MARÍA NORBERTA AMORIM - Reconstituicao de Paróquias. Uma Proposta de Diálogo Entre Historiadores e Demógrafos-En Revista Populacao e Sociedade 1 PDF
MARÍA NORBERTA AMORIM - Reconstituicao de Paróquias. Uma Proposta de Diálogo Entre Historiadores e Demógrafos-En Revista Populacao e Sociedade 1 PDF
MARÍA NORBERTA AMORIM - Reconstituicao de Paróquias. Uma Proposta de Diálogo Entre Historiadores e Demógrafos-En Revista Populacao e Sociedade 1 PDF
E FAMÍLIA
POPULAÇÃO E SOCIEDADE
CEPFAM
Título- P OPULAÇÃO E SOCIEDADE - NY 1 / 1 9 9 5
Edição
CEPFAM - Centro d e Estudos d a População e Famí l i a
Rua d o Camp o Alegre, 1 05 5
4 1 5 0 Porto
Telefone: (02) 600 1 5 1 3
Director: FERNANDO DE SOUSA
Capa: J OÃ O MACHAD O
ISBN 0 8 7 3/ 1 8 6 1
NOTA DE ABERTURA . . .
.. . ................................................ ............ .. ............. ........... .... . .. . .... . ......................... ..... ............... . . 7/8
POPULAÇÃO PORTUGUESA
HISTÓRIA E PRO SPECTIVA
Comunicações ao Encontro promovido pelo
CEPFAM - Centro de Estudos da População e Família
C om o Patrocín i o d e :
]N/CT
Fundação Luso-Americana
Fundação Calouste Gulbenkian
Reitoria da Universidade do Porto
Fundação Eng.Q António de Almeida
Governo Civil do Porto
NOTA DE ABERTURA
7
publicação de um relatório final que se pretende venha a constituir uma obra
de referência para esta área de estudos. Com efeito não se dispõe ainda,
relativamente a Portugal, de uma História da População, fornecendo um
quadro geral das estruturas e seus movimentos ao longo do tempo, incluindo
a componente prospectiva, capaz de servir tanto o grande público como o
investigador. E, no entanto, tem-se produzido, nos últimos anos, estudos de
grande qualidade sobre aspectos específicos ou períodos circunscritos, tanto
em demografia actual como em demografia histórica, embora ainda existam
lacunas que importa limitar. Estabelecer conexões entre os conhecimentos já
produzidos, procurar superar os hiatos existentes pela investigação em
aspectos pouco focalizados, promover uma visão global da população
portuguesa nas diversas variáveis e suas tendências para o futuro, constituem
os objectivos a atingir pela equipa de investigadores do CEPFAM que subscreve
o referido projecto.
8
A S ITUAÇÃO DEMOG RÁFICA PORTUGUE SA
NO CONT EXT O DA UNIÃO EUROPE IA
NO INÍCIO DOS ANOS NOVE NTA
}. Manuel Nazareth
Universidade Nova de Lisboa
N o i n í c i o d a d é ca d a d e n o v e nta a p o p u l a çã o d a U n iã o E u ro p e i a ro n d a v a o s
346 m i l hões d e h a bi ta n tes. A prim e i ra gra n d e ca racterísti ca q u e e n co ntramos é a exis
tência de uma grande desigualdade nos volumes populacionais dos diferentes países. Na
rea l i d a d e , o país com o m a i o r volume populacional é a Alema n h a com 80 2 74 600 h a
bitantes ( 2 3 , 2 % do tota l). segue-se um conj u nto de três países com ce rca de 5 7 m i l hões
d e h a bi ta ntes - a Itá l i a com 57 7 8 8 200 habita ntes ( 1 6,7% d o tota l), o Reino U n i d o com
5 7 6 8 6 1 00 h a bita n tes ( 1 6 , 7 % do tota l) e a Fra n ça com 5 7 2 1 7 SOO habita ntes ( 1 6 , 5 o/o d o
tota l). A Espa n h a vem e m q u i nto l ugar com 3 9 0 5 5 9 0 0 h a b i tantes ( 1 1 ,3% d o tota l). Estes
c i n co países, no seu conj u n t o , representam 8 4 , 3 % do tota l d a p o p u l a ção da U n iã o
E u ropeia ca bendo a o s resta ntes sete países apenas 1 5 , 7% da população (ver Qua d ro n" 1
e Fig. n" 1 ). Um segu n d o b loco de países tem um volume ao q u a l podemos chamar d e
d imensão m é d i a na m e d i d a e m têm u m tota l d e h a bita ntes, e m n úmeros red o n d os,
e ntre os 1 O e os 1 5 m i l hões d e h a bitantes. Por ordem d e importâ ncia temos: a H o l a n d a
com 1 5 1 2 9 200 h a bitantes (4,4% d o tota l), a G récia com 1 o 2 79 900 habitantes (3 ,0% d o
tota l), a B élgica com 1 o 0 2 2 ooo h a bita ntes (2,9% d o tota l) e Portuga l com 9 846 000
h a bitantes (2,8% d o tota l). F i n a lmente, os resta ntes três países - a D i nama rca , a Irla nda
e o Luxem b u rgo - n o seu conj u nto, não u ltra passam os 10 m i l hões d e h a bita n tes.
9
) MANUEL NAZARETH
.
R.UNIDO (16.7%)
No entanto. q uand o ana l i samos o nível de ocupação do espaço. não são os países
que rêm a maior dimensão populacional que apresen ram as maiores densidades (ve r
Qua d ro nQ 1 e Figura n" 2). os países com as maiores d ensidades populacionais pertencem
cla ramente ao gru p o q u e classi fi cámos anteriormente como interm é d i o - a Holanda
(364,6 h a b . / km 2 ) e a B é lgica (326,6 h a b . / km 2 ). Apenas d o i s países d e grand e d imensão
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PAISES
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A SITUAÇÃO DEMOGRÁFICA PORTUGUESA
FONTE: EUROSTAT, S tatistiques Rapides - Population et conditions socia/es, 1992-2, Luxemburgo, 1 992 (Pag. 4).
1 1
J MANUEL NAZARETH
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PAISEs
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A SITUAÇÃO DEMOGRÁFICA PORTUGUESA
70 80 91 70 80 91
FONTE: CONSEIL DE L' EUROPE, Évolution Démographique récente en Europe et en Amérique du Nord, Stroasbourg, 1 993
(Pags. 34 e 3 5); EUROSTAT, Statistique Rapides � Population et conditions sociales 1 992-2, LUxemburgo, 1 992 (Pag. 4)
70 80 91
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j. MANUEL NAZARETH
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PAISES
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A SITUAÇÃO DEMOGRÁFICA PORTUGUESA
2. M O RTA L I D A D E, NATA L I D A D E E N U P C I A L I D A D E
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) MANUEL NAZARETH
.
FONTE: EUROSTAT, Statistiques Rapides - Papulation et conditions Sociales, 1992-2, Luxemburgo, 1992 (Pag. 2 e 4).
n ã o só um in d i ca d o r l i b e rt o d o s e fe i t o s d e e s t r u t u ra como n o s dá uma v i sã o
im p o rtante d a s d i fe ren ças exi stentes n o s nív e i s d e m o rta l i d a d e , e m pa rti c u l a r n o
p rimei ro a n o d e vida. E m 1 9 9 1 , Portuga l e a G récia são os únicos países da Comun i d a d e
Económi ca E u r o p e i a a ter u m a morta l i d a d e infanti l igua l ou s u p e r i o r a 1 o por m i l , se
bem que a info rmação j á conhecida p a ra 1 9 9 2 nos ind i q u e que ta l situação j á não se
verifica. se exceptu a rmos estes dois casos, os restantes países têm va lores q u e osci lam
entre 7 , 2 p o r m i l (Al eman ha) e 9 , 2 por m i l (Luxem b u rgo), situando-se a média da Un ião
E u ropeia em 7 , 7 por m i l . No Q u a d ro nº 6 e na Figura nº 5 a presentamos a evo l u ção da
FONTE: CONSEIL DE L ' EUROPE, Évoiution Démographique récente e n Europe et en Amérique du Nord, Strasbourg, 1993
(pag. 69); EUROSTAT, Statistiques Rapides - Population et conditions Sociales, 1992-2, Luxemburgo, 1992 (Pag.4).
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A SITUAÇÃO DEMOGRÁFICA PORTUGUESA
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PAÍSES
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j. MANUEL NAZARETH
l i b e rto dos efeitos de estrutura e m b o ra seja um i n d icador obtido por a n á l ise tra nsve rsa l
e não por a n á l ise l o ngitud i n a l . Em 1 99 1 , Portuga l , a G récia, a Espa n h a , a Alemanha e a
Itá l i a têm va l o res a baixo da média da U n i ã o Europeia ( 1 , 5 5 ) e em todos os países os
va l o res observados são i n s u ficientes p a ra renova r as gerações com excepção da Irlanda
(o va l o r n e cessá rio p a ra renova r as gerações é d e 2 , 1 ). A Figu ra n" 6 mostra -nos a forma
acentuada como ocorreu o declínio da fecu n d i d a d e , e m todos os países da E u ropa dos
Doze, nos ú l t i m o s v i nte a n os: os d e c l í n i o s mais a centuados ocorrera m e m Po rtuga l ,
Espa n h a , Itá l i a e Irlanda; a esta b i l ização d o declínio o bse rva do em a lguns países a q u e
n o s referimos a nteri ormente n ã o nos parece resulta r da emergência de um novo modelo
m a s d e se ter atingido u m pata m a r d e baixo nível d e fecu n d i d a d e m a i s p recoce m e nte.
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PAÍSES
Em sín tese, podemos afirmar que na Europa dos Doze, se con vergiu para um modelo
único de baixos níveis de fecundidade onde as gerações não se renovam. As diferenças
ainda encon tradas nos diferen tes países reflectem fundamentalmen te os diferen tes
ritmos com que este processo tem ocorrido nos últimos vinte anos nos diferen tes países .
F i n a l m e nte existe um conj u nto de i n d i ca d o res no Quadro nº 7 e na Figu ra nº 7 q u e
estão associa d os à n u p c i a l i d a d e e a o divórcio - a % de nasci m e ntos fora do casa m ento,
a Taxa B ruta d e Divório e a Taxa B ruta d e N u pcia l i d a d e . No que diz respeito ao p r i m e i ro
i n dicador o facto mais sa l i ente é o elevado va lor o bservado na Dinamarca - pratica m e nte
meta d e d o s nasci m e ntos ocorrerem fora do casa m e n to. E m b o ra a m é d i a da U n i ã o
E u r o p e i a s ej a d e 1 9 , 8 % (va l o r m u i to p róx i m o d o d e Po rtuga l - 1 5 ,6%) a d i s p e rsão
observada é e n o rme. Podemos até a fi rm a r q u e se trata d o i n d i ca d o r onde existem a s
d i fe renças m a i s acentuadas. Além d o c a s o pa rti cular da D i n a m a rca ta m b é m o Reino
Unido e a Fra n ça têm va l o res m u ito e l evados (ce rca d e 3 0%) p o r oposição a países
como a G récia (2,0%), a Itá l i a (6,6%), a Bélgica e a Espa nha (9, 1 %). No d ivórcio a dispersão
é basta nte m e nos acentuada s e n d o a s m a i o res taxas d e d i vórcio a s o b s e rva d a s na
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A SITUAÇÃO DEMOGRÁFICA PORTUGUESA
EUR. 1 2 1 1 ,5 1 ,5 5 1 9, 8 1 ,7 5,8
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PAISES
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J MANUEL NAZARETH
Europa dos Doze em vários países a fecundidade deixo u de estar relacionada com o
casamen to (será que estaremos peran te um fenómeno que se irá generalizar a todos os
países?). No presente momen to apenas podemos concluir que é o indicador demográfico
com maiores diferenças de nível na Europa dos Doze (Ver Figura n" 7). Por ou tro lado, se
as diferen ças en tre os n íveis de n upcialidade não são importan tes en tre os diversos
países da Europa dos Doze o mesmo não acon tece com o divórcio onde as diferenças
oscilam entre o e 2,9 por mil.
B É LGICA 1 8,1 1 3 ,9 77 27 20 47
DINAMARCA 1 7,0 1 4 ,6 86 25 21 46
ALEM ANHA 1 6,2 1 3,9 86 23 20 43
G R É CIA 1 8,7 13 , 1 70 27 19 46
ESPANHA 1 9,4 1 2 ,6 65 29 19 48
FRANÇA 20, 1 1 3,1 65 30 20 50
IRLANDA 2 6,9 1 0,6 39 43 17 60
ITÁ LIA 16,3 1 3 ,7 84 23 20 43
LUXEMBURGO 1 7,5 1 2,5 71 25 18 43
HOLANDA 1 8 ,2 1 2 ,0 66 26 17 43
REINO U NIDO 19,1 1 4 ,7 77 29 22 51
El.JR. 1 2 1 8,2 1 3 ,6 75 27 20 47
EUR OSTA T, Statistiques Démographiques 1992, Luxemburgo; os dados em (1) e (2) [oram calculados: lnd.
Env.=65±-15 anos· 100; R.D.]. = -15115-64 anos'100; RDV=+65115-64 anos'100; R.D T.=R.D .].+RD. V.
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A SITUAÇÃO DEMOGRÁFICA PORTUGUESA
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PAISES
1 5 a nos I 65 e + a n o s v e r i fi c a m o s q u e , n um c o n t e x t o d e e l e v a d o s n í v e i s d e
enve l h e c i m ento, sem co m p a ra ção com outras regi ões d o m u n d o o u com outras é pocas
d o passa d o , existem a lgumas d iferenças d e nível i nteressa ntes. N o que diz respeito ao
e n v e l h e c i m e n t o na b a s e , a A l e m a n h a e a I tá l i a s ã o de l o n g e o s p a í s e s m a i s
e n v e l h e ci d o s ( 1 6, 2 e 1 6 , 3 % d e j ovens) esta n d o bastante a ba i x o d a m é d i a d a U n iã o
Europeia ( 1 8 , 21J!o) e a I r l a n d a é o p a í s m a i s j o v e m (26,9% de jovens) o que d e m o nstra
cla ra m e nte o e feito d o declínio da fecu n d i d a d e n a Alemanha e na Itá l i a ( os mais ba ixos
d o m u n d o) n a estrutu ra etá ria quando comparado com o declínio ta rdio observa do na
I r l a n d a . Po rtuga l com u m va l o r d e 20,9% d e jovens tem a i n d a u m va lor lige i ra m e nte
superior á m é d i a d a E u ropa dos Doze mas d e i xou d e ser um dos países com a m a i s
e l evada proporção d e jovens.
N o que d i z respeito a o enve l h ecim ento no to po, os países mais enve l h e cidos são o
R e i n o U n i d o , a D i n a m a rca e a A l e m a n h a (com va l o res ron d a n d o os 1 4%) , a m é d i a da
U n i ã o Europeia é d e 1 3 ,6% e os m e nos envelhecidos são a Irlanda ( 1 0 ,6%) , a H o l a n d a
( 1 2 ,0%) e Po rtuga l ( 1 2 , 2 %) . De q u a l q u e r forma a a m p l itude das d i ferenças n o envelheci
me nto no topo é bastante m e n o r do q u e a a m pl itude das d i ferenças obse rva das no
envel h e c i m ento na base.
Em sín tese, podemos dizer que Portugal é um país claramen te en velhecido e que
deixou de ser o país mais jovem da União Europeia aproximando-se com grande rapidez
(devido ao efeito combinado do declínio da natalidade e da emigração) da média da
Europe dos Doze. Tal não q u e r d izer que o p revisível a u m e nto na espera n ça d e vida não
te n h a efe i tos neste p rocesso d e natu reza complexa. Pelo contrário, num contexto de
b a i xos níveis d e fecu n d i d a d e e o n d e os movim entos migrató rios perdera m a i m por-
21
j. MANUEL NAZARETH
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A p e s a r de no p o n to a n t e r i o r já t e r m o s s i t u a d o a l g u n s a s p e ct o s d a fa m í l i a
p o rt u g u e s a n o c o n texto d a U n i ã o E u r o p e i a , c o m o p o r e x e m p l o , a n u p c i a l i d a d e , o
d ivórci o, o enve l h e c i m e nto d e mográfico e o declínio da fecu n d i d a d e achámos q u e , no
c o n texto d o c o nj u nto e m que este t ra b a l h o se i ns e r e seria i m p o rta nte tecermos
a lgumas consid e rações a d icionais sobre os aspectos soci odemográfi cos da fa mília e m
Portuga l situada n o contexto da U n i ã o Europeia.
Assi m , p a ra a l é m d a s i tua ção j á a p re s e n t a d a p a ra 1 9 9 1 , p o d e m o s o b s e rva r no
Q u a d ro nº 9 a fo rma co m o tem evo l u í d o a n u pc i a l i d a d e nos últimos tri nta a n os. A
te ndência é p a ra u m a inequívoca baixa generalizada dos níveis de n upcialidade sendo
Portugal o país da União Europeia com o maior n ível de n upcialidade. P o r é m , se a
i m p o rtâ n cia d o casa m e nto está e m b a i x a ge n e ra l iza d a , a idade média no primeiro
casamento, tan to nos homens como nas m u lheres, es tá em a lta acentuada, em
particular nos últimos 10 anos. Se e m 1 960, a i d a d e média no p ri m e i ro casa mento, na
U n i ã o Europeia, e ra de 26,9 a n os p a ra os h o m e n s e de 2 4 , 1 anos para as m u l h e res, e m
1 9 9 1 o s va l o re s s u b i ra m p ra t i ca m e n te t r ê s a n os . A o c o n trá r i o d a G ré c i a , E s p a n h a ,
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A SITUAÇÃO DEMOGRÁFICA PORTUGUESA
FONTE: MERMET G., Euroscopie, Ed. Larousse, Paris, 1 992; EUROSTAT, Statistiques Démographiques 1 992, Luxemburgo
Irlanda e Itá l i a (que já ti n h a m va l o res el evad os) Po rtuga l não é uma excepção e pa rti l h a
com os resta ntes p a íses e u ro p e u s da t e n d ê n c i a a ltista, T u d o i n d i ca assi m , q u e u m
conj u nto d e fa ctores soci a i s e eco n ó m i cos estã o a fazer com q u e os nossos jovens
d i fi r a m cada vez m a i s no tempo o mome nto do casa m ento.
23
j. MANUEL NAZARETH
No Qua d ro n" 1 1 a p resenta mos a evolução dos níveis de d ivórcio ta mbém nos ú lti mos
trinta anos e verificamos que com excepção da Irlanda (onde o divórcio não é permitido) em
todos os países da União Europeia o divórcio praticamente quadriplicou nos últimos trinta anos.
u m a outra i n formação i nte ressante é a n á l ise da repa rti ção das Fa mílias segu ndo a
d i m e nsão. Os isolados, ou sej a , as fa mílias a penas com u m a pessoa, re presenta m ce rca
de 2 5 % das Fa m í l i a s da U n i ã o Europeia. As situações extremas são a D i n a m a rca com
56,9% d e pessoas a viverem isoladame nte e Espa n h a e Portuga l com pouco mais de
1 0%. As fa m í l i a s com 2 pessoas representa m 2 8 , 3 % d o tota l s e n d o a d is p e rsão d e
va l o res pouco i m portante.
Famíl ía s com
Países
1 pes. 2 pes. 3 pes. 4 pes. 5+pes
24
A SITUAÇÃO DEMOGRÁFICA PORTUGUESA
Se j u nta rmos estas duas i n formações verifi ca mos q u e na D i n a m a rca ce rca de 80%
das fa m í l i a s não têm u m a ú n i ca cria nça. Esta situação contrasta viole nta m ente com o
o b s e rva d o e m P o rtuga l o n d e temos 36% de fa m í l i a s n esta situação. O utro a s pe cto
curioso res i d e no fa cto d e as fa mílias com mais d e 5 pessoas só terem dois dígitos em
p e rcentagem n a G récia, Espa n h a , Itá l i a , Luxe m b u rgo e Po rtuga l.
B E LGICA 28 36 24 9 3 1 00
DINAMARCA 51 28 12 6 3 1 00
ESPANHA 46 20 28 5 1 1 00
FRANÇA 43 29 25 2 1 1 00
G R E CIA 38 29 28 4 1 1 00
I R LANDA 31 22 38 5 4 1 00
ITÁ LIA 36 31 30 2 1 1 00
LUXEMBURGO 19 29 43 4 5 1 00
HOLANDA 42 28 24 4 2 1 00
ALEMANHA 25 35 29 4 7 1 00
REINO U NIDO 51 27 19 2 I 1 00
PORTUGAL 40 23 29 6 2 1 00
B E LGICA 39 26 26 7 2 1 00
D I NAMA RCA 55 24 23 5 3 1 00
ESPANHA 48 18 28 4 2 1 00
FRANÇA 47 28 22 2 I 1 00
G R ÉCIA 48 29 18 3 2 1 00
I R LANDA 36 18 40 5 I 1 00
ITÁ LIA 47 30 21 1 I 1 00
LUXEMBURGO 21 31 36 8 I 1 00
HOLANDA 44 28 29 3 2 1 00
ALEMANHA 27 33 34 3 3 1 00
REINO U NIDO 46 34 17 2 1 1 00
PORTUGAL 46 24 21 6 3 1 00
25
j. MANUEL NAZARETH
B I B L I O G RA F I A
PUMAIN D., Spatial ana/ysis and popuJation dynamics, John L i b bey Eu rotext/INED, Lond res, 1 9 9 1 .
26
A G RANDE VIRAG EM DO PRE S ENT E
E SUAS CONS E QUÊNCIAS :
D E P ORTUGAL RU RAL
PARA P O RTUGAL U RBAN O
François G uichard
(CENPAICNRS, Bordéus)
o P o rt u ga l do Esta d o N o v o e ra p a ra d i g m a da ru ra l i d a d e , p e l o m e n os de d u a s
m a n e i ras: na rea l i d a d e o bj e ctiva e na i magem q u e o s seus d i rigentes ente n d i a m d e l e
p roj e cta r, a o mesmo tempo no exteri o r e no i nterio r d o país.
Era - o na rea l i d a d e o bj e ctiva , na m e d i d a e m que a população u rbana conti nuava a
s e r n i ti d a m e nte m i n o ri tá r i a , c o m o s e m pre ti n h a s i d o até então. A l é m d i sso, estava
concentrada em p o u cos n ú c l eos, q u a s e todos d e d i m e nsões red uzidas. Era m a fi n a l
p o u c o v i s í v e i s n o c o nj u n to d a p a i sa g e m n a c i o n a l , s o b re tu d o n a q u e l e t e m p o d e
d es l ocações l e ntas e d i fíceis, e m q u e e ra m n e cessá rias m u i tas h o ras, e m com b o i os
antiquados, para ir e vir de Lisboa ao Porto, ou para chegar da fronteira a qualquer cidade.
E e ra - o na i m a g e m p roj e cta d a . I m a g e m e n a l t e c i d a de um p a í s cuj a v i rtu d e
fu n d a m e nta l devia resi d i r n a fi d e l i d a d e aos va lores, tra d i ções e comporta m entos mais
profu n d a me nte e n raizados, no a p ego á te rra nata l e n u m a civi lização cristã preservada
das d esagrega ções sócio-cultura i s , que os mesmos d i rigentes achavam conco m i te ntes
das gra n d es conce ntrações u rbanas mode rnas. Nada e ra mais s i m b ó l i co e gen u í n o d o
q u e a torre da igreja a l d e ã , vista d o peque níssi mo casal o n d e a fa mília se d e d i cava a
te m p o i nte i ro á sua auto-suficiência. Ass i m se preservava a autonomia e a harmonia
h i e rá r q u i ca i nterna à custa d o d u ro e roti n e i ro tra b a l h o d e cada u m , sob a p rotecçã o e
ga ra n t i a d o p á roco r u ra l , s í m b o l o d a s estruturas d e e n q u a d ra m e n to soc i a i s m a i s
com p rovadas. Era o exemplo q u e devia segu i r a pátria.
Com ta l h e rança, não é d e estra n h a r a i m p o rtâ ncia - ta lvez m u i to mais cultural e
psicol ógica do q u e eco n ó m i ca - q u e chegou a ati ngi r, d u ra nte os p ri m e i ros anos q u e se
segu i ra m ao 25 d e Abri l , a p ro b l emática da tra nsformação rura l . Sobretudo através da
reforma a grá ria, que foi e ntão p e d ra a ngular d o d e bate nacional.
H oj e e m dia, mais d e vinte a nos volvidos sobre a " revo l ução dos cravos", não só
esta p e rt e n c e à h i stó ria co m o p a ra a h i stória e n trou a reforma agrá ri a , com suas
espera n ças, d e s i l usões e fra cassos. Talvez seja s i m b ó l i co do q u e está a acontecer com a
vocação agrícola d e Po rtuga l no seu conj u nto, a respeito da q u a l ca da vez menos se fa la
d e produção e re nta b i l i d a d e - como se já estivesse perd i d a a bata l h a da modernização,
quando não da m e ra sobrevivência - e cada vez mais d e salvaguardar o patri m ó n i o
s ó c i o - c u l t u ra l e a m b i e n ta l . É só ver, m e ro e x e m p l o e n tre m u i tos, a m a n e i ra c o m o
evo l u i u e m vi nte a n os a tó n i ca d o d e bate e m torno da ba rragem d e Alqueva , desde a
salvação do Alentej o gra ças à rega , d o m i na nte nos anos setenta, até ao sonho de u m
futu ro tu rístico rison h o , quase exclusivo n o s d iscursos m a i s recentes.
Ora, turismo para q u e m ? Salvagua rda r o espaço rura l para quê, senão pa ra que d e l e
possa m usufru i r os cita d i nos ?
Na rea l i d a d e , ta l evolução não surpre e n d e q u e m verifi ca r a d i m i n u ição acelerada da
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FRANÇOIS GUICHARD
i m portâ ncia eco n ó m i ca e soci a l do secto r primário em Portuga l . A sua quota -pa rte na
população a ctiva nacional ca i u d e 44 % e m 1 960 para 2 2 % na a ltura da a d esão á CEE,
e m 1 9 86, e pa ra menos d e 1 2 % e m 1 99 2 1_ E ntre estas ú ltimas duas datas, ou seja e m
a p e n a s m e i a d ú z i a d e a n os, a sua pa rti c i p a ç ã o n o p rod uto i n terno bruto q u ase se
reduziu para meta d e , d e u n s 9 para u n s 4 , 8 %. Por si só, o dese q u i líbrio entre a m bas a s
p ro p o rções - a fi n a l a i n d a ta ntos tra b a l h a d o res, p a ra t ã o pouca riqu eza p r o d u z i d a -
co m p rova a s e n s a ç ã o de q u e , com e fe i t o , n ã o se trata no c o nj u nto da a cti v i d a d e
eco n ó m i ca m a i s d i n â m i ca ...
N o d ecorrer dos ú ltimos 1 5 - 2 0 a n os, ta rdia mas ra p i d a m e nte, Po rtuga l v i rou d e país
rura l p a ra país urbano. E m b o ra não te n h a s i d o o mais espera d o , é com ce rteza u m dos
m a i s nítidos sinais da verd a d e i ra e u ropeização da sociedade nacional - bem como dos
seus p roblemas, a ctu a i s e previsíveis : as crises portuguesas mais agudas do porvi r já
não serão rura i s , mas s i m u rbanas, ta l como acontece nos principais países parcei ros.
1 - A VITÓRIA DA CI D A D E
D e s t a t r a n s fo r m a ç ã o fu n d a m e n ta l , n e m s e m p re s ã o os c e n s o s os m e l h o re s
i nstru m e n tos d e m e d i d a . A s ta xas de u rba n ização q u e a pa rti r d e l es fo ra m ca lculadas
são i m pe rfeitas, várias, contra d itórias entre s i , e m resu mo pouco satisfatórias, co m o
a l i á s o r e co n h e ce m fa c i l m e nte os s e u s p r ó p r i o s a u tores. É q u e s e m pre fo i d i fí c i l
esta b e l ecer u m critério ú n i co de defi n i ção para "agl omerações u rbanas" n u m país o n d e
a s fo rmas d e povoa m e nto são tã o contrastadas. Como e n contra r u m a regra co m u m
q u e seja a p l i cável a o m e s m o te mpo à extrem a dispersão do Noroeste ou da Madeira,
ca racterística da Europa húmida e verdeja nte, e à concentração máxima das povoações
ru ra i s a l e ntej a n a s , tã o parecidas às suas h o m ó l ogas da bacia med iterrâ n ica, desde a
Espa n h a vizi n h a até ao M é d i o oriente?
N este s e n t i d o , conti n u a pe rfe i ta m e nte vá l i d a a d u a l i d a d e tã o bem rea lçada p o r
O rl a n d o R i b e i ro, j á va i lá m e i o s é c u l o , e n tre Po rtuga l "atlântico" e " m e d ite rrâ n e o " 2 ,
mesmo se já n ã o é a fra ctu ra principal do espaço português ... e ta lvez até n u nca o fo i .
O ra u m Estad o moderno, seja ele q u a l fo r, sendo d o n o da estatística - ou seja d o
saber sobre si p r ó p r i o , e por i s t o m e s m o de u m i nstru me nto de poder i m porta ntíssi m o
- n u n ca gosto u d e diversificar o trata m ento q u e nesta matéria , ta l c o m o e m q u a l q u e r
outra , a p l ica a o seu te rritó rio. S e r i a como atentar à santíss i ma u n i ci d a d e da nação.
Po rtuga l não escapa à regra; o q u e não deveria i m pe d i r reflexão e ensaios. No enta n to
fora m pouco fre q u e ntes 3
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A GRANDE VIRAGEM DO PRESENTE E SUAS CONSEQUÊNCIAS
H i p ótese correlativa seria a segu i nte : não se trata apenas de uma u rban ização mas
s i m , e m m u i tos casos, d e u ma metro p o l ização d i recta . D e u m a co n q u i sta gulosa e
d e s e n fr e a d a d o e s p a ç o , d a s o c i e d a d e e d a s m a n e i ra s d e v i v e r p e l o s m a i o re s
a gl o m e ra d o s d o l i to r a l : L i s b o a , o Po rto e s e u s p ro l o n ga m e n t o s t e n ta c u l a re s q u e
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FRANÇOIS GU/CHARD
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A GRANDE VIRAGEM DO PRESENTE E SUAS CONSEQUÊNCIAS
Entre parênteses : número d e sub-regiões conforme a nomenclatura europeia d e unidades estatísticas (NUT III)
Densidade �)
O 21 a 46
• 960
• 1 433
�
ld
,- Alentejo
I
I } Metrópoles (>1 milhão habitantes)
Madeira
•
Funchal
2 - A L G U N S M OT I V O S DA M U D A N ÇA
Dentro dos fen ó m enos q u e são, ao mesmo tem p o , ra ízes e frutos d esta m uta ção
ca p i ta l , p a rece n e cessá r i o rea l ça r a q u i três, cuj a i m p o rtâ n c i a ta lvez sej a fu l c ra l : a
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FRANÇOIS GU/CHARD
Há c e rca de v i n te a n os q u e a e m i g r a ç ã o d e i x o u de s e r a v i a p r i v i l eg i a d a d e
esco a m e nto para o s cró n i cos excede ntes populacionais, e a solução principal para as
d i fi c u l d a d es eco n ó m i cas nacionais.
Já n o passad o houve fases e m q u e a corrente e m igratória pa recia esgota da. Mas fo i
q uase s e m p re por m otivos conj u ntu rai s exte rnos, guerras ou crises i n te rnaci onais. E ta l
sem pre pode acontecer. Aliás, o fi m da última gra n d e fase de pa rti das esteve outra vez
d i r e cta m e n t e l i g a d o à c r i s e e n e rg é t i c a m u n d i a l , a p a rt i r de 1 9 7 3 , e a o fe c h o
consecutivo, o ra bruta l , ora p rogressivo, dos principais países de desti no. Além d isso,
n i ngu é m é ca paz d e a d i v i n h a r a o ce rto o q u e acontecerá uma vez concretizados os
a cordos d e Schengen sobre a l ivre circulação das pessoas de ntro da U n i ã o Europeia :
por isso mesmo há vários a n os que se a rrasta a sua a p l icação efectiva .
Pa rece n o e nta nto trata r-se desta vez de u m a m utação de outra natu reza , com
motivos estrutu ra i s de ordem nacional suficientemente fortes para d a r a i m p ressão que
esta mos pera n te u m a tra nsformação de fu ndo. Na fase mais aguda dos a n os sesse nta e
i nícios dos a nos setenta , o fl uxo das partidas a n uais ultra passava l a rga me nte a centena
de m i l h a res ; e a n tes disso, desde gerações segu idas, ra ra m e nte ti n h a sido i n ferior aos
3 0 000. Era tema p r i o ritário de i nq u i etação naci o n a l , sobre o qual i n c i d i u vastíssi m a
b i b l i ogra fia 6 O r a , a pa rti r d o i n ício dos a n o s o i tenta , este fl uxo esta b i l izou-se p a ra
a p e n a s u m a s 2 0 0 0 0 s a í d a s a n u a i s , d a s q u a i s m a i s d e m e ta d e e m m i gra ç õ e s
te m p o rá rias, q u e corres p o n d e m na verd a d e a i d a s e voltas peri ó d i cas.
Mais a i n d a : o bala nço migratóri o global até se i nverteu, a o po nto de passa r a ser
regu la rmente positivo , em proporções que parecem tota l m e nte i n é d i tas. Bem o i l ustra
a evolução das temáticas agora privilegiadas pelos especi a l i stas. Depois das pa rtidas, e
um pouco m a i s ta rd e da vida lá fora , eles d e d i ca m-se hoje em d i a em prioridade aos
reto rnos e até à i m igração. Pa ra Po rtuga l regressa m agora , de ano para ano, ce rca de
duas vezes m a i s d e a ntigos e m igrantes, na m a i o ria i d osos, d o q u e o país deixa pa rti r d e
jovens. N u n ca n o passa d o este fe n ó m e n o chegou a atingir ta m a n h a i m po rtâ ncia. Por
u m l a d o , é evide nte q u e a d istâ n cia não fa ci l i tava o regresso, já q u e quase todas as
pa rti das eram n a altura p a ra desti nos tra nsoce â n i cos, e q u e não se ti n h a entrado na e ra
do avião. Mas por outro l a d o , verd a d e era q u e naquelas épocas (com rea lço particu l a r
pa ra o período 1 8 7 0 - 1 9 3 0) , o p a í s nata l não tinha conheci d o , n o t e m p o de uma vida d e
tra b a l h o , p rogressos materi a i s t ã o especta c u l a res q u e o tornassem devera s atra ente.
C o m toda a ce rteza , é d este ponto d e v ista que a m u ta ç ã o recente m a i s se p o d e
justificar.
os p r e ce d e n te s ca n d i d a t o s à pa rti d a e ra m q u a s e todos r u ra i s d e s p ro v i d o s d e
q u a l q u e r fo rmação p rofiss i o n a l , a n ã o s e r a constru í d a com a própria experi ê n cia d a
casa e d o ca m po. o ra esta m u ito pouco ia servi r lá fora , já q u e a m a i o ria d o s e m p regos
possíveis fo ra m e n co n tra dos n a construcçã o civil ou n a i n d ústr i a . Pelo contrá r i o , os
e m i gra ntes a ctu a i s são m a i o rita ri a m e nte u rbanos , e de ano para ano mais q u a l i fi cados.
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A GRANO E VIRAGEM DO PRESENTE E SUAS CONSEQUÊNCIAS
A pesa r de tudo, alguns d estes jovens começam agora a perce ber q u e Po rtuga l não
se res u m e à rura l i d a d e d o i nterior e q u e até, e m relação a o desemprego a ngustia nte
q u e se a l a stra nas te rras o n d e vivem, se trata ta lvez de um país onde a crise a i nda não
chegou a ser tã o fo rte. Por isso, desde o i nício da década de noventa passa a ser m a i s
c o n s i s t e n t e u m a c o r r e n t e d e a t r a c ç ã o e s p e c í f i ca d o s a g o ra c h a m a d o s " l u s o
-d esce n d e ntes " : n este caso já n ã o s e pode fa l a r e m " regresso " . Mas o s desti nos não
são os mesmos : estes d i rige m-se m a i s d i recta m e nte ainda para a cidade, e até para a
agl o m e ração metropol ita na litora l , q u e não só lhes pode oferecer mais e m p regos, como
m e l h o r co rres p o n d e a o modelo d e modern i d a d e e m q u e fo ra m educados lá fo ra .
S ej a c o m o f o r , u m a g e r a ç ã o v o l v i d a , q u e m d e i x o u o ca m p o , s o n h a n d o a e l e
regressa r para o m e l horar, acaba p o r desisti r defi nitiva me nte do proj ecto i n i ci a l e por
i n tegra r a civil ização urba n a , à q u a l a sua d esce n d ê ncia já pertence.
Po rtuga l e n fi m , ta l co m o E s p a n h a e I tá l i a , de país de p a rt i d a tra n s fo rm o u - s e
entreta nto e m terra receptora . Pri m e i ro houve o s retornados, regressa dos e m u rgência
na a ltura das desco l o n i za ções de 1 9 7 4 - 7 5 : ta m b é m eles, a pesa r d e terem raízes m u i ta s
v e z e s n o rd esti n a s e r u ra is , esco l h e ra m u m a f i x a ç ã o u rba n a , ta nto m a i s fa c i l m e nte
q u a n to e ra quase s e m p re e m c i d a d e s que j á vivia m n o U l t ra m a r s. E agora o país
rece b e u m fluxo crescen te d e i m igra ntes, de momento quase todos l usófones, oriundos
o ra d o B rasi l , o ra da Áfri ca , com m a i o ria d e ca bo-verd i a n os. U n s fica m d e m a n e i ra
d u ra d o i ra , para outros trata-se de u m a esca la em d i recção a outros d esti nos e u ropeus,
como E s p a n h a o u Paris. V i v e m e m situação m u i ta s vezes p r e cá ri a , q u a n d o não à
m a rgem da lega l i d a d e , e por isso ta m b é m da estatística. São ta lvez hoje em d i a ce rca
de cem ou de duze ntos m i l a res i d i r em Portuga l . E e l es ta m b é m se concentra m quase
todos na esfera u rba n a , sobretu d o lisboeta 9
Ass i m a atracção da cidade, e mais a i n d a da á rea metropolita na, su bsitui d o ra va n te
a e m i gra ção como fo rma d o m i n a nte da m o b i l i d a d e portugu esa, q u a l q u e r q u e seja a
v i a : c h ega d a d o estra n g e i r o , ê x o d o r u ra l d i recto o u , d e m a n e i ra c a d a v e z m a i s
fre q u e nte, saltos asce n d e n tes na esca la da h i erarq u i a u rbana nacional.
A escolarização maciça
Tem o mesmo resu lta d o a ge neral ização do ensino, até q u e e n fi m consegu ida n o
d eco rre r dos mesmos ú ltimos vinte a nos. A t é e ntão na retagua rda do Vel h o conti n ente
e m matéria de e d u ca ção, Po rtuga l felizmente desenvolveu nesta matéria um esforço
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FRANÇOIS GUICHARD
n o ta b i l í ss i m o d es d e os fi n a i s d o s a n o s sesse n ta e s o b retu d o a p ós o 2 5 de A b ri l ,
passa ndo a ser " a escola pa ra todos " u m l e i tm otiv u n a n i m a m ente pa rti l hado, o a l i ce rce
ao m e s m o te m p o do p rogresso sócio-cultura l , do desenvo l v i m e nto eco n ó m ico e do
e n ra iza mento d a d e mocracia. De m a n e i ra que neste d o m í n i o ta m b é m , hoje em d i a o
país quase a lcançou o nível m é d i o dos seus parcei ros da União Europeia. Pelo menos d o
ponto d e vista q u a n titativo. Ainda bem.
Mas isso sign i fi ca ta m b é m q u e se acelera nas mesmas proporções a tendência p a ra
a urban izaçã o genera l izada : da formaçã o , do m e rcado do tra ba l h o , dos modos de vida
- desejados, senão s e m p re a l ca n çáveis -, e n fi m dos modelos d e comporta mento, ta nto
i n d iv i d u a i s como colectivos.
E ra m a s cri a n ças d o m u n d o rura l que a escola d e outrora menos atingia. Ago ra
pre pa ra-as quase sistematica m e n te pa ra p rofissões do sector te rciário, q u e só poderão
exercer n o mundo u rbano.
A esco la riza ção co n d u - las assi m a deixar o ca mpo ou a a l d e i a . Pri m e i ro são d i rigidas
pa ra as vilas onde fo ra m i m pla ntados os col égios, e a segu i r para as cidades dotadas d e
l i c e u s , e s c o l a s p o l i té c n i ca s e a t é u n i v e r s i d a d e s n o v a s . M u i t o s b u r g o s o n t e m
a d o rmecidos e q u e pa reci a m sem futuro h oj e estão p o r isso a n i mados p o r u m a onda
i n é d ita d e j uventu d e , e u m consecutivo d i na mismo.
Mas o teci d o de a ctividades de que d ispõem estes o rga n ismos u rbanos da província,
uns m e ra mente e m brionários, outros a i nda incompletos, nem por isso é suficie nte para
lhes permiti r oferecer respostas ada ptadas ás novas necessidades de e m p rego q u e vão
ass i m s u rgi n d o com ta nta fo rça . Nem o será, com toda a proba b i l i d a d e , a o fi m dos
pou cos a nos d e fo rmação que proporcionam.
Chega então a altura d o segu ndo desl ize - e este tem todas as proba b i l idades d e
ser d efi n itivo - desta v e z pa ra os conj u ntos u rbanos mais i m porta ntes d o lito ra l ou as
suas periferias, ú n i cos espa ços consi dera d os ca pazes de proporcio n a r as oportu n i dades
de tra b a l h o a d e q uadas á fo rmação rece b i d a .
A modernização económica
A tra nsformação acelerada da eco n o m i a portuguesa forta lece esta tendência. com
e fe i t o , ela c o n d u z a m i n o ra r a sua p a rte de c o m p e t i ti v i d a d e t ra d i c i o n a l , l i ga d a á
u t i l i za ç ã o d e u m a m ã o d e o b ra tão b a rata q a u n to p o u co fo r m a d a . A u m e nta e m
proporção a i m po rtâ ncia d o s i nvesti m e ntos tecn o l ógi cos e fi nanceiros, b e m como a s
e x i g ê n c i a s e m m a t é r i a d e c o m petê n c i a h u m a n a . A necess i d a d e d e m o d e rn iz a ç ã o
atinge agora u m n í v e l i n é d ito na h istó ria nacional. Mas esta tendência ada pta -se mal a o
teci d o produtivo h e r d a d o d o passa d o , disperso c o m o é por uma m u ltidão de fá b ri cas
m u i tas vezes espa l hadas no seio mesmo d o mundo ru ra l , pequeníssimas, envelhecidas,
i ncómodas e a i nda por cima pouco a cessíveis.
Na i n d ústri a , bem como nos segme ntos mais modernos d o sector primário (o v i n h o ,
os l a ct i cí n i os , a fru ti c u l t u ra , a v a l o r i z a ç ã o d a m a d e i ra p o r e x e m p l o ) , a s s i ste-se à
transformação m a i s ou m e n os rá pida do q u e fora m m e ras produções no esboço de
v e r d a d e i ra s fi l i é re s , d e ca d e i a s c o m p l e xas i n tegra n d o v e rt i c a l e h o ri z o n ta l m e nte
sectores d e a ctividades com pl e m e n ta res q u e da ntes fu ncionavam d e m a n e i ra m u ito
m a i s a u t ó n o m a . o c o nj u nto i n s e re-se d i re cta m e n te nos m e rca d o s extra - regi o n a i s ,
q u a n d o n ã o i nternaci onais, e m vez de se l i m ita r a o tecido próx i m o de fornece d o res,
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A GRANDE VIRAGEM DO PRESENTE E SUAS CONSEQUÊNCIAS
A l gu m a s m u ta ç õ e s a l te ra m o e s q u e m a o rga n i z a ci o n a l . No c o n texto g e ra l d e
retra cção d a s a ctivi d a d es agríco las tra d i ci o n a i s , só pa recem ter futuro o s segmentos
que passa m a d e p e n d e r das tecnologias e dos mercados u rbanos, a i nda nem q u e seja
só pela via latera l da o ferta tu rístico-cultura l , promovida a actividade compleme nta r :
r e s e rvas n a t u ra i s , t u r i s m o v e rd e , l a zeres a q uáticos, p r o m o ç ã o d o a rtesa n a to e d o
p a t r i m ó n i o p o r e x e m p l o . Agu d i za m - s e a s d i fi c u l d a d e s d o t e c i d o s e m i - ru r a l d a s
i n d ústrias d i s p e rsas assentadas e m prioridade na m ã o d e o b ra barata, como n o caso
dos têxteis, a i n d a responsáveis de ce rca de u m terço das exporta ções portuguesas.
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FRANÇOIS GUICHARD
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A GRANDE VIRAGEM DO PRESENTE E SUAS CONSEQUÊNCIAS
n úcleos de u n i d a d e , fa m i l i a res e sociais. G e ra ções, casa is, sexos, pessoas passa m a ser
ca d a v e z m a i s a u tó n o m o s uns d o s o u tros. Os va l o re s e a s h i e ra rq u i a s h e rd a d a s
pa rece m demasiado i no p e ra ntes, porq u e desaj ustados a o m e i o a m b i e nte u rbano, aos
seus ritmos s i n copados e a esta i n d iv i d u a l ização crescente do desti no de ca da um. Por
isso eles são num pri m e i ro m o m e nto contestados, e numa segu nda eta pa merame nte
postos de l a d o , q u e r sej a m d e natu reza fa m i l i a r (o estatuto p r i v i l egiado do p a i , p o r
exe m p lo), q u e r d e â m b ito colectivo ( e e m p ri m e i ro p l a n o a p rática re l i giosa regu l a r,
d a n tes n o rm a tiva). D e i x a m l u ga r à p rocu ra i s o l a d a , e p o r vezes e rrá tica, de novos
h orizontes d e referência ...
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FRANÇOIS GU/CHARD
Inquietações prospectivas
Apesar d estas riva l i d a d es, uns e outros sempre conti n u a m a ter q u e d a r priori d a d e
a o s p ro b l e m a s das á reas o n d e a s u rgências se a m ontoa m d a m a n e i ra m a i s visíve l ,
p r e m e n t e e i m e d i a t a . O u s ej a , a o s d a s z o n a s m a i s p o v o a d a s : a s a gl o m e ra çõ e s
metropol itanas, cuj o pote n c i a l d e concentração va i assim a u menta n d o e m proporção
aos i nvesti m entos neles rea l izados.
Ontem, o p e rigo p a ra Portuga l resi d i a no agrava m ento da d u a l i d a d e sócio-espacia l :
p o r u m l a d o u m a m i n o r i a próspera e m o d ernizada n o l itora l , p o r outro l a d o l a rgas
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A GRANDE VIRAGEM DO PRESENTE E SUAS CONSEQUÊNCIAS
p e r i fe r i a s a t r a s a d a s c u m u l a n d o a s d i fi c u l d a d e s , n o i n t e r i o r e n o s a rq u i p é l a go s
oceâ n i cos. A evol u çã o a ctu a l ta lvez autorize a pensar q u e o pe rigo d e a m a n h ã poderá
ser m e n os p rovoca nte do po nto de vista soci a l , até porque não há dúvida n e n h u m a de
q u e o nível m é d i o de vida m e l h o rou d e m a n e i ra sensível n o decorrer da última geração,
a i nda q u e n ã o tenha s i d o d e m a n e i ra igua l m e nte repartida. Mas pode passa r a ser pior
ainda d o ponto d e vista espaci a l , se o esvazia m ento das periferias p rossegu i r ao mesmo
ritmo , sem frei o n e m d erivativos a d a ptados à sua ra p i d ez a ctu a l .
ora , p e l o m e n os na nossa civi l ização oci d e n ta l , poucos exe m p l os h o u v e de cida des
o á s i s , ca p a z e s de s a l v a g u a r d a r a s u a p r o s p e r i d a d e no m e i o do e s g o t a m e n to
envolvente. o futuro de Portuga l está clara me nte ligado ao do Po rto e de Lisboa ; mas
Lisboa e o Po rto não terão futuro n u m país desertificado.
N O TAS
2 . Orlando RIBEIRO, Portugal. o Mediterrâneo e o Atlântico, 1 ." éd., 1 94 5 ; 6." éd., Lisboa, Sá da costa , 1 99 1 .
3 . o próprio signatário d estas l i n has tentou p rovoca r u m d e bate p ú b l ico sobre o referido assunto e m d u a s
ocasiões: em 1 9 8 3 , na sua tese de dou tora mento e no ano segu i nte, c o m a c u m p l icidade de Pierre Laborde,
d u ra nte u m colóq u i o no Porto: François G UICHARD, Porto, la vil/e dons sa région. Contribution ó l'étude de
J 'organ isation de /'espace dons /e Portugal d u Nord , 2 v o l . , P a r i s , Centre C u l tu r e l Portuga i s / F o n d a t i o n
G u l benkian, 1 99 2 ( c f nomeadamente o vol. l , p . 1 4 3 - 1 5 3); Fra nçois G UICHARD e Pierre LABORDE, " Pô les urbains
et inéga l i tés régionales: le cas d u Portuga l d u Nord et de I'Aquita i n e " . i n 1 °5 ]ornadas de Estudo Norte de
Portugal/Aquitânia - Actas, Março de 1 9 8 4 , Porto, CENPA, 1 98 6 , p. 2 69 - 278 + 4 mapas desdobráveis. o debate
esperado ficou m u ito l i m i tado. o q u e em pa rte se expl ica pela língua util izada e, porque não, por defeitos
próprios das exposições. Mas i n fel izme nte - a não ser que a c u l pa seja da debilidade da m i n h a i n formação
o tema ta m b é m não ressu rgiu m u ito vivo nou tros sítios e noutras penas. Nem por isso desespero de vê-lo
re nascer q u a l q u er d i a . . . mesmo q u e seja por h istoriadores !
4. Sobre este assunto, bem como sobre m u i tos ou tros a fins aos q u a i s se a l u d e mais adia nte. o leitor fe l izmente
d ispõe agora de duas rece ntes e excelentes obras de síntese, q u e enriquecem e em gra nde pa rte renovam a
l i teratu ra geográ fica portuguesa rela tiva ao desenvolvimento urbano e à reestru turação do espaço nacional:
as de Teresa BARATA SALG U EIRO, A cidade em Portugal. uma geografia urbana, Porto, Afronta mento, 1 99 2 , e
de Jorge GASPAR, As regiões portuguesas, Lisboa, M i n istério do Planea mento e da Admin istração do Território,
1 99 3 .
5 . Den tro d o s q u a i s va le ta lvez a p e n a recordar, p e l o i m pacto q u e teve na a ltura e pelas m ú ltiplas p istas q u e
a b r i u , o tra b a l h o de Eugé n i o de CASTRO CALDAS e M a n u e l de SANTOS LOUREIRO, Regiões homogéneas no
Con tinente português. Primeiro ensaio de delimitação, Lisboa, Fundação G u l benkian, 1 9 66.
6. Cf. por exemplo a elucidativa, em bora incompleta e já em pa rte envelhecida, panorâ m i ca de Maria Beatriz
ROCHA TRIN D A D E e J o rge A R R OTEIA, Bibliografia da emigração portuguesa. Lisboa, Instituto d e Apoio à
Em igração e com u n i dades Portuguesas, 1 9 84. Den tro da extensa p rod ução naciona l e estrangeira q u e acabou
por constitu i r u m conj u nto extremamente rico e m u itas vezes de gra nde q u a l idade, sobretudo q u a nto aos
tra ba l h os realizados a partir dos anos setenta , o leitor encontrará várias sínteses sólidas e cómodas como as
d e joel SERRÃ O . A emigração portuguesa. sondagem histórica, Lisboa, Horizonte, várias ed ições desde 1 97 2 ,
ou d e Jorge A RROTEIA, A emigração portuguesa, suas origens e distribuição, Lisboa, ICALP, 1 98 3 .
39
FRANÇOIS GU/CHARD
esti m u la n te a reflexão em torno da problemáti ca das casas de e m igrantes q u e co nduzem, por exemplo,
Ca rolina LEITE, Isa b e l RAPOSO e Roselyne de VILANOVA, Maisons de rêve. Portugal, enquête sur les migrants
bâtisseurs, Pa ris, Créa phis, 1 994. Cf. ainda vários estudos p u b l icados nos ú ltimos dez a nos em revistas como
Análise Social (Lisboa), sociedade e Território (Porto) o u nos " Ca d ernos " d o Instituto d e Estu dos para o
Desenvolvimento (Lisboa).
8 . Veja-se por exemplo a este respeito François G UICHA RD, " Origine et réinsta llation au Portuga l des rapatriés
d 'Afriq u e " , in finisterra, n o 28, Lisboa, Cen tro de Estudos Geográficos, 1 9 79, p. 2 5 8-268: R. P. PIRES e ou tros, Os
retornados. um estudo sociográfico, Lisboa, Instituto de Estudos para o Dese nvolvi mento, 1 98 7 ; Maria E m i l i a
ARROZ, " O recensea mento e lei tora l e o retorno de portugueses residentes no estrangei ro " , in finisterra, nY 4 5 ,
Lisboa, centro de Estudos Geográficos. 1 9 8 8 , p. 1 5 3 - 1 6 3 .
9. O utra v e z se d e v e m rea lça r os n u merosos e uti lissimos tra bal hos p u b l icados p e l o Instituto de Estudos para o
Desenvolvimento. Dentro dos mais recentes sobre este tema : Ma ria do Céu ESTEVES (coord. por) , Portugal,
Pais de Imigração, Lisboa . IED, 1 9 9 1 . e Luis de FRANÇA (coord. por), A Comunidade Cabo Verdiana em Portugal,
Lisboa, IED, 1 9 9 2 .
1 o. P o r t e r sido descoberta m u i to recentem ente p e l o s m e i o s de com u n icação social, a u ta rcas e poderes p ú b l icos,
não p o d e m o s d e i x a r d e l e m b r a r q u e esta e v o l u ç ã o fo i d e tectada e a n u n c i a d a desde há m u ito p e l os
dem ógrafos, com particu l a r relevo pelos cuida dosos tra balhos de J. Manuel NAZARETH: o envelhecimento da
população portuguesa, Lisboa, Presença, 1 9 79, ou Unidade e diversidade da demografia p ortugu esa no final do
século XX, vo/. 1 1 1 de " Portuga l . os próximos vinte a n os " , Lisboa, Fu ndação G u lbenkian, 1 9 8 8 .
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A POP U LAÇÃO P ORTU G U ESA
EM FINAIS DO S ÉC U LO XVIII
Fernando d e Sousa
Universidade do Porto
"a felicidade da Rep ublica não se mede pelas s uas grandes conq u is tas,
nem pela extensão dos seus limites, ou pelas minas de ouro, ou prata, que
poss ue; mas sim pela sua povoação, e pelos braços que nella trabalhão".
1 . I ntro d u ç ã o
se o século XVI I I , na sugestiva frase de Mols, é a p ri m e i ra época a resse nti r-se "da
fasci nação dos n u m e rosos exactos" 1, ta l não pa rece a p l i ca r-se a Portuga l.
Com efeito, a o l ongo d e quase todo o Setece ntismo portugu ês, os n ú m e ros não
surgem como dados rigorosos, estatísti cos, e n q u a nto expressã o de uma menta l i d a d e
q u a ntitativa , mas co mo conj u ntos de a l ga rismos rep rese ntativos d o s fa ctos sociais, q u e
p e r m i te m , a p e n a s , esti m a r, a i n d a q u e gross e i ra m e nte, os tri b u tos a reco l h e r e os
efectivos a recruta r.
Daí o ca rácte r precá rio da sua i m portâ n ci a , logo despreza dos uma vez atingido o
o bjectivo q u e se p rete n d i a . Não só despreza dos, destruídos, pois, ao contrário de outros
países como a Espa n h a ou a Fra nça , a s receitas dos i m postos a n u a l ou periodica m e n te
c o b ra d os p e l o Esta d o , as s é r i e s d e dízi m o s l e va n ta d a s n a s d i oceses, as l i stas d o s
n u m e ra m entos d e ca rá cte r m i l ita r ou eclesiástico chega ra m a t é n ó s , em n ú m e ro tã o
reduzido, q u e só a destru ição de ta is fo ntes pode explicar ta l fa cto.
Sob o aspecto d e m ográ fico, a p reocu pação do n ú m e ro d i fi ci l m e nte u ltra passou a
esfe ra restri ta do n u m e ra m e nto dos fogos. Quer para o Esta d o , q u e r para a Igrej a , o
fogo é, a fi n a l , a célula sign i fi cativa , se não ú n i ca da sociedade portuguesa.
A sociedade o rga n i za-se e m fu nção da fa m í l i a , não d o i n d ivíduo. o i n d ivíd uo conta ,
a penas, na m e d i d a e m q u e , soltei ro, casa d o ou viúvo, se assu m e co mo ca beça de casa l ,
isto é , eco n o m i ca m e nte ca paz de satisfazer os encargos ou tri butos q u e ao Estado e à
Igreja d izem respeito.
Os n u m e ra m e ntos ressentem-se, a i n d a , da pouca i m portâ n cia q u e era atri buída a o
co n h e c i m e nto d a popu lação d o Reino, pelo q u e , até fi nais d e setecentos, de â m bito
n a c i o n a l ou regi onais, são ra ros aqueles que ch ega ra m até nós e se revel a m dignos de
crédito.
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2. D a i m p o rtâ n c i a d a p o p u l a ç ã o ...
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pá rocos. Pa ra ta l , devia m os co rregedores enviar ca rtas ci rcu la res aos j u ízes de fora e
j u ízes o rd i n á rios, a fi m de estas fo rnecerem, até 20 de Deze m b ro de 1 7 8 3 , a re laçã o
exacta dos habitadores dos s e u s respectivos distritos, c o m a declaração d o s chefes de
fa míia e seus fi l h os/as, o n ú m e ro de criad os/as, escravos/as, re ligi osos/as, e eclesiás
ticos. Por o rd e m d e u m de J u l h o d o mesmo ano, Pina M a n i q u e solici tava , a i n d a , o envio
do n ú m e ro d e casa me ntos efectua d os e m 1 7 8 2 . E, a p a rti r deste ano - i nsistia a q u e l e
magistra d o -. casa m e n tos, nasci m e n tos e óbitos ti n h a m de ser enviados, a n u a l m ente ,
n o mês d e Fevereito, á I nte n d ê ncia Geral da Polícia da Corte e R e i n o .
