PlanoDiretorParticipativoSNPU2006 1
PlanoDiretorParticipativoSNPU2006 1
PlanoDiretorParticipativoSNPU2006 1
m i n i s t é r i o d a s c i d a d e s
Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva
Foto da capa:
Assentamento da
Rocinha • Rio de
Janeiro (RJ)
m i n i s t é r i o d a s c i d a d e s
Chefe da Assessoria de Comunicação Redator Diagramação e Arte Final
Regina Pires Cláudio Antonio Silva Marcelo Terraza
Elaboração
Anderson Kazuo Nakano, Antônia Lídia Freitas Espíndola, Arquimedes Belo Paiva, Heloísa Pereira Lima Azevedo, Marcel Cláudio Sant’Ana, Marina Amorim Cavalcanti de
Oliveira, Nathan Belcavello de Oliveira, Regina Maria Pozzobon, Yêda Virgínia Barbosa
Colaboração
Evaniza Lopez Rodrigues, Grazia de Grazia, Luciano Canez, Luiz Gustavo Vieira Martins, Mariana Levy Piza, Raul Fontoura, Simone Gueresi e Weber Sutti
Apoio Administrativo
Aline Melo Nascimento, Claudia Nascimento Melo, Claudilene Alves Oliveira, Fábio Monteiro Rigueira, Marcos Venícius Leite Vasconcelos, Renato Souza, Rhayra B. Cirqueira
dos Santos, William de Castro Feitosa, Letícia Marins (Estagiária)
Parcerias Institucionais
Casa Civil – Secretaria Geral e Secretaria do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social • Caixa Econômica Federal – Superintendência Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (SUDEN), Superintendência Nacional de Parcerias e Apoio ao Desenvolvimento Urbano SUDUP), Gerências de Filiais de Apoio ao Desenvolvimento
Urbano (GIDURs) e Representações de Apoio ao Desenvolvimento Urbano (REDURs) • Eletronorte – Centrais Elétricas do Norte do Brasil • Furnas Centrais Elétricas SA •
Ministério da Ciência e Tecnologia - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e (CNPq) • Ministério da Cultura – Programa Monumenta • Ministério da Fazenda
- Programa Nacional de Apoio à Gestão Fiscal e Administrativa dos Municípios (PNAFM) • Ministério da Integração – Programa Faixa de Fronteira • Ministério do Meio
Ambiente – Secretaria Executiva, Secretaria de Qualidade Ambiental (SQA) Secretaria de Políticas para o Desenvolvimento Sustentável (SDS), Subprograma de Política de
Recursos Naturais (SPRN) e Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA) • Ministério do Turismo – Programa Prodetur • Nações Unidas – Programa das Nações Unidas para
Assentamentos Humanos (HABITAT) e Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA)
1. Política Urbana. 2. Planejamento Territorial. 3. Gestão de Cidades. 4. Plano Diretor. 5. Participação Cidadã
I. Título. II Secretaria Nacional de Programas Urbanos. III.Ministério das Cidades
www.cidades.gov.br • [email protected] • telefone 61 2108-1602 • Esplanada dos Ministérios • Bloco A, 2º andar • 70050-901 • Brasília, DF
Índice
5 Mensagem do Presidente
9 Apresentação
11 Introdução
77 Anexos
Belo horizonte (mg) • renato Balbim
A
história das cidades brasileiras é um pouco a história de milhões de pedreiros
de fim de semana; gente que descansa batendo laje nos domingos e feriados;
gente que faz das tripas coração para transformar madeira em barraco; barraco
em alvenaria, e alvenaria em abrigo, aconchego, dignidade e, portanto, num lar.
Essa conquista de um lugar próprio para morar na cidade às vezes consome todo
um ciclo de vida de uma família. A casa sobe aos poucos com o casamento; cresce um
cômodo na chegada das crianças; ganha pintura na adolescência dos filhos, mas às vezes
só fica pronta mesmo quando começa o choro dos netos.
Ainda assim, freqüentemente, para a maioria dos brasileiros, falta um acabamento
que não se resolve na base da tinta ou do reboco.
O nome desse acabamento é direito à cidade e à cidadania. Ele inclui, entre outras
coisas, a rua limpa e iluminada; a segurança pública, o transporte acessível, o posto de
saúde, a escola próxima; a natureza protegida; a praça das crianças.
Essa cidade democrática e republicana ainda é privilégio de poucos e um sonho de
muitos. Milhões de brasileiros espalhados nos 5.562 municípios, vivem comprimidos em
espaços periféricos onde falta de tudo um pouco.
P
ela primeira vez na História, o mundo terá mais gente vivendo nas cidades do que no
campo. A previsão é da ONU e acontecerá dentro de alguns meses, já em 2007. Ao rom-
per-se a barreira dos 50% de habitantes nas cidades, a demanda por recursos e serviços
aumentará consideravelmente.
No Brasil já temos mais de 80% da população residindo em cidades, segundo o IBGE.
Desde 2003, com a criação do Ministério das Cidades, o Governo Federal vem aplicando o
Estatuto da Cidade em busca de soluções para o crescimento desordenado das cidades. Nossa
política neste sentido tem sustentação no incentivo à elaboração de Planos Diretores, na Regu-
larização Fundiária e na Reabilitação de Centros Urbanos.
As cidades brasileiras vivem momento decisivo para o seu crescimento urbano e econô-
mico. É hora de planejar o futuro dos municípios. O objetivo do Plano Diretor é encontrar solu-
ções para cidades em crescimento ou que cresceram de maneira desordenada e excludente,
penalizando principalmente pessoas de menor renda.
Promovemos ao mesmo tempo ações de Regularização Fundiária, com o objetivo de
melhorar as condições de habitabilidade em assentamentos precários, seja por meio de urbani-
zação e recuperação ambiental, seja concedendo títulos de propriedades de imóveis.
A Reabilitação de Centros Urbanos, junto com os programas habitacionais, é fator determi-
nante para a mudança do quadro preocupante que enfrentamos com um déficit habitacional de
7,2 milhões de moradias. Ainda mais sabendo que nos centros das cidades, existem 4,5 milhões
de moradias ociosas.
Quando decidimos pela publicação dos três livros – Plano Diretor, Regularização Fundiária
e Reabilitação de Centros Urbanos – buscamos levar a todas as partes do Brasil as informações
sobre esses programas. Ao mesmo tempo fazemos um balanço da atuação do Ministério das
Cidades.
Cabe agora a todos nós, unidos, seguir nessa longa caminhada.
A
Secretaria Nacional de Programas Urbanos do Ministério das Cidades foi criada com o
desafio de estruturar nacionalmente o planejamento territorial urbano e a política de
gestão do solo urbano, na direção apontada pela Constituição de 1988 e pelo Estatuto
das Cidades.
Esse desafio significava implementar uma política para ampliar o acesso à terra urbana para
a população de baixa renda em condições adequadas, elemento fundamental para enfrentar
o passivo de destruição ambiental e exclusão social existentes nas cidades do País. Significava
estabelecer uma nova agenda de planejamento e gestão do solo urbano que possibilitasse
incluir os mercados de baixa renda nos temas e estratégias contidos nos planos e projetos. Uma
agenda que superasse o descrédito e a falta de cultura de planejamento das cidades e enfren-
tasse o desafio de fazer cidades para todos, sobrepondo-se à dualidade entre cidade formal e
informal; urbanizada e precária; incluída e excluída dos plenos direitos de cidadania.
