Livro MARCO REGULATORIO EM CIENCIA TECNOLOGIA E INOVACAO
Livro MARCO REGULATORIO EM CIENCIA TECNOLOGIA E INOVACAO
Livro MARCO REGULATORIO EM CIENCIA TECNOLOGIA E INOVACAO
Tecnologia e Inovação
Texto e contexto da Lei nº 13.243/2016
FABIANA DE MENEZES SOARES
ESTHER KÜLKAMP EYNG PRETE
(Organizadoras)
Belo Horizonte
2018
CONSELHO EDITORIAL
Álvaro Ricardo de Souza Cruz Jorge Bacelar Gouveia – Portugal
André Cordeiro Leal Jorge M. Lasmar
André Lipp Pinto Basto Lupi Jose Antonio Moreno Molina – Espanha
Antônio Márcio da Cunha Guimarães José Luiz Quadros de Magalhães
Bernardo G. B. Nogueira Kiwonghi Bizawu
Carlos Augusto Canedo G. da Silva Leandro Eustáquio de Matos Monteiro
Carlos Bruno Ferreira da Silva Luciano Stoller de Faria
Carlos Henrique Soares Luiz Henrique Sormani Barbugiani
Claudia Rosane Roesler Luiz Manoel Gomes Júnior
Clèmerson Merlin Clève Luiz Moreira
David França Ribeiro de Carvalho Márcio Luís de Oliveira
Dhenis Cruz Madeira Maria de Fátima Freire Sá
Dircêo Torrecillas Ramos Mário Lúcio Quintão Soares
Emerson Garcia Martonio Mont’Alverne Barreto Lima
Felipe Chiarello de Souza Pinto Nelson Rosenvald
Florisbal de Souza Del’Olmo Renato Caram
Frederico Barbosa Gomes Roberto Correia da Silva Gomes Caldas
Gilberto Bercovici Rodolfo Viana Pereira
Gregório Assagra de Almeida Rodrigo Almeida Magalhães
Gustavo Corgosinho Rogério Filippetto de Oliveira
Gustavo Silveira Siqueira Rubens Beçak
Jamile Bergamaschine Mata Diz Vladmir Oliveira da Silveira
Janaína Rigo Santin Wagner Menezes
Jean Carlos Fernandes William Eduardo Freire
É proibida a reprodução total ou parcial desta obra, por qualquer meio eletrônico,
inclusive por processos reprográficos, sem autorização expressa da editora.
Impresso no Brasil | Printed in Brazil
ISBN: 978-85-8238-472-5
ISBN: 978-85-8238-473-2 (E-book)
CDU – 65(81)
CDD(23.ed.)–658.4062
Matriz Filial
Av. Nossa Senhora do Carmo, 1650/loja 29 - Bairro Sion Rua Senador Feijó, 154/cj 64 – Bairro Sé
Belo Horizonte/MG - CEP 30330-000 São Paulo/SP - CEP 01006-000
Tel: (31) 3031-2330 Tel: (11) 3105-6370
www.arraeseditores.com.br
[email protected]
Belo Horizonte
2018
Autores
CYNTHIA MENDONÇA BARBOSA
Especialista em Propriedade Intelectual pela UNICAMP, executa suas ativi-
dades na Comissão Processante Permanente e no Departamento de Proteção
Intelectual e Transferência de Tecnologia da Fundação de Amparo à Pesquisa
do Estado de Minas Gerais.
V
ESTHER KÜLKAMP EYNG PRETE
Advogada, Mestre em Ciência da Legislação pela Universidade Federal de Mi-
nas Gerais e, no presente, Doutoranda em Filosofia do Direito no curso de
Pós-Graduação na Universidade Federal de Minas Gerais.
FERNANDO PEREGRINO
Engenheiro, Mestre e Doutor em Engenharia de Produção pela COPPE/UFRJ,
ex-secretário de estado de ciência, tecnologia e inovação do estado do Rio de
Janeiro, ex-presidente da FAPERJ, Diretor de Orçamento e Controle da COP-
PE/UFRJ, Diretor Executivo da COPPETEC e atual presidente do CONFIES
– Conselho Nacional das Fundações de Apoio às Instituições de Ensino Supe-
rior e de Pesquisa Científica e Tecnológica.
VII
Sumário
APRESENTAÇÃO................................................................................................... XIII
Capítulo 1
QUESTÕES SOBRE A BUROCRACIA E AS SOCIEDADES
INDUSTRIAIS E DO CONHECIMENTO
Fernando Peregrino................................................................................................ 1
Capítulo 2
O QUE É “INOVAÇÃO”, SEUS TIPOS, E COMO TAL FENÔMENO
RELACIONA-SE COM UMA FORTE ESTRUTURA INSTITUCIONAL
PARA O DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO
Adriana Ferreira de Faria.................................................................................... 20
Capítulo 4
O PAPEL DAS FUNDAÇÕES DE APOIO NA GESTÃO DE PROJETOS
PARA O DESENVOLVIMENTO DAS ATIVIDADES DOS INSTITUTOS
DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA (ICTS)
Alfredo Gontijo de Oliveira; Leandro Pinheiro Cintra.................................. 54
Capítulo 5
O PROTAGONISMO DAS FUNDAÇÕES DE APOIO NA
CADEIA DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO E
SEUS DESAFIOS PARA UMA REGULAMENTAÇÃO
JURÍDICA ADEQUADA
Tahiane Sales de Araújo....................................................................................... 67
5.1. Introdução.......................................................................................................... 67
5.2. Peculiaridades da natureza jurídica das Fundações de Apoio.................. 68
5.3. Dilemas jurídicos enfrentados para a regulamentação e definição
da natureza jurídica das Fundações de Apoio............................................. 69
5.4. As Fundações de Apoio perante as alterações trazidas pela Lei
nº 13.243/2016................................................................................................... 71
5.5. Reflexões finais: como avançar com a profissionalização da gestão
administrativa da Inovação no setor público.............................................. 76
5.6. Referências.......................................................................................................... 77
IX
Capítulo 6
A RELAÇÃO ENTRE EMPRESAS E INSTITUIÇÕES DE ENSINO E
PESQUISA E SEU PAPEL NO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
Cynthia Mendonça Barbosa; Gustavo Costa de Souza.................................. 79
6.1. Introdução.......................................................................................................... 79
6.2. Discussão Teórica: da perspectiva “linear” aos “modelos interativos”... 80
6.3. A relação entre Empresas e Instituições de Ensino e Pesquisa e a
segunda revolução acadêmica.......................................................................... 83
6.4. Construção de mecanismos de interação no Brasil: o ambiente
regulatório brasileiro......................................................................................... 89
6.5. Considerações Finais........................................................................................ 90
6.6. Referências.......................................................................................................... 91
Capítulo 7
CONSIDERAÇÕES PARA UMA ABORDAGEM SISTEMÁTICA
DA EMENDA CONSTITUCIONAL 85 DE 2015
Esther Külkamp Eyng Prete.................................................................................. 93
7.1 Introdução........................................................................................................... 93
7.2. Razões histórico-circunstanciais da Emenda 85/15: Emergência da
economia da era do conhecimento................................................................ 95
7.3. O histórico da Emenda 85/15........................................................................ 97
7.4. Principais eixos da Emenda 85/15................................................................. 100
7.4.1 Adoção da Ciência, Tecnologia e Inovação como política
de Estado............................................................................................................. 100
7.4.1.1. Adoção do termo “Inovação” em conjunto com Ciência e
Tecnologia: o papel do empreendedorismo privado.................................. 101
7.4.2. Adoção da teoria da tríplice hélice...................................................... 104
7.4.3. Desconcentração e descentralização de poderes para fins da
densificação regulamentar local e regional do sistema de C,T&I:
capilarização, flexibilização e adequação local............................................ 108
7.5. A articulação ampla do sistema de C,T&I com diversas searas
estratégicas da ordem social e econômica..................................................... 109
7.6. Considerações finais: refletindo sobre riscos potenciais sob uma
perspectiva histórica de longo prazo............................................................. 111
7.7. Referências.......................................................................................................... 114
Capítulo 8
OS PRINCÍPIOS DO NOVO MARCO REGULATÓRIO DE CIÊNCIA,
TECNOLOGIA E INOVAÇÃO
Paula Carolina de Oliveira Azevedo da Mata;
Marisa Neves Magalhães Cordeiro.................................................................... 116
X
8.1. Introdução.......................................................................................................... 116
8.2. Desenvolvimento econômico e social: inciso I........................................... 118
8.3. Redução das desigualdades: incisos III e IX................................................. 121
8.4. Cooperação entre os entes públicos e a iniciativa privada:
incisos V e VI...................................................................................................... 123
8.5. Incentivos à iniciativa empreendedora e à competitividade:
incisos VII, VIII, XI, XIII e XIV...................................................................... 124
8.6. Simplificação dos procedimentos e gestão dos projetos:
incisos II, IV, X e XII........................................................................................ 127
8.7. Considerações Finais........................................................................................ 130
8.8. Referências.......................................................................................................... 131
Capítulo 9
OS INSTRUMENTOS DE ESTÍMULO À INOVAÇÃO NAS
EMPRESAS TRAZIDOS PELA LEI Nº 13.243/2016 E SEU
COMPARATIVO COM A LEI MINEIRA
Matheus Vinícius Lage Sales; Gustavo Lemes de Queiroz............................ 133
Capítulo 10
ARCABOUÇOS LEGAIS EM CIÊNCIA, TECNOLOGIA E
INOVAÇÃO DE ECOSSISTEMAS MADUROS: PARADIGMAS
E SUBSÍDIOS PARA A LEGISLAÇÃO MINEIRA
Caroline Stéphanie Francis dos Santos Maciel;
Ana Beatriz Rezende Rosa.................................................................................... 156
XI
10.1. Introdução........................................................................................................ 156
10.2. O sistema legal de estímulo à inovação, à competitividade e à
excelência em tecnologia e ciência dos Estados Unidos e suas
contribuições..................................................................................................... 158
10.3. A base legal de ciência e tecnologia japonesa: elementos e paradigmas.... 165
10.4. Apontamentos finais: quais as lições dos países líderes mundiais
em tecnologia para o Brasil?.......................................................................... 170
10.5. Referências....................................................................................................... 171
Capítulo 11
O MARCO DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO: PRÁTICAS
DA GESTÃO PÚBLICA NOS PROCESSOS LICITATÓRIOS
Fabiana de Menezes Soares; Pedro Augusto Costa Gontijo......................... 174
XII
Apresentação
XIII
municação e da oferta de informação. Foram oportunizadas novas formas de
trocas informacionais técnicas e científicas cujos desdobramentos são revertidos
e corporificados em novos produtos e serviços. Por tudo isso, a economia tem
visto surgir uma nova modalidade estrutural de criação de negócios e rendas.
