O Poder de Tornar-Se
O Poder de Tornar-Se
O Poder de Tornar-Se
David A. Bednar
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Cristo dos Santos dos Últimos Dias. As opiniões aqui expressas são de inteira responsabilidade do autor
e não representam necessariamente a posição da Igreja ou da Deseret Book Company.
“Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos
céus” (Mateus 5:48).
O Caráter de Cristo
Qual é a natureza ou o tipo de perfeição pela qual temos lutado? O
próprio caráter de Jesus responde a essa pergunta.
Um dos maiores indicadores do caráter justo é a capacidade de
reconhecer e reagir adequadamente diante de outras pessoas que passam
pelos mesmos desafios ou adversidades que tão violenta e imediatamente
oprimem nossa própria vida. O caráter se revela, por exemplo, na capacidade
de enxergar o sofrimento de outras pessoas, quando nós mesmos estamos
sofrendo; na habilidade de detectar a fome de outros, quando nós mesmos
estamos famintos; e no poder de estender a mão ao próximo e sentir
compaixão por sua agonia espiritual quando nós mesmos estamos
espiritualmente angustiados. Portanto, o caráter de alguém se demonstra ao
olhar para fora de si mesmo, ao voltar-se para outrem e doar de si mesmo
quando a resposta instintiva do “homem natural” (Mosias 3:19) seria fechar-
se em si, ser egoísta e absorver-se no próprio ego.
O Salvador sempre Se voltou para os outros, compadecendo-Se deles e
servindo-os — especialmente quando enfrentou adversidade espiritual e dor
física. A capacidade do Mestre de abençoar outras pessoas e ministrar a elas,
mesmo em meio a Sua própria aflição “mostrou a senda” (“Da Corte
Celestial”, Hinos, nº 114) na qual, durante nossa provação mortal, por
intermédio do poder e da eficácia de Sua Expiação, poderemos despojar-nos
das tendências egocêntricas do homem natural e agir mais de acordo com a
verdadeira doutrina.
Em Jesus Cristo não havia pecado, mas altruísmo divinal; Ele é a fonte,
o padrão e o critério mais definitivo do caráter moral e o exemplo mais
perfeito de caridade e de constância
De Graça em Graça
A enormidade absoluta da perfeição como meta ou resultado eterno
pode fazer-nos sentir completamente incapazes, inadequados e desanimados.
Mas, como aprendemos nos ensinamentos de nossos líderes gerais
anteriormente, neste capítulo, a perfeição não é atingida de uma só vez, nem
na mortalidade. Pois até mesmo nosso exemplo perfeito, o Salvador,
progrediu “linha sobre linha, preceito sobre preceito” (2 Néfi 28:30).
“E eu, João, testifico que contemplei sua glória, como a glória do
Unigênito do Pai, cheio de graça e verdade, sim, o Espírito da verdade, que
veio e habitou na carne e habitou entre nós.
E eu, João, vi que no princípio ele não recebeu da plenitude, mas
recebeu graça por graça;
E a princípio não recebeu da plenitude, mas continuou de graça em
graça, até receber a plenitude;
E assim foi chamado de Filho de Deus, porque não recebeu da plenitude
no princípio” (Doutrina e Convênios 93:11–14).
E o mesmo padrão que se aplica ao Redentor também se aplica a nós.
“E dou-vos estas palavras, para compreenderdes e saberdes como adorar
e saberdes o que adorais, para que venhais ao Pai em meu nome e, no devido
tempo, recebais de sua plenitude.
Porque, se guardardes meus mandamentos, recebereis de sua plenitude e
sereis glorificados em mim como eu o sou no Pai; portanto digo-vos:
Recebereis graça por graça” (Doutrina e Convênios 93:19–20).
Da mesma forma, não atingimos a perfeição sozinhos ou dependendo
exclusivamente das ínfimas possibilidades do homem ou da mulher natural
que existe em cada um de nós. Podemos confiar na ajuda, na força e no apoio
dos céus. O Salvador declarou: “Se me amais, guardai os meus
mandamentos.
E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique
convosco para sempre;
O Espírito de verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê
nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco, e estará em
vós.
Não vos deixarei órfãos; voltarei para vós” (João 14:15–18; grifo do
autor).
Na Força do Senhor
Para os discípulos de Jesus Cristo, a jornada da mortalidade é paralela ao
caminho da perfeição. A Expiação do Salvador fortalece-nos e capacita-nos a
prosseguir com firmeza e perseverança. Nossa limitada capacidade mortal
pode alargar-se para cumprir os requisitos do preceito divino: “Sede vós pois
perfeitos” (Mateus 5:48).
O grande objetivo do evangelho do Salvador foi resumido sucintamente
pelo Presidente David O. McKay, como citado pelo Élder Franklin D.
Richards: “O propósito do evangelho é (…) tornar os homens maus bons, e
tornar os homens bons melhores, e mudar a natureza humana” (Conference
Report, outubro de 1965, pp. 136–137). Assim, a jornada da mortalidade é
progredir de maus para bons, e de bons para melhores, e passar por uma
vigorosa mudança no coração — passar por uma mudança em nossa natureza
decaída (ver Mosias 5:2) e ser “aperfeiçoados Nele” (Morôni 10:32–33).
O Livro de Mórmon é nosso manual de instruções, ao viajarmos pelo
caminho que nos leva de maus a bons, e de bons para melhores, e ao nos
esforçarmos para passar por uma mudança no coração. O rei Benjamim
ensinou sobre a jornada da mortalidade e o papel da Expiação para
navegarmos com sucesso nessa jornada: “Porque o homem natural é inimigo
de Deus e tem-no sido desde a queda de Adão e sê-lo-á para sempre; a não
ser que ceda ao influxo do Santo Espírito e despoje-se do homem natural e
torne-se santo pela expiação de Cristo, o Senhor” (Mosias 3:19; grifo do
autor).
Chamo sua atenção para duas frases específicas. Primeiro — “despoje-
se do homem natural”. Nossa jornada de maus para bons é o processo de
despojar-nos do homem ou da mulher natural que existe em cada um de nós.
Na mortalidade, todos somos tentados na carne. Os próprios elementos dos
quais nosso corpo foi criado são de natureza decaída e estão sempre sujeitos à
influência do pecado, da corrupção e da morte. Mas podemos aumentar nossa
capacidade de sobrepujar os desejos da carne e as tentações “pela expiação de
Cristo”. Quando cometemos erros, como quando transgredimos e pecamos,
podemos arrepender-nos e tornar-nos limpos por meio do poder redentor da
Expiação de Jesus Cristo.
Segundo — “torne-se santo”. Essa frase descreve a continuação e a
segunda fase da jornada da vida para tornar “os homens bons em melhores”
ou, em outras palavras, tornarem-se santos. Essa segunda parte da jornada,
esse processo de passar de bom para melhor, é um tópico sobre o qual não
estudamos nem ensinamos com suficiente frequência. Creio que não a
entendemos adequadamente.
Suspeito que muitos membros da Igreja estejam mais bem
familiarizados com a natureza do poder redentor e purificador da Expiação do
que estão com o seu poder fortalecedor e capacitador. Uma coisa é saber que
Jesus Cristo veio à Terra para morrer por nós — isso é fundamental e básico
para a doutrina de Cristo. Mas também precisamos ser gratos pelo fato de o
Senhor desejar, por meio de Sua Expiação e pelo poder do Espírito Santo,
viver em nós — não apenas para nos dirigir, mas também para nos capacitar.
A maioria de nós sabe que, quando fazemos coisas erradas, precisamos
de ajuda para vencer os efeitos do pecado em nossa vida. O Salvador pagou o
preço e possibilitou que nos tornássemos limpos por meio de Seu poder
redentor. A maioria de nós compreende claramente que a Expiação é para os
pecadores.
Não tenho certeza, porém, se sabemos e compreendemos que a Expiação
também é para os santos — para homens e mulheres bons que são obedientes,
dignos e conscienciosos e que se esforçam por tornar-se melhores e servir
mais fielmente. Podemos erroneamente acreditar que precisamos fazer a
jornada de bons para melhores e tornar-nos santos sozinhos, por meio da
força de vontade e do esforço próprio, da disciplina, e com nossa capacidade
obviamente limitada.
O evangelho do Salvador não se refere simplesmente a evitar o mal em
nossa vida. Também se refere essencialmente a fazermos o bem e a nos
tornarmos bons. E a Expiação nos ajuda a vencer e evitar o mal e a fazer o
bem e tornar-nos bons. A ajuda do Salvador está disponível para toda a
jornada da mortalidade — de maus para bons, de bons para melhores — e
para mudar nossa própria natureza.
Não estou sugerindo que os poderes de redenção e capacitação da
Expiação sejam separados e distintos. Na verdade, essas duas dimensões da
Expiação estão conectadas entre si e são complementares. Ambas precisam
funcionar durante todas as fases da jornada da vida. E é eternamente
importante para todos nós reconhecer que ambos os elementos essenciais da
jornada da mortalidade — tanto o processo de despojar-nos do homem
natural como o de tornar-nos santos, tanto vencer o mal como tornar-nos bons
— são alcançados por meio do poder da Expiação. A força de vontade
individual, a determinação e a motivação pessoais, o planejamento eficaz e o
estabelecimento de metas são coisas necessárias, mas no final serão
insuficientes para que completemos triunfalmente esta jornada mortal.
Verdadeiramente precisamos confiar nos “méritos e misericórdia e graça do
Santo Messias” (2 Néfi 2:8).
A Graça e o Poder Capacitador da Expiação de Jesus Cristo
No Dicionário Bíblico, em inglês, aprendemos que a palavra graça
frequentemente é usada nas escrituras para referir-se a um poder que nos
fortalece e coloca certas coisas ao nosso alcance:
“[Graça é] uma palavra que ocorre com frequência no Novo
Testamento, especialmente nos escritos de Paulo. O significado principal da
palavra refere-se aos meios divinos pelos quais recebemos ajuda ou forças
concedidos pela imensa misericórdia e pelo abundante amor de Jesus Cristo.
É pela graça do Senhor Jesus Cristo, devido ao Seu sacrifício expiatório,
que a humanidade ganhará a imortalidade, significando que toda pessoa
receberá seu corpo de volta para viver eternamente. Da mesma forma, é pela
graça do Senhor que os indivíduos, pela fé no sacrifício de Jesus Cristo e no
arrependimento de seus pecados, recebem força e ajuda para fazer boas
obras, o que não conseguiriam se tivessem de agir sozinhos. Essa graça é o
poder capacitador que permite a homens e mulheres ganharem a vida eterna
e a exaltação depois de fazerem todos os esforços que estiverem a seu
alcance” (Bible Dictionary, “Grace”; grifo do autor).
A graça é o auxílio divino ou a ajuda divina que cada um de nós
necessita desesperadamente a fim de qualificar-se para entrar no reino
celestial. Portanto, o poder capacitador da Expiação de Cristo nos fortalece
para fazer o bem e ser bons e para servir além de nosso próprio desejo
individual e nossa capacidade natural.
Em meu estudo pessoal das escrituras, frequentemente insiro o termo
poder capacitador toda vez que encontro a palavra graça. Considerem, por
exemplo, este versículo que todos conhecemos muito bem: “Sabemos que é
pela graça que somos salvos, depois de tudo o que pudermos fazer” (2 Néfi
25:23). Creio que podemos aprender muito sobre esse aspecto vital da
Expiação se inserirmos a expressão “poder capacitador e fortalecedor” toda
vez que encontrarmos a palavra graça nas escrituras.
A Graça e o Poder Capacitador: Ilustrações e Implicações
A jornada da mortalidade é ir de mau para bom e de bom para melhor e
fazer com que nossa própria natureza seja mudada. O Livro de Mórmon está
repleto de exemplos de discípulos e profetas que sabiam do poder capacitador
da Expiação, compreendiam-no e foram transformados por ele ao fazerem
essa jornada. Ao compreendermos melhor esse poder sagrado, nossa
perspectiva do evangelho será imensamente ampliada e enriquecida. Essa
perspectiva vai mudar-nos de um modo extraordinário.