Registramos em três volumes as políticas e ações implementadas pela Secretaria Nacional
de Programas Urbanos. Um trabalho construído pela equipe da Secretaria em amplo diálogo
com gestores públicos, com o Conselho
Nacional das Cidades, com os mais diversos segmentos em todos os estados do País. Atua-
mos em políticas e ações complementares à obras de urbanização para alcançar a plena regula-
rização dos assentamentos de baixa renda, bem como, realizamos ações preventivas para evitar
a formação de novos aglomerados desse tipo. As ações preventivas abrangeram o fomento à
atividade de planejamento municipal – Plano Diretor, planos municipais de redução de risco e
de reabilitação de áreas consolidadas degradadas ou subutilizadas.
Nossas ações procuram também impedir ocupações e uso predatório do solo e do patri-
mônio cultural e ambiental, por meio do planejamento territorial municipal e do estímulo ao
aproveitamento mais intenso das infra-estruturas instaladas, reabilitando-se áreas degradadas
ou subutilizadas.
Buscamos, dessa forma, estimular os municípios e cidadãos a construírem novas práticas
de planejamento e de gestão democráticas, includentes, redistributivas e sustentáveis. Os três
volumes abordam o Plano Diretor Participativo, a Regularização Fundiária e a Reabilitação de
Centros Urbanos. É o registro de experiências que mostra como as sementes plantadas na Cons-
tituição de 1988 germinaram e cresceram em cada canto do País.
A
ocupação das terras no Brasil se dá de uma forma paradoxal. A maioria das pessoas é de baixa renda, mas
nas áreas urbanizadas e bem localizadas, continua a produção de frentes imobiliárias voltadas para as clas-
ses mais altas. E aos segmentos de baixa renda restam ocupar terrenos nas periferias, a maioria em áreas
Esta cultura de exclusão territorial urbana é um dos principais desafios para a criação de Planos Diretores com
a participação de todos, obrigatório até outubro de 2006 para os municípios com mais de 20 mil habitantes ou
que façam parte de Regiões Metropolitanas ou Aglomerações Urbanas. Com o Estatuto da Cidade, a antiga visão
tecnocrática de que Plano Diretor só pode ser feito por “quem entende”, está ultrapassada.
Parte do Aglomerado
Santa Lúcia e ao fundo o
bairro Santo Antônio, em
Belo Horizonte (MG)
Estatuto da Cidade E, 13 anos depois, com a aprovação do Estatuto da Cidade pelo
Congresso Nacional é que este instrumento se materializa. Na
A
luta por uma nova visão das cidades e de planejamento redemocratização um conjunto de participantes como entida-
vem de longe. Em 1988, a Constituição do Brasil estabele- des de luta pela moradia, sindicatos de trabalhadores, entidades
ceu uma nova política urbana para o país, mas só 13 anos técnicas, acadêmicas, entre outros, impulsionou um movimento
depois, em 2001, os instrumentos para implementar essa política para inserir na Constituição um capítulo de política urbana no
foram regulamentados com a aprovação do projeto de lei, origina- qual se consagram os princípios da reforma urbana, especial-
riamente proposto pelo senador Pompeu de Souza e largamente mente o conceito de função social da propriedade.
negociado por vários segmentos sociais: o Estatuto da Cidade. Este conceito é inovador no entendimento de que a proprie-
A partir do Estatuto da Cidade rompe-se com esta prática dade deve cumprir uma função social, o que se aplica tanto para
que sempre prevaleceu, de que o Plano Diretor é instrumento áreas urbanas quanto para zonas rurais: a propriedade tem de ser
exclusivamente técnico, dominado somente por engenheiros, produtiva, socialmente útil, isto é, que garanta o pleno exercício
arquitetos, geógrafos e “sábios” que com seus conhecimentos do direito à cidade por todos os seus habitantes.
iriam organizar a cidade ideal. Portanto, é o Plano Diretor que tem de dizer qual é a desti-
O Plano Diretor é a principal lei do município que trata da nação de cada pedaço do território do município. A ocupação de
organização e ocupação do seu território. Mais do que isso, no todas as áreas deverá considerar o bem estar coletivo, de todos os
Estatuto da Cidade o Plano Diretor é resultado de um processo habitantes do município, seja ela residência, comércio, indústria,
político, dinâmico e participativo que mobiliza o conjunto da serviços, área pública, área para equipamentos coletivos.
sociedade, todos os segmentos sociais, para discutir e estabele- No entanto, a prevalência do caráter autoritário e excludente
cer um pacto sobre o projeto de desenvolvimento do município. do desenho das cidades se deu, principalmente, pela falta de
Este é um processo político de formação da cidadania. acesso dos segmentos de menor renda à moradia digna, aos
A idéia de que o Plano Diretor pode ser um instrumento de equipamentos, serviços e infra-estrutura urbana, enfim ao direito
reforma urbana, de mudança da cidade, emerge após a redemo- à cidade. Com isto, os imediatamente mais interessados, com
cratização do País na década de 80, com a Constituição de 1988. interesses concretos em valorizar suas áreas, em garantir seus
Materiais de sensibilização e divulgação do Estatuto da Cidade e de planos diretores participativos produzidos por diferentes instituições e municípios do País.
direitos imobiliários que sempre predominaram nas cidades bra- hotéis? E moradia? Onde estão as áreas mais valorizadas, com
sileiras, sempre “de poucos e para poucos”, excluíram a maioria, melhores condições de habitar, de implantar um determinado
jogando-a para a periferia. tipo de comércio? Os espaços comerciais devem ser para gran-
Infelizmente, o mercado imobiliário no Brasil continua traba- des, médios ou pequenos empreendimentos? Se está permi-
lhando apenas para as classes média e alta, uma parcela pequena tindo shopping centers? Em qualquer lugar? Posto de gasolina
na pirâmide social das cidades. E mesmo já donas de amplas nas áreas mais valorizadas da cidade? Não está reservando áreas
moradias, a elas são oferecidos mais e mais lançamentos imobili- para moradias populares nas áreas centrais onde existe maior
ários, que são adquiridos como “investimento”. Afinal, imóvel não possibilidade de emprego e maior acessibilidade? Daí os conflitos
desvaloriza. Resultado: grande estoque de imóveis vazios e de começam a aparecer, a se desnudarem.
outro lado, o déficit habitacional que continua predominante. Em 2003 foi criado o Ministério das Cidades, exatamente para
começar a enfrentar este problema, dando uma nova dimensão,
Como dividir escala e sentido ao planejamento urbano no País. Por isso, uma
das tarefas principais do Ministério das Cidades ao ser criado foi
Mesmo os segmentos sociais que não dominam o linguajar botar na rua o Estatuto da Cidade disseminando a idéia de uma
técnico, que esconde muito da natureza do processo, acabam cidade de todos.
entendendo que o Plano Diretor trata de definir “quem vai ficar Era o momento de fazer chegar a cada um dos 1.700 muni-
com o quê” nas cidades: é um espaço de disputa. cípios o conhecimento e a potencialidade do Plano Diretor como
Quem fica com a parte urbanizada, com infra-estrutura, instrumento de planejamento e gestão do território. O momento
arborizada, legalizada, com as melhores condições de habitabili- de se aplicar o Estatuto foi a oportunidade de transformar a elabo-
dade? E as experiências mostram que é uma disputa muito acir- ração do Plano num processo democrático. No qual a população
rada, quando o que está em jogo começa a aparecer. E começa pensa e discute a cidade onde mora, trabalha e sonha, e faz pro-
a aparecer o que está em jogo. postas para corrigir as distorções existentes no desenvolvimento
Na discussão, por exemplo, sobre o uso da orla marítima. do município.
Aumentar o gabarito? Criar espaços públicos de lazer? Se permitir O Ministério não queria que se repetisse o que ocorreu na
Área portuária de Santana (AP) 1
São Mateus (ES) 2
II Conferência das Cidades - 2005 3
Trecho do Mapa de Diretrizes Viárias Centro do Recife (PE) 4
– Plano Diretor de São Carlos (SP) Vista do Plano Piloto em Brasília (DF) 5
Leopoldo silva
década de 1970, em razão da exigência de que as prefeituras só
receberiam recursos federais se tivessem um Plano Diretor. Para
continuarem recebendo, o que se viu foi um festival de planos
feitos por atacado e vendidos por consultores a administradores
coniventes ou inexperientes.