A economia surgida a partir dessas bases é chamada de “economia da era do
conhecimento”. Diante desse contexto, o papel da ciência e do desenvolvimento
tecnológico ganham um novo realce por despontarem como instrumentos para
a alavancagem de novas fontes de renda, auxiliando os países a se posicionarem
estrategicamente no novo cenário econômico, social e até geopolítico.
Todavia, posicionar-se nesse novo cenário não é fácil. Esse papel ainda mais
exigente da Ciência, que passa de apenas criadora de conhecimento para também
o de fomentadora da economia, requer que cientistas (normalmente oriundos de
entidades públicas) e empresários consigam aliarem-se para objetivos comuns.
O Estado tem se colocado como ponte mediadora entre esses dois mun-
dos, o que demanda mais investimentos públicos e privados; mas, sobretu-
do, demanda uma legislação mais adequada à dinamicidade típica do setor
produtivo e o do desenvolvimento tecnológico e científico. Ocorre, assim, o
encontro entre duas dinâmicas operacionais totalmente estranhas, mas que
agora desejam darem-se as mãos: entre a lógica formal hierárquica e burocrática
do Estado e a da flexibilidade relativamente informal da economia de alta tecnologia.
Diante desse quadro no qual um conjunto articulado de ações pode pro-
duzir uma melhoria no modelo de gestão da elaboração legislativa adequada
à nossa realidade, capaz de articular e harmonizar políticas públicas e atos
normativos, a discussão sobre os limites e possibilidades da racionalização da
produção normativa assume singular importância.
A Legística (MORAND, 1999) enquanto metodologia de elaboração e
jusficativa do impulso para legislar, ou mesmo a Ciência da Legislação (MA-
DER, 1985), Legisprudência (WINTGENS, 2003) a partir da obra emblemática
de Peter NOLL (1973) foi a senda teórico-aplicada escolhida para reconstruir
o cenário do sistema normativo em ciência, tecnologia e inovação e orientar
a elaboração de uma proposta legislativa através do Projeto “Política para
Boa Legislação e Regulação em Ciência e Tecnologia: Avaliação Legislativa do
Código de Ciência e Tecnologia – Inovação em processos e produtos para a melho-
ria da gestão pública no fomento à pesquisa científica e inovação tecnológica em Minas
Gerais” financiado pela Fapemig, que contou com uma equipe de graduandos
e pós-graduandos da Faculdade de Direito da UFMG.
O quadro ex ante da EC/85 evidenciava que um conjunto de políticas
públicas e arcabouço legal existentes era insuficiente para estimular o desenvolvi-
mento tecnológico e científico nacional, sendo que a legislação até então vigente
acabava por configurar como um entrave a sua efetivação. Os problemas de gestão
XIV
de elaboração legislativa acima relatados se mostravam fortemente presentes na
regulamentação em ciência e tecnologia, constatando-se falta de coerência e unida-
de sistêmica, fragmentação e existência de antinomias; em resumo, a ausência de
um marco legislativo-regulatório coeso em ciência, tecnologia e inovação.
Diante desse quadro, foi proposta e aprovada a Emenda constitucional
nº 85/2015 e a Lei 13.243/2016, que dispõe sobre mecanismos de estímulo ao
desenvolvimento científico, à pesquisa, à capacitação científica e tecnológica
e à inovação.
As alterações constitucionais visaram, em resumo, estimular a inovação
e desenvolvimento científico e tecnológico mediante a atuação coordenada de
entes das três esferas de governo (art. 218, § 6º), a criação e manutenção de
ambientes promotores de inovação, como parques tecnológicos (art. 219, pará-
grafo único) e a simplificação da burocracia de remanejamento e transferência
de recursos, que passa a se dar por decreto do Executivo, dispensando-se
autorização legislativa (art. 167, § 5º).
Todas essas modificações buscam criar um ambiente favorável à inovação
e à pesquisa científica. Além disso, a EC 85/16 estabeleceu deveres estatais de
propulsão das ciências, tecnologia, pesquisa e inovação (art. 218), fixando-se
competência legislativa concorrente entre União e Estados (art. 24, IX), de tal
forma que leis estaduais prévias à Lei 13.243/16 não poderão conflitar com o seus
ditames, o que implicará na necessidade de elaboração de nova lei em diversos esta-
dos, como Minas Gerais (razão pela qual o presente projeto tem como um de seus
produtos a proposição de projeto legislativo sobre o tema no âmbito estadual).
O Novo marco Regulatório da Ciência, Tecnologia e Inovação (Lei 13.243
de 2016) e a emenda Constitucional 85 de 2015 alteraram profundamente a
regulamentação pertinente à política nacional de ciência, tecnologia e inovação.
As mudanças constituíram o resultado da crescente conscientização da classe
política – graças à articulação da comunidade científica brasileira junto ao Con-
gresso Nacional4 – da necessidade de adequar a Constituição Brasileira e a legis-
lação pertinente ao novo contexto da já aludida economia da era do conhecimento.
Todavia, o novo Marco Regulatório, para atingir todos seus efeitos e se
tornar efetivamente a nova vivência quotidiana dos atores que operacionali-
zam o Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (SNCTI), necessita
ser regulamentado também no nível estadual e municipal, o que coloca diante
dos gestores e legisladores desses entes políticos federados o desafio de, para
bem regulamentar a norma nacional e refletir nos procedimentos quotidianos
os princípios que a animam, aqueles compreenderem a complexidade do fenô-
meno que provocou a emenda constitucional 85 de 2015 e a Lei 13.243.
4
NADER, Helena B. e et al. (organizadores). A Ciência e o Poder Legislativo no Brasil – relatos e
experiências. Sociedade Brasileira para o Progresso das Ciências, 2017.
XV
Além do fato de ser necessário o legislador pátrio compreender fenômeno
de ordem internacional para bem regulamentar no nível local e regional o Novo
Marco, existe uma tônica ligada à realidade brasileira que perpassou e ainda
perpassa toda a discussão tocante à atualização da legislação do sistema nacional
de C,T&I: a questão da burocracia e como ela historicamente vem atravancando
o desenvolvimento do trabalho desenvolvido pelos cientistas brasileiros – ao
ponto de criar situações dramáticas – e também dificultando as potenciais par-
cerias entre pesquisadores e ICTs com o setor privado para o aproveitamento
econômico do resultado das pesquisas – quando as primeiras conseguem chegar
a seu termo, a despeito das barreiras impostas pela burocratização.
Por isso, a presente obra é destinada primeiramente àqueles que possuem
a incumbência de aviarem, local e regionalmente, as diretrizes da normativa
nacional da Lei 13.243 de 2016: legisladores, gestores, técnicos tanto do Legis-
lativo quanto do Executivo, com especial atenção às necessidades da realidade
de Minas Gerais. Secundariamente, a presente obra pode ser também aprovei-
tada pelos operadores do Judiciário, quando confrontados com conflitos deri-
vados na legislação de C,T&I, especialmente dada a inexistência de tratamento
doutrinário jurídico a alguns dos temas aqui trazidos.
Tendo em vista esse novo arcabouço legal em C,T&I na esfera federal, o Es-
tado de Minas Gerais deverá elaborar nova lei em consonância com os ditames
da Lei 13.243/16, bem como produzir decreto que a regulamente, além de disci-
plinar a maior efetividade do Fundo de Inovação Tecnológica – FITT alinhado
ao novo arcabouço desenhado pela recente normativa. Todavia, os problemas de
gestão de elaboração legislativa brasileiros continuam se repetindo mesmo com
a construção de novos arcabouços legais, tanto no âmago federal como estadual
e, com isso, continua-se o ciclo vicioso de produção de leis de má qualidade
que acabam por se configurar como entraves ao desenvolvimento científico e
tecnológico nacional e estadual (ao invés de funcionarem como estímulo), tra-
zendo também problemas de efetivação de direitos fundamentais.
No percurso de investigação do projeto, há uma das etapas iniciais ao
lado do mapeamento normativo federal e nacional, bem como do estadual,
ambos necessários à reconstrução do cenário de incidência da futura propo-
sição normativa. Todavia, somente a reconstrução do cenário normativo sem
considerar a rede dos afetados não seria o suficiente para compor o mosaico
da C,T&I no Estado de Minas Gerais: seria necessário documentar a interação
entre os diversos atores do sistema.
Em parceria com a Comissão de Desenvolvimento Econômico da ALMG,
foi realizado do Debate Público sobre o Marco Regulatório em C,T&I5, quando
5
Debate Público sobre os impactos do Código de C,T&I ocorrido em 07 de outubro de 2016. Disponível
em: <https://www.ufmg.br/online/arquivos/045519.shtml>. Acesso em: 06/06/2018.
XVI
o desenho das interações entre os mais diversos atores e suas demandas pude-
ram ser documentadas, além de inspirarem conexões que se fizeram presentes
nessa coletânea. Vale ressaltar que a presente coletânea é parte das publicações
realizadas pelo Observatório para qualidade da lei.6
Em razão do público-alvo escolhido, a obra visa fornecer informações
introdutórias sobre o fenômeno da convergência da ciência, tecnologia e ino-
vação, ao mesmo tempo articulando-o com o papel da legislação para o aten-
dimento das necessidades de algumas das Instituições que operam o sistema
nacional de C,T&I. Sob essa base introdutória, visamos apresentar uma abor-
dagem jurídica – em muitos pontos inédita – sobre alguns dos pontos mais
relevantes da nova normativa de C,T&I, tendo em vista fornecer subsídios à
tarefa de regulamentação estadual e municipal da lei 13.243.
