on the individual, such as the "self-
employed". In this work, for the operation of business informality in the economy, its
application is considered in the logic of the market linked to non-capitalist enterprises,
with their own market wheels and semi-autonomous, in interaction with capital. It is
observed that this movement of valorization takes place in the environment of goods
circulation (MARX, 2014) and capture of surpluses, through the connection between the
lower circuit (SANTOS, 2003), where these informal enterprises are located, and the
upper circuit structured by the great capital. Analyzed this insertion and valorization
process, this thesis systematizes the main characteristics of informal business
establishments. For this, a methodological arrangement was made, with bibliographical
research, documentary research and survey research, in whose statistical sample was
defined from the finite population sampling (LUCHESA, 2011) and for which a form
was developed, that also allowed qualitative analyzes. The research contributed to
gather what give meaning to business informality, according to a distinct bias, which
sought to capture and interpret the activity by the dynamics of the fixed physical
establishment. Thus, the present paper presents a new contribution by presents the
business informality in its economic and social characteristics, as a category of
productive analysis, bringing more elements to the debate of the Labor Economy. Some
trends, such as banking practice, the use of digital media, low participation of
microcredit policy as an element of start and the permanent nature of the phenomenon,
among other aspects, are pointed out from the analysis.
Figura 8 - Estrutura das relações de trabalho nos estabelecimentos informais ............. 155
__________________________________
Quadro 12 - Operações e Valores dos Empréstimos liberados pelo Credcidadão. ....... 111
Quadro 16 - Empresas do setor informal por conta própria – 1997 e 2003 .................. 143
Quadro 25– Total de filhos e média de filho por proprietário informal – Out/Nov 2018.
....................................................................................................................................... 165
Quadro 27 – Posição no domicílio do(a) chefe(a) por gênero – Out/Nov 2018. .......... 166
Quadro 28– Condição de propriedade dos domicílios – Out/Nov 2018. ...................... 167
Quadro 32 - Proprietários informais com outra renda – Out/Nov 2018. ...................... 168
Quadro 33 - Tipo de outra forma de renda dos proprietários informais – Out/Nov 2018.
....................................................................................................................................... 169
Quadro 37 - Renda (1) líquida média dos proprietários dos estabelecimentos informais –
Out/Nov 2018 ................................................................................................................ 171
Quadro 38 - Renda (1) líquida média dos proprietários dos estabelecimentos informais
por gênero – Out/Nov 2018........................................................................................... 171
Quadro 45– Origem do capital para iniciar o empreendimento informal (1) – Out/Nov
2018. .............................................................................................................................. 177
Quadro 46 – Investimento total (1) e por atividade dos empreendimentos informais (2) –
Out/Nov 2018. ............................................................................................................... 178
Quadro 48 –Motivo para estruturar o empreendimento informal (1) – Out/Nov 2018. 180
Quadro 56 – Estabelecimentos informais com e sem funcionários – Out/Nov 2018 ... 186
Quadro 68– Área de atuação (1) dos Estabelecimentos Informais (2) – Out/Nov 2018
....................................................................................................................................... 195
Quadro 69 – Área de atuação (1) dos Estabelecimentos Informais (2) – Out/Nov 2018
....................................................................................................................................... 195
Quadro 73 – Origem das mercadorias e serviços por tipo de fornecedores (1) – Out/Nov
2018. .............................................................................................................................. 198
Quadro 81– Faturamento dos estabelecimentos informais em 2017 – Out/Nov 2018. 203
Quadro 86 – Lucro médio (1) dos estabelecimentos informais por segmento no mês de
outubro de 2018............................................................................................................. 206
Quadro 90 – Como fixa o preço das mercadorias e serviços ofertados (1) – Out/Nov
2018. .............................................................................................................................. 210
Quadro 92 – Quais as expectativas para sua atividade informais (1) – Out/Nov 2018. 212
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 2 - Brasil - número de empregos formais (em mil pessoas), 1985 – 2015 ........ 81
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 26
1.1 Minha visada sobre a informalidade .................................................................... 26
1 INTRODUÇÃO
1
Na presente sessão e na abertura do primeiro tópico da sessão 2, o texto é escrito na primeira pessoa do
singular, em razão da natureza das informações e do tom que optei atribuir à narrativa.
27
formal. Diante dessa empiria, ocorreram-me duas abstrações: 1) com base no cadastro
do consumo de energia elétrica dos pontos comerciais não legalizados como tais,
desenvolver um indicador, que seria capaz de apontar um tipo específico de
informalidade, vinculada a estabelecimentos fixos. Tendo ainda a possibilidade de
capturá-la no fluxo, não apenas em períodos estanques, como nas pesquisas acima
citadas, realizadas pelo IBGE; 2) aprofundar os estudos sobre informalidade, a fim de
compreendê-la nessa vinculação com um ponto fixo, o estabelecimento.
Movido por essas ideias iniciais, cheguei a desenvolver a fórmula do indicador,
que, por razões de escolhas de ordem operacional, teve de ser suprimido do presente
trabalho. Por outro lado, em paralelo às análises dos dados disponibilizados pelo
Instituto, iniciei um estudo mais aprofundado sobre a informalidade, a fim de realizar
uma pesquisa da pesquisa2, o que evidenciou para mim, que a informalidade é um
fenômeno complexo e heterogêneo, em torno do qual resiste ainda um olhar
marginalizador, motivado, pressuponho, pela associação das atividades informais com
aspectos relacionados à ilegalidade. Apesar disso, há uma volumosa produção em áreas
como Economia, Sociologia e Antropologia, sobre o tema (SANTOS, 2003; PEREIRA;
ROCHELLAS, 2004; SANTIAGO; VASCONCELOS, 2017; CACCIAMALI, 1982;
CARDOSO, 2014; DUARTE, 2017; FILGUEIRAS; DRUCK; AMARAL, 2017;
KREIN; PRONI, 2010; MALAGUTI, 2000; ALTAVATER; MAHNPOPF, 2008;
ANTUNES, 2013; MEIRELLES; ATHAYDE, 2014).
Apesar do volume expressivo e crescente, no bojo dessa produção há lacunas.
Dentre elas destaco a escassez de trabalhos voltados a um tipo de informalidade que não
está visível nas ruas, nas figuras dos trabalhadores informais que vendem produtos ou
oferecem serviços, ou seja, um tipo de informalidade invisível como tal, como se
estivesse camuflada por condições distintas àquelas que identificam seus atores mais
evidenciados. Tal contexto justifica a realização de pesquisa que aperfeiçoe e/ou
construa instrumentos e visadas analíticas e de acompanhamento, que ajudem a captar
atualizações do fenômeno, para avançar o debate sobre o tema.
Em meio à diversidade e à complexidade que formam o conjunto de agentes da
informalidade, é possível vislumbrar a ascensão dos estabelecimentos informais. Em
2
Jiani Bonin (2006, p. 31) designa como pesquisa da pesquisa, “o revisitar, interessado e reflexivo, das
pesquisas já realizadas sobre o tema/problema a ser investigado ou próximo a ele”. Trata-se de um
movimento semelhante ao que muitos autores identificam como pesquisa bibliográfica, no entanto, com
uma pequena distinção, porque está mais distante da pretensão de alcançar e expressar o estado da arte
sobre determinado tema em toda sua amplitude, e mais intencionado em deter-se em estudos cujo objeto
e/ou problema aproximem-se daquele que se pretende investigar.
28
2003, a pesquisa IBGE & Sebrae apontava que o Brasil tinha mais de nove milhões
deles (9.186.103), número capaz de expressar a importância de tais empreendimentos na
dinâmica do fenômeno e na realidade socioeconômica do país. Ainda assim, na
produção acadêmica e nos levantamentos realizados sobre informalidade, o
estabelecimento, mesmo sendo reconhecido em sua existência, não é tomado como um
aspecto relevante nas análises, porque costuma-se categorizar ou classificar o
indivíduo, deixando-se de lado o capital investido, o espaço, a rede de fornecedores, seu
mercado, o bairro etc., que fazem parte de um conjunto, o qual, de acordo com minha
percepção, não deve ser dissociado do objeto, pois há relações sociais e produtivas
ocorrendo nesse todo, engatilhadas pelo funcionamento do estabelecimento.
Assim, ao se abandonar esse movimento interno, que também é responsável pelo
estímulo à informalidade, perde-se variáveis importantes, as quais importam para
ampliar a compreensão das várias camadas que a constituem. Conforme observo, a
palavra “estabelecimento” agrega um contexto maior, gera elos e efeitos em todos os
níveis, além da circulação de bens e recursos: emprego/ocupação, serviços diretos e
indiretos, rede de fornecedores, distribuição de renda, os quais, quando se apresentam
referidos como trabalhador autônomo ou "conta própria”, induzem a uma espécie de
invisibilidade, que contribui para limitar a compreensão da informalidade para além de
suas representações mais comuns.
Por essa razão, e também por outros motivos decorrentes de concepções mais
teóricas e análises discutidas ao longo do trabalho, a visada pela qual construo o objeto
de conhecimento3 desta tese, pressupõe que o estabelecimento informal participa como
elemento central na configuração de uma nova forma de informalidade, bem como de
um tipo próprio de agente social no seu interior, que não é o trabalhador autônomo ou
"conta própria", embora costume ser identificado dessa forma. Assumindo esse
pressuposto, sigo com a hipótese de que no âmago de tal configuração há
especificidades que distinguem esse informal dos demais atores, o que requer categorias
de análise, instrumentos e técnicas de pesquisa, que favoreçam a captura do
delineamento econômico e social da informalidade dinamizada pela existência do
estabelecimento.
3
Embora o texto procure deixar isso claro, explico que o emprego o termo "objeto de conhecimento", faz
a distinção em relação ao objeto empírico, ou seja, explicitando o movimento de construção do objeto a
partir da realidade no qual se encontra, porém, problematizando-o. Para denominar o objeto de uma
produção científica, frequentemente utiliza-se também as designações "objeto de estudo" ou "objeto de
pesquisa", mas daqui em diante, para significar esse construto da tese, utilizarei apenas a palavra "objeto".
29
Assim sendo, o objeto desta pesquisa é a informalidade, segundo uma visada que
considera a existência de um estabelecimento e de todas as implicações e elementos
dele decorrentes. O problema desta investigação questiona: como o estabelecimento
participa da configuração do empreendimento informal e, consequentemente, aciona
uma lógica de concepção de um tipo específico de informalidade, bem como de um
agente a ela vinculado?
O objetivo geral do presente trabalho é propor parâmetros para caracterizar a
informalidade decorrente do funcionamento de estabelecimentos informais, e distinguir
o agente que emerge dessa organização.
Para alcançar o objetivo mencionado acima, foram definidos os seguintes
objetivos específicos:
• Desenvolver instrumentos e técnicas de pesquisa voltados aos
estabelecimentos informais e suas dinâmicas de funcionamento;
• Realizar levantamento de dados sobre estabelecimentos informais, por
meio de pesquisa de campo específica para este trabalho;
• Sistematizar informações sobre estabelecimentos informais a partir da
amostragem pesquisada;
• Analisar, a partir da sistematização e cruzamento de dados, à luz dos do
referenciais teóricos adotados, como a informalidade se desenvolve, na
amostra.
(...) saber sobre seu tema de estudo exige que você saiba sobre os resultados
de pesquisa anterior, sobre o assunto, não apenas o ambiente de campo e os
participantes previstos.
Ter conhecimento suficiente exige que você vá em busca desses outros
estudos e aprenda sobre eles, incluindo suas metodologias. Seu objetivo é
evitar repetição ou reinvenção inadvertida. Você pode até ficar sabendo sobre
algum procedimento de pesquisa que vale a pena imitar em seu próprio
estudo. Da mesma forma, revelações de estudos anteriores também ajudarão
a reduzir a possibilidade de você interpretar erroneamente seus próprios
dados.
30
4
Evidentemente compreendo que problemas de ordem operacional, não devem interferir no problema da
pesquisa, mas a realidade, com suas restrições de ordem financeira, principalmente, muitas vezes se
impõe até mesmo a grandes pesquisas, realizadas por órgãos que gozam de credibilidade e tradição, como
foi o caso, este ano, do corte estimado em 25% para a realização do Censo 2020. O levantamento,
realizado no Brasil desde 1872, apresentou em suas últimas edições, 150 perguntas. Esse número já se
encontra reduzido no formulário que está em preparação para a pesquisa do ano que vem. De acordo com
32
o ministro da fazenda do Brasil, Paulo Guedes, o censo precisa ser "simplificado" para se tornar menos
oneroso aos cofres públicos. Assim sendo, o tradicional e respeitado levantamento será realizado dentro
dessas condições. Ou seja, se esse é um fator presente numa realidade institucional, tanto mais se
manifesta quando da realização de pesquisas individuais, levadas a cabo com recursos pessoais. Contudo,
acredito ser mais digno adequar os procedimentos metodológicos às condições existentes, do que me
render às limitações. Desse modo, as pesquisas podem ir complementando-se umas às outras, uma
seguindo do ponto onde outra não pode chegar. Com o cenário que se desenha, somente assim poderemos
seguir nesse militância em prol da produção do conhecimento. Para mais informações sobre o Censo
2020, conferir: IDOETA, Paula Ramos. Para que serve o Censo, que corre risco de encolher por corte de
verba. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-48007855. Acesso: 30 abr., 2019.
33
5
Aqui o uso do termo "entrevista" se refere à entrevista estruturada, como fazendo parte de uma pesquisa
de levantamento, que exige a extração de uma amostra representativa de entrevistados. Cf.: YIN, Robert.
Pesquisa qualitativa do início ao fim. Porto Alegre: Penso, 2016.