Isso produzia documentos que ignoravam a realidade e
necessidades de cada cidade. E tinha coisas absurdas como a
de vários planos iguais: o município era do interior e tinha um
capítulo sobre as praias, porque copiou de outro. Era “normal”
encontrar no meio do plano de uma cidade, o nome trocado
pelo nome da cidade que primeiro criou o documento.
Diversidade regional
1| Apoio Técnico e Financeiro aos Municípios: o Governo 5| Criou a Rede do Plano Diretor, hoje com mais de 40 mil
Federal destinou cerca de R$ 60 milhões de vários ministérios, e-mails de todo o País, espaço de informação, reflexão e crí-
com a mesma metodologia, para apoio direto a cerca de 550 tica e se tornou um dinâmico canal de discussão e troca de
municípios, aproximadamente 30% do total dos municípios experiências.
obrigatórios. 6| Inaugurou no mês de março o Banco de Experiências
2| Montou um Programa de Capacitação e Sensibilização do Plano Diretor Participativo no site do Ministério das
em todas as regiões do País. Sejam gestores e técnicos muni- Cidades, que tem por objetivo registrar as soluções, ações e
cipais (priorizados em 2003), sejam lideranças de movimentos estratégias utilizadas em cada etapa de elaboração do Plano.
sociais (priorizados em 2004), e em 2005 e 2006 com todos os Soluções que traduzam como municípios, em situações tão
segmentos sociais que desejam contribuir para construção de diversas, estão implementando os instrumentos do Estatuto
uma cidade melhor. da Cidade.
3| Lançou um KIT do Plano Diretor participativo, com material 7| No site do Ministério foi criada a Página da Campanha que
didático sobre PD e realiza a Campanha Nacional Plano mostra seu histórico, fontes de recursos, dados e informações,
Diretor Participativo: Cidade de Todos. Oferece bolsas kit da campanha, boletins, cadastrados, etc. Especialmente é
para equipes de universidades, em convênio com o CNPq um espaço para os núcleos estaduais da Campanha do Plano
para projetos de assistência técnica aos municípios. Diretor enviarem diretamente, com sua senha exclusiva, as
4| Formou e divulgou um Cadastro de Profissionais de cada notícias do seu estado.
região do País com experiência na capacitação ou na elabora-
ção de Plano Diretor e implementação do Estatuto da Cidade.
387 profissionais conseguiram cumprir todas as etapas, num
processo seletivo que mobilizou 1.417 pessoas físicas e jurídi-
cas e compõem hoje o cadastro nacional.
trabalhando nesse sentido desde 2003. Estatuto nas várias regiões do País e em municípios de diversos
Roraima recebeu recursos para participar portes e situações.
da oficina de Manaus (Amazonas) e o Acre Foram muitas as dificuldades, tais como o grande número
da oficina de Porto Velho (Rondônia). de municípios a serem envolvidos num prazo tão curto e a con-
Acervo sNPU
Rui Faquini
Prédio COPAN em
São Paulo (SP)
seqüente dificuldade de deslocamento num país tão vasto. Havia A campanha mobilizou do Oiapoque ao Chuí, literalmente. O
também falta de interesse de algumas prefeituras, o caráter polê- Oiapoque, mesmo não tendo a obrigatoriedade, está fazendo o
mico do Plano Diretor Participativo, a sobrecarga dos membros Plano Diretor com recursos próprios e grande mobilização social.
dos núcleos e a demora na chegada de recursos financeiros. Em maio de 2006, mais de 1.500 dos municípios com obri-
Apesar de todas estas dificuldades, a resposta surpreendeu gatoriedade estão elaborando o plano dos quais 249 declaram já
e foi além da expectativa. Os 30 mil exemplares do livro “Plano tê-lo concluído.
Diretor Participativo: Guia para Elaboração pelos Municípios e Cida- A qualidade dos planos e a sua concretização em cidades
dãos” tem enorme procura pelos setores mais variados: prefeituras, mais justas, democráticas e sustentáveis dependerá, logica-
Ministério Público, empresários, sindicatos, movimentos populares, mente, de cada cidade, do nível de organização e mobilização
comunidades acadêmicas e institutos de pesquisas. Seria um “best da sociedade e das práticas de participação locais. Vai depender
seller” se fosse vendido. Mais que isto a metodologia nele proposta do compromisso de cada prefeito, vereador, técnico, procurador,
vem sendo debatida, assimilada, difundida, reproduzida. empresário e liderança social.
O
Ministério das Cidades foi criado em 1º janeiro de 2003 pelo Governo Federal para combater as desigual-
dades sociais, transformar as cidades em espaços mais humanizados e ampliar o acesso da população à
moradia, saneamento e transporte. Para isto ele estimula os municípios a construírem novas práticas de
planejamento territorial e de gestão democrática, liberando às cidades recursos financeiros e apoio técnico.
ministerial para sua aplicabilidade. Uma exigência chave do Estatuto é a obrigatoriedade dos municípios elaborarem
É tarefa do Ministério tratar da política de desenvolvimento urbano integrando as políticas setoriais de habi-
tação, saneamento ambiental, transporte urbano e trânsito. Através da Caixa Econômica Federal, operadora dos
recursos, o MCidades trabalha de forma articulada e solidária com os estados e municípios, além dos movimentos
(SEDU-PR), extinta em 1º de janeiro de 2003, disponibilizou R$ 589.547,00 ao “Programa Gestão Urbana e Metropoli-
tana”, por meio da Ação Estudos para a Formulação de Planos Municipais de Desenvolvimento Urbano Sustentável.
Isso permitiu que o Ministério das Cidades repassasse recursos para, apenas oito municípios, em sete estados brasi-
Rio de
Janeiro (RJ)
Chamadas públicas Investimentos em planos diretores | governo federal 2003•2005
A
partir de 2004 o Ministério das Cidades promoveu a rees-
truturação do Programa, que passou a ter um novo en-
foque, dessa vez voltado para a busca da construção de
uma nova ordem urbanística, redistributiva e includente, com a
incorporação da concepção de processos participativos na ela-
boração e implementação de Planos Diretores. O nome acabou
sendo alterado para “Programa de Fortalecimento da Gestão
Municipal Urbana” e foram modificados os conteúdos e procedi-
mentos para solicitação de recursos do Programa.
Os pedidos passaram a acontecer através de chamadas públi-
SNPU- 2005
cas, denominadas “Sistemáticas”, compostas pelo manual e formu- SNPU-2004
lários do Programa adaptados à nova política e disponibilizados SNPU-2003
CNPQ/MCIDADES
de modo que os municípios apresentassem suas consultas prévias DI HBB-MCIDADES
EMENDAS
ao Ministério. Foram estabelecidos então, critérios para seleção PNAFM – Caixa
PRODETUR/MCIDADES
dos municípios que seriam apoiados. Após análise das propostas TAL – MMA/MCIDADES
2
Kazuo Nakano
Kazuo Nakano
3
4
1 a 3 Município de São Gabriel da Cachoeira (AM)
O
Ministério das Cidades estabeleceu como uma de suas metas a articulação e integração das políticas pú-
blicas de ordenamento, planejamento e gestão territorial, por meio de parcerias construídas para tratar
A questão ambiental ganha especial ênfase para o alcance desta meta, por se tratar de tema destaque no
Estatuto da Cidade, onde estão contempladas as diretrizes gerais do desenvolvimento urbano com base na política
Neste sentido, nos Programas e nas Ações do Ministério estão presentes as iniciativas que viabilizam a sua
implementação, com base na articulação entre os diferentes níveis de governo – federal, estadual e municipal – e a
sociedade civil. Por meio delas foram desencadeadas experiências com o intuito de estabelecer e consolidar projetos
1| Acordo de Cooperação entre Ministério do Meio Ambiente, Ministério das Cidades e Ministério da Cultura.
