Fichas de Trabalho - Leitura

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Ficha de trabalho 1

Leitura

Nome _______________________________________________ Ano _________ Turma _________ N.o ________

Apreciação crítica

Lê o seguinte texto.

A noite em que Caetano e Gil dançaram com a lua azul


Eles vieram da Bahia e por uma noite voltaram lá, para cantar como poucos o jeito que a
Bahia tem. Duas vozes e dois violões, muitas vezes só um violão e uma voz só, dançaram com as
palavras.

Duas vozes e dois violões, muitas vezes só um violão e uma voz só, encheram […] o Parque dos
5 Poetas, em Oeiras, onde Caetano Veloso e Gilberto Gil se celebraram em «Dois Amigos, Um Século
de Música».
Num concerto em que o vento passou pelas trovas de um e outro, Caetano e Gil seguiram
imperturbáveis – ao vento, ao murmúrio constante de um público que, por vezes, parecia mais
preocupado em contar as férias ou as fotos do Facebook. Eles vieram da Bahia e por uma noite
10 voltaram lá, para cantar como poucos o jeito que a Bahia tem.
Já ia o concerto na sua hora, quando Gilberto Gil fez do violão percussão e a voz foi o instrumento
que soou mais alto – «Não tenho medo da morte mas sim medo de morrer». E de um público quase
fácil de convencer, que reagia quase instintivamente ao repertório, finalmente veio o arrebatamento.
Aplausos de pé, e soltos Caetano e Gilberto em palco, ouvindo-se, respirando palavras e acordes de
15 um e outro, numa cumplicidade de vozes e gestos. Dois amigos que não ficam pela metade.
Ao recolhimento que pedia a canção Não Tenho Medo da Morte, Gil espanta uma plateia que, por
fim, se concentra na música. E dança e acompanha o alinhamento que se segue até ao final, mesmo
nas canções menos óbvias. Logo depois Gilberto pede «canta Lisboa» em Se Eu Quiser Falar Com
Deus, Lisboa canta, como em palco um e outro pegam nas músicas de um e outro e fazem-nas suas.
20 À vez, a quatro mãos. Se a fé não costuma falhar, palavra de canção, a dança essa é certeira: o
palco despojado, Caetano e Gil, um de preto, o outro de branco, ocupam os tempos com os corpos em
movimento. É Caetano quem começa por se levantar a puxar passos de um jeito seu, é Gilberto quem
deixará, já no tema final do encore, A Luz de Tieta, o palco a dançar. A Bahia tem um jeito, ouviu-se
em Terra. Estes dois têm jeito – de fazer a lua azul dançar.
Miguel Marujo, Diário de Notícias, 01/08/2015
(disponível em www.dn.pt, consultado em janeiro de 2016).

1. Identifica o objeto da crítica.


2. Explicita o trocadilho utilizado no título do texto.
3. Caracteriza o público que assistiu ao espetáculo em questão.
4. Explicita a posição do crítico face a este espetáculo.
5. Transcreve três elementos textuais que ilustrem características do discurso da apreciação crítica.
Ficha de trabalho 2
Leitura

Nome ____________________________________________ Ano ___________ Turma__________ N.o _________

Apreciação crítica

Lê o seguinte texto.
16.1.2016: «Isto é Orelha Negra 2016»

