Ementa Curso 'O Golpe de 1964 e o Regime Militar Brasileiro: Novas Perspectivas Historiográficas'

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Programa de História Social


Departamento de História

O golpe de 1964 e o regime militar brasileiro: novas perspectivas historiográficas (FLH


5363)

PROGRAMA/ÁREA: HISTÓRIA SOCIAL


Nº DE CRÉDITOS: 4
Aulas Teóricas: 7 DURAÇÃO EM SEMANAS: 7
Período/ Horário: 12/4/2018 a 24/5/2018 – Quintas Feiras – 10h30-12h30
DOCENTE(S) RESPONSÁVEL(EIS): Marcos Francisco Napolitano De Eugênio

PROGRAMA
OBJETIVOS:

- Analisar como os eventos, estruturas e processos políticos relativos ao regime militar


brasileiro se transformaram em pautas historiográficas e pautas de memorização social.
-Mapear e analisar o debate acadêmico sobre o regime militar brasileiro em seus temas
correlatos.
- Discutir o papel dos arquivos e acervos documentais na produção da memória e na
pesquisa histórica.
- Analisar a relação entre memória e história recente, trabalhando a primeira como objeto de
reflexão historiográfica.
- Divulgar as pesquisas recentes na área, com ênfase na história política e cultural .

JUSTIFICATIVA:

O contexto atual, desde a efeméride de 50 anos do golpe, vem estimulando vários debates e
revisões historiográficas acerca não apenas deste evento, mas de todo o regime militar que
se seguiu. Além disso, a disputas de memória e a busca da verdade jurídica e histórica sobre
os casos de violações de direitos humanos, sobretudo após a instalação da Comissão
Nacional da Verdade em 2012, tem pautado os debates públicos sobre o tema. A
historiografia, por sua vez, desde os anos 1980, vem produzindo trabalhos extensivos sobre
o regime, contribuindo para o conhecimento crítico de seus vários aspectos e facetas. Por se
tratar de um passado recente, os trabalhos historiográficos frequentemente tangenciam
conteúdos de memória, produzidos pelos protagonistas em conflito, muitas vezes
questionando-os. Por outro lado, a historiografia mais estabelecida no debate acadêmico
confirma a visão construída pelos protagonistas. Entre estes pontos podemos citar a
existência de uma fase “branda” do regime militar nos seus quatro primeiros anos, a
dicotomia entre linha dura e linha moderada dentro das Forças Armadas, a visão linear a
progressiva da “abertura” de meados dos anos 1970 ao fim do regime, entre outros pontos. O
trabalho mais sistemáticos com arquivos, a pressão pela revisão dos mitos historiográficos,
construídos com base na ética da resistência democrática generalizada no tecido social, a
pressão de grupos excluídos da memória hegemônica (à esquerda e à direita), a
ambigüidade e complexidade de muitas políticas desenvolvidas pelo regime, tem
movimentado um intenso debate historiográfico, que vem se traduzindo em pesquisas
extensas e aprofundadas, calcadas em novos conjuntos documentais, novas leituras das
fontes já conhecidas, sobretudo no campo da história política e cultural. Assim, buscando
sistematizar o debate historiográfico em torno do regime, valorizando as produções mais
recentes sem desconsiderar as linhagens mais estabelecidas, propomos esta disciplina que
se estrutura em três eixos complementares: a estrutura e a dinâmica do regime; a questão da
resistência; a construção e reconstrução das memórias sobre o período. Acreditamos que
estes três eixos concentram os debates mais intensos da historiografia recente, que nos
anos seguintes terá um impacto cada vez maior nos debates públicos e nas memórias mais
estabelecidas sobre o período. Voltada para pesquisadores de várias áreas de humanidades
(historiadores, cientistas políticos, sociólogos), esta disciplina valoriza o debate
transdisciplinar, tangenciando problemas teóricos que envolvem a relação entre memória e
história.