O atendimento aos objetivos do Projeto repercutiu na temática objeto da
realização da presente coletânea, sobretudo: monitoramento das modificações
legislativas no sistema normativo de Ciência, Tecnologia, Pesquisa e Inovação
que ocorrerem no decorrer do projeto; interação e ampliação dos interlocuto-
res que discutem a melhoria na qualidade, eficácia e eficiência da legislação e
regulação em C,T&I no Estado de Minas Gerais; e discussão destinada a emba-
sarem modelo de gestão de projetos legislativos e regulatórios, de consolidação,
de definição de tipologia e de saneamento do ordenamento jurídico estadual.
A obra é assim dividida em duas partes: a primeira apresenta capítulos pro-
duzidos por professores, pesquisadores e gestores que vivem a realidade quotidiana
da ciência, tecnologia e inovação. Essa primeira parte visou atingir os objetivos
de apresentar uma introdução sobre assuntos pertinentes ao complexo fenômeno
cuja Lei 13.243 trata, com o fito de trazer elementos que retratem a vivência e as
dificuldades práticas vivenciadas pelos operadores do sistema de C,T&I.
A segunda parte traz o tratamento jurídico do novo marco regulatório de
C,T&I, sem descurar de sua conexão com o fenômeno econômico-social subja-
cente e de trazer elementos que auxiliem para a formulação da regulamentação
mineira de C,T&I. Os capítulos dessa segunda parte foram produzidos por
um grupo de pesquisa formado por graduandos e pós-graduandos vinculados
ao Observatório para a Qualidade da Lei da Universidade Federal de Minas
Gerais, sob a coordenação da Profa. Fabiana de Menezes Soares.
O capítulo estreante coloca sob análise a questão da burocratização da ad-
ministração pública frente às exigências de flexibilidade na gestão de programas
e projetos de pesquisa científica e tecnológica, no contexto de uma sociedade do
conhecimento que demanda a interação entre governo, instituições de pesquisa
e empresas com vistas ao melhor posicionamento do País em inovação.
6
No site, parte da produção bibliográfica: <https://www.observalei.net.br/ambitos-do-observatorio/>.
Acesso em: 06/06/2018.
XVII
O capítulo não deixa de frisar como esse problema atualíssimo de choque
entre a lógica organizacional burocrático-estatal e a dinamicidade do desenvol-
vimento tecnológico tem raízes profundas nos conceitos e teorias desenvolvi-
das historicamente para o modelo de Estado tecnocrático. Por fim, enriquece
a discussão ao trazer fatos que exemplificam a situação premente de dege-
nerescência do controle burocrático em obstáculos ao desenvolvimento dos
trabalhos dos pesquisadores brasileiros.
O segundo capítulo visa apresentar ao leitor um dos principais eixos
que diferenciam o fenômeno científico-tecnológico-econômico atual de outras
etapas econômicas: a inovação. A inovação tecnológica sempre acompanhou a
história da Humanidade, todavia o termo “inovação” tratado pela Lei 13.243
possui o sentido preciso dado pelas especificidades que o fenômeno ganhou
por ser agora resultado da institucionalização governamental tanto do desen-
volvimento científico quanto do fomento também estatal do aproveitamento
econômico obtido pelas pesquisas científico-tecnológicas.
Os terceiro, quarto e quinto capítulos tratam cada um da importância
de dois importantes atores institucionais para a operacionalização do sistema
nacional de C,T&I: os Núcleos de Inovação Tecnológicas e as Fundações de
Apoio. O terceiro capítulo trata dos Núcleos de Inovação Tecnológica e como
esses se colocam na interface entre Academia e setor privado, de forma que sua
atuação reflete na gestão da Política de Inovação.
As Fundações de Apoio, tratadas no quarto e quinto capítulos, ressaltam o
papel essencial, como seu próprio nome sugere, em apoiar o desenvolvimento
dos projetos de pesquisa científica desenvolvidos por pesquisadores públicos. É
justamente na relação entre as Fundações de Apoio e as Instituições Científica,
Tecnológica e de Inovação (ICTs) que o gargalo da burocracia fica mais evidente.
Essa primeira parte da obra é finalizada com o capítulo sexto que foca-
liza agora a relação entre empresas e Instituições de Pesquisa e Ensino sob
o ponto de vista da relevância econômica, demonstrando como ela é estra-
tégica para o desenvolvimento econômico-social no novo contexto de uma
sociedade do conhecimento.
A segunda parte da obra, de cunho eminentemente jurídico, inicia-se com
um estudo da Emenda constitucional 85 de 2015, que visou colocar em evidência
não apenas um rol descritivo das inovações trazidas por ela, mas fornecer alguns
parâmetros que parecem relevantes para dar sistematicidade e inteligibilidade à sua
compreensão ao sublinhar o fenômeno econômico-social subjacente e como ele se
reflete no texto da emenda constitucional, de forma a poder abstrair do texto os ei-
xos mestres que dão inteligibilidade à Emenda 85/15. Dessa forma, acredita-se que,
ao auxiliar o legislador mineiro em compreender a “essência” da aludida emenda,
seja mais fácil a ele corporificar seus princípios na normativa regional e local.
XVIII
Respeitando o escalonamento jurídico de partir da Constituição e dos
princípios para descermos às minúcias do sistema jurídico, o capítulo oitavo
inicia o rol de capítulos que tratam do novo marco Regulatório da C,T&I
tratando dos princípios elencados pela Lei 13.243. Esse estudo se justifica prin-
cipalmente diante da necessidade de regulamentação em sede regional e local,
pois serão os princípios os guias a darem coesão e aderência entre a norma
nacional e as normas dos demais entes federados.
O capítulo nono traz um estudo que enfrentou a difícil tarefa de “des-
trinchar” os instrumentos de estímulo à inovação nas empresas trazidos pela
Lei 13.243/2016, ao mesmo tempo em que sublinhou pontos convergentes e
divergentes com a lei mineira já existente.
Tendo em vista que o fenômeno da inovação tecnológica patrocinada
pelo Estado é de ordem internacional e que outros países já enfrentaram pre-
viamente o desafio de desenvolverem marcos legais que dessem conta dessa
realidade, o capítulo décimo traz um resumo dos arcabouços legais estran-
geiros maduros analisados pelos membros do Grupo de Pesquisa do Obser-
vatório para a Qualidade da Lei que forneceram subsídios para antever uma
regulamentação mineira adequada e eficiente.
O último capítulo da presente obra nos presenteia com o tratamento de
um tema espinhoso e ainda a ser totalmente sanado sob a égide da Lei 13.243:
os processos licitatórios tocantes aos projetos de C,T&I. Sendo essa historica-
mente a principal fonte de gargalos ao desenvolvimento das pesquisas científi-
cas, justifica-se seu estudo aprofundado e contextualizado. O capítulo aborda
as inovações trazidas à matéria pela Lei 13.243, o Projeto de Lei 6.814/2017 e
os possíveis impactos nos procedimentos licitatórios afetos à ciência, tecno-
logia e inovação, e, por fim, aponta caminhos para continuar o processo de
aperfeiçoamento desse mecanismo tão sensível e estratégico.
O assunto da ciência, tecnologia e inovação é inesgotável, mesmo quando
restringimos sua abordagem apenas ao aspecto jurídico. Mesmo cientes disso,
esperamos que o presente trabalho forneça elementos para pensarmos uma
regulamentação de C,T&I adequada ao Estado de Minas Gerais.
XIX
Capítulo 1
Questões sobre a Burocracia e as Sociedades
Industriais e do Conhecimento
Fernando Peregrino
1.1. INTRODUÇÃO
1
FAORO, R. Os Donos do Poder, Ed. Globo,1959, pag. 392.
2 Fabiana de Menezes Soares / Esther Külkamp Eyng Prete (Orgs.)
1.2. O PROBLEMA
2
ECO, Umberto. Como se faz uma tese. Editora Perspectiva, 2007.
Marco Regulatório em Ciência, Tecnologia e Inovação 3
completa quando se sabe que um cientista não consegue descrever o produto
final de seu plano de pesquisa, diferente de, por exemplo, um construtor
que define de antemão uma casa que vai edificar. Enquanto esse último sabe
quantos quartos haverá, como serão as medidas dos alicerces e qual a aparên-
cia que dará aos cômodos projetados, o pesquisador define superficialmente
o objetivo do plano, porque ele não saberá pormenorizá-lo. Afinal, ele quer
resolver um problema, de onde partirá, construindo e testando hipóteses até
colher evidências que lhe deixe concluir algo, uma tese, seja experimental-
mente em laboratórios ou no campo3.
Enquanto forma de organização, a burocracia espelha o modelo de
funcionamento da sociedade industrial, hierarquizada e padronizada, en-
quanto que a gestão da pesquisa requer flexibilidade de gestão para dar
conta de seus objetivos de buscar o desconhecido e transformá-lo em novo
bem ou serviço.
Historicamente, o Estado Moderno é definido como forma de organiza-
ção jurídico-político de poder caracterizado pela centralização em contraposi-
ção à fragmentação observada no sistema feudal. Ele surgiu na Europa a partir
do século XIII passando por várias fases. Suas características básicas eram: um
exército, uma administração unificada e um sistema burocrático. Quando o
regime é republicano, a fonte de poder é a lei e o aparelho administrativo do
poder que faz cumprir a lei é a burocracia4.
Porém, após a grande depressão de 1929, emergiram com força várias teo-
rias sobre as organizações, entre elas a chamada “teoria das relações humanas”,
que tinha como premissa o ser humano e seus comportamentos diferenciados.
O médico australiano, Elton Mayo, um dos seus autores, demonstrou, por
exemplo, como a iluminação influenciava a produtividade do trabalhador em
uma indústria. Tal experiência, chamada de “Experiencia de Hawthorne” (Chica-
go), produziu várias conclusões, como: a importância da integração social dos
trabalhadores entre si; novas recompensas não materiais; fatores psicológicos
na produtividade; e intercâmbio na troca de cargos para evitar monotonia. Por
essa teoria, o trabalhador não tem comportamento mecanicamente definido,
pois possui demandas não materiais, como, por exemplo, a necessidade de
atender a valores, ao prestígio social e de sentir realização.
É a partir da teoria liderada por Elton Mayo que vem o pensamento
que problematiza a formação do poder dentro das organizações: “... todo in-
dividuo age de maneira calculada a fim de assegurar sua preservação e seus
próprios interesses”5.
