MARÍA NORBERTA AMORIM - Reconstituicao de Paróquias. Uma Proposta de Diálogo Entre Historiadores e Demógrafos-En Revista Populacao e Sociedade 1 PDF

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CENTRO OE ESTUDOS DA POPULAÇÂO

E FAMÍLIA

POPULAÇÃO E SOCIEDADE

CEPFAM
Título- P OPULAÇÃO E SOCIEDADE - NY 1 / 1 9 9 5

Edição
CEPFAM - Centro d e Estudos d a População e Famí l i a
Rua d o Camp o Alegre, 1 05 5
4 1 5 0 Porto
Telefone: (02) 600 1 5 1 3
Director: FERNANDO DE SOUSA

Capa: J OÃ O MACHAD O

Execução: G rá fi cos Reunidos, Ld." - Porto

ISBN 0 8 7 3/ 1 8 6 1

D e pósito Legal n." 9 4 1 3 3 / 9 5

Ti ragem: 1 000 exempla res


ÍNDICE

NOTA DE ABERTURA . . .
.. . ................................................ ............ .. ............. ........... .... . .. . .... . ......................... ..... ............... . . 7/8

A SITUAÇÃO DEMOGRÁFICA PORTUGUESA NO CONTEXTO


DA UNIÃO EUROPEIA NO INÍCIO DOS ANOS NOVENTA
por}. MANUEL NAZARETH .... ............... . ......... ......................... . . .... . . .............. .... . .................. . ....... . .......................................... 9
. . . . .

A GRANDE VIRAGEM DO PRESENTE E SUAS CONSEQUÊNCIAS:


DE PORTUGAL RURAL PARA PORTUGAL URBANO
por FRANÇOIS GUICHARD ...... ......... ..................................... ... ....... . .. . .. .... . .........
. . . . . . . . ..... ....... . ... .. . . . ... ... ........... . ........ .....
. . . . . . .. .. .. . 2 7
.

A POPULAÇÃO PORTUGUESA E M FINAIS D O SÉCULO XVIII


.......................................... . . .... ... ......... . ... . .. . .. .......... ........ . . ................. .... ....... .. ..
por FERNANDO DE SOUSA .. . . . . . ......... 4 1
. . . . .. . . . ... . ..

A POPULAÇÃO PORTUGUESA NOS SÉCULOS X IX E XX.


O ACENTUAR DAS ASSIMETRIAS DE CRESCIMENTO REGIONAL
por TERESA RODRIGUES ....... . ........................ . ......................... . . .... ...... . ... . .. .. . . . . .. . . . .... .. .. . ...... . .. ..... . ......... .... .. . ... . . .. .... ......... . ... . . . ... 57

A SITUAÇÃO DEMOGRÁFICA DA FAMÍLIA NOS AÇOR ES


por GILBERTA PAVÃO NUNES ROCHA ...... . . ................ ........ . . . .. .. .. ...... . ...... . ... ... . .. ....
. . . . . . . .. .. .. . . . ... .. . ... . ....
. . .
........... . ... . . . .... .. . .. . . .. . . 73
.

A POPULAÇÃO PORTUGU ESA NA IDADE MÉDIA: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA


por HENRIQUE DAVID .................................................................................................................................................................. 87

RECONSTITUIÇÃO DE PARÓQUiAS- Uma proposta d e diálogo


entre historiadores e demógrafos
por MARIA NORBERTA AMORIM ............. . .......................... ............ .... . .. . .. .... ..... .. . ...... .......
. . . . . . ....................... . .............. ............ 9 3 .

REVISIÓN D E LOS ESTUDOS SOBRE L A MIGRACION PORTUGUESA EN ESPANA


por LORENZO LÓPU TRiyAL ................. . .. ......... ..... . . ....... . ........ . ...... . ... . . ....... . . .... . .. . .... . . . . . . .. .... . ..... ...... . . .. ...... . ......... . 1 0 9
. .. . . . . . .. . . . . . . . .

LA PRENSA FUENTE PARA L A HISTORIA D E L A POBLACION


......... .. ............. ...... . .. ... . ......... ....
por CELSO ALMUINA . . . ... . . ........ ....... . . . . . .... .. ..... . ... .. ..
. . . . . .. . . . . ..... . .. .. . .. .... . .... . ..................
. . .. . . . . 1 19

SOBRE A DEMOGRAFIA ESCOlAR


.. . . .......... . .. ........ ... . ......... . ... . ... . . . . .... ... . .. ..... .. . ... . . ... . .. .... . .. .. . . ..... . ..... . . . . . ... .. ........ 1 3 1
por JORGE CARVALHO ARROTEIA . .. . . . . . . .. . . . .. . . . .

FAMILIA E EDUCAÇÃO FAMILIAR EM PERSPECTIVA


por MARINHA FERNANDES CARNEIRO ....... ... . ..... . .. . ..... ......................... ........ ..... .... ................. .......... ........................ ........ 14 1
. . . ..

A DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO E AS AlTERAÇÕES NA ORGANIZAÇÃO


DO TERRITÓRIO DO GRANDE PORTO
por JOSÉ ALBERTO V. RIO FERNANDES ... ............... ........ .. . . . ......... . . ...... . .... ... ..... . . ...... .. . . . . ..... . .
. . . . . . . .. . . .. .. . . . .. .. . .... . ... . .. . .. ... .. ... . . . . 15 5
.

GERAÇÕES E ESPERANÇA DE VIDA - OS EFEITOS DA SUA EVOlUÇÃO


EM ALGUNS DISTRITOS DO CONTINENTE (ESTUDOS EXPLORATÓRIO)
por MARIA DA GRAÇA DAVID DE MORAIS ...... ............ . .......... ............ . ..... ... ................... .. ..
. . .. .. . . .. . . .... . . .. ..... .... ....
. . . .. .. . . ..... . 163
. .
A CLASSIFICAÇÃO SÓCIO-PROFISSIONAL: UMA QUESTÃO EM ABERTO
por PAULA GUILHERMINA DE CARVALHO FERNANDES ......................................................................................................... 177

CORRENTES DE OPINIÃO PÚBLICA E EMIGRAÇÃO LEGAL


NO DISTRITO DE AVEIRO (188 2-1894)
por MARIA TERESA BRAGA SOARES LOPES ..........................•................................................................................................. 209

PADRÕES DE MORTALIDADE E TRANSIÇÃO SANITÁRIA


NO PORTO (1880-19 20)
por)OSÉ)OÃO MADURO MAIA .................................................. ............................................................................... ................ 233

ASPECTOS SOCIODEMOGRÁFICOS DA FREGUESIA


DE NOSSA SENHORA DA ENCARNAÇÃO DA AMEIXOEIRA (1740-1760)
por ANA RITA COELHO RIBEIRO ............................................................................................................................................... 245

LOS SEFARDIES DE MARRUECOS EN LA GENESIS Y CONSOLIDACION


DE LA ACTUAL COLECTIVIDAD JUDIA DE VENEZUELA (1835-1880)
por JUAN-BTA. VILAR ................................................................................................................................................................ 265
E N C O N T R O

POPULAÇÃO PORTUGUESA
HISTÓRIA E PRO SPECTIVA
Comunicações ao Encontro promovido pelo
CEPFAM - Centro de Estudos da População e Família

Porto, 19-20 de Dezembro de 1994

C om o Patrocín i o d e :

]N/CT
Fundação Luso-Americana
Fundação Calouste Gulbenkian
Reitoria da Universidade do Porto
Fundação Eng.Q António de Almeida
Governo Civil do Porto
NOTA DE ABERTURA

o CEPFAM - Centro de Estudos da População e Família é uma instituição


dependente da Reitoria da Universidade do Porto. com uma vocação inter­
-universitária, cuja existência se deve ao esforço conjugado da Fundação
Calouste Gulbenkian, da Fundação Engenheiro António de Almeida e da
Universidade do Porto.

Reconhecendo as limitações que se deparam às equipas de investigação


que em diferentes Universidades se dedicam ao estudo da população e família,
o CEPFAM tem como objectivos fundamentais:

- Racionalizar a investigação e o ensino na área das Ciências da População


e da Família;

- Promover estudos que permitam compreender a dinâmica populacional e


familiar portuguesa no contexto actual, regressivo e prospectivo;

- Fomentar a interdisciplinaridade na análise das problemáticas em que a


população e a família assumem papel relevante;

- Fomentar a cooperação internacional com instituições afins.

Para tal, entre outras acções, o CEPFAM propõe-se:

- Organizar um centro de documentação e informação, mantendo nomea­


damente uma biblioteca especializada;

- Organizar regularmente seminários, mesas redondas, conferências nacionais


e internacionais;

- Publicar anualmente a revista População e Sociedade.

Criado oficialmente por escritura de 27 de Outubro de 1 989, o CEPFAM agrega


investigadores das universidades do Porto, Nova de Lisboa, Aveiro, Évora,
Açores, Trás-os-Montes e Alto Douro e conta com a colaboração pontual de
investigadores de outras universidades nacionais e estrangeiras para o
desenvolvimento das suas acções.

O CEPFAM desenvolve actualmente o projecto Popul a ção Portuguesa -


História e P rospectiva, que tem contado com o financiamento da JNICT e da
Fundação Calouste Gulbenkian. para além do esforço continuado da Reitoria da
Universidade do Porto. Congregando um conjunto de investigadores que têm
orientado a sua investigação, desde há longos anos a esta parte, para os
problemas demográficos nas mais diversas vertentes, o CEPFAM procura
desenvolver um trabalho de sistematização do conhecimento demográfico
relativamente à população portuguesa, o qual deverá culminar com a

7
publicação de um relatório final que se pretende venha a constituir uma obra
de referência para esta área de estudos. Com efeito não se dispõe ainda,
relativamente a Portugal, de uma História da População, fornecendo um
quadro geral das estruturas e seus movimentos ao longo do tempo, incluindo
a componente prospectiva, capaz de servir tanto o grande público como o
investigador. E, no entanto, tem-se produzido, nos últimos anos, estudos de
grande qualidade sobre aspectos específicos ou períodos circunscritos, tanto
em demografia actual como em demografia histórica, embora ainda existam
lacunas que importa limitar. Estabelecer conexões entre os conhecimentos já
produzidos, procurar superar os hiatos existentes pela investigação em
aspectos pouco focalizados, promover uma visão global da população
portuguesa nas diversas variáveis e suas tendências para o futuro, constituem
os objectivos a atingir pela equipa de investigadores do CEPFAM que subscreve
o referido projecto.

É neste contexto que a revista População e Sociedade cumpre o seu papel,


assumindo-se como um elemento de mediação entre investigadores da área
da população e família e o grande público. o primeiro número, que agora se
edita, é essencialmente preenchido com as comunicações apresentadas ao
I Encontro "População Portuguesa - História e Prospectiva", realizado em
Dezembro de 1 9 9 4 na Universidade do Porto, integrado nos objectivos do
CEPFAM e nas acções do projecto com a mesma designação.

8
A S ITUAÇÃO DEMOG RÁFICA PORTUGUE SA
NO CONT EXT O DA UNIÃO EUROPE IA
NO INÍCIO DOS ANOS NOVE NTA
}. Manuel Nazareth
Universidade Nova de Lisboa

1. V O L U M E S , RI T M O S DE CRESCIM ENTO E D E N S I DADES

N o i n í c i o d a d é ca d a d e n o v e nta a p o p u l a çã o d a U n iã o E u ro p e i a ro n d a v a o s
346 m i l hões d e h a bi ta n tes. A prim e i ra gra n d e ca racterísti ca q u e e n co ntramos é a exis­
tência de uma grande desigualdade nos volumes populacionais dos diferentes países. Na
rea l i d a d e , o país com o m a i o r volume populacional é a Alema n h a com 80 2 74 600 h a­
bitantes ( 2 3 , 2 % do tota l). segue-se um conj u nto de três países com ce rca de 5 7 m i l hões
d e h a bi ta ntes - a Itá l i a com 57 7 8 8 200 habita ntes ( 1 6,7% d o tota l), o Reino U n i d o com
5 7 6 8 6 1 00 h a bita n tes ( 1 6 , 7 % do tota l) e a Fra n ça com 5 7 2 1 7 SOO habita ntes ( 1 6 , 5 o/o d o
tota l). A Espa n h a vem e m q u i nto l ugar com 3 9 0 5 5 9 0 0 h a b i tantes ( 1 1 ,3% d o tota l). Estes
c i n co países, no seu conj u n t o , representam 8 4 , 3 % do tota l d a p o p u l a ção da U n iã o
E u ropeia ca bendo a o s resta ntes sete países apenas 1 5 , 7% da população (ver Qua d ro n" 1
e Fig. n" 1 ). Um segu n d o b loco de países tem um volume ao q u a l podemos chamar d e
d imensão m é d i a na m e d i d a e m têm u m tota l d e h a bita ntes, e m n úmeros red o n d os,
e ntre os 1 O e os 1 5 m i l hões d e h a bitantes. Por ordem d e importâ ncia temos: a H o l a n d a
com 1 5 1 2 9 200 h a bitantes (4,4% d o tota l), a G récia com 1 o 2 79 900 habitantes (3 ,0% d o
tota l), a B élgica com 1 o 0 2 2 ooo h a bita ntes (2,9% d o tota l) e Portuga l com 9 846 000
h a bitantes (2,8% d o tota l). F i n a lmente, os resta ntes três países - a D i nama rca , a Irla nda
e o Luxem b u rgo - n o seu conj u nto, não u ltra passam os 10 m i l hões d e h a bita n tes.

Q U A D R O N.2 1- P O P U LAÇÃO TOTAL NOS PAÍSES DA U N IÃO EUROPEIA EM 1992

Po p. em 1/1/9 2 Dens ida de


Países Po p. em%
(000) (Ha b./Km2)

B É LGICA 10 0 2 2 , 0 2,9 326,6


DINAMARCA 5 1 62 , 1 1 .5 1 1 9 ,4
ALEMANHA 80 2 74,6 23,2 224,6
G R ÉCIA 10 2 79,9 3,0 77,4
ESPANHA 39 055,9 1 1 ,3 77,2
FRANÇA 57 2 1 7 . 5 1 6,5 1 0,2
I RLANDA 3 542,0 1 ,0 50,8
ITÁ LIA 57 7 8 8 , 2 1 6, 7 1 9 1 ,4
LUXEM BURGO 3 8 9,8 0,1 1 4 7,4
HOLANDA 1 5 1 29,2 4,4 364,6
R EIN O U N I D O 5 7 686, 1 1 6,7 235,2

PORTUGAL 9 846,0 2,8 1 07.2

EUR. 1 2 346 3 9 3 , 3 1 00,0 1 5 2,8

FONTE: WROSTAT, S tatistiques Démographiques 1 993, Luxemburgo, 1 993 (pags. 9 e 60)

9
) MANUEL NAZARETH
.

F I G U R A N . " 1 - P O P U LAÇÃO TOTAL DOS PAÍSES


DA U N I Ã O EUROPEIA EM 1992 ( E M %)

R.UNIDO (16.7%)

HOLANDA <4. 4%>


LUXEMB. <O. 1%) tMzf7ffiQ@.@Jili:.lill81J
DINAMARCA <1.5%>
GRÉCIA <3.0%)

No entanto. q uand o ana l i samos o nível de ocupação do espaço. não são os países
que rêm a maior dimensão populacional que apresen ram as maiores densidades (ve r
Qua d ro nQ 1 e Figura n" 2). os países com as maiores d ensidades populacionais pertencem
cla ramente ao gru p o q u e classi fi cámos anteriormente como interm é d i o - a Holanda
(364,6 h a b . / km 2 ) e a B é lgica (326,6 h a b . / km 2 ). Apenas d o i s países d e grand e d imensão

F I G U R A N . " 2 - D E N S I DADES NOS PAÍSES D A U N IÃO E U R O P E I A E M 1992

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PAISES

10
A SITUAÇÃO DEMOGRÁFICA PORTUGUESA

populacional têm u m a d e n s i d a d e e ntre 200 e 300 h a bi ta n tes por km 2 - a Alemanha e o


R e i n o U n i d o . Os resta ntes países têm densidades i n feriores a 200 habita ntes por km 2,
s e n d o a I r l a n d a o país da U n i ã o E u ro p e i a q u e te m a m e n o r d e n s i d a d e p o p u l a c i o n a l
(50,8 h a b./km 2 ) co m va lores m u ito próximos dos o bservados na G récia e na Espa n h a
(cerca d e 7 7 h a bi ta n tes por km 2 ) . Po rtuga l , s e n d o u m país q u e , e m termos d e v o l u m e
populacional, o c u p a u m a posição i nterm é d i a , t e m n o enta n to uma d e n s i d a d e popula­
c i o n a l das m a i s baixas no contexto da Europa dos Doze ( 1 0 7 , 2 ha b./km 2 ).
É v e rd a d e que a d e n s i d a d e p o p u l a c i o n a l é um i n d i ca d o r basta nte grosse i ro de
o c u p a ç ã o de espaço v i sto n ã o ter e m co nta u m conj u nto d e ca racte rísticas físi ca s
determ i n a n te s m a s , e m relação a o o bj ectivo q u e p rete n d emos ati ngi r - co m p a ra r
d i ferentes níveis d e ocupaçã o d e espaço com as d iversas vol u m etrias populacionais dos
países d a U n i ã o E u ropeia - podemos considera r este i n di ca d o r como satisfatório.
P o ré m , se a diversidade de volumes populacionais e de ocupação de espaço é
bastante acentuada na Europa dos Doze o mesmo não podemos dizer em relação aos
ritmos de crescim e n to populacional. Q u a n d o c o m p a ra m os g l o b a l m e nte os v a l o re s
e n contrados com os o bservados noutras regiões d o m u n d o a convergência pa ra u m
mesmo m o d e l o é m a i s d o q u e evidente. Ass i m , se observa rmos c o m atenção os dados
a p resentados n o Q u a d ro nº 2 e na Figura nº 3 onde a p resenta mos, para o a n o d e 1 99 1 ,
a s ta xas d e cresci mento a n u a l m é d i o natu ra l , m igratório e tota l verifi ca mos q u e as
d i scre p â n cias se red uzem cons i d e rave l mente por não existirem as gra n d es assi m etrias
e n co n tra d a s n a i n fo rm a ç ã o a n t e ri o rm e n te c o m e n t a d a . o fa cto d e não e x i s t i r e m
gra n d e s d i scre pâ ncias não q u e r d izer q u e os países sej a m todos iguais. Apenas se q u e r
assi n a l a r q u e a dinâmica de crescimento demográfico global d o s diversos países da
União Europeia tem mais pon tos convergentes do que divergentes.

QUADRO N.º 2- TAXAS DE CRESCIMENTO ANUAL NOS PAISES


DA UNIÃO EUROPEIA EM 1991 (EM PERCENTAGEM)

Países T. c. Natura l T. c. Migratório T. c. Tota l

BE LGICA 0,2 1 0, 1 4 0,35


D I NAMARCA 0,1 0 0,2 1 0,3 1
ALEMANHA - 0 ,09 0,6 1 0,52
G R ÉCIA 0,06 0,43 0,49
ESPANHA 0, 1 2 0,04 0, 1 6
FRANÇA 0,4 1 0, 1 4 0,5 5
I R LANDA 0,60 - 0,23 0,37
ITÁ LIA 0,02 0,06 0,08
LUXEM BURGO 0,32 1 ,0 8 1 ,4 0
HOLANDA 0,46 0,42 0,88
REINO U N I D O 0,26 0,0 1 0,27

PORTUGAL 0, 1 2 - 0,25 -0, 1 3

EUR. 1 2 O, 1 5 0,2 1 0,36

FONTE: EUROSTAT, S tatistiques Rapides - Population et conditions socia/es, 1992-2, Luxemburgo, 1 992 (Pag. 4).

1 1
J MANUEL NAZARETH

F i g u ra n .º 3 - TAXAS DE C R E S C I M ENTO A N U A L NA U N I Ã O E U R O P E I A EM 199 1

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PAISEs

jiSISI T.C.NAT\JlAL • T.C.t.IGRATÓRIO � T.C. TOTAL

Ass i m , no que diz respeito ao crescimento natural, a média da União Europeia é d e


O , 1 5 % e a quase totalidade dos países têm valores q u e oscilam entre 0, 02% (Itália) e
0,60% (Irlan da). E x i ste a ss i m u m a gra n d e c o n v e rgê n c i a n o s ritmos d e crescim e n to
natura l - te n d e r para um cresci me nto p róxi m o do zero. Apenas a Alemanha tem u m a
taxa d e cresci m e n to natural n egativa (-0 , 09%) o q u e signifi ca q u e ao existir mais óbitos
d o que nasci m e ntos, j á u l tra passou o cresc i m e nto zero. P o rtuga l tem uma taxa d e
cresci m e nto natural p ratica m e nte i dêntico a o da média da União Europeia ( 0 , 1 2 %).
No que diz respeito ao crescimento migratório as divergências encontradas são mais
acentuadas do que no crescimento natural. Na rea l i d a d e , dois países têm uma taxa d e
cresci m e nto m igrató r i o n egativa - a I r l a n d a (-0 , 2 3%) e P o rtuga l (-0 , 2 5 %) . Nos o utros
p a í s e s da U n i ã o E u ro p e i a , a p e s a r de s e r e m m a i s rece b e d o re s de p o p u l a çã o do q u e
e x p o rta d o re s , e x i s t e m a l g u m a s d i fe re n ça s i m p o rta n t e s : o L u x e m b u rgo te m um
cresci m e n to m igrató r i o de 1 , 0 8 % e a A l e m a n ha tem um cresci m e nto de 0 , 6 1 %; no
extre m o o p osto, temos países como o Reino U n i d o , a Espa nha e a Itá l i a com valores
próximos d e zero.
Quanto ao crescimento total a situação observada em 1991 reflete necessariamente
o efeito conjugado dos outros dois tipos de crescimento. Ass i m , todos os países da União
Europeia tê m u m cresci m e nto positivo com excepção d e Portuga l q u e é o ú n i co país
que tem um cresci m ento tota l negativo (-0, 1 3 %). o crescimento natura l positivo obser­
vad o em P o rtuga l , e q u e é p róximo da Eu ropa dos Doze, é tota l m e nte neutra l iza do pelo
c r e s c i m e n to m i g r a tó r i o n e g a t i v o o b s e rva d o . o c r e s c i m e n to n a t u ra l negativo d a
A l e m a n h a é compensado p e l o elevad o cresci mento m igratório positivo. O crescimento
migratório negativo da Irlanda é compensado pelo cresci m e nto natura l relativa mente
e l ev a d o . Sa l i e nte-se a i n d a o fa cto de o Luxe m b u rgo ter o m a i o r cresci m e nto tota l
( 1 ,4 0 %) d e v i d o á a cção conj u ga d a do fo rte crescimento m igra tório ( 1 , 0 8 %) a nte r i o r­
m ente assi n a l a d o com um cresci m e nto natural signifi cativo ( o q u a rto em i m portâ ncia).

12
A SITUAÇÃO DEMOGRÁFICA PORTUGUESA

Para se compreender m e l h o r a situação observada em 1 9 9 1 achámos importa nte


a n a l isa r a evo l u çã o observa da nestas taxas d e crescime nto nos ú l timos vi nte a nos. Nos
Q u a d ros nºs 3 e 4 a p re s e n tamos a evo l u çã o d a s taxas de crescimento - n a t u ra l ,
m igratória e tota l - n o período 1 9 70- 1 9 9 1 - nos d oze pa íses d a U n ião Euro p e i a . Na
Figu ra nº 4 re p resentámos grafi camente a evol u ção d o crescimento natural para uma
m e l h o r v i s u a lização e com p reensão das d iversidades encontradas.

Q U A D R O N .º 3 - TAXAS DE CRESCIM ENTO NATURAL E M I G RATÓ R I O ,


EM P E R CENTAG E M , NOS PAÍSES DA U N I Ã O E U R O P E I A ,
N O P E R Í O D O D E 1970 A 199 1

Países Taxas Cresc. Natural Taxas Cresc. Migratório

70 80 91 70 80 91

B É LGICA 0,24 0,1 1 0.2 1 0.03 -0.02 0, 1 4


D I NAMARCA 0,46 0,03 0, 1 0 0,24 0.0 1 0,2 1
ALEMANHA 0,06 -0,06 -0,09 0,47 0,23 0,6 1
G R ÉCIA 0,8 1 0,63 0,06 -0,53 0,52 0,43
ESPANHA 1,13 0.76 0, 1 2 -0,09 0,30 0,04
FRANÇA 0,61 0,47 0,4 1 0,35 0,08 0, 1 4
I R LANDA 1 ,04 1 ,20 0,60 -0, 1 2 -0,02 -0,23
ITÁ LIA 0,7 1 0, 1 5 0,02 -0,07 0,0 1 0,06
LUXEMBURGO 0,08 0,02 0,32 0,3 1 0,37 1 ,0 8
H O LANDA 1 ,00 0,48 0,46 0,25 0,36 0,42
REINO UNIDO 0,45 0, 1 6 0,26 0,09 -0, 1 2 0,0 1

PORTUGAL 1 ,0 0 0,65 0, 1 2 - 1 ,69 0,43 -0,25

EUR. 1 2 0,58 0,27 0,1 5 0,20 0, 1 8 0,2 1

FONTE: CONSEIL DE L' EUROPE, Évolution Démographique récente en Europe et en Amérique du Nord, Stroasbourg, 1 993
(Pags. 34 e 3 5); EUROSTAT, Statistique Rapides � Population et conditions sociales 1 992-2, LUxemburgo, 1 992 (Pag. 4)

Q U A D R O N.º 4 - TAXAS DE CRESCI M E NTO TOTAL, EM PERCENTA G E M ,


N O S P A Í S E S DA U N IÃO E U R O PEIA, N O P E R Í O D O 1970 A 199 1

Países Taxas Cresc. Tota l

70 80 91

B É LGICA 0,27 0,09 0,35


DINAMARCA 0,70 0,04 0,3 1
ALEMANHA 0,53 0, 1 7 0,52
G RÉ CIA 0,28 1'15 0,49
ESPANHA 1 ,04 1 ,0 6 0, 1 6
FRANÇA 0,96 0,55 0,55
IRLANDA 0,8 1 1,18 0,37
ITÁ LIA 0,77 0, 1 6 0,08
LUXEM BURGO 1,16 0,39 1 , 40
HOLANDA 1 ,4 2 0,84 0,88
REINO UNIDO 0,46 0,04 0,27

PORTU GAL -0,69 1 ,08 -0, 1 3

EUR. 1 2 0.78 0,45 0,36

FONTE: idem Quadro n." 3

13
j. MANUEL NAZARETH

F I G U RA N . " 4 - TAXAS D E C R E S C I M E NTO NATURAL A N U A L ,


NA U N I Ã O E U R O P E I A , E M 199 1

� � � � � � R � � � � �
PAISES

No que diz respeito ao crescimento natural a tendência global em todos os países da


União Europeia, no período 1970-1991, é a existência de um acentuado declínio do ritmo de
crescimento natural (o que d e m onstra que o d e cl ín i o da fecun d i d a d e foi superior ao da
morta li d a d e) se b e m q u e nos ú lti m os anos o ritmo d e d i m inu i ção se ten ha consid e ra­
vel m ente aten u a d o. Na rea l i d a d e , e m 1 9 7 0 , na tota l i d a d e dos países da União E u ropeia
o excedente dos nasci m entos e m relação óbitos e ra d e 1 758 700 (taxa d e cresc i m ento
natural = 0,5 8%), em 1 9 8 0 e ra de 863 500 (taxa de cresci mento natural = 0 , 2 7%) e em
1 9 9 1 a p enas 5 0 5 1 0 0 (taxa de cresci m ento natural = O , 1 5 %). Em todos os países da
Un i ã o E u ro p e i a esta ten d ên c i a g l o b a l é a m esma nos ú lt i m o s vinte anos. P o ré m ,
q u an d o ana l i s a m o s a evo l u çã o d o s ú l ti mos anos verificamos q u e e m a l guns pa íses
existem s ina i s d e um l i ge i ro a u m ento no crescimento natu ra l , o que signifi ca que n u m
contexto d e b a ixos níveis d e m o rta l i da d e , a inda com tendência para o d eclínio, ta l fa cto
só p o d e s e r devi d o a um l igei ro a u m ento dos níveis de fecun d i d a d e . Veremos mais
a d i ante se a ss i m se verifica. E m todo o caso, é u m fa cto q u e existem países como
Aleman h a , a G récia, a Espan h a , a França, a I rlan d a , a Itá l i a , a Holanda e Po rtuga l ond e o
declín i o é sem pre contínuo no período 1 9 70- 1 9 9 1 . Nos restantes quatro países observa­
se um l i ge i ro a u m ento d o cresci m ento natural no decén i o 1 9 8 0 - 1 9 9 1 : na Bélgica, a
inversã o da ten d ência começou em 1 9 8 5 , na D ina ma rca em 1 9 8 9 , no Luxe m b u rgo e m
1 9 8 8 e no R e ino Uni d o e m 1 9 8 7 .
Q u anto a o cresci m ento m i g rató r i o j á tín h a m o s assina l a d o q u e e m 1 9 9 1 a p enas
P o rtuga l e a I rlanda têm u m saldo m igratório negativo quando, nos restantes países da
Un i ã o E u ro p e i a , a ten d ên c i a é pa ra u m a u m ento d o s s a l d o s m i g ra tó r i o s positivos.
P o ré m , estes d o i s países não têm uma evo l u ção semel hante: na I rlanda, o cresci m ento
m igratório te m s i d o s e m p re negativo nos ú ltimos vinte ou trinta anos; Portuga l , um país
d e e m i gra çã o , na década 7 0 - 8 0 , a o rece b e r centenas d e m i l h a r d e i m igrantes teve,
s o b retu d o a pa rti r d e 1 9 7 5 , taxas d e cresci m ento m igratório positivas, as q u a i s vão

14
A SITUAÇÃO DEMOGRÁFICA PORTUGUESA

dimin u in d o l entamente até, mais recentemente, volta r a ter mais emigrantes do q u e


im i g ra n t e s . D e r e s t o , a gen e ra l i d a d e d o s p a í s e s d a E u ro p a Com un i tá ri a é m a i s
rece b e d o ra d e p o p u l a çã o d o q u e exporta d o ra s e bem q u e existam a l gumas d i fe renças
n a e vo l u çã o d o s d i fe rentes países: n a B é l g i ca , en tre 1 9 8 0 e 1 9 8 7 , o crescimento
m i grató r i o é negativo; na G ré c i a , país t ra d i ci on a lmente d e em i graçã o , a p a rti r de
meados d a d é ca d a d e s etenta passou a t e r s a l d os positivos; a E s p an h a tem uma
evo l u ção i rregu l a r - se ana lisarmos, ano a ano, a sua evo l u ção encontramos entre 1 9 8 5
e 1 9 9 1 s a l d os migratórios sem p re negativos e n o entanto em 1 9 9 1 o s a l d o a p a rece
com o positivo ( fenómeno inve rso a o observa d o em P o rtuga l que resu l ta , em nosso
enten d e r, das d i ficuldades em estima r os movimentos migratórios anuais nos p e ríodos
inter-censitári os); a F rança tem uma evo l u çã o bastante regu lar, ou sej a , nos ú ltimos
vinte anos o crescimento foi sem p re positivo e com tendência para uma ce rta esta b i l i ­
zação n o s s e u s va l o res; a Itá l i a passou d e u m país d e d ominantemente d e emigra ção
p a ra um país d ominantemente d e imigração; a Holanda têm vindo a a umenta r p rogres­
s ivamente o s s a l d o s m i g ra tó r i o s p o s i tivos; o Reino Un i d o tem t i d o uma evo l u çã o
migratória bastante i rregu l a r se bem q u e com va lores pouco expressivos; finalmente, é
na Aleman h a , na Grécia e no Luxem b u rgo ond e encontramos os maiores crescimentos
(nos primeiros dois países devido às migrações oriundas do leste europeu, no Luxemburgo
devido a m igrações inte rnas no interior da E u ropa dos Doze - sensivelmente um terço
d a p o p u l a ção é de origem portuguesa).
Em síntese, p o d emos a fi rmar q u e , apesar da diversidade de situações apontada
an teriormen te, os países da União Europeia, nos últimos vinte anos con vergiam para um
modelo única: o crescimento total ser fundamentalmente determinado pelas variações
nos movimentos migratórios, ou seja, as va riações observadas nos ú ltimos anos serem
m a i s d e t e rm in a d a s p e l a s o s c i l a ç õ e s d o s m o v im en t o s m i grató r i o s do q u e p e l a s
osci lações d o movimento natu ra l . Ta l não q u e r d izer q u e o movimento natural não sej a
impo rtante. Apenas se q u e r d izer q u e , com mais ou menos veloci d a d e , o movimento
natural camin h a , a d i fe rentes ritmos, p a ra um nível i d êntico na Europa dos Doze.

2. M O RTA L I D A D E, NATA L I D A D E E N U P C I A L I D A D E

N o s q u a d ros n"s 5 , 6 e 7 a presentamos os p rinci pais ind i ca d o res d emográficos n a


União E u ropeia e m 1 9 9 1 . É possível q u e no presente momento a lguns ind i ca d o res j á
sejam con h ecidos p a ra 1 9 92, e m pa rti cu l a r e m Portuga l . Contud o , e m o rd em a ga rant i r
u m a ce rta uni d a d e n o tra tamento d a s fontes não q u i sem os intro d u z i r a l te ra ç õ e s
pontuais q u e e m nosso enten d e r não se j usti fi cavam face aos objectivos d o tra b a l h o .
Assim , no q u e d i z respeito à morta l i d a d e a presentamos no Quadro n º 5 os quatro
ind i ca d o res m a i s util iza dos na sua ca ra cte rização numa óptica comparativa - a Taxa
B ruta d e Morta l i d a d e , a Taxa d e Morta l i d a d e Infanti l e a Esperança d e Vida à Nascença
p a ra os d o i s sexos. As d i fe renças observadas no prim e i ro ind i ca d o r - a Taxa Bruta d e
Morta l i d a d e - tem pouco interesse ser comentad o visto s e r u m instrumento d e m e d i d a
m u i to s en s í v e l a o s e fe i tos d e estru t u ra . A p esa r d o fenóm en o d o enve l h e cimento
d emográfico s e r comum a todos os países (ma is a d i ante nos ocupa remos da aná l ise das
estruturas d em o grá ficas) a s d i fe ren ças e x i stentes en tre os doze países a i n d a sã o
bastante grandes de modo a permitir uma compa ração d i recta de niveis através das
taxas b rutas. o mesmo não acontece com a Taxa d e Mortalidade Infanti l que, ao relaciona r
os ó bitos no p rime i ro ano de vida com os nascimentos observados nesse mesmo ano, é

15
) MANUEL NAZARETH
.

Q U A D R O N.º 5 - I N D I CA D O RES DE M O RTALIDADE NOS PAÍSES


D A UNIÃO E U R O P E I A EM 199 1

Países T. B. Mort. T. M.lnf. e (H) e(M)


(000) (000) o o

B É LGICA 1 0, 5 8,4 72,7 79,4


DINAMARCA 1 1 ,6 7,3 72,0 77,7
ALEMANHA 1 1 ,3 7,2 70,2 76,9
G R É CIA 9,1 1 0,0 73,6 78,6
ESPANHA 8,7 7,8 73,4 80,1
FRANÇA 9,2 7,4 73,0 81,1
I R LANDA 8,9 8,2 7 1 ,9 77,4
ITÁ LIA 9,5 8,3 73,2 79,7
LUXEMBURGO 9,7 9,2 72,3 78,5
HOLANDA 8,6 6,5 73,7 79,8
REINO UNIDO 1 1 ,2 7,3 72,9 78,5

PORTUGAL 1 0,6 1 0,8 70,2 7 7,3

EUR. 1 2 1 0, 1 7,7 72,7 79,3

FONTE: EUROSTAT, Statistiques Rapides - Papulation et conditions Sociales, 1992-2, Luxemburgo, 1992 (Pag. 2 e 4).

n ã o só um in d i ca d o r l i b e rt o d o s e fe i t o s d e e s t r u t u ra como n o s dá uma v i sã o
im p o rtante d a s d i fe ren ças exi stentes n o s nív e i s d e m o rta l i d a d e , e m pa rti c u l a r n o
p rimei ro a n o d e vida. E m 1 9 9 1 , Portuga l e a G récia são os únicos países da Comun i d a d e
Económi ca E u r o p e i a a ter u m a morta l i d a d e infanti l igua l ou s u p e r i o r a 1 o por m i l , se
bem que a info rmação j á conhecida p a ra 1 9 9 2 nos ind i q u e que ta l situação j á não se
verifica. se exceptu a rmos estes dois casos, os restantes países têm va lores q u e osci lam
entre 7 , 2 p o r m i l (Al eman ha) e 9 , 2 por m i l (Luxem b u rgo), situando-se a média da Un ião
E u ropeia em 7 , 7 por m i l . No Q u a d ro nº 6 e na Figura nº 5 a presentamos a evo l u ção da

Q U A D R O N . " 6 - EVOLUÇÃO DA TAXA DE M O RT A L I D A D E I N F A N T I L


NA U N IÃ O E U R O P E I A , N O PERÍ O D O 1970-199 1

Países 1970 1980 1991

B É LGICA 21,1 1 2, 1 8,4


DINAMARCA 1 4 ,2 8,4 7,3
ALEMANHA 20, 1 1 2 ,3 7,2
G R É CIA 29,6 1 7,9 1 0,0
ESPANHA 28,1 1 2 ,3 7,8
FRANÇA 1 8 ,2 1 0,0 7,4
I R LANDA 1 9 ,5 1 1,1 8,2
ITÁ LIA 2 9,6 1 4,6 8,3
LUXEMBURGO 24,9 1 1 ,5 9,2
HOLANDA 1 2,7 8,6 6,5
REINO U N I D O 1 8,5 1 2, 1 7,3

PORTU GAL 55,5 24,3 1 0,8

EUR. 1 2 23,7 1 2 ,6 7,7

FONTE: CONSEIL DE L ' EUROPE, Évoiution Démographique récente e n Europe et en Amérique du Nord, Strasbourg, 1993
(pag. 69); EUROSTAT, Statistiques Rapides - Population et conditions Sociales, 1992-2, Luxemburgo, 1992 (Pag.4).

16
A SITUAÇÃO DEMOGRÁFICA PORTUGUESA

F I G U RA N." 5- EVOLUÇÃO DAS TAXAS D E M O RTALI DADE INFANTIL,


NA UNIÃO E U R O P EIA, 1 970- 1 99 1

� � � � � � R � � � � �
PAÍSES

Taxa de Mortalidade I n fa ntil no período 1 9 70- 1 99 1 . Podemos verifica r que, se a tendência


é s e m p re no sentido d o declínio, o declínio observado e m Po rtuga l é sem d úvida o mais
sign i fi cativo. E m 1 9 7 0 , Po rtuga l tinha u m a m o rta l i d a d e i n fantil d e 5 5 , 5 por m i l e n e n h u m
p a í s da E u ro pa d o s D o z e ti n h a n essa a l t u ra taxas s u p e ri o res a 2 9 , 6 p o r m i l (va l o res
observados na G récia e na Itá l ia).
N o que d i z respeito á m o rta l i d a d e geral medida através das espera n ças d e vida à
nasce n ça e ncontra m os a lgumas d i ferenças i n te ressantes d e ntro de um mesmo modelo
global d e e l ev a d o s va l o res d e e s p e ra n ça d e v i d a (tod o s os países têm v a l o res de
esperança d e vida à nascença superiores a 70 a nos). Em p ri m e i ro l uga r, as d i ferenças
o bs e rvadas na m o rta l i da d e i n fa nt i l não co i n c i d e m com as d i ferenças observa das na
morta l i d a d e gera l - a A l e m a n h a , por exemplo, tem a menor m o rta l i d a d e i n fanti l mas
não as m a i s e l evadas espera n ças d e vida à nascen ça; no extre mo o posto, Po rtuga l e a
G récia ta m b é m não tem as espera n ças de vida mais baixas a pesa r de terem as taxas d e
m o rta l i d a d e i n fantil m a i s e l evadas. Em segu ndo l u g a r , a d ispersão d e va l o res é pouco
a c e n t u a d a - no s e x o mascu l i n o , a e s p e ra n ça d e v i d a à nasce n ça v a r i a e ntre 7 0 , 2
(Al e m a n h a e Po rtuga l) e 7 3 , 7 (Hola nda); no sexo fe m i n i n o o s va lores variam entre 7 6 , 9
(Portuga l) e 8 1 , 1 (Fra n ça). Em tercei ro l uga r, podemos observar e m todos os países u m a
acentuada desigu a l d a d e s e x u a l fa ce à morte - em todos os países as m u l h e res d u ra m
m a i s s e i s a sete a n o s d o q u e o s homens. E m sín tese, podemos afirmar que, apesar das
d iferen ças e n co n t ra d as, a Un i ã o E u ro p e ia con verg i u p a ra um m o d e l o ún ico d e
mortalidade - mortalidade infantil inferior a 10 por mil, esperança de vida à nascença
masculina ron dando os 73174 anos e esperança de vida à nascença feminina rondando
os 78/79 anos.
N o que diz respeito aos i n d i ca d o res d e nata l i dade - a Taxa Bruta d e Nata l id a d e e a
Desce n d ência Média - a penas o último tem i nteresse em ser a n a l isado por se encontra r

17
j. MANUEL NAZARETH

l i b e rto dos efeitos de estrutura e m b o ra seja um i n d icador obtido por a n á l ise tra nsve rsa l
e não por a n á l ise l o ngitud i n a l . Em 1 99 1 , Portuga l , a G récia, a Espa n h a , a Alemanha e a
Itá l i a têm va l o res a baixo da média da U n i ã o Europeia ( 1 , 5 5 ) e em todos os países os
va l o res observados são i n s u ficientes p a ra renova r as gerações com excepção da Irlanda
(o va l o r n e cessá rio p a ra renova r as gerações é d e 2 , 1 ). A Figu ra n" 6 mostra -nos a forma
acentuada como ocorreu o declínio da fecu n d i d a d e , e m todos os países da E u ropa dos
Doze, nos ú l t i m o s v i nte a n os: os d e c l í n i o s mais a centuados ocorrera m e m Po rtuga l ,
Espa n h a , Itá l i a e Irlanda; a esta b i l ização d o declínio o bse rva do em a lguns países a q u e
n o s referimos a nteri ormente n ã o nos parece resulta r da emergência de um novo modelo
m a s d e se ter atingido u m pata m a r d e baixo nível d e fecu n d i d a d e m a i s p recoce m e nte.

F I G U RA N." 6 - EVOLUÇÃO DA D ES C END ÊNCIA MÉD IA,


NA UNIÃO E U R O PE IA, 1 970- 1 99 1

� � � OC � � R � � � � -
PAÍSES
Em sín tese, podemos afirmar que na Europa dos Doze, se con vergiu para um modelo
único de baixos níveis de fecundidade onde as gerações não se renovam. As diferenças
ainda encon tradas nos diferen tes países reflectem fundamentalmen te os diferen tes
ritmos com que este processo tem ocorrido nos últimos vinte anos nos diferen tes países .
F i n a l m e nte existe um conj u nto de i n d i ca d o res no Quadro nº 7 e na Figu ra nº 7 q u e
estão associa d os à n u p c i a l i d a d e e a o divórcio - a % de nasci m e ntos fora do casa m ento,
a Taxa B ruta d e Divório e a Taxa B ruta d e N u pcia l i d a d e . No que diz respeito ao p r i m e i ro
i n dicador o facto mais sa l i ente é o elevado va lor o bservado na Dinamarca - pratica m e nte
meta d e d o s nasci m e ntos ocorrerem fora do casa m e n to. E m b o ra a m é d i a da U n i ã o
E u r o p e i a s ej a d e 1 9 , 8 % (va l o r m u i to p róx i m o d o d e Po rtuga l - 1 5 ,6%) a d i s p e rsão
observada é e n o rme. Podemos até a fi rm a r q u e se trata d o i n d i ca d o r onde existem a s
d i fe renças m a i s acentuadas. Além d o c a s o pa rti cular da D i n a m a rca ta m b é m o Reino
Unido e a Fra n ça têm va l o res m u ito e l evados (ce rca d e 3 0%) p o r oposição a países
como a G récia (2,0%), a Itá l i a (6,6%), a Bélgica e a Espa nha (9, 1 %). No d ivórcio a dispersão
é basta nte m e nos acentuada s e n d o a s m a i o res taxas d e d i vórcio a s o b s e rva d a s na

18
A SITUAÇÃO DEMOGRÁFICA PORTUGUESA

Q U A D R O N.Q 7 - IND I CAD O R ES D E NATALIDADE E D E NU PC IALIDADE,


NOS PAÍSES DA UNIÃO E U R O PE IA, E M 1 99 1

Países T. B. Mort. Descend. % Nas cím. T. B. Div. T. B. Nupc.


(000) Média fora cas. (000) (000)

B É LGICA 1 2,6 1 ,5 7 9,1 2,1 6,1


DINAMARCA 1 2,6 1 ,6 8 46,4 2,5 6,0
ALEMANHA 1 0,4 1 ,3 5 1 5,5 2,2 5,7
G R É CIA 9,8 1 ,4 0 2,0 0,6 6,1
ESPANHA 9,9 1 ,2 8 9,1 0,6 5,6
FRANÇA 1 3 ,3 1 ,77 30, 1 1 ,9 4,9
I R LANDA 1 5 ,0 2, 1 8 1 6 ,6 - 4,8
ITÁ LIA 9,7 1 , 26 6,6 0,5 5,4
LUXE M B U RGO 1 2 ,9 1 ,64 1 2 ,9 2,0 6,7
HOLANDA 1 3,2 1 ,6 1
REINO U N I D O 1 3,8 1 ,8 2 29,7 2,9 6,8

PORTUGAL 1 1 ,8 1 ,4 2 1 5 ,6 1,1 7,3

EUR. 1 2 1 1 ,5 1 ,5 5 1 9, 8 1 ,7 5,8

FONTE: idem Quadro n-" 5

F I G U RA N." 7 - IND ICAD O R ES DE NUPCIALI DAD E


NA UNIÃO E U R O P EIA, EM 1 99 1

� � � � � � R � � � - �
PAISES

D i n a m a rca e no R e i n o Unido ( 2 , 5 e 2 , 9 por mil respectiva mente) e a menor o bserva d a


na Itá l i a (O,So/o por m i l ) se bem q u e exista o caso pa rticu l a r da Irlanda q u e a p resenta u m
va l o r n u l o p o r o d ivórci o não ser ofici a l me nte permitido. Portuga l tem u m va l o r d e 1 , 1
por m i l , m u ito p róx i m o d a m é d i a com u n i tária. Neste i n d i ca d o r, a pesa r dos efeitos d e
estrutura a s va riações não são m u ito acentuadas. Em sín tese, podemos concluir que na

19
J MANUEL NAZARETH

Europa dos Doze em vários países a fecundidade deixo u de estar relacionada com o
casamen to (será que estaremos peran te um fenómeno que se irá generalizar a todos os
países?). No presente momen to apenas podemos concluir que é o indicador demográfico
com maiores diferenças de nível na Europa dos Doze (Ver Figura n" 7). Por ou tro lado, se
as diferen ças en tre os n íveis de n upcialidade não são importan tes en tre os diversos
países da Europa dos Doze o mesmo não acon tece com o divórcio onde as diferenças
oscilam entre o e 2,9 por mil.

3. O E N V E L H ECI M E NTO D E M OGRÁFICO

A forma mais correcta d e a n a l isa rmos o envelhecim ento da população portuguesa ,


t a n t o a n í v e l g l o b a l c o m o a n í v e l regi o n a l e te m p o ra l, e d e c o m p a ra r m o s e s s e
enve l h ecí m ento c o m os níveis observados n o s d i ferentes países da U n i ã o Europeia é
através das p i râ m i des de i d a d es. Mesmo com o recu rso ao trata mento i n fo rmático é
u m t ra b a l h o m o roso e q u e n ã o se j u sti fi cava no p re s e n t e t ra b a l h o . A a n á l i s e d a
evolução t e m p o ra l e espacial d a s estrutu ras d e u m a população p o d e s e r feita a través
dos três gra n d es grupos etá rios conh ecidos pelo nome d e «grupos fu nciona is»: o gru po
dos j ovens (0- 1 9 a n os ou 0- 1 4 a n os), o gru po dos potenci a l m ente a ctivos ( 2 0 - 5 9 anos ou
1 5 -64 a n os) e o gru po dos i d osos (60 e mais a n os ou 65 e mais a n os). Devi do à idade da
reforma vari a r d e país para país, e persisti r a «velha polémica» - a idade da reforma
deve a u m e nta r ou d i m i n u i r? - os dois critérios de agru pame nto conti n u a m a existi r.
Ass i m , l i m i tá m o - nos a a p resenta r na Figu ra n2 9 a p i râ m i d e de i d a d es da p o p u l a ção
portuguesa s o b re posta com a p i râ m i d e d e idades da E u ropa dos Doze (idade a i d a d e e
e m e s t r u t u r a s r e l a t i v a s ) . N o Qu a d r o n"8 e n a F i g u ra n" 8 a p r e s e n ta m o s o
e n ve l h e c i m e n to d e m ográfico na Europa Co m u n i tá ri a em 1 9 9 1 , uti l i za n d o o segu n d o
c r i t é r i o d e c l a s s i fi c a ç ã o a p re s e n ta d o. A pa rti r deste agru pa m e nto ca l c u l á m o s v á r i o s

Q UA D R O N." 8 - O ENVELHECIM ENTO D E M O G R Á F I C O DA POPULAÇÃO


P O R T U G U ESA NO CONTEXTO DA UNIÃO E U R O P E IA, EM 1 99 1

Países Ofo Popul. Ofo Popul. lnd. Ratíos depend. (2)


- 15 anos + 65 anos Env. (1) J v T

B É LGICA 1 8,1 1 3 ,9 77 27 20 47
DINAMARCA 1 7,0 1 4 ,6 86 25 21 46
ALEM ANHA 1 6,2 1 3,9 86 23 20 43
G R É CIA 1 8,7 13 , 1 70 27 19 46
ESPANHA 1 9,4 1 2 ,6 65 29 19 48
FRANÇA 20, 1 1 3,1 65 30 20 50
IRLANDA 2 6,9 1 0,6 39 43 17 60
ITÁ LIA 16,3 1 3 ,7 84 23 20 43
LUXEMBURGO 1 7,5 1 2,5 71 25 18 43
HOLANDA 1 8 ,2 1 2 ,0 66 26 17 43
REINO U NIDO 19,1 1 4 ,7 77 29 22 51

PORTUGAL 20,9 12,2 58 31 18 49

El.JR. 1 2 1 8,2 1 3 ,6 75 27 20 47

EUR OSTA T, Statistiques Démographiques 1992, Luxemburgo; os dados em (1) e (2) [oram calculados: lnd.
Env.=65±-15 anos· 100; R.D.]. = -15115-64 anos'100; RDV=+65115-64 anos'100; R.D T.=R.D .].+RD. V.

20
A SITUAÇÃO DEMOGRÁFICA PORTUGUESA

F I G U RA N." 8 - O ENV ELHECIMENTO D E M O G RÁFICO


NA UNIÃO E U R O P EIA, E M 1 99 1

� � � � � � R � � � � �
PAISES

i n d i ca d o res d e envelhecim ento. G l o b a l m e nte fa l a n d o , a U n i ã o Europeia ti nha em 1 9 9 1


ce rca d e 3 46 m i l h ões d e h a b i ta ntes dos quais ce rca d e 6 5 m i l hões têm mais d e 6 0 anos
d e i d a d e e 47 m i l hões m a i s d e 65 a n os d e i d a de. Se uti l izarmos o critério d e a n á l ise -

1 5 a nos I 65 e + a n o s v e r i fi c a m o s q u e , n um c o n t e x t o d e e l e v a d o s n í v e i s d e
enve l h e c i m ento, sem co m p a ra ção com outras regi ões d o m u n d o o u com outras é pocas
d o passa d o , existem a lgumas d iferenças d e nível i nteressa ntes. N o que diz respeito ao
e n v e l h e c i m e n t o na b a s e , a A l e m a n h a e a I tá l i a s ã o de l o n g e o s p a í s e s m a i s
e n v e l h e ci d o s ( 1 6, 2 e 1 6 , 3 % d e j ovens) esta n d o bastante a ba i x o d a m é d i a d a U n iã o
Europeia ( 1 8 , 21J!o) e a I r l a n d a é o p a í s m a i s j o v e m (26,9% de jovens) o que d e m o nstra
cla ra m e nte o e feito d o declínio da fecu n d i d a d e n a Alemanha e na Itá l i a ( os mais ba ixos
d o m u n d o) n a estrutu ra etá ria quando comparado com o declínio ta rdio observa do na
I r l a n d a . Po rtuga l com u m va l o r d e 20,9% d e jovens tem a i n d a u m va lor lige i ra m e nte
superior á m é d i a d a E u ropa dos Doze mas d e i xou d e ser um dos países com a m a i s
e l evada proporção d e jovens.
N o que d i z respeito a o enve l h ecim ento no to po, os países mais enve l h e cidos são o
R e i n o U n i d o , a D i n a m a rca e a A l e m a n h a (com va l o res ron d a n d o os 1 4%) , a m é d i a da
U n i ã o Europeia é d e 1 3 ,6% e os m e nos envelhecidos são a Irlanda ( 1 0 ,6%) , a H o l a n d a
( 1 2 ,0%) e Po rtuga l ( 1 2 , 2 %) . De q u a l q u e r forma a a m p l itude das d i ferenças n o envelheci­
me nto no topo é bastante m e n o r do q u e a a m pl itude das d i ferenças obse rva das no
envel h e c i m ento na base.
Em sín tese, podemos dizer que Portugal é um país claramen te en velhecido e que
deixou de ser o país mais jovem da União Europeia aproximando-se com grande rapidez
(devido ao efeito combinado do declínio da natalidade e da emigração) da média da
Europe dos Doze. Tal não q u e r d izer que o p revisível a u m e nto na espera n ça d e vida não
te n h a efe i tos neste p rocesso d e natu reza complexa. Pelo contrário, num contexto de
b a i xos níveis d e fecu n d i d a d e e o n d e os movim entos migrató rios perdera m a i m por-

21
j. MANUEL NAZARETH

tâ ncia n u m é rica dos tem pos passados, é de p reve r q u e o futu ro do envelhecimento


sej a determ i n a d o cada vez m a i s pela evolução dos níveis d e m o rta lidade.
N a Figura n" 9 pode verifi ca r-se como, q u e r n a base q u e r no topo das p i râ m i d es d e
i d a d es , a s d i fe re n ça s e n tre P o rtuga l e a E u r o p a d o s Doze é m í n i m a . As d i fe r e n ça s
m a i o res s ã o a s observadas nas ge ra ções nascidas e ntre 1 970 e 1 98 5 e nas gerações
nascidas e ntre 1 9 3 0 e 1 9 5 5. Esta mos p e ra nte uma situação d e p i râ m i d es d e i d a d e s
i n e q u ivoca m e nte d u p l a m e nte envel hecidas.

FIGURA N." 9 - PIRÂMIDES DE IDADES DE PORTUGAL E DA EUROPA DOS DOZE EM 1991

ANO

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J\'\40

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0.6 0.2

fonte: EUROSTAT. Statistiques Démographiques 1 993, Luxemburgo, 1 993 (Pag. 40)

4. ESTRUTURAS FAM I L I ARES

A p e s a r de no p o n to a n t e r i o r já t e r m o s s i t u a d o a l g u n s a s p e ct o s d a fa m í l i a
p o rt u g u e s a n o c o n texto d a U n i ã o E u r o p e i a , c o m o p o r e x e m p l o , a n u p c i a l i d a d e , o
d ivórci o, o enve l h e c i m e nto d e mográfico e o declínio da fecu n d i d a d e achámos q u e , no
c o n texto d o c o nj u nto e m que este t ra b a l h o se i ns e r e seria i m p o rta nte tecermos
a lgumas consid e rações a d icionais sobre os aspectos soci odemográfi cos da fa mília e m
Portuga l situada n o contexto da U n i ã o Europeia.
Assi m , p a ra a l é m d a s i tua ção j á a p re s e n t a d a p a ra 1 9 9 1 , p o d e m o s o b s e rva r no
Q u a d ro nº 9 a fo rma co m o tem evo l u í d o a n u pc i a l i d a d e nos últimos tri nta a n os. A
te ndência é p a ra u m a inequívoca baixa generalizada dos níveis de n upcialidade sendo
Portugal o país da União Europeia com o maior n ível de n upcialidade. P o r é m , se a
i m p o rtâ n cia d o casa m e nto está e m b a i x a ge n e ra l iza d a , a idade média no primeiro
casamento, tan to nos homens como nas m u lheres, es tá em a lta acentuada, em
particular nos últimos 10 anos. Se e m 1 960, a i d a d e média no p ri m e i ro casa mento, na
U n i ã o Europeia, e ra de 26,9 a n os p a ra os h o m e n s e de 2 4 , 1 anos para as m u l h e res, e m
1 9 9 1 o s va l o re s s u b i ra m p ra t i ca m e n te t r ê s a n os . A o c o n trá r i o d a G ré c i a , E s p a n h a ,

22
A SITUAÇÃO DEMOGRÁFICA PORTUGUESA

Q U A D R O N ." 9 - EVOLUÇÃO DAS TAXAS DE N U PCIALI D A D E N O S P A Í S E S


DA U N I Ã O E U R O P E IA, NO P E R Í O D O 1 9 6 0 - 1 9 9 1

Taxas 1960 1970 1980 1991

B É LGICA 7,2 7,6 6,4 6,1


DINAMARCA 7,8 5,2 6,0 6,0
ALEMANHA 9,4 5 ,9 6,4 5,7
G R É CIA 7,0 6,5 6,1 6,1
ESPANHA 7,7 5 ,9 5,6 5,6
FRANÇA 7,0 6,2 5,0 4,9
IRLANDA 5,5 6,4 5 ,0 4,8
ITÁ LIA 7,7 5,7 5,4 5,4
LUXEMBURGO 7,1 5,9 5,8 6,7
HOLAN DA 7,8 6,4 6,1 6,3
REINO UNIDO 7,5 7,4 6 ,9 6,8

PORTUGAL 7,8 7,4 7,1 7,3

EUR. 1 2 7,8 6,3 6,0 5,8

FONTE: i d e m Q uadro n . " B

QUADRO N." 1 O - EVOLUÇÃO DA I D A D E M É D I A NO P R I M E I R O CASAMENTO


NA U N IÃO E U R O P E I A , P E R Í O D O 1 9 6 0 - 1 9 9 1

Países Homens Mulheres

1960 1980 1991 1960 1980 1991

B É LGICA 25,8 24,7 29,6 23,4 22,3 27, 1


DINAMARCA 26,0 27,5 33,8 2 2 ,9 24,8 31,1
ALEMANHA 2 5 ,9 26,1 3 1 ,8 24,4 23,4 2 8 ,9
G R É CIA 28,4 27,1 28,8 24,4 22,3 24,5
ESPANHA 28,8 25,8 2 8 ,0 26,1 23,4 25,5
FRANÇA 26,1 25,2 30,5 23,5 2 3 ,0 28,1
IRLANDA 30,8 26,1 28,6 27,1 24,1 26,6
ITÁ LIA 28,6 27,2 29,3 24,8 24,1 26,1
LUXEMBURGO 2 5 ,9 2 5 ,9 3 1 ,0 2 3 ,0 2 3 ,0 28,2
HOLANDA 26,6 25,4 31 '1 24,3 23,1 28,4
R E I N O U NIDO 25,7 25,2 27,7 23,3 2 3 ,0 25,6

PORTUGAL 2 6 ,9 25,1 2 8 ,0 24,8 22,6 25,3

EUR. 1 2 2 6 ,9 2 5 ,9 29,5 24, 1 23,3 2 6 ,9

FONTE: MERMET G., Euroscopie, Ed. Larousse, Paris, 1 992; EUROSTAT, Statistiques Démographiques 1 992, Luxemburgo

Irlanda e Itá l i a (que já ti n h a m va l o res el evad os) Po rtuga l não é uma excepção e pa rti l h a
com os resta ntes p a íses e u ro p e u s da t e n d ê n c i a a ltista, T u d o i n d i ca assi m , q u e u m
conj u nto d e fa ctores soci a i s e eco n ó m i cos estã o a fazer com q u e os nossos jovens
d i fi r a m cada vez m a i s no tempo o mome nto do casa m ento.

23
j. MANUEL NAZARETH

No Qua d ro n" 1 1 a p resenta mos a evolução dos níveis de d ivórcio ta mbém nos ú lti mos
trinta anos e verificamos que com excepção da Irlanda (onde o divórcio não é permitido) em
todos os países da União Europeia o divórcio praticamente quadriplicou nos últimos trinta anos.

Q U A D R O N . " 1 1 - EVOLUÇÃO DA TAXA B R U TA DE D I V Ó R C I O ,


N O P E R Í O D O 1 9 6 0 - 1 9 9 1 , NA U N IÃO E U R O P E I A , EM P E R M ILA G E M

Países 1960 1970 1980 1991

B E LGICA 0,5 0,7 1 ,5 2,1


DINAMARCA 1 ,5 1 ,9 2 ,7 2,5
ALEMANHA 0,9 1 ,3 1 ,6 2,2
G RÉ CIA 0,3 0,4 0,7 0,6
ESPANHA 0,0 0,0 0,3 0,6
FRANÇA 0,6 0,8 1 ,5 0,9
- - - -
IRLANDA
ITA LIA 0,0 0,0 0,2 0,5
LUXEM B U RGO 0,5 0,6 1 ,6 2 ,0
HOLANDA 0,5 0,8 1 ,8 1 ,9
REINO UNIDO 0,5 1,1 2,8 2 ,9

PORTUGAL 0,1 0, 1 1 ,3 1,1

EUR. 1 2 0,4 0,7 1 ,3 1 ,7

FONTE: idem Q uadro n . " 1 o

u m a outra i n formação i nte ressante é a n á l ise da repa rti ção das Fa mílias segu ndo a
d i m e nsão. Os isolados, ou sej a , as fa mílias a penas com u m a pessoa, re presenta m ce rca
de 2 5 % das Fa m í l i a s da U n i ã o Europeia. As situações extremas são a D i n a m a rca com
56,9% d e pessoas a viverem isoladame nte e Espa n h a e Portuga l com pouco mais de
1 0%. As fa m í l i a s com 2 pessoas representa m 2 8 , 3 % d o tota l s e n d o a d is p e rsão d e
va l o res pouco i m portante.

Q U A D R O N." 1 2 - R E PARTIÇÃO DAS FAM ÍLIAS S E G U N D O A D I M E NSÃO


NA U N I ÃO E U R O P E IA, E M 1 9 9 1 , E M PECENTA G E M

Famíl ía s com
Países
1 pes. 2 pes. 3 pes. 4 pes. 5+pes

B É LGICA 23,6 30,0 20, 1 1 6 ,9 9,4


DINAMARCA 5 6 ,9 2 3 ,7 8 ,9 8,2 2,2
ALEMANHA 34,4 30,0 1 7, 2 1 2 ,9 5,8
G R E CIA 1 6 ,0 2 5 ,9 20,3 24,2 1 3 ,5
ESPANHA 10,1 2 2 ,7 20, 1 22,5 24,6
FRANÇA 26,6 30,0 1 8 ,0 1 5 ,7 9,7
IRLANDA 1 8,5 2 1 ,4 1 4 ,6 1 6 ,4 29,2
ITA LIA 21,1 24,3 22,5 2 2 ,0 1 0,0
LUXEMBURGO 23,1 29, 1 20, 1 1 7,9 9,7
HOLANDA 26,2 30,3 1 5 ,2 1 8 ,9 9,3
REINO UNIDO 24,4 32,3 1 6 ,6 1 7,5 9, 1

PORTUGAL 1 2,2 24,3 22,6 2 2 ,0 1 8 ,9

EUR. 1 2 25,3 28,3 1 8 ,4 1 7, 5 1 0,4

FONTE: idem Q uadro n." 10

24
A SITUAÇÃO DEMOGRÁFICA PORTUGUESA

Se j u nta rmos estas duas i n formações verifi ca mos q u e na D i n a m a rca ce rca de 80%
das fa m í l i a s não têm u m a ú n i ca cria nça. Esta situação contrasta viole nta m ente com o
o b s e rva d o e m P o rtuga l o n d e temos 36% de fa m í l i a s n esta situação. O utro a s pe cto
curioso res i d e no fa cto d e as fa mílias com mais d e 5 pessoas só terem dois dígitos em
p e rcentagem n a G récia, Espa n h a , Itá l i a , Luxe m b u rgo e Po rtuga l.

Q U A D R O N." 1 3 - TIPO DE M O D ELO FAMILIAR P R E F E R I D O


NA U N IÃO E U R O P E I A E M 1 9 9 1

RESPOSTAS DOS HOMENS

PAISES N." 1 N.2 N." 3 N." 4 S.R. TOTAL

B E LGICA 28 36 24 9 3 1 00
DINAMARCA 51 28 12 6 3 1 00
ESPANHA 46 20 28 5 1 1 00
FRANÇA 43 29 25 2 1 1 00
G R E CIA 38 29 28 4 1 1 00
I R LANDA 31 22 38 5 4 1 00
ITÁ LIA 36 31 30 2 1 1 00
LUXEMBURGO 19 29 43 4 5 1 00
HOLANDA 42 28 24 4 2 1 00
ALEMANHA 25 35 29 4 7 1 00
REINO U NIDO 51 27 19 2 I 1 00
PORTUGAL 40 23 29 6 2 1 00

RESPOSTAS DAS M ULHERES

PAÍSES N." 1 N.2 N." 3 N." 4 S.R. TOTAL

B E LGICA 39 26 26 7 2 1 00
D I NAMA RCA 55 24 23 5 3 1 00
ESPANHA 48 18 28 4 2 1 00
FRANÇA 47 28 22 2 I 1 00
G R ÉCIA 48 29 18 3 2 1 00
I R LANDA 36 18 40 5 I 1 00
ITÁ LIA 47 30 21 1 I 1 00
LUXEMBURGO 21 31 36 8 I 1 00
HOLANDA 44 28 29 3 2 1 00
ALEMANHA 27 33 34 3 3 1 00
REINO U NIDO 46 34 17 2 1 1 00
PORTUGAL 46 24 21 6 3 1 00

Resposta nY 1 - Os d o i s conj uges têm uma p rofissão q u e os a bsorve igua l m e nte; as


tarefas d o mésticas e a assistê ncia aos fi l h os é pa rti lhada igua l m e nte.

Resposta n." 2 - A m u l h e r tem uma p rofissão que os a bsorve d o que o h o m e m e


assume a maior pa rte das tarefas domésticas e da assistência aos fi lhos.

Resposta n.º 3 - Só o h o m e m exe rce uma p rofissão e a m u l h e r ocupa-se da casa .

Resposta n." 4 - Outras respostas

25
j. MANUEL NAZARETH

B I B L I O G RA F I A

CONSEIL D E L'EUROPE, ÉvoJution Démographique récen te en Europe et e n Amériq ue du Nord,


Stra s b o u rg, 1 9 9 2 .

E UROSTAT, Statistiques Rapides - Population et Conditions Sociales - 1 992-2, Luxe m b u rgo, 1 9 9 2 .

EUROSTAT, Statistiq ues Démographiques 1 993, Luxe m b u rgo, 1 9 9 3 .

M E R M ET G., Euroscopie, Ed. Larousse, Pa ris, 1 9 92.

PUMAIN D., Spatial ana/ysis and popuJation dynamics, John L i b bey Eu rotext/INED, Lond res, 1 9 9 1 .

26
A G RANDE VIRAG EM DO PRE S ENT E
E SUAS CONS E QUÊNCIAS :

D E P ORTUGAL RU RAL
PARA P O RTUGAL U RBAN O

François G uichard
(CENPAICNRS, Bordéus)

o P o rt u ga l do Esta d o N o v o e ra p a ra d i g m a da ru ra l i d a d e , p e l o m e n os de d u a s
m a n e i ras: na rea l i d a d e o bj e ctiva e na i magem q u e o s seus d i rigentes ente n d i a m d e l e
p roj e cta r, a o mesmo tempo no exteri o r e no i nterio r d o país.
Era - o na rea l i d a d e o bj e ctiva , na m e d i d a e m que a população u rbana conti nuava a
s e r n i ti d a m e nte m i n o ri tá r i a , c o m o s e m pre ti n h a s i d o até então. A l é m d i sso, estava
concentrada em p o u cos n ú c l eos, q u a s e todos d e d i m e nsões red uzidas. Era m a fi n a l
p o u c o v i s í v e i s n o c o nj u n to d a p a i sa g e m n a c i o n a l , s o b re tu d o n a q u e l e t e m p o d e
d es l ocações l e ntas e d i fíceis, e m q u e e ra m n e cessá rias m u i tas h o ras, e m com b o i os
antiquados, para ir e vir de Lisboa ao Porto, ou para chegar da fronteira a qualquer cidade.
E e ra - o na i m a g e m p roj e cta d a . I m a g e m e n a l t e c i d a de um p a í s cuj a v i rtu d e
fu n d a m e nta l devia resi d i r n a fi d e l i d a d e aos va lores, tra d i ções e comporta m entos mais
profu n d a me nte e n raizados, no a p ego á te rra nata l e n u m a civi lização cristã preservada
das d esagrega ções sócio-cultura i s , que os mesmos d i rigentes achavam conco m i te ntes
das gra n d es conce ntrações u rbanas mode rnas. Nada e ra mais s i m b ó l i co e gen u í n o d o
q u e a torre da igreja a l d e ã , vista d o peque níssi mo casal o n d e a fa mília se d e d i cava a
te m p o i nte i ro á sua auto-suficiência. Ass i m se preservava a autonomia e a harmonia
h i e rá r q u i ca i nterna à custa d o d u ro e roti n e i ro tra b a l h o d e cada u m , sob a p rotecçã o e
ga ra n t i a d o p á roco r u ra l , s í m b o l o d a s estruturas d e e n q u a d ra m e n to soc i a i s m a i s
com p rovadas. Era o exemplo q u e devia segu i r a pátria.
Com ta l h e rança, não é d e estra n h a r a i m p o rtâ ncia - ta lvez m u i to mais cultural e
psicol ógica do q u e eco n ó m i ca - q u e chegou a ati ngi r, d u ra nte os p ri m e i ros anos q u e se
segu i ra m ao 25 d e Abri l , a p ro b l emática da tra nsformação rura l . Sobretudo através da
reforma a grá ria, que foi e ntão p e d ra a ngular d o d e bate nacional.
H oj e e m dia, mais d e vinte a nos volvidos sobre a " revo l ução dos cravos", não só
esta p e rt e n c e à h i stó ria co m o p a ra a h i stória e n trou a reforma agrá ri a , com suas
espera n ças, d e s i l usões e fra cassos. Talvez seja s i m b ó l i co do q u e está a acontecer com a
vocação agrícola d e Po rtuga l no seu conj u nto, a respeito da q u a l ca da vez menos se fa la
d e produção e re nta b i l i d a d e - como se já estivesse perd i d a a bata l h a da modernização,
quando não da m e ra sobrevivência - e cada vez mais d e salvaguardar o patri m ó n i o
s ó c i o - c u l t u ra l e a m b i e n ta l . É só ver, m e ro e x e m p l o e n tre m u i tos, a m a n e i ra c o m o
evo l u i u e m vi nte a n os a tó n i ca d o d e bate e m torno da ba rragem d e Alqueva , desde a
salvação do Alentej o gra ças à rega , d o m i na nte nos anos setenta, até ao sonho de u m
futu ro tu rístico rison h o , quase exclusivo n o s d iscursos m a i s recentes.
Ora, turismo para q u e m ? Salvagua rda r o espaço rura l para quê, senão pa ra que d e l e
possa m usufru i r os cita d i nos ?
Na rea l i d a d e , ta l evolução não surpre e n d e q u e m verifi ca r a d i m i n u ição acelerada da

27
FRANÇOIS GUICHARD

i m portâ ncia eco n ó m i ca e soci a l do secto r primário em Portuga l . A sua quota -pa rte na
população a ctiva nacional ca i u d e 44 % e m 1 960 para 2 2 % na a ltura da a d esão á CEE,
e m 1 9 86, e pa ra menos d e 1 2 % e m 1 99 2 1_ E ntre estas ú ltimas duas datas, ou seja e m
a p e n a s m e i a d ú z i a d e a n os, a sua pa rti c i p a ç ã o n o p rod uto i n terno bruto q u ase se
reduziu para meta d e , d e u n s 9 para u n s 4 , 8 %. Por si só, o dese q u i líbrio entre a m bas a s
p ro p o rções - a fi n a l a i n d a ta ntos tra b a l h a d o res, p a ra t ã o pouca riqu eza p r o d u z i d a -
co m p rova a s e n s a ç ã o de q u e , com e fe i t o , n ã o se trata no c o nj u nto da a cti v i d a d e
eco n ó m i ca m a i s d i n â m i ca ...
N o d ecorrer dos ú ltimos 1 5 - 2 0 a n os, ta rdia mas ra p i d a m e nte, Po rtuga l v i rou d e país
rura l p a ra país urbano. E m b o ra não te n h a s i d o o mais espera d o , é com ce rteza u m dos
m a i s nítidos sinais da verd a d e i ra e u ropeização da sociedade nacional - bem como dos
seus p roblemas, a ctu a i s e previsíveis : as crises portuguesas mais agudas do porvi r já
não serão rura i s , mas s i m u rbanas, ta l como acontece nos principais países parcei ros.

1 - A VITÓRIA DA CI D A D E

U m a urbanização tard ia, mas conquistadora

D e s t a t r a n s fo r m a ç ã o fu n d a m e n ta l , n e m s e m p re s ã o os c e n s o s os m e l h o re s
i nstru m e n tos d e m e d i d a . A s ta xas de u rba n ização q u e a pa rti r d e l es fo ra m ca lculadas
são i m pe rfeitas, várias, contra d itórias entre s i , e m resu mo pouco satisfatórias, co m o
a l i á s o r e co n h e ce m fa c i l m e nte os s e u s p r ó p r i o s a u tores. É q u e s e m pre fo i d i fí c i l
esta b e l ecer u m critério ú n i co de defi n i ção para "agl omerações u rbanas" n u m país o n d e
a s fo rmas d e povoa m e nto são tã o contrastadas. Como e n contra r u m a regra co m u m
q u e seja a p l i cável a o m e s m o te mpo à extrem a dispersão do Noroeste ou da Madeira,
ca racterística da Europa húmida e verdeja nte, e à concentração máxima das povoações
ru ra i s a l e ntej a n a s , tã o parecidas às suas h o m ó l ogas da bacia med iterrâ n ica, desde a
Espa n h a vizi n h a até ao M é d i o oriente?
N este s e n t i d o , conti n u a pe rfe i ta m e nte vá l i d a a d u a l i d a d e tã o bem rea lçada p o r
O rl a n d o R i b e i ro, j á va i lá m e i o s é c u l o , e n tre Po rtuga l "atlântico" e " m e d ite rrâ n e o " 2 ,
mesmo se já n ã o é a fra ctu ra principal do espaço português ... e ta lvez até n u nca o fo i .
O ra u m Estad o moderno, seja ele q u a l fo r, sendo d o n o da estatística - ou seja d o
saber sobre si p r ó p r i o , e por i s t o m e s m o de u m i nstru me nto de poder i m porta ntíssi m o
- n u n ca gosto u d e diversificar o trata m ento q u e nesta matéria , ta l c o m o e m q u a l q u e r
outra , a p l ica a o seu te rritó rio. S e r i a como atentar à santíss i ma u n i ci d a d e da nação.
Po rtuga l não escapa à regra; o q u e não deveria i m pe d i r reflexão e ensaios. No enta n to
fora m pouco fre q u e ntes 3

ou será q u e a u n i d a d e da pátria é tã o frágil q u e poderia ser posta em perigo por


u m a m e ra a d a ptação dos i nstru me ntos de m e d i d a ás rea l i d a des regi o n a i s - ta l como o
poderia ser p o r u m a regi o n a l ização efectiva ? No caso português, nem uma n e m outra
a m ea ça parecem verda d e i ra m e nte cred íveis a o observa d o r fo rense.
R e s u l ta d i sto t u d o q u e , co n fo r m e o c r i t é r i o e s co l h i d o , a taxa de u rb a n i z a ç ã o
osci lava , n a a ltu ra d o censo d e 1 9 8 1 , e ntre u n s 2 9 e uns 5 5 %. No p ri m e i ro caso, só
e ra m c o n te m p l a d a s a s a g l o m e ra ções - a cuj a d e fi n i çã o a l i á s fa ltava c l a reza , p e l o

28
A GRANDE VIRAGEM DO PRESENTE E SUAS CONSEQUÊNCIAS

m e n os i n formativa - com u m m í n i m o de 1 O 000 h a bi ta n tes, e as sedes de d istritos


eventua l m ente mais pequenas. Era a d e fi n i ção clássica d o próprio orga n ismo especia­
lizado na matéria, o I n stituto Naci o n a l d e Estatística. N o segu n d o caso, à i n i ciativa d o
G a b i n ete d e Est u d o s d o M i n isté r i o d o P l a n e a m e n to e Ad m i n istra ç ã o d o T e r r i t ó r i o
( G E PAT) , o c o n c e i t o e n v o l v i a u m a l a rg a p e r i fe r i a ( 5 k m d e ra i o ) e m to r n o d e
a gl o m e ra d o s e s co l h i d o s n ã o s ó c o n f o r m e o s e u m e ro p e s o p o p u l a ci o n a l , c o m o
igu a l m ente através d e a lgumas fu nções exercidas, m u ito e m bora ta m b é m ten h a m s i d o
pouco divu lga d o s os critérios a d o pta dos.
Se o ptássemos por d e fi n i ções mais correntes n o resto da E u ropa - as dos 2 000 ou
dos 5 000 h a b i ta n t e s a g l o m e ra d o s - a o s c i l a çã o I i m i t a r-s e - i a a uns 4 4 - 4 8 % de
p o p u l a çã o u r b a n a : o q u e , q u a nto a m i m , ta l v e z fosse a m e l h o r a p ro x i m a çã o da
rea l i da d e d e e n tão 4 .
A m o ro s i d a d e d a d i v u lga ç ã o d o s dados co m p l etos d e 1 9 9 1 i n fe l i z m e n t e não
permite ter ainda u m a i d e i a bem clara da evo l u ção d o fen ó m e n o n o últi mo decé n i o
i nterce nsitário. A l é m d isso, p a rece q u e persistem as mesmas d i ficuldades e m a ceitar
u m crité rio d e cá lculo m i n i ma mente co nsensual na matéria. No enta nto, todos os s i n a i s
co nvergem p a ra d a r a ente n d e r q u e desta v e z , o p o n t o m é d i o da osci lação u ltra passou
os 5 0 %.
D e n t ro d e s t e s s i n a i s , h á q u e r e a l ç a r o c r e s c i m e n t o a c e l e ra d o e i n é d i to d o s
agl o m e ra d o s d e 2 0 0 0 para 1 O 0 0 0 h a bita ntes, ta l como a expansão física de m u i ta s
urbes d e d i mensão m é d i a , a c i m a dos 2 0 000 residentes: trata-se a l iás d e rea l i da d es
sensiveis na ocasião de q u a l q u e r d esl ocação na p rovíncia.
O utro sinal, m a i s n otável a i nd a , é a rá pida u rba n ização de facto d o modo de viver
de u m n ú mero cresce nte de " ru rbanos", ou sej a das pessoas que, embora residam fora
dos l i m ites visíveis da mancha aglomerada contí n u a , nela tra b a l h a m ou dela d e p e n d e m
d e m a n e i ra cada v e z m a i s estrita. A t é aos a nos setenta i n clusive, densida d es superiores
aos 200 o u até aos 500 h a bitantes ao km2 p o d i a m ser ge n u i n a m e nte rurais na quase
tota l i d a d e da M a d e i ra ou n o Minho centra l . Hoje e m d i a é ca da vez m a i s duvidoso. Em
certas á reas d o país, com parti cu l a r relevo n o Noroeste, há u m a urba nização fu ncional
d o teci d o rural ou s e m i - ru ra l preexistente, m a i s rá pida d o que a tra nsformação visual
da pa isage m .
Por i s s o pa rece l egíti mo a posta r para o a n o 2000 n u m Po rtuga l c o m ce rca de d o i s
t e r ç o s d e p o p u l a çã o u rb a n a , o u p e l o m e n o s d e p o p u l a ç ã o c uj a v i d a d i á ri a s e rá
orga n izad a de m a n e i ra quase exclusiva pelas cidades.

Da bipolarização para uma m e tropolização linear ?

H i p ótese correlativa seria a segu i nte : não se trata apenas de uma u rban ização mas
s i m , e m m u i tos casos, d e u ma metro p o l ização d i recta . D e u m a co n q u i sta gulosa e
d e s e n fr e a d a d o e s p a ç o , d a s o c i e d a d e e d a s m a n e i ra s d e v i v e r p e l o s m a i o re s
a gl o m e ra d o s d o l i to r a l : L i s b o a , o Po rto e s e u s p ro l o n ga m e n t o s t e n ta c u l a re s q u e

29
FRANÇOIS GU/CHARD

a co m pa n h a m , q u a n d o não a ntece d e m , as novas autoestradas e vias rá pi das. Processo


este que p rovoca a sate l izaçã o , p rogressiva mas e m vias d e se acelera r , das pouca s
c i d a d e s m é d i a s d o país.
O s m o d o s e o r i t m o d e sta e vo l u çã o c h ega ra m ao p o n t o de P o rtuga l esta r a
c o n h e c e r a g o r a , passa d a s u m a ou d u a s gera ções, u m p rocesso q u e pa rece m u ito
s e m e l h a nte a o q u e c o n heceu a Fra n ça nas décadas de 1 9 5 0 e 1 9 6 0 , e q u e l evou a lguns
observad o res a toca r a rebate contra o pe rigo de " Pa ris e o deserto fra ncês". Só que
aqui a conce ntra çã o faz-se e m volta d e dois pólos u rbanos m a i o res e m vez de u m só;
pólos riva is com ce rteza , e por isso mesmo dando a i m p ressão de ga rantir u m e q u i líbrio
m i n i m a l na d i n â mi ca espaci a l d o país.
Pelo m e n os , até agora fo i a ss i m . Mas se fizéssemos um p o u co d e p rospectiva?
Desde a conclusão da a u toestra d a Porto-Lisboa, n o i n ício d o actu a l decé n i o , e mais
ainda com os seus p rolonga m entos mais recentes, ta nto p a ra Sul e m d i recçã o a Setú bal
e a o Alentej o m a i s próx i m o , como pa ra N o rte e Nordeste rumo a Braga e Amara nte,
m u l ti p l i ca m -se fré m itos d e u m a evolução que te nde para u m a a proxi mação i n é d ita das
duas metrópoles. Não nas paisagens, claro está ; mas s i m nas fu ncio n a l i dad es.
com efeito, a m ba s começa m a tra nsferir parte das suas fo rças h u manas e econó­
m i ca s p a ra n ú cleos u r b a n os i nte rmédios ou situados na mesma linha axial, q u e são
agora m u ito mais a cessíveis, e o n d e os custos de i m pla ntação são compara tiva mente
cada vez m a i s va n taj osos. Por enqua nto isto acontece em d i recção a Braga e Ave i ro por
u m l a d o ; a Setú b a l , Sa nta ré m e até Leiria por outro. E a ma n h ã para onde ?
Porq u ê ta l desconce ntra ção? É q u e a própria saturação das á reas metro p o l i ta nas
l h e s torna d i fícil conti n u a r a assu m i r d i recta m ente todas as fu n ções e a a cu m u l a r sem
l i m i ta ç õ e s h o m e n s e a cti v i d a d e s , a i n d a que só nas suas perifierias mais i m ed i a ta s ,
co m o e ra o c a s o até e n tão. Mas a s u rbes m a i o res conserva m o controle destas forças
de t ra b a l h o , de p r o d u ç ã o , de c o m e rc i a l i za ç ã o , de p resta ç ã o de s e rv i ç o s de n í v e l
i nterm é d i o , d e fo rmação a t é , começa n d o a repa rti-las doutra m a n e i ra , enqua nto elas
próprias a c e n tu a m a s suas especi a l i za ções nas actividades d o sector terci á ri o agora
chamado de "superi o r" : os níveis opera ci o n a i s m a i s próxi m os do topo decisi o n a l .
o q u e está a esboça r-se d esta m a n e i ra pode s e r , a p razo mais ou m e n os cu rto, a
c o n s t i tu i çã o d e u m e i x o m e t ro p o l i ta n o ú n i co , cuja força , c o m p l e m e n ta r i d a d e e
i n tegra ção já vai cresce n d o . Eixo l i to ra l e m e ri d i a n o , cujas p e r i ferias são ao mesmo
te m p o i nteriores e atlânticas (ilhas Adjace ntes).
S e rá q u e esta te n d ê n c i a p o d i a te r s i d o contra ri a d a , tão gra n d e e ra a d i fe re n ça
s e cu l a r e n tre a fo rça a tractiva das d u a s g ra n d e s a gl o m e ra ções e a s fra q u ezas do
resta nte te cido u rba n o nacional ? Talvez não. Já há ce rca de uma geração que se tomou
consci ência suficiente m ente aguda dos d eseq u i líbrios espaci a i s portugueses p a ra d a r
i nício a u m a política de o rd e n a m e nto territoria l : l e m b ra-se que as entã o d e n o m i nadas
C o m i s s õ e s de P l a n i fi c a ç ã o R e gi o n a i s fo ra m i n stitu í d a s e m 1 9 6 9 , n o s fi n a i s d e u m
decé n i o d u ra nte o q u a l s e ti n h a m esboçado o s p ri m e i ros esforços coerentes de refl exão
na matéria 5 ora, por mais úti l , m e ritório e necessá rio q u e te n h a sido o p rocesso na
a l t u ra d e s e n ca d ea d o , n ã o pa rece a fi n a l ter consegu i n d o tra v a r sign i fi cativa m e n te a
aceleração desta d i n â m i ca das d esigua ldades. Pelo m e n os é o q u e dão a ente n d e r o
q u a d ro e a figu ra q u e se segu e m ...

30
A GRANDE VIRAGEM DO PRESENTE E SUAS CONSEQUÊNCIAS

A repar t i ç ã o regi onal da p o pul a ç ã o p or tu guesa e sua e v olu ç ã o recente

Conjunto População % de evolução Densidade


regional residente 1 9 9 1 1 96 0170 1 97018 1 1 98 119 1 (hab.tkm2)
Norte (8) 3 4 7 9 000 0,7 + 1 2 ,9 + 1 ,8 1 63
do qual : i nterior (2) 474 000 20,5 + 0,3 1 1 ,2 39
l itora l ( 6 ) 2 999 000 + 4,9 + 1 5 ,6 + 4,3 333
do q ual , Grande Porto ( 1 ) 1 1 68 000 + 1 1,1 + 20,4 + 4,5 1 433

centro ( 1 0) 1 7 2 2 000 1 1 ,3 + 5 2,4 74


do qual : interior (7) 8 2 0 000 19,1 4,3 6,9 46
l i toral (3) 902 000 + 0,5 + 1 6 ,3 + 2,3 1 60

Lisboa -Va l e do Tejo (5) 3 2 9 2 000 + 12 + 2 7, 9 + 0,9 250


d o qual : Grande Lisboa (2) 2 472 000 + 23,2 + 34,6 + 1 ,4 960

Alentejo (4) 5 4 3 000 22,4 2 6 21


A lgarve ( 1 ) 3 4 1 000 1 4,7 + 20,5 + 5,5 68

Portuga l conti nenta l (28) 9 371 000 2,6 + 15 + 0,3 1 06

Madeira ( 1 ) 2 5 3 000 6,6 + 0,7 o 318


Açores ( 1 ) 2 3 8 000 16 13 2 1 02

Tota l Portuga l (30) 9 8 6 3 000 3 + 14 + 0,3 107

Entre parênteses : número d e sub-regiões conforme a nomenclatura europeia d e unidades estatísticas (NUT III)

A distribuição da população portuguesa em 1991 : a preeminência do eixo litoral

Densidade �)
O 21 a 46

tsJ ,68 a 102


-- 107 (mldia nacional)
o 160
11 223 a 3 18

• 960
• 1 433

-- - Au� existente ou projectada

• Cidades mldias (100-150 000 habitantes)


ld
,- Alentejo
I
I } Metrópoles (>1 milhão habitantes)
Madeira

Funchal

A represenlaçdo de cada regilJo I proporcional à sua supuflcie

2 - A L G U N S M OT I V O S DA M U D A N ÇA

Dentro dos fen ó m enos q u e são, ao mesmo tem p o , ra ízes e frutos d esta m uta ção
ca p i ta l , p a rece n e cessá r i o rea l ça r a q u i três, cuj a i m p o rtâ n c i a ta lvez sej a fu l c ra l : a

31
FRANÇOIS GU/CHARD

tra nsformação da m o b i l i d a d e espaci a l , a escola rização gen e ra l iza d a , e a modernização


a c e l e ra d a d a e co n o m i a . Eles estão a l iás estrita m e n te i nte r l i ga d o s e todos res u l ta m ,
m a i s ou menos d i recta m e nte, da d u p l a a be rtura nacional : a política , i n i ciada e m 1 9 7 4 ,
e a económica, s i m bo l iza da pela a d esão á CEE em 1 9 8 6 .

A transformação da mobilidade espacial

Há c e rca de v i n te a n os q u e a e m i g r a ç ã o d e i x o u de s e r a v i a p r i v i l eg i a d a d e
esco a m e nto para o s cró n i cos excede ntes populacionais, e a solução principal para as
d i fi c u l d a d es eco n ó m i cas nacionais.
Já n o passad o houve fases e m q u e a corrente e m igratória pa recia esgota da. Mas fo i
q uase s e m p re por m otivos conj u ntu rai s exte rnos, guerras ou crises i n te rnaci onais. E ta l
sem pre pode acontecer. Aliás, o fi m da última gra n d e fase de pa rti das esteve outra vez
d i r e cta m e n t e l i g a d o à c r i s e e n e rg é t i c a m u n d i a l , a p a rt i r de 1 9 7 3 , e a o fe c h o
consecutivo, o ra bruta l , ora p rogressivo, dos principais países de desti no. Além d isso,
n i ngu é m é ca paz d e a d i v i n h a r a o ce rto o q u e acontecerá uma vez concretizados os
a cordos d e Schengen sobre a l ivre circulação das pessoas de ntro da U n i ã o Europeia :
por isso mesmo há vários a n os que se a rrasta a sua a p l icação efectiva .
Pa rece n o e nta nto trata r-se desta vez de u m a m utação de outra natu reza , com
motivos estrutu ra i s de ordem nacional suficientemente fortes para d a r a i m p ressão que
esta mos pera n te u m a tra nsformação de fu ndo. Na fase mais aguda dos a n os sesse nta e
i nícios dos a nos setenta , o fl uxo das partidas a n uais ultra passava l a rga me nte a centena
de m i l h a res ; e a n tes disso, desde gerações segu idas, ra ra m e nte ti n h a sido i n ferior aos
3 0 000. Era tema p r i o ritário de i nq u i etação naci o n a l , sobre o qual i n c i d i u vastíssi m a
b i b l i ogra fia 6 O r a , a pa rti r d o i n ício dos a n o s o i tenta , este fl uxo esta b i l izou-se p a ra
a p e n a s u m a s 2 0 0 0 0 s a í d a s a n u a i s , d a s q u a i s m a i s d e m e ta d e e m m i gra ç õ e s
te m p o rá rias, q u e corres p o n d e m na verd a d e a i d a s e voltas peri ó d i cas.
Mais a i n d a : o bala nço migratóri o global até se i nverteu, a o po nto de passa r a ser
regu la rmente positivo , em proporções que parecem tota l m e nte i n é d i tas. Bem o i l ustra
a evolução das temáticas agora privilegiadas pelos especi a l i stas. Depois das pa rtidas, e
um pouco m a i s ta rd e da vida lá fora , eles d e d i ca m-se hoje em d i a em prioridade aos
reto rnos e até à i m igração. Pa ra Po rtuga l regressa m agora , de ano para ano, ce rca de
duas vezes m a i s d e a ntigos e m igrantes, na m a i o ria i d osos, d o q u e o país deixa pa rti r d e
jovens. N u n ca n o passa d o este fe n ó m e n o chegou a atingir ta m a n h a i m po rtâ ncia. Por
u m l a d o , é evide nte q u e a d istâ n cia não fa ci l i tava o regresso, já q u e quase todas as
pa rti das eram n a altura p a ra desti nos tra nsoce â n i cos, e q u e não se ti n h a entrado na e ra
do avião. Mas por outro l a d o , verd a d e era q u e naquelas épocas (com rea lço particu l a r
pa ra o período 1 8 7 0 - 1 9 3 0) , o p a í s nata l não tinha conheci d o , n o t e m p o de uma vida d e
tra b a l h o , p rogressos materi a i s t ã o especta c u l a res q u e o tornassem devera s atra ente.
C o m toda a ce rteza , é d este ponto d e v ista que a m u ta ç ã o recente m a i s se p o d e
justificar.
os p r e ce d e n te s ca n d i d a t o s à pa rti d a e ra m q u a s e todos r u ra i s d e s p ro v i d o s d e
q u a l q u e r fo rmação p rofiss i o n a l , a n ã o s e r a constru í d a com a própria experi ê n cia d a
casa e d o ca m po. o ra esta m u ito pouco ia servi r lá fora , já q u e a m a i o ria d o s e m p regos
possíveis fo ra m e n co n tra dos n a construcçã o civil ou n a i n d ústr i a . Pelo contrá r i o , os
e m i gra ntes a ctu a i s são m a i o rita ri a m e nte u rbanos , e de ano para ano mais q u a l i fi cados.

32
A GRANO E VIRAGEM DO PRESENTE E SUAS CONSEQUÊNCIAS

Por outro l a d o , os a ntigos ca m p o n eses q u e regressa m na idade da refo rma ten d e m


ca da v e z m a i s a opta r por resi d i r nas vilas e b u rgos das s u a s regiões d e orige m , e m vez
d e regressa r à a l d eia isolada ou a o casa l esco n d i d o que ti n h a m deixado, a m bos desta
vez a m e a ça d os p o r um a ba n d o n o d e fi n itivo. A l i á s , já t i n h a s i d o na p e r i feria d estes
agl o m e rados m a i s a n i mados que eles ti n h a m construído essa casa nova que a bsorveu
gra n d e pa rte das mod estas poupanças a cu m u ladas n o decorrer d e ta ntos a nos d e d u ro
t ra b a l h o e d e fra c a s co n d i ç õ e s d e v i d a . B e m à b e i ra d a e s t ra d a e p r ó x i m o d e
comodidades, com é rcios e serv i ços d e natu reza j á urbana. N este regresso, ra ra m e nte
vêm a c o m p a n h a d os pelos fi lhos, ou n etos, já demasiado i ntegra dos e a m a d u recidos no
país onde crescera m - geralmente em gra ndes cidades - para aceita r outra tra nsplantação,
a i n d a por cima pouco atraídos pela pa cata e a lgo a ntiquada atmosfe ra provinciana q u e
lhes f o i a prese nta d a , fé rias a fio, c o m o ú n ica faceta da terra d e origem 7

A pesa r de tudo, alguns d estes jovens começam agora a perce ber q u e Po rtuga l não
se res u m e à rura l i d a d e d o i nterior e q u e até, e m relação a o desemprego a ngustia nte
q u e se a l a stra nas te rras o n d e vivem, se trata ta lvez de um país onde a crise a i nda não
chegou a ser tã o fo rte. Por isso, desde o i nício da década de noventa passa a ser m a i s
c o n s i s t e n t e u m a c o r r e n t e d e a t r a c ç ã o e s p e c í f i ca d o s a g o ra c h a m a d o s " l u s o ­
-d esce n d e ntes " : n este caso já n ã o s e pode fa l a r e m " regresso " . Mas o s desti nos não
são os mesmos : estes d i rige m-se m a i s d i recta m e nte ainda para a cidade, e até para a
agl o m e ração metropol ita na litora l , q u e não só lhes pode oferecer mais e m p regos, como
m e l h o r co rres p o n d e a o modelo d e modern i d a d e e m q u e fo ra m educados lá fo ra .
S ej a c o m o f o r , u m a g e r a ç ã o v o l v i d a , q u e m d e i x o u o ca m p o , s o n h a n d o a e l e
regressa r para o m e l horar, acaba p o r desisti r defi nitiva me nte do proj ecto i n i ci a l e por
i n tegra r a civil ização urba n a , à q u a l a sua d esce n d ê ncia já pertence.
Po rtuga l e n fi m , ta l co m o E s p a n h a e I tá l i a , de país de p a rt i d a tra n s fo rm o u - s e
entreta nto e m terra receptora . Pri m e i ro houve o s retornados, regressa dos e m u rgência
na a ltura das desco l o n i za ções de 1 9 7 4 - 7 5 : ta m b é m eles, a pesa r d e terem raízes m u i ta s
v e z e s n o rd esti n a s e r u ra is , esco l h e ra m u m a f i x a ç ã o u rba n a , ta nto m a i s fa c i l m e nte
q u a n to e ra quase s e m p re e m c i d a d e s que j á vivia m n o U l t ra m a r s. E agora o país
rece b e u m fluxo crescen te d e i m igra ntes, de momento quase todos l usófones, oriundos
o ra d o B rasi l , o ra da Áfri ca , com m a i o ria d e ca bo-verd i a n os. U n s fica m d e m a n e i ra
d u ra d o i ra , para outros trata-se de u m a esca la em d i recção a outros d esti nos e u ropeus,
como E s p a n h a o u Paris. V i v e m e m situação m u i ta s vezes p r e cá ri a , q u a n d o não à
m a rgem da lega l i d a d e , e por isso ta m b é m da estatística. São ta lvez hoje em d i a ce rca
de cem ou de duze ntos m i l a res i d i r em Portuga l . E e l es ta m b é m se concentra m quase
todos na esfera u rba n a , sobretu d o lisboeta 9
Ass i m a atracção da cidade, e mais a i n d a da á rea metropolita na, su bsitui d o ra va n te
a e m i gra ção como fo rma d o m i n a nte da m o b i l i d a d e portugu esa, q u a l q u e r q u e seja a
v i a : c h ega d a d o estra n g e i r o , ê x o d o r u ra l d i recto o u , d e m a n e i ra c a d a v e z m a i s
fre q u e nte, saltos asce n d e n tes na esca la da h i erarq u i a u rbana nacional.

A escolarização maciça

Tem o mesmo resu lta d o a ge neral ização do ensino, até q u e e n fi m consegu ida n o
d eco rre r dos mesmos ú ltimos vinte a nos. A t é e ntão na retagua rda do Vel h o conti n ente
e m matéria de e d u ca ção, Po rtuga l felizmente desenvolveu nesta matéria um esforço

33
FRANÇOIS GUICHARD

n o ta b i l í ss i m o d es d e os fi n a i s d o s a n o s sesse n ta e s o b retu d o a p ós o 2 5 de A b ri l ,
passa ndo a ser " a escola pa ra todos " u m l e i tm otiv u n a n i m a m ente pa rti l hado, o a l i ce rce
ao m e s m o te m p o do p rogresso sócio-cultura l , do desenvo l v i m e nto eco n ó m ico e do
e n ra iza mento d a d e mocracia. De m a n e i ra que neste d o m í n i o ta m b é m , hoje em d i a o
país quase a lcançou o nível m é d i o dos seus parcei ros da União Europeia. Pelo menos d o
ponto d e vista q u a n titativo. Ainda bem.
Mas isso sign i fi ca ta m b é m q u e se acelera nas mesmas proporções a tendência p a ra
a urban izaçã o genera l izada : da formaçã o , do m e rcado do tra ba l h o , dos modos de vida
- desejados, senão s e m p re a l ca n çáveis -, e n fi m dos modelos d e comporta mento, ta nto
i n d iv i d u a i s como colectivos.
E ra m a s cri a n ças d o m u n d o rura l que a escola d e outrora menos atingia. Ago ra
pre pa ra-as quase sistematica m e n te pa ra p rofissões do sector te rciário, q u e só poderão
exercer n o mundo u rbano.
A esco la riza ção co n d u - las assi m a deixar o ca mpo ou a a l d e i a . Pri m e i ro são d i rigidas
pa ra as vilas onde fo ra m i m pla ntados os col égios, e a segu i r para as cidades dotadas d e
l i c e u s , e s c o l a s p o l i té c n i ca s e a t é u n i v e r s i d a d e s n o v a s . M u i t o s b u r g o s o n t e m
a d o rmecidos e q u e pa reci a m sem futuro h oj e estão p o r isso a n i mados p o r u m a onda
i n é d ita d e j uventu d e , e u m consecutivo d i na mismo.
Mas o teci d o de a ctividades de que d ispõem estes o rga n ismos u rbanos da província,
uns m e ra mente e m brionários, outros a i nda incompletos, nem por isso é suficie nte para
lhes permiti r oferecer respostas ada ptadas ás novas necessidades de e m p rego q u e vão
ass i m s u rgi n d o com ta nta fo rça . Nem o será, com toda a proba b i l i d a d e , a o fi m dos
pou cos a nos d e fo rmação que proporcionam.
Chega então a altura d o segu ndo desl ize - e este tem todas as proba b i l idades d e
ser d efi n itivo - desta v e z pa ra os conj u ntos u rbanos mais i m porta ntes d o lito ra l ou as
suas periferias, ú n i cos espa ços consi dera d os ca pazes de proporcio n a r as oportu n i dades
de tra b a l h o a d e q uadas á fo rmação rece b i d a .

A modernização económica

A tra nsformação acelerada da eco n o m i a portuguesa forta lece esta tendência. com
e fe i t o , ela c o n d u z a m i n o ra r a sua p a rte de c o m p e t i ti v i d a d e t ra d i c i o n a l , l i ga d a á
u t i l i za ç ã o d e u m a m ã o d e o b ra tão b a rata q a u n to p o u co fo r m a d a . A u m e nta e m
proporção a i m po rtâ ncia d o s i nvesti m e ntos tecn o l ógi cos e fi nanceiros, b e m como a s
e x i g ê n c i a s e m m a t é r i a d e c o m petê n c i a h u m a n a . A necess i d a d e d e m o d e rn iz a ç ã o
atinge agora u m n í v e l i n é d ito na h istó ria nacional. Mas esta tendência ada pta -se mal a o
teci d o produtivo h e r d a d o d o passa d o , disperso c o m o é por uma m u ltidão de fá b ri cas
m u i tas vezes espa l hadas no seio mesmo d o mundo ru ra l , pequeníssimas, envelhecidas,
i ncómodas e a i nda por cima pouco a cessíveis.
Na i n d ústri a , bem como nos segme ntos mais modernos d o sector primário (o v i n h o ,
os l a ct i cí n i os , a fru ti c u l t u ra , a v a l o r i z a ç ã o d a m a d e i ra p o r e x e m p l o ) , a s s i ste-se à
transformação m a i s ou m e n os rá pida do q u e fora m m e ras produções no esboço de
v e r d a d e i ra s fi l i é re s , d e ca d e i a s c o m p l e xas i n tegra n d o v e rt i c a l e h o ri z o n ta l m e nte
sectores d e a ctividades com pl e m e n ta res q u e da ntes fu ncionavam d e m a n e i ra m u ito
m a i s a u t ó n o m a . o c o nj u nto i n s e re-se d i re cta m e n te nos m e rca d o s extra - regi o n a i s ,
q u a n d o n ã o i nternaci onais, e m vez de se l i m ita r a o tecido próx i m o de fornece d o res,

34
A GRANDE VIRAGEM DO PRESENTE E SUAS CONSEQUÊNCIAS

com p ra d o res e assistê ncia técn i co-fi n a n c e i ra , co mo podia m u i to bem fazê-l o a i n d a h á


p o u c o . I s t o t u d o d e s e n volve u m a gestão cada vez m a i s sofistica d a , q u e p recisa d e
m e rgu l h a r n o a m b i e nte u rba n o e a t é metropolita n o , ou de l h e esta r p e l o menos d i recta
e e ficazmente ligado. Cada vez mais, q u e m manda é a u rbe.
Mas o motor principal d esta evol u ção é evidentemente a p rogressão consta nte das
a ctividades d e serviço, d e d i a para d i a m a i s complexas, m a i s ti pica m e n te u rbanas a i n d a ,
e j á responsáveis p o r si só e m 1 99 2 d e 6 0 % d o P I B português, q u a n d o s e i s a nos a n tes
nem chegava m à u n s 52 %.

3 - N O V O S A M B I ENTES DE VIDA, N OVAS M A N EIRAS DE VIVER

Ass i m a u rb a n ização não se l i m i ta à forma d i recta e i m e d iata m ente perceptível q u e


se tra d u z n o espaço pela a m p l i a çã o fisica das aglomera ções. Ta m b é m t e m u m a forma
i n d i recta , m a i s i n s i d i o s a e n o e nta n to b asta nte e ficaz, que ga n h a consta nte m e n te
terre n o ao ritmo da saturação das u rbes m a i o res, e q u e se pode m e d i r pela a lte rnância
dos e nga rra fa m e ntos periu rba n os, cedo d e manhã e a o fi m da ta rde. Trata-se d e uma
d i ss e m i n a ç ã o p e r i fé r i ca " ru rb a n a " , esta i n s e rç ã o d e n tro d e uma p a i sa g e m c o m
a pa rência a i n d a rura l , d e gente q u e na rea l i d a d e tra ba l h a na cidade, ou para a ci dade,
e m fu nção d e l a , conforme os i m pu lsos e constrangim e ntos q u e ela i m põe.
A tercei ra fo rma da co n q u ista u rb a n a é mais i n s i d i osa a i n d a , e esta tem poucos
l i m i te s , a não ser nas m a rgens extre m a s d o teci d o soci a l . Trata -se d a d i fusão d o s
va l o res e d a s modas cita d i nas pelos s u p o rtes m a i s varia d os da i n formação, desde a
escola até à p u b l icidade, passa ndo pela televisão e pelos conta ctos ma ntidos com os
con hecidos ou fa m i l i a res q u e já na cidade vivem.
A l e i da cidade, a pa rti r d o momento e m q u e passa a ser d o m i n a nte - é o q u e se
v i v e n este m o m e nto em P o rtuga l - e q u a l q u e r q u e s ej a o seu m o d o de a ctu a r,
este n d e-se então, m u ito para a l é m dos seus l i m i tes espaciais, à sociedade i n te i ra . E d e
m a n e i ra i rre mediável, ta nto qua nto sa bemos p e l a experlencia a l heia. A lei da m a i o ri a ,
ta l c o m o e m d e m ocra c i a , p a s s a a s e r a l e i d e todos ; s ó q u e d e m o m e n t o , n e sta
maté r i a , não se vê h i p ótese séria de a lte rnância ...
Resu lta d isto u m a série com pl exa de tra nsforma ções d e ord e m estrutu ra l , social e
cultura l , a m pl i a n do-se mutua mente e reagi ndo umas sobre as outras. As conse q u ê n cias
espaci a i s , estas, o b riga m a re pensar a gestã o d o ord e n a m e nto territo ria l , desde a esca la
loca l até à nacional. Não é ta refa fá cil.

Resultados de natureza fun cional

A l gu m a s m u ta ç õ e s a l te ra m o e s q u e m a o rga n i z a ci o n a l . No c o n texto g e ra l d e
retra cção d a s a ctivi d a d es agríco las tra d i ci o n a i s , só pa recem ter futuro o s segmentos
que passa m a d e p e n d e r das tecnologias e dos mercados u rbanos, a i nda nem q u e seja
só pela via latera l da o ferta tu rístico-cultura l , promovida a actividade compleme nta r :
r e s e rvas n a t u ra i s , t u r i s m o v e rd e , l a zeres a q uáticos, p r o m o ç ã o d o a rtesa n a to e d o
p a t r i m ó n i o p o r e x e m p l o . Agu d i za m - s e a s d i fi c u l d a d e s d o t e c i d o s e m i - ru r a l d a s
i n d ústrias d i s p e rsas assentadas e m prioridade na m ã o d e o b ra barata, como n o caso
dos têxteis, a i n d a responsáveis de ce rca de u m terço das exporta ções portuguesas.

35
FRANÇOIS GUICHARD

A p ree m i n ência do sector terciário na eco n o m i a está a tra nsformar-se em p repon­


derância a bsoluta , não só n o q u e se refere à fo rmação e aos e m p regos (disponíveis e
esperad os), como ta m b é m na medida em q u e os seus suportes técn i cos e modos de
tra b a l h o s e i m p u s e ra m c o m o fu l cra i s n o fu n c i o n a m e nto d a s p r ó p r i a s a ct i v i d a d e s
produtivas: gestão , i n formática , tra nsmissão de dados, conexão siste máti ca d o s postos
d e tra b a l h o em redes i nterligadas, sempre m a i s a l a rga das, complexas e sofisti cadas . . .
A n e c e ss i d a d e d e u m a c i rcu l a çã o rá p i d a , fá c i l e c o n tí n u a - d o s h o m e n s , d o s
produtos, das i n formações - é uma prioridade ca da vez m a i s i m peri osa na v i d a d i á ria
das e m p resas, i m po n d o as suas exigências acima de consi d e ra ções de natu reza mais
e s tá t i ca q u e d a n te s e ra m t i d a s por fu n d a m e n ta i s , ta i s co m o a s va n ta g e n s da
loca l ização ou até os custos d e produção.
Sendo assi m , a nova estruturação do espaço passa a depender sobretudo da qualidade
e eficiência dos eixos de toda a natu reza que permitem a ci rcu lação, e em primeiro luga r
das v i a s rod o v i á r i a s . Reduzem-se e m proporção e q u i va l e nte a a u to n o m i a e o va l o r
i n trínseco dos sítios, d o s luga res. Afi n a l não é p rocesso i ntei ra m e nte novo: a potê ncia da
ci d a d e mede-se m a i s à i nte nsidade dos fluxos q u e p rovoca , do q u e a o seu ta ma n h o
próprio. o q u e é n o v o é a general ização - a todas as a ctividades, a t o d a a soci edade e
ao espaço i ntei ro, por cima de quaisquer l i mites e fronteiras - desta h i e ra rq u ização d o
espaço p e l o movi m e nto, e m su bstitu ição da a ntiga p ree m i n ência da su bstâ n cia loca l .

Resultados de natureza demográfica

É o u tra d i m e n s ã o da m u d a n ça . P e l a s va n tage n s q u e p ro p orci o n o u , p e l os s e u s


constra ng i m e n tos ta m b é m , p e l a s a l te ra ções cultura i s q u e p rovoco u , a urban izaçã o teve
um p a p e l d e te r m i n a n t e na r e c e n t e d i m i n u i ç ã o da fe cu n d i d a d e p o rtugu esa , tão
i m p ress i o n a nte q u a nto rá p i d a : d e p o i s d e ta nto te m p o ter n u t ri d o a e m igra ç ã o , e l a
passou a ser das m a i s ba ixas da Europa i nte i ra .
Ta m b é m reve l a d o ra , para uma população a i nda há p o u c o m u i to j o v e m , é a nova
i m p o rtâ ncia que a d q u i ri ra m os problemas ligados à tercei ra i d a d e . A i n a uguração de
i n s ta l a ç õ e s e s p e c í f i c a s , o d e s e n v o l v i m e n to de a ct i v i d a d e s co m p l e m e n t a r e s , a
o rga n ização de redes de a po i o especi a l izadas, tudo isto ga n h a terre no de d i a para d i a
nas cró n i cas da i m prensa regi o n a l , nos orça mentos d os m u n i cípios e das fregu esias, n o s
d iscursos d os a uta rcas, e a t é nos p roj ectos de i nvesti mentos p rivados. C o n v é m l e m b ra r
c o m o , h á u n s d e z a n o s a t r á s , e r a u m t e m a q u a s e t o ta l m e n t e a u s e n t e d a s
p reocu pações d e u n s e d e outros: na a l tu ra , o q u e i m p o rtava e ra a escola, a estra d a , a
m o d e rn ização do e q u i pa m e nto, as i n i ciativas em prol da produção . .. 1o

Ass i m , na gestã o c o l e ctiva d o s fa ctos soci a i s , as q u estões l i ga d a s à p o p u l a çã o


i n a ctiva reveste m u m a i m portâ n cia cresce nte. N i sto ta m b é m Po rtuga l encontra agora
problemas ca racterísticos da norma lidade europeia actual. ora, pela natu reza própria dos
investi mentos e serviços que requerem, as respostas possíveis são forçosa mente concen­
tradas n o espaço: d isto sai m a i s u ma vez refo rçada a fu nção pola riza d o ra da cidade.

R esultados de ordem sócio-psícológico

Modificam-se com ra pidez os comportamentos tradicionais legados pela civilização rural.


O viver na cidade, e m a i s a i n da na gra n d e cidade, a c e l e ra a d esl ocação dos a ntigos

36
A GRANDE VIRAGEM DO PRESENTE E SUAS CONSEQUÊNCIAS

n úcleos de u n i d a d e , fa m i l i a res e sociais. G e ra ções, casa is, sexos, pessoas passa m a ser
ca d a v e z m a i s a u tó n o m o s uns d o s o u tros. Os va l o re s e a s h i e ra rq u i a s h e rd a d a s
pa rece m demasiado i no p e ra ntes, porq u e desaj ustados a o m e i o a m b i e nte u rbano, aos
seus ritmos s i n copados e a esta i n d iv i d u a l ização crescente do desti no de ca da um. Por
isso eles são num pri m e i ro m o m e nto contestados, e numa segu nda eta pa merame nte
postos de l a d o , q u e r sej a m d e natu reza fa m i l i a r (o estatuto p r i v i l egiado do p a i , p o r
exe m p lo), q u e r d e â m b ito colectivo ( e e m p ri m e i ro p l a n o a p rática re l i giosa regu l a r,
d a n tes n o rm a tiva). D e i x a m l u ga r à p rocu ra i s o l a d a , e p o r vezes e rrá tica, de novos
h orizontes d e referência ...

A necessária e difícil redefinição dos espaços

Estas t ra n s fo r m a çõ e s t o d a s i n screve m - s e de m a n e i ra c a d a vez m a i s n í t i d a n a


u t i l ização d o s espa ços, s o b retu d o d e s d e a década d e oitenta. Isto chegou a a lte ra r
ra p i d a m e nte, e p o r vezes profu n d a me nte, a natu reza dos p roblemas em fu nção dos
quais se t i n h a m fo rj a d o os p a d rões d e ra ciocí n i o dos técn i cos de p l a n e a m e nto, cuja
m a i o r i a fo i fo r m a d a no d e c u rso d o s v i nte a n os a n te r i o re s . E l e s têm a s m e s m a s
d i fi cu ldades q u e o s cidadãos o rd i n á rios para i ntegra r menta l m e nte as novas d i n â m i cas
e m acção, mas além d i sso dispõem de poucos i nstrume ntos adeq uados p a ra as m e d i r
conve n i e nte m e nte. Não só devem inventa r respostas para problemas i n é d itos, como
devem tenta r conve ncer res p o n sáveis e l e i tos, s e m p re co n fro n ta d o s às u rgências do
i m e d i ato, das v i rtudes de u ma p rogra mação com p razos por vezes mo rosos. A tarefa
não é n a d a fá ci l , n e m em Po rtuga l , nem em pa rte n e n h u m a .
Passa a s s i m a ser patente q u e a u rb a n ização, m e s m o se ge neralizada, não constitu i
por si só u m e l e m e nto s u ficie nte em prol de u m a pola rização harmoniosa do espaço
nacional. Não é , por v i rtude própria, suficie ntemente gera d o ra de e m p regos, de serviços
e d e q u a l i d a d e d e vida, p a ra que ga ra nta a possi b i l i d a d e pa ra a m a i o ria de conti n u a r a
viver na sua regiã o de o rige m .
Claro q u e é i m p resci n d ível a mode rn ização das v i a s de co m u n i cação, q u e encurta a s
d i stâ ncias e permite a o p rogresso d e se genera l iza r p a ra o conj u nto d o teci d o soci a l . N o
e n ta n to , o s e u p ri m e i ro e fe i to é p e rm i t i r u m a b a n d o n o a i n d a m a i s a p ressa d o d a s
periferias, e acelera r a agluti nação n o centro - ou entã o , s e n d o o resu lta d o e q u i v a l e nte,
agrava e siste matiza a dependência das periferias em relação a o centro.
A relativa d es c o n c e ntra ção d o a l oj a m e nto nas á reas metro p o l i ta nas resu lta e m ·

g ra n d e p a rte d e sta d i m i n u i çã o d a s d i stâ n c i a s - t e m p o . Esta d e fa cto fa v o r e c e o


cresci me nto dos aglomerados mais pequenos, mas é correndo o perigo de transformá-los
em satélites, de dia para dia mais estrita mente depende ntes do núcleo centra l - q u a n d o
não d e convertê-los e m s i m ples dorm itórios desprovidos de vida p r ó p r i a - e n q u a nto
que o isolame nto a n teri o r pelo menos lhes assegu rava uma relativa autonomia. A este
res p e i t o , é e s c l a rece d o r o a p a re n te d i n a m i s m o q u e a c o m p a n h a de m a n e i ra t ã o
sistemática a chega d a , a q u a l q u e r aglomeração, das novas fa ixas betu m i n osas q u e p ro­
gri d e m como ra ios concêntricos a pa rti r d o Porto. É por exemplo o caso d o espa ntoso
su rto a ctu a l d e construções e m B raga, com toda a evidência consequência d i recta da
ch ega da da a u toestra d a . Fica n d o agora a a ntiga cidade a rq u i e p iscopal a meia h o ra d o
c o r a ç ã o d a m e t ró p o l e p o rt u e n s e , e l a e s t á e m v i a s d e s e tra n s fo r m a r n u m m e ro
s u b ú r b i o , na rea l i d a d e do d i a a d i a , m u ito m a i s d e p ressa a l i á s do q u e na percepção q u e
dela tê m a t é os próprios i nteressa dos.

37
FRANÇOIS GU/CHARD

Outro exe m p l o da ra p i d ez com q u e se tra nsforma a proble mática do uso do espaço


e m Po rtuga l , e m conseq u ência da explosão u rba n a , é a m u l ti p l i cação das resi d ê n cias
s e c u n d á ri a s a d q u i ri d a s por resi d e n te s d a s gra n d e s a g l o m e ra ções. Este fen ó m e n o
c o m e ça a a t i n g i r p r o p o rç õ e s n ã o s ó i n é d i t a s , c o m o a i n d a h á b e m p o u co te m p o
i n acreditáveis, p o r pa recerem exclusivas d e países com a lto nível de vida e i m porta nte
classe social m é d i a . Por si só, é assi m reve lador do espa ntoso p rogresso material de q u e
beneficiou recentemente u m a pa rte signifi cativa , se bem q u e m i noritária, da soci e d a d e
portugu esa.
Tra n s fo r m a m -se a g o ra por i nte i ro p o rções d o l i tora l , ve rte ntes a grestes, ve l h a s
a l d e i a s o n t e m q u a s e a ba n d o n a das. Resultam d i sto novas exigências e m matéria d e
i n fraestruturas e e q u i p a mentos, q u e n e m s e q u e r ti n h a m s i d o p revistas. Novos va l o res
patri m o n i a i s e a m b i e n ta i s c h e g a m a s u s c i ta r u m a a d esão q u e não s e s u s p e i tava
possív e l , mas ta m b é m s e d e s e n v o l v e m n ovas fo r m a s d e e s p e c u l a ç ã o fu n d i á ri a e
i m o b i l i á ri a e m á re a s até a í p o r e l a s p o u p a d a s . S u rgem pa ra os m u n i cí p i o s n ovas
o p o rtu n i d a d es d e re n d i m e ntos, mas ta m b é m novos perigos p a ra a l gu ns e q u i l í b ri o s
l o c a i s j á a m ea ça d o s p o r outra s fragi l i d a d es. A con q u i sta d o e s p a ç o rura l pela c i d a d e
ta m b é m se f a z d esta m a n e i ra.
São m e ros e x e m p l os d o novo o rd e n a m e nto sócio-espacial q u e se esboça ; podiam
s e r m u l ti p l i ca d os . E l e s tê m e m co m u m u ma gra n d e fl u i d ez. É ta nto m a i s i n certa a
i m portâ ncia q u e vão atingir estes fe nóme nos, qua nto fa ltam na m a i o ria dos casos os
i n stru mentos de m e d i d a adequados. Mas já se a d i v i n h a , e por vezes se sabe, de q u e
m a n e i ra a s u a i rr u p çã o te m p o r p ri m e i ro res u l t a d o d esactu a l i z a r ce rtos p l a n o s d e
o rd e n a m e nto regi o n a i s e loca i s q u e foi tão d i fíci l e l a b o ra r, fazer a ceita r, enfim torn a r
o p e racionais.
Daí d ecorre u m a su cessão d e perturbações, q u a n d o não de disfuncionamentos, no
seio das esferas decisiona is. Ta is p ro b l e mas são agravados pelos conflitos, late ntes ou
a b e rtos, por um l a d o e ntre a d m i n istra ções que c o n t i n u a m a t e r d i fi c u l d a d es em
com u n i ca r e ntre s i , e por outro lado e ntre o conj u nto da m á q u i na a d m i n istrativa estata l
- com pa rticula r rel evo para os técnicos de planeamento - e a uta rcas loca is cada vez
m a i s ciosos das suas pre rrogativas. Certa me nte por fa lta do esca lão regi onal previsto
pela Constitu icão, mas cuja i m pl a ntação s e m p re foi a d i a d a , o ca rácte r " m u nicipal ista "
da d e m ocra c i a p o rtuguesa n ã o p o d e d e i x a r de se reforça r de d i a pa ra d i a : os 3 0 5
conce l h os a pa recem d e facto como o s ú n i cos verda d e i ros contra-poderes fa ce à velha
tra d i çã o centra l iza d o ra nacional.
Mas co m o p l a n e a r, c o m ta n to s l i m i tes ríg i d o s , uma d i n â m i ca e s p a c i a l a g o ra
o rga nizada com base em fl uxos ?

Inquietações prospectivas

Apesar d estas riva l i d a d es, uns e outros sempre conti n u a m a ter q u e d a r priori d a d e
a o s p ro b l e m a s das á reas o n d e a s u rgências se a m ontoa m d a m a n e i ra m a i s visíve l ,
p r e m e n t e e i m e d i a t a . O u s ej a , a o s d a s z o n a s m a i s p o v o a d a s : a s a gl o m e ra çõ e s
metropol itanas, cuj o pote n c i a l d e concentração va i assim a u menta n d o e m proporção
aos i nvesti m entos neles rea l izados.
Ontem, o p e rigo p a ra Portuga l resi d i a no agrava m ento da d u a l i d a d e sócio-espacia l :
p o r u m l a d o u m a m i n o r i a próspera e m o d ernizada n o l itora l , p o r outro l a d o l a rgas

38
A GRANDE VIRAGEM DO PRESENTE E SUAS CONSEQUÊNCIAS

p e r i fe r i a s a t r a s a d a s c u m u l a n d o a s d i fi c u l d a d e s , n o i n t e r i o r e n o s a rq u i p é l a go s
oceâ n i cos. A evol u çã o a ctu a l ta lvez autorize a pensar q u e o pe rigo d e a m a n h ã poderá
ser m e n os p rovoca nte do po nto de vista soci a l , até porque não há dúvida n e n h u m a de
q u e o nível m é d i o de vida m e l h o rou d e m a n e i ra sensível n o decorrer da última geração,
a i nda q u e n ã o tenha s i d o d e m a n e i ra igua l m e nte repartida. Mas pode passa r a ser pior
ainda d o ponto d e vista espaci a l , se o esvazia m ento das periferias p rossegu i r ao mesmo
ritmo , sem frei o n e m d erivativos a d a ptados à sua ra p i d ez a ctu a l .
ora , p e l o m e n os na nossa civi l ização oci d e n ta l , poucos exe m p l os h o u v e de cida des­
o á s i s , ca p a z e s de s a l v a g u a r d a r a s u a p r o s p e r i d a d e no m e i o do e s g o t a m e n to
envolvente. o futuro de Portuga l está clara me nte ligado ao do Po rto e de Lisboa ; mas
Lisboa e o Po rto não terão futuro n u m país desertificado.

N O TAS

1 . Portuga l. Relatório anual d a O CD E , Pa ris. ] u n h o d e 1 994.

2 . Orlando RIBEIRO, Portugal. o Mediterrâneo e o Atlântico, 1 ." éd., 1 94 5 ; 6." éd., Lisboa, Sá da costa , 1 99 1 .

3 . o próprio signatário d estas l i n has tentou p rovoca r u m d e bate p ú b l ico sobre o referido assunto e m d u a s
ocasiões: em 1 9 8 3 , na sua tese de dou tora mento e no ano segu i nte, c o m a c u m p l icidade de Pierre Laborde,
d u ra nte u m colóq u i o no Porto: François G UICHARD, Porto, la vil/e dons sa région. Contribution ó l'étude de
J 'organ isation de /'espace dons /e Portugal d u Nord , 2 v o l . , P a r i s , Centre C u l tu r e l Portuga i s / F o n d a t i o n
G u l benkian, 1 99 2 ( c f nomeadamente o vol. l , p . 1 4 3 - 1 5 3); Fra nçois G UICHARD e Pierre LABORDE, " Pô les urbains
et inéga l i tés régionales: le cas d u Portuga l d u Nord et de I'Aquita i n e " . i n 1 °5 ]ornadas de Estudo Norte de
Portugal/Aquitânia - Actas, Março de 1 9 8 4 , Porto, CENPA, 1 98 6 , p. 2 69 - 278 + 4 mapas desdobráveis. o debate
esperado ficou m u ito l i m i tado. o q u e em pa rte se expl ica pela língua util izada e, porque não, por defeitos
próprios das exposições. Mas i n fel izme nte - a não ser que a c u l pa seja da debilidade da m i n h a i n formação ­
o tema ta m b é m não ressu rgiu m u ito vivo nou tros sítios e noutras penas. Nem por isso desespero de vê-lo
re nascer q u a l q u er d i a . . . mesmo q u e seja por h istoriadores !

4. Sobre este assunto, bem como sobre m u i tos ou tros a fins aos q u a i s se a l u d e mais adia nte. o leitor fe l izmente
d ispõe agora de duas rece ntes e excelentes obras de síntese, q u e enriquecem e em gra nde pa rte renovam a
l i teratu ra geográ fica portuguesa rela tiva ao desenvolvimento urbano e à reestru turação do espaço nacional:
as de Teresa BARATA SALG U EIRO, A cidade em Portugal. uma geografia urbana, Porto, Afronta mento, 1 99 2 , e
de Jorge GASPAR, As regiões portuguesas, Lisboa, M i n istério do Planea mento e da Admin istração do Território,
1 99 3 .

5 . Den tro d o s q u a i s va le ta lvez a p e n a recordar, p e l o i m pacto q u e teve na a ltura e pelas m ú ltiplas p istas q u e
a b r i u , o tra b a l h o de Eugé n i o de CASTRO CALDAS e M a n u e l de SANTOS LOUREIRO, Regiões homogéneas no
Con tinente português. Primeiro ensaio de delimitação, Lisboa, Fundação G u l benkian, 1 9 66.

6. Cf. por exemplo a elucidativa, em bora incompleta e já em pa rte envelhecida, panorâ m i ca de Maria Beatriz
ROCHA TRIN D A D E e J o rge A R R OTEIA, Bibliografia da emigração portuguesa. Lisboa, Instituto d e Apoio à
Em igração e com u n i dades Portuguesas, 1 9 84. Den tro da extensa p rod ução naciona l e estrangeira q u e acabou
por constitu i r u m conj u nto extremamente rico e m u itas vezes de gra nde q u a l idade, sobretudo q u a nto aos
tra ba l h os realizados a partir dos anos setenta , o leitor encontrará várias sínteses sólidas e cómodas como as
d e joel SERRÃ O . A emigração portuguesa. sondagem histórica, Lisboa, Horizonte, várias ed ições desde 1 97 2 ,
ou d e Jorge A RROTEIA, A emigração portuguesa, suas origens e distribuição, Lisboa, ICALP, 1 98 3 .

7. A l i te r a t u ra é r i ca a g o r a a p ro p ó s i t o d o s retornos d e e m igrantes, s a l i e n t a n d o - s e a s v á r i a s pesq u i sas


desenvolvidas pelas e q u i pas d i rigidas por Manuela SILVA e Maria Beatriz ROCHA TRIN DADE, o u por M i chel
P O IN A R D , Les Portugais dans l'ém igration. Une géographie de l'absence, To u l o u s e , 1 99 1 . É ta m b é m

39
FRANÇOIS GU/CHARD

esti m u la n te a reflexão em torno da problemáti ca das casas de e m igrantes q u e co nduzem, por exemplo,
Ca rolina LEITE, Isa b e l RAPOSO e Roselyne de VILANOVA, Maisons de rêve. Portugal, enquête sur les migrants
bâtisseurs, Pa ris, Créa phis, 1 994. Cf. ainda vários estudos p u b l icados nos ú ltimos dez a nos em revistas como
Análise Social (Lisboa), sociedade e Território (Porto) o u nos " Ca d ernos " d o Instituto d e Estu dos para o
Desenvolvimento (Lisboa).

8 . Veja-se por exemplo a este respeito François G UICHA RD, " Origine et réinsta llation au Portuga l des rapatriés
d 'Afriq u e " , in finisterra, n o 28, Lisboa, Cen tro de Estudos Geográficos, 1 9 79, p. 2 5 8-268: R. P. PIRES e ou tros, Os
retornados. um estudo sociográfico, Lisboa, Instituto de Estudos para o Dese nvolvi mento, 1 98 7 ; Maria E m i l i a
ARROZ, " O recensea mento e lei tora l e o retorno de portugueses residentes no estrangei ro " , in finisterra, nY 4 5 ,
Lisboa, centro de Estudos Geográficos. 1 9 8 8 , p. 1 5 3 - 1 6 3 .