Néfi é um bom exemplo de alguém que conhecia o poder capacitador do
Salvador, compreendia-o e confiava nele. Relembrem que os filhos de Leí
tiveram de voltar a Jerusalém para convidar Ismael e sua família para unir-se
à causa deles. Lamã e outros do grupo que viajavam com Néfi na volta de
Jerusalém para o deserto rebelaram-se, e Néfi exortou seus irmãos a terem fé
no Senhor. Foi nesse ponto de sua jornada que os irmãos de Néfi o
amarraram com cordas e planejaram sua destruição. Prestem atenção à oração
de Néfi: “Ó Senhor, de acordo com minha fé em ti, livra-me das mãos de
meus irmãos; sim, dá-me forças para romper estas cordas com que estou
amarrado” (1 Néfi 7:17; grifo do autor).
Sabem pelo que eu provavelmente teria orado, se eu tivesse sido
amarrado por meus irmãos? “Por favor, tira-me desta situação difícil
AGORA MESMO!” Para mim, é particularmente interessante ver que Néfi
não orou para que sua situação mudasse. Em vez disso, orou para ter forças e
mudar suas circunstâncias. E creio que ele orou dessa maneira precisamente
porque conhecia, compreendia e vivenciara o poder capacitador da Expiação.
Não creio que as cordas com que Néfi foi amarrado simplesmente
caíram magicamente de suas mãos e seus pulsos. Em vez disso, suspeito que
ele foi abençoado tanto com persistência como com força pessoal superior a
sua capacidade natural, para que, “com a força do Senhor” (Mosias 9:17) ele
trabalhasse, torcesse e forçasse as cordas, até por fim literalmente conseguir
rompê-las.
A implicação desse relato para cada um de nós é muito direta. À medida
que passamos a compreender e a aplicar o poder capacitador da Expiação em
nossa vida pessoal, vamos orar e buscar forças para mudar nossa situação, em
vez de orar pedindo que nossa situação seja mudada. Vamos tornar-nos
agentes que exercem a ação, em vez de objetos que recebem a ação (ver 2
Néfi 2:14).
Examinemos o exemplo que lemos no Livro de Mórmon, quando Alma
e seu povo foram perseguidos por Amulon. A voz do Senhor veio àquelas
pessoas boas em sua aflição e declarou:
“E também aliviarei as cargas que são colocadas sobre vossos ombros,
de modo que não as podereis sentir sobre vossas costas. (…)
E aconteceu que as cargas impostas a Alma e seus irmãos se tornaram
leves; sim, o Senhor fortaleceu-os para que pudessem carregar seus fardos
com facilidade; e submeteram-se de bom grado e com paciência a toda a
vontade do Senhor” (Mosias 24:14-15; grifo do autor).
O que mudou nesse relato? Não foram as cargas que mudaram. Os
desafios e as dificuldades da perseguição não foram imediatamente
removidos do povo. Mas Alma e seus seguidores foram fortalecidos, e sua
capacidade e suas forças aumentadas tornaram mais leves as cargas que
levavam. Aquelas boas pessoas foram capacitadas pela Expiação para atuar
como agentes e mudar sua situação. E “com a força do Senhor” Alma e seu
povo foram então conduzidos para a segurança da terra de Zaraenla.
Vocês podem justificadamente se perguntar: “O que torna o relato de
Alma e seu povo um exemplo do poder capacitador da Expiação?” A resposta
está na comparação entre Mosias 3:19 e Mosias 24:15.
“E despoje-se do homem natural e torne-se santo pela expiação de
Cristo, o Senhor; e torne-se como uma criança, submisso, manso, humilde,
paciente, cheio de amor, disposto a submeter-se a tudo quanto o Senhor
achar que lhe deva infligir, assim como uma criança se submete a seu pai”
(Mosias 3:19; grifo do autor).
Ao progredirmos na jornada da mortalidade, de maus para bons e de
bons para melhores, ao despojar-nos do homem ou da mulher natural que há
em cada um de nós, e ao esforçar-nos por tornar-nos santos e sentir uma
mudança em nossa própria natureza, os atributos detalhados nesse versículo
descreverão cada vez mais o tipo de pessoa em que estamos nos tornando.
Vamos tornar-nos mais semelhantes a uma criança: mais submissos, mais
pacientes e mais dispostos a nos submeter.
Agora comparem as características vistas em Mosias 3:19 às usadas para
descrever Alma e seu povo: “E submeteram-se de bom grado e com
paciência a toda a vontade do Senhor” (Mosias 24:15; grifo do autor).
Considero marcantes os paralelos traçados entre os atributos descritos
nesses versículos, sendo eles uma indicação de que o bom povo de Alma
estava tornando-se melhor por meio do poder capacitador da Expiação de
Cristo, o Senhor.
Relembrem a história de Alma, o filho, e Amuleque, contida em Alma
14. Naquela ocasião, muitos santos fiéis foram mortos pelo fogo, e aqueles
dois servos do Senhor tinham sido aprisionados e espancados. Ponderem esta
súplica feita por Alma ao orar na prisão: “Dá-nos forças, ó Senhor, de acordo
com nossa fé em Cristo, para que sejamos libertados” (Alma 14:26; grifo do
autor).
Nesse versículo vemos novamente a compreensão e a confiança de
Alma no poder capacitador da Expiação refletida em seu pedido. E observem
o resultado dessa oração:
“E eles [Alma e Amuleque] arrebentaram as cordas com que estavam
amarrados; e quando o povo viu isto, começou a fugir, pois o temor da
destruição caíra sobre eles. (…)
E Alma e Amuleque saíram ilesos da prisão, porque o Senhor lhes havia
concedido poder segundo sua fé em Cristo” (Alma 14:26, 28; grifo do autor).
Novamente o poder capacitador fica evidente quando aquelas boas
pessoas lutaram contra o mal e se esforçaram para tornar-se ainda melhores e
a servir mais eficazmente “com a força do Senhor”.
Outro exemplo do Livro de Mórmon é muito instrutivo. Em Alma 31,
Alma está dirigindo uma missão para resgatar os zoramitas apóstatas que,
depois de construírem seu Rameumptom, ofereciam uma oração decorada e
orgulhosa.
Observem a súplica por forças na oração pessoal de Alma: “Ó Senhor,
concede-me forças para suportar com paciência essas aflições que sofrerei
por causa da iniquidade deste povo” (Alma 31:31; grifo do autor).
Alma também ora para que seus companheiros missionários recebam
uma bênção semelhante: “Concede-lhes forças para suportarem as aflições
que lhes advirão por causa das iniquidades deste povo” (Alma 31:33; grifo do
autor).
Alma não orou para que as aflições deles fossem removidas. Ele sabia
que era um agente do Senhor e orou para ter a capacidade de agir e influir em
sua situação.
O ponto-chave desse exemplo está contido no versículo final de Alma
31: “[O Senhor] deu-lhes força para que não padecessem qualquer espécie de
aflição que não pudesse ser sobrepujada pela alegria em Cristo. Ora, isso
aconteceu por causa da oração de Alma; e isto porque havia orado com fé”
(versículo 38; grifo do autor).
As aflições não foram removidas. Mas Alma e seus companheiros foram
fortalecidos e abençoados por meio do poder capacitador da Expiação, de
modo “que não padecessem qualquer espécie de aflição que não pudesse ser
sobrepujada pela alegria em Cristo”. Que bênção maravilhosa! E que lição
que cada um de nós deve aprender!
Os exemplos do poder capacitador não se encontram apenas nas
escrituras. Daniel W. Jones nasceu em 1830, no Missouri, e filiou-se à Igreja
na Califórnia, em 1851. Em 1856, participou do resgate das companhias de
carrinhos de mão que estavam impedidas de prosseguir por causa de fortes
nevascas. Depois que o grupo de resgate encontrou os santos aflitos, proveu o
alívio imediato que pôde oferecer e cuidou para que os doentes e debilitados
fossem transportados para Salt Lake City, Daniel e vários outros rapazes se
ofereceram para ficar e proteger os pertences da companhia. O alimento e os
suprimentos deixados com Daniel e seus companheiros eram escassos e
rapidamente foram consumidos. A seguinte citação do diário pessoal de
Daniel Jones descreve o que aconteceu em seguida.
“A caça logo se tornou tão escassa que não conseguíamos abater nada.
Consumimos toda a carne magra, que deixaria qualquer um faminto. Por fim,
acabou tudo, nada restando além de couro cru. Experimentamos comê-lo.
Cozinhamos e comemos uma grande porção dele sem qualquer preparo, e
todo o grupo passou mal. (…)
As coisas pareciam sombrias, porque nada restava a não ser alguns
pedaços de couro cru tirados do gado que morrera de fome. Pedimos ao
Senhor que nos orientasse quanto ao que fazer. Os irmãos não reclamaram,
mas sentiram que deviam confiar em Deus. (…) Por fim, tive a inspiração de
como preparar aquilo e aconselhei a companhia, explicando-lhes como
cozinhá-lo, dizendo que eles deviam chamuscar e raspar o pelo antes, porque
isso tendia a eliminar e purificar o gosto ruim que lhe dava o cozimento.
Depois de raspar, deviam cozinhar por uma hora com bastante água e jogar
fora a água na qual se extraiu a cola, depois lavar e raspar cuidadosamente o
couro, enxaguando com água fria, e então cozinhar até ficar gelatinoso e
deixar esfriar, e depois comer polvilhado com um pouco de açúcar. Tudo isso
dava um trabalho considerável, mas pouco mais havia para fazer, e era
melhor do que morrer de fome.
Pedimos ao Senhor que abençoasse o nosso estômago e o adaptasse
àquele alimento . (…) Ao prová-lo dessa vez todos pareceram saborear o
banquete. Estávamos sem comer havia três dias, antes de fazermos essa
segunda tentativa. Desfrutamos aquela suntuosa refeição por cerca de seis
semanas” (Forty Years among the Indians, pp. 57–58; grifo do autor).
Naquelas circunstâncias, provavelmente eu teria orado pedindo outra
coisa para comer: “Pai Celestial, por favor, envia-me uma codorna ou um
búfalo”. Talvez não me tivesse ocorrido orar pedindo que meu estômago
fosse fortalecido e adaptado para o alimento que tínhamos. O que Daniel W.
Jones conhecia? Conhecia o poder capacitador da Expiação de Jesus Cristo.
Ele não orou para que suas circunstâncias fossem mudadas. Orou para ser
fortalecido a fim de lidar com suas circunstâncias. Assim como Alma e seu
povo, Alma, o filho, Amuleque e Néfi foram fortalecidos, Daniel W. Jones
teve a visão espiritual para saber o que pedir naquela oração.
O poder capacitador da Expiação de Cristo nos fortalece para fazermos
coisas que jamais faríamos por nós mesmos. Às vezes me pergunto se em
nosso mundo moderno de facilidades — com fornos de micro-ondas,
telefones celulares, carros com ar-condicionado e lares confortáveis — pelo
menos reconhecemos nossa dependência diária do poder capacitador da
Expiação.
Minha mulher, Susan, é uma pessoa extraordinariamente fiel e
competente; aprendi com ela importantes lições sobre o poder fortalecedor ao
ver seu exemplo sereno. Observei-a perseverar ao sofrer continuamente de
intensos enjoos matinais. Ela literalmente passou mal todos os dias por oito
meses durante cada uma das três gestações que teve. Oramos juntos para que
ela fosse abençoada, mas o desafio nunca foi removido. Em vez disso, foi-lhe
permitido suportar fisicamente o que ela não conseguiria fazer com as
próprias forças. Ao longo dos anos, também observei como ela foi
magnificada para lidar com a zombaria e o desprezo provindos de uma
sociedade secular quando uma mulher santo dos últimos dias atende aos
conselhos proféticos e faz da família e da criação dos filhos suas principais
prioridades.
As experiências de Susan com o poder fortalecedor da Expiação são
particularmente marcantes precisamente porque elas podem parecer um tanto
comuns, nada de mais. Esses episódios simples prestam testemunho
eloquente da verdade de que as bênçãos da Expiação do Salvador estão
disponíveis e são eficazes para todos nós em nossos desafios e nossas lutas
cotidianas. “E (…) Deus não faz acepção de pessoas” (Atos 10:34; ver
também Doutrina e Convênios 1:35; 38:16).