34
Atividade Selecionada
Revenda de Confecção Selecionada
Mercearia Selecionada
Gêneros Alimentícios Selecionada
Revendedora Cosméticos/Esmalte/Perfumes Não selecionada
Produção e Costura de Confecções Selecionada
Lanchonete Selecionada
Armarinho Selecionada
Material de Construção Selecionada
Produção de bombons regionais Selecionada
Produção de Sorvetes Selecionada
Mototaxista Não selecionada
Batedor de Açaí Selecionada
Oficina mecânica Selecionada
Descartáveis Selecionada
Açougue Selecionada
Manutenção de Computadores Selecionada
Depósito de Água Mineral/Bebidas/ Selecionada
Feirante peixe Não selecionada
Feirante Hortifrúti Não selecionada
Oficina de bicicletas Selecionada
Salão de beleza Selecionada
Serviço reprográfico Selecionada
Lan House Selecionada
Artesanto Selecionada
Camelo – diversos (bombons, doces, alimento, vestuário) Não selecionada
Ambulante – diversos (bombons, doces, lanches, tapioca) Não selecionada
Produção de hortaliça Não selecionada
Assistência de celular Selecionada
Egressos Não selecionada
Transporte – Frete Não selecionada
Fabricante de embutido Selecionada
Feirante – frutas Não selecionada
Feirante – venda de farinha Não selecionada
Restaurante Selecionada
Fonte: Credcidadão.
A seleção prévia da atividade para compor o cadastro não significa que a mesma
integrou a relação dos estabelecimentos disponibilizados pela direção do Credcidadão,
pois essa decisão coube à instituição, que disponibilizou as informações gratuitamente,
o que permitiu reduzir os custos e concentrar os recursos financeiros na execução da
pesquisa de campo da tese.
36
Por fim, e não menos importante, observei tanto no âmbito do Fundo Ver o Sol
quanto no Credcidadão, que é político-partidária a gestão do conjunto de beneficiários,
pois a entrada, sob o manto de uma política pública é, em grande parte, vinculada à
indicação de vereadores e deputados estaduais, embora haja uma parte independente,
que procura as instituições. Essa observação explica as restrições e dificuldades
impostas ao acesso do cadastro, bem como a demais informações, que contribuíram para
melhor dimensionar o universo.
N= Z2 x P x Q x N__________
e2 x (N – 1) + Z2 x P x Q
Ao mesmo tempo, os estudos podem ter duas ou mais instâncias das unidades
no nível mais amplo. Se escolhidas para serem instâncias constantes, observe
como os resultados de um estudo em dois locais podem gerar maior
confiança do que os de um estudo em um único local, por que os dados de
um local devem contrastar de maneiras previsíveis com os dados do outro
local (...)
Se escolhido para refletir a presença de eventos semelhantes em múltiplos
locais, mas com condições sociais e econômicas diversas, a confiança pode
ser maior do que se apenas um único local tivesse sido estudado; qualquer
uniformidade nos resultados de todos os locais, a despeito de suas condições
sociais e econômicas diferentes, poderia aumentar o apoio para as principais
afirmações do estudo (YIN, 2016, p.80)
6
Esclareço que as interpretações a esse respeito não foram realizadas com a profundidade de pesquisas
eminentemente qualitativas, portanto, não me apropriei das diversas referências que discutem a qualidade
de vida. As inferências realizadas basearam-se em discussões realizadas por Bourdieu, sobre a economia
das práticas, condições de classe e condicionamentos sociais, considerando algumas variáveis e sistemas
de variáveis abordadas pelo autor. Cf. : BOURDIEU, Pierre. A distinção: crítica social do julgamento.
Porto Alegre: Zouk, 2011.
39
1.2.4 O campo
A tese foi organizada em seis sessões, com suas respectivas subdivisões. Nesta
primeira sessão, Introdução, relato sobre como cheguei ao tema que me motivou a
realizar este trabalho. Discorro sobre o objeto da pesquisa, exponho o problema da
investigação, seus objetivos e contexto justificativo, além de detalhar os procedimentos
metodológicos arquitetados para desenvolver a investigação científica.
Na segunda sessão, intitulada Modos de (não) ver a informalidade, aprofundo
a contextualização do objeto, evocando aspectos da história econômica brasileira sobre
trabalhadores, cujas características se assemelham ao trabalhador informal, na
contemporaneidade. Evidencio a representatividade da informalidade no mundo do
trabalho e na sociedade, apresentando os diversos caminhos que percorre, os distintos
olhares (e não olhares) sobre a complexidade do fenômeno.
A terceira sessão, intitulada Crédito ao informal discute o papel das
microfinanças como política pública e instrumento de intercessão entre o Estado e os
estabelecimentos informais, sendo a concessão de crédito aos mesmos tomada como
referência à obtenção de informações necessárias para pesquisa realizada.
Capital, circularidade e informalidade é a quarta sessão, constituída pelo
arcabouço teórico da tese, onde as discussões são concentradas no processo de
circulação e rotatividade das mercadorias e serviços, os quais funcionam na lógica dos
circuitos, compreendida a partir da conceituação de Marx (2014) e Milton Santos
(2003). No último tópico deste capítulo também inicio um movimento de caracterização
da informalidade empresarial, tomando por base, a análise dos dados levantados na
pesquisa de campo e nas entrevistas.
A quinta sessão, Informalidade empresarial: dando forma a uma feição,
evoca a interpretação da informalidade pelo parâmetro do estabelecimento informal,
propondo bases a uma parametrização
Na sexta sessão, Organizações não capitalistas e a informalidade
empresarial, analiso os resultados da pesquisa de campo, sistematizando algumas
características dos estabelecimentos, bem como de seus agentes e de sua dinâmica no
interior da informalidade e na vida social em sentido mais amplo.
42
Trago na memória da minha infância, uma voz que entoava, sempre bem
Figura 1
- Ícone
cedinho, um bordão longo, que anunciava seu "marketing", como uma espécie de
de voz.
narração: "Ooolha o peeiiixe.... Ooolha o camarão.... O camarão já vai acabaaaarrrr!...”.
Imagem
utilizada
Com
para fiz o passar do tempo, a figura do peixeiro vendedor-andarilho foi rareando. Mas, no
ilustrativ
os fim da tarde, passou a irromper o Cury da Tapioca, seguindo o mesmo estilo de venda e
de anúncio: "Tapioooca!!! Olha a tapioca", pelos bairros de Batista Campos, Campina e
Jurunas. Atualmente ela chega pelas bandas da minha casa de noitinha, com a tapioca
seca e molhada, da qual tornei-me freguês.
A lembrança desses vendedores, tão comuns nas ruas de Belém na virada dos
anos de 1960 para 70, retornou quando iniciei os estudos sobre o tema da informalidade,
pois esses pregoieros8, naquele período, representavam um “informal” que certamente
estava distantes dos olhares e investigações acadêmicas. Assim, eles passaram um tanto
despercebidos por uma visão de apartheid na sociedade urbana.
Essa espécie de marginalidade ainda resiste no modo de ver o informal, como é
possível perceber em texto publicado no Jornal Valor Econômico, de 04 de agosto de
2017, no caderno Fim de Semana, pelo sociólogo José de Souza Martins no artigo
“Desemprego na economia dual”:
Cresce o número dos que estão ocupados, mas não cresce significativamente
o número dos que têm emprego estável. Desempregados estão reentrando na
economia por meio de ocupações precárias e provisórias. O cenário indica
que cresce a importância numérica do trabalhador descartável.
No limite, a desvalorização e a marginalização do trabalho estão relacionadas
com a tendência à sobre exploração do trabalhador e à busca do trabalho
puro, o trabalho sem trabalhador. (MARTINS, 2017, p.3).
7
Ícone de voz. Imagem utilizada para fins ilustrativos. Fonte: Google Imagens, habilitado para imagens
"etiquetadas para reutilização". Disponível em: http://www.jemome.com/p-poeple-talking-icon-125779/.
Acessado em: 20 abril de 2019.
8
Dada a forma como divulgavam suas mercadorias, esses trabalhadores receberam essa denominação.
45
JÚNIOR, 1985), por exemplo, prevalece uma visão que se tornou hegemônica ‒ focada
quase exclusivamente nos grandes ciclos exportadores ‒, deixando à margem questões
que não foram devidamente tratadas ‒ contribuindo com a existência de um vácuo ‒, as
quais mais recentemente passaram ser objeto de estudos, como as questões da economia
de subsistência, o papel das cidades sob ponto de vista social e produtivo, onde se
insere, a informalidade, entre outros. Sendo realizadas com mais vulto, tais pesquisas
denotam tratar-se, a informalidade, de atividade que representou e representa cada vez
mais, uma corrente importante na lógica social e produtiva da sociedade e da economia
brasileira.
Assim, neste tópico da presente sessão efetua-se um breve cotejo histórico da
informalidade, a partir de alguns autores que a distinguem em sua importância, e,
simultaneamente, contrapõem concepções predominantes em obras referenciais,
procurando instar um entendimento que considera a informalidade, desde sempre, como
um lugar de inclusão social e produtiva e, ao mesmo tempo, de resistência ante a lógica
econômica prevalecente.
9
O termo quitanda seria um derivativo de kitanda, que, na língua quimbundo, falada no noroeste de
Angola, significa tabuleiro, onde se expõem gêneros alimentícios nas feiras, e também designa as próprias
feiras e mercados livres, muito difundidos em toda África
50
Eles também ratificam que esse mercado era constituído por trabalhadoras
ambulantes, que exerciam seu ofício na rua ou nas praças, porém não de maneira ilegal
ou clandestina, tendo em vista o controle e a tributação (taxas municipais) do poder
público.
Assim, considera que não havia no Brasil colonial ‒ nem em parte do período
imperial‒, um mercado de trabalho, ao contrário, o que havia era um “não mercado de
trabalho” devido à escravidão.
marcadas pelo estigma da vadiagem, como restrita a uma lógica de subordinação social
– que reproduzia a pobreza – e com baixos níveis de remuneração ou um assalariamento
incompleto. Apesar desse quadro, identifica que ao final da economia imperial cerca de
30% da força de trabalho era de trabalhadores informais, fato esse que não se pode
interpretar como algo residual.
O fato de reconhecer a existência de uma outra forma de trabalho – uma via que
não o trabalho escravo – é algo significativo. A questão é atribuir-lhe uma dimensão
numérica, apontando uma estatística que permita inferir que, apesar do fluxo de renda
gerado pelas exportações primárias ficar concentrado na classe dominante, a quantidade
de trabalhadores livres, sendo uma parte vinculada ao trabalho informal, não deve ser
desprezada em sua participação na economia brasileira, principalmente diante da
formação do mercado de trabalho na virada da república, pois, mesmo à margem ‒ e
sendo uma parte do trabalhadores livres não atuante nesse ramo ‒ essa atividade
atravessa tal processo e consolida-se como um fato social ao permitir, em paralelo ao
assalariamento, a ocupação de parte da sociedade, o desdobra-se nos anos de 1970
naquilo que passa a ser definido como “informalidade”.
As transformações no mundo do trabalho entre o final do império e o início da
república com o fim da escravidão e a entrada do trabalho assalariado assentado em
grande parte nas imigrações – mesmo com as limitações advindas dos contratos de
trabalho dos imigrantes – contribui para preservar essa outra forma de trabalho,
justamente porque a opção pela mão de obra imigrante inibiu ainda mais a absorção dos
trabalhadores livres e dos escravos libertos. É bom lembrar que a elite brasileira tinha a
10
É necessário fazer uma ressalva ao texto do autor. A tabela citada, construída com base Censo de 1872,
portanto, não abrange o sistema colonial, e sim o período da economia imperial brasileira. De outro
modo, Barbosa (2003) baseia seu trabalho em Celso Furtado.
54
Essa visitação a uma perspectiva de caráter mais histórico não somente informa
sobre a estruturação do trabalho no Brasil, como sinaliza que parte dela se reproduziu
independentemente das transformações políticas, sociais e produtivas, as quais
55
Considerando-se que autor centra sua análise nos ciclos e com isso não
desenvolve pontos específicos sobre a formação das cidades no Brasil observa-se um
contrassenso, posto que, as outros estudos apontam a existência de um grau de ocupação
56
11
Contraditório porque não considera a possibilidade de uma economia nas cidades, embora o envio de
produtos gere a possibilidade de vendas e consequente consumo.
57
12
A estrutura das cidades é fruto desse processo em razão da lógica política e econômica que norteou a
construção da formação social brasileira em bases excludentes, o que explica, face ao movimento que
conduziu os escravos libertos para o ambiente urbano, a formação de favelas e baixadas no Brasil.
59
O uso corrente dos termos desemprego e subemprego data dos fins do século
XIX e é, assim, relativamente recente na terminologia econômica.
Na verdade, na maioria dos países subdesenvolvidos, desemprego (mesmo
com as novas qualificações de estrutural ou não-emprego [sic]) não é um
conceito útil para dar conta do que ocorre – e o mesmo se aplica ao Brasil.
Mesmo quando incapaz de obter trabalho assalariado regular no setor
moderno da economia, a maior parte da população em idade de trabalhar
encontra alguma forma de ganhar a vida nas diversas formas possíveis de
auto-emprego [sic], sobretudo no setor serviços. A variedade das atividades
abrangidas é enorme: o pequeno comércio ambulante ou das férias, diversos
tipos de intermediação miúda, toda a gama de serviços pessoais, legais ou
60
TRABALHADORES
Estivadores Ourives
Artista da construção civil Bordadeiras
Carpinteiros Doceira
Pintores Costureira
Barbeiros Quitandeiras
Ferreiros Vendedor ambulante
Relojeiro Ganhadeira
Fonte: Elaboração do autor, a partir de Mattoso (1978, p.283-285).
num país periférico, fato que explica o porquê do autor não ter obtido preponderância
mundial por seu estudo, que antecedeu ao da Organização Internacional do Trabalho
(OIT), conforme trataremos um pouco à frente.
Silva (1971) foi o responsável por alinhavar alguns pontos que ainda hoje são
debatidos em estudos sobre a informalidade. Assim, o autor tem o mérito de caracterizar
o mercado de trabalho em duas subdivisões ou subsistemas: mercado formal de
emprego (MF) e mercado não formalizado (MNF), com a ressalva para o
reconhecimento de ambos como “altamente institucionalizados”. No MNF, Luiz
Machado Silva engloba um conjunto de trabalhadores que compõem o que hoje é
denominado de informalidade. Em relação ao primeiro subsistema, o emprego e a renda
estavam sob a supervisão de práticas regulatórias.
informal. Com isso indica um caminho interessante para desenvolver análise sobre o
fenômeno e como este se apresenta em termos de identificação, a saber:
Por outro lado, em diversos momentos, Silva (1971) utiliza a palavra “informal”,
seja para contrapor o emprego de mercado formal ou para designar o trabalho informal.