Pouco se sabia sobre a vida dos Orelha Negra em


2016: há a promessa de um álbum, lá para a primavera, e
duas datas de concertos, uma em Lisboa e outra no Porto,
para dar um cheirinho daquilo que vai ser o álbum. Um
5 pequeno spoiler: um longa-duração que vai ser bom.
As expectativas podem ser tramadas – ter demasiadas
expetativas que depois não são correspondidas funciona
mal, dá desgosto. Ter expetativas baixas, fáceis de
ultrapassar consegue sempre ser melhor, se der para
10 escolher. Enquanto fazia a viagem até ao CCB, para ver o
primeiro concerto dos Orelha Negra com temas novos, nomeado simplesmente de 16.1.2016, tentava
ir baixando as expetativas. «E se isto toma um caminho completamente diferente e vai ser uma
desilusão? Mais vale ir de espírito aberto, tipo folha em branco», tentava convencer-me. […]
Podendo já fazer aqui um «resumindo» antes do tempo, as expetativas foram mais do que
15 superadas. E porquê?
Tudo naquele concerto foi bonito: o apoio do público, que chamava por Orelha Negra, aplaudia em
todas as pausas de ritmo, gritava «’tá a bater!», as luzes em perfeita sincronia com as batidas… Até o
pormenor de haver uma tela no palco, que só foi levantada ao final da segunda música. Nunca a
expressão «levantar a pontinha do véu» fez tanto sentido; ou não fosse exatamente isso que era o
20 concerto no CCB – dar um gostinho daquilo que será o álbum novo.
Vamos voltar a ouvir os samples de excelência recolhidos por Sam The Kid, a bateria irrequieta, aquela
linha de baixo malandra que tanto nos marca… Tudo para garantir um som imponente e emocionante. Ver
Orelha Negra foi sinónimo de passar um concerto arrepiada sem ter frio, basicamente. […]
O tempo passou depressa. Quando dei por isso, já havia uma despedida e saída de palco.
25 Normalmente, costumo achar o ritual do encore uma coisa escusada – «sim, sabemos todos que vão
voltar.» Mas, se for possível, que todos os encores sejam assim, com coisas que importam! […]
Se é possível que um álbum que ainda nem foi lançado possa tornar-se num dos álbuns portugueses
a marcar 2016? Tudo aponta que sim. […]
Cátia Rocha, Espalha Factos, 17/01/2016
(disponível em https://espalhafactos.com, consultado em janeiro de 2016).

1. Identifica o objeto da crítica.


2. Traça a linha evolutiva do pensamento da autora, desde o momento da deslocação para o recinto do
espetáculo até à projeção do próximo álbum.
3. Explicita o contexto e a adequação da expressão «levantar a pontinha do véu» (l. 19).
4. Procura, de acordo com o texto, identificar algumas características próprias do grupo em questão.
5. Transcreve três elementos textuais que ilustrem características do discurso da apreciação crítica.
Ficha de trabalho 3
Leitura

Nome ____________________________________________ Ano ___________ Turma __________ N.o _________

Artigo de divulgação científica

Lê o seguinte texto.
Extinção de animais pode agravar efeitos das alterações climáticas

Como se a extinção de animais já não fosse má o


suficiente, o fim daqueles que se alimentam sobretudo
de frutos, chamados frugívoros, também comprometerá
a capacidade de as florestas tropicais absorverem
5 dióxido de carbono (CO2) da atmosfera.
A diminuição da absorção de CO2 preocupa os
cientistas, uma vez que o excesso do gás na atmosfera é
um dos responsáveis pela aceleração das alterações
climáticas no nosso planeta.
10 O que acontece, segundo os cientistas, é que os animais frugívoros são responsáveis por dispersar
sementes de frutos grandes pelas florestas. Com a sua extinção, a dispersão deixará de acontecer e as
árvores deixarão de crescer em diferentes áreas, afetando o potencial da floresta no combate às
alterações climáticas. Esses animais cumprem funções importantes em relação às plantas, seja por
polinizarem as flores ou por comerem os frutos e dispersarem as sementes, favorecendo a regeneração
15 natural das florestas.
Investigadores de várias instituições internacionais publicaram um artigo na revista Science Advances
onde estimam a perda da capacidade de absorção de CO2 na Mata Atlântica a partir de diferentes
cenários de defaunação, como é conhecido o fenómeno de diminuição acentuada da população de
animais num ecossistema, em geral induzida por atividades humanas, como desmatamento e caça ilegal.
20 Com simulações, os cientistas verificaram que a extinção dos animais compromete, signifi-
cativamente, a capacidade de armazenamento de CO2 na floresta, pois contribui para a diminuição do
número de árvores que depende da dispersão das suas sementes para crescer na Mata Atlântica.
Para desenvolver o estudo, os investigadores relacionaram a composição e a abundância de
espécies de árvores e o tipo de dispersão das suas sementes, com padrões de dureza da madeira e
25 altura, características que podem ser usadas para medir a quantidade de carbono que a árvore pode
armazenar.
Na pesquisa, a equipa coordenada pelo biólogo brasileiro Mauro Galetti do Departamento de
Ecologia da Universidade Estadual Paulista (UNESP) em Rio Claro, interior de São Paulo, concluiu
que árvores com troncos grandes e duros têm sementes igualmente grandes. Ou seja, quanto maior a
30 semente, maior será a árvore. As árvores maiores são as que conseguem armazenar mais quantidade de
dióxido de carbono e são as que dependem da dispersão dos seus grandes frutos para crescerem em
diferentes lugares.
Diário Digital, 06/01/2016
(disponível em https://diariodigital.sapo.pt, consultado em janeiro de 2016)
(texto adaptado).
1. De entre as afirmações que se seguem, identifica a que melhor reflete a mensagem do texto.
(A) A ciência preocupa-se, especialmente, com o desaparecimento dos animais herbívoros.
(B) As pesquisas científicas relacionam diretamente o aquecimento global com o aumento da
poluição.
(C) O desaparecimento de determinadas espécies animais implicará alterações climáticas na
Mata Atlântica.
(D) O desaparecimento de determinadas espécies animais implicará alterações climáticas na
Terra.