9. O utra v e z se d e v e m rea lça r os n u merosos e uti lissimos tra bal hos p u b l icados p e l o Instituto de Estudos para o
Desenvolvimento. Dentro dos mais recentes sobre este tema : Ma ria do Céu ESTEVES (coord. por) , Portugal,
Pais de Imigração, Lisboa . IED, 1 9 9 1 . e Luis de FRANÇA (coord. por), A Comunidade Cabo Verdiana em Portugal,
Lisboa, IED, 1 9 9 2 .

1 o. P o r t e r sido descoberta m u i to recentem ente p e l o s m e i o s de com u n icação social, a u ta rcas e poderes p ú b l icos,
não p o d e m o s d e i x a r d e l e m b r a r q u e esta e v o l u ç ã o fo i d e tectada e a n u n c i a d a desde há m u ito p e l os
dem ógrafos, com particu l a r relevo pelos cuida dosos tra balhos de J. Manuel NAZARETH: o envelhecimento da
população portuguesa, Lisboa, Presença, 1 9 79, ou Unidade e diversidade da demografia p ortugu esa no final do
século XX, vo/. 1 1 1 de " Portuga l . os próximos vinte a n os " , Lisboa, Fu ndação G u lbenkian, 1 9 8 8 .

40
A POP U LAÇÃO P ORTU G U ESA
EM FINAIS DO S ÉC U LO XVIII
Fernando d e Sousa
Universidade do Porto

"Entre os objectos mais importantes de h umo republica deve ser numerada a


População do seu paiz; porque sem a [orça que rezulta da população, he
impossivel que a Republica possa conservar-se por m uitos annos, sem ser
dominada dos vizinhos, aos q uaes a fraqueza dos Estados confinan tes
cos tuma fazer inimigos ".

(António Henriques da Si lveira. "Racional discurso. sobre a Agri cultura. e


Popula ção da Província do Alem-Tejo", Memorias Economicas, I, Lisboa, 1 7 89).

"a felicidade da Rep ublica não se mede pelas s uas grandes conq u is tas,
nem pela extensão dos seus limites, ou pelas minas de ouro, ou prata, que
poss ue; mas sim pela sua povoação, e pelos braços que nella trabalhão".

uosé Verissi m o Alvares da Silva, "Memoria das Verdadeiras ca uzas porq u e


o L u x o t e m s i d o nocivo a o s Portuguezes". Memorias Economicas, I . Lisboa, 1 7 89)

1 . I ntro d u ç ã o

se o século XVI I I , na sugestiva frase de Mols, é a p ri m e i ra época a resse nti r-se "da
fasci nação dos n u m e rosos exactos" 1, ta l não pa rece a p l i ca r-se a Portuga l.
Com efeito, a o l ongo d e quase todo o Setece ntismo portugu ês, os n ú m e ros não
surgem como dados rigorosos, estatísti cos, e n q u a nto expressã o de uma menta l i d a d e
q u a ntitativa , mas co mo conj u ntos de a l ga rismos rep rese ntativos d o s fa ctos sociais, q u e
p e r m i te m , a p e n a s , esti m a r, a i n d a q u e gross e i ra m e nte, os tri b u tos a reco l h e r e os
efectivos a recruta r.
Daí o ca rácte r precá rio da sua i m portâ n ci a , logo despreza dos uma vez atingido o
o bjectivo q u e se p rete n d i a . Não só despreza dos, destruídos, pois, ao contrário de outros
países como a Espa n h a ou a Fra nça , a s receitas dos i m postos a n u a l ou periodica m e n te
c o b ra d os p e l o Esta d o , as s é r i e s d e dízi m o s l e va n ta d a s n a s d i oceses, as l i stas d o s
n u m e ra m entos d e ca rá cte r m i l ita r ou eclesiástico chega ra m a t é n ó s , em n ú m e ro tã o
reduzido, q u e só a destru ição de ta is fo ntes pode explicar ta l fa cto.
Sob o aspecto d e m ográ fico, a p reocu pação do n ú m e ro d i fi ci l m e nte u ltra passou a
esfe ra restri ta do n u m e ra m e nto dos fogos. Quer para o Esta d o , q u e r para a Igrej a , o
fogo é, a fi n a l , a célula sign i fi cativa , se não ú n i ca da sociedade portuguesa.
A sociedade o rga n i za-se e m fu nção da fa m í l i a , não d o i n d ivíduo. o i n d ivíd uo conta ,
a penas, na m e d i d a e m q u e , soltei ro, casa d o ou viúvo, se assu m e co mo ca beça de casa l ,
isto é , eco n o m i ca m e nte ca paz de satisfazer os encargos ou tri butos q u e ao Estado e à
Igreja d izem respeito.
Os n u m e ra m e ntos ressentem-se, a i n d a , da pouca i m portâ n cia q u e era atri buída a o
co n h e c i m e nto d a popu lação d o Reino, pelo q u e , até fi nais d e setecentos, de â m bito
n a c i o n a l ou regi onais, são ra ros aqueles que ch ega ra m até nós e se revel a m dignos de
crédito.

41
FERNANDO DE SOUSA

2. D a i m p o rtâ n c i a d a p o p u l a ç ã o ...

Contu d o , n o ú l t i m o q u a rtel d o século XVI I I , - época e m q u e Portuga l , benefi ci a n d o


d e u m a c o nj u n t u ra i n t e r n a c i o n a l fa v o r á v e l e d a p o l í t i c a e co n ó m i ca p o m b a l i n a ,
conheceu u m signi fi cativo desenvolvimento com e rcial e i n d ustria l - , a preocu pação por
tudo q u a n to se p o d e medir ou expri m i r q u a ntitativa m e n te , até e ntã o , pratica m e nte
a p a nágio das a ctividades eco n ó m i cas, va i a l a rgar-se à d escrição e notação dos h o m e ns.
Pa ra u m a melhor com preensão d esta nova atitud e , i m porta sublinhar q u e , a pa rti r
de 1 7 7 2 - 1 7 7 5 , começam a d etectar-se tra ços de u m a renovação m enta l da sociedade
portuguesa, a qual, n o d o m í n i o das ciências, vai ca ra cterizar-se por u m a m a i o r exigência
crítica, pela va l o rização da observação e da experiência.
A criação d a s fa cu l d a d es d e matemática e fi losofi a , n a sequência da reforma da
U niversi d a d e d e Coi m bra, i n iciada e m 1 7 7 2 , a ss i m como a fu ndação da Aca d e m i a Real
da Ciências, e m 1 7 7 9 , vão d a r u m n ovo a l e nto a o ensino das ciências exactas e naturais.
" O p ri m e i ro passo de h u m a Nação, para a p roveita r as suas va ntagens, h e conhecer
perfeita m e n te as terras q u e ha bita , o q u e e m si ence rrã o, o q u e de si produzem, o de
q u e são ca pazes. A H istoria Natura l he a u n ica sciencia q u e taes luzes póde d a r; e sem
hum con heci m e nto solido n esta parte, tudo se fica rá devendo aos a casos, q u e ra ras
vezes bastão p a ra fazer a fortu n a , e riqueza de hum povo" 2
T a l n ã o q u e r d i z e r q u e n ã o c o n t i n u e a v e r i fi ca r - s e a p e rs i s t ê n c i a d e u m a
m e n ta l i d a d e t ra d i c i o n a l , créd u l a , e r u d ita n o p i o r s e n t i d o d o t e r m o , d e s p r o v i d a d e
q u a l q u e r fo r m a ç ã o m e tó d i ca e críti ca , rece ptiva a o m a ra v i l hoso e a o fa ntást i c o , à
ge n e a l o g i a l e n d á ri a e a o s e p i s ó d i o s o u a c o n te c i m e n t o s h e r ó i co s , d i v o rc i a d a d a
o b s e rv a ç ã o c i e n tí fi c a , d a d a t a ç ã o segu ra , d a n ot a ç ã o p re c i s a , a m e n ta l i d a d e d a s
t ra d i c i o n a i s c o r o g ra fi a s e d e s c r i ç õ e s g e o g r á f i c a s , i m p r e s s i v a s m a s i m p re c i s a s ,
ge neral istas m a s s e m p re lacunares, q u e re petem e eternizam e rros gross e i ros vindos
d e trata d o s a n te r i o re s , que regista m a va l i a ções d e s m e s u ra d a s e i n ve rosí m e i s nos
d o m í n i os da eco n o m i a e da d e m ogra fi a , contrad itórias até na mesma o b ra , e para as
q u a i s os n ú m e ros constituem e l e m e ntares ordens d e gra n d eza que, m u itas vezes,
pouco têm a ver com a rea l i d a d e q u e p rete n d e m tra d uzi r.
Mas o conheci m e nto da rea l i d a d e a fi rma-se de um modo mais profu n d o . As descri­
ções " físicas", eco n ó m i ca s ou sociais, tornam-se mais p recisas. A i ndagação e a p reensão
das causas que estã o na base dos temas ou p roblemas a n a l i sa dos, a prese nta m-se m a i s
c u i d a d a s e específicas. A p reocupação d e ca rácte r q u a ntitativo, estatístico, reve la-se
mais genera l izad a , a fi m d e j ustificar ou fu n d a m e nta r o d iagnóstico do corpo soci a l . Os
n ú me ros d e i x a m d e ser u n i ca m ente "um e l e m e nto de descrição regio n a l ou loca l " , ou
u m " o bjecto d e colecçã o " , e passa m a fo rmar a "base d e u m cá lculo" 3
Esta nova m e n ta li d a d e , "estra ngei ra d a " , de ra iz i l u m i n ista , este espírito crítico q u e
procu ra co m p ree n d e r e explicar rac i o n a l m ente os fenómenos naturais e sociais, este
"ousar s a b e r" , q u e é e será , a i n d a , por m u ito tempo, privilégio de a lguns, ou sej a , dos
q u e se socorrem " d e l uzes, d e observação, d e experiência" 4, d etecta-se nos estudos d e
ca rácte r e co n ó m i co , s o ci a l e d e m ográfico e va i leva r m e s m o à a u t o n o m ização d a
própria eco n o m i a e n q u a nto d isci p l i n a cie ntífica.
A p o p u l a ç ã o , que j á c o n sti tu í ra um d o s fios co n d uto res d o m e rca n ti l is m o - o
n ú m e ro dos h o m e n s faz a ri q u eza do Esta do -, com as doutrinas fisi ocráticas, e ntão e m
voga , tra nsforma-se n u m a das preocupa ções fu n d a m e nta is d o Esta do. Pa ra este, " h e d e
sua p ri m e i ra n ecess i d a d e o t e r m u i tos vassa l os; porq u e he some nte nos s e u s b ra ços

42
A POPULAÇÃO PORTUGUESA

q u e resi d e a Fo rça e a R i q ueza d e h u m a N a ç ã o " . M a s a p o p u l a çã o só cresce " e m


proporção da faci l i d a d e q u e há d ' e m p rega r e sustenta r o s homens" s, " e m proporção d a
massa geral d a s su bsiste ncias" 6, é u m a co nsequência da agri cultura .
Pa ra q u e a p o p u l a çã o a u m e n t e , t o r n a - s e n e cessá r i o d e s e n v o l v e r a e co n o m i a ,
p ri ncipa l mente a agri cultura , q u e constitui o " p ri m e i ro ra mo da i n d ústri a " , a verda d e i ra
riqueza do Esta do. Ora, a p ro d u ção agríco l a , mais que da a d opção de novas técn icas, da
i ntrod ução d e outras culturas ou d e u m a p roveita me nto mais i ntensivo dos terre nos já
cultivados, depende, princi p a l mente, d o " ro m p i mento" dos i n cu ltos e bald ios. Rompi­
m e nto e fectivado através do homem, q u e tem a va ntage m não só de m o b i l iza r novos
b ra ços e contri b u i r para a exti nção da pobreza, mendicidade e vaga b u ndage m , como
de a u m e nta r a s re n d a s e tributos d o Esta d o . Torna-se necessá rio e l i m i n a r as ca usas
físi ca s e morais q u e i m pedem a expansão da agricu ltura , porque está é q u e assegu ra a
p o p u l a çã o , a q u a l se prete n d e n u m e rosa, sem dúvida, mas, igu a l m e nte, próspera.
A agricu l tu ra e a população constituem, pois, a base da riqueza - o h o m e m , afirma
Arth u r Young na s u a Politicai Arithmetic ( 1 7 7 4 - 1 7 7 9), o b ra que, através da tra d u çã o
fra ncesa , tanto i n fl u e n ci o u os econom istas portugueses de fi nais de Setecentos, como
Mord a u , José Antó n i o d e Sá e Chicharro, não tem q u a l q u e r uti l idade senão produzir um
excedente d e ri q u eza - e da fo rça do Esta d o , o principal se não o " ú n i co e l e me nto de
p rosperidade das nações". A riqueza p ú b l i ca da nação tem de se defi n i r "em p roporção
a sua povoa ção", pois só o desenvolvimento daquela poderá a d i a nta r esta .
Em conclusão, os fisiocratas e agra ristas portugueses de fi nais do sécu l o XVI I I , ass i m
como estad i stas d a enverga d u ra de Rod rigo d e Sousa Couti n h o , v ã o d e fe n d e r q u e a
p o p u l a çã o , " u m d o s o bj e ctos m a i s i n te ressa ntes d e u m a R e p ú b l i ca " , d e p e n d e d a
agricultura, q u e a fel i ci d a d e d e u m Esta do se m e d e p e l a s u a população, e q u e a sua
fa lta o u redução põe e m causa a i n d e p e n d ê n c i a n a c i o n a l e i m pede o p rogresso da
agricu l t u ra , "a m a i s i m p o rta nte d e todas as a rtes. A p o p u l a ção é , a ss i m , "a p ri m e i ra
fonte da força e ri q u eza dos Esta d os" 7

Ass i m se e x p l i ca o ca rácter necessário e confidencial dos censos.


Necessário porque é preciso conhecer "o estad o dos ca m pos", "as fo rças d o Reino", a
fi m de se verificar, é certo, "a consistê ncia do Patri m ó n i o da Coroa", mas ta m b é m para
d eterm i n a r as m e d i d a s necessá rias á boa " a d m i n i stração da agricultura " a As reformas
que se p rete n d e m efectuar, a adequada gestã o dos negócios p ú b l i cos, as medidas des­
tinadas a gara ntir a sa ú d e p ú b l ica, o i n crem ento agrícol a , passa m o b rigatoria me nte pelo
con h e c i m e nto da popu lação. Co n h e c i m e nto tã o m a i s necessá rio qua nto a p o p u l a ção
portuguesa , segu n d o os econ o mistas políticos do te mpo, se enco ntrava em declínio.
Confidencial p o rq u e a divu lgação dos resultados a p u rados atenta contra a segu ra nça
do Esta d o - s o b retu do, de pequenos Estados como Portuga l -, porque permite m e d i r "a
gra n d eza e a fo rça " d a n a ç ã o e , m e s m o , p l a n e a r m a i s e f i c a z m e n t e a s o p e ra ç õ e s
m i l itares, e m caso d e conflito, por pa rte d e u m Estado i nvasor. N ã o é por acaso q u e José
Corn i d e , na viagem q u e fez a Po rtuga l , p reced endo a i nvasão espa nhola de 1 8 0 1 , te nha
regista do, por fregu esias, co nce l h os e coma rcas, o n ú m e ro de fogos do Reino.
su rgia a ss i m e pela p ri m e i ra vez, a necess i d a d e d e se levanta r a p o p u l a çã o das
diversas coma rcas ou p rovíncias d o Reino, não com fins i m e d i atos de natu reza fisca l ,
m i l ita r ou eclesiástica , não ce rta m e nte, c o m o bj ectivos m e ra mente d e m ográ fi cos, m a s
" p a ra b e n e fício dos Povos" e da Repú b l ica.
A m e n ta l i d a d e q u a n titativa estatística , q u e já se a fi rm a ra e desenvolve ra esplendo­
rosa mente no m u n d o das fi nanças públicas e da economia, bem patente nos orça mentos

43
FERNANDO DE SOUSA

ge ra i s d o Esta d o , em l i v ros de conta b i l i d a d e , n o s l i v ros d e registo de m e rca d orias,


ren d i m e ntos e d i reitos das a l fâ n d egas, nas l i stas de p reços dos produtos mais variados,
nos i nventários de bens e re ndas d o Esta d o , dos m u n i cípios e de particula res, e que, a
pa rti r de 1 7 7 4 , va i estar na origem das Balanças do comércio, fo ntes de excepcional
i m portâ n cia pa ra o estu d o de ta l secto r eco n ó m i co , chega , fi n a l m e nte á população.

3. ... À contagem dos homens

Em 1 7 7 1 , te rá s i d o efectu a d o u m leva n ta m ento gera l d o R e i n o , n ã o de ca rácte r


" e co n ó m i co " m a s " i m p erfeita m e n te m i l i ta r". É a este n u m e ra m e nto q u e soa res d e
Ba rros pa rece referir-se, q u a n d o fa la das listas das freguesias e fogos do R e i n o , e l a bo­
radas pouco a ntes da d ivisão dos bispados, possivel m ente, com o fi m de servi r d e base
à criação das novas d i oceses, a partir do d e s m e m b ra m e nto das já existe ntes ( 1 7 7 0 -
- 1 7 7 4) e q u e teria a p u rado 6 3 3 4 3 2 fogos 9
É, ta m b é m , a pa rti r de 1 7 7 1 , q u e passa m a ser re metidas à I nte nd ência-Geral da
Polícia a s l istas dos ba ptismos, casa me ntos e ó b i tos das d i fere ntes ci rcu nscrições d o
rei n o , - à s e m e l h a n ça d o q u e a co ntecia e m Fra nça, d e s d e 1 7 70 - e que estã o na base
,

das n otícia s relativas a o m ovi m e nto da população, q u e a Gazew de Lisboa , u m pouco


m a i s ta rde, p o r curiosidade, i nseria nas suas pági nas.
Esforço estatístico desti nado, efectiva mente a co n h ecer, a n u a l mente , a evol u çã o da
população, ou tentativa d e , fa ce aos maus resulta dos obtidos com o censo de 1 7 7 1 ,
procura r d etecta r o v o l u m e da população portuguesa , através da p rática fu ndada no
l e va n ta m e n to dos b a p t i s m o s , c a s a m e n tos e ó b i tos e n o cé l e b re c o e fi c i e n te ou
m u ltiplicador u n iversa l , método util izado e m Fra nça desde meados do século XVIII?
E m 1 7 7 6 , fo ra m reco l h i da s a s listas dos povos d e todas a s c o m a rcas d o R e i n o ,
gra ça s " a o ta l e nto d e i ndagação, e à curiosi dade sempre a ctiva " de P i n a M a n i q u e . Ta l
levanta m e n to a p u rou 7 4 4 9 8 0 fogos, tota l de pouco crédito, pois. as listas referentes às
coma rcas de Pinhel, La m ego, Tomar, Leiria e Setú bal não chega ra m a a p u ra r-se, te ndo
d e se reco rre r à Geografia Historica, de Caeta n o de Lima, para se suprir tal lacu n a , o q u e
d e m on stra o ca rácter p recá rio d o leva nta me nto de 1 7 7 1 1 0
Após 1 7 8 0 , acelera-se um conj u nto de dispositivos favoráveis ao conhecime nto tota l
ou parcial da p o p u l a ção portuguesa, q u e r a través de medidas da I nte ndência da Polícia,
quer das propostas p rogra máticas da Aca d e m i a Real das Ciências para a ela boração de
leva n ta m e n tos d e coma rcas e regi ões, q u e r através de u m i nteresse particu l a r q u e este
ca m p o de o b s e rvação rep rese n tava p a ra o Corpo Rea l de Enge n h e i ros. Entre i n fo r­
ma ções de â m bito restrito ou docume ntos de m a i o r a b ra n gência geográ fica, d ispomos
d e variadas fo ntes de teor d e m ográ fico.
A i n d a n esse a n o . s u rg e , p o r e xe m p l o , um Plan o de Divisão e Tras ladação d a s
paró q u i a s d e Lisboa. q u e fo rnece o n ú m ero de fogos d e todas as freguesias da ca pita l .
A 3 d e Fevere i ro e 3 1 de j u l h o de 1 7 8 1 , P i n a M a n i q u e d á i n struções a o s p rovedores.
pa ra que lhe sej a m e n v i a d o s os ma pas estatísticos dos na sci m e ntos, casa m e n tos e
ó b i tos ocorridos nas coma rcas e ouvidorias do Reino. Ordens reiteradas a 1 5 de j u n h o
d e 1 7 8 2 , desta vez, a todos os corregedores d a s coma rcas do R e i n o , pa ra que. em 1 7 8 3 ,
a q u e l e s m a g i s t ra d o s e n v i a s s e m à I n te n d ê n c i a u m a re l a ç ã o i n d i v i d u a l d a s a l m a s
existentes e m cada coma rca , referida a 1 7 8 2 , da q u a l constassem o s varões, as fê meas
e o n ú m e ro d e nasci m e n tos e ó b i tos re lativos a o mesmo ano, e q u e seria pedida aos

44
A POPULAÇÃO PORTUGUESA

pá rocos. Pa ra ta l , devia m os co rregedores enviar ca rtas ci rcu la res aos j u ízes de fora e
j u ízes o rd i n á rios, a fi m de estas fo rnecerem, até 20 de Deze m b ro de 1 7 8 3 , a re laçã o
exacta dos habitadores dos s e u s respectivos distritos, c o m a declaração d o s chefes de
fa míia e seus fi l h os/as, o n ú m e ro de criad os/as, escravos/as, re ligi osos/as, e eclesiás­
ticos. Por o rd e m d e u m de J u l h o d o mesmo ano, Pina M a n i q u e solici tava , a i n d a , o envio
do n ú m e ro d e casa me ntos efectua d os e m 1 7 8 2 . E, a p a rti r deste ano - i nsistia a q u e l e
magistra d o -. casa m e n tos, nasci m e n tos e óbitos ti n h a m de ser enviados, a n u a l m ente ,
n o mês d e Fevereito, á I nte n d ê ncia Geral da Polícia da Corte e R e i n o .
Tratava-se, pois, d e u m a utêntico recenseamento, a co m p a n h a d o da i n tenção de se
dete cta r o m o v i m e nto a n u a l da p o p u l a çã o , a d e m o nstra r que as medidas to m a d a s
n esse s e n t i d o , e m 1 7 7 1 , não t i n h a m o b t i d o q u a l q u e r êxito. Desco n h ecemos a exte nsão
e valor dos res u ltados q u e a s i nstruções de 1 7 8 1 - 1 7 8 2 tive ra m . Mas sabemos que as
mesmas fo ra m c u m p ridas, pelo m e n os, na lgumas p rovíncias d o Reino.
Ass i m , fo ra m l eva ntados, cuidadosa m e n te , os m a pas da população da coma rca d e
G u i m a rã e s , a n u a l m e n te , e n t r e 1 7 8 1 - 1 7 9 0 , i n d i ca n d o , p o r c o n c e l h o s , h o m e n s e
m u l h e res, rel igi osos/as, clé rigos, o rd i n a ndos, ass i m como os nasci me ntos - m e n i n os/as
- casa m e ntos e ó b i tos - mascu l i nos e fem i n i nos 1 1 .
Na sequência das mesmas o rd e ns, D. Manuel do Cenácu lo p romove um i n q u é rito na
d i ocese d e Bej a , a fi m d e a p u ra r os h a bita ntes e os ó b i tos a n uais das suas paróquias,
e ntre 1 7 8 0 - 1 7 8 6 , te n d o s i d o postos á disposição de Pina Manique os resultados fi n a i s 1 2.

E, em 1 7 8 9 , o dese m b a rgad o r Almeida Pa is, na d i l igência de que foi i nc u m b i d o , q u a l


a de averigu a r a s ca usas q u e d e ra m origem a o "despovoa mento e r u í n a " da agricu ltu ra
do Ale ntej o , regista , em 1 7 8 8 , a populaçã o da coma rca de Beja e o movime nto a n u a l
d o s nasci m e ntos e ó b i tos, i n c l u i n d o o s expostos, n o conce l h o de Bej a , entre 1 7 8 1 - 1 7 8 8 ,
o q u e l eva a ente n d e r q u e ta is dados já s e encontrava m leva ntados n

N u m a l i n h a fisiocráti ca , considera n d o a população estreita mente relacionada com a


produção agríco l a , " porque b raços, e terra j u ntos, são como ca lor, e h u m i d a d e de cuja
fe rme ntação toma m vida as essê ncias e l e m e nta res" , o i ntendente da Agricu ltu ra , Ferrari
M o rd a u , e l a b o ra o p ri m e i ro e s b o ç o co n h e c i d o de um ca d a stro d o R e i n o , n o s e u
Despertador d a Agricultura, de 1 7 8 2 . Entre j u d iciosas sente n ças no sentido de ca n a l iza r
p a ra a agricu ltura as fo rças vivas do Reino, propõe a elaboração de u m a ca rta - resumo
da população, q u e deveria a p u ra r, por coma rcas, os diversos tipos de povoa ções, os
corpos c o l e ctivos (co n v e ntos, reco l h i m e ntos, c o l é g i o s , h o s p i ta i s , etc.) a p o p u l a çã o
segu n d o os sexos, o n ú mero de nasci m e ntos e ó b itos, a l é m d o s re l i giosos e ce rtos
gru pos soci o p rofiss i o n a i s como os lavra d o res, a rtistas, criados e tra ba l ha d o res 14

Pa ra esse mesmo a n o , 1 7 8 2 , e já no labor propiciado pela actividade da Aca d e m i a


Real das C i ê n c i a s , Fra n cisco R e b e l o da Fonseca a p rese nta a Descripção economica d o
territorio que vulgarmen te se chama Alto- Douro , o n d e i n c l u i os tota i s da população
res i d ente nas fregu esias da região. o l eva nta mento baseava-se nos róis de confessa dos,
pelo q u e só fo ra m i nc l u í d os os efectivos m a i o res d e confissão 1 s.

Em 1 7 8 3 , José Antó n i o de Sá, "o p ri m e i ro e ntre os portugueses" a a p resenta r u m


modelo p a ra as observações fi losófico-pol íticas q u e s e devem fazer no rei n o - o b ra q u e
passou a exercer u m a gra n d e i nfl uência n o s eco n o m i stas políticos da época - , entre o s
pri n cípios q u e e n u n ci a , i n c l u i a a ve riguação do " n ú me ro d a s gentes da p rovín cia", a s
fa mílias existentes e m cada povo, ocupação d o s h a bita ntes, etc. 1 6
No a n o segu i n te, d a n d o cu m p ri m e n to a este p rogra ma teórico, um d iscí p u l o d e
D o m i ngos Va n d e l l i e fectua a Viagem mineralogico-botanica . . . d e Coimbra a Coja, n a

45
FERNANDO DE SOUSA

q u a l regista o l e va nta m e nto do n ú m e ro de fogos desta ú l tima v i l a , assim como a s


a l mas, fo rnece n d o , a i n d a , outros i n te ressa ntes d a d o s d e natu reza sociodem ográfi ca ,
nomeadamente, a estrutura p rofiss i o n a l e o movi me nto dos tota i s a nu a i s de baptismos,
casa mentos e ó bitos, entre 1 7 7 7 e 1 7 8 3 1 7
Entre 1 7 8 5 e 1 7 9 1 , L i m a Bezerra , em Os Estrangeiros no Lima , na descrição e n fa ­
d o n h a q u e faz da R i b e i ra Lima, i n c l u i n d o V i a n a d o Castel o (então, V i a n a da F o z d o Lima),
e n a qual, como escreveu Ivo Ca rneiro, a região é u m " pretexto" e a erud i ção o "texto",
espraia-se e m l a rgas cons i d e ra ções sobre a popu lação, o comé rcio , a agricu ltura , e a
n o b reza do rei n o . Procu ra n d o com b i n a r "as notícias mais seguras que encontrou nos
escritores d e boa n ota sobre a s matérias", a verd a d e é q u e , e m termos de população
deixa m u i to a desej a r, esti m a n d o , por exemplo, o n ú m e ro de h a bita n tes de Portuga l
n u n s exagera d íssimos 3 , 8 m i l hões 1 B
Em 1 7 8 6 , é a i nda José Antó n i o de Sá q u e e fectua a excele nte Descripção economica
da Torre de Moncorvo. Nela se a p resenta o m a pa da população, por freguesias, d iscri m i ­
n a n d o o n ú m e ro d e fogos e os i n d ivíduos m a i o res e menores de com u n h ã o e i n c l u i n d o ,
ta m b é m , o movi m e nto natura l de nasci m entos, ó bitos e casa mentos ocorridos no a n o
d e 1 7 8 4 . E , pouco d e p o i s , este mesmo a utor va i escrev e r a Memoria academica d a
provincia de Traz o s Mon tes, a q u a l n o s fo rnece i n forma ções d e ca rácte r estatísti co,
i n c l u i n d o a popu lação 1 9 _
Em 1 7 8 7 , José D i ogo de Masca re n h a s Neto produz, re la tiva m e nte á coma rca d e
G u i m a rães, o n d e exerceu fu nções d e corregedor, u m a estatística de gra n d e q u a l i d a d e ,
segu n d o Ba l b i , a p ri m e i ra no género efectuada e m Po rtuga l , d e q u e se co n hece, a penas,
o Mappa s tatistico da comarca de Guimarães, o qual, e m termos d e m ográ ficos, i n d i ca o
n ú m e ro de fogos, h o m ens, m u l heres e eclesiásticos daquela ci rcu nscrição 2 o _
No â m b ito co rográ fi co, u m a das m e l h ores o b ra s d este período, q u e constitui u m
ma rco d e referência p e l a subti l eza e a b ra ngência d o poder d e observação do s e u a utor,
é a rigo rosa Descripção topograph ica e h is torica da cidade do Porto, d e Agosti n h o
Rebelo d a costa , d e 1 7 8 8 . Abunda nte e m n ú m e ros e a preci a ções q u a l i tativas, i n te ressa
ta nto à d e m ogra fia como à h istó ria eco n ó m i ca , constitu i n d o um teste m u n h o precioso
sobre a d i n â m i ca u rbana e seus reflexos sobre a região. No capítu lo populaci o n a l , refere
o tota l d e fogos (que i d e nti fica , como outros a utores, com "vizi nhos" ou " fa m í l ias") e
a l ma s existentes nas freguesias da cidade do Porto em 1 7 8 7 , d iscri m i na os sexos dos
res i d e ntes e i n c l u i o tota l de casa m entos, nasci m e ntos e mortes ocorridos em 1 7 8 6 . A
gra n d e i novação d este estu d o está no fa cto do autor se basea r em esti mativas a q u e
ch ega depois d e corrigi r os d a d os fornecidos pelos catá logos (róis) e livros de registo
p a ro q u i a l , q u e r e p u ta de má q u a l i d a d e , p o r s e r e m " i rregu l a res no seu m é to d o " e
l a c u n a re s , e a i n d a , d e n ã o p r a t i c a r , n a i n fo r m a ç ã o q u a n t i ta t i v a , os t ra d i c i o n a i s
a rred o n d a mentos d o s n ú m e ros 2 1 _
Nesse mesmo a n o , s u rge u ma fo nte igua l m e nte i m porta nte pa ra o S u l do País, o
Mappa do Reino do Algarve, cód i ce m a nuscrito q u e se enco ntra em p u b l i cação. Com
gra ndes pote n c i a l i dades d e tipo d e mográ fico, i n d i ca o n ú m e ro de homens e m u l h e res,
p o r conce l h os. A p o p u l a çã o e n contra-se d i stri b u í d a por fogos, fi l i a ções ou outros gra u s
d e r e l a ç ã o c o m o ca b eça d e fogo. R e fe r e m -se a s i d a d e s até a o s 1 0 0 a n os, a clas­
s i fi ca ç ã o p r o f i ss i o n a l d o s res i d e n t e s e a i n d a o n ú m e ro d e n a s c i m e n tos e ó b i to s
ocorridos n a p rovíncia , e m 1 7 8 8 . Embora c o m uma estrutura semelha nte à d o s r ó i s d e
c o n fessa d o s , a g ra n d e i n ova ção d este d o c u m e n to re l a c i o na - s e com o s e u a l ca n ce
gl o b a l , a o a rro l a r de forma sistemática toda a populaçã o d e u m a p rovíncia 22

46
A POPULAÇÃO PORTUGUESA

A i n d a em 1 7 8 8 , o dese m b a rga d o r G e rvás i o de A l m e i da Pa is, já referido, nas suas


excele ntes e b e m d o c u m e ntadas Observaçoens e exames feitos sobre as ca uzas do
atrazamento e ruína da agricultura e povoação na Província do Alentejo , oferece-nos
p reciosas i n formações estatísticas qua nto à população da coma rca de Beja.
o a n o d e 1 7 8 8 conti n u a , todavia, a produzi r d escrições de q u a l i dade. Em Salvate rra
de Magos, são os engen h e i ros m i l i ta res Teodoro Marques Pere i ra da Si lva e Inácio José
Leão que rea l izam o levanta m ento n o m i n a l da popu lação da vila. Apuram o n ú mero de
fogos, os ca beças de casa l ou d o n os d e casas, os residentes por sexos, d istingu i n d o o
seu esta d o rel i gioso, os clé rigos e frad es. Procedem à classificação soci o p rofissional da
p o p u la ç ã o , r e p a r t i d a por gru pos d e i d a d e d e c e n a i s e ntre 1 e 1 1 o a n os. E refere m ,
ta m b é m , o tota l d e nasci m e ntos e ó bi tos d o a n o d e 1 7 8 8 , d isti ngu i ndo a morta l idade
dos m e no res e m a i o res d e 7 anos n

A pa rti r de 1 7 8 8 e até 1 8 2 6 , nos su cessivos a l m a n a q u e s p a ra os d i versos a n os ,


começam a divu lgar-se i n fo rmações cu riosas, d e natu reza estatística, sobre comércio,
p o p u l a ç ã o , etc.. o a l ma n a q u e d e 1 7 8 8 i n tro d u z uma r u b r i ca i n titu l a d a Aritmé tica
Política, i n d i ca n d o os níveis d e nata l i dade e morta l i d a d e , bem como uma esti mativa da
d u ração média d e vida das populações. Este tipo d e i n formação p rossegue nos a n os
i m e d iatos, até 1 7 9 0 , desta feita , i n d i ca n d o o n ú m e ro de nasci m e n tos, casa m e n tos e
ó bitos regista dos na cidade de Lisboa. o Almanach de 1 7 90 i nclui a i n d a registos demo­
grá ficos s o b re a s fregu esias d e Lisboa e d o bispado de Porta legre, bem como o n ú mero
d e freguesias d o re i no. A mesma i n formação sobre várias loca l i dades é a p resentada em
1 7 9 1 , d a n d o especial relevo à população da i l ha de São Migu e l , nos Açores.
Entreta nto, a a cção dos enge n h e i ros m i l ita res p rossegu e. Em 1 7 8 9 , à semelhança do
a rro l a m e nto e fectuado e m Salvaterra de Magos, Teodoro Pere i ra da Si lva e Inácio Leão
rea l iza m o levanta me nto da vila de Coruche. o esquema segu i d o , bem como o tipo d e
i n formação são i d ê nticos a o d e Salvate rra. E e m 1 7 90, rea l i za-se o leva nta m e nto d a v i l a
de Sa m o ra Correia e m m o l d e s iguais a o s util izados a nteriorme nte 24 .
Em 1 7 9 2 , a p resenta-se o leva nta m e n to dos res i d e n tes em Lei ria e mais dez fre­
guesias da Alta Estre m a d u ra , refe re ntes a 1 7 9 1 . I n d i ca-se o tota l de homens e m u l h eres,
d i s t i n gu i n d o m a i o res e m e n o res d e 7 a n os, e o movi m e nto natu ra l d a p o p u l a ç ã o .
Provave l m e nte na s e q u ê n c i a de u m leva nta m e nto ordenado pela Intendência G e r a l da
Polícia, o A lmanach refe re n te a o ano d e 1 7 9 3 i n fo r m a , p o r b i s p a d o s , o n ú m e ro de
freguesias d o rei n o .
A pa rti r d e 1 7 9 1 - 1 7 9 2 depara m o-nos c o m vários leva nta m e ntos, a lguns dos quais s e
rela ci o n a m d i recta m e n te com a l egislação d e 1 7 9 0 (ca rta de lei d e 1 9 de J u l ho) e d e
1 79 2 (a lvará d e 7 de j a n e i ro), que p revia uma dema rcação do reino, através de uma nova
divisão que corrigisse o l a b i ri nto das isenções, j u risdições e encravame ntos de circuns­
crições tã o critica d o na época, dada a i rraci o n a l i dade a d m i n istrativa q u e então vigorava .
Nesta l i n ha , em 1 7 9 1 , José Antó n i o de Sá elabora o plano de correi ção da coma rca
de M o n co rvo. N e l e i n clui um levanta m e nto do n ú mero de h a bita ntes de ca da fogo, os
respectivos ca beças de casa l e seus fi l hos, criados e outros. I n d i ca as ida des, o ofíci o , a
n a t u ra l i d a d e , o esta d o re l i gioso, a d i stri b u i çã o da p o p u l a çã o mascu l i na por gra n d es
gru pos de idades (menores de 2 0 , e ntre 20 e 50 e maiores de 5 0 a n os). Refere, a i n d a , o
tota l de ó b i tos, nasci m e n tos e matri m ó n i os da região, a p resenta n d o como modelo u m
mapa da p o p u l a çã o d o conce l h o de Vila Flor.
A i n d a de a co rd o com a mesma orie ntação, em 1 7 9 2 , o corregedor Antó n i o Xav i e r
Teixeira H o m e m tra ça o mapa da populaçã o da coma rca de Viana. M a p a q u e u ltra passa

47
FERNANDO DE SOUSA

o â m bito p o p u l a c i o n a l p a ra se espra i a r p e l a s acti v i d a d es eco n ó m i ca s , a p resenta n d o


d iversos q u a d ros d e produções. Pa ra a popu lação, a i n formação é d a d a p o r conce l h o , de
acordo com a s relações fornecidas pelos pá rocos, d isti ngu i n d o homens e m u l h e res e m
quatro gra ndes gru pos etá rios, de 1 a 1 4 a nos, de 1 4 a 3 0 , de 3 0 a 70 e m a i s de 70 a n os 25 .
Nesse mesmo a n o , Tomás Antó n i o Portuga l chama a atenção para a n ecessidade d e
u m a n u m e ração gera l d o R e i n o , da q u a l constassem o n ú m e ro d e h o m e n s e m u l h e res,
esta d o civi l - os soltei ros, d iv i d i dos e m m a i o res e menores de 1 5 a n os -, respectivas
profissões e os nasci m e ntos, casa mentos, ó bitos - e causas que origi naram estes -, q u e
ocorri a m , a n u a l m ente, n o re i n o 26

Pa ra o A l e n tej o , te m o s co n h e ci m e nto q u e To rres S a l gu e i ro , p rove d o r d e Évo ra ,


ta m b é m e m 1 7 9 2 , e m resposta á p rovisão d e 2 0 d e Abri l d o mesmo a n o , l eva ntou os
dados d e natu reza d e m ográ fica , social e eco n ó m i ca relativos à coma rca de Vila Vi çosa ,
d e q u e r e s u l t o u u m a " e x c e l e n t e i n fo r m a ç ã o " , a Es tatís tica, s o b re a agric u l t u ra,
população e c. da comarca de Vil/a Viçosa", p u b l i cada em 1 8 2 0 , mas, l a m e ntave l m e nte,
desprovida dos q u a d ros estatísticos n

A i n d a e m 1 7 9 2 , o m a re c h a l de ca m p o F ra ncisco X a v i e r de N o r o n h a red ige u m


p a r e c e r s o b re o m é t o d o m a i s va ntaj osos p a ra s e v e ri fica r a p o p u l a çã o d o R e i n o ,
p o n d e ra n d o q u e , p a ra ta l exa m e , o s magistra d os m a i s i n d icados seri a m o s corregedores
e proved o res, p o r terem o pe rfeito conhecimento das v i ntenas da sua á rea de j u risdição
e poderem d i s p o r dos "soco rros" dos pá rocos, q u e lhes dariam as "cla rezas necessa rias".
Por outro lado, devia-se lançar mão dos l i vros das ordenanças, existentes nas câ m a ras e
dos q u a i s constava m os fogos e mora d o res de ca da conce l h o 2B
o n u m e ra m e nto d esse a n o , efectua d o pela I ntendência Geral da Polícia, a p u ro u , e m
t o d o s os b i s p a d o s d o R e i n o , prelazia de To m a r e m a i s a lguns isen tos , 3 9 7 4 fregu esias e
6 3 7 3 8 2 fogos 2 9
F i n a l m e n te , em 1 7 9 3 , são n o m e a d os os j u ízes d e m a rca n tes pa ra a s d i v e rs a s
coma rcas d o Reino: José d e Abreu Bace l a r Chicharro, para a Estre m a d u ra ; João Bernardo
da Costa Falcão, p a ra a B e i ra ; Fra ncisco Antó n i o d e Fa ria, para o M i n ho; Col u m b a n o Pi nto
R i b e i ro d e castro, para Trás-os-Montes; Joa q u i m J osé Marques To rres Salgu e i ro , para o
Alentejo; e José Antó n i o Barahona Ferna ndes, pa ra o Algarve.
Ca d a u m d e s t e s m a g i st ra d os estava i n c u m b i d o de e fectu a r a v e r i g u a ç õ e s d e
ca rácte r a d m i n i s t ra t i v o , e co n ó m i c o e soci a l , e x i g i n do-se a i n d a o l e va n ta m e nto d a
p o p u l a ç ã o res i d e nte. U m a s e q u ê n c i a d e a c o n t e c i m e n tos, c o n tu d o , v i rá a i m p e d i r,
l i m itar, o u , p e l o menos, a d i a r esses tra b a l hos.
Em relação a o Alga rve não se conhecem quaisquer resultados, sendo de colocar a
h i p ó t e s e d e ta l l e v a n ta m e nto s e r co n s i d e ra d o d i s p e n s á ve l , te n d o e m a t e n ç ã o a
existência do exce l ente M a pa do Re i n o de Alga rve, de 1 7 8 8 , atrás referido.
Quanto a o Alentej o, há notícias ce rtas d e Torres Salgu e i ro, a pesa r da hosti l i d a d e das
a utori d a d es regi o n a i s , ter e fectua d o o l eva nta mento da popu lação da p rovíncia em
1 7 9 4 - 1 7 9 5 . P e r d e u - s e , contu d o , a docume ntação rela tiva a esta vasta regiã o , s o b re­
vive n d o a pe n a s os dados refe rentes a o conce l h o d e Serpa , posteriormente uti l i za d os
p o r José da G raça Afreixo, na sua Memoria h istorico-economica do concelho de Serpa 30.
S o b re a Estre m a d u ra não se c o n h ece q u a l q u e r c ô m p uto globa l , e m b o ra Bace l a r
Chicharro t e n h a redigido u m a m e m ó ria i m po rta nte e m q u e expende doutrina sobre o
ca m i n h o a s e gu i r p a ra esse e fe i to . S e n d o esta m e m ó ri a d i v i d i d a e m d u a s pa rtes ,
Chicha rro a p resenta , na p ri m e i ra , a sua doutrina sobre o conceito de " ri q ueza p ú b l ica" e
os meios de a o bter. Pa ra a segu nda pa rte, p ro p u n ha-se fazer uma "espécie de a ritmé-

48
A POPULAÇÃO PORTUGUESA

tica politi ca a cada u m a das vilas da p rovíncia", regista ndo os tem p l os, pontes, fá b ri ca s e
m a n u fa cturas gera i s , terras cu ltas e i n cu l tas, o esta d o da sua lavoura ; a quantidade d e
gé n e ros reco l h i dos, povoa ção, com é rcio, d i reitos, b e n s da coroa e das ordens religi osas,
a presen ta nd o , n o fi n a l , os mapas gerais de povoa ção , e dos frutos" 3 1 . Este proj ecto,
contu d o , não chegou a rea l i za r-se, pois, p a ra a l é m das d i fi c u l d a d es e n co n tra das nos
magistrados locais, Chicharro terá tentado o recenseamento por 1 7 9 7 - 1 7 9 8 , isto é, numa
altura e m q u e a população a n dava já mu ito alvoroçada com boatos de gue rra e m i n ente.
Pa ra a B e i ra , não se con h e ce q u a l q u e r documentação que d i recta mente expresse a
a ctividade do j u i z d e m a rca n te. Mas sa be-se q u e , na seq u ê n cia das suas i nstruções, o
j u i z de fora de Recardães, j osé Antó n i o Leão, efectuou o l eva nta me nto da respectiva
vila e termo p a ra o ano d e 1 79 3 . I n c l u i a população por sexos e gru pos de i d a d e , - os
h o m e n s d e um a 1 4 a nos, 1 4-60 e mais d e 60; a s m u l h e res de u m a 1 2 a n os, 1 2 - 6 0 e
m a i s de 60 a n os - o respectivo estad o civil e a i n d a os nasci me ntos (legítimos, i l egítimos
e expostos), os ó bitos (naturais e por acide nte) e os casa mentos entre 1 7 8 9 e 1 7 9 3 . E,
e m 1 7 9 5 , J e ró n i m o Couce i ro d e A l m e i d a , secretá rio da d e m a rcação da B e i ra , a p u rou a
tá bua da p o p u l a çã o da cidade de Coi m b ra e seu termo, design a n d o o tota l de h o m e n s
e m u l h e res p o r g r u p o s de i d a d e i d ê nti cos aos util izados e m relação a Reca rdães, bem
como o seu respectivo esta d o civi l 32 .
D este vasto e i nteressa n tíss i m o p rojecto da "dema rca ção" do Reino, co n h ecem-se,
a i n d a , duas d escrições d e gra n d e q u a l i d a d e , q u e a testa m as i nvu lga res ca pacidades
i n te l e ctu a i s e t é c n i ca s d o s seus res p o n s á v e i s e n o s dão um re l a to q u a l i t a t i v o e
q u a ntitativo m i n ucioso sobre as duas gra n d es províncias do Norte de Portuga l , o M i n h o
e Trás-os-Montes.
Ass i m , e m 1 7 9 4 - 1 7 9 5 , Co l u m ba n o Pinto d e Castro , num tra b a l h o excepci o n a l q u e
a cusa os e n s i n a m e ntos co l h i dos na o b ra e nos conta ctos pessoa is ma ntidos c o m José
Antó n i o d e Sá - exerceu fu n ções de p roved o r e m Monco rvo quando este aí se encon­
trava como co rregedor -, leva a efeito o recensea m e nto siste máti co da populaçã o d e
toda a p rovíncia d e Trás-os-Montes. No respectivo Mappa do estado actual d a província
de Tras -os-M o n tes , p o r v i n t e n a s , c o n ce l h o s e c o m a rca s , a p re s e nta a p o p u l a çã o
d istri buída p o r sexos e p rofissões, b e m como o tota l de ó bitos (divididos e ntre m a i o res
e m e n o res de comun hão) e os nasci m entos ocorri dos e m cada co nce l h o , entre 1 7 6 8 -
1 7 7 2 e 1 7 8 8 - 1 7 9 2 , p a ra a l é m d e c o n t e r , a i n d a , va l i os a s i n fo r m a çõ e s d e ca rá cte r
a d m i n istrativo e económ ico 33 .
Nos mesmos a nos, l eva nta m ento semel ha nte foi rea lizado por Fra ncisco Antó n i o de
Faria e p e l o te n e nte d e e n ge n h a ri a custó d i o V i l a s Boas pa ra a p rovíncia d o M i n ho.
Desta vez, o levanta mento fo i a co m p a n h a d o por u m magnífi co estud o ca rtográ fi co da
regiã o , e fectu a d o por Vilas Boas, e cuja rea lização se reporta aos mesmos a nos. Pa ra
cada u m a das coma rcas designa-se o n ú mero de fogos, os homens e m u l heres m a i o res
e m e n o res d e 1 4 a nos, o tota l d e a l mas, os clérigos, os conventos de frades e frei ras,
re l i gi o s o s e re l i g i o s a s , o s reco l h i m e n tos e reco l h i d a s . I n c l u e m -se dados s o b re as
cidades, a s v i l a s com j u i z d e fora , os conce l hos, coutos e h o n ras, j u lgados e freguesias,
priora d os, a ba d ias, reitorias, curatos, pá rocos, re n d i m e ntos dos dízi mos, comendas da
Ordem d e Cristo e da Ordem d e Malta, fe i ra s , e outras i n fo rmações, e m b o ra s e m a
ela boração da m e m ó ria eco n ó m i ca de q u e se conhece a penas o p l a n o , data d o de 1 7 9 9
e p u b l i ca d o n esse mesmo a n o 34
Antó n i o cruz, a o d a r á l u z o Cadastro da Província do Minho, desco n h ecendo o plano
n a c i o n a l e m que este s e i n s e r i a , i n fl u e n ci a d o pela a p rova ç ã o , e m 1 7 9 9 , d o p l a n o

4 49
FERNANDO DE SOUSA

o rga ni za d o p o r Vilas Boas pa ra u m a d escrição geográfica e eco n ó m i ca da provínci a , e


pela data de 1 8 0 0 , registada no mapa ca rtográfi co do M i n h o , q u e reproduz, concl u i u
a p ressa d a me n te q u e a q u e l e ce nso representava a pa rte d e mográ fi ca da d escrição e
q u e , p o rta nto, datava de 1 8 0 0 35 .
o ra , na ú l t i m a década do século XVI I I , a penas se efectivo u , para o M i n h o , u m só
recensea mento, que data d e 1 7 9 4 - 1 7 9 5 . E o fa cto de nos surgirem dois cômputos tota is
da p o p u l a çã o , q u e seria m , um, d e 1 7 9 8 , outro, d e 1 8 0 0 , não nos permite concl u i r que
esta mos p e ra nte d o i s recensea me ntos d isti ntos - ou três, se tivermos e m consideração
o d e 1 7 9 4 - , o utross i m , q u e s e trata , a p e n a s , d e d u a s versões d e um s ó c e n s o ,
registadas, e m é p o cas d i ferentes, nas ca rtas geográ ficas de V i l a s Boas.
C o m e fe i t o , os m a p a s d a povoação d o M i n h o e os p a p é i s relativos à d escrição
eco n ó m i ca da p rovíncia, enviados pelas câ m a ras a Antó n i o de Fari a , na sequência d o
i n q u é rito q u e e s t e m a n d a ra i m p ri m i r e d i stri b u i r p o r t o d o s os conce l h o s m i n h otos,
e n co ntrava m - s e j á reco l h i dos e m 1 7 9 5 , pelo que a q u e l e magi stra d o e n v i o u toda a
docume nta çã o p a ra Lisboa.
Esses fu n d os docume nta is, a pós terem passa d o por outras mãos, fo ra m e ntregu es,
e m 1 7 de Agosto d e 1 7 9 6 , a Vilas Boas, q u e conti n uava a tra b a l h a r na ca rta geográfica
d o M i n h o , fa lta n d o - l h e , então, p a ra co m p l eta r a q u e l a , l eva nta r pa rte da coma rca de
G u i m a rães e a coma rca d e Penafiel 36
o estud o ca rtográ fico da p rovíncia term i n a e m 1 7 9 8 , ten d o Vilas Boas regista d o no
m a p a , p o r coma rcas, o q u a d ro da população d o Minho, a nota n d o q u e , para o a p u ra ­
m e nto da m e s m a , se teria servi d o d o concurso d e pá rocos, de pessoas i ntel igentes e d e
u m " l a b o ri ozo tra ba l h o " .
E m c ó p i a p o s t e r i o r d o m e s m o m a p a , fo i regi sta d o , n o v a m e n t e , o q u a d ro d a
p o p u l a çã o da província, referido a 1 8 00 e q u e d i fere, a penas, em 8 0 pessoas, do tota l d a
p o p u l a ção i nseri d o n o mapa d e 1 7 9 8 , o q u e i n d icia u m a mera correcção n u m é ri ca 3 7 .
Ass i m , n u m a fase primária, em 1 79 8 , os resultados do censo de 1 7 9 4- 1 7 9 5 fora m
i n tegra d o s no m a pa d o M i n h o , res u l ta d o s q u e a c u sa m , a t é , u m gross e i ro e rro n a
contagem dos fogos da coma rca de G u i m a rães, j ustificável, devido à d e m a rcação d o s
co n c e l h os, e ntã o e m c u rso. N u ma segu nda fase, a pós trata m e n to m a i s c u i d a d o d a s
fontes o rigi nais, os resulta d os d o mesmo censo passa ra m a fazer pa rte de u m a cópia d a
ca rta geográfica d e V i l a s Boas, atri bui ndo-se-lhe a data de 1 8 00.
Outras fontes, a l iás, para além das i n formações d o j u iz d e m a rca nte, Antó n i o d e Faria
- para não fa la rmos na a meaça d e gue rra q u e p a i rava sobre o Reino, nos anos de 1 7 99-
1 8 0 0 , c o n fi rm a d a pelo p r ó p r i o Vilas B o a s e que d i fi c u lta ria terri ve l m e nte q u a l q u e r
levanta m e nto d e mográ fico - , confirmam q u e o recensea mento do M i n h o é de 1 7 94- 1 7 9 5 :

o ca rdeal Sara iva, a utor da obra Os Frades julgados no Tribunal da


Razão, i n d ica , pa ra a populaçã o e para o clero regu l a r e secu l a r
d o M i n h o , os m e s m o s n ú m e ros q u e os referidos a 1 8 0 0 , n a
ca rta d e V i l a s Boas, m a s , expressamente declara " o exacto e
m i u d o rece nsea m e nto, q u e fez o e n ge n h e i ro Custó d i o J o s é
Gomes de Vilas B o a s em 1 7 94 " 3 8 .

n o A rq u i v o H i s t ó r i c o M i l i ta r e n c o n t ra - s e a R e l l a ç ã o d a s
jurisdicções e freguesias d a província do M i n h o em 1794, cópia
fi e l d o cadastro p u b l icado por Antó n i o Cruz, ignora n d o apenas
o sexo fe m i n i n o, a d e n u ncia r, porta nto, o seu fi m m i l ita r 3 9 .

50
A POPULAÇÃO PORTUGUESA

• Vilas Boas. em 1 802. numa carta-resposta atinente à obra do enca­


namento d o Cáva d o . fa l a d a " n u m e ração d e 1 7 9 4 " e a ponta .
p a ra este a n o . o n ú m e ro d e fogos d e Espose n d e . igu a i s aos
registados no Ca dastro 4 0 .

fi n a l m e nte. e datada de 1 8 0 0 , conhece m os uma fonte m a n us­


crita da autoria d e Vilas Boas. que diz respeito ao Alto- M i n h o .
i n d i ca n d o a população das v i l a s e concelhos das coma rcas d e
Va l e n ça e Viana. nesse a n o . n ú m e ros tota l m e nte d i ferentes d o s
q u e se e n contra m no Cadastro de 1 7 94 - 1 7 9 5 4 1 .

o a p u ra m ento d a p o p u lação a norte d o D o u ro . n a ú ltima d écada d o sécu l o XVI I I .


data . p o i s . d e 1 7 9 4- 1 7 9 5 .
Os censos d o M i n ho e d e Trás-os-Montes constitu e m . pois. a nível populaciona l . o s
ú n i cos recenseame ntos provinciais q u e se conhece m . l i mitados resu ltados de uma d e ­
m a rcação e levanta m e nto da população q u e se p rete n d i a m extensivos a tod o o Reino.
Que. e m 1 7 9 8 , não se t i n h a m conta d o . ainda. os portugueses. d e m onstra-o o censo
d e P i n a M a n i q u e . por fogos. com propósitos d e l i b e ra d a m e nte m i l ita res e e fectua d o
a t r a v é s d o s co rrege d o re s . j u ízes d e fo ra e j u ízes o rd i n á ri o s . o fi c i a i s d o e x é rcito e
ca p i tã e s - m o re s . p r o m e te n d o o I n t e n d e n t e G e r a l da P o l í c i a . a o s m a g i s t ra d o s d a
a d m i n i s t ra ç ã o l o ca l . p r o m o çõ e s i m e d i a ta s . c a s o s e d e s e m p e n h a s s e m . d i l i g e n te e
ra p i d a mente. da m i ssão q u e l h e s e ra confiada.
o c ô m p uto fi n a l registou 4 2 3 9 fregu e s i a s - n ú m e ro s u p e r i o r a o rea l . j á q u e .
a lgumas freguesias. d istri buídas p o r mais q u e u m conce l h o . fora m contadas duas vezes
- e 746 864 fogos. tota l a necessita r igua l m e nte. d e a lgumas correcções.
Os va l o res globais. a p resentados no Almanach para o anno de 1802 - a q u i . regis­
ta n d o 4 2 6 2 fregu esias e 760 402 fogos -. tra nscritos i n tegra l mente por José Corn i d e .
e m a p ê n d i ce a os t r ê s volumes d o seu Esrado de Portugal en e/ ano de 1800. conheceu
e d i çã o a u t ó n o m a . d a r e s p o n sa b i l i d a d e d e Veríss i m o Serrã o . s e m q u a l q u e r a p a rato
crítico e q u e erra d a m e nte o a p resentou co mo i néd ito 4 2 E. até 1 8 0 1 . não se re nova m
q u a i s q u e r tentativas sérias q u e visem o conhecime nto global da população portugu esa .
N u m a p e rs p e ctiva m i l i ta r. registe-se. p a ra 1 7 9 9 . o m a p a gera l da p o p u l a ç ã o d a
comarca d e Castelo Bra nco. por freguesias. d istinguindo h o m e n s e mulheres. ela borado por
J osé Pereira de Lacerda. Esta tarefa visava dar cumprimento ao alva rá de 2 2 de Feverei ro
desse mesmo a n o . tendo em vista o recruta mento do corpo da legião de tropas ligeiras 43
N esse mesmo ano. e ra a p rova d o . através da Secreta ria d e Esta do dos Negócios d o
Reino. o m i n ucioso p l a n o d e Vilas B o a s pa ra uma descrição geográ fi co-econ ó m ica d o
M i n h o - p l a n o . s e m dúvida. i ns p i ra d o na o b ra teoriza d o ra de J o s é Antó n i o de Sá-. q u e .
a n í v e l d e mográ fico. p rete n d i a re nova r o Cadastro de 1 7 9 4 e reco l h e r o n ú m e ro d e
ó b i tos. casa m e ntos e nasci m en tos da p rovíncia d e " h a 1 o a nos a esta parte". Pla n o
a m b i ci oso q u e . i n fe l izmente. não chegou a con cretiza r-se.
E m 1 8 0 1 . é a i nda Col u m b a n o Pinto R i b e i ro de Castro. que. enqua nto correge d o r da
coma rca da F e i ra . segu i n d o o modelo já utilizado por si na descrição d e Trás-os-Montes.
nos fornece uma rigorosa Descripção da Comarca da Feira. fo rnecendo-nos o volume da
p o p u l a çã o - fogos. a l mas. homens e m u l h e res -. a classificação soci o p rofiss i o n a l da
população a ctiva . e o utras i n fo rma ções d e ca rácte r estatístico. q u e vão desde as rendas
d o con d a d o e a l m oxarifados até ao ren d i m ento dos dízimos 44

51
FERNANDO DE SOUSA

A i n d a em 1 8 0 1 , como resu ltad o de um lo ngo tra ba l ho i n i ciado em 1 7 94 45 , - e q u e


visava a u m p l a n o ge ra l d e correição, a p rova d o e m 1 7 9 7 - , são p u b l icadas, da a utoria
de J o s é A n tó n i o de Sá, as I n s truções G e rais para s e form a r o Cadas tro o u Mapa
Arithmetico - Politico do Reino, a s q u a i s , n o ca pítu l o relativo à povoaçã o , s i n tetiza m
todas as co n s i d e rações q u e a q u e l e magistra do até aí tecera sobre este tem a , preco­
n i za n d o o a p u ra m e nto d o n ú me ro d e " pessoas", ou " h a b i ta ntes" , as suas idades, sexos,
estados e "classe", os nasci m entos, casa m entos, m o rtes, causas d o despovoa m e n to de
alguns l uga res, etc.
Tornava-se n ecessá r i o q u e , p a ra a averiguação d a p o p u l a çã o , como dos ou tros
o bj e ctos d o C a d a stro d o R e i n o , se esco l h essem " c o m i ssá rios", o u sej a , " m i n istros e
pessoas i ntel igentes nas materias respectivas". A responsa b i l i d a d e de tal a p u ra m e n to
seri a , assi m , do Esta d o , na conti n uação do p l a n o da d e m a rca ção das p rovíncias, i n i ciado
e m 1 7 9 3 , mas q u e não d e ra os resu ltados p revistos.
Nesse sentido, a "saudosiss i m a lei d e 9 d e j u n h o d e 1 80 1 " dete r m i nava q u e , em
cada coma rca d o R e i n o , existisse um matemático, que fosse o seu cosmógrafo, a fi m de
se leva nta r o cadastro das terras. Procu rava-se, d este modo, cri a r u m serviço especial
" p a ra as a v e ri g u a ç õ e s e s t a t í st i c a s " , à s e m e l h a n ça dos d e p a rta m e n t o s o fi c i a i s
r e s p o n s á v e i s p e l a E s t a t í st i ca , q u e , e m 1 8 0 0 , t i n h a m s i d o fu n d a d o s n a F ra n ça e
I nglaterra. o proj e cto, c o n t u d o , n ã o v i n g o u , ou p e l a s d e s p esas q u e oca s i o n a v a , o u
porq ue, n ã o esta n d o " e m h a r m o n i a c o m as i nstitui ções . . . p o d i a p roduzi r confl i ctos de
j u risd i cçã o " 46
Mas, p a ra já, term i n a d o o confl i to com a Espa n h a , q u e ocorre ra e m 1 8 0 1 , a Guerra
das Laranjas, e esta belecida a paz com o rei n o vizi n h o , não seria possíve l , pelo menos
n o q u e d izia respeito à p o p u l a ção, proceder a o recenseamento geral do rei n o , através
das a u t o ri d a d e s eclesiásticas, uma vez que n i n g u é m m e l h o r que os pá rocos p o d i a
fornecer, com " m a i o r certeza e comod i d a d e " , o n ú mero de h a bita ntes das freguesias d e
Portuga l ?

4 . Co n c l u s ã o

A a n á l ise d a s d outri nas da população e dos l eva nta m e n tos, nacionais e regi onais,
e fectu a d os , a nível d e m ográ fi c o , n o ú l t i m o q u a rte l d o s é c u l o XVI I I , e m P o rtuga l ,
permite-nos chega r a a lgumas concl usões.
Em p r i m e i ro lugar, i m po rta referir que ga n h a corpo a tese de que já não basta mais,
q u a nto a o a p u ra m e nto da popu lação, a s i m ples contagem por fogos, vinda da Idade
M é d i a , mas q u e se torna necessá rio i r m a i s longe, isto é , recensea r toda a população,
h o m e n s , m u l h eres e cri a n ças.
O fogo, u n i d a d e d e contage m privil egiada e quase exclusiva do Antigo Regi me, cede
o passo, ra p i d a m e nte, à q u a ntifi cação das almas, i sto é , das pessoas ou habitan tes.
se o fogo c o n t i n u a a s e r s i n ó n i m o d e vizi n h o e fa m íl i a , a s a l m as p e r d e m o
sign i fi ca d o de m a i ores de com u n h ã o ou de co n fissão e passa m a i d entifica r-se com os
h o m e n s e a s m u l h e re s e x i s t e n t e s , c o m a s pessoas o u habita n tes . E o tra d i c i o n a l
vocá b u l o povoação v a i d a r lugar à designação de recenseamento.
Estes n ovos conceitos, fruto da ren ovação mental e conceptu a l que ca racte riza os
fi n a i s d e Setecentos, não tra d u ze m , a penas, uma m u d a nça fo rma l , mas traze m consigo,
n o d o m í n i o da popu lação, u m a maior exigência, u m maior rigor.

52
A POPULAÇÃO PORTUGUESA

As estimativas ced e m l u ga r a o cá l c u l o , os n ú m e ros q u e e x p ri m e m os fogos , a s


a l m a s o u os h a b i ta n tes l i b e rta m - s e d o s h a b i t u a i s e grosse i ros a rred o n d a m e ntos -
e m b o ra m a n te n d o a atracção p e l os n ú m e ros pa res, e n a s i d a d es , p e l o s n ú m e ros
te rm i nados e m o e 5 - e ga n h a m outra segu ra n ça , u m a vez q u e a população, pa ra a l é m
d e e n t e n d i d a n u m a p e r s p e ct i v a e c l e s i á s t i ca , t r i b u tá r i a o u m i l i ta r , p a s s a a s e r
co n s i d e ra d a , ta m b é m , c o m o u m a d a s v a r i á v e i s a t e r e m c o n ta n o s p l a n o s d e
desenvolvimento eco n ó m i co.
A q u a ntifica ção da população, i n tegra d a , logica mente, na proble mática mais a m pla
da qua ntifi ca çã o da rea l i d a d e eco n ó m i ca e social d o rei n o , passa a ser, deste modo, um
i nstru m e nto esse n c i a l d a política eco n ó m i ca d o Governo e u m dos fu n d a m e ntos d e
u ma a d m i n i stra ção eficaz.
S a b e m o s q u e , l a m e n tave l m e n t e , este esforço q u a n ti t a t i v o não é, a i n d a , u m a
con q u i sta defin itiva, i rreve rsíve l , u m a a q u isição para sempre. Com efeito, o rei n a d o d o
fogo, a esti m a tiva grosse i ra , no p l a n o d e m ográ fi co, conti n u a rá a ma nte r-se d u ra nte
pa rte da segu n d a meta d e d o século XIX, por razões que têm a ver com a i nsta b i l i d a d e
política, a s gue rras c i v i s , e n fi m , a d e b i l i d a d e da a d m i n istração p ú b l ica.
S a b e m o s , ta m b é m , q u e , p o r ta i s r a z õ e s , e s t e r e t r o c e s s o e s t a t í s t i c o não se
ci rcu nscre v e rá , a p e n a s à p o p u l a ç ã o , m a s o utrossi m , a b ra nge rá , c o m o e m Espa n h a ,
todos o s e l e m e ntos susce ptíveis d e permiti r a ava l i a ção da riqueza de Portuga l , desde o
co m é rc i o e x t e r n o e a i n d ú s t ri a , a t é à a va l i a ç ã o d a s co l h e i ta s e à e s t r u t u ra d a
propriedade 4 7
Contu d o , p a ra j á , as ú l t i m a s décadas d o século XIX e ncerra m a primeira tentativa
séria e conti nuada d e se " m e d i r" o País, m u i to especia l mente, a sua população.
Sendo assi m , é d e a d m i ra r q u e , como corolário d este notável esforço estatístico­
d e m o g rá fi c o , te n h a s u rgi d o , em 1 8 0 1 , o p ri m e i ro r e c e n s e a m e n t o d a p o p u l a çã o
portugu esa , graças à d eterm i nação desse esta d ista excepcio n a l q u e d á pelo nome d e
Rod rigo d e Sousa Couti n h o , n o m e a d o , a 6 d e J a n e i ro d esse a n o , secretá rio de Esta d o da
Faze n d a e p res i d e n te d o Real Erário ?

N O TAS
1 . Roger Mols, ln troduction a l a démographíe historique des vílles d 'Europe, 1 1 , Louva i n , 1 95 5 , p. 1 5.

2. José Correia da Serra, no Discu rso Pre l i m i n a r as Memorias Economícas da Academia Real das Sciencias, t.
Lisboa , 1 789, p. VIII.

3 . Mols, ob. c i t., I I I . 1 9 5 5 , p. 1 2 5 .

4. Discu rso de José Correia da serra, Memorias Economicas, I , p. X.

5 . José Bacelar Chicharro, Memoria ... da Estremadura, Lisboa, 1 94 3 , p. 4 5 e 49.

6. "Viagem m i n e ra l ogico-bota n ica . . . " , jornal Encyclopedico, Lisboa , Setem bro de 1 789, p. 307.

7. Ver António Henriques da Silveira , Ara újo Travaços, Domi ngos Va n d e l l i , Á lva res da Si lva e Soares de Ba rros nas
m e m ó ri a s que p u b l i c a ra m n a é p oca; Gervásio Pa i s Observa çoens e exa m es feitos s o b re as ca uzas do
a traza m e n t o e ruína da agricultura e povoa ção n a província de Alen tejo, especial m e n te nas terras da
commarca de Beja, onde os abuzos são símilhan tes aos que se praticão nas outras commarcas da mesma
província, códice ms. da BNl; e o. Rodrigo de Souza Coutinho. Textos políticos. económicos e financeiros ( 1 783-
· 1 8 1 1 ) , 1 1 tomos, Lisboa, 1 99 3 (in trodução de André Ma nsuy Diniz Si lva).

53
FERNANDO DE SOUSA

8. Ferrari Morda u , Despertador da agricultura , Lisboa, 1 9 5 1 , p. 1 0 1 .

9 . José J oa q u i m soares d e Ba rros, "Memorias sobre a s cauzas d a d i ffe rente popu\açao d e Portuga l", Memorias
Economicas, I, Lisboa , 1 78 9 , p. 1 3 9; e Tomas António Portuga l , "O bservações ... ", Memorias Economicas, I I I ,
Lisboa, 1 79 1 , p . 300.

1 o. Soares d e Ba rros, " M e moria sobre as cauzas . . . " ob. e v o\. cits., p. 1 3 8 - 1 39.

1 1 . Mappa da população da comarca de Guimarães, ms. do A.H.M.

1 2. Jacques M a rca d é , une comarque portugaise . . . , Pa ris, 1 9 7 1 , p. 5 4 - 5 7 .

1 3. Gervasio P a i s , Observaçoens e exames feitos ... na provincia do Alentejo ...

1 4 . Cf. o Despertador da agricultura de Portugal, obra nova e a riqueza do Reino dedicada ao serenissimo Principe
do Brazil Nosso Senhor no deliciosissimo dia natalicio de sua alteza real, por Dom Luis Ferrari de Mord a u ,
Lisboa , 1 7 8 2 , e Suplemento, tra nscritos por M oses Bensabat A m za \ a k , o "Despertador da agricultura d e
Portugal" e o seu autor D. Luiz Ferrari Mordau, Lisboa, 1 9 5 1 .

1 5. Memorias economicas, t . I I I , Lisboa, 1 79 1 .

1 6. Compendio d e observaçoens . . . , Lis boa , 1 78 3 .

1 7. ]ornai encyclopedico, Lisboa , Sete m b ro de 1 789; e Memórias económicas inéditas ( 1 780- 1 808), Lisboa, 1 98 7 .

1 8. o s Estrangeiros no U m a , 2 t . , 1 78 5- 1 79 1 .

1 9. Memorias economicas, 1 1 1 .

20. Câ n d i d o Xavier, "Considerações sobre a statistica " , Annaes das Sciencias, das Artes e das Letras, t. X., Pa ris,
1 8 20.

2 1 . Agostinho Rebelo da Costa , Descripção topographica e historica da cidade do Porto, Porto, 1 788.

2 2 . Códice 9 2 2 da B i b l ioteca N a c i o n a l de Lisboa. Cf. Fernando de Sousa, A população portuguesa nos inicias do
século XIX, Porto, 1 9 79.

2 3 . Cf. Fernand o de Sousa, ob. cit., e ) . Manuel Naza reth e Fernando de Sousa. Salvaterra de Magos nos finais do
séc.. XVIII: aspectos sócio-demográficos, "Analise Social", XVII, 2', Lisboa , 1 98 1 .

24. Cf. Fernand o d e Sousa, ob. cit.; ) . M a n u e l Naza reth e Fernando d e Sousa, Coruche nos finais do séc. XVIII: as­
pectos sócio-demográficos, "Cadernos de H istória Económica e socia l", n" 4, Lisboa . 1 98 3 ; ). Manuel Nazareth e
F e rn a n d o de S o u s a , Sam ora Carreira nos finais do séc. XVIII: aspectos sócio-demográficos . " Estudos e
Docu mentos do ICS", n" 1 7 , Lisboa, 1 98 7 .

2 5 . Mappas da população, produccoens. fundos das confrarias .. por António Xavier de Morais P i n t o Teixeira
Homem, códice ms. 902 da BNL.

2 6 . Observações ... , ob. e vol. cits., p. 299-300.

2 7 . )ornal Encyclopédico de Lisboa, t. 11, Lisboa , 1 820.

2 8 . Parecer sobre a propozição do methodo ... para se verificar a populaçao do Reyno ... , ms. do A.H.M.

29. Povoação do Reyno, 1 792, ms. do A.H.M.

30. Coimbra, 1 88 4 , p. 26.

3 1 . Cf Memoria economico-po/itica da provincia da Extremadura traçada sobre as instruções regias de 1 1 de janeiro


de 1 793 por )osé de Abreu Bacellar Chicharro, ministro encarregado da divisão das comarcas, e objectos
d 'economia politica da mesma provincia, 1 79 5 , p. 28 (edição de M . B. Amzal ak, Lisboa, 1 943).

3 2 . Memorias sobre o estado actual da vil/a de Recardaens e annexas, 1 794, ms. da B.A.R., ex. 1 04; Cf. Fernando de
Sousa, ob. cit.; e Taboa da popu/Jação das nove freguesias da cidade de Coimbra, aros e arrabaldes; predios
urbanos e rusticos, m a n u scrito da B.A.R., ex. 1 04.

54
A POPULAÇÃO PORTUGUESA

3 3 . Pa ra um estudo e edição critica desta fonte, cf. José Maria Amado Mendes, Trás-os-Montes nos fins do século
XVIII segundo um manuscrito de 1 796, Coi m bra , 1 9 8 1 .

3 4 . Ver a n á l ise critica d e Fernando d e Sousa, ob. cit.. Cf. a i n da António cruz, Geografia e economia da província do
Minho nos fins do século XVIII, Porto, 1 9 70.

35. Geografia e economia da província do Minho nos fins do séc. XVIII, Porto, 1 9 70.

36. B.A.R., ex. 1 04 e 1 05 . consulte, a i n d a , de custódio Vilas Boas, Memoire sur les [orces militaires de la province du
Minho . . . , datada de 1 796, p u b l i cada por António Pedro Vicente, "Memórias políticas, geográ ficas e m i l i ta res de
Portuga l - 1 76 2 / 1 796", Boletim do Arquivo Histórico Militar, 4 1 " v a i . , Lisboa, 1 9 7 1 , p. 204.

3 7 . Ma pas da p rovíncia de Entre Douro e M i n h o , datados de 1 798, existentes no Instituto Geográ fico e Ca dastra l ,
regista dos sob os n ú m e ros 60 e 6 1 , por Gabriel Mendes, Catálogo de cartas antigas da Mapoteca do Instituto
Geográfico e cadastral, Lisboa, 1 969 (dacti logra fado). o resumo do quadro da população do M i n h o , q u e nos
aparece na ca rta d e Vi las-Boas, foi p u b l icado por Câ ndido José Xavier, em anexo á s "Consid erações sobre a
statistica", Annaes das sciencias, das Artes, e das Letras, X, Pa ris, 1 8 20. Os mapas q u e referem a população do
M i n h o ao a n o de 1 800, podem ser consu ltados no I.G.C., A.H.M. e B.N.L.

3 8 . Lisboa, 1 8 1 4 , nota ( 1 ) à p. 1 5 e nota (3) à p. 20.

39. Censo da província do Miho em 1 794, cõd ice ms. do A.H.M.

40. Arq u ivo Distrital de B raga, ms. 9 1 2/7.

41. o Alto Minho em finais de Setecentos, de Fernando de Sousa e Jorge Fernandes Alves (em p u b l icação) . .

4 2 . Publ icado no Memorial Historico Espano/, X X V I , XXVII e XXVI I I , M a d r i d ( 1 8 9 3 , 1 894 e 1 898; e de verissi m o
serrão, A população de Portugal em 1 789, Pa ris, 1 9 70.

4 3 . Mappa geral da grandeza do território e população, que contém a comarca de Castello-Branco, 1 799, ms. do
Arq u ivo H istórico M i l i ta r; cf. Fernando de Sousa, ob. cit.

4 4 . Descrição da Comarca da Feira , códice ms. do Arq u i vo H i stórico do M i n i stério das Fina nças, p u b l i cado na
d isserta ção de mestrado d e Jorge Manuel Garcia Vi cente, Unidade e Diversidade regional: Feira ( 1 757- 1 833) e
por I nês Amorim, " Descrição da comarca da Feira - 1 8 0 1 , Revista da Faculdade de Letras, , 11 Série, vai. X I ,
Porto, 1 994.

4 5 . Index geral dos títulos e provas do plano de correição, B.A.R., ex. 1 03 . E cadastro do Reino 1 80 1 - 1 8 1 2, Lisboa ,
1 94 5 , p. 6-7.

46. Câ n d i d o J o s é X a v i e r , "Considera ções sobre .a statistica ", ob. e vai. cits., p. 1 49.

4 7 . Ver, d e Ferna ndo de Sousa, a História da Estatística em Portugal, Lisboa, 1 995; Estadisticas historicas de Espana
(siglas XIX-XX), Madrid, 1 989; e joel serrão, Demografia portuguesa, Lisboa , 1 9 73.

55
A POPULAÇÃO PORTUGUE SA NOS
S ÉCULOS XIX E XX.
O ACE NTUAR DAS AS S IME T RIAS
DE C R E S CIME NT O R E G IONAL
Teresa Rodrigues
Universidade Nova de Lisboa

Vários estudos têm procura d o traçar as gra n d es l i n h a s de evo l u çã o d e mográ fi ca d a


população p o rtuguesa nos ú ltimos dois séculos. Poré m , a pesa r da relativa a b u n d â n cia
d e d a d os, a d i s p e rsão e d ive rsi d a d e dos mesmos, aliada a níveis d e q u a l i d a d e d i ve rsos,
d i ficultam a ta refa d o i nvestiga d o r, sobretud o q u a n d o p rete n d e e fectua r com p a ra ções
num espaço tem poral a l a rgado.
E m re l a ç ã o à 1 " m e ta d e d o sécu l o X I X e l e é c o n fro nta d o com o p ro b l e m a de
contro l a r a i n formação e torná-la com patível , por forma a consegu i r uma a n á l ise q u e ,
p rivi l egia ndo a l o nga d u ração, permita a d esejada v i s ã o d e conj u nto das ca racte rísticas
d e mográ fi cas d a p o p u l a çã o sem esq uecer a s especificida des locais.
Das d i fi c u l d a d es e m com pati b i l iza r a com p l exa red e d e d a d os resulta que a lguns
aspectos básicos d a evol ução e comporta m ento demográ fico dos portugueses d e Oito­
centos permaneçam pouco conheci dos, sobretu d o quando d escemos à esca la regi o n a l .
D e fa cto, n o q u e concerne a q u estão d a s fo ntes e x i stentes p a ra a c o m pa n h a r o
evo l u i r das gentes p o rtuguesas ao l ongo dos séculos XIX e XX há q u e consi derar duas
fases d isti ntas d e a bordage m , correspondentes à passagem da e ra p rato-estatística à da
estatística m o d e r n a , i n i c i a d a e m 1 8 6 4 com a rea l ização d o p ri m e i ro recensea m e nto
geral o q u e , n o e n ta nto, não significa que possa mos e n contra r gra us d e rigor i d ê ntico
e ntre todos os dados censitários d isponíveis para datas poste riores.
Nas pági nas segui n tes tenta remos a n a l isa r os va lores totais dos efectivos recensea dos
nas d i fe re ntes datas, d e molde a obter u ma i magem de conj u nto sobre as gra n d es l i n has
d e evo l u çã o p o p u l a c i o n a l e ntre 1 8 0 0 e o fi n a l d estes sécu lo.
A pa rti r d e a lguns i n d i ca d ores sel ecci onados foi possível d esagrega r a i n formação
e m d i stritos ou á reas d e cresci m ento d i ferenciado e verifica r as razões q u e explicam a
divers i d a d e n a c i o n a l .
Tendo e m vista u m a m a i o r cla reza d e a n á l ise toma mos c a d a sécu l o como u n i d a d e
a u tó n o m a . Pa ra cad a u m e n u m e ra m-se as ca usas p rováveis das osci l a ções observa das
a o longo d o tempo; verifi ca-se depois a i m portância relativa dos facto res i n te rve n i e ntes
nas d i ferenças regista das, com especial desta q u e para o comporta me nto d e ce rtas va­
riáveis m i crod e m ográficas e para a estre ita relação entre crescimento populacional e
desenvolvimento eco n ó m i co.

1 . o P o rt ug al de O i t o c e ntos. o cre s c i m ento regi o n a l d i fe r e n c i a d o .

A p o p u l a çã o d o conti n e nte p o rtuguês a u m e nta a p e n a s 7 2 % e ntre 1 8 0 1 e 1 9 0 0 ,


va riação a q u e correspon d e u m ritmo d e cresci m ento m é d i o fixa d o e m 0 , 5 5 % a o a no.

57
TERESA RODRIGUES

Va l o r m o d esto, s o b retu d o q u a n d o c o m p a ra d o ao de o u tros Esta d os e u ropeus p e l a


m e s m a é p o c a . Esse fa cto explica o declínio relativo d o p e s o percentu a l q u e representa
a população p o rtuguesa no contexto e u ropeu: 1 ,6% em 1 8 00, 1 , 3% em 1 8 5 0 e a penas
1 , 2 % e m 1 9 0 0 . As causas d essa d ivers i d a d e prendem-se com uma multi p l i ci d a d e de
factores políti cos e sobretu do socioeco n ó m i cos.
o ritmo l ento d e cresci m e nto típ i co d e soci edades d e Antigo Regi m e demográ fico
sofre ta m b é m e m Portugal uma m utação signifi cativa a pa rti r do século XVI I I , com a
atenuação da i ntensi d a d e das crises de morta l i d a d e catastrófi ca , associada a co n d i ções
precá rias de existência e uma espera n ça d e vida que osci la e ntre os 25 e os 35 a n os. No
entanto, e m Portuga l não se veri fica m as con d i ções necessá rias para possibil ita rem uma
revol ução d e mográfica efectuada nos moldes tra d i cionais europeus. Na segu nda metade
d e O itocentos, o cresci m e nto acentua-se, basica m e nte devi d o à red u ção da morta l i ­
dade, a q u a l permite compensar o aumento do fl uxo emigratório ca racterístico da Centú ria.
As taxas a n u a i s m é d i a s a p resenta d a s n o Q u a d ro 1 c o m p rova m a a c e l e ração d o
cresci mento na 2 " meta d e d e Oitoce ntos, i n i ciada a pa rti r d e 1 8 3 5 . O s conte m porâ neos
recon hecem os fa ctores básicos q u e expl icam os d i ferentes ritmos observados ao longo
do século. Do conj u nto de reflexões vindas a l u m e com esse p ro pósito desta q u e-se, a
títu lo mera m e n te exe m p l i fi cativo, as consi d e rações teci das nas pági nas i ntrod utórias à
p u b l i cação dos resultados do III" Recenseamento Geral da População em 1 8 90.

Q u a d ro 1 - Evo l u çã o e ritmos d e c r e s c i m e nto e m P o rt u g a l ( 1 8 0 1 - 1 9 0 0 )

Anos População T.C.A. M . (%)

1 80 1 291 2673
181 1 2 8 7707 1 - 0, 1 2
1819 3 0 1 3900 0,43
1 82 1 026450 0,2 1
1 835 306 1 684 0,08
1 85 1 3 4 7 1 1 99 0,79
1 86 1 3693362 0,62
1 864 3 8 2 96 1 8 1 ,2 1
1 8 78 4 1 603 1 5 0,59
1 890 4 6 54095 0,94
1 900 5 0 1 6267 0,75

Fonte: ( 1 )

N e la s , o re d a ct o r d i s t i n g u e três p e rí o d o s d a v i d a p o rtuguesa , q u e m a rca m a s


gra n des eta pas d e cresci m e n to p o p u l a c i o n a l . U m a p r i m e i ra fase, q u e s e este n d e d e
1 8 0 1 a 1 8 3 4 , d u ra n te a q u a l o Reino foi atingi d o por três i nvasões estra nge i ras, uma
guerra civi l e u m viol entíssi m o su rto d e cólera; u m segu n d o período, eivado d e d i ficul­
d a d es eco n ó m i cas d i versas, este n d e n d o-se até 1 8 5 2 ; e , fi n a l m e nte, u ma fase d e paz,
e m que se assiste à m e l h o ria p rogressiva e contínua das con d i ções eco n ó m i cas, até à
feitu ra do censo.

58
A POPULAÇÃO PORTUGUESA NOS SÉCULOS XIX E XX

Na rea l i da d e , ao i n i c i a r-se a centú ria, a eco n o m i a portuguesa conti n uava assente


n u m a agri c u l t u ra a rca i c a . o s é c u l o X I X refl e cti u a esta g n a ç ã o d e Setece ntos, n ã o
o b sta n te a s p o l íticas d e fo m e nto i n d ustri a l d o Co n d e d a E r i ce i ra e d o M a r q u ê s d o
Pomba l , q u e n ã o v i nga ra m p o r l h es te r fa lta d o a base agrícola e a necessá ria revol ução
dos tra n s p o rt e s i n te r n o s q u e v i a b i l i zasse m a s a l t e r a ç õ e s p r o postas. O p ro b l e m a
português conti n u a rá a ser, p o r m u ito tempo a i n d a , a d esa rticulação entre o s vários
sectores d a e co n o m i a , agravada pelos efeitos n e fastos d a conj u ntu ra p o l i ti ca m e n te
i nstável.
Mas se as d i fi c u l d a d es eco n ó m i cas ca racte riza m toda a 1" meta d e do sécu lo, a partir
d e meados d o mesmo com eça m a esboça r-se as con d i ções necessá rias à futu ra im­
p l a ntação d a i n d ústria m o d e rn a . Desde l ogo se e v i d e n c i a m os três gra ndes n ú cleos
i n d ustria i s (Lisboa, Porto e Cov i l hã), sendo os dois p ri m e i ros d e i m portâ ncia crescente a
nível naci o n a l .
A m o d i fi ca ç ã o s e n s í v e l n a p o l ít i ca e co n ó m i ca p o rtuguesa , o c o r r i d a d u ra n te a
d é ca d a de 5 0 e pa rte da segu i nte favorece o d esenvolvi me nto das vias de co m u n i cação
i nternas. Ta l pol ítica i rá i m p ri m i r u m a prosperidade relativa a todos os sectores eco­
n ó m i cos, e m bo ra a esca las d i versas. No período da Rege n e ração lança m -se as bases da
estrutura ca pita l i sta m o d e rna. Mas a crise mundial q u e ma rca a segu nda pa rte dos anos
6 0 ati nge ta m b é m Po rtuga l , p rovoca ndo a descida d o p rod uto nacional per copito e das
r e l a ç õ e s c o m e rci a i s c o m o e x te r i o r. a c o m p a n h a d a s pela d e s a ce l e ra ç ã o d o d e s e n ­
volvi m ento i n d ustria l e e m pa rte resultantes d o ca rá cter especu lativo do i nvesti m e nto.
Nova fase de expansão eco n ó m i ca se i n i ci a a parti r d e 1 8 70 , pela convergência de
uma fase agrícola próspera com uma conj u ntu ra externa favorável . A p ri m e i ra i n fl u i no
a u m ento das exportações d e matérias-primas, na p rocura i nterna consequente à subida
do Produto Interno B ruto, bem como n o red i m ensioname nto d o m e rca do nacional. A
segu n d a tra n s p a rece na descida dos p reços de certas matérias- primas e b e n s i nte r­
m é d ios e na reorientação d os i nvesti m e ntos das economias i n d ustri a l izadas da Europa
p a ra a sua peri feria.
o I n q u é rito I n d ustri a l e fectua d o e m 1 8 8 1 retrata a n ova rea l i d a d e d a e co n o m i a
n a ci o n a l , e v i d e n c i a n d o a c e n t ra l i z a ç ã o d o s s e ctores d e m a i o r v i ta l i d a d e n o s d o i s
gra ndes centros d e Lisboa e Porto, e m bora q u a l i tativa mente m u i to diversos. C o m efeito,
essa d i coto m i a persisti rá para além d o fi nal d e Oitocentos e retrata d e forma exe m p l a r
as d i ferenças e ntre o n o rte e o sul d e Portuga l , ente n d idos c o m o regi ões pola rizadas
pelas d u a s cidades. estruturadas d e forma desigua l , escassa m e nte a rticu ladas e com
u m gra u d e autonomia a i nda considerável 2 .
Ao te rm i n a r a centú ria , Po rtuga l e n frenta a crise provocada p e l o U lti mato e pela
d i m i n u i çã o das remessas d o Brasi l . A a ctivid a d e mais a fectada é a agri cultura ligada à
exportação. A d écad a p rossegue com n ovo i n crem ento i n d ustri a l , torna do possível pela
ca n a l ização d os exce d e n tes tra d i ci o n a i s d o sector primário p a ra a i n d ústria naci o na l ,
apoiada n u m a pol íti ca p rotecci on ista .
Este movi m e nto de m o d e rn ização te m co nsequê ncias d iversas na sociedade portu­
guesa , n o m e a d a m e nte na estrutura populaciona l , que se a l te ra como consequência da
n ova geogra fia dos rec u rsos materiais. o processo d e i n d ustri a l izaçã o , sem dúvida o
fen ó m e n o ma rca nte n este fi n a l do sécu l o , alte ra as formas de m o b i l i d a d e geográ fica e
te n d ências de cresci m e nto, p a ra q u e os recursos h u m a nos possa m corres p o n d e r às
exigências d o novo q u a d ro socioeco n ó m i co 3.

59
TERESA RODRIGUES

Qu a d ro 2 - Taxas d e Cres c i m e n to a n u a l m é d i o , p o r d i st rit o s , d e 1 8 3 7 a 1 9 0 0

D i s t ritos 1 8 3 7-64 1 8 64- 7 8 1 8 78-90 1 890-900

Aveiro 0,24 0,53 0,94 0,50


Beja 1 ,0 2 0,34 0,86 0,25
B raga 0,30 0,23 0,48 0,53
Bragança 0,96 0,43 0,53 0,32
castelo B ra n co 0,82 0,62 1 ,39 0,54
Coi m b ra 0,5 1 0,59 0,68 0,52
É vora 0,73 0,27 0,86 0,72
Faro 1,19 1 ,0 2 1,16 1 ,09
G u a rda 0,3 1 0,59 0,76 0,5 1
Leiria 1 ,2 6 0.75 0,99 1 ,0 1
Lisboa 0,32 0,9 1 1 .72 1 ,49
Porta legre 0,64 0,40 0,92 1 ,00
Porto 0,68 0,84 1 ,4 1 0,97
Santarém 1 ,2 1 0,83 1 ,20 1 ,0 8
V i a n a d o castelo 0,4 1 0,22 0,24 1 ,0 2
Vila R e a l 0.76 0,37 0,46 0,26
Viseu 0,76 0,36 0,43 0,30
Portuga l 0,64 0,59 0,95 0,75

Fonte, IV0 Recensea mento Geral da Po pu lação, vol.l,pp. 1 1 2 - 1 1 3

Até 1 8 6 4 o cresci m e nto d e m ográfico não pa rece d i recci o n a d o , mas a p a rtir dos
anos 6 0 s u rge ca da vez m a i s vincada a d i ferença e ntre os d istritos d e maior d i n a m ismo,
situados no l i toral e p a ra s u l , fa ce aos resta ntes. sobressa i n d o a i n da pólos isolados no
i nterior, como o d e Caste lo B ra n co.
O fi n a l da d écada d e 70 ma rca e m Portuga l o i nício d e uma fase positiva , q u e se
prolo nga até 1 9 1 1 . os anos que m e d e i a m entre os rece nsea m entos d e 1 8 7 8 e 1 8 90
corres p o n d e m a nível regi o n a l á s m a i o res taxas, e m b o ra s e v i s l u m b re j á a d esa­
celera ção d o processo nos d i stri tos d o norte e i nterior. Viana. Vila Rea l , Viseu, B raga e
B raga nça a p resenta m va l o res i n feriores a meta d e da média portuguesa.
É p o ca á u rea d a s z o n a s de L i s b o a . Po rto e Caste l o B ra n co, em c l a ra a l usão ao
i m pa cto positivo o rigi nado pelo p rocesso d e d esenvolvi me nto i n d ustri a l , que já i n fl u í ra
nos resu ltados o btidos a pa rti r de 1 8 6 4 . Ainda com taxas superiores ás nacionais temos
Lei ria e Santa ré m . o ritmo d e evo l u ção verifica d o e m ce rtos d i stritos d o l i to ra l norte
(Ave i ro) d i l u i-se na última década de Oitocentos.
Com e feito, o confronto dos e fectivos recenseados e m 1 8 90 e e m 1 9 00 assinala o
acentuar da d iversi d a d e regi o n a l , com d esta q u e para a d i cotomia entre o norte i nterior
e o sul litora l , donde se excl u i o d i strito d o Porto, por ca usas evi d entes.
A pa rti r d e 1 8 9 0 o cresci m e nto global é i nfl uenciado pela e migração e pelas migra ­
ções i n ternas, e fectuadas em d i recçã o ás á reas mais i n d ustri a li zadas e u rban i zadas. As
principais víti mas neste p rocesso serão o norte e o i nteri o r norte e centro, onde a saída
d e efectivos é d u p l a , p a ra fora d o d i strito e para fora d o Reino.
N o entanto, este último te n d e a h o m oge n e izar-se no q u e respeita aos c o m p o r­
ta m entos colectivos fa ce à vida e à m o rte. À medida q u e ava n ça o século XIX esba­
tem-se as d i ferenças regi onais e m relação aos níveis das variáveis m i crodemográ fi cas.

60
A POPULAÇÃO PORTUGUESA NOS SÉCULOS XIX E XX

As taxas de nata l i d a d e ultra passa m 3 0%o, va lor elevado em termos europeus e que não
i rá d escer sign i fi cativa m ente até 1 9 2 0 . o declínio observad o na década d e 90 deco rre da
i ntensid a d e d a e m i gração.
Ao te rm i n a r o século seis d i stritos a p resentam u m forte cresci mento natura l : Ave i ro ,
Co i m b ra , Le i ri a , Caste l o B r a n c o , S a n t a r é m e Faro. L i s b o a t e m o s a l d o i n fe r i o r e os
resta ntes va l o res i nter m é d ios. Estes resulta d os não coi ncidem com os d a d os disponíveis
sobre os saldos naturais por d i strito.
De facto, é possível esta be l ecer três zonas d e comporta mento d isti nto, onde o tipo
de a ctivi d a d e e co n ó m i ca p e rd o m i n a nte e o i s o l a m e n to geográfico parecem ter u m
papel decisivo. U m p ri m e i ro gru po i nc l u i o s d i stritos d e i nterior, como B raga nça, G u a rda,
Castel o B ra n co e B ej a , e é d e fi n i d o p o r a ltos níveis d e nata l i da d e e m o rta l i d a d e ; o
segu n d o , de sa l d o fis i o l ógico clara mente positivo, cobre a fa ixa l itoral entre Viana d o
Castel o e Santarém; por ú l t i m o , u m gru po d e d i stritos dispersos e m termos geográ fi cos,
com va l o res m e n os e l evados e m a mbas as variáveis, o n d e se i n c l u e m Lisboa e Po rto 4
As d i s c re p â n ci a s o b s e rv a d a s d e p e n d e m da i n fl u ê n c i a l o ca l e c o nj u n t u ra l d o s
movi m e n tos m i gratórios, existentes estrutura l m e nte na soci e d a d e portugu esa , m a s q u e
sofrem nesse m o m ento a lterações quantitativas e q u a l itativas s.

Até 1 8 6 5 a e m i gra ção p o rtuguesa ma nteve u m carácter tra d i ci o n a l , na linha das


formas d e colon ização h e rdadas da Época Moderna. Mais ta rde, até 1 8 7 7 , verificam-se
saídas a n u a i s q u e a t i n g e m 8 a 9 m i l e m i gra ntes l e ga i s , recruta d o s s o b retu d o nos
d i stritos d o n o roeste e Lisboa (n este último caso os valores rea is fora m a ltera d os pela
fo rma d e registo d a s saídas d o país pelo p o rto). I n i cia-se e ntã o a te rce i ra fase q u e
term i n a e m 1 8 9 0 , d u ra n te a q u a l as médias a n u a i s exce d e m os 1 2 m i l emigra ntes. o
fen ó m e n o este n d e-se aos d i stritos do i nterior. F i n a l m e nte , no últi m o decé n i o , o n ú mero
de e m igra ntes ron d a 2 2 m i l e atinge o sul. Faro, Lisboa e Porto são excepções á norma e
n ã o a c o m pa n h a m a s u b i d a gera l d a s taxas b rutas d e e m igra ç ã o , p a ra o q u e te rá
contri b u í d o o facto de serem zonas atractivas em termos de m e rcad o de tra b a l h o .
M a s o s valores apontados excluem o s clandestinos, cujo nú mero se crê i r em crescendo
ao longo d o século XIX. Este aspecto prend e-se com a m o b i l i d a d e i nterna , fe nómeno
pouco estu d a d o pela d ivers i d a d e e ca rácter i n d i recto das i n forma ções a cons i d e ra r. No
e nta nto, a lguns i n d i ca dores confirmam a existência d e fl uxos m igrató rios d e norte para
s u l , do i nte ri o r p a ra o l itora l , pa ra as cidades e pólos eco n ó m i cos mais a ctivos, sobre­
tudo d e feição i n d ustri a l . Ass i m , as deslocações i nternas seri a m as gra n des responsáveis
pelo cresci m e nto u rba n o , cuja i nte nsidade se vê acrescida a parti r d e 1 8 7 8 . E m i gra ção e
cresci m e nto urba n o são, efectiva m e nte, d o i s gra n d es fenómenos oitocentistas 6 .
A l e i t u ra ate nta da d i stri b u i çã o relativa da p o p u l a çã o do Conti n e n te nos vários
d istritos corro b o ra as tendências d e cresci me nto regi onal d i ferenciado já a pontadas e
teste m u n ha as a lterações sofr i d a s ao l o ngo d e q uase u m s é c u l o . A u m enta o peso
relativo dos d i stritos d e Lisboa e Po rto. Em 1 8 3 7 neles residem 2 3 , 1 % dos portugueses,
contra mais de 26% em 1 9 00. Trata-se d e u m fe nómeno contínuo l i d e rado por Lisboa,
d e forma cada vez mais i n e q u ívoca e p rogressiva m e nte acelerada 7
De fa cto, acentua-se d u ra nte a 2rr m eta d e de Oitocentos a macrocefa l i a do d i strito
d e Lisboa. Mas este processo não é h o m ogéneo a toda a superfície e, ta l como noutros
d i stritos, conso o l i da-se à custa de desigualdades d e cresci me nto i nterno.
O a u m ento d a p o p u l a çã o portuguesa priv i l egiou as á reas u rbanas (que no seu co n­
j u nto crescem 5 5 % na 2 rr meta d e d e XIX) , e m relação às rura i s (com uma variação per­
centual de a penas 2 2 %) . A esmaga d o ra m a i o ria dos d i stritos têm a crésci mos superiores

61
TERESA RODRIGUES

nas zonas u rbanas, exceptu a n d o Évo ra e Faro. só em caste lo B ra nco, Viana e Viseu o
território cresce u n i formemente. Ao i nvés, a taxa de variação a p resenta resu ltados muito
elevados no que respeita à população urbana de Avei ro, Lei ria, Santarém, zonas i nternamente
activas e ta m b é m próximas da i n fl u ê ncia dos d istritos do Po rto e Lisboa, que lidera m o
processo de desenvolvi m ento nacional e quase duplicam em menos de qua renta a n os 8 _
Com e fe i t o , o p rocesso d e u rb a n ização o i tocentista s u rge i n t i m a m e nte ligado a
aspectos soci oeco n ó m i cos, tra d uzidos em fe nóme nos tão diversos como as m i gra ções,
a i n d ustri a l i za ç ã o , a s a ctivi d a d e s p o rtu á rias ou o regi m e de p ro p r i e d a d e e a p rove i ­
ta m ento d o s o l o . o futuro das loca l i dades va riou c o m a ca rga positiva ou negativa dada
pela j u n çã o d esses m ú ltiplos fa ctores.
E m 1 8 6 4 , a cid a d e d e Lisboa conta 1 9 0 mil resi d entes, a d o Po rto cerca d e 8 0 m i l ,
cinco cidades regista m u m a população da ordem d o s 1 O a 2 0 m i l , outros d oze n ú cleos
têm e ntre 4 e 1 O mil h a b i ta ntes. Em d eza nove aglomera d os vivem 1 1 o/o dos p o rtu­
gueses, S,So/o d os quais e m Lisboa. Esta escassa u rban iza çã o, pola rizada entre Lisboa e
Porto, pouco se a l te ra ra desde o principio da centúria e i n d icia outro desfaza mento d e
Po rtuga l n o contexto e u ro p e u . Apesa r d a recu p e ra çã o e m fi n a i s d e Oitocentos este
conti nua a ser mais um pais d e vilas e gra ndes a l d eias do que d e verda d e i ras cidades.
Mas mais i m po rta nte que o fen ó m e n o d e cresci m e nto u rbano serão as migra ções.
E l a s c o n d i c i o n a ra m o r i t m o e s o b re tu d o a s fo r m a s e d i r e c ç õ e s do c r e s c i m e n t o
p o p u l a c i o n a l p o rtuguês d u ra nte t o d a a Época Conte m p o rânea e a sua i m p o rtâ ncia ver­
-se-à acrescida nos ú l t i m os cem a nos.

2. o P o rtugal do s é c u l o XX. o a c e n t u a r das a s s i m etrias. 9

Ao i n i cia r-se a centú ria vivia m em Po rtuga l quase cinco m i l h ões e meio de i n d iví­
d u os. A term i n a r o sécu l o XX, os valores d o Censo d e 1 9 9 1 esti mam e m 9,9 m i l h ões o
n ú m e ro tota l d e res i d e ntes.
O a crésci m o p o p u l a c i o n a l das gentes portuguesas ci fra-se e m 4,4 m i l hões, ou sej a ,
n u m a u m e n to d e 8 1 o/o e m 9 1 a n o s , a o q u a l corresp o n d e u m ritmo d e cresci m e nto
a n u a l m é d i o d a o r d e m dos 0 , 7 o/o. No e n t a n t o , este ú l t i m o va l o r não s ó esco n d e
p rofundas d i ferenças e ntre o s p rocessos d e cresci me nto observados nos nove períodos
i n terce n s i t á r i o s , c o m o a n u l a os d i st i n tos p ro cessos d e evo l u çã o d e m ográfica q u e
ca racteriza m as regi ões e rn q u e se subdivide o País.

Q u a d ro 3 - Ev o l u çã o da p o p u l a ç ã o p o rt u gu es a no s é c u l o XX

ANOS T O T A L D E E F ECTIVOS T.C.A. M . (%)


-
1 900 5 423 1 3 2
191 1 5 960 0 5 6 0,86
1 920 6 0 3 2 99 1 0,1 4
1 93 0 6 8 2 5 88 1 1 ,24
1 940 7 722 1 52 1 ,24
1 9 50 8 441 3 1 2 0,89
1 960 8 8 5 1 289 0,48
1 9 70 8 663 2 5 2 -0, 2 1
1 98 1 9 83 3 0 1 4 1 ,29
1 99 1 9 8 6 2 670 0,03

Fonte: IV" a XIII" Recensea mentos Gerais da População, l N E, Lisboa.

62
A POPULAÇÃO PORTUGUESA NOS SÉCULOS XIX E XX

o r i t m o d e cresci m e nto p o rt u g u ê s a o l o ngo d o s é c u l o a ctua l n u n ca fo i m u i to


e l eva do, sendo d e destacar, no enta n to, como é pocas a ú reas os períodos que d ecorrem
entre as décadas 20 e 50, bem como a segu nda meta d e dos a n os 7 0 . De s u b l i n h a r
a i n d a , agora p o r razões opostas, os a n os 6 0 , d u ra nte os q u a i s a população d ecresce, n a
sequência d o a u m e nto sensível d o fl uxo d e saídas d o territó rio naci o n a l .
A t é 1 9 1 1 ma ntivera m -se as ca ra cte rísti cas e ritmos regista dos na segu nda meta d e
da centúria a nte rior (0,92% e m m é d i a a n u a l , entre 1 8 5 1 e 1 900), contra os 0 , 8 6 % veri­
fica d os e ntre 1 9 0 0 e 1 9 1 1 1 o . A morta l i dade conti nuou a d escer, num período e m que
os níveis de natalidade se manti n h a m a i nda basta nte elevados. A conti nuação da pri m e i ra
fase do p rocesso de tra nsição d e m ográ fi ca i n i ciada no fi n a l de Oitocentos fo me ntou o
a u m e nto populaciona l , a pesa r d os va l o res q u e então ati nge o movime nto e m igrató rio,
d e sa l d o clara m e n te n egativo.
causas d o foro socioeco n ó m i co e q u estões d e política i nterna cional justifi ca m , por
sua vez, a inversão da tendência d e mográ fi ca n o período q u e decorre entre a rea lização
dos rece nsea m e n tos d e 1 9 1 1 e 1 9 2 0 . Nos anos que a ntece d e m a I G u e rra M u n d i a l
i ntensifi ca-se a e m i gra çã o , d e q u e resu lta m saldos m i gratórios l í q u i d os mu ito negativos.
A nata l i d a d e sofre ta m b é m uma l ige i ra q u e b ra . Aos efeitos nefastos da va riável m i ­
gratória sobre o n ú m e ro d e efectivos res i d entes j u nta-se a i n sta b i l i d a d e gera l devida ao
confl i to b é l ico mundial e m cu rso, e m b o ra sem conseq uências d i rectas para Portuga l em
termos d e vidas h u manas.
Po rtuga l é a grava do p o r e ntraves d e â m bito eco n ó m i co. o desemprego, o ra ciona­
me nto d e bens a l i m e nta res e a escassez d e certos p rod utos bási cos p rovoca ra m uma
descida gen e ra l izada d o nível d e vida das gentes portuguesas.
Estes fa ctores terão fa c i l i ta d o e mesmo agravado os efeitos da gri pe p n e u m ó n i ca
ocorrida em 1 9 1 8 e q u e será a última gra n d e crise de morta l i d a d e de tipo a ntigo em
Portuga l . Nos pou cos meses e m q u e se ma nteve activa , a gri pe ca usou m i l h a res d e
mortes por todo o P a í s e i nverteu a te ndência d ecrescente q u e d e s d e os ú ltimos anos
d e Oitocentos registavam os níveis da morta l i da d e gera l .
Poré m , u m a v e z fi nda a fase adversa d e m ú lti plas causas, a popu lação portuguesa
volta a crescer, a um ritmo que nem a eclosão da 11" G u e rra M u n d i a l consegu i rá travar.
Pelo contrário, a crise e co n ó m i ca de 1 9 2 9- 1 9 3 1 , o e n cerrar das fro nte i ras à e m igração e
os a n os de conflito m i l itar, retive ra m no território vastas ca madas de jovens e população
e m idade a ctiva. Verificou-se uma d rástica quebra dos níveis emigratórios, regista ra m-se
a lg u m a s e n tra d a s de e fectivos (refu g i a d o s e fug i d o s à gue rra) e s a l d o s fi s i o l ógicos
positivos, já q u e a nata l i da d e conti n u o u a supla ntar os va lores da morta l i dade. Mesmo
q u a n d o a m bas as variáveis m i crod e m ogrà fi cas se e n contrava m j á e m desci da, man­
tinha-se fra nca m e n te positiva a vantagem da nata l i d a d e sobre a m o rta l i d a d e .
Entre 1 9 2 0 e 1 9 5 0 , a TBN (Ta xa B ruta d e Nata l i da d e) d esce 2 1 , 7%, e n q u a nto a TBM
(Taxa Bruta d e M o rta l i d a d e) declina 2 5 , 3%. D i m i n u i , no entanto, a d i stâ ncia e ntre a m bas.
N o s a n os 20 esti m a - s e e m 1 2 , 4 % a d i fe re n ça e n tre nata l i d a d e e m o rta l i d a d e . Na
d écad a segu i nte a d i stâ ncia e ntre a m bas é d e 1 1 ,4 % e reduz-se a i nda entre 1 94 0 e
1 9 5 0 , fixan do-se em 1 0 , 4 % 1 1 .
os a n os 40 regista m já a lguns si ntomas de a b ra n d a m e nto d e m ográfico, ca usa das
pela d i m i n u i çã o dos ritmos d e cresci m ento natu ra l e sobretudo pelo reto m a r do pro­
cesso e m igratório, que se acentuam e m segu i d a .
A m i gração l íq u i d a a o longo das décadas d e 5 0 e 6 0 foi defi citá ria e m q uase u m
m i l hão e trezentos m i l h o m e n s , v i n d o j u nta r-se à descida contínua da morta l i dade e da

63
TERESA RODRIGUES

nata l i d a d e . A p ri m e i ra a p resenta varia ções n egativas d e i , 4 % e 2 , 6 % no p ri m e i ro e


segu ndo decé n i os, m a n i festa n d o a segu nda descidas mais moderadas, de a penas 4 e
2 , i % , respectiva m e nte. A l i a d a s ao p e n d o r negativo do sa l d o m igrató r i o , estas d u a s
oco rrê n c i a s s i m u l tâ n e a s l i m i ta m o cresci m e n to p o p u l a c i o n a l e ntre i 9 5 0 e i 9 6 0 e
provoca m a descida do n ú m e ro de efectivos rece nseados a i de Deze m bro de i 9 70 .
De facto, até i 9 7 5 , o cresci m e n to da popu lação portuguesa esteve depende nte da
i ntensi d a d e d os movi m e n tos m igrató rios, q u e e m ce rtas pa rtes d o territó rio ocasio­
naram fases prolonga d a s d e sa l d o negativo, gen e ra lizados ao todo nacional na década
d e 6 0 e p ri m e i ros a n os da segui nte.
A ten d ê ncia negativa só se inverte e m meados da década d e 7 0 , na sequência das
a lte ra ções p rovoca d a s p e l o 25 de A b r i l de i 9 7 4 . A l i á s , a l e i t u ra correcta d o evo l u i r
d e m o g r á fi c o n o p e r í o d o i n t e rce n s i tá r i o i 9 7 0 - i 9 8 i p e r m i t e d e s t a c a r t r ê s fa s e s
i nte rmédias cla ra m e nte d i stintas 1 2 . Até A b r i l d e 7 4 o cresci m ento global foi quase nulo,
à semelha nça d o verifica d o nas d écadas a nteriores. As elevadíssimas taxas d e emigração
surgem como principais responsáveis pela lentidão com que evo l u i o tota l d e efectivos
residentes e m Po rtuga l . De segu i d a , as sequelas da revolução este n d e m -se e m termos
populacionais até aos p ri m e i ros meses d e i 9 7 6 , com o retorno d e habitantes das ex­
colónias a ca usarem ritmos d e crescimento global m u i to elevad os. A populaçã o portu­
guesa a u m enta mais d e 2,6% no próprio ano d e i 974 e 4,4% no segui nte. Por fim , a pa rti r
de i 9 7 6 e até i 98 i , os sa ldos globais são cada vez menos expressivos e semelha ntes aos
do i nício da década.

Q u a d ro 4 - Taxas de cres c i m e n t o total a n u a l m é d i o , por d i stritos,


de 1 9 0 0 a 1 9 8 1 ( e m %)

D i stritos 1 900-30 1 9 3 0 -40 1 940 - 5 0 1 950-60 1 960-70 1 9 70-8 1

Avei ro 0,83 1 ,0 1 1,10 0.82 0,42 1 ,40


Beja 1 ,3 0 1 ,3 8 0,45 0,50 2,95 0,83
B raga 0,48 1 ,65 1,14 0,89 0,26 1 ,3 6
Bragança 0,04 1 ,3 5 0,67 0,22 2,50 0,20
castelo Branco 0,63 1,51 0,64 0,25 2, 1 1 0,8 1
Coim bra 0,35 0,98 0,54 0, 1 2 0,73 0,97
É vora 1,10 1 ,6 1 0,55 0,09 2,00 0,22
Faro 0,46 0,78 0,27 0,42 1 ,5 6 1 ,92
G u a rda 0,06 1 ,3 1 0,40 0,85 2,82 0,25
Leiria 0,82 1 ,4 6 1 ,0 1 0,2 1 0,65 1,10
Lisboa 0,86 1 ,5 6 1 ,49 1 ,24 1 ,35 2,62
Porta legre 0,90 1 ,36 0,59 0,6 1 2,48 0,3 1
Porto 1 ,00 1 ,5 6 1,14 1 ,2 5 1 ,00 1 ,73
Santarém 0,97 1 ,20 0,77 0,03 0,70 0,63
-
Setú bal 1 ,5 0 1 ,8 9 1 ,4 8 2,26 3,38
V i a n a do Caste lo 0,2 1 1,15 0,68 0,06 0,98 0, 1 1
Vila Real 0,2 1 1 ,30 0,93 0, 1 8 1 ,98 0,08
Viseu 0,25 0,60 0,53 0,25 1 ,5 6 0,25
Angra do Heroismo 0,08 0,95 1 ,00 1 ,0 7 1 ,08 1 ,40
Horta 0,3 7 0,68 0,4 1 1 ,08 1 ,84 1 ,40
Ponta Delgada 0, 1 6 1 ,4 6 1 ,2 7 0,27 1 , 29 1 ,40
Funchal 1,16 1 , 62 0,79 0,03 0,6 1 0,28
Portuga l 0,77 1 ,24 0,89 0,48 0,2 1 1 ,29

Fonte: v o a X 1 1 1 o Recensea m e n tos G e r a i s da População

64
A POPULAÇÃO PORTUGUESA NOS SÉCULOS XIX E XX

Poré m , a sequência d e fases d e cresci mento variável veio p rovoca r em termos rea is
ritmos d e cresci m ento populacional basta nte elevados, só igualáveis aos verifica d os nos
anos 30.
O rigi n a m - o o retorno d e meio m i l h ã o d e resid entes nas ex-colónias, o a b ra n d a r dos
fluxos emigratórios, secundado já no fi nal d o decénio pelos pri m e i ros indícios d e retorno
d e e migrantes p roven i entes da Europa. Estas fortes movi mentações populares d ecorrem
n u m p e rí o d o a s s i n a l a d o p e l o a b ra n d a m e n to da d e s c i d a d o s va l o re s g l o b a i s d a
nata l i d a d e e sobretud o d a m o rta l i da d e (-6,3%).
Com e feito, passa d a a fase d e e u fo ri a , a pa rti r d e 1 9 7 6 a p o p u l a çã o p o rtuguesa
a u m enta cada vez menos e a ca b a rá por estagnar. Prova-o a taxa d e cresci mento a n u a l
m é d i o regista da e ntre os dois ú ltimos censos. Entre 1 9 8 1 e 1 9 9 1 , o n ú m e ro d e recen­
s e a d o s n ã o c h ega a a u m e n t a r tri n ta m i l h a res (a d i fe re n ça rea l ci fra -se e m 2 9 6 5 6
i n divíduos), a q u e corresp o n d e m ritmos d e crescime nto m é d i o d e 0 , 0 3 % ao a n o , m u i to
próximos do zero.
O fen ó m e n o d e esta b i l ização d e m ográ fi ca explica-se pela ra p i d ez com q u e o nosso
País se a prox i m o u n o decurso dos anos 8 0 dos comporta m e ntos e u ropeus face à vida e
à m o rte. Enqua nto os níveis de m o rta l i d a d e d escem menos de 9%, os da nata l i d a d e são
e m 1 99 1 2 8 , 5 o/o i n feriores aos verifi cados na d é cada a nterior.
A populaçã o p o rtuguesa e nve l hece, porque nascem cada vez menos crianças e se
morre cada vez mais ta rde. De acordo com os resultados do último recensea mento gera l,
quase u m q u i nto d a p o p u l a çã o a p resenta i d a d es superiores a 60 a nos, e n q u a nto os
jovens d i fi c i l mente u l tra passa m 2 5 % dos rece nseados. Por cada três jovens existem dois
i d osos, d i ferença q u e te n d e rá a esbater-se a i nda mais nos próximos a nos, caso se m a n ­
ten h a m as ten d ências m a n i festadas n o s comporta me ntos colectivos perante fecu n d i ­
dade e não se verifi q u e m muda nças su bstanciais n o s sa ldos do movi mento m igratório 1 3 .
Quando a n a l isadas à esca la regi o n a l , ca da uma d estas grandes divisões te m pora i s
escon d e processos i nternos d e evol u ção por vezes m u i to d i fe rentes ou a t é o postos à
tendência nacio n a l .
Po rtuga l conti n u o u a ser a o l o ngo d e gra n d e pa rte d o sécu l o XX u m País d e m i ­
gra ntes. Os fluxos e refluxos da correntes m igratórias con d i cionara m o evoluir do número
de h a b i ta n tes, b e m como a sua composição etá ria e por sexos e a sua d i stri b u i ção no
território.
As m igrações l i m i ta ra m o ritmo d e cresci m ento; p rovoca ra m o envelhecim ento pro­
g r e s s i v o ( e m b o ra a c e n t u a d o nas ú l t i m a s d é ca d a s) d a estrutu ra e tá r i a ; ca u s a r a m
deseq u i líbrios à esca la loca l , na m e d i d a e m q u e fora m pre d o m i n a nteme nte mascu l i nas;
leva ra m à re d i stri b u i ç ã o das gentes n o e s p a ç o i nte r n o , em d i recção aos gra n d es
n ú cleos eco n o m i ca m e nte desenvolvidos e i n d ustri a l izados; p rovoca ra m o a u m e nto das
percentage ns d a p o p u l a çã o u rb a n a , o abandono p rogressivo dos ca m pos e a conse­
que nte d esertificação d e ce rtas á reas d o i nterio r 1 4.

A i ntensidade dos fenómenos m igratórios q u e va rre m o País d e Norte a s u l e no


senti d o Leste I Oeste, o n d e se situam as principais cidades e vi las, prolonga-se além­
- fro ntei ras e condiciona evo l u ções regi o n a i s d i sti ntas, q u e cu m p re ass i n a l a r, porq u e
n e m s e m p re se efectu a ra m n o m e s m o senti d o e corri a m e s m a i ntensidade.
Os movi m e ntos m igratórios expl icam os d isti ntos resulta dos obtidos, já que as taxas
de cresci mento natura l m é d i o são e m todos os d i stritos d e s i n a l positivo. Sem o efeito
m igrató rio, o a u m e nto teria sido q uase u n i forme.

65
TERESA RODRIGUES

Q u a d ro 5 - Taxas d e cres c i m e nto n a t u r a l a n u a l m é d i o ,


p o r d i s t r i t o s , d e 1 9 0 0 a 1 9 8 1 ( e m %)

D i stritos 1 900-30 1 9 3 0 -40 1 940-50 1 9 50 - 6 0 1 960-70 1 970-8 1

Avei ro 1 ,2 8 1 ,40 1 ,3 7 1 ,59 1 ,5 9 1 ,03


Beja 1 ,3 5 1 ,4 2 1 ,0 1 0,94 0,54 0, 1 4
B raga 1 ,0 1 1 ,6 3 1 ,5 8 1 ,99 2,02 1 ,55
B ragança 0,92 1 ,3 7 1 ,29 1 ,5 4 1 ,04 0,53
caste l o Branco 1 ,20 1 ,4 3 1 ,2 4 1 ,0 8 0,62 0,05
Coim bra 0,85 0,85 0,78 0,86 0,80 0,77
É vora 1 ,2 3 1 ,2 6 0,96 0,80 0,56 0,42
Faro 1 ,20 0,97 0,74 0,62 0,36 0,3 1
G u a rda 0,89 1 ,2 6 1 ,20 1 ,0 8 0,64 0,05
Leiria 1 ,2 8 1 ,3 7 1 ,2 7 1 ,2 3 0,99 0,56
Lisboa 0,76 0,27 0,24 0,62 0,98 1,1 1
Porta l egre 1 ,20 1 ,2 7 0,93 0,76 0,44 0,05
Porto 1 ,0 7 1,19 1,13 1 ,6 3 1 , 74 1 ,34
Santa ré m 1 ,2 5 1,19 1 ,02 0,97 0,69 0,32
-
Setú b a l 1 ,2 2 1 ,0 3 0,98 0,86 0,57
Viana do caste l o 0,85 1'17 1,14 1 ,2 7 1 ,08 0,65
Vila Rea l 0,89 1 , 29 1 ,3 5 1 ,5 7 1 ,3 2 0,77
Viseu 0,97 1 ,2 3 1 ,2 4 1 ,2 8 1,10 0,72
Angra d o Heroismo 0,60 0,87 1,1 1 1 ,5 7 1 ,20 0,95
Horta 0,4 1 0,85 0,90 0,86 0,73 0,95
Ponta Delgada 0,94 1 ,3 5 1 ,49 1 ,95 1 ,8 3 0,95
Funchal 1 ,5 3 1 ,8 5 1 ,5 0 1 , 70 1 ,7 1 1 ,09
Portuga l 1 ,04 1'15 1 ,0 5 1 ,2 2 1'15 0,85

Fonte: v o a X 1 1 1 o Recensea m e n tos Gerais d a População

Refi ra-se tã o só que o Ale ntej o , a zona do Porto e o Arq u i pélago da M a d e i ra regis­
ta ra m os a u m e ntos m a i s sign i fi cativos nas p r i m e i ras três décadas da ce ntúria, enqua nto
a G u a rd a e todas as i l has dos Açores, exce pto o G ru p o Orienta l , regre d i a m 1 5
As d i ferenças i n te r- regi o n a i s acentua m -se a parti r d a década d e 30.
o a b ra n d a r dos fluxos e m igratórios e as d i fe re n ças e ntre o sa l d o natura l e o global
j u stificam-se q uase na íntegra pelos movi m entos populacionais regista d os no i nteri o r
d o território.
os e ntraves à e m i gra ção q u e ca racte riza m os anos 3 0 permitira m o a u m ento globa l
dos efectivos em todos os d i stritos e ntre os censos de 1 9 3 0 e 1 940, que pouco se a fasta m
dos saldos do cresci m ento natu ra l .
No entanto, as á reas d e m a i o r desenvolvi me nto eco n ó m i co e u rbano, co mo Lisboa,
Porto, Setú bal e Coi m b ra , a s taxas d e cresci m e nto tota l exce d e m as do sa l d o fisiológico,
uma vez q u e estes d istritos fu n c i o n a va m como receptá c u l o d e gentes naturais de
outras zonas. I n i cia-se o p rocesso d e l i to ra l ização das ge ntes portuguesas.
C o m e f e i t o , e n t r e 1 9 4 0 e 1 9 5 0 o s d i st r i t o s j u n to ao l i to ra l r e g i s ta m s u b i d a s
populacionais d e m onta. E m b o ra o s saldos naturais da década sej a m positivos em todo
o Portuga l , nas zonas d o i nterior e nas i l has o a crésci m o d e efectivos é fra nca mente
i n ferior a o p revisto pelos saldos fisiol ógicos a í o bservados, o q u e i n d icia o retomar das
vagas e m i grató rias, a que se j u n ta a saída dos naturais p a ra regiões com m e l h o res
o p o rtu n i d a d es de s o b re v i v ê n c i a . Os d i stritos d e L i s b o a e Setú b a l são os p r i n c i p a i s
bene ficiá rios dos fluxos d e i m igrantes, segu idos d e l onge p e l o Porto.

66
A POPULAÇÃO PORTUGUESA NOS SÉCULOS XIX E XX

Q u a d ro 6 - T a x a s d e c r e s c i m e nt o m i grat ó r i o a n u a l m é d i o ,
p o r d i s t r i t o s , d e 1 9 0 0 a 1 9 8 1 ( e m %)

D istritos 1 900-30 1 930-40 1 940-50 1 950-60 1 960-70 1 9 70-8 1

Avei ro 0,45 0,39 0,27 0,77 1,10 0,37


Beja 0,05 0,04 0,56 1 ,44 3,49 0,97
Braga 0,53 0,02 0,44 1,10 1 ,76 0, 1 9
Bragança 0,88 0,02 0,62 1 ,3 2 3,54 0,33
Castelo Branco 0,57 0,08 0,60 1 ,3 3 2,73 0,86
Coim bra 0,50 0, 1 3 0,24 0,98 1 ,5 3 0,20
Évora 0, 1 3 0,35 0,4 1 0,89 2,56 0,20
Faro 0,74 0, 1 9 0,47 1 ,04 1 ,92 1 ,6 1
G u a rda 0,95 0,05 0,80 1 ,9 3 3,46 0,30
Leiria 0,46 0,09 0,26 1 ,02 1 ,64 0,54
Lisboa 0, 1 0 1 ,2 9 1 ,2 5 0,62 0,37 1 ,5 1
Po - ta legre 0,30 0,09 0,34 1 ,3 7 2,92 0,36
Porto 0,07 0,37 0,01 0,38 0,74 0,39
Santarém 0,28 0,0 1 0,25 0,94 1 ,39 0,3 1
-
Setú b a l 0,28 0,86 0,50 1 ,40 2,8 1
Viana do Castelo 0,64 0,02 0,46 1 ,33 2,06 0,54
Vila Real 0,68 0,0 1 0,42 1 ,39 3,30 0,85
Viseu 0,72 0,63 0,7 1 1 ,5 3 2,66 0,47
Angra do Heroismo 0,68 0,08 0,1 1 0,50 2,28 2,35
Horta 0,78 O,1 7 0,49 1 ,94 2,57 2,35
Ponta Delgada 0,78 0, 1 1 0,22 1 ,6 8 3, 1 2 2,35
Funchal 0,37 0,23 0,71 1 , 73 2,32 0,8 1
Portuga l 0,27 0,09 0, 1 6 0,74 1 ,3 6 0,44

Fonte: v o a X 1 1 1 o Recensea mentos Gerais da Po pulação

Este pa n o ra m a conso l i da-se na d é cada i m e d iata . Nos anos 5 0 a b ra n d a o ritmo de


cresci m ento e s ó onze d i stritos a p resenta m saldos globais positivos, embora os saldos
fisiológicos conti n u e m a ser l a rga m ente favoráve is à subida d o n ú m e ro d e res i d entes.
Na m a i o r pa rte dos casos, as taxas d e cresci me nto natu ra l exce d e m as verifi cadas no
período i ntercensitário a nterior, p a ra o q u e contri b u i a pela d i m i n u ição dos níveis da
m o rta l i d a d e , numa é poca e m q u e a nata l i d a d e e ra a i nda elevada.
o c o n fr o n to dos r e s u l t a d o s dos rece n s e a m e ntos d e 1 9 5 0 e 1 9 6 0 e v i d e n c i a a
d i coto m i a já e ntão evi d e n te e ntre os ritmos evol u tivos da fa ixa l i to ra l e o i nteri or d o
País. Os d i stritos q u e cresce m nesses a n o s são B raga , Porto, Avei ro , Lei ria , Santa r é m ,
Lisboa e Setú b a l . Nos Aço res (d istritos d e Ponta Delgada e Angra) e e m Trás os Montes,
a populaçã o ta m b é m cresce, à custa d e saldos naturais basta nte favoráveis e/ou d e um
relativo a fasta m e n to dos principais pólos d e atra cção i migratória.
D e fa c t o , a s s i s t e - s e em P o rtuga l nos d e c é n i o s i m e d i a tos a u m a p ro g r e s s i v a
conce ntração p o p u l a c i o n a l e m torno d e d o i s n ú cl e os agluti n a d o res, l i d erados p e l o s
co n c e l h o s d e L i s b o a e P o rto. N o s a n o s 6 0 só ci n co d i stritos a p re s e n ta m taxas d e
cresci m ento positivo. Pa ra a l é m dos dois já referidos s u rgem B raga , Avei ro e Setúbal. O
fa cto d e t o d o s e l e s s e r e m c o n tí g u o s a o s d o i s p ri m e i ro s re fo rça a te n d ê n c i a d e
bipola rização.