Agradeço e presto tributo a Susan por ajudar-me a aprender essas lições
inestimáveis.
O Salvador Sabe e Compreende
Em Alma, capítulo 7, aprendemos como e por que o Salvador é capaz de
prover o poder capacitador:
“E ele seguirá, sofrendo dores e aflições e tentações de toda espécie; e
isto para que se cumpra a palavra que diz que ele tomará sobre si as dores e
as enfermidades de seu povo.
E tomará sobre si a morte, para soltar as ligaduras da morte que prendem
o seu povo; e tomará sobre si as suas enfermidades, para que se lhe encham
de misericórdia as entranhas, segundo a carne, para que saiba, segundo a
carne, como socorrer seu povo, de acordo com suas enfermidades” (Alma
7:11–12, grifo do autor).
O Salvador sofreu não apenas por nossas iniquidades, mas também pelas
desigualdades, injustiças, dor, angústia e sofrimento emocional que com tanta
frequência nos afligem. Não há dor física, angústia da alma, sofrimento do
espírito, enfermidade ou fraqueza que sentimos durante nossa jornada mortal
que o Salvador não tenha sentido antes. Todos nós, em um momento de
fraqueza, podemos exclamar: “Ninguém compreende. Ninguém sabe”. Talvez
nenhum ser humano saiba. Mas o Filho de Deus sabe e compreende
perfeitamente, porque sentiu e tomou sobre Si nossas cargas antes que as
vivenciássemos. E por ter pago o preço final e tomado sobre Si a carga, Ele
tem perfeita empatia e pode estender-nos Seu braço de misericórdia nas
muitas fases de nossa vida. Ele pode estender a mão, tocar, socorrer —
literalmente correr para nós — e fortalecer-nos para que sejamos mais do que
jamais poderíamos ser e ajudar-nos a fazer o que jamais poderíamos fazer se
dependêssemos apenas de nossa própria capacidade.
“Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos
aliviarei.
Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e
humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas.
Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve” (Mateus 11:28–30).
Jugo é uma trave de madeira, geralmente usada numa parelha de bois ou
outros animais, permitindo que puxem juntos uma carga. O jugo coloca os
animais lado a lado de modo que possam mover-se juntos para cumprir uma
tarefa.
Ponderem o convite que o Senhor faz individualmente a cada um de nós:
“Tomai sobre vós o meu jugo”. A realização e o cumprimento de convênios
sagrados nos vinculam ao jugo do Senhor Jesus Cristo. Em essência, o
Salvador nos convida a confiarmos Nele e a puxarmos junto com Ele, embora
nossos melhores esforços não se igualem nem possam ser comparados aos
Dele. Cristo tomou sobre Si as dores e aflições; tomou sobre Si a morte;
tomou sobre Si as enfermidades — para “[saber], segundo a carne, como
socorrer seu povo” (Alma 7:12). Ao nos achegarmos ao Salvador, confiarmos
Nele e dependermos Dele, e ao puxarmos ao lado Dele nesta jornada da
mortalidade, certamente Seu jugo será suave e Seu fardo será leve (ver
Mateus 11:30).
Não estamos e jamais precisaremos estar sozinhos. Não prosseguiremos
com firmeza no caminho da perfeição sem a ajuda divina. “Portanto continuai
vossa viagem; e que se alegre vosso coração, pois eis que eu estarei convosco
até o fim” (Doutrina e Convênios 100:12).
Graças à Expiação do Salvador, podemos receber capacidade e forças
maiores do que as nossas (ver “Sim, Eu Te Seguirei”, Hinos, nº 134). Nosso
amoroso Salvador de fato atende à súplica “ensinai-me, ajudai-me as leis de
Deus guardar” (“Sou um Filho de Deus”, Hinos, nº 193).
Resumo
Ao aprofundarmos nosso conhecimento dos atributos e do caráter do
Salvador e ao agirmos segundo Sua doutrina, somos abençoados com o poder
de tornar-nos mais semelhantes a Ele. Recebemos graça sobre graça e somos
fortalecidos para fazer o bem e tornar-nos melhores por meio de Sua
Expiação infinita e eterna. A direção que devemos tomar no caminho da
perfeição se torna cada vez mais clara, e nosso passo, cada vez mais
constante. Temos a bênção de “prosseguir com firmeza em Cristo, tendo um
perfeito esplendor de esperança e amor a Deus e a todos os homens. Portanto,
se assim prosseguirdes, banqueteando-vos com a palavra de Cristo, e
perseverardes até o fim, eis que assim diz o Pai: Tereis vida eterna.
E agora, meus amados irmãos, eis que este é o caminho; e não há
qualquer outro caminho ou nome debaixo do céu pelo qual o homem possa
ser salvo no reino de Deus. E agora, eis que esta é a doutrina de Cristo e a
única e verdadeira doutrina do Pai e do Filho e do Espírito Santo, que são um
Deus, sem fim. Amém” (2 Néfi 31:20-21).
Uma vez que o caminho do Salvador “é o caminho”, e visto que “não há
outro caminho”, então podemos, ainda na mortalidade, receber o real
conhecimento de que o curso da nossa vida está de acordo com a vontade de
Deus (ver Lectures on Faith, p. 67).
Leituras Correlatas
1. Thomas S. Monson, “Ele Ressuscitou!” A Liahona, maio de 2010,
pp. 87–90.
Pondere:
O que posso e devo fazer a fim de trazer para minha vida o poder
fortalecedor e capacitador da Expiação de Jesus Cristo?
Pondere:
De que maneira o fato de aumentar meu entendimento sobre o “poder de
tornar-me” afeta meu coração, meus motivos e meu comportamento?
Pondere:
O que posso e devo fazer em minha vida para continuar prosseguindo
com firmeza no caminho da perfeição?
Minhas Próprias Questões a Ponderar
Escrituras Relacionadas ao Que Estou Aprendendo
Eu sou Jesus Cristo; vim pela vontade do Pai e cumpro sua vontade”
(Doutrina e Convênios 19:23–24).
Paz e Adversidade
A paz pessoal que entra em nossa vida por meio da paz no Senhor Jesus
Cristo pode fortalecer-nos para enfrentar e vencer a adversidade e ainda
aprender com ela. “Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz. No
mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo” (João
16:33).
Os exemplos a seguir demonstram incontestavelmente a verdade de que
“a inclinação do Espírito é vida e paz” (Romanos 8:6) — e como o dom
espiritual da paz pessoal é essencial para que nos tornemos tudo o que Deus
espera que nos tornemos.
Discípulo Dedicado, Exemplo de Alguém Que “Não Recua”
O Élder Neal A. Maxwell foi um amado discípulo do Senhor Jesus
Cristo. Ele serviu como membro do Quórum dos Doze Apóstolos por 23
anos, de 1981 a 2004. O poder espiritual de seus ensinamentos e seu exemplo
de discipulado fiel abençoaram e continuam a abençoar de modo marcante os
membros da Igreja restaurada do Salvador e as pessoas do mundo inteiro.
Em outubro de 1997, Susan e eu recepcionamos o Élder e a irmã
Maxwell na Universidade Brigham Young–Idaho. O Élder Maxwell iria falar
aos alunos, funcionários e professores em um devocional. Todos no campus
aguardavam ansiosamente sua visita à universidade, e nos preparamos
fervorosamente para receber sua mensagem.
Naquele mesmo ano, o Élder Maxwell havia passado 46 dias e noites
sendo submetido a uma debilitante quimioterapia, devido à leucemia. Pouco
depois de terminar seu tratamento e receber alta do hospital, ele falou
brevemente na conferência geral da Igreja, em abril. Sua reabilitação e terapia
contínua progrediram positivamente entre abril e agosto, mas a força física e
a disposição do Élder Maxwell estavam limitadas quando ele viajou para
Rexburg. Depois de receber o Élder e a irmã Maxwell no aeroporto, Susan e
eu os levamos de carro para nossa casa para que descansassem e fizessem
uma refeição leve antes do devocional.
Durante nossas conversas daquele dia, perguntei ao Élder Maxwell que
lições ele havia aprendido ao longo de sua enfermidade. Sempre me
lembrarei da resposta precisa e pungente que ele deu. “Dave”, disse ele,
“aprendi que não recuar é mais importante do que sobreviver.”
Sua resposta à minha pergunta era um princípio com o qual ele havia
adquirido extensa experiência pessoal durante a quimioterapia. Quando o
Élder Maxwell e sua esposa estavam indo de carro para o hospital, em janeiro
de 1997, no dia marcado para a primeira série do tratamento, eles pararam no
estacionamento e passaram um momento juntos, em particular. O Élder
Maxwell “deu um profundo suspiro e olhou para [a esposa]. Segurou a mão
dela e disse: ‘Simplesmente não quero recuar’” (Bruce C. Hafen, A
Disciple’s Life, p. 16; grifo no original).
Em sua mensagem na conferência geral de outubro de 1997, o Élder
Maxwell ensinou com grande propriedade: “Ao nos defrontarmos com nossas
(…) dificuldades e tribulações, também podemos suplicar ao Pai, como fez
Jesus, para que (…) ‘não recuemos’ — isto é, não fujamos nem nos
escondamos (D&C 19:18). Não recuar é muito mais importante do que
sobreviver! Além disso, partilhar da taça amarga sem que isso nos torne
amargos faz parte também de nosso empenho de imitar Jesus” (“‘Apply the
Atoning Blood of Christ’”, p. 22).
A resposta que o Élder Maxwell deu à minha pergunta me fez refletir
nos ensinamentos do Élder Orson F. Whitney, que também foi membro do
Quórum dos Doze Apóstolos: “Nenhuma dor que sofremos, nenhuma
provação que vivenciamos é em vão. Ela ministra à nossa educação e ao
desenvolvimento de qualidades como paciência, fé, força e humildade. Tudo
o que sofremos e padecemos, principalmente quando suportamos com
paciência, fortalece nosso caráter, purifica nosso coração, enobrece nossa
alma e torna-nos mais dóceis e caridosos, mais dignos de ser chamados filhos
de Deus (…) e é por meio da tristeza e do sofrimento, da fadiga e da
tribulação que obteremos a educação que viemos adquirir aqui” (como citado
em Spencer W. Kimball, Faith Precedes the Miracle, p. 98).
E as escrituras a seguir, referentes ao sofrimento do Salvador quando
ofereceu o infinito e eterno sacrifício expiatório, tornaram-se ainda mais
tocantes e significativas para mim.
“Portanto ordeno que te arrependas — arrepende-te, para que eu não te
fira com a vara de minha boca e com minha ira e com minha cólera e teus
sofrimentos sejam dolorosos — quão dolorosos tu não sabes, quão intensos tu
não sabes, sim, quão difíceis de suportar tu não sabes.
Pois eis que eu, Deus, sofri essas coisas por todos, para que não
precisem sofrer caso se arrependam;
Mas se não se arrependerem, terão que sofrer assim como eu sofri;
Sofrimento que fez com que eu, Deus, o mais grandioso de todos,
tremesse de dor e sangrasse por todos os poros; e sofresse, tanto no corpo
como no espírito — e desejasse não ter de beber a amarga taça e recuar —
Todavia, glória seja para o Pai; eu bebi e terminei meus preparativos
para os filhos dos homens” (Doutrina e Convênios 19:15–19).
O Salvador não recuou no Getsêmani nem no Gólgota.
O Élder Maxwell também não recuou. Aquele vigoroso Apóstolo
prosseguiu com firmeza e foi abençoado com tempo adicional na mortalidade
para amar, servir, ensinar e testificar. Os últimos anos de sua vida foram um
enfático e notável exemplo de discipulado dedicado — tanto em palavras
quanto em ações.
Creio que a maioria de nós provavelmente esperaria que um homem
com a capacidade, experiência e estatura espiritual do Élder Maxwell
encarasse uma doença grave e a morte com a compreensão do plano de
felicidade de Deus, com segurança e graça, e com paz pessoal de consciência.
E, sem dúvida, ele o fez. Mas eu testifico que essas bênçãos não são
privilégio exclusivo das Autoridades Gerais ou de um grupo seleto de
membros da Igreja.
