Quem É Quem Na Bíblia Sagrada
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Quem É Quem Na Bíblia Sagrada
Sobre a obra:
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EDITADO POR PAUL GARDNER
Quem é quem
na Bíblia Sagrada
A HISTÓRIA DE
TODAS AS PERSONAGENS
DA BÍBLIA
Tradução
Josué Ribeiro
Editora Vida ©1995, de Paul Gardner
Rua Conde de Sarzedas, 246 Liberdade Título do original:
CEP 01512-070 São Paulo, SP The Complete Who’s Who in The Bible,
Tel.: 0 xx 11 2618 7000 edição publicada pela
Fax: 0 xx 11 2618 7030 Marshall Pickering
www.editoravida.com.br Todos os direitos desta obra reservados por Editora Vida.
Coordenação editorial: Fabiani Medeiros Proibida a reprodução por quaisquer meios, salvo em
Edição: Mardônio Nogueira breves citações, com indicação da fonte.
Revisão: Rosa Ferreira
Projeto gráfico e diagramação: Imprensa da Fé Todas as citações bíblicas foram extraídas da Edição
Capa: Douglas Lucas Contemporânea, da tradução de João Ferreira de Almeida,
publicada por Editora Vida, salvo indicação em contrário.
1. edição: 2005 / 11a reimp.: out. 2009
12a reimp.: ago. 2010 / 13a reimp.: abr. 2011
14a reimp.: ago. 2011 / 15a reimp.: jan. 2012
16a reimp.: nov. 2012 / 17a reimp.: jul. 2013
18a reimp.: nov. 2014 / 19a reimp.: ago. 2015
20a reimp.: maio 2016
Gardner, Paul
Quem é quem na Bíblia Sagrada / Paul Gardner; tradução Josué Ribeiro. — São Paulo: Editora Vida, 2005.
Título original: The Complete Who’s Who in the Bible.
isbn 978-85-7367-931-1
A|B|C|D|E|F|G|H|I|J|L|M|
N|O|P|Q|R|S|T|U|V|X|Z|
Dedicatória
Propósito
Em alguns aspectos, esta obra pode ser utilizada de uma maneira muito
direta. Simplesmente procure o nome e leia! Sempre que dois, três ou mais
personagens diferentes tenham o mesmo nome, são listados como 1, 2, 3
etc. e talvez seja necessário olhar todos eles para encontrar, por exemplo, o
Zacarias desejado.
O propósito desta obra é dar, sempre que possível, um pouco mais de
informações além dos simples detalhes biográficos de cada personagem.
Com isso em mente, para extrair o máximo deste livro e aprender sobre o
porquê de um nome ser mencionado na Bíblia e o que essa menção ensina
sobre Deus e seus propósitos, provavelmente será necessário que o leitor
olhe também outros nomes relacionados. Já que todos os nomes da Bíblia
estão listados neste volume, a referência a outros nomes só é feita quando a
informação contida no verbete é realmente necessária para se ter um quadro
completo do assunto.
Por exemplo, o leitor talvez esteja interessado em saber mais sobre
Reuel, o sogro de Moisés. Uma olhada rápida remete-o até Jetro. Um
verbete mais longo mostra como ele, um midianita, foi usado por Deus não
somente para prover moradia e uma esposa para o grande legislador, mas
posteriormente para conceder valiosos conselhos sobre a delegação da
autoridade na liderança do povo de Israel, em sua viagem através do
deserto. A ação de Jetro demonstra o cuidado de Deus por seu povo e
especialmente pelos líderes escolhidos por Ele. Isso pode também levar o
leitor a ler os artigos sobre Moisés e a “Aliança”, pois ambos acrescentarão
um considerável entendimento do cuidado do Todo-poderoso por seu povo
e sua atenção especial pelo genro de Jetro.
O interesse de aprender mais sobre Saul levará o leitor a perguntar por
que Samuel parecia tão relutante em aceitar um monarca subindo ao trono
em Israel. Os artigos sobre “Rei”, “Reinado” e “Samuel” ajudarão o
estudioso a entender melhor a atitude do próprio Deus quanto à questão dos
israelitas desejarem um rei e o dilema com o qual Samuel se deparou.
Colaboradores
Esta obra inclui a lista dos que colaboraram em sua elaboração. Sempre
que um verbete possuir mais de 100 palavras, as iniciais do nome de quem
contribuiu são registradas. Ocasionalmente, quando houver mais de uma
pessoa com o mesmo nome, diferentes colaboradores escreveram sobre
elas. Isso é facilmente notado pelas iniciais dos nomes.
Pontos de interrogação
O Editor
Seus auxiliares
ABAGTÁ. Um dos sete eunucos que serviam ao rei Xerxes (Et 1.10).
Veja Vasti.
ABDOM. 1. Filho de Hilel, serviu como um dos juizes de Israel por oito
anos (Jz 12.13-15). Era conhecido por seu grande número de filhos e netos
e pertencia à tribo de Efraim.
2. Listado na genealogia de Benjamim e do rei Saul, como um
dos filhos de Sasaque (1 Cr 8.23).
3. Reconhecido como filho primogênito de Jeiel, filho de
Gibeom, em ambas as genealogias do rei Saul (1 Cr 8.30; 9.36).
4. Filho de Mica, era um dos servos enviados pelo rei Josias para
consultar o Senhor por meio da profetisa Hulda (2 Cr 34.13-28; veja Aicão,
para mais detalhes). (Obs. O relato de 2 Reis 22.12,14 coloca o nome dele
como Acbor, filho de Micaías). S.C.
ABEL. O segundo filho de Adão e Eva, irmão de Caim. “Abel” pode ser
um derivado de um vocábulo hebraico que significa “sopro” ou “vaidade”,
para prefigurar assim que sua vida seria curta. Ele se tornou pastor de
ovelhas (Gn 4.2), enquanto Caim, agricultor. Na época das colheitas, o mais
velho ofereceu a Deus alguns dos frutos colhidos; o mais novo, porém,
apresentou os melhores animais do rebanho, para enfatizar o valor e o custo
deles. O sacrifício de Abel foi recebido favoravelmente pelo Senhor, mas o
de Caim, não. A despeito de uma advertência feita por Deus sobre a
necessidade de que ele dominasse o ímpeto do pecado, Caim conspirou
contra seu irmão e o matou. Seu ato pecaminoso não ficou escondido do
Senhor e a morte de Abel trouxe-lhe o juízo divino.
Abel representou a primeira fatalidade subseqüente à maldição de Deus
sobre a humanidade, por causa da desobediência de Adão e Eva; essa
tragédia, como resultado direto do pecado de Caim, cumpriu a promessa de
que o ato de comerem o fruto do conhecimento do bem e do mal traria a
morte física. Esta enfatizava o desenvolvimento rápido da transgressão,
quando Deus entregou a humanidade às conseqüências do pecado, com um
mínimo de graça para refrear a maldade.
Tanto Caim como Abel ofereceram sacrifícios, para demonstrar assim
que a humanidade, apesar da maldição de Deus, ainda conserva um desejo
de adorálo. O fato de que a adoração envolvia sacrifícios indica o
reconhecimento de que o verdadeiro culto a Deus devia custar algo. A
natureza exata das ofertas não é mencionada, mas o padrão herdado por
Noé (Gn 8.20) sugere que um altar era construído e a oferta, queimada
sobre ele. A maneira como Deus expressou sua aceitação a Abel não é
clara, mas possivelmente isso se deu por uma manifestação do fogo divino.
Talvez sua oferta tenha sido consumida pelo fogo e a de Caim, não (cf. Lv
9.24; Jz 6.21; 1 Rs 18.38).
O Senhor aceitou a oferta de Abel, em detrimento da de Caim, porque o
mais moço era justo (Mt 23.35; Hb 11.4; cf Gn 4.7) e oferecia o melhor do
seu rebanho; sua justiça, porém não foi demonstrada pelo valor da oferta e
sim pela sua fé (Hb 11.4). A repreensão de Deus a Caim, portanto,
focalizou sua atitude de coração (Gn 4.7). Essa foi a primeira revelação de
que o Senhor preocupava-se em que a adoração fosse uma expressão
exterior de um coração devotado e obediente e não apenas um
comportamento religioso.
O assassinato de Abel, como um homem de fé, tornou-se um protótipo
dos que seriam martirizados por sua confiança (Mt 23.35; Lc 11.49-51).
Nesse sentido, a fé de Abel ainda fala (Hb 11.4), porque sua confiança
ainda espera uma vindicação. Ele nunca recebeu a bênção da aprovação de
Deus por sua fé sobre a Terra (Hb 11.39). A morte prematura de Abel
mostrou que a vindicação final da fé é uma esperança futura, mantida com a
confiança em Deus. Um contraste, contudo, é estabelecido em Hebreus
12.24 entre o testemunho do sangue de Abel e o de Jesus; o de Abel
providenciou um testemunho para Deus e trouxe uma maldição sobre Caim
(Gn 4.10-12); o de Cristo é superior porque, embora derramado por
pecadores, traz bênção e não maldição. O sacrifício de Jesus não representa
um martírio, mas um meio eficaz de salvação. R.M.
ABISAI. Era filho de Zeruia, uma das irmãs de Davi, e irmão de Joabe (1
Sm 26.6; 1 Cr 2.16). Foi um dos guerreiros mais leais do rei e liderava o
segundo grupo de três, entre os “heróis” de Davi (1 Cr 11.20). Sempre se
destacava nas batalhas e algumas das suas proezas são relatadas em 1
Crônicas 18.12; 19.11,15.
Antes de Davi subir ao trono, quando fugia de Saul, Abisai lutou ao seu
lado. Ele é mencionado pela primeira vez em 1 Samuel 26, quando se
apresentou como voluntário para acompanhar Davi até o acampamento de
Saul, durante a noite, no momento em que todos dormiam. Certa vez,
Abisai recomendou que Davi aproveitasse e matasse Saul imediatamente.
Seu tio, contudo, não aceitou nenhum conselho para estender a mão contra
o ungido de Deus. Somente o próprio Senhor acertaria as contas com Saul,
e Davi estava preparado para esperar até que isso acontecesse. Abisai então
apanhou a lança e a vasilha de água de Saul e as levou consigo. Do alto da
montanha, Davi chamou Saul e Abner, seu comandante, e mostrou-lhes
como poupara a vida do rei. Tempos depois, Abner matou Asael; Joabe e
Abisai, seus irmãos, perseguiram-no e o mataram (2 Sm 2.24; 3.30).
Posteriormente, quando Absalão rebelou-se contra Davi, Abisai
permaneceu leal ao rei. Ele liderou um terço das tropas de seu tio, que
repeliram o ataque de Absalão em Gileade (2 Sm 18.2). Em várias ocasiões
Davi teve de acalmar Abisai e tentar persuadi-lo de que o Senhor se
encarregaria de cuidar de seus inimigos (2 Sm 16.9-12). Embora Davi
apreciasse a lealdade de seu sobrinho e precisasse dele na luta contra o
próprio filho, pediu-lhe que tratasse brandamente o jovem Absalão (2 Sm
18.5). Finalmente, já perto do fim da vida de Davi, Abisai teve novamente a
oportunidade de salvar a vida do rei, desta vez em um luta contra um
gigante filisteu (2 Sm 21.16,17).
Abisai era totalmente leal ao rei, mas nunca exibiu o mesmo
compromisso com a soberania de Deus que Davi tinha. Ele preferia fazer as
coisas à sua própria maneira, ao invés de colocá-las nas mãos do Todo-
poderoso. P.D.G.
Abraão em Gênesis
Note como toda a história pode ser classificada (A1, A2) pelas
referências a Harã e pelo contraste entre o nascimento e a morte. Esta é uma
narrativa da transformação gradual mediante a graça divina, por meio da
qual pessoas com antigos nomes, Abrão e Sarai (A1), transformaram-se em
novas criaturas, Abraão e Sara (A2). Essa, contudo, não foi uma
transformação repentina. A grande decisão da fé (Gn 15.4-6) foi instantânea
e irreversível; a vida mediante a fé, entretanto, foi uma batalha prolongada
(b1 b4), com muitos fracassos e deslizes. A fé foi efetiva desde o início,
mas amadureceu lentamente. Esse ponto é enfatizado na maneira como a
história é narrada e também nas citações do Novo Testamento. Hebreus
6.15 mostra que a promessa não foi “alcançada” sem paciência e Tiago 2.22
fala que a fé de Abraão foi “aperfeiçoada”. A história do pai da fé, o crente
Abraão, definitivamente nega a ideia da santificação instantânea.
A narrativa de b1 a b4 é cheia de falhas. Primeiro, houve o medo de que,
afinal, o Senhor, que o chamara (Gn 12.1) e lhe prometera (vv. 2-4,7), não
fosse capaz de prover (note o termo “porque” no v. 10). Segundo, a falha
revelada mediante o desejo compreensível de encontrar uma solução rápida
e prática para um problema familiar (Gn 13.8). Abraão mostrou que estava
preparado para adaptar a Palavra de Deus (a promessa de possuir toda a
terra de Canaã), a fim de pacificar Ló. A próxima falha envolveu Hagar,
procedente da espera impaciente pelo cumprimento da promessa (Gn 15.2-
4; cf. também 16.1). E, em quarto lugar, Abraão falhou, quando manteve
hábitos irracionais e temeu por sua segurança pessoal (Gn 20.1,11-13). Essa
última falha foi mais grave do que qualquer outra que Abraão
experimentou. O Senhor não só se comprometeu com ele, mediante uma
aliança (Gn 17.1-8), como mostrou sua fidelidade em manter suas
promessas: Por que Ele “lembrou-se de Abraão, e tirou a Ló do meio da
destruição” (Gn 19.29), embora este não estivesse incluído na promessa de
Gênesis 17.7? A despeito disso, no momento da pressão, quando sua
própria segurança encontrava-se ameaçada (Gn 20.11), Abraão não estava
muito seguro de que o Senhor provaria ser digno de confiança.
A estrada da maturidade da fé (Gn 22.1-19; Tg 2.21,22) sempre foi
baseada na prática de dois passos para a frente e um para trás; é um teste
constante, no qual as pressões da vida — alimento (Gn 12.10), família (Gn
13.7), anseios (Gn 15.3; 16.1) e temores (Gn 20.11) — cooperam, em forma
de “provações” (Tg 1.2), as quais, quando enfrentadas com fé e
perseverança, nos tornam “maduros e completos” (Tg 1.4).
Essa história, contudo, num misto de progressos e fracassos, tem uma
forma distinta e devemos isto à arte literária da Bíblia; observamos com
brevidade como b1 e b4 compartilham referências do engano praticado que
envolveu Sara (Gn 12.1-13; 20.1). Durante todo o tempo em que peregrinou
pela terra, Abraão não estava isento das tentações — nem mesmo de recair
na mesma tentação. Ainda assim, embora ele demonstrasse falta de fé, o
Senhor continuava fiel — “porque não pode negar-se a si mesmo” (2 Tm
2.13) — e trabalhava na solução do problema à sua própria maneira
providencial, não somente guardando a semente prometida, mas também
usando o erro de Abrão para enriquecê-lo materialmente (Gn 12.16) e
confirmá-lo como profeta e intercessor (Gn 20.7,17). As seções
intermediárias (b2 e b3) falam do tema da terra: pressionado pelos conflitos
ocasionados pela presença de Ló, Abraão estava disposto a abrir mão do
direito sobre parte do que Deus lhe prometera (Gn 13.8,9) — como se ele
realmente tivesse competência para dar a Terra Prometida de presente a
alguém! Em contraste, quando uma coalizão de reis estabeleceu o que viam
como seu direito pela mesma área de terra (Gn 14.1-11), Abrão primeiro
agiu resolutamente para invalidar a posse deles (vv 13-16); então, com a
mesma atitude resoluta, não contestou quando o rei de Sodoma calmamente
declarou possessão sobre o que acabara de perder na batalha, nem aceitou
qualquer parte do espólio. Da mesma maneira que a Terra Prometida não
pertencia a Abrão, para dá-la a outrem, tampouco era sua para conquistá-la.
As promessas de Deus não podem ser barganhadas (Gn 13.8,9), nem
herdadas de outra maneira, a não ser no tempo de Deus e pela perseverança
da fé. Muito pungente, a história da morte de Sara (Gn 23) e da compra do
campo de Macpela como local de sepultura fala sobre o mesmo tópico. Era
costume da família patriarcal levar seus mortos de volta para casa, a fim de
sepultá-los (Gn 50.4,5,25); mas Sara não foi conduzida para Ur ou Harã
(Gn 11.31,32). Foi depositada num sepulcro em Canaã. A caverna, com seu
precioso cadáver, era uma declaração muda e poderosa: “Esta terra é nosso
lar; esta terra é nossa, conforme o Senhor prometeu”.
O Pacto Abraâmico
A segurança da aliança
No caso de Abrão, o Senhor apareceu-lhe no momento em que ele
precisava de uma reafirmação e esperança, e disse-lhe que não temesse,
pois garantia a proteção e um grande galardão (Gn 15.1). Não está claro por
que Abrão precisava de tal palavra de Deus, mas Gênesis 15.1 oferece uma
pista, ao localizar o fato, “depois destas coisas...” — quer dizer, após os
eventos do cap. 14: a derrota dos reis (vv. 13-16), a restauração do rei de
Sodoma (vv. 17, 21) e a recusa de participação em qualquer divisão de
espólio (vv. 22-24). Ao ler nas entrelinhas, talvez Abrão temesse um contra-
ataque desferido pelos quatro reis. Teria ele imaginado que não seria
possível aquela vitória representar a maneira como Deus planejava dar-lhe a
terra e, por isso, perdia a oportunidade? Grandes vitórias freqüentemente
são seguidas pela depressão e ansiedade! Seja qual for a razão, Abrão
precisava de uma reafirmação presente e futura e Deus a deu — somente,
contudo, para provocar mais uma reclamação, de que a vida não valia a
pena ser vivida sem um filho e um herdeiro (Gn 15.2). Como o Senhor é
paciente! Como se sua promessa anterior não fosse suficiente, Ele voltou à
tarefa de consolar seu servo com mais duas promessas específicas: a de um
filho e uma família (Gn 15.4,5) e a da terra de Canaã para seus
descendentes habitarem nela (v. 6). Já que Abrão ainda não se sentia
totalmente seguro (v. 8), o Senhor então iniciou os procedimentos da
aliança (vv. 9-18).
O sacrifício da aliança
Quinze anos depois da chegada de Abrão a Canaã (Gn 12.4; 17.1) e treze
depois da falha dele, ao envolver-se com Hagar (Gn 16.16), o Senhor
apareceu-lhe, para completar a aliança. Em Gênesis 15.18, é usada a palavra
técnica para “inaugurar” uma aliança; em Gênesis 6.18, o verbo
“estabelecer” significa “implementar; colocar em ação”; aqui, em Gênesis
17.2, o verbo “firmar” é, literalmente, “colocar, estabelecer”, a fim de
significar que a partir daquele momento a aliança seria um relacionamento
imutável entre o Senhor e Abrão. A passagem amplia a ação da aliança de
Gênesis 15, ao conceder maiores detalhes sobre a promessa (Gn 17.4-8) e
acrescentar os dois componentes remanescentes: a lei (Gn 17.2) e o sinal
(Gn 17.9-14). Típica do período patriarcal, a lei (Gn 17.1) não é específica,
mas, mesmo assim, requer a busca da santidade dentro da comunhão divina.
A promessa, contudo, é detalhada e cobre quatro categorias: pessoal (Gn
17.4,5), doméstica (v. 6), espiritual (v. 7) e territorial (v. 8) e é selada com o
sinal da aliança da circuncisão (vv. 10-14). Desde que esta prática é
chamada de “o sinal da aliança”, deve ser interpretada da mesma maneira
que as palavras idênticas de Gênesis 9.17; isso quer dizer que a circuncisão
não é um sinal do que Abraão prometia a Deus, mas sim do que o Senhor
garantia a Abraão. Por esta razão, Romanos 4.11 refere-se à circuncisão
como “o selo da justiça da fé”: não “o selo da fé”, como se ratificasse a
resposta de Abraão, mas “o selo da justiça”, a fim de confirmar o que Deus
fez por Abraão e as promessas que estabelecera. Dali em diante, enquanto o
patriarca aguardava a chegada do filho prometido, fortalecer-se-ia nos dias
de impaciência ou dúvida, ao lembrar-se de que trazia no próprio corpo a
confirmação das promessas divinas — da mesma maneira que, para Noé, o
arco-íris nas nuvens dissipava qualquer temor de que outra tempestade
interminável acontecesse. Em ambos os casos, o sinal proclamava as
promessas de Deus, exatamente como os sinais da aliança do Batismo e da
Ceia do Senhor fazem hoje.
A fé de Abraão
O filho prometido
A família de crentes
O Deus de Abraão
El Shadday
ABSALÃO (Heb. “pai de paz”). Era o terceiro dos seis filhos de Davi.
Sua mãe chamava-se Maaca e ele nasceu em Hebrom. Seu temperamento
passional aparece no assassinato de Amnom (veja Amnom), ao descobrir
que ele violentara sua irmã Tamar (2 Sm 13). Absalão era famoso por sua
beleza e seus longos cabelos (2 Sm 14.25-27).
A instabilidade no vacilante reinado de Davi foi marcada por diversos
fatores, em conseqüência do adultério de Davi (1 Sm 11 e 12) e pela
ocorrência da violência, como assassinato e estupro dentro da própria
família real. A vida de Absalão serve para ilustrar que os resultados do
pecado permanecem, mesmo quando há sincero arrependimento. Apesar de
Davi ter-se arrependido de sua transgressão e ser perdoado por Deus, não
escapou das turbulentas conseqüências em sua própria família. A sua
relutância em intervir e punir Amnom, pelo estupro da irmã de Absalão (2
Sm 13.22), fez com que perdesse a credibilidade aos olhos deste filho. Ele
se consumiu pela raiva e pelo ressentimento, até que surgiu a oportunidade
de vingar-se e ele matou Amnom (2 Sm 13.28,29). Absalão ficou eLivros
por três anos, até que Joabe diplomaticamente forçou Davi a perdoar seu
erro. Posteriormente, pai e filho tiveram uma reconciliação parcial (cf. 2 Sm
14).
A tensão, entretanto, nunca se dissipou totalmente. Desse momento em
diante, Absalão gastou todas as suas energias, a fim de subverter o reinado
de Davi. O conflito não resolvido entre pai e filho afligia o rei e, a despeito
da séria ameaça que Absalão representava ao seu governo, Davi relutava
em reconhecer que sua autoridade estava seriamente ameaçada. Este filho
conspirou para destronar seu pai e foi bem-sucedido em conseguir apoio
dos seguidores descontentes de Davi (2 Sm 15). Joabe percebeu a hesitação
do rei em ordenar a morte do próprio filho. Absalão ficou pendurado pelos
cabelos em uma árvore e foi imediatamente morto por Joabe e seus
soldados (2 Sm 18.1-18).
Davi lamentou profundamente a morte de Absalão, até que Joabe o
persuadiu a ver a vida de seu filho sob a perspectiva da confusão e
instabilidade que causara.
Os três filhos de Absalão não são mencionados depois de 2 Samuel
14.27. De acordo com 2 Samuel 18.18, parece que somente sua filha
sobreviveu, a quem ele dera o mesmo nome de sua irmã Tamar. S.V.
ACUBE.
1. Filho de Elioenai e faz parte da linhagem real de Judá após o
exílio; portanto, um descendente do rei Davi (1 Cr 3.24).
2. Um dos cabeças do clã levita dos porteiros do Templo; viveu
em Jerusalém depois do cativeiro babilônico (1 Cr 9.17; Ne 8.7; 11.19;
12.25). Seus descendentes exerceram a mesma função (Ed 2.42; Ne 7.45), a
qual também incluía a guarda dos depósitos do Templo próximos aos
portões. Provavelmente esse é o mesmo Acube que também é relacionado
entre os levitas que ajudaram a instruir o povo na Lei de Deus, depois que
Esdras a leu publicamente. O trabalho deles era idêntico ao dos sacerdotes e
ministros através dos séculos: tornar claro o significado da revelação de
Deus na Palavra, para que as pessoas possam responder em fé e obediência
(Ne 8.7,8). O resultado do ministério sacerdotal foi que todo o povo chorou,
pois reconheceu a desobediência e a necessidade do perdão. Neemias
animou a todos, lembrando-lhes a “alegria do Senhor” (v. 10).
3. Esse Acube era um “servidor do Templo”, cujos descendentes
retornaram do exílio babilônico com Zorobabel e Neemias (Ed 2.45).
P.D.G.
ADÃO
ADIM (Heb. “voluptuoso”). Esdras 2.15 diz que 454 dos seus
descendentes retornaram do exílio na Babilônia; o número dado em
Neemias 7.20 é 655. Esdras 8.6 menciona que Ebede, um dos descendentes
de Adim, juntamente com 50 outros homens subiram da Babilônia durante
o reinado de Artaxerxes. Adim é descrito como um dos líderes que
colocaram o selo sobre o juramento do povo, registrado em Neemias 10.16.
AICÃO (Heb. “meu irmão tem se levantado”). Nos dias do rei Josias, o
“Livro da Lei” foi encontrado no Templo. O monarca enviou Aicão,
juntamente com o sacerdote Hilquias e outros, para consultar uma profetisa
a respeito do livro. Hulda destacou as palavras da lei de Deus que
prometiam castigo sobre Israel, caso se desviassem do Senhor e adorassem
outros deuses. Judá fizera essas coisas e por isso o juízo estava próximo (2
Rs 22.1217).
Tempos depois, durante o reinado de Jeoiaquim, Jeremias também
recebeu instrução de Deus para profetizar que viria juízo sobre Judá. Ao
ouvirem as más notícias, o povo queria matar Jeremias, mas Aicão salvou o
profeta da morte (Jr 26.24). Seu filho Gedalias foi nomeado governador de
Judá por Nabucodonosor, depois da queda de Jerusalém em 587 a. C. (Jr
40.7). Jeremias então ficou com Gedalias, o qual cuidou dele.
Aicão e seu filho eram leais aos reis de Israel, mas também fiéis ao
Senhor; portanto, apoiavam os profetas, a despeito das palavras duras de
juízo contra Judá que proclamavam. P.D.G.
ALIANÇA
Quando estudamos os personagens bíblicos, é importante entender não só
o contexto social, geográfico e histórico de cada um, mas também sua
situação espiritual. Qualquer discussão sobre eles, quanto à sua posição
teológica, deve levar em conta o tratamento de Deus para com o seu povo
como a nação do pacto. O vocábulo “aliança” é uma designação especial do
relacionamento que Deus graciosamente estabeleceu e por meio do qual
mantém uma estreita comunhão com seres humanos frágeis e pecaminosos,
geração após geração. O AT fala sobre várias alianças. Todas elas foram
reunidas debaixo de um mesmo guarda-chuva na “nova aliança” confirmada
na morte sacrificial do Senhor Jesus Cristo. Todas as alianças de Deus na
Bíblia são graciosas por natureza. As da graça são convenientemente
divididas em duas épocas: a da Antiga e a da Nova Aliança.
A Antiga Aliança
A Aliança Abraâmica
Promessa e bênção. A base da AA é a aliança com Abraão; de acordo com
ela, Deus prometeu estar com ele, aumentar sua família, estar com seus
descendentes, protegêlos na terra de Canaã e torná-los uma fonte de
bênçãos para as nações (Gn 12.2,3). O Grande Rei prometeu proteger e
livrar seus súditos (Gn 15.1,17). Essa promessa de estar entre os seres
humanos como o Emanuel (Deus conosco; Is 7.14; 8.8) não era algo novo
na história da redenção. Afinal, o Senhor prometera proteger Caim (Gn
4.15). A novidade era que Deus comprometeu-se com uma família, para ser
seu protetor. A certeza de sua proteção é ainda mais ampla pela promessa
de sua bênção. Como a proposta era a palavra de Deus para livrar seu povo,
a bênção era sua promessa de assegurar prosperidade, felicidade e
segurança.
A fidelidade de Deus
A lei de Deus
A Aliança
A Nova Aliança
O testemunho apostólico
Paulo
Em que sentido eles eram também filhos de Deus por adoção? Enquanto
o AT é reticente na descrição da comunhão de Deus com o povo de sua
aliança, em termos de adoção, o apóstolo interpreta a condição privilegiada
dos israelitas à luz da ficção legal romana. A adoção pertence aos judeus!
Vários argumentos sustentam essa conexão. Primeiro, Deus chamou Israel
para ser seu filho, seu primogênito (Êx 4.22; Dt 14.1; 32.6,18: Is 1.2; 43.6;
45.11; 64.8; Jr 31.9; Os 1.10; 11.1, Ml 2.10). Segundo, Isaías apelou para a
fidelidade do Senhor para com a aliança com base no relacionamento Pai-
filho (Is 63.16; 64.8). A complementação do apóstolo à metáfora da adoção
é extremamente importante. Em vez de interromper a continuidade entre a
AA e a NA pela definição da AA como uma perda da adoção, ele
demonstra essa experiência dentro da ideia de adoção!
A Lei. O vocábulo grego nomothesia pode ser traduzido na forma ativa (“a
doação da lei”) ou na forma passiva (“o recebimento da lei”). Para o
apóstolo Paulo, tanto o dom como o recebimento da Lei eram expressões da
condição do eleito e do favor que Israel tinha diante do Senhor. Aqui este
termo não tem uma conotação negativa. A Lei é um dom de Deus e uma
parte da comunhão especial da adoção, das alianças e das promessas. Não
deve ser vista de forma negativa, como no argumento de Paulo aos gálatas.
AMISADAI. Pai de Aieser, da tribo de Dã. Aieser era o líder dos danitas
no Sinai (Nm 1.12; 2.25; etc.).
AMITAI. Pai do profeta Jonas, viveu em 800 a.C., natural de Gate-Hefer
(2 Rs 14.25; Jn 1.1).
ANÃ (Heb. “nuvem”). Um dos líderes que selaram o pacto feito pelo
povo de adorar ao Senhor e obedecer à sua Lei (Ne 10.26).
ANATE. Pai de Sangar, um dos juízes de Israel (Jz 3.31; 5.6). O nome
refere-se a uma deusa da guerra.
ANER. Um dos três irmãos amorreus (veja também Manre e Escol) que
se aliaram a Abrão quando perseguiu Quedorlaomer, a fim de resgatar Ló
do cativeiro (Gn 14.1316). Mais tarde, Abrão mostrou-lhes sua gratidão (Gn
14.24). (Para mais detalhes sobre o incidente, veja Anrafel.)
Os anjos nas cartas de Paulo. Paulo tinha menos a dizer sobre anjos do
que se poderia esperar, embora reconhecesse que a luta do cristão era contra
“principados e potestades” (Ef 6.12; cf. 2.2; Jo12.31; 14.30). Estava
convencido de que nem os anjos e nem qualquer outro poder criado
separariam os verdadeiros cristãos do amor de Deus em Cristo (Rm
8.38,39).
Paulo mencionou os anjos caídos, e lembrou aos crentes pecaminosos de
Corinto que “os santos” julgariam os anjos (1 Co 6.3). Também admitiu que
“o próprio Satanás se transforma em anjo de luz” (2 Co 11.14). Esse
comentário afirma ser necessário estarmos em constante vigilância, para
resistirmos a tais ataques enganadores. Embora os anjos tenham
desempenhado um papel importante no tocante à colocação da lei divina em
atividade (Gl 3.19), certamente não deveriam ser adorados Cl 2.18). Na
verdade, ao escrever aos gálatas, Paulo diz que “ainda que nós mesmos ou
um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos
anunciamos, seja anátema” (Gl 1.8). Ele reconhecia com gratidão a bondade
inicial dos gálatas, pois “me recebestes como a um anjo de Deus” (Gl 4.14).
Ao escrever aos tessalonicenses, Paulo declarou solenemente que os
oponentes do cristianismo, os quais perseguiam os crentes, seriam punidos,
“quando do céu se manifestar o Senhor Jesus com os anjos do seu poder,
em chama de fogo...” (2 Ts 1.7,8). Deus ainda estava no controle de sua
criação.
Duas passagens em 1 Timóteo devem ser observadas. Na primeira, os
anjos são mencionados num antigo hino muito bonito (1 Tm 3.16). Na
segunda, uma séria advertência é feita ao jovem líder cristão, não só na
presença de Deus e de Cristo, mas também diante “dos anjos eleitos” (1Tm
5.21), em contraste com Satanás e os outros anjos caídos.
A Bíblia tem muito a dizer sobre os anjos. Eles foram criados e não
devem ser adorados ou louvados. Pelo contrário, são servos sobrenaturais
de Deus, que participam dos seus propósitos, tanto de juízo como de
salvação. São agentes e mensageiros do Senhor, trabalhando em favor dos
seus filhos e protegendo-os. Os anjos participam da adoração a Deus e
cumprem a sua vontade na Terra. Alguns, entretanto, se rebelaram contra o
Senhor e aliaram-se a Satanás. Estes serão julgados junto com o diabo.
A.A.T.
APAIM (Heb. “faces”). Um dos filhos de Nadabe; Apaim foi pai de Isi
(1 Cr 2.30,31); era líder na tribo de Judá.
APÓSTOLOS
O vocábulo “apóstolo” (do grego apostolos, que significa “mensageiro”
ou “enviado”) é o nome dado a alguém enviado para uma missão por
outrem. No NT esse termo é usado para identificar os primeiros líderes do
movimento que se formou em torno de Jesus de Nazaré. Com o tempo, este
termo tornou-se mais amplo e abrangeu também outros cristãos que
cumpriram tarefas de destaque na área de evangelização e missões.
Havia muitas pessoas que desejavam seguir a Jesus (Mt 8.18-22; Lc 9.57-
62) e desse grande grupo Ele selecionou os setenta (Lc 10.1-20; alguns
manuscritos trazem “setenta e dois” nos vv. 1,17), bem como os doze (Lc
9.1-6). A escolha destes últimos tinha um propósito duplo. Foram
escolhidos “para que estivessem com ele, e os mandasse a pregar” e a fim
de participarem do ministério de Jesus (Mc 3.14,15). Essa seria uma tarefa
cheia de desafios e que exigiria muito deles; mas o Senhor prometeu estar
com eles e ajudá-los, mesmo após seu retorno ao Pai (Jo 14.18). Ele
enviaria o Espírito Santo, a fim de ensiná-los e capacitá-los para o
testemunho cristão (Jo 14.26; 15.26,27). Eles então seriam capazes de sair
pelo mundo, a fim de compartilhar o Evangelho com outros. No livro de
João, após a ressurreição de Cristo, o Senhor lembra aos discípulos qual é a
comissão deles: “Assim como o Pai me enviou, eu vos envio” (Jo 20.21).
Essa comissão é citada repetidas vezes (Mt 28.16-20; Lc 24.46-49; cf. Mc
16.15,16; At 1.8).
Devido ao grau de aproximação com Jesus, algum reconhecimento
favorável deve ser dado ao “discípulo amado”, citado apenas no evangelho
de João e nunca identificado pelo nome. A tradição cristã geralmente
assume que se tratava do próprio autor do quarto evangelho, embora haja
discussão quanto a isso. De qualquer maneira, o escritor deste livro notou
que esse discípulo estava próximo a Jesus e foi quem lhe perguntou, durante
a última Ceia, sobre a identidade do traidor (Jo 13.23-25). O discípulo
amado também estava presente durante a crucificação, quando foi-lhe dada
a responsabilidade de cuidar da mãe de Cristo (Jo 19.25-27).
Posteriormente, esteve presente com Pedro na cena do túmulo vazio e na
pesca milagrosa no mar de Tiberíades (Jo 21.1,7,20). Aparentemente, era
uma figura bem conhecida nos círculos de amizade de João e gozava da
total confiança de Jesus.
Dois outros discípulos devem ser mencionados, pelo seu grau de amizade
com Jesus. Em todas as listas com os nomes dos apóstolos, Pedro é sempre
mencionado em primeiro lugar e Judas Iscariotes em último. Evidentemente
Pedro era o líder do grupo e claramente serviu como porta-voz deles em
várias situações (Mt 16.13-16; Mc 8.27-29; Lc 9.18-20; Jo 6.68,69). No
outro extremo da escala está a trágica figura de Judas, cujo ato de traição
contra Jesus resultou em ser colocado sempre como último nome nas listas.
Passou a ser visto como traidor de “sangue inocente” e confessou seu
pecado antes de se matar (Mt 27.3-10; cf. At 1.16-19).
O Senhor sabia que sua missão seria depositada nas mãos dos que a
terminariam, depois que Ele deixasse a Terra. Por essa razão, dedicou
grande parte de seu tempo e atenção ao treinamento dos discípulos,
especialmente dos doze. Em público, Ele geralmente ensinava por meio de
parábolas, mas, em particular, explicava tudo claramente aos discípulos (Mt
13.10-13,36; Mc 4.10-20,34; Lc 8.9-15). Jesus falou-lhes a respeito da
natureza de sua vida e seu trabalho, da necessidade de sua morte, da certeza
de sua ressurreição e de seu retorno final em poder e grande glória (Mt
16.21; Mc 8.31; 9.31; 10.33,34; 14.62; Lc 9.21,22,26; cf. Jo 5.25-30).
Foram excelentemente ensinados por Jesus, o Mestre dos mestres, que era
também o Senhor (Jo 13.13). De fato, o título de “Mestre” foi usado com
referência a Cristo mais freqüentemente do que qualquer outro título nos
evangelhos (Mt 8.19; 12.38; 17.24; Mc 4.38; 12.14,19,32; Lc 7.40; 10.25;
Jo 3.2; 20.16); certamente Ele dirigiu a maior parte de sua instrução para os
que estavam mais próximos, para os quais confiou o futuro de sua Igreja.
Sumário
ÁQUIS (Heb. “o rei dá”). Rei de Gate, na época de Davi. Seu pai era
Maoque (1 Sm 27.2), ou, se 1 Reis 2.39 refere-se à mesma pessoa anos
mais tarde, Maaca. Na segunda passagem, dois escravos de Simei fugiram e
refugiaram-se com Áquis, durante o reinado de Salomão.
Davi, enquanto fugia do rei Saul, por duas vezes buscou refúgio junto a
Áquis em Gate. Na primeira vez (1 Sm 21.10-15), ele fingiu ser louco, pois
estava com medo do rei filisteu. Ao escapar de Saul e ser considerado
maluco por Áquis, Davi escondeu-se na caverna de Adulão. Na segunda
ocasião (1 Sm 27.1-12), o filho de Jessé fugiu para Áquis com 600 homens
e suas respectivas famílias. O rei filisteu deu-lhe a cidade de Ziclague, no
deserto, para estabelecer-se. Fiel à sua determinação de não matar o ungido
do Senhor (Saul), Davi dava a entender a Áquis que fazia incursões e
guerrilhas em Israel, quando na verdade atacava as cidades da Filístia.
Posteriormente, quando os filisteus subiram para lutar contra Israel, Áquis
convidou Davi para ir junto, mas os outros reis não permitiram, pois
temiam que o filho de Jessé se voltasse contra eles (1 Sm 28.1,2; 29.1-11).
Davi então retornou ao seu acampamento.
Enquanto Davi recebia ajuda de Áquis, nunca fez algo que ameaçasse seu
povo. Ele tinha convicção de que seria o Senhor quem o colocaria
finalmente no trono de Israel e jamais chegaria ao poder por meio da ajuda
dos inimigos de Deus. Esse ataque combinado de vários reis filisteus
culminou com a morte de Saul e, no tempo estabelecido pelo Senhor, Davi
tornou-se rei. P.D.G.
ARAM. Um dos filhos de Disã e irmão de Uz. Disã foi o líder do clã dos
horeus, os quais viviam em Edom (Gn 36.28; 1 Cr 1.42).
ARÃO. Arão era o típico “irmão do meio”, numa família de três filhos,
espremido como sanduíche entre sua irmã Miriã, de personalidade forte, e
seu irmão Moisés, competente e firme como uma torre (Êx 6.20; 7.7) —
não é de admirar que tenha crescido com a graça da submissão e com o lado
inverso dessa virtude: indecisão e fraqueza crônica.
ARELI. Um dos filhos de Gade, do qual nasceu o clã dos arelitas (Gn
46.16; Nm 26.17). Foi para o Egito com Jacó e os demais israelitas.
ASAFE. 1. Juntamente com Hemã e Etã, foi nomeado pelo rei Davi
como responsável pelos cânticos na casa do Senhor (1 Cr 6.31-40). Era
levita, filho de Berequias e nomeado como principal cantor quando a Arca
foi levada para Jerusalém e em várias outras ocasiões, quando havia festas
nacionais (1 Cr 15.17-19; 16.5,7,37; 2 Cr 35.15). Ele liderou os louvores,
juntamente com outros levitas, quando o Templo foi consagrado pelo rei
Salomão (2 Cr 5.12).
Sua influência musical estendeu-se muito além do serviço do Templo, até
o livro de cânticos dos judeus, onde permaneceu por todos os tempos. Seu
nome é encontrado no título de doze salmos, para indicar que
provavelmente são parte de uma cantata, composta por ele ou para ele (Sl
50; 73 a 83). Esses salmos figuravam entre os cânticos durante o
avivamento nos tempos do rei Ezequias (2 Cr 29.30). Na época do retorno
do exílio babilônico, os cantores do Templo eram referidos apenas como
“filhos de Asafe” (Ed 2.41; Ne 7.44; 11.17; etc.).
2. Pai de Joá, cronista durante o reinado de Ezequias, rei de Judá
(2 Rs 18.18,37; Is 36.3,22).
3. Guardião das florestas do rei Artaxerxes. Foi procurado por
Neemias, que tinha autorização para requerer a madeira para o escoramento
dos portões de Jerusalém e reconstruir os muros da santa cidade {Ne 2.8).
S.V.
ASERÁ. Nome de uma deusa cananita, mas esse termo nem sempre se
distingue dos instrumentos usados em sua adoração. Referências às
“colunas de Aserá” indicam alguns destacáveis objetos de madeira usados
no culto à deusa. Ao que parece, essas colunas eram levantadas ao lado dos
altares e, quando os israelitas obedeceram à ordem do Senhor, tais peças
foram derrubadas e a madeira usada como lenha para queimar seus próprios
sacrifícios (Êx 34.13; Dt 7.5; 16.21; Jz 6.25)3.
Essa deusa é mencionada em vários documentos extrabíblicos. Nos
textos ugaríticos ela era a deusa do mar, intimamente ligada a Baal. Os dois
foram invocados juntos no confronto entre Elias e os falsos profetas, no
monte Carmelo. Naquele desafio, o homem de Deus clamou e caiu fogo do
céu, o qual queimou o sacrifício ao Senhor. A chama ardente caiu em
resposta às orações de Elias, e não às dos falsos profetas (1 Rs 18.19).
O povo de Israel desviava-se freqüentemente do Senhor para adorar os
deuses cananeus. Tal “adultério”, como os profetas chamavam, era punido
com grandes juízos de Deus. A extensão com que tal adoração a Baal e
Aserá penetrou na vida e na adoração dos israelitas pode ser vista em
muitos textos das Escrituras; mas a passagem de 2 Reis 21.3,7 merece uma
nota particular, pois mostra o perverso rei Manassés estabelecendo uma
coluna de Aserá dentro do próprio Templo. Como resultado dessa grande
blasfêmia, o Senhor prometeu destruir Jerusalém e permitir que os inimigos
de Judá conquistassem a terra.
Talvez, mais do que qualquer outro culto, a influência de longo prazo do
culto de Aserá tornou-se um símbolo da assimilação israelita de outras
culturas e religiões. As advertências feitas em Êxodo 34.13 (“os seus altares
derrubareis, e as suas colunas quebrareis, e os seus postes-ídolos cortareis”)
e repetidas muitas vezes em Deuteronômio (cf. 7.5; 12.3; etc.) foram
ignoradas.
O ponto central do problema com a adoração de Aserá e Baal era que
Israel recusava-se a encarar com seriedade a necessidade de ser uma nação
“santa” e dedicada somente ao Senhor e ao seu serviço. A facilidade de
assimilar as culturas ao redor e suas várias manifestações religiosas sempre
foi e será a questão que mais preocupa os homens e mulheres de Deus.
P.D.G.
ASSUR. Um dos filhos de Sem (Gn 10.22; 1 Cr 1.17). Esse também era
o nome do povo assírio e de sua divindade, pois Assur é considerado o
fundador daquela nação. A história dos reis assírios diz que os fundadores
da nação eram nômades vindos do Sul e do Oeste. Provavelmente esse é o
país mencionado em Números 24.22 e Ezequiel 27.23.
AZUBA. 1. Mãe do rei Jeosafá, de Judá, e esposa do rei Asa. Era filha de
Sili (1 Rs 22.42; 2 Cr 20.31). Seu filho “fez o que era reto aos olhos do
Senhor”, pois expulsou os prostitutos cultuais de Judá e acabou com muito
do passado pagão (1 Rs 22.43,46).
2. Esposa de Calebe e mãe de Jeser, Sobabe e Ardom. Quando morreu,
Calebe casou-se com Efrate (1 Cr 2.18,19).
1 No original foi colocado o número 32.200 pessoas, o qual, entretanto, não coincide com a
referência bíblica correspondente nem com o relato bíblico (Nota do Tradutor).
2 No original o autor colocou aqui “El Olam” (Deus Eterno), provavelmente de forma
equivocada (Nota do Tradutor).
3 As versões em português traduzem esses textos apenas como “colunas” ou “postes-
ídolos” (Nota do Tradutor).
B
BAAL (Heb. “mestre”). Esse deus semita ocidental sempre provou ser
uma ameaça para a adoração genuína do povo de Israel. Era muito temido
na cultuação cananita, porque representava o deus da tempestade, o qual,
quando estava satisfeito, cuidava das colheitas e das terras; porém, se
estivesse zangado, não enviava as chuvas.
Elias, no auge de sua atividade profética — enquanto o reino de Israel
encontrava-se num triste declínio sob o reinado de Acabe — confrontou a
adoração de Baal feita pelo rei e pelo povo, em 1 Reis 18. O confronto entre
o profeta do Senhor e os de Baal sobre o monte Carmelo foi o ponto
culminante da crescente tensão entre os nomes indicados por Jezabel e,
portanto, leais a Acabe. Desde o início do reinado de Salomão, Israel estava
envolvido em um sincretismo religioso com as nações circunvizinhas. Ao
invés de fazer prosélitos, como deveriam, viviam num ambiente onde o
temor de outros deuses havia obstruído a confiança do povo nas palavras
dos profetas, muitos dos quais inclusive mataram.
A dificuldade do povo de Israel não era a de encontrar o Deus principal
num panteão de muitos deuses. Pelo contrário, a questão era descobrir:
“Qual é o único Deus vivo?”. Em 1 Reis 18, a intenção do profeta era
zombar da insensatez de se adorar um “falso deus”, em vez de argumentar
que tais entidades na verdade não existiam. A ironia desta passagem, ao
comparar a verdade com a falsidade, Deus com Baal, pode ser vista em três
áreas:
(1) Talvez a mais poderosa seja a ironia relacionada com a incapacidade
de Baal de enviar chuva. Os cananeus acreditavam que ele, o deus que tinha
o controle das forças da natureza, passava por ciclos regulares de morte e
ressurreição. Esse fenômeno podia ser visto nos períodos da seca e da
chuva. Começando com o desafio de 1 Reis 17.1, o qual comprovou que o
Senhor podia reter a chuva, a despeito do que diziam os seguidores de Baal,
e concluindo com a cena onde a chuva veio somente por meio das
instruções de Deus, a Bíblia demonstra claramente que o Senhor é todo-
poderoso sobre a natureza.
(2) A segunda ironia é sobre o próprio sacrifício. Em última análise, o
sangue do sacrifício pareceria ser o dos próprios profetas de Baal mortos (1
Rs 18.40). A despeito de toda a frenética atividade deles (vv. 27-29), “não
houve voz, nem resposta, nem atenção alguma” (v. 29b) por parte deste
deus. O sacrifício deles foi em vão, porque o único sacrifício aceitável ao
Senhor foi a fidelidade de um único profeta, apesar do fracasso nacional na
adoração do Deus verdadeiro.
(3) A conclusão, a qual o escritor supõs que seria evidente para sua
audiência, era a ironia de que Baal estava morto. Essa realidade não está
explícita em 1 Reis 18.27-29, mas o leitor é levado a formular essa
inescapável conclusão. A vindicação do profeta é que somente Deus está
realmente vivo. Somente Ele responde com fogo; os outros não dão
resposta alguma, pois não existem.
O ponto é novamente destacado quando, em 1 Reis 18.41-45, foi Deus
quem mandou a chuva — algo que acreditavase ser uma prerrogativa de
Baal. A religião cananita racionalizou os silêncios periódicos dos seus
deuses com a ideia mitológica de que Baal ocasionalmente morria, para
posteriormente ressuscitar. O indiscutível silêncio do falso deus deveria
levar à conclusão de que na verdade estava permanentemente morto! S.V.
BAASA. Rei de Israel por volta de 909 a 886 a.C. Usurpou o poder do
reino do Norte das mãos de Nadabe, filho de Jeroboão I. Foi o terceiro rei
da parte norte do reino dividido. Deus enviou juízo contra o reinado de
Nadabe, por causa de sua maldade e idolatria, pois simplesmente seguiu o
mesmo caminho do pai (1 Rs 15.25,26).
Baasa era filho de Aías, da tribo de Issacar, e matou Nadabe enquanto
este lutava contra os filisteus. Estabeleceu seu reino primeiramente em
Tirza (1 Rs 15.33; 16.8), quando matou todos os descendentes de Jeroboão.
O governo de Baasa, contudo, foi um desastre para Israel. Quando se tornou
rei, os israelitas ainda tinham o controle sobre os territórios a leste do rio
Jordão, uma área remanescente nos dias do rei Salomão. Logo perderam
todas essas terras e, depois de atacar Judá, Asa firmou um tratado com o rei
da Síria (1 Rs 15.16-22; 2 Cr 16). Baasa logo percebeu que lutava contra a
coalizão em duas frentes, uma ao norte e outra ao sul, e foi forçado a abrir
mão de alguns territórios em Efraim, para Judá, e outros para a Síria.
Baasa, como Nadabe e Jeroboão, era idólatra e perverso; embora seu
filho Elá tenha reinado por pouco tempo, após 26 anos o regime de Baasa
foi derrubado por um golpe de Estado encabeçado por Zinri. Esse final fora
previsto pelo profeta Jeú que o alertara sobre o iminente juízo de Deus, que
resultaria na destruição total de sua casa; os cães lamberiam o sangue dos
parentes que morressem na cidade (1 Rs 16.1-7,12,13).
A maldade de seu reinado tornou-se quase um provérbio sobre o pecado,
como acontecera com o governo de Jeroboão antes dele, cujo nome foi
usado por Deus para lembrar as futuras gerações dos reis de Israel sobre os
perigos da idolatria e o castigo subseqüente (1 Rs 21.22; 2 Rs 9.9). veja
também Nadabe, Jeú e Zinri. P.D.G.
BALAQUE. Filho de Zipor, foi o rei moabita que convocou Balaão para
amaldiçoar o povo de Israel, movido pelo medo, ao tomar conhecimento da
vitória dos israelitas sobre outros povos. Achou que seria possível contratar
Balaão para lançar uma maldição sobre os hebreus e, assim, derrotá-los
(Nm 22). A despeito da insensatez de Balaão, Deus o usou várias vezes para
confrontar Balaque e abençoar o povo, ao invés de amaldiçoar (Nm 23.11),
para consternação do rei moabita. Os escritores bíblicos viram Balaque
como um exemplo de extrema imprudência e uma ilustração de como os
pagãos subestimam o poder do Deus de Israel. Tentar amaldiçoar o povo a
quem Senhor abençoou só poderia resultar em maldição sobre si mesmo!
(Js 24.9; Jz 11.25). As gerações futuras são desafiadas a lembrar do
exemplo de Balaque e dessa maneira evitar o juízo de Deus (Mq 6.5). Da
mesma forma, o falso ensino deve ser evitado, devido à sedução e aos
efeitos perigosos que causa sobre a congregação (Ap 2.14). S.V.
BATE-SEBA. Linda mulher, que fora esposa de Urias, o heteu. Era filha
de Eliã (2 Sm 11.3). Tornou-se depois esposa de Davi e mãe de Salomão.
Nos eventos que cercaram a morte do rei, seu esposo, e a sucessão ao trono,
ela ajudou a assegurar que a vontade dele de ter Salomão como sucessor
fosse cumprida.
Bate-Seba é mais conhecida, contudo, por seu relacionamento adúltero
com Davi. Numa bela tarde, o rei passeava pelo terraço do palácio e viu
essa linda mulher banhar-se a uma certa distância. Depois de descobrir
quem era, conseguiu arranjar que fosse trazida até ele, quando os dois se
envolveram sexualmente e ela acabou grávida. Ao tentar ficar livre do
problema, Davi conseguiu que o marido de BateSeba, que estava ausente
por participar das campanhas militares em defesa do reino, voltasse para
casa, para que a gravidez fosse atribuída a ele. Leal aos seus companheiros,
que não tiveram direito a nenhuma folga, Urias recusou-se a ir para casa e
ter qualquer relação sexual com a esposa. Como seu plano fracassou, Davi
mandou-o de volta para a frente de batalha com a ordem secreta, enviada ao
comandante Joabe, para colocá-lo em um lugar onde pudesse morrer. O
adultério, dessa maneira, levou o rei aos pecados da mentira, do engano e,
finalmente, do assassinato.
O profeta Natã foi a Davi e pronunciou o juízo de Deus (2 Sm 12). Bate-
Seba tornou-se esposa do rei, mas o bebê morreu ainda pequeno. Depois da
morte da criança, Davi confortou-a; ela engravidou novamente e dessa vez
deu à luz Salomão (v.12). Tempos mais tarde, Bate-Seba e o profeta Natã
trabalharam juntos para impedir que Adonias usurpasse o trono (1 Rs 1.11-
53).
Os pecados dos servos do Senhor, seja qual for a posição que ocupem,
não ficaram de fora do relato bíblico. Davi foi o maior de todos os rei de
Israel, escolhido pelo próprio Deus. Foi com ele que o Senhor fez uma
aliança especial (2 Sm 7), ao prometer-lhe que estabeleceria seu trono para
sempre e de sua linhagem viria o Messias; apesar disso, ele era humano,
pecaminoso e merecedor do castigo divino mais do que qualquer homem. O
relacionamento com Bate-Seba reflete essa verdade claramente; contudo,
mostra também que o arrependimento leva ao perdão de Deus, qualquer que
seja o pecado. Nem adultério nem assassinato estão acima da misericórdia
do Senhor. P.D.G.
BEERI. 1. Heteu, pai de Judite, a qual foi uma das esposas de Esaú (Gn
26.34).
2. Pai do profeta Oséias (Os 1.1).
BENINU (Heb. “nosso filho”). Um dos levitas que selaram o pacto feito
pelo povo para adorar ao Senhor e obedecer à sua Lei (Ne 10.13).
BENONI (Heb. “filho da minha tristeza”). Foi o nome que Raquel deu a
seu filho, o qual mais tarde Jacó chamou de Benjamim (Gn 35.18). Em sua
vida nômade, Israel mudava-se de Betel para Efraim (Belém), quando
chegou o momento de Raquel dar à luz. Foi um parto muito difícil e a mãe
morreu pouco tempo depois de ver que o bebê era um menino e ter-lhe dado
o nome de Benoni. Veja Benjamim.
BEOR. 1. Pai de Belá, foi o primeiro rei de Edom, o qual reinou antes
que a monarquia fosse estabelecida em Israel (Gn 36.32; 1 Cr 1.43).
2. Sempre citado em conexão com seu filho Balaão, o vidente (Nm 22.5;
24.15; Mq 6.9; etc.).
BILA. Uma jovem serva, dada a Raquel por seu pai no dia do casamento
dela (Gn 29.29). Posteriormente tornou-se concubina de Jacó (Gn 30.3-7),
pois Raquel era estéril, embora depois Deus tenha ouvido suas orações e lhe
tenha concedido dois filhos em Canaã (José e Benjamim). Bila foi a mãe de
Dã e Naftali, que se tornaram progenitores de duas importantes tribos em
Israel (Gn 35.25; 46.25; 1 Cr 7.13). Ela também teve um relacionamento
incestuoso com Rúben, o filho mais velho de Jacó e Lia (Gn 35.22). S.V.
BIZTA. Um dos sete eunucos que serviam o rei Assuero (Xerxes) (Et
1.10). Veja Vasti.
______________
1 Esse verbete foi incluído devido à Versão Contemporânea, que traz as duas variações do
nome (Nota do Tradutor).
2 Conforme os expositores bíblicos, havia duas cidades com o nome de Jericó: a velha e a
nova. Na concepção de Lucas, Jesus saía da velha e aproximava-se da nova e ele só
registrou a cura do cego que clamou; já Mateus referiu-se à saída da cidade velha e à cura
dos dois cegos que pediam esmola (Nota do Revisor).
3 Buna é mencionado no livro original como filho de Rão e Neto de Jerameel; provável
erro, pois essa informação não tem base no texto bíblico (NIV em inglês) (Nota do
Tradutor).
C
CADMIEL. 1. Levita cujos descendentes estavam entre os judeus que
retornaram do exílio na Babilônia para Jerusalém com Zorobabel (Ed 2.40;
3.9; Ne 7.43).
2. Outro levita que viveu na mesma época. Estava entre os que lideraram
o povo na adoração e nos cânticos depois da leitura do livro da Lei e no
prolongado período de confissão dos pecados. Também uniu-se a Neemias
no pacto que foi selado pelo povo de adorar ao Senhor e obedecer à sua Lei
(Ne 9.4,5; 10.9; 12.8,24). P.D.G.
CANAÃ. Filho de Cão e neto de Noé (Gn 9,18,22; 10.6). Após a prática
de um tipo de pecado sexual particularmente triste e pernicioso, que
envolveu o pai embriagado e seu filho Cão, Noé amaldiçoou Canaã, seu
neto, e, em contraste, abençoou Sem (Gn 9.25-27). No transcorrer do
tempo, foi desta linhagem que vieram Abraão e, finalmente, os israelitas,
enquanto os descendentes de Canaã tornaram-se as tribos que causaram
muitos problemas a Israel e freqüentemente eram derrotadas em batalha:
heteus, jebuseus, amorreus, etc. (Gn 10.15-18). A terra que mais tarde foi
chamada de “Canaã” era ocupada por tribos como a dos amorreus, que
provavelmente é uma derivação do seu nome.
CÃO. Diferentemente de seu irmão Jafé, cuja história segue paralela com
a sua até o término do Dilúvio, Cão, por sua reação ao erro de Noé, trouxe a
maldição sobre sua própria família (Gn 9.20-25). A ofensa dele foi um
comportamento indigno de um filho, que tornou pública a desgraça do pai
(v.22). Em vez de amaldiçoar o próprio Cão, Noé lançou a maldição sobre
seu neto Canaã; dessa maneira, usava a situação como um espelho: assim
como ele [Noé] fora humilhado por Cão, o filho deste o faria sofrer da
mesma forma que ele padecia. De acordo com o desenrolar da narrativa
bíblica, foi o que aconteceu: Os descendentes de Cão, Mizraim (Egito) e
Canaã (Gn 10.6) foram condenados por práticas sexuais abomináveis (Lv
18.3ss). Posteriormente, conforme a história narrada no livro de Josué, os
descendentes de Canaã tornaram-se escravos dos filhos de Sem. J.A.M.
CARCAS. Um dos sete eunucos que serviam ao rei Assuero (Xerxes) (Et
1.10). Veja Vasti.
CARMI. 1. Um dos filhos de Rúben que foram para o Egito junto com
Jacó (Gn 46.9). Foi o líder do clã dos carmitas (Êx 6.14; Nm 26.6; 1 Cr
5.3).
2. Da tribo de Judá, foi o pai de Acã, que desobedeceu a Deus e apossou-
se de parte do espólio da batalha em Jericó. O Senhor o puniu com a morte
(Js 7.1,18; 1 Cr 2.7; 4.1).
CEFAS (Aram. “rocha”). Nome dado por Jesus a Simão, filho de João
(Jo 1.42). Ele é geralmente citado como Pedro (Petros é a tradução grega
para Cefas). O apóstolo Paulo ocasionalmente refere-se a ele como Cefas,
em vez de Pedro (1 Co 1.12; 3.22; 9.5). Veja Pedro.
CLOPAS. Marido de Maria, tia de Jesus (Jo 19.25), que foi uma das
mulheres que estiveram presentes na crucificação de Cristo.
COSÃ. Está citado na genealogia que vai de Adão até Jesus, registrada
no evangelho de Lucas (Lc 3.28). Era filho de Elmadã e pai de Adi.
CUXE. 1. Um dos quatro filhos de Cão. Ele mesmo teve pelo menos seis
filhos, os quais foram listados como progenitores de diferentes tribos e
povos. Assim, Cuxe é tanto uma pessoa como uma nação (cf. Et 1.1). Ele
viveu na parte sul de Canaã (Etiópia). Seu filho Ninrode foi um poderoso
guerreiro (Gn 10.6-9; 1 Cr 1.8-10).
2. Benjamita, cujo nome aparece na introdução do Salmo 7. Seu
antagonismo para com Davi motivou as reflexões deste sobre o Senhor,
escritas nesse cântico.
1 Em 1 Crônicas 2.9 é chamado de Quelubai, que é uma variação do mesmo nome (Nota
do Tradutor).
2 Nas versões em português a palavra hebraica é traduzida como “pastagens” (Nota do
Tradutor).
D
DAGOM (Heb. “grão”). Era uma das divindades dos filisteus.
Evidências da adoração desse deus pagão são encontradas em numerosos
textos antigos. É mencionado pela primeira vez na Bíblia em Juízes 16.23:
depois que os filisteus capturaram Sansão, levaram-no ao templo de
Dagom, pois acreditavam que este o tinha entregue em suas mãos. Durante
as celebrações diante desse deus, trouxeram o prisioneiro, agora cego, atado
com correntes de bronze. No meio da festa, Sansão pediu para ser colocado
entre as duas colunas que sustentavam toda a construção, para apoiar-se
nelas. A essa altura, grande parte de sua força havia retornado e ele foi
capaz, com a ajuda de Deus, de derrubar as duas colunas; todo o templo
ruiu sobre ele e os filisteus, de forma que muitos morreram.
Em 1 Samuel 5.2-12, vemos a narrativa da captura da Arca da Aliança
pelos filisteus. Ela foi colocada no templo de Dagom, em Asdode. Na
manhã seguinte os filisteus encontraram a imagem do deus caída diante da
“arca do Senhor” (1 Sm 5.2-12). O mesmo aconteceu no dia seguinte;
durante todo o tempo em que a arca permaneceu em poder deles, Deus
enviou grandes pragas contra eles.
Havia outro templo de Dagom em Bete-Seã, onde a cabeça do rei Saul
foi colocada, após sua derrota na batalha contra os filisteus (1 Sm 31.9,10; 1
Cr 10.10). Eles logo experimentaram o juízo de Deus, quando o seu ungido,
o rei Davi, os atacou e derrotou repetidamente, em várias batalhas.
Várias vezes o Senhor aparece na Bíblia como o único Deus verdadeiro e
soberano. Não há outros deuses (Dt 6.4; 32.17), e o Senhor demonstrou isso
para os povos vizinhos, tanto pelas derrotas que sofriam nas batalhas como
em ações simbólicas muito vívidas, como a que ocorreu com a estátua de
Dagom, ao cair por terra diante da Arca do Senhor.
P.D.G.
DÃ (Heb. “juiz” ou “julgamento”). O mais velho dos dois filhos que Jacó
teve com Bila, serva de Raquel (Gn 30.5,6). De acordo com o relato sobre
seu nascimento, Raquel comemorou o evento declarando: “Julgou-me
Deus” (Heb. danannî); “por isso lhe chamou Dã”. O nome expressou assim
uma situação particular na vida de Raquel e mais tarde também serviu de
testemunho do favor de Deus quanto a sua esterilidade.
Dã não é mais citado individualmente, mas a tribo que recebeu seu nome
é mencionada com frequencia, a maioria das vezes de forma negativa.
Quando os danitas não conseguiram ocupar a terra que receberam na
partilha de Canaã, viajaram bem para o norte, derrotaram e expulsaram a
população de Laís e se fixaram ali (próximos da moderna cidade de Tell
Dã), onde estabeleceram um culto idólatra (Jz 18). Dã, juntamente com
Betel, foi mais tarde escolhida pelo rei Jeroboão como sede de seu novo
centro de adoração, para que o povo não subisse a Jerusalém (1 Rs 12.29).
Talvez por esse motivo não seja mencionada no livro de Apocalipse, na
distribuição das terras entre as tribos, no final dos tempos (Ap 7.5-8).
Ao abençoar os filhos no leito de morte, Jacó disse: “Dã julgará o seu
povo”. Falou também que “Dã será serpente junto ao caminho” (Gn
49.16,17). Moisés, ao proferir sua bênção sobre os israelitas, não foi muito
generoso, ao referir-se a Dã como um “leãozinho; saltará de Basã” (Dt
33.22).
E.M.
DAVI
Dados Gerais
Antecedentes
Davi era o mais novo dos oito filhos de Jessé, um efrateu de Belém (1
Sm 17.11,12). Jessé era descendente da tribo de Judá e bisneto de Boaz e
Rute, a moabita (Rt 4.18-22; cf. 1 Cr 2.1-15; Mt 1.2-6; Lc 3.31-38).
Na juventude, Davi cuidava dos rebanhos da família. Como pastor,
aprendeu a cuidar dos animais, bem como a protegê-los dos predadores.
Essa experiência o ensinou a depender do Senhor, conforme afirmou para
Saul: “O Senhor que me livrou das garras do leão, e das garras do urso, me
livrará da mão deste filisteu” (1 Sm 17.37).
Davi era também um bom músico. Quando Saul sofria de depressão e
crises de melancolia, seus servos, conhecendo a reputação desse jovem,
mandaram chamá-lo (1 Sm 16.16). Um deles disse: “Vi um filho de Jessé, o
belemita, que sabe tocar bem, e é forte e valente, homem de guerra, sisudo
em palavras, e de boa aparência. E o Senhor é com ele” (v. 18). Esse texto
relaciona várias características de Davi: seu talento musical, sua bravura,
eloquência, boa aparência, mas, acima de tudo, a presença do Senhor em
sua vida.
Davi era notável, tanto por seu amor a Deus como por sua aparência
física (1 Sm 16.12). Depois que Saul foi rejeitado por seus atos de
desobediência (1 Sm 15.26), o Senhor incumbiu Samuel da tarefa de ungir
um dos filhos de Jessé. Os mancebos passaram um por vez diante do
profeta, mas nenhum deles foi aprovado por Deus. Depois que os sete mais
velhos foram apresentados a Samuel, ele não entendeu por que o Senhor o
enviara a ungir um rei naquela casa. O profeta procurava um candidato que
se qualificasse por sua estatura física. Afinal, anteriormente tinha dito ao
povo que Saul preenchia os requisitos, devido à sua bela aparência: “Vedes
o homem que o Senhor escolheu? Não há entre o povo nenhum semelhante
a ele” (1 Sm 10.24).
Jessé disse a Samuel que seu filho mais novo, chamado Davi, ainda
cuidava dos rebanhos. Depois que foi trazido diante do profeta, ele teve
certeza que aquele jovem atendia aos padrões de Deus, pois “o Senhor não
vê como vê o homem. O homem olha para o que está diante dos olhos,
porém o Senhor olha para o coração” (1 Sm 16.7). Davi recebeu duas
confirmações de sua eleição: Samuel o ungiu numa cerimônia familiar e o
Espírito do Senhor veio sobre ele de maneira poderosa (v.13).
Saul fez tudo para livrar-se de Davi. Expulso da corte, o filho de Jessé
buscou refúgio junto a Aquis, rei filisteu de Gate. Temeroso de que a boa
vontade do anfitrião mudasse a qualquer momento, foi para Adulão (1 Sm
22). Ali, liderou um bando de foras-dalei. Trouxe sua família para a
segurança de Moabe e retornou, a fim de enfrentar os perigos de sua vida de
eLivros. Qualquer um que tentasse colaborar com Davi era morto por Saul,
como aconteceu com os sacerdotes de Nobe (1 Sm 21 a 22). Para onde quer
que ele fosse, o rei ficava sabendo e o perseguia.
Enquanto isso, o apoio a Davi crescia cada vez mais. Bandidos, muitos
deles guerreiros habilidosos, reuniram-se a ele. Abiatar, um sacerdote que
escapou do massacre em Nobe, e o profeta Gade também se uniram a Davi.
Este, por suas muitas façanhas, fazia com que as pessoas ficassem em
débito para com ele. Reduziu a ameaça dos filisteus, como fez, por
exemplo, em Queila (1 Sm 23). Ele e seu homens também tornaram-se
defensores dos moradores de Judá que eram constantemente ameaçados por
saqueadores estrangeiros e viviam da parte que recebiam das colheitas,
rebanhos e do gado que ajudavam a proteger. Nem todos os criadores,
porém, estavam dispostos a compartilhar com eles alguma coisa. Nabal, um
rico fazendeiro, tinha recebido tal proteção de Davi e seus homens, mas era
avarento demais para recompensá-los pelo trabalho (1 Sm 25). O filho de
Jessé ficou furioso, mas Abigail, esposa de Nabal, foi ao seu encontro com
vários presentes. Depois da morte do marido, ela se tornou esposa de Davi
(1 Sm 25.42).
Por duas vezes Davi teve oportunidade de vingar-se de Saul, mas, ao
invés de matá-lo, poupou sua vida. Sua existência tornou-se tão opressiva
que foi obrigado a buscar refúgio com Aquis, rei de Gate. Recebeu a cidade
de Ziclague para morar com seus homens, de onde ajudava Saul a reduzir as
forças dos filisteus (1 Sm 27). Aquis tinha tamanha confiança na lealdade
de Davi, que o levou consigo como parte de suas tropas numa batalha em
Gilboa, contra os israelitas (1 Sm 28). Os filisteus não deveriam ficar
apreensivos pelo conflito de interesses; Davi lutaria contra seu próprio povo
(1Sm 29). No entanto, ele retornou a Ziclague e descobriu que a cidade fora
saqueada e incendiada e a população, levada cativa pelos amalequitas.
Enquanto os filisteus esmagavam os israelitas no norte, Davi perseguiu os
invasores e colocou um fim em suas hostilidades.
A queda de Davi
Conclusão
Davi era humano, mas permaneceu fiel ao Senhor durante toda sua vida.
Embora tenha pecado tragicamente contra Deus e o próximo, era um
homem humilde. A sua força estava no Senhor, desde o princípio até o fim
de seus dias. Os salmos atribuídos a ele falam desta verdade. Tal afirmação
sobre sua confiança em Deus é também encontrada no final de 2 Samuel:
“O Senhor é a minha rocha, a minha fortaleza e o meu libertador. Meu Deus
é a minha rocha, em quem me refugio; o meu escudo, e força da minha
salvação. Ele é o meu alto retiro, meu refúgio e meu Salvador — dos
homens violentos me salvaste” (2 Sm 22.2,3). Os cânticos compostos por
ele também trazem a correlação entre a humildade, a obediência e a
bondade de Deus. Conforme Davi escreveu: “Com o puro te mostras puro,
mas com o perverso te mostras sagaz. Livras o povo humilde, mas teus
olhos são contra os altivos, e tu os abates” (2 Sm 22.27,28). O Senhor não
apenas mostrou seu poder para Davi e seus contemporâneos, mas também
comprometeu-se a proteger todo o seu povo por meio do ungido, que
descenderia do referido rei. Essa é a essência da Aliança Davídica.
Os escritores do NT testemunham sobre a conexão entre Davi e Cristo. A
genealogia de Jesus recua até o filho de Jessé (Mt 1.1). Ele é o governante
sobre o trono de Davi, cujo reino se estende até os confins da Terra. É o
cabeça da Igreja (Cl 1.18) e trará todas as nações ao conhecimento de sua
soberania (1 Co 15.25; cf. At 2.35). Ele estabelecerá o reino de Deus sobre
a Terra (1 Co 15.27,28) e, por esse motivo, cumpre as promessas em
benefício de todo o povo do Senhor, tanto judeus como gentios.
W.A. e V.G.
DEUS
Introdução
O Deus criador
A autoexistência de Deus, bem como sua eternidade, também são
sinalizadas na criação, a qual Ele fez do “ex nihilo” (a partir do nada; veja
Gn 1; Rm 4.17; Hb 11.3). A Bíblia não admite a ideia do nada existindo
lado a lado com o Senhor através da eternidade. Não há ensino, por
exemplo, de que a matéria sempre existiu, ou que o mal sempre permaneceu
como uma alternativa ao lado de Deus. O Todo-poderoso sempre existiu e
sempre existirá; Ele é o Criador. O que existe traz outras coisas à existência.