3
ECO, op. cit, 2007.
4
BOBBIO, N. et alii, Dicionário de Política, UnB, 2009.
5
BERTERO, C. Algumas observações sobre a obra de G. Elton Mayo,1968.
4 Fabiana de Menezes Soares / Esther Külkamp Eyng Prete (Orgs.)
1.3. BUROCRATIZAÇÃO
6
Disponível em: <https://www.globalinnovationindex.org/gii-2017-report>.
7
BOBBIO, op. cit., 2009.
8
BOBBIO, op. cit., 2009.
6 Fabiana de Menezes Soares / Esther Külkamp Eyng Prete (Orgs.)
9
DUBEAUX, R. Inovação no Brasil e na Coréia do Sul, Ed. Juruá, 2010.
10
Disponível em: <http://portugues.doingbusiness.org/rankings>.
11
BOBBIO, op. cit., 2009.
12
FAORO, R. Os Donos do Poder. Editora Globo, 1959, pag. 392.
Marco Regulatório em Ciência, Tecnologia e Inovação 7
No Brasil, um exemplo é o PNDAE – Plano Diretor da Reforma do
Aparelho do Estado (1995) de autoria de Bresser Pereira. Suas tentativas de
dar maior flexibilidade à administração pública, criando as chamadas “Orga-
nizações Sociais”, não deram o resultado esperado, pois a própria burocracia
instalada repeliu sua implantação, submetendo-as ao sistema de controle bu-
rocrático, à revelia da existência do contrato de gestão, mecanismo central que
trocava resultados pactuados por recursos financeiros, com a contrapartida de
flexibilidade e autonomia de gestão à organização.
Porém, do ponto de vista da legislação constitucional, a Reforma Bresser
Pereira logrou a inclusão da palavra “eficiência” no artigo 37 da Constituição
Federal entre os princípios que devem reger a administração pública. Infeliz-
mente, esse princípio não norteou as ações de controle que emanaram desse
período, pois, desse período até os dias atuais, os sistemas de controle se ex-
pandiram a uma hipertrofia e a ineficiência.
13
TAYLOR, F. The Principle of Scientific Management, USA, 2011.
8 Fabiana de Menezes Soares / Esther Külkamp Eyng Prete (Orgs.)
14
RODRIGUEZ Y RODRIGUEZ, M. Organizações que aprendem, Editora Quality Mark, 2002.
15
BRESSER PEREIRA, L.C. Reforma do Estado Brasileiro para a cidadania, Ed. ENAP, 2002.
Marco Regulatório em Ciência, Tecnologia e Inovação 9
lares, a de grandes indústrias, incluindo o funcionamento das universidades,
o que reforça que tais princípios tenham influenciado o controle burocrático
dos órgãos do Estado sobre as atividades de pesquisa científica e tecnológica.
Ao invés de flexibilizar as atividades, criando legislação favorável ao
mundo contemporâneo e ao processo criativo de busca do novo, manteve-se
as práticas antigas que são incompatíveis com o mundo em acelerado processo
de mudanças.
Em conclusão, embora distintos, os conceitos de burocracia e burocrati-
zação se misturam quando se observa na realidade.
16
TAYLOR,F. op. cit.,1911.
17
PEREGRINO, F.; GOTIJO, A. A burocracia na pesquisa, CONFIES, 2016.
10 Fabiana de Menezes Soares / Esther Külkamp Eyng Prete (Orgs.)
Embora o controle do qual falava Henry Fayol seja exercido por orga-
nismos especializados, a função como tal está presente em todos os níveis e
estruturas da administração pública19. Mas, focando apenas nos organismos
especializados, podemos observar uma proliferação deles na administração pú-
blica assim como superposição de funções, o que parece conduzir a gestão pú-
blica à burocratização, sobre a qual nos fala Noberto Bobbio. De uma maneira
geral, os órgãos do Estado Brasileiro que tratam do controle e fiscalização do
emprego dos recursos públicos federais, são:
18
ECO, U. op. cit., 1977.
19
SOUZA, Aguiar. op. cit., 2011.
20
Disponível em: <www.tcu.gov.br>.
Marco Regulatório em Ciência, Tecnologia e Inovação 11
prevenção e combate à corrupção e ouvidoria. A CGU foi criada pela Lei
10.683 de 28 de março de 2003. Sua abrangência é, portanto, similar à do
TCU, porém restrita aos órgãos do poder executivo e aos entes privados
que gerem recursos sob contratos ou convênios com recursos públicos.
Possui uma unidade regional por estado e no distrito federal21.
3. Ministério Público Federal que tem como missão a promoção e a rea-
lização da Justiça, o bem da sociedade e a defesa do estado democrático
de direito. Sua lei é Lei Complementar 75 de 1993. Atua como fiscal da
lei, como também atua nas áreas cível, criminal e eleitoral, junto aos
tribunais superiores, e promove acordos por meio de Termos de Ajuste
de Condutas (TAC). Possui unidades descentralizadas nos estados e no
distrito federal22.
4. Advocacia Geral da União – AGU exerce a representação da União,
direta ou indiretamente por seus órgãos vinculados, judicial ou extraju-
dicialmente, através de consultorias e assessoramento jurídico do Poder
Executivo, nos termos do artigo 131 da Constituição Federal. Assistindo
as autarquias e as fundações públicas e seus dirigentes, sobretudo quanto
à implementação das políticas públicas, à viabilização das licitações e
contratos e à proposição de medidas legislativas (Leis, MPs, Decretos e
Resoluções) que demandam o aperfeiçoamento do Estado Brasileiro23.
5. Polícia Federal tem como missão exercer as atribuições da polícia judi-
ciária e administrativa da União a fim de contribuir na manutenção da
lei e da ordem, preservando o estado democrático de direito. Foi criada
em 1944, vinculada ao Ministério da Justiça, e definida no artigo 144,
item I, parágrafo 1º. Como polícia judiciária, sua missão é apurar infra-
ções penais e sua autoria através de investigação policial visando funda-
mentar a pretensão punitiva do Estado originada no Ministério Público
como titular da ação.
6. Ministério Público Estadual (MPE) tem como missão, de acordo com
o artigo 127 da CF, a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e
dos interesses individuais e sociais indisponíveis. Trata-se de uma institui-
ção autônoma e independente, portanto não subordinada a nenhum dos
poderes e com isso tem garantido condições de fiscalizar o cumprimento
da lei. Estão presentes em cada um dos estados e no distrito federal.
7. Auditorias Internas dos órgãos e autarquias têm como missão exercer o pa-
pel de controle interno dos órgãos da Administração Pública e é integrada ao
Sistema de Controle Interno – SCI, este é definido pelo Decreto 3.591/2000.
21
Disponível em: <www.cgu.gov.br>.
22
Disponível em: <www.mpf.mp.br>.
23
Disponível em: <www.agu.gov.br>.
12 Fabiana de Menezes Soares / Esther Külkamp Eyng Prete (Orgs.)
24
COLEMAN, J. The Foundation of Social Theory, 1980.
25
FUKUYAMA, F. Confiança,1996.
Marco Regulatório em Ciência, Tecnologia e Inovação 13
Outro cientista, Paul Zak26, neurobiologista norte-americano, publicou
um trabalho no qual demonstra que o Brasil, entre mais de 50 nações pesquisa-
das, é a de mais baixa confiança (2%) entre seu povo. Segundo ele, a confiança
(ou a desconfiança) está associada à possibilidade de implantar políticas de
médio e longo prazo, pois é imprescindível para cooperação entre os agentes
a ela ligados, e os países que têm maior índice de confiança possuem maior
tendência a ser ricos. Isso é explicado porque, naquelas nações onde é grande
a confiança entre seu povo, as políticas públicas transformadoras, como, por
exemplo, na educação, se viabilizam pela cooperação possível entre os agentes,
e, naquelas de baixa confiança (caso do Brasil), as políticas são de curto prazo
e portanto incapazes de produzir os efeitos desejados.
O estudo Trust, Institutions and Economic Development (2013) demonstra
que quanto menor a confiança mais burocracia para a abertura de um negócio
em um país, nesse aspecto o Brasil está entre os piores junto com a Uganda,
entre os 73 países pesquisados. Segundo esse estudo, o Brasil está entre os 5
países de menor confiança (6,4%), e a Noruega (68%) está em primeiro lugar,
seguida pela Suécia, Dinamarca, Finlândia, China, Holanda, e outros de maior
desenvolvimento. Aliás, quanto maior a confiança maior facilidade de coope-
ração no interior de uma organização pública ou empresa privada, o que deve
favorecer, segundo o referido trabalho, a geração de inovação. A concentração
das decisões no topo de uma organização implica em baixa confiança, sendo
um fator negativo para o desenvolvimento de inovação.
Além disso, também nessa vasta pesquisa, foi encontrada e demonstrada,
por razões similares, uma correlação entre confiança e produtividade, e entre
confiança, pesquisa e desenvolvimento, em 62 países abrangidos.
No Brasil, para exemplificar as consequências da baixa confiança, entre
2000 e 2010 foram produzidas mais de 75 mil leis, ou 34 leis por dia útil,
quantidade bastante elevada considerando também que não estão computadas
as leis municipais. Tudo indica que esse volume de normas expressa tentativa
de promover coercitivamente a colaboração, que não ocorre espontaneamente
pela ausência de confiança entre agentes públicos e privados.
Por sua vez, o extenso trabalho de Antônio Carlos Almeida, publicado
no livro A Cabeça do Brasileiro27, assinala que a confiança cresce com o grau de
escolaridade de um povo, o que reforça o fato de que a saída também para esse
problema está na ampla escolarização da população.
Podemos concluir até aqui que a burocratização excessiva no Brasil de-
corre do baixo nível da confiança entre os brasileiros e que essa pode ser me-
lhorada, por exemplo, com o aumento do padrão educacional.
26
ZAK, P. The Neurobiology of Trust, 2008.
27
ALMEIDA, Antônio Carlos. A Cabeça do Brasileiro, 2007.
14 Fabiana de Menezes Soares / Esther Külkamp Eyng Prete (Orgs.)
28
DUBEAUX, R. op. cit., 2010.
29
LIPSKY, M. Street-Level Bureaucracy: Dilemmas of the Individual in Public Services, 1980.