Tratava-se, pois, d e u m a utêntico recenseamento, a co m p a n h a d o da i n tenção de se
dete cta r o m o v i m e nto a n u a l da p o p u l a çã o , a d e m o nstra r que as medidas to m a d a s
n esse s e n t i d o , e m 1 7 7 1 , não t i n h a m o b t i d o q u a l q u e r êxito. Desco n h ecemos a exte nsão
e valor dos res u ltados q u e a s i nstruções de 1 7 8 1 - 1 7 8 2 tive ra m . Mas sabemos que as
mesmas fo ra m c u m p ridas, pelo m e n os, na lgumas p rovíncias d o Reino.
Ass i m , fo ra m l eva ntados, cuidadosa m e n te , os m a pas da população da coma rca d e
G u i m a rã e s , a n u a l m e n te , e n t r e 1 7 8 1 - 1 7 9 0 , i n d i ca n d o , p o r c o n c e l h o s , h o m e n s e
m u l h e res, rel igi osos/as, clé rigos, o rd i n a ndos, ass i m como os nasci me ntos - m e n i n os/as
- casa m e ntos e ó b i tos - mascu l i nos e fem i n i nos 1 1 .
Na sequência das mesmas o rd e ns, D. Manuel do Cenácu lo p romove um i n q u é rito na
d i ocese d e Bej a , a fi m d e a p u ra r os h a bita ntes e os ó b i tos a n uais das suas paróquias,
e ntre 1 7 8 0 - 1 7 8 6 , te n d o s i d o postos á disposição de Pina Manique os resultados fi n a i s 1 2.
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tica politi ca a cada u m a das vilas da p rovíncia", regista ndo os tem p l os, pontes, fá b ri ca s e
m a n u fa cturas gera i s , terras cu ltas e i n cu l tas, o esta d o da sua lavoura ; a quantidade d e
gé n e ros reco l h i dos, povoa ção, com é rcio, d i reitos, b e n s da coroa e das ordens religi osas,
a presen ta nd o , n o fi n a l , os mapas gerais de povoa ção , e dos frutos" 3 1 . Este proj ecto,
contu d o , não chegou a rea l i za r-se, pois, p a ra a l é m das d i fi c u l d a d es e n co n tra das nos
magistrados locais, Chicharro terá tentado o recenseamento por 1 7 9 7 - 1 7 9 8 , isto é, numa
altura e m q u e a população a n dava já mu ito alvoroçada com boatos de gue rra e m i n ente.
Pa ra a B e i ra , não se con h e ce q u a l q u e r documentação que d i recta mente expresse a
a ctividade do j u i z d e m a rca n te. Mas sa be-se q u e , na seq u ê n cia das suas i nstruções, o
j u i z de fora de Recardães, j osé Antó n i o Leão, efectuou o l eva nta me nto da respectiva
vila e termo p a ra o ano d e 1 79 3 . I n c l u i a população por sexos e gru pos de i d a d e , - os
h o m e n s d e um a 1 4 a nos, 1 4-60 e mais d e 60; a s m u l h e res de u m a 1 2 a n os, 1 2 - 6 0 e
m a i s de 60 a n os - o respectivo estad o civil e a i n d a os nasci me ntos (legítimos, i l egítimos
e expostos), os ó bitos (naturais e por acide nte) e os casa mentos entre 1 7 8 9 e 1 7 9 3 . E,
e m 1 7 9 5 , J e ró n i m o Couce i ro d e A l m e i d a , secretá rio da d e m a rcação da B e i ra , a p u rou a
tá bua da p o p u l a çã o da cidade de Coi m b ra e seu termo, design a n d o o tota l de h o m e n s
e m u l h e res p o r g r u p o s de i d a d e i d ê nti cos aos util izados e m relação a Reca rdães, bem
como o seu respectivo esta d o civi l 32 .
D este vasto e i nteressa n tíss i m o p rojecto da "dema rca ção" do Reino, co n h ecem-se,
a i n d a , duas d escrições d e gra n d e q u a l i d a d e , q u e a testa m as i nvu lga res ca pacidades
i n te l e ctu a i s e t é c n i ca s d o s seus res p o n s á v e i s e n o s dão um re l a to q u a l i t a t i v o e
q u a ntitativo m i n ucioso sobre as duas gra n d es províncias do Norte de Portuga l , o M i n h o
e Trás-os-Montes.
Ass i m , e m 1 7 9 4 - 1 7 9 5 , Co l u m ba n o Pinto d e Castro , num tra b a l h o excepci o n a l q u e
a cusa os e n s i n a m e ntos co l h i dos na o b ra e nos conta ctos pessoa is ma ntidos c o m José
Antó n i o d e Sá - exerceu fu n ções de p roved o r e m Monco rvo quando este aí se encon
trava como co rregedor -, leva a efeito o recensea m e nto siste máti co da populaçã o d e
toda a p rovíncia d e Trás-os-Montes. No respectivo Mappa do estado actual d a província
de Tras -os-M o n tes , p o r v i n t e n a s , c o n ce l h o s e c o m a rca s , a p re s e nta a p o p u l a çã o
d istri buída p o r sexos e p rofissões, b e m como o tota l de ó bitos (divididos e ntre m a i o res
e m e n o res de comun hão) e os nasci m entos ocorri dos e m cada co nce l h o , entre 1 7 6 8 -
1 7 7 2 e 1 7 8 8 - 1 7 9 2 , p a ra a l é m d e c o n t e r , a i n d a , va l i os a s i n fo r m a çõ e s d e ca rá cte r
a d m i n istrativo e económ ico 33 .
Nos mesmos a nos, l eva nta m ento semel ha nte foi rea lizado por Fra ncisco Antó n i o de
Faria e p e l o te n e nte d e e n ge n h a ri a custó d i o V i l a s Boas pa ra a p rovíncia d o M i n ho.
Desta vez, o levanta mento fo i a co m p a n h a d o por u m magnífi co estud o ca rtográ fi co da
regiã o , e fectu a d o por Vilas Boas, e cuja rea lização se reporta aos mesmos a nos. Pa ra
cada u m a das coma rcas designa-se o n ú mero de fogos, os homens e m u l heres m a i o res
e m e n o res d e 1 4 a nos, o tota l d e a l mas, os clérigos, os conventos de frades e frei ras,
re l i gi o s o s e re l i g i o s a s , o s reco l h i m e n tos e reco l h i d a s . I n c l u e m -se dados s o b re as
cidades, a s v i l a s com j u i z d e fora , os conce l hos, coutos e h o n ras, j u lgados e freguesias,
priora d os, a ba d ias, reitorias, curatos, pá rocos, re n d i m e ntos dos dízi mos, comendas da
Ordem d e Cristo e da Ordem d e Malta, fe i ra s , e outras i n fo rmações, e m b o ra s e m a
ela boração da m e m ó ria eco n ó m i ca de q u e se conhece a penas o p l a n o , data d o de 1 7 9 9
e p u b l i ca d o n esse mesmo a n o 34
Antó n i o cruz, a o d a r á l u z o Cadastro da Província do Minho, desco n h ecendo o plano
n a c i o n a l e m que este s e i n s e r i a , i n fl u e n ci a d o pela a p rova ç ã o , e m 1 7 9 9 , d o p l a n o
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n o A rq u i v o H i s t ó r i c o M i l i ta r e n c o n t ra - s e a R e l l a ç ã o d a s
jurisdicções e freguesias d a província do M i n h o em 1794, cópia
fi e l d o cadastro p u b l icado por Antó n i o Cruz, ignora n d o apenas
o sexo fe m i n i n o, a d e n u ncia r, porta nto, o seu fi m m i l ita r 3 9 .
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4 . Co n c l u s ã o
A a n á l ise d a s d outri nas da população e dos l eva nta m e n tos, nacionais e regi onais,
e fectu a d os , a nível d e m ográ fi c o , n o ú l t i m o q u a rte l d o s é c u l o XVI I I , e m P o rtuga l ,
permite-nos chega r a a lgumas concl usões.
Em p r i m e i ro lugar, i m po rta referir que ga n h a corpo a tese de que já não basta mais,
q u a nto a o a p u ra m e nto da popu lação, a s i m ples contagem por fogos, vinda da Idade
M é d i a , mas q u e se torna necessá rio i r m a i s longe, isto é , recensea r toda a população,
h o m e n s , m u l h eres e cri a n ças.
O fogo, u n i d a d e d e contage m privil egiada e quase exclusiva do Antigo Regi me, cede
o passo, ra p i d a m e nte, à q u a ntifi cação das almas, i sto é , das pessoas ou habitan tes.
se o fogo c o n t i n u a a s e r s i n ó n i m o d e vizi n h o e fa m íl i a , a s a l m as p e r d e m o
sign i fi ca d o de m a i ores de com u n h ã o ou de co n fissão e passa m a i d entifica r-se com os
h o m e n s e a s m u l h e re s e x i s t e n t e s , c o m a s pessoas o u habita n tes . E o tra d i c i o n a l
vocá b u l o povoação v a i d a r lugar à designação de recenseamento.
Estes n ovos conceitos, fruto da ren ovação mental e conceptu a l que ca racte riza os
fi n a i s d e Setecentos, não tra d u ze m , a penas, uma m u d a nça fo rma l , mas traze m consigo,
n o d o m í n i o da popu lação, u m a maior exigência, u m maior rigor.
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N O TAS
1 . Roger Mols, ln troduction a l a démographíe historique des vílles d 'Europe, 1 1 , Louva i n , 1 95 5 , p. 1 5.
2. José Correia da Serra, no Discu rso Pre l i m i n a r as Memorias Economícas da Academia Real das Sciencias, t.
Lisboa , 1 789, p. VIII.
6. "Viagem m i n e ra l ogico-bota n ica . . . " , jornal Encyclopedico, Lisboa , Setem bro de 1 789, p. 307.
7. Ver António Henriques da Silveira , Ara újo Travaços, Domi ngos Va n d e l l i , Á lva res da Si lva e Soares de Ba rros nas
m e m ó ri a s que p u b l i c a ra m n a é p oca; Gervásio Pa i s Observa çoens e exa m es feitos s o b re as ca uzas do
a traza m e n t o e ruína da agricultura e povoa ção n a província de Alen tejo, especial m e n te nas terras da
commarca de Beja, onde os abuzos são símilhan tes aos que se praticão nas outras commarcas da mesma
província, códice ms. da BNl; e o. Rodrigo de Souza Coutinho. Textos políticos. económicos e financeiros ( 1 783-
· 1 8 1 1 ) , 1 1 tomos, Lisboa, 1 99 3 (in trodução de André Ma nsuy Diniz Si lva).
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9 . José J oa q u i m soares d e Ba rros, "Memorias sobre a s cauzas d a d i ffe rente popu\açao d e Portuga l", Memorias
Economicas, I, Lisboa , 1 78 9 , p. 1 3 9; e Tomas António Portuga l , "O bservações ... ", Memorias Economicas, I I I ,
Lisboa, 1 79 1 , p . 300.
1 o. Soares d e Ba rros, " M e moria sobre as cauzas . . . " ob. e v o\. cits., p. 1 3 8 - 1 39.
1 4 . Cf. o Despertador da agricultura de Portugal, obra nova e a riqueza do Reino dedicada ao serenissimo Principe
do Brazil Nosso Senhor no deliciosissimo dia natalicio de sua alteza real, por Dom Luis Ferrari de Mord a u ,
Lisboa , 1 7 8 2 , e Suplemento, tra nscritos por M oses Bensabat A m za \ a k , o "Despertador da agricultura d e
Portugal" e o seu autor D. Luiz Ferrari Mordau, Lisboa, 1 9 5 1 .
1 7. ]ornai encyclopedico, Lisboa , Sete m b ro de 1 789; e Memórias económicas inéditas ( 1 780- 1 808), Lisboa, 1 98 7 .
1 8. o s Estrangeiros no U m a , 2 t . , 1 78 5- 1 79 1 .
1 9. Memorias economicas, 1 1 1 .
20. Câ n d i d o Xavier, "Considerações sobre a statistica " , Annaes das Sciencias, das Artes e das Letras, t. X., Pa ris,
1 8 20.
2 1 . Agostinho Rebelo da Costa , Descripção topographica e historica da cidade do Porto, Porto, 1 788.
2 2 . Códice 9 2 2 da B i b l ioteca N a c i o n a l de Lisboa. Cf. Fernando de Sousa, A população portuguesa nos inicias do
século XIX, Porto, 1 9 79.
2 3 . Cf. Fernand o de Sousa, ob. cit., e ) . Manuel Naza reth e Fernando de Sousa. Salvaterra de Magos nos finais do
séc.. XVIII: aspectos sócio-demográficos, "Analise Social", XVII, 2', Lisboa , 1 98 1 .
24. Cf. Fernand o d e Sousa, ob. cit.; ) . M a n u e l Naza reth e Fernando d e Sousa, Coruche nos finais do séc. XVIII: as
pectos sócio-demográficos, "Cadernos de H istória Económica e socia l", n" 4, Lisboa . 1 98 3 ; ). Manuel Nazareth e
F e rn a n d o de S o u s a , Sam ora Carreira nos finais do séc. XVIII: aspectos sócio-demográficos . " Estudos e
Docu mentos do ICS", n" 1 7 , Lisboa, 1 98 7 .
2 5 . Mappas da população, produccoens. fundos das confrarias .. por António Xavier de Morais P i n t o Teixeira
Homem, códice ms. 902 da BNL.
2 8 . Parecer sobre a propozição do methodo ... para se verificar a populaçao do Reyno ... , ms. do A.H.M.
3 2 . Memorias sobre o estado actual da vil/a de Recardaens e annexas, 1 794, ms. da B.A.R., ex. 1 04; Cf. Fernando de
Sousa, ob. cit.; e Taboa da popu/Jação das nove freguesias da cidade de Coimbra, aros e arrabaldes; predios
urbanos e rusticos, m a n u scrito da B.A.R., ex. 1 04.
54
A POPULAÇÃO PORTUGUESA
3 3 . Pa ra um estudo e edição critica desta fonte, cf. José Maria Amado Mendes, Trás-os-Montes nos fins do século
XVIII segundo um manuscrito de 1 796, Coi m bra , 1 9 8 1 .
3 4 . Ver a n á l ise critica d e Fernando d e Sousa, ob. cit.. Cf. a i n da António cruz, Geografia e economia da província do
Minho nos fins do século XVIII, Porto, 1 9 70.
35. Geografia e economia da província do Minho nos fins do séc. XVIII, Porto, 1 9 70.
36. B.A.R., ex. 1 04 e 1 05 . consulte, a i n d a , de custódio Vilas Boas, Memoire sur les [orces militaires de la province du
Minho . . . , datada de 1 796, p u b l i cada por António Pedro Vicente, "Memórias políticas, geográ ficas e m i l i ta res de
Portuga l - 1 76 2 / 1 796", Boletim do Arquivo Histórico Militar, 4 1 " v a i . , Lisboa, 1 9 7 1 , p. 204.
3 7 . Ma pas da p rovíncia de Entre Douro e M i n h o , datados de 1 798, existentes no Instituto Geográ fico e Ca dastra l ,
regista dos sob os n ú m e ros 60 e 6 1 , por Gabriel Mendes, Catálogo de cartas antigas da Mapoteca do Instituto
Geográfico e cadastral, Lisboa, 1 969 (dacti logra fado). o resumo do quadro da população do M i n h o , q u e nos
aparece na ca rta d e Vi las-Boas, foi p u b l icado por Câ ndido José Xavier, em anexo á s "Consid erações sobre a
statistica", Annaes das sciencias, das Artes, e das Letras, X, Pa ris, 1 8 20. Os mapas q u e referem a população do
M i n h o ao a n o de 1 800, podem ser consu ltados no I.G.C., A.H.M. e B.N.L.
41. o Alto Minho em finais de Setecentos, de Fernando de Sousa e Jorge Fernandes Alves (em p u b l icação) . .
4 2 . Publ icado no Memorial Historico Espano/, X X V I , XXVII e XXVI I I , M a d r i d ( 1 8 9 3 , 1 894 e 1 898; e de verissi m o
serrão, A população de Portugal em 1 789, Pa ris, 1 9 70.
4 3 . Mappa geral da grandeza do território e população, que contém a comarca de Castello-Branco, 1 799, ms. do
Arq u ivo H istórico M i l i ta r; cf. Fernando de Sousa, ob. cit.
4 4 . Descrição da Comarca da Feira , códice ms. do Arq u i vo H i stórico do M i n i stério das Fina nças, p u b l i cado na
d isserta ção de mestrado d e Jorge Manuel Garcia Vi cente, Unidade e Diversidade regional: Feira ( 1 757- 1 833) e
por I nês Amorim, " Descrição da comarca da Feira - 1 8 0 1 , Revista da Faculdade de Letras, , 11 Série, vai. X I ,
Porto, 1 994.
4 5 . Index geral dos títulos e provas do plano de correição, B.A.R., ex. 1 03 . E cadastro do Reino 1 80 1 - 1 8 1 2, Lisboa ,
1 94 5 , p. 6-7.
46. Câ n d i d o J o s é X a v i e r , "Considera ções sobre .a statistica ", ob. e vai. cits., p. 1 49.
4 7 . Ver, d e Ferna ndo de Sousa, a História da Estatística em Portugal, Lisboa, 1 995; Estadisticas historicas de Espana
(siglas XIX-XX), Madrid, 1 989; e joel serrão, Demografia portuguesa, Lisboa , 1 9 73.
55
A POPULAÇÃO PORTUGUE SA NOS
S ÉCULOS XIX E XX.
O ACE NTUAR DAS AS S IME T RIAS
DE C R E S CIME NT O R E G IONAL
Teresa Rodrigues
Universidade Nova de Lisboa
57
TERESA RODRIGUES
1 80 1 291 2673
181 1 2 8 7707 1 - 0, 1 2
1819 3 0 1 3900 0,43
1 82 1 026450 0,2 1
1 835 306 1 684 0,08
1 85 1 3 4 7 1 1 99 0,79
1 86 1 3693362 0,62
1 864 3 8 2 96 1 8 1 ,2 1
1 8 78 4 1 603 1 5 0,59
1 890 4 6 54095 0,94
1 900 5 0 1 6267 0,75
Fonte: ( 1 )
58
A POPULAÇÃO PORTUGUESA NOS SÉCULOS XIX E XX
59
TERESA RODRIGUES
Até 1 8 6 4 o cresci m e nto d e m ográfico não pa rece d i recci o n a d o , mas a p a rtir dos
anos 6 0 s u rge ca da vez m a i s vincada a d i ferença e ntre os d istritos d e maior d i n a m ismo,
situados no l i toral e p a ra s u l , fa ce aos resta ntes. sobressa i n d o a i n da pólos isolados no
i nterior, como o d e Caste lo B ra n co.
O fi n a l da d écada d e 70 ma rca e m Portuga l o i nício d e uma fase positiva , q u e se
prolo nga até 1 9 1 1 . os anos que m e d e i a m entre os rece nsea m entos d e 1 8 7 8 e 1 8 90
corres p o n d e m a nível regi o n a l á s m a i o res taxas, e m b o ra s e v i s l u m b re j á a d esa
celera ção d o processo nos d i stri tos d o norte e i nterior. Viana. Vila Rea l , Viseu, B raga e
B raga nça a p resenta m va l o res i n feriores a meta d e da média portuguesa.
É p o ca á u rea d a s z o n a s de L i s b o a . Po rto e Caste l o B ra n co, em c l a ra a l usão ao
i m pa cto positivo o rigi nado pelo p rocesso d e d esenvolvi me nto i n d ustri a l , que já i n fl u í ra
nos resu ltados o btidos a pa rti r de 1 8 6 4 . Ainda com taxas superiores ás nacionais temos
Lei ria e Santa ré m . o ritmo d e evo l u ção verifica d o e m ce rtos d i stritos d o l i to ra l norte
(Ave i ro) d i l u i-se na última década de Oitocentos.
Com e feito, o confronto dos e fectivos recenseados e m 1 8 90 e e m 1 9 00 assinala o
acentuar da d iversi d a d e regi o n a l , com d esta q u e para a d i cotomia entre o norte i nterior
e o sul litora l , donde se excl u i o d i strito d o Porto, por ca usas evi d entes.
A pa rti r d e 1 8 9 0 o cresci m e nto global é i nfl uenciado pela e migração e pelas migra
ções i n ternas, e fectuadas em d i recçã o ás á reas mais i n d ustri a li zadas e u rban i zadas. As
principais víti mas neste p rocesso serão o norte e o i nteri o r norte e centro, onde a saída
d e efectivos é d u p l a , p a ra fora d o d i strito e para fora d o Reino.
N o entanto, este último te n d e a h o m oge n e izar-se no q u e respeita aos c o m p o r
ta m entos colectivos fa ce à vida e à m o rte. À medida q u e ava n ça o século XIX esba
tem-se as d i ferenças regi onais e m relação aos níveis das variáveis m i crodemográ fi cas.
60
A POPULAÇÃO PORTUGUESA NOS SÉCULOS XIX E XX
As taxas de nata l i d a d e ultra passa m 3 0%o, va lor elevado em termos europeus e que não
i rá d escer sign i fi cativa m ente até 1 9 2 0 . o declínio observad o na década d e 90 deco rre da
i ntensid a d e d a e m i gração.
Ao te rm i n a r o século seis d i stritos a p resentam u m forte cresci mento natura l : Ave i ro ,
Co i m b ra , Le i ri a , Caste l o B r a n c o , S a n t a r é m e Faro. L i s b o a t e m o s a l d o i n fe r i o r e os
resta ntes va l o res i nter m é d ios. Estes resulta d os não coi ncidem com os d a d os disponíveis
sobre os saldos naturais por d i strito.
De facto, é possível esta be l ecer três zonas d e comporta mento d isti nto, onde o tipo
de a ctivi d a d e e co n ó m i ca p e rd o m i n a nte e o i s o l a m e n to geográfico parecem ter u m
papel decisivo. U m p ri m e i ro gru po i nc l u i o s d i stritos d e i nterior, como B raga nça, G u a rda,
Castel o B ra n co e B ej a , e é d e fi n i d o p o r a ltos níveis d e nata l i da d e e m o rta l i d a d e ; o
segu n d o , de sa l d o fis i o l ógico clara mente positivo, cobre a fa ixa l itoral entre Viana d o
Castel o e Santarém; por ú l t i m o , u m gru po d e d i stritos dispersos e m termos geográ fi cos,
com va l o res m e n os e l evados e m a mbas as variáveis, o n d e se i n c l u e m Lisboa e Po rto 4
As d i s c re p â n ci a s o b s e rv a d a s d e p e n d e m da i n fl u ê n c i a l o ca l e c o nj u n t u ra l d o s
movi m e n tos m i gratórios, existentes estrutura l m e nte na soci e d a d e portugu esa , m a s q u e
sofrem nesse m o m ento a lterações quantitativas e q u a l itativas s.
61
TERESA RODRIGUES
nas zonas u rbanas, exceptu a n d o Évo ra e Faro. só em caste lo B ra nco, Viana e Viseu o
território cresce u n i formemente. Ao i nvés, a taxa de variação a p resenta resu ltados muito
elevados no que respeita à população urbana de Avei ro, Lei ria, Santarém, zonas i nternamente
activas e ta m b é m próximas da i n fl u ê ncia dos d istritos do Po rto e Lisboa, que lidera m o
processo de desenvolvi m ento nacional e quase duplicam em menos de qua renta a n os 8 _
Com e fe i t o , o p rocesso d e u rb a n ização o i tocentista s u rge i n t i m a m e nte ligado a
aspectos soci oeco n ó m i cos, tra d uzidos em fe nóme nos tão diversos como as m i gra ções,
a i n d ustri a l i za ç ã o , a s a ctivi d a d e s p o rtu á rias ou o regi m e de p ro p r i e d a d e e a p rove i
ta m ento d o s o l o . o futuro das loca l i dades va riou c o m a ca rga positiva ou negativa dada
pela j u n çã o d esses m ú ltiplos fa ctores.
E m 1 8 6 4 , a cid a d e d e Lisboa conta 1 9 0 mil resi d entes, a d o Po rto cerca d e 8 0 m i l ,
cinco cidades regista m u m a população da ordem d o s 1 O a 2 0 m i l , outros d oze n ú cleos
têm e ntre 4 e 1 O mil h a b i ta ntes. Em d eza nove aglomera d os vivem 1 1 o/o dos p o rtu
gueses, S,So/o d os quais e m Lisboa. Esta escassa u rban iza çã o, pola rizada entre Lisboa e
Porto, pouco se a l te ra ra desde o principio da centúria e i n d icia outro desfaza mento d e
Po rtuga l n o contexto e u ro p e u . Apesa r d a recu p e ra çã o e m fi n a i s d e Oitocentos este
conti nua a ser mais um pais d e vilas e gra ndes a l d eias do que d e verda d e i ras cidades.
Mas mais i m po rta nte que o fen ó m e n o d e cresci m e nto u rbano serão as migra ções.
E l a s c o n d i c i o n a ra m o r i t m o e s o b re tu d o a s fo r m a s e d i r e c ç õ e s do c r e s c i m e n t o
p o p u l a c i o n a l p o rtuguês d u ra nte t o d a a Época Conte m p o rânea e a sua i m p o rtâ ncia ver
-se-à acrescida nos ú l t i m os cem a nos.
Ao i n i cia r-se a centú ria vivia m em Po rtuga l quase cinco m i l h ões e meio de i n d iví
d u os. A term i n a r o sécu l o XX, os valores d o Censo d e 1 9 9 1 esti mam e m 9,9 m i l h ões o
n ú m e ro tota l d e res i d e ntes.
O a crésci m o p o p u l a c i o n a l das gentes portuguesas ci fra-se e m 4,4 m i l hões, ou sej a ,
n u m a u m e n to d e 8 1 o/o e m 9 1 a n o s , a o q u a l corresp o n d e u m ritmo d e cresci m e nto
a n u a l m é d i o d a o r d e m dos 0 , 7 o/o. No e n t a n t o , este ú l t i m o va l o r não s ó esco n d e
p rofundas d i ferenças e ntre o s p rocessos d e cresci me nto observados nos nove períodos
i n terce n s i t á r i o s , c o m o a n u l a os d i st i n tos p ro cessos d e evo l u çã o d e m ográfica q u e
ca racteriza m as regi ões e rn q u e se subdivide o País.
Q u a d ro 3 - Ev o l u çã o da p o p u l a ç ã o p o rt u gu es a no s é c u l o XX
62
A POPULAÇÃO PORTUGUESA NOS SÉCULOS XIX E XX
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TERESA RODRIGUES
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A POPULAÇÃO PORTUGUESA NOS SÉCULOS XIX E XX
Poré m , a sequência d e fases d e cresci mento variável veio p rovoca r em termos rea is
ritmos d e cresci m ento populacional basta nte elevados, só igualáveis aos verifica d os nos
anos 30.
O rigi n a m - o o retorno d e meio m i l h ã o d e resid entes nas ex-colónias, o a b ra n d a r dos
fluxos emigratórios, secundado já no fi nal d o decénio pelos pri m e i ros indícios d e retorno
d e e migrantes p roven i entes da Europa. Estas fortes movi mentações populares d ecorrem
n u m p e rí o d o a s s i n a l a d o p e l o a b ra n d a m e n to da d e s c i d a d o s va l o re s g l o b a i s d a
nata l i d a d e e sobretud o d a m o rta l i da d e (-6,3%).
Com e feito, passa d a a fase d e e u fo ri a , a pa rti r d e 1 9 7 6 a p o p u l a çã o p o rtuguesa
a u m enta cada vez menos e a ca b a rá por estagnar. Prova-o a taxa d e cresci mento a n u a l
m é d i o regista da e ntre os dois ú ltimos censos. Entre 1 9 8 1 e 1 9 9 1 , o n ú m e ro d e recen
s e a d o s n ã o c h ega a a u m e n t a r tri n ta m i l h a res (a d i fe re n ça rea l ci fra -se e m 2 9 6 5 6
i n divíduos), a q u e corresp o n d e m ritmos d e crescime nto m é d i o d e 0 , 0 3 % ao a n o , m u i to
próximos do zero.
O fen ó m e n o d e esta b i l ização d e m ográ fi ca explica-se pela ra p i d ez com q u e o nosso
País se a prox i m o u n o decurso dos anos 8 0 dos comporta m e ntos e u ropeus face à vida e
à m o rte. Enqua nto os níveis de m o rta l i d a d e d escem menos de 9%, os da nata l i d a d e são
e m 1 99 1 2 8 , 5 o/o i n feriores aos verifi cados na d é cada a nterior.
A populaçã o p o rtuguesa e nve l hece, porque nascem cada vez menos crianças e se
morre cada vez mais ta rde. De acordo com os resultados do último recensea mento gera l,
quase u m q u i nto d a p o p u l a çã o a p resenta i d a d es superiores a 60 a nos, e n q u a nto os
jovens d i fi c i l mente u l tra passa m 2 5 % dos rece nseados. Por cada três jovens existem dois
i d osos, d i ferença q u e te n d e rá a esbater-se a i nda mais nos próximos a nos, caso se m a n
ten h a m as ten d ências m a n i festadas n o s comporta me ntos colectivos perante fecu n d i
dade e não se verifi q u e m muda nças su bstanciais n o s sa ldos do movi mento m igratório 1 3 .
Quando a n a l isadas à esca la regi o n a l , ca da uma d estas grandes divisões te m pora i s
escon d e processos i nternos d e evol u ção por vezes m u i to d i fe rentes ou a t é o postos à
tendência nacio n a l .
Po rtuga l conti n u o u a ser a o l o ngo d e gra n d e pa rte d o sécu l o XX u m País d e m i
gra ntes. Os fluxos e refluxos da correntes m igratórias con d i cionara m o evoluir do número
de h a b i ta n tes, b e m como a sua composição etá ria e por sexos e a sua d i stri b u i ção no
território.
As m igrações l i m i ta ra m o ritmo d e cresci m ento; p rovoca ra m o envelhecim ento pro
g r e s s i v o ( e m b o ra a c e n t u a d o nas ú l t i m a s d é ca d a s) d a estrutu ra e tá r i a ; ca u s a r a m
deseq u i líbrios à esca la loca l , na m e d i d a e m q u e fora m pre d o m i n a nteme nte mascu l i nas;
leva ra m à re d i stri b u i ç ã o das gentes n o e s p a ç o i nte r n o , em d i recção aos gra n d es
n ú cleos eco n o m i ca m e nte desenvolvidos e i n d ustri a l izados; p rovoca ra m o a u m e nto das
percentage ns d a p o p u l a çã o u rb a n a , o abandono p rogressivo dos ca m pos e a conse
que nte d esertificação d e ce rtas á reas d o i nterio r 1 4.
65
TERESA RODRIGUES
Refi ra-se tã o só que o Ale ntej o , a zona do Porto e o Arq u i pélago da M a d e i ra regis
ta ra m os a u m e ntos m a i s sign i fi cativos nas p r i m e i ras três décadas da ce ntúria, enqua nto
a G u a rd a e todas as i l has dos Açores, exce pto o G ru p o Orienta l , regre d i a m 1 5
As d i ferenças i n te r- regi o n a i s acentua m -se a parti r d a década d e 30.
o a b ra n d a r dos fluxos e m igratórios e as d i fe re n ças e ntre o sa l d o natura l e o global
j u stificam-se q uase na íntegra pelos movi m entos populacionais regista d os no i nteri o r
d o território.
os e ntraves à e m i gra ção q u e ca racte riza m os anos 3 0 permitira m o a u m ento globa l
dos efectivos em todos os d i stritos e ntre os censos de 1 9 3 0 e 1 940, que pouco se a fasta m
dos saldos do cresci m ento natu ra l .
No entanto, as á reas d e m a i o r desenvolvi me nto eco n ó m i co e u rbano, co mo Lisboa,
Porto, Setú bal e Coi m b ra , a s taxas d e cresci m e nto tota l exce d e m as do sa l d o fisiológico,
uma vez q u e estes d istritos fu n c i o n a va m como receptá c u l o d e gentes naturais de
outras zonas. I n i cia-se o p rocesso d e l i to ra l ização das ge ntes portuguesas.
C o m e f e i t o , e n t r e 1 9 4 0 e 1 9 5 0 o s d i st r i t o s j u n to ao l i to ra l r e g i s ta m s u b i d a s
populacionais d e m onta. E m b o ra o s saldos naturais da década sej a m positivos em todo
o Portuga l , nas zonas d o i nterior e nas i l has o a crésci m o d e efectivos é fra nca mente
i n ferior a o p revisto pelos saldos fisiol ógicos a í o bservados, o q u e i n d icia o retomar das
vagas e m i grató rias, a que se j u n ta a saída dos naturais p a ra regiões com m e l h o res
o p o rtu n i d a d es de s o b re v i v ê n c i a . Os d i stritos d e L i s b o a e Setú b a l são os p r i n c i p a i s
bene ficiá rios dos fluxos d e i m igrantes, segu idos d e l onge p e l o Porto.
66
A POPULAÇÃO PORTUGUESA NOS SÉCULOS XIX E XX
Q u a d ro 6 - T a x a s d e c r e s c i m e nt o m i grat ó r i o a n u a l m é d i o ,
p o r d i s t r i t o s , d e 1 9 0 0 a 1 9 8 1 ( e m %)
67
TERESA RODRIGUES
Nos resta ntes observa-se u m declínio genera l izad o do tota l de efectivos, a ritmos
especia l m e nte gravosos nas províncias d e Trás os Montes, B e i ra I n terior, e no Alto e
Ba ixo Alentejo, onde se observam descidas de 2% ao ano. Porém, são igual m ente atingidas
certas á reas d e voca çã o litora l , d e que o Alga rve constitui talvez o m e l h o r exemplo.
Ao co n fronta r as taxas d e cresci mento anual m é d i o com os níveis da e migração e m
cada d i strito 1 6 , evi d e n cia-se a principal causa d o fenómeno. o fl uxo d e saídas d o País
acentua-se, co m o v i mos, atingi n d o va l o res a bsol utos i n é d itos na h i stória portuguesa.
Mesmo os d istritos mais d i n â m i cos e atractivos regista m um a u m ento da emigra çã o ,
q u e e m certos casos foi col mata d a c o m gente doutras zonas, c o m o aconteceu na zona
d e Lisboa e Setú b a l , onde os saldos m igratórios perm itiram por si só contínuo acrésci mo
d o n ú m e ro d e e fectivos.
o efeito co m b i n a d o da red u ção dos ritmos d e cresc i m ento natura l e as verda d e i ras
p u n ções q u e se verifi ca m e m certas zonas d o i nterior e m termos d e sa l d o m igratório
explica m o senti d o negativo global q u e m a n i festa m d ezassete dos vi nte e dois d istritos
portugueses nos a nos 60. Portuga l desertifi ca -se e m todo o seu espaço i nteri or e pa rte
do l i to ra l , assi m como nos a r q u i p é lagos da M a d e i ra e d os Açores.
N o p e n ú l t i m o d e c é n i o , a a n á l ise dos resu ltados censitários perm ite d etecta r u m
a crésci m o d e m ográfico ge n e ra l i za d o . E m termos n a c i o n a i s reduzem-se a m e n o s d e
meta d e os níveis da e m igração, cu l m i na n d o n u m sa l d o m igratóri o positivo, m u ito acen
tua d o a pós o 25 d e Abril d e 1 9 74 . Red uz-se igua l mente o ritmo d e cresci me nto natura l ,
a n u nci a n d o a entrada d e Portuga l no gru po d o s países e u ropeus envelhecidos 1 7 .
Desta d u p l i c i d a d e de ocorrências resu lta m índ i ces de cresci mento global positivos
e m q uase toda a fa ixa l i tora l , d e N o rte a Sul. De s u b l i n h a r a i nda a d i n â m i ca regista da
e m Setú bal ( 3 , 3 8 % a o a no), Lisboa ( 2 , 6 2 %) e Faro (1 ,92%). o Porto vem e m q u a rto l uga r,
com um cresci m e nto a n u a l m é d i o de 1 , 7 3%, o que é devi d o à menor relevância dos
seus saldos m i grató rios, já q u e e m termos d e sa l d o fisiológico é , e m conj u nto com o
d i strito de B raga, dos mais d i n â m i cos. Por seu turno, o cresci m e nto migratório é extre
m a m ente e l evado nos outros três d i stritos, sendo ele que justifi ca os resu lta dos fi nais
neles o bs e rva d o s . C o m e f e i t o , os reto rnos d e a l g u n s e m igra n tes e s o b retu d o dos
res i d e ntes nas ex-co l ó n i a s veio agrava r as d i screpâncias e ntre as várias regiões d o País.
Entre 1 9 7 0 e 1 9 8 1 d i m i n u i a p o p u l a çã o res i d e nte em nove d i stritos e é m u i to
escasso o a crésci m o v e ri fi ca d o e m o u tros c i n co . E l e s a p resenta m-se contígu os e m
t e r m o s d e l o ca l i za ç ã o geográ fi ca, s e e x c e p tu a r m o s , c o m o é e v i d e n t e , as R e g i õ e s
Autónomas d a M a d e i ra (o n d e se verifi ca u m cresci mento m í n i mo) e dos Açores (cuj o
n ú m e ro d e h a bita ntes é e m 1 9 8 1 ce rca d e 1 4% i n ferior ao q u e fora e m 1 9 70).
As á reas conti n e nta i s a que nos referimos cobrem o extre m o n o rte d o territó rio,
desde Viana d o caste l o , q u e q u a s e não cresce (a p e n a s 1 , 1 %), passa n d o p o r toda a
província tra n s m o nta na. Em Vila Rea l red uz-se o tota l de efectivos e em B raga n ça o
a u m e nto não exce d e 2% em mais de dez a nos. Pa norama s i m i l a r se observa nas B e i ras.
o d i strito d a G u a rda decai e m termos populacionais 2 , 5 % e no d e castel o B ra n co as
perdas exce d e m 8%. No Alentej o contígu o Porta l egre ta m b é m perde residentes, ce rca
de 3 %. o mesmo acontece em Bej a , e m b o ra com m a i o r i nte nsidade, a orça r 8% do tota l
d e r e c e n s e a d o s e m 1 9 7 0 . A s e p a rá - l a s f i c a Év o ra , m a s ta m b é m a í o r i t m o d e
cresci mento é m u i to baixo, a m a n i festa r e m 1 98 1 uma recu peração d e a penas 2 , 2 % e m
re lação aos resu ltados obti d os uma d éca da a ntes.
Estas d i fe re n ça s i n t e r n a s to r n a m -s e m a i s p re o c u p a n te s , c a s o s e a n a l i s e m os
res u l ta d o s das taxas de cresci m e n to n a t u ra l m é d i o . E l a s perm item constata r q u e o
68
A POPULAÇÃO PORTUGUESA N05 SÉCULOS XIX E XX
decrésci m o global nas zonas i nteri ores foi provoca d o não a penas pela saída de natura i s ,
mas, m a i s grave, q u e e s s a s s a í d a s fora m fa m i l i a res e com carácter d e fi n itivo, c o m o
comprova m os sa l d o s naturais quase n u l os q u e nelas podemos e n contrar. Veja m-se o s
casos da G u a rd a , d e castel o B ra n co e d e Porta l egre, com a crésci mos da ordem dos O,So/o
e ntre 1 9 7 0 e 1 9 8 1 , ou a i n d a B ej a .
A par d o p rocesso d e a ba n d o n o d o i nte rior i ntensifica-se o p rocesso d e envel h e
cime nto das popu lações. o fe n ó m e n o ati nge tod o o espaço naci o n a l , mas é especia l
m e n te e v i d e n t e e g ra v o s o n a s á re a s e m p ro c e s s o d e e s t a g n a ç ã o o u d e c l í n i o
d e mográ fico. D e fil cto , a rep u lsão populacional origina s e m p re u m envelhecimento no
topo da p i râ m i d e etá ria d e ca da região, ou sej a , a existência d e percentagens ca da vez
m a i s sign i ficativas d e i d osos fa ce a o tota l d e efectivos. Do mesmo m o d o , a atração
provoca um rej uvenesci m e nto etá rio na zona onde ocorre, já q u e os grupos atraídos
são sobretud o jovens e m idade a ctiva e fecu n d a .
N este s e n ti d o , a fa i x a l i to r a l conti n u o u a c r e s c e r , e m l a rga m e d i d a à cu sta d o
i nte rior, e m b o ra e m s i m u ltâ n e o se a c e n t u e o p rocesso d e enve l heci m e nto, ca usa d o
p e l a descida gera l dos níveis da fecu n d i dade. o fen ó m e n o não pa receu t ã o evi d ente até
aos anos 60, mas s u rge a partir daí com crescente evidência, permiti n d o d i vi d i r o País
e m dois, através de um eixo l i tora l I i nterior, e m b o ra esbati d o na última déca d a , de
acordo com os res u l tados d o censo d e 1 99 1 .
N UTS n í v e l I I I %
M i n h o-Lima 0,27
Cáva d o 0,72
Ave 0,63
Grande Porto 0,44
Ta m ega 0,23
Entre Douro e Vouga 0,63
D o u ro 0,9 1
AHo Trás os Montes 1 .4 6
B a i x o Vouga 0,40
Baixo Mondego 0,04
Pinhal Li tora l 0,33
P i n h a l Interior Norte 0,86
Pinhal Interior Sul 1 ,73
Dão-La fões 0,44
serra da Estre l a 0,53
Beira Interior Norte 0,93
Beira Interior s u l 0,6 1
cova da Beira 0,69
oeste 0, 1 3
Grande Lisboa O, 1 2
Pen i ns. Setú b a l 0,92
Médio Tejo 0,3 1
Lezi ria do Tejo 0,05
Alentejo Litora l 0,46
AHo Alentejo 0,54
Alentejo centra l 0.4 1
Baixo Alentejo 1 .0 5
A lgarve 0,54
Reg. A u t. Madeira 0,02
Reg. Aut. Açores 0,23
69
TERESA RODRIGUES
Tendo em conta q u e a e m igração viu reduzido o seu i m p a cto em termos a bsol utos
e relativos, devemos s u b l i n h a r o papel da tra nsferência i nterna d e efectivos das zonas
i nteriores p a ra oci d e n te. A m o b i l i d a d e i n te rna foi a causa próxima para a conti nuada
desertifica ção d e a lgumas regiões e explica ta m b é m o a u m ento a rtificial dos efectivos
e n co ntra d o s em certas pa rtes do País, nomeadamente nas zonas onde se situa m os
gra n d es centros u rbanos i n d ustrial iza dos.
Ass i m , a evolução regi o n a l portuguesa no último decénio pode ser defi n ida através
d e a lgu mas ca racterísticas basi l a res 19 :
• Prossegue o a b a n d o n o do i nterior em favor do l itora l , e m bora o a b ra n d a r do ritmo
d e cresci m e nto ge ra l condicione o v o l u m e d esse fenómeno.
• O bserva m-se pela p ri m e i ra vez saldos d e d e cresci me nto nos conce l hos de Lisboa
e Porto, a i n d i c i a r a te rciarização d o teci d o u rb a n o nas pa rtes centra is das gra n d e s
cidades e a conco m i ta n te tra nsferência d e populaçã o pa ra co nce l hos l i m ítrofes, o n d e
resid e m (Áreas M etro p o l i ta nas).
• Assi nalam-se ritmos intensos d e declínio populacional em várias regi ões do i nterior,
como no Alto Trás os Montes e Douro i nterior. Todo o Alentej o perde população, exce pto
os conce l hos de Évo ra e Vila Viçosa , de castro Verd e , a S u l , e de Santiago do Cacém e
Sines, situa dos no litora l .
• o m e s m o p r i n c í p i o d e c l a ra p re p o n d e râ n c i a d o cresci m e n to l i t o ra l q u a n d o
com pa ra d o ao i nterior é vá l i d o n o caso a lga rvio. o Alga rve é a região q u e mais a u m e nta
no contexto nacional (0 , 5 4 % por a n o , e ntre 1 98 1 e 1 99 1 ). Mas as á reas agríco las e para
i n t e r i o r p e r d e m e fe c t i v o s , e n q u a nto os co n c e l h o s d e F a r o , A l b u fe i ra e Po rti m ã o
a p resentam variações a nuais m u ito significativas e sempre superi ores a 1 %.
• No p a n o ra m a i n s u l a r ass i n a l a m -se p rocessos d istintos, segu ndo as i l has. Aume nta
a p o p u l a ç ã o em Po rto Sa nto à m é d i a de 1 % p o r a n o . Cresce ta m b é m o n ú m e ro d e
residentes no Corvo e na Terce i ra , n o a r q u i pélago a çoria no. Aliás, o tota l d e efectivos
declina nos Açores, se consid e ra d o co m o u m todo e a p roxi ma-se d o va l o r nacional na
Região Autó n o m a d a M a d e i ra .
• E s t e s fe n ó me n os tê m c o n s e q u ê n c i a s d i re ctas n o grau d e e n v e l h e c i m e n to d a
população, visível q u e r a nível naciona l , q u e r local. À esca la naci o n a l , o peso d o s jovens
na popu lação decresceu 2 1 ,6% nos ú ltimos dez a n os, devido ao declínio muito rá p i d o
d o s n í v e i s d e fe cu n d i d a d e . E m s i m u ltâ n e o c r e s c e 1 9 , 3 % a pe rce ntagem d e i d osos,
devido ao a u m e nto da espera n ça d e vida das gentes portuguesas 2o.
70
A POPULAÇÃO PORTUGUESA NOS SÉCULOS XIX E XX
A nível regional estas duas ocorrências simu ltâ neas a fecta m todo o País, e m bora com
i ntensidades d i ferentes. o envel hecimento da base e d o topo da p i râ m i d e é evide nte,
mesmo nas zonas consi d e radas favorecidas e m termos d e d esenvolvi m ento eco n ó m i co.
o Centro e o Sul são as á reas mais a fectadas pela d i m i n u i çã o d o peso re lativo dos
gru pos m a i s j ov e n s . Estes re presenta m m e n os de u m q u i nto d o tota l de e fectivos
recenseados e m d ezassete dos vi nte e sete Nut's e m q u e se divide o País, todos e l es
situados a sul d e Coi m b ra .
P o r s u a vez, os i dosos surgem e m percentagens signifi cativas e m todo o territó rio,
e m b o ra exce d a m 2 0 % dos recenseados e m ce rtas zonas d o i nte rior (Pi n h a l i nte rior,
B e i ra i nteri o r e Alto Ale ntej o , Baixo Alentej o).
Q u a n d o c o m p a ra mos estes resu lta dos com os d e 1 98 1 verificam-se varia ções por
vezes m u ito a centuadas. o peso relativo dos jovens declina e m toda a parte, enqua nto
sobem vertigi n osa m e nte as ca madas com 65 ou mais a nos. Acentua-se o processo d e
d u p l o enve l h ec i m e nto da popu lação portuguesa 21.
Deze m b ro 1 99 4
N O TAS
1 . M a ria Luis Rocha Pinto e Teresa Rodrigues, "A evolução da popu lação portuguesa ao longo do sécu lo XIX -
Uma perspectiva globa l", in Forum Sociológico , nY 3. Lisboa , 1 99 3 , p 1 5 5 .
2 . David J usti no, A Formação do Espaço Económico Nacional - Portugal 1 8 1 0- 1 9 1 3 . vo/.11, Lisboa , Vega, 1 989, p. 1 2 1 .
3 . Vej a m -se, entre o u tra s, a s sínteses d e Armando d e Castro, A Revolução Industrial em Portugal n o século XIX.
4 . ' e d . , Porto, E d . L u m i a r , 1 9 7 8 ; D a v i d J u s t i n o , ob. cit. ; J a i m e R e i s , "O a traso e c o n ó m ico portugu ês e m
perspectiva h istórica ( 1 8 6 0- 1 9 1 3)". i n Análise Social , vol. XX (80), Lisboa , 1 9 8 4 , p p . 7 - 2 8 ; joel Serrão, Temas
Oitocentistas, vo/. I, Lisboa . Liv. Horizonte, 1 9 80; joel serrão e Gabriela M a rtins, Da Indústria Portuguesa do
Antigo Regime ao Capitalismo, Lisboa, Liv. Horizonte, 1 9 7 8 ; Manuel V i l laverde Ca bra l , o Desenvolvimento do
Capitalismo em Portugal no século XIX e Portugal na Alvorada do século XX, 3.' ed., Lisboa , Regra do Jogo,
1 9 8 1 ; Mi riam H a l pern Pereira, Livre-câmbio e Desenvolvimento Económico - Portugal na segunda metade do
século XIX, 2.' ed., Lisboa , Sá da Costa, 1 9 8 3 ; Vitorino Maga l hães G o d i n h o , Estrutura da Antiga Sociedade
Portuguesa. 4.' ed., Lisboa , Arcá d i a , 1 980.
5 . Vá rios i n vestigadores se d e b ruça r a m sobre a evo l u çã o da em igração portuguesa , segu ndo perspectivas
d iversas, como joel serrão, v . Maga l hães G o d i n h o e Jorge Arroteia. I m porta a evo l u ção q u a ntitativa. mas
ta m b é m as i m p l i ca ções sociais e económicas, exemplarmente descritas na l i teratura da época.
71
TERESA RODRIGUES
7. Teresa Rodrigues, " U m espaço u rbano em expa nsão. Da Lisboa de Q u i n h entos à Lisboa do Sécu lo XX", i n
Revista Penélope - Fazer e desfazer a História , n" 1 3 , Lisboa, 1 994, p.98.
8 . Idem , p.99.
1 o. Teresa Rodrigues, Usboa no Século XIX - Dinâmica Populacional e crises de Mortalidade, tese de Dou r. em
H istória Eco n ó m i ca e Soci a l - É poca Conte m porâ nea, a p res. na F.C.S.H. - U . N . L., Lisboa, 1 993, p. 2 3 .
1 1 . Cf. M a r i a J o s é Carri l h o e J o ã o Pei xoto, "L'évolution démogra p h i q u e a u Portuga l " , relatório d o G a b i nete d e
Estudos Dem ográ ficos, l N E, j u n ho d e 1 99 1 (polic.)
1 2 . J . Manuel Nazareth, Princípios e Métodos de Análise da Demografia Portuguesa , Lisboa, Ed. Prese nça, 1 98 8 ,
p p. 1 1 1 - 1 2 1 .
1 3 . Maria João Valen te Rosa , " O desafio socia l d o envelhecimento demográ fico", i n Análise Social , vol. XXVIII ( 1 22),
1 99 3 (3.'' ), 679-689.
14. Este t i p o d e q u estões m e rece u m a atenção especia l , q u e não se enquadra n o s objectivos possíveis da breve
síntese a q u i a p resentada sobre o evo l u i r das gentes portuguesas. Dada a sua extrema com plexidade e a
i m portâ n c i a q u e reveste m a vários níveis nas fo rmas evo l u tivas da soci edade e economia portuguesas,
haverá que a bordá -las d e forma d i recta e exclusiva.
1 5 . J . M a n u e l Nazareth, "A d e m ografia portuguesa do século XX: principais l i n has d e evolução e tra nsformação",
i n Análise Social , vol. X X I (87-88-89), 1 98 5 , 3." - 4." - 5.", pp. 96 3-980.
1 6. Idem, p. 980 - Quadro com as "Taxas d e em igração anual média, por distritos, de 1 900 a 1 980 (em percentagem)".
1 7. J. M a n u e l Nazareth, "Conj u ntura demográfica da população portugu esa no período de 1 9 7 0 - 1 980: aspectos
globais", in Análise social , vol. XX (8 1 -82), 1 984, 2." - 3 .", pp.2 3 7-262.
1 9. Maria Luis Rocha Pinto, "As tendê ncias demográficas", i n Portugal. 20 anos de democracia , Lisboa, Circulo de
Leitores, 1 99 4 , pp. 296-306.
20. Entenda-se por j o v e m todo o ind ivíd uo c o m menos de 15 a nos e por idoso os c o m p e l o menos 65 a nos de vida.
72
A S ITUAÇÃO DEMOG RÁFICA
DA FAMÍLIA NOS AÇOR E S 1
Gilberto Pa vão Nunes Rocha
Universidade dos Açores
73
G/LBERTA PAVÃO NUNES ROCHA
Q U A D R O 1 - E V O L U Ç Ã O D A P O P U LAÇÃO D O S A Ç O R E S , P O R I L H A 1 9 4 0 - 1 9 9 1
( P O P . Res i d e nte)
A nível de i l ha as desigua ldades são um pouco mais acentuadas, até porque mesmo
n a p o p u l a çã o j á e n co n t ra m os a l g u m a s d i fe r e n ç a s d i g n a s de registo, como a c i m a
refe r i m os. E n t r e 1 9 4 0 e 1 9 6 0 , a gra n d e m a i o r i a d a s i l has a p re s e n ta u m a crésci m o
74
A SITUAÇÃO DEMOGRÁFICA DA FAMÍLIA NOS AÇORES
POP FAM POP FAM POP FAM POP FAM POP FAM
75
GILBERTA PAVÃO NUNES ROCHA
76
A SITUAÇÃO DEfv/OGRÁFICA DA FAfv/ÍLIA NOS AÇORES
q u e nos ex-d istritos de Angra do H e roísmo e da H o rta , os qua ntitativos d este i n d icador
são d e , respectiva m ente, 3.3 e 2.8. Aliás, esta d i ve rsidade populacional d o a rq u i pélago
açori a n o , e q u e não s e l i m ita ao estu d o d esta variável m i crod e m ográfica, foi profu n
d a m ente a n a l i sada por J . M a n u e l Naza reth no tra b a l h o rea l iza d o para as ca ra cterísti cas
populacionais do conj u nto dos d i stritos portugueses d u ra nte os a nos setenta 6
Apesa r da m o rta l i d a d e ta m b é m regista r qua ntitativos m u i to sign i ficativos, com u m
Esp e ra n ça d e Vida á Nascença u m pouco superior aos 5 0 anos no conj u nto da Região, e
também com a lgumas d i ferenças entre as várias ilhas, o movimento natural é francamente
positivo. Na m o rta l i d a d e s o b ressa i igua l me nte a s i ngularidade da i l ha m i ca e l e nse, com
níveis d e s u p e ri o res aos da maioria das outras i l has, p ri n c i p a l mente se ate n d e rmos á
morta l i da d e i n fa n t i l 7
Ass i m , a u m m o v i m e nto natura l positivo vem somar-se uma forte d i m i n u i çã o das
saídas, principa l me n te d a e m igração, o q u e não quer d izer q u e não existisse a lguma
m o b i l i d a d e , n o m e a d a m e nte se consi d e ra rmos os movi m e ntos i nternos, quer com o
conti n ente e outras regi ões portuguesas, q u e r entre as i l has açorianas 8
Neste contexto d e m ográfico, esta mos perante uma população basta nte jovem, q u e
na sua i d a d e a ctiva tem d i ficuldades e m a b a n d o n a r o arquipélago, verifi ca n do-se u m
a u m e nto sign i fi cativo d a n u p c i a l i d a d e e u m a d i m i n u i çã o acentuada n o n ú m e ro d e
c e l i batá r i o s , p r i n c i p a l m e n te d o sexo fe m i n i n o , q u e e m p e rí o d o s a n te r i o res regista
percentagens basta nte e l evadas em a lgumas i l has 9.
Esta d i n â mi ca d e mográfica expl ica, pois, e m n osso enten d e r, ta nto o au m ento da
populaçã o , como o das fa mílias, neste caso com a constitu i çã o d e novos l a res, embora
se possa ta m b é m pensar na coa bitação de casa is, morme nte fi lhos casa dos a viverem
com os pais, mas que sabemos que ta nto nos Açores com o na genera l i da d e d o país, ou
de outros países, não são p re p o n d e ra n tes nesta como e m outras épocas, nomeada
mente nas I d a d es M o d e rna e Conte m porânea.
Na década d e o i tenta, as variáveis m i crode m ográ fi cas têm não só va l o res m u ito
d i fe re ntes como evo l u ções igual m ente d isti ntas das observadas no período a nte rior
m e nte refe r i d o . No i n ício d o s a n os noventa , a nata l i d a d e e a m o rta l i da d e regista m
qua ntitativos baixos, com Taxas B rutas para a globa l i d a d e do arqui pélago da ordem dos
1 6o/oo e 1 1 o/oo, respectiva m e nte, o q u e faz com q u e o movi me nto natura l ta m b é m seja
basta nte m e n o r, com va l o res n egativos em a lgumas i l has, como é o caso da G raciosa,
d o Pico e das Flores e ntre 1 9 8 1 e 1 9 9 1 1 o
A m o b i l i d a d e é superior à verificada nos a nos q u a re nta e cinq ue nta, não o bsta nte o
a centua d o declí n i o da e m igração, principal m ente se compara mos com os va l o res regis
tados d u ra nte as décadas de sessenta e setenta, d e u m modo particular entre 1 9 6 5 e 1 9 7 5 .
T e m o s , pois, n este ú l t i m o perío d o , uma p o p u l a çã o q u e d i m i n u i e q u e envelh ece.
Apesa r d e a ctu a l m e nte ser basta nte reduzido o n ú m e ro d e celi batá rios e a nupcialidade
ser mais i ntensa d o q u e e m períodos a nte riores, a p resenta n do-se relativa m e nte estável
e até com u m a ce rta d i m i n u i çã o nos últimos a nos da década d e oitenta , ela já não
i nte rfere, como acontecia no passad o , no a u me nto da fecu n d i dade. o recente d ecrés
c i m o da população d eve-se, assi m , e prepo n d e ra nte m e nte, à evo l u çã o observada na
nata l i d a d e , que a p resenta neste último decénio um declínio m u i to sign i fi cativo, c o m o
c o n s e q u ê n c i a d e u m c o n tro l o d o s n a s c i m e n t o s n o i n te r i o r d o c a s a m e n t o . Esta
situação é já basta nte visível mesmo na i l ha d e S. Miguel que, a pesa r de regista r ainda um
dos níveis d e fecu n d i d a d e mais elevados da regiã o e do país, a p resenta uma d i m i n u i ção
77
G/LBERTA PAVÃO NUNES ROCHA
basta nte a centua d a , pa rti cula rme nte desde meados dos a nos oitenta , com um ritmo
q u e faz a ntever um rá p i d a igual ização d este fen ó m e n o n o contexto nacional e e u ropeu.