O racionalismo pode argumentar que, se algo existe, deve ter o poder da
auto-existência dentro de si. A Bíblia mostra que o ser que auto-existe é
Deus e somente Ele é o Senhor. Porque Deus existe, a vida veio à existência
e surgiu a criação. No Senhor há vida e luz. Somente Ele tem a vida em si
mesmo e habita na luz e na glória eternamente.
O ato de Deus na criação é descrito em muitos lugares da Bíblia. De
maneira notável, Gênesis 1 e 2 descrevem a Palavra de Deus que traz tudo o
que conhecemos à existência. Esses capítulos demonstram claramente que o
Senhor já existia antes da criação e foi por meio de sua palavra e seu poder
que o mundo veio à existência. Também revelam que Deus não iniciou
simplesmente o processo e o concluiu, ou ainda não o concluiu, com o que
conhecemos neste mundo hoje. Ele interferiu ativamente, várias vezes, para
criar a luz, o sol, a lua, a água, a vegetação, os peixes, os mamíferos, os
pássaros e a humanidade. Em Gênesis 1, essa obra ativa de Deus durante
todo o período da criação pode ser notada nas duas frases: “E disse Deus:
Haja...” e “E viu Deus que isso era bom”. Em Gênesis 2, a obra e as
palavras do “Senhor Deus” são mencionadas repetidamente. O Salmo 33.4-
9 personaliza a “palavra de Deus” como a que criou e “é reta e verdadeira;
todas as suas obras são fiéis... Pela palavra do Senhor foram feitos os céus...
Tema toda a terra ao Senhor... Pois ele falou, e tudo se fez; mandou, e logo
tudo apareceu”. Jeremias afirma: “Pois ele (o Senhor) é o criador de todas
as coisas, e Israel é a tribo da sua herança; Senhor dos Exércitos é o seu
nome” (Jr 10.16; 51.19; veja também Jó 26.7; Sl 102.25; 104.24; Ne 9.6;
etc.).
No NT, o escritor da carta aos Hebreus lembra os crentes que “pela fé
entendemos que os mundos foram criados pela palavra de Deus, de maneira
que o visível não foi feito do que se vê” (Hb 11.3). Louvor e adoração são
devidos a Deus, o Pai, e a Jesus, a Palavra de Deus, pela criação e pelo seu
contínuo sustento de todas as coisas criadas. Desde que a criação deriva sua
vida e existência do próprio Deus, se o Senhor não a sustentasse, ela
deixaria de existir (Ap 4.11; Jo 1.1-3; 1 Co 8.6; Cl 1.16,17; Hb 1.2; 2 Pe
3.5; etc.).
Essa obra da criação, a qual necessita do poder sustentador do Senhor,
proporciona a evidência da soberania e do poder de Deus sobre todas as
coisas. Ele está presente em todos os lugares, a fim de sustentar e vigiar sua
criação, realizar sua justiça, amor e misericórdia, trazer à existência e
destruir, de acordo com sua vontade e seus propósitos. A doxologia de
Romanos 11.33-36 oferece a resposta adequada do crente na presença do
Deus criador, sustentador e que existe por si: “Porque dele e por ele e para
ele são todas as coisas. Glória, pois, a ele eternamente. Amém” (v.36).
O Deus pessoal
O Deus providencial
O Deus justo
O Deus amoroso
É justo que haja uma seção separada sobre este atributo, o mais
maravilhoso do Senhor da Bíblia, ainda que tradicionalmente o amor de
Deus seja visto como um aspecto de sua “bondade”. Várias vezes as
Escrituras dizem que o Senhor “ama” ou mostra “amor” à sua criação,
especialmente para o seu povo. É parte da natureza de Deus, pois ele é
“bom” e é “amor”. O Senhor faz o que é bom (2 Sm 10.12; 1 Cr 19.13; Sl
119.68), porém, mais do que isso, ele é bom. Em outras palavras, a bondade
é tão parte dele e de seu ser que o salmista disse: “Pois o teu nome é bom”
(Sl 52.9; 54.6; este vocábulo “nome” refere-se a todo o caráter do próprio
Deus). Jesus disse: “Ninguém há bom, senão um, que é Deus” (Lc 18.19).
Assim, se alguém deseja saber o que significa bondade e amor, deve olhar
para o Senhor. 1 João 4.8,16 diz: “ Aquele que não ama não conhece a
Deus, porque Deus é amor... E nós conhecemos, e cremos no amor que
Deus tem por nós. Deus é amor. Quem está em amor está em Deus, e Deus
nele”.
Deus é a fonte da bondade. Tiago 1.17 diz: “Toda boa dádiva e todo dom
perfeito é do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança
nem sombra de variação”. O texto não só mostra que o Senhor é a fonte
daquilo que é bom, como ensina que Deus é sempre bom. Não existe um
lado “sombrio” no Senhor, nenhuma base para a visão oriental de que o
bem e o mal existem lado a lado, e juntos formam algo chamado “deus”.
A bondade de Deus, tão freqüentemente chamada de seu “amor”, é vista
de muitas maneiras neste mundo. É evidente que no universo é algo
generalizado, ou na manutenção da própria vida, da justiça, da ordem na
criação, ou mesmo na provisão da luz do Sol e da chuva, do tempo de
semear e de colher (Sl 33.5; Mt 5.45; At 17.25). Sua bondade, entretanto, é
mais evidente em seu amor e fidelidade para com seu povo, a quem Ele
protege, cuida e livra do juízo. Seu amor fiel por seu povo às vezes é
chamado de “aliança de amor” ou “amor fiel”, pois Deus prometeu amar
seu povo para sempre. Os israelitas repetidamente louvavam ao Senhor por
seu amor eterno, extraordinário e não merecido, demonstrado através de
toda a história de Israel (1 Cr 16.34; 2 Cr 5.13; 7.3; Ed 3.11; Sl 118.1, 29; Jr
33.11). É digno de nota como os vocábulos “bom” e “amor” aparecem
juntos de maneira tão frequente, quando aplicados a Deus.
Os que buscam a Deus experimentam sua bondade e amor, pois
encontram sua salvação (Lm 3.25). O seu povo o louva acima de tudo pelo
amor demonstrado em sua misericórdia e perdão dos pecados. Foi para a
bondade do Senhor que o rei Ezequias apelou, quando pediu perdão pelo
povo de Israel, que adorava a Deus sem ter passado pelo ritual da
purificação. “Ezequias, porém, orou por eles, dizendo: O Senhor, que é
bom, perdoe a todo aquele que dispôs o coração para buscar o Senhor...” (2
Cr 30.18; Nm 14.19). O próprio Deus, ao falar por meio do profeta Oséias,
adverte, a respeito da contínua rebelião do povo: “eu não tornarei mais a
compadecer-me da casa de Israel, mas tudo lhe tirarei” (Os 1.6).
A salvação de Deus para seu povo é sua mais profunda e fantástica
demonstração de bondade e amor. Jesus foi oferecido pelo Pai como
sacrifício pelo pecado de todo o que crê. Talvez o mais famoso versículo da
Bíblia, João 3.16, expresse o sentimento desse dom de Deus: “Porque Deus
amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo
aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”. O dom é ainda
mais extraordinário, pois “Deus prova o seu amor para conosco, em que
Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores” (Rm 5.8; Tt 3.4; 1 Jo
3.16). O povo de Deus sabe que não merece este sacrifício. A natureza do
amor divino, dado a pessoas que não são merecedoras, freqüentemente é
expressa por meio do vocábulo “graça”.
O amor de Deus também é visto por seu povo na maneira como Ele dá o
seu Espírito Santo, de tal forma que todos possam conhecê-lo e responder-
lhe em amor (Rm 5.5). Eles também experimentam o amor divino em seu
cuidado providencial. Isso pode significar que o amor será em forma de
disciplina (Ap 3.19), mas também representa o fato de que “todas as coisas”
cooperam para o bem do povo de Deus, dos que são chamados segundo o
seu propósito. Nada poderá separá-los do amor de Deus e de Cristo (Rm
8.28, 35, 39; veja a seção anterior “O Deus providencial”). Ao meditar
sobre sua graça a favor de todos, para os levar à salvação, eles o louvam
pela maneira como os escolheu e os predestinou para serem filhos de
adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito da sua
vontade (Ef 1.4-6; 1 Jo 3.1). Essa grande obra de salvação é feita “segundo
o seu beneplácito que propusera em Cristo” (v. 9).
“Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com
que nos amou, estando nós ainda mortos em nossos delitos, nos vivificou
juntamente com Cristo (pela graça sois salvos)” (Ef 2.4,5). O problema é
como uma mente humana pode assimilar a profundidade desse amor, pois
“excede todo o entendimento” (Ef 3.18,19).
O Deus salvador
Os nomes de Deus
O Nome. Quando Gênesis 4.26 diz: “Foi nesse tempo que os homens
começaram a invocar o nome do Senhor”, não quer dizer simplesmente que
as pessoas aprenderam a usar o nome “Senhor”. O texto indica que elas
começaram a adorar ao Senhor por tudo o que Ele é. Quando a Lei diz:
“Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão, pois o Senhor não terá
por inocente o que tomar o seu nome em vão” (Êx 20.7), claramente tem
em mente mais do que as ocasionais expressões irreverentes (embora, é
claro, sua proibição esteja incluída no mandamento). A lei afirma que o
próprio Senhor não deve ser considerado com desdém. Não pode ser tratado
da mesma maneira que os ídolos pagãos, mencionados no mandamento
anterior. Jamais deve ser invocado como um poder mágico ou ser referido
numa adoração que não é centralizada exclusivamente nele.
Assim, uma referência ao “Nome” do Senhor leva consigo uma indicação
da própria natureza de Deus. Em Êxodo 23.20, o “Nome” de Deus está
presente no anjo enviado para liderar o povo de Israel. Também é correto
concluir que tal ser trata-se de uma “teofania”, por meio da qual o Senhor
de alguma maneira era experimentado ou visto na presença do anjo (veja
Teofanias).
Quando a Bíblia fala em “invocar” o nome de Deus, geralmente é num
contexto de exortação para se adorar ao Senhor totalmente, em toda a vida e
vê-lo como o Deus soberano e transcendente que é: pessoal, amoroso e fiel,
que está presente em todas as áreas de seu domínio (2 Rs 5.11; Sl 17.7; Jl
2.32; Sf 3.9).
Fazer alguma coisa no “nome do Senhor” é realizar algo no lugar do
próprio Deus ou fazer com todo o endosso de sua presença e em obediência
à sua ordem. Dessa maneira, os sacerdotes e levitas ministravam “no nome
do Senhor” e os profetas falavam “no nome do Senhor”; não que eles
alegassem ser Deus, mas isso significava que falavam e operavam com sua
total autoridade e poder por trás deles. Até o mesmo o rei Davi lutou “em
nome do Senhor” (Dt 18.17, 22; 21.5; 1 Sm 17.45; 1 Rs 18.24; etc.).
Quando os israelitas desejavam afirmar a presença de Deus com a Arca da
Aliança, faziam isso mediante a invocação do “Nome do Senhor dos
Exércitos” (2 Sm 6.2). Salomão falava em construir um Templo “ao nome
do Senhor” (1 Rs 8.20). Dessa maneira, o nome é um meio de descrever a
plenitude, a transcendência e a presença do próprio Deus.
É interessante notar que no NT o “nome” pertence a Jesus, para lembrar
os textos do AT que se referiam a tudo o que Deus é. Se o nome é de Deus e
Jesus é chamado pelo “nome”, então tudo o que pertence a Deus está em
Jesus e tudo o que Deus é, Cristo também é (compare Joel 2.32 com Atos
2.21; Romanos 10.13). Assim como a autoridade e o poder de Deus são
vistos em seu “nome”, o mesmo acontece com Jesus. É “no nome de Jesus”
que as pessoas são desafiadas ao arrependimento, batismo e a receber
perdão. A fé precisa ser “no nome de Jesus” (At 2.38; 3.16; 9.21). É “no
nome de Jesus” que os apóstolos curavam e a Igreja orava (At 3.6; Tg 5.14).
Em adição a essa maneira abrangente de referir-se à plenitude de Deus,
vários nomes específicos são atribuídos ao Senhor na Bíblia e nos ajudam a
entendê-lo melhor. Diferentemente de todos os “nomes”, eles enfatizam
aspectos da natureza e do caráter de Deus, a fim de afirmar e enriquecer o
que já foi mencionado anteriormente.
Jeová. Este termo é pouco citado nas modernas versões da Bíblia. Deve,
contudo, ser mencionado aqui como um nome que ainda sobrevive em
algumas traduções. É suficiente dizer que, em hebraico, o termo YHWH
aparece e, na maioria das vezes, é traduzido como SENHOR, em nossas
versões, ou colocam-se vogais e assim lê-se Yahweh (o que alguns
colaboradores deste volume têm feito). Jeová deriva de uma leitura
equivocada de Yahweh. O pano de fundo do problema com o nome “Jeová”
é explicado no verbete Senhor.
A Trindade
O cristianismo tradicionalmente argumenta que muitas evidências
bíblicas revelam Deus em três pessoas distintas. Para alguns, tal definição
do Senhor tem causado sérios problemas. A história da Igreja é permeada
pelo surgimento de seitas que não reconheciam Jesus Cristo como Deus ou
que se recusavam a aceitar a visão trinitária do Senhor; outras não viam um
dos componentes da Trindade como totalmente Deus, ou negavam que
houvesse distinções entre as três pessoas. Outros grupos estão totalmente
fora do ensino bíblico e entram efetivamente no mundo do triteísmo, uma
noção negada explicitamente na Bíblia, como, por exemplo, na oração da
“Shema” (Dt 6.4). Embora o termo “trindade” não seja mencionado nas
Escrituras, os cristãos sempre creram que somente ele pode fazer justiça à
revelação bíblica da “plenitude” de Deus. Começando com o AT, os cristãos
apontam indicações que pressagiam um ensino mais detalhado no NT.
Muitas passagens conduzem para a pluralidade relacionada com o que é o
“único Deus”. Muitos textos sugerem uma identificação do Messias que
virá com o próprio Deus. Ele será chamado de Deus Poderoso, governará
em completa soberania e será eterno — atributos divinos (Is 9.6,7; Sl 2;
etc.). Mas indicações também estão presentes na compreensão da própria
criação, no AT. Embora algumas pessoas neguem seu significado, é
interessante notar que o Senhor refere-se a si mesmo com o termo plural
“elohim” em certas passagens. Em Gênesis 1, é Deus quem cria, por meio
de sua Palavra e pelo seu Espírito (Gn 1.1-3). Às vezes essa referência no
plural parece ainda mais notável, feita de forma explícita com o uso de
verbos e pronomes nas pessoas do plural; por exemplo, “Então disse Deus:
Façamos o homem à nossa imagem...” (Gn 1.26; 3.22; 11.7; Is 6.8). Existe
também uma personalização da “Palavra de Deus” que criou os céus (Sl
33.6). Algo semelhante ocorre em Provérbios 8, onde a sabedoria do Senhor
é personalizada como o próprio Deus que opera no mundo, concede vida e
envolve-se com a própria criação (principalmente Pv 8.12-21).
Alguns sugerem que “o anjo do Senhor” também deve ser identificado
com Deus e ainda assim é distinto dele (Êx 3.2-6; veja também Anjo do
Senhor). Em Isaías 63.1014, o Espírito Santo é identificado como Agente
de Deus. Esse tipo de evidência espera por sua interpretação mais completa
no NT (veja também Teofanias).
No NT, aspectos da doutrina da Trindade surgem primeiro quando os
discípulos e seguidores de Jesus reconhecem as obras e as palavras de Deus
nas atitudes de Jesus. Realmente, o problema dos líderes religiosos daquela
época foi justamente que algumas das coisas que Cristo fazia e dizia só
seriam feitas e ditas por Deus; portanto, eles alegavam que Jesus
blasfemava, ao tentar passar por Deus. Por exemplo, Cristo perdoou os
pecados do paralítico, algo que os escribas acreditavam que somente Deus
era capaz de fazer; portanto, era uma blasfêmia. Jesus então demonstrou sua
autoridade divina, ao curar o homem completamente (Mt 9.2-6). João 8 é
especialmente esclarecedor sobre essa questão e traz uma série de
declarações feitas por Jesus. Sua alegação de pertencer a Deus e ser enviado
por Ele (vv. 14, 23), de partir para um lugar desconhecido dos líderes
religiosos (v. 14), intimamente combinada com o uso da expressão “Eu
Sou” e sua declaração de ter existido antes de Abraão (vv. 24, 28, 58, etc.),
tudo isso ocasionou uma acusação de blasfêmia e a tentativa de
apedrejamento — a punição para aquela transgressão (v. 59). Jesus aceitou
a confissão de Pedro de que Ele era o Cristo (Mc 8.29,30) e alegou ter
“todo” poder e autoridade antes de fazer uma das principais declarações
trinitárias da Bíblia: “Ide... batizando-os em nome do Pai e do Filho e do
Espírito Santo” (Mt 28.18).
Em todo o NT, ambos, o Espírito Santo e Jesus, são apresentados como
seres divinos. João 1.1-14 fala de Cristo como preexistente. Romanos 9.5
geralmente é destacado por alguns teólogos, mas provavelmente a leitura
deveria ser essa: “Cristo, que é Deus sobre todos, seja louvado...” (veja
também Cl 2.9; Hb 1.9,10; etc.). O Espírito Santo também é visto como
Deus (veja At 5.3,4; Jo 15.26; Mc 3.29; 2 Co 3.17; etc.).
São também interessantes as passagens do NT onde os escritores
apostólicos aplicam a Jesus o nome de Yahweh do AT (Senhor). Veja, por
exemplo, Romanos 10.9-13, onde a confissão da fé em Cristo é provada
como confissão de fé em Deus, por uma referência que aponta para o AT e
menciona Yahweh. Vários textos merecem um exame cuidadoso, pois
trazem o entendimento do AT sobre Yahweh ou aplicam declarações
concernentes a Yahweh, no AT, e a Jesus, no NT. Por exemplo, veja João
12.38-41 (cf. Is 6.10); Atos 2.34-36; 1 Coríntios 1.30,31; 12.3; Filipenses
2.9-11 (cf. Is 45.23), etc.
Em muitas passagens bíblicas, a ideia do Deus trino é no mínimo
implícita nos textos do NT, se não explícita. O batismo de Jesus envolveu o
Filho, o Pai e o Espírito Santo (Mt 3.13-17). O mencionado em Mateus
28.19 é em nome das três pessoas da Trindade. Jesus referiu-se ao Espírito
Santo como “outro Consolador”. Assim como o Pai enviou Cristo, Ele
mandaria o Espírito Santo (Jo 14.15-23). Veja também a obra do Pai, do
Filho e do Espírito Santo na vida do crente (Ef 3.14-19).
As Escrituras revelam uma figura de Deus em três pessoas e a isso nós
chamamos de “Trindade”. O Pai não é maior do que o Filho e ambos são
distintos do Espírito Santo, embora exista um ensino claro tanto no AT
como no NT de que Deus é único. Existem três pessoas, mas apenas um
Senhor. Tal ensino, quando apresentado em conjunto, implica um modo de
existência longe do que nossa mente humana possa entender. É por esta
razão que todas as analogias humanas invariavelmente fracassam quando se
trata de explicar o que significa a Trindade.
Os cristãos estão convencidos de que negar essa doutrina é renunciar à
clara evidência bíblica sobre o próprio Deus. Um escritor resumiu o ensino
bíblico dessa maneira: “A doutrina da Trindade não explica plenamente o
misterioso caráter de Deus. Pelo contrário, estabelece as fronteiras, fora das
quais não devemos andar... Isso exige que sejamos fiéis à revelação bíblica
que em um sentido Deus é um e num sentido diferente ele é três” (R. C.
Sproul).
Conclusão
DINÁ (Heb. “justa”). Filha de Lia e Jacó (Gn 30.21; 46.15). Ela saiu de
sua casa para visitar outras mulheres da região. Foi vista por Siquém, filho
de Hamor, príncipe da terra. Ele a agarrou e forçou-a a ter relações sexuais
com ele. Mais tarde, pediu ao pai que adquirisse aquela jovem para ser sua
esposa (Gn 34.1-4). Quando os filhos de Jacó retornaram dos campos e
souberam o que acontecera, ficaram furiosos e planejaram uma vingança
(vv. 7,13). Fingiram concordar com o pedido de Siquém, o qual estava
disposto a fazer qualquer coisa para casar-se com Diná (v. 11). Os filhos de
Jacó então exigiram que os moradores da cidade do sexo masculino se
submetessem ao ritual da circuncisão; todos concordaram (vv. 18,24). “Três
dias mais tarde, quando os homens estavam doridos, dois filhos de Jacó,
Simeão e Levi, irmãos de Diná, tomaram cada um a sua espada, entraram
inesperadamente na cidade, e mataram a todos os homens” (v. 25). Os
eventos relacionados com Diná, Hamor e Siquém demonstram os
problemas posteriores que os israelitas teriam com os cananeus que não
foram destruídos quando foi conquistada a terra sob a liderança de Josué.
P.D.G.
DODAI (Heb. “seu amado”). Aoíta, pai de um dos “três heróis” de Davi,
Eleazar. O próprio Dodai era também comandante do exército desse rei e
ficava de prontidão com seus homens no segundo mês de cada ano (1 Cr
11.12; 27.4). Também era chamado de Dodô (2 Sm 23.9).
DODAVA. Veio de Maressa e era pai do profeta Eliezer, que falou contra
o rei Jeosafá, de Judá (2 Cr 20.37), por causa da aliança que fizera com o rei
Acazias, de Israel.
DODÔ. 1. Da tribo de Issacar, foi o pai de Puá e avô do juiz Tola, que
vivia na região montanhosa de Efraim (Jz 10.1).
2. Natural de Belém, foi o pai de um dos “trinta” de Davi, Elanã, os quais
eram guerreiros extremamente leais (2 Sm 23.24; 1 Cr 11.26).
EFRATE. Uma das esposas de Calebe. Foi a mãe de Hur. Seu marido,
filho de Hezrom, era descendente da tribo de Judá (1 Cr 2.19).
EGLÁ. Uma das esposas do rei Davi. Ela teve um filho chamado Itreão,
nascido em Hebrom (2 Sm 3.5; 1 Cr 3.3).
ELIAS, O PROFETA
Elias, que significa “meu Deus é Jeová”, reflete seu caráter, um homem
totalmente dedicado ao Senhor. Devido a esse compromisso, Deus pôde
usá-lo poderosamente. Sua biografia é uma das mais coloridas e excitantes
da Bíblia. Sua história é contada no meio dos relatos dos reis de Israel e
Judá, entre 1 Reis 17 e 2 Reis 2. Esses capítulos mostram três aspectos
essenciais para se entender o papel deste profeta e seu ministério: os
milagres, a mensagem e o próprio homem.
Os milagres de Elias
Os milagres que cercaram Elias compõem o mais vívido dos três aspectos
de sua vida. Seja diante do filho da viúva, que ressuscitou dentre os mortos,
ou do fogo que fez cair do céu, ou ao ser arrebatado para Deus, todos esses
são quadros dos quais todas as pessoas se lembram. Por trás dessas
maravilhas, entretanto, está a maneira harmoniosa em que o Senhor as
utiliza para ensinar sobre a fé. Os milagres representam “sinais”, os quais
desafiam os que os testemunham para um momento decisivo. Portanto, eles
precisam decidir se ficarão a favor ou contra Deus. Isso é muito claro no
evento do monte Carmelo (1 Rs 18.16-46). Elias desafiou o povo: “Até
quando coxeareis entre dois pensamentos? Se o Senhor é Deus, segui-o;
mas se Baal, segui-o” (1 Rs 18.21). A princípio, os israelitas nada
responderam. Quando ouviram o desafio do profeta aos sacerdotes de Baal,
deram seu consentimento (1 Rs 18.24). Elias trouxe o povo para o seu lado,
quando solicitou ajuda para consertar o altar e jogar água sobre a lenha (1
Re 18.30-35). Somente quando o fogo caiu do céu, contudo, foi que todos
responderam com a confissão de fé: “O Senhor é Deus! O Senhor é Deus!”
(1 Rs 18.39). Todos então participaram na captura dos sacerdotes pagãos.
Assim, o sinal miraculoso desafiou o povo a responder com fé. Um milagre
semelhante, no qual Elias fez cair fogo do céu para incinerar duas
companhias de soldados enviadas para prendê-lo (2 Rs 1.9-12), levou a uma
confissão de fé no profeta como “homem de Deus” e a uma súplica por
misericórdia por parte do capitão da terceira companhia que foi enviada (2
Rs 1.13,14).
As atitudes demonstradas pela viúva de Sarepta (1 Rs 17.7-24) também
revelam que ela confiava plenamente na mensagem do profeta. Quando
entregou a Elias seu último punhado de farinha e óleo, recebeu em retorno
um suprimento inesgotável, que a manteve viva durante todo o tempo da
seca. Quando o profeta restaurou a vida de seu filho, a acusação feita por
ela: “Vieste a mim para trazeres à memória a minha iniqüidade e matares a
meu filho?” (1 Rs 17.18) transformou-se numa confissão de confiança na
missão e no ministério do profeta: “Agora sei que tu és homem de Deus, e
que a palavra do Senhor na tua boca é verdade” (1 Rs 17.24).
Os últimos milagres de Elias ocorreram na companhia de seu sucessor
espiritual, Eliseu (2 Rs 2.1-12). O profeta fez o caminho inverso pelo qual
os filhos de Israel entraram na Terra Prometida: da região montanhosa de
Betel e Ai para a região de Jericó e finalmente para o Jordão. Assim como
aquelas águas se dividiram para o povo ocupar a banda ocidental de Canaã,
o mesmo aconteceu a fim de que Elias passasse para o lado oriental do rio.
Quando Eliseu contemplou aquele grande milagre, rogou ao seu mestre:
“Peço-te que haja porção dobrada de teu espírito sobre mim” (2 Rs 2.9). Do
outro lado do Jordão, como aconteceu com Moisés antes dele, foi concedida
a Elias uma bênção especial, no momento de sua partida desta vida: subiu
ao Céu num redemoinho. Seu sucessor então confessou o poder do Deus de
Israel: “Meu pai, meu pai, carros de Israel, e seu cavaleiros!” (2 Rs 2.12).
Suas atividades posteriores demonstrariam a fé no Senhor de Elias que
Eliseu agora possuía (2 Rs 2.14).
A mensagem de Elias
Elias, o homem
A questão da apostasia nacional introduz o terceiro aspecto da vida do
profeta, preservado no texto bíblico: o homem Elias. Esse aspecto é
dividido em duas partes: a sua solidão e o arquétipo do papel profético que
ele desempenhou. O primeiro examina o relacionamento único entre Elias e
Deus e entre o profeta e os que foram chamados para ouvir suas mensagens.
O arquétipo profético começa com seu sucessor, Eliseu, e termina no Novo
Testamento.
A solidão do profeta engloba todas as áreas de sua vida e ministério.
Começa com sua origem, pois veio de Gileade, a leste do Jordão (1 Rs
17.1). Assim, na capital e nas cidades principais do reino do Norte, seria
considerado um provinciano. Provavelmente era tido por muitas pessoas
como um fanático, procedente de uma região subdesenvolvida. Mesmo
assim, é de tais lugares desprezíveis que Deus freqüentemente escolhe seus
profetas e mensageiros, seja de Gileade seja da Galiléia. Esse exemplo
muitas vezes serve de testemunho contra pessoas que se consideram
superiores às outras; mas o Senhor não pode encontrar entre elas ninguém
com fé suficiente para agir como mensageiro da Palavra de Deus.
No caso de Elias, seu ministério o colocou em contato com os que não
tinham nenhuma consideração por sua maneira “simples” de cultuar apenas
a Yahweh. Preferiam a sofisticada religião urbana dos cananeus, que
integravam deuses de grandes e ricos centros comerciais, como Tiro. O
monte Carmelo provavelmente era um santuário na fronteira entre a Fenícia
e Israel. Assim, implicava a introdução de uma divindade pagã entre os
israelitas como o deus principal. O chamado de Elias para confrontar essa
impiedade foi o exemplo de um ministro solitário, que permaneceu firme
contra o poder de centenas de oponentes apoiados pelo Estado (1 Rs 18.19).
A eficiência de Deus não foi comprometida pela desigualdade dos dois
lados. Na verdade, tal disparidade serviu para mostrar de maneira ainda
mais vívida o poder da fé em operação. A experiência, entretanto, poderia
apenas aumentar o sentimento de solidão que Elias sentia. Esteve escondido
por dois anos, sem nenhuma outra companhia a não ser a de uma viúva e
seu filho (1 Rs 17.1-24). Ainda que tivesse notícia de outros profetas de
Yahweh (1 Rs 18.13), estavam todos escondidos e não lhe deram nenhum
apoio. Portanto, não é surpresa quando o profeta, temendo as represálias de
Jezabel, fugiu para Horebe, a fim de salvar a própria vida (1 Rs 19.1-8). Seu
sustento miraculoso ali, por quarenta dias, evoca a imagem de Moisés em
comunhão com Deus (Êx 24.18), mas também confirma a imagem de uma
figura solitária separada do meio de um povo pecaminoso. Duas vezes o
Senhor perguntou a Elias por que tinha ido ali e duas vezes ele respondeu
com as mesmas palavras de ressentimento (1 Rs 19.10,14; cf. Rm 11.2,3):
“Tenho sido muito zeloso pelo Senhor Deus dos Exércitos. Os filhos de
Israel deixaram a tua aliança, derrubaram os teus altares, e mataram os teus
profetas à espada. Só eu fiquei, e agora estão tentando matar-me também”.
A solidão de Elias atinge seu clímax nessa cena. Até aquele momento
estava acostumado a expressar a presença de Deus por meio da utilização
de magníficos milagres de “efeitos especiais”. O Senhor, entretanto,
mostrou ao profeta que a presença divina não se apóia em tais
demonstrações de poder, mas na aparente fraqueza de palavras proferidas
com brandura (1 Rs 19.11-13). Dali em diante, seu ministério enfatizaria a
palavra, em lugar da ação. Além disso, seu trabalho não seria solitário, mas
desempenhado juntamente com outros profetas fiéis.
Tudo começou com a indicação de Eliseu, que levou o ministério adiante
após o arrebatamento de Elias e incluiu a unção de Hazael e Jeú como reis
da Síria e de Israel, respectivamente (1 Rs 19.15-17). Esse cuidado em lidar
com a solidão do profeta é evidente pelos personagens piedosos que surgem
nos capítulos que seguem a cena do monte Horebe (1 Rs 19).
Diferentemente de 1 Reis 17 e 18, onde Elias trabalhou sozinho, de agora
em diante suas atividades são intercaladas com outros eventos e profetas. O
primeiro sinal foi o chamado de Eliseu (1 Rs 19.19-21). Aparecem os
servos de Deus anônimos que trabalham em 1 Reis 20. Elias reaparece no
relato sobre a plantação de Nabote (1 Rs 21.1-29), em consonância com as
profecias de Micaías, filho de Inlá (1 Rs 22.1-28), que confirmaram
especificamente o que Elias já profetizara sobre a morte de Acabe. Em 2
Reis 1, o profeta reaparece com uma mensagem para Acazias, a qual
pronunciou quando estava sozinho; mas, em 2 Reis 2, fazia-se acompanhar
por Eliseu e encontrou grupos de profetas em Betel e Jericó. O ministério
de Elias é um exemplo do que um indivíduo que obedece à Palavra de Deus
pode realizar. Também é um exemplo de como a fé pública de uma pessoa
torna-se o elemento catalisador e leva outros a ter a ousadia de também
demonstrar publicamente a confiança em Deus.
Já notamos o simbolismo de Elias como sucessor de Moisés, o qual teve
um encontro com Deus em Horebe e deixou esta vida de uma maneira
especial. Elias também representa Josué e o povo de Israel, que
atravessaram o rio Jordão a pé enxuto. Muito mais importante, porém, é o
seu papel como um arquétipo profético. Embora já existissem profetas em
Israel antes dele, ele desempenhou um papel especial. Seus milagres e sua
mensagem foram levados adiante por Eliseu, o qual pediu porção dobrada
do poder que Elias possuía e começou seu ministério repetindo o último
milagre de seu mestre: a divisão das águas do rio Jordão (2 Rs 2.14). A
palavra de juízo de Elias para o reino do Norte foi assimilada pelos profetas
Oséias e Amós, que também escreveram suas mensagens para Israel. Um
século depois do ministério de Elias, eles proferiram a mesma palavra de
juízo pelos pecados do povo e dos governantes. Essa mensagem também foi
proferida para o reino do Sul, por figuras como Isaías e Jeremias. Até
mesmo o último profeta do AT, Malaquias, prometeu o retorno de “Elias”,
que ofereceria uma esperança para o arrependimento antes do juízo (Ml
4.5,6).
No NT essa profecia é lembrada e incorporada em parte com a vinda de
João Batista (Lc 1.17). Este, também um solitário, chamou o povo ao
arrependimento, junto às margens do rio Jordão. João recusaria a
identificação (Jo 1.21,25), mas Jesus alegou que ele era o “Elias” que havia
de vir (Mt 11.14; 17.10-13; Mc 9.11-13). Posteriormente, algumas pessoas
confundiriam Jesus com Elias (Mt 16.14; Mc 6.15; 8.28; Lc 9.8,19). Cristo,
no entanto, nunca reivindicaria essa identificação, embora ligasse seu
ministério ao desse profeta, como alguém enviado aos que viviam fora de
Israel (Lc 4.24-26). O próprio Elias reaparece na Transfiguração,
juntamente com Moisés, como representante de todos os profetas que
esperaram o advento do Messias (Mt 17.2-9; Mc 9.2-10; Lc 9.28-36). Elias
conversaria com Jesus e o animaria a prosseguir no caminho de solidão e
auto-sacrifício que o levaria à cruz (Lc 9.31). Assim, fica claro o quanto era
equivocado o escárnio dos que na crucificação sugeriram que Ele chamava
por Elias e que o profeta poderia livrá-lo (Mt 27.47-49; Mc 15.35,36). O
sacrifício redentor de Cristo era o propósito pelo qual Elias realizara seu
ministério enquanto esteve na Terra. Era o propósito de seu retorno
simbólico, na figura de João Batista. E era também o alvo sobre o qual Elias
conversou com Jesus, na Transfiguração. (Veja Profetas e Profecia.) R.H.
ELIATA (Heb. “Deus vem”). Neto de Asafe, foi um dos muitos filhos
que vieram como um presente especial para Hemã, seu pai, a fim de que
Deus fosse glorificado. Era um dos levitas separados para profetizar e tocar
diante do Senhor. Seu pai era “vidente” do rei Davi. As tarefas durante o
culto e a adoração eram distribuídas entre as famílias dos levitas, as quais se
revezavam em períodos, por sorteio. O turno de Eliata era o vigésimo (1 Cr
25.4,27).
ELISÁ. Filho de Javã e neto de Jafé; foi o progenitor da nação que leva o
seu nome (Gn 10.4; 1 Cr 1.7). As “ilhas de Elisá” são mencionadas em
Ezequiel 27.7 como o lugar onde os moradores de Tiro obtinham púrpura
azul. É possível que o povo dessa localidade se identifique com os gregos
ou com os haibitantes do sul da Itália.
ELISEU
No meio do século nono a.C., o reino de Israel foi assolado pela apostasia
religiosa. A casa real, representada pelo rei Acabe e sua esposa sidônia
Jezabel (1 Rs 16.29—2 Rs 10.17), promovia a religião de Canaã, cultuando
a Baal, e não hesitava em desarraigar a verdade por meio da força. A queixa
de Elias (1 Rs 19.10,14) é um bom resumo da situação: a apostasia nacional
(“os filhos de Israel deixaram a tua aliança”), a perseguição religiosa
(“derrubaram os teus altares, e mataram os teus profetas à espada”) e a
determinação de destruir o culto de Yahweh (“só eu fiquei, e agora estão
tentando matar-me também”).
Nesta situação, Elias e Eliseu (Heb. “meu Deus salva”) encabeçaram “a
revolta profética” e, quer soubessem disso quer não, originaram a linhagem
de grandes profetas que vieram depois deles. Por esta razão, o ministério
dos dois foi marcado por notáveis obras sobrenaturais. A Bíblia é bem
frugal naquilo que chamamos “milagres”. Eles não estão espalhados por
todos os lugares das Escrituras: realmente, em sua maior parte a Bíblia
concentra-se na providência ordinária de Deus, mais do que nas
manifestações especiais ou espetaculares que proclamam sua presença.
Grupos de tais eventos, entretanto, sempre marcam novos começos —
Moisés, Samuel, Elias e Eliseu, o Senhor Jesus e os apóstolos. Ao operar de
forma inquestionável, o Senhor assim sela e sinaliza a natureza especial e
única dos tempos e de seus participantes. Isso nos ajuda a ver Eliseu, assim
como Elias, como um dos notáveis homens de Deus.
O manto de Elias
Bondade e severidade
ELMADÃ. Um dos ancestrais de Jesus (Lc 3.28). Era pai de Cosã e filho
de Er. Listado na 15ª geração depois de Davi.
ELNAÃO (Heb. “Deus é deleite”). Pai de Jeribai e de Josavias (1 Cr
11.46). Seus dois filhos são listados entre os “heróis de Davi”, como
guerreiros de renome.
ELNATÃ (Heb. “Deus tem dado”). 1. Pai de Neusta, mãe do rei Joaquim
(2 Rs 24.8).
Provavelmente é a mesma pessoa do item nº 2.
2. Filho de Acbor, um dos líderes enviados ao Egito pelo rei
Jeoiaquim em perseguição a Urias (Jr 26.21-23), um profeta fiel ao Senhor.
Ele advertira o povo sobre o iminente juízo de Deus e a destruição de
Jerusalém pelos caldeus. Foi obrigado a fugir para salvar a vida, mas Elnatã
o apanhou e o trouxe de volta para Jerusalém, onde o rei mandou matá-lo.
Esse comandante estava entre os oficiais que ouviram a leitura feita por
Baruque das profecias de Jeremias e aconselhou os dois a se esconderem.
Depois tentou evitar que o rei queimasse o rolo (Jr 36.12,25).
3. Um dos judeus que lideravam o povo. Ele se uniu a Esdras no
regresso da Babilônia para Jerusalém. Ajudou o referido sacerdote a
encontrar levitas qualificados para acompanhá-los de volta a Judá (Ed
8.16). P.D.G.
EMANUEL
Mencionado quatro vezes na Bíblia (Is 7.14; 8.8,10; Mt 1.23). O nome
significa “El (Deus) está conosco” e indica que a pessoa demonstrava a
presença especial de Deus com seu povo. Nomes similares aparecem pelo
menos em duas ocasiões em antigos escritos judaicos extrabíblicos.
Os cristãos acham que Emanuel refere-se ao próprio nome de Cristo.
Mateus 1.23 declara que o nascimento virginal de Jesus cumpriu a profecia
de Isaías 7.14: “A virgem conceberá, e dará à luz um filho, e será o seu
nome Emanuel”. Desde os primeiros séculos do cristianismo, entretanto, os
judeus têm questionado essa interpretação dos cristãos. Alegam que Isaías
referia-se ou ao seu próprio filho ou a Ezequias, sucessor do rei Acaz. Os
cristãos, por sua vez, continuam firmes na identificação de Cristo como o
Emanuel da referida profecia.
Para entendermos melhor o significado deste título para Jesus,
precisamos primeiro olhar para o contexto histórico original da profecia de
Isaías. Os eventos registrados nos caps. 7 a 8 aconteceram durante um
período de profunda crise, no reinado de Acaz, rei de Judá (732 a 715 a.C.).
Em 735/4 a.C., o rei Rezim, da Síria, e Peca, de Israel, atacaram os judeus,
a fim de forçá-los a unir-se a eles numa aliança contra o Império Assírio (Is
7.1,2). O Senhor enviou Isaías para dizer a Acaz que Rezim e Peca não
consistiam uma ameaça séria (Is 7.3-9). Deus ofereceu ao rei de Judá um
sinal do seu cuidado (Is 7.10), mas Acaz, numa atitude hipócrita, recusou o
sinal, e preferiu a proteção da Assíria (Is 7.10-12). Em resposta, Isaías
anunciou que o Senhor mesmo escolheria um sinal, que seria Emanuel (Is
7.13,14).
É comum os cristãos interpretarem Isaías 7.14 como uma referência
direta e exclusiva a Cristo. De acordo com este ponto de vista, o profeta
assegurava a Acaz a proteção por meio do Messias. Dessa maneira, Jesus é
o cumprimento da profecia e o termo Emanuel refere-se exclusivamente a
ele. Essa abordagem tradicional, entretanto, não dá a devida atenção a um
contexto mais amplo da profecia.
Vários fatores indicam que essa profecia falava de alguém que vivia nos
dias de Isaías, como um tipo ou prefiguração de Cristo:
Primeiro, o profeta disse ao rei Acaz que seus vizinhos do norte
deixariam de ameaçá-lo antes que Emanuel soubesse “rejeitar o mal e
escolher o bem” (Is 7.15,16). Logo depois do nascimento do menino, Judá
seria entregue nas mãos da Assíria, por causa da infidelidade do rei (Is 7.17-
25). Essas descrições orientam a profecia inteira para o tempo de Acaz e
não para os dias de Jesus, 700 anos mais tarde.
Segundo, Isaías 8.3 registra que o profeta teve um filho, Maer-Salal-Has-
Baz (“rápido-despojo-presa-segura”). Paralelamente com a descrição do
Emanuel (Is 7.15), Isaías anunciou o despojo da Síria e Israel “antes que o
menino saiba dizer meu pai ou minha mãe” (Is 8.4). Essas descrições
tornam possível que o Emanuel fosse Maer-Salal-HasBaz. Se for assim,
Isaías tornou-se pai dessa criança (depois que sua primeira esposa morreu)
com uma segunda esposa cujo nome não é mencionado e que cumpriu o
requisito da profecia, porque era virgem no momento em que a predição foi
feita.
Terceiro, Isaías falou sobre Emanuel nos dois oráculos que se seguiram
ao nascimento de Maer-Salal-Has-Baz (Is 8.8,10). Essa associação próxima
entre os dois nomes também pode indicar que se tratava da mesma pessoa.
Deste ponto de vista, o Emanuel original nasceu nos dias de Isaías como
uma figura de Cristo. Mateus 1.23 explica que Jesus era a expressão
definitiva da presença de Deus no meio de seu povo. Como o Messias,
Cristo era tudo o que o filho de Isaías representava, e muito mais.
A presença de Deus conosco é um conceito fundamental em todo o
Antigo Testamento. O Senhor é mencionado como o que habita no meio de
seu povo pelo menos 89 vezes. Deus estava presente com os indivíduos e
com toda a nação (Gn 21.20; 28.15; 31.3; 39.2,3; 46.4; Dt 20.4; Js 1.5,9,22;
6.27; Jz 1.19; 2.18; 1 Sm 3.19; 10.7; 17.37; 18.14,28; 2 Sm 7.9; 2 Rs 18.7;
1 Cr 22.11,16,18; 2 Cr 1.1; Zc 10.5). Num mundo cercado por inimigos, os
israelitas fiéis nutriam a presença de Deus. Ele era a única esperança segura
que eles tinham de bênção e proteção.
A presença de Deus no meio de seu povo também é um conceito vital no
Novo Testamento. Jesus cumpriu Isaías 7.14, porque Ele era a plena
demonstração da presença do Senhor no meio de seu povo. Em seu
ministério terreno, Cristo tornou-se o Deus encarnado, que viveu entre nós
(Jo 1.14). Jamais o Senhor se identificara tão intimamente com o povo da
sua aliança. Depois de sua ascensão, Jesus enviou o Espírito Santo para
estar com seu povo (Jo 14.16; At 1.8; 2.1-41). Por meio da terceira pessoa
da Trindade, Cristo está no meio da Igreja, a fim de protegê-la e abençoá-la
(Mt 28.20). Paulo também explicou que os que dormem no Senhor estão
com Jesus (2 Co 5.8) e um dia voltarão com Ele (1 Ts 3.13). Finalmente, a
grande esperança do Novo Testamento é que, após o julgamento final,
Cristo estará no meio de seu povo para sempre, num novo Céu e numa nova
Terra (Ap 21.3). R.P.
ENOQUE. 1. Primeiro filho de Caim, depois que este foi banido por
Deus, condenado a vagar pela Terra. Portanto, era neto de Adão e Eva. Seu
pai foi o primeiro homicida; seus descendentes, como Lameque, ficaram
famosos pelos pecados que cometeram. Caim colocou o nome deste filho na
primeira cidade que fundou (Gn 4.17,18,23,24).
2. Num vívido contraste com o filho de Caim, a Bíblia descreve
em Gênesis 5 outro Enoque, da linhagem de Sete, filho de Adão e Eva que
ocupou o lugar de Abel, morto por Caim (Gn 4.25). A maioria dos seus
descendentes permaneceu fiel ao Senhor e o adorava. Enoque, filho de
Jarede e pai de Matusalém, foi um homem notável nessa linhagem piedosa
(Gn 5.18,19,21,22; 1 Cr 1.3). Viveu um total de 365 anos e “andou com
Deus”. Em outras palavras, levou uma vida justa, a serviço do Senhor. Em
vez do registro de sua morte, a Bíblia simplesmente diz, “e já não era,
porque Deus para si o tomou” (Gn 5.24).
Como membro da linhagem dos descendentes de Adão que
permaneceram fiéis ao Senhor, Enoque também aparece como ancestral de
Jesus, em Lucas 3.37. O escritor da carta aos Hebreus, ao comentar sobre a
fé de alguns dos grandes heróis do passado, diz que Enoque “foi trasladado,
para não ver a morte”, porque “alcançou testemunho de que agradara a
Deus” (Hb 11.5). O escritor vai mais adiante, e destaca que só é possível
“agradar a Deus”, por meio da fé nele. Assim Enoque foi considerado
“justo” perante o Senhor, por sua fé; um ensino que o escritor demonstra ser
essencial para o entendimento adequado do cristianismo.
Não há dúvidas de que Enoque foi “trasladado”, ou simplesmente
removido da Terra para a presença de Deus, sem experimentar o sofrimento
ou a dor da morte. Como isso aconteceu ou por que ele em particular foi
escolhido para ter esse grande privilégio não é revelado nas Escrituras.
2. Outra referência a Enoque é encontrada em Judas 14, que cita a
profecia de um livro do período intertestamentário, atribuído ao Enoque de
Gênesis 5. Não há indicação de que Judas considerasse esse texto
“inspirado”, ou parte de seu conteúdo confiável. No entanto, ele fez uma
citação aprovadora, como um livro que continha um conceito com o qual
ele concordava: o Senhor retornaria com seus anjos, para julgar todos os
maus. P.D.G.
3. Um dos líderes do clã dos midianitas, Enoque era um dos cinco
netos de Abraão e de Quetura (Gn 25.4; 1 Cr 1.33).
4. O filho mais velho de Rúben e líder da família que ficou
conhecida como o clã dos enoquitas (Gn 46.9; Êx 6.14; Nm 26.5; 1 Cr 5.3).
ENOS. Neto de Adão e filho de Sete, viveu 905 anos (Gn 4.26; 5.6-11; 1
Cr 1.1).
Em seu tempo, a Bíblia diz que “os homens começaram a invocar o nome
do Senhor” (Gn 4.26). A intenção aqui é estabelecer um contraste direto
entre os descendentes de Sete e sua obediência ao Senhor e a linhagem de
Caim, a qual foi mencionada previamente em Gênesis 4. Enos também é
citado na genealogia que vai de Jesus até Adão (Lc 3.38).
ERI. É listado como o quinto filho de Gade e entre os que desceram com
Jacó para o Egito (Gn 46.16). A passagem dá algumas indicações do grande
número de pessoas que acompanharam o patriarca ao Egito. Eri tornou-se o
líder do clã dos eritas (Nm 26.16, onde aparece como Heri).
ESBÃ. Um líder entre os horeus. Era filho de Disã e neto de Aná (Gn
36.26; 1 Cr 1.41).
ESCOL. Um dos três irmãos amorreus (veja também Manre e Aner) que
se aliaram a Abraão, quando perseguiu Quedorlaomer, a fim de resgatar o
sobrinho Ló do cativeiro (Gn 14.13-16). O patriarca posteriormente
demonstrou-lhes sua gratidão (v. 24). Para mais detalhes sobre o incidente,
veja Anrafel.
ESPÍRITO SANTO
Em ambas as línguas, tanto no grego como no hebraico, os vocábulos
usados para o Espírito Santo enfatizam sua santidade. No AT, o adjetivo
santo antes do substantivo espírito aparece raramente (Sl 51.11; Is
63.10,11). Em contraste, o NT apresenta essa combinação na maioria dos
livros, como um nome que ocorre freqüentemente, especialmente no livro
de Atos. Isso não significa que a ênfase ao Espírito é menor no Antigo do
que no Novo Testamento. As expressões mais freqüentes no AT são o
Espírito de Deus ou o Espírito do Senhor, as quais ocorrem numerosas
vezes.
As palavras gregas e hebraicas para “espírito” revelam um significado
duplo: espírito e vento. Por exemplo, “o Espírito de Deus pairava sobre a
face das águas” (Gn 1.2), mas “Deus fez passar um vento sobre a terra, e as
águas abaixaram” (Gn 8.1). Jesus disse a Nicodemos: “O que é nascido do
Espírito, é espírito... o vento sopra onde quer (Jo 3.6,8). Outro significado
do termo “espírito”, nas duas línguas, é sopro, respiração, tanto divina como
humana (Jó 4.9; 12.10; 2 Ts 2.8).
Por todas as Escrituras a expressão “espírito” é escrita com letra
maiúscula, para referir-se ao Espírito de Deus, ou com letra minúscula, para
indicar o espírito humano. Devido ao fato de que os manuscritos antigos
não usavam letras maiúsculas, os tradutores e editores às vezes têm muita
dificuldade para determinar se o escritor tem em mente o espírito de Deus
ou o humano (veja por exemplo variações de tradução, em Atos 19.21).
Na criação
Na profecia
Com poder
Escatologia
O período intertestamentário
Atos
As epístolas paulinas
Conclusão
ESTEMOA. 1. Seu pai era Isbá e seus avós eram Merede e Bitia, filha
do Faraó (1 Cr 4.17). Era da tribo de Judá.
2. Maacatita, também da tribo de Judá e filho de Hodias (1 Cr 4.19).
ESTOM. Um dos líderes da tribo de Judá. Seu pai foi Meir; vivia em
Recá, juntamente com sua família (1 Cr 4.11,12).
ETBAAL (Heb. “com Baal”). Rei de Sidom, uma antiga cidade portuária
da Fenícia. Etbaal é mencionado em conexão com Acabe, o qual fez “o que
era mau aos olhos do Senhor, mais do que todos os que foram antes dele” (1
Rs 16.30). Esse rei de Israel tornou-se idólatra, devido ao seu casamento
com Jezabel, filha de Etbaal, que o levou diretamente à adoração de Baal.
ÊUBULO (Gr. “de bom conselho”). Um cristão que esteve com Paulo
durante sua segunda prisão em Roma, já próximo do final da vida do
apóstolo. Acrescentou suas próprias saudações no final da carta a Timóteo
(2 Tm 4.21). É algo digno de nota que Êubulo provavelmente foi um dos
poucos irmãos que ainda estavam com Paulo naquele momento, pois no
mesmo capítulo o apóstolo declara melancolicamente que “ninguém me
assistiu na minha primeira defesa, antes todos me desampararam” (v.16), e
acrescenta que “o Senhor me assistiu e me fortaleceu” (v.17).
EVA
Eva, a primeira mulher, é uma figura central na história da redenção do
homem, tanto durante o seu tempo de vida como além dele. Seu significado
pode ser visto nos vários desígnios que lhe foram destinados e as
circunstâncias que os cercaram. Ela é primeiro mencionada como parte da
noção corporativa de “homem” (adam, Gn 1.2628; 5.2). Isso significa que
também compartilhava a imagem de Deus, a fonte de toda a dignidade
humana que nos diferencia de todo o restante do reino animal. Nesse
sentido, a identidade da mulher derivou diretamente de Deus. Como
“mulher” (isha, Gn 2.22,23) Eva foi criada a partir de Adão e formada com
o propósito de ser “uma adjutora” que lhe correspondesse (Gn 2.18). Nesse
sentido, sua identidade era derivativa do primeiro homem. O termo
traduzido como “adjutora”, não tem em si mesmo a ideia de subordinação.
É um vocábulo usado até mesmo com relação a Deus em outros textos (Gn
49.25).
Esse caráter duplo da natureza derivativa de Eva — imagem de Deus
tirada do homem — proporciona a base para que todas as mulheres possam
entender a si mesmas, desde que Eva foi a progenitora do seu gênero. Sua
função com relação a Adão, entretanto, é a base do entendimento sobre o
gênero masculino. A intenção de Deus na criação da mulher era que
complementasse Adão, o que significa que havia algo de incompleto no
primeiro homem sem ela. Em vez de ser uma serva, compartilharia com ele
uma reciprocidade baseada tanto nas similaridades como nas desigualdades.
Eva era feita à imagem de Deus; portanto, co-recipiente do mandato
cultural para encher a terra e dominá-la, por meio da multiplicação dessa
imagem (Gn 1.28). A ausência da mulher na criação, na verdade, causou a
declaração de Deus de que algo não estava bom (Gn 2.18). Quando foi
apresentada ao homem, este cantou o primeiro hino encontrado nas
Escrituras, a fim de exaltá-la e chamá-la de “mulher” (isha, Gn 2.23). Adão
viu nela um espelho idêntico, embora oposto: percebeu que era totalmente
feita à imagem de Deus e ele não tinha o que somente ela podia
proporcionar. Nesse aspecto, a identidade de Adão derivava de Eva.
A caracterização louvável que Eva recebeu de seu marido proporcionou o
pano de fundo necessário para sua tentação pela serpente. A leitura de
Gênesis 3 sem ter esse contexto em mente produziria uma visão distorcida
da mulher. A decisão de Satanás de tentar Eva não parece, de maneira
alguma, refletir algo que seja inerente à natureza feminina, a despeito da
interpretação tradicional. Se houve qualquer base racional por parte da
serpente, seria em seus métodos subversivos. Havia uma forte implicação
de hierarquia no relacionamento entre o homem e a mulher e Satanás
provavelmente escolheu tentar a mulher a fim de subverter essa estrutura.
Ao ceder à tentação de Satanás, a mulher tomou sobre si o papel de
determinar o bem e o mal. A autonomia humana na esfera complementar da
verdade e da moral iniciou-se a partir dali. Num esforço para justificar, Eva
conseguiu a participação de Adão na rebelião. O retrato da mulher aqui,
como suscetível à tentação, estabelece uma dimensão de seu caráter na
Bíblia; mas essa imagem deve ser vista dentro do contexto de sua
caracterização total.
É digno de nota, nesse ponto, que Adão é visto como praticante de uma
falta primária no ato da desobediência. Ele não só foi colocado como
cabeça sobre toda a criação, mas também era sua tarefa específica
“guardar” o Jardim (Gn 2.15). O verbo hebraico usado aqui, além do
sentido de conservar, pode conotar uma proposta militar, de “ficar de
guarda”, o que é o caso do próximo capítulo (Gn 3.24). Se usarmos como
pano de fundo os soldados do templo no Antigo Oriente Médio, Adão
deveria guardar o Jardim Santo de Deus da presença do mal ou de intrusos
impuros. A presença satânica no Éden, personificada na serpente, foi uma
indicação direta do fracasso do homem nesse aspecto. Esse entendimento
corrige a noção equivocada de que Eva era mais fraca moralmente e de que
ela própria era uma tentadora.
Eva compartilhou totalmente com Adão a vergonha dessa rebelião e
sentiu com ele a quebra do que antes fora a cobertura suficiente deles — a
glória, o Espírito e a imagem de Deus (Gn 3.7). O Senhor colocou sobre ela
a maldição relacionada com a gravidez e o parto, os quais eram talhados
para sua identidade e função (Gn 3.16). Essa maldição, entretanto, não é
totalmente merecida. Certamente as dores do parto serviriam para lembrar a
mulher e seus descendentes do sexo feminino sobre a rebelião daquele dia.
Também a lembraria do perigo que seria associado ao nascimento dos
filhos. Na maldição, porém, podemos ver a bênção de Deus, pois a
habilidade da mulher conceber foi preservada. Eva continuaria a ser uma
geradora de vida, a despeito da morte ser o castigo para a rebelião dela e do
homem.
Como conseqüência de seu pecado, Eva teria seu desejo natural
substituído pelo de seu marido: “O teu desejo será para o teu marido, e ele
te dominará” (Gn 3.16 b). Alguns comentaristas encontram aqui a base para
a liderança masculina e a submissão feminina, ao atribuir esse arranjo
exclusivamente à queda. Não é, contudo, a origem do desejo que se vê aqui,
pois com certeza Eva desejava seu marido antes do pecado. Parece que sua
vontade se tornaria desproporcional ou distorcida. Assim, seria estabelecida
por meio do domínio do homem sobre ela. Isso não quer dizer que não
havia hierarquia conjugal antes desse momento, mas, sim, que ela seria
modificada de alguma maneira. A preservação de Eva como fonte de vida,
entretanto, não é limitada apenas à esfera biológica. Na maldição sobre a
serpente Deus incluiu a promessa da redenção humana: “E porei inimizade
entre ti e a mulher, e entre a tua descendência e o seu descendente; este te
ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gn 3.15). Esta passagem
geralmente é chamada de “o primeiro evangelho”, porque antecipou a
derrota final de Satanás, a qual Cristo, como a semente da mulher,
conquistaria. Fica evidente que Adão entendeu a esperança abençoada da
esposa, pela resposta que deu à promessa de Deus, quando a chamou “Eva,
porque era a mãe de todos os viventes” (Gn 3.20). Essa declaração reflete a
relação entre o nome e a palavra hebraica hayah, que significa “viver”. Não
se sabe ao certo se estão ligadas etimologicamente, mas no mínimo Adão
fazia um jogo de palavras.
A última caracterização direta de Eva ocorre em sua declaração no
nascimento de Caim: “Alcancei do Senhor um homem” (Gn 4.1). Essas
palavras revelam a consciência que tinha de Deus, para gerar a vida. Foi a
“profissão de fé” pessoal de Eva, a qual expressou uma atitude fundamental
de alguém cuja esperança estava na semente prometida.
Eva não é mais mencionada explicitamente no AT. Como veremos
posteriormente no NT, entretanto, ela serve como um personagem-modelo
em episódios subseqüentes. Eva é o protótipo da mulher que busca sua
libertação por meio da geração de filhos. É a mãe das dores do parto. O
filho que nasce desse modelo é visto como o resultado direto da intervenção
divina em favor da mãe. Visto desta maneira, Sara, Rebeca, Raquel, Ana e
Isabel seguem o padrão de Eva, embora ela própria não tenha
experimentado a esterilidade. Aquela sobre quem o Senhor demonstra seu
favor experimentará a alegria de Eva (Is 54.1).
O NT faz duas referências explícitas a Eva. Em 2 Coríntios 11.3, Paulo
citou a maneira como ela foi enganada pela serpente, como uma advertência
do que um falso mestre poderia fazer na igreja em Corinto. O ponto da
analogia é a astúcia da serpente, comparada com a falsa sabedoria dos que
pregavam um evangelho diferente daquele que o apóstolo anunciou. Há
uma analogia no casamento de Cristo e a Igreja (2 Co 11.2). O v. 3, se
tomado como uma extensão dessa, analogia, lança mais luz sobre o episódio
da tentação no Éden. Se o interesse da igreja em Corinto por um falso
evangelho é análoga à infidelidade conjugal, então a tentação de Eva pode
ser vista dessa maneira. Isso estaria de acordo com uma analogia usada com
muita freqüência no AT, a qual descreve a idolatria como uma infidelidade
conjugal para com Deus (cf. Ez 16; Oséias).
Efésios 5.22,23, embora não mencione os nomes de Eva ou Adão, cita
Gênesis 2.23,24. Este é o primeiro lugar na Bíblia onde a analogia é feita
entre Cristo e a Igreja e o casamento. Assim como o propósito de Jesus é
santificar a Igreja, o dever do marido para com a esposa é separá-la como
objeto exclusivo de seu amor.
A outra referência explícita a Eva no NT é encontrada em 1 Timóteo
2.13. Nos conselhos que Paulo dá a seu filho na fé sobre o cuidado com a
igreja em Éfeso, deu instruções particulares para cada gênero de pessoas. O
apóstolo exortou a mulher a manter uma postura submissa diante do
marido, em duas bases — a ordem da criação e a da tentação. Adão, criado
primeiro; Eva, enganada primeiro. Alguns comentaristas declaram que o
que Paulo disse não é mais pertinente, de acordo com pelo menos um dos
seguintes princípios, ou mesmo com todos eles: (1) vivemos num época em
que a redenção já resolveu o problema da queda; (2) as palavras de Paulo
foram dirigidas a um problema particular em Éfeso; (3) ele refletia um
chauvinismo comum entre os rabinos, com relação a Eva; e (4) o apóstolo
falava com base no entendimento cultural comum daquela época. Outros
destacam que a ordem da criação é a base para o entendimento de Paulo dos
papéis no relacionamento conjugal — e não a queda; e essa hierarquia deve
permanecer no mínimo até a consumação deste mundo, quando a redenção
será completa.
O aspecto mais relevante desta passagem de 1 Timóteo 2, para o
entendimento de Eva, é visto no v. 15. O apelo de Paulo é concluído com a
esperança de que a mulher “salvar-se-á, dando à luz filhos”. Embora
obviamente essa não seja uma garantia automática de que a reprodução
biológica resultará em salvação espiritual, é uma reflexão sobre a grande
promessa dada a Eva — que ela era a “mãe de todos os viventes”. Apesar
de Eva não ser mencionada diretamente como a mãe da semente que
destruiria a serpente, provavelmente ela é o modelo em outros contextos do
NT. Maria, a mãe de Jesus, é o recipiente da revelação divina de que
conceberia um filho, o qual seria o foco central da redenção e lutaria contra
as forças do mal (Lc 1.33ss; 2.34,35). Sobre esse aspecto, notemos o fato de
que Lucas traçou a genealogia de Jesus até Adão (Lc 3.38). Outra possível
alusão a Eva no NT é a mulher que dá à luz em Apocalipse 12. Ali, o
descendente dela está associado com a batalha cósmica entre as forças de
Deus e as de Satanás.
Em resumo, a menção de Eva é muito limitada na Bíblia; entretanto, a
atenção cuidadosa dos meios de caracterização revela muito sobre a fonte e
a natureza de sua identidade. Além da menção explícita, ela pode
proporcionar o pano de fundo para o entendimento de outros personagens
bíblicos, bem como de alguns aspectos da obra redentora de Cristo. M.J.G.
EZEQUIAS, O REI
Ezequias reinou em Judá por 29 anos (715 a 687 a.C.). Era filho de Acaz
e de Abi. Ezequias reinou conjuntamente com seu pai de 729 a 715 a.C. e,
com a idade de 25 anos, tornou-se rei absoluto.
A reputação de Ezequias
A purificação e a Páscoa
Embora o registro em 2 Reis (18.4,16,22) seja estranhamente breve, 2
Crônicas (29.1 a 33.31) apresenta um relato mais detalhado de suas
reformas. Uma grande porção da narrativa do cronista sobre Ezequias é
concernente à restauração da adoração ao Senhor e a celebração da Páscoa.
Este monarca começou suas reformas imediatamente após ser coroado rei
(2 Cr 29.3).
A reforma teve como objetivo principal centralizar a adoração ao Senhor
novamente em Jerusalém. Como parte desse programa, o jovem rei ordenou
que o Templo fosse reaberto e purificado. A idolatria foi removida da área
do Santuário, inclusive a imagem de Neustã, a serpente de bronze que
Moisés erigira no deserto, para que o povo não morresse atacado pelas
cobras abrasadoras (2 Rs 18.4; Nm 21.6-9). Esta estátua tornara-se objeto
de culto e mostra quão facilmente substituímos a verdadeira adoração pela
falsa. Embora acreditem que Deus se agrada com este tipo de culto, os
adoradores podem muito bem incorrer em sua condenação.
Os sacerdotes e levitas passaram a servir de acordo com as prescrições
bíblicas. A música foi reincorporada ao culto, segundo o costume
introduzido nos tempos do rei Davi. Ezequias até mesmo incentivou os
habitantes do reino do Norte a participar da adoração em Jerusalém. Nessa
época, eles não mais possuíam seu centro político. Samaria fora destruída
pelos assírios (722 a.C.) e os israelitas que sobreviveram coexistiam com
outros povos, os quais Salmaneser mandou instalar na região. Ezequias
enviou mensageiros que percorreram toda a região de Judá e Israel, a fim de
solicitar ao povo que adorasse ao Senhor. Alguns dos remanescentes no
reino do Norte escarneceram dos mensageiros, mas outros se humilharam e
foram participar da Páscoa. A maioria do povo de Judá atendeu (2 Cr
30.12).
Uma grande multidão reuniu-se em Jerusalém para celebrar a portentosa
festividade. A Festa dos Pães Asmos, que ocorre logo depois da Páscoa,
durou sete dias e foi acompanhada com “grande alegria”. Tiveram um
tempo tão maravilhoso em adoração e louvor ao Senhor, que resolveram
estender a festa por mais uma semana! Nada similar a esse acontecimento
acontecera desde os dias do rei Salomão (2 Cr 30.26).
O povo estava muito contente, devido ao tempo maravilhoso que teve
durante a festa. Essa empolgação espalhou-se por outras áreas de suas
vidas. Um dos resultados foi a destruição de todos os locais ilegítimos
usados para adoração em Judá e Israel. Outro resultado foram as ofertas
generosas dadas pelo povo, para manter o Templo em pleno funcionamento.
O cronista fecha esta seção enfatizando que Ezequias fez o que era certo,
reto e verdadeiro. Viu a necessidade de restaurar o verdadeiro culto ao
Senhor e não perdeu tempo para iniciar o projeto. Seu primeiro dia de
mandato já trouxe resultados que foram sentidos por toda a terra.
A campanha de Senaqueribe
No mesmo ano, 701 a.C., Ezequias foi acometido por uma doença
mortal, com a idade de 39 anos. O rei orou para que o Senhor o curasse. O
Todo-poderoso atendeu ao seu pedido e deu-lhe mais quinze anos de vida.
Depois que se recuperou, ele recebeu a visita de uma delegação da
Babilônia. Levou-os a uma turnê e mostrou-lhes todos os seus tesouros.
Deus usou os enviados caldeus como um meio para testar o que Ezequias
tinha no coração (2 Cr 32.31). Ao que parece, o rei não foi aprovado no
teste, pois as palavras de Isaías registram uma forte repreensão. O profeta
declarou que todos aqueles tesouros seriam levados para a Babilônia; até
mesmo alguns dos filhos do próprio Ezequias.
Um pista do fracasso de Ezequias é encontrada em 2 Crônicas 32.25. O
cronista registra que, após seu tempo de vida ser ampliado, ele não foi
grato, mas seu coração se exaltou. Por causa disso, o Senhor declarou que
sua ira viria sobre o rei e todo o povo judeu. Ezequias e os moradores de
Jerusalém humilharam-se e evitaram dessa maneira a ira de Deus naquela
geração (2 Cr 32.26).
Conclusão
EZEQUIEL
O nome Ezequiel significa “El (Deus) é forte” (Ez 3.14), ou “El
fortalece” (Ez 30.25; 34.16), ou ainda “que El fortaleça”. Este profeta viveu
durante um dos períodos mais difíceis na história judaica — o exílio
babilônico — e isso pode indicar a razão de seu nome. Foi um dos 10.000
judeus levados cativos de Jerusalém durante a campanha de Nabucodonosor
em 597 a.C. (2 Rs 24.10-17) e muito provavelmente profetizou aos eLivross
que moravam em Tel-Abibe, próximo ao rio Quebar (Ez 3.15). O local
exato de sua moradia, entretanto, tem sido calorosamente debatido,
principalmente devido à precisão da descrição do Templo em sua visão (Ez
8 a 11). A proposta é que tinha residências múltiplas, para explicar as
descrições detalhadas dos eventos em Jerusalém, bem como no exílio.
Talvez a melhor alternativa seja localizar seu ministério na Babilônia, pois
seus oráculos para os judeus foram feitos por meio da comunicação
indireta, similares aos dirigidos a outras nações, e que a precisão de suas
descrições dos eventos em Jerusalém seja causada por ser divinamente
transportado ao local num êxtase. De acordo com Ezequiel 29.17, ele
profetizou até quase 570 a.C., ou seja, o 27º ano do exílio de Joaquim na
Babilônia.
Ezequiel era sacerdote; por isso, conhecia profundamente o Templo de
Jerusalém e seus cultos, embora seja duvidoso que tenha servido alguma
vez ali. A menção de trinta anos em Ezequiel 1.1 refere-se provavelmente à
sua idade, para informar ao leitor que já era adulto; portanto, podia começar
seu ministério. A princípio suas mensagens não eram bem recebidas (Ez
3.25), mas posteriormente o povo criou estima pelo profeta e sua mensagem
tornou-se respeitada (Ez 8.1; 14.1; 20.1).
O livro parece ser composto por uma série de oráculos com datas
determinadas (Ez 1.2; 3.16; 8.1; 20.1; 24.1; 26.1; 29.1, 17; 30.20; 31.1;
32.1, 17; 33.21; 40.1) os quais marcam os pontos de mudança em seu
ministério e proporcionam o pano de fundo necessário para cada
mensagem. Os oráculos para as nações, entretanto (Ez 25 a 32),
provavelmente formam uma unidade à parte, pois não seguem a estrutura
cronológica desenvolvida no restante do texto. O livro de Ezequiel pode ser
dividido em três seções: (a) os oráculos de juízo contra Judá (Ez 1 a 24); (b)
os oráculos contra as nações estrangeiras (25 a 32); e (c) oráculos finais
[mensagens de esperança e restauração] (33 a 48). As duas últimas seções,
contudo, devem ser vistas juntas, como uma mensagem de esperança para
Israel, pois pronunciam a condenação das nações estrangeiras e a
possibilidade da restauração dos judeus. Essa estrutura provavelmente está
organizada de acordo com a ordem da seqüência dos eventos históricos:
primeiro, para anunciar o juízo (em 586 a.C., quando Jerusalém foi
destruída pelos caldeus, Ez 24.25-27); segundo, para transmitir a esperança
e a restauração (Ez 25 a 48). Existem repetições temáticas em cada uma das
seções principais do livro, as quais proporcionam a necessária coesão: (1) o
atalaia (Ez 3.17); (2) a glória do Senhor que deixa o Templo (8 a 11); (3) o
retorno (43).
O livro começa com uma clara descrição do chamado e da comissão de
Ezequiel (Ez 1 a 3), incluindo uma fantástica figura da glória e da
transcendência de Deus (1.428), bem como uma severa advertência ao
atalaia que não avisa o povo sobre o perigo (3.16-21). Essas duas
mensagens motivam Ezequiel a executar seu difícil trabalho, mesmo
quando aparentemente não lhe concedem a devida atenção. Teólogos
modernos chegam a questionar a sanidade do profeta, por causa dos
extremos a que chegava para ilustrar suas mensagens. Exemplos: fez um
modelo de Jerusalém sob sítio (4.13); ficou deitado sobre seu lado esquerdo
durante 390 dias e virou-se sobre o lado direito por mais 40 dias (4.4-17);
raspou o cabelo e queimou um terço dele; cortou um terço com uma espada
e espalhou um terço ao vento (5.1-4). Até mesmo a morte de sua esposa
tomou um significado profético (24.16-27). O ministério de Ezequiel foi
crucial para os eLivross, porque os alertou sobre o juízo iminente.
Conforme Ezequiel 2.5: “E eles, quer ouçam quer deixem de ouvir, pois são
casa rebelde, hão de saber que esteve no meio deles um profeta”. Era
incansável em condenar os judeus por sua infidelidade para com Deus. A
longa história de rebelião da nação israelita começou logo depois do Êxodo
(Ez 16; 20; 23) e continuou até os dias de Ezequiel, com atitudes como a de
não guardar o sábado (20.12,24), adorar nos lugares altos (6.13; 20.28) e
profanar o santuário (23.37s). A tarefa do profeta era demonstrar-lhes a
importância da obediência a Deus e as conseqüências do pecado. Para os
que dessem ouvidos às suas palavras e cressem em sua mensagem, haveria
“vida”; mas para os outros, o juízo seria certo. O ministério de Ezequiel
indicava que, mesmo no meio de severo juízo, Deus ainda falava com o
povo; embora fossem castigados, não seriam abandonados. Enquanto o
profeta Jeremias proclamava a mensagem do Senhor em Jerusalém, uma
voz igualmente poderosa a proclamava na Babilônia, aos eLivross, para que
estivessem cientes dos propósitos de Deus. Essa seção termina com o
anúncio de que Nabucodonosor, rei da Babilônia, sitiara Jerusalém em 588
a.C. e o resultado final seria óbvio: a destruição.