CONTEÚDO (EMENTA):

1) Do golpe ao regime militar (12/abril/2018) – 10h30-12h30

Textos: FIGUEIREDO, Argelina. “Democracia e reformas: a conciliação frustrada” IN: TOLEDO,


Caio. (org). 1964: visões críticas do golpe....P. 47-54; RIBEIRO, David Ricardo S. Da crise
política ao golpe de estado. São Paulo, Hucitec, 2015; FERREIRA, Jorge. João Goulart: uma
biografia. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2011; CODATO, A. O golpe de 64 e o regime de
68. História, Questões e Debates, Curitiba, n.40, 2004, p.11-36

2) Resistência: conceitos e variáveis de ação política e cultural (19/abril/2018) – 10h30-12h30

Textos: NAPOLITANO, Marcos. Coração civil: a vida cultural sob o regime militar (1964-1985).,
São Paulo, Intermeios, 2017; RIDENTI, Marcelo. Em busca do povo brasileiro. Rio de Janeiro,
Record, 2000; CZAJKA, Rodrigo. Praticando delitos, formando opinião: Intelectuais, comunismo
e repressão (1958-1968). Tese de Sociologia, Unicamp, 2009; MOTTA, Rodrigo Patto Sá. As
universidades e o regime militar. Rio de Janeiro, Zahar, 2014

3) Luta armada: historiografia e memória (26/abril/2018) – 10h30-12h30

Textos: REIS FILHO, Daniel A. Ditadura, esquerdas e sociedade. Rio de Janeiro. Jorge Zahar,
2000; RIDENTI, Marcelo. O fantasma da revolução brasileira. São Paulo. Editora UNESP, 2010
(2ª); GORENDER, Jacob. Combate nas trevas. A esquerda brasileira das ilusões perdidas à
luta armada. São Paulo, Ática, 1987; SALES, Jean. Guerrilha e revolução: um balanço dos
estudos e debates sobre a luta armada contra a ditadura militar no Brasil. Revista Taller, v. 4, p.
87-109, 2015.
4) Memória e sociedades pós-conflito político: problemas teóricos (3/maio/2018) – 10h30-12h30

Textos: Vezzetti, Hugo. “Conflictos de la memoria en la Argentina. Un estudio histórico de la


memoria social”, en Anne Pérotin-Dumon (dir.). Historizar el pasado vivo en América Latina,
2007. http://etica.uahurtado.cl/historizarelpasadovivo/es_contenido.php; CAPELATO, Maria
Helena. Memória da Ditadura Militar Argentina: Um Desafio para a História. CLIO. Série História
do Nordeste (UFPE), v. 1, p. 61-81, 2006; SARLO, Beatriz. Tempo Passado. Cultura da
Memória e guinada subjetiva. Companhia das Letras, 2007.

5) Transição política e memória: atores e disputas (10/maio/2018) – 10h30-12h30

Textos: ROLLEMBERG, D. “O esquecimento das memórias” IN: João Roberto Martins Filho
(org.). O golpe de 1964 e o regime militar. São Carlos: Ed.UFSCar, 2006, pp. 81-91; TELES,
Janaina. “Os familiares de mortos e desparecidos e a luta por verdade e justiça no Brasil”. IN:
TELES, Edson e SAFATLE, Vladimir (orgs). O que resta da ditadura. São Paulo, Boitempo
Editorial, 2010, p. 253-298;

6) Arquivos, coleções documentais e produção da memória 17/maio/2018) – 10h30-12h30

Textos: JOFFILY, Mariana. “Direito à informação e direito à vida privada: os impasses em torno
do acesso aos arquivos da ditadura militar brasileira”. Estudos históricos, 25/49, jan-jun- 2012,
p. 129-148; CATELA, Ludmila da Silva. “Do segredo à verdade...Processos sociais e políticos
na abertura dos arquivos da repressão no Brasil e na Argentina. IN: TELES, Janaina; TELES,
Edson; SANTOS, Cecilia M. (orgs). Desarquivando a ditadura. Memória e justiça no Brasil. São
Paulo, Hucitec, 2009, p. 444-471; TELES, Janaina. A constituição das memórias sobre a repressão
da ditadura: o projeto Brasil: Nunca Mais e a abertura da Vala de Perus. Anos 90 (UFRGS. Impresso) , v.
19, p. 01, 2012.

7) História oficial e memória hegemônica (24/maio/10h30-12h30).

Textos: NAPOLITANO, Marcos. Recordar é vencer: dinâmicas e vicissitudes da construção da


memória social do regime militar brasileiro. Antíteses, Londrina, 2015; MOTTA, Rodrigo Patto S.
. História, Memória e as disputas pela representação do passado recente. Patrimônio e
Memória (UNESP), v. 9, p. 56-70, 2013

BIBLIOGRAFIA:

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TOSI, Alberto. “Ciclos de mobilização política. e mudança institucional no Brasil”. Revista de
Sociologia e Política nº 17, 33-43, nov. 2001

CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO:

- Trabalho final: ensaio bibliográfico em diálogo com as questões levantadas durante o curso

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