2. Transcreve do texto frases/expressões que justifiquem as afirmações seguintes.


2.1 A extinção dos animais frugívoros põe em risco a preservação da floresta tropical.
2.2 A dimensão das árvores é importante para a manutenção da qualidade do ar.
2.3 O fenómeno conhecido por «defaunação» depende, em grande parte, da atividade humana.
2.4 O aumento do dióxido de carbono na atmosfera está diretamente relacionado com a
dispersão das sementes dos frutos das árvores.

3. Seleciona a única opção correta para cada um dos itens.


3.1 Os animais frugívoros
(A) alimentam-se de frutos e são responsáveis, apenas, pela dispersão das sementes.
(B) alimentam-se de frutos e ajudam a dispersar o dióxido de carbono.
(C) são responsáveis pela polinização e pela dispersão de dióxido de carbono.
(D) polinizam as flores e dispersam as sementes dos frutos com que se alimentam.
3.2 A defaunação consiste na
(A) diminuição acentuada de espécies animais em resultado da ação humana.
(B) destruição generalizada de um ecossistema.
(C) destruição da Mata Atlântica.
(D) diminuição da capacidade de armazenamento de CO2 pelas florestas tropicais.
3.3 A dureza da madeira e a altura das árvores
(A) permitem determinar a sua idade.
(B) dependem do tamanho das sementes que lhes deram origem.
(C) permitem calcular a sua capacidade de armazenamento de dióxido de carbono.
(D) ajudam os investigadores a prever fenómenos de defaunação.

4. Explica, por palavras tuas, de que modo a extinção dos animais que se alimentam de frutos terá
impacto sobre as condições de vida na Terra.

5. Indica três características do artigo de divulgação científica, ilustrando-as com elementos


textuais.
Ficha de trabalho 4
Leitura

Nome ____________________________________________ Ano ___________ Turma __________ N.o _________

