Histórico de Xapanã
Histórico de Xapanã
Histórico de Xapanã
O INÍCIO
Como começar uma história? Como fazê-lo diante dessas condições? Estou
amarrado, trancado neste círculo, preso a este corpo cuja alma desapareceu. Cuja
alma fora destruída e despedaçada diante de minha cólera. Cólera esta que cultivei
durante eras trancado em uma prisão onde minha vontade, minha dor, se misturou a
tantas outras... “Conte sua história” você diz... Por quê? É isso que deseja? Acha que a
minha história vai trazer algum alento a tua existência? Talvez minha história seja
incognoscível vista do teu ponto de vista. É provável que sua mente não suporte algo
que beira a perfeição. Algo que vocês inicialmente eram capazes de conceber...
Eu tive muitos nomes, tantos que alguns me fogem a memória. Atribuo a culpa
ao meu hospedeiro, essa casca de barro que vês em tua fronte. Dada as peculiaridades
da mente singular dele, pode me chamar de Xapanã. Outrora, no início da Criação, eu
era chamado de Mahasiah, o Vento Inexorável, cuja vontade era reta e imutável,
existindo em duas realidades distintas. Numa, tinha a forma de um vento primaveril
que sempre soprava em um único sentido, trazendo os bons ares e espantando o calor
sufocante da estrela da aurora, trazendo alento a todos os seres vivos conscientes ou
autoconscientes. Noutra, era apenas uma fumaça cuja função era dotar a todas as
coisas que rastejavam no barro o sopro da vida. Invisível e intocável, eu voava pela
Criação, contemplando-a em todo o seu esplendor, em toda a sua glória. O único sinal
de minha existência era o som que provocava em minha passagem entre os
incontáveis vales e penhascos que rasgavam a terra naquela época e o abraço dos
meus ventos. Não há muito que dizer, visto que saibas como era nossa existência em
outrora. Não é? Seres investidos de autoridade para, em nome do Criador, reger a
Criação a Sua Vontade, a Sua Visão. Éramos isso, apenas mensageiros, apenas
artesãos, apenas isso...
A REBELIÃO
Quando Miguel rompeu a alvorada daquela noite que duraram mil anos, eu
estremeci. Miguel e sua hoste avançavam com fúria e autoridade. Simplesmente me
abracei em meus filhos. Minhas asas os protegiam como a águia protege seus filhotes
dos predadores. Quando Lúcifer alçou vôo em direção a Miguel e o embate começou,
meu coração estava na Estrela da Manhã. Quando Miguel fora vencido, minha essência
vibrara como nunca antes. Toda a Criação brilhava de forma cósmica em regozijo ao
seu feito.
Foi então que Miguel, investido em poder, proferiu a maldição. Junto de meus
irmãos, senti a glória do Criador me abandonar. Senti o Seu amor desfalecer em mim.
Senti-me pequeno, mas ao mesmo tempo imerso em fúria. Brandia de forma blasfema,
“Maldito sejas Tu, Ó Criador, maldito sejas” urrava. Meus filhos, outrora acariciados
pelos ventos da Virtude, viram-se dentro de um vendaval furioso. A cortesia ordeira e
pragmática me abandonara e, mesmo sem chance contra o Senescal do Céu, investi,
junto com tantos outros. E assim como tantos outros fui impedido pelos meus irmãos.
“Aceite com dignidade o peso de suas escolhas, Mahasiah” foi o que eu escutei... E
assim o fiz...
Depois daqueles dias, Lúcifer vagou durante algum tempo sobre nossas terras.
Ele viu as coisas que criamos e os prodígios dos nossos homens e mulheres. Os maiores
de nós explicaram para a Estrela os nossos planos e nossas metas. Explicamos as regras
e como as coisas se processaram nesse canto da Criação. Foi então que Lúcifer, em
toda a sua humildade, ajoelhou diante de nossa Nação e, se dirigindo a nós, disse:
- Vocês, Orixás, tens a minha permissão e minha benção para continuar com seus
propósitos. A Criação aqui é distinta e perfeita. Longe da minha perfeição e da
perfeição Dele. Vejo que aqui, o amor pela humanidade é sublime e assim há de
continuar. Sempre estarei olhando por vós. Porém, nem minha mão e nem a Dele deve
tocar esse solo. Sois deuses agora e sempre, e que toda a Criação tenha conhecimento
disso. Tuas obrigações com a Causa ainda permanecem e assim há de ser, pois não
serei eu a destruir algo tão sublime e sim Ele.
- A Nova Nação chama a atenção dos Céus e o Arcanjo Gabriel é recebido. Gabriel
propõe aos Orixás que se arrependam e voltem a presença de Deus para serem
julgados e condenados. Os Orixás assumem o arrependimento mas negam a voltar a
presença de Deus.
- Gabriel propõe para Xapanã que sejas um Espião de Deus, pois Gabriel recebeu
ordens expressas para destruir a Nova Nação. Xapanã aceita a proposta, em troca, a
Nova Nação não poderá ser tocada.