Sendo o decréscimo da natalidade uma das principais justificações para compreendermos
o declínio e envel hecim e nto da população, não podemos esquecer também a tendência
observada na m o rta l i da d e , cuj a d i m i n u i ção nos ú lti mos anos é igua l m e nte sign i fi cativa.
Ass i m , se a e v o l u ç ã o do v o l u m e d a p o p u l a çã o pa rece p e rfe i ta m e nte j usti fi c a d a
pelas a l te rações m a i s recentes q u e p u d emos o bserva r nas variávei s m i crodemográ ficas,
já o a u m e nto do n ú m e ro d e fa mílias não nos s u rge tão claro. Pensamos, no enta n to ,
q u e a lgumas das ca racte rísticas a n teriormente referidas, nos aj u d a m a perceber a ten
d ê n ci a d e a um e n to q u e verifi cá mos nas fa mílias. Neste sentid o , não podemos deixar de
referir o aumento da nupcialidade, principalmente a verificada nos a nos setenta e princípio
d e oitenta , que se não teve conseq uências releva ntes nos níveis da nata l i da d e , deve ter
contri buído p a ra a criação d e novos agregados fa m i l ia res. Por outro lado, não podemos
ta m b é m a q u i neglige n c i a r a d i m i n u i ção da m o rta l i d a d e q u e pensamos ter igua l m e nte
um efe ito positivo n o a crésci mo n o n ú mero d e fa mílias, principa l mente das mais i d osas.
Pa ra a p rofu n d a rmos um pouco mais as m o d i fi cações respeita ntes á fa m í l i a , ou mais
concreta m e nte, aos agregados fa m i l i a res, i re m os agora atender a a lguns aspectos da
sua d i m e nsão e estrutu ra i nterna.
A i m portâ ncia da consideração d o agregado fa m i l i a r é , e m nosso ente n d e r, extre
m a m ente releva nte. E m bora a fa mília não se confi n e ao conj u nto daque les que resid e m
e m com u m , p a rece-nos q u e não p o d e m existi r d ú v i d a s qua nto às relações q u e se esta
belecem entre os vários m e m b ros q u e h a bita m a mesma casa. Ao lo ngo d os tempos
temos visto a i m portâ n ci a que é dada a esta q u estão , nomeada m ente na consideração
d a fam í l i a n u cl e a r, desde há m u ito p re p o n d e ra nte, com o da fa mília exte nsa , que em
a lgu ns períodos mais recuados teve u m papel signifi cativo, isto i n d e pe n d e ntem ente das
d i ve rg ê n c i a s e x i s t e n te s e n tre v á r i o s a utores q u a nto ao peso de ca d a u m a d e l a s ,
nomeadamente nos períodos m e d i eva l e m o d e rno.
Não é , obviame nte, n ossa i ntenção desenvolver aqui esta q uestão, tanto mais q u e
nos i remos d e b ruçar fu n d a m e nta l m ente sobre a rea l i d a d e a ç o r i a n a no a n o d e 1 9 9 1 , e
em aspectos basta nte restritos, como i n i c i a l m e nte afirmámos. serve-nos, todavia, como
ponto d e reflexão p a ra as d i v e rsas situações q u e i remos a p resentar, onde pontifica m a
d i ve rs i d a d e de ca racte rísti cas dos agrega dos fa m i l i a res.
A d i m e n s ã o das fa m í l i a s a ço r i a n a s a p resenta-se basta nte d i ferenciada a o l o ngo
d estes ú ltimos c i n q u enta a nos, conforme se pode constata r n o Qua d ro 4.
1 940, 1 960, 1 9 8 1 , 1 99 1
N . " PESSOAS
1 2 3 4 5 6 7+
1 99 1 1 1 ,0 2 1 ,2 1 8 ,9 1 9, 6 1 2 ,9 7,6 8,8
78
A SITUAÇÃO DEMOGRÁFICA DA FAMÍLIA NOS AÇORES
1 940 1 960 1 98 1 1 99 1
G RA 1 0, 3 9,0 1 4 ,4 1 6 ,8
S. J O 8,1 7.7 1 3 ,9 1 3 ,8
PIC 1 9. 7 6,3 1 3 ,2 1 1 ,9
79
G/LBERTA PAVÃO NUNES ROCHA
Q U A D R O 6 - E V O L U Ç Ã O D A I M P O RT Â N C I A R E LATIVA
D A S F A M Í LIAS C O M D U A S PESSOAS, N O S AÇORES, P O R ILHA
1 940, 1 960, 1 98 1 e 1 9 9 1
1 940 1 960 1 98 1 1 99 1
AÇORES 1 4. 1 1 5 ,0 20,9 2 1 ,2
TER 1 6, 2 1 6 ,2 22,2 1 9, 5
S. J O 1 5 ,2 1 5 ,8 24,9 24,6
Atendendo aos quantitativos consta ntes no Quadro 7, respeita ntes às fa mílias com três
elementos, a tendência gera l é pa ra um aumento da sua i m portâ ncia relativa ao longo do
período considera d o , e m bora com um ritmo de acrésci mo bastante mais atenuado e uma
lige i ra d iversidade e ntre as i l has, principal mente se considera rmos os valores observados
em s. Miguel. que continuam a ser comparativamente mais baixos do que nas restantes ilhas.
Q U A D R O 7 - E V O L U Ç Ã O D A I M P O RT Â N C I A R E LATIVA
DAS F A M Í LIAS C O M TRÊS PESSOAS, N O S AÇORES, POR ILHA
1 940, 1 960, 1 98 1 e 1 99 1
1 940 1 960 1 98 1 1 99 1
AÇORES 1 7,7 1 7 ,9 1 8 ,5 1 8 ,9
SMA 1 5 ,8 1 7, 1 1 9, 5 20, 1
S. J O 1 6 ,6 1 9 ,3 20,0 2 1 ,2
80
A SITUAÇÃO DEMOGRÁFICA DA FAMÍLIA NOS AÇORES
1 940 1 960 1 98 1 1 99 1
AÇORES 1 9 ,2 1 8, 1 1 2 ,0 8,8
SMA 2 1 ,0 1 7,8 1 0 ,4 5,0
SMG 2 1 ,8 23,8 1 6 .3 1 3. 1
TER 1 5 .3 1 3 .8 8,2 4,5
A p r o fu n d a n d o um p o u c o m a i s esta p ro b l e m á t i ca , i re m o s a b a n d o n a r a v i s ã o
d i a c ró n i ca e s i t u a r m o - n o s n a e s t r u t u ra i n te r n a d a s fa m í l i a s d a s v á r i a s i l h a s n a
actu a l i d a d e - 1 9 9 1 - te n d o e m conta as variáveis idade e sexo, sempre priv i l egiadas
nos estudos d e â m b i to d e m ográ fi co.
N o que respeita à i d a d e , começa m os por ate n d e r à classificação que a p resenta mos
n o Q u a d ro 9 , que r e l a c i o n a esta variável com a d i m e nsão fa m i l i a r que a n a l is a m o s
a nteri o r m e nte. Como d i ssemos no i n ício, i re mos ate n d e r priorita ri a m e nte à situação
global dos Aço res, não o bsta nte a a p resentação dos qua ntitativos das várias i l has, que
só pontu a l m e nte serão referenciadas.
81
GILBERTA PAVÃO NUNES ROCHA
São prepo n d e ra n tes as fa mílias com d o i s a d u ltos e crianças, que j u lga mos corres
p o n d erem à s fa m í l i a s n u c l e a res clássicas, com p a i , mãe e fi l hos. N o e nta nto, a sua
i m po rtâ ncia qua ntitativa não d i fere m u ito das que têm n o seu seio: três a d u ltos com
c ri a n ça s ; d o i s a d u l to s e três a d u ltos. N e stes ú l t i m o s casos p o d e m o s p e n s a r q u e
esta mos fu n d a m e n ta l m e nte perante agrega dos fa m i l i a res com a s segu i ntes caracte
rísticas: três a d u ltos com cri a n ça s , o u s ej a , p a i , m ã e , fi l h os e um avô ou avó; d o i s
a d u ltos, m a r i d o e m u l h e r; três a d u ltos, p a i , mãe e fi l h o ou fi l h a ou marido e m u l h e r e
um dos p rogen i to res.
Ass i m , e sa b e n d o que m u itas outras situações existe m , podemos pensar que os
casos que especifi ca mos são os p re p o n d e ra ntes e m cada uma das class i fi ca ções.
o ente n d i m e nto que se tem da problemática fa m i l i a r, e m que se privilegia fa mília
nuclear clássica - n o m e a d a m e nte as relações q u e se esta belecem entre os vários ele
m entos, q u e r se ate n d a ao casa l e a o papel q u e cada u m dese m pe n h a nos d i ferentes
aspectos da vida q u o ti d i a n a , q u e r entre estes e os fi l h os, morme nte na sua e d ucação,
d i s p o n i b i l i d a d e que l hes d eve ser d ispensada ou a p a rtici pação dos fi lhos na resol u ção
dos p ro b l e m a s d o m é sticos - são, e m n osso entend er, m a n i festa m ente i n s u fi c i e ntes,
m e s m o que nos c i nj a m o s à q u e l e s que p o r viverem d e b a i x o d o mesmo te cto , têm
forçosa m ente u m gra u d e convivência q u e não se l i m ita às relações d e parentesco.
As ca racte rísti cas estrutu ra i s d o agrega d o fa m i l i a r cond uze m - nos, como v i m os, a
situa ções pe rfeita m ente d i sti ntas, com necessi dades materiais e a fectivas q u e não são
perfeitam ente idênticas entre si e, na nossa perspeáiva, têm de ser contempladas, porque
elas são u m a rea l i d a d e e fectiva q u e não pode ser ignorada nem sequer m i n i m izada.
Estes razões atingem ta m b é m uma gra n d e acuidade se consid e ramos os agrega dos
q u e têm u m a ú n i ca pessoa , q u e a pesa r d e regista re m uma percentage m menor do
q u e os acima refe r i d os, representa m u m n ú m e ro relativa m e nte eleva do, da ordem dos
1 1 % se ate n d e rmos à globa l i d a d e da Região.
É relativa m e n te a estes q u e i re m os desenvolver u m pouco a nossa a b o rdage m , es
pecifica n d o as suas cara cte rísticas por sexo e grupos d e i d a d e , n este caso com base na
class i ficação d e m ográ fi ca que d istingue a p o p u l a çã o Activa da p o p u l a çã o I d osa (Ve lha).
Q U A D R O 1 0 - I M P O RT Â N C I A R E LATIVA D A S F A M Í LIAS C O M U M A D U LT O ,
P O R S E X O , NAS VÂRIAS ILHAS D O S A Ç O R E S EM 1 9 9 1 .
H M
AÇORES 3 ,9 7,1
G RA 6,1 6,2
S. J O 7,0 6,9
PIC 5 ,0 6,8
82
A SITUAÇÃO DEMOGRÁFICA DA FAMÍLIA NOS AÇORES
1 5-65 65+
Anos Anos
AÇORES 42.2 5 7 .4
SMA 54.1 4 5 .9
SMG 39.7 60,3
TER 48,0 5 2 .0
GRA 34,2 65,8
S. j O 50.1 49.9
PIC 37,5 62.5
FAI 40,4 59.6
FLO 40.2 59,8
COR 80.0 20.0
H % M %
TER 36.7 6 1 .3
GRA 4 1 .8 79.6
S. JO 34.4 65.6
83
GILBERTA PAVÃO NUNES ROCHA
1 Ad u l to 2 Ad u l tos 1 e 2 A d u l tos
A i n d a q u e possa m existir d i ferenças rel eva ntes e ntre a vida dos i d osos q u e vivem
sós e a q u e l es q u e vivem com o cônj uge, são rea l i dades bem d i ferentes daquelas q u e
corres p o n d e m aos casa i s com fi l h os, designa d a m ente os m a i s jovens c o m cri a n ças.
S a b e m o s q u e n ã o a b a rca m o s to d a s a s s i t u a ç õ e s , n e m m e s m o n u m a ó p t i ca
estrita m e n te d e m ográ fica. Parece-nos, contudo, q u e podemos d etecta r fa m í l i a s com
ca racte rísticas pa rti cu l a res q u e req uerem u m ente n d i m e nto e , porve ntura , u m a política
e conse q u entes m e i os de a cção próprios.
Ass i m , além d a fa m í l i a nuclear clássica , com marido, m u l h e r e fi l h os, estes já e m
n ú m e ro reduzid o , te mos d e a te n d e r às fa mílias monoparenta is, onde p repondera m o s
i d osos; às dos casa i s sem fi l h os ou cuj os fi lhos já não res i d e m c o m os pais, e onde o s
m a i s i dosos têm ta m b é m u m a i m portância n u m é ri ca mais acentuada; às fa mílias onde
coa b i ta m três gera ções, cuja especifi c i d a d e não pode ser ignora d a , pois o relaciona
m e nto e n tre os vários m e m b ros d eve s e r m a i s c o m p l e x o , e até aqueles agrega d o s
o n d e existe u m a d u lto com u m a cri a n ça , q u e a pesa r d o s e u d i m i n uto va lor percentual
n o c o nj u nto dos a g r e ga d o s fa m i l i a re s , a p re s e n ta m c o n c e rteza uma s i n gu l a ri d a d e
vivenci a l q u e req u e r u m e n te n d i m e nto particu l a r.
Sem q u a l q u e r pretensão de a n á l ise dos vários tipos de fa mílias acima pontuados,
q u e sai d os o bj ectivos d este tra b a l h o , não q u eremos deixar d e su b l i n h a r a lguns dos
aspectos que re puta mos fu n d a m e nta i s e q u e podem serv i r como ponto d e partida para
outros estudos e conseq u e n tes políticas fa m i l i a res.
Na p ri m e i ra s i t u a ç ã o - c a s a l c o m fi l h o s m e n o re s , re l e v a m o s as a l t e ra ç õ e s
consequentes à entra d a d a m u l h e r no m e rca d o d e tra ba l h o , q u e n o s ú lti mos a nos tem
v i n d o a a u m enta r su bsta n c i a l m e nte nos Açores. Esta rea l i d a d e , que regista a i n d a uma
tendência d e a crésci m o , só encontra a lguns obstáculos no a u m e nto d o d ese m p rego
84
A SITUAÇÃO DEMOGRÁFICA DA FAMÍLIA NOS AÇORES
A e v o l u çã o d a s v a r i á v e i s d e m o grá f i c a s , e co n ó m i ca s , s o c i a i s e c u l t u ra i s , q u e
co n d uzi ra m à s situa ções a nte r i o r m e nte referidos, faze m - n os prospectiva r u m fu tu ro
a i n d a mais d i ve rso e co m p l exo que u rge a p rofu n d a r.
85
G/LBERTA PAVÃO NUNES ROCHA
N OTAS
1 . com u n i cação a presentada n o seminário . . A fa mília no processo d e desenvolvi mento", rea lização da Câ mara
M u n icipal da Povoação, Povoação, Janeiro de 1 99 5 , com algumas a l terações.
2. Professora Associada d o Departa m ento d e H istória , Filosofia e Ci ê ncias Sociais da universidade dos Açores.
3. cf entre outros Gilberta Pavão N u nes Rocha , Dinâmica Populacional dos Açores no sec XX - Unidade, Permanência
e Diversidade, Ponta Delga d a , U n i versi dade dos Açores, 1 99 1 ; " E m igração e População Açoriana" in Arqui
pélago, Série Ciências Sociais, n.o 3-4, Ponta Delgada, U n iversidade dos Açores, 1 989; " A Tra nsição Demográfica
nos Açores" in Arquipélago, Série Ciências Sociais, n." 5, Ponta Delgada, Universidade dos Açores, 1 990; os Açores
na v i ragem d o Século - 1 864- 1 930" in Actas do 11 Colóquio Internacional de História da Madeira, comissão
Nacional para a s com e morações dos Descobri mentos Portugueses, 1 990.
4. cf G i l be rta Pavão N u nes Rocha , Dinâmica Populacional dos Açores no sec. XX. . op. cit.
5 . cf. G i l berta Pavão N u nes Rocha, Vítor Luis Gaspar Rodrigues, .. Contri buto para o estudo da população dos
Açores nos fi n a i s d o séc. X V I I I " in Actas do 111 Colóquio In ternacional de História do Atlântico, A ngra d o
Heroismo, I nstituto H i stórico da I l h a Terceira, 1 994; " A popu lação dos Açores no a n o d e 1 849" in Arquipélago,
n" especia l , Ponta Delga d a , U n iversidade dos Açores, 1 983.
6. cf. J . Manuel Nazareth, o Envelhecimento da População Portuguesa, Lisboa, Editorial Presença, 1 9 79.
7. cf. G i l berta Pavão N u n e s Rocha, Dinâmica Populacional dos Açores ... op. cit.
8. cf. i d e m.
9. c f. G i lberta Pavão N u nes Ro ch a , " Estruturas Demográficas das Ilhas Portuguesas a través do censos" in Arqui
pélago, Série Ciências Sociais, n." 6 , Ponta Delgada, U n i versidade dos Açores, 1 99 1 ; . . A Sociedade Açoriana
uma perspectiva q u antitativa da sua evolução ( 1 864- 1 940)", in Revista da Associação Portuguesa de Professores de
História. (no prelo); D i n â m ica Populacional ... , op cit.
1 1 . i d e m.
86
A POPULAÇÃO PORTUGUESA
NA IDADE MÉDIA:
UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Henrique David
Universidade da Porto
Este texto tem como o bjectivo ú n i co refe re n c i a r os tra b a l hos em q u e são ava n
çados q u a ntitativos, totai s ou parciais, sobre a popu lação portuguesa na I d a d e M é d i a .
A p ri m e i ra fonte a ser u t i l i z a d a com e s s e o bjectivo foi o rol dos besteiros do con to,
datável d e 1 4 2 1 - 1 4 2 2 1 . Rebello da S i lva propôs u m va l o r l i ge i ra m e nte superior a um
m i l hão d e h a bita n tes p a ra a popu lação portuguesa 2, pa ra ta l socorreu-se da relação
esta belecida p o r soares d e Ba rros, e ntre o n ú mero d e beste i ros e o d e h a b i ta ntes d e
Lisboa e Porto [ 1 : 2 1 2 , 5] 3 .
A proposta d e Rebello da S i lva foi criticada por Gama Ba rros 4 e por Costa Lobo s ,
n o m e a d a m e nte no q u e d i z res p e i to à a rb i tra ri e d a d e d o cálcu l o d e u m coefi c i e nte
m u l t i p l i ca d o r. Pese toda a p o l é m i ca , este va l o r é a ceite por Lúcio d e Azevedo 6 e por
O l iv e i ra Marques 7.
O utras fo ntes uti l i zadas pelos i nvestiga d o res fora m as I n q u i rições. Dado q u e este
tipo de i n formação não é exte nsivo a todo o território, ele só pode ser tra ba l h a d o por
regiões. Ass i m sendo, Ave l i n o d e jesus da Costa explorou m i nuciosamente as I n q u i ri ções
de 1 2 2 0 e 1 2 5 8 , conj u nta m ente com os censuais d e B raga e G u i m a rães, p ropondo um
n ú m e ro d e 1 0 8 9 7 0 h a b i ta ntes nos 2 1 7 9 4 fogos d o território com p reen d i d o e ntre Lima e
Ave e e ntre Ave e Vizela 1 0 . Pa ra ta l atri b u i u o n ú m e ro de cinco h a bitantes por fogo,
" p o r s e r a c o n c l u s ã o a q u e c h egou F e rd i na n d Lot pa ra os m e i o s r u ra i s da Fra n ç a n o
séc. XIV" 1 1 . Esta relação entre número d e habitantes e fogos é outro problema d e m u ito
d i fícil resoluçã o , q u e r pela a usência d e fo ntes que a ta l nos h a b i l ite m , q u e r pela sua
quase certa variação no te m p o e no espaço.
Outras duas conclusões fora m aduzidas por Avelino d e jesus da Costa: que a população
d o territó rio a b rangido pelos censuais d e B raga e G u i marães se ma nteve pratica m e nte
estacioná ria desde meados do séc. XI a meados do séc. x 1 1 1 1 2; e que no M i n h o (e ta lvez
e m todo o Reino) a população rura l conti n u o u estável nos três séculos deco rri dos e ntre
1 2 2 0- 1 2 5 8 e 1 5 2 7- 1 5 3 1 1 3
Estas fo ntes fora m trata d a s p o r Ma ria H e l e n a da cruz C o e l h o p a ra o estu d o da
população da regiã o d e G u i ma rães 14 e da Te rra da N ó b rega 1 s , te ndo a autora o pta do
pelo mesmo coeficie nte d e conversão d e fogos e m habita ntes. São a i nda a p resenta d os
87
HENRIQUE DAVID
d a d os s o b re o n ú m e ro d e fogos p o r fregu e s i a e a v a n ç a d o s v a l o re s d e d e n s i d a d e
populacional.
Pa rti n d o d a a n á l ise das I n q u i rições d e 1 2 5 8 , José Mattoso. Luis Krus e Amélia Agu i a r
A n d ra d e , p ropõem u m tota l d e 1 9 8 0 h a bitantes (396 casa is. atri b u i n d o o í n d i c e 5 para o
n ú m e ro de m o r a d o res por casa l), a q u e corres p o n d e ria uma média de 30 habita n tes
p o r Km 2 p a ra o espaço actu a l m e nte ocupado pelo co nce l h o d e Paços d e Ferre i ra 1 6
Estes mesmos a utores. estu d a n d o as I n q u i ri ções do séc. X I I I pa ra a Terra de santa
M a r i a . d ã o - n o s i n fo r m a ções s o b re a d istri b u i çã o espacial da p o p u l a çã o . n ú m e ro d e
povoados, v a l o res m é d i os das á reas das freguesias e, a i n d a , d a densidade populacional,
pa rti n d o d e u m a relação esta b e lecida co m os va l o res obtidos para Paços d e Ferre i ra 1 7
Tra b a l h a n d o s o b re a Arq u i d i ocese de B raga no século XV, José Marques deu-nos a
conhecer fontes documentais eclesiásticas b racarenses que permitiram um con heci mento
do n ú m e ro d e vizi n h os de B raga e seu termo em 1 4 7 7 , 1 4 9 3 , 1 5 0 6 e 1 5 1 4 1 8 Este a utor
a p roveitou p a ra p recisa r m e l h o r a a fi rmaçã o d e Ave l i n o d e jesus da costa ace rca do
estacionamento da popu lação ru ral no período compreendido entre 1 2 20- 1 2 5 8 e 1 5 2 7- 1 5 3 1 .
Antes d o mais. porque teria havi d o grandes a lterações n o cômputo geral d a população,
nomeada mente n o período a seguir á Peste Negra e à peste de 1 3 6 1 1 9 , fixa ndo "em meados
do s é c u l o XV o i n íc i o da re c u p e ração na s e d e do a rce b i s p a d o " 20 ; d e p o i s , p o r q u e ,
" e m 1 5 2 7- 1 5 3 1 a i nda s e n ã o tinha ati ngido o nível demográfico d o s meados d o século XIII",
e m pa rte d e v i d o à crise i nterca l a r d e 1 5 0 6 - 1 5 1 4 2 1 .
O N u m e ra m e nto da B e i ra I nte rior de 1 4 9 6 , i n q u é rito m a n d a d o fazer por D. Manuel e
q u e a b ra ngeu a correição e coma rca de Castel o Branco. G u a rda e P i n h e l , foi i n icial me nte
a preci a d o por Virgínia Ra u , a o mesmo tem p o que a n a l isou q u e r a relação e ntre fogo ,
m o ra d o r e vizi n h o , q u e r o coeficiente h a b i ta n te/ fogo, c h a m a n d o a atenção para as
m ú ltiplas razões q u e conduzem a u m "va l o r proble mático" para este último n
Anos volvidos. João J osé Alves Dias estudou m i n u ci osa m ente este N u m e ra m e nto.
a p resenta n d o , p a ra a Bei ra I nterior, uma populaçã o com p ree ndida en tre 5 6 9 9 1 e 8 1 4 1 5
h a b i ta ntes (resulta ntes d a m u l t i p l i cação dos 1 6 2 8 3 fogos pelo fa cto r 3 , 5 ou 5 , res pecti
va m e nte) 2 3 .
J osé Mattoso, pa ra a l é m de a n a l isar os diversos ritmos de cresci me nto da p o p u l a çã o
e ntre fi n a i s d o sécu l o XI e o p r i m e i ro q u a rtel d o século XIV, a p resenta uma esti mativa
da populaçã o portuguesa (com excepção do Alga rve). na segu nda metade do século XIII 24
Pa ra ta l , tom o u co m o po nto de partida os 1 0 8 9 7 0 habita ntes propostos por Ave l i n o d e
jesus da Costa para a região entre Lima e Vizela 2 5; d a í "previ u " u m a popu lação de 1 2 0000
h a b i ta n tes para o Entre D o u ro e Lima (excl uída a d i ocese d o Porto), o q u e divi d i n d o pela
á re a de 3 0 0 0 k m 2 2 6 d e u p a ra d e n s i d a d e p o p u l a ci o n a l d essa regi ã o 40 h a b . ! k m 2
Em segu i d a , p o r u m a re lação de proporciona l i d a d e entre o n ú m e ro de km 2 q u e corres
p o n d e ri a m . em ca da regi ã o , a u m ta b e l i ã o (do n u m e ra mento d e ta bel iães d e 1 2 8 7 -
- 1 2 9 0) 2 7 e a d e n s i d a d e p o p u l a c i o n a l , te n d o co m o base o Entre D o u ro e L i m a , ca lculou
as d e n s i d a d e s populacionais para as outras regi ões. Por fi m . m u l ti p l i ca n d o cada u m a
das d e n s i d a d e s p o p u l a c i o n a i s p e l a s respectivas á reas p ropôs as popu lações. Diz o auto r:
"Os q uase 7 0 0 0 0 0 habita n tes a q u i e ncontra d os, re p resenta m . dece rto, um qua ntitativo
i n fe r i o r à p o p u lação rea l . mas as d e n s i d a d e s a p o nta d a s p o d e rã o consi d e ra r-se u m a
ordem d e gra n d eza veros í m i l , e m termos comparativos" 28 .
Pese e m b o ra as d i fi c u l d a d es a p resentadas, n o m e a d a m ente o n ú m e ro de isentos
q u e , por d iv e rsas razões. possa m esca p a r aos l eva nta m e ntos, as fontes d e natu reza
fiscal são das mais úteis neste tipo d e i nvestiga çã o , o que levou d iversos i nvestiga d o res
88
A POPULAÇÃO PORTUGUESA NA IDADE MÉDIA
89
HENRIQUE DAVID
semelha ntes. Pensa mos, no e nta nto, q u e a conj uga ção da i n formação das i n q u i ri ções,
censuais e outras fontes eclesiásticas poderá ser das mais prod utivas, como demonstra m
os tra b a l h os de Ave l i n o de jesus da Costa , josé Marques e Maria H e l e na da cruz Coel ho.
Por fi m , uma última referência ás fontes d e tipo fisca l. Dado q u e e ra m Q u nta m e nte
com as i n q u i ri ções) as q u e i m p l i cavam um mais rigoroso l evanta me nto d o n ú m e ro d e
fogos, s ã o d o m a i o r va l o r pa ra o conhecime nto d a s popu lações m e d i evais. Ta l como d i z
M . -A. A rn o u l d : "os levanta m e n tos d e fogos são p o r exce l ê n c i a as fo ntes d a h istó ria
d e m ográ fica d o s m e i os r u ra i s d a B a i xa Idade M é d i a " 3 8. ora, n o que d i z res p e i to a
Po rtuga l , as q u e até h oj e são conhecidas e fo ra m o bj e cto de estu d o , não só d i z e m
respeito a z o n a s d o territó rio m u i to l i m itadas, c o m o a épocas m u ito diversas.
N OTAS
• M u i to agrdecemos à Prof." Dou tora Maria Helena da Cruz Coel h o as suas sugestões para este tra ba l ho.
1. SousA, A n tón i o Caeta n o de - Provas da História Genealógica da casa Real Portuguesa, 2' ed., tomo 1 1 1 . 1 Parte .
Coim bra . Atlântida - Livraria Editora, 1 94 8 , pp. 45 1 - 4 5 5 ( 1 ' ed., 1 7 43)
2. SILVA. L A. Rebel l o da - Memoria sobre a População e a Agricultura de Portugal desde a Fundação da Monarchia
até 1865. Parte 1 (De 1097- 1640), Lisboa , Im prensa Naciona l . 1 8 68, pp. 4 2 - 7 2 .
4 . BARRos, Henrique da Gama - Historia da Administração Publica em Portugal nos seculos XII a XV. tomo 1 1 , Lisboa,
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S . Lo oo , A. de Sousa Si lva Costa - Historia da Sociedade em Portugal no seculo XV, Lisboa, Im prensa Naci o n a l .
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6. AzEvmo, J . Lúcio d e - Organização Económica. i n " H istoria de Portuga l " , d i recçã o de D a m i ã o Peres, v o l . 1 1 ,
Barcelos, Portuca lense Editora, 1 9 29, p. 4 1 5 .
7. MARQUEs. A. H. de O l i v e i ra - A População Portuguesa nos Fins do Século XIII. in "Ensaios de H istória Medieva l
Portuguesa ", 2' ed., Lisboa, Editorial Vega, 1 980, p. 54 ( 1 ' ed .. 1 9 58).
8. Referido por R e b e l l o da S i l va (op. cit. . p. 43) e p u b l icado por Gama Ba rros (op. cit , p. 233).
1 0. CosTA. Avelino de je s u s da - o Bispo o . Pedro e a organização da Diocese de Braga, Separata da Revista "Biblos",
XXII I . vol. I , Coimbra, 1 9 5 9 , pp. 2 0 7 - 2 3 7 .
1 3. I D E M , op. cit . p. 2 2 5 .
1 4. CoELHO, Maria Helena da Cruz - A população e a propriedade na região d e Guimarães durante o século XIII, i n
"Homens, Espaços e Poderes (séculos X I -XVI) 1 - Notas do viver socia l " . Lisboa. Livros Horizonte, 1 990, p p . 1 3 9-
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1 5 . CoEI.HO, Maria Helena da Cruz - A Terra e os homens da Nóbrega no século XIII, i n " Homens, Espaços e Poderes
(sécu los XI-XVI) 1 - Notas d o viver socia l " Lisboa . Livros Horizonte, 1 990, pp. 1 70- 1 98.
90
A POPULAÇÃO PORTUGUESA NA IDADE MÉDIA
1 6. MATIOSO, jOSé; KRUS, LUÍS; ANDRADE, Amélia AGUIAR - PaÇOS de Ferreira na Idade Média: Uma SOCiedade e uma
economia agrárias. s/1, s/ e , p. 1 8 2 (Sepa rata de Paços de Ferre i ra - Estudos Monográficos).
1 7. MATIOSO, jOSé; KRUS, LUiS; ANDRADE, Amélia A GU IA R - 0 castelo e a Feira. A Terra de Santa Maria nos séculos XI a XIII,
Lisboa, E d i toria l Esta m p a , 1 9 8 9 , pp. 7 1 -76.
1 8 . MARQUES, José - A Arquidiocese de Braga no séc. XV, Lisboa, I m prensa Naci o n a l - Casa da Moeda, 1 9 8 8 , pp.
2 6 7-3 1 7.
1 9. Sobre este assunto, ver. nomeadamente: GONÇALVES, Iria Vicente - Consequências demográficas da Peste Negra,
in " Actas do c o ngresso H i stórico de Portuga l M e d í e v o " , tomo I, n" e s p e c i a l da Revista " B racara Augusta",
vol. XIV-XV Q a n e i ro - Dezembro 1 9 6 3 ) , pp. 2 1 4-220; MARQUES, A. H . de O l i v e i ra - Demografia - Na Idade
Média, in "Dicionário de H istória de Portuga l", di recção de joel serrão, vol. I , Lisboa, I n iciativas Ed itoria is. 1 9 7 1 , pp.
795- 796; IDEM - Portugal na crise dos séculos XIV e XV (vol. IV da "Nova História de Portuga l", direcção de joel serrão
e A. H. de Oliveira Marques), Lisboa, Editorial Presença, 1 98 6 , pp. 1 5 -46; CoELHO, Maria Helena da cruz - o Baixo
Mondego nos finais da Idade Média (Estudo d e H istória Rural), vol. I , Coimbra, Facu ldade de Letras, 1 98 3 , pp.
69-8 1 , no q u a l são a p resentados dados q u a n titativos sobre terras abandonadas. bem como a sua loca l i zação
geográ fica.
2 2 . R A u , V i rgínia - Para a história da população portuguesa dos séculos XV e XVI (resultados e problemas de
métodos), i n "Estudos de H i stória Medieva l " , L i s b o a , Editorial Presença, 1 9 8 5 , pp. 96 - 1 2 7 ( 1 ' ed., 1 96 5 )
2 3 . DIAS, João J osé Alves - A Beira Interior em 1 496 (Sociedade, Administração e Demografia), i n "Arq u i pélago",
Revista da U n i versidade dos Açores, Série Ciências H u manas, n" IV Q a n e i ro 1 9 82), pp. 9 5 - 1 9 3 .
24. MAnoso, J o s é - Identificação de um Pais. Ensaio sobre as origens de Portugal 1 096- 1 3 25. Vai 11 - Composição,
Lisboa, E d i tori a l Esta m p a , 1 9 8 5 , pp. 1 5 - 2 8 .
29. MARQUES, A. H. de O l iveira - Estratificação Económico-Social de uma Vila Portuguesa da Idade Média, in "Ensaios
de H istória Medieval Portuguesa ", 2" e d ., Lisboa, Editorial Vega , 1 980, pp. 1 2 1 - 1 3 3 ( 1 " ed., 1 9 63).
30. A M A RAL , Luís Carlos: DUARTE, Luís Miguel - Os homens que pagaram a Rua Nova (Fiscalidade, sociedade e
Ordenamento Territorial no Porto Quatrocentista), in " Revista de H istória", centro de H i stória da U n iversidade
do Porto, vol. V I , Porto, 1 98 5 , pp. 7-96.
3 1 . DIAS, João J osé Alves - Estratificação económico-demográfica do concelho de Loulé em 1505, i n "História & Critica",
n" 1 3 Q u n h o 1 9 86), pp. 59-64.
32. RoDRIGUES, Ana Maria - A População de Torres Vedras em 1 3 8 1 , i n "Revista de H istória Económica e social", n" 2 5
u a n e i ro-Abril 1 9 89), p p . 1 5 -46.
3 3 . G o D I N H o , Vitori n o Maga l hães - complexo Histórico-Geográfico, i n "Dicionário de H istória de Portuga l " , di recção
de joel serrão, vai. I , Lisboa. I n i ciativas Editoriais, 1 9 7 1 , p. 646.
34. GoNÇAlVES, Iria - o empréstimo concedido a D. Afonso v nos anos de 1 4 75 e 1 4 76 pelo almoxarifado de Évora,
"Cadernos de Ciência e Técnica Fiscal", n" 30, Lisboa, 1 964 (estudo publ icado em "Ciência e Técnica Fiscal", n os 68-
-69, Agosto-Sete m b ro 1 964).
3 5 . ANDRADE, Amélia Agu iar - Um espaço urbano medieval: Pon te de Lima, Lisboa, Livros Horizonte, 1 990, p. 1 4 9.
36. GoMES, Rita Costa - A Guarda Medieval 1 200- 1 500, "Cadernos da Revista de História Económica e Socia l", n os 9- 1 0.
Lisboa, 1 9 8 7 , pp. 1 03 - 1 04.
3 7. SousA, Arm i n d o de - Tempos Medievais, i n " H i stória do Porto" , d i recção de Luis A. de O l iveira Ramos, Porto,
Porto Editora , 1 994, p. 1 9 3 .
3 8 . AHNOuLo, M.A. - L e s relevés de feux (fase. 1 8 da "Typologie des Sou rces d u Moy e n  g e Occi d e n ta l " , d i recção
de L. G e n i cot), Turnhout (Bélgica), Editions Brepols, 1 9 76, p. 79.
91
RE CONS TITUIÇÃO DE PAR Ó QUIA S
u m a p ro posta d e d i á l ogo
entre histori a d o res e dem ógrafos
Maria Norberta Amorim
Universidade do Minho
93
RECONSTITUIÇÃO DE PARÓQUIAS
São as raízes dos comporta m entos d i ferenciais, são as variáveis de d i fícil m e d i d a , como
as variáveis cultura is, que se l h es esca p a m . As vantagens científicas d a a prox i m a ção
entre d e mógra fos d o passad o e d o presente p a recem óbvias, mas será necessá rio q u e
os pri m e i ros tra b a l h e m c o m metodologias que permitam u ma a p roximação aos segu ndos.
N esse senti d o propo n h o o trata mento dos registos vita i s usa n d o a metodologia de
reconstituição de paróquias.
A r e c o n s t i t u i ç ã o de p a r ó q u i a s é o passo, fa cil itado pela Informática , que se segue
à reconsti t u i ç ã o de fa m í l i a s . Atra vés d a reconstituição de paróq u i a s p o d e r-se-à e m
m a i o r a proxi m a ção n ã o só estud a r o s fe nómenos da Fecu n d i d a d e e da Nupci a l i d a d e ,
m a s ta m b é m o s d a M o rta l i d a d e e M o b i l i d a d e , a o m e s m o t e m p o q u e se oferece à
a n á l ise soci a l u m a plata forma segu ra de i nserção.
R e c o n s t i tu i r p a r ó q u i a s s i g n i fi ca p r i m e i ro o rga n i za r os d a d o s d o s r e g i s t o s de
nasci mentos, casa mentos e ó b i tos e m fichas d e fa mílias e d e pois cruza r i n formações d e
fo r m a a a c o m pa n h a r, e m e n ca d e a m e nto g e n e a l óg i c o , a h i st ó r i a d e v i d a d e ca d a
resi d e nte, te n h a e l e nascido n a p a ró q u i a , e ntra d o n e l a p e l o casa m e n to ou s i m p l es
m e nte n e l a te r fa lecido. Por outras palavras, reconstitu i r paróq uias é formar, e m la rga
diacro n i a , u m a " base de d a d os" com fi chas bi ográ fi ca s de residentes em que se projecta
m a rca r u m i n í c i o e u m fi m d e o b s e rv a ç ã o , c o m a s c o m b i n a çõ e s p o s s ív e i s e n t r e
nasci m e n to ou i m igra ção, por u m lado, e fa leci m ento ou emigra ção, por outro.
E m b o ra a s fo ntes q u e s e rv e m d e base à reconsti t u i ç ã o d e paróq u i a s sej a m os
registos d e nasci m entos, casa mentos e óbitos em séries contínuas, a m o b i l i d a d e é um
fenómeno só i n d i recta m ente abordável por aqueles registos e, por isso, só o cruza mento
de fo ntes d i v e rsas, permite m a rca r com m a i o r p recisão as ausências e as entradas dos
m igra ntes. As fi chas b i ográ ficas sã o fa c i l mente a bertas a o cruza me nto d e fontes, com
dados qua ntitativos ou q u a l i tativos, e a explora ções mu lti disci p l i n a res, podendo atingi r-se
d i fe re ntes níve is de a p u ra m e nto d e resultados e m vá rias d i recções d e i nvestiga ção.
A m e to d o l ogia d e reconsti tu i çã o d e p a ró q u i a s deu os seus p ri m e i ros passos há
cerca d e d u a s d éca das quando, pouco e ntrosad a no a m b i e nte a ca d é m i co, comecei a
tra b a l h a r sobre os registos vita is da paróq uia tra nsmonta na de Rebordãos.
Virgí n i a Rau tinha trazido d e Fra n ça para o Centro d e Estudos H i stóricos, a nexo à
Facu l d a d e de Letras da U n ivers i d a d e de Lisboa, no fi nal dos a n os c i n q u e nta , um " p l a n o
d e i nvestiga ção d e m ográfica", a po i a d o na metod ologia Fleury-Henry , " p a ra a reco lha
s iste m á t i ca d o s e l e m e ntos fo r n e c i d o s p e l o s l i vros d e registos pa roq u i a i s d e Lisboa
d u ra nte o sécu l o XVI I I , o rga n iza ndo u m fi cheiro dos assentos dos três tipos de registos:
ba ptismos, casa mentos e ó b i tos" 1_ N e n h u m a i n d i cação a d i a ntava Virgínia Rau sobre o
cruza m e nto d o s fi c h e i ros c o m v i sta à reconstitu i ç ã o de fa m í l i as. Os ce rca d e 9 0 0 0
verbetes reco l h i dos por M a ria d a Lourdes Akola Neto para cobrir a penas u m q u a rto d e
sécu l o d a freguesia d e Santa Cata rina d e Lisboa 2 seria m d e ce rto desmotiva ntes para o
p rossegu i m ento da tarefa mas, estou em crer, q u e o principal o bstáculo res i d i u na d i fíci l
a p l ica b i l i d a d e da metodologia Fleury-Henry aos registos paroq u i a i s portugueses.
E m b o ra s e m v i a b i l i d a d e de estu d o s de s í n t e s e , o tra b a l h o de fi c h a r a ctos d e
nasci m e n tos, casa m entos e ó b i tos e proce d e r e m segu ida a o s conseque ntes estu dos
agregativos i ria a p resenta r-se, d u ra nte bastante te mpo, p a ra os l i cenciandos dos cu rsos
de H i stória das Facu l d a d e s de Letras do País, como uma via i nte ressa nte e re lativa
m e nte segura p a ra a obtenção d o respectivo d i ploma. Pa rticula rmente na Facu l d a d e de
Letras d e Coi m b ra m a i s d e meia centena d esses tra b a l h os fo ra m ela borados a ntes d e
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MARIA NORBERTA AMORIM
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RECONSTITUIÇÃO DE PARÓQUIAS
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. ] 97
RECONSTITUIÇÃO DE PARÓQUIAS
A m eto d o l og i a de r e c o nsti t u i ç ã o de p a r ó q u i a s
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MARIA NORBERTA AMORIM
Primeira [ase:
Reconstituição de famílias
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RECONSTITUIÇÃO DE PARÓQUIAS
ou n ã o a c h a m e nto, da fa m í l i a q u e procura m os n u m fi c h e i ro m a n u a l o r d e n a d o p o r
o r d e m a l fa b eto-cronológica , pode l e v a r a p e n a s a lguns segu ndos, menos t e m p o do q u e
l eva ría mos a d esenvolver o mesmo p rocesso na " b a s e d e d a d os". Qua ndo l i da mos com
m i l h a res d e h a b i ta n tes, o t e m p o d i s p e n d i d o não é p ro p o rci o n a l , p o d e n d o ch ega r a
la rgos m i n utos.
N o caso de fi l i ação i legíti m a , pode só torna r-se seguro atri b u i r u ma nova mater
n i d a d e a u m a m u l h e r já co n h ecida, q u a n d o há referência à sua fi l i a ção. o processo d e
o rga n iza r u m fi c h e i ro m a n u a l p a ra as fa mílias i l egíti mas seria do p e l o n o m e d a s mães
não é rentável, d a d a a fre q u ê n cia dos nomes próprios fem i n i nos. Daí a necessi dade d e
e l a b o r a r fi chas d e a cto. e lectrón i ca s ou d e p a p e l , pa ra os fi l h os i l egíti mos e e nj eitados,
com todos os dados d e i d e ntifi cação a n ota d os. Esses dados desempenham o papel d e
recu rso sistemático nas tentativas, a desenvolver na " b a s e d e d a d o s " , d e i d e ntifi ca r a
mesma m u l h e r em su cessivas mate r n i d a d es.
Mesmo n o caso d e fi l h os legíti mos, não podemos excl u i r a h i pótese d e u m ou outro
caso a m bígu o , m o r m e n te em p e rí o d os a n te r i o re s ao s é cu l o XV I I I , q u a n d o ce rtos
red a ctores pa roq u i a i s não i n d i ca m o nome da mãe e existem h o m ó n i m os e m fase de
p rocriação.
A o p ção pela i nclusão d e u m fi l h o numa estrutu ra fa m i l i a r e não em outra p o d e rá
basea r-se no i nte rva lo em relação ao nasci m ento a nterior, na ausência de dados s o b re
p rofissão do p a i ou resi d ê ncia fa m i l i a r. No fi c h e i ro m a n u a l de fa mílias, ao usarmos o
l á p i s i ntroduzimos a d úv i d a , dúvida q u e pode s e r expressa no fi cheiro el ectró n i co n u m
ca m p o p a ra observações.
Q u a n d o não h á uma segu ra nça razoável p a ra i n c l u i r uma cri a n ça n u m a fa m í l i a
co n h e c i d a , é p referível a b r i r u m a nova fi cha , desti nada eventua l m e nte a ser e l i m i na d a
c o m o ava n ço d a reconstitu ição.
A segunda etapa d a reconsti tu i çã o d e fa m í l i a s consta rá e m cruza r os d a d os dos
casa m e ntos com a i n fo r m a çã o o rga n iza d a a partir dos ba ptismos. N o e nta nto, esse
cruza m e nto n ã o se p o d e rá esta be l e c e r e m todos os casos. Dos casa i s cuja d a ta de
casa m e nto co n h ecemos, uns terão sido fecu ndos na á rea observa d a , outros terão sido
esté r e i s n essa m es m a á rea e ou tros terão fixa d o res i d ê n c i a n o exte rior. Só p a ra o
p ri m e i ro caso é, natu ra l m e n te, possíve l , n esta fas e , esta be l e cer cruza m e nto com a
i n fo rmação já o rga n iza da. Para os outros casos há q u e i r anexando as respectivas fi chas
d e fa mília às já co n h ecidas pelo baptismo d e fi l hos.
A i n formação perti ne nte contida nos registos d e casa mento condiciona duas a bo r
dagens q u e dá vantage m serem sequenciais, caso a caso. A pri m e i ra na perspectiva do
casal e a segu n d a na p e rspectiva d e cada u m dos cônjuges .
Nesta fase l i mita r-nos-emos a procura r i d entificar os nubentes com os pais de fa mília
conhecidos pelo registo de fi l hos, explorando-as, portanto, a penas na perspectiva do casa l.
Esta b e l e c i d a e ssa i d e ntifica ç ã o , e n ri q u e c e m os a respectiva ficha d e fa m í l i a com os
d a d os a go ra conhecidos, usa n d o ca n eta verde.
Se o casa l não é a i nda con h ecido, a b ri mos uma ficha, sempre usa ndo a cor verde, nos
próprios ca d e rnos o n d e o rga n iza mos os d a d os das fa mílias fecu ndas ou num ca derno
com p l e m e ntar, conforme a cha rmos m a i s conve n i e nte.
N esta fase, não se torna n ecessá rio esta be l e ce r, no trata me nto m a n u a l , q u a l q u e r
ti po d e cruza m e n to entre fi chas.
A terceira etapa d a reconstitu ição d e fa mílias consiste no trata me nto possíve l dos
registos d e ó b i tos. Dada a eventual d e fi c i e nte i d e ntificação d e d e fu ntos nos registos
1 00
MARIA NORBERTA AMORIM
Segunda fase
Cruzamen to a utomático en tre fichas de famílias
Foi desenvolvi d o pri m e i ro por Luis Lima e depois por Cecilia More i ra um p rogra ma
em d Ba s e i i i - P i u s para cruza m e nto da i n formação e ntre as fichas d e FAM I LIA, obede
cendo a d o i s princípios:
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1 05
RECONSTITUIÇÃO DE PARÓQUIAS
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1 06
MARIA NORBERTA AMORIM
N O TAS
2. Maria de L o u rdes Akola Neto. A freguesia de Santa Catarina de Lisboa no primeiro quartel do século XVIII.
Ensaio de Demografia Histórica, p u b l i cações do centro de Estudos Demogr<i ficos do 1. N. E,. Lisboa , 1 959.
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1 07
R E VIS IÓ N DE LOS E S TUDIOS SOBRE LA
MIG R ACIÓ N PORTUGUE SA E N E S PA N A
1 09
Lorenzo LÓPEZ TRIGAL
1 1o
REVISIÓN DE LOS ESTUDIOS SOBRE LA MIGRACIÓN PORTUGUESA EN ESPANA
U n i v e rs i d a d e s c o n a l g u n os S e m i n a r i o s , j o rn a d a s y F o r o s d e D e b a t e e s p e cí f i c o s ,
p r o m o v i d o s d e s d e d i fe r e n t e s i n sta n c i a s a ca d é m i ca s y o fi c i a l es , c o n títu l o s c o m o
" M igra c i o n e s l nt e r n a c i o n a l es e n l a Eu ropa Com u n i ta r i a " , "Movi l i d a d Migra c i ó n e n l a
frontera d ei siglo X X I " , " Migraciones l n ternaci o n a l es, ra cismo y xenofobia", "Tra bajadores
i n migra ntes en la agri cultura med iterrá n ea " , o " l n m igración e n Espa na e n los 90", q u e
n o s i n d ica n la d i versidad d e l a s a p roximacio nes.
6. Es p r e c i s o a n a d i r l a a p a r i c i ó n ta m b i é n de un a n á l i s i s más pa rti cu l a r d e la
i n m igració n , de un lado, segú n su p rocede ncia o país d e orige n , ta l como veremos la
co m u n i d a d p o rt u g u e s a o ta m b i é n c i e rtas co m u n i d a d e s a fr i ca n a s , en e s p e c i a l la
ma rroquí (por eje m p l o , e l Eq u i po d i rigido por e l p rofesor Vicente G ozá lvez Pérez, dei
Depa rta m e n to d e G eogra fia H u m a n a d e l a U n iversidad de A l i ca n te); y, de otro l a d o ,
segú n s u s desti n o s e n á reas regi o n a l es , p rovi n c i a l es o l o c a l e s , d o n d e se a p l i ca e l
estu d i o a pa rti r d e fue n tes padronales y d e disti ntas i nstituciones, encuestas y tra bajo
de campo, como son parti c u l a rm ente las o b ras de L. LÓPEZ TRIGAL ( 1 9 9 1 ) e n Leó n , o con
más a m p l itud c. G I M É N EZ ROMERO (Coo rd i nador) ( 1 993) para la co m u n idad Autónoma d e
Madrid.
Tras la a nterior síntesis gen e ra l , cabe recoger las investigaciones en relación a la
inmigración portuguesa, a pa rti r d e u n trata m i e nto monográfi co y pa rticular, ya sea a
escala de Espa na o de cie rtas á reas:
1 . Como p reced e nte se puede i nd i ca r e l estu d i o que Ca rminda CAVACO ( 1 9 7 1 ) rea l iza
sobre la m igración estacionaria de tra bajadores d e i Sotavento a lga rvi o con desti no a l a
flota d e pesca y fá bricas conserveras de l a costa atlánti ca a n d a l uza , q ue tiene o rigen e n
e l s i g l o XVII I y q u e hasta 1 9 70 se ha bía mantenido u n flujo q ue e n laza ta m b i é n c o n l a
costa m a rro q u í . H oy e n d ía e s t a p ro ce d e n c i a p o rtuguesa e n e l á rea d e i su roeste
p e n i n s u l a r e s p a n o ! s e t ra s l a d a e s e n c i a l m e n te a l o s tra b aj os d e t e m p o ra d a e n la
agricultura litora l d e H u e lva. (En este sentido, hasta a h o ra no existen i nvestigaciones
q u e se c i n a n a l a i n m igra c i ó n p o rtuguesa te m p o re ra o d e fi n i tiva en l a s proví n c i a s
raya nas espa n o las).
2 . En la línea d e a n á l isis soci a l existen i n formes y alguna p u b l icaci ón refe rente a
p ro b l emas de i n tegración y xenofobia en re lación a i n m igra ntes portugueses de etn ia
gita n a , com o las d i rigidas por F. CANO CONTRERAS ( 1 9 8 7) y M. GAVI RIA ( 1 990), e l primero
presenta la experi e n cia d e i asenta m i e nto pa ra gita nos y portugueses en Pa mplona dei
Poblado d e Santa Lu cia , una a lternativa d e vivienda p rovisional y de ca rácte r soci a l y
cultu ra l , donde residen desde hace a lgu nos a nos u n gru po de unas 45 fa m í lias, en su
mayo ría de naci o n a l i d a d p o rtuguesa. El segu ndo es una p u b l i cación basada en i n formes
sobre e l cha bolismo y la i n fravivienda (últimos "ghettos") e n Nava rra y el á rea u rbana
de Pa m p l o n a e n pa rti c u l a r. Asi m i s m o , los i n fo rmes d e i gru po EDIS ( 1 9 8 7 , 1 9 89), que
a bordan los p ro b l emas d e esco l a rización d e n i nos portugueses e n Espa na.
3 . De otro signo, son ciertas contri buciones presentadas e n fo rma de n otas b reves
suscritas desde d i sti ntos e n fo q u es. Así desde la G eogra fia, J. GONZÁLEZ VECÍN y otros
( 1 9 8 8 ) , re fe r i d a a l a i n m igra c i ó n en los va l l es m i n eros l e o n eses m e d i d a a pa rti r d e i
R e g i stro C o n s u l a r; C . J . P A R D O A B A D ( 1 9 9 2 ) s o b re l a d i st r i b u c i ó n e s p a c i a l d e l o s
e m igrantes po rtugueses e n Espa n a ; y l a a p o rta c i ó n p i o n e ra d e i fra ncés M . POINARD
( 1 99 1 ) sobre la población portuguesa e n e! censo d e Andorra , donde tras la espa nola es
l a e m igración más n u me rosa actu a l m e nte. o asi mismo desde el Derecho Internaci ona l
Priva d o la a po rtación d e J J OLIVARES D'ANG ELO ( 1 9 8 5 ) e n re lación a la l i b re ci rcu lación
de tra bajadores portugueses.
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Lorenzo LÓPEZ TRIGAL
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REVISIÓN DE LOS ESTUD/OS SOBRE LA MIGRAC/ÓN PORTUGUESA EN ESPANA
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Lorenzo LÓPEZ TRIGAL
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REV/SIÓN DE LOS ESTUDIOS SOBRE LA MIGRACIÓN PORTUGUESA EN ESPANA
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Lorenzo LÓPEZ TRIGAL
EotS ( 1 9 8 7): Sicuación !J necesidades educativas de los nifios portugueses residentes en Espana. Madrid.
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REVISIÓN DE LOS ESTUD/OS SOBRE LA MIGRAC/ÓN PORTUGUESA EN ESPANA
G I M tNEZ RoMERo, c. ( 1 9 9 1 ) : " Pe rfi l sociod e m ográfico y líneas de i n tegración soci a l de la población
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GIMtNEZ RoMERo, c. ( 1 9 9 2) " l n m igra ntes extra nj e ros: u n n u evo componente d e i m e rcado d e tra bajo".
Economistas, 52, p p . 222-23 1 .
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LoPEZ TRIGAL, L., PRIETo SARRo, I. ( 1 9 9 3 d): "Portugueses que deciden". La Comarca de/ Bierzo, 1 7 , pp. 1 2- 2 1 .
LoPEZ TRIGAL, L. (Director) ( 1 9 94): La migración de portugueses en Espana. León, Un iversidad de León,
pp. 1 9 1 .
LOPEZ TRIGAL, L. ( 1 9 94): " Portugueses y a fricanos lusoparla ntes e n l a i n m igración e n Espana". E n Varias
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M I N ISTERIO DE TRABAJ O Y SEG U R I DAD SOCIAL- D I RECCIÓN G E N ERAL DE M I G RACI O N ES: A n uario de
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117
lorenzo lÓPEZ TRIGAl
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p p . 4 1 5 -4 2 2 .
PoiNARD, M. ( 1 99 1 ): "La population portuga ise e n Andorre". Revue Géographique des Pyrénées et du
Sud-Ouest. Tome 62, 2 , p p . 2 1 7 - 2 2 5 .
1 18
LA PR E NSA FUE NT E PA R A
LA HIS TOR IA D E LA POB LACIÓ N
Celso Alm uina
Universidad de Val/adolid
Entre las m ú lti ples fu nciones de la p re nsa escrita , desde l u ego no la primigenia ni la
pri ncipal; pero si de no poca u ti l idad, está la de servir ai historiador como fue nte pa ra la
reconstru cci ó n d e i pasa d o , después de h a b e r v e n c i d o éste no pocas reti cencias, la
mayoría h ijas d e u n i ncorrecto uso d e las m ismas t _
S i d e l o genérico descendemos a ca m pos históricos más acotados, ta mbién l a prensa
escrita , esti mo, puede ser aprovechada con ventaja por pa rte de la Historia de la Población
e n sus variadas vertie ntes, a u n q u e lógica mente por u nas parcelas concretas más q u e
por otras. A b u e n seguro, d e e ntrada, habría q u e desconfi a r de la fia b i lidad d e ciertos
aspectos cuantitativos, pero ta m b i é n sernos extremadamente úti l e i ncluso i m p resci n
d i b l e p a ra m u ltitu d d e aspectos d e ca rácte r cual itativo: actitudes soci a l es con respecto
a cuesti ones ta les como nata l i d a d , e m igración, etc. En este sentido, esta fuente nos va a
resu l ta r fu n d a m e nta l e i n s ustitu i b l e . Se i m po n e , p o r ta nto, matiza c i o n e s y a l g u n a s
reflexio nes p revias, a ntes d e pasa r a cu esti ones prá cticas d e í n d o l e metodológi co.
Para i m p u lsa r e l desarro l l o d e una ciencia, aparte d e re plantearse consta nteme nte
los h o riz o n tes teórico-metodol ógicos, j u n to a l a renova c i ó n y preci s i ó n dei a pa rato
conceptu a l , n o cabe duda que la a p o rta c i ó n d e n u evas fu e ntes y/o relectu ras más
d i ferenciadas es un buen ca m i n o para la a m p l iación d e conoci m i e ntos.
La H istoria d e la Población e n gen e ra l y d e la Demografia en con creto , pese a su
r e l a t i v a j u v e n t u d co m o c i e n c i a a u tó n o m a , h a a l c a n za d o sin d u d a un i m p o rta nte
desarro l l o científico e n e l último cuarto d e siglo 2 . La explotación de fu entes clásicas, e n
muchos casos a penas i nexploradas, a u n permite s i n d u d a espera r pi ngües resulta d os e n
u n futuro i n med iato. S i n e m b a rgo, la i n corporación d e estas nuevas fuentes, j u nto a l a s
clásicas, vendrá n , s i n d u d a , a com p l eta r a las a nteriores y, lo q ue es m á s i m porta nte,
permitir n u evas perspectivas científicas. No se trata , por ta nto, d e u n proceso acumu
lativo y m e n os sustitutivo, si n o d e a brir n u evas ventanas hacia nuevos horizontes.