2| Cooperação Técnica entre o Ministério das Cidades, Furnas Centrais Elétricas e Alago.
4| Projeto Estratégia de Gestão Ambiental e Urbana – Habitat / Pnuma / ONU, Ministério das Cidades e Ministério
do Meio Ambiente.
Paisagem de
cerrado (GO)
Impacto ambiental
O
impacto socioambiental causado pela criação de usinas
hidrelétricas no Brasil incluiu algumas regiões atingidas
na obrigatoriedade de elaboração de Plano Diretor Par-
ticipativo. Nesse critério se enquadram as cidades circunvizinhas
ao lago da Hidrelétrica de Tucuruí, no estado do Pará, e aquelas à
beira do Lago da Hidrelétrica de Furnas, em Minas Gerais.
Para dar suporte à elaboração do PDP nessas áreas, o Governo
Federal, através do Ministério das Cidades, instituiu convênios de
cooperação técnica em parceria com os poderes públicos locais,
empresas e representantes da sociedade civil.
Buscando uma coordenação compartilhada nessas regi-
ões, o MCidades tratou os Planos Diretores dessas cidades sob
a ótica de um consórcio intermunicipal, para trabalhar de forma
conjunta as questões comuns e individualmente aquelas que são
peculiares a cada um dos municípios.
Em Furnas são 52 cidades na bacia do lago que é a maior
extensão de águas no estado e considerado o “Mar de Minas”, pois
equivale ao tamanho de quase 30 praias de Copacabana em seu
perímetro. Alimentado por nascentes e rios, cobre uma superfície
Fonte: Alago
de 1.457,48 km², com uma extensão de perímetro de 3,7 mil km, e foi
projetado para mover a Hidrelétrica de Furnas, construída em 1958.
Como embrião dos planos diretores nesses municípios teve Os 52 municípios que compõem a bacia do Lago
da Hidrelétrica de Furnas, em Minas Gerais.
início em setembro de 2003, o processo denominado “Diálogo de
Morro Branco, em Beberibe (CE), que faz parte
Concertação para o Desenvolvimento Sustentável”, coordenado do projeto Estratégia Ambiental Urbana
pelo Governo Federal, com a participação de outros parceiros
Acervo Habitat
como o estado de Minas Gerais e instituições locais. O objetivo
desse encontro foi a articulação de políticas de governo na região,
para enfrentar as dificuldades principais de saneamento e os pro-
blemas gerados pelo rebaixamento do nível de água do lago.
Foram realizadas oficinas, em diferentes municípios do
conjunto, como estratégia de aproximação, para o conheci-
mento da realidade local e articulação das políticas públicas
na região.
Nelas se estabeleceram os princípios gerais de atuação do
grupo, possibilitando a articulação de ações que garantissem o
Desenvolvimento Econômico e Estrutura de Gestão do Entorno
josé Raiol
1
que todos os atores entrassem em contacto com as metodologias
e, ao mesmo tempo, iniciassem a leitura dos principais problemas
socioambientais e potencialidades do município.
As oficinas tiveram continuidade com a capacitação nos
municípios de Ponta Porã (em julho) e de Beberibe e Marabá (em
agosto). Os relatórios GEO foram concluídos nos quatro muni-
cípios em outubro de 2005. Atualmente estão sendo realizadas
as leituras técnicas e comunitárias. A depender dos resultados
alcançados, pretende-se ampliar a atuação para um número
maior de municípios.
Projeto TAL
Regina Lins
2
O
que um brasileiro sente ao caminhar por ladeiras, entre becos e vielas de uma cidade histórica do Bra-
sil? O que um estrangeiro sente caminhando entre igrejas e casarios do século 18 no Brasil? A identidade
O patrimônio cultural de um povo é ingrediente de sua identidade e da diversidade cultural. Pode também se tornar
Durante os anos de 2003 e 2004 o Governo Federal incentivou a integração de seus programas no âmbito de
todos os ministérios que tratam de planejamento e ordenamento territorial, destinando aportes financeiros, apoio
Em 2003 foi assinado o Acordo de Cooperação Técnica entre o Ministério das Cidades, Ministério da Cultura e
Ministério do Meio Ambiente. O documento estabelece a cooperação para atividades de planejamento e gestão
relacionadas ao desenvolvimento territorial e urbano, patrimônio cultural e preservação do meio ambiente.
A conservação de sítios de valor patrimonial artístico e cultural é de fundamental importância. Estas áreas estão,
geralmente, sujeitas a fortes processos de especulação ou degradação, deixando-as vulneráveis para a manutenção
de sua integridade. Também são frágeis os movimentos da sociedade no sentido de sua preservação, porque geral-
A
ssim, no momento de se definir a estratégia de apoios por Dentre as principais atividades realizadas pelo Programa,
parte do Ministério da Cultura e do Ministério das Cidades encontram-se: conservação e restauro de monumentos e con-
estabeleceu-se por intermédio do Programa Monumenta juntos tombados; educação patrimonial e promoção da impor-
a construção de um processo metodológico que incorporasse a tância do patrimônio cultural e dos benefícios de sua preserva-
gestão do patrimônio cultural para os municípios inscritos na lis- ção; promoção do turismo cultural e de eventos culturais nos
ta de bens tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Ar- locais abrangidos. E ainda formação, treinamento e capacitação
tístico Nacional - Iphan - Ministério da Cultura. de mão-de-obra para a conservação e o restauro; fortalecimento
O Programa Monumenta é realizado pelo Ministério da das instituições do campo do patrimônio; fortalecimento insti-
Cultura e pelo Iphan, em parceria com a UNESCO. O Programa tucional do Iphan, estudos e projetos multidisciplinares para a
é executado com recursos de empréstimo do Banco Interameri- estruturação do Programa e durante sua execução.
cano de Desenvolvimento (BID), da União, estados e municípios. O Programa Monumenta cont empla 82 cidades, que con-
Sua finalidade é revitalizar, de maneira sustentada, os principais tém conjuntos urbanos tombados pelo Iphan, muitas delas ins-
conjuntos patrimoniais urbanos do País. Por recuperação sus- critas na lista do Patrimônio Mundial da UNESCO, representando
tentável entende-se um conjunto de ações que vão desde as a diversidade brasileira e referências essenciais no quadro da
intervenções de conservação e restauro até a implementação formação cultural do Brasil.