67
TERESA RODRIGUES

Nos resta ntes observa-se u m declínio genera l izad o do tota l de efectivos, a ritmos
especia l m e nte gravosos nas províncias d e Trás os Montes, B e i ra I n terior, e no Alto e
Ba ixo Alentejo, onde se observam descidas de 2% ao ano. Porém, são igual m ente atingidas
certas á reas d e voca çã o litora l , d e que o Alga rve constitui talvez o m e l h o r exemplo.
Ao co n fronta r as taxas d e cresci mento anual m é d i o com os níveis da e migração e m
cada d i strito 1 6 , evi d e n cia-se a principal causa d o fenómeno. o fl uxo d e saídas d o País
acentua-se, co m o v i mos, atingi n d o va l o res a bsol utos i n é d itos na h i stória portuguesa.
Mesmo os d istritos mais d i n â m i cos e atractivos regista m um a u m ento da emigra çã o ,
q u e e m certos casos foi col mata d a c o m gente doutras zonas, c o m o aconteceu na zona
d e Lisboa e Setú b a l , onde os saldos m igratórios perm itiram por si só contínuo acrésci mo
d o n ú m e ro d e e fectivos.
o efeito co m b i n a d o da red u ção dos ritmos d e cresc i m ento natura l e as verda d e i ras
p u n ções q u e se verifi ca m e m certas zonas d o i nterior e m termos d e sa l d o m igratório
explica m o senti d o negativo global q u e m a n i festa m d ezassete dos vi nte e dois d istritos
portugueses nos a nos 60. Portuga l desertifi ca -se e m todo o seu espaço i nteri or e pa rte
do l i to ra l , assi m como nos a r q u i p é lagos da M a d e i ra e d os Açores.
N o p e n ú l t i m o d e c é n i o , a a n á l ise dos resu ltados censitários perm ite d etecta r u m
a crésci m o d e m ográfico ge n e ra l i za d o . E m termos n a c i o n a i s reduzem-se a m e n o s d e
meta d e os níveis da e m igração, cu l m i na n d o n u m sa l d o m igratóri o positivo, m u ito acen­
tua d o a pós o 25 d e Abril d e 1 9 74 . Red uz-se igua l mente o ritmo d e cresci me nto natura l ,
a n u nci a n d o a entrada d e Portuga l no gru po d o s países e u ropeus envelhecidos 1 7 .
Desta d u p l i c i d a d e de ocorrências resu lta m índ i ces de cresci mento global positivos
e m q uase toda a fa ixa l i tora l , d e N o rte a Sul. De s u b l i n h a r a i nda a d i n â m i ca regista da
e m Setú bal ( 3 , 3 8 % a o a no), Lisboa ( 2 , 6 2 %) e Faro (1 ,92%). o Porto vem e m q u a rto l uga r,
com um cresci m e nto a n u a l m é d i o de 1 , 7 3%, o que é devi d o à menor relevância dos
seus saldos m i grató rios, já q u e e m termos d e sa l d o fisiológico é , e m conj u nto com o
d i strito de B raga, dos mais d i n â m i cos. Por seu turno, o cresci m e nto migratório é extre­
m a m ente e l evado nos outros três d i stritos, sendo ele que justifi ca os resu lta dos fi nais
neles o bs e rva d o s . C o m e f e i t o , os reto rnos d e a l g u n s e m igra n tes e s o b retu d o dos
res i d e ntes nas ex-co l ó n i a s veio agrava r as d i screpâncias e ntre as várias regiões d o País.
Entre 1 9 7 0 e 1 9 8 1 d i m i n u i a p o p u l a çã o res i d e nte em nove d i stritos e é m u i to
escasso o a crésci m o v e ri fi ca d o e m o u tros c i n co . E l e s a p resenta m-se contígu os e m
t e r m o s d e l o ca l i za ç ã o geográ fi ca, s e e x c e p tu a r m o s , c o m o é e v i d e n t e , as R e g i õ e s
Autónomas d a M a d e i ra (o n d e se verifi ca u m cresci mento m í n i mo) e dos Açores (cuj o
n ú m e ro d e h a bita ntes é e m 1 9 8 1 ce rca d e 1 4% i n ferior ao q u e fora e m 1 9 70).
As á reas conti n e nta i s a que nos referimos cobrem o extre m o n o rte d o territó rio,
desde Viana d o caste l o , q u e q u a s e não cresce (a p e n a s 1 , 1 %), passa n d o p o r toda a
província tra n s m o nta na. Em Vila Rea l red uz-se o tota l de efectivos e em B raga n ça o
a u m e nto não exce d e 2% em mais de dez a nos. Pa norama s i m i l a r se observa nas B e i ras.
o d i strito d a G u a rda decai e m termos populacionais 2 , 5 % e no d e castel o B ra n co as
perdas exce d e m 8%. No Alentej o contígu o Porta l egre ta m b é m perde residentes, ce rca
de 3 %. o mesmo acontece em Bej a , e m b o ra com m a i o r i nte nsidade, a orça r 8% do tota l
d e r e c e n s e a d o s e m 1 9 7 0 . A s e p a rá - l a s f i c a Év o ra , m a s ta m b é m a í o r i t m o d e
cresci mento é m u i to baixo, a m a n i festa r e m 1 98 1 uma recu peração d e a penas 2 , 2 % e m
re lação aos resu ltados obti d os uma d éca da a ntes.
Estas d i fe re n ça s i n t e r n a s to r n a m -s e m a i s p re o c u p a n te s , c a s o s e a n a l i s e m os
res u l ta d o s das taxas de cresci m e n to n a t u ra l m é d i o . E l a s perm item constata r q u e o

68
A POPULAÇÃO PORTUGUESA N05 SÉCULOS XIX E XX

decrésci m o global nas zonas i nteri ores foi provoca d o não a penas pela saída de natura i s ,
mas, m a i s grave, q u e e s s a s s a í d a s fora m fa m i l i a res e com carácter d e fi n itivo, c o m o
comprova m os sa l d o s naturais quase n u l os q u e nelas podemos e n contrar. Veja m-se o s
casos da G u a rd a , d e castel o B ra n co e d e Porta l egre, com a crésci mos da ordem dos O,So/o
e ntre 1 9 7 0 e 1 9 8 1 , ou a i n d a B ej a .
A par d o p rocesso d e a ba n d o n o d o i nte rior i ntensifica-se o p rocesso d e envel h e­
cime nto das popu lações. o fe n ó m e n o ati nge tod o o espaço naci o n a l , mas é especia l ­
m e n te e v i d e n t e e g ra v o s o n a s á re a s e m p ro c e s s o d e e s t a g n a ç ã o o u d e c l í n i o
d e mográ fico. D e fil cto , a rep u lsão populacional origina s e m p re u m envelhecimento no
topo da p i râ m i d e etá ria d e ca da região, ou sej a , a existência d e percentagens ca da vez
m a i s sign i ficativas d e i d osos fa ce a o tota l d e efectivos. Do mesmo m o d o , a atração
provoca um rej uvenesci m e nto etá rio na zona onde ocorre, já q u e os grupos atraídos
são sobretud o jovens e m idade a ctiva e fecu n d a .
N este s e n ti d o , a fa i x a l i to r a l conti n u o u a c r e s c e r , e m l a rga m e d i d a à cu sta d o
i nte rior, e m b o ra e m s i m u ltâ n e o se a c e n t u e o p rocesso d e enve l heci m e nto, ca usa d o
p e l a descida gera l dos níveis da fecu n d i dade. o fen ó m e n o não pa receu t ã o evi d ente até
aos anos 60, mas s u rge a partir daí com crescente evidência, permiti n d o d i vi d i r o País
e m dois, através de um eixo l i tora l I i nterior, e m b o ra esbati d o na última déca d a , de
acordo com os res u l tados d o censo d e 1 99 1 .

Q u a d ro 7 - Taxas d e cresci m e n t o a n u a l m é d i o e m P o rtugal entre 1 9 8 1 e 1 9 9 1

N UTS n í v e l I I I %
M i n h o-Lima 0,27
Cáva d o 0,72
Ave 0,63
Grande Porto 0,44
Ta m ega 0,23
Entre Douro e Vouga 0,63
D o u ro 0,9 1
AHo Trás os Montes 1 .4 6
B a i x o Vouga 0,40
Baixo Mondego 0,04
Pinhal Li tora l 0,33
P i n h a l Interior Norte 0,86
Pinhal Interior Sul 1 ,73
Dão-La fões 0,44
serra da Estre l a 0,53
Beira Interior Norte 0,93
Beira Interior s u l 0,6 1
cova da Beira 0,69
oeste 0, 1 3
Grande Lisboa O, 1 2
Pen i ns. Setú b a l 0,92
Médio Tejo 0,3 1
Lezi ria do Tejo 0,05
Alentejo Litora l 0,46
AHo Alentejo 0,54
Alentejo centra l 0.4 1
Baixo Alentejo 1 .0 5
A lgarve 0,54
Reg. A u t. Madeira 0,02
Reg. Aut. Açores 0,23

Fonte: XIV" Recensea mento Geral da População

69
TERESA RODRIGUES

Até 1 9 7 0 , o envelhecimento na base, ou sej a , a d i m i n u i ção da i m portâ ncia relativa


dos p ri m e i ros gru pos etá rios, sepa ra os d istritos e m três grupos : o N o rte e as i l has,
onde se a p rese nta m e l evadas percentage ns d e popu lação i n fa ntil e juve n i l ; o S u l , onde
esses i n d i v í d u o s re p re s e n tava m menos d e u m te rço d o tota l ; e , p o r fi m , o cen tro
(Co i m b ra , Leiria, Viseu e Caste l o B ra n co). a regista r va l o res m é d i os. Na década d e 70
t e n d e m a u n i fo r m i za r- s e os p a d r õ e s d e fe c u n d i d a d e , p e l o q u e s e a te n u a m a s
assi m etrias, devido a o acelera r d o p rocesso d e envelhecime nto na base d o s distritos
tra d iciona l m e nte pouco tocados pelo fe nómeno.
D e facto, a pa rti r d e 1 98 1 os dados existentes permitem d etecta r u m p rocesso d e
u n i form ização d o s c o m p o rta m e ntos d e m ográfi cos, e m termos d e fecu n d i d a d e , m a s
ta m b é m d e m o rta l i d a d e . E s t e fa cto re d uz a i m p o rtâ n c i a q u e d ev e m o s a t ri b u i r a o
cresci m e nto natural e m relação às ca racterísti cas q u e d e fi n e m a evol u ção do n ú m e ro
de e fe ctivos res i d e n tes no espaço português. De ta l forma q u e as assi metrias regi onais
observa d a s até 1 99 1 nos ritmos d e cresci m ento d e p e n d e m quase e m absol uto dos
d i fe rentes i m p u lsos dados pelos movime ntos m igratórios 1 8.

Tendo em conta q u e a e m igração viu reduzido o seu i m p a cto em termos a bsol utos
e relativos, devemos s u b l i n h a r o papel da tra nsferência i nterna d e efectivos das zonas
i nteriores p a ra oci d e n te. A m o b i l i d a d e i n te rna foi a causa próxima para a conti nuada
desertifica ção d e a lgumas regiões e explica ta m b é m o a u m ento a rtificial dos efectivos
e n co ntra d o s em certas pa rtes do País, nomeadamente nas zonas onde se situa m os
gra n d es centros u rbanos i n d ustrial iza dos.
Ass i m , a evolução regi o n a l portuguesa no último decénio pode ser defi n ida através
d e a lgu mas ca racterísticas basi l a res 19 :
• Prossegue o a b a n d o n o do i nterior em favor do l itora l , e m bora o a b ra n d a r do ritmo
d e cresci m e nto ge ra l condicione o v o l u m e d esse fenómeno.
• O bserva m-se pela p ri m e i ra vez saldos d e d e cresci me nto nos conce l hos de Lisboa
e Porto, a i n d i c i a r a te rciarização d o teci d o u rb a n o nas pa rtes centra is das gra n d e s
cidades e a conco m i ta n te tra nsferência d e populaçã o pa ra co nce l hos l i m ítrofes, o n d e
resid e m (Áreas M etro p o l i ta nas).
• Assi nalam-se ritmos intensos d e declínio populacional em várias regi ões do i nterior,
como no Alto Trás os Montes e Douro i nterior. Todo o Alentej o perde população, exce pto
os conce l hos de Évo ra e Vila Viçosa , de castro Verd e , a S u l , e de Santiago do Cacém e
Sines, situa dos no litora l .
• o m e s m o p r i n c í p i o d e c l a ra p re p o n d e râ n c i a d o cresci m e n to l i t o ra l q u a n d o
com pa ra d o ao i nterior é vá l i d o n o caso a lga rvio. o Alga rve é a região q u e mais a u m e nta
no contexto nacional (0 , 5 4 % por a n o , e ntre 1 98 1 e 1 99 1 ). Mas as á reas agríco las e para
i n t e r i o r p e r d e m e fe c t i v o s , e n q u a nto os co n c e l h o s d e F a r o , A l b u fe i ra e Po rti m ã o
a p resentam variações a nuais m u ito significativas e sempre superi ores a 1 %.
• No p a n o ra m a i n s u l a r ass i n a l a m -se p rocessos d istintos, segu ndo as i l has. Aume nta
a p o p u l a ç ã o em Po rto Sa nto à m é d i a de 1 % p o r a n o . Cresce ta m b é m o n ú m e ro d e
residentes no Corvo e na Terce i ra , n o a r q u i pélago a çoria no. Aliás, o tota l d e efectivos
declina nos Açores, se consid e ra d o co m o u m todo e a p roxi ma-se d o va l o r nacional na
Região Autó n o m a d a M a d e i ra .
• E s t e s fe n ó me n os tê m c o n s e q u ê n c i a s d i re ctas n o grau d e e n v e l h e c i m e n to d a
população, visível q u e r a nível naciona l , q u e r local. À esca la naci o n a l , o peso d o s jovens
na popu lação decresceu 2 1 ,6% nos ú ltimos dez a n os, devido ao declínio muito rá p i d o
d o s n í v e i s d e fe cu n d i d a d e . E m s i m u ltâ n e o c r e s c e 1 9 , 3 % a pe rce ntagem d e i d osos,
devido ao a u m e nto da espera n ça d e vida das gentes portuguesas 2o.

70
A POPULAÇÃO PORTUGUESA NOS SÉCULOS XIX E XX

A nível regional estas duas ocorrências simu ltâ neas a fecta m todo o País, e m bora com
i ntensidades d i ferentes. o envel hecimento da base e d o topo da p i râ m i d e é evide nte,
mesmo nas zonas consi d e radas favorecidas e m termos d e d esenvolvi m ento eco n ó m i co.
o Centro e o Sul são as á reas mais a fectadas pela d i m i n u i çã o d o peso re lativo dos
gru pos m a i s j ov e n s . Estes re presenta m m e n os de u m q u i nto d o tota l de e fectivos
recenseados e m d ezassete dos vi nte e sete Nut's e m q u e se divide o País, todos e l es
situados a sul d e Coi m b ra .
P o r s u a vez, os i dosos surgem e m percentagens signifi cativas e m todo o territó rio,
e m b o ra exce d a m 2 0 % dos recenseados e m ce rtas zonas d o i nte rior (Pi n h a l i nte rior,
B e i ra i nteri o r e Alto Ale ntej o , Baixo Alentej o).
Q u a n d o c o m p a ra mos estes resu lta dos com os d e 1 98 1 verificam-se varia ções por
vezes m u ito a centuadas. o peso relativo dos jovens declina e m toda a parte, enqua nto
sobem vertigi n osa m e nte as ca madas com 65 ou mais a nos. Acentua-se o processo d e
d u p l o enve l h ec i m e nto da popu lação portuguesa 21.

Assi m s e n d o , são a s m igrações i n ternas q u e fome nta m a d ivers i d a d e e ntre o s vários


espa ços. Num p a n o ra m a que ten d e a ser pouco favorável ao a u m e nto d o n ú m e ro d e
i n d ivíduos, c a s o não se a lterem os comporta me ntos colectivos face à fecu n d i d a d e , o
futuro p róximo de cada região e as suas respectivas potencia lidades de desenvolvi mento
parecem esta r d e p e n d e ntes de u ma políti ca ra ci o n a l , q u e permita red i stri b u i r de forma
harmon iosa a populaçã o n o espaço. Esse p rocesso deverá ter por fi n a l i d a d e viabi l iza r o
m e l h o r a p roveita m ento eco n ó m i co possíve l dos recu rsos loca l m ente d isponíveis.
o papel determ i na nte que d u ra nte m u itas d écadas coube à e m igraçã o, ten d e agora
a fica r basica mente ligado à d i reção que no futuro próximo possa m tomar os movi mentos
m igratórios i nternos.

Deze m b ro 1 99 4

N O TAS

1 . M a ria Luis Rocha Pinto e Teresa Rodrigues, "A evolução da popu lação portuguesa ao longo do sécu lo XIX -
Uma perspectiva globa l", in Forum Sociológico , nY 3. Lisboa , 1 99 3 , p 1 5 5 .

2 . David J usti no, A Formação do Espaço Económico Nacional - Portugal 1 8 1 0- 1 9 1 3 . vo/.11, Lisboa , Vega, 1 989, p. 1 2 1 .

3 . Vej a m -se, entre o u tra s, a s sínteses d e Armando d e Castro, A Revolução Industrial em Portugal n o século XIX.
4 . ' e d . , Porto, E d . L u m i a r , 1 9 7 8 ; D a v i d J u s t i n o , ob. cit. ; J a i m e R e i s , "O a traso e c o n ó m ico portugu ês e m
perspectiva h istórica ( 1 8 6 0- 1 9 1 3)". i n Análise Social , vol. XX (80), Lisboa , 1 9 8 4 , p p . 7 - 2 8 ; joel Serrão, Temas
Oitocentistas, vo/. I, Lisboa . Liv. Horizonte, 1 9 80; joel serrão e Gabriela M a rtins, Da Indústria Portuguesa do
Antigo Regime ao Capitalismo, Lisboa, Liv. Horizonte, 1 9 7 8 ; Manuel V i l laverde Ca bra l , o Desenvolvimento do
Capitalismo em Portugal no século XIX e Portugal na Alvorada do século XX, 3.' ed., Lisboa , Regra do Jogo,
1 9 8 1 ; Mi riam H a l pern Pereira, Livre-câmbio e Desenvolvimento Económico - Portugal na segunda metade do
século XIX, 2.' ed., Lisboa , Sá da Costa, 1 9 8 3 ; Vitorino Maga l hães G o d i n h o , Estrutura da Antiga Sociedade
Portuguesa. 4.' ed., Lisboa , Arcá d i a , 1 980.

4. M i riam H a l pern Pere i ra , ob.cit. , p.24.

5 . Vá rios i n vestigadores se d e b ruça r a m sobre a evo l u çã o da em igração portuguesa , segu ndo perspectivas
d iversas, como joel serrão, v . Maga l hães G o d i n h o e Jorge Arroteia. I m porta a evo l u ção q u a ntitativa. mas
ta m b é m as i m p l i ca ções sociais e económicas, exemplarmente descritas na l i teratura da época.

6. M i riam Halpern Pereira, ob.cit. , p.24.

71
TERESA RODRIGUES

7. Teresa Rodrigues, " U m espaço u rbano em expa nsão. Da Lisboa de Q u i n h entos à Lisboa do Sécu lo XX", i n
Revista Penélope - Fazer e desfazer a História , n" 1 3 , Lisboa, 1 994, p.98.

8 . Idem , p.99.

9. u m a primeira versão sobre as características d e evolução populacional portuguesa no s é c u l o XX f o i por nós


e l a borada in Revista História n" M a rço, 1 99 5 (no Prelo): "Os portugueses do sécu l o XX - A p e rspectiva
demográfica"

1 o. Teresa Rodrigues, Usboa no Século XIX - Dinâmica Populacional e crises de Mortalidade, tese de Dou r. em
H istória Eco n ó m i ca e Soci a l - É poca Conte m porâ nea, a p res. na F.C.S.H. - U . N . L., Lisboa, 1 993, p. 2 3 .

1 1 . Cf. M a r i a J o s é Carri l h o e J o ã o Pei xoto, "L'évolution démogra p h i q u e a u Portuga l " , relatório d o G a b i nete d e
Estudos Dem ográ ficos, l N E, j u n ho d e 1 99 1 (polic.)

1 2 . J . Manuel Nazareth, Princípios e Métodos de Análise da Demografia Portuguesa , Lisboa, Ed. Prese nça, 1 98 8 ,
p p. 1 1 1 - 1 2 1 .

1 3 . Maria João Valen te Rosa , " O desafio socia l d o envelhecimento demográ fico", i n Análise Social , vol. XXVIII ( 1 22),
1 99 3 (3.'' ), 679-689.

14. Este t i p o d e q u estões m e rece u m a atenção especia l , q u e não se enquadra n o s objectivos possíveis da breve
síntese a q u i a p resentada sobre o evo l u i r das gentes portuguesas. Dada a sua extrema com plexidade e a
i m portâ n c i a q u e reveste m a vários níveis nas fo rmas evo l u tivas da soci edade e economia portuguesas,
haverá que a bordá -las d e forma d i recta e exclusiva.

1 5 . J . M a n u e l Nazareth, "A d e m ografia portuguesa do século XX: principais l i n has d e evolução e tra nsformação",
i n Análise Social , vol. X X I (87-88-89), 1 98 5 , 3." - 4." - 5.", pp. 96 3-980.

1 6. Idem, p. 980 - Quadro com as "Taxas d e em igração anual média, por distritos, de 1 900 a 1 980 (em percentagem)".

1 7. J. M a n u e l Nazareth, "Conj u ntura demográfica da população portugu esa no período de 1 9 7 0 - 1 980: aspectos
globais", in Análise social , vol. XX (8 1 -82), 1 984, 2." - 3 .", pp.2 3 7-262.

1 8. Altera-se no c e n s o d e 1 99 1 a b a s e de recolha dos d a d o s demográficos, no cumprimento das d i rectivas com u ­


n i tá rias. Esse facto i m pede-nos d e estabe lecer comparações d i rectas entre o s valores de 1 99 1 e o s resta ntes
censos, para o que seria necessá rio reconstitu i r os d istri tos a partir da i n formação por conce l h os, o que não é
compatível co m os o bjectivos desta síntese.

1 9. Maria Luis Rocha Pinto, "As tendê ncias demográficas", i n Portugal. 20 anos de democracia , Lisboa, Circulo de
Leitores, 1 99 4 , pp. 296-306.

20. Entenda-se por j o v e m todo o ind ivíd uo c o m menos de 15 a nos e por idoso os c o m p e l o menos 65 a nos de vida.

2 1 . Maria João Va lente Rosa, ob. cit. , Quadro da p. 6 8 2 .

72
A S ITUAÇÃO DEMOG RÁFICA
DA FAMÍLIA NOS AÇOR E S 1
Gilberto Pa vão Nunes Rocha
Universidade dos Açores

Este tra b a l h o tem como p r i n c i p a l o bj ectivo uma a n á l ise da Família no â m b ito da


Demogra fi a , d e u m m o d o p a rticu l a r no q u e respeita à d i mensão e ca racte rização da
estrutu ra d e mográ fica d o agregado fa m i l i a r açori a n o nos fi nais d este sécu lo. Todavia,
pareceu- nos ser igua l m e nte i m p o rta nte a p resenta r a d i nâ mica populacional dos ú ltimos
c i n q u e nta a n o s e s u a i n t e r l i g a ç ã o à e s t r u t u r a d a fa m í l i a , rea l ç a n d o as v a r i á v e i s
d e m ográ ficas q u e e m n osso entender m a i s contri buíram para a situação actu a l mente
existente n esta i nsti tu i ção.
N este sentido, i remos a p resenta r a evo l u ção da popu lação e d o n ú m e ro d e fa mílias
nos Açores e ntre 1 94 0 e 1 9 9 1 , fazer u m a b reve a n á l ise da d i m e nsão fa m i l i a r, bem como
d a estrutu ra etá ria e por sexo das fa mílias e m 1 9 9 1 .
A p l u ra l i d a d e d o a rq u i p é lago leva-nos a a p resenta r a i n formação para ca da u m a das
i l has, como s e m p re temos feito 3 . E m b o ra n esta a n á l ise se privilegie os qua ntitativos
globais da Regi ã o , não d e i xa remos d e sa l i e ntar, nos casos que nos p a reça m mais re le­
vantes, a especifici d a d e d e a lgumas i l has ou gru pos d e i l has.
S e n d o uma a p resenta ção m a i o ri ta r i a m e nte q u a ntitativa , e l a não pode d e i x a r de
reflecti r as a lterações da sociedade a çoriana na segu nda metade d este século, a lterações
d e natu reza eco n ó m i ca , mas ta m b é m , e e m nosso ente n d e r prepo n d e ra ntem ente, d e
natu reza social e cultura l .
Pensamos assi m contri b u i r não só para u m m e l h o r ente n d i m e nto da p ro b l emática
fa m i l i a r nesta Regi ã o , como conseq uênci a das a lterações d e m ográ ficas mais recentes,
como a pe l a r a o desenvolv i m ento d e estudos mais a p ro fundados, cuja i nterl igação nos
pa rece ser fu n d a m e nta l pa ra se com p re e n d e r a soci e d a d e d este a r q u i p é lago.
M u ito fica rá ass i m por d i zer, nomeadamente n o que respeita à percepção d e cada
gru po relativa m ente a estas d i ferenças, ou ainda sobre aspectos do relacionamento e ntre
os vários membros que compõem o agregado fa miliar, em suma as principais modificações
no que respeita aos va l o res na Fa mília e sobre a Fa mília.
Sabemos ta m b é m q u e esta mos a englobar pessoas q u e têm outras d i ferenças, q u e r
se atenda a o nível d e ren d i m e nto, gra u d e habilitações, t i p o d e habitat ou outras caracte­
rísticas, e q u e a q u i s u rgem h o m ogeneizadas. Esta ressa lva tem como o bjectivo a l e rta r
pa ra outra das l i m i ta ções d este tra b a l h o , o n d e em vez de " fa mí l i a " seria mais correcto
fa lar d e " famíl ias".
se ate n d ermos aos va l o res consta ntes d o Quadro 1 , verifi ca-se q u e a popu lação dos
Açores a u m e nta e ntre 1 94 0 e 1 9 60 e q u e declina d esta última data até aos nossos d ias.
Esta te n d ê ncia gera l não se a p resenta pe rfei ta m ente i d ê n ti ca e m todas as i l has,
o n d e e n contra m os a lgumas d i fe re n ças q u e passa mos a sa l i e ntar. Com e feito, e no que
res p e i ta a o p ri m e i ro p e r í o d o - 1 94 0 - 1 9 6 0 - a te n d ê n ci a a c i m a refe r i d a conte m p l a
u n i ca m e nte as i l has d e Santa Maria, S. Miguel e Terce i ra , e m b o ra estas no s e u conj u nto
corres p o n d a m a ce rca d e três q u a rtos da população açoriana. Nas resta ntes i l has verifi­
ca-se u m a crésci m o d e 1 94 0 p a ra 1 9 5 0 , segu i d o d e uma d i m i n u i çã o d e 1 9 5 0 para 1 960.

73
G/LBERTA PAVÃO NUNES ROCHA

Q U A D R O 1 - E V O L U Ç Ã O D A P O P U LAÇÃO D O S A Ç O R E S , P O R I L H A 1 9 4 0 - 1 9 9 1
( P O P . Res i d e nte)

1 940 1 950 1 960 1 970 1 98 1 1 99 1

AÇORES 2 8 709 1 3 1 85 1 1 3 2 7480 2 8 9096 2434 1 0 2 3 7 79 5


S.MA 8067 1 1 839 1 3233 9762 6500 5922
S. M G 1 4 7959 1 6 52 1 8 1 68 6 9 1 1 5 1 45 4 1 3 1 908 1 25915
TER 53233 60372 71610 65852 5 3 5 70 5 5 706 .
GRA 9 1 93 96 1 7 8669 7420 5377 5 1 89
S.jO 1 5 798 1 65 0 7 1 5 895 1 3 1 86 1 03 6 1 1 02 1 9
PIC 2 1 423 22557 2 1 83 7 1 8490 1 5483 1 5 202
FAI 23280 23923 202 8 1 1 7068 1 5 489 1 4920
FLO 7447 7850 6582 5 3 79 4352 4329
COR 691 728 681 485 3 70 393

o declínio observado para a globalidade do arquipélago a partir da década de sessenta ,


e q u e ati nge todas as i l has e ntre 1 9 60 e 1 98 1 , en contra uma pequena excepção para a
Terce i ra e Corvo ao l o n go dos a n os oitenta , e m b o ra o a u mento o bservado n estas i l has
entre 1 98 1 e 1 99 1 registe u m ritmo basta nte atenuado.
se ate n d e r m o s agora à evo l u ção n o n ú m ero d e fa m í l i a s , q u e a p resentamos n o
Quadro 2 , constata-se a lgumas d i ferenças relativa m e nte ao q u e acabamos d e observar
para a tota l i da d e da p o p u lação.
Na Regi ã o , e n o que res peita a o p ri m e i ro período - 1 940- 1 9 6 0- a tendência é a
mesma, ou sej a , a u m enta o n ú m e ro de fa mílias ta l como a u menta a popu lação. Entre
1 960 e 1 98 1 d i m i n u e m as fa mílias, como ta m b é m d i m i n u i a popu lação. De 1 9 8 1 pa ra
1 99 1 a u m enta o n ú m e ro de fa m í l i a s contra r i a mente ao q u e acontece com a popu lação.
Em termos gerais, e na nossa óptica , a grande d i ferença está, pois, na fa lta de correspon­
dência entre a evolução q u a ntitativa da popu lação e a da fa mília nos últimos dez anos.

Q U A D R O 2 - EVOLUÇÃO D O N" D E FAMI LIAS NOS AÇORES, POR ILHA, 1 9 4 0 - 1 9 9 1

1 940 1 950 1 960 1 970 1 98 1 1 99 1

AÇORES 6 1 885 7 1 587 7662 1 66503 62 1 23 63555


SMA 1 749 2510 2978 2277 1 84 5 1 72 6
SMG 30573 3594 1 3 704 1 3 1 698 308 1 1 30 704
TER 1 2062 1 4241 1 7592 1 60 1 0 1 4420 1 6092
G RA 2375 2584 2548 2276 1 75 3 1 797
S.JO 352 1 3662 3776 3334 2913 3049
PIC 4894 5344 5427 4769 4555 4498
FAI 5008 5366 5326 451 1 4469 4263
FLO 1 552 1 808 1 766 1 50 1 1 249 1 2 96
COR 151 161 1 67 1 27 1 08 1 30

A nível de i l ha as desigua ldades são um pouco mais acentuadas, até porque mesmo
n a p o p u l a çã o j á e n co n t ra m os a l g u m a s d i fe r e n ç a s d i g n a s de registo, como a c i m a
refe r i m os. E n t r e 1 9 4 0 e 1 9 6 0 , a gra n d e m a i o r i a d a s i l has a p re s e n ta u m a crésci m o

74
A SITUAÇÃO DEMOGRÁFICA DA FAMÍLIA NOS AÇORES

sign i fi cativo no n ú m e ro de fa mílias, com excepção para a G raciosa e o Fa i a l , nas quais


observa mos u ma lige i ra d i m i n u i ção. Nos a nos com p ree n d i d os e ntre 1 96 0 e 1 9 8 1 , q u e
c o m o vimos é u m período d e decl í n i o gen e ra l iza do, a ú n i ca excepção respeita à i l h a d o
Fa i a l , q u e regista u m a u m e nto no n ú m ero d e fa mílias d u ra nte a década d e sessenta.
Mas é nos a n os oitenta que assisti mos a d i ferenças mais acentuadas e ntre as i l has,
já q u e Santa Maria, S. Miguel, Pico e Fa i a l a p resenta m uma te n d ê ncia d i ve rgente da glo­
ba l i d a d e d o a r q u i p é lago e da das resta ntes i l has, com uma d i m i n u i ção no q u a n titativo
das respectivas fa mílias.
Estas duas situações serão melhor pe rce pcionadas se ate n d e rmos aos valores das
Taxas d e Cresci m e n to A n u a l M é d i o (fCAM) nas várias d é cadas, ta nto a para a popu lação
com o para a fa m í l i a s , que a p resenta m os n o Quadro 3 .

Q U A D R O 3 - TAXAS D E C R E S C I M ENTO ANUAL MÉDIO D A P O P U LAÇÃO


E D A S FAMÍLIAS, N O S A Ç O R E S , P O R I L H AS
1 9 4 0 - 1 9 9 1 ( %)

1 940/50 1 950/60 1 960/70 1 9 70/8 1 1 98 1 /9 1

POP FAM POP FAM POP FAM POP FAM POP FAM

AÇORES + 1 .0 + 1 .5 +0.3 +0.7 - 1 .2 - 1 .4 - 1 .7 -0.7 -0.2 +0.2


SMA +3.9 +3.7 +1.1 +1.7 -3.0 -2.6 -4.0 -2. 1 -0.9 -0.7
SMG +1.1 + 1 .6 +0.2 +0.3 -1.1 - 1 .5 - 1 .4 -0.3 -0.3 -0.03
TER + 1 .3 +1.7 +1.7 +2 . 1 -0.8 -0.9 -2.0 - 1 .0 +0.4 +1.1
GRA +0.5 +0.9 - 1 .0 -0. 1 - 1 .5 -1.1 -3.2 -2.6 -0.4 +0.3
SJO +0.4 +0.4 -0.4 +0.3 - 1 .9 - 1 .2 -2.4 - 1 .3 -0. 1 +0.5
PIC +0.5 +0.9 -0.3 +0.2 -1.7 - 1 .3 - 1 .8 -0.5 -0.2 -0. 1
FAI +0.3 +0.7 - 1 .6 -0. 1 - 1 .7 - 1 .7 - 1 .0 -0. 1 -0.4 -0.5
FLO +0.5 + 1 .5 - 1 .8 -0.2 -2.0 - 1 .6 -2.1 - 1 .8 -0. 1 +0.4
COR +0.5 +0.6 -0.7 +2.0 -3.3 -2.7 -2.7 - 1 .6 +0.6 + 1 .9

Uti l iza n d o a i n d a a mesma peri o d i c i d a d e , verifi ca-se q u e e ntre 1 940 e 1 96 0 , q u a n d o


a u m e nta ta nto o v o l u m e da populaçã o c o m o o n ú m e ro d e fa mílias, c o m o acabámos
d e o bserva r, o ritmo d e cresci m e nto d estas é m a i s e l eva d o d o q u e o da população,
facto q u e e n co ntra u m a ú n i ca e l i ge i ra excepção e m sa nta Maria nos anos q u a renta.
De 1 9 6 0 p a ra 1 9 8 1 verifica-se um declínio mais ou menos gen e ra li zado ta nto no
n ú m e r o d e h a b i t a n tes d a s d i v e rsas i l ha s c o m o n a s respectivas fa m í l i a s . N o s a n os
sessenta o ritmo é m a i s i n tenso nestas, enqua nto q u e nos anos setenta é na popu lação
que e n contra mos os m a i ores ritmos d e d ecrésci mo.
Na última década, os ritmos d e evolução são mais fra cos, mas d e te ndências d i fe­
re nciadas com o já referimos e está bem patente nos qua ntitativos da TCAM consta ntes
no Q u a d ro 3, q u e a c i m a a p resentá mos.
Se a t e n d e rmos à situação d e cada uma das i l has, e a i n d a com a mesma perio­
d i c i d a d e , além d o caso excepci o n a l d e Santa Maria, a q u e acima a l u d i mos, podemos
observar q u e na década d e c i n q u e nta n e m sempre esta mos pera nte uma evo l u ção d e
senti d o positivo. N o e nta nto, n estes casos o n ú m e ro d e famílias d i m i n u i menos do que
o da população, p e l o q u e o fen ó m e n o não se a p resenta com u m signifi cado m u i to d i s-

75
GILBERTA PAVÃO NUNES ROCHA

ti nto do q u e observá mos pa ra a globalidade da Região, ou seja, prepondera o acrésci mo,


ainda q u e relativo, d o n ú m e ro d e fa m í l ias.
Nos anos que medeiam 1 960 e 1 98 1 , a primeira década apresenta uma enorme hetero­
gen e i d a d e , verifi ca n d o-se, todavia , q u e de um m o d o gera l é mais acentuado o ritmo d e
decrésci mo n a s fa mílias. Em senti d o i nverso, n o s a n os setenta d i m i nui m a i s a população
d e todas as i l has, o q u e j ustifi ca o q u e d i ssemos pa ra o a rq u i p élago no seu conj u nto.
Entre 1 9 8 1 e 1 9 9 1 , a ten d ê ncia ge ra l é para o a u m ento n o n ú m e ro das fa mílias,
contrariame nte a o q u e acontece com a popu lação. Existe m , porém, d i ferenças e ntre as
i l has que não correspondem, e m nossa opinião, a u m ente n d i m e nto tota l mente disti nto
dos fe n ó m e n os q u e j u st i fi ca m as respectivas evo l u ções, e m b o ra estas a p resentem
a lgu mas d i ferenças e n tre s i , q u e a segu i r especifi ca m os.
Em p ri m e i ro luga r, quando se observa uma d i m i n u i ção da população e u m aumento
no n ú m e ro de fa mílias, como na G raciosa, em S. J o rge e nas Flores. Em segu n d o l uga r,
q u a n d o a u m e nta a p o p u lação e a u m enta m as fa mílias, como na Terce i ra e no Corvo e,
por último, q u a n d o d i m i n u i a p o p u lação e d i m i n u e m as fa mílias, como e m santa Maria,
e m S. Migu e l , n o P i co e n o Fa i a l . Em qualquer das i l has, com excepção para o Fa i a l , o
confronto dos ritmos de cresci me nto do volume da população e das fa mílias apo nta
para o a u m ento, absol uto ou relativo, no n ú mero das fa mílias.
Assim, os períodos de 1 940 a 1 960 e de 1 98 1 a 1 99 1 , registam semelhanças e diferenças
nas tendências d e m ográ fi cas que q u e remos agora a p rofu n d a r. A desigua ldade respeita
à evolução da população, q u e no p ri m e i ro período a u m e nta e no segu n d o d i m i n u i . A
s i m i l itude verifi ca-se no a u m e nto do n ú m ero de fa m í l i a s q u e se verifi ca em a m bos
períodos, e m b o ra n o p ri m e i ro corresponda a u m a u m e nto a bsoluto enqua nto que no
segu n d o , p e l o m e n os e m a lgumas i l has, só se assista a u m a u m ento relativo, ou sej a , o
ritmo de cresci m ento no n ú m e ro de fa mílias é superior ao verifica do para a população.
Ass i m , i re m os e m segu i d a a n a l isar a d i n â m i ca d e m ográ fi ca d estes dois períodos,
não consi d e ra n d o os a n os i nte rméd i os - 1 9 6 0- 1 9 8 1 - que se a p resenta m basta nte
d i stintos como a ca bá m os d e observa r.
o forte a u m ento d e m ográfico de meados do sécu lo deve-se fu n d a m e nta l m e nte ao
esta ncar da e m igração, n u m a época o n d e a fecu n d i d a d e é basta nte eleva da, pois as
Taxas Brutas de Natalidade (TBN) quase atingem os 4 0%o para a globalidade do arqui péago.
E m b o ra este q u a n titativo d e p e n d a prepo n d e ra nte m e nte do nível da nata l i d a d e
registad o e m S. Migu e l , q u e é m a i s elevado d o q u e a q u e les q u e observa mos n a s outras
i l has, a rea l i d a d e é que e m n e n h u ma delas se pode d izer que o n ú mero de nasci me ntos
a p rese nta um d e c l í n i o sign i fi cativo e persistente, q u e na verdade só i remos verifi ca r
a lgumas d é cadas m a i s ta rd e. Neste senti d o , a desigu a l d a d e d este fenómeno está , e m
pa rte , associada à n u pcia l i d a d e e à m o b i l i da d e d e é pocas a nte r i o res, com reflexos
signifi cativos na estrutu ra etá ri a e por sexos 4
Não podemos, no entanto, negligenciar o fa cto de q u e os m a i o res níveis da nata­
l i d a d e regista dos em S. Miguel d isti nguem esta das demais i l has dos Açores. Com efeito,
nela e n co ntra mos uma fecu n d i d a d e com va lores mais elevados, o que é visível desde
é pocas recuadas, como nos fi nais d o séc. XVI I I ou e m meados d o séc. XIX s.

No período agora e m a n á l i s e , confi rma-se esta situação através da util ização d e


i n d i ca d o res m a i s sofistica dos, c o m o a Desce n d ê ncia M é d i a . A títu lo d e exemplo, e n o
q u e res p e i ta a o a n o d e 1 9 4 0 , o n ú m e ro d e fi l h os p o r m u l h e r n o ex-d i strito d e Ponta
De lgada (que refl e cte a rea l i d a d e da i l ha de S. Miguel como consequência do d i m i nuto
peso demográfico de Santa Maria no conj u nto do d istrito), ati nge o va lor de 4. 1 , enqua nto

76
A SITUAÇÃO DEfv/OGRÁFICA DA FAfv/ÍLIA NOS AÇORES

q u e nos ex-d istritos de Angra do H e roísmo e da H o rta , os qua ntitativos d este i n d icador
são d e , respectiva m ente, 3.3 e 2.8. Aliás, esta d i ve rsidade populacional d o a rq u i pélago
açori a n o , e q u e não s e l i m ita ao estu d o d esta variável m i crod e m ográfica, foi profu n ­
d a m ente a n a l i sada por J . M a n u e l Naza reth no tra b a l h o rea l iza d o para as ca ra cterísti cas
populacionais do conj u nto dos d i stritos portugueses d u ra nte os a nos setenta 6
Apesa r da m o rta l i d a d e ta m b é m regista r qua ntitativos m u i to sign i ficativos, com u m
Esp e ra n ça d e Vida á Nascença u m pouco superior aos 5 0 anos no conj u nto da Região, e
também com a lgumas d i ferenças entre as várias ilhas, o movimento natural é francamente
positivo. Na m o rta l i d a d e s o b ressa i igua l me nte a s i ngularidade da i l ha m i ca e l e nse, com
níveis d e s u p e ri o res aos da maioria das outras i l has, p ri n c i p a l mente se ate n d e rmos á
morta l i da d e i n fa n t i l 7
Ass i m , a u m m o v i m e nto natura l positivo vem somar-se uma forte d i m i n u i çã o das
saídas, principa l me n te d a e m igração, o q u e não quer d izer q u e não existisse a lguma
m o b i l i d a d e , n o m e a d a m e nte se consi d e ra rmos os movi m e ntos i nternos, quer com o
conti n ente e outras regi ões portuguesas, q u e r entre as i l has açorianas 8

Neste contexto d e m ográfico, esta mos perante uma população basta nte jovem, q u e
na sua i d a d e a ctiva tem d i ficuldades e m a b a n d o n a r o arquipélago, verifi ca n do-se u m
a u m e nto sign i fi cativo d a n u p c i a l i d a d e e u m a d i m i n u i çã o acentuada n o n ú m e ro d e
c e l i batá r i o s , p r i n c i p a l m e n te d o sexo fe m i n i n o , q u e e m p e rí o d o s a n te r i o res regista
percentagens basta nte e l evadas em a lgumas i l has 9.
Esta d i n â mi ca d e mográfica expl ica, pois, e m n osso enten d e r, ta nto o au m ento da
populaçã o , como o das fa mílias, neste caso com a constitu i çã o d e novos l a res, embora
se possa ta m b é m pensar na coa bitação de casa is, morme nte fi lhos casa dos a viverem
com os pais, mas que sabemos que ta nto nos Açores com o na genera l i da d e d o país, ou
de outros países, não são p re p o n d e ra n tes nesta como e m outras épocas, nomeada­
mente nas I d a d es M o d e rna e Conte m porânea.
Na década d e o i tenta, as variáveis m i crode m ográ fi cas têm não só va l o res m u ito
d i fe re ntes como evo l u ções igual m ente d isti ntas das observadas no período a nte rior­
m e nte refe r i d o . No i n ício d o s a n os noventa , a nata l i d a d e e a m o rta l i da d e regista m
qua ntitativos baixos, com Taxas B rutas para a globa l i d a d e do arqui pélago da ordem dos
1 6o/oo e 1 1 o/oo, respectiva m e nte, o q u e faz com q u e o movi me nto natura l ta m b é m seja
basta nte m e n o r, com va l o res n egativos em a lgumas i l has, como é o caso da G raciosa,
d o Pico e das Flores e ntre 1 9 8 1 e 1 9 9 1 1 o
A m o b i l i d a d e é superior à verificada nos a nos q u a re nta e cinq ue nta, não o bsta nte o
a centua d o declí n i o da e m igração, principal m ente se compara mos com os va l o res regis­
tados d u ra nte as décadas de sessenta e setenta, d e u m modo particular entre 1 9 6 5 e 1 9 7 5 .
T e m o s , pois, n este ú l t i m o perío d o , uma p o p u l a çã o q u e d i m i n u i e q u e envelh ece.
Apesa r d e a ctu a l m e nte ser basta nte reduzido o n ú m e ro d e celi batá rios e a nupcialidade
ser mais i ntensa d o q u e e m períodos a nte riores, a p resenta n do-se relativa m e nte estável
e até com u m a ce rta d i m i n u i çã o nos últimos a nos da década d e oitenta , ela já não
i nte rfere, como acontecia no passad o , no a u me nto da fecu n d i dade. o recente d ecrés­
c i m o da população d eve-se, assi m , e prepo n d e ra nte m e nte, à evo l u çã o observada na
nata l i d a d e , que a p resenta neste último decénio um declínio m u i to sign i fi cativo, c o m o
c o n s e q u ê n c i a d e u m c o n tro l o d o s n a s c i m e n t o s n o i n te r i o r d o c a s a m e n t o . Esta
situação é já basta nte visível mesmo na i l ha d e S. Miguel que, a pesa r de regista r ainda um
dos níveis d e fecu n d i d a d e mais elevados da regiã o e do país, a p resenta uma d i m i n u i ção

77
G/LBERTA PAVÃO NUNES ROCHA

basta nte a centua d a , pa rti cula rme nte desde meados dos a nos oitenta , com um ritmo
q u e faz a ntever um rá p i d a igual ização d este fen ó m e n o n o contexto nacional e e u ropeu.
Sendo o decréscimo da natalidade uma das principais justificações para compreendermos
o declínio e envel hecim e nto da população, não podemos esquecer também a tendência
observada na m o rta l i da d e , cuj a d i m i n u i ção nos ú lti mos anos é igua l m e nte sign i fi cativa.
Ass i m , se a e v o l u ç ã o do v o l u m e d a p o p u l a çã o pa rece p e rfe i ta m e nte j usti fi c a d a
pelas a l te rações m a i s recentes q u e p u d emos o bserva r nas variávei s m i crodemográ ficas,
já o a u m e nto do n ú m e ro d e fa mílias não nos s u rge tão claro. Pensamos, no enta n to ,
q u e a lgumas das ca racte rísticas a n teriormente referidas, nos aj u d a m a perceber a ten ­
d ê n ci a d e a um e n to q u e verifi cá mos nas fa mílias. Neste sentid o , não podemos deixar de
referir o aumento da nupcialidade, principalmente a verificada nos a nos setenta e princípio
d e oitenta , que se não teve conseq uências releva ntes nos níveis da nata l i da d e , deve ter
contri buído p a ra a criação d e novos agregados fa m i l ia res. Por outro lado, não podemos
ta m b é m a q u i neglige n c i a r a d i m i n u i ção da m o rta l i d a d e q u e pensamos ter igua l m e nte
um efe ito positivo n o a crésci mo n o n ú mero d e fa mílias, principa l mente das mais i d osas.
Pa ra a p rofu n d a rmos um pouco mais as m o d i fi cações respeita ntes á fa m í l i a , ou mais
concreta m e nte, aos agregados fa m i l i a res, i re m os agora atender a a lguns aspectos da
sua d i m e nsão e estrutu ra i nterna.
A i m portâ ncia da consideração d o agregado fa m i l i a r é , e m nosso ente n d e r, extre­
m a m ente releva nte. E m bora a fa mília não se confi n e ao conj u nto daque les que resid e m
e m com u m , p a rece-nos q u e não p o d e m existi r d ú v i d a s qua nto às relações q u e se esta ­
belecem entre os vários m e m b ros q u e h a bita m a mesma casa. Ao lo ngo d os tempos
temos visto a i m portâ n ci a que é dada a esta q u estão , nomeada m ente na consideração
d a fam í l i a n u cl e a r, desde há m u ito p re p o n d e ra nte, com o da fa mília exte nsa , que em
a lgu ns períodos mais recuados teve u m papel signifi cativo, isto i n d e pe n d e ntem ente das
d i ve rg ê n c i a s e x i s t e n te s e n tre v á r i o s a utores q u a nto ao peso de ca d a u m a d e l a s ,
nomeadamente nos períodos m e d i eva l e m o d e rno.
Não é , obviame nte, n ossa i ntenção desenvolver aqui esta q uestão, tanto mais q u e
nos i remos d e b ruçar fu n d a m e nta l m ente sobre a rea l i d a d e a ç o r i a n a no a n o d e 1 9 9 1 , e
em aspectos basta nte restritos, como i n i c i a l m e nte afirmámos. serve-nos, todavia, como
ponto d e reflexão p a ra as d i v e rsas situações q u e i remos a p resentar, onde pontifica m a
d i ve rs i d a d e de ca racte rísti cas dos agrega dos fa m i l i a res.
A d i m e n s ã o das fa m í l i a s a ço r i a n a s a p resenta-se basta nte d i ferenciada a o l o ngo
d estes ú ltimos c i n q u enta a nos, conforme se pode constata r n o Qua d ro 4.

Q U A D R O 4 - E V O L U Ç Ã O D A D I M E NSÃO DAS F A M Í LIAS N O S AÇORES (%)

1 940, 1 960, 1 9 8 1 , 1 99 1

N . " PESSOAS

1 2 3 4 5 6 7+

1 9 40 5,8 1 4, 1 1 7, 7 1 7,0 1 4,7 1 1 ,4 1 9,2

1 9 60 4,9 1 5 ,0 1 7,9 1 8,2 1 4 ,9 1 1,1 1 8, 1

1 98 1 1 0,9 20,9 1 8, 5 1 7, 2 1 2 ,3 8,3 1 2 ,0

1 99 1 1 1 ,0 2 1 ,2 1 8 ,9 1 9, 6 1 2 ,9 7,6 8,8

78
A SITUAÇÃO DEMOGRÁFICA DA FAMÍLIA NOS AÇORES

E ntre 1 9 4 0 e 1 9 6 0 as d i fe r e n ça s s ã o pratica m e nte i rre l e v a n tes. com u m a forte


p re p o n d e râ ncia das fa m í l i a s d e gra n d e d i mensão, pois os qua ntitativos mais e levados
respeita m aos agrega dos fa m i l i a res com 7 e mais pessoas.
É no perío d o d e 1 9 6 0 a 1 9 8 1 que se dão as m u d a n ças mais signifi cativas. passa ndo
a te r maior i m po rtâ n c i a r e l a tiva os agrega d o s d e menor d i m e n s ã o , com p a rticu l a r
rel evo para a q ue l es q u e t ê m d u a s pessoas. Entre 1 9 8 1 e 1 9 9 1 , a centua-se a ten d ê ncia
dos a n os a nte riores. sendo d e sa l i e nta r a d i m i n u i çã o observada nos agrega dos com
m a i o r n ú m e ro d e e l e m e ntos.
Com efeito, e ntre o princípio e o fi m d o período e m q uestão, ou sej a , a o longo de
c i n q u e nta a n os, verifica-se u ma a l te ração rad i ca l na i m po rtâ ncia re lativa dos agregados
d e m a i o r e d e menor d i mensão. S u b l i n h e m os não só a situação das fa mílias com 7 e
m a i s e l e m e ntos. q u e passa m d o q u a ntitativo m a i s e l e va d o pa ra o m a i s b a i x o , mas
ta m b é m das d e 3 e 4 pessoas, q u e não o bsta nte terem ainda u m dos m a i o res pesos
relativos, regista m um va l o r que é i n ferior a o d os agregados com 2 pessoas. que em
1 94 0 se a p resentava m e m penúltimo luga r.
Nos q u a d ros segu i ntes i re m os a p resenta r o peso relativo das fa mílias com 1 , 2 , 3 e 7
e mais pessoas, p recisa mente as q u e j u lga mos serem as mais re presentativas do q u e
temos vindo a expor. C o m o t e m acontecido ao longo deste tra balho o s dados contemplam
a situação por ilha. q u e especificam a situação a nteriormente referida para a globalidade
da Região. e onde podemos d etecta r ta mbém as d esigua ldades existentes no arquipélago.
No Quadro 5, respeitante à evolução do peso relativo dos agregados familiares com uma
única pessoa, encontra mos logo em 1 940 uma grande heterogeneidade entre as várias ilhas.
sendo d e s u b l i n h a r os casos extremos observados em S. Miguel e Pico. com percentagens
de 4.6o/o e 1 9 . 7o/o, respectiva m e n te. A situação observada n esta ú ltima i l ha - o Pico,
surge-nos de facto excepcional, já que nas restantes os valores são iguais ou inferiores a 1 Oo/o.

Q U A D R O 5 - E V O L U Ç Ã O DA I M P O RT Â N C I A R E LATIVA DAS F A M Í LIAS


C O M U M A PESSOA, N O S AÇORES, P O R ILHA
1 940, 1 960, 1 98 1 e 1 9 9 1

1 940 1 960 1 98 1 1 99 1

AÇORES 5,8 4,9 1 0,9 1 1 ,0

SMA 7,0 5,5 1 4. 1 1 1 .2

SMG 4.6 3,7 9,5 9,9

TER 6,2 4,5 1 0 ,0 1 1 ,0

G RA 1 0, 3 9,0 1 4 ,4 1 6 ,8

S. J O 8,1 7.7 1 3 ,9 1 3 ,8

PIC 1 9. 7 6,3 1 3 ,2 1 1 ,9

FAI 6.1 7,3 1 5 ,8 12.1

FLO 7.0 6,8 1 5 ,8 1 2.7

COR 7,3 4,3 8.3 1 1 ,5

E m 1 9 6 0 existe uma m a i o r h o m o ge n e i d a d e e ntre a s i l has, sendo a i m p o rtâ n c i a


relativa d este tipo d e fa m í l i a s bastante menor do q u e e m 1 94 0 , a pesar d e S. M iguel
regista r igua l mente u m q u a n titativo sign i fi cativa me nte menor d o q u e as outras i l has.
Nos anos segui ntes a p r i n c i p a l a lteração respeita a o a u m e nto ge n e ra l i za d o d o peso

79
G/LBERTA PAVÃO NUNES ROCHA

d estes agregados fa m i l i a res, e m bora conti n u e m os a encontra r os va lores mais baixos


na i l ha d e S. Miguel, que numa óptica comparativa se a p resenta relativa me nte d i stinta ,
n ã o o bsta nte se i n s i ra na evolução q u e é com u m e m todo o a r q u i p é lago.
Quanto às fa m í l i a s com duas pessoas, que a p resenta mos no Quadro 6 , constata-se
que a u m en ta a sua i m po rtâ ncia a o lo ngo d o período em q uestã o , e que as gra ndes
m u d a n ças se faz e m e ntre 1 9 6 0 e 1 9 8 1 , pa rece n d o - nos q u e a desigua l d a d e e ntre as
i l has é m e n o r d o q u e a observada nos agregados com uma pessoa q u e a p rese ntá mos
n o Qua d ro 5 . Todavia, S. Miguel conti nua a d i fe rencia r-se das resta ntes i l has por ter
percentagens m a i s baixas nas fa mílias d e menor d i m e nsão.

Q U A D R O 6 - E V O L U Ç Ã O D A I M P O RT Â N C I A R E LATIVA
D A S F A M Í LIAS C O M D U A S PESSOAS, N O S AÇORES, P O R ILHA
1 940, 1 960, 1 98 1 e 1 9 9 1

1 940 1 960 1 98 1 1 99 1

AÇORES 1 4. 1 1 5 ,0 20,9 2 1 ,2

SMA 1 5 ,8 1 3,8 22,6 2 5 ,0

SMG 1 2.7 1 2,5 1 7 ,4 1 7 ,9

TER 1 6, 2 1 6 ,2 22,2 1 9, 5

GRA 1 8 ,4 24,1 34,1 33,3

S. J O 1 5 ,2 1 5 ,8 24,9 24,6

PIC 1 4 ,4 1 7, 1 26,3 25.7

FAI 1 4,4 1 9, 7 27,0 22,7

FLO 1 3 .2 1 9 ,4 27,0 26,5

COR 9,9 8.7 29,6 38,5

Atendendo aos quantitativos consta ntes no Quadro 7, respeita ntes às fa mílias com três
elementos, a tendência gera l é pa ra um aumento da sua i m portâ ncia relativa ao longo do
período considera d o , e m bora com um ritmo de acrésci mo bastante mais atenuado e uma
lige i ra d iversidade e ntre as i l has, principal mente se considera rmos os valores observados
em s. Miguel. que continuam a ser comparativamente mais baixos do que nas restantes ilhas.

Q U A D R O 7 - E V O L U Ç Ã O D A I M P O RT Â N C I A R E LATIVA
DAS F A M Í LIAS C O M TRÊS PESSOAS, N O S AÇORES, POR ILHA
1 940, 1 960, 1 98 1 e 1 99 1

1 940 1 960 1 98 1 1 99 1

AÇORES 1 7,7 1 7 ,9 1 8 ,5 1 8 ,9

SMA 1 5 ,8 1 7, 1 1 9, 5 20, 1

SMG 1 6 ,8 1 4.7 1 6,7 1 6 ,5

TER 1 9 ,8 20, 1 20,8 2 1 ,9

GRA 21,1 2 5 ,8 1 9.7 1 9,5

S. J O 1 6 ,6 1 9 ,3 20,0 2 1 ,2

PIC 1 8 ,0 2 1 ,7 20, 1 20,4

FAI 1 8 ,0 2 1 ,0 22, 1 20,5

FLO 1 6 ,6 22,9 22, 1 20,2

COR 1 8,5 2 1 .7 23,1 1 8,5

80
A SITUAÇÃO DEMOGRÁFICA DA FAMÍLIA NOS AÇORES

Se passarmos agora pa ra os agregados fa miliares de maior d imensão, nomeadamente


os q u e têm 7 e mais pessoas, a tendência é obviame nte i nve rsa , com um declinio rela­
tiva m ente acentuad o e ntre 1 9 4 0 e 1 9 9 1 , pa rticu larmente visível a parti r da d écada de
sessenta. se desde o ano i n i ci a l - 1 94 0 - S. Miguel regista a percentage m mais eleva d a ,
a s u a singularidade tem vindo a acentuar-se, p o i s é s e m q u a l q u e r d ú v i d a , e não obsta nte
a forte d i m i n u ição que ta m b é m nela se verifica, a i l h a o n d e as fa mílias n u m e rosas são
a i n d a basta nte sign i fi cativas.

Q U A D R O 8 - E V O L U Ç Ã O DA I M P O RTÃN CIA R E LATIVA DAS FAM Í LAS


C O M SETE PESSOAS O U MAIS, NOS AÇORES, P O R ILHA
1 940, 1 960, 1 9 8 1 e 1 9 9 1

1 940 1 960 1 98 1 1 99 1

AÇORES 1 9 ,2 1 8, 1 1 2 ,0 8,8
SMA 2 1 ,0 1 7,8 1 0 ,4 5,0
SMG 2 1 ,8 23,8 1 6 .3 1 3. 1
TER 1 5 .3 1 3 .8 8,2 4,5

G RA 1 1 .8 5,3 4,7 2,2


S. J O 1 8 ,9 1 7 ,2 8,7 5,5
PIC 1 7. 1 1 1 ,9 6,8 5,5

FAI 1 7, 1 1 1 ,4 5,4 5,6

FLO 22,7 8,8 5,4 5,2

COR 1 9,9 1 ,9 6,5 2,3

A p r o fu n d a n d o um p o u c o m a i s esta p ro b l e m á t i ca , i re m o s a b a n d o n a r a v i s ã o
d i a c ró n i ca e s i t u a r m o - n o s n a e s t r u t u ra i n te r n a d a s fa m í l i a s d a s v á r i a s i l h a s n a
actu a l i d a d e - 1 9 9 1 - te n d o e m conta as variáveis idade e sexo, sempre priv i l egiadas
nos estudos d e â m b i to d e m ográ fi co.
N o que respeita à i d a d e , começa m os por ate n d e r à classificação que a p resenta mos
n o Q u a d ro 9 , que r e l a c i o n a esta variável com a d i m e nsão fa m i l i a r que a n a l is a m o s
a nteri o r m e nte. Como d i ssemos no i n ício, i re mos ate n d e r priorita ri a m e nte à situação
global dos Aço res, não o bsta nte a a p resentação dos qua ntitativos das várias i l has, que
só pontu a l m e nte serão referenciadas.

Q U A D R O 9 - I M P O RT Ã N C I A R E LATIVA DAS F A M Í LIAS


POR C A RACT ERÍST ICAS ETÁ R I A S N O S AÇORES, POR I L H A EM 1 9 9 1 .

1 a d u lto 1 a d u lto 2 a d u ltos 2 a d u l to s 3 a d u ltos 3 a d u ltos


+ criança + c r i a n ça + c r i a n ça

AÇORES 1 1 .0 0.9 20,8 24,4 1 9 ,8 23,1


S. M A 1 1 ,2 1 ,0 24,6 28,2 1 6 ,5 1 8,6
S. M G 9,9 0,9 1 7 ,5 25,5 1 8,7 27,5
TER 1 1 .0 1 ,3 22,4 25,9 20,8 1 8,8
G RA 1 6 .8 0,2 33,1 2 1 ,3 1 6 ,6 1 2 ,0
S. JO 1 3,8 1,1 24,0 2 1 ,3 20,4 1 9 ,4
PIC 1 1 ,9 0,5 25.3 1 8 .6 23,4 20,4
FAI 12,1 0, 7 22,3 2 1 ,7 2 1 ,4 2 1 ,8
FLO 1 2, 7 0,6 25,8 1 7,9 22,3 20,6

81
GILBERTA PAVÃO NUNES ROCHA

São prepo n d e ra n tes as fa mílias com d o i s a d u ltos e crianças, que j u lga mos corres­
p o n d erem à s fa m í l i a s n u c l e a res clássicas, com p a i , mãe e fi l hos. N o e nta nto, a sua
i m po rtâ ncia qua ntitativa não d i fere m u ito das que têm n o seu seio: três a d u ltos com
c ri a n ça s ; d o i s a d u l to s e três a d u ltos. N e stes ú l t i m o s casos p o d e m o s p e n s a r q u e
esta mos fu n d a m e n ta l m e nte perante agrega dos fa m i l i a res com a s segu i ntes caracte­
rísticas: três a d u ltos com cri a n ça s , o u s ej a , p a i , m ã e , fi l h os e um avô ou avó; d o i s
a d u ltos, m a r i d o e m u l h e r; três a d u ltos, p a i , mãe e fi l h o ou fi l h a ou marido e m u l h e r e
um dos p rogen i to res.
Ass i m , e sa b e n d o que m u itas outras situações existe m , podemos pensar que os
casos que especifi ca mos são os p re p o n d e ra ntes e m cada uma das class i fi ca ções.
o ente n d i m e nto que se tem da problemática fa m i l i a r, e m que se privilegia fa mília
nuclear clássica - n o m e a d a m e nte as relações q u e se esta belecem entre os vários ele­
m entos, q u e r se ate n d a ao casa l e a o papel q u e cada u m dese m pe n h a nos d i ferentes
aspectos da vida q u o ti d i a n a , q u e r entre estes e os fi l h os, morme nte na sua e d ucação,
d i s p o n i b i l i d a d e que l hes d eve ser d ispensada ou a p a rtici pação dos fi lhos na resol u ção
dos p ro b l e m a s d o m é sticos - são, e m n osso entend er, m a n i festa m ente i n s u fi c i e ntes,
m e s m o que nos c i nj a m o s à q u e l e s que p o r viverem d e b a i x o d o mesmo te cto , têm
forçosa m ente u m gra u d e convivência q u e não se l i m ita às relações d e parentesco.
As ca racte rísti cas estrutu ra i s d o agrega d o fa m i l i a r cond uze m - nos, como v i m os, a
situa ções pe rfeita m ente d i sti ntas, com necessi dades materiais e a fectivas q u e não são
perfeitam ente idênticas entre si e, na nossa perspeáiva, têm de ser contempladas, porque
elas são u m a rea l i d a d e e fectiva q u e não pode ser ignorada nem sequer m i n i m izada.
Estes razões atingem ta m b é m uma gra n d e acuidade se consid e ramos os agrega dos
q u e têm u m a ú n i ca pessoa , q u e a pesa r d e regista re m uma percentage m menor do
q u e os acima refe r i d os, representa m u m n ú m e ro relativa m e nte eleva do, da ordem dos
1 1 % se ate n d e rmos à globa l i d a d e da Região.
É relativa m e n te a estes q u e i re m os desenvolver u m pouco a nossa a b o rdage m , es­
pecifica n d o as suas cara cte rísticas por sexo e grupos d e i d a d e , n este caso com base na
class i ficação d e m ográ fi ca que d istingue a p o p u l a çã o Activa da p o p u l a çã o I d osa (Ve lha).

Q U A D R O 1 0 - I M P O RT Â N C I A R E LATIVA D A S F A M Í LIAS C O M U M A D U LT O ,
P O R S E X O , NAS VÂRIAS ILHAS D O S A Ç O R E S EM 1 9 9 1 .

H M

AÇORES 3 ,9 7,1

SMA 4,5 6,7

SMG 2,9 7,0

TER 4,1 6,9

G RA 6,1 6,2

S. J O 7,0 6,9

PIC 5 ,0 6,8

FAI 4,5 2,1

FLO 5,7 6.9

COR 7.7 3,9

82
A SITUAÇÃO DEMOGRÁFICA DA FAMÍLIA NOS AÇORES

Se consi d e ra rmos u m a re p a rtição p o r sexo, e te n d o e m conta a globa l i d a d e das


fa mílias, veri fi ca-se q u e são as m u l h e res q u e regista m na m a i o ria das i l has os val o res
mais e l evados. S u b l i n h a m os o caso d e S. M iguel onde a d esigua l d a d e e ntre os sexos é
m a n i festa .
Se ate n d e rmos aos d o i s gra n d es gru pos de i d a d e , cuj os qua ntitativos consta m no
Q u a d ro 1 1 , verifi ca-se q u e prepo n d e ra m as pessoas com 6 5 e mais a nos.

Q U A D R O 1 1 - D I STR I B U I ÇÕ E S POR N ÍVEIS ETÁ R I O S DAS F A M Í LIAS COM UM


A D U LT O , NAS VÁRIAS I LHAS DOS A Ç O R E S EM 1 9 9 1 .

1 5-65 65+
Anos Anos

AÇORES 42.2 5 7 .4
SMA 54.1 4 5 .9
SMG 39.7 60,3
TER 48,0 5 2 .0
GRA 34,2 65,8
S. j O 50.1 49.9
PIC 37,5 62.5
FAI 40,4 59.6
FLO 40.2 59,8
COR 80.0 20.0

Se n o i nterior d este gru po fizermos i nterferir a variável sexo, a d esigua ldade é a i n d a


m a i s acentuada d o q u e a q u e verificá mos para a globa l i da d e dos agregados fa m i l i a res
com u m ú n i ca pessoa . São, pois, as m u l h e res i d osas as principais represe ntantes d este
tipo de fa mílias. São fu nda menta l m e nte elas que vivem sós.

Q U A D R 0 1 2 - I M P O R T Â N C I A R E LATIVA DOS Q U E TÊM MAIS DE 65 A N O S


E M CADA U M D O S SEXOS NOS A Ç O R E S , P O R ILHA EM 1 9 9 1 .

H % M %

AÇORES 40.6 66.7

SMA 26.7 63.3

SMG 43.7 67,2

TER 36.7 6 1 .3

GRA 4 1 .8 79.6

S. JO 34.4 65.6

PIC 50.0 72,0

FAI 43.0 69.4

FLO 43.2 73.3

COR 20.0 20.0

A a n á l ise das fa m í l i a s com um e d o i s a d u ltos, por gra n d es grupos de i d a d e , q u e


a p resenta mos no Q u a d ro 1 3 , permitem-nos conhecer u m p o u c o m e l h o r a rea l i d a d e d o s
i dosos, p o i s no caso d e d o i s a d u ltos s ã o tam b é m os m a i s velhos que s ã o p repondera ntes.

83
GILBERTA PAVÃO NUNES ROCHA

se somarmos as d u a s colunas dos gru pos q u e têm 65 e m a i s a nos, os q u a ntitativos são


consequentemente mais el eva dos, e não m u i to d i sti ntos dos que observamos para os
outros agregados fa m i l i a res.

Q U A D R O 1 3 - I M P O RT Â N C I A R E LATIVA DAS F A M Í LIAS SEM C R I A N ÇAS


POR NÍVEIS ETÁ R I O S , NAS V Á R I AS ILHAS D O S AÇORES, EM 1 9 9 1 .

1 Ad u l to 2 Ad u l tos 1 e 2 A d u l tos

1 5-64 65 + 1 5-64 65 + com + 6 5 a n .

AÇORES 4,7 6,3 9,7 1 1,1 1 7 ,4

SMA 6.1 5,2 1 3,6 1 1 ,0 1 6,2

SMG 3,9 6,0 7,9 9,6 1 5.6

TER 5.3 5,7 1 1 .1 1 1 ,3 1 7 ,0

G RA 5,7 1 1 .0 1 3 .6 1 9,5 30,5

S. J O 6,9 6,9 1 1 ,3 1 2 ,8 1 9,7

PIC 4,4 7,4 1 1 ,3 1 4 ,0 2 1 .4

FAI 4,6 6,8 9,5 1 1 ,7 1 8,5

FLO 5.1 7,6 1 0 ,6 1 5,3 22,9

COR 9,2 2,3 1 2,3 2 5 ,4 27,7

A i n d a q u e possa m existir d i ferenças rel eva ntes e ntre a vida dos i d osos q u e vivem
sós e a q u e l es q u e vivem com o cônj uge, são rea l i dades bem d i ferentes daquelas q u e
corres p o n d e m aos casa i s com fi l h os, designa d a m ente os m a i s jovens c o m cri a n ças.
S a b e m o s q u e n ã o a b a rca m o s to d a s a s s i t u a ç õ e s , n e m m e s m o n u m a ó p t i ca
estrita m e n te d e m ográ fica. Parece-nos, contudo, q u e podemos d etecta r fa m í l i a s com
ca racte rísticas pa rti cu l a res q u e req uerem u m ente n d i m e nto e , porve ntura , u m a política
e conse q u entes m e i os de a cção próprios.
Ass i m , além d a fa m í l i a nuclear clássica , com marido, m u l h e r e fi l h os, estes já e m
n ú m e ro reduzid o , te mos d e a te n d e r às fa mílias monoparenta is, onde p repondera m o s
i d osos; às dos casa i s sem fi l h os ou cuj os fi lhos já não res i d e m c o m os pais, e onde o s
m a i s i dosos têm ta m b é m u m a i m portância n u m é ri ca mais acentuada; às fa mílias onde
coa b i ta m três gera ções, cuja especifi c i d a d e não pode ser ignora d a , pois o relaciona­
m e nto e n tre os vários m e m b ros d eve s e r m a i s c o m p l e x o , e até aqueles agrega d o s
o n d e existe u m a d u lto com u m a cri a n ça , q u e a pesa r d o s e u d i m i n uto va lor percentual
n o c o nj u nto dos a g r e ga d o s fa m i l i a re s , a p re s e n ta m c o n c e rteza uma s i n gu l a ri d a d e
vivenci a l q u e req u e r u m e n te n d i m e nto particu l a r.
Sem q u a l q u e r pretensão de a n á l ise dos vários tipos de fa mílias acima pontuados,
q u e sai d os o bj ectivos d este tra b a l h o , não q u eremos deixar d e su b l i n h a r a lguns dos
aspectos que re puta mos fu n d a m e nta i s e q u e podem serv i r como ponto d e partida para
outros estudos e conseq u e n tes políticas fa m i l i a res.
Na p ri m e i ra s i t u a ç ã o - c a s a l c o m fi l h o s m e n o re s , re l e v a m o s as a l t e ra ç õ e s
consequentes à entra d a d a m u l h e r no m e rca d o d e tra ba l h o , q u e n o s ú lti mos a nos tem
v i n d o a a u m enta r su bsta n c i a l m e nte nos Açores. Esta rea l i d a d e , que regista a i n d a uma
tendência d e a crésci m o , só encontra a lguns obstáculos no a u m e nto d o d ese m p rego

84
A SITUAÇÃO DEMOGRÁFICA DA FAMÍLIA NOS AÇORES

q u e se tem v i n d o a verifi ca r nos ú lti mos a nos, ta m b é m na Região, e q u e ati nge de u m


m o d o m u i to pa rti c u l a r o s e x o fe m i n i no , nomeadame nte as mais jovens, na busca d o
p r i m e i ro e m p rego.
N este s e n t i d o , a l te ra m - s e o q u o ti d i a n o e os va l o re s dos vá r i o s m e m b ros d a s
fa mílias. o p a p e l d o h o m e m e da m u l h e r n a s tarefas d o m ésticas d i á rias, o re laciona­
m ento e ntre o casa l e fu n d a m e nta l m e nte e ntre estes e os fi l hos, onde u m dos factores
d o m i n a ntes é a fa lta d e d i s po n i b i l i da d e , ta nto mais i m po rta nte q u a n d o se vive é pocas
d e tra n s i ção, que o b riga m u ma m a i o r ate n ção d e modo a que se possa com p reen d e r as
a lterações o p e ra d a s co m vista a u ma ada ptação e a d e q uação d e comporta mentos.
A situação acima referida pode se to rnar a i n d a mais complexa se passa rmos ago ra
p a ra u m o u t r o t i p o d e a g r e ga d o fa m i l i a r o n d e c o a b i t a m t r ê s g e r a ç õ e s . A q u i a
d iversid a d e é a i nda m a i o r e m u i to dependente das ca racterísticas do i d oso e seu gra u
d e d e p e n d ê n cia. Aos b e n e fícios d e natu reza a fectiva e d e m e m ó r i a fa m i l i a r, não se
pode d e i x a r d e a c rescenta r a maior complexidade das relações, ta nto mais acentuadas
quando se vive períodos d e tra nsição, d e modos d e vida e d e valores, como é o caso
dos Açores nos últimos a nos. Esta é visível ta nto no meio ru ra l como no urbano, ca da
v e z m a i s h o m o g e n e i za d o s , n u m a é p o c a o n d e a g e o g r a f i a é, em g ra n d e p a rte ,
su bstituída pela co m u n i cação.
Qua nto a o q u e vivem sós, pa rti cularmente os i d osos, q u e vimos serem preponde­
ra ntes, s u b l i n ha mos a situação dos d e idade mais ava nçada ou com u m maior gra u de
d e p e n d ê n ci a e que n e ce s s i ta m d e um a po i o n ã o s ó a fectivo como m a t e ri a l , q u e
su bstitua as respectivas i n capacidades. Ate n d e n d o a o caso d a s m u l h e res, q u e s ã o e m
m a i o r n ú mero, não podemos neglige n c i a r q u e a gra n d e m a i o ria n u n ca teve q u a l q u e r
actividade p rofiss i o n a l , t e n d o d e d i ca d o gra n d e pa rte da sua vida à casa e à fa mília . É ,
p o i s , n a t u r a l q u e s ej a m m a i o re s a s s u a s l i m i t a ç õ e s m a t e ri a i s e p s i c o l ó g i c a s , de
a d aptação a u m m u n d o q u e se tornou su bsta n c i a l m e nte d i fe rente.
Nos casa i s i d osos, cremos que d e u m modo gera l a situação pode ser menos grave,
mas está igu a l m e nte associada ao grau d e dependência d e u m ou d e a m bos os membros.
Por fi m , a situação de um a d u lto com uma criança, consequê ncia de vi uvez, d ivórcio
ou separaçã o , que a o s o b re ca r rega r o a d u lto com todas as ta refas fa m i l i a res, p o d e
t o r n á - l o m e n o s d i s p o n í v e l p a ra a r e s o l u ç ã o d e u m a r u p t u ra q u e d e v e t e r t i d o
conseq uências materi a i s e psicológicas q u e s e este n d e m igua l m e nte aos fi l hos.
S e n d o e s t e ú l ti m o c a s o p o u c o fre q u e n t e , na m e d i d a em q u e o d i vó rc i o e a
sepa ração são a i n d a basta nte red uzidos nos Açores, verifi cá mos q u e ele a p resenta uma
te ndência crescente na última d éca d a , o q u e faz a nteve r u m a u m ento relativa me nte
sign i ficativo d estes agrega dos fa m i l i a res nos p róxi mos anos 1 1.

A e v o l u çã o d a s v a r i á v e i s d e m o grá f i c a s , e co n ó m i ca s , s o c i a i s e c u l t u ra i s , q u e
co n d uzi ra m à s situa ções a nte r i o r m e nte referidos, faze m - n os prospectiva r u m fu tu ro
a i n d a mais d i ve rso e co m p l exo que u rge a p rofu n d a r.

85
G/LBERTA PAVÃO NUNES ROCHA

N OTAS

1 . com u n i cação a presentada n o seminário . . A fa mília no processo d e desenvolvi mento", rea lização da Câ mara
M u n icipal da Povoação, Povoação, Janeiro de 1 99 5 , com algumas a l terações.

2. Professora Associada d o Departa m ento d e H istória , Filosofia e Ci ê ncias Sociais da universidade dos Açores.

3. cf entre outros Gilberta Pavão N u nes Rocha , Dinâmica Populacional dos Açores no sec XX - Unidade, Permanência
e Diversidade, Ponta Delga d a , U n i versi dade dos Açores, 1 99 1 ; " E m igração e População Açoriana" in Arqui­
pélago, Série Ciências Sociais, n.o 3-4, Ponta Delgada, U n iversidade dos Açores, 1 989; " A Tra nsição Demográfica
nos Açores" in Arquipélago, Série Ciências Sociais, n." 5, Ponta Delgada, Universidade dos Açores, 1 990; os Açores
na v i ragem d o Século - 1 864- 1 930" in Actas do 11 Colóquio Internacional de História da Madeira, comissão
Nacional para a s com e morações dos Descobri mentos Portugueses, 1 990.

4. cf G i l be rta Pavão N u nes Rocha , Dinâmica Populacional dos Açores no sec. XX. . op. cit.

5 . cf. G i l berta Pavão N u nes Rocha, Vítor Luis Gaspar Rodrigues, .. Contri buto para o estudo da população dos
Açores nos fi n a i s d o séc. X V I I I " in Actas do 111 Colóquio In ternacional de História do Atlântico, A ngra d o
Heroismo, I nstituto H i stórico da I l h a Terceira, 1 994; " A popu lação dos Açores no a n o d e 1 849" in Arquipélago,
n" especia l , Ponta Delga d a , U n iversidade dos Açores, 1 983.

6. cf. J . Manuel Nazareth, o Envelhecimento da População Portuguesa, Lisboa, Editorial Presença, 1 9 79.

7. cf. G i l berta Pavão N u n e s Rocha, Dinâmica Populacional dos Açores ... op. cit.

8. cf. i d e m.

9. c f. G i lberta Pavão N u nes Ro ch a , " Estruturas Demográficas das Ilhas Portuguesas a través do censos" in Arqui­
pélago, Série Ciências Sociais, n." 6 , Ponta Delgada, U n i versidade dos Açores, 1 99 1 ; . . A Sociedade Açoriana ­
uma perspectiva q u antitativa da sua evolução ( 1 864- 1 940)", in Revista da Associação Portuguesa de Professores de
História. (no prelo); D i n â m ica Populacional ... , op cit.

1 0. cf. G i l berta Pavão N u n es Rocha, Octávio H . R i b e i ro d e M e d e i ros, Diagnóstico Sócio-Económico da Região


Autónoma dos Açores, Ponta Delgada, Instituto d e Acção Soci a l (no prelo) • Pelo m enos um a d u lto com mais
d e 6 5 a nos.

1 1 . i d e m.

86
A POPULAÇÃO PORTUGUESA
NA IDADE MÉDIA:
UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Henrique David
Universidade da Porto

Este texto tem como o bjectivo ú n i co refe re n c i a r os tra b a l hos em q u e são ava n ­
çados q u a ntitativos, totai s ou parciais, sobre a popu lação portuguesa na I d a d e M é d i a .
A p ri m e i ra fonte a ser u t i l i z a d a com e s s e o bjectivo foi o rol dos besteiros do con to,
datável d e 1 4 2 1 - 1 4 2 2 1 . Rebello da S i lva propôs u m va l o r l i ge i ra m e nte superior a um
m i l hão d e h a bita n tes p a ra a popu lação portuguesa 2, pa ra ta l socorreu-se da relação
esta belecida p o r soares d e Ba rros, e ntre o n ú mero d e beste i ros e o d e h a b i ta ntes d e
Lisboa e Porto [ 1 : 2 1 2 , 5] 3 .
A proposta d e Rebello da S i lva foi criticada por Gama Ba rros 4 e por Costa Lobo s ,
n o m e a d a m e nte no q u e d i z res p e i to à a rb i tra ri e d a d e d o cálcu l o d e u m coefi c i e nte
m u l t i p l i ca d o r. Pese toda a p o l é m i ca , este va l o r é a ceite por Lúcio d e Azevedo 6 e por
O l iv e i ra Marques 7.

No q u e d i z respeito a este tipo de fontes há a i nda a referir um outro a rrol a m e nto d e


bestei ros, q u e n o entanto só o ferece i n formação para uma zona q u e compreen d e pa rte
do Ri batejo e da B e i ra Litora l , e q u e é datável entre 1 2 6 0 e 1 2 7 9 a. Este rol foi utilizado
p o r O l i v e i ra M a r q u es, j u nta m e nte com a l i stagem dos ta b e l i ã es existentes n o R e i n o
(com exclusão d o Alga rve) e m 1 2 8 7- 1 2 9 0 (docu me ntos p u b l i cados e m a p ê n d i ce), para
a p resenta r concl usões s o b re a d i stri b u i çã o re lativa da p o p u l a çã o p e l o territó r i o e a
i m portâ ncia com e rcial e i n d ustri a l dos respectivos centros, se m , no entanto, esta belecer
qua ntitativos populacionais 9.

O utras fo ntes uti l i zadas pelos i nvestiga d o res fora m as I n q u i rições. Dado q u e este
tipo de i n formação não é exte nsivo a todo o território, ele só pode ser tra ba l h a d o por
regiões. Ass i m sendo, Ave l i n o d e jesus da Costa explorou m i nuciosamente as I n q u i ri ções
de 1 2 2 0 e 1 2 5 8 , conj u nta m ente com os censuais d e B raga e G u i m a rães, p ropondo um
n ú m e ro d e 1 0 8 9 7 0 h a b i ta ntes nos 2 1 7 9 4 fogos d o território com p reen d i d o e ntre Lima e
Ave e e ntre Ave e Vizela 1 0 . Pa ra ta l atri b u i u o n ú m e ro de cinco h a bitantes por fogo,
" p o r s e r a c o n c l u s ã o a q u e c h egou F e rd i na n d Lot pa ra os m e i o s r u ra i s da Fra n ç a n o
séc. XIV" 1 1 . Esta relação entre número d e habitantes e fogos é outro problema d e m u ito
d i fícil resoluçã o , q u e r pela a usência d e fo ntes que a ta l nos h a b i l ite m , q u e r pela sua
quase certa variação no te m p o e no espaço.
Outras duas conclusões fora m aduzidas por Avelino d e jesus da Costa: que a população
d o territó rio a b rangido pelos censuais d e B raga e G u i marães se ma nteve pratica m e nte
estacioná ria desde meados do séc. XI a meados do séc. x 1 1 1 1 2; e que no M i n h o (e ta lvez
e m todo o Reino) a população rura l conti n u o u estável nos três séculos deco rri dos e ntre
1 2 2 0- 1 2 5 8 e 1 5 2 7- 1 5 3 1 1 3
Estas fo ntes fora m trata d a s p o r Ma ria H e l e n a da cruz C o e l h o p a ra o estu d o da
população da regiã o d e G u i ma rães 14 e da Te rra da N ó b rega 1 s , te ndo a autora o pta do
pelo mesmo coeficie nte d e conversão d e fogos e m habita ntes. São a i nda a p resenta d os

87
HENRIQUE DAVID

d a d os s o b re o n ú m e ro d e fogos p o r fregu e s i a e a v a n ç a d o s v a l o re s d e d e n s i d a d e
populacional.
Pa rti n d o d a a n á l ise das I n q u i rições d e 1 2 5 8 , José Mattoso. Luis Krus e Amélia Agu i a r
A n d ra d e , p ropõem u m tota l d e 1 9 8 0 h a bitantes (396 casa is. atri b u i n d o o í n d i c e 5 para o
n ú m e ro de m o r a d o res por casa l), a q u e corres p o n d e ria uma média de 30 habita n tes
p o r Km 2 p a ra o espaço actu a l m e nte ocupado pelo co nce l h o d e Paços d e Ferre i ra 1 6
Estes mesmos a utores. estu d a n d o as I n q u i ri ções do séc. X I I I pa ra a Terra de santa
M a r i a . d ã o - n o s i n fo r m a ções s o b re a d istri b u i çã o espacial da p o p u l a çã o . n ú m e ro d e
povoados, v a l o res m é d i os das á reas das freguesias e, a i n d a , d a densidade populacional,
pa rti n d o d e u m a relação esta b e lecida co m os va l o res obtidos para Paços d e Ferre i ra 1 7
Tra b a l h a n d o s o b re a Arq u i d i ocese de B raga no século XV, José Marques deu-nos a
conhecer fontes documentais eclesiásticas b racarenses que permitiram um con heci mento
do n ú m e ro d e vizi n h os de B raga e seu termo em 1 4 7 7 , 1 4 9 3 , 1 5 0 6 e 1 5 1 4 1 8 Este a utor
a p roveitou p a ra p recisa r m e l h o r a a fi rmaçã o d e Ave l i n o d e jesus da costa ace rca do
estacionamento da popu lação ru ral no período compreendido entre 1 2 20- 1 2 5 8 e 1 5 2 7- 1 5 3 1 .
Antes d o mais. porque teria havi d o grandes a lterações n o cômputo geral d a população,
nomeada mente n o período a seguir á Peste Negra e à peste de 1 3 6 1 1 9 , fixa ndo "em meados
do s é c u l o XV o i n íc i o da re c u p e ração na s e d e do a rce b i s p a d o " 20 ; d e p o i s , p o r q u e ,
" e m 1 5 2 7- 1 5 3 1 a i nda s e n ã o tinha ati ngido o nível demográfico d o s meados d o século XIII",
e m pa rte d e v i d o à crise i nterca l a r d e 1 5 0 6 - 1 5 1 4 2 1 .
O N u m e ra m e nto da B e i ra I nte rior de 1 4 9 6 , i n q u é rito m a n d a d o fazer por D. Manuel e
q u e a b ra ngeu a correição e coma rca de Castel o Branco. G u a rda e P i n h e l , foi i n icial me nte
a preci a d o por Virgínia Ra u , a o mesmo tem p o que a n a l isou q u e r a relação e ntre fogo ,
m o ra d o r e vizi n h o , q u e r o coeficiente h a b i ta n te/ fogo, c h a m a n d o a atenção para as
m ú ltiplas razões q u e conduzem a u m "va l o r proble mático" para este último n

Anos volvidos. João J osé Alves Dias estudou m i n u ci osa m ente este N u m e ra m e nto.
a p resenta n d o , p a ra a Bei ra I nterior, uma populaçã o com p ree ndida en tre 5 6 9 9 1 e 8 1 4 1 5
h a b i ta ntes (resulta ntes d a m u l t i p l i cação dos 1 6 2 8 3 fogos pelo fa cto r 3 , 5 ou 5 , res pecti­
va m e nte) 2 3 .
J osé Mattoso, pa ra a l é m de a n a l isar os diversos ritmos de cresci me nto da p o p u l a çã o
e ntre fi n a i s d o sécu l o XI e o p r i m e i ro q u a rtel d o século XIV, a p resenta uma esti mativa
da populaçã o portuguesa (com excepção do Alga rve). na segu nda metade do século XIII 24
Pa ra ta l , tom o u co m o po nto de partida os 1 0 8 9 7 0 habita ntes propostos por Ave l i n o d e
jesus da Costa para a região entre Lima e Vizela 2 5; d a í "previ u " u m a popu lação de 1 2 0000
h a b i ta n tes para o Entre D o u ro e Lima (excl uída a d i ocese d o Porto), o q u e divi d i n d o pela
á re a de 3 0 0 0 k m 2 2 6 d e u p a ra d e n s i d a d e p o p u l a ci o n a l d essa regi ã o 40 h a b . ! k m 2
Em segu i d a , p o r u m a re lação de proporciona l i d a d e entre o n ú m e ro de km 2 q u e corres­
p o n d e ri a m . em ca da regi ã o , a u m ta b e l i ã o (do n u m e ra mento d e ta bel iães d e 1 2 8 7 -
- 1 2 9 0) 2 7 e a d e n s i d a d e p o p u l a c i o n a l , te n d o co m o base o Entre D o u ro e L i m a , ca lculou
as d e n s i d a d e s populacionais para as outras regi ões. Por fi m . m u l ti p l i ca n d o cada u m a
das d e n s i d a d e s p o p u l a c i o n a i s p e l a s respectivas á reas p ropôs as popu lações. Diz o auto r:
"Os q uase 7 0 0 0 0 0 habita n tes a q u i e ncontra d os, re p resenta m . dece rto, um qua ntitativo
i n fe r i o r à p o p u lação rea l . mas as d e n s i d a d e s a p o nta d a s p o d e rã o consi d e ra r-se u m a
ordem d e gra n d eza veros í m i l , e m termos comparativos" 28 .
Pese e m b o ra as d i fi c u l d a d es a p resentadas, n o m e a d a m ente o n ú m e ro de isentos
q u e , por d iv e rsas razões. possa m esca p a r aos l eva nta m e ntos, as fontes d e natu reza
fiscal são das mais úteis neste tipo d e i nvestiga çã o , o que levou d iversos i nvestiga d o res

88
A POPULAÇÃO PORTUGUESA NA IDADE MÉDIA

a d e b ruçarem-se s o b re elas. o n ú me ro de vizi n h os de Arruda dos Vinhos em 1 3 6 9- 1 3 7 1 ,


b e m como a sua estratificação eco n ó m i co-soci a l , é-nos d a d o a conhecer por A. H . d e
O l i ve i ra M a rq u es; pa rtiu d e u m m a n dato d e D . F e rn a n d o q u e t i n h a c o m o o bj e ctivo
consegu i r os fu n d o s e a mão-de-obra necessá rios para a construção das m u ra l has da
cidade d e Lisboa 29 .
Ao estu d a r e m o "Livro da Abertura da Rua Nova " , q u e nos dá a conhecer a q u e l es
que contri b u i ra m para ta l o b ra , Luís Carlos Amarai e Luís Miguel Dua rte propõem "como
h i pótese, p a ra s e r d iscuti d a , . . . que os estratos d e ca m p o n eses m é d i os e p o b res, de
m este i ra i s e d e outras p rofissões mod estas n o termo d o Porto em 1 4 3 8 - 1 4 4 0 devi a m
situa r-se e ntre 2 0 0 0 0 e 2 5 000 a l mas" 3 o .
Ana l i sa n d o a estratificação eco n ó m i co-demográfica do conce l h o de Lou l é em 1 5 0 5 ,
J o ã o J osé Alves D i a s proporci ona-nos dados sobre o n ú m e ro d e fogos existentes na vila
d e Loulé e na freguesia d e Sa l i r 3 1 _
Ana Maria Rod rigues ca lculou o n ú m e ro de chefes de fa mília de Torres Vedras e m
1 3 8 1 , a p a rti r d e u m a fi nta l a n ça d a s o b re os m o ra d o res d esta v i l a , e co m p a ro u os
resu ltados obtidos com os d e 1 3 0 9 , resultantes d e u m a i n q u i rição m a n d a d a rea lizar
pelo bispo d e Lisboa a todas as u n i da d es d e produção agrícola da vila e d o seu te rmo.
I n formações d e índole sócio-eco n ó m i ca com pl e m e nta m este tra b a l h o 32 .
o n ú m e ro de vizi nhos de A l e n q u e r, em fi nais do sécu l o XV, bem como a sua estrati­
fi cação socia l , é-nos ava nçado por Vitori n o Maga l hães G o d i n h o 33 _
E m b o ra fei ta com i n tu i tos e m i n e nteme nte económicos, a a n á l ise, da autoria de Iria
G o nçalves, d o e m p résti m o c o n ce d i d o a D . Afonso v nos a n o s d e 1 4 7 5 e 1 4 7 6 pelo
al moxa rifado d e Évora , desti nado às lutas que então se travavam com Castela, fornece-nos
dados qua ntitativos sobre os diversos estratos da população e b o rense 34
A vila de Ponte de Lima te ria, por volta d e 1 4 1 2 , pelo menos quatro centenas de fogos,
segu n d o A m é l i a Agu i a r Andrade 3 5
A fa l ta d e d o c u m e n ta ç ã o q u e p o ss i b i l i te u m a a va l i a ç ã o , c o m u m m í n i m o d e
segu ra nça, d o n ú m e ro d e h a bitantes, l e v o u a lguns i nvestiga d o res a ava nçarem c o m
va l o res q u e não passa r:{\ .d-e m e ras p ro postas. Estão e ntre estas as a p resentadas p o r Rita
costa Gomes p a ra a G ua'rd a , ao a fi rma r q u e a cidade do século XIV "talvez chegasse
a penas, e m p revisão pessi m i sta , aos 1 0 0 0 h a bi ta ntes", ou que " p o d e r-se-á a d m i ti r a
existência, no fi nal do século XIV, de cerca de 1 2 00 habitantes" 36 ; e por Armindo de Sousa
pa ra a cidade d o Porto: "creio real ista afi rm a r que em todo o período d este ca pítu l o ,
1 1 1 4 - 1 4 9 5 , a c i d a d e d o Po rto n u nca u ltra passou a ci fra d e 4000 habita ntes" 3 ?
Não q uere mos term i n a r estas b reves notas b i b l i ográficas sem deixar de refe r i r q u e
o cá l c u l o da p o p u l a çã o p o rtuguesa n a I d a d e M é d i a é ta refa d e gra n d e d i fi c u l d a d e .
Até 1 5 2 7 , a ltura e m q u e se rea l iza o p ri m e i ro n u m e ra mento gera l , a penas se co n h e ce m
d uas fontes q u e a b ra ngem todo o País - a l ista d a s igrejas d e 1 3 2 0 - 1 3 2 1 e o r o l dos
beste i ros d o conto d e 1 4 2 1 - 1 4 2 2 .
O ra estas fo ntes, e m b o ra o fe r e ç a m d a d os i n esti m á v e i s s o b r e a d i stri b u i ç ã o d a
população pelo território ou das s u a s varia ções ao l o ngo da I d a d e M é d i a , d e q u e são
exe m p l o os tra b a l h os d e A. H. d e O l iv e i ra Marques já citados, a p resenta m a d i fi c u l d a d e
d e cá lculo d e u m coeficiente m u l ti p l i ca d o r q u e poss i b i l ite a sua conve rsão e m n ú m e ro
de h a bitantes.
As outras fo ntes - róis d e bestei ros, a rrol a m ento d e ta bel iães, i n q u i ri ções, censuais
- para além d e parciais, no que se refere ao território a b rangido, apresenta m problemas

89
HENRIQUE DAVID

semelha ntes. Pensa mos, no e nta nto, q u e a conj uga ção da i n formação das i n q u i ri ções,
censuais e outras fontes eclesiásticas poderá ser das mais prod utivas, como demonstra m
os tra b a l h os de Ave l i n o de jesus da Costa , josé Marques e Maria H e l e na da cruz Coel ho.
Por fi m , uma última referência ás fontes d e tipo fisca l. Dado q u e e ra m Q u nta m e nte
com as i n q u i ri ções) as q u e i m p l i cavam um mais rigoroso l evanta me nto d o n ú m e ro d e
fogos, s ã o d o m a i o r va l o r pa ra o conhecime nto d a s popu lações m e d i evais. Ta l como d i z
M . -A. A rn o u l d : "os levanta m e n tos d e fogos são p o r exce l ê n c i a as fo ntes d a h istó ria
d e m ográ fica d o s m e i os r u ra i s d a B a i xa Idade M é d i a " 3 8. ora, n o que d i z res p e i to a
Po rtuga l , as q u e até h oj e são conhecidas e fo ra m o bj e cto de estu d o , não só d i z e m
respeito a z o n a s d o territó rio m u i to l i m itadas, c o m o a épocas m u ito diversas.

N OTAS

• M u i to agrdecemos à Prof." Dou tora Maria Helena da Cruz Coel h o as suas sugestões para este tra ba l ho.

1. SousA, A n tón i o Caeta n o de - Provas da História Genealógica da casa Real Portuguesa, 2' ed., tomo 1 1 1 . 1 Parte .
Coim bra . Atlântida - Livraria Editora, 1 94 8 , pp. 45 1 - 4 5 5 ( 1 ' ed., 1 7 43)

2. SILVA. L A. Rebel l o da - Memoria sobre a População e a Agricultura de Portugal desde a Fundação da Monarchia
até 1865. Parte 1 (De 1097- 1640), Lisboa , Im prensa Naciona l . 1 8 68, pp. 4 2 - 7 2 .

3 . BARRos. j o z é J oa q u i m Soares d e - Memoria sobre as cauzas da di/feren te população de Portugal em diversos


tempos da Monarquia, in "Memorias Econom icas da Academia Real das Sciencias de Lisboa ", Lisboa , tomo I,
1 7 89, pp. 1 2 3 - 1 5 1 .

4 . BARRos, Henrique da Gama - Historia da Administração Publica em Portugal nos seculos XII a XV. tomo 1 1 , Lisboa,
Typogra p h i a da Aca d e m i a Real das Sciencias, 1 8 96, pp 244 e 307.

S . Lo oo , A. de Sousa Si lva Costa - Historia da Sociedade em Portugal no seculo XV, Lisboa, Im prensa Naci o n a l .
1 90 3 , C a p s . 1 e 1 1 .

6. AzEvmo, J . Lúcio d e - Organização Económica. i n " H istoria de Portuga l " , d i recçã o de D a m i ã o Peres, v o l . 1 1 ,
Barcelos, Portuca lense Editora, 1 9 29, p. 4 1 5 .

7. MARQUEs. A. H. de O l i v e i ra - A População Portuguesa nos Fins do Século XIII. in "Ensaios de H istória Medieva l
Portuguesa ", 2' ed., Lisboa, Editorial Vega, 1 980, p. 54 ( 1 ' ed .. 1 9 58).

8. Referido por R e b e l l o da S i l va (op. cit. . p. 43) e p u b l icado por Gama Ba rros (op. cit , p. 233).

9 . MARQUES, A. H . de O l i v e i ra - Op. Cit. , pp. 5 1 - 9 2 .

1 0. CosTA. Avelino de je s u s da - o Bispo o . Pedro e a organização da Diocese de Braga, Separata da Revista "Biblos",
XXII I . vol. I , Coimbra, 1 9 5 9 , pp. 2 0 7 - 2 3 7 .

1 1 . IDEM, op. cit. , p. 2 3 1 .

1 2 . IDEM, op. cit , p . 2 3 3 .

1 3. I D E M , op. cit . p. 2 2 5 .

1 4. CoELHO, Maria Helena da Cruz - A população e a propriedade na região d e Guimarães durante o século XIII, i n
"Homens, Espaços e Poderes (séculos X I -XVI) 1 - Notas do viver socia l " . Lisboa. Livros Horizonte, 1 990, p p . 1 3 9-
1 69 ( 1 ' ed., 1 9 79).

1 5 . CoEI.HO, Maria Helena da Cruz - A Terra e os homens da Nóbrega no século XIII, i n " Homens, Espaços e Poderes
(sécu los XI-XVI) 1 - Notas d o viver socia l " Lisboa . Livros Horizonte, 1 990, pp. 1 70- 1 98.

90
A POPULAÇÃO PORTUGUESA NA IDADE MÉDIA

1 6. MATIOSO, jOSé; KRUS, LUÍS; ANDRADE, Amélia AGUIAR - PaÇOS de Ferreira na Idade Média: Uma SOCiedade e uma
economia agrárias. s/1, s/ e , p. 1 8 2 (Sepa rata de Paços de Ferre i ra - Estudos Monográficos).

1 7. MATIOSO, jOSé; KRUS, LUiS; ANDRADE, Amélia A GU IA R - 0 castelo e a Feira. A Terra de Santa Maria nos séculos XI a XIII,
Lisboa, E d i toria l Esta m p a , 1 9 8 9 , pp. 7 1 -76.

1 8 . MARQUES, José - A Arquidiocese de Braga no séc. XV, Lisboa, I m prensa Naci o n a l - Casa da Moeda, 1 9 8 8 , pp.
2 6 7-3 1 7.

1 9. Sobre este assunto, ver. nomeadamente: GONÇALVES, Iria Vicente - Consequências demográficas da Peste Negra,
in " Actas do c o ngresso H i stórico de Portuga l M e d í e v o " , tomo I, n" e s p e c i a l da Revista " B racara Augusta",
vol. XIV-XV Q a n e i ro - Dezembro 1 9 6 3 ) , pp. 2 1 4-220; MARQUES, A. H . de O l i v e i ra - Demografia - Na Idade
Média, in "Dicionário de H istória de Portuga l", di recção de joel serrão, vol. I , Lisboa, I n iciativas Ed itoria is. 1 9 7 1 , pp.
795- 796; IDEM - Portugal na crise dos séculos XIV e XV (vol. IV da "Nova História de Portuga l", direcção de joel serrão
e A. H. de Oliveira Marques), Lisboa, Editorial Presença, 1 98 6 , pp. 1 5 -46; CoELHO, Maria Helena da cruz - o Baixo
Mondego nos finais da Idade Média (Estudo d e H istória Rural), vol. I , Coimbra, Facu ldade de Letras, 1 98 3 , pp.
69-8 1 , no q u a l são a p resentados dados q u a n titativos sobre terras abandonadas. bem como a sua loca l i zação
geográ fica.

20. MARQUES, jOSé - Op Cit., p. 2 9 1 .

2 1 . IDEM, op. cit. , p . 3 0 7 .

2 2 . R A u , V i rgínia - Para a história da população portuguesa dos séculos XV e XVI (resultados e problemas de
métodos), i n "Estudos de H i stória Medieva l " , L i s b o a , Editorial Presença, 1 9 8 5 , pp. 96 - 1 2 7 ( 1 ' ed., 1 96 5 )

2 3 . DIAS, João J osé Alves - A Beira Interior em 1 496 (Sociedade, Administração e Demografia), i n "Arq u i pélago",
Revista da U n i versidade dos Açores, Série Ciências H u manas, n" IV Q a n e i ro 1 9 82), pp. 9 5 - 1 9 3 .

24. MAnoso, J o s é - Identificação de um Pais. Ensaio sobre as origens de Portugal 1 096- 1 3 25. Vai 11 - Composição,
Lisboa, E d i tori a l Esta m p a , 1 9 8 5 , pp. 1 5 - 2 8 .

2 5 . CosTA, Ave l i n o de jesus da - o p . cit. , p. 2 3 1 .

26. MARQUES, A . H . d e O l i v e i ra - A População Portuguesa. . , p . 69.

2 7 . IDEM, op. cit. , p. 69.

2 8 . MATIOSO, jOSé - Op. Cit. , p. 1 8 .

29. MARQUES, A. H. de O l iveira - Estratificação Económico-Social de uma Vila Portuguesa da Idade Média, in "Ensaios
de H istória Medieval Portuguesa ", 2" e d ., Lisboa, Editorial Vega , 1 980, pp. 1 2 1 - 1 3 3 ( 1 " ed., 1 9 63).

30. A M A RAL , Luís Carlos: DUARTE, Luís Miguel - Os homens que pagaram a Rua Nova (Fiscalidade, sociedade e
Ordenamento Territorial no Porto Quatrocentista), in " Revista de H istória", centro de H i stória da U n iversidade
do Porto, vol. V I , Porto, 1 98 5 , pp. 7-96.

3 1 . DIAS, João J osé Alves - Estratificação económico-demográfica do concelho de Loulé em 1505, i n "História & Critica",
n" 1 3 Q u n h o 1 9 86), pp. 59-64.

32. RoDRIGUES, Ana Maria - A População de Torres Vedras em 1 3 8 1 , i n "Revista de H istória Económica e social", n" 2 5
u a n e i ro-Abril 1 9 89), p p . 1 5 -46.

3 3 . G o D I N H o , Vitori n o Maga l hães - complexo Histórico-Geográfico, i n "Dicionário de H istória de Portuga l " , di recção
de joel serrão, vai. I , Lisboa. I n i ciativas Editoriais, 1 9 7 1 , p. 646.

34. GoNÇAlVES, Iria - o empréstimo concedido a D. Afonso v nos anos de 1 4 75 e 1 4 76 pelo almoxarifado de Évora,
"Cadernos de Ciência e Técnica Fiscal", n" 30, Lisboa, 1 964 (estudo publ icado em "Ciência e Técnica Fiscal", n os 68-
-69, Agosto-Sete m b ro 1 964).

3 5 . ANDRADE, Amélia Agu iar - Um espaço urbano medieval: Pon te de Lima, Lisboa, Livros Horizonte, 1 990, p. 1 4 9.

36. GoMES, Rita Costa - A Guarda Medieval 1 200- 1 500, "Cadernos da Revista de História Económica e Socia l", n os 9- 1 0.
Lisboa, 1 9 8 7 , pp. 1 03 - 1 04.

3 7. SousA, Arm i n d o de - Tempos Medievais, i n " H i stória do Porto" , d i recção de Luis A. de O l iveira Ramos, Porto,
Porto Editora , 1 994, p. 1 9 3 .

3 8 . AHNOuLo, M.A. - L e s relevés de feux (fase. 1 8 da "Typologie des Sou rces d u Moy e n  g e Occi d e n ta l " , d i recção
de L. G e n i cot), Turnhout (Bélgica), Editions Brepols, 1 9 76, p. 79.

91
RE CONS TITUIÇÃO DE PAR Ó QUIA S
u m a p ro posta d e d i á l ogo
entre histori a d o res e dem ógrafos
Maria Norberta Amorim
Universidade do Minho

"E/ método de reconstitución de las familias, que forma la entrana de la demografia


histórica, ha sido concebido para e/ estudio de la fecundidad, no para e/ de la mortalidad
( ... ). Asi, las monografias parroquiales ha n ren o vado n u es tro con ocimi e n to de las
actitudes y de los mecanismos reproductores de la especie, pero han anadido bien poco
a lo q u e ya se s a b ia a c e rca de su extinción. (. .. ) Las in vestigaciones in dividua les
componen un rompecabezas de imposible ensamblamien to. Las mon ografias no han
franqueado e/ acesso a la sin tesis. Los arboles impiden ver e/ bosque". Desta fo rma se
e x p r i m i a J o r d i N a d a i em 1 9 8 0 no Pról ogo de Las crisis de mortalidad en la Espãna
in terior (siglas XVI-XIX) d e Vicente Pé rez Moreda.
Passa da m a i s d e uma déca d a , não repugna su bscrever as palavras d e Jordi Nadai. A
metodologia de reconstituição de famílias de F l e u ry - H e n ry pode nestes ú ltimos anos te r
d a d o a l g u n s frutos e m t e r m o s d e H i stó r i a da Fa m í l i a d e A n t i go Regi m e o u , m a i s
gera l me nte, e m H i stória Soci a l . No enta nto, no q u e respeita à Demografia p ré-censitária,
n ã o está p re p a ra d a pa ra p e r m i t i r v i s õ e s d e síntese s o b r e p o p u lações pa rti n d o d a
a ná l ise a p rofu n dada d a s va riáveis regu l a d o ras - n u p ci a l i d a d e , fecu n d i d a d e , m o b i l i d a d e
e m o rta l i d a d e . Se essas visões d e síntese não s ã o consegu idas, com preensive l m ente, o
h istoriador d e mógra fo pouco será levado a sério por aqueles q u e a n a l isa m censos d e
p o p u la çã o d e va l i d a d e testa da.
Os p ro b l e mas com as fontes são dete r m i na ntes. Não se dispondo d e registo siste­
mático s o b re a m o b i l i d a d e geográ fi ca , como se dispõe de registo d e ba ptiza dos, casa­
me ntos ou ó bitos, o estudo da m o rta li d a d e através da m etodologia d e reconstituição
d e fa mílias su rge natura l m e nte comprometido, com o co m p rometida esta rá , à parti d a ,
q u a l q u e r v i s ã o d e conj u nto q u e não passe por recu rso a algum tipo d e recensea me nto.
A m o rosid a d e d o p rocesso d e reconstituição d e fa mílias pela metodologia d e H e n ry
e o seu custo a ca rreta m a i n d a o frequ ente problema de fa lta de rep resentatividade das
observações. Tra b a l h a n d o q uase s e m p re sobre pequenas pa róq uias rura i s o h istoriador
d e mógra fo a fasta-se clara m ente d o seu col ega q u e se d e b ruça sobre gra n d es espaços
geográ ficos, recorre n d o aos m o d e rnos censos da popu lação.
Torna-se d i fíci l assim o d i á logo e ntre especial i stas q u e tra ba l h a m sobre população,
u n s d i s p o n d o d e estatísti cas j á levantadas, outros t e n d o d e as o rga n iza r d e fo rma
mo rosa a pa rti r d e cada a cto vita l . Diálogo q u e se torna a i nda mais d i fícil m e rcê das
d i fe re ntes formações aca d é m i cas d e uns e d e outros. A sensi b i l i da d e pa ra os n ú m e ros
n ã o é g e ra l m e nte a p a n á g i o d o s h i sto r i a d o re s , m a s são e l e s q u e m a n ej a m com à
vonta d e a i n formação h istó rica. s e m críti ca d e fontes a D e m ogra fia H istó rica , como
qualquer outra d isci p l i n a h i stórica , perde natura l m ente senti d o .
Por o utro lado, os d e mógra fos d o conte m p o râ n e o não deixam d e leva nta r qu estões
para as q u a i s não encontra m respostas no espaço temporal em que se movi menta m .

93
RECONSTITUIÇÃO DE PARÓQUIAS

São as raízes dos comporta m entos d i ferenciais, são as variáveis de d i fícil m e d i d a , como
as variáveis cultura is, que se l h es esca p a m . As vantagens científicas d a a prox i m a ção
entre d e mógra fos d o passad o e d o presente p a recem óbvias, mas será necessá rio q u e
os pri m e i ros tra b a l h e m c o m metodologias que permitam u ma a p roximação aos segu ndos.
N esse senti d o propo n h o o trata mento dos registos vita i s usa n d o a metodologia de
reconstituição de paróquias.
A r e c o n s t i t u i ç ã o de p a r ó q u i a s é o passo, fa cil itado pela Informática , que se segue
à reconsti t u i ç ã o de fa m í l i a s . Atra vés d a reconstituição de paróq u i a s p o d e r-se-à e m
m a i o r a proxi m a ção n ã o só estud a r o s fe nómenos da Fecu n d i d a d e e da Nupci a l i d a d e ,
m a s ta m b é m o s d a M o rta l i d a d e e M o b i l i d a d e , a o m e s m o t e m p o q u e se oferece à
a n á l ise soci a l u m a plata forma segu ra de i nserção.
R e c o n s t i tu i r p a r ó q u i a s s i g n i fi ca p r i m e i ro o rga n i za r os d a d o s d o s r e g i s t o s de
nasci mentos, casa mentos e ó b i tos e m fichas d e fa mílias e d e pois cruza r i n formações d e
fo r m a a a c o m pa n h a r, e m e n ca d e a m e nto g e n e a l óg i c o , a h i st ó r i a d e v i d a d e ca d a
resi d e nte, te n h a e l e nascido n a p a ró q u i a , e ntra d o n e l a p e l o casa m e n to ou s i m p l es­
m e nte n e l a te r fa lecido. Por outras palavras, reconstitu i r paróq uias é formar, e m la rga
diacro n i a , u m a " base de d a d os" com fi chas bi ográ fi ca s de residentes em que se projecta
m a rca r u m i n í c i o e u m fi m d e o b s e rv a ç ã o , c o m a s c o m b i n a çõ e s p o s s ív e i s e n t r e
nasci m e n to ou i m igra ção, por u m lado, e fa leci m ento ou emigra ção, por outro.
E m b o ra a s fo ntes q u e s e rv e m d e base à reconsti t u i ç ã o d e paróq u i a s sej a m os
registos d e nasci m entos, casa mentos e óbitos em séries contínuas, a m o b i l i d a d e é um
fenómeno só i n d i recta m ente abordável por aqueles registos e, por isso, só o cruza mento
de fo ntes d i v e rsas, permite m a rca r com m a i o r p recisão as ausências e as entradas dos
m igra ntes. As fi chas b i ográ ficas sã o fa c i l mente a bertas a o cruza me nto d e fontes, com
dados qua ntitativos ou q u a l i tativos, e a explora ções mu lti disci p l i n a res, podendo atingi r-se
d i fe re ntes níve is de a p u ra m e nto d e resultados e m vá rias d i recções d e i nvestiga ção.
A m e to d o l ogia d e reconsti tu i çã o d e p a ró q u i a s deu os seus p ri m e i ros passos há
cerca d e d u a s d éca das quando, pouco e ntrosad a no a m b i e nte a ca d é m i co, comecei a
tra b a l h a r sobre os registos vita is da paróq uia tra nsmonta na de Rebordãos.
Virgí n i a Rau tinha trazido d e Fra n ça para o Centro d e Estudos H i stóricos, a nexo à
Facu l d a d e de Letras da U n ivers i d a d e de Lisboa, no fi nal dos a n os c i n q u e nta , um " p l a n o
d e i nvestiga ção d e m ográfica", a po i a d o na metod ologia Fleury-Henry , " p a ra a reco lha
s iste m á t i ca d o s e l e m e ntos fo r n e c i d o s p e l o s l i vros d e registos pa roq u i a i s d e Lisboa
d u ra nte o sécu l o XVI I I , o rga n iza ndo u m fi cheiro dos assentos dos três tipos de registos:
ba ptismos, casa mentos e ó b i tos" 1_ N e n h u m a i n d i cação a d i a ntava Virgínia Rau sobre o
cruza m e nto d o s fi c h e i ros c o m v i sta à reconstitu i ç ã o de fa m í l i as. Os ce rca d e 9 0 0 0
verbetes reco l h i dos por M a ria d a Lourdes Akola Neto para cobrir a penas u m q u a rto d e
sécu l o d a freguesia d e Santa Cata rina d e Lisboa 2 seria m d e ce rto desmotiva ntes para o
p rossegu i m ento da tarefa mas, estou em crer, q u e o principal o bstáculo res i d i u na d i fíci l
a p l ica b i l i d a d e da metodologia Fleury-Henry aos registos paroq u i a i s portugueses.
E m b o ra s e m v i a b i l i d a d e de estu d o s de s í n t e s e , o tra b a l h o de fi c h a r a ctos d e
nasci m e n tos, casa m entos e ó b i tos e proce d e r e m segu ida a o s conseque ntes estu dos
agregativos i ria a p resenta r-se, d u ra nte bastante te mpo, p a ra os l i cenciandos dos cu rsos
de H i stória das Facu l d a d e s de Letras do País, como uma via i nte ressa nte e re lativa­
m e nte segura p a ra a obtenção d o respectivo d i ploma. Pa rticula rmente na Facu l d a d e de
Letras d e Coi m b ra m a i s d e meia centena d esses tra b a l h os fo ra m ela borados a ntes d e

94
MARIA NORBERTA AMORIM

1 9 7 4 , com esco l h a espontâ n e a , sem plano de conj u nto, mas q u e constitue m h oj e u m


patri m ó n i o q u e é i m po rta nte renta b i l izar.
Como l i ce n c i a n d a da Facu l d a d e d e Letras d o Po rto, e m 1 9 6 8 / 6 9 , s u rgi a - m e igual­
m ente, como opção, a reco lha e m fi chas d o movi me nto d e nasci m entos, casa mentos e
ó bitos no espaço de a lgu mas d éca das de An tigo Regi me. A res i d ê n cia em B raga nça
co n d i c i o n o u a esco l h a d e Rebord ã os e o isolamento permitiu a reflexão i nd e p e n d e nte
sobre a problemáti ca da o rga n ização da i n formação reco l h i d a .
R e l e n d o agora o q u e e m 1 9 7 1 escrevi e m tentativa d e u m m é t o d o 3 , concluo
que a a ctu a l reconstitu ição d e paróquias não é mais d o que o d esenvolvi me nto d essa
"tentativa " e m a m bi e nte i n fo rmático.
De fa cto, os o bj ectivos d e base q u e fora m defe n d i d os e m R e b o r d ã o s divergem de
fo r m a c l a ra dos de H e n ry , c o n d i ci o n a n d o uma fo rma d i fe r e nte de o rga n ização da
i n formação.
Parece - m e o p o rtuno fazer sobressa i r a lgumas pa rtes mais significativas da ten tativa
de um método de 1 9 7 1 :
(. .. ) Nós estudáva mos no espaço de dois séculos uma pequena v i l a rura l , em q u e todos se conhecem de
modo p rofu nd o , e nós ta m b e m . a dada a l tura. sentimos q u e se nos tornavam fa m i l ia res esses casa is q u e t i n h a m
fi lhos, q u e apadrin havam ou tros, q u e servi a m de teste m u n h a s nos casa m e n tos e . fi n a l mente. vía m os morrer.
para a com p a n h a r depois em idê ntico ciclo os seus descenden tes.
Fora de u m a o r i e n ta ç ã o q u e a g o ra e n c o n t r a m o s nos e s t u d o s de L o u i s H e n ry (Michel Fleury e Lou i s
H e n ry, oes registres paroissiaux à l'histoire de la population. Manuel de dépouillement de l 'état civil ancien, Pa ris.
1 9 5 6) , c o m e ç á m o s a v i s l u m b r a r um t ra b a l h o e m que r e u n í ra m o s e m s í n te s e t o d o s esses d a d o s
d i s p e rs o s , m a s s u s c e p t í v e i s d e a d q u i r i r u m n o v o s i g n i fi c a d o se r e l a c i o n a d o s e m t o d a a s u a d i m e n s ã o .
o p r i m e i ro p a s s o j á estava d a d o : a e l a b o ra ç ã o d o s fi c h e i ros d o s b a p t i z a d o s , casa m e n tos e ó b i tos e

exploração s i m p l e s dos seus dados.


Em que sentido poderíamos desen h a r u m segundo passo?
( ... ) C h e g á m o s à c o n c l u s ã o de q u e s e c o n s e g u í s s e m o s i d e n t i fi c a r o m a i s c o m p l et a m e n t e p a s s i v e i
a s p e s s o a s q u e m o r r i a m , t e r í a m o s a o n o s s o a l c a n c e u m v a st o c a m p o d e p e s q u i s a .
( . . . ) P a r a a r e c o n s t i t u i ç ã o d e fa m í l i a s , a s p r i m e i ra s f i c h a s s i m p l e s q u e fo m o s u t i l i z a r fo r a m a s d o s
b a p t i za d o s , e m bora pa recesse lógica u m a u t i l ização. em primeiro l ugar, d a s fichas de casa m e n to. ( ... ) Assi m , a
partir da p r i m e i ra ficha de ba ptizado. e l a borámos a p r i m e i ra ficha de fa m í l i a . D i v i d i m os esta em duas pa rtes
principais: a da esqu erda desti nada aos pais e todas as i n d i cações com estes relacionadas; a da d i reita, desti nada
aos fi lhos, com m a rgem igu a l m ente pa ra as referências q u e a estes dizem respeito.
( ... ) N o caso d e fi l ho s de pai i n cógn ito e l a boráva m os outro fi cheiro. agora segundo o nome da mãe.
As fi chas que fo mos u t i l iza r segu idame nte fo ram as dos casa mentos.
(... ) As fichas de óbito seriam as ú ltimas a ser observadas.
( ... ) Defi c i ê n c i a d o nosso tra b a l h o e , ce rta mente, o seu pa rti cularismo restrito a u m a fregu esia. se fosse
possível o leva n ta m e n to completo das popu lações de uma á rea relativame nte l i m itada que se detecta em pa rte
pelo estudo dos casa m e n tos, as nossas conclusões seria m mais precisas e rigorosas.

Co m o se verifi ca , e m 1 9 7 1 , os obj ectivos da m i n h a i nvestiga ção a p o ntava m n u m a


l i n h a d i fe re n te dos da meto d o l ogia fra n cesa. Não e ra só a vida conj uga l no passa d o
m o d e r n o q u e i nte ressava a c o m pa n h a r d e fo rma rigo rosa . A m eta a ati ngi r seria o
acompa n h a m e nto do i n d ivíd uo, ao longo de um pe rcu rso mais ou menos m a rca do por
actos registá v e i s - chega r à b i ogra fia d o s i n d ivíduos, a pa rti r da reconstitu i ç ã o das
estruturas fa m i l i a res.
Ta m b é m e m 1 9 7 1 ti n h a i nventa riado as principais d i ficuldades d e identifi ca çã o nos
registos portugueses e p e rspectiva d o o ca m i n h o d i fíci l d e a p u ra mento da i nvestigaçã o.
Assi m , e m R e b o r d ã o s , comecei por passa r p a ra fi chas d e a cto os assentos de
nasci m e ntos, casa m e ntos e óbitos, e m p roce d i mento corrente pa ra quem se d ispõe a
fazer um c u i d a d o estud o agregativo desses fen ó m enos, mas o levanta m ento de dois
s é c u l o s l e v o u - m e a v i s l u m b ra r a s p o te n c i a l i d a d es d o cruza m e nto d essas fo ntes.

95
RECONSTITUIÇÃO DE PARÓQUIAS

Chegu e i assim à r e c o n s t i t u i ç ã o de fa m í l i a s mas, d i fe renteme nte de Louis H e n ry,


proce d i p ri m e i ro a o cruza m e n to dos dados dos registos d e ba ptizados a ntes d e util izar
os registos d e o utro tipo - casa m entos e ó bitos.
Dado que a procriação é u m fe n ó m e n o ren ovável , tratei p ri m e i ro d e ord e n a r em
uma só ficha os nasci m e n tos sucessivos e m cada fa m í l i a , reco l h e n d o p a ra cada u m dos
seus m e m b ros as i n formações p e rti ne ntes dos su cessivos assentos. Esta divergência em
relação a o " método fra ncês" que util iza primeiro os casa mentos no cruza mento d e dados,
te m u m a lógica evi d e nte e a lgumas va ntagens. A q u estã o p rática de o rga n iza r as fi chas
d e fa m í l i a (que n ã o i n c l u e m "ca m pos" p a ra o cá lculo estatísti co da Fecu n d i dade) em
fol h a s b ra ncas l iga das e m ca d e rnos a m ovíveis, a l fa betados e d e fá cil manej o , seriados
e m fu nção d o nome próprio d o chefe , não será uma q u estão menor quando se l i d a
co m d e z e n a s d e m i l ha r d e a ctos. N o enta nto, a q uestão p rática não é a mais sa l i e nte.
se te mos por o bj e ctivo o estu d o dos comporta mentos d e m ográficos dos i n d ivíduos que
viveram n u m zona d eterm i nada e m determ i na d o p e ríod o , a fo rma d e o consegu i r é
estu d a r siste m a t i c a m e nte todas as " e ntra d a s i n i c i a i s " e "saídas d e fi n i tiva s " , com os
e v e n t o s r e g i s tá v e i s i n t e r m é d i o s . A e n t ra d a m a i s n a t u ra l de um i n d i v í d u o n u m a
p a r ó q u i a é o n a s c i m e n t o e e s s e n a s c i m e n t o ta n t o p o d e v e r i fi ca r-se e m fa m í l i a s
l egíti mas c o m o i l egíti mas, e m fa mílias q u e rea l iza ra m o s e u casa me nto n a zona e m
o b s e rvação o u fora d e l a , s e n d o o casa m e nto u m a cto m a rca d a m e nte soci a l . N u m a
o r d e m l ó g i ca d e o rga n izaçã o d e d a d o s d e v e m s e r , q u a nto a m i m , os registos d e
baptiza d o s o s p r i m e i ros a s e r trata dos, pesem e m b o ra eventuais i n d efi n i ções q u e s ó o
cruza m e nto poste rior com o utro tipo de registos p o d e rá resolver.
As fi chas de acto de casa m e nto fo ra m d e pois, eventu a l m e nte, co m p l em e n ta n d o as
fi chas de fa m í l i a e m o rga nização, permiti n d o data r o e n lace e , pela referência à fi l iação
d o s n u b e n t e s , e n co n t ra r a d a ta de n a s c i m e n t o d e s t e s , s e n a t u ra i s d a p a ró q u i a .
o fi c h e i ro d e a ctos d e casa m e nto, e l e próprio, n o caso d e R e b o rd ã os, foi e n ri q u ecido
pelo cruza m e nto com as fichas d e fa m í l i a , com a i nclusão da data d e nasci m ento d e
ca d a cônj u g e , se n a t u r a l d a p a ró q u i a , o q u e p e r m i t i u u m estu d o d o fe n ó m e n o da
N u p c i a l i d a d e , pa rti c u l a r m e n t e d a i d a d e média a o p ri m e i ro casa m e n to, c o m m a i o r
co m o d i d a d e , s e m reco rre r posteriorme nte às fi chas d e fa mília.
O cruza m e nto co m os registos d e óbitos fo i d e m a i o r co m p l exidade, a p o nta n d o-se
os principais p ro b l e mas d e i d e ntificação a o ó bito dos registos po rtugueses.
o preench i m ento d e fi chas d e acto, a o rga n ização d e fi chas fa m i l i a res por cruza­
me nto dos d i fere ntes a ctos e o poste r i o r e n riquecim ento das fi chas d e casa me nto e
ó b i to a pa rt i r das fi chas fa m i l i a res, n u m p rocesso de a c o m pa n h a m e nto da vida d o s
i n d ivíduos, p e r m i t i u e l a b o ra r u m m o n ografia q u e segu ia o m o d e l o clássico mas q u e
procurava u ltra passá - l o nas s u a s tentativas d e qua ntificar a p o p u lação em m o m e ntos
p a rticula rme nte esco l h i dos, traça n d o as respectivas p i râ m i des d e idades. Foi basta nte
penoso o tra b a l h o d e contage m exaustiva d e resi d e ntes por p rocessos manuais, mas
pareci a - m e um i m p o rta nte avanço meto d o l ógico para a H i stória das Populações.
D e p o i s d e R e b o rdãos o meu i n te resse pelos registos p a ro q u i a i s não e s m o receu.
Vive n d o e m B ra ga nça, p e n s e i q u e seria i nteressa nte estu d a r o pequeno n ú m e ro de
p a ró q u i a s t ra n s m o n ta n a s que d i s p u n h a m d e registos e m c o n t i n u i d a d e a ce i tá v e l ,
reco l h i d os n o Paço E p i s co p a l . P o r o r d e m a l fa bé t i ca d a s e x i stê n c i a s , fo i esco l h i d a a
p e q u e n a p a r ó q u i a de ca rda n h a , d o conce l h o de Torre de Moncorvo. A m u d a nça d e
res i d ê n cia n o a n o d e 1 9 8 3 p a ra G u i m a rães e a visita a o rico a rq u ivo Alfredo Pime nta ,

96
MARIA NORBERTA AMORIM

desafi a ra m - m e ao estu d o de u m a p a r ó q u i a u rb a n a , a da S e n h o ra da O l i v e i ra d esta


c i d a d e em q u e me c o n fr o n t e i com a c o m p l e x i d a d e d a o rga n ização da i n fo r m a ç ã o
p a roq u i a l n u m m e i o de gra n d e fl u i d ez demográ fica .
o v o l u m e de d a d o s e m p resença na paróquia u rbana levou-me a reflecti r sobre a
fo rma de torna r mais expedita a i nvestigação sem q u e a mesma perdesse o rigor. Optei
por p re p a ra r a p u b l i cação de Card a n h a 4 com u m a i ntrodução metodol ógica e m que
p ro p u n h a j á , e m bora não fosse esse o proce d i m e nto segu i d o no caso verte nte, a o rga­
nização d i recta da informação dos ba ptizados em fichas de família-rascunho, presci ndindo
d e fi chas de a cto. Os casa m e ntos e ó b itos conti nuariam a ser fi chados e a respectiva
i n fo rmação poste r i o rm e nte cruzada nas fi chas-rascu n h o.
Depois segui r-se-ia a cópia da informação orga nizada para fichas de fa mília, ada ptadas
da fi cha d e fa m í l i a d e Louis H e n ry.
Alguns críticos têm ente n d i d o como a rriscado presci n d i r de fichar isoladame nte os
ba ptizados. Acontece que os dados dos registos de ba ptizados a penas não se apresenta m
como red u nda ntes para cada fa mília, trata ndo-se de secu ndogénitos, naqueles aspectos
q u e dizem estrita m ente respeito à própria criança ba ptizada, ou seja o nome e a data
de nasci m e n to da mesma. O q u e i nte ressa p ri m e i ro é i d e ntificar a Fa m í l i a , d isti ngu i n do­
a d e q u a l q u e r o utra com cônj uges h o m ó n i m os e evita n d o cri a r estruturas " fa ntasmas"
p o r fa lta d e i dentificação com as a nte riores, e isso é mais fác i l quando se fazem os
cruza mentos a pa rti r da fo nte, da l etra e dos hábitos de ca da redactor paroq u i a l , a o
i n vés d e n o r m a l iza r m i l h a res de fi chas c o m i n formação repetida p a ra só mais ta rde
desenvolver o p e n oso tra b a l h o d e i ntegra r os fi l hos no conj u nto fa m i l i a r. Pa ra o h isto­
ria d o r, fa ce ao problema da crítica de fo ntes, perde peso o a rgu me nto de que a ide ntifi­
ca ção é m a i s segu ra quando se dispõe à partida das fi chas i n d ividuais para os três ti pos
de a ctos. Ao i n vés, a revisão contínua e p rogressiva da i n formação que o cruza me nto
sequencial exige, é um ca m i n h o bem mais seguro.
Foi j á p resci n d i n d o d e fichas de nasci mento que desenvolvi o tra b a l h o de " recons­
titu ição d e fa mílias" s o b re P o i a res de F r e i x o , tra b a l h o q u e s u rgiu da necessidade de
fazer uma aval iação mais baseada do que teriam sido os comporta mentos demográficos
de Antigo Regi m e no N o rdeste Transmonta no. Ati ngidos em pa rte esses objectivos, foi
o tra b a l h o m a i s gra t i fi c a n te de q u a ntos desenvolvi p o r processos m a n u a i s , d a d a a
q u a l i d a d e das fo ntes, os quase treze ntos anos de o bservação, a d i mensão da popu lação
e as características d e sua m o b i l idade 5
Um novo problema que se me colocou quando passei a desenvolver o estudo do meio
urbano de G u i m a rães e do seu enquadramento ru ral foi o cruza m e n t o i nterpa ro q u i a l.
É relativa m e nte fre q u ente, nesse espaço, o trâ nsito de fa m í l i a s e a lguns p r o b l e m a s
metodol ógicos se c o l o c a m q u a n d o e n ca ramos o p r o b l e m a d o conj u n to.
O aparecimento de dois trabal hos sobre a metodologia de "reconstituição de fa mílias"
em datas p róximas 6 reflecte m não só o a m a d u reci me nto da metodologia p rovoca d o
por P o i a res, mas ta m b é m essa preocupação. o cruza me nto i nte rpa roq u i a l i m p l i ca q u e
s e fa ç a m a l g u m a s o p ç õ e s q u e fa c i l i t e m m a i s t a r d e a a n á l i s e d e m o grá fi c a . N a
monografia sobre G u i m a rã e s 7 a i nda e m trata m ento m a n u a l , p rocedi à reconstitu i çã o
de fa mílias, paróq uia a paró q u i a . N o caso d e fa mílias móveis, trasladei pa ra a fi cha d a
paróq u i a o n d e se registou o p ri m e i ro fi l h o da fa m í l i a todas as i n fo rm a ções s o b re a
mesma regista das na outra ou nas outras paróquias de res i d ê ncia poste rior, a ponta n d o
nas fi c h a s c o r res p o n d e ntes a refe r ê n c i a à p ri m e i ra pa róq u i a , o n d e a h i stória m a i s
co m p l eta da Fa mília poderia ser encontrada.