La más e l e m e n ta l p r u d e n c i a m et o d o l ó g i ca , s i se q u i e re p a ra ser más precisos
técn i ca m e nte, e n la primera fase de la i nvestigación o heu rística se i m pone j u nto a i
i n ventario p reciso de fue ntes d ispon i b les para e l tema en cu estió n , i n m e d iata m e nte u n
discern i m i e nto (co n o ci m i e nto) d e d ichas fu entes. comprobar e l grado de fia b i l idad (sin
olvidamos que u na fuente fa lsa y/o pa rcia l puede sernos de suma uti l idad), así como
v a l o ra r e l a l ca n ce y posi b i l i d a d e s d e las mismas. E n una p a l a b ra , e n n u estro caso,
conocer e l Medio ( p u b l i ca c i ó n peri ó d i ca) y sus v i rtu a l i dades. Máxime si te n e m os en
cuenta q u e lo más específico y por lo ta nto d e uti lidad pa ra n u estro caso va a ser todo
a q u e l l o relaci onado con la confo rma ción de corrientes sociales d e o p i n i ó n con respecto
a los temas críticos de cada m o m ento: pa n d e m ias, poblacionismo, xenofobias, etc. En
estos casos, más q u e n i ngú n otro es p reciso sa ber q u i é n y q u é está por detrás.
Dicho d e otra fo rma, n o se puede recurri r d i rectamente a u n periódico (sea d i a ri o,
hebdomario o m e n s u a l ) c o m o si de u n l i b ra de bautizos o pa d r ón m u n icipal se tratase.
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CELSO ALM UINA
1 . Co n o c i m i e n t o de l a fu e n t e .
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LA PRENSA FUENTE PARA LA HISTORIA DE LA POBLAC/ÓN
121
CELSO ALMUINA
Los datos m a n ejados, el trata m i ento de los mismos, etc. en gra n medida dependen
d e los re c u rs o s a s i g n a d os. Y ya m á s e n c o n creto e l tipo d e r e d a c ci ó n , n ú m e r o ,
cua l i fi caci ó n , o rga n ización dei tra bajo, etc. e s e n defi n i tiva q u i é nes ela bora n e l producto
(publ icación). Entre estos hay q u e i n c l u i r desde l u ego y máxime en estos temas a los
cola b o ra d o res especia l i stas: médicos, d e mógra fos, soci ólogos y u n la rgo etcéte ra , segú n
pa rcela .
L a orientación, a i menos e n los asuntos bási cos y de l a rgo a l ca nce, es la e m p resa
q u i é n traza las gra ndes lineas, b i e n a través dei consej e ro-delega do, dei d i recto r y/o
i n c l u s o d i recta m e n te . A m o d o d e ej e m p l o tópico, ( q u i é n va a espera r que en u n a
p u b l i ca c i ó n t ra d i c i o n a l i s ta - ca r l i sta o d e l a ' b u e n a p r e n s a ' s e v a a d e fe n d e r e l
m a l th u s i a n i s m o , p o r n o p o n e rnos i n cl uso e n pos i ci ones a u n m á s extremosas?. Los
ej e m plos se pod ria n multipl icar.
I m p o rta , pues, y mucho, conocer los rasgos fu ndamenta l es de la e m p resa edito ra ,
p u esto q u e e n d e fi n i tiva con mayor o m e n o r i nc i d e n cia se va n a p roye cta r e n l a
correspo n d ie nte p u b l icación.
S in ser i nd e p e n d i ente de lo a nterior, l o q ue si cabe son matizaciones debidas a la
misma naturaleza d e la p u b l icación. El enco ntra r mayor o menor i n formación e i n cl uso
e l trata m i ento dado depende en buena pa rte de la natu ra leza de la p u b l i cación. En
pri n c i p i o pa rece más proba b l e e n contra r datos útiles a n uestro tema e n u n a revista
m é d i ca q u e e n u n a d e p o rtiva. A u n q u e ésta p u e d e te n e r ta m b i é n c i e rto gra d o d e
i nterés.
Igua l m e nte decisiva es la orientación de la p u b l icación de a cu e rdo con e l espectro
soci a l , i d e o l ógico, geográ fico, etc. cubierto. Por poner un eje m p l o , l a actitud hacia u na
dete rm i nada política d e m ográ fica, a p a rte de lo dicho a nteriormente, va a esta r s i n duda
co ndicionado por la tirada (cua ntia) y tipologia dei sujeto receptor. En u na zona despo
blada pa rece que s o b re ca rga r las ti ntas s o b re e l m a l th us i a n is m o n o t i e n e m u c h o
sentido y viceversa, a u n q u e l u ego otra serie d e fa cto res cruzados i nc l i n e n e l t e m a p o r
d erroteros b i e n d isti ntos.
En defi n itiva , n o se trata d e agota r e l te m a , ú n i ca m ente de l l a m a r la atención sobre
a q u e l los aspectos que m e pa rece son l os más i m porta ntes a la hora d e conocer y
va l ora r este tipo de fu entes, con la fi n a l i dad de poderles saca r el mayor pa rtido pos i b l e.
2. La o r i e n t a c i ó n d e ntro d e i b o s q u e i n fo r m a t i v o .
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LA PRENSA FUENTE PARA LA HISTORIA DE LA POBLAC/ÓN
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CELSO ALMUINA
3. D ó n d e l o ca l iz a r l a s res p u estas.
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LA PRENSA FUENTE PARA LA HISTORIA DE LA POBLAC/ÓN
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CELSO ALMUINA
secci o n es debe ser tenida en cuenta en a ras a u na economia de esfu erzos a la hora d e
la búsqueda.
N o o c u rre a s í en l a p re nsa a n tigua ( d e c i m o n ó n i ca ) , p e r o sí a m e d i d a que nos
ace rca mos a i prese nte, a u n q u e ta m b i é n la naturaleza d e ca da p u b l i cación i n troduce
sus varia ntes, l a s t i t u l a c i o n e s es un m e d i o que n o sólo nos fa c i l i ta la b ú s q u e d a a
n osotros, si no q u e además hay q u e tenerlo en cue nta como elemento importa nte d e
ava l o ración, es d e ci r, d e destacar una u n idad i n formativa. Así l o s títu l os destacados nos
facil ita n la local izaci ó n d e la u n idad i n formática a la vez q ue nos está diciendo q ue e n
su m o m e nto l os responsables d e confeccio n a r la p u b l icaci ón co nsidera ron q ue e ra u n
e l e mento q u e de bía s e r d estacado. Los titu la res s o n como fa ros q ue n o s orienta n e n la
búsq ued a , pero ta m b i é n n o d e b e m os olvidar q u e e n su mome nto dese m p e n a ron el
i m p o rta nte p a p e l d e atra e r la a te n c i ó n d e i d i s p e rso l ector p recisa m e n te hacia es e
centro d e foca l iza ción.
Algo similar y hasta es posi ble q u e con m ucha más razón d e l o predicado para los
titu l a res se pueda a firmar d e los elemen tos gráficos, desde fotogra fia , grá ficas, etc. q ue
nos p u e d e n ofrecer más i n formación, tras u n a i n terpreta cíón adecuada, q u e e l más
extenso d e los a rtícu l os.
No s i e m pre ocu rre q u e el espacio ded icado a u n a u n i d a d i n fo rmativa tiene u na
relación d i recta con su i m porta ncia. Desde l uego esta regia no si rve pa ra la primera y
a lguna pági n a más. Pero, h a b l a n d o en términos ge nerales, si pod ria mos decir q ue la
ca n t i d a d d e e s p a c i o d esti n a d o a u na i n fo r m a c i ó n esta ria e n r e l a c i ó n d i re cta a su
i m porta n ci a. Apa rte de q u e nos pueda servi r e l espacio para u n a va loración poste rior d e
i m p a cto, d es d e u n a perspectiva ú n i ca m e n te cuantitativa , de momento nos permitirá,
desde estas orientaciones p rá cticas q u e a q u i se trata n de dar pa ra fa cil ita r la búsq ueda,
en té rminos ge nerales p resci n d i r d e esas pequenas noticias ('gaceti llas') o a lo máximo
pasa r d e pu n ti l las sobre e l las. Claro q u e pa ra temas de menta l idad o s i m i l a res, a veces,
son precisa m e n te p e rlas va l i osas estos pequenos sue ltos.
Los fol l et i n es, ge neral izados en e l XIX, e n principio no pa rezca n que tengan mucho
q u e v e r c o n l a temática. C l a ro q u e todo depende d e la re l a c i ó n o v i n c u l a c i ó n que
esta b l ezca m o s e n tre l i te ra t u ra e h i sto r i a . C i e rta m e n te e n los fo l l et i n e s o n ov e l a s
p o p u l a r e s - a v e c e s s e i n c l u y e n a h í i n fo r m e s d i v e rs o s - a p a r e c e n r e f l ej a d a s
menta l ida des q u e s e tra d ucen e n acuerdo con los comporta mie ntos demográficos y/o
poblaciona les.
Por ú lti m o , hay que l l a m a r la atención sobre la Secci ón Publicitaria (An u ncias). No
só l o es u n a m u estra d e la evo l u c i ó n eco n ó m i ca y d e los gustos y pos i b i l i dades d e
consu m o , s i n o ta m b i é n d e determi nadas menta l idades y a ctitudes. N o q ueremos ca er
e n ej e m p l o s ca ricatu rescos e i n cl uso tópi cos q u e e n co n tra mos, p o r ej e m p l o , e n la
p re nsa deci m o n ó n i ca d e ·amas d e cria ' e i ncluso a lgo más choca nte y de sentido b ien
distinto, los h o m bres q u e se ofrecen c o m o sementa les. An écdotas a pa rte y s i n elevarias
ta m poco a categoria , sí q u e nos revelan determi nados usos y/o n ecesidades sociales.
Sin d u d a , u n a i n te l ige n te l e ctu ra d e esta secci ó n nos puede proporci o n a r resu ltados
satisfa ctorios.
En cua l q u i e r caso, a medida que nos fa m i l i a riza mos con la consulta d e este tipo de
fu e n tes, dada la fa ci lidad d e l ectu ra , que cada confecci onador lógica mente se term ina
p o r re peti r i nvaria b l e m e nte y q u e ta m poco son ta ntos los recu rsos a los q ue se pued e
echa r m a n o , la consu lta te rm i n a por agi l iza rse a medida q ue va mos profu n d iza ndo e n
la i n vestigación y la experiencia e n e l manejo d e este t i p o d e fu entes v a a u m e nta n d o.
1 26
LA PRENSA FUENTE PARA LA HISTORIA DE LA POBLACIÓN
4 . Va l o ra c i ó n d e l a s respu estas.
A p a rt e de l o s d a to s más o m e n o s c o n cretos y s u g ra d o d e fi a b i l i d a d c o m o
e l e m e n tos a pa rti r d e l o s cua l es vamos a l evanta r la i nterpretación histórica, c o n las
fu e ntes periodísti cas hay que tener a d e más u n a consi d e ra c i ó n previa , q u e h a n sido
pensadas p a ra crea r o p i n i o nes. Por tanto, su p royección social debe ser te n i d a en
cuenta como u n e l e m e nto principal d e la i nterpretación. I ncluso más, es precisa me nte
esa v irtual ca pacidad d e crear o p i n iones y de mover a la acción lo esencial de esta
fue nte y l o q u e e l l a ú n i ca m e nte nos puede ofrecer: conoci m i ento dei discurso. Bien es
verdad que el para conocer e l posible i m pacto d e esos mensajes h a b rá que recurrir a
otras fuentes, n o s iem p re a b u nda ntes y casi siem pre i m p recisas.
Se debe, p u es, ten e r e n cuenta q u e n o es u n discurso cerrado. Me atreve ria i n cluso
a a firmar más, q u e n o existe ' p e r se', si no es e n la medida q ue ha sido capaz d e crear
o p i n i o n es. Es deci r, tiene vida precisa m ente fue ra de si. Mientras no ha sido d istri b u í d o
y l e í d o n o está cerrado e l círculo de v i rtua lidades. E s m á s , el ej empla r q ue se han q u e
dado p a ra registro d e la heme roteca -el c u a l precisa me nte n o s si rve para consu lta r-, e n
p u r i d a d , ha sido u n ej e m p l a r fa l l ido; es decir, q u e n o ha cu m p l i d o exa cta mente para l o
q u e fu e conce bido: conformar o p i n i ó n , a u n q u e sí lo haya n h e c h o su mucho geme los.
Por l o tanto, decía a nte riorme nte, a d i ferencia d e i docume nto clásico, no es ta nto la
i n formación con creta q u e nos proporcione, por m u cha y precisa q ue sea -bien venida
sea-, como la v i rtu a l i d a d d e i d i s c u rso, que conocemos -gra cias a la consu lta d e l os
fo ndos- a la h o ra de conformación soci a l . Por ta nto, la s i m p l e va loración positivista dei
docu m e n to, debe d ej a r paso a otra mucho más compleja, q ue demanda u na n u eva
i n terpretación h istó rica .
Cierta m e nte esta segu n d a vertiente es la m á s rica, pero ta m b i é n la m á s d i fícil d e
m a n ej a r teórica m e nte. E s la v e n t a n a q u e nos perm ite a b ri r u n n u evo p a n o ra m a e
i n cl uso u n a n ueva posi b l e i n terpretaci ón. Dejar a p u ntada ú n i ca me nte la posi b i l i d a d s i n
q u e a q u i p o d a m o s ade ntra mos por este n u evo ca m i n o 4
5. La p r e n s a y la h i storia d e la P o b l a c i ó n .
1 27
CELSO ALMUINA
p a rte, son las medidas y repercu s i o n es socia l es q u e acompanan a ta les situa ciones.
Desde medidas d e políti ca san ita ria, tem o res, rea cciones, consecuencias sociales y un
l a rgo etcéte ra . Pense m os e n a lguna d e las a rremetidas periódicas d ei cól era morbo,
gri pe, y toda serie d e pa n d e m ias d e eti o l ogía diversa , i ncluyendo e l actua l sida.
En estos casos, a pa rte d e i registro m i n u cioso d ei nú mero de óbitos, es ta nto o más
i m p o rta n te c o n o c e r los e fectos p s i co-so c i a l es d e s e n ca d e n a d o s. E n otro ca s o , d e
e n ce rra m o s e n esa m i o p e v i s i ó n positivista , p ráctica m e n te n o e n t e n d e re mos n a d a ,
salvo e l ser u nos m i n u ci osos conta b l es o registra dores d e datos dei pasado. Sin datos
n o hay h i storia, pero l a s i m p l e erudición no es historia. Es l a d i mensión social l o que re
a l mente i nteresa y tiene trascend encia científica.
El segu n d o posi b l e estud i o d e ca rácter d i acrón i co o temático para el cual la pre nsa
res u l ta c o m o fu e n t e i n sustitu i b l e es pa ra a q u e l l os t e m a s de trasce n d e n c i a o de
e n co n t ra d os d e b a t e s s o c i a l e s . Pod ría m o s r efe ri m os a m u c h o s , d e s d e p o l í t i ca s y
m étodos ma ltusia n os hasta todo lo contra rio. La última conferencia d ei Ca i ro ( 1 994) es
reveladora e n este sentido de las e n canadas d iatribas, q u e superan y con mucho todas
las pos i b les estadísticas -que son i m presci n d i b l es- que podamos a porta r. El tema es en
e l fo n d o o m n i p rese nte por sus i m p l i caciones y ra m i ficaci ones.
Pod ría m o s tra e r a c o l a c i ó n m u chos otros temas, pero, desde u n a p e rs p e ctiva
h istó rico-sociol ógica , está el ta n i nteresa nte y actual tema d emográ fi co y poblacional
d e los trasvases d e población por e m igración. Desde las fa mosas em igraciones dei a n o
2 0 0 0 y 1 2 0 0 a . J . C . ha sta los gra n d e s trasva ses, más pa cíficos, p e ro n o e x e n tos d e
rechazos y x e n o fo b ias, cua n d o n o desca rad o racismo, es u no d e los te mas q u e ha
apasionado y con m ocionado a las diversas soci edades. Basta q ue nos centremos en la
edad conte m porá n ea - m o mento a pa rtir d e i cual disponemos de este tipo de fu e ntes,
aunque se p o d ría n d e c i r ta m b i é n cosas con respecto a otro t i p o d e fu e n tes y su
pos i b l e s i m i l itud metodol ógi ca pa ra períodos a nteri ores-, pues b i en, en las dos ú ltimas
ce nturias los movi m i e ntos m igrato rios h a n sido nota bles y de signo diversos. Hemos
p a s a d o d e u n a E u ro p a e m i s o ra a una E u ro pa r e c e p t o ra , a p a rte d e otra s e r i e de
consideraciones q u e n o vienen a i caso.
En s u m a , que el a n á l isis d e gra ndes movi m i e ntos d e masas de población no lo po
demos red ucir ú n i ca m e nte a un s i m p l e registro cuantitativo. Hay otros m u chos fa ctores,
a p a rte d e la esta dísti ca , ta n o más i m porta ntes en este tipo de asu ntos. No es sólo el
n ú m e ro de personas movil izadas. N i s i q u i era e n m u chos casos la objetiva ca pacidad de
acomodo d e la sociedad receptora los que son tenidos e n cue nta a la hora de la verdad.
E l e m e n t o s d e t i p o i d e o l óg i c o , c u l t u ra l , p o l í t i c o , p s i c o l óg i c o , e t c . son ta n to m á s
determ i n a ntes q u e l o s estri cta mente d e mográ fico.
De ahí, que sea i m p resci n d i b l e e l recu rri r a otro tipo de fu e ntes, a i margen de las
clásicas dei tipo registra les, pa ra trata r de dar resp uesta a estos complejos e l e m e ntos
q u e entra n en j u ego consta nteme nte y d e fo rma ta n d i recta y determ i na nte e n la
m a y o r p a rte de l o s casos. Es el p l u ra l y h a sta c o n t ra d i ct o r i o d i s c u rs o p ú b l i co e l
deter m in a nte o con d iciona nte, a i menos l a pa rte visu a l iza b l e d e i iceberg, d e i co m p l ejo
tema o bjeto d e estu d i o . Aquí tenemos u n supuesto donde e l recu rso a esta fu ente se
torna i m p resci n d i b l e , i n cl uso para a q u e l los más d esco n fiados positivistas.
Sin d u d a que pod ría mos a p u nta r toda otra ga ma de te mas pa ra los cuales el recu rso
a esta fuente fu ese m uy conve n i e n te cua n d o no i m p resci n d i b le. No se trata de entra r
e n casuísticas, p o r s u p u esto. Pero i n c l uso e n l a cl á s i ca reconstru cci ó n d e fa m i l i a s ,
d o n d e las fu e n tes son m uy otras y muy labori osas, por cierto, cua ndo nos movemos
1 28
LA PRENSA FUENTE PARA LA HISTORIA DE LA POBLACIÓN
6. A m o d o d e c o n c l u s i o n es prácticas.
2 . La prensa como fuente ha sido siem pre más util izada en la práctica que reconocida
explicita m e nte como ta l .
6. En la lectu ra (i nterp retación) dei discurso hay que te ner en cuenta toda una serie
de aspectos, q u e va n desde q u é se d i ce , cómo se dice, q ué se prete nde y con qué
resu ltados social es.
7. Dada la especifi d a d de esta fu ente , cuyo o bj etivo últi m o es ' m a n i p u l a r' (no se
e ntienda e l térm i n o e n u n s i m p l ista sentido peyorativo), es fu ndame ntal a i d iscu rso los
efectos que éste es capaz de desencadenar en el media social ai cual trata de conformar.
Resulta n d o este aspecto, en p u ridad extradiscu rsa l , se lo q ue rea l m e nte se torna histó
rica m ente básico. El docu mento n o se agota , por tanto, en si mismo, s i no que su rea l
i m p o rta ncia rad i ca en la medida en q u e sea ca paz de crear esa n u eva rea lidad v i rtual ·
resu ltante.
8. La o p i n i ó n p ú b l i ca re s u l ta n t e , i n d e p e n d i e n t e m e n t e d e l a m a y o r o m e n o r
positi v i d a d , s e convierte e n u n e l e m e nto , e n m u chos casos decisivo, ta nto para u n a
v i s i ó n d e mográfica c o m o pa ra la más a m p l i a d e t i p o poblacional.
En s u m a . u n a n u eva fuente, q u e util izada con cautela y conoci m i e nto, desde l u ego
q ue no va a ser la panacea u n i ve rsa l , pero q u e co rrecta mente util izada, tras la oportuna
p r e p a ra c i ó n m etod o l ógica , p u e d e s e rv i r l e ai i m a g i n a t i v o h i stori a d o r d e m ógra fo o
poblaci o n al (ta m b i é n soci ó l ogo, econom ista , geógrafo, etc) para enriqu ecer, ensancha r y
hasta rei nterpreta r sus co noci m i e ntos. Nada más ni nada menos.
1 29
CELSO ALMUINA
N OTAS
1 . En esta vertiente, p u e d e c on s u l ta rse Celso A l m u i ii a : " La prensa como fuente h istórica ". Haciendo historia.
Homenaje a Carlos Seco, Madrid, U n iversidad Com p l u tense, 1 988 pp. 6 1 5-624.
2. En la h i storiografia espa no/a, se sue/e c i t a r c o m o fecha i m porta nte e l Congreso de 5a ntiago de Composte l a ,
Metodo l ogia A p l icada a las Ciencias Históricas (a bril, 1 9 73), Aparición de la p u b l i cación e n 1 9 75 -Actas de las 1
jornadas de Metodologia Aplicada a las Ciencías Históricas, Sa n tiago, Edit. Fundación Ma rch y secreta riado d e
Pu b l i caciones d e la U n i versidad de Santiago- c o m o e l p r i m e r momento rea l m e n te significativo. El segu n d o
gra n m o m e n to v e n d ria dado por la celebración e n 1 98 3 (dici e m b re) de las 1 jornadas de Demografia Histórica
en Madrid, j u n to con la creación de la ADEH (Asociación de Demografia H istórica). El tercer momento, 1 98 8 con
la i n te resa n te a portación (esta d o de la cuesti ón), Demografia histórica en Espana, (Vicente Pérez Moreda y
David-Sven Reher, edis), Madrid, Edic. e/ a rq uero.
En cua n to a Portuga l , a p a rte d e i n teresa n tes y renova d o ras aportaciones a n teriores, podemos confi a r e n
e sp e r a r u n a renovación y u n i m porta nte i m p u lso de los estu d i os d e e s t e tipo, después d e l a s j o r n a d a s
" P o p u l a ç ã o Portuguesa. Historia y Prospectiva " ( 1 994), de la mano de CEPFAM (Centro de Estudos da Populaçao
e Fa m íl i a ) , además de todos los a m biciosos proyectos a/li p l a n teados.
4 . Celso A l m u i iia : "Medios de Com u n icación Soci a l , poder de m a n i p u lación y ca pacidad de tra nsformación", Actas.
Prensa y Sociedad en la Espana Contemporánea. M u rcia, 1 995; " La O p i n i ó n Pública como factor e x p l icativo e
i n te rpretativo". Builetin d'histoire contemporaine de I'Espagne, Bordeaux, n ú m . 2 1 ( 1 995)
1 30
S OB R E A D EMOG RAFIA ES COLA R
Jorge Carvalho Arroteia
Universidade de Aveiro
(Departamento de Ciências da Educação)
1 . A P R O PÓSITO D E U M CONCEITO
2000000
1 000000
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fonte: INE
131
JORGE CARVALHO ARROTEIA
identificação dos desequilíbrios existentes no acesso e no sucesso educativos com vista não
só à ela boração das p rojecções relativas às n ecessidades d e escol a rização, mas ta mbém
da e lab o ração d e propostas q u e assegu rem u ma igualização das condições de ensino e
o respeito por certas normas de utilização dos espaços e dos professores (IIPE; 1 9 8 2 ; 1 6).
Por o utro lado a a p reciação d e a lg u n s i n d i ca d ores re lativos à p o p u lação esco l a r
(número a ctu a l , s u a distri b u i çã o por ciclos de estudo, s u a evol ução no te mpo e d u ração
da " es p e ra n ça d e v i d a esco l a r " ) e a o nível d e i nstrução dos resta n tes h a b i ta n tes
constitui u m a u x i l i a r p recioso q u e nos permite a preci a r o está d i o d e bem esta r soci a l
n u m d etermi n a d o território. Recorde-se q u e os va l ores i n d i cativos d e u m cresci mento
negativo da p o p u l a çã o escol a r e os baixos níveis de i nstruçã o dos habita ntes fazem-se
ge ra l m e n t e a co m p a n h a r de o u tros í n d i ces reve l a d o re s de r e p u l s ã o d e m ográ fi ca ,
i n d i ciadores d e u m fraco n í v e l de desenvolvi m e nto socia l , eco n ó m i co e cultu ra l dessas
regi õ e s . C o m o o r e fe r i m os n o u t r o l o ca l e m q u a l q u e r s o c i e d a d e o a crés cimo da
esperança de vida tra d uz uma melhoria significa tiva das condições de vida. de bem
estar e de desen volvimento sócio-económico dessa população, sendo certo que quanto
mais elevada for a esperança de vida escolar-média de uma população, tanto maior
será o seu nível sócio-cultural e as perspectivas de um crescimento mais harmonioso dos
diversos sectores de actividade (Arroteia; 1 9 9 1 .b; 1 2 5).
N ote-se que a a p reciação da p o p u lação esco l a r (docente e d iscente) tem v i n d o
igu a l m e nte a m erecer u m a ate n çã o cresce n te por pa rte d e cientistas c o m formação
d i ferenciada (e n ã o só dos pedagogos) que se ocu pa m do estudo das diversas q uestões
re l a c i o n a d a s c o m o n o sso s i s te m a e d u c a t i v o . b e m c o m o d a s s u a s d i s fu n çõ e s e
contrastes. Por esta razão nos pa rece oportu n o recordar a lgumas noções e métodos d e
a n á l ise uti l izados e m d e m ografia q u e nos poderão servi r para a m e l h o r com p reensão
do siste ma e d u cativo e das suas relações com os demais sistemas sociais.
confiemos e m algumas defi n i ções. Pa ra G i ra rd ( 1 9 70 ; XVI II), a " d emografia esco l a r "
estud a a s cara cterísticas, a evo l u çã o , a d istri b u i çã o e fre q u ê n ci a da p o p u lação nos
d i fere ntes gra u s d e ensino. a d u ração de cada ciclo d e estudos, os a ba n d o n os e a s
" m i g ra ç õ e s " e n tre o s d i fe r e ntes c i c l os, te n d o e m c o n ta q ue a s reprovações e os
abandonos estão ligados a fenómenos patológicos e a causas exógenas relacionadas
com o sistema escolar. ou endógenas em ligação com as aptidões individuais.
Por o utro lado a " d e m ografia esco l a r " não deixará igua l m e nte de se i n teressa r pelo
con heci m ento das ca ra cterísticas do corpo docente. relativas a o n ú mero e estrutura por
sexo e idades, às q u a l i fi cações profissionais, à sua origem social e geográ fi ca bem como
à sua d istri b u i çã o espacial e p o r níveis d e ensino, por fo rma a auxiliar a entender as
condições rea is d e d e m ocratização da e d u cação e n esse sentido aj u d a r as tomadas d e
d ec isão relativas ao p l a n e a m e nto e à política educativa.
N este s e n t i d o o ca m p o d e estu d o d a " d e m ogra fia esco l a r " u l trapassa o m e ro
co n h eci m e nto da estrutura e d os movi mentos da população para se i n teressa r pelas
con d i ções associadas a o desenvolvi m ento eco n ó m i co, às reformas sociais e à i n ovação
tecnol ógia das sociedades pós- i n d ustriais. identi fi cadas por uma hierarquia de sistemas
de naturezas diferentes (To u ra i ne; 1 9 8 2 ; 1 0 3 ) e e l evad o grau de d i ferenciação.
1 32
SOBRE A DEMOGRAFIA ESCOlAR
da sua estrutura, da sua evolução e dos seus caracteres gerais encarados principalmente
de um ponto de vis ta q ua n titativo (G i ra rd ; 1 9 8 2 ; 1 3 7) , p e n s a m o s d e i m ed i a to n o s
e fectivos escola res. N ote-se q u e o a u m e nto d estes efectivos regista do há mais de d o i s
séculos nos países i n d ustri a liza d os do ocide nte e u ropeu, só ta rd i a m e nte, no termo da
2" guerra m u n d i a l é que se torno u extensivo aos resta ntes países, principal mente aos
que a p a r t i r d e e n t ã o e x p e ri m e nta ra m os e fe i tos d i rectos d a c h a m a d a rev o l u çã o
i n d ustri a l . I n i c i a l m e nte a q u e l e a u m ento da p o p u lação esco l a r verificou-se a penas n o
ensi n o e l e m e ntar (séc u l os XVI I e XVIII) e a pa rtir do sécu l o XIX passou a regista r-se no
e n s i n o secu ndário (cf: Clerc; 1 9 74; 2 3 5) , produzi ndo os mes mos efeitos q u e mais ta rde , a
chamada " ex p l osão escol a r " , a ca b a ri a por origi nar nos d i fe re ntes sistemas educativos.
Pel o contrá rio o a u m e nto dos efectivos esco la res no ensino superior não se explica
tanto pelo cresci m ento tota l da população nem acompanha sistemática mente a evolução
dos seus movi m entos natura is. Resulta d o acrésci mo da populaçã o dos jovens q u e em
c a d a a n o e pa ra alé m da esco l a ridade o b rigatória, prossegu em os s eus estu dos n u m a
escola o u n u ma u n iversidade, sugesti onados ta ntas vezes pelas perspectivas de m o b i l i
d a d e profissional e social con feridas p e l a titularidade de u m di ploma de estudos su periores.
De rea l ça r q u e a crésci mo da população n este subsistema de ensino é uma conse
quência das gra ndes tra nsformações sociais, económicas e tecnológicas decorrentes do
processo d e revol u ç ã o i n d ustri a l , cujas consequências se tra d uzem h oj e e m dia por um
envelhecime n to dos h a bita ntes e redução d rástica da fecu ndidade, por u m crescimento
u rba n o acentuado e por u m a m a i o r igualdade de sexos e m o b i l i d a d e soci a l .
Este fen ó m e n o verifi ca-se d e igu a l modo nos países mais i n d ustri a lizadas e nos q u e
se e n contra m e m v i a s d e desenvo l v i m ento onde ocorrem o m e s m o tipo d e fe nóme nos.
salvo n o que respeita ao envelhecimento dos habita ntes u ma vez q u e os va l o res de
nata lidade persistem . n estes casos, a i nda basta nte e l evados. Ta l situação constitui u m
dos e ntraves a o dese nvolvi mento d a educação e m virtude dos i n vesti me ntos a rea liza r
não só n este sector mas igua l m e nte na e co n o m i a , na saúde, na assistê ncia soci a l , etc. ,
tanto mais n ecessá rios q u a nto m a i o r fô r o ritmo de cresci m ento da p o p u lação. Com
efeito e m b o ra n a s e co n o m i a s tra d i c i o n a i s a p o p u lação seja cons i d era d a uma força
p rod utiva por excelência, e seu crescimento con tínuo implica a realização constante de
investimentos demográficos sobre o rendimento nacional para garantir a manutenção
do n ível de vida an terior (G i ra rd , 1 96 8 , 24), estando calculado que um crescimento anual
da ordem de 1% custa, para manter o nível de vida anterior, 5% a 8% do rendimento
nacional e um crescimento an ual de 2% a 2,5% s upõe a imobilização de 12% a 22% do
rendimento nacional (G i ra rd; 1 968; 2 3).
Repare-se q u e a par d estas d i ficuldades. de natu reza eco n ó m i ca , a progressão nos
estu d o s d a p o p u l a ç ã o j o v e m é m u i ta s vezes c o n tra ri a d a p e l o p r ó p r i o sistema de
e n s i n o , em regra m a l a d a p ta d o a o n ú m e ro cresce n te d e a l u n o s e ta nta s vezes à s
necessidades d e desenvo l v i m e n to a ctuais. Por outro lado as perspectivas d e m o b i l idade
crescente e d e a cesso aos estudos su periores ou do exercício d e fu nções el evadas na
vida socia l n ão é i d ê ntica para as crianças dos d i ferentes m e i os. Daqui d ecorre que
e m b o ra a m e l h o r i a do n í v e l de i n s t r u ç ã o de u m a p o p u l a çã o s ej a v i ta l p a ra o
desenvolvi m e n to eco n ó m ico e soci a l de u m país. o seu cresci m ento rá pido não deixa
de constitu i r u m o bstá c u l o em v i rtude da n ecessidade dos i nvesti me ntos demográficos.
Reto m a n d o o caso português a d u ração da esco l a ridade o brigatória passou, depois
da p u b l i cação da Lei de Bases do Sistema Educativo - Lei n" 46/86 - para nove a n os.
período que veio a osci lar várias vezes desde o i níci o deste sécu lo. Recordamos a sua
1 33
JORGE CARVALHO ARROTEIA
FIGURA 2 - EVOLUÇÃO D O Nº D E A L U N O S
900000
800000
700000
600000
• 1 º Ciclo E . Bás.
300000
• E.Sec. ( 1 02, 1 1 º)
200000
1 00000
o
C\J C') "<T ,LI) w ,..._ CX) "' o
CX) CX) CX) CX) CX) CX) CX) CX) CX) "'
- - - - - - - - -
o C\J C') "<T LI) w ,..._ CX) "'
CX) CX) CX) CX) CX) CX) CX) CX) CX) CX)
"' "' "' "' "' "' "' "' "' "'
Fonte: M.E.
1 34
SOBRE A DEMOGRAFIA ESCOLAR
Q U A D R O I - E V O L U Ç Ã O D O N" D E A L U N O S M A T R I C U L A D O S
N A E D U CAÇÃO P R É - E S C O L A R E E N S I N O S BASICO E S E C U N D Á R I O
Fonte: M.E.
2" c. E n s . Bás. 274 1 2 27446 2 7024 2 7374 26565 27080 26843 27283 26960
3" C.E.B.+E.Sec. 29837 3 1 244 348 1 0 3784 1 39685 4228 6 46832 4903 1 509 1 9
Ens. Sup. 8006 9738 9582 78 1 2 9585 1 1 330 1 2 04 1 1 2 77 0 1 3 1 99
O u tro 1 978 2008 1 997 25 75 2345 1 76 1 1 374 1 377 1 380
Tota l 1 07932 -
1 1 3323 -
1 1 9573 -
1 273 50 -
1 33077
Fonte: M.E.; 1992
Co mo sa b e m os, ca bendo à d e mografia o estudo das popu lações h uma nas. dos seus
efectivos e c o m p o s i ç ã o segu n d o d i fe r e n tes c r i t é r i o s ( i d a d e , esta d o m a t r i m o n i a l ,
repartição e m fa m í l i a s , gra u d e i nstru ção, etc) , o co n h e c i m e nto dos fen ó m e n os q u e
i nfl uenciam esta com posição e a evol ução destas populações (nata l idade, morta l idade),
bem com o as relações recíprocas q u e se esta belecem e ntre o estado da população e a
sua evol ução (cf. Pressat; 1 9 79; 39), estes factos não se podem entender sem o conhe
ci m e nto do contexto soci a l onde a q u eles se desenrola m (cf. G rawitz; 1 9 8 1 ; pp. 2 6 7-269).
N estas circunstâ n cias a a p roxi mação da d e m ogra fia à sociologia é cada vez mais
evidente ten d o e m conta q u e enqua nto ciências, ta nto sob a forma teóri ca , como nas
suas a p l i ca ções nascera m d o e n c o n tro e n tre o desej o d e conh ecerem m e l h o r e d e
compreenderem os fe n ó m enos h u m a n os (G i rard; 1 9 8 2 ; 1 3 4). Ta l conh eci mento permite,
em m u itos casos, u ma i nterve n çã o d i recta , isto é , a possi b i l i d a d e d e agir s o b re a
soci e d a d e e d e a m u d a r (G i ra r d ; 1 9 8 2 ; 1 3 4) através d e u m p rocesso contí n u o d e
s o ci a l i za ç ã o , e n te n d e n d o - s e e s t a c o m o a d i n â m i ca d e tra n s m i s s ã o d e c u l t u ra , o
1 35
JORGE CARVALHO ARROTEIA
1 36
SOBRE A DEMOGRAFIA ESCOLAR
popu lação discente ... re lacionando-os com os resta ntes fenómenos, de natu reza socia l ,
q u e oco rre m n a sociedade (Arrotei a ; 1 99 1 .b; 1 80) como igua l mente a local ização dos
equipamentos educativos, as d e nsidades d e mográ ficas e as á reas d e recruta mento dos
a l u n o s . N e st a c i rc u n s tâ n c i a s a e l a b o ra ç ã o d a " ca rta e s co l a r " s u rge c o m o u m
i nstru m e nto i n d i s p e n s á v e l d o p l a n e a m e nto l o ca l e regi o n a l , capaz d e a u x i l i a r e m
m u i tas d a s tomadas d e decisão.
Q u a nto a o s o utros o bstá cu l os, a " a cessi b i l i d a d e económ i ca " e a " a cessi b i l i d a d e
cultu ra l " consti tuem-se c o m o factores condiciona ntes d esta frequência, sobretudo nos
níveis d e escolaridade pós-obrigató ria. Com e fe i to se a d e m ocratização d o e n s i n o é
prática mente conseguida a nível do ensino básico, o alarga mento da " esperança de vida
esco la r " pa ra a l é m do período de escolaridade o brigató ria anda intimamente l igada às
d i ficuldades sócio-económicas e ao nível de vida dos cidadãos. Isto porque os " custos " da
frequência escol a r devem ser ca lculados não só e m fu nção das d espesas correntes com
a educação mas a i nda toma ndo e m consideração os custos i n d i rectos que u m i n d ivíd uo
deveria a u ferir se tivesse opta d o p e l o exercíci o d e u ma actividade p rofissiona l .
Quanto à " acessi b i l i da d e soci a l e cultura l " ela a ca b a por se traduzir n u m fenómeno
de au to e l i m i nação da pa rte d e a lguns gru pos sociais por via das dista ncias sociais e
cultu rais q u e a fasta m os d i fe rentes grupos e classes sociais (cf: ca rron e Châu; 1 9 8 1 ).
Como a ss i n a l a o u tro a u tor (G ras, 1 9 7 4 , 2 8 3 ) , a s u b - e d u ca ç ã o d os p a i s nas classes
d e s favo reci d a s , c o l o ca - o s n u m a situação d i fíci l p e ra n te a o r i e ntaçã o d a s cri a n ça s ,
porq u e os i m pede d e a p e rceber todas as perspectivas q ue ofe rece c a d a nível esco l a r
d i ficulta ndo, por i s s o , a sua m o b i l idade soci a l .
Note-se q u e o d esej o d e m o b i l i dade social através da educação constitu i u m dos
factores da a ctu a l " procura socia l " da educação, é com u m a todos os grupos soci a i s
m a s m a n i fe s t a - s e p r i n c i p a l m e n t e e n t r e o s m e n o s fa v o r e c i d o s . S e n d o a s s i m a
" de mocratiza ção da e d u ca çã o " s u rge como u m fa ctor i m porta nte no resta beleci me nto
da igu a l d a d e d e o p o rtu n i d a d es, p r i n c i p a l m e n te e m sociedades estratificadas o n d e a
esco la fu nciona, fre q u e nte m e nte, como agente de re produção da estrutura das classes
(Gras; 1 9 74; 39).
N o que à situação p o rtugu esa diz res peito, a " d e m ocratização da e d u ca çã o " é
de fe n d i d a p e la Constitu i çã o da Re p ú b l i ca Portuguesa (a rtº n" 7 3) ca b e n d o ao Esta d o
ga rantir o acesso e o ê x i t o esco lar. N este sentido o m e s m o documento preconiza a i nda
q u e o ensino seja m o d i ficado d e modo a superar qualquer fu nção conserva dora d e
desigualdades eco n ó m i cas, soci a i s e cultu ra i s (a rtº nº 74).
Ta m be m a Lei n " 46/86 - Lei de Bases do Sistema Ed ucativo - defend e ca ber ao
Esta d o p ro m ov e r a d e m o cratiza çã o do e n s i n o , ga ra n ti n d o o d i re i to a uma j u sta e
efectiva igua l d a d e de oportu nidades no a cesso e sucesso escol a res (a rtº nº 2). Por outro
lado e n a estei ra do q u e a n teriormente referi mos acerca das assi metrias regi onais, ca be
ta m b é m a o n osso s i stema e d u cativo contri b u i r para a correcção das assi m etrias d e
desenvolvimento regio n a l e loca l , deve n d o i n cre m enta r em todas as regi ões do País a
igualdade no a cesso aos benefíci os da educação, da cultura e da ciência.
A a p reciação da Figura 3 , relativa à variação da popu lação escolar n o ensino secu n
dário, mostra-nos como a lguns dos va lores relativos à escola rização dos a l unos nas nossas
escolas d i ferem de regiã o pa ra regiã o, a co m p a n h a n d o outros contrastes regi ona is.
Como de mos i n icia l m ente a entender, o a p rofu n d a m e nto do sign i ficado de a lguns
va l o res re lacionados com a fre q uência e o a p roveita m e nto esco l a res deverá ser igua l
m e nte co m p l eta d o a través d o cá l c u l o d e a l g u n s i n d i ca d o res q u e p e r m i ta m a sua
137
JORGE CARVALHO ARROTEIA
F I G U RA 3 - E V O L U Ç Ã O DA P O P U LAÇÃO E S C O L A R
N O E N S I N O S E C U N D A R I O , POR NUTII
1 4 0.
1 20
• Norte
1 00
O Centro
80
• Lx.Vale Tejo
60
• Alentejo
40
lãl Algarve
20
o
,.._ CX) CTl o ,... N
CX) CX) CX) CTl CTl CTl
Fonte: M.E.
De acordo com esta defi n i çã o ga n h a m particu l a r relevâ ncia as segu i ntes: qua nto à
" escola riza ção " , as taxas bruta , gera l e específica de escola rização.
Um segu n d o gru p o d e i n d i ca d o res diz res pe ito à s taxas d e " a p roveita m e nto " .
Destas desta ca m os as ta xas d e a p rovação e d e re provaçã o, as taxas de repetência e de
passage m , a taxa d e rete nçã o , etc.
N o q u e respeita aos " a ba n d o n os " sa l i e nta mos as taxas de abandono d os a p rovados
e dos rep rova dos e a taxa d e desistê n cia.
Por fi m resta consi d e ra r o u tros i n d i ca d o res ou í n d i ces relativos, por exe m p l o , ao
a p roveita m e nto escol a r e às e ntradas e saídas do sistema.
Não sendo tratados de fo rma exaustiva, os i n d i cadores a nteri ores permitem-nos, se
devida mente ca lculados, co n h ecer a lguns dos aspectos da demografia i nterna do sistema
educativo, sendo certo que ta l conheci mento será a m p l iado se aos elementos em a p reço
associa rmos o utros dados ta is como os rá cios e os quocientes que m e l h o r nos permi
ta m a profu n d a r o diagn óstico d este sistema. Da mesma forma será da maior uti l idade
1 38
SOBRE A DEMOGRAFIA ESCOLAR
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JORGE CARVALHO ARROTEIA
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b) Unidade e diversidade da demografia portuguesa no final do século XX - Lisboa;
F u n d a çã o Ca louste G u l be n k i a n
PRESSAT, Roland
1 9 7 9 - Dictionaire de démographie - Paris; P.U.F.
TOURAINE, A lain
1 98 2 - Pela sociologia - Lisboa; P u b l i ca ções Dom Q u i xote
WORSELEY, Peter
1 9 7 7 - In trodução à sociologia - Lisboa; Publica ções Dom Q u i xote
1 40
FAMÍLIA E E DUCAÇÃO FAMILIAR
EM PE R SPE CT I VA
Marinha Fernandes Carneiro
Escola Superior de Enfermagem c. Porto
1. A P E R S PECTIVA S E M Â N T I CA E H I ST Ó R I CA
É vu lga r dizer-se q u e o homem vive no i nterior de círcu los, em relação aos quais
defi n e os seus próprios horizontes. E o círcu l o primordia l , é sem dúvida, o da fa mília.
Mas q u a l q u e r refl e x ã o s o b re a fa m í l i a o u os s e u s papéis i m p l i ca d e s d e l ogo u m a
reflexão s o b re o próprio c o n ce i to d o te rmo " fa m í l i a " , circu n d a n d o e m torno d o s e u
ca m p o semâ ntico.
U m a s i m p l e s b u s ca n u m d i c i o n á r i o v u lga r nos c o l oca d e s d e l ogo p e ra n te a
com p lexidade do " o bjecto" em causa:
Família, s.f, conjunto de todas as pessoas que vivem em com um sob o mesmo tecto;
pessoas do mesmo sangue; linhagem, descendência, raça, estirpe 1.
- família estirpe ou "famille souche", segu n d o o autor genera l izada nas soci edades
ca m p o n esas e u ro p e i a s , c o m um e l e m e nto patria rca l está ve l , m a s q u e , e m gera l ,
l i m i tava a co-resid ê n cia e a sua sucessão a u m fi l h o d o patria rca e seus d escen d entes,
e m b o ra o u t ros fi l h o s s o l te i ros p u d essem fi ca r no l a r pate r n o , o q u e dava gru pos
relativa m ente a l a rgados;
141
MARINHA FERNANDES CARNEIRO
será na tentativa de superação desta tipologia q ue Peter Lasl ett e Richard Wa l l , nos
fi nais dos a n os 60, centrarão os seus estudos sobre os grupos resi denciais ao longo da
h istória. Procu ra ra m d e m o nstra r que a fa mília conj uga l s i m p l es era já uma rea lidade
h istórica com séculos, p red o m i n a nte nos meios rura is da Europa Ocidenta l , não te ndo
s i d o o fe n ó m e n o d a i n d u stri a l ização a p rovoca r o efeito da conjuga l i d a d e , p o i s a s
percentage ns d e fogos a l a rgados seri a m sempre basta nte m i n o ritárias.
Mas a i nvestigação d e que a fa mília foi o bjecto, especia l mente a partir dos anos 70,
to r n a n do-a a lvo d e m ú lti p l o s e d i ferenciados focos d e ob s ervação, te rá produzi d o ,
segu n d o a l g u n s a u to res, u m a ce rta " e rosão d a s catego rias de descrição trad icionais" 3 .
Pa rti n d o d e u m a a n á l i se r u ra l n o M i n h o , o a n t ro p ó l ogo P i n a Ca b r a l a l u d e às três
designações mais frequentes n o domínio descritivo - casa, família e lar - mostra n d o ,
1 42
FAMÍLIA E EDUCAÇÃO FAMILIAR
Tendo por base esta atitude relativista , aceitemos q ue a fa mília é fruto de uma clara
construção soci a l . Mas é ao mesmo tempo u m dos luga res privi legiados da construção
s o ci a l d a rea l i d a d e em gera l , p o i s é " d e ntro das re lações fa m i l i a res, ta l como s ã o
socia l m e nte d e fi n i d a s e regu l a m e n ta d a s , q u e os próprios aco nteci m e ntos d a v i d a
i n d i v i d u a l q u e mais parecem pertencer à natu reza , rece bem o seu significado e através
d este s ã o e n t r e g u e s à e x p e r i ê n c i a i n d i v i d u a l : o n a s c e r e o m o rr e r , o c r e s c e r , o
envelhecer, a sexualidade, a procriação" 6 Neste aspecto, enqua nto i nstâ ncia produtora
de sentido, a fa m í l i a , se por u m lado pode ser e n ca rada n u m a perspectiva a lgo estática ,
m a rcada pelos m e ca n is m os d e reprodução social q u e l h e assegu ra m a manutenção das
suas ca racte rísticas básicas a o lo ngo das gerações, deve a i nda ser enca rada co m o um
p ro ce s s o , co m o u m a rea l i d a d e em m u d a n ç a , em q u e a s u cessão d o s i n d i v í d u o s
ta m b é m i m p l ica a lterações d e co mporta m e ntos e d e papéis. Basta rá lem b ra r que, n a
a ce p ç ã o d e fa m í l i a c o nj uga l o u restrita , c a d a m e m b ro d e u m n ovo casal p e rte nce
sem p re a duas fa mílias: "aquela e m q u e nasce u , a fa mília de orientação, e a q u e ele
criou pelo seu casa m ento, a fa mília de procriação" 7.
De q u a l q u e r fo rma , a p reva l ê n cia das teses da " n u clea rização" fa m i l i a r tem fe ito
co m que as ate n ções se centrem essencia l m e nte na fa mília nuclear ou conj uga l (casa l e
fi l h os), ignora n d o a d i m ensão do pa re ntesco , em especial no meio u rbano. Pa ra a lguns
a utores, isso d eve-se, e m gra n d e pa rte, à crise da fa mília, às tensões no i nteri or do casa l
e a o reco n h e c i m e nto de fra cassos nas u n i ões fu n d a d a s no a m o r mas ta m b é m na
desigu a l d a d e da troca entre homens e m u l h e res. O utro aspecto q ue terá contri buído
p a ra i sso terá s i d o a p reva l ê n ci a da "ideia d e u m a i n d e p e n d ê n ci a estrutu ra l e ntre
fa m í l i a n u cl e a r e p a re ntesco e m matéria d e s o b revivência eco n ó m i ca e d e carre i ra
p rofissional", a pesa r das i nteracções quotidianas com os pa rentes (encontros, favores,
aj uda fi n a n c e ira ocasional) s. Mas a i m portâ ncia do papel da red e de parentesco precisa
de ser reco n hecida, pois para lá do seu papel tra d i cional nas redes de entreajuda nas
m i g ra ç õ e s , o p a re n t e s c o a s s u m e c a d a v e z m a i s i m p o rtâ n c i a á m e d i d a q u e se
m u lt i p l i c a m os d i vórcios e a s fa mílias m o n o pa rentais, reco n h e c i m e n to não ta nto do
paren tesco nomeado, mas sim do electivo, i sto é, do selecci onado segu ndo redes de
afinidade (a l i n ha senti m e n ta l , d e q u e m se gosta), redes de solidariedade (a q u e les a
q u e m aj u d a m os) e redes de a uroprotecção (a q u e l es a q u e m ped i m os aj uda) 9 . Ta nto
mais que agora existe uma maior possi b i l idade d e conviver com os ascende ntes, graças
a o prolonga m e nto da espera n ça média d e vida, facto que redefi ne em muitas situa ções
o papel dos avós e o utros pa rentes, ga n h a n d o fu nções i m porta ntes de rectaguarda face
à p reca ridade dos vínculos conj uga is de hoje.
A p e r s p e ct i va p s i c o - s o c i a l
1 43
MARINHA FERNANDES CARNEIRO
refe rê n ci a na psicologi a , have n d o mesmo u ma tra d i ção neste ca mpo para enca rar, por
exe m p l o , a cri a n ça como u m a e ntidade isolada com potenci a l idades e comporta mentos
i n d e p e n d e ntes d o m e i o d e orige m , o u e ntã o pa ra preferir centra r a atenção na díade
m ã e - fi l h o (vej a - s e , por e x e m p l o , a posição d e René S p i tz) , q u a n d o m u ito na tría d e
(incl u i n d o o p a i ) . Os estu dos d e etologia tivera m a q u i u m p a p e l fu ndamenta l , l eva nd o o s
psicól ogos a centra r a atenção na fa mília e n q u a n d o gru po sistém i co, à semelha n ça do
q u e acontecia com a lgumas espécies a n i mais, n o sentido de detecta r u m ca mpo mais
vasto d e i nteracções e sua i n fluência, reconhecendo-se que o estudo do desenvolvimento
h u m a n o i m p l i ca o reco n h e c i m e nto d e n íveis sucessivos d e complexidade socia l 1 1 .
Mas o reco n hecime nto da fa mília como sistema ao q u a l se l iga uma pa rte i m porta n
tíssima do desenvolvi m ento da criança ( a s u a o ntogénese) implica que se esteja ta mbém
atento a o ca rá cter h o m e ostático desse siste m a, isto é, à sua ada ptação e m u d a n ça ,
pa rticu larmente a que ocorre c o m a evolução do ciclo de vida, ou seja, n ã o n o s limita rmos
ao co n h e ci m e nto das suas estruturas e fu n ções mas ta mbém à sua d i n â m i ca i nterna
(ate n d e n d o aos m o m e ntos d e e x p a n s ã o , c o ntra cção e disso l u ção) 1 2 . A a b o rdagem
psicol ógica da escola d o " l i fe-spa n " já e n ca ro u s e m p re o desenvo l v i m e nto h u m a n o
co m o u m " d e s e n vo l v i m e nto contextu a i " e m q u e o desenvolvi m e nto, o s entid o e o
co m p o rta m e n to d e p e n d e m de u m a d i n â m ica de i ntera cçã o e ntre os i n diví d u os e os
seus contextos a longo p razo, estudando nesta perspectiva o papel das "constelações
fa m i l i a res", isto é , a s relações e n d ossisté m i cas n o gru po fa m i l iar, dando i m p o rtâ ncia
ta nto a o desenvolvi m e n to dos a d u ltos como a o das cria n ças ou a d o l escentes, n u m
siste ma de efeitos recí p rocos, e n ã o a penas à tradicional relação determina nte do a d u lto
sobre a crian ça 1 3. A noção evolutiva de estádio está aqui ultrapassada: o desenvolvimento
h u m a n o (incl u i n d o os aspectos físico, psicol ógico e social) é um desenvolvi mento pa ra
toda a vida e o estado adulto não significa mais u ma fase estática e, embora se a bordem
noções com o desenvolvi m ento e mudança, estas são perspectivadas no sentido da conti
nuidade. Assim, ao longo da vida fa miliar, os pais (e outros parentes co-residentes) influen
ciam os fi l h os nas d iversas fases (infâ n cia, cri a n ça , adolescê ncia, jovem a d u lto, a d u lto
maduro}, deles recebendo ta mbém i n fluências, todos influenciando todos, num processo
d e reci p roci dade perma n ente, que pode tomar d i recções expa nsivas, isto é, a l a rga r-se e
a b r i r-se às i n fl u ê ncias do exte rior da fa mília o u , pelo contrá rio, provoca r um efeito d e
i nsula riza ção e isolame nto, leva n d o os m e m b ros do gru po a a l h earem-se d o exte rior 1 4.
A conceptu a l ização da fa mília com o gru po socia l i ntel egível a partir da teoria gera l
d o s s i s t e m a s está h oj e ge n e ra l i za d a . A fa m í l i a passa a s s i m a s e r v i sta c o m o u m
"conj u nto d e e l e m e ntos q u e estã o e m consta nte i nte ra cçã o e ntre s i e q ue te ndem a
manter-se em e q u i líbrio (tendê ncia hom eostática)". Na l i n h a dos modelos cibern éticas,
a fa mília é um sistema a b e rto, pa ra o exte rior e pa ra o i nterior " regi do por regras, nas
quais o co m p o rta m e n to dos seus m e m b ros está s ubmetido a o pri ncípio da retroacção
positiva e negativa", pela troca d e i n formação que se esta b e l ecer, evo l u i n d o de forma
a u to regu lada p a ra a fi nalidade de ga rantir a sobrevivência dos seus m e m b ros e servi r
as suas n ecessidades i n d ividuais. Como nos recorda Ruiz de M u n a i n , os eleme ntos orga
nizadores da fa mília são tanto os biológicos como os sócio-cultu rais: o início da escolaridade,
as d i fe r en tes eta pas da a d o l escê n c i a , o matri m ó n i o , a m u d a n ça d e papéis, o p l a n o
p rofissi o n a l , etc., c o m o nasci m e nto e a m o rte a serem o s m a i s i n cisivos. A fa mília vive,
ass i m , numa osci lação periódica e ntre esta dos de equi líbrio e períodos de crise, e m que
certas regras são q u e b radas p a ra d a r l uga r a outras q u e m e l h o r se a d a pta m à nova
rea l i d a d e ("feed-back" positivo), m e l hora n d o a fu ncionalidade fa m i l i a r, ou p rovoca nd o a
1 44
FAMÍLIA E EDUCAÇÃO FAMILIAR
Ass i m , a v i s ã o s i s té m i ca da fa m í l i a p re c i sa d e s e r i n tegra d a e m a b o rd a g e n s
sucessiva m e n te mais a m plas. Se a fa mília p o d e s e r conce ptua l izada c o m o sistema o n d e
se v e r i fi ca a i n te racção d e v á r i o s s u bsi ste mas, n ã o p o d e m o s e s q u e c e r q u e e l a se
i n tegra n o contexto soci a l mais a m plo, surgi ndo ela própria como su bsiste ma. Como diz
La rs Dencik n u ma expressiva i mage m , ta l como para pa ra a p reendermos a fo rma co m o
os peixes n a d a m contra a co rre nte não podemos l i m i ta rmo-nos a a n a l isar u m exe m p l a r
s o b re a p ra i a o u s o b re o l a b o ratório mas te m os d e o observa r em p l e n o tu rb i l h ã o,
ta m b é m o desenvolvi m e nto da cri a n ça não pode ser reduzido a ela própria ou i nserta
n o s e i o fa m i l i a r , d e v e n d o n ó s e n c a ra r a p e r s p e c t i v a g l o b a l o u h o l í s t i ca d o
desenvo l v im e n to social e m gera l . D e resto, o i n te resse recente e cresce nte sobre as
con d i ções d e cresci mento da cria nça tem a ver com esta nova atitu de científi ca que
u ltra passou as fata l i dades d o d esti no como elemento de expl icação para se deter no
papel decisivo do contexto, o q u e l e v a a responsa b i l iza r a geração ascend ente pelo ti po
de i n d ivíd uos criados, faze n d o emergi r a preocu pação com o "vivido" das cri a nças d e
forma a produzire m -se i n d ivíduos e q u i l i b rados. Daqui decorre a i m po rtâ ncia concedida
à evo l u çã o d o c o n texto fa m i l i a r e soci a l , n o m e a d a m e nte a b a i x a d e n a ta l i d a d e , o
divórcio, o fa cto de haver menos cria n ças e de os respectivos pais serem mais velhos, o
facto de as cri a n ças serem, em gera l , desejadas e pla neadas, o recon hecimento dos
d i reitos da criança, a crescente i n d iv i d u a l iza ção da criança e o a paga r da "família" com a
su bstitu i çã o d este termo pelo de "casa l " , e n q ua nto ta nto as cri a n ças co mo os pais se
começam a e nca ra r como i n d ivíduos i ndepend e ntes, cada u m tend o os seus d i reitos
lega i s especificados, co m o já a co ntece nas sociedades n ó rd i cas, q u e pode chega r à
i n te rvenção do Esta do a reti ra r a tutela das cria nças aos pais ou ob riga r estes a cumprir
determ i nadas m ed idas.