de medidas educativas, gerenciais e administrativas, capazes de A inserção da questão do patrimônio histórico e artístico
ampliar o retorno econômico e social dos investimentos públicos como foco dos Planos Diretores Participativos dos municípios
aplicados na conservação do patrimônio cultural brasileiro. tombados pelo Iphan e integrantes do Programa Monumenta
O Programa propõe uma ação permanente e compartilhada tem dois sentidos : de um lado a metodologia proposta pelo
entre os três níveis do setor público, a comunidade e a iniciativa Ministério das Cidades para a elaboração de Planos Diretores
privada, para manterem conservados e socialmente apropriados Participativos incorpora a dimensão do patrimônio histórico. De
os bens tombados nos municípios atendidos. outro, recursos do Programa Monumenta são disponibilizados
Cada projeto municipal é baseado na manifestação da para custear a elaboração de Planos Diretores para as 82 cida-
população interessada. Para isso, são realizadas oficinas de plane- des do Programa. Esta disponibilidade foi comunicada a todos
jamento participativo, nas quais a maioria dos representantes é os municípios e os 27 que demonstraram interesse já estão com
originária da comunidade e da iniciativa privada. Assim, os gran- os recursos garantidos. São eles: Alcântara (MA), Corumbá (MS),
des atores do Monumenta são os moradores, os comerciantes e Santa Bárbara (MG), Ouro Preto (MG), Santa Luzia (MG), São João
os interessados na dinamização econômica, cultural, turística e Del Rei (MG), Caeté (MG), Sabará (MG),Cataguases (MG),Tiradentes
imobiliária. (MG),Aracati (CE), Icó (CE), Sobral (CE), Laranjeiras (SE), São Cristo-
vão (SE), Penedo (AL), Oeiras (PI), Pelotas (RS), Antonio Prado (RS),
Rio Grande (RS), Paranaguá (PR), Nazaré (BA), Santo Amaro (BA),
Igarassu (PE), Vassouras (RJ), Laguna (SC) e Itú (SP). Consolida-se
Olinda (pe) • Weber Sutti
Rui Faquini
2 3
1 Porto do Jacaré,
Alcantara (MA)
2 Olinda (PE)
3 Serro (MG)
Izabel Chumbinho-IEPHA
Weber Sutti
Rui Faquini
5
Turismo para o bem de todos
D
e repente uma pequena cidade do litoral ou uma vila histórica no interior do País, são descobertas pelos
turistas, ávidos por novidades, sossego, sol e mar. Num piscar de olhos a comunidade se vê diante de uma
questão que pode mudar as suas vidas. A invasão pode trazer dinheiro para o comércio e serviços, novos
empreendimentos, empregos para muita gente. Mas este movimento de turistas também pode significar problemas
como poluição das águas, sujeira das ruas, trânsito barulhento e desordenado, e saturação da infra-estrutura.
Alcantara (MA)
O
s municípios considerados turísticos são obrigados a ter Ao longo do processo de capacitação realizado pelo Minis-
Plano Diretor, exatamente para prevenir problemas e para tério das Cidades, com relação aos municípios turísticos, dois
canalizar os benefícios da atividade. Dependendo do grau momentos são marcados pela realização de Oficinas de Trabalho
de desarticulação e despreparo da cidade para absorver os impac- junto aos municípios turísticos, no sentido de orientar a elabora-
tos da transformação, bem como das pressões para implementa- ção do Plano Diretor, promovendo uma padronização de concei-
ção dos investimentos, pode haver uma descaracterização acele- tos e de métodos de trabalho.
rada que implica até, em curto prazo, em resultados danosos. O primeiro, foi uma oficina realizada na sede do Banco do
O Ministério das Cidades, dentro da política de parceria com Nordeste do Brasil (BNB), que envolveu diversos municípios que
os diferentes Ministérios, estabeleceu com o Ministério do Turismo integravam o Programa Prodetur, com ações voltadas à realização
um Acordo de Cooperação para encaminhamento de ações de de Planos Diretores. O segundo momento envolveu além das
planejamento e gestão relativos à elaboração, ou revisão, imple- prefeituras municipais, movimentos sociais, profissionais especia-
mentação e acompanhamento de Planos Diretores Participativos lizados e equipes técnicas das prefeituras, uma vez que se tratava
e das iniciativas de saneamento ambiental através do Programa de uma Oficina da Campanha Nacional para elaboração do Plano
de Desenvolvimento do Turismo – Prodetur. Diretor Participativo.
O Acordo observa os seguintes princípios: contribuir para a Neste encontro foi amplamente discutida a metodologia
sustentabilidade do turismo, a proteção, a preservação e conser- orientada pelo MCidades, que repensa o processo tradicionalmente
vação dos atrativos turísticos, dos aspectos culturais e do meio estabelecido que, de modo geral, terceiriza integralmente a ela-
ambiente e a melhoria da capacidade de participação e gestão boração dos Planos Diretores Municipais. Essa prática geralmente
dos governos municipais; trabalhar em cooperação para a ela- incorre na ausência de pessoal fundamental para o processo, bem
boração e/ou revisão dos Planos Diretores Municipais a serem como certo distanciamento da realidade do município.
adotados no Regulamento Operacional do Prodetur. O universo desta ação conjunta abrange cerca de 64 muni-
E ainda exercer conjuntamente a cípios, especialmente dos estados do
supervisão técnica da elaboração dos Nordeste e do Sul, que apresentam
Planos Diretores Municipais, finan- potencial para serem beneficiados
ciados pelo Ministério do Turismo com recursos do Prodetur para elabo-
no âmbito do Prodetur, verificando rar ou rever seus Planos Diretores.
o adequado cumprimento dos Ter- Na oficina realizada em Fortaleza
mos de Referência específicos para (CE), com a participação dos agentes
tanto estabelecidos; proceder ao operacionalizadores dos contratos do
acompanhamento e avaliação, entre Prodetur NE e alguns dos municípios
as instituições, das ações realizadas e que estão sendo atendidos por este
difusão de resultados obtidos, con- Programa, foi formulada uma carta
forme definições acordadas; prestar onde, a partir de um entendimento
informações, fornecer dados e apoiar comum da questão, foram estabele-
as ações necessárias ao pleno desen- cidos os parâmetros para balizar esta
volvimento dos trabalhos. proposta de trabalho.
Rui Faquini
2
3
O
Brasil é mesmo terra de diversidades. Existe Assim sendo foi estabelecida parceria entre dois
na fronteira com o Uruguai, uma cidade que programas: Programa de Desenvolvimento da Faixa de
ocupa dois países. Em Santana do Livramen- Fronteira (Ministério da Integração – MI) e o Programa de
to, no Rio Grande do Sul, você pode, ao mesmo tempo, Fortalecimento da Gestão Urbana (Ministério das Cidades-
colocar um pé no Brasil e o outro no Uruguai. Gêmea MCid). O MI destina recursos e o MCid dá apoio metodo-
com Rivera, no lado uruguaio, Santana do Livramento – lógico e técnico para a elaboração de Planos Diretores.
e outras cidades gêmeas das 10 fronteiras do país –, têm O Plano Diretor das cidades gêmeas permitirá, na
necessidade de Plano Diretor que enfoque políticas es- realidade, novas práticas para solução de questões que
pecíficas, considerando a agenda Mercosul e, ao mesmo sejam importantes para mais de um município. É vital que
tempo, o desenvolvimento regional. os intsrumentos do PD visem a integração sul-americana,
Por demandar políticas voltadas para o envolvi- permitindo a discussão de problemas comuns e solução
mento de seus habitantes com comunidades estrangei- participativa. Através desta ação estão sendo apoiados
ras, no seu cotidiano, o Programa de Desenvolvimento os seguintes municípios para elaboração de seus Planos
da Faixa de Fronteira foi articulado à Política de Desen- Diretores: Tabatinga (AM), Barracão (PR), Dionísio Cerqueira
volvimento Regional. Faixas contíguas entre países são (SC), Santana do Livramento (RS) e Ponta Porã (MS).
pontos críticos para catalisar processos de integração de
blocos econômicos regionais.
