Apostila Fundamentos de Organização e o Cotidiano Escolar
Apostila Fundamentos de Organização e o Cotidiano Escolar
Apostila Fundamentos de Organização e o Cotidiano Escolar
Apostila da Disciplina de
Fundamentos de Organização
e o Cotidiano Escolar
Resumo
Este estudo tem por finalidade apresentar os fundamentos de organização do
cotidiano escolar por meio de quatro perspectivas: identificar os aspectos de
liderança no processo de dar vida à “alma da escola” por meio do
relacionamento interpessoal, do trabalho com o conhecimento e da
organização da coletividade; discutir as políticas públicas e sua relação com a
educação brasileira; refletir sobre questões éticas e morais no campo da
educação e sua respectiva interface entre a família e a escola; e pensar as
instituições educacionais não apenas como ambientes de formação intelectual
de indivíduos, mas como um lócus de trabalho que possa garantir unidade na
diversidade.
Introdução
Desse modo, o líder é aquele que rege sua orquestra, colocando todos
num mesmo ritmo e num mesmo entoar. Para que a efetividade de seu
exercício encante a todos, alguns aspectos devem ser verificados, tais como
Lück (2009, p. 76-77) elencou em sua obra e dos quais nos apropriamos,
exemplificando-os.
1. Autoconfiança – conhecimento dos pontos fortes e fracos de sua atuação.
Exemplo desse exercício é a atualização constante não apenas de saberes,
mas de realidades, como ilustrarei na experiência vivenciada por mim. Estava
lecionando para crianças de cinco anos, explicando-lhes sobre a Copa do
Mundo de 2014, como os times participam desse campeonato,os grandes
jogadores que fizeram história como Ronaldinho, Pelé, Zico... Cada criança,
cada olhinho, mirava deslumbrado para mim, porém, sem entender nada, pois
não conheciam quem eram os brilhantes personagens aos quais estava me
referindo. Fiquei um tempo sem saber o que dizer, quando me lembrei do ano
de nascimento de cada criança: 2009! Impossível saberem de quem eu estava
falando...O único que conheciam era Neymar!
Assumindo meu papel de líder na sala de aula e reconhecendo meu
ponto fraco, prometi, para a aula seguinte, trazer-lhes fotos desses jogadores.
Vale ressaltar mais uma vezque o líder não é apenas o gestor/diretor da
unidade educacional, mas todos aqueles que buscam a mudança em prol da
qualidade de seu trabalho, motivando a todos.
2. Autoridade.Não podemos confundir nesse caso com autoritarismo, pois
nesse regime é prevista a ordem: “Quem pode manda, quem tem juízo
obedece!”. A autoridade aqui é entendida como:
O educador, que em sua prática busca promover a autonomia dos
educandos, deve estar atento na relação autoridade-liberdade. Para
que haja a necessária disciplina sem haver autoritarismo ou
licenciosidade, o equilíbrio entre ambas é necessário. “O
autoritarismo é a ruptura em favor da autoridade contra a liberdade e
a licenciosidade, a ruptura em favor da liberdade contra a autoridade”.
Assim o autoritarismo não é mais autoridade, mas abuso de
autoridade, a licenciosidade não é mais liberdade, mas depravação
da liberdade. Ambos são nocivos à autonomia, já que o autoritarismo
mantém o educando excessivamente dependente da autoridade e
poda a liberdade de escolher e fazer por si mesmo. Já a
licenciosidade impede a aprendizagem da autorresponsabilização e
permite que o educando se torne dependente dos próprios impulsos e
desejos. Tanto a dependência excessiva da autoridade externa
quanto a dependência dos próprios impulsos são formas de
heteronomias, pois impedem que o sujeito aja de acordo com sua
própria lei, impedem que o sujeito seja ele mesmo. (FREIRE,2014, p.
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Agora, voltaremos nossos olhares para uma área que gera diversas
polêmicas: as políticas educacionais. Esse tema provoca muitas controvérsias,
pois é inseridoem um campo entre o que é “prescritivo” e “real” daquilo que, de
fato, acontece no interior das nossas escolas, o “oculto”.