Desde meu chamado para ocupar a vaga no Quórum dos Doze criada
pela morte do Élder Maxwell, minhas designações e viagens me permitiram
conhecer santos dos últimos dias do mundo inteiro que são fiéis, corajosos e
valorosos. Quero contar-lhes sobre um rapaz e uma moça que abençoaram
minha vida e me ajudaram a aprender lições espirituais essenciais sobre não
recuar, e permitir que nossa vontade individual seja “absorvida pela vontade
do Pai” (Mosias 15:7).
Esse relato é verdadeiro e as pessoas são reais. Contudo, não utilizarei o
nome verdadeiro das pessoas envolvidas. Vou chamar o rapaz de John e a
moça de Heather. Com a permissão deles, também uso algumas declarações
de seus diários pessoais.
A Fé para Não Ser Curado
John é um digno portador do sacerdócio e serviu fielmente como
missionário de tempo integral. Depois de voltar da missão, namorou uma
moça justa e maravilhosa chamada Heather e casou-se com ela. John tinha 23
anos e Heather tinha 20 no dia em que foram selados para esta vida e para
toda a eternidade na casa do Senhor. Tenham em mente a respectiva idade de
John e de Heather no decorrer da história.
Aproximadamente três semanas depois de seu casamento no templo, um
câncer ósseo foi diagnosticado em John. Como foram descobertos nódulos
cancerosos nos pulmões, o prognóstico não era bom.
John escreveu em seu diário: “Foi o dia mais aterrador da minha vida.
Não apenas porque me disseram que eu tinha câncer, mas também porque
tinha acabado de casar e sentia que havia falhado como marido. Eu era o
provedor e o protetor de nossa família recém-constituída, e agora — após três
semanas nesse papel — senti que havia fracassado. Sei que esse pensamento
é absurdo, mas é uma das coisas malucas que eu disse para mim mesmo
naquele momento de crise.”
Heather escreveu: “Foram notícias arrasadoras, e lembro como isso
alterou enormemente nossas perspectivas. Eu estava na sala de espera do
hospital, escrevendo bilhetes de agradecimento do casamento, enquanto
aguardava os resultados dos exames de John. Mas, ao saber do câncer, as
panelas e talheres deixaram de ser importantes. Foi o pior dia da minha vida,
mas lembro que fui me deitar naquela noite sentindo gratidão por nosso
selamento no templo. Embora os médicos tivessem dado a John apenas 30
por cento de chance de sobrevivência, eu sabia que, se permanecêssemos
fiéis, eu teria 100 por cento de chance de estar com ele para sempre.”
Aproximadamente um mês depois, John começou a quimioterapia. Ele
descreveu sua experiência: “Os tratamentos me fizeram sentir-me pior do que
tudo que já havia sentido na vida. Perdi o cabelo, emagreci 20 quilos e senti
como se meu corpo estivesse se desfazendo. A quimioterapia também me
afetou emocional, mental e espiritualmente. A vida era uma montanha-russa
durante os meses de quimioterapia, com altos e baixos, e tudo o que vinha
entre eles. Mas, ao longo do processo, Heather e eu mantivemos a fé,
acreditando que Deus me curaria. Simplesmente sabíamos disso.”
Heather fez um registro de seus pensamentos e sentimentos: “Eu não
podia deixar que John passasse a noite sozinho no hospital, por isso dormi
todas as noites em um pequeno sofá, no quarto dele. Muitos amigos e
familiares nos visitavam durante o dia, mas as noites eram a parte mais
difícil. Eu ficava olhando para o teto e me perguntando o que o Pai Celestial
havia planejado para nós. Às vezes, minha mente se ocupava com
pensamentos depressivos, e meu medo de perder o John quase me dominava.
Mas eu sabia que aqueles pensamentos não provinham do Pai Celestial.
Minhas orações por consolo se tornaram mais frequentes, e o Senhor me deu
forças para seguir em frente.”
Três meses depois, John foi submetido a um procedimento cirúrgico
para retirar um grande tumor da perna. Ele declarou: “A cirurgia era muito
importante para nós, porque seriam feitos exames anatomopatológicos no
tumor para ver o quanto ele ainda estava ativo e até que ponto as células
cancerosas estavam mortas. Aquela análise nos daria o primeiro indicativo da
eficácia da quimioterapia e de quanto os futuros tratamentos teriam de ser
agressivos.”
Dois dias depois da cirurgia, visitei John e Heather no hospital.
Conversamos sobre quando conheci John no campo missionário, seu
casamento, o câncer e as lições eternamente importantes que aprendemos ao
longo das provações da mortalidade. Ao encerrarmos nossa conversa, John
perguntou se eu poderia dar-lhe uma bênção do sacerdócio. Respondi que o
faria com muito prazer, mas primeiro precisava perguntar algumas coisas.
Fiz perguntas que não tinha planejado e sobre as quais nunca havia
refletido antes: “John, você tem fé para não ser curado? Se for da vontade do
Pai Celestial que você seja transferido pela morte em sua juventude para o
mundo espiritual a fim de continuar seu ministério, tem fé para submeter-se à
vontade Dele e não ser curado?”
Francamente, fiquei surpreso com as perguntas que fui inspirado a fazer
para aquele casal. Lemos com frequência nas escrituras que o Salvador ou
Seus servos exerciam o dom espiritual da cura (ver I Coríntios 12:9; Doutrina
e Convênios 35:9; 46:20) e percebiam que a pessoa tinha fé para ser curada
(ver Atos 14:9; 3 Néfi 17:8; Doutrina e Convênios 46:19). Mas, quando John,
Heather e eu conversamos e nos debruçamos sobre aquelas perguntas,
compreendemos cada vez mais que, se fosse da vontade de Deus que aquele
bom jovem fosse curado, então essa bênção só poderia ser recebida se o
valoroso casal tivesse primeiro fé para não ser curado. Em outras palavras,
John e Heather precisavam vencer, por meio da Expiação do Senhor Jesus
Cristo, a tendência do “homem natural” (Mosias 3:19), presente em todos
nós, de exigir com impaciência e insistir incessantemente as bênçãos que
desejamos e que acreditamos merecer.
Reconhecemos um princípio que se aplica a todo discípulo dedicado:
uma grande fé no Salvador inclui submissão à vontade e ao tempo Dele em
nossa vida — mesmo que o resultado não seja o que esperávamos ou
queríamos.” Sem dúvida, John e Heather desejavam a cura, ansiavam e
imploravam por ela com todo seu poder, sua mente e força. Porém seria mais
importante que eles estivessem “[dispostos] a submeter-se a tudo quanto o
Senhor achar que [lhes] deva infligir, assim como uma criança se submete a
seu pai” (Mosias 3:19). De fato, eles precisariam estar dispostos a “[ofertar-
lhe] toda a [sua] alma, como dádiva” (Ômni 1:26) e a orar humildemente,
dizendo: “Pai, se queres, passa de mim este cálice; todavia não se faça a
minha vontade, mas a tua” (Lucas 22:42).
O que inicialmente pareciam ser perguntas intrigantes para John, para
Heather e para mim, tornou-se parte de um padrão geral de paradoxos do
evangelho. Reflitam sobre a admoestação do Salvador: “Quem achar a sua
vida perdê-la-á; e quem perder a sua vida, por amor de mim, achá-la-á”
(Mateus 10:39). Ele também declarou: “Porém, muitos primeiros serão os
derradeiros, e muitos derradeiros serão os primeiros” (Mateus 19:30). E o
Senhor aconselhou a Seus discípulos modernos: “E por tua palavra muitos
soberbos serão humilhados e por tua palavra muitos humildes serão
exaltados” (Doutrina e Convênios 112:8). E Ele instruiu Seus primeiros
discípulos a terem paz pessoal em meio à tribulação (ver João 16:33). Assim,
ter fé para não ser curado parece encaixar-se adequadamente em um vigoroso
padrão de pungentes paradoxos que nos obrigam a pedir, a buscar e a bater
para que possamos receber conhecimento e entendimento (ver 3 Néfi 14:7).
Depois de refletir o suficiente sobre aquelas perguntas e conversar com
sua esposa por algum tempo, John me disse: “Élder Bednar, não quero
morrer. Não quero deixar a Heather. Mas, se a vontade do Senhor for que eu
seja transferido para o mundo espiritual, então acho que para mim está tudo
bem.” Meu coração se encheu de gratidão e admiração ao testemunhar aquele
jovem casal se defrontar com a mais difícil das batalhas espirituais — a
humilde submissão da vontade deles à de Deus. Minha fé se fortaleceu ao vê-
los permitir que seus fortes e compreensíveis desejos de cura fossem
“[absorvidos] pela vontade do Pai” (Mosias 15:7).
John descreveu sua reação a nossa conversa e à bênção que recebeu: “O
Élder Bednar compartilhou conosco o pensamento do Élder Maxwell de que
não recuar é melhor do que sobreviver. Depois, o Élder Bednar me
perguntou: ‘Eu sei que você tem fé para ser curado, mas será que você tem fé
para não ser curado?’ Aquele era um conceito novo para mim. Basicamente
ele estava perguntando se eu tinha fé para aceitar a vontade de Deus, se Sua
vontade fosse que eu não seria curado? Se estivesse chegando minha hora de
entrar no mundo espiritual pela morte, será que eu estava preparado para me
submeter e aceitar?”
John continuou: “Ter fé para não ser curado parecia contraditório, mas
essa perspectiva mudou a forma como minha esposa e eu pensávamos, e nos
permitiu depositar nossa plena confiança no plano do Pai para nós.
Aprendemos que precisávamos ter fé no fato de que o Senhor está no
comando, independentemente do resultado, e que Ele vai guiar-nos de onde
estamos para onde precisamos estar. Ao orar, nossas súplicas mudaram de
‘Por favor, cura-me’ para ‘Por favor, dá-me fé para aceitar qualquer resultado
que tenhas planejado para mim’.
Eu tinha certeza de que, como o Élder Bednar era um apóstolo, ele iria
abençoar os elementos de meu corpo para que se recompusessem, e eu
saltaria da cama e começaria a dançar ou algo extremo assim! Mas, quando
ele me abençoou naquele dia, fiquei surpreso ao ver que as palavras que ele
disse foram quase idênticas às do meu pai, às do meu sogro e às do meu
presidente de missão. Percebi que, afinal, não importava de quem eram as
mãos que estavam sobre a minha cabeça. O poder de Deus não muda, e Sua
vontade nos é revelada individualmente e por meio de Seus servos
autorizados.”
Heather escreveu: “Aquele dia foi repleto de uma mistura de emoções
para mim. Eu estava certa de que o Élder Bednar colocaria as mãos sobre a
cabeça do John e o curaria completamente do câncer. Eu sabia que, por meio
do poder do sacerdócio, ele poderia ser curado, e eu queria muito que isso
acontecesse. Depois que ele nos ensinou sobre a fé para não ser curado, fiquei
apavorada. Até aquele momento, nunca tinha encarado o fato de que o plano
do Senhor poderia incluir a perda de meu marido tão jovem. Minha fé ainda
dependia dos resultados que eu almejava. Por assim dizer, era
unidimensional. Embora aterrorizante a princípio, a ideia de ter fé para não
ser curado acabou me libertando das preocupações. Isso me permitiu ter
completa confiança de que meu Pai Celestial me conhecia melhor do que eu
mesma e que faria o que seria melhor para mim e para o John.”
A bênção foi dada, e passaram-se semanas, meses e anos. O câncer de
John começou milagrosamente a regredir. Ele pôde terminar seus estudos
universitários e conseguir um emprego bem remunerado. John e Heather
continuaram a fortalecer seu relacionamento e a desfrutar a vida juntos.
Algum tempo depois, recebi uma carta de John e Heather informando-
me que o câncer havia retornado. A quimioterapia foi retomada, e uma
cirurgia foi programada. John explicou: “Aquela notícia não só foi uma
decepção para Heather e para mim, mas nos deixou perplexos. Havia algo
que não tínhamos aprendido na primeira vez? Será que o Senhor esperava
mais de nós? Tendo sido criado como santo dos últimos dias, era comum eu
ir à Igreja e ouvir a frase ‘toda provação que Deus nos dá é para nosso
benefício’. Ora, para ser honesto, eu não conseguia ver como aquilo estava
me beneficiando!