. ] 97
RECONSTITUIÇÃO DE PARÓQUIAS

Na passagem das fichas de família-rascunho pa ra as fichas de fa mília normal iza das,


ten d e ntes estas aos estu dos d e Fecu n d i d a d e , a penas fora m consi d e rados os casos e m
q u e não h a v i a remeti m ento p a ra fi cha a nterior.
A reconstituiçã o d e fa mílias d e dez pa róq uias da zona d e G u i m a rães, sendo q uatro
u rbanas, q uatro rurais e duas d e ca racterísticas m i stas, u rbanas e r u rais, foi u m tra b a l h o
q u e u m i nvestiga d o r só desenvolve e m regra u m a v e z na vida. D e p o i s d e trata r m a ­
n u a l m e nte m a i s d e u m a centena d e m i l h a r d e a ctos registados, a rigidez do tra b a l h o
conseq uente, q u e não p e rm ite sem red o b ra d o esforço novos ensaios d e period ização e
a n á l i se co m p a rativa, q u e d e i xa m u itos po ntos obscu ros nos ca m pos da m o rta l i d a d e e
m o b i l i d a d e , q u e não p ro p i cia a visão de síntese, q u e não perm ite o a p roveita me nto
adequado da i n fo rmação de ordem sociológica, a pesa r do seu ineditismo e d e resu ltados
compensatórios em vastas á reas, com po rta a lguma dose d e frustra ção.
A u ltra passagem d e todos o u quase todos esses p r o b l e m a s é dada pelas n ovas
tecnologias informáticas e foi sobre o Sul do Pico que desde 1 9 8 5 a poiada por dois colegas
de formação específi ca , p ri m e i ro Luis Lima e depois Cecí l i a Moreira , venho ensa i a n d o os
p rocessos q u e co n d u z i ra m á r e c o n stitu i ç ã o de p a r ó q u i a s a

A Meto d o l ogia q u e p r o p o n h o p a ra o rga n ização da i n formação paroq u i a l tem e m


conta a s ca racte rísticas dos registos po rtugueses, c o m u m q u a d ro favorável á i d e ntifi­
cação dos casa is a o ba ptismo dos fi l h os, a identificação clara dos n u b e ntes por fi l i a ção e
a n teriores n ú pcias e as d i ficuldades eventua is de i d e ntificação ao óbito de i n d ivíduos
sem referê ncias fa m i l i a res.
Enco ntra n d o-se os registos portugueses para a m a i o ria das d i oceses e m m icrofi l m e ,
dada a ausência p rática d e a m b igu idades no p rocesso d e atri bu ição d e novos fi l h os aos
casa i s i d e n tificados a pa rti r d o registo d o p ri m e i ro fi l h o , bem como na identifi cação dos
n u b e ntes, p o d e m os usa r u m p rocesso d e exploração sistemática h i e ra rq u i zada dos três
ti pos d e a ctos - começar pela o rga n iza ção da i n formação dos registos d e baptismos,
passa n d o depois aos casa mentos e poste riorme nte aos óbitos.
E m b o ra a " base de d a d o s " q u e p ri m e i ro u t i l izá mos (n este m o m e nto esta mos a
ensa i a r outros recu rsos) - a d Baseiii-Pius, possa perm iti r um p rocesso mais cé l e re d e
procura d e fichas i n d exadas dos agregados conjugais e m procriação, conti n u o a a c h a r
conve n i ente o rga nizar cad e rnos a l fa betados d e folhas a m ovíve is, ordenados segu ndo o
n o m e próprio dos pais, conforme o método m a n u a l que i n iciei há d u a s décadas atrás,
que fu n ci o n a m como d u p l i ca d o das fi chas e l ectró n i cas, fa c i l i ta n d o as c o m p a ra ções
e ntre fi chas d i fe re ntes e obvia n d o a eve ntua i s "acide ntes" no computa d o r.
O fa cto de ordenar os fi chei ros segu ndo o nome próprio dos pais e não pelo a p e l i d o
dos m e s m o s , prend e-se com a ausência na soci e d a d e portuguesa d e n o rmas s i m p les
na tra nsmissão dos a p e l i d os e na freque nte osci lação d e posição relativa quando u m i n ­
d ivíd u o u s a vários a p e l idos. Penso q u e , n o s casos d e convivência estreita e responsável
entre gerações, fa ria senti do que u m dos netos usasse d o m i nanteme nte o a p e l i d o de
u m dos avós, e n q u a nto se tomava m outras opções pa ra os resta ntes i rmãos.

A m eto d o l og i a de r e c o nsti t u i ç ã o de p a r ó q u i a s

A reconstituição d e pa róquias processa-se em três fases, cada u m a com etapas próprias.


A pri m e i ra fase corresponde à reconstituição de fa mílias e supõe u m trabalho aturado
d e crítica e cruza mento d e fo ntes.

98
MARIA NORBERTA AMORIM

A segu nda fase é i n t e i ra m e nte automática e consiste e m , a pa rti r do cruza m e nto


e ntre as fi chas d e FAMILIA, o rga n iza r, e m fichas de I N D IVÍDUO, a i n fo rmação sobre os
a ctos vita i s dos naturais da á rea e m estu d o , com os respectivos elos ge nealógicos.
A ú lti ma fase é u m tra b a l h o sistemático sobre essas fi chas i n d ividuais para i nclusão
dos i m i gra ntes, a p u ra m entos fin a i s e m a rca ção manual d e i nício e fim d e observação
nos casos p e rti nentes.

Primeira [ase:
Reconstituição de famílias

A m a i o r pa rte dos i nvestiga d o res q u e usa esta metodologia p refe re a i n d a h oj e re­


consti tu i r as fa m í l i a s m a n u a l m e n te e só d e p o i s u s a r os recu rsos i n fo rmáti cos pa ra
passa r à reconstitu i çã o das paróquias, e m b o ra tudo esteja preparado para um tra b a l h o
i n te ra ctivo no computa d o r e m todas as fases e eta pas d o p rocesso. De facto, a d e l i ca ­
d eza d a i d e ntificação dos i n d ivíduos pa rece ser mais compatível c o m a m o rosidade d e
u m tra b a l h o m a n u a l e m s u p o rte d e papel e m q u e o pensa m e nto aco m p a n h a fa cil­
me nte a acção, e m q u e as lógicas d e cada passo se d o m i n a m e e m q u e podem visua­
lizar-se a o mesmo te m p o várias fichas sem gra n d e a p a rato técni co. Por isso, pa rece
m a i s i n d i ca d o a p resenta r a q u i o p rocesso m a n u a l d e reconstitu ição d e fa m í l i a s , só
usa n d o as bases de dados para agi liza r a lgu m p roce d i mento, q u a n d o se achar isso ú ti l .
Começamos natura l m ente por prepara r o a m biente d e tra b a l h o , ta nto no q u e d i z
respeito às fontes ou repro d u ções das mesmas, c o m o e m relação às fi chas d e papel e
ca n etas de d i fe rentes cores, como ta m b é m à defi n ição da estrutu ra dos fi chei ros. Nos
tra b a l hos a nteri o res j á referidos e d e uma fo rma mais si ste mática em G u i m a r ã e s 9

a p resentei e m pormenor a técn i ca m a n u a l a segu i r.


A primeira etapa da reconstitu ição de fa mílias, consisti rá em orga n iza r os agrega dos
conj u ga i s a pa rti r d ois registo/s dais cria nça/s nascida/s e m cada um d eles.
A a b e rtu ra das p ri m e i ras fichas d e fa m í l i a , a p rocura poste rior sistemática dos casa is
em procriação pa ra , a pós a identificação, se lhe atribuírem os novos fi lhos ou, na ausência
d e identificação a a b e rtu ra d e fi chas novas, se rá um tra b a l h o que perderá m u i to da sua
m o rosidade se usarmos as fotocópias dos registos d e ba ptismos, mesmo que se o pte
p o r o rga n i za r a i n fo r m a çã o m a n u a l m e nte. R e p a re-se na e co n o m i a de te m p o q u e
signifi ca p r i m e i ro p resci n d i r d a s fichas d e acto para fi lhos legíti mos e depois o facto d e
apenas e m fu nção d o registo d o pri m e i ro fi l h o c o n h e c i d o se escreve re m os e l e mentos
que i d e ntifi ca m o agregad o (que p o d e m i n c l u i r os nomes e a p e l i dos complexos dos
pais, p rofissões ou títu los, natu ra l i dades, residência; eventua l mente nomes e a p e l i dos
complexos, profissões ou títu los, naturalidades e residências dos avós paternos e maternos),
q u a n d o h á a possi b i l i d a d e de c o n ta r m a i s de u m a d e z e n a de fi l h os. Co n s i d e re - s e ,
contu do, q u e esta mos a fa l a r d e i n formação red u n d a nte. Sempre q u e n u m registo d e
u rn fi l h o secu n d ogé n i to se e n contra m i n fo rm a ções p e rtinentes, a n tes não refe r i d a s ,
elas s e r ã o acresce ntadas na fi cha.
N o entanto, para paróquias com mais d e mil habita ntes o p rocesso manual d e i nte­
gra ção dos fi l h os nos agregados pode ser basta nte m o roso e i n cómodo, podendo ser
aconselhável o rga n i za r no computa dor, i nter-activa mente, a i n formação, d u p l i ca n d o-a,
passo a passo, a ca neta azu l , pa ra as fi chas d e papel i d entifi cadas pelo mesmo n ú m e ro.
De fa cto, q u a n d o l idamos com u rn pa róq u i a com centenas d e habitantes, o achame nto,

99
RECONSTITUIÇÃO DE PARÓQUIAS

ou n ã o a c h a m e nto, da fa m í l i a q u e procura m os n u m fi c h e i ro m a n u a l o r d e n a d o p o r
o r d e m a l fa b eto-cronológica , pode l e v a r a p e n a s a lguns segu ndos, menos t e m p o do q u e
l eva ría mos a d esenvolver o mesmo p rocesso na " b a s e d e d a d os". Qua ndo l i da mos com
m i l h a res d e h a b i ta n tes, o t e m p o d i s p e n d i d o não é p ro p o rci o n a l , p o d e n d o ch ega r a
la rgos m i n utos.
N o caso de fi l i ação i legíti m a , pode só torna r-se seguro atri b u i r u ma nova mater­
n i d a d e a u m a m u l h e r já co n h ecida, q u a n d o há referência à sua fi l i a ção. o processo d e
o rga n iza r u m fi c h e i ro m a n u a l p a ra as fa mílias i l egíti mas seria do p e l o n o m e d a s mães
não é rentável, d a d a a fre q u ê n cia dos nomes próprios fem i n i nos. Daí a necessi dade d e
e l a b o r a r fi chas d e a cto. e lectrón i ca s ou d e p a p e l , pa ra os fi l h os i l egíti mos e e nj eitados,
com todos os dados d e i d e ntifi cação a n ota d os. Esses dados desempenham o papel d e
recu rso sistemático nas tentativas, a desenvolver na " b a s e d e d a d o s " , d e i d e ntifi ca r a
mesma m u l h e r em su cessivas mate r n i d a d es.
Mesmo n o caso d e fi l h os legíti mos, não podemos excl u i r a h i pótese d e u m ou outro
caso a m bígu o , m o r m e n te em p e rí o d os a n te r i o re s ao s é cu l o XV I I I , q u a n d o ce rtos
red a ctores pa roq u i a i s não i n d i ca m o nome da mãe e existem h o m ó n i m os e m fase de
p rocriação.
A o p ção pela i nclusão d e u m fi l h o numa estrutu ra fa m i l i a r e não em outra p o d e rá
basea r-se no i nte rva lo em relação ao nasci m ento a nterior, na ausência de dados s o b re
p rofissão do p a i ou resi d ê ncia fa m i l i a r. No fi c h e i ro m a n u a l de fa mílias, ao usarmos o
l á p i s i ntroduzimos a d úv i d a , dúvida q u e pode s e r expressa no fi cheiro el ectró n i co n u m
ca m p o p a ra observações.
Q u a n d o não h á uma segu ra nça razoável p a ra i n c l u i r uma cri a n ça n u m a fa m í l i a
co n h e c i d a , é p referível a b r i r u m a nova fi cha , desti nada eventua l m e nte a ser e l i m i na d a
c o m o ava n ço d a reconstitu ição.
A segunda etapa d a reconsti tu i çã o d e fa m í l i a s consta rá e m cruza r os d a d os dos
casa m e ntos com a i n fo r m a çã o o rga n iza d a a partir dos ba ptismos. N o e nta nto, esse
cruza m e nto n ã o se p o d e rá esta be l e c e r e m todos os casos. Dos casa i s cuja d a ta de
casa m e nto co n h ecemos, uns terão sido fecu ndos na á rea observa d a , outros terão sido
esté r e i s n essa m es m a á rea e ou tros terão fixa d o res i d ê n c i a n o exte rior. Só p a ra o
p ri m e i ro caso é, natu ra l m e n te, possíve l , n esta fas e , esta be l e cer cruza m e nto com a
i n fo rmação já o rga n iza da. Para os outros casos há q u e i r anexando as respectivas fi chas
d e fa mília às já co n h ecidas pelo baptismo d e fi l hos.
A i n formação perti ne nte contida nos registos d e casa mento condiciona duas a bo r­
dagens q u e dá vantage m serem sequenciais, caso a caso. A pri m e i ra na perspectiva do
casal e a segu n d a na p e rspectiva d e cada u m dos cônjuges .
Nesta fase l i mita r-nos-emos a procura r i d entificar os nubentes com os pais de fa mília
conhecidos pelo registo de fi l hos, explorando-as, portanto, a penas na perspectiva do casa l.
Esta b e l e c i d a e ssa i d e ntifica ç ã o , e n ri q u e c e m os a respectiva ficha d e fa m í l i a com os
d a d os a go ra conhecidos, usa n d o ca n eta verde.
Se o casa l não é a i nda con h ecido, a b ri mos uma ficha, sempre usa ndo a cor verde, nos
próprios ca d e rnos o n d e o rga n iza mos os d a d os das fa mílias fecu ndas ou num ca derno
com p l e m e ntar, conforme a cha rmos m a i s conve n i e nte.
N esta fase, não se torna n ecessá rio esta be l e ce r, no trata me nto m a n u a l , q u a l q u e r
ti po d e cruza m e n to entre fi chas.
A terceira etapa d a reconstitu ição d e fa mílias consiste no trata me nto possíve l dos
registos d e ó b i tos. Dada a eventual d e fi c i e nte i d e ntificação d e d e fu ntos nos registos

1 00
MARIA NORBERTA AMORIM

portugueses, só o confronto de um gra n d e n ú m e ro de variáveis e a exclusao sucessiva


d e h i póteses p o d e m , e m ce rtos casos, p e r m i t i r u l tra passa r as d i fi c u l d a d es , o q u e
aconse l h a a q u e os registos d e ó b i tos sej a m e x p l o rados e m d uas fases. Nesta fase,
apenas se o cruza me nto entre os d i ferentes registos vitais d e u m mesmo i n d ivíd uo se
pode esta b e l e c e r s e m a m b i g u i d a d e s , d a m os como co m p l eto o tra b a l h o d e i d e n t i fi ­
ca çã o , o q u e e q u iva l e a d izer q u e só trata mos o s casos " fáce i s " , d e i x a n d o o s casos
" d i fíceis" pa ra fase posterior.
Media nte u ma sim bologia adequada, as fotocópias dos registos (ou as fichas de acto)
poderã o i n d i ca r-nos esses casos d i fíceis.
Se os defuntos têm i n dica ção d e natura l i dade, se em relação aos solteiros há i n dicação
d e fi l i a çã o e e m relação aos casa dos e viúvos há i n d icação d e cônj uge , não tere mos
gra n d e d i fi c u l d a d e e m o rga n izar a i n formação dos registos d e ó b i tos. Os p r o b l e m a s
m a i s d i fíceis s u rgem na i d e n t i ficação dos d e fu ntos dos q u a i s não c o n h e c e m o s l a ços
fa m i l i a res, n e m i d a d e , mas supomos natura i s da paróq uia.
Se, para u m a m u l h e r, não é i n d icado o nome d o marido, mesmo q u e outros d a d os
sobre os fi l h os nos possa m permitir uma identifi cação segu ra . não teremos fa ci l i d a d e
e m e n co n trá - l a n o n o s s o fi c h e i ro , o r d e n a d o segu n d o os n o m es d o s m a r i d o s . As
mesmas d i fi c u l d a d es encontra remos ao prete n d e r e n contra r u m fi l h o soltei ro d e u ma
mãe vi úva, sem i n d i ca ção do nome do pai. Estas l i m i tações não constituem problema e
serão u l tra passadas em u lteri o r eta p a . o q u e i m porta é assi nalar conve n i e nteme nte os
assentos q u e não fo rem trata dos de fo rma adequada.
Reparemos q u e , na reco nstitu i ção d e fa mílias fei ta exclusiva m e nte por p rocessos
manuais, até fi nal desta tercei ra eta pa, nenhum cruza mento entre fichas foi esta belecido.
Teremos agora , numa quarta etapa , d e proceder a esses cruza me ntos.
Siste m a t i ca m e nte . da p r i m e i ra á ú l tima ficha de fa m í l i a , veremos se, p a ra ca d a
c ô nj u ge n a t u r a l d a á re a e m estu d o , há i n d i ca ç ã o d e fi l i a çã o e , se ta l se v e r i fi c a r ,
faze mos o cruza m e nto possível d e dad os. Apontamos a data de casa me nto, o nome d o
cônj uge e a d a ta d e ó b i to na f i c h a d e o rigem e a d a ta d e nasci m e nto na f i c h a d a
segu nda gera ção.
Só d e po i s dos cruza m e ntos e fectua dos, cop i a remos os dados o rga n iza d os para o
fi c h e i ro e l e ctró n i co d e FA MÍ LIAS. Este tra b a l h o p o d e s e r l e v a d o a ca b o p o r pessoa l
técnico, na m e d i d a em q u e não envolve n e n h u m a d e cisão e os e rros eventuais serão
d etecta dos fa c i l m e nte nas operações poste riores.
N o fi m d esta p ri m e i ra fase tere mos proce d i d o a uma r e c o n s t i t u i ç ã o de fa m í l i a s
e i n d i ca d o res clássicos p a ra o estu d o d a N u p c i a l i d a d e e Fecu n d i d a d e esta ria m já a o
n osso a l ca nce. N o e ntanto, as fases poste r i o res da r e c o n s t i t u i ç ã o d e p a r ó q u i a s ,
pod e rã o permiti r, e m a lguns ca sos, com pleta r i n formação sobre o ciclo fa m i l i a r e i rã o ,
principa l mente, permitir ou facilita r todos o s estudos sobre comporta mentos i n d ividuais,
q u e r se trate d e casa m e nto, óbito ou m igração.

Segunda fase
Cruzamen to a utomático en tre fichas de famílias

Foi desenvolvi d o pri m e i ro por Luis Lima e depois por Cecilia More i ra um p rogra ma
em d Ba s e i i i - P i u s para cruza m e nto da i n formação e ntre as fichas d e FAM I LIA, obede­
cendo a d o i s princípios:

101
RECONSTITUIÇÃO DE PARÓQUIAS

1 . Pa ra todo e q u a l q u e r fi l h o de cada uma das fa mílias conhecidas será passada a


i n formação perti nente para u m a fi cha do fiche i ro de I N D IVIDUOS - nome próprio, sexo,
n ú m e ro d a fi c h a d e o r i ge m , fi l ia ç ã o , p rofissã o dos pais e res i d ê n ci a d o s m e s m os;
eventu a l m e nte, data d e nasci m ento, data d e casa m ento, data d e ó bito e esta d o civil ao
mesmo. Nenhuma i n formação sobre pais/mães d e fa mília será passa da d i recta me nte
pa ra o fic h e i ro d e I N D I V I D U OS.
2 . se pa ra um fi l h o d e uma d e t e rm i n a d a fa m í l i a h á co n h e c i m e nto d a d a ta d e
nasci m ento e da data d e casa m e nto o u data d e óbito, todas a s outras fi chas d e FAMILIA
são pesqu isadas na tentativa d e e n contra r essas mesmas datas e m refe rência a pais ou
mães d e fa mília com o mesmo nome.
Se o cruza m e n to se esta belece entre duas ou mais fi chas, é reco l h i d a a i n formaçã o
perti nente , na o r d e m a d e q u a d a , pa ra a fi cha co rrespondente d e I N DIVIDUO.
Nenhuma i d e n ti ficação automática se processa q u a n d o a penas conhecemos uma
data regista da d o ciclo d e vida d e u m fi l h o d e uma fa mília conhecida.

Terceira e último fase


Revisão e apuramento da informação e marcação manual de início e fim de observação
nos casos pertinen tes

A prime ira e tapa d esta fa se consi ste em d e s e n v o l v e r tentativas no s e n t i d o d e


i d entifi ca r a q u e l e s defu ntos su posta m e nte natu ra i s da paróquia cuj o registo d e ó bito
não i n d i ca laços fa m i l i a res d i rectos.
Pode trazer va ntagens fazer previamente duas ordenações do ficheiro de INDIVIDUOS,
ou seja dois n ovos fi c h e i ros, u m ordenado segu n d o a data d e ó bito e outro segu ndo a
data de nasci m e nto.
Deve-se te r o c u i d a d o d e e l i m i n a r poste r i o r m e nte o fi c h e i ro o rigi n a l e a p e n a s
proce d e r a m o d i fi ca ções sobre u m dos outros, a fi m d e não util iza r mais tarde versões
não a ctua l i zadas.
Tra b a l h a n d o sobre o fi c h e i ro ordenado segu n d o as datas d e ó b ito, i remos siste mati­
ca m e nte o bserva n d o se, pa ra os defu ntos i d entificados, o cruza me nto automático se
esta beleceu sem p ro b l e mas, a o mesmo tempo q u e , recorrendo ao ficheiro ordenado
segu n d o as d a tas d e nasci m e nto, p ro c u ra remos re l a c i o n a r os defuntos não i d e ntifi­
cad os com os nascidos sem ó b i to conhecido.
o êxito da tentativa d e re lacionar i n d ivíduos sem fi m conhecido com h o m ó n i mos
conte m porâneos, cuj o registo d e ó bito não apo nta rela ções fa m i l i a res d i rectas, depende
m u i to da d i m ensão da paró q u i a , da frequê ncia dos nomes próprios e m cada sexo, da
fre q u ê n ci a ou a usência d e a p e l i dos, d e i n fo rmações com p l e m e ntares sobre residência,
testa m e ntos e , principa l m ente, i n d i cação d e i d a d e ao ó bito. Pode acontecer q u e , no fi m
d esta fa s e , te n ha m os d e m a nter u m fi c h e i ro A U X I L I A R , com u m n ú m e ro de fichas
consi d e ráve l , e m q u e i nseri m os todos os i n d ivíduos suposta mente natura i s da paróq uia
mas n ã o i dentifi ca d os.
A segunda e tapa d esta fa se consiste, e m l i sta r no fi c h e i ro d e FAMI LIAS todos os
p a i s / m ã e s de fa m í l i a pa ra os q u a i s não c o n h ecemos d a ta de nasci m e nto, d a ta d e
casa m e nto ou data d e ó b i to (a penas conhecidos p o r a ctos vita i s d e fi l h os), com vista a
passagem p a ra o fi c h e i ro de I N DIVIDUOS.

1 02
MARIA NORBERTA AMORIM

Se os i n d ivíduos em ca usa são declara d a m e nte originá rios do exterior, damos- l h e


e ntrada n o fich e i ro d e I N D IV I D UOS, com todas as i n fo rmações perti nentes, p o d e n d o esta
o p e ração ser a u tomática .
se supomos que os indivíduos e m causa são origi ná rios da paróquia em estudo, desen­
vo lveremos tentativas d e identifi cação com conte m porâ n eos de desti no desconhecido,
a pa rti r das i n d i cações de que d ispomos, nomeadamente os nomes, apelidos e residências.
Aqui ta m b é m a d i mensão da pa ró q u i a e a frequência dos nomes podem fac i l ita r ou
d i ficulta r o p rocesso. casos não identifi ca d os i rã o engrossa r o fic h e i ro AUXI LIAR.
No fi n a l d esta segu n d a eta pa t e r e m o s a ce rteza d e que todos os n a s c i d o s na
paróquia e m estud o terão u m a ú n i ca ficha a b e rta no fic h e i ro de I N D IVIDUOS e que no
mesmo fichei ro e n contra remos todos a q u eles q u e vieram do exterior e aí regista ra m o
s e u casa m e nto e/ou o seu ó b ito e/ou o nasci m e nto de a l g u m fi l h o . N ã o teremos,
contu d o , a ce rteza se toda a i n formação está correcta m ente o rga nizada.
A terceira etapa consiste na revisão, uma a uma, das fichas de INDIVIDUO, acompanhada
da ma rca ção d e i nício e/ou fi m d e observação nos casos perti n entes.
I n d e p e n d e nteme nte d e eventu a i s a p u ra m e ntos deco rrentes d o cruza m e nto com
outras fo ntes, consi d e ra m os uma pa róq uia r e c o n st i t u í d a q u a n d o , para ca da reside nte,
te mos uma ficha fe c h a d a o u seja q u a n d o , caso a caso, d ispomos de uma data d e início
de observação (q ue pode ser precisa , como a data do nascimento, ou aproximada) e uma
data d e fim de observação (que pode ser p recisa , como a data d e ób ito, ou a p roximada).
A p a rtir dos registos portugueses poderão ser ra ros os casos em q u e consegu i remos
fechar todas as fichas i n d ividuais ao longo de trezentos ou quatrocentos a nos. O compor­
ta m ento de a lgumas gerações poderá ser conhecido em gra n d e a p roximação, e n q u a nto
a i n d eterm i nação s o b re o d esti n o d e outras, decorrente d o descon hecimento dos q u e
mo rrem na i n fâ n c i a , p o d e não ser u ltra passa da. É i m p o rtante p recisa r o s períodos d e
pa ró q u i a " reconstituída" e os períodos q u e permitem a penas cons i d e rá-la "em v i a s de
reco nstitu ição".
Se tivermos trabalhado o fi che i ro ordenado pelas datas de óbito, fa remos agora uma
nova o rd enação d o mesmo, privilegi a n d o a data de nasci me nto, depois a data de casa­
me nto e por fi m a d e ó b ito. As p ri m e i ras fichas desse fi c h e i ro reporta r-se-ão aos casos
de i n d ivíduos sem nasci me nto conheci d o , q u e r sej a m os nascidos na paróq uia a ntes do
i nício d o registo de ba ptismos, o u os nascidos no exterior.
Nos p ri m e i ros casos, de natura i s da pa róq u i a , se a e ntra da foi fei ta d i recta m ente
pa ra o fi c h e i ro de I N D IV I D U OS (uma das duas opções co nsideradas), teremos agora d e
m a rca r u m i nício d e observação ( I N I C I O - OBS) e, eventua l m e nte, u m fi m d e observação
(FIM - OBS), este nos casos e m que não se d ispõe de registo de ó bito.
Se a fa mília d e o rige m d o i n d ivíd uo e m ca usa é estáve l , poderemos opta r por consi­
d e rar, como i nício de observação, a data do p ri m e i ro registo d e ba ptismo co nhecido na
paróq u i a .
Na a usência d e registo d e óbito , o fi m d e observação será o ú l t i m o registo d e acto
fa miliar conhecido em que o indivíduo em causa é dado como residente, nomeada mente
registos de nasci mento, casa mento ou óbito de fil hos, óbito do cônj uge ou o último registo
de casa m e nto do próprio.
Nos casos de i n divíd uos nascidos no exterior e conhecidos por registo de casamento
próprio, baptismo, casa me nto ou óbito de fi lhos, ou óbito de cônj uge, ma rca remos como
i nício de observação a pri m e i ra daquelas datas eventu a l m e nte conhecidas.

1 03
RECONSTITUIÇÃO DE PARÓQUIAS

se não se dispõe para os mesmos de registo de ó bito, o fi m de o bservação será a


última data em q u e o co n h ecemos como reside nte.
Q u a n d o , n o p rocesso sistemático d e revisão e e n cerra m e nto das fi chas, tivermos
chega d o aos i n d ivíduos com nasci me nto regista d o na pa róq u i a , e i n d e p e n d e nte me nte
d e verifi ca rmos, caso a caso, se os cruza m e ntos automáti cos se p rocessa ra m , uma mais
co m p lexa proble mática teremos d e e n frenta r a ntes d e nos dispormos a fechar todas as
fichas.
U m a p ri m e i ra q uestã o prend e-se com o registo d e todos os fa lecidos e com a possi­
b i l i d a d e d e i d e ntificação dos mesmos. Se não dispo mos d e registo siste mático d e m o r­
ta l i d a d e i n fantil e/ou se ma ntemos um fi cheiro AUXILIAR com gra n d e n ú m e ro de fichas,
pode não ter sign i fi ca d o a te ntativa de m a rca r u m fi m d e observação em todos os casos.
No entanto, se há registo sistemático d e m o rta l i d a d e i n fa ntil e se a i d e ntificação ao
ó b i to se a p resentou sem a m bigu i d a d es, podemos i ntenta r fechar todas as fi chas.
Pa ra os i n d ivíduos casados ou vi úvos o fi m da o bse rvação será m a rcado segu i n d o os
critérios usados para os casos já d escritos d e i n d ivíduos nascidos no exte rior. O fim de
observação será a ú ltima data em q u e o conhecemos como resi d e nte.
Pa ra o s i n d i v í d u o s s o l te i ros p o d e m v e r i fi ca r-se d o i s e n q u a d ra m e ntos d i sti n tos.
o i n d ivíduo i n tegra -se n u m a fa mília móvel ou n u ma fa mília estável.
No p ri m e i ro caso, o seu a fasta m ento da pa róq uia ter-se-à verificado na situaçã o d e
d e p e n d ência e pod e remos considerar c o m o fi m d e observação a ú ltima data fa m i l i a r
regista d a , fi m d e observação q u e s e rá co m u m a todos os m e m b ros do agregado.
No segu n d o caso, o a fasta me nto ter-se-à verifi ca d o n u m a situação i n d e p e n d e nte e
pode coloca r-se o problema de aceita r conve nciona l m e nte uma i d a d e média para o fi m
de o bservação q u e tenta rá l eva r em co nta os motivos mais fre q u e ntes de a fasta mento
na s o ci e d a d e e m ca u s a , q u e r os matri m o n i a i s , q u e r os p rofiss i o n a i s e ta m b é m a s
respectivas fre q u ê n cias.
A q u a rta e tapa c o n s i ste e m , n a s fi c h a s de F A M I L I A S , ma rca r i n í c i o s e fi ns d e
observação nos casos p e rti ne ntes, class i fi ca nd o-as depois pa ra e feitos d e estu dos d e
F e cu n d i d a d e . N ot e - s e q u e é e m fu n ç ã o d o s e v e n t u a i s b e n e fí c i o s d e co rr e n te s d o
a p u ra m ento d e resultados na ú ltima fase da reconstituição d e pa róq uias q u e s u rge a
c o n v e n i ê n c i a e m p ro c e d e r só n e s ta e t a p a à s o p e ra ç õ e s q u e se s e g u e m e n ã o
i m e d iata m e nte após termos concluído a reconstitu i çã o d e fa mílias.
Quando não d ispomos d e data de casa m ento ou data d e óbito d o p r i m e i ro cônj uge
fa l e c i d o , o i n i c i o ou o fi m de o b s e rvação serão m a rca d o s , resp e ctiva m e n te , com a
p ri m e i ra ou a última data q u e i n d i ca a residê ncia do agrega do na paróq u i a , como a data
de nasci m ento, a data de ó b ito ou a data de casa me nto de um fi l h o .
Na classifi ca çã o das FAM I L IAS l egiti mas, pa ra e feitos d e estudo da Fecu n d i d a d e , p ro­
pomos que sej a m consid erados sete tipos d i fe re ntes, tratados d e pois i n formatica m e nte
d e forma especifica. A uti l ização d e n úmeros em vez da classifi cação clássica d e H e n ry,
prend e-se com a maior va ntagem no trata mento i n fo rmático poste rior.
TIPO 1 . Fa mílias das quais conhecemos registo d e baptismo d e todos os fi l h os, data
de casa m ento, data de nasci mento da mulher e data de óbito do primeiro cônjuge fa lecido.
TIPO 2 . Fa m í l i a s das quais conh ecemos registo d e baptismo d e todos os fi l h os, data
de casa m e nto, data de ó bito do p ri m e i ro cônj uge fa lecido e d esco n h ecemos a data d e
nasci m ento d a m u l h e r.
TIPO 3. Fa mílias das quais conhecemos a data de casa mento e a data de nasci mento
da m u l h e r e desco n h ecemos a data d e ó b ito d o p ri m e i ro cônj uge fa lecido.

1 04
MARIA NORBERTA AMORIM

TIPO 4. Fa m í l i a s das conhecemos a data de casa m ento e d esco n hecemos a data d e


nasci m e nto da m u l h e r e a data d e óbito d o p ri m e i ro cônj uge fa lecido.
TIPO S. Fa mílias das quais conhecemos o nasci mento de filhos, a data de nasci mento da
mulher, a data de óbito do primeiro cônjuge falecido e desconhecemos a data de casa mento.
TIPO 6 . Fa m í l i a s das quais co n hecemos o nasci me nto de fi l h os, a data d e óbito d o
p ri m e i ro c ô nj u g e fa l e c i d o e d e s co n h e c e m o s a d a ta d e c a s a m e n to e a d a ta d e
nasci m e nto d a m u l h e r.
T I P O 7. Todas as fa m í l i a s q u e não se e n q u a d ra m nas classes a nteri o res e tod as
a q u e l a s nas q u a i s se d etecte sub- registo d e ba ptizad o d e fi l hos.
Note-se que alguns nasci mentos "perdidos", podem ser satisfatoria mente "recu perados"
se há i n d i ca ç ã o de i d a d e a o ó b i to , p r i n c i pa l m e nte n o caso de cri a n ça s , e as fi chas
respectivas p o d e m m e recer outra classificação.
Chega d os a o fi m d e todo este processo, o trata m e nto i n formático dos p rocessos
i n d iv i d u a i s não se reveste de com p l e x i d a d e . Na estrutura d o fi c h e i ro d e I N D I V I D U O S
e n co ntra m-se criados ca m pos p a ra o l a n ç a m e nto a utomático das i d a d e s aos a ctos
recorre n d o a u ma p rogra mação s i m p l es.
Os estu dos sobre Fecu n d i d a d e , nomeadamente o cá lculo das taxas d e fecu n d i d a d e
l egíti m a , exige m , natura l mente, u m a progra mação mais complexa já desenvolvida pelos
especi a l i stas q u e m e a p o i a m .
A m etodo l ogia descrita pa ra uma paróq uia a p l i ca-se sem d i ficuldade a u m conj u nto
d e pa róq uias.
A reconstituição d e fa mílias, seguindo as fontes, é desenvolvida paróq uia a paróquia,
mas as fichas d e FAM I LIA e d e I N D IVID UOS serã o n u m e radas tendo e m vista toda a á rea
e m estu d o , a l a rga n d o-se os cruza mentos a esse contexto.
Todas as o p e rações poste riores à reconstituição d e fa mílias poderão este n d e r-se ao
conj u nto das paró q u ias, te nd o-se desde o i nício o cuidado d e consi d e ra r como " natura l "
to d o o i n d iv í d u o n a s c i d o na á re a . C o n t u d o , e m todas a s ci rcu nstâ n c i a s , d e v e r-se-à
i n d i ca r, nos cam pos próprios, as paróquias e m q u e os actos suced em.
o trata m e nto n u m mesmo fi c h e i ro d e várias paróquias fac i l i ta rá os estu dos u rbanos,
p o d e n d o a c o n s e l h a r- s e ta m b é m n o caso d e pa r ó q u i a s ru ra i s c o n t í g u a s o n d e s e
verifi q u e fre q u e nte trâ nsito d e resi dência.
Da a p l i cação da metodologia d e reco nstituição d e paróquias a registos paro q u i a i s d o
Sul do Pico (Am o ri m , 1 9 9 2 ) ou d e S. Pedro de Alvito (Mira n d a , 1 9 9 3 ) . duas m o n ografias já
p u b l i ca d a s que cobrem u m h o rizonte trissec u l a r e q u a d rissec u l a r, respectiva m e nte ,
ressa lta a o p e ra ci o n a l i d a d e d essa m e t o d o l o g i a p a ra a a b o rd a g e m d o s fe n ó m e n o s
d e m ográ fi cos, mesmo os de trata m ento mais d i fícil e m a nálise longitu d i n a l , c o m o s ã o o
da m o b i l i d a d e ou o da morta l i d a d e . o a l a rga me nto em curso d este tipo de estu dos a
novos e m a i s d i latados espaços geográ ficos p o d e rá p e r m i t i r i r d a n d o u m a resposta
sucessiva m e nte va l o ra t i va a os d esafios q u e o d i fí c i l d i á l ogo e ntre d e m ógra fos d o
passad o e d o presente a i n d a agora col oca a o s p r i m e i ros.

1 05
RECONSTITUIÇÃO DE PARÓQUIAS

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1 06
MARIA NORBERTA AMORIM

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2. Maria de L o u rdes Akola Neto. A freguesia de Santa Catarina de Lisboa no primeiro quartel do século XVIII.
Ensaio de Demografia Histórica, p u b l i cações do centro de Estudos Demogr<i ficos do 1. N. E,. Lisboa , 1 959.

3. Rebordãos . . , . o b . cit., p. 38-40.

4. Método de exploração dos livros de registos paroquiais. cardanha e a sua população de 1 5 73 a 1 800, Publicações
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5. "S. Pedro de Poia res de 1 56 1 a 1 830", Brigantia, Braga nça , 1 983-84.

6. "Demografia H istórica- fontes e métodos m a n u a i s de reconstituição de fa m í l ias", Revista do Centro de Estudos


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7. Guimarães de 1 5 80 a 1 8 1 9. Estudo Demográfico, I. N. I. C, Lisboa , 1 987.

8. M. N o r b e rta A m o r i m e L u i s L i m a , " D e m ografia H i s tórica e M i c ro - I n formática. Uma e x p e r i ê n cia sobre u m a


Pa róquia Açori a n a " , Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, 1 986, p 1 9 1 - 209.

9. Ob. cit,. p. 6-28.

1 07
R E VIS IÓ N DE LOS E S TUDIOS SOBRE LA
MIG R ACIÓ N PORTUGUE SA E N E S PA N A

Lorenzo LÓPEZ TRIGAL


Universidad de León

Si la m igración con d esti n o ai exterior ha sido una consta n te e n la historia d e los


p u e blos i b é ricos, en la última década el fe nómeno se ha traducido en el predo m í n i o d e
l a i n m igra c i ó n d e e xt ra nj e ros e n l a ba l a nza m igratoria d e E s pa na y d e Portuga l : d e
países expu lsares e n gra n medida, con varias m i l l o n es de naciona les residentes en e l
exterior e n a m b os casos, se ha pasado a países con atracci ó n de personas extra njeras,
(se esti m a en u n a c i fra ce rca n a ai m i l l ó n d e extra nj e ros res i d e ntes e n tre los dos
Esta dos), p o r l o que p o r primera vez e n la eta pa contem poránea el sa l d o migrato rio es
positivo a nível dei te rritorio nacional. Fen ó m e n o éste de cierta nota b i l idad por los fluj os
de personas o rigi n a rias especia l m e nte de fu era dei á m b ito e u ropeo, q u e ata n e en u n
proceso p a ra l e l o a d emás a otros países med iterrá neos como lta l i a y G recia.
M i e ntras que la i n m igra c i ó n d e e u ropeos co m u n i ta ri os, e n buena m e d i d a d e la
te rcera edad y d e p rofesiona les, se encue ntra estacionaria e n estas ú l timos a n os, se
m u l ti p l i ca la d e tra bajadores p rocede ntes d e países dei Te rce r M u ndo, acompanados (o
no) d e sus fa m í l ias; d e m a n e ra q u e e n la actua lidad este segu nd o gru po de i n m igra ntes
eco n ó m i cos es ya mayorita ri o , máxime si e n la observación estadística , como se a p recia
e n Espa na, se suma la d e los i n m i gra ntes i l ega les o clandesti nos q ue puede d o b l a r la
ca ntidad d e los lega l iza d os, y se suma ta m b i é n la d e los procede ntes de Po rtuga l , pues,
e n e fecto, las ca racte rísti ca s l a b orales y c u l t u ra l e s d e l a mayor pa rte dei gru po de
i n migra ntes p o rtugueses en Espana les traslada a las fi las d e este tipo de i n m igración
l a b o ra l y eco n ó m i ca .
Pla ntead o a s í e l fe n ó m e n o de la m igración exterior bajo estas n u evas ca racterísti cas
y ten d e n cias, se va a trata r e n esta co m u n icaci ó n , e n primer térm i n o , dei estado d e la
i nvestigación espa nola sobre m i gra ciones de extra njeros, d e fo rma muy a b reviad a , y
dei partic u l a r fl uj o de portugueses hacia Espa n a y parti mos de la constatación de q ue
esta m o s a n t e u n a n u e va e t a p a e n l a s m i gra c i o n e s e x t e r i o re s , ta l como s e h a
i nvestiga d o e n l a ú l t i m a d é ca d a . E n e fecto, la te n d e n ci a crecie nte e n l a ! l ega da d e
i n m igra ntes extra nj eros a Espa n a d u ra n te las d o s ú ltimas d écadas ha c u l m i n a d o a fi nes
d e l o s a n os o c h e n ta y p ri m e ros d e los noventa con u n i n terés especia l a nível d e
estud ios, s e m i n a rios y p u b l i caciones científi cas, correspondie nte ta m b i é n c o n el de los
mismos m ed ias d e c o m u n icación por su predisposición a i trata m iento d ei tema a través
de i n n u m e ra b l es re p o rtaj es y e ntrevistas e n la rad i o , televisi ó n , p rensa d i a ria y revistas
e i ncluso con la p r o m o c i ó n de a lg u n fi l m con esta temática especifica. En segu n d o
térm i no, dedica remos u nas l í n e a s y grá ficas a la síntesis de l o s datas, la d i n á m i ca dei
fl ujo, y rasgos de la movi l i d a d d e portugueses hacia Espa na.
En p r im e r térm i n o , m ostra mos u n a selección d e estudios sobre las migraciones
extra nj e ras en Espa na q u e nos pa rece más relevante y n e cesa rio i n d i ca r a n te los
colegas portugueses:
1 . Después dei i n cre m e nto ano tras ano e n las ci fras de extra nj eros en Espa na, se
a ce rca por p r im e ra vez a la i n m igración, e l Col ectivo IOE ( 1 9 8 7), que supone cierta mente

1 09
Lorenzo LÓPEZ TRIGAL

una l l a mada ai te ma q u e despierta la curiosidad d ei i nvestigador, a la vez que la de los


medias d e d i fusió n , a través de u n relataria de la situación gen e ra l y regi o n a l de cada
com u n idad d e i n migra ntes esta b l ecida e n Espa na. Este i n forme sociológico se basa en
e l padrón d e 1 9 8 6 pa ra la población residente lega l izada, pero es excesivo e n las cifras
esti madas para la i n migración i l ega l no e m pa d ronada; no obsta nte, tiene la v i rtud d e
i m p u lsar u n a respu esta i n m ediata e ntre l a o p i n i ó n p ú b l i ca y e ntre l o s estud i osos d e la
De mogra fia , la Sociologia , la Antropologia Soci a l , la Geogra fia , la Economia y e l Derecho
I ntern aci o n a l Priva d o .
2 . F ra n c i s c o M U N OZ - P É R EZ y A n to n i o IZQ U I E R D O ESC R I B A N O ( 1 9 8 9 ) . e l p r i m e ro
d e mógra fo d e i I N ED de Paris, el segu n d o soció l ogo de la U n i versidad Complutense d e
M ad r id , p u b l i ca n u n a rtícu l o ese n c i a l a c e rca d e i gi ro e n e l fl uj o d e las migra c i o n e s
exteriores q u e d e s d e 1 9 7 5 pasa a ser de s i g n o i n migra nte, a u n q u e persiste la salida de
e migra ntes estaciona l es hacia Europa. Aborda la d i fícil medición de los extra njeros, su
d i stri b u c i ó n territori a l , l a s co m u n i d a d e s n a c i o n a l e s , l a a ct i v i d a d e co n ó m i ca de los
i n m igra ntes tra bajadores. Ta m b i é n e l mismo IZQ U I ERDO ESCRIBANO ( 1 992) e n u n l i b ra
q u e res u m e u n a a m pl i a i nvestigación de varias a n os, com i enza con el texto a nterior,
prosegu i rá con u n a n á l isis preciso y rigu roso d e las fu entes de la estadística i n m igratoria
l ega l y la esti mación d e l a i l ega l o i rregu l a r, pa ra fi n a l iza r con u n resu men dei i n forme
e n ca rgad o por la CE so b re las políticas migratorias e n Espa na.
3 . Los estu d i os d e geógrafos c o m o Ca rm e n B E L A D E L L ( 1 9 8 9 ) , que p rese n ta l o s
fa ctores q u e e x p l i c a n l a i n te n s i d a d d e l l ega d a d e extra nj e ros, s u d escri p c i ó n p o r
o ríge n e s , y l a c u a l i fi c a c i ó n d e l o s tra b aj a d o res c o n p e r m i s os d e tra b aj o , y d e v .
GOZÁLVEZ PÉREZ ( 1 990, 1 99 2 ) q u e , dentro d e u n p royecto amplio de estu d i o sobre la
i n m igra c i ó n a frica n a , trata a cerca d e las l i m itaciones d e las fu entes estadísticas, una
distri bución espa cia l m uy deseq u i l i b rada, una a proximación a la i n m igración i l ega l, las
ca racte rísticas d e l a población censada, los perm isos de tra bajo y la i n cidencia de los
tra bajadores extra nj e ros sobre e l pa ro. Asi mismo los relatarias de las III jornadas de la
Población Espano/a (1991) y asimismo las IV jornadas de la Población Espano/a (1993),
recogen s e n d a s p o n e n c i a s y co m u n i ca c i o n es s o b re la i n m igra c i ó n en Espa n a , q u e
v i e n e n a s e r u n e x p o n e nte p a ra d igmático d e l a preocu pa ci ón q u e s o b re te ma ta n
re l evante trata el gru p o de Población de la Asociación de Geógrafos Espa nol es, j u nto a
otras contri buciones de d e mógrafos. En el las se trata n de las fuentes de i nvestigación
pa ra e l estud i o d e la i n migración así como de la estructu ra demográ fica y distri bución
geográ fi ca d e las diversas com u n i dades de i n m igra ntes.
4. Desde la Antro p o logia Socia l , u n gru po de la U n i ve rsidad Autónoma de Madri d ,
n os o fre cen ya res u l tados a m p l ias d e i n vestigación gen e ra l , c o m o se a precia en los
a rtículos d e Ca rlos G I M É N EZ ROMERO ( 1 99 1 , 1 992), e l pri m e ro d e e l los sobre la i ncidencia
de la mano d e o b ra extra nj era e n e l merca do labora l , su repa rto secto ria l y territoria l , el
acceso a i e m pleo, e l pe rfi l socioeco n ó m i co y l a segmentación la bora l ; m i e ntras e n el
s e g u n d o s e c e n t ra en e l fe n ó m e n o d e los tra b aj a d o re s a g ríco l a s , s u pa rti c u l a r
distri bución territorial p o r zonas d e rega dio, a d e más de ciertas i m p l i caciones la bora l es y
cultura les.
5. E n el capítu l o de V a r i a s e p u e d e n s e l ecci o n a r las a p o rta c i o n es d e n ú m e ros
m o nográ fi cos d e revistas como Economia y Sociologia dei Trabajo (Min isterio de Tra baj o
y Segu ridad Soci a l , M a d r i d , 1 99 1 ), Estudios Geográficos (Consejo Superior de l nvestiga ­
ciones Cie n tífi cas, M a d r i d , 1 9 9 3 ) o Poligonos ( U n iversidad d e Leó n , 1 9 93 ) , e n tre otras
más. Ta m b i é n l os textos p resenta d os a d i ferentes Cu rsos d e Vera n o que i m pa rten las

1 1o
REVISIÓN DE LOS ESTUDIOS SOBRE LA MIGRACIÓN PORTUGUESA EN ESPANA

U n i v e rs i d a d e s c o n a l g u n os S e m i n a r i o s , j o rn a d a s y F o r o s d e D e b a t e e s p e cí f i c o s ,
p r o m o v i d o s d e s d e d i fe r e n t e s i n sta n c i a s a ca d é m i ca s y o fi c i a l es , c o n títu l o s c o m o
" M igra c i o n e s l nt e r n a c i o n a l es e n l a Eu ropa Com u n i ta r i a " , "Movi l i d a d Migra c i ó n e n l a
frontera d ei siglo X X I " , " Migraciones l n ternaci o n a l es, ra cismo y xenofobia", "Tra bajadores
i n migra ntes en la agri cultura med iterrá n ea " , o " l n m igración e n Espa na e n los 90", q u e
n o s i n d ica n la d i versidad d e l a s a p roximacio nes.
6. Es p r e c i s o a n a d i r l a a p a r i c i ó n ta m b i é n de un a n á l i s i s más pa rti cu l a r d e la
i n m igració n , de un lado, segú n su p rocede ncia o país d e orige n , ta l como veremos la
co m u n i d a d p o rt u g u e s a o ta m b i é n c i e rtas co m u n i d a d e s a fr i ca n a s , en e s p e c i a l la
ma rroquí (por eje m p l o , e l Eq u i po d i rigido por e l p rofesor Vicente G ozá lvez Pérez, dei
Depa rta m e n to d e G eogra fia H u m a n a d e l a U n iversidad de A l i ca n te); y, de otro l a d o ,
segú n s u s desti n o s e n á reas regi o n a l es , p rovi n c i a l es o l o c a l e s , d o n d e se a p l i ca e l
estu d i o a pa rti r d e fue n tes padronales y d e disti ntas i nstituciones, encuestas y tra bajo
de campo, como son parti c u l a rm ente las o b ras de L. LÓPEZ TRIGAL ( 1 9 9 1 ) e n Leó n , o con
más a m p l itud c. G I M É N EZ ROMERO (Coo rd i nador) ( 1 993) para la co m u n idad Autónoma d e
Madrid.
Tras la a nterior síntesis gen e ra l , cabe recoger las investigaciones en relación a la
inmigración portuguesa, a pa rti r d e u n trata m i e nto monográfi co y pa rticular, ya sea a
escala de Espa na o de cie rtas á reas:
1 . Como p reced e nte se puede i nd i ca r e l estu d i o que Ca rminda CAVACO ( 1 9 7 1 ) rea l iza
sobre la m igración estacionaria de tra bajadores d e i Sotavento a lga rvi o con desti no a l a
flota d e pesca y fá bricas conserveras de l a costa atlánti ca a n d a l uza , q ue tiene o rigen e n
e l s i g l o XVII I y q u e hasta 1 9 70 se ha bía mantenido u n flujo q ue e n laza ta m b i é n c o n l a
costa m a rro q u í . H oy e n d ía e s t a p ro ce d e n c i a p o rtuguesa e n e l á rea d e i su roeste
p e n i n s u l a r e s p a n o ! s e t ra s l a d a e s e n c i a l m e n te a l o s tra b aj os d e t e m p o ra d a e n la
agricultura litora l d e H u e lva. (En este sentido, hasta a h o ra no existen i nvestigaciones
q u e se c i n a n a l a i n m igra c i ó n p o rtuguesa te m p o re ra o d e fi n i tiva en l a s proví n c i a s
raya nas espa n o las).
2 . En la línea d e a n á l isis soci a l existen i n formes y alguna p u b l icaci ón refe rente a
p ro b l emas de i n tegración y xenofobia en re lación a i n m igra ntes portugueses de etn ia
gita n a , com o las d i rigidas por F. CANO CONTRERAS ( 1 9 8 7) y M. GAVI RIA ( 1 990), e l primero
presenta la experi e n cia d e i asenta m i e nto pa ra gita nos y portugueses en Pa mplona dei
Poblado d e Santa Lu cia , una a lternativa d e vivienda p rovisional y de ca rácte r soci a l y
cultu ra l , donde residen desde hace a lgu nos a nos u n gru po de unas 45 fa m í lias, en su
mayo ría de naci o n a l i d a d p o rtuguesa. El segu ndo es una p u b l i cación basada en i n formes
sobre e l cha bolismo y la i n fravivienda (últimos "ghettos") e n Nava rra y el á rea u rbana
de Pa m p l o n a e n pa rti c u l a r. Asi m i s m o , los i n fo rmes d e i gru po EDIS ( 1 9 8 7 , 1 9 89), que
a bordan los p ro b l emas d e esco l a rización d e n i nos portugueses e n Espa na.
3 . De otro signo, son ciertas contri buciones presentadas e n fo rma de n otas b reves
suscritas desde d i sti ntos e n fo q u es. Así desde la G eogra fia, J. GONZÁLEZ VECÍN y otros
( 1 9 8 8 ) , re fe r i d a a l a i n m igra c i ó n en los va l l es m i n eros l e o n eses m e d i d a a pa rti r d e i
R e g i stro C o n s u l a r; C . J . P A R D O A B A D ( 1 9 9 2 ) s o b re l a d i st r i b u c i ó n e s p a c i a l d e l o s
e m igrantes po rtugueses e n Espa n a ; y l a a p o rta c i ó n p i o n e ra d e i fra ncés M . POINARD
( 1 99 1 ) sobre la población portuguesa e n e! censo d e Andorra , donde tras la espa nola es
l a e m igración más n u me rosa actu a l m e nte. o asi mismo desde el Derecho Internaci ona l
Priva d o la a po rtación d e J J OLIVARES D'ANG ELO ( 1 9 8 5 ) e n re lación a la l i b re ci rcu lación
de tra bajadores portugueses.

1 1 1
Lorenzo LÓPEZ TRIGAL

4. El gru po de i nvestigación de Antropologia social de la U niversidad Autónoma de


M a d r i d , l i d e ra d o por c. G i m é n ez, ha a p a rtado i ntensas i nvestiga c i o n es d e ca m p o y
refl e x i o n es s o b re a s p e ctos muy d i v e rsos de las co m u n i dades de i n m igrantes en la
Com u n i d a d Autó n o m a d e Madrid. Para la com u n i dad portuguesa, la i nvestigación la ha
! levado básica m e n te José Anto n i o PERALES ( 1 992 y capítu l o correspondi ente d e la ob ra
co l e ct i va c. G I M É N EZ R O M E R O 1 9 9 3 ) , q u i e n e n su p r i m e r tra baj o i n fo r m a pa ra l a
Ad m i n istra c i ó n regi o n a l s o b re l a p o b reza y l a m a rgi n a c i ó n soci a l d e l a p o b l a c i ó n
a s e n ta d a y l a p o b l a c i ó n n ó m a d a y e n p a rte i l e ga l e n M a d r i d , c o n n ú c l e o s d e
chabol istas e n l a periferia tal como e l d e Pitis, u n o de los mayores e n claves d e este tipo
e n e l q u e los portugueses son mayoría , concluye ndo e n propuestas d e i n tegración d e
e st a p o b l a c i ó n d e u n o s d os m i l m a rgi n a dos. E l segu n d o estu d i o es más a m p l i o y
descri be la evo l u c i ó n y distri bución de la co l oni a portuguesa, su estratifi ca ción socia l ,
situa ción j u rídica, l a b o ra l y res i d e ncia l , c o n d i ci o n es fa m i l i a res y d e n í v e l de v i d a e n
cuanto a vivi e n d a , ed ucaci ó n , sa nidad y ti empo l i bre, e l asoci a ci o n ismo y las relaciones
con la población m a d r i l e n a , pa ra concl u i r sobre los problemas y carencias en re lación
con la i ntegración y m a rgi nación. En suma, esta i nvestigación a ntropológica ha tratado
de defi n i r las ca racterísticas d e esta i n m igración con base en una amplia i n formación
recogida y d e tra baj o d e ca m p o y de ofrecer pos i b les estrategias de i nte rve nción a la
Consej e ría d e l ntegra c i ó n Social d e l a Co m u n i d a d Autónoma d e Madrid. Un a n á l isis,
pues, de tipo a p l i ca d o a las políticas migratorias y soci a l es.
5. Igua l m e n t e , n osotros h e m os p u esto en m a rcha d i fe r e n tes a n á l i s i s s o b re la
i n m igración extra nj e ra , primera mente, e n un estud i o sobre la rad i cada e n la proví ncia
d e Leó n , ya citada a n teriormente. En u na segu nda eta pa , desde e l equipo d e Eva l uación
d ei Progra ma Hispano-Luso para la Acci ó n Educativa y Cultura l , L. LÓPEZ TRIGAL, d i rector
( 1 9 9 2 ) , en el que pa rti c i p a n B o n i facio Rod riguez, Mario d e Migu e l , Ma ria Sol Teru e l o ,
Jorge A rrotei a e l gnacio Prieto, cuyo tra bajo globa l no ha sido p u b l i cado, c o n exce pción
dei capítu lo d e los ca ra cteres de la m igración q ue dos d e nosotros hemos preparado, L.
L Ó P EZ T R I G A L , I. P R I ET O SARRO ( 1 9 9 3 a. b. c.) con p r e ci s i o n es s o b re l a m i gra c i ó n
portuguesa y ca boverd i a n a e n Espa na y e n d isti ntas á reas de ésta. A la vez, l o s mismos
a u to res ( 1 9 9 3 d.) nos h e m os a ce rcado a otra fa ceta de la prese ncia portuguesa e n
ciertos m u n i cí p i os l e o n eses d o n d e suponen tasas i m porta ntes d e residentes ca ra a las
e lecci o n es e u ropeas y local es. Otra i nvestigación, e n prensa e n este mome nto, es la
co m u n i ca c i ó n presentada e n la U n iversidad d e Cadiz s o b re portugueses y a frica nos
l usoparla ntes e n Espa n a , L. Ló PEZ TRIGAL ( 1 994).
U n a t e r c e r a e t a p a e n esta l í n e a , la m a r c a u n p r o y e c t o de i n v e s t i ga c i ó n
i nteru n i versita ria e i nterdisci p l i n a r sobre " l a m igración d e portugueses e n Espa na", L.
LÓPEZ TRIGAL, D i rector ( 1 994), a ca rgo d e un e q u i p o fo rmado por los espa noles José
Cortizo , Ca rlos J . Pa rdo Abad, lgnacio Prieto, Tomás Vida! y por los portugueses Jorge
Arrote ia y F ra n cisco C e p e d a . A pa rti r d e i trabajo de encu estas, fu entes diversas e n
especial los pa d ro n es d e p o b l a c i ó n , l o s o bjetivos persegu i d os h a n sido e l conoci mi ento
de la evo l u c i ó n d e i colectivo e n tre 1 9 6 0- 1 9 9 1 , la d istri b u c i ó n espaci a l , la i n c i d e n cia
d em ográfi ca e n las á reas de o rigen y de d esti n o, los procesos de reto rno o regreso, los
recorridos m i gratorios y las perspectivas de movi lidad en e l futuro. Además de la esca la
nacional se a n a l iza n e n p a rti c u l a r los desti nos d e Madrid y de León y e n las á reas de
sa l ida e l distrito d e B raga n ça y las Tierras de Montesinho. La co m p l ejidad y proced encia
l uso-espa nola d e n u estro equipo ha posi b i l i tado que e l trata m i ento dei tema haya sido

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REVISIÓN DE LOS ESTUD/OS SOBRE LA MIGRAC/ÓN PORTUGUESA EN ESPANA

g l o b a l , ta n to p a ra la m i gra c i ó n en s u s l u ga res de d esti n o como de orige n , lo c u a l


entiendo e s b i e n n e cesa rio pa ra este t i p o d e i nvestigacion es.
Dei conj u nto d e l os estu d i os a n teriores sobre la m igración portuguesa en Espa na se
desprenden una serie d e resultados, que e n pri ncipio constata n que las observaciones
escritas e n 1 9 7 7 por Joel se rrão sobre la e m igración de portugueses hacia las tierras d e
Espa n a h a n sid o e n l a a c tu a l i d a d s u p e ra d a s . E n e fecto, e n un p r i m e r l u g a r , es te
pa rticular fl uj o m igratorio "ya n o está a ú n por estu d i a r", s i no q ue a u n q u e ca b en, como
es obvio, n u evas i n vestigaciones y e n e s p e c i a l t e s i s doctora les e n la materia, desde
d i sti n t o s á m b i t o s y e n fo q u es u n i v e rs i t a r i o s hay ya a b i e rtas d i fe r e n tes l í n e a s de
i nv e s t i ga c i ó n más o m e n o s c o n s o l i d a d a s . E n un s e g u n d o t é r m i n o , l a s a l i d a de
portugueses hacia Espana " n o está com pensada por la tradicional sa li d a de espa noles,
p rin ci p a l m e nte d e ga llegos, hacia Po rtuga l " p u es e l n ú mero de i n m igrantes portugueses
e x c e d e a m p l i a m e nte ai de espa n o l es. E n te rce r l uga r, "ya no se l i m i ta s ó l o a los
natura l es i nte rca m bios e ntre gentes de las á reas de frontera " , ya q ue los d esti nos de
portugueses se repa rten cada vez más por todo el territorio espa n o ! , i ncl uso fu era de la
Península I b é rica. En este te n o r de cuesti o n es, se hace n ecesa ria u na revisión de las
fu e ntes esta dísticas d e este gru po de i n m igra ntes, de sus á reas d e desti no y d e sus
ca ra cte r e s de a s e n ta m i e n to e i n te g ra c i ó n p a ra s i t u a r e! fe n ó m e n o en toda su
co m p l ej i d a d , a u nq u e sea d e modo res u m i d o ta l como exponemos a conti nuación.
El p ro b l e m a d e las fuentes esta dísticas es nota b l e e n este caso, pues se h a ce
n e c e s a r i a u n a c i e rta l a b o r " d etectivesca " q u e e n t o d o caso a p o rte esti m a c i o n e s
aj ustadas y d i fi c i l m e nte ci fras estadísticas exa ctas o c o n u n m í n i m o margen d e errar,
m á x i m e a esca la dei Esta d o y d e las co m u n i dades Autó n o mas, d o n d e e l tra baj o de
ca m p o se ve d i ficu lta d o por su a m p l itud. A n ível estata l , las fue ntes espa nolas se basa n
en la población censada (I nstituto Nacional de Esta dística), cuyos Anuarios nos acerca n
a i n ú m e ro de extra nj e ros p o rtugueses i nscritos y res i d e n tes en censos y p a d ro n es
m u n i c í p a l e s. El M i n i s t e r i o de T ra b aj o - D i re c c i ó n de M i g ra c i o n e s , se basa en l a s
a nte riores ci fras y ofrece la esti mación d e i stock d e tra bajadores extra njeros así como l a
estadísti ca dei flujo o n ú m e ro d e perm isos de tra bajo tra mitados, ta l como se a p recia
e n la p u b l i ca c i ó n dei An uario de Migraciones. Por su pa rte, e l M i n iste rio d ei Interior
aparta el stock y e l flujo d e los perm isos de esta ncia d e extranjeros. Desde el lado de
las fu entes p o rtuguesas se m a n ej a n los m i smos censos y pa d ro n es y la esta dísti ca
espa nola, pero ta m b i é n se a p o rta n esti maciones propias d erivadas básica m e nte de los
registras cons u l a res.
Pues b i e n , los datos y esti maciones ofrecidos d e portugueses e n Espa na a lo l a rgo
de la ú ltima década, son b i e n d i fe rentes segú n las d isti ntas fu e ntes y conce ptos de q ue
se trate (reside nte, trabajador, perma ne nte, temporero). En 1 9 8 4 , IOE-CARITAS daba la
esti mación d e 7 6 . 5 2 4 , d e e l l os 7. 1 3 5 nacional izados y u n os 4 5 .000 i ndocumenta dos. El
l N E recoge p a ra 1 9 8 5 , 2 3 . 3 4 2 residentes, pa ra 1 9 89, 3 2 . 9 3 6 y para 1 99 2 , 2 8 . 6 3 1 ; con u n a
o s c i l a c i ó n q u e p u e d e d e b e rs e t a n t o a reto r n o s a P o rt u ga l c o m o a i p ro c e s o d e
regu l a r i za d o s e n s u s i t u a c i ó n . E l I n s t i t u t o E s p a n o ! d e E m i gra c i ó n (a h o ra c o n l a
d e n o m i nación de D i recci ó n G e n e ra l d e Migraciones) presenta en 1 9 90 la ci fra de 5 7.0 4 7,
q ue se re parten e ntre 3 3 . 2 6 8 regu lares y 2 3 . 7 79 i rregu l a res. P or su lado, la Em bajada d e
Po rtuga l e n M a d ri d r e c o g e d i sti ntas a p re c i a ci o n es , u n a p ri m e ra , la proce d e n te d e
cons u l a d os , a n o 1 9 8 7 , e n u n n ú m e ro d e 6 6. 2 2 5 (la m i ta d a p roxi m a d a m e nte d e l a s
1 2 1 . 3 4 0 i nscri pciones consu l a res); u n a segu n d a , estimada e n 1 9 9 2 , pa ra u n os 5 7.000
e m i gra ntes, d e e l l o s 3 7 . 6 1 6 resi dentes; y a ú n otras esti maciones se a p roxi ma n a los

8 1 13
Lorenzo LÓPEZ TRIGAL

7 0 . 0 0 0 i n d i v i d uas. En este d es co n c i e rto de datas no ca b e , en todo caso, s u m a n d o


regu la rizados y n o regu la riza d os, m e r m a r su n ú mero d e l o s 5 0.000 n i sobrepasarlo de
los 70.000, vari a n d o la ci fra global e n los a nos 90.
La evo l u c i ó n dei fl uj o a n o tras ano es n o t a ri a . pues e n e l ú l t i m o m e d i a s i g l o
t ra n scu rri d o se p u e d e o bs e rva r c ó m o e n l a s esta dísticas o fi c i a l es d e i n ú m e ro d e
" n a c i d o s e n P o rt u g a l y re s i d e n t e s e n E s p a n a " ( d a to q u e h a y q u e a d v e r t i r n o
corresp o n d e a l a exactitud d e i fe n ó m e n o m i gratori o), segú n l o s A n u a rios d ei I N E , s e
pa rte d e 1 0. 5 1 8 personas e n e ! a n o 1 94 2 ( l o q u e equivale a la primera com u n idad con
un 2 4 , 2 % d e los extra nj e ros e n Espa na), 1 4 . 5 70 e n 1 9 5 0 , 1 6 . 8 7 1 e n 1 9 5 5 , 1 4 . 7 9 8 e n
1 9 6 0 , 1 9. 4 2 7 e n 1 9 6 5 , 2 5 . 4 8 3 e n 1 9 7 0 , 2 2 . 8 2 3 e n 1 9 7 6 , 2 4 . 0 9 4 e n 1 9 8 0 , 2 3 . 3 4 2 e n 1 9 8 5 ,
3 2 . 9 3 6 e n 1 9 8 9 , y 2 8 . 6 3 1 e n 1 9 9 2 , siendo y a el 7 , 2 % de los extra nj e ros y la com u n idad
portuguesa la n ú me ro cuatro, tras l a marroquí, la britá n i ca y la a l emana. A l o l a rgo d e
este p e r í o d o h a d i s m i n u i d o , p u e s , e l porce ntaj e y or d en de participación d e los distintos
gru pos extra nje ros.
Dei m i s m o modo, en cuanto a las á reas d e destino la tendencia ha ido ca m b i a ndo.
M i entras q u e e n 1 9 5 0 las proví ncias de la raya espa nola con Portuga l d o m i n a b a n como
d esti n o d e un 7 3 ,9 % d e l o s p o rtugueses, e n 1 9 9 0 a u n q u e siguen s i e n d o e l p ri m e r
destin o ( e n especi a l Pontevedra y Orense) ha bajado su participación a i 3 4 , 1 % , m i e n tras
q u e se i n crem enta el d esti n o de las á reas m etropol i ta nas de Madri d y Ba rcelona con u n
2 0 , 1 % , y e ! d e Astu rias y Leó n , 1 3 , 3 % , terce r á rea d e d esti no q u e conecta e n rea lidad
con B u rgos y e l País Vasco y Nava rra. D e modo q u e los desti n os actu a l es ti enen su
mayor representa c i ó n e n l a fra nja n o rte d e Espa na que va desde Vigo-Po nteve d ra ,
Orense, Bierzo-Le ó n , Astu rias Centra l , N o roeste d e Burgos, Gra n B i l bao, Coma rca de San
S e b a s ti á n , Pa m p l o n a . Área é s ta q u e re p r e s e n t a l a m a y o r pa rte de l o s d e sti n o s ,
co i n c i d i e n d o e s e n c i a l m e n t e c o n e l c o r re d o r q u e u n e e l n o rte d e Po rtuga l (á r ea
p r i o ri t a r i a d e l a i n m i g ra c i ó n ) c o n E u ro p a , c o i n c i d e n t e c o n l a p r i m e ra ruta d e l a
e migración portuguesa e n Espa na. En segu ndo orden de creciente i m porta ncia, Madrid y
Ba rcelona. Y en u n tercer ord e n , d esti nos muy dispersos d ei norte de Galicia, de H uelva,
d e Extre m a d u ra , d e Sevi l l a y otros como l a Com u nidad d e Va lencia, Za ragoza o ca narias.
En re l a c i ó n a c i e rt o s r a s g o s de la m i g ra c i ó n p o rt u g u e s a más d e s t a c a b l e s ,
s e n a l e m o s q u e a m bo s Esta d o s a i s e r m i e m bros d e l a Com u n i d a d E u ro p e a h a n d e
c o i n c i d i r e n s u s p o l í t i c a s m i g ra t o r i a s b á s i c a s , c o m o e l c o n t r a i d e l o s f l uj o s
extracom u n itarios e n l a medida q u e los ace pte e l m e rcado d e tra bajo, d e u n lado, y la
i ntegración d e los i n m igra ntes q u e está n regu l a rizados, de otro lado, a d emás dei eje d e
l a c o o p e ra c i ó n a i d e s a r ro l l o . P ri m e ra c u e s t i ó n , p o r ta nto, q ue a pes a r d e s e r l a
i n m i g ra c i ó n p o rt u g u e s a d e t i p o e c o n ó m i c o . é s t a s e e n m a rca e n e l á m b i t o d e
ciudadanos co m u n i ta rios y s e conduce p o r políticas d i fe re ntes a l o s i n migra ntes d e i
Tercer M u n d o . De otro lado, el perfi l d e i e m igra nte media de la com u n i dad portuguesa
es dei tipo d e población jóven que ha ido forma nd o fa m í l i a , con u n nível d e vida en
m ej o ra p rogresiva , con tra baj o dedicado a a ctividades d iversas d e construcci ó n , m i n e ría ,
s e rv i c i o d o m é s t i c o y h os te l e rí a , y si es te m p o re r o c o n a ct i v i d a d ra d i ca d a e n l a
agricultura .
Está pla nteada ta m b i é n u n a casuística de p ro b l emas q u e a p a recen a nível d e l a
clandesti n i d a d q u e ha a d o ptado pa rte d e esta com u n i dad portuguesa, con extremos d e
n o i ntegra c i ó n y m e n d i c i d a d d e i gru p o gita n o y otros. Su ge n e ra l m e nte desigu a l y
m í n i m a formación esco l a r y cultura l va mitigá ndose, debido en especial a su d i latada
esta ncia y existencia d e progra mas pa ra a d u l tos y sobre todo por el modél ico Progra ma

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REV/SIÓN DE LOS ESTUDIOS SOBRE LA MIGRACIÓN PORTUGUESA EN ESPANA

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Lorenzo LÓPEZ TRIGAL

de Acción Educativa y Cultura l q u e viene d i fu n d i é ndose cada vez a mayor n ú m e ro de


loca l i dades, desde q u e co m i enza en el cu rso 1 9 88-89, cubriendo en el sépti mo curso d e
su vigencia u n a c i n cu e ntena d e l ugares d e las p roví ncias d e León (donde h a y ya 1 600
a l u m n os), Asturias, B u rgos, Nava rra , G u i p úzcoa , Ca nta bri a , o rense, Madrid, za ragoza , e n
n ú m e ro d e 5 6 ce ntros escola res d e Primaria y 4 de secu nd a ri a (en loca l i dades d e León),
a te n d i d os p o r 53 p rofesores p o rtugueses. se va a m p l i a n d o e n los ú ltimos a n os u n a
p ro b l emática l a b o ra l , d e rivada de la crisis m i n e ra e i n d ustri a l e n Espa na. Problemas d e
v i v i e n d a d e l a s fa m í l i a s p o rtuguesas q u e res i d e n e n la s c i u d a d es , e n especi a l n o
resueltos todavia e n la peri feria d e Madrid. Confl i ctos ta m b i é n a nível d e la i ntegración
e n la sociedad a utócto n a , siendo ésta muy desigua l , hasta e l p u nto q u e existen l ugares
como las cu e n cas m i n e ras d e León donde está plena mente i ntegrada la co m u n idad y
ya s o n m uy n u m e ro s o s l o s m a t r i m o n i a s m i x t o s , m i e n t r a s q u e h a y u n a t o ta l
m a rgi nación soci a l en otros á m b i tos como el madri l e n o y ciertas periferias u rbanas dei
N o rte de Espa na.
D e s p u é s de e s t a s c o n s i d e ra c i o n e s s o b re la m i g ra c i ó n de p o rt u g u e s e s , l a s
perspectivas d e ésta d e p e n d e rá n , además d e l o s co ndiciona ntes de la propia sociedad y
eco nomia p o rtuguesa , de factores pa rti culares q u e ata n e n a su d esti no en Espa na: La
veci n d a d d e l a s regi o n e s y c i u d a d e s espa n o l a s , q u e a la vez s i rv e n d e ruta d e l a
e m igración p o rtuguesa hacia e l resto d e Europa. Las crisis profu ndas d e la m i neria d e i
ca rbón y d e l a s i n d ustrias tra d i cionales d e i n o rte de Espana reducirá n , no o bsta nte, e l
fl ujo y atracció n d e estas á reas e i n cluso e s de prever en determi nadas á reas, como
León y Astu rias, u n desplaza m i e nto hacia otros desti nos de la em igración o u n retorno
de ésta a Portuga l. Existen , e n ca m b i o , buenas perspectivas pa ra e l trabajo d e servicios
e n las ciudades y d e tem p o re ros e n las zonas agra rias. Por todo l o cua l , ca be a dverti r e n
e l f u t u ro i n m e d i a to u n a r e u b i ca c i ó n d e l a i n m i g ra c i ó n p o rt u g u e s a e n E s p a n a ,
a p rox i m á n d ose más a i modelo d e l a distri bución espacial d ei resto d e las com u n i dades
d e extra nj e ros, conce ntradas e n las á reas mediterrá neas y e n las gra ndes ciudades.

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PERALES, J . A . ( 1 9 9 2 ) : " Los p o r t u g u e s e s . I n fo r m e s o b re l a p o b reza y l a e x c l u s i ó n soci a l d e l o s


i n m igra ntes portugueses d e la Com u n id a d de M a d r i d " . En l a exclusión. M a d r i d , Co m u n idad d e
M a d r i d , pp. 2 5 1 - 2 6 5 .

PoiNARD, M. ( 1 99 1 ): "La population portuga ise e n Andorre". Revue Géographique des Pyrénées et du
Sud-Ouest. Tome 62, 2 , p p . 2 1 7 - 2 2 5 .

1 18
LA PR E NSA FUE NT E PA R A
LA HIS TOR IA D E LA POB LACIÓ N
Celso Alm uina
Universidad de Val/adolid

Entre las m ú lti ples fu nciones de la p re nsa escrita , desde l u ego no la primigenia ni la
pri ncipal; pero si de no poca u ti l idad, está la de servir ai historiador como fue nte pa ra la
reconstru cci ó n d e i pasa d o , después de h a b e r v e n c i d o éste no pocas reti cencias, la
mayoría h ijas d e u n i ncorrecto uso d e las m ismas t _
S i d e l o genérico descendemos a ca m pos históricos más acotados, ta mbién l a prensa
escrita , esti mo, puede ser aprovechada con ventaja por pa rte de la Historia de la Población
e n sus variadas vertie ntes, a u n q u e lógica mente por u nas parcelas concretas más q u e
por otras. A b u e n seguro, d e e ntrada, habría q u e desconfi a r de la fia b i lidad d e ciertos
aspectos cuantitativos, pero ta m b i é n sernos extremadamente úti l e i ncluso i m p resci n ­
d i b l e p a ra m u ltitu d d e aspectos d e ca rácte r cual itativo: actitudes soci a l es con respecto
a cuesti ones ta les como nata l i d a d , e m igración, etc. En este sentido, esta fuente nos va a
resu l ta r fu n d a m e nta l e i n s ustitu i b l e . Se i m po n e , p o r ta nto, matiza c i o n e s y a l g u n a s
reflexio nes p revias, a ntes d e pasa r a cu esti ones prá cticas d e í n d o l e metodológi co.
Para i m p u lsa r e l desarro l l o d e una ciencia, aparte d e re plantearse consta nteme nte
los h o riz o n tes teórico-metodol ógicos, j u n to a l a renova c i ó n y preci s i ó n dei a pa rato
conceptu a l , n o cabe duda que la a p o rta c i ó n d e n u evas fu e ntes y/o relectu ras más
d i ferenciadas es un buen ca m i n o para la a m p l iación d e conoci m i e ntos.
La H istoria d e la Población e n gen e ra l y d e la Demografia en con creto , pese a su
r e l a t i v a j u v e n t u d co m o c i e n c i a a u tó n o m a , h a a l c a n za d o sin d u d a un i m p o rta nte
desarro l l o científico e n e l último cuarto d e siglo 2 . La explotación de fu entes clásicas, e n
muchos casos a penas i nexploradas, a u n permite s i n d u d a espera r pi ngües resulta d os e n
u n futuro i n med iato. S i n e m b a rgo, la i n corporación d e estas nuevas fuentes, j u nto a l a s
clásicas, vendrá n , s i n d u d a , a com p l eta r a las a nteriores y, lo q ue es m á s i m porta nte,
permitir n u evas perspectivas científicas. No se trata , por ta nto, d e u n proceso acumu­
lativo y m e n os sustitutivo, si n o d e a brir n u evas ventanas hacia nuevos horizontes.
La más e l e m e n ta l p r u d e n c i a m et o d o l ó g i ca , s i se q u i e re p a ra ser más precisos
técn i ca m e nte, e n la primera fase de la i nvestigación o heu rística se i m pone j u nto a i
i n ventario p reciso de fue ntes d ispon i b les para e l tema en cu estió n , i n m e d iata m e nte u n
discern i m i e nto (co n o ci m i e nto) d e d ichas fu entes. comprobar e l grado de fia b i l idad (sin
olvidamos que u na fuente fa lsa y/o pa rcia l puede sernos de suma uti l idad), así como
v a l o ra r e l a l ca n ce y posi b i l i d a d e s d e las mismas. E n una p a l a b ra , e n n u estro caso,
conocer e l Medio ( p u b l i ca c i ó n peri ó d i ca) y sus v i rtu a l i dades. Máxime si te n e m os en
cuenta q u e lo más específico y por lo ta nto d e uti lidad pa ra n u estro caso va a ser todo
a q u e l l o relaci onado con la confo rma ción de corrientes sociales d e o p i n i ó n con respecto
a los temas críticos de cada m o m ento: pa n d e m ias, poblacionismo, xenofobias, etc. En
estos casos, más q u e n i ngú n otro es p reciso sa ber q u i é n y q u é está por detrás.
Dicho d e otra fo rma, n o se puede recurri r d i rectamente a u n periódico (sea d i a ri o,
hebdomario o m e n s u a l ) c o m o si de u n l i b ra de bautizos o pa d r ón m u n icipal se tratase.

119
CELSO ALM UINA

l n d e p e n d i e nteme nte q u e a m bos, ai mismo ti empo, precisen u n conoci m i e nto previo


acerca d e las condiciones de su confección, gra do de fia bilidad, etc. no siempre ta mpoco
fá ciles de compleme ntar.

1 . Co n o c i m i e n t o de l a fu e n t e .

Parece, pues, i m p resci n d i b l e q u e e! pri m e r paso a n tes de poder a p rovechar la rica


i n formación de la fuente periodística es conocer e! Medio, a i menos en aquellos aspectos
q u e va n a con d i c i o n a r y m ej o r va l o ra r la i n formación q u e nos va a proporciona r.
Hay q u e ten e r en cuenta q u e esta mos a n te una fuente no precisa mente estática y
pasiva. No se trata de un l i b ro registro confecci onado con mayor o m e n o r precisión
por e ! registra d o r d e turno. Aunque cierta mente ta m b i é n e! gra do d e precisión varia de
unas fu e ntes periodísticas a otras. Aqui nos topa mos con unas fu entes diversas (incl uso
contra d i ctorias e n m u chos casos) y d i n á m icas, es deci r, creadoras de o p i n i ones (hasta
puede q u e diverge ntes) las cuales van a condicionar o, ta l vez, más mod esta m e n te ,
i n fl u i r e n u n a u otra o r i e n ta c i ó n o co m p o rta m i e n tos p o b l a c i o n a l es. Esta segu n d a
verti ente es s i n d u d a la m á s ge n u i na e i m porta nte de este t i p o de fuentes.
Desde este p l a ntea m i e nto l i m itado dei cual partimos, e ! grado d e conoci m i e nto q u e
p r e c i s a m o s , p u esto q u e n o v a m o s i n c l u s o a p i vota r d e u n a fo r m a tota l n u estra
i nvestiga c i ó n s o b re esta fu ente, p o d ríamos a cepta r e ! no ser ta n exige ntes como
cua n d o se trata d e uti l i za r la p rensa co mo fu ente histórica para otra serie de parcelas
h istóricas mucho más co m p l ejas, escu rrid izas o ta l vez s i m p l e mente m e n os a p re­
h e n sibl es; aunque n o d e b e m os olvidar q u e la h istoria d e la población está muy i nterre­
lacionada -a modo d e p u ma de i ceberg- con toda otra serie de fa cto res que en m uchos
c a s o s su g ra d o de i m p l i c a c i o n e s y s u t i l ez a s es muy p os i b l e q u e nos e x ij a u n a
co noci m i e nto m uy m i n uci oso pa ra aclara r aspectos, e n otro caso, d i fíci les d e d i l u ci d a r.
Así varios de los aspectos q u e nos sería n preciso conocer de u n a fi cha h e m e ro­
grá fica c o m pleta podremos red u ci rlos ú n i ca m e nte a los más defi n itorios y claves para
n uestros i ntereses p a rciales 3
u n a p ri m e ra p i sta p a ra c o n o c e r a n u estro i n fo r m a n te es ya e ! m i s m o títu l o ,
su btítu lo y/o posi bles lemas, l o s cuales n o s pueden proporcionar una pista acerca d e i
t i p o d e p u b l i cación: cató l i ca , o b re ra , etc. d e s u m a uti l i dad.
S i n duda, q u e la cronologia es u n dato i m presci n d i ble. S i e m p re lo es en cua l q u i e r
tipo d e h i storia. N o m e n o r lo es e! tipo d e periodicidad. C o m o regia gen e ra l , cua nta
más frecuente es la periodicidad igua l m ente m e n o r es la precisión de los datos, a u n q u e
mayor las posi b i l idades d e crear corrientes de o p i n i ó n . Regia de o ro que, a mi entender,
sie m p re se debería ten e r presente.
Es n a t u ra l que una p u b l i c a c i ó n d e p e r i o d i c i d a d a n u a l (a n u a rio), por sus m i s m a s
características d e res u m e n d e u n p e r i o d o te m p o ra l l a rgo, así c o m o p o r e ! t i e m p o
d ispo n i b l e p a ra su ela boración y so b re t o d o la gra n ventaja d e p o d e r conte m p l a r e !
fe n ó m e n o d e s d e u n a la rga p e rs pectiva , s i e m p re ofrece rá e n este s e n t i d o m u ch a s
mayores ga ra n tias q u e su a ntagó n i co el d i a r i o .
Este p recisa m e n te por la lucha consta nte contra e ! rel oj (fa lta de tiem po), por no
poder verifi ca r a n á l isis en p rofu n d idad (so pena de a bu rri r y per d er e n defi n i tiva lec­
tores) y po r te n e r q u e p ractica r un consta nte s u rfi ng i n fo rmativo a i caba lga r sobre u n
i m predeci b l e movi m i e nto, s i n saber b i e n la d i recci ón d e l a s ca mbia ntes fue rzas socia les,

1 20
LA PRENSA FUENTE PARA LA HISTORIA DE LA POBLAC/ÓN

i m po n e n en la p raxis q u e esa i n med iatez lastre la precisión en a ras de la o p i n i ó n . Aqui


l o q u e se p i e rd e e n p recisión se ga na e n i m pacto soci a l .
En m e d i o d e a m bos extre mos está toda otra s e r i e de period i cidades q ue s i n duda
dej a n su i m p ronta, q u i é rase o no; pero q u e ta m poco i mpi d e q u e exista n exce pciones
dignas de ser teni das en cuenta. Incluso me atreveria a precisar más. El momento d e
a pa ric ió n (matutin o/vesperti n o , d í a de la semana, etc) puede i nfl u i r, y de h ech o i n fl uye,
para l l eva r u n a mayor o m e n o r ca rga de sensacionalismo y/o d e i m pacto social.
H a b ría ta m b i é n i n cl uso q u e a fi n a r u n ta nto y sa ber exa cta m e nte q u ê colección
esta mos c o n s u l ta n d o , l ógi ca m e n te cuando exista mas d e u na e d i c i ó n . N o todas las
e d i ci o n e s son iguales, p uesto q u e e n ese caso e n p u ridad no existi ria mas q u e una.
Su e l e n i ntrod u c irse ci e rtas variaciones e n cuanto a ga nar a los lectores mas rezaga dos
(ava nzada la manana) y/o de á reas geográ fi cas con u nas especia les ca racterísti cas: po­
blación rura l/ca pita l i na/provincia l/regi o n a l , etc. Estas variaciones, l ógica mente, caso d e
existir, d e b e ser t en i d a s e n cuenta e n la medida q u e pueden revela r recepti b i l idades
d i versifica d as y comporta m i e n tos e n defi n i tiva d isti ntos. S i n olvida mos i n cluso de la
misma sección publicitaria.
La e x i st e n c i a de s u s p e n s i o n e s , fá c i l m e n te c o m p r o b a b l e s con s ó l o h oj e a r la
colecci ó n (basta con cotejar día y n ú mero dei ej emplar) , l ógicamente no me refiero a si
está i n c o m p l e t a , s i n o a que e n orige n e x i sti e ro n s u s p e n s i o n e s (las recogi d a s , por
efectua rse a poste riori, gua rdan n ú mero correlativo) puede ser u n p ri m e r dato acerca
dei tipo de p u b l icación y sus relaciones con el poder. Esto es, esta r en oposici ó n a las
corrientes d o m i n a ntes (y e n quê grado d e rad i ca l i dad) o por el contra rio navega r a favor
d e corri e nte. B i e n es verdad que e n este s e n t i d o h a b rá que co m p l eta r la correcta
u q i cación dei M ed io con otra serie d e datos. Es m uy i m porta nte, cuando se trata de
corri e n tes de o p i n i ó n , sa b e r exacta m e n te s i esta mos a n te l a exce p c i ó n o l a regia
mayorita ria.
Las características técnicas de la p u b l icación no dej a n d e te ner ta m b i é n su cierta
i n fl u e n c i a . No es lo m i s m o t e n e r q u e re l l e n a r espacios vacíos q u e hacer u n h u e co
leva n ta n d o otra i n formación. No es lo mismo relega r los datos o comenta rias a u n luga r
sec u n d a r i a q u e s i t u a ri a s e n p á g i n a y l uga r p referente. E n d e fi n itiva , u na s e r i e d e
eleme ntos q u e ava l o ra n la u n i dad i n formativa y p o r ta nto su posi ble i m pa cto social. N o
conve n d ría olvidar q u e u n a p u b l icación lo e s desde el titu lo hasta e l pi e de i m prenta; es
d e c i r , q u e n o s ó l o l a s e d i t o r i a l e s y / o a rt í c u l o s de fo n d o , a s í c o m o la s e c c i ó n
e s p e c i a l izada s o n d e i nterés, e l p e ri ó d i co d e cada día c o m o u n i d a d d i n á m i ca es
posi b l e que u n s i m p l e a n u ncio sea más reve lador q u e u n sesudo a n á l isis.
A modo d e ej e m p l o v i s u a l i za b l e , u nas p o b l a d a s pági nas d e esq u e l a s (a m é n d e
fo rmatos, d a tos q u e a po rten e t c . ) p u e d e n s e r m á s rev e l a d o ra s a ce rca d e i c u l to y
respeto a los m u e rtos q u e el a rtícu l o m ej o r u rd i do. En otra d i recci ó n , a pa ri c i ó n d e
refere ncias a bautizos, bodas, etc a p u nta n hacia otra sensi b i l idad soci a l . H a b ría mucho
mas q u e decir e n este sentido. Conviene comprobar quê se a n u ncia y cómo se hace,
pu esto q ue situará e n u n a buena d i recci ón. Aqui ú n i ca me nte me i n teresa rese n a r q u e
e l periódico es u n t o d o y q u e las ca racte rísticas técni cas condicionan la fue nte.
En cua nto a la empresa editora n o ca be menos que decir que es decisiva e n el tipo
de prod ucto. No sólo los medios materi a l es, h u ma nos (redacción) dependen d e ella, sino
ta m b i é n l o que puede l l ega r a ser mucho más decisivo, la natura leza y orientación d e la
p u b l i ca c i ó n . Q u e duda cabe que l os m e d i os materi a l es d ispon i b l es son bási cos pa ra
hacer u n b u e n o m a l p roducto.

121
CELSO ALMUINA

Los datos m a n ejados, el trata m i ento de los mismos, etc. en gra n medida dependen
d e los re c u rs o s a s i g n a d os. Y ya m á s e n c o n creto e l tipo d e r e d a c ci ó n , n ú m e r o ,
cua l i fi caci ó n , o rga n ización dei tra bajo, etc. e s e n defi n i tiva q u i é nes ela bora n e l producto
(publ icación). Entre estos hay q u e i n c l u i r desde l u ego y máxime en estos temas a los
cola b o ra d o res especia l i stas: médicos, d e mógra fos, soci ólogos y u n la rgo etcéte ra , segú n
pa rcela .
L a orientación, a i menos e n los asuntos bási cos y de l a rgo a l ca nce, es la e m p resa
q u i é n traza las gra ndes lineas, b i e n a través dei consej e ro-delega do, dei d i recto r y/o
i n c l u s o d i recta m e n te . A m o d o d e ej e m p l o tópico, ( q u i é n va a espera r que en u n a
p u b l i ca c i ó n t ra d i c i o n a l i s ta - ca r l i sta o d e l a ' b u e n a p r e n s a ' s e v a a d e fe n d e r e l
m a l th u s i a n i s m o , p o r n o p o n e rnos i n cl uso e n pos i ci ones a u n m á s extremosas?. Los
ej e m plos se pod ria n multipl icar.
I m p o rta , pues, y mucho, conocer los rasgos fu ndamenta l es de la e m p resa edito ra ,
p u esto q u e e n d e fi n i tiva con mayor o m e n o r i nc i d e n cia se va n a p roye cta r e n l a
correspo n d ie nte p u b l icación.
S in ser i nd e p e n d i ente de lo a nterior, l o q ue si cabe son matizaciones debidas a la
misma naturaleza d e la p u b l icación. El enco ntra r mayor o menor i n formación e i n cl uso
e l trata m i ento dado depende en buena pa rte de la natu ra leza de la p u b l i cación. En
pri n c i p i o pa rece más proba b l e e n contra r datos útiles a n uestro tema e n u n a revista
m é d i ca q u e e n u n a d e p o rtiva. A u n q u e ésta p u e d e te n e r ta m b i é n c i e rto gra d o d e
i nterés.
Igua l m e nte decisiva es la orientación de la p u b l icación de a cu e rdo con e l espectro
soci a l , i d e o l ógico, geográ fico, etc. cubierto. Por poner un eje m p l o , l a actitud hacia u na
dete rm i nada política d e m ográ fica, a p a rte de lo dicho a nteriormente, va a esta r s i n duda
co ndicionado por la tirada (cua ntia) y tipologia dei sujeto receptor. En u na zona despo­
blada pa rece que s o b re ca rga r las ti ntas s o b re e l m a l th us i a n is m o n o t i e n e m u c h o
sentido y viceversa, a u n q u e l u ego otra serie d e fa cto res cruzados i nc l i n e n e l t e m a p o r
d erroteros b i e n d isti ntos.
En defi n itiva , n o se trata d e agota r e l te m a , ú n i ca m ente de l l a m a r la atención sobre
a q u e l los aspectos que m e pa rece son l os más i m porta ntes a la hora d e conocer y
va l ora r este tipo de fu entes, con la fi n a l i dad de poderles saca r el mayor pa rtido pos i b l e.

2. La o r i e n t a c i ó n d e ntro d e i b o s q u e i n fo r m a t i v o .

U n a v e z conocida la fuente es cua ndo podemos pensar e n a p roxima mos a e l l a , n o


p e n etra r a u n e n s u c o n te n i d o . Todavia h a y a l g u n a s cu esti o n e s q u e te n e m os q u e
aclara r p revia m e n te a n tes d e e n frasca mos e n e l a n á l isis d e i conteni d o.
Lo p r i m e ro q u e ! l a m a la ate n c i ó n , a i q u e n o está a costu m b ra d o a es te tipo d e
fu e ntes, es la ca ntidad d e u n i da d es i n formativas y mucho más la 'dispersi dad' a u n de
i n fo r m a c i ó n . S e g u n d o , a c o s t u m b ra d o a otro t i p o de fu e n t e s m o n o g rá fi ca s y
m o n o t e m á t i c a s e i n c l u s o p e r f e c t a m e n t e o rga n i z a d a s ( c r o n o l ó g i c a m e n t e ,
a l fa b é t i ca m e n t e , e t c . ) . a q u i e l i n v e s t i ga d o r n o v e l s e s i e n t e tota l m e n te p e rd i d o .
l n med iata m e nte s e p regu nta: (dónde está l o q u e a m i i n teresa?. Pos i b l emente s e sie nta
perd i d o y decida a b a n d o n a r, i ncluso con e l pseudoconvencimiento de que ahi sobre el
tema en cuesti ó n no hay nada ai menos que merezca l a pena y justifi q u e e l esfuerzo.
De e n tra d a , está e q u i v o ca d o con casi toda segu r i d a d . Otra cosa es, s i rea l m e n te

1 22
LA PRENSA FUENTE PARA LA HISTORIA DE LA POBLAC/ÓN

co m p e nsa t i e m p o y esfue rzo necesari os. Esta es ya otra cu esti ón de p l a n i fi caci ón y


re n d i m i e ntos.
Apenas vencida esta resiste ncia i n icial, i n med iata me nte le asalta una i m pote ncia
frustra nte o puede, p o r e l contra ri o , u n entusiasmo n o j u stificado. El entusiasmo se
desenca d e n a ai e n co n tra r e n m e d i a d e semeja nte bosq u e d e u n i dades i n fo rmativas
una que reputa i n med iata m e nte co mo perla documenta l . su misma perplejidad le l l eva
a aga rra rse a u to mática m e nte a a l go q u e muy posi b l e m e nte no j ustifi q u e ta les des­
b o rda m i e ntos. Hasta es m uy proba ble q u e con u n títu l o y entrad i l la (lead) periodístico,
que prom ete m u c h o más d e lo que l uego rea l m e nte ofrece (en a rgot enga nchar ai
lector) te r m in e ta m b i é n e l i nvestigador ' e nga nchado' dei tema, e n vez de situarse en
una posición dista nte y crítica.
El esta r e n letra d e m o l d e , m á x i m e q u i e n está acostu m b ra d o a m a n ej a r fu e ntes
m a n u scritas, le desl u m b ra i n m ed i a ta m e n te. Es la magia d e la letra i m p resa e n u n a
c u l t u ra a ca d e m i cista. P a r e c e q u e t i e n e q u e s e r c i e rto p o r e l m i s m o h e c h o d e l a
i m presi ó n y porque además se d i fu n d i ó a m p l i a me nte. Necesidad de conocer la ti rada.
En este caso, ta l vez conven d ría record a r e l d i cho popular: 'el periód i co aguanta l o q ue
le ech e n . ' Pera i n mediata m ente a p u nta r -sa lvo quedarse a ne la d o e n obsoletos terrenos
positivistas- que i n cluso esa n o posi ble 'verdad' ha sido capaz de crea r o p i n i ó n . Y este
es un dato h istó rico ta n o más i m porta nte que la chata consid eración positivista . Poco
i m p o rta q u e sea cierto o no, l o i m porta nte histórica mente (no esta mos hablando de
ética) com p ro b a r en qué medida ha sido capaz de crear o p i n i ó n y desenca d e n a r u na
acción socia l.
Ante todo, a lo q u e rea l m e nte hay q u e hacer fre nte es a la sensación de i m pote ncia
q ue asa lta a i n ovato a nte este tipo de fuentes. Se d a n i nvariableme nte dos postu ras -
igu a l m e nte extre mosas-, de acuerdo con el tem p e ra m e nto y sobre todo preparación
dei i nvestiga d o r: e l q u e lo recoge todo y a i q u e nada le sirve. El entusiasta comie nza ,
a nta rio, por copiaria todo; el d e ayer, a hacer mo ntarias d e fotocopias, q ue s e convi er­
ten de h e c h o en a u té nticas ' h ajas vola n d e ras' en vez de pa rtes de conj u nto, ai n o
situarias d e n tro d e s u s coord e n a das natura l es. Hoy, gracias a l o s o rd e n a d o res, y n o
diga m os m a ri a n a c o n e l esca n e r, se n o s a m e naza c o n ta nta letra , e n vez de síntesis,
como n ú m e ro d e ej e m p l a res ti e n e la colecci ó n , con addendas i n cluídas. La a m e naza
positivista es más q u e p robable.
E l otro e x t re m o , está representado p o r e l n e rv i oso y/o p e s i m i sta , igua l m e n t e
desorienta d o , q u e nada l e s i rve. Pasa las pági nas d e la p u b l icación a ta l r i t m o q ue e s
i m posi b l e rea l m e nte q u e se entere n i d e l os titula res. N o encue ntra a bsoluta m e nte
nada úti l pa ra su i nvestigación después d e revisa r monta rias de eje m p l a res.
Ta n to en un caso c o m o en otro, y s i rva la cari catu ra de aviso, el m e o l l o de la
cuesti ó n ra d i ca fu n d a m e n ta l m e nte en dos e rrares b á s i cos d e pa rti d a : p r i m e ro , es
posi ble que haya mos echado mano d e una fu e nte que nada nos pueda aporta r sobre
e l a s u n t o e n c u e s t i ó n ; segu n d o , y s u e l e s e r l o m á s fre c u e n te , q u e n o s e p a m o s
i n te rroga r a la fuente, q u e n o te nga mos h i pótesis d e tra bajo.
En e l p r i m e r s u p u esto , puede ocu rri r c i e rta m e n te que la fu ente rea l m e n te nos
p u e d e a p o rta r m uy poco, d a d a s s u s ca ra cterís ti ca s i n trí n s e ca s y n u estra p r o p i a
p r o p u esta. N o t o d a la p r e n sa es igua l , a u n q u e l o pa rezca d e s d e fu era. T i e n e s u s
i n d u d a b l e s v i rt u a l i d a d e s , p e r o ta m b i é n l i m i t a c i o n e s n o t a b l e s . E s t e c a s o , l o
reco m e n d a b l e es busca r otra fu ente periodística de natura leza d isti nta o recu rri r a otro
ti po de fu e ntes.

1 23
CELSO ALMUINA

Por el c o n t ra r i o . y s u e l e s e r lo m á s fre c u e n te , c u a n d o todo s i rve o. en el otro


extremo, nada resu lta a p rovechable lo q u e rea lmente fa l i a es la metodologia . N o hay
h i p ótesis d e tra baj o. N o sabemos q u é preguntar. cuando no sabemos exacta mente lo
q ué busca mos es i m posi b l e que lo h a l l e mos. De a h i q ue el · p revisor' lo recoja todo y ai
pragmático nada l e s i rva. Bien ente n d i d o , q u e esas pregu ntas (hi pótesis) n o debe ser i n ­
fl exi bles s i n o q u e en u n d i á l ogo consta nte c o n la fuente n o s permitirá i r a m p l i a n d o y
matiza n d o las p regu ntas y e n foques i n i ci a l es. En otro caso. lo q u e trata ría mos era d e
d e m ostra r a l go a p r i o ri y a b u e n s e g u r o q u e a l g u n o s a rgu m e n tos - no razo n e s­
e n co n traría mos a favor d e n uestra tesis. Pero. n o debemos olvidar, q ue la pa rte no es el
t o d o . D e a h í las tergive rsa ciones o i nterpretaciones escoradas.
En s u m a , a n tes de i n iciar e l i nte rrogatorio de la fuente. máxime cuando ésta está
com p u esta de m i les de pequenas voceci l las, es i m p resci n d i b l e te n e r m uy claras dos
cosas: idoneidad e ntre fu ente e i n te rrogato rio; claridad y precisión en las pregu ntas.
Otra cuesti ó n d isti nta es dónde e n contra r las resp uestas q ue nos s i rvan e n medio de
ta nto bosque d e papel i m p reso y l u ego cómo vai ora r d i chas respuestas.

3. D ó n d e l o ca l iz a r l a s res p u estas.

AI n o d i s p o n e r d e i vaci a d o completo, o r d ena d o y clasifi cado d ei conte n i d o d e la


fu ente {peri ó d i co) en cuesti ó n es p reciso tra baj a r prá cti ca me nte como siem pre se ha
tra bajado con la docu m en tación histórica; esto es, de fo rma a rtesa na. Otra cosa será en
e l fu tu ro cua n d o los n u evos m e d i as técni cos y h u m a n os nos permitan ese s a na d o
acceso rá p i d o y co m p l eto a la i n formaci ón. H a y q u e pens a r q ue posi blemente dada la
natura l eza d e estas fu e ntes ( i m presas y con cierto orden i nterno) sea n las más fá ciles
d e ser i n corporadas por la n u eva i n formáti ca . Mie ntras ta nto. hay q ue tra bajar de fo rma
tra d i ci o n a l . Sin e m b a rgo, ca be hacer a lgunas precisiones pa ra trata r de hacer viable o a i
m e nos a l igera r la loca l ización d e la i n formación h istórica q u e nos i nteresa.
Un b u e n m u estre o . e n casos. puede ser un sucedá neo suficie nte pa ra evita m o s
te n e r q u e c o n s u l t a r e l c o nj u n t o d o c u m e n ta l o a i m e n os e l gr ues o d e l a m i s m a
(colecci ó n ) , cuando se trata de u n estu d i o n o de ca rácte r cua nti tativo y por lo ta nto l a
exactitud matemática d e i dato n o e s i m p resci n d i ble. Ahora b i e n . el m u estreo ti e n e
m u chos i nconve n i e ntes e i ncluso p u e d e sesga r clara m ente l a s concl usiones. No s ó l o s e
trata d e te n e r u nos conoci m i e ntos míni mos de ca rá cte r técn ico de c ó m o esta bl ecer el
m uestreo si n o ta m b i é n dei conoci miento d e i Medio, puesto q ue e n m u chos casos el
m e d i o i ntro d u ce sesgos q u e se nos pueden esca par a s i m p l e vista. N o es lo mismo,
pongamos p o r caso, fija rnos ú n i ca m e nte e n el ej e m p l a r dei d o m i ngo o de cua l q u i e r
o t r o d í a d e l a s e m a n a . S i h a c e m o s l a s e l e c c i ó n p o r m e s e s . ta m p o c o s e rí a n
rep rese ntativo los ej e m p l a res dei mes de agosto dei conj u nto a n u a l . Así, mediante el
recu rso a i sistema d e i m u estreo nos podemos a h o rra r mucho tiempo, pero ta m b i é n
i n trod ucir serias d esviaciones.
Otra v a r i a nte d e i m u estre o , más b i e n h a b ría q u e d e n o m i n a r i a d e s e l ecci ó n .
consisti ria e n fija rnos ú n i ca m e nte e n determi nadas pa rtes de la fu ente: secciones fijas.
S i l o q u e b u sca m o s es d a tas - i n fo r m a c i ó n c u a n ti tativa - e l p u n to d e m i ra lo
d e b e m os d i ri g i r a s e c c i o n es e s p e c i a l i z a d a s . M u c h a s p u b l i ca c i o n es c o n sagra n u n a
s e c c i ó n fij a a t e m a s d e ca rá cte r m á s o m e n o s d e m o grá f i c o . A s í n o e s e x tra n o
e ncontra m os c o n secci ones fijas d e i tipo: "Naci m i e n tos·. 'Falleci m i e ntos· (Obitos). etc.

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LA PRENSA FUENTE PARA LA HISTORIA DE LA POBLAC/ÓN

I n c l uso resú m e n e s esta dísticos sema n a l es, m e n s u a l es o a n u a les de carácter d e m o­


grá fico, especia l m ente en épocas castastrófi cas.
Mayor d i fic u ltad presenta , y n o debemos olvidar que es donde mayor renta b i l i d a d
i n fo rmativa v a m o s a e ncontra r, cua n d o se trata d e cu estiones referidas a la co m p l eja
y a m p l i a h istoria d e la Población. Precisa mente porq u e podemos apu nta r e n d i recci o n es
b i e n diversas, desde fa ctores d e mográ fi cos a comporta m i e n tos soci a l es -con u n a buena
co m po n e nte d e e l e m e n tos p s i c o l ógicos- h a sta p o l ít i ca s p o b l a c i o n i stas y u n l a rgo
etcéte ra , la i d o n e i d a d y e s p e c i fi c i d a d d e l a i n fo r m a c i ó n t i e n e q u e ser igua l m e nte
d i ferenciada.
Desde l u ego, cuando se trata de períodos cortos, épocas catastróficas e n q u e los
temas d e mográ ficos se convi erten en centro d e preocu paci ó n soci a l , i n dudable me nte
debemos consultar todas y ca da una de las secciones dei periód i co -a n u ncias i n c l u i dos­
p u esto q u e en los l u ga res más d i s p a res y de fo r m a i n d i re cta el tema s e t o r n a
o m n i p resente.
c u a n d o l a i nvestiga c i ó n trata d e a b a rcar un a m p l i o p e rí o d o y/o l a consu lta de
d i v e rsas fu e ntes hace d i fíci l , cuando n o i m posi b l e , una consulta u n iversa l , podemos
recu rri r a la selección d e espacios. La ed itoria l o a rtícu l o de fo ndo no debemos olvidar
q u e es e l com p e n d i o oficial d e los pu ntos de v ista de los responsa bles últimos d e l a
p u b l i ca c i ó n . E n c a s o s , c i e rtos c o l a b o ra d o re s h a b i tu a l e s y s o l v e ntes -fi r m a s d e i
periódico- ta m b i é n s e pueden a proximar basta nte a l o q u e son las líneas di rectrices d e
la p u b l icación c o n respecto a i tema e n cuesti ón. Estos, ge nera l m ente, suelen i r e n u n a
pági n a m uy concreta , l a cual term i n a por converti rse en l uga r d e d e bate semi oficioso
dei periód i co .
Lo cual n o q u i e re decir q u e d e v e z e n cuando n o es i ntroduzca n voces d iscordante.
Así d e b i e ra s e r s i d e una ágora o l uga r d e d e bate d e las p r i n c i p a l e s corri entes de
o p i n i ó n se tratase. Sin e m b a rgo, e n la p raxis las voces d i screpa ntes dei ' i nva riante'
(person a l i dad d e la p u b l i caci ón) b i e n por retra i m i e nto de los d iscrepantes bien por los
o b s tá c u l o s i n t e r p u e s t o s p o r l o s r e s p o n s a b l e s de la p u b l i ca c i ó n , l o s c o n t ra ­
a rgu m e n ta d o res no s u e l e n a pa recer ta n frecue nte m e nte como los ' p ro d o m o suo·.
B i e n e n te n d i d o , q u e ta m p o c o p o rq u e a p a r e z c a u n a v o z d i s c re p a n t e s e d e b e
s u p e rva l o ra r. L o i m p o rtante e n p r e n sa p a ra c re a r o p i n i o nes e s q u e s e esta b l ezca
ca m pan a ; es decir, reiteración y conve n c i m i e nto.
Otro aspecto a te n e r e n cuenta , y m uy i m porta nte en prensa, puesto que e l grado
d e i m p a cto en el l e ct o r e s d i fe r e n c i a d o , e s e l l u ga r e n q u e a p a re c e l a u n i d a d
i n fo rmativa: p r im e ra , últi m a , í m pa res, pa res, etc. Así como la ava l o ración d e l a u n idad
e n fu nción d e u n a serie de recu rsos periodísticos. La m isma u nidad i n formativa tiene
u n a rep e rcusión, u n i m pa cto e n el l ector (crea r o p i n i ón) muy d isti nta en fu nción de u n a
s e r i e d e recu rsos periodísticos.
D e s d e u n p u n t o de v i sta p rá ct i c o , a g a v i l l a r i n fo r m a c i ó n ú t i l , l a s s e c c i o n e s
especi a l izadas, s o n l a s m á s renta b l es. Cla ro q u e d a d a la a m p l itud de la t e m á t i ca
posi b l e m en te haya q u e recu rri r a varias secciones. Así, mi entras los ' Ecos de Socieda d '
p u e d e ser q u e tenga n u n va l o r m u y relativo -todo dependerá de la orientaci ón- e n l a
'Secci ó n R e l i gio s a ' p o d e m o s e n co n tra r posici o n a m i e ntos m uy claros con respecto a
dete r m i nados comporta m i e n tos poblaciona l es. No diga mos, de la Sección Eco n ó m i ca o
d e l a m i s m a S e c c i ó n P u b l i c i ta ri a . Cada s e c c i ó n a coge a te m á t i ca s r e l a ti v a m e nte
homogé neas, pero n u nca m o nográ ficas, puesto q u e el variado acontecer es m uy d i fícil
de someterlo a un c l i c h é u n i forme. En cua l q u i e r caso, l a referencia a la división e n

1 25
CELSO ALMUINA

secci o n es debe ser tenida en cuenta en a ras a u na economia de esfu erzos a la hora d e
la búsqueda.
N o o c u rre a s í en l a p re nsa a n tigua ( d e c i m o n ó n i ca ) , p e r o sí a m e d i d a que nos
ace rca mos a i prese nte, a u n q u e ta m b i é n la naturaleza d e ca da p u b l i cación i n troduce
sus varia ntes, l a s t i t u l a c i o n e s es un m e d i o que n o sólo nos fa c i l i ta la b ú s q u e d a a
n osotros, si no q u e además hay q u e tenerlo en cue nta como elemento importa nte d e
ava l o ración, es d e ci r, d e destacar una u n idad i n formativa. Así l o s títu l os destacados nos
facil ita n la local izaci ó n d e la u n idad i n formática a la vez q ue nos está diciendo q ue e n
su m o m e nto l os responsables d e confeccio n a r la p u b l icaci ón co nsidera ron q ue e ra u n
e l e mento q u e de bía s e r d estacado. Los titu la res s o n como fa ros q ue n o s orienta n e n la
búsq ued a , pero ta m b i é n n o d e b e m os olvidar q u e e n su mome nto dese m p e n a ron el
i m p o rta nte p a p e l d e atra e r la a te n c i ó n d e i d i s p e rso l ector p recisa m e n te hacia es e
centro d e foca l iza ción.
Algo similar y hasta es posi ble q u e con m ucha más razón d e l o predicado para los
titu l a res se pueda a firmar d e los elemen tos gráficos, desde fotogra fia , grá ficas, etc. q ue
nos p u e d e n ofrecer más i n formación, tras u n a i n terpreta cíón adecuada, q u e e l más
extenso d e los a rtícu l os.
No s i e m pre ocu rre q u e el espacio ded icado a u n a u n i d a d i n fo rmativa tiene u na
relación d i recta con su i m porta ncia. Desde l uego esta regia no si rve pa ra la primera y
a lguna pági n a más. Pero, h a b l a n d o en términos ge nerales, si pod ria mos decir q ue la
ca n t i d a d d e e s p a c i o d esti n a d o a u na i n fo r m a c i ó n esta ria e n r e l a c i ó n d i re cta a su
i m porta n ci a. Apa rte de q u e nos pueda servi r e l espacio para u n a va loración poste rior d e
i m p a cto, d es d e u n a perspectiva ú n i ca m e n te cuantitativa , de momento nos permitirá,
desde estas orientaciones p rá cticas q u e a q u i se trata n de dar pa ra fa cil ita r la búsq ueda,
en té rminos ge nerales p resci n d i r d e esas pequenas noticias ('gaceti llas') o a lo máximo
pasa r d e pu n ti l las sobre e l las. Claro q u e pa ra temas de menta l idad o s i m i l a res, a veces,
son precisa m e n te p e rlas va l i osas estos pequenos sue ltos.
Los fol l et i n es, ge neral izados en e l XIX, e n principio no pa rezca n que tengan mucho
q u e v e r c o n l a temática. C l a ro q u e todo depende d e la re l a c i ó n o v i n c u l a c i ó n que
esta b l ezca m o s e n tre l i te ra t u ra e h i sto r i a . C i e rta m e n te e n los fo l l et i n e s o n ov e l a s
p o p u l a r e s - a v e c e s s e i n c l u y e n a h í i n fo r m e s d i v e rs o s - a p a r e c e n r e f l ej a d a s
menta l ida des q u e s e tra d ucen e n acuerdo con los comporta mie ntos demográficos y/o
poblaciona les.
Por ú lti m o , hay que l l a m a r la atención sobre la Secci ón Publicitaria (An u ncias). No
só l o es u n a m u estra d e la evo l u c i ó n eco n ó m i ca y d e los gustos y pos i b i l i dades d e
consu m o , s i n o ta m b i é n d e determi nadas menta l idades y a ctitudes. N o q ueremos ca er
e n ej e m p l o s ca ricatu rescos e i n cl uso tópi cos q u e e n co n tra mos, p o r ej e m p l o , e n la
p re nsa deci m o n ó n i ca d e ·amas d e cria ' e i ncluso a lgo más choca nte y de sentido b ien
distinto, los h o m bres q u e se ofrecen c o m o sementa les. An écdotas a pa rte y s i n elevarias
ta m poco a categoria , sí q u e nos revelan determi nados usos y/o n ecesidades sociales.
Sin d u d a , u n a i n te l ige n te l e ctu ra d e esta secci ó n nos puede proporci o n a r resu ltados
satisfa ctorios.
En cua l q u i e r caso, a medida que nos fa m i l i a riza mos con la consulta d e este tipo de
fu e n tes, dada la fa ci lidad d e l ectu ra , que cada confecci onador lógica mente se term ina
p o r re peti r i nvaria b l e m e nte y q u e ta m poco son ta ntos los recu rsos a los q ue se pued e
echa r m a n o , la consu lta te rm i n a por agi l iza rse a medida q ue va mos profu n d iza ndo e n
la i n vestigación y la experiencia e n e l manejo d e este t i p o d e fu entes v a a u m e nta n d o.

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LA PRENSA FUENTE PARA LA HISTORIA DE LA POBLACIÓN

No resulta ta n d i fícil ni ta n compleja co mo en pri ncipio ca be i magi n a r. Hay, cierta m e nte,


otras fue ntes más d i fíci les d e consu lta r.

4 . Va l o ra c i ó n d e l a s respu estas.

A p a rt e de l o s d a to s más o m e n o s c o n cretos y s u g ra d o d e fi a b i l i d a d c o m o
e l e m e n tos a pa rti r d e l o s cua l es vamos a l evanta r la i nterpretación histórica, c o n las
fu e ntes periodísti cas hay que tener a d e más u n a consi d e ra c i ó n previa , q u e h a n sido
pensadas p a ra crea r o p i n i o nes. Por tanto, su p royección social debe ser te n i d a en
cuenta como u n e l e m e nto principal d e la i nterpretación. I ncluso más, es precisa me nte
esa v irtual ca pacidad d e crear o p i n iones y de mover a la acción lo esencial de esta
fue nte y l o q u e e l l a ú n i ca m e nte nos puede ofrecer: conoci m i ento dei discurso. Bien es
verdad que el para conocer e l posible i m pacto d e esos mensajes h a b rá que recurrir a
otras fuentes, n o s iem p re a b u nda ntes y casi siem pre i m p recisas.
Se debe, p u es, ten e r e n cuenta q u e n o es u n discurso cerrado. Me atreve ria i n cluso
a a firmar más, q u e n o existe ' p e r se', si no es e n la medida q ue ha sido capaz d e crear
o p i n i o n es. Es deci r, tiene vida precisa m ente fue ra de si. Mientras no ha sido d istri b u í d o
y l e í d o n o está cerrado e l círculo de v i rtua lidades. E s m á s , el ej empla r q ue se han q u e ­
dado p a ra registro d e la heme roteca -el c u a l precisa me nte n o s si rve para consu lta r-, e n
p u r i d a d , ha sido u n ej e m p l a r fa l l ido; es decir, q u e n o ha cu m p l i d o exa cta mente para l o
q u e fu e conce bido: conformar o p i n i ó n , a u n q u e sí lo haya n h e c h o su mucho geme los.
Por l o tanto, decía a nte riorme nte, a d i ferencia d e i docume nto clásico, no es ta nto la
i n formación con creta q u e nos proporcione, por m u cha y precisa q ue sea -bien venida
sea-, como la v i rtu a l i d a d d e i d i s c u rso, que conocemos -gra cias a la consu lta d e l os
fo ndos- a la h o ra de conformación soci a l . Por ta nto, la s i m p l e va loración positivista dei
docu m e n to, debe d ej a r paso a otra mucho más compleja, q ue demanda u na n u eva
i n terpretación h istó rica .
Cierta m e nte esta segu n d a vertiente es la m á s rica, pero ta m b i é n la m á s d i fícil d e
m a n ej a r teórica m e nte. E s la v e n t a n a q u e nos perm ite a b ri r u n n u evo p a n o ra m a e
i n cl uso u n a n ueva posi b l e i n terpretaci ón. Dejar a p u ntada ú n i ca me nte la posi b i l i d a d s i n
q u e a q u i p o d a m o s ade ntra mos por este n u evo ca m i n o 4

5. La p r e n s a y la h i storia d e la P o b l a c i ó n .

D e cía m o s a n teri o r m e nte q u e l a p r e n sa p o d i a s e r u n a fu e n te u n i v e rsa l p a ra l a


reconstrucció n d e m ográfica e h i storia de la Població n . Ta m b i é n i ntroducíamos u na serie
d e rese rvas y matiza c i o n es. Aqui q u i s i eras s e n a l a r a lgu n os temas, d e e ntre l a r i ca
di versidad q u e a b a rcan estas n u evas disci p l i nas, pa ra l os cuales esta fuente fuese más
úti l e i n c l uso i m p resci n d i b l e. Ponga m os dos posi b l e s u p u estos, uno cro n o l ógico (un
período histórico concreto) y otro d iacró n i co (temático).
Es pa ra m o m entos d e ca rácte r catastrófi co o s i m p l e m e nte d e l i cados desde el pu nto
de v i sta d e m ográ fi c o c u a n d o el r e c u rso a la p r e n s a p u e d e s e r i m p re s ci n d i b l e .
C i e rta m e n te h a y otra s e r i e d e fu e n tes q u e n o s v a n a p r o p o rci o n a r c o n l o s d a tos
basta nte más exa ctitud. Posi b l e m e nte ta m b i é n con u n a i nversión d e tra baj o m u c h o
mayor. Pero lo q u e esas fue ntes clásicas n o nos va n a ofrecer, o a i menos en m í n i ma

1 27
CELSO ALMUINA

p a rte, son las medidas y repercu s i o n es socia l es q u e acompanan a ta les situa ciones.
Desde medidas d e políti ca san ita ria, tem o res, rea cciones, consecuencias sociales y un
l a rgo etcéte ra . Pense m os e n a lguna d e las a rremetidas periódicas d ei cól era morbo,
gri pe, y toda serie d e pa n d e m ias d e eti o l ogía diversa , i ncluyendo e l actua l sida.
En estos casos, a pa rte d e i registro m i n u cioso d ei nú mero de óbitos, es ta nto o más
i m p o rta n te c o n o c e r los e fectos p s i co-so c i a l es d e s e n ca d e n a d o s. E n otro ca s o , d e
e n ce rra m o s e n esa m i o p e v i s i ó n positivista , p ráctica m e n te n o e n t e n d e re mos n a d a ,
salvo e l ser u nos m i n u ci osos conta b l es o registra dores d e datos dei pasado. Sin datos
n o hay h i storia, pero l a s i m p l e erudición no es historia. Es l a d i mensión social l o que re­
a l mente i nteresa y tiene trascend encia científica.
El segu n d o posi b l e estud i o d e ca rácter d i acrón i co o temático para el cual la pre nsa
res u l ta c o m o fu e n t e i n sustitu i b l e es pa ra a q u e l l os t e m a s de trasce n d e n c i a o de
e n co n t ra d os d e b a t e s s o c i a l e s . Pod ría m o s r efe ri m os a m u c h o s , d e s d e p o l í t i ca s y
m étodos ma ltusia n os hasta todo lo contra rio. La última conferencia d ei Ca i ro ( 1 994) es
reveladora e n este sentido de las e n canadas d iatribas, q u e superan y con mucho todas
las pos i b les estadísticas -que son i m presci n d i b l es- que podamos a porta r. El tema es en
e l fo n d o o m n i p rese nte por sus i m p l i caciones y ra m i ficaci ones.
Pod ría m o s tra e r a c o l a c i ó n m u chos otros temas, pero, desde u n a p e rs p e ctiva
h istó rico-sociol ógica , está el ta n i nteresa nte y actual tema d emográ fi co y poblacional
d e los trasvases d e población por e m igración. Desde las fa mosas em igraciones dei a n o
2 0 0 0 y 1 2 0 0 a . J . C . ha sta los gra n d e s trasva ses, más pa cíficos, p e ro n o e x e n tos d e
rechazos y x e n o fo b ias, cua n d o n o desca rad o racismo, es u no d e los te mas q u e ha
apasionado y con m ocionado a las diversas soci edades. Basta q ue nos centremos en la
edad conte m porá n ea - m o mento a pa rtir d e i cual disponemos de este tipo de fu e ntes,
aunque se p o d ría n d e c i r ta m b i é n cosas con respecto a otro t i p o d e fu e n tes y su
pos i b l e s i m i l itud metodol ógi ca pa ra períodos a nteri ores-, pues b i en, en las dos ú ltimas
ce nturias los movi m i e ntos m igrato rios h a n sido nota bles y de signo diversos. Hemos
p a s a d o d e u n a E u ro p a e m i s o ra a una E u ro pa r e c e p t o ra , a p a rte d e otra s e r i e de
consideraciones q u e n o vienen a i caso.
En s u m a , que el a n á l isis d e gra ndes movi m i e ntos d e masas de población no lo po­
demos red ucir ú n i ca m e nte a un s i m p l e registro cuantitativo. Hay otros m u chos fa ctores,
a p a rte d e la esta dísti ca , ta n o más i m porta ntes en este tipo de asu ntos. No es sólo el
n ú m e ro de personas movil izadas. N i s i q u i era e n m u chos casos la objetiva ca pacidad de
acomodo d e la sociedad receptora los que son tenidos e n cue nta a la hora de la verdad.
E l e m e n t o s d e t i p o i d e o l óg i c o , c u l t u ra l , p o l í t i c o , p s i c o l óg i c o , e t c . son ta n to m á s
determ i n a ntes q u e l o s estri cta mente d e mográ fico.
De ahí, que sea i m p resci n d i b l e e l recu rri r a otro tipo de fu e ntes, a i margen de las
clásicas dei tipo registra les, pa ra trata r de dar resp uesta a estos complejos e l e m e ntos
q u e entra n en j u ego consta nteme nte y d e fo rma ta n d i recta y determ i na nte e n la
m a y o r p a rte de l o s casos. Es el p l u ra l y h a sta c o n t ra d i ct o r i o d i s c u rs o p ú b l i co e l
deter m in a nte o con d iciona nte, a i menos l a pa rte visu a l iza b l e d e i iceberg, d e i co m p l ejo
tema o bjeto d e estu d i o . Aquí tenemos u n supuesto donde e l recu rso a esta fu ente se
torna i m p resci n d i b l e , i n cl uso para a q u e l los más d esco n fiados positivistas.
Sin d u d a que pod ría mos a p u nta r toda otra ga ma de te mas pa ra los cuales el recu rso
a esta fuente fu ese m uy conve n i e n te cua n d o no i m p resci n d i b le. No se trata de entra r
e n casuísticas, p o r s u p u esto. Pero i n c l uso e n l a cl á s i ca reconstru cci ó n d e fa m i l i a s ,
d o n d e las fu e n tes son m uy otras y muy labori osas, por cierto, cua ndo nos movemos

1 28
LA PRENSA FUENTE PARA LA HISTORIA DE LA POBLACIÓN

en d ete r m i n a d o s n iveles y tra ta mos de c o m p re n d e r m e nta l i d a d es y actitudes con


res pecto a i tipo d e fa m í l i a p o r pa rte d e a utori d a d es y é l i tes socia les. Repercu s i o n es
sociales de nata l ícios, n u pci a l i dades, óbitos. D i mensión soci a l de pa ndem ias. Repercu­
siones d e factores d e tipo extra o rd i n a rio: h a m b ru nas, gue rras, etc.

6. A m o d o d e c o n c l u s i o n es prácticas.

1 . L a a m pliación d e fue ntes es siempre d esea ble si q u eremos ensanchar el territorio


de i h i storiad o r y la riqueza i nterpretativa.

2 . La prensa como fuente ha sido siem pre más util izada en la práctica que reconocida
explicita m e nte como ta l .

3 . Esta mos basta nte ca rentes d e una reflexión metodológica e i nterpretativa de la s


posi b i l idades d e esta fuente y sus posi bles v i rtua lidades.

4 . Ta m b i é n l a D e m ogra fia e n con creto y l a H i storia d e la Po b l a c i ó n e n ge n e r a l


pueden y d e b e n saca r p rovecho de esta fu e nte.

S . Lo q u e s i res u l ta i m p resci n d i b l e a n tes de s u u t i l i za c i ó n es un conoci m i e nto


mínimo d e la misma ci rca-e m p resa rial e i ntra - redacional. Es necesa rio conocer el posi­
ciona m i ento y p u n tos d e vista d e los emisores responsa b l es.

6. En la lectu ra (i nterp retación) dei discurso hay que te ner en cuenta toda una serie
de aspectos, q u e va n desde q u é se d i ce , cómo se dice, q ué se prete nde y con qué
resu ltados social es.

7. Dada la especifi d a d de esta fu ente , cuyo o bj etivo últi m o es ' m a n i p u l a r' (no se
e ntienda e l térm i n o e n u n s i m p l ista sentido peyorativo), es fu ndame ntal a i d iscu rso los
efectos que éste es capaz de desencadenar en el media social ai cual trata de conformar.
Resulta n d o este aspecto, en p u ridad extradiscu rsa l , se lo q ue rea l m e nte se torna histó­
rica m ente básico. El docu mento n o se agota , por tanto, en si mismo, s i no que su rea l
i m p o rta ncia rad i ca en la medida en q u e sea ca paz de crear esa n u eva rea lidad v i rtual ·

resu ltante.

8. La o p i n i ó n p ú b l i ca re s u l ta n t e , i n d e p e n d i e n t e m e n t e d e l a m a y o r o m e n o r
positi v i d a d , s e convierte e n u n e l e m e nto , e n m u chos casos decisivo, ta nto para u n a
v i s i ó n d e mográfica c o m o pa ra la más a m p l i a d e t i p o poblacional.

9 . C i e rta m e nte n i l a prensa s i rve p a ra tod o , n o es u na fu ente u n ive rsa l , a u n q u e


c i e rta m e nte m á s a m p l i a d e l o q u e s o l e m o s p e n s a r, d a d a s n u e stras l i m i ta c i o n es
m etod o l ógicas, n i pa ra todos los temas tiene la misma re nta b i lidad. Si para a l g u n os
resulta i m presci n d i b l e su consu lta, pa ra otros su uti l idad y renta b i l i dad posi b leme nte
sea m uy d iscuti ble.