Mas antes de continuarmos esse debate, precisamos definir e entender
o que são políticas públicas. De acordo com o professor João Cardoso Palma
Filho (2010, p. 10):
Numa primeira aproximação pode-se dizer que por políticas
públicascompreende-se o conjunto de medidas que o Estado procura
executar para um determinado campo de atividades sociais. Em
sentido amplo, compõe o que se denomina de políticas sociais, que
engloba diferentes setores da atividade humana: educação,
transporte, habitação, meio ambiente, economia, com os seus
diferentes campos: agricultura, indústria, serviços etc.
1
O "Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova", datado de 1932, foi escrito durante o governo
de Getúlio Vargas e consolidava a visão de um segmento da elite intelectual que, embora com
diferentes posições ideológicas, vislumbrava a possibilidade de interferir na organização da
sociedade brasileira do ponto de vista da educação. Redigido por Fernando de Azevedo,
dentre 26 intelectuais, entre os quais Roldão Lopes de Barros, Anísio Teixeira, Afrânio
Peixoto, Lourenço Filho, Antônio F. Almeida Junior, Roquette Pinto, Delgado de
Carvalho, Hermes Lima e Cecília Meireles. Ao ser lançado, no meio do processo de
reordenação política resultante da Revolução de 1930, o documento tornou-se o marco
nortear o funcionamento e a organização do sistema educacional. A legislação
que se seguiu a esta e subsidiou a educação, considerada a primeira Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional, foi a LDB n. 4.024, de 20/12/1961.
Com a ditadura militar, a legislação educacional mais uma vez foi
promulgada (Lei n.5.692, de 11/08/1971), tratando em seu âmago da
organização dos ensinos de 1º e 2º graus e refletindo a nova ordem instaurada.
Em 1985, novas políticas foram desenvolvidas e promulgadas em prol
da redemocratização do Estado brasileiro. Dentre todos os seus avanços, na
área da educação, podemos citar as que estão em vigor desde então:
Constituição Federal de 1988;
Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n. 8.069 de 13/07/1990);
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n. 9.394, de
20/12/1996);
Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental e Ensino
Médio(1998);
Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (1998);
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica (2013).
Dentre tantos documentos que legislam a educação brasileira, os
estados e os municípios também possuem mecanismos de normatização de
suas modalidades educacionais e contam com legislações específicas,
instrumentos normativos e executivos de seu sistema e rede de ensino como
estatutos do Magistério e concepções teórico-metodológicas consistentes
tendo como finalidade a formação e valorização do magistério e a promoção
da educaçãopara a formação do cidadão como sujeito autônomo, participativo
e capaz deposicionar-se criticamente diante de desafios e resolvê-los.
Vale ressaltar também que num mundo globalizado no qual vivemos
Palma Filho (2010) aponta em seus estudos que diversos documentos
norteadores de nossa educação provêm de organismos internacionais – como
Unesco, Banco Mundial, BID, Fundo Monetário Internacional e outros –, alguns
dos quais são determinantes em nossa prática e cotidiano educacional. Um
exemplo dessa circulação e apropriação de ideias é a Declaração de Jomtien,
Citamos mais uma vez Palma Filho (2010, p.24), segundo o qual “a
cidadania reage. Vive-se um processo de revisão crítica”.
Neste momento, temos que ter muito cuidado na forma como utilizamos
os conceitos, pois os associados à ética e à moral têm sido usados
indistintamente. Vale fazer a distinção, apontando a moral como o conjunto de
princípios, valores, regras que orientam a conduta dos indivíduos em
sociedade, ao passo que a ética é concebida como a reflexão crítica sobre a
moral, que indaga sobre a consistência e a coerência daqueles valores,
definindo/explicitando seus fundamentos (GOERGEN, 2010).
Deste modo, é preciso que a escola e a família façam um grande
investimento em suas próprias estruturas, objetivando os seus papéis,
reconhecendo que precisam repensar acerca da “norma” de cada instituição
para que possam formar, em parceria, cidadãos autônomos não para atuarem
apenas no futuro, mas em nosso tempo, o presente.