Artigo de divulgação científica

Lê o seguinte texto.
Anunciado nono planeta para lá de Plutão

Equipa que identificou o planeta com modelos teóricos espera agora que ele seja observado
com telescópios.
Chamaram-lhe informalmente Nono Planeta e
anunciaram esta quarta-feira a sua possível
5 existência no nosso sistema solar, muito para lá de
Plutão (que em 2006 foi despromovido do estatuto
de planeta e passou a planeta-anão). O Nono
Planeta, segundo a equipa de astrónomos do
Instituto de Tecnologia da Califórnia (nos EUA)
10 que fez o anúncio, tem dez vezes a massa da Terra e
está tão longe do Sol que demora 10.000 a 20.000
anos a completar uma órbita à nossa estrela.
Por agora, a descoberta deste planeta é teórica, obtida graças a modelos matemáticos e muitas
simulações de computador, explica um comunicado de imprensa do Instituto de Tecnologia da
15 Califórnia. Falta agora comprovar a sua existência em observações diretas com telescópios, o que
dependerá muito se o planeta estiver mais perto ou mais longe do Sol na sua longa órbita à volta dele.
O astrónomo Mike Brown estuda objetos gelados que se encontram para lá de Neptuno, numa
região chamada Cintura de Kuiper. O primeiro desses mundos gelados só foi descoberto em 1992 e
levou à despromoção de Plutão, que agora é considerado o primeiro desses objetos. No caso da
20 investigação que culminou com o anúncio do possível Nono Planeta, Mike Brown começou a
trabalhar nela há um ano e meio com Konstantin Batygin, depois de outra equipa ter anunciado que em
treze dos objetos de Kuiper mais distantes de nós se observavam certas semelhanças invulgares nas
suas órbitas e atribuíram-nas à presença (e influência gravitacional) de um pequeno planeta nessa
zona. […]
25 «Este deverá ser um nono planeta real. É um pedaço substancial do nosso sistema solar que está
por aí à espera de ser descoberto, o que é muito entusiasmante», considera Mike Brown. «Pela
primeira vez em 150 anos, há provas sólidas de que o censo planetário do sistema solar está
incompleto», acrescenta Konstantin Batygin.
Provas mais definitivas poderão surgir se o Nono Planeta for localizado pelos telescópios, e foi
30 para isso que a equipa decidiu publicar já a sua descoberta teórica na revista Astronomical Journal.
«Adorava encontrá-lo», diz Mike Brown. «Mas ficaria muito feliz se outra pessoa o encontrar. É por
isso que estamos a publicar o artigo, para que outros fiquem inspirados e comecem a procurá-lo.»
Teresa Firmino, Público, 20/01/2016
(disponível em www.publico.pt, consultado em janeiro de 2016).
1. De entre as afirmações que se seguem, identifica a que melhor reflete a mensagem do texto.
(A) Os estudos que agora culminaram com o anúncio de um nono planeta iniciaram-se há cerca
de ano e meio.
(B) Um provável planeta bastante maior do que a Terra, até agora desconhecido no sistema
solar, foi anunciado por uma equipa de astrónomos.
(C) Uma equipa de astrónomos americanos decidiu tornar pública a descoberta de um nono
planeta logo que obteve a confirmação da sua teoria.
(D) A descoberta agora anunciada prova que, finalmente, todo o sistema solar está referenciado.

2. Transcreve do texto frases/expressões que justifiquem as afirmações seguintes.


2.1 A existência do nono planeta precisa de ser, ainda, confirmada.
2.2 O planeta agora identificado encontra-se numa região gelada do sistema solar.
2.3 Até agora, os cientistas acreditavam que todo o sistema solar já estava referenciado.
2.4 A validação definitiva da nova teoria depende da observação telescópica.

3. Seleciona a única opção correta para cada um dos itens.


3.1 Brown e Batygin
(A) iniciaram o seu trabalho a partir de dados já obtidos anteriormente.
(B) descobriram e confirmaram a existência de um nono planeta.
(C) anunciaram que o nono planeta se situa para além do sistema solar.
(D) usaram poderosos telescópios para validarem a sua descoberta.
3.2 O nono planeta
(A) tem uma dimensão semelhante à da Terra.
(B) nunca conseguirá completar uma órbita em volta do sol.
(C) gravita em torno de Neptuno.
(D) situa-se numa região gelada a que se dá o nome de Cintura de Kuiper.
3.3 O anúncio agora efetuado
(A) resulta de inúmeros cálculos matemáticos e de observação direta levados a cabo pela
equipa americana.
(B) resulta de muitas simulações computorizadas e de inúmeros cálculos matemáticos.
(C) vem confirmar a teoria que tem prevalecido nos últimos 150 anos sobre o sistema solar.
(D) não pode ser considerado válido por falta de dados teóricos.

4. Explica qual(is) a(s) evidência(s) que fizeram os investigadores pensar na possibilidade de haver
um planeta desconhecido na Cintura de Kuiper.

5. Indica três características do artigo de divulgação científica, ilustrando-as com elementos


textuais.
Ficha de trabalho 5
Leitura

Nome ____________________________________________ Ano ___________ Turma __________ N.o _________