Ezequiel então fala da atitude dos inimigos de Israel quanto à destruição
de Jerusalém (Ez 25 a 32): “Visto que bateste com as mãos, e pateaste com
os pés, e te alegraste de coração em toda a tua malícia contra a terra de
Israel” (25.6). Parte desse juízo sobre as nações era uma demonstração da
justiça de Deus, pela participação que tiveram na destruição de Jerusalém,
ou por a terem aprovado. Outra parte serviu para vindicar Yahweh como o
soberano governador sobre as nações (Ez 25.7,11,17). Tanto os israelitas
como os outros povos precisavam entender que o julgamento lançado sobre
Israel era devido à sua própria impiedade, e não por causa da falta do poder
de Deus. As outras nações em breve descobririam, em primeira mão, o
poder de Yahweh, quando fossem punidas por sua arrogância em atacar
Israel. Nos dias de Ezequiel, a vitória de um povo sobre outro era atribuída
à superioridade dos deuses do país vencedor. Em breve, todas as nações que
acreditavam ser seus deuses superiores seriam derrotadas e então
entenderiam que não foi devido à impotência de Yahweh que destruíram
Israel.
A última seção (Ez 33 a 48) começa com dois oráculos que enfatizam a
necessidade da responsabilidade individual, quando cada pessoa será
julgada de acordo com suas próprias atitudes. Segue-se então a mensagem
devastadora dos fugitivos de Jerusalém de que a cidade havia caído (Ez
33.21). Os ímpios receberam sua punição, tanto os líderes orgulhosos de
Jerusalém, como os que se iludiram, ao permanecer na cidade convictos de
que eram o remanescente (vv.23-29). Desse ponto em diante, Ezequiel
anuncia a esperança e a restauração da nação, a qual Deus realizará de bom
grado. O Senhor é descrito como aquele que concederá a vida, restaurará
seu povo e assumirá o papel de pastor, cargo de que tanto abusaram os
líderes de Israel. Ele purificará Israel, restabelecerá suas fronteiras e trará os
judeus de volta do exílio. Um forte contraste é feito, em Ezequiel 33 a 37,
entre a infidelidade de Israel e a destruição causada por ela e a fidelidade de
Yahweh e a restauração que ele estabelecerá. A restauração não é baseada
em alguma obrigação ou compromisso para com os judeus, pois eles
claramente falharam em manter a aliança; pelo contrário, é estabelecida
unicamente na fidelidade de Yahweh. Essa restauração incluirá um pastor
da linhagem de Davi (34.23 s), que liderará o povo; um novo coração para
os judeus, para que lhe obedeçam (36.26s); uma nação unificada (37.17-22)
e uma nova aliança de paz (37.26-28). Israel é pintada sob a liderança do
descendente de Davi como uma nação purificada, que finalmente cumpre a
esperança expressa em Êxodo 6.7: Yahweh será o seu Deus e eles serão o
seu povo (Ez 37.27). Essa restauração só pode ocorrer depois que o Senhor
conceder aos judeus um novo coração, o qual será transformado, a fim de
que eles tenham disposição de guardar seus mandamentos; então Deus
restabelecerá um relacionamento apropriado, no qual Yahweh será o
supremo Senhor e governará das montanhas sagradas de Israel. Vistos nesta
ótica, Ezequiel 38 e 39 são centrais, pois Yahweh destruirá todos os seus
inimigos e ficará claro para todos que ele é o Senhor (um título usado mais
de 400 vezes em Ezequiel). Os oito capítulos finais são de difícil
interpretação; mas, no mínimo, indicam a soberania de Deus sobre Israel e
apresentam uma figura clara da santidade que Yahweh traz à nação eleita. A
seguir, apresentamos as quatro interpretações propostas:
______________
1 As versões em português em geral optaram por “dispor a própria vida”, ou “não fazer
caso da própria vida”. Apenas a Bíblia de Jerusalém traduziu o v. 30 por “arriscando a
própria vida” (Nota do Tradutor).
2 A Nova Versão Internacional em inglês traduz o v. 3: “Estes foram os filhos de Etam:
Jezreel, ...” (Nota do Tradutor).
F
FANUEL (Heb. “a face de Deus”). Pai de Ana, a profetisa da tribo de
Aser (Lc 2.36). Ela era uma viúva idosa fiel ao Senhor e teve a
oportunidade de ver o menino Jesus ser apresentado no Templo.
FARISEUS
Uma das três seitas judaicas descritas por Josefo, historiador judeu do
século I (as outras duas são os saduceus e os essênios). Provavelmente não
mais do que 5 a 10% de todos os judeus pertenciam a esse grupo, o qual era
uma mistura de partido político e facção religiosa. É provável que o nome
signifique “separatistas” e fosse aplicado a um movimento que cresceu no
tempo dos Macabeus, composto de líderes religiosos e estudantes da Lei
que tentavam criar uma “cerca” em torno da Torá — um bem elaborado
sistema de legislação oral e de interpretações que capacitaria os judeus fiéis
a obedecer e aplicar os mandamentos de Deus em todas as áreas da vida.
Originalmente reformadores piedosos, eram bem respeitados pelos judeus
comuns, menos piedosos, apesar de às vezes os fariseus os criticarem por
não serem suficientemente escrupulosos em guardar a Lei. Diferentemente
dos saduceus, eles observavam Roma como um governo ilegítimo e
opressor que impedia Israel de receber as bênçãos divinamente ordenadas
de paz e liberdade na Terra. De maneira alguma eram todos hipócritas,
como os cristãos geralmente supõem erroneamente. A tradição talmúdica
descrevia sete categorias de fariseus, relacionadas de acordo com a
motivação para o comportamento, e somente um grupo dos sete tinha fama
de agir sem escrúpulo.
No evangelho de Marcos, alguns fariseus perguntaram a Jesus por que
Ele comia com cobradores de impostos e pecadores (Mc 2.16). Alegaram
que jejuavam e os discípulos de Cristo não faziam isso (2.18), acusaram
Jesus de não respeitar o sábado (2.24), começaram a tramar a morte dele
(3.6), questionaram por que Ele não seguia as tradições do ritual da
purificação (7.1,3,5) e exigiram um sinal sobrenatural que autenticasse seu
ministério (8.11). Os ensinos deles foram comparados a uma força maligna
e insidiosa (8.15); prepararam uma armadilha para Jesus, quando pediram
sua opinião sobre o divórcio (10.2) e os impostos (12.13).
Mateus repete todas essas referências, mas reforça a animosidade, pois
acrescenta vários outros eventos e mantém sua posição de antagonismo para
com os líderes judaicos. Os fariseus que estavam presentes questionaram o
ministério e o batismo de João Batista (Mt 3.7). Jesus declarou que a justiça
de seus discípulos precisava exceder a dos fariseus (5.20). Eles o acusaram
de que só expulsava os espíritos imundos pelo poder de Belzebu, príncipe
dos demônios (9.34; 12.24) e identificaram-se com os lavradores ímpios da
parábola (21.45). Um deles, doutor da lei, questionou Jesus sobre qual era o
maior mandamento (22.34,35). Cristo os acusou de toda sorte de hipocrisia,
em seu mais longo discurso de acusação nos evangelhos (Mt 23), e eles
solicitaram a Pilatos que lhes desse autorização para colocar guardas no
túmulo de Jesus (27.52).
Lucas difere de Mateus e Marcos em várias passagens. Algumas de suas
referências aos fariseus são também negativas. Contrapuseram-se à
afirmação de Jesus de ter poder para perdoar pecados (Lc 5.21); “rejeitaram
o conselho de Deus” (7.30), murmuraram por causa da associação de Cristo
com os impenitentes (15.2), rejeitaram o ensino de Jesus sobre a mordomia
porque “eram avarentos” (16.14) e disseram a Cristo que repreendesse seus
seguidores, quando o aclamaram rei (19.39). A parábola de Jesus sobre o
fariseu e o publicano chocou a audiência, porque o popular líder judeu não
foi justificado e sim o notório empregado do governo imperialista romano
(18.1014). Por outro lado, Lucas foi o único evangelista que incluiu
numerosos textos que retratam os fariseus de forma mais positiva, muitas
vezes no contexto da comunhão com Jesus. Simão convidou Cristo para
jantar em sua casa, mas foi Jesus quem usou a ocasião para criticar sua
hospitalidade (7.36-50). Lucas 11.37-53 e 14.1-24 descrevem duas festas
semelhantes nas quais os fariseus agiram em favor de Cristo, o qual os
criticou por algum aspecto comportamental. Em Lucas 13.31 advertiram
Jesus contra a fúria do rei Herodes e pareceram genuinamente preocupados
com seu bem-estar. Em Lucas 17.20,21, os fariseus perguntaram sobre o
advento do reino de Deus e criaram uma oportunidade para que Jesus
declarasse que o reino já estava entre eles, em sua própria pessoa e
ministério.
João assemelha-se mais a Mateus, pois retrata os fariseus como
extremamente hostis a Jesus. Ele enviaram os guardas do Templo numa
tentativa fracassada de prendê-lo (Jo 7.32-46). Alegaram que o testemunho
de Cristo não tinha validade, pois falava a seu próprio favor (8.13).
Investigaram a cura de um cego, rejeitando as declarações dele sobre Jesus
e revelando no processo a sua própria cegueira espiritual (9.13-41).
Formaram um concílio no qual decidiram prender Cristo e tentar matá-lo
em segredo (11.4557); lamentaram o fato de “todo o mundo” ir após Jesus,
quando o Filho de Deus entrou triunfalmente em Jerusalém (12.19) e
fizeram parte do grupo que foi ao Jardim Getsêmani para prendê-lo (18.3).
O medo em relação aos fariseus impediu alguns judeus que creram em
Jesus de confessar isso publicamente (12.42). Por outro lado, pelo menos
um dos mais proeminentes deles apareceu sob uma perspectiva mais
positiva — Nicodemos (3.1), que, apesar de inicialmente não entender a
afirmação de Cristo sobre o novo nascimento (vv. 3,4), tempos depois
levantou-se em defesa de Jesus (7.50,51) e ajudou José de Arimatéia a
sepultar Cristo (19.39). Há também outros textos mais brandos que
envolvem os fariseus, como a discussão sobre a identidade do Batista (1.24)
e o registro de que Jesus batizava mais pessoas do que João (4.1).
Como no evangelho de Lucas, o livro de Atos alterna referências
positivas e negativas. Um importante membro da suprema corte judaica,
Gamaliel, saiu em defesa dos apóstolos. Alguns fariseus tornaram-se
cristãos, mas erroneamente pensavam que os novos convertidos entre os
gentios eram obrigados a obedecer à Lei mosaica (At 15.5). Em sua
audiência diante do Sinédrio, Paulo causou uma divisão entre seus
membros; alinhou-se com os fariseus contra os saduceus, ao alegar que era
julgado porque cria na ressurreição. Novamente em Atos 26.5, quando se
defendia diante do rei Agripa, o apóstolo referiu-se ao seu passado como
membro da seita dos fariseus. Filipenses 3.5 registra esse mesmo
testemunho, mas nos dois contextos Paulo também deixou claro que, como
cristão, muitas de suas convicções fundamentais mudaram. C.B.
FILHOS NA BÍBLIA
Os filhos freqüentemente são citados na Bíblia e constituem um elemento
importante no quadro bíblico da família temente a Deus e do povo do
Senhor como uma unidade maior. A perspectiva dos escritores bíblicos,
entretanto, não é idêntica à da sociedade ocidental contemporânea.
Em geral, no antigo Israel, assim como na maioria das sociedades, os
filhos eram vistos como altamente desejáveis, principalmente em se
tratando do sexo masculino. Muitas pessoas viam o nascimento e o
crescimento dos filhos como uma garantia da formação de uma equipe de
trabalho e de proteção contra os que estavam fora da unidade familiar. Em
Israel, os filhos geralmente eram vistos como bênção do Senhor (Gn 15.2-5;
Sl 127.3-5; 128.2,3). Representavam o cumprimento da promessa de Deus
sobre a aliança com seu povo e ao mesmo tempo o cumprimento da
responsabilidade humana de frutificar e multiplicar-se, encher a terra e
sujeitá-la (Gn 1.28). Infanticídio e aborto, embora fossem praticados por
outros povos, não eram aprovados pela Bíblia.
A bênção de Deus não era vista apenas no nascimento dos filhos, mas na
manutenção dos descendentes piedosos de uma geração para a outra. A
bênção do Senhor não é limitada pelas mudanças dos eventos no correr da
história. Sua promessa estende-se para os filhos dos filhos (Sl 103.17). A
bênção divina é uma maneira pela qual o governo de Deus estende-se
através da história. O passar do tempo não enfraquece a obra do Senhor em
abençoar seu povo. Deus continua a nos chamar ao arrependimento e ao
serviço amoroso e promete que seu Espírito e sua Palavra não se apartarão
das gerações futuras, que ainda nem nasceram (Is 59.21).
No antigo Israel, os filhos participavam do culto desde a mais tenra
idade. O primogênito era oferecido a Deus de maneira especial, mas, na
verdade, todos eles eram dedicados ao Senhor. Freqüentemente, os filhos
recebiam nomes que destacavam o cuidado do Senhor pela família ou pelo
seu chefe. Abias (1 Sm 8.2) significa “O Senhor meu pai”; Abiúde (1 Cr
8.3), “Meu pai de louvor”; Aimeleque, “meu irmão (Deus), um rei” (1 Sm
21.1). (Veja também Gn 29.32,35; etc.). Os meninos eram circuncidados ao
oitavo dia de vida (Gn 17.12); esse ritual simbolizava sua entrada na
comunidade de Israel, o povo de Deus. Alguns deles eram dedicados pelos
pais ao serviço particular de Deus (1 Sm 1.11; Lc 1.76-79).
A promessa da bênção de Deus não era feita no vazio. Vinha
acompanhada de mandamentos para criar os filhos nos caminhos do Senhor
(Pv 22.6). Porque Deus é o Criador de todas as coisas e seus estatutos para
o seu povo envolviam todas as áreas da vida, não havia distinção entre o
secular e o sagrado no treinamento dos filhos. Educação no temor do
Senhor envolvia todos os aspectos da vida.
Os pais eram responsáveis pela educação dos filhos. Deviam ensinar-lhes
sobre os atos poderosos de Deus, por meio dos quais foram tirados do Egito
e chamados para receber sua Palavra no monte Sinai (Dt 4.9-10). Enquanto
Deus abençoava seu povo, a história da fidelidade do Senhor à sua aliança
cresceu e a questão da educação dos filhos assumiu novas dimensões (Js
4.21-24; 2 Tm 3.15).
O ensino aos filhos não era meramente didático. Os pais fortaleciam-nos,
ao incluí-los na adoração a Deus (1 Sm 1.4,22-24). Desde pequenos, eles
observavam a participação nos rituais do Templo.
A educação dos filhos, contudo, ia além do ensino e do exemplo. As
crianças também eram disciplinadas. Não existia o otimismo tolo que via as
crianças como inocentes por natureza. “Porque a imaginação do coração do
homem é má desde a sua meninice” (Gn 8.21). “Desviam-se os ímpios
desde a madre; andam errados desde que nascem, proferindo mentiras” (Sl
58.3). O AT narra histórias de filhos egoístas que não tiveram respeito pelos
pais (2 Rs 2.23). A Bíblia apresenta um quadro muito realista dos filhos.
Eles precisam de disciplina; e os genitores são chamados para ministrar esse
ensino. “A estultícia está ligada ao coração do menino, mas a vara da
disciplina a afugentará dele” (Pv 22.15). Os filhos nem sempre obedecem à
lei de Deus. Exigências muito elevadas são colocadas sobre eles. “Honra a
teu pai e a tua mãe” (Êx 20.12; Ef 6.1-3; Cl 3.20). Eles não podem,
entretanto, cumprir automaticamente todas essas obrigações. Precisam de
disciplina.
Os filhos, contudo, não precisam de uma “mão de ferro”, ou seja, de uma
disciplina desprovida de amor. A Bíblia diz claramente aos pais que não
provoquem a ira dos filhos (Ef 6.4), nem os irritem (Cl 3.21). Pelo
contrário, espera-se que os genitores dêem boas dádivas aos filhos (Mt
7.11).
Em tudo isso, os filhos são vistos como pessoas, não como propriedade;
são presentes do Senhor que devem ser cuidados e dedicados ao seu
serviço. São membros do povo de Deus. Ninguém poderia deixar essa
verdade mais clara do que Jesus em Marcos 10.14: “Deixai vir a mim as
criancinhas, e não as impeçais, pois das tais é o reino de Deus”. É
amplamente reconhecido que Cristo usava as crianças para fazer a aplicação
teológica de que seus discípulos devem receber o Reino de Deus e viver uns
com os outros em bondade e humildade, alegrando-se na graça do Senhor.
Ninguém deve esquecer, contudo, que Jesus realmente recebeu as crianças.
As que descansam nos braços de Cristo são membros (não apenas
potenciais) do Reino de Deus. Semelhantemente, em Mateus 21.15,16, logo
após sua entrada triunfal em Jerusalém, quando Jesus estava no Templo,
somente as crianças o louvavam e diziam: “Hosana ao Filho de Davi”.
Já que os meninos judeus eram circuncidados, como sinal de que eram
componentes da aliança, e os filhos dos judeus prosélitos eram batizados,
muitos entendem que as crianças estavam incluídas nos batismos familiares
(significando que eram membros da comunidade da nova aliança) da igreja
primitiva (At 16.15,33; 1 Co 1.16).
Para enfatizar ainda mais que as crianças são membros do Reino de
Deus, textos como Marcos 10.14 introduzem a nuança de que as crianças
são fracas e dependentes. Estão entre os grupos da sociedade sobre os quais
outros podem facilmente tirar vantagem. Elas não controlam o próprio
destino. Por isso, às vezes, são descritas junto com as mães como “viúvas e
órfãos” (Is 1.23; 10.2; Sl 94.6). Sem um pai para cuidar delas e protegê-las,
ficam indefesas e à mercê dos outros. Na sociedade patriarcal do antigo
mundo mediterrâneo, não havia garantia de cuidado e provisão para as
crianças, exceto por meio do pai. A injustiça era uma ameaça diária para um
órfão. Por esse motivo, Deus, em sua graça, declara-se “pai dos órfãos” (Sl
68.5). Da mesma maneira, os que professam a religião pura são descritos
como os que visitam “os órfãos e as viúvas nas suas aflições” (Tg 1.27).
Não apenas o Senhor mas também o seu povo cuidam das crianças que não
têm quem as proteja ou sustente na sociedade. Os termos “criança” e “filho”
são também usados metaforicamente na Bíblia. Os habitantes de Jerusalém
são referidos como seus “filhos” (Mt 23.37; Gl 4.25). Nesse sentido,
“filhos” têm um significado similar nas expressões intercambiáveis: “filhos
de Abraão” (Jo 8.39; Gl 3.7), “descendentes de Abraão” (Jo 8.37; Gl 3.16) e
“filhos de Israel” (Dt 1.3). Infelizmente, alguns tradutores desviam a
atenção da referência aos “filhos” nesses versículos.
Apenas um pequeno passo separa esse uso e a descrição da comunidade
como uma família, com Deus e não Abraão como pai. No NT esse uso é
muito mais desenvolvido do que no AT. Não somente o Senhor é o Pai, mas
Jesus é o Filho de Deus e os que crêem nele também são filhos do Senhor
(Jo 1.12). A igreja é o lar (ou a casa) de Deus (1 Tm 3.15). Os cristãos são
“irmãos” em Cristo.
Como “filhos de Deus”, confessamos nossa fraqueza e humilde
dependência do Pai para todas as necessidades e descansamos
confiadamente em sua provisão amorosa e sua proteção (Mt 6.26,32; 7.11;
10.29,32,33). Ser filho de Deus implica fazer a sua vontade (Mt 12.48-50;
5.44-48; 7.21) e viver em comunhão com os nossos irmãos, a fim de
demonstrarmos os traços da família, em humildade, amor e cuidado (Ef
5.1ss). Os filhos refletem o Pai.
A metáfora “filhos” é usada com uma conotação negativa em expressões
como “filhos da transgressão, descendência da falsidade” (Is 57.4), “filhos
do ira” (Ef 2.3) e “filhos do diabo” (1 Jo 3.10).
Os termos “filho meu” e “filhinhos” são usados pelos mestres e
escritores, quando se dirigem aos estudantes e leitores. O livro de
Provérbios faz um uso extensivo da figura na expressão “Filho meu” (veja
os primeiros versículos dos caps. 2 a 7). Em 1 João 2.1 o termo afetuoso
“meus filhinhos” é usado com esse mesmo sentido. Paulo (Fl 10), o escritor
de Eclesiastes (Ec 12.12) e Jesus (Mc 2.5), utilizam todos expressões
similares.. A.M.
FILIAÇÃO
Filiação redentora
Filiação escatológica
Filiação em Cristo
Nem todos são filhos de Deus. Em João 8.44, Jesus disse aos judeus:
“Vós pertenceis ao vosso pai, o diabo”. Semelhantemente, o lindo quadro
do cuidado paternal de Deus no Salmo 68.5,6 é seguido pela clara
advertência no v. 6 de que nem todos são filhos de Deus: “Pai de órfãos e
juiz de viúvas é Deus no seu santo lugar. Deus faz que o solitário viva em
família, e liberta aqueles que estão presos em grilhões; mas os rebeldes
habitam em terra seca”. Desde que nem todos são filhos de Deus, os que
desejam ver o Reino de Deus, precisam “nascer de novo” (Jo 3.3,7).
A solução para a triste situação do que não é filho de Deus começa com a
graça do Pai. Ninguém pode reconhecer Jesus como o Filho, a menos que o
Pai o revele (Mt 16.16,17), e a boa notícia do Evangelho é que o Pai sempre
toma a iniciativa (Jo 6.37, 44,45, 65). Como alguém pode aproximar-se de
Deus? Por meio de Jesus, pois seu Pai “é misericordioso” (Lc 6.36), e se
seu Pai celestial também o perdoar (Mt 6.14). O Pai é gracioso e perdoador.
Sua misericórdia e seu amor são a raiz da filiação de seu povo (Jr 31.9, 20;
1 Pe 1.3).
A ênfase do apóstolo Paulo sobre esse assunto é encontrada em Efésios
1.3-14. Dois dos maiores temas dessa doxologia são a adoção de filhos de
Deus e a vontade e o propósito de Deus. Este segundo é expresso numa
variedade de palavras: “vontade” (Ef 1.5,9,11), “propósito” (v. 11),
“conselho” (v. 11), “beneplácito” (vv. 5,9), “predestinados (vv. 5,11) e
eleitos (v.4). O efeito cumulativo é a ênfase no fato de que a adoção na
família de Deus é construída nada mais nada menos que sobre o
fundamento da própria pessoa do Pai (o significado básico da palavra
“adoção” enfatiza a escolha do Pai que adota).
Adoção e regeneração
Duas metáforas são utilizadas nos textos bíblicos para descrever como a
escolha amorosa do Pai se realiza e a pessoa que ainda não é filha de Deus
une-se a Cristo e transforma-se num membro da família de Deus: adoção e
regeneração. O termo “adoção”, que não aparece no Antigo Testamento e
apenas cinco vezes no Novo Testamento (sempre nos escritos de Paulo, Rm
8.15,23; 9.4; Gl 4.5; Ef 1.5), é tomado do contexto social e legal do mundo
greco-romano. O vocábulo “regeneração”, que aparece primariamente nos
escritos de João, é uma metáfora biológica.
A despeito das variações distintivas, ambos os termos deixam claro que a
mudança envolvida é radical em toda a orientação da vida. A velha
existência termina e começa uma nova vida. Da mesma maneira, as duas
metáforas enfatizam que a mudança não é apenas radical — é também
imediata. Nem o novo nascimento nem a adoção na família de Deus
constituem um processo. Uma terceira característica comum da adoção e da
regeneração é que a mudança que ocorre é divina. As pessoas tornam-se
filhas de Deus, “por Deus” (Gl 4.7). São nascidas de Deus (1 Jo 3.9; 4.7;
5.1,4,18). Especificamente, adoção e regeneração estão ligadas à obra do
Espírito Santo (Jo 3.5; Gl 4.6).
Os resultados da filiação
GENEALOGIAS BÍBLICAS
As Escrituras apresentam repetidamente as listas dos ancestrais e
descendentes de vários personagens judeus. Essas genealogias servem para
propósitos variados: (i) mostrar a sucessão hereditária de certa tribo,
servindo assim para legitimar reivindicações de herança ou de uma função
em particular; (ii) demonstrar a bênção ou o juízo de Deus sobre uma
família em particular; (iii) preencher as lacunas entre um período histórico e
outro; (iv) mostrar os padrões da atividade de Deus na história humana; e
(v) distinguir os verdadeiros judeus dos gentios. É comum que nomes de
pessoas relativamente sem importância sejam deixados fora de tais listas,
para que as genealogias sejam organizadas sistematicamente. As palavras
traduzidas como “filho” e “pai” podem muitas vezes significar
“descendente” e “ancestral”, respectivamente. Os ancestrais eram
normalmente traçados a partir dos membros do sexo masculino na árvore
genealógica da família; a inclusão de nomes de mulheres geralmente servia
para algum propósito especial. A longevidade dos patriarcas antediluvianos
deixa muitas pessoas perplexas em nossos dias; mas, na realidade, é até
modesta, quando comparada com os paralelos mesopotâmicos; a
diminuição da expectativa de vida através do tempo provavelmente indica
os efeitos crescentes da queda.
As principais listas genealógicas do Antigo Testamento incluem os
descendentes (i.) de Caim e o desenvolvimento tecnológico associado a
muitos deles (Gn 4.17-22); (ii.) de Adão, por meio de Sete, para traçar a
herança patriarcal através do filho mais piedoso de Adão (Gn 5.3-22); (iii)
de Noé (Gn 10, freqüentemente chamado de Tabela das Nações, pois o
repovoamento da Terra começou por meio dos três filhos de Noé); (iv) de
Sem, a fim de destacar Abraão e preparar o caminho para a família
particular que Deus chamaria para receber sua aliança e suas bênçãos (Gn
11.10-32); (v) de Ló, para mostrar a origem dos moabitas e amonitas (Gn
19.37,38); (vi) de Naor, irmão de Abraão, para enfatizar a esterilidade de
Sara, esposa de Abraão (Gn 22.20.24); (vii) de Abraão, por meio de
Quetura, a esposa posterior, para mostrar a origem dos outros povos do
Oriente Médio, além dos israelitas (Gn 25.1-4); (viii) de Ismael, o filho de
Abraão com Hagar, pela mesma razão e para ilustrar como diferentes
nações se originaram de Abraão (Gn 25.12-18); (ix) de Jacó, através de
cada uma das quatro mulheres, a fim de chamar particular atenção para a
fundação das doze tribos de Israel, junto com os descendentes de cada um
dos seus doze filhos (Gn 46.8-27; cf. Nm 26.562); (x) uma lista detalhada
de pessoas, entre Adão e Saul, para enfatizar a pureza racial através dos
tempos pós-exílicos e demonstrar a graça e a soberania da eleição de Deus
(1 Cr 1 a 9); (xi) vários levitas, durante o período do reinado de Davi (1 Cr
15.5-24), Ezequias (2 Cr 29.12-14), Josias (2 Cr 34.12,13) e Zorobabel (Ne
12.1-24), os quais por meio das genealogias validaram seu direito de oficiar
o culto de adoração. Listas semelhantes, as quais, embora não se tratando
essencialmente de genealogias, muitas vezes incluíam referências aos
ancestrais de certas pessoas, como, por exemplo, os registros militares dos
israelitas no deserto (Nm 1.5-16), os heróis de Davi (2 Sm 23.8-39), líderes
tribais (1 Cr 27.16-22), oficiais administrativos (1 Cr 27.25-31), israelitas
repatriados no tempo de Neemias e Esdras (Ne 7.7-63), os que ajudaram na
reconstrução dos muros de Jerusalém (Ne 3), os que se casaram com
mulheres estrangeiras (Ed 10.18-43), os que assinaram o pacto de dedicação
ao Senhor Deus de Israel (Ne 10.1-27) e os que passaram a residir em
Jerusalém (Ne 11.14-19).
Duas genealogias significativas aparecem no Novo Testamento, ambas
relacionadas com Jesus. Mateus 1.1-17 traça sua linhagem a partir de
Abraão, em três grupos de 14 gerações, a fim de apresentar Cristo como
filho de Davi e restaurador das esperanças que foram destruídas no tempo
da deportação para a Babilônia. Quatro mulheres figuram de forma
significativa na lista: Tamar, Raabe, Rute e a esposa de Urias. Todas eram
gentias e cada uma delas foi mencionada provavelmente devido à suspeita
de terem gerado filhos ilegítimos. A mesma suspeita cercou Maria, a mãe
de Jesus, o quinto nome de mulher na lista. Mateus enfatiza que Cristo tinha
todas as credenciais judaicas apropriadas para ser o Messias e Rei, mas que
veio para salvar também os párias.
Lucas 3.23-37 começa com Jesus e retrocede até Adão e finalmente até
Deus, para enfatizar o alcance universal da missão do Messias. As
discrepâncias entre os nomes das duas listas geralmente são atribuídas à
suposição de que Mateus preserva a linhagem legal de Jesus e Lucas, sua
linhagem biológica; ou então que Mateus traça a descendência a partir de
José, o pai adotivo de Cristo, enquanto Lucas o faz através de Maria.
Ambas as genealogias implicam a concepção virginal de Jesus (Mt 1.16; Lc
3.23). C.B.
GINATE. Pai de Tibni, que fez uma breve tentativa para tornar-se rei de
Israel, logo depois da morte de Zinri. Israel dividiu-se em duas facções,
uma das quais apoiou Tibni e a outra seguiu Onri, o comandante militar.
Este liderava a facção mais forte e por isso tornou-se rei, enquanto Tibni foi
morto (1 Rs 16.21,22).
GINETOM. 1. Um dos sacerdotes que selaram o pacto feito pelo povo
de adorar ao Senhor e obedecer às suas Leis (Ne 10.6).
2. Um dos sacerdotes que retornaram do exílio com Zorobabel. Mesulão
era o líder dessa família sacerdotal nos dias do rei Joiaquim (Ne 12.4, 16).
GISPA. Ele e Zia eram os líderes dos serviçais do Templo que viviam
nas colinas de Ofel, depois do retorno do exílio babilônico (Ne 11.21).
GÜEL. Um dos doze homens enviados por Moisés a Canaã para espiar a
terra, quando os israelitas estavam no deserto de Parã (Nm 13.11). Filho de
Maqui, foi escolhido como representante da tribo de Gade. Para mais
detalhes sobre a missão deles, veja Samua.
1 O autor coloca o nº como sendo 46.500, mas tal informação não encontra fundamentos
nos textos de referência (Nota do Tradutor).
H
HAASTARI. Citado em 1 Crônicas 4.6, foi um dos filhos de Naará,
descendente de Asur, da tribo de Judá.
HAGAR. De acordo com as normas legais da época, Sara, por ser estéril,
propôs ao marido Abraão que tomasse uma segunda esposa, por meio da
qual ela [Sara] pudesse “constituir uma família” (Gn 16.1,2). Embora fosse
legalmente permitido, essa proposta foi desastrosa, do ponto de vista
espiritual, pois contrariava a fé obediente e paciente nas promessas de Deus
(Gn 15.3,4). As conseqüências foram trágicas — para Hagar (Gn 16.6;
21.14-16); para Abraão (Gn 21.11ss; cf. 17.18), o qual amava o filho; e
também para Sara que, a partir desse acontecimento, alimentou um espírito
amargurado e extremamente ciumento (Gn 16.5s; 21.10). O Senhor, porém,
vai ao encontro do quebrantado de coração: ouve nossa miséria (Gn 16.11;
21.17), supre nossas necessidades (Gn 21.19) e garante nosso futuro (Gn
21.20). Hagar recebeu uma bênção especial: uma revelação pessoal de
Deus, numa atitude de graça maravilhosa (Gn 16.13). J.A.M.
HAGI. Um dos filhos de Gade, estava entre os que desceram com Jacó
para o Egito, listados em Gênesis 46.16. Seus descendentes foram
chamados de hagitas (Nm 26.15).
HAGIAS (Heb. “a festa do Senhor”). Filho de Siméias, da tribo de Levi
(1 Cr 6.30). Era descendente da família de Merari.
HAMEDATA (Persa: “dado pela lua”). Pai de Hamã (Et 3.1,10, etc.).
Era “agagita” (Et 8.5). Seu filho tentou aniquilar todos os judeus durante o
reinado de Assuero, no tempo da rainha Ester. Deus usou Ester e seu primo
Mordecai para impedir tais planos.
HAMOR. Defensor de Siquém, seu perverso filho (Gn 34). Era heveu e
governava a área em que Jacó habitava (v. 2). Aparece pela primeira vez em
Gênesis 33.19, quando nosso patriarca comprou de seus filhos um pedaço
de terra para fazer um túmulo. O campo é mencionado posteriormente em
Josué 24.32, quando os ossos de José foram trazidos do Egito e enterrados
ali (veja At 7.16).
Siquém violentou Diná, filha de Jacó, e depois pediu ao pai dele que
negociasse seu casamento com ela. Os irmãos da jovem ficaram furiosos,
quando ouviram falar sobre o ocorrido. Não somente o estupro era um algo
muito sério, como também o casamento misto com um cananeu dificilmente
seria aceito! De fato, os irmãos concordaram com a proposta de que todos
os homens de Siquém fossem circuncidados. A condição foi aceita. Eles
foram operados e três dias depois, “quando os homens estavam doridos”
(Gn 34.25), dois filhos de Jacó, Simeão e Levi, atacaram a cidade e
mataram todos os habitantes do sexo masculino. Hamor e Siquém também
foram assassinados (v. 26).
Os “homens de Hamor”, mencionados em Juízes 9.28, eram os que
viviam em Siquém e naquela ocasião foram totalmente derrotados por
Abimeleque.
Os eventos narrados concernentes a Hamor, seu filho e os moradores de
Siquém demonstram os problemas contínuos que os israelitas tiveram com
os cananeus, aos quais não destruíram totalmente quando entraram em
Canaã.
P.D.G.
HAMUL. Um dos netos de Judá, através de seu quarto filho Perez (Gn
46.12; 1 Cr 2.5). Tornou-se o líder do clã dos hamulitas (Nm 26.21). Ele é
listado entre os que desceram ao Egito com Jacó.
HANUM. 1. Filho de Naás, rei dos amonitas para quem Davi enviou
uma mensagem de consolo. Hanum ordenou que os súditos do rei de Israel
fossem presos, tivessem metade da barba cortada, bem como metade das
roupas, e os despediu (2 Sm 10.1-4). Depois alugou carruagens e soldados
por mil talentos de prata, para proteger-se de Davi e de Joabe. O Senhor,
entretanto, deu a vitória ao seu povo (vv. 13-15; 1 Cr 19.2-6).
2. Consertou o Portão do Vale, em Jerusalém, bem como 457
metros de muro (Ne 3.13), depois do retorno do exílio babilônico.
3. Sexto filho de Zalafe, reparou outra seção do muro (Ne 3.30).
HARÃ. 1. Filho de Terá, irmão de Abraão e Naor; era o pai de Ló. Suas
filhas foram Milca e Iscá. Viveu e morreu em Ur dos caldeus (Gn 11.26-
31). Naor mais tarde casou-se com Milca. Terá, Abrão e Ló posteriormente
estabeleceram-se numa cidade chamada Harã. Não fica claro se foi Terá
quem lhe deu esse nome, mas a cidade ficou conhecida e tornou-se figura
proeminente na narrativa bíblica posterior e sobrevive até hoje como uma
pequena vila árabe.
2. Um dos líderes da tribo de Judá, era filho de Calebe e de sua
concubina Efá. É o pai de Gazez (1 Cr 2.46).
3. Um dos filhos de Simei, levita da família dos gersonitas e um
dos líderes do clã de Ladã (1 Cr 23.9). Listado entre os que receberam
tarefas específicas do rei Davi.
HEFZIBÁ (Heb. “meu prazer está nela”). Mãe do rei Manassés, de Judá
(2 Rs 21.1). Veja também Isaías 62.4.
HELA. Uma das duas esposas de Asur. Seus filhos foram Zerete, Zoar,
Etnã e Coz, os quais foram líderes na tribo de Judá (1 Cr 4.5,7).
HEMÃ (Heb.“fiel”).
1. Da tribo de Levi e do clã dos coatitas, era músico, filho de Joel
e neto do profeta Samuel (1 Cr 6.33). Era parceiro de Asafe, outro famoso
líder dos musicistas no último período do reinado de Davi, primeiro no
Tabernáculo e depois, no governo de Salomão, no Templo, após sua
construção e inauguração (1 Cr 6.32). Quando a Arca da Aliança foi levada
para Jerusalém, ao lugar preparado especialmente para ela, Davi ordenou
que os levitas nomeassem cantores para cantarem com alegria (1 Cr 15.16).
Hemã foi um dos que tocavam os címbalos (vv. 1719). Ele também foi
separado pelo rei para o “ministério da profecia” e ficou conhecido como
“vidente”. Estava sob as ordens diretas de Davi. Foi abençoado com 14
filhos e 3 filhas, os quais lhe foram dados em cumprimento das promessas
que o Senhor lhe fizera, e seu trabalho era “exaltar a Deus” (1 Cr 25.1,4-6).
Quando a Arca finalmente foi levada para o Templo, no reinado de
Salomão, Hemã e seus companheiros lideraram o grande louvor e ações de
graças ao Senhor (2 Cr 5.12,13). Muito tempo depois, no período do
avivamento que aconteceu no reinado de Ezequias, é interessante ver que os
descendentes dele ainda estavam entre os primeiros levitas que se
envolveram na purificação e reconsagração do Templo (2 Cr 29.14,15).
Mais tarde ainda, quando o rei Josias encontrou o livro da Lei e reiniciou o
culto no Templo, depois de um período de perversidade e idolatria,
novamente foram os descendentes de Hemã e de Asafe os primeiros a
liderar a música no Templo.
O fato daquela família ser tão proeminente por ocasião da chegada da
Arca a Jerusalém, quando ela foi levada ao Templo recém-construído, na
nova dedicação do Santuário, no reinado do rei Ezequias, e novamente no
governo de Josias talvez seja uma boa indicação de que permaneceram fiéis
ao Senhor, mesmo durante os terríveis tempos de idolatria que Judá
experimentou, após a morte de Salomão. Também é particularmente
interessante notar que, numa época em que a música alegre novamente faz
parte do culto e da adoração, Hemã e seus descendentes tiveram
participação direta nesse ministério, pois cantavam harmoniosamente e
tocavam os instrumentos diante do Senhor. Era um dom de família e um
chamado especial de Deus, reconhecido através das gerações pelos que
estavam ao redor deles.
2. Mencionado em 1 Crônicas 2.6, era filho de Zerá e neto de
Judá e Tamar.
3. Famoso por sua sabedoria, é mencionado numa passagem que
exalta a extraordinária sabedoria dada por Deus a Salomão. Comparada
com a de Hemã e de outros homens, a do filho de Davi ultrapassava a todas
(1 Rs 4.31). Provavelmente é o ezraíta mencionado na introdução do Salmo
88. Alguns dizem que é o mesmo do item nº 2. P.D.G.
HILEL. Pai de Abdom, que liderou Israel durante oito anos no tempo
dos Juízes. Depois de sua morte, Abdom foi sepultado em Piratom, na
região montanhosa de Efraim (Jz 12.13-15).
HOBABE. Nos dois textos onde seu nome aparece, não fica totalmente
claro se era sogro ou cunhado de Moisés (Nm 10.29; Jz 4.11). Certamente
também é possível, embora um pouco improvável, que os textos se refiram
a dois homens diferentes. Na primeira passagem parece ser um midianita,
enquanto na segunda é visto como o progenitor dos queneus (embora em
Juízes 1.16 o sogro, não mencionado pelo nome, seja chamado de queneu).
Em outras passagens, o sogro de Moisés é chamado de Jetro.
A razão para se mencionar Hobabe, em Números 10.29, é que ele era
bem familiarizado com as áreas do deserto por onde Moisés e os israelitas
viajariam, depois que deixassem o Sinai. Embora a princípio estivesse
relutante, Moisés o convenceu a unir-se a eles, e os israelitas iniciaram a
marcha rumo à Terra Prometida. P.D.G.
ISAÍAS
Provavelmente, o profeta Isaías nasceu e foi educado em Jerusalém.
Exceto pelo nome de seu pai, Amoz, sua genealogia é desconhecida.
Alguns supõem que fosse parente do rei Uzias (791 a 740 a.C.) porque tinha
acesso à corte e preocupava-se muito com a questão da liderança. Não é
possível provar que pertencia à linhagem real, embora sua forma de
escrever revele uma pessoa extremamente talentosa, com excelente
formação acadêmica.
O profeta é incomparável em sua expressão literária, conforme o livro de
Isaías demonstra, com sua forma de expressão, seus artifícios retóricos e
imagens literárias. Seu estilo demonstra um vocabulário rico e imaginativo,
com palavras e expressões exclusivas. O livro também revela brilhantismo
em seu uso das expressões retóricas: a guerra (Is 63.1-6), os problemas
sociais (3.1-17) e a vida rural (5.1-7). Ele também personifica a criação: o
sol e a lua (24.23), o deserto (35.1), as montanhas e as árvores (44.23;
55.12). Emprega zombarias (14.4-23), expressões apocalípticas (Is 24 a 27),
sarcasmo (44.9-20), personificações, metáforas, jogos de palavras,
aliterações e assonâncias.
Isaías era um pregador extremamente talentoso, que empregava
plenamente toda a riqueza da língua hebraica. Sua imaginação poética e sua
mensagem provocam uma reação. Sua profecia não foi escrita para que se
concordasse com ela, mas para gerar uma resposta. O piedoso respondia
com temor e adoração, enquanto o ímpio endurecia o coração contra o
Senhor.
A posição fundamentalista é a favor da unidade de Isaías (Is 1 a 66), com
base na similaridade e na repetição dos temas e no vocabulário empregado
por todo o livro. Os críticos tiveram de reconhecer que os antigos
argumentos da coleção de passagens isoladas e a divisão do livro em
diferentes seções não são mais defensáveis. Isso não significa que tenham
aceito a unidade do livro; pelo contrário, apenas reconheceram a
similaridade dos temas. A mensagem unificada de julgamento e salvação é
um dos temas prevalecentes.
Isaías era casado com uma “profetisa” (Is 8.3). Não se sabe se este era
realmente seu ministério ou se era chamada assim por ser esposa do profeta.
Por meio desta união, tiveram dois filhos, cujos nomes simbólicos refletiam
toda a mensagem do livro. O primeiro recebeu o nome de Sear-Jasube, que
significa “(somente) um remanescente voltará” (Is 7.3; veja adiante). O
segundo chamou-se Maer-Salal-Has-Baz, que significa “rápido-despojo-
presa-segura” (Is 8.1; veja adiante).
Isaías ministrou ao povo de Deus durante uma época de grande
instabilidade política (740 a 686 a.C.). Seu ministério está dividido em
cinco períodos: (1) o da crítica social (caps. 1 a 5), 740 a 734 a.C.; (2) o da
guerra siro-efraimita (caps. 7 a 9), 734 a 732 a.C.; (3) o da rebelião anti-
Assíria (caps. 10 a 23), 713 a 711 a.C.; (4) o da rebelião anti-Assíria e do
cerco de Jerusalém (caps. 28 a 32; 36 a 39), 705 a 701 a.C.; (5.) e o dos
últimos dias de Ezequias e possivelmente início do reinado de Manassés
(caps. 56 a 66), 701 a 686 a.C. Esses períodos correspondem aos reis
mencionados na introdução: “Visão de Isaías, filho de Amoz, a qual ele viu
a respeito de Judá e Jerusalém, nos dias de Uzias, Jotão, Acaz e Ezequias,
reis de Judá” (Is 1.1). Veja Profetas e Profecia.
Uzias (Is 6)
Jotão reinou sobre Judá de 750 a 731 a.C., primeiro como co-regente com
o pai Uzias e depois com seu próprio filho, Acaz. Ele herdou um reino
materialmente forte, mas corrupto em seus valores e totalmente apóstata.
Isaías protestou contra o poder, a ganância e a injustiça em Israel e Judá,
antes de falar sobre o que aconteceria no panorama político do Antigo
Oriente Médio. A Assíria, sob o reinado de TiglatePileser III (745 a 727
a.C., chamado de “Pul” em 2 Reis 15.19), subjugara as cidades ao longo da
rota de Nínive até Damasco, inclusive a própria capital da Síria (732 a.C.).
Quando Jotão morreu, nuvens negras, como prenúncio de uma grande
tempestade, formavam-se no horizonte de Judá e logo o reino foi lançado
no meio de uma torrente de eventos internacionais que o reduziriam a um
estado vassalo do Império Assírio. Durante este período, o profeta criticou a
religiosidade do povo (Is 1.10-16), a insensibilidade e injustiça dos líderes
(1.21ss), o orgulho (2.6ss) e a vida de licenciosidade moral que haviam
abraçado (Is 3, 5).
A mensagem de Isaías 1 a 5 antecipou e preparou a visão de Deus que o
profeta teve (Is 6). Ele apresenta a exaltação e a glória do Senhor em
contraste com o orgulho humano, o estilo de vida vigente (na religião, na
política, na legislação e na economia) que virtualmente excluía Deus. Por
um lado, esse modo de existência às vezes é extremamente religioso, como
era o caso do povo de Judá. Iam ao Templo, faziam seus sacrifícios,
comemoravam os dias santos e oravam (Is 1.10-15), mas não encontravam
o favor do Senhor. Por outro lado, estruturavam a vida a partir de uma
complexa trama, por meio da qual buscavam a segurança para se proteger
de qualquer adversidade possível. O profeta, porém, declarou que essa
segurança seria derrubada no dia do julgamento, a fim de que somente Deus
fosse exaltado: “Os olhos do homem arrogante serão abatidos, e o orgulho
dos homens será humilhado; só o Senhor será exaltado naquele dia” (2.11).
Santidade e esperança. O ensino sobre a santidade de Deus serve como
base para estabelecer toda a diferença entre o Senhor e os seres humanos.
Deus é diferente de nós em sua natureza e em suas conexões. Ele é santo,
ou seja, separado de toda a existência criada. Como soberano sobre a
criação, exige que todo aquele com quem, em sua graça, Ele estabelece uma
comunhão se aproxime dele, mediante a negação de qualquer dependência
das estruturas criadas que moldam a existência humana e a busca de
significado para a vida. O ensino sobre a santidade de Deus tem duas
implicações. Primeiro, ela é a base para a esperança. Porque Deus é santo,
Ele estabelece seu governo pela manutenção da justiça (imparcialidade) e
pela criação da ordem. Em oposição aos julgamentos arbitrários dos líderes
humanos e à anarquia social, o profeta projetou o reino de Deus como
caracterizado pela justiça e pela integridade. Justiça é a qualidade da
imparcialidade por meio da qual o Senhor trata com seus súditos. Ele
governa de modo a fazer da maneira certa o que os líderes humanos fazem
de forma desonesta, para pronunciar julgamentos baseados em sua vontade,
e não em sentimentos ou resultados pragmáticos, e para manter as normas
que incentivam a vida, ao invés de reprimi-la. Os juízos de Deus trazem
resultados positivos, porque Ele faz o que é justo e vindica aquele que
pratica a justiça. O resultado do seu domínio é a ordem, enquanto o governo
do homem freqüentemente gera a desordem. O profeta, portanto, encorajava
o necessitado que clamava por ajuda com o conforto da esperança de que
haveria restauração da ordem neste mundo: “Dizei aos justos que bem lhes
irá, pois comerão do fruto das suas obras” (Is 3.10).
Santidade e condenação. Segundo, a santidade de Deus é a base para a
condenação: “Mas o Senhor dos Exércitos será exaltado por sua justiça, e
Deus, o Santo, será santificado por sua retidão” (Is 5.16). O profeta viu que
só o Senhor é o Rei verdadeiro e fiel, cuja soberania se estenderá a toda a
humanidade. Nenhum poder na Terra pode comparar-se ao seu domínio.
Esse contraste absoluto entre Deus e o homem, que prevalece por toda a
mensagem, originou-se na visão do Senhor. O profeta tivera uma visão de
Deus como o grande Rei, no ano em que Uzias, um rei humano, morrera:
“No ano em que morreu o rei Uzias, eu vi o Senhor assentado sobre um alto
e sublime trono, e as orlas do seu manto enchiam o templo” (Is 6.1). Desde
que a glória do Senhor enchia toda a Terra (6.3), excluía qualquer glória vã
dos reis humanos, os quais estavam condenados em sua presença (3.8),
porque não tinham tratado de forma apropriada seus semelhantes. Não
haviam mantido a ordem. Pelo contrário, os efeitos do seu egoísmo e
ganância tinham gerado a anarquia: “Esperou que exercessem justiça, mas
viu opressão; retidão, mas ouviu clamor” (5.7). Exaltado em santidade e
imparcial em seus julgamentos, o Senhor tem contas a acertar com os
líderes, por causa das ações deles: “O Senhor se levanta para pleitear; sai a
julgar os povos. O Senhor vem em juízo contra os anciãos do seu povo, e
contra os seus príncipes: Sois vós os que consumistes esta vinha; o espólio
do pobre está em vossas casas” (3.13,14). O remanescente. Terceiro, o
Senhor reservará um remanescente para si. Esse tema reforça a ênfase
bíblica na fidelidade de Deus. O Senhor se manterá fiel às suas alianças e às
promessas que fez aos patriarcas. Esse remanescente será lavado, purificado
e restaurado à comunhão com o Deus santo (Is 4.3,4). Verão sua glória (4.2;
cf. 40.6) e experimentarão a bênção de sua proteção (4.5,6).
O profeta projetou o governo glorioso de Deus na imagem dupla de uma
alta montanha (Is 2.2-4) e de um povo santo e glorioso sob sua proteção
especial (4.2-6). Na segunda, encorajou o remanescente dos judeus com um
futuro além do exílio. Na primeira, Isaías projetou a inclusão dos gentios, os
quais se submeteriam à Lei de Deus e o adorariam. Esses também
experimentariam sua proteção. A mensagem de Isaías era uma preparação
para o Evangelho do Senhor Jesus, na maneira como profetizou sobre a
plena inclusão dos gentios na aliança e nas promessas de Deus.
Acaz reinou sobre Judá no período de 735 a 715 a.C. e era extremamente
corrupto (2 Rs 16.3). O cronista relaciona as práticas idolátricas instituídas
por ele e explica que essa foi a causa dos seus problemas internacionais (2
Cr 28.2-4). Acaz era um homem insolente, que confiava em soluções
políticas e não nas promessas de Deus. Quando enfrentou a aliança do rei
Rezim, da Síria, com Peca, rei de Israel, e o avanço expansionista da
Assíria, quis agir por conta própria, independentemente de Yahweh.
Respondeu, entretanto, com grande temor quando a Síria e Israel vieram
contra ele, com o propósito de destroná-lo e levantar outro rei que fosse
simpático aos esquemas políticos deles (2 Rs 16.5; Is 7.6). Neste contexto,
Isaías o desafiou a não temer o poder dos inimigos (Is 7.4), mas, ao invés
disso, olhar para a presença de Deus em Jerusalém, como o poderio de Judá
(Is 7.7; 8.10). Acaz, entretanto, ignorou a mensagem do profeta, e pediu
ajuda a Tiglate-Pileser, rei da Assíria (2 Rs 16.7). Este, reagindo
rapidamente diante da ameaça da aliança siro-efraimita na frente ocidental,
marchou através da Fenícia até a Filistia (734 a.C.), destruiu Damasco (732
a.C.) e subjugou Israel. Também reduziu Judá a um estado vassalo (2 Rs
15.29; 16.7-9; 2 Cr 28.19; Is 8.7,8).
Quando o rei Oséias, de Israel, recusou pagar tributo à Assíria,
Salmaneser (727 a 722 a.C.) fez uma campanha contra Samaria, derrotou a
cidade e exilou toda a população (722 a.C.). Acaz não se voltou para o
Senhor, porque seus olhos estavam fixos em seu próprio reino e nas
mudanças que ocorriam na configuração política sob os reinados de
Salmaneser V e de Sargão II.
Durante esse período, o profeta desafiou Acaz a ser um homem de fé (Is
7.9) e olhar para o “Emanuel” (Deus conosco) como o sinal da proteção
divina sobre seu povo. Também profetizou que Ele se tornaria rei (uma
clara rejeição à liderança de Acaz!). O governo do Emanuel traria paz e
seria caracterizado pela justiça e imparcialidade (Is 9.6,7). De fato, seu
governo correspondia ao domínio de Deus, de maneira que, como resultado,
traria o reino do Senhor à Terra.
A mensagem do livro é reafirmada no contexto dos eventos históricos
que cercavam o futuro de Judá. Também é reiterado nos nomes de Isaías e
nos de seus filhos. Esta era a intenção profética que surge em Isaías 8.18:
“Eis-me aqui, com os filhos que me deu o Senhor. Somos sinais e
maravilhas em Israel da parte do Senhor dos Exércitos, que habita no monte
de Sião”. Esses nomes confirmavam o aspecto duplo de salvação e juízo.
O nome Isaías (“Yahweh é salvação”) carrega o tema da exaltação do
Senhor. Toda a profecia coloca diante do leitor a ênfase distinta de que
devemos confiar somente em Deus. Só os seus caminhos devem moldar a
vida de seu povo, porque o Senhor exige fé exclusiva nele, como o único
Deus e Salvador. Para Isaías, a fé é a confiança absoluta no Senhor como o
único Redentor e a total lealdade em fazer a sua vontade. Esse duplo
aspecto expressa-se nestas palavras: “Ata o testemunho, e sela a lei entre os
meus discípulos. Esperarei no Senhor, que esconde o seu rosto da casa de
Jacó, e a ele aguardarei” (Is 8.16,17).
O nome do segundo filho de Isaías, Maer-Salal-Has-Baz (rápido-despojo-
presasegura: Is 8.1,3), amplia a mensagem da soberania de Deus no juízo.
Quando seu povo recusava a fazer sua vontade, rejeitava o Santo:
“Deixaram ao Senhor, blasfemaram do Santo de Israel, voltaram para trás”
(Is 1.4). As nações também farão uma tentativa de estabelecer uma “nova
ordem”, mas no final o vontade de Deus prevalecerá (Is 8.10).
O nome do primeiro filho do profeta, Sear-Jasube (“um remanescente
voltará”: Is 7.3) traz uma dimensão tanto negativa como positiva.
Negativamente, haverá apenas um remanescente, depois que Deus lançar
seu juízo (Is 6.13). Positivamente, nem todos serão destruídos. Pelo menos
alguns serão poupados, com os quais o Senhor renovará seu compromisso
(Is 1.9; 4.2-4). Esse remanescente seria caracterizado pela confiança no
Senhor: “Naquele dia os restantes de Israel, e os que tiverem escapado da
casa de Jacó, nunca mais se estribarão sobre aquele que os feriu, mas se
estribarão lealmente sobre o Senhor, o Santo de Israel” (Is 10.20).
Ezequias: a rebelião anti-Assíria e o cerco de Jerusalém: 705 a 701 a.C.
Ezequias (729 a 686 a.C.) foi um rei piedoso, que buscou o conselho do
profeta Isaías nos períodos de dificuldade, tanto pessoal como nacional.
Reinou independentemente de qualquer jugo, de 715 até sua morte em 686
a.C. Liderou Judá numa série de reformas (2 Rs 18.4,22), que chegaram ao
clímax com a celebração da festa da Páscoa (2 Cr 30); enfrentou a difícil
tarefa de ajustar-se à presença assíria; encarou a política expansionista de
Sargão II (722 a 705 a.C.), o qual se envolvera em campanhas militares e
subjugara as nações ao leste (Elão, Babilônia), oeste (região da Síria e
Efraim) e também mais ao sul, até Wadi-el-Arish, na fronteira sudoeste de
Judá (715 a.C.).
Na providência de Deus, Ezequias foi capaz de fazer exatamente isso!
Tratou de desenvolver os interesses do Senhor, ao convidar o remanescente
do reino do Norte para a festa da Páscoa e liderar a nação numa verdadeira
reforma. A reação de Sargão veio em 711 a.C., quando voltou da campanha
na qual subjugou a Filístia e exigiu que Ezequias lhe pagasse tributo.
Naquele ano, o Senhor comissionou o profeta a andar com os pés descalços
e a tirar o pano de saco que usava (Is 20.2). Essa aparência incomum do
profeta deveria atrair a curiosidade do povo e serviria como ilustração
prática que ensinaria sobre a certeza da derrota do Egito. Assim como o
profeta andou despido e descalço, da mesma maneira os egípcios seriam
despojados no exílio e serviriam à Assíria. Além disso, os israelitas
descobririam que eram verdadeiros tolos, porque Judá resistira ao Santo de
Israel e confiara no Egito para receber apoio político. Deus falou sobre eles:
“Ai dos que descem ao Egito a buscar socorro, que se estribam em cavalos,
e têm confiança em carros, porque são muitos, e nos cavaleiros, porque são
poderosíssimos, mas não atentam para o Santo de Israel, nem buscam ao
Senhor” (Is 31.1).
Com a morte de Sargão (705 a.C.), seu sucessor Senaqueribe (705 a 681
a.C.) enfrentou uma coalizão composta por Egito, Filístia e Judá (2 Rs
18.7). Suas tropas seguiram através de Judá (701 a.C.) e conquistaram mais
de 46 cidades (algumas das quais provavelmente estejam relacionadas em Is
10.28-32 e Mq 1.10-16). Senaqueribe registrou sua vitória em seus anais:
“Quanto a Ezequias, o judeu, que não se inclinou em submissão sob o meu
jugo, quarenta e seis de suas cidades fortes e muradas, e inumeráveis vilas
menores em sua vizinhança, sitiei e conquistei, fazendo rampas de terra e
então pressionando por meio do ataque de soldados a pé, fazendo brechas
no muro, cavando túneis e enfraquecendo suas defesas. Obriguei 200.150
pessoas a saírem das cidades: jovens e velhos, homens e mulheres,
inumeráveis cavalos, mulas, jumentos, camelos, gado grande e miúdo,
considerando tudo como espólio de guerra”.
Finalmente, Senaqueribe sitiou Jerusalém. Ezequias ficou preso na
cidade, cercado pelas tropas assírias. Estava bem preparado para o cerco,
mas o inimigo tinha tempo e paciência para esperar a rendição de Jerusalém
(701 a.C.). Senaqueribe descreveu a situação da seguinte maneira: “Ele
próprio eu tranquei dentro de Jerusalém, sua cidade real, como um pássaro
numa gaiola. Coloquei postos de observação ao redor de toda a cidade e
lancei o desastre sobre todos aqueles que tentaram sair pelo portão”.
O Senhor foi fiel à sua promessa de livrar seu povo e enviou seu anjo.
Senaqueribe bateu em retirada com uma vitória vazia, enquanto os judeus
celebravam o livramento miraculoso de um tirano cruel que praticamente
destruíra Judá (2 Rs 19.35,36). Essa situação desesperadora está retratada
em Isaías 1.5-9.
Na mesma época, Ezequias adoeceu, mas foi curado por meio de um
milagre e recebeu mais 15 anos de vida (2 Rs 20.1-19; 2 Cr 32.24-26; Is
38.1-22). Durante esse tempo, o Senhor fez com que ele prosperasse e
realizasse muitas obras para fortalecer Jerusalém e Judá contra um futuro
ataque assírio (2 Cr 32.27-29). Esses anos de vida, entretanto, tornaram-se
uma bênção parcial. Numa atitude arrogante, Ezequias mostrou todos seus
tesouros e fortificações aos enviados do rei da Babilônia, MerodaqueBaladã
(bab. Marduque-apla-iddina). Por isso, a condenação de Deus assombraria
Judá por mais um século: “Certamente virão dias em que tudo o que houver
em tua casa, e tudo o que entesouraram os teus pais até ao dia de hoje, será
levado para Babilônia. Não ficará coisa alguma, diz o Senhor” (Is 39.6).
Essas palavras estabeleceram o pano de fundo para a interpretação dos
oráculos de Isaías sobre o livramento da Babilônia (Is 40 a 48).
A mensagem final
ISPÃ. 1 Crônicas 8.22 lista Ispã como um líder de uma família da tribo
de Benjamim e filho de Sasaque. Seu nome aparece na genealogia do rei
Saul.
ISRAEL. Nome dado a Jacó depois que “lutou com Deus” em Peniel
(Gn 32.28,31). Veja Jacó.
ISVÁ. O segundo dos quatro filhos de Aser. Como seu clã não é
mencionado em Números 26.44, possivelmente não deixou descendentes
(Gn 46.17; 1 Cr 7.30).
ISVI. 1. Terceiro filho de Aser e um dos que desceram para o Egito com
Jacó. Foi o progenitor do clã dos isvitas (Gn 46.17; Nm 26.44; 1 Cr 7.30).
2. Mencionado em 1 Samuel 14.49, era um dos filhos do rei Saul e irmão
de Jônatas e Malquisua.
ITAMAR (Heb. “ilha das palmas”). Filho de Arão e sua esposa Eliseba
(Êx 6.23; Nm 3.2; 26.20; 1 Cr 6.3; 24.1,2). Dois de seus irmãos, Nadabe e
Abiú, ofereceram um sacrifício ilegítimo ao Senhor e morreram por causa
disso; de sorte que apenas Itamar e Eleazar sobreviveram para servir como
sacerdotes durante o tempo de vida do sumo sacerdote Arão, pai deles (Nm
3.4; Êx 28.1). Itamar era o líder dos levitas, durante o tempo de construção
do Tabernáculo, no deserto (Êx 38.21). Em Levítico, no estabelecimento
das regras para o comportamento dos levitas, ambos, Eleazar e Itamar,
foram destacados (Lv 10.6,12). Os serviços do clã dos gersonitas na Tenda
da Congregação e os dos meraritas foram colocados sob a liderança de
Itamar.
Posteriormente, quando o rei Davi resolveu organizar o serviço no
Tabernáculo e colocar em ordem o culto visando ao futuro Templo,
Aimeleque, um dos descendentes de Itamar, destacou-se como uma figura
proeminente, e os demais foram distribuídos em oito grupos (1 Cr 24.3-6).
Seus descendentes também estavam entre os judeus que retornaram do
exílio na Babilônia e reconstruíram Jerusalém (Ed 8.2). P.D.G.
ITREÃO. O último dos seis filhos de Davi nascidos enquanto ele estava
em Hebrom. Sua mãe era Eglá (2 Sm 3.5; 1 Cr 3.3).
1 “A leste”, variação de tradução da expressão “diante dos seus irmãos”, de acordo com o
hebraico (Nota do Tradutor).
J
JAACOBÁ (Heb. “proteção”). Líder de um clã da tribo de Simeão,
mencionado em 1 Crônicas 4.36.
JACÓ
Jacó nasceu como resposta da oração de sua mãe (Gn 25.21), nas asas de
uma promessa (vv. 22,23). Será que Isaque e Rebeca compartilharam os
termos da bênção com os filhos gêmeos, enquanto eles cresciam? Contaram
logo no início que, de acordo com a vontade de Deus, “o mais velho
serviria o mais novo”? Deveriam ter contado, mas as evidências indicam
que não o fizeram. De acordo com o que aconteceu, o modo como Jacó
nasceu (“agarrado”, Gn 25.26) e o nome que lhe deram (Jacó,
“suplantador”), por muito tempo a marca registrada de seu caráter foi o
oportunismo, a luta para tirar vantagem a qualquer preço e desonestamente.
Além disso, a própria Rebeca, diante da possibilidade de que Esaú
alcançasse a preeminência, não apelou para a confiança na promessa divina,
e sim para seu próprio oportunismo inescrupuloso (Gn 25.5-17) — ou seja,
sendo de “tal mãe, tal filho”.
Esaú era um indivíduo rude e despreocupado, que não levava nada muito
a sério e que dava um valor exagerado aos prazeres passageiros. Jacó
percebeu que essa era sua chance. Certo dia, Esaú voltou faminto de uma
caçada e encontrou a casa imersa no aroma de uma apetitosa refeição
preparada por Jacó. Esaú não teve dúvidas em trocar seu direito de
primogenitura por um prato de comida e podemos imaginar um sorriso de
maliciosa satisfação nos lábios de Jacó pelo negócio bem-sucedido! (Gn
25.27-34).
A família patriarcal era a administradora da bênção do Senhor para o
mundo (veja Abraão, Gn 12.2,3), e a experiência traumática de Gênesis
22.1-18 deve ter gravado essa promessa em Isaque. Quando, porém, ele
sentiu a aproximação da morte (Gn 27.1,2) — de maneira totalmente
equivocada, o que não é raro nos idosos (Gn 35.27-29) —, percebeu que era
uma questão de extrema importância assegurar a transmissão da bênção.
Quantas tragédias seriam evitadas se vivêssemos plenamente conscientes
das promessas e da Palavra de Deus! Rebeca achava que era sua obrigação
providenciar o cumprimento da promessa feita no nascimento dos gêmeos;
Isaque esqueceu totalmente a mensagem. Uma terrível fraude foi praticada,
e Rebeca corrompeu aquela sua característica positiva, que era parte de seu
charme durante a juventude (Gn 24.57); e Jacó, por sua vez, temeu ser
descoberto, em lugar de arrepender-se do pecado que praticava (Gn 27.12).
As conseqüências foram a inimizade entre os irmãos (Gn 27.41), a
separação entre Rebeca e seu querido Jacó (Gn 25.28; 27 a 45), o qual de
fato ela nunca mais viu, e, para Jacó, a troca da segurança do lar por um
futuro incerto e desconhecido (Gn 28.1,2,10).
Logo depois que Jacó sentiu a desolação que trouxera sobre si mesmo, o
Senhor apareceu a ele e concedeu-lhe uma viva esperança. Embora ele
desejasse conquistar a promessa de Deus por meio de suas próprias
manobras enganadoras, o Senhor não abandonou seu propósito declarado. A
maior parte do restante da história gira em torno dessa tensão entre o desejo
de Deus em abençoar e a determinação de Jacó de conseguir sucesso por
meio da astúcia. Gênesis 28.13, que diz: “Por cima dela estava o Senhor”,
tem uma variação de tradução que seria mais apropriada: “Perto dele estava
o Senhor”, pois a bênção de Betel foi: “Estou contigo, e te guardarei por
onde quer que fores” (v. 15). Tudo isso sugere que a escada é uma
ilustração do Senhor, que desce a fim de estar com o homem a quem faz as
promessas (vv. 13,14). Numa atitude típica, Jacó tenta transformar a bênção
de Deus numa barganha e literalmente coloca o Senhor à prova (vv. 20-22),
ao reter o compromisso pessoal da fé até que Deus tivesse provado que
manteria sua palavra. Quão maravilhosa é a graça do Senhor, que
permanece em silêncio e busca o cumprimento de suas promessas, mesmo
quando são lançadas de volta em sua face! Oportunistas, entretanto, não
fazem investimentos sem um retorno garantido do capital! Jacó precisava
trilhar um duro caminho, até aprender a confiar.
Seria uma crítica injusta dizer que Jacó ainda não havia aprendido a
confiar no cuidado divino, em vez de confiar no esforço humano? Duas
outras questões indicam que essa avaliação é correta: por que, encontrando-
se em companhia dos anjos do Senhor (Gn 32.1), Jacó estava com medo de
Esaú e seus 400 homens (vv. 6,7)? E por que, quando fez uma oração tão
magnífica (Gn 32.9-12), voltou a confiar nos presentes que enviaria ao
irmão (vv. 13-21)? Foi uma oração exemplar, de gratidão pelas promessas
divinas (v. 9), reconhecendo que não era digno da bênção (v. 10), específica
em seu pedido (v. 11), e retornando ao princípio, para novamente descansar
na promessa de Deus (v. 12). Seria difícil encontrar oração como esta na
Bíblia. Jacó esperava a resposta de Deus, mas, sabedor de que Esaú já fora
comprado uma vez por uma boa refeição (Gn 25.29ss), tratou de negociar
novamente com o irmão. Ele ainda se encontrava naquele estado de manter
todas as alternativas à disposição: um pouco de oração e um pouco de
presentes. Estava, contudo, prestes a encontrar-se consigo mesmo.
Bênção na desesperança (Gn 32.22-31)
Uma cena resume tudo o que Jacó era: enviou toda sua família para o
outro lado do ribeiro Jaboque, mas algo o reteve para trás. “Jacó, porém,
ficou só, e lutou com ele um homem até o romper do dia” (Gn 32.24). Na
verdade sempre foi assim: “Jacó sozinho” — usurpando o direito de
primogenitura, apropriando indevidamente da bênção, medindo forças com
Labão, fugindo de volta para casa, negociando (Gn 31.44-55) uma esfera
segura de influência para si próprio —, entretanto, é claro, ninguém
negociaria a posse de Canaã! O Senhor não permitiria isso. Portanto, veio
pessoalmente opor-se a Jacó, com uma alternativa implícita muito clara: ou
você segue adiante dentro dos meus termos, ou fica aqui sozinho. Jacó não
estava disposto a abrir mão facilmente de sua independência, e a disputa
seguiu por toda a noite (Gn 32.24). Se ele tivesse se submetido, em
qualquer momento da luta, teria terminado a batalha inteiro, mas o seu
espírito arrogante e individualista o impeliu adiante até que, com a
facilidade consumada de quem é Todo-poderoso, um simples toque de dedo
deslocou a coxa de Jacó (v. 25). Que agonia! Que desespero! Que
humilhação saber que só conseguia manter-se em pé porque os braços fortes
do Senhor o amparavam!
Até mesmo o oportunismo, entretanto, pode ser santificado! O
desesperado Jacó clamou: “Não te deixarei ir, se não me abençoares” (v. 26)
e o grito do desesperado pela bênção transformou Jacó num novo homem,
com um novo nome (v. 28). Ele de fato tinha “prevalecido”, pois essa é a
maneira de agir do Deus infinito em misericórdia: ele não pode ser
derrotado pela nossa força, mas sempre é vencido pelo nosso clamor. E,
assim, o Jacó sem esperança saiu mancando, agora como Israel, pois tinha
“visto a face de Deus” (v. 30).
O registro da criação
É muito comum alguém considerar Gênesis 1.1-23 e 2.4-25 como relatos
separados da criação de Deus — diferentes no estilo literário e
contraditórios na ordem dos eventos que registram: Gênesis 1, por exemplo,
coloca a criação do homem em último lugar e Gênesis 2, em primeiro. Essa
visão dos dois textos origina-se literalmente do menosprezo pela declaração
que serve de elo de ligação, em Gênesis 2.4: “Estas são as origens dos céus
e da terra, quando foram criados”. Esta fórmula ocorre dez vezes em
Gênesis (6.9; 11.10,27; 25.19; etc.) e sempre com o mesmo significado. O
vocábulo “origem” (ou geração) é um termo que designa “nascimento”, ou
seja, uma coisa que emerge de outra — os descendentes são originários de
um ancestral e a história se origina de um certo início. Assim acontece aqui.
Uma “situação” foi estabelecida em Gênesis 1.1-2.3 e estamos prestes a ser
informados (Gn 2.4ss) sobre o que “emergiu” disso, ou seja, o que aquela
situação gerou. Isso explica a diferença de estilo literário dos dois textos e
também por que, à primeira vista, eles parecem diferentes também em
outros aspectos. Gênesis 1.1 a 2.3 é uma declaração centralizada em Deus,
sobre a obra divina da criação como procedente de sua vontade (Gn
1.3,6,9,11,14,20,24,26), a fim de determinar seu desígnio (vv. 7,9,11,15,24)
e estabelecer seus valores (vv. 10,12,21,25,31). Por outro lado, Gênesis 2.4-
25 é um relato centralizado no homem. É claro que Deus ainda está acima
de tudo e a entrada do ser humano em cena não diminuiu sua soberania.
Agora, porém, pela vontade do Senhor, o homem tem o domínio, trabalha
sobre a Terra, concede os nomes aos animais e estabelece seu lar: um
mundo para ele, ao qual Deus vem como se atendesse a um chamado (Gn
3.8). Gênesis 1 cria o teatro, prepara o palco e reúne o elenco; Gênesis 2 é o
Ato I, Cena I; Gênesis 1 é uma declaração; Gênesis 2 é uma história;
Gênesis 1 conta como o homem surgiu; Gênesis 2 registra a história da
vida.
Deus, o Criador
O verbo “criar”. Gênesis 1.1 não diz como “os céus e a terra” vieram à
existência. Somente divulga que Deus é anterior ao Universo e este existe
por seu ato de criação. Diferentemente de outras literaturas que usam
“criar” como a capacidade do homem, bem como de Deus, de fazer coisas,
o Antigo Testamento faz do “criar” uma atividade exclusivamente divina. O
verbo é usado para designar coisas que por sua grandeza ou novidade (ou
ambos) só são explicadas como um ato de Deus. Em Gênesis 1.1 a 2.3, o
princípio de todas as coisas representava tal ato e mostra que no hebraico
“criar” inclui a ideia da criação ex nihilo (a partir do nada), pois o primeiro
“passo” na criação foi trazer à existência o substrato físico, ou a “matéria”
do Universo (Gn 1.1). Não havia nenhuma substância preexistente; ela foi
chamada à existência por Deus. O verbo “criar” surge na próxima vez
naquele momento significativo quando a vida animal, orgânica, apareceu
pela primeira vez (Gn 1.20-22); ele então se apresenta numa ocorrência
tripla no auge da criação, quando no homem a vida orgânica surge “à
imagem de Deus”. Finalmente, o verbo é usado retrospectivamente em
Gênesis 2.3.