Entretanto, sua concepção não assume a visão preferencial sobre o tema em estudo, nem
no caso específico do Brasil, nem em âmbito mundial, nem neste trabalho, nem em
pesquisas posteriores.
Partindo da mesma premissa de Silva (1971), Hart (1973) considera que a
questão da informalidade é urbana, concentrada na categoria de trabalhadores não
proletários (distanciando-se do autor brasileiro nesse ponto), e resultado de um processo
imigratório que engendra o aumento da força de trabalho14, que sem contrapartida de
empregos formais, passa a atuar em paralelo a economia formalizada, para sobreviver.
O antropólogo inglês Keith Hart (1973) que detém, a partir de um estudo
encomendado pela OIT, a primazia intelectual de defender e introduzir, no cenário
mundial, o termo informalidade e seus atores como objeto de estudo, avançou ao
estabelecer critérios para a informalidade, bem como acrescentou à discussão a
concepção de que se tratavam de unidades produtivas, portanto, com um escopo maior,
pois ele considerou uma ampla gama de atividades sob o guarda-chuva da lógica
informal.
Essa gama de atividades, com suas funcionalidades, estruturas, funções, lógica e
características próprias conferem um grau de representatividade produtiva e social que,
reunidas conformam, para o autor, uma unidade que desemboca num setor econômico,
neste caso, visível enquanto objeto de estudo, dado o volume de negócios na sua
14
Uma parte do desemprego e a informalidade, na visão deste autor, é consequência dos efeitos
conjunturais da economia.
63
15
A renda capturada pelos informais era de duas origens, para o autor inglês: legítima e ilegal.
64
SITUAÇÃO
DESCRIÇÃO ENQUADRAMENTO
OCUPACIONAL
Trabalhador São os que têm o seu próprio domicílio como local de Informalidade
autônomo ou por trabalho ou proprietários de seus meios de produção, tradicional até 1990.
conta própria sem, no entanto, estarem assegurados pela seguridade
social. Dois grupos se destacam: os que estão na
informalidade como estratégia de sobrevivência e os
que optaram, a partir de suas particularidades, pela
atividade autônoma sem efetuar a formalização.
Produtores para Ocupados que não têm uma atividade voltada para o Informalidade
autoconsumo mercado, com ênfase na produção agrícola familiar, tradicional até 1990.
mas incluindo a autoconstrução e o trabalho doméstico
não remunerado.
PJ – Pessoa jurídica, É a pessoa que tem uma empresa, mas presta serviços Nova Informalidade
quando corresponde de forma regular e exclusiva a outrem. A relação de pós 1990.
a uma relação de trabalho não é pautada pela legislação trabalhista, mas
constitui-se em um contrato comercial, em que os
emprego disfarçada
contratados estão excluídos de todo o sistema de
direitos e de proteção social vinculado ao
assalariamento.
A regulação social e histórica do trabalho não se aplica
a esse tipo de contrato. Na prática, isso pode significar
a legalização do que passou a ser chamado de “fraude
da pejotização”, pois, nessa modalidade de contratação,
os direitos trabalhistas (tais como férias, 13º salário,
FGTS, aviso prévio, horas-extras) e
previdenciários (estabilidade do acidentado, auxilio
66
Falsos voluntários O problema é que nem sempre é nítido o caráter não Nova Informalidade
do terceiro setor lucrativo e a forma como se dá a relação de trabalho, pós 1990.
pois se admite que ela tenha algumas características
típicas de um emprego, tais como a pessoalidade, a
continuidade e, inclusive, a subordinação jurídica às
determinações da entidade pública ou privada,
condição esta que deve ser estabelecida no termo de
adesão.
Trabalho estágio O trabalho estágio (não o estágio como complemento Nova Informalidade
da formação acadêmica) se caracteriza pela pós 1990.
substituição de um profissional. Ou seja, ele exerce
uma atividade profissional como qualquer outro
empregado. Assim, constitui uma relação de emprego
disfarçada, pois não é considerado um emprego, nem
tem a ele vinculado
67
Contratado por prazo As pessoas contratadas por prazo determinado têm Nova Informalidade
ou tempo dificuldade de acesso às políticas de proteção social, pós 1990.
determinado especialmente o seguro desemprego e a seguridade
social (tempo de contribuição).
Este processo decorre do ritmo de expansão dos ramos que estão sendo
explorados por firmas e daqueles que estão condenados ou regados pelo
padrão de crescimento econômico, do perfil de distribuição de renda e da
impressão de níveis mínimos de produtividade social que dispõe o quadro de
70
16
O presente autor também refaz o caminho teórico construído por outros autores, cujos trabalhos, direta
ou indiretamente, permitiram calçar o caminho que avança na construção que leva à informalidade.
71
17
Barbosa (2009) utiliza o termo “economia informal”, o mesmo empregado pela OIT, mas com algumas
distinções, como por exemplo não vincular ao termo o caráter legalista presente na perspectiva da OIT, o
qual o autor rejeita.
72
Em que pese o salto ocorrido a partir do aceite teórico, inclusive no que diz
respeito à profusão de interpretações, embora o tema esteja na mesa dos intelectuais e
dos gestores estatais, devido à crescente mudança no padrão de emprego e à constância
da informalidade como elemento de um circuito econômico e social, afirmamos que
certo grau de invisibilidade persiste, pois, a existência da informalidade enquanto
fenômeno, não tem uma contrapartida de estatísticas confiáveis e disponíveis, o que leva
a uma dificuldade de enxergá-la como um componente socioeconômico. Para Altvater e
Mahnpopf (2008, p. 16), "sin embargo, independentemente del modo em que se la
amida o se la estime, su importancia va em aumento y se está acentuando desde
comienzos de los ano noventa".
Tal fato se agrava quando se considera a questão da marginalidade sob o ponto
de vista da sociedade e de parte das correntes interpretativas, conforme apontam
Quijano (1974), Nun (2017), Oliveira (1987, 2012), Kowarick (1994), entre outros.
Desse debate, são abstraídos elementos capazes de contribuir com o
entendimento sobre a informalidade no seu campo, como a existência de limites para a
integração na sociedade, dado um estruturalismo histórico, determinador de disfunções
e desigualdade social, num ambiente tenso e conflituoso. Apesar disso, o processo de
modernização de parte da economia não destrói – porque não é de seu interesse devido
o baixo retorno do capital – formas arcaicas ou atrasadas, que absorvem a população
excluída, portanto, marginal ao processo-macro, porém, estabelece elos de comunicação
via circulação de produtos e apreensão de renda num único ambiente.
Seja pela visão do Estado, seja pela concepção de pesquisadores, tais
perspectivas enquadram a informalidade como um problema de ordem social ou uma
anomalia econômica (inadequação do mercado de trabalho, baixa produtividade, etc.) e
não, necessariamente, decorrente do sistema que a produz, pois, a mesma reflete tanto o
grau de desigualdade, de escassez de oportunidades e de falta de acesso, como a
gestação do desemprego estrutural ou justificada. Além disso, favorece o sistema
através da superpopulação relativa e, no interior dessa, do exército industrial de reserva.
A questão da marginalidade está no âmago dos sentidos disseminados sobre a
informalidade e no olhar que permeia o cotidiano do homem comum. Nesse caso, ela é
colocada em contraposição ao formal, qualificado como o lado correto, onde vigora a
obediência às regras legais e institucionais da economia e da sociedade, isto é, o que não
se enquadra no ambiente regulatório, constituído por relações à margem da sociedade,
cujas atividades são segregadas do rito legal da economia.
73
18
Na América do Sul, estudamos os casos da Argentina e do Peru, a partir de Panettieri (1990), que avalia
a questão do subemprego na Argentina no final do século XIX e nas três primeiras décadas do século XX,
74
agentes e das interfaces externas, que a seu modo, também atuam neste processo. A
despeito da distância espacial ou da forma como se organiza em distintos espaços, os
atores que protagonizam a informalidade em diferentes territórios pelo mundo,
apresentam um elo pois, o informal é seu mecanismo de inserção de trabalho.
O capitalismo tem, enquanto sistema, a capacidade de transitar entre o avançado
– enquanto força de produção – e o “atrasado”, fato que explica existência da
informalidade ou de outras formas de produção (MARX, 2014; SOUZA, 1980).
Nos últimos setenta anos observa-se, em dois momentos principais, mudanças
estruturais, que marcam o capitalismo e o trabalho. Esses marcos alteram o curso das
relações trabalhistas, representam rupturas e geram consequências ao mundo do
trabalho.
O primeiro momento corresponde ao fim da segunda guerra mundial e às
decisões da Conferência de Bretton Woods, que vão além das regras do comércio
internacional, do padrão ouro, do câmbio fixo, da emergência das agências multilaterais,
da busca do equilíbrio macroeconômico global, de modo que tais ações combinadas
favorecessem as condições basilares à pax mundial e ao pleno emprego, elementos
essenciais para impedir uma nova crise estrutural e depressão posterior à guerra.
A recuperação dos países no pós-guerra, a retomada dos investimentos em escala
mundial, o deslocamento das empresas transnacionais para os países subdesenvolvidos,
a massificação e padronização do consumo, a urbanização e metropolização das cidades
e, principalmente, a adoção da Welfare State, ou política do estado de bem estar,
estimulando o reconhecimento dos direitos sociais e trabalhistas, delineiam um contexto
favorável à expansão do emprego, inclusive no Brasil, fato que acabou arrefecendo o
debate sobre o trabalho, a desigualdade e a pobreza, que não desapareceram, mas
ficaram "dormentes" em escala de importância, frente aos números positivos daquele
período.
Porém, o crescimento econômico ocorrido após a segunda guerra mundial
enfraquece na década de 60, fato que provoca, a partir dos anos de 1970, uma crise
estrutural, bem como desencadeia, a segunda etapa de introdução de novos elementos,
que impactam diretamente na sociedade, especialmente, nos trabalhadores. Trata-se de
um movimento de reestruturação do capitalismo como medida de ajustamento à crise,
e de Soto (1987), que faz um retrospecto histórico da informalidade no Peru, além de identificar a origem
dela como resposta ao excesso de regulação estatal e a sua importância no contexto do liberalismo.
75
19
A informalidade apresenta-se numa dada quantidade face à dinâmica econômica, podendo avolumar-se
ou reduzir-se – mas, nunca desaparecer – em razão do comportamento conjuntural. No Brasil, por
exemplo, entre 2003 e 2014 ela teve queda, porém, com a crise pós 2014, já cresceu novamente.
(Cálculos do autor, a partir de dados do IBGE e Ipea).
79
o intuito de amenizar seus efeitos, não fica livre deles, registrando em 2009, por
exemplo, um recuo de 0,10% na taxa do Produto Interno Bruto (PIB) em relação a
2008.
Em 2010/2011 a economia brasileira reage à crise, ainda com base em estímulos
governamentais e isenções tributárias, porém, a queda dos investimentos e as
dificuldades fiscais do poder executivo federal se manifestam, juntamente com a
inflexão no boom dos commodities, afetando a gestão da economia e a capacidade de
fazer frente a crise mundial, o que provocando consequências em todas atividades
produtivas e sociais no Brasil.
Desse modo, as dificuldades pelas quais vem passando o Brasil desde 2014,
aceleraram as transformações regulatórias das relações de trabalho e provocaram, o
incremento da informalidade no país. Não se pode negar os efeitos das recentes
alterações da legislação trabalhista, com sua reforma em 2017, nem o movimento do
capital para promover mudanças com intuito de adequar o país às regras dos países
desenvolvidos, como a lei da terceirização. Nesse sentido, por exemplo, a Lei do
Microempreendedor Individual torna o prestador de serviço, uma forma de
terceirização, convertida em pessoa jurídica. Ou seja, a relação entre a empresa e o
trabalhador passa a ser regida por contrato e sob cobertura do direito civil, não mais do
direito trabalhista.
Com alterações nas legislações é nítido que o capitalismo busca um caminho
pela via da retirada dos direitos do (a) trabalhador (a) e, com isso, os fragiliza e
precariza, encurralando-os num contexto que minimiza reações para reversão desse
quadro.
Em razão do atual cenário, que reflete o caráter estrutural tanto no campo
econômico, como no social ‒ este bem mais grave ‒, a informalidade apresenta-se não
somente como uma saída e talvez como futuro dentro do capitalismo, enquanto
expediente para a geração de renda20, que não é abarcada oficialmente pelo sistema
produtivo regular. Portanto, mesma retoma sua relevância ensejando a necessidade de
acompanhamento é de análise sobre a questão, face seu impacto socioeconômico na
realidade brasileira e mundial.
20
Os esforços legais do Simples ou do Microempreendor Individual podem ser entendidos como o
caminho institucional a ser adotado como a melhor compreensão e solução parcial para a informalidade
enquanto um elemento de renda e de ocupação com dignidade, conforme a visão da OIT.
80
21
A taxa de informalidade do IPEA é construída a partir da PNAD antiga, considerando o resultado da
razão entre: empregados sem carteira + trabalhadores por conta própria + não-remunerados/ trabalhadores
protegidos + empregados sem carteira + trabalhadores por conta própria + não remunerados +
empregadores.
81
Ano 1992 1993 1995 1996 1997 1998 1999 2001 2002 2003
Taxa 59,0 59,7 59,7 59,5 59,4 59,8 60,7 58,3 58,4 57,6
Ano 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2011 2012 2013 2014
Taxa 56,6 59,5 54,3 53,4 50,9 50,4 47,1 46,3 45,4 46,5
Fonte: Acervo/elaboração do autor, a partir de dados do IBGE (PNAD) e do IPEA.
Gráfico 2 - Brasil - número de empregos formais (em mil pessoas), 1985 – 2015
Fonte: Elaboração do autor, a partir da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) (Dec. n.76, 900/75
MTB).
MEI
ANO FORMALIZADAS TAXA DE VAR. ANUAL VAR. ABSOLUTA
2010 733.186 - -
2011 1.606.825 119,15 873.639
2012 2.630.608 63,71 1.023.783
2013 3.613.766 37,37 983.158
2014 4.653.080 28,75 1.039.314
2015 5.680.614 22,08 1.027.534
2016 6.649.896 17,06 969.282
Fonte: Elaboração do autor (tabulação e cálculo), a partir de dados do Portal do Empreendedor.