Em função deste enfoque estratégico e da necessi-
dade de resgate da dívida social com parte desta popu-
lação, o Governo Federal passou a entender como prio-
A
s comunidades do Brasil que estão elaboran- São 65 experiências sistematizadas envolvendo
do seus Planos Diretores Participativos podem 162 municípios. Algumas experiências envolvem
contar com a referência de experiências desen- articulações intermunicipais como, por exemplo, a
volvidas em diversas partes do país. O Banco de Experi- aglomeração urbana de Cuiabá e Várzea Grande, os
ências disponibilizado no site do Ministério das Cidades 11 municípios da região serrana do Espírito Santo e
(www.cidades.gov.br/planodiretorparticipativo) e nesta 88 municípios goianos. As fichas retratam o processo
publicação é orientação segura para prefeituras e socie- de mobilização, participação, capacitação, debates e
dades locais para a realização desse projeto. Obviamen- pactuação de propostas de planejamento e gestão ter-
te as características das cidades divergem, mas as com- ritorial a partir de leituras técnicas e comunitárias sobre
parações sempre trazem lições úteis. as potencialidades e problemas de cada realidade
O trabalho foi realizado por uma equipe de 17 pro- local. Os documentos de cada ação têm um cabeça-
fissionais de diferentes estados, com largas experiências lho padrão com informações básicas sobre a cidade,
em planejamento participativo, que atuam em univer- tais como nome do município, Unidade da Federação,
sidades, ONGs, assessorias técnicas, entre outros. Este número de habitantes, entre outras. Depois relata-se a
grupo começou o trabalho de sistematização de expe- experiência enfatizando, entre outros aspectos, a des-
riências de elaboração de Planos Diretores Participativos crição das ações realizadas, metodologias de trabalho,
em novembro do ano passado. Nesse período, os 17 materiais, instrumentos e soluções técnicas. Em seguida,
profissionais foram chamados a Brasília e, em conjunto apresenta-se recomendações, alertas e lições extraídos
com o MCidades, foi traçada a metodologia empregada da própria experiência que analisam dificuldades, lacu-
na organização dos relatos e análises do Banco de Experi- nas, resultados, insuficiências e conquistas do trabalho
II Encontro dos ências. Definiram-se quais as questões importantes para realizado. Nas fichas constam também as fontes das
núcleos estaduais
durante a II um instrumento de coleta de informações em comum. informações e outros contatos utilizados.
Conferência das
Cidades (2005) Com isto em mãos partiu-se para a pesquisa de campo.
Critérios A capacitação foi feita por segmento, por bairro e através
de cursos à distância. Enfim, trabalhos junto a esses grupos para
P
ara se chegar aos 162 municípios retratados, o MCidades que entendessem o que é o Estatuto da Cidade, o que é Plano
usou três canais de informações. O primeiro foi a realiza- Diretor, como este instrumento de política territorial funciona no
ção de análises e discussões com a equipe de planejamen- município. E seu conteúdo e objetivos. Eles utilizaram linguagem
to territorial do próprio Ministério responsável pela gestão dos popular, através de jogos de papéis, palestras, material didático,
contratos de repasse de recursos do Governo Federal para as mu- metodologia de capacitação popular.
nicipalidades elaborarem seus Planos Diretores Participativos. Os À medida que se definiam as propostas, capacitava-se as
membros dessa equipe viajaram para diversas regiões, contata- pessoas. Isto foi determinante para que a população compare-
ram dezenas de pessoas em vários estados. cesse às reuniões públicas sabendo o que estava sendo discutido.
Outro canal foi a realização de uma chamada pública do Este processo transcorreu durante 2004 e no começo de 2005,
Ministério no ano passado, para coleta de experiências de Planos quando a Câmara de Vereadores local aprovou o Plano Diretor
Diretores em curso. Cinqüenta e três experiências foram apresen- de Santo André. Hoje a cidade já instituiu inclusive o Conselho
tadas por prefeituras e técnicos responsáveis pela elaboração dos Municipal previsto no Plano.
planos. E o terceiro canal foram as informações colhidas pelos Vale relatar a maneira pela qual mobilizou-se um importante
profissionais contratados para a sistematização das experiências. setor da sociedade, como os movimentos sociais e o empresa-
Muitos desses profissionais já acompanham os processos em riado. Quando se percebeu que os empresários não estavam
curso a partir dos seus respectivos campos de atuação. Alguns participando das discussões públicas, procurou-se realizar deba-
estão envolvidos diretamente em núcleos estaduais da campa- tes específicos com esse segmento nos seus próprios espaços
nha pelo Plano Diretor, portanto com vasto conhecimento sobre políticos, em suas entidades e representações.
o assunto em seus estados de origem.
Nessa etapa de construção do Banco de Experiências optou- Água e esgoto
se por processos concluídos ou não, cujas ações realizadas e solu-
ções formuladas pudessem auxiliar de uma maneira ou outra. Outra ficha interessante é a de Mossoró, no Rio Grande do
Norte, região Nordeste do Brasil. Lá estabeleceu-se no Plano Dire-
Experiências tor que a densidade construtiva e populacional de uma determi-
nada área deve estar de acordo com a capacidade de suporte
Uma experiência considerada importante pelo MCidades do sistema de abastecimento de água e de esgoto da região
é a de Santo André, no ABC paulista, região Sudeste do País. em questão. A partir da vazão média desses sistemas, definiram-
Um fator que pesou na escolha desta cidade é o fato de que se coeficientes de aproveitamento máximo na área edificável.
lá já se faz administração participativa há quatro gestões. Este Este parâmetro de ocupação ajudou na definição das regras de
acúmulo de práticas democráticas de implementação de política aplicação da outorga onerosa do direito de construir, pelo qual
pública em diálogo com a sociedade propiciou fazer o processo modifica-se gabaritos ou outros itens em troca de algum desem-
participativo que culminasse na pactuação de propostas com bolso financeiro do empresário em favor da comunidade.
diferentes setores da comunidade, ao longo do processo do A proposta de Mossoró é importante, pois concretiza uma
Congresso da Cidade. A chave da experiência de Santo André das diretrizes do Estatuto da Cidade quanto ao controle da urba-
foi a maneira como a prefeitura local preparou as equipes para nização a partir da capacidade da infra-estrutura existente. Esta
realizar o trabalho. ficha traz a descrição detalhada desta proposta.
Participação
Núcleo Estadual de RO
No meio urbano a formação de associações de moradores ocor-
reu no decorrer das etapas de discussões do Plano Diretor.
O processo de elaboração desse plano teve como tema prin-
cipal o saneamento e a questão de destaque foi a mobilização
social, a partir dos trabalhadores rurais, dos agentes de saúde, de
programa de rádio comunitário e da parceria com professores da
rede pública municipal.
Os agentes de saúde orientaram a população chamando a 1 São Paulo de Potengi (RN)
atenção para a importância da participação social e divulgaram datas 2 Oficina do Plano Diretor em Mesquita (RJ)
3 Goiânia (GO)
e resultados das reuniões sobre a elaboração do Plano Diretor.
Mais de 30 representantes comunitários foram nomeados
pela prefeitura para se juntar aos técnicos do Governo e aos
membros da equipe técnica, constituindo um grupo de traba- 3
de grande indústria de Nova Friburgo entrou em decadência. O elaboração da metodologia, etapa normalmente construída por
fluxo migratório dos municípios agrícolas vizinhos foi estancado, setores técnicos e pelas consultorias.
um dos responsáveis pelo crescimento populacional da segunda O envolvimento entre alguns técnicos e determinados
metade do século 20, hoje reduzido a uma taxa anual de 0,41%*. setores da prefeitura permite a integração dos diversos projetos
A população que migrou para Nova Friburgo antes da e planos em andamento, como o de prevenção e erradicação de
década de 90, hoje enfrenta grave problema habitacional, com riscos, de macrodrenagem e prevenção e redução de enchentes,
muitos domicílios em ocupações de áreas públicas da RFFSA e implementação da Agenda 21, atualização do Código de Postu-
em áreas de risco, por causa da tomada desordenada das encos- ras, entre outros. A equipe conseguiu resolver o problema da falta
tas e das faixas de proteção marginais de rios e córregos. de base cartográfica, a baixo custo, com trabalho dos próprios
Ao lado de políticas voltadas para o desenvolvimento eco- técnicos a partir de dados do IBGE.