Criar e fazer. O estado inicial das coisas era “sem forma e vazio”. Isso
quer dizer (cf. Jr 4.23-26) que não havia nenhuma evidência de
estabilidade, vida, ordem nem nenhuma indicação de que essas coisas
estavam potencialmente lá. Desta maneira, Gênesis 1 pinta o Criador como
um escultor que, ao pegar um bloco de pedra sem forma e sem nenhum
significado, começou a dar-lhe forma, beleza, significado e vitalidade, de
maneira que o que começou “sem forma e vazio” (Gn 1.1) terminou
iluminado (vv. 3-5), organizado e fértil (vv. 6-13), com um movimento
regular (vv. 1419), com vida abundante (vv. 20-25), coroado com a
presença do homem (vv. 26-30), “muito bom” (v. 31) e completo (Gn 2.1).
Nessa criação perfeita e bem ordenada, o homem tanto é sua coroa como
a criatura por excelência. Somente o ser humano recebe a referência tripla
“criou... criou... criou” (Gn 1.27). O verbo usado exclusivamente por Deus
refere-se unicamente ao homem; a medida dessa exclusividade é que “Deus
criou o homem à sua própria imagem”, uma ideia que não é definida em
nenhum lugar no relato de Gênesis, mas que proporciona amplas pistas.
Essa ideia indica principalmente que não encontraremos a “imagem de
Deus” em alguma característica particular, mas na totalidade da natureza
humana.
Primeiro, as palavras “imagem” (1 Sm 6.5) e “semelhança” (2 Rs 16.10)
referem-se à forma exterior ou à aparência e apontam em primeira instância
para a forma física com a qual Deus criou o homem. A Bíblia, é claro,
insiste em que Deus é Espírito e invisível em sua essência. De qualquer
modo, igualmente insistente é a ideia que, quando Ele assim decide, pode
cobrir-se de visibilidade. Moisés viu “a semelhança do Senhor” (Nm 12.8;
cf. Dt 4.12). Foi com essa “semelhança” que Deus criou o homem, a forma
externa e visível apropriada para a natureza divina.
Segundo, a imagem de Deus no homem é matrimonial. A criação da
mulher (Gn 2.21-23), do ponto de vista de Adão, representou a perda da
plenitude. O Senhor tirou algo do homem para depois entregar-lhe de volta
na figura da mulher. Assim, no casamento, o homem recupera sua plenitude
e a mulher volta para seu lugar original. Gênesis 5.1,2 associa essa unidade-
em-diversidade com a imagem de Deus: existe diversidade, a criação
distinta do homem e da mulher, mas há também a unidade (literalmente,
“chamou o nome deles homem”) — e, neste aspecto, segundo Gênesis, está
a imagem de Deus.
Terceiro, homem e mulher juntos recebem o domínio. Os imperativos em
Gênesis 1.28 estão no plural e referem-se ao casal recém-criado. Assim
como deviam “crescer e multiplicar-se” juntos, da mesma maneira
precisavam “sujeitar e dominar” a Terra também juntos. Sabemos que os
antigos reis colocavam suas imagens em todos os lugares que dominavam.
A realidade, entretanto, excede a ilustração, pois uma estátua pode apenas
registrar a alegação da soberania em favor de alguém, enquanto o homem e
a mulher são a “imagem viva” de Deus, que não somente registra sua
declaração de soberania, mas exerce o domínio em seu favor.
Quarto, é somente ao homem e à mulher que o Criador se dirige
pessoalmente. Em Gênesis 1.22, Ele pronuncia sua bênção sobre a criação
animal: “Os abençoou, dizendo...”; no versículo 28, entretanto, “Os
abençoou e lhes disse...”. Os seres humanos são ouvintes conscientes da
Palavra de Deus, com uma dimensão espiritual de sua natureza, por meio da
qual podem ouvir quando o Senhor fala.
Isso nos leva ao quinto aspecto da imagem de Deus em nós, ou seja, o
fator moral. Em toda a criação, apenas o homem vive conscientemente sob
as leis de Deus. O diagrama que apresentamos acima deixa claro: a obra da
criação tratou com as esferas física e animal e com a história primitiva da
vida humana sobre a Terra, a fim de estabelecer o homem dentro de cada
um dos departamentos naquele que agora é o seu meio ambiente (Gn 2.4-
17, 18-25); em cada departamento (o Éden e seu lar), Deus impõe ao
homem sua lei de vida. Adão não compartilha da existência instintiva dos
animais; o homem vive numa situação em que pode dizer sim/não, uma
vida de escolhas morais conscientes, o reconhecimento ou a rejeição da
Palavra de Deus.
Finalmente, Gênesis revela o homem como possuidor da racionalidade,
pois tem condições de pensar a respeito do mundo ao seu redor. Em Gênesis
2.18, Deus nota a solidão de Adão e trata de prepará-lo para a providência
que seria tomada. Primeiro, é permitido que ele exercite seus poderes de
avaliação sobre os animais que estão diante dele; ele é capaz de formar os
pares, segundo as espécies, e dar nomes apropriados ao que vê. Dessa
maneira, não somente exercita seu senhorio sobre os animais; também
demonstra seu poder de definir, estabelecer categorias e descrever, uma
tarefa verdadeiramente científica. No final, também percebe sua própria
solidão, pois “para o homem não se achava adjutora que lhe
correspondesse” (Gn 2.20). Posteriormente, contudo, ele desperta do sono,
para encontrar a que é “seu par perfeito” (o sentido central da expressão
“adjutora que correspondesse”), e ele, que é “Ish”, a chama de “Isha”, sua
igual e exata equivalente feminina. Tanto a mente como as emoções são
envolvidas na glória daquele momento, em que o homem reconhece que
não estava mais sozinho.
A experiência no Éden
O Jardim perdido
Surpreendidos pela misericórdia. A voz da lei disse: “No dia em que dela
comeres, certamente morrerás” (Gn 2.17), mas, surpreendentemente,
quando o Senhor chega, não somente impõe soberanamente sua maldição,
mas, da mesma forma, fala ao casal digno de morte sobre a continuação da
vida (Gn 3.15) e cobre sua condição pecaminosa, ao providenciar-lhes uma
cobertura adequada (Gn 3.21; cf. v. 7). Não sabemos (infelizmente) o que o
Senhor disse, quando sacrificou os animais e vestiu os pecadores. Teria
explicado que o salário do pecado era a morte e que ela seria executada
sobre uma figura inocente, em lugar do culpado? Será que entrou em
detalhes sobre a semente da mulher que esmagaria a cabeça da serpente (Gn
3.15)? No contexto, isso só pode ser o que chamamos de promessa
messiânica, pois os termos da história da queda exigem que entendamos
isso: a ferida mortal eliminará a usurpação da serpente e trará o Éden de
volta. A semente da mulher será o segundo Adão. Veja Adão e Eva.
J.A.M.
JAVÃ. Quarto filho de Jafé e neto de Noé (Gn 10.2, 4; 1 Cr 1.5, 7).
Acredita-se que foi o ancestral dos “gregos” ou do povo que vivia na ilha de
Chipre. Algumas versões da Bíblia substituem “gregos” ou “Grécia” por
“javanitas” ou “filhos de Javã” em vários textos do AT. Os javanitas eram
vistos como inimigos dos israelitas (veja Zc 9.13; Jl 3.6).
JAZIZ. Hagrita, um dos administradores dos bens do rei Davi. Jaziz era
responsável pelo gado miúdo (1 Cr 27.31).
JEOÁS. Filho do rei Jeoacaz (Jeoacaz, item 2), tornou-se o 12o rei de
Israel, o reino do Norte, em 797 a.C. Reinou 16 anos em Samaria (2 Rs
13.9,10). (Em algumas versões seu nome é traduzido como Joás. O original
hebraico usa ambos os nomes, porém as versões mais modernas
simplificam a questão e dão mais coerência ao relato. É algo muito
interessante, pois o reinado de Jeoás, de Israel, é simultâneo ao de “Joás”,
de Judá!)
Hazael, rei da Síria, subjugava Israel há vários anos. Tinha capturado
praticamente todo o território do reino; embora no governo de Jeoacaz Deus
tivesse impedido a destruição final da nação, somente quando Jeoás subiu
ao trono o Senhor suspendeu seu juízo e permitiu que Israel assumisse a
ofensiva, reconquistando parte do território. Hazael morreu e seu filho Ben-
Hadade o sucedeu no trono. Nesse meio tempo, a Síria foi atacada e quase
totalmente destruída pela Assíria. Dessa maneira Deus tirou a pressão que
ela fazia sobre Israel. Nessa época, o profeta Eliseu já estava no final de sua
vida. O rei Jeoás o procurou, a fim de implorar pela nação: “Meu pai, meu
pai, carros de Israel, e seus cavaleiros!” (2 Rs 13.14). Provavelmente Jeoás
estava mais preocupado com a perda do homem de Deus, com seus poderes
miraculosos, do que com o Deus de Eliseu. O profeta mandou que o rei
atirasse uma flecha pela janela aberta e lhe disse que as armas de Israel
derrotariam os sírios. Então mandou que o rei atirasse as flechas para o
solo. Jeoás atirou apenas três, como indicação de certa relutância e falta de
fé em Eliseu, em suas palavras e no Senhor. O profeta então lhe disse que
venceria os sírios apenas três vezes (2 Rs 13.15-19). Posteriormente Jeoás
reconquistou muitas cidades de Israel dominadas pelos sírios e venceu três
grandes batalhas contra eles (v. 25).
Lamentavelmente, durante o reinado de Jeoás, o rei Amazias, de Judá,
atacou Israel. Este iniciara seu reinado desejoso de servir ao Senhor e fora
abençoado, ao derrotar muitos de seus inimigos nas fronteiras do país;
tornou-se, contudo, arrogante, e esqueceu-se da fé, inclusive levando para
Judá alguns dos deuses dos povos que conquistara. Embora os profetas o
alertassem sobre os perigos de suas ações, ele os ignorou. Furioso por saber
que mercenários de Israel faziam incursões e saqueavam as cidades na
fronteira, Amazias declarou guerra contra Israel. Jeoás não desejava o
confronto, mas foi obrigado a lutar e venceu facilmente, ocasião em que
marchou até Jerusalém e derrubou grande parte dos muros da cidade (2 Rs
14.1-14; 2 Cr 25.5-24).
Jeoás reinou com certo sucesso, embora tenha feito muitas maldades. Foi
vitorioso em muitas batalhas e finalmente morreu, sendo sepultado em
Samaria. Seu filho, Jeroboão II, reinou em seu lugar (2 Rs 13.11-13;
14.16,17). Seu nome é mencionado em Oséias 1.1 e Amós 1.1, pois esses
dois profetas foram contemporâneos de seu filho Jeroboão II. P.D.G.
JEREMIAS, O PROFETA
O ministério de Jeremias
A mensagem de Jeremias
O caráter de Jeremias
JERIOTE. Da tribo de Judá, era uma das duas esposas de Calebe, filho
de Hezrom (1 Cr 2.18). A outra chamava-se Azuba.
JESSÉ. Filho de Obede e neto de Boaz e Rute; era o pai de Davi, o qual
cuidava das ovelhas (Rt 4.17,22). Pertencia à tribo de Judá e vivia na cidade
de Belém (1 Sm 16.1). Quando Deus ordenou a Samuel que fosse à casa de
Jessé, para ungir o próximo rei de Israel, o profeta supôs que o mais velho
fosse o escolhido do Senhor. Passaram os sete primeiros filhos de Jessé, um
por um, diante de Samuel, mas o Senhor declarou que havia rejeitado todos;
Davi foi trazido diante do profeta e, segundo orientação divina, foi ungido
rei (1 Sm 16.3-13). Samuel e o povo de Israel aprenderiam que “o homem
olha para o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração”
(v. 7). Jessé tornou-se um grande amigo de Saul, quando Davi foi chamado
para tocar harpa na presença do rei (vv. 1820). O monarca até mesmo pediu
permissão ao belemita para manter o filho dele consigo no palácio, para
acalmá-lo quando o espírito maligno viesse sobre ele (vv. 21-23). Em outra
ocasião, Jessé enviou Davi para levar alguns víveres aos outros filhos que
estavam na guerra contra os filisteus. Foi por ocasião desta viagem que
Davi enfrentou e matou o gigante Golias (1 Sm 17). Posteriormente, quando
Saul ficava furioso com o jovem harpista, chamava-o simplesmente de
“filho de Jessé” (1 Sm 20.27, 30,31; 22; etc. veja também 1 Cr 10.14;
12.18; 29.26; etc).
O profeta Isaías, ao contemplar o futuro, quando um novo rei sentar-se-ia
no trono de Davi, falou profeticamente que “do tronco de Jessé brotará um
rebento, e das suas raízes um renovo frutificará... naquele dia as nações
perguntarão pela raiz de Jessé” (Is 11.1,10). Essa profecia foi tomada por
Paulo e aplicada a Jesus em Romanos 15.12. Por ser pai do rei Davi, é claro
que Jessé também é mencionado nas genealogias de Cristo, em Mateus 1.5
e Lucas 3.32. P.D.G.
O nome de Jesus
A vida de Jesus
Existem poucas evidências da vida de Jesus fora do registro bíblico. O
historiador romano Tácito menciona os cristãos que foram chamados desta
maneira por seguirem a Cristo, o qual foi morto por Pôncio Pilatos, na
época do imperador Tibério (veja Lc 3.1). Seutonio mencionou alguns
judeus que discutiam e criavam tumulto em Roma, instigados por um certo
Crestos. Sua referência muito provavelmente era sobre Cristo e os cristãos.
Essas discussões, segundo ele, ocasionaram a expulsão dos judeus de Roma
(veja At 18.2). Existem numerosas alusões a Jesus feitas por rabinos que
viveram em períodos posteriores, alguns dos quais dizem que se tratava de
um mágico ou feiticeiro. Uma referência feita por Josefo, o historiador
judeu que escreveu para os romanos, fala que Jesus realizou “obras
maravilhosas” e que era “o Cristo”; foi morto por Pilatos e apareceu no
terceiro dia depois de sua morte para os que o amavam. Josefo vai além e
diz que até agora, “a raça dos cristãos” ainda não morreu. Alguns suscitam
dúvidas se esta seção dos escritos de Josefo é realmente genuína ou se foi
acrescentada depois por historiadores cristãos. Qualquer que seja a
conclusão, entretanto, sobre quais partes são ou não genuínas, certamente
existem evidências suficientes em outras fontes que comprovam ser Jesus
realmente o Cristo e que os efeitos de seu ministério se espalharam,
desagradaram seus oponentes e foi morto por ordem de Pôncio Pilatos. O
Novo Testamento, todavia, é sem dúvida a principal fonte de informação.
Os autores dos evangelhos dão muita ênfase aos eventos concernentes à
vida de Jesus, na forma de uma explicação cuidadosa, dirigida aos que
desejam conhecer melhor o Filho de Deus.
O ensino de Jesus
Sobre si mesmo
O ensino de Jesus sobre si mesmo era dado por meio de palavras e ações.
Desde o início, Ele estava consciente de sua missão e seu propósito na vida
e na morte. Rapidamente demonstrou um relacionamento único com Deus.
Do incidente aos doze anos de idade, onde revelou muita sabedoria e a
necessidade de estar “na casa do seu Pai”, até a insistência em que as
palavras que proferia e as obras que fazia eram as palavras e obras do Pai
(Jo 14.10; etc.), tudo o que disse apontava para sua posição única como “o
Filho de Deus”. O Senhor era seu Pai celestial, de quem tinha um
conhecimento íntimo e pessoal. Sua grande oração pelos discípulos e por
todos os que posteriormente creriam nele, registrada em João 17,
novamente demonstra a profundidade de seu relacionamento com o Pai e a
unidade de propósito e de vontade entre ambos. A posição de Jesus como
Filho de Deus também é vista na grande autoridade que revelava. Tinha
poder para expelir demônios e tratar com o mundo dos espíritos malignos
simplesmente mediante a fala. Antes que as multidões entendessem, os
demônios reconheceram que Jesus era o Filho de Deus, com poder sobre
eles (Mc 3.11; 5.7). Ele também controlou a tempestade violenta com um
simples comando e mostrou sua autoridade sobre o mundo da criação (Mt
8.24-27).
Enquanto revelava esse relacionamento com o Pai, Jesus ensinou seus
discípulos mais profundamente sobre quem Ele era. Os apóstolos
precisavam aprender que em Cristo podiam conhecer Deus. Em uma
ocasião, Ele se voltou para Filipe e disse: “Há tanto tempo estou convosco e
não me conheces, Filipe? Quem me vê, vê o Pai. Como dizes tu: Mostra-
nos o Pai? (Jo 14.9). Depois continuou e disse: “Não crês tu que eu estou no
Pai, e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo, não as digo por
mim mesmo. Antes, é o Pai que está em mim quem faz as obras” (v. 10).
Jesus nunca demonstrou orgulho pelo fato de ser Deus; mas quando seu
ensino sobre si mesmo é examinado e os versículos como os mencionados
acima são vistos no contexto, a conclusão de que Ele ensinou ser o próprio
Deus em suas palavras e obras parece inevitável (pelo menos para os que
confiam nele e aceitam a palavra dos apóstolos e a interpretação deles sobre
esses eventos). A ênfase sobre ser o “Filho de Deus”, “enviado” por Deus e
possuidor da autoridade como “filho de Davi”, sua aceitação do título de
“Cristo” dado por Pedro, seu ensino em João 14 a 17 sobre seu
relacionamento íntimo (e preexistente; Jo 17.5, 24) com o Pai, tudo isso
proporciona um acúmulo de evidências de que Jesus ensinava sobre sua
divindade, pelo menos no círculo mais íntimo de amigos e discípulos.
A reação dos líderes religiosos, entretanto, indicava que também
começavam a assimilar algo das extraordinárias alegações de Jesus sobre si
mesmo, quando em várias ocasiões o acusaram de blasfêmia. Por exemplo,
João relata o seguinte confronto: “Jesus lhes disse: Meu Pai trabalha até
agora, e eu trabalho também. Por este motivo, os judeus ainda mais
procuravam matá-lo; não só quebrava o sábado, mas também dizia que
Deus era seu próprio Pai, fazendo-se igual a Deus” (Jo 5.17,18). A resposta
de Jesus tinha o objetivo de levar o ensino sobre si mesmo mais adiante. Ao
referir-se a si mesmo como “o Filho”, disse que nada fazia por conta
própria, “mas somente o que via o Pai fazendo”. Falou sobre o amor do Pai
pelo Filho e como Deus podia ressuscitá-lo dos mortos e que o Filho
também podia dar a vida a quem quisesse (vv. 12-21). Jesus atribuía a si
mesmo prerrogativas divinas e prosseguiu, incluindo junto com elas o fato
de que o Pai lhe dera o direito do julgamento: “Para que todos honrem o
Filho, como honram o Pai” (v. 23).
Uma das expressões mais claras dessa alegação da divindade são as
assim chamadas declarações “Eu Sou”. Quando Jesus declarou que existia
antes de Abraão e disse “antes que Abraão nascesse, eu sou!”, referia-se a si
mesmo como Yahweh (“EU SOU O QUE SOU”, Êx 3.14). Os líderes
religiosos novamente viram isso como uma blasfêmia e tentaram apedrejá-
lo.
Jesus também fez com que as pessoas pensassem nele como o Messias.
Desde sua pregação sobre o cumprimento da profecia de Isaías, na
sinagoga, até a realização de milagres maravilhosos, tudo fazia com que o
povo judeu comum o encarasse como uma figura messiânica; entretanto,
passo a passo, Ele também ensinou que o entendimento geral de que o
Messias seria um guerreiro político que derrotaria os romanos e governaria
em Jerusalém não era parte de seu chamado. Em suas conversas com os
discípulos, concentrou-se em revelar-se como o servo sofredor de seu povo.
Alguns estudiosos sugerem que sua preferência por referir-se a si mesmo
como “o Filho do homem” foi deliberada, pois podia usá-la como sua
própria definição de seu papel como o Messias que sofreria e morreria.
Depois da confissão de Pedro, de ser Jesus o Cristo, lemos em Marcos 8.31:
“Então começou a ensinar-lhes que importava que o Filho do homem
sofresse muitas coisas, fosse rejeitado pelos anciãos, pelos principais
sacerdotes e pelos escribas, fosse morto e que depois de três dias
ressurgisse” (veja também 10.45). O uso da expressão “Filho do homem”
por Jesus, contudo, também carregava em si a grande autoridade celestial
que nos faz lembrar do Filho do homem que esteve na presença de Deus na
profecia de Daniel (Dn 7.13). Talvez fosse aquele quadro que Jesus tinha
em mente quando disse aos líderes judeus, no seu julgamento: “Mas de
agora em diante o Filho do homem se assentará à direita do Deus Todo-
poderoso” (Lc 22.69).
Quando Jesus demonstrava e falava sobre sua autoridade, sempre era a
do tipo mais elevado possível. Seja falando sobre a autoridade que o Pai lhe
dera para julgar o mundo (Jo 5.27), seja tratando de sua autoridade sobre os
demônios (Mc 1.27) e a criação (Lc 7.8) que demonstrava possuir nas obras
miraculosas que operava entre o povo, Ele claramente provava que nenhum
outro homem a possuía, pois originava-se apenas no céu.
Quanto mais o ensino de Jesus sobre si é examinado, mais inevitável se
torna a conclusão de que se tratava de um homem perfeito que também era
Deus. A fé e a confiança em Jesus, Deus e Homem, em suas palavras, obras
e ensinamentos, tornam-se a base do cristianismo.
Temos visto como Jesus falou sobre sua comunhão íntima com o Pai;
mas Ele ensinou muito mais sobre o próprio Deus. O Pai é o criador do
mundo (Mc 13.19), o qual continua, em sua Providência, a sustentar e
cuidar de todas as coisas (Mt 10.29). A vontade do Pai é soberana e deve
ser obedecida por todos, inclusive pelo próprio Jesus (Mt 26.39). Somente o
Pai conhece o dia do retorno de Cristo (Mt 24.36). Jesus, porém, ensinou
sobre a paternidade de Deus sobre indivíduos e não somente em um sentido
geral como o Pai do povo de Israel. Os hebreus certamente entenderam a
paternidade de Deus neste último sentido, mas a insistência de Jesus sobre a
possibilidade de uma comunhão individual com o Pai foi bem enfatizada.
Isso, claro, é bem expresso na primeira frase da oração do Senhor: “Pai
nosso que estás nos céus” (Mt 6.9).
Mediante o que Jesus ensinou foi possível conhecer o Pai, por meio do
conhecimento de Cristo (Jo 14.6,7). Quando falou com Maria, depois da
ressurreição, Ele se referiu ao “meu Pai e vosso Pai” (Jo 20.17). O cuidado
direto de Deus pelo crente individualmente foi ensinado por Jesus em várias
ocasiões. O Pai tem tanto interesse pelas necessidades de seus filhos, até
mesmo na questão de comida e bebida, que Jesus os incentivou a não se
preocupar com o dia de amanhã (Mt 6.31-34).
Jesus também ensinou que existe uma relação especial entre o Senhor
como “Pai” e o reinado de Deus. O Pai, que preparou o reino para os
discípulos de Jesus “desde a criação do mundo”, cumprirá esta promessa.
Os justos entrarão nesse reinado e herdarão suas bênçãos (Mt 13.43; 25.34;
Lc 12.31,32).
Sobre o Reino
A obra do Espírito Santo é claramente vista por toda a vida de Jesus. Foi
concebido pelo Espírito (Lc 1.15); o Espírito veio sobre Ele publicamente
no batismo (Lc 3.22); o Espírito o levou ao deserto, onde foi tentado pelo
diabo (Lc 4.1); o Espírito ungiu-o para pregar as boas novas (Lc 4.18); e o
Espírito deu-lhe poder para expelir os demônios (Mt 12.28). Jesus, porém,
ensinou mais sobre o Espírito Santo.
Três dos Evangelhos relatam uma ocasião em que Jesus foi acusado de
expelir demônios pelo poder de Belzebu (Mt 12.22-32; Mc 3.22-30; Lc
11.14-23). A seguir Cristo declarou que a blasfêmia contra o Espírito Santo
era um pecado imperdoável. O pronunciamento específico de Jesus está
diretamente ligado à expulsão dos demônios. Sua obra de estabelecer o
governo de Deus, vista tão claramente no poder que tinha sobre os
demônios, é mostrada aqui como a manifestação do Espírito Santo (“Se eu
expulso os demônios pelo Espírito de Deus, certamente é chegado a vós o
reino de Deus”, Mt 12.28). De fato, a obra do Espírito é essencial para o
reino de Deus. É pelo poder do Espírito Santo que os espíritos malignos e
os demônios são derrotados e a obra de Cristo segue adiante.
Jesus também ensinou que o Espírito Santo opera a regeneração na vida
do crente, a fim de que possa entrar no reino de Deus (Jo 3.5). Ensinou que
o Espírito ajuda o cristão a adorar adequadamente, em espírito e em verdade
(Jo 4.24). O Espírito também inspira as Escrituras (Mc 12.36) e capacita o
cristão a falar ousadamente sobre sua fé (Mt 10.19,20). Jesus também
ensinou que os crentes receberiam o Espírito Santo individualmente, depois
que Ele fosse glorificado (Jo 7.38,39). Havia, portanto, uma distinção entre
a maneira como o Espírito Santo estava presente no ministério de Jesus e na
proclamação do reino de Deus e como estaria presente depois que Cristo
voltasse para a glória. Em João 14 a 16, Jesus refere-se a Ele como “o
Espírito da verdade” e o “Consolador”. O Espírito é o “outro Consolador” e
vive para sempre (cf. Jo 14.15-17). Desta maneira, o Espírito é o que
convence o mundo dia após dia e ainda permanece com o cristão, na
liderança e na proteção da verdade e interpretando as Escrituras (Jo 16.8-
13). Jesus ensina que será prerrogativa do Espírito Santo glorificar a Cristo
e fazê-lo conhecido nas futuras gerações das pessoas que não terão visto
Jesus em carne e osso (Jo 16.12-16).
Fica claro, pelo ensino de Jesus, que em todas as suas várias obras o
Espírito Santo testemunhará sobre Jesus e glorificá-lo-á. Fará isso por meio
do novo nascimento, a fim de testificar e explicar sobre a verdade de Cristo
(Jo 14.26) e conceder poder aos cristãos para testemunhar de Jesus
(15.26,27). O Espírito Santo seria concedido pelo Filho (15.26; 16.7) e pelo
Pai (14.16,26).
As obras de Jesus
Os milagres
Enviado pelo Pai (Jo 3.34; etc.), amado pelo Pai (5.20; etc.) e dependente
do Pai (14.28) — os evangelhos mostram que a obra de Cristo envolveu a
revelação da mente e da vontade do Pai que estava no céu. Somente o
próprio Jesus conhecia perfeitamente a mente do Pai e cumpria
perfeitamente a vontade dele (Mt 11.25-27; Mc 1.11; Jo 5.30; 10.18). As
mensagens que proferiu eram somente as palavras que o Pai lhe dera e
estavam diretamente ligadas às obras que fazia, as quais também lhe foram
dadas para realizar pelo Pai: “Não crês tu que eu estou no Pai, e que o Pai
está em mim? As palavras que eu vos digo, não as digo por mim mesmo.
Antes, é o Pai que está em mim quem faz as obras” (Jo 14.10).
As obras que Jesus fez e as palavras proferidas por Ele eram aquelas que
cumpriam os propósitos do Pai (Jo 15.15); por isso suas mensagens podiam
ser identificadas com as palavras do Pai (Jo 14.24). Mesmo quando estava
no Jardim Getsêmani, pouco antes de ser preso e crucificado, Jesus orou:
“Meu Pai, se possível, passe de mim este cálice! Todavia, não seja como eu
quero, mas como tu queres” (Mt 26.39). Jesus, o Filho eterno, sabia que sua
missão fora dada pelo Pai e entendia que sua tarefa era cumprir esta missão,
que envolvia sua vinda para “buscar e salvar o que se havia perdido” (Lc
19.10) e o levaria à cruz.
A morte de Jesus
A crucificação
A ressurreição de Jesus
A Bíblia também ensina que Jesus ressuscitou dentre os mortos por Deus
Pai. Os evangelhos nos dizem que o milagre da ressurreição aconteceu “no
terceiro dia”, isto é, depois da crucificação, cedo, na manhã do primeiro dia
da semana, que agora chamamos de domingo. Não há nenhuma descrição
da maneira como Jesus ressuscitou. De fato, embora a pedra que fechava o
túmulo tenha sido removida por um anjo do Senhor (Mt 28.2), ele apenas
revelou que a ressurreição já havia ocorrido. Os soldados romanos que
guardavam o sepulcro, para que o corpo não fosse roubado, “tremeram de
medo dele, e ficaram como mortos” (v. 4). Às mulheres que foram ao
sepulcro, logo ao amanhecer do dia, simplesmente foi dito: “Ele não está
aqui; já ressurgiu... e vai adiante de vós para a Galiléia” (v. 6). Quando
retornavam, para contar aos discípulos, Jesus saiu-lhes ao encontro e elas o
adoraram (Mt 28.4-9). Cada um dos evangelhos relata eventos diferentes
ocorridos naquela manhã. Muitas tentativas foram feitas para reuni-los e
explicar a ordem exata dos acontecimentos. Não se sabe, porém, se isso
seria possível ou não, com as informações limitadas dadas pelos escritores.
Cada um deles, entretanto, conta o fato da ressurreição. Jesus fora
sepultado, mas depois foi visto vivo novamente (veja também Mc 16; Lc
24; Jo 20).
O assombroso fato da ressurreição deixou muitas dúvidas na mente dos
discípulos. O próprio Jesus explicou a dois deles, que se dirigiam para
Emaús, que sua morte fora necessária. Cristo explicou que tudo ocorrera
daquela maneira para que as Escrituras se cumprissem. Ao que parece, os
olhos deles estavam deliberadamente fechados; por isso, não reconheceram
o Senhor até que este orou com eles e partiu o pão; naquele momento,
então, “ele desapareceu de diante deles” (Lc 24.13-35).
O corpo de Jesus, após a ressurreição, era suficientemente real; mas,
mesmo assim, era diferente daquele que fora tirado da cruz. As marcas dos
pregos ainda estavam lá e o Cristo ressurreto movimentava-se à vontade,
aparentemente por todas as partes, sem ser visto, pois andava de um lugar
para outro (Jo 20.27). João sugere isso, ao descrever que no cenáculo onde
os temerosos discípulos estavam escondidos, com medo dos judeus, Jesus
simplesmente chegou e pôs-se no meio deles (v. 19). Talvez seja a mesma
ocasião em que Lucas descreveu: “Jesus se apresentou no meio deles,
e...eles, espantados e atemorizados, pensavam que viam um espírito” (Lc
24.36,37). Cristo mostrou-lhes suas cicatrizes, para que entendessem ser Ele
mesmo, o Mestre que eles tanto estimavam. A natureza extraordinária deste
milagre também é vista nas dúvidas demonstradas por Tomé, o qual
recusou-se a acreditar até que viu por si mesmo as cicatrizes. Quando
contemplou Jesus e o reconheceu, a resposta dele manifestou o enorme
impacto que tivera em toda a sua maneira de pensar. Simplesmente olhou
para Cristo, atribuiu-lhe a divindade e disse: “Senhor meu e Deus meu!” (Jo
20.28).
Embora estivesse noutro estágio, a ponto de ser reconhecido como Deus,
Jesus ainda era humano e possuía um corpo material, pois podia ser tocado
(Lc 24.39; 1 Jo 1.1, 3), ouvido, e comeu junto com eles (Lc 24.41,42; Jo
21.12). Em várias ocasiões Cristo aparece, para enfatizar que a ressurreição
aconteceu segundo as Escrituras.
As testemunhas da ressurreição
O significado da ressurreição
A glorificação de Jesus
A Bíblia ensina que Jesus está vivo, hoje, no céu, onde exerce uma
soberania plena, como Rei dos reis e Senhor dos senhores. Ele vigia as
nações, seu povo e todo o cosmos. Como Senhor exaltado, que subiu aos
céus na presença de seus discípulos, Ele distribui as bênçãos do seu Reino,
que podem ser resumidas na palavra “vida” (2 Tm 1.1,10). Jesus também
cumpre seu papel de Sumo Sacerdote. Como Mediador entre Deus e os
homens, Ele entrou nos céus, e levou consigo todos os pecadores
arrependidos à presença do Senhor. Ele se encontra no Santo dos Santos, na
presença do Pai. De lá do trono de Deus, Cristo intercede em nosso favor;
como ser humano na presença do Senhor, Ele permanece como
representante da humanidade na glória. Ao fazer isso, completa a obra da
redenção que se inicia naqueles que crêem (Rm 8.34; Hb 6.19,20; 9.24).
Jesus intercede por seu povo, com base no sacrifício feito de uma vez por
todas pela humanidade, capacitando-a assim ao recebimento do perdão.
Embora entronizado no céu como Senhor da glória, Jesus também
continua a operar no meio de seu povo na terra, por meio do Espírito Santo.
Os que pertencem a Ele pela fé são controlados pela terceira pessoa da
Trindade, que se constitui em sinal dos que pertencem a Cristo: “Mas, se
alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele” (Rm 8.9; veja
Espírito Santo).
Conclusões
JEUZ. Listado na genealogia de Benjamim, que vai até o rei Saul; era
filho de Saaraim com sua esposa Hodes e líder de uma família. Nasceu em
Moabe (1 Cr 8.10).
JEZABEL. Filha de Etbaal, rei de Tiro e Sidom. Foi esposa do rei Acabe
de Israel [874 a 853 a.C.] (1 Rs 16.31). No hebraico bíblico seu nome
significa “não há nobreza”. Este nome provavelmente é uma distorção
intencional do seu verdadeiro significado, “onde está o príncipe (Baal)” ou
“o príncipe (Baal) existe”, a fim de louvar o deus dela, o Baal fenício. O
escritor dos livros dos Reis distorceu o nome de Jezabel, para mostrar seu
desprezo por sua ação e religião. Desta maneira, caracterizou a rainha como
inteiramente perversa.
Jezabel devotou-se à implantação da adoração a Baal e a sua deusa
consorte Aserá (ou Astarte) em Israel. Contratou 450 profetas de Baal e 400
profetisas de Aserá (1 Rs 18.19; onde Aserá é traduzida como poste-ídolo) e
perseguiu os profetas do Senhor, inclusive Elias (1 Rs 19.1-9). Também
expandiu sua religião e violou o conceito de Israel de limitar o poder da
monarquia (Dt 17.14-20). Quando Nabote recusou-se a vender ao rei Acabe
a herança que lhe fora dada por Deus (1 Rs 21.3), Jezabel tramou para que
fosse executado, ao contratar alguns homens que o acusaram falsamente de
blasfêmia (1 Rs 21.8-16).
A atitude desafiadora de Jezabel para com Deus levou Elias a profetizar
que o corpo dela seria devorado pelos cães (1 Rs 21.23). Embora tenha
vivido pelo menos dez anos depois da morte de Acabe, ela morreu
conforme o profeta havia predito, quando Jeú ordenou que fosse atirada por
uma janela (2 Rs 9.32,33). Os cães a devoraram na rua, e deixaram apenas
seu crânio, os pés e as palmas das mãos (2 Rs 9.34-37).
O caráter e as ações de Jezabel ganham um significado simbólico no
Novo Testamento. Apocalipse 2.20 refere-se a uma falsa crente na igreja de
Tiatira como “Jezabel, mulher que se diz profetisa”, para indicar que a ira
de Deus seria contra ela, por seus falsos ensinos e suas imoralidades. R.P.
JEZER. 1. Terceiro filho de Naftali, líder do clã dos jezeritas (Nm 26.49;
1 Cr 7.13). Listado entre os que desceram com Jacó para o Egito (Gn
46.24).
2. Forma diminutiva de Abiezer. Membro da tribo de Manassés,
descendente de Gileade, foi o progenitor de um dos clãs da tribo (jezeritas)
(Nm 26.30).
JOÃO, O APÓSTOLO
João, filho de Zebedeu e irmão de Tiago, foi um dos doze discípulos
escolhidos por Jesus, que posteriormente foram chamados de apóstolos (Mt
10.2-4). Quase com certeza é a mesma pessoa mencionada no evangelho de
João como “o discípulo a quem Jesus amava” (Jo 13.23; etc.); mencionado
freqüentemente nos evangelhos junto com o irmão Tiago. Os dois, por sua
vez, são mencionados junto com Pedro. Os três já se conheciam antes de se
tornarem discípulos de Jesus, pois eram companheiros de profissão (Lc
5.10; etc.). O pai deles possuía um barco, no qual João e Tiago estavam
quando foram chamados por Jesus para serem seus discípulos (Mt 4.18-22).
Provavelmente sua mãe era Salomé, a qual uniu-se a outras mulheres para
levar ungüentos ao túmulo de Cristo, depois da crucificação (compare Mc
16.1 e Mt 27.56). Jesus apelidou Tiago e João de “Boanerges”, que significa
“filhos do trovão” (Mc 3.17). Não está bem claro por que os chamava
assim, mas é provável que o nome reflita o temperamento impulsivo que
tinham ou o compromisso zeloso que possuíam para com Cristo.
O relacionamento profundo e pessoal entre Jesus e João é observado em
várias passagens nos evangelhos. João fazia parte do círculo mais íntimo
dos discípulos que acompanhavam Cristo em numerosas ocasiões. A
profundidade da comunhão de Jesus com ele, entretanto, é vista mais
claramente na cruz. Foi a João que Cristo dirigiu-se de maneira mais
destacada e disse: “Eis a tua mãe”. Então a Bíblia diz: “Dessa hora em
diante o discípulo a recebeu (Maria) em sua casa” (Jo 19.27).
João e Jesus
Os escritos de João
O evangelho
As Epístolas
Existem três epístolas escritas por João. Embora ele nunca se identifique
claramente, na segunda e na terceira ele se refere a si mesmo como “o
presbítero”. Alguns especialistas, portanto, sugerem que este João não era o
apóstolo, mas outro, cognominado de “João, o presbítero”. Desde os tempos
primitivos da Igreja, entretanto, as pessoas concordam que o autor das
epístolas é o apóstolo. Provavelmente 1 João foi escrita para uma audiência
mista de judeus e gentios convertidos. Pode ser que, se ele viveu em Éfeso
no final de sua vida, como os antigos escritores cristãos sugerem, então esta
epístola teria circulado entre as igrejas daquela região. 1 João incentivava a
comunhão e a alegria na igreja e buscava encorajar a congregação a ter
segurança na fé. João, entretanto, também tratou do problema de certos
ensinos falsos que surgiram entre os crentes. Dois temas-chave que são
discutidos na epístola provavelmente indicam as duas áreas nas quais o
falso ensino se baseava. João ensinou sobre quem é Jesus. Enfatizou que
havia visto Cristo e testemunhado os eventos que são a base da mensagem
do Evangelho (1 Jo 1.1-4). Afirmou que Jesus é o Filho de Deus (1 Jo 1.3;
2.22; 5.5, 11) e lembrou seus leitores de que Cristo é preexistente (vivia
eternamente com Deus antes de vir à Terra, 1 Jo 2.13,14). João também
ensinou que Jesus voltará, que Ele é justo e perfeito e que realmente
manifestou-se em forma humana. Em segundo lugar, enfatizou a ética, ou
seja, como os cristãos devem comportar-se, pois possuem um Senhor
maravilhoso. Os cristãos devem viver com integridade (1 Jo 1.6 a 2.6,15-
17; 3.4-10). Precisam amar uns aos outros como Cristo os amou (1 Jo 4.19;
2.7-11; etc.). As outras duas epístolas de João desenvolvem temas similares,
com uma grande ênfase no amor fraterno, e apresentam a verdade como a
única resposta adequada para os falsos mestres. 3 João provavelmente foi
dirigida a uma disputa eclesiástica particular e, ainda assim, a ênfase é
sobre a verdade (3 Jo 3,4,12); a falta de amor também é destacada (vv.
9,10).
O livro de Apocalipse
O ensino de João
Sobre Jesus
O primeiro capítulo do evangelho de João fala bastante do pensamento
do escritor sobre Jesus. Ele reconhecia Cristo como Deus. João 1.14 resume
bem o que o autor queria dizer: “O Verbo se fez carne, e habitou entre nós.
Vimos a sua glória, a glória como do unigênito do Pai, cheio de graça e de
verdade”. Ao utilizar a figura do Tabernáculo no Antigo Testamento, na
qual a glória de Deus era vista simbolicamente no meio do povo na forma
da coluna de fogo e da nuvem, João diz que o Verbo (Jesus) veio e “armou
seu tabernáculo” entre nós. Jesus tornou-se homem e, assim, foi possível
ver nele a glória que pertencia unicamente a Deus (veja Êx 40.34; Nm
16.42; Jo 12.41; etc.). João ensina que Cristo leva as pessoas à adoração do
Senhor, quando lhes revela a glória do Pai, mas esta majestade pertence
também ao Filho (Jo 8.50-54; 11.4,4042; 14.13; etc.). Jesus já possuía a
glória do Pai antes de nascer e recebeu novamente a plenitude da majestade,
quando subiu ao Céu e foi exaltado à direita de Deus (Jo 17.5, 24). João
também ensina que, assim como Cristo honrou o Pai e tem sua própria
glória, o Espírito viria e glorificaria o Filho (Jo 16.14).
Provavelmente a preexistência de Jesus é mais claramente ensinada nos
escritos de João do que em qualquer outro lugar do Novo Testamento. Ele
existia desde a eternidade e não simplesmente a partir do momento em que
encarnou (Jo 1.1,4,14; 3.17; 17.5,24; 1 Jo 3.8; 4.9). Também esteve
diretamente envolvido na própria criação, pois “todas as coisas foram feitas
por meio dele... nele estava a vida” (Jo 1.3,4). Jesus “se manifestou” (1 Jo
1.2) e foi “enviado” por Deus Pai, com quem mantinha uma comunhão
muito especial com o Senhor (Jo 8.42; 11.42; 1 Jo 4.14).
Esta condição de “Filho de Deus” também é um tema importante no
evangelho de João, por meio do qual a comunhão entre o Pai e o Filho é
demonstrada em destaque. Na verdade, o próprio objetivo do evangelho,
segundo João (Jo 20.31), é “que creiais que Jesus é o Cristo, o filho de
Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome”. O autor afirma que o
que Jesus disse destacava sua condição única de “Filho de Deus”. Por meio
da insistência de Cristo de que as palavras que proferia e as obras que
realizava eram provenientes do Pai (Jo 14.10; etc.) e em sua oração (Jo 17)
vemos repetidamente sua comunhão com o Pai e a importância deste
relacionamento no nosso entendimento sobre quem Ele é. É João quem
relata a ocasião em que Jesus voltou-se para Filipe e disse: “Há tanto tempo
estou convosco e não me conheces, Filipe? Quem me vê, vê o Pai. Como
dizes tu: Mostra-nos o Pai?” (Jo 14.9). Cristo prosseguiu: “Não crês tu que
eu estou no Pai, e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo, nas
as digo por mim mesmo. Antes, é o Pai que está em mim quem faz as
obras” (v. 10).
Era importante para João que seus leitores aceitassem a deidade de Jesus.
A ênfase na autoridade de Cristo, como “Filho de Deus”, no fato de ter sido
“enviado” por Deus e ser o Messias (Jo 1.41; 4.29; 20.31; etc.), seu ensino
em João 14 a 17 sobre sua comunhão preexistente com o Pai, tudo isso
proporciona um acúmulo de evidências de que Jesus é Deus. Para João, este
ensino é resumido em declarações como as que são encontradas em João
1.14 e 20.31. O autor também chamou a atenção para as numerosas
ocasiões em que Jesus fez declarações relativamente explícitas de que era
Deus, as quais imediatamente fizeram com que os líderes religiosos o
acusassem de blasfêmia. As mais importantes destas afirmações incluíam o
uso da expressão “Eu sou” em certos contextos que o identificaram como
Yahweh, o Deus “EU SOU” (veja Êx 3.14). Por exemplo, em João 8.58,
lemos: “Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que antes que
Abraão nascesse, eu sou!”. Essa parece ser tanto uma declaração de
preexistência como de divindade, pois assume o nome de Deus.
O ensino mais distinto de João sobre Jesus é a descrição dele como “o
Verbo” (gr. Logos). Embora haja debate sobre o pano de fundo do qual o
autor extraiu esta descrição de Cristo, alguns pontos podem ser
estabelecidos. No cap.1, “o Verbo” estava com Deus, era Deus e criou todas
as coisas. Em Gênesis 1 Deus falou e o mundo foi criado. No Salmo 33.6
diz que “pela palavra do Senhor foram feitos os céus”. A palavra de Deus é
ativa no AT. Quando o Senhor fala, algo acontece. Certamente este pano de
fundo do Antigo Testamento está por trás de parte do que João ensinou, ao
chamar Jesus de “o Verbo” (ou “a Palavra”). Talvez ele também pensasse
num contraste entre Cristo e a Lei do AT, a qual é chamada de “a Palavra”
de Deus. Esta comparação é feita em João 1.17, no final da seção na qual
Jesus, “o Verbo”, é apresentado. O interesse principal de João era que seus
leitores conhecessem Jesus como a Palavra criadora e reveladora, que veio
da glória no Céu, tornou-se completa e genuinamente humana e viveu neste
mundo. O Deus verdadeiro, Criador e preexistente tornou-se homem, pôde
sentir fome como qualquer outro ser humano e experimentou genuinamente
o sofrimento. Este Jesus, tão glorioso em toda a sua verdade e perfeição,
pôde ser visto, tocado e ouvido (1 Jo 1.1). Por meio da fé nele e somente
nele, é possível, segundo o ensino de João, que todas as pessoas recebam o
perdão dos pecados e a vida eterna. Jesus, o sacrifício pelos pecados, trouxe
salvação e libertação, a fim de que ninguém “pereça” sob o juízo de Deus
(Jo 3.16,17). Qual maior amor pode haver, pergunta João, do que este
demonstrado por Deus, que enviou seu único Filho como “propiciação”
pelos nossos pecados? (1 Jo 4.9,10).
Isso nos leva à visão de João sobre este mundo e o pecado. O termo
“mundo” pode referir-se ao mundo geográfico ou a todas as pessoas do
mundo; entretanto, é usada freqüentemente por João para descrever as
pessoas que não reconhecem Jesus como o Filho de Deus e estão em
rebelião contra Ele (Jo 1.10; 14.17; 1 Jo 2.15-17; Ap 12.9; etc.). Cristo “é a
luz que resplandece nas trevas, e as trevas não prevaleceram sobre ela” (Jo
1.5). Satanás é descrito como “o príncipe deste mundo” (Jo 12.31), que está
cheio de transgressão e um dia será julgado. Os falsos profetas são apenas
um sinal da grande extensão do pecado (1 Jo 4.1-6). Jesus precisou vir para
trazer salvação ao mundo que estava sob o juízo de Deus e João mostrou
que de fato Cristo venceu (1 Jo 2.13; 5.4; Ap 17.14; etc.). Sua vitória sobre
o pecado, sobre o mundo e sobre Satanás foi conquistada na cruz e será
finalmente revelada em sua segunda vinda (Ap 21; etc.).
Conclusão
A tribo de José
JOSÉ DE NAZARÉ
Esposo de Maria, mãe de Jesus; portanto, o pai adotivo de Cristo. Seu
nome só é mencionado nas narrativas sobre o nascimento de Jesus, em
Mateus 1 e 2 e Lucas 1 e 2, bem como na árvore genealógica, em Lucas
3.23.
Muito pouco se sabe sobre a vida de José, esposo de Maria.
Inquestionavelmente, pertencia à “casa e família de Davi” (Lc 2.4), a
linhagem do Messias (2 Sm 7.12,16). Não está totalmente claro, entretanto,
qual das duas genealogias de Cristo apresentadas nos evangelhos (Mt 1.1-
16; Lc 3.23-38) traça sua família. A possibilidade mais provável é que a de
Mateus se relacione com José, pois parece estabelecer uma genealogia
estilizada, que garante o direito legal de Jesus ser Rei.
José não é o pai biológico de Jesus (Mt 1.22-25); apenas tornou-se o pai
adotivo do Salvador. Nesta condição, era seu pai legal, o que colocava
Cristo na linhagem dos descendentes de José e sua família, bem como na de
Maria (a qual, ao que parece, está relacionada em Lucas 3.23-38).
Alguns teólogos alegam que esta linhagem dupla foi necessária devido à
maldição imposta a Jeoiaquim, o último rei da casa de Davi, em Judá, no
início do exílio na Babilônia (Jr 22.30). Se esta sentença for interpretada no
sentido futuro, que “nenhum da sua linhagem prosperará, para se assentar
no trono de Davi, ou reinar de novo em Judá” (v. 30), ambas as genealogias
são essenciais. A árvore genealógica de Mateus ainda provaria o direito
legal de Jesus ao trono de Davi, embora, devido à maldição, sua capacidade
para “sentar” e “reinar” (Jr 22.30) viesse pela descendência alternativa de
Davi (por meio de outro filho, Natã; Lc 3.31), vista na genealogia
apresentada por Lucas.
Além de sua árvore genealógica, os únicos outros aspectos conhecidos da
vida de José são o seu casamento com Maria, sua residência e profissão.
Embora fosse da tribo de Judá, não residia na região da Judéia (Lc 2.4).
Pelo contrário, era de Nazaré, na Galiléia (v. 4). Naquela cidade, trabalhava
como carpinteiro (Mt 13.55), um ofício que aparentemente ensinou a Jesus
(Mc 6.3).
Não há como saber a idade de José, comparando-se com a de Maria, ou
as circunstâncias específicas em que se conheceram e ficaram noivos. A
ausência do seu nome em Mateus 13.55 e João 2.1, passagens onde se
esperaria que estivesse presente, se estivesse vivo, implica que ele era bem
mais velho do que ela e já havia falecido quando Jesus iniciou seu
ministério público (ou logo depois, Lc 3.23). De acordo com a cultura de
Israel, o noivado e o casamento de José e Maria provavelmente foram
arranjados pelos pais, embora a soberania de Deus dirigisse as escolhas de
todos os envolvidos, conforme indicado pelas árvores genealógicas e pelos
sonhos de José, em Mateus 1 e 2. O foco da narrativa do nascimento de
Jesus em Lucas 1 e 2 concentra-se em Maria, enquanto a seção paralela em
Mateus 1 e 2 proporciona o vasto escopo de informações que refletem o
caráter de José e seu papel no nascimento e nos primeiros anos de vida de
Cristo. Lucas 2, entretanto, proporciona alguns detalhes adicionais sobre as
ações de José relacionadas com a infância de Jesus, bem como alguns
vislumbres dos eventos durante o período no qual Cristo crescia na
companhia de José e Maria. Em termos de caráter pessoal, Mateus afirma
que José era “justo” (v. 19) e compassivo. Sua integridade sem dúvida tinha
que ver com o cumprimento da Lei, mas pelo menos em parte também à sua
obediência diretamente ao Senhor (v. 24). Sua compaixão é demonstrada ao
descobrir que Maria estava grávida (v. 18): decidiu divorciar-se dela em
segredo, ao invés de expô-la à condenação pública, conforme a Lei lhe
permitia (Dt 22.23,24; 24.1).
Uma notável seqüência de sonhos marcou o papel inicial de José como
pai adotivo do Filho de Deus. Inicialmente foi instruído a não divorciar-se
de Maria, “porque o que nela foi gerado é do Espírito Santo” (v. 20).
Conforme o costume daquela sociedade, José recebeu a incumbência de
colocar o nome no menino: Jesus (v. 21). Ao acordar, ele obedeceu ao
Senhor (vv. 24,25).
Logo depois do nascimento de Cristo, José teve um segundo sonho, no
qual foi orientado a pegar Jesus e Maria e ir com eles para o Egito, para
protegê-los de Herodes, o Grande, que planejava matar o Messias (Mt
2.13). Novamente, ele fez conforme o Senhor lhe ordenara (v. 14).
O terceiro sonho de José, quando estava no Egito, o enviou de volta a
Israel, junto com sua família, depois da morte de Herodes (vv. 19,20). Em
seguida, foi instruído num último sonho a se estabelecer em Nazaré e não
na Judéia (v. 21), o que ele fez (v. 23). Em todos os casos, de acordo com a
vontade do Senhor, José agia em total obediência.
José também é visto diante das revelações concernentes a Jesus,
proporcionadas por Deus por meio de outras pessoas. Na ocasião da
circuncisão de Cristo, ele e Maria ouviram as profecias de Simeão (Lc 2.28-
32, 34,35) e de Ana (v. 38). Também se maravilharam com as palavras do
próprio Jesus, ditas no Templo quando tinha doze anos de idade (vv. 48-50).
Depois que a família regressou a Nazaré, após a celebração da Páscoa (v.
51), não há mais nenhuma menção explícita de José no Novo Testamento. O
nome “José” em Mateus 13.55 e Marcos 6.3, usado em relação à família de
Jesus, refere-se a um filho mais novo do casal, que aparentemente recebeu o
mesmo nome do pai.
Não há como sabermos quando ou como José morreu, ou quais foram as
circunstâncias. O fato de que Jesus é mencionado como “o carpinteiro”, em
Marcos 6.3, pode significar que Ele assumiu o lugar do pai adotivo, após a
morte de José, até o início de seu ministério público. Por outro lado, talvez
queira dizer apenas que Jesus aprendeu o ofício e trabalhava junto com o
pai como carpinteiro.
Levando-se em conta que José em nenhum aspecto é considerado um
líder entre o povo de Deus, ele demonstra ser uma das figuras mais piedosas
mostradas nas Escrituras. De tudo que se sabe sobre ele, é um homem que
obedecia ao Senhor. Era também um marido e pai exemplar. Além de sua
consideração sobre a possibilidade de divorciar-se de Maria antes de
receber a direção de Deus no sonho e sua aparente confusão diante do
ensino de Jesus no Templo, quando tinha doze anos, não há nenhuma
indicação de um comportamento que não estivesse de acordo com a vontade
de Deus.
José realmente era um homem “justo” (Mt 1.19) e foi bem escolhido, na
soberania de Deus, para ser o marido de Maria e pai adotivo de Jesus. Neste
papel, aparentemente foi muito bom para o Deus-homem. Assim, sobre
Cristo, há muito mais aspectos significativos na vida do Salvador do que
seu direito legal ao trono de seu antepassado, o rei Davi (v. 16). A.B.L.
Judá e Assíria
Reformas religiosas
No coração dos livros dos Reis está a Lei. O autor está preocupado com a
obediência do rei — ou a falta dela — à Lei (especialmente Deuteronômio).
O autor destes livros avalia cada rei como íntegro ou ímpio, baseado em sua
fidelidade para com as leis de Deuteronômio. Josias era um rei íntegro; por
isso, o escritor enfatiza o fato de que o livro da Lei foi encontrado como
elemento motivador de todas as reformas.
Com 26 anos de idade (622 a.C.), Josias levou a cabo seu plano de
purificar a terra por meio da restauração do Templo, sob a direção de Safã,
Maaséias, Joá e Hilquias, o sumo sacerdote. Deram autoridade aos levitas
para que supervisionassem a obra e pagassem os trabalhadores com os
recursos financeiros do Santuário. Durante a limpeza do Templo, o sumo
sacerdote Hilquias encontrou um livro, o qual entregou a Safã, o secretário.
Este o levou ao rei, quando compareceu diante dele, a fim de fazer o
relatório sobre a obra de reconstrução, e o leu diante de Josias. Ao ouvir as
palavras da Lei de Deus, o rei rasgou suas vestes, como uma expressão
pública de profundo pesar. Ficou com o coração dilacerado pela história de
rebelião do povo de Israel contra o Senhor e pelo iminente juízo
mencionado na Lei.
Uma vez que o livro da Lei fora encontrado, o rei Josias buscou uma
palavra do Senhor, por meio da profetisa Hulda. Ela condenou a idolatria de
Judá e profetizou sobre o exílio que se aproximava, enquanto falava sobre o
graça de Deus, que se estenderia pelo reinado de Josias. Isso encorajou o rei
a realizar a grande reforma. Renovou a aliança, destruiu os centros do culto
pagão, reinstituiu a festa da Páscoa em Jerusalém e expurgou a terra do
paganismo (2 Rs 23.4-20). Embora a reforma tenha sido um grande
sucesso, o verdadeiro teste chegou com o falecimento do rei. Depois de sua
morte, nas mãos de Faraó-Neco, o povo voltou aos seus caminhos
idolátricos e pagãos.
A ênfase nos livros das Crônicas é diferente do registro nos dos Reis.
Enquanto estes se preocupam principalmente com a Lei e a fidelidade do rei
a ela, aqueles interessam-se pelo ideal messiânico e a relação de Josias com
este Rei. A referida reforma teve três estágios. No oitavo ano de seu
reinado, Josias “começou a buscar o Deus de Davi, seu pai”. No 12o ano,
começou a expurgar Jerusalém e Judá dos lugares altos e dos falsos ídolos.
Finalmente, no seu 18o ano como rei, ordenou que o Templo fosse
reformado. Durante os reparos, o livro da Lei foi encontrado e apresentado
a ele. Depois de ler o texto, Josias buscou uma palavra do Senhor. Enviou
mensageiros à profetisa Hulda, a qual o informou de que Deus amaldiçoaria
Judá “com todas as maldições do livro”, por causa do pecado de idolatria,
mas pouparia a nação durante o tempo de vida do rei. Depois dessa
advertência profética, Josias continuou as reformas com vigor redobrado.
Leu a Lei para todo o povo de Israel e todos renovaram a aliança com Deus.
Estendeu o expurgo das atividades idolátricas até regiões que pertenciam a
Israel, o reino do Norte. O povo reuniu-se em Jerusalém, junto com os
sacerdotes e levitas. A Lei foi lida publicamente e, sob a piedosa liderança
de Josias, o povo se comprometeu a renovar o compromisso de fidelidade à
aliança de Deus com Israel. Como uma expressão concreta da união de
todos na aliança do Senhor, o rei decretou uma celebração da Páscoa em
Jerusalém. Deu atenção cuidadosa a cada detalhe estabelecido na Lei de
Moisés (2 Cr 35.6,12), bem como às tradições associadas a Davi e Salomão
(v. 4). Os sacerdotes e levitas oficiaram e, juntos com os auxiliares, foram
bem supridos. O rei e seus oficiais contribuíram voluntariamente com
37.600 ovelhas e cabritos e 3.800 cabeças de gado. O total de animais
sacrificados foi tão grande que quase dobrou o número utilizado na grande
celebração da Páscoa feita pelo rei Ezequias (2 Cr 30.24). O envolvimento
do povo, dos sacerdotes e levitas também foi tão grande que a festividade
foi comparada favoravelmente com as que eram realizadas na época do
profeta Samuel (v. 18).
O livro da Lei
Os últimos dias
Não está claro o que aconteceu entre a celebração da Páscoa (622 a.C.) e
a morte de Josias em Megido (609 a.C.). A queda de Nínive (612 a.C.) sem
dúvida encorajou Josias a despontar no cenário internacional. Suas
ambições políticas, entretanto, também o arruinaram. Quando Faraó-Neco
passou por Judá com o intuito de enfrentar os caldeus em Carquemis, Josias
marchou com seus exércitos para encontrar-se com ele em batalha. Não se
sabe ao certo por que fez isso. Talvez desejasse assegurar a independência
de Judá entre as nações. Se tivesse permitido que os egípcios passassem,
com certeza seria considerado um colaborador na luta contra os caldeus.
Faraó-Neco ficou aborrecido com a recusa de Josias. Enviou uma
mensagem a ele, com uma conotação religiosa. Disse que fora instruído por
Deus para marchar rapidamente, que as ações hostis do rei de Judá eram
uma ameaça para a realização da vontade do Senhor e que ele seria punido
por isso. Como Acabe fez antes dele, Josias disfarçou-se e enfrentou o
inimigo no campo de batalha; foi atingido por uma flecha atirada ao acaso e
foi retirado da luta. Ele não morreu em combate; mas, levado às pressas,
faleceu em Jerusalém (2 Cr 35.20-24). Sua morte foi uma grande perda para
Judá. O profeta Jeremias liderou o povo num lamento (2 Cr 35.25). Além
disso, repreendeu o filho de Josias, chamado Jeoacaz (Salum), ao comparar
suas ambições com as de seu pai, o qual “exercitou o juízo e a justiça. Por
isso lhe sucedeu bem. Julgou a causa do aflito e do necessitado, e por isso
lhe sucedeu bem” (Jr 22.15,16). Daí em diante, Judá afastou-se cada vez
mais do Senhor e envolveu-se na tentativa de sobreviver nas rápidas
mudanças do jogo de poder no Oriente Médio. W.A.VG.
JOSIAS. 1. Veja Josias, rei de Judá.
2. Um dos judeus que, depois do exílio na Babilônia, contribuíram com
ouro e prata para as coroas do sacerdote Josué. Identificado como filho de
Sofonias em Zacarias 6.10; provavelmente é o mesmo “Hem, filho de
Sofonias”, do v. 14.
JOSIBIAS (Heb. “o Senhor estabelece”). Filho de Seraías e pai de Jeú,
da tribo de Simeão, o qual, nos dias do rei Ezequias, envolveu-se em
atividades militares contra os cananeus e os meunitas (1 Cr 4.37).
JOSIFIAS (Heb. “que o Senhor acrescente”). Um dos líderes de família
que retor-naram para Jerusalém depois do exílio na Babilônia, com Esdras.
Era descendente de Bani e pai de Selomite; retornou com um grupo de 160
homens (Ed 8.10).
Como líder espiritual e militar do povo, Deus falou diretamente com ele,
com as mesmas palavras que Moisés lhe dissera: “Esforça-te, e tem bom
ânimo” (três vezes: Js 1.6-9). Liderou o povo na travessia do rio Jordão (Js
3 e 4), executou a circuncisão e celebrou a Páscoa (Js 5), liderou o exército
na conquista de Jericó (Js 6), identificou e puniu o pecado de Acã (Js 7),
liderou a vitória sobre Ai (Js 8), sobre a coalizão do sul (Js 10) e do norte
(Js 11).
O sucessor de Moisés
O líder da aliança
JUDAS ISCARIOTES
Judas Iscariotes foi um dos doze apóstolos de Cristo, mas praticamente
nada se sabe sobre ele, exceto que traiu e entregou o Filho de Deus às
autoridades. Até mesmo o significado do nome “Iscariotes” é incerto.
Alguns comentaristas o relacionam com a palavra “sicário”, ou seja “o
homem da adaga”, a fim de especular que provavelmente fez parte do
partido revolucionário dos zelotes. Outros propõem significados como “o
falso”, “aquele que livra”, “homem da cidade” (isto é, Jerusalém) etc. Uma
interpretação mais antiga e a mais amplamente aceita é “o homem de
Queriote”, que tanto se refere a uma cidade na região de Moabe, como a
uma pequena vila no sul da Judéia; entretanto, mesmo essa proposta é
totalmente incerta.
Os três evangelhos sinóticos apresentam basicamente o mesmo proceder
de Judas. O de Marcos, considerado o mais antigo, registra a descrição mais
simples. Ele é mencionado pela primeira vez na lista dos apóstolos (Mc
3.19), onde é citado como “Judas Iscariotes, que o traiu”. Todas as outras
referências estão no capítulo 14, no relato sobre a traição: Judas fez um
acerto com os chefes dos sacerdotes, os quais concordaram em dar-lhe
dinheiro (vv. 10,11); Jesus referiu-se a ele indiretamente durante a Última
Ceia (vv. 18-21); imediatamente depois da agonia de Cristo, no Jardim
Getsêmani, Judas chegou com uma multidão, deu-lhe um beijo (o sinal
combinado), e Jesus foi preso (vv. 43-46).
Todo este relato tem um paralelo nos evangelhos de Mateus e Lucas.
Cada um deles, entretanto, reflete uma perspectiva distinta, às vezes com a
inclusão de outras informações. Mateus, por exemplo, acrescenta o detalhe
de que os chefes dos sacerdotes pagaram a Judas 30 moedas de prata (Mt
26.15). Não é uma quantia muito grande de dinheiro; por isso, alguns
comentaristas especulam que se tratava apenas de um sinal, ou seja, parte
do pagamento. Outros argumentam que este detalhe não é histórico, mas
apenas o resultado do desenvolvimento redacional. Mateus também é o
único evangelista que menciona o remorso de Judas, o qual o levou a
cometer suicídio (Mt 27.3-5). Além disso, acrescenta que os sacerdotes
recolheram o dinheiro que foi devolvido por Judas e compraram um campo
destinado à construção do cemitério para estrangeiros; este evento confirma
o cumprimento das Escrituras (Mt 27.6,7, com citação de Zc 11.12,13).
Lucas, por sua vez, distingue-se por fazer um comentário inicial de que
Judas fez um acordo com os sacerdotes, porque Satanás entrara nele (Lc
22.3). Também relata de forma um pouco diferente a referência indireta que
Jesus fez a Judas durante a Última Ceia (Lc 22.21-23) e abrevia a narrativa
da própria traição (Lc 22.47,48). No livro de Atos, entretanto, Lucas
registra algumas informações inéditas. Pedro, ao falar aos crentes algum
tempo depois da morte e ressurreição de Jesus, destacou que a traição e a
morte de Judas cumpriram as palavras de Davi (At 1.15-20; Sl 69.25;
109.8). A passagem de Atos inclui um relato das circunstâncias que
cercaram a morte de Judas que difere da narrativa de Mateus. Várias
sugestões são apresentadas sobre a possível harmonização das duas
passagens; mas é difícil a reconstituição dos detalhes com certeza.
Em contraste com os sinóticos, o evangelho de João destaca-se por
enfatizar as características negativas de Judas em vários pontos da narrativa.
É interessante notar que, no relato da própria traição, João não registra
nenhuma interação entre Jesus e Judas (não faz menção ao beijo, em
particular). No capítulo 6, entretanto, no contexto de uma discussão sobre o
verdadeiro e o falso discípulo, João registra as palavras de Jesus: “Não vos
escolhi eu aos doze? Contudo, um de vós é um diabo” (Jo 6.70). No
versículo seguinte, João explica que Jesus se referia a Judas, que logo
depois o traiu. Desta maneira, o autor levanta explicitamente um problema
teológico que cada leitor dos evangelhos enfrenta: como Judas foi escolhido
por Jesus, para em seguida ser o traidor?
O retrato negativo que João faz de Judas também é óbvio no relato sobre
a unção de Jesus, feita por Maria (Jo 12.1-8). Devido ao fato de ela
derramar um perfume caríssimo nos pés de Cristo, Judas reclamou que o
perfume era valioso e, se vendido, o dinheiro seria útil aos pobres. João,
então, comenta: “Ele disse isso, não pelo cuidado que tivesse dos pobres,
mas porque era ladrão; tendo a bolsa, tirava o que nela se lançava” (v. 6).
Os evangelhos sinóticos não fazem nenhum comentário deste tipo sobre
Judas e por isso a autenticidade histórica desses relatos é questionada por
alguns comentaristas, mas sem razão suficiente (mesmo os teólogos mais
céticos reconhecem que o evangelho de João preserva tradições históricas
não registradas nos sinóticos).
Nos evangelhos sinóticos, o relato da predição de Jesus sobre a traição de
Judas, durante a Última Ceia, é semelhante; contudo, é expandida em João
13. Logo no início da passagem, a Bíblia diz: “Durante a ceia, tendo já o
diabo posto no coração de Judas Iscariotes, filho de Simão, que o traísse...”
(v. 2). No v.18, João levanta novamente o problema teológico que envolvia
a escolha de Judas: “Não falo de todos vós; eu conheço os que escolhi. Mas
isto é para que cumpra a Escritura: O que come o pão comigo, levantou
contra mim o seu calcanhar” (citação do Sl 41.9). Somente João vai adiante
e diz que “tendo Jesus dito isso, perturbou-se em espírito, e afirmou: Em
verdade, em verdade vos digo que um de vós me trairá” (v. 21). Cristo
identificou o traidor como aquele para quem desse um pedaço de pão:
“Então, molhando o pedaço de pão, deu-o a Judas Iscariotes, filho de
Simão. Assim que Judas tomou o pão, entrou nele Satanás” (vv. 26,27).
João também relata que Jesus disse a Judas: “O que estás prestes a fazer,
faze-o depressa” (v. 27) e depois disso Judas saiu da sala. O parágrafo
termina com as palavras sugestivas: “E era noite” (v. 30).
Finalmente e mais significativo, João relata que no contexto da assim
chamada oração sacerdotal, Jesus referiu-se à traição de Judas: “Estando eu
com eles no mundo, guardei-os no nome que me deste. Nenhum deles se
perdeu, senão o filho da perdição, para que se cumprisse a Escritura” (Jo
17.12). Aqui, o enigma sobre Judas torna-se ainda mais complicado, porque
relaciona-se com a proteção de Jesus sobre os discípulos. Como seria
possível que alguém, escolhido por Cristo para fazer parte do grupo dos
doze, fosse destruído? A questão talvez seja vista de outro ângulo: como
Jesus o escolheu, ciente de que ele seria destruído? A resposta dada na
própria passagem soa das profundezas dos mistérios divinos: de acordo com
as Escrituras, Judas destinava-se à destruição.
Para a mente moderna, tal resposta de maneira alguma proporciona uma
solução. De fato, através dos séculos a figura de Judas tem fascinado muitos
pensadores, os quais tentam dar um explicação para o seu comportamento.
A abordagem mais comum é a sugestão de que ele foi compelido pelo amor
ao dinheiro. Essa proposta parece ter algum apoio nos comentários de João
12.6; mas é interessante notar que este evangelho não faz menção do
arranjo financeiro feito entre Judas e os sacerdotes. Além disso, a quantia
de dinheiro, considerada relativamente pequena, dificilmente motivaria uma
ação de tal magnitude.
Pelo fato de o texto bíblico não proporcionar nenhuma outra informação,
qualquer tentativa adicional para explicar o comportamento de Judas
envolve muita especulação: inveja dos outros discípulos, amargura por ver
suas esperanças materiais se desvanecerem, medo das repercussões políticas
etc. Uma teoria que conseguiu atrair atenção sugere que Judas tentava
forçar os acontecimentos. Em outras palavras, por meio da traição, Jesus
seria coagido a assumir seu papel messiânico e entrar em ação (alguns vêem
aqui até mesmo um reflexo da tentação de Cristo, onde o diabo desejava
que Ele demonstrasse seu poder de forma inadequada; veja Mt 4.1-11; Lc
4.1-13; cf. Jo 6.14,15). Dificilmente alguém conseguirá provar que qualquer
uma dessas hipóteses esteja certa ou errada, embora seja possível que
alguns desses fatores tenham influenciado o pensamento de Judas. Nenhum
deles, entretanto, proporciona base suficientemente forte para justificar uma
atitude tão hedionda como trair o próprio Filho de Deus. Por esta razão o
evangelho de João é de especial valor, quando pensamos nesta questão.
João, o último a escrever seu evangelho, frequentemente proporciona
reflexões teológicas diretas sobre uma variedade de temas, os quais os
sinóticos tratam apenas de forma descritiva, mas que levantam questões nas
mentes dos leitores atentos. Um destes temas é a soberania do Senhor na
obra da salvação. A tensão aparente que existe entre o poder de Deus e a
vontade humana é como uma corrente submersa na maioria das narrativas
bíblicas, a qual vem à tona em numerosas passagens. Note, por exemplo, a
declaração de Jesus de que Deus ocultou sua sabedoria de algumas pessoas
e revelou-a a outras (Mt 11.25-27 e textos paralelos), ou sua garantia de que
a salvação é impossível aos homens, mas não para o Senhor (Mt 19.26 e
textos paralelos).
É algo geralmente reconhecido que o evangelho de João destaca a
verdade da incapacidade humana, portanto nossa dependência da vontade e
do poder de Deus para a salvação (cf. Jo 1.12,13; 3.3-9; 6.44). Em vista
desta ênfase, não é de surpreender que o quarto evangelho dê uma atenção
especial ao enigma de Judas. Com efeito, o traidor personifica, de maneira
dramática, o que geralmente consideramos “o problema do mal”. Se o
evangelho, entretanto, não ignora o problema, tampouco proporciona o que
seria considerado uma solução “racional”, isto é, respostas que satisfaçam
nossas mentes; antes, apenas minimiza um pólo ou outro do paradoxo (ou
seja, “Deus faz tudo o que lhe apraz, portanto Judas não era responsável
pela traição” ou “Judas era responsável, portanto Deus apenas previu, mas
não predeterminou a traição”).