Mas o desenvolvimento da cria nça está hoje i nterdependente dos vários "sociótipos"
que freque n ta - a fa m í l i a , a creche -. to mando a q u i o termo socióti po, por a n a l ogia
com o b i óti po, como lugar onde se vive mas não confi nado a uma defi n i ção física, a ntes
a l a rgad o ao q u a d ro materi a l , à estrutura soci a l , à composição do gru po, etc. o fa cto de
os pais tra b a l harem frequente m e nte, de existirem creches para rece berem as cri a n ças,
con fere à soci edade moderna u m ca rá cte r assistencial q ue produz paradoxa l m e nte um
d u p l o efe i to d e i n tegração e de segrega ção e m relação à criança, pois se por u m lado
há u m esfo rço p a ra as cria r, co m o Estado a penetra r na fa mília através de p restações
pecu n i á rias e da ed ucação escol a r, por outro lado são a fasta das da rea l i dade p rática e
q u otid i a n a do tra b a l ho, sendo até ca da vez mais o bjectos de um u n iverso próprio, com
d e p a rta m e n tos es pe cíficos p a ra si, desde ca m pos d e j ogos e o bjectos d e cons u m o
10 1 45
MARINHA FERNANDES CARNEIRO
b) uma p rofissi o n a l ização cada vez mais a cresci da da "supervisão" das cria nças, com
pesso a l especi a l iza d o e re m u n e rado para d i rigir a sua educação, em que esta passa a
d e p e n d e r m a i s do pedadogo do q u e dos va l o res e sentido de vida da fa mília;
d) uma " patologização" dos traços i n d esejáveis, com o q ua dro dos traços normais a
restri ngi r-se ca da vez mais, com exemplos de cri a nças baru l h entas ou, pelo contrá rio,
de cri a n ças isoladas a serem o bjecto da observação de especia l i stas em tera pia, q ue
procura m logo o d isfu ncionamento da criança , numa situação em que o comporta mento
normal é defi n i d o ca da vez mais de forma b u rocrática 1 6.
A p e r s p e ctiva s o c i o - c u l t u r a l
o m o d e l o estrutu ro-fu ncional ista d e Ta l cott. Pa rsons sobre a fa mília na soci edade
i n d ustri a l , data d o dos a n os 5 0 e basea d o n o exe m p l o norte-a merica n o , exerceu uma
gra n d e i n fl u ê n cia sobre os estudos nesta á rea, a i n d a q ue, desde há a lgum te mpo, seja
1 46
FAMÍLIA E EDUCAÇÃO FAMiLIAR
Qua nto à estrutu ra , esta fa mília moderna seria nuclear ou conjuga l (pais e cria n ças),
com residência d e tipo neol oca l (ca da casa mento corresponde a o esta beleci me nto fora
de casa dos pais de a m bos os la dos), assente no casa mento e com va lores orientados
p a ra a raci o n a l i da d e , d i ferenci a n d o fo rte m e nte os pa péis d os sexos e das gerações,
147
MARINHA FERNANDES CARNEIRO
assegu ra n d o um pa re ntesco b i latera l , isto é, as cri a n ças não estão mais l iga das a os
parentes da m ã e dos q u e aos do pai. Te ría mos, ass i m , uma u n idade de residência e de
c o n s u m o , com c o m u n h ã o d o s r e n d i m e n t o s m o n etá r i o s . A s u b s i stê n c i a fa m i l i a r
d e p e n d e ri a , ess e n c ia l m e nte, d a acti v i d a d e d o ma r i d o, nã o esta n d o d e p e n d e nte das
fa mílias d e o rige m , respondendo às n ovas exigências da soci edade i n d ustri a l , pela sua
redução e fa ci l i d a d e d e desl ocação, ao mesmo te mpo q u e a i n d e pendência eco n ó m i ca
esta ria assegu ra da pela competência, assegu rada por ca pacidades a d q u i ridas e nã o d e
nasci m e nto, com possi b i l idades d e p ro moção no tra ba l h o , já q u e agora não seria regra
o n epotismo da promoçã o fa m i l i a r. Com a resi dência neoloca l , ga ra nte-se a i m pa rcia l i
dade fa ce a o s diversos fi l hos, não existi n d o m a i s regras no sentido d e priv i l egiar u m ou
outro com d ete rminadas propriedades na h e ra n ça , pelo q u e a pri m e i ra lealdade é i nter
conj uga l e não em relação aos pais: a escolha conj uga l é l ivre, pois a "família mode rna
assenta n o casa m e nto e n q u a nto que, no passado, o casa me nto assentava na fa mília,
esta p ré-existente e sobrevi n d o à q u e l e " 21.
A especial ização e ra a i nda s u bjacente à d i ferenciação dos papéis fa m i l i a res segu ndo
sexos e gerações. A d i fe re n ciação dos papéis segu ndo os sexos e ra , para Pa rsons, u ma
base i n d ispe nsáve l para a m a n utenção do sistema e da social ização da criança: "Ao p a i ,
com p ete o papel i nstru m e n ta l d e l igação com a sociedade, e , e m pri m e i ro luga r, prover
de bens materi a i s a fa m í l i a , enqua nto q u e à m u l h e r ca b e o papel expressivo no i nterior
da fa m í l i a ". Daqui se concl u i que, no modelo p a rso n i a n o , dese m p e n h a r uma profissã o
re m u n e rada e ra o papel primord i a l do marido, enqua nto o l a r e os cuidados da cri a n ça
seria m o o bjecto do papel fem i n i n o , pelo q u e a m u l h e r expri me melhor a vida a fectiva
da fa m í l i a , esta n d o mais próx i m a das cri a n ças do que o pai. Em torno desta estrutu ra
b i p o l a r dos papéis fa m i l i a res se desenvolvia a fo rmação da persona l i dade da criança,
com o ra paz a associa r-se a o p a i , to mando-o como modelo, e o mesmo para a ra pa riga
em r e l a ç ã o à m ã e . H a v e r i a a ss i m u m a n í t i d a d i sti n çã o e ntre a s ta refa s de /eader
instrumenta/, atri b u ídas ao pai e as ta refas expressivas confiadas à mãe n .
Este retrato soci ológico da fa mília, q u e consagra essencialmente as representações
da classe m é d i a a m e ricana do i m e d iato pós-gue rra , a p resenta uma te ndência para o
e q u i líbrio e harmonia q u e já não é com patível com as novas i magens da fa mília nos
te m pos mais rece ntes. São as a lterações n a q u i l o que e ra consi d e rado a base fu nda
m e nta l da fa mília - o casa m e n to , são as a lterações nos papéis do i nteri o r fa m i l ia r, são
a s m o d i fi ca ç õ e s n o s va l o re s , etc. Por i s s o , d i v e rsos a utores a va n ç a m c o m o u tras
ca racte rísti cas da fa m í l i a , como a a b e rtu ra a o i nterior e e xte rior, a sua ca p a c i d a d e
mo rfogé n i ca (a ptidão p a ra cri a r novas estruturas e se ada pta r), regu lação de condutas
baseadas n a prioridade sobre a com u n i cação e i n formação, etc. Andrée Michel recorda
neste c o n texto a i n vestiga ção e n tão rece n te e a l egiti mação das m e d i d as políticas
tomadas pela Suécia (e e ntreta nto por outros países) no que se refere à a b ol ição do
modelo dos papéis mascu l i nos e fe m i n i nos tra d i cionais, no sentido de se conci l i a r o
d i reito à matern i d a d e com o d i reito da m u l h e r ao e m p rego, o q u e i m p l i ca a redefi n i ção
dos papéis, n o m e a d a m e nte a ocupação do marido com as cri a n ças e a fa míli a , b e m
co m o a criação d e estrutu ras sociais para e s s e fi m 23 Por outro lado, não fa lta m auto res
a nega r que te n h a d esa parecido a fu nção prod utiva da fa mília, pois, se não se produz
p a ra o m e rca d o , h á se m p re u ma p rod u çã o e n o r m e d e s e rv i ços d o m ésticos, ocu lta
q uase sem pre, porque não e ntra n o sistema de troca monetá ria e que, deste modo,
p e n a l iza gera l m e nte a m u l h e r. De igual modo se recon hece q u e outros postu lados de
Pa rsons estã o l o nge da con cretiza ção plena, sej a , por exe m p l o , o primado da compe-
1 48
FAMÍLIA E EDUCAÇÃO FAMILIAR
tê ncia na carre i ra profiss i o n a l , ta ntas vezes envolto em redes de patroci nato, de base
fa m i l i a r o u c lie n te l a r.
Para auto res como Louis Roussel , a fa mília apresenta-se com um futuro i n certo, face a
i n d i ca d o res q u e evidenciam os aspectos em q u e a decisão dos i n d ivíduos é i m porta nte:
a e ntra da e m força das m u l h e res n o mercado de tra b a l h o, a baixa d rástica da nata l i
d a d e , o d i vórcio, o nasci m ento fora do casa mento, o a u mento acentuado da i d a d e ao
casa m e n to , o a u m e nto m u ito e l evad o da proporçã o de celi batá rios, as u n i ões d e fa cto.
Pa ra Roussel d eu-se uma m o d i fi cação centra l : "as relações fa m i l i a res, e em especial as
conj uga is, deixara m d e ser defi n i das pelas i n stitu i ções para passa re m a ser regu ladas
por pactos. Quem d i z i nstitu i ção diz norma p ú b l i ca q ue se i m põe aos i n d ivíduos. Quem
diz pacto, d esigna u m acordo e ntre parti cu l a res." Pa ra e l e , i nstituição signifi ca norma
n ã o apenas i m posta d o exterior mas i nteriorizada natura l mente, enqua nto o pacto se
baseia e m pa rti c u l a rismos, e m b o ra i nscrito num m o d e l o soci a l d e e q u i d a d e . N esta
medida se diz q u e a fa mília se desi nstitucio n a l iza , passa a ser considerada um domínio
reservad o q u e só com pete às pa rtes determinar. "Hoje em dia, cada casa l deve i nventa r e
rei nventa r conti n u a m e nte a sua própria fó rm u la de solidariedade e os critérios comuns
d e escol h a . Na n ossa vida fa m i l i a r, não q u e remos mais ser governados por leis, mesmo
se estas se torna m . n este domínio, cada vez mais di scretas". Transformação esta que
acom p a n h a u m fe n ó m e n o mais gera l d e modifi ca ção das atitudes fa ce às i nstitu i ções
e m gera l e seus constra ngi m entos, e que radicará no abandono das gra ndes na rrativas
que l igavam a fe l i ci d a d e i n d i v i d u a l ao bem-esta r co lectivo, e o respeito i ndividual pela
l e i ao b e m g e ra l , p e l o d e s m o r o n a m e nto das ce rtezas q u e a ntes a s s ust e n tava m .
passa ndo-se a viver n u m m u n d o desencantado. Nesta medi da , a vida e m fa mília, sem
pontos d e referê ncia, terá de ser ge rida " à vista ". o sentido da i nércia é para que o
casa mento perca cada vez mais o "seu sign i ficado e a sua fu nção de fronte i ra": n e m as
relações sexuais, n e m a vida em co m u m , n e m a fecu ndidade o exigem como requ isito
i nstituci o n a l . A sua b a n a l ização e o seu ca rá cter reve rsível até o podem fazer d ispa ra r
e m termos q u a n titativos, m a s c o m outro significado ( a raci ona l i da de económica?). Mas
já n o ca m p o da fecu n d i d a d e , se u m fi l h o pode ser compatível com a nova situação, o
segu n d o já o será d i fi c i l m e nte e o te rce i ro i m p l i ca ri a u m a reorga n ização com p l eta da
fa m í lia , n o seu modo d e vida, na activi dade profissional d e pelo menos u m dos pais e na
economia afectiva , passa ndo o centro de gravidade do casal pa ra os fi lhos 24 .
A fa m í l i a c o m o i n stâ n c i a e d u cativa
A s pági nas a nte riores tê m v i n d o a pôr e m re levo os principais traços da fa mília, com
a fu nção e d u cativa n o centro da sua fu nciona l idade, enqua nto eleme nto de soci a l ização
a o n de se esta belecem os p ri m e i ros conta ctos do i n d ivíd uo, as fo rmas mais el eme ntares
de com u n i cação, n u m m o d e l o i nteractivo e m que se vai i nterioriza n d o a "especi a l ização
dos p a p é i s e atitudes. a re l a ção d e l uga r, d e n o rmas re l a c i o n a i s e um conj u nto de
representações e d e va lores que orie ntam as con d u tas" 25 Por outro lado, fo mos obser
va ndo como a m utação estrutura l da fa mília a rrastou a a lteração da sua fu nção educativa ,
pouco a pouco esvaziada em certo sentido, p e l a a bsorção da criança por outras agências
d e s o c i a l iza çã o , e m b o ra a fa m í l i a conti n u e a ser o n ú c l e o centra l na fo rmação do
desenvo l v i m e nto pessoa l e h u m a n o . Basta rá i nvocar a m o b i l i d a d e cultu ra l e soci a l e a
1 49
MARINHA FERNANDES CARNEIRO
sua expressão aos diversos níveis pa ra verifi ca r que a criança pode com pa ra r e aprender
as divergências e ntre o que se passa e m casa , o que vive na escola, o que vê em casa dos
a migos ou na televisão, e, deste modo, faci l mente a preender o papel menos determinante
da fa mília na e d u cação.
Volta n d o a u m auto r como La rs Dencik, podemos i n terroga rmo-nos com ele sobre
as competências q u e , e n q u a nto i nstituição fa m i l iar, devemos d esenvolver nas cri a n ças,
e m face do desenvolvi mento da sociedade. Segu ndo este a utor, são seis as competências
pessoai s que, n o m í n i m o , o m u n d o de hoj e exige à cri a nça para a sua i n tegração social:
- se r soci a l m ente fl exível ;
- reflecti r n a sua relação com os outros;
- i n tegra r experiências d i fe rentes n u m conj u nto coere nte e compreensíve l ;
- c o m u n ica r e e n u nciar desejos e o p i n iões com eficácia;
- possu i r a u to-contro l e da sua a fectividade e a regu laçã o dos seus i m pulsos;
- to m a r i n i ciativas e desenvolver a confi a n ça e m si mesmo 26 .
M a s q u e m é todos se p o d e m d i scern i r p o r pa rte d os p a i s p a ra tra n s m i ti re m e
fazerem i nterio riza r estes e outros va l o res, regras e fo rmas de conduta às cri a nças ?
L i m ita ndo-nos aos problemas da actua lidade, Ke l lerhals e Monta n d o n , n u m tra b a l h o
m u i to i nteressa nte 2 7 , a ponta m a d i versidade de técn i cas d e i nfl uênci a uti l iza das pelos
pais n este domínio e a p resenta m a segu i nte tipologia:
- o con trole, visa n d o obter a conformidade pela via das ob riga ções ou i nterd ições,
n u m a l i n ha uti l i ta ri sta , i m po n d o o b rigações s u p l e m e ntares, i n te rd i çã o d e saídas ou
mesmo sa n ções físi cas.
- a relação, p rocu ra a conform idade pela m a n i p u lação do con texto relaci o n a l , com
base n o pressuposto de que as condutas da criança são uma resposta ao meio envolvente,
pelo que se lhe a p resenta m n ovos a m igos, altera m-se- l h e os professores pa rti culares,
d e d i ca-se-l h e mais atenção e ca ri nho.
Estes vectores a p resentava m uma util ização d i fere ncia l , isto é, a estratificação social
com base nos i n q u i ri d os permitiu veri fi ca r, por exe m p l o , que os i n d ivíduos dos m e i os
populares util izava m com mais frequência as técn i cas de "controle" e colocava m as d e
" m otivação " e m ú l t i m o l uga r, segu i d os d e pe rto pelos quadros méd ios. Já nos quadros
superi o res o "contro l e " e a "relação" ocupavam idê ntica perce ntagem nas preferências,
e n q u a nto nos u n i versitá rios e nas p rofissões l i b e rais as de "relação" e ra m d e longe as
mais frequentes, m ostra n d o a i nfl uência do meio soci a l na atitude educativa da fa mília.
Tendo e m conta o nível d e i nstrução da mãe, sobressa i ta mbém a d i ferente util ização
das t é c n i ca s de i n fl u ê n c i a , com a s q u e possu í a m o e n s i n o e l e m e n ta r a o p ta r e m
clara m e n te p e l o "controle", enqua nto as de cultura u n i ve rsitá ria util izava m a "relação"
p refere n cia l m e nte e dava m maior i m po rtâ ncia à " m otivaçã o " . De igual se verifi cava
u ma corre lação das técn i cas d e "controle" com as fa mílias fechadas (Bastião) , enqua nto
as fa mílias a b e rtas (Associação) se i n cli nava m para formas d e "relação".
1 50
FAMÍLIA E EDUCAÇÃO FAMILIAR
joga n d o com os vectores referidos, os a utores citados a ponta m quatro esti los d e
i nfl uência dos pais e m relação aos fi l h os:
- o estilo carismático, o n d e o controle e a relação são frequenteme nte uti l izados
( 1 8o/o dos casos);
- o estilo disciplinar, onde só o controlo é freque nte m ente util izado (38o/o);
- o estilo relacional, o n d e a relação é frequentemente m a n i pulada (23o/o);
- o estilo anómico, onde n e n h u m dos vecto res é em pregue siste mática m e nte (2 1 o/o).
Estes esti l os d istri b u e m -se u m pouco p o r todos os m e i os socia is, conj u ga ndo-se,
esta belecendo-se co rre la ções com as configurações já a pontadas (nível soci a l , coesão).
o exercício da a utoridade paterna ta mbém se a p resenta sob três fo rmas, de utilização
d i ferencial segu n d o os gru pos a n teriorme nte citados:
- a coercitiva, com os pais a acentua r a sua força sobre a cria nça, considerada como um
ser que não conhece os seus l i mites e que precisa de conta r com pais fortes e respeitáveis;
E se descermos aos papéis educativos da fa mília? Quais são, de que forma se exercem ?
sendo e m bo ra d i fícil ca ra cte riza r a estrutu ra dos papéis e d ucativos fa m i l i a res, se conti
n u a rmos a segu i r Kellerhals e Monta n d o m , podemos dizer q u e a i nfl uência e d ucativa
dos pais em relação aos fil hos se real iza, tanto de forma expressiva como i nstrumental, pela:
Estes papéis são a p l i cados d e fo rma d i ferencial pelos pais, quer na perspectiva da
d ivisão d o tra b a l h o fa m i l i a r, quer nas p e rspectivas do estatuto social e da coesão do
gru po fa m i l i a r. Por exemplo, n o que respeita á " regu lação", verifi ca-se que a man utenção
(vigia r o vesti r e a higiene, controlar os deveres escola res, i r ao médico), a normatividade
(co m e n ta r os co m p o rta m e ntos, dar a u to rização, p u n i r, explica r pr i ncípios m o ra i s) e a
suste nta çã o e m oci o n a l (co nsola r, e n co raja r, va loriza r) são a ctividades em q u e mãe se
i m p l i ca duas vezes mais d o q u e o p a i , e n o caso das actividades de ma n utenção chega
a ati ngi r-se o "score" de quatro vezes mais. A pree m i n ência fem i n i na vamos e ncontrá-la
a i nda n o volume d e co m u n i cação com a criança, sobretud o no q u e toca aos pro b l e mas
afectivos. A i m p l i cação do pai nos três domínios acima considerados é sem pre mais fraca
q u e a da mãe e basta nte d i fe re n ciada segu n d o o tipo de coesão fa m i l i a r. Por outro lado,
a d i ferenciaçã o acentua-se, por exe m p l o , com o abaixamento do nível d e i nstru ção.
E s e é v e r d a d e que e x i ste uma h i stória uma evo l u çã o h istó r i ca dos m o d os de
e d u cação fa m i l i a r, ta l como o d e m o ntra m P. Ariés ou M. Fouca u lt, ma rcada por uma
passage m d e fo rmas d e contro l e p a ra fo rmas d e sedução, p o d e m o s d i zer, com os
a u to res que v i m os segu i n d o 2 s , que a e d u cação a m i n istra r ás cri a n ças experi menta
151
MARINHA FERNANDES CARNEIRO
Conclusão
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MARINHA FERNANDES CARNEIRO
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1 54
A DIS T RIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO
E AS ALT E RAÇÕE S NA OR G A NIZAÇÃO
DO T E R R IT ÓR IO DO G RANDE PORT O
1 . Evo l u çã o d a d i stri b u i çã o d a p o p u l a çã o
1 55
JOSÉ ALBERTO V. RIO FERNANDES
F I G U R A 1 - EV O L U Ç Ã O DA D I S TR I B U I ÇÃ O DA P O P U LAÇÃO
N O CONCELHO D O PO RTO (%)
/.
60
50
40 • freg.centrais
D freg. pericentrais
30
• freg. periféricas
20 • Foz
10
o I •· l I l l o o
I • I.
o o o
l o
l l l
N M v U") <.D ..... CXl
cn cn cn cn cn cn cn
F I G U R A 2 - E V O L U Ç Ã O D A D I S TR I B U I Ç Ã O DA P O P U LAÇÃO
N O G RA N D E PORTO (%)
;/.
60
50
• Porto
40
0 V.N. Gaia
• Matosinhos
30"
• Maia
lilllJ Gondomar
20
D Valongo
10
1 56
DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO E ALTERAÇÕES NA ORGANIZAÇÃO DO TERRITÓRIO DO GRANDE PORTO
2. O p r o c e s s o de p e r i fe r iz a ç ã o
ao
• PORTO
70
60 D V.N. GAIA
50 • MATOSINHOS
40 • MAIA
30 I]! GONDOMAR
20
0 VALONGO
10
o
o V'l < < c:: o
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VI
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::;:
1 57
JOSÉ ALBERTO V. RIO FERNANDES
Assi m , pri m e i ra m e nte, terá su rpreendido a diferenciação dos ritmos urbanísticos entre
a á rea centra l e a periferia , com a decadência (ou su bstitu i çã o) do parque habitacional
daquela e a acelarada m u l t i p l i cação dos i m óveis d e a pa rta me ntos cada vez mais volu
mosos e a rquitecto n i ca m ente monótonos, numa periferia cada vez mais densa e extensa.
Em segu ida (os tempos são tomados a q u i na gen e ra lidade e recon hecendo natura l
m e n te q u e e m ca da u m dos períodos existi ra m sobre posi ções) dá-se a perife rização d a
i n d ústria ( n a s u a v e rte n d e fa b ri l , fu n d a m e nta l m e nte), p o i s q u e a c i d a d e d i fi cu lta a
expa n sã o ou reestru ração da fá brica, ao mesmo tempo que o d i ferencial dos preços do
solo a ctua como fo rte atractivo pa ra u m a re loca l ização i n d ustri a l exte rior à m a n cha
construída mais densa.
E se numa p ri m e i ra fase, o i n tenso ritmo de u rban ização enriquece os m u n i cípios e
a u m e nta a p e rti n ê n ci a da rec l a m a ç ã o p o r u ma m a i o r l iga ção com a cidad e-centro,
numa segu nda fase, com m e l h ores relações rodo-ferroviá rias, a pe riferia passa não só a
atra i r a ocupação residencial e a i n d ustri a l , como mesmo, ta rd i a mente e m bo ra , activi
dades terciá rias em n ú m ero e nível signifi cativo, como as d o comércio reta l h ista em
esta beleci m e nto d e gra ndes d i m e nsões.
3. C o e s ã o e " n o v o c e n t ri s m o "
1 58
DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO E ALTERAÇÕES NA ORGANIZAÇÃO DO TERRITÓRIO DO GRANDE PORTO
das periferias o q u a l passa, design a d a mente, pela ate nução do papel sócio-económ i co
do centro - entendido a q u i como o centro tradicional, como a "Baixa" - e da cada vez
maior i m p o rtâ ncia dos parques reta l h istas peri féricos, compostos d e h i permerca dos e
m é d i a s e gra n d e s s u p e rfíci e s especia l i za d a s , ga l e ria s co m e rcias e gra nd es cen tros
comerciais.
Este reforço d e p rotago nismo perifé ri co não pode ser con fu n d i d o , a penas, com um
p ro cesso de d e s co n ce n t ra ç ã o , a través do q u a l a p e r i fe ri a r ece b e u a q u i l o q u e o
conce l h o do Porto n ã o q u i z ou não pode fisica m e nte a l berga r: as pessoas e as fá b ri cas,
o porto, o a e roporto, o termi n a l TlR, a Exponor, os h i permercados, o zoológico, o Pa rq u e
Biológico, etc. Pa ra l á d e receptáculos, é necessá rio recon hecer o papel dese m pe n hado
pelas a l terações das a cess i b i l i dades e pelo p rotagonismo d e cada u m dos m u n i cípi os,
design a d a m e nte, n a m a i o r visi b i l i da d e e n o a u m e nto d o poder d e atra cção d e novas e
renovadas c i d a d es. D a i q u e esteja ta nto e m j ogo s e m p re q u e u m a a u ta rq u i a toma
posições p o l é m i ca s porque a fecta m outras, ass i m como seja tão claro como todos vêm
a rede fu n d a m e nta l d e estradas, a renovação da linha férrea e a criação d e u m metro
l igei ro , co m o m e ca n i s m os que poderã o a ltera r d ecisiva m e nte os perma n e nte m e n te
i n stáveis dese q u i líbrios existentes.
1 59
JOSÉ ALBERTO V. RIO FERNANDES
F I G U R A 4 - G RA N D ES E Q U I P A M E NTOS C O M E R C I A I S
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\ . . .. . .
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N V. N. GAIA
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I
I
hipermercado
H - existente
lim ites concelhios
H - em construção
Vias da Rede Rodoviária Nacional
- - - construfdas centro comercial
. . . . . . em construção I a construir
(c/ >1 00 estabel . )
CC - existente
cc - em construção
nós
1 60
DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO E ALTERAÇÕES NA ORGANIZAÇÃO DO TERRITÓRIO DO GRANDE PORTO
11 161
JOSÉ ALBERTO V. RIO FERNANDES
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1 62
G E R AÇÕE S E E S PE RANÇA DE VIDA
- OS E FE IT OS DA SUA E VOLUÇÃO
EM ALGUNS DIST R IT OS DO CONT INE NT E
(E S TUDO EXPLORAT ÓR IO)
Maria da Graça David de Morais
Universidade de Évora
INTRODUÇÃO
1 63
MARIA DA GRAÇA DAVID DE MORAIS
Idades
R e g i õ es/
N o rte
Centro
L X . e V. Tejo
A l e n tej o
Algarve
1 64
GERAÇÕES E ESPERANÇA DE VIDA
Q U A D R O I I - TAXAS E S P E C Í F I CAS D E M O RT A L I D A D E , P O R I D A D E S , 1 9 5 0 / 5 1
( P E R M I LAGEM)
Idades
Regiões/
o 1 -4 5-9 1 0- 1 4 20-24 40-44 60-64 70+
/ D i strito
Norte
Braga 1 29,2 7 20,3 1 2 ,5 7 1,17 3, 1 7 6,58 23,40 1 09,3 2
Braga n ça 1 44, 1 1 26, 1 4 2, 0 1 1 ,63 2,33 4,5 1 2 1 ,97 1 07,73
Cen tro
c. Bra n co 8 7,62 1 0,44 1 ,72 1,14 2,66 4, 1 0 1 7,39 8 7,0 1
Coim bra 70,04 6,3 5 1 ,63 1'13 3,4 5 5 , 24 1 7,62 90,42
LX. e V. Tej o
Lisboa 84,7 3 8,59 2,02 1 ,49 4,02 7,27 24,43 88, 1 8
Santarém 69,88 5,94 1 ,3 1 1 ,08 2,36 3 ,65 1 5,5 1 88, 1 9
A l e n tejo
Évora 1 1 4,3 2 5,96 1 ,54 0,88 2,46 3,75 20,96 95,48
Porta l egre 1 05,60 5,3 7 1 ,30 1 ,03 2 ,3 8 3,62 1 9,35 9 1 ,73
A l ga rve
Faro 1 00,0 1 8, 73 2,05 1 ,5 2 3,8 1 4,46 1 6,52 93 ,75
Q U A D R O I I I - TAXAS E S P E C Í F I CAS D E M O RT A L I D A D E , P O R I D A D E S , 1 9 9 0 / 9 1
( P E R M ILAG E M )
Idades
Regiões/
Norte
Braga 1 2 ,50 0,8 7 0,4 7 0,43 1,10 2 ,44 1 4,00 80,56
Braga n ça 20,6 7 1 ,46 0, 7 1 0,78 0,20 3,00 1 2,3 3 75,54
c e n tro
c. Branco 8,89 0,66 O, 1
7 0, 2 1 1 ,63 3, 1 4 1 2,50 72, 1 0
Coim bra 8,83 0,49 0,34 0,5 1 1 ,30 2,5 1 1 1 , 78 77,63
Lx. e v. Tej o
Lisboa 1 0,26 0,62 0,39 0,3 5 1 ,22 2,34 1 3,05 76,98
Santarém 9, 78 0,7 1 0,5 5 0,3 2 1 ,48 2 ,63 1 1 ,32 74,56
A l e n tejo
É vora 1 0, 1 1 0,90 0,40 0,29 1 ,30 1 ,73 1 2 ,33 74,36
Porta legre 1 1 ,2 7 0,73 0,8 1 0,64 1 ,5 7 2 , 25 1 1,1 72, 1 6
A l ga rve
Faro 1 1 ,42 0,88 0,59 0,40 1 ,64 2,88 1 3,04 75 , 1 9
1 65
MARIA DA GRAÇA DAVID DE MORAIS
Da sua leitura de i m e d iato nos a perce bemos que há um declínio genera lizado: se
em 1 920/2 1 a m o rta l idade i n fantil (0 a n os) atingia 3 1 1 ,60% esse va lor va i baixar para os
8 ,8 3 % e m 1 990/9 1 , o q u e sign i fi ca q u e , por comparação com as outras idades, desde o
i nício do sécu l o até aos n ossos dias. o declínio da morta l i dade foi m u ito mais acentuado
nas idades mais j ovens d o q u e nas mais e l evadas, m u i to especia l mente e ntre os o e os
1 o a n os, e m u ito m e n os evi d e n te nas idades a d u l tas e m u ito menos a i nda e ntre os
idosos d e mais d e 70 a n os. Enqua nto os pri m e i ros va l o res declinara m em 97% na regiã o
Centro, os ú l ti m os a penas decli nara m 4 3%, por exemplo.
A E s p e r a n ç a de V i d a
E o - G a n h os em a n o s ( 1 9 2 0 - 1 9 5 0)
A tra nsição d e u m extre m o ao outro faz-se com ga nhos i nte rmédios das ge ra ções
d e 1 9 3 0 e 1 940 e m u i to a centuados na d e 1 9 5 0 . Dever-se-à ressa lvar q u e n a q u e l es
c a s o s e m q u e a p ro g r e s s ã o fo i a p a re n te m e n te m e n o r - p o r e x e m p l o , Co i m b ra ,
Santarém, Faro - s e d eve a o fa cto d e , à pa rtida, estes distritos a p resentarem já E o mais
e l evadas q u e a média d o Conti n ente. o caso de Braga pa rece resu lta r de uma situação
conj u n tural específica , pois que a sua evo l u çã o se faz de uma forma m u i to mais le nta .
se nos reporta rmos às espera nças d e v i d a aos 1 O a n os, a situação assemel ha-se e m
todos os distritos e e m q u a l q u e r d a s regi ões. Os va lores medeiam entre o s 50 , 8 2 a n os
de Lisboa na geração de 1 92 0 e os 5 7, 7 8 a n os de Sa nta ré m. Qua nto aos ga n h os obti d os,
relativa mente à geração d e 1 9 5 0 , eles ci fra m-se na ordem dos 4,02 a nos até aos 9 , 2 8 na
Região de Lisboa e Va l e d o Tej o como poderemos ver na ta bela segui nte:
1 66
GERAÇÕES E ESPERANÇA DE VIDA
Q U A D R O I V - E S P E R A N Ç A D E V I D A DAS G ER A Ç Õ E S D E 1 9 2 0 A 1 9 5 0
1 67
MARIA DA GRAÇA DAVID DE MORAIS
E 1 0 - G a n h o s e m ( 1 9 2 0 - 1 9 5 0)
Bragança ..... 8 , 1 1
caste l o B ra n co ......... 6,28
Coi m b ra ..................... ................ 5 ,66
.
Santarém .
. . . ................... .... 4 ,0 2
Lisboa . 9, 28
Evora .. . . .
. . . . . ........ 7.49
Porta legre ..... .......... ... ............. 8.45
. . .
A espera n ça d e vida na i d a d e mais ava n çada q u e foi possível estu d a r (60 a nos)
s u g e r e q u e o s ga n h o s s ã o m u i t o p o u c o s i g n i fi ca t i v o s , n ã o t e n d o p ra t i ca m e n t e
expressão. o mesmo n ã o p o d e m o s d izer das i d a d e s d e 20 , 30, 40 e 5 0 a nos e m q u e há
u m a nítida recup e ração.
Compara n d o as diversas regiões e m causa , temos q u e cada qual se pautou por um
comporta m ento d i ferenciado, sendo porém, a situação mais cha mativa a da Região d e
Lisboa e Vale do Tej o o n d e existe u m a recu peração m uito evidente d e Lisboa e menos
forte d e Santa ré m ; se tivermos e m conta os va lores i n i ciais (Sa ntarém mais elevados)
os ga nhos serã o proporciona is.
Não d everá d e i xa r d e ser reparada a situação que se verifi ca para a geração de
1 9 4 0 que, quer n o Conti n e nte (E30), quer e m B raga (Eo), Coi m b ra (Eo), Portal egre (Eo),
Santarém (E2 0) e Faro (E30), a p resenta d e c l í n i os nas suas espera n ças d e vida, o n d e
poderemos visua l iza r a l g u m "efeito d e sel ecção" ou perda p recoce d o s i n d ivíduos mais
fragi l izados (aos O a nos) o u a i nda a lgum "efeito d e d esgaste", devido aos pri m e i ros anos
de vida vivida e m contexto m u ito adverso e conseq uente m ente o seu estado de sa úde
se achar u lte riorme nte a fecta d o por uma relativa fragi lidade.
A d i ferença e n tre N o rte e S u l (Alentejo e Alga rve) é sign i ficativa ao nível de ga nhos
nas Eo. Enqua nto os d i stritos da Regiã o N o rte em 1 9 5 0 não u l tra passa ra m os 5 5 , 7 7 a nos
a regiã o Sul atingiu os 6 3 , 2 2 e m Porta l egre.
com p l e m e ntemos de segu ida este estu do da espera n ça d e vida através das proba
b i lidades d e m o rte e d o n ú m e ro d e sobreviventes.
O s Riscos de M o rte
Intimame nte re lacionada com a fu nção a nte rior (Ex) nós temos a proba b i l idade d e
u m i n d ivíd u o m orrer e ntre u m a idade exacta x e x+ n (nqx). Nas d i fe re ntes gerações h á
e m co m u m , c o m o p o d e m o s o b s e rv a r n o s gr á f icos a s e g u i r a p re s e n t a d o s (e n a
i n formação consta n te e m a n exo), q u e , à partida, c o m o é d e regra, as proba b i lida des d e
m o rte são basta nte mais e l eva das e q u e se ate n u a m na fase i n termédia para voltar a
s u b i r depois dos 40 a nos. Em termos p ráticos, podemos referir que, passado o pri m e i ro
a n o de v i d a , m a rca d o p e l o p e rigo n e o n a ta l , os riscos d e m o rr er d i m i n u e m m u ito
ra p i d a m e nte até a t i n g i r e m u m m í n i m o por volta d os 1 0 a n os, depois d o qual vão
suavem ente a u m e n ta n d o a u m ritmo mais ou m e n os consta nte até aos 40/50 a n os, a
parti r d os quais reto ma u m ritmo mais acelarado.
1 68
GERAÇÕES E ESPERANÇA DE VIDA
P R O B A B I L I D A D ES D E M O RT E ( H M ) - G E RAÇÃO 1 9 2 0 , 1 9 3 0 , 1 9 4 0 E 1 9 5 0
C O N TI N E NTE
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0 , 30
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0 , 0 15
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"1 0 20 30 40 IS O eo 7 0 -+-
Idade
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0, 1 0
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o
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"1 0 20 30 40 50 60 7 0 +-
Idade
Reporta ndo-nos aos d istritos seleccionados nas cinco regi ões em estudo, d i remos
q u e . n o conj u nto n ã o há p ro p r i a m e nte gra n des d i fe re n ças n a q u e l a ten d ê nc i a . atrás
a po n tada pa ra o conti n ente. contudo, verifica m -se excepções. Ao observa rmos o ritmo
d e evo l u çã o d a geração d e 1 9 40 n os d i stritos d e B raga , B ra ga n ça, Caste l o B ra n co,
Co i m b ra , É v o ra . Po rta l egre e F a r o , v e r i fi ca -se q u e, q u er a o s O a n os , q u er a o s 4 0 o u
1 69
MARIA DA GRAÇA DAVID DE MORAIS
P R O B A B I L I D A D ES D E M O RTE ( H M ) - G E RA Ç Ã O B R A G A N ÇA
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0,25 * 1 920
+ 1 930
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o "1 0 20 30 40 50 60 70 +
1 70
GERAÇÕES E ESPERANÇA DE VIDA
P R O B A B I L I D A D ES DE M O RTE ( H M) - G E RAÇÃO C O I M B R A
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* 1 920
+ 1 930
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1 71
MAR/A DA GRAÇA DAVID DE MORAIS
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GERAÇÕES E ESPERANÇA DE VIDA
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1 73
MARIA DA GRAÇA DAVID DE MORAIS
mesmo 50 a n os há u m a certa a n a l ogia no seu comporta mento, isto é, a tendê ncia para
o a u m e nto d o s riscos d e m o rte. A e x p l i ca ç ã o m a i s p rováve l talvez a te n h a mos q u e
e n contra r n a situação c o nj u ntura l , n a sequê ncia da última G ra n d e G u e rra . e m q u e ,
c o m o atrás a ponta d o , a vivência d o s p ri m e i ros a n os t e r s i d o n u m contexto d e muitas
d i ficuldades d e natu reza vá ria: eco n ó m ica, soci a l , etc..
É ta m b é m de rea lçar que n a geração d e 1 9 3 0 , em Castel o Bra n co e Évora , aos 60
a n os se dê um recrud esci me nto (embora lento) das proba b i l idades d e morte; o mesmo
se passa n d o com a s i d a d es d os 40 e 5 0 a n os nos distritos d e Faro. nestas mesmas
gerações, mas d e forma mais sign i fi cativa.
Faze n d o a l igação com as ca usas d e morte que mais a fecta ra m estas gerações de
1 93 0 e 1 940, segu n d o as estatísticas da sa úde para estes m esmos a n os, nos casos e nas
i d a d e s a p o nt a d a s , t e m os: a s d o e n ça s c e r e b ro-vascu l a res, os t u m o res m a l ignos. a
doença isq u é m i ca do coração e, com a lguma significâ n cia, a tuberculose p u l m o n a r e os
seus e feitos ta rdios, na sequência p rovável de uma certa fragil ização sofrida na i n fâ n cia
o u mesmo n a j uventude: "La vul n é ra b i l ité d ' u n i ndividu à u n âge d o n n é n e tient pas
seu lement a u pote nciei vita l théori q u e corresponda m à cet âge combiné a u x conditions
sanita i res d u moment mais a ussi à la d étériorati o n (ou à l'amélioration) de ce potenciei
résulta n t d e son vécu a n térieur". Segu n d o J Wilmoth, J . Va l l i n e G. casel l i n o seu a rtigo
i ntitu l a d o Quand certaines générations ont une Mortalité différen te de cei/e que l'on
pourrait attendre 2 .
N u m a base d e compara b i l idade ( 1 00000) pode mos nota r que cada uma das quatro
gerações (Quadro V) evo l u i u positiva me nte, ou seja , h ouve um a crésci m o do n ú mero de
sobreviventes em cada idade a n a l isada.
A e x c e p ç ã o v e ri fi c a - s e n a geração d e 1 9 2 0 e m que h á uma n í ti d a p e rd a dos
e l e me ntos j ovens (aos 2 0 a n os, observa dos e m 1 940) nos d istritos d e B raga , castel o
B ra n co , Coi m b ra , Lisboa, Évora , Porta legre e . conseque nteme nte, a o nível d o conj u n to
conti n e n ta l . As razões prováveis q u e se podem adia nta r para ta l são: sendo a geração
d e 1 9 2 0 uma geração d e si já fragi l izada e m comparação com as outras, porque o seu
passado, e m termos d e assistê ncia médica e medica m entosa, e ra basta nte menos rico,
a sua ca pacidade d e resistê ncia a situações adversas era m u ito i n ferior. ora, sabendo-se
que o i nício da década d e 40, e m Portuga l se caracterizou pelo choque ca usado pela
guerra d e 1 9 3 9 - 1 94 5 com todo o cortejo d e ca rê n cias (ta nto económicas como sociais) e
pera n te a fa lta de resistê ncias b i o l ógicas, devido fu ndamenta l m ente à subnutrição e à
fom e , a tubercu l ose, ao nível dos 20 a nos. como se pode com p rova r pelas estatísticas
d a sa ú d e p u b l i ca d a s p a ra o a n o de 1 9 4 0 , i n s ta l o u -s e e p ro l i fe ro u com ba sta n t e
i ncidência tra nsforma n d o-se n a p ri m e i ra ca usa d e morte nesta idade,
Excepção ta m b é m é Lisboa. ge ra ção d e 1 9 30, q u e a p resenta uma quebra n os efec
tivos d e 40 a n os. m u ito p rovavel m ente por esta rmos pera nte uma popu lação flutuante
e 1 9 70 , a n o de observa ção , se a p resenta r com um recensea m ento m enos bom.
1 74
GERAÇÕES E ESPERANÇA DE VIDA
1 75
MARIA DA GRAÇA DAVID DE MORAIS
CONCLUSÃO
1 76
A C LAS S IFICAÇÃO S ÓCIO-PROFIS S IONAL:
UMA QUE ST ÃO EM ABE RT O
Paula Guilhermina d e Carvalho Fernandes
Universidade Lusíada
1. I N T R O D U ÇÃ O
Este peq u en o tra b a l h o visa levantar a lgumas das q uestões relacionadas com a clas
sifi cação saci o-profiss i o n a l , assunto com que, mais cedo ou mais ta rde, se defronta m
n ecessariamente os h istoriadores e demógrafos quando tenta m a preender u m a rea lidade
d e m ográ fic a, social e e co n ó m i ca passa d a . A a p re e nsão d esta rea l i d a d e é , e m si, o
o bjecto de um qualquer estudo da á rea da H istória Económica e Social, e é nesse sentido
que a classificação sacio-profissional assume toda uma actua lidade i n d i scutíve l. Se não
se ten tasse a el ab o ração d e classifi cações das profissões, esta ría mos "a sacrificar uma
das razões d e ser da própria Demografia Histórica, ou seja , a espera n ça de descobrir
como se i nterp e netra m e m u d a m , n o decorrer do tempo, factores económ icos, sociais e
d e mográ fi cos" 1 . Q u a n d o fa lamos de "classificação sacio-profissional", menciona mos a q u i
não só a listage m , mas o reagru pame nto, agrega ndo as p rofissões, de modo a que u m
q u a l q u e r q u a d ro d e p rofissões ga n h e conteúdo sintético e riqu eza i n formativa i mediata.
Um q u a d ro baseado sobre as d e n o m i nações p rofissionais não agregadas, é i l egível 2 .
Por outro l a d o , cada classe te m um " reagru pa m ento de d enomi nações profissionais
relativa mente h eteogéneo, e onde há d e n o m i nações "fortes" (mu ito freque ntes) e u m
n ú m e ro i m p o rta n t e d e d e n o m i n a ç õ e s " fra ca s " (a q u e l a s m e n o s fre q u e ntes)" 3 Por
exe m p l o , o termo "cultivateur" 4 , q u e agrega 1 1 . 1 09 sobre 46.000 d enomi nações num
dado tra b a l h o q u e comenta remos mais à frente, perd e todo o conteúdo, gra ças à sua
redu n d â ncia 5 o mesmo podemos dizer para o termo "tra b a lhador", tão freq u ente e m
l i stage ns cita d i nas c o m o rurais.
Vai-se trata r aqui especifi ca mente qu estões deste ca m p o refe rentes à época con
temporâ n e a , porque, se parti rmos de u m a b reve a n á l ise da documentação existente
a nterior ao sécu l o XVII I , sa bemos que os "ofíci os" ou as "ocu pações", como na a ltura se
dizia, são de m o d o gera l (mas não, evidentemente, global) ra ra m e n te referenciadas,
pelo menos n o sentido de uma listagem sistemática possível das mesmas. Isto é, sa bemos
que se m e n c i o n a m a s "ocu pações", mas ta l surge pe rfe ita mente d i l uí d o no contexto
dos diversos documentos a que podemos aceder.
De facto, e m bora nos d efrontemos, desde relativa me nte cedo, na Europa Ocidenta l ,
c o m sociedades e eco n o m ias e m que as relações sociais s ã o já permeadas p e l o n ú mero,
n ós não temos a cesso a l eva n ta m e ntos n u m é ricos sistemáticos pa ra essas mesmas
épocas. Podemos fa l a r, para o caso português e até m u ito d e ntro do sécu l o XIX, da
existê n c i a d e " e co n o m i a s pré-estatísticas", p a ra u t i l i za r uma e x p ressã o d e Vito r i n o
Maga l hães G o d i n h o 6
ora, se a p ro fissão fu n c i o n a como i n d icador da posição socia l para os soci ólogos
12 1 77
PAULA GUILHERMINA DE CARVALHO FERNANDES
o tra b a l h o q u e a q u i vos a p resenta mos não p retende, d e modo nenhum, ser exaus
tivo q u a n to a o tema sobre o qual se d e b ruça. o objectivo centra l foi tenta r-se u m a
a bo rdage m , e ntre as v á r i a s possíveis, das q u estões metodológicas que se p rendem a o
assunto e m e pígra fe. Pa rece-nos, pela pesqu isa b i b l i ográfi ca rea l iza da, ser gera l mente
reco n hecido q u e a classifi cação sacio-profissional a rrasta consigo problemas de d i fícil
resol uçã o, a que, evide n te m e n te , n ã o tentá mos dar solução. Procurá mos a ntes fazer
u m leva n ta m ento das q u estões existe n tes nesta á rea.
A b o r d a r e m o s d e uma m a n e i ra forçosa m e n te s u p e rfi ci a l , e m p o ntos sucessivos
n este a rtigo, os p ro b l e m a s que a construção d e m o d e l os , o u "gre l h a s d e l e i t u ra " ,
a rrasta m consigo n a H istória. U m a dada categorizaçã o, u m a dada grelha, sugeri rá uma
leitura da rea lidade a que foi aplicada. Fa remos u m pequeno comentário a este assunto,
1 78
A CLASSIFICAÇÃO SÓCIO-PROFISSIONAL: UMA QUESTÃO EM ABERTO
ten d o por base a lguns estu d os. Mencionaremos a l igação fu l cra l das "grel has de leitu ra "
às fontes h istóricas e d a remos a lguns exe m pl os d e tra b a l hos rea l izados n esse ca mpo
p o r d iv e rsos a u to res p o rtugueses, rea l ça n d o a s s i m i l itudes e d i ferenças e ntre ca d a
p ro p osta . Fa r e m o s u m a c h a m a d a d e a t e n ç ã o p a ra o q u e se f ez, n a E u r o p a e em
Po rtuga l , a o l o n go d o sécu l o X I X e i n ícios d o sécu l o XX ( 1 8 0 6 - 1 9 3 0 ) , n o toca nte à
classifi cação sacio-profissional. F i n a l m e nte, concl u i remos com uma série de reflexões e
l eva n ta m e nto de problemas no toca nte a este assunto.
Não se foca ra m , p ro p o s i ta d a m e n t e , n esta fa se do n osso estu d o , p r o p ostas de
g re l h a s d e c l a s s i fi c a ç ã o sac i o - p rofissi o n a l , por u ma tri p l a razã o. Pri m e i ro , p o rq u e
q u a l q u e r p ro p osta n ã o s u fi c i e n te m ente a m a d u recida traz consigo pontos fracos q u e
podem n ã o aj u d a r a o escl a reci m ento do assu nto 1 3 Em segu nd o l uga r. e co ncomita n
temente à p ri m e i ra razão por nós avançada, porq u e esta l i n h a d e i nvestigação é a lgo
recente em nós. F i n a l m ente, e como já foi d i to , porque o objectivo principal d este breve
tra ba l h o é essencia l m ente fazer uma recensão do que existe, levantar p istas e suscitar
i nterrogações.
Se p reten d e mos avançar n a á rea de uma h i p otética leitu ra da evolução da popula
ção e soci e d a d e p o rtuguesas numa p e rspectiva naciona l , pensamos q u e o p ri m e i ro
passo a ser d a d o é p recisa m e nte a discussão e reflexão metodol ógica das "grel has"
diversas que, forçosa m ente, nos veremos o b rigados a utilizar.
1 79
PA ULA GU/LHERMINA DE CARVALHO FERNANDES
o autor chama-nos porta nto paulati n a m ente a atenção para o problema da i nter
venção de e l e m e ntos a na c ró n i cos, q u a n d o tentamos m o d e l a r uma rea l i d a d e , n u m
dado espaço, e m movi m ento, n o te m p o e na s u a composiçã o i n terna. o estu d i oso d e
h oj e ten d e a i n cl u i r, n o modelo q u e constró i , conceitos, orga n izações i n ternas ou id eia s
que, m u i tas vezes, podem leva r a uma leitu ra q u e , se pa rtisse d e uma outra gre l h a ,
l evaria a resu l tados d i fe rentes. Já fa l a remos de u m exemplo d esta q uestão, no ponto
2 . a ) , 3 . a ) e 4 . a ) , um pouco mais à fre nte n este a rtigo.
Há basta nte tem p o que soci ólogos, h istoriadores e mesmo os a d m i nistradores se
i n te r roga m s o b re "la p u i ss a n c e fo rmatrice des gri l l es statisti q u es " , i nterroga n d o-se
sobre a possi b i l i d a d e d e e n co n tra r "a m e l h o r gre l ha passivei " , a q u e l a que permitiria
melhor respeita r a significação " rea l " das declara ções. É n esta ó ptica q u e a ideia d e
privilegiar as d e n o m i n a ções e m piricas da é poca f oi frequentemente avançada 1 s.
Parece c l a ro q u e u m a d a s respostas a este p ro b l e m a m o d e l o/ a c o n teci m e n to
i rreve rsível é a construção de modelos por pa rte do h istoriador que pa rta m das pró
prias fon tes 1 9 . Mas ta m b é m pa rece ser claro para todos nós que as fontes n u n ca nos
são dadas, elas são construídas, e m correlação com a construção dos próprios fa ctos.
Vitori n o Maga l hes G o d i n h o co nclui: "Cabe-nos abrir a possi b i l idade d e constru i rmos, a
pa rti r do acervo de " fa ctos", a teia de re lações que nos d a rá a estrutura soci a l , a confi
guração social d e uma é poca, d e u m espaço geografica mente configu ra do, nos diversos
r i t m o s da sua res p i ra ç ã o " 2 o . A p r o posta é a m b i ci o s a , mas ta m b é m , sem d ú v i d a ,
a l i ci a n te - q u a l o h istori a d o r q u e n ã o a ca l e n ta a espera n ça d e s e n t i r o p u l s a r dos
homens, mesmo q u e estej a m e n fermados na sua grelha de leitu ra ? Quem não gosta ria
d e com b i na r, da m e l h o r m a n e i ra passivei o si ncró n i co com o diacró n i co?
Sa b e m o s q u e a " N ova H i stória S o ci a l " segu i u este ca m i n h o , uti l i za n d o fo ntes
n o m i nativas e usa n d o u m processo longitu d i n a l , o q u e permitiu d escreve r e constru i r
u m espaço social e m movimento. Só q u e a a n á l ise n ã o u ltra passava , freque ntemente,
os l i m ites d e um q u a d ro d escritivo, u ti l iza n d o gre l h a s que e ra m quase s e m p re a
reprodução mais ou m e n os d i recta das categorias sacio-profissionais contem porâ n eas,
elas mesmas p r o d u to d a l o n ga h i stória do desenvolvi me nto da estatistica a d m i n is
trativa e das suas relações com a sociologia 2 1 . Hoje e m dia, tenta-se freque ntemente o
uso c o m b i n a d o d e gre l ha s d e l e i t u ra - a preensão do "gru p o " - com a fe itu ra dos
p e rcursos i n dividuais 22 .
de agregação das profissões, uns, em função dos sectores de emprego 24 , outros, em função
do tipo d e tra ba l h o , isto é, "the eco n o m i c fu n ctio n " 2 s. Num estudo sobre a populaçã o
d e M a rse l h a n o s é c . X I X ( 1 8 2 0- 1 8 70), w. H . Sewe l l p r o p õ e esta " fu n çã o eco n ó m i ca "
c o m o critério d e agregação d a s p rofissões, d isti ngu i n d o 1 o grupos sacio-profissionais:
CATEGORIA
1 80
A CLASSIFICAÇÃO SÓCIO-PROFISSIONAL: UMA QUESTÃO EM ABERTO
U m re pa ro d eve ser, desde já , adia ntado: sewe l l sugere uma grelha socioprofissional
clara m ente baseada nas fontes, época e região - neste caso, a cidade d e Marselha - , o
que traz consigo i m e d iata m ente si ngu laridades para esta mesma proposta de grelha .
Refe ri mo-nos, c o n creta m e nte, á i m p o rtâ n c i a q u e , por exe m p l o , o se cto r " m a ríti m o "
assu m e , nesta gre l h a e na l eitura sacio-eco n ó m ica que ela permite.
Qua nto à agregação p rofissional segu n d o os sectores d e e m p rego, que os autores
acima referidos com p a ra ra m , segu i u os critérios a d optados pelo Instituto I nternaci o n a l
d e Esta t í s t i c a n a d é ca d a d e 9 0 d o s é c u l o p a s sa d o , d i s ti n gu i n d o u m a e s t r u t u ra
p rofissional d o conj u nto mascu l i n o d e população a ctiva que i n d i ca , por exe mplo,
CATEGORIA
Pesca
Floresta
Agricultura e criação de gado
Minas
Pedreiras (. . .)
lnd. mal designadas
lnd. alimen tares
lnd. químicas
lnd. do papel
lnd. do livro
lnd. têxteis
lnd. couros e peles
lnd. da madeira
lnd. matalúrgica
lnd. metais ordinários
lnd. metais finos
lnd. do trabalho da pedra (.. .)
Man utenção
Transportes
Comércio diverso
Comércio estrangeiro
Bancos e Seguros
Profissões liberais
Serviços domésticos
Serviços do Estado (. ) ..
181
PAULA GU/LHERMINA DE CARVALHO FERNANDES
A l a i n B l u m e Ma u ri z i o G ri b a u d i c o m p a ra ra m as d u a s gre l h a s a c i m a referidas e
e x p e ri m e n ta ra m , a través de v á r i o s e x e rcícios m e t o d o l ógicos, n o m ea d a m e n te n o
toca nte á m o b i l i d a d e profissi o n a l entre pais e fi lhos, verifi ca r a s leituras q u e delas se
pod i a m reti ra r. Claro q u e , como já a q u i foi referi do, partira m da série i n icial d o inquérito
das 4 6 . 0 0 0 a ct a s de c a s a m e n to o i t o c e n tistas de J a c q u e s D u p â q u i e r e s ó d e p o i s
agrega ra m as d e n o m i nações p rofissiona is.
As concl usões ava n çadas são interessa ntes e talvez devam ser a q u i sintetizadas.
A ntes d o m a i s , v e r i fi ca-se que a s 1 0 0 d e n o m i nações p rofiss i o n a i s mais fre q u e n tes
cobrem B S o/o da populaçã o e restituem-nos a i magem de u m mundo social centrado
sobre as p rofissões ru rais, o pequeno comércio e o a rtesa nato 2 6 .
Três fe i x e s d e q u estões p o d e m s e r l ev a n ta d os a pa rti r d a q u i . Pri m e i ra m e n te,
devemos pergu n ta r q u a l o significado destes três pólos socioprofissionais? Poderá ser
estrita me nte semâ ntico, sendo o voca b u l á ri o profissional fruste para os m u ndos ru ra l e
a rtesa n a l , m a s extre m a m e n te d i ve rs i fi ca d o p a ra os m u n d os i n d ustri a l e u rb a n o ? A
precisão da n o m e nclatura i n d ustria l provém nomeadamente de d isti nções re pousa ndo
s o b re a matéri a - p r i m a tra ba l ha d a , a natu reza d a tra nsformação e fectu a d a , etc. Por
e xe m p l o , numa l i stage m d e p rofissões e m 1 8 2 7 , no Porto 27disti nguem-se os "enxam
bladores" e os "enta l ha d o res", os "coro n h e i ros" e os "espinga rd e i ros", os "este i re i ros" e
os " p a l h i n has".
E m segu n d o l uga r, p o d e m os ler estes d a d os como e x p ressões que opõem um
m u n d o rura l socia l m ente h o m ogé n e o a u m m u n d o i n d ustri a l fragmenta d o ? Somos
tenta d os a ver na pobreza d o i nve ntá rio das denomi nações rura is e a rtesa nais u m s ina l
d e u m a estrutura soci a l m e l h o r defi ni d a , crista l izada d es d e há m u i to tempo, m uito mais
estática d o q u e a das cidades. A i n d ústria , a i nda bal bucia nte, há-de cria r novas estra
tificações, mas elas n ã o estã o a i nda esta be l ecidas n e m são percebidas, compree ndidas
n a s u a u n i d a d e . A i n d a não c r i o u a s s u a s próprias catego rias, q u e congrega rã o os
i n d ivíduos e m gru pos i m po rta ntes para a l é m do seu o fício p reciso.