En s u m a . u n a n u eva fuente, q u e util izada con cautela y conoci m i e nto, desde l u ego
q ue no va a ser la panacea u n i ve rsa l , pero q u e co rrecta mente util izada, tras la oportuna
p r e p a ra c i ó n m etod o l ógica , p u e d e s e rv i r l e ai i m a g i n a t i v o h i stori a d o r d e m ógra fo o
poblaci o n al (ta m b i é n soci ó l ogo, econom ista , geógrafo, etc) para enriqu ecer, ensancha r y
hasta rei nterpreta r sus co noci m i e ntos. Nada más ni nada menos.

1 29
CELSO ALMUINA

N OTAS

1 . En esta vertiente, p u e d e c on s u l ta rse Celso A l m u i ii a : " La prensa como fuente h istórica ". Haciendo historia.
Homenaje a Carlos Seco, Madrid, U n iversidad Com p l u tense, 1 988 pp. 6 1 5-624.

2. En la h i storiografia espa no/a, se sue/e c i t a r c o m o fecha i m porta nte e l Congreso de 5a ntiago de Composte l a ,
Metodo l ogia A p l icada a las Ciencias Históricas (a bril, 1 9 73), Aparición de la p u b l i cación e n 1 9 75 -Actas de las 1
jornadas de Metodologia Aplicada a las Ciencías Históricas, Sa n tiago, Edit. Fundación Ma rch y secreta riado d e
Pu b l i caciones d e la U n i versidad de Santiago- c o m o e l p r i m e r momento rea l m e n te significativo. El segu n d o
gra n m o m e n to v e n d ria dado por la celebración e n 1 98 3 (dici e m b re) de las 1 jornadas de Demografia Histórica
en Madrid, j u n to con la creación de la ADEH (Asociación de Demografia H istórica). El tercer momento, 1 98 8 con
la i n te resa n te a portación (esta d o de la cuesti ón), Demografia histórica en Espana, (Vicente Pérez Moreda y
David-Sven Reher, edis), Madrid, Edic. e/ a rq uero.
En cua n to a Portuga l , a p a rte d e i n teresa n tes y renova d o ras aportaciones a n teriores, podemos confi a r e n
e sp e r a r u n a renovación y u n i m porta nte i m p u lso de los estu d i os d e e s t e tipo, después d e l a s j o r n a d a s
" P o p u l a ç ã o Portuguesa. Historia y Prospectiva " ( 1 994), de la mano de CEPFAM (Centro de Estudos da Populaçao
e Fa m íl i a ) , además de todos los a m biciosos proyectos a/li p l a n teados.

3. Celso A l m u i ii a : la Prensa Vallisoletana durante e/ siglo XIX. Va l la d o l i d , 1 9 7 7 , especia l m e n te vol. I , p p 3 7 7-396.


F i c h a h e m e rográfica.

4 . Celso A l m u i iia : "Medios de Com u n icación Soci a l , poder de m a n i p u lación y ca pacidad de tra nsformación", Actas.
Prensa y Sociedad en la Espana Contemporánea. M u rcia, 1 995; " La O p i n i ó n Pública como factor e x p l icativo e
i n te rpretativo". Builetin d'histoire contemporaine de I'Espagne, Bordeaux, n ú m . 2 1 ( 1 995)

1 30
S OB R E A D EMOG RAFIA ES COLA R
Jorge Carvalho Arroteia
Universidade de Aveiro
(Departamento de Ciências da Educação)

1 . A P R O PÓSITO D E U M CONCEITO

A p u b l i cação dos dados do último recensea m ento gera l da população portuguesa


permite-nos a p recia r uma das te n d ê n cias que se vi n ha a esboça r nos censos a nte riores,
relativa a o cresci m e n to moderado dos habita ntes, por via da evol u çã o dos movime ntos
n a t u r a l e m i g ra t ó r i o , b e m c o m o a a l t e r a ç ã o s i g n i fi ca t i v a d a s s u a s e s t r u t u ra s
demográ ficas. Por outro lado estes dados permitem-nos aj u iza r do nível de i nstrução da
populaçã o d o país, segu n d o o gru po etá ri o e o sexo, por N UTII e N UTIII no conti nente e
nas Regiões Autónomas dos Aço res e da Madeira (Figura 1 ).

F I G U RA 1 - POPULAÇÃO RESIDENTE SEG UNDO A FREQUÊNCIA


E O N ÍVEl D E ENSINO ATINGIDO - 1 9 9 1 (NUTII)

7000000 • A n alf.c/> 1 0 anos

6000000 D A freq .ens.


5000000 III Ens. Ba · s.

4000000 • Ens. Sec.

3000000 lã! Ens. Méd./Sup.

2000000

1 000000

o
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fonte: INE

A a p rec ia ç ã o d estes e l e m e ntos, e m b o ra m e rece n d o o utro t i p o de a n á l i s e m a i s


deta l hada po r m u n i cí p i os, n ã o deixa mesmo assim de n o s servi r de base pa ra reco rd a r
a l gu n s a s p e ctos re l a t i v o s à " d e m ogra fi a esco l a r " - como ra m o especializado d a
Demografia interessado no estudo quan titativo d a população escolar (Arroteia, 1 9 9 1 .b;
1 80) e à sua i m portâ ncia n o diagnóstico d o sistema educativo. A perti nênci a da consu lta
d e stes e l e m e n tos res u l ta fu n d a m e n ta l m e nte d o i n t e resse d e se p r o c e d e r a u m
leva n ta m e n to exacto d a procura e oferta dos equipamentos educativos, bem como da

131
JORGE CARVALHO ARROTEIA

identificação dos desequilíbrios existentes no acesso e no sucesso educativos com vista não
só à ela boração das p rojecções relativas às n ecessidades d e escol a rização, mas ta mbém
da e lab o ração d e propostas q u e assegu rem u ma igualização das condições de ensino e
o respeito por certas normas de utilização dos espaços e dos professores (IIPE; 1 9 8 2 ; 1 6).
Por o utro lado a a p reciação d e a lg u n s i n d i ca d ores re lativos à p o p u lação esco l a r
(número a ctu a l , s u a distri b u i çã o por ciclos de estudo, s u a evol ução no te mpo e d u ração
da " es p e ra n ça d e v i d a esco l a r " ) e a o nível d e i nstrução dos resta n tes h a b i ta n tes
constitui u m a u x i l i a r p recioso q u e nos permite a preci a r o está d i o d e bem esta r soci a l
n u m d etermi n a d o território. Recorde-se q u e os va l ores i n d i cativos d e u m cresci mento
negativo da p o p u l a çã o escol a r e os baixos níveis de i nstruçã o dos habita ntes fazem-se
ge ra l m e n t e a co m p a n h a r de o u tros í n d i ces reve l a d o re s de r e p u l s ã o d e m ográ fi ca ,
i n d i ciadores d e u m fraco n í v e l de desenvolvi m e nto socia l , eco n ó m i co e cultu ra l dessas
regi õ e s . C o m o o r e fe r i m os n o u t r o l o ca l e m q u a l q u e r s o c i e d a d e o a crés cimo da
esperança de vida tra d uz uma melhoria significa tiva das condições de vida. de bem
estar e de desen volvimento sócio-económico dessa população, sendo certo que quanto
mais elevada for a esperança de vida escolar-média de uma população, tanto maior
será o seu nível sócio-cultural e as perspectivas de um crescimento mais harmonioso dos
diversos sectores de actividade (Arroteia; 1 9 9 1 .b; 1 2 5).
N ote-se que a a p reciação da p o p u lação esco l a r (docente e d iscente) tem v i n d o
igu a l m e nte a m erecer u m a ate n çã o cresce n te por pa rte d e cientistas c o m formação
d i ferenciada (e n ã o só dos pedagogos) que se ocu pa m do estudo das diversas q uestões
re l a c i o n a d a s c o m o n o sso s i s te m a e d u c a t i v o . b e m c o m o d a s s u a s d i s fu n çõ e s e
contrastes. Por esta razão nos pa rece oportu n o recordar a lgumas noções e métodos d e
a n á l ise uti l izados e m d e m ografia q u e nos poderão servi r para a m e l h o r com p reensão
do siste ma e d u cativo e das suas relações com os demais sistemas sociais.
confiemos e m algumas defi n i ções. Pa ra G i ra rd ( 1 9 70 ; XVI II), a " d emografia esco l a r "
estud a a s cara cterísticas, a evo l u çã o , a d istri b u i çã o e fre q u ê n ci a da p o p u lação nos
d i fere ntes gra u s d e ensino. a d u ração de cada ciclo d e estudos, os a ba n d o n os e a s
" m i g ra ç õ e s " e n tre o s d i fe r e ntes c i c l os, te n d o e m c o n ta q ue a s reprovações e os
abandonos estão ligados a fenómenos patológicos e a causas exógenas relacionadas
com o sistema escolar. ou endógenas em ligação com as aptidões individuais.
Por o utro lado a " d e m ografia esco l a r " não deixará igua l m e nte de se i n teressa r pelo
con heci m ento das ca ra cterísticas do corpo docente. relativas a o n ú mero e estrutura por
sexo e idades, às q u a l i fi cações profissionais, à sua origem social e geográ fi ca bem como
à sua d istri b u i çã o espacial e p o r níveis d e ensino, por fo rma a auxiliar a entender as
condições rea is d e d e m ocratização da e d u cação e n esse sentido aj u d a r as tomadas d e
d ec isão relativas ao p l a n e a m e nto e à política educativa.
N este s e n t i d o o ca m p o d e estu d o d a " d e m ogra fia esco l a r " u l trapassa o m e ro
co n h eci m e nto da estrutura e d os movi mentos da população para se i n teressa r pelas
con d i ções associadas a o desenvolvi m ento eco n ó m i co, às reformas sociais e à i n ovação
tecnol ógia das sociedades pós- i n d ustriais. identi fi cadas por uma hierarquia de sistemas
de naturezas diferentes (To u ra i ne; 1 9 8 2 ; 1 0 3 ) e e l evad o grau de d i ferenciação.

2. O S EFECTIVOS ESCOLARES: S I G N IFI CAD O E T E N D Ê N CIAS

De acordo com a s citações a nteri o res e sem esquecer q u e a d emografia é uma


ciência que tem por objecto o estudo das populações humanas e trata da sua dimensão,

1 32
SOBRE A DEMOGRAFIA ESCOlAR

da sua estrutura, da sua evolução e dos seus caracteres gerais encarados principalmente
de um ponto de vis ta q ua n titativo (G i ra rd ; 1 9 8 2 ; 1 3 7) , p e n s a m o s d e i m ed i a to n o s
e fectivos escola res. N ote-se q u e o a u m e nto d estes efectivos regista do há mais de d o i s
séculos nos países i n d ustri a liza d os do ocide nte e u ropeu, só ta rd i a m e nte, no termo da
2" guerra m u n d i a l é que se torno u extensivo aos resta ntes países, principal mente aos
que a p a r t i r d e e n t ã o e x p e ri m e nta ra m os e fe i tos d i rectos d a c h a m a d a rev o l u çã o
i n d ustri a l . I n i c i a l m e nte a q u e l e a u m ento da p o p u lação esco l a r verificou-se a penas n o
ensi n o e l e m e ntar (séc u l os XVI I e XVIII) e a pa rtir do sécu l o XIX passou a regista r-se no
e n s i n o secu ndário (cf: Clerc; 1 9 74; 2 3 5) , produzi ndo os mes mos efeitos q u e mais ta rde , a
chamada " ex p l osão escol a r " , a ca b a ri a por origi nar nos d i fe re ntes sistemas educativos.
Pel o contrá rio o a u m e nto dos efectivos esco la res no ensino superior não se explica
tanto pelo cresci m ento tota l da população nem acompanha sistemática mente a evolução
dos seus movi m entos natura is. Resulta d o acrésci mo da populaçã o dos jovens q u e em
c a d a a n o e pa ra alé m da esco l a ridade o b rigatória, prossegu em os s eus estu dos n u m a
escola o u n u ma u n iversidade, sugesti onados ta ntas vezes pelas perspectivas de m o b i l i ­
d a d e profissional e social con feridas p e l a titularidade de u m di ploma de estudos su periores.
De rea l ça r q u e a crésci mo da população n este subsistema de ensino é uma conse­
quência das gra ndes tra nsformações sociais, económicas e tecnológicas decorrentes do
processo d e revol u ç ã o i n d ustri a l , cujas consequências se tra d uzem h oj e e m dia por um
envelhecime n to dos h a bita ntes e redução d rástica da fecu ndidade, por u m crescimento
u rba n o acentuado e por u m a m a i o r igualdade de sexos e m o b i l i d a d e soci a l .
Este fen ó m e n o verifi ca-se d e igu a l modo nos países mais i n d ustri a lizadas e nos q u e
se e n contra m e m v i a s d e desenvo l v i m ento onde ocorrem o m e s m o tipo d e fe nóme nos.
salvo n o que respeita ao envelhecimento dos habita ntes u ma vez q u e os va l o res de
nata lidade persistem . n estes casos, a i nda basta nte e l evados. Ta l situação constitui u m
dos e ntraves a o dese nvolvi mento d a educação e m virtude dos i n vesti me ntos a rea liza r
não só n este sector mas igua l m e nte na e co n o m i a , na saúde, na assistê ncia soci a l , etc. ,
tanto mais n ecessá rios q u a nto m a i o r fô r o ritmo de cresci m ento da p o p u lação. Com
efeito e m b o ra n a s e co n o m i a s tra d i c i o n a i s a p o p u lação seja cons i d era d a uma força
p rod utiva por excelência, e seu crescimento con tínuo implica a realização constante de
investimentos demográficos sobre o rendimento nacional para garantir a manutenção
do n ível de vida an terior (G i ra rd , 1 96 8 , 24), estando calculado que um crescimento anual
da ordem de 1% custa, para manter o nível de vida anterior, 5% a 8% do rendimento
nacional e um crescimento an ual de 2% a 2,5% s upõe a imobilização de 12% a 22% do
rendimento nacional (G i ra rd; 1 968; 2 3).
Repare-se q u e a par d estas d i ficuldades. de natu reza eco n ó m i ca , a progressão nos
estu d o s d a p o p u l a ç ã o j o v e m é m u i ta s vezes c o n tra ri a d a p e l o p r ó p r i o sistema de
e n s i n o , em regra m a l a d a p ta d o a o n ú m e ro cresce n te d e a l u n o s e ta nta s vezes à s
necessidades d e desenvo l v i m e n to a ctuais. Por outro lado as perspectivas d e m o b i l idade
crescente e d e a cesso aos estudos su periores ou do exercício d e fu nções el evadas na
vida socia l n ão é i d ê ntica para as crianças dos d i ferentes m e i os. Daqui d ecorre que
e m b o ra a m e l h o r i a do n í v e l de i n s t r u ç ã o de u m a p o p u l a çã o s ej a v i ta l p a ra o
desenvolvi m e n to eco n ó m ico e soci a l de u m país. o seu cresci m ento rá pido não deixa
de constitu i r u m o bstá c u l o em v i rtude da n ecessidade dos i nvesti me ntos demográficos.
Reto m a n d o o caso português a d u ração da esco l a ridade o brigatória passou, depois
da p u b l i cação da Lei de Bases do Sistema Educativo - Lei n" 46/86 - para nove a n os.
período que veio a osci lar várias vezes desde o i níci o deste sécu lo. Recordamos a sua

1 33
JORGE CARVALHO ARROTEIA

d u ração de cinco a n os desde 1 9 1 9, e a sua red u ção pa ra três a nos estabelecida em


Ma rço d e 1 9 3 0 ; o seu a l a rga m e n to para quatro a n os a a m bos os sexos em Maio d e
1 96 0 - pondo ass i m t e r m o a u ma situação existe nte d es d e 1 9 5 6 q u e torna ra o ens ino
o b riga t ó ri o d e q u a tro a n os p a ra o s rapazes e d e três a n os p a ra a s ra pa rigas - e
fi n a l m e nte o seu a l a rga m ento para seis a n os em 1 964.
como compreendemos o a l a rga m e nto do período d e escolaridade acompanhou os
esforços de " de m ocratiza ção " do ensino sentidos no nosso sistema educativo, devido
às pressões feitas pelos resta ntes pa íses e u ropeus para o a l a rga mento do período d e
escolaridade o brigatória. P o r estas razões o aumento da popu lação escolar não deixou de
se acentua r n o decurso dos últi mos a n os, principalmente nos ciclos de estudo posteriores.
Alguns va l o res rece n tes relativos a o conti nente, podem com p rová-lo. Entre 1 980/8 1
e 1 9 89/90, o n ú m e ro de a l u nos inscritos no 1 " ciclo do ensino básico. passou de 8 2 5 8 2 4
para 6 2 6 5 5 3 ; as i nscrições no 2" ciclo do ensino básico passara m de 2 8 5 646 no primeiro
a n o p a ra 3 1 6 4 1 5 n o ú l t i m o ; as i n scrições no 3" c i c l o do e n s i n o básico s u b i ra m d e
2 3 0 0 8 7 n o p ri m e i ro caso pa ra 3 4 6 9 3 0 n o ú l t i m o e o nº d e matrícu las no 1 0" e 1 1 " a nos.
passo u d e 9 0 1 3 4 em 1 9 80/8 1 para 1 2 9 8 7 2 e m 1 9 88/89. Note-se que e m re lação ao
ensino m é d i o e s u p e rior estes va l o res passara m d e 7 8 3 0 0 pa ra 1 46 7 8 7 respectiva m e nte
no p ri m e i ro e no ú ltimo ano referidos.
os va l o res a nteri o res m ostra m como o a u m e nto ge ra l dos a l u n os regista d o nos
diferentes níveis d e ensino acusa já u m d ecrésci mo acentuado da população no 1" ciclo
do ensino básico, e m conse q u ê ncia da redução das taxas de nata l idade registadas na
populaçã o p o rtuguesa de há a lguns a n os a esta pa rte (Figu ra 2). Pelo contrário no que
respeita aos resta ntes níveis d e ensino conti nua a verificar-se u m acréscimo devido quer
ao aumento da " espera n ça d e vida esco l a r " q u e r a o a l a rga mento da própria rede e às
pers pectivas d e m o b i l idade social esperadas pela titu laridade de u m d i ploma (Qua d ro 1).

FIGURA 2 - EVOLUÇÃO D O Nº D E A L U N O S

900000

800000

700000

600000
• 1 º Ciclo E . Bás.

500000 D 2ºCiclo E . Bás.

400000 lll!ll 32 Ciclo E.Bás.

300000
• E.Sec. ( 1 02, 1 1 º)

200000

1 00000

o
C\J C') "<T ,LI) w ,..._ CX) "' o
CX) CX) CX) CX) CX) CX) CX) CX) CX) "'
- - - - - - - - -
o C\J C') "<T LI) w ,..._ CX) "'
CX) CX) CX) CX) CX) CX) CX) CX) CX) CX)
"' "' "' "' "' "' "' "' "' "'

Fonte: M.E.

1 34
SOBRE A DEMOGRAFIA ESCOLAR

Q U A D R O I - E V O L U Ç Ã O D O N" D E A L U N O S M A T R I C U L A D O S
N A E D U CAÇÃO P R É - E S C O L A R E E N S I N O S BASICO E S E C U N D Á R I O

Nív. Ens. 84/85-85/86 89/90 90/91 9 1 /92 92/93 93/94

Pré-esc. 1 1 6.3 1 28.0 1 60. 1 1 70,0 1 75, 1 1 79,7 1 88,2


1 ' ciclo 899,3 846,3 7 1 5 ,8 668,8 635, 1 603 ,8 584, 7
2" ciclo 3 75.5 39 1 ,7 3 70,6 366,4 346, 3 328, 7 324,2
3" ciclo 3 55,3 376, 1 444,9 458,5 439,3 429, 1 44 1 ,5
Secu n d . 274,9 298,0 33 1 ,3 348,5 32 5,0 32 7,5 339,0
Total 2 0 2 1 ,5 -
2022,9 -
1 92 1 ,0 -
1 877,8

Fonte: M.E.

No q u e concerne a p o p u l a çã o d o ce nte os dados contidos no Q u a d ro II dão-nos


igua l m e nte conta da sua evol ução n o te mpo e distri b u i çã o por níveis d e ensino. co mo
p o d e m os .v e ri fi c a r o d e c r é s c i m o regista d o a o nível d o P c i c l o d o e n s i n o b á s i c o
a co m p a n h o u a q u e b ra d e a l u n o s ocorri d o n este n í v e l d e e n s i n o e n q ua nto q u e o
a u m e nto verificado nos o utras níveis foi m otivado pelo a la rga mento da rede operado
nos ú ltimos a n os.

Q U A D R O 1 1 - D O CENTES POR NÍVEIS DE E N S I N O

N í v . Ens. 8 1 /8 2 82/83 83/84 84/85 85/86 86/87 87/88 88/89 89/90

Ed. Pré-Esc. 1 542 1 796 1 796 1 796 25 76 2739 31 51 3084 343 1


1 " c. Ens. Bás. 39 1 5 7 39275 38 1 1 4 38463 388 1 7 39 1 8 5 3 7 1 09 3 7 1 09 3 7 1 88

2" c. E n s . Bás. 274 1 2 27446 2 7024 2 7374 26565 27080 26843 27283 26960
3" C.E.B.+E.Sec. 29837 3 1 244 348 1 0 3784 1 39685 4228 6 46832 4903 1 509 1 9
Ens. Sup. 8006 9738 9582 78 1 2 9585 1 1 330 1 2 04 1 1 2 77 0 1 3 1 99
O u tro 1 978 2008 1 997 25 75 2345 1 76 1 1 374 1 377 1 380
Tota l 1 07932 -
1 1 3323 -
1 1 9573 -
1 273 50 -
1 33077
Fonte: M.E.; 1992

Co mo sa b e m os, ca bendo à d e mografia o estudo das popu lações h uma nas. dos seus
efectivos e c o m p o s i ç ã o segu n d o d i fe r e n tes c r i t é r i o s ( i d a d e , esta d o m a t r i m o n i a l ,
repartição e m fa m í l i a s , gra u d e i nstru ção, etc) , o co n h e c i m e nto dos fen ó m e n os q u e
i nfl uenciam esta com posição e a evol ução destas populações (nata l idade, morta l idade),
bem com o as relações recíprocas q u e se esta belecem e ntre o estado da população e a
sua evol ução (cf. Pressat; 1 9 79; 39), estes factos não se podem entender sem o conhe­
ci m e nto do contexto soci a l onde a q u eles se desenrola m (cf. G rawitz; 1 9 8 1 ; pp. 2 6 7-269).
N estas circunstâ n cias a a p roxi mação da d e m ogra fia à sociologia é cada vez mais
evidente ten d o e m conta q u e enqua nto ciências, ta nto sob a forma teóri ca , como nas
suas a p l i ca ções nascera m d o e n c o n tro e n tre o desej o d e conh ecerem m e l h o r e d e
compreenderem os fe n ó m enos h u m a n os (G i rard; 1 9 8 2 ; 1 3 4). Ta l conh eci mento permite,
em m u itos casos, u ma i nterve n çã o d i recta , isto é , a possi b i l i d a d e d e agir s o b re a
soci e d a d e e d e a m u d a r (G i ra r d ; 1 9 8 2 ; 1 3 4) através d e u m p rocesso contí n u o d e
s o ci a l i za ç ã o , e n te n d e n d o - s e e s t a c o m o a d i n â m i ca d e tra n s m i s s ã o d e c u l t u ra , o

1 35
JORGE CARVALHO ARROTEIA

p rocesso p e l o q u a l os h o m e n s a pren d e m as regras e as p ráticas dos grupos sociais


(Worseley; 1 9 7 7; 203) e o n d e o e n s i n o - " educação d e l i berada " - constitui a penas uma
pa rte desse p rocesso.
Ta l como em d e mogra fia o m étodo d e a n á l ise específico da " demogra fia esco l a r " é
a " a n á l i se d e m ográ fi ca " q u e se p o d e d e fi n i r c o m o a fo r ma d e a n á l i se estatística
ada ptada a o estudo das popu la ções h u ma nas (Pressat; 1 9 79; 8). co mo recorda Nazareth
( 1 988.a; 2 0 2 ) este tipo d e a n á l ise pode ser a p l i cada às m a n i festações de u m fenómeno
n u m p e r í o d o d e t e m p o ( n o r m a l m e n t e o a n o c i v i l ) - " a n á l i se tra n s v e rsa l o u d e
m o m ento " - o u p e l o contrá rio i nteressa r-se pela sua m a n i festação ao longo da v i d a
dos i n d ivíduos, o q u e envolve necessá riame nte v á r i os a n os d e ca l e n dário (Nazareth;
1 988.a; 2 0 2 ) - " a n á l ise l o ngitu d i n a l ou por coortes " .
Co ntudo e contrariamente a o q u e sucede e m demogra fia, e m " d emografia esco l a r "
o s ma rcos i m po rta ntes da vida de u m i n d ivíduo não s ã o o nasci mento e a morte mas
sim as datas d e i ngresso e o a ba n d o n o do sistema d e ensino. D u ra nte este la pso de
tempo - " vida esco l a r " -, igua l m e nte podemos verificar u m conj u nto de " migra ções "
isto é , à t ra n s fe rê n c i a e n tre os d i fe re n te s n í v e i s , t e n d o s e m p re p rese n te q u e a
ocorrência destes movi m e n tos está ligada às perspectivas de m o b i l i dade d itadas pelo
estatuto social da fa míla.
com o n otá m os, o estudo q u a ntitativo da popu lação h u ma na nã o esconde q u e a
v a ri e d a d e d o s fe n ó m e n o s d e m ográ fi cos - n a ta l i d a d e , n u p ci a l i d a d e , fe cu n d i d a d e ,
m o rta l idade, etc. - exe rça m o s seus efeitos imed iatos sobre a estrutura e a evo l u çã o
d o s habita n tes d e u m d eterm i nado país o u região. Daqui se co nclui s e r o " te m po " uma
das variáveis esse n c i a i s e m d e m ogra fi a , o q u a l i m porta ser m e d i d o através de u m a
representação gráfi ca privi l egiada: o " d iagra ma d e Lexis " . Este d iagra ma fa cilita-nos o s
dois t i p o s d e a n á l ise já i n d icados: a " a ná l ise longitu d i na l " " e a " a ná l ise tra nsversa l " a s
q u a i s , se a p l i ca d a s à " v i d a esco l a r " d e u m i n d i víd u o , n o s p e r m i t e m segu i r o s e u
p e r c u rso d e n tro d o s i s t e m a d e e n s i n o o u tão s o m e nte os níveis d e esco l a rização
obtidos à saída d este sistema.
Uma última palavra pa ra as fo ntes d e mográ ficas. Entre as fontes priv i l egiadas pa ra
reco l h a destes últimos e l e m e n tos conta mos com as " Estatísti cas da Educaçã o " já q ue
observação dos aconteci mentos à medida q u e se processa m ou quando ocorrem, só é
possível por m e i o da consulta d i recta dos p rocessos escolares dos a l u nos ou de outras
i n formações mais especial izadas.

3. A D E M O CRATIZAÇÃO D O E N S I N O : EXTENSÃO E I N DICADORES

co m o já d i ssemos, e m bora a variação da população escolar acompa n h e a evol u ção


d o s fe n ó m e n o s d e m o g r á f i c o s , n ã o d e i x a de m o s t r a r a e x i s t ê n c i a de o u t r o s
co n d i c i o n a l i s m os q u e t ê m a v e r c o m a local ização da red e esco l a r - " acessi b i l i d a d e
física " - b e m como com a s barre i ras d e natu reza eco n ó m i ca e cultura l q ue se l eva nta m
a esta população. N o q u e à pri m e i ra d i z respeito, as d istâ ncias d i tadas pelas co nd i ções
d e relevo, pelas vias d e c o m u n icaçã o , pela distâ ncia rea l e pelos te m pos do percurso
t ê m s u g e r i d o a l g u m a s m e d i d a s de c o m p e n s a çã o , c a s o da r e d e de tra n s p o rt e s
escola res, q u e perm i te u ltra passa r m u i tas d a q u e l a s d i ficu ldades.
N o t e - s e q u e em " d e m o g r a f i a e s co l a r " t ã o i m p o rta n t e s e tr a ta c o n h e c e r a
populaçã o escol a r, as suas ca ra cte rísti cas e os diversos fe nómenos re lacionados com a

1 36
SOBRE A DEMOGRAFIA ESCOLAR

popu lação discente ... re lacionando-os com os resta ntes fenómenos, de natu reza socia l ,
q u e oco rre m n a sociedade (Arrotei a ; 1 99 1 .b; 1 80) como igua l mente a local ização dos
equipamentos educativos, as d e nsidades d e mográ ficas e as á reas d e recruta mento dos
a l u n o s . N e st a c i rc u n s tâ n c i a s a e l a b o ra ç ã o d a " ca rta e s co l a r " s u rge c o m o u m
i nstru m e nto i n d i s p e n s á v e l d o p l a n e a m e nto l o ca l e regi o n a l , capaz d e a u x i l i a r e m
m u i tas d a s tomadas d e decisão.
Q u a nto a o s o utros o bstá cu l os, a " a cessi b i l i d a d e económ i ca " e a " a cessi b i l i d a d e
cultu ra l " consti tuem-se c o m o factores condiciona ntes d esta frequência, sobretudo nos
níveis d e escolaridade pós-obrigató ria. Com e fe i to se a d e m ocratização d o e n s i n o é
prática mente conseguida a nível do ensino básico, o alarga mento da " esperança de vida
esco la r " pa ra a l é m do período de escolaridade o brigató ria anda intimamente l igada às
d i ficuldades sócio-económicas e ao nível de vida dos cidadãos. Isto porque os " custos " da
frequência escol a r devem ser ca lculados não só e m fu nção das d espesas correntes com
a educação mas a i nda toma ndo e m consideração os custos i n d i rectos que u m i n d ivíd uo
deveria a u ferir se tivesse opta d o p e l o exercíci o d e u ma actividade p rofissiona l .
Quanto à " acessi b i l i da d e soci a l e cultura l " ela a ca b a por se traduzir n u m fenómeno
de au to e l i m i nação da pa rte d e a lguns gru pos sociais por via das dista ncias sociais e
cultu rais q u e a fasta m os d i fe rentes grupos e classes sociais (cf: ca rron e Châu; 1 9 8 1 ).
Como a ss i n a l a o u tro a u tor (G ras, 1 9 7 4 , 2 8 3 ) , a s u b - e d u ca ç ã o d os p a i s nas classes
d e s favo reci d a s , c o l o ca - o s n u m a situação d i fíci l p e ra n te a o r i e ntaçã o d a s cri a n ça s ,
porq u e os i m pede d e a p e rceber todas as perspectivas q ue ofe rece c a d a nível esco l a r
d i ficulta ndo, por i s s o , a sua m o b i l idade soci a l .
Note-se q u e o d esej o d e m o b i l i dade social através da educação constitu i u m dos
factores da a ctu a l " procura socia l " da educação, é com u m a todos os grupos soci a i s
m a s m a n i fe s t a - s e p r i n c i p a l m e n t e e n t r e o s m e n o s fa v o r e c i d o s . S e n d o a s s i m a
" de mocratiza ção da e d u ca çã o " s u rge como u m fa ctor i m porta nte no resta beleci me nto
da igu a l d a d e d e o p o rtu n i d a d es, p r i n c i p a l m e n te e m sociedades estratificadas o n d e a
esco la fu nciona, fre q u e nte m e nte, como agente de re produção da estrutura das classes
(Gras; 1 9 74; 39).
N o que à situação p o rtugu esa diz res peito, a " d e m ocratização da e d u ca çã o " é
de fe n d i d a p e la Constitu i çã o da Re p ú b l i ca Portuguesa (a rtº n" 7 3) ca b e n d o ao Esta d o
ga rantir o acesso e o ê x i t o esco lar. N este sentido o m e s m o documento preconiza a i nda
q u e o ensino seja m o d i ficado d e modo a superar qualquer fu nção conserva dora d e
desigualdades eco n ó m i cas, soci a i s e cultu ra i s (a rtº nº 74).
Ta m be m a Lei n " 46/86 - Lei de Bases do Sistema Ed ucativo - defend e ca ber ao
Esta d o p ro m ov e r a d e m o cratiza çã o do e n s i n o , ga ra n ti n d o o d i re i to a uma j u sta e
efectiva igua l d a d e de oportu nidades no a cesso e sucesso escol a res (a rtº nº 2). Por outro
lado e n a estei ra do q u e a n teriormente referi mos acerca das assi metrias regi onais, ca be
ta m b é m a o n osso s i stema e d u cativo contri b u i r para a correcção das assi m etrias d e
desenvolvimento regio n a l e loca l , deve n d o i n cre m enta r em todas as regi ões do País a
igualdade no a cesso aos benefíci os da educação, da cultura e da ciência.
A a p reciação da Figura 3 , relativa à variação da popu lação escolar n o ensino secu n­
dário, mostra-nos como a lguns dos va lores relativos à escola rização dos a l unos nas nossas
escolas d i ferem de regiã o pa ra regiã o, a co m p a n h a n d o outros contrastes regi ona is.
Como de mos i n icia l m ente a entender, o a p rofu n d a m e nto do sign i ficado de a lguns
va l o res re lacionados com a fre q uência e o a p roveita m e nto esco l a res deverá ser igua l ­
m e nte co m p l eta d o a través d o cá l c u l o d e a l g u n s i n d i ca d o res q u e p e r m i ta m a sua

137
JORGE CARVALHO ARROTEIA

comparação entre d i ferentes regiões do país e o m e l h o r co nhecime nto do fu nciona­


mento i nterno do nosso sistema educativo. Passa remos a enunciar a lguns deles deixando
a sua explicação e cá l c u l o pa ra ser a preciado noutros estudos da especia l i dade.
Os d e resol u çã o mais s i m p l es refe re m -se á " escol a rizaçã o " dos a l u n os expressa nas
respectivas taxas. Recorde-se que d e a co rd o com Pressat ( 1 9 7 9 ; 243), estas poderã o
defi n i r-se como u m a relação entre os aconteci mentos regista dos n u m a dete rm i nada
popu lação e a sua populaçã o média d u ra nte u m determinado período, sendo designadas
" taxas brutas " a s que medem a fre q u ê n cia com que os fe nómenos d emográficos se
m a n i festa m n o conj u n to da p o p u l a çã o e " taxas específicas " as que se restri ngem a
determi nadas parcelas dessa população.

F I G U RA 3 - E V O L U Ç Ã O DA P O P U LAÇÃO E S C O L A R
N O E N S I N O S E C U N D A R I O , POR NUTII

1 4 0.

1 20

• Norte
1 00
O Centro
80
• Lx.Vale Tejo
60
• Alentejo
40
lãl Algarve
20

o
,.._ CX) CTl o ,... N
CX) CX) CX) CTl CTl CTl

<O ,.._ CX) CTl o


.._

CX) CX) CX) CX) CTl CTl

Fonte: M.E.

De acordo com esta defi n i çã o ga n h a m particu l a r relevâ ncia as segu i ntes: qua nto à
" escola riza ção " , as taxas bruta , gera l e específica de escola rização.
Um segu n d o gru p o d e i n d i ca d o res diz res pe ito à s taxas d e " a p roveita m e nto " .
Destas desta ca m os as ta xas d e a p rovação e d e re provaçã o, as taxas de repetência e de
passage m , a taxa d e rete nçã o , etc.
N o q u e respeita aos " a ba n d o n os " sa l i e nta mos as taxas de abandono d os a p rovados
e dos rep rova dos e a taxa d e desistê n cia.
Por fi m resta consi d e ra r o u tros i n d i ca d o res ou í n d i ces relativos, por exe m p l o , ao
a p roveita m e nto escol a r e às e ntradas e saídas do sistema.
Não sendo tratados de fo rma exaustiva, os i n d i cadores a nteri ores permitem-nos, se
devida mente ca lculados, co n h ecer a lguns dos aspectos da demografia i nterna do sistema
educativo, sendo certo que ta l conheci mento será a m p l iado se aos elementos em a p reço
associa rmos o utros dados ta is como os rá cios e os quocientes que m e l h o r nos permi­
ta m a profu n d a r o diagn óstico d este sistema. Da mesma forma será da maior uti l idade

1 38
SOBRE A DEMOGRAFIA ESCOLAR

a u t i l iz aç ã o de o u tros i n d i ca d o res q u e c o n te m p l e m a c o b e rtu ra e a estru t u ra d o


s i st e m a , a q u a l i d a d e e o re n d i m e n to d o p ro c e s s o e d u ca t i v o , o s s e u s g a s t o s e
fi n a n c i a m e n t o e e v e n t u a l m e n t e o s resta n t e s i n d i ca d o re s d e n a t u reza m a c ro ­
-eco n ó m i ca , socia l e c u l t u ra l q u e precisem o contexto e m q u e se desenvolvem a s
a ctividades e n s i n o-aprend izage m (cf: Arroteia; 1 99 1 .b; 69).

BIBLIOGRAFIA

ARROTEIA, jorge Carvalho


1 98 6 - Demografia escolar - Avei ro: U n iversidade d e Ave i ro (Po l i copiado)
1 99 1 - Desequilíbrios demográficos do sistema educativo português - Avei ro; Un iversidade de Avei ro
(Ca d e rnos de A n á l ise Sócio-Orga n izacional da Educação; n" 3)
- Análise social da educação: indicadores e conceitos - Leiria; ROBLE Edições

CARRON, G. e CHAU, Ta N. (coord.)


1 98 1 - Disparités régionales dons /e développement de l'éducation - Paris; Institue Jncemational de
Planifica tion de /'Éducation/UNESCO

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1 9 8 2 - Dicionário de demografia - Lisboa; VERBO

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1 9 74 - " Dé m ogra p h i e sco l a i re " - in: De besse et M i a l a ret; 1 9 74; pp. 2 1 9 . 2 7 8

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1 9 7 4 - Traité des sciences pédagogiq ues - vol. 6 - Aspects sociaux de /'éducation - Paris; P.U.F.

GEP
1 9 9 2 - Sistema educativo português: situação e tendências- 1 990 - Lisboa; - G a b i n ete de Estudos
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G IRARD, A/ain
1 9 7 0 - " l ntrod uction " - in: Population et enseignement - Pa ris; P.U.F. (pp. XVII-XXXII)
1 9 8 2 - " A d e m ogra fia " - in: (AZENEUVE e VICTOROFF; 1 9 8 2 ; pp. 1 3 3 - 1 5 8

G RAS, Alain
1 9 7 4 - Sociologie de l'éducation - Paris; Larousse

G RAWITZ, Madeleine
1981 - Méthodes en sciences sociales - Pa ris; D a l loz

JIPE
1 9 8 2 - Cours intensif de formation sur la méthodo/ogie de la corte scolaire-Raport - Paris; l nstitut
lnternational d e Pla n i fication d e I'Éducation/U NESCO (Po l i copiado)

l NE
1 9 9 3 - Censos 9 1 (res ultados pré-definitivos) - Lisboa; I nstituto Nacional de Estatística
1 9 94 - Censos 9 1 (res ultados definitivos) - Lisboa; I nstituto Nacional de Estatística

1 39
JORGE CARVALHO ARROTEIA

M.E.
1 994 - An uário 94195 - Lisboa; M i n istério da Educação

NAZARETH, j. Manuel
1 98 8 - a) Princípios e métodos de análise da demografia portuguesa - Lisboa; Editorial Presença
b) Unidade e diversidade da demografia portuguesa no final do século XX - Lisboa;
F u n d a çã o Ca louste G u l be n k i a n

PRESSAT, Roland
1 9 7 9 - Dictionaire de démographie - Paris; P.U.F.

TOURAINE, A lain
1 98 2 - Pela sociologia - Lisboa; P u b l i ca ções Dom Q u i xote

WORSELEY, Peter
1 9 7 7 - In trodução à sociologia - Lisboa; Publica ções Dom Q u i xote

1 40
FAMÍLIA E E DUCAÇÃO FAMILIAR
EM PE R SPE CT I VA
Marinha Fernandes Carneiro
Escola Superior de Enfermagem c. Porto

1. A P E R S PECTIVA S E M Â N T I CA E H I ST Ó R I CA

É vu lga r dizer-se q u e o homem vive no i nterior de círcu los, em relação aos quais
defi n e os seus próprios horizontes. E o círcu l o primordia l , é sem dúvida, o da fa mília.
Mas q u a l q u e r refl e x ã o s o b re a fa m í l i a o u os s e u s papéis i m p l i ca d e s d e l ogo u m a
reflexão s o b re o próprio c o n ce i to d o te rmo " fa m í l i a " , circu n d a n d o e m torno d o s e u
ca m p o semâ ntico.
U m a s i m p l e s b u s ca n u m d i c i o n á r i o v u lga r nos c o l oca d e s d e l ogo p e ra n te a
com p lexidade do " o bjecto" em causa:
Família, s.f, conjunto de todas as pessoas que vivem em com um sob o mesmo tecto;
pessoas do mesmo sangue; linhagem, descendência, raça, estirpe 1.

I m ediata m e n te , e m e rge m dois sentidos fu ndamentais q u e têm aj udado a pauta r o


conceito de " fa m í l i a " e, n esta medida, têm orientado d iversas l i n has de investigaçã o:
parentesco vers us territorialidade. Aspectos estes q ue estão l onge d e se co nfu n d i re m
o u s o b r e p o re m , constitu i n d o a ntes d i ferentes espa ços por o n d e ci rcu l a m fluxos d e
rel a ções d isti ntas, e m bora possa m s e r espaços de intersecção, isto é, c o m ca m pos d e
a c ç ã o c o m u ns. segu n d o Pina Ca b ra l , pode até dizer-se q u e há u m a l i n ha teórica d e
b ase, para a q u a l "a h istó ria s o c i a l h u mana era m a rcada por u m gra n d e movime nto q u e
p a rte d e u m a p r e d o m i n â n c i a d a s re l a ç õ e s d e p a r e n te s c o e te r m i n a c o m u m a
pred o m i n â n cia das relações d e territori a l i dade" 2. Isto é , d e fo rmas fa m i l ia res complexas
o r i g i n a i s e v o l u ía - s e p a ra fo r m a s s i m p l e s e re d uz i d a s . P o d e r e m o s a q u i i n v o ca r a
co n h ecida tipologia de Fréderic Le Play, soció l ogo fra ncês dos fi nais do sécu lo passad o,
q u e d escrevia três t i p o s d e fa m í l i a , n u m a l i n h a evo l utiva em q u e os novos modelos
a i nda co-existi a m com modelos a nteri o res:

- família patriarcal, ca racte rística das sociedades nómadas e de pastores, na q u a l se


dava rel evo à esta b i l idade, autoridade, l i n hagem e tra d ição, determ i n a n d o um gra n d e
gru po fa m i l i a r q u e i n cl uía pelo menos todos os h o m e n s desce nde ntes do patria rca;

- família estirpe ou "famille souche", segu n d o o autor genera l izada nas soci edades
ca m p o n esas e u ro p e i a s , c o m um e l e m e nto patria rca l está ve l , m a s q u e , e m gera l ,
l i m i tava a co-resid ê n cia e a sua sucessão a u m fi l h o d o patria rca e seus d escen d entes,
e m b o ra o u t ros fi l h o s s o l te i ros p u d essem fi ca r no l a r pate r n o , o q u e dava gru pos
relativa m ente a l a rgados;

- fa m ília instável, ca ra cterística das p o p u l a ç õ e s i n d ustri a i s u rb a n a s e q u e , a o


contrário das a n teriores, assentava n o casa m e nto d e dois i n d ivíduos i n dependentes, só
su bsisti n d o e n q u a nto estes su bsisti a m , enviando os fi lhos para o m u n d o l ogo que estes
era m capazes d e a u to n o m i a e exerce ndo pouco control o sobre eles.

141
MARINHA FERNANDES CARNEIRO

será na tentativa de superação desta tipologia q ue Peter Lasl ett e Richard Wa l l , nos
fi nais dos a n os 60, centrarão os seus estudos sobre os grupos resi denciais ao longo da
h istória. Procu ra ra m d e m o nstra r que a fa mília conj uga l s i m p l es era já uma rea lidade
h istórica com séculos, p red o m i n a nte nos meios rura is da Europa Ocidenta l , não te ndo
s i d o o fe n ó m e n o d a i n d u stri a l ização a p rovoca r o efeito da conjuga l i d a d e , p o i s a s
percentage ns d e fogos a l a rgados seri a m sempre basta nte m i n o ritárias.
Mas a i nvestigação d e que a fa mília foi o bjecto, especia l mente a partir dos anos 70,
to r n a n do-a a lvo d e m ú lti p l o s e d i ferenciados focos d e ob s ervação, te rá produzi d o ,
segu n d o a l g u n s a u to res, u m a ce rta " e rosão d a s catego rias de descrição trad icionais" 3 .
Pa rti n d o d e u m a a n á l i se r u ra l n o M i n h o , o a n t ro p ó l ogo P i n a Ca b r a l a l u d e às três
designações mais frequentes n o domínio descritivo - casa, família e lar - mostra n d o ,

q u e se trata d e designações a n co radas a d iversas visões do m u ndo. Casa surge com


m a i s p r o p r i e d a d e nas situações ca m p o n esas, e m que a s " u n i d a d es res i d e n c i a i s são
ta m b é m u n idades produtivas, onde a sua com posição é frequentemente maior que a
fa mília conjugal e o n d e as rela ções de parentesco no exterior desta u n i dade te ndem a
ser con fu n didas com re lações de vizi n h a n ça " 4 . Já a designação de família se adequaria
m e l h o r a o meio urbano e b u rguês, e m q u e u m a perspectiva residencia l a p resentaria
gra n d es l i m i ta ções. E m torno d estas p a l a v ra s fo r m a ra m-se á reas voca b u l a res q u e
aj u d am a a rru m a r d i fere ntes perspectivas d e a b o rdagem d a fa mília: ass i m , família surge
associada a e x p ressões como redes de paren tesco e grupos de paren tesco, ta l como
casa (house h o l d , e m i nglês, ménage, e m fra n cês) surge vinculada a grupos domésticos,
padrões de residência. A p ri m e i ra l i n h a de variantes l iga da à a ntropologia tradicional, a
segu n d a , p o r exe m p l o , com l iga ções à chamada esco l a de Ca m b ridge, l i d e rada pel o
referido Peter Laslett, q u e desenvolveu u m a grelha de a n á l ise ou tipologia baseada na
co m posição fa m i l i a r co-reside nte.
Reco n hece n d o , com o utros a u tores, que n estas categorizações se excl u i u m aspecto
fu n d a m e nta l - os "sistemas de regras cultu rais" -, Pina Ca b ra l propõe uma catego ria
mais a b rangente e capaz d e se ada pta r a diferentes contextos, categoria que ele designa
d e unidade social primária , conceito que defi n e "o nível de id entidade social que tem
m a i ores i m p l i ca ções estrutura is n a i ntegra ção soci a l das pessoas e na a p ropriação socia l
do m u n d o " , o q u a l poderia até d isti ngu i r-se pontu a l m e nte do gru po fa m i l ia r, a ponta nd o
o exemplo do "aldeamento" para a região tropical da Guiana. O conceito de u nidade social
primária procu ra , ass i m , a i nter-re lação entre três vectores de integra ção:
a) a u n idade d e parentesco, isto é, o princípio da fi l iação bi latera l , simbol izado pelo
sangue;
b) a u n i d ad e d e resi dência, isto é, o princípio da a p ropriação co m u m do espaço,
si m b o liza d o pela casa;
c) a u n i d a d e d e c o m e n sa l i d a d e , i sto é , o pr i n cí p i o d a e x i s t ê n c i a d e um fu n d o
co m u m , s i m b o l izad o p e l a lareira o u p e l o p ã o s.
o q u a d ro de p ro b l e m a s a c i m a l evantado n u m a p e rspectiva a ntro p o l ógica nã o é
ú n ico, o utras le i t u ras d isci p l i na res transporta r-nos-iam para outros ca m pos conceptuais
ta n to o u mais c o m p l exos do que este. Basta rá , por agora, afirmar a complexidade e, dai,
a i m p recisão d o conceito "fa mília", com ó bvias repercussões sobre a defi n ição do q u e
seja a "educação fa m i l i a r", i m p l ica n d o desde l ogo q u e o esclareci m e nto remete pa ra o
a p rofu n d a me nto do contexto social q u e estiver em ca usa. se não há uma fa mília mas
si m fa mílias, ta m b é m será l ógico e n q u a d ra r n esta p l u ra l idade a expressão "educação
fa m i l i a r", a qual se a p resenta desde l ogo como a m bígua, em bora sempre relacionada
com a fu nção soci a l iza d o ra da fa mília e m relação à cri a n ça .

1 42
FAMÍLIA E EDUCAÇÃO FAMILIAR

Tendo por base esta atitude relativista , aceitemos q ue a fa mília é fruto de uma clara
construção soci a l . Mas é ao mesmo tempo u m dos luga res privi legiados da construção
s o ci a l d a rea l i d a d e em gera l , p o i s é " d e ntro das re lações fa m i l i a res, ta l como s ã o
socia l m e nte d e fi n i d a s e regu l a m e n ta d a s , q u e os próprios aco nteci m e ntos d a v i d a
i n d i v i d u a l q u e mais parecem pertencer à natu reza , rece bem o seu significado e através
d este s ã o e n t r e g u e s à e x p e r i ê n c i a i n d i v i d u a l : o n a s c e r e o m o rr e r , o c r e s c e r , o
envelhecer, a sexualidade, a procriação" 6 Neste aspecto, enqua nto i nstâ ncia produtora
de sentido, a fa m í l i a , se por u m lado pode ser e n ca rada n u m a perspectiva a lgo estática ,
m a rcada pelos m e ca n is m os d e reprodução social q u e l h e assegu ra m a manutenção das
suas ca racte rísticas básicas a o lo ngo das gerações, deve a i nda ser enca rada co m o um
p ro ce s s o , co m o u m a rea l i d a d e em m u d a n ç a , em q u e a s u cessão d o s i n d i v í d u o s
ta m b é m i m p l ica a lterações d e co mporta m e ntos e d e papéis. Basta rá lem b ra r que, n a
a ce p ç ã o d e fa m í l i a c o nj uga l o u restrita , c a d a m e m b ro d e u m n ovo casal p e rte nce
sem p re a duas fa mílias: "aquela e m q u e nasce u , a fa mília de orientação, e a q u e ele
criou pelo seu casa m ento, a fa mília de procriação" 7.
De q u a l q u e r fo rma , a p reva l ê n cia das teses da " n u clea rização" fa m i l i a r tem fe ito
co m que as ate n ções se centrem essencia l m e nte na fa mília nuclear ou conj uga l (casa l e
fi l h os), ignora n d o a d i m ensão do pa re ntesco , em especial no meio u rbano. Pa ra a lguns
a utores, isso d eve-se, e m gra n d e pa rte, à crise da fa mília, às tensões no i nteri or do casa l
e a o reco n h e c i m e nto de fra cassos nas u n i ões fu n d a d a s no a m o r mas ta m b é m na
desigu a l d a d e da troca entre homens e m u l h e res. O utro aspecto q ue terá contri buído
p a ra i sso terá s i d o a p reva l ê n ci a da "ideia d e u m a i n d e p e n d ê n ci a estrutu ra l e ntre
fa m í l i a n u cl e a r e p a re ntesco e m matéria d e s o b revivência eco n ó m i ca e d e carre i ra
p rofissional", a pesa r das i nteracções quotidianas com os pa rentes (encontros, favores,
aj uda fi n a n c e ira ocasional) s. Mas a i m portâ ncia do papel da red e de parentesco precisa
de ser reco n hecida, pois para lá do seu papel tra d i cional nas redes de entreajuda nas
m i g ra ç õ e s , o p a re n t e s c o a s s u m e c a d a v e z m a i s i m p o rtâ n c i a á m e d i d a q u e se
m u lt i p l i c a m os d i vórcios e a s fa mílias m o n o pa rentais, reco n h e c i m e n to não ta nto do
paren tesco nomeado, mas sim do electivo, i sto é, do selecci onado segu ndo redes de
afinidade (a l i n ha senti m e n ta l , d e q u e m se gosta), redes de solidariedade (a q u e les a
q u e m aj u d a m os) e redes de a uroprotecção (a q u e l es a q u e m ped i m os aj uda) 9 . Ta nto
mais que agora existe uma maior possi b i l idade d e conviver com os ascende ntes, graças
a o prolonga m e nto da espera n ça média d e vida, facto que redefi ne em muitas situa ções
o papel dos avós e o utros pa rentes, ga n h a n d o fu nções i m porta ntes de rectaguarda face
à p reca ridade dos vínculos conj uga is de hoje.

A p e r s p e ct i va p s i c o - s o c i a l

Luga r d e elaboração e d e a prend izage m , na fa mília s e desenvolvem as d i me nsões


mais sign i fi cativas da i nteracçã o: os contactos corporais, a l i nguage m , a com u n i cação, as
relações i nterpessoais. Nela se constroem ta nto os esquemas relacionais de base como
se desenvolve o ca m p o das relações afectivas 1 o . Da pequena i n fâ ncia à ado lescência e
mesmo na vida a d u lta , a fa mília modela em gra n d e pa rte o desenvolvime nto h u m a n o ,
e m gera l , e o desenvolvi mento psíqu ico e m particular.
S u b l i n he-se, no enta n to, que, a pesa r do seu a ntigo recon heci mento na socio logia
como cél u l a básica, a fa mília não se i m pôs sempre como uma catego ria a na líti ca de

1 43
MARINHA FERNANDES CARNEIRO

refe rê n ci a na psicologi a , have n d o mesmo u ma tra d i ção neste ca mpo para enca rar, por
exe m p l o , a cri a n ça como u m a e ntidade isolada com potenci a l idades e comporta mentos
i n d e p e n d e ntes d o m e i o d e orige m , o u e ntã o pa ra preferir centra r a atenção na díade
m ã e - fi l h o (vej a - s e , por e x e m p l o , a posição d e René S p i tz) , q u a n d o m u ito na tría d e
(incl u i n d o o p a i ) . Os estu dos d e etologia tivera m a q u i u m p a p e l fu ndamenta l , l eva nd o o s
psicól ogos a centra r a atenção na fa mília e n q u a n d o gru po sistém i co, à semelha n ça do
q u e acontecia com a lgumas espécies a n i mais, n o sentido de detecta r u m ca mpo mais
vasto d e i nteracções e sua i n fluência, reconhecendo-se que o estudo do desenvolvimento
h u m a n o i m p l i ca o reco n h e c i m e nto d e n íveis sucessivos d e complexidade socia l 1 1 .
Mas o reco n hecime nto da fa mília como sistema ao q u a l se l iga uma pa rte i m porta n ­
tíssima do desenvolvi m ento da criança ( a s u a o ntogénese) implica que se esteja ta mbém
atento a o ca rá cter h o m e ostático desse siste m a, isto é, à sua ada ptação e m u d a n ça ,
pa rticu larmente a que ocorre c o m a evolução do ciclo de vida, ou seja, n ã o n o s limita rmos
ao co n h e ci m e nto das suas estruturas e fu n ções mas ta mbém à sua d i n â m i ca i nterna
(ate n d e n d o aos m o m e ntos d e e x p a n s ã o , c o ntra cção e disso l u ção) 1 2 . A a b o rdagem
psicol ógica da escola d o " l i fe-spa n " já e n ca ro u s e m p re o desenvo l v i m e nto h u m a n o
co m o u m " d e s e n vo l v i m e nto contextu a i " e m q u e o desenvolvi m e nto, o s entid o e o
co m p o rta m e n to d e p e n d e m de u m a d i n â m ica de i ntera cçã o e ntre os i n diví d u os e os
seus contextos a longo p razo, estudando nesta perspectiva o papel das "constelações
fa m i l i a res", isto é , a s relações e n d ossisté m i cas n o gru po fa m i l iar, dando i m p o rtâ ncia
ta nto a o desenvolvi m e n to dos a d u ltos como a o das cria n ças ou a d o l escentes, n u m
siste ma de efeitos recí p rocos, e n ã o a penas à tradicional relação determina nte do a d u lto
sobre a crian ça 1 3. A noção evolutiva de estádio está aqui ultrapassada: o desenvolvimento
h u m a n o (incl u i n d o os aspectos físico, psicol ógico e social) é um desenvolvi mento pa ra
toda a vida e o estado adulto não significa mais u ma fase estática e, embora se a bordem
noções com o desenvolvi m ento e mudança, estas são perspectivadas no sentido da conti­
nuidade. Assim, ao longo da vida fa miliar, os pais (e outros parentes co-residentes) influen­
ciam os fi l h os nas d iversas fases (infâ n cia, cri a n ça , adolescê ncia, jovem a d u lto, a d u lto
maduro}, deles recebendo ta mbém i n fluências, todos influenciando todos, num processo
d e reci p roci dade perma n ente, que pode tomar d i recções expa nsivas, isto é, a l a rga r-se e
a b r i r-se às i n fl u ê ncias do exte rior da fa mília o u , pelo contrá rio, provoca r um efeito d e
i nsula riza ção e isolame nto, leva n d o os m e m b ros do gru po a a l h earem-se d o exte rior 1 4.
A conceptu a l ização da fa mília com o gru po socia l i ntel egível a partir da teoria gera l
d o s s i s t e m a s está h oj e ge n e ra l i za d a . A fa m í l i a passa a s s i m a s e r v i sta c o m o u m
"conj u nto d e e l e m e ntos q u e estã o e m consta nte i nte ra cçã o e ntre s i e q ue te ndem a
manter-se em e q u i líbrio (tendê ncia hom eostática)". Na l i n h a dos modelos cibern éticas,
a fa mília é um sistema a b e rto, pa ra o exte rior e pa ra o i nterior " regi do por regras, nas
quais o co m p o rta m e n to dos seus m e m b ros está s ubmetido a o pri ncípio da retroacção
positiva e negativa", pela troca d e i n formação que se esta b e l ecer, evo l u i n d o de forma
a u to regu lada p a ra a fi nalidade de ga rantir a sobrevivência dos seus m e m b ros e servi r
as suas n ecessidades i n d ividuais. Como nos recorda Ruiz de M u n a i n , os eleme ntos orga­
nizadores da fa mília são tanto os biológicos como os sócio-cultu rais: o início da escolaridade,
as d i fe r en tes eta pas da a d o l escê n c i a , o matri m ó n i o , a m u d a n ça d e papéis, o p l a n o
p rofissi o n a l , etc., c o m o nasci m e nto e a m o rte a serem o s m a i s i n cisivos. A fa mília vive,
ass i m , numa osci lação periódica e ntre esta dos de equi líbrio e períodos de crise, e m que
certas regras são q u e b radas p a ra d a r l uga r a outras q u e m e l h o r se a d a pta m à nova
rea l i d a d e ("feed-back" positivo), m e l hora n d o a fu ncionalidade fa m i l i a r, ou p rovoca nd o a

1 44
FAMÍLIA E EDUCAÇÃO FAMILIAR

disfu nc i o n a l i d a d e , q u a n d o se p rete n d e a homeostasia pré-existente com as mesmas


regra s o u q u a n d o a desregu l a çã o é d e masiada e põe e m causa o siste m a . o fl uxo
co m u n i ca c i o n a l , b e m c o m o a produção d e " fe e d - b a cks" o u respostas, está , p o ré m ,
l i m itad o pelos níveis d e to l e râ n ci a e pelos valores morais e sociais do m e i o envolvente,
q u e permitem o u não, por exemplo, as re lações entre j ovens d e determinada idade no
exte rior, a u to ri za m a s saídas n octu rnas o u o utras a cções d e gra d u a l a u t o n o m i a d o
jove m . N esta l i n ha , a lguns a utores fa lam d o s sistemas fa m i l i a res c o m o formados p o r
su b-sistemas, ge racionais o u d e i n te resses, e m i nte racçã o. P o r exemplo, a i nterrelação
e ntre gera ções (avós, pais, fi l h os) criaria barre i ras i nte rge ra c i o n a i s q u e constitu i r i a m
l i m i tes adequados a cada su b-sistema, permiti ndo, porém, a permea b i l idade suficiente
e ntre e l es pa ra assegu ra r a troca e o desenvolvimento autónomo de todas as fu nções
próprias d e cada um deles, sem a qual surgi ria a patologia fa m i l i a r 1 s.

Ass i m , a v i s ã o s i s té m i ca da fa m í l i a p re c i sa d e s e r i n tegra d a e m a b o rd a g e n s
sucessiva m e n te mais a m plas. Se a fa mília p o d e s e r conce ptua l izada c o m o sistema o n d e
se v e r i fi ca a i n te racção d e v á r i o s s u bsi ste mas, n ã o p o d e m o s e s q u e c e r q u e e l a se
i n tegra n o contexto soci a l mais a m plo, surgi ndo ela própria como su bsiste ma. Como diz
La rs Dencik n u ma expressiva i mage m , ta l como para pa ra a p reendermos a fo rma co m o
os peixes n a d a m contra a co rre nte não podemos l i m i ta rmo-nos a a n a l isar u m exe m p l a r
s o b re a p ra i a o u s o b re o l a b o ratório mas te m os d e o observa r em p l e n o tu rb i l h ã o,
ta m b é m o desenvolvi m e nto da cri a n ça não pode ser reduzido a ela própria ou i nserta
n o s e i o fa m i l i a r , d e v e n d o n ó s e n c a ra r a p e r s p e c t i v a g l o b a l o u h o l í s t i ca d o
desenvo l v im e n to social e m gera l . D e resto, o i n te resse recente e cresce nte sobre as
con d i ções d e cresci mento da cria nça tem a ver com esta nova atitu de científi ca que
u ltra passou as fata l i dades d o d esti no como elemento de expl icação para se deter no
papel decisivo do contexto, o q u e l e v a a responsa b i l iza r a geração ascend ente pelo ti po
de i n d ivíd uos criados, faze n d o emergi r a preocu pação com o "vivido" das cri a nças d e
forma a produzire m -se i n d ivíduos e q u i l i b rados. Daqui decorre a i m po rtâ ncia concedida
à evo l u çã o d o c o n texto fa m i l i a r e soci a l , n o m e a d a m e nte a b a i x a d e n a ta l i d a d e , o
divórcio, o fa cto de haver menos cria n ças e de os respectivos pais serem mais velhos, o
facto de as cri a n ças serem, em gera l , desejadas e pla neadas, o recon hecimento dos
d i reitos da criança, a crescente i n d iv i d u a l iza ção da criança e o a paga r da "família" com a
su bstitu i çã o d este termo pelo de "casa l " , e n q ua nto ta nto as cri a n ças co mo os pais se
começam a e nca ra r como i n d ivíduos i ndepend e ntes, cada u m tend o os seus d i reitos
lega i s especificados, co m o já a co ntece nas sociedades n ó rd i cas, q u e pode chega r à
i n te rvenção do Esta do a reti ra r a tutela das cria nças aos pais ou ob riga r estes a cumprir
determ i nadas m ed idas.
Mas o desenvolvimento da cria nça está hoje i nterdependente dos vários "sociótipos"
que freque n ta - a fa m í l i a , a creche -. to mando a q u i o termo socióti po, por a n a l ogia
com o b i óti po, como lugar onde se vive mas não confi nado a uma defi n i ção física, a ntes
a l a rgad o ao q u a d ro materi a l , à estrutura soci a l , à composição do gru po, etc. o fa cto de
os pais tra b a l harem frequente m e nte, de existirem creches para rece berem as cri a n ças,
con fere à soci edade moderna u m ca rá cte r assistencial q ue produz paradoxa l m e nte um
d u p l o efe i to d e i n tegração e de segrega ção e m relação à criança, pois se por u m lado
há u m esfo rço p a ra as cria r, co m o Estado a penetra r na fa mília através de p restações
pecu n i á rias e da ed ucação escol a r, por outro lado são a fasta das da rea l i dade p rática e
q u otid i a n a do tra b a l ho, sendo até ca da vez mais o bjectos de um u n iverso próprio, com
d e p a rta m e n tos es pe cíficos p a ra si, desde ca m pos d e j ogos e o bjectos d e cons u m o

10 1 45
MARINHA FERNANDES CARNEIRO

próprios ( l i vros, d i scos, b r i n q u ed os), v i ve n d o n u m pa raíso cerca d o (teorica m e nte) d e


genti l ezas, a fastadas d a s rela ções sociais. A l é m d isso, a a uto-cu l p a b i l ização d o s p a i s p o r
esta rem pouco te m p o c o m o s fi l h os l eva a q u e , c o m o a p a recimento d estes, se v i rem
pa ra u m a m a i o r i nti m i d a d e , secu ndariza n d o ou abandonando as rela ções sociais mais
a m p las, passa n d o a procu ra r esta r com a cri a n ç a , joga n d o os seus j ogos, l e n d o - l h e
h istó rias, acompanha ndo-o nas e missões televisivas i n fa ntis, visita n d o o zoológico, tudo
" p a ra bem d a cri a n ça " , d e s e n v o l v e n d o a s a cti v i d a d e s q u e , a o fi m e a o ca b o , s ã o
propostas à cri a nça d i a ri a me nte na creche. Neste aspecto, as actividades do a d u lto na
fa mília passa m a ser as próprias das cri a n ças e as da cri a n ça n u nca são as do a d u l to.
consciente o u i n conscienteme nte, os pais p rocuram evita r o confl ito com a criança,
tenta m o máximo d e com p reensão, e quase nada lhe pedem, não a o b riga m a ada pta r­
se, desresponsa b i l iza n do-a. N esta fa m í l i a m o d e rna a cri a n ça pa ssa a ter u m a a m p l a
possi b i l idade d e d e i x a r expa n d i r os s e u s senti mentos, c o m explicitações de frustações,
agressões, gritos d e a l egria o u de ra iva, j à que o co m p o rta m e n to n o r m a l iza do só é
sugerid o para a via pública e não pa ra o recato fam i l i a r. Predomina hoje um i nstru menta­
lismo gera l , tu d o o q u e deve ser preservad o o é em fu nção de uma uti l i d a d e , pelo q ue
as re lações soci a i s to rnam-se, por esta via, p recá rias e frágeis, e m q u e ca da u m d eve
provar constantemente que m e rece a relação sob pena da sua v u l n e ra b i l idade. N u m
o utro senti do, pod e-se m e s m o d izer, c o m La rs D e n c i k , q ue hoje se vive n u m tempo d e
i n certeza p a ra os p a i s , cada v e z mais i nseguros sobre a fo rma d e co m o educa rem o s
s e u s fi l hos, n u n ca sa b e n d o exa cta me nte q u a l a atitude a tom a r c o m o mais conve n i e nte
nas m a i s p e q u e n a s c o i s a s , a p e l a n d o c a d a vez m a i s p a ra u m a m u l ti p l i ci d a d e d e
especi a l istas q u e prodiga l iza m conse l hos e p rescrições, q u e , no e nta nto, estã o se m p re a
m u d a r. Desta i n certeza cró n i ca decorre m , segu ndo o autor, d iversos fe nómenos:

a) uma dupla tendência pa ra a i m posição e a abdicação. Mais sensíveis às necessidades


e d esejos da cri a n ça , q u erendo satisfazê-la, mas ca da vez menos certos sobre a fo rma
d e o fazer, os pais a bd i ca m freque ntemente d e algumas fu nções parentais;

b) uma p rofissi o n a l ização cada vez mais a cresci da da "supervisão" das cria nças, com
pesso a l especi a l iza d o e re m u n e rado para d i rigir a sua educação, em que esta passa a
d e p e n d e r m a i s do pedadogo do q u e dos va l o res e sentido de vida da fa mília;

c) o desenvo lvime nto d e u m a "pedagogização" da vida da cri a nça e do seu meio,


prescrev e n d o c o n ti n u a m e nte quais a s a ctivi d a d e s m a i s i n d i ca d a s pa ra promover o
desenvol v i m e nto, com a cri a n ça a torna r-se u m ca mpo de operações pa ra o dese nvol ­
v i m e n to d a s com petências d estes profissiona is;

d) uma " patologização" dos traços i n d esejáveis, com o q ua dro dos traços normais a
restri ngi r-se ca da vez mais, com exemplos de cri a nças baru l h entas ou, pelo contrá rio,
de cri a n ças isoladas a serem o bjecto da observação de especia l i stas em tera pia, q ue
procura m logo o d isfu ncionamento da criança , numa situação em que o comporta mento
normal é defi n i d o ca da vez mais de forma b u rocrática 1 6.

A p e r s p e ctiva s o c i o - c u l t u r a l

o m o d e l o estrutu ro-fu ncional ista d e Ta l cott. Pa rsons sobre a fa mília na soci edade
i n d ustri a l , data d o dos a n os 5 0 e basea d o n o exe m p l o norte-a merica n o , exerceu uma
gra n d e i n fl u ê n cia sobre os estudos nesta á rea, a i n d a q ue, desde há a lgum te mpo, seja

1 46
FAMÍLIA E EDUCAÇÃO FAMiLIAR

o bj e cto de críticas face à fragi l i d a d e dos c o m p o rta m e n tos fa m i l i a res e suas rá p i d a s


a l te r a ç õ e s . M a s m u itos d o s est u d os q u e m a rca m a s n o v a s d i fe re n ça s s ã o a i n d a
compreensíve is à luz da a n á l ise parso n i a n a , e n q ua nto modelo cuja va lidade se p õ e em
causa e se prete n d e relativiza r ou contesta r. I m p o rta, assi m , a p rofu n d a r u m pouco o
modelo parso n i a n o , de ntro do qual as fa mílias modernas surgiam "mais preocupadas
com a i nti m i d a d e do q u e com gra n des solidari edades e mais v i radas para a p romoção
d o q u e para a tra d i çã o " 1 1.
Partindo do con ceito de diferenciação, segundo o qual há "uma especialização crescente
que conduz as sociedades modernas a criar novos agentes enca rrega ndo-se das fu nções
a n teriorme nte exercidas por um agente não especia lizado, concentra n d o este ú lti m o
agente d e m o d o m a i s adequado n u m n ú m e ro m a i s reduzido d e fu nções", Parsons v a i
d e fi n i r a fa m í l i a c o m o u m su bsistema i nt e rd e p e n d e nte q u e ma ntém l i ga ções c o m
outros su bsistemas e c o m o sistema social n o s e u conj u nto 1 8
As fu n ções da fa mília, a estrutura da fa mília e os papéis mascu l i nos e fem i n i nos n o
s e u i nterior s ã o os vecto res teóri cos d o m i n a ntes.
As fu n ções da fa mília na sociedade i n d ustria l d i ferencia m-se considerave l m ente das
p reva l ecentes na soci edade ru ra l , pois o gru po fa m i l i a r a l a rga do deixa de ser o agente
da p r o d u ç ã o e c o n ó m i ca , p a ssa n d o esta p a ra a i n d ú s t r i a . O u tras fu n ç õ e s , a n tes
dese m p e n h ad as p e l a fa m í l i a , passa m , com a i n d u stri a l iza ção, a ser tra nsfer i d a s o u
com p a rti l hadas com o u tros age n tes, ta is c o m o a e d u cativa, a responsa b i l i d a d e p e l a
sa úde, a i n formação, os laze res, etc. T u d o se passa n u m jogo de co mpensa ções, em q u e
a p e rdas relativas se s o m a m ga nhos relativos, pois a l i b e rtação tota l o u pa rcia l d e
ce rtas fu n ções permitiria opti m i za r as resta ntes. Pa ra Pa rsons, a fa m í l i a nã o esta ria
c o n d e n a d a à d e s o rga n i z a çã o , c o n ti n u a n d o a ser um e l e m e n to d e esta b i l i d a d e e
e q u i l í b r io , assegu ra n d o s e m p re as fu n ções de procriação e a dos c u i d a d os com a s
c ri a n ça s , assegu ra n d o a i d e n ti ficação social d estas. E m resu m o , l o nge se d e pod er
c o n s i d e ra r esva z i a d a , a fa m í l i a a s s e g u rava a i n d a d ua s f unções fu n d a m e n ta i s e
i rreversíveis, i n te r l i gadas: "a social ização p r i m á ri a das crianças pa ra q u e se possa m
t o r n a r u m d i a m e m b ro s da s o c i e d a d e e m q u e n a s c e ra m e a e s ta b i l i za ç ã o d a s
p e rso n a l i d a d es a d u ltas da p o p u l a çã o " 1 9 Desta fo rma se assegu rava a social ização,
" interiorização da cultura da sociedade n o seio da qual a criança nasce", numa tendência
h o meostática , já que os d i ferentes m e m b ros, esta n do i n tegra dos n o sistema, através do
desempenho dos seus papéis promovem a estabilidade e equi líbrio daquele, funciona ndo
ass i m a fa mília como u m su bsiste ma. A fu n çã o d e social ização é, então, dese mpen hada
pela fa mília, e m b o ra agora d e forma com p a rti l hada (com a escola, os mass media, os
grupos). Ora, n a sociedade i n d ustria l , a fa mília costu ma prepara r os jovens no sentido da
a u to n o m i a e da responsa b i l i dade, pelo q u e às vezes a própria " i ndisci p l i na " dos jovens
poderá ser v ista como meio d e responsa b i l izaçã o , permiti nd o ao jovem o recon heci­
m e n to , e m l i b e rda d e , dos seus p ró p rios papéis e a desco b e rta d e n o rmas e d esses
papéis, tal co m o a tri butação de um a m o r condiciona l , l igado ao sucesso na escola ou
nos gru pos, n u m a l i n ha de "activismo i nstru menta l " . Na segu nda fu nção da fa mília, a
esta b i l i z a ç ã o da p e rso n a l i d a d e a d u l ta s e r i a res o l v i d a esse n c i a l m e nte a t ra v é s d o
casa m e n to, e m q u e cada esposo se a p o i ri a n o cônjuge 2o.

Qua nto à estrutu ra , esta fa mília moderna seria nuclear ou conjuga l (pais e cria n ças),
com residência d e tipo neol oca l (ca da casa mento corresponde a o esta beleci me nto fora
de casa dos pais de a m bos os la dos), assente no casa mento e com va lores orientados
p a ra a raci o n a l i da d e , d i ferenci a n d o fo rte m e nte os pa péis d os sexos e das gerações,

147
MARINHA FERNANDES CARNEIRO

assegu ra n d o um pa re ntesco b i latera l , isto é, as cri a n ças não estão mais l iga das a os
parentes da m ã e dos q u e aos do pai. Te ría mos, ass i m , uma u n idade de residência e de
c o n s u m o , com c o m u n h ã o d o s r e n d i m e n t o s m o n etá r i o s . A s u b s i stê n c i a fa m i l i a r
d e p e n d e ri a , ess e n c ia l m e nte, d a acti v i d a d e d o ma r i d o, nã o esta n d o d e p e n d e nte das
fa mílias d e o rige m , respondendo às n ovas exigências da soci edade i n d ustri a l , pela sua
redução e fa ci l i d a d e d e desl ocação, ao mesmo te mpo q u e a i n d e pendência eco n ó m i ca
esta ria assegu ra da pela competência, assegu rada por ca pacidades a d q u i ridas e nã o d e
nasci m e nto, com possi b i l idades d e p ro moção no tra ba l h o , já q u e agora não seria regra
o n epotismo da promoçã o fa m i l i a r. Com a resi dência neoloca l , ga ra nte-se a i m pa rcia l i ­
dade fa ce a o s diversos fi l hos, não existi n d o m a i s regras no sentido d e priv i l egiar u m ou
outro com d ete rminadas propriedades na h e ra n ça , pelo q u e a pri m e i ra lealdade é i nter­
conj uga l e não em relação aos pais: a escolha conj uga l é l ivre, pois a "família mode rna
assenta n o casa m e nto e n q u a nto que, no passado, o casa me nto assentava na fa mília,
esta p ré-existente e sobrevi n d o à q u e l e " 21.

A especial ização e ra a i nda s u bjacente à d i ferenciação dos papéis fa m i l i a res segu ndo
sexos e gerações. A d i fe re n ciação dos papéis segu ndo os sexos e ra , para Pa rsons, u ma
base i n d ispe nsáve l para a m a n utenção do sistema e da social ização da criança: "Ao p a i ,
com p ete o papel i nstru m e n ta l d e l igação com a sociedade, e , e m pri m e i ro luga r, prover
de bens materi a i s a fa m í l i a , enqua nto q u e à m u l h e r ca b e o papel expressivo no i nterior
da fa m í l i a ". Daqui se concl u i que, no modelo p a rso n i a n o , dese m p e n h a r uma profissã o
re m u n e rada e ra o papel primord i a l do marido, enqua nto o l a r e os cuidados da cri a n ça
seria m o o bjecto do papel fem i n i n o , pelo q u e a m u l h e r expri me melhor a vida a fectiva
da fa m í l i a , esta n d o mais próx i m a das cri a n ças do que o pai. Em torno desta estrutu ra
b i p o l a r dos papéis fa m i l i a res se desenvolvia a fo rmação da persona l i dade da criança,
com o ra paz a associa r-se a o p a i , to mando-o como modelo, e o mesmo para a ra pa riga
em r e l a ç ã o à m ã e . H a v e r i a a ss i m u m a n í t i d a d i sti n çã o e ntre a s ta refa s de /eader
instrumenta/, atri b u ídas ao pai e as ta refas expressivas confiadas à mãe n .
Este retrato soci ológico da fa mília, q u e consagra essencialmente as representações
da classe m é d i a a m e ricana do i m e d iato pós-gue rra , a p resenta uma te ndência para o
e q u i líbrio e harmonia q u e já não é com patível com as novas i magens da fa mília nos
te m pos mais rece ntes. São as a lterações n a q u i l o que e ra consi d e rado a base fu nda­
m e nta l da fa mília - o casa m e n to , são as a lterações nos papéis do i nteri o r fa m i l ia r, são
a s m o d i fi ca ç õ e s n o s va l o re s , etc. Por i s s o , d i v e rsos a utores a va n ç a m c o m o u tras
ca racte rísti cas da fa m í l i a , como a a b e rtu ra a o i nterior e e xte rior, a sua ca p a c i d a d e
mo rfogé n i ca (a ptidão p a ra cri a r novas estruturas e se ada pta r), regu lação de condutas
baseadas n a prioridade sobre a com u n i cação e i n formação, etc. Andrée Michel recorda
neste c o n texto a i n vestiga ção e n tão rece n te e a l egiti mação das m e d i d as políticas
tomadas pela Suécia (e e ntreta nto por outros países) no que se refere à a b ol ição do
modelo dos papéis mascu l i nos e fe m i n i nos tra d i cionais, no sentido de se conci l i a r o
d i reito à matern i d a d e com o d i reito da m u l h e r ao e m p rego, o q u e i m p l i ca a redefi n i ção
dos papéis, n o m e a d a m e nte a ocupação do marido com as cri a n ças e a fa míli a , b e m
co m o a criação d e estrutu ras sociais para e s s e fi m 23 Por outro lado, não fa lta m auto res
a nega r que te n h a d esa parecido a fu nção prod utiva da fa mília, pois, se não se produz
p a ra o m e rca d o , h á se m p re u ma p rod u çã o e n o r m e d e s e rv i ços d o m ésticos, ocu lta
q uase sem pre, porque não e ntra n o sistema de troca monetá ria e que, deste modo,
p e n a l iza gera l m e nte a m u l h e r. De igual modo se recon hece q u e outros postu lados de
Pa rsons estã o l o nge da con cretiza ção plena, sej a , por exe m p l o , o primado da compe-

1 48
FAMÍLIA E EDUCAÇÃO FAMILIAR

tê ncia na carre i ra profiss i o n a l , ta ntas vezes envolto em redes de patroci nato, de base
fa m i l i a r o u c lie n te l a r.
Para auto res como Louis Roussel , a fa mília apresenta-se com um futuro i n certo, face a
i n d i ca d o res q u e evidenciam os aspectos em q u e a decisão dos i n d ivíduos é i m porta nte:
a e ntra da e m força das m u l h e res n o mercado de tra b a l h o, a baixa d rástica da nata l i ­
d a d e , o d i vórcio, o nasci m ento fora do casa mento, o a u mento acentuado da i d a d e ao
casa m e n to , o a u m e nto m u ito e l evad o da proporçã o de celi batá rios, as u n i ões d e fa cto.
Pa ra Roussel d eu-se uma m o d i fi cação centra l : "as relações fa m i l i a res, e em especial as
conj uga is, deixara m d e ser defi n i das pelas i n stitu i ções para passa re m a ser regu ladas
por pactos. Quem d i z i nstitu i ção diz norma p ú b l i ca q ue se i m põe aos i n d ivíduos. Quem
diz pacto, d esigna u m acordo e ntre parti cu l a res." Pa ra e l e , i nstituição signifi ca norma
n ã o apenas i m posta d o exterior mas i nteriorizada natura l mente, enqua nto o pacto se
baseia e m pa rti c u l a rismos, e m b o ra i nscrito num m o d e l o soci a l d e e q u i d a d e . N esta
medida se diz q u e a fa mília se desi nstitucio n a l iza , passa a ser considerada um domínio
reservad o q u e só com pete às pa rtes determinar. "Hoje em dia, cada casa l deve i nventa r e
rei nventa r conti n u a m e nte a sua própria fó rm u la de solidariedade e os critérios comuns
d e escol h a . Na n ossa vida fa m i l i a r, não q u e remos mais ser governados por leis, mesmo
se estas se torna m . n este domínio, cada vez mais di scretas". Transformação esta que
acom p a n h a u m fe n ó m e n o mais gera l d e modifi ca ção das atitudes fa ce às i nstitu i ções
e m gera l e seus constra ngi m entos, e que radicará no abandono das gra ndes na rrativas
que l igavam a fe l i ci d a d e i n d i v i d u a l ao bem-esta r co lectivo, e o respeito i ndividual pela
l e i ao b e m g e ra l , p e l o d e s m o r o n a m e nto das ce rtezas q u e a ntes a s s ust e n tava m .
passa ndo-se a viver n u m m u n d o desencantado. Nesta medi da , a vida e m fa mília, sem
pontos d e referê ncia, terá de ser ge rida " à vista ". o sentido da i nércia é para que o
casa mento perca cada vez mais o "seu sign i ficado e a sua fu nção de fronte i ra": n e m as
relações sexuais, n e m a vida em co m u m , n e m a fecu ndidade o exigem como requ isito
i nstituci o n a l . A sua b a n a l ização e o seu ca rá cter reve rsível até o podem fazer d ispa ra r
e m termos q u a n titativos, m a s c o m outro significado ( a raci ona l i da de económica?). Mas
já n o ca m p o da fecu n d i d a d e , se u m fi l h o pode ser compatível com a nova situação, o
segu n d o já o será d i fi c i l m e nte e o te rce i ro i m p l i ca ri a u m a reorga n ização com p l eta da
fa m í lia , n o seu modo d e vida, na activi dade profissional d e pelo menos u m dos pais e na
economia afectiva , passa ndo o centro de gravidade do casal pa ra os fi lhos 24 .

A fa m í l i a c o m o i n stâ n c i a e d u cativa

A s pági nas a nte riores tê m v i n d o a pôr e m re levo os principais traços da fa mília, com
a fu nção e d u cativa n o centro da sua fu nciona l idade, enqua nto eleme nto de soci a l ização
a o n de se esta belecem os p ri m e i ros conta ctos do i n d ivíd uo, as fo rmas mais el eme ntares
de com u n i cação, n u m m o d e l o i nteractivo e m que se vai i nterioriza n d o a "especi a l ização
dos p a p é i s e atitudes. a re l a ção d e l uga r, d e n o rmas re l a c i o n a i s e um conj u nto de
representações e d e va lores que orie ntam as con d u tas" 25 Por outro lado, fo mos obser­
va ndo como a m utação estrutura l da fa mília a rrastou a a lteração da sua fu nção educativa ,
pouco a pouco esvaziada em certo sentido, p e l a a bsorção da criança por outras agências
d e s o c i a l iza çã o , e m b o ra a fa m í l i a conti n u e a ser o n ú c l e o centra l na fo rmação do
desenvo l v i m e nto pessoa l e h u m a n o . Basta rá i nvocar a m o b i l i d a d e cultu ra l e soci a l e a

1 49
MARINHA FERNANDES CARNEIRO

sua expressão aos diversos níveis pa ra verifi ca r que a criança pode com pa ra r e aprender
as divergências e ntre o que se passa e m casa , o que vive na escola, o que vê em casa dos
a migos ou na televisão, e, deste modo, faci l mente a preender o papel menos determinante
da fa mília na e d u cação.
Volta n d o a u m auto r como La rs Dencik, podemos i n terroga rmo-nos com ele sobre
as competências q u e , e n q u a nto i nstituição fa m i l iar, devemos d esenvolver nas cri a n ças,
e m face do desenvolvi mento da sociedade. Segu ndo este a utor, são seis as competências
pessoai s que, n o m í n i m o , o m u n d o de hoj e exige à cri a nça para a sua i n tegração social:
- se r soci a l m ente fl exível ;
- reflecti r n a sua relação com os outros;
- i n tegra r experiências d i fe rentes n u m conj u nto coere nte e compreensíve l ;
- c o m u n ica r e e n u nciar desejos e o p i n iões com eficácia;
- possu i r a u to-contro l e da sua a fectividade e a regu laçã o dos seus i m pulsos;
- to m a r i n i ciativas e desenvolver a confi a n ça e m si mesmo 26 .
M a s q u e m é todos se p o d e m d i scern i r p o r pa rte d os p a i s p a ra tra n s m i ti re m e
fazerem i nterio riza r estes e outros va l o res, regras e fo rmas de conduta às cri a nças ?
L i m ita ndo-nos aos problemas da actua lidade, Ke l lerhals e Monta n d o n , n u m tra b a l h o
m u i to i nteressa nte 2 7 , a ponta m a d i versidade de técn i cas d e i nfl uênci a uti l iza das pelos
pais n este domínio e a p resenta m a segu i nte tipologia:

- o con trole, visa n d o obter a conformidade pela via das ob riga ções ou i nterd ições,
n u m a l i n ha uti l i ta ri sta , i m po n d o o b rigações s u p l e m e ntares, i n te rd i çã o d e saídas ou
mesmo sa n ções físi cas.

- a relação, p rocu ra a conform idade pela m a n i p u lação do con texto relaci o n a l , com
base n o pressuposto de que as condutas da criança são uma resposta ao meio envolvente,
pelo que se lhe a p resenta m n ovos a m igos, altera m-se- l h e os professores pa rti culares,
d e d i ca-se-l h e mais atenção e ca ri nho.

- a motivação m o d i fi ca n d o a ba lança dos custos e proveitos subjectivos da criança,


,

a u m e nta n d o a atraçã o ou a re pulsa e m re lação a determ i nadas condutas, por exe m p l o ,


e x pl ica n d o - l h e o va l o r dos a l i m entos, lendo-lhe textos cativa ntes a f i n s aos objectivos.

- a moralização , referindo valores superiores q u e , já i nteriorizados, constituem uma


forma de legitimação para condutas específicas, por exemplo, ligando a reserva sexual a argu­
mentos religiosos, o trabalho quotidiano ao amor aos pais, a Deus, à Nação, à honra pessoa l.

Estes vectores a p resentava m uma util ização d i fere ncia l , isto é, a estratificação social
com base nos i n q u i ri d os permitiu veri fi ca r, por exe m p l o , que os i n d ivíduos dos m e i os
populares util izava m com mais frequência as técn i cas de "controle" e colocava m as d e
" m otivação " e m ú l t i m o l uga r, segu i d os d e pe rto pelos quadros méd ios. Já nos quadros
superi o res o "contro l e " e a "relação" ocupavam idê ntica perce ntagem nas preferências,
e n q u a nto nos u n i versitá rios e nas p rofissões l i b e rais as de "relação" e ra m d e longe as
mais frequentes, m ostra n d o a i nfl uência do meio soci a l na atitude educativa da fa mília.
Tendo e m conta o nível d e i nstrução da mãe, sobressa i ta mbém a d i ferente util ização
das t é c n i ca s de i n fl u ê n c i a , com a s q u e possu í a m o e n s i n o e l e m e n ta r a o p ta r e m
clara m e n te p e l o "controle", enqua nto as de cultura u n i ve rsitá ria util izava m a "relação"
p refere n cia l m e nte e dava m maior i m po rtâ ncia à " m otivaçã o " . De igual se verifi cava
u ma corre lação das técn i cas d e "controle" com as fa mílias fechadas (Bastião) , enqua nto
as fa mílias a b e rtas (Associação) se i n cli nava m para formas d e "relação".

1 50
FAMÍLIA E EDUCAÇÃO FAMILIAR

joga n d o com os vectores referidos, os a utores citados a ponta m quatro esti los d e
i nfl uência dos pais e m relação aos fi l h os:
- o estilo carismático, o n d e o controle e a relação são frequenteme nte uti l izados
( 1 8o/o dos casos);
- o estilo disciplinar, onde só o controlo é freque nte m ente util izado (38o/o);
- o estilo relacional, o n d e a relação é frequentemente m a n i pulada (23o/o);
- o estilo anómico, onde n e n h u m dos vecto res é em pregue siste mática m e nte (2 1 o/o).
Estes esti l os d istri b u e m -se u m pouco p o r todos os m e i os socia is, conj u ga ndo-se,
esta belecendo-se co rre la ções com as configurações já a pontadas (nível soci a l , coesão).
o exercício da a utoridade paterna ta mbém se a p resenta sob três fo rmas, de utilização
d i ferencial segu n d o os gru pos a n teriorme nte citados:

- a coercitiva, com os pais a acentua r a sua força sobre a cria nça, considerada como um
ser que não conhece os seus l i mites e que precisa de conta r com pais fortes e respeitáveis;

- a pers uasiva (ou de n egociação}, que procu ra explica r ao fi l h o as razões da decisão


p a te rn a l , p r o c u ra n d o o bte r o s e u a c o r d o , mostra n d o m a l e a b i l i d a d e i n cl us i v e p a ra
m o d ificar a o p i n i ã o se a a rgu m e ntação fi l i a l os convencer;

- a estruturante, d a n d o m e n os i m po rtâ ncia a u m a conformação i med iata e mais a o


forneci m ento d e bases á cri a n ça a partir da qual esta construa a s u a autonomia, su rgi ndo
o pai como "outro", n ã o porque sabe mais o u tem autoridade, mas porque existe.

E se descermos aos papéis educativos da fa mília? Quais são, de que forma se exercem ?
sendo e m bo ra d i fícil ca ra cte riza r a estrutu ra dos papéis e d ucativos fa m i l i a res, se conti­
n u a rmos a segu i r Kellerhals e Monta n d o m , podemos dizer q u e a i nfl uência e d ucativa
dos pais em relação aos fil hos se real iza, tanto de forma expressiva como i nstrumental, pela:

- regulação d i recta do co m p o rta m e nto (e n co raj a m e nto, repreensão, vigi l â n cia da


higien e , contro l e dos deveres).

- com unicação (troca d e i n formações, d e co nfidências, d e o p i n i ões).

- cooperação em e m p resas co m u n s (lazeres, viagens, h o b b i es ... ).

Estes papéis são a p l i cados d e fo rma d i ferencial pelos pais, quer na perspectiva da
d ivisão d o tra b a l h o fa m i l i a r, quer nas p e rspectivas do estatuto social e da coesão do
gru po fa m i l i a r. Por exemplo, n o que respeita á " regu lação", verifi ca-se que a man utenção
(vigia r o vesti r e a higiene, controlar os deveres escola res, i r ao médico), a normatividade
(co m e n ta r os co m p o rta m e ntos, dar a u to rização, p u n i r, explica r pr i ncípios m o ra i s) e a
suste nta çã o e m oci o n a l (co nsola r, e n co raja r, va loriza r) são a ctividades em q u e mãe se
i m p l i ca duas vezes mais d o q u e o p a i , e n o caso das actividades de ma n utenção chega
a ati ngi r-se o "score" de quatro vezes mais. A pree m i n ência fem i n i na vamos e ncontrá-la
a i nda n o volume d e co m u n i cação com a criança, sobretud o no q u e toca aos pro b l e mas
afectivos. A i m p l i cação do pai nos três domínios acima considerados é sem pre mais fraca
q u e a da mãe e basta nte d i fe re n ciada segu n d o o tipo de coesão fa m i l i a r. Por outro lado,
a d i ferenciaçã o acentua-se, por exe m p l o , com o abaixamento do nível d e i nstru ção.
E s e é v e r d a d e que e x i ste uma h i stória uma evo l u çã o h istó r i ca dos m o d os de
e d u cação fa m i l i a r, ta l como o d e m o ntra m P. Ariés ou M. Fouca u lt, ma rcada por uma
passage m d e fo rmas d e contro l e p a ra fo rmas d e sedução, p o d e m o s d i zer, com os
a u to res que v i m os segu i n d o 2 s , que a e d u cação a m i n istra r ás cri a n ças experi menta

151
MARINHA FERNANDES CARNEIRO

fl utuações q u e se relaci o n a m , q u e r com a situação socia l , quer com a fa mília e o seu


ti po de coesã o soci a l . É pelo m e n os o q u e as suas i nvestiga ções a ponta m , evidenciando
três gra ndes estilos e d u cativos na fa mília - materna/isto , estatutário e contratualista - ,
te n d o em conta a a ná l ise dos segu i ntes vectores de a n á l ise: fi na l idades (a utoregu lação,
sensi b i l izaçã o , cooperação), técn i cas (co ntrole, relação, motivação, e m patia, a u toridade
coercitiva ) , estru t u ra d o s papéis ( i m p l i cação pate rnal e matern a l , i n d i fe renciação d e
recu rsos) e coordenação (a pelo a recu rsos externos, acolhimento d a s crianças, i m p l icação
paterna l fa ce á TV, d i fusão).

Conclusão

A q uestã o da fa m í l i a e , concomitantemente, a d a educação fa m i l i a r são q uestões


centrais do desenvolvimento h u ma n o e pessoal e tornam-se particu larmente i m porta ntes
na m e d i d a em q u e se assiste, de m o m e nto, á tra n s formação rá p i d a dos m o d e l os
fa m i l i a res. Estes n u n ca fo ra m estáticos, q u e r sob o ponto de vista d iacró n i co, pois há
u m a l onga h i stória da fa mília, quer sob o po nto de vista sincrón i co, pois em todas a s
é pocas n ão houve u m modelo ú n i co d e fa mília, mas s i m uma grande diversidade expli­
cável pelos contextos sociais e pelo fa cto d e a fa mília ser uma das i nstâ ncias q ue mais
evi d e n cia a sua natu reza d e "construção social". Poré m , na a ctual idade, estas q u estões
ga n h a m a cuti l â n cia face à vul n e ra b i l idade d o "casa l" , emergindo novos papéis, atitudes
e até n ovos p rotago n i stas que suscita m d i fe rentes modelos educativos, os quais estão
lo nge d e uma cla rifi caçã o.

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1 53
MARINHA FERNANDES CARNEIRO

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2 2 . I d e m , i b i d e m , pp. 8 5 - 8 7 .

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28. I d e m , i b i d e m , p p 20 1 - 2 2 7 .

1 54
A DIS T RIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO
E AS ALT E RAÇÕE S NA OR G A NIZAÇÃO
DO T E R R IT ÓR IO DO G RANDE PORT O

José Alberto V. Rio Fernandes


Universidade do Porto

1 . Evo l u çã o d a d i stri b u i çã o d a p o p u l a çã o

A o l ongo d o século XX, a p a r d e u m a concentração populacional ao longo d o litora l ,


o c o r r e u u m p ro c e s s o d e c o n v e rgê n c i a n o s d o i s p r i n c i p a i s a g l o m e ra d o s u rba n os
p o rtugu eses, o q u a l fi c o u m a rca d o , n o s a n os m a i s recentes, p o r u m a p rogressiva
perife rização da fixação residencial.
No Porto, como noutras cidades, o processo de concentração populacional ma rcou-se
i n icia l m ente pela densifi cação da á rea central (agora dita histórica), com a subd ivisão
dos espa ços e fo rmas d e convivência p o l i fa m i liar. A conti nuada expansão d emográ fica e
u rba n ística conduziu igua l m e nte , na envolvência, ao a p rove ita m e nto do i nteri o r dos
q u a rtei rões, com soluções do tipo "ilha" q u e a relativa especificidade fu ndiária e fisca l
aj udou a cria r.
Passados os tem p os e m que o ritmo d e cresci mento a n u a l era da ordem dos 3%
(entre 1 8 78 e 1 9 1 1 ), a cidade co nti nua a ver a sua popu lação a u m e ntada, cada vez mais
à custa da u rb a n izaçã o dos seus "a rredores", o q u e a m e l h oria das i n fra estru ras de
ci rcu lação e o desenvolv i m e nto dos transportes possi b i l ita.
Ass i m , desde fi n a i s d o século passa do que as freguesias centra i s (S. Nicola u , Sé,
Vitória e M i ragaia) vêm a sua popu lação deixa r d e a u m e nta r signifi cativa mente e desde
1 9 5 0 q u e passam a regista r perdas. E ntreta nto, numa peri feria a i nda contida pelo l i m ite
conce l h i o , os a u m e ntos são signifi cativos, havendo todavia alguns comporta mentos a
d i ferenciar. Ass i m , e n q u a n to nas freguesias d i tas pericentra is (Cedofeita e Bonfi m ) o
cresci mento é particula rme nte i m porta nte n u m pri m e i ro período situado entre meados
d o sécu l o XIX e m e a d o s d o sécu l o XX, relativa m e nte às fregu esias mais p e riférias
(Pa ra n h os, Ra m a l d e e Ca m p a n hã) esse cresci m ento é mais ta rd i o (com i n ício em fi nais
de Deza nove) e particula rmente recente n o caso de Aldoar.
Este p rocesso de crescente " periferização populacional" estende-se igua l m e nte para
lá do l i m ite a d m i nistrativo do Porto e a d q u i re uma particular i ntensidade nas décadas
de 60 e 70, q u a n d o existe , n o G ra n d e Porto, uma relação pratica m ente l i near e ntre a
distâ ncia relativa mente ao centro histórico do Porto e a taxa de cresci mento da população,
com d i m i n u ição dos efectivos nas fregu esias centrais, estagnação n o anel pericentra l e
a u m entos parti cularmente sign i fi cativos nas freguesias e nvolventes da cidade-centro.
Por fi m , a ú l ti m a d é cada ( 1 9 8 1 - 9 1 ) , se p o r um l a d o a c e n t u o u o p rocesso (com
m a i o res d i m i n u i ções n o ce ntro e maiores a u m e ntos em freguesias mais afastadas do
Porto), por outro a u m e ntou ta m b é m a complexidade, na medida e m q u e pro l i fera ra m
a s e x c e p ç õ e s a u m q u a d ro s i m p l e s m e nte m a rca d o p e l a d i stâ n c i a re l a t iva a u m
q u a l q u e r cen tro, m u ito p o r força d a a lteração do quadro das acessi bil idades (com auto-

1 55
JOSÉ ALBERTO V. RIO FERNANDES

F I G U R A 1 - EV O L U Ç Ã O DA D I S TR I B U I ÇÃ O DA P O P U LAÇÃO
N O CONCELHO D O PO RTO (%)

/.
60

50

40 • freg.centrais

D freg. pericentrais
30
• freg. periféricas

20 • Foz

10

o I •· l I l l o o
I • I.
o o o
l o
l l l
N M v U") <.D ..... CXl
cn cn cn cn cn cn cn

F I G U R A 2 - E V O L U Ç Ã O D A D I S TR I B U I Ç Ã O DA P O P U LAÇÃO
N O G RA N D E PORTO (%)

;/.
60

50

• Porto
40
0 V.N. Gaia

• Matosinhos
30"
• Maia

lilllJ Gondomar

20
D Valongo

10

1 900 191 1 1 920 1 9 30 1 940 1950 1 960 1 9 70 1 98 1 1 99 1

1 56
DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO E ALTERAÇÕES NA ORGANIZAÇÃO DO TERRITÓRIO DO GRANDE PORTO

-estra d a s e o u tras v i a s rá p i d a s), da existência de p o l íticas u rba n ísticas d i sti n ta s n o


i nteri o r d o G ra n d e Porto e, porventura , d u m a m e n o r dependência da envolvência face à
cidade do Porto-centro.

2. O p r o c e s s o de p e r i fe r iz a ç ã o

Ao aglomera d o u r b a n o do Porto, ou talvez m el hor, ao "conglomerado urbano" d o


Porto, m isto d e agl o m e ração com cidade-centro forte e con u rbação feita de policen­
tra l idade, a o G ra n d e Porto e n fi m , cuja complexidade d esafia a defi n i ção, a esta espécie
de "condensação urbana" (co m o Orla n d o Ribeiro lhe chamou) resu ltante da crescente
d e n s i fi ca ç ã o regi o n a l em torno d o e n co ntro da estra da N-5 com o D o u ro , fa lta - l h e ,
fu n d a m e n ta l m e n t e , u m a d e fi n i ç ã o c l a ra d o s p a p é i s e n tre a c i d a d e - c e n t ro e a s
e nvolventes (hoj e ta m b é m cidades), assi m como legislação q u e perm ita a ad opção e
rea l ização de políticas m etro p o litanas supra m u n icipais que, pelo menos, faci litassem a
concretização de m e d i das de natu reza i nterm u n icipal.
Assu m i n d o-se cada vez mais como o núcleo forte d e u m a vasta á rea d omina nte­
m e nte u rb a n a e ú n ico c o ntra p o nto à capital d o país, o G ra n d e Porto é forte m e nte
m a rcad o por heteroge n e i dades diversas e riva l i dades e concorrê n cias d e gra n d e i nten ­
s i d a d e , que se movi m e nta m n u m quadro fortem ente competitivo, para cuja perpétua
tensão o cada vez m a i o r e q u i l íbrio populacional que existe tem tido uma papel deter­
m i n a nte (seja por via da i nfl u ê n cia sobre as receitas m u n i ci pais, seja por via do papel
dos cidadãos, cuja gra n d e mai oria n o G ra n d e Porto reside hoje fora da cidade-centro).
Vários aspectos estão directamente associados a este processo a parentemente simples
de estagnação o u d i m i n u i çã o n o centro e de cresci mento periférico que pa rece ter sido
fe i to por sucessivas "vagas" relativa m e nte especi a l izadas (feito não só a p a rt i r do
centro, co m o dos centros m e n o res envo lventes d o Porto).

F I G U R A 3 - M O B I LI D A D E CASA-TRA B A L H O - ESCOLA N O G RA N D E P O RTO


( E M P E R CENTAG E M , P O R CONCELHO D E O R I G E M )
90

ao
• PORTO
70

60 D V.N. GAIA

50 • MATOSINHOS

40 • MAIA

30 I]! GONDOMAR
20
0 VALONGO
10

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1 57
JOSÉ ALBERTO V. RIO FERNANDES

Assi m , pri m e i ra m e nte, terá su rpreendido a diferenciação dos ritmos urbanísticos entre
a á rea centra l e a periferia , com a decadência (ou su bstitu i çã o) do parque habitacional
daquela e a acelarada m u l t i p l i cação dos i m óveis d e a pa rta me ntos cada vez mais volu­
mosos e a rquitecto n i ca m ente monótonos, numa periferia cada vez mais densa e extensa.
Em segu ida (os tempos são tomados a q u i na gen e ra lidade e recon hecendo natura l ­
m e n te q u e e m ca da u m dos períodos existi ra m sobre posi ções) dá-se a perife rização d a
i n d ústria ( n a s u a v e rte n d e fa b ri l , fu n d a m e nta l m e nte), p o i s q u e a c i d a d e d i fi cu lta a
expa n sã o ou reestru ração da fá brica, ao mesmo tempo que o d i ferencial dos preços do
solo a ctua como fo rte atractivo pa ra u m a re loca l ização i n d ustri a l exte rior à m a n cha
construída mais densa.
E se numa p ri m e i ra fase, o i n tenso ritmo de u rban ização enriquece os m u n i cípios e
a u m e nta a p e rti n ê n ci a da rec l a m a ç ã o p o r u ma m a i o r l iga ção com a cidad e-centro,
numa segu nda fase, com m e l h ores relações rodo-ferroviá rias, a pe riferia passa não só a
atra i r a ocupação residencial e a i n d ustri a l , como mesmo, ta rd i a mente e m bo ra , activi­
dades terciá rias em n ú m ero e nível signifi cativo, como as d o comércio reta l h ista em
esta beleci m e nto d e gra ndes d i m e nsões.

3. C o e s ã o e " n o v o c e n t ri s m o "

Entra m os e n tã o n u m a fase e m q u e n ã o é j á possível a compreensão das d i n â m i cas


territo r i a i s por uma s i m p l e s relação centro-perifer ia , nem ta m pouco por uma a b o r­
dagem h i e rá rq u i ca , d e ce ntro principal e centros secundá rios. Ou seja, face às a l te ra ções
viárias, a o a u m e nto da m o b i l idade e à a lteração dos comporta mentos relativa me nte à
cidade, esta passa a ser vista e " usada" de forma d i fe re nte e, por consegu i nte, ada pta n­
do-se, torna-se s i g n i fi cativa m e n te d i fe r e n te e l a mesma. E o i n ve rso é igua l m e nte
v e r d a d e i ro - e s i m u l tâ n e o - , j á q u e a s a l te r a ç õ e s d a c i d a d e g e ra m i g u a l m e n t e
a lterações nos com p o rta m e n tos i n d ividuais e colectivos.
E m s i m e s m o , isto n a d a tem d e novo, pois que a c i d a d e s e m p re foi - como a
h istória ensina - local privil egiado de tra nsformação. Todavi a , o q u e pa rece marca r a
d i ferença nos n ossos dias é, por um lado, a a m p l itude dos ca m pos em que se opera m
tra nsformações i m p o rtantes, por o utro, a p rofu ndidade d essas tra nsformações, ou seja,
a i m portâ ncia e sign i ficado da a lteraçã o, por outro a i n d a , e q u i çá o mais sign i ficante, o
vertigi n oso ritmo da a lteração - ou da sucessão de a l terações - q u e a mass ificação e
m u n d i a l iza ção da com u n i cação soci a l , ass i m como a i nternaci onal ização das economias,
d i fu n d e m e propaga m , a lte ra n d o esca las, a u mentando as d i ferenças à mesma medida
q u e h o m ogeneíza m a s pa isage ns.
Ass i m mesmo, to'davia, não se pe nse que esta mos já próxi mos da sincronia m u n d i a l
e que as especificidades locais, regi o n a is e nacionais não têm u m p a p e l a desempen har.
Porque têm. Estão a dese m p e n há-lo e é vita l para a sobrevivência da diversidade que o
conti n u e m a fazer.
Por outro lado, territoria l m e nte, as profu ndas ma rcas que a tra nsformação d e com­
p o rta m e n tos ge ro u , a lterou rela ções i n terurbanas e i n tra u rbanas, pa ra nada dizer do
cada vez mais d i fuso e a p a rentemente confuso encontro e ntre a cidade e o ca m po,
e ntre o urba n o e o rura l .
Nesse processo, a red istri buição da população terá s i d o d ecisiva pa ra que hoje s e
possa fa l a r, n o Po rto c o m o e m outras metrópoles, de u m cada v e z m a i o r protago n ismo

1 58
DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO E ALTERAÇÕES NA ORGANIZAÇÃO DO TERRITÓRIO DO GRANDE PORTO

das periferias o q u a l passa, design a d a mente, pela ate nução do papel sócio-económ i co
do centro - entendido a q u i como o centro tradicional, como a "Baixa" - e da cada vez
maior i m p o rtâ ncia dos parques reta l h istas peri féricos, compostos d e h i permerca dos e
m é d i a s e gra n d e s s u p e rfíci e s especia l i za d a s , ga l e ria s co m e rcias e gra nd es cen tros
comerciais.
Este reforço d e p rotago nismo perifé ri co não pode ser con fu n d i d o , a penas, com um
p ro cesso de d e s co n ce n t ra ç ã o , a través do q u a l a p e r i fe ri a r ece b e u a q u i l o q u e o
conce l h o do Porto n ã o q u i z ou não pode fisica m e nte a l berga r: as pessoas e as fá b ri cas,
o porto, o a e roporto, o termi n a l TlR, a Exponor, os h i permercados, o zoológico, o Pa rq u e
Biológico, etc. Pa ra l á d e receptáculos, é necessá rio recon hecer o papel dese m pe n hado
pelas a l terações das a cess i b i l i dades e pelo p rotagonismo d e cada u m dos m u n i cípi os,
design a d a m e nte, n a m a i o r visi b i l i da d e e n o a u m e nto d o poder d e atra cção d e novas e
renovadas c i d a d es. D a i q u e esteja ta nto e m j ogo s e m p re q u e u m a a u ta rq u i a toma
posições p o l é m i ca s porque a fecta m outras, ass i m como seja tão claro como todos vêm
a rede fu n d a m e nta l d e estradas, a renovação da linha férrea e a criação d e u m metro
l igei ro , co m o m e ca n i s m os que poderã o a ltera r d ecisiva m e nte os perma n e nte m e n te
i n stáveis dese q u i líbrios existentes.

4. o comércio e a reestruturação territorial em curso no G rande Porto

Territori a l m e nte, a p ri m e i ra de u m conj u nto d e recentes e i m porta ntes a l terações


na estrutu ra e co n ó m i ca do G ra n d e Porto teve uma re lação d i recta com o Douro e o seu
atravessamento. De facto, n o Porto, o rio e as pontes terão tido e tivera m recentemente
u m papel decisivo no a p a reci m e nto de novos n ú cl eos terciá rios, em que, no caso da
Boavista , o a pa reci m ento está associado à migraçã o pa ra oeste da l iga çã o da cidade
p a ra Sul (por a uto-estra da) e p a ra N o rte (pela Via Rá p i d a , passa n d o pelo a re o p o rto).
A estas con d i ções d e a cess i b i l i d a d e regi o n a l somara m -se outras d e ca rácte r loca l , como
vias desafogadas, l a rgas e recti líneas e uma estrutu ra reside ncia l d e classe média e a lta ,
na atracção de comércios e serviços para , a pa rti r duma exte nsão natura l , pa ra Oeste ,
d u m a " B a i x a " q u e se e s p ra i ava , a Boavi sta se tornasse m a i s do q u e u m a s i m p l e s
extensão, u m novo n ú cleo d e terciá ri o q u e i n i c i a l m e nte foi sobretudo complementa r
d o centro tradicional e h oj e é cada vez m a i s n itida m n e nte concorre n cia l .
Estava u ltrapassad a , há já u m pouco mais de uma d éca d a , a monocentra l i da d e e
i nsta lava -se a ideia de u m a bipolaridade q u e de facto mais não era - e é - do que u m a
b i p o l a ri d a d e d e u m centro ú n ico q u e é a G ra n d e Baixa - q u e o p e rí metro da V.C.l.
poderá aj u d a r a transformar na cidade-ce ntro e m versão reduzida -, ou no centro da
gra n d e cidade que chega a Vila do conde, a Penafi e l e a Esp i n h o , n o que seria a fi n a l a
assu nção de u m a á rea de d i mensão não m u ito superior à da cidade de Lisboa e i n ferior
até a muita s outras metrópoles e u ropeias.
N este q u a d ro , os n ovos centros periféri cos q u e se vêm defi n i n do j u nto à s novas
avenidas d e 2x3 fa ixas d e rodagem - que o não são - e às novas praças - que o não
s ã o ta m b é m - c h a m a d a s nós, figu ra m , n a c i d a d e d o a u t o m ó ve l , como ce n tros
d i fe re ntes, especi a l izados, n ã o tra d i ci o n a i s , possi b i l ita n d o o a basteci m e n to d e uma
p o p u l a ç ã o q u e , p re d o m i n a n t e m e n t e , é p e r i fé r i c a , está d ot a d a d e a u t o m óve l , é
constituída por dois a d u ltos (co m fi lhos ou não) a m bos com tra ba l h o e pouco te mpo
l ivre p a ra co m p ra s e se e n co ntra predisposta p a ra u m a p rática d e co n s u m o q u e a

1 59
JOSÉ ALBERTO V. RIO FERNANDES

F I G U R A 4 - G RA N D ES E Q U I P A M E NTOS C O M E R C I A I S

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Legenda Áreas comerciais

hipermercado
H - existente
lim ites concelhios

H - em construção
Vias da Rede Rodoviária Nacional
- - - construfdas centro comercial

. . . . . . em construção I a construir
(c/ >1 00 estabel . )
CC - existente
cc - em construção
nós

1 60
DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO E ALTERAÇÕES NA ORGANIZAÇÃO DO TERRITÓRIO DO GRANDE PORTO

p u b l i c i d ad e em especi a l e a co m u n i cação em gera l divu lga como acto essencial na


a fi rmação d e u m status.
Mais que reflecti r sobre o h i permercado e a sua i n fl u ê n cia sobre a vida d e ca da um
e segu i r o ca m i n h o fácil da va loração s i m p l es e reducionista, i m porta entender que o
papel do comé rcio como gera d o r de urba nidade, como defi n i d o r de centro , enqua nto
local p rivi legi a d o de e n co ntro e i n te ra cção soci a l , está - ta m b é m - em tra nsformação
p rofu n d a e o centro comerci a l Cidade d o Porto (no Bom su cesso), os NortShopping e
GaiaShopping (j u nto aos h i p e rs Conti nente), ou o Centro Comercial da Arrá b i da (frente
a o carrefo u r) , mais que centros i n tegrados d e comércio reta l hista (com mais de u m a
cente n a d e esta beleci m e n tos e p rofiss i o n a l m e nte pensadas associações de comércio e
lazer) , são já a proxi m a ções á cidade, tentativas de a recria r no i nterior de um i móve l,
c o m o conforto e a doçura cli matérica que não p o d e ser oferecida pela s "ba ixas" do Porto
e de Matosi nhos ou pelas ruas comerciais destas e de outras cidades do Grande Porto.
D e s faza d o s a i n d a , em r e l a ç ã o a o s Esta d o s U n i d o s e Ca n a d á d e s i gn a d a m e n t e ,
esta mos já bem próximos da Euro pa c a União no que ao comércio d i z respeito. Falta-nos
a pe n a s , a par d o s h i p e rs e dos cha m a d os centros co m e rci a i s regi o n a i s (e da tele­
c o m p ra e d a co m p ra p o r catá l ogo), medidas como a Fra n ça e o R e i n o U n i d o (entre
outros) há m u ito a d o pta ra m , de rea b i l i tação e vivifi cação dos centros tradicionais das
n ossas cidades, sob pena de, u m dia, com dizia num tra b a l h o de 1 98 9, a Baixa do Po rto
e as outras "baixas" do G rande Porto se tornarem meras extensões decadentes de centros
h istóricos, l i be rtadas para a rmazéns e ba res e outros usos m e n ores para p ráticas d e
urba nidade duvidosa 1 .
Mas os desafi os de base territo ri a l , na o rga n ização do espaço do G ra n d e Porto são
m ú l ti p l os e d e solução diversa , pelo que e m relação á popu lação, ao comércio, a os
transportes, como a quase tudo o resto, o ritmo e p rofu n d i da d e da tra nsformação são
i n tensos e fazem d e nós espectado res privi legiados, a quem com pete ta mbém - como
a ct o r es p a rti c u l a r m e n te re s p o n s a b i l i zá v e i s - c o n t r i b u i r p a ra q u e se u l t ra p a s s e m
estra ngu l a m e ntos e se a p roveitem o portu n i dades, a favor d e uma c i d a d e para todos,
de uma c i d a d e p a ra o h o m e m , a q u a l i m po rta verda d e i ra m e nte c o n h ecer a ntes de
i ntervir, e a o i n tervir, fazê- l o por forma a melhor adequar a cidade aos d esejos dos seus
residentes e dos outros (muitos) q u e a freque nta m .
Após a concl usão d o texto, o M i n istério do Comércio e Turismo, através da D i recção
Geral d o Comércio, i n i ci o u uma p o l ítica d e a p o i o a acções d e U r b a n i s m o Comerci a l ,
decorrentes d e c o m p ro m issos a ss u m i dos por a u ta rquias e associações comerciais. A
Rua Brito Ca pêlo (Matos i n h os) e a " Ba i x i n h a " de Coi m b ra vira m em Sete m b ro passa do
a p rova dos estudos p révios, sendo conhecida a preparação de u m eleva do n ú m ero de
ca n d idaturas.

11 161
JOSÉ ALBERTO V. RIO FERNANDES

BIBLIOG RAFIA

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1 62
G E R AÇÕE S E E S PE RANÇA DE VIDA
- OS E FE IT OS DA SUA E VOLUÇÃO
EM ALGUNS DIST R IT OS DO CONT INE NT E
(E S TUDO EXPLORAT ÓR IO)
Maria da Graça David de Morais
Universidade de Évora

INTRODUÇÃO

A evol ução recente da m o rta l i da d e e m Portuga l levou-nos a q uestionar sobre quais


os c o m po rta m e n tos d e d i ferentes gerações, e m termos globais, ao longo d e alguns
decé n i os. Estud os vários 1 mostra ra m- n os q u e a morta l idade em cada idade é i n fluen­
ciada pelo c o nj u n to d o s a c o n teci m e ntos sofri dos e m todas a s i d a des p recede ntes.
A s s i m , p o r e x e m p l o , as g e r a ç õ e s q u e v i v e ra m as d u a s g ra n d e s g u e r ra s , o u ,
a n a l oga m e nte a s q u e a vivera m n a sua ado lescência, são ca racte rizadas por uma forte
m o rta l idade.
A n ossa i ntenção a o propormo-nos fazer este tra ba l h o foi a d e, através de u m pro­
ced i me nto e m pírico, a n a lisarmos até que ponto algumas gerações conti n e n tais seri a m
o u não m a rcadas por acidentes d e percurso, com reflexos na sua evolu ção, conscientes
de q u e n ã o é t a r e fa m u i t o fá ci l p e l o fa cto de os efeitos o b s e rv a d o s a pa rti r d o
comporta m e n to d a s gerações serem apenas m a rgi nais e esta rem ocultados, em gra n d e
m e d i d a , pela ten d ê n cia gera l para o declínio da morta l idade. Fora m selecci onadas para
tal as gerações de 1 92 0 , 1 9 3 0 , 1 940 e 1 9 5 0 por serem aquelas q u e é possível a n a l isa r
n u m la pso de tem p o q u e medeia 1 9 2 0 e 1 990. Na escolha relativa ao espaço, esteve
s u bjacente não só a p reocupaçã o d e as localizarmos em d istritos das cinco regiões e m
q u e actua l me n te se a c h a dividido o continente, segu ndo o critério da nomenclatura d e
u nidades territoriais (N UTS 11), mas ta m b é m a sua cara cterização qua nto à i nte nsidade
o u n ã o d e ocupação d e espaço ( H / K m 2) q u e p o rve n t u ra p o d e rá refl ecti r d i ferentes
fo r m a s d e c o m p o rta m e nto: Região N o rte - B raga ( 2 7 9 , 1 h/km2) e B raga nça ( 2 3 , 9) ;
Região Centro - castel o B ra n co (3 2 ,2) e Coi m b ra ( 1 08,3); Região d e Lisboa e Va l e do Tejo
- Lisboa ( 7 4 7 , 5 ) e Santa ré m (6 5 ,6); Região Alentejo - Évo ra (23,5) e Po rta l egre ( 2 2 , 1 );
Regiã o Algarve - Fa ro (68,6).
Este estu d o e x p l o ratório fa z-se a p a rt i r das espera n ça s d e vida (Ex), o u sej a , do
n ú me ro m é d i o d e a n os q u e resta para viver aos i n divíduos q u e atingiram a idade x, das
p roba b i l idades d e m o rte e ntre a idade exa cta x e x+n (nqx) e do n ú m ero d e sobre­
viventes (numa base d e 1 00000). Poré m , a pri m e i ra a p roximação fa r-se-à não segu ndo a
T a x a B r u t a d e M o rt a l i d a d e (T B M ) p o r q u e é u m a m e d i d a i m p e r f e i t a q u e e s t á
intimamente relacionada n ã o só c o m as cara cterísticas d o fenómeno do a n o em causa
mas ta m b é m com a estrutura por idades d essa população. Se esta muda, a TBM pode
m u d a r sem que a m o rta l i d a d e mude e reci proca m ente. Assim, poderemos esta r a ser
víti mas d e uma i l usão d e óptica que resu lta da evo l u ção da estrutura por idades da

1 63
MARIA DA GRAÇA DAVID DE MORAIS

p o p u l a çã o e n ã o da m u d a n ça na m o rta l i d a d e , d u ra n te u m certo período de te mpo.


Sa b e m os ta m b é m que o risco d e m o rrer q u e cada i n divíduo co rre a o longo d e um
determ inado período d e tem p o (um a n o n o rma l m e nte) depende gra n deme nte da idade
que e l e atingir: os d e menor idade ou os d e idade mais avançada poderã o ser os mais
a t i n g i d os. P e ra n te esta s i t u a ç ã o , fora m e ntão esco l h i da s a s taxas d e m o rta l i d a d e
específi cas p o r i d a d e porque n o s é permitido, através delas, m e d i r o risco d e morrer e m
ca da i d a d e , reporta n d o os ó b i tos a os efectivos da p o p u lação desse gru po etá ri o. A
p a rtir d estas, constru í m os u m i n d icador s i n tético q u e p e rm ite segu i r a evo l ução da
m o rta l i d a d e e d e faze r co m p a ra çõ e s , a va l i a r até que p o nto u m gru p o d e re c é m ­
-nascidos v a i sofre r a o l ongo da sua v i d a , e m c a d a i d a d e , os riscos d e m orrer ca lculados
para u m a n o. Contu d o , isto n ã o represe nta a espera n ça de vida rea l de u ma geraçã o,
mas c o n s t i t u i um e x c e l e nte i n d i ca d o r d a m o rta l i d a d e do a n o p a ra o q u a l fo ra m
calculados os riscos.
Nos q u a d ros segu i ntes são a p resentadas as taxas específicas para a lgumas idades
reportadas a 1 920/2 1 , 1 9 5 0/5 1 e 1 990/9 1 .

Q U A D R O I - TAXAS E S P E C Í F I CAS D E M O RTALI D A D E , P O R I D A D E S , 1 9 2 0 / 2 1


( P E R M ILAG E M )

Idades
R e g i õ es/

/ D i s t r i to o 1 -4 S-9 1 0- 1 4 20-24 40-44 60-64 70+

N o rte

Braga 228,50 40,88 8,30 4,30 7,83 1 2 ,23 40,20 1 59,06


Bragança 300,0 1 6 1 ,6 1 9,2 1 5,45 1 0,08 1 3, 1 6 44,00 1 56,5 3

Centro

c. B ra n co 2 72,82 64,6 1 7,97 4,38 9, 8 1 1 0.4 1 32 , 30 1 26,60


Coi m b ra 1 93,3 5 29, 1 4 4,98 3,28 6,9 1 8, 1 0 26,56 1 1 6,60

L X . e V. Tejo

Lisboa 3 1 1 ,60 42,33 7,34 4,38 9, 8 1 1 2 ,93 33,6 7 1 26,02


Santarém 244,49 25, 73 4,96 3, 1 5 5,88 7,93 2 1 ,2 1 99,80

A l e n tej o

Évora 273,79 34,99 5,83 3 ,74 8,34 8,94 30,99 1 4 1 ,54


Porta l egre 242,83 44,63 6,93 4.46 8,06 9,2 1 33,05 1 39,80

Algarve

Faro 2 2 5,76 2 7,4 5 4,74 3 ,45 7,06 7, 72 24, 1 7 1 33,8 7

Continente 2 4 7.49 40,82 6,94 4,07 8,1 1 1 0, 74 32,06 1 3 1 ,97

1 64
GERAÇÕES E ESPERANÇA DE VIDA

Q U A D R O I I - TAXAS E S P E C Í F I CAS D E M O RT A L I D A D E , P O R I D A D E S , 1 9 5 0 / 5 1
( P E R M I LAGEM)

Idades
Regiões/
o 1 -4 5-9 1 0- 1 4 20-24 40-44 60-64 70+
/ D i strito

Norte
Braga 1 29,2 7 20,3 1 2 ,5 7 1,17 3, 1 7 6,58 23,40 1 09,3 2
Braga n ça 1 44, 1 1 26, 1 4 2, 0 1 1 ,63 2,33 4,5 1 2 1 ,97 1 07,73

Cen tro
c. Bra n co 8 7,62 1 0,44 1 ,72 1,14 2,66 4, 1 0 1 7,39 8 7,0 1
Coim bra 70,04 6,3 5 1 ,63 1'13 3,4 5 5 , 24 1 7,62 90,42

LX. e V. Tej o
Lisboa 84,7 3 8,59 2,02 1 ,49 4,02 7,27 24,43 88, 1 8
Santarém 69,88 5,94 1 ,3 1 1 ,08 2,36 3 ,65 1 5,5 1 88, 1 9

A l e n tejo
Évora 1 1 4,3 2 5,96 1 ,54 0,88 2,46 3,75 20,96 95,48
Porta l egre 1 05,60 5,3 7 1 ,30 1 ,03 2 ,3 8 3,62 1 9,35 9 1 ,73

A l ga rve
Faro 1 00,0 1 8, 73 2,05 1 ,5 2 3,8 1 4,46 1 6,52 93 ,75

c o n t i n e n te 1 04, 1 4 1 3, 1 2 1 ,99 1 ,25 3 ,3 8 5,53 2 0,79 95 ,58

Q U A D R O I I I - TAXAS E S P E C Í F I CAS D E M O RT A L I D A D E , P O R I D A D E S , 1 9 9 0 / 9 1
( P E R M ILAG E M )

Idades
Regiões/

/ D i strito o 1 -4 5-9 1 0- 1 4 20-24 40-44 60-64 70+

Norte
Braga 1 2 ,50 0,8 7 0,4 7 0,43 1,10 2 ,44 1 4,00 80,56
Braga n ça 20,6 7 1 ,46 0, 7 1 0,78 0,20 3,00 1 2,3 3 75,54

c e n tro
c. Branco 8,89 0,66 O, 1
7 0, 2 1 1 ,63 3, 1 4 1 2,50 72, 1 0
Coim bra 8,83 0,49 0,34 0,5 1 1 ,30 2,5 1 1 1 , 78 77,63

Lx. e v. Tej o
Lisboa 1 0,26 0,62 0,39 0,3 5 1 ,22 2,34 1 3,05 76,98
Santarém 9, 78 0,7 1 0,5 5 0,3 2 1 ,48 2 ,63 1 1 ,32 74,56

A l e n tejo
É vora 1 0, 1 1 0,90 0,40 0,29 1 ,30 1 ,73 1 2 ,33 74,36
Porta legre 1 1 ,2 7 0,73 0,8 1 0,64 1 ,5 7 2 , 25 1 1,1 72, 1 6

A l ga rve
Faro 1 1 ,42 0,88 0,59 0,40 1 ,64 2,88 1 3,04 75 , 1 9

Conti n e nte 1 1 ,5 5 0,76 0,40 0,4 1 1 ,30 2,46 1 3 ,0 1 76,97

1 65
MARIA DA GRAÇA DAVID DE MORAIS

Da sua leitura de i m e d iato nos a perce bemos que há um declínio genera lizado: se
em 1 920/2 1 a m o rta l idade i n fantil (0 a n os) atingia 3 1 1 ,60% esse va lor va i baixar para os
8 ,8 3 % e m 1 990/9 1 , o q u e sign i fi ca q u e , por comparação com as outras idades, desde o
i nício do sécu l o até aos n ossos dias. o declínio da morta l i dade foi m u ito mais acentuado
nas idades mais j ovens d o q u e nas mais e l evadas, m u i to especia l mente e ntre os o e os
1 o a n os, e m u ito m e n os evi d e n te nas idades a d u l tas e m u ito menos a i nda e ntre os
idosos d e mais d e 70 a n os. Enqua nto os pri m e i ros va l o res declinara m em 97% na regiã o
Centro, os ú l ti m os a penas decli nara m 4 3%, por exemplo.

A E s p e r a n ç a de V i d a

A evo l u ção d a v i d a m é d i a p e rm ite-nos segu i r a q u e l es d ecl ín i os a trás a po n ta dos.


É u m bom i n d icador da evo l ução da morta l idade ainda q u e por vezes mal i nterpretada.
Se se diz q u e n o sécu l o XVI I I a vida média e ra d e 2 5 a n os não sign i fi ca que as pessoas
não a t i ngissem i d a d e s a va n ça d a s mas a pe n a s q u e m u i tos m o rri a m m u ito j ovens.
Vejamos o seu desenvolvi m ento n o p resente estudo.
A gera çã o d e 1 9 2 0 (Quadro IV) era re p resentada no conti nente com u m va l o r d e
4 1 , 7 0 a n os à n a s c e n ç a . Co n t u d o , u m a p a s s a g em à a n á l i s e d a s d i fe re ntes regi ões,
e n contra mos u m va l o r máximo para Sa nta ré m d e 48,98 a nos segu i d o de Coi m b ra com
4 7 , 7 5 , por oposição a o d e Braga nça d e a pe nas 3 6,04 a n os e a o de castel o Bra nco ( 3 7 ,90).
com p a ra n d o com a geração de 1 9 5 0 há ga nhos sign i fi cativos. Vejamos:

E o - G a n h os em a n o s ( 1 9 2 0 - 1 9 5 0)

Conti nente ....... . .. ...... . .. ...... .. . 1 7.4


.. .. . .

Braga ..... ...................... 1 4,6


Bragança . ...... . . .. .. . . .. . . . .. .. . . .... 1 9,7
. .

caste l o Branco . . . .. .. . . . .. . .. . . ... . 25 ,9


. . .

Coim bra . . . .. . .. . .. ... . .... . . . ... . . . . .. . . .. 1 6,0


Santarém ... .... ... . ...... .. .. .... ... . .. 1 6,9
. . . ..