Texto de opinião

Lê o seguinte texto.
O fim da admiração

Porque é que quando admiramos alguma coisa ou alguém, quase toda a gente perde a
paciência connosco? Donde vem a incapacidade de admirar?
«Não te espantes com nada», aconselhou um poeta romano. E outro seu contemporâneo mais
velho, quando informado da morte do filho, observou secamente que estava ao corrente de que tinha
5 gerado um mortal. A atitude, que ambos consideravam condição necessária para a felicidade, era ainda
muito minoritária. Muitos gregos tinham sugerido antes que o conhecimento e a felicidade dependem
precisamente da capacidade de se ficar espantado, e durante muito tempo a ideia parecera boa à
maioria. As coisas mudaram; hoje só uma minoria se dá ao trabalho de ficar espantada.
As pessoas podem ficar espantadas com duas coisas: com coisas que acontecem e com coisas que
10 se fazem. No primeiro caso, o espanto dirige-se sobretudo à natureza. Traduz-se numa admiração
reiterada por cabriolas de zebras, ou fenómenos meteorológicos raros. No segundo caso, o espanto é
movido por aqueles que realizam certas ações; e a este espanto chama-se também admiração: por
aquilo que se fez, e por quem o fez.
No entanto, há uma diferença importante entre espanto e admiração. «Espantar-se» é equivalente a
15 «admirar-se»; mas «admirar» é diferente de «admirar-se». Posso espantar-me ou admirar-me de que
certas pessoas façam certas coisas; mas não é por isso que as admiro. Quando me admiro ou me
espanto posso ser acusado de ignorância; pelo contrário, quando admiro o que alguém fez, ou alguém
que fez alguma coisa, sou sobretudo acusado de simplicidade de espírito ou de exagero. A diferença é
a seguinte: quando alguém se admira com alguma coisa, os outros recomendam ciência; mas quando
20 alguém admira alguma coisa ou alguém, os outros perdem a paciência.
O fim da admiração consiste no desaparecimento da admiração da galeria das nossas emoções
frequentes; afeta a maneira como nos interessamos pelas outras pessoas e como falamos daquilo que
fazem. Quando admiramos alguém por aquilo que faz, de facto, não queremos saber de nada; não nos
preocupam as causas das suas ações, ou até os seus motivos. Uma investigação das causas parece
25 sempre diminuir aquilo que admiramos. Aqueles que são imunes à admiração gostam por isso de
misturar causas nas suas descrições. É a desculpa perfeita: dizem que admiram a generosidade de uma
pessoa, mas logo a seguir explicam que a causa dessa generosidade foi ele estar em posição de ser
generoso; e também celebram o génio de Einstein não obstante censurarem o facto de fumar
cachimbo.
30 É raro encontrarmos hoje quem fale dos outros sem restrições. E há uma relação entre isso e, como
os romanos, gostar de lembrar constantemente a terceiros que são mortais comuns. Deixamos de sentir
admiração quando concluímos que, porque somos todos mortais, nada do que fizermos é merecedor do
menor espanto, e aliás da menor condenação. Todos mortais, todos iguais.
Miguel Tamen, Observador, 22/01/2016
(disponível em www.observador.pt, consultado em janeiro de 2016).
1. Seleciona a única opção correta para cada um dos itens que se seguem.
1.1 A resposta às questões colocadas no primeiro parágrafo do texto surgem
(A) logo a seguir, com o exemplo do poeta romano e do seu contemporâneo mais velho.
(B) à medida que o autor vai dissertando sobre a capacidade que o ser humano tem de se
espantar.
(C) no último parágrafo, quando se conclui que todos somos mortais.
(D) na explicação da diferença entre «espanto» e «admiração».
1.2 Durante muito tempo, considerou-se que o conhecimento e a felicidade
(A) dependiam do estado de espírito de cada ser humano.
(B) eram indissociáveis da capacidade que o ser humano tinha de se espantar.
(C) eram indispensáveis para o avanço da ciência.
(D) estavam diretamente associados à perceção que os outros tinham de nós.
1.3 O espanto e a admiração não são conceitos equivalentes, porque
(A) o primeiro dirige-se, sobretudo a «fenómenos» relacionados com a natureza, enquanto
o segundo resulta da atuação humana.
(B) o primeiro está diretamente relacionado com comportamentos humanos, enquanto o
segundo se focaliza em fenómenos meteorológicos.
(C) apenas se espanta quem se consegue admirar.
(D) quem admira é, também, quem se espanta com algo ou alguma coisa.
1.4 «Admirar-se» com algo ou com alguém e «admirar» algo ou alguém
(A) são conceitos que se equivalem entre si.
(B) são princípios que a ciência recomenda.
(C) não são conceitos equivalentes.
(D) fazem as outras pessoas perderem a paciência.
1.5 A paciência dos outros tem tendência a desaparecer quando
(A) percebemos que todos somos mortais.
(B) deixamos de nos espantar.
(C) perdemos a capacidade de admirar o outro.
(D) admiramos algo ou alguém.