Fina l m e nte, podemos fazer uma outra leitura para l el a do fenómeno. Ela consiste em
ver nas d e c l a rações d e p rofissã o a t ra d u çã o mais ou m e n o s d i recta das i d e o logias
expressas pela estatística a d m i n istrativa do sécu l o XIX, q u e é o bcecada pelo problema
d e p ô r e m cena a oposição e ntre " d i n a m ismo" e " modernismo" do m u n d o i n d ustria l e o
" i m o b i l ismo" e " reta rd a m ento" dos ca m pos.
N ã o nos p a rece n e cessá r i o , n e m úti l , t o m a r p a rt i d o por u m a o u o utra d estas
i nterpreta ções. Pensa mos a n tes q u e a tomada de consciência das mesmas é o passo
i m porta nte, mais d o que a escol h a d e uma via i nterpretativa que m ostra rá . certa m ente
a cu rto ou m éd i o prazo, as suas l i m itações.
Por outro lado, devemos i n terroga r- nos sobre os tipos d e processos e d e te rrenos
soci a i s que podemos colocar e m evidência, q u a n d o pa rti mos u n i ca m e nte dos dados
p rofissionais brutos. Uma possível a p roximaçã o consiste em tentar medir a coesão das
p rofissões mais re p rese n tadas, pa rti ndo da m o b i l idade e ntre ca da u ma delas, ou seja ,
fa lamos por exe m p l o d e se fazer u m cruza mento e ntre as p rofissões declaradas pelos
pais e pelos fi l h os n o m o m e nto da declaração, n o casa me nto d o fi lho. Este exercício
fornece- nos tá buas d e m o b i l idade parci a l . A l a i n Blum e Maurizio Gribaudi p rossegui ra m
esta via e, dentro d a s 1 O profissões mais re presentativas 2 B , verifica ra m a existência d e
u m a i magem d e u m m u n d o e m m u d a n ça , s e quise rmos utiliza r a l i nguagem clássica
dos estu dos sobre m o b i l idade. De fa cto, 70 a 9 5 o/o do recruta m ento profissional provém
1 82
A CLASSIFICAÇÃO SÓCIO-PROFISSIONAL: UMA QUESTÃO EM ABERTO
d estes 1 o ofícios, mas estes a bsorvem a penas 50 a 80% dos d esti nos. As p rofissões
estrita m e n te agríco l a s fo r n e c e m -se l a rga m e n te n esta l ista , e n q u a nto as profissões
a rtesa nais, m i stura n d o o rura l e o u rbano, tê m u m recuta mento mais d i fuso 29 .
Seguidamente, estes autores reagruparam as profissões pela grelha sacio-profissional
do R e ce n s e a m e n t o fra n c ê s de 1 8 9 6 e d e s taca ra m - s e a s s e gu i n tes c o n c l u s õ e s :
n ova m e n t e s e v e r i fi ca u m a e x i s t ê n c i a c l a ra d e t r ê s p ó l o s s o c i o p rofiss i o n a i s - a
agricultura , o comércio e a i n d ústria. A agricultura é o terre no onde todas as profissões
se recruta m . Pod e m os, a l é m do mais, ler n esta gre l h a fen ó m e n os ma cro-estruturais:
urbanização, i n d ustria l ização e desenvolv i m e nto do comércio e serviços (tra nsportes,
p rofissões l ib e rais, serviço do Estado e serviço doméstico) 30 . Mesmo na segu nda metade
do séc. XIX, mais profu n d a m ente m a rcada pela evolução destes macro-fenóme nos, a
agricultura vai co nti n u a r a a l i m e nta r o grosso das p rofissões, e ta mb ém, em especia l , os
s e rv i ços. A l i á s , o m e i o do sécu l o X I X ( m a i s c o n c reta m e nte, p o r v olta d e 1 8 4 8 ) vai
m ostra r u m a fissu ra n estes fe n ó m e nos d e m o b i l idade soci oprofissional, já q u e a ntes
destas datas, a prol eta rização pa rece ser um fen ó m e no m u ito le nto, d i fuso e ta rd i o e
a p ó s e s ta fa s e , a s r e l a ç õ e s c i d a d e/ ca m p o m ostra m - s e c l a ra m e n te , e m l i g a ç õ e s
horizo nta is e vertica is 3 1 .
A escol ha das categorias guia a leitura u lterior. A uti l ização das categorias do séc. XIX
conduz a reproduzir uma das i magens que esta é poca ti nha, dela mesma 32 . Po rta nto,
p a rtir da fo nte h istó rica, é o l h a rmos o soci a l através dos o l h os da fo nte, ela mesma.
N o entanto, através da operação d e agregação, a sign i fi cação da categoria su bstitu i-se
àquela d o dado i ndividual, sem possi b i l idade d e retorno.
"Os i nstru m e ntos e os métodos d e a n á l ise quantitativa da época, ao serem uti l i
zados, mostra m - n os as i m agens de uma sociedade que se tornou global e que esca pa
cada vez mais a o contro l e dos i n d ivíduos; são as i magens de "gru pos", das " massas" e
das "estruturas" q u e o sécu l o X I X q u is aga rra r gra ças aos i nstru mentos estatísticos.
Para lermos melhor esta rea lidade, que nos su rge i móvel, devemos prossegui r também
práticas metodológi cas q u e co ntornem as lógicas de agregação. Trata-se d e restitui r aos
dados os seus va l o res i n d ividuais, e d e constru i r ass i m modelos d e estratificação e de
m o b i lidade q u e n ã o ten h a m como esq uema, i m p l ícito ou explícito, u m processo macro
-estrutura l o n d e o i n d ivíd uo é neutra l iza do" 33 .
Já acima f o i mencionado o gera l a co rdo e ntre a com u n i dade científi ca de que pa rti r
das fontes h istóricas para a construção das grelhas é um dos ca m i n h os mais seguros
pa ra uma va l i d a d e das mesmas. Não podemos, pois, evita r uma me nção às mesmas e
m ostra r c o m o e l a s e as suas circunstâ n cias (cro n o l ógicas, espa cia i s , o bj e ctivos q u e
prete n d i a m atingi r, etc) condicionam a construção d o s modelos. D a q u i resulta q u e , pa ra
cada estudo, e pa ra cada caso s i m i la r, existe uma dada grelha, como veremos, através
de a lguns exemplos que a q u i serão menciona dos.
As fo ntes h istó ricas que nos permitem eve ntuais l istage ns d e p rofissões, pa ra a
é poca conte m po râ n e a , são gera l m e nte registos, recensea mentos ou n u m e ra m e n tos,
1 83
PAULA G UILHERMINA DE CARVALHO FERNANDES
PROFISSÕES
1. Profissões agrícolas
1. 1 . Tra b a l h a d o res, m a n cebos
1.2. Pastores, m a iorais, guardadores, etc
1.3. Lavra d o res
1.4. Cinge l e i ros
1.5. H o rtelãos
1.6. Seare i ros
1.7. Ca m p i nos
1.8. coutei ros
1.9. cas e i ros
2 . Artesa nato
2 . 1 . Liga d o às a ctividades agríco las:
2 . 1 . 1 . Abegões
2 . 1 . 2 . Ferre i ros, ferra d o res
2 . 1 . 3 . Moleiros
2 . 1 .4. Albard e i ro, seleiro
1 84
A CLASSIFICAÇÃO SÓCIO-PROFISSIONAL: UMA QUESTÃO EM ABERTO
2 . 2 . Liga d o à construção:
2 . 2 . 1 . Ca rpinte i ros
2 . 2 . 2 . Pedre i ros
2 . 2 . 3 . Tij o l e i ros
2.2.4. Torn e i ras
2 . 2 . 5 . Serra l h e i ros
2 . 5 . Diversos:
2 . 5 . 1 . Tece d e i ros
2 . 5 . 2 . O l e i ros
3. Comércio e serviços
3. 1 . Comércio:
3. 1 . 1 . Ta berneiros
3. 1 .2. A l mocreves
3. 1 .3. Te n d e i ros. esta n q u e i ros
3 . 1 .4. N egocia ntes, marcha ntes, mercadores, etc
3.1 .5. Boticários
3 . 1 .6. Diversos (a lgi bebes. esta lajadeiros)
3 . 2 . Serviços:
3.2. 1 . Barbeiros
3.2.2. Escrivães
3.2.3. Lava d e i ras
3.2.4. Professores e m estres de m e n i nos
3.2.5. Cirurgiões, méd icos. e n ferme i ros
3.2.6. Pa rtei ras
3.2.7. Procura d o res, letra d os, a dvogados
3.2.8. Alca i d e . pri oste
3.2.9. Porte i ro
3 . 3 . D iversos:
3.3. 1 . Clérigos. pad res, prio res
3.3.2. Com ordens (frades, menoristas, etc)
3.3.3. Montei ro-mar e ca pitão-mar
3 . 3 .4. Pesca dor, erm itã o
3.3.5. Estudante
1 85
PAULA GUILHERMINA DE CARVALHO FERNANDES
como podemos verifi ca r, e n contra m o-nos pera nte uma situação a que já tivemos
ocasião d e a l u d i i r neste a rtigo. Referi mo-nos ao facto de, quer nos situemos n o sécu lo
XVI I I , q u e r n o séc. X I X , as "ocu pações" se d istri b u í re m , e m p ro p o rções d i ferentes, é
certo, p o r três p ó l o s de a ctivi d a d e . "Ass i m , 6 2 , 5 % da p o p u lação p e rt e nce ao sector
primário, 1 6 ,8% a o sector secu n d á ri o e 1 8 ,0% ao sector terciário. ( ...) Estes resu ltados,
estrutu ra l m ente, são m u ito semelha ntes aos e n contrados na região de Pa ris (6 1 ,3% no
sector primá rio, 2 4 , 2 % no sector secu ndárioe 1 4 , 5 % no sector terciá ri o)" 39 , a pesa r das
d i fi culdades q u e os a u tores referem ter sentido em disti ngu i r clarame nte a diferença
e ntre a rtesãos e n egociantes. Ava ncemos já q u e este tipo de d i ficuldades de destri nça
p rofissio n a l n o toca nte a o gru po e m que o i n d ivíduo dever ser i nserido, é exte nsivo à
ge n e ra l i d a d e d o s a u to re s a q u e t i v e m o s a cesso e é u m p ro b l e m a p ra ti ca m e n te
u niversal , n este ca mpo.
3 .a . 2 ) Ta m b é m Á l v a ro Ferre i ra da S i l va tentou u m a a p roximação a u m a gre l h a
sacio-profissi o n a l , p a ra 1 76 3 , na regiã o de Oeiras, uti l iza n d o c o m o fo ntes um R o l de
con fessados d e 1 76 3 e u m Livro de Arruamentos e d e Maneio da Décima de 1 762-63 40
A sua p reocupação e ra detecta r qual a a ctividade económica pri ncipa l das fa milias, e dai
ta m b é m a n e c e s s i d a d e , p e n s a m o s n ó s , s e n t i d a p e l o a u t o r , de fa z e r g ra n d e s
aglomerações d e p rofissões.
Lavra d o res
Faze n d e i ros
Tra ba l ha d ores
Q u i ntas
Outras p ro fissões
Agri cu ltura 2 3 ,8%
Mestres
Oficiais
M o l e i ros
Fá b rica
Indústria 20,6%
Com é rcio 5 ,4%
Serviços 1 ,8%
Transportes 2,6%
Exército 1 1 ,8%
Ofícios p ú b l i cos 2,1%
Clero 1 ,8%
Proprietários 1,1%
Outros ( ) * 0,5%
Sem pro fissã o ou não identificados ( * * ) 28,5%
( * * ) Fogos habita d os por i n d ivíd u os que não exercem vida activa (idosos, pedi ntes,
etc) ou cuj o meio d e vida não foi possível ide ntifica r
1 86
A CLASSIFICAÇÃO SÓCIO-PROFISSIONAL: UMA QUESTÃO EM ABERTO
CLASSE I
1 ) Funci o n a l ismo (a q u e fora m a n exados e l e m entos do clero e esca lões superiores e
su ba l ternos do Exército)
2 ) Profissões l i berais
3) Negoci a n tes ( i n d e p e n d e ntemente d e serem n egociantes por grosso ou s im pl es
reta l h istas)
4) Pro p ri etários ( i n d ivíd uos vive n d o de rendas e origi n á rios ge ra l me nte do m u n d o
d o s n egócios)
CLASSE II
5 ) Lavra d o res. carrei ras e recoveiros
6) Artesãos (em princípio independe ntes)
7) Ma ríti mos (desde os p i l otos aos simples ma ruj os)
CLASSE III
8) B a r q u e i ros e p e s ca d o res ( e x e rce n d o q u a s e s e m p re a s duas a ct i v i d a d e s em
s i m b i ose)
9) Tra b a l hadores não especial izados
CLASSE X
o autor m e n ciona q u e este esq uema pode ser a lvo de críticas na sua globa lidade.
mas l e m b ra q u e . a "classe média" q u e ele defi n i u á esca la loca l , se bem que seja a d e
d isti n ç ã o m a i s c o m p l e x a . p o d e ser assim catego riza d a porque os e l e m e n tos q u e a
i n tegra m . em especi a l a lguns estratos do m u n d o a rtesa na l e a lguns sectores do pessoa l
e ntregue á vida do m a r. d ispõem de vias de a cesso á "Classe I" e de condições materiais
d e vida q u e estão quase tota l m e nte vedadas aos dois últimos grupos da esca la socia l 44
1 87
PAULA GU/LHERMINA DE CARVALHO FERNANDES
SECTOR PRIMÁRIO
Lavradores
Trabalhadores agrícolas
Pescad o res
SECTOR SECUNDÁRIO
Ca lçado e vestu á ri o
construção civil
Mad e i ra
Meta is
outros
SECTOR TERCIÁRIO
Clero
Exército
Funciona lis m o
Profissões l i berais
Pro p ri etá rios
Comércio:
N egocia ntes
ca ixei ros
Transportes:
Fluviais
Ma ríti mos
Terrestres
Trabalhadores não especial izados
1 88
A CLASSIFICAÇÃO SÓCIO-PROFISSIONAL: UMA QUESTÃO EM ABERTO
e ra d i fíci l . O ptou e ntão por dois critérios: no caso dos "trabalhadores", consi derou 2/3
d e l es como p e rten c e n d o a o sector p r i m á ri o e 1 /3 a o sector terciário. consi d e rou os
" pescadores" n o sector primá rio e os "barqueiros" no sector terciário (transportes fluviais).
3 .a.4) Jorge Ferna ndes Alves, trabalhando com documentação d e registo civi l , uma
série d e passa portes entre 1 840 e 1 8 9 9 , fez ta mbém uma tentativa a proxi mativa a uma
grelha sacio-profissional da e migração do Porto para o Brasi l 48. Trabalhando u m período
extenso d e registos, o auto r menciona a d i ficuldade d e o bter uma perspectiva siste
mática no toca nte à a n á lise das p rofissões, pelo menos, tão sistemática como outras
variáveis constantes nos registos de passa porte. os registos d e "ocu pação" atravessa m
períodos de sub-registo claro, ou de ausência p u ra , em contraste com outras é pocas,
o n d e s ã o m a i s b e m d o c u m e n t a d a s . os fu n c i o n á r i o s v a r i a va m , as d e s i g n a ç õ e s
p rofissionais ta m b é m sofrera m decerto evol u ções, etc. Por outro lado, o s menores d e
1 4 a n os s u rgem q uase sistematica mente ignorados, no toca nte a este aspecto.
Não obsta nte, o auto r fez o reconhecimento possível das p rofissões dos e migra ntes
declaradas à sua parti d a , seleccionando períodos ( 1 840-49, 1 860-64, ( ... ) , 1 899) e m que a
rep resentatividade d este tipo de registo se torna mais i ntensivo, assegu ra ndo uma re
presentatividade superior a 5 0% d o fluxo, na componente mascul i na de maiores de 1 4 anos.
1 . sector primário
1 . 1 . Agro-pecuá ria
1 .2 . Pesca
1 . 3 . M i nas
1 .4. Não especifi cadas
2 . 1 . construção civil
2 . 2 . Vestuário, têxti l e ca lçado
2.3. Meta l u rgia
2.4. O u rivesa ria
2 . 5 . Madeira e m o b i l iário
2.6. A l i menta r/ p a n i fi cação
2.7. Tipogra fia/ed i çã o
2 . 8 . O l a ria
2.9. Construção nava l
2 . 1 o. cou ros e c u rtumes
2 . 1 1 . Diversos
2 . 1 2. Não especificados
3 . Sector terciário
3 . 1 . Comércio
3 . 2 . Tra nsportes
3 . 3 . Saúde e higiene
1 89
PAULA GUILHERMINA DE CARVALHO FERNANDES
3.4. Artes
3 . 5 . Ensino
3.6. Serviços
J o rge Fernandes Alves assinala desde l ogo a fa l i b i l idade d este tipo d e classi fi caçã o,
não só p o r q u e a d esignação d e "ocu pação" nem sem pre é ass i m i lável à d e " p rofissão",
mais m o d e r n a , m a s ta m b é m porque n a s s o c i e d a d e s tra d i ci o n a i s é s e m p re d i fíci l
discernir, como a l iás já Ferna n d o de Sousa e J. M. Naza reth ou Rui cascão assina lava m ,
onde começa m e a c a b a m as l igações à terra , as l i gações entre produção e comercia l i
zação , etc. N o ponto 4 . d este tra ba l h o , teremos a oportu n idade d e a bordar este te ma,
q u e se nos a figu ra fu ndamenta l .
N o e n t a n t o , esta g re l h a a p rese nta u m a i n ovação q u e n o s p a rece i nt e ressante
rea l ça r: trata-se d o "4" sector", d e "diversos i n d ete rminados", q u e o autor menciona
serem os ca p i ta l istas e p ro p ri etá rios, "já q u e não sa bemos se estão l i gados ao comé rcio,
à i n d ústria ou mesmo à agricultu ra " 4 9 . O ptou então por uma a rrumação própria, fora
dos sectores tra d icionais, o q u e não deixa de traduzir uma preocu pação em aj usta r a
gre l h a sacio - p ro fi ssiona l o mais possív e l a uma rea l i d a d e da q u a l n u n ca sabemos o
s u f i c i e nte. P o d e r-se-à d iz e r q u e n ã o é u m i n d i cativo e co n ó m i co c l a r o , mas c o n s i
d e ra mos q u e, sendo u ma agregação profissional lata, é ta mbém e essencia l mente u m
i n d i ca d o r da posição socia l e mesmo da i d e ntidade social d o s i ntervenientes, o q u e são
ta mbém o bjectivos d e uma q u a l q u e r gre l h a sacio-profissional.
3 . a . S ) Gaspar M a rt i n s P e re i ra t ra b a l h o u c o m registos p a roq u i a i s , os " L i vros da
Desobriga" (os Róis d e Confessad os) pa ra a freguesia d e Cedofeita, no Porto, em fi nais do
séc. XIX ( 1 8 8 1 ). Opto u , d e ntro das l i n has d e pensamento desenvolvidas nesse tra ba l h o ,
com cara cte rísticas d e a p roxi mação à sociologia, por u m a d ivisão dos gru pos sacio
p ro fi ss i o n a i s (segu n d o a categoria s a c i o - p rofiss i o n a l d o ca b e ça - d e - casa l ) e m três
gra n d e s classes, que d e s i g n o u por " C l asses s u p e r i o re s " , " C l asses M é d i a s " , " C l asses
populares", e u m "Grupo socia l I n d ete rm i nado" s o .
G RUPO SÓCIO-PROFISSIONAL
2. Classes Médias
2 . 1 . Pequ e nos pro p ri etá rios e lavradores
2 . 2 . Peq u e n o e m é d i o comércio esta belecido
2.3. M estres d e o fícios e pequenos i n d ustriais
2 . 4 . E m p regados e fu ncionários
.
2 . 9 . Outros
1 90
A CLASSIFICAÇÃO SÓCIO-PROFISSIONAL: UMA QUESTÃO EM ABERTO
Aqui se n ota u m a capaci dade, por pa rte das fo ntes, de fornecer elementos razoavel
mente claros, a fí m d e permiti r a o pçã o por uma grelha destas. o autor uti l izou , ta mbém
e m certos casos, o cruza m e n to d e fontes, o q u e l h e permitiu a ferir da qualidade da
designação p rofiss i o n a l mencionada, para só mencionarmos o vector que aqui nos i nte
ressa. Não nos devemos esquecer, ta l como refe re Gaspar Ma rti ns Pere i ra , d e que a
fonte em q uestão a q u i util izada e ra de m u i to boa q u a l i dade. Por outro lado, veri ficamos
aqui u m a m b i e nte clara m ente u rbano e em situação a rtesa nal d esenvolvida, com uma
preva l ência das profissões l igadas ao sector secu ndário e a o terciá rio.
Dos cinco exemplos expostos, podemos reti ra r a lgumas i lações:
a) todos eles partem da situação " fonte(s) disponível(eis)" e das suas ci rcu nstâ n cias.
Situação segu ra , traz n o e ntanto consigo a q uestão d e serem as fontes e o q u e
elas q u e re m m ostra r, a e n formar a grelha d e leitu ra das p rofissões
b) a lguns autores o ptam por uma d i ferenciação de tón i ca social mais acentuada, como
é o caso d e Rui cascã o ("Classe J", " Classe 11", "Classe I I I ") ou d e Gaspar Marti ns
Pere i ra ("Classes superi o res", "Classes médias", "Classes populares"). Outros, o pta m
por uma d i fe re nciação o n d e p re d o m i na a tón i ca eco n ó m i ca , isto é, o sector d e
a ctividade profissional em q u e o indivíduo s e i nsere - é o caso de Ferna ndo de Sousa
e J . M. Nazareth ("Profissões agrícolas", "Artesa nato", "Comércio e serviços"), ou de
J o rge Alves ("Secto r p r i m á r i o " , "Sector secu n d á ri o " , "Sector terciário", " D i ve rsos
i n d eterm i n a d os") o u a i nda Rui cascã o , que u t i l iza, n u m mesmo tra b a l h o , d o i s
critérios d e d i ferenciação tipológica socio-profíssi ona l , co m o já vimos
191
PAULA G U/LHERMINA DE CARVALHO FERNANDES
1 92
A CLASSIFICAÇÃO SÓCIO-PROFISSIONAL: UMA QUESTÃO EM ABERTO
e ra i m p o rta n te p a ra m e d i r as c o n s e q u ê n c i a s de d e t e r m i n a d a s m e d i d a s f i s c a i s .
o recensea m ento d e 1 8 9 6 e m Fra nça, q u e já tivemos a oportu n i dade d e mencionar,
serviu igua l m e nte de recensea m e n to i n d ustri a l .
O critério do estatuto dentro da profissão acabará por surgir, mercê ta mbém da diversi
fi cação extre ma da sociedade. De i níci o, d isti ngu i a m -se s implesmente os em pregadores
(patrões), os i n d e p e n d e ntes, os e m p regados, trabalhadores, isolados e dese m p regados.
Frequente m e n te , reagru pava m -se e m p regadores e i ndepend entes, empregados e tra
balhadores, enquanto os isolados e desempregados eram ventilados para outras categorias.
o i n teresse por d isti ngu i r, d e ntro d e ca da profissã o, o estatuto do ind ivíd uo, vai apare
cendo p rogressiva m e n te, porque i rá permitir, numa é poca de diversifi cação profissi ona l
dentro d e u m a mesma e m presa , n ã o confu n d i r pessoas q u e estão nos d oi s extre mos
de uma esca la socia l , q u a n d o se enco ntra m na mesma a ctividade co lectiva 60 _
o tra b a l h o fem i n i n o n u n ca foi correcta m ente recenseado, pelo menos até 1 9 1 4 , na
Europa. É ce rto que a lgumas p rofissões fe m i n i nas era m já a p o ntadas desde cedo, como
era o caso das costureiras, lava d e i ras, etc. Mas, de modo ge ra l , ou era m consideradas
"i n activas", o u e ra m p u ra e si m p l es mente igoradas, mesmo quando trabal hava m fora
de casa, em co m p l e m e nto do o rça m e nto doméstico 61
_
A normal ização das n o m e n claturas fo i um o bjectivo claro das várias sessões que o
Congresso I nternaci o n a l de Estatísti ca foi p romove ndo, em especial a partir da década
de 1 8 70. Devemos destacar o frutuoso trabalho de Jacques Berti l l o n , que a p resentou
sucessiva m e n te, e m 1 8 89 (Pa ris), e m 1 8 9 1 (Viena) e em 1 893 (Chi cago) três propostas de
classifi cações sócio-profissi onais, m e l h o radas e ntre cada u ma das sessões, media nte as
sugestões que lhe era m a p resentadas pelos seus colegas. o quadro gera l (especialmente
da versão de 1 89 1 e d e 1 8 93), fu ndado sobre a natureza das actividades, é curiosa me nte
próximo daquele que i rão propôr Alen B. Fischer ( 1 935) e Colin Clark ( 1 940). o Instituto Inter
nacional de Estatística vai adoptar os projectos de Berti llon em 1 893, na sessão de Chicago.
Antó n i o Pinto Ravara a p resento u , n u m tra b a l h o recente sobre classifi ca çã o sacio
p rofissio n a l e m Po rtuga l 62 , um quadro comparativo das três versões desta classifi cação,
s u b l i n h a n d o , l ogo á parti da, a persistência de u m mesmo modelo, não obsta nte ce rtas
d i fere n ças secu n d á rias 63 _
QUADRO 1
13 1 93
PAULA G U/LHERMINA DE CARVALHO FERNANDES
1 - Classe do clero
11 - Classe da toga
1 94
A CLASSIFICAÇÃO SÓCIO-PROFISSIONAL: UMA Q UESTÃO EM ABERTO
I I I - Classe da A d m i n i straçã o Pú b l i ca
IV - Classe do com é rcio
V - Classe dos a rtistas
VI - Classe dos o fícios mecâ n i cos
VIl - Classe da marinha m i l i ta r e m e rca ntil
VIII - Classe da navegação dos rios e pesca rias
IX - Classe dos a d u ltos a ptos para to mar estado
X - Classe dos e m p regados no serviço p ú b l i co e dos particulares
X I - Classe d os m e mb ros i núteis ao Estado, por suas moléstias
XII - Classe dos agricu l tores
1 95
PAULA GUILHERMINA DE CARVALHO FERNANDES
QUADRO 2
IV. Esta b e l e c i m e ntos d e p i e d a d e I V . Ciências, medicina e a rtes l iberais: IV. Ciências, medicina e a rtes l i berais:
1. Professores de ciências 1. Professores
2. Mestres de 1 's letras 2. Mestres de 1' 's letras
3 . Estudantes acima dos 1 6 anos 3. Estudantes acima dos 1 6 anos
4. Medicina, cirurgia e farmácia 4 . Medicina, cirurgia e farmácia
S. Artes li berais S. Artes li berais
V . Agri c u l t u r a V. Indivíduos q u e vivem d a s suas rendas: V. Indivíduos que vivem das suas rendas:
1. Proprietários 1. Proprietàrios
2. O utros 2. Capitalistas
3. outros
X. Diversidades X . M e n d igos
X I . I n d i v í d u o s n ã o classificados
1 96
A CLASSIFICAÇÃO SÓCIO-PROFISSIONAL: UMA QUESTÃO EM ABERTO
M a s , e m 1 8 4 1 , m e rc ê d e u m a s i t u a ç ã o c o nj u n t u ra l q u e se v i v i a ( fi n a i s d o
setem brismo e i nícios d o ca bra l ismo), e m q u e o Estado necessitava d e estrutu ra r u m
novo sistema fisca l , M . M . Fra nzi n i , n a a ltu ra responsável pela Comissão d e Estatística
Portuguesa, e la b o ra u m a nova classifi cação soci o-profissiona l , que só será p u b l i cada em
1 84 3 78. " Exigia-se um conheci m e nto da composiçã o da sociedade portugu esa , já não
estrutu ra d a e m o r d e n s o u esta d os s o c i a i s , m a s e n te n d i d a c o m o um conj u nto de
cidadãos" 7 9 . Mais uma vez, Franzi n i recorre a o censo d e Espa nha p u b l i cado em 1 80 1 e
c l a ss i fi ca a p o p u l a ç ã o mascu l i na com m a i s d e 1 4 a n os. M a i s u m a vez se d i v i d e a
sociedade em grandes gru pos, mas a u m e nta o n ú mero d estes para onze (Cf. Quadro 2),
com su b-d ivisões. Altera a lguma da ordem desses gru pos, va l o rizando uns em detri
mento de outros (veja-se o exe m p l o da " classe" do "Clero" e da "Ad m i n i stração Pública".
Esta é va l o riza d a , e m 1 84 3 , face à q u ela).
Antó n i o Pi nto Rava ra , n o tra ba l h o aci ma cita d o , faz u m a observação aturada da
evo l u ção que esta nova gre l h a c o m p o rta 8 o . Nós gosta ría m o s a pe n a s , e m j e i to d e
conclusão sobre os esforços d e classifi cação sacio-profissional encetad os em Po rtuga l
na pr im eira m etad e do séc. XIX, de mencionar os segui ntes factos:
b) o i n d ivíd u o passou l e nta m e nte a ser entendido, não essencia l m e nte como "ser
soci a l " , mas como "ser p rofissional e económico"
1 97
PAULA GUILHERMINA DE CARVALHO FERNANDES
Agricultura
Pesca
I n dústria extractiva
I n d ústria tra nsfo rma dora ( ) (+)
*
Transportes
Co m é rcio
Ad m i n istração p ú b l i ca e d e fesa
Serv iços diversos
S e n d o esta u m a d a s ú l t i m a s g re l h a s p ro f i ss i o n a i s a p re s e n t a d a s n a m e s a d e
tra ba l h os c i e ntífi ca, p e n s a m os s e r d e toda a a ctua l i d a d e remata r este su b-ca pítu l o
a p o nta n d o - a . U m a b reve a n á l i s e d a m e s m a m ostra rá u m a t i p i fi ca ç ã o q u e n ã o se
encontra longe das já a p resentadas neste trabalho, não obsta nte, é certo, d i fe re nças
i rrefu táveis q u e p a rtem das fontes (neste caso, fo ra m os Recensea m entos G e ra i s da
popu lação) e dos fi ns com que as gre l has fora m construídas (maior ou menor necessi
dade d e agrega ção, etc).
1 98
A CLASSIFICAÇÃO SÓCIO-PROFISSIONAL: UMA QUESTÃO EM ABERTO
1 99
PAULA G UILHERMINA DE CAR VA LHO FERNANDES
q u e r se trate das zonas ru ra i s ou de zonas u rbanas (no caso português, d isti ngu i ria
como zonas u rbanas, à p ri m e i ra vista , as cidades d e Lisboa e Porto). A d i ferenciação
profissio n a l e ntre estes dois casos é ta l , q u e justifica provave l m ente uma tipologia mais
a d a p ta d a ao caso r u ra l ou ao caso u r b a n o , u m a vez q u e e s t e a p re s e n ta u m a
d iversidade m a rca da, típ i ca das sociedades u rbanas d e Antigo Regi me.
Ao debruçarmo-nos sobre as sociedades setecentista e oitocentista , não nos devemos
esquecer q u e se trata m de sociedades com p l exas. É u m m u n d o soci a l marcad o por
d i feren ciações i m p o rta n tes, n ã o fa c i l m e nte detectáveis, até porq u e não há re lações
concretas d e salariado.
A s i t u a ç ã o p ro fi ss i o n a l do i n d i v í d u o d e m a rca - s e f r e q u e n t e m e n t e por u m a
p l u riactividade, o q u e torna extremame nte d i fíci l a sua tipifi cação. Gera l m e nte, a fonte
ressa lta a a ctividade que se consi dera mais i m porta nte, numa situação a rbitrá ri a, mas
ta l não sign i fi ca que a ba rq u e m os o "espaço socia l " d esse i n d ivíduo e fi ca mos decerto
com uma ideia pa rce l a r do mesmo. Já Miriam Hal pern Pere i ra menciona, n u m estudo
e fectuado sobre o tra b a l h o , n o Antigo Regi m e 88 , q u e "a fronte i ra entre a p rodução e o
comércio não e ra nítida ( . . . ): o sa patei ro fazia e vendia, o a l fa iate ta mbém ( . . . ). E até os
ca r p i n t e i ros d e s e g e s v e n d i a m as s e g e s , p o r i ss o e n t ra n d o e m c o n f l i t o c o m os
respectivos corre e i ros q u e ta m b é m as q u e r i a m v e n d e r ! " 89 A pr od u çã o nã o estava
desl igada da c o m e rc i a l ização e este fa ctor, típ i co das sociedades d e Antigo Regi m e ,
l eva nta o p ro b l e ma fu l cra l de distingui rmos, segu ndo modernos conce itos eco n ó m i cos,
a que secto r d e a ctividade perte ncia o i n d ivíd uo e m estudo. Esta d i ficuldade é, a liás,
mencionada pela ge n e ra l idade dos autores q u e com ela se defronta ra m , ao fazerem
estudos d e mográ fi cos, sociais e eco n ó m i cos d e sociedades d e Antigo Regi me.
com pree n d i d o este p ro b l e m a , a pergunta q u e se põe na mesa é, d e q u e modo
podemos nós u ltra passa r o con ceito d e actividade ú n i ca para tipifi cação e ava n ça r no
s e n t i d o d e gre l h a s m a i s co m p l exas mas igua l m e nte l egíve i s , q u e c o m p re e n d a m o
conceito de p l u riactivi dade? É possível?
Como ti p i fi ca r o caso d e fi nais do sécu l o passado, descrito, entre outros exe m plos,
por J o rge Alves 90 , numa obra recente, d e Joaq u i m de Sousa Arozo, formado em d i reito
p e l a U n i ve rs i d a d e de Co i m b ra , casa d o e m Matos i n hos, mas a d m i n istra n d o p o r sua
conta, através d e um feitor, a "Qui nta de Q u i res", em Vila Nova d e Telha? Esta havia - l h e
s i d o l egada p o r s e u p a i . J oa q u i m d e s e n v o l v e u a l g u m a s o b ras d e v u l to na q u i nta ,
n o m e a d a m e nte m a n d o u fazer u m a gra n d e p l a n tação d e h o rta l i ças e legumes q u e
tencio nava comerci a l iza r na cidade do Porto, ta l como o leite de n u m e rosas vacas que
comprou. N egoci o u as m u itas ca rva l h e i ras q u e a casa possuía p a ra fa zer ca rvã o a
v e n d e r n a c i d a d e . M a s as h o rta l i ça s n ã o p r o d u z i a m , a fortu n a i a -se d e s fa l ca n d o .
Entreta nto, d e d i ca-se à ca rre i ra bu rocrática , tenta n d o a i nda a ntes u m a eleição fa l hada a
de putado. Consegue ser d u ra nte a lgum tem po a d m i nistrador da Maia e assume depois
o ca rgo d e ta belião e m Matos i n h os. É nesta ci rcu nstância, em 1 8 70, que a q u i nta l h e é
com p rada por u m " b ras i l e i ro".
Com o e n ferma m os nós este i n d ivíduo? Tudo depende, em parte, da documentação
a que acedermos. É u m "proprietário", um "capitalista", um "doutor em leis", um "negocia nte",
um " fu n ci o n á ri o su perior", um "ofício públ ico", pertence ao " funcionalismo", "serviços",
" p ro p ri etá rios"?
F i n a l m e n te , n ã o p o d e m o s r e m a ta r este tra b a l h o sem a b o rd a rm o s a q u estã o
concreta da m o b i l i dade. Esta já foi , de facto, mencionada aqui e a l i , ao l ongo deste estudo.
Pensamos q u e nos fa lta a ponta r a i nda a lguns fa ctores ligados a ela. Pri mei ra m e nte, a
200
A CLASSIFICAÇÃO SÓCIO-PROFISSIONAL: UMA QUESTÃO EM ABERTO
5. Fo nt e s e B i b l i ografia
5 . 1 ) Fo ntes
FRANZIN I , M . M . - Ins trucções statisticas que por ordem d o Excellen tissimo e Reverendíssimo
Senhor Principal So uza compillo u M. M. Franzini (.. .) em 1 8 1 4 , Lisboa, I m p ressão Regia, 1 8 1 5
Recenseamento dos Bairros de Santa Catarina, Cedofeita e Santo Ovídio, Arq u i vo H istórico
M u nicipal do Porto
Registo de Fogos ( 1 8 2 7), Maço n" 1 8 2 8 , Arq u ivo H istórico e M u n icipal do Porto
201
PAULA GUILHERMINA DE CARVALHO FERNANDES
5 . 2 ) B i b l i o g ra fia
ALvEs, Jorge Ferna ndes - os Brasileiros. Emigração e retomo no Porto oitocen tista, (versão da
d isse rta ção de Doutora me nto e m H istória Moderna e Contem porânea a p resentado à Facu ldade de
Letras d a U n iversidade d o Porto), Porto, Ed. Autor, 1 994
BLUM, Alain et GRIBAUDI, Ma u rizio Les déclara tions professionnelles. Pratiques, inscriptions,
-
sources, "Annales. Éco n o m ies. Soci étés. Civil izations", Paris, n." 4 , J u i l l e t - Aout, École des Hautes
Études e n Sciences sociales, Armand col i n Éditeur, 1 99 3 , p. 9 8 7-995
CoRDEIRO, G raça índ ias - A construção social de u m bairro de Lisboa: a vocação marítima da Bica
através dos seus registos de baptismo e de nascimento ( 1 886- 1 970), "Ler História", n." 2 6 , Lisboa , p.
1 2 5 - 1 49
DurAQUIER, Jacques e DurAQUIER, Michel - Histoire d e l a Démographie, Pa ris, Libra i rie Aca d é m i q u e
Perri n , 1 98 5
DurAQUIER, Jacques, - L a population du bassin parisien à l'époq ue d e Louis XIV, Paris. École des
Hautes Études en Scienes Sociales, 1 9 79.
DurAQUIER, Jacques - Pon toise et les Pon toisiens en 1 78 1 , Pontoise, Ville de Pontoise et Société
historique et a rchéologi q u e de Pontoise, du Vai d 'Oise et du Vexi n , 1 99 2
DurAQUIER, Jacq ues - Problémes de l a codification socio-profissionelle, i n "H istoi re ( L ' ) Sociale",
Paris, 1 96 7 , p. 1 5 7 - 1 8 1
DUPAOUIER, Jacques Une grande enq uête sur la mobilité géographique e t sacia/e aux XIXe et
-
G RIBAUDI, M a u rizio et BLUM, Alain -Des catégories aux liens individueis: l'analyse statistiq ue de
/'espace social, "Annales. Économ ies. Sociétés. Civil izations", Paris, n" 6, Nove m b re-Décembre, Éco le
des H a u tes Études e n Sciences Sociales, Armand Col i n Éd iteur, 1 990, p. 1 36 5 - 1 402
G uERREAu, A l a i n - A propos d 'une liste de fréquences des dénom inations professionnelles dons la
France du XIXe siéc/e, "Annales. Économ ies. sociétés. Civil izations", Pa ris, n" 4, J u i l let - Aout, Écol e
d e s H a u tes Études en Sciences Sociales, Armand Col i n Éditeur, 1 99 3 , p. 9 79-986
HÉLUN, Eti e n n e - Profissão e Es tat u to Social, i n MARCÍ L I O , Ma ria Lu iza (o rg.) - " D e m ogra fia
H istórica. Orienta ções Técnicas e Metodológicas", São Pa ulo, Livra ria Pioneira Editora, 1 9 77, p. 1 7 5- 1 98
202
A CLASSIFICAÇÃO SÓCIO-PROFISSIONAL: UMA QUESTÃO EM ABERTO
LEVI, G iova n n i - Carriéres d 'artisans et marché du travai/ à Turin (XVIIIe - XIXe siécles), "Anna les.
Économ ies. sociétés. Civi l izations", Paris, n." 6 , Novem b re-Décem bre, École des Hautes Études e n
Sciences Sociales, Arma nd Col i n Éditeur, 1 990, p. 1 3 5 1 - 1 3 64
MATA, Ma ria Eugé n i a e VALÉRIO, N u n o - História Económica de Portugal. Uma perspectiva global,
Lisboa, Col. F u n d a m entos, Editorial Presença, 1 994
MtRILLÉ, D o m i n i q u e - Les classements profissionels dans /es enquêtes de mobilité, "An nales.
Économ ies. Sociétés. Civil izations", Paris, n." 6 , Novem bre-Décem bre, École des Hautes Études en
Sciences Socia les, Arma nd Col i n Éditeu r, 1 9 90, p. 1 3 1 7- 1 3 3 4
NuNES, Ana B e l a - População activa e actividade económica em Portugal dos finais do século XIX
à actualidade - uma contribuição para o estudo do crescimento económico português, d isserta ção
de Doutora m ento a p resentada à U n iversidade Técn ica de Lisboa , 1 989.
NuNES, Ana Bela A evolução da estrutura, por sexos, da população activa em Portugal - um
-
indicador do crescimento económico ( 1 890 - 1 98 1 ), "Anál ise Social", vol. XXVI ( 1 1 2/ 1 1 3), Lisboa , 1 99 1 ,
p. 7 0 7 - 7 2 2
PEREIRA, G a s p a r M·. Martins - Famílias portuenses na viragem do século ( 1 880 - 1 9 1 0), d isse rtação
de Doutora m e n to em H istória Moderna e Contem porânea a p resentada à Facu ldade de Letras da
U n iversidade d o Porto, policopiada, Porto, 1 993
PEREIRA, M i ri a m H a l pern - Das revoluções liberais ao Estado Novo, Lisboa, Editoria l Presença, 1 994
RAVARA, Antó n i o Pinto - A classificação socioprofissional em Portugal ( 1 806 - 1 93 0), "Anál ise
Socia l " , vol. XXIV (1 03/1 04), Lisboa, 1 98 8 , p. 1 1 6 1 - 1 1 84
SERRÃO, ]oel - Fon tes da Demografia Portuguesa ( 1 800- 1 862), Lisboa, Livros Horizonte, 1 9 73
SILVA, Álvaro Ferreira da - Família e trabalho doméstico no "hinterland" de Lisboa: Oeiras, 1 763- 1 8 1 0 ,
"Anál ise Socia l " , v o l . X X I I I ( 9 7 ) , Lisboa, 1 9 8 7 , p. 5 3 1 - 5 6 2
THÉVENOT, L o u i s - La politiqu e des s tatistiques: /es origines sociales des enquêtes de mobilité
sacia/e, "Annales. Éco n o m ies. Sociétés. Civil izations", Paris, n." 6 , Nove m b re-Décembre, École des
Ha utes Études e n Sciences Socia les, Armand Col i n Édite u r, 1 990, p. 1 2 7 5 - 1 300
203
PA ULA GUILHERMINA DE CARVALHO FERNANDES
N OTAS
1 . H ÉLIN, Etie n n e - Profissão e Estatuto Social. i n MARCiUO, Maria Luiza (org.) - "Demografia Histórica. Orienta ções
Técnicas e Metodológicas", são Pa u l o , Livraria Pioneira Ed i tora , 1 9 7 7, p. 1 76.
2. BLUM, A l a i n et GRIBAUDI, M a u rizio - Les declarations pro[essionnel/es. Pratiques, inscriptions, sources. "Annales.
Économies. Sociétés. C i v i l izations", Pa ris. n." 4, J u i l let - Aout, École des Haures Études en Scien ces Sociales,
Arm a n d Colin Éd i te u r , 1 993, p. 990.
3. Idem, i b i d .
4. Em bora se traduza l i tera l m ente c o m o "cultivador" ou "agri cultor", pensamos q u e é o equivalente a o termo
português " lavrador", tão fre q u e n te e m l istagens de Antigo Regi me.
6. GODINHO, Vitori n o Maga l hães - A construção de modelos para as economias pré-estatísticas, " Revista de H istória
Eco n ó m i ca e Soc i a l " , n" 1 6, Lisboa. Livraria Sá da Costa Editora, 1 98 5, p. 3.
7. MERLLI É, Dom i n i q u e - Les c/assements profissione/s dons /es enquêtes de mobilite, " A n n a l es. Économies.
sociétés. Civi l i zations", Paris, n ' 6, Nove m b re-Décembre, École des Hautes Études en Sciences Sociales, Armand
C o l i n É d i te u r, 1 990, p. 1 326.
9. Falamos do I n q u érito conhecido pelo " I n q uérito das 3.000 fa m í l ias". Para mais deta l h es sobre este corpus, cf.
Bulletin des 3.000 [ami/les, B u l letín de liason bisa n n e l l e de J'enq uête é d i tée par !e Laborato i re de Démogra p h i e
Historique.
1 O. GRIBAUDI, M a urizio et BLUM, A l a i n - Des categories aux liens individueis: /'ana/yse statistique de /'espace social,
p. 1 384.
1 1 . Registo de Fogos ( 1827), Maço n." 1 828, Arquivo H istórico M u n icipal do Porto.
1 2. FERNANDES, Paula G u i l hermina de c. - Breve abordagem a uma estrutura sacio-profissional no Porto nas vésperas
do Cerco ( 1827), e ntregue p a ra p u b l icação nas Actas do congresso "O Porto na Época contemporânea", promo
v i d o pelo Ateneu comerci a l d o Porto em Outubro de 1 989, p. 15
1 3. um exemplo: isso seria o q u e aconteceria se tentássemos dar, desde já, uma h i pótese de d i visão cronológica
e n tre as gre l has sacio-profissionais p a ra u m a leitura a nível nacional da popu lação e sociedades portuguesas.
As datas d esta mesma d ivisão seriam forçosa mente objecto de d i scussão, bem como as próprias designações
profissionais esco l h i das e as posteriores agregações.
1 4. GODINHO, Vitori n o Maga l hães -- A construção de modelos para as economias pré-estatísticas, " Revista de
H istória Eco n ó m i ca e soci a l " , n." 1 6, Lisboa, Livraria Sá da Costa Editora, 1 985 , p. 3- 1 6.
1 6. Idem, p. 7.
1 7. Idem, p. 1 4.
1 8. BLUM, A l a i n et GRJBAUDI, Maurizio - Les declarations professionnelles. Pratiques, inscriptions, sources, p. 989.
20. Idem, p. 1 4.
2 1 . GRIBAUDI, M a u rizio et BLUM, A l a i n - Des categories aux liens individueis: /'ana/yse statistique de /'espace social,
p. 1 366 e 1 399.
204
A CLASSIFICAÇÃO SÓCIO-PROFISSIONAL: UMA QUESTÃO EM ABERTO
2 3 . GRIBAUDI, M a u rizio et BLUM, A l a i n - Des catégories aux liens individueis: / 'analyse statistique de /'espace social,
p. 1 3 80.
24. O u seja, segu i n d o a nomenclatura para as categorias socioprofissionais do Recensea mento fra ncês de 1 8 96,
e l a s mesmas res u l ta d o d e toda uma reflexão n o s e i o I n stituto I n te r n a ci o n a l d e Estatística e sendo o
resultado, em especial da reflexão de J. BERTILLON - Nomenclature des professions. comptes rendus de la 4e
session du Congrés de Chicago ( 1 893), in " B u l letin de I ' I IS", t. V I I I , 1 89 5 , p. 2 2 6 - 2 6 2 . ln GRIBAUDI, Maurizio et
BLUM, A l a i n - Des catégories aux liens individueis: /'ana/yse statistique de /'espace social, "Annales. Économies.
Sociétés. Civil i zations", Paris, n' 6, Novembre-Décembre, École des Hautes Études en sciences socia les, Armand
Col i n Éditeur, 1 990, p . 1 3 7 4 , 1 3 7 5 ou 1 3 76 e ainda p . 1 4 0 1 .
2 5 . SEWELL, W. H . - Structure and mobi/ity: the Men and Women in Marseille, 1 820- 1 870, Ca mbridge, Cambridge
U n i versity Press; Paris, Éd i tions de la Maison des Sciences de I'Homme, 1 9 8 5 . "The occu pati onal categories
described ( ...) a re based chiefly o n economic fu nctio n rather than on d i fferences of wealth or status".
26. No seu seio, d estaca m-se 6 p rofissões, a saber, os agricultores (27% dos i n d ividuas), os jorna l e i ros, domés
ticos, proprietários, tra b a l hadores ou tece lões.
27. Registo de Fogos ( 1 827), Maço n" 1 8 2 8 , Arquivo Histórico M u n icipal do Porto.
28. São elas, por ordem d e i m portâ ncia, lavrador, jornaleiro, doméstico, proprietário, trabal hador, tece lão, pe
d r e i r o , s a p a t e i r o , m a r ce n e i ro , a l fa i a te. ln G R I B A U D I , M a u ri z i o et B L U M , A l a i n - Des catégories aux liens
individueis: l'analyse statistique de /'espace social, p. 1 3 69.
3 1 . Idem, p. 1 3 80 e 1 3 94.
3 3 . Idem, i b i d .
3 4 . R ó i s d e bestei ros do conto, Listas de Ordena nças, o I m posto do M i l hão, o Maneio da Décima, etc.
3 5 . Para uma i n formação mais deta l hada sobre este tipo con creto de fontes de Demografia H istórica , veja-se, por
exemplo PEREIRA, Gaspar M . - Estruturas familiares na cidade do Porto em meados do séc. XIX. A freguesia de
Cedofeita, Porto, d issertação de Mestrado em História Moderna e contemborânea a p resentada à Facu ldade de
Letras da U n iversidade do Porto, policopiado, 1 9 86; ou ALVES, Jorge Fernandes - Uma comunidade rural do
Vale do Ave - S. Tiago de Bougado, 1 640 - 1849 (estudo demográfico), Porto dissertação de Mestrado em História
Moderna a p resentada à Faculdade de Letras da U n iversidade do Porto, poli copiada, 1 986. Mas os tra b a l h os
em Demografia H istórica baseando-se n este tipo de fontes têem-se m u ltipl icado. Veja-se, entre outros, SI LVA,
Álvaro Ferreira da - Família e trabalho doméstico no "hinterland" de Lisboa: Oeiras, 1 763- 1 8 1 0, "Anál ise Soci a l " ,
vol. XXIII (97), Lisboa , 1 9 8 7 , p. 5 3 1 - 5 6 2 ; RODRIGUES, Teresa - Para o estudo dos ráis de confessados a freguesia
de Santiago em Lisboa ( 1 630- 1 680), " N ova Históri a " , n " 2 , 1 9 8 6 ; O'NEILL, Brian - Proprietários, jornaleiros e
criados numa aldeia transmon tana desde 1 886, "Stu d i u m Generale", n ."s2/3, 1 9 8 1 , p. 39-4 1 ; AMORIM, Norberta
- Exploração de ráis de confessados duma paróquia de Guimarães ( 1 734- 1 760), G u i marães, 1 98 3 .
36. NAZARETH , J . M a n u e l e SOUSA, Fernando - A demografia portuguesa do Antigo Regime. samora correia e m
205
PAULA G U/LHERMINA DE CARVALHO FERNANDES
3 7. DUPÂ QUIER, Jacques. - La population du bassin parisien à l'époque de Louis XIV, Paris, École des Haures Études
e n Scienes Soci a l es, 1 9 79.
39. Idem, p. 6 2 .
40. S I LVA, A lvaro Ferrei ra da - Família e trabalho doméstico no "hinteriand" de Lisboa: Oeiras. 1 763- 1 8 1 0, "Anál ise
Socia l " , vol. XXIII (97). Lisboa, 1 98 7 , p. 5 3 6 .
4 1 . Idem, ibid.
4 2 . CASCÃO, R u i - Demografia e sociedade. A Figueira d a Foz na primeira metade do século XIX, "Revista d e
H istória Eco n ó m i ca e Socia l " , n." 1 5 , Lisboa, Livra ria Sá da Costa Ed itora, 1 98 5 , p. 8 3 - 1 2 1 .
4 3 . Idem, p . 8 7 .
44. I d e m , i b i d .
46. I d e m , p. 1 1 5 .
4 7 . ln SERRÃO, Joel - Fontes de Demografia Portuguesa. 1 800- 1 862, Lisboa, Livros Horizonte, 1 9 7 3 , p. 1 4 7.
4 8 . ALVES, Jorge Fernandes - Os Brasileiros. Emigração e retorno no Porto oitocentista, (versão da dissertação de
Douto ra m e n to e m H i stória Moderna e contemporânea a p resentado à Facu ldade d e Letras da U n i versidade
d o Porto), Porto, Ed. A u tor, 1 99 4 , p. 1 96-2 1 0.
50. PEREIRA, Gaspar M. Martins - Famílias portuenses na viragem do século ( 1 880 - 1 9 1 0), d issertação d e Douto
ra m e nto e m H i stória Moderna e Contemporânea a p resentada à Facu ldade de Letras da u n iversidade do
Porto, policopiada, Porto, 1 99 3 , p. 1 6 7, por exemplo.
5 1 . Veja-se, por exemplo, o caso do peso excessivo do sector terciário português e a sua relação com o desen
volvimento económ ico d o país.
5 2 . D U PÂQUIER, Jacq ues e D U PÃQUIER, Michel - Histoire de la Démographie. Pa ris, Librairie Académique Perri n ,
1 98 5 , p. 3 3 0 - 3 3 7.
5 4 . LAVOISIER - De la richesse territoriaie du Royaume de France, 1 79 1 , p u b l i cado e a p resentado por PERROT, J.-CI.,
Pa ris, Éditions d u CTHS , 1 98 8 . Lavoisier propõe as segu i n tes categoroias (aq u i se a pontam. em cada categoria,
apenas as designa ções m a i s significativas): 1) p o p u l a ção das cidades (não com p reen d e n d o os agentes da
agricu ltura q u e aí passam); 2) tra b a l hadores. rendeiros. criados. etc (compreendendo m u l h e res e cria nças); 3)
jorna l e i ros ( ...); 4) v i n h a te i ros e suas fa míl ias; 5) assa lariados nas v i n has; 6) negocia n tes. fornecedores das vilas
e cidades. etc, aqueles vivendo da agricu ltura (homens, m u l h e res e cri a n ças compreen d idas); 7) pequenos
proprietários. vivendo, n a sua maioria, das suas rendas; 8) nobres. eclesiásticos e os seus domésticos. vivendo
fora d a s cidades; 9) e x é rcito fra ncês. Cit. i n G R I B A U D I , M a u rizio et B L U M , Alain - Des catégories aux liens
individueis: l'analyse statistique de /'espace social. "Annales. Économies. Sociétés. Civil izations", Pa ris. n." 6,
Novem b re-Décembre, École des Hautes Études en Sciences Sociales, Armand Colin É diteur, 1 990, p. 1 3 7 3 e 1 400.
55. D U PÃ Q U I ER, Jacques e D U PÂ Q U I ER, Michel - Histoire de la Démographie, Pa ris, L i b ra i rie Académique Perr i n ,
1 98 5 , p. 3 3 1 . Nesta m e s m a pági na, os a u tores aconse l h a m . a este propósito, a leitura das Actas do Colóquio
Ordres et Classes, Pa ris, La Haye, 1 9 7 3 .
56. Cf., por e x e m p l o , o recenseamento i nglês d e 1 8 3 1 descrito por DUPÂ QUIER, Jacques e DUPÂ QUIER, M i c h e l -
Histoire de la Démographie, Pa ris, Libra i rie Académique Perri n , 1 98 5 , p. 3 3 2 .
206
A CLASSIFICAÇÃO SÓCIO-PROFISSIONAL: UMA QUESTÃO EM ABERTO
58. Agricultura, comércio, m i nas, i n d ústria m a n u facture i ra e fá bricas, serviços domésticos, etc.
59. D U PÂ QUIER, Jacq ues e D U PÂQUIER, M i ch e l - Histoire de la Démographie, Paris, Librairie Académique Perri n ,
1 98 5 , p. 3 3 3 .
6 0 . I d e m , p. 3 3 4 .
6 2 . RAVARA, Antó n i o Pi n to - A classificação socioprofissional em Portugal ( 1 806 - 1 93 0), "Anál ise Soci a l " , v o l . XXIV
( 1 03/ 1 04), Lisboa, 1 98 8 , p. 1 1 6 1 - 1 1 84 .
6 3 . Idem, p. 1 1 69.
64. D U PÂ QUIER, Jacques e D U PÂ QUIER, Michel - Histoire de la Démographie, Pa ris, Librairie Académique Perri n ,
1 98 5 , p. 3 3 5 .
6 5 . RAVARA, Antó n i o Pinto - A classificação socioprofissional em Portugal ( 1 806 - 1 930), p . 1 1 68- 1 1 69.
66. E ntre o censo d e 1 9 1 1 e o de 1 9 30, os critérios d e a p u ra m ento mudam levemente , de uma classificação feita
por profissões, no 1 ." caso, p a ra uma classifi cação fei ta sectorialm ente, n o 2." caso. Em 1 9 3 0 te nta-se pela
1" vez a classi ficação por sectores. l n N U N ES, Ana Bela - A evolução da estrutura, por sexos, da população
activa em Portugal - um indicador do crescimento económico ( 1 890 - 1 98 1 ) , " A n á l ise soci a l " , vo l . XXVI
( 1 1 2/ 1 1 3), Lisboa, 1 99 1 , p. 709 e 7 1 4.
6 7 . Por exemplo, n u m estudo a b rangendo um bai rro de Lisboa entre 1 8 8 6 e 1 9 70, G raça í ndias cordeiro util iza
esta mesma classificação, e m bora faça nela ada ptações, tendo em conta a extensa fatia temporal a b ra ngida
e a evolução das profissões. Agrupou n ove gra ndes fa mílias p rofissionais, a saber, 1. Actividades marítimas,
p o r tu á r i a s e p i sc at ó r i a s ( i n c l u i a A r m a d a ) . 2 . P r o f i s s õ e s c i e n ti fi c a s , t é c n i ca s e a rt í s t i ca s , 3. Pessoa l
a d m i n istrativo, 4. Comércio e vendedores. 5. serviços de protecção e segu rança, pessoa is e domésticos, 6.