Então, comecei a orar pedindo maior clareza e que o Senhor me ajudasse
a entender por que aquela recorrência do câncer estava acontecendo. Um dia,
enquanto lia o Novo Testamento, recebi minha resposta. Li o relato de
quando Cristo e Seus Apóstolos estavam no mar, e houve uma tempestade.
Temendo que o barco virasse, os discípulos foram ao Salvador e
perguntaram: ‘Mestre, não se te dá que pereçamos?’ Era exatamente assim
que eu me sentia! Não se te dá que eu tenha câncer? Não se te dá que
queiramos começar uma família? Mas, ao continuar a ler aquela história,
identifiquei minha resposta. O Senhor olhou para eles e disse: ‘Ó homens de
pouca fé’, e estendeu a mão e acalmou as águas.
Naquele momento tive que me perguntar: ‘Será que eu realmente
acredito nisso? Eu realmente acredito que Ele acalmou as águas naquele dia?
Ou é apenas uma bela história de se ler?’ A resposta foi: Eu acredito; e, por
saber que Ele acalmou as águas, soube imediatamente que Ele poderia me
curar. Até aquele ponto, tinha muita dificuldade para conciliar a necessidade
de ter fé em Cristo com a inevitabilidade de Sua vontade. Eu as via como
duas coisas separadas, e às vezes sentia que uma contradizia a outra. ‘Para
que ter fé, se a vontade Dele é a que vai valer no final?’ eu me perguntava.
Depois daquela experiência, eu soube que ter fé — pelo menos na minha
situação — não era necessariamente saber que Ele iria me curar, mas saber
que Ele poderia me curar. Eu tinha de acreditar que Ele podia e, então, o que
viesse a acontecer cabia a Ele decidir.
Ao permitir que essas duas ideias coexistissem na minha vida — fé
centralizada em Jesus Cristo e submissão completa à vontade Dele —
encontrei maior consolo e paz. É extraordinário ver a mão do Senhor em
nossa vida. As coisas entraram nos eixos, milagres aconteceram e sentimo-
nos continuamente humildes ao ver o plano de Deus para nós se desenrolar.”
Gostaria de enfatizar a declaração de John: “Ao permitir que essas duas
ideias coexistissem na minha vida — fé centralizada em Jesus Cristo e
submissão completa à vontade Dele — encontrei maior consolo e paz.”
A retidão e a fé são, sem dúvida, fundamentais para se moverem
montanhas — desde que a mudança da montanha cumpra os propósitos de
Deus e esteja de acordo com a vontade Dele. A retidão e a fé são, sem
dúvida, fundamentais para que se curem os doentes, os surdos e coxos —
desde que essas curas cumpram os propósitos de Deus e estejam de acordo
com a vontade Dele. Assim, mesmo com uma forte fé, muitas montanhas não
serão movidas. E nem todos os doentes e enfermos serão curados. Se toda a
oposição fosse eliminada, se todas as moléstias fossem removidas, então os
principais objetivos do plano do Pai seriam frustrados.
Muitas lições que devemos aprender na mortalidade só podem ser
recebidas por meio das coisas que vivenciamos e às vezes sofremos. E Deus
espera e confia em nossa capacidade de enfrentar as temporárias adversidades
mortais com a Sua ajuda para que aprendamos o que precisamos aprender e,
por fim, tornemo-nos o que devemos nos tornar na eternidade.
Essa história sobre John e Heather é ao mesmo tempo comum e
extraordinária. Esse jovem casal representa milhões de fiéis santos dos
últimos dias que guardam os convênios no mundo inteiro e que prosseguem
no caminho reto e apertado, com firmeza em Cristo e um perfeito esplendor
de esperança. John e Heather não estavam servindo em cargos de destaque na
liderança da Igreja, não eram parentes de Autoridades Gerais, e às vezes
tinham dúvidas e medos. Em muitos desses aspectos, a história deles é
bastante comum.
Mas esse jovem casal foi abençoado de maneira extraordinária ao
aprender lições essenciais para a eternidade por meio da aflição e do
sofrimento. Contei essa história a vocês porque John e Heather, que são
semelhantes a muitas pessoas fiéis, entenderam que não recuar é mais
importante do que sobreviver. Assim, a experiência pessoal deles não era
principalmente sobre viver e morrer, mas, sim, sobre aprender, viver e tornar-
se.
A vigorosa combinação espiritual de ter fé no santo nome de Jesus
Cristo, de submeter-se humildemente à vontade e ao tempo Dele, de
prosseguir “com infatigável diligência” (Helamã 15:6) e de reconhecer Sua
mão em todas as coisas produz as coisas pacíficas do reino de Deus que
trazem alegria e vida eterna (ver Doutrina e Convênios 42:61). À medida que
o casal enfrentava dificuldades aparentemente insuperáveis, eles viveram
“uma vida quieta e sossegada, em toda a piedade e honestidade” (I Timóteo
2:2). Sua conduta foi pacífica (ver Morôni 7:4) com e entre os filhos dos
homens. “E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, [guardou seus]
corações e os [seus] sentimentos em Cristo Jesus” (Filipenses 4:7).
Talvez a história deles seja, tenha sido ou possa ser a sua história. Vocês
estão enfrentando, enfrentaram ou ainda enfrentarão desafios equivalentes na
vida com a mesma coragem e perspectiva espiritual que John e Heather
tiveram. Não sei por que algumas pessoas aprendem as lições da eternidade
por meio de provação e sofrimento, enquanto outros aprendem lições
semelhantes por meio do resgate e da cura. Não conheço todas as razões,
todos os propósitos, e não sei tudo sobre o tempo do Senhor. Tal como Néfi,
todos podemos dizer que “não [conhecemos] o significado de todas as coisas”
(1 Néfi 11:17).
Mas algumas coisas eu sei com absoluta certeza. Sei que somos filhos
espirituais de um Pai Celestial amoroso. Sei que o Pai Eterno é o autor do
plano de felicidade. Sei que Jesus Cristo é o nosso Salvador e Redentor. Sei
que Jesus tornou o plano do Pai possível por meio de Sua Expiação infinita e
eterna. Sei que o Senhor “com sofrimento e dor [cumpriu] a lei, para nos
resgatar” (“Jesus de Nazaré, Mestre e Rei”, Hinos, nº 106), e que Ele pode
socorrer e fortalecer “seu povo, de acordo com suas enfermidades” (Alma
7:12). E sei que uma das maiores bênçãos da mortalidade é a de não recuar e
permitir que nossa vontade individual seja “absorvida pela vontade do Pai”
(Mosias 15:7), e a de receber “paz de consciência” (Mosias 4:3).
Embora eu não saiba tudo sobre como, quando, onde e por que essas
bênçãos ocorrem, de fato sei que elas são reais. Testifico que todas essas
coisas são verdadeiras e que sabemos o suficiente, pelo poder do Espírito
Santo, para prestar um testemunho seguro da sua divindade, realidade e
eficácia.
Resumo
Paulo ensinou: “Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas
justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo. (…) Sigamos, pois, as coisas que
servem para a paz” (Romanos 14:17, 19). E Pedro declarou: “Porque Quem
quer amar a vida, E ver os dias bons, Refreie a sua língua do mal, E os seus
lábios não falem engano. Aparte-se do mal, e faça o bem; Busque a paz, e
siga-a” (I Pedro 3:10–11).
Toda alma humana anseia pela paz — sim, a paz de consciência e a paz
que excede todo o entendimento. Essa bênção não é obtida por meio de
riquezas mundanas ou realizações profissionais, preeminência, prestígio ou
poder pessoal. O Senhor Jesus Cristo é a única fonte de paz pessoal
duradoura. Ter fé e esperança Nele, ser obedientes a Seus mandamentos e
prosseguir com firmeza e valor na jornada da mortalidade convidam o dom
espiritual da paz para nossa vida. E Sua paz nos fortalece para enfrentar as
adversidades com segurança e perspectiva — e ajuda-nos a
“[permanecermos] fundados e firmes na fé, e não [nos movermos] da
esperança do evangelho” (Colossenses 1:23).
Se me aflige a dor,
Se perco o alento,
Anseio por saber a quem correrei.
Quem pode aliviar o meu tormento?
Em Cristo paz real,
certo, terei.
Ele é meu Salvador
E meu amigo,
Responde minha oração, dá-me paz.
Sempre que eu lhe pedir, virá comigo,
Para vencer o mal,
Forte me faz.
“Onde Encontrar a Paz?” Hinos, nº 73)
Leituras Correlatas
1. Richard G. Scott, “Paz de Consciência e Paz Mental”, A Liahona,
novembro de 2004, p. 15.
6. Sheri L. Dew, “Our Only Chance,” Ensign, maio de 1999, pp. 66–67.
Pondere:
O que posso e devo fazer em minha vida para buscar adequadamente “a
paz que excede todo o entendimento”?
Pondere:
O que estou aprendendo a respeito do Salvador como “Príncipe da Paz”
(Isaías 9:6)?
Pondere:
De que maneira o fato de aprender e entender o relacionamento entre a
adversidade e a paz pessoal influencia meu discipulado?
Minhas Próprias Questões a Ponderar
Escrituras Relacionadas ao Que Estou Aprendendo
http://bit.ly/1mTnvUD
Capítulo 3
“Portanto, aquele que ora, cujo espírito é contrito, esse é aceito por
mim, se obedecer a minhas ordenanças.
“Eis que esta é a tua obra: guardar meus mandamentos, sim, com
todo teu poder, mente e força” (Doutrina e Convênios 11:20).
O Poder da Divindade
Uma ordenança é um ato sagrado e formal realizado por uma autoridade
do sacerdócio. Algumas ordenanças são essenciais a nossa exaltação. Essas
ordenanças se chamam ordenanças de salvação e incluem o batismo (ver
Mateus 3:16; Doutrina e Convênios 20:72–74), a confirmação (ver Doutrina e
Convênios 20:68; 33:15), a ordenação ao Sacerdócio de Melquisedeque para
os homens (ver Doutrina e Convênios 84:6–16; 107:41–52), a investidura no
templo (ver Doutrina e Convênios 124:39), e o selamento do casamento (ver
Doutrina e Convênios 132:19–20). Fazemos solenes convênios com o Senhor
em cada uma dessas ordenanças.
As ordenanças nos ajudam a aprender quem somos como filhos de Deus
e a nos lembrar disso; elas nos relembram também os nossos deveres e nossas
responsabilidades espirituais. O Senhor nos deu as ordenanças para ajudar-
nos a vir a Ele e a receber a vida eterna. Quando honramos as ordenanças, Ele
nos fortalece.
As ordenanças do sacerdócio abrem caminho e proporcionam acesso ao
poder da divindade.
“E esse sacerdócio maior administra o evangelho e contém a chave dos
mistérios do reino, sim, a chave do conhecimento de Deus.
Portanto em suas ordenanças manifesta-se o poder da divindade.
E sem suas ordenanças e a autoridade do sacerdócio, o poder da
divindade não se manifesta aos homens na carne” (D&C 84:19–21).
A mente e os idiomas mortais do ser humano não conseguem definir
com precisão ou adequadamente o significado da expressão escriturística
“poder da divindade”. Mas a plenitude das bênçãos da Expiação — redenção
dos pecados; forças para fazer o bem e tornar-nos bons; o dom espiritual da
paz pessoal; os poderes e habilidades que nos ajudam a enfrentar decepções,
injustiça, improbidade, desigualdade e muito mais — certamente constitui
pelo menos uma parte do poder da divindade.
A visão de Leí dá-nos um exemplo inspirador do relacionamento
existente entre a Expiação do Salvador e as ordenanças do sacerdócio. A
figura central no sonho de Leí é a árvore da vida — uma representação do
“amor de Deus” (1 Néfi 11:21–22).
“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho
unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida
eterna” (João 3:16).
O nascimento, a vida e o sacrifício expiatório do Senhor Jesus Cristo são
as maiores manifestações do amor de Deus por Seus filhos. Conforme
testificou Néfi, esse amor é “a mais desejável de todas as coisas” e “a maior
alegria para a alma” (1 Néfi 11:22–23; ver também 1 Néfi 8:12, 15). O
capítulo 11 de 1 Néfi apresenta uma descrição detalhada da árvore da vida
como símbolo da vida, do ministério e do sacrifício do Salvador — “a
condescendência de Deus” (1 Néfi 11:16). A árvore pode ser considerada
uma representação de Cristo.