Lisboa . . . . . . .. . ... . .... .. .. .. 20,9


. .

Évora .. . .. ...... 1 8.7


Porta l egre . . . . . .. . . . . . .. ..... . .. . 22,4
. . . . .

Faro ... .... ... .. .. . ..... . . ...


. . . . . . .. .. . . .. . .... . . 1 5, 1

A tra nsição d e u m extre m o ao outro faz-se com ga nhos i nte rmédios das ge ra ções
d e 1 9 3 0 e 1 940 e m u i to a centuados na d e 1 9 5 0 . Dever-se-à ressa lvar q u e n a q u e l es
c a s o s e m q u e a p ro g r e s s ã o fo i a p a re n te m e n te m e n o r - p o r e x e m p l o , Co i m b ra ,
Santarém, Faro - s e d eve a o fa cto d e , à pa rtida, estes distritos a p resentarem já E o mais
e l evadas q u e a média d o Conti n ente. o caso de Braga pa rece resu lta r de uma situação
conj u n tural específica , pois que a sua evo l u çã o se faz de uma forma m u i to mais le nta .
se nos reporta rmos às espera nças d e v i d a aos 1 O a n os, a situação assemel ha-se e m
todos os distritos e e m q u a l q u e r d a s regi ões. Os va lores medeiam entre o s 50 , 8 2 a n os
de Lisboa na geração de 1 92 0 e os 5 7, 7 8 a n os de Sa nta ré m. Qua nto aos ga n h os obti d os,
relativa mente à geração d e 1 9 5 0 , eles ci fra m-se na ordem dos 4,02 a nos até aos 9 , 2 8 na
Região de Lisboa e Va l e d o Tej o como poderemos ver na ta bela segui nte:

1 66
GERAÇÕES E ESPERANÇA DE VIDA

Q U A D R O I V - E S P E R A N Ç A D E V I D A DAS G ER A Ç Õ E S D E 1 9 2 0 A 1 9 5 0

GERAÇÃO 20 GERAÇÃO 30 GERAÇÃO 40 GERAÇ.\0 50 GERAÇÃO 20 GERAÇÃO 30 GERAÇÃO tO GERAÇÃO 50


COIIT INF.IIT E COIITI NF.IIT E COIIT I REitTE COIIT INF.IIT E SAIITARÍll SAIITARÍll SAifl'ARÍll SAIITARÍll
IDADES 11 II 11 11 IDADES EX n EX EX
o 4 1 . 70 49.93 50 . 19 59 . 10 o 48 . 98 56 . 30 57 . 90 6 5 . 95
10 54 . 19 5 4 . t2 58. 80 61 . 80 10 57 . 78 58. 20 62. 38 6 1 . 80
20 45.84 49.11 52 . 97 52 . 30 20 t9 . n 53 . 15 52 . 30 54 . 50
30 41.31 45 . 10 4 3 . 00 46. 16 30 44 . 29 43 . 00 45. 10 t 6 . 12
40 ) 3 . 90 3 3 . 90 36 . 8 t 37 . 60 to 35 . 80 3 5 . 80 36.92 38 . )3
50 25. 20 28 . 00 28 . 53 50 26 . i0 28 . 16 29 . 37
60 19.83 20 . 26 60 19 . 92 20 . 89
70+ 70+

GERAÇÃO 20 GERAÇÃO 30 GERAÇÃO 40 GERAÇÃO 50 GERAÇÃO 20 GERAÇÃO 30 GERAÇÃO tO GERAÇIO 50


BRAGA BRAGA BRAGA BRAGA LISMA LISBOA LISMA LISBOA
IDADES EX !I EX EX IDADES EX EX !l n
o 10 . 18 50 . 04 4 7 . 89 55 .08 o 38 . H 4 1 .07 47 . 50 59 . 19
10 54 . 18 5 3 . 66 57 . 45 6 1 . 7t 10 50 . 82 52 . 53 57 . 17 60 . 10
20 4 4 .11 t8 . 27 52 . 17 52 . 10 20 44.)3 48.34 50 . 70 50 . 70
30 39.73 4 2 . 85 4 2 . 80 4 6 . 09 30 40 . 20 4 1 . 60 4 1 . 60 t 5 . 94
40 3 3 . 70 3 3 . 70 3 6 . 85 36 . 79 40 3 2 . 60 3 2 . 60 3G . 49 37 . 58
50 24 . 90 27 . 78 27 . 78 50 24 . 20 27 . 57 28 . 53
60 19 . 78 19 . 62 60 19 . 15 20 . 22
70+ w

GERAÇÃO 20 GERAÇÃO 30 GERAÇÃO 40 GERAÇÃO 50 GERAÇ\0 20 GERAÇÃO 30 GERAÇIO 10 GERAÇÃO 50


BRAGAIIÇA BRAGANÇA BRAGANÇA BRAGANÇA tvoRA tvORA tvoRA tvoRA
IDADES EX 11 EX EX IDADES EX EX EI EX
o 36.04 U . 61 46 . 26 55 . 77 o 43 . 53 52 . 22 52 .75 62.24
10 53 . 25 53 . 18 58 . 54 61 . 36 10 55. 02 55. 4 1 60. 4 5 62 . 51
20 15.11 19. 48 5 1 . 85 51 . 80 20 46 . 89 51 . 29 5 3 . 03 53 . 10
30 40.74 1 2 . 57 4 2 . 50 46 . 22 30 4 2 . 55 43 . 83 4 3 . 80 4 7 . 02
40 33.54 33 . 10 36 . 86 38 .04 40 34. 12 3 4 . 60 37.63 38 . 6 1
50 24 . 60 28.21 29 . 10 50 25 . t0 28 . 57 29 . 3 1
60 19 . 92 20 . 59 60 20 . 2 1 20 . 88
70+ 70+

GERAÇÃO 20 GERAÇÃO 30 GERAÇÃO 40 GERAÇÃO 50 GERAÇÃO 20 GERAÇÃO 30 GERAÇÃO 40 GERAÇÃO 50


C. BRAIICO C. BRAIICO C. BRAitCO C. BRAitCO PORTALEGRE PORTALEGRE PORTALEGRE PORTALEGRE
IDADES n 11 II Bl IDADES EX BX BX BX
o 3 7 . 90 53 . 29 53 . 32 63 .82 o 40 . 7 9 53 . 30 52 . 62 63 . 22
10 57 . 72 56 . 95 61 . 98 64 . 00 10 55 . 65 55. 82 61 . 15 U . 10
20 48 . 28 52 . 79 54 . 40 54 . 10 20 47 . 23 52.01 54 . 10 53 . 10
30 4 4 . 07 45.00 45.00 47.53 30 43 . 23 4 4 . 60 1 4 . 00 1 7 . 63
40 35.70 35.70 38 . 10 38 . 24 lO 35 . 30 3UO 38 . 3 1 38 . 8 1
50 26 . 60 29 . 70 29 . 5 2 50 25 . 60 29 . 37 29 . 75
60 21 . 53 21 . 21 60 20 . 8 3 21 . 23
70+ 70+

GERAÇÃO 20 GERAÇÃO 30 GERAÇÃO 40 GERAÇÃO 50 GERAÇÃO 20 GERAÇÃO 30 GERAÇ\0 40 GERAÇÃO 50


COIMBRA COIMBRA COIMBRA COIMBRA PARO FARO FARO FARO
IDADES EX EX BX IX IDADES El EX II Bl
o 47 . 75 56 . 16 5 4 . 79 63 . 77 o 46.94 51 . 4 4 54 . 40 61 . 99
lO 56 . 61 55. 38 59 . 84 62. 30 10 55 . 19 56 . 01 60. 08 63 . 10
20 46.72 50 . 7 4 52 . 80 52 . 80 20 47.61 51 . 23 53 . 80 52 . 90
30 42.33 43 . 50 4 3 . 50 46.14 30 4 2 . 95 4 4 . 50 4 3 . 70 4 6 . 83
40 3 4 . 60 3 4 . 60 36 . 96 3 7 . 92 10 35 . 20 3 4 . 60 37 . 60 37 . 83
50 25 . 90 28.08 28 . 93 50 25 . 60 28 . 69 28 . 90
60 19 .92 20 . 39 60 20 . 10 20 . 66
70+ 70+

1 67
MARIA DA GRAÇA DAVID DE MORAIS

E 1 0 - G a n h o s e m ( 1 9 2 0 - 1 9 5 0)

conti n ente ... ........ 7,6 1


Braga .......... .................... ........... 7,56
. .

Bragança ..... 8 , 1 1
caste l o B ra n co ......... 6,28
Coi m b ra ..................... ................ 5 ,66
.

Santarém .
. . . ................... .... 4 ,0 2
Lisboa . 9, 28
Evora .. . . .
. . . . . ........ 7.49
Porta legre ..... .......... ... ............. 8.45
. . .

Faro ... ... ..................................... 8. 2 1


. .

A espera n ça d e vida na i d a d e mais ava n çada q u e foi possível estu d a r (60 a nos)
s u g e r e q u e o s ga n h o s s ã o m u i t o p o u c o s i g n i fi ca t i v o s , n ã o t e n d o p ra t i ca m e n t e
expressão. o mesmo n ã o p o d e m o s d izer das i d a d e s d e 20 , 30, 40 e 5 0 a nos e m q u e há
u m a nítida recup e ração.
Compara n d o as diversas regiões e m causa , temos q u e cada qual se pautou por um
comporta m ento d i ferenciado, sendo porém, a situação mais cha mativa a da Região d e
Lisboa e Vale do Tej o o n d e existe u m a recu peração m uito evidente d e Lisboa e menos
forte d e Santa ré m ; se tivermos e m conta os va lores i n i ciais (Sa ntarém mais elevados)
os ga nhos serã o proporciona is.
Não d everá d e i xa r d e ser reparada a situação que se verifi ca para a geração de
1 9 4 0 que, quer n o Conti n e nte (E30), quer e m B raga (Eo), Coi m b ra (Eo), Portal egre (Eo),
Santarém (E2 0) e Faro (E30), a p resenta d e c l í n i os nas suas espera n ças d e vida, o n d e
poderemos visua l iza r a l g u m "efeito d e sel ecção" ou perda p recoce d o s i n d ivíduos mais
fragi l izados (aos O a nos) o u a i nda a lgum "efeito d e d esgaste", devido aos pri m e i ros anos
de vida vivida e m contexto m u ito adverso e conseq uente m ente o seu estado de sa úde
se achar u lte riorme nte a fecta d o por uma relativa fragi lidade.
A d i ferença e n tre N o rte e S u l (Alentejo e Alga rve) é sign i ficativa ao nível de ga nhos
nas Eo. Enqua nto os d i stritos da Regiã o N o rte em 1 9 5 0 não u l tra passa ra m os 5 5 , 7 7 a nos
a regiã o Sul atingiu os 6 3 , 2 2 e m Porta l egre.
com p l e m e ntemos de segu ida este estu do da espera n ça d e vida através das proba­
b i lidades d e m o rte e d o n ú m e ro d e sobreviventes.

O s Riscos de M o rte

Intimame nte re lacionada com a fu nção a nte rior (Ex) nós temos a proba b i l idade d e
u m i n d ivíd u o m orrer e ntre u m a idade exacta x e x+ n (nqx). Nas d i fe re ntes gerações h á
e m co m u m , c o m o p o d e m o s o b s e rv a r n o s gr á f icos a s e g u i r a p re s e n t a d o s (e n a
i n formação consta n te e m a n exo), q u e , à partida, c o m o é d e regra, as proba b i lida des d e
m o rte são basta nte mais e l eva das e q u e se ate n u a m na fase i n termédia para voltar a
s u b i r depois dos 40 a nos. Em termos p ráticos, podemos referir que, passado o pri m e i ro
a n o de v i d a , m a rca d o p e l o p e rigo n e o n a ta l , os riscos d e m o rr er d i m i n u e m m u ito
ra p i d a m e nte até a t i n g i r e m u m m í n i m o por volta d os 1 0 a n os, depois d o qual vão
suavem ente a u m e n ta n d o a u m ritmo mais ou m e n os consta nte até aos 40/50 a n os, a
parti r d os quais reto ma u m ritmo mais acelarado.

1 68
GERAÇÕES E ESPERANÇA DE VIDA

No q u e toca a o c o n t i n e n te . p e rm a n ece u m a t e n d ê n c i a ge ra l d e crescente d o s


valores e m todos os gru pos etá rios q u a n d o se observa m as quatro gerações. O s riscos
d e m o rte d i m i n u e m glo b a l mente d e forma mais atenuada e ntre a geração d e 1 9 2 0 e
1 93 0 mas de u m a fo rma mais i ntensa e ntre 1 9 3 0 , 1 940 e 1 9 50 .

P R O B A B I L I D A D ES D E M O RT E ( H M ) - G E RAÇÃO 1 9 2 0 , 1 9 3 0 , 1 9 4 0 E 1 9 5 0
C O N TI N E NTE
nqx
0 , 30

* 1 920
I
0,25

1 1 930
0,20
0 1 940

.. 1 950
0 , ""1 &

0 , "1 0

0 , 0 15

o , oo

o
l-����;;�����::===-----r---�
"1 0 20 30 40 IS O eo 7 0 -+-

Idade

P R O B A B I L I D A D E S DE M O RTE (HM) - G E RAÇÃO B R A G A


nqx
0 , 30

0,25 * 1 92 0

-t- 1 930
0,20
0 1 940

"' 1 950

0, 1 0

0 , 05

o , oo
o
l-������=:�::�.-----.---�
"1 0 20 30 40 50 60 7 0 +-

Idade

Fonte: INE, Recenseamentos e Estatísticas Demográficas

Reporta ndo-nos aos d istritos seleccionados nas cinco regi ões em estudo, d i remos
q u e . n o conj u nto n ã o há p ro p r i a m e nte gra n des d i fe re n ças n a q u e l a ten d ê nc i a . atrás
a po n tada pa ra o conti n ente. contudo, verifica m -se excepções. Ao observa rmos o ritmo
d e evo l u çã o d a geração d e 1 9 40 n os d i stritos d e B raga , B ra ga n ça, Caste l o B ra n co,
Co i m b ra , É v o ra . Po rta l egre e F a r o , v e r i fi ca -se q u e, q u er a o s O a n os , q u er a o s 4 0 o u

1 69
MARIA DA GRAÇA DAVID DE MORAIS

P R O B A B I L I D A D ES D E M O RTE ( H M ) - G E RA Ç Ã O B R A G A N ÇA

nqx
0,30

0,25 * 1 920
+ 1 930
0,20 0 1 940
v 1 sso
0 , "1 5

0 , "1 0

0 , 05

0 , 00 (__����ª���::=:----,---,
o "1 0 20 30 40 50 60 70 +

P R O B A B I L I D A D ES D E M O RTE ( H M ) - G E RAÇÃO CASTELO B R A N C O

nqx
0,30

0,25 * 1 920
..L
. 1 930
0,20 0 1 940
v 1 9so
0 , "1 5

0 , "1 0

0 , 05

o , oo . l �����������::�::==-.
- --- � -.
--

o "1 0 20 30 40 50 60 70 +

Fo nte : INE, Recen•••rnento• • E•tatietlc a • Dern ogTáflcaa

1 70
GERAÇÕES E ESPERANÇA DE VIDA

P R O B A B I L I D A D ES DE M O RTE ( H M) - G E RAÇÃO C O I M B R A

nqx
o.3o

0.25
* 1 920
+ 1 930
o.2o 0 1 940
V' 1 950
o., 5

o., o

o . o5

o . oo :; ��§�!��==�::::
l-���;:::� ______ ,

o 20 30 40 50 60 70 +

P R O B A B I LI D A DES D E M O RTE ( H M ) - G E RAÇÃO LISBOA

nqx

1
0 . 30

o.25 * 1 920
+ 1 930
0.20 0 1 940
v 1 9so
o., 5

o , o 20 30 40 50 60 70 +

1 71
MAR/A DA GRAÇA DAVID DE MORAIS

P R O B A B I L I D A D E S DE M O RTE ( H M ) - G E RAÇÃO SANTARÉM

nqx
0,30

0,25 * 1 920
+ 1 930
0,20
0 1 940
. 1 950
0 , "'1 5

O , "'l O

0 , 05

0,00 �����===--.-----,--,
o "'l O 20 30 40 50 &O 70 +

P R O B A B I LI D A D E S DE M O RTE ( H M ) - G E RAÇÃO ÉVORA

nqx
0 , 30

0 , 2 15 * 1 920
1 930
,20
0
0 1940
:r:::J 1 950

O , "'l O

0 , 0 15

o . oo
o
L���=;;;;���������=::::_ ____-,-----_,
"'l O 20 30 40 IS O eo 70 +

Idade

1 72
GERAÇÕES E ESPERANÇA DE VIDA

P R O B A B I L I D A D ES D E M O RTE ( H M ) - G E RAÇÃO P O RTALE G R E

nqx
0,30

0,2&
* 1 920
+ 1930
0,20 o 1940
:sv- 1 950

0 , 0&

o , oo

o
l-�������::::=:�----.---�
"l O 20 30 40 &O 60 7 0 -+-

Idade

P R O B A B I L I D A D ES D E M O RTE ( H M ) - G E RAÇÃO FARO

nqx
0,30

0 , 2 111 * 1920
..L
I 1 930
0,20
() 1940

.. 1 MO
O , "'I S

O , "'l O

0 , 0 111

0 , 00 ����::���:�:�----�--�
o "l O 20 30 40 IS O eo 7 0 -+-

Fonte: INE. Rec•n• ••lftenfc;:t• • E•t•tletlc•• Oe�nográf#cae

1 73
MARIA DA GRAÇA DAVID DE MORAIS

mesmo 50 a n os há u m a certa a n a l ogia no seu comporta mento, isto é, a tendê ncia para
o a u m e nto d o s riscos d e m o rte. A e x p l i ca ç ã o m a i s p rováve l talvez a te n h a mos q u e
e n contra r n a situação c o nj u ntura l , n a sequê ncia da última G ra n d e G u e rra . e m q u e ,
c o m o atrás a ponta d o , a vivência d o s p ri m e i ros a n os t e r s i d o n u m contexto d e muitas
d i ficuldades d e natu reza vá ria: eco n ó m ica, soci a l , etc..
É ta m b é m de rea lçar que n a geração d e 1 9 3 0 , em Castel o Bra n co e Évora , aos 60
a n os se dê um recrud esci me nto (embora lento) das proba b i l idades d e morte; o mesmo
se passa n d o com a s i d a d es d os 40 e 5 0 a n os nos distritos d e Faro. nestas mesmas
gerações, mas d e forma mais sign i fi cativa.
Faze n d o a l igação com as ca usas d e morte que mais a fecta ra m estas gerações de
1 93 0 e 1 940, segu n d o as estatísticas da sa úde para estes m esmos a n os, nos casos e nas
i d a d e s a p o nt a d a s , t e m os: a s d o e n ça s c e r e b ro-vascu l a res, os t u m o res m a l ignos. a
doença isq u é m i ca do coração e, com a lguma significâ n cia, a tuberculose p u l m o n a r e os
seus e feitos ta rdios, na sequência p rovável de uma certa fragil ização sofrida na i n fâ n cia
o u mesmo n a j uventude: "La vul n é ra b i l ité d ' u n i ndividu à u n âge d o n n é n e tient pas
seu lement a u pote nciei vita l théori q u e corresponda m à cet âge combiné a u x conditions
sanita i res d u moment mais a ussi à la d étériorati o n (ou à l'amélioration) de ce potenciei
résulta n t d e son vécu a n térieur". Segu n d o J Wilmoth, J . Va l l i n e G. casel l i n o seu a rtigo
i ntitu l a d o Quand certaines générations ont une Mortalité différen te de cei/e que l'on
pourrait attendre 2 .

A Evo l u çã o do N ú m e ro de Sobreviven tes

N u m a base d e compara b i l idade ( 1 00000) pode mos nota r que cada uma das quatro
gerações (Quadro V) evo l u i u positiva me nte, ou seja , h ouve um a crésci m o do n ú mero de
sobreviventes em cada idade a n a l isada.
A e x c e p ç ã o v e ri fi c a - s e n a geração d e 1 9 2 0 e m que h á uma n í ti d a p e rd a dos
e l e me ntos j ovens (aos 2 0 a n os, observa dos e m 1 940) nos d istritos d e B raga , castel o
B ra n co , Coi m b ra , Lisboa, Évora , Porta legre e . conseque nteme nte, a o nível d o conj u n to
conti n e n ta l . As razões prováveis q u e se podem adia nta r para ta l são: sendo a geração
d e 1 9 2 0 uma geração d e si já fragi l izada e m comparação com as outras, porque o seu
passado, e m termos d e assistê ncia médica e medica m entosa, e ra basta nte menos rico,
a sua ca pacidade d e resistê ncia a situações adversas era m u ito i n ferior. ora, sabendo-se
que o i nício da década d e 40, e m Portuga l se caracterizou pelo choque ca usado pela
guerra d e 1 9 3 9 - 1 94 5 com todo o cortejo d e ca rê n cias (ta nto económicas como sociais) e
pera n te a fa lta de resistê ncias b i o l ógicas, devido fu ndamenta l m ente à subnutrição e à
fom e , a tubercu l ose, ao nível dos 20 a nos. como se pode com p rova r pelas estatísticas
d a sa ú d e p u b l i ca d a s p a ra o a n o de 1 9 4 0 , i n s ta l o u -s e e p ro l i fe ro u com ba sta n t e
i ncidência tra nsforma n d o-se n a p ri m e i ra ca usa d e morte nesta idade,
Excepção ta m b é m é Lisboa. ge ra ção d e 1 9 30, q u e a p resenta uma quebra n os efec­
tivos d e 40 a n os. m u ito p rovavel m ente por esta rmos pera nte uma popu lação flutuante
e 1 9 70 , a n o de observa ção , se a p resenta r com um recensea m ento m enos bom.

1 74
GERAÇÕES E ESPERANÇA DE VIDA

Q U A D R O V - N Ú M E R O D E S O B REVIVENTES DAS G ERAÇÕES DE 1 9 2 0 A 1 9 5 0

GERAç.i.O 20 GEIUÇÃO 30 GERAÇÃO 40 GER.,ÇÃO 50 GERAÇÃO 20 GERAÇÃO 30 GERAÇÃO 40 GERAÇÃO 50


COIIT I KEIIrE COIIl' UEIITE COIIT I IEIITE COIIT I REIITE SAIITARí:N SAIITARí:N SAIITARÓI SAIITARÓI
IDADES h h h h ID�.DES h h h h
o 100000 100000 100000 100000 o 100000 100000 100000 100000
10 71190 77U5 85635 88))4 10 82679 846H 90980 92251
20 75227 84194 87623 92013 20 82715 89755 91510 9 4013
30 81289 86368 90839 94943 30 87690 90B2 93l6l 91828
40 81368 89013 93389 9t818 40 88812 92034 93003 94824
50 85354 90069 9200 4 50 89040 89181 91923
60 83ll1 35766 60 83051 86163
70+ 70-

GERAÇÃO 20 GER.�ÇÃO 30 GERAÇÃO 40 GERAÇÃO 50 GERAÇÃO 20 GERAÇÃO 30 GERAÇÃO 10 GfR.\ÇÃO 50


BRAGA BRAGA BRAGA BRAGA LlSOOA LISMA LISOOA LISOO�.
ID�.DES h lx lx h ID�.DES lx lx lx h
o 100000 100000 100000 100000 o 100000 100000 100000 100000
10 77350 74611 81279 85880 10 71701 75404 87902 92361
20 73052 800 1 1 8522 1 90788 20 72611 859l 3 91633 93006
30 77390 84023 89928 94366 30 82410 90394 91 107 95931
40 "82034 88399 92629 94969 40 88391 89119 94631 94919
50 85315 89537 92076 50 84066 91166 92232
60 82763 85036 60 84275 85900
70+ 70"

GERAÇÃO 20 GERAÇÃO 30 GERAÇÃO 40 GERAÇÃO 50 GrRAÇÃO 20 GERAÇÃO 30 GrRAÇÃO lO GERAÇÃO 50


BRAGAIIÇ! BRAG�.IIÇ! BRAGAIIÇA BRAGAIIÇA tvORA tvoRA tvoRA tvORA
IDADES h lx lx h IDms h lx lx h
o 100000 100000 100000 100000 o 100000 100000 100000 100000
10 69665 72146 80941 81908 10 79848 80278 88tn 91011
20 69791 795H 81197 88619 20 77966 16836 90198 93728
30 77335 799il 87471 93376 30 84538 88717 92712 95615
40 77962 85308 91934 92736 10 86782 91332 94253 94779
50 82926 88138 89857 50 88423 91558 92825
60 82025 U5U 60 853 17 87201
70+ 70.

GERAÇÃO 20 GERAÇÃO 30 GIRAÇÃO 40 GIRAÇÃO 50 GERAÇÃO 20 GIRAÇÃO 30 GIRAÇ'O 40 GIRAÇÃO 50


C. BRAIICO C. BRAIICO C. BRAIICO C. BRAIICO roRTALIGU PORTALI'X:RE PORTALI'X:RI PORTALI'X:RE
IDADES h h h lx IDADES h h lx h
o 100000 100000 100000 100000 o 100000 100000 100000 100000
10 78152 79198 88464 90026 10 80740 79556 88707 90562
20 77207 87205 89305 92722 20 77363 87348 89874 92309
30 84929 88280 91763 94547 30 85130 88784 91HO 94852
10 86572 90167 92641 94662 10 87250 89564 93355 94362
50 96977 89123 91091 50 87081 90437 91849
60 82763 85130 60 85230 86552
70+ 70.

GERAÇÃO 20 GERAÇ\0 30 GERAÇÃO 40 GIRAÇÃO 50 GIR.�Ç.\0 20 GERAÇÃO 30 GERAÇÃO 40 GERAÇÃO 50


COIMBRA COIMBRA COIMBRA CO I MBRA FARO FARO FARO FARO
IDADES lx h h lx IDADES h h lx h
o 100000 100000 100000 100000 o 100000 100000 100000 100000
10 8 4366 83436 91142 91812 10 78388 82055 88236 91028
20 81247 89652 91133 92129 20 79521 86417 90205 92667
30 866U 90067 90623 95499 30 83319 88869 91120 94598
40 88087 88585 93622 95379 40 . 87005 88992 92861 93956
50 84714 90435 92521 50 8611 7 89840 90966
60 83616 87093 60 83702 84592
70+ 70+

1 75
MARIA DA GRAÇA DAVID DE MORAIS

CONCLUSÃO

Este tra b a l h o , c o m o o p ró p r i o títu l o i n d i ca , i nsere-se na fase exploratória d e u m


t ra b a l h o m a i s v a s t o n o q u a l s e p ro c u ra rã o j u s t i f i c a r , a t r a v é s d e e s t u d o s m a i s
a p ro fu n da dos, o s diversos aspectos a q u i a bordados.
A n t e s de m a i s , s e rá n e c e s s á r i o c o n fi r m a r s e as d i fe re n ç a s e n co n t ra d a s n o
com p o rta m e n to das gera ções são rea is o u apenas i ntrod uzidas em consequência d o
método das tá buas d e m o rta l idade, parti n d o i ntei ra m e nte d e dados e m tra nsversa l , na
i m possi b i l i d a d e da sua uti l ização e m lo ngitu d i n a l . Será necessá ria a a p l i cação de um
método q u e possa permiti r melhor e mais correcta mente med i r as variações re lativas
de m o rta l i d a d e de u m a i d a d e a o u trs, de fo rma a fi ca rmos a ptos a i d e n t i f i ca r as
variações que esta ri a m l i gadas a um comporta mento d i ferencial das gerações. Numa
ó ptica mais gera l , outros avanços d everão ser fe itos na i n terpretação d e meca n i smos
q u e pesa ra m n a e vo l u çã o d a m o rta l i d a d e p a ra se t e n ta r e n sa i a r, t e n d o e m v i sta
m e l ho ra r a ca pacidade demonstrativa e d escritiva , outros métodos estatísticos.
A dete r m i n a çã o d o comporta m e nto dos sexos é um ponto centra l nesta a n á lise
pa ra se sa ber até q u e ponto os homens te riam sido ou não mais a fectados do que as
m u l h e res, pois sa bemos q u e o papel da h istó ria passada das gerações não é exclusiva
de fa ctores d e m o m e nto.
O cô m p u to gera l d este estud o a p o nta - n os para u m a recu peração a o nível d e um
n ú m e ro cada vez m a i o r d e sobrevive ntes quando compara mos as quatro gerações.
De n otar que estas gerações tê m , ca da uma por si, u m passa do h eterogé neo que as
torna clara m e nte d i ferenciadas, sendo consequência d isso que as que sofrera m os mais
e l evados níveis d e m o rta l idade i n fa nti l ( 1 9 2 0 e 1 9 30) a p resenta m os mais a ltos riscos d e
m o rte nas idades m a i s avançadas.
A ge ra ç ã o d e 1 9 4 0 é um caso p a ra d i g m á t i co. T e n d o sido s u b m et i d a a o s m a i s
e leva dos riscos d e m o rta l i d a d e na i n fâ n ci a , por este facto vai perder p recoce mente,
como v im os. os seus e l e m e ntos mais fracos (pelo efeito d e selecção). Pelo contrá rio, a
geração de 1 92 0 foi u l teriormente a fectada por uma relativa fragi lidade, pelo fa cto dos
p ri m e i ros a n os d e vida se terem desenrolado num contexto d i fíci l , reflecti ndo-se isto na
p e rda sign i fi cativa dos seus e l e m e ntos aos 2 0 a n os (efeito desgaste).
A evolução d a e s p e ra n ça de v i d a d e p e n d e u esse ncia l m ente dos p rogressos q u e
fora m rea l izados e m b e nefício da m o rta l i da d e i n fantil e j u ve n i l e, posteriormente, dos
a d u l tos e dos i d osos. Em termos de regiões, e por compa ração evolutiva das gerações
nos d istritos com o Conti n e nte, poderemos concl u i r que a penas a Regi ã o Norte (Braga e
B ra ga n ça) a p re s e n to u , e m 1 9 5 0 , Eo i n fe r i o res, te n d o-se s e m p re p a u ta d o p o r u m a
situação d e i n fe r i o r i d a d e n o conj u nto. N a Região Centro e na Regiã o S u l as q u a tro
gerações a p resenta ra m ga n hos notáveis. Na Região d e Lisboa e Va l e do Tejo sobressa i
Santarém com va l o res basta nte su periores à média conti ne ntal (6 5 , 9 5 a n os), nota n do-se
que a gera ção d e 1 9 2 0 j á pa rte com va n tagem s ob re todos os o utros d i stritos das
d i fe re ntes regiões.
Relativa m e n te à h i pótese colocada n o i nício do tra b a l h o sobre u m p rovável i m pacto
da d e n s i d a d e p o p u l a c i o n a l no c o m po rta m e nto d a s coortes, co n c l u i -se a p ri o ristica­
m ente, q u e n e n h u m a i l a ção se poderá tira r e q u e não pa rece existi r qualquer efeito
p e rverso e n tre d e n s i d a d e/ m o rta l i d a d e e v i ce-versa , te n d o ca da gera çã o , em ca d a
d i s t r i t o , m a i s o u m e n o s d e n sa m e n te p o v o a d o , e v o l u í d o d e u m a fo r m a p r ó p r i a ,
i ncara cterísti ca por conj u n tos.

1 76
A C LAS S IFICAÇÃO S ÓCIO-PROFIS S IONAL:
UMA QUE ST ÃO EM ABE RT O
Paula Guilhermina d e Carvalho Fernandes
Universidade Lusíada

1. I N T R O D U ÇÃ O

1 . a) A questão da classificação sócio-profissional na análise histórica

Este peq u en o tra b a l h o visa levantar a lgumas das q uestões relacionadas com a clas­
sifi cação saci o-profiss i o n a l , assunto com que, mais cedo ou mais ta rde, se defronta m
n ecessariamente os h istoriadores e demógrafos quando tenta m a preender u m a rea lidade
d e m ográ fic a, social e e co n ó m i ca passa d a . A a p re e nsão d esta rea l i d a d e é , e m si, o
o bjecto de um qualquer estudo da á rea da H istória Económica e Social, e é nesse sentido
que a classificação sacio-profissional assume toda uma actua lidade i n d i scutíve l. Se não
se ten tasse a el ab o ração d e classifi cações das profissões, esta ría mos "a sacrificar uma
das razões d e ser da própria Demografia Histórica, ou seja , a espera n ça de descobrir
como se i nterp e netra m e m u d a m , n o decorrer do tempo, factores económ icos, sociais e
d e mográ fi cos" 1 . Q u a n d o fa lamos de "classificação sacio-profissional", menciona mos a q u i
não só a listage m , mas o reagru pame nto, agrega ndo as p rofissões, de modo a que u m
q u a l q u e r q u a d ro d e p rofissões ga n h e conteúdo sintético e riqu eza i n formativa i mediata.
Um q u a d ro baseado sobre as d e n o m i nações p rofissionais não agregadas, é i l egível 2 .
Por outro l a d o , cada classe te m um " reagru pa m ento de d enomi nações profissionais
relativa mente h eteogéneo, e onde há d e n o m i nações "fortes" (mu ito freque ntes) e u m
n ú m e ro i m p o rta n t e d e d e n o m i n a ç õ e s " fra ca s " (a q u e l a s m e n o s fre q u e ntes)" 3 Por
exe m p l o , o termo "cultivateur" 4 , q u e agrega 1 1 . 1 09 sobre 46.000 d enomi nações num
dado tra b a l h o q u e comenta remos mais à frente, perd e todo o conteúdo, gra ças à sua
redu n d â ncia 5 o mesmo podemos dizer para o termo "tra b a lhador", tão freq u ente e m
l i stage ns cita d i nas c o m o rurais.
Vai-se trata r aqui especifi ca mente qu estões deste ca m p o refe rentes à época con­
temporâ n e a , porque, se parti rmos de u m a b reve a n á l ise da documentação existente
a nterior ao sécu l o XVII I , sa bemos que os "ofíci os" ou as "ocu pações", como na a ltura se
dizia, são de m o d o gera l (mas não, evidentemente, global) ra ra m e n te referenciadas,
pelo menos n o sentido de uma listagem sistemática possível das mesmas. Isto é, sa bemos
que se m e n c i o n a m a s "ocu pações", mas ta l surge pe rfe ita mente d i l uí d o no contexto
dos diversos documentos a que podemos aceder.
De facto, e m bora nos d efrontemos, desde relativa me nte cedo, na Europa Ocidenta l ,
c o m sociedades e eco n o m ias e m que as relações sociais s ã o já permeadas p e l o n ú mero,
n ós não temos a cesso a l eva n ta m e ntos n u m é ricos sistemáticos pa ra essas mesmas
épocas. Podemos fa l a r, para o caso português e até m u ito d e ntro do sécu l o XIX, da
existê n c i a d e " e co n o m i a s pré-estatísticas", p a ra u t i l i za r uma e x p ressã o d e Vito r i n o
Maga l hães G o d i n h o 6
ora, se a p ro fissão fu n c i o n a como i n d icador da posição socia l para os soci ólogos

12 1 77
PAULA GUILHERMINA DE CARVALHO FERNANDES

(mas ta m bé m pa ra os h istori a d o res), é porque ela é natura l me nte m o b i l iza d a , pelo


m e n os e m ce rtas socieda d es. como u m a ma rca oficiosa ou oficia l , da identidade social 7
do(s) i n d ivídu o(s). Porta nto, quando tentamos a feitura de uma l i stagem de p rofissões,
que é gera l m e n te segu ida d e uma categorização das mesmas, para estas economias e
soci edades. esta mos, a ntes do mais, a tentar a preender a composição (podemos ta lvez
d izer m e s m o " e stru t u r a " ) e co n ó m i ca das mesmas; mas ta m b é m esta mos a tenta r
apreender u m a com p reensão d a i m po rtâ ncia social dos i n d ivíduos portad ores dessas
mesmas p rofissões. Ava nçando mesmo u m pouco mais, podemos d izer que tenta mos a
a preensão do "espaço socia l " dessas eco n o m ias, uti l iza ndo a q u i a n oção que Maurizio
Gribaudi e Ala i n Blum defe n d e m s - a cada p rofissão, mencionada e categorizada numa
dada fonte, são dados critérios de homogeneidade por causa da própria categoriza ção,
mas ta m b é m se devem n otar os fl u xos e m o b i l i dades de cada uma das i n formações. A
reconstru çã o d o c o nj u nto dos l a ços i n d iv i d u a i s q u e l iga m cada i n formação ao seu
círcu l o sacio-eco n ó m i co , é q u e nos p o d e rá fo rnecer os "espaços socia is". Exe m p l i fi ­
ca ndo, cada u m a das 4 6 .000 declarações p rofissionais q u e Jacques Dupâquier recolheu
com a sua e q u i pa e m a ctas d e casa m e nto em toda a Fra n ça e ntre 1 803 e 1 90 1 , n o
quadro de u m i n q u é rito sobre a m o b i l idade 9 , devem ser, na o p i n i ã o d estes autores,
agregadas e m categorias, mas ta m b é m o l hadas como u m o bjecto ú n ico, com os seus
laços i ndividuais, rea is, i nscritos na fonte. "Se u m e m baixador tem u m fi l h o a pre ndiz d e
pisoei ro, considerámos que existe uma laço, uma proximidade, e ntre essas d u a s profissões.
Esta defi n ição é sistemática" e "pode ser a p l icada a todas as situações, mesmo contra­
- i ntu itivas" 1 0 . como é o caso aqui citado. Por exe m p l o , para 1 8 2 7 , em d uas freguesias
c e n t ra i s do P o rt o , na S é e Vitória 1 1 . n u m tra b a l h o a nteri o r n osso 1 2 . a testá m o s a
existê ncia de u m p a i p rocurador. com três fi l h os. respectiva m e nte, um ou rives, u m
sapateiro, u m cordoeiro; ou ainda o caso de u m p a i vidraceiro, com u m fi lho enxa mblador
(existência d e m o b i l idades dentro dos sectores eco n ó m i cos ou e ntre os mesmos). Ou
seja, o h istori a d o r deve, não só rea l iza r u m tra b a l h o d e catego rização, mas ta m b é m
fazer u m tra b a l h o sobre as d iversas l igações, fa m i l i a res (profissão do pa i-profissão do
fi l ho), p rofissionais e o utras q u e cada i n d ivíd uo declara nte pode mencionar na fonte. Só
o conj u n to destes esforços da n ossa pa rte nos poderá i n d iciar os "espaços sociais" que
a m b icionamos vislu m brar.

1. b) Objectivos, o rganização, limitações e sugestões deste trabalho

o tra b a l h o q u e a q u i vos a p resenta mos não p retende, d e modo nenhum, ser exaus­
tivo q u a n to a o tema sobre o qual se d e b ruça. o objectivo centra l foi tenta r-se u m a
a bo rdage m , e ntre as v á r i a s possíveis, das q u estões metodológicas que se p rendem a o
assunto e m e pígra fe. Pa rece-nos, pela pesqu isa b i b l i ográfi ca rea l iza da, ser gera l mente
reco n hecido q u e a classifi cação sacio-profissional a rrasta consigo problemas de d i fícil
resol uçã o, a que, evide n te m e n te , n ã o tentá mos dar solução. Procurá mos a ntes fazer
u m leva n ta m ento das q u estões existe n tes nesta á rea.
A b o r d a r e m o s d e uma m a n e i ra forçosa m e n te s u p e rfi ci a l , e m p o ntos sucessivos
n este a rtigo, os p ro b l e m a s que a construção d e m o d e l os , o u "gre l h a s d e l e i t u ra " ,
a rrasta m consigo n a H istória. U m a dada categorizaçã o, u m a dada grelha, sugeri rá uma
leitura da rea lidade a que foi aplicada. Fa remos u m pequeno comentário a este assunto,

1 78
A CLASSIFICAÇÃO SÓCIO-PROFISSIONAL: UMA QUESTÃO EM ABERTO

ten d o por base a lguns estu d os. Mencionaremos a l igação fu l cra l das "grel has de leitu ra "
às fontes h istóricas e d a remos a lguns exe m pl os d e tra b a l hos rea l izados n esse ca mpo
p o r d iv e rsos a u to res p o rtugueses, rea l ça n d o a s s i m i l itudes e d i ferenças e ntre ca d a
p ro p osta . Fa r e m o s u m a c h a m a d a d e a t e n ç ã o p a ra o q u e se f ez, n a E u r o p a e em
Po rtuga l , a o l o n go d o sécu l o X I X e i n ícios d o sécu l o XX ( 1 8 0 6 - 1 9 3 0 ) , n o toca nte à
classifi cação sacio-profissional. F i n a l m e nte, concl u i remos com uma série de reflexões e
l eva n ta m e nto de problemas no toca nte a este assunto.
Não se foca ra m , p ro p o s i ta d a m e n t e , n esta fa se do n osso estu d o , p r o p ostas de
g re l h a s d e c l a s s i fi c a ç ã o sac i o - p rofissi o n a l , por u ma tri p l a razã o. Pri m e i ro , p o rq u e
q u a l q u e r p ro p osta n ã o s u fi c i e n te m ente a m a d u recida traz consigo pontos fracos q u e
podem n ã o aj u d a r a o escl a reci m ento do assu nto 1 3 Em segu nd o l uga r. e co ncomita n ­
temente à p ri m e i ra razão por nós avançada, porq u e esta l i n h a d e i nvestigação é a lgo
recente em nós. F i n a l m ente, e como já foi d i to , porque o objectivo principal d este breve
tra ba l h o é essencia l m ente fazer uma recensão do que existe, levantar p istas e suscitar
i nterrogações.
Se p reten d e mos avançar n a á rea de uma h i p otética leitu ra da evolução da popula­
ção e soci e d a d e p o rtuguesas numa p e rspectiva naciona l , pensamos q u e o p ri m e i ro
passo a ser d a d o é p recisa m e nte a discussão e reflexão metodol ógica das "grel has"
diversas que, forçosa m ente, nos veremos o b rigados a utilizar.

2. ACERCA DA CONSTRUÇÃO D E MODELOS OU " G RELHAS" EM HISTÓRIA

Abordar a globalidade das d iscussões já suscitadas pelo assunto da construção d e


modelos e m H i stóri a , especifi ca me nte na H istó ria Económ i ca e Socia l , seria sem dúvida
uma ta refa c i c l ó p i c a , que não p re te n d e m o s p rossegu i r, não só pela d i fi c u l d a d e e
p rofu n didade de q u e o tema se reveste, como ta m b é m porque ta l não se justifi cava ,
n esta b reve perspectiva da q u estão. A l é m d isso, pensa m os q u e esta discussã o é de ta l
modo d i fu n d ida e n tre os especia l i stas na área, q u e podemos dispensar uma exposição
a l a rgada do tem a. Esco l h em os ass i m fazer a penas u ma chamada de atenção, na l i n ha
de pensa m e nto q u e o ptá mos por segu i r, ten d o por base um i n te ressa nte e breve a rtigo
de Vito ri n o Maga l hães G o d i n h o , acerca da construção d e modelos pa ra as eco n o m ias
pré-estatísticas 1 4 .
Vitori n o Maga l hã es G o d i n h o expõe de um modo esclarecedor a noção de que os
h istoriadores de H istória Eco n ó m i ca (à q u a l se prende estreita me nte a História Social)
sempre b usca ra m a constru ção d e u m modelo por debaixo da superfície trepida nte dos
aconteci mentos. "Si m plesmente", diz ele, "não basta co nstru i r u m modelo; é preciso i r
mais a l é m , porq u e da H i stória n ã o podemos e l i m i na r o i rreversível" 1 s.
Não q u e r isto dizer q u e n a d a m a i s resta do q u e a s i m ples na rrativa dos fa ctos ,
seleccionados por u m critério de i m po rtâ ncia q u e é subjectivo. "Trata-se de recupera r
o s factos singu l a res e a q u i l o q u e é i rreve rsível, de o s i ntegra r e m modelos, modelos d e
muda nça; m a s trata -se ta m b é m d e constru i r para cada é poca u m a teia d e relações que
nos d ê a estrutura da sociedade e da cultura dessa é poca e não uma a p l i cação pura e
s i m p l es d os e l e m e n tos do n osso te m p o a fa ctos aos quais eles não se adequam" 1 6
"Te m os d e u l tra passa r os m o d e l o s q u e sej a m tra n s p os i ç õ e s , p a ra o passa d o , d e
rea l id a des ou d e conce pções presentes" 1 7 .

1 79
PA ULA GU/LHERMINA DE CARVALHO FERNANDES

o autor chama-nos porta nto paulati n a m ente a atenção para o problema da i nter­
venção de e l e m e ntos a na c ró n i cos, q u a n d o tentamos m o d e l a r uma rea l i d a d e , n u m
dado espaço, e m movi m ento, n o te m p o e na s u a composiçã o i n terna. o estu d i oso d e
h oj e ten d e a i n cl u i r, n o modelo q u e constró i , conceitos, orga n izações i n ternas ou id eia s
que, m u i tas vezes, podem leva r a uma leitu ra q u e , se pa rtisse d e uma outra gre l h a ,
l evaria a resu l tados d i fe rentes. Já fa l a remos de u m exemplo d esta q uestão, no ponto
2 . a ) , 3 . a ) e 4 . a ) , um pouco mais à fre nte n este a rtigo.
Há basta nte tem p o que soci ólogos, h istoriadores e mesmo os a d m i nistradores se
i n te r roga m s o b re "la p u i ss a n c e fo rmatrice des gri l l es statisti q u es " , i nterroga n d o-se
sobre a possi b i l i d a d e d e e n co n tra r "a m e l h o r gre l ha passivei " , a q u e l a que permitiria
melhor respeita r a significação " rea l " das declara ções. É n esta ó ptica q u e a ideia d e
privilegiar as d e n o m i n a ções e m piricas da é poca f oi frequentemente avançada 1 s.
Parece c l a ro q u e u m a d a s respostas a este p ro b l e m a m o d e l o/ a c o n teci m e n to
i rreve rsível é a construção de modelos por pa rte do h istoriador que pa rta m das pró­
prias fon tes 1 9 . Mas ta m b é m pa rece ser claro para todos nós que as fontes n u n ca nos
são dadas, elas são construídas, e m correlação com a construção dos próprios fa ctos.
Vitori n o Maga l hes G o d i n h o co nclui: "Cabe-nos abrir a possi b i l idade d e constru i rmos, a
pa rti r do acervo de " fa ctos", a teia de re lações que nos d a rá a estrutura soci a l , a confi­
guração social d e uma é poca, d e u m espaço geografica mente configu ra do, nos diversos
r i t m o s da sua res p i ra ç ã o " 2 o . A p r o posta é a m b i ci o s a , mas ta m b é m , sem d ú v i d a ,
a l i ci a n te - q u a l o h istori a d o r q u e n ã o a ca l e n ta a espera n ça d e s e n t i r o p u l s a r dos
homens, mesmo q u e estej a m e n fermados na sua grelha de leitu ra ? Quem não gosta ria
d e com b i na r, da m e l h o r m a n e i ra passivei o si ncró n i co com o diacró n i co?
Sa b e m o s q u e a " N ova H i stória S o ci a l " segu i u este ca m i n h o , uti l i za n d o fo ntes
n o m i nativas e usa n d o u m processo longitu d i n a l , o q u e permitiu d escreve r e constru i r
u m espaço social e m movimento. Só q u e a a n á l ise n ã o u ltra passava , freque ntemente,
os l i m ites d e um q u a d ro d escritivo, u ti l iza n d o gre l h a s que e ra m quase s e m p re a
reprodução mais ou m e n os d i recta das categorias sacio-profissionais contem porâ n eas,
elas mesmas p r o d u to d a l o n ga h i stória do desenvolvi me nto da estatistica a d m i n is­
trativa e das suas relações com a sociologia 2 1 . Hoje e m dia, tenta-se freque ntemente o
uso c o m b i n a d o d e gre l ha s d e l e i t u ra - a preensão do "gru p o " - com a fe itu ra dos
p e rcursos i n dividuais 22 .

2 .a) As grelhas e as leituras consequentes: um exemplo

Já A l a i n B l u m e M a u ri z i o G r i b a u d i c h a m a m a atenção p a ra o que eles c h a m a m


" l a puissance formatrice d e s grilles"n , ao concluirem u m a comparação de diversos critérios

de agregação das profissões, uns, em função dos sectores de emprego 24 , outros, em função
do tipo d e tra ba l h o , isto é, "the eco n o m i c fu n ctio n " 2 s. Num estudo sobre a populaçã o
d e M a rse l h a n o s é c . X I X ( 1 8 2 0- 1 8 70), w. H . Sewe l l p r o p õ e esta " fu n çã o eco n ó m i ca "
c o m o critério d e agregação d a s p rofissões, d isti ngu i n d o 1 o grupos sacio-profissionais:

CATEGORIA

B usiness and professional,


Ren tier,

1 80
A CLASSIFICAÇÃO SÓCIO-PROFISSIONAL: UMA QUESTÃO EM ABERTO

Soles and clerks,


Sma/1 business,
Artisan,
Service,
unskilled,
Ma ri time,
Agriculture,
Miscellaneous.

U m re pa ro d eve ser, desde já , adia ntado: sewe l l sugere uma grelha socioprofissional
clara m ente baseada nas fontes, época e região - neste caso, a cidade d e Marselha - , o
que traz consigo i m e d iata m ente si ngu laridades para esta mesma proposta de grelha .
Refe ri mo-nos, c o n creta m e nte, á i m p o rtâ n c i a q u e , por exe m p l o , o se cto r " m a ríti m o "
assu m e , nesta gre l h a e na l eitura sacio-eco n ó m ica que ela permite.
Qua nto à agregação p rofissional segu n d o os sectores d e e m p rego, que os autores
acima referidos com p a ra ra m , segu i u os critérios a d optados pelo Instituto I nternaci o n a l
d e Esta t í s t i c a n a d é ca d a d e 9 0 d o s é c u l o p a s sa d o , d i s ti n gu i n d o u m a e s t r u t u ra
p rofissional d o conj u nto mascu l i n o d e população a ctiva que i n d i ca , por exe mplo,

CATEGORIA

Pesca
Floresta
Agricultura e criação de gado
Minas
Pedreiras (. . .)
lnd. mal designadas
lnd. alimen tares
lnd. químicas
lnd. do papel
lnd. do livro
lnd. têxteis
lnd. couros e peles
lnd. da madeira
lnd. matalúrgica
lnd. metais ordinários
lnd. metais finos
lnd. do trabalho da pedra (.. .)
Man utenção
Transportes
Comércio diverso
Comércio estrangeiro
Bancos e Seguros
Profissões liberais
Serviços domésticos
Serviços do Estado (. ) ..

181
PAULA GU/LHERMINA DE CARVALHO FERNANDES

A l a i n B l u m e Ma u ri z i o G ri b a u d i c o m p a ra ra m as d u a s gre l h a s a c i m a referidas e
e x p e ri m e n ta ra m , a través de v á r i o s e x e rcícios m e t o d o l ógicos, n o m ea d a m e n te n o
toca nte á m o b i l i d a d e profissi o n a l entre pais e fi lhos, verifi ca r a s leituras q u e delas se
pod i a m reti ra r. Claro q u e , como já a q u i foi referi do, partira m da série i n icial d o inquérito
das 4 6 . 0 0 0 a ct a s de c a s a m e n to o i t o c e n tistas de J a c q u e s D u p â q u i e r e s ó d e p o i s
agrega ra m as d e n o m i nações p rofissiona is.
As concl usões ava n çadas são interessa ntes e talvez devam ser a q u i sintetizadas.
A ntes d o m a i s , v e r i fi ca-se que a s 1 0 0 d e n o m i nações p rofiss i o n a i s mais fre q u e n tes
cobrem B S o/o da populaçã o e restituem-nos a i magem de u m mundo social centrado
sobre as p rofissões ru rais, o pequeno comércio e o a rtesa nato 2 6 .
Três fe i x e s d e q u estões p o d e m s e r l ev a n ta d os a pa rti r d a q u i . Pri m e i ra m e n te,
devemos pergu n ta r q u a l o significado destes três pólos socioprofissionais? Poderá ser
estrita me nte semâ ntico, sendo o voca b u l á ri o profissional fruste para os m u ndos ru ra l e
a rtesa n a l , m a s extre m a m e n te d i ve rs i fi ca d o p a ra os m u n d os i n d ustri a l e u rb a n o ? A
precisão da n o m e nclatura i n d ustria l provém nomeadamente de d isti nções re pousa ndo
s o b re a matéri a - p r i m a tra ba l ha d a , a natu reza d a tra nsformação e fectu a d a , etc. Por
e xe m p l o , numa l i stage m d e p rofissões e m 1 8 2 7 , no Porto 27disti nguem-se os "enxam­
bladores" e os "enta l ha d o res", os "coro n h e i ros" e os "espinga rd e i ros", os "este i re i ros" e
os " p a l h i n has".
E m segu n d o l uga r, p o d e m os ler estes d a d os como e x p ressões que opõem um
m u n d o rura l socia l m ente h o m ogé n e o a u m m u n d o i n d ustri a l fragmenta d o ? Somos
tenta d os a ver na pobreza d o i nve ntá rio das denomi nações rura is e a rtesa nais u m s ina l
d e u m a estrutura soci a l m e l h o r defi ni d a , crista l izada d es d e há m u i to tempo, m uito mais
estática d o q u e a das cidades. A i n d ústria , a i nda bal bucia nte, há-de cria r novas estra­
tificações, mas elas n ã o estã o a i nda esta be l ecidas n e m são percebidas, compree ndidas
n a s u a u n i d a d e . A i n d a não c r i o u a s s u a s próprias catego rias, q u e congrega rã o os
i n d ivíduos e m gru pos i m po rta ntes para a l é m do seu o fício p reciso.
Fina l m e nte, podemos fazer uma outra leitura para l el a do fenómeno. Ela consiste em
ver nas d e c l a rações d e p rofissã o a t ra d u çã o mais ou m e n o s d i recta das i d e o logias
expressas pela estatística a d m i n istrativa do sécu l o XIX, q u e é o bcecada pelo problema
d e p ô r e m cena a oposição e ntre " d i n a m ismo" e " modernismo" do m u n d o i n d ustria l e o
" i m o b i l ismo" e " reta rd a m ento" dos ca m pos.
N ã o nos p a rece n e cessá r i o , n e m úti l , t o m a r p a rt i d o por u m a o u o utra d estas
i nterpreta ções. Pensa mos a n tes q u e a tomada de consciência das mesmas é o passo
i m porta nte, mais d o que a escol h a d e uma via i nterpretativa que m ostra rá . certa m ente
a cu rto ou m éd i o prazo, as suas l i m itações.
Por outro lado, devemos i n terroga r- nos sobre os tipos d e processos e d e te rrenos
soci a i s que podemos colocar e m evidência, q u a n d o pa rti mos u n i ca m e nte dos dados
p rofissionais brutos. Uma possível a p roximaçã o consiste em tentar medir a coesão das
p rofissões mais re p rese n tadas, pa rti ndo da m o b i l idade e ntre ca da u ma delas, ou seja ,
fa lamos por exe m p l o d e se fazer u m cruza mento e ntre as p rofissões declaradas pelos
pais e pelos fi l h os n o m o m e nto da declaração, n o casa me nto d o fi lho. Este exercício
fornece- nos tá buas d e m o b i l idade parci a l . A l a i n Blum e Maurizio Gribaudi p rossegui ra m
esta via e, dentro d a s 1 O profissões mais re presentativas 2 B , verifica ra m a existência d e
u m a i magem d e u m m u n d o e m m u d a n ça , s e quise rmos utiliza r a l i nguagem clássica
dos estu dos sobre m o b i l idade. De fa cto, 70 a 9 5 o/o do recruta m ento profissional provém

1 82
A CLASSIFICAÇÃO SÓCIO-PROFISSIONAL: UMA QUESTÃO EM ABERTO

d estes 1 o ofícios, mas estes a bsorvem a penas 50 a 80% dos d esti nos. As p rofissões
estrita m e n te agríco l a s fo r n e c e m -se l a rga m e n te n esta l ista , e n q u a nto as profissões
a rtesa nais, m i stura n d o o rura l e o u rbano, tê m u m recuta mento mais d i fuso 29 .
Seguidamente, estes autores reagruparam as profissões pela grelha sacio-profissional
do R e ce n s e a m e n t o fra n c ê s de 1 8 9 6 e d e s taca ra m - s e a s s e gu i n tes c o n c l u s õ e s :
n ova m e n t e s e v e r i fi ca u m a e x i s t ê n c i a c l a ra d e t r ê s p ó l o s s o c i o p rofiss i o n a i s - a
agricultura , o comércio e a i n d ústria. A agricultura é o terre no onde todas as profissões
se recruta m . Pod e m os, a l é m do mais, ler n esta gre l h a fen ó m e n os ma cro-estruturais:
urbanização, i n d ustria l ização e desenvolv i m e nto do comércio e serviços (tra nsportes,
p rofissões l ib e rais, serviço do Estado e serviço doméstico) 30 . Mesmo na segu nda metade
do séc. XIX, mais profu n d a m ente m a rcada pela evolução destes macro-fenóme nos, a
agricultura vai co nti n u a r a a l i m e nta r o grosso das p rofissões, e ta mb ém, em especia l , os
s e rv i ços. A l i á s , o m e i o do sécu l o X I X ( m a i s c o n c reta m e nte, p o r v olta d e 1 8 4 8 ) vai
m ostra r u m a fissu ra n estes fe n ó m e nos d e m o b i l idade soci oprofissional, já q u e a ntes
destas datas, a prol eta rização pa rece ser um fen ó m e no m u ito le nto, d i fuso e ta rd i o e
a p ó s e s ta fa s e , a s r e l a ç õ e s c i d a d e/ ca m p o m ostra m - s e c l a ra m e n te , e m l i g a ç õ e s
horizo nta is e vertica is 3 1 .
A escol ha das categorias guia a leitura u lterior. A uti l ização das categorias do séc. XIX
conduz a reproduzir uma das i magens que esta é poca ti nha, dela mesma 32 . Po rta nto,
p a rtir da fo nte h istó rica, é o l h a rmos o soci a l através dos o l h os da fo nte, ela mesma.
N o entanto, através da operação d e agregação, a sign i fi cação da categoria su bstitu i-se
àquela d o dado i ndividual, sem possi b i l idade d e retorno.
"Os i nstru m e ntos e os métodos d e a n á l ise quantitativa da época, ao serem uti l i ­
zados, mostra m - n os as i m agens de uma sociedade que se tornou global e que esca pa
cada vez mais a o contro l e dos i n d ivíduos; são as i magens de "gru pos", das " massas" e
das "estruturas" q u e o sécu l o X I X q u is aga rra r gra ças aos i nstru mentos estatísticos.
Para lermos melhor esta rea lidade, que nos su rge i móvel, devemos prossegui r também
práticas metodológi cas q u e co ntornem as lógicas de agregação. Trata-se d e restitui r aos
dados os seus va l o res i n d ividuais, e d e constru i r ass i m modelos d e estratificação e de
m o b i lidade q u e n ã o ten h a m como esq uema, i m p l ícito ou explícito, u m processo macro­
-estrutura l o n d e o i n d ivíd uo é neutra l iza do" 33 .

3. A L G UMAS G R ELHAS S Ó C I O - P R O F ISSIONAIS FEITAS EM P O RT U G A L

3 .a) A ligação entre as fontes históricas e o traba lho desenvolvido

Já acima f o i mencionado o gera l a co rdo e ntre a com u n i dade científi ca de que pa rti r
das fontes h istóricas para a construção das grelhas é um dos ca m i n h os mais seguros
pa ra uma va l i d a d e das mesmas. Não podemos, pois, evita r uma me nção às mesmas e
m ostra r c o m o e l a s e as suas circunstâ n cias (cro n o l ógicas, espa cia i s , o bj e ctivos q u e
prete n d i a m atingi r, etc) condicionam a construção d o s modelos. D a q u i resulta q u e , pa ra
cada estudo, e pa ra cada caso s i m i la r, existe uma dada grelha, como veremos, através
de a lguns exemplos que a q u i serão menciona dos.
As fo ntes h istó ricas que nos permitem eve ntuais l istage ns d e p rofissões, pa ra a
é poca conte m po râ n e a , são gera l m e nte registos, recensea mentos ou n u m e ra m e n tos,

1 83
PAULA G UILHERMINA DE CARVALHO FERNANDES

e fectu a d o s c o m fi n s e m e to d o l ogias d i v e rsos d os d o s rece nsea m e n tos m o d e rnos.


Fa l a m o s dos rece nsea m e ntos com fi n s fisca is o u m i l itares. efectuados a mando d o
Esta d o ou das m u n i ci pa l idades 34; ou a q u e l es registos ( d e baptismo, casa mento . etc) o u
rece nseam entos e fectuados pela Igrej a , com fi ns d e fisca lização d o cumprimento das
o brigações religi osas d e confissão, por exemplo. São os conhecidos "Livros da Desobriga",
ou "Róis d e confessad os " 35.
o que a q u i p re te n d e m os d e m o nstra r, d e n tro da l i n h a d e ra c i o cí n i o q u e vimos
segu i n d o . é que p a rt i r d e d i fe r e n tes fo ntes. resu l ta e m d i fe r e n tes categoriza ções.
As propostas que a q u i apontaremos são claras. quanto a esta asserção, e foi nesse sentido
q u e as seleccio n á mos. Faremos a a p resentação das mesmas e u m b reve comentá rio,
visa ndo, não a po nta r eventuais "fa l has" - pensamos que não é o tri l h o a ser toma d o -
mas tom a r n ota do ca m i n h o p e rco rrido e a eventua l com p l e m entaridade de opções.
3 .a. 1 ) U m p ri m e i ro e x e m p l o que a p resentaremos é o conj u nto dos três trabal hos de
Joaq u i m M . Naza reth e Fern a n d o d e Sousa para três vilas portuguesas e m fi nais d o
A n tigo Regi m e 3 6 Rea l i za ra m estu dos d e natu reza d e m ográfica e socio-eco n ó m ica ,
basea ndo-se e m l i stas n o m i nais das populações de Sa lvaterra d e Magos ( 1 788), Coruche
( 1 7 8 9 ) e S a m o ra Correia ( 1 7 9 0 ) , m a n d a d a s e fectu a r p e l o a pa re l h o esta ta l , o n d e se
mencionavam os n o m es dos casa is. ofíci os. idades. e todo u m conj u nto d e mais i n for­
mações sobre a estrutura d e mográfica da vila e a sua com posição socio-económica .
As estrutu ras profissionais surge m , i nseridas n u m contexto d e fi nais d e setecentos.
em vilas d e ca racte rísticas m a rca d a me nte ru ra is. Ass im sendo. os autores consideraram
h a v e r ra z õ e s p a ra u t i l i za r uma c l a s s i fi ca ç ã o de p rofissões p r o p osta por J a c q u e s
D u p â q u i e r para a regiã o da bacia d e Pa ris para o séc. XVI I I 37, classificação esta q u e
d ividia o s ofícios e m três gra n des grupos - p rofissões agrícolas. a rtesa nato e transportes
e servi ços. Não tra d u z i ra m , no entanto, p u ra e s i m p l esme nte os tipos de p rofissões
d essa proposta . a n tes uti l iza ra m o espírito que p residiu à estrutu ração daquela, para a
ada pta rem à rea l i d a d e de ca da u m a das vilas. Ass i m , temos. para Coruche. em 1 78 9 , a
segu i nte gre l h a soci o-profissi o n a l 38,

PROFISSÕES

1. Profissões agrícolas
1. 1 . Tra b a l h a d o res, m a n cebos
1.2. Pastores, m a iorais, guardadores, etc
1.3. Lavra d o res
1.4. Cinge l e i ros
1.5. H o rtelãos
1.6. Seare i ros
1.7. Ca m p i nos
1.8. coutei ros
1.9. cas e i ros

2 . Artesa nato
2 . 1 . Liga d o às a ctividades agríco las:
2 . 1 . 1 . Abegões
2 . 1 . 2 . Ferre i ros, ferra d o res
2 . 1 . 3 . Moleiros
2 . 1 .4. Albard e i ro, seleiro

1 84
A CLASSIFICAÇÃO SÓCIO-PROFISSIONAL: UMA QUESTÃO EM ABERTO

2 . 2 . Liga d o à construção:
2 . 2 . 1 . Ca rpinte i ros
2 . 2 . 2 . Pedre i ros
2 . 2 . 3 . Tij o l e i ros
2.2.4. Torn e i ras
2 . 2 . 5 . Serra l h e i ros

2.3. Liga d o à a l i mentação:


2 . 3 . 1 . Forn e i ros
2 . 3 . 2 . Padei ros

2.4. Liga d o a os servi ços:


2.4. 1 . Sapatei ros
2 . 4 . 2 . Alfaiates

2 . 5 . Diversos:
2 . 5 . 1 . Tece d e i ros
2 . 5 . 2 . O l e i ros

3. Comércio e serviços

3. 1 . Comércio:
3. 1 . 1 . Ta berneiros
3. 1 .2. A l mocreves
3. 1 .3. Te n d e i ros. esta n q u e i ros
3 . 1 .4. N egocia ntes, marcha ntes, mercadores, etc
3.1 .5. Boticários
3 . 1 .6. Diversos (a lgi bebes. esta lajadeiros)

3 . 2 . Serviços:
3.2. 1 . Barbeiros
3.2.2. Escrivães
3.2.3. Lava d e i ras
3.2.4. Professores e m estres de m e n i nos
3.2.5. Cirurgiões, méd icos. e n ferme i ros
3.2.6. Pa rtei ras
3.2.7. Procura d o res, letra d os, a dvogados
3.2.8. Alca i d e . pri oste
3.2.9. Porte i ro

3 . 3 . D iversos:
3.3. 1 . Clérigos. pad res, prio res
3.3.2. Com ordens (frades, menoristas, etc)
3.3.3. Montei ro-mar e ca pitão-mar
3 . 3 .4. Pesca dor, erm itã o
3.3.5. Estudante

* Nota: Os "criados" não fora m considerados nos cálcu los.

1 85
PAULA GUILHERMINA DE CARVALHO FERNANDES

como podemos verifi ca r, e n contra m o-nos pera nte uma situação a que já tivemos
ocasião d e a l u d i i r neste a rtigo. Referi mo-nos ao facto de, quer nos situemos n o sécu lo
XVI I I , q u e r n o séc. X I X , as "ocu pações" se d istri b u í re m , e m p ro p o rções d i ferentes, é
certo, p o r três p ó l o s de a ctivi d a d e . "Ass i m , 6 2 , 5 % da p o p u lação p e rt e nce ao sector
primário, 1 6 ,8% a o sector secu n d á ri o e 1 8 ,0% ao sector terciário. ( ...) Estes resu ltados,
estrutu ra l m ente, são m u ito semelha ntes aos e n contrados na região de Pa ris (6 1 ,3% no
sector primá rio, 2 4 , 2 % no sector secu ndárioe 1 4 , 5 % no sector terciá ri o)" 39 , a pesa r das
d i fi culdades q u e os a u tores referem ter sentido em disti ngu i r clarame nte a diferença
e ntre a rtesãos e n egociantes. Ava ncemos já q u e este tipo de d i ficuldades de destri nça
p rofissio n a l n o toca nte a o gru po e m que o i n d ivíduo dever ser i nserido, é exte nsivo à
ge n e ra l i d a d e d o s a u to re s a q u e t i v e m o s a cesso e é u m p ro b l e m a p ra ti ca m e n te
u niversal , n este ca mpo.
3 .a . 2 ) Ta m b é m Á l v a ro Ferre i ra da S i l va tentou u m a a p roximação a u m a gre l h a
sacio-profissi o n a l , p a ra 1 76 3 , na regiã o de Oeiras, uti l iza n d o c o m o fo ntes um R o l de
con fessados d e 1 76 3 e u m Livro de Arruamentos e d e Maneio da Décima de 1 762-63 40
A sua p reocupação e ra detecta r qual a a ctividade económica pri ncipa l das fa milias, e dai
ta m b é m a n e c e s s i d a d e , p e n s a m o s n ó s , s e n t i d a p e l o a u t o r , de fa z e r g ra n d e s
aglomerações d e p rofissões.

ACTIVIDADE ECONÓM ICA PRINCIPAL DAS FAMÍLIAS - OEIRAS ( 1 7 6 3 )

Lavra d o res
Faze n d e i ros
Tra ba l ha d ores
Q u i ntas
Outras p ro fissões
Agri cu ltura 2 3 ,8%
Mestres
Oficiais
M o l e i ros
Fá b rica
Indústria 20,6%
Com é rcio 5 ,4%
Serviços 1 ,8%
Transportes 2,6%
Exército 1 1 ,8%
Ofícios p ú b l i cos 2,1%
Clero 1 ,8%
Proprietários 1,1%
Outros ( ) * 0,5%
Sem pro fissã o ou não identificados ( * * ) 28,5%

( ) Casas n o b res não habitadas perma nenteme nte


*

( * * ) Fogos habita d os por i n d ivíd u os que não exercem vida activa (idosos, pedi ntes,
etc) ou cuj o meio d e vida não foi possível ide ntifica r

1 86
A CLASSIFICAÇÃO SÓCIO-PROFISSIONAL: UMA QUESTÃO EM ABERTO

o a utor m e n c i o n a . l ogo na a p resentação do q u a d ro, o fa cto d este su bva l o riza r o


tota l agregad o da força de tra b a l h o e j ustifi ca ta l opção metodológica . pela escol h a d e
"situ a r o q u e ser i a a fonte d e ren d i m e n tos fu n d a m e nta l d o agrega d o doméstico" 4 1 .
Le m b ra . ta m bé m , o s u b - regi sto da a ctivi d a d e p ro fiss i o n a l fe m i n i n a , de fi l h os ou d e
outros pa rentes e m i d a d e labora l ou h óspedes. Podemos verifi ca r n este caso que n ã o
houve u m a preocupação d e se tentar uma classificação sacio-profissio n a l aturada. u m a
v e z q u e a g r i c u l t u ra , i n d ú s t r i a , c o m é r c i o , s e r v i ç o s , tr a n s p o rt e s , s e e n c o n t ra m
catego riza d os n o q u a d ro ao m e s m o nível do clero, ou d os ofícios p ú b l i cos, ou d os
proprietá rios, por exem plo. Devemos, no entanto, releva r que este não era um aspecto
fu lcra l a ser focad o no tra ba l h o em q uestão e q u e , dada a data e as fontes q u e são
trata d a s , s e r i a d i fí c i l a fe i t u ra de u m a g re l h a s a c i o - p ro fi s s i o n a l m a i s co m p l e ta .
Provavel mente, não seria tão l egível .
3.a.3) Ru i Cascã o . por sua vez, tra ba l ha n d o com a sociedade da Figu e i ra da F oz na
p ri m e i ra metade d o sécu l o XIX, com base e m fo ntes h istó ricas emanadas ta nto d e
i nstituições eclesiásticas. como estata is 42 , o ptou p o r constru i r d o i s esquemas teóricos de
classificação sacio - p rofissiona l , a m bos tri d i mensionais, no enta n to. o pri m e i ro, englo­
bando u m n ú m e ro l i m i ta d o d e catego rias d o u n iverso soci a l figu e i rense, d isti ngue a
"Classe 1", "Classe 11", "Classe I I I " e "Classe X" (classe res i d u a l q u e a b ra nge e l e m e n tos
h eterogén eos) 4 3 .

CLASSE I
1 ) Funci o n a l ismo (a q u e fora m a n exados e l e m entos do clero e esca lões superiores e
su ba l ternos do Exército)
2 ) Profissões l i berais
3) Negoci a n tes ( i n d e p e n d e ntemente d e serem n egociantes por grosso ou s im pl es
reta l h istas)
4) Pro p ri etários ( i n d ivíd uos vive n d o de rendas e origi n á rios ge ra l me nte do m u n d o
d o s n egócios)

CLASSE II
5 ) Lavra d o res. carrei ras e recoveiros
6) Artesãos (em princípio independe ntes)
7) Ma ríti mos (desde os p i l otos aos simples ma ruj os)

CLASSE III
8) B a r q u e i ros e p e s ca d o res ( e x e rce n d o q u a s e s e m p re a s duas a ct i v i d a d e s em
s i m b i ose)
9) Tra b a l hadores não especial izados

CLASSE X

o autor m e n ciona q u e este esq uema pode ser a lvo de críticas na sua globa lidade.
mas l e m b ra q u e . a "classe média" q u e ele defi n i u á esca la loca l , se bem que seja a d e
d isti n ç ã o m a i s c o m p l e x a . p o d e ser assim catego riza d a porque os e l e m e n tos q u e a
i n tegra m . em especi a l a lguns estratos do m u n d o a rtesa na l e a lguns sectores do pessoa l
e ntregue á vida do m a r. d ispõem de vias de a cesso á "Classe I" e de condições materiais
d e vida q u e estão quase tota l m e nte vedadas aos dois últimos grupos da esca la socia l 44

1 87
PAULA GU/LHERMINA DE CARVALHO FERNANDES

o segu n d o esquema de class i fi ca çã o socio-profissional q u e Rui cascão ava nça u m


pouco m a i s à frente nesse tra b a l h o 4 5 é feito para o ano d e 1 8 3 8 e divide a popu lação
mascu l i n a da Figu e i ra da Foz (exclu i nd o os cria d os) nos três sectores "modernos" d e
actividade econó m i ca .

SECTOR PRIMÁRIO
Lavradores
Trabalhadores agrícolas
Pescad o res

SECTOR SECUNDÁRIO
Ca lçado e vestu á ri o
construção civil
Mad e i ra
Meta is
outros

SECTOR TERCIÁRIO
Clero
Exército
Funciona lis m o
Profissões l i berais
Pro p ri etá rios
Comércio:
N egocia ntes
ca ixei ros
Transportes:
Fluviais
Ma ríti mos
Terrestres
Trabalhadores não especial izados

Rui Cascão con c l u i da existência de u m peso d i m i nuto d o sector p ri m á ri o (1 Oo/o), um


peso d e cerca d e 1 /4 da popu lação mascu l i na a ctiva traba lhando no sector secu ndário
(24,6o/o) e u m sector te rciário p e rfe ita m e nte d estaca d o , a b ra nge ndo ce rca d e 2 / 3 da
popu lação activa (6 5 ,2o/o). Estes n ú m e ros rep resentam uma sociedade terciária, "mas
onde as actividades " i n d ustriais" têm uma q uota superior à média naciona l " 4 6 , já que,
segu ndo os dados d e M.M. Fra nz i n i , e m 1 840, o sector secundário no Reino não atingiria
os 1 6o/o e m 1 840 4 7 .
o a u t o r a p o nta a i n d a , à s e m e l h a n ç a d e o u tros t ra b a l h os a q u i m e n c i o n a d o s ,
a lgumas d i ficuldades sentidas na d i ferenciação d a s ocu pações, nomeadamente no caso
dos "tra b a l h a dores" (q u e seriam não só os tra b a l hadores agrícolas, mas ta m bé m os
assa l a riados não especi a l izados d e outros sectores, como os ca rregadores, homens do
ca i s , h o m e n s d e a rm a z é m , etc); o u o caso d o s " pesca d o re s " e " b a rq u e i ro s " , q u e
dese m penhavam q uase s e m p re u m a d u p l a fu nção, p e l o q u e a s u a separação sectorial

1 88
A CLASSIFICAÇÃO SÓCIO-PROFISSIONAL: UMA QUESTÃO EM ABERTO

e ra d i fíci l . O ptou e ntão por dois critérios: no caso dos "trabalhadores", consi derou 2/3
d e l es como p e rten c e n d o a o sector p r i m á ri o e 1 /3 a o sector terciário. consi d e rou os
" pescadores" n o sector primá rio e os "barqueiros" no sector terciário (transportes fluviais).
3 .a.4) Jorge Ferna ndes Alves, trabalhando com documentação d e registo civi l , uma
série d e passa portes entre 1 840 e 1 8 9 9 , fez ta mbém uma tentativa a proxi mativa a uma
grelha sacio-profissional da e migração do Porto para o Brasi l 48. Trabalhando u m período
extenso d e registos, o auto r menciona a d i ficuldade d e o bter uma perspectiva siste­
mática no toca nte à a n á lise das p rofissões, pelo menos, tão sistemática como outras
variáveis constantes nos registos de passa porte. os registos d e "ocu pação" atravessa m
períodos de sub-registo claro, ou de ausência p u ra , em contraste com outras é pocas,
o n d e s ã o m a i s b e m d o c u m e n t a d a s . os fu n c i o n á r i o s v a r i a va m , as d e s i g n a ç õ e s
p rofissionais ta m b é m sofrera m decerto evol u ções, etc. Por outro lado, o s menores d e
1 4 a n os s u rgem q uase sistematica mente ignorados, no toca nte a este aspecto.
Não obsta nte, o auto r fez o reconhecimento possível das p rofissões dos e migra ntes
declaradas à sua parti d a , seleccionando períodos ( 1 840-49, 1 860-64, ( ... ) , 1 899) e m que a
rep resentatividade d este tipo de registo se torna mais i ntensivo, assegu ra ndo uma re­
presentatividade superior a 5 0% d o fluxo, na componente mascul i na de maiores de 1 4 anos.

ACTIVIDADES POR SECTORES

1 . sector primário

1 . 1 . Agro-pecuá ria
1 .2 . Pesca
1 . 3 . M i nas
1 .4. Não especifi cadas

2 . sector secu ndário

2 . 1 . construção civil
2 . 2 . Vestuário, têxti l e ca lçado
2.3. Meta l u rgia
2.4. O u rivesa ria
2 . 5 . Madeira e m o b i l iário
2.6. A l i menta r/ p a n i fi cação
2.7. Tipogra fia/ed i çã o
2 . 8 . O l a ria
2.9. Construção nava l
2 . 1 o. cou ros e c u rtumes
2 . 1 1 . Diversos
2 . 1 2. Não especificados

3 . Sector terciário

3 . 1 . Comércio
3 . 2 . Tra nsportes
3 . 3 . Saúde e higiene

1 89
PAULA GUILHERMINA DE CARVALHO FERNANDES

3.4. Artes
3 . 5 . Ensino
3.6. Serviços

4. Diversos i ndetermi nados

J o rge Fernandes Alves assinala desde l ogo a fa l i b i l idade d este tipo d e classi fi caçã o,
não só p o r q u e a d esignação d e "ocu pação" nem sem pre é ass i m i lável à d e " p rofissão",
mais m o d e r n a , m a s ta m b é m porque n a s s o c i e d a d e s tra d i ci o n a i s é s e m p re d i fíci l
discernir, como a l iás já Ferna n d o de Sousa e J. M. Naza reth ou Rui cascão assina lava m ,
onde começa m e a c a b a m as l igações à terra , as l i gações entre produção e comercia l i ­
zação , etc. N o ponto 4 . d este tra ba l h o , teremos a oportu n idade d e a bordar este te ma,
q u e se nos a figu ra fu ndamenta l .
N o e n t a n t o , esta g re l h a a p rese nta u m a i n ovação q u e n o s p a rece i nt e ressante
rea l ça r: trata-se d o "4" sector", d e "diversos i n d ete rminados", q u e o autor menciona
serem os ca p i ta l istas e p ro p ri etá rios, "já q u e não sa bemos se estão l i gados ao comé rcio,
à i n d ústria ou mesmo à agricultu ra " 4 9 . O ptou então por uma a rrumação própria, fora
dos sectores tra d icionais, o q u e não deixa de traduzir uma preocu pação em aj usta r a
gre l h a sacio - p ro fi ssiona l o mais possív e l a uma rea l i d a d e da q u a l n u n ca sabemos o
s u f i c i e nte. P o d e r-se-à d iz e r q u e n ã o é u m i n d i cativo e co n ó m i co c l a r o , mas c o n s i ­
d e ra mos q u e, sendo u ma agregação profissional lata, é ta mbém e essencia l mente u m
i n d i ca d o r da posição socia l e mesmo da i d e ntidade social d o s i ntervenientes, o q u e são
ta mbém o bjectivos d e uma q u a l q u e r gre l h a sacio-profissional.
3 . a . S ) Gaspar M a rt i n s P e re i ra t ra b a l h o u c o m registos p a roq u i a i s , os " L i vros da
Desobriga" (os Róis d e Confessad os) pa ra a freguesia d e Cedofeita, no Porto, em fi nais do
séc. XIX ( 1 8 8 1 ). Opto u , d e ntro das l i n has d e pensamento desenvolvidas nesse tra ba l h o ,
com cara cte rísticas d e a p roxi mação à sociologia, por u m a d ivisão dos gru pos sacio­
p ro fi ss i o n a i s (segu n d o a categoria s a c i o - p rofiss i o n a l d o ca b e ça - d e - casa l ) e m três
gra n d e s classes, que d e s i g n o u por " C l asses s u p e r i o re s " , " C l asses M é d i a s " , " C l asses
populares", e u m "Grupo socia l I n d ete rm i nado" s o .

G RUPO SÓCIO-PROFISSIONAL

1 . Classes Superi o res


1 . 1 . Proprietá rios
1 . 2 . Negoci a n tes e ca pital istas
1 . 3 . I n d ustri a i s
1 .4. Profissões l i b e ra i s e fu ncioná rios superi o res
1 .9. Outros

2. Classes Médias
2 . 1 . Pequ e nos pro p ri etá rios e lavradores
2 . 2 . Peq u e n o e m é d i o comércio esta belecido
2.3. M estres d e o fícios e pequenos i n d ustriais
2 . 4 . E m p regados e fu ncionários
.

2 . 9 . Outros

1 90
A CLASSIFICAÇÃO SÓCIO-PROFISSIONAL: UMA QUESTÃO EM ABERTO

3. Classes Pop u l a res

3 . 1 . Seare i ros e trabalhadores rura i s


3 . 2 . Comércio a m b u l a nte
3 . 3 . Tra ba l hadores fa bris e dos o fícios
3.4. Trabalhadores d o comércio e serviços
3 . 5 . Criados e serventes
3.6. Tra b a l h a do res d o m a r
3 . 7 . Tra b a l h a d o res i n d i ferenciadas
3 . 8 . I n digentes
3.9. o utros

4. G ru po Soci a l I n d eterm i nado

Aqui se n ota u m a capaci dade, por pa rte das fo ntes, de fornecer elementos razoavel­
mente claros, a fí m d e permiti r a o pçã o por uma grelha destas. o autor uti l izou , ta mbém
e m certos casos, o cruza m e n to d e fontes, o q u e l h e permitiu a ferir da qualidade da
designação p rofiss i o n a l mencionada, para só mencionarmos o vector que aqui nos i nte­
ressa. Não nos devemos esquecer, ta l como refe re Gaspar Ma rti ns Pere i ra , d e que a
fonte em q uestão a q u i util izada e ra de m u i to boa q u a l i dade. Por outro lado, veri ficamos
aqui u m a m b i e nte clara m ente u rbano e em situação a rtesa nal d esenvolvida, com uma
preva l ência das profissões l igadas ao sector secu ndário e a o terciá rio.
Dos cinco exemplos expostos, podemos reti ra r a lgumas i lações:

a) todos eles partem da situação " fonte(s) disponível(eis)" e das suas ci rcu nstâ n cias.
Situação segu ra , traz n o e ntanto consigo a q uestão d e serem as fontes e o q u e
elas q u e re m m ostra r, a e n formar a grelha d e leitu ra das p rofissões

b) a lguns autores o ptam por uma d i ferenciação de tón i ca social mais acentuada, como
é o caso d e Rui cascã o ("Classe J", " Classe 11", "Classe I I I ") ou d e Gaspar Marti ns
Pere i ra ("Classes superi o res", "Classes médias", "Classes populares"). Outros, o pta m
por uma d i fe re nciação o n d e p re d o m i na a tón i ca eco n ó m i ca , isto é, o sector d e
a ctividade profissional em q u e o indivíduo s e i nsere - é o caso de Ferna ndo de Sousa
e J . M. Nazareth ("Profissões agrícolas", "Artesa nato", "Comércio e serviços"), ou de
J o rge Alves ("Secto r p r i m á r i o " , "Sector secu n d á ri o " , "Sector terciário", " D i ve rsos
i n d eterm i n a d os") o u a i nda Rui cascã o , que u t i l iza, n u m mesmo tra b a l h o , d o i s
critérios d e d i ferenciação tipológica socio-profíssi ona l , co m o já vimos

c) em todas as situações, q u e r nos situemos nos fi n a i s do sécu lo XVI I I , q u e r nos


situemos no i níci o , meados ou fi nais do sécu l o XIX, surgem claram ente d efi n i dos,
na l i stagem das p rofissões, três pólos - o agrícol a , o a rtesan a l ou i n d ustri a l , o de
comércio e serviços - a que não consegu i mos escapar. Alguns dos autores mencio­
nados uti l izam estes termos na agregação p rofiss i o n a l , o utros utilizam mesmo os
termos modernos de "sector pri m á rio", "secu ndário", "terciário", ce lebrizados por
auto res co mo Col i n Clark ( 1 940).

191
PAULA G U/LHERMINA DE CARVALHO FERNANDES

Sa bemos, h oj e em d i a , q u e estas denomi nações estão a ca m i n h o de se tornarem


obsoletas, devido à própria evolução económica e social operada no séc. XX e que se
ca racteriza , e ntre o utras q u estõ es, por p ro b l e m a s q u e p õ e m esta class i fi ca çã o em
causa, como sej a m o a pa reci mento d e u m "q uaternário", a b ra ngendo novas p rofissões
q u e vão s u rgi n d o , c o m o tod o o e x é rcito de i n formáti cos o u d o gru p o das teleco­
m u n i cações, q u e se vão engrossa ndo, por exemplo. ou e ntão, pela p rópria preca ridade
e mobilidade d o e m p rego, ca racterística das ú lti mas décadas d e evoluçã o económica,
que m ostra de que modo se torna m u i to ra p i d a m ente i neficaz u m recensea m e n to
segu i n d o esta t i p o l ogia. N o a n o segu i nte, u m a boa fatia d os recenseados p o d e rã o
e n co ntra r-se fora dos "sectores p rofiss i o n a i s" e m q u e fo ra m agru pados. F i n a l m ente,
enqua nto ol hados os sectores d e actividade económica como i n d i cadores d o desenvol­
v i m ento e co n ó m i co , a concomitância d este com a gra d u a l passagem da po pu lação
a ctiva do sector pri má rio, para o secundário, e d este, para o terciá rio, pode ser discutida.
s u g e re uma e vo l u ç ã o l i n e a r d a s o c i e d a d e e d a e co n o m i a , q u e s a b e m os não s e r
completamente clara. Isto é, a mobilidade i nter-sectorial n ã o cam i nha sempre, necessaria­
mente, nesse sentido. Há avanços e recuos, em qualquer processo de d esenvolvi mento 5 1 .

3.b) A classificação sócio-profissional na época contemporânea (breve perspectiva)

3.b. 1 ) Na Europa e em Portugal

Sa b e m os q u e p e l o m e n o s d e s d e o sécu l o XVI I I , existe, em termos e u ro peu s , a


d esignação das profissões, numa grande parte das listas nominativas 52 . como A. Desrosiéres
a ponta, já Vauban d e fi n e uma nomenclatu ra socio-profissiona l , talvez por ocasião d e
u m a ca p i tação e m 1 69 5 5 3 . P o r s e u l a d o , Lavoisier, n o s fi nais do séc.XVIII ( 1 7 9 1 ), faz
tam b é m u m a d i ferenciação socio-profissional, onde descreve uma grand e d iversidade
para o mundo agríco la e reduz a cidade a u m a só categoria 5 4 . Pod e m os e n contra r
estatísticas de p rofissões em rece nsea mentos especiais da I n d ústria e da Agri cultura,
c o m o s ã o e xe m p l o os d a F ra n ça ( 1 8 3 3 ) , Esta d o s U n i d o s ( 1 8 4 0 ) , B é l g i ca ( 1 8 4 6 ) o u
Alemanha ( 1 84 6). N o e nta nto, os dados sobre as profissões permanecem a i nda d e d i fíci l
trata me nto, já q u e as sociedades e u ropeias se encontravam n u m período de tra nsição,
e o e m a ra n h a me n to dos modos d e produção e ra fo nte d e confusão, ta nto na vida
q u oti d iana. com o no espírito dos estatísti cos 5 5 . Esta confusão i rá permanecer até m u ito
tarde, trazendo com ela problemas, como sejam a imprecisão dos critérios de classifi cação,
onde se m istru ra m e co n fu n d e m , fre q u e ntemente, a ctivi d ad e colectiva (agricu ltu ra),
estatuto ( i n d e p e n d e ntes, e m p rega d os), posição socia l (ca pi ta l i stas reagru pados com
outras categorias) o u con d i çã o (domésticas) 5 6 . O desenvolvimento económico i rá levar
a que os estatísticos passem paulati namente d e uma nomenclatura fu ndada na condição
socia l (os h o m e ns) 57 p a ra uma class i fi cação p o r ra mos d e a ctividade (as coisas) 5 8 .
Jacques e Michel o u p â q u i e r a p resenta m , a este propósito, um exe m p l o curioso, de u m
recensea m ento grego d e 1 8 70 segu i ndo o primeiro critério d e classifi caçã o, em com pa­
ra ção com u m recensea m e nto d o I m pério alemão, d e 1 8 7 1 , segu i nd o precisa m ente o
segu ndo critério class i fi cativo 59 .
Dois critérios a cabarã o por se i m p ô r na maioria dos países: a actividade colectiva
(ra m o de actividade) e o estatuto. A razã o por que os estatísti cos se fora m orientando
no sentido da classifi cação por ra m o d e actividade, advem da sua uti l idade económica:
por exemplo, conhecer o n ú mero de trabalhadores em cada grande gru po d e actividades,

1 92
A CLASSIFICAÇÃO SÓCIO-PROFISSIONAL: UMA QUESTÃO EM ABERTO

e ra i m p o rta n te p a ra m e d i r as c o n s e q u ê n c i a s de d e t e r m i n a d a s m e d i d a s f i s c a i s .
o recensea m ento d e 1 8 9 6 e m Fra nça, q u e já tivemos a oportu n i dade d e mencionar,
serviu igua l m e nte de recensea m e n to i n d ustri a l .
O critério do estatuto dentro da profissão acabará por surgir, mercê ta mbém da diversi­
fi cação extre ma da sociedade. De i níci o, d isti ngu i a m -se s implesmente os em pregadores
(patrões), os i n d e p e n d e ntes, os e m p regados, trabalhadores, isolados e dese m p regados.
Frequente m e n te , reagru pava m -se e m p regadores e i ndepend entes, empregados e tra­
balhadores, enquanto os isolados e desempregados eram ventilados para outras categorias.
o i n teresse por d isti ngu i r, d e ntro d e ca da profissã o, o estatuto do ind ivíd uo, vai apare­
cendo p rogressiva m e n te, porque i rá permitir, numa é poca de diversifi cação profissi ona l
dentro d e u m a mesma e m presa , n ã o confu n d i r pessoas q u e estão nos d oi s extre mos
de uma esca la socia l , q u a n d o se enco ntra m na mesma a ctividade co lectiva 60 _
o tra b a l h o fem i n i n o n u n ca foi correcta m ente recenseado, pelo menos até 1 9 1 4 , na
Europa. É ce rto que a lgumas p rofissões fe m i n i nas era m já a p o ntadas desde cedo, como
era o caso das costureiras, lava d e i ras, etc. Mas, de modo ge ra l , ou era m consideradas
"i n activas", o u e ra m p u ra e si m p l es mente igoradas, mesmo quando trabal hava m fora
de casa, em co m p l e m e nto do o rça m e nto doméstico 61
_
A normal ização das n o m e n claturas fo i um o bjectivo claro das várias sessões que o
Congresso I nternaci o n a l de Estatísti ca foi p romove ndo, em especial a partir da década
de 1 8 70. Devemos destacar o frutuoso trabalho de Jacques Berti l l o n , que a p resentou
sucessiva m e n te, e m 1 8 89 (Pa ris), e m 1 8 9 1 (Viena) e em 1 893 (Chi cago) três propostas de
classifi cações sócio-profissi onais, m e l h o radas e ntre cada u ma das sessões, media nte as
sugestões que lhe era m a p resentadas pelos seus colegas. o quadro gera l (especialmente
da versão de 1 89 1 e d e 1 8 93), fu ndado sobre a natureza das actividades, é curiosa me nte
próximo daquele que i rão propôr Alen B. Fischer ( 1 935) e Colin Clark ( 1 940). o Instituto Inter­
nacional de Estatística vai adoptar os projectos de Berti llon em 1 893, na sessão de Chicago.
Antó n i o Pinto Ravara a p resento u , n u m tra b a l h o recente sobre classifi ca çã o sacio­
p rofissio n a l e m Po rtuga l 62 , um quadro comparativo das três versões desta classifi cação,
s u b l i n h a n d o , l ogo á parti da, a persistência de u m mesmo modelo, não obsta nte ce rtas
d i fere n ças secu n d á rias 63 _

QUADRO 1

P versão ( 1 8 8 9 ) 2? versão ( 1 8 9 1 ) 3" versão ( 1 8 9 3 )

I - Produção d o solo 1 - Agricultura I - Exploração d a superficie d o solo


1 1 - Extracção d e mat.-primas li - Extracção de mat. m i nerais 1 1 - Extracção de mat. m i n e ra i s
1 1 1 - I n d ústria 111 - I n d ústria I I I - I n d ústria
IV - Tra nsportes IV - Tra nsportes IV - Tra nsportes
v - comércio V - comércio v - comércio

VI - Força p ú b l ica VI - Fo rça p ú b l ica VI - Força p ú b l i ca


V I l - Ad m i n istrações p ú b l icas VIl - Ad m i n istrações p ú b l icas VIl - Ad m i n istrações p ú b l i cas
VIII - Profissões l i berais V I I I - Profissões l i berais VIII - Profissões l i berais
IX - I n d ividues vivendo exclusiva­ IX - I n d i v i d u es vivendo dos seus I X - Pessoas v i v e n d o p r i n c i p a l ­
m e nte dos seus rend i m e n tos rend i m e n tos m e n te dos seus ren d i m e n tos
X - Não classificados X - Criados e d i ve rsos X - Tra b a l h o doméstico
XI - Designações gera is sem i n d i ­
cação de u m a profissão determinada
X I I - I m p ro d u t i vos. Profissão
desco n h ecida

13 1 93
PAULA G U/LHERMINA DE CARVALHO FERNANDES

Ca da gre lh a soci o-profissional podia ser subdividida em 6 1 categorias no 1 º projecto


( d e 1 8 8 9 ) . e m 2 0 6 c a t e g o r i a s n o 2 . " p roj e cto ( d e 1 8 9 1 ) e e m 4 9 9 catego r i a s n o
3 º projecto (de 1 893) 64 . Embora s e verifiquem alterações i ntroduzidas nas várias versões
desta classificação, toda ela é ma rcada por u ma u nidade forma l , decorrente da aplicação
d e uma mesma estrutura. As d i fe re n ças vão surgir sobretudo no maior ou menor a p ro­
fu n d a m e nto dos conceitos e na term i n o l ogia 65 . o tra b a l h o d e Berti l l o n vai ser a mpla­
m ente d i fu n d i d o p e l o I n stituto I nternaci o n a l de Estatística e m u itos países. como será o
caso português, i rã o a d o pta r as suas gre l has para os seus censos, ada pta ndo-as quando
n ecessá rio.
Desde 1 89 0 até 1 9 3 0 , os censos portugueses ( 1 890, 1 900, 1 9 1 1 , 1 9 30 66 ou ainda o
censo extraord i nário fe ito às populações das cidades do Porto e Lisboa, em 1 92 5 ) vão
a p l i ca r um m e s m o m o d e l o d e classificação p rofiss i o n a l , baseado n a classifi cação de
J. B e rti l l o n . Constitu e m , por esse fa cto, u ma s é r i e d e censos d i fe r e n c i a d a , p o rq u e
a p li ca ra m u m a mesma gre l h a d e leitu ra da rea l i dade p rofissional portuguesa. d u ra nte
cerca de 40 a nos.
A p a rti r d esta é p oca , o I n stituto N a ci o n a l d e Esta tísti ca d e d i co u -s e ao tema e
actu a l m e nte, existe u m a Classifi cação Nacional de Profissões, q u e tem e n formado os
Recensea m e ntos G e ra i s da População 67 .

3 . b . 1 .a) Uma nota sobre classificações profissionais feitas em Portugal no século


XIX

Portuga l a c o m pa n h o u d e p e rto as várias sessões d o Congresso I nternaci o n a l d e


Estatíst i c a , te n d o , d e s d e 1 8 5 3 , e n v i a d o re p re s e n ta n tes c o m a l g u m a regu l a r i d a d e ,
n o m eada m e nte nas três sessões a c i m a menci o nadas d e fi nais do sécu l o X I X 6 8
M a s as tentativas d e agrega ções profissionais ocorre m no n osso país desde i nícios
d o sécu l o XIX. São d e d esta ca r duas co ntri b u i ções n este ca m p o , a m bas na p ri m e i ra
m eta de do século. São elas os tra b a l hos l evados a ca bo pelo Gene ra l Gomes Frei re d e
A n d rade, e m 1 80 6 e por Mari n o Miguel Franzi n i , e m 1 8 1 4, 1 8 2 0 e 1 84 3 . Pensamos q u e
nos devemos d eter u m pouco sobre estes contri b utos. A m bos a p resenta m a ca racte­
rísti ca de serem feitos por i n d ivíduos que pertenciam ao Exército, e que a p resenta m
u m a t i p o l og i a d a s p ro f i s s õ e s , e n q u a d ra d a p o r fi n s m i l i t a r e s , d e recruta m e nto e
o rga n izaçã o m i litar. ou estatísticos e fisca is. o estud o e comparação d estas tipologias
e n co n tra -se feito por A n tó n i o P i n to Rava ra , n u m a rtigo recente 69 e segu i remos de
perto este seu tra b a l h o , n este pequeno sub-ca pítu lo.
Em 1 80 6 , o G e n e ra l Gomes Fre i re d e A n d rade, pera nte a a m ea ça fra nco-espa n h o l a ,
p u b l i ca u m Ensaio sobre o Methodo de Organizar em Portugal o Exército, Relativo à
População, Agricultura e Defesa do País 7 o , o n d e ava nça uma das pri m e i ras classifi cações
s ó c i o - p rofiss i on a i s do n osso país na é poca conte m porânea 7 1 , a l i á s extre m a m e nte
i m p recisa e a lgo confusa, u m a vez q u e conceitos i m porta ntes são confu n d i d os.
A gre l h a conte m p l a a p e n a s a p o p u lação mascu l i n a . e n contra n d o-se d iv i d i d a em
d oze gra ndes grupos:

1 - Classe do clero
11 - Classe da toga

1 94
A CLASSIFICAÇÃO SÓCIO-PROFISSIONAL: UMA Q UESTÃO EM ABERTO

I I I - Classe da A d m i n i straçã o Pú b l i ca
IV - Classe do com é rcio
V - Classe dos a rtistas
VI - Classe dos o fícios mecâ n i cos
VIl - Classe da marinha m i l i ta r e m e rca ntil
VIII - Classe da navegação dos rios e pesca rias
IX - Classe dos a d u ltos a ptos para to mar estado
X - Classe dos e m p regados no serviço p ú b l i co e dos particulares
X I - Classe d os m e mb ros i núteis ao Estado, por suas moléstias
XII - Classe dos agricu l tores

Repare-se que " e m p regados d o serviço p ú b l ico e d os parti c u l a res" se e n contra m


incluídos na mesma classe (X), quando, trata ndo-se de vincu lações laborais disti ntas, o
Esta d o (fu n c i o n a l i s m o p ú b l i co) ou e n t i d a d e s pa rti c u l a res, a sua d i ferenciação seria
necessá ria. Mas, se nos d etivessemos a a n a l isa r melhor a tipologia , encontra mos bas­
tantes m a i s c o n fu s õ e s 7 2 . P o d e m os c o n cl u i r d a " c o e x i stê n c i a de co n c e i tos m u i to
d i fe rentes" na classificação de G o m es Fre i re de A n d rade: "desde a antiga tri l ogia das
ordens o u estados sociais (clero, nobreza , povo), até conceitos modernos d e classifi­
cação s ó c i o - p rofiss i o n a l , que p a rtem d o s vá rios sectores d a a ctiv i d a d e e co n ó m i ca
(pri má ri o , secu ndário, terciá rio), passa ndo ainda por considerações l igadas à actividade
o u i n a ctivi d a d e d a p o p u lação" 73 , d iz-nos Antó n i o P i nto Rava ra. o G e n e ra l faz uma
class i fi cação s i m u l ta n e a m e nte s o c i a l (soc i e d a d e tri p a rtida), p rofiss i o n a l (divisões da
aaividade eco n ó m i ca - agricultura , i n d ústria e comércio) e a i nda, uma classificação da
população activa.
O tra b a l h o d esenvo l v i d o por Marino M iguel Fra nzi n i , ta m b é m d u rante a p ri m e i ra
meta d e do sécu l o XIX, é bastante mais completo, até porq u e este autor vai orga n iza r
n ã o u m a , m a s três c l a s s i fi ca ç õ e s p rofiss i o n a i s , e m 1 8 1 4 , 1 8 2 0 e 1 8 4 3 . A p ri m e i ra
classifi caçã o , encomendada pelo Pri ncipal Souza ao então Tenente Coronel 74 , "tem a
vi rtud e de constitu i r a p ri m e i ra obra teórica portuguesa sobre o assunto" 7 5 O modelo
proposto ava nça com d ez classes (Cf. Quadro 2).
Antó n i o Pi nto Rava ra , co m pa rando este pri m e i ra classifi cação sacio-profissi onal d e
M . M . F ra n z i n i c o m a d e G o m e s Frei re d e A n d ra d e , a p o nta o fa cto extre m a m e n te
i novador da p ri m e i ra se d esvi ncular d e aspectos mais d i recta mente relacionados com
u ma "visão socia l " , p a ra avançar no sentido d e aspectos "sacio-profissiona is". Menciona
a i nda o a fasta m ento d o eclectismo q u e ca rateriza a grelha d e Gomes Fre i re de Andrade.
os conceitos que Fra n zi n i uti l i za a fasta m-se das i m p recisões e m píricas m a n i festadas
pela gre l ha d e 1 806. F i n a l mente, Fra nzi n i vai revel a r-se i n ovador, d e duas formas. A pl ica,
p e l a p ri m e i ra vez, três grupos d e actividades e co n ó m i cas associadas à " i n d ústria " e
s u rge ta m b é m p e l a p ri m e i ra v e z o c o n c e i to d e " a rtes l i b e ra i s " . A m b o s i rã o s e r
uti l izados, d e u m m o d o o u d e outro, até, p e l o menos, 1 93 0 76 .
M a s F ra nz i n i n ã o i rá a p l i ca r esta s u a p ri m e i ra c l a ss i fi ca ç ã o s a ci o - p rofissi o n a l ,
a ba ndonando-a e m favor d e uma segu nda construção teórica, pu b l i cada e m 1 8 20 7 7 e
baseada n u m a class i fi cação espa n h o l a de 1 80 1 . Esta classifi cação divide-se em nove
classes, a p resenta n d o m ú ltiplas subdivisões (Cf. Quadro 2).

1 95
PAULA GUILHERMINA DE CARVALHO FERNANDES

QUADRO 2

1814 1 820 1 843


1. Religião 1. Religião: I. A d m i n istração P ú b l i c a :
1 . Clero secu lar 1 . Adm. civil e seus dependentes
2. Clero regu lar 2. Advogados. procuradores. etc
3. Hospitais, m isericórdias etc

11. A d m i n istração P ú b l i ca 1 1 . A d m i n i stra ção P ú b l i c a : 11. Clero s e c u l a r e outros e mpregados


1. Empregados da adm. civil n o culto
2. Letrados, procuradores, etc
3 . E m p re g a d o s nos h o s p i t a i s , m i s e -
ricórdias, etc
4. Presos e condenados

I I I . I n s t r u ç ã o p ú b l i ca , m e d i c i n a e I J I . Forças m i l i ta res: IJI. Força m i l i tar:


a rtes l i be r a i s 1 . Exército 1. Exército e repartições a nexas
2. Marinha 2. Marinha e a rsenais

IV. Esta b e l e c i m e ntos d e p i e d a d e I V . Ciências, medicina e a rtes l iberais: IV. Ciências, medicina e a rtes l i berais:
1. Professores de ciências 1. Professores
2. Mestres de 1 's letras 2. Mestres de 1' 's letras
3 . Estudantes acima dos 1 6 anos 3. Estudantes acima dos 1 6 anos
4. Medicina, cirurgia e farmácia 4 . Medicina, cirurgia e farmácia
S. Artes li berais S. Artes li berais

V . Agri c u l t u r a V. Indivíduos q u e vivem d a s suas rendas: V. Indivíduos que vivem das suas rendas:
1. Proprietários 1. Proprietàrios
2. O utros 2. Capitalistas
3. outros

VI. I n d ústria do r e i n o vegeta l VI. c o m é r c i o e n a v egação: VI. Comércio e navegação:


1. Negociantes e mercadores 1. Negocia ntes e mercadores
2. Almocreves, carreiros, etc 2. Almocreves, carrei ros, etc
3. Marinheiros e pescadores 3. Marinheiros e pescadores

V I l . I n d ústria do r e i n o m i n e ra l V I l . Agricu l t u ra : V I l . Agri c u l t u r a :


1 . Lavradores proprietários 1. Lavradores proprietários
2. Lavradores rendei ros 2. Lavradores rendeiros
3. Tra balhadores jornaleiros 3. jornaleiros
4 . Pastores, a begãos, etc 4. Pastores, abegãos, etc

V I I I . I n d ústria d o re i n o a n i m a l V I I I . Artes: VIJI. I n d ústria fa b r i l :


1 . R e i n o vegeta l : 1 . R e i n o vegetal
A-fabricantes 2 . Reino a n i m a l
B-a rristas 3. Reino mineral:
2. Reino animal: A-Mestres
A-fa b ricantes B-Oftciais
B-arristas C-Aprendizes
3. Reino mineral:
A-fa b ricantes
B-a rristas
4. Rei nos m istos:
A-fabricantes
B-arristas
' Entre "fa b ricantes" e "a rtistas", uns são
mestres, outros oficiais e outros aprendizes.

IX. c o m é r c i o e na v e g a ç ã o I X . I n d i v í d u o s a v u l sos: IX. Domésticos

1 . criados graves e de escada abaixo


2. Domésticos comuns
3. Ind ivíduos não classificados.

X. Diversidades X . M e n d igos

X I . I n d i v í d u o s n ã o classificados

1 96
A CLASSIFICAÇÃO SÓCIO-PROFISSIONAL: UMA QUESTÃO EM ABERTO

M a s , e m 1 8 4 1 , m e rc ê d e u m a s i t u a ç ã o c o nj u n t u ra l q u e se v i v i a ( fi n a i s d o
setem brismo e i nícios d o ca bra l ismo), e m q u e o Estado necessitava d e estrutu ra r u m
novo sistema fisca l , M . M . Fra nzi n i , n a a ltu ra responsável pela Comissão d e Estatística
Portuguesa, e la b o ra u m a nova classifi cação soci o-profissiona l , que só será p u b l i cada em
1 84 3 78. " Exigia-se um conheci m e nto da composiçã o da sociedade portugu esa , já não
estrutu ra d a e m o r d e n s o u esta d os s o c i a i s , m a s e n te n d i d a c o m o um conj u nto de
cidadãos" 7 9 . Mais uma vez, Franzi n i recorre a o censo d e Espa nha p u b l i cado em 1 80 1 e
c l a ss i fi ca a p o p u l a ç ã o mascu l i na com m a i s d e 1 4 a n os. M a i s u m a vez se d i v i d e a
sociedade em grandes gru pos, mas a u m e nta o n ú mero d estes para onze (Cf. Quadro 2),
com su b-d ivisões. Altera a lguma da ordem desses gru pos, va l o rizando uns em detri ­
mento de outros (veja-se o exe m p l o da " classe" do "Clero" e da "Ad m i n i stração Pública".
Esta é va l o riza d a , e m 1 84 3 , face à q u ela).
Antó n i o Pi nto Rava ra , n o tra ba l h o aci ma cita d o , faz u m a observação aturada da
evo l u ção que esta nova gre l h a c o m p o rta 8 o . Nós gosta ría m o s a pe n a s , e m j e i to d e
conclusão sobre os esforços d e classifi cação sacio-profissional encetad os em Po rtuga l
na pr im eira m etad e do séc. XIX, de mencionar os segui ntes factos:

a ) p a rece te r-se ca m i n h a d o no sentido d e u m a co m p l e x i ficação da estrutu ra da


l eitura da sociedade, tanto e m termos formais, como no conteúdo (a lteração da
term i n o l ogia e m p regue)

b) o i n d ivíd u o passou l e nta m e nte a ser entendido, não essencia l m e nte como "ser
soci a l " , mas como "ser p rofissional e económico"

c) verificou-se u m a evol ução da própria estatística, como forma específi ca d e leitura


da rea l i d a d e e de construção do conheci me nto

d) se compara rmos a gre l h a d e class i ficação soci o-profissinal de M. M. Franzi n i de


1 84 3 (Cf. Quadro 2) com a d e J . Berti l l o n em 1 8 90 (Cf. Quadro 1 ) , verifica mos que,
a p e s a r d a d i fe re n ça de q u a s e c i n q u e n ta a n o s e n t r e e l a s , são b a sta n t e
s e m e l h a n tes n o q u e toca à sua estrutu ra gera l . A s d i fe re n ças q u e se nota m
devem-se esse n c i a l m e nte a u m m a i o r a p rofu n d a m ento e com p l e x i fi cação d o
trabalho por pa rte d e J . Be rti l l o n , acompanhando ta mbém a evo l u çã o económ i ca
e soci a l q u e se fazia sentir. No enta nto, se atendermos às cinco décadas q u e os
separa m , p o d e m os dizer q u e "o nosso país ia acompanhando, neste ca mpo, a
p rodução estatística elaborada a nível i nternaciona l " 8 1 . A passage m de meados
d o séc. XIX vai trazer consigo novas situações, neste p roblema.

os Rece nsea m e nt;os G e ra i s da popu lação ou "Censos" d e 1 8 64 , 1 8 78 e 1 9 2 0 nã o


fornecem d a d o s sobre a distri b u i çã o da popu lação activa, situação q u e , à excepção do
recenseame nto d e 1 9 2 0 , é u l tra passada a pa rti r do recensea mento de 1 890, como já
v i m os. Os Recensea mentos G e ra i s da Pop u l a çã o d e 1 8 90 , 1 900, 1 9 1 1 , já enfe rmados
pelo modelo d e j . Berti l l o n , i n c l uíra m numa ú n i ca rubri ca a i n d ústria tra nsformadora , a
construção e o b ra s p ú b l i c a , a produção de e n e rgia e sanea m e nto. A d esagrega ção
d esta rubrica é a penas fornecida d e 1 9 30 e m dia nte. Estes e outros factores são-nos
refe re n c i a d o s por Eugé n i a Mata e N u n o Va l é r i a n u ma o b ra m u ito recente s o b re a
História Eco n ó m i ca Portuguesa 82_ Aí ta mbém nos fornecem um quadro da popu lação
a ct i va por sectores d e a cti v i d a d e e co n ó m i ca desde 1 8 90 a 1 9 8 1 , onde agrega m e
ho m oge niza m as profissões, de acordo com os critérios defi n i dos por Ana Bela Nu nes 83:

1 97
PAULA GUILHERMINA DE CARVALHO FERNANDES

Agricultura
Pesca
I n dústria extractiva
I n d ústria tra nsfo rma dora ( ) (+)
*

constru ção e obras p ú b l i cas ( ) *

Produçã o de e n e rgia e sa neamento ( ) *

Transportes
Co m é rcio
Ad m i n istração p ú b l i ca e d e fesa
Serv iços diversos

( ) U n i ficadas e m 1 8 90, 1 900 e 1 9 1 1


*

(+) Desagregação da i n d ústria tra nsformadora (a pa rti r de 1 9 30):


A l i m entaçã o , bebidas e ta baco
Têxteis, vestuá ri o e ca lçado
Madeira , cortiça e m o b i l iá ri o
Pa p e l e tipografia
M i n e ra i s não metá l i cos
Química
Metais, m á q u i nas, materi a l eléctrico e de tra nsporte
I n dústrias tra nsforma doras diversas

S e n d o esta u m a d a s ú l t i m a s g re l h a s p ro f i ss i o n a i s a p re s e n t a d a s n a m e s a d e
tra ba l h os c i e ntífi ca, p e n s a m os s e r d e toda a a ctua l i d a d e remata r este su b-ca pítu l o
a p o nta n d o - a . U m a b reve a n á l i s e d a m e s m a m ostra rá u m a t i p i fi ca ç ã o q u e n ã o se
encontra longe das já a p resentadas neste trabalho, não obsta nte, é certo, d i fe re nças
i rrefu táveis q u e p a rtem das fontes (neste caso, fo ra m os Recensea m entos G e ra i s da
popu lação) e dos fi ns com que as gre l has fora m construídas (maior ou menor necessi­
dade d e agrega ção, etc).

4. AS P R O P O STAS POSSÍVEIS. REFLEXÕES, SUG ESTÕ ES, P R O B LEMAS

4.a) Os modelos e a mobilidade

Chegados ao "momento da verdade", que tipo d e q uestões podemos colocar na mesa?


Anota r os ca m i n hos segu i d os nos tra b a l hos já real izados e l evantar problemas rel e­
vantes n o q u e toca a o t e m a da classifi cação socio-profissiona l , foi o objectivo centra l
d este trabalho. G osta ría mos n este momento de a ponta r a lgumas refl exões sugeridas
pelo estudo que fize mos e que poderã o servir como sugestões d e debate d e i deias.
Pa rece ser gen e ra lizada a ideia d e q u e a construçã o d e modelos na a n á l ise h istórica ,
quando feita a parti r das fontes, respeita mais a " rea lidade" daq u i l o que estudamos. As
fontes h istóricas e n fermam sempre o o l h a r do h istoriador sobre o q u e elas d escrevem .
M a s , na classificação sacio-profissiona l , c o m o noutros ca m pos, o o l h a r d o homem d e
hoj e é ta m b é m enformado pelo q u e e l e entende. Assi m , o modelo e m História engloba

1 98
A CLASSIFICAÇÃO SÓCIO-PROFISSIONAL: UMA QUESTÃO EM ABERTO

sempre o o l h a r da fo nte e a i ntro d u ção de conceitos modernos, neste caso, da á rea


e co n ó m i ca (disti ngui rmos sector primário, secu ndári o ou terciário, por exemplo).
uma n ota , e ntre o utras, d eve ser tomada: o estud i oso n u n ca d eve esquecer q u e as
fontes são fre q u e n te m e nte l a cu n a res, o u p u ra e s i m p l es m e nte, se são l i stage ns o u
censos, m o d e l o s q u e e n forma m u m a rea lidade q u e mu i tas vezes se l hes esca pa. Por
exe m p l o , "a professora p ri m á ria será recenseada com o p rofessora, i n scrita como ta l nos
fichei ros da segu ra n ça social e do Fisco: n e n h u m equívoco a seu respeito. o estudante,
c o m o é ocupado s ó ocasi o n a l m e nte, s e rá classifica d o e ntre os sem ocupação e no
e ntanto o seu tra b a l h o é atesta d o por uma l i sta d e a l u nos premiados ou pela matricula
na Faculdade. o faze n d e i ro é tão conhecido na sua a ldeia, que o secretá rio com u n a l não
se deu ao tra b a l h o d e escrever a sua ocu pação n o registo da população e é preciso
exa m i na r uma matriz cadastra l (lista a l fa bética dos p ro p ri etá rios de u ma comuna) a fi m
de sa ber em q u e extensão de ca m p o e l e e os seus tra b a l h a m " 84 . Por outro lado, no
momen to d o registo e m q u a l q u e r a cto civi l , tudo depende da ideia favorável q u e ca da
u m faz d o seu p a p e l . Os tra p e i ras, as pessoas sem bens, os m end igos d esa parecem
como por e n ca nto. Alguns, p referem ga ba r-se do seu títu lo ("Doutor em D i reito") do que
de u m e m p rego efectivo 85. E assi m por diante.
A esco l h a d o m o m e nto do i n q ué rito, recenseamento, l istage m , etc; é u ma va riável
i mporta nte. A "ocupação" do ra paz d e d ezasseis a nos, num dado momento, pode ser
basta nte d i ferente aos dezoito, num outro recensea me nto. A q u i se aborda j á , ao d e
l e v e, o p ro b le m a da m o b i l i da d e , q u e foi d iscutido a o l o ngo d este trabalho e q u e será
m e n c i o n a d o d e fo r m a m a i s o bj e ctiva u m p o u co m a i s à fre n t e . P o d e m o s a va n ça r
exemplos d e tra ba l h os e fe ctuados p o r nós: compara n d o a lguns percu rsos i n d ividuais
e ntre uma listagem d e fogos d e 1 8 2 7 86 e u m recenseamento d e fogos efectuado em
1 8 3 2 / 3 3 8 7 n o P o r t o , v e r i fi c a m o s e vo l u çõ e s p rofiss i o n a i s q u e nã o d e i xa m d e s er
i nteressa ntes. Uma m u l her é referida sem p rofissão e m 1 82 7 , mas tem e m s u a casa u m
oficial d e pichel e i ro . E m 1 8 3 2 , mencio na-se a s u a "ocupação" co mo pichel e i ra. Em cinco
a nos a penas, há casos de oficiais sapatei ros tornados mestres, ca ixei ros que ascend em
a negocia ntes, o u mesmo, d e eventuais " m u d a n ças" de p rofissão , como é o caso de u m
n egociante q u e se torn o u guarda-l ivros e propri etá rio. N este ú l t i m o ca so, podemos
aventa r a h i pótese d e se verifica r s i m plesmente uma p l u riactividade por pa rte d e u m
m e s m o i n d i v í d u o , q u e s e r i a r e c e n s e a d o d e m o d o d i v e rs o n o t o c a n t e à s s u a s
" o c u p a ç õ es " . N o s o u tros e xe m p l os , v e r i fi ca-se a as cens ã o v e rt i ca l na p ro fissão o u
m e s m o a conso l i dação d e a lguma situação profissional (exem p l o da senhora picheleira).
U m p roblema surge, quando pensamos numa hi potética codificação sócio-profissional
gen e ra l i sta : q u a n d o se passa da n o çã o "ocupação" à noção " p rofissão"? É extre m a ­
mente d i fícil data r esta m u d a n ça , q u e te rá sido essencial mente l enta e d i fusa. Sabemos
q u e o séc. XVI I I tem i m po rtâ ncia fu lcra l no q u e concerne a um mais frequente a pa reci­
mento das "ocupações" n os documentos, mas não consegui mos d eterminar as mudanças
e c o n ó m i c a s e m e n ta i s q u e o c o rre rã o n a s o c i e d a d e q u e l ev a r ã o a n o ç õ e s m a i s
modernas do pa pel e co n ó m i co d o i n d ivíd uo. Assi m , aventar hipóteses d e periodizações
em Portuga l d e gre l has sacio-profissionais é , a ntes d o mais, a rriscado, não só pelo factor
acima referido, mas ta mbém porq u e variaram m u i to as designa ções das "ocupações",
e ntre regiões e n o te mpo. I m põe-se, porta nto, u m estudo aturado destas q uestões.
Podemos, desde já, ava nçar u ma p roposta , a l iás subjace nte às leituras que fize mos
e que aqui m e n c i o n á m os. A fe itura de tipologias saci o-profissionais na época contem­
porâ n ea e m Po rtuga l deve, eventu a l m e nte, passa r por uma d i ferenciação nas grel has,

1 99
PAULA G UILHERMINA DE CAR VA LHO FERNANDES

q u e r se trate das zonas ru ra i s ou de zonas u rbanas (no caso português, d isti ngu i ria
como zonas u rbanas, à p ri m e i ra vista , as cidades d e Lisboa e Porto). A d i ferenciação
profissio n a l e ntre estes dois casos é ta l , q u e justifica provave l m ente uma tipologia mais
a d a p ta d a ao caso r u ra l ou ao caso u r b a n o , u m a vez q u e e s t e a p re s e n ta u m a
d iversidade m a rca da, típ i ca das sociedades u rbanas d e Antigo Regi me.
Ao debruçarmo-nos sobre as sociedades setecentista e oitocentista , não nos devemos
esquecer q u e se trata m de sociedades com p l exas. É u m m u n d o soci a l marcad o por
d i feren ciações i m p o rta n tes, n ã o fa c i l m e nte detectáveis, até porq u e não há re lações
concretas d e salariado.
A s i t u a ç ã o p ro fi ss i o n a l do i n d i v í d u o d e m a rca - s e f r e q u e n t e m e n t e por u m a
p l u riactividade, o q u e torna extremame nte d i fíci l a sua tipifi cação. Gera l m e nte, a fonte
ressa lta a a ctividade que se consi dera mais i m porta nte, numa situação a rbitrá ri a, mas
ta l não sign i fi ca que a ba rq u e m os o "espaço socia l " d esse i n d ivíduo e fi ca mos decerto
com uma ideia pa rce l a r do mesmo. Já Miriam Hal pern Pere i ra menciona, n u m estudo
e fectuado sobre o tra b a l h o , n o Antigo Regi m e 88 , q u e "a fronte i ra entre a p rodução e o
comércio não e ra nítida ( . . . ): o sa patei ro fazia e vendia, o a l fa iate ta mbém ( . . . ). E até os
ca r p i n t e i ros d e s e g e s v e n d i a m as s e g e s , p o r i ss o e n t ra n d o e m c o n f l i t o c o m os
respectivos corre e i ros q u e ta m b é m as q u e r i a m v e n d e r ! " 89 A pr od u çã o nã o estava
desl igada da c o m e rc i a l ização e este fa ctor, típ i co das sociedades d e Antigo Regi m e ,
l eva nta o p ro b l e ma fu l cra l de distingui rmos, segu ndo modernos conce itos eco n ó m i cos,
a que secto r d e a ctividade perte ncia o i n d ivíd uo e m estudo. Esta d i ficuldade é, a liás,
mencionada pela ge n e ra l idade dos autores q u e com ela se defronta ra m , ao fazerem
estudos d e mográ fi cos, sociais e eco n ó m i cos d e sociedades d e Antigo Regi me.
com pree n d i d o este p ro b l e m a , a pergunta q u e se põe na mesa é, d e q u e modo
podemos nós u ltra passa r o con ceito d e actividade ú n i ca para tipifi cação e ava n ça r no
s e n t i d o d e gre l h a s m a i s co m p l exas mas igua l m e nte l egíve i s , q u e c o m p re e n d a m o
conceito de p l u riactivi dade? É possível?
Como ti p i fi ca r o caso d e fi nais do sécu l o passado, descrito, entre outros exe m plos,
por J o rge Alves 90 , numa obra recente, d e Joaq u i m de Sousa Arozo, formado em d i reito
p e l a U n i ve rs i d a d e de Co i m b ra , casa d o e m Matos i n hos, mas a d m i n istra n d o p o r sua
conta, através d e um feitor, a "Qui nta de Q u i res", em Vila Nova d e Telha? Esta havia - l h e
s i d o l egada p o r s e u p a i . J oa q u i m d e s e n v o l v e u a l g u m a s o b ras d e v u l to na q u i nta ,
n o m e a d a m e nte m a n d o u fazer u m a gra n d e p l a n tação d e h o rta l i ças e legumes q u e
tencio nava comerci a l iza r na cidade do Porto, ta l como o leite de n u m e rosas vacas que
comprou. N egoci o u as m u itas ca rva l h e i ras q u e a casa possuía p a ra fa zer ca rvã o a
v e n d e r n a c i d a d e . M a s as h o rta l i ça s n ã o p r o d u z i a m , a fortu n a i a -se d e s fa l ca n d o .
Entreta nto, d e d i ca-se à ca rre i ra bu rocrática , tenta n d o a i nda a ntes u m a eleição fa l hada a
de putado. Consegue ser d u ra nte a lgum tem po a d m i nistrador da Maia e assume depois
o ca rgo d e ta belião e m Matos i n h os. É nesta ci rcu nstância, em 1 8 70, que a q u i nta l h e é
com p rada por u m " b ras i l e i ro".
Com o e n ferma m os nós este i n d ivíduo? Tudo depende, em parte, da documentação
a que acedermos. É u m "proprietário", um "capitalista", um "doutor em leis", um "negocia nte",
um " fu n ci o n á ri o su perior", um "ofício públ ico", pertence ao " funcionalismo", "serviços",
" p ro p ri etá rios"?
F i n a l m e n te , n ã o p o d e m o s r e m a ta r este tra b a l h o sem a b o rd a rm o s a q u estã o
concreta da m o b i l i dade. Esta já foi , de facto, mencionada aqui e a l i , ao l ongo deste estudo.
Pensamos q u e nos fa lta a ponta r a i nda a lguns fa ctores ligados a ela. Pri mei ra m e nte, a

200
A CLASSIFICAÇÃO SÓCIO-PROFISSIONAL: UMA QUESTÃO EM ABERTO

noção de q u e em ce rtas catego rias de activos o e m p rego é i n stáve l , m u i tas vezes


sazo n a l , s o b re t u d o nos casos d e fra nj a s i n fe r i o res d a s o c i e d a d e . D este m o d o , os
i n d i v í d u o s p o d e m m u d a r fre q u e n t e m e nte d e catego ria estatística, s e m que a sua
" ca rrei ra " dese n h e , por isso, u m traj ecto orienta d o na estrutura socia l . Esta forma d e
m o b i l i d a d e , q u e n ã o d e v e ser i nterpretada como ascendente ou descendente, não é
necessa ria m ente m e n os sign i fi cativa do que outras 9 1 , e caracte riza m u i tas situações
com que nos d e pa ra m os no estudo d e sociedades d e Antigo Regi me. Devemos tê-la em
conta , q u a n d o nos abala nçamos à feitura d e uma grel h a sacio-profissional.
Mas a m o b i l id a d e a fecta todas as fra njas sociais. Muitas vezes, os fi l hos d e fra njas
sacio-eco n ó m i cas médias e médias-a ltas, fazem u ma passage m pelo sa l ariado a ntes d e
a s ce n d e re m à p r o fi s s ã o d o p a i , c o m o é o caso d o s fi l h os d e c o m e r c i a n te s , q u e
começa m p o r s e r m a rça nos ou ca ixei ros e s ó poste riormente ascenderão ao co mando
da l oja o u n egócio. Existe aqui u m ti ro cí n i o p ro fiss i o n a l , m a rca n d o n este caso uma
"carre i ra " o r ie nta d a na estrutu ra da sociedade. A l i á s , o estu d o da " h e reditari e d a d e "
profissi onal e da m o b i l i d a d e resu ltante da m e s m a , foi já acima mencionado e d e v e s e r
também tido e m conta , quando n o s dedicamos à análise das estruturas sócio-profissionais.
Que proporção de ca da "classe" profissional é vinda de pais q u e perte ncem à mesma
"classe", e q u e proporção é vinda d e pais que pertencem a outras "classes"?
As respostas a serem dadas a todas estas q uestões e a outras que venham a surgir
n o fi rma m ento da d i scussão constituem va l i osas contri buições no tema da classificação
sacio-profissional e da m o b i l i dade que lhe está inti m a mente associada.

5. Fo nt e s e B i b l i ografia

5 . 1 ) Fo ntes

A Cidade do Porto. Súm ula Estatística ( 1 864- 1 968), I.N .E. 1 9 7 1

FRANZIN I , M . M . - Ins trucções statisticas que por ordem d o Excellen tissimo e Reverendíssimo
Senhor Principal So uza compillo u M. M. Franzini (.. .) em 1 8 1 4 , Lisboa, I m p ressão Regia, 1 8 1 5

Recenseamento dos Bairros de Santa Catarina, Cedofeita e Santo Ovídio, Arq u i vo H istórico
M u nicipal do Porto

Registo de Fogos ( 1 8 2 7), Maço n" 1 8 2 8 , Arq u ivo H istórico e M u n icipal do Porto

Censo da População de Portugal - 1 864, Lisboa, D i recção-Geral de Estatística


Censo da População de Portugal - 1 878, Lisboa, D i recção-Geral de Estatística
Censo da População de Portugal - 1 8 90, Lisboa, D i recção-Gera l de Estatística
Censo da População de Portugal - 1 900, Lisboa, D i recção-Geral de Estatística
Censo da População de Portugal - 1 9 1 0, Lisboa, D i recção-Geral de Estatística
Censo da População de Portugal - 1 92 0 , Lisboa, Direcção-Geral de Estatística
Censo da População de Portugal - 1 93 0 , Lisboa, I nstituto Naciona l de Estatística

VIII Recenseamento Geral da População - 1 940, Lisboa, Instituto Nacional de Estatística


IX Recenseamen to Geral da População - 1 950, Lisboa, I nstituto Nacional de Estatística

201
PAULA GUILHERMINA DE CARVALHO FERNANDES

X Recenseamento Geral da População - 1 96 0 , Lisboa , I nstituto Nacional de Estatística


XI Recenseamento Geral da População - 1 970, Lisboa, I nstituto Nacional de Estatística
XII Recenseamento Geral da População - 1 98 1 , Lisboa, I nstituto Nacional de Estatística
Censo Extraordinário da População das Cidades de Lisboa e Porto de 1 de Dezembro de 1 92 5 ,
Bibl ioteca Públ ica M u nicipal d o Porto

5 . 2 ) B i b l i o g ra fia

ALvEs, Jorge Ferna ndes - os Brasileiros. Emigração e retomo no Porto oitocen tista, (versão da
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CoRDEIRO, G raça índ ias - A construção social de u m bairro de Lisboa: a vocação marítima da Bica
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GoDINHO, Vitorino Magl a h ã es - A construção de modelos para a s economias pré-esta tísticas ,


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3. Idem, i b i d .