Marco Regulatório em Ciência, Tecnologia e Inovação 15
o cidadão, e por isso conhecem melhor a realidade social das demandas por
serviços públicos. São agentes importantes não apenas na formulação, como
também na implementação e controle dos serviços públicos. A exclusão desses
agentes, em benefício dos agentes do topo, ajuda a esterilizar a criatividade e a
eficiência da burocracia pública.
A terceira é a lentidão e atraso nas decisões. Essa patologia deve-se à
proliferação de níveis hierárquicos que participam do processo decisório jus-
tificado como meio de inibir os conflitos de interesses, porém ampliando os
custos financeiros e sociais.
A quarta, finalmente, é uma consequência das anteriores e diz respeito
ao desenvolvimento de relações paralelas de acesso ao poder e aos serviços
públicos. Em linguagem simples, o jeitinho brasileiro parece não ser exclusivo
de nosso povo. Dado à lentidão, ao atraso e à incapacidade de prever todas as
opções para dar conta de uma realidade complexa, a burocracia produz novos
conflitos, descontentamentos e não conformidade, levando o cidadão a buscar
caminhos alternativos de acesso aos serviços. E, então, o Estado amplia suas
políticas de controle.
Para corrigir seus erros, a burocracia reedita novas regras, sem abandonar
as anteriores, ampliando-as mais ainda. Essa excessiva produção de normas
gera um círculo vicioso, pois reproduz a ineficiência.
Para coibir a não conformidade, como os casos de corrupção, são reforça-
das as políticas de controle. No entanto, segundo Anechiarico e Jacobs (1996)
no livro seminal “The Pursuit of the Absolute Integrity ”30, não há prova de que o
grande número de políticas de controle conduzam à eficiência dos governos.
Ao contrário, ao desviarem a atenção dos administradores para o cumpri-
mento de um excessivo número de normas burocráticas e não para os resulta-
dos, perde-se mais eficiência de suas ações. Nesse ambiente, a função de con-
trole cresce requerendo mais ainda múltiplas aprovações dos administradores
visando prevenir fraudes e conflitos de interesse.
A divulgação em forma de escândalos desses desvios tem o dom de le-
gitimar mais ainda e retroalimentar as ações do controle burocrático, estig-
matizando os demais níveis da burocracia pública, disseminando o medo e a
paralisia dos que operam os serviços públicos temerosos por suas reputações.
O círculo vicioso da burocratização que conduz a falhas – e essas levam
a mais controle burocrático – parece ser o destino de governos ineficientes.
Ela ameaça políticas estratégicas como a de promover a inovação tecnológica
através da cooperação entre as universidades e as empresas no Brasil, recém-
-adotada pela Lei 13.243, o chamado “Marco Legal da Inovação”.
30
ANECHIARICO, JACOBS. The Pursuit of Absolute Integrity, How Corruption Control Makes
Government Inneffective. University of Chicago Press, 1996.
16 Fabiana de Menezes Soares / Esther Külkamp Eyng Prete (Orgs.)
1.9. CONCLUSÃO
31
DUBEAUX, R. op. cit., 2010.
Marco Regulatório em Ciência, Tecnologia e Inovação 17
Marco Legal da Inovação (13.243/2016), o governo editou uma minuta com
mais de 100 artigos para seu Decreto de regulamentação, concluindo-se com
82 artigos no Decreto 9.283/2018 graças aos esforços conjuntos do governo
com entidades de representativas da ciência e da inovação.
Não é possível afirmar que se deve ao excesso de burocracia (116ª posição
no mundo) a péssima colocação do Brasil no Índice Global de Inovação que
em 2015 foi o 70º lugar e, em 2016, passou a ser o 69º lugar, mas certamente
podemos supor que contribuiu para esse resultado. Basta verificar o Quadro I
da decomposição do Índice Global de Inovação em que o fator da qualidade
da legislação é um dos que sobressai, sobretudo pelo emaranhado de normas e
procedimentos que dificultam a cooperação entre as instituições de pesquisa,
empresas e órgãos de governo, requisitos para um ambiente de inovação, pos-
sível apenas quando os agentes dessas entidades estabelecerem uma cooperação
ampla. A criatividade e qualidade de nossa pesquisa está amplamente confir-
mada pelo 12º lugar em produção científica.
Porém, o insulamento burocrático e a tentativa de universalização de
procedimentos que hoje é promovida pelos órgãos de controle na elaboração
de normas a serem seguidas por todos estão por trás do engessamento da
máquina pública e delimita sua relação com a sociedade e os agentes da econo-
mia, prejudicando a formação da aliança da instituição de pesquisa-governo-
-empresa e, assim, impedindo o advento da sociedade do conhecimento.
Infelizmente a situação tem piorado. A dinâmica desse indicador do País tem
sido cada vez mais negativa, pois em 2007 estávamos na 40ª posição nesse Índice
de Inovação e sua oscilação recente não o tira da categoria dos países atrasados.
Esse período coincide com a expansão dos órgãos de controle e seus me-
canismos de controle burocrático com o apoio e o uso intensivo da tecnologia
de informação que, ao invés de tornar-se uma ferramenta de maior produtivi-
dade das ações públicas, evidenciou-se como um instrumento para demonstrar
a não conformidade, e segue padrões que refletem normas distantes do objeto
dos projetos a serem controlados.
Em suma, vivemos um momento de fortes transformações em que a so-
ciedade se torna cada vez mais familiarizada com a liberdade estruturadora e
com o saber criativo e, ao mesmo tempo, é controlada por órgãos do Estado
que preferem se subordinar a regras e princípios de uma sociedade em supera-
ção, a sociedade industrial do trabalho em série, da quantidade e que descarta
o novo. O compromisso do progresso e da evolução é com estruturas cada vez
mais complexas e inovadoras, ou seja, a procura incessante por “navegar mares
nunca antes navegados”.
A expectativa que alimentamos é que, passada a fase de encantamento
dos órgãos de controle com as tecnologias aplicadas ao controle, eles possam
estabelecer um diálogo que torne as duas culturas, a da busca do saber e a do
18 Fabiana de Menezes Soares / Esther Külkamp Eyng Prete (Orgs.)
32
EC-85/2015.
Marco Regulatório em Ciência, Tecnologia e Inovação 19
inflexibilidade e da negação do diálogo entre esses agentes. O modelo que
emergir dessas revisões será muito mais gerencial e mais adequado para lidar
com a velocidade crescente da produção do conhecimento tecnológico e da
inovação, requisito essencial para que o País se eleve no contexto das nações
industrializadas.
1.10. REFERÊNCIAS
AGUIAR, Afrânio Carvalho; SOUZA, Edson Miranda De. Publicações póstumas de Henri Fayol: revisitando sua
teoria administrativa. RAM, Rev. Adm. Mackenzie, V. 12, N. 1, São Paulo, SP, jan./fev. 2011, ISSN 1678-6971, 2011.
ALMEIDA, A.C. A Cabeça do Brasileiro, Ed. Record, 2007.
ANECHIARO, F.; JACOBS, J. The Pursuit of Absolute Integrity, How Corruption Control Makes Govern-
ment Inneffective, University of Chicago Press, 1996.
BERTERO, C. Algumas observações sobre a obra de G. Elton Mayo. RAE, vol 8, num 27, 1968. Disponível
em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-75901968000200003>.
BOBBIO, N. et alii. Dicionário de Política. UnB, 2009.
BRESSER-PEREIRA,L.C. et alii. A Reforma do Estado Brasileiro e o Desenvolvimento in Crise Política e Re-
forma das Instituições do Estado Brasileiro, org. Reis Velloso, João Paulo; Albuquerque, Roberto Cavalcanti.
José Olympio Editora, 2005.
COLEMAN, J. The Foundations of Social Theory, Belknap Harvard, USA, 1980.
DE MASI, Domenico. Criatividade e Grupo Criativos. Ed. Sextante, RJ 2003.
DE MASI, Domenico. A emoção e a regra. Ed. Olympio, SP 2010.
DUBEAUX, R. Inovação no Brasil e na Coréia do Sul. Ed. Juruá, PR, 2010.
ECO, Umberto. Como se faz uma tese. Editora Perspectiva, SP. 2007.
FAORO, R. Os Donos do Poder. Editora Globo, RJ, 1959.
FIESP. Relatório sobre a Burocracia, SP, 2010.
FUKUYAMA, F. Confiança. Ed. Rocco, RJ, 1999.
FURTADO, C. C. O Longo Amanhecer, São Paulo: Paz e Terra, 1999.
DUTTA, Soumitra; LANVIN, Bruno; WUNSCH-VINCENT, Sacha (Editores). The Global Innovation Index
2017: Innovation Feeding the World, Cornell University, INSEAD, World Intellectual Property Organization,
2017. Disponível em: <https://www.globalinnovationindex.org/gii-2017-report>.
MAYO, E, The social problem of industrial civilization. Boston, Harvard University, 1945.
PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, CÂMARA DA REFORMA DO ESTADO. PNDAE – Plano Diretor da
Reforma do Aparelho do Estado, 1995. Disponível em: <http://www.biblioteca.presidencia.gov.br/publicacoes-
-oficiais/catalogo/fhc/plano-diretor-da-reforma-do-aparelho-do-estado-1995.pdf>.
NUNES, E. A Gramática Política do Brasil. Editora Garamond, RJ, 2003.
LIPSKY, M, Street-Level Bureaucracy: Dilemmas of the Individual in Public Services., Russel Sage Founda-
tion, NY, 1980.
LOPES, S. Burocracia: prospecção de um conceito. Disponível em: <http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos
/1224071151T8nOL2cu3Qp44II4.pdf>.
PEREGRINO, F, GOTIJO, A. A burocracia na pesquisa, CONFIES, 2016.
TRAGTENBERG, M. Burocracia e Ideologia. Editora UNESP, SP. 2ª ed., rev., 2006.
TAYLOR, F. The Principle of Scientific Management. USA 2011.
ZAK, P, The Neurobiology of Trust. Scientific American, junho de 2008. Disponível em: <https://pdfs.seman-
ticscholar.org/f036/1d3a403c41797b93adc2759cf3ed382b2642.pdf>.