nômico e para a promoção de habitação de baixa renda em áreas
regulares e bem servidas, uma outra questão que provoca grande Núcleos estaduais
debate no processo de elaboração do PDP é a relação entre rural
e urbano. Principalmente em relação à revisão do perímetro Parte fundamental no processo de divulgação do Plano
urbano, à ocupação e parcelamento irregular das áreas rurais, à Diretor Participativo, os Núcleos Estaduais planejam as atividades
provisão de serviços públicos na zona rural e à delimitação de de capacitação e sensibilização com os municípios. Disseminam a
zonas de proteção natural. campanha e aplicam as mais variadas estratégias de mobilização,
O processo do Plano Diretor de Nova Friburgo iniciou em 2005 em parcerias com diversos segmentos da sociedade.
e utilizou várias estratégias para resgatar a confiança nos processos
participativos, como a criação de um programa de rádio “A Hora Região Norte
do Plano Diretor”, o livro “Conhecendo Friburgo” (obra interativa
que requer um passeio pela cidade) e a inauguração da “Casa do Organizado e bem comprometido com os princípios da
Plano Diretor”, em área de fácil acesso no centro da cidade. Reforma Urbana, o núcleo do Pará, na região Norte, sempre
Outra questão importante no processo é o fato de ser um conseguiu uma forte mobilização e participação dos municípios
dos poucos casos que contou com uma ampla participação na na campanha de divulgação do Plano Diretor Participativo.
Anexos
ma a evitar: mentos e atividades relativos ao processo de ur- a) desapropriação;
Estatuto da Cidade a) a utilização inadequada dos imóveis banização, atendido o interesse social. b) servidão administrativa;
Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001 urbanos; c) limitações administrativas;
b) a proximidade de usos incompatíveis ou Art. 3º. Compete à União, entre outras atribui- d) tombamento de imóveis ou de mobiliário
Regulamenta os arts. 182 e 183 da Constituição inconvenientes; ções de interesse da política urbana: urbano;
Federal estabelece diretrizes gerais da política c) o parcelamento do solo, a edificação ou o e) instituição de unidades de conservação;
urbana e dá outras providências. uso excessivos ou inadequados em relação I - legislar sobre normas gerais de direito f) instituição de zonas especiais de interes-
à infra-estrutura urbana; urbanístico; se social;
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA d) a instalação de empreendimentos ou ativi- II - legislar sobre normas para a cooperação en- g) concessão de direito real de uso;
dades que possam funcionar como pólos tre a União, os Estados, o Distrito Federal e os h) concessão de uso especial para fins de
Faço saber que o Congresso Nacional decreta e geradores de tráfego, sem a previsão da in- Municípios em relação à política urbana, tendo moradia;
eu sanciono a seguinte Lei: fra-estrutura correspondente; em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do i) parcelamento, edificação ou utilização
e) a retenção especulativa de imóvel urba- bem-estar em âmbito nacional; compulsórios;
CAPÍTULO I no, que resulte na sua subtilização ou não III - promover, por iniciativa própria e em con- j) usucapião especial de imóvel urbano;
DIRETRIZES GERAIS utilização; junto com os Estados, o Distrito Federal e os Mu- k) direito de superfície;
f) a deterioração das áreas urbanizadas; nicípios, programas de construção de moradias l) direito de preempção;
Art. 1º. Na execução da política urbana, de que g) a poluição e a degradação ambiental. e a melhoria das condições habitacionais e de m) outorga onerosa do direito de construir e
tratam os arts. 182 e 183 da Constituição Federal saneamento básico; de alteração de uso;
será aplicado o previsto nesta Lei. VII - integração e complementaridade entre as IV - instituir diretrizes para o desenvolvimento n) transferência do direito de construir;
atividades urbanas e rurais, tendo em vista o de- urbano, inclusive habitação, saneamento bási- o) operações urbanas consorciadas;
Parágrafo único. Para todos os efeitos, esta senvolvimento socioeconômico do Município e co e transportes urbanos: p) regularização fundiária;
Lei, denominada Estatuto da Cidade, estabele- do território sob sua área de influência; V - elaborar e executar planos nacionais e regio- q) assistência técnica e jurídica gratuita para
ce normas de ordem pública e interesse social VIII - adoção de padrões de produção e consu- nais de ordenação do território e de desenvolvi- as comunidades e grupos sociais menos
que regulam o uso da propriedade urbana em mo de bens e serviços e de expansão urbana mento econômico e social. favorecidos;
prol do bem coletivo, da segurança e do bem- compatíveis com os limites da sustentabilidade r) referendo popular e plebiscito.
estar dos cidadãos, bem como do equilíbrio ambiental, social e econômica do Município e
ambiental. do território sob sua área de influência; CAPÍTULO II VI - estudo prévio de impacto ambiental (EIA) e
IX - justa distribuição dos benefícios e ônus de- DOS INSTRUMENTOS DA POLÍTICA URBANA estudo prévio de impacto de vizinhança (EIV).
Art. 2º. A política urbana tem por objetivo orde- correntes do processo de urbanização;
nar o pleno desenvolvimento das funções so- X - adequação dos instrumentos de política eco- § 1º Os instrumentos mencionados neste artigo
ciais da cidade e da propriedade urbana, me- nômica, tributária e financeira e dos gastos pú- SEÇÃO I regem-se pela legislação que lhes é própria, ob-
diante as seguintes diretrizes gerais: blicos aos objetivos do desenvolvimento ur- Dos instrumentos em geral servado o disposto nesta Lei.
bano, de modo a privilegiar os investimentos
I - garantia do direito a cidades sustentáveis, en- geradores de bem-estar geral e a fruição dos Art. 4º. Para os fins desta Lei, serão utilizados, § 2º Nos casos de programas e projetos habita-
tendido como o direito à terra urbana, à mora- bens pelos diferentes segmentos sociais; entre outros instrumentos: cionais de interesse social, desenvolvidos por
dia, ao saneamento ambiental, à infra-estrutu- XI - recuperação dos investimentos do Poder órgãos ou entidades da Administração Pública
ra urbana, ao transporte e aos serviços públicos, Público de que tenha resultado a valorização de I - planos nacionais, regionais e estaduais de com atuação específica nessa área, a concessão
ao trabalho e ao lazer, para as presentes e futu- imóveis urbanos; ordenação do território e de desenvolvimento de direito real de uso de imóveis públicos pode-
ras gerações; XII - proteção, preservação e recuperação do econômico e social; rá ser contratada coletivamente.
II - gestão democrática por meio da participa- meio ambiente natural e construído, do patri- II - planejamento das regiões metropolitanas,
ção da população e de associações representa- mônio cultural, histórico, artístico, paisagístico aglomerações urbanas e microrregiões; § 3º Os instrumentos previstos neste artigo que
tivas dos vários segmentos da comunidade na e arqueológico; III - planejamento municipal, em especial: demandam dispêndio de recursos por parte do
formulação, execução e acompanhamento de XIII - audiência do Poder Público municipal e a) plano diretor; Poder Público municipal devem ser objeto de
planos, programas e projetos de desenvolvi- da população interessada nos processos de im- b) disciplina do parcelamento, do uso e da controle social, garantida a participação de co-
mento urbano; plantação de empreendimentos ou atividades ocupação do solo; munidades, movimentos e entidades da socie-
III - cooperação entre os governos, a iniciativa com efeitos potencialmente negativos sobre o c) zoneamento ambiental; dade civil.