A narrativa bíblica não deixa sombra de dúvida de que Judas era um
agente humano responsável — o que ele fez, fez porque quis, e não pelo
fato de ter sido impelido a fazê-lo, mesmo contra sua vontade. Por outro
lado, João 17.12 deixa claro que explicações psicológicas não atingirão a
raiz do ato da traição. A própria vontade de Deus engloba toda a história,
que inclui até mesmo o pior pecado da humanidade (At 2.23). Com absoluta
certeza, Deus não é o autor do pecado — aqui reside o mistério que envolve
o problema do mal — mas seus propósitos nunca são frustrados (Pv 19.21;
Is 46.10). A figura de Judas serve como um lembrete de que o pecado é
algo terrível, mas a morte de Cristo é o poder de Deus para efetuar a
salvação de seu povo. M.S.
JUDAS. 1. Veja Judas Iscariotes.
2. Filho de Tiago, é mencionado em Lucas 6.16 e Atos 1.13 como
um dos doze discípulos escolhidos por Jesus para serem apóstolos. Nas
listas de Mateus 10.3 e Marcos 3.18, no lugar do nome Judas, encontra-se
Tadeu. Talvez trate de outro termo para a mesma pessoa, a fim de não ser
confundido com o Judas que traiu Jesus. João 14.22 provavelmente refere-
se a ele.
3. O meio irmão de Jesus (Mt 13.55; Mc 6.3). Provavelmente não
fazia parte do grupo dos apóstolos, pois João 7.5 diz que os irmãos de
Cristo “não criam nele”. Posteriormente, entretanto, creram que Jesus era o
Filho de Deus e estavam presentes no Cenáculo, depois da ressurreição, no
grupo de irmãos que “perseveravam unanimemente em oração”, ao lado dos
apóstolos e algumas das mulheres que estiveram com Cristo (At 1.14). Na
epístola de Judas (v. 1), ele se intitula o “irmão de Tiago” e é muito
provável que o autor da epístola na verdade fosse este Judas, irmão de
Jesus.
Geralmente é aceito que o mencionado em Judas 1 era o irmão de Tiago
[meio irmão de Jesus] (veja Mc 6.3). Existe pouca informação na carta que
possa indicar quando Judas a escreveu, mas 90 d.C. seria a data ideal. Nesta
carta, o autor encoraja seus destinatários, ao enfatizar a graça de Deus e sua
fidelidade em guardar seus filhos da queda (Jd 1,24). Também desafia os
cristãos a batalhar pela fé (v. 3). Ele demonstrou, por meio das Escrituras,
que os problemas e as maldades que os cristãos enfrentavam na sociedade
não eram novos. No passado, Deus julgou sistematicamente os que
ensinaram o mal e faria isso novamente. O grande consolo para todos os
cristãos que enfrentam as heresias é que o Senhor cuida dos seus e com
certeza os guardará. P.D.G.
4. “Judas, o galileu”, mencionado em Atos 5.37 pelo rabino
Gamaliel. Foi um judeu zeloso e patriota que se rebelou contra o censo
ordenado pelo imperador Quirino. Ao sugerir a libertação dos apóstolos
recentemente presos pelos saduceus, Gamaliel argumentou que outros
homens surgiram no passado aparentemente como líderes do povo. Se tais
pessoas fossem realmente dirigidas por Deus, o trabalho delas sobreviveria;
se não, terminaria como o de Judas, o galileu, que “levou muito povo após
si. Mas também este pereceu, e todos os que lhe deram ouvidos foram
dispersos”.
5. Cristão procurado por Saulo (Paulo) após sua experiência na
estrada de Damasco. Ananias foi instruído por Deus a visitar a casa de
Judas, na rua Direita, em Damasco, para conversar com Saulo sobre sua
recente conversão à fé e orar por ele (At 9.11). Veja Ananias.
6. Judas Barsabás, um dos cristãos mais respeitáveis presentes no
assim chamado “Concílio de Jerusalém”, em Atos 15. Nesta assembléia dos
líderes da Igreja recém-formada, numerosas questões teológicas foram
discutidas, a maioria das quais surgidas na igreja de Antioquia. A questão
principal era referente à relação entre os novos convertidos ao cristianismo,
procedentes do judaísmo, e os convertidos entre os gentios. Estes deviam
adotar a circuncisão? Deviam guardar a Lei de Moisés? (At 15.5,19,20).
Quando os líderes decidiram qual curso de ação seria adotado, ou seja, que
os gentios fossem reconhecidos como cristãos completos, sem necessidade
da circuncisão, enviaram uma carta com detalhes sobre a decisão para a
igreja de Antioquia. Judas e Silas, “homens distintos entre os irmãos” (At
15.22), receberam a tarefa de levar aquela correspondência.
Os cristãos de Antioquia ficaram animados com o conteúdo da carta e
com a explicação e a confirmação do que fora escrito, dadas por Judas e
Silas. Ambos eram profetas e encorajaram e fortaleceram os irmãos (vv.
27,32). P.D.G.
JUDEU/JUDEUS. Este termo étnico tornou-se um meio muito comum
de se referir aos israelitas que faziam parte do reino do Sul de Israel,
durante o período do exílio na Babilônia. Sua primeira menção é em 2 Reis
16.6 e 25.25, em associação com a permanência do povo de Deus na
Caldéia. Servia também para descrever qualquer israelita, no período após o
exílio, em contraste com os gentios. Aparece freqüentemente com esse
sentido em Esdras, Ester e Jeremias e um pouco mais raramente em Daniel
e Zacarias. Ester, Mordecai, Sadraque, Mesaque e Abede-Nego são
personagens proeminentes, identificados explicitamente como judeus no
Antigo Testamento (livro de Ester; Dn 3.12). O contexto cultural misto de
suas histórias torna o uso do termo bastante adequado. Este também é um
termo religioso, para se referir a quem aderiu à religião dos hebreus.
Os judeus que viviam na Palestina preferiam referir-se a si mesmos como
membros de Israel. Para muitos israelitas, “judeu” era o meio pelo qual os
de fora se dirigiam a eles. O contraste entre os líderes judaicos que
escarneciam de Jesus, quando o chamaram de “Rei de Israel”, e o título
zombeteiro dado a ele pelos romanos, “Rei dos judeus”, ilustra essa
diferença de perspectiva (Mc 15.32; cf. vv. 2,9,12,18,26).
Esse senso de “eles” também surge no Novo Testamento, mas de maneira
diferente. Os judeus são vistos como um grupo que se opõe a Jesus, a fim
de questionar a sua doutrina, ou cujas práticas diferem das dos cristãos com
respeito a coisas como alimentos puros ou impuros ou a guarda do sábado
(Mt 28.15; Mc 7.3; Jo 2.18,20; 5.10,16,18; 7.1; 9.22; 10.31; 19.38; At 9.23;
12.3; 14.19; 17.5; 18.12). Às vezes, o termo é uma descrição neutra
daqueles que pedem um favor a Jesus ou estão entre os que respondem a
Ele (Lc 7.3; Jo 11.31-33, 45; 12.11; At 13.43; 14.1; 21.20). Assim, este
nome não é usado unicamente de forma hostil. Em João 4.9, Cristo é
identificado como judeu, em contraste com os samaritanos. O mesmo
aconteceu com Paulo e seus companheiros (At 16.20; 22.3,12), bem como
com os crentes Áquila, Apolo e Ananias (At 18.2,24). Assim, os cristãos de
descendência judaica são chamados de judeus e ao mesmo tempo são
distintos deles. Paulo é destacado como alvo da oposição deles (At 18.12;
21.27; 22.30; 23.12, 27; 24.9; 26.7; 2 Co 11.24).
Nas epístolas, o termo aparece mais freqüentemente nas cartas do
apóstolo Paulo, na maioria das vezes para estabelecer um contraste étnico
com os gentios ou gregos (Rm 1.16; 2.9,10; 10.12; 1 Co 1.24; 10.32; 12.13;
Gl 2.14,15; 3.28; Cl 3.11; o único uso fora das cartas de Paulo é em
Apocalipse 2.9; 3.9). Em alguns desses contextos, há uma hostilidade
implícita para com as práticas judaicas, quando comparadas com as cristãs
(Gl 2.13,14). Na relação judeu-gentio, o argumento geralmente reflete um
desejo de mostrar o alcance da salvação que é oferecida a todas as raças.
D.B.
JUDITE. Filha de Beeri, o heteu, casou-se com Esaú, filho de Isaque,
quando ele tinha 40 anos de idade. Provavelmente devido à sua procedência
cananita, a Bíblia diz que tanto ela como a outra esposa dele (Basmate),
também de Canaã, “foram para Isaque e Rebeca uma amargura de espírito”
(Gn 26.34,35). Esses casamentos foram outra demonstração na vida de Esaú
de sua negligência para com o Senhor e sua disposição para associar-se com
os povos pagãos. Há um grande contraste nesse aspecto entre ele e Jacó, o
qual viajou até a Mesopotâmia (Padã-Arã) para tomar uma esposa, em vez
de casar-se com as mulheres cananitas (Gn 28.6-8).
JUÍZES
O período dos juízes veio após a conquista de Canaã sob a liderança de
Josué, o que trouxe relativa paz e estabilidade para os israelitas (Js 21.43-
45). A geração seguinte, entretanto, fracassou em assegurar as bênçãos de
Deus e falhou em expulsar as nações remanescentes em Canaã. A
conseqüência deste fracasso foi um enfraquecimento crescente na vida de
Israel, marcado por conflitos entre as tribos, sincretismo religioso e a
derrota diante das nações estrangeiras. A resposta de Deus para a
desobediência e a idolatria de Israel foi o juízo sobre a nação, ao permitir
que sofressem derrotas nas mãos de uma sucessão de inimigos (Jz 2.12-15)
— sírios (3.8), moabitas (3.12), filisteus (3.31; 13.1), cananeus (4.2),
midianitas (6.1) e amonitas (10.9). Os juízes eram homens levantados pelo
Senhor (Jz 2.16) para livrar a nação da opressão estrangeira e restaurar a
adoração a Deus. Em todos os casos, entretanto, depois do livramento
conquistado pelo juiz, o período que se seguia à sua morte resultava numa
deterioração ainda maior do compromisso do povo com o Senhor (Jz 2.19).
O título “juiz” vem de Juízes 2.16: “Então levantou o Senhor juízes, que
os livraram das mãos dos que os despojavam”. Este termo, entretanto,
carrega mais do que uma conotação meramente judicial. Durante o Êxodo,
Moisés nomeou juízes, que funcionavam como seus delegados, com
autoridade para aplicar a Palavra de Deus em situações que requeriam um
julgamento legal (Êx 18.13-27); o papel judicial deles continuaria depois
que o povo se estabelecesse em Canaã (Dt 16.18). Nos tempos de opressão
nacional, entretanto, a função dos juízes era a de ser os instrumentos usados
por Deus no livramento do povo. Num tempo de apostasia, eram
capacitados pelo Todo-poderoso de maneira sobrenatural para libertar
Israel, no nome do Senhor (Jz 3.10, 28; 7.15; etc.), enquanto nas épocas de
paz aparentemente exerciam o papel de líderes (Jz 12.8-13).
O caráter daqueles homens levantados pelo Senhor para livrar Israel era
variado. Otniel, sobrinho de Calebe, apresenta-se como um juiz exemplar.
Chamado por Deus, recebeu o poder sobrenatural do Espírito Santo,
derrotou o opressor de Israel em batalha e trouxe um período de paz (Jz
3.9,10). Cada juiz que se seguiu, entretanto, foi marcado por ambigüidades
deliberadas de caráter. Eúde, o canhoto, triunfou por meio do engano e do
assassinato (Jz 3.15-26). Baraque relutou em obedecer ao Senhor, ao insistir
em que Débora [a juíza] o acompanhasse (Jz 4.8); desta maneira, a honra
pela morte do general inimigo foi de uma mulher, Jael, esposa de Héber, o
queneu (v. 21). Gideão precisou de repetidas garantias para acreditar que o
Senhor estava com ele (Jz 6.15, 27,36-40; 7.10) e, no final de sua vida,
levou Israel de volta à idolatria (Jz 8.27). O passado duvidoso de Jefté, filho
de uma prostituta, foi confirmado pela insensatez do voto que fez (Jz
11.30,31), numa tentativa de manipular a vontade do Senhor. Sansão
quebrou repetidamente a Lei de Deus, ao tocar e comer coisas proibidas a
um nazireu (Jz 14.8ss; veja 13.7) e em envolvimentos sexuais ilícitos (Jz
14.2,3; 16.1,4ss). Este padrão persistiu no livro de 1 Samuel. Eli, chamado
de juiz (1 Sm 4.18), honrou os filhos rebeldes mais do que ao Senhor (1 Sm
2.29). Até mesmo Samuel, que combinou as funções de profeta, sacerdote e
juiz (1 Sm 7.15-17), teve filhos desobedientes (1 Sm 8.5).
Em cada um dos casos, os juízes apresentavam muitos dos defeitos que
eram típicos da nação naquela época. Funcionavam como uma figura de
Israel, ou seja, israelitas típicos equipados para o serviço do Senhor
unicamente por sua graça. A implicação do livro é que o Senhor é o
verdadeiro Juiz (Jz 11.27), e os instrumentos humanos da salvação são
chamados e preparados de forma sobrenatural, usados em sua graça para
aliviar o sofrimento de seu povo. Os juízes prefiguravam a Igreja:
imperfeitos no caráter, mas mesmo assim comissionados pelo Senhor para
levar sua mensagem a um povo rebelde. Por isto, Hebreus 11.32 menciona
vários juízes pelo nome, como exemplos de fé.
No sentido de que Deus é quem levanta os governantes de seu povo, o
período dos juízes marcou mais o governo imediato do Senhor do que o
tempo da monarquia que se seguiu (1 Sm 8.7,8; Is 1.26). Assim, as
intervenções miraculosas de Deus durante este período estavam associadas
aos juízes, ao passo que, no decorrer da monarquia, os profetas eram o foco
desses sinais.
Características do povo
Características de Deus
1 Nas versões da Bíblia em português esta expressão, “filhos de Jásen”, foi traduzida como
nome próprio, “Bene-Jásen” (Nota do Tradutor).
2 Idem.
L
LAADE (Heb. “lento”). Filho de Jaate, era um dos descendentes de Judá.
Junto com seu irmão Aumai, formou o clã dos zoratitas (1 Cr 4.2).
LABÃO. Citado várias vezes nas narrativas dos casamentos de Isaque e
Jacó (Gn 24.29; 25.5-29). O motivo da inclusão de seu nome na Bíblia é o
conflito entre o oportunista e inescrupuloso filho de Isaque (Gn 25.27-34;
27.19) e alguém ainda pior do que ele (29.22-27; 30.31-36). Embora Jacó se
iludisse, pois achava que passara o sogro para trás (Gn 30.37-43), descobriu
apenas que era o Senhor, sempre vigilante, quem intervinha e guardava seus
interesses (31.6-12). Labão fundamentalmente fazia tudo por dinheiro (Gn
24.30,31) e é evidente que sua filha Raquel aprendeu com ele a manter os
olhos sempre abertos para as oportunidades (31.19), pois os “ídolos do lar”
possivelmente tinham algum significado na questão da herança. O único
envolvimento de Labão com a religião foi demonstrado numa aliança que
firmou com Jacó, para proteger sua “esfera de interesses” (Gn 31.51-54).
J.A.M.
LADA. Mencionado em 1 Crônicas 4.21, pai de Maressa e neto de Judá.
Era líder do clã dos homens que trabalhavam com linho e viviam em Bete-
Asbéia.
LADÃ. 1. Filho de Taã e pai de Amiúde, pertencia à tribo de Efraim e era
ancestral de Josué (1 Cr 7.26).
2. Levita do clã dos gersonitas; as tarefas deste grupo foram
determinadas pelo rei Davi no término de seu reinado, a fim de antecipar a
organização do serviço no Templo a ser construído. Seus descendentes eram
responsáveis pelo recebimento das pedras preciosas dadas como oferta e
seu armazenamento no tesouro do Santuário (1 Cr 23.7-9; 26.21).
LAEL. Pai de Eliasafe, da tribo de Levi, nomeado líder do clã dos
gersonitas (Nm 3.24), os responsáveis pelo cuidado de parte do
Tabernáculo.
LAÍS. Pai de Palti (também chamado de Paltiel), natural da cidade de
Galim. Mical, filha do rei Saul, foi entregue a Palti, embora fosse casada
com Davi. Posteriormente, Is-Bosete devolveu-a ao seu primeiro marido, o
que muito angustiou Palti (1 Sm 25.44; 2 Sm 3.15,16).
LAMEQUE. Dois homens muito diferentes um do outro são chamados
de Lameque: um deles (Gn 4.18-24) oferece uma prova da presença e da
abrangência do pecado; o outro (Gn 5.25-30; 1 Cr 1.3) é um profeta que
traz palavras de conforto e de esperança.
1. Lameque, filho de Metusael. Gênesis 4 desenvolve a história da
queda do homem (Gn 3) e mostra algumas de suas conseqüências. O relato
sobre Lameque mostra o pecado como o destruidor da ordem estabelecida
por Deus para a sociedade, insaciável em suas exigências. É o primeiro
polígamo mencionado na Bíblia. Um dos resultados do pecado foi um
desentendimento (Gn 3.12) entre o primeiro casal e a corrupção
fundamental do próprio casamento (Gn 3.16-20). A poligamia de Lameque
revela uma espiral descendente constante, cada vez mais distante do ideal
divino. Além de seu domínio sexual sobre a mulher, Lameque demonstra
também um espírito selvagem de arrogante egocentrismo, a principal
característica do pecado: por tão pouco como um “ferimento” e um “pisão”
decretou a morte de dois homens e anunciou que uma vingança
multiplicada por sete seria a lei de sua vida. Um dia, porém, a lei da
vingança do pecador seria sobrepujada pela medida da lei do perdão
exercida pelos pecadores remidos (Mt 18.22).
2. Lameque, pai de Noé. A queda destruiu a base econômica da
vida (Gn 3.1719). Ninguém mais iria “comer livremente de toda árvore do
jardim”; pelo contrário, haveria uma batalha interminável entre o homem e
o meio ambiente, unicamente pela sobrevivência. Parece que Lameque
ansiava pelo dia em que essa maldição teria fim; confiante em que esse dia
já estava próximo, chamou seu filho de “Noé”, um nome relacionado com o
verbo “descansar”. Por intermédio dele, realmente um “novo mundo” teve
início (Gn 8.15), sob a bênção divina (Gn 9.1) e o sinal de uma aliança
(9.17); mas Noé não era o “filho” de que o mundo carregado de maldição
precisava (9.20). Essa tarefa seria realizada por um Filho imensamente
maior! J.A.M.
LAMI (Heb. “guerreiro”). Irmão do gigante Golias, o giteu; ele mesmo
era muito alto, e sempre carregava uma lança “cuja haste era como o eixo
do tear” (1 Cr 20.5). Um dos grandes guerreiros de Davi, chamado Elanã, o
matou numa batalha entre israelitas e filisteus. Veja Elanã.
LAPIDOTE (Heb. “tochas”). Marido da profetisa Débora, líder em
Israel durante o período dos juízes (Jz 4.4). Mencionado apenas uma vez.
Alguns julgam que Lapidote era o lugar onde ela nascera ou residira. Veja
Débora.
LÁZARO. 1. Em Lucas 16.19-31, Lázaro é o nome de um mendigo,
numa parábola contada por Jesus. Foi o único personagem mencionado pelo
nome, provavelmente porque “Lázaro” é uma abreviação da expressão
hebraica “aquele que Deus ajuda”, justamente a ideia enfatizada nesta
narrativa.
Na parábola, a situação calamitosa de Lázaro, de pobreza, enfermidade e
fome é claramente contrastada com a vida opulenta do homem rico, que
vivia na fartura e no luxo, em cuja porta mendigava o pobre. Depois da
morte, porém, revelou-se que Lázaro era um genuíno membro do povo da
aliança, quando foi recebido pelos anjos num lugar de honra ao lado de
Abraão, num banquete no céu. O homem rico morreu e, na agonia do juízo
de Deus, percebeu as conseqüências da falta de arrependimento; suplicou
então ao seu ancestral Abraão que enviasse Lázaro para aliviar seu
sofrimento, mas depois da morte o juízo era definitivo e o contato,
impossível. O homem rico então pediu que ele fosse enviado para advertir
seus irmãos ainda vivos da realidade eterna que os aguardava; porém a
rejeição deles à Palavra de Deus proferida por meio de Moisés e dos
profetas indicava que nem mesmo a ressurreição de um morto os
persuadiria ao arrependimento.
A parábola ensina, por meio do exemplo de Lázaro, que a humilhação
terrena pode ser a promessa da glorificação eterna para os que são fiéis à
Palavra de Deus; os que fracassam em praticar as responsabilidades da
aliança de exercer a misericórdia e o amor enfrentarão a punição eterna. A
referência à ressurreição era uma antecipação irônica da reação cética que o
ressurgimento de Jesus provocaria nos fariseus a quem dirigiu a parábola
(Lc 16.14).
2. Lázaro, em João 11.1 a 12.19, era o irmão de Maria e Marta, os quais
viviam em Betânia. Jesus muitas vezes hospedou-se na casa deles (Lc
10.38-42) e tinha uma profunda afeição pelos três irmãos (Jo 11.3,5,33,35).
Lázaro ficou gravemente enfermo, e suas irmãs enviaram uma mensagem
a Jesus, a fim de que Ele viesse curá-lo. Ao receber a notícia, Cristo falou
que aquela enfermidade não resultaria na morte de Lázaro, mas sim na
revelação da glória de Deus (Jo 11.4). Assim, apesar de sua preocupação,
Jesus, em obediência à vontade do Senhor, retardou a ida para Betânia por
dois dias. Ciente de que Lázaro estava morto, Cristo anunciou sua intenção
de retornar a Betânia, para “despertar” o amigo (v. 11), apesar de saber que
na Judéia correria risco de vida. Seus discípulos não o compreenderam (vv.
12,13), mas Jesus antecipou que a ressurreição de Lázaro os levaria a uma
genuína fé nele (v. 15).
Depois de uma longa jornada (Jo 11.17), Jesus foi recebido por Marta
quatro dias após o sepultamento de Lázaro. Sua confiança no Mestre, apesar
de acreditar que, se Ele estivesse presente, seu irmão não teria morrido,
ocasionou a autorrevelação de Jesus: “Eu sou a ressurreição e a vida” (v.
25). Isso confirmou para Marta sua identidade messiânica (v. 27). Depois
que Maria foi chamada e encontrou-se com Cristo, este, ao vê-la chorar,
ficou profundamente angustiado (v. 33 — implica também ira, e não apenas
empatia) com o efeito do pecado e da morte no mundo. Jesus dirigiu-se ao
túmulo e ordenou que a pedra que selava a entrada fosse removida. Pela fé,
apesar do mau cheiro, obedeceram, e Cristo orou em voz alta para que a
ressurreição miraculosa de Lázaro inspirasse a fé nas pessoas. Com uma
palavra de comando, dirigida para dentro do túmulo, Lázaro retornou à vida
e saiu do túmulo.
O milagre de Jesus inspirou a fé em algumas pessoas (Jo 11.45), mas a
notícia provocou um complô no Sinédrio para matar o Filho de Deus (v.
53), bem como Lázaro (Jo 12.10). A plena recuperação do irmão de Marta e
Maria é enfatizada pelo fato de que Jesus jantou na companhia dele (Jo
12.2); uma grande multidão foi atraída pela curiosidade (v. 9), a qual
aumentou a especulação popular sobre se Jesus era realmente o Messias (vv.
12-15,17).
No ressurgimento de Lázaro, Jesus demonstrou seu poder divino de dar a
vida e prefigurou sua autoridade sobre a promessa geral da ressurreição.
Lázaro, entretanto, ressuscitou apenas para uma nova vida física, enquanto
a posterior ressurreição de Cristo formou o protótipo da ressurreição que os
cristãos aguardam. R.M.
LEBANA (Heb. “branco”). Líder de uma das famílias de serviçais do
Templo. Seus descendentes retornaram do exílio na Babilônia nos dias de
Esdras e voltaram a servir no Santuário (Ne 7.48). Em Esdras 2.45, seu
nome é pronunciado Lebaná.
LEBANÁ. Encontrado em Esdras 2.45. Veja Lebana, acima.
LECA. Mencionado em 1 Crônicas 4.21, filho de Er e neto de Judá. Era
líder de um clã especialista no trabalho com linho que vivia em Bete-
Asbéia.
LEGIÃO. Nome geralmente aplicado a uma tropa militar romana,
composta por 4.000 a 5.000 soldados. No Novo Testamento, significava
hostes de seres espirituais (Mt 26.53). Em Marcos 5.9 e Lucas 8.30 Jesus
depara com um homem possesso de uma legião de demônios. Marcos 5.15
refere-se ao geraseno como “o endemoninhado, o que tivera a legião”. Este
termo, portanto, significava o grande número de demônios que ele possuía.
Com vívidos detalhes, Marcos 5 descreve o incidente no qual Jesus curou o
endemoninhado, ao expelir dele a legião de demônios. Ele tinha um
comportamento totalmente selvagem e vivia entre os sepulcros, na
província dos gerasenos. As pessoas tentavam acorrentá-lo, mas ele
simplesmente quebrava as correntes, pois demonstrava uma força física
anormal. Os demônios que o possuíam identificaram Jesus como “o Filho
do Deus Altíssimo” e, de maneira implícita, reconheceram o direito que
Cristo tinha de julgá-los. Jesus os expulsou, mas permitiu que entrassem
numa manada de porcos, os quais correram e se precipitaram no lago, onde
todos se afogaram. Isto fez com que os moradores da região pedissem a
Cristo que se retirasse do meio deles. Jesus disse ao homem que fosse para
casa e contasse à família como o Senhor tivera misericórdia dele.
Neste incidente, novamente o direito do Filho de Deus de julgar e seu
poder sobre as forças espirituais manifestaram-se diante dos que estavam
presentes. Fica claro que os demônios eram reais, pela habilidade deles em
discernir quem era Jesus, algo que as pessoas em juízo perfeito ainda não
tinham assimilado. Uma vez curado, o ex-endemoninhado proclamou a obra
do Senhor na região de Decápolis “e todos se maravilhavam” (Mc 5.20).
P.D.G.
LEMUEL (Heb. “dedicado a Deus”). Autor de Provérbios 31.1-9.
Alguns eruditos identificam-no como o próprio Salomão, mas isto é muito
improvável. É chamado de “rei de Massá”, no v. 1, talvez para significar
que era um rei árabe. Os provérbios foram ensinados a ele por sua mãe e
relacionam-se com advertências sobre os perigos de gastar tempo e energias
com bebidas e mulheres. Também é aconselhado a defender a justiça e os
direitos dos menos favorecidos. Não se sabe com certeza se o restante do
capítulo, o qual descreve a esposa ideal, também foi escrito por ele.
LEPRA. Doença que ataca a pele das pessoas; embora seja curável em
nossos dias, é uma moléstia grave e apresenta-se em diferentes formas. Nos
tempos bíblicos, não havia tratamento disponível para esta enfermidade,
que causava sérias desfigurações no físico dos infectados. Geralmente os
sinais da doença apareciam primeiro no rosto. No Antigo Testamento, os
leprosos eram isolados. Levítico 13 oferece descrições detalhadas de alguns
dos sintomas das enfermidades consideradas “impurezas cerimoniais”. De
acordo com os sintomas, a pessoa ficava isolada da comunidade por um
determinado período de tempo. Às vezes esse isolamento durava alguns
anos. Se os sintomas desaparecessem com o tempo, a pessoa voltava à vida
normal, mas somente depois da verificação do sacerdote, o qual dava a
palavra final nesta questão.
No Novo Testamento, vários leprosos encontraram-se com Jesus. Assim
como fazia com outros grupos marginalizados, Cristo os aceitava,
conversava com eles e os curava (Mt 8.2,3; 17.2; 26.6; Mc 14.3; Lc 7.22;
etc.). O único leproso citado pelo nome foi Simão (Mc 14.3), o qual
proporciona um interessante exemplo de como Cristo era inteiramente
capaz de aceitar as pessoas socialmente desprezadas. Mateus e Marcos
registram que Jesus jantou na casa dele (Mt 26.6,7; Mc 14.3). Veja Simão, o
leproso. P.D.G.
LEVI. 1. Terceiro filho de Jacó com sua esposa Lia. Os teólogos
discordam quanto à sua etimologia, pois sugerem ser uma derivação do
nome da mãe (o qual significa “vaca selvagem”) ou do termo “reivindicar”.
Entretanto, seu significado fica claro no relato de seu nascimento. Quando
ele nasceu, Lia proclamou: “Agora esta vez se unirá meu marido comigo”
(Gn 29.34). Ao formar um jogo de palavras, baseado no verbo “unir-se”,
declarou o nome do filho. No contexto imediato, este termo refletia a
rivalidade contínua entre ela e sua irmã Raquel (cf. v. 30). Como epônimo
da tribo dos levitas, o nome de Levi tem uma conotação com Israel, a
audiência original, pois eles desempenharam um papel significativo na
preservação da unidade (aliança) entre Deus e a nação.
Somente dois episódios nas Escrituras citam o nome de Levi
explicitamente. O primeiro, em Gênesis 34, relata como ele e seu irmão
Simeão vingaram o estupro da única irmã deles, Diná. Depois de convencer
os moradores de Siquém a se circuncidar, como parte dos arranjos para que
Siquém, filho de Hamor, pudesse casar-se com ela, os dois irmãos atacaram
a cidade enquanto os homens se recuperavam da operação e massacraram
todos os moradores do sexo masculino. Embora o ato fosse condenado por
Jacó (Gn 34.30) e tenha-se tornado a razão por que ele os reprovou na
bênção patriarcal (Gn 49.5), ainda assim existe algo positivo nisso. Esse ato
de vingança foi similar ao zelo mortal demonstrado pelos levitas (Êx
32.2529; Nm 25.6-13). Com relação aos moradores de Siquém, um bom
resultado foi alcançado — os habitantes de Canaã passaram a temê-los e os
deixaram em paz (Gn 35.5). Para a audiência original, essa ação teria
inspirado um pouco de medo dos levitas, os quais eram encarregados de
guardar o Tabernáculo e os utensílios sagrados e inspirar a santidade entre o
povo.
A última menção de Levi, filho de Jacó, foi na “bênção” que recebeu
junto com Simeão, quando o pai deles estava no leito de morte (Gn 49.5-7).
Israel demonstrou seu desagrado com o ato de vingança dos dois, que
demonstrou mais interesse pessoal do que preocupação com a justiça divina
(cf. Gn 35.30). Esta interpretação é reforçada pela possibilidade de que os
“touros” referidos em Gênesis 49.6 (em algumas versões no singular)
representem o próprio Jacó. O zelo de Levi e Simeão “jarretou”, ou seja,
colocou a vida do patriarca em risco. Veja também Levitas.
2. Mencionado na genealogia apresentada por Lucas, que vai de
Jesus até Adão (Lc 3.24). Era filho de Melqui e pai de Matã, provavelmente
avô de José.
3. Outro nome citado na genealogia apresentada por Lucas. Era
filho de Simeão e pai de outro Matã (Lc 3.29).
4. Nome dado em algumas ocasiões ao apóstolo Mateus (Mc
2.14). Depois de ouvir o chamado de Jesus para segui-lo, Levi deixou seu
trabalho e obedeceu. Logo depois ofereceu um grande banquete aos colegas
cobradores de impostos, a fim de apresentar-lhes o Cristo (Lc 5.27-29). Para
mais detalhes, veja Mateus. P.D.G.
LEVITAS E SACERDOTES
Os levitas descendiam de Levi, terceiro filho de Jacó e progenitor de uma
das doze tribos da nação de Israel. O nome deles, como o do epônimo, dava
a ideia de unir ou aderir. Em Números 18.2, Moisés fez um jogo de palavras
com o verbo “unir” em suas instruções aos levitas. De acordo com o texto,
deveriam se juntar ao serviço de Arão, o qual era também levita, para a
administração do Tabernáculo (Nm 18.6; Êx 38.21). No compromisso
inicial deles, de preservar a santidade no acampamento, eram vistos como o
epônimo, no zelo para com Deus (Êx 32.27,28; veja Gn 34.2530; 49.5).
Assim como Deus reivindicou todos os primogênitos em seu juízo sobre
o Egito, na noite da Páscoa, solicitou todos os primogênitos de Israel para
seu serviço (Êx 13.2). O meio, entretanto, para se efetivar o desejo divino,
foi a escolha de toda uma tribo para esse fim (Nm 3.12ss). Por isso, os
levitas não receberam herança tribal, pois o Senhor seria a herança deles (Dt
10.9). Pelo contrário, por meio do sustento dos dízimos e das cidades que
receberam em toda a nação, sobreviveriam, sustentados diretamente pelas
mãos de Deus (Lv 27.32ss; Nm 18.21,24; 35.1-8).
O significado desta substituição era que os levitas não agiriam
estritamente como uma classe clerical profissional, mas como
representantes de cada família de Israel. Embora tivessem certas funções
que lhes eram restritas, os leigos deveriam buscar meios de imitar as
funções dos levitas em suas próprias áreas de responsabilidade.
Havia três classes distintas entre os levitas. A identidade mais ampla
pertencia aos designados “levitas”. Inicialmente, constituía-se de todos os
membros da tribo, e suas responsabilidades gerais relacionavam-se ao
Tabernáculo (Nm 3.6ss). Depois da construção do Templo, suas obrigações
foram adaptadas para atender aos cultos no Santuário (1 Cr 23.24 ss).
Dentro da tribo havia os descendentes de Arão, denominados “sacerdotes”
(Êx 28.1; 30.30; 40.15). Suas obrigações relacionavam-se com a oferta dos
sacrifícios e com o próprio serviço no santuário — isto é, o lugar santo (Lv
1 a 7). Este privilégio, entretanto, não era reservado perpétua nem
automaticamente para a família de Arão, como se observa quando Ezequiel
promoveu os descendentes de Zadoque a essa condição (Ez 44.15,16),
devido à infidelidade implícita dos descendentes dele.
Dentre os sacerdotes, havia o “sumo sacerdote”. Devia ser descendente
de Finéias, neto de Arão, e exercia o cargo de forma vitalícia (Nm 25.10-
14). Eles vestiam os trajes de Arão (Êx 28), os quais eram um padrão do
Tabernáculo, para significar que o próprio sacerdote era uma morada
sagrada de Deus. Desempenhavam a função especial de fazer a oferta
expiatória anual no Santíssimo Lugar, no Dia da Expiação (Lv 16).
Os levitas exerciam seu ministério em duas direções. Em alguns
aspectos, representavam o povo diante de Deus; em outros, eram os
representantes do Senhor diante do povo. A primeira posição é ilustrada na
cerimônia das ofertas e a segunda na determinação das restrições para
preservação da santidade ao redor do Tabernáculo. Ambas as dimensões do
trabalho dos levitas estavam relacionadas com a função primária deles —
promover a santidade do povo. Tinham de cumprir as implicações da
determinação de Deus de que o povo devia ser santo como Ele próprio é
santo (Lv 11.44,45).
O trabalho dos levitas também é visto em termos das similaridades e
diferenças com o povo de modo geral. Eram diferentes em termos da
posição única que ocupavam e das funções peculiares que exerciam, isto é,
o trabalho no Tabernáculo/Templo, e a oferta dos sacrifícios,
respectivamente. Também tinham de cumprir elevadas exigências de
perfeição pessoal (Lv 21.18-23). Precisavam guardar a presença santa,
mediante a manutenção dos leigos afastados (Nm 1.53; 3.10). Neste último
aspecto, tinham a função bem conhecida no antigo Oriente Médio de
sacerdote/soldado que guardava o templo/palácio dos deuses. Em seu papel
único, os levitas serviam para lembrar a Israel que Deus é santo.
Os levitas, porém, eram semelhantes ao povo no sentido de que Israel
devia ser um reino de sacerdotes e uma nação santa (Êx 19.5,6). Suas
funções sacerdotais eram um paradigma para as pessoas comuns imitar. Por
exemplo, assim como os levitas desfaziam qualquer presença impura nas
imediações do Tabernáculo, da mesma forma o povo de Israel devia impedir
qualquer presença impura na esfera de ação deles — a nação como um todo
(exemplo, os falsos profetas em Dt 13.5 ou a guerra santa em geral). Este
princípio de imitação é simbolizado na maneira como as pessoas usavam
um cordão azul na roupa (Nm 15.38), como um lembrete de sua função
paralela à do sumo sacerdote (Êx 28.31).
Em suas responsabilidades mais amplas, os levitas também eram
encarregados do ensino (Dt 32.10; Ml 2.5-7), das questões judiciais (2 Cr
19.8,11) e do discernimento (Dt 33.8; 1 Sm 23.6-12). Tudo isso com o
objetivo de que Israel fosse uma nação distinta e separada, ou seja, santa,
como povo de Deus, não só na vida religiosa, mas em todos os aspectos da
conduta nacional.
No Novo Testamento, particularmente no livro de Hebreus, vemos os
crentes em Cristo atingir a condição plena do reino sacerdotal (Ap 1.6;
5.10), por meio de Jesus, nosso Sumo Sacerdote (Hb 7 e 8). O que o
sacerdócio levítico nunca faria (Hb 10.4), embora tudo apontasse para
Cristo (Hb 9.8,9), Jesus realizou de uma vez por todas e para toda a
humanidade (Hb 9.11,12). M.G.
LIA. Eclipsada pela irmã (Gn 29.17), casada por meio de uma fraude
(29.22-26), desprezada pelo marido, até mesmo sua morte e sepultamento
foram mencionados por acaso muito tempo depois (49.31). Consciente de
sua posição desfavorável (29.30-33), Lia é uma das figuras mais tristes da
história bíblica. Deus, porém, em sua graça, deu-lhe compensações e,
embora conhecesse as indignidades concernentes à poligamia (30.14-16),
ela encontrou realização na maternidade (30.13) e ocupou um lugar único
nos propósitos divinos, como a principal fundadora do povo de Deus (Rt
4.11). Algumas versões registram Léia. J.A.M.
LIBNI. 1. Filho de Gérson e irmão de Simei. Foi líder do clã dos libnitas.
Era neto de Levi (Êx 6.17; Nm 3.18, 21; 26.58; 1 Cr 6.17, 20).
2. Levita, descendente de Merari, era filho de Mali (1 Cr 6.29).
LÍDIA. As duas referências a essa mulher piedosa estão em Atos
16.14,40. Descrita como uma cristã temente a Deus, foi a primeira a aceitar
a mensagem de Paulo, assim que ele chegou à Macedônia. Era da cidade de
Tiatira; fabricava e vendia roupas feitas de púrpura, uma ocupação que
sugere que sua clientela pertencia à alta sociedade. Foi um exemplo de
hospitalidade, pois recebeu o apóstolo Paulo em sua casa logo após o
batismo dela. Mais tarde, hospedou-o novamente, durante outra de suas
viagens missionárias.
LINO. Um dos amigos de Paulo que enviaram saudações a Timóteo, no
final da segunda carta do apóstolo a este discípulo (2 Tm 4.21). Paulo a
escreveu da prisão em Roma e menciona Pudente, Cláudia, Êubulo e “todos
os irmãos”, os quais também mandaram lembranças a Timóteo. Irineu e
Euzébio disseram que Lino tornou-se o primeiro bispo de Roma, depois da
morte do apóstolo Paulo.
LIQUI. Líder na tribo de Manassés e um dos filhos de Semida (1 Cr
7.19).
LISÂNIAS. Mencionado em Lucas 3.1 como parte do contexto histórico
e político da época do nascimento de João Batista. Era “tetrarca de
Abilene”. Veja também Herodes e Filipe.
LÍSIAS. Veja Cláudio Lísias. Este tribuno romano comandava o
destacamento de Jerusalém na época em que Paulo foi preso (At 23.26).
Mais tarde, durante o julgamento do apóstolo perante Félix, as audiências
foram adiadas até que Lísias chegasse (At 24.22).
LÓ. Como órfão (Gn 11.27,28), primeiro fez parte da família do avô
(11.31) e depois (12.5) acompanhou o tio Abraão em sua jornada para
Canaã. Por esta época, ele já possuía sua própria família e propriedades (Gn
13.5) e, numa terra já demasiadamente povoada (13.7), o convívio entre os
dois grandes grupos tornou-se impossível, surgindo conflitos inevitáveis.
Por sugestão de Abraão, Ló fez uma escolha decisiva e fatal (v. 8). Em
essência, foi a escolha da prosperidade (v. 10), com o risco da perda dos
valores morais e do favor divino (v. 13). Depois disto, a história de Ló
segue um gráfico descendente: “até Sodoma” (Gn 13.12)...; “habitava em
Sodoma” (Gn 14.12)...; “sentado à porta de Sodoma” (Gn 19.1). Da
separação do povo de Deus (Gn 12.4,5) até o estabelecimento em Sodoma
foram três estágios. O apóstolo Pedro diz que Ló encontrava-se em
constante conflito de consciência (2 Pe 2.7,8), porque vivia sempre
situações comprometedoras, que o envolviam rapidamente (Gn 19.8); sabia
o que era certo diante de Deus (2 Pe 2.7,8), mas, mesmo sob a ameaça de
juízo, apegava-se a Sodoma (Gn 19.16); tinha-se identificado demais com a
cidade escolhida, a fim de dar um testemunho efetivo ali (vv. 9,14); tinha
deixado sua fé sem uso por tanto tempo que não podia exercitá-la quando
precisou (vv. 18-20); sua família não o apoiava mais nas coisas
concernentes a Deus (vv. 26,30-36). O coração de sua esposa estava em
Sodoma e suas filhas tinham apenas o modelo do mundo para seguir (v. 31)
— mas conheciam o próprio pai suficientemente para tramar contra seus
valores morais com a confiança de que ele havia perdido seu caráter de tal
maneira que não resistiria.
Ló, entretanto, não foi esquecido pelo Senhor (Gn 19.29; 2 Pe 2.9). Na
época do juízo contra Sodoma, dois anjos foram enviados à cidade
condenada para tirá-lo de lá, junto com qualquer parente que o
acompanhasse. A corrupção moral daquele lugar foi evidenciada (Gn 19.5)
pela atitude dos moradores, determinados a sujeitar os recém-chegados a
práticas sexuais; a degeneração pessoal de Ló também foi demonstrada em
sua disposição de sacrificar as próprias filhas, para proteger seus hóspedes
(vv. 6-8). Não é de estranhar que seus concidadãos e os futuros genros (vv.
9,14) o viam apenas como um intrometido e uma piada sem graça! O
envolvimento, no qual entraram com tanta facilidade, trouxe consigo a
perda do caráter pessoal e da influência. Ainda assim, mesmo para um
candidato tão relutante à salvação (v. 16), a misericórdia soberana
prevaleceu e o incidente permanece como um exemplo brilhante da graça
de Deus. O fato de que “Deus lembrou-se de Abraão, e tirou a Ló do meio
da destruição” (v. 29) demonstra o princípio de que a família permanece no
centro da operação da aliança divina. J.A.M.
LO-AMI (Heb. “não meu povo”). Nome cheio de significado profético
fornecido pelo Senhor, para que Oséias colocasse em seu terceiro filho com
sua esposa Gômer (Os 1.9). O primeiro deles, um menino, recebera o nome
de Jezreel, pois o Senhor disse: “Põe-lhe o nome de Jezreel, porque daqui a
pouco visitarei o sangue de Jezreel sobre a casa de Jeú, e farei cessar o
reino da casa de Israel. Naquele dia quebrarei o arco de Israel no vale de
Jezreel” (vv. 4,5). O segundo filho do casal, uma menina, foi chamada de
Lo-Ruama (Heb. “desfavorecida”). Por meio das palavras do profeta e das
circunstâncias de sua vida familiar, Deus mostrava a Israel que uma vez
após a outra o povo fora infiel a Ele. Por isso, castigá-lo-ia em breve. A
desobediência do povo faria com que o Senhor não mostrasse mais
misericórdia a Israel, o reino do Norte, e nem mais perdoasse (Os 1.6). O
Senhor então ordenou que Oséias chamasse seu terceiro filho, um menino,
de Lo-Ami: “porque vós não sois meu povo, nem eu serei vosso Deus” (v.
9).
Apesar dessas duras advertências, Oséias também proporcionou ao povo
a promessa da futura restauração: “No lugar onde se lhes dizia: Vós não
sois meu povo, se lhes dirá: Vós sois filhos do Deus vivo” (v. 10). Esta foi a
bênção mencionada pelo apóstolo Paulo em Romanos 9.25,26. Ali, ele
aplicou a promessa de esperança à sua própria época e ao advento do
Evangelho de Cristo aos judeus e gentios que tivessem fé. O cumprimento
da mensagem de Oséias, portanto, foi visto no vinda de Jesus como
Salvador. Cristo trouxe a misericórdia e o perdão de Deus e fez para si
mesmo um povo que seria chamado “filhos do Deus vivo”.
P.D.G.
LÓIDE. Avó de Timóteo (2 Tm 1.5). Provavelmente Lóide e Eunice, a
mãe deste jovem, converteram-se ao cristianismo na primeira visita de
Paulo a Listra (At 14.820), pois Timóteo demonstrava estar a par das
perseguições que Paulo sofreu quando esteve lá (2 Tm 3.11; At 16.1).
Embora se saiba muito pouco tanto sobre Lóide como sobre Eunice, a
influência das duas, ao levar Timóteo a conhecer e amar ao Senhor das
Escrituras, era considerável e foi elogiada pelo apóstolo Paulo (2 Tm 3.14-
16). O conhecimento das Escrituras levou Timóteo ao entendimento da
salvação por meio da fé em Cristo e serviu como a base que o preparou tão
bem para o ministério de evangelista, para o qual o Senhor o chamara por
meio de Paulo.
Numa época em que a ideia sobre a família quase não existe mais na
maioria dos países ocidentais, é extremamente importante observar como
uma avó e uma mãe crentes conseguem influenciar a vida de uma criança,
ao vê-la crescer e tornar-se um cristão sincero. Tal encorajamento à fé,
através das gerações, é freqüentemente visto na Bíblia. O fato de que
certamente Timóteo tinha um pai não-cristão serve de esperança e consolo
para os que se encontram em situação semelhante hoje. Avós cristãos que
vêem os netos crescer sem receber um ensino bíblico devem reconhecer o
impacto de tal acontecimento. Por isso, devem ensinar-lhes a Palavra de
Deus. P.D.G.
LO-RUAMA (Heb. “desfavorecida”). Filha do profeta Oséias com sua
esposa Gômer, recebeu este nome do Senhor. Veja também como são
chamados os outros filhos do casal: Lo-Ami e Jezreel. O termo Lo-Ruama
estava cheio de significado profético. O Senhor disse que ela seria chamada
assim, “porque eu não tornarei mais a compadecer-me da casa de Israel,
mas tudo lhe tirarei” (Os 1.6,8). Os nomes dos filhos de Oséias
demonstrariam o quadro da rejeição da aliança por parte do povo de Israel,
em vista da contínua rebelião e desobediência. Deus estava prestes a
suspender seu amor e sua misericórdia. O primeiro filho do casal, um
menino, foi chamado pelo Senhor de Jezreel, “porque daqui a pouco
visitarei o sangue de Jezreel sobre a casa de Jeú, e farei cessar o reino da
casa de Israel. Naquele dia quebrarei o arco de Israel no vale de Jezreel”
(vv. 4,5). O terceiro filho, também menino, foi chamado de Lo-Ami, que
significa (não meu povo), “porque vós não sois meu povo, nem eu serei
vosso Deus” (v. 9).
LOTÃ. Filho de Seir, o horeu, e chefe entre seu povo, que vivia em
Edom (Gn 36.20, 29; 1 Cr 1.38). Sua irmã chamavase Timna; seus filhos
foram Hori e Hemã (Gn 36.22; 1 Cr 1.39).
LUCAS
Lucas, que talvez seja um apelido carinhoso para o nome Lúcio, foi um
dos líderes da Igreja primitiva e acompanhou Paulo em várias viagens
missionárias (note o pronome “nós” em Atos 16.10-17; 20.5 a 21.18; 27.1 a
28.16). Ambos eram amigos, e o apoio de Lucas foi um encorajamento para
o apóstolo. Tradicionalmente, Lucas é considerado o “médico amado” (Cl
4.14), e algumas faculdades católicas de medicina o homenageiam nas
comemorações do dia de São Lucas.
Existem, entretanto, apenas três referências específicas a Lucas no Novo
Testamento. Ao escrever para Filemom, Paulo claramente o mencionou,
junto com Marcos, Aristarco e Demas, como “meus cooperadores” (Fm 24).
De acordo com 2 Timóteo, o apóstolo mencionou com uma atitude de
apreciação a presença de Lucas, quando disse: “Só Lucas está comigo” (2
Tm 4.11). Desde que seu nome é mencionado numa passagem de
Colossenses depois de todos os obreiros judeus, geralmente se conclui que
era gentio (Cl 4.10-14).
O Prólogo Antimarcionita declarava que Lucas era nativo de Antioquia
da Síria, que jamais se casou e morreu em Boeotia (um distrito da Grécia
antiga), com 84 anos de idade. Alguns reforçam esta hipótese, ao mencionar
suas referências detalhadas sobre Antioquia em Atos 6.5; 11.19-27; 13.1;
14.26; 15.22-35. Qualquer que seja o caso, Lucas era um discípulo dedicado
e demonstrou grande interesse pela formação e pelo desenvolvimento da
Igreja.
Embora pouco se saiba sobre o passado de Lucas, descobre-se muitas
coisas sobre seus interesses e preocupações quando se lê os dois livros do
NT de sua autoria — o Evangelho de Lucas e o livro de Atos. Os dois
juntos constituem cerca de 27% do Novo Testamento. Certamente a
perspectiva de Lucas sobre a vida de Cristo e a origem do cristianismo é
extremamente importante para a boa compreensão da mensagem do NT.
Destacamos nove aspectos dessa perspectiva.
Lucas, o historiador
MARCOS, JOÃO
Marcos não deixa dúvidas aos leitores sobre o principal assunto de seu
evangelho, quando declara na primeira linha de seus escritos: “Princípio do
evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus” (Mc 1.1). No curso de seu livro,
entretanto, demonstra como o entendimento do significado dessas
declarações sobre Jesus diferiam dramaticamente da expectativa popular.
Muitos judeus esperavam o advento do Messias que libertaria o povo de
Deus de seus opressores. Os discípulos compartilhavam esta esperança e
discordavam das declarações de Jesus de que a missão para a qual Deus o
chamara o levaria à morte (Mc 8.31; 9.31; 10.23). Quando Pedro tentou
dissuadi-lo, Jesus lhe disse: “Não pensas nas coisas de Deus, mas, sim, nas
dos homens” (Mc 8.33).
O padrão da vida de Jesus que Marcos coloca diante dos discípulos foi
resumido desta maneira: “Pois o Filho do homem não veio para ser servido,
mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Mc 10.45). Cristo,
na condição de Filho de Deus, mostrou a vitalidade desse relacionamento,
quando seguiu o caminho da obediência que o levou até a cruz. Sua oração
submissa a Deus foi: “Não seja, porém, o que eu quero, e, sim, o que tu
queres” (Mc 14.36). Da mesma maneira, os discípulos são chamados para
tomar a cruz e seguir após Ele (8.34).
Marcos revela que este era o plano de Deus para Jesus por meio da
confissão do centurião que estava presente na crucificação:
“Verdadeiramente este homem era o filho de Deus!” (Mc 15.39). O relato
da ressurreição (16.1-8) torna-se a base para a promessa do retorno glorioso
de Cristo (8.38; 13.26; 14.62) e a vindicação à vida de abnegação para a
qual os discípulos também são chamados (10.28,29). D.K.L.
MARESSA (Heb. “topo da colina”).
1. Um dos filhos de Calebe, sobrinho de Jerameel. Foi pai de
Hebrom (1 Cr 2.42).
2. Mencionado em 1 Crônicas 4.21, era filho de Lada e neto de
Leca, da tribo de Judá. Era líder do clã dos homens que trabalhavam com
linho e viviam em Bete-Asbéia.
MATEUS
O apóstolo
O Evangelho
Seus antecedentes
De acordo com Papias, um escritor cristão que viveu em c. 150 anos d.C.,
citado por Eusébio, “Mateus compôs seu evangelho na língua hebraica e
todos o traduziram da maneira em que foram capazes”. Não existe,
entretanto, nenhuma cópia antiga do evangelho de Mateus em hebraico ou
aramaico. Seu texto mostra sinais de dependência do de Marcos e um estilo
grego melhor do que o seu predecessor. Muitos eruditos modernos,
portanto, não consideram o testemunho de Papias. Não é algo inconcebível,
porém, que Mateus tenha elaborado um “primeiro esboço” do seu
evangelho, mediante o uso de uma língua semítica, e mais tarde ele próprio
ou outra pessoa o tenha traduzido e/ou expandido para formar a edição que
conhecemos hoje, a partir do evangelho de Marcos. É muito pouco provável
que esse primeiro esboço de Mateus estivesse de alguma forma alinhado
com as linhas de “Q” (a fonte de material dos discursos comuns a Mateus e
Lucas reconstituída). Outros sugerem que as palavras de Papias deveriam
ser interpretadas como “Mateus compôs seu evangelho num estilo
hebraico”, o que seria correto com relação a certas porções, principalmente
onde cita as palavras e ensinos de Jesus; entretanto, a tradição de que
Mateus escreveu alguns textos numa língua semítica era bem difundida
entre os antigos escritores cristãos, de modo que um ou dois evangelhos
apócrifos, atribuídos ao meio judaicocristão, parecem ser pouco mais do
que revisões e corrupções da narrativa de Mateus. Os estudiosos modernos
freqüentemente perguntam se a associação tradicional deste evangelho com
o apóstolo Mateus é justificada. Hoje em dia há uma concordância bem
difundida de que o autor do livro era um judeu cristão com um certo nível
de conhecimento da literatura grega, e isso encaixa-se na possibilidade de
um judeu coletor de impostos de uma região cosmopolita como a Galiléia;
mas por que um apóstolo tomaria como base o evangelho de Marcos, que
não foi escrito por um dos doze discípulos? Uma resposta plausível seria
que o próprio Marcos, conforme sugerem as antigas tradições, coletou a
maior parte de suas informações de Pedro. Dada a autoridade deste apóstolo
na Igreja primitiva e sua participação em certos eventos (junto com Tiago e
João), nos quais os outros nove discípulos não estiveram presentes (por
exemplo, a Transfiguração e o Getsêmani), é inteiramente compreensível
que Mateus desejasse obter uma narrativa do ministério de Jesus do ponto
de vista de Pedro e segui-la onde fosse apropriado para seus propósitos.
Os propósitos do Evangelho
Mateus e Jesus
Mateus e a Igreja
Data
Um consenso de eruditos atualmente data o evangelho de Mateus em
uma das décadas entre 70 e 100 d.C. No início do século II, escritores como
Inácio e obras como a Didaquê começavam a citar Mateus, de forma que
esse livro provavelmente foi concluído naquela época. Alguns vêem o
rompimento com o judaísmo, implícito nesse evangelho, como um
indicador de que provavelmente ele foi escrito depois de 85 d.C., quando as
relações dos judeus com os cristãos tornaram muito difícil para qualquer
pessoa que cresse em Jesus freqüentar as sinagogas. É nesse período que
muitos datam a birkath ha-minim, uma maldição sobre todos os hereges que
se introduziram na liturgia judaica. Por outro lado, é cada vez mais
questionado se qualquer edito imperial baniu os cristãos das casas de
adoração judaicas. Desde 40 d.C., o livro de Atos mostra Paulo expulso
sistematicamente das sinagogas por causa do seu ensino “inflamado”, de
maneira que tais tensões não se restringiram ao final do século I. Outros
eruditos vêem em textos como Mateus 22.6,7 uma clara referência à
destruição de Jerusalém pelos exércitos romanos em 70 d.C., por isso datam
o evangelho de Mateus pelo menos depois daquele ano. Este argumento,
porém, só funciona se Jesus não pudesse predizer genuinamente eventos
futuros ou se assumirmos que esses versículos realmente se referem à queda
de Jerusalém. A linguagem utilizada de fato é reminescente de muitas
descrições judaicas do julgamento de Deus sobre seus inimigos e não
corresponde na realidade aos eventos ocorridos em 70 d.C. (na maior parte
somente o Templo foi queimado e não toda a cidade), de modo que é muito
difícil colocar tanto peso sobre um argumento para a data deste evangelho
baseado unicamente nesses versículos.
O antigo escritor do século II, Irineu, atribui a composição do evangelho
de Mateus ao período “em que Paulo pregou o evangelho e organizou a
igreja em Roma”, o que sugere uma data no começo dos anos 60. Se
Marcos, entretanto, é datado no meio desta referida década, como muitos
dizem, talvez devêssemos imaginar uma data apenas levemente mais
adiante. Certas referências — às taxas do Templo (Mt 17.2427), às ofertas
de sacrifícios (5.23,24) e aos rituais do culto (23.16-22) reforçam essa
identificação, já que depois da destruição do Templo, em 70 d.C., tais fatos
não foram mais praticados ou deixaram de ser relevantes.
Um resumo do conteúdo
MELQUISEDEQUE
Em hebraico, seu nome significa “rei de justiça” ou “meu rei é justo”; no
texto grego do Novo Testamento, foi apenas transliterado. Este vocábulo
aparece numa seção histórica (Gn 14), num texto poético (Sl 110) e na parte
doutrinária de uma epístola do Novo Testamento (Hb 5 a 7). A primeira
menção deste termo está datada em aproximadamente dois milênios antes
de Cristo, a segunda em aproximadamente um milênio e a terceira na
segunda metade do século I depois do nascimento de Cristo (Gn 14.18; Sl
104.4; Hb 5.6, 10; 6.20; 7.1,10,11,15,17).
MOISÉS
Moisés era filho de Anrão (da tribo de Levi) e Joquebede; era irmão de
Arão e Miriã. Nasceu durante os terríveis anos em que os egípcios
decretaram que todos os bebês do sexo masculino fossem mortos ao nascer.
Seus pais o esconderam em casa e depois o colocaram no meio da
vegetação, na margem do rio Nilo, dentro de um cesto de junco. A
descoberta daquela criança pela princesa, filha de Faraó, foi providencial e
ela salvou a vida do menino. Seu nome, que significa “aquele que tira” é
um lembrete desse começo obscuro, quando sua mãe adotiva lhe disse: “Eu
o tirei das águas”.
Mais tarde, o Senhor o chamou para ser líder, por meio do qual falaria
com Faraó, tiraria seu povo do Egito e o levaria à Terra Prometida. No
processo desses eventos, Israel sofreu uma transformação, pois deixou de
ser escravo de Faraó para ser o povo de Deus. Os israelitas formaram uma
comunidade, mais conhecida como o povo da aliança, estabelecida pela
graça e pela soberania de Deus (veja Aliança).
O Antigo Testamento associa Moisés com a aliança, a teocracia e a
revelação no monte Sinai. O grande legislador foi o mediador da aliança
mosaica [do Sinai] (Êx 19.3-8; 20.18,19). Esse pacto foi uma administração
da graça e das promessas, pelas quais o Senhor consagrou um povo a si
mesmo por meio da promulgação da Lei divina. Deus tratou com seu povo
com graça, deu suas promessas a todos que confiavam nele e os consagrou,
para viverem suas vidas de acordo com sua santa Lei. A administração da
aliança era uma expressão concreta do reino de Deus. O Senhor estava
presente com seu povo e estendeu seu governo especial sobre ele. A
essência da aliança é a promessa: “Eu serei o vosso Deus e vós sereis o meu
povo” (Êx 6.7; Dt 29.13; Ez 11.20).
Moisés foi exaltado por meio de sua comunhão especial com o Senhor
(Nm 12.68; Dt 34.10-12). Quando Arão e Miriã reclamaram contra a
posição privilegiada que ele ocupava, como mediador entre Yahweh e
Israel, ele nada respondeu às acusações (Nm 12.3). Pelo contrário, foi o
Senhor quem se empenhou em defender seu servo (Nm 12.6-8).
O Senhor confirmou a autoridade de Moisés como seu escolhido, um
veículo de comunicação: “A ele me farei conhecer... falarei com ele...” (v.
6; veja Dt 18.18). Separou-o como “seu servo” (Êx 14.31; Dt 34.5; Js 1.1,2)
— uma comunhão de grande confiança e amizade entre um superior e um
subalterno. Moisés, de maneira sublime, permaneceu como servo de Deus,
mesmo depois de sua morte; serviu como “cabeça” da administração da
aliança até o advento da Nova aliança no Senhor Jesus Cristo (Nm 12.7;
veja Hb 3.2, 5). De acordo com este epitáfio profético de seu ministério,
Moisés ocupou um lugar único como amigo de Deus. Experimentou o
privilégio da comunhão íntima com o Senhor: “E o Senhor falava com
Moisés” (Êx 33.9).
A diferença fundamental entre Moisés e os outros profetas que vieram
depois dele está na maneira direta pela qual Deus falava com este seu servo.
Ele foi o primeiro a receber, escrever e ensinar a revelação do Senhor. Essa
mensagem estendeu-se por todos os aspectos da vida, inclusive as leis sobre
santidade, pureza, rituais, vida familiar, trabalho e sociedade. Por meio de
Moisés, o Senhor planejou moldar Israel numa “comunidade separada”. A
revelação de Deus os tornaria imunes às práticas detestáveis dos povos
pagãos, inclusive a adivinhação e a magia. Esta palavra, dada pelo poder do
Espírito, transformaria Israel num filho maduro.
A posição e a revelação de Moisés prefiguravam a posição única de
Jesus. O grande legislador serviu ao reino de Deus como um “servo fiel”
(Hb 3.2,5), enquanto Cristo é “o Filho de Deus” encarnado: “Mas Cristo,
como Filho, sobre a sua própria casa” (Hb 3.6). Moisés, como o Senhor
Jesus, confirmou a revelação de Deus por meio de sinais e maravilhas (Dt
34.12; veja também Êx 7.14 a 11.8; 14.5 a 15.21).
Embora Moisés ainda não conhecesse a revelação de Deus em Cristo, viu
a “glória” do Senhor (Êx 34.29-35). O apóstolo Paulo confirmou a graça de
Deus na aliança mosaica quando escreveu à igreja em Roma: “São
israelitas. Pertencem-lhes a adoção de filhos, a glória, as alianças, a lei, o
culto e as promessas. Deles são os patriarcas, e deles descende Cristo
segundo a carne, o qual é sobre todos, Deus bendito eternamente. Amém”
(Rm 9.4,5)
Moisés, o maior de todos os profetas antes da encarnação de Jesus, falou
sobre o ministério de outro profeta (Dt 18.15-22). Foi testemunha de Deus
para Israel de que um cumprimento ainda maior os aguardava: “Moisés, na
verdade, foi fiel em toda a casa de Deus, como servo, para testemunho das
coisas que se haviam de anunciar” (Hb 3.5). A natureza desse futuro não era
nada menos do que o resto que viria (Hb 4.1-13) em Cristo, por causa de
quem Moisés também sofreu (Hb 11.26).
A esperança escatológica da revelação mosaica não é nada menos do que
a presença de Deus no meio de seu povo. A escatologia de Israel começa
com as alianças do Senhor com Abraão e Israel. Moisés — o servo de Deus,
o intercessor, o mediador da aliança — apontava para além de sua
administração, para uma época de descanso. Ele falou sobre este direito e
ordenou que todos os membros da comunidade da aliança ansiassem pelo
descanso vindouro na celebração do sábado (heb. “descanso”), o sinal da
aliança (Êx 31.14-17) e da consagração de Israel a uma missão sagrada (Êx
31.13), a fim de serem abençoados com todos os dons de Deus na criação
(Dt 26.18,19; 28.3-14). Moisés percebeu dolorosamente que o povo não
entraria naquele descanso, devido à sua desobediência e rebelião (Dt 4.21-
25). Ainda assim, falou sobre uma nova dispensação, aberta pela graça de
Deus, da liberdade e da fidelidade (Dt 4.29-31; 30.5-10: 32.39-43). Ele
olhou para o futuro, para uma época de paz, tranqüilidade e plena alegria na
presença de Deus, de bênção e proteção na Terra Prometida (Dt 12.9,10;
25.19; Êx 33.14; Js 1.13).
Essa esperança, fundamentada na fidelidade de Deus (Dt 4.31), é
expressa mais claramente no testemunho final de Moisés, “o Hino do
Testemunho” (Dt 32). Nele, o grande legislador recitou os atos do amor de
Deus em favor de Israel (vv.1-14), advertiu contra a rebelião e o sofrimento
que isso acarretaria (vv.15-35) e confortou os piedosos com a esperança da
vingança do Senhor sobre os inimigos e o livramento do remanescente de
Israel e das nações (vv. 36-43). Fez até uma alusão à grandeza do amor de
Deus pelos gentios! (vv. 36-43; Rm 15.10).
O significado escatológico do Hino de Moisés reverbera nas mensagens
proféticas de juízo e de esperança, justiça e misericórdia, exclusão e
inclusão, vingança e livramento. A administração mosaica, portanto, nunca
tencionou ser um fim em si mesma. Era apenas um estágio na progressão do
cumprimento da promessa, aliás, um estágio importantíssimo!
Como precursor da tradição profética, Moisés viu mais da revelação da
glória de Deus do que qualquer outro homem no Antigo testamento (Êx
33.18; 34.29-35). Falou sob a autoridade de Deus. Qualquer um que o
questionasse desafiava a autoridade do Senhor. Israel encontrava conforto,
graça e bênção, porque em Moisés se reuniam os papéis de mediador da
aliança e intercessor (Êx 32.1 a 34.10; Nm 14.13-25). Ele orou por Israel,
falou ousadamente como seu advogado diante do Senhor e encorajou o
povo a olhar além dele, próprio, para Deus (veja Profetas e Profecias).
W.A.VG.
MOLIDE. Filho de Abisur e sua esposa Abiail; era líder na tribo de Judá
(1 Cr 2.29).
MOLOQUE. Um deus pagão, cujo nome anteriormente significava
“rei”, embora não haja certeza entre os estudiosos. Normalmente, está
relacionado com os amonitas (1 Rs 11.5,7 — também chamado de Milcom).
Pelas advertências que foram feitas aos israelitas quanto à proibição de
adorarem esse deus, acredita-se que seu culto envolvia sacrifícios humanos,
principalmnte de crianças (Lv 18.21; 20.2-5). Devido ao fato da Lei de
Deus ser tão severa na condenação dessa religião pagã, era algo
particularmente grave quando os próprios reis de Israel adotavam esse
culto. Os últimos anos do reinado de Salomão foram muito diferentes dos
primeiros, quando o rei e o povo seguiam ao Senhor Deus em todos os seus
caminhos. Posteriormente, desviaram-se em direção a outros deuses e não
obedeceram mais à Lei. Por causa dessa apostasia, quando até Moloque foi
adorado, a nação dividiu-se e dez tribos se separaram de Judá, formando o
reino do Norte (1 Rs 11.33).
Quando Josias subiu ao trono de Judá, como ficou conhecido o reino do
Sul, voltou para o Senhor e profanou o altar de Moloque em Tofete, a fim
de que não fosse mais usado para sacrifícios humanos (2 Rs 23.10,13).
Jeremias referiu-se a essa perversa adoração, realizada no vale de Ben-
Hinon (Jr 32.35; veja também 49.1-3; Is 57.9). O profeta Sofonias também
alertou o povo sobre o dia do Senhor, quando o juízo viria sobre os que
tentavam adorar a Deus e a Moloque ao mesmo tempo (Sf 1.5 — chamado
de Milcom). O culto a esse deus tornou-se tão notório que foi usado por
Estêvão como exemplo de rebelião e pecado, quando pregou o Evangelho
às multidões em Jerusalém (At 7.43).
Além da seriedade da adoração a uma divindade pagã, é claro que um
culto tão brutal, que envolvia sacrifícios de crianças, era especialmente
abominável a Deus e aos israelitas. Não é de estranhar, portanto, que tenha
permanecido como um exemplo da abominação do culto pagão, mesmo no
tempo do Novo Testamento.
P.D.G.
MORDECAI. 1. Listado em Esdras 2.2 e Neemias 7.7 como um dos
israelitas que retornaram para Jerusalém com Neemias depois do exílio na
Babilônia.
2. Da tribo de Benjamim, filho de Jair, pai adotivo de Ester, também é
chamado de Mardoqueu em algumas versões bíblicas (veja Ester). Vivia na
fortaleza de Susã durante o exílio do povo judeu, no reinado de Assuero
(Xerxes), onde criou aquela linda jovem como se fosse sua própria filha.
Depois de uma série de acontecimentos, Ester tornou-se rainha e Mordecai
distinguiu-se, quando denunciou um complô preparado para assassinar o
rei. As dificuldades começaram para ele quando se recusou a inclinar-se
diante de Hamã, o mais alto oficial da corte, o qual ficou furioso e
desenvolveu um plano para matar todos os judeus do mundo. Com a ajuda
da rainha Ester, Hamã foi denunciado ao rei e morto, e Mordecai recebeu o
cargo mais elevado no serviço do rei. Por meio de um decreto, os judeus
puderam defender-se e todos foram salvos.
A fidelidade de Mordecai para com seu próprio povo e seu compromisso
com a soberania de Deus nas questões de seu povo são vistas claramente na
resposta que deu a Ester, ao tentar persuadi-la a ir diante do rei para
interceder pelos judeus: “Pois se de todo te calares agora, socorro e
livramento doutra parte virá para os judeus, mas tu e a casa de teu pai
perecereis. E quem sabe se não foi para tal tempo como este que chegaste
ao reino?” (Et 4.14). S.C.
MOZA. 1. Mencionado em 1 Crônicas 2.46, era filho de Calebe e sua
concubina Efá, da tribo de Judá. Parece que teve dois irmãos por parte de
pai e mãe, chamados Harã e Gazez.
2. Filho de Zinri, da tribo de Benjamim, descendente do rei Saul; foi pai
de Bineá (1 Cr 8.36,37; 9.42,43).
MULHER SAMARITANA
O relato sobre a samaritana junto ao poço de Jacó somente é encontrado
no evangelho de João. O encontro de Cristo com esta mulher estrangeira é
parte integrante do propósito fundamental dos escritos deste apóstolo:
provar que Jesus é de fato o Filho de Deus e que a fé nele leva à vida eterna.
A procedência da mulher e a conversa que ambos tiveram mostra a
habilidade sobrenatural de Cristo de perscrutar os corações. O encontro
também confirma sua missão, ou seja, receber e salvar todo o que crê nele
(Jo 1.12).
Não foi por acaso que João colocou o encontro de Jesus com a
samaritana exatamente após a conversa noturna com o respeitável fariseu
Nicodemos. Cristo dissera ao distinto líder religioso que Deus amou ao
mundo de tal maneira que deu seu Filho unigênito (Jo 3.16). Assim, o
apóstolo mostra aos leitores gentios que este “mundo” incluía também os
samaritanos, um povo odiado pelos judeus, os quais os evitavam de todas as
maneiras possíveis. Para mais detalhes, veja Samaritanos.
Portanto, é suficientemente significativo que Jesus tenha optado por
viajar através da Samaria, em vez de escolher a rota alternativa
“aconselhável”, ao longo do rio Jordão. Entretanto, falar com uma
samaritana (nenhum rabino conversava abertamente com uma mulher)
significava ultrapassar todos os limites! Seu comportamento excêntrico
certamente deixou seus discípulos chocados e confusos (Jo 4.27).
Aquela mulher, porém, precisava ouvir a mensagem transformadora do
Salvador. Quando entendeu as boas novas, ela creu e imediatamente colheu
os benefícios celestiais. Talvez nunca imaginasse que o caminho que a
conduzia até o poço de Jacó um dia a levaria às portas do Reino de Deus. A
rotina diária de apanhar água transformou-se no agente pelo qual sua vida
foi totalmente mudada.
Ela era de Sicar, uma pequena vila perto de Siquém. O poço de Jacó
ficava a aproximadamente quinhentos metros de sua casa. Era costume das
mulheres da vila irem todas juntas ao poço, diariamente, a uma certa hora.
Ela, entretanto, foi sozinha, num horário que não era usual (a “hora sexta”,
quase meio-dia).
Quando a mulher chegou ao poço, encontrou Jesus sentado junto ao
mesmo. Sem dúvida, ficou surpresa por ver um judeu em território
samaritano. Cristo enviara os discípulos para comprar comida, de modo que
os dois estavam sozinhos. Ironicamente, foram necessidades físicas (sede e
falta de descanso, Jo 4.4-8) que colocaram o Filho de Deus e a mulher
samaritana no mesmo lugar. Esse encontro serve como uma bela ilustração
da encarnação. A divindade e a humanidade juntas para suprir a
necessidade humana.