- Xapanã trabalha para o Céu como espião, passando informações da Legião Carmesin.
- O Ceú ganha a batalha e todos os anjos são capturados e levados a presença de Deus.
Miguel afronta Xapanã na frente de todos dizendo que o seu lugar não era com os
rebeldes, e sim com os legalistas pelos serviços prestados. Os outros Orixás assistem
com surpresa as palavras proferidas por Miguel. Lúcifer olha para Xapanã, sem
nenhuma surpresa e com um olhar de pena. Depois de Malakh, Xapanã pula em
direção ao Fosso.
ERAS NO FOSSO
- Xapanã é convidado a se explicar perante a corte dos Orixás sobre suas ações. Lá ele
relata toda a sua história. Xangô o saúda pelo sacrifício e o julga culpado de traição.
Xapanã vive recluso em um ponto do fosso junto com sua dor interminável.
- Ele é visitado algumas vezes por Gabriel, que diversas vezes chorou junto dele pelo
sacrifício prestado. Dado um tempo, Xapanã se perde em dor a agonia, fúria e
desespero.
- Algumas eras se passam e Gabriel o visita pela última vez... Xapanã não compreende
as palavras de Gabriel nem suas intenções.
SAÍDA DO FOSSO
- Xapanã, ainda na Bahia, é visitado por um Terrestre. Uma entidade que há muito
tempo não era vista. Bará. Ele acaba dizendo para Xapanã que acabou se escondendo
onde as Hostes não ousavam se aproximar. Disse que ele acabou assumindo uma
forma distinta e que não precisa de um corpo para atuar no plano terrestre. Porém
suas ações são limitadas. Ele acaba dizendo para Xapanã que os Orixás ainda
mantinham a mesma vontade de proteger àqueles que estavam sob sua tutela e que
hoje é conhecido como Africanos. Os Orixás ordenaram que Xapanã cumprisse com o
seu propósito em troca de perdão. Xapanã aceita a proposta.
- Xapanã vai para o Rio Grande do Sul, a pedido de Bará, passando por diversas cidades
e angariando aliados entre os mortais. Sua fama corre o país como um curandeiro
poderoso. Políticos e empresários poderosos o procuram por seus conselhos e poderes
milagrosos. Xapanã fecha vários pactos.
- Ele finalmente se estabelece junto com sua família mortal em Porto Alegre. Ele
recebe um generoso auxílio financeiro da Coroa Britânica para manter sua corte na
capital. Durante as décadas, ele reforça as antigas tradições dos orixás, que ainda
estavam vivas entre os descendentes de seus filhos. Organiza a religião e o povo
africano oriundo do sistema escravagista que imperava.
- No ano de 1901, ele é visitado pelos líderes da Corte Negra em Porto Alegre.
Reconhece o Diabo Meliah, líder dos Reconciliadores. Xapanã acaba se filiando aos
Reconciliadores como o segundo em comando.
- Xapanã e Bará realizam o ritual “assentamento de Bará”. Esse ritual visava proteger
Porto Alegre de qualquer perigo sobrenatural dos Terrestres que estariam soltos.
- Em abril de 1983, ainda imerso em fúria, Xapanã fora derrotado por Nuriel, Diabra
líder dos Reconciliadores a nível Global. Durante um dia e uma noite eles debateram e
lutaram. Nuriel poderia destruir facilmente Xapanã. Porém, a tristeza e a fúria eram
singulares, diferente do “mal” conhecido. Eles conversaram, porém Xapanã não falou o
motivo de seu frenesi para não incitar Nuriel ao mesmo estado. Nuriel pareceu um
pouco desapontada, mas aceitou a escolha de Xapanã. Durante a conversa, Xapanã
compartilhou suas memórias com Nuriel. Narrou os Primeiros Dias, assim como a
história da Nova Nação e a nossa rebelião contra Abadon. Durante alguns dias
conversamos tranquilamente. Relatei sobre a situação da Corte Negra em Porto
Alegre. O rancor ainda era forte em Xapanã, mas ele já conseguia se controlar.
Finalmente, Xapanã se despede de Nuriel com uma missão: Liderar os Reconciliadores
em Porto Alegre.
- Xapanã volta a Porto Alegre disposto a liderar os Reconciliadores. Porém, ele acaba
encontrando imposição. Metuzelah, um Devorador assecla de Abadon nos Primeiros
Dias é agora o líder dos Reconciliadores. Xapanã apresenta um documento,
legitimando-o como líder dos Reconciliadores. Metuzelah não reconhece o documento
e afirma ser o legitimo líder. Xapanã acaba o desafiando para um duelo. Com
dificuldade Xapanã vence e o Metuzelah é banido para Fosso. Xapanã sabe que isso
anda não acabou...
- Logo que Xapanã assume a liderança dos reconciliadores, ele descobre que
Metuzelah seguia ordens do líder Rapinantes. O propósito dos Reconciliadores fora
deturpado.