Capítulo 2
O que é “Inovação”, seus tipos, e como tal
Fenômeno Relaciona-se com uma forte Estrutura
Institucional para o Desenvolvimento Científico
Adriana Ferreira de Faria
2
CHAIA, S.; SHIHB,. Bridging science and technology through academic–industry partnerships. Re-
search Policy, v. 45, p. 148-158, 2016.
3
PORTAL EcoD. Investimentos verdes são a chave para a economia de baixo carbono. Disponível
em: <http://www.ecodesenvolvimento.org/posts/2016/posts/abril/artigo-investimentos-verdes-sao-a-chave
-para-a?tag=economia-e-politica>. Acesso em: 20 de out. 2017.
22 Fabiana de Menezes Soares / Esther Külkamp Eyng Prete (Orgs.)
4
FVG Projetos. O que é uma cidade inteligente. Disponível em: <http://fgvprojetos.fgv.br/noticias/o-
que-e-uma-cidade-inteligente>. Acesso em: 01 fev. 2018.
5
CHAIA, S.; SHIHB. Bridging science and technology through academic–industry partnerships. Resear-
ch Policy, v. 45, p. 148-158, 2016.
6
SCHUMPETER, J. A. Teoria do desenvolvimento econômico: uma investigação sobre lucros, capital,
crédito, juro e o ciclo econômico. São Paulo: Abril, 1985.
7
ETZKOWITZ, H. Research groups as ‘quasi-firms’: the invention of the entrepreneurial university.
Research Policy, v. 32, p. 109-121, 2003.
8
BARR, S. H. et al. Bridging the valley of death: lessons learned from 14 years of Commercialization of
technology education. Academy of Management Learning & Education, v. 8, n. 3, p. 370-388, 2009.
9
NATIONAL ACADEMY OF SCIENCES. Rising above the gathering storm, revisited: rapidly ap-
proaching category 5. [S.l.], p. 103. 2010.
Marco Regulatório em Ciência, Tecnologia e Inovação 23
relacionadas, como restaurantes, mercearias, barbearias, postos de gaso-
lina e bancos.
- Uma variedade de estudos econômicos ao longo dos anos revela que
metade ou mais do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) das na-
ções nas últimas décadas tem sido atribuído ao progresso na inovação
tecnológica.
11
SCHUMPETER, J. A. Teoria do desenvolvimento econômico: uma investigação sobre lucros, capital,
crédito, juro e o ciclo econômico. São Paulo: Abril, 1985.
Marco Regulatório em Ciência, Tecnologia e Inovação 25
autonomia tecnológica e ao desenvolvimento do sistema produtivo nacional
e regional do País12:
12
BRASIL. Lei 13.243 de 11 de janeiro de 2016. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
ato2015-2018/2016/lei/l13243.htm>. Acesso em: 25 jan. 2018.
13
ORGANIZAÇÃO PARA COOPERAÇÃO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO (OCDE). Ma-
nual de Oslo – Diretrizes para coleta e interpretação de dados sobre inovação. 3ª ed. Rio de Janeiro:
FINEP, 2005.
26 Fabiana de Menezes Soares / Esther Külkamp Eyng Prete (Orgs.)
15
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Pesquisa de inovação:
2014. Rio de Janeiro. 2016.
Marco Regulatório em Ciência, Tecnologia e Inovação 29
cativamente aperfeiçoados e relacionados às atividades inovativas da
empresa, podendo incluir aquisição de serviços técnicos especializa-
dos externos.
- Introdução das inovações tecnológicas no mercado: compreende as
atividades de comercialização, diretamente ligadas ao lançamento de
produto tecnologicamente novo ou aperfeiçoado, podendo incluir:
pesquisa de mercado, teste de mercado e publicidade para o lança-
mento. Exclui a construção de redes de distribuição de mercado para
as inovações.
- Projeto industrial e outras preparações técnicas para a produção e
distribuição: refere-se aos procedimentos e preparações técnicas para
efetivar a implementação de inovações de produto ou processo. In-
clui plantas e desenhos orientados para definir procedimentos, espe-
cificações técnicas e características operacionais necessárias à imple-
mentação de inovações de processo ou de produto. Inclui mudanças
nos procedimentos de produção e controle de qualidade, métodos
e padrões de trabalho e software requeridos para a implementação
de produtos ou processos tecnologicamente novos ou aperfeiçoados,
assim como as atividades de tecnologia industrial básica (metrologia,
normalização e avaliação de conformidade), os ensaios e testes (que
não são incluídos em P&D) para registro final do produto e para o
início efetivo da produção.
16
ORGANIZAÇÃO PARA COOPERAÇÃO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO (OCDE). Manual de
Oslo – Diretrizes para coleta e interpretação de dados sobre inovação. 3ª ed. Rio de Janeiro: FINEP, 2005.
17
PwC. Sala de Imprensa. Investimentos globais em pesquisa e inovação ultrapassam US$ 700 bilhões,
mostra Global Innovation 1000. Disponível em: <https://www.pwc.com.br/pt/sala-de-imprensa/noticias/
investimentos-globais-pesquisa-inovacao-ultrapassam-us700bilhoes-mostra-global-innovation-1000.
html>. Acesso em: 23 jan. 2018.
18
R&D MAGAZINE; BATTELLE. Global R&D funding forecast. Rockaway, 2017. Disponível em:
<http://digital.rdmag.com/researchanddevelopment/2017_global_r_d_funding_forecast?pg=1#>. Aces-
so em: 18 out. 2017.
19
Scimago Journal & Country Rank. Country rankings. Disponível em: <http://www.scimagojr.com/
countryrank.php?year=2016&order=it&ord=desc >. Acesso em: 18 out. 2017.
20
MCTI. Estratégia nacional de ciência, tecnologia e inovação 2016-2022. Brasília. 2016.
21
WORLD INTELLECTUAL PROPERTY ORGANIZATION. The global innovation index 2017: The
local dynamics of innovation. Genebra: WIPO, 2017c. 433 p. Disponível em: <http://www.wipo.int/
edocs/pubdocs/en/wipo_pub_gii_2017.pdf>. Acesso em: 18 out. 2017.
22
WORLD INTELLECTUAL PROPERTY ORGANIZATION. The global innovation index 2011: Ac-
celerating Growth and Development. Genebra: WIPO, 2011. 381 p. Disponível em: <http://www.wipo.
int/edocs/pubdocs/en/economics/gii/gii_2011.pdf>. Acesso em: 18 out. 2017.
Marco Regulatório em Ciência, Tecnologia e Inovação 31
De forma análoga, haja vista a correlação entre tecnologia, inovação e
desenvolvimento econômico, o país despencou no ranking de competitivida-
de. O World Economic Forum (WEF) investigou em 2012 a competitividade
de 144 nações, considerando três grupos: requisitos básicos, potenciadores de
eficiência e fatores de inovação e sofisticação. O desempenho brasileiro em
cada um desses índices foi a posição 73ª, 38ª e 39ª, respectivamente. O país,
ainda, ficou na 48ª posição no ranking de competitividade mundial23. Em
2017, o desempenho brasileiro em cada um desses índices foi a posição 104ª,
60ª e 65ª, respectivamente, o que levou o Brasil para 80ª posição no ranking de
competitividade mundial24.
Os dispêndios em P&D das universidades dos Estados Unidos totaliza-
ram, em 2016, cerca de 72 bilhões de dólares. No Brasil, o dado mais recente
(2015) indica que esses dispêndios atingiram cerca 10,2 bilhões de dólares.
Essa diferença reflete-se na produção científica registrada em publicações in-
ternacionais: são 483 mil trabalhos dos Estados Unidos e 53 mil do Brasil, em
201625. Obviamente, que esses números impactam a excelência das universi-
dades. O QS World University Rankings26 indica, pela sexta vez consecutiva, o
Massachusetts Innovation of Technology (MIT) na primeira posição da lista e nas
três posições seguintes, mais três universidades americanas: Stanford University,
Harvard University e a California Institute of Technology (Caltech). Na América
do Sul, a primeira colocada é a Universidad de Buenos Aires (75ª posição), segui-
da pela Universidade de São Paulo (121ª posição) e pela Universidad Nacional
Autónoma de México (que ocupa o 122º lugar). Outras 22 instituições brasileiras
fazem parte do ranking, Universidade Estadual de Campinas (182ª posição),
Universidade Federal do Rio de Janeiro (311ª), Universidade Estadual Paulista
(491ª-500ª). Em Minas Gerais, a primeira instituição no ranking é a Universi-
dade Federal de Minas Gerais (551ª-600ª).
Sabe-se das críticas em relação às patentes como indicador de inovação,
haja vista que muitas inovações podem não ser patenteadas, outras são prote-
gidas por múltiplas patentes e principalmente, que muitas delas não possuem
viabilidade técnica ou econômica. No entanto, apesar das deficiências e críti-
cas aos rankings, está claro que o país está muito aquém de suas possibilidades,
23
WORLD ECONOMIC FORUM (WEF). The global competitiveness report 2012-2013. Genebra:
WEF, 2012. 529 p. Disponível em: <http://www3.weforum.org/docs/WEF_GlobalCompetitivenessRe-
port_2012-13.pdf>. Acesso em: 26 jan. 2018.
24
WORLD ECONOMIC FORUM (WEF). The global competitiveness report 2017-2018. Genebra:
WEF, 2017. 383 p. Disponível em: <http://www3.weforum.org/docs/GCR2017-2018/05FullReport/
TheGlobalCompetitivenessReport2017%E2%80%932018.pdf>. Acesso em: 18 out. 2017.
25
FAPESP. Disponível em: <http://revistapesquisa.fapesp.br/2017/12/28/folheie-a-edicao-262/>. Acesso
em: 17 jan. 2018.
26
QUACQUARELLI SYMONDS (QS). QS World University Rankings. Disponível em: <http://www.
qs.com/world-university-rankings-2018/>. Acesso em: 25 jan. 2018.
32 Fabiana de Menezes Soares / Esther Külkamp Eyng Prete (Orgs.)
32
EUROPEAN COMISSION. Regional research intensive clusters and science parks. European Com-
munities. Brussels, p. 152. 2007. Disponível em: <http://www.eeda.org.uk/1613.asp>. Acesso em 13
mai. 2014.
33
ETZKOWITZ, H. Hélice Tríplice: Universidade-indústria-governo: inovação em movimento. Porto
Alegre: Edipucrs, 2009.