Jesus pediu água à mulher. Sua resposta frívola revela claramente a
tensão que existia entre judeus e samaritanos (v. 9). Cristo, por sua vez,
ofereceu-lhe “água viva” (v. 10). Tal oferta surpreendeu a mulher, ao
perceber que Ele não tinha meios para tirar água do poço.
Suas mãos vazias e a oferta generosa fizeram com que ela questionasse
sua identidade. Ela lhe perguntou se Ele era maior do que o patriarca Jacó
(o qual ela chamou de “nosso pai”, talvez para reconhecer os ancestrais de
ambos os povos), que cavara o poço e bebera ele mesmo de sua água (vv.
11,12).
A réplica de Cristo foi ainda mais intrigante. A água viva que oferecia
saciaria a sede dela para sempre. De fato, a sua água, de natureza espiritual,
flui de dentro da pessoa para a vida eterna. Ela não precisaria trabalhar por
essa água, pois ela correria livremente em seu interior (vv. 13,14).
Naturalmente, a mulher não entendeu que esse dom da água viva nada
tinha que ver com o material, mas sim o espiritual. Ela pensava apenas em
termos de sua sede física. Isso está evidente em sua resposta. Queria a água
viva para não ter mais sede nem precisar mais caminhar até o poço (v. 15).
Jesus então lhe fez um pedido igualmente peculiar. Solicitou-lhe que
voltasse à cidade e chamasse seu marido (v. 16). Provavelmente, fez isso
por duas razões. Primeiro, era apropriado que um homem conversasse com
uma mulher ao lado do marido dela. Segundo, esse pedido exporia a
condição espiritual da mulher e suas mais profundas necessidades. Isso
também daria a Jesus uma oportunidade de revelar sua verdadeira
identidade como o Messias, o Salvador do mundo.
A samaritana prontamente informou a Jesus que não tinha marido. O
Senhor reconheceu que tal declaração era verdadeira e, de maneira
sobrenatural, revelou a sórdida história pessoal dela. Falou sobre seus
relacionamentos anteriores fracassados e seu atual estado de adultério (vv.
17,18). Essa referência ao seu passado vergonhoso, feita pelo Salvador,
certamente fez com que ela enrubescesse.
Jesus não tinha intenção de ser grosseiro ou desdenhoso. Apenas
mostrava a necessidade dela da verdadeira água viva. A samaritana tinha
uma sede que era muito mais intensa do que a física e somente Ele tinha os
meios de aliviar tal anseio. Obviamente, ela estava carente de amor, mas
tinha visto seus desejos se despedaçar sobre as rochas dos relacionamentos
quebrados. Cristo lhe oferecia um novo começo, por meio da água viva da
existência eterna.
Apoiado no argumento fundamental de seu livro (Jo 20.31), João mostra
que o Messias tinha a habilidade sobrenatural de sondar o coração das
pessoas, a fim de expor-lhes seus pecados e suas necessidades. O apóstolo
também demonstrou que Cristo tem os meios e a autoridade para conceder a
vida eterna.
A samaritana ficou tão perturbada pela revelação de sua vida que até
mudou de assunto! Aparentemente, tentava desviar a atenção de Jesus de
sua vida pessoal e entrou no assunto da religião. Por isso, perguntou sobre o
lugar certo da adoração.
Os judeus insistiam que a adoração era no Templo de Salomão, em
Jerusalém. Os samaritanos, por outro lado, afirmavam que o verdadeiro
centro de louvor era no monte Gerizim (o poço de Jacó estava localizado no
sopé desta montanha). Os samaritanos apoiavam essa pressuposição num
mandamento que Moisés dera ao povo de Israel antes de entrar na Terra
Prometida.
Depois que atravessassem o rio Jordão, seis tribos ficariam ao pé do
monte Gerizim para abençoar o povo. As outras seis ficariam no monte
Ebal, para pronunciar maldições (Dt 27.12,13). Os samaritanos concluíram
que este evento estabeleceu o monte Gerizim como o local da adoração a
Deus. Judeus e samaritanos constantemente viviam em discórdia por causa
dessa questão.
Jesus, entretanto, não entrou em tal debate. Pelo contrário, revelou à
samaritana uma verdade profunda sobre a natureza de Deus. O Senhor —
que é Espírito e não está confinado a um lugar — não pode ser adorado
apenas em um determinado local. Em vez disso, deseja que seus
verdadeiros adoradores tenham uma atitude determinada. Devem adorá-lo
em espírito e em verdade (Jo 4.21-24). Os verdadeiros adoradores, sejam
judeus ou samaritanos, devem ser abertos e honestos para com Deus.
De acordo com Jesus, a verdadeira adoração vem do coração. Deus exige
honestidade e transparência por parte do adorador. Até esse ponto, a mulher
samaritana escondia seu coração de Deus. Nesse momento, ela responde a
essas profundas verdades com uma outra declaração teológica. Disse a
Jesus que o “Cristo” estava próximo a chegar, e então ensinaria todas as
coisas (v. 25).
Com uma afirmação simples, Jesus revelou que era o Cristo, o qual ela
esperava (v. 26). A resposta imediata da mulher a essa revelação não é
registrada, mas suas ações mostram que fora profundamente tocada. Deixou
o jarro de água, correu de volta para a cidade e contou aos amigos sobre o
encontro que teve com Cristo (v. 28). É interessante notar o que ela disse ao
povo, quando voltou à cidade. Ela recebera muitas verdades espirituais em
seu encontro com Jesus: a verdadeira natureza de Deus, a verdadeira
natureza da adoração e a identidade de Jesus como o Messias. O que ela
proclamou para todos na cidade, entretanto, foi a verdade sobre si mesma.
A samaritana implorou para que fossem ao poço e vissem o homem que lhe
dissera tudo sobre sua vida. Depois, falou sobre a identidade dele como o
Cristo (v. 29). Parece que a habilidade de Jesus de sondar o coração dela foi
o que causou a impressão mais duradoura. Por meio de seu encontro com
Cristo, ela percebeu suas próprias necessidades. Este foi seu testemunho, o
qual impeliu os samaritanos a ir ao encontro do Senhor (v. 30).
Os samaritanos insistiram para que Jesus ficasse mais tempo e Cristo
permaneceu com eles por mais dois dias. Inicialmente, as pessoas creram
nele por causa do testemunho da mulher. Mas, quando ouviram suas
palavras, muitos creram que Ele era o Salvador do mundo (vv. 39-42).
O ponto principal do evangelho de João, no relato sobre a mulher
samaritana, tem dois aspectos: 1) o Messias, que é o Salvador do mundo,
possui a habilidade divina de sondar o coração humano e revelar a verdade
de Deus; 2) os que adoram ao Senhor, independentemente do grupo étnico a
que pertencem, devem fazê-lo em espírito e em verdade, exigências que
apóiam todo o propósito fundamental de João: provar que Jesus é o Filho de
Deus e que a vida eterna é alcançada por meio da fé nele. K.MC.R.
NATÃ, O PROFETA
O profeta Natã serviu ao Senhor durante o reinado de Davi e faleceu
durante o governo de Salomão. Teve uma participação proeminente em três
eventos importantes na vida de Davi.
Na primeira passagem (2 Sm 7; veja também 1 Cr 17), Davi acabara de
construir seu palácio. Fora grandemente abençoado por Deus e decidiu que
a Arca da Aliança, a qual se encontrava numa tenda, teria uma casa
permanente. O rei consultou Natã, o qual concordou que o Senhor estava
com ele; por isso, Davi faria o que desejasse. Talvez Natã estivesse
acostumado a ver a bênção de Deus em tudo o que o rei fazia. No entanto,
na noite seguinte a essa conversa, o Senhor lhe falou que Davi não era a
pessoa indicada para construir o Templo e que jamais pedira tal construção
(2 Sm 7.5-7). A mesma profecia, entretanto, trouxe ao rei a declaração da
aliança de amor de Deus com ele, na qual o Senhor lhe prometeu que seu
nome seria grande (v. 9), seu povo teria paz e seu filho edificaria “uma casa
ao meu nome”. O trono e o reino de Davi e de seu filho seriam
estabelecidos perpetuamente (v. 13). No v. 14 o Senhor disse: “Eu lhe serei
por pai, e ele me será por filho”. Deus também disse que seu amor
permaneceria sobre a casa de Davi e seu reino para sempre (vv. 15,16).
Esta mensagem finalmente se tornou a base da expectativa messiânica e é
conhecida como “aliança davídica”. As gerações posteriores aguardaram o
advento de um rei cujo trono seria estabelecido para sempre (veja, por
exemplo, Is 9.6,7; 11.1-3; Jr 23.5,6; etc.). Finalmente, o cumprimento desta
promessa foi visto nas Escrituras com o advento de Jesus como o Messias e
“o Filho de Davi” (Mt 1.1; 12.23; 22.42; Mc 12.35; Rm 1.3; Ap 5.5; 22.16;
etc.). Para Davi, que não poderia ver nem parte da glória que estava
reservada, ainda assim a promessa parecia esmagadora, e sua oração de
gratidão e louvor pela mensagem levada pelo profeta Natã está registrada
em 2 Samuel 7.18-29.
Lamentavelmente, o próximo encontro registrado entre Davi e Natã não
foi tão agradável (2 Sm 12). Recentemente, o rei havia adulterado com
Bate-Seba e providenciado a morte do marido dela, Urias. Natã foi enviado
pelo Senhor até Davi, com a seguinte parábola: Um homem pobre possuía
apenas uma ovelha. Um rico tinha um grande rebanho de ovelhas. Um
viajante chegou à casa do poderoso, o qual mandou que pegassem a ovelha
do pobre e preparassem uma refeição para o amigo que chegara de viagem.
O rei ouviu a história e depois disse a Natã: “Tão certo como vive o Senhor,
digno de morte é o homem que fez isso” (v. 5). “Então disse Natã a Davi:
Tu és esse homem” (v. 7). O julgamento de Deus sobre o rei, pronunciado
por Natã, foi que suas esposas seriam tomadas por outro homem e a criança
que nasceria de sua união com Bate-Seba morreria. Além disso, a casa de
Davi enfrentaria guerras constantes. O rei reconheceu a lição da parábola: a
despeito de tudo o que possuía, tirara a esposa de um homem que tinha tão
pouco. Arrependeu-se de seu pecado (2 Sm 12.13; veja Sl 51). O Senhor o
perdoou (2 Sm 12.13), mas, como conseqüência de sua transgressão, a
criança que Bate-Seba dera à luz morreu (v. 15). O sinal de que Davi foi
perdoado veio mais tarde, quando teve outro filho com a mesma mulher, o
qual recebeu o nome de Salomão e tornou-se herdeiro das promessas de 2
Samuel 7. Natã trouxe uma palavra do Senhor que o menino seria chamado
Jedidias (2 Sm 12.25), porque o Senhor o amava.
A terceira vez que Natã teve outro papel importante foi no final da vida
de Davi (1 Rs 1). Deus deixara claro que Salomão seria o sucessor de Davi
no trono de Israel. Quando Adonias, outro filho do rei, tentou usurpar o
trono, Natã apoiou Salomão. Informou Bate-Seba sobre o complô (vv. 8,11)
e a aconselhou sobre o que fazer, para assegurar a Salomão o direito à
sucessão (vv. 12-14). Natã foi chamado à presença de Davi e instruído para
ungir Salomão como rei. Ele assim fez e o ato foi proclamado diante do
povo (vv. 22-45).
Outra informação que temos sobre o profeta é que mantinha os registros
dos eventos nos reinados de Davi e Salomão (1 Cr 29.29; 2 Cr 9.29) e
provavelmente deu algumas instruções concernentes à música no culto, no
Templo (2 Cr 29.25).
NATÃ (Heb. “presente”).
1. Veja Natã, o profeta.
2. Filho do rei Davi, nascido em Jerusalém. Sua mãe foi Bate-
Sua, filha de Amiel (2 Sm 5.14; 1 Cr 3.5; 14.4). Ele é mencionado
novamente numa passagem messiânica em Zacarias 12.12, a qual revela o
dia em que os descendentes de Davi e de Natã, chorando, buscarão o perdão
do Senhor pela maneira como o trespassaram. Natã também é listado como
filho de Davi na genealogia apresentada por Lucas, que vai de Jesus até
Adão (Lc 3.31).
3. Natã, de Zobá, pai de Igal, um dos “trinta” guerreiros valentes
de Davi (2 Sm 23.36).
4. Provavelmente é o mesmo relacionado no item 2. Era irmão de
Joel, um dos “trinta” guerreiros valentes de Davi (1 Cr 11.38).
5. Pai de dois importantes oficiais da corte de Salomão: Azarias,
chefe dos intendentes distritais; e Zabude, ministro e amigo do rei (1 Rs
4.5). Esta lista de oficiais enfatiza a estabilidade e a grandeza de Israel sob
o reinado de Salomão.
6. Mencionado em 1 Crônicas 2.36, era pai de Zabade e filho de
Atai. Pertencia à tribo de Judá.
7. Um dos judeus, chefe entre o povo, que se uniu a Esdras no
retorno do exílio na Babilônia para Jerusalém e ajudou a encontrar levitas
qualificados para acompanhá-los até Judá (Ed 8.16).
8. Mencionado entre os descendentes de Binui. Na época do
retorno do exílio, na Babilônia, Secanias confessou a Esdras que muitos
homens de Judá, inclusive descendentes de sacerdotes, haviam-se casado
com mulheres de outras tribos e de diversas nações. Esdras levou o povo ao
arrependimento e ao pacto de servir ao Senhor (Ed 10.2). Natã está listado
em Esdras 10.39 como um dos judeus que se divorciaram das esposas
estrangeiras. P.D.G.
NATÃ-MELEQUE (Heb.,“o rei dá”). Oficial da corte no reinado de
Josias, de Judá.
Tinha uma câmara perto da entrada do Templo (2 Rs 23.11). Durante o
avivamento e o retorno da verdadeira adoração, o rei Josias mandou
remover e queimar as estátuas de cavalos e carruagens que foram dedicadas
ao Sol pelos perversos reis que o antecederam. Tais imagens foram
colocadas próximas à câmara de Natã-Meleque.
NATANAEL (Heb. “presente de Deus”).
1. Mencionado somente no evangelho de João, foi um dos
discípulos que seguiram Jesus desde o início de seu ministério público. João
21.2 diz que era proveniente de Caná da Galiléia e o menciona entre as
testemunhas da ressurreição de Cristo. João 1.45-49 narra como foi levado a
Jesus por Filipe. A primeira reação dele, ao saber qual era a cidade natal de
Cristo, foi perguntar se alguma coisa boa viria de Nazaré. Quando Jesus o
viu, disse: “Aqui está um verdadeiro israelita, em quem não há nada falso”
(v. 47). Imediatamente Natanael percebeu que Jesus o conhecia e
perguntou-lhe como foi possível isto. Jesus lhe respondeu: “Antes que
Filipe te chamasse, te vi quando estavas debaixo da figueira” (v. 48). A cena
que se segue é surpreendente devido à sua falta de explicação ou de
detalhes. A resposta de Natanael foi extraordinária: “Rabi, tu és o Filho de
Deus, tu és o Rei de Israel!” (v. 49).
A breve explicação dada para esta demonstração de sua fé em Cristo é
encontrada em João 1.50. Jesus disse: “Porque te disse que te vi debaixo da
figueira, crês? Coisas maiores do que esta verás”. Não temos informações
sobre a experiência de Natanael debaixo da figueira ou por que o
conhecimento de Jesus sobre isso teve um impacto tão forte sobre ele.
Alguns sugerem que Cristo falou sobre uma passagem messiânica das
Escrituras ou mesmo sobre a história de Jacó e a escada com os anjos, uma
referência que Jesus utilizou no v. 51. Mas talvez seja uma combinação —
saber que Jesus tinha um conhecimento sobrenatural sobre ele como pessoa
e a apresentação de Filipe: “Achamos aquele de quem Moisés escreveu na
lei, e a quem se referiram os profetas: Jesus de Nazaré, filho de José”. Ou
talvez houvesse mais elementos envolvidos em sua conversão do que somos
informados. Qualquer que seja o motivo ou os antecedentes desta
declaração explícita de fé, feita por Natanael, o escritor do evangelho a
utiliza como um exemplo claro do tipo de confissão que desejava que todos
os seus leitores conhecessem. Por todo seu evangelho, João enfatiza a
necessidade da verdadeira fé em Jesus, a qual envolve compromisso para
com Ele, como “o Filho de Deus” (veja Jo 20.31, onde João declara sua
razão para escrever o evangelho; também 11.27). Natanael é a primeira
pessoa que a Bíblia diz que “creu” e a segunda a chamar Jesus de “Filho de
Deus” (a primeira foi João Batista, Jo 1.34); desta maneira, tornou-se o
exemplo da resposta que se esperava de um judeu devoto, confrontado com
seu Rei Messias.
Tentativas de identificar Natanael como um dos doze discípulos,
conhecido em outros lugares por um nome diferente, são, na melhor das
hipóteses, simples especulação. P.D.G.
2. Filho de Zuar e líder de Issacar, no tempo de Moisés; portanto,
o representante da tribo durante o censo (Nm 1.8). Quando foram dadas as
instruções sobre como e onde cada grupo tribal acamparia, em relação ao
Tabernáculo (a Tenda da Congregação), Issacar foi estabelecido ao leste,
perto da tribo de Judá, com Natanael à frente de 54.400 pessoas (Nm 2.5,6).
Na festa da dedicação do Tabernáculo, ele levou as ofertas de sua tribo no
segundo dia de celebração (7.18, 23). Quando os israelitas finalmente
partiram do Sinai, novamente Natanael estava à frente de seu povo (10.15).
3. Quarto filho de Jessé (1 Cr 2.14). Quando Samuel foi ungir o
novo rei, o velho belemita fez com que todos os seus filhos se
apresentassem diante do profeta, a partir do primogênito, em ordem de
idade. Davi foi o sétimo.
4. Sacerdote cuja tarefa foi a de tocar trombeta adiante da Arca da
Aliança, quando foi levada para Jerusalém pelo rei Davi (1 Cr 15.24 –
também chamado de Netaneel).
5. Levita, pai do escrivão Semaías (1 Cr 24.6), o qual registrava o
nome e a função dos sacerdotes e levitas, após o rei Davi organizar a
adoração na Tenda da Congregação.
6. Quinto filho de Obede-Edom, descendente de Coré,
responsável pelo atendimento nos portões do Tabernáculo, na administração
do rei Davi (1 Cr 26.4). Possivelmente é o mesmo identificado no item 4.
7. Um dos oficiais do rei Jeosafá, enviado no terceiro ano de seu
reinado para ensinar o povo das cidades de Judá sobre o Senhor e sua Lei (2
Cr 17.7).
8. Durante o avivamento espiritual, o rei Josias doou ovelhas e
outros animais para os sacrifícios oferecidos pelo povo. Este Natanael foi
um dos líderes dos levitas que, junto com outros companheiros, também
doaram voluntariamente muitos animais para os holocaustos (2 Cr 35.9).
9. Descendente de Pasur, foi um dos judeus que se casaram com
mulheres estrangeiras na época de Esdras (Ed 10.22).
10. Líder da família sacerdotal de Jedaías, estava entre os judeus
que retornaram do exílio na Babilônia com Zorobabel (Ne 12.21 – também
chamado de Netaneel).
11. Provavelmente o mesmo relacionado no item 9, era um líder na
tribo de Judá e sacerdote que tocou instrumentos musicais na festa de
dedicação dos muros de Jerusalém (Ne 12.36 – também chamado de
Netanel). P.D.G.
NAUM. 1. O nome vem do vocábulo hebraico “conforto, confortador”,
que deriva do verbo “arrepender-se”. Este homem de Deus, quase
desconhecido, exceto por meio do testemunho da composição literária que
traz o seu nome, é descrito como “o elcosita” (Na 1.1), ou seja, um nativo
da vila de Elcos. Infelizmente, a despeito de várias hipóteses quanto à
identificação do local, não foi possível descobrir com certeza esse lugar.
Parece razoável presumir que a cidade ficava na região de Judá, pois o
profeta demonstra conhecer bem Judá (e Jerusalém), o que indica uma certa
proximidade dos locais (Na 1.12,13,15).
Naum identifica-se com Jonas, pois seu oráculo não foi dirigido
diretamente a Israel ou Judá, mas a Nínive (Na 1.1,11; 2.1; 3.1). Entretanto,
não há indicação de que ele tenha viajado até lá, para transmitir seu oráculo
de juízo. A Bíblia não relata como sua mensagem chegou até os moradores
de Nínive (se, de fato, isso aconteceu). Talvez o propósito maior fosse a
assimilação do povo local, para imprimir no coração do profeta e dos
leitores que o Senhor Yahweh é soberano sobre todas as nações, mesmo as
que são poderosas e ameaçadoras.
Embora a data do ministério de Naum seja muito discutida, algumas
evidências no próprio livro sugerem o período dos anos 663 a 612 a.C.
Nínive claramente ainda existia no tempo de Naum, embora sua destruição
estivesse próxima (cf. Na 1.15; 2.1,3-13). A cidade caiu nas mãos dos
caldeus em 612 a.C.; assim, se o livro for visto como profético, Naum com
certeza escreveu antes dessa data. Por outro lado, o profeta refere-se à
conquista de Nô-Amom (Tebas) pelos assírios como um exemplo do destino
que aguardava a própria cidade de Nínive (Na 3.8). Esse fato ocorreu em
663 a.C. e talvez tenha sucedido num tempo bem distante da época do
profeta. Uma data entre 615 e 612 a.C. parece provável.
Outra diferença entre a mensagem para Nínive ou concernente a ela por
Jonas e Naum, respectivamente, é que essa cidade arrependeu-se na época
do primeiro profeta (Jn 3.5-10), mas não houve arrependimento por meio da
pregação do segundo. De fato, não existe indicação de que tal fato
aconteceu, pois o livro termina com uma nota sombria de que a condição de
Nínive era irremediável e sem esperança (Na 3.18,19). Em ambos os casos,
entretanto, o Senhor mostrou seu domínio sobre as nações da Terra, tanto
em sua submissão como em sua transgressão e conseqüente destruição.
E.M.
2. Mencionado na genealogia de Jesus Cristo, apresentada em Lucas
3.25. Era filho de Esli e pai de Amós.
NAZARENO. Este nome aparece três vezes nos evangelhos e refere-se a
Jesus (Mt 2.23; Mc 14.67; 16.6). Em Atos 24.5 foi usado pelo orador
Tértulo, no julgamento de Paulo diante do governador Félix, a fim de
descrever a seita que o apóstolo supostamente liderava, ou seja, para
apresentar o próprio cristianismo.
A origem da palavra continua em debate. Provavelmente a resposta é
bem simples, porque Jesus era conhecido como proveniente da cidade de
Nazaré. A expressão “de Nazaré”, para se referir a Cristo ocorre com maior
freqüência (17 vezes nos evangelhos e Atos). O fato de que Nazaré era uma
cidade um tanto desprezada naquela época talvez indique o desdém que se
vinculou à palavra no final do ministério de Jesus, no seu uso, por exemplo,
em Marcos 16.6. Provavelmente isso ajuda a explicar o uso deste termo em
Mateus 2.23, onde o evangelista diz que cumpriram-se as Escrituras no
sentido de que Jesus seria chamado “Nazareno”.
Mateus descreve a maneira como Jesus foi desprezado pelas pessoas que
o cercavam (Mt 11.16-19; 12.14, 24; 15.7,8).
A associação com Nazaré, o lugar desprezado onde Cristo fora criado,
provavelmente ajudou esse escritor a ver mais profundamente o
cumprimento de todas as profecias que sugeriam um Messias desprezado e
rejeitado (por exemplo, Is 49.7; 53.3; Sl 22.6,7; etc.). Ainda com relação ao
cumprimento das mensagens proféticas, não é que necessariamente os
profetas dissessem que o Messias viria de Nazaré, mas, sim, que seria
desprezado, como acontecia com as pessoas provenientes de Nazaré nos
dias de Mateus.
P.D.G.
NAZIREU (Heb. “consagrado”). Termo aplicado a um homem ou uma
mulher que assumia alguns votos particulares “de separação ao Senhor”.
Números 6.1-21 descreve tais propósitos com alguns detalhes. A pessoa
precisava abster-se de bebidas alcoólicas e de qualquer alimento derivado
da uva. Nenhuma navalha podia tocar sua cabeça e seus cabelos deviam
crescer livremente, como testemunho de sua separação ao Senhor. O
nazireu não podia aproximar-se nem tocar em algum cadáver. Também
havia regulamentos para que, se ele se contaminasse acidentalmente,
soubesse o que precisava oferecer como propiciação. Um nazireu só
dedicava ofertas especiais na Tenda da Congregação (no Tabernáculo).
Quando terminava seu período de dedicação, apresentava novamente uma
oferta especial e tosquiava o cabelo de forma cerimonial, quando oferecia o
próprio cabelo cortado. Depois dessa cerimônia, o nazireu estava livre para
tomar bebida alcoólica novamente.
O propósito do voto sem dúvida era oferecer um serviço mais sério e
comprometido ao Senhor por um período determinado de tempo, talvez
como parte da apresentação de um pedido a Deus ou parte de uma oferta de
ações de graças por suas bênçãos. De qualquer maneira, o voto sempre
estava relacionado com a busca da bênção de Deus sobre o indivíduo ou a
comunidade.
Não há muitas referências aos nazireus no Antigo Testamento. O melhor
exemplo de todos foi Sansão, designado por Deus para ser separado desde o
nascimento. É interessante notar que a presença do Espírito do Senhor sobre
ele estava diretamente relacionada à sua obediência às regras do voto (Jz
13.5,7,25; 16.17). Só foi capturado pelos filisteus após eles cortarem suas
sete tranças. Posteriormente, quando seu cabelo cresceu novamente e
Sansão orou ao Senhor, sua força voltou (Jz 16.22,28).
O profeta Amós olhou para os nazireus como grandes homens levantados
por Deus, porém pervertidos pelos israelitas, que os forçaram a beber vinho.
Em outras palavras, a perda dos nazireus e a perversão de seus valores e de
seu compromisso tornaram-se sintomas da rejeição de Israel por parte de
Deus (Am 2.11,12).
Embora a palavra “nazireu” não seja usada com relação a Samuel, ao que
parece ele também, como Sansão, foi dedicado pela mãe para ser separado
por toda a vida (1 Sm 1.11). Embora não identificado como nazireu, João
Batista provavelmente também foi oferecido por seus pais, pela maneira em
que vivia; como tal, seu comportamento contrastava vivamente com o de
Jesus, que bebia vinho livremente (Mt 11.18,19). O apóstolo Paulo
provavelmente terminava um voto de nazireu, quando cortou os cabelos em
Cencréia (At 18.18). P.D.G.
NEARIAS. 1. Mencionado em 1 Crônicas 3.22,23 como descendente de
Secanias e filho de Semaías. Pertencia à linhagem real que viveu depois do
exílio na Babilônia. Teve três filhos: Elioenai, Ezequias e Azricão.
2. Filho de Isi, da tribo de Simeão, viveu no tempo do rei Ezequias, de
Judá. Participou de uma invasão na região montanhosa de Seir (a leste do
mar Morto), onde os remanescentes dos amalequitas foram mortos. Depois
disso, seu povo estabeleceu-se naquela região (1 Cr 4.42,43).
NEBAI. Líder de uma família que retornou com seus descendentes para
Jerusalém, depois do exílio na Babilônia. Sob a direção de Neemias, foi um
dos que assinaram o pacto feito pelo povo de obedecer à Lei de Deus e
adorar somente ao Senhor (Ne 10.19).
NEBAIOTE. Filho primogênito de Ismael e líder tribal (Gn 25.13; 1 Cr
1.29). Uma de suas irmãs, chamada Maalate, casou-se com Esaú (Gn 28.9;
veja também 36.3). Na profecia de Isaías sobre o futuro glorioso do povo de
Deus (Is 60.7), as ovelhas e os carneiros de Quedar e Nebaiote, filhos de
Ismael, seriam levados para o serviço do Senhor como ofertas, em
cumprimento às antigas profecias de que os descendentes de Ismael
serviriam aos de Isaque.
NEBATE. Pai de Jeroboão I, seu nome aparece várias vezes em 1 e 2
Reis e 2 Crônicas, por meio da expressão “Jeroboão, filho de Nebate”,
provavelmente usada para distinguir Jeroboão I (primeiro rei de Israel
depois da divisão do reino) de Jeroboão II, filho de Joás e o 13º rei de
Israel.
NEBO. 1. Um dos dois deuses mais importantes da Babilônia nos dias do
profeta Isaías e posteriormente na época da invasão de Judá pelos caldeus.
Fora também deus dos assírios e era considerado como a divindade da
sabedoria e da literatura. Em Isaías 46.1, o profeta refere-se à imagem de
Nebo “abaixando-se”, a fim de utilizar essa expressão como figura da futura
queda do Império Babilônico.
2. Seus descendentes estavam entre os judeus que retornaram do exílio,
na Babilônia. Alguns deles haviam-se casado com mulheres estrangeiras e,
sob a direção de Esdras, decidiram divorciar-se (Ed 10.43).
NEBUSAZBÃ (Heb. “Nabu [divindade babilônia] me livra”). Um dos
oficiais do rei Nabucodonosor, da Babilônia. Estava entre os oficiais
caldeus que entraram na cidade de Jerusalém quando, finalmente, foi feita
uma brecha no muro e os babilônios invadiram a cidade. Juntamente com
seus companheiros, recebeu instruções do rei para assegurar a idoneidade
física do profeta Jeremias. Por isso, os oficiais o colocaram sob os cuidados
do governador Gedalias (Jr 39.13).
NEBUZARADÃ (Heb. “Nabu tem dado descendentes”). Comandante da
guarda imperial sob o governo do rei Nabucodonosor, da Babilônia (2 Rs
25.8). Foi encarregado da destruição final de Jerusalém, ocasião em que
queimou o Templo, as casas e derrubou os muros da cidade. Depois
deportou a maior parte dos habitantes para a Babilônia. Levou-os à
presença do rei Nabucodonosor em Ribla (vv. 9,12,20). O relato sobre a
queda de Jerusalém e a participação de Nebuzaradã também é mencionado
em Jeremias 39.813 e 52.12-27. Uma das suas tarefas foi assegurar a
proteção do profeta Jeremias. Colocou-o sob a custódia de Gedalias, o
governador de Judá nomeado pelo rei da Babilônia (Jr 39.13,14).
Jeremias 40 registra que Nebuzaradã encontrou Jeremias acorrentado e o
libertou. O tratamento dado ao profeta foi notável, talvez devido ao fato de
que profetizara sobre o que aconteceria e advertira o povo a aceitar a
deportação para a Babilônia (Jr 38.17-28). Os eventos, entretanto, revelam
também a soberania de Deus pela maneira como usou os caldeus não
somente para castigar seu povo, mas também para preservar seu profeta da
morte. Talvez o próprio Nebuzaradã percebesse que o Senhor escolhera a
ele e a seu exército para esse fim (Jr 40.2-5).
Nessa primeira investida de Nebuzaradã em Jerusalém, os mais pobres
entre o povo foram deixados na terra para cuidar dos campos e das vinhas
(39.10). Quatro anos mais tarde ele voltou e levou mais 745 pessoas para
Babilônia (Jr 52.30). P.D.G.
NECO. Faraó-Neco, rei do Egito, é mencionado na Bíblia em 2 Reis 23 e
na passagem paralela em 2 Crônicas 35 e 36. Foi o 2º rei da 26ª dinastia.
Em 609 a.C. a extensão da influência de Neco no Norte, a partir do Egito,
era considerável. 2 Reis 23.29 registra que ele fez uma jornada por todo o
caminho até o rio Eufrates, a fim de ajudar o rei da Assíria a vencer os
caldeus. Foi nesta viagem que o rei Josias, de Judá, liderou suas tropas para
impedir a passagem de Neco em Megido. O cronista registra que este faraó
não desejava lutar contra Josias e disse ao rei de Judá que não o
atrapalhasse, pois, conforme julgava, estava ali a serviço de Deus (2 Cr
35.21,22). Josias não atendeu ao seu apelo e foi morto na batalha que se
seguiu. Jeoacaz, seu filho, foi coroado rei. Diferentemente de seu pai, que
serviu ao Senhor “de todo o coração” (2 Rs 23.25), Jeoacaz “fez o que era
mau aos olhos do Senhor” e, como castigo da parte de Deus, foi feito
prisioneiro e levado para o Egito, onde morreu (vv. 31-35). Neco tomou
outro dos filhos de Josias, Eliaquim (Jeoiaquim), e o fez rei-vassalo,
exigindo dele pesados impostos sobre Jerusalém e Judá.
Em 605 a.C., Nabucodonosor, rei da Babilônia, derrotou Neco em
Carquemis, no rio Eufrates. Este incidente é mencionado em Jeremias 46.2,
no início de uma profecia contra o Egito na qual o profeta previu a derrota
de faraó nas mãos dos caldeus. Depois disso, Jeoiaquim passou a pagar
tributos a Nabucodonosor e não mais ao Egito (2 Rs 24.1). Em sua profecia
concernente ao juízo de Deus sobre os filisteus, Jeremias também referiu-se
ao ataque de Faraó-Neco contra Gaza e Ascalom (Jr 47.1-6). P.D.G.
NECODA. 1. Líder de uma das famílias dos serviçais do Templo cujos
descendentes retornaram do exílio na Babilônia nos dias de Esdras e
voltaram a trabalhar no Templo (Ed 2.48; Ne 7.50).
2. Os descendentes de Necoda estão listados em Esdras 2.60 e Neemias
7.62 entre os judeus que retornaram para Jerusalém com Neemias e
Zorobabel, depois do exílio na Babilônia; entretanto, não puderam provar
que suas famílias eram de origem israelita.
NEDABIAS (Hebr. “o Senhor tem sido generoso”). Listado entre os
descendentes do rei Jeoiaquim; portanto, faz parte da linhagem real de
Davi. Ao que parece, retornou para Judá depois do exílio na Babilônia (1 Cr
3.18).
NEEMIAS. (Heb.“Yahweh [o Senhor] tem compaixão”). Antigamente,
em Israel, os pais colocavam este nome nos filhos, para louvar ao Senhor
por sua misericórdia em suas vidas. Três personagens no Antigo Testamento
tiveram esse nome.
1. A referência mais antiga sobre Neemias identifica um homem
que retornou do exílio na Babilônia com Sesbazar (Ed 2.2; Ne 7.7).
2. Neemias, filho de Azbuque, foi maioral da metade do distrito
de Bete-Zur e colaborou na reconstrução dos muros de Jerusalém.
3. O mais importante dos Neemias na Bíblia foi o governador de
Judá após o exílio na Babilônia. Era filho de Hacalias (Ne 1.1) e irmão de
Hanani (Ne 1.2; 7.2), e foi nomeado governador em Jerusalém. O próprio
Neemias ocupou posições elevadas durante o reinado do imperador persa
Artaxerxes (464 a 424 a.C.). Era chamado de “copeiro do rei” (1.11), cargo
de confiança que envolvia a tarefa de provar o vinho antes do rei beber, para
garantir o seu não-envenenamento. Geralmente os copeiros eram eunucos,
embora não se tenha certeza se este era o caso de Neemias. De qualquer
maneira, estava numa posição suficientemente próxima do rei, o que lhe
garantia falar livremente com ele quando precisava (2.1-10). Como
resultado de seu relacionamento com Artaxerxes, Neemias tornou-se o
instrumento em prol da reconstrução dos muros de Jerusalém e da reforma
civil, no período pós-exílico.
O programa de reconstrução. O trabalho de Neemias em Jerusalém
começou logo após seu irmão Hanani visitá-lo na fortaleza de Susã. O
homem de Deus perguntou sobre as condições dos judeus que retornaram;
soube então que as pessoas estavam com problemas e os muros da cidade
encontravam-se em ruína. Depois de orar e jejuar, aproximou-se do rei e
pediu permissão para reconstruir a muralha de Jerusalém. A permissão foi
concedida e Neemias viajou com os decretos reais que autorizavam a obra
(Ne 1.1 a 2.10).
Neemias enfrentou muita oposição no trabalho de reconstrução dos
muros de Jerusalém. A resistência surgiu das nações vizinhas, de dentro da
própria comunidade judaica e novamente dos povos que viviam ao redor.
Primeiro foram os governadores das províncias adjacentes que causaram
problemas a Neemias. Sambalate, governador de Samaria, e Tobias, de
Amom, zombaram do homem de Deus e de seus trabalhadores. Também
levantaram a acusação politicamente grave de que Neemias se rebelara
contra Artaxerxes (Ne 2.10,19,20). O servo do Senhor resistiu aos esforços
deles para desanimá-lo por meio da oração e do trabalho cada vez mais
árduo (4.4-6). Depois que os ataques verbais falharam, Sambalate e Tobias
planejaram utilizar a força (4.8). Mesmo assim, Neemias orou e preparou
seus trabalhadores para se defender.
A segunda onda de resistência veio de dentro da comunidade judaica.
Muitas pessoas reclamaram que eram maltratadas pelos ricos. A usura era
um hábito muito difundido em Judá. Neemias acabou com essa prática (Ne
5.1-13) e demonstrou grande generosidade para com os pobres. Conseguiu
o favor do povo e a reconstrução continuou (vv. 14-19).
Mais uma oposição à reconstrução veio novamente por parte de
Sambalate.
Ele, Gesém, o árabe, e outros inimigos tentaram enganar Neemias e tirá-
lo de Jerusalém (Ne 6.2), mas este se recusou a ir. Gesém então o acusou de
traição (v. 6), mas Neemias resistiu a tal acusação (v. 8). O livro menciona
também Noadias e outros profetas que tentaram intimidar Neemias, o qual,
entretanto, superou todas as suas tentativas (v. 14). Como resultado da
persistência, Neemias e seus trabalhadores terminaram a obra (Ne 6.15 a
7.3). Jerusalém estava novamente segura contra os inimigos.
A devoção de Neemias à obra de reconstrução dos muros de Jerusalém
permanece como um exemplo para os crentes de todas as épocas. Ele
conseguiu unir de maneira consistente oração diligente e trabalho duro.
Totalmente consciente de suas limitações diante da obra grandiosa, Neemias
voltou-se repetidamente ao Senhor e pediu ajuda. Consciente também de
sua responsabilidade humana, implementou um programa prático que
culminou com a finalização do projeto.
As reformas. Neemias não se preocupou apenas com a reconstrução dos
muros de Jerusalém; devotou-se também às reformas religiosas de Judá.
Com a assistência do escriba Esdras, renovou o compromisso da
comunidade pós-exílica para com o Senhor.
As reformas aconteceram em várias áreas. Neemias nomeou oficiais para
liderar o povo. Providenciou para que todos fossem ensinados na Lei de
Moisés. Supervisionou a leitura da Palavra de Deus durante a Festa dos
Tabernáculos, quando o povo prometeu não se envolver mais com
casamentos mistos, guardar o sábado e apoiar os serviços do Templo (Ne 8
a 10).
Em 433 a.C., Neemias retornou à Pérsia, onde permaneceu por um ano
(Ne 13.6). Ao regressar a Jerusalém, descobriu que Tobias, seu antigo
adversário amonita, alcançara o favor do sumo sacerdote Eliasibe e morava
no Templo.
Neemias o expulsou da província. Além disso, foi informado de que
muitos judeus tinham-se casado novamente com mulheres estrangeiras, com
o intuito de preparar o cenário para a apostasia (vv. 23 a 27). Em resposta,
Neemias repreendeu severamente os infratores (vv. 4-7).
Em todas essas reformas Neemias mostrou ser muito mais do que um
político competente. Reconhecia que a conformidade externa com as leis de
Deus não era suficiente. A reconstrução dos muros de Jerusalém precisava
ser acompanhada por uma reforma no estilo de vida. Desta maneira, ele
lembra a todos que a verdadeira devoção ao Senhor atinge não apenas o
exterior, mas principalmente o coração de seu povo. R.P.
NEFEGUE (Heb. “broto”).
1. Um dos filhos de Jizar e neto de Coate. Era bisneto de Levi (Êx
6.21). Seu irmão Coré liderou uma rebelião contra Moisés.
2. Filho de Davi. Depois que conquistou Jerusalém e mudou-se de
Hebrom para lá, o novo rei tomou muitas esposas e concubinas. Nefegue foi
um dos seus muitos filhos (2 Sm 5.15; 1 Cr 3.7; 14.6).
NEFILIM. Esse povo só é mencionado em Gênesis 6.4 e Números 13.33
(na maioria das versões em português aparecem como “gigantes”). A
origem da palavra não é muito clara, mas ao que parece era um povo antigo,
de grande estatura. Em Números 13.33, quando os doze espias retornaram a
Moisés, após espiar a terra de Canaã, relataram que haviam visto os
nefilins. Um parêntese no texto explica que os descendentes de Enaque
pertenciam a esse povo. Os enaquins, por sua vez, eram considerados
gigantes. Certamente a estatura deles apavorou dez dos espias. Somente
Calebe e Josué, ao demonstrar grande fé no Senhor, creram que tal povo
seria facilmente derrotado (Nm 14.9).
NEFUSIM. Líder de uma das famílias de servidores do Templo cujos
descendentes retornaram do exílio na Babilônia nos dias de Esdras e
voltaram a trabalhar no Santuário (Ed 2.50; Ne 7.52).
NEMUEL. 1. Primeiro filho de Eliabe, listado em Números 26.9. Era
descendente de Rúben e irmão de Datã e Abirão, os quais se rebelaram
contra Moisés e Arão e participaram da revolta de Coré.
2. Um dos filhos de Simeão e fundador do clã dos nemuelitas (Nm 26.12;
1 Cr 4.24). Talvez seja outro nome para Jemuel, filho primogênito de
Simeão e um dos que desceram com Jacó para o Egito (Gn 46.10; Êx 6.15).
NER (Heb. “lâmpada”). Pai de Abner, da tribo de Benjamim, o
comandante do exército de Saul. Era filho de Abiel; portanto, irmão de
Quis, pai de Saul (1 Sm 14.50,51). Mencionado em numerosas passagens,
geralmente em conexão com o filho Abner (1 Sm 26.5, 14; 2 Sm 2.8, 12;
3.23; etc.).
Em 1 Crônicas Ner é listado na genealogia de Saul, o que demonstra
certa confusão com relação ao relato de 1 Samuel. Em 1 Crônicas 8.30 e
9.36 Ner é mencionado como filho ou descendente de Jeiel e vivia perto de
Jerusalém. Em 8.33 e 9.39 a Bíblia diz que Ner era o pai de Quis. Até o
presente momento essa contradição não foi resolvida. É possível que uma
ou outra genealogia tenha simplesmente omitido um nome ou uma geração,
mas os esforços para harmonizar os textos ainda envolvem muita
especulação.
NEREU. Um cristão que vivia em Roma e foi saudado pelo apóstolo
Paulo junto com sua irmã (Rm 16.15). O reconhecimento pessoal e o
cuidado de Paulo por tantas pessoas de diferentes congregações é algo
constante na maioria de suas cartas.
NERGAL. Uma divindade adorada pelo povo de Cuta, na região
noroeste da Babilônia (2 Rs 17.30). Esse foi um dos vários grupos étnicos
colocados em Samaria pelos assírios. Cada etnia tinha seus próprios deuses
(v. 30). Acreditava-se que esta fosse a divindade das doenças e das
catástrofes.
NERGAL-SAREZER (Bab. “Nergal preserve o rei”). Um alto oficial de
Nabucodonosor, rei da Babilônia. Estava entre os comandantes que
entraram em Jerusalém quando finalmente se abriu uma brecha nos muros e
as tropas dos caldeus invadiram a cidade (Jr 39.3). Junto com seus
companheiros, posicionou-se na Porta do Meio e recebeu instruções do rei
Nabucodonosor para que nenhum mal fosse feito ao profeta Jeremias. Por
isso, os oficiais o colocaram sob os cuidados do governador Gedalias (Jr
39.13). O texto hebraico não é muito claro com relação aos nomes dos
oficiais; por isso, existem variações em diferentes versões da Bíblia.
NERI. Mencionado na genealogia apresentada por Lucas que vai de
Jesus e José até Adão (Lc 3.27). Era pai de Salatiel e filho de Melqui.
NERIAS (Heb. “o Senhor é luz”). Filho de Maaséias (Jr 32.12; 51.59).
Ficou conhecido por ser o pai de Baruque e Seraías, ambos servos do
profeta Jeremias durante os últimos anos do reino de Judá e no decorrer da
queda de Jerusalém, quando da invasão dos caldeus (Jr 32.16; 36.4, 8, 14,
32; 43.3, 6; 45.1).
NETANIAS (Heb. “o Senhor tem dado”).
1. Mencionado em 1 Crônicas 25.2, era um dos filhos de Asafe.
Sob a direção direta do pai e do rei Davi (v. 1), estava entre os que
profetizavam e lideravam o ministério da música na adoração. Era líder do
5º grupo de músicos levitas e membro do coral que atuava no Tabernáculo
(v. 12).
2. Levita, viveu no tempo do rei Jeosafá, de Judá. Durante os
primeiros anos de seu reinado, este monarca serviu ao Senhor e enviou
vários mestres e levitas para ensinar o povo das cidades de Judá sobre o
livro da Lei. Netanias foi um destes mestres (2 Cr 17.8).
3. Pai de Jeudi, um dos oficiais da corte nos dias do rei
Jeoiaquim, de Judá (Jr 36.14).
4. Pai de Ismael, um oficial do exército e descendente da
linhagem real que serviu sob a liderança de Gedalias, governador de Judá.
Posteriormente ele se envolveu no assassinato de Gedalias (2 Rs 25.23,25;
Jr 40.8, 14; 41:1,2, 6-18). P.D.G.
NEUM. Um dos israelitas que retornaram para Jerusalém com Neemias e
Zorobabel depois do exílio na Babilônia (Ne 7.7).
NEUSTA (Heb. “serpente”). Filha de Elnatã, de Jerusalém, foi esposa ou
concubina do rei Jeoiaquim, de Judá (2 Rs 24.8). Junto com seu filho
Joaquim, rendeu-se ao rei Nabucodonosor, quando este sitiou Jerusalém; foi
deportada com Joaquim e seus oficiais para a Babilônia (vv. 12-15).
NEZIÁ. Líder de uma família de servidores do Templo cujos
descendentes retornaram do exílio na Babilônia nos dias de Esdras e
voltaram a trabalhar no Santuário (Ed 2.54; Ne 7.56).
NIBAZ. Depois que os assírios invadiram Israel, o reino do Norte, os
israelitas foram dispersos para outras regiões do império. Outros grupos
étnicos foram estabelecidos em Israel e Samaria, ocasião em que levaram
com eles seus próprios deuses. 2 Reis 17.24-41 registra esse movimento de
pessoas e a introdução de divindades estranhas em Israel. A Bíblia diz que
os aveus foram os responsáveis pela introdução de Nibaz e de Tartaque,
dois nomes que talvez representem seus deuses. A passagem bíblica
descreve como esses povos e seus descendentes tentaram adorar suas
próprias divindades e aquele que perceberam ser o Deus de seu novo país
— Yahweh (v. 32). Tal adoração certamente ia contra a Lei do Senhor, a
aliança e a verdade do monoteísmo, tão fundamental para a fé de Israel (vv.
34-41). P.D.G.
NICANOR (“conquistador”). Um dos sete diáconos indicados para
ajudar os apóstolos, que julgaram o trabalho administrativo da Igreja
primitiva em Jerusalém um fardo muito pesado (At 6.5). Muitas pessoas
convertiam-se ao Evangelho. Os novos cristãos de origem greco-judaica
reclamaram que suas viúvas eram desprezadas pelos judeus na hora da
distribuição diária dos alimentos. Os apóstolos perceberam que gastavam
tempo demasiado na solução desse tipo de problema (v. 2) e
negligenciavam o ministério da Palavra de Deus. Portanto, sete homens
foram indicados e escolhidos entre aqueles reconhecidos como “cheios do
Espírito Santo e de sabedoria”. Os apóstolos oraram e impuseram as mãos
sobre eles, encarregando-os das questões do dia-adia da igreja.
Este incidente é uma interessante indicação de quão cedo na vida da
Igreja houve um reconhecimento de que Deus dá diferentes “ministérios” e
diversos dons para muitas pessoas. Este fato reflete também a posição da
igreja de que os que são chamados para o ministério da Palavra de Deus (v.
2) não devem ter outras preocupações. O v. 7 indica o sucesso dessa divisão
de tarefas: “De sorte que crescia a palavra de Deus, e em Jerusalém se
multiplicava rapidamente o número dos discípulos...”. P.D.G.
NICODEMOS (“conquistador do povo”). Mencionado somente no
evangelho de João, Nicodemos era fariseu e membro do concílio de líderes
judaicos (Jo 3.1). Seu encontro com Jesus é registrado detalhadamente em
João 3. Claramente interessado no que ouvira a respeito de Cristo,
Nicodemos resolveu procurá-lo para conversar a sós com Ele e foi ao seu
encontro em segredo durante a noite — provavelmente, para evitar os
comentários dos colegas. Começou a conversa com uma demonstração de
grande respeito e consideração por Jesus, cujos milagres comprovavam seus
ensinos, reconhecendo-o como procedente da parte de Deus (v. 2). Cristo
respondeu que os que desejavam “ver o reino de Deus” precisavam “nascer
de novo” (ou nascer “do alto”). Nicodemos interpretou a mensagem
literalmente e não conseguiu entender como se processa um segundo
nascimento. Jesus então lhe explicou sobre a necessidade da operação do
Espírito Santo na vida do indivíduo que deseja ver o reino de Deus. Essas
palavras contrastariam com a crença judaica de que o nascimento físico era
de grande importância — o fato de ser descendente de Abraão. Nicodemos
estava perplexo pelas coisas que ouvia e Jesus destacou, ironicamente, que
ele, apesar de ser líder em Israel, não era capaz de entender aqueles
ensinamentos. A verdadeira pedra de tropeço para ele não viria pelas coisas
que são entendidas (“coisas terrenas”), mas sim pelas “coisas espirituais”.
Quão difícil seria para Nicodemos crer no Filho de Deus, em sua
crucificação e sua morte! (Jo 3.13,14).
O texto não esclarece se Nicodemos creu em Cristo, embora
posteriormente o tenha defendido. Quando alguns dos fariseus procuravam
um meio para condenar Jesus, ele perguntou: “Condena a nossa lei alguém
sem primeiro ouvi-lo para descobrir o que faz?” (Jo 7.50,51). Após a morte
de Cristo, Nicodemos uniu-se a José de Arimatéia e ajudou a tirar o corpo
do Filho de Deus da cruz e colocá-lo no sepulcro. Providenciou perfumes
caros, como indicação de que era um homem rico (19.39). Esta última
referência talvez indique que ele se tenha tornado secretamente um crente
em Jesus. Como Nicodemos, que foi ao encontro de Cristo protegido pela
noite (v. 39), José de Arimatéia era “discípulo de Jesus, mas em oculto, por
temer os judeus” (19.38). Talvez os dois se identificassem na fé e no medo
dos judeus.
João usa o encontro de Nicodemos com Jesus para desenvolver outros
temas importantíssimos sobre o Filho de Deus. Primeiro, existe a questão
do relacionamento dos judeus com Cristo. São vistos como pessoas que não
entenderam qual era realmente a mensagem de Jesus ou quem Ele
realmente era. Segundo, a imagem do novo nascimento em João 3 é apenas
uma das várias instâncias no evangelho em que as pessoas não entendem as
palavras de Cristo, a fim de interpretar literalmente o que Ele tencionava
que fosse tomado num nível espiritual mais profundo. Em João 4, a mulher
samaritana primeiro interpretou literalmente a promessa de Cristo de
proporcionar uma água que acabaria definitivamente com a sede dela. Em
João 6, as pessoas procuraram um pão literal, quando Jesus oferecia um que
acabaria definitivamente com a fome espiritual. Em todos os casos Cristo
referia-se à necessidade essencial de uma operação do Espírito Santo na
vida de cada um deles (Jo 3.5-8; 4.23,24; 6.63; 7.37-39; etc.). Terceiro, João
demonstra ser essencial “crer” em Jesus, e muitos não creram; por isso, não
verão o reino de Deus nem herdarão a vida eterna. Os temas da vida eterna
e da fé são claramente destacados nesta passagem (3.12-15).
Provavelmente é algo significativo para João que Nicodemos, o qual
procurou Jesus na calada da noite, veio também em trevas de entendimento.
A ênfase sobre Jesus como “luz” nos versículos seguintes e o contraste com
os que amam a escuridão é explícita (3.19). João, porém, mostra como as
trevas espirituais podem ser remediadas — por meio da fé em Cristo, a luz
que veio ao mundo (Jo 3.16-21; 1.6-9; 8.12; 9.5). P.D.G.
NICOLAÍTAS, OS. Grupo herético que entrou em íntimo contato com
algumas das igrejas da Ásia Menor no final da Era Apostólica. Essa seita é
mencionada diretamente na Bíblia apenas em Apocalipse 2.6,15.
As tentativas para determinar o significado do nome “nicolaíta” não são
frutíferas e constituem apenas especulações. Existe uma tradição persistente
que relaciona a origem do grupo com Nicolau, um dos sete diáconos
escolhidos para ajudar os apóstolos em Atos 6.5. Se isso for verdade, o
cenário provável envolveria sua transferência para a Ásia Menor,
provavelmente com João, o escritor do Apocalipse (Ap 1.4). Em algum
ponto, Nicolau se desviou da fé cristã ortodoxa, conforme é indicado pela
ira de Deus contra as obras do grupo (Ap 2.6).
Pouco se sabe exatamente sobre as convicções e as práticas dos
nicolaítas. Se a heresia deles (Ap 2.15) for conectada “com a doutrina de
Balaão” (v. 14), na vizinha igreja de Pérgamo, com certeza eles estariam
envolvidos com elementos de idolatria e imoralidade sexual. Alguns
declaram que tais práticas dos “seguidores de Jezabel” na igreja de Tiatira
(v. 20) indicam que também eram nicolaítas.
Qualquer que seja a natureza da heresia, era desprezada pelo Senhor.
Embora Cristo repreenda a igreja de Éfeso por ter abandonado o primeiro
amor, o que provavelmente significa o mandamento duplo de amar ao
Senhor e ao próximo (Mt 22.36-39) — especialmente outros cristãos (Gl
5.13,14), o Senhor a elogia por sua perspectiva com relação aos nicolaítas
(Ap 2.6). Parece que, a despeito da séria queda espiritual e da necessidade
de arrependimento daquela igreja (v. 5), seu erro não era nem de perto tão
grave quanto os pontos de vista e o comportamento dos nicolaítas (v. 6).
A situação é similar na igreja de Pérgamo. Novamente, o Senhor
glorificado elogia a firme posição daqueles irmãos para com Ele e a firmeza
deles em face dos sofrimentos causados por Satanás (2.13). Ainda assim,
havia uma infiltração significativa do ensino nicolaíta na congregação (v.
15). A ordem de Cristo para que se arrependessem demonstra o quão sério
era para Ele tal envolvimento, mesmo por parte de uma minoria na igreja
local (v. 16).
Um fascinante elemento adicional dessas duas referências claras ao
ensino nicolaíta tem que ver com o aparente contraste entre a heresia e a
promessa de Cristo para os que “vencessem”. A falsa doutrina é
mencionada bem próxima da promessa (Ap 2.6,7,15,17), mas parece que há
um deliberado jogo de palavras entre “nicolaíta” (gr.“Nikolaites) e “vencer”
(gr.“Nikaw”).
Deste ponto de vista, parece que a posição nicolaíta é praticamente a
antítese da fé e do comportamento cristão ortodoxo. Certamente não é
demais acrescentar que os que sucumbem ao ensino herético ou tomam
parte em práticas idolátricas ou de imoralidade sexual são tudo, menos os
“vencedores” que Cristo determina que seu povo seja. A.B.L.
NICOLAU (“conquistador do povo”). Um dos sete diáconos indicados
para ajudar os apóstolos, os quais julgaram que o trabalho administrativo da
igreja primitiva em Jerusalém tornara-se um fardo muito pesado (At 6.5).
Diariamente as pessoas aceitavam a Cristo. Os novos convertidos de origem
greco-judaica reclamaram que suas viúvas eram desprezadas pelos judeus
cristãos na hora da distribuição diária dos alimentos. Os apóstolos
perceberam que gastavam tempo demasiado na solução desse tipo de
problema (v. 2) e negligenciavam o ministério da Palavra de Deus.
Portanto, sete homens foram indicados e escolhidos entre os reconhecidos
como “cheios do Espírito Santo e de sabedoria”. Os apóstolos oraram e
impuseram as mãos sobre eles e os nomearam para cuidar dos problemas
sociais do dia a dia da Igreja. Dado o conflito particular que ocorria na
comunidade, é interessante notar como uma atenção especial foi dada ao
fato de que Nicolau era “prosélito de Antioquia”, ou seja, já pertencia ao
judaísmo. Parece que a igreja deliberadamente tentou escolher
representantes dos dois grupos. Tais homens, “cheios do Espírito Santo”,
seriam capazes de unir os dois lados por meio do serviço ao Senhor. O v. 7
indica o sucesso dessa divisão de tarefas: “De sorte que crescia a palavra de
Deus, e em Jerusalém se multiplicava rapidamente o número dos
discípulos...”. P.D.G.
NÍGER. Profeta e mestre na igreja em Antioquia (At 13.1). Veja Simeão.
NINFA. Pessoa saudada pelo apóstolo Paulo em Cl 4.15, em cuja casa
uma igreja se reunia para os cultos. Supõe-se que se tratava de uma mulher,
embora não se possa determinar com certeza.
NINRODE. Filho de Cuxe, descendente de Cão e conhecido como
“poderoso caçador” (Gn 10.8,9; 1 Cr 1.10). Sua perícia como caçador gerou
um ditado: “Como Ninrode, poderoso caçador diante do Senhor” (Gn 10.9).
Gênesis 10.10,11 descreve com alguns detalhes como seus descendentes e
seu governo se estenderam através da Babilônia até a Assíria. O profeta
Miquéias igualou a terra de Ninrode à dos assírios e, numa passagem
messiânica, advertiu-os de que um dia Israel ficaria livre de toda e qualquer
invasão (Mq 5.6).
NINSI. Pai de Josafá e avô de Jeú, o qual se tornou rei de Israel,
mencionado somente em conexão com os dois (1 Rs 19.16; 2 Rs 9.2, 14,
20; 2 Cr 22.7). Dado ao fato de que Jeú em alguns textos é referido como
“filho de Ninsi”, provavelmente seria certo supor que a expressão signifique
simplesmente “descendente de”.
NISROQUE. Nome do deus que o rei Senaqueribe da Assíria adorava
em Nínive, quando foi assassinado por dois de seus filhos (2 Rs 19.37; Is
37.38). Sua morte foi atribuída à obra do Senhor, o qual prometera ao rei
Ezequias, de Judá, que os assírios não invadiriam Jerusalém (2 Rs 19.32-
34). Nenhuma identificação positiva sobre esse deus foi feita por meio de
outras fontes.
NOA. Uma das cinco filhas de Zelofeade, da tribo de Manassés, o qual
não teve filhos. Elas se casaram com primos, da mesma linhagem do pai
(Nm 26.33; 27.1; 36.1-12; Js 17.3). Noa e suas irmãs enfrentaram a questão
com relação à herança, pois normalmente a posse da terra passava para os
filhos homens.
Procuraram Moisés para tratar da questão, na porta do Tabernáculo, e
pediram-lhe que interviesse, para que tivessem permissão de apossar-se da
terra que seria do pai, pois não era justo que o nome dele fosse apagado da
memória de seu povo. Moisés consultou a Deus sobre esta situação e, como
resultado, uma nova lei foi promulgada, a qual permitia que as filhas
herdassem a terra do pai. Posteriormente, os líderes da tribo de Manassés
trataram com Moisés sobre este caso, e afirmaram que, se tais mulheres se
casassem com homens de outras tribos, a terra delas não seria mais
considerada como parte de Manassés. Uma emenda foi acrescentada à lei, a
fim de ordenar que as mulheres herdeiras se casassem com homens da tribo
do próprio pai, ou perderiam o direito à herança (Nm 36). Desta maneira, as
filhas de Zelofeade se casaram com primos paternos, em cumprimento à lei
do Senhor.
Quando finalmente os israelitas entraram na terra de Canaã e o território
foi dividido entre as tribos, essas mulheres receberam a parte que lhes cabia
(Js 17.3,4). P.D.G.
NOÁ (Heb.“descanso”). Quarto filho de Benjamim, o qual tornou-se um
líder em sua tribo (1 Cr 8.2). Seu nome é omitido na lista dos filhos de
Benjamim, em Gênesis 46.21.
NOADIAS (Heb. “encontro com o Senhor”).
1. Filho de Binui, da tribo de Levi, retornou da Babilônia com
Esdras. Ajudou a pesar e conferir os tesouros do Templo quando chegaram
a Jerusalém (Ed 8.33).
2. Profetisa que liderou um grupo de profetas que tentaram
atrapalhar o trabalho de Neemias e do povo de Judá na reconstrução dos
muros de Jerusalém. Uniu-se a Sambalate e Tobias na tentativa de intimidar
os homens que trabalhavam na reconstrução (Ne 6.14).
NOBA. Pertencente à tribo de Manassés, foi creditado como o
conquistador da cidade de Quenate, à qual deu seu próprio nome, Noba
(Nm 32.42). Esta localidade é mencionada em Juízes 8.11 e ficava na região
de Gileade (a região da Transjordânia, ao norte do mar Morto).
NODABE. Um dos nomes das famílias dos hagarenos (descendentes de
Hagar e de Ismael), os quais foram derrotados por uma coalizão formada
pelas tribos de Rúben, Gade e Manassés (1 Cr 5.19).
A arca
A aliança
PAULO
Introdução e antecedentes
Judeu, fariseu, encontrado pela primeira vez no livro de Atos com seu
nome hebraico — Saulo (At 7.58; 13.9). Nasceu em Tarso, Cilícia, cidade
localizada na Ásia Menor (atualmente sul da Turquia). Provavelmente
nasceu uns dez anos depois de Cristo, pois é mencionado como “um
jovem”, na ocasião do apedrejamento de Estêvão (At 7.58). Seu pai sem
dúvida era judeu, mas comprou ou recebeu cidadania romana. Por essa
razão, Paulo mais tarde utilizou-se desse direito por nascimento. Por isso,
apelou para ser julgado em Roma pelo próprio imperador César (At 22.25).
A despeito de sua cidadania, ele foi criado numa família judaica devotada,
da tribo de Benjamim. Recebeu uma instrução cuidadosa na lei judaica e
tornou-se fariseu. Também descreveu a si mesmo como “hebreu de
hebreus”. Foi criado de acordo com a judaísmo e circuncidado no oitavo dia
de vida; portanto, era zeloso na obediência de cada ponto da lei mosaica (Fp
3.5,6).
Paulo era tão zeloso da Lei e de sua fé que, em certa época de sua vida,
provavelmente no início da adolescência, viajou para Jerusalém, onde foi
aluno do mais famoso rabino de sua época. Posteriormente, disse aos líderes
judeus: “E nesta cidade criado aos pés de Gamaliel, instruído conforme a
verdade da lei de nossos pais, zeloso de Deus, como todos vós hoje sois”
(At 22.3).
Todos os mestres judaicos exerciam determinada função para sobreviver;
por isso, não é de admirar que esse líder religioso altamente educado
aprendesse também uma profissão com seu pai. Paulo era fabricante de
tendas (At 18.3) e ocasionalmente a Bíblia menciona como exerceu essa
função para se sustentar (1 Co 4.12; 2 Ts 3.8; etc.). Existem amplas
evidências nessas e em outras passagens de que ele trabalhava, para não
impor um jugo sobre as pessoas entre as quais desejava proclamar o
Evangelho de Cristo (1 Co 9.16-19). Além disso, dada a maneira como os
professores itinerantes e filósofos esperavam ser sustentados pelas pessoas
com alimentos e finanças, Paulo provavelmente não desejava ser
considerado mais um aventureiro (1 Ts 2.3-6).
Ananias impôs as mãos sobre ele, ocasião em que sua visão foi
restaurada. Imediatamente ele recebeu o Espírito Santo e foi batizado. Saulo
ainda ficou vários dias na companhia dos cristãos de Damasco, sem dúvida
para aprender o máximo que podia sobre Jesus. Entretanto, esse processo de
aprendizado não demorou muito tempo: “E logo, nas sinagogas, pregava
que Jesus era o Filho de Deus” (v. 20). Seu extraordinário entendimento
teológico somado à mudança total de sua perspectiva sobre Cristo, permitiu
que confundisse “os judeus que habitavam em Damasco, provando que
Jesus era o Cristo” (v. 22). Provavelmente, depois de um tempo
considerável como pregador naquela cidade, os judeus decidiram silenciar a
mensagem dele, ao planejar assassiná-lo. Ele escapou durante a noite e
voltou para Jerusalém, onde descobriu que era difícil unir-se aos demais
discípulos de Cristo, pois naturalmente todos tinham medo dele. Barnabé
levou-o à presença dos apóstolos, os quais lhe deram sua aprovação. Paulo
pregava e discutia abertamente com os judeus, até que novamente sua vida
foi ameaçada; os discípulos o levaram para Cesaréia, onde embarcou num
navio para Tarso (At 9.29,30; Gl 1.18-24). A extraordinária rapidez da
mudança no coração de Paulo e a velocidade com que entendeu as
Escrituras sob uma nova luz e começou a pregar o Evangelho de Cristo
proporcionam a mais dramática evidência da obra do Espírito Santo em sua
vida, depois do encontro que teve com Cristo na estrada de Damasco. Ele
próprio contou sobre sua experiência de conversão em duas ocasiões
posteriores. Na primeira instância, em Atos 22, quando foi preso em
Jerusalém e pediu para falar à multidão. Na segunda, em Atos 26, quando
fazia sua defesa diante do rei Agripa.
Desde que Deus “não fez diferença alguma entre eles e nós”, argumentou
Pedro (At 15.9-11), seria totalmente impróprio insistir em que os
convertidos entre os gentios fossem circuncidados. A circuncisão
claramente não era uma exigência para alguém ser um cristão, pois a real
marca do crente era a possessão do Espírito Santo. A salvação operava
inteiramente pela fé na graça do Senhor Jesus Cristo (v. 11). Paulo e
Barnabé também participaram da discussão e destacaram a grande obra da
graça que se manifestava entre os gentios e os milagres que Deus operava
entre eles. Tiago, entretanto, teve a sublime felicidade de dar a palavra final.
Tiago levantou-se, expôs as Escrituras e mostrou como os profetas
falaram sobre o tempo em que os gentios se voltariam para Deus.
Concordou que os novos convertidos não eram obrigados a circuncidar-se,
mas deviam demonstrar seu amor pelos cristãos judeus, ao abster-se da
carne sacrificada aos ídolos e da imoralidade sexual (At 15.13-21). Desde
que essa decisão não envolvia qualquer questão de princípio, todos
concordaram e uma carta foi enviada às igrejas gentílicas, a fim de informar
sobre a decisão do concílio. O grande significado dessa reunião foi a
maneira como se estabeleceu definitivamente a legítima aceitação dos
gentios como filhos de Deus. A defesa de Paulo da universalidade da
mensagem do Evangelho prevalecera.
A carta aos Efésios se inicia com uma das mais gloriosas passagens das
Escrituras, pois descreve as grandes bênçãos que os cristãos experimentam
por estarem “em Cristo”. Tais promessas foram planejadas por Deus desde
antes da criação do mundo. Incluem o perdão dos pecados, a adoção para os
que se tornam filhos de Deus, a alegria da glória de Deus e a posse do
Espírito Santo como garantia da redenção e da plena herança da vida eterna
(Ef 1). A epístola medita sobre essas bênçãos e o maravilhoso amor de
Deus por seu povo, amor este que leva à grande demonstração da graça na
salvação dos que têm fé em Jesus (Ef 2). A Igreja é o Corpo de Cristo,
unida no chamado e no propósito (Ef 2.11,12). Portanto, o povo de Deus
deve viver como filhos da luz, andar cheios do Espírito Santo, ser
imitadores de Deus e testemunhas dele no meio das trevas do mundo ao
redor (Ef 4.1 a 5.21). Paulo prossegue e expõe como certos relacionamentos
específicos refletiriam o amor de Deus por seu povo (Ef 21. a 6.10). Depois
insistiu em que os cristãos permanecessem firmes na fé e colocassem toda a
armadura de Deus, liderados pelo Espírito e obedientes à Palavra do Senhor
(Ef 6.1-18).
Filipenses é uma carta de agradecimento. O apóstolo escreveu para
agradecer aos cristãos de Filipos pela recente ajuda financeira que lhe
enviaram (especialmente Fl 1 e 4.10-20). Os crentes daquela cidade
aparentemente eram mantenedores fiéis do ministério de Paulo, e sua
gratidão a Deus pela vida deles brilha por toda a carta. Os comentários
pessoais sobre Epafrodito e sua enfermidade refletem o relacionamento
pessoal que o apóstolo mantinha com esses irmãos. Paulo advertiu-os com
relação aos judaizantes (Fl 3.1-11) e os desafiou a permanecer firmes e
continuar a viver vidas “dignas de Cristo”, qualquer que fosse a situação
que tivessem de enfrentar (Fl 1.27-30; 2.12-18; 3.12 a 4.1). A passagem
teológica mais notável pode ser encontrada em Filipenses 2.1-11. O texto
fala sobre a humildade de Cristo, uma característica que ninguém no mundo
antigo e muito menos no moderno realmente aspira! Esta humildade
demonstrada por Jesus, que acompanhou seu chamado até a cruz,
proporciona a base e o exemplo ao apelo de Paulo para que os filipenses
continuassem unidos em humildade, sem murmurações, enquanto
cumpriam o próprio chamado. Esta vocação é resumida por Paulo em
Filipenses 2.14-17. Deveriam resplandecer “como astros no mundo, retendo
a palavra da vida”.
Os cristãos de Colossos provavelmente eram, na maioria, gentios;
portanto, foram os primeiros a se converter ao Evangelho por intermédio do
ministério de Epafras (Cl 1.7; 2.13). Pelo que Paulo diz, os eruditos inferem
que, ao escrever esta carta, ele estava preocupado com algumas doutrinas
falsas que haviam entrado na igreja. Talvez o ensino herético tenha
diminuído a importância de Cristo, pois enfatizava demais a sabedoria
humana. Talvez insistissem na adoção de certas práticas judaicas como a
circuncisão e a guarda do sábado. A adoração de anjos provavelmente fazia
parte das ideias, e possivelmente havia também uma ênfase no misticismo e
nas revelações secretas. Em resposta a tudo isso, Paulo falou sobre a
preeminência de Jesus sobre todas as coisas. Somente Ele é o cabeça da
Igreja. É o Criador preexistente e o primeiro a ressuscitar dentre os mortos
(Cl 1.15-23). Foi em Cristo que aquelas pessoas haviam morrido para o
pecado e ressuscitado por Deus para uma nova vida. Foi “nele” que foram
perdoadas. “Em Cristo” as leis do sábado e sobre comidas e bebidas foram
consideradas redundantes, pois eram apenas “sombras” que esperavam a
manifestação do Filho de Deus (Cl 2.16-19). O desafio para esses cristãos
era que não se afastassem de Jesus, em busca de experiências espirituais por
meio de anjos ou da obediência a preceitos legais; pelo contrário, conforme
Paulo diz, “pensai nas coisas que são de cima, e não nas que são da terra.
Pois morrestes, e a vossa vida está oculta com Cristo em Deus” (Cl 3.2,3).
Deveriam viver como escolhidos de Deus e filhos consagrados, a fim de
que a palavra de Cristo habitasse neles abundantemente (Cl 3.15-17).
O ensino de Paulo
Cristo crucificado. Para o apóstolo, havia apenas uma resposta para essa
questão, e ele a encontrara na pessoa de Jesus. Aonde quer que fosse, Paulo
proclamava a Cristo. O Filho de Deus era a resposta para a situação de
todas as pessoas, não somente para os judeus, mas também os gentios.
Todos estão debaixo do julgamento de Deus e precisam de salvação,
redenção e perdão. O Senhor, entretanto, jamais ignoraria sua justiça, ou
seja, não expressaria amor por meio da supressão da justiça (veja Deus,
Jesus). Deus é amor, mas é também justiça. Paulo aprendera que, em Cristo,
a justiça perfeita de Deus foi revelada, mas a grande bondade, o amor, a
misericórdia e a graça do Senhor também se manifestam em Jesus.
Justificação pela graça por meio da fé. O aceso a essa obra salvadora de
Cristo na cruz era, para o apóstolo, inteiramente pela graça de Deus. Se a
redenção fosse alcançada por meio da obediência à Lei, seria possível que
as pessoas se orgulhassem de ter alcançado a própria salvação; Paulo,
porém, tinha plena convicção de que era obra de Deus por seu povo e uma
demonstração da sua graça (seu amor e misericórdia imerecidos) em favor
do seu povo (Ef 2.9). Várias vezes o apóstolo insiste em que todos terão de
comparecer diante do trono de Deus, e a única esperança do veredicto de
“não culpado” (de justificado), quando enfrentassem o julgamento justo de
Deus, estava na sua graça. Assim, a redenção vem pela graça e o indivíduo
pode apropriar-se dela pela fé, que envolve um compromisso com a justiça
de Deus e com seus caminhos justos em Cristo. A fé olha somente para
Deus em busca da salvação e, desta maneira, o homem admite a própria
incapacidade diante do Senhor, reconhece o pecado e a necessidade de
perdão, e olha para Deus como o único que o pode perdoar.
