Este documento discute o processo de orçamentação em organizações. Aborda a importância da estratégia, gestão operacional e controlo de gestão para a elaboração de orçamentos. Também analisa um caso prático de orçamento na cooperativa farmacêutica Plural.
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Resumo!
O processo orçamental é matéria essencial na gestão de qualquer
organização, pois auxilia o gestor desde o planeamento até ao controlo de gestão e apuramento de desvios orçamentais. O planeamento é a etapa de definição de objetivos mas planear não é suficiente, é necessário definir estratégias, prever valores, controlá-los e, por fim, verificar se se conseguiu alcançar o previsto, apurando responsabilidades e causas das divergências encontradas. Para atingir de forma eficaz esses objetivos pré-definidos, o gestor utiliza o orçamento, consoante os recursos disponíveis. O objetivo do presente trabalho consiste no estudo do processo de orçamentação numa cooperativa de comercialização e distribuição do setor farmacêutico, nomeadamente, a Plural – Cooperativa Farmacêutica, Crl. Assim, apresenta-se a principal fundamentação teórica desta temática para posterior aplicação ao caso concreto da Plural. A abordagem metodológica adotada foi o estudo de caso. A escolha por esta opção deve-se ao tema escolhido e tendo em conta a sua praticabilidade, considerou-se que a opção mais adequada seria o trabalho de projeto. Através deste estudo foi possível perceber a estrutura organizacional da Plural e o seu processo global de orçamentação. Verificou-se que esta cooperativa apresenta uma gestão essencialmente centralizada, funcionando através de segmentos de mercado, com seis armazéns distribuídos a nível nacional. Concluiu-se que esta entidade tem uma gestão orçamental adequada à sua dimensão, no entanto, demonstra-se que a proposta, aqui apresentada, de uma descentralização no processo de tomada de decisão seria uma mais-valia, no sentido em que passaria a existir uma melhoria nos processos de gestão. Palavras-chave: Gestão Orçamental, Orçamento, Desvios Orçamentais, Estratégia, Controlo de Gestão vi vii Abstract! The budget process is a core subject in the management of any organization as it assists the manager from planning to analyzing performance and finding causes for budget deviations. Planning is the goal-setting stage but it isn’t enough on its own, it is necessary to define strategies, predict and control values, verify if the objectives proposed were fulfilled and, finally, determine possible liabilities and causes of discrepancies. To effectively reach these pre-defined objectives, the manager uses the budget, according to the available resources. The main objective of this work is the study of the budgeting process of an organization, more specifically, a cooperative whose activity is trade and distribution of pharmaceutical products, namely, Plural – Cooperativa Farmacêutica, Crl. Thus, the main theoretical framework pertaining to this topic is presented and subsequently appliedto the specific case of Plural. The methodological approach adopted was the case study. The choice for this method was due to the practicability of the chosen subject, and project work was considered to be more suitable. Throughout this study was possible to perceive the organizational structure of Plural and its global budgeting process. It was found that this cooperative has an essentially centralized management, working through market segments, with six warehouses distributed at the national level. It was concluded that this organization has a budget management suitable to its dimension, but nonetheless, it is shown that the proposal presented here of decentralization in the decision-making process would be an advantage in the sense that there would be an improvement in the management processes. Keywords: Budget Management, Budget, Budgetary Deviations, Strategy, Management Control viii ix 1 3 A.!Introdução! O presente projeto, desenvolvido no âmbito da empresa Plural - Cooperativa