Uma forma de pensar no fruto da árvore é como um símbolo das
bênçãos da Expiação. É interessante notar que uma pessoa só vai poder
receber o caminho que conduz à árvore se entrar pela porta, isto é, por meio
das ordenanças do batismo e da confirmação. “Porque a porta pela qual
deveis entrar é o arrependimento e o batismo com água; e recebereis, então, a
remissão de vossos pecados pelo fogo e pelo Espírito Santo” (2 Néfi 31:17).
Prosseguir com firmeza e comer do fruto da árvore pode representar o
recebimento de um acréscimo de ordenanças e de convênios pelos quais a
Expiação pode tornar-se plenamente eficaz em nossa vida. O fruto é descrito
como algo “desejável para fazer uma pessoa feliz” (1 Néfi 8:10) e que produz
grande alegria e desejo de partilhá-lo com os outros.
Considere agora o solene significado das implicações decorrentes da
visão de Leí e dos versículos já citados da seção 84 de Doutrina e Convênios.
Para vir ao Salvador, a pessoa precisa primeiro passar pela porta do batismo
e receber o dom do Espírito Santo; depois, deve prosseguir pelo caminho dos
convênios e das ordenanças, que conduz ao Salvador e às bênçãos de Sua
Expiação (ver 2 Néfi 31). As ordenanças do sacerdócio são essenciais para
“vir a Cristo, e ser aperfeiçoados Nele” mais plenamente (Morôni 10:32; ver
também os versículos 30–33). Sem as ordenanças, ninguém pode receber
todas as bênçãos que foram viabilizadas pelo sacrifício expiatório infinito e
eterno do Senhor (ver Alma 34:10–14) — sim, o poder da divindade.
O Presidente Boyd K. Packer ensinou: “O marinheiro se orienta pela luz
dos corpos celestes — do sol, durante o dia, e das estrelas, à noite (…)
O sextante espiritual que cada um de nós possui também funciona de
acordo com o princípio da luz vinda de fontes celestes. Fixem esse sextante
em sua mente com a palavra convênio ou a palavra ordenança. A luz brilhará.
Então vocês poderão determinar sua posição e estabelecer um curso correto
na vida.
Não importa a cidadania, a raça, se é homem ou mulher, não importa a
profissão, não importa a educação, seja qual for a geração em que vivemos, a
vida, para todos nós, é uma jornada de volta à presença de Deus em Seu reino
celestial.
As ordenanças e os convênios tornam-se nossas credenciais para sermos
admitidos na presença Dele. Recebê-las dignamente é o grande desafio da
vida; guardá-las posteriormente é o grande desafio da mortalidade.
Depois de as recebermos para nós mesmos e para nossa família, temos a
obrigação de prover essas ordenanças vicariamente a nossos antepassados, na
verdade a toda a família humana” (“Covenants”, p. 24).
A pessoa tem seu arbítrio moral e o exerce para decidir se vai receber as
ordenanças do evangelho restaurado. Essa pessoa, contudo, não determina e
nem poderia determinar as consequências por rejeitar ou negligenciar essas
ordenanças sagradas. O Presidente James E. Faust ensinou-nos: “A
frequência ao templo é uma questão de escolha; mas muitos não percebem
que o recebimento das ordenanças do templo a fim de virem a Cristo não é
opcional: é essencial. Ninguém conseguirá vir a Cristo sem esses passos e
sem as ordenanças” (James P. Bell, In the Strength of the Lord, p. 443).
Na verdade, o poder da divindade se manifesta por meio das ordenanças
do sacerdócio.
Ordenanças do Sacerdócio e Corações
Numa assembleia solene realizada no Templo de Kirtland, em 6 de abril
de 1837, o Profeta Joseph Smith falou sobre assuntos relacionados ao
sacerdócio e aos quóruns do sacerdócio. Ele explicou aos irmãos da
assembleia:
“Depois de tudo o que foi dito, o maior e mais importante dever é pregar
o evangelho” (History of the Church, volume 2, p. 478).
Quase exatamente sete anos depois, em 7 de abril de 1844, Joseph Smith
proferiu um sermão conhecido como o discurso de King Follett. Nesse
discurso, o Profeta Joseph Smith declarou:
“A maior responsabilidade que Deus colocou sobre nós neste mundo é a
de buscar nossos mortos. O apóstolo disse: ‘Eles, sem nós, não [podem ser]
aperfeiçoados’, porque é necessário que o poder selador esteja em nossas
mãos para selar nossos filhos e nossos mortos para a plenitude da
dispensação dos tempos — uma dispensação para cumprir as promessas
feitas por Jesus Cristo antes da fundação do mundo para a salvação do
homem” (History of the Church, volume 6, p. 313).
Algumas pessoas podem imaginar como pregar o evangelho e buscar
nossos mortos podem ser, simultaneamente, os maiores deveres e
responsabilidades que Deus colocou sobre Seus filhos. Mas esses
ensinamentos do Profeta destacam a unidade e a união do trabalho de
salvação dos santos dos últimos dias. O trabalho missionário e o trabalho do
templo e de história da família são aspectos complementares e inter-
relacionados de um grande trabalho, “de tornar a congregar em Cristo todas
as coisas, na dispensação da plenitude dos tempos, tanto as que estão nos
céus, quanto as que estão na Terra; [sim, Nele]” (Efésios 1:10).
Pregar o evangelho e buscar nossos mortos são duas responsabilidades
divinamente atribuídas que se relacionam tanto ao nosso coração quanto às
ordenanças do sacerdócio. A essência do trabalho do Senhor é mudar, voltar
e purificar os corações por meio dos convênios e das ordenanças realizadas
pela devida autoridade do Sacerdócio.
A palavra coração é usada mais de mil vezes nas obras padrão e
simboliza os sentimentos profundos de uma pessoa. Assim, nosso coração —
a soma total de nossos desejos, nossas afeições, intenções, nossos motivos e
nossas atitudes — define quem somos e determina o que seremos.
O propósito do Senhor para o trabalho missionário é convidar as pessoas
a achegarem-se a Cristo, receberem as ordenanças, os convênios e as bênçãos
do evangelho restaurado e perseverarem até o fim por meio da fé em Cristo
(ver Pregar Meu Evangelho, p. 1). Não compartilhamos o evangelho
meramente para aumentar o tamanho numérico e a força da Igreja dos últimos
dias. Em vez disso, procuramos cumprir a responsabilidade divinamente
atribuída de proclamar a realidade do plano de felicidade do Pai, a divindade
de Seu Filho Unigênito, Jesus Cristo, e a eficácia do sacrifício expiatório do
Salvador. Os objetivos fundamentais de se pregar o evangelho são: convidar
todos a “[vir] a Cristo” (Morôni 10:30–33), a experimentar a “vigorosa
mudança de coração” (Alma 5:12–14) e oferecer as ordenanças de salvação a
pessoas na mortalidade que ainda não estão sob o convênio.
O propósito do Senhor em construir templos e realizar as ordenanças
vicárias é possibilitar a exaltação dos vivos e dos mortos. Não adoramos nos
templos sagrados somente para ter uma memorável experiência individual ou
familiar. Em vez disso, procuramos cumprir a responsabilidade divinamente
atribuída de oferecer as ordenanças de salvação e exaltação a toda família
humana. Plantar no coração dos filhos as promessas feitas aos pais — mesmo
Abraão, Isaque e Jacó — voltando o coração dos filhos aos próprios pais e
realizando pesquisa de história da família e ordenanças vicárias no templo
são trabalhos que abençoam as pessoas que estão no mundo espiritual que
ainda não estão sob o convênio.
A obra do Senhor é uma obra majestosa centrada nos corações, nos
convênios e nas ordenanças do sacerdócio. Talvez o Senhor tenha enfatizado
essa verdade na própria sequência de eventos ocorridos quando a plenitude
do evangelho foi restaurada na Terra nestes últimos dias.
No Bosque Sagrado, Joseph Smith viu o Pai Eterno e Jesus Cristo e
falou com Eles. Essa visão introduziu a “dispensação da plenitude dos
tempos” (Efésios 1:10) e possibilitou a Joseph que aprendesse a verdadeira
natureza da Trindade e da revelação contínua.
Aproximadamente três anos depois, em resposta a uma sincera oração,
na noite de 21 de setembro de 1823, o quarto de Joseph encheu-se de luz até
“ficar mais iluminado do que ao meio-dia” (Joseph Smith—História 1:30).
Uma pessoa apareceu ao lado de sua cama, chamou o menino pelo nome e
declarou “que era um mensageiro enviado a mim da presença de Deus (…) e
que seu nome era Morôni” (versículo 33). Ele instruiu Joseph sobre o
surgimento do Livro de Mórmon. E, depois, Morôni citou o livro de
Malaquias, no Velho Testamento, com uma pequena variação na linguagem
usada na versão do rei Jaime: “Eis que vos revelarei o Sacerdócio, pela mão
de Elias, o profeta, antes que venha o grande e terrível dia do Senhor. (…) E
ele plantará no coração dos filhos as promessas feitas aos pais; e o coração
dos filhos voltar-se-á para seus pais. Se assim não fosse, toda a terra seria
totalmente destruída na sua vinda” (Joseph Smith–História 1:38–39).
As instruções de Morôni ao jovem profeta, em última análise, incluíam
dois temas principais: (1) o Livro de Mórmon e (2) as palavras de Malaquias
que prediziam o papel de Elias na Restauração “de tudo, dos quais Deus falou
pela boca de todos os seus santos profetas, desde o princípio” (Atos 3:21).
Portanto, os acontecimentos iniciais da Restauração revelaram uma correta
compreensão da Trindade, o estabelecimento da realidade da revelação
contínua, salientaram a importância do Livro de Mórmon e previram o
trabalho de salvação e exaltação tanto para os vivos quanto para os mortos.
Agora considerem o papel do Livro de Mórmon na mudança de
corações, e o do espírito de Elias em voltar os corações, como preparatórios
para o recebimento digno das ordenanças do sacerdócio.
O Livro de Mórmon combinado ao Espírito do Senhor é a maior
ferramenta que Deus nos deu para converter o mundo (ver Ezra Taft Benson,
“A New Witness for Christ”, p. 7). Este volume de escrituras da Restauração
é a pedra fundamental de nossa religião e é essencial para trazer almas ao
Salvador. O Livro de Mórmon é outro testamento de Jesus Cristo — uma
testemunha confirmadora da divindade do Redentor em um mundo que se
torna cada vez mais secular e cínico. Os corações são mudados conforme as
pessoas leem e estudam o Livro de Mórmon e oram com real intenção para
saber de sua veracidade.
O Espírito de Elias é “uma manifestação do Espírito Santo, que presta
testemunho da natureza divina da família” (Russell M. Nelson, “Uma Nova
Colheita”, p. 34). Essa influência singular do Espírito Santo presta vigoroso
testemunho do plano de felicidade do Pai e motiva as pessoas a buscar e amar
seus antepassados e os familiares — tanto do passado como do presente. O
espírito de Elias influencia tanto pessoas de dentro como de fora da Igreja,
fazendo os corações voltarem-se para seus pais.
A obra do Senhor é uma obra majestosa centrada nos corações — que
mudam e se voltam, nos convênios sagrados e no poder divino manifestado
por meio das ordenanças do sacerdócio.
O Senhor declarou: “Posso executar minha própria obra” (2 Néfi 27:21),
e “Apressarei minha obra a seu tempo” (Doutrina e Convênios 88:73). Hoje
vemos a chegada do tempo de acelerar Seu trabalho.