4. Em bora se traduza l i tera l m ente c o m o "cultivador" ou "agri cultor", pensamos q u e é o equivalente a o termo
português " lavrador", tão fre q u e n te e m l istagens de Antigo Regi me.

5. BLUM, A l a i n et GRIBAUDI, M a u rizio - op. cit., p. 992.

6. GODINHO, Vitori n o Maga l hães - A construção de modelos para as economias pré-estatísticas, " Revista de H istória
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C o l i n É d i te u r, 1 990, p. 1 326.

8. G R I B A U D I , M a u ri z i o et B L U M , A l a i n - Des categories aux liens individueis: /'ana/yse statistique de /'espace


social, "Anna les. Écon o m i es. Sociétés. Civi l i zations", Paris, n." 6, Novembre-Décembre. École des Hautes Études
e n Sciences Socia l es, Armand Colin É d i teur, 1 990, p. 1 365- 1 402.

9. Falamos do I n q u érito conhecido pelo " I n q uérito das 3.000 fa m í l ias". Para mais deta l h es sobre este corpus, cf.
Bulletin des 3.000 [ami/les, B u l letín de liason bisa n n e l l e de J'enq uête é d i tée par !e Laborato i re de Démogra p h i e
Historique.

1 O. GRIBAUDI, M a urizio et BLUM, A l a i n - Des categories aux liens individueis: /'ana/yse statistique de /'espace social,
p. 1 384.

1 1 . Registo de Fogos ( 1827), Maço n." 1 828, Arquivo H istórico M u n icipal do Porto.

1 2. FERNANDES, Paula G u i l hermina de c. - Breve abordagem a uma estrutura sacio-profissional no Porto nas vésperas
do Cerco ( 1827), e ntregue p a ra p u b l icação nas Actas do congresso "O Porto na Época contemporânea", promo­
v i d o pelo Ateneu comerci a l d o Porto em Outubro de 1 989, p. 15

1 3. um exemplo: isso seria o q u e aconteceria se tentássemos dar, desde já, uma h i pótese de d i visão cronológica
e n tre as gre l has sacio-profissionais p a ra u m a leitura a nível nacional da popu lação e sociedades portuguesas.
As datas d esta mesma d ivisão seriam forçosa mente objecto de d i scussão, bem como as próprias designações
profissionais esco l h i das e as posteriores agregações.

1 4. GODINHO, Vitori n o Maga l hães -- A construção de modelos para as economias pré-estatísticas, " Revista de
H istória Eco n ó m i ca e soci a l " , n." 1 6, Lisboa, Livraria Sá da Costa Editora, 1 985 , p. 3- 1 6.

1 5. GODINHO, Vitori n o Maga l hães - Idem, p. 4.

1 6. Idem, p. 7.

1 7. Idem, p. 1 4.

1 8. BLUM, A l a i n et GRJBAUDI, Maurizio - Les declarations professionnelles. Pratiques, inscriptions, sources, p. 989.

1 9. GODINHO, Vitori no Maga l hães - op. cit., p. 7.

20. Idem, p. 1 4.

2 1 . GRIBAUDI, M a u rizio et BLUM, A l a i n - Des categories aux liens individueis: /'ana/yse statistique de /'espace social,
p. 1 366 e 1 399.

204
A CLASSIFICAÇÃO SÓCIO-PROFISSIONAL: UMA QUESTÃO EM ABERTO

22. Veja-se, por e x e m p l o , a s d ua s teses d e d o u to ra m e n to de Jorge F. A LVES e de Gaspar M . PEREIRA, m u i to


recentes, do fi n a l do a n o de 1 99 3 , q u e utilizam, p recisamente , a prática com bi nada destes p rocessos. ALVES,
J o rge Ferna n d e s - os B rasileiros. Emigração e retorno no Porto oitocentista, (versão da d i ssertação de
Doutora m e n to em H i stória Moderna e Contemporânea apresentado à Faculdade de Letras da U n i versidade do
Porto), Porto, Ed. Autor, 1 994; ou PEREIRA, Gaspar M. Martins - Famílias portuenses na viragem do século ( 1 880- 1 9 1 0),
d issertação de Doutora m ento em H i stória Moderna e Contemporânea a p resentada à Facu ldade de Letras da
U n iversidade do Porto, policopiada, Porto, 1 993.

2 3 . GRIBAUDI, M a u rizio et BLUM, A l a i n - Des catégories aux liens individueis: / 'analyse statistique de /'espace social,
p. 1 3 80.

24. O u seja, segu i n d o a nomenclatura para as categorias socioprofissionais do Recensea mento fra ncês de 1 8 96,
e l a s mesmas res u l ta d o d e toda uma reflexão n o s e i o I n stituto I n te r n a ci o n a l d e Estatística e sendo o
resultado, em especial da reflexão de J. BERTILLON - Nomenclature des professions. comptes rendus de la 4e
session du Congrés de Chicago ( 1 893), in " B u l letin de I ' I IS", t. V I I I , 1 89 5 , p. 2 2 6 - 2 6 2 . ln GRIBAUDI, Maurizio et
BLUM, A l a i n - Des catégories aux liens individueis: /'ana/yse statistique de /'espace social, "Annales. Économies.
Sociétés. Civil i zations", Paris, n' 6, Novembre-Décembre, École des Hautes Études en sciences socia les, Armand
Col i n Éditeur, 1 990, p . 1 3 7 4 , 1 3 7 5 ou 1 3 76 e ainda p . 1 4 0 1 .

2 5 . SEWELL, W. H . - Structure and mobi/ity: the Men and Women in Marseille, 1 820- 1 870, Ca mbridge, Cambridge
U n i versity Press; Paris, Éd i tions de la Maison des Sciences de I'Homme, 1 9 8 5 . "The occu pati onal categories
described ( ...) a re based chiefly o n economic fu nctio n rather than on d i fferences of wealth or status".

26. No seu seio, d estaca m-se 6 p rofissões, a saber, os agricultores (27% dos i n d ividuas), os jorna l e i ros, domés­
ticos, proprietários, tra b a l hadores ou tece lões.

27. Registo de Fogos ( 1 827), Maço n" 1 8 2 8 , Arquivo Histórico M u n icipal do Porto.

28. São elas, por ordem d e i m portâ ncia, lavrador, jornaleiro, doméstico, proprietário, trabal hador, tece lão, pe­
d r e i r o , s a p a t e i r o , m a r ce n e i ro , a l fa i a te. ln G R I B A U D I , M a u ri z i o et B L U M , A l a i n - Des catégories aux liens
individueis: l'analyse statistique de /'espace social, p. 1 3 69.

29. Idem, p. 1 3 70.

30. Idem, p. 1 3 76.

3 1 . Idem, p. 1 3 80 e 1 3 94.

32. Idem, p. 1 3 83.

3 3 . Idem, i b i d .

3 4 . R ó i s d e bestei ros do conto, Listas de Ordena nças, o I m posto do M i l hão, o Maneio da Décima, etc.

3 5 . Para uma i n formação mais deta l hada sobre este tipo con creto de fontes de Demografia H istórica , veja-se, por
exemplo PEREIRA, Gaspar M . - Estruturas familiares na cidade do Porto em meados do séc. XIX. A freguesia de
Cedofeita, Porto, d issertação de Mestrado em História Moderna e contemborânea a p resentada à Facu ldade de
Letras da U n iversidade do Porto, policopiado, 1 9 86; ou ALVES, Jorge Fernandes - Uma comunidade rural do
Vale do Ave - S. Tiago de Bougado, 1 640 - 1849 (estudo demográfico), Porto dissertação de Mestrado em História
Moderna a p resentada à Faculdade de Letras da U n iversidade do Porto, poli copiada, 1 986. Mas os tra b a l h os
em Demografia H istórica baseando-se n este tipo de fontes têem-se m u ltipl icado. Veja-se, entre outros, SI LVA,
Álvaro Ferreira da - Família e trabalho doméstico no "hinterland" de Lisboa: Oeiras, 1 763- 1 8 1 0, "Anál ise Soci a l " ,
vol. XXIII (97), Lisboa , 1 9 8 7 , p. 5 3 1 - 5 6 2 ; RODRIGUES, Teresa - Para o estudo dos ráis de confessados a freguesia
de Santiago em Lisboa ( 1 630- 1 680), " N ova Históri a " , n " 2 , 1 9 8 6 ; O'NEILL, Brian - Proprietários, jornaleiros e
criados numa aldeia transmon tana desde 1 886, "Stu d i u m Generale", n ."s2/3, 1 9 8 1 , p. 39-4 1 ; AMORIM, Norberta
- Exploração de ráis de confessados duma paróquia de Guimarães ( 1 734- 1 760), G u i marães, 1 98 3 .

36. NAZARETH , J . M a n u e l e SOUSA, Fernando - A demografia portuguesa do Antigo Regime. samora correia e m

1 79 0 , "Estu d o s e D o c u m e ntos I C S " , n " 1 7 , L i s b o a , 1 9 8 7 ; N AZA R ET H , J . M a n u e l e S O U S A , F e r n a n d o - A


demografia portuguesa em finais do Antigo Regime. Aspectos sociodemográficos de Coruche, "Cadernos da
Revista de História Económica e social", nY 4, Lisboa, Livraria Sá da costa Editora, 1 98 3 ; NAZARETH, J. Manuel e
SOUSA, Fern a n d o - Aspectos sociodemográficos de Salvaterra de Magos nos finais do séc XVII/, "Anál ise soci a l " ,
vol. XVII ( 6 6 ) , 1 98 1 - 2", p. 3 1 5 - 3 7 3 .

205
PAULA G U/LHERMINA DE CARVALHO FERNANDES

3 7. DUPÂ QUIER, Jacques. - La population du bassin parisien à l'époque de Louis XIV, Paris, École des Haures Études
e n Scienes Soci a l es, 1 9 79.

- A demografia portuguesa em finais do Antigo Regime. Aspectos


3 8 . NAZARETH, J . M a n u e l e SOUSA. Fernando
sociodemográficos de Coruche, "Cadernos da Revista d e H istória Económ ica e Soci a l " , n" 4, Lisboa, Livraria Sá
da costa Editora, 1 98 3 , p . 6 1 -62.

39. Idem, p. 6 2 .

40. S I LVA, A lvaro Ferrei ra da - Família e trabalho doméstico no "hinteriand" de Lisboa: Oeiras. 1 763- 1 8 1 0, "Anál ise
Socia l " , vol. XXIII (97). Lisboa, 1 98 7 , p. 5 3 6 .

4 1 . Idem, ibid.

4 2 . CASCÃO, R u i - Demografia e sociedade. A Figueira d a Foz na primeira metade do século XIX, "Revista d e
H istória Eco n ó m i ca e Socia l " , n." 1 5 , Lisboa, Livra ria Sá da Costa Ed itora, 1 98 5 , p. 8 3 - 1 2 1 .

4 3 . Idem, p . 8 7 .

44. I d e m , i b i d .

45. Idem, ibid.

46. I d e m , p. 1 1 5 .

4 7 . ln SERRÃO, Joel - Fontes de Demografia Portuguesa. 1 800- 1 862, Lisboa, Livros Horizonte, 1 9 7 3 , p. 1 4 7.

4 8 . ALVES, Jorge Fernandes - Os Brasileiros. Emigração e retorno no Porto oitocentista, (versão da dissertação de
Douto ra m e n to e m H i stória Moderna e contemporânea a p resentado à Facu ldade d e Letras da U n i versidade
d o Porto), Porto, Ed. A u tor, 1 99 4 , p. 1 96-2 1 0.

49. Idem, p. 1 98.

50. PEREIRA, Gaspar M. Martins - Famílias portuenses na viragem do século ( 1 880 - 1 9 1 0), d issertação d e Douto­
ra m e nto e m H i stória Moderna e Contemporânea a p resentada à Facu ldade de Letras da u n iversidade do
Porto, policopiada, Porto, 1 99 3 , p. 1 6 7, por exemplo.

5 1 . Veja-se, por exemplo, o caso do peso excessivo do sector terciário português e a sua relação com o desen­
volvimento económ ico d o país.

5 2 . D U PÂQUIER, Jacq ues e D U PÃQUIER, Michel - Histoire de la Démographie. Pa ris, Librairie Académique Perri n ,
1 98 5 , p. 3 3 0 - 3 3 7.

5 3 . DESROSIÉRES, A. - Éiéments pour i'histoire des nomenclatures socio-profissionnelles. in "Pour u n e h isto i re de la


statistiq u e " , T. l , Pa ris, INSEE, 1 9 76, p. 1 5 9. A nomenclatura de va u b a n vem referida nas p. 1 96- 1 9 7.

5 4 . LAVOISIER - De la richesse territoriaie du Royaume de France, 1 79 1 , p u b l i cado e a p resentado por PERROT, J.-CI.,
Pa ris, Éditions d u CTHS , 1 98 8 . Lavoisier propõe as segu i n tes categoroias (aq u i se a pontam. em cada categoria,
apenas as designa ções m a i s significativas): 1) p o p u l a ção das cidades (não com p reen d e n d o os agentes da
agricu ltura q u e aí passam); 2) tra b a l hadores. rendeiros. criados. etc (compreendendo m u l h e res e cria nças); 3)
jorna l e i ros ( ...); 4) v i n h a te i ros e suas fa míl ias; 5) assa lariados nas v i n has; 6) negocia n tes. fornecedores das vilas
e cidades. etc, aqueles vivendo da agricu ltura (homens, m u l h e res e cri a n ças compreen d idas); 7) pequenos
proprietários. vivendo, n a sua maioria, das suas rendas; 8) nobres. eclesiásticos e os seus domésticos. vivendo
fora d a s cidades; 9) e x é rcito fra ncês. Cit. i n G R I B A U D I , M a u rizio et B L U M , Alain - Des catégories aux liens
individueis: l'analyse statistique de /'espace social. "Annales. Économies. Sociétés. Civil izations", Pa ris. n." 6,
Novem b re-Décembre, École des Hautes Études en Sciences Sociales, Armand Colin É diteur, 1 990, p. 1 3 7 3 e 1 400.

55. D U PÃ Q U I ER, Jacques e D U PÂ Q U I ER, Michel - Histoire de la Démographie, Pa ris, L i b ra i rie Académique Perr i n ,
1 98 5 , p. 3 3 1 . Nesta m e s m a pági na, os a u tores aconse l h a m . a este propósito, a leitura das Actas do Colóquio
Ordres et Classes, Pa ris, La Haye, 1 9 7 3 .

56. Cf., por e x e m p l o , o recenseamento i nglês d e 1 8 3 1 descrito por DUPÂ QUIER, Jacques e DUPÂ QUIER, M i c h e l -
Histoire de la Démographie, Pa ris, Libra i rie Académique Perri n , 1 98 5 , p. 3 3 2 .

206
A CLASSIFICAÇÃO SÓCIO-PROFISSIONAL: UMA QUESTÃO EM ABERTO

5 7. Lavradores, comerci a n tes, i n d ustriais, negoci a n tes, eclesiásticos, domésticos, etc.

58. Agricultura, comércio, m i nas, i n d ústria m a n u facture i ra e fá bricas, serviços domésticos, etc.

59. D U PÂ QUIER, Jacq ues e D U PÂQUIER, M i ch e l - Histoire de la Démographie, Paris, Librairie Académique Perri n ,
1 98 5 , p. 3 3 3 .

6 0 . I d e m , p. 3 3 4 .

61. Idem, ibid.

6 2 . RAVARA, Antó n i o Pi n to - A classificação socioprofissional em Portugal ( 1 806 - 1 93 0), "Anál ise Soci a l " , v o l . XXIV
( 1 03/ 1 04), Lisboa, 1 98 8 , p. 1 1 6 1 - 1 1 84 .

6 3 . Idem, p. 1 1 69.

64. D U PÂ QUIER, Jacques e D U PÂ QUIER, Michel - Histoire de la Démographie, Pa ris, Librairie Académique Perri n ,
1 98 5 , p. 3 3 5 .

6 5 . RAVARA, Antó n i o Pinto - A classificação socioprofissional em Portugal ( 1 806 - 1 930), p . 1 1 68- 1 1 69.

66. E ntre o censo d e 1 9 1 1 e o de 1 9 30, os critérios d e a p u ra m ento mudam levemente , de uma classificação feita
por profissões, no 1 ." caso, p a ra uma classifi cação fei ta sectorialm ente, n o 2." caso. Em 1 9 3 0 te nta-se pela
1" vez a classi ficação por sectores. l n N U N ES, Ana Bela - A evolução da estrutura, por sexos, da população
activa em Portugal - um indicador do crescimento económico ( 1 890 - 1 98 1 ) , " A n á l ise soci a l " , vo l . XXVI
( 1 1 2/ 1 1 3), Lisboa, 1 99 1 , p. 709 e 7 1 4.

6 7 . Por exemplo, n u m estudo a b rangendo um bai rro de Lisboa entre 1 8 8 6 e 1 9 70, G raça í ndias cordeiro util iza
esta mesma classificação, e m bora faça nela ada ptações, tendo em conta a extensa fatia temporal a b ra ngida
e a evolução das profissões. Agrupou n ove gra ndes fa mílias p rofissionais, a saber, 1. Actividades marítimas,
p o r tu á r i a s e p i sc at ó r i a s ( i n c l u i a A r m a d a ) . 2 . P r o f i s s õ e s c i e n ti fi c a s , t é c n i ca s e a rt í s t i ca s , 3. Pessoa l
a d m i n istrativo, 4. Comércio e vendedores. 5. serviços de protecção e segu rança, pessoa is e domésticos, 6.
Produção e i n d ústria: operários e a rtesãos, 7. Tra b a l h a dores i n d i ferenciadas, 8. Forças Armadas, 9. O utras
- A construção social de um
p rofissões, profissão desco n hecida e sem p rofissão. l n CORDEIRO, G raça í n d ias
bairro de Lisboa: a vocação marítima da Bica através dos seus registos de baptismo e de nascimento ( 1 886-
1 970), "Ler H i stóri a" , n Y 2 6 , Lisboa, p. 1 3 5 .

68. RAVARA, A n t ó n i o Pinto - A classificação socioprofissional em Portugal ( 1 806 - 1 930), p. 1 1 63 .

69. 1dem, p. 1 1 6 1 - 1 1 8 4.

70. Ensaio sobre o Methodo de organizar em Portugal o Exército, Relativo à População, Agricultura e Defesa do
Pais , Lisboa, 1 90 6 . Cit. i n SERRÂO, j o e l - Fontes de Demografia Portuguesa ( 1 800 - 1 862), Lisboa, Li vros
Horizonte, 1 9 7 3 .

71. E. d e facto, a primeira classificação p rofissional oitoce ntista portuguesa.

72. Basta cf. RAVARA, António P i n to - A classificação socioprofissional em Portugal ( 1 806 - 1 93 0), "Anál ise Socia l " ,
vol. XXIV ( 1 03/ 1 04), Lisboa , 1 98 8 , p. 1 1 7 1 .

7 3 . 1dem. p . 1 1 7 1 - 1 1 72.

74. FRANZINI, M. M . - Instrucções statisticas que por ordem do Excel/entissimo e Reverendissimo senhor Principal
Souza compil/ou M. M. Franzini (. . .) em 1 8 1 4 , Lisboa, I m p ressão Regia, 1 8 1 5 .

7 5 . RAVARA, António Pinto - A classificação socioprofissional em Portugal ( 1 806 - 1 930), "Análise Soci a l " , vol. XXIV
( 1 03 / 1 04), Lisboa, 1 9 8 8 , p. 1 1 72 .

76. Idem, p. 1 1 7 2 - 1 1 7 3 .

7 7 . FRANZI N I , M. M. - Reflexões sobre o Actual Regulamento do Exército em Portugal, Publicado em 1 8 1 6, Lisboa,


I m p ressão Régia , 1 8 20. Cit. i n RAVARA, António Pinto - A classificação socioprofissional em Portugal ( 1 806 -

1 930), "Análise Soci a l " , v o ! . XXIV ( 1 03/ 1 04), Lisboa, 1 98 8 , p. 1 1 7 3 . 1 1 74.

207
PAULA G UILHERMINA DE CARVALHO FERNANDES

78. FRANZI N I , M. M. - Considerações àcerca da Renda Total da Nação Portuguesa e sua Distribuição por Classes.
com A lgumas Reflexões sobre o Imposto da Décima, Lisboa, i m p rensa Naci o n a l , 1 8 4 3 .

79. RAVARA, A n t ó n i o Pinto - A classificação socioprofissional em Portugal ( 1 806 - 1 930), p. 1 1 7 5 .

80. Idem. p. 1 1 7 6 - 1 1 7 7 .

8 1 . Idem, p. 1 1 79 .

8 2 . MATA, M a r i a Eugén i a e VALÉRIO, N u n o - História Económica de Portugal. Uma perspectiva global, Lisboa, Col.
Fundamentos, Editoria l Presença, 1 99 4 , p . 246- 2 5 1 .

8 3 . N U N ES , A n a B e l a - População activa e actividade económica e m Portugal dos finais d o século XIX à


actualidade - uma contribuição para o estudo do crescimento económico português, d issertação de Doutora­
m e nto a p resentada à U n iversidade Técn ica de Lisboa, 1 98 9 , cit. in MATA, Maria Eugénia e VALÉRIO, N u n o ­
História Económica de Portugal. Uma perspeaiva global, Lisboa, Col. Fundamentos, Editorial Presença, 1 994. p. 2 5 1 .

84. H ÉLIN, Eti e n n e - Profissão e Estatuto social, i n MARCÍLIO, Maria Luiza (org.) - "Demografia Histórica. Orientações
Técn icas e Metodológicas", São Pa u l o , Livraria Pioneira Editora , 1 9 7 7 , p. 1 8 2 .

8 5 . Idem, p. 1 8 3 .

86. Registo de Fogos ( 1 827). M a ç o n." 1 8 2 8 . Arquivo H istórico e M u n icipal do Porto.

87. Recenseamento dos Bairros de Santa Catarina. Cedofeita e Santo Ovídio, Arq u ivo Histórico M u n icipal do Porto.

88. PEREIRA, M i ra i m Halpern - Artesãos, Operários e o Liberalismo. Dos privilégios corporativos para o direito ao
trabalho ( 1 820- 1 840), i n PEREIRA, M i riam Halpern - Das revoluções liberais ao Estado Novo. Lisboa. Editori a l
Presença, 1 99 4 , p. 5 5 - 9 6 .

89. PEREIRA, M i riam Halpern - Das revoluções liberais ao Estado Novo, Lisboa. Editorial Presença. 1 994. p. 5 7 .

90. A LVES, Jorge Fernandes - Os Brasileiros. Emigração e retorno no Porto oitocentista, (versão da d issertação de
Doutora m e n to em História Moderna e Contem porâ nea a p rese ntado à Fa culdade de Letras da U n i versidade do
Porto), Porto, Ed. Autor, 1 994, p. 292-293.

9 1 . MERLLI É, D o m i n i q u e - les classements profissionels dons les enquêtes de mobilité, " A n n a l es. Économies.
Sociétés. C i v i l i z a t i o n s ", P a r i s , n . " 6 , Novem bre-Décembre. École des H a u res Études en S c i e n ces Soci a l es,
Armand Colin Éditeur, 1 990, p . 1 3 2 1 .

208
C OR R E NT E S DE OPINIÃO PÚ B LICA
E EMIG R AÇÃO LE GAL NO DIS T R IT O
DE AVE IRO ( 1 8 8 2 - 1 8 9 4 )
Maria Teresa Braga Soares Lopes
Universidade de Aveiro

1. I NT R O D U ÇÃ O

Como fenómeno estrutural e endémico em Portuga l, a e migração tem constituído u m


autêntico "espaço laboratoria l " , d e estudo e i n vestigação i nterdisci plinares. em múltiplas
abordagens e i nterpretações, sobretudo e tra d i c i o na l m e nte d e génese macroscó p i ca
sob o po nto de v ista de e n q u a d ra me ntos explicativos de movi m e n tações de pessoas e
capitais, na reso lução de p ro b l e mas eco n ó m i cos em pólos de atracçã o e de repu lsão.
Ao assu m i r qua ntitativos com o os verifi cados na é poca oitocentista , principa l m e nte
n os últi mos decénios do sécu l o passado, o fe nómeno é chamado cada vez mais para a
p raça p ú b l i ca e política.
" Escritores, esta d i stas e parl a m e ntares" 2 discuti a m a e m i gra ção e a "sensi b i l idade
p ú b l i ca não deixou d e reagi r a u ma experiência nacional q u e, d i recta ou i n d i recta m e nte
a todos a fe ctava e a todos conti n u a , h oje mesmo, a d izer respeito" 3.
I nt e l e ctu a i s e p o l ít i cos, co m o O l i v e i ra M a rt i n s , n ã o fi ca ra m i n d i fe r e n tes a este
assunto "de ta l magnitude", a "esta chaga medonha do n osso orga n ismo eco nómi co",
" p h e n o m e n o morbido da sociedade portugueza", segu ndo expressões daquele. O p i n i ões
com p a rti l hadas por outros i n te lectua i s d o séc. XIX português q u e, ao reflecti r sobre o
fe n ó m e n o , fa z i a m ta m b é m e c o d a s p o s i ç õ es d e p o d e re s t u t e l a res d a s d e c i s õ e s
m i g ra t ó r i a s d o s c i d a d ã o s , p o i s e s ta v a m m a i s p r e o c u p a d o s c o m a " s a n g r i a " , a
"h em o rragia" de gen tes - p ri nc i p a l m e nte para o Bras i l - e com a " natu reza expulsiva da
situação s o c i a l e eco n ó m ica" 4 e m relação a u m a pa rte sign i fi cativa da p o p u lação,
expressã o d e riqueza do Reino.
A e n focage m d e ta is a n á l ises i ncidia maioritariamente em efeitos conj u nturais não
clari ficados p o r i nterpretações m a i s p rofu n das q u e têm d e ser rad i cadas i gu a l m e nte
" n u ma teia de relações q u e se consigna n u m determinado modelo de informação sobre
o q u a l se tom a m as d e cisões pessoais/fa m i l i a res e se estrutura m as represe ntações e
comportamentos colectivos", como recentemente alertou e sublinhou Jorge Alves ( 1 994:348).
constitu i n d o a i m p re nsa d o séc. XIX um " q u i nto poder d o Esta do" s (e logo a segu i r
a este), u m m e ca n is m o e m q u e se d i scutia m d e forma a cesa o s n egócios p ú b l i cos,
com o foi o fen ó m e n o " e m igração" tratad o nos jornais? Como é que as suas o p i n iões
próprias ou refl exo dos i nteresses d e vária ordem se podem i nterpreta r hoje? Co mo é
q u e a sua atitude p e ra n te a q uestã o contri b u i u para a formação de o p i n i ões e decisões
daqueles que os l e ra m ?
E m relação a estas q uestões e só no q u e se ci rcu nscreve ao distrito d e Avei ro e a
três p e ri ó d i cos, O Povo de Aveiro , o Campeão das Províncias e A Vitalidade, tenta r-se-à
a f l o ra r um co ntri b uto de resp osta , p e l o m e n os no q u e respe ita á s d u a s p ri m e i ras
p e rguntas e n u n ciadas. N o q u e concerne à re percussão q u e as i n formações e ideias

14 209
MARIA TERESA BRAGA SOARES LOPES

produzira m n os seus l eitores, poderá conjectu ra r-se a lgu ma ideia, dado que não fora m
efectuados estud os para nos basearmos, a pesa r de serem conhecidas as gra ndes ti ragens
de, por exem p l o , o p ri m e i ro dos periód i cos apontados, em n ú mero "asso m b roso" 6 Os
jornais ci rcu l a r i a m n u m l e q u e vasto d e pessoas, apesar da maiori a da população ser
a n a l fa beta - n o d i strito d e Aveiro, e m 1 8 90 há uma popu lação a l fa betizada d e maiores
d e 7 a n os (homens) que se ci fra e m 3 1 . 3 o/o ; n o caso das m u l heres, i d e m , 7.8 o/o 7 .
N este pequeno tra ba l ho, o p i n i ões e n otícias de a rticul istas de jornais citados serã o
confronta das, s e m p re q u e possível e e m para l e l o , c o m outras o p i n i ões e c o m os n ú ­
m e ros evol utivos da e m igração lega l n o d i strito e m causa, e ntre 1 8 8 2 e 1 8 94, s período
d e tem p o que se considerou para a pesqu isa d e e m igração, emb ora a da consu lta dos
periódicos a u ltra passe. A i ncidência da leitura efectuada re lacionou-se com todas as
e d ições de o Povo de Aveiro n o te m p o co nsidera d o, bem como séries i nterva ladas para
o Campeão das Províncias e n ú m e ros do último decéni o do sécu l o XIX para A Vitalidade.

2. B R EVE A P R E S E NTAÇÃO D O S J O RNAIS

Q u a l q u e r u m d o s j o r n a i s l i dos é d e periodicidade sema n a l e d e í n d o l e política, mu ito


m a i s ma rca da em o Povo de Aveiro que nos o utros d o i s. Todos v i v i a m d e gra n des
e d itoriais, d e extractos d o Pa r l a m ento, da legislaçã o , d e noticiários, d e cró n i cas, de
e ntrete n i m e ntos p o p u l a res, correspondências e a lguns a n ú ncios, d istri buídos por quatro
fol has. Mas cada um tem as suas pa rticu l a ridades, ora não desenvolvidas, uma vez que
exigem u m o utro estudo m u ito mais deta l hado e profundo.

2 . 1 - o Campeão das Províncias

"Em 1 4 de Feverei ro de 1 8 5 2 sai u o primeiro nú mero de "O ca mpeão do Vouga", jornal


"pol itico, l itte ra rio e commerci a l " 9 sob a b a n d ei ra do Pa rtido Libera l e a ntepassado de
"O ca mpeão das Províncias" que, n u m a segu nda série, i n i ciada em 1 8 5 9 passou a ser
Favorável á Rege n e ração e o tra m p o l i m do seu d i recto r, Manuel Fi rm i n o para a vida
pública , a qual veio a term i n a r n o Partido Progressista 1 0. o jornal deti nha uma "escolhida
cola boração e ( ... ) a p reciável ti rage m " 1 1 . Manteve-se até 2 6 de j a n e i ro d e 1 9 2 4 , tendo
sido considerado u m dos mais conceituados periódicos d e província. Chegou a lançar
u m a e d içã o especi a l para o B ra s i l ( 1 8 7 2), onde possuía " n u m e rosos assi nantes" 1 2.
Figura e ntre os jornais q u e "de a lgum modo se haviam ide ntificado com a vida do
seu tem p o e n e l a exercido consi d e rável i nfl u ê n c i a " 1 3 Escrevera m nas suas col u n a s
personalidades i ncisivas c o m o a de Mendes Leite, igualmente colaborador do "Revolução"
d e Rod rigues Sa m pa i o ; josé Eduardo d e Almeida Vilhena; o conhecido parlamenta r josé
Estêvã o e Marques G o m es, h istori ógrafo ave i rense e reda ctor p ri ncipal.
"Durante largo tempo, o mais fi el espelho e o mais m i nucioso registo da vida loca1", 1 4
nele está sem pre presente o tema "emigração", ta nto n a vertente nacional, como n a loca l .

2 . 2 - o Povo de A veiro

Surgido em 29 de j a n e i ro de 1 8 8 2 , este semanário i d e ntifica-se "co m p l eta mente" 1 5


com Fra ncisco H o m e m Cristo, " period ista i n d ividual. . . p rotóti po d e fra n co-ati ra dor civi l ,

210
CORRENTES DE OPINIÃO PÚBLICA E EMIGRAÇÃO LEGAL NO DISTRITO DE A VEIRO ( 1 882- 1 894)

do "j u s t i ça - d e - n o i t e " da m o ra l da c i d a d a n i a e de v i n ci d á ri o ( . . . ) co l o q u i a l m e n te
ta l e ntoso," 1 6 q u e estava convencido de poder modelar a o p i n i ã o p ú b l i ca através das
suas p ró p rias ideias e palavras de i n terventor. Capaz de, através do jorna l , reformar a
sociedade dos homens 1 7 .
No seu" jornal exercia um jornalismo pa n fl etá rio, com bativo, 1 8 i ntra nsigente, a zurzir
tudo e todos, i n c l u i n d o corre l igionários e colaboradores 19 Aca bou por ficar sozi n h o a
emitir textos da sua "tremenda" 2o tri b u n a , "só, contra tudo, contra todos, a com bater" 2 1 .
Pratica n te de u m jornalismo de su cesso (que pouco teria a ver com o ideal repu­
b l i ca n o , a liás, como outros jornais de grandes tiragens desta época pouco ti n h a m a ver
com ideários e p ráticas dos p a rtidos), d o q u a l estava a usente qualquer censura , o seu
jornal era a rma q u e ta m b é m fazia pontaria na "emigração". De que forma "a certava "
n esta? Veremos n u m a i l u stração mais á frente.

2.3 - A Vitalidade

j o r n a l c o n s i d e ra d o m o n á rq u i c o , o s e u p r i n c i p a l p e rc u rso fi c o u a d e v e r-se a o
a m a n u e n s e d o G o v e r n o Civi l d e Ave i ro Acá c i o d a Rosa ( 1 8 7 2 - 1 9 5 5 ) , q u e se to rnou
re p u b l i ca n o na pa rte fi n a l da sua vida. o periódico foi tido como " u m dos maes bem
redigidos jornaes d e proví ncia" 22, resultado do labor do seu principal i m p u lsionador.
Col a b o raram n e l e " u m gru po de reda ctores q u e podemos considerar de "escoJ 2 3
para o n osso m e i o " , e ntre o s quais a lguns espa nhóis 24.
o periódico d i rigido pelo anti-iberista Acácio da Rosa 2s teve uma ce rta penetração
na o p i n iã o p ú b l i ca (Ed u a rdo Cerq u e i ra), mas a sua foca l ização na em igração" é muito
escassa.

3 - EMIG RAÇÃO LEGAL NO DISTRITO DE AVEIRO - LINHAS EVOLUTIVAS

O distrito de Avei ro é já conhecido, quer por tra b a l hos de emigra ção naciona l , quer
loca l , 26 pela tra d i çã o e p e l o vol u m e das saídas de e m igra n tes. D a q u i se "tem visto
parti r gra n d e n ú m e ro dos seus fi l hos mais vigorosos, em busca de novas terras, fo r­
tunas e aventuras" 27. Já em 1 8 8 7 Oliveira Martins referia q u e , no fenómeno emigratório
português, Avei ro está a m pla m ente representado" 28 com n ú meros q u e pensa serem
e l ev a d o s e a q u e a t r i b u i c o n s a b i d a s causas: " e x cesso de p o p u l l a ç ã o " , " p o b reza " ,
" recruta m e nto", "tra d i çã o " e "espírito de aventura n 'esta ordem de i m porta ncia".
É possível ler n u m relatório a p resenta d o p e l o e n tã o G overn a d o r Civil d e Ave i ro
( 1 8 5 7) esta o p i n ião:
"( ... ) a desastrosa e m igração d e h a bita ntes d 'este distri cto para o i m perio do Brasil
t e m c o n ti n u a d o em l a rga e s ca l a " 2 9 , n ã o só d e s fa l ca n d o b ra ç o s o p e rá ri o s , como
reti ra ndo pessoas a o exercício d o comércio e ass u m i n d o aspectos ru ra l i za ntes m a i s
i ntensos. Noutros re latórios da m e s m a natu reza é possível ver que a em igração era u m
fa ctor p reocu p a n te e a gera r visões eco n o m i cistas, dramáticas e patern a l i stas nas
a utoridades d o d i strito (e não só).
Seja como for, Avei ro sobreviveu como u m daqueles distritos que mais contingentes
de e m igra ntes formara m na zona n o rte e desde 1 8 66, tendo engrossado o u n iverso
naci o n a l entre 1 o a 1 5 % desde aquela data até a 1 9 30 30.

21 1
MAR/A TERESA BRAGA SOARES LOPES

ora, os dados sobre a e migração local izada que se a p resenta m , têm como base o
leva n ta me nto siste m á tico baseado nos registos de passa portes do G overno de Avei ro
( l ivros citados), a b ra nge n d o u m u n i ve rso de 1 8 2 9 8 i m p etra ntes, dos q u a i s 1 7 3 1 O
seriam naturais ou res i d e ntes nos conce l h os i n tegra ntes no d istrito - 1 6 na é po ca ,
englobando 1 8 0 freguesias.
o registo de p a ssa p o rtes é u ma fo nte p ro b l e má tica , 31 ma s possi b i l i ta d o ra de
a n á l ises qua ntitativas, capazes de contri b u i r m onografica e m icroscopica m ente para o
estud o das migrações portuguesas l o ca l i zadas e, ass i m , conduzir a a lgumas respostas
nos estu dos da e m i gração nacional 32
o estud o l evad o a ca bo para Avei ro permite a prese nta r a cu rva evo lutiva, a qual
tem corresp o n d ê ncia com a te n d ê ncia n a c i o n a l exponencial d e decl ive positivo até
1 8 94 (Grá fi co 1 ).

G R Á F I C O 1 - E V O L U Ç Ã O C O M P A R A D A DAS S A Í D A S DE TITULARES
D E PASSAPORTES ( H O M ENS E M U LHERES - PASSA P O RTES I N D IV I D U A I S
E COLECTIVOS) N O D I S T R I T O D E AVEIRO E EM P O R T U G A L

35000

30000

25000

20000 .-- DISTRITO DE AVEIRO

1 5000 - - - - - - PORTUGAL

1 0000

5000

o
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� � � � �

Fontes: Registos de passaportes do Governo Civil de Aveiro - 1 882/ 1 884

apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto: Porto. 1 993 , vol l l , quadros E.3 . 1 ; E.S.
SOARES LOPES, Maria Teresa - Emigração Legal Portuguesa no Distritto de Aveiro ( 1882- 1884). Dissertação de Mestrado

Uma imagem desfocada - a emigração portuguesa e as


Análise social, vol. XXVI ( 1 1 2- 1 1 3 ) , 1 99 1 , (3° - 4°) : 736.
Valores do Sec. XIX apresentados por BAGANHA, loannis Benis -
fontes sobre a emigração.

Se exceptuarmos o a n o de 1 8 8 2 , para o q u a l só foi possíve l l eva nta r dados desde


Agosto até fi n a l (2.29 n a proporção pa ra os va lores naciona is), os a n os d e 1 8 8 3 e 1 8 84
re presenta m uma média d e 6.9 % n o ratio. Em 1 8 8 5 , u ma proporção d e 4.89 e nos a nos
segu i n tes (v. G rá fico 2 ) a c e l e rações d e saídas até 1 8 9 1 , com osci l a ções, uma cu rva
a c e n t u a d a e m 1 8 9 2 ( m u d a n ç a de r e g i m e p o l ít i c o n o B ra s i l ?) e n o v o a u m e n t o
(acentuado) a t é 1 8 94, c o m ten d ência evo lutiva crescente.
Nos cô m p utos n a c i o n a i s , esta e m i gração r e p rese nta 6 % p a ra a a m p l i t u d e de
tem p o considerada, n u m conj u nto d e d istritos com uma taxa superior a 5 % no q u a l
e n fi l eiram o d i strito d o Po rto, d e Viseu e Vila Rea l .
Nesta evo l ução, o s passa portes i n d ividuais estão e m va ntagem no Distrito (89.5%)
em relação aos colectivos ( 1 0.5%) , os quais começa m todavia a ser sign i fi cativos entre
1 8 8 8 e 1 8 8 9 , u m a acentuaçã o em 1 8 8 3 - q u e é a q u e l e q u e regista maior n ú mero de
saídas, q u e r n u m , q u e r n outro caso (Ta b e l a 1 ).

212
CORRENTES DE OPINIÃO PÚBLICA E EMIGRAÇÃO LEGA L NO DISTRITO DE A VEIRO ( 1 882- 1 894)

G RÁ F I C O 2 - R Á T I O E M I G R A Ç Ã O L E G A L N A C I O N A L - E M I G RAÇÃO L E G A L
N O D I S T R I T O D E AVE I R O ( 1 8 8 2 - 1 8 9 4 )

1 883
1 884
1 88 5
1 886
1 887
1 888
1 889
1 890
1 89 1
1 892
1 893
1 894

0.00 1 .00 2.00 3.00 4.00 5 . 00 6.00 7.00 8.00 9.00


I• · Meses de Agosto a Dezerrbrol

T A B E L A 1 - D ISTRITO D E A V E I R O
D ISTRIBUIÇÃO DE EMIGRANTES TITULARES DE PASSAPORTE
POR ANOS, SEXOS E GRUPOS DE IDADE

Fontes: Registos d e passaportes d o Governo Civil de Aveiro · 1 882/1 884

Universidade do Porto: Porto, 1 99 3 , vol ll, quadros E . 3 . 1 ; E. S.


SOARES LOPES, Maria Teresa - Emigraç.lo legal Portuguesa no Oistritto de Aveiro ( 1 882- 1 884). Dlssertaçlo de Mestrado apresentada ;} Faculdade de letras da

Ta is valores esta rão , evidenteme nte, suje itos às conj u ntu ras geradoras d e p icos de
expulsão e/ou retracção , q u e não foi possível estu d a r p a ra já n este D i strito. N o seu
conj unto, as curvas corresp o n d entes aos conce l h os são com p lexas (G rá fico 3).
Numa observação gen é rica: os a n os d e 1 8 8 5 e 1 99 2 ostentam gra n des declín i os d e
saídas e m todos os concelhos, e m b o ra c o m va riaçã o sign i fi cativa n os qua ntitativos. Em
relação a o ano d e 1 8 9 2 (com q u e b ra d e va l o res, como se viu), h á , n o e nta nto um
co n ce l h o que sobe - ova r. c o n tu d o , n o m e s m o ano h á d e s c i d a s m a i s o u m e n os
m a rcantes em Águ e d a , O l i v e i ra de Azeméis e A n a d i a , b e m como e de fo rma relevante,

213
MARIA TERESA BRAGA SOARES LOPES

G RÁ F I C O 3 - E V O L U Ç Ã O DAS S A Í DAS DE E M I G RANTES MASCULINOS


E FEMININOS TITULARES D E PASSAPORTES (INDIVIDUAIS E COLECTIVOS)
NOS C O N C E L H O S D O D ISTRITO D E AVEIRO ( 1 8 8 2 - 1 8 9 4 )

600

500

- AGUEDA
- ALB.·A·VEIRA
- ANADIA
<400 .
- AROUCA
- AVEIRO
- CASTELO PAIVA
- ESTARREJA
300
- FEIRA
- ÍLHAVO
- MACIEIRA CAMBRA
- MEALHADA
200 - OUV. AZEMEIS
· · · · · · ·· · · OUV. DO BAIRRO
. - OVAR
- SEVER DO VOUGA
1 00 - VAGOS

0 �����-+-+�--��+-+-���-+--
1882 1 884 1 886 1 888 1 890 1 892 1 894

Fontes: · Registos de passaporte do Governo Civil de Aveiro - 1 88 2 / 1 894


• SOARES LOPES, Maria Teresa - Emigração Legal Portuguesa no Distrito de Aveiro ( 1 882- 1 894). Dissertação de
Mestrado a p resentada ã Fac. de Letras do Porto: Porto, 1 99 3 , vol. 11, quadros E.3. 1 .; E.S.

e m Avei ro e Arouca. Existem ca racterísticas de comporta mentos comuns em caste l o de


Pa iva, Sever do Vouga e Aro u ca para o a n o d e 1 8 8 5 ; Avei ro e Anadia n este mesmo ano
a p resenta m uma descida a i n d a mais relevante. o ano d e 1 8 8 7 é d e desta q u e para
Maci e i ra de Ca m b ra (concelho hoje d e n o m i nado Va l e de Ca m b ra). Em 1 8 89 veri fi ca-se
um q u e b ra em Ave i ro (o que não a co ntece, p o ré m , n o utros conce l h os). A variação
percen tu a l i nterna é a p resentada n o G rá fico 4.
A i m p l e m e ntação d istri b ut i va d e saídas d e titu l a res d e registos d e passa p o rtes
a pa rece n a ca rta n.º 1 , em que o desta q u e vai para O l i v e i ra d e Azeméis, Feira e ova r.
A su l , a conce l hos a b ra ngidos pela e ntão d i fusa zona da Bai rrada são os mais atingidos.
N o extenso d i strito d e Avei ro (fa ixa l itora l d e 2 760 Km2 d e superfície), fortemente
rura l izado e com e l evada densidade populacional (99 h./ Km2) nas zonas de m i n i fú n d i os,
viviam pessoas m a ntidas e m fo rmas d e o rga n izaçã o pro d u tiva d e fe i çã o tra d i c i o n a l
(agri c u l t u ra , p e c u á r i a , a u toco n s u m o c o n t ro l a d o) . D a q u i pa rte u m a p o p u l a çã o c o m

214
CORRENTES DE OPINIÃO PÚBLICA E EMIGRAÇÃO LEGAL NO DISTRITO DE AVEIRO ( 1 882- 1 894)

G RÁ F I C O 4 - E M I G RAÇÃO L E G A L NO DISTRITO DE A V E I R O ( 1 8 8 2 - 1 8 9 4)
- VARIAÇÃO PERCENTUAL INTERNA
. 1882
2% o 1883
1 2%
. 1884

• 1885

1!1 1886

lll 1887

� 1888

111 1889

11\11 1890

11!1 1891

111 1892

7% . 1893
9%
S l894
Fontes: Idem a s referenciadas

CA RTA 1 - D ISTRITO DE AVE I R O


DISTRIBUIÇÃO DE REG ISTOS DE PASSAPORTES DE EMIG RANTES MASCULINOS E FEMININOS POR
CONCELHOS - 1882/1894

LI!GI!NDA

Do 1 977 a 2405
Do 1 560 a 1 977
Do 1 1 43 a 1 560
Do 726 a 1 1 43
Do 3 1 5 a 726

Pon1es: Regis1Ds de passapor1es, Governo Civil de Aveiro

i n c i d ê n c i a etá ria e n tre os 1 4 e os 40 a n os (98%) , s o b retu d o mascu l i n a ( 9 5 %). Esta


p o p u l a ç ã o , de c a r i z r u ra l , esco l h e o Brasi l c o m o traj e ct ó r i a h a b itua l no R e i n o d e
oitocentos - e , d entro do Bras i l , o Rio de janeiro - desti n o de sempre - 49.3 2%; Pará ,

215
MARIA TERESA BRAGA SOARES LOPES

cidade de a fi n i da d es l i torais - 1 3 .08% e, l ogo d e p o i s em i m portâ ncia: s. Pa u l o , pela


crescente economia do café: 1 0.8% e Rio G rande do Sul, que va i ganhando i mportância: 7%.
Mas há q u e m se d i rija p a ra locais não especifi cados do Brasil ( 1 5 %) e outros (Baía , Ama­
zonas, Espírito Santo, M a ra n hã o , Piauí, M i nas Gera i s e Pern a m b u co) e m percentagens
quase insignifi ca n tes. Existe uma razão de homogeneidade entre Rio de janeiro, S. Paulo,
Rio G rande do Sul (e até Espírito Santo) n u m círculo de correlações. A oposição i n cide nas
outras cidades e estados, a que não será certa mente estra nh a a economia b ras i l e i ra , os
p ro b l emas sociais, os m e rcados de tra b a l h o e as políticas d e mão de obra aí praticadas.
A diáspora fa m i l i a r dispara n o último decénio.

4 - UMA IMAGEM DA EMIGRAÇÃO NACIONAL E LOCAL NOS TRÊS JORNAIS

4. 1 - O p i n i õ es

A - o p ro b l e m a

"A e migra ção constitu i u m dos mais graves pro b l e mas q u e a economia soci a l tem
d e reso lver" escreve-se n o Povo d e Avei ro 33. Ass i m , o jorna l espelha vozes cél e b res
que quase n a mesma a l tu ra se fazia m ouvir, como a já a l udida de Oliveira Marti ns:
"Ago ra q u e os va pores sáem atu l hados d e ge nte, tôda a i m prensa clama que isto
assim não pode ser, que o sangue português se escôa ( ... ) Quem ignora que d e todas as
n ossas exportações a mais i m po rta nte ( ... ) é a que fazemos d e gado h u ma n o para o
Brasil?" 34
Dez a n os d e p o i s d a p ri m e i ra o b s e rvação a q u i ci ta d a , H o m e m -Cri sto s u b l i n h a : 3 s
"Avo l u ma d ia a d i a , d e u m a forma espa ntosa, a corrente d e emigra ntes para o Brasi l. D e
todas as regiões d o p a i z e e m especia l do M i n h o e da Ba i rrada, sahem ás centenas d e
i n d iv í d u os e fa m í l i a s i n te i ra s , c o m d esti n o à q u e l l e p a i z . " E ma i s a d i a n t e : " É u m a
ca l a m i d a d e naci o n a l , q u e está prepara n d o o s dias d e u m a crise eco n o m i ca . Parece uma
soci edade a desmoro n a r-se." U m pouco mais ta rd e, o ca mpeão das Províncias concorda:
" isto não pode conti n u a r assi m , e o paiz ver-se-ha a b raços com uma crise medonha36,
porque - já a n tes aventara: " N 'este crescen d o d e e migração, o paiz despovoa-se de ntro
de pouco. E o peor é q u e os que mais e m igra m não são os q u e menos fa l ta fazem;
( ... )são ( ... ) as forças vivas d o paiz".
A q uestão é desta forma colocada, reco n h ecendo-a como u m "mal" económico e
s o ci a l d o p a í s - H o m e m - Cristo ta m b é m n u n ca p e r d e a o p o rtu n i d a d e d e p o r e l e
respo nsa b i l izar s e m p re a m o n a r q u i a e o s seus (maus) gove rnos - s u bjacente a esta
id e ia poderá existi r "doutri na populacionista , de teor mercantil ista , que enca ra a popu­
lação como u m dos i n d i ca d o res de riqueza d o rei n o , pelo q u e, ta l como em relação a os
meta i s p reci osos, se i m põe trava r a sua te ndência para a hemorragia, qual perda de
sangue q u e e n fraq ueceu o corpo da nação" 37.
Nos "Relatarias às j u n ctas Geraes dos Districtos Adm i n i strativos" é possível encontrar,
u m a década a n tes destas, outras posições semelha ntes 38.
Todavia, O l i v e i ra Martins reto rq u i ri a :
"Os clamores da i m prensa são ( ... ) v ã o s e i n conseque ntes. No meca n ismo actua l d a
eco n o m i a p o rtugu eza , a e m i gra ção p a ra o B rasi l re p rese nta u m pa pel i n evitavel por
dois motivos: 1 .º porque é o vasa d o u ro d e gente sem ocupação no Reino; 2.º porque é a
fonte de subsidio q u e a n n ua l mente nos aj uda a viver."39

216
CORRENTES DE OPINIÃO PÚBLICA E EMIGRAÇÃO LEGAL NO DISTRITO DE A VEIRO ( 1 882- 1 894)

N u m a visã o e co n o m i cista , M a rt i n s reco n h ece c o m o n e cessá r i o , na conj u n t u ra


existe nte, o escoa m e n to de gente portuguesa p a ra o B rasi l , conseq uência do desa­
justa m ento e ntre o m ovi mento d e m ográ fi co e o desenvolvime nto económico naci o n a l .
P o r outro lado, as s u a s remessas constituem verda deiros b enefícios para o p a í s . q u e
vão sustenta n d o u m a situação fi nanceira c o m " i nj ecções à d i fíci l economia" (Arma nd o
d e castro). Qu estões a l iás, reco n hecidas s o b retudo por O Povo de Aveiro q u a n d o d iz:
"O Brasi l é a n ossa m a i o r fo nte d e riq ueza e tem por isso uma i nfl uencia enorme n' este
paiz, a i n fl u e n cia do d i n h e i ro , q u e é a mais i m po rta nte de todas" 40.
Sensíveis são estes jornais aos q u e "sem ocupação" a ndavam no Distrito, nomea­
damente a q u e l es q u e mais atingidos teri a m sido pelo " p h i l l oxera" na zona bairra d ina ,
zona eco n ó m i ca co nsiderada pelos periódicos mu ito i m porta nte - dada a ma ncha n o
espaço d e o p i n iões e n otícias que sobre esta ela bora m - m a s d e "contri buições mais
modestas para a eco n o m i a do país n o ca mpo viticu ltor" 4 1 ( 1 5% da p rodução nacional).
ocuparia. n o enta n to . u m n ú m e ro a p reciável d e tra ba l hadores agrícolas e a rtesa nais
l iga dos à cultura da vinha nos conce l h os de Águeda, Anadia, Mealhada e Oliveira do
Bai rro principa l m e nte (uma vez q u e se tratava d e uma zona d e contornos geográ ficos
pouco defi n i d os).
Há u m a gra n d e p r e o c u p a ç ã o por pa rte d e O Povo de A veiro e O Campeão d a s
Províncias para esta zona b a i rra d i na . A s l o c a i s sobre em igra ção i n fl ecte m , com gra n d e
frequência, p a ra o s p ro b l e mas daqueles conce l h os. Homem-Cristo chega a ma nter d e
fo rma d u ra d o u ra e conti n u a d a u m a s e c ç ã o i ntitu l à d a "Ca rtas da Bai rra d a " , na q u a l
s o u b e e m po l a r a crise fi l o x é r i ca e e m q u e n ã o p o u p o u co m p o rta m e ntos. q u e r a o
governo, q u e r d o s p ró p ri os p rod utores, d ramatiza ndo situa ções q u e hoj e t e m d e ser
colocadas e m termos mais relativos 42
Há q u e b ras n a produção vinícola do distrito d e Avei ro. sobretudo a pa rtir de 1 8 8 7
(a n o e m q u e . d e u m a fo rma gera l . a lavoura sofre u m a crise). Ta is q u e b ras pa rece m
corresponder de fo rma mais acentuada a partir de 1 8 89. É natu ra l que. co mo a fi loxera
"co n d i ci o n o u a a ctividade d este sector da agricultura e as economias portuguesas no
seu todo" 43, haja co i n c i d ê n cia e ntre a nos d e crise e a nos d e maior saída de emigra ntes
p roven i e ntes das zonas ati ngidas - e a que os jornais atri buem i med iata m e nte u m a
correla çã o 44 - (ve r G rá fi cos 5 , 6 e 7 ).

G RÁFICO 5 - P R O D U Ç Ã O V I N Í COLA D O DISTR ITO D E A V E I R O


( E M M I LHARES D E H ECTÓLITROS)

. 1860
• 1861
. 1862
. 1868
. 1 ...
• 1871
. 1872
. 1873
• 1880
. 1881
• 1882
. 1883
. 1 ... Fonte,
. 1885 Conceição Andrade
• 1887 Martins
. 1802 · A filoxera na

• 1 8931114
Viticultura necionel .
• 1 ...
in Análise social .
VOI. XXVI ( 1 1 2 · 1 1 3) .
• 1901
1 99 1 (3." . 4.'1. p. 684·685
1880 1 96 2 1 888 1872 1880 1882 1 884 1887 1 893184 1901

217
MA RIA TERESA BRAGA SOARES LOPES

G RÁ F I C O 6 - I N VASÃO F I LO X É R I C A N O D ISTRITO DE AVEI R O


( E M M I LHARES DE H E CTARES)
1 60

140

120

100

80

60

filoxerado

11192
Fonte: Conceição Andrade Martins - A filoxera na V i ticultura necionel, i n A nál i se Social , Vol . XXV I ( 1 12-
1 1 3), 1991 (3"-4"), p. 684-685

G R Á F I C O 7 - O CASO DE A N A D I A
Distribu ição d e titu la res de passa portes em igrantes mascu l inos e fem ininos p o r anos

4m �-----

1111

o
1882 1883 1884 18115 18115 11117 11111 181111 111111 11191 18112 111113 1-

Fontes: Registo de passaportes, Governo Civil de Aveiro.

A q u estã o e m igra ção constitu i , e ntã o, um "grave p ro b l e m a " , q u er para um q u er


pa ra outro p e r ió d i c o , mas não identificado c o m o ta l pela A Vitalidade. Não é, contudo,
u m problema q u e surj a do nada. Numa visão u m pouco l i near e com ce rto confusio­
nismo e ntre razões e efeitos, sã o a pontadas "causas" e conseq u ê n cias" para que há
n ecessidade d e se a rra nja re m " re m é d i os".

B - As causas da Emigração

As p ro b l emáticos que podem leva r à emigração e consequente despovoamento do


Rei n o são va riadas.

218
CORRENTES DE OPINIÃO PÚBLICA E EMIGRAÇÃO LEGAL NO DISTRITO DE A VEIRO ( 1 882- 1 894)

"Co nta m-nos d ' O l ive i ra d'Azemeis que d ' a q u e l l e conce l h o teem partido para a nova
repu b l i ca s u l a merica n a , centenas de pessoas, chega n d o a fecha r-se casas, nos dois
meses quasi decorridos do presente a n no. o motivo pri n c i p a l , que l eva os emigrantes a
a ba ndonare m a sua patri a , é a fa l ta de tra b a l h o , q u e lhes dê sustento para si e para os
seus. Já não é o d esej o d e conqu ista rem fortu na, com que possa m viver fa rta mente: é a
Iucta pela vida q u e os l eva a j oga r a ultima ca rta da sobre a sua sorte" 45.
Já an tes se d e n u nciava:
" H á fom e . As preocu pações abandonam a patria q u e l hes não dá pão, para o i rem
procu ra r a regiões longínquas". 4 6
A lém da "fo m e " são l a n ça d os a i nda "mais i m postos, mais b a m bochatas", porque a
e m igração, sendo u m m a l , existe por c u l pa dos governos e da monarq u i a , na atri b u i çã o
de pa p e l " passivo" a o e migrante, o q u a l se vê com pe l i d o a e migra r, sem q u e esse a cto
sej a uma decisão esco l h ida e maturada pela ava l i ação das oportu nidades que se l h e
p o d e m ofe recer, fossem e l a s efectuadas p o r si ou p e l a fa mília. Há , porta nto, u m a l hea­
mento por c i rcu nstâ ncias q u e condicionam decisões i n d ividuais d o emigrante no a cto
com p l exo e a ctivo de e m igra r, n u m a estratégia de escol h a e p l a n i fi cação ate m pada.
São "tudo fructos da monarchia, a q u e m n u n ca mereceu cuidado e bem-esta r dos
i n fe lizes que vão procura r e m países longínquos a su bsistência que a patria lhes nega ."
4 7 Então , desenca d e i a -se u m " q u a d ro desolador, da responsa b i l idade da turba - m u l ta
dos d i rigentes a q u e m o paiz ha de u m d i a ped i r severas contas do seu mandato da
a d m i n i stra çã o loca l " . 4 s
o Campeão é mais comedido. Contra a monarquia não fa la, nunca a responsa b i l iza ,
como seria de espera r, dada a fi l i a çã o partidária. Mas escreve contra governa ntes.
Detecta m -se a i nda outros m otivos:
" N os u lti m os tem pos teem i m m igra d o para o Brasi l mu i tos ma ncebos do conce l h o
de Águeda, fugi n d o ás o brigações q u e a l e i d o recruta me nto i m põe a os que q uerem
e migra r e a ella estã o suj eitos" 49
constata-se, neste exemplo, que o jorna l sabe que recruta mento m i litar e emigração
se i nterliga m , devido a q u a d ros normativos onerosos e complexos. Nos periód i cos con­
su lta d os são i nseridas n u m e rosas notícias (sem p re seguidas d e uma pequena o p i n ião)
sobre i n divíduos q u e fugi a m às recrutas a o i r para o Brasil. Não se detecta m , poré m ,
a p e l o s a senti m e ntos n a c i o n a i s , a pesa r d e , no c a s o d e H o m e m -Cristo, este ser u m
h o m e m d e "caserna " , porque oficial do exército 5o.
Pro longados pe nsa m e ntos e discursos merecia, por outro lado, a "sucia de engaja­
do res" q u e "estão causa n d o a ru ina d o paiz" 5 1 . Contra estes era necessá rio l a nça r uma
"sa n cta cruzada":
"( ... ) Só te m cul pa os n ossos governos a o conse ntire m aos engajadores que são tão
conhecidos que n e n h u m a authoridade deixará de os ver todos os dias nas v i l las e nas
a l deias onde teem os seus agentes. Não e ra p reciso mu i to para pro h i b i r esse nefando
trafego, esse i nfa m i ss i m o papel d'e ngajador" 5 2
O Povo de A veiro não comu nga t ã o e m penhada mente n este ponto d e vista , p re­
feri ndo j u lga r a "fajard i ce " dos engajadores 53 como a outra face de uma mesma moeda:
"( ... ) foi a fom e q u e os o b rigou (aos e m igrantes) a confi a r nas fal lazes prom essas dos
engajadores i nteressei ros" 54
São dois po ntos d e vista de certa forma d ivergentes. o Campeão a ponta os engaja­
d ores como m otores das d e cisões dos e m i gra ntes, s u b esti m a n d o "ca p a c i d a d es dos
emigra ntes para seleccionar as suas fo ntes de i n fo rmação" 55 na activação da decisão
m i gratória.

219
MARIA TERESA BRAGA SOARES LOPES

Então, são n ecessá rias medidas rad i cais pa ra acabar com esta "horrorosa i n dustria":
" ( ... ) porta nto ha dois meios fací l i mos d e a ca ba r com e l l es sem ser preciso nomear
com m i ssões, porque as ta es com m issões, e m bora ten h a m todas homens competen­
tissi mos, pouco ou nada fazem . É poeira la n çada aos o l h os d o povo e da nação ( ... ).
1 .º Pro i b i r semelha nte i n d ustria com pennas d e p risões sem fia n ça .
2 .º La nçar o i m posto d e s e l l o de 1 5 0 $ 00 réis a cada passa porte para o Brasi l "' 5 6
A fu nção d o agente d e e m igração engajador tomada a os o l hos da o p i n i ã o p ú b l ica
sobretudo desde a sua o ficial izaçã o , como a d e u m a l i ciador sem escrú pu los, se rve para
escamotear a i n existência de meca n ismos tendentes a atenuar ou resolver um problema -
o da e m igra çã o - q u e , p o r fa l ta de o u tras m e d i da s , a pe n a s poderia ser repri m i d o
a d m i nistrativa m e n te c o m l e i s e fiscos. Aliás, ta l remédio do "aumento d e receitas dos
passa portes" é um tema caro a o Campeão. Chega este a precon izar medi das, pa ra fra­
sea n d o um a rtigo do "J ornal do Co m m e rcio" (era prática na é poca editar tra ba l hos já
p u b l icados n outros p e r i ó d i cos), consi d e ra d o co m o " b r i l hante e su bsta ncioso" e q u e
d a v a esse n cia l m e nte conse l h o s aos p o d e res, sob a forma d e a u m e nto das receitas
através dos passa portes 5 7 .

c - As conse q u ê ncias

Os efe itos da e m i gra ção são frequentemente con otados com " i n conve n i e ntes" de
ordem eco n ó m ica, socia l e cultura l :
" ( . . . ) Esta grossa torrente d e e m igra ntes con corre p a ra a p o b reza n a ci o n a l , a o
m e s m o te m p o q u e corro m pe o s cost u m es, relaxa o s laços d e fa m í l i a , e n fra q u ece o
a m o r fraterno, e d i ffi culta as su bsta ncias". 5 8
o desfa l q u e d os " n ossos m e l h ores b ra ços" 59 p rovoca repercussões " e normes n o
pa iz" 6 0 e , c o m o já foi d a d o verificar, o d esfa l q u e é considerado selectivo, uma vez q u e
s ã o " o s m e l h o res b raços" q u e pa rtem .
H á ta m b é m i n f l u ê n c i a s p o l ít i c a s n u m a c o n stata ç ã o e m p í r i c a , d e m a gógi ca e
preci pitad a:
" ( . . . ) os q u e v o l ta m , v e m e x e r c e r u m a p re p o n d e ra n ci a e n o r m e e m a lgumas das
nossas p roví ncias do N o rte, o n d e o partido re p u b l i ca n o ti nha menos aderentes. Mas os
q u e v o l ta m , v o l ta m natu ra l m e nte r e p u b l i ca n os. se voltam re p u b l i c a n o s vem fazer
popaga n da p a ra aqui. Volta m ricos m u i tos d ' e l l es. riqu íssi m os a lguns, e ao partido repu­
61
b lica n o o que l h e tem fa ltado mais é precisa mente o grande elemento - o d i n heiro ( ... )"
outras conse q u ê ncias, como as d e m ográ fi cas, as sobreca rgas de mão de obra ou
fa lta desta n o país, a m a n ute n ção do i m o b i l ismo do desenvolvime nto e dos níveis de
p r o d u ç ã o , a m e l h o r i a de re n d i m e n t o s fa m i l i a re s , o a c r é s c i m o d e co n s u m o s , o
reequ i lí b ri o de explora ções agríco las, por exe m p l o , são assuntos a lgo m i n i m iza dos ou
n e m seq u e r aflorados, e m bora se a l u d a espora d i ca m ente aos mesmos. São bem mais
escla recedores e m re l a çã o a estes parâ metros os relatórios dos G overnadores Civis u m
62.
decé n i o a n tes

D - Remédios p a ra cura r as q u estões provocadas pela em igração

"Pro h i b i n d o a e m igraçã o ? I m possíve l , seria u m ataque i m perdoavel aos d i reitos d e


cada u m , a l é m d e ser u m erro n o p e r í o d o q u e atravessá mos." 6 3

220
CORRENTES DE OPINIÃO PÚBLICA E EMIGRAÇÃO LEGAL NO DISTRITO DE A VEIRO ( 1 882- 1 894)

M e n o s l ú c i d o p a re c e s e r O Ca m p e ã o , a c i rra d o p o r v e z e s c o n tra d i re i tos d e


m o b i l i d a d e dos cidadãos recon h ecidos pelo Esta do. Este último periódico chega a l a n ça r
o a p e l o d e u m a cruzada a o s " esti mados colegas d e todas as cores politi cas contra a
emigra ção q u e , d i a a d i a vem to mando proporções espa ntosas." 64
Se ta l acontecesse e no q u e respeitava à emigração para o B ras i l , poderia tenta r-se
n ova m e n te a i n flexão dos m i gra ntes pa ra a Áfri ca portuguesa, projecto que remontava
a Sá da B a n d e i ra . 6s
"Já a nossa Africa não ca usa a pessima impressão dos tempos antigos. As possessões
a frica nas já não se compõem u n i ca m e nte como outrora , de escravos, de povos em bru­
teci dos, e d e c o n d e m n a d o s a degredo. A l l í ha uma p o p u l a ção n u m e rosíss i m a , l ivre,
i l l ustrada e tra ba l ha d o ra . Porq u e não ha d e o nosso povo i r de preferencia para a q u e l las
possessões?" 66
O p i n i ã o que é com u m a Homem-Cristo, "fervoroso apologista da colonisação ra pida
das n ossas u b e rrimas p ossessões africa nas como meio de soli citarmos a sua posse." 67
e e ntronca n u m a co rre nte q u e defe n d i a tal medida como sendo ace rta da para o pais,
caso este a s o u b esse pôr em p rá t i ca , agora que se c o n frontava com uma E u ropa
i nd ustrial a desperta r "para o conti n e nte a frica n o e mostrava as s u a s a m b i ções" 68 em
relação a o nosso i m p é r i o . G a n h a rí a m os e m várias fre ntes, pela a p l i ca çã o d e u m a
sobera n i a q u e estava e m déficit n a s províncias de Angola, Moça m b i q u e e G u i n é , u m a
vez q u e as outras col ó n ias já se enco ntravam m a i s ou menos "acomodadas" 69
o son h o a frica n i sta foi o bjecto d e várias posturas regu l a m entadoras e a l i cia ntes nos
a n os o i t e n ta e n o v e nta p a ra i n d i ví d u o s q u e se q u i sessem d e s l o c a r e q u e fosse m
detento res d e profissões co m o as d e serra l h e i ro ou ca rpi ntei ro 7o.
Co ntudo, nem n o fi n a l do sécu l o este projecto teve a lgu m su cesso. o Povo de Aveiro
começou por defender um não desvio pa ra Áfri ca. Considerava que ta l seria "uma utopia
rom a n tica d'a lguns patriotas respeitaveis, i rrea l isavel por ora. A Africa portuguesa vive
e m pessimas condições. o seu clima tropica l , com raras excepções, é deploravel. Hoje em
Africa, nas n ossas possessões, só é possível o estabelecime nto de colonias agrí colas,
mas d i ffi ci l i m o o esta beleci m e nto d e colonias i n d ustriaes - co m m e rciaes" 7 1 .
Todavia, H o m e m - Cristo acaba por d a r uma volta a esta posição e encher colunas do
jornal com d e fesas sobre va n tagens da e m igração para as col ó n i as. Em 1 890 "o mo­
mento não póde ser mais opportu no, sob compl exos pontos d e vista " 72, entre os quais
"os ca n hões dos i ngleses" a p ontados às n ossas colón ias, a rgu mentos esmagadores.
N esta p ro b l e m á tica d o desvio da co rre nte m i gratória para a África e ntra fi n a l m e nte
o jornal A Vitalidade, em 1 8 9 4 . Logo nas suas p ri m e i ras e d i ções e pela mão de u m
pris i o n e i ro q u e escreve da Ca deia d e Relação do Porto o . Gonça lves da cruz) se i nsurge:
" P a ra Afr i ca ? ! ( ... ) o resu l ta d o v i u-se: a m a i o r pa rte (dos que p a rtiram e m 1 8 9 1 )
morreu flagel lada pela m o rte e pelas fe b res, e os resta ntes volta ra m para Portuga l mais
fa m i ntos e m a is a n d raj osos do que cà ti n h a m sa h i d o ( ... ). Já se modifi ca ra m as con d i ções
da n ossa Africa desde 1 8 9 1 até hoje?
Têm, p o r a ccaso a l l í os gove rnos d e s d e a q u e l la data, crea d o gra n d es c o l o n i a s ,
gra n des i n d ustrias, o n d e possa m i m me d iata mente, l ogo á chegada ga ra ntir o p ã o a
esses q u e d ' a q u i vão fo ragidos á fo m e e á miseria?
Não tem . . " 73
.

H o m e m - C r i sto e m p re e n d e u e n t ã o , p e l o seu l a d o , uma v e rd a d e i ra ca m p a n h a


propaga n d ísti ca d o desvi o de conti ngentes migratórios pa ra as colón ias:

221
MARIA TERESA BRAGA SOARES LOPES

"Avei ro ta m b e m vae d a r o seu contingente pa ra Africa. Reina enthusiasmo entre os


n ossos a rtistas, a lguns dos quaes proj ecta m l eva r os fa m i l ia res, para i rem colonisar as
nossas possessões a fricanas."74
Efectiva m ente, o entusiasmo avei rense não foi m uito grande ... Os va l o res das saídas
dos titu l a res d e passa portes pa ra a África portuguesa ocidenta l e orienta l conta m -se na
casa das d ezenas, à s e m e l ha n ça do que a conteceu noutras regiões do país 75. Dos 1 7
3 1 O i n d ivíd uos q u e saíra m de Avei ro nos treze a nos estudados, a penas 6 7 opta m por
a q u e las traj ectórias, d i rigidos aos tra b a l hos agrícolas; os 4 8 que se seguem i nserem-se
nesta esca la e são pessoas "vivendo dos seus rendimentos" sem que percebamos muito
bem a que ocupação se i rã o dedicar (na Africa ocidenta l , u m a vez que a pa rte orienta l
n ã o merece s i m patias. I rã o a i nda 4 6 i m p etra ntes c o m ocu pação no comércio e 1 5 n a
i n dústria.
Outra medida apontada como remédio pa ra esta ncar a emigração é a persegu i ção
a os e ngajadores. N esta fu nção deposita gra n d e entusiasmo O Campeão das Províncias,
sem gra n d e correspondência em O Povo de Aveiro.
outras medidas que o bstem à emigra ção serão: a b o l i me nto d e passagens gratuitas;
a p l i cação d e mais pesados i m postos d e selo nos passa portes; remissão d e ma ncebos
recruta d os tornada o n e rosa , esta be l eci m ento de convé nios com Espanha para p ro i b i r
saídas d e cla n d esti n os; a b o l i ções d e tolerância e outras a i n d a destituídas d e a l ca n ces
eficazes e d i n â m icas fortes.
Pa ra que tais débeis medidas tivessem êxito, por que não lança r mão nos padres
das pa róq uias "se estes se reso lverem a cu mprir o seu d ever"? 76 A exortaçã o pa roq u i a l
"se m p re poderosa e eficaz quando persistente e patriota " 7 7 é advogada por u m jornal
e m cujas pági nas os pa d res e ra m m u i tas vezes tratados com vitupérios e chalaças.

4.2 - Notícias

A s o p i n i ões a pa recem q u a s e sempre com p l e m e nta ndo as notícias avulsas, q u a n d o


estas encerra m p ro b l e máticas sociais e no caso d e o Povo de Aveiro. M a s , quer neste
j o rn a l q u e r no Campeão, os assu ntos p re ferenciais das i n formações cu rtas s o b re a
emigração são:

a) d ivu lgação d e q u a n titativos esporá d i cos de emigra ntes, pertença m estes ou não
a o distrito. A maior pa rte das vezes não a p a rece a i nd icação da fonte.

b) Denúncia de maus tratos sofri dos por portugueses em d iversas paragens no Brasi l .

c ) A le rta para riscos e fra udes e m q u e a q u e l e s poderão vir a ca i r.

d) Tra nscrição de ca rtas de emigra ntes m a l sucedidos 78.

e) Quantitativos d e e m igra ntes m o rtos no Brasi l , freq uenteme nte consu ltados nos
Diá rios d e Governo 79.

� N otícias h eterogéneas incidindo e m temáticas como assassinatos.

g) Transcrição d e i n formações oficiais d e vária índole e respeita ntes à e migra ção.

222
CORRENTES DE OPINIÃO PÚBLICA E EMIGRAÇÃO LEGAL NO DISTRITO DE AVEIRO ( 1 882- 1 8 94)

h) Apelos l a n ça d os d o B rasil com o fi m de resolver problemas de hera n ças e outros.

i) I n formações sobre efeitos da febre amarela, causadora de "estragos i nca lculáveis".

j) Aponta m entos, e m crescen d o e á medida que se ava n ça para a última década


d o século, so b re deslocações d e fa mílias locais para o B ras i l , i n c l u i n d o por vezes
relatos confran gedores (O ca m peão) ou mais comedidos (O Povo d e Avei ro).

I) N otícias ca m b i a i s em gra n d e qua ntidade.

m) I n formações s o b re reto rnos, e m b o ra d e forma pou co sign i fi cativa e i n ci d i n d o


apenas e m res i d e ntes n o distrito.

n) Algu mas visitas d e e migra ntes bem sucedidos à mãe pátria.

5 - CONCLUSÃO

Su põe-se q u e os três jornais consultados - com m a rca do ê n fase pa ra o Povo de


A veiro e o campeão das Províncias - dera m , cada u m à sua m a n e i ra , um contri buto
p a ra a d iscussão p ú b l i ca e p o l ít i ca d o fe n ó m e n o " e m i gra ção p o rtuguesa". o t e m a ,
considerado c o m p l e x o , foi tratado a b e rta mente por consciê n cias cívicas e i n terventoras
que escrevia m nas suas co l u nas e que se i nteressava m pelo assunto a nível nacional e
loca l . N esta última vertente, fora m a q u i traçadas l i n has evolutivas ge rais da emigração
l ega l n o distrito d e Ave i ro pa ra os a n os que vão d e 1 8 8 2 a 1 8 94.
É possíve l patentea r u m maior desem b a raço de o p i n i ã o e com petência crítica no
feixe d e rel a ções esta b e l ecidas sobre a q u estã o n o jornal q u e se a uto-proclama de
rep u b l i ca n o e d i rigi d o por Homem-cristo, sem q u e haja perda de i nteresse na leitu ra de
O Campeão das Províncias , de teor m o n á rq u i co e rotativista . A Vitalidade, por sua vez,
d e d i ca um red uzidíss i m o espaço a o assunto, com i ntervenções fugazes escritas pela
p e n a d e co l a b o ra d o res exte m p o râ neos o u por tra nscrições d e o p i n iões já e d i ta da s
a nteriormente n o utras fol has. Deci d i d a mente, para este último jorn a l , nem era gra n d e o
i n teresse na m o b i l izaçã o da o p i n i ã o p ú b l i ca em torno da emigração portuguesa.
De uma fo rma gera l , os jornais consu l tados i nserem-se num quadro de refe rê n cias
e poca l , q u e se e n q u a d ra e m teorias, ideologias, i n te resses e preconização d e medidas
débeis, n ã o indo a o fu n d o das q uestões e fica n do-se por observações reduci o n i stas e
eco n o m i cistas, em q u e o e m i gra nte conti n u a a ser e n ca rado como u m a espécie d e
p e ã o n u m j ogo d e fa ctores q u e a c a b a m p o r expu lsá-lo do Rei no, porque este não l h e
oferece co n d i ções d e s o b revivê n c i a . Poré m , a s d e c i sões pessoa i s , seus su cessos e
i nsucessos a p a recem na lgumas pequenas notícias destes periódicos, não fossem el es
de tendência p o p u l ista.
Pote n c i a l mente, l e i tores e co m u n i d a d es e m q u e estes jornais ci rcu lasse m , rece­
beria m matéria ca paz d e suscita r reflexões e d iscussões domésticas ou até h i p otéticos
comporta mentos, que é m u i to d i fíci l , senão i mpossível , conhecer. Senhores d e gra ndes
t i ragens n u m t e m p o já d e j o r n a l i s m o i n d ustria l , chega r i a m a uma p o p u l a çã o q u e ,
i r o n i ca mente, e ra m a i o rita ri a m ente a n a l fa beta.
Enca ra n d o a e m igração como um d i re ito, estes jornais vêem-na na outra face da
moeda como um mal. E m a rtigos a cesos mas tute l a res, a pontam causas, efeitos e

223
MARIA TERESA BRAGA SOARES LOPES

re médios, n u m esq uema s i m p l ista , mas q u i çá compreensível às massas. Afi n a l , o jornal


começa a ter a d i fíci l fu nção d e poder chegar a tudo e a todos.
É igua l m e nte perceptível uma ce rta visão fata l i sta e m torno da diáspora portugu esa ,
ponto de vista q u e , a i n da hoj e , tem os seus segu idores.
Embora fi liados pa rtid a ri a m ente, e m maior ou menor gra u , assu mem os periódicos
posições q u e p o d e rã o n ã o esta r em conso n â n c i a com os pa rti d o s , ou torga n do-se.
ass i m , u m gra u d e m a i o r cre d i b i l i dade. Por outro lado e porque neles escreviam os i nte­
l ectuais, a s suas o p i n i ões são, e m gra n d e pa rte , um eco da i nteligência oitocentista.
considera-se um pouco estra n h o que Homem-Cristo não tenha falado na sua tri buna
d e q u a i s q u e r p ro b l e ma s re l a c i o n a d o s com a q u a l i ficação a l fa béti ca dos e m igra ntes,
uma vez que foi uma pessoa preocu pada e actua nte com a a l fa betização do povo e de
fi l hos deste, os recrutas, enqua nto serviam n o exército so. No distrito de Avei ro a pro­
porção d e saídas d e a l fa betizados para e ngrossar os co nti ngentes mi gratórios é de 0 , 5 2 .
.
Pre p o n d e ra m l i ge i ra m e nte os m a i s q u a l i ficados ( h o m e ns). A s m u l h e res a p resenta m
u m a proporção d e a l fa betizadas q u e é m u i to d i m i n uta no fluxo - 0,04.
F i n a l m e nte, a o mesmo tempo que estes jornais d e n u nciavam a pa ixonadame nte a
sangria da m e l h o r força de tra b a l h o do país, a n u n ciava m os va pores i ngleses. tra nspor­
ta d o res d a s i l u s õ e s , d a s h i p o t e c a s de fu tu ro ou até d o s s u cessos d a q u e l es q u e
e m b a rcava m .

1 . F O NTES M A N U S C R ITAS

Governo Civil d e Ave i ro I A rq u i v o D i s tr i ta l d e Ave i ro (secção d e S . B e r n a rd o )

Livros d e registos d e passa portes n."s 1 1 a 1 8 - d e 2 6 d e Agosto d e 1 8 8 2 a 6 d e Ma rço d e 1 8 9 5 .

2 . FO NTES I M PRESSAS

2 . 1 - jornais
Biblioteca M unicipa l de Aveiro

o Povo de Aveiro - todas as suas ed ições desde a fu ndação do j o rna l ,


n."1 d e 2 9 d e j a n e i ro d e 1 8 8 2 a n" 7 8 8 d e 1 1 d e Nove m b ro d e 1 8 94 - 7 vo l u mes

O Cam peão das Provindas


Colecção particular (Dr. Amaro Neves)

- a n o de 1 8 8 9 : desde o n" 3 7 5 7 de 5 de j a n e i ro até ao n" 3 8 5 3 de 1 4 de Deze m b ro;

- a n o d e 1 8 9 3 : d e s d e o n" 4 2 1 O d e 1 1 d e j a n e i ro até a o n" 4 3 2 5 d e 2 0 d e Deze m b ro;

- a n o d e 1 8 9 5 : desde o n" 4 4 3 5 d e 1 9 d e j a n e i ro até a o n" 4469 d e 2 2 d e Maio;

- a n o d e 1 89 8 : desde o n" 4739 d e 8 d e j a n e i ro até a o n" 4784 d e 2 2 d e j u l h o .

A Vita l i da de
Biblioteca particula r de Acácio Rosa (Verdem ilho - Aveiro)
Desde o n" 4 (a n n o 1 ), 26 de Agosto de 1 894 até ao n" 8 7 0 de 1 6 de Dezem b ro de 1 9 1 1 (a n n o 1 6").

224
CORRENTES DE OPINIÃO PÚBLICA E EMIGRAÇÃO LEGAL NO DISTRITO DE A VEIRO ( 1 882- 1 894)

3. R ELATÓ R I O S

Arq u ivo M u n icipal de Aveiro, Governo Civil d e Avei ro, B i b l i oteca Nacional
Relatorios sobre o Esta d o da Ad m i n istração Publ ica nos D istritos Ad m i n i strativos do Conti ne nte
do Reino e I l h a s Adjace ntes. Lisboa: I m p rensa Nacion a l , 1 1 volumes ( 1 8 5 6 - 1 8 66).

Relato rios ás J u nctas G e raes dos Districtos Ad m i n istrativos

Primeiro Inquerito Parlamenwr sobre a Emigração Portuguesa


pela Comissão da Câmara dos Senhores Depu rados. Lisboa: I m p rensa Nacio n a l , 1 8 73.

4. D I Á R I O S D O G OV E R N O

B i b l ioteca M u n i c i p a l d o Po rto e B i b l i oteca M u n i c i p a l d e Avei ro,


vols. d e 1 8 8 2 a 1 89 4

5. A U T OR E S

B i b l i oteca M u nicipal d e Aveiro

Homem-Cristo, F. - Pro Patria. Coi m bra: Livraria Editora Feança Amado, 1 90 5 .

ID. - A anarchia em Portugal. V o l . I. Madrid : I m prensa de G a b r i e l López dei H o r n o , 1 9 1 2

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Emigração e I m igração em Portuga l. Lisboa: Editorial Fragmentos, 1 99 3 , pp. 9 - 1 6.

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História da alfabetização no Portugal Con temporâneo. ln Anál ise Socia l , vol. XXIV ( 1 0 3 - 1 04),
1 98 8 , (4", 5"), pp. 1 06 7- 1 1 4 5 .

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1 835- 1 860. Dissertação de Mestrad o em H istória Moderna a p resentada à Facu ldade de Letras da
U n iversidade do Porto, 1 99 1 .

RoDRIGUEs, M a n u e l Ferre i ra - Cartas d e Oliveira Martins para Acácio da Rosa. Sepa rata d a Revista
Estu d os A v e i r e n ses, n"2. Avei ro : ISCIA, 1 994.

SERRAo, Joaq u i m Veríssi m o - História de Portugal. A Queda da Monarquia ( 1 890- 1 9 1 0). Lisboa :
Editori a l Verbo, 1 98 8

SERRAo, Joel - A emigração portuguesa. 4" ed .. Lisboa: Livros Horizonte, 1 98 2 .

SrLvA, J o s é A l v e s d a - Manuel Firmino de Almeida Maia ( 1 824- 1 897). l n A v e i r e n s e s i l u stres.


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Dissertação de M estra d o e m H istória Moderna a p resentado à Facu ldade de Letras da Un iversidade
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TENGARRINHA, J. M . - Estudos de História Contemporânea de Portugal. Lisboa: Editorial ca m i n h o,


1 98 3 .

ID. - A Imprensa Periódica Portuguesa. Lisboa: Editorial ca m i n h o , 1 9 89.

VV AA Conselheiro Manuel Firmino de Almeida Maia. Inauguração do seu busto no jardim


-

público da cidade. Separata do Relatório da Gerência M u nicipal de Aveiro de 1 9 5 4 - 1 9 5 5 .

V V AA- Os L usíadas. Edição a u tograph ica do Programma of{icial do Cen tenario. Qua rto
Cente nario do Descobrimento da l n d ia. Lisboa : Si lvestre casta n h e i ro, 1 896.

227
MARIA TERESA BRAGA SOARES LOPES

NOTAS

1 . A expressão é de José Amado Mendes, a rt.' cit.", 1 990.

2 Afonso Costa , 1 9 1 1 : 1 64.

3. joel serrão, 1 98 2 : 27.

4. Jorge Alves, 1 994 : 1 1 o.

5 . R u i Ramos. 1 994 : 52.

6. Eduardo Cerq u e i ra , 1 96 8 : 7 2 : " ( ... ) o jornal ga nha uma a u ra excepcional e ati nge tiragens assombrosas para
u m hebdomadario de p roví ncia, nessa é poca em q u e a ex pensão dos próprios q uotidianos se não com parava
com os actuais"
Cf. também ). M. Tengarri n h a , 1 9 89 : 1 8 5 e R u i Ramos, 1 994 : 5 1 : " ... o Povo de Aveiro atingiu uma divu lgação
extraord i nária. Só a Ta bacaria Mónaco , no Rossio de Lisboa vendia 3000 exemplares ( . . ). o jornal vendia-se em
74 loca lidades e em Lisboa em 2 6 q u i osques e ta bacarias."

7. Jaime Reis, 1 993 : 16 : "Em pri ncípios do sécu lo XIX, e n q u a n to a Espa nha e a Itá l i a , em bora ai nda atrasadas na
comparação com os países do Norte, tinham já atingido taxas de a l fa betismo a ceitáveis para a época - da
ordem dos 5 0 % - a taxa portuguesa de 7 5 o/o em 1 9 1 0 significava que o pais mantinha q uase o mesmo
estatuto d e 5 0 a nos atrás."
os valores a pontados para o d istrito de Aveiro fora m retirados de Rui Ramos, 1 98 8 : 1 1 1 5/6.

8. M' Teresa S. Lopes, Dissertação de Mestrado, Porto. 1 9 1 3 .

9. Rangei de Quadros, ob. cit. : 1 00.

1 0. Cf. josé Alves da Silva, 1 9 92 e Eduardo Cerq u e i ra , 1 95 4 : 1 e 3.

1 1 . Eduardo Cerq ueira, 1 9 5 6 : 1 .

1 2. 1dem

1 3 . J . M. Tengarri n h a , 1 98 9 : 1 8 5 .

1 4 . Eduardo Cerq u e i ra , i n jornal Litora l de 9 de Outu bro de 1 9 5 4 , p. 1 .

1 5 . Ca rlos Braga , 1 993 : 2 4 .

1 6. Vitori n o N e m é s i o - As gra ndes polémicas portuguesas, p. XVI I I .

1 7. Ao contrá rio do igua l m e n te te m peramental Ca m i l o . "ge n i a l " (Vitorino Nemésio) mas s e m " i l u sões sobre o
homem e a sociedade" - João Bigote Chorão, 1 990 : 34.

1 8. No pensamento de Roland Barthes, u m estilo q u e produz o tipo de escrita mais puro é precisa mente o de
"combate".

1 9. Chamou a si e de i n icio, u m conj u n to d e co laboradores im porta ntes como Teófi lo Braga , Maga l hães Lima,
Carlos Faria, Si lva Graça, Anselmo Xavier, Alves da Veiga, Heliodoro Salgado e outros, para v i r a perdê-los
todos. Ao p r i m e i ro c h a m a r i a mais tarde "trata ntão" ou "creti n o " (in B a n d itismo p o l i t i co. A a n a rchia em
Portuga l , vol. 1 : 4 5 6). Do segu n d o d i r i a , assim como de Si lva G raça - " l i d e i de perto com el les e com quasi
todos os bandi dos da rep u b l i ca".
A propósito d este assunto ver R u i Ramos, 1 994 : 5 1 .

20. 1dem.

2 1 . Homem Cristo, ob. cit.. A propósito deste assunto recomenda-se, a ntes de mais, a leitura atena da sua obra.

228
CORRENTES DE OPINIÃO PÚBLICA E EMIGRAÇÃO LEGA L NO DISTRITO DE A VEIRO ( 1 882- 1 894)

22. VV AA - Os Lusiadas, 1 8 98 : 5 2 6 .

2 3 . Eduardo Cerq ueira. 1 96 8 : 9 0 .

24. A l g u n s colaboradores do séc. X IX , c o m o ca m poamor e r a m relativa mente conhecidos em Espa n h a . "O resto
de segu nda fi la" - i n formação do Professor Celso A l m u i li a , U n iversidad d e Valladolid, a quem agradeço.

25. A propósito, ver a rt." cit." de M a n u e l Rodrigues.

26. Cf. Tra b a l hos sobre Íl havo, M u rtosa e d istrito de Aveiro de Jorge Carva l h o Arroteia.

2 7 . Lucil i a Caetano, 1 98 6 : 1 5 9.

2 8 . Ol iveira Martins - Fomento rural e e m igração. Lisboa: Ed. do M i n istério da Agricultura, p . 1 1 .

29. l n Relatarias sobre o Estado d a a d m i n istração Publ ica nos Districtos Adm i n isrativos o Conti nente d o re i n o e
I l has Adjacentes. Districto de Ave iro - 1 8 5 7 .

30. A i n formação destas percentagens no referente nacional de J o ã o Eva ngelista , 1 9 6 1 : 1 02 e 1 08; carta LV.

3 1 . A propósito, consu lta r, a l é m do tra b a l h o da Autora, já citado, Henrique Fernandes Rodrigues ( 1 9 1 1 ) e Jorge
Alves ( 1 993 e 1 994).

32. U rn a destas p r o b l e m á ticas é a que diz respeito a o estudo da " p a rcela s i g n i ficativa representada p e l a
em igração fa m i l i a r desde a segu n d a m e t a d e da d écada de 8 0 , v i n te e c i n c o a nos m a i s c e d o do q u e s e
afirmava a t é agora , o q u e a meu ver aponta p a r a raizes m a i s a n tigas deste t i p o de em igração, que só em
pesq u i sas d e â m bito loca l se poderão detecta r".- M i riam Halpern Pereira, 1 993 : 1 3 .
Ou tra é a mediação mais exacta dos n u xos clandestinos. A p ropósito ver M" loannis B. Baga n h a , 1 990 : 2 2 5 -
226.

3 3 . o Povo de Aveiro, n " 3 7 d e 8 de Outu bro de 1 8 8 2 , p . 7 .

34. O l i ve i ra Martins, "Exportação d e gado h u m a n o para o Brasi l " . l n Dispersos, 1 92 4 : 2 7 3 - 2 74.

35. o Povo de Aveiro n" 37 de 8 de Outubro de 1 8 8 2 , p .7 .

36. o ca mpeão das Prov i n cias n" 4469 de 2 2 d e Maio de 1 89 5 , p. 1 .

3 7 . Jorge Alves, 1 994: 1 0 3 .

3 8 . v e r , a titu lo de exemp los e entre outros: Relatorio de B raga , 1 8 70, p.23; consu lta e Relataria a V i a n a , 1 8 7 2 ,
p. 1 0; Relatorio de Co im bra, 1 8 7 3 ; l d . , B raga, 1 8 7 4 , p . 8 ; Relatorio de Angra , 1 8 7 5 .

39. O l iveira Martins, a rtigo cit." : 2 7 6 .

4 0 . o Povo de Aveiro n" 4 1 9 de 1 2 de J a n e i ro de 1 8 90, p. 2.

4 1 . M" da Conceição Andrade Martins, 1 99 1 : 2 7 6.

42. Idem.

43. David J u sti no, ob. cit.", vol l l , pp. 28/47; 92 a 1 1 5 .

44. V e r , a t i t u l o de i l ustração, o Povo de Aveiro n" 1 7 7 de 1 9 de Abril de 1 89 1 , p.2 - "Ca rtas da Bairra da".

4 5 . O ca mpeão das Provindas, n" 4261 de 10 de Maio de 1 8 9 3 , "Ca rta de Lisboa".

46. o Povo de Aveiro n" 3 7 de 8 de Outubro de 1 8 8 2 , p. 1 .

4 7 . O Povo d e Aveiro n" 1 e 2 5 d e 1 5 d e J u n h o d e 1 8 84, p.3.

48. l d . , n" 1 6 8 de 5 de Maio d e 1 8 8 5 , p.3.

229
MARIA TERESA BRAGA SOARES LOPES

49. ld., n" 286 de 1 6 de Outu bro d e 1 88 7 .

50. A propósito d este percursos e i n terferências em actuações politica s d e Homem -Cristo, ver A. carva l h o ­
Homem, 1 990 : 3 8 .
5 1 . O Campeão das Provindas, n" 4 2 5 6 de 2 2 de A b r i l d e 1 89 3 , p. 1 . "Guerra e guerra de m orte á em igração".

5 2 . o Povo de Aveiro, n" 7 8 6 de 4 d e Nove m b ro de 1 894. p.2.

5 3 . ld. n" 1 7 7 d e 19 d e Abril d e 1 8 9 1 , p.2 - "Ca rtas da Ba irrada".

54. Idem.

5 5 . J oa q u i m da Costa Leite, 1 99 3 : 1 00.

5 6 . O Campeão das Provi ndas n"4 2 5 6 de 2 2 de Abril de 1 89 3 , p. 1 .

5 7. 1 0. . n " 4 4 3 7 d e 2 6 d e J a n e i ro d e 1 89 5 , p. 1 .

5 8 . 1 0. . n " 4444 d e 2 0 d e Feverei ro d e 1 89 5 , p . 1 .

59. o Povo d e Aveiro n ' 1 2 5 d e 1 5 d e j u n h o d e 1 8 8 4 , p.3.

60. l O . , n" 4 1 9 d e 12 d e j a n e i ro de 1 890, p.2.

6 1 . 1dem.

6 2 . Exem p l os: o d o Visco n d e d e Vi l i a Mendo. Governador Civil d e Coi m b ra em 1 8 7 3 ; o de Viana. u m a n o a n tes.

63. o Povo de Aveiro n " 68 d e 1 0 de Agosto de 1 8 9 3 .

64. o C a m p e ã o das Provincias. n" 4469 de 2 2 d e Ma i o de 1 89 5 , p. 1 .

6 5 . J o rge Fern a n d e s Alves, 1 994 : 1 1 2 - " (... ) tratava-se d e u m p l a n o , o u melhor, d e u m conj u nto d e ideias,
a pa rentemente pouco sistematizadas mas voluntariosas. de constru i r n ovos "brasis" na África portuguesa .
o bsessão q u e sem pre emerge q u a n d o Sá da Bandeira se responsa b i l iza por pastas como a da Marinha ou do
U ltramar."

66. o Campeão das Provindas. n" 4469 de 2 2 de Maio de 1 89 5 , p. 1 .

6 7 . O Povo d e Avei ro n " 1 4 5 d e 2 d e Nove m b ro d e 1 8 84, p. 1 .

68. Arnaldo M a d u reira. 1 98 8 : 9.

69. A Expressão é d e O l i v e i ra Ma r t i n s q u e n ã o d e fe n d i a esta corrente, co nsiderando-a pouco i n te l igente e


exequivel.

70. ver Afonso costa , ob.cit." : 1 6 5/6.

7 1 . O Povo d e Aveiro, n" 2 4 d e 9 de JUlho de 1 8 8 2 , p. 1 .

72. o Povo d e Aveiro, n " 444 d e 6 d e Outubro d e 1 8 90, p . 1 .

73. A Vita l i d a d e , n"4 d e 2 6 d e Agosto d e 1 8 94, p.2.

74. o Povo d e Aveiro, ú ltimo jornal citado.

7 5 . Para o caso do Porto ver Jorge Alves, ob. cit '.

76. o campeão das Provindas, n" 4460 de 20 d e Abril d e 1 89 5 , p. 1 .

77. o Povo d e Aveiro, n " 3 7 6 d e 1 7 d e Ma rço d e 1 8 8 9 , p. 1 .

230
CORRENTES DE OPINIÃO PÚBLICA E EMIGRAÇÃO LEGAL NO DISTRITO DE A VEIRO ( 1 882- 1 8 94)

78. Ver por exemplo O Povo de Aveiro n" 49 1 de j u n h o 1 89 1 , p.2., em que u m emigrante escreve do Brasil: "Nem
ao meu pior i n i m igo aconselhava a emigraçã o para esta mald ita terra ( ... ) d i z aos a m igos e conhecidos que
fujam do laço tra içoeiro da em igração"

79. Foi possivel confronta r a lguns destes dados com os fornecidos pelos Diá rios de Governo de 7 de Maio de
1 8 8 5 e 2 9 d e Abril do mesmo a n o .

8 0 . Contudo, são i n ú meros o s a rtigos sobre a n a l fa betismo, e n s i n o e condições d e professores primários.

23 1
PADR ÕE S DE MORTALIDADE E T R ANS IÇÃO
SANITÁR IA NO PORT O ( 1 8 8 0 - 1 9 2 0 )

José João Maduro Maia


Universidade Lusíada

1 . I N TR O D U ÇÃ O

As características da evol u ção da morta l idade nos países europeus, cuja experiência
s e rv i u d e fu n d a m e nto a uma teoria d a tra ns i çã o d e m ográ fi ca , têm suscita d o há j á
basta nte tem p o a atenção d e d e mógra fos, economistas, e p i d e m i ol ogistas, etc. o debate
s o b re as ra z õ e s q u e estã o p o r d e t r á s da e v o l u ç ã o d e sta va r i á v e l d e m o grá fi ca ,
s o b r e t u d o a p a rt i r d o s é c . X V I I I , t e m -se c o n s t i t u í d o c o m o l u ga r p r i v i l e g i a d o d e
i nterdisci p l i n a r i d a d e . N a m a i o r p a rte d o s casos, a d iscussão l i m i to u -se s ob retudo à
a n á lise da evolução d os i n d icadores s i n téticos de morta l i dade, sendo m e n os frequente,
p o rq u e mais d i fíci l , o estu d o das m u d a n ças estrutura i s que as d i ferentes causas de
m o rte e respectivos p rocessos mórbi dos sofrera m ao l o ngo desta transição.
O o bjectivo d este a rtigo não é mais do q u e a identificação da natu reza , em termos
de causas d e m o rte, d e a lgumas das crises de m o rta l i dade que afecta ra m a popu lação
d o Po rto e n t re 1 8 8 0 e 1 9 2 0 , p ro c u ra n d o e n q u a d ra r esta evo l u çã o n u m a s i t u a ç ã o
ti p i fi cada da tra nsição d e m ográfica.
Ao lo ngo d este p e ríodo, o Po rto manteve taxas de morta lidade elevadíssi mas, fre­
q u e n t e m e nte a c i m a d e 3 0%o, por vezes m e s m o s u p e ri o res a 40%o. Esta rea l i d a d e
ressente-se, sem dúvida, de u m contexto de sub-desenvolvimento económico e de uma
situação sanitá ria gra n d e mente tri butária da pato logia tradicional, como veremos adia nte.

2. O N Í V E L DE V I D A DA P O P U LAÇÃO

E m t e r m o s e c o n ó m i c o s , a é p o ca q u e a b o rd a m o s é c a r a c t e r i za d a p o r u m a
estagnação , senão mesmo recu o , d o nível d e vida d a população portuguesa, cujo PIB
por habita nte, que ti n h a crescido até aos 1 5 0$00, a preços consta ntes d e 1 9 1 4 , n o i nício
d a d é c a d a de 8 0 do séc. X I X , d e ca i u p a ra um va l o r m í n i m o d e 9 0 $ 0 0 em 1 9 2 1 1
(Cf. G rá fi c o 1 ) . E m t e r m o s d e teoria do d e s e n vo l v i m e n to e co n ó m i co , esta fa se fo i
defi nida como sendo típ i ca de u m estado de "cresci mento latente", q u e poscede u m
p e rí o d o d e cresci m e nto i n i c i a l e q u e c o l o c o u o país n u m p o n to d e " e q u i l í b r i o d e
p o b reza " c a ra cterísti co d e a l g u n s p a í s e s s u b - d e s e n v o l v i d o s n a a ct u a l i d a d e . Este
e q u i líbrio só foi desfeito e m meados da d écada de 2 0 d o nosso século 2.
Uma forma d e ava l i a r o i m pa cto desta estagnação ou mes mo recuo do cresci mento
no nível de vida dos h a b i ta ntes do Porto , é através das esti mativas do consu m o d e
ca r n e p o r h a b i ta nte d esta c i d a d e , d u ra nte o p e r íod o consid e ra d o . D e p o i s d e se ter
situado acima dos 4 5 kg. por habita nte e por a n o a o l ongo da década de 80 do séc. XIX,
este consu m o va i deca i r para os 3 5 kg. na década d e 90, batendo n o fu ndo em 1 9 2 1 ,
com 2 2 kg. por habi ta n te 3

233
JOSÉ JOÃO MADURO MAIA

GRÁFICO 1 - P I B PER CAPITA S E G . N U N O VALÉRIO PR EÇOS DE 1 9 1 4


200.00 m...,...,rrrm""T"T"lrrrm...,.,rrr.,.....,-.,..,-rrrm.,..,-T"T"T"m..,.-'r-T"T"T".,...,.-,


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1 880 1 890 1 900 1 91 0 1 920
1 930
MOS

3. A Q U ESTÃO S A N IT Á R I A

A esta conj u n tu ra económ i ca , deve-se a i n da j u nta r a situaçã o sa n itá ria da urbe, a


q u a l se via e ntão c o n frontada com u m cresc i m e nto p o p u l a c i o n a l sem preced e n tes:
e ntre 1 8 64 e 1 9 3 0 , a p o p u l a çã o d o Po rto a u m e ntou ce rca d e 1 5 7%. As a utori dades
p ú b l i cas e m u n i ci pa i s d e m onstra ra m , fa ce à nova d i m ensão dos problemas colocados
por este cresci m e n to , u m a i nca pacidade d e eficácia e d e m e i os especi a l m e nte no que
c o n c e r n e a o s d o i s g ra n d e s d e s a fi o s d e ste m e i o c i ta d i n o em tra n s fo r m a ç ã o : o
escoa m ento de águas residuais e o a bastecime nto de água potável .
N o q u e d i z resp e i to a o p ri m e i ro , à q u a s e i n existência d e siste mas i n d ividuais d e
remoção d e detritos, j u n tava-se a a u s ê n c i a c o m p l eta d e u m pl a no o rga n iza d o d e
esgotos. s e b e m q u e a construção d o s p ri m e i ros a q u e d utos d e d e s p ej o d e águas
remonte a 1 76 3 , ano e m q u e o m u n i cípio resolveu enca n a r o Rio da Vila na sequência
da a b e rt u ra da r u a de S . J o ã o , t e n d o s i d o e s t a s o b ra s a c o m p a n h a d a s d e
regu l a m e n t a ç õ e s q u e c o m p ro m et i a m o s p a rt i c u l a res n a m e l h o r i a d a s co n d i çõ e s
sa n i tá rias, consta n tes nos d iversos códigos d e postu ras m u n i ci pa i s do séc. X I X , o certo é
q u e o p a nora m a sa n i tário do Porto na viragem do sécu lo era desolador. A evacuação
dos d e tr i t o s em fo s s a s f i x a s ou nas p o u ca s c o n d u ta s e x i st e n t e s , a c a b a r a m p o r
tra nsformar a cidade n u m a utêntico d e pósito d e excrementos. A ma ioria destas fossas
não ti n ha co m u n i cação co m as cond utas principais e, quando a ti n h a , frequenteme nte,
situava m-se n u m a cota d e terre no i n ferior ao esgoto, de modo que os d ejectos refl uíam
dos ca nos p a ra a s fossas. Nos fi n a i s d o séc. XIX a rede de esgotos a p resentava , na
a u s ê n c i a d e p l a n o p r é v i o , uma c o n fo r m a ç ã o i n e x t r i cá v e l , c o m os ca n o s ratei ros
a b u n d a ntemente espa l hados por toda a cidade, com formas e d i â metros d i ve rsos, ao
sa b o r d as i d i ossi n c ra c i a s d o s s e u s construtores. Regra gera l , e ra m construídos em
p e d ra , ra ra m e n t e fi x a d a com a rga m a s s a , J og o , não p o s s u i n d o q u a l q u e r tipo de

234
PADRÕES DE MORTALIDADE E TRANSIÇÃO SANITÁRIA NO PORTO

i m permea b i l ização. F re q u e n t e m e n t e , canos e c o l e ctores p r i n c i p a i s e n co ntrava m-se


obstruídos por e n tu l ho, devido à sua deficie nte construção e à sequência anárq u i ca d e
s i fõ e s , n o s q u a i s o s d ej e ctos se a c u m u l a va m , fo r m a n d o a utênti cos l o d a ç a i s . Esta
situação e ra a i nda agravada pelo facto d estas ca n al izações com u n i ca re m d i recta mente
com a superfície , através d e sa rjetas a céu aberto. Ao descal a bro no domínio da higiene
p ú b l i ca , deve-se a i n d a a cresce nta r a q u ase i n existência d e sistemas i n d iv i d u a i s d e
remoção d e d etritos, s e n d o estes despejados d i recta mente n a s va las s e m obturador d e
e s p é c i e a lg u m a . N a s " i l h a s " , o n d e se a l ojava u m a pa rte i m po rta nte da p o p u l a ç ã o
portuense, o despej o d e detritos e ra efectuado em fossas comuns, abertas na terra sem
paredes e sem cobertura, fa cil i tando d este modo as i n fi ltrações que conta m i nava m as
águas das fontes que a basteciam a cidade.
Pese-se e m b o ra a a dj u d i ca ç ã o d a e m p re i ta d a d e construção d e uma r ed e de
s a n e a m e n to a uma fi r m a i nglesa e m 1 9 0 3 , e a pesa r d os c o l e ctores p r i n c i p a i s se
acharem conclu ídos e m 1 90 7 , o certo é que, até aos anos 20 , os ra mais d e ligação às
c a s a s n ã o fo ra m c o n s t r u í d o s , i n v i a b i l i za n d o a s s i m d u ra n t e e s t e p e r í o d o , o
funcionamento da rede u rbana de esgotos e fazendo com q u e a situação atrás d escrita
se ma ntivesse gra n d e mente i na lterável , até ao fi m da d écada 4.
No q u e diz respeito ao a basteci me nto de água potável , este era efectuado fu nda­
menta l m e nte por poços abertos, m u itas vezes paredes-meias com as fossas fixas, e na
a u s ê n c i a de q u a l q u e r t i p o de i m pe r m e a b i l izaçã o , as s u a s águas e ra m fa ci l m e nte
i n q u i nadas pelos d ej e ctos. As diversas a n á l ises efectuadas às águas dos poços e fontes
do Po rto e n tre 1 8 9 0 e 1 9 1 O , a testa m o e l ev a d o grau de i n q u i na çã o das m es ma s :
a p resentava m a l tas taxas d e sa l i nidade e u m grande teor d e matérias feca is, com a
presença de col i - baci l os virulentos. Mesmo assi m , a parti r de 1 8 8 7 , a cidade passou a
ser a bastecida de água ca n a l izada a pa rti r do Rio Sousa, através de u ma concessão
outorgada a uma com p a n h i a fra ncesa. No entanto, e a pesar da sua razoável qualidade,
os portuenses só m u ito lenta m e nte começa ra m a utilizar esta água, já que o custo das
a ssi natu ras d e d istri b u i çã o e ra demasiado a lto. Em 1 900, o consu m o d i á ri o d e água
ca na lizada por habitante do Porto, era de cerca de 1 8 l itros, enqua nto q u e os higien istas
a po ntava m para um cons u m o necessá rio d e cerca d e 200 l itros. Na mesma época , Paris
a p resentava médias de consumo de 300 l i tros e Marsel h a , soo l i tros s.

4. OS PAD R Õ ES DE M O RTAL I D A D E

Expostos q u e s ã o estes elementos necessá rios à co m preensão da situação sa nitária


da população portuense d u ra nte o período consi derado, vejamos o que se passa com a
variável m o rta l i d a d e . A p ri m e i ra e v i d ê n c i a passa p e l a constata ção de q u e o Porto
a p resenta e levadas taxas d e morta l i dade, sempre 1 O pontos acima das taxas brutas de
morta l idade naciona is.
A segu n d a e v i d ê n c i a é d e que esta s o b re m o rta l i d a d e u rbana passa por fo rtes
osci lações, que atingem por vezes a m p l itudes d e crises d e mográ fi cas d e d i m e nsões
graves. A a p l i cação do método desenvolvido por Jacques Dupâquier dá-nos u m quadro
d esta evo l u ç ã o (Cf. G rá fi c o 2 ) . No grá fi co, p o d e m o s observar, à l u z da classificação
proposta p e lo d em ógrafo fra n cês, a ocorrência d e crises de morta l i dade d e a m p l itude
média e m 1 8 8 1 , 1 8 96, 1 902 e 1 909, de uma crise forte em 1 8 99 e d e uma crise maior
e m 1 9 1 8 , cujas consequências, a l iás, se i rã o estender até 1 9 1 9.

235
)OSÉ )OÃO MADURO MAIA

G RÁ F I C O 2 - C R I S E S DE M O RTALIDADE NO PORTO

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MÉTODO D E j. D U P Â Q U I E R

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1 880 1 890 1 900 1 91 0 1 920


1 93(
Anos
Uma terce i ra evidência, é constitu ída pela sazonalidade da cu rva obituária cita d i na.
Contra ri a m e nte a o q u e foi afirmado n u ma ediçã o recente de uma " H i stória de Portuga l "
em vol u m e respeita n te a o séc. X I X 6, as crises de morta l idade estiva l conti nuam bem
presentes na d e m ografia portu ense de fi nais do séc. XIX e das duas pri m e i ras décadas
d o séc. XX. o movi m ento mensal de óbitos de 1 8 99- 1 900 (Cf. G rá fi co 3) m ostra bem
esta asse rção, com a d istri bu ição de óbitos a concentra r-se nos meses de verão. Por
o utro lado, a n os como o de 1 89 6 podem a p resentar dois p i cos de morta l idade, u m no
I nverno, o u tro n o Verã o , conforme a i n c i d ê n cia das d i ve rsas causa de morte, como
veremos a d i a nte. Pa ra estes ó b i tos estiva i s contri b u i p r i n c i pa l m e nte a m o rta l i da d e
i n fa n t i l , cuj a s taxas s e s i tu a va m fre q u e n t e m e nte a c i m a d o s 2 5 0%o d u ra n te este
período. E ta m b é m a morta l i dade juve n i l , q u e contri b u i u com a maior pa rte dos óbitos
na crise do I n v e r n o de 1 8 9 6 e pa rti l h o u , com os recé m - n ascidos o " m a ssacre dos
i nocentes" d o Verão d e 1 8 99 7.
Uma outra fo rma d e a bordar esta qu estão é a que passa pela anál ise das causas de
morte. N este aspecto, as pri ncipais ca usas de morte que vão a fecta r o Porto e ntre 1 8 80
e 1 920, podem-se concentra r e m três alín eas:
a) as enterites e d i a rreias,
b) as doenças d o foro p u l m o na r, à excepção das tuberculoses,
c) e as tubercu l oses, p ropria mente ditas.

a ) As q u e s e agru p a m sob a d es i g n a ç ã o de d i a rr e i a s e e n te ri tes, i sto é , as


i n fecções bacterianas relacionadas com as el eva das tem p e raturas d e Verão e
associadas à água ou l eite conta m i nados, vão ser responsáveis p o r u m a fatia
maior das m o rtes verificadas n o Po rto d u rante este período. Em 1 90 1 , mais de 1 5
e m cada 1 00 ó b i tos, e ra m devi d os a estas perturbações. Em cada 1 000 cri a n ças

236
PADRÕES DE MORTALIDADE E TRANSIÇÃO SANITÁRIA NO PORTO

G R Á F I C O 3 - M O V I M ENTO M E N S A L DE Ó B ITOS ( 1 8 9 9 - 1 9 0 0 )

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que nasce m , vão m o rrer 200 d esta a fecçã o, até ao pri m e i ro ano de idade, 80 até
aos dois a n os, 40 e ntre os dois e os três a n os de idade e 2 5 , até aos q uatro a nos
d e idade.
Os higienistas vão-se i n d ignar com o descu i d o ge neral izado que sazo n a l m ente
p rovocava este enorme desperdício d e vidas, descui d o, a liás, i ntimamente l igad o
a o b a i x o níve l d e i nstrução fem i n i n a , maiori taria m e nte a n a l fa beta d u ra nte este
período.

b) u m a causa d e m o rte i m po rtante, é a constituída pelas doenças q u e a fecta m o


a pa re l h o resp i ratóri o , como as bro n q u i tes e as p n e u m o n ias. A relação íntima
e ntre a si ntomatologia d estas doenças e outras q u e ta mbém atacam o a pa re l h o
respi ratório, t a i s como o sara m p o e a coq u e luche, sugere a l iás a existência de
uma osmose perman e nte entre as suas morbi lidade e patogenia. A eclosão brutal
d estas a fecções, que acontece gera l m e nte n o I nverno, v i rá a ser responsável por
mais d e 20% dos óbitos regista dos e m 1 89 6 , ati ngi nd o principa l me nte o gru po d e
idades s it u a d o e n tre os 1 e 5 a n os. N este caso, d o a n o de 1 896, u m su rto de
gri pe p n e u m ó nica, s e m e l ha nte a o q u e i rá ocorrer e m 1 9 1 8 , mas d e d i mensões
bem mais pequenas, fez e l evar a m o rta l i dade l igada a estas doenças.

c) N o i nício d o n osso sécu lo. as p recá rias condições da vida u rbana, a q u a l idade da
sua h i gi e n e e p a rt i c u l a r m e n t e , a s d u ra s co n d i çõ e s d o t ra b a l h o . fa z e m da
tubercu l ose a principal causa d e morte. Responsável por ce rca de 1 7% dos óbitos
e m 1 900 e 1 90 1 , atingirá sobretudo o gru po d e idades e ntre os 20 e os 40 a n os.
Esta situação manter-se-á i n a lterada até aos a n os do segu ndo pós-guerra.

237
JOSÉ JOÃO MADURO MAIA

4 . a ) As crises de m o rta l i d a d e de 1 8 9 9 e de 1 9 1 8

G osta ria a i n d a d e m e deter n a lguns aspectos l iga dos à estrutu ra das causas d e
m o rte d a s d uas m a i o res crises d o período: a d e 1 899 e a d e 1 9 1 8.
A a n á l ise do a n d a m e nto mensal das principais a fecções no a n o de 1 8 99, q u e nos é
forneci d o pelos B o l etins M ensais de Estatística Sa nitá ria , mostra o papel p re l i m i n a r q u e
o sa ra m p o teve n a s ca u s a s d e m o rte d a s i d a d e s mais j ov ens e q u e o c o r r e r a m
maiorita ria m ente na Primavera . A eclosão viole nta d a s enterites n o s meses d e Verã o,
vai torná-las as p r i n c i p a i s resp onsáveis pelo e l evadíssimo n ú m e ro d e óbitos ocorridos
em crianças até aos 5 a n os d e idade, nos meses d e Maio, j u n h o e j u l ho. A tu berculose
a p resenta-se como responsável d e 60% das m orte verificadas e m adultos com idades
compreen d i das e n tre os 2 0 e os 2 9 a nos. As b ronquites e pneu monias vêem ta mbém
os seus n ú m e ros a u me nta dos, principa l me nte na ca mada dos 1 aos 4 anos d e idade 8 .
Um ponto i m po rta nte a tomar em consideração e q u e nos é evidenciado pela crise.
é que o risco d e ocorrência d e doenças m ú lti plas e i nter- ligadas é aquele que serve de
pano d e fun d o p a ra a sobremorta l idade urbana.
Neste contexto, a t u bercu lose, com maior i n cidência nas ca madas a d u ltas, pode ver
os seus n ú m e ros a u m entados por outras a fecções, d i recta ou i n d i recta mente l igadas ao
esta d o n u tr i ci o n a l d a p o p u lação. Isto é , a s e n te rites e d i a rre ias i n fa ntis, que estã o
l igadas a u m a deficiência n utricional clara (qua lidade do l eite e da água) podem ter uma
conexão c o m a t u b e rc u l os e , d o e n ça que se a d m ite s er l iga da ta m b é m a u m a m á
situação n u tricional. Ta l c o m o o d e c l í n i o da p ri m e i ra ca usa d e morte l evaria, através d a
m e l horia d a s con d i ções n utriciona is, ao declínio da segu nda, com o foi evidenciado para
u m c o nj u nto de c i d a d e s n o rte-a m e r i ca nas e e u ropeias, a m a n ute n çã o de e l evados
índices d e m o rta l i d a d e por e n te rites e diarreias sustenta ria, por assi m d izer, os e l evad os
níveis de m o rta l idade por tuberculose 9.
Este é aliás u m dos po ntos nodais do padrão de morta l idade q u e se pode verificar
n o Porto n esta fase e que podemos a i n d a observa r no ano a nterior à grande crise de
1 9 1 8 (Cf. G rá fi c o 4). As e n terites c o n ti n u a m a o c u p a r uma fatia p e rcentua l m u ito
i m po rta nte, como causa d e m o rte (cerca d e 1 8%), segu idas da tubercu l ose com 1 3% do
tota l d e óbitos. As outras afecções do foro pulmonar ma ntêm u m peso percentua l , q u e
p od e m os a pe l i d a r d e "charneira " , evi d e n ciando a m o r b i l i d a d e m ú l t i p l a do período d e
Inverno. N o a n o segui nte (Cf. G rá fi co 5), esta d istri b uição percentual é bara l hada pel as
i rrupções dos s u rtos e p i d é m icos d e gri pe e d e tifo exantemático, verifi ca n do-se n o
e n ta n t o u m a u m e n t o n o tá ve l , e m n ú m e ro s a bs o l utos, d a s m o rte p o r e n terite e
tu b erculose.
Aqui está evi d e n ciada u ma situação e m que a co-morbi lidade, ou seja, a frequência
c o m q u e as p e s s o a s s o fri a m s i m u l ta n e a m e n t e de m ú l t i p l a s d o e n ça s . a fe c ç õ e s
secu n d á rias e cró n i cas, e ra com u m e m uitas vezes não evid e n ciada por diagnósticos
m é d i co s . o a u m e n t o d o s ó b i to s p o r e n t e r i t e e t u b e rc u l o s e g e ra d o p o r s u rtos
epidémicos d e natu reza diversa evi d e n cia u m estado d e p l u rimorbilidade típico d esta
popu lação urbana: pod ia-se ser tu bercu l oso e morrer de gri pe, ou ser-se atacado d e
gri p e e m o rr e r d e e n te rite o u d e v a rí o l a , j á q u e os s i n t o m a s e a s a fecções er am
variados e encontrava m-se gera l m e nte associa dos, como veremos.
O a n o d e 1 9 1 8 viu passa r em Portuga l d uas gra n d es vagas epidémicas de gri pe, as
quais, a l iadas à epidemia d e tifo exante mático, fizeram el eva r a TBM nacional acima dos
40%o e a Taxa d e Morta l idade d o Porto acima dos 4 5 %o.

238
PADRÕES DE MORTALIDADE E TRANSIÇÃO SANITÁRIA NO PORTO

G RÁ F I C O 4 - 1 9 1 7

(6%)

Ent. (1 8%) Tub. (1 3%)

Tifo (0%) Gripe (8%)

Gu tro s (54%)

G RÁFICO 5 - 1 9 1 8

Tifo

Varíola ( 4%)

Tub. (1 0%) Gripe (20%)

Ent. (1 4%)

Outros (35%)

239
jOSÉ jOÃO MADURO MAIA

A p ri m e i ra , fez-se s e n t i r a o l o ngo do mês d e j u n h o e até meados de j U l ho. Foi


ba ptizada d e "gri pe espa n h o l a " , e m v i rtude da sua p roven i ência. Fez a sua e ntra da no
país p e l o A l e n tej o , a co m p a n ha n d o o s j o r n a l e i ros q ue regressava m d o s tra b a l h o s
agrícolas e m Espa n h a , e atingiu ra pidama nte as cidades do Porto e de Lisboa. Antes do
fi m do mês, a lca n ço u o ponto cu l m i na nte, decl i n a n d o depois subita m e n te. Esta primeira
vaga a p resentou -se fugaz e relativa m e n te b e n i g n a , mesmo a ss i m , faze n d o s u b i r a
m o rta l i d a d e ge ra l cita d i n a , ta l como a co nteceu em 1 8 9 6 , p rovoca n d o u m a u m e n to
gera l das m o rtes devido às a fecções do a parelho res p i ratório.
A segu nda vaga i n i ci o u -se e m Agosto e foi ba ptizada de " i n fl u enza p n e u m ó nica". De
tra n s missão mais l e n ta , revel ou-se a lta m e nte m ortífera. Ricardo Jorge i d entifi cou o vírus
da p n e u m ó n i ca , com o que ti n ha ati ngi d o o Po rto e m 1 896. Esta variedade do vírus,
pa rti c u l a rm e nte m a l igna pela sua local ização p u l monar, foi co n fu n d i d a i n icia l m e nte,
com a peste p u l m o n a r, que teria a fectad o o Porto e m 1 904, consequência reta rdatá ria ,
a l iás, da peste b u b ó n i ca d e 1 8 99.
A p o p u l a ç ã o entrou e m p â n i c o . atri b u i n d o a su cessão vertigi n osa d e m o rtes a
causas m a i s exóticas. ta i s como a cólera . No e n ta nto, o fluxo e p i d é m i co reve l o u -se
refra ctá rio a q u a l q u e r cordão s a n itá rio e , detecta d o i n i ci a l m e nte e m G a i a , d e p ressa
a b rangeu o país i nteiro, assu m i n d o uma si ntomatologia múltipla. O vírus encontrava-se
m u i ta s v e z e s a s s o c i a d o ao b a c i l o d a d i s e n t e r i a , com m a n i festa ç õ e s de d i a rr e i a
co l e ri forme e e ntérica. A s u a i n ci d ê ncia fo i su perior às da fe b re a m a rela d e 1 8 5 6 e
m e s m o da c ó l e r a , d e 1 8 5 7 . Em L i s b o a , e m a p e n a s n o v e s e m a n a s , l i q u i d o u 5 . 0 0 0
pessoas. E, se b e m q u e o Porto pagasse u m tri b uto me nos pesado do q u e Lisboa à
p n e u m ó nica, o grá fico da estatísti ca obituária, m ostra clara me nte os p i cos de j u n h o e
de Sete m bro. sendo a m o rta l i da d e e ntre estes dois meses mais el eva da do q ue em
a n o s a n te r i o re s . A p ro pa g a ç ã o d esta e p i d e m i a pa rece t e r esta d o a s s o c i a d a a os
m ovi m e n tos de recruta mento m i l ita r, ten d o-se m a n i festado p ri m e i ro nas casernas, só
d e p o i s tra n s i ta n d o p a ra a p o p u l a çã o c i v i l . De q u a l q u e r fo r m a , n ã o fo i u m a vaga
e p i d é m i ca excl usiva m e nte u rba n a , já q u e os meios rurais fora m d u ra m ente castigados.
por exe m p l o , a lgumas a l d eias e vilas dos Aço res viram desa parecer mais de 50% da sua
população.
U m exe m p l o m u i to claro d e q u e estes s u rtos epi d émi cos se expa n d i a m em fu nção
do estado n utri cional e das co n d i ções d e vida das popu lações, é-nos dado pelo va por
p o rt u g u ê s " M o ç a m b i q u e " . Este n a v i o , a fe c ta d o ao re p a t r i a m e n t o d a s t r o p a s
p o rtuguesas q u e fazia m p a rte d o corpo e x p e d i c i o n á r i o e m Áfri ca. fo i a ti ngi d o p e l a
e p i d e m i a n u m a esca la n a cidade d o Ca bo. Entre 9 5 2 ocupantes da e m b a rcaçã o, 1 99
m o rrera m d e p n e u m ó n i c a , d u ra n te o traj ecto a té L i s b o a . A re p a rt i ç ã o d os ó b i tos
fornece uma proporção m u ito desigu a l , forte mente i n flu enciada pelo estado, i ndividual
e colectivo dos passagei ros: os 558 soldados, m a l a l ojados e m 4" classe. perdera m 1 80
dos seus; e n q u a nto q u e das 1 ', 2" e 3" classe. a pe nas morrera m 1 9. N e n h u m oficial foi
víti ma da gri pe.
Para a l é m d a c o e x i s tê n c i a com a s a fecções i n testi n a i s , a p n e u m ó n i ca s u rgi u
fre q u e nteme nte associa d a a u m su rto de va río l a , q u e a l i á s atingirá a sua expressã o
máxima em 1 9 1 9. Deve-se a i n d a acresce nta r q u e as a n á lises laboratoriais efectuadas à
expectoraç ã o d o s d o e ntes ati ngidos p e l a gri p e , d e m o nstra ra m , na m a i o r p a rte dos
casos, a p rese n ç a , e m conj u nto com o vírus, propri a m e nte d ito, d e d i versos bacilos,
como o d e Pfe i ffer e o estreptococo q u e causara m seq uelas mórbidas semelha ntes. por
vezes, às da rubéola 1 0.

240
PADRÕES DE MORTA LIDADE E TRANSIÇÃO SANITÁRIA NO PORTO

o a n o d e 1 9 1 8 v a i a i n d a co n h e ce r a i r r u p ç ã o v i o l e n ta do t i fo e x a n t e m á t i c o .
Freq u e nte m e nte associ a d o n o s é c . X I X às m a n i festações d e fe b res tifó i d es e para­
tifóides, graças à s e m e l h a n ça da sua si ntomatologia, ele subsisti u em estado e n d é m i co,
não só n o Porto, como p ri n c i pa l m e nte nas col ó n ias p iscató rias da costa portugu esa ,
gera l m e nte associa d o a con d i ções higi é n i cas e a l i m e n ta res m u ito deficientes. o su rto
vai ter a sua orige m em 1 9 1 7, em Esp i n h o , q u e vai ser o fósfo ro q ue ateou o i ncêndio
do Porto e m 1 9 1 8 , p a ra util iza r a expressão d e Ricardo Jorge. o a nd a mento da epidemia
revelou-se cíclico , com p i cos na Pri mave ra e declínio no Verão e Outono e u m retorno
n a Primavera d e 1 9 1 9. Se bem q u e o n ú mero d e mortes devido a esta doença tivesse
sido eleva do, este é um caso e m que a a cção da medicina teve um papel i m porta nte
n o com bate à d o e n ça . As medidas e n é rgicas d e d esparasitaçã o, efectuada na altura
com essência de terebentina (o D DT só s u rgirá em 1 943), levadas a ca bo pelos serviços
sa n i tá ri o s um p o u co por tod o o n o rte d o país, i m pe d i ra m q u e a sua p ro p a ga ç ã o
ass u m isse as d i m e nsões catastrófi cas q u e assu m i u por e x e m p l o na Rússia da . é poca 1 1.

A distrib uição percentua l dos óbitos em 1 9 1 9 (cf. Gráfico 6) mostra-nos já o ca minhar


para a reposiçã o n o rma l do "status" mórbido deste período.

G RÁFICO 6 - 1 9 1 9

Tub. (1 2%)
Voriola (8%)

BrPn (5%)
Tifo (8%)

Ent. (1 4%) Gripe (8%)

Outras ( 46%)

5. CONCLUSÕES

E s t e p a d rã o p a t o gé n i c o d e m o rta l i d a d e u rb a n a c o l o c a - n o s v á r i a s q u estões e
evi dencia a lgumas rea lidades.
- D u ra n te o período considerado, existe d e fa cto uma estrutura de morta l i da d e q ue
se pode defi n i r nos segu i ntes termos:

16 24 1
JOSÉ JOÃO MADURO MAIA

a) uma e l evada m o rta lidade i nfa nti l , causada essencial m e nte por i n fecções bacte­
rianas d ecorrentes da má q u a l i da d e do l e i te e da água

b) uma el evada m o rta l i d a d e juve n i l , ca usada por doenças l igadas ao a pa re l h o res­


p i ratóri o e associadas a um deficie nte estado n utrici o n a l

c ) u m a i m p orta nte m o rta l idade d e a d u ltos, das idades compreendidas entre os 2 0 e


os 30 a n os, devido à tuberculose p u l m o n a r.