83
22
A ciência é um dos instrumentos para a realização do lucro, aliado a outros elementos.
23
A outros fatores que também explicam, como a melhoria na qualidade de vida, por exemplo.
85
Com isso, novos atores são agregados e novos espaços de realização como o
empreendedorismo (estímulo à ocupação), o trabalho voluntário, os trabalhadores com
contratos temporários e os infoinformais, que ofertam seu serviço e/ou produto
(artesanato, por exemplo) através de plataformas digitais em rede. Tratam-se de alguns
personagens protagonistas da precarização como elemento central nas suas relações de
trabalho, o que os desenha como novas categorias no ambiente da informalidade.
As transformações em curso impõem a emergência de novos atores no interior
da informalidade, ampliando sua dimensão, sua complexidade e sua heterogeneidade, o
que ratifica seu caráter dinâmico e reflexivo no atual estágio do capitalismo.
A compreensão e interpretação da informalidade como fato social 24 e econômico
é proeminente, pois é um fenômeno de alcance mundial, que só faz expandir-se ao
longo de tempo, devido ao fato de ser um caminho ou alternativa de ocupação e trabalho
para um segmento cada vez maior da sociedade.
No entanto, o ponto central dessa questão reside na questão de que apesar da
representatividade social e econômica, os atores da informalidade são, de certo modo,
invisíveis para a própria sociedade – onde se inclui uma parcela do poder público, das
atividades formais e organizações civis. A parte mais visível da informalidade, o
ambulante ou camelô é considerado um problema para a cidade, porque sua presença é
frequentemente associada à descaracterização e ao comprometimento da mobilidade em
24
Ao longo dos últimos vinte anos no Brasil observou-se o crescimento e a diversificação do debate sobre
a informalidade, bem como a inserção do Estado nesses debates, sobretudo através de estudos e políticas
públicas voltadas para a questão.
87
espaços organizados da urbes. Além disso, como afirmamos acima, trata-se de uma
atividade vista como marginal, por não ser formal ou pela origem ou o tipo de produto
comercializado.
Nas circunstâncias referenciadas acima, o que prevalece para grande parcela da
sociedade não é a percepção mais ampla dos atores abarcados na atividade informal,
onde se inclui, contraditoriamente, segmentos dessa própria sociedade. Em sintonia com
esse apartheid, a informalidade assume sua invisibilidade, mesmo tendo um lastro
maior, seja pelas quantidades de ocupados no interior da mesma, pela renda circulante,
pelo mercado e os produtos que circulam ou pelo consumo, permitindo, neste caso, o
acesso de uma camada da sociedade fora do padrão consumista em vigor no âmbito da
formalidade.
Em parte, essa invisibilidade decorre da forma e da estrutura de funcionamento
que se contrapõem à lógica formal e à regulação das atividades, que se caracterizam
pela ausência de controle e de informações. Isso se espelha, por exemplo, na dificuldade
de mensuração da informalidade, de sua representatividade econômica e social e dos
seus mecanismos de funcionamento e fluxo.
Apesar dos esforços empregados ao longo dos últimos tempos por organismos
de pesquisas, pelo poder público e por pesquisadores, a invisibilidade da informalidade
ainda resiste. O empenho para mensuração faz parte não só de sua compreensão, como
da busca de seu espaço na economia e na sua representação política.
Esse fato implica na necessidade de construir informações e organizá-las com
objetivo de dispor de estatísticas com vista a dar vazão à informalidade em todas suas
dimensões25 e com isso, preencher lacunas capazes de ajudar a visibilizar esse
fenômeno.
A invisibilidade obriga a pesquisa sobre a informalidade a buscar caminhos tão
alternativos quanto ela mesma, para suprir lacunas de informações. São percursos
construídos através de métodos econométricos, a partir de informações primárias que
não são direcionadas para o estudo específico da informalidade ou, quando é o caso, de
inquéritos especiais que são pontuais e de custo elevado.
Assim, parte da invisibilidade advém da falta de capacidade para se obter
informações e estatísticas de maneira contínua, aliada ao entendimento sobre a
25
Imbuídos desse propósito, pesquisadores da Fundação Getúlio Vargas organizaram e lançaram um
livro, abordando a questão do trabalho informal, bem como o que denomina de informalidade
empresarial. Sobre isso, conferir: BARBOSA, Filho; ULYSSEA, Veloso. Causas e consequências da
Informalidade no Brasil. Rio de Janeiro: FGV, 2017.
88
26
Há um debate interessante sobre os diversos conceitos de informalidade e mesmo se ela comporta ou
não uma teoria que dê substância a sua interpretação. Assim Peres (2015); Cardoso (2014); Silva (2002);
Filgueiras, Druck e Amaral (2004) entre outros, desenvolvem trabalhos refletindo sobre esta questão.
27
Lembramos que usamos o termo informalidade com o objetivo de melhor trato na questão
metodológica e pedagógica. Nessa mesma linha, aqui incluiremos a palavra formal, como elemento de
didática, não como contraponto ou porque acreditemos que represente um setor da economia.
89
mesma acusar características próprias, que são inerentes aos seus atores – como é a
questão da flexibilidade, o tipo de relação de trabalho –, é necessário atentar para o fato
de que toda e qualquer atividade apresenta regras gerais de funcionamento, como é o
caso da própria economia formal, que tem, por exemplo, o contrato de trabalho entre a
empresa e o trabalhador ou o contrato de compra e venda entre empreendimentos
Assim, não é estar dentro ou fora que distingue uma atividade em acordo com as
regras ou, no caso em questão, estar regulada ou não para um padrão de existência de
atividades. Ao se determinar que o informal é o contrário do formal, afirma-se o
caminho da marginalidade e da invisibilidade, talvez natural dada a dificuldade da
economia de mercado em compreender o fenômeno e classificá-lo, configurado como
uma anomalia pelos economistas de mercado.
A troca de bens e serviços entre as duas correntes – o formal e o informal –, bem
como a renda gestada e capturada por ambos os conjuntos de atividades, aliada à
valorização e acumulação do capital proporcionado pela simbiose entre as atividades,
bem como fluxo de trabalhadores – que reduz a pressão social – determinam a
aproximação, não o distanciamento, fato que exige uma compreensão holística e não
estanque e/ou separado. Certamente, em função das características que envolvem cada
um, é necessário trabalhar cada caso. Dada a dimensão, mesmo em tempos de
conectividade, as dificuldades de acesso à informações e recursos metodológicas
exigem a construção de aparatos que permitam não somente sua análise quanto o
acompanhamento e quantificação.
28
A renda dos trabalhadores domésticos é que reduz o valor da média no âmbito dos informais.
90
por conta própria a renda média destes equivale a 73,41% da renda média total dos
ocupados.
Quadro 10 - Renda média das categorias de trabalhadores informais e proporção do salário mínimo (1)
jan.-mar./2017.
29
De acordo com a pesquisa Economia Informal Urbana (IBGE, 2003), a receita média mensal neste ano
das unidades informais era de R$ 1.754,00.
91
Foto: Adelaide Silveira (Agosto, 2017). No lado direito da foto uma possível compradora.
93
abastecendo ambos com suas necessidades. Esse movimento entre os atores, no caso,
entre o capital e o informal permite, na comercialização do primeiro para o segundo a
gestação do valor do dinheiro, contribuindo para o processo de valorização do capital.
Assim observa-se que há um fluxo produto – dinheiro oriundo da troca que é
alimentado e retroalimentado de acordo com o momento e os interesses de cada ente.
que mantém a relação entre formal–informal, que, ao ser reconstruída determina uma
nova forma de fluxo que alimenta suas atividades.
É importante destacar como se compõem e se estruturam os agentes que tomam
parte nessa dinâmica, e, no caso especifico, sobre a informalidade. Para tanto, baseamo-
nos em Souza (1980) que, a partir de uma visão marxista e estrutural identifica e
constrói no ambiente macro formas conceptuais dos atores que operam no âmbito
informal.
Souza (1980) desenvolve sua análise a partir dos estudos realizados pela
PREALC – já comentado anteriormente – considerando os empreendimentos e
trabalhadores como unidades produtoras e heterogêneas, classificando-os como
“organizações não capitalistas”, onde a forma de inserção das mesmas determina
diferentes níveis de renda apropriados pela atividade e relações informais no âmbito dos
negócios e do trabalho.
O autor então distingue dois grandes grupos no interior das “organizações não
capitalistas”, a saber:
a) unidades onde o assalariamento permanente não existe;
b) empreendimentos quase capitalistas, que se estruturam sobre o
trabalho familiar, porém com assalariamento permanente.
A partir da subdivisão de Souza (1980), destacamos30, em razão do objeto de
nossa investigação, no âmbito das organizações cujo assalariamento não é permanente,
as unidades que ele classifica como empresas familiares – incluso trabalhadores
autônomos, exceto os liberais, posto que desenvolvem suas atividades nos setores
comercial e industrial com certo grau de eficiência, tornando-se competitivos com
empreendimentos formais.
O outro empreendimento que focamos é o das “quase-empresas capitalistas”,
que apresentam algumas características muito próximas às empresas familiares, cuja
diferença primordial é a contratação do trabalhador de forma assalariada, o proprietário
exerce também a função de trabalhador e o lucro é substituído pelo rendimento do
proprietário.
A contribuição da informalidade e seus empreendimentos, na visão de Souza
(2004) dá-se tanto no campo da troca e circulação, quanto no foco do capital, que,
30
Não foram aprofundadas na presente tese, outras atividades elencadas pelo autor, mas consideramos
importante a pesquisa e o estudo, a saber: trabalhadores por conta própria subordinados; pequenos
vendedores de serviços e serviços domésticos.
96
abrindo mão desse espaço de comercialização, prefere operar e investir em áreas com
maior retorno e estratégicas.
31
Refere-se ao economista Francisco de Oliveira, autor da “Crítica da Razão Dualista”.
97
3 CRÉDITO AO INFORMAL
3.1 As limitações do capital no processo de circulação
Assim, o valor de uso jamais pode ser considerado como finalidade imediata
do capitalista.Tampouco pode sê-lo o lucro isolado, mas apenas o incessante
movimento do lucro (MARX, 2014, p.229).
3.2 Microfinanças
32
Nascido em Bangladesh (1940), Yunnus estudou Ciências Econômicas em Nova Délhi, depois ampliou
seus estudos nos Estados Unidos. Em 1972 voltou à Índia para dirigir o departamento de Economia da
Universidade de Chittagong. Foi nessa situação que percebeu o abismo existente entre as teorias que
ensinava e a realidade em que vivia. Com a criação do Grameen Bank, comprovou sua tese de que a
pobreza existe por que o pobre não tem condições de progredir. "É conseqüência da ordem social e
econômica do mundo, regida por estruturas feitas para garantir o lucro de poucos pela prática de regras
que transferem rendas dos mais pobres para os mais ricos" (SOARES; MELO SOBRINHO, 2008, pp.
18,19). Muhammad Yunus recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 2006.
33
A concepção é que sem um ativo a pessoa vive um círculo vicioso.
105
34
A visão do BID ao orientar as políticas públicas é a mesma Muhammad Yunus sobre a necessidade de
ativo.
35
O BID classifica pessoas em situação de vulnerabilidade social.
106
36
Paralisou suas atividades em 2005.
37
Experiência, anterior ao Portosol foi o Centro de Apoio aos Pequenos Empreendedores Ana Terra
(Ceape Ana Terra) que surgiu em 1987, focado nas mulheres com baixa renda. Essa experiência findou
em 2005.
38
Atualmente a Portosol se apresenta como Instituição Comunitária de Crédito, que nasceu a partir de
uma iniciativa conjunta do Governo do Estado do Rio Grande do Sul, Prefeitura Municipal de Porto
Alegre, FEDERASUL e AJE-POA, para conceder crédito com pouca burocracia, rapidez e taxas
acessíveis aos pequenos empresários, registrados ou não. Essa informação consta em:
http://www.portosol.com/site/
107
39
Após 17 anos da instituição do programa no planejamento do Estado.
40
Texto retirado de http://www.credcidadao.pa.gov.br/historico. Acesso em: 30 jan. 2019.
41
Apesar de inúmeras solicitações, a direção do NGPM não forneceu informações detalhadas, nem
relatórios de desempenho, limitando-se a disponibilizar os cadastros de informantes para pesquisa, as
atividades atendidas e total de atendimento em 2017.
111
bem como as taxas de juros, que são bem menores quando comparada ao praticado no
mercado bancário nacional. De outro modo, os valores de empréstimos são limitados e o
acesso é condicionado a alguns procedimentos por parte dos tomadores.
42
Uma das formas de transformação no interior da informalidade é o que Antunes (2013) denomina
infoinformal, para designar trabalhadores que desenvolvem suas atividades no ambiente das tecnologias
digitais de informação e comunicação conectadas em rede mundial de computadores, a internet.
116
43
Calculado com base na PNAD-Contínua do IBGE no trimestre encerrado em março de 2017.
117
que se refletem em termos de fluxo, o que significa uma interrelação entre produtos e
transferência de renda – Santos (2004) denomina de "poupança popular" – que alimenta
essa ação continuada, consolidada na informalidade num mercado coeso, onde as
atividades são desenvolvidas, ocasionando impactos relevantes no ambiente local e/ou
microespaço.
VARIÁVEIS CARACTERÍSTICA
Entrada Desemprego, opção ou decisão familiar
Capital reduzido e atomizado
Nível de capital
Capital de giro limitado às operações
Mão de obra familiar e/ou conhecido
Emprego
Relações de trabalho informais e na base da confiança
Elevado, seja por ausência de regulação, fiscalização e/ou
Risco
não retorno do mercado
Renda auferida Variável, porém, em média igual/ou superior 5 S.M
Mercado Espaço local
Relações de negócio em bases sociais de confiança
Comercialização Venda direta; monetização e uso de ferramentas bancárias
Trabalho por encomenda
Específicos ou reduzidos
Produtos
Diversificados
Gestão familiar
Organização
Captura de renda e não de lucro
Crédito Crédito familiar; agiota ou indenização trabalhista
Mínima ou apenas a necessária para a atividade
Tecnologia
Uso da web para comercialização e propaganda
Caracterização orgânica Posse do meio de produção
Espaço de Comercialização Local fixo próprio ou alugado (maioria)
Mercadorias
Relação com o capital
Transferência de poupança popular ou excedente
Fonte: Elaboração do autor, com base em Santos (2004, p.44) e na pesquisa Importância do Pequeno
Empreendimento na Economia (2018).