Vivemos, aprendemos e servimos na dispensação da plenitude dos
tempos. Era necessário, nesta final dispensação, “que uma total, completa e
perfeita união e fusão de dispensações e chaves e poderes e glórias
[ocorressem e fossem] reveladas desde os dias de Adão até o tempo atual. E
não somente isso, mas as coisas que nunca se revelaram desde a fundação do
mundo, mas que se conservaram ocultas aos sábios e prudentes, serão
reveladas (…) nesta dispensação, que é a da plenitude dos tempos” (Doutrina
e Convênios 128:18). O Profeta Joseph explicou: “Todas as ordenanças e
deveres que já foram exigidos pelo Sacerdócio, sob a direção e mandamentos
do Todo-Poderoso, em qualquer das dispensações, serão todas obtidas na
última dispensação (…) levando a efeito a restauração mencionada pela boca
de todos os santos profetas” (History of the Church, volume 4, pp. 210–211;
grifo do autor).
Joseph também proclamou que, em preparação à Segunda Vinda do
Senhor Jesus Cristo, “a dispensação da plenitude dos tempos trará à luz as
coisas que foram reveladas em todas as dispensações anteriores; também
outras coisas que não foram reveladas anteriormente” (History of the Church,
volume 4, p. 426). Como declarou o Apóstolo Paulo: “Deus [tornará] a
congregar em Cristo todas as coisas, na dispensação da plenitude dos tempos,
tanto as que estão nos céus como as que estão na terra; [sim, Nele]” (Efésios
1:10). Assim, o propósito mais abrangente desta última dispensação é
congregar todas as coisas em Cristo. E o acesso ao poder da divindade por
meio das ordenanças do sacerdócio será maior nesta dispensação do que em
qualquer época anterior na história da Terra.
O reconhecimento da importância eterna da singularidade da
dispensação em que vivemos deve influenciar tudo o que fazemos e que nos
esforçamos para nos tornar. O trabalho de salvação a ser realizado nestes
últimos dias é grandioso, imenso, vital e urgente. Como devemos ser gratos
pelas bênçãos e responsabilidades de viver nesta época específica da última
dispensação! E devemos ser igualmente humildes, sabendo que “a quem
muito é dado, muito é exigido” (Doutrina e Convênios 82:3).
A Obediência Solícita
A primeira lei dos céus é a obediência.
“ESCUTAI, ó vós, élderes de minha igreja, que vos reunistes em meu
nome, sim, Jesus Cristo, o Filho do Deus vivo, o Salvador do mundo;
porquanto credes em meu nome e guardais meus mandamentos.
Outra vez vos digo: Escutai e dai ouvidos e obedecei à lei que vos darei”
(Doutrina e Convênios 42:1–2; grifo do autor).
Observem como a palavra obedecei se relaciona com escutai e com dai
ouvidos. Escutar é o processo de prestar atenção, e dar ouvidos conota aplicar
a mente ao que é ouvido. A obediência, então, resulta de escutar a palavra de
Deus (ver Romanos 10:17; Alma 32), ponderá-la (ver 1 Néfi 11:1; Morôni
10:3) e estudá-la em nossa mente (ver Doutrina e Convênios 9:8).
Obediência é alinhar nossa vontade à vontade de Deus. “Recebemos as
bênçãos de Deus (…) por obediência espontânea à lei na qual elas se
baseiam (ver D&C 130:20–21). Assim, nossos desejos mais intensos
determinam o grau de nossa ‘obediência a algo a que não somos forçados a
obedecer’” (Neal A. Maxwell, “Swallowed Up in the Will of the Father”, p.
24).
“E estava entre eles um que era semelhante a Deus; e ele disse aos
que se achavam com ele: Desceremos, pois há espaço lá, e tomaremos
destes materiais e faremos uma terra onde estes possam habitar;
“Eu desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade
daquele que me enviou” (João 6:38).
E, sendo ele consumado, veio a ser a causa da eterna salvação para todos
os que lhe obedecem” (Hebreus 5:8–9).
E há muitos reinos; pois não existe espaço em que não haja reino; e não
existe reino em que não haja espaço, seja um reino maior ou um reino menor.
E a todo reino é dada uma lei; e toda lei também tem certos limites e
condições.
Todos os seres que não se conformam a essas condições não são
justificados.
Pois a inteligência apega-se à inteligência; a sabedoria recebe a
sabedoria; a verdade abraça a verdade; a virtude ama a virtude; a luz se apega
à luz; a misericórdia se compadece da misericórdia e reclama o que é seu; a
justiça segue seu curso e reclama o que é seu; o julgamento vai ante a face
daquele que se assenta no trono e governa e executa todas as coisas”
(Doutrina e Convênios 88:36–40).
O Lar É o Melhor Lugar para Vivenciar a Obediência Solícita
A primeira, mais importante e maior responsabilidade de ensinar e
moldar a obediência recai sobre os pais. A melhor forma de aprender a
obedecer e a tornar-nos é com nossos entes queridos, em um lar
espiritualmente protegido, resguardado e seguro.
Todos nós conhecemos o comentário inicial de Néfi, no Livro de
Mórmon: “tendo nascido de bons pais, recebi, portanto, alguma instrução em
todo o conhecimento de meu pai” (1 Néfi 1:1; grifo do autor).
Evidentemente, as sementes da constante fidelidade de Néfi e de sua
obediência solícita foram plantadas no terreno fértil de sua alma e cultivadas
e nutridas em um lar centrado no evangelho. É significativo que as palavras
finais registradas no relato de Néfi reflitam tanto a experiência de sua vida
como a vigorosa influência de seu lar: “Porque o que eu selo na Terra será
apresentado contra vós no tribunal; porque assim me ordenou o Senhor e
devo obedecer. Amém” (2 Néfi 33:15; grifo do autor).
Da mesma forma que as palavras finais de Néfi nos fornecem excelente
noção de sua vida, também aprendemos muito sobre o próprio Profeta Joseph
Smith e seu lar ao examinarmos uma declaração simples em Joseph Smith—
História. Lembrem-se de que o jovem Joseph foi visitado e instruído por
Morôni três vezes numa só noite. No dia seguinte a essa visita, Joseph tentou
realizar suas responsabilidades cotidianas na fazenda, mas estava tão exausto
que não conseguiu. Ao ver as condições em que se achava o menino, o pai de
Joseph instruiu-o a voltar para casa. Conforme Joseph saiu do campo e
atravessou a cerca, caiu no chão e, por alguns instantes, ficou completamente
inconsciente.
“A primeira coisa de que me lembro é uma voz chamando-me pelo
nome. Olhei para cima e vi o mesmo mensageiro acima de minha cabeça,
cercado de luz como antes. Repetiu-me tudo o que havia relatado na noite
anterior e ordenou-me que fosse contar a meu pai a visão e os mandamentos
que havia recebido” (Joseph Smith—História 1:49).
No começo do versículo 50, encontramos a declaração de apenas uma
palavra que nos diz muito a respeito de Joseph e seu lar: “Obedeci.” E as
experiências anteriores de Joseph com a obediência sincera e solícita em seu
lar geraram um alicerce sólido sobre o qual foi edificada uma vida inteira de
liderança fiel e destemida. O Profeta Joseph explicou-nos: “Adotei a seguinte
regra: Quando o Senhor ordenar, faça-o” (History of the Church, volume 2,
p. 170;grifo no original).
Não é utópico afirmar que, em tempos como estes em que vivemos, os
pais em Sião devem esforçar-se ao máximo para criar e manter o lar como
eram o de Néfi e o de Joseph: lares onde pais e filhos vivenciam e aprendem
juntos a respeito da obediência sincera e solícita. É desses lares que vêm os
santos dos últimos dias que são puros — certamente não perfeitos, mas puros
e sem mácula. E essa pureza produz o poder imaculado de aprender, agir,
tornar-se e literalmente [“afugentar] as trevas do meio de [nós]” (Doutrina e
Convênios 50:25). A pureza pessoal produz poder espiritual inigualável, e
nosso lar é o lugar em que a obediência sincera e solícita e a pureza pessoal
crescem e florescem. Assim, o lar centrado em Cristo é um dos ambientes
mais importantes para receber e vivenciar o poder de tornar-se.
“[Põe] em ordem [tua] família; e [faz] com que sejam mais diligentes e
interessados em casa e orem sempre” (Doutrina e Convênios 93:50).
Resumo
As ordenanças do sacerdócio constituem o canal pelo qual o poder da
divindade e as bênçãos da Expiação de Jesus Cristo podem fluir para nossa
vida. A ordenança é um ato físico sagrado com significado simbólico, como o
batismo, a confirmação ou o sacramento. A obra do Senhor é um trabalho de
amor centrado nos corações, nos convênios e nas ordenanças do sacerdócio.
A obediência aos princípios e às ordenanças do evangelho liberta a
pessoa do cativeiro espiritual do pecado (ver João 8:31–36). O Presidente
Gordon B. Hinckley explicou-nos: “A liberdade verdadeira repousa na
obediência aos conselhos de Deus. (…) O evangelho não é uma filosofia de
repressão, como muitos o consideram. É um plano de liberdade que provê
disciplina ao apetite e direção ao comportamento” (“A Principle with a
Promise”, p. 521).
O Presidente Thomas S. Monson prometeu-nos: “Podemos receber o
conhecimento que buscamos, as respostas pelas quais ansiamos e a força que
desejamos hoje para enfrentar os desafios de um mundo complexo e
inconstante se, de boa vontade, obedecermos aos mandamentos do Senhor”
(“A Obediência Traz Bênçãos”, p. 89).
Quando tivermos em nós o desejo e a determinação de obedecer aos
mandamentos de Deus de todo coração e com uma mente solícita, poderemos
qualificar-nos para receber “mandamentos, não poucos” e “revelações em seu
tempo” e seremos abençoados para recebê-los. Essa orientação pessoal e
particular vinda de nosso amoroso Pai Celestial é uma fonte suprema de
segurança, luz e alegria.
O lar é o lugar ideal para aprender, ensinar e aplicar os princípios do
evangelho. Os profetas modernos exortam as famílias a darem o máximo de
prioridade à oração familiar, à noite familiar, ao estudo e ensino do evangelho
e às atividades familiares salutares.
O Presidente David O. McKay resumiu o papel das ordenanças do
sacerdócio e da obediência solícita no que se refere ao poder de tornar-se.
Qual é a glória suprema de um homem nesta Terra no tocante a suas
realizações pessoais? É o caráter — um caráter formado por meio da
obediência às leis da vida conforme reveladas pelo evangelho de Jesus Cristo,
que veio ao mundo para que tivéssemos vida e a tivéssemos com abundância
(ver João 10:10). A principal preocupação do homem na vida não deve ser a
aquisição de ouro, fama ou bens materiais. Não deve ser o desenvolvimento
de força física nem capacidade intelectual, mas seu objetivo maior na vida
deve ser o desenvolvimento de um caráter cristão” (Ensinamentos dos
Presidentes da Igreja: David O. McKay, p. 240).
Leituras Correlatas
1. Boyd K. Packer, “A Honra e Ordem do Sacerdócio”, A Liahona,
junho de 2012, p. 28.
Pondere:
O que posso e devo fazer para receber mais plenamente na vida “o poder
da divindade”?
Pondere:
O que estou aprendendo sobre o papel das ordenanças do sacerdócio no
que se refere a “[vir] a Cristo e [ser aperfeiçoado] Nele”?
Pondere:
De que maneira “mandamentos, não poucos” influenciam meu
discipulado?
Minhas Próprias Questões a Ponderar
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Capítulo 4
“Meu filho, paz seja com tua alma; tua adversidade e tuas aflições
não durarão mais que um momento;
E agora, meus amados irmãos, sei por isso que, a menos que o homem
persevere até o fim, seguindo o exemplo do Filho do Deus vivente, não
poderá ser salvo” (2 Néfi 31:15–16; grifo do autor).
“Digo-vos que se haveis adquirido conhecimento da bondade de
Deus e de seu incomparável poder e de sua sabedoria e de sua paciência
e de sua longanimidade para com os filhos dos homens; e também da
expiação que foi preparada desde a fundação do mundo, a fim de que,
por ela, a salvação possa vir para aquele que puser sua confiança no
Senhor e guardar diligentemente seus mandamentos e perseverar na fé
até o fim da vida, quero dizer, a vida do corpo mortal —
“Persevera nestas coisas até o fim e terás uma coroa de vida eterna
à direita de meu Pai, que é cheio de graça e verdade” (Doutrina e
Convênios 66:12; grifo do autor).
“Mas eis que te digo que é por meio de coisas pequenas e simples
que as grandes são realizadas; e pequenos meios muitas vezes
confundem os sábios” (Alma 37:6).