2. Indica duas características do artigo de opinião, ilustrando-as com elementos textuais.


Ficha de trabalho 6
Leitura

Nome ____________________________________________ Ano ___________ Turma __________ N.o _________

Texto de opinião

Lê o seguinte texto.
Ninguém tem pena das pessoas felizes

Ninguém tem pena das pessoas felizes. Os Portugueses


adoram ter angústias, inseguranças, dúvidas existenciais
dilacerantes, porque é isso que funciona na nossa sociedade.
As pessoas com problemas são sempre mais interessantes.
5 Nós, os tontos, não temos interesse nenhum porque somos
felizes. Somos felizes, somos tontaços, não podemos ter graça
nem salvação. Muitos felizardos (a própria palavra tem um soar
repelente, rimador de «javardo») veem-se obrigados a fingir a
dor que deveras não sentem, só para poderem «brincar» com os
10 outros meninos.
É assim. Chega um infeliz ao pé de nós e diz que não sabe se há de ir beber uma cerveja ou
matar-se. E pergunta, depois de ter feito o inventário das tristezas das últimas 24 horas: «E tu? Sempre
bem disposto, não?». O que é que se pode responder? Apetece mentir e dizer que nos morreu uma avó,
que nos atraiçoou uma namorada, que nos atropelaram a cadelinha ali na estrada de Sines.
15 E, no entanto, as pessoas felizes também sofrem muito. Sofrem, sobretudo, de «culpa». Se elas
estão felizes, rodeadas de pessoas tristes, é lógico que pensem que há ali qualquer coisa que não bate
certo. As infelizes acusam sempre os felizes de terem a culpa. É como a polícia que vai à procura de
quem roubou as joias e chega à taberna e prende o meliante com ar mais bem disposto. Em Portugal,
se alguém se mostra feliz é logo suspeito de tudo e mais alguma coisa. «Julgas que é por acaso que
20 aquele marmanjo anda tão bem disposto?», diz o espertalhão para outro macambúzio. É normal andar
muito em baixo, mas há gato se alguém andar nem que seja só um bocadinho «em cima». Pensam logo
que é «em cima» de alguém.
Ser feliz no meio de muita gente infeliz é como ser muito rico no meio de um bairro-de-lata. Só
sabe bem a quem for perverso.
25 Infelizmente, a felicidade não é contagiosa. A alegria, sim, e a boa disposição, talvez, mas a
felicidade, jamais. Porque a felicidade não pode ser partilhada, não pode ser explicada, não tem
propriamente razão. Não se pode rir em Portugal sem que pensem que se está a rir de alguém ou de
qualquer coisa. Um sorriso que se sorria a uma pessoa desconhecida, só para desabafar, é
imediatamente mal interpretado. Em Portugal, as pessoas felizes sofrem de ser confundidas com as
pessoas contentes.
Miguel Esteves Cardoso, in Os Meus Problemas,
Porto, Porto Editora, 2015.
1. Seleciona a única opção correta para cada um dos itens que se seguem.
1.1 O autor considera-se
(A) uma pessoa alegre.
(B) um português típico.
(C) uma pessoa feliz.
(D) uma pessoa algo tonta.
1.2 De acordo com o texto, uma pessoa feliz tem de
(A) conseguir manter-se indiferente à infelicidade alheia.
(B) se rever nas palavras do Poeta e «fingir que é dor a dor que deveras sente».
(C) ocultar os seus sentimentos para não chocar os outros.
(D) lidar com a culpa de não ter problemas.
1.3 O interesse que uma pessoa desperta no seu semelhante
(A) é proporcionalmente inverso à felicidade que demonstra.
(B) é proporcional à alegria que consegue demonstrar.
(C) diminui na proporção em que os problemas pessoais aumentam.
(D) é mais acentuado em Portugal do que no estrangeiro.
1.4 No contexto em que surge, a expressão «há gato» (l. 21) significa que
(A) o autor tem um gato lá em casa.
(B) se pensa imediatamente que algo de estranho está a acontecer.
(C) os animais podem ajudar à felicidade humana.
(D) a vida tem sempre alguma surpresa escondida com que nos pode surpreender.
1.5 A felicidade pode ser
(A) um sorriso em forma de «desabafo».
(B) um sentimento «contagioso».
(C) partilhada e dividida com aqueles que nos rodeiam.
(D) uma sensação efémera.