44
Como o objeto do artigo é perceber a lógica estrutural da informalidade, não daremos atenção a pontos
importantes, como o entendimento do ciclo do capital como processo (na lógica D – M – D`), a rotação
do capital, acumulação, concentração etc., como as demais categorias que compõem a análise marxista.
45
Uma parte é a mais-valia realizada e outra parte vai se transformar em mercadoria insumo, para uso no
processo de produção, no caso, capital produtivo.
123
mesmo tempo, a realização do mais valor contido em M’. O mesmo não ocorre em D-
M. Daí a venda ser mais importante do que a compra.” (MARX, 2014, p. 206).
O cerne da questão é abreviação do tempo como elemento vital de reprodução e
valorização, dado o caráter transitório da mercadoria que contém, ao mesmo tempo, o
valor de troca e o valor de uso, porém, o primeiro precisa se realizar através da venda e
no menor espaço de tempo, devido à mais-valia, que funciona como elemento para a
continuidade do ciclo e sustentabilidade do capital, o que afeta e coloca em risco este
último, quando da não realização da comercialização.
Com efeito, a circulação do capital é assimétrica: para baixo ela é fraca, mas
é substituída pela circulação de bens; para o alto a circulação do capital é
importante, depois que as mercadorias revendidas a preço muito elevado
asseguram uma taxa de lucro excessiva aos intermediários. (SANTOS, 2003,
p. 99).
46
Podemos definir rotação como ciclo do capital, como processo contínuo que se chama de rotação de
capital. A duração da rotação é determinada pelo tempo da produção e tempo da circulação. A soma dos
tempos é o tempo da rotação.
125
Marx (2014), Souza (1980) e Santos (2003) apontam não somente para a
existência de unidades produtivas não capitalistas, como para o fato de que a atuação
delas ocorre num circuito específico. Neste sentido, é imprescindível observar a
126
47
O trabalho de Meneguin e Bugarin (2008) faz um recorte das interpretações na literatura e de sua
análise, onde observam esse ponto de vista.
130
Figura 6 - Ponto comercial no âmbito da informalidade empresarial. Rua dos 48 – Belém (PA).
Estrutura Forma
Organização não capitalista Busca independência e renda para reprodução;
Proprietário do meio de O capital e os meios pertencem ao proprietário que também é
produção gestor e produtor/trabalhador;
Espaço fixo/estabelecimento Desenvolve suas atividades em espaços próprios ou
estabelecimentos fixos.
Não formalizado Não são registrados ou não detém CNPJ;
Não é ambulante/camelô Não desenvolve suas atividades nas rua e/ou logradouros, e sim
em estabelecimentos fixos, com infraestrutura básica do negócio
igualmente fixada.
Capital próprio O capital para a atividade advém, normalmente, de esforço próprio
e/ou familiar, com exceções.
Fonte: Elaboração do autor, com base na pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na
Economia (2018), em Santos (2004) e Souza (1980).
Figura 7 - Ponto comercial no âmbito da informalidade empresarial. Estrada da Baída do Sol, Distrito de
Mosqueiro, Belém (PA).
48
Na pesquisa de campo identificamos alguns empreendimentos que desenvolvem atividades industriais
informal, porém, com um grau menor de automação e, alguns casos, próximo à manufatura.
134
espaço, que é acrescido sobre valor das vendas, de modo que um percentual seja
recuperado no momento da comercialização.
Essa característica determina, do ponto de vista estritamente econômico, um
custo fixo ao gestor: aluguel (quando for o caso) e despesas de funcionamento, como
água, energia elétrica, Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) etc. Tais despesas
implicam na necessidade de uma geração de receita que permita o funcionamento da
atividade no estabelecimento, exigindo um esforço de vendas muito maior do que o do
camelô, por exemplo.
Então, o aporte de capital necessário imobilizar no espaço físico determina um
diferencial de capital em relação ao informal tradicional, o camelô. O capital
envolvido, muito maior na informalidade empresarial, outra característica para a
categorização do segmento.
Um ponto importante, que se repete enquanto informalidade, é o emprego de
mão de obra familiar, porém, na informalidade empresarial, isso se efetiva de modo
mais constante, por que os estabelecimentos empregam, normalmente, dois familiares
na atividade – principalmente na área comercial – e, excepcionalmente, alguém de fora
do círculo familiar. A contratação de familiares tende a diminuir a rotatividade, ampliar
a renda familiar – um dos itens que move a questão –, reduzir o risco de litígio
trabalhista, o que poderia afetar os recursos que movem o empreendimento.
Em alguns casos a empregabilidade de um ente familiar ou amigo é relacionada
ao fato do agente informal empresarial ter uma outra atividade, normalmente, no campo
formal, como em determinadas situações, nas quais o responsável pela atividade é um
servidor público – principalmente no âmbito municipal e estadual – que delega um
turno de trabalho a este familiar/amigo, assumindo, no contra-turno de sua atividade
formal, a condução do negócio.
Nesta situação acima descrita, encontra-se Rogério Pinto, servidor público
estadual, que montou um pequeno negócio no âmbito da informalidade empresarial, que
pela manhã é administrado pela esposa dele, que só assume a condução do negócio no
turno da tarde. A motivação de Rogério para desenvolver sem empreendimento informal
deveu-se "à necessidade de melhorar a renda familiar e, com isso a qualidade de vida".
Instados a responder se a estratégia deu certo, marido e mulher responderam que “o
esforço foi compensado, pois está tendo retorno sobre o investimento realizado”.
Em outro sentido, ao longo da pesquisa, observamos diversos casos em que o
responsável pelo empreendimento informal empresarial exercia, anteriormente, o papel
135
49
Para conhecer alguns dos resultados desse movimento exploratório, conferir o artigo Informalidade em
tempos de conectividade: facebook e whatsapp transmutando o antigo, publicado nos anais do GT 13, do
Seminário Internacional América Latina: políticas e conflitos contemporâneos (SIALAT), realizado de 27
a 29 de novembro de 2017, na Universidade Federal do Pará, Belém. Disponível em:
https://docero.com.br/doc/5518n8.
137
foi baixo. Quando passei a falar para meus conhecidos e colegas do bairro do depósito,
ocorreu o crescimento no número de compradores e o negócio começou a andar”. Nesse
sentido, a percepção sobre o meio (a forma da comunicação), o produto, o tempo, o
consumidor e o retorno é determinante para o sucesso ou insucesso do pequeno negócio,
fato que determina sua continuidade ou seu fim.
Identificamos no processo de comercialização entre compradores e vendedores
diversos níveis de relações, as quais reforçam não somente o caráter estrutural como
também a imbricação entre o formal e informal. Assim encontramos relações entre
empreendimentos informais empresariais e pessoas físicas, entre informais empresariais,
de informais empresariais e empresários formais ou de forma triangular,
compreendendo a estrutura informal – formal – informal ou vice-versa. Nas situações
em que empresário formal demanda produtos ao informal empresarial, os produtos
produzidos no campo da informalidade são comercializados sem a definição de origem,
porém num ambiente formal e regulado, inclusive com as garantias legais. Neste último
caso se enquadram também os serviços. Rosa Vasconcelos, que confecciona objetos de
decoração e uso doméstico, e Isaac Elmescany, que faz o serviço de bordados
eletrônicos, por exemplo, vendem seus produtos e serviços para lojas situadas em dois
shoppings localizados no centro de Belém, que os comercializam formal e legalmente a
seus clientes.
Outro ponto interessante diz respeito à renda auferida a qual ‒ contrariando a
literatura corrente, que geralmente aponta baixos valores obtidos no âmbito da
informalidade‒, de acordo com a análise dos dados levantados em nossa pesquisa revela
que a renda da unidade estava acima da média da PNAD-Contínua para o primeiro
trimestre de 2017, ao redor de dois (2) salários mínimos tendo, em alguns casos,
registrado valores equivalente a seis (6) salários mínimos. Em decorrência disso,
percebemos haver uma qualidade material conquistada pelo informal empresarial,
porém, a custa de uma carga de trabalho bastante elevada.
O papel da família é primordial para o início da atividade, cedendo espaço na
unidade familiar ou o capital inicial em diversos contextos sociais e econômicos, como
nos casos de desemprego ou de providenciar a primeira ocupação. No primeiro caso,
destacamos Mário Sérgio, entrevistado na cidade de Bragança (PA). No caso dele, o
desemprego e a falta de oportunidade para reinserção no mercado de trabalho formal o
levaram a migrar para atividade informal, que se tornou possível graças aos recursos
obtidos por poupança familiar para iniciar o investimento: “no início foi [sic] as pessoas
138
da minha família que me ajudaram”. No caso dele, o empréstimo familiar foi pago em
dois anos.
Diferentemente do comportamento identificado pelo termo que circula na mídia
como “geração nem-nem50”, a jovem Ingrid Maria (19), também escutada na sessão de
entrevistas qualitativas realizadas por este pesquisador na cidade de Bragança, entrou
para a informalidade devido uma gravidez inesperada, que impôs a necessidade de
ocupação. O caminho natural para exercer atividade laboral foi através uma unidade
informal, cujo aporte de recursos inicial foi concedido pela mãe da jovem, que também
cedeu o espaço à instalação dos equipamento para bater e vender açaí. A necessidade de
sobrevivência e a responsabilidade pelo sustento de sua filha, justificam a opção de
Ingrid, mas há outro motivo determinante na escolha dessa atividade: a jornada de
trabalho, que por ser corrida, permite, ao redor das 15h, fechar o estabelecimento e
cuidar da criança.
Ainda no tocante à questão de recursos para investimento, o economista Olinto
Cei, do Fundo Municipal de Solidariedade para Geração de Emprego e Renda Ver-o-
Sol, vinculado à Secretaria Municipal de Economia de Belém, responsável por
operações de crédito ao informal e microempreendedores, destaca a presença de agiotas
no financiamento das atividades, principalmente no campo do capital de giro. Ele
ressalta que há um grupo organizado e de origem estrangeira, que controla esse tipo de
operação que, além da agilidade no atendimento da solicitação, bem diferente do canal
oficial – documentação, curso, garantia, pequeno plano de negócios ou orçamento –
utiliza uma forma inovadora para processar o pagamento do empréstimo: o cliente
paga/abate semanalmente primeiro o valor do empréstimo e, depois, os juros da
operação.
Na cidade de Bragança, o contador Adailson Brito, da Casa do Empreendedor da
Prefeitura Municipal de Bragança também aponta, em menor escala e com operações
individuais, a presença de agiota que financia tanto os recursos para o início das
50
Significa que são jovens que nem trabalham e nem estudam. Porém, o estudo “Millennials na américa e
no caribe: trabalhar ou estudar?”, divulgado pelo Ipea, afirma que “embora o termo nem-nem possa
induzir à ideia de que os jovens são ociosos e improdutivos, 31% dos deles estão procurando trabalho,
principalmente os homens, e mais da metade, 64%, dedicam-se a trabalhos de cuidado doméstico e
familiar, principalmente as mulheres”. De acordo com a matéria do Ipea: 23% dos jovens brasileiros não
trabalham nem estudam. Fonte: Agência Brasil. Disponível em:
http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2018-12/ipea-23-dos-jovens-brasileiros-nao-trabalham-e-
nem-estudam. Acessado em 09 de nov de 2018.
139
operações, quanto para o capital de giro, que diferentemente do que ocorre em Belém,
não se trata de um grupo organizado. Evidentemente, em ambas as situações, há o risco
ao tomador do crédito quanto ao possível inadimplemento, tendo em vista a ilegalidade
do processo no tocante à cobrança das parcelas, fato que precisa ser considerado nas
relações e no interior da informalidade.
Ainda com base no levantamento de dados e nas entrevistas, observamos no
segmento de confecção de roupas que, além de sua em linha própria, a atividade
também trabalha por encomenda. Na linha própria, uma parte é destinada às vendas
diretas, abastecendo uma parcela de informalidade ‒ os camelôs, por exemplo ‒ bem
como algumas lojas formais, inclusive de shopping. Por outro lado, quando se trata de
encomenda em grandes quantidades, que exigem um tempo maior e focado do produtor,
configura-se um sistema de parceria, posto que, em alguns casos há repartição da
mesma encomenda entre fabricantes parceiros ou, quando há saturação de algum
produtor, ocorre a indicação e repasse integral da nova encomenda ao parceiro.
Esses e outros elementos, a serem analisados de forma mais aprofundada nos
capítulos 5 e 6, indicam algumas das características que sinalizam a conformação de
uma atividade real e em movimento, a qual necessita de uma categorização, o que
requer o desenvolvimento de instrumentos capazes de captar sua dinâmica em si
mesma, sem encobri-la pelo protagonismo do trabalhador e de sua atuação
individualizada.
140
141
51
Na época, os estabelecimentos informais eram classificados como microempresas pelo IBGE.
143
Ano Total de Microempresas – Conta Própria Var. Absoluta Taxa de Incremento Anual
%
1997 8.190.610
995.493 1,15
2003 9.186.103
Fonte: IBGE e Sebrae - Pesquisa Economia Informal Urbana – Ecinf 1997/ 2003.
52
Foram entrevistadas 2.000 pessoas em 65 favelas distribuídas em 35 cidades brasileiras.
147
exige não somente sua manutenção, como a estruturação de graus de confiança para
alimentar o fluxo de mercadorias e/ou de serviços, acrescentando, em razão do contexto,
o risco que transpassa a simples decisão da opção, pois envolve na empreitada a família,
que corrobora essa passagem e, portanto, também está envolvida no sucesso ou fracasso
do empreendimento informal.