privada e os demais setores da sociedade no meio ambiente natural ou construído, o confor- d) plano plurianual;
processo de urbanização, em atendimento ao to ou a segurança da população; e) diretrizes orçamentárias e orçamento
interesse social; XIV - regularização fundiária e urbanização de anual; SEÇÃO II
IV - planejamento do desenvolvimento das ci- áreas ocupadas por população de baixa renda f) gestão orçamentária participativa; Do parcelamento, edificação
dades, da distribuição espacial da população e mediante o estabelecimento de normas espe- g) planos, programas e projetos setoriais; ou utilização compulsórios
das atividades econômicas do Município e do ciais de urbanização, uso e ocupação do solo e h) lanos de desenvolvimento econômico e
território sob sua área de influência, de modo edificação, consideradas a situação socioeconô- social. Art. 5º. Lei municipal específica para área incluí-
a evitar e corrigir as distorções do crescimento mica da população e as normas ambientais; da no plano diretor poderá determinar o parce-
urbano e seus efeitos negativos sobre o meio XV - simplificação da legislação de parcelamen- IV - institutos tributários e financeiros: lamento, a edificação ou a utilização compulsó-
ambiente; to, uso e ocupação do solo e das normas edilí- a) imposto sobre a propriedade predial e ter- rios do solo urbano não edificado, subutilizado
V - oferta de equipamentos urbanos e comuni- cias, com vistas a permitir a redução dos cus- ritorial urbana - IPTU; ou não utilizado, devendo fixar as condições
tários, transporte e serviços públicos adequa- tos e o aumento da oferta dos lotes e unidades b) contribuição de melhoria; e os prazos para implementação da referida
dos aos interesses e necessidades da população habitacionais; c) incentivos e benefícios fiscais e financeiros. obrigação.
e às características locais; XVI - isonomia de condições para os agentes pú-
VI - ordenação e controle do uso do solo, de for- blicos e privados na promoção de empreendi- V - institutos jurídicos e políticos: § 1º Considera-se subutilizado o imóvel:
§ 3° O superficiário responderá integralmen- § 2º O direito de preempção fica assegurado du- § 6º Ocorrida a hipótese prevista no § 5º o Mu- § 1º Considera-se operação urbana consorciada
te pelos encargos e tributos que incidirem so- rante o prazo de vigência fixado na forma do § nicípio poderá adquirir o imóvel pelo valor da o conjunto de intervenções e medidas coorde-
bre a propriedade superficiária, arcando, ainda, 1º, independentemente do número de aliena- base de cálculo do IPTU ou pelo valor indica- nadas pelo Poder Público municipal, com a par-
proporcionalmente à sua parcela de ocupa- ções referentes ao mesmo imóvel. do na proposta apresentada, se este for infe- ticipação dos proprietários, moradores, usuá-
ção efetiva, com os encargos e tributos sobre a rior àquele. rios permanentes e investidores privados, com
área objeto da concessão do direito de super- Art. 26. O direito de preempção será exercido o objetivo de alcançar em uma área transforma-
fície, salvo disposição em contrário do contra- sempre que o Poder Público necessitar de áre- ções urbanísticas estruturais, melhorias sociais
to respectivo. as para: SEÇÃO IX e a valorização ambiental.
Da outorga onerosa do
§ 4º O direito de superfície pode ser transferi- I - regularização fundiária; direito de construir § 2º Poderão ser previstas nas operações urba-
do a terceiros, obedecidos os termos do contra- II - execução de programas e projetos habitacio- nas consorciadas, entre outras medidas:
to respectivo. nais de interesse social; Art. 28. O plano diretor poderá fixar áreas nas
III - constituição de reserva fundiária; quais o direito de construir poderá ser exercido I - a modificação de índices e características de
§ 5º Por morte do superficiário, os seus direitos IV - ordenamento e direcionamento da expan- acima do coeficiente de aproveitamento básico parcelamento, uso e ocupação do solo e sub-
transmitem-se a seus herdeiros. são urbana; adotado, mediante contrapartida a ser prestada solo, bem como alterações das normas edilí-
V - implantação de equipamentos urbanos e pelo beneficiário. cias, considerado o impacto ambiental delas
Art. 22. Em caso de alienação do terreno, ou do comunitários; decorrente;
direito de superfície, o superficiário e o proprie- VI - criação de espaços públicos de lazer e áre- § 1º Para os efeitos desta Lei, coeficiente de II - a regularização de construções, reformas ou
tário, respectivamente, terão direito de prefe- as verdes; aproveitamento é a relação entre a área edificá- ampliações executadas em desacordo com a le-
rência, em igualdade de condições à oferta de VII - criação de unidades de conservação ou pro- vel e a área do terreno. gislação vigente.
terceiros. teção de outras áreas de interesse ambiental;
VIII - proteção de áreas de interesse histórico, § 2º O plano diretor poderá fixar coeficiente de Art. 33. Da lei específica que aprovar a operação
Art. 23. Extingue-se o direito de superfície: cultural ou paisagístico; aproveitamento básico único para toda a zona urbana consorciada constará o plano de opera-
IX - (VETADO) urbana ou diferenciado para áreas específicas ção urbana consorciada, contendo, no mínimo:
I - pelo advento do termo; dentro da zona urbana.
II - pelo descumprimento das obrigações con- Parágrafo único. A lei municipal prevista no § 1º do I - definição da área a ser atingida;
tratuais assumidas pelo superficiário. art. 25 desta Lei deverá enquadrar cada área em § 3º O plano diretor definirá os limites máximos II - programa básico de ocupação da área;
que incidirá o direito de preempção em uma ou a serem atingidos pelos coeficientes de apro- III - programa de atendimento econômico e so-
Art. 24. Extinto o direito de superfície, o proprie- mais das finalidades enumeradas por este artigo. veitamento, considerando a proporcionalidade cial para a população diretamente afetada pela
tário recuperará o pleno domínio do terreno, entre a infra-estrutura existente e o aumento de operação;
bem como das acessões e benfeitorias introdu- Art. 27. O proprietário deverá notificar sua inten- densidade esperado em cada área. IV - finalidades da operação;
zidas no imóvel, independentemente de inde- ção de alienar o imóvel, para que o Município, V - estudo prévio de impacto de vizinhança;
nização, se as partes não houverem estipulado no prazo máximo de trinta dias, manifeste por Art. 29. O plano diretor poderá fixar áreas nas VI - contrapartida a ser exigida dos proprietá-
o contrário no respectivo contrato. escrito seu interesse em comprá-lo. quais poderá ser permitida alteração de uso rios, usuários permanentes e investidores pri-
do solo, mediante contrapartida a ser prestada vados em função da utilização dos benefícios
§ 1º Antes do termo final do contrato, extinguir- § 1º À notificação mencionada no caput será pelo beneficiário. previstos nos incisos I e II do § 2° do art. 32 des-
se-á o direito de superfície se o superficiário der anexada proposta de compra assinada por ter- ta Lei;
ao terreno destinação diversa daquela para a ceiro interessado na aquisição do imóvel, da Art. 30. Lei municipal específica estabelecerá as VII - forma de controle da operação, obrigato-
qual for concedida. qual constarão preço, condições de pagamen- condições a serem observadas para a outorga riamente compartilhado com representação da
to e prazo de validade. onerosa do direito de construir e de alteração sociedade civil.
§ 2º A extinção do direito de superfície será de uso, determinando:
averbada no cartório de registro de imóveis. § 2º O Município fará publicar, em órgão oficial § 1º Os recursos obtidos pelo Poder Público mu-
e em pelo menos um jornal local ou regional de I - a fórmula de cálculo para a cobrança; nicipal na forma do inciso VI deste artigo serão
grande circulação, edital de aviso da notificação II - os casos passíveis de isenção do pagamen- aplicados exclusivamente na própria operação
recebida nos termos do caput e da intenção de to da outorga; urbana consorciada.
aquisição do imóvel nas condições da propos- III - a contrapartida do beneficiário.
ta apresentada. § 2º A partir da aprovação da lei específica de