Estes três e l e m e ntos p a recem ser variáveis a lta me nte i nter- d e p e n d e ntes, já q u e
q u a n d o e m situações excepci onais, geradas por surtos e p i d é m i cos, os n ú m e ros globais
d estas três a fecções d ispara m s i m u lta n ea m e nte. Por outro lado, uma a n á l ise superficial
da evol ução das enterites i n fa ntis e da tuberculose p u l m o n a r até aos a nos 5 0 , mostra m
q u e o d e cl í n i o dos n ú m e ros do p ri m e i ro gru po de a fecções prece d e o d e c l í n i o d os
n ú m e ros da tuberculose.
A p l u ri m o r b i l i d a d e o u o risco de i n fecção o u a fecção m ú l t i p l a , pa rece ser u m a
ca racterísti ca essencia l d esta popula ç ão biologica m e nte desprotegi da.
Haveria q u e ava l i a r d e forma mais deta l hada a i ncidência que diversas variáveis, tais
como o nível d e vida e a situação san i tária, i nfl uenciara m este estado d e coisas e a sua
evol u ção poste rior.
Sem p rete n d e r sugerir q u a l q u e r tipo de l igaçã o meca n icista , gosta ria no enta nto de
n ota r u m a certa coi n c i d ê ncia na evo l u ção d o PIB por habita nte e na eclosão de crises
d em ográ ficas n o Porto d u ra n te este "equi líbrio de pobreza" (Cf. G rá fi cos 1 e 2).
Por outro lado, pa rece existi r a lguma l igação e ntre o atraso no declínio da morta­
lid ad e portu ense fa ce a Lisboa e na situação respectiva dos seus sa neamentos u rbanos.
A Taxa de Morta l i d a d e do Porto desceu a pa rtir da segu nda metade da década de
20 e a p a rtir de 1 9 3 7 , situou -se a ba i xo dos 20%o. Seria i n te ressa nte confro nta r esta
evol u çã o com a extensão da rede d e sa neamento e com a uti l ização da água ca n a lizada.
De qualquer fo rma, o estu do da evol u çã o das ca usas d e morte fornece a p ri m e i ra
chave p a ra a co m p reensão d estas ten d ê ncias e um cá l c u l o da evo l u çã o da percen­
tagem com q u e cada u m d os três grupos d e doenças acima referenciados contri b u í ra m
pa ra o declín i o da m o rta l idade, poderia fornecer u m quadro fu ndame ntado da tra nsição
sanitária do Po rto conte m porâ n e o e achegas i m portantes à compreensão do processo
de desenvolvi mento eco n ó m i co e soci a l d esta cidade.

6. F o n t e s e b i b l i o grafia

6. a) Fontes

A Cidade do Porto. Súm ula Estatistica ( 1 864 - 1 968), I.N.E., 1 9 7 1

Boletim Hebdomadário d e Estatistica Obituário. 1 902 - 1 903, Porto, Delegação d e Sa úde d o Distrito
do Porto

Boletim Mensal de Estatística Sanitária, Porto, Serviço Mu nicipal de Sa úde e Hygiene, 1 8 93 - 1 90 1

Movimento d a População, Lisboa. I m p rensa Nacio n a l , 1 8 8 7 - 1 8 96

242
PADRÕES DE MORTALIDADE E TRANSIÇÃO SANITÁRIA NO PORTO

6. b) Bibliografia

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243
]OSÉ ]OÃO MADURO MAIA

N OTAS

1 . MATA, Maria Eugé n i a e VALÉRIO, N u n o - História Económica de Portugal. uma perspectiva global, Lisboa, Col.
Fundamentos, Editoria l Presença, 1 99 4 , p. 2 5 2 - 255. Acerca destes n ú m e ros, ver ainda discussão em LAINS, P.
e REIS, J . - Portuguese economic growth, 1 833 - 1 985; some doubts, i n 'The Journal of E u ropean Economic
H i story", v o l . XX, n" 2 , 1 990; ou a i nda MARQUES, c. Robalo e ESTEVES, P. soa res - Portuguese GDP and its
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2 . N EVES, João Césa r das - o desenvolvimento económico português e o padrão transversal de crescimento, 1 883
- 1 985, "Análise soci a l " , vol. XXVI ( 1 1 2/ 1 1 3) , Lisboa, 1 99 1 , p. 807 - 8 2 2 .

3 . PEREIRA, M i riam H a l pern - Das revoluções liberais ao Estado Novo , Lisboa, Editori a l Presença, 1 994, p. 2 0 2 .

4. MAIA, José J o ã o M a d u ro - Flutuações e declínio da mortalidade na cidade do Porto ( 1 870 - 1 902). Ensaio de
Demografia H i stórica, versão da d i ssertação de Mestrado a p resentada à Facu ldade de Letras da U n iversidade
do Porto, Amadora, Luso l i vro Lda, 1 994.

5 . Idem, p. 3 5 - 3 9 .

6. Cf. CASCÃO, R u i - Demografia e Sociedade, i n MATIOSO, J o s é (di r. de) -História de Portugal, q u i n to v o l u m e , " O
Libera l ismo", coord. d e TORGAL, Luis R e i s e ROQUE, J o ã o Lourenço, Lisboa, E d . Círculo de Leitores, p. 430 - 4 3 1 .

7. MAIA, José João M a d u ro - Flutuações e declínio da mortalidade na cidade do Porto ( 1 870 - 1 902). Ensa io de
Demografia H i stórica, versão da d i ssertação de Mestrado a p resentada à Faculdade d e Letras da U n iversidade
do Porto, Amadora, Lusol ivro Lda, 1 994., p. 1 24 a 1 2 6.

8. Idem, p. 1 2 5

9. CONDRAN, G retche n A. - Declining mortality in the United States in the iate nineteenth and early twentieth
centuries, " A n n a l e s d e Démogra p h i e H istori q u e " , Paris, Éditions de I ' École des Hautes Études en Sci e n ces
Soci a l es, 1 98 7 , p. 1 1 9 - 1 4 1 ; ou PRESTON, Samuel H., VAN DE WALLE, Eti e n n e - Urban french mortality in the
nineteenth century, "Populatíon Stud i es", 32, p. 2 7 5 - 296.

1 o. JORGE, Ricardo
- La Grippe. Rapport préliminaire présenté a la Comission sanitaire des Pays AI/iés, dans la

session de Mars 1 9 1 9, Lisbonne, lm primerie Nationale, 1 9 1 9.

1 1 . JORGE, Ricardo - Le Typhus Exanthématique à Porto, 1 9 1 7 - 1 9 1 9. Communication [aite au Comité tnter­


nationale d'Hygiéne Publique dans sa session d'Octobre 1 9 1 9, Lisbonne, l m primerie Nationale, 1 920.

244
AS PECT OS S OCIODEMOG RÁFICOS
DA FR EGUESIA DE NOS SA S EN H ORA
DA E N CAR NAÇÃO DA AMEIXOEIRA
( 1 740 - 1 760 )

ANA RITA COELHO RIBEIRO


Universidade LUsíada

1 . I N T R O D U ÇÃ O

Em 1 2 1 5 , o IV concí l i o d e Latrão i m pôs u m preceito rel igioso a q u e o s cató l i cos se


submeti a m regu larmente: a confissão e a com u n hão, por a ltura da Páscoa. Do cumpri­
mento d esta p ráti ca e d o seu respectivo registo, i ri a m surgir os Liber Status Animarum,
v u lgo, Róis de co n fessa d o s . que s e reve l a m como uma das fo ntes m a i s ricas p a ra
estudos d e m ográ ficos em épocas recuadas da n ossa h istória, o n d e os " n u m e ra m entos"
populacionais não a b u n d a m e os rece nsea mentos são a i nda uma rea l i dade dista nte.
j u nta m ente com os Registos Pa roq u i a is, cuja i mportâ ncia ta ntas vezes foi rea lçada 1 •
os Róis de confessa dos fora m o bjecto, a quando da nossa dissertação de mestrado, d e
u m a i nvestiga ç ã o cuj os o bj e ctivos se p o d e m resu m i r n a tentativa d e d e m onstra r a
i m p o rtâ n ci a d os R ó i s p a ra estu dos de D e m ografia H istó rica em Portuga l , te n ta n d o ,
s i m u lta ne a m ente, testa r u m a metodologia q u e permita a s u a a n á l ise e m termos se­
que nciais. Isto porq u e , n ã o sendo uma novidade para os i nvestigadores portugueses 2.
os Róis d e Con fessados ra ra m e nte fora m o bjecto d e u m estud o sistemático sobre uma
série consecutiva d e a n os.
I n evitavel m e nte, a riqueza das i n fo rmações contidas n estas fontes leva ra m - n os a
rea l iza r u m a a n á l ise soci odemográfi ca da freguesia em causa, ou seja, da Freguesia d e
N ossa S e n hora da E n ca rnação da Ameixoeira , freguesia rura l do termo d e Lisboa , n o
período com p re e n d i d o e n tre 1 740 e 1 760, n o toca nte aos Registos Paroq uiais, e entre
1 7 5 0 e 1 760, no caso dos Róis de confessados 3, a n á lise essa que vem confirmar, d e
certa forma, a q u estão colocada sobre a i m p o rtâ ncia dos Rói s d e Con fessados para a
Demogra fia H istórica.
Ca be-nos, n este m o m e nto, n ã o nos a longa n d o com considerações sobre as fontes
em q u e s tã o , a p re s e n ta r s u c i n ta m e n t e o s re s u l ta d o s o b t i d o s r e l a t i v a m e n t e a o
c o m p o rta m e nto soci o d e m ográ fi co d a p o p u lação d a A m ei xoe i ra , q u e co m p ree n d e m
uma b reve p a n o râ m i ca , p ri m e i ro . da evo l u ção d o s s e u s efectivos populacionais, suas
estrutu ras etá rias, por sexo e por estado civi l ; segu ndo, do comporta me nto demográfico
d a p o p u l a ç ã o , no toca nte à n a ta l i d a d e , n u pc i a l i d a d e e m o rta l i da d e ; e , por fi m , da
di mensão, estrutu ra e composição dos fogos.

2. A Q U A L I D A D E D O S D A D O S

Uma d a s p reocu pações sempre presentes e m trabal hos d e i nvestigação diz respeito
à q u a lidade das fontes q u e temos ao nosso dispôr, visto q u e esta suporta rá , em gra n d e
pa rte , a va l i d a d e dos resu lta dos o btidos. A util ização d o s Registos Paroquiais, a p esa r de

24 5
ANA RITA COElHO RIBEIRO

estes não serem a p ri nc i p a l fonte do tra b a l h o , fac i l itou o reconhecimento da qualidade


dos dados, p o r ser possíve l utilizar u m método, consideravel m e nte divu l ga d o 4 , q u e
permite esta belecer, com b a s e nos registos d e nascimento ou , neste caso. de baptismo.
com a lguma segu rança, a q u a l idade dos assentos pa roqu i a is.
Referi mo-nos à Relação d e Mascul i n i dade dos Nasci mentos, que estabelece a relação
entre o número d e nasci m entos mascul i nos e fem i n inos. Este índice é utilizado para aferir
da q u a l i da d e dos registos na medida e m q u e se observa u m a constâ n cia nesta relação,
situ a n do-se a mesma à volta d e 1 0 5 nasc i m entos mascu l i nos para cada 1 00 fem i n i n os.
contu d o , q u a n d o se trata d e uma qua ntidade reduzida d e a conteci mentos, como é
o n osso caso, a R e l a çã o de Mascu l i n i d a d e pode regista r u m desvio gra n d e re l a tiva­
m ente a o va l o r médio i n d i cado, sem q u e este facto i nva l i d e a util ização da fonte, ou os
resultados obtidos na sua a n á l ise, por má q u a l idade dos dados. Pode-se nestes casos
p recisa r o i n te rva l o de variação do erro, esta b e l ecendo os chamados " I nte rva los de
Confia nça " , e m fu nção d o n ú m e ro d e nasci mentos regista d os.
Efectuados os cá l c u l os p a ra a p o p u l a çã o da fregu esia da Ameixoe i ra , registá mos
uma Relação d e Mascu l i n i d a d e d e 9 2 , 7%, que, a p a rentemente, deveria pôr em causa a
q u a l i d a d e da fonte, visto q u e traduz uma situação onde na maioria dos a n os se regis­
ta ra m mais nasc i m entos fem i n i nos que mascu l i nos, mas esta bel ecendo os i nterva los de
con fian ça , q u e são de 1 3 5 ,8% e 8 1 ,2%, verificá mos que a Relação d e Mascu l i n idade cai
dentro dos mesmos, p e l o que podemos j ustifica r o desvio relativa mente a o va l o r médio
como o resu lta d o d e u m a flutuação a leatória com u m quando se trata d e popu lações
reduzidas e m n ú m e ro , pelo que podemos conclu i r que os Registos são d e boa qual idade.
Esta constatação perm ite-nos ter a lguma confi a nça nas fontes util izadas, mas, como
só podemos testar da sua q u a l idade através deste método, recon hecemos que a segu­
ra n ça das a n á lises e dos resulta d os obtidos não é tão e l evada qua nto desejaríamos.
A esta observação j u nta mos a d i ficuldade a crescida d e testa r a q u a l idade dos Róis
d e confessa d os. Não existe, n o nosso con hecimento, n e n h u m método para ava l i a r da
sua confian ça, visto que, as ca racterísticas da fo nte não permitem uma a p l i cação l i n ea r
de p rocessos utili zados para outras l i stas da popu lação. A uti l i za ção de m étodos com o o
índice de W h i p p l e ou a Equaçã o de concordância não é viáve l , porque não existe, por
exe m p l o , um registo d o s i n d ivíduos p o r i d a d es, n e m c o n h e ci m e n tos s ob re o sa l d o
m igratório da freguesia.
Como podería mos, e ntão , a feri r da qualidade dos Róis de Confessados ? Só por com­
paração entre as determ i n a ções sinodais sobre o p rocesso d e registo da confissão e da
co m u n h ã o e o d o c u m e n to q u e estáva m o s a u t i l iza r, ou p o r c o m p a ra ç ã o com os
Registos Pa roq u i ais.
Reco rremos. então, às Constituições Sinodais do Arcebispado de Lisboa, datadas d e
1 6 5 6 , q u e regu lava m a rea l i zação d este p receito da confissã o e da comu nh ão e que, no
seu Títu l o X, pa rágra fo VI, determi nava m as regras a segu i r pelos pá rocos no toca nte ao
rol q u e teri a m d e fazer, a n u a l mente, nas suas freguesias sobre as pessoas d e confissão
e comunhão. Esta regras referia m-se aos cuidados a ter com o registo dos nomes das
pessoas, l o ca i s e ruas, se e ra m d e confissão e/ou c o m u n h ã o e p ro i b i a m , expressa ­
mente , a util ização de a b reviaturas.
o pá roco da freguesia no p e ríodo a n a l isado foi sempre o Pa d re José N u nes V i ei ra ,
este cumpria, a p a re ntem e nte, c o m u m m í n i m o d e rigor as determi na ções sinodais.
Esq uecia-se com frequência dos sobrenomes das pessoas, excepto para o ca beça do
fogo; escrevia o nome d a s ruas m a s a d istinção dos fogos só se fazia com base nu m

246
ASPEUOS SOCIODEMGRÁFICOS DA FREGUESIA DE NOSSA SENHORA DA ENCARNAÇÃO DA AMEIXOEIRA

traço h orizo nta l q u e separava um fogo de outro; ra ra mente esquecia a referê ncia sobre
a maioridade dos i n d ivíd u os; e uti l izava, sistematica mente, as p ro i b i das a b reviaturas.
Acresce ntava , contudo, i n formações sobre p rofissões, n o rma l me nte para pessoas
estra nhas a o núcleo fa m i l i a r que constituía o fogo, por exe m p l o , os criados, e i n d i cava
as relações fam i l i a res e ntre os residentes n o fogo, com base na pessoa que o e nca beçava .
Podemos a i nda referir outra determi nação das constitui ções (Títu l o X, pa rágrafo VI)
que obrigava os pá rocos a a p resenta r os róis para registo nos serviços centrais da d iocese,
daí resu ltava m i nscrições anuais, n o fi nal de cada rol , sobre o seu registo nos referidos
serviços, p ressu pondo-se, então, q u e os mesmos esta ria m correcta mente elaborados.
Tomando como base estas comparações e ntre as Constitu i ções Sinodais e os Róis
da fregu esia, p e rm it i m o - n os concl u i r q u e os róis pareciam cumprir m i n i m a m e nte as
regras q u e d ete r m i n a v a m a sua e l a b o ra ç ã o , s e n d o de estra n h a r q u e um pá roco
cuidadoso com os Registos Paroq uiais, como fi cou pa rcia l mente d emonstrado com a
q u a l i d a d e d o s registos d e b a p t i s m o , negl igenciasse o registo d os sacra m e ntos da
confissão e da com u n hão.
Na ausência d e outros métodos de controlo dos dados e ressa lvadas as deficiê ncias
e n c o ntra d a s n a q u a l i d a d e das fo n t e s , p ro c e d e m o s à a n á l i s e d o co m p o rta m e nto
s o ci o d e m ográfico d a fregu e s i a , reco n h e ce n d o os c u i d a d o s a ter fa ce a afirmações
perem ptórias e a conclusões taxativas e p reci pitadas sobre os pontos em a n á l ise.

3. ANÁL I S E D E M O G RÁFICA DA FREG U ESI A DA A M E I X O E I RA

Os e fectivos g l o b a i s ( 1 7 5 0 - 1 7 6 0 )

A freguesia da Ameixoeira n ã o regista u m n ú mero e l eva do d e habitantes, a pesar da


sua proxi m i dade d e Lisboa. As d iscrepâ ncias te mporais e a diversidade do tipo d e dados
q u e enco ntrá mos sobre a sua popu lação s não nos i m ped i ra m de avança r com a con­
clusão d e q u e , a popu lação rondaria, e m média, n o sécu l o XVI I I , os treze ntos fregueses,
como confi rmá mos com o estudo dos róis, distri buídos por cerca d e oitenta e três fogos.
A a nál ise dos e fectivos globais da popu lação e sua evol u ção, no caso con creto do
n osso estudo, re mete-nos pa ra os a n os compreendidos entre 1 7 5 0 e 1 760 e aos dados
fo rnecidos, exclusiva m e nte, pelos Róis d e Confessa dos. Como ta l , u ma das p r i m e i ras
ressa lvas a fazer diz respeito a uma fa lha consta nte na nossa análise, fa lha que é inere nte
às próprias ca racterísticas da fonte util izada: a ausência dos menores de confissão.
A idade m é d i a , por determ i nação sinodal, da " m a i oridade d e confissão" são os sete
anos. Ass i m sendo, salvo raras excepções, todas as cri anças menores de sete a nos não
surgem registadas nos róis.
Se este hiato é a ce itável num estud o genérico da população, ao tenta rmos precisa r
a a n á l ise do com p o rta m e n to demográ fi co da mesma deparamo-nos com um esco l h o
que tivemos d e tenta r u l tra passar, sob p e n a de i nva l i d a rmos pa rte d o nosso tra b a l h o ,
quando é , p recisa m ente, u ma das grandes uti l i dades dos r ó i s o poss i b i l itare m, porque
permite m conhecer o n ú m ero d e habitantes da fregu esia, a uti l ização d e u m i nstru­
mento de a n á l ise d e mográfi ca , a i nda q u e m u i to grossei ro, que são as taxas brutas da
nata l idade, da n u pcia lidade e da m o rta l idade.
Tornou-se, então, n ecessá rio ca lcular o peso dos " m e nores" para se proceder, com
maior p recisão, a o estu do do comporta m ento demográfico da fregu esia.

247
ANA RITA COELHO RIBEIRO

Surgira m - n os duas h i póteses, de cariz m u i to d i ferente: a pri m e i ra que i m p l i cava a


uti l ização dos Registos Paroq u i a is, o que no nosso caso e ra relativa me nte fáci l , permi­
tindo-nos ter e m conta os movi m e n tos naturais da popu lação; a segu nda, utilizarmos
como termo de co m pa ração o peso dos m e n ores d e sete a n os e m regi ões o n d e a
população é co n h e cida por grupos etá rios e que já fo ra m objecto de estudo.
Pa ra concretiza rmos a pri m e i ra h i pótese tentámos ca lcular o sa l d o natura l , ou fisio­
lógico, da popu lação, para o período compreendido entre 1 740 e 1 74 9, somente para os
m e no res visto que a penas estes nos i n teressava m , não util izá mos, porta nto, o n ú m e ro
tota l de ó b i tos observados, mas a penas os que diziam respeito a cri a n ças. Feitos os
cá l cu l os, c hegá mos à concl usão de q u e deverí a m os j u nta r ao tota l de h a bitantes da
freguesia, em 1 7 50, ano base da análise dos róis com 2 7 8 habitantes a rrolados, pelo menos,
cinquenta e cinco cri a n ças, regista ndo-se, e ntã o, uma popu lação tota l de 333 habita ntes.
A segu nda h ipótese formulada pressu ponha a utilização de uma ponderação calculada
com base em estu dos s i m i l a res s o b re a p o p u l a çã o d e Coru c h e , e m 1 7 8 9 6 O peso dos
menores registado para a população desta loca lidade situava-se nos 1 8o/o. Ao aplica rmos
esta pond eração aos n ossos dados o btivemos u ma popu lação de 339 ha b i ta ntes.
As d i ferenças regista das n o resultado da a p l i ca ção das duas h i póteses consideradas
são m í n i mas, mesmo para uma população reduzida e, sabía mos d e a nte mão que, aos
e rros p rováveis da reso l u ção da pri m e i ra h i pótese te ría mos de acresce ntar a a usência
de cá lculos sobre os movime ntos m i gratórios. Optá mos, então, por esta belecer como
n ú mero mais correcto para a popu lação tota l , no i nício da a n á l ise dos róis, a média dos
dois resu ltados obtidos: 3 3 6 h a b i ta ntes.
Contudo a util ização deste n ú mero, ass i m ca lculado, foi reserva do para uma a n á l ise
do comporta m e nto da popu lação relativa m e nte às variáveis m i cro-demográ ficas.
Seguidamente procedemos à análise dos efectivos globais da popu lação e sua evolução.
Registá mos uma p o p u l a ção média recenseada nos róis d e 3 2 2 pessoas, va ri a n d o
entre 2 7 1 e 490, com uma taxa de crescimento a n u a l média de 1 ,43%, que p o d e s e r
considerada e l evada se pe nsarmos que as características gera is da popu lação do Antigo
Regi m e , a po nta m pa ra um crescimento mod erado, norma l m e nte i n ferior a 1 %. O te mpo
de d u p l i cação correspondente ronda os 4 1 a n os.
Devemos, no enta nto, ter em conta que este cresci mento não é constante. Podemos
mesmo distingu i r dois períodos no cresci mento da popu lação: o primeiro de 1 7 50 a 1 75 5 e,
o segu n d o , d e 1 7 5 6 a 1 7 60.
No pri m e i ro período o cresci mento é moderado, chega nd o a regista r-se uma d i m i ­
n u ição da população, d e 1 7 5 0 para 1 7 5 1 e d e 1 7 5 4 pa ra 1 7 5 5 , podendo-se considerar
que existiu u m a ce rta esta b i lidade n o cresci mento da população.
o segu n d o p e río d o , i n i cia-se com u m a u m ento sú bito e "viole nto" da p o p u l a ção
res i d e n t e , c o m uma taxa d e cresci m e nto d e 6 4 % n o ano d e 1 7 5 6 , c o n se q u ê n c i a
provável da fuga da p o p u l a ção de Lisboa, d a s zonas m a i s a fectadas p e l o te rra moto d e
1 7 5 5 para as regiões l i m ítrofes 7, a q u e se segue uma d i m i n u i çã o da população nos
a n os segu i nte , só volta n d o a regista r-se u m a u m e nto dos res i d e n tes n o ano d e 1 7 5 9 .
Apesa r da popu lação n u n ca m a i s t e r voltado aos valores a nteriores a 1 7 5 6 , ju lga mos
poder a fi rm a r q u e a ocorrê n ci a do terra moto veio a l te ra r o desenrolar "natura l " dos
a co nteci m entos, disto rcen d o u m a rea l i dade que deveria ser mais consta nte.
U m a o u t ra ca racte rísti ca d o s R ó i s de co n fes s a d o s , q u e d e t e r m i n a t o d a s a s
pers pectivas d e a n á l ise a rea l iza r te ndo p o r base esta fo nte, d i z respeito à fo rma co mo
os dados estã o orga n izados: toda a i n formação respeitante à popu lação das freguesias
agrupa a mesma e m fogos.

248
ASPECTOS SOC/ODEMGRÁFICOS DA FREGUESIA DE NOSSA SENHORA DA ENCARNAÇÃO DA AMEIXOEIRA

Tal co m o para a populaçã o tota l recenseada, podemos esta belecer uma média do
n ú mero de fogos, 83 fogos, com um mínimo de 75 fogos, em 1 7 5 1 , e um máxi mo d e
1 04 fogos, e m 1 7 5 6 . Natura l m e n te o n ú m e ro d e h a b i tações nã o é tão " e l ástico " , se
ass i m o podere m os d izer, como o de uma população, suj ei ta a consta ntes a l te rações
motivadas por causas i nternas ou externas; provavel m e nte, e m 1 7 5 6 a tota l i da d e dos
fogos d i s p o n í v e i s n a fregu e s i a foi ocu p a d a , p a ra a l é m d o a u m e n to d o n ú m e ro de
pessoas por fogo, d e que fa l a remos poste riormente.
A taxa d e cresci m e nto a n ua l média dos fogos é d e 0 , 2 5 %. Não havendo termos de
co m p a ra ç ã o p a ra o m o v i m e n t o dos fogos é d i fíci l a rr i s c a r u m a c l a s s i fi ca ç ã o q u e
considere esta taxa c o m o e l evada ou baixa.

As estruturas p o p u l a c i o n a i s ( p o r sexo, idade e esta d o civil d e 1 7 5 0 a 1 7 6 0 )

A an á lise g l o b a l d o s R ó i s permitiu-nos estudar, ta m b é m , as estruturas da popu lação


n o q u e se refere á sua com posição por sexo e estado civi l , em bora , lame ntave l mente,
qua nto ás estruturas etá rias pouco se possa d izer.
Não have n d o um registo da idade dos i n d ivíduos rece nseados, os róis a penas nos
permitem d isti n gu i r dois gru pos: os maiores e os menores d e confissão. Isto pa ra a l é m
d e fi ca rem d e fora , c o m o já foi referido, u ma pa rte su bsta n ci a l da populaçã o q u e s ã o o s
m e nores d e sete a nos, q u e n e m consta m do rol . A referida distinção q u e o rol faz, e ntre
maiores e m e n o res, tem , então, por base a existência de maiores de confissã o ( todos
os que tiverem mais d e sete a n os ) . mas para os homens menores de 1 4 a nos e para as
ra pa rigas m e n ores d e 1 2 a n os não há pena de exco m u n hã o a ser a p l i cada no caso de
não cu m p r i re m o p receito da confissão, tã o só o paga m ento d e uma coima a , ou sej a ,
s ã o " m e n ores" n o toca nte ao seu registo nos róis.
Do cruza m e nto e ntre os dados fo rnecidos pelos róis e pelos registos, numa fase
posterior do estud o rea l izado, podemos verificar que o cu mprime nto desta regra é, por
vezes, a l terado, regista n d o-se casos de " m a i oridade" com idades i n feriores ás prescritas.
Apesa r d e todas estas d i ficuldades, tentá mos, então, esta belecer compara ções e ntre
o peso dos m a i o res e m e n o res da população recenseada, su b l i n ha nd o sempre a certeza
de q u e aos " m e no res" referidos d evería mos j u nta r os menores de sete a n os.
Os resu lta d os obtidos a pontam para u m peso excessivo dos ma iores de confissão e
de co m u n hão, em média 9 2 , 7 % da popu lação recenseada, com um m í n i m o regista do
de 90, 7%, e m 1 7 5 4 .
A ausência d e d a d o s mais pormenorizados sobre a estrutu ra etá ria da popu lação
i nvia b i l iza a d ivisão da mesma e m grupos fu ncionais e a execução dos cá lculos sobre os
seus rá cios d e d e p e n d ê n ci a , não perm iti n d o aj uizar sobre a juventude o u e n ve l h e ­
cimento da popu lação.
Ass i m sendo, apenas ca lculámos u m rácio de dependênci a maiores/menores, que
aponta para a existê n cia d e sete m e n o res para cada cem maiores, que, com todas as
ressa lvas já feitas, n ã o permite concl usões de relevo.
A Relação d e Mascu l i nidade, esta belecendo a relação e ntre o peso dos efectivos do
sexo mascu l i n o e do sexo fem i n i n o , é mais fác i l d e rea l iza r. Relativa me nte à populaçã o
recenseada a Relação de Mascu l i nidade é sempre favorável a o s h o m e n s , superiores em
n ú m e ro a bsol utos e m todos os a n os observados, regista ndo-se o va l o r mais e q u i l i brado
da referida rel a ção, e m 1 7 5 6 , com 1 09,4%.
se compara rmos esta relação de mascu l i n i dade com a regista da nos nasci me ntos
verificamos existirem gra ndes discrepâ ncias, visto que, n este último caso, as variações

249
ANA RITA COELHO RIBEIRO

são en o rmes, sendo, como já referimos, os nascimentos fem i n i nos em n ú m e ro superior


aos mascul i nos na m a i o ri a dos a n os a n a lisados.
Relativa mente a o Estado Civi l da popu lação os dados são mais complexos de analisa r,
isto porque só em casos excepcio n a i s a sua situaçã o vem declaradamente expressa .
Contudo, como o pá roco regista os i n d ivíduos que compõem o agregado fa m i l i a r esta­
belecendo a sua relação com o cabeça do fogo tornou-se possível a classificação da maioria
da população por esta d o civi l , uti l iza n d o , e m pri m e i ro l uga r, os segu i ntes critérios:

1 º - classifi ca ção expressa do estado civ i l ;


2º - a categoria dos casados - o bteve-se atendendo a q u e os elementos d o s casa is
surgem registados u m a segu i r ao outro, tendo os residentes fem i n i nos a classifi­
cação d e " m u l h e r";
3º - class i fi cação d e todos os menores e m e m b ros do clero como soltei ros (esco n­
dendo os últimos possíveis casos de vi uvez);
4º - todos os outros i n d ivíduos fora m classificados como de estado civi l descon hecido.

Da a p l i cação l i n e a r dos crité rios expostos resultou u m peso excessivo d os fregueses


d e estado civi l d esco n hecido, mais d e 50% da população a rrolada, 2 8 ,8% mascu l i nos e
2 1 ,6% fem i n i n os.
Não satisfeitos tentámos, mais uma vez, rodear os escol hos enco ntrados. Pa ra ta l ,
c o n c e n t rá m o - n os n o s c a s o s p o n t u a i s o n d e a s i t u a ç ã o c i v i l d os i n d i v í d u o s v i n h a
e x p ressa , o u s ej a , p a ra a l é m d o s ca b e ç a s d o s fogos casa d o s e s u a s respectivas
m u l h e res, casos o n d e se regista mais de u m casa l no agrega do e que vem separado
dos resta ntes m e m b ros d o fogo por u m pequeno traço horizonta l , podendo o casa l ser,
ou não, constituído por um fi l h o do ca beça do fogo; casos onde para a l é m do registo da
pessoa como fi l h o se segue o seu estado civi l , mesmo na ausência do seu respectivo
cônjuge; e casos d e p roge n i tores d o casa l referidos como vi úvos. Estes casos especiais
já ti nham sido tidos em l i n ha d e conta na primeira classificação efectuada e levara m-nos
a pensar q u e se os casos excepci o n a i s v i n h a m m e n ci o nados, então, todos os fi l h os
regista dos, mesmo os mai ores, desde que não houvesse menção de n e n h u ma situação
especia l , deveri a m ser considerados como solte i ros 9
Alargá mos esta classifi cação aos netos e sobri n hos a rrolados, por motivos idê nticos,
mas n e n h u m outro critério foi a p l i cado, visto que as tentativas d e classificação de pais
e sogros na categoria d e viúvos não pôde ser confi rmada.
Uti lizando este n ovo critério reclassi ficá mos a população, conseguindo reduzir o peso
da população de estado civi l desconhecido para 3 1 ,2% , percentagem a i nda muito elevada.
Feitas, mais uma vez, as ressa lvas necessá rias, chegá mos á segu i nte classificação:
(percen tagem média sobre a populaçã o tota l)
1 º - casados - 3 4 , 5 %
2º - solte i ros - 3 0 , 6 % ( e m segu ndo luga r excepto entre 1 7 5 6 e 1 7 59)
3º - esta d o civi l desco n hecido - 3 1 ,2% (em te rcei ro l uga r excepto e ntre 1 7 5 6 e 1 7 59)
4º - viúvos - 3 , 7%.

C o m e ça n d o p e l o g r u p o dos s o l te i ro s , regi stá m os , e s p e c i f i ca m e nte: a d i sto rçã o


ca usada p e l os m e n o res; a ten d ê ncia para a superi o ridade n u méri ca dos efectivos mas­
c u l i n os, 1 8 ,3% contra 1 2 ,3 % d e efectivos fe m i n i nos, o que pode l eva r a concl u i r, a i n da
que com m u i ta i nsegu ra n ça , pela existência d e um provável ce l i bato mascu l i n o 10

250
ASPECTOS SOCIODEMGRÁFICOS DA FREGUESIA DE NOSSA SENHORA DA ENCARNAÇÃO DA AMEIXOEIRA

Relativamente aos casados, para além do seu peso efectivo no conju nto da população,
3 4 , 5%, verifi ca m -se discre p â n cias q u a n d o a n a l isados por sexo. N o caso da populaçã o
fem i n i na a posição d a s m u l heres casadas é sempre superior à d os outros grupos quando
a n a lisados isola d a m e nte, enqua nto q u e no caso dos homens a posiçã o ocupada é a
tercei ra , i n ferior ao n ú m e ro de soltei ros e de homens de estad o civ i l desconhecido.
Os vi úvos são o gru p o m a i s red uzido da popu lação e o ú n i co o n d e os efectivos
fem i n i nos são m a ioritários, regista n d o-se, ainda para mais, u m mai or n ú mero d e viúvos
a contrair novo matri m ó n i o .
o gru p o dos e fe ctivos d e estado civil desco n hecido registam uma preponderâ ncia
nítida dos m e m b ros d o sexo mascu l i n o , provavelmente devido ao nú mero de trabalha­
do res, "criados", q u e se encontra m na freguesia sem constituí re m agregados fa m i l iares.
Em termos globais sã o superiores a o n ú mero d e efectivos soltei ros nos anos d e 1 7 5 6 a
1 75 9 e, mesmo relativa m ente aos casados, são superiores em 1 75 6 e 1 75 7. A sua anál ise
por sexo regista m a i o res va riações. N o caso dos efectivos mascu l i nos, o seu n ú mero é
superior a q u a l q u e r outra categoria em sete dos anos anal isados e a penas regista m u m
tercei ro luga r e m d o i s a n os; no caso d a s m u l h e res a s u a posição é sempre i n ferior á s
ca s a d a s , a i n d a q u e n o s ú l t i m os c i n c o a n o s , d e 1 7 5 6 a 1 7 6 0 , sej a m s u p e r i o res á s
resid entes solte i ras, q u e sofrem , sem d ú v i d a , da "ausência" d o s m e n o res d e sete a nos.

o C o m p o rt a m e n t o D e m o grá fico da P o p u l a ç ã o ( 1 7 4 0 - 1 7 6 0 )

N a ta l i d a d e

Como é fac il m ente com p reensível o s registos d e q u e dispomos remetem-nos, não


para os nasci m e ntos mas, para o baptismo dos i n d ivíduos na freguesia, pelo que em
2 4 5 registos e fectuados a penas 2 3 7 representam os nasci me ntos, sendo a d i ferença
e ntre os dois dados o resu ltado do baptismo de a d u ltos.
Foi possível regista r este facto porque o pá roco a notava a data d e nasci mento dos
ba ptizados, segu nd o determi na ções eclesiásticas superiores 1 1 , o que nos perm i te a i nda
verifica r a fa lta d e cumprimento d o preceito que i m punha o sacra mento do ba ptismo
até aos 8 dias d e idade.
Os resu ltados q u e d e seguida i re m os expor referem-se aos nasci me ntos, cuja i m por­
tâ ncia é tão releva nte pa ra o estudo d e mográfico d e qualquer popu lação.
Registá mos, entã o , 1 1 4 registos de nascim entos mascu l i nos e 1 2 3 fem i n i nos, o que
permite esta b e l ecer u m a Relação d e Mascu l i n idade de 9 3 homens para 1 00 m u l h e res,
relação que, como já referi mos é pouco usual e m populações com u m elevado n ú m ero
de efectivos, mas é aceitável em popu lações reduzidas e para i ntervalos de tempo curtos.
A média a n u a l de nasci m e ntos é de 1 1 , 3 , com um máximo no a n o de 1 7 5 6 , pelos
motivos já i n d i ca dos, com 1 9 nasci m e ntos e u m mínimo em 1 7 5 3 , com 5 nasci mentos,
estes últimos todos d e cri a n ças do sexo fem i n i no.
As v a r i a ç õ e s c o n sta ntes d o n ú m e ro de n a sc i m e ntos, sem o r d e m a pa re n t e , a
d isto rção causada p e l o s ú bito e cu rto a u m e nto da popu lação em 1 7 5 6 e o red uzido
n ú m e ro d e anos e m a n á lise não nos permitiu esta b elecer nenhuma tendência especi a l ,
d e q u e b ra o u a u mento, da cu rva dos nascimentos.
A distri bu ição dos nasci m entos por meses e estações do ano revela u m comporta­
mento id êntico a o d e outras freguesias 1 2 . com u ma nata l idade de el evada no I nverno e

251
ANA RITA COELHO RIBEIRO

mínima na Primavera, regista n do-se um segu ndo luga r para o Verã o, facto pouco usual
visto que esta esta ção costu ma regista r os níveis mais baixos da nata l idade.
A i l eg i t i m i d a d e dos n a s c i m e ntos regi sta d o s é d e 6 , 5 % , co rres p o n d e n d o a 1 7
ocorrências, a m a i o ria dos quais se verifi ca e m crianças ba ptizadas a lguns a nos a pós o
seu nascimento, · p e l o q u e para o estabelecimento d esta percentage m util izá mos o tota l
dos registos de ba ptismos e não o dos nasci m e ntos.
Restava -nos ca l cu l a r a Taxa Bruta d e Nata l idade, cá lcu l o possível pela existência dos
Róis que nos fo rnecera m dados sobre a popu lação tota l da freguesia. Util izá mos para
este cá l c u l o o n ú m e ro de p o p u l a çã o m é d i a resu l ta nte das ponderações já referidas
a nteri ormente, q u e tentava m atenuar os desvios ca usados pela ausência do registo dos
m e nores d e 7 a n os, chega n d o , então, a uma Taxa Bruta de Nata l i dade de 34 , 2%o.
Esta taxa , i nstru m e n to d e a n á l ise grosse i ro, reve l a a ca pa ci d a d e p a ra su bstitu i r
gerações, renova r a popu lação e ma ntê-la jovem (evita nd o o envelhecimento n a base),
não é fác i l , contudo, esta b e l ecer comparações ou concl u i r se é m u i to ou pouco el evada
face à situação d e o utras l o ca l i dades para a mesma é poca. Se comparada com os dias
d e h oj e a taxa nos p a rece m u i to e l eva da, qua ndo comparada com os resu ltados obtidos
para Coruche e Sa lvaterra d e Magos 1 3 , ta m b é m para o sécu l o XVI I I , podemos consi­
dera - la baixa, o mesmo aconte cendo e m confronto com dados fornecidos por outros
auto res pa ra regiões fora d e Po rtuga l 1 4 .
Concluímos assim que, relativa mente à nata lidade, na freguesia s e cumprem a maioria
das práticas da época, a i n d a que esta não seja tão e l evada qua nto seria d e espera r.

Nupcialidade

N a freguesia d a Ameixoeira regista m-se a penas 4 9 casamentos n o espaço d e 2 1 anos,


uma média de 2 . 3 u n i ões por ano, com um máximo registado de 4 casa me ntos nos
a nos de 1 74 1 , 1 744, 1 74 8 , 1 7 5 7 , 1 760 e sem qualquer a conteci mento em 1 74 5 .
se consi d e ra rmos a n u pcialidade c o m o a variável -chave do sistema demográ fi co do
Antigo Regi m e 1 s , temos, então, c o m uma Taxa Bruta de Nupcialidade de 6 ,8%o, u m a
popu lação pouco enquadrada no referido sistema demográfico, ao contrário do que seria
d e espera r para o p e ríodo e m a n á l ise. Trabal hos efectuados para a Europa no sécu l o
XVI I I a ponta m para taxas na o r d e m dos 1 6%o 1 6, m u i to mais el eva das q u e as registadas
na freguesia.
Contudo, não devemos esquecer que a dimi nuta d i mensão da freguesia e do tempo de
análise, não permite tecer considerações sobre a representatividade deste comportamento.
Um a p rofu n d a m e nto do estu d o d esta va riáve l passa ria pela verificação da Idade
Média do Casa mento e do peso do celi bato definitivo no conju nto da população, anál ises
i n v i a b i l izadas p e l a ausência de dados sobre a i d a d e dos i n d ivíduos que compõem a
populaçã o da freguesia 1 7
Não sendo u m dos nossos objectivos rea l iza r a reconstitu ição d e fa mílias, a relação
entre a n u p c i a l i d a d e e a nata l idade só foi esta belecida nos casos onde o cruza mento
dos dados dos Róis e Registos ass i m o p e r m i t i ra m . Daí ret i rá m os a i d e i a d e que o
i nterva l o p rotoge nésico seria norma l mente de 1 ano.
Analisada a n u pci a lidade por meses e estações do ano e comparada com os resu ltados
obtidos para diversas freguesias de Lisboa 1 8, concl uímos que na freguesia da Ameixoei ra
o Verão e ra o período mais "casa m e nte i ro", contra riando a tendência habitual do maior
n ú m e ro d e a co nteci mentos ocorrer n o I nverno. Exp l i ca ções? Ta lvez o carácter ru ra l ou
sem i-ru ra l da fregu esia, e m co n fronto com os hábitos cita d i n os.

252
ASPEITOS SOC/ODEMGRÁFICOS DA FREGUESIA DE NOSSA SENHORA DA ENCARNAÇÃO DA AMEIXOEIRA

Relativa mente à natura l idade e residência dos n u b e ntes pred o m i n a m os origi nários
da freguesia, com p e rce n tagens n a ordem dos 5 3 , 1 % e 80,6%, respectiva mente.
Temos, assim, que 42 ,9% dos homens e 63% das m u lheres que contraíra m matrimónio
era m naturais da Ameixoeira, e que 73,5% dos homens e 8 7,7% das mulheres nela residiam.
Tais resulta d os parecem m ostra r uma tendência nítida d e os i n d ivíduos casa rem no
l ocal d e origem/res i d ê n ci a da n o i v a .
Os n u b e ntes n ã o naturais da fregu esia são origi n á ri os , p r i n c i pa l m e nte, da zona
centro do país, 4 3 casos, sendo 1 6 d e Lisboa; segu i n d o-se o Norte, com 5 casos e, por
fi m , o S u l , 2 casos, e as colón ias, ta m b é m , 2 casos, sendo estes ú l ti mos resu l ta ntes do
casa m ento e ntre 2 escravos. Não há casa mentos com estra ngei ros.
Apenas dois dos n u b entes não resid i a m nem na freguesia, nem em Lisboa.
o Estad o Civi l dos n u b entes foi outro dos aspectos a n a l isados. Sendo que, 8 7,8% dos
casa m e ntos fo ra m rea l izados como p ri m e i ras n ú pcias e, a p e nas, 1 2 , 2 % como u n iões
com v i úvos, o que corres p o n d e a 1 2 casa m e n tos. Destes ú ltimos, d isti ngu i mos sete
viúvos e cinco vi úvas, regista n d o-se q u e e m 3 casa mentos a m bos os n u be ntes casava m
p e l a segu n d a ou terce i ra vez, caso de u m a das m u l h e res. A situação d escrita n ã o
suscita gra n des comentários.

M o rta l i d a d e

O s registos d e óbitos permiti ram-nos uma breve anál ise d a morta lidade d a freguesia
da Ameixoeira , e ntre 1 740 e 1 760, período dura nte o qual se registaram 1 88 ocorrências,
e m n ú me ro igual para a m bos os sexos.
Corresponde este tota l a uma média a n u a l d e 9 óbitos, com u m m í n i m o de 1 óbito,
e m 1 7 5 1 , e u m máximo d e 2 4 casos, e m 1 7 5 6 , provavel m e nte em resu ltado do já cons­
tatado a u m e nto súbito d e habita ntes na loca l i dade.
A o c o n t rá r i o do q u e s u c e d e com o s fe n ó m e n o s a n t e r i o r m e n te a n a l i s a d o s ,
m a n i festa-se n este caso u m a tendência nítida para u m acrésci m o do n ú m e ro d e óbitos
nos ú ltimos 1 1 a n os, d e 1 7 5 0 a 1 760, com uma média a n u a l de 1 0, 5 casos, contra os 7 , 5
de média dos p ri m e i ros 1 o a n os, isto a pesa r de ser n o período fi nal que se regista o a n o
com m e n o r frequência d e óbitos.
Recorre n d o uma vez mais a o cá lculo das taxas b rutas, n este caso da morta l idade,
e n co ntrá mos u m a taxa d e 2 6 , 9%o, taxa m a n i festa me nte baixa nu ma é poca onde estas
rondavam 3 2 %o 1 9 . Mesmo considera n d o valores na ordem dos 28 %o, e n contrados por
Pierre G u i l l a u m e e Jean Pierre Poussou para Fra nça 20, como normais, a taxa da freguesia
agora estudada é baixa. Talvez a loca l ização da freguesia, fo ra dos l i m ites do centro
urba n o mais próx i m o e em local " a rejado", como se depreende das descrições feitas na
é poca 21, sej a determ i n a nte na existê ncia de uma m orta l idade relativa mente baixa.
Apesa r de n ão sa bermos com precisão a idade dos i n d ivíduos à data do seu fa leci­
m ento, visto q u e os assentos não a regista m , tentá m os estima r a taxa de Morta l idade
I n fan t il com base nos registos onde as designações de: cri a n ça , recém-nasci d o , menor,
m e n i nos e outros s u rgia m 2 2 . em n ú m e ro de 9 3 .
Ora, o cálculo desta taxa a penas considera o s óbitos de crianças c o m menos de 1 a no
e c o m as referências encontradas estáva mos, certa me nte, a englobar crianças de ma i or
i d a d e . Reco rre mos, então, à p o n d e ração esti mada por J . M. Naza reth e F. Sou s a em

253
ANA RITA COLEHO RIBEIRO

i nvestiga ções para Coruche e Salvaterra de Magos, q u e tantas vezes nos serviram de
modelo, ponderação esta q u e refere ser de 5 5 % o peso dos óbitos de menores de 1 a no
no tota l d e óbitos i n fa ntis 23 . Apl icada a pondera ção, dela resultou u m tota l de 51 óbitos
de m e n os d e 1 a n o , com base n o q u a l ca lculámos uma Taxa d e Morta lidade I n fa nti l de
2 1 5 , 2 %o, va l o r dentro dos parâ metros considera d os comuns para a morta l idade i n fantil
q u e , a pesa r das gra n d e s variações determi nadas pelas condições socio-económicas d e
c a d a m e io , se s i t u a entre os 1 80%o e 2 6 0%o 24 .
A n a l i s á m o s , ta m b é m , a d i stri b u i çã o d o s ó b i tos p o r meses e esta ções do a n o .
Reporta ndo-nos, n este m o m e nto, a penas ás estações d o a n o , verifi ca mos q u e o verã o
se d estaca va d o conj u nto com 6 5 d o tota l d e ó bitos, segu i n d o-se a Pri mavera , c o m
44 ó b i tos; o I nverno. com 4 0 ó b i tos; e o Outono, com 3 9 óbitos. se consideramos o
esca lonamento a ceite como com u m na Europa, segu ndo A. Sauvy 2 s . onde é i n d i cado
u m máxi mo para o Inverno e u m mínimo para os meses de Verão, com a ressa lva d e
q u e nos países q u entes esta estação pode a t ingi r o segu ndo, ou mes mo, o pri m e i ro
l ugar, temos u ma m o rta l idade com patível com a referida ressa lva , embora o tercei ro
l uga r d o I n v e r n o possa p a r e c e r estra n ho . C o m p a ra n d o a s i t u a ç ã o da fregu es i a d a
Ameixoeira c o m a d e freguesias lisboetas, o n d e semelhantes análises fora m efectuadas 26 ,
não se e n co ntra m p a ra l e l ismos, mas as referidas fregu esias ta m b é m não segu em o
modelo de d istri b u i çã o proposto por A. Sa uvy.
Relativa m ente aos m eses do ano destaca-se o mês d e J u l h o , de maior morta l i da d e
pa ra os homens e cri a n ças, e o segu ndo n o toca nte ás m u l h e res.
São os óbitos i n fa ntis que determ i n a m o l uga r destacado d o Verão como esta ção de
m a i o r m o rta l idade, sendo os meses d e J u l h o , Agosto e Setem bro os que regista m maior
n ú me ro de asse ntos.
Quanto à repa rtição dos óbitos por sexo, relativa mente aos óbitos i nfa ntis vimos que
morri a m mais crianças d o sexo mascu l i n o , 5 1 óbitos mascu l i nos contra 4 2 fem i n i nos;
esta situação i nverte-se nos a d u ltos onde se regista m 35 óbitos fe m i n i nos contra 2 8
mascu l i nos, m a n te n d o-se a mesma tendência no toca nte a os i nd ivíduos para o s quais
desco n h ecemos tota l m e nte a idade, l a m e ntavel m e nte ta l ocorre e m 1 7% dos registos,
com 1 7 assentos para i n d ivíduos do sexo fem i n i n o e 1 5 mascu l i n os.
A proporção d e cri a n ças que m o rrem é d e ce rca d e meta d e dos óbitos por a n o .
e m b o ra no a n o o n d e se regista m mais óbitos, 1 7 5 6 , rep resentem a penas 2 5 % do tota l .
o esta d o c i v i l d o s fa l e c i d os v e m i n d i ca d o e m q u a s e t o d o s os assentos, com a
i n d i cação do cônjuge sobrevivente (casa dos), ou já fa lecidos (vi úvos), a fi l iação no caso
d e serem cria nças o u , si m plesme nte, com a i n d i cação d e solte i ros; resta m cerca de
8 , 5 % d e óbitos para os quais d escon hecemos o estado civ i l .
Da a n á l ise d estas i nfo rmações p o d e m o s rea lçar o enorme pes o dos soltei ros, e m
a m bos os sexos, 3 2 ,4 % para os h o m e n s e 2 9 , 3 % para as m u l h e res. s e n d o q u e estas
percentage ns refl ectem o peso das cri a n ças.
No gru po dos casados a p e rcentagem d e homens, d e 7,4% é i n ferior á das m u lh e res,
com 1 1 ,2%, d a q u i resu l ta n d o um m a i o r n ú m e ro d e vi úvos a res i d i re m na freguesia.
Relativa m ente a este ú lti m o esta d o civil as p e rcentagens são i dênticas para os dois
sexos, 5,3% homens e 5 ,9% m u l h e res.
Com a a n á l ise dos registos de óbitos concluímos a q u i as i n formações respeita ntes ao
comporta mento e ca racterísticas demográficas da populaçã o da Freguesia da Ameixoeira
e ntre 1 740 e 1 760.

254
ASPEGOS SÓCIO-DEMGRÁFICOS DA FREGUESIA DE NOSSA SENHORA DA ENCARNAÇÃO DA AMEIXOEIRA

Apresenta mos, em síntese, o segui nte quadro:

Taxa d e crescimento A n u a l Média 1 ,43%

Tempo de D u p l i cação em Anos 41 anos

Taxa d e crescimento Anual Média dos Fogos 0,25%

Taxa Bruta d e Nata l idade 34,2%

Taxa Bruta de N u pcialidade 6,8%

Taxa Bruta d e Morta l idade 26,9%

Taxa d e Morta l idade I n fantil 2 1 5,2%

Dele extraímos e propomos as segui ntes conclusões: esta mos pera nte uma situação
pouco v u lga r com uma taxa d e cresci m e nto a n u a l média positiva , m u ito acima dos
va l o res co m u ns; com taxas d e Morta l i da d e , Nata l idade e N u pcia l i d a d e relativa m e n te
baixas; sendo, u n i ca mente, a taxa de Morta l idade I n fa nti l a q u e mais se a p roxima das
situações decorre n tes d e uma estrutura d e mográfica d e Antigo Regi me.

4. ASPECTOS S Ó C I O - D E M O G RÁFICOS

As cara cterísticas da principal fo nte utilizada n o tra b a l h o que agora a p rese nta mos
e m síntese, os Róis d e Confessa dos, determ i n a m q u e toda a i n formação nela contida
v e n h a agru p a d a n u ma estrutu ra e l e m e nta r e m q u a l q u e r p o p u l a çã o : os fogos. Não
devemos cair n o erro d e , l i n earme nte, os identifi ca rmos com agregados fa m i l i a res, visto
q u e a p e n a s e n contra mos n e l es a i n formação s o b re u n i da d es de res i d ê ncia o n d e o
parentesco pode esta r a usente.
Co nsidera d o como " ... uma estrutu ra fu ndamenta l , porq u e é no seu i nteri o r que se
levam a e feito uma gra n d e pa rte das fu n ções essen c i a i s da sociedade - p rocriação
social ização das cri a n ças, consu mo e produção." n,o fogo, assu mi u na nossa i nvestigação,
u m relevo extrao rd i nário.
N o e n ta nto a a usência d e a lguns dados sobre a com p osição e ca ra cterísti cas da
p o p u l a ç ã o , como os refe re ntes à i d a d e e p rofissão d os i n d i v í d u o s , dados co m u n s
n o utras l i stas n o m i nativas e n co n tra das e m Portuga l 2a; o facto d e n ã o termos como
o bj ectivo fazer reconstitu i ção d e fa m í l ias; e , por último, a uti l ização "subsi diária" dos
Registos Paroq u i a i s d eterm i n o u que a abordagem efectuada ao estu do dos fogos não
seja i d êntica a o utros tra b a l hos já conhecidos.
Por outro la d o , a uti l ização d e uma série de anos consecutivos d e róis e as próprias
características da fonte permitira m uma a n á l ise da evol ução da composição, estrutu ra e
d i m e nsão dos fogos, pouco com u m na i nvestiga ção portuguesa.
- Não querendo parecer p rete nsiosos e a m b i ciosos tentá mos no nosso tra b a l h o testa r
u m a metodologia especifi ca para o trata m ento da fo nte, visto que a sua uti lização nos
moldes a que nos tínha mos proposto e , mais uma vez, as suas características específicas,
não perm itia m uma a b o rdagem m etodo l ógica idêntica à util izada n outros estudos.
N este m o m e n t o , no e nta nto, não c a b e d escrever em p o r m e n o r a metodol ogia
testada a o l ongo da rea l iza ção d o referido tra b a l h o mas, tã o só, a p resenta r os resu l ­
tados enco ntrados c o m a s u a a p l i cação.

255
ANA RITA COELHO RIBEIRO

A d i m e n s ã o d o s fogos

Os Róis d e Confessados a p resenta m -nos a i n formação ordenada em fu nção das ruas


existen tes na freguesia , esta n d o ca da fogo i n d ividual izado pela existência de u m tra ço
horizonta l a toda a sua l a rgu ra d e cada col u n a onde os dados estão contidos.
Trata-se d e fogos loca l izados q u e r e m propriedades u rbanas, vulgo p rédios, ou casa
d e habitação, q u e r em propriedades rurais, sendo possíve l identificar a existência de
d iversas q u i ntas, o n d e podia existi r mais do que uma residência. Não foi feita , i n fe l iz­
m e nte, uma i d entificação co m p l eta da o rga n ização do espaço, mas as ca racte rísticas
acima referidas são fá ceis d e recon h ecer.
R e l ativa m e nte ao n ú m e ro de fogos c o n ta b i l i z a d o s nos ró i s , j á refe r i m os , q u e
atingiram u m mín i m o d e 7 5 fogos, e m 1 7 5 1 , e u m máximo de 1 04 , em 1 7 5 6 , correspon­
dendo, possivelme nte, este ú lti mo registo ao máxi mo d e fogos q u e a freguesia atingia
n a década d e 5 0 . E m média o n ú mero d e fogos ocupados contava-se em 8 3 habitações.
A d i stri b u i çã o d a p o p u l a ç ã o por fogos fo i a n a l isada a n u a l m e nte resu l ta n d o do
conj u nto da i n formação a n a l isada o segu i nte quadro.

N ú m ero d e Pessoas por Fogo ( % m é d i a )

Fogos com 1 pessoa 1 0, 2 %


Fogos com 2 pessoas 25 %
Fogos com 3 pessoas 16 %
Fogos com 4 pessoas 1 8 ,4 %
Fogos com 5 pessoas 1 3,2 %
Fogos com 6 pessoas 5,7 %
Fogos com 7 pessoas 3,4 %
Fogos com 8 pessoas 2,5 %
Fogos com 9 pessoas 1 ,4 %
Fogos com 1 o ou + pessoas 0,3 %

D a q u i rea l ça m os o gra n d e peso dos agregados com, por ord e m , 2 , 4, 3 , 5 e 1 pessoa .


A ocupação média dos fogos varia, a n u a l me nte entre 3 , 4 habitantes, em 1 7 5 0 , e 4 , 7 ,
e m 1 7 5 6 , c o m u m a média para os 1 1 a nos a n a l i sados d e 3 , 8 pessoas por fogo.
Ass i m , a pesa r da distorçã o ca usada pela ausência dos menores, podemos ava nçar
com a ideia defe n d i d a por P. Laslett e E. Shorter d e q ue a fa mília red uzida não é a penas
n ossa conte m p o râ n ea 2 9 , conclusão co rro b o ra d a p o r tra b a l hos ta m b é m efectuados
sobre Portuga l 30
Mas, qual será a distorção ca usada pela referida ausência dos menores, ca lculada,
como já v i m os, n u m a pe rcentagem não i n ferior a 1 8% da população?
co m a a p l i cação s i m p l es d esta ponderação d e 1 8% d o tota l da popu lação o btivemos
uma média d e 4,7 pessoas por fogo, perdendo a afirmação acima exposta a sua va lidade.
Ou será q u e esta média ainda pode ser consi derada co mo i n d i cadora de uma fa mília
reduzida?
Uma resposta conclusiva só será possível uma vez completada a i n formação contida
nos róis e a sua com p a ração com o utras situações.

256
ASPEGOS SOC/ODEMGRÁFICOS DA FREGUESIA DE NOSSA SENHORA DA ENCARNAÇÃO DA AMEIXOEIRA

A Estrutura e c o m p o s i ç ã o I n t e r n a d o s Fogos

A análise da estrutura dos fogos exigi u u m trabalho comparativo, q u e se pretendeu


basta nte com p l eto, sobre as classifi ca ções usua l m e nte uti l izadas para ordenar os fogos
p o r catego r i a s e c l a s s e s , visto q u e as refe r i d a s c l a s s i fi caç ões n ã o s ã o tota l m e n te
adequadas ao tipo de i n formação contida nos róis.
A ti pologia que se costu ma util izar é a sugerida por P. Las lett, mais conhecida como
'Ti pologia d e Ca m b ridge", só que já vários autores, como R. Rowland 3 1 , e ntre outros,
real ça ra m o facto d a sua a p l i cação ao caso português exigi r uma adaptação consta nte,
sendo u rgente d e fi n i r u ma tipologia uti l izável especifi ca mente pa ra o caso português
que permita compara ções e ntre os d iversos estudos que se rea lizem para o nosso país,
sem, contudo, i nvia b i lizarem a n á l ises com p a rativas com o resto da Europa.
Não sendo possível, d e m o m e nto, a p resentar e m pormenor todo o estudo então
rea lizado l i mi ta mo-nos a a p resentar a tipologia proposta no nosso traba l h o :

CATEG O R I A CLASSES

1 - Isolados a) vi úvos
b) vi úvas
c) solteiros
d) solteiras
e) estado civil desco n hecido

2 - Agregados N ã o Conjuga is a ) i rmãos


b) outros pa rentes
C) sem parentesco evidente
d) i rmãos com estra n h os
e) viúvos com estra n hos
O viúvas com estra nhos
g) celi batãrios com estra n h os
h) cel i batãrias com estra nhos
i) eclesiásticos com estra n hos
j) estado civil descon hecido com estra n hos
k) outros parentes com estra n h os

3- Fa m i l i a Conj uga l S i m ples a) casa l sem fi l hos


b) casa l com fi l hos
c) vi úvo com fi l hos
d) v i ú va com fi l hos

4 - Fam í l i a Conjuga l S i m ples com Estra n hos a) casa l sem fi l h os


b) casa l com fi l hos
C) viúvo com fi l hos
d) viúva com fi l hos

5 - Agregad o Fa m i l i a r Extenso a) a l a rga mento ascendente


b) a l a rga mento d escendente
c) a l a rga mento lateral
d) com b i nações

6 - Agregad o Fa m i l i a r Extenso Com Estranhos a) a l a rga mento ascendente


b) a l a rga mento descendente
c) a l a rgamento lateral
d) com b i n a ções

7 - Agregad o Fa m i l i a r M ú ltiplo a) u n idade secun d á ria ascendente


b) u n i da d e secu ndária descendente
c) todas as u n idades ao mesmo nível
d) com binações

8 - Agregad o Fa m i l i a r Mú ltiplo com Estra nhos a) u n idade secu ndá ria ascendente
b) u n i da d e secundária descendente
c) todas as u n idades ao mesmo nível
d) com b i n a ções

9 - I ndeterm i n ados

257
ANA RITA COELHO RIBEIRO

convém rea l ç a r q u e , ao c o ntrá rio do q u e tem s i d o co m u m até a q u i , tivemos a


p o ss i b i l i d a d e d e o b s e rva r a rea l i d a d e e m m ov i m e nto ou sej a , d e estu d a r q u a l a
evo lução da " i nsta b i l i d a d e " q u e caracteriza a estrutura dos fogos, i nsta b i lidade essa q u e
F. Lebrun ta nto rea l ça 32 e q u e só ocas i o n a l m e nte temos oportu nidade d e constata r.
N este c a s o v e r i fi ca m o s q u e r a r o s fora m os fogos q u e a o l o ngo d o s 1 1 a n os
estudados n ã o m u da ra m de categoria o u , pelo m enos, de classe. Estudar em pormenor
as sucessivas a l terações registadas i m p l i ca a n a l isa r cada agregado/fogo isoladamente,
reconstitu i n d o fa mílias, cruza n d o n a tota l idade as fontes disponíveis. Ta l não foi possível
dada a morosidade da tarefa , ao facto d e termos estado a trabalhar por processos manuais
e , principa l m e nte , porque não ca b i a d e n tro dos o bjectivos i n icia l m e nte p ropostos.
.
Ass i m s e n d o , res u m i m o s a i n fo r m a ç ã o ao m í n i m o possível e a p resentamos os
resu ltados e m fu nção das médias a n ua i s obtidas.
o desta q u e vai p a ra a catego ria 3, com prepo nd erâ n ci a clara da fa míli a conj uga l
s i mples, fa mília nuclear sem estra n hos, tal co mo já havía mos a pontado. Esta categoria
atinge, quer e m n ú m e ros a bsolutos, quer e m termos percentuais, os va lores máximos,
com uma p e rcentagem m í n i m a d e 3 4 ,6% dos fogos, e m 1 7 5 6 , e u m a perce ntagem
máxima d e 50,6% dos fogos, e m 1 75 1 .
Se a esta categoria adicionarmos a categoria segu i nte, a categoria 4 , composta pelas
mesmas classes, mas q u e considera a existência de estra n hos, ou seja, criados, a mas,
assistentes, etc., cuja presen ça é , na m a i oria dos fogos, ocasiona l , tem porári a , a ideia de
q u e a fa mília nuclear é m u ito mais a n tiga do que se suponha é reforçada.
A categoria 1 , Isolados, su rge com u m a p ercentage m média i n ferior aos 1 O%; a
categoria 2 , Agrega dos Não Conj ugais, a p resenta -se basta nte estável , com percentagens
e ntre os 7%, e m 1 7 5 3 , e 1 6%, e m 1 7 5 6 .
Os fogos d e tipo 5 , Agrega dos fa m i l i a res exte nsos sem estra nhos, têm , ta m b é m , u m
peso considerável, va r i a n d o e ntre 6% e 1 7 , 7%, s e n d o m a i s frequente o a l a rga m e n to
asce n d e nte, com pa is/sogros, classe a). A categoria 6, Agregados fa m i l i a res extensos
com estra n h os, é sem p re i n ferior a 1 0%.
Os agrega dos fa m i li a res m ú ltiplos sem estra n hos, categoria 7, só surge m uma vez,
e m 1 760; e com estran hos, categoria 8 , em 1 75 6 , atingem o seu máximo com 4 agregados,
n u ma p e rcentage m d e 3 ,8% do n ú mero tota l d e fogos d esse a n o.
Resta referir a categoria 9, com fogos de estrutu ra i n d eterminado, que ati nge a per­
centage m m á xi m a de 2 , 9 , em 1 7 5 6 , a n o onde o a u m e nto s ú bito e cu rto da popu lação
pa rece v i r disto rce r todas as a n á l ises evol utivas passíveis d e rea l iza r.
As conclusões possíveis são, resu m i d a m e nte, as segu i ntes:

- p reponderâ n ci a nítida da fa mília nuclear;

- represe n ta ti v i d a d e m í n i m a dos agrega dos fa m i l i a res m ú l ti p l os - a coa b i tação d e


2 ou m a i s casa is é p ratica m ente i n existente;

- a fa mília extensa, tem u m peso relativa mente i m porta nte, especia lmente porq u e
pa rece ser com u m a coa b i tação d o s p a i s e / o u sogros, q u a n d o viúvos ou sem a
presença do respectivo cônjuge, com o casa l de base;

- relativa i m p o rtâ ncia dos fogos onde não pa recem ter existido relações conj ugais
d e base, com i n divíduos isolados ou com coa bitação d e pa rentes e/ou estra n hos,
que representa cerca d e 1 /4 d o tota l dos fogos.

258
ANA RITA COELHO RIBEIRO

Toda esta classificação a p resentada p a ra os fogos é possível de rea l iza r p o rq u e


conhecemos para todas as u n idades residenciais o ca beça do fogo, assenta nd o o pá roco
a l igação fa m i l i a r com o mesmo sempre que ela existia.
Foi com base nesta i n formação que pudemos ta m b é m conhecer, a i n d a que com
gra ndes lacunas, o esta d o civil da populaçã o residente, já exposto.
De rea lçar q u e , a designação por nós a d o ptada d e ca beça do fogo para o pri m e i ro
a rrolado q u e surge e m cada u n idade residencial se prende com o facto de não haver
correspondência e ntre fogo e agregado fa m i l ia r.
Fizemos u m a b reve a n á l ise destes "cabeças dos fogos", por sexo e estado civi l , donde
rea l ça m os a s segu i n tes concl usões:

1 º - a e n o rm e d e s p ro p o rção e n tre fogos e n ca beçados por h o m e n s e m u l h e res,


ati ngi n d o os ú lti mos u ma pe rcentagem máxima d e 1 2 , 3 % dos fogos, e m 1 7 5 0 e
1 752;

2º - a m ai oria d o s fogos e ra m e n ca beçados p o r homens casados, c o m uma perce n­


tage m m i n í m a d e 5 6 ,8o/o dos fogos, e m 1 7 50.

A relação e n tre estas d uas concl usões é pe rfeita mente l ógica visto que quando o
fogo é constituído por u m casa l é sem pre o homem que e n ca beça o fogo.
o n ú m e ro de fogos e n ca beçados por solte i ros, aumenta a pós 1 75 7, com percentagens
superiores a 1 3 , 5 % a parti r d esse a n o , ten d o até aí atingido um máx i m o de 1 2 ,3%, em
1 7 5 0 , e um mín i m o d e 7,4%, e m 1 7 5 5 . Ao l ongo de toda a observação só registá mos u m
fogo e nca beça d o por u m a solte i ra e e m 1 7 5 6 .
O s viúvos encabeçavam u m m á x i m o de cinco fogos, em 1 7 50 e a s viúvas nove fogos,
em 1 7 5 0 , 1 7 5 6 e 1 7 5 7 , sendo q u e a lgumas viviam com fi l hos maiores.
Os i n d ivíduos d e estado civi l desco n h ecido do sexo mascu l i n o encabeçava m ce rca
de 8,6% dos fogos e as m u l h e res apenas 2% dos fogos.
A composição i n terna dos fogos segu ndo o estado civil dos cabeças dos fogos foi
ta m b é m a n a l isada , refl ecti n d o-se em gra n d e pa rte na classifi cação dos fogos exposta
a nteriormente.
A morosidade de uma análise a n ua l desta informação levou-nos a restri ngir o estudo ao
ano de 1 750, tomado como ano de base visto ser o primeiro ano sobre o qual trabalhá mos,
segu i n d o-se uma b reve exposiçao sobre as te n d ê n cias gera is d e evolução.
Resu m i d a m e nte constatá mos a segu i nte situação:

- dos 5 6 ,8% dos fogos constituídos por casa is 2 1 % vivia com os fi lhos, 1 3 ,6% não
ti nha filhos (percentagem afectada, certamente, pela ausência dos menores de 7 anos)
e 2 2 , 2 % coa bitava com pa rentes e/ou estra n h os;

- os i n d ivíduos vi úvos ( 1 4 casos) viviam preferencia l m ente com os fi lhos ( 1 1 casos) e


apenas 3 vivi a m isolados;

- os solte i ros viviam tendenci a l m e nte sozi nhos ( 7 casos), com pa rentes e estra nhos
(2 casos) e só com estra n hos, criados/servidores (2 casos);

- os i n d ivíduos de esta d o civil desco n hecido encabeçavam 1 O fogos, 6 dos q u a i s


onde só res i d i a m criados.

17 259
ASPEGOS SOCIODEMGRÁFICOS DA FREGUESIA DE NOSSA SENHORA DA ENCARNAÇÃO DA AMEIXOEIRA

Analisa n d o a evo l ução registada ao l ongo dos 1 1 a n os de róis estudados rea l ça m os:

- a c o n t i n u a çã o d a p re p o n d e râ n ci a dos i n d i v í d u o s casa d os com e s e m fi l h o s


(ati ngi n d o o s p ri m e i ros o máximo de 2 2 agregados, em 1 760).

- a e x i stê n c i a de estra n h o s não m o d i fica a natu reza dos a grega dos, p e l o q u e


conti n u a m os a e n co ntra r sempre o predomínio d a fa mília nuclear.

- as o u tras catego rias n ã o a p re s e n ta m q u a l q u e r t e n d ê n c i a evo l u tiva sofre n d o


consta ntes varia ções.

As e s t r u t u r a s p r o fiss i o n a i s

A o longo d e t o d o o estudo fomos sempre encontra nd o i n forma ções, parcela res e


i nconsta ntes, sobre as actividades profissionais dos habita ntes da freguesia.
Designados como "servidores", este conj u nto de i n d ivíduos que ron d a m uma média
d e 7 1 pessoas por a n o , a p re s e n ta l i ga ç õ e s d e ca racter s a ci o - p rofiss i o n a l c o m os
diversos agrega dos fa m i l i a res q u e consti tu e m a ma ioria dos fogos.
São eles a m a ioria dos "estra n h os" que levara m a um desdobramento da classificação
dos fogos e que dete r m i n a ra m o peso, sempre excessivo, das diversas categorias de
" desco n hecidos " que tivemos d e i n c l u i r e m toda a a n á l ise.
Quem e n co ntrá m o s sob esta designação d e "servidores" são fu n d a m e nta l m e nte
q uatro gru pos d e i n d ivíduos: os criados; os assistentes; os escravos e outros, u m gru po
i ndefi n i d o que i n c l u i várias categorias profissiona is.
Os criados, constituem o grupo com m a i o r peso, sendo o n ú m e ro de m u l heres clas­
sificadas como ta l i d êntico ao dos homens, pelo que considera mos possível englobar
n este conj unto de servidores quer os empregados domésticos, segundo a actual designação
uti lizada para os serviços prestados, q u e r i n d ivíd uos relacionados com tarefas do foro
agrícol a , dado o carácter rura l da freguesia e à expressão " criados d e q u i nta " uti l izada
pelo pároco, e m 1 7 50.
Os assistentes constituem u m segu n d o gru po, d e contornos i n defi n i d os, só seria
possíve l concl u i r a lgo sobre o â m b ito das suas fu n ções se conhecêsse mos a profissão
da pessoa a q u e m "assisti a m " . Sabemos, a penas, que havia "assistentes na h o rta " e
assistentes que viviam com caseiros. As mulheres são, neste caso, em número reduzido,
atingi n d o u m m á x i m o d e seis casos, e m 1 7 5 6 .
Os escravos, contava m princi pa l m ente c o m efectivos mascu l i nos, havendo cri a nças
filhas de m u l h e res escravas, que, segu i n d o a l egislação da é poca que considerava a sua
s i t u a ç ã o h e r e d i t á r i a , fora m c l a s s i fi c a d a s c o m o tal As suas fu n ções p o d e r i a m s e r
m ú l t i p las, n ã o existindo m a i s i n formação.
Por ú l ti m o , temos um conj u n to d e pessoas d e contornos m u ito vago q u e i n c l u i :
a p re n d izes e oficiais d o s q u a i s d esco n hecemos o oficio; escu d ei ros, arpeiros, pagens e
b o l i e i ros, l iga dos a fogos com gra n d e n ú m ero de e m p regados e com um "status" soci a l ,
a parentemente, d e n í v e l su perior; casei ros, ren d e i ros, m o l e i ros, ca brei ros e h orte lãos,
que record a m conti n u a m e nte o carácter rural da freguesia. Os casei ros enca beçava m
vários fogos, vivendo com o respectivo agregado fa m i l ia r, sendo dos poucos casos em
q u e o pá roco a p ontava a p rofissão d o ca beça do fogo.
Temos, ta m b é m , n este ú l t i m o gru p o a lgumas m u l h e res, as a m a s , e m b o ra u m a
d e l a s v i v a co m o padre. o pá roco da fregu esia coa b i tava com uma " p reta ", que exercia
fu nções d e govern a n ta da sua casa.

260
ANA RITA COELHO RIBEIRO

A distri b u i çã o d estes servidores pelos diversos agregados permitiu-nos concl u i r q u e


a sua gra n d e maioria residia e m fogos e n ca beçados por solte i ros, vi úvos e i ndivíduos d e
esta d o c i v i l desco n hecido. Relativa m ente a o tota l d e fogos e n ca beçados por casados
a penas cerca d e 1 /4 dos mesmos contava com a presença d e servidores.
A maiori a dos fogos com servido res ti n h a , a penas, u m " criado " .
o a profu n d a m en to d o estud o das a ctividades p rofissionais d a populaçã o s ó seria
possível com o recu rso a outras fontes.

5. C O N CL U S Ã O

Concluímos c o m esta breve abordage m sobre o s aspectos profissionais d a popu lação


a síntese que nos propusemos efectu a r sobre o comporta m ento sociodemográ fico da
popu lação da freguesia da Ameixoe i ra , e ntre 1 740 e 1 760. M u ito ficou por a n a l isar, q u er
n o tra b a l h o q u e a n te r i o r m e n t e rea l izá m o s , q u e r d e m o m e n to , ond e, p o r m otivos
ó bvios, não i n c l u í m o s toda u ma refl exão a p rofu n da d a s o b re a lguns dos a grega d os
consid e rados com o exemplifi cativos da estrutura fa m i l i a r da freguesia.
Esp e ra m o s , c o n t u d o , ter c o ntri b u í d o , d e a lg u m a fo rma p a ra o a l a rga m e nto do
conhecimento da vivência sacio-demográfica da popu lação portuguesa no sécu l o XVI I I ,
n ã o esquecendo q u e todas i n formações contidas n esta exposiçao s ã o sempre passiveis
de u m a a n á l ise mais e l a borada e com p l eta , pelo q u e s u b l i nh a mos a ideia d e que as
p ro postas agora ava nçadas não constitu e m ce rtezas e d e que há uma n ecessidade
preme nte d e rea lizar mais estudos sobre todas as fontes q u e se e n co ntrem á nossa
disposição, designadamente sobre os Róis de confessados, estudos q u e via b i l izem uma
perspectiva mais segu ra e globaliza nte da rea lidade demográfi ca portuguesa do passado.

F O NTES E B I B L I O G RAFIA

FONTES M A N U S CRITAS

Livros de R ó i s d e Confessad os da Freguesia de Nossa Senhora da Encarnação da Ameixoeira:

- Livro 1. 1 73 3 - 1 7 5 3
- Livro 2. 1 7 5 4 - 1 78 1

Livros d e Registos Pa roq u i a i s d a Fregu esia d e Nossa senhora d a Encarnação d a Ameixoe i ra :

- Livro d e Ba ptizados 1 . 1 697- 1 744


- Livro d e Ba ptizados 2. 1 744- 1 7 5 7
- Livro d e Ba ptizados 3 . 1 744- 1 808
- Livro d e casa m entos 1 . 1 70 1 - 1 744
- Livro d e Casa mentos 2. 1 746- 1 840
- Livro de óbitos 1. 1 703- 1 7 3 6
- Livro de óbitos 2. 1 736-1 8 1 5

261
ASPEGOS SOCIODEMGRÁFICOS DA FREGUESIA DE NOSSA SENHORA DA ENCARNAÇÃO DA AMEIXOEIRA

FO NTES I M P R ESSAS

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B I B LI O G RA F I A

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262
ANA RITA COElHO RIBEIRO

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5Auvv, A/fre d , A População, lisboa, Ed. livros d o B rasil, s.d.

SHORTER, Eduard, , la naissance de la {amille moderne, Pa ris, Éd. d u seu i l , 1 9 7 7

N OTAS

1 . ver, p o r exemplo, a s obras d e Michel Fleury e H e n ry Louis, 1 9 5 6 e 1 96 5 .

2. Relembra m os os tra b a l h os de Norberta A m o r i m . 1 98 3 ; Robert Rowla n d , 1 98 4 , e Teresa Rodrigues, 1 9 8 5 .

3. P o r privilegiarmos o estudo d a s i n formações contidas n o s Róis de Confessados decidimos restringir o seu período
de ana lise.

4. J. M. Naza reth . 1 98 8 , pag. 1 8 5 e 1 8 6.

5. Consultamos fontes como: Frei Nicolau de O l iveira. 1 804; que nos ind icava a existência de 75 fogos, ou cerca de
300 pessoas, excluindo m e nores, estra nge i ros, escravos e h ospedes; o Oiccionário Geográphico... do Padre Luis
Cardoso, 1 74 7 , com 7 5 vizi n h os, a q u e segu ndo os ca lculas de Ma ria de Lurdes Neto, 1 96 7 , corresponderiam
3 1 1 pessoas; e m Lisboa em 1 758: Memórias Paroquiais de Lisboa, Fernando Portuga l e Alfredo de Matos, 1 9 74,
consta m 8 8 fogos e 338 pessoas; João Bautista de castro, 1 76 3 , apontava 70 vizin hos.

6. J . M. Naza reth e F. Sousa, 1 98 3 , pag. 1 8 .

7. Esta h i pótese foi confirmada pelas a l tera ções registadas nos assentos p a roq u iais.

8. Ver as Constituições Sinodais, Títu lo X, Paragrafo III, onde a rn u lta a ser a p l icada era de dois a nateis de cera.

9. Aproveitando o cruza mento das fontes con firrnarnos, tanto qua nto possível, a h ipótese formu lada de classificação
dos fi lhos m a i o res, tendo os resu l tados sido positivos em todos os casos a n a l isados.

1 0. Esta ideia foi confirmada posteriormente pela baixa taxa de nupcialidade registada e pelo casamento das mulheres
com hornens n ã o residentes na freguesia, correspondendo a 26,5% dos casa mentos.

1 1 . No Livro 1 d e Ba ptismos, n o fól i o 6 3 v", registava-se a segu i nte i n d icação: " Visto ern Vizitaçarn de 1 4 de No­
vembro de 1 7 1 9 declare 1 o d i a ern que nasceram os baptizados, e fação I observa r a constituição i rn pondo
sem Rem issão a 1 pena d e l las a q u e m d i latar o ba ptismo 1 por mais d e 8 dias 1 costa ··.

1 2. Maria d e Lurdes Neto, 1 9 5 9 , pag. 79.

1 3 . J . M. Naza reth e F. Sousa, 1 98 3 , pag.3 6 .

1 4. idem, p a g . 3 3 1 3 4 .

1 5. J. M. Nazareth e F. S o u s a , 1 98 3 , p a g . 3 6 .

1 6. idem, p a g . 3 7 .

1 7. Só n o s casos o n d e o cruza mento d a s fontes foi plenamente consegu ido s e poderam obter i n formaçbes sobre
a idade dos n u bentes, mas tais casos nao sao representativos.

1 8. M . L Neto, 1 9 5 9 , pag. 1 1 3 e 1 96 7 , pag. 72 .

1 9. J. M. Nazareth e F. Sousa, 1 9 8 3 , pag. 3 2 .

263
ASPECTOS SOCIODEMGRÁFICOS DA FREGUESIA DE NOSSA SENHORA DA ENCARNAÇÃO DA AMEIXOEIRA

20. ver P. G u i l la u m e e J . P. Po usso u , 1 9 70, citados por J. M. Nazareth e F. Sousa, 1 98 3 , pag. 3 2 .

2 1 . J o ã o Bautista de castro, 1 76 3 , a p resenta a segu i n te descrição: " Afasta-se este Lugar d e Lisboa pouco m a i s de
h uma légoa para o Norte. Esta em h u m sitio e l evado q u e o faz a l egre. e lograr h u m a r sa lutifero. " , pag. 4 4 7 .

2 2 . As designações enco ntradas fora m clarificadas nos casos onde o cruza mento das duas fontes utilizadas foi
e fectuado, d a q u i resu lta n d o a segu inte classificação:

- recé m -nascidos - cri a n ças d e 1 dia a 1 mês de idade


- cria nça-de-mama - e n tre 8 dias e alguns m eses
- criança - e n tre 1 semana e 4 a n os
- menor - até aos 4 a nos
- m e n i n a - e ntre 1 e 5 a n os
- rapaz/rapa riga - m e nores de co n fissão dos róis e ou tros

2 3 . J . M . Nazareth e F. Sousa , 1 98 3 , pag. 3 3 .

24. i d e m , pag. 3 3 .

2 5 . v e r A . sauvy, A População, p á g 9 4 .

26. M . L Neto, 1 9 5 9 , pag. 1 4 6, e 1 96 7 . pag. 1 08.

2 7 . J . M. Naza reth e F.Sousa, 1 9 8 3 , pag. 4 3 .

2 8 . v e r J . M . Nazareth e F. Sousa, 1 9 8 1 , 1 98 3 e 1 9 8 7 .

29. Ver P . Laslett, 1 9 7 2 e E. Shorter, 1 9 7 7 , citados por J . M. Nazareth e F. Sousa, 1 98 3 , pag. 4 5 .

30. J . M. Nazareth e F. S o u s a , 1 9 8 3 , pag. 4 5 .

3 1 . R. Rowl a n d , 1 98 4 , pág. 1 3 .

3 2 . F. Le bru n , 1 98 3 , pag. 64 e 6 5 .

264
LOS S E FAR DIE S DE MAR RUE COS
E N LA G E NE S IS Y CONS OLIDACION
DE LA ACTUAL C OLE CT I VIDAD
JUDIA DE VE NE ZUE LA ( 1 8 3 5 - 1 8 8 0 )
JUAN-BTA. VILAR
U n iversidad de M u rcia

P LA NT EA M I E N T O

La hoy floreciente Asociación de Comunidades Israelitas d e Venezuela, con considerable


peso soci a l y eco n ó m i co e n e l país, se vincula estrechamente e n sus orígen es y u lterior
consolidación a una estimable corrie nte migratoria desde Marruecos, ciclo abierto a medi­
dados de la pasada centuria y no cerrado sino u n siglo más tarde, i niciada la década de 1 960.

UN PRECEDENTE: SEFARDI ES DE CURAÇÃO Y ANTILLAS B RITANICAS EN


LOS ORIGENES DE LA VENEZUELA INDEPENDIENTE. LA COMUNIDAD DE CORO

La l l egada d e los p ri m e ros emigra ntes judeo-marroquíes a Venezuela va precedida


de i asenta m i ento d e j udíos de curação y las Anti llas britá n i cas e n los dias mismos de la
i nd e p e n d e n c i a , a la que e l los contri b uyeron e n diversa m e d i d a , co nsiderá n d ose por
tanto con d e recho a la atención y a poyo q u e n u n ca habían merecido de las a utoridades
espa no/as. El caso d e Abra h a m d e Meza , a n fitrión d e Bolívar a i l l ega r a Curação com o
refugiado e n septi e m b re d e 1 8 1 2 , es e m b l e mático. Algu nos d e estas j udíos tomaron l a s
a rmas d e i lado d e los patriotas, otros presta ron su concurso fi nanciem a la empresa, y
los más se mezclaron en la conti enda para hacer lu crativos n egocias, i ntrod uciendo
a rmas y vitua lla s e n las á reas contro ladas por los nacional istas.
Lograda la i ndependencia, se les veía e n Ca racas, La Guayra, Maraca i bo, Barcelona,
Puerto Cabello o Valencia, y también en ciudades colombianas como Cartagena, Santa Marta,
Barranquilla o Bogotá. Pera la actitud de rechazo de la población (no obstante la protección
oficial q u e se les dispensá), sumada a las d i ficultades d e l a postgue rra , de que e n pa rte
se hacía responsa b l e a estas asentistas judíos, y a sus correligionarios e u ropeos y norte­
a m e ri ca n os, su condición d e extra nj e ros por haber retenid o la nacionalidad holandesa y
b ritá n ica , su co rto n ú mero y la m ovi lidad que les i m ponía sus n egocias, todo se conj u rá
para i m pe d i r q u e cuajasen hasta época relativa m ente tardía comun idades orga n izadas.
La primera e n formarse fue l a d e Coro, e n la península i n med iata a Curação, siéndolo
de la m a n o d e David H o h e b y J osef Curi e ! , ricos comerciantes i nsta lados e n esa ciudad
hacia 1 8 2 4 . Hoeb, a quien Bolíva r conced i ó la nacionalidad, fue acaso e l pri m e r j udío
p ú b l i co que l a obtuvo en las n u evas re p ú b l i ca s d e la A m é ri ca h i s p a n a . E n torno a
a m bos se agru p a r o n 2 5 fa m i l i a s , q u e constituyeron la p ri m e ra kehilá i s ra e l ita , con
s i nagoga y cementeri o , d e que se tiene noticia e n la lberoa m é ri ca i n depend iente 1 .
Los j udíos de Coro, y otros esta blecidos en d i fere ntes pu ntos de Venezuela, repre­
senta n u n nota b l e p recedente d e una segu nda i n m igración judía en el país, a su vez
sefardí, l l egada d e Ma rruecos desde e l lustro 1 8 3 5 - 1 840. Las conexiones de una y otra,

265
JUAN BTA. VILAR

que s i n duda se d i e ro n , es asunto por estud i a r. La judeidad ase ntada en la é poca de la


i n d e p e n d e n c i a se h a l l a ba b a sta n t e d e ca í d a v e i nte a n os m á s ta rd e , d a d o q u e e l
a ntisemitismo fu e u n i ngre d i e nte i m po rta nte e n los sucesos revol ucionarias d e 1 8 3 1 y
1 8 5 5 , q u e determ i n a ro n la sa l i d a d e i país. o la forza da convers i ó n , de la casi tota l idad d e
los comerci a n tes j udíos d e Venezuela, obte n i e n d o los Países Bajos una i n d e m n iza ción
de 2 0 0 . 0 0 0 f l o ri n e s com d e s t i n o a q u i e n es s e e n co n t ra b a n en p o s e s i ó n de la
naci o n a l i d a d h o l a ndesa 2 . A med iados d e i siglo XIX no existía n e n la repú b l i ca ca ribena
otros j u díos que u n os cua n tos ma rro q u íes de reci e n te i n m igraci ó n . De los a ntiguos
apenas resta ba una d é b i l p resencia testi m o n i a l en Coro.

P R I M E R O S I N M I G RANTES S EFARD I ES DESDE MARRU ECOS

A los o rígenes d e la i n m igración judeo-ma rroq u í en Venezuela, determi nada por la


presió n d e mográ fi ca , d i fíciles condiciones de vida y secuelar d iscri mi nación sufrida por
los j u d íos e n e l país d e proced encia, se vi ncula estrecha me nte e l relanza m i e nto d e la
espa n o la con desti n o a ese país, a la q u e aquella aparece conectada, o por mejor decir
e n la q u e se halla i nserta . Ello tuvo l uga r por los a nos de 1 8 40, una vez normal izadas en
e l 4 5 las relaciones d i p l omáticas e ntre a m bos estados, e l térm i n o d e dos décadas de
ru ptu ra desde la i n d e pe n d encia. Pionera de esa emigración seria la proced ente de las
lslas Ca n a rias, q u e se retrotrae a los anos d e 1 8 2 0 y 1 8 3 0 en media d e la aguda crisis
suscitada e n las islas por la q u i e b ra dei modelo eco n ó m i co que les fue ra proprio en e l
Antiguo régi m e n . fu ndado e n e l d o b l e p i l a r d e u n comercio col o n i a l en exti nción y de
u n a a g r i c u l t u ra de e x p o rta c i ó n - l a vid y l a b a r r i l l a - , a rr u i n a d a a h o ra por la
c o m p e t e n c i a d e los v i n os p o rtugueses y a n d a l u ces y por l a a p a ri c í o n d e l a sosa
si ntética 3 .
Por su pa rte Venezuela p racticaba por entonces una política i n migratoria bastante
l i bera l e n su i nte n to d e contra rresta r el formi d a b l e e mpuj e de su población negra e n la
primera m i ta d d e i siglo XIX. El e n ca rgado d e negocias d e Espana e n Caracas. Fernando
de la Vera, en u n despacho 4 di rigido a i m i nistro espano! de Estado en 23 de abril de 1 8 54,
l e m a n i festa rá q u e n o sólo las autoridades venezo lanas s i n o los gra n d es hacendados
esta ban pote ncia n d o la i n m igración blanca en e l país. a i objeto de que e l pred o m í n i o de
n egros y m u latos n o l lega ra a ser una rea l idad, como l o era ya e n Santo Domi ngo, y
próx i m o a seria en Cu ba y Col o m bia.
A ta l fi n . "las fa m í l ias más nota b les de este país", separada y conj u ntamente, venía n
d estaca n d o agentes en Andalucía , G a l i cia y en pa rti cular ca narias. regiones espa nolas
con f u e rte p re s i ó n d e m o g rá fi c a , p a ra c o n trata r s i rv i e n te s . b ra c e r os y co l o n o s.
Pretendían por ese m e d i a " . . . contra rresta r e n l o posi b l e la prepondera ncia nu méri ca de
l a raza a frica n a . ta n te m i b l e e n u n pays donde go b i erna e l número, y a u m e nta r las
personas b l a n cas útiles para e l servido doméstico y las faenas d ei ca mpo".
Algu nos j udíos tetua níes y ta ngeri n as, q u e por motivos merca ntiles u outros venían
frecuenta ndo los p u e rtos a n d a l uces desde los a nos d e 1 8 1 o s . se i n corporaron a esta
corrie nte m igrato ria. A tal efecto pasaron a Algeciras, Má laga, Cádiz e i ncluso ca narias a i
o bjeto de e m b a rcarse para A m érica , n o s i n a ntes acogerse, s i empre que l e s resulta ra
facti b l e . ai estatuto de p rotegidos espa n o l es. De esta forma, de acuerdo con las l eyes d e
Espa na y los acuerdos m igratorios hispan o-ven ezol anos vigentes, en e l caso de que e l
contratista a ntici para e l i m porte dei pasaj e y corriera con l o s gastos de i nsta lación y

266
LOS SEFARDIES DE MARRUECOS

m a n u t e n ci ó n , e l e m i g ra nte podia d e v o l v e r esas s u m a s en l o s p r i m e ros d os a n os,


facultá ndose a e ntra r a i servicio d e persona d i ferente a i contratista si así l o desea ba, o a
ocuparse en actividad d isti nta a la p revista i nicial mente.
Es así como podia soslaya rse a caer e n manos de d esa p re nsivos, que en ocasiones
habían ! l egad o a explota r a los i n m i gra ntes d u ra nte cuatro o seis a n os, so pretexto d e
h a c e r efectivas d e u da s i m a g i n a rias, q u e d a n d o red u c i d os a l a cond i ci ón fá cti ca d e
siervos e n u n país d o n d e , p o r fortu na, la abolición de la esclavitud ha bía sido u n a de las
conquistas e m b l emáticas d e la revolución i n d e pend izadora. Tales a b usos, que pese a
t o d o se re petía n c o n h a rta frecu e n c i a , determ i na ro n q u e e l s iste ma d e contratos
term i n a ra siendo p ro h i bido.
Tres a n os m á s ta rd e , l a corri e n te m i grato ria a Ve n ezu e l a se h a l l a b a e n p l e n a
puj anza. H e ri b e rto Ga rcia de Toledo, n u evo encargado de negocias espa no! , referiria n o
existi r otro país e n la Améri ca hispana q u e ofreciera a i e migrante mej ores condiciones
la borales n i p e rspectivas más halagüenas para hacer fortuna. En su o p i n i ó n , e ntre los
países d ei h e m isferio occi denta l , e l em igrante hispanófono " .. . a n i ngu no mej o r que a
Venezuela p u ed e v e n i r" 6 . Pa ra entonces el i n mi gra nte podia satisfacer el i m porte de su
pasaj e y gastos a d i c i o n a l es n o ya e n dos a nos sino e n a penas seis meses. Por e l l o ,
q u i e n es d e s d e M a rruecos, o d e s d e o rá n y Arge l , h a bían m a rch ad o a G i b ra lta r c o m
propósitos d e e m ba rca rse p a ra América , c o n frecuencia pasa b an a a lgún p u e rto d e
Espa na i n m e d iato pa ra a coge rse a los ve ntajas reco nocidas a los espa n o l es caso de
haberse p rocura do las certi fica ciones oportunas e n los consulados de sus l uga res d e
origen o en e l d e G i b ra l ta r.
Un j udio m a rroq u í asi m i lado a los em igra ntes q u e partía n de ca narias o Andal ucía
podia logra r q u e se le antici para sin d i ficu ltad por los agentes reclutado res el i m porte
d e i pasage (entre s o o y 700 rea les, según el pu nto de em barque q u e escogiese), " . .. q u e
p u e d e p a ga r c ó m o d a m e n t e e n 6 m e s e s d e u n tra b aj o l l e v a d e ro - i n fo r m a e l
rep resenta nte d e Espana e n Venezuela 7 , cuya retri bución media, [dia ria] es d e d i ez
-

reales de n u estra moneda".


Ta n p ro n to el h e b r e o sa l d a ba s u d e u d a , c o n t i n u a ba u n t i e m p o e n l a m i s m a
ocupación hasta a h o rra r l o suficiente para adquirir u n a recua de tres o cuatro mulas o
a s n o s , p u d i e n d o l og ra r i a con l a s e co n o m ias a cu m u l a d a s en u n a n o. Se d e d i ca b a
entonces a i transporte p o r cuenta d e otros, o b i e n a la venta a m b u la nte, p o r l o ge nera l
d e telas, rapas confeccionadas y a rtícu los de m e rcería, si es q u e no se i ncl i naba por la
opción más com ú n e ntre espa noles consistente en convertirse e n pequeno proprieta rio
r u ra l y c o l o c a r d i re cta m e n te en el m e rca d o u r b a n o sus c o s e c h a s y las de otros
cultivadores vecinos o asociados.
Segú n i n fo r m a c i o n e s a p a rta das por e l agente d i p l o mático espa n o ! ú l t i m a m ente
m e n c i o n a d o , todo i n m igra d o d e ca narias " . . . ga na su vida aca rrea nd o m e rca n cias o
malojo (la h aja d e i maíz), q u e cultiva él mismo, y que es fu ndamento de una fortu na
más o menos gra n d e , p e ro siem pre hecha e n b reve tiem po". Segú n nuestro i n formante,
cua l q u i e r i n m igrante l a borioso y a h o rrativo que ! l eva ra seis anos e n e l país, ha bía
l ogra d o acu m u l a r fo rtunas entre s o.ooo y í oo.ooo rea les, suma cierta mente i m porta nte
y, desde l u ego, suficiente para monta r un negocio con e l que poder vivi r e l resto de sus
d i a s en V e n e z u e l a o en el v i ej o m u n d o si o p ta b a p o r r egre s a r a su p u n t o d e
procedencia.
De fo rma siste mática n o a p a recen j u d íos ma rroq u íes e n los registras consula res
e s p a n o l es h a s ta l o s a n o s de í 8 8 0 . S i n e m b a rgo se l e s d a ta a i s l a d a m e n te d e s d e

267
JUAN BTA. VILAR

cincuenta a n os a ntes, a lgunos l l egados via el B ra s i l s . A sua vez en 1 8 6 4 , u n a Rea l


orden dispuso la p receptiva matrícu la de cua ntas personas estuviera n en situa ción de
poder p robar su nacionalidad espano/a o estatuto d e protegido, a fi n de que. l l egê) do e l
caso. p u d i era n d ísfruta r d e los benefícios de una eficaz p rotección d i p l o mática 9 .
A l g ú n j u d i o ! l ega d o d e M a rru ecos, p o r ej e m p l o v a r i o s m i e m b ros d e l a fa m í l i a
Pari ente, se a cogieron de i n m e d ia to a la n u eva n o rmativa. Pero tales casos fu eron
excepcionales. bien porq u e e l n ú m e ro d e i n migra ntes d e ta l procedencia fuese a la
sazón escaso, b i e n porque n o p u d i e ra n acredita r ser protegidos espa n o l es (o de otro
país) en sus lu ga res de p rocedencia, dado que e l sistema d e protecciones d i p l o máticas
no se gen e ra lizá en Ma rruecos hasta los a nos de 1 8 70 1 0 , bien porque casi todos los
p os i b l e s i n teresa d o s v i vía n fu e ra de C a r a c a s y de las c i u d a d e s i m p o rta ntes p o r
d e d i ca rse a i transporte y a i comercio a m b u l a nte, o p o r reticencias a sufrir cua l q u i e r
tipo d e control ( c o n los consigu i entes gravá menes pecu ni a ri os), l o que sucedia ta m b i é n
c o n los i n m igra ntes espa n o l es. refracta rias a pasa r por los registras cons u l a res, salvo e n
caso d e necesidad.

ALG U N O S I N DI A N O S N O T O R I O S

Se s a b e m u y p o co d e l a e m igración judeo-marroq u í anterior a 1 8 70, d é b i l goteo


que pasó casi desa p e rci b i d o , a rticu lado a base de esporá d i cos aportes de la patria de
orige n . casi s i e m p re por l a via de Ca na rias. y a lgunos em igra ntes desviados hasta aqui,
como queda d i cho, desde Brasi l 1 1 . Sarah Leibovici traza 1 2 las m i crobiografías d e varios
d e los e m i gra d o s p o r los a n os d e 1 8 7 0 , y que a v a nza d a l a d é c a d a d e los 80, se
e ncontra ba n d e regreso e n Tetu á n , después de haber l ogrado a lgunos d e e l los reu n i r
esti m a b l es fortu nas.
De Isaac A. Bentata !lama la atención e l que fuese h ij o de don Abra h a m Be nta nta ,
p rotegi d o e s pa n o ! . o p u l e n t o h o m b re d e n e g o c i o s y u n o d e l o s p e rs o n aj e s m á s
i n fl uyentes d e la com u n i dad tetuaní. l o que p o n e de manifi esto que la em igración a
América no se circu nscri bía a i ndivíd uos pertenecientes a los sectores desheredados o
m a rgi na les de la kehilá. Dei viej o Bentata , quien desde 1 860 ej ercía el i m porta nte ca rgo
de a d m i n istra d o r de la Caja de los Aniyim, es decir de los pobres, la i nstitu ción co m u n a l
m á s i m p o rta nte, referi ria e n e l 8 9 H a i m H a ssa n , p ro fesor d e l a escu e l a local d e la
Alliance lsraelite Universel/e, e n u n extenso e i nteresante i n forme, goza r aquel
" . . . d e u n a gra n esti m a , y su i n fl uencia sobre la población es sólo compara b l e a la
dei G ra n Ra b i n o". Y anade: " EI es a quien co nsulta e l Bet Din en ci rcunsta n cias d i fíci les,
él rec i b e la d i m is i ó n d e u n Oayyán y p rovee a su sustitu c i ó n . é l re cibe ta m b i é n el
encargo d e reu n i r e l mahamad; y , asitido d e a lgunos comercia ntes, é l es q u i e n fija a
cada cua l el i m porte de su i m p u esto person a l . el q u e se ha de paga r ai go bierno. Sus
atri b u c i o n e s son por ta n to m uy extensas y s u p a l a b ra pesa m u c h o en todas l a s
decisiones relativas a i i nterés p ú b l i co".
Su h ij o Isaac regresó d e Ca racas e n 1 890, ayudándole s i n duda sus b i e n situados
fa m i l i a res. casi todos ricos comerciantes, a i nve rti r con acierto su a d q u i rida fortu na. Que
esta era cuanti osa pa rece probarlo e l hecho d e que a i sigu i ente ano Isaac A. Bentata
figurase con otros dos i n d i a nos. en ca beza de la re lación d e protectores tetuaníes de la
o b ra fi l a ntró p i ca d e l a Al/iance. los tres c o n 20 fra ncos a n u a l e s - u n os 8 0 rea l es
espa noles de p lata -. dado q u e la cu ota usual era sólo de seis fra ncos.

268
LOS SEFARDIES DE MARRUECOS

Más dad ivosos fueron todavia Sa m u e l A. Bendelac y su pri mo Elias H. Bendelac, los
otros d o s reto r n a d o s de A m é ri ca que e n c a b eza n l a re l a c i ó n local d e socios d e l a
A l l i a n c e c o m 2 0 fra n co s . E n e fecto , e n 1 8 8 7 h i ci e ro n u n d o n a t i v o a d i ci o n a l a l a
expresada i nstitución j udeo-fra ncesa, e n cuyo colegio de Tetuán s e habian educado y a
la q u e por ta nto l o debía n todo, de soo fra ncos Sa m u e l en memoria de su madre dona
Freha A. Bendelac, y d e 250 conju n ta mente Sa m u e l y Elias en memoria de su a b u e l o
Sam u e l Bendelac y sus pad res Abra h a m y H a i m . Am bos h a b í a n h e c h o fructíferos viajes
a Venezu ela a ntes dei 8 7.
En 1 8 7 7 figura n ya los d os e ntre los suscri ptores tetua níes en favor de los j udios d e
Turquia, y su p resencia e n Tetuán no se constata e n los a rchivos de la A l l iance 1 3 a ntes
dei 74, a caso fecha d e regresso d e su pri m e ra e migración. Asociados a la próspera fi rma
de i m po rta c i ó n de texti l e s e n Caracas que l l eva su a p e l l i d o , e n 1 8 90 m a rcharon de
n u evo con este desti n o para regresar a nos más ta rde. ? Es este S.A. Bendelac e l mismo
q u e con e l n o m b re d e A b ra h a m Bendelac, a ntiguo emigra nte en e l N oroeste b rasi l e n o ,
Amazonia y Venezue l a , y más ta rde r i c o negociante en Tetuán, su c i u d a d nata l , hacía
1 900 se d a b a a q u i a i res de gra n s e n o r, a ctuaba como cóns u l d e i B ra s i l y se d ecía
desce n d iente d e u n e m p i ngorotado l i naje sefa rdí d e Sa l é, reasentado en la u rbe tetuaní
e n e l XVI I I ?
L o s l i stados d e socios p rotectores de la Al/iance, basta nte n utri dos en Tetuá n p o r
razones obvias, evidencian la movi lidad d e los ju d ios tetuanies, i ncluso l o s m á s ricos,
dado que con frecu encia constan com o a usentes en Bras i l , Caracas o Buenos A i res, lo
que pa rece i n d icar la existencia d e una e migración selectiva de tipo tempora l , paralela
a l a más d u ra d e ra , a u n q u e n o necesa ria m e nte permanente, d e sus corre l igionarios
menos a fo rtu nad os, o d e q u i enes hacían las Améri cas por vez primera. Estos l i sta dos se
refi e ren a una época p oste rior a 1 8 80, fecha limite de nuestra i nvestigación, pero las
referencias a la fase p revia son ta n frecuentes com o i n teressantes.

C O N EX I O N ES A LA PATR IA DE O R I G E N Y ACTIVIDADES ECO N O M I CAS


EN U LTRAM A R

Dura nte su esta ncia en U ltra m a r estos e m igrantes cuidaban mantener s u s vínculos
con la patria de orige n , comenza n d o por la fa m í l i a , pero ta m b i é n con la kehilá matriz,
poniendo ai dia sus cuotas con la Alliance, enviando d onativos a los ra b i nos con desti no
a los pobres y a las o b ras benéficas soste nidas por la co mu n idad, y escri biendo a los
ma estros d e la escu e l a i nteresá ndose por la marcha d e i centro, espera nza cierta dei
futuro d e la colectividad, o sol i citando e l envio por cuenta dei demanda nte de a lgún
a l u m n o aventajado a q u i e n ensenar e l oficio e i ntrod uci r en el negocio.
En contra pa rtida, siendo cortos en n ú mero, hallá ndose dispersos por la tota l idad d e
l a ge ogra fia v e n e zo l a n a , y e n ra z ó n d e su p r o p r i a m o v i l i d a d , a l o s e m i gra dos l es
re s u l ta b a m uy d i fí c i l c o n s t i t u i rs e e n co m u n i d a d e s o rga n i z a d a s . A d i fe r e n c i a d e
Argenti na, e n Venezuela, como en Brasil y P e r ú , los j u deo-marroquíes se i nsta laron en
d i fe re ntes l oca l idades m e n o res a ntes d e hacerl o e n la ca pita l . En Ba rce lona, Ca rúpano,
Cumaná y otras. Sólo más ta rd e e n Caracas y su a nte p u e rto d e La G uayra 1 4 . Era n
modestos tend e ros e n telas y m e rcería , y vendedores a m b u la ntes q u e i ban de u n l uga r
para otro, opera n d o cada cual a sua a i re y en su proprio distrito, aunq u e conectados a
media docena de p roveed o res, situados en puntos estratégicos.

269
JUAN BTA. VILAR

"Su existencia e ra d u rísi m a - a p u nto en otro l uga r 1 5 con referencia a i os tetua níes,
s i e m pre d o m i n a ntes en el pa n o ra m a j u d í o d e Ven ezu e l a -. Dormían h a c i n a d o s en
m íseros bohíos, a i raso e n desca m pados, o e n sus angostas tiendecil las. se l evanta b a n a
l a s cuatro o ci n co d e l a m a n a n a p a ra h a c e r l os p r e p a rativos de la j o r n a d a o p a ra
ponerse en m a rcha con sus fa rdos y poder cubrir así u n recorri do agotad or. Pa ra e l l os
no existia el d esca nso n i la expa nsión a i térm i n o de una a p retada semana de tra bajo.
Así u n día y otro día. N i s i q u i e ra conta b a n con los a u xíl ios d e la religión por no haber
ra b i n os n i sinagogas. Algunos, a i casa rse con m uj e res d ei país term i naron abandonando
l a p rá ct i c a r e l i g i o s a y e d u ca ro n a sus h ij o s e n e l c r i s ti a n i s m o . P e r o l a m a y o ría
persevera ron e n la fe a n cestra l y, a i térm i n o d e varios a n os d e esfuerzos, regresa ban a
Tetuá n para tomar m ujer y formar u n hoga r judío".
Por los a n os d e 1 8 8 0 las fa m í l ias así constitu ídas e m p re n d i e ron e l ca m i n o d e l a
e m igra c i ó n . F u e e n t o n ces cua n d o come nza ro n a reu n i rse e n p e q u e n os gru pos p a ra
o bs e rva r m ej o r l o s p rece ptos mosa i cos. Los Be natar, Lasry , B e n d e l a c , T u ri e l , Levy ,
Aza n co t , N a h ó n , M a rra c h e , B e n z a c a r , C o h é n , H a ssá n , Pa r i e n t e , B e n t a t a , S e rfa ty ,
A b u d a rh a m , P i n to y B e n sa d ó n , e ntre otros. Pero e l culto p ro p ri a m e nte d i c h o ta rdó
basta nte tiempo e n ser o rga n iza do e n Venezu ela 1 6 .
Si los !azos asociativos y las entidades religi osas y fi lantróp i cas se deja ron espera r
basta nte p o r l o s motivos a p u ntados, e l l o n o i m pi d i ó q u e l o s i n migrados s e auxi l i a ra n
e f i ca z m e n te u n o s a o t r o s , m a n i festá n d o a s í s u ej e m p l a r y a d m i ra b l e s e n t i d o d e
solidaridad h u m a n a :
E s cierto q u e los q u e va n a Ca ra cas e n pa rti cular - a n ota e n u no de s u s i n formes a
la A lliance, fec h a d o e n agosto de 1 8 9 1 , Ma i r Levy , vetera n o d i recto r d e i colegio d e
Tetu á n 1 7 - logra n d e i n m ediato u n e m p l e o c o n s u s corre l igiona rios y a i nsta lados, q u e
necesita n n u evos o p e ra ri as e n la medida que crecen s u s n egocias. El n i n o tetuaní s ó l o
o y e e n d e rred o r s u y o conversa c i o n e s s o b re América , viajes y negocias. o es su tío
q u i e n se m a rcha, o su padre o su herma n o mayor, q u i enes una vez l ogrado e l éxito, le
escri b en varias ca rtas pa ra que venga a reu n i rse con e l l os.
Segú n lo h e referido más a rriba, los tetua níes que em igra b a n a ntes, l o hacía n en
edad m a d u ra y e n i n ferior esca la que e n estos últimos a n os. Va rios motivos les retenían
e n Tetuá n : b i e n l a l eja nía de esos países a merica n os y e l temor a em prender una la rga
travesía , o b i e n la fa lta d e i d i n e ro necesario para cubrir los gastos de un l a rgo viaje. Hoy
en día, nada l es reti ene. Las dista ncias se h a n hecho más cortas debido a los progresos
d e la navegación. U n o se e m ba rca para Caracas con igual faci lidad que hace veinticindo
a n os i ba a G i b ra ltar o a O rá n , con ozco personal mente a varios d e estos em igra ntes que
h a n hecho hasta seis veces la travesía dei Atlá ntico, y que está n dispuesto a hacerla de
n u evo. En dos o tres d ías u n o se pone e n Má laga , e n donde se embarca para América y
! l ega a la G uayra , el p u e rto de Caracas, vei nte días después. Esta es la ruta que siguen
q u i enes m a rcha n p o r p r i m e ra vez.
En c u a n t o a i d i n e ro n e c e s a r i o p a ra l o s g a s t o s d e i v i aj e , p o r l o ge n e ra l l o
proporcionan e l padre, e l herma n o , e l tío o e l pri m o cua ndo l l a m a n a i em igra nte para
reu n i rse con e l l os. Otras veces los j óvenes pobres piden p restado ese d i nero y paga n
i ntereses. Los más holgados, a i co n c l u i r su paso por la escu el a , conve ncen a sus pad res
para q u e les monten u n a tienda, donde ga nar la suma necesa ria, y permanecen en e l l a
hasta consegui ria. Segu i d a m ente e m prenden e l viaje. P o r e l l o se busca ría n e n va no e n
Tetu á n (a ntigu os) a l u m nos q u e tenga n d i eciocho a n os. Todos se encue ntra n a i otro lado
d ei Atlá nti co. N o nos haga mos i l usiones, la meta e n la vida d e los tetuaníes es la de

270
LOS SEFARDIES DE MARRUECOS

emigrar. se cuenta n hasta 1 00 emigra ntes q u e se marchan todos los anos a América. y
este n ú m e ro es relevante res p e cto a u n a p o b l a c i ó n de 6.000 a l mas. G i b ra ltar. q u e
reci bía a ntes e m i gra ntes tetua níes, y otras ciudades c o m o Tánger, Rabat y Casa blanca ,
sigu ie n d o e l eje m p l o d e Tetu á n , com i e nza n a su v e z a e n v i a r conti ngentes a América".

LA E X P E C I A L I ZA C I O N M ERCANTI L E N EL RAMO TEXTIL

H a b i e n d o s i d o t e t u a n í e s . y p o r e x t e n s i ó n t e n g e r i n o s e i s ra e l i ta s d e o t r a s
co m u n i d a d e s p ró x i m a s a Tetuá n , co m o X a u e n , A rc i l a , La ra c h e y A l caza rq u i v i r , l o s
p i o ne ros d e l a e m igra c i ó n a Venezue l a , las o l eadas i n corporadas d e s d e las ciudades
situadas a i s u r d e i río S e b ú casi s i e m p re opta ro n por tomar otros d e rroteros. p u es
h a l l á n d ose es p ec i a l izada esta e m igracion en u n a actividad eco n ó m i ca específi ca : la
i m p o rta ción, d i stri bución y venta deta l l ista d e tej idos y manufactu ras texti les, y esta nd o
c o n t ro l a d o e l n ego c i o , e n l o q u e a l o s j u d í o s c o n c i e r n e , por u na t u p i d a red d e
n egocia ntes y v e n d e d o res ta nge ri n o-tetua níes, basta nte cerrada sobre sí mi s ma, n o
resultaba fá c i l penetra r e n e l secto r s i n expressa conformidad d e l o s y a i nsta lados. Ca bia
desde l u ego ocuparse e n otras a ctividades, pero e l transporte d e merca ncias dista ba de
ser el l ucrativo n egocio d e otros tiem pos, y e l comercio d e a rtículos no texti les se veía
d i ficu lta d o para e l recién ! l ega do por serios i n conve n i e ntes. en particular la ausencia de
proveedores seguros y la fa lta de circuitos de distri bución previa mente estableci d os. En
cuanto a las resta ntes a ctividades eco n ó m i cas, la i n cu rs i ón en e l las por los proprios
tetuaníes, fu era por fa lta de experiencia y ca pitales suficientes, o por otros motivos, con
frecuencia se habían saldado e n fra casos.
Por las fechas en que escri be Mair Levy, los judíos ori u ndos dei norte de Ma rru ecos
esta b a n fi r m e m e nte e n ra izados e n Venezuela. Su especia l i d a d . como queda referido,
e ra la v e n ta de t ej i d o s , r o p a s c o n fe c c i o n a d a s . a rt í c u l o s de m e r c e r í él y o t r o s
conceptuados por la l ey venezolana como "merca ncias secas". Dado q u e el pa n o rama
fabril d ei país - datos de 1 89 8 1 8 . e n l o que a texti les se refi ere, se red ucia a una
-

fá brica d e coto nías e n Va lencia, otras varias e n Mérida " . . . e n corta esca la [de] a l fo m b ras
d e l a t e ii i d a s con s usta n c i a s vegeta les dei país. que dah colores m uy vivos", y las
semiartesa nales d e hamacas, chinchorros, sacos y otros tejidos bastos e n Barquisimeto.
G u a n a re y Aca r ig u a , a p a rte los te l a res fa m i l i a res d i s p e rsos a q u í y a l i á por toda la
rep ú b l i ca . se ha cía n ecesa rio i m porta r m a n u fa ctu ras texti les e n gra n esca la.
E n p ri m e r l uga r d e G ra n B reta ii a , p roced encia d e i n d i a nas. perca l es. muselinas y
otras t e l a s d e b aj o costo. a u n q u e ta m b i é n g é n e ros d e s u p e r i o r ca l i d a d y p r e c i o
(cach e m i ras, a l pacas, sederías . . . etc) e n competencia c o n a rtícu los fra nceses, y e n m e n o r
m e d i d a c o n o t r o s i ta l i a n o s , espa ii o l e s y d e p ro ce d e n c i a d i v e rsa. A l e m a n i a . p o r e l
contrario. d o m i naba l o s sectores d e la p i e i y la cordelería , e n ta nto l o s Estados U n i dos.
e l d e l o nas, l i e nzos resistentes, za razas y driles.
Dos de las s i ete p ri n c i pa l es fi rmas mayoristas e n la i m po rta c i ó n d e texti les e n
Venezuela e ra n judeo-marroquíes, lo q u e evi dencia s u sólida i m plantación e n el sector:
la casa Benatar y l a "Bendelac y Cía ". j u nto a e l las figu raban " B i o h m y Cía ", " Bocca rd o y
Cía ", " Lassere y Cía ", " Leser. Rbmer y Baach" y "Santana Herma nos y Cía ". Como puede
verse forá n eas e n su mayoría, y e n a lgún caso vinculadas a conocidas fi rmas j udias
ashkenasíes.

271
JUAN BTA. VILAR

" Las condiciones usuales de com p ras en el extra nj ero - refi ere el cónsul espa iiol en
La G uayra e n una i nteresa nte m e moria 1 9 - se trata n genera l m ente con comision istas,
los cuales a bre n créd itos en cuenta corriente y dan p lazos d e seis meses, media nte una
comisión q u e va ria d e i 2 a i 5 o/o sobre factu ra ".
A su vez, entre las siete e m p resas que controlaban u na pa rte considera b l e d e la
d i st r i b u c i ó n de l o s texti l e s i m p o rta d o s y s u v e n ta m e n o r i sta , fi g u ra n otras d o s
m a rro q uíes: "Aza n cot" y " La s ry H e r m a n os " . L a s otras e ra n l as ya m e n ci o n a da s d e
Lassere y B o cca r d o , y l a s fi rmas " C h a u m e r y Cía " , " S o b u l ette" y " G a r b á n " . N o s erá
n ecesa rio i nsisti r e n q u e los te n d e ras y v e nd ed ores a m b u l a n tes j udíos l l ega dos d e
Ma rruecos e ra n p ieza i m porta nte e n la colacación e n e l m e rcado venezo l a n o de l a s
m a n u fa cturas i m po rtadas por s u s corre l igio n a rios y com patricios Bendelac y Benata r, y
d i stri b u í das por los a l macenistas, a sua vez de Tetu á n y Tánger, Lasry y Aza ncot.
Sin e m b a rgo la excesiva especialización ta m b i é n col l evaba ri esgos. En ta l d i rección
a p u nta ría desde Tetu á n e l perspicaz Mair Levy e n u n i n forme a la Alliance de fi nales de
1 89 1 20:

" Los tetua níes n o comprenden muy bien e l sentido d e la e migración. En l uga r de
a b rise n uevas vias, p refi e re n segu i r la utilizada por q u i enes les han precedido e n e l país,
que es l a dei comercio, y e n la cual les pa rece más fácil logra r e l éxito. N i nguno buscó
eje rcer un oficio d o n d e tuvie ra que tra baj a r más y ten e r más paci encia y persevera ncia
pa ra a l ca nza r el t ri u n fo . Los res u ltados o b te n i d o s en varios i n te ntos p ractica d o s
( p o r excepció n ) e n ta l sentido d ista n d e i nfu n d i r á n i m o a l o s de más.
En e fecto, dado que la i n m igración e n Caracas es m uy i m p o rta nte, y habiéndose
constitu í d o a l l í u na c o l o n i a tetu a n í , a lgu n os i n te nta ron buscar otras vias que las d e i
co m e rcio pa ra h a c e r fortu n a . Se ocuparo n e n la agricu l tu ra , e n las pl a ntaci ones d e
caca o , a b rieron resta u ra ntes, pero n o lograron buenos resu ltados y retornaron entonces
a i comercio. Pero seria desea b l e que e l fracaso d e algunos no decepcionara a otros, y
q u e los reci é n l l ega dos rea l i za ra n l os esfu e rzos n ecesa rios pa ra n o i mi ta r necesa ria­
m e n te a q u i e n es les h a n precedido y n o caer e n la tra m pa de las ga nacias fá ci l es dei
comercio , donde les será ta nto más d i fíci l ten er éxito conforme se vaya satu rando (el
m e rca d o ) por l a (cre c i e n te) competencia. D e hacerlo así, a caso pueda evita rse q u e
l legue e l m o m ento e n q u e tenga n que busca r fortuna e n otros l eja nos países, donde
les fa ltará la ayuda ta n beneficiosa d e sus corre ligionarios".

C O N C L U S I O N ES

E l d e s p e g u e d e l a e m i g ra c i ó n j u d e o - m a r r o q u í a V e n e z u e l a , c o n e c ta d a
estrecha m e n te a otra espa iiola para l e l a , s e re monta a l a década d e 1 840, siendo Tetu á n
y Tá nger, las c i u d a d e s ma rroquíes e n mayor contacto con Espa na, los principales pu ntos
de p roced e n cia.
E m i g ra c i ó n i n i c i a l m e n t e t e m p o ra l , t e r m i n á s e d i m e n ta n d o o t ra d e fi n i t i v a ,
fu n d a me nto básico d e la a ctu a l e i m p o rtante co l e ctívidad j udia venezol ana. Rasgo
d isti ntivo de los i n m igra d o s s e fa rd í e s en Ve n ezu e l a l l ega d os d e Ma rruecos fu e su
especi a l iza ci ó n p rofes i o n a l en el tráfico a m b u la nte y l u ego en la comercia l ización de
texti les, sector este que term i n a ría n controlando e n pa rte. Es de seiialar, a su vez, la
estrecha conexión dei e m igrante con sus p u ntos de p rocedencia, e l retorno d e i n d ianos
e n r i q u e c i d o s y la i n fl u e n c i a de l a r e p a t r i a c i ó n de ca p i ta l e s en el p ro ce s o d e
modern ización d e l a patria d e orige n .

272
LOS SEFARDIES DE MARRUECOS

NOTAS

1 . J.S. E MMANUEL Y S . E M MANUEL. History of the ]ews of the Netherlands Antil/es, Cincinati, 1 9 70.

2. 1. A/ZEM BERG, "Coro, l a p r i me ra com u n i d a d judia de América latina conte m poránea", Sefárdica, 7 ( 1 984), pp. 1 0-
1 3; J.R. FORTIQ U E , Los motines anti-judios de coro, Maracaibo, 1 9 73.

3 . Sobre la i n m igración ca naria e n Venezu e l a . siempre la espano/a más emergente, véase e l l i bro clásico de
M.M. MARRERO, Canarios en América, Caracas, 1 98 7 . Entre la cuantiosa b i b l i ografia posterior ca be espiga r ,
e n tre otra s . las sigu i e n tes a portaciones: N . PERAZZO , La inmigración en Venezuela, 1 830- 1 850, Caracas, 1 9 7 3 ;
J . HERNANDEZ GARCIA, La emigración canario-americana en l a segunda mitad d e i siglo XIX, L a s Pa lmas, 1 98 1 ;
A . M . MACIAS H E R N A N D EZ, " U n siglo d e e m i gra c i ón ca n a r i a , 1 8 3 0 - 1 9 3 0 " , e n N . Sánchez-Aibornoz (co m p . ) .
Espaiioles hacia América. La emigración en masa, 1 880- 1 930, M a d r i d . 1 9 8 8 , pp. 1 66-202.

4 .. AMAE, Politica (Venezuela), leg. 2 . 7 1 O: Despacho d e i enca rgado de negocias de Espana a i m i n istro de Estado,
Caracas, 2 3 a b r i l 1 8 5 4 .

5 . J . B . V I LA R , Tetuán en e/ resu rgimien to judio contemporáneo ( 1 850- 1 870). Aproximación a l a his toria dei
]udaismo norteafricano. Presen tació n de M . G a rzón serfaty. Prólogo de S. Leibovici, B i b l i oteca Pop u l a r Sefardi,
Caracas, 1 98 5 , ps. 1 9 3-207.

6. AMAE, Politica (Venezuela). l eg. 2 . 7 1 0: Despacho d e i enca rgado de n egocias de Espa na a i m i n istro de Estado,
Caracas, 24 e n e ro 1 8 5 7 .

7. 1bidem.

8 . VILAR, Tetuán en el resurgimiento . . . , op. cit., ps. 70-76. Sobre la em igración judeo-ma rroqu i a i B ras i l , que a b re
el ciclo m igratorio de referencia con lberoamérica, véase E. y F. WOLFF, os judeus no Brasil Imperial, Rio de
j a n e i ro , 1 9 70, j .A. G O N ÇA LV EZ MELLO, Gente de Nação, Recife , 1 9 89; R. RICARD, Notes sur / 'emigrotion des
/sroelites Marocains en A merique Espagnole et au Brésil, Paris, 1 944: I. SALAMA, "EI Yishuv isra e l i ta dei Brasi l. La
pa rtici pación de los sefa rd itas", Maguen, 32 (Ca racas, 1 9 73), ps. 8- 1 0; E. MOREIRA. "Presencia h ebrea e n Pa rá ",
Maguen, 81 ( 1 99 1 ) , ps. 5 - 1 3 ; M. LIBERMAN, "j udias e n la Amazonia brasilena (siglas XIX-XX), Maguen , 81 ( 1 99 1 );
S. LEIBOVICI, "La e m igración a Am érica de los sefardies de Ma rruecos", en M" A. Bel Bravo [ad a lter], Diáspora
sefardi, M a d r i d , 1 99 2 ps. 2 4 0 - 2 4 6 ; j . B . V I LAR, "j ewis Morocca n i n m igra t i o n to Lati n America " , The Alliance
Review, XXV, 45 ( 1 9 7 3 ; V I LAR, " Los sefa rdies dei n orte de Ma rruecos y su projección en el Mediterrá n e o e
l beroa mérica", Proyección histórica de Espana en sus tres culturas: Castilla y León, América y el Mediterráneo,
Va l l a d o l i d , 1 99 3 , I, ps. 3 8 7- 3 9 8 ; V I LAR. "La e m igración j u d e o- ma rroq uí a la América Latina en la fase pre­
e s t a d i s t i c a ( 1 8 5 0 - 1 8 8 0 ) , p o n e n c i a p r e s e n t a d a en l a Conference of the Latin American ]ewish S t udies
Association , F i l a d elfia, novi e m b re , 1 99 3 .

9. A M A E , Correspondencia ( L a G u ayra), l e g . 1 .929.

1 0. Sobre la p rotecció n espa no/a dispensada a j u d ios m a rroq uies dentro y fue ra de Ma rruecos, véase: j.B. VILAR,
"Ayuda espano/a a Ma rruecos e n la crisis de las p rotecci ones consu l a res ( 1 8 7 8 - 1 8 79)", Africa 3 8 1 ( 1 973); VILAR.
"Un i ntento d e restri ngir la p rotección d i p lomática espano/a a los judias m a rroq uies e n Egipto. El caso de
S a l o m ó n Cohén ( 1 8 7 2 ) " , Maguen, 60 ( 1 9 8 6 ) , ps. 1 5 - 2 4 ; VILAR (en colaboración con j . I N I ESTA), " Protección
d i p lomi nica espano/a a isra e l i tas ma rroquies e n Egipto. El caso de la fa m í l ia Nadeh ( 1 889)", Magu e n , 5 3 ( 1 984),
ps. 40-44; V I LAR, "EI presente y e l futuro de la lengua caste l l a n a e ntre los sefardies de Egi po a través de u n
i n forme d i p lomáti co espa no/. u n e c o de la visita de Abra h a m G a l a nte a Alej a n d ría e n 1 9 0 7 " , Sefárdica, 3 (B.
A i res, 1 985). ps. 95-99.

1 1 . Véase referencias e n n ota 8.

1 2. s. LEIBOVICI, "Aigunos a p u n tes pa ra la h i storia de la co lonia tetu a n i de Caracas ( 1 8 8 8 - 1 900)", Maguen. 5 0


( 1 984), p s . 3 - 1 1 .

1 3 . A I U , sec. Tétoua n , 1 8 6 3 ss.

1 4. L.j. BENOLIEL, "Presence judéo-maroca i n e e n Venezu ela", en S. Lei bovici ( e d.) , Mosaiques de notre memoire. Les
)udéo-espagnols du Maroc, Paris, 1 98 2 , ps. 2 1 9- 2 3 1 .

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JUAN BTA. VILAR

1 5 . V I LAR, retuán en el resurgimien to . . . . p. 74. vease ta m b i e n VILAR, "Ouverture a J'Occident de la com m u n a ite
j u ive de Teto u a n ( 1 860- 1 8 6 5 ) , Mosai"ques ... op. cit., ps. 8 5 - 1 2 8 .

1 6. La primera sinagoga se d ejó e s p e r a r 1 9 30, la popular "dei c o n d e " , por el b a r r i o de Caracas e n q u e se asienta.
Las primeras asociaciones d e tipo com u n a l , benéfico o docente son basta nte anteriores. siendo las pioneras
l a "Sociedad d e B e n e ficencia Isra e l i ta d e Caracas" - 1 9 0 7 - y la "Asociación Isra e l ita de V e n e z u e l a " - 1 9 1 9 -
(vease BENOLIEL, "Presente . . . ", pp. 2 2 2 - 2 23). bien es cie rto q u e con a n terioridad d i ferentes ju díos a p a recen
e ntre los fu ndadores y socios de entidades fi la ntrópicas. culturales y recreativas. diversas. a lgunas de ellas
espanolas, d e n tro y fuera d e Caracas.

1 7. A lU, Ma roc: Ma i r LEVY, 1 89 1 : Informe a la Alliance, Tetu á n 7 agosto 1 89 1 (S. Leibovici p u b l ica fragmento de la
misma traducido a i espano! e n "Aigunos a p u ntes . . . " op. cit.).

1 8 . AMAE, Correspo ndencia (La G u ayra), leg. 1 9 29: Despacho dei cónsu l Enrique de Pere i ra a i m i n istro de Estado.
La Guayra , 1 " septi e m bre 1 8 9 8 .

1 9. lbídem.

20. 14 diciem bre 1 89 1

A B R EV I A T U R A S U T I L IZADAS

A I U - Archives de I ' A I I i a nce lsra é lite U n iverselle (Paris)


AMAE - Archivo dei M i n isterio de Asuntos Exteriores (Madrid)
B N n - B i b l i oteca Naciona l , Madrid

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