Nesse sentido, é preciso resgatar a matriz do entendimento da classificação que
toma por base a ocupação individual ou força de trabalho. As orientações e diretrizes
gerais para normatizar e uniformizar as informações primárias e suas tabulações pelas
instituições mundo a fora é dada pela OIT, buscando organizar os instrumentos para
parametrizar e harmonizar, visando a comparabilidade das estatísticas entre os países.
Assim, esta instituição vem desde 1923, tentando aperfeiçoar métodos e análises com
para dar conta de tais objetivos.
Assim, na Oitava Conferência Internacional de Estatísticas de Trabalho, em
1954, a OIT lançou a resolução I, na qual indica parâmetros para medição e análise do
mercado de trabalho. Em 1966 emite nova resolução, cujos indicadores vigoraram até
meados do início da década de 1980, de modo que em 1982, sob auspício da Décima
Terceira Conferência Internacional de Estatísticas de Trabalho foram consolidados os
princípios norteadores da metodologia de acompanhamento de informações do mercado
de trabalho, que são: a) abarcar todos os ramos de atividade; b) abranger todos os
setores econômicos; c) todas situações de ocupação e; d) buscar a harmonia nos
métodos e nas estatísticas para garantir a comparabilidade.
A partir das orientações da OIT emitidas em 1982, os conceitos e definições
ficam concisos, permitindo a harmonia necessária à organização e sistematização das
informações sobre o trabalho em escala mundial. Evidentemente não sem haver
questionamentos e debates. Desse modo, delimita-se os parâmetros de enquadramento
adotados por diversos países e instituições, inclusive o Brasil, tais como: população
economicamente ativa, população em idade ativa, força de trabalho, desemprego e
emprego e, neste está o que se denomina de “emprego independente”, que abrange o
trabalho informal, onde estão os conta-própria, os trabalhadores familiares não
remunerados, os trabalhadores que produzem para consumo próprio etc.
Em janeiro de 1993, como resultado da Décima Quinta Conferência
Internacional dos Estatísticos do Trabalho a OIT promoveu ajustes na Classificação
Internacional da Situação do Emprego (CISE), considerando a diversidade e evolução
do trabalho, fato que determinou a revisão e refinamento dos conceitos e definições
149
53
A definição da OIT para economia informal compreende tanto o setor informal com suas atividades,
como o emprego informal.
150
A partir das orientações da OIT emergem duas questões relevantes que precisam
ser observadas no debate. A primeiro diz respeito ao termo trabalhador, pois remete à
venda de força de trabalho, entendida na relação “capital-trabalho”, onde uma parte
importante dos informais não está diretamente vinculada a uma atuação no campo
capitalista, inclusive em relação à produção de mais-valia, pois, lembra Marx (2014) o
trabalho é fonte de valor, portanto, há criação de valor.
Em segundo lugar, o informal, mesmo estando no mercado ou disponível, é livre
– condição essencial ‒ para comercializar sua força de trabalho a partir da construção de
uma relação entre as partes para proceder a comercialização, isto é, vendedor e
comprador, onde se dá a troca de mercadorias, sendo a força de trabalho o único bem do
lado do trabalhador, cujo resultado objetivado do trabalho não é de posse do trabalhador
(MARX, 2014). Mas, esta relação não procede entre todos os atores, como por
exemplo, o camelô.
Essa relação – vendedor e comprador – é resultado de uma formação histórica
que assume um papel maior no modo de produção capitalista no interior da circulação
54
De modo geral, os parâmetros estabelecidos pela OIT são os que têm sido mais frequentemente
adotados pela literatura. Cf.:NOGUEIRA; ZUCOLOTO, 2017, p. 146)
151
55
Transformar parte do domicílio em espaço de comercialização e de serviço implica um custo de
implantação negativo reduzindo riscos e o grau de descapitalização, o que favorece a alavancagem do
estabelecimento na sua fase inicial, fato que justifica a transformação de parte da residência em ponto do
estabelecimento. (Oliveira; Filho, 2009)
153
capital, em máquinas, reformas e aquisição de bens e serviços etc., fato esse que, neste
caso também o diferencia do trabalhador por conta própria, sendo, portanto, um fator de
distinção que precisa ser considerado na informalidade e na categorização dos seus
atores.
O levantamento e análise de dados coletados na pesquisa de campo desta tese
demonstram que um percentual expressivo exerce suas atividades fora da residência, em
espaços alugados para os empreendimentos. No quadro 18, os números apontam 30%
das atividades desenvolvidas em espaços alugados, número que contradiz, parcialmente,
a definição da OIT.
Local Quantidade %
No domicilio 74 69,16
Fora (Alugado) 31 28,97
No domicílio e fora 2 1,87
Total 107 100,00
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia–Out/Nov2018.
Quadro 19 – Número de pessoas ocupadas nos estabelecimentos informais – Out/Nov 2018 e 2003.
Estabelecimento
Trabalhador
Informal
Informal
Empregador
Informal
Trabalhador
Formal
Em que pese não ser o cerne da tese, ressaltamos que não se deve relativizar essa
importância, por que esse contato expressa atualmente diversas formas de capilaridade
do grande capital (incluso o transnacional) como também um formato específico de
globalização, a globalização por baixo (FREIRE, 2017), onde essa estrutura informal
permite a circulação de mercadorias de diversas matrizes produtivas e diversos países,
através do fluxo de bens e da circulação. Essa situação contemporânea, exige
compreender-se que o estabelecimento informal assume, ao fazer parte da rede
mundializada de fornecedores, papel multifacetado, que não se restringe ao bairro ou ao
município, posto que dependendo da sua lógica, é mesmo uma ponta de lança do grande
capital, seja através da recarga de telefone celular ou da venda de aparelhos eletrônicos,
por exemplo.
Nos anos de 1970 Santos (2003) já apontava esse movimento em Lima, sobre os
pequenos empreendimentos, incluso os informais, funcionando como correia de
159
transmissão com o capital, captando a renda via oferta e comercialização dos bens.
Evidentemente a forma se modifica quando se compara o movimento atual ao
observado pelo autor àquela altura, principalmente em razão dos avanços da
microeletrônica e dos canais de comunicação, mas a essência se mantém no processo de
apropriação da renda e do excedente das famílias situadas no contexto do circuito
inferior.
Gênero Quantidade %
Feminino 59 55,14
Masculino 48 44,86
Total 107 100,00
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia–Out/Nov2018.
Assim, os imigrantes não vêm atraídos somente pela miragem das atividades
modernas; eles já sabem que na metrópole é possível encontrar uma atividade
qualquer. Mas, acima de tudo, eles estão conscientes de que é melhor ser
pobre em Lima do que em qualquer outra parte, não importante onde
(SANTOS, 2003, p. 92).
Quadro 22 – Menor tempo de residência, tempo médio e maior tempo de moradia do imigrante –
Out/Nov 2018.
Indicador Anos
Menor tempo 9
Tempo médio 26,57
Maior tempo 42
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia–Out/Nov2018.
dos atores que não concluíram o ciclo educacional, fato que sinaliza uma uniformização
nas dificuldades e desigualdade neste caso.
Por outro lado, esses números apontam que a educação não se configura como
uma barreira para a entrada na atividade informal e, principalmente, para a gestão e
operação dos estabelecimentos informais por esses atores que, em conjunto respondem
por aproximadamente 44% da população pesquisa.
No tocante ao estado civil, percebemos que grande parte dos responsáveis pelos
estabelecimentos informais é casada ou está em união estável, aproximadamente 62%,
fato esse que implica num grau de responsabilidade maior, pois o empreendimento é a
fonte de recursos da família, ensejando a necessidade de sucesso na sua gestão e
permanência na atividade (quadros 24 e 25).
Quadro 25– Total de filhos e média de filho por proprietário informal – Out/Nov 2018.
2015. Desse modo, a dependência do gestor na promoção de captura de renda deve ser
considerada, aliado ao fato de que a família dispõe a mão de obra para contribuir,
quando necessário, para o empreendimento, o que justifica também o número
considerável de pessoas com anos de estudos incompletos, observado na pesquisa.
Os solteiros detêm uma participação expressiva com 27,10% do total da
pesquisa (quadro 24, acima). Esse percentual pode sinalizar que a opção por um
estabelecimento informal é uma decisão decorrente da procura de oportunidade e renda,
que foi deslocada do emprego formal, tendo em vista que estes motivos foram
apontados por aproximadamente 40% dos que optaram pela informalidade como
caminho da independência, isto é, sua entrada no mercado informal se dá de forma
consciente.
A posição do responsável por estabelecimento no domicílio revela que
aproximadamente 60% são os (as) chefes (as) da família. Neste universo as mulheres
representam quase 38% (37,50%) dos responsáveis pela renda domiciliar. Este
percentual demonstra o grau de importância da atividade, a questão da dupla jornada e a
colocação das mulheres no mercado, buscando ocupação e renda familiar. Já os homens
respondem pelo percentual de 62,5% do total dessa função (ver quadros 26 e 27).
Posição no Gênero
Domicílio Homens % Mulheres %
Chefe 40 62,50 24 37,50
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia–Out/Nov 2018.
de capital, o que é positivo ante aos esforços de investimento e captura de renda através
da atividade.
Domicílio Quantidade %
Próprio e totalmente pago 87 81,31
Próprio e ainda pagando 7 6,54
Alugado 9 8,41
Cedido 3 2,80
Não respondeu 1 0,93
Total 107 100,00
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia–Out/Nov2018.
Quadro 29 – Número de moradores total nos domicílios vinculados aos estabelecimentos informais –
Out/Nov 2018.
Moradores Total
Quantidade 405
Média por estabelecimento 3,78
Menor quantidade 1
Maior quantidade 9
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia–Out/Nov2018.
Quadro 30 - Forma de abastecimento de água nos domicílios dos proprietários informais ‒ Out/Nov 2018.
No tocante à pavimentação das ruas e avenidas constata-se que grande parte das
vias é pavimentadas, respondem a quase 91% das residências dos estabelecimentos
informais, fato que melhora não somente o acesso, como as vendas das mercadorias e
serviços (ver quadro 31). A discrepância observada entre os percentuais de
pavimentação e abastecimento de água deve-se à questão eleitoral, posto que o asfalto
tornou-se moeda de troca em ações de barganha eleitoreira de alguns políticos, que
colocam no mesmo pacote, o saneamento e as promessas de melhoria de mobilidade
urbana através do transporte público.
Quadro 31 - Pavimentação das ruas nos domicílios dos proprietários informais – Out/Nov 2018
Quadro 33 - Tipo de outra forma de renda dos proprietários informais – Out/Nov 2018.
De outro modo, cabe atentar para dois aspectos interessantes no quadro acima. O
primeiro diz respeito à presença de servidor público nas atividades informais como
segunda opção de renda, o que demonstra as perdas salariais que a categoria vem
sofrendo ao longo do tempo, ratificando com esses dados o que hoje é algo rotineiro
neste segmento. O segundo caso é o nível de rendimentos no segmento privado, que é
inferior ao salário mínimo vigente em 2018, na ordem de novecentos e cinquenta e
quatro reais (R$ 954,00).
Já o quadro 34 demonstra que a sobrevivência, as condições de vulnerabilidade
social e a falta de oportunidade e de acesso estão na raiz da desigualdade e pobreza que
marcam a sociedade brasileira e obrigam a antecipação na entrada no mercado de
trabalho, perdendo-se a infância e a adolescência. Assim, a menor idade em que a
pessoa entrevistada começou a trabalhar foi aos nove (9) anos e a idade média foi de
quase dezessete anos (16,83), refletindo o cenário social de poucas possibilidades de
inserção.
Quadro 35 – Principal motivo para estabelecer um empreendimento informal (1) – Out/Nov 2018.
Motivo Quantidade %
Não encontrou emprego 26 19,40
Oportunidade de tornar-se sócio 0 0,00
Horário flexível 5 3,73
Ser independente 53 39,55
Tradição familiar 4 2,99
Completar a renda familiar 38 28,36
Experiência no ramo 3 2,24
Negócio vantajoso 2 1,49
Atividade complementar se tornou principal 0 0,00
Outro 3 2,24
Total 134 100,00
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia–Out/Nov2018
Nota:
1 – Múltiplas respostas
O segundo fator que move o desejo de exercer uma função no âmbito informal,
desenvolvendo ações movimentadas pelo capital social e econômico que permita a
obtenção de renda por este meio, deve-se às condições sociais e de exploração no
mundo formal. Assim aproximadamente 40% apontam a busca da independência como
sua principal motivação, o que sinaliza que atividade tem a capacidade de manter um
contínuo fluxo de renda, permitindo a sustentabilidade, tanto do empreendimento
quanto pessoal e/ou familiar, além é claro, de estar livre das relações vinculados ao
mercado de trabalho formal e capitalista.
Por fim, a necessidade de aumentar a renda familiar é o terceiro fator que
justifica a entrada na atividade informal, conforme se lê no quadro 35, sinalizando que a
pobreza, o desemprego e a desigualdade são forças-motrizes da decisão de apostar na
informalidade como o caminho para obtenção de renda, neste caso, domiciliar ou
familiar. Essa opção, em razão dos desníveis sociais que a motivam, é
predominantemente do gênero feminino, que responde por 68,43% do total das
respostas (quadro 36). Certamente a medida de ocupar-se e obter renda advém, em
parte, das dificuldades, em razão da necessidade de conduzir o lar e a família, o que
explica esse percentual.
Quadro 36 - Opção da informalidade para complementar renda (por gênero) – Out/Nov 2018.
Motivo Gênero
Homens % Mulheres %
Complementar a renda 12 31,57 26 68,43
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia–Out/Nov2018
171
Quadro 37 - Renda (1) líquida média dos proprietários dos estabelecimentos informais – Out/Nov 2018
Quadro 38 - Renda (1) líquida média dos proprietários dos estabelecimentos informais por gênero –
Out/Nov 2018.
56
“Sugerem, a respeito, que para os mais pobres dentre eles o custo de se manter formal talvez ainda seja
muito alto, mesmo depois da redução da contribuição previdenciária à metade do valor original”
(CARDOSO, 2014, p. 24).