Precisamos romper com a lógica do “burlar” e colocar novamente os
limites, pois estes garantem os nossos direitos como seres humanos. Mas,
para que isso aconteça, e de acordo com Nóvoa (2010, p. 10):
Para que este investimento positivo tenha lugar é preciso assegurar,
pelo menos, duas condições: a primeira é que não seja negado às
famílias, sobretudo às famílias dos meios populares, o direito de
decidirem e de participarem na educação dos seus filhos; a segunda
é que os esforços de reforma educativa não tomem os professores
como culpados da crise actual dos sistemas de ensino.
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De acordo com Vasconcelos (2012), podemos compreender os fatores internos como sendo a
formação inicial e continuada dos professores, os salários, o plano de carreira e de concurso,
as condições de trabalho, a tarefa da família em assumir as suas responsabilidades com seus
entes, a valorização social da escola e dos seus profissionais. Já os fatores externos referem-
se a revisão das práticas e posturas dos profissionais que atuam na escola.
A estrutura organizacional de uma escola
O termo estrutura, no caso da escola, tem o sentido de ordenamento e
disposição das funções que asseguram o funcionamento de um todo. Toda
instituição escolar necessita de uma estrutura de organização interna,
geralmente prevista no regimento escolar ou em legislação específica, seja de
origem estadual, seja municipal.
De acordo com Libâneo (2004), a estrutura é geralmente representada
por meio de órgãos colegiados e refletem a concepção de organização e
gestão adotadas, sendo estes divididos em:
Conselho de escola – atribuições consultivas, deliberativas e fiscais,
envolvendo aspectos pedagógicos, administrativos e financeiros;
Direção – o diretor coordena, organiza, auxiliado pelos demais
componentes, atendendo às normas e aos regulamentos legislativos. O
assistente desempenha as mesmas funções na condição de substituto
do diretor;
Setor técnico-administrativo – atividades-meio que asseguram o
atendimento dos objetivos e funções da escola: secretaria escolar,
zeladoria, vigilância e serviço de multimeios (biblioteca, laboratórios,
equipamentos audiovisuais, videoteca e outros recursos didáticos);
Setor pedagógico – atividades de coordenação pedagógica e orientação
educacional, englobando: supervisionar, acompanhar, assessorar,
apoiar, avaliar atividades pedagógico-curriculares, prestar assistência
pedagógica aos professores em suas respectivas disciplinas;
Instituições auxiliares – Associação de Pais e Mestres (APM), grêmio
estudantil e caixa escolar vinculadas ao Conselho de escola ou ao
diretor;
Corpo docente (função – realizar o objetivo prioritário da escola, o
processo ensino-aprendizagem) e corpo discente (constitui-se por
alunos e suas associações representativas).
O processo de organização escolar dispõe de funções que são
propriedades comuns ao sistema organizacional de uma instituição, a partir das
quais se definem ações e operações necessárias ao funcionamento. As
funções ou elementos da organização e gestão englobam, de acordo com
Libâneo (2004):
Planejamento – explicitação de objetivos e antecipação de decisões para
orientar a instituição;
Organização – racionalização de recursos humanos, físicos, materiais,
financeiros, criando e viabilizando as condições e modos para se realizar o
que foi planejado;
Direção e coordenação – coordenação do esforço humano coletivo do
pessoal da escola;
Avaliação – comprovação e avaliação do funcionamento da escola.
Porém, para que toda essa estrutura possa funcionar e trabalhar de
maneira acoplada é preciso que três funções dialéticas acompanhem esse
organograma: o querer, o agir e o expressar, no qual o trabalho escolar deva
ser direcionado para a mobilização da aprendizagem, a construção do
conhecimento, a elaboração e expressão da síntese do conhecimento e da
análise, por meio de um trabalho mediador em que todos possam enfrentar os
desafios do dia a dia escolar.
Considerações finais
Referências