Produção e i n d ústria: operários e a rtesãos, 7. Tra b a l h a dores i n d i ferenciadas, 8. Forças Armadas, 9. O utras
- A construção social de um
p rofissões, profissão desco n hecida e sem p rofissão. l n CORDEIRO, G raça í n d ias
bairro de Lisboa: a vocação marítima da Bica através dos seus registos de baptismo e de nascimento ( 1 886-
1 970), "Ler H i stóri a" , n Y 2 6 , Lisboa, p. 1 3 5 .
69. 1dem, p. 1 1 6 1 - 1 1 8 4.
70. Ensaio sobre o Methodo de organizar em Portugal o Exército, Relativo à População, Agricultura e Defesa do
Pais , Lisboa, 1 90 6 . Cit. i n SERRÂO, j o e l - Fontes de Demografia Portuguesa ( 1 800 - 1 862), Lisboa, Li vros
Horizonte, 1 9 7 3 .
72. Basta cf. RAVARA, António P i n to - A classificação socioprofissional em Portugal ( 1 806 - 1 93 0), "Anál ise Socia l " ,
vol. XXIV ( 1 03/ 1 04), Lisboa , 1 98 8 , p. 1 1 7 1 .
7 3 . 1dem. p . 1 1 7 1 - 1 1 72.
74. FRANZINI, M. M . - Instrucções statisticas que por ordem do Excel/entissimo e Reverendissimo senhor Principal
Souza compil/ou M. M. Franzini (. . .) em 1 8 1 4 , Lisboa, I m p ressão Regia, 1 8 1 5 .
7 5 . RAVARA, António Pinto - A classificação socioprofissional em Portugal ( 1 806 - 1 930), "Análise Soci a l " , vol. XXIV
( 1 03 / 1 04), Lisboa, 1 9 8 8 , p. 1 1 72 .
76. Idem, p. 1 1 7 2 - 1 1 7 3 .
207
PAULA G UILHERMINA DE CARVALHO FERNANDES
78. FRANZI N I , M. M. - Considerações àcerca da Renda Total da Nação Portuguesa e sua Distribuição por Classes.
com A lgumas Reflexões sobre o Imposto da Décima, Lisboa, i m p rensa Naci o n a l , 1 8 4 3 .
80. Idem. p. 1 1 7 6 - 1 1 7 7 .
8 1 . Idem, p. 1 1 79 .
8 2 . MATA, M a r i a Eugén i a e VALÉRIO, N u n o - História Económica de Portugal. Uma perspectiva global, Lisboa, Col.
Fundamentos, Editoria l Presença, 1 99 4 , p . 246- 2 5 1 .
84. H ÉLIN, Eti e n n e - Profissão e Estatuto social, i n MARCÍLIO, Maria Luiza (org.) - "Demografia Histórica. Orientações
Técn icas e Metodológicas", São Pa u l o , Livraria Pioneira Editora , 1 9 7 7 , p. 1 8 2 .
8 5 . Idem, p. 1 8 3 .
87. Recenseamento dos Bairros de Santa Catarina. Cedofeita e Santo Ovídio, Arq u ivo Histórico M u n icipal do Porto.
88. PEREIRA, M i ra i m Halpern - Artesãos, Operários e o Liberalismo. Dos privilégios corporativos para o direito ao
trabalho ( 1 820- 1 840), i n PEREIRA, M i riam Halpern - Das revoluções liberais ao Estado Novo. Lisboa. Editori a l
Presença, 1 99 4 , p. 5 5 - 9 6 .
89. PEREIRA, M i riam Halpern - Das revoluções liberais ao Estado Novo, Lisboa. Editorial Presença. 1 994. p. 5 7 .
90. A LVES, Jorge Fernandes - Os Brasileiros. Emigração e retorno no Porto oitocentista, (versão da d issertação de
Doutora m e n to em História Moderna e Contem porâ nea a p rese ntado à Fa culdade de Letras da U n i versidade do
Porto), Porto, Ed. Autor, 1 994, p. 292-293.
9 1 . MERLLI É, D o m i n i q u e - les classements profissionels dons les enquêtes de mobilité, " A n n a l es. Économies.
Sociétés. C i v i l i z a t i o n s ", P a r i s , n . " 6 , Novem bre-Décembre. École des H a u res Études en S c i e n ces Soci a l es,
Armand Colin Éditeur, 1 990, p . 1 3 2 1 .
208
C OR R E NT E S DE OPINIÃO PÚ B LICA
E EMIG R AÇÃO LE GAL NO DIS T R IT O
DE AVE IRO ( 1 8 8 2 - 1 8 9 4 )
Maria Teresa Braga Soares Lopes
Universidade de Aveiro
1. I NT R O D U ÇÃ O
14 209
MARIA TERESA BRAGA SOARES LOPES
produzira m n os seus l eitores, poderá conjectu ra r-se a lgu ma ideia, dado que não fora m
efectuados estud os para nos basearmos, a pesa r de serem conhecidas as gra ndes ti ragens
de, por exem p l o , o p ri m e i ro dos periód i cos apontados, em n ú mero "asso m b roso" 6 Os
jornais ci rcu l a r i a m n u m l e q u e vasto d e pessoas, apesar da maiori a da população ser
a n a l fa beta - n o d i strito d e Aveiro, e m 1 8 90 há uma popu lação a l fa betizada d e maiores
d e 7 a n os (homens) que se ci fra e m 3 1 . 3 o/o ; n o caso das m u l heres, i d e m , 7.8 o/o 7 .
N este pequeno tra ba l ho, o p i n i ões e n otícias de a rticul istas de jornais citados serã o
confronta das, s e m p re q u e possível e e m para l e l o , c o m outras o p i n i ões e c o m os n ú
m e ros evol utivos da e m igração lega l n o d i strito e m causa, e ntre 1 8 8 2 e 1 8 94, s período
d e tem p o que se considerou para a pesqu isa d e e m igração, emb ora a da consu lta dos
periódicos a u ltra passe. A i ncidência da leitura efectuada re lacionou-se com todas as
e d ições de o Povo de Aveiro n o te m p o co nsidera d o, bem como séries i nterva ladas para
o Campeão das Províncias e n ú m e ros do último decéni o do sécu l o XIX para A Vitalidade.
2 . 2 - o Povo de A veiro
210
CORRENTES DE OPINIÃO PÚBLICA E EMIGRAÇÃO LEGAL NO DISTRITO DE A VEIRO ( 1 882- 1 894)
do "j u s t i ça - d e - n o i t e " da m o ra l da c i d a d a n i a e de v i n ci d á ri o ( . . . ) co l o q u i a l m e n te
ta l e ntoso," 1 6 q u e estava convencido de poder modelar a o p i n i ã o p ú b l i ca através das
suas p ró p rias ideias e palavras de i n terventor. Capaz de, através do jorna l , reformar a
sociedade dos homens 1 7 .
No seu" jornal exercia um jornalismo pa n fl etá rio, com bativo, 1 8 i ntra nsigente, a zurzir
tudo e todos, i n c l u i n d o corre l igionários e colaboradores 19 Aca bou por ficar sozi n h o a
emitir textos da sua "tremenda" 2o tri b u n a , "só, contra tudo, contra todos, a com bater" 2 1 .
Pratica n te de u m jornalismo de su cesso (que pouco teria a ver com o ideal repu
b l i ca n o , a liás, como outros jornais de grandes tiragens desta época pouco ti n h a m a ver
com ideários e p ráticas dos p a rtidos), d o q u a l estava a usente qualquer censura , o seu
jornal era a rma q u e ta m b é m fazia pontaria na "emigração". De que forma "a certava "
n esta? Veremos n u m a i l u stração mais á frente.
2.3 - A Vitalidade
j o r n a l c o n s i d e ra d o m o n á rq u i c o , o s e u p r i n c i p a l p e rc u rso fi c o u a d e v e r-se a o
a m a n u e n s e d o G o v e r n o Civi l d e Ave i ro Acá c i o d a Rosa ( 1 8 7 2 - 1 9 5 5 ) , q u e se to rnou
re p u b l i ca n o na pa rte fi n a l da sua vida. o periódico foi tido como " u m dos maes bem
redigidos jornaes d e proví ncia" 22, resultado do labor do seu principal i m p u lsionador.
Col a b o raram n e l e " u m gru po de reda ctores q u e podemos considerar de "escoJ 2 3
para o n osso m e i o " , e ntre o s quais a lguns espa nhóis 24.
o periódico d i rigido pelo anti-iberista Acácio da Rosa 2s teve uma ce rta penetração
na o p i n iã o p ú b l i ca (Ed u a rdo Cerq u e i ra), mas a sua foca l ização na em igração" é muito
escassa.
O distrito de Avei ro é já conhecido, quer por tra b a l hos de emigra ção naciona l , quer
loca l , 26 pela tra d i çã o e p e l o vol u m e das saídas de e m igra n tes. D a q u i se "tem visto
parti r gra n d e n ú m e ro dos seus fi l hos mais vigorosos, em busca de novas terras, fo r
tunas e aventuras" 27. Já em 1 8 8 7 Oliveira Martins referia q u e , no fenómeno emigratório
português, Avei ro está a m pla m ente representado" 28 com n ú meros q u e pensa serem
e l ev a d o s e a q u e a t r i b u i c o n s a b i d a s causas: " e x cesso de p o p u l l a ç ã o " , " p o b reza " ,
" recruta m e nto", "tra d i çã o " e "espírito de aventura n 'esta ordem de i m porta ncia".
É possível ler n u m relatório a p resenta d o p e l o e n tã o G overn a d o r Civil d e Ave i ro
( 1 8 5 7) esta o p i n ião:
"( ... ) a desastrosa e m igração d e h a bita ntes d 'este distri cto para o i m perio do Brasil
t e m c o n ti n u a d o em l a rga e s ca l a " 2 9 , n ã o só d e s fa l ca n d o b ra ç o s o p e rá ri o s , como
reti ra ndo pessoas a o exercício d o comércio e ass u m i n d o aspectos ru ra l i za ntes m a i s
i ntensos. Noutros re latórios da m e s m a natu reza é possível ver que a em igração era u m
fa ctor p reocu p a n te e a gera r visões eco n o m i cistas, dramáticas e patern a l i stas nas
a utoridades d o d i strito (e não só).
Seja como for, Avei ro sobreviveu como u m daqueles distritos que mais contingentes
de e m igra ntes formara m na zona n o rte e desde 1 8 66, tendo engrossado o u n iverso
naci o n a l entre 1 o a 1 5 % desde aquela data até a 1 9 30 30.
21 1
MAR/A TERESA BRAGA SOARES LOPES
ora, os dados sobre a e migração local izada que se a p resenta m , têm como base o
leva n ta me nto siste m á tico baseado nos registos de passa portes do G overno de Avei ro
( l ivros citados), a b ra nge n d o u m u n i ve rso de 1 8 2 9 8 i m p etra ntes, dos q u a i s 1 7 3 1 O
seriam naturais ou res i d e ntes nos conce l h os i n tegra ntes no d istrito - 1 6 na é po ca ,
englobando 1 8 0 freguesias.
o registo de p a ssa p o rtes é u ma fo nte p ro b l e má tica , 31 ma s possi b i l i ta d o ra de
a n á l ises qua ntitativas, capazes de contri b u i r m onografica e m icroscopica m ente para o
estud o das migrações portuguesas l o ca l i zadas e, ass i m , conduzir a a lgumas respostas
nos estu dos da e m i gração nacional 32
o estud o l evad o a ca bo para Avei ro permite a prese nta r a cu rva evo lutiva, a qual
tem corresp o n d ê ncia com a te n d ê ncia n a c i o n a l exponencial d e decl ive positivo até
1 8 94 (Grá fi co 1 ).
G R Á F I C O 1 - E V O L U Ç Ã O C O M P A R A D A DAS S A Í D A S DE TITULARES
D E PASSAPORTES ( H O M ENS E M U LHERES - PASSA P O RTES I N D IV I D U A I S
E COLECTIVOS) N O D I S T R I T O D E AVEIRO E EM P O R T U G A L
35000
30000
25000
1 5000 - - - - - - PORTUGAL
1 0000
5000
o
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apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto: Porto. 1 993 , vol l l , quadros E.3 . 1 ; E.S.
SOARES LOPES, Maria Teresa - Emigração Legal Portuguesa no Distritto de Aveiro ( 1882- 1884). Dissertação de Mestrado
212
CORRENTES DE OPINIÃO PÚBLICA E EMIGRAÇÃO LEGA L NO DISTRITO DE A VEIRO ( 1 882- 1 894)
G RÁ F I C O 2 - R Á T I O E M I G R A Ç Ã O L E G A L N A C I O N A L - E M I G RAÇÃO L E G A L
N O D I S T R I T O D E AVE I R O ( 1 8 8 2 - 1 8 9 4 )
1 883
1 884
1 88 5
1 886
1 887
1 888
1 889
1 890
1 89 1
1 892
1 893
1 894
T A B E L A 1 - D ISTRITO D E A V E I R O
D ISTRIBUIÇÃO DE EMIGRANTES TITULARES DE PASSAPORTE
POR ANOS, SEXOS E GRUPOS DE IDADE
Ta is valores esta rão , evidenteme nte, suje itos às conj u ntu ras geradoras d e p icos de
expulsão e/ou retracção , q u e não foi possível estu d a r p a ra já n este D i strito. N o seu
conj unto, as curvas corresp o n d entes aos conce l h os são com p lexas (G rá fico 3).
Numa observação gen é rica: os a n os d e 1 8 8 5 e 1 99 2 ostentam gra n des declín i os d e
saídas e m todos os concelhos, e m b o ra c o m va riaçã o sign i fi cativa n os qua ntitativos. Em
relação a o ano d e 1 8 9 2 (com q u e b ra d e va l o res, como se viu), h á , n o e nta nto um
co n ce l h o que sobe - ova r. c o n tu d o , n o m e s m o ano h á d e s c i d a s m a i s o u m e n os
m a rcantes em Águ e d a , O l i v e i ra de Azeméis e A n a d i a , b e m como e de fo rma relevante,
213
MARIA TERESA BRAGA SOARES LOPES
600
500
- AGUEDA
- ALB.·A·VEIRA
- ANADIA
<400 .
- AROUCA
- AVEIRO
- CASTELO PAIVA
- ESTARREJA
300
- FEIRA
- ÍLHAVO
- MACIEIRA CAMBRA
- MEALHADA
200 - OUV. AZEMEIS
· · · · · · ·· · · OUV. DO BAIRRO
. - OVAR
- SEVER DO VOUGA
1 00 - VAGOS
0 �����-+-+�--��+-+-���-+--
1882 1 884 1 886 1 888 1 890 1 892 1 894
214
CORRENTES DE OPINIÃO PÚBLICA E EMIGRAÇÃO LEGAL NO DISTRITO DE AVEIRO ( 1 882- 1 894)
G RÁ F I C O 4 - E M I G RAÇÃO L E G A L NO DISTRITO DE A V E I R O ( 1 8 8 2 - 1 8 9 4)
- VARIAÇÃO PERCENTUAL INTERNA
. 1882
2% o 1883
1 2%
. 1884
• 1885
1!1 1886
lll 1887
� 1888
111 1889
11\11 1890
11!1 1891
111 1892
7% . 1893
9%
S l894
Fontes: Idem a s referenciadas
LI!GI!NDA
Do 1 977 a 2405
Do 1 560 a 1 977
Do 1 1 43 a 1 560
Do 726 a 1 1 43
Do 3 1 5 a 726
215
MARIA TERESA BRAGA SOARES LOPES
4. 1 - O p i n i õ es
A - o p ro b l e m a
"A e migra ção constitu i u m dos mais graves pro b l e mas q u e a economia soci a l tem
d e reso lver" escreve-se n o Povo d e Avei ro 33. Ass i m , o jorna l espelha vozes cél e b res
que quase n a mesma a l tu ra se fazia m ouvir, como a já a l udida de Oliveira Marti ns:
"Ago ra q u e os va pores sáem atu l hados d e ge nte, tôda a i m prensa clama que isto
assim não pode ser, que o sangue português se escôa ( ... ) Quem ignora que d e todas as
n ossas exportações a mais i m po rta nte ( ... ) é a que fazemos d e gado h u ma n o para o
Brasil?" 34
Dez a n os d e p o i s d a p ri m e i ra o b s e rvação a q u i ci ta d a , H o m e m -Cri sto s u b l i n h a : 3 s
"Avo l u ma d ia a d i a , d e u m a forma espa ntosa, a corrente d e emigra ntes para o Brasi l. D e
todas as regiões d o p a i z e e m especia l do M i n h o e da Ba i rrada, sahem ás centenas d e
i n d iv í d u os e fa m í l i a s i n te i ra s , c o m d esti n o à q u e l l e p a i z . " E ma i s a d i a n t e : " É u m a
ca l a m i d a d e naci o n a l , q u e está prepara n d o o s dias d e u m a crise eco n o m i ca . Parece uma
soci edade a desmoro n a r-se." U m pouco mais ta rd e, o ca mpeão das Províncias concorda:
" isto não pode conti n u a r assi m , e o paiz ver-se-ha a b raços com uma crise medonha36,
porque - já a n tes aventara: " N 'este crescen d o d e e migração, o paiz despovoa-se de ntro
de pouco. E o peor é q u e os que mais e m igra m não são os q u e menos fa l ta fazem;
( ... )são ( ... ) as forças vivas d o paiz".
A q uestão é desta forma colocada, reco n h ecendo-a como u m "mal" económico e
s o ci a l d o p a í s - H o m e m - Cristo ta m b é m n u n ca p e r d e a o p o rtu n i d a d e d e p o r e l e
respo nsa b i l izar s e m p re a m o n a r q u i a e o s seus (maus) gove rnos - s u bjacente a esta
id e ia poderá existi r "doutri na populacionista , de teor mercantil ista , que enca ra a popu
lação como u m dos i n d i ca d o res de riqueza d o rei n o , pelo q u e, ta l como em relação a os
meta i s p reci osos, se i m põe trava r a sua te ndência para a hemorragia, qual perda de
sangue q u e e n fraq ueceu o corpo da nação" 37.
Nos "Relatarias às j u n ctas Geraes dos Districtos Adm i n i strativos" é possível encontrar,
u m a década a n tes destas, outras posições semelha ntes 38.
Todavia, O l i v e i ra Martins reto rq u i ri a :
"Os clamores da i m prensa são ( ... ) v ã o s e i n conseque ntes. No meca n ismo actua l d a
eco n o m i a p o rtugu eza , a e m i gra ção p a ra o B rasi l re p rese nta u m pa pel i n evitavel por
dois motivos: 1 .º porque é o vasa d o u ro d e gente sem ocupação no Reino; 2.º porque é a
fonte de subsidio q u e a n n ua l mente nos aj uda a viver."39
216
CORRENTES DE OPINIÃO PÚBLICA E EMIGRAÇÃO LEGAL NO DISTRITO DE A VEIRO ( 1 882- 1 894)
. 1860
• 1861
. 1862
. 1868
. 1 ...
• 1871
. 1872
. 1873
• 1880
. 1881
• 1882
. 1883
. 1 ... Fonte,
. 1885 Conceição Andrade
• 1887 Martins
. 1802 · A filoxera na
• 1 8931114
Viticultura necionel .
• 1 ...
in Análise social .
VOI. XXVI ( 1 1 2 · 1 1 3) .
• 1901
1 99 1 (3." . 4.'1. p. 684·685
1880 1 96 2 1 888 1872 1880 1882 1 884 1887 1 893184 1901
217
MA RIA TERESA BRAGA SOARES LOPES
140
120
100
80
60
filoxerado
11192
Fonte: Conceição Andrade Martins - A filoxera na V i ticultura necionel, i n A nál i se Social , Vol . XXV I ( 1 12-
1 1 3), 1991 (3"-4"), p. 684-685
G R Á F I C O 7 - O CASO DE A N A D I A
Distribu ição d e titu la res de passa portes em igrantes mascu l inos e fem ininos p o r anos
4m �-----
1111
o
1882 1883 1884 18115 18115 11117 11111 181111 111111 11191 18112 111113 1-
B - As causas da Emigração
218
CORRENTES DE OPINIÃO PÚBLICA E EMIGRAÇÃO LEGAL NO DISTRITO DE A VEIRO ( 1 882- 1 894)
"Co nta m-nos d ' O l ive i ra d'Azemeis que d ' a q u e l l e conce l h o teem partido para a nova
repu b l i ca s u l a merica n a , centenas de pessoas, chega n d o a fecha r-se casas, nos dois
meses quasi decorridos do presente a n no. o motivo pri n c i p a l , que l eva os emigrantes a
a ba ndonare m a sua patri a , é a fa l ta de tra b a l h o , q u e lhes dê sustento para si e para os
seus. Já não é o d esej o d e conqu ista rem fortu na, com que possa m viver fa rta mente: é a
Iucta pela vida q u e os l eva a j oga r a ultima ca rta da sobre a sua sorte" 45.
Já an tes se d e n u nciava:
" H á fom e . As preocu pações abandonam a patria q u e l hes não dá pão, para o i rem
procu ra r a regiões longínquas". 4 6
A lém da "fo m e " são l a n ça d os a i nda "mais i m postos, mais b a m bochatas", porque a
e m igração, sendo u m m a l , existe por c u l pa dos governos e da monarq u i a , na atri b u i çã o
de pa p e l " passivo" a o e migrante, o q u a l se vê com pe l i d o a e migra r, sem q u e esse a cto
sej a uma decisão esco l h ida e maturada pela ava l i ação das oportu nidades que se l h e
p o d e m ofe recer, fossem e l a s efectuadas p o r si ou p e l a fa mília. Há , porta nto, u m a l hea
mento por c i rcu nstâ ncias q u e condicionam decisões i n d ividuais d o emigrante no a cto
com p l exo e a ctivo de e m igra r, n u m a estratégia de escol h a e p l a n i fi cação ate m pada.
São "tudo fructos da monarchia, a q u e m n u n ca mereceu cuidado e bem-esta r dos
i n fe lizes que vão procura r e m países longínquos a su bsistência que a patria lhes nega ."
4 7 Então , desenca d e i a -se u m " q u a d ro desolador, da responsa b i l idade da turba - m u l ta
dos d i rigentes a q u e m o paiz ha de u m d i a ped i r severas contas do seu mandato da
a d m i n i stra çã o loca l " . 4 s
o Campeão é mais comedido. Contra a monarquia não fa la, nunca a responsa b i l iza ,
como seria de espera r, dada a fi l i a çã o partidária. Mas escreve contra governa ntes.
Detecta m -se a i nda outros m otivos:
" N os u lti m os tem pos teem i m m igra d o para o Brasi l mu i tos ma ncebos do conce l h o
de Águeda, fugi n d o ás o brigações q u e a l e i d o recruta me nto i m põe a os que q uerem
e migra r e a ella estã o suj eitos" 49
constata-se, neste exemplo, que o jorna l sabe que recruta mento m i litar e emigração
se i nterliga m , devido a q u a d ros normativos onerosos e complexos. Nos periód i cos con
su lta d os são i nseridas n u m e rosas notícias (sem p re seguidas d e uma pequena o p i n ião)
sobre i n divíduos q u e fugi a m às recrutas a o i r para o Brasil. Não se detecta m , poré m ,
a p e l o s a senti m e ntos n a c i o n a i s , a pesa r d e , no c a s o d e H o m e m -Cristo, este ser u m
h o m e m d e "caserna " , porque oficial do exército 5o.
Pro longados pe nsa m e ntos e discursos merecia, por outro lado, a "sucia de engaja
do res" q u e "estão causa n d o a ru ina d o paiz" 5 1 . Contra estes era necessá rio l a nça r uma
"sa n cta cruzada":
"( ... ) Só te m cul pa os n ossos governos a o conse ntire m aos engajadores que são tão
conhecidos que n e n h u m a authoridade deixará de os ver todos os dias nas v i l las e nas
a l deias onde teem os seus agentes. Não e ra p reciso mu i to para pro h i b i r esse nefando
trafego, esse i nfa m i ss i m o papel d'e ngajador" 5 2
O Povo de A veiro não comu nga t ã o e m penhada mente n este ponto d e vista , p re
feri ndo j u lga r a "fajard i ce " dos engajadores 53 como a outra face de uma mesma moeda:
"( ... ) foi a fom e q u e os o b rigou (aos e m igrantes) a confi a r nas fal lazes prom essas dos
engajadores i nteressei ros" 54
São dois po ntos d e vista de certa forma d ivergentes. o Campeão a ponta os engaja
d ores como m otores das d e cisões dos e m i gra ntes, s u b esti m a n d o "ca p a c i d a d es dos
emigra ntes para seleccionar as suas fo ntes de i n fo rmação" 55 na activação da decisão
m i gratória.
219
MARIA TERESA BRAGA SOARES LOPES
Então, são n ecessá rias medidas rad i cais pa ra acabar com esta "horrorosa i n dustria":
" ( ... ) porta nto ha dois meios fací l i mos d e a ca ba r com e l l es sem ser preciso nomear
com m i ssões, porque as ta es com m issões, e m bora ten h a m todas homens competen
tissi mos, pouco ou nada fazem . É poeira la n çada aos o l h os d o povo e da nação ( ... ).
1 .º Pro i b i r semelha nte i n d ustria com pennas d e p risões sem fia n ça .
2 .º La nçar o i m posto d e s e l l o de 1 5 0 $ 00 réis a cada passa porte para o Brasi l "' 5 6
A fu nção d o agente d e e m igração engajador tomada a os o l hos da o p i n i ã o p ú b l ica
sobretudo desde a sua o ficial izaçã o , como a d e u m a l i ciador sem escrú pu los, se rve para
escamotear a i n existência de meca n ismos tendentes a atenuar ou resolver um problema -
o da e m igra çã o - q u e , p o r fa l ta de o u tras m e d i da s , a pe n a s poderia ser repri m i d o
a d m i nistrativa m e n te c o m l e i s e fiscos. Aliás, ta l remédio do "aumento d e receitas dos
passa portes" é um tema caro a o Campeão. Chega este a precon izar medi das, pa ra fra
sea n d o um a rtigo do "J ornal do Co m m e rcio" (era prática na é poca editar tra ba l hos já
p u b l icados n outros p e r i ó d i cos), consi d e ra d o co m o " b r i l hante e su bsta ncioso" e q u e
d a v a esse n cia l m e nte conse l h o s aos p o d e res, sob a forma d e a u m e nto das receitas
através dos passa portes 5 7 .
c - As conse q u ê ncias
Os efe itos da e m i gra ção são frequentemente con otados com " i n conve n i e ntes" de
ordem eco n ó m ica, socia l e cultura l :
" ( . . . ) Esta grossa torrente d e e m igra ntes con corre p a ra a p o b reza n a ci o n a l , a o
m e s m o te m p o q u e corro m pe o s cost u m es, relaxa o s laços d e fa m í l i a , e n fra q u ece o
a m o r fraterno, e d i ffi culta as su bsta ncias". 5 8
o desfa l q u e d os " n ossos m e l h ores b ra ços" 59 p rovoca repercussões " e normes n o
pa iz" 6 0 e , c o m o já foi d a d o verificar, o d esfa l q u e é considerado selectivo, uma vez q u e
s ã o " o s m e l h o res b raços" q u e pa rtem .
H á ta m b é m i n f l u ê n c i a s p o l ít i c a s n u m a c o n stata ç ã o e m p í r i c a , d e m a gógi ca e
preci pitad a:
" ( . . . ) os q u e v o l ta m , v e m e x e r c e r u m a p re p o n d e ra n ci a e n o r m e e m a lgumas das
nossas p roví ncias do N o rte, o n d e o partido re p u b l i ca n o ti nha menos aderentes. Mas os
q u e v o l ta m , v o l ta m natu ra l m e nte r e p u b l i ca n os. se voltam re p u b l i c a n o s vem fazer
popaga n da p a ra aqui. Volta m ricos m u i tos d ' e l l es. riqu íssi m os a lguns, e ao partido repu
61
b lica n o o que l h e tem fa ltado mais é precisa mente o grande elemento - o d i n heiro ( ... )"
outras conse q u ê ncias, como as d e m ográ fi cas, as sobreca rgas de mão de obra ou
fa lta desta n o país, a m a n ute n ção do i m o b i l ismo do desenvolvime nto e dos níveis de
p r o d u ç ã o , a m e l h o r i a de re n d i m e n t o s fa m i l i a re s , o a c r é s c i m o d e co n s u m o s , o
reequ i lí b ri o de explora ções agríco las, por exe m p l o , são assuntos a lgo m i n i m iza dos ou
n e m seq u e r aflorados, e m bora se a l u d a espora d i ca m ente aos mesmos. São bem mais
escla recedores e m re l a çã o a estes parâ metros os relatórios dos G overnadores Civis u m
62.
decé n i o a n tes
220
CORRENTES DE OPINIÃO PÚBLICA E EMIGRAÇÃO LEGAL NO DISTRITO DE A VEIRO ( 1 882- 1 894)
221
MARIA TERESA BRAGA SOARES LOPES
4.2 - Notícias
a) d ivu lgação d e q u a n titativos esporá d i cos de emigra ntes, pertença m estes ou não
a o distrito. A maior pa rte das vezes não a p a rece a i nd icação da fonte.
b) Denúncia de maus tratos sofri dos por portugueses em d iversas paragens no Brasi l .
e) Quantitativos d e e m igra ntes m o rtos no Brasi l , freq uenteme nte consu ltados nos
Diá rios d e Governo 79.
222
CORRENTES DE OPINIÃO PÚBLICA E EMIGRAÇÃO LEGAL NO DISTRITO DE AVEIRO ( 1 882- 1 8 94)
5 - CONCLUSÃO
223
MARIA TERESA BRAGA SOARES LOPES
1 . F O NTES M A N U S C R ITAS
2 . FO NTES I M PRESSAS
2 . 1 - jornais
Biblioteca M unicipa l de Aveiro
A Vita l i da de
Biblioteca particula r de Acácio Rosa (Verdem ilho - Aveiro)
Desde o n" 4 (a n n o 1 ), 26 de Agosto de 1 894 até ao n" 8 7 0 de 1 6 de Dezem b ro de 1 9 1 1 (a n n o 1 6").
224
CORRENTES DE OPINIÃO PÚBLICA E EMIGRAÇÃO LEGAL NO DISTRITO DE A VEIRO ( 1 882- 1 894)
3. R ELATÓ R I O S
Arq u ivo M u n icipal de Aveiro, Governo Civil d e Avei ro, B i b l i oteca Nacional
Relatorios sobre o Esta d o da Ad m i n istração Publ ica nos D istritos Ad m i n i strativos do Conti ne nte
do Reino e I l h a s Adjace ntes. Lisboa: I m p rensa Nacion a l , 1 1 volumes ( 1 8 5 6 - 1 8 66).
4. D I Á R I O S D O G OV E R N O
5. A U T OR E S
ID. - Cartas d e Longe. Em defesa da instrucção do povo. Coi mbra: Coi m b ra Editora , 1 92 2 .
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Editori a l Verbo, 1 98 8
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d o Porto, 1 99 3 .
V V AA- Os L usíadas. Edição a u tograph ica do Programma of{icial do Cen tenario. Qua rto
Cente nario do Descobrimento da l n d ia. Lisboa : Si lvestre casta n h e i ro, 1 896.
227
MARIA TERESA BRAGA SOARES LOPES
NOTAS
6. Eduardo Cerq u e i ra , 1 96 8 : 7 2 : " ( ... ) o jornal ga nha uma a u ra excepcional e ati nge tiragens assombrosas para
u m hebdomadario de p roví ncia, nessa é poca em q u e a ex pensão dos próprios q uotidianos se não com parava
com os actuais"
Cf. também ). M. Tengarri n h a , 1 9 89 : 1 8 5 e R u i Ramos, 1 994 : 5 1 : " ... o Povo de Aveiro atingiu uma divu lgação
extraord i nária. Só a Ta bacaria Mónaco , no Rossio de Lisboa vendia 3000 exemplares ( . . ). o jornal vendia-se em
74 loca lidades e em Lisboa em 2 6 q u i osques e ta bacarias."
7. Jaime Reis, 1 993 : 16 : "Em pri ncípios do sécu lo XIX, e n q u a n to a Espa nha e a Itá l i a , em bora ai nda atrasadas na
comparação com os países do Norte, tinham já atingido taxas de a l fa betismo a ceitáveis para a época - da
ordem dos 5 0 % - a taxa portuguesa de 7 5 o/o em 1 9 1 0 significava que o pais mantinha q uase o mesmo
estatuto d e 5 0 a nos atrás."
os valores a pontados para o d istrito de Aveiro fora m retirados de Rui Ramos, 1 98 8 : 1 1 1 5/6.
1 2. 1dem
1 3 . J . M. Tengarri n h a , 1 98 9 : 1 8 5 .
1 7. Ao contrá rio do igua l m e n te te m peramental Ca m i l o . "ge n i a l " (Vitorino Nemésio) mas s e m " i l u sões sobre o
homem e a sociedade" - João Bigote Chorão, 1 990 : 34.
1 8. No pensamento de Roland Barthes, u m estilo q u e produz o tipo de escrita mais puro é precisa mente o de
"combate".
1 9. Chamou a si e de i n icio, u m conj u n to d e co laboradores im porta ntes como Teófi lo Braga , Maga l hães Lima,
Carlos Faria, Si lva Graça, Anselmo Xavier, Alves da Veiga, Heliodoro Salgado e outros, para v i r a perdê-los
todos. Ao p r i m e i ro c h a m a r i a mais tarde "trata ntão" ou "creti n o " (in B a n d itismo p o l i t i co. A a n a rchia em
Portuga l , vol. 1 : 4 5 6). Do segu n d o d i r i a , assim como de Si lva G raça - " l i d e i de perto com el les e com quasi
todos os bandi dos da rep u b l i ca".
A propósito d este assunto ver R u i Ramos, 1 994 : 5 1 .
20. 1dem.
2 1 . Homem Cristo, ob. cit.. A propósito deste assunto recomenda-se, a ntes de mais, a leitura atena da sua obra.
228
CORRENTES DE OPINIÃO PÚBLICA E EMIGRAÇÃO LEGA L NO DISTRITO DE A VEIRO ( 1 882- 1 894)
22. VV AA - Os Lusiadas, 1 8 98 : 5 2 6 .
24. A l g u n s colaboradores do séc. X IX , c o m o ca m poamor e r a m relativa mente conhecidos em Espa n h a . "O resto
de segu nda fi la" - i n formação do Professor Celso A l m u i li a , U n iversidad d e Valladolid, a quem agradeço.
26. Cf. Tra b a l hos sobre Íl havo, M u rtosa e d istrito de Aveiro de Jorge Carva l h o Arroteia.
2 7 . Lucil i a Caetano, 1 98 6 : 1 5 9.
29. l n Relatarias sobre o Estado d a a d m i n istração Publ ica nos Districtos Adm i n isrativos o Conti nente d o re i n o e
I l has Adjacentes. Districto de Ave iro - 1 8 5 7 .
30. A i n formação destas percentagens no referente nacional de J o ã o Eva ngelista , 1 9 6 1 : 1 02 e 1 08; carta LV.
3 1 . A propósito, consu lta r, a l é m do tra b a l h o da Autora, já citado, Henrique Fernandes Rodrigues ( 1 9 1 1 ) e Jorge
Alves ( 1 993 e 1 994).
32. U rn a destas p r o b l e m á ticas é a que diz respeito a o estudo da " p a rcela s i g n i ficativa representada p e l a
em igração fa m i l i a r desde a segu n d a m e t a d e da d écada de 8 0 , v i n te e c i n c o a nos m a i s c e d o do q u e s e
afirmava a t é agora , o q u e a meu ver aponta p a r a raizes m a i s a n tigas deste t i p o de em igração, que só em
pesq u i sas d e â m bito loca l se poderão detecta r".- M i riam Halpern Pereira, 1 993 : 1 3 .
Ou tra é a mediação mais exacta dos n u xos clandestinos. A p ropósito ver M" loannis B. Baga n h a , 1 990 : 2 2 5 -
226.
3 8 . v e r , a titu lo de exemp los e entre outros: Relatorio de B raga , 1 8 70, p.23; consu lta e Relataria a V i a n a , 1 8 7 2 ,
p. 1 0; Relatorio de Co im bra, 1 8 7 3 ; l d . , B raga, 1 8 7 4 , p . 8 ; Relatorio de Angra , 1 8 7 5 .
42. Idem.
44. V e r , a t i t u l o de i l ustração, o Povo de Aveiro n" 1 7 7 de 1 9 de Abril de 1 89 1 , p.2 - "Ca rtas da Bairra da".
229
MARIA TERESA BRAGA SOARES LOPES
50. A propósito d este percursos e i n terferências em actuações politica s d e Homem -Cristo, ver A. carva l h o
Homem, 1 990 : 3 8 .
5 1 . O Campeão das Provindas, n" 4 2 5 6 de 2 2 de A b r i l d e 1 89 3 , p. 1 . "Guerra e guerra de m orte á em igração".
54. Idem.
5 7. 1 0. . n " 4 4 3 7 d e 2 6 d e J a n e i ro d e 1 89 5 , p. 1 .
6 1 . 1dem.
6 5 . J o rge Fern a n d e s Alves, 1 994 : 1 1 2 - " (... ) tratava-se d e u m p l a n o , o u melhor, d e u m conj u nto d e ideias,
a pa rentemente pouco sistematizadas mas voluntariosas. de constru i r n ovos "brasis" na África portuguesa .
o bsessão q u e sem pre emerge q u a n d o Sá da Bandeira se responsa b i l iza por pastas como a da Marinha ou do
U ltramar."
230
CORRENTES DE OPINIÃO PÚBLICA E EMIGRAÇÃO LEGAL NO DISTRITO DE A VEIRO ( 1 882- 1 8 94)
78. Ver por exemplo O Povo de Aveiro n" 49 1 de j u n h o 1 89 1 , p.2., em que u m emigrante escreve do Brasil: "Nem
ao meu pior i n i m igo aconselhava a emigraçã o para esta mald ita terra ( ... ) d i z aos a m igos e conhecidos que
fujam do laço tra içoeiro da em igração"
79. Foi possivel confronta r a lguns destes dados com os fornecidos pelos Diá rios de Governo de 7 de Maio de
1 8 8 5 e 2 9 d e Abril do mesmo a n o .
23 1
PADR ÕE S DE MORTALIDADE E T R ANS IÇÃO
SANITÁR IA NO PORT O ( 1 8 8 0 - 1 9 2 0 )
1 . I N TR O D U ÇÃ O
As características da evol u ção da morta l idade nos países europeus, cuja experiência
s e rv i u d e fu n d a m e nto a uma teoria d a tra ns i çã o d e m ográ fi ca , têm suscita d o há j á
basta nte tem p o a atenção d e d e mógra fos, economistas, e p i d e m i ol ogistas, etc. o debate
s o b re as ra z õ e s q u e estã o p o r d e t r á s da e v o l u ç ã o d e sta va r i á v e l d e m o grá fi ca ,
s o b r e t u d o a p a rt i r d o s é c . X V I I I , t e m -se c o n s t i t u í d o c o m o l u ga r p r i v i l e g i a d o d e
i nterdisci p l i n a r i d a d e . N a m a i o r p a rte d o s casos, a d iscussão l i m i to u -se s ob retudo à
a n á lise da evolução d os i n d icadores s i n téticos de morta l i dade, sendo m e n os frequente,
p o rq u e mais d i fíci l , o estu d o das m u d a n ças estrutura i s que as d i ferentes causas de
m o rte e respectivos p rocessos mórbi dos sofrera m ao l o ngo desta transição.
O o bjectivo d este a rtigo não é mais do q u e a identificação da natu reza , em termos
de causas d e m o rte, d e a lgumas das crises de m o rta l i dade que afecta ra m a popu lação
d o Po rto e n t re 1 8 8 0 e 1 9 2 0 , p ro c u ra n d o e n q u a d ra r esta evo l u çã o n u m a s i t u a ç ã o
ti p i fi cada da tra nsição d e m ográfica.
Ao lo ngo d este p e ríodo, o Po rto manteve taxas de morta lidade elevadíssi mas, fre
q u e n t e m e nte a c i m a d e 3 0%o, por vezes m e s m o s u p e ri o res a 40%o. Esta rea l i d a d e
ressente-se, sem dúvida, de u m contexto de sub-desenvolvimento económico e de uma
situação sanitá ria gra n d e mente tri butária da pato logia tradicional, como veremos adia nte.
2. O N Í V E L DE V I D A DA P O P U LAÇÃO
E m t e r m o s e c o n ó m i c o s , a é p o ca q u e a b o rd a m o s é c a r a c t e r i za d a p o r u m a
estagnação , senão mesmo recu o , d o nível d e vida d a população portuguesa, cujo PIB
por habita nte, que ti n h a crescido até aos 1 5 0$00, a preços consta ntes d e 1 9 1 4 , n o i nício
d a d é c a d a de 8 0 do séc. X I X , d e ca i u p a ra um va l o r m í n i m o d e 9 0 $ 0 0 em 1 9 2 1 1
(Cf. G rá fi c o 1 ) . E m t e r m o s d e teoria do d e s e n vo l v i m e n to e co n ó m i co , esta fa se fo i
defi nida como sendo típ i ca de u m estado de "cresci mento latente", q u e poscede u m
p e rí o d o d e cresci m e nto i n i c i a l e q u e c o l o c o u o país n u m p o n to d e " e q u i l í b r i o d e
p o b reza " c a ra cterísti co d e a l g u n s p a í s e s s u b - d e s e n v o l v i d o s n a a ct u a l i d a d e . Este
e q u i líbrio só foi desfeito e m meados da d écada de 2 0 d o nosso século 2.
Uma forma d e ava l i a r o i m pa cto desta estagnação ou mes mo recuo do cresci mento
no nível de vida dos h a b i ta ntes do Porto , é através das esti mativas do consu m o d e
ca r n e p o r h a b i ta nte d esta c i d a d e , d u ra nte o p e r íod o consid e ra d o . D e p o i s d e se ter
situado acima dos 4 5 kg. por habita nte e por a n o a o l ongo da década de 80 do séc. XIX,
este consu m o va i deca i r para os 3 5 kg. na década d e 90, batendo n o fu ndo em 1 9 2 1 ,
com 2 2 kg. por habi ta n te 3
233
JOSÉ JOÃO MADURO MAIA
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1 880 1 890 1 900 1 91 0 1 920
1 930
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3. A Q U ESTÃO S A N IT Á R I A
234
PADRÕES DE MORTALIDADE E TRANSIÇÃO SANITÁRIA NO PORTO
4. OS PAD R Õ ES DE M O RTAL I D A D E
235
)OSÉ )OÃO MADURO MAIA
G RÁ F I C O 2 - C R I S E S DE M O RTALIDADE NO PORTO
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MÉTODO D E j. D U P Â Q U I E R
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236
PADRÕES DE MORTALIDADE E TRANSIÇÃO SANITÁRIA NO PORTO
G R Á F I C O 3 - M O V I M ENTO M E N S A L DE Ó B ITOS ( 1 8 9 9 - 1 9 0 0 )
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F A J A O D F A J A O O
Meses
que nasce m , vão m o rrer 200 d esta a fecçã o, até ao pri m e i ro ano de idade, 80 até
aos dois a n os, 40 e ntre os dois e os três a n os de idade e 2 5 , até aos q uatro a nos
d e idade.
Os higienistas vão-se i n d ignar com o descu i d o ge neral izado que sazo n a l m ente
p rovocava este enorme desperdício d e vidas, descui d o, a liás, i ntimamente l igad o
a o b a i x o níve l d e i nstrução fem i n i n a , maiori taria m e nte a n a l fa beta d u ra nte este
período.
c) N o i nício d o n osso sécu lo. as p recá rias condições da vida u rbana, a q u a l idade da
sua h i gi e n e e p a rt i c u l a r m e n t e , a s d u ra s co n d i çõ e s d o t ra b a l h o . fa z e m da
tubercu l ose a principal causa d e morte. Responsável por ce rca de 1 7% dos óbitos
e m 1 900 e 1 90 1 , atingirá sobretudo o gru po d e idades e ntre os 20 e os 40 a n os.
Esta situação manter-se-á i n a lterada até aos a n os do segu ndo pós-guerra.
237
JOSÉ JOÃO MADURO MAIA
4 . a ) As crises de m o rta l i d a d e de 1 8 9 9 e de 1 9 1 8
G osta ria a i n d a d e m e deter n a lguns aspectos l iga dos à estrutu ra das causas d e
m o rte d a s d uas m a i o res crises d o período: a d e 1 899 e a d e 1 9 1 8.
A a n á l ise do a n d a m e nto mensal das principais a fecções no a n o de 1 8 99, q u e nos é
forneci d o pelos B o l etins M ensais de Estatística Sa nitá ria , mostra o papel p re l i m i n a r q u e
o sa ra m p o teve n a s ca u s a s d e m o rte d a s i d a d e s mais j ov ens e q u e o c o r r e r a m
maiorita ria m ente na Primavera . A eclosão viole nta d a s enterites n o s meses d e Verã o,
vai torná-las as p r i n c i p a i s resp onsáveis pelo e l evadíssimo n ú m e ro d e óbitos ocorridos
em crianças até aos 5 a n os d e idade, nos meses d e Maio, j u n h o e j u l ho. A tu berculose
a p resenta-se como responsável d e 60% das m orte verificadas e m adultos com idades
compreen d i das e n tre os 2 0 e os 2 9 a nos. As b ronquites e pneu monias vêem ta mbém
os seus n ú m e ros a u me nta dos, principa l me nte na ca mada dos 1 aos 4 anos d e idade 8 .
Um ponto i m po rta nte a tomar em consideração e q u e nos é evidenciado pela crise.
é que o risco d e ocorrência d e doenças m ú lti plas e i nter- ligadas é aquele que serve de
pano d e fun d o p a ra a sobremorta l idade urbana.
Neste contexto, a t u bercu lose, com maior i n cidência nas ca madas a d u ltas, pode ver
os seus n ú m e ros a u m entados por outras a fecções, d i recta ou i n d i recta mente l igadas ao
esta d o n u tr i ci o n a l d a p o p u lação. Isto é , a s e n te rites e d i a rre ias i n fa ntis, que estã o
l igadas a u m a deficiência n utricional clara (qua lidade do l eite e da água) podem ter uma
conexão c o m a t u b e rc u l os e , d o e n ça que se a d m ite s er l iga da ta m b é m a u m a m á
situação n u tricional. Ta l c o m o o d e c l í n i o da p ri m e i ra ca usa d e morte l evaria, através d a
m e l horia d a s con d i ções n utriciona is, ao declínio da segu nda, com o foi evidenciado para
u m c o nj u nto de c i d a d e s n o rte-a m e r i ca nas e e u ropeias, a m a n ute n çã o de e l evados
índices d e m o rta l i d a d e por e n te rites e diarreias sustenta ria, por assi m d izer, os e l evad os
níveis de m o rta l idade por tuberculose 9.
Este é aliás u m dos po ntos nodais do padrão de morta l idade q u e se pode verificar
n o Porto n esta fase e que podemos a i n d a observa r no ano a nterior à grande crise de
1 9 1 8 (Cf. G rá fi c o 4). As e n terites c o n ti n u a m a o c u p a r uma fatia p e rcentua l m u ito
i m po rta nte, como causa d e m o rte (cerca d e 1 8%), segu idas da tubercu l ose com 1 3% do
tota l d e óbitos. As outras afecções do foro pulmonar ma ntêm u m peso percentua l , q u e
p od e m os a pe l i d a r d e "charneira " , evi d e n ciando a m o r b i l i d a d e m ú l t i p l a do período d e
Inverno. N o a n o segui nte (Cf. G rá fi co 5), esta d istri b uição percentual é bara l hada pel as
i rrupções dos s u rtos e p i d é m icos d e gri pe e d e tifo exantemático, verifi ca n do-se n o
e n ta n t o u m a u m e n t o n o tá ve l , e m n ú m e ro s a bs o l utos, d a s m o rte p o r e n terite e
tu b erculose.
Aqui está evi d e n ciada u ma situação e m que a co-morbi lidade, ou seja, a frequência
c o m q u e as p e s s o a s s o fri a m s i m u l ta n e a m e n t e de m ú l t i p l a s d o e n ça s . a fe c ç õ e s
secu n d á rias e cró n i cas, e ra com u m e m uitas vezes não evid e n ciada por diagnósticos
m é d i co s . o a u m e n t o d o s ó b i to s p o r e n t e r i t e e t u b e rc u l o s e g e ra d o p o r s u rtos
epidémicos d e natu reza diversa evi d e n cia u m estado d e p l u rimorbilidade típico d esta
popu lação urbana: pod ia-se ser tu bercu l oso e morrer de gri pe, ou ser-se atacado d e
gri p e e m o rr e r d e e n te rite o u d e v a rí o l a , j á q u e os s i n t o m a s e a s a fecções er am
variados e encontrava m-se gera l m e nte associa dos, como veremos.
O a n o d e 1 9 1 8 viu passa r em Portuga l d uas gra n d es vagas epidémicas de gri pe, as
quais, a l iadas à epidemia d e tifo exante mático, fizeram el eva r a TBM nacional acima dos
40%o e a Taxa d e Morta l idade d o Porto acima dos 4 5 %o.
238
PADRÕES DE MORTALIDADE E TRANSIÇÃO SANITÁRIA NO PORTO
G RÁ F I C O 4 - 1 9 1 7
(6%)
Gu tro s (54%)
G RÁFICO 5 - 1 9 1 8
Tifo
Varíola ( 4%)
Ent. (1 4%)
Outros (35%)
239
jOSÉ jOÃO MADURO MAIA
240
PADRÕES DE MORTA LIDADE E TRANSIÇÃO SANITÁRIA NO PORTO
o a n o d e 1 9 1 8 v a i a i n d a co n h e ce r a i r r u p ç ã o v i o l e n ta do t i fo e x a n t e m á t i c o .
Freq u e nte m e nte associ a d o n o s é c . X I X às m a n i festações d e fe b res tifó i d es e para
tifóides, graças à s e m e l h a n ça da sua si ntomatologia, ele subsisti u em estado e n d é m i co,
não só n o Porto, como p ri n c i pa l m e nte nas col ó n ias p iscató rias da costa portugu esa ,
gera l m e nte associa d o a con d i ções higi é n i cas e a l i m e n ta res m u ito deficientes. o su rto
vai ter a sua orige m em 1 9 1 7, em Esp i n h o , q u e vai ser o fósfo ro q ue ateou o i ncêndio
do Porto e m 1 9 1 8 , p a ra util iza r a expressão d e Ricardo Jorge. o a nd a mento da epidemia
revelou-se cíclico , com p i cos na Pri mave ra e declínio no Verão e Outono e u m retorno
n a Primavera d e 1 9 1 9. Se bem q u e o n ú mero d e mortes devido a esta doença tivesse
sido eleva do, este é um caso e m que a a cção da medicina teve um papel i m porta nte
n o com bate à d o e n ça . As medidas e n é rgicas d e d esparasitaçã o, efectuada na altura
com essência de terebentina (o D DT só s u rgirá em 1 943), levadas a ca bo pelos serviços
sa n i tá ri o s um p o u co por tod o o n o rte d o país, i m pe d i ra m q u e a sua p ro p a ga ç ã o
ass u m isse as d i m e nsões catastrófi cas q u e assu m i u por e x e m p l o na Rússia da . é poca 1 1.
G RÁFICO 6 - 1 9 1 9
Tub. (1 2%)
Voriola (8%)
BrPn (5%)
Tifo (8%)
Outras ( 46%)
5. CONCLUSÕES
E s t e p a d rã o p a t o gé n i c o d e m o rta l i d a d e u rb a n a c o l o c a - n o s v á r i a s q u estões e
evi dencia a lgumas rea lidades.
- D u ra n te o período considerado, existe d e fa cto uma estrutura de morta l i da d e q ue
se pode defi n i r nos segu i ntes termos:
16 24 1
JOSÉ JOÃO MADURO MAIA
a) uma e l evada m o rta lidade i nfa nti l , causada essencial m e nte por i n fecções bacte
rianas d ecorrentes da má q u a l i da d e do l e i te e da água
Estes três e l e m e ntos p a recem ser variáveis a lta me nte i nter- d e p e n d e ntes, já q u e
q u a n d o e m situações excepci onais, geradas por surtos e p i d é m i cos, os n ú m e ros globais
d estas três a fecções d ispara m s i m u lta n ea m e nte. Por outro lado, uma a n á l ise superficial
da evol ução das enterites i n fa ntis e da tuberculose p u l m o n a r até aos a nos 5 0 , mostra m
q u e o d e cl í n i o dos n ú m e ros do p ri m e i ro gru po de a fecções prece d e o d e c l í n i o d os
n ú m e ros da tuberculose.
A p l u ri m o r b i l i d a d e o u o risco de i n fecção o u a fecção m ú l t i p l a , pa rece ser u m a
ca racterísti ca essencia l d esta popula ç ão biologica m e nte desprotegi da.
Haveria q u e ava l i a r d e forma mais deta l hada a i ncidência que diversas variáveis, tais
como o nível d e vida e a situação san i tária, i nfl uenciara m este estado d e coisas e a sua
evol u ção poste rior.
Sem p rete n d e r sugerir q u a l q u e r tipo de l igaçã o meca n icista , gosta ria no enta nto de
n ota r u m a certa coi n c i d ê ncia na evo l u ção d o PIB por habita nte e na eclosão de crises
d em ográ ficas n o Porto d u ra n te este "equi líbrio de pobreza" (Cf. G rá fi cos 1 e 2).
Por outro lado, pa rece existi r a lguma l igação e ntre o atraso no declínio da morta
lid ad e portu ense fa ce a Lisboa e na situação respectiva dos seus sa neamentos u rbanos.
A Taxa de Morta l i d a d e do Porto desceu a pa rtir da segu nda metade da década de
20 e a p a rtir de 1 9 3 7 , situou -se a ba i xo dos 20%o. Seria i n te ressa nte confro nta r esta
evol u çã o com a extensão da rede d e sa neamento e com a uti l ização da água ca n a lizada.
De qualquer fo rma, o estu do da evol u çã o das ca usas d e morte fornece a p ri m e i ra
chave p a ra a co m p reensão d estas ten d ê ncias e um cá l c u l o da evo l u çã o da percen
tagem com q u e cada u m d os três grupos d e doenças acima referenciados contri b u í ra m
pa ra o declín i o da m o rta l idade, poderia fornecer u m quadro fu ndame ntado da tra nsição
sanitária do Po rto conte m porâ n e o e achegas i m portantes à compreensão do processo
de desenvolvi mento eco n ó m i co e soci a l d esta cidade.
6. F o n t e s e b i b l i o grafia
6. a) Fontes
Boletim Hebdomadário d e Estatistica Obituário. 1 902 - 1 903, Porto, Delegação d e Sa úde d o Distrito
do Porto
242
PADRÕES DE MORTALIDADE E TRANSIÇÃO SANITÁRIA NO PORTO
6. b) Bibliografia
CONDRAN, G retch e n A. - Declining mortality in the United States in the late nineteenth and
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CONDRAN, G retche n A., CHENEY, Rose A., CHENEY, Henry Williams - The decline in mortality in
Philadelphia [rom 1 870 to 1 93 0: the role o[ municipal services in sickness and health in America,
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Press, p. 4 2 2 - 4 3 6
JORGE, Ricardo - La Grippe. Rapport préliminaire présenté a l a Comission Sanitaire des Pays
A Uiés, dans la session de Mars 1 9 1 9, Lisbo nne, l m p ri m erie Nationale, 1 9 1 9
NEVES, João Césa r das - - Da validade científica do conceito de equilíbrio de pobreza, PhD thesis,
1 98 9 , Centro de Estudos Fisca is d o M i n istério das Fina nças
NEVES, J o ã o Césa r das - The portuguese economy. A picture i n figures. XIX a n d X X centuries,
Lisboa, U n iversidade catól i ca Portugu esa , 1 9 94
PEREIRA, M i ria m H a l pern - Das revoluções liberais ao Estado Novo, Lisboa, Editorial Presença , 1 994
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Pop u lation", M a n i l a , lnternational Po pu lation Conference, 1 9 8 1
RI LEY, James C., ALTER, G e o rge - Th e epidemiologic transition and m orbidity, "An n a l es de
D é m ogra p h i e Histori q u e " , Pa ris, É d i t i o n s d e I 'École des H a u tes Étu des e n Sciences Socia les, 1 9 8 9 ,
p. 1 99 - 2 1 3
243
]OSÉ ]OÃO MADURO MAIA
N OTAS
1 . MATA, Maria Eugé n i a e VALÉRIO, N u n o - História Económica de Portugal. uma perspectiva global, Lisboa, Col.
Fundamentos, Editoria l Presença, 1 99 4 , p. 2 5 2 - 255. Acerca destes n ú m e ros, ver ainda discussão em LAINS, P.
e REIS, J . - Portuguese economic growth, 1 833 - 1 985; some doubts, i n 'The Journal of E u ropean Economic
H i story", v o l . XX, n" 2 , 1 990; ou a i nda MARQUES, c. Robalo e ESTEVES, P. soa res - Portuguese GDP and its
defiator be[ore 1 94 7; a revision of data p roduced by Nu nes, Mata and Valéria ( 1 98 9), i n " E s t u d o s e
Docu mentos de Tra b a l h o WP 4 - 94", Lisboa, Banco de Portuga l , 1 994.
2 . N EVES, João Césa r das - o desenvolvimento económico português e o padrão transversal de crescimento, 1 883
- 1 985, "Análise soci a l " , vol. XXVI ( 1 1 2/ 1 1 3) , Lisboa, 1 99 1 , p. 807 - 8 2 2 .
3 . PEREIRA, M i riam H a l pern - Das revoluções liberais ao Estado Novo , Lisboa, Editori a l Presença, 1 994, p. 2 0 2 .
4. MAIA, José J o ã o M a d u ro - Flutuações e declínio da mortalidade na cidade do Porto ( 1 870 - 1 902). Ensaio de
Demografia H i stórica, versão da d i ssertação de Mestrado a p resentada à Facu ldade de Letras da U n iversidade
do Porto, Amadora, Luso l i vro Lda, 1 994.
5 . Idem, p. 3 5 - 3 9 .
6. Cf. CASCÃO, R u i - Demografia e Sociedade, i n MATIOSO, J o s é (di r. de) -História de Portugal, q u i n to v o l u m e , " O
Libera l ismo", coord. d e TORGAL, Luis R e i s e ROQUE, J o ã o Lourenço, Lisboa, E d . Círculo de Leitores, p. 430 - 4 3 1 .