173
Participa Quantidade %
Sim 3 2,80
Não 98 91,59
Não respondeu 6 5,61
Total 107 100,00
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia–Out/Nov2018
Segmento Quantidade %
Comércio 69 64,49
Indústria de Transformação 14 13,08
Serviço 24 22,43
Total 107 100,00
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia–Out/Nov2018.
Nota:
1 – Resposta espontânea
175
Quadro 43 – Tempo da atividade no setor econômico (1) do estabelecimento informal – Out/Nov 2018.
Quadro 45– Origem do capital para iniciar o empreendimento informal (1) – Out/Nov 2018.
58
"O delegado geral Alberto Teixeira determinou apuração sobre a ação de agiotas colombianos no centro
de Santarém. Empréstimos ilegais são feitos na praça da Matriz, com abordagem a mototaxistas,
ambulantes e pequenos comerciantes. Diversos casos já foram denunciados, mas o bando continua com as
atividades. Os valores variam de R$ 300,00 a R$ 3 mil por pessoa tem que pagar parcelas de R$ 180,00
por dia durante 20 dias. No fim do prazo estipulado, o valor total pago chega a R$ 3.600,00". Cf. Jornal
Diário do Pará, coluna Repórter Diário, 10 de maio de 2019, página A2, caderno Política.
178
Quadro 46 – Investimento total (1) e por atividade dos empreendimentos informais (2) – Out/Nov 2018.
Quadro 47 – Origem do capital e investimento total (1) dos empreendimentos informais (2) – Out/Nov
2018.
Motivo para estruturar o estabelecimento fixo por atividade Comércio Indústria Serviço
Qtd. % Qtd. Qtd. Qtd.
Atender melhor os clientes 85 54,49 59 9 17
Não ser incomodado pela fiscalização-prefeitura 6 3,85 3 2 1
Melhor aquisição de mercadorias para 6 - 1
fornecedores 7 4,49
Melhor condição de trabalho 36 23,08 15 8 13
Segurança 9 5,77 6 - 3
Melhor armazenamento das mercadorias 12 7,69 8 2 2
Outro 1 0,64 1 - -
Total 156 100,00 98 21 37
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia–Out/Nov2018
Nota:
1 – Múltiplas respostas
56% dos estabelecimentos começaram sem qualquer apoio, fato que demonstra que a
presença de políticas públicas e instituições, como Credcidadão, Fundo Ver o Sol ou
Sebrae ainda estão distantes de parte do seu público-alvo, pois apenas 10,28% dos
entrevistados (ver quadro 49) informam terem recorrido às agências públicas para
iniciarem suas atividades, o que representa um percentual baixo para o tempo de
existência das mesmas e de seus objetivos59.
59
Embora a amostra da pesquisa tenha se constituído a partir de cadastro cedido por um fundo de apoio, a
questão detém-se no início do negócio. Isso significa que embora existam informações do entrevistado no
cadastro do CredCidadão, no caso, não quer dizer que ele tenha obtido apoio do mesmo para iniciar seu
empreendimento.
182
Quadro 52 – Média de dias trabalhados e horas semanais média trabalhadas no empreendimento informal
(1) – Out/Nov 2018.
instrumento como ferramenta para seus negócios, seja para honrar compromissos ou
para recebimentos. 27,10% dos entrevistados, mesmo tendo conta corrente não a
utilizam nas atividades dos estabelecimentos, conforme demonstrado no quadro abaixo:
Quadro 53 – Proprietários com conta corrente e uso no movimento do estabelecimento (1) – Out/Nov
2018.
66,36% do total que não empregam o cartão de crédito na gestão dos empreendimentos
informais.
Quadro 54 – Proprietários com cartão de crédito e uso no movimento do estabelecimento (1) – Out/Nov
2018.
Estabelecimentos Quantidade %
Estabelecimentos c/ funcionários 71 66,36
Estabelecimentos s/ funcionários 36 33,64
Total 107 100,00
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia–Out/Nov2018
Quadro 57– Estabelecimentos informais com funcionário e relação familiar – Out/Nov 2018
Quadro 59 – Remuneração média dos funcionários ocupados (1) nos estabelecimentos informais –
Out/Nov 2018.
Remuneração Valor
Menor remuneração declarada 300,00
Remuneração média declarada 1.089,09
Maior remuneração declarada 1.500,00
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia–Out/Nov2018
Nota:
1 – Resposta espontânea. Apenas vinte e dois (22) informantes responderam a questão.
Quadro 60 – Total de pessoas ocupadas com vínculo e sem vínculo familiar e remuneração média
declarada (1) nos estabelecimentos informais – Out/Nov 2018.
Funcionários
Total Com Sem Remuneração
Atividade Proprietários vínculo vínculo Média (1)
Comércio 69 57 37 20 (2) 946,67
Indústria de Transformação 14 21 9 12 (3) 1.733,33
Serviço 24 33 8 25 (4) 1.116,67
Remuneração média 107 111 54 57 1.089,09
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia–Out/Nov2018
Nota:
1 –Resposta espontânea, sendo que apenas vinte e dois (22) informantes responderam.
Chamadas:
2 – Resultado médio obtido a partir de doze (12) informações.
3 – Resultado médio obtido a partir de três (3) informações.
4 – Resultado médio obtido a partir de sete (7) informações.
Quadro 62– Tipos de propaganda utilizadas pelos estabelecimentos informais (1) – Out/Nov 2018.
caminho de expansão da atividade. Este é uma caminho sem volta, pois apresenta
múltiplas facetas e oportunidades ao informal, ampliando seu raio de ação, o que
importante para consolidar seu empreendimento. Conforme observam Freitas e Lima
(2017),
Além de algumas características, como o baixo capital, o reduzido nível
tecnológico, a gestão familiar, a busca pela renda e não pelo lucro como fator
de sobrevivência, ao se apropriar da comunicação digital em rede, a
informalidade transmuta-se ao tipo que denominamos “infoinformal”, que
para nós é o trabalhador com atividade não regularizada pelos organismos
oficiais, que passa a atuar também em rede mundial digital, ofertando
produtos e serviços, utilizando predominantemente seus perfis pessoais em
redes sociais de plataformas digitais (FREITAS, LIMA, 2017, p. 8).
Quadro 63 – Algumas características dos informais empresariais (1) que utilizam plataforma digital como
meio de divulgação – Out/Nov 2018
Utilização Quantidade %
Apenas divulgação 19 47,50
Apenas vendas 2 5,00
Divulgação e vendas 18 45,00
Não tinha dimensão da capacidade 1 2,50
Não sabe 0 0,00
Total 40 100,00
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia–Out/Nov2018.
Quadro 65 – Redes sociais utilizadas pelos estabelecimentos informais como instrumento de propaganda
– Out/Nov 2018
Tipo/Redes-Aplicativos-Plataformas Quantidade %
Instagram 14 18,18
Whatsapp 39 50,65
Telegram 0 0,00
Twitter 0 0,00
Facebook 24 31,17
Badoo 0 0,00
Linkeldin 0 0,00
Flickr 0 0,00
Pinterest 0 0,00
Tumblr 0 0,00
Total 77 100,00
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia–Out/Nov2018
Nota:
1 – Múltiplas respostas
Chama a atenção ausência no uso de outras mídias sociais digitais, como por
exemplo, o Telegram ou Flickr, que são menos populares, embora tenham fins
semelhantes aos do Whatsapp e Instagram, respectivamente, não integram trustes ou
holdings.
O meio digital é usado como forma de aproximação dos possíveis clientes,
porém, a efetividade da venda se dá em ambiente físico, fora da dimensão digital, até
mesmo em razão do tipo de comunicação usada.
66, que apontam a adoção dessa estratégia no intervalo entre menos de 1 ano a 2 anos,
englobando cerca de 85% do total de empreendimentos.
Neste caso temos um “e-commerce60” distinto, particular, de baixo custo e com
restrições no processo de venda/pagamento, visto que essa ação busca ocupar um
espaço de comercialização e também demonstrar “modernidade” ao (possível) cliente
comprador, apesar das limitações do gestor do estabelecimento informal. Trata-se,
portanto, de uma utilização sujeita aos seus limites organizacionais.
Quadro 66 – Tempo de utilização das redes sociais pelos estabelecimentos informais como instrumento
de propaganda – Out/Nov 2018.
Quadro 67– Destino dos produtos comercializados pelos empreendimentos informais por destino de
consumo (1) – Out/Nov 2018.
60
Uma das características do comércio eletrônico, mais conhecido como e-commerce, é o fato das
transações de compras e vendas se darem no ambiente digital online, o que não acontece no caso retrato,
em grande parte da informalidade empresarial.
195
Quadro 68– Área de atuação (1) dos Estabelecimentos Informais (2) – Out/Nov 2018
Quadro 69 – Área de atuação (1) dos Estabelecimentos Informais (2) – Out/Nov 2018
Quadro 70– Forma de recebimento pelos produtos e serviços comercializados pelos estabelecimentos
informais (1) – Out/Nov 2018.
Forma Quantidade %
Dinheiro 107 82,31
Crédito/débito 20 15,38
Caderneta 3 2,31
Nota promissória 0 0,00
Cheque (inclui pré-datado) 0 0,00
Total 130 100,00
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia – Out/Nov 2018
Nota:
1 – Múltiplas respostas.
Quadro 71 – Estabelecimentos informais que trabalham por encomenda ou subcontrato – Out/Nov 2018
Quadro 73 – Origem das mercadorias e serviços por tipo de fornecedores (1) – Out/Nov 2018.
De outro modo, a conexão com o circuito superior pode ser observada através da
emissão de cupom fiscal emitido pelos distribuidores, tanto pequenos, quanto grandes.
Isso representa não somente a relação do circuito inferior com o superior, como também
aponta para a contribuição, através da aquisição de bens e serviços, com os tributos.
Ressaltando-se que esta compra não gera crédito ao estabelecimento informal, porém
esse esforço é apropriado tanto pelas empresas formais – que adquirem crédito a maior
–, quanto pelo Estado, quando do recebimento das taxas e impostos.
É importante observar (ver quadro 74), que 24,30% das empresas distribuidoras
não emitem cupom/nota fiscal. Em tais casos, a sonegação ocorre no campo formal, não
sendo a informalidade a responsável pela prática. Esse modo de ver ajuda a
reposicionar, em certa medida, o discurso frequentemente acionado para marginalizar a
informalidade, sob a alegação de que a mesma não contribui no esforço tributário. Ao
contrário disso, se for vista pelo prisma que evidenciamos, ela também gera
tributos/taxas quando da aquisição de seus materiais.
Quadro 74 – Compras em distribuidoras que emitem nota/cupom fiscal (1) – Out/Nov 2018.
Período Quantidade %
Diariamente 18 16,82
A cada três dias 7 6,54
A cada cinco dias 4 3,74
Semanalmente 42 39,25
Quinzenalmente 15 14,02
Mensalmente 17 15,89
A cada dois meses 2 1,87
Outro 2 1,87
Total 107 100,00
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia – Out/Nov 2018.
Em que pese o avanço do dinheiro eletrônico na comercialização constatamos o
predomínio do pagamento em dinheiro por parte dos gestores dos estabelecimentos
informais, em 78,40% dos entrevistado, conforme mostrado no quadro abaixo. Tal
comportamento reduz o risco no tange a obrigações futuras (cartão de crédito), aliado a
regras impostas pelos fornecedores em razão da situação jurídica dos empreendimentos.
O volume das aquisições limita o uso do prazo como ferramenta de dilatação da compra
200
Quadro 76 – Forma de pagamento das aquisições efetuadas pelos estabelecimentos informais (1) –
Out/Nov 2018.
Forma Quantidade %
Em dinheiro 98 78,40
Cartão de crédito 21 16,80
Boleto 6 4,80
Nota promissória 0 0,00
Cheque 0 0,00
Verbal/confiança 0 0,00
Cheque pré-datado 0 0,00
Total 125 100,00
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia – Out/Nov 2018.
Nota:
1 – Múltiplas respostas.
Também importa observar que parte das compras ocorre com outros informais
(rever quadro 73, apresentado anteriormente). Esse fato explica, em parte, a opção pelo
uso do dinheiro como instrumento de compra pelo gestor do estabelecimento que
circula entre os informais. A segunda opção utilizada para aquisição de mercadorias
pelos estabelecimentos informais é o cartão de crédito, com 16,80% do total, o que
confirma o caminho da bancarização e do uso do dinheiro eletrônico como ferramenta
de administração financeira entre os informais.
A circulação dos recursos monetários administrados pelos estabelecimentos
informais se efetua, em grande parte, no estado. As compras realizadas na capital,
Belém, respondem por 31,86% das aquisições. Já as compras realizadas na RMB
representam 42,48%, ou seja, juntas, Belém e RMB acumulam o percentual de 73,34%
(ver quadro 77), o que revela a concentração nesta área, de uma rede de negócios
justificando, via mercado do circuito inferior, a concentração de atividades61 e de
tributos nessa esfera.
61
Há centralização das operações pelos distribuidores na área, dada a dimensão política, econômica e de
estrutura dessa região, fato que não significa que o resultado das vendas não seja transferido para as
matrizes das empresas para outras regiões do Brasil e para fora, como é caso do Carrefour, que opera no
atacado na RMB, porém a matriz é na França.
201
Local Quantidade %
Belém 36 31,86
Região Metropolitana de Belém 48 42,48
Pará 7 6,19
Fora do Pará, mas no Brasil 20 17,70
Importado 2 1,77
Total 113 100,00
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia – Out/Nov 2018.
Nota:
1 – Múltiplas respostas.
Não menos importante é a informação de que uma parte dos fornecedores estão
situados fora dos perímetros estaduais, respondendo por aproximadamente 18% dos
produtos e serviços comercializados pelos estabelecimentos informais. Esse percentual
demonstra o grau de abertura e integração e, ao mesmo tempo sinaliza, como o
comércio interregional abastece o mercado informal, que assim produz, fora do Estado e
da região, efeitos como a transferência de excedente e de renda.
De outro modo é interessante observar, a partir da indicação no quadro 78, a
ausência de percepção sobre a origem de mercadorias por parte de muitos dos gestores
dos estabelecimentos informais, os quais indicam ‒ exceto no caso das mercadorias
paraenses‒, que grande parte das mesmas são fabricadas no Brasil, com um percentual
de 74,59%. Em que pese a falta de percepção das origens das mercadorias, destacamos
que 4,10% dos entrevistados apontam que os produtos comercializados são importados.