A vida depois da morte. Paulo tinha plena convicção da vida após a morte.
Pressupunha que um dia todas as pessoas testemunhariam a volta do Senhor
e enfrentariam seu julgamento (Rm 2.5; 14.10; Fp 2.10). Naquele dia
haverá uma separação entre as pessoas, que não dependerá de suas boas
obras ou más ações, mas da experiência da graça de Deus que tiveram em
suas vidas, pela fé (Rm 5.1; 8.1). Uma das maiores alegrias que Paulo
demonstrava como cristão era o fato de não temer a morte, pois cria que
Jesus conduziu seus pecados sobre si na cruz, onde pagou por eles (Rm
8.1517). De fato, o apóstolo tinha plena confiança no futuro. Se morresse
ou permanecesse vivo, estaria com o Senhor e continuaria a glorificá-lo (2
Co 5.6-9). De todas as pessoas, Paulo estava consciente da fragilidade da
vida humana. Em muitas ocasiões esteve próximo da morte e muitas vezes
foi espancado e apedrejado (2 Co 11.23-29). Falou em “gemer” e carregar
um fardo nesse corpo, mas mesmo assim perseverava, ciente de que um dia
o que é mortal será absorvido pela vida (2 Co 5.4). Novamente o apóstolo
voltou-se para o Espírito Santo dentro dele para a confirmação e a garantia
dessas promessas futuras (v. 5).
Embora Paulo deixasse claro que preferia estar com o Senhor do que
sofrer perseguições por causa da fé, nunca se preocupou com o que viria
depois da morte. Pelo contrário, sua absoluta convicção de que um dia,
como Cristo, ele ressuscitaria dentre os mortos e herdaria a vida eterna deu-
lhe um propósito para a existência. Deus o chamara para proclamar as boas
novas de que Jesus morrera no lugar de todo o que cresse nele e ressuscitara
dentre os mortos, sendo “as primícias” dos que dormem. A volta de Cristo e
a ressurreição dos mortos levarão a uma mudança radical do corpo (1 Co
15.20,35-44). Isso levou o apóstolo a declarar: “Mas a nossa pátria está nos
céus, de onde esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que
transformará o nosso corpo de humilhação, para ser conforme o seu corpo
glorioso, segundo o seu eficaz poder de sujeitar também a si todas as
coisas” (Fp 3.20,21).
Existe muita discussão sobre o que Paulo imaginava a respeito do tempo
da morte e o da ressurreição geral, na vinda de Cristo. Será que o apóstolo
acreditava em alguma forma de “sono da alma”, no qual as pessoas
entrariam em um tipo de inconsciência, no aguardo da vinda de Cristo? Ou
será que acreditava na possibilidade de o espírito humano ir imediatamente
à presença do Senhor? Não temos espaço aqui para examinar o ensino de
Paulo detalhadamente, mas existem passagens que deixam claro o seu ponto
de vista: após a morte, o homem interior (alma e espírito) é imediatamente
conduzido à presença do Senhor. Ao falar novamente sobre seu desejo de
servir a Deus, ao mesmo tempo em que desejava estar com Ele na
eternidade, Paulo disse: “Mas de ambos os lados estou em aperto, tendo
desejo de partir e estar com Cristo, o que é muito melhor” (Fp 1.23; veja
também 2 Co 5.3).
Apesar de todas as suas implicações, para o apóstolo a morte significava
“glória eterna”; “estar com o Senhor”; “vida”; “da parte de Deus um
edifício, uma casa... eterna, nos céus” (2 Co 4.17; 5.1,4,8). Não é de
estranhar, portanto, que pudesse declarar: “Portanto, nós não atentamos nas
coisas que se vêem, mas nas que não se vêem. Pois as que se vêem são
temporais, e as que não se vêem são eternas” (2 Co 4.18).
Conclusões
PECA (Heb. “ele tem aberto”). Filho de Remalias, foi rei de Israel (reino
do Norte), de 740 a 732 a.C. Chegou ao trono por causa do assassinato de
seu antecessor, o rei Pecaías (2 Rs 15.25). Comandante do exército, reuniu
um grupo de 50 homens da região de Gileade, conspirou contra o rei e o
matou. Provavelmente seus cúmplices eram todos oficiais graduados e
faziam parte do grupo de homens “ricos e poderosos” (v. 20) que não
estavam dispostos a pagar as pesadas taxas exigidas pelo rei da Assíria,
Tiglate-Pileser. No entanto, o rei Menaém e depois seu sucessor Pecaías
eram favoráveis ao pagamento.
Parece que Peca preparou-se durante algum tempo para efetuar o golpe
de estado. Provavelmente já liderava o povo na região de Gileade e
aparentemente já havia feito um tipo de aliança com Rezim, rei da Síria.
Essa é a solução mais provável para o intrincado problema da duração de
seu reinado. 2 Reis 15.27 diz que governou 20 anos e subiu ao trono no 52º
ano do reinado de Azarias, rei de Judá. Cronologias comparativas entre as
datas da queda de Samaria e as do reinado dos reis de Judá confirmam
claramente as datas mencionadas acima, limitando dessa maneira o período
de seu reinado a oito ou no máximo dez anos. Entretanto, se o autor do livro
de Reis soubesse que Peca fora o líder em grande parte do território de
Israel por um período de tempo, principalmente na região de Gileade, na
Transjordânia, antes de capturar Samaria, a referência a 20 anos de reinado
estaria correta, como uma descrição do tempo durante o qual ele manteve
um poder considerável e liderou o país.
No v. 29 há uma clara indicação do poder de Tiglate-Pileser III, o qual,
durante o reinado de Peca, capturou grandes extensões do território ao norte
e leste de Israel, inclusive a própria fortaleza do rei em Gileade e a cidade
fortificada de Hazor, que protegia a junção de duas importantes rotas
comerciais. Também transportou muitos israelitas daquelas regiões para a
Assíria.
A resposta de Peca foi aliar-se a Rezim, rei da Síria, para juntos
construírem uma grande fortaleza na Palestina. Os dois atacaram o rei Acaz,
de Judá, por ter-se recusado a participar da aliança (2 Cr 28.521). Os
israelitas infligiram uma severa derrota aos judeus, na região norte do reino
do Sul, e levaram muitos prisioneiros. “Peca, filho de Remalias, matou num
dia em Judá cento e vinte mil, todos homens valentes, porque haviam
deixado o Senhor, Deus de seus pais” (v. 6). Chegaram até mesmo a sitiar
Jerusalém (2 Rs 16.5). Acaz pediu ajuda aos assírios (2 Rs 16.7; 2 Cr
28.16). Quando o rei da Assíria chegou, simplesmente causou ainda mais
problemas a Acaz, embora tenha capturado Damasco e feito com que o
cerco de Jerusalém fosse suspenso (Is 7; 9.8-21). Posteriormente Peca foi
assassinado por Oséias, o qual era a favor de uma aliança com a Assíria (2
Rs 15.30).
No relato do reinado de Peca o livro de Reis documenta o declínio de
Israel e a aproximação do juízo inevitável de Deus. Com uma sucessão de
reis que subiam ao trono por meio do crime e assassinato, observa-se a
degeneração de uma nação que se recusava a voltar para o Senhor. Mesmo
quando Peca deu demonstração de que derrotaria Judá, foi apenas por um
breve momento, no qual Deus o usou para executar juízo contra o seu povo
judeu e contra Acaz, que ironicamente estava agindo como os reis de Israel
e fazia o que era mau aos olhos do Senhor (2 Rs 16.2,3). Enquanto em Judá
havia épocas em que os reis se arrependiam e o Senhor os poupava do
castigo, como, por exemplo, no tempo dos reis Ezequias e Josias, tais
arrependimentos não aconteciam em Israel. Em termos de obra de Deus,
portanto, o juízo viria em breve. Sob a liderança do rei da Assíria, tal
julgamento começou durante o reinado de Peca e foi concluído no governo
de seu sucessor, Oséias, o último rei de Israel (2 Rs 17.7-23). Para maiores
detalhes sobre estes acontecimentos, veja Acaz, Odede e Rezim. P.D.G.
PECAÍAS (Heb. “o Senhor tem aberto”). Filho do rei Menaém, de Israel.
Pecaías reinou em Israel por apenas 2 anos (741 a 740 a.C.). Como seus
antecessores, “fez o que era mau aos olhos do Senhor” (2 Rs 15.22-26).
Provavelmente, pagou tributos ao rei da Assíria, como fizera seu pai (vv.
19,20). Esse fato possivelmente causou a rebelião encabeçada pelo seu
comandante Peca, filho de Remalias, que subiu ao trono após assassiná-lo.
Tudo indica que o novo rei de Israel fez uma aliança com o governante sírio
(v. 37; 2 Rs 16).
PEDAEL (Heb. “Deus livra”). Filho de Amiúde, era o líder entre os
descendentes de Naftali. Deus ordenou que Moisés escolhesse homens
capazes de todas as tribos para ajudar na divisão da terra de Canaã, e
Pedaías foi o representante de seu povo (Nm 34.28).
PEDAÍAS (Heb. “o Senhor tem redimido”).
1. Pai de Zebida, a mãe do rei Jeoiaquim, de Judá (2 Rs 23.36).
2. Pai de Joel, o líder da tribo de Manassés durante o reinado de
Davi (1 Cr 27.20).
3. Listado entre os descendentes do rei Jeoiaquim; portanto, fazia
parte da linhagem real de Davi. Parece ter retornado para Judá após o exílio
na Babilônia. Foi pai de Zorobabel (1 Cr 3.18,19).
4. Filho de Parós, estava entre os judeus que colaboraram na
reconstrução dos muros de Jerusalém, após o exílio na Babilônia (Ne 3.25).
5. Um dos judeus que ficaram em pé ao lado de Esdras sobre um
púlpito, quando o livro da Lei foi lido publicamente para os israelitas.
Depois da leitura, o povo adorou ao Senhor, confessou os pecados e
renovou o compromisso de servir a Deus (Ne 8.4).
6. Filho de Colaías e pai de Joede, da tribo de Benjamim, foi
ancestral de alguns dos judeus que se restabeleceram em Jerusalém após o
exílio na Babilônia (Ne 11.7).
7. Levita que viveu na época de Neemias e foi considerado
particularmente fiel e digno de confiança; fez parte do grupo responsável
pelo cuidado dos depósitos do Templo, onde eram armazenadas as ofertas
do povo (Ne 13.13). P.D.G.
PEDAZUR. Pai de Gamaliel, o líder da tribo de Manassés durante o
censo realizado por Moisés no deserto do Sinai. Seu grupo totalizou 32.200
pessoas (Nm 1.10; 2.20). Como representante de seu povo, Gamaliel levou
as ofertas quando o Tabernáculo foi dedicado (Nm 7.54, 59) e liderou sua
tribo quando os israelitas finalmente partiram do Sinai para suas
peregrinações pelo deserto (Nm 10.23).
PEDRO
Antecedentes
A vocação de Pedro
Pedro sempre encabeça a lista dos discípulos de Jesus, não porque tenha
sido o primeiro a ser chamado, mas — como as discussões nas seções
seguintes indicarão — devido ao fato de ser líder entre os discípulos. Em
Mateus 10.2 lemos: “O primeiro, Simão, chamado Pedro” (também em Mc
3.16; Lc 6.14). Fazia parte do círculo mais íntimo dos discípulos de Cristo,
no qual encontravam-se também Tiago e João (Mc 5.37; 9.2; 13.3; Lc 8.51).
Pedro era um discípulo dedicado, que buscava exercitar a fé, embora
demonstrasse um pouco de volubilidade, como revelou o incidente em que
Jesus andou sobre a água (Mt 14.28). Ele admitia sua ignorância e a própria
pecaminosidade (Mt 15.15; Lc 5.8; 12.41) e, quando tinha dúvidas, fazia
muitas perguntas (Jo 13.24). Apesar de receber uma revelação divina a
respeito da identidade de Jesus, rejeitou qualquer noção quanto à sua morte,
uma atitude que Cristo atribuiu ao próprio diabo. A motivação dele foi
considerada de origem terrena, isto é, seu conceito do Messias era que se
tratava de um governador terreno, em cujo reino talvez imaginasse a si
mesmo no desempenho de um papel importante (Mt 16.23; Mc 8.33).
Esteve presente com Tiago e João na Transfiguração (Mc 9.7; Lc 9.28) e
ouviu a voz de Deus confirmando que Jesus era seu Filho amado (um
incidente do qual deu testemunho em 2 Pe 1.18) e exigindo obediência aos
ensinos de Cristo (Mt 17.1-6). Pedro aprendeu a importância de os
discípulos de Jesus pagarem os impostos aos reis terrenos, não porque
tivessem a obrigação, mas porque o não pagamento causaria uma
dificuldade para a promoção do Evangelho (Mt 17.27). Questionou sobre o
perdão e foi advertido a respeito do que aconteceria com o discípulo que
não perdoasse e a tortura que experimentaria (Mt 18.21-35). Foi rápido ao
lembrar a Jesus que os discípulos abandonaram tudo para segui-lo e recebeu
a promessa de que os doze se sentariam em tronos para julgar Israel (Mt
19.27-30; Mc 10.28; Lc 18.28). Inicialmente não permitiu que Jesus lavasse
seus pés e depois pediu que banhasse também suas mãos e sua cabeça,
como sinal de limpeza (Jo 13.6-10).
Pedro é lembrado por contradizer Jesus quando este falou que os
discípulos o negariam. Assim como os outros, replicou que estava disposto
a morrer e jamais negaria o Mestre (Mt 26.33-35; Mc 14.29; Lc 22.34; Jo
13.36-38). Falhou em vigiar e orar junto com Jesus, apesar do aviso de que
o espírito estava preparado, mas a carne era fraca (Mt 26.37-44; Mc 14.33-
41). No momento da prisão de Cristo, numa atitude impetuosa, cortou a
orelha de Malco, empregado do sumo sacerdote (Jo 18.10). No pátio da
casa de Caifás, a determinação de Pedro entrou em colapso, não diante de
um tribunal, mas da pergunta de uma jovem empregada. A enormidade de
sua negação, em cumprimento à profecia de Jesus de que ela aconteceria
antes do amanhecer do dia seguinte, fez com que ele chorasse amargamente
(Mt 26.58, 69-75; Mc 14.54, 66-72; Lc 22.54-62; Jo 18.1518, 25-27).
Diante do túmulo vazio, as mulheres receberam instruções de dizer aos
discípulos e a Pedro que veriam Jesus na Galiléia (Mc 16.7). Foi ele que a
seguir correu ao túmulo vazio e teve dúvida sobre o que tudo aquilo
significava (Lc 24.12; Jo 20.2-10). Quando estava no lago de Genesaré,
com alguns dos outros discípulos, Jesus apareceu-lhes e mostrou que estava
vivo. Pedro, que na ocasião estava no mar, lançou-se na água quando João
identificou que era o Senhor e foi em direção ao Mestre. A instrução que
Jesus deu da praia sobre o local onde deveriam atirar as redes resultou numa
pesca abundante. Depois da refeição, Cristo questionou Pedro sobre o nível
de seu amor por ele. Diante da afirmação de sua lealdade, Pedro recebeu a
ordem de cuidar do povo de Deus e alimentá-lo espiritualmente. Na mesma
ocasião ele foi informado sobre a forma de sua própria morte — por meio
da qual Deus seria glorificado (Jo 21.19). Segundo a tradição, tal fato
ocorreu em Roma.
O apostolado de Pedro
Depois da pergunta feita por Jesus, sobre como as pessoas o viam e o que
os próprios discípulos pensavam dele, Pedro foi o primeiro a confessar que
Cristo era o Messias prometido no Antigo Testamento. Além disso,
reconheceu que era o Filho do Deus vivo e que tinha as palavras de vida
eterna (Mt 16.16; Jo 6.68). Essa verdade não se desenvolveu por dedução
ou por algum meio humano, mas como revelação do Deus Pai. De acordo
com Jesus, esse entendimento de Pedro seria uma grande bênção não
somente porque constituía a verdadeira base do Evangelho para entender
quem é Jesus, mas também porque esta seria a mensagem que ele
proclamaria (Mt 16.17-19). Num jogo de palavras, Cristo disse a Simão que
seu nome seria mudado para “Pedro”, para descrever seu papel como
apóstolo. Jesus disse que seria “sobre esta pedra” que sua Igreja seria
edificada (“Sobre esta pedra” é uma tradução equivocada da frase. Na
construção original em grego o verbo é seguido por um particípio que, neste
caso, é usado no sentido de construir algo em frente de e não sobre algo).
Seria “diante desta pedra” (petros) que Jesus edificaria sua Igreja
(assembléia). Israel havia-se reunido numa assembléia solene diante do
monte Sinai para ouvir a Palavra de Deus, isto é, “o Livro da Aliança”, lido
por Moisés. Os israelitas endossaram a leitura e foram formalmente
constituídos como povo de Deus, depois da salvação do Egito (Êx 24.1-11).
Assim também a Palavra de Deus, isto é, o Evangelho na boca de Pedro,
seria o meio pelo qual os judeus que abraçassem a salvação oferecida por
Jesus constituiriam o povo de Deus naquela assembléia. Jesus, entretanto,
disse a Pedro que “as portas do inferno”, isto é, as hostes malignas, jamais
prevaleceriam contra a Igreja, pois tal é o poder concedido por Jesus. Pedro
foi o apóstolo dos judeus na Palestina, possivelmente em Corinto (1 Co
1.12) e também na Babilônia [que a tradição diz ser Roma] (2 Pe 5.13).
De fato vemos esta promessa de Jesus cumprir-se em Atos, pois foi Pedro
quem proclamou o Evangelho no dia de Pentecostes, quando
aproximadamente 3.000 judeus de Jerusalém e da diáspora foram salvos.
Seu discurso demonstrou seu conhecimento do Antigo Testamento, quando
citou Joel 2.28-32 como explicação para o fenômeno de judeus de
diferentes partes do Império Romano ouvirem as “grandezas de Deus”, isto
é, o Evangelho, proclamadas em sua própria língua materna. No mesmo
discurso, ele mencionou também o Salmo 16.8-11, para mostrar que a morte
jamais alcançaria vitória sobre Jesus e que o derramamento do Espírito
Santo era a prova de que Jesus fora exaltado como Senhor, conforme o
Salmo 110.1 dizia que Ele seria (At 2.1-42).
Novamente Pedro foi o pregador que explicou à multidão que o milagre
da cura do coxo na Porta Formosa não fora operado por ele, mas pelo poder
do Deus de Abraão, Isaque e Jacó. Foi esse Senhor que glorificara seu servo
Jesus cujo sofrimento fora predito por todos os profetas. Pedro proclamou
que Jesus era aquele sobre o qual Moisés falou em Deuteronômio 18.15-19
e que os que se recusassem a aceitá-lo seriam destruídos. Ele declarou que a
bênção sobre todas as famílias da Terra, conforme predito na promessa
abraâmica em Gênesis 12.3, agora realizara-se na morte e ressurreição de
Cristo. Os judeus, portanto, eram os primeiros a ter a oportunidade de
receber essa bênção, por meio dos arrependimento dos pecados. Em face do
interrogatório por parte dos líderes judaicos, Pedro declarou que o milagre
fora operado no nome do Senhor Jesus, o Messias ressurrecto, a pedra
rejeitada que é mencionada no Salmo 118.22, a única em que a salvação
estava alicerçada. A tentativa dos líderes de silenciar Pedro e João falhou
quando ambos declararam que não podiam ficar em silêncio, pois o papel
deles como apóstolos os compelia a dar testemunho do que tinham visto e
ouvido (At 3.1 a 4.22).
Cornélio, um homem temente a Deus, foi o primeiro gentio a ouvir o
Evangelho, por meio da pregação de Pedro. Tal palavra foi declarada como
a mensagem da paz enviada por Jesus, o Messias, que se tornou Senhor de
todos, após sua morte e ressurreição. Cristo deu aos discípulos a tarefa de
testemunhar que Ele era o que Deus apontou como juiz dos vivos e dos
mortos. Jesus tinha assegurado a remissão dos pecados para todo aquele que
cresse nele, como todos os profetas testificaram que aconteceria (At 10.34-
44).
Foi Pedro também quem declarou aos líderes da Igreja na Judéia que
Deus concedera a salvação também aos gentios mediante a pregação da
Palavra de Deus, oferecida por Jesus Cristo. Sua relutância natural em
levar-lhes o Evangelho, pois era judeu, foi vencida pela visão divina e as
circunstâncias miraculosas pelas quais os mensageiros de Cornélio foram
dirigidos até a casa onde ele estava hospedado (At 10.1-23; 11.1-18).
Aconselhou a assembléia reunida em Jerusalém a discutir a questão
polêmica da circuncisão dos novos cristãos e da obediência deles às leis
judaicas. Segundo Pedro, não deviam tentar a Deus, ao colocar sobre os
gentios convertidos o jugo da Lei que nem os próprios judeus conseguiam
carregar. Declarou que os gentios foram salvos pela graça de Deus, da
mesma maneira que os judeus cristãos (At 15.7-11).
Foi Pedro quem liderou os procedimentos para a eleição de Matias (At
1.15-26). O livro de Atos mostra também que ele tomou a iniciativa e falou
contra a fraude de Ananias e Safira (At 5.1-4). Foi liberto da prisão e da
morte certa de maneira sobrenatural em Atos 12.1-20; na cidade de Jope,
um milagre foi operado por meio dele, ou seja, a ressurreição de Dorcas (At
10.36-43).
Os escritos de Pedro
PROFETAS E PROFECIAS
No Antigo Testamento, os profetas eram mensageiros de Deus. Como
pessoas que falavam em nome do Senhor, referiam-se aos interesses
humanos a partir da perspectiva divina. Tinham uma dupla responsabilidade
em suas pregações. Por um lado, apresentavam um nítido quadro das
ambições humanas, do desafio ao Senhor e da depravação. Neste contexto,
os profetas anunciavam o arrependimento e falavam sobre a iminência do
juízo de Deus. Por outro lado, visualizavam uma humanidade transformada
e uma nova ordem mundial (o Reino de Deus). Com esse objetivo,
encorajavam os piedosos, pois os confortavam com a promessa da
restauração, exortando-os a perseverar na busca da piedade.
Os profetas, como arautos do Reino, formam uma corrente contínua de
Moisés até João Batista. O curso dessa “correnteza” é alterado durante a
história da redenção em junções cruciais, ou seja, “as correntes mais
rápidas”.
Moisés
Sumário
PUÁ. 1. Uma das parteiras que receberam ordens de Faraó para matar
todos os bebês do sexo masculino quando ajudassem no parto das mulheres
israelitas (Êx 1.15). Puá e sua colega Sifrá, entretanto, temeram a Deus e se
recusaram a obedecer a tal ordem. Quando foram chamadas pelo Faraó para
explicar por que os bebês israelitas estavam vivos, combinaram uma
história e disseram que, diferentemente das mulheres egípcias, as israelitas
eram muito fortes e davam à luz antes da chegada das parteiras (v. 19).
Deus abençoou o trabalho dessas mulheres de maneira que nasceram ainda
mais crianças; por causa da fé que demonstraram, as duas tiveram seus
próprios filhos (vv. 20,21). O livro de Êxodo registra que a ordem para
matar os bebês do sexo masculino no final foi cumprida pelos próprios
egípcios. Um dos poucos que escaparam foi Moisés, o qual se tornou líder
de seu povo e ajudou os israelitas a escapar da opressão de Faraó.
A fidelidade do povo de Deus durante a perseguição é sempre
recompensada, conforme registro nas Escrituras, e torna-se um exemplo
para as futuras gerações. O poder do Senhor em superar todas as armas que
os egípcios usaram contra seu povo foi lembrado por todas as gerações em
salmos de louvor e de oração (Sl 105.24-27).
2. Puá, da tribo de Issacar, era filho de Dodô e pai de Tola, o qual foi um
dos juízes de Israel (Jz 10.1). P.D.G.
PÚBLIO (Lat. “popular”). Mencionado como “principal da ilha”, ou
seja, o oficial nomeado pelos romanos para governar a ilha de Malta; citado
em Atos, quando o navio em que Paulo viajava para Roma naufragou
próximo dessa localidade. Públio recebeu o apóstolo e seus companheiros
em sua própria casa e os hospedou por três dias (At 28.7). O pai dele estava
doente, com febre altíssima; “Paulo foi vê-lo e, tendo orado, impôs-lhe as
mãos, e o curou” (v. 8). Quando a notícia sobre este milagre espalhou-se
pela ilha, todas as pessoas enfermas foram levadas a Paulo para serem
curadas. Três meses mais tarde, quando surgiram as condições propícias
para a continuação da viagem a Roma, os moradores da ilha
providenciaram todos os suprimentos de que necessitavam (vv. 9,10).
Embora a tradição diga que tempos depois Públio tornou-se o primeiro
bispo de Malta e morreu martirizado, essas informações ainda não foram
confirmadas.
PUDENTE. Um dos amigos de Paulo que enviaram saudações a
Timóteo no final da segunda carta escrita pelo apóstolo a este discípulo (2
Tm 4.21). Paulo escreveu esta epístola da prisão em Roma e menciona
Lino, Cláudia e “todos os irmãos” que também enviam saudações.
Existem diferentes tradições sobre quem era Pudente e qual foi o seu
papel no cristianismo primitivo, porém nenhuma ainda foi confirmada.
PUL. Outro nome do rei Tiglate-Pileser III, da Assíria (2 Rs 15.19; 1 Cr
5.26). Pode simplesmente tratar-se do nome original do rei.
PURÁ. Servo de Gideão que, por orientação do Senhor, o acompanhou
até os arredores do acampamento do exército midianita durante a noite (Jz
7.10,11). Ali, os dois ouviram uma conversa na qual um soldado contava a
um amigo um sonho que tivera, ocasião em que um pão de cevada caiu
sobre o acampamento deles e bateu com tamanha força contra uma tenda
que a derrubou. Seu companheiro interpretou a visão como um sinal
indicador de que Deus entregaria os midianitas nas mãos de Gideão (vv.
1315). Este voltou ao acampamento, reuniu seus 300 homens e disse-lhes
que a vitória do Senhor sobre os midianitas estava garantida.
PUTE. Um dos filhos de Cão, o qual teve pelo menos seis filhos; quase
todos eles tornaram-se progenitores de diferentes tribos e povos. Portanto,
Pute é tanto o nome de uma pessoa como de uma nação (Gn 10.6-9; 1 Cr
1.8), provavelmente a moderna Líbia; mas não é possível afirmar com
certeza.
PUTIEL. Pai da mulher com a qual Eleazar, filho de Arão, se casou. O
nome dela não é mencionado; foi a mãe de Finéias (Êx 6.25).
PUVA. Segundo filho de Issacar, tornou-se fundador do clã dos puvitas.
Listado como integrante do grupo que desceu com Jacó para o Egito (Gn
46.13; Nm 26.23; 1 Cr 7.1).
Q
QUARTO. Um dos cristãos que se uniram a Paulo nas saudações finais
em sua carta aos Romanos. O apóstolo referiu-se a ele como “irmão” (Rm
16.23).
QUEDAR (Heb. “escuro”). Segundo filho de Ismael; foi um líder tribal
(Gn 25.13; 1 Cr 1.29; veja Nebaiote). Cedeu seu nome a uma tribo árabe,
mencionada em numerosas ocasiões na Bíblia; provavelmente, possuía uma
pele bem escura. Em Cântico dos Cânticos 1.5 a beleza morena da esposa
amada é referida na expressão “como as tendas de Quedar”. Em outros
textos o lugar é citado em profecias referentes ao juízo de Deus. Sua
distância na direção do Oriente proporciona base para ser referido no
contexto da grande extensão do governo do Senhor (Sl 120.5; Is 21.16,17;
42.11; Jr 2.10; 49.28; Ez 27.21).
QUEDEMÁ. Filho de Ismael e neto de Abraão e Hagar; era líder de um
clã (Gn 25.15; 1 Cr 1.31).
QUEDORLAOMER. Rei de Elão e um dos quatro monarcas da
Mesopotâmia que invadiram a Palestina no tempo de Abraão (veja também
Arioque, Anrafel e Tidal). O relato de Gênesis 14 é interessante, pois
destaca como o vale do rio Jordão era uma região cobiçada, capaz de atrair
uma aliança de reis de lugares bem distantes, e mostra também a rapidez do
crescimento da influência de Abraão na região.
Está claro que o líder da confederação invasora era o rei Quedorlaomer
(Gn 14.4,5). Eles já haviam conquistado várias cidades do vale do Jordão e
áreas ao redor do mar Morto e governavam a terra há doze anos. No 13º
ano, os reis dessas invasores (veja Bera, Birsa, Sinabe e Semeber).
Novamente, contudo, foram obrigados a fugir. Os quatro reis capturaram
uma grande extensão de terra, que incluía as cidades da campina, das quais
tomaram todo o espólio. Levaram cativo, juntamente com o resto dos
cidadãos, o sobrinho de Abraão (Ló) que morava em Sodoma.
Isso fez com que Abraão entrasse em cena. Quando soube o que
acontecera, perseguiu Quedorlaomer e alcançou-o bem ao norte. Num
ataque sutil e inteligente, nosso patriarca derrotou a confederação de reis e
retornou com Ló e sua família (Gn 14.14-17).
Esses reis vieram da mesma região que fora o lar de Abraão. A vitória
dele sobre esses monarcas é de grande significado, pois é vista em Gênesis
14 como a conquista de Deus, indicando o estabelecimento de Abraão em
Canaã, bem como sua separação final e completa da antiga existência. Daí
em diante, sob o plano soberano de Deus, a influência de Abraão na “Terra
Prometida” cresceu cada vez mais. P.D.G.
QUEILA. Abiqueila em algumas versões. Da tribo de Judá, era garmita e
filho de Hodias (1 Cr 4.19).
QUELAÍAS. Também chamado de Quelita, foi um dos levitas que se
casaram com mulheres estrangeiras. Depois do retorno do exílio na
Babilônia, concordou em se divorciar, segundo a orientação de Esdras (Ed
10.23).
QUELAL. Descendente de Paate-Moabe, foi um dos judeus que se
casaram com mulheres estrangeiras, após o retorno do exílio na Babilônia.
Seguiu a orientação cidades rebelaram-se e lutaram contra os de Esdras e
divorciou-se (Ed 10.30).
QUELITA. Também chamado de Quelaías, foi um dos levitas que se
casaram com mulheres estrangeiras. Depois do retorno do exílio na
Babilônia, concordou em se divorciar, seguindo a orientação de Esdras.
Também ajudou na tarefa de ensinar a Lei de Deus ao povo e selou o pacto
feito pelos judeus de adorar ao Senhor e obedecer à sua lei (Ed 10.23; Ne
8.7; 10.10).
QUELUBE. 1. Pai de Meir e irmão de Suá, mencionado em 1 Crônicas
4.11. Pertencia à tribo de Judá.
2. Pai de Ezri, o qual era um dos superintendentes de Davi, responsável
pelos homens que trabalhavam nas fazendas e nas lavouras do rei (1 Cr
27.26).
QUELUÍ. Descendente de Bani, listado entre os judeus que se casaram
com mulheres estrangeiras, depois do exílio na Babilônia. Seguiu a
orientação de Esdras e divorciou-se (Ed 10.35).
QUEMUEL. 1. Filho de Naor e sua esposa Milca; portanto, sobrinho de
Abraão. Entre outros, era irmão de Uz e Buz. Tornou-se pai de Arã (Gn
22.21).
2. Filho de Siftã, nomeado pelo Senhor e escolhido por Moisés
como líder da tribo de Efraim. Sua tarefa seria a de organizar a distribuição
do território destinado ao seu povo, entre os vários clãs e famílias, depois da
conquista de Canaã (Nm 34.24).
3. Pai de Hasabias, um dos líderes da tribo de Levi no tempo do
rei Davi (1 Cr 27.17).
QUENA ANÁ. 1. Bisneto de Benjamim, filho de Bilã (1 Cr 7.10).
2. Pai de Zedequias, o falso profeta, cujo confronto com o verdadeiro,
Micaías, é relatado em 1 Reis 22 e 2 Crônicas 18.
QUENANI. Levita que viveu na época de Neemias, estava entre o grupo
dos que dirigiram o povo na adoração e nos cânticos depois da leitura do
livro da Lei e de um longo período de confissão (Ne 9.4).
QUENANIAS. Levita que viveu durante o reinado de Davi. Quando o
rei levou a Arca da Aliança para Jerusalém, pediu aos sacerdotes que
escolhessem cantores e músicos para irem adiante dela. Quenanias ficou
responsável pelo coral, pois tinha uma bela voz e era perito (1 Cr 15.22,
27). Supõe-se que ele e sua família são mencionados novamente em 1
Crônicas 26.29; posteriormente, receberam responsabilidades fora do
Templo, “como oficiais e juízes” sobre Israel.
QUENAZ. 1. Neto de Esaú e Ada (mulher cananita), era filho de Elifaz e
líder entre os edomitas (Gn 36.11,15,42; 1 Cr 1.36,53).
2. Irmão de Calebe e pai de Otniel, o qual atacou Quiriate-Sefer,
ao aceitar um desafio feito pelo tio Calebe; depois da vitória sua
recompensa foi casar-se com a prima Acsa. Posteriormente, Otniel tornou-
se juiz de Israel (Js 15.17; Jz 1.13; 3.9,11; 1 Cr 4.13).
3. Filho de Elá e neto de Calebe, o filho de Jefoné (1 Cr 4.15).
QUERÃ. Filho de Disom e neto de Aná, foi líder entre os horeus (Gn
36.26; 1 Cr 1.41).
QUÉREN-HAPUQUE (Heb. “chifre de antimônio ou de pintura”). No
final da vida de Jó, depois de todas as tribulações e tragédias que enfrentou,
Deus o abençoou novamente. Entre os filhos que lhe nasceram nesse
estágio, havia três meninas. A caçula chamava-se Quéren-Hapuque (Jó
42.14). Assim como as outras duas, era considerada extremamente bela;
cada uma delas recebeu parte da herança de Jó (v. 15). O nome sugere sua
beleza, pois antimônio era um metal caríssimo usado na fabricação de
pinturas para os olhos.
QUEROS. Líder de uma das famílias dos serviçais do Templo. Seus
descendentes retornaram do exílio na Babilônia nos dias de Esdras e
voltaram a trabalhar no Santuário, após sua reconstrução (Ed 2.44; Ne
7.47).
QUÉSEDE. Filho de Naor e sua esposa Milca; portanto, sobrinho de
Abraão (Gn 22.22). Veja Betuel.
QUETURA (Heb. “incenso”). Segunda esposa de Abraão (a primeira foi
Sara), embora em 1 Crônicas 1.32,33 seja chamada de concubina. Nessa
ocasião Sara já havia morrido (Gn 23) e Abraão era bem idoso.
Possivelmente desposou-a por sentir-se só, depois do casamento de Isaque
com Rebeca (Gn 24). Quetura teve vários filhos, os quais tornaram-se
líderes de tribos em seus próprios territórios. Desta maneira, a promessa de
Deus a Abraão, “Far-te-ei frutificar sobremaneira; de ti farei nações, e reis
sairão de ti” (Gn 17.6) já se cumpria em parte. Talvez a nação mais famosa
mencionada nas Escrituras da qual Quetura foi a progenitora seja Midiã (Gn
25.1,4; 1 Cr 1.32,33). P.D.G.
QUEZIA. No final da vida de Jó, depois de todas as tribulações e
tragédias que enfrentou, Deus o abençoou novamente. Entre os filhos que
lhe nasceram nesse estágio, havia três meninas. A Segunda chamava-se
Quezia (Jó 42.14). Junto com as outras duas, era considerada extremamente
bela; cada uma delas recebeu parte da herança de Jó (v. 15). O nome refere-
se ao perfume de certa flor.
QUILEABE. Um dos filhos do rei Davi, nascidos em Hebrom. Sua mãe
era Abigail, viúva de Nabal (2 Sm 3.3). Em 1 Crônicas 3.1, é chamado de
“Daniel”.
QUILIOM. Filho de Elimeleque e Noemi e irmão de Malom. Viveu nos
dias dos juízes de Israel. Devido a uma severa fome que castigou a região
de Judá, seu pai deixou a cidade de Belém e partiu para Moabe, com sua
família (Rt 1.1,2). Após a morte do marido, Noemi passou a viver sob os
cuidados dos dois filhos. Tempos depois, Malom e Quiliom também
morreram, embora o livro de Rute não comente como isso aconteceu. Os
dois irmãos eram casados com mulheres moabitas, as quais passaram a
cuidar de Noemi (Rt 1.35). Quiliom casara-se com Orfa. A esposa de
Malom, chamada Rute, posteriormente decidiu acompanhar a sogra na
viagem para Belém, onde conheceu Boaz e casou-se com ele. Este comprou
de Noemi todas as propriedades que pertenciam a Quiliom, bem como as de
seu pai Elimeleque e de seu irmão (Rt 4.9,10).
P.D.G.
QUIRINO. Nascido por volta do ano 50 a.C., é mencionado na Bíblia
somente no evangelho de Lucas como “governador da Síria” (Lc 2.2).
Durante seu governo foi realizado um censo ordenado pelo imperador César
Augusto, no qual todas as pessoas precisavam dirigir-se à sua cidade natal
para recensear-se. Sob a direção de Deus, José e Maria foram a Belém, onde
Jesus nasceu, em cumprimento da profecia de que o Messias nasceria em
Belém, cidade de Davi (Lc 2.4; Mq 5.2; Mt 2.6; Jo 7.42).
O historiador Tácito escreveu que Publius Sulpicius Quirino foi um
bravo soldado, a quem o imperador Augusto recompensou com o cargo de
cônsul e que ocupou várias funções administrativas. Tácito prossegue e diz
que em seus últimos anos Quirino não era muito querido, devido à sua
mediocridade. Governou Creta como procônsul durante algum tempo e
depois lutou para restaurar a paz na Pisídia e Cilícia, na Ásia Menor, entre
os anos 12 e 3 a.C., quando foi nomeado procônsul da Ásia. Somente no
ano 6 d.C. tornou-se governador da Síria e Cilícia, um posto que dirigiu
durante três anos.
Para Lucas, a menção de Quirino não teve outra função senão a de
identificar a cronologia do nascimento de Jesus; mas para os historiadores
modernos isso tem causado problemas consideráveis. Em Atos 5.37
Gamaliel refere-se a um recenseamento que aconteceu aproximadamente no
ano 6 d.C. No entanto, alguns recadastramentos romanos aconteceram num
ciclo de 14 anos, o que colocaria o censo anterior entre 8 a 7 a.C., quando
Quirino provavelmente exercia outro cargo em outro lugar. Alguns
estudiosos insistem em que Lucas simplesmente se equivocou. A exatidão
histórica que ele geralmente demonstra, entretanto, deixa claro que tal
informação está correta. Várias sugestões são apresentadas para o conflito
potencial destas datas. Uma das mais razoáveis seria que Quirino já exercia
algum tipo de autoridade na Síria antes de ser formalmente nomeado no ano
6 d.C. A lista de governadores desta província revela algumas lacunas, uma
das quais, entre 11 a 8 a.C., provavelmente foi preenchida por Quirino.
Talvez a sugestão mais provável seja que ele manteve alguma função
extraordinária, com base na Síria, enquanto estava em campanha militar na
Pisídia e na Cilícia. Certamente a Síria seria uma base eficiente para tais
manobras. Alguns sugerem que ele possivelmente ordenou o censo em 8
a.C., o qual ocupou um ano ou mais para sua conclusão. Jesus neste caso
nasceu entre 6 e 5 a.C. e tinha mais ou menos dois anos de idade quando
Herodes ordenou o massacre das crianças (Mt 2.1318; Herodes morreu em
Jericó na primavera de 4 a.C.). Vários estudiosos têm escrito muitas coisas
sobre esse assunto, mas a reconstrução dos eventos precisa considerar a
evidência em Mateus relacionada com Herodes e a exatidão histórica de
Lucas. Algumas provas externas foram acrescentadas para apoiar tais
teorias, mas é certo que a última palavra sobre essa questão ainda não foi
escrita! P.D.G.
QUIS. 1. Um dos filhos de Jeiel e sua esposa Maaca. Foi um dos
ancestrais de Quis, pai de Saul; é mencionado em 1 Crônicas 8.29,30 (cf. 1
Cr 9.35).
2. Pai do rei Saul, da tribo de Benjamim (1 Cr 8.33; 9.39; 12.1;
26.28). Era um homem “forte e valoroso”, filho de Abiel (1 Sm 9.1;
10.11,21; 14.51). Após sua morte, Quis foi sepultado em Zela, no território
de Benjamim (2 Sm 21.14). Numa ocasião, ele perdeu algumas de suas
jumentas e enviou seu filho Saul para procurá-las, o qual percorreu toda
região (1 Sm 9.3). A busca fracassou e Saul foi incentivado pelo seu servo a
consultar Samuel, o “homem de Deus”. As jumentas foram recuperadas,
mas aquele encontro entre Saul e Samuel foi o primeiro de muitos outros e
o profeta o ungiu rei de Israel (1 Sm 9.19,20; 10.1; At 13.21).
3. Um levita do clã de Merari; filho de Mali e pai de Jerameel (1
Cr 23.21,22; 24.29).
4. Outro levita do clã dos meraritas. Viveu na época do rei
Ezequias, de Judá, e talvez descenda do personagem do item anterior. Foi
chamado para fazer parte da equipe que trabalhou na purificação do
Templo, durante o avivamento ocorrido no reinado de Ezequias (2 Cr
29.12).
5. Benjamita, foi bisavô de Mordecai, que, junto com a rainha
Ester, foi responsável pela preservação do povo judeu (Et 2.5). P.D.G.
QUISI. Filho de Abdi, era levita do clã dos meraritas e pai de Etã, o qual
serviu no Tabernáculo (1 Cr 6.44). Em 1 Crônicas 15.17-19 é mencionado
um Etã, filho de Cusaías. É possível que Quisi e Cusaías sejam a mesma
pessoa.
QUISLOM. Pai de Elidade, da tribo de Benjamim (Nm 34.21), o qual
foi escolhido por Moisés para liderar os benjamitas.
R
RAABE. 1. Sua história está registrada no cap. 2 de Josué. Dois homens
foram enviados de Sitim para avaliar o poderio das cidades de Canaã,
especialmente Jericó. Eles entraram na casa de uma prostituta chamada
Raabe e logo descobriram que era uma mulher temente a Deus, que estava
temerosa sobre o que aconteceria com seus entes queridos quando os
israelitas se apossassem de Canaã. Quando o rei de Jericó soube da
presença dos dois espias, enviou uma mensagem a Raabe, pedindolhe que
os entregasse. Ela, no entanto, escondeu os dois espias no telhado da casa e
disse aos mensageiros que eles já tinham ido embora. Em troca de sua ajuda
aos israelitas, Raabe pediu proteção para sua família e recebeu essa garantia
por parte dos dois espiões. Quando os israelitas conquistaram Jericó, ela e
seus familiares foram poupados (Js 6.22-25). Esse compromisso de Raabe
para com os israelitas que chegavam e para com o Deus deles foi um ato de
fé reconhecido no Novo Testamento (Tg 2.25; Hb 11.31).
2. Os estudiosos estão divididos quanto à identidade da Raabe
mencionada em Mateus 1.5. Alguns crêem que se trata da mesma referida
no item anterior, enquanto outros sustentam que era outra mulher, esposa de
Salmom e mãe de Boaz. S.C.
RAAMÁ. Quarto filho de Cuxe; portanto, neto de Cão. Ele e seus filhos,
Sabá e Dedã, são listados em Gênesis 10.7 e 1 Crônicas 1.9. Ezequiel 27.22
refere-se aos mercadores de Sabá e Raamá, que negociavam perfumes,
pedras preciosas e ouro. A localização de Raamá não está determinada,
embora haja sugestões de que se situava no lado ocidental da península
arábica, provavelmente no moderno Iêmen.
RAAMIAS. Um dos líderes israelitas que retornaram para Jerusalém e
Judá com Zorobabel, depois do exílio na Babilônia (Ne 7.7). Provavelmente
é o mesmo personagem chamado Reelaías, mencionado em Esdras 2.2.
RAÃO (heb. “amor”). Filho de Sema e neto de Hebrom, da tribo de Judá,
na qual era líder. Era pai de Jorqueão (1 Cr 2.44).
RABI (Heb. “meu senhor”, “meu mestre”, etc.; rab significa “grande”).
Vocábulo usado apenas no Novo Testamento, embora a raiz rab ocorra
ocasionalmente no Antigo Testamento como uma demonstração de respeito
por alguém que ocupa um cargo oficial. Gradativamente, o termo foi usado
apenas para os mestres e líderes religiosos entre os judeus.
Jesus deu estritas instruções aos discípulos para que não fossem
chamados de “Rabi”, com o intuito de informar que era um título que
gerava orgulho. “Vós, porém, não sereis chamados Rabi, pois um só é o
vosso Mestre, e vós todos sois irmãos” (Mt 23.8). Esta era uma das mais
importantes lições que Cristo tinha para ensinar aos discípulos sobre a
constituição do Reino de Deus. Os membros deste reino não deviam buscar
posição privilegiada.
Em várias ocasiões Jesus foi chamado de “Rabi”, em sinal de respeito
(Mc 9.5; 10.51; 1.49; 3.2; etc.), embora em outras situações houve esse
também um senso de ironia no seu uso, como na atitude de Judas Iscariotes
(Mt 26.25,49). Quando dois dos discípulos de João referiram-se a Jesus
como “Rabi”, o Batista interpretou o termo para sua audiência como
“professor” (Jo 1.38). João Batista também foi respeitosamente chamado
dessa maneira (Jo 3.26). Lucas não usa de maneira alguma tal vocábulo,
pois substitui os termos “mestre” ou “senhor” por outros. P.D.G.
RADAI. Quinto filho de Jessé (1 Cr 2.14). Quando Samuel foi ungir
Davi rei, o velho belemita fez com que todos seus filhos passassem diante
do profeta, por ordem de idade, a partir do mais velho. Davi foi o sétimo da
fila.
RAFA. 1. Ancestral dos gigantes encontrados entre os filisteus quando os
israelitas fizeram guerra contra eles. Seu nome geralmente aparece na
expressão “descendentes de Rafa” (2 Sm 21.16, 18,20,22; 1 Cr 20.6,8). Em
hebraico um artigo é usado junto com o nome, ou seja, “o Rafa”, para
informar que este vocábulo não indica uma raça ou um povo. A relação
entre os gigantes encontrados nas guerras contra os filisteus na época de
Davi e os descendentes dos refains (dos quais Ogue, rei de Basã,
supostamente foi o último) não está definida. Certamente a menção de Rafa
ou “o gigante” indicava a enorme estatura de alguns dos inimigos que
apavoraram os israelitas. Os nomes dos soldados israelitas que mataram os
referidos “descendentes de Rafa” foram registrados para a posteridade em
alguns dos textos mencionados anteriormente.
2. Quinto filho de Benjamim, tornou-se líder na tribo (1 Cr 8.2).
Seu nome é omitido na lista dos filhos de Benjamim em Gênesis 46.21.
P.D.G.
3. Filho de Bineá e pai de Eleasá, da tribo de Benjamim; era
descendente do rei Saul (1 Cr 8.37). Em 1 Crônicas 9.43 é chamado de
Refaías.
RAFAEL (Heb. “curado por Deus”). Filho de Semaías, listado entre os
porteiros do Tabernáculo nos dias do rei Davi (1 Cr 26.7).
RAFU (Heb. “curado”). Pai de Palti, benjamita, o qual foi um dos doze
homens enviados por Moisés do deserto de Parã para espiar a terra de
Canaã (Nm 13.9).
RAINHA DE SABÁ. Davi foi sucedido no trono por seu filho Salomão,
o qual era famoso por sua sabedoria, suas riquezas e seu relacionamento
com o Senhor. A rainha de Sabá foi outra grande soberana daquela época.
Provavelmente, este local é o moderno Iêmen, uma república no sul da
Arábia. Quando ela ouviu falar sobre Salomão, decidiu visitá-lo, com o
objetivo de testar seus conhecimentos. A rainha chegou a Jerusalém com
todo seu esplendor, mas não pôde superar o filho de Davi. A Bíblia diz que
ela “ficou fora de si” com as respostas de Salomão, sua fé em Deus e a
organização de seu reino. Qual foi sua resposta? Elogiou o rei de Israel
abertamente e, o que é ainda mais significativo, louvou o Senhor Deus de
Salomão. Os dois grandes governantes trocaram presentes e demonstraram
grande respeito mútuo e admiração pelo Senhor (1 Rs 10.1-13). S.C.
RAMIAS (Heb. “o Senhor é alto”). Descendente de Parós. Secanias
confessou a Esdras que muitos homens de Judá tinham-se casado com
mulheres de outras tribos e até de diversas nações. Esdras levou o povo ao
arrependimento e fez um pacto com eles de servir ao Senhor (Ed 10.2).
Ramias foi um dos judeus que se divorciaram das mulheres estrangeiras (Ed
10.25).
RÃO (Heb. “exaltado”).
1. Irmão de Jerameel e filho de Herzom. Pertencia à tribo de Judá
e era pai de Aminadabe. Listado na genealogia de Perez, Boaz e Davi no
final do livro de Rute; portanto, era um dos ancestrais de Jesus Cristo,
mencionado nas genealogias apresentadas por Mateus e Lucas (Rt 4.19; 1
Cr 2.9,10; Mt 1.3,4; Lc 3.33).
2. Filho primogênito de Jerameel e neto de Hezrom. Também
pertencia à tribo de Judá e era primo do personagem referido no item
anterior. Teve três filhos: Maaz, Jamim e Equer (1 Cr 2.25, 27).
3. Nome da família à qual Eliú pertencia. Este era um dos amigos
de Jó, os quais tentaram “confortá-lo” (Jó 32.2).
RAQUEL (Heb. “ovelha”). Enquanto Lia encontrava sua realização
dentro de uma situação sem esperança, Raquel era a filha formosa que foi
um pouco “prejudicada” e era um tanto petulante. A facilidade que a irmã
tinha para conceber (Gn 29.31 a 30.1) era uma verdadeira provocação e a
levava à ira contra Deus. A repreensão de Jacó é um exemplo do cuidado do
marido e uma correção teológica (Gn 30.2); como Sara fizera antes dela
(Gn 16), Raquel adotou o expediente legal de usar uma serva por meio da
qual seria possível assegurar sua maternidade; assim como Abraão, Jacó
concordou (também agiu errado?). Como resultado dessa atitude — Lia
imediatamente fez a mesma coisa (Gn 30.9) — a família multiplicou-se,
mas o relacionamento entre as irmãs deteriorou-se. Tais eventos
demonstram tristemente que Raquel via até mesmo a maternidade em
termos de competição (vv. 6,7). Estava confiante demais quanto aos seus
“direitos” diante de Deus (v. 6) e morbidamente insensível em sua
suposição de posse sobre o marido (v. 15). Mesmo assim, a graça de Deus
deu-lhe um lugar proeminente nos propósitos divinos. Foi a mãe de José,
um grande personagem bíblico (v. 24). Raquel e Jacó são um dos grandes
exemplos de uma história de amor na Bíblia (Gn 29.9s,1618,20,30). Há
outro exemplo de tristeza tão genuína quanto a de Jacó na morte dela (Gn
48.7) ou alguma outra pessoa que tenha tido o nome mudado de forma tão
comovente quanto o filho da tristeza de Raquel, o qual se tornou o rebento
da mão direita de Jacó (Gn 35.16-20)? Debaixo de um exterior às vezes
considerado endurecido, batia um coração terno; esta era a Raquel que
Jeremias ouviu chorar por seus filhos eLivross (Jr 31.15) e cujas lágrimas
encontraram plena intensidade no selvagem ataque do mundo contra o
plano divino da salvação (Mt 2.17,18). J.A.M.
REABIAS (Heb. “o Senhor tem ampliado”). Originário de Moisés por
meio de Eliezer, cujos filhos “se multiplicaram grandemente”. Um de seus
descendentes, Issias, foi chefe de família no tempo do rei Davi e outros
foram responsáveis pelos tesouros do Templo (1 Cr 23.17; 24.21; 26.25).
REAÍAS. 1. Filho de Sobal, um dos famosos descendentes de Judá. Seu
filho chamava-se Jaate (1 Cr 4.2).
2. Descendente de Joel e filho de Mica, da tribo de Rúben. Seu
filho chamava-se Baal. Viveu pouco tempo antes da invasão assíria efetuada
pelo rei Tiglate-Pileser III (1 Cr 5.4).
3. Líder de uma das famílias de servidores do Templo, cujos
descendentes retornaram do exílio na Babilônia nos dias de Esdras e
voltaram a trabalhar no Santuário (Ed 2.47; Ne 7.50).
REBA (Heb. “quarto”). Um dos cinco reis midianitas que Moisés
derrotou em batalha, como parte do juízo por terem feito os israelitas
desviar-se de Deus (Nm 31.2, 8; Js 13.21; veja Nm 25). Aliaram-se ao rei
de Siom (para mais detalhes veja Siom). O território desses monarcas foi
dado à tribo de Rúben.
REBECA. Sua determinação foi demonstrada na pronta decisão de
separarse de sua família para casar-se com Isaque (Gn 24.57) e em sua
espiritualidade pessoal (Gn 25.22). Essa autoconfiança tornou-a a esposa
perfeita para o tímido Isaque e ambos experimentaram uma verdadeira
alegria conjugal (Gn 24.67; 26.7,8). A fraqueza de Rebeca, entretanto, era o
outro extremo de sua força: sua determinação foi usada de maneira errada
(Gn 27.5-16), a espiritualidade foi sufocada pela falta de paciência para
esperar o cumprimento das promessas de Deus (25.23) e a esposa digna
degenerouse em uma mulher dominadora. E que preço Rebeca pagou! —
uma maldição (27.13), ou seja, nunca mais viu seu querido filho Jacó!
Apropriadamente essa mulher confiável e atraente descansou ao lado de
Isaque em Macpela (49.31). J.A.M.
RECABE. 1. Filho de Rimom, o beerotita, da tribo de Benjamim. Junto
com seu irmão Baaná, era líder entre os soldados de Saul. Depois da morte
deste rei, seu filho Is-Bosete assumiu seu lugar mediante o apoio de Abner
e de 11 tribos de Israel, enquanto a de Judá seguia Davi (2 Sm 2.8-10).
Tempos depois, quando Abner foi assassinado, Recabe e Baaná pensaram
que receberiam o favor de Davi se matassem Is-Bosete, o que realmente
fizeram. Levaram a cabeça dele ao novo rei, o qual ficou furioso. Davi
nunca desejara destruir a família de Saul desta maneira, pois sempre se
dispôs a esperar o tempo de Deus. Mandou matar Recabe e Baaná pela
perfídia que cometeram contra Is-Bosete (2 Sm 4.2,5,6,9) e a cabeça deste
filho de Saul foi sepultada no túmulo junto com Abner (v. 12).
2. Pai de Malquias, o qual se tornou governador do distrito de
Bete-Haquerém, após o retorno do exílio na Babilônia, nos dias de Neemias
(Ne 3.14).
3. Mencionado como o pai de Jonadabe (2 Re 10.15,23), o qual
apoiou Jeú em sua luta contra Acabe. Ao demonstrar grande zelo pelo
Senhor, os dois mataram todos os profetas de Baal (vv. 16, 23-28) e fizeram
muito para promover a verdadeira adoração em Israel.
Nos dias de Jeremias havia um grupo conhecido como “família dos
recabitas”. Essas pessoas traçaram sua linhagem familiar até Jonadabe, o
qual, segundo elas, deixou estritas instruções para obedecer aos
mandamentos de Deus e às ordens específicas sobre o estilo de vida que
levariam, o qual incluía não tomar vinho nem construir casas; pelo
contrário, deveriam viver como nômades em tendas. Residiam
provisoriamente em Jerusalém somente para se protegerem dos caldeus (Jr
35.3-11). Jeremias usou-os como exemplo para Judá, pois eles pertenciam a
um grupo que permaneceu fiel aos antepassados, algo que os israelitas
fracassaram em fazer (vv. 12-17). Notemos que o profeta não se referiu aos
mandamentos particulares que os recabitas seguiam, mas, sim, à fidelidade
geral deles à Lei e ao Senhor. Devido a essa fidelidade, Deus prometeu-
lhes, através de Jeremias: “Nunca faltará homem a Jonadabe, filho de
Recabe, que assista perante a minha face todos os dias” (v. 19).
Em 1 Crônicas 2.55 há uma referência aos “queneus, que vieram de
Hamate, pai da casa de Recabe”. Hamate provavelmente é o pai de Recabe,
mas talvez seja um lugar onde os queneus viveram. O próprio Recabe pode
ter-se referido simplesmente a um grupo ou associação de pessoas cujos
ancestrais foram os queneus. P.D.G.
REELAÍAS. Um dos líderes israelitas que retornaram com Zorobabel
para Jerusalém e Judá após o exílio na Babilônia (Ed 2.2). Provavelmente é
o mesmo Raamias mencionado em Neemias 7.7.
REFÁ (Heb. “riquezas”). Filho de Berias, membro de uma família da
tribo de Efraim. Mencionado em 1 Crônicas 7.25.
REFAÍAS (Heb. “o Senhor cura”).
1. Filho de Isi, da tribo de Simeão, viveu no tempo do rei
Ezequias, de Judá. Liderou uma invasão na região montanhosa de Seir (a
leste do mar Morto), onde os remanescentes dos amalequitas foram mortos.
Depois disso, seu povo estabeleceu-se naquela área (1 Cr 4.42, 43).
2. Descendente do rei Davi e Zorobabel, da tribo de Judá, é
mencionado na genealogia de 1 Crônicas 3.21.
3. Neto de Issacar e filho de Tola, foi um soldado valente (1 Cr
7.2).
4. Filho de Bineá e descendente do rei Saul, da tribo de
Benjamim. Foi pai de Eleazá e é mencionado na genealogia de Saul (1 Cr
9.43).
5. Filho de Hur, foi “maioral da metade de Jerusalém” e um dos
líderes da obra de reconstrução dos muros de Jerusalém, sob a direção de
Neemias (Ne 3.9). P.D.G.
REGEM. Filho de Jodai, descendente de Judá e Calebe, mencionado em
1 Crônicas 2.47.
REGEM-MELEQUE (Heb. “amigo do rei” [?]). Junto com Sarezer,
integrou uma delegação enviada de Betel ao Templo em Jerusalém, “para
suplicarem o favor do Senhor” por meio dos sacerdotes, no período após o
exílio (Zc 7.2).
REI E REINADO
“Pois Deus é o Rei de toda a terra; cantai-lhe salmos de louvor” (Sl 47.7).
Uma verdade fundamental ensinada na Bíblia — talvez a mais importante
— Deus é o Rei de toda a Terra e seu reino é eterno (Sl 9.7; 10.16). É
soberano por direito, pois é o Criador de todo o Universo, o qual lhe
pertence (Jó 41.11; Sl 50.10-12; 96.10). Ele reina hoje e, embora nem todas
as pessoas reconheçam seu governo, um dia o farão (Zc 14.9). O Senhor
reina não apenas sobre a terra, mas também no céu (Sl 103.19). Todos os
seus anjos lhe prestam obediente lealdade, “todos os seus exércitos
celestiais,... ministros seus...em todos os lugares do seu domínio” (Sl
103.21,22).
O governo de Deus como Rei é universal, embora seja também particular.
De acordo com o AntigoTestamento, o Senhor escolheu um povo para ser
sua “possessão exclusiva”. No monte Sinai, Deus chamou Moisés do alto da
montanha e lhe disse: “Assim falarás à casa de Jacó, e anunciarás aos filhos
de Israel: Vistes o que fiz aos egípcios, como vos levei sobre asas de águias,
e vos trouxe a mim. Agora, se diligentemente ouvirdes a minha voz, e
guardardes a minha aliança, sereis a minha propriedade peculiar dentre
todos os povos. Embora toda a terra seja minha, vós me sereis reino
sacerdotal e nação santa. São estas as palavras que falarás aos filhos de
Israel” (Êx 19.3-6; cf. Is 43.15).
Talvez esta consciência de que Deus era o Rei — e, num sentido especial,
o Rei de Israel — tenha feito com que os israelitas demorassem tanto tempo
para estabelecer um rei humano; naturalmente Israel entraria em contato
com o conceito do reinado terreno mais por meio da observação da prática
dos vizinhos (Jz 3.12; 4.2; 8.5). Gideão, por exemplo, quando lhe
ofereceram a oportunidade de tornar-se rei e iniciar uma dinastia, recusou a
oferta com as seguintes palavras: “O Senhor sobre vós dominará” (Jz 8.23).
Suas palavras deram um testemunho eloqüente da ideia de que somente
Deus era o Rei legítimo, embora suas atitudes posteriores indicassem uma
inclinação em outra direção; no final, exigiu uma recompensa real por seus
serviços (Jz 8.24-26), teve 70 filhos (v. 30) e colocou em um deles o nome
de Abimeleque, que significa “meu pai é rei” (v. 31).
O desejo por um rei foi abertamente demonstrado pela exigência dos
anciãos (1 Sm 8). Cientes de que chegara o momento de Samuel passar a
liderança para outra pessoa e seus filhos não eram qualificados para o
substituírem, eles exigiram: “Constitui-nos, agora, um rei sobre nós, para
que nos governe (literalmente “julgue”), como o têm todas as nações” (1
Sm 8.5). Samuel, o juiz, ao ouvir a palavra “julgar” na exigência dos
anciãos, aparentemente interpretou-a como uma rejeição pessoal, e “esta
palavra não agradou” a ele (v. 6). O Senhor, porém, assegurou-lhe que o
problema era muito mais profundo: “Não rejeitaram a ti, mas a mim, para
eu não reinar sobre eles” (v. 7). Assim, o reinado terreno foi introduzido em
Israel, em meio à pecaminosidade humana.
Mesmo assim, desde o princípio, Deus já desejava que um dia Israel
tivesse um rei terreno (Gn 49.10; Nm 24.7,17-19; cf. Gn 17.6,16; 35.11).
Moisés previu o dia em que os israelitas se estabeleceriam em Canaã e
desejaria um rei; até mesmo deu instruções para a regulamentação do
reinado, quando isso acontecesse (Dt 17.14-20). Desta maneira, a despeito
do momento impróprio e do tom da exigência dos anciãos em 1 Samuel 8, o
Senhor concordou em dar-lhes um rei. Primeiro, porém, fez com que
Samuel os advertisse sobre o sofrimento que enfrentariam sob o domínio de
um monarca, como acontecia com as outras nações (1 Sm 8.10-18). De fato,
jamais foi intenção do Senhor que seu povo tivesse aquele tipo de rei. Pelo
contrário, o monarca de Israel deveria estar subordinado ao grande Rei, o
próprio Deus. O governante, assim como seus súditos israelitas, precisava
obedecer à Palavra de Deus (Dt 17.18-20). O monarca de Israel deveria ser
um rei “sagrado”, o ungido do Senhor, alguém cuja vida seria sacrossanta (1
Sm 26.9). Diferentemente dos faraós do Egito, entretanto, não seria adorado
como se fosse a encarnação dos deuses; também, ao contrário dos reis da
Babilônia, não seria visto como divino por adoção. Em vez disso, o rei de
Israel seria simplesmente responsável por temer ao Senhor, servi-lo e
obedecer-lhe, e não se rebelar contra seus mandamentos — em resumo,
precisava seguir ao SENHOR, como todos os cidadãos de Israel (1 Sm
12.14,15).
Foi exatamente nesta questão da obediência à Palavra de Deus que o
primeiro rei de Israel, Saul, filho de Quis, fracassou (1 Cr 10.13). A
primeira ocasião em que o Senhor o repreendeu explicitamente, por meio de
uma palavra profética proferida por Samuel, está registrada em 1 Samuel
13. Especificamente, Saul foi considerado um louco, pois não guardava os
mandamentos (ou um dever designado) do Senhor (v. 13). A tarefa em vista
era importante, dividida em duas partes, e fora atribuída a Saul por ocasião
de sua unção (1 Sm 10.7,8), destinando-se a testar sua disposição de
submeter-se ao Grande Rei (para mais detalhes, veja Saul, rei de Israel). A
segunda repreensão explícita também centralizou-se na questão da
obediência (1 Sm 15). Enquanto a primeira destruiu as esperanças de Saul
fundar uma dinastia (1 Sm 13.13,14), a última assinalou que ele
pessoalmente fora rejeitado, aos olhos de Deus, como rei (1 Sm 15.26). O
cap. 16 de 1 Samuel começa com a confirmação do Senhor de que Saul, o
qual essencialmente representava o rei escolhido pelo povo (1 Sm 8.18, 22;
12.13), fora definitivamente rejeitado. Deus então anuncia que escolhera
seu próprio rei (“um homem segundo o seu coração/da sua própria
escolha”: 1 Sm 13.14; cf. com o “melhor do que tu” em 1 Sm 15.28). É
difícil evitar a conclusão de que, na pessoa de Saul, o povo recebeu o objeto
de sua exigência pecaminosa de um rei “como o têm todas as nações” e na
mesma pessoa receberam também o castigo por esse pecado (cf. Os 13.10-
11).
O rei escolhido por Deus era Davi, filho de Jessé (1 Sm 16.1-13).
Embora não fosse imune ao pecado (2 Sm 11), ele tinha um coração voltado
para o Senhor (cf. 1 Sm 16.7). Mais importante, “o Senhor era com ele” (1
Sm 16.18; 18.12,14,28) e prometeu-lhe um reino que seria firmado “para
sempre” diante dele (2 Sm 7.16). A promessa de Deus a Davi, de um reino
perpétuo, registrada em 2 Samuel 7.4-17 (cf. 1 Cr 17.3-15), é considerada o
ápice teológico do Antigo Testamento. Ao recordar o passado, o Senhor
tomava as promessas de bênçãos feitas a Abraão e sua semente eleita (Gn
12.2,3) e as convergia para Davi (veja especialmente 2 Sm 7.9,10,12). Ao
contemplar o futuro, estabelecia o cenário para a esperança messiânica que
se tornaria a figura dominante na fé de Israel, tanto antes como depois do
exílio (veja a seguir).
O governo de Davi, como o do próprio Deus, foi caracterizado não
somente pela subjugação dos inimigos de Israel (2 Sm 8.1-14), mas também
por ações justas e íntegras (v. 15), medidas provavelmente pelo “livro do
direito do reino” (1 Sm 10.25) e pela Lei de Moisés (1 Rs 2.3; cf. Ne 9.13;
sobre o governo justo e íntegro de Deus, seja Sl 89.14; 99.4). Assim como
mais tarde Jeroboão foi visto como a quintessência do rei perverso (1 Rs
15.34; 16.2, 19; etc.), Davi foi colocado como o rei teocrático ideal, leal e
fiel (1 Rs 11.4, 16; 14.8; etc.). Apesar disso, nem ele nem seus descendentes
viveram totalmente de acordo com este ideal. Os próprios fracassos deles
despertaram a esperança de que um dia “um ramo” verdadeiramente justo
apareceria na linhagem de Davi, um “Rei” que “reinará e prosperará, e
praticará o juízo e a justiça na terra” (Jr 23.5; cf. 33.15). Esta expectativa
messiânica freqüentemente era expressa nos escritos proféticos (Is 11.1; Jr
23.5,6; Ez 34.24; Os 3.5; Zc 3.8; 6.12) e foi somente reforçada com a queda
de Judá e a destruição do Templo.
De fato, foi na pessoa de um filho de Davi que as expectativas
messiânicas do Antigo Testamento se cumpriram. Jesus, o Cristo (que quer
dizer Messias, o ungido), foi aclamado por Deus em seu batismo e na
Transfiguração com palavras ricas em conotações messiânicas: “Este é o
meu Filho amado, em quem me comprazo” (Mt 3.17 e 17.5 batismo e
transfiguração, respectivamente). “Este é o meu Filho” lembra “Tu és meu
Filho” do Salmo 2.7, um texto messiânico. “Em quem me comprazo”
lembra: “Aqui está o meu Servo, a quem sustenho, o meu eleito, em quem
se compraz a minha alma”, de Isaías 42.1, que representa a primeira das
canções do profeta sobre o sofrimento do servo messiânico. “Meu Filho
amado” pode até mesmo lembrar “o teu único filho, Isaque, a quem amas”,
de Gênesis 22.2, o texto no qual Deus instrui Abraão a tomá-lo e oferecê-lo
como sacrifício ao Senhor. Tudo isso estava implícito nas poucas palavras
proferidas pelo Deus Pai e dirigidas ao seu Filho unigênito. Seria de
estranhar que após o batismo Jesus fosse imediatamente “levado pelo
Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo” (Mt 4.1)? Será que Cristo
aceitaria um papel messiânico que o levaria a uma cruz de criminoso antes
de lhe dar uma coroa de glória?
Aqueles que conhecem e aceitam o testemunho das Escrituras sabem que
a resposta a essa pergunta é sim. O apóstolo Paulo resumiu eloqüentemente
a humilhação seguida da exaltação, a qual foi o propósito do primeiro
advento de Jesus, o Cristo, “que, sendo em forma de Deus, não teve por
usurpação ser igual a Deus, mas a si mesmo se esvaziou, tomando a forma
de servo, fazendo-se semelhante aos homens. E, achado na forma de
homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de
cruz. Pelo que Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu um nome que é
sobre todo o nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho dos que
estão nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Cristo
Jesus é o Senhor, para glória de Deus Pai” (Fp 2.6-11). À luz do que se
cumpriu através da morte de Jesus, as palavras que Pilatos mandou colocar
acima da cabeça dele, na cruz, “ESTE É JESUS, O REI DOS JUDEUS”,
embora fossem irônicas, certamente eram verdadeiras (Mt 27.37; cf. Jo
18.37).
Nossa discussão sobre o reinado na Bíblia começou com o
reconhecimento de que Deus, o Criador, é Rei por direito. Em 1 Timóteo
6.15, Paulo reconhece o Pai como o “bendito e único Soberano, Rei dos reis
e Senhor dos senhores”. Apocalipse 19.16 completa o círculo, ao descrever
também o Filho como “Rei dos reis e Senhor dos senhores”. Jesus, co-
criador com o Pai (Jo 1.3; Cl 1.16), entrou em sua própria criação, para
estabelecer seu Reino. Trata-se de um governo que não foi edificado pelas
mãos dos homens, nem se consegue entrar nele por meio do esforço
humano. É um Reino composto pela “geração eleita, o sacerdócio real, a
nação santa, o povo adquirido” (1 Pe 2.9), um povo não apenas chamado
“das trevas para sua maravilhosa luz”, mas comprado pelo sangue do Rei
(At 20.28; Ap 5.9; Cl 1.16-20). Este é o Reino para o qual a promessas do
Antigo Testamento apontam e do qual os reis da dinastia de Davi eram
apenas uma sombra. P.L.
REÍ (Heb. “amigável”). Um dos homens que, junto com o sacerdote
Zadoque e o profeta Natã, entre outros, permaneceram fiéis ao desejo de
Davi de colocar seu filho Salomão no trono, como seu sucessor (1 Rs 1.8).
Outro filho do rei, Adonias, tentou usurpar o reino; Salomão, entretanto,
seguiu cuidadosamente os conselhos de Natã e de Zadoque e garantiu seu
direito à sucessão. Para mais detalhes, veja Natã.
REMALIAS. Pai de Peca, mencionado na Bíblia somente na expressão
“Peca, filho de Remalias”. Peca tornou-se rei de Israel depois de assassinar
Pecaías (2 Rs 15 e 16; 2 Cr 28.6; Is 7.1,4; 8.6; etc.). Para mais detalhes, veja
Peca.
RENFÃ. Nome de uma divindade babilônica, relacionada ao planeta
Saturno. Em seu discurso, registrado em Atos 7.43, Estêvão referiu-se a
Renfã, ao citar a versão da Septuaginta de Amós 5.26. A passagem em
hebraico refere-se a deusesestrelas ou “estrela do vosso Deus” (Versão
Contemporânea). A referência a Renfã ocorre numa passagem onde o
primeiro mártir do cristianismo mostrava como os ancestrais dos judeus
tinham-se rebelado contra Deus e precisaram de perdão, assim como
aconteceria com aquela geração para a qual falava. Tal pregação resultou
em sua morte.
REQUÉM (Heb. “amizade”).
1. Um dos cinco reis midianitas que Moisés derrotou em batalha
como parte do juízo por terem feito os israelitas desviar-se de Deus (Nm
31.2, 8; Js 13.21; veja Nm 25). Eram aliados de Siom (para mais detalhes,
veja Siom). O território desses reis foi dado à tribo de Rúben.