Farmacêutica, Crl, tem como objetivo levar a cabo um estudo centrado no seu departamento financeiro, mais especificamente, nos métodos utilizados na elaboração dos seus orçamentos anuais. As atividades desenvolvidas pela empresa Plural – Cooperativa Farmacêutica, Crl compreendem o aprovisionamento, o armazenamento e a distribuição de medicamentos, garantindo as melhores e mais adequadas condições do produto, assim como uma distribuição rápida e eficaz, detendo, para o efeito, instalações em vários locais e com diversas funcionalidades. Nos dias de hoje, a orçamentação tem um caráter obrigatório para o bom funcionamento de qualquer empresa, pois é através desta metodologia que se pode alcançar um maior controlo sobre custos, resultados e desvios face ao previsto, ajudando, portanto, a garantir a continuidade e o sucesso de um negócio. É, portanto, nesse contexto que o presente trabalho se justifica, pois nele se estuda o processo de orçamentação utilizado pela entidade em questão, apresentando os métodos e regras utilizados e se propõem possíveis alterações na elaboração dos orçamentos, com a finalidade de melhoria do processo de orçamentação. O presente trabalho estrutura-se em cinco partes. A seguir a uma breve descrição da empresa, do tema e do objetivo do projeto, descreve-se a metodologia utilizada. Seguidamente, na terceira parte, apresenta-se a informação teórica de maior relevo na temática da orçamentação, desde a estratégia da organização, a gestão operacional, o controlo de gestão e a gestão orçamental até ao apuramento dos desvios orçamentais. Na penúltima parte, apresenta-se a empresa bem como os seus métodos de elaboração de orçamentos para, posteriormente, sugerir algumas propostas para a melhoria deste processo. Por último, a conclusão resume os pontos fulcrais deste trabalho e discute algumas propostas de alteração bem como as suas implicações na empresa em estudo. 4 B.!Metodologia! Para o enquadramento teórico do presente trabalho recorreu-se a uma vasta bibliografia recomendada, compreendendo livros e artigos científicos da área de estudo bem como alguns sítios da Internet na temática de gestão. A pesquisa para o caso prático da empresa Plural – Cooperativa Farmacêutica teve por base diversas entrevistas e reuniões de trabalho com o diretor financeiro da organização, que disponibilizou diversa informação sobre a mesma, sobre os seus recursos humanos, mercado, clientes, produtos e orçamentos. Devido à facilidade de comunicação e esclarecimento de dúvidas, foi possível trabalhar toda a informação disponibilizada de forma a elaborar diversas tabelas e esquemas exemplificativos da dimensão, do funcionamento, dos métodos de orçamentação e de outras especificidades desta cooperativa. 5 C.!O!Processo!da!Orçamentação!e!Desvios!Orçamentais! O processo de orçamentação é uma temática demasiado vasta, que se enquadra em todo o processo de gestão de uma organização. Para a elaboração de um orçamento é necessário: deter uma estratégia adequada - planear os caminhos a seguir e conhecer a organização é essencial para obter uma boa estratégia. Por sua vez, a definição de uma boa estratégia trará a concretização dos objetivos definidos; possuir uma adequada gestão operacional dentro da organização – processos operativos bem definidos significam eficiência operacional, redução de tempos e custos; deter um processo de controlo de gestão, pois através deste processo são determinados quais os recursos que a organização precisará para alcançar os objetivos definidos, obtendo eficiência e eficácia; definir o método de descentralização da organização: por segmentos de mercado, por centros de responsabilidade, entre outros. Com todos estes elementos, uma organização encontra-se preparada para a elaboração de um orçamento e controlo da sua atividade, atendendo a que o essencial da realização de orçamentos é permitir o controlo sobre os seus custos e resultados, apurando desvios entre o real e o esperado, conseguindo retirar informação acerca do que é possível melhorar na organização. 