Essa distorção entre percepção de origem é percebida quando se atenta para o fato de
cerca de 11,12 % dos estabelecimentos informais têm em sua área de atuação, artigos
importados como aparelhos eletrônicos e componentes eletrônicos, papelaria,
armarinho etc, que em grande parte são chineses.
202
Quadro 78 – Indicação de origem das mercadorias e serviços adquiridos pelos estabelecimentos informais
(1) – Out/Nov 2018
Origem Quantidade %
Paraenses 19 15,57
Regionais 7 5,74
Brasileiras 91 74,59
Importados 5 4,10
Total 122 100,00
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia–Out/Nov2018
Nota:
1 – Múltiplas respostas
Para iniciar as atividades produtivas, bem como para acessar e construir suas
relações de negócios, 81,31% dos gestores dos empreendimentos informais afirmaram
não terem encontrado obstáculos na obtenção de mercadorias e serviços. Por outro lado,
16,82% e 1,87% dos estabelecimentos informais, respectivamente, apontam a presença
de barreiras e exigências, como pagamento adiantado e venda somente com cartão de
crédito ou pagamento à vista, como dificuldades. Ver quadro 79 e 80, a seguir:
Acesso Quantidade %
Sem problemas 87 81,31
Fácil, por com pequenas barreiras 18 16,82
Difícil devido as exigências 0 0,00
Complicado devido as exigências 2 1,87
Total 107 100,00
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia – Out/Nov 2018.
62
Dada a natureza da pergunta é importante considerar que os valores informados tendem a ser inferiores
ao que são na realidade.
203
informal com maior venda, supera em quatro vezes a média de vendas. Vale perceber
que o faturamento bruto alcança cifras entre três e cem mil reais no total de
empreendimentos, valor que representa o faturamento de pequena ou média empresa.
Por outro lado, o faturamento médio mensal por estabelecimento sinaliza que os
empreendimentos informais não apresentam um volume expressivo à primeira vista, ao
redor de R$ 2.547,05, o que equivale a 2,71 salários mínimos de 2017. Ainda assim,
este resultado situa-se acima do praticado no mercado formal. Ou seja, visto por esse
ângulo, o retorno advindo do empreendimento compensa o esforço. Se acrescentarmos a
renda indireta advinda do domicílio, aliada à inexistência de recolhimento de imposto
sobre o faturamento como ganhos indiretos, este resultado positivo para o informal é
ampliado.
O faturamento por atividade demonstra diferentes níveis de receita, com
dispersão entre as mesmas (ver quadro 81). O segmento comercial apresenta o menor
faturamento anual por estabelecimento individual (R$ 4.500,00), porém registra, na
totalidade, o maior faturamento bruto anual entre as atividades (R$ 2.093.200,00) e
também da receita de um empreendimento (R$ 135.000,00). Em termos de receita bruta
média anual, o segmento industrial apresenta melhor performance, incluso o resultado
mensal e o setor de serviço apresenta menor faturamento tanto no médio anual quanto
mensal.
serviço é menor em - 3,48%, ainda assim o ganho médio por hora trabalhada é muito
superior quando comparada à hora salário mínimo (ver quadro 82, a seguir). Portanto,
só no âmbito comercial o retorno ao gestor/ator é de 161,27% (R$ 11,13/R$ 4,26), fator
esse que ajuda a explicar a opção pela informalidade.
Quadro 82 – Faturamento médio mensal por hora dos estabelecimentos informais em 2017– Out/Nov
2018.
Quadro 85– Investimento médio inicial, investimento médio 2017/2018 e faturamento bruto médio anual
dos estabelecimentos informais em 2017– Out/Nov 2018
Quadro 86 – Lucro médio (1) dos estabelecimentos informais por segmento no mês de outubro de 2018.
63
Atenção para o fato de tratar-se de resposta espontânea e sensível quanto à certeza da mesma, pois,
assim como no caso da renda, os entrevistados tendem a esconder o valor real.
207
Quadro 87– Quantidade de estabelecimentos informais que procuram empréstimos até outubro de 2018.
Nesta linha, Penarim (2010) no seu trabalho, citando Tasic (2005), informa que
apenas 10% dos estabelecimentos procuram o crédito:
concessão de crédito, totalizando 22,22% dos que recorrem ao empréstimo, sendo que a
agilidade na obtenção do recurso, a redução da burocracia e do tempo contribuem para
esta decisão.
A gestão do estabelecimento informal, que sob o prisma do mercado também é
um custo, na maioria dos casos é executada pelo proprietário, como um trabalho extra e
de fundamental importância para a sustentabilidade do negócio. Este percentual (ver
quadro 89), de aproximadamente 86%, ratifica o perfil do informal como multitarefas:
vendedor, comprador, gestor/controlador etc., explicando o tempo gasto na operação do
estabelecimento e a questão da intensidade do trabalho, bem como sua ausência de uma
atuação política na comunidade e setor.
O percentual dos que não realizam controle nenhum do negócio é de 11,21%
(ver quadro 89, abaixo), o que pode ser interpretado como resistência ou sorte, mas é
inerente à percepção mínima entre despesas e receita, para abrir a porta do
estabelecimento no dia seguinte.
De outro modo, como o mercado informal se configura como uma saída para
desemprego e desalento por ele causado, é esperada a concorrência entre os pares, o que
influencia também o faturamento do empreendimento, posto que é necessário encontrar
o preço de venda aceitável pelo consumidor informal. Esse aspecto influencia a receita
das vendas dos bens e serviços, justificando, em parte, o faturamento. Assim, o quadro
90, indica que aproximadamente 42% dos proprietários estimam o custo da atividade
antes de fixar o preço. Essa ação revela que um esforço de gestão, seja para evitar
prejuízo, seja para manter a sustentabilidade do estabelecimento e, principalmente, do
núcleo familiar que orbita em torno do mesmo.
Por outro lado, é expressivo que parte dos gestores informais adotem a
precificação do mercado para fixar os preços de suas mercadorias e serviços, estratégia
210
adotada por 32,47% dos entrevistados (quadro 90, abaixo), ressaltando-se que esse
percentual é superior ao observado pelo IBGE, em 2003 na RMB, que foi na ordem de
20,76%. Não menos importante, é a indicação da sugestão do fornecedor como forma de
precificar as mercadorias, 6,49%. Essa estratégia simboliza a transferência da política
adotada no campo formal para o informal como regra, algo que precisa ser observado na
dinâmica da atividade.
É relevante também o papel do cliente no momento da compra, pois a negociação direta
ainda resiste como práxis na informalidade, com um percentual de 11,69% na amostra
pesquisada. Outro estratagema é a vendas por atacado, que apesar de apresentar uma
taxa menor, ao redor de 2,60%, significa que o informal também pode atuar como
fornecedor, um dado interessante a ser observado no cotidiano dos estabelecimentos
informais.
Quadro 90 – Como fixa o preço das mercadorias e serviços ofertados (1) – Out/Nov 2018.
Dificuldades Quantidade %
Não teve dificuldade 29 15,76
Falta de clientes 42 22,83
Falta de crédito 14 7,61
Redução do lucro 18 9,78
Tarifas de água/luz 3 1,63
Problemas com fiscalização/regularização do negócio 1 0,54
Falta de mão de obra 3 1,63
Escassez ou má qualidade matéria-prima 4 2,17
Rotatividade de mão de obra 1 0,54
Concorrência 51 27,72
Instalações inapropriadas 2 1,09
Escassez de capital de giro 14 7,61
Dificuldade de gestão 1 0,54
Outro 1 0,54
Total 184 100,00
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia – Out/Nov 2018.
Nota:
1 – Múltiplas respostas
Quadro 92 – Quais as expectativas para sua atividade informais (1) – Out/Nov 2018.
Perspectiva Quantidade %
Aumentar o negócio 93 86,92
Manter o nível da atividade 8 7,48
Mudar de atividade/se manter na atividade 4 3,74
Transferir atividade para familiares 1 0,93
Aposentar e transferir a atividade 1 0,93
Abandonar atividade e se empregar 0 0,00
Outro 0 0,00
Total 107 100,00
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia – Out/Nov 2018.
uma opção econômica de cunho permanente e irreversível na sua trajetória como forma
de inserção, ante a um quadro de desigualdades e pobreza, que a informalidade tenta
contornar. Assim, ainda que vista como precária por muitos olhares externos, essa
informalidade se constrói como o caminho da qualidade mínima material e de consumo,
elementos esses que nos obrigam a vê-la como uma corrente marítima definitiva no
oceano socioeconômico, que se avoluma ou se reduz em razão das condições do
tempo,mas sempre presente nesses mares da economia.
Por conseguinte é impossível refutar que o estabelecimento informal e suas
articulações representam uma parte importante da informalidade como uma de suas
diversas faces, dentre as quais estes vêm assumindo seu protagonismo, ao mesmo tempo
em que refletem as mudanças no interior da informalidade, buscando no dia a dia
transparecer no espelho social e econômico como elemento ativo no seu ambiente de
atuação.
Assim, os indicadores analisados na presente sessão revelam não somente
informações sobre a dinâmica dos estabelecimentos informais, como demonstram o
quão importantes eles são para, principalmente como testemunhas de uma outra
economia, na qual as relações se dão em um nível onde a acumulação e a destruição não
são o norte decisório.
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215
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A mundialização da economia que avançou pós anos de 1970 reconfigurou a
forma de atuação do grande capital e o universo do trabalho ao longo das últimas cinco
décadas. O emprego e as ocupações adaptaram-se a este cenário: precarização, perdas
de direitos sociais e trabalhistas, novas formas de emprego e ocupação – o trabalho
intermitente, por exemplo – um conjunto de medidas e circunstâncias que favorece a
elevação do desemprego, reduzindo oportunidades de inserção e obrigando os
trabalhadores a encontrarem caminhos para sobreviver.
Um desses caminhos é a informalidade, na amplitude de possibilidades que a
mesma abarca, indo desde o trabalho precarizado até o ambulante, papéis aos quais a
massa de trabalhadores se amolda, procurando formas de inserção e franjas de trabalho.
Trata-se de pseudoalternativas, que contribuem para avolumar as estatísticas de pobreza
e desigualdade.
Por esses mecanismos, o que se percebe é uma transformação gradativa na forma
como a informalidade visível transparece à sociedade e à economia, pois no final dos
anos de 1970 e 1980 iniciou-se a contínua passagem do ambulante para o camelô, que
assumiu, na década de 90 o protagonismo no campo informal, obrigando, em razão da
ocupação das áreas urbanas, a intervenção do poder público, inicialmente no sentindo de
não aceitação dos mesmos nos logradouros das cidades brasileiras. Mas, a realidade se
impôs às normatizações e eles se tornaram presença forte e constante na urbes.
É neste contexto de heterogeneidade e complexidade da informalidade que
percebemos o “estabelecimento informal”, forma caracterizada como uma “organização
não capitalista”, que se apresenta à sociedade numa proposta de ofertar bens e serviços
em ambiente fixo, com atuação local e interação social, e por outro lado, capta renda
para a sobrevivência da família, pois também se trata de uma unidade produtiva
familiar.
No decorrer dos anos de 1990 e, precisamente, na primeira década do século
XXI emerge com um grau de representatividade o estabelecimento informal, apesar do
crescimento da economia brasileira, o que parece contraditório. Assim, entendemos que
esse ator é uma reinvenção no interior da informalidade, o qual, mesmo que previsto em
termos de definição, ainda não tão palpável.
Desse modo, tal forma de informalidade, nova em termos quantitativos e
expressiva na conformação social e econômica, tem protagonismo no espaço de sua
atuação, pois é descentralizada e seu foco volta-se para o âmbito local, para o bairro e
216
familiar, os quais contribuem não somente para alicerçar a atividade, como para
dinamizar a microeconomia do lugar, o que é importante.
Outro aspecto relativo à ocupação de familiares no empreendimento, refere-se à
manutenção, no ambiente familiar, da renda captada através da intermediação da
atividade, fato este que permite a sobrevivência do coletivo, no caso, a família. Nesse
sentido merece destaque a ocupação, pois essa informação só pode ser observada
quando se trabalha a categorização “organização não capitalista”, o que reforça a
necessidade da distinção da mesma em relação à categorização “trabalhador por conta
própria/autônomo”, que por ser a unidade dificulta a visibilidade dessa informação.
De outro modo, além de funcionar como válvula de escape ante a pressão social
por absorver mão de obra do exército industrial de reserva, o que é importante para o
capital, o estabelecimento informal também pode fornecer ou manter ativos, para as
empresas capitalistas, trabalhadores com experiência e qualificados, assim como o
inverso acontece quando se dá crise econômica ou o desemprego estrutural.
É necessário lembrar ainda que o grau de mundialização e a padronização do
consumo contrastam com essa lógica da economia do bairro, em que pese a conexão
existente com o circuito superior, determinado pela globalização periférica. Em parte,
esse movimento observado em torno dos estabelecimentos informais é um retorno,
revisto e atualizado, do tempo das mercearias, devidamente transvertido de
modernização, certamente. Ao mesmo tempo, entendemos que essa forma produtiva e
social representa também um grau de resistência ao sistema, pois desenvolve uma
atividade à margem e semiautônoma, conferindo uma possibilidade de não se enquadrar
em todos os aspectos à lógica do capital, ou seja, de dizer não ou de não ficar totalmente
alinhado à práxis do capital.
Ressaltamos a importância de considerar que uma faceta desse movimento de
retorno advém da necessidade de sobrevivência frente ao desemprego, à pobreza e à
desigualdade resultantes da crise mundial e brasileira ao longo dos últimos dez anos.
Assim sendo, parte dos estabelecimentos informais é fruto do que denominamos “filhos
da crise” os quais, procurando uma ocupação, adotaram a informalidade como saída e,
nesta saída ‒ que acaba por se converter em uma janela pela qual esses filhos pulam
para dentro do mercado, do consumo, de uma rede de negócios, do sustento material ‒
esses empreendimentos assumem o papel principal na obtenção de renda familiar aos
envolvidos.
219
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