2. Filho de Hebrom; portanto, um dos líderes na tribo de Judá. Foi
pai de Samai (1 Cr 2.43,44).
3. Filho de Seres, descendente de Manassés e líder nessa tribo.
Era neto de Maquir e de sua esposa Maaca (1 Cr 7.16).
RESÁ. Um dos ancestrais de Jesus Cristo, listado na genealogia que vai
de Jesus a Adão. Aparentemente era um dos filhos de Zorobabel, embora
não seja mencionado no Antigo Testamento (Lc 3.27).
RESEFE (Heb. “chama” ou “fogo”). Filho de Refá, membro de uma
família da tribo de Efraim. Mencionado junto com seu filho Telá (1 Cr
7.25).
REÚ (Heb. “amigo”). Filho de Pelegue, portanto descendente de Sem,
foi pai de Serugue. Assim, foi ancestral de Abraão, mencionado na
genealogia apresentada no evangelho de Lucas que vai de Jesus e José até
Adão (Gn 11.18-21; 1 Cr 1.25; Lc 3.35).
REUEL (Heb. “amigo de Deus”).
1. Primeiro filho de Esaú e Basemate. Nasceu em Canaã e tornou-
se chefe edomita (Gn 36.4, 10; 1 Cr 1.35). Seus filhos, Naate, Zerá, Samá e
Mizá estabeleceram-se como chefes de famílias edomitas (Gn 36.13,17; 1
Cr 1.37).
2. Reuel, também conhecido como Jetro, foi o sacerdote midianita
que se tornou sogro de Moisés quando este se casou com sua filha Zípora
(Êx 2.18, 21; Nm 10.29). Veja Jetro.
3. Mencionado em 1 Crônicas 9.8 como pai de Sefatias e filho de
Ibnias. Depois do exílio na Babilônia, seu neto Mesulão estava entre os
primeiros membros da tribo de Benjamim que se estabeleceram em
Jerusalém.
4. Em algumas versões da Bíblia (não é o caso da
Contemporânea), o nome do pai de Eliasafe, líder da tribo de Gade, é Reuel,
em Números 2.14. A Versão Contemporânea traduziu corretamente como
Deuel, em coerência com Números 1.14; 7.42, 47; 10.20; etc. Veja Deuel.
REUM. 1. Um dos líderes israelitas que retornaram com Zorobabel para
Jerusalém e Judá, após o exílio na Babilônia (Ed 2.2).
2. Um dos oficiais da corte durante o reinado de Artaxerxes (Ed
4.8,9). Ele e vários magistrados persas e oficiais que governavam regiões
do império próximas a Canaã e Samaria opuseram-se à reconstrução dos
muros de Jerusalém. Temiam que os judeus se estabelecessem numa cidade
fortificada e depois se recusassem a pagar os impostos para o imperador.
Escreveram uma carta onde detalharam suas preocupações ao rei
Artaxerxes (vv. 12-16). O monarca respondeu a Reum, seu comandante, e a
Sinsai, o escrivão (v. 17), a fim de informar-lhes que mandara pesquisar nos
arquivos e descobrira que os israelitas de fato foram um povo poderoso no
passado e realmente seria perigoso permitir que continuassem a
reconstrução da cidade. Reum e Sinsai receberam ordens para parar a obra,
o que foi feito imediatamente (v. 23).
O livro de Esdras prossegue e mostra como Deus agiu soberanamente em
favor de seu povo, apesar do decreto de Artaxerxes. Sob a direção dos
profetas Ageu e Zacarias, no segundo ano do reinado de Dario, o trabalho
foi reiniciado e finalmente concluído, para o louvor e a glória de Deus.
2. Filho de Bani, da tribo de Levi. Sob a direção de Neemias,
colaborou na reconstrução dos muros de Jerusalém depois do retorno dos
judeus do exílio na Babilônia (Ne 3.17). Possivelmente é o mesmo que
posteriormente assinou o pacto de obediência ao Senhor e à sua Lei (Ne
10.25).
2. Listado entre os judeus que retornaram do exílio com
Zorobabel (Ne 12.3). P.D.G.
REUMÁ. Concubina de Naor, irmão de Abraão. Deu à luz quatro filhos,
os quais foram ancestrais das tribos sírias (Gn 22.24).
REZIM (Aram. “chefe”).
1. Tornou-se rei da Síria em 740 a.C., durante os últimos anos do
reino do Norte [Israel], no reinado de Peca. Os dois reis fizeram uma
aliança, na esperança de juntos lutar contra os assírios. Quando o rei Acaz,
de Judá, recusou-se a unirse a eles, ambos atacaram os judeus com algum
sucesso, fizeram muitos prisioneiros e até mesmo sitiaram Jerusalém por
algum tempo (2 Rs 16.5,6). Esta agressão contra o reino do Sul é registrada
em 2 Reis 15.37 como um ato do juízo de Deus contra Judá por causa da
idolatria e do afastamento do Senhor. Deus, entretanto, não permitiu que
Rezim tomasse Jerusalém. Acaz apelou para TiglatePileser III e os assírios
invadiram a Síria, conquistaram Damasco, deportaram seus moradores e
mataram Rezim (2 Rs 16.69), de acordo com a profecia de Isaías (Is 7.1-8;
8.3,4, 6; veja também Am 1.3-5).
2. Líder de uma das famílias de servidores do Templo cujos
descendentes retornaram do exílio na Babilônia nos dias de Esdras e
voltaram a trabalhar no Santuário (Ed 2.48; Ne 7.50). P.D.G.
REZOM. Depois do casamento do rei Salomão com mulheres
estrangeiras, o que era contrário à Lei de Deus, o escritor de 1 Reis diz: “No
tempo da velhice de Salomão suas mulheres lhe perverteram o coração para
seguir a outros deuses, e o seu coração não era completamente leal para
com o Senhor seu Deus, como fora o de Davi, seu pai” (1 Rs 11.4). Como
conseqüência desse pecado, o Senhor levantou adversários contra ele (vv.
14,23). Rezom, filho de Eliada, foi um desses adversários, o qual era sírio e
tinha fugido de Hadadezer, rei de Zobá. Formou um bando de homens que,
sob sua liderança, atacaram e conquistaram Damasco. O relato de 1 Reis
11.23-25 simplesmente diz que ele acrescentou o mal que Hadade fazia e
continuou inimigo de Israel durante o resto da vida de Salomão.
O incidente demonstra o declínio de Salomão, o qual começara seu
reinado diante das muitas bênçãos de Deus, por causa de sua fidelidade. À
medida que seu poder crescia, ele dependia cada vez menos do Senhor e
mais de si mesmo. Seus casamentos com mulheres estrangeiras, como a
filha de Faraó, do Egito, provavelmente foram realizados por razões
políticas e diplomáticas, para assegurar a estabilidade do reino e a paz com
as nações fronteiriças. Salomão, entretanto, deveria confiar no Senhor que,
por certo, protegeria o território de Israel. O juízo de Deus, por meio dos
inimigos que se levantaram nos países vizinhos e o atacaram, foi
particularmente significativo e apropriado para a correção de seu pecado.
P.D.G.
RIBAI. Pai de Itai, da tribo de Benjamim e da cidade de Gibeá, um dos
“trinta” guerreiros valentes de Davi, “homem poderoso” na batalha (2 Sm
23.29; 1 Cr 11.31).
RIFÁ. Filho de Gômer e neto de Jafé; portanto, bisneto de Noé. Tinha
dois irmãos: Asquenaz e Togarma (Gn 10.3; 1 Cr 1.6).
RIMOM (Heb. “romã”).
1. Pai de Baaná e Recabe, da cidade de Beerote, da tribo de
Benjamim. Seus dois filhos mataram Is-Bosete, filho de Saul, o que deixou
Davi furioso (2 Sm 4.2, 4, 9). Veja Recabe.
2. (Acad. “trovoador”). O deus em cujo templo o rei da Síria,
Ben-Hadade, adorava diariamente. Essa divindade chegou ao nosso
conhecimento por meio de várias fontes e possivelmente originou-se na
Mesopotâmia. O contexto no qual esse deus é mencionado em 2 Reis é de
particular interesse (2 Rs 5.18). O comandante do exército de Ben-Hadade
fora curado da lepra por Eliseu e jurou que adoraria somente ao Senhor
Deus de Israel. No entanto, ciente de que seria obrigado a entrar no templo
de Rimom na companhia do rei, Naamã pediu perdão com antecedência.
Para mais detalhes, veja Naamã.
P.D.G.
RINA (Heb. “canção”). Filho de Simeão (1 Cr 4.20), da tribo de Judá.
RISPA (Heb. “pedra quente ou carvão”). Uma das concubinas de Saul,
filha de Aiá. Quando este rei morreu, seu filho IsBosete ocupou o seu lugar
no comando de 11 tribos (Davi governava Judá). Durante seu breve reinado,
Abner tornou-se cada vez mais poderoso e por isso o rei o acusou de ter
dormido com Rispa, a concubina de seu pai (2 Sm 3.7). Não se sabe ao
certo se a acusação tinha fundamento ou se foi apenas uma manobra pela
qual Is-Bosete tencionava livrar-se da ameaça de Abner. A ideia de dormir
com a concubina ou a esposa de um rei morto indicava a clara intenção de
disputar o trono. Abner alegou que sempre fora leal à casa de Saul e ficou
tão furioso que transferiu sua lealdade ao rei Davi.
O nome de Rispa é citado novamente em 2 Samuel 21.8,10,11. Um grave
período de fome, que durou três anos, levou Davi a perguntar ao Senhor
qual era a causa. A resposta foi que tudo acontecia por causa da tentativa de
Saul de destruir os gibeonitas e, assim, quebrar o pacto que Josué fizera
com eles (Js 9). Davi perguntou aos gibeonitas o que devia fazer para
contornar a situação e eles pediram que lhes fossem entregues sete
descendentes de Saul, para que fossem mortos. Os dois filhos de Rispa com
Saul, Armoni e Mefibosete, estavam entre os que foram entregues pelo rei.
Seus corpos foram deixados expostos em Gibeá. Rispa colocou-se sobre a
rocha perto dos cadáveres e não permitiu que os pássaros ou animais
tocassem neles, “desde o princípio da sega, até que a água caiu do céu” (1
Sm 21.10). Davi, impressionado com a devoção dela, ordenou que os
corpos de seus filhos, bem como os de Saul e Jônatas, fossem sepultados
juntos no túmulo de Quis, em Zela, na região de Benjamim (vv. 11-14).
P.D.G.
RÍZIA. Filho de Ula, da tribo de Aser, foi um grande guerreiro, líder
excelente e chefe de família (1 Cr 7.39,40).
ROBOÃO (Heb. “o povo se expande”). O principal relato sobre a vida e
as obras de Roboão, primeiro rei de Judá depois da divisão do reino, é
encontrado em 1 Reis 11.43 a 12.24; 14.21-31; 2 Crônicas 10 a 12; 1
Crônicas 3.10. Era filho de Salomão e de sua esposa Naamá, amonita (1 Rs
14.21,31, etc.).
Como filho e sucessor do rei Salomão, Roboão esperava governar sobre
todo o Israel, como fizera seu pai. No entanto, ele herdara muitos problemas
e, na época da morte do filho de Davi, a situação no reino estava longe de
ser estável. À medida que o poder e a riqueza de Salomão acumulavam-se,
ele deixava de seguir ao Senhor de todo coração (1 Rs 11.4). Seus
casamentos com mulheres estrangeiras, realizados contra a Lei de Deus,
foram os fatores que mais contribuíram para sua apostasia religiosa. Sem
dúvida tais esposas, como a filha de Faraó, do Egito, por exemplo, foram
tomadas por razões políticas e diplomáticas, a fim de assegurar a
estabilidade do reino e a paz com as nações fronteiriças. Salomão,
entretanto, precisava confiar em que o Senhor protegeria as fronteiras de
Israel. O juízo de Deus veio rapidamente, por meio de inimigos que se
levantaram contra a nação e atacaram e causaram problemas constantes a
Salomão (vv. 14,23, etc.); o Senhor prometeu que o reino só seria dividido
após sua morte.
Além de tudo isso, o governo de Salomão exigia um sustento
dispendioso, que ocasionava muito trabalho ao povo e o pagamento de
pesados impostos para manter as enormes despesas da corte (veja 1 Rs 4;
9.15-24). Durante seu reinado, um de seus principais oficiais (veja Jeroboão
I) rebelou-se sem sucesso e fugiu para o Egito. Quando Salomão morreu e
seu filho Roboão tomou seu lugar, já havia um outro pretendente ao trono
por perto.
Depois de sua posse, Roboão foi a Siquém, onde os líderes de Israel lhe
perguntaram se continuaria com a mesma política, ou seja, trabalho pesado
e a cobrança de impostos altíssimos do povo. Os anciãos o aconselharam a
ceder e governar mediante o favor da nação; ele, porém, ouviu seus amigos
de infância e respondeu à multidão: “Assim que, se meu pai vos impôs jugo
pesado, ainda eu aumentarei o vosso jugo. Meu pai vos castigou com
açoites; eu vos castigarei com escorpiões” (1 Rs 12.11). Jeroboão, que havia
retornado do Egito, imediatamente se rebelou e Roboão fugiu para
Jerusalém. “Esta mudança vinha do Senhor, para confirmar a palavra que o
Senhor tinha dito” (v. 15).
Roboão governou apenas na parte sul do reino, conhecido como Judá,
embora incluísse também a tribo de Benjamim. Ele fortificou várias cidades
de seu território (1 Rs 12.21; 2 Cr 11.5-12). Seu oficial responsável pelos
trabalhos forçados, Adonirão, foi apedrejado; quando o rei se preparou para
declarar guerra contra Jeroboão, o Senhor impediu a batalha, ao enviar o
profeta Semaías, o qual disse ao povo que a divisão fora ocasionada por
Deus; portanto, não deviam lutar uns contra os outros (1 Rs 12.22-24).
Roboão reinou durante 17 anos, de 931 a 913 a.C., mas não seguiu ao
Senhor como Davi fizera. Ele próprio introduziu a idolatria na terra, ou
então era fraco demais para impedir que isso acontecesse. Diversos altares
foram construídos para deuses estranhos, e práticas proibidas pela Lei
foram permitidas (1 Rs 14.2124). Como resultado, o rei Sisaque, do Egito,
invadiu e atacou Jerusalém, saqueando os tesouros do Templo (2 Cr 12.16).
O reino foi diminuído em seu tamanho. O povo, entretanto, arrependeu-se e
não foi destruído pelos egípcios, mas tornou-se vassalo deles (vv. 6-8).
Ao resumir o reinado de Roboão, o cronista enfatiza como ele se
arrependeu. “Deveras, em Judá ainda havia boas coisas” (2 Cr 12.12). O
culto ao Senhor era realizado no Templo e, como Jeroboão afastava-se cada
vez mais de Deus, os levitas e sacerdotes do reino do Norte fugiram para
Jerusalém (2 Cr 11.13,14).
Seu reino em grande parte do tempo enfrentou momentos de fraqueza.
Roboão tentou ser forte no início e, assim, perdeu o controle sobre todas as
tribos do Norte; parece que depois de algum tempo deixou que as coisas
acontecessem ao seu redor sem intervir. Ainda assim, a verdadeira adoração
foi praticada no meio da idolatria e ele “usou de prudência” nas decisões
que tomou concernentes ao reino (2 Cr 11.23). Sua salvação do desastre por
causa do arrependimento serviu de exemplo para os reis que o seguiram.
Roboão teve várias esposas e concubinas; a que amava, porém, era
Maaca, filha de Absalão; o filho dela, Abias, foi o seu sucessor. P.D.G.
RODE. Citada apenas em Atos 12.13. Encontrava-se na casa de Maria,
mãe de João Marcos, quando Pedro foi liberto miraculosamente da prisão
por um anjo (At 12.112). Ela reconheceu a voz do apóstolo; mas, em vez de
abrir a porta, correu para avisar os outros, os quais oravam fervorosamente
por ele. O relato chama a atenção para a importância da oração na reunião
de um pequeno grupo da Igreja primitiva perseguida. K.MCR.
ROGA. Filho de Semer, foi um bravo guerreiro e excelente líder na tribo
de Aser (1 Cr 7.34,40).
ROMANTI-EZER. Um dos filhos de Hemã, o vidente do rei, listado
entre os levitas que foram separados para o ministério da profecia e da
música durante o reinado de Davi (1 Cr 25.4). Líder do 24º grupo de
músicos levitas e cantores do coral que cantava no Templo (1 Cr 25.31).
RÔS (Heb. “cabeça”). Sétimo dos dez filhos de Benjamim; portanto,
neto de Jacó e Raquel. Listado entre os que desceram com Jacó para o Egito
(Gn 46.21).
RÚBEN. O primogênito de Jacó com sua esposa Lia. É bem provável
que seu nome derive de dois vocábulos hebraicos que provavelmente
signifiquem “veja, um filho”. Entretanto, o jogo de palavras em Gênesis
29.32 relaciona seu nome à frase traduzida como “o Senhor atendeu à
minha aflição”. Lia viu o fim de sua esterilidade como resultado da graça de
Deus.
Sobre a infância de Rúben, só sabemos a respeito do incidente registrado
em Gênesis 30.14ss, quando ele encontrou mandrágoras no campo e levou-
as para sua mãe. Rúben, contudo, foi um personagem de menor importância
no relato da constante rivalidade entre sua mãe e Raquel.
Embora seja apresentado resumidamente, o caráter de Rúben foi revelado
em seu envolvimento com Bila, serva de Raquel e concubina de Jacó (Gn
35.22). Devido a esse fato, seu pai não lhe concedeu a porção dobrada da
herança que era direito do primogênito (Gn 49.3,4). Este incidente é
mencionado posteriormente como a razão pela qual os rubenitas não foram
mencionados como descendentes do primogênito na restauração depois do
exílio, como era de se esperar (1 Cr 2.1; 5.1).
Rúben desempenhou um papel único no tratamento que os dez irmãos
mais velhos deram a José. Embora muito provavelmente compartilhasse o
sentimento deles de inveja e ciúme, foi ele quem persuadiu os demais a não
matá-lo (Gn 37.21). De fato, seu plano era voltar e resgatar o irmão mais
tarde (v. 22). Não sabemos se a autoridade dele sobre os irmãos era fraca ou
se a determinação deles contra José era muito forte, pois seguiram apenas
parcialmente suas instruções, vendendo o irmão como escravo. Rúben ficou
genuinamente desgostoso quando soube o que tinham feito (v. 29), embora
provavelmente estivesse mais aflito por ter de enfrentar o pai do que com o
bem-estar de José. Afinal, deixara o irmão abandonado dentro de uma
cisterna sem água. Rúben parecia mais preocupado com as conseqüências
de chegar em casa sem o filho favorito de Jacó (v. 30).
Essa preocupação maior com as conseqüências do que com o
reconhecimento do erro refletiu-se mais tarde no Egito. Ele interpretou a
situação difícil criada pelo representante do Faraó, o qual não percebeu que
era José, como castigo de Deus sobre eles (Gn 42.22). Deve-se mencionar,
entretanto, que Rúben era o melhor entre os dez irmãos, pois, embora suas
ações não fossem recomendáveis, demonstrava ter mais consciência do que
os outros. Talvez como irmão mais velho tenha aprendido mais sobre as
fúteis tentativas do próprio pai de enganar a Providência. Demonstrava ser
possuídor de uma nova determinação de fazer as coisas da maneira certa,
que se refletiu no modo como entregou seus próprios filhos como garantia a
Jacó, caso não trouxesse Benjamim de volta do Egito (Gn 42.37).
Quando Canaã finalmente foi distribuída entre as tribos, a de Rúben
recebeu o território no lado oriental do rio Jordão (veja Ogue e Siom). Veja
a bênção de Moisés sobre esta tribo em Deuteronômio 33.6. M.J.G.
RUFO (Lat. “vermelho”).
1. Filho de Simão Cireneu e irmão de Alexandre (Mc 15.21). Seu
pai foi obrigado a carregar a cruz de Jesus Cristo. Seu nome foi
mencionado, talvez por ser conhecido dos que iriam ler o evangelho.
2. Citado entre as pessoas saudadas por Paulo no final de sua
carta aos Romanos. Aparentemente sua mãe cuidara do apóstolo; Paulo
refere-se a Rufo como “eleito no Senhor”. É muito pouco provável que seja
o mesmo Rufo de Marcos 15.
RUTE
Nome moabita que significa “amizade”. No Antigo Testamento, este
vocábulo é encontrado apenas no livro de Rute, e no Novo Testamento
ocorre apenas na genealogia de Jesus Cristo, apresentada por Mateus 1.5.
Em ambos os casos refere-se à mulher moabita que se casou com um
israelita que vivia em Moabe, ficou viúva e acompanhou a sogra, chamada
Noemi, que retornou para a cidade de Belém, Judá; ali, posteriormente
casou-se com Boaz e teve um filho. A genealogia no final do livro de Rute
apresenta seu filho como o avô de Davi.
É notável como Rute desempenha um papel tão importante e positivo no
registro bíblico. Afinal, Israel e Moabe eram inimigos. Como conseqüência
dos obstáculos que o primeiro criou para o segundo em sua peregrinação do
Sinai para a terra Prometida (Nm 22.25), Deus decretou que “nenhum
amonita nem moabita entrará na assembléia do Senhor, nem ainda na
décima geração; nunca poderão entrar na assembléia do Senhor” (Dt 23.3).
As diferenças não eram meramente históricas. Os eventos do livro de
Rute aconteceram “nos dias em que os juízes julgavam” (Rt 1.1). Poucos
anos antes desse tempo difícil, os moabitas, sob a liderança de Eglom,
tinham invadido e subjugado uma grande parte do território de Israel por 18
anos (Jz 3.12-14), até que Eúde, o canhoto, matou este rei e libertou Israel
(vv. 15-29). Depois disso, Moabe submeteu-se a Israel por 80 anos (v. 30).
Embora seja praticamente impossível situar o livro de Rute dentro da
narrativa do de Juízes, devido às prováveis lacunas na genealogia de Rute
4.18-22, é bem possível que as lembranças das antigas e recentes
hostilidades não estivessem completamente apagadas, especialmente
considerando-se a proibição permanente de Deuteronômio 23.3. Em vista
disso, a inclusão da história de Rute, a moabita, nas páginas das Escrituras
dificilmente terá outra explicação senão a da providência de Deus, que
evidencia sua graça e habilidade de operar na vida de qualquer pessoa e por
meio dela, não importa quais sejam seus antecedentes.
É surpreendente o fato de que esta bela narrativa tenha como título o
nome de uma estrangeira. Ester e Rute são os dois únicos livros da Bíblia
cujos nomes são de mulheres. Somente essa perspectiva já aumenta seu
significado na revelação bíblica e nos propósitos de Deus.
A primeira menção do nome desta moabita encontra-se em seu
casamento com um dos filhos de Elimeleque e Noemi (Rt 1.4). Somente em
Rute 4.10 é revelado que Malom foi seu marido (vv. 2,5). Dado o contexto
cultural, é bem provável que tal matrimônio fora arranjado por Elimeleque
antes de sua morte (1.3).
O falecimento de Malom e Quiliom trágica e inesperadamente poucos
anos depois da morte de Elimeleque foi uma circunstância crucial (Rt 1.3,
5). Rute, sua sogra Noemi e sua cunhada Orfa ficaram sozinhas na mais
completa miséria (vv. 6,7).
Quase tão grave quanto essa situação era o problema da viuvez e
esterilidade de Rute (Rt 1.5; 4.10). A incapacidade para gerar filhos era
considerada uma maldição divina em muitas culturas antigas. Além disso, a
linhagem familiar não podia ser mantida sem filhos e a esterilidade
diminuía drasticamente a possibilidade de um segundo casamento.
Devido à falta de opções diante delas, Noemi incentivou Rute e Orfa a
retornar para a casa de seus pais em Moabe, onde poderiam casar-se
novamente (Rt 1.8,9). Inicialmente as duas resistiram, mas depois que
Noemi descreveu verbalmente a situação desesperadora em que se
encontravam (vv. 10-13), Orfa decidiu ficar (v.14). Rute, entretanto, não só
se comprometeu com Noemi até a morte, mas também com o Deus de Israel
(vv. 16,17). Tal compromisso aparentemente demonstrava a sua fé no
Senhor, ao adotar um tipo de proselitismo dentro do povo da aliança.
No dia seguinte à triste chegada das duas em Belém (Rt 1.19-22), Rute
saiu para respigar nos campos para obter alimento (Rt 2.2,3). É possível que
tal prática fosse comum também na cultura moabita, mas era claramente
ordenada na lei de Moisés. Os pobres, as viúvas e os estrangeiros residentes
no meio do povo de Israel podiam ter suas necessidades básicas supridas
com certa dignidade por meio da prática de respigar os campos (Lv 23.22;
Dt 24.19).
Rute, entretanto, pediu mais do que a simples oportunidade de respigar
no campo ao qual Deus a dirigiu (o antigo idioma hebraico, como em Rt
2.3, considerava o acaso como providência divina). Corajosamente seguiu
atrás dos segadores e recolheu o que deixaram de colher (Rt 2.7). O dono
do campo, Boaz, que sabia quem era Rute e qual sua situação atual (vv.
11,12), cedeu ao pedido incomum (vv. 8,9) e foi ainda mais além, pois
proporcionou-lhe proteção e provisão (vv. 9,14-18).
Neste ponto, Boaz surgiu apenas como um benfeitor para Rute, até o final
da colheita. Noemi, entretanto, viu nas atitudes dele a forte possibilidade de
que pudesse se casar por levirato com Rute (Rt 2.20; 3.1-5). Embora nas
Escrituras tal prática fosse limitada apenas aos cunhados (Dt 25.5-7),
aparentemente com o passar do tempo a responsabilidade pela família do
falecido e sua viúva foi aplicada também a outros parentes próximos.
Assim, Noemi elaborou um plano para discretamente, porém de maneira
decisiva, aproximar-se de Boaz com a ideia.
Numa noite, no final da estação das colheitas (Rt 2.23), Rute aproximou-
se do local ao lado da eira, nos arredores de Belém, onde Boaz dormia, a
fim de guardar seus grãos (3.2-6). Deitou-se aos seus pés e aguardou que
ele despertasse, quando então apelou para que assumisse seu papel de
parente remidor, como base para um casamento (vv. 8,9). Depois desse
diálogo, Rute permaneceu aos pés dele até de madrugada, para sair sem ser
vista por ninguém (vv. 13,14).
Alguns estudiosos interpretam esta atitude de Rute, particularmente a
maneira como descobriu os pés de Boaz ao se deitar (Rt 3.7) e permaneceu
lá durante toda a noite (vv. 13,14), como clara indicação de que ela tentou
uma investida sexual, à qual Boaz foi receptivo. Tal ideia, entretanto, é
totalmente contrária ao que pode ser visto do caráter dos dois por todo o
livro. Especificamente, na conversação entre eles no meio da noite, Boaz
expressou admiração pelo recato de Rute (v. 10), e considerou-a uma
“mulher virtuosa” (v. 11). Além disso, os detalhes da cena interpretados
como de natureza sexual podem ser entendidos de outras formas. Não há
uma evidência concreta de que houve qualquer envolvimento sexual.
A resposta dele trouxe luz sobre um fator adicional no desenvolvimento
da narrativa. Embora Boaz estivesse disposto a se casar com Rute por meio
do levirato, reconheceu que havia em Belém um outro parente mais
próximo do que ele (v. 12). Era necessário que esse homem renunciasse ao
seu direito e à sua responsabilidade, para que Boaz fechasse seu acordo com
Rute (v. 13).
Diante de uma assembléia onde se reuniram os anciãos da cidade (Rt
4.2), Boaz inteligentemente fez um acordo com o parente, cujo nome não é
mencionado, o qual passou a ele o direito de ser o remidor (vv. 1-8). De
acordo com a lei mosaica, Rute tinha o direito de humilhar publicamente o
outro parente, por sua omissão (Dt 25.710). Como, porém, estava
interessada em casar-se com Boaz, ela não levou o assunto adiante. Pelo
contrário, esperou que seu futuro esposo agisse da melhor maneira possível
(Rt 3.18).
Quando a transação legal foi concluída, a multidão desejou votos de
felicidades e comparou a nova esposa de Boaz, Rute, com as mulheres que
participaram da formação do povo de Israel: Raquel, Lia (Rt 4.11) e Tamar,
uma estrangeira que teve filhos com Judá por meio de um relacionamento
de levirato (Rt 4.12; Gn 38). Talvez a esterilidade temporária, de Raquel e
Tamar seguida pela fertilidade, fosse outro ponto de comparação.
Na época do casamento, não é possível determinar especificamente se
Boaz já era casado ou qual era a diferença de idade entre os dois. Desde que
ele várias vezes refere-se a Rute com as palavras “milha filha” (Rt 2.8;
3.10,11), assim como Noemi a chamava (2.2, 22; 3.1,16,18), provavelmente
Boaz estava mais próximo da idade da prima do que da de Rute. Depois de
aproximadamente dez anos de casamento e viuvez (Rt 1.4,5), a moabita
provavelmente estivesse com 30 anos quando se casou com Boaz e ele
deveria ter em torno de 50 anos ou um pouco mais.
Com aquela idade, naquele tipo de sociedade, é provável que Boaz fosse
casado. Se era, sua esposa e filhos simplesmente não foram mencionados ou
talvez fosse viúvo e sem filhos. Certamente não é revelada nenhuma
preocupação pela confusão que o casamento causaria para Boaz, como
aconteceu com o outro parente (Rt 4.6).
Logo depois do casamento, Rute recebeu do Senhor a capacidade para
conceber (v. 13). O menino, chamado Obede, foi a grande alegria de
Noemi, sua avó adotiva, e tornou-se ancestral do rei Davi (vv. 14-17). É
intrigante notar que esta criança foi proclamada remidora de Noemi em sua
velhice (vv. 14,15), ao mesmo tempo que o texto dos vv. 16,17 indica que
ela não só cuidou de Obede (v. 16), como efetivamente o adotou (v. 17). Se
essa interpretação é correta, Obede substituiu legalmente os filhos falecidos
de Noemi (Rt 1.5; 4.10). Talvez a referência a Rute como “melhor do que
sete filhos” (4.15) signifique que a moabita, por meio de sua devoção a
Noemi, fez mais do que substituir seus filhos (4.15; 1.16,17).
Devido ao fato de que se tratava de uma família patriarcal, cujo tamanho
ideal muitas vezes era considerado o de sete pessoas, o número bíblico da
plenitude, a declaração de que Rute era melhor do que sete filhos de fato era
uma homenagem extravagante. Talvez porque Boaz e Rute tenham sido
descritos anteriormente como pessoas de excelente caráter (Rt 2.1; 3.11), na
conclusão do livro são honrados de maneira similar. A multidão reunida já
tinha desejado a Boaz: “há-te valorosamente em Efrata, e faze-te nome
afamado em Belém” (4.11). Isso, porém, não é tudo. Boaz encontra-se
numa posição privilegiada, pois é o sétimo na linhagem real de Davi (4.21).
Assim, Rute e Boaz são vistos como figuras bíblicas exemplares,
perfeitamente combinadas espiritualmente.
A outra referência bíblica a Rute é particularmente interessante devido à
clara relação que tem com o propósito do livro em que é encontrada. A
menção de seu nome na árvore genealógica de Jesus, em Mateus 1.5, está
junto com a de outras três mulheres: Tamar (v. 3), Raabe (v. 5) e “a esposa
de Urias” (v. 6). Todas as quatro parecem ser estrangeiras, dentro do
contexto do Antigo Testamento no qual se encontram. Assim, o primeiro
evangelho, que termina com a ordem de Cristo para fazer “discípulos de
todas as nações” (Mt 28.19), começa com o reconhecimento de que
mulheres estrangeiras como Rute contribuíram sobremaneira para a
linhagem de Jesus, o Messias. A.B.L.
S
SAAFE. 1 . Sexto filho de Jodai; portanto, descendente de Calebe e Judá
(1 Cr 2.47).
2. Filho de Calebe [irmão de Jerameel] (1 Cr 2.42) e de sua concubina
Maaca. Foi o “pai” de Madmana. Provavelmente, foi o fundador de uma
cidade com esse nome (1 Cr 2.49).
SAARAIM. Mencionado na genealogia do rei Saul, da tribo de
Benjamim, teve filhos de duas esposas, das quais posteriormente se
divorciou. Vivia em Moabe com sua terceira mulher, Hodes (1 Cr 8.8-11).
SAASGAZ. Eunuco responsável pelas concubinas durante o reinado de
Assuero, da Pérsia. Ester também ficou sob seus cuidados antes de se tornar
rainha no lugar de Vasti (Et 2.14).
SABÁ. 1. Filho de Raamá e descendente de Cão (Gn 10.7; 1 Cr 1.9, onde
é chamado de Sebá.)
2. Filho de Jactã e descendente de Sem (Gn 10.28; 1 Cr 1.22,
onde é chamado de Seba.)
3. Listado como neto de Abraão e sua esposa Quetura (Gn 25.1-4;
1 Cr 1.32, onde é chamado de Sebá.)
4. Veja também Rainha de Sabá. S.C.
SABETAI. Levita que retornou do exílio na Babilônia junto com Esdras
e ajudou os judeus a tratar do problema do casamento com as mulheres
estrangeiras, um ato proibido na Lei de Deus. Foi um dos líderes entre os
levitas e compartilhou a responsabilidade de ensinar a Lei ao povo,
encarregando-se também dos trabalhos externos da reconstrução do Templo
(Ed 10.15; Ne 8.7; 11.16).
SABEUS. Talvez o nome desse povo se derive de Sebá, o primeiro filho
de Cuxe e neto de Cão (Gn 10.7; 1 Cr 1.9). Descreve uma tribo do sul da
Arábia, próximo ao moderno Iêmen; eles tinham a reputação de ser altos e
temíveis. A descrição das tribos de Sebá pode também referir-se a esse
povo. Obviamente eram compostos por mercadores, que viviam numa
região de relativa estabilidade em comparação com as nações do norte e
ficavam nas rotas para a África e o Oriente, especialmente para a Índia.
Também envolviam-se no comércio de escravos ( Jó 1.15; Sl 72.15; Is
45.14; 60.6; Ez 23.42; 27.22; Jl 3.8). Existe certa dificuldade de fazer uma
distinção entre os povos descendentes de Sebá e os de Sabá, pois este
descende de Sem (Gn 10.28; veja também Sl 72.10). Provavelmente foi a
rainha dos sabeus (rainha de Sabá) que visitou o rei Salomão, quando este
estava no auge de seu poder e influência em sua região (1 Rs 10.1-13).
P.D.G.
SÁBIOS E TOLOS
A sabedoria bíblica não é primariamente teórica, mas prática. É um
atributo de Deus, o qual é revelado na ordem da criação (Pv 8.22-31) e em
sua maneira eficiente de operar (Jó 39.26); assim, sabedoria e tolice são
atitudes práticas que determinam se uma vida é vivida ou não com sucesso
no meio de uma sociedade. A sabedoria bíblica crescente é o resultado do
aprendizado pelas experiências da vida, enquanto se mantém uma obediente
confiança no Senhor.
A literatura da sabedoria
O Novo Testamento
SALOMÃO
O nome Salomão está associado à palavra que significa “paz”, com a
qual compartilha as mesmas consoantes. Também tem ligação com o nome
da cidade de Davi, Jerusalém, com a qual também compartilha três
consoantes. Essas duas identificações lembram as características desse rei
de Israel e de Judá que são mais bem conhecidas: um reino pacífico
presidido por um monarca mundialmente famoso por sua sabedoria em
manter tal estado de paz; e uma cidade próspera que atraía a riqueza e o
poder de todas as nações ao redor e cuja prosperidade foi resumida na
construção da casa de Deus, o magnífico Templo de Jerusalém. Esses
mesmos elementos foram lembrados no Novo Testamento, onde Jesus
referiu-se à sabedoria de Salomão que atraiu a rainha de Sabá (Mt 12.42; Lc
11.31) e onde o Templo de Salomão foi preservado nos nomes dados a
partes do Santuário construído por Herodes (Jo 10.23; At 3.11; 5.12). O
Novo Testamento, entretanto, também menciona as conseqüências
desastrosas desses aspectos gloriosos da vida de Salomão. Apesar de toda
sua riqueza, Jesus disse aos seus ouvintes que ele não podia ser comparado
com um lírio do vale (Mt 6.29; Lc 12.27), o qual mostra uma beleza que lhe
foi dada pelo Pai celestial, amoroso e cuidadoso. Em contraste, o esplendor
de Salomão demonstrava a ganância brutal do trono, o apoio de aliados
pagãos e a adoração de outras divindades, além de um regime opressor que
destruiu a confiança e a boa vontade das tribos do norte de Israel e que
abusava dos súditos do reino o qual Davi criara. O mesmo pode ser dito do
Templo de Salomão. O mais significativo quanto a ele, conforme Estêvão
observou (At 7.47,48), era a tentativa perigosa de “domesticar” o Deus de
Israel, ao colocá-lo dentro de uma “caixa”, sobre a qual o rei teria o
controle para escolher a adoração e a obediência a Deus ou a outras
divindades, ao seu bel-prazer.
A história de Salomão está registrada em 1 Reis 1 a 11 e 1 Crônicas 28 a
2 Crônicas 9. Todos os textos registram o esplendor de seu reino. O relato
de Reis, entretanto, também demonstra a queda gradual do rei na apostasia.
Isso é demonstrado por meio da ênfase em três pronunciamentos de Deus,
quando cada um deles introduz uma nova fase na vida de Salomão e mostra
o julgamento do Senhor sobre o que acontecera. Para entender a vida e a
obra desse grande personagem bíblico, examinemos as quatro partes da vida
de Salomão, divididas pelas três aparições divinas: a garantia do trono para
Salomão (1 Rs 1 e 2); a sabedoria de Salomão e suas realizações (1 Rs 3 a
8); a fama internacional de Salomão e a conseqüente apostasia (1 Rs 9 a
11.8); e os oponentes de Salomão (1 Rs 11.9-43).
A garantia do trono
Os oponentes de Salomão
Resumo
O sacerdote Samuel
O profeta/vidente Samuel
O Juiz Samuel
Samuel foi um juiz fiel, o qual viveu a teocracia ideal, deu forma à vida
política de Israel, unificou as tribos e obteve vitória contra os filisteus (1
Sm 7.13b-17). A função de juiz era política e religiosa. Como líder político,
preservava a unidade das tribos e tratava das questões legais que estavam
acima da esfera dos líderes locais. Como líder militar, “livrava” Israel dos
inimigos. Durante o ministério de Samuel, o Senhor concedeu a Israel um
período de descanso.
O centro de sua liderança foi seu local de nascimento, Ramá (1 Sm 7.17),
de onde viajava e fazia um circuito por várias cidades. Pouco se sabe sobre
sua vida doméstica, exceto que seus dois filhos (Joel e Abias) eram homens
ímpios (1 Sm 8.1-3). O fracasso dos dois deu ocasião a que os líderes do
povo decidissem por um novo rumo na vida de Israel. Em vez de depender
de figuras carismáticas, como os juízes, determinaram que a nação estava
pronta a seguir a liderança de uma dinastia real (1 Sm 8). O pedido foi
recebido com relutância por Samuel, mas recebeu a aprovação de Deus. O
profeta submeteu-se à vontade de Deus, ciente de que o novo rumo seria
perigo-
so para Israel. A providência divina trouxe Saul à vida de Samuel. Este
jovem chegara a Ramá para perguntar ao profeta sobre o paradeiro das
jumentas de seu pai. Apoiado por Deus, Samuel secretamente ungiu Saul
como rei de Israel (1 Sm 9). O Senhor também colocou-o como figura
central da nação, depois que foi escolhido numa assembléia pública em
Mispa, onde o rei foi determinado por meio de sorteio (1 Sm 10). Deus
selou a questão quando Saul demonstrou seu valor na batalha, ao ser bem-
sucedido na luta contra os filisteus. Sua ambição pessoal, entretanto,
contrastava com o serviço abnegado prestado por Samuel e no final levou-o
completamente para longe da vontade de Deus. O Senhor queria a
obediência do rei, enquanto Saul tentava agradar a Deus com ofertas. Em
certa ocasião, desafiou as instruções de Samuel de exterminar
completamente os amalequitas, pois guardou parte dos rebanhos e poupou a
vida do próprio rei. Esse incidente ocasionou uma ruptura entre os dois e
resultou na rejeição de Saul como rei de Israel: “Tem o Senhor tanto prazer
em holocaustos e sacrifícios, como em que se obedeça à sua palavra?
Obedecer é melhor do que sacrificar, e atender melhor é do que a gordura
de carneiros. Pois a rebelião é como o pecado de feitiçaria, e a obstinação é
como a iniqüidade de idolatria. Porquanto rejeitaste a palavra do Senhor, ele
também te rejeitou, para que não sejas rei” (1 Sm 15.22,23).
A remoção da família de Saul de uma dinastia permanente na liderança
de Israel abriu a possibilidade para outro rei. Davi foi o homem escolhido
por Deus. Tinha um coração voltado para o Senhor e era totalmente
diferente de Saul, o qual, com sua estatura e aparência máscula, fazia uma
impressionante figura de rei. A escolha de Davi, o pastor/músico, foi a
confirmação do Senhor para Samuel, que, ao ter dúvidas sobre a monarquia
em Israel e ao advertir previamente o povo sobre o governo autocrático do
rei, foi encorajado pela escolha divina de um homem piedoso.
Samuel passou para o segundo plano, enquanto Saul lutava com Davi
para ocupar a cena principal. O rei tinha ciúme do jovem Davi, cujos atos
de heroísmo eram comentados por todo o povo. Saul fez todos os esforços
para matar o ungido de Deus, na esperança de deixar o trono para Jônatas,
seu filho. Samuel não teve o privilégio de viver o bastante para ver Davi
subir ao trono. Morreu, foi sepultado e lamentado por toda a nação.
Samuel é novamente mencionado antes da morte de Saul. O rei, com
medo da batalha contra os filisteus, tentou falar com o profeta por meio de
uma médium de En-Dor. Esta foi usada pelo diabo, que lhe falou sobre a
morte iminente de Saul. Dias depois ele morreu na batalha, juntamente com
três de seus filhos (1 Sm 31.6).
Samuel foi um fiel servo do Senhor. Seu nome é mencionado no Novo
Testamento entre os heróis da fé (Hb 11.32). Veja também Aliança.
W.A.VG.
SATANÁS
O nome
A descrição bíblica
A defesa do cristão
A destruição de Satanás
Senhor E SENHOR
Os nomes e o Nome
Yahweh e SENHOR
Nomes compostos
Desenhando o mapa
As bases
Êxodo 6.2,3 é uma linha divisória do nosso mapa. Neste ponto, Deus
disse a Moisés: “Mas pelo meu nome, o SENHOR, não lhes fui conhecido”.
O livro de Gênesis está repleto de referências ao “SENHOR”, e alguns
tentam resolver o problema propondo que existem duas correntes diferentes
de tradições em nossas Bíblias: de acordo com uma delas, o nome divino
era conhecido desde os tempos remotos (Gn 4.26); de acordo com a outra
corrente, o nome só foi revelado nos dias de Moisés. A solução, entretanto,
é mais simples e nasce a partir de uma leitura mais cuidadosa de Gênesis.
Em Êxodo 6.2,3 a ênfase é a revelação do caráter de Deus. “Apareci (me
revelei) a Abraão...como (no caráter de) o Deus Todo-poderoso (El
Shaddai), mas (no caráter expresso) pelo meu nome, o SENHOR (Yahweh),
não lhes fui conhecido...”. Isto é precisamente o que encontramos em
Gênesis: o Nome é conhecido como uma designação de Deus, mas onde
quer que haja uma revelação do caráter divino existe uma substituição de
Yahweh por El Shaddai ou algum dos outros títulos patriarcais (veja a
seguir). Gênesis 17.1 é um exemplo desses: “Apareceu-lhe o SENHOR e
lhe disse: Eu sou o Deus Todo-poderoso (El Shaddai)”.
Moisés, então, teve o privilégio de apresentar o significado do nome
divino, Yahweh, para Israel, e o fundamento foi estabelecido em Êxodo
3.13-15. Ele era um homem cheio de escusas. Não desejava retornar ao
Egito e tentou esquivar-se de todas as maneiras. Sua segunda desculpa foi a
ignorância. Visualizou que, quando chegasse ao Egito, seria confrontado
com a pergunta: “Qual é o nome do Deus que enviou você?” O próprio
Moisés não perguntou “ao Deus dos pais” qual era seu nome, mas sabia que
de alguma maneira os hebreus lhe fariam esta pergunta. Será que a
interrogação: “Qual é o seu nome?” poderia significar: “Que revelação você
traz do nosso Deus?”. O nome de uma pessoa na Bíblia muitas vezes é uma
expressão de seu caráter (1 Sm 25.25!). Porventura, Moisés sabia que os
hebreus guardavam um nome secreto para seu Deus, o qual eles precisavam
conhecer, se desejassem ser ouvidos? Sua escusa é tão fascinante quanto
misteriosa; mas, de qualquer maneira, é uma súplica por informação, à qual
Deus respondeu: “EU SOU O QUE SOU. Disse mais: Assim dirás aos
filhos de Israel: EU SOU me enviou a vós”. “Eu sou” é a primeira pessoa
do verbo “ser” e “Yahweh” é a terceira do singular. Deus refere-se a si
mesmo como “Eu Sou”; nós olhamos para Ele e dizemos: “Ele é”. Alguns
eruditos entendem o verbo aqui como a forma “causativa” no hebraico: “Eu
faço acontecer/Ele faz acontecer” e, como veremos, isso deve estar correto
e não altera o sentido básico do nome. No hebraico, o verbo “ser”, embora
expresse também existência (Eu sou/Eu existo), com mais freqüência
expressa uma presença ativa: Eu sou/Eu estou ativamente presente. Em si
mesma, essa ideia não nos diz muito sobre o possuidor do nome, mas em
Êxodo a ideia está ligada primeiro à revelação de Deus a Moisés (Êx 3 e 4)
e depois à atividade pessoal do Senhor, que conduz seu povo para fora do
Egito (Êx 5 a 12). É por meio desta “presença ativa” nos eventos do Êxodo
que o SENHOR revela quem e o que Ele é. Por esta razão, mesmo que a
expressão signifique “Eu faço acontecer”, a situação essencial não é
alterada, pois ainda são eventos do Êxodo imediatamente “ocasionados”,
nos quais a revelação de Deus dada a Moisés em palavras claras é
confirmada na ação. Numa palavra, portanto, Yahweh é o Redentor (Êx
6.6,7).
Revelação posterior
O Êxodo e a Bíblia
Quem é o SENHOR?
A pergunta feita pelo Faraó, com visível desprezo (Êx 5.2), agora é
repetida com reverência e uma mente inquiridora. Tentamos desenhar uma
mapa da maneira pela qual a Bíblia desenvolve o significado do nome
divino. Podemos agora estabelecer uma definição mais precisa?
O Salmo 145 oferece uma das mais ricas coletâneas de atributos divinos
em toda a Bíblia e atinge seu clímax (v. 21) com a expressão “seu santo
nome”. Este adjetivo (santo) é usado para descrever seu nome mais do que
todos os outros (“glorioso”, Sl 72.19; “agradável”, Sl 135.3) juntos. Desde
que “nome” é uma expressão do caráter, isto quer dizer que o SENHOR é
Santo no âmago da essência de seu ser.
Como a palavra “santo” denota “separação”, o Senhor está “separado” da
nossa esfera e pertence a outra. Gênesis 38.21, de maneira curiosa, ilustra
perfeitamente esta ideia: “prostituta cultual” literalmente é “mulher santa”.
A garota em questão tinha-se separado para o serviço do deus a quem servia
e pertencia à esfera de realidade dele; era “separada”. Devemos, é claro,
desconsiderar o fato de que, na Bíblia, o serviço que ela oferecia era
profano e concentrar-nos na posição que ocupava, no mundo ao qual passou
a pertencer, e não no que fazia. Da mesma maneira, o SENHOR pertence à
sua própria e única esfera de realidade: ele é Santo. Isaías, porém,
estabelece esta santidade no verdadeiro contexto bíblico: a santidade moral
que exclui, expõe e condena os pecadores (Is 6.4,5).
A canção dos serafins: “Santo, santo, santo” usa o método hebraico da
repetição para expressar um superlativo (2 Rs 25.15, “ouro...prata”;
literalmente é “ouro, ouro...prata, prata”, isto é, “o mais puro ouro...a mais
fina prata”) ou uma ideia abrangente (Dt 16.20 “justiça, e só a justiça”,
literalmente “justiça, justiça”). A expressão tripla de Isaías 6.3 é o único
lugar no Antigo Testamento em que uma qualidade é “exaltada pelo poder
de três”, para expressar sua natureza super-superlativa. Nada mais descreve
o caráter divino único da santidade moral de forma tão distinta e
satisfatória.
É claro, porém, que, quando se nota que em Isaías 6 o SENHOR é
revelado numa pureza moral tão absoluta que nenhum pecador pode resistir
à sua presença ou unirse ao seu louvor, um terceiro fator experimentado
pelo profeta não pode ser omitido: foi da própria presença do SENHOR que
um serafim voou para ser o ministro da expiação, da purificação e da
reconciliação (Is 6.7). O Santo é também o Salvador.
1 Todas as versões em português apresentam Sua (ou Suá) como o nome do homem
cananeu, e não da filha. Em 1 Crônicas 2.3 algumas traduções mencionam o nome da filha
do cananeu como “Bate-Sua”, enquanto outras, inclusive a Versão Contemporânea,
traduzem por “filha de Sua” (Nota do Tradutor).
T
TAÃ. 1. Filho de Efraim e líder do clã dos taanitas (Nm 26.35).
2. Membro de um clã da tribo de Efraim. Era filho de Telá e pai de Ladã.
Estão mencionados em 1 Crônicas 7.25 como ancestrais de Josué, o filho de
Num (v. 27).
TAÁS. Filho de Naor [irmão de Abraão] e sua concubina chamada
Reumá (Gn 22.24).
TAATE (Heb. “compensação”).
1. 1 Crônicas 6.24 menciona-o como descendente de Coate, da
tribo de Levi. Era filho de Assir e pai de Uriel. Desde que alguns nomes são
omitidos nessas genealogias, é provável que o Taate mencionado no v. 37 (o
qual era também filho de Assir, levita e coatita) seja a mesma pessoa. Se
assim for, ele também foi o pai de Sofonias (v. 36) e ancestral de Samuel (v.
33).
2. Descendente de Efraim, mencionado em 1 Crônicas 7.20. Era
filho de Berede e pai de Eleadá; foi avô do referido no item 1.
3. Outro descendente de Efraim, filho de Eleadá e pai de Zabade
(1 Cr 7.20).
TABAOTE. Seus descendentes foram contados entre os judeus que
retornaram do exílio na Babilônia com Neemias e Zorobabel (Ed 2.43; Ne
7.46).
TABEEL (Heb. “Deus é bom”).
1. Junto com Bislão e Mitredate, escreveu uma carta ao rei
Artaxerxes, a fim de acusar os judeus (Ed 4.7). Para mais detalhes, veja
Mitredate.
2. Conhecido apenas como o pai do homem a quem Peca, rei de
Israel, e Rezim, rei da Síria, colocariam como rei de Judá, depois que
conquistassem o território do Sul (Is 7.6). O nome aparece numa mensagem
do Senhor, por meio do profeta Isaías, a fim de afirmar ao rei Acaz, de Judá,
que tal plano não prevaleceria. Deus não permitiria que Judá caísse nas
mãos dos inimigos, embora os invasores tivessem conquistado uma grande
parte do reino. Para mais detalhes, veja Peca e Rezim. P.D.G.
TABITA. Cristã da cidade de Jope, sempre fazia boas obras e ajudava os
necessitados. Conforme Atos 9.37-42, ficou gravemente enferma e morreu;
seus amigos chamaram Pedro, confiantes em que ele tinha poder para
restaurá-la à vida. O apóstolo, ao chegar ao local, encontrou os amigos
desconsolados e observou enquanto choravam abertamente e lhe mostravam
as peças de roupa fabricadas por Tabita quando estava viva. Pedro pediu
que todos se retirassem do aposento, ajoelhou-se e orou. Em seguida,
proferiu as palavras: “Tabita, levanta-te. Ela abriu os olhos... e assentou-se”.
Imediatamente, foi apresentada viva aos seus amigos e naquele dia muitas
pessoas creram no Senhor, por causa da obra que Deus fizera por meio do
apóstolo. Tabita também era chamada de Dorcas. S.C.
TABRIMOM (Aram. “Rimom [um deus] é bom”). Filho de Heziom e
pai de BenHadade I, foi o governante da Síria que fez uma aliança com o
rei Asa, de Judá, contra o rei Baasa, de Israel (1 Rs 15.18). Veja Ben-
Hadade.
TADEU. Um dos doze discípulos de Jesus, é mencionado por este nome
somente em Mateus 10.3 e Marcos 3.18. Em Lucas 6.16 e Atos 1.13, é
chamado “Judas, filho de Tiago” em suas listas dos discípulos. É provável
que Judas fosse seu nome usual, mas, depois da desgraça que envolveu a
traição do Iscariotes, tenha ficado conhecido por um apelido afetuoso;
Tadeu significa “peito” ou “coração”. Portanto, é provável que seja a pessoa
mencionada como Judas (não o Iscariotes) em João 14.22.
TAFATE. Filha de Salomão, casou-se com Ben-Abinadabe, um dos doze
governadores distritais do rei (1 Rs 4.11).
TAFNES. Rainha egípcia cuja irmã foi dada em casamento a Hadade por
Faraó (1 Rs 11.19). Hadade era membro da realeza edomita, mas fugiu para
o Egito quando Joabe, comandante do exército de Davi, atacou Edom.
Faraó agradou-se dele, por isso concedeu-lhe a grande honra de casar-se
com um membro da família real egípcia. Mais tarde a irmã de Tafnes deu
um filho a Hadade, o qual foi chamado de Genubate e foi criado dentro da
família real, pela própria rainha (v. 20).
TALMAI. 1. Um dos três descendentes de Enaque, que viviam em
Hebrom na época em que Canaã foi conquistada por Josué. Calebe liderou o
ataque contra esta cidade e derrotou os três gigantes na batalha. Como
resultado, ele e sua família receberam aquela parte do território como
herança (Nm 13.22; Js 15.14; Jz 1.10). É particularmente interessante notar
como o Senhor abençoou Calebe nessa conquista. Ele e Josué foram os
únicos espias que retornaram de Canaã, demonstraram confiança no Senhor
e creram que os gigantes seriam derrotados. Sua fé estava firmada em Deus
e sua recompensa foi considerável (Nm 13.30; 14.24).
2. Rei de Gesur, um pequeno território a nordeste do mar da Galiléia (2
Sm 3.3; 1 Cr 3.2). Era pai de Maaca, uma das esposas do rei Davi e mãe de
Absalão. Foi para esse território que mais tarde ele fugiu, após matar o
irmão Amnom, para se vingar do que ele fizera à sua irmã Tamar (2 Sm
13.37). P.D.G.
TAMAR (Heb. “palmeira”).
1. Nora de Judá, foi esposa de Er e Onã. Depois de perder os dois
filhos nos casamentos com Tamar, Judá teve medo de entregar seu terceiro
filho como esposo da jovem viúva. Enviou-a de volta para seu pai, com a
falsa promessa de que se casaria com seu filho mais novo quando este
tivesse idade suficiente. Tamar descobriu a fraude de Judá e determinou em
seu coração ter um filho dele. Disfarçouse de prostituta, chamou a atenção
do sogro e este deitou-se com ela, sem descobrir sua identidade. Tamar
exigiu que lhe desse um cabrito como pagamento; como garantia da dívida,
ele deixou com ela seu selo com o cordão e seu cajado. Judá enviou o
cabrito, mas os mensageiros não a localizaram; o assunto foi esquecido por
um tempo, até ele ouvir falar que sua nora estava grávida. Mandou que ela
fosse tirada para fora da cidade e queimada viva. Quando, porém, Tamar lhe
mostrou seu selo e seu cajado, Judá poupou sua vida, confessou seu próprio
engano e reconheceu que ela era mais justa do que ele. Tamar deu à luz
gêmeos, os quais chamou de Perez e Zerá (Gn 38.6, 11, 13, 24; Rt 4.12; Mt
1.3).
2. Filha do rei Davi, irmã de Absalão (veja 2 Sm 13.1-22; 1 Cr
3.9). Ela foi enviada pelo pai para cuidar de seu meio irmão Amnom, que
estava “doente”. Na verdade ele não estava doente, mas apaixonado pela
linda jovem, embora fosse sua irmã por parte de pai. Ao aproveitar-se da
bondade e vulnerabilidade dela, Amnom agarrou-a à força e a violentou.
Depois acrescentou insulto ao seu pecado, recusando-se a recebê-la como
esposa e expulsando-a de sua presença. A Bíblia diz que, depois de
violentar a própria irmã, “era a aversão que sentiu por ela maior do que o
amor com que a amara” (2 Sm 13.15). Tamar ficou angustiada por causa
daquela situação e, desolada, foi morar na casa de Absalão. Posteriormente,
este se vingou, quando matou Amnom. A falta de autoridade de Davi sobre
sua família, quando não tomou uma atitude diante da tragédia de Tamar,
sem dúvida contribuiu para o desrespeito que mais tarde Absalão
demonstrou para com o pai.
3. Filha de Absalão. A Bíblia menciona que se tornou uma jovem
extremamente bela (2 Sm 14.27). S.C.
TAMUZ. Numa visão profética, Ezequiel viu as “terríveis abominações”
que eram feitas em Jerusalém e no Templo, as quais trariam o castigo de
Deus sobre o povo. Ele presenciou mulheres sentadas junto a um dos
portões do Santuário, as quais choravam diante de Tamuz, o deus
babilônico da fertilidade (Ez 8.14). Parte do culto associado a essa
divindade incluía um mês de lamentações e choro.
TANUMETE (Heb. “consolação”). Pai de Seraías (2 Rs 25.23; Jr 40.8),
viveu na época de Jeremias, durante a queda de Jerusalém (veja Seraías e
Gedalias). Era netofatita e retornou a Judá depois do exílio na Babilônia.
TAPUA (Heb. “maçã”). Filho de Hebrom, foi líder na tribo de Judá (1 Cr
2.43).
TARÉIA. Terceiro filho de Mica e neto de Meribe-Baal, da tribo de
Benjamim; era descendente do rei Saul (1 Cr 8.35; 9.41).
TÁRSIS. 1. Filho de Bilã e bisneto de Benjamim (1 Cr 7.10).
2. Filho de Javã; portanto, descendente de Jafé e Noé. Iniciou
uma linhagem que gerou os “povos marítimos” (Gn 10.4,5). A palavra
posteriormente foi relacionada com o comércio no Mediterrâneo, com
navios e provavelmente com uma região costeira com o mesmo nome
(exemplo, Sl 48.7; Ez 38.13; etc.).
3. Homem sábio e entendido em leis, foi consultado pelo rei Assuero
(Et 1.14). Para mais detalhes, veja Memucã.
TARTAQUE. Após o reino do Norte [Israel] ser invadido pela Assíria,
os israelitas foram levados para outras regiões do império. Ao mesmo
tempo, grupos estrangeiros instalaram-se em Israel e Samaria e trouxeram
junto seus próprios deuses. 2 Reis 17.24-41 relata essa movimentação de
pessoas e a introdução de divindades pagãs na Palestina. Os aveus
introduziram Nibaz e Tartaque, que provavelmente representavam seus
deuses. A passagem menciona como esses povos e seus descendentes
tentaram adorar seus próprios deuses e “Yahweh” (o SENHOR), o Deus da
terra onde se estabeleceram (v. 32). É claro que tal culto era contrário à lei
de Moisés, à aliança e à verdade do monoteísmo, tão fundamental na fé de
Israel (vv. 34-41). P.D.G.
TATENAI. Governador do território além do Eufrates, na época do rei
Dario, da Pérsia. O retorno dos judeus para Jerusalém, depois do exílio na
Babilônia, ocorreu sob a fiscalização desse oficial (Ed 5.3). Mencionado
junto com SetarBozenai e outros “companheiros”. Quando souberam o que
acontecia em Jerusalém, questionaram os israelitas, cuja resposta está
registrada em Esdras 5.11-17. Auxiliado por Setar-Bozenai, Tatenai
escreveu ao rei Dario, a fim de perguntar se Zorobabel e seus companheiros
realmente tinham permissão para reconstruir o Templo. Dario encontrou o
decreto original assinado por Ciro e ordenou que os oficiais não
interferissem na “obra desta casa de Deus” (Ed 6.6,7). De fato, fez mais do
que isso, pois ordenou que Tatenai e Seter-Bozenai financiassem a obra
com dinheiro do tesouro real. Deveriam também comprar os animais para o
sacrifício (vv. 8-12). Os dois oficiais e seus subordinados empenharam-se
em ajudar na obra de reconstrução e obedeceram às ordens de Dario “com
toda a diligência” (v. 13).
Enquanto o trabalho prosseguia, o livro de Esdras enfatiza como o
Senhor ajudou em cada estágio da reconstrução e como o povo agradecia
continuamente pela maneira como a providência de Deus era vista até
mesmo nas questões que estavam sob a autoridade dos governantes persas.
P.D.G.
TEBÁ. Filho de Naor [irmão de Abraão] e de sua concubina Reumá (Gn
22.24).
TEBALIAS. Terceiro filho de Hosa, do clã dos meraritas, da tribo de
Levi. Listado entre os porteiros escolhidos pelo rei Davi; também
desempenhava tarefas relacionadas à ministração dos cultos no Tabernáculo
(1 Cr 26.11).
TEÍNA (Heb. “súplica”). Um dos líderes da tribo de Judá. Seu pai foi
Estom; ele e sua família viviam em Recá (1 Cr 4.12). Foi pai de Ir-Naás.
TELÁ. Filho de Resefe, era membro de um clã da tribo de Efraim. Ele e
seu filho Taã são mencionados em 1 Crônicas 7.25 como ancestrais de
Josué, filho de Num (v. 27).
TELÉM. Depois do exílio na Babilônia, muitos judeus casaram-se com
mulheres estrangeiras. Quando estavam em Jerusalém, liderados por Esdras,
arrependeram-se e fizeram um pacto de servir ao Senhor (Ed 10.2). Levita,
Telém era porteiro do Templo; foi listado entre os judeus que tinham-se
casado com mulheres estrangeiras (v. 24).
TEMA. Filho de Ismael, portanto neto de Abraão e Hagar, foi líder de
clã (Gn 25.15; 1 Cr 1.30).
TEMÁ. Chefe de uma das famílias de servidores do Templo cujos
descendentes retornaram do exílio na Babilônia nos dias de Esdras e
dedicaram-se ao trabalho no Santuário (Ed 2.53; Ne 7.55).
TEMÃ. Líder edomita, neto de Esaú e Ada (mulher cananita); era filho
de Elifaz (Gn 36.11.15,42; 1 Cr 1.36,53).
TEMENI. Mencionado em 1 Crônicas 4.6, foi um dos filhos de Asur e
sua esposa Naará, da tribo de Judá.
TEOFANIA
O vocábulo “teofania” não está registrado na Bíblia. Deriva de dois
termos gregos que foram combinados para dar o sentido literal de “aparição
de Deus”. Na Bíblia, teofania significa uma manifestação de Deus
localizada, formal e pessoal.
Dois princípios primários proporcionam o contexto para as teofanias: (1)
Onipresente, Deus não está limitado a um tempo e espaço particulares (1 Rs
8.27; Sl 139.7-10; Is 58.8,9). As teofanias, portanto, não anulam sua
onipresença. (2) A Bíblia ensina que toda a criação revela a existência de
Deus (Sl 19.1-6; Rm 1.20). O Senhor designou e formou todas as coisas de
tal maneira que elas refletem seus atributos, seu caráter e sua pessoa. A
conseqüência da queda do homem, entretanto, não permite que elas
interpretem apropriadamente essa manifestação geral (Rm 1.21ss). Deus,
portanto, providenciou uma revelação especial (as Escrituras) para o
propósito particular da redenção humana. A teofania é um fenômeno que
ocorre dentro dessa revelação especial.
Dessa maneira, contemplar a manifestação do poder de Deus nas forças
da natureza ou sua majestade na beleza da criação não chega a ser uma
teofania, pois esta sempre é acompanhada por uma revelação verbal que
identifica claramente a pessoa de Deus. Nas teofanias, o Senhor se revela
para ser conhecido, isto é, um Deus pessoal.
O fato de que as teofanias têm um caráter redentor é visto desde a
primeira instância, quando Deus apareceu a Adão e Eva no jardim do Éden,
depois da Queda (Gn 3.8) e por meio da revelação final em Cristo, o Deus
Encarnado (Ap 1.13ss). Todas as ocasiões em que Deus se revelou desta
maneira indicavam algum evento significativo no desenvolvimento do seu
programa de redenção, como na renovação da exigência de fidelidade a
Abraão (Gn 15), no castigo iminente dos inimigos (Êx 14) ou no
comissionamento do profeta com uma mensagem para o povo (Is 6).
As formas de teofanias
A nuvem de glória
Jesus Cristo
TEÓFILO. Lucas dedicou seus dois livros a Teófilo (Lc 1.3; At 1.1).
Sabemos pouco sobre ele. É possível, dado o respeito com que Lucas se
refere a ele, que pertencesse a uma alta classe social, e talvez fosse o
mantenedor financeiro do ministério do médico amado. Também é
discutível se era grego ou judeu, prosélito ou cristão. Os temas
desenvolvidos nos livros sugerem que se tratava de uma pessoa temente a
Deus e muito provavelmente um crente. O fato de que se menciona no livro
que Teófilo necessitava “de plena certeza” (Lc 1.4) mostra o compromisso
de Lucas com ele como pessoa e sugere que estava sob pressão para
renunciar à sua crença. D.B.
TERÁ. Vivia em Ur dos caldeus e era descendente de Sem (Gn 11.10-26;
1 Cr 1.26). Foi pai de Abraão e filho de Naor. Seus outros filhos foram Harã
e Naor (Gn 11.26,27). Harã, que morreu ainda jovem em Ur, tinha um filho
chamado Ló, o sobrinho de Abraão que tempos depois o acompanhou na
viagem para Canaã. Terá reuniu toda sua família, saiu de Ur e dirigiu-se
para o Norte, através da região conhecida como “o crescente fértil”, que
constitui o leito do rio Eufrates (v. 28). Quando, porém, chegou a um lugar
chamado Harã, estabeleceu-se ali. Terá morreu naquele local, com 205 anos
de idade (vv. 31,32). Posteriormente, Deus falou com Abraão e deu-lhe
instruções para se dirigir a uma terra que no futuro seria dada aos seus
descendentes.
Embora a viagem de Abraão para Canaã fosse claramente parte de seu
compromisso de fé em Deus e obediência a um chamado divino, não existe
indicação de que Terá também tenha recebido tal convocação. De fato,
muito tempo mais tarde Josué lembrou ao povo de Israel que Terá vivia do
outro lado do rio Eufrates e adorava “outros deuses”. A mudança de Abraão
para Canaã certamente foi considerada como uma decisão deliberada, a fim
de afastar-se do passado de idolatria (Js 24.2,15). Terá posteriormente foi
mencionado na genealogia de Jesus apresentada no evangelho de Lucas (Lc
3.34). P.D.G.
TÉRCIO (Lat. “terceiro”). Redigiu a carta aos Romanos, a qual foi
ditada por Paulo. Acrescentou sua própria saudação aos irmãos de Roma,
no final da epístola (Rm 16.22). A conclusão a que chegamos, entretanto,
indica que depois da palavra de Tércio o apóstolo empunhou a pena e,
como era seu costume — demonstrado em outras ocasiões — finalizou a
carta de próprio punho (vv. 23-27; veja 1 Co 16.21-24; 2 Ts 3.17). Não
sabemos o local de origem de Tércio, mas suas saudações indicam que era
um cristão romano.
TERES. Um dos dois guardas que protegiam o portão do palácio do rei
Assuero. Ele e seu companheiro Bigtã, “se indignaram e conspiraram para
assassinar o rei Assuero” (Et 2.21). A razão para a inclusão deles no relato
do livro de Ester foi porque o judeu Mordecai os denunciou. Hamã fizera
todos os arranjos para que Mordecai fosse enforcado, por não se inclinar
diante dele. Numa noite de insônia, o rei leu nos registros do reino sobre a
denúncia dos dois conspiradores feita por Mordecai e pela manhã ordenou
que Hamã lhe fizesse uma série de homenagens. Esse reconhecimento de
Mordecai, por parte do rei, tempos mais tarde ajudou a salvar os judeus dos
perversos desígnios de Hamã. Para mais detalhes, veja Mordecai e Ester.
P.D.G.
TÉRTULO. O sumo sacerdote Ananias e os líderes judaicos, em
Jerusalém, contrataram o advogado Tértulo para ajudálos a fazer as
acusações contra Paulo, o qual estava preso em Cesaréia, por ordem do
governador Félix (At 24.1,2). Tértulo provavelmente era cidadão romano.
Pelo menos parte de seu discurso diante de Félix está registrado nos vv. 2-8.
Começou com declarações de respeito e bajulação concernentes ao
governador e depois declarou que Paulo era criador de problemas e
tumultos entre os judeus. Esse argumento destinava-se a forçar os romanos
a tomar uma atitude contra o apóstolo para preservar a paz no império.
Tértulo disse que o apóstolo era líder de uma seita e tentara contaminar o
Templo com ela. O Apóstolo rebateu cuidadosamente as acusações. Para
mais detalhes, veja Félix e Lísias. P.D.G.
TEUDAS. Pedro e os apóstolos pregavam na cidade e nas dependências
do Templo em Jerusalém, para consternação das autoridades judaicas. Após
serem presos pelos judeus e soltos no meio da noite por um anjo do Senhor,
foram novamente detidos no Templo e levados ao Sinédrio. No entanto,
recusaram-se a parar com a pregação e argumentaram com os membros do
conselho que pregavam em obediência a Deus (At 5.1732). Vários líderes
desejavam que Pedro e seus companheiros fossem condenados à morte, mas
Gamaliel levantou-se e aconselhou que eles fossem deixados em paz, para
se ver o que lhes aconteceria. Talvez com o tempo eles e sua mensagem
simplesmente desaparecessem de cena e os líderes no meio tempo não
correriam o risco de lutar contra Deus, caso aqueles homens fossem
realmente mandados pelo Senhor. Gamaliel lembrou-se de história recente,
na qual um homem chamado Teudas tinha alegado “ser alguém” (talvez
tenha declarado que era o Messias esperado). Cerca de 400 homens o
seguiam, mas tudo acabou em nada quando ele foi morto, e seus seguidores
se dispersaram (At 5.36). Obviamente, Gamaliel convencera-se de que isso
aconteceria de novo. É possível que esse personagem não se identifique
com o Teudas mencionado por Josefo, o qual liderou uma revolta em 44
d.C. P.D.G.
TIMÓTEO
Uma figura fascinante do Novo Testamento, converteu-se durante a
primeira viagem missionária de Paulo e tornou-se um dos colaboradores na
segunda viagem, na qual levou o apóstolo a pregar o Evangelho através do
mar Egeu em direção à Europa (At 16.1,3).
Timóteo pertencia a uma família mista — era filho de “uma judia crente,
mas seu pai era grego” (At 16.1). Aprendeu sobre a fé aos pés da avó Lóide
e da mãe Eunice (2 Tm 1.5; 3.15). Para que ele fosse útil à evangelização e
aceito como judeu, Paulo resolveu submetê-lo à circuncisão, “porque todos
sabiam que seu pai era grego” (At 16.3). Essa concessão diante da
sensibilidade dos judeus é contrastada com a absoluta recusa do apóstolo
em permitir que Tito, seu cooperador gentio, fosse circuncidado; isso
envolveria a negação do Evangelho da graça que Paulo pregava (Gl 2.3,16).
Alguns comentaristas modernos sugerem que o apóstolo foi incoerente
nessa questão ou Lucas, ao escrever, simplesmente se equivocou. O
comportamento de Paulo, entretanto, é compreensível, devido aos diferentes
contextos em que trabalhava. O apóstolo não estava disposto a
comprometer a verdade básica de que a salvação era somente pela graça,
por meio da fé. Por isso rejeitava os que obrigavam os cristãos a
circuncidar-se. Por outro lado, quando não havia nenhum comprometimento
nem violação dos princípios cristãos, estava sempre disposto a fazer
grandes concessões para compartilhar o Evangelho com os outros: “Fiz-me
como judeu para os judeus, para ganhar os judeus” (1 Co 9.20). Essa
flexibilidade é ilustrada na circuncisão de Timóteo.
Um cooperador do Evangelho
Um jovem líder
1 e 2 Timóteo
A espiritualidade de Timóteo
1 Mencionado apenas em alguns textos no início do v. 29: “Jeiel, pai de Gibeom...” (Nota
do Tradutor).