2. Indica duas características do artigo de opinião, ilustrando-as com elementos textuais.


Ficha de trabalho 7
Leitura

Nome ____________________________________________ Ano ___________ Turma __________ N.o _________

Discurso político

Lê o seguinte texto.
Ousem a vossa vida, dancem a vossa vida

Há muita gente preocupada com o desinteresse dos jovens pela política e


pela coisa pública. Eu não estou preocupado, porque cada geração sabe
encontrar respostas aos seus próprios problemas. Não vou dizer como é
costume que no meu tempo é que era. Não era. No meu tempo era a ditadura, a
5 censura, a repressão política, social, cultural, sexual. No meu tempo era a
guerra.
Também não vou dizer que hoje é tudo bom. Os problemas são outros,
outras as guerras da juventude de hoje: primeiro emprego, precariedade,
incerteza e insegurança em relação ao futuro.
10 Mas há uma diferença. Essa diferença é a liberdade e a democracia. Essa
diferença é a Constituição, onde estão não só os direitos políticos, mas os direitos sociais, económicos,
culturais, ambientais. Essa diferença é a possibilidade de falar de política sem medo de falar de
política. A possibilidade de criticar sem medo de criticar. O direito de protestar sem medo de protestar.
Havia uma má tradição em Portugal – antipolítica e antiparlamentar. Quem diz que não é político já
15 está a fazer uma declaração política e a manifestar o pior de todos os incivismos.
Sócrates, o filósofo grego, dizia que fazia política em legítima defesa, para não serem outros a
fazerem política por ele ou contra ele. Assim em relação a vocês: se não defenderem os vossos
direitos, se não fizerem política pelos vossos direitos, alguém a fará por vós ou contra vós.
Quem ataca o Parlamento ataca-se a si mesmo. O Parlamento é a casa da Democracia e a
20 instituição que representa o povo.
Robert Buron, um resistente francês, disse que «ser deputado é a mais nobre missão do mundo».
Claro que pode haver bons e maus deputados. O parlamento podia ser melhor. Mas o pior de tudo é
não haver parlamento nenhum.
Estamos num mundo diferente, global, com novas causas – o ambiente, o urbanismo, a luta contra
25 o desemprego e contra as desigualdades. Um mundo difícil para todos e para a juventude. Têm na
vossa mão uma grande arma – a liberdade de falar, de pensar pela vossa cabeça, de protestar, de votar,
de agir, de intervir.
Sartre, um filósofo francês, escreveu: «Não tenham medo de pedir a lua, porque o próprio da
juventude é pedir o impossível.»
30 Não se conformem, não deixem que vos roubem a juventude, não deixem que vos roubem a vossa
vida.
Ousem a vossa vida, dancem a vossa vida.
Manuel Alegre, Sessão de abertura do Parlamento Jovem, 26/05/2009
(disponível em www.manuelalegre.com, consultado em janeiro de 2016).
1. No primeiro parágrafo do texto, surge a definição antitética de «dois tempos». Identifica-os.

2. Identifica a tese generalizada e explicita a posição do orador a propósito.


2.1 Refere o(s) argumento(s) que usa para sustentar o seu ponto de vista.

3. Comenta a expressividade obtida através do uso anafórico da expressão «essa diferença»


(ll. 10-12).

4. Explica de que modo o orador procura comprovar o seu ponto de vista, relativamente à
importância da política na vida de cada um.

5. Explicita a complementaridade existente entre os dois últimos parágrafos do texto.


5.1 Comprova como, através de uma sucessão de frases negativas, o orador constrói um
discurso de incitamento à ação.

6. Refere a expressividade do título e a intencionalidade comunicativa subjacente.


Ficha de trabalho 8
Leitura

Nome ____________________________________________ Ano ___________ Turma __________ N.o _________

Discurso político

Lê o seguinte texto.
Que a liberdade ressoe!