34 Fabiana de Menezes Soares / Esther Külkamp Eyng Prete (Orgs.)
34
SENGE, P. M.; GORAN CARSTEDT. Innovating our way to the next industrial revolution. MIT Sloan
Management Review, WINTER 2001.
35
ETZKOWITZ, H.; LEYDESDORFF, L. The dynamics of innovation: from National Systems and
‘‘Mode 2’’ to a Triple Helix of university–industry–government relations. Research Policy, v. 29, p.
109-123, 2000.
36
TZKOWITZ, H. Innovation in innovation: the Triple Helix of university-industry-government relations.
Social Science Information, v. 42, n. 3, p. 293-337, 2003.
37
ETZKOWITZ, H. Research groups as ‘quasi-firms’: the invention of the entrepreneurial university.
Research Policy, v. 32, p. 109-121, 2003.
Marco Regulatório em Ciência, Tecnologia e Inovação 35
2.5. CONCLUSÃO
60
BRASIL. Decreto nº 9.283 de 07 de fevereiro de 2018. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
cciViL_03/_Ato2015-2018/2018/Decreto/D9283.htm>. Acesso em: 08 fev. 2018.
Capítulo 3
O papel dos Núcleos de Inovação
Tecnológicas na Gestão da Política de
Inovação e sua Relação com as Empresas
Gesil Sampaio Amarante Segundo
1
OLIVEIRA; VELHO, 2006,
2
BUSH, 1945.
3
DE BRITO CRUZ, 2014.
Marco Regulatório em Ciência, Tecnologia e Inovação 41
Em 1968, os argentinos Sábato e Botana defenderam a ideia de que a coor-
denação entre o governo, a estrutura produtiva e a infraestrutura científico-tec-
nológica é chave para qualquer estratégia de desenvolvimento de uma sociedade,
particularmente para a superação do subdesenvolvimento da América Latina,
sendo que tal construção ficou conhecida como Triângulo de Sábato. Etzkowitz
e Leydesdorff propuseram em 1996 um modelo semelhante, que dá destaque
às áreas de interesse e atuação comum desses três segmentos e à dinamicidade
dessas inter-relações. Tal modelo, hoje bastante conhecido, é simbolizado pela
figura inspirada na hélice dupla do DNA e é chamado de “Hélice Tripla”4.
Esses e outros modelos têm acompanhado um fenômeno de transforma-
ção da academia, com uma crescente inserção da ideia de valor econômico do
conhecimento, do conceito associado de propriedade intelectual (PI) e da con-
sequente necessidade de sua proteção como estágio necessário para o objetivo
final deste processo que é a Transferência de Tecnologia (TT) à sociedade. Essa
transferência pode ocorrer por meio da negociação de ativos de PI ou do em-
preendedorismo acadêmico, com a geração de empresas derivadas das criações
acadêmicas, as chamadas “spin-offs”, frequentemente abrigadas em Incubadoras
de Empresas de Base Tecnológica, que se valem da proximidade da infraes-
trutura de pesquisa e do ambiente criativo multidisciplinar da universidade e
outras instituições científicas e tecnológicas.
O fenômeno mundial das startups, empresas jovens, viabilizadas por de-
senvolvimentos científicos e tecnológicos recentes e com alto potencial de cres-
cimento, frequentemente criadas por jovens universitários e seus professores,
algumas delas logo figurando entre as empresas de maior valor de mercado, é
certamente a face mais conhecida desta transformação que mudou a percepção
e a estratégia do desenvolvimento no mundo. Google, Uber e Facebook são
algumas das mais recentes estrelas de primeira grandeza de um mesmo movi-
mento que tem como atrações um tanto mais “antigas” a Apple e a Microsoft.
Outros instrumentos ligados a esse movimento envolvem uma atuação
mais voltada ao ambiente externo às instituições acadêmicas e vai do apro-
fundamento da atuação no mercado, incluindo aceleradoras de empresas e os
parques tecnológicos (locais de “exercício extremo“ da tripla hélice), a meca-
nismos de cunho mais social e cultural, como as Indicações Geográficas e a
própria ideia de Inovação Social.
A inovação, propriamente dita, tem diferentes percepções de significado
e classificação, sendo comum a todas a ideia da utilização do conhecimento e
da criatividade para a solução de problemas, tanto sociais como de mercado.
A definição padrão de inovação é dada pelo Manual de Oslo (OCDE, 1997,
p. 55) como:
4
OLIVEIRA; VELHO, 2006.
42 Fabiana de Menezes Soares / Esther Külkamp Eyng Prete (Orgs.)
Art. 26. As ICTs que contemplem o ensino entre suas atividades principais
deverão associar, obrigatoriamente, a aplicação do disposto nesta Lei a ações
de formação de recursos humanos sob sua responsabilidade.
Em relação aos recursos humanos dos NIT das instituições públicas, o quanti-
tativo apresentado foi de 1666, sendo que 41,3% são servidores e funcionários
com dedicação integral, 18,3% são servidores e funcionários com dedicação
parcial, os bolsistas graduados representam 14,6%, os bolsistas graduandos
8,7%, os terceirizados correspondem a 5,8%, 8,8% são estagiários e outros
representam 2,5% dos profissionais.
Art. 15-A. A ICT de direito público deverá instituir sua política de inovação,
dispondo sobre a organização e a gestão dos processos que orientam a trans-
ferência de tecnologia e a geração de inovação no ambiente produtivo, em
consonância com as prioridades da política nacional de ciência, tecnologia e
inovação e com a política industrial e tecnológica nacional.
Parágrafo único. A política a que se refere o caput deverá estabelecer diretrizes
e objetivos:
I – estratégicos de atuação institucional no ambiente produtivo local, regional
ou nacional;
II – de empreendedorismo, de gestão de incubadoras e de participação no
capital social de empresas;
III – para extensão tecnológica e prestação de serviços técnicos;
IV – para compartilhamento e permissão de uso por terceiros de seus laborató-
rios, equipamentos, recursos humanos e capital intelectual;
V – de gestão da propriedade intelectual e de transferência de tecnologia;
VI – para institucionalização e gestão do Núcleo de Inovação Tecnológica;
VII – para orientação das ações institucionais de capacitação de recursos hu-
manos em empreendedorismo, gestão da inovação, transferência de tecnologia
e propriedade intelectual;
VIII – para estabelecimento de parcerias para desenvolvimento de tecnologias
com inventores independentes, empresas e outras entidades.
Art. 14. A ICT pública instituirá a sua política de inovação, que disporá sobre:
I – a organização e a gestão dos processos que orientarão a transferência de
tecnologia; e
II – a geração de inovação no ambiente produtivo, em consonância com as
prioridades da política nacional de ciência, tecnologia e inovação e com a
política industrial e tecnológica nacional.
§ 1º A política a que se refere o caput estabelecerá, além daqueles previstos no
art. 15-A da Lei nº 10.973, de 2004, as diretrizes e os objetivos para:
I – a participação, a remuneração, o afastamento e a licença de servidor ou
empregado público nas atividades decorrentes das disposições deste Decreto;
II – a captação, a gestão e a aplicação das receitas próprias decorrentes das
disposições deste Decreto.
III – a qualificação e a avaliação do uso da adoção dos resultados decorrentes
de atividades e projetos de pesquisa; e
IV – o atendimento do inventor independente.
§ 2º A concessão de recursos públicos considerará a implementação de políti-
cas de inovação por parte das ICT públicas e privadas.
52 Fabiana de Menezes Soares / Esther Külkamp Eyng Prete (Orgs.)
3.5. REFERÊNCIAS
ALVES, V., G. Amarante Segundo; R. R. Sampaio. Cad. Prospec., Salvador, v. 8, n. 4, p. 688-696, out./dez. 2015.
BRASIL. Congresso Nacional. Lei nº 10.973, de 2 de dezembro de 2004. Dispõe sobre incentivos à inovação e à
pesquisa científica e tecnológica no ambiente produtivo e dá outras providências. Brasília: 2004.
_______. Decreto nº 9.283, de 7 de fevereiro de 2018. Regulamenta a Lei nº 10.973, de 2 de dezembro de 2004, a
Lei nº 13.243, de 11 de janeiro de 2016, o art. 24, § 3º, e o art. 32, § 7º, da Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993,
o art. 1º da Lei nº 8.010, de 29 de março de 1990, e o art. 2º, caput, inciso I, alínea “g”, da Lei nº 8.032, de 12
de abril de 1990, e altera o Decreto nº 6.759, de 5 de fevereiro de 2009, para estabelecer medidas de incentivo à
inovação e à pesquisa científica e tecnológica no ambiente produtivo, com vistas à capacitação tecnológica, ao
alcance da autonomia tecnológica e ao desenvolvimento do sistema produtivo nacional e regional. Brasília: 2018.
_______. Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Política de propriedade intelectual das instituições
científicas e tecnológicas do Brasil: relatório FORMICT 2015. Brasília. 2016.
BUSH, V. Science, The Endless Frontier. Disponível em: <https://www.nsf.gov/about/history/nsf50/vbush1945.
jsp>. Acesso em: 01 agosto 2017.
COLLA, S.; ESTEVES, L.. A Lei da Inovação e Patentes Universitárias no Brasil: Uma Análise Quantitativa (2005
– 2010). Tecnologia e Sociedade, vol. 9, núm. 17, julio-diciembre, 2013, pp. 118-133.
DE BRITO CRUZ, C. H. “ Protagonismo Incomum”, Revista Pesquisa FAPESP. Ed. 249 | novembro de 2016
DE BRITO CRUZ, C. H.. “Ciência: a Fronteira sem Fim”, uma apresentação, Rev. Bras. Inov., Campinas (SP),
13 (2), p. 241-280, julho/dezembro 2014.
Marco Regulatório em Ciência, Tecnologia e Inovação 53
FORTEC e RMI. Ofício para o Prof. Luiz Cláudio Costa, titular da Secretaria de Educação Superior (SESU) do
Ministério da Educação. 04 de maio de 2011. Arquivo do FORTEC.
INPI. Estatísticas Preliminares. Disponível em: <http://www.inpi.gov.br/sobre/estatisticas/estatisticas-prelimi-
nares-2013-a-partir-de-2013>, Acesso em: 04 agosto 2017.