Resumo
O Senhor declarou, nos primeiros dias desta dispensação: “Eu vos darei
um modelo em todas as coisas, para que não sejais enganados; porque
Satanás está solto na terra, enganando as nações” (Doutrina e Convênios
52:14). Em um mundo de iniquidade crescente, um mundo que ao mal chama
bem e, ao bem, mal; que faz “da escuridão luz e, da luz, escuridão”; (2 Néfi
15:20), podemos ser abençoados com “a esperança da justiça” (Gálatas 5:5),
“a luz do Senhor” (Isaías 2:5), e a proteção contra a cegueira (ver 1 Néfi
15:24; Helamã 5:12).
Como disse o Senhor: “Portanto não vos canseis de fazer o bem, porque
estais lançando o alicerce de uma grande obra. E de pequenas coisas provém
aquilo que é grande” (Doutrina e Convênios 64:33; grifo do autor).
Ao aprender e compreender que somos filhos e filhas de Deus, e ao ser
abençoados com discernimento acerca do intento dos nossos inimigos,
receberemos a bênção de perseverar valentemente e suportar bem. As
dificuldades e provações não serão eliminadas de nossa vida; mas, por meio
da Expiação de Jesus Cristo, nossa força e capacidade espirituais serão
aumentadas e expandidas.
As imagens descritas em Doutrina e Convênios são muito instrutivas:
“Sabeis, irmãos, que um navio muito grande é beneficiado sobremaneira por
um pequeno leme, durante uma tempestade, sendo mantido na direção do
vento e das ondas.
Portanto, amados irmãos, façamos alegremente todas as coisas que
estiverem a nosso alcance; e depois aguardemos, com extrema segurança,
para ver a salvação de Deus e a revelação de seu braço” (Doutrina e
Convênios 123:16–17; grifo do autor).
Em verdade, podemos prosseguir no caminho da perfeição com firmeza
no Salvador, tendo um perfeito esplendor de esperança e amor a Deus e a
todos os homens. E, se nos banquetearmos com as palavras de Cristo e
perseverarmos valentemente até o fim, a promessa é de que teremos vida
eterna (ver 2 Néfi 31:20).
Leituras Correlatas
1. Henry B. Eyring, “The Power of Deliverance”, Devocional da BYU,
15 de janeiro de 2008. Disponível em inglês no site speeches.byu.edu.
6. Marvin J. Ashton, “In His Strength,” Ensign, julho de 1973, pp. 24–
27.
Pondere:
De que maneira o modelo estabelecido pelo Senhor das “coisas
pequenas e simples” aumenta minha capacidade de “perseverar
valentemente”?
Pondere:
O que estou aprendendo sobre o papel e o poder de minha identidade
divina em minha vida?
Pondere:
De que maneira o fato de discernir “o intento do meu inimigo” me ajuda
a melhor preparar e fortalecer meus “lugares de defesa”?
Minhas Próprias Questões a Ponderar
Escrituras Relacionadas ao Que Estou Aprendendo
Explore mais esses conceitos com um grupo de discussão.
Um Convite para
Aprender, Agir e Tornar-se
Que outras doutrinas e outros O que posso e devo Como saberei se estou
princípios, desde que bem fazer para agir de progredindo em meu
entendidos, poderiam ajudar- acordo com essas empenho de me tornar
me a perseverar doutrinas e esses mais semelhante ao
valentemente? princípios? Salvador?
Um Convite para
Aprender, Agir e Tornar-se
Que outras doutrinas e outros O que posso e devo Como saberei se estou
princípios, desde que bem fazer para agir de progredindo em meu
entendidos, poderiam ajudar- acordo com essas empenho de me tornar
me a perseverar doutrinas e esses mais semelhante ao
valentemente? princípios? Salvador?
Um Convite para
Aprender, Agir e Tornar-se
Que outras doutrinas e outros O que posso e devo Como saberei se estou
princípios, desde que bem fazer para agir de progredindo em meu
entendidos, poderiam ajudar- acordo com essas empenho de me tornar
me a perseverar doutrinas e esses mais semelhante ao
valentemente? princípios? Salvador?
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Capítulo 5
O Poder de Tornar-se e
Congregar Todas as Coisas
Sendo discípulos do Senhor Jesus Cristo, nossa responsabilidade
individual é aprender o que devemos aprender, agir e viver como sabemos
que devemos agir e viver, e tornar-nos o que o Mestre quer que nos tornemos.
Esses três imperativos fundamentais e inter-relacionados do evangelho —
aprender, agir e tornar-se — são essenciais para o nosso desenvolvimento e
nossa felicidade espirituais na mortalidade e para o nosso progresso através
da eternidade.
Uma perspectiva precisa e uma capacidade espiritual expandida resultam
de “congregar em Cristo todas as coisas, (…) tanto as que estão nos céus
como as que estão na terra” (Efésios 1:10). O poder que o evangelho do
Salvador tem de abençoar-nos e de guiar-nos resulta da conectividade e do
inter-relacionamento de suas doutrinas, seus princípios e suas práticas.
Somente quando congregarmos todas as coisas em Cristo é que poderemos
esforçar-nos diligentemente para tornar-nos o que Deus deseja que nos
tornemos (ver Mateus 5:48; 3 Néfi 12:48) e perseverar valentemente até o
fim.
Embora o Senhor procure congregar todas as coisas, tendemos com
frequência segmentar, especificar e aplicar as verdades do evangelho a nossa
vida de maneira a limitar o nosso entendimento e a nossa visão. Tal
abordagem restringe a purificação, a alegria, a conversão contínua e o poder e
a proteção espiritual resultantes de “entregar [nosso] coração a Deus”
(Helamã 3:35). O mero cumprimento e a aplicação mecânica de certos
princípios do evangelho como se fossem itens de uma lista de coisas a fazer
não nos capacita necessariamente a receber Sua imagem em nosso semblante
nem experimentar uma mudança de coração (ver Alma 5:14).
Neste capítulo final, eu gostaria de tentar “congregar todas as coisas”,
fazendo uma breve revisão da sequência e dos conceitos e princípios básicos
apresentados em cada capítulo contido em Increase in Learning, Act in
Doctrine, e O Poder de Tornar-se. A repetição de verdades essenciais é
intencional, já que a repetição é um princípio importante do efetivo
aprendizado do evangelho.
“Assim foi e assim sempre será a situação dos santos de Deus que,
a menos que tenham conhecimento real de que o curso de sua vida está
de acordo com a vontade de Deus, enfraquecerão e desfalecerão em seu
ânimo” (Lectures on Faith, pp. 67–68).
“Mas aqueles que não fizeram esse sacrifício a Deus não sabem se
o curso que seguem na vida agrada a Deus; pois seja qual for sua crença
ou sua opinião, trata-se de uma questão de dúvida e incerteza em sua
mente; e onde há dúvida e incerteza não há fé, nem pode haver. Pois a
dúvida e a fé não podem coexistir na mesma pessoa; de modo que
aqueles cuja mente estiver sujeita a dúvidas e temores não podem ter
confiança inabalável; e onde não existe confiança inabalável, a fé é
fraca; e onde a fé é fraca, as pessoas não serão capazes de lutar contra
toda oposição, tribulação e aflição que precisarão enfrentar a fim de
serem herdeiras de Deus e co-herdeiras com Cristo Jesus; e elas
desfalecerão em seu ânimo, e o adversário terá poder sobre elas e as
destruirá” (Lectures on Faith, p. 71).
“Em verdade vos digo: Todos os que, dentre eles, souberem que seu
coração é honesto e está quebrantado e seu espírito, contrito; e que estiverem
dispostos a observar seus convênios por meio de sacrifício — sim, todo
sacrifício que eu, o Senhor, ordenar — esses serão aceitos por mim.
Pois eu, o Senhor, farei com que produzam como uma árvore muito
frutífera, plantada em terra fértil junto a um riacho de água pura, que produz
muitos frutos preciosos” (Doutrina e Convênios 97:8–9; grifo do autor).
Cada um de nós pode convidar o Espírito Santo para nos ajudar a ver as
“coisas como realmente são” (Jacó 4:13) a respeito de nosso progresso ao
longo do caminho dos convênios, da obediência e do serviço. Ele nos
ensinará de maneira simples e direta a respeito da sinceridade de nosso
coração, da natureza contrita do nosso espírito e a respeito de nossa
disposição em observar nossos convênios por meio do sacrifício, sim, todo
sacrifício que o Senhor lhes ordenar. Sermos aceitos pelo Senhor é
certamente o elemento chave na confirmação de que o curso de nossa vida
está de acordo com a santa vontade e mente de Deus. Tal confirmação pode
ser recebida se prosseguirmos em nossa jornada mortal no caminho da
perfeição.
Néfi foi um filho fiel e diligente de Helamã. Seu reinado público e
ministério sagrado entre os nefitas e lamanitas expandiram-se por quase
quarenta anos, terminando pouco antes do nascimento do Salvador. Uma
descrição de Néfi contida nas escrituras traz importantes princípios para o
nosso tempo.
“E aconteceu que surgiu entre o povo uma divisão, de modo que se
apartaram uns para um lado e outros para outro; e seguiram seus caminhos,
deixando Néfi, que se achava no meio deles, sozinho.
E aconteceu que Néfi tomou o caminho de sua casa, refletindo sobre as
coisas que o Senhor lhe revelara.
E aconteceu que enquanto assim meditava — estando extremamente
desanimado em virtude das iniquidades do povo nefita, suas secretas obras de
trevas e seus assassinatos e suas pilhagens e toda sorte de maldades —
aconteceu que enquanto assim meditava em seu coração, eis que ouviu uma
voz, dizendo:
Bem-aventurado és tu, Néfi, pelas coisas que tens feito; pois observei
que foste infatigável em pregar a este povo as palavras que te dei. E não o
temeste nem te preocupaste com tua própria vida, mas procuraste conhecer
minha vontade e cumprir meus mandamentos.
E agora, por teres feito isso com tanta perseverança, eis que te
abençoarei para sempre e te farei poderoso em palavras e ações, em fé e em
obras; sim, para que todas as coisas se realizem segundo tua palavra, pois
nada pedirás que seja contrário a minha vontade.
Eis que tu és Néfi e eu sou Deus. Eis que te declaro, na presença de
meus anjos, que terás poder sobre este povo” (Helamã 10:1–6; grifo do
autor).
Néfi aprendeu, entendeu e cumpriu seu dever infatigavelmente. Ao se
deparar com oposição e dificuldades, ele ponderava as coisas que o Senhor
lhe havia mostrado, voltava-se com firmeza para o Salvador e buscava
somente fazer a vontade de Deus.
Cada um de nós, como discípulos de Cristo, pode da mesma forma
ponderar sobre as coisas que o Senhor nos tem mostrado e feito por nós e
aprender a agir infatigavelmente em nossa vida pessoal. Não receberemos
exatamente as mesmas bênçãos que foram conferidas a Néfi, mas seremos
abençoados com poder — sim, o poder de tornar-nos.
“Aprende de mim e ouve minhas palavras; anda na mansidão de meu
Espírito e terás paz em mim” (Doutrina e Convênios 19:23).
“Eis que eu sou Jesus Cristo, o Filho de Deus. Eu sou a vida e a luz do
mundo.
Eu sou o mesmo que vim aos meus e os meus não me receberam;
Mas em verdade, em verdade eu te digo que a todos os que me
receberem darei poder para se tornarem filhos de Deus, sim, àqueles que
crerem em meu nome. Amém” (Doutrina e Convênios 11:28–30; grifo do
autor).
Leituras Correlatas
1. Dieter F. Uchtdorf, “Uma Questão de Poucos Graus”, A Liahona,
maio de 2008, p. 57.
Pondere:
O que estou aprendendo sobre a importância de padrões justos em
aprender, agir e tornar-me?
Pondere:
De que maneira posso aplicar mais eficazmente em meu aprendizado e
minha vivência do evangelho o princípio de “Congregar todas as Coisas”?
Pondere:
O que estou aprendendo a respeito de cumprir meus convênios por meio
do sacrifício e ser aceito pelo Senhor?
Minhas Próprias Questões a Ponderar