6 1. Gestão!Estratégica! Na temática da gestão estratégica, Igor Ansoff distingue-se pela publicação de um livro, em 1965, nos EUA, intitulado Corporate Strategy, o primeiro livro escrito sobre estratégia organizacional. Após a sua publicação, foram surgindo diversas definições de estratégia por diversos autores, tais como Hofer e Schendel (1978), Porter (1985) e Henry Mintzberg (1988). Todos estes autores defendem a mesma tese de que a estratégia se relaciona com o meio envolvente e que este detém influência sobre a organização, sendo que o papel desempenhado pelos responsáveis estratégicos é de extrema importância na elaboração dos planos estratégicos. Contudo, são encontradas divergências no âmbito e conteúdo das diversas definições de estratégia. Hofer & Schendel (1978) defendem que, para atingir os objetivos, a estratégia deve selecionar os meios a seguir e gerir os recursos a usar. De forma semelhante, Ansoff (1965) refere que a estratégia define os objetivos de longo prazo e as ações a serem seguidas para os alcançar, determinando os recursos necessários para tal. Ou seja, segundo Ansoff (1965) a estratégia define os objetivos e os meios, pelo que este autor dá ênfase ao processo de tomada de decisão no planeamento estratégico. Também outros autores como Porter (1985) e Mintzberg (1988) construíram os seus próprios conceitos de estratégia, em que Porter (1985) defende que a obtenção de vantagem competitiva é a matéria com maior importância no processo estratégico, enquanto Mintzberg (1988) enfatiza as decisões e ações que vão ocorrendo ao longo do processo estratégico para dar resposta ao meio envolvente à organização. Segundo Henry Mintzberg (1988), a estratégia é um plano, uma forma de ação consciente. Qualquer pessoa pode recorrer a alguma estratégia para alcançar algo que deseja. Este autor exemplifica dizendo que uma criança detém uma estratégia para saltar o muro enquanto uma organização detém uma estratégia para alcançar um mercado. Ainda segundo Mintzberg, a estratégia 7 detém duas características essenciais: é idealizada antes da ação a que se aplica e é elaborada de maneira consciente e com um objetivo. Embora existam numerosas definições de estratégia, apresentadas na Tabela 1, todas elas convergem em dois pontos: a estratégica está relacionada com o futuro de uma organização; a definição dos objetivos, meios, ações e sua concretização são um processo interligado. Tabela 1: Definições de estratégia organizacional Autores Definição de estratégia Responsabilidad e da decisão Ansoff (1965) “Estratégia é um conjunto de regras de tomada de decisão em condições de desconhecimento parcial. As decisões estratégicas dizem respeito à relação entre a empresa e o seu ecossistema.” Conselho de Administração Hofer & Schendel (1978) “Estratégia é o estabelecimento dos meios fundamentais para atingir os objectivos, sujeito a um conjunto de restrições do meio envolvente.” Administração Porter (1980) “Estratégia competitiva são ações ofensivas ou defensivas para criar uma posição defensável numa indústria, para enfrentar com sucesso as forças competitivas e assim obter um retorno maior sobre o investimento.” Administração 8 Mintzberg (1988) “Estratégia é uma força mediadora entre a organização e o seu meio envolvente: um padrão no processo de tomada de decisões organizacionais para fazer face ao meio envolvente.” Fonte: Adaptado de Nicolau, 2001 Em matéria de gestão, a estratégia pode ser definida como um plano bem delineado e compreensível, elaborado com o intuito de alcançar os objetivos definidos pela organização. Contudo, elaborar uma estratégia não é suficiente, é necessário desenvolver e controlar a sua ação para que se consiga obter o resultado esperado. 