NELSEN, L. Technology Transfer at MIT. Disponível em: <http://web.mit.edu/Misti/mit-brazil/forum/Nel-
sen.pdf>, Acesso em: 04 agosto 2017.
________ Questions: Lita Nelsen and the Technology Licensing Office. Disponível em: <http://news.mit.
edu/2014/3-questions-lita-nelsen-technology-licensing-office-1107>. Acesso em: 04 agosto 2017.
OCDE – Eurostat – Finep. Manual de Oslo: diretrizes para coleta e interpretação de dados sobre inovação. 3.
ed. OCDE, 1997. Tradução de Financiadora de Estudos e Projetos – FINEP. 184p. Disponível em: <http://www.
finep.gov.br/images/apoio-e-financiamento/manualoslo.pdf>. Acesso em: 01 agosto 2017.
OLIVEIRA, R. M.;VELHO, L. Benefícios e riscos da proteção e comercialização da pesquisa acadêmica: uma
discussão necessária, Ensaio: aval. pol. públ. Educ., Rio de Janeiro, v. 17, n. 62, p. 25-54, jan./mar. 2009.
PÓVOA, L. M. C. Patentes de universidades e institutos públicos de pesquisa e a transferência de tecnologia
para empresas no Brasil. 2008 148 f. Tese (Doutorado em Ciências Econômicas) – Centro de Desenvolvimento
e Planejamento Regional, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2008.
TOLEDO, P. T. M. de A gestão da inovação em universidades: evolução, modelos e propostas para instituições
brasileiras. 2015. 441 p. Tese (Doutorado em Política Científica e Tecnológica), Instituto de Geociências – Uni-
versidade Estadual de Campinas. Campinas, 2015.
USPTO. Patent Counts By Country, State, and Year. Disponível em: <https://www.uspto.gov/web/offices/ac/
ido/oeip/taf/cst_all.htm>. Acesso em: 01 agosto 2017.
Capítulo 4
O papel das Fundações de Apoio na Gestão de
Projetos para o Desenvolvimento das Atividades
dos Institutos de Ciência e Tecnologia (ICTs)
Tal qual o modelo das artes, a ciência surgiu, de certa maneira, desregu-
lamentada, sem regras, dependente do mecenato e descompromissada com
sua aplicação. Com o passar do tempo, passou a ter grande relevância para a
sociedade, mas ainda valorizando o ideal iluminista do “conhecimento pelo
conhecimento” – ou seja, a sabedoria pura e desinteressada, sem finalidade prá-
tica. Reconhecidamente, a produção da ciência no mundo foi impulsionada
a partir do século XVII, com o advento do método científico proposto pelo
filósofo e matemático francês René Descartes. Novos conhecimentos foram
sistematizados e, com o estabelecimento de diretrizes, estruturou-se o determi-
nismo cartesiano.
Já no século XX, surgem cientistas que defendem a necessidade de uma
liberdade total para a geração de novos conhecimentos. Com as atrocidades de
base científica e tecnológica – como a guerra química –, entretanto, aparecem,
para o grande público, questionamentos sobre a legitimidade de a ciência
manter essa liberdade diferenciada em relação às demais atividades humanas.
Nessa época, a evolução do conhecimento humano havia promovido uma
nítida cisão entre a razão (ciência) e a emoção (cultura), explicitando as duas
vertentes e estabelecendo uma pretensa supremacia da primeira sobre a segun-
da. A emergente ciência da complexidade – que virá atingir sua maior exube-
rância na segunda metade do século XX – traz a natureza probabilística dos
fenômenos naturais e desloca o determinismo cartesiano para a obsolescência.
Aprendem-se que sistemas complexos evoluem de forma inevitável e imprevi-
sível. Essa imprevisibilidade e a dinâmica evolutiva estabelecem uma base cien-
tífica para o milenar reconhecimento literário de que “a única componente
estável da natureza é a mudança”. A ciência se estrutura em cima da premissa
Marco Regulatório em Ciência, Tecnologia e Inovação 55
do inacabado e da existência de uma natureza velada que estará sempre inaces-
sível. Assim, toda verdade científica é provisória.
Uma consequência desse processo evolutivo levou ao pensamento de que
a ciência deveria ser vista como uma poderosa fonte geradora de riqueza no
mundo contemporâneo. O conhecimento passou a ser um dos mais essenciais
e estruturantes valores para a riqueza. Isso está fundamentado no disseminado
conceito de que vivemos a “sociedade do conhecimento”. Atualmente, por
exemplo, já estão fortemente disseminadas as “empresas de base tecnológica”,
que viabilizam a transformação do conhecimento básico em produto de con-
sumo para a sociedade por meio das evoluções tecnológicas (físicas e sociais)
que são identificadas como inovações. Os países mais desenvolvidos têm nes-
sas empresas um dos vetores propulsores de seu progresso social e econômico.
Em retrospectiva, a ciência nasceu livre, evoluiu anarquicamente e depois
gerou um paradigma científico determinístico que trouxe a premissa da total
previsibilidade e do controle. Como existe um atraso temporal entre os avanços
do conhecimento no estado da arte e as ações regulatórias, o mundo – vivendo
no estado da arte de uma ciência contemporânea com todas as imprevisibilida-
des apontadas – se mostra incompatível com a prática dos órgãos de controle em
sua lógica determinística. Ao invés de flexibilizar as atividades, criando legisla-
ção favorável ao mundo contemporâneo, com o controle mantêm-se as práticas
antigas que não combinam com o mundo em acelerado processo de mudanças.
Esse é o paradoxo. A lógica vigente da burocracia, levada na prática pelos seus
órgãos de controle, são incompatíveis com as tentativas de fazer com que o Bra-
sil efetivamente participe de uma “sociedade do conhecimento”.
Para corrigir seus erros, a burocracia reedita novas regras, sem abandonar
as anteriores, ampliando-as mais ainda. Essa excessiva produção de normas
gera um círculo vicioso, pois reproduz a ineficiência. No Brasil, entre 2000 e
2010, foram produzidas mais de 70 mil novas leis, cuja qualidade demonstra-
-se pela declaração de inconstitucionalidade de 25% delas. Para coibir as não
conformidades, como os casos de corrupção, as políticas de controle são refor-
çadas. No entanto, não há prova que o grande número de políticas de controle
conduza à eficácia dos governos. Ao contrário, ao desviarem a atenção dos
administradores para o cumprimento de um excessivo número de normas bu-
rocráticas, e não para os resultados, perde-se eficiência de suas ações. O círculo
vicioso – burocracia conduz à falha, que conduz a mais controle burocrático –
parece ser o destino de governos ineficientes. Ele ameaça políticas estratégicas
como a de promover a inovação tecnológica por meio da cooperação entre
as universidades e empresas no Brasil, recém-adotada pela Lei 13.243/2016,
conhecida como Marco Legal da Inovação.
A burocracia é um instrumento de poder que visa dar eficiência às or-
ganizações utilizando, como ferramenta de coerção, leis e normas e também
56 Fabiana de Menezes Soares / Esther Külkamp Eyng Prete (Orgs.)
1
Dark data é uma expressão para qualificar dados gerados e que não são utilizados de forma alguma para
obter informações ou para tomada de decisões.
Marco Regulatório em Ciência, Tecnologia e Inovação 59
par identificações de não conformidade para apoiar auditorias e diligências. A
FA precisa, assim, acompanhar essa evolução, buscando estar sempre um passo
à frente para não ser colocada em situações que nem ela mesma conseguiu
antecipar. Essas oportunidades, em conjunto com as mudanças necessárias
(em andamento ou que estão por vir), trazem a necessidade de uma gestão da
inovação para que essas iniciativas sejam exploradas de forma que propiciem
avanços com resultados consistentes quanto ao papel das Fundações de Apoio.
Esse posicionamento mitigaria as transições de governo e, consequentemente,
a estrutura de governo das Fundações, além de estabelecer valores conjuntos
com órgãos de controle com o entendimento de sua relevância para o sistema
de Ciência, Tecnologia e Inovação do Brasil. A gestão da inovação pode ser,
inclusive, potencializada quando há sinergia com o empreendedorismo corpo-
rativo, que será tratado a seguir.
2
TIDD, J.; BESSANT, J. Gestão da Inovação. 5ª ed. Porto Alegre: Bookman, 2015.
3
GRONUM, S.; VERREYNNE, M.; KASTELLE, T. The Role of Networks in Small and Medium-
Sized Enterprise Innovation and Firm Performance. Journal of Small Business Management, 50(2),
p. 257-282, 2012.
60 Fabiana de Menezes Soares / Esther Külkamp Eyng Prete (Orgs.)
Função Atividade
Conduzir pesquisas; determinar / entender direcionadores de
inovação; e rascunhar preliminarmente estratégias de inovação e
Explorar
objetivos para discussão e validação pela estrutura de governança
Ideação corporativa.
Inventar Contribuir com ideias.
Coletar Selecionar, implementar e manter a gestão de ideias.
Gerenciar o processo de triagem, prover orientação para a prepa-
Seleção
ração das ideias e apoiar a apresentação para priorização / seleção.
Atuar no planejamento e estruturação de pilotos para validações
Implementação de ideias antes da ampliação. Apoiar a implementação de projetos,
utilizando boas práticas de planejamento e gestão de projetos.
Prestar contas à estrutura de governança sobre as ideias aprovadas,
por meio de indicadores e relatórios. Recomendar alterações de
Gestão de
escopo ou descontinuidades de projetos que não estão alcançando
resultados
resultados esperados ou não são mais relevantes frente à mudança
Realização de contexto.
de Valor
Apoiar a estrutura de governança no processo de seleção, balancea-
Gestão do mento, priorização, disponibilização de recursos e monitoramento
Portfólio da carteira de projetos de inovação, aderentes à estratégia de inova-
ção e aos objetivos aprovados.
Fonte: Adaptado de Wood, 2013
9
KURATKO, D. F.; AUDRETSCH, D. B. Clarifying the domains of corporate entrepreneurship. Inter-
national Entrepreneurship and Management Journal, 9, Issue 3, p. 323-335, 2013.
KURATKO, D. F.; HORNSBY, J. S.; HAYTON, J. Corporate entrepreneurship: the innovative challen