Há cem anos, um grande americano, sob cuja sombra


simbólica nos encontramos, assinava a Proclamação da
Emancipação. Esse decreto fundamental foi como um raio de
luz de esperança para milhões de escravos negros que tinham
5 sido marcados a ferro nas chamas de uma vergonhosa injustiça.
Veio como uma aurora feliz para terminar a longa noite do
cativeiro. Mas, cem anos mais tarde, devemos enfrentar a
realidade trágica de que o Negro ainda não é livre.
Cem anos mais tarde, a vida do Negro é ainda lamen-
10 tavelmente dilacerada pelas algemas da segregação e pelas
correntes da discriminação. […]
Por isso, encontramo-nos aqui hoje para dramaticamente mostrarmos esta extraordinária condição.
Num certo sentido, viemos à capital do nosso país para descontar um cheque. Quando os arquitetos da
nossa república escreveram as magníficas palavras da Constituição e da Declaração de independência,
15 estavam a assinar uma promissória de que cada cidadão americano se tornaria herdeiro.
Este documento era uma promessa de que todos os homens veriam garantidos os direitos
inalienáveis à vida, à liberdade e à procura da felicidade. É óbvio que a América ainda hoje não pagou
tal promissória no que concerne aos seus cidadãos de cor. […]
Por isso viemos aqui cobrar este cheque – um cheque que nos dará quando o recebermos as
20 riquezas da liberdade e a segurança da justiça. Também viemos a este lugar sagrado para lembrar à
América da clara urgência do agora. Não é o momento de se dedicar à luxúria do adiamento, nem para
se tomar a pílula tranquilizante do gradualismo. Agora é tempo de tornar reais as promessas da
Democracia. Agora é o tempo de sairmos do vale escuro e desolado da segregação para o iluminado
caminho da justiça racial. Agora é tempo de abrir as portas da oportunidade para todos os filhos de
25 Deus. Agora é tempo para retirar o nosso país das areias movediças da injustiça racial para a rocha
sólida da fraternidade. […]
Não haverá tranquilidade nem descanso na América até que o Negro tenha garantido todos os seus
direitos de cidadania. […]
Existe algo, porém, que devo dizer ao meu povo que se encontra no caloroso limiar que conduz ao
30 palácio da justiça. No percurso de ganharmos o nosso legítimo lugar não devemos ser culpados de atos
errados. Não tentemos satisfazer a sede de liberdade bebendo da taça da amargura e do ódio.
Temos de conduzir a nossa luta sempre no nível elevado da dignidade e disciplina. Não devemos
deixar que o nosso protesto realizado de uma forma criativa degenere na violência física. Teremos de
nos erguer uma e outra vez às alturas majestosas para enfrentar a força física com a força da
35 consciência.
Esta maravilhosa nova militância que engolfou a comunidade negra não nos deve levar a desconfiar
de todas as pessoas brancas, pois muitos dos nossos irmãos brancos, como é claro pela sua presença
aqui, hoje, estão conscientes de que os seus destinos estão ligados ao nosso destino, e que a sua
liberdade está intrinsecamente ligada à nossa liberdade. […]
40 Voltem para o Mississipi, voltem para o Alabama, voltem para a Carolina do Sul, voltem para a
Geórgia, voltem para a Luisiana, voltem para os bairros de lata e para os guetos das nossas modernas
cidades, sabendo que, de alguma forma, esta situação pode e será alterada. Não nos embrenhemos no
vale do desespero.
Digo-lhes, hoje, meus amigos, que apesar das dificuldades e frustrações do momento, ainda tenho
45 um sonho. É um sonho profundamente enraizado no sonho americano.
Tenho um sonho que um dia esta nação levantar-se-á e viverá o verdadeiro significado da sua
crença: «Consideramos estas verdades como evidentes por si mesmas, que todos os homens são
criados iguais.» […]
Discurso de Martin Luther King, Jr., em Washington, D.C., após a Marcha para Washington, 28/08/1963
(disponível em www.arqnet.pt, consultado em janeiro de 2016).

1. A partir dos dois primeiros parágrafos do texto, identifica a tese inicial que esteve na origem da
Marcha para Washington, em 1963.

2. Identifica o local onde foi feito este discurso e explicita a simbologia inerente a essa escolha.

3. Explicita as exigências que o orador apontou e comenta a expressividade da linguagem com que
o fez.

4. Refere a intenção do orador ao colocar-se ao nível dos seus «irmãos brancos».

5. Explicita como o apelo feito pelo orador, na parte final deste excerto, deixa subjacente uma
mensagem de esperança, ao mesmo tempo que confirma a tese inicial.

6. Procura identificar a origem da citação com que termina este excerto e relaciona-a com o
objetivo da Proclamação da Emancipação, referida na abertura do discurso.

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