1.1. Planeamento! Alguns gestores qualificam o planeamento como a sua responsabilidadebase, a função principal da gestão, considerando a gestão operacional e o controlo, abordados nos pontos 2 e 3 do presente trabalho, como funções mais secundárias. Independentemente da relevância associada ao planeamento, os estudos comprovam que uma organização atinge um nível de desempenho eficaz quando detém um bom planeamento. O planeamento foca-se no futuro, ou seja, permite definir quais os objetivos a alcançar bem como os recursos e meios a utilizar para os conseguir. O resultado desta função será, portanto, a elaboração de um plano que enuncia quais as ações a seguir pela organização, trazendo aos gestores a obrigação de tomar decisões relativamente aos objetivos a definir, aos meios a utilizar, à ação a seguir e à implementação dessa mesma ação. O número de pessoas associadas a este processo irá variar de acordo com a dimensão e a natureza da organização. Em algumas empresas a função 9 planeamento poderá ser desenvolvida pelos gestores e pessoal, noutras pelos gestores de topo ou por uma única pessoa quando se trate de uma pequena organização com apenas um gestor/responsável. Geralmente, quanto maior a dimensão de uma organização, maior o número de pessoal envolvido no planeamento e mais tipos de planeamento ocorrem. O objetivo de planear está associado ao propósito de melhorar o desempenho da organização no futuro e, portanto, deverá ser encarado como um objetivo a ser alcançado por todos os trabalhadores da organização, fazendo chegar toda a informação aos mesmos, de forma a motivar a sua cooperação e empenho no decorrer da ação escolhida, garantindo o esforço de todos no sucesso da organização. O processo de planear pode assim ser apresentado de acordo com a figura seguinte: Figura 1: O processo de planeamento Fonte: Adaptado de Donnelly et al.,2000. Processo de Planeamento Objetivos Ação Recursos Implementação Previsões Orçamentos Resultados de desempenho 10 Para definir estratégias e planear é essencial conhecer a organização e o seu mercado. Para isso, a maioria das organizações utiliza o método da análise SWOT, que estuda os fatores positivos e negativos no ambiente interno e externo à organização. 1.2. Ambiente!F!Análise!SWOT! A Análise SWOT (Strengths, Weaknesses, Opportunities and Threats) ou Análise FOFA (Forças, Fraquezas, Oportunidades e Ameaças), em português, pode ser definida como uma ferramenta de gestão utilizada para analisar o ambiente em que a empresa se encontra. Esta análise é a base de gestão e planeamento estratégico de qualquer empresa e compreende uma análise interna e externa do ambiente, isto é, analisa pontos fortes e fracos da organização (análise interna) e analisa oportunidades e ameaças do meio envolvente (análise externa). Esta ferramenta tem então por objeto a identificação dos fatores internos e externos, favoráveis e desfavoráveis, inerentes a um projeto ou negócio com vista a alcançar o objetivo desse mesmo projeto ou negócio. Por outras palavras, a análise SWOT consiste num modelo de avaliação da posição estratégica de uma organização no mercado. Esta avaliação estratégica é realizada através da utilização de uma matriz de dois eixos, o eixo das variáveis internas (pontos fortes e fracos da organização) e o eixo das variáveis externas (oportunidades e ameaças do meio envolvente), tal como a figura 2 apresenta: 11 Figura 2: Matriz da Análise SWOT Fonte: http://www.simplessolucoes.com.br/blog/wp-content/uploads/2012/04/Capturar3.JPG Segundo Fischmanne Almeida (1991, p. 25), o “ambiente de uma organização é tudo aquilo que a influencia nos seus negócios e que esta não tem condições para alterá-lo”. Por outras palavras, a análise SWOT consiste numa análise ao ambiente de uma organização. Bem utilizado, este método trará diversas vantagens às organizações. Os seus fatores internos e externos devem ser analisados em relação às necessidades e à concorrência de mercado pois ajudarão a identificar o que se encontra bem ou mal dentro da organização. Tal como Thompson Jr (2003, p.42) afirma: “A análise ambiental objetiva avaliar a situação da empresa relativamente aos ambientes interno e externo. Essa avaliação é realizada mediante a determinação dos fatores-chave de sucesso para a empresa, os quais 12 orientam a identificação e a análise das variáveis ambientais críticas internas e externas.” Portanto, a análise SWOT deve ser elaborada e interpretada de uma forma integrada, conjugando os elementos da análise interna e externa, para que daí resulte um diagnóstico fiável que seja uma fonte de informação e suporte adequada às necessidades da gestão estratégica de uma organização, a qual é responsável por delinear o futuro a médio e longo prazo da mesma. 1.3. A!gestão!estratégica!e!a!gestão!operacional! Com base numa definição simples de estratégia, Mintzberg (1988) afirma que esta é necessária para reduzir a incerteza e promover a coerência e compreensão dentro de uma organização, aumentar os conhecimentos de forma a dar resposta a necessidades intrínsecas da mesma e, também, para promover a sua eficiência em condições estáveis. Ou seja, a gestão estratégica trata do alinhamento de dois processos: eficiência operacional e estratégia competitiva. Para Michael Porter (1996) as organizações precisam de ter processos flexíveis para que consigam comparar os seus processos com as organizações concorrentes de forma a trabalharem para alcançar vantagem competitiva e, assim, obter ganhos de eficiência - eficiência operacional. Normalmente, a eficiência operacional é confundida com a estratégia. Embora ambas sejam essenciais para o bom desempenho de qualquer organização, a eficiência operacional não é uma estratégia mas sim um processo de constante melhoria das atividades comuns com os concorrentes, de acordo com Porter (1996). Kaplan e Norton (2008) defendem que é impossível implementar uma boa estratégia sem que esta assente em processos operativos e só com um sistema de gestão que englobe estas duas temáticas é possível obter um desempenho organizacional sustentável. 13 Assim, em 1996, estes autores desenvolveram um estudo que demonstrou que os órgãos de gestão não davam relevância à estratégia. Através deste estudo foi possível verificar que: apenas cerca de 40% das organizações estudadas relacionavam a gestão orçamental com a estratégia; os colaboradores não eram informados acerca da estratégia da organização; 85% das organizações nem uma hora mensal dedicavam à estratégia; 50% não dedicava qualquer tempo à estratégia organizacional; a gestão orçamental era usada apenas para gerir as contas, os objetivos, a motivação, o desempenho dos colaboradores, o marketing e as vendas. Mais tarde, em 2006, estes mesmos autores refizeram o seu estudo com uma amostra de 143 gestores. Passados dez anos foi possível verificar que: 54% utilizava um sistema formal estratégico; 70% dessas organizações com um sistema de gestão estratégico apresentava um desempenho superior às outras organizações em estudo; no entanto, 46% não detinha qualquer tipo de sistema de gestão estratégico; destas últimas, 73% apresentava um desempenho inferior às restantes. É possível, assim, concluir que se uma organização detiver um sistema de gestão que englobe eficiência operacional e um bom planeamento estratégico detém maior probabilidade de melhoria de desempenho na sua atividade. Portanto, as organizações beneficiariam caso adotassem um sistema que relacionasse a estratégia com as operações. Com tal objetivo, estes mesmos autores desenvolveram um sistema de gestão que integra a planificação da estratégia e a execução operativa, que se baseia em seis etapas, evidenciadas na tabela 2. 14 Tabela 2: Etapas da planificação estratégica e execução operativa Etapa Nome etapa Conceito 1ª etapa Desenvolvimento da estratégia Nesta fase estabelece-se a missão, a visão e os valores da organização, bem como a análise SWOT e o modelo das cinco forças de Porter. 2ª etapa Planificação da estratégia Estabelecimento dos objetivos estratégicos, dos indicadores, metas, iniciativas e orçamentos que determinam a ação e os recursos a serem utilizados. É nesta fase que se utilizam ferramentas de gestão estratégica tais como Balanced Scorecard (BSC) e Mapas Estratégicos. 3ª etapa Alinhamento da organização Tem como objetivo alinhar todas as unidades operativas de uma organização com a estratégia da mesma. Relativamente aos colaboradores, o seu alinhamento com a organização faz-se por um processo de comunicação formal, em que se relacionam os objetivos pessoais com os incentivos de objetivos estratégicos. 4º etapa Planificação das operações Esta etapa baseia-se no uso de ferramentas de gestão - gestão da qualidade, a reengenharia, o sistema ABC e a gestão orçamental - para alcançar uma afetação de recursos adequada ao planeamento estratégico. 5ª etapa Controlo e aprendizagem São necessárias reuniões de revisão para garantir o controlo das operações e o nível de execução da estratégia, visto que as informações sobre ambas se integram. 6ª etapa Validação e adaptação Deve, também, ser realizada uma reunião anual para uma avaliação acerca do desempenho estratégico da organização, do ambiente em que esta se insere e definir ajustamentos necessários. Fonte: Adaptado de Azeitão, Roberto, 2010 15 No entanto, ao adotar este modelo de relacionamento da estratégia com a gestão operacional, é necessário rever e, possivelmente, modificar os processos usados na organização, de forma a alcançar um alinhamento estratégico global. 16 2. Controlo!de!Gestão! O controlo de gestão surgiu nos Estados Unidos entre a 1ª e a 2ª guerras mundiais. O seu aparecimento oficial relaciona-se com a constituição do Controllers Institute of America (Instituto dos Controladores de Gestão dos Estados Unidos), em 1931, propagando-se pela Europa nos anos seguintes. Inicialmente, a função de um controlador de gestão era meramente a de um perito em contabilidade nos bancos e na administração pública. Apenas através de publicações sobre o tema se foi verificando que um controlador de gestão assentava em muito mais do que contabilidade, gestão estratégica e gestão operacional. Ao longo do tempo, o controlo de gestão passou a ser definido como “o processo utilizado no seio de uma entidade económica para assegurar uma mobilização eficaz e permanente das energias e dos recursos, tendo em vista atingir o objetivo visado por essa entidade” (Khemakhem, 1970, página 11). No entanto, estando este conceito em constante evolução, nos dias de hoje, podemos encontrar definições muito mais complexas e perceber que esta função ganhou uma posição muito relevante que a torna essencial a qualquer organização. Apresentam-se alguns exemplos destas definições na tabela 3. Tabela 3: Definições de controlo de gestão Definição Aspeto essencial da definição O controlo de gestão é o esforço permanente realizado pelos principais responsáveis da empresa para atingir os objetivos fixados. Motivação dos gestores; Objetivos específicos a cada responsável; Importância do envolvimentos dos gestores operacionais na gestão e no seu controlo. 17 Definição Aspeto essencial da definição O controlo de gestão deve proporcionar a todos os responsáveis, os instrumentos para pilotar e tomar as decisões adequadas que assegurem o futuro da empresa. Dá relevo ao aspeto instrumental; Objetivos gerais à organização; Relacionar os objetivos gerais da organização com os específicos a cada responsável. O controlo de gestão é um conjunto de instrumentos que motivem os responsáveis descentralizados a atingirem os objetivos estratégicos da empresa, privilegiando a ação e a tomada de decisão em tempo útil e favorecendo a delegação de autoridade e responsabilização. Baseia-se nos princípios de controlo de gestão; Tenta abranger as definições anteriores. Fonte: Adaptado de Jordan; Neves; Rodrigues, 2011. O controlo de gestão é uma mais valia para qualquer organização porque é possível usá-lo em qualquer matéria de gestão (estratégia, operações, custos, resultados, etc.). No entanto, para que o seu uso seja vantajoso, a organização deve ser dotada de descentralização na tomada de decisão, ou seja, deve deter várias pessoas responsáveis pela tomada de decisões na organização. Estes responsáveis, por sua vez, devem ser os gestores operacionais existentes. Além disso, encontra-se diretamente relacionado com a estratégia da empresa e, portanto, tem por base a implementação de uma estratégia bem definida. Esta metodologia tem em consideração o histórico da organização mas foca-se no seu futuro e ao ser utilizada irá criar a necessidade de um sistema de incentivos e sanções ao pessoal de modo a garantir o empenho de todos os colaboradores no futuro da organização. Essencialmente, o processo de controlo de gestão baseia-se na definição de objetivos, na definição da estratégia, no planeamento de ações, na estimulação 18 de motivação nos colaboradores, na seleção de recursos e meios a utilizar e no acompanhamento dos resultados. No entanto, é importante mencionar, mais uma vez, o facto de que são os gestores operacionais os utilizadores diretos deste processo. Em matéria de gestão, estes responsáveis fazem parte da pirâmide da estrutura organizacional, constituída, também, pela direção geral e hierarquia intermédia, tal como evidenciado na figura 3. Figura 3: Pirâmide da estrutura organizacional Fonte: Adaptado de Jordan; Neves; Rodrigues, 2011 Para fazer face às necessidades destes três segmentos, o controlo de gestão apoia-se em vários instrumentos - instrumentos de pilotagem, comportamentais e de diálogo. Estes instrumentos incluem a elaboração de um plano operacional, do orçamento e controlo orçamental, usando técnicas de gestão como o Balanced ! ! Direção!Geral! (Obje'vos!globais)! (Resultados!globais)! Hierarquia!Intermédia! (Diretores!de!área!como!económica! e!estratégica)! Responsáveis!Operacionais! (Diretores!departamentais)! (Responsáveis!funcionais/sector)! 19 Scorecard ou Tableau de Bord. A Figura 4 mostra a ligação entre os vários instrumentos de controlo de gestão. Figura 4: Instrumentos do controlo de gestão Fonte: Adaptado de Jordan; Neves; Rodrigues, 2011. Este esquema resume as fases do processo de gestão, desde a estratégia até ao controlo orçamental. Primeiro é necessário analisar o meio envolvente para definir um adequado plano estratégico assente num plano operacional bem definido para, de seguida, apurar custos e elaborar orçamentos, utilizando técnicas de gestão como o Balanced Scoreard ou Tableaux de Bord. Os orçamentos são controlados comparando os resultados esperados com os reais, apurando desvios e descobrindo as suas causas para, assim, implementar ações corretivas aos mesmos. O plano operacional e o orçamento são os instrumentos previsionais de pilotagem existentes. No entanto, o processo de pilotagem necessita de acompanhar os resultados e, para tal, é usado o controlo orçamental bem como o Ações!corre'vas! Plano!Operacional! Análise! Estratégica! Plano!Estratégico! Orçamento! Controlo!Orçamental! Balanced!Scorecard!/! Tableaux!de!Bord! 20 balanced scorecard ou tableaux de bord. Estes dois últimos métodos primam pela variedade de indicadores, rapidez, capacidade de síntese e de facilidade de adaptação por parte do utilizador. 21 3. Gestão!Orçamental! Segundo Jordan et al (2011), a orçamentação pode ser definida como um instrumento de gestão de apoio ao gestor no processo de alcançar os objetivos definidos para a empresa, ou seja, um instrumento de decisão ou ação. Assim, o orçamento obriga à definição de objetivos e planos de ação para o seu sucesso, pois sabendo quais os objetivos a alcançar, o gestor irá definir os planos de ação a seguir que conduzam às decisões a tomar no futuro. Através destes planos de ação serão realizadas as quantificações financeiras que conduzem ao orçamento. Segundo Caiado (2011), o orçamento é um resultado de uma previsão de curto prazo, até 1 ano, e deve ser elaborado tendo em conta objetivos atingíveis. Ou seja, a orçamentação deve estabelecer objetivos específicos para as operações futuras e comparar periodicamente os resultados atuais com aqueles objetivos. O processo de orçamentação inicia-se meses antes do ano em estudo pois é necessário o pedido das estimativas de vendas e custos de todos os departamentos da organização. Após a recolha dessa informação é possível elaborar vários tipos de orçamento, tais como o orçamento de exploração, de tesouraria, financeiro, demonstração de resultados e balanço previsional. No entanto, a gestão orçamental não passa apenas pela elaboração destes orçamentos. É, também, necessário medir e registar a atividade real da organização para que seja possível a sua comparação com o orçado. Por fim, será necessária a análise aos desvios encontrados entre o real e o previsto de forma a definir decisões corretivas para que seja possível eliminar futuros desvios. Esta temática será abordada no ponto 4.5 deste trabalho. 22 3.1. O!processo!de!elaboração!dos!orçamentos! O processo de orçamentação inicia-se pelo orçamento das vendas e, portanto, o ponto de partida será a previsão das mesmas, a qual deve ter em consideração diversos fatores tais como o histórico de vendas, a quantidade atual de vendas, as condições do mercado no setor, as estratégias dos concorrentes, as políticas de crédito e definição de preço e a publicidade. Após conhecidas as quantidades previstas e determinado o preço de venda, é possível elaborar o seu orçamento, tal como no exemplo seguinte: Tabela 4: Orçamento de Vendas Orçamento de Vendas Janeiro Fevereiro Março Trimestre Vendas em quantidade 30.000 35.000 40.000 105.000 Preço de venda unitário X 20 X 20 X 20 X 20 Total de vendas 600.000€ 700.000€ 800.000€ 2.100.000€ Fonte: Adaptado de Blocher, Chen, Cokins, 2006 Um orçamento de vendas demonstra, portanto, as quantidades e preços previstos para o período em causa. Este é o ponto de partida para a elaboração de um orçamento pois as vendas são a base dos restantes planos a elaborar, ou seja, a produção será calculada de acordo com as vendas estimadas. Então, no caso de uma organização de produção, tendo por base as vendas, é possível elaborar o orçamento de produção, o qual se define como um plano de obtenção dos recursos que serão necessários para fazer face às vendas estimadas, tendo em consideração a política de stocks da organização. Assim, a produção estimada/orçada (em quantidade) será a quantidade de vendas estimadas mais o stock final desejado menos o stock inicial, tal como se pode ver no exemplo seguinte. 23 Tabela 5: Programa de Produção Programa de Produção Janeiro Fevereiro Março Trimestre Previsão de vendas (quantidade) 30.000 35.000 40.000 105.000 (+) Stock final desejado 5.000 7.000 10.000 10.000 Total unidades necessárias 35.000 42.000 50.000 115.000 (-) Stock inicial 2.000 5.000 7.000 2.000 Quantidade prevista (unidades) 33.000 37.000 43.000 113.000 Fonte: Adaptado de Blocher, Chen, Cokins, 2006. No entanto, para que exista produção existirá consumo de matérias-primas. Para tal, é elaborado o orçamento do seu consumo, tendo em conta as especificações técnicas dos produtos assim como a política de stocks da organização, com o objetivo de elaborar o orçamento de compras em quantidade e em valor. Então, para orçar as matérias-primas é necessário calcular a quantidade que uma unidade de produto irá consumir de cada matéria-prima que utiliza, assim como a quantidade total. Tabela 6: Consumo por unidade produzida Produto A consome Unidade de obra Consumo por cada unidade de A MP a metro 3 MP b quilograma 1 MP c litro 1 MP d unidade 2 MP e unidade 0,5 24 Multiplicando os consumos unitários pelas quantidades produzidas obtémse as quantidades necessárias para cada matéria-prima. Após o cálculo das quantidades de matéria-prima a consumir, o passo seguinte é calcular as quantidades a comprar para fazer face ao consumo previsto, tendo em conta a política de stocks da empresa, estimar preços e fazer o orçamento de compras, tal como exemplificado na tabela 7. Tabela 7: Programa e orçamento de compras de matérias-primas Fonte: Adaptado de Blocher, Chen, Cokins, 2006 Determinado o preço de compra, pode então ser terminado o orçamento da matéria prima consumida na produção, uma parte importante do orçamento global de produção. Posteriormente, é necessário realizar o orçamento de mão-de-obra direta (MOD), garantindo-se assim um planeamento adequado das necessidades de recursos humanos. Este orçamento pode ser elaborado como enunciado na Tabela 8.