7. MAIA, José João M a d u ro - Flutuações e declínio da mortalidade na cidade do Porto ( 1 870 - 1 902). Ensa io de
Demografia H i stórica, versão da d i ssertação de Mestrado a p resentada à Faculdade d e Letras da U n iversidade
do Porto, Amadora, Lusol ivro Lda, 1 994., p. 1 24 a 1 2 6.
8. Idem, p. 1 2 5
9. CONDRAN, G retche n A. - Declining mortality in the United States in the iate nineteenth and early twentieth
centuries, " A n n a l e s d e Démogra p h i e H istori q u e " , Paris, Éditions de I ' École des Hautes Études en Sci e n ces
Soci a l es, 1 98 7 , p. 1 1 9 - 1 4 1 ; ou PRESTON, Samuel H., VAN DE WALLE, Eti e n n e - Urban french mortality in the
nineteenth century, "Populatíon Stud i es", 32, p. 2 7 5 - 296.
1 o. JORGE, Ricardo
- La Grippe. Rapport préliminaire présenté a la Comission sanitaire des Pays AI/iés, dans la
244
AS PECT OS S OCIODEMOG RÁFICOS
DA FR EGUESIA DE NOS SA S EN H ORA
DA E N CAR NAÇÃO DA AMEIXOEIRA
( 1 740 - 1 760 )
1 . I N T R O D U ÇÃ O
2. A Q U A L I D A D E D O S D A D O S
Uma d a s p reocu pações sempre presentes e m trabal hos d e i nvestigação diz respeito
à q u a lidade das fontes q u e temos ao nosso dispôr, visto q u e esta suporta rá , em gra n d e
pa rte , a va l i d a d e dos resu lta dos o btidos. A util ização d o s Registos Paroquiais, a p esa r de
24 5
ANA RITA COElHO RIBEIRO
246
ASPEUOS SOCIODEMGRÁFICOS DA FREGUESIA DE NOSSA SENHORA DA ENCARNAÇÃO DA AMEIXOEIRA
traço h orizo nta l q u e separava um fogo de outro; ra ra mente esquecia a referê ncia sobre
a maioridade dos i n d ivíd u os; e uti l izava, sistematica mente, as p ro i b i das a b reviaturas.
Acresce ntava , contudo, i n formações sobre p rofissões, n o rma l me nte para pessoas
estra nhas a o núcleo fa m i l i a r que constituía o fogo, por exe m p l o , os criados, e i n d i cava
as relações fam i l i a res e ntre os residentes n o fogo, com base na pessoa que o e nca beçava .
Podemos a i nda referir outra determi nação das constitui ções (Títu l o X, pa rágrafo VI)
que obrigava os pá rocos a a p resenta r os róis para registo nos serviços centrais da d iocese,
daí resu ltava m i nscrições anuais, n o fi nal de cada rol , sobre o seu registo nos referidos
serviços, p ressu pondo-se, então, q u e os mesmos esta ria m correcta mente elaborados.
Tomando como base estas comparações e ntre as Constitu i ções Sinodais e os Róis
da fregu esia, p e rm it i m o - n os concl u i r q u e os róis pareciam cumprir m i n i m a m e nte as
regras q u e d ete r m i n a v a m a sua e l a b o ra ç ã o , s e n d o de estra n h a r q u e um pá roco
cuidadoso com os Registos Paroq uiais, como fi cou pa rcia l mente d emonstrado com a
q u a l i d a d e d o s registos d e b a p t i s m o , negl igenciasse o registo d os sacra m e ntos da
confissão e da com u n hão.
Na ausência d e outros métodos de controlo dos dados e ressa lvadas as deficiê ncias
e n c o ntra d a s n a q u a l i d a d e das fo n t e s , p ro c e d e m o s à a n á l i s e d o co m p o rta m e nto
s o ci o d e m ográfico d a fregu e s i a , reco n h e ce n d o os c u i d a d o s a ter fa ce a afirmações
perem ptórias e a conclusões taxativas e p reci pitadas sobre os pontos em a n á l ise.
Os e fectivos g l o b a i s ( 1 7 5 0 - 1 7 6 0 )
247
ANA RITA COELHO RIBEIRO
248
ASPECTOS SOC/ODEMGRÁFICOS DA FREGUESIA DE NOSSA SENHORA DA ENCARNAÇÃO DA AMEIXOEIRA
Tal co m o para a populaçã o tota l recenseada, podemos esta belecer uma média do
n ú mero de fogos, 83 fogos, com um mínimo de 75 fogos, em 1 7 5 1 , e um máxi mo d e
1 04 fogos, e m 1 7 5 6 . Natura l m e n te o n ú m e ro d e h a b i tações nã o é tão " e l ástico " , se
ass i m o podere m os d izer, como o de uma população, suj ei ta a consta ntes a l te rações
motivadas por causas i nternas ou externas; provavel m e nte, e m 1 7 5 6 a tota l i da d e dos
fogos d i s p o n í v e i s n a fregu e s i a foi ocu p a d a , p a ra a l é m d o a u m e n to d o n ú m e ro de
pessoas por fogo, d e que fa l a remos poste riormente.
A taxa d e cresci m e nto a n ua l média dos fogos é d e 0 , 2 5 %. Não havendo termos de
co m p a ra ç ã o p a ra o m o v i m e n t o dos fogos é d i fíci l a rr i s c a r u m a c l a s s i fi ca ç ã o q u e
considere esta taxa c o m o e l evada ou baixa.
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ANA RITA COELHO RIBEIRO
250
ASPECTOS SOCIODEMGRÁFICOS DA FREGUESIA DE NOSSA SENHORA DA ENCARNAÇÃO DA AMEIXOEIRA
Relativamente aos casados, para além do seu peso efectivo no conju nto da população,
3 4 , 5%, verifi ca m -se discre p â n cias q u a n d o a n a l isados por sexo. N o caso da populaçã o
fem i n i na a posição d a s m u l heres casadas é sempre superior à d os outros grupos quando
a n a lisados isola d a m e nte, enqua nto q u e no caso dos homens a posiçã o ocupada é a
tercei ra , i n ferior ao n ú m e ro de soltei ros e de homens de estad o civ i l desconhecido.
Os vi úvos são o gru p o m a i s red uzido da popu lação e o ú n i co o n d e os efectivos
fem i n i nos são m a ioritários, regista n d o-se, ainda para mais, u m mai or n ú mero d e viúvos
a contrair novo matri m ó n i o .
o gru p o dos e fe ctivos d e estado civil desco n hecido registam uma preponderâ ncia
nítida dos m e m b ros d o sexo mascu l i n o , provavelmente devido ao nú mero de trabalha
do res, "criados", q u e se encontra m na freguesia sem constituí re m agregados fa m i l iares.
Em termos globais sã o superiores a o n ú mero d e efectivos soltei ros nos anos d e 1 7 5 6 a
1 75 9 e, mesmo relativa m ente aos casados, são superiores em 1 75 6 e 1 75 7. A sua anál ise
por sexo regista m a i o res va riações. N o caso dos efectivos mascu l i nos, o seu n ú mero é
superior a q u a l q u e r outra categoria em sete dos anos anal isados e a penas regista m u m
tercei ro luga r e m d o i s a n os; no caso d a s m u l h e res a s u a posição é sempre i n ferior á s
ca s a d a s , a i n d a q u e n o s ú l t i m os c i n c o a n o s , d e 1 7 5 6 a 1 7 6 0 , sej a m s u p e r i o res á s
resid entes solte i ras, q u e sofrem , sem d ú v i d a , da "ausência" d o s m e n o res d e sete a nos.
o C o m p o rt a m e n t o D e m o grá fico da P o p u l a ç ã o ( 1 7 4 0 - 1 7 6 0 )
N a ta l i d a d e
251
ANA RITA COELHO RIBEIRO
mínima na Primavera, regista n do-se um segu ndo luga r para o Verã o, facto pouco usual
visto que esta esta ção costu ma regista r os níveis mais baixos da nata l idade.
A i l eg i t i m i d a d e dos n a s c i m e ntos regi sta d o s é d e 6 , 5 % , co rres p o n d e n d o a 1 7
ocorrências, a m a i o ria dos quais se verifi ca e m crianças ba ptizadas a lguns a nos a pós o
seu nascimento, · p e l o q u e para o estabelecimento d esta percentage m util izá mos o tota l
dos registos de ba ptismos e não o dos nasci m e ntos.
Restava -nos ca l cu l a r a Taxa Bruta d e Nata l idade, cá lcu l o possível pela existência dos
Róis que nos fo rnecera m dados sobre a popu lação tota l da freguesia. Util izá mos para
este cá l c u l o o n ú m e ro de p o p u l a çã o m é d i a resu l ta nte das ponderações já referidas
a nteri ormente, q u e tentava m atenuar os desvios ca usados pela ausência do registo dos
m e nores d e 7 a n os, chega n d o , então, a uma Taxa Bruta de Nata l i dade de 34 , 2%o.
Esta taxa , i nstru m e n to d e a n á l ise grosse i ro, reve l a a ca pa ci d a d e p a ra su bstitu i r
gerações, renova r a popu lação e ma ntê-la jovem (evita nd o o envelhecimento n a base),
não é fác i l , contudo, esta b e l ecer comparações ou concl u i r se é m u i to ou pouco el evada
face à situação d e o utras l o ca l i dades para a mesma é poca. Se comparada com os dias
d e h oj e a taxa nos p a rece m u i to e l eva da, qua ndo comparada com os resu ltados obtidos
para Coruche e Sa lvaterra d e Magos 1 3 , ta m b é m para o sécu l o XVI I I , podemos consi
dera - la baixa, o mesmo aconte cendo e m confronto com dados fornecidos por outros
auto res pa ra regiões fora d e Po rtuga l 1 4 .
Concluímos assim que, relativa mente à nata lidade, na freguesia s e cumprem a maioria
das práticas da época, a i n d a que esta não seja tão e l evada qua nto seria d e espera r.
Nupcialidade
252
ASPEITOS SOC/ODEMGRÁFICOS DA FREGUESIA DE NOSSA SENHORA DA ENCARNAÇÃO DA AMEIXOEIRA
Relativa mente à natura l idade e residência dos n u b e ntes pred o m i n a m os origi nários
da freguesia, com p e rce n tagens n a ordem dos 5 3 , 1 % e 80,6%, respectiva mente.
Temos, assim, que 42 ,9% dos homens e 63% das m u lheres que contraíra m matrimónio
era m naturais da Ameixoeira, e que 73,5% dos homens e 8 7,7% das mulheres nela residiam.
Tais resulta d os parecem m ostra r uma tendência nítida d e os i n d ivíduos casa rem no
l ocal d e origem/res i d ê n ci a da n o i v a .
Os n u b e ntes n ã o naturais da fregu esia são origi n á ri os , p r i n c i pa l m e nte, da zona
centro do país, 4 3 casos, sendo 1 6 d e Lisboa; segu i n d o-se o Norte, com 5 casos e, por
fi m , o S u l , 2 casos, e as colón ias, ta m b é m , 2 casos, sendo estes ú l ti mos resu l ta ntes do
casa m ento e ntre 2 escravos. Não há casa mentos com estra ngei ros.
Apenas dois dos n u b entes não resid i a m nem na freguesia, nem em Lisboa.
o Estad o Civi l dos n u b entes foi outro dos aspectos a n a l isados. Sendo que, 8 7,8% dos
casa m e ntos fo ra m rea l izados como p ri m e i ras n ú pcias e, a p e nas, 1 2 , 2 % como u n iões
com v i úvos, o que corres p o n d e a 1 2 casa m e n tos. Destes ú ltimos, d isti ngu i mos sete
viúvos e cinco vi úvas, regista n d o-se q u e e m 3 casa mentos a m bos os n u be ntes casava m
p e l a segu n d a ou terce i ra vez, caso de u m a das m u l h e res. A situação d escrita n ã o
suscita gra n des comentários.
M o rta l i d a d e
O s registos d e óbitos permiti ram-nos uma breve anál ise d a morta lidade d a freguesia
da Ameixoeira , e ntre 1 740 e 1 760, período dura nte o qual se registaram 1 88 ocorrências,
e m n ú me ro igual para a m bos os sexos.
Corresponde este tota l a uma média a n u a l d e 9 óbitos, com u m m í n i m o de 1 óbito,
e m 1 7 5 1 , e u m máximo d e 2 4 casos, e m 1 7 5 6 , provavel m e nte em resu ltado do já cons
tatado a u m e nto súbito d e habita ntes na loca l i dade.
A o c o n t rá r i o do q u e s u c e d e com o s fe n ó m e n o s a n t e r i o r m e n te a n a l i s a d o s ,
m a n i festa-se n este caso u m a tendência nítida para u m acrésci m o do n ú m e ro d e óbitos
nos ú ltimos 1 1 a n os, d e 1 7 5 0 a 1 760, com uma média a n u a l de 1 0, 5 casos, contra os 7 , 5
de média dos p ri m e i ros 1 o a n os, isto a pesa r de ser n o período fi nal que se regista o a n o
com m e n o r frequência d e óbitos.
Recorre n d o uma vez mais a o cá lculo das taxas b rutas, n este caso da morta l idade,
e n co ntrá mos u m a taxa d e 2 6 , 9%o, taxa m a n i festa me nte baixa nu ma é poca onde estas
rondavam 3 2 %o 1 9 . Mesmo considera n d o valores na ordem dos 28 %o, e n contrados por
Pierre G u i l l a u m e e Jean Pierre Poussou para Fra nça 20, como normais, a taxa da freguesia
agora estudada é baixa. Talvez a loca l ização da freguesia, fo ra dos l i m ites do centro
urba n o mais próx i m o e em local " a rejado", como se depreende das descrições feitas na
é poca 21, sej a determ i n a nte na existê ncia de uma m orta l idade relativa mente baixa.
Apesa r de n ão sa bermos com precisão a idade dos i n d ivíduos à data do seu fa leci
m ento, visto q u e os assentos não a regista m , tentá m os estima r a taxa de Morta l idade
I n fan t il com base nos registos onde as designações de: cri a n ça , recém-nasci d o , menor,
m e n i nos e outros s u rgia m 2 2 . em n ú m e ro de 9 3 .
Ora, o cálculo desta taxa a penas considera o s óbitos de crianças c o m menos de 1 a no
e c o m as referências encontradas estáva mos, certa me nte, a englobar crianças de ma i or
i d a d e . Reco rre mos, então, à p o n d e ração esti mada por J . M. Naza reth e F. Sou s a em
253
ANA RITA COLEHO RIBEIRO
i nvestiga ções para Coruche e Salvaterra de Magos, q u e tantas vezes nos serviram de
modelo, ponderação esta q u e refere ser de 5 5 % o peso dos óbitos de menores de 1 a no
no tota l d e óbitos i n fa ntis 23 . Apl icada a pondera ção, dela resultou u m tota l de 51 óbitos
de m e n os d e 1 a n o , com base n o q u a l ca lculámos uma Taxa d e Morta lidade I n fa nti l de
2 1 5 , 2 %o, va l o r dentro dos parâ metros considera d os comuns para a morta l idade i n fantil
q u e , a pesa r das gra n d e s variações determi nadas pelas condições socio-económicas d e
c a d a m e io , se s i t u a entre os 1 80%o e 2 6 0%o 24 .
A n a l i s á m o s , ta m b é m , a d i stri b u i çã o d o s ó b i tos p o r meses e esta ções do a n o .
Reporta ndo-nos, n este m o m e nto, a penas ás estações d o a n o , verifi ca mos q u e o verã o
se d estaca va d o conj u nto com 6 5 d o tota l d e ó bitos, segu i n d o-se a Pri mavera , c o m
44 ó b i tos; o I nverno. com 4 0 ó b i tos; e o Outono, com 3 9 óbitos. se consideramos o
esca lonamento a ceite como com u m na Europa, segu ndo A. Sauvy 2 s . onde é i n d i cado
u m máxi mo para o Inverno e u m mínimo para os meses de Verão, com a ressa lva d e
q u e nos países q u entes esta estação pode a t ingi r o segu ndo, ou mes mo, o pri m e i ro
l ugar, temos u ma m o rta l idade com patível com a referida ressa lva , embora o tercei ro
l uga r d o I n v e r n o possa p a r e c e r estra n ho . C o m p a ra n d o a s i t u a ç ã o da fregu es i a d a
Ameixoeira c o m a d e freguesias lisboetas, o n d e semelhantes análises fora m efectuadas 26 ,
não se e n co ntra m p a ra l e l ismos, mas as referidas fregu esias ta m b é m não segu em o
modelo de d istri b u i çã o proposto por A. Sa uvy.
Relativa m ente aos m eses do ano destaca-se o mês d e J u l h o , de maior morta l i da d e
pa ra os homens e cri a n ças, e o segu ndo n o toca nte ás m u l h e res.
São os óbitos i n fa ntis que determ i n a m o l uga r destacado d o Verão como esta ção de
m a i o r m o rta l idade, sendo os meses d e J u l h o , Agosto e Setem bro os que regista m maior
n ú me ro de asse ntos.
Quanto à repa rtição dos óbitos por sexo, relativa mente aos óbitos i nfa ntis vimos que
morri a m mais crianças d o sexo mascu l i n o , 5 1 óbitos mascu l i nos contra 4 2 fem i n i nos;
esta situação i nverte-se nos a d u ltos onde se regista m 35 óbitos fe m i n i nos contra 2 8
mascu l i nos, m a n te n d o-se a mesma tendência no toca nte a os i nd ivíduos para o s quais
desco n h ecemos tota l m e nte a idade, l a m e ntavel m e nte ta l ocorre e m 1 7% dos registos,
com 1 7 assentos para i n d ivíduos do sexo fem i n i n o e 1 5 mascu l i n os.
A proporção d e cri a n ças que m o rrem é d e ce rca d e meta d e dos óbitos por a n o .
e m b o ra no a n o o n d e se regista m mais óbitos, 1 7 5 6 , rep resentem a penas 2 5 % do tota l .
o esta d o c i v i l d o s fa l e c i d os v e m i n d i ca d o e m q u a s e t o d o s os assentos, com a
i n d i cação do cônjuge sobrevivente (casa dos), ou já fa lecidos (vi úvos), a fi l iação no caso
d e serem cria nças o u , si m plesme nte, com a i n d i cação d e solte i ros; resta m cerca de
8 , 5 % d e óbitos para os quais d escon hecemos o estado civ i l .
Da a n á l ise d estas i nfo rmações p o d e m o s rea lçar o enorme pes o dos soltei ros, e m
a m bos os sexos, 3 2 ,4 % para os h o m e n s e 2 9 , 3 % para as m u l h e res. s e n d o q u e estas
percentage ns refl ectem o peso das cri a n ças.
No gru po dos casados a p e rcentagem d e homens, d e 7,4% é i n ferior á das m u lh e res,
com 1 1 ,2%, d a q u i resu l ta n d o um m a i o r n ú m e ro d e vi úvos a res i d i re m na freguesia.
Relativa m ente a este ú lti m o esta d o civil as p e rcentagens são i dênticas para os dois
sexos, 5,3% homens e 5 ,9% m u l h e res.
Com a a n á l ise dos registos de óbitos concluímos a q u i as i n formações respeita ntes ao
comporta mento e ca racterísticas demográficas da populaçã o da Freguesia da Ameixoeira
e ntre 1 740 e 1 760.
254
ASPEGOS SÓCIO-DEMGRÁFICOS DA FREGUESIA DE NOSSA SENHORA DA ENCARNAÇÃO DA AMEIXOEIRA
Dele extraímos e propomos as segui ntes conclusões: esta mos pera nte uma situação
pouco v u lga r com uma taxa d e cresci m e nto a n u a l média positiva , m u ito acima dos
va l o res co m u ns; com taxas d e Morta l i da d e , Nata l idade e N u pcia l i d a d e relativa m e n te
baixas; sendo, u n i ca mente, a taxa de Morta l idade I n fa nti l a q u e mais se a p roxima das
situações decorre n tes d e uma estrutura d e mográfica d e Antigo Regi me.
4. ASPECTOS S Ó C I O - D E M O G RÁFICOS
As cara cterísticas da principal fo nte utilizada n o tra b a l h o que agora a p rese nta mos
e m síntese, os Róis d e Confessa dos, determ i n a m q u e toda a i n formação nela contida
v e n h a agru p a d a n u ma estrutu ra e l e m e nta r e m q u a l q u e r p o p u l a çã o : os fogos. Não
devemos cair n o erro d e , l i n earme nte, os identifi ca rmos com agregados fa m i l i a res, visto
q u e a p e n a s e n contra mos n e l es a i n formação s o b re u n i da d es de res i d ê ncia o n d e o
parentesco pode esta r a usente.
Co nsidera d o como " ... uma estrutu ra fu ndamenta l , porq u e é no seu i nteri o r que se
levam a e feito uma gra n d e pa rte das fu n ções essen c i a i s da sociedade - p rocriação
social ização das cri a n ças, consu mo e produção." n,o fogo, assu mi u na nossa i nvestigação,
u m relevo extrao rd i nário.
N o e n ta nto a a usência d e a lguns dados sobre a com p osição e ca ra cterísti cas da
p o p u l a ç ã o , como os refe re ntes à i d a d e e p rofissão d os i n d i v í d u o s , dados co m u n s
n o utras l i stas n o m i nativas e n co n tra das e m Portuga l 2a; o facto d e n ã o termos como
o bj ectivo fazer reconstitu i ção d e fa m í l ias; e , por último, a uti l ização "subsi diária" dos
Registos Paroq u i a i s d eterm i n o u que a abordagem efectuada ao estu do dos fogos não
seja i d êntica a o utros tra b a l hos já conhecidos.
Por outro la d o , a uti l ização d e uma série de anos consecutivos d e róis e as próprias
características da fonte permitira m uma a n á l ise da evol ução da composição, estrutu ra e
d i m e nsão dos fogos, pouco com u m na i nvestiga ção portuguesa.
- Não querendo parecer p rete nsiosos e a m b i ciosos tentá mos no nosso tra b a l h o testa r
u m a metodologia especifi ca para o trata m ento da fo nte, visto que a sua uti lização nos
moldes a que nos tínha mos proposto e , mais uma vez, as suas características específicas,
não perm itia m uma a b o rdagem m etodo l ógica idêntica à util izada n outros estudos.
N este m o m e n t o , no e nta nto, não c a b e d escrever em p o r m e n o r a metodol ogia
testada a o l ongo da rea l iza ção d o referido tra b a l h o mas, tã o só, a p resenta r os resu l
tados enco ntrados c o m a s u a a p l i cação.
255
ANA RITA COELHO RIBEIRO
A d i m e n s ã o d o s fogos
256
ASPEGOS SOC/ODEMGRÁFICOS DA FREGUESIA DE NOSSA SENHORA DA ENCARNAÇÃO DA AMEIXOEIRA
A Estrutura e c o m p o s i ç ã o I n t e r n a d o s Fogos
CATEG O R I A CLASSES
1 - Isolados a) vi úvos
b) vi úvas
c) solteiros
d) solteiras
e) estado civil desco n hecido
8 - Agregad o Fa m i l i a r Mú ltiplo com Estra nhos a) u n idade secu ndá ria ascendente
b) u n i da d e secundária descendente
c) todas as u n idades ao mesmo nível
d) com b i n a ções
9 - I ndeterm i n ados
257
ANA RITA COELHO RIBEIRO
- a fa mília extensa, tem u m peso relativa mente i m porta nte, especia lmente porq u e
pa rece ser com u m a coa b i tação d o s p a i s e / o u sogros, q u a n d o viúvos ou sem a
presença do respectivo cônjuge, com o casa l de base;
- relativa i m p o rtâ ncia dos fogos onde não pa recem ter existido relações conj ugais
d e base, com i n divíduos isolados ou com coa bitação d e pa rentes e/ou estra n hos,
que representa cerca d e 1 /4 d o tota l dos fogos.
258
ANA RITA COELHO RIBEIRO
A relação e n tre estas d uas concl usões é pe rfeita mente l ógica visto que quando o
fogo é constituído por u m casa l é sem pre o homem que e n ca beça o fogo.
o n ú m e ro de fogos e n ca beçados por solte i ros, aumenta a pós 1 75 7, com percentagens
superiores a 1 3 , 5 % a parti r d esse a n o , ten d o até aí atingido um máx i m o de 1 2 ,3%, em
1 7 5 0 , e um mín i m o d e 7,4%, e m 1 7 5 5 . Ao l ongo de toda a observação só registá mos u m
fogo e nca beça d o por u m a solte i ra e e m 1 7 5 6 .
O s viúvos encabeçavam u m m á x i m o de cinco fogos, em 1 7 50 e a s viúvas nove fogos,
em 1 7 5 0 , 1 7 5 6 e 1 7 5 7 , sendo q u e a lgumas viviam com fi l hos maiores.
Os i n d ivíduos d e estado civi l desco n h ecido do sexo mascu l i n o encabeçava m ce rca
de 8,6% dos fogos e as m u l h e res apenas 2% dos fogos.
A composição i n terna dos fogos segu ndo o estado civil dos cabeças dos fogos foi
ta m b é m a n a l isada , refl ecti n d o-se em gra n d e pa rte na classifi cação dos fogos exposta
a nteriormente.
A morosidade de uma análise a n ua l desta informação levou-nos a restri ngir o estudo ao
ano de 1 750, tomado como ano de base visto ser o primeiro ano sobre o qual trabalhá mos,
segu i n d o-se uma b reve exposiçao sobre as te n d ê n cias gera is d e evolução.
Resu m i d a m e nte constatá mos a segu i nte situação:
- dos 5 6 ,8% dos fogos constituídos por casa is 2 1 % vivia com os fi lhos, 1 3 ,6% não
ti nha filhos (percentagem afectada, certamente, pela ausência dos menores de 7 anos)
e 2 2 , 2 % coa bitava com pa rentes e/ou estra n h os;
- os solte i ros viviam tendenci a l m e nte sozi nhos ( 7 casos), com pa rentes e estra nhos
(2 casos) e só com estra n hos, criados/servidores (2 casos);
17 259
ASPEGOS SOCIODEMGRÁFICOS DA FREGUESIA DE NOSSA SENHORA DA ENCARNAÇÃO DA AMEIXOEIRA
Analisa n d o a evo l ução registada ao l ongo dos 1 1 a n os de róis estudados rea l ça m os:
As e s t r u t u r a s p r o fiss i o n a i s
260
ANA RITA COELHO RIBEIRO
5. C O N CL U S Ã O
F O NTES E B I B L I O G RAFIA
FONTES M A N U S CRITAS
- Livro 1. 1 73 3 - 1 7 5 3
- Livro 2. 1 7 5 4 - 1 78 1
261
ASPEGOS SOCIODEMGRÁFICOS DA FREGUESIA DE NOSSA SENHORA DA ENCARNAÇÃO DA AMEIXOEIRA
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262
ANA RITA COElHO RIBEIRO
RowLAND, Robert, "Sistemas fa m i l i a res e padrões demográ ficos em Portuga l : q uestões para u m a
i nvestigação compara d a " , i n ler História, n." 3 , lisboa , Regra d o jogo Ed i ções, 1 9 84.
N OTAS
3. P o r privilegiarmos o estudo d a s i n formações contidas n o s Róis de Confessados decidimos restringir o seu período
de ana lise.
5. Consultamos fontes como: Frei Nicolau de O l iveira. 1 804; que nos ind icava a existência de 75 fogos, ou cerca de
300 pessoas, excluindo m e nores, estra nge i ros, escravos e h ospedes; o Oiccionário Geográphico... do Padre Luis
Cardoso, 1 74 7 , com 7 5 vizi n h os, a q u e segu ndo os ca lculas de Ma ria de Lurdes Neto, 1 96 7 , corresponderiam
3 1 1 pessoas; e m Lisboa em 1 758: Memórias Paroquiais de Lisboa, Fernando Portuga l e Alfredo de Matos, 1 9 74,
consta m 8 8 fogos e 338 pessoas; João Bautista de castro, 1 76 3 , apontava 70 vizin hos.
7. Esta h i pótese foi confirmada pelas a l tera ções registadas nos assentos p a roq u iais.
8. Ver as Constituições Sinodais, Títu lo X, Paragrafo III, onde a rn u lta a ser a p l icada era de dois a nateis de cera.
9. Aproveitando o cruza mento das fontes con firrnarnos, tanto qua nto possível, a h ipótese formu lada de classificação
dos fi lhos m a i o res, tendo os resu l tados sido positivos em todos os casos a n a l isados.
1 0. Esta ideia foi confirmada posteriormente pela baixa taxa de nupcialidade registada e pelo casamento das mulheres
com hornens n ã o residentes na freguesia, correspondendo a 26,5% dos casa mentos.
1 1 . No Livro 1 d e Ba ptismos, n o fól i o 6 3 v", registava-se a segu i nte i n d icação: " Visto ern Vizitaçarn de 1 4 de No
vembro de 1 7 1 9 declare 1 o d i a ern que nasceram os baptizados, e fação I observa r a constituição i rn pondo
sem Rem issão a 1 pena d e l las a q u e m d i latar o ba ptismo 1 por mais d e 8 dias 1 costa ··.
1 4. idem, p a g . 3 3 1 3 4 .
1 5. J. M. Nazareth e F. S o u s a , 1 98 3 , p a g . 3 6 .
1 6. idem, p a g . 3 7 .
1 7. Só n o s casos o n d e o cruza mento d a s fontes foi plenamente consegu ido s e poderam obter i n formaçbes sobre
a idade dos n u bentes, mas tais casos nao sao representativos.
263
ASPECTOS SOCIODEMGRÁFICOS DA FREGUESIA DE NOSSA SENHORA DA ENCARNAÇÃO DA AMEIXOEIRA
2 1 . J o ã o Bautista de castro, 1 76 3 , a p resenta a segu i n te descrição: " Afasta-se este Lugar d e Lisboa pouco m a i s de
h uma légoa para o Norte. Esta em h u m sitio e l evado q u e o faz a l egre. e lograr h u m a r sa lutifero. " , pag. 4 4 7 .
2 2 . As designações enco ntradas fora m clarificadas nos casos onde o cruza mento das duas fontes utilizadas foi
e fectuado, d a q u i resu lta n d o a segu inte classificação:
24. i d e m , pag. 3 3 .
2 5 . v e r A . sauvy, A População, p á g 9 4 .
2 8 . v e r J . M . Nazareth e F. Sousa, 1 9 8 1 , 1 98 3 e 1 9 8 7 .
3 1 . R. Rowl a n d , 1 98 4 , pág. 1 3 .
3 2 . F. Le bru n , 1 98 3 , pag. 64 e 6 5 .
264
LOS S E FAR DIE S DE MAR RUE COS
E N LA G E NE S IS Y CONS OLIDACION
DE LA ACTUAL C OLE CT I VIDAD
JUDIA DE VE NE ZUE LA ( 1 8 3 5 - 1 8 8 0 )
JUAN-BTA. VILAR
U n iversidad de M u rcia
P LA NT EA M I E N T O
265
JUAN BTA. VILAR
266
LOS SEFARDIES DE MARRUECOS
267
JUAN BTA. VILAR
ALG U N O S I N DI A N O S N O T O R I O S
268
LOS SEFARDIES DE MARRUECOS
Más dad ivosos fueron todavia Sa m u e l A. Bendelac y su pri mo Elias H. Bendelac, los
otros d o s reto r n a d o s de A m é ri ca que e n c a b eza n l a re l a c i ó n local d e socios d e l a
A l l i a n c e c o m 2 0 fra n co s . E n e fecto , e n 1 8 8 7 h i ci e ro n u n d o n a t i v o a d i ci o n a l a l a
expresada i nstitución j udeo-fra ncesa, e n cuyo colegio de Tetuán s e habian educado y a
la q u e por ta nto l o debía n todo, de soo fra ncos Sa m u e l en memoria de su madre dona
Freha A. Bendelac, y d e 250 conju n ta mente Sa m u e l y Elias en memoria de su a b u e l o
Sam u e l Bendelac y sus pad res Abra h a m y H a i m . Am bos h a b í a n h e c h o fructíferos viajes
a Venezu ela a ntes dei 8 7.
En 1 8 7 7 figura n ya los d os e ntre los suscri ptores tetua níes en favor de los j udios d e
Turquia, y su p resencia e n Tetuán no se constata e n los a rchivos de la A l l iance 1 3 a ntes
dei 74, a caso fecha d e regresso d e su pri m e ra e migración. Asociados a la próspera fi rma
de i m po rta c i ó n de texti l e s e n Caracas que l l eva su a p e l l i d o , e n 1 8 90 m a rcharon de
n u evo con este desti n o para regresar a nos más ta rde. ? Es este S.A. Bendelac e l mismo
q u e con e l n o m b re d e A b ra h a m Bendelac, a ntiguo emigra nte en e l N oroeste b rasi l e n o ,
Amazonia y Venezue l a , y más ta rde r i c o negociante en Tetuán, su c i u d a d nata l , hacía
1 900 se d a b a a q u i a i res de gra n s e n o r, a ctuaba como cóns u l d e i B ra s i l y se d ecía
desce n d iente d e u n e m p i ngorotado l i naje sefa rdí d e Sa l é, reasentado en la u rbe tetuaní
e n e l XVI I I ?
L o s l i stados d e socios p rotectores de la Al/iance, basta nte n utri dos en Tetuá n p o r
razones obvias, evidencian la movi lidad d e los ju d ios tetuanies, i ncluso l o s m á s ricos,
dado que con frecu encia constan com o a usentes en Bras i l , Caracas o Buenos A i res, lo
que pa rece i n d icar la existencia d e una e migración selectiva de tipo tempora l , paralela
a l a más d u ra d e ra , a u n q u e n o necesa ria m e nte permanente, d e sus corre l igionarios
menos a fo rtu nad os, o d e q u i enes hacían las Améri cas por vez primera. Estos l i sta dos se
refi e ren a una época p oste rior a 1 8 80, fecha limite de nuestra i nvestigación, pero las
referencias a la fase p revia son ta n frecuentes com o i n teressantes.
Dura nte su esta ncia en U ltra m a r estos e m igrantes cuidaban mantener s u s vínculos
con la patria de orige n , comenza n d o por la fa m í l i a , pero ta m b i é n con la kehilá matriz,
poniendo ai dia sus cuotas con la Alliance, enviando d onativos a los ra b i nos con desti no
a los pobres y a las o b ras benéficas soste nidas por la co mu n idad, y escri biendo a los
ma estros d e la escu e l a i nteresá ndose por la marcha d e i centro, espera nza cierta dei
futuro d e la colectividad, o sol i citando e l envio por cuenta dei demanda nte de a lgún
a l u m n o aventajado a q u i e n ensenar e l oficio e i ntrod uci r en el negocio.
En contra pa rtida, siendo cortos en n ú mero, hallá ndose dispersos por la tota l idad d e
l a ge ogra fia v e n e zo l a n a , y e n ra z ó n d e su p r o p r i a m o v i l i d a d , a l o s e m i gra dos l es
re s u l ta b a m uy d i fí c i l c o n s t i t u i rs e e n co m u n i d a d e s o rga n i z a d a s . A d i fe r e n c i a d e
Argenti na, e n Venezuela, como en Brasil y P e r ú , los j u deo-marroquíes se i nsta laron en
d i fe re ntes l oca l idades m e n o res a ntes d e hacerl o e n la ca pita l . En Ba rce lona, Ca rúpano,
Cumaná y otras. Sólo más ta rd e e n Caracas y su a nte p u e rto d e La G uayra 1 4 . Era n
modestos tend e ros e n telas y m e rcería , y vendedores a m b u la ntes q u e i ban de u n l uga r
para otro, opera n d o cada cual a sua a i re y en su proprio distrito, aunq u e conectados a
media docena de p roveed o res, situados en puntos estratégicos.
269
JUAN BTA. VILAR
"Su existencia e ra d u rísi m a - a p u nto en otro l uga r 1 5 con referencia a i os tetua níes,
s i e m pre d o m i n a ntes en el pa n o ra m a j u d í o d e Ven ezu e l a -. Dormían h a c i n a d o s en
m íseros bohíos, a i raso e n desca m pados, o e n sus angostas tiendecil las. se l evanta b a n a
l a s cuatro o ci n co d e l a m a n a n a p a ra h a c e r l os p r e p a rativos de la j o r n a d a o p a ra
ponerse en m a rcha con sus fa rdos y poder cubrir así u n recorri do agotad or. Pa ra e l l os
no existia el d esca nso n i la expa nsión a i térm i n o de una a p retada semana de tra bajo.
Así u n día y otro día. N i s i q u i e ra conta b a n con los a u xíl ios d e la religión por no haber
ra b i n os n i sinagogas. Algunos, a i casa rse con m uj e res d ei país term i naron abandonando
l a p rá ct i c a r e l i g i o s a y e d u ca ro n a sus h ij o s e n e l c r i s ti a n i s m o . P e r o l a m a y o ría
persevera ron e n la fe a n cestra l y, a i térm i n o d e varios a n os d e esfuerzos, regresa ban a
Tetuá n para tomar m ujer y formar u n hoga r judío".
Por los a n os d e 1 8 8 0 las fa m í l ias así constitu ídas e m p re n d i e ron e l ca m i n o d e l a
e m igra c i ó n . F u e e n t o n ces cua n d o come nza ro n a reu n i rse e n p e q u e n os gru pos p a ra
o bs e rva r m ej o r l o s p rece ptos mosa i cos. Los Be natar, Lasry , B e n d e l a c , T u ri e l , Levy ,
Aza n co t , N a h ó n , M a rra c h e , B e n z a c a r , C o h é n , H a ssá n , Pa r i e n t e , B e n t a t a , S e rfa ty ,
A b u d a rh a m , P i n to y B e n sa d ó n , e ntre otros. Pero e l culto p ro p ri a m e nte d i c h o ta rdó
basta nte tiempo e n ser o rga n iza do e n Venezu ela 1 6 .
Si los !azos asociativos y las entidades religi osas y fi lantróp i cas se deja ron espera r
basta nte p o r l o s motivos a p u ntados, e l l o n o i m pi d i ó q u e l o s i n migrados s e auxi l i a ra n
e f i ca z m e n te u n o s a o t r o s , m a n i festá n d o a s í s u ej e m p l a r y a d m i ra b l e s e n t i d o d e
solidaridad h u m a n a :
E s cierto q u e los q u e va n a Ca ra cas e n pa rti cular - a n ota e n u no de s u s i n formes a
la A lliance, fec h a d o e n agosto de 1 8 9 1 , Ma i r Levy , vetera n o d i recto r d e i colegio d e
Tetu á n 1 7 - logra n d e i n m ediato u n e m p l e o c o n s u s corre l igiona rios y a i nsta lados, q u e
necesita n n u evos o p e ra ri as e n la medida que crecen s u s n egocias. El n i n o tetuaní s ó l o
o y e e n d e rred o r s u y o conversa c i o n e s s o b re América , viajes y negocias. o es su tío
q u i e n se m a rcha, o su padre o su herma n o mayor, q u i enes una vez l ogrado e l éxito, le
escri b en varias ca rtas pa ra que venga a reu n i rse con e l l os.
Segú n lo h e referido más a rriba, los tetua níes que em igra b a n a ntes, l o hacía n en
edad m a d u ra y e n i n ferior esca la que e n estos últimos a n os. Va rios motivos les retenían
e n Tetuá n : b i e n l a l eja nía de esos países a merica n os y e l temor a em prender una la rga
travesía , o b i e n la fa lta d e i d i n e ro necesario para cubrir los gastos de un l a rgo viaje. Hoy
en día, nada l es reti ene. Las dista ncias se h a n hecho más cortas debido a los progresos
d e la navegación. U n o se e m ba rca para Caracas con igual faci lidad que hace veinticindo
a n os i ba a G i b ra ltar o a O rá n , con ozco personal mente a varios d e estos em igra ntes que
h a n hecho hasta seis veces la travesía dei Atlá ntico, y que está n dispuesto a hacerla de
n u evo. En dos o tres d ías u n o se pone e n Má laga , e n donde se embarca para América y
! l ega a la G uayra , el p u e rto de Caracas, vei nte días después. Esta es la ruta que siguen
q u i enes m a rcha n p o r p r i m e ra vez.
En c u a n t o a i d i n e ro n e c e s a r i o p a ra l o s g a s t o s d e i v i aj e , p o r l o ge n e ra l l o
proporcionan e l padre, e l herma n o , e l tío o e l pri m o cua ndo l l a m a n a i em igra nte para
reu n i rse con e l l os. Otras veces los j óvenes pobres piden p restado ese d i nero y paga n
i ntereses. Los más holgados, a i co n c l u i r su paso por la escu el a , conve ncen a sus pad res
para q u e les monten u n a tienda, donde ga nar la suma necesa ria, y permanecen en e l l a
hasta consegui ria. Segu i d a m ente e m prenden e l viaje. P o r e l l o se busca ría n e n va no e n
Tetu á n (a ntigu os) a l u m nos q u e tenga n d i eciocho a n os. Todos se encue ntra n a i otro lado
d ei Atlá nti co. N o nos haga mos i l usiones, la meta e n la vida d e los tetuaníes es la de
270
LOS SEFARDIES DE MARRUECOS
emigrar. se cuenta n hasta 1 00 emigra ntes q u e se marchan todos los anos a América. y
este n ú m e ro es relevante res p e cto a u n a p o b l a c i ó n de 6.000 a l mas. G i b ra ltar. q u e
reci bía a ntes e m i gra ntes tetua níes, y otras ciudades c o m o Tánger, Rabat y Casa blanca ,
sigu ie n d o e l eje m p l o d e Tetu á n , com i e nza n a su v e z a e n v i a r conti ngentes a América".
H a b i e n d o s i d o t e t u a n í e s . y p o r e x t e n s i ó n t e n g e r i n o s e i s ra e l i ta s d e o t r a s
co m u n i d a d e s p ró x i m a s a Tetuá n , co m o X a u e n , A rc i l a , La ra c h e y A l caza rq u i v i r , l o s
p i o ne ros d e l a e m igra c i ó n a Venezue l a , las o l eadas i n corporadas d e s d e las ciudades
situadas a i s u r d e i río S e b ú casi s i e m p re opta ro n por tomar otros d e rroteros. p u es
h a l l á n d ose es p ec i a l izada esta e m igracion en u n a actividad eco n ó m i ca específi ca : la
i m p o rta ción, d i stri bución y venta deta l l ista d e tej idos y manufactu ras texti les, y esta nd o
c o n t ro l a d o e l n ego c i o , e n l o q u e a l o s j u d í o s c o n c i e r n e , por u na t u p i d a red d e
n egocia ntes y v e n d e d o res ta nge ri n o-tetua níes, basta nte cerrada sobre sí mi s ma, n o
resultaba fá c i l penetra r e n e l secto r s i n expressa conformidad d e l o s y a i nsta lados. Ca bia
desde l u ego ocuparse e n otras a ctividades, pero e l transporte d e merca ncias dista ba de
ser el l ucrativo n egocio d e otros tiem pos, y e l comercio d e a rtículos no texti les se veía
d i ficu lta d o para e l recién ! l ega do por serios i n conve n i e ntes. en particular la ausencia de
proveedores seguros y la fa lta de circuitos de distri bución previa mente estableci d os. En
cuanto a las resta ntes a ctividades eco n ó m i cas, la i n cu rs i ón en e l las por los proprios
tetuaníes, fu era por fa lta de experiencia y ca pitales suficientes, o por otros motivos, con
frecuencia se habían saldado e n fra casos.
Por las fechas en que escri be Mair Levy, los judíos ori u ndos dei norte de Ma rru ecos
esta b a n fi r m e m e nte e n ra izados e n Venezuela. Su especia l i d a d . como queda referido,
e ra la v e n ta de t ej i d o s , r o p a s c o n fe c c i o n a d a s . a rt í c u l o s de m e r c e r í él y o t r o s
conceptuados por la l ey venezolana como "merca ncias secas". Dado q u e el pa n o rama
fabril d ei país - datos de 1 89 8 1 8 . e n l o que a texti les se refi ere, se red ucia a una
-
fá brica d e coto nías e n Va lencia, otras varias e n Mérida " . . . e n corta esca la [de] a l fo m b ras
d e l a t e ii i d a s con s usta n c i a s vegeta les dei país. que dah colores m uy vivos", y las
semiartesa nales d e hamacas, chinchorros, sacos y otros tejidos bastos e n Barquisimeto.
G u a n a re y Aca r ig u a , a p a rte los te l a res fa m i l i a res d i s p e rsos a q u í y a l i á por toda la
rep ú b l i ca . se ha cía n ecesa rio i m porta r m a n u fa ctu ras texti les e n gra n esca la.
E n p ri m e r l uga r d e G ra n B reta ii a , p roced encia d e i n d i a nas. perca l es. muselinas y
otras t e l a s d e b aj o costo. a u n q u e ta m b i é n g é n e ros d e s u p e r i o r ca l i d a d y p r e c i o
(cach e m i ras, a l pacas, sederías . . . etc) e n competencia c o n a rtícu los fra nceses, y e n m e n o r
m e d i d a c o n o t r o s i ta l i a n o s , espa ii o l e s y d e p ro ce d e n c i a d i v e rsa. A l e m a n i a . p o r e l
contrario. d o m i naba l o s sectores d e la p i e i y la cordelería , e n ta nto l o s Estados U n i dos.
e l d e l o nas, l i e nzos resistentes, za razas y driles.
Dos de las s i ete p ri n c i pa l es fi rmas mayoristas e n la i m po rta c i ó n d e texti les e n
Venezuela e ra n judeo-marroquíes, lo q u e evi dencia s u sólida i m plantación e n el sector:
la casa Benatar y l a "Bendelac y Cía ". j u nto a e l las figu raban " B i o h m y Cía ", " Bocca rd o y
Cía ", " Lassere y Cía ", " Leser. Rbmer y Baach" y "Santana Herma nos y Cía ". Como puede
verse forá n eas e n su mayoría, y e n a lgún caso vinculadas a conocidas fi rmas j udias
ashkenasíes.
271
JUAN BTA. VILAR
" Las condiciones usuales de com p ras en el extra nj ero - refi ere el cónsul espa iiol en
La G uayra e n una i nteresa nte m e moria 1 9 - se trata n genera l m ente con comision istas,
los cuales a bre n créd itos en cuenta corriente y dan p lazos d e seis meses, media nte una
comisión q u e va ria d e i 2 a i 5 o/o sobre factu ra ".
A su vez, entre las siete e m p resas que controlaban u na pa rte considera b l e d e la
d i st r i b u c i ó n de l o s texti l e s i m p o rta d o s y s u v e n ta m e n o r i sta , fi g u ra n otras d o s
m a rro q uíes: "Aza n cot" y " La s ry H e r m a n os " . L a s otras e ra n l as ya m e n ci o n a da s d e
Lassere y B o cca r d o , y l a s fi rmas " C h a u m e r y Cía " , " S o b u l ette" y " G a r b á n " . N o s erá
n ecesa rio i nsisti r e n q u e los te n d e ras y v e nd ed ores a m b u l a n tes j udíos l l ega dos d e
Ma rruecos e ra n p ieza i m porta nte e n la colacación e n e l m e rcado venezo l a n o de l a s
m a n u fa cturas i m po rtadas por s u s corre l igio n a rios y com patricios Bendelac y Benata r, y
d i stri b u í das por los a l macenistas, a sua vez de Tetu á n y Tánger, Lasry y Aza ncot.
Sin e m b a rgo la excesiva especialización ta m b i é n col l evaba ri esgos. En ta l d i rección
a p u nta ría desde Tetu á n e l perspicaz Mair Levy e n u n i n forme a la Alliance de fi nales de
1 89 1 20:
" Los tetua níes n o comprenden muy bien e l sentido d e la e migración. En l uga r de
a b rise n uevas vias, p refi e re n segu i r la utilizada por q u i enes les han precedido e n e l país,
que es l a dei comercio, y e n la cual les pa rece más fácil logra r e l éxito. N i nguno buscó
eje rcer un oficio d o n d e tuvie ra que tra baj a r más y ten e r más paci encia y persevera ncia
pa ra a l ca nza r el t ri u n fo . Los res u ltados o b te n i d o s en varios i n te ntos p ractica d o s
( p o r excepció n ) e n ta l sentido d ista n d e i nfu n d i r á n i m o a l o s de más.
En e fecto, dado que la i n m igración e n Caracas es m uy i m p o rta nte, y habiéndose
constitu í d o a l l í u na c o l o n i a tetu a n í , a lgu n os i n te nta ron buscar otras vias que las d e i
co m e rcio pa ra h a c e r fortu n a . Se ocuparo n e n la agricu l tu ra , e n las pl a ntaci ones d e
caca o , a b rieron resta u ra ntes, pero n o lograron buenos resu ltados y retornaron entonces
a i comercio. Pero seria desea b l e que e l fracaso d e algunos no decepcionara a otros, y
q u e los reci é n l l ega dos rea l i za ra n l os esfu e rzos n ecesa rios pa ra n o i mi ta r necesa ria
m e n te a q u i e n es les h a n precedido y n o caer e n la tra m pa de las ga nacias fá ci l es dei
comercio , donde les será ta nto más d i fíci l ten er éxito conforme se vaya satu rando (el
m e rca d o ) por l a (cre c i e n te) competencia. D e hacerlo así, a caso pueda evita rse q u e
l legue e l m o m ento e n q u e tenga n que busca r fortuna e n otros l eja nos países, donde
les fa ltará la ayuda ta n beneficiosa d e sus corre ligionarios".
C O N C L U S I O N ES
E l d e s p e g u e d e l a e m i g ra c i ó n j u d e o - m a r r o q u í a V e n e z u e l a , c o n e c ta d a
estrecha m e n te a otra espa iiola para l e l a , s e re monta a l a década d e 1 840, siendo Tetu á n
y Tá nger, las c i u d a d e s ma rroquíes e n mayor contacto con Espa na, los principales pu ntos
de p roced e n cia.
E m i g ra c i ó n i n i c i a l m e n t e t e m p o ra l , t e r m i n á s e d i m e n ta n d o o t ra d e fi n i t i v a ,
fu n d a me nto básico d e la a ctu a l e i m p o rtante co l e ctívidad j udia venezol ana. Rasgo
d isti ntivo de los i n m igra d o s s e fa rd í e s en Ve n ezu e l a l l ega d os d e Ma rruecos fu e su
especi a l iza ci ó n p rofes i o n a l en el tráfico a m b u la nte y l u ego en la comercia l ización de
texti les, sector este que term i n a ría n controlando e n pa rte. Es de seiialar, a su vez, la
estrecha conexión dei e m igrante con sus p u ntos de p rocedencia, e l retorno d e i n d ianos
e n r i q u e c i d o s y la i n fl u e n c i a de l a r e p a t r i a c i ó n de ca p i ta l e s en el p ro ce s o d e
modern ización d e l a patria d e orige n .
272
LOS SEFARDIES DE MARRUECOS
NOTAS
1 . J.S. E MMANUEL Y S . E M MANUEL. History of the ]ews of the Netherlands Antil/es, Cincinati, 1 9 70.
2. 1. A/ZEM BERG, "Coro, l a p r i me ra com u n i d a d judia de América latina conte m poránea", Sefárdica, 7 ( 1 984), pp. 1 0-
1 3; J.R. FORTIQ U E , Los motines anti-judios de coro, Maracaibo, 1 9 73.
3 . Sobre la i n m igración ca naria e n Venezu e l a . siempre la espano/a más emergente, véase e l l i bro clásico de
M.M. MARRERO, Canarios en América, Caracas, 1 98 7 . Entre la cuantiosa b i b l i ografia posterior ca be espiga r ,
e n tre otra s . las sigu i e n tes a portaciones: N . PERAZZO , La inmigración en Venezuela, 1 830- 1 850, Caracas, 1 9 7 3 ;
J . HERNANDEZ GARCIA, La emigración canario-americana en l a segunda mitad d e i siglo XIX, L a s Pa lmas, 1 98 1 ;
A . M . MACIAS H E R N A N D EZ, " U n siglo d e e m i gra c i ón ca n a r i a , 1 8 3 0 - 1 9 3 0 " , e n N . Sánchez-Aibornoz (co m p . ) .
Espaiioles hacia América. La emigración en masa, 1 880- 1 930, M a d r i d . 1 9 8 8 , pp. 1 66-202.
4 .. AMAE, Politica (Venezuela), leg. 2 . 7 1 O: Despacho d e i enca rgado de negocias de Espana a i m i n istro de Estado,
Caracas, 2 3 a b r i l 1 8 5 4 .
5 . J . B . V I LA R , Tetuán en e/ resu rgimien to judio contemporáneo ( 1 850- 1 870). Aproximación a l a his toria dei
]udaismo norteafricano. Presen tació n de M . G a rzón serfaty. Prólogo de S. Leibovici, B i b l i oteca Pop u l a r Sefardi,
Caracas, 1 98 5 , ps. 1 9 3-207.
6. AMAE, Politica (Venezuela). l eg. 2 . 7 1 0: Despacho d e i enca rgado de n egocias de Espa na a i m i n istro de Estado,
Caracas, 24 e n e ro 1 8 5 7 .
7. 1bidem.
8 . VILAR, Tetuán en el resurgimiento . . . , op. cit., ps. 70-76. Sobre la em igración judeo-ma rroqu i a i B ras i l , que a b re
el ciclo m igratorio de referencia con lberoamérica, véase E. y F. WOLFF, os judeus no Brasil Imperial, Rio de
j a n e i ro , 1 9 70, j .A. G O N ÇA LV EZ MELLO, Gente de Nação, Recife , 1 9 89; R. RICARD, Notes sur / 'emigrotion des
/sroelites Marocains en A merique Espagnole et au Brésil, Paris, 1 944: I. SALAMA, "EI Yishuv isra e l i ta dei Brasi l. La
pa rtici pación de los sefa rd itas", Maguen, 32 (Ca racas, 1 9 73), ps. 8- 1 0; E. MOREIRA. "Presencia h ebrea e n Pa rá ",
Maguen, 81 ( 1 99 1 ) , ps. 5 - 1 3 ; M. LIBERMAN, "j udias e n la Amazonia brasilena (siglas XIX-XX), Maguen , 81 ( 1 99 1 );
S. LEIBOVICI, "La e m igración a Am érica de los sefardies de Ma rruecos", en M" A. Bel Bravo [ad a lter], Diáspora
sefardi, M a d r i d , 1 99 2 ps. 2 4 0 - 2 4 6 ; j . B . V I LAR, "j ewis Morocca n i n m igra t i o n to Lati n America " , The Alliance
Review, XXV, 45 ( 1 9 7 3 ; V I LAR, " Los sefa rdies dei n orte de Ma rruecos y su projección en el Mediterrá n e o e
l beroa mérica", Proyección histórica de Espana en sus tres culturas: Castilla y León, América y el Mediterráneo,
Va l l a d o l i d , 1 99 3 , I, ps. 3 8 7- 3 9 8 ; V I LAR. "La e m igración j u d e o- ma rroq uí a la América Latina en la fase pre
e s t a d i s t i c a ( 1 8 5 0 - 1 8 8 0 ) , p o n e n c i a p r e s e n t a d a en l a Conference of the Latin American ]ewish S t udies
Association , F i l a d elfia, novi e m b re , 1 99 3 .
1 0. Sobre la p rotecció n espa no/a dispensada a j u d ios m a rroq uies dentro y fue ra de Ma rruecos, véase: j.B. VILAR,
"Ayuda espano/a a Ma rruecos e n la crisis de las p rotecci ones consu l a res ( 1 8 7 8 - 1 8 79)", Africa 3 8 1 ( 1 973); VILAR.
"Un i ntento d e restri ngir la p rotección d i p lomática espano/a a los judias m a rroq uies e n Egipto. El caso de
S a l o m ó n Cohén ( 1 8 7 2 ) " , Maguen, 60 ( 1 9 8 6 ) , ps. 1 5 - 2 4 ; VILAR (en colaboración con j . I N I ESTA), " Protección
d i p lomi nica espano/a a isra e l i tas ma rroquies e n Egipto. El caso de la fa m í l ia Nadeh ( 1 889)", Magu e n , 5 3 ( 1 984),
ps. 40-44; V I LAR, "EI presente y e l futuro de la lengua caste l l a n a e ntre los sefardies de Egi po a través de u n
i n forme d i p lomáti co espa no/. u n e c o de la visita de Abra h a m G a l a nte a Alej a n d ría e n 1 9 0 7 " , Sefárdica, 3 (B.
A i res, 1 985). ps. 95-99.
1 4. L.j. BENOLIEL, "Presence judéo-maroca i n e e n Venezu ela", en S. Lei bovici ( e d.) , Mosaiques de notre memoire. Les
)udéo-espagnols du Maroc, Paris, 1 98 2 , ps. 2 1 9- 2 3 1 .
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JUAN BTA. VILAR
1 5 . V I LAR, retuán en el resurgimien to . . . . p. 74. vease ta m b i e n VILAR, "Ouverture a J'Occident de la com m u n a ite
j u ive de Teto u a n ( 1 860- 1 8 6 5 ) , Mosai"ques ... op. cit., ps. 8 5 - 1 2 8 .
1 6. La primera sinagoga se d ejó e s p e r a r 1 9 30, la popular "dei c o n d e " , por el b a r r i o de Caracas e n q u e se asienta.
Las primeras asociaciones d e tipo com u n a l , benéfico o docente son basta nte anteriores. siendo las pioneras
l a "Sociedad d e B e n e ficencia Isra e l i ta d e Caracas" - 1 9 0 7 - y la "Asociación Isra e l ita de V e n e z u e l a " - 1 9 1 9 -
(vease BENOLIEL, "Presente . . . ", pp. 2 2 2 - 2 23). bien es cie rto q u e con a n terioridad d i ferentes ju díos a p a recen
e ntre los fu ndadores y socios de entidades fi la ntrópicas. culturales y recreativas. diversas. a lgunas de ellas
espanolas, d e n tro y fuera d e Caracas.
1 7. A lU, Ma roc: Ma i r LEVY, 1 89 1 : Informe a la Alliance, Tetu á n 7 agosto 1 89 1 (S. Leibovici p u b l ica fragmento de la
misma traducido a i espano! e n "Aigunos a p u ntes . . . " op. cit.).
1 8 . AMAE, Correspo ndencia (La G u ayra), leg. 1 9 29: Despacho dei cónsu l Enrique de Pere i ra a i m i n istro de Estado.
La Guayra , 1 " septi e m bre 1 8 9 8 .
1 9. lbídem.
A B R EV I A T U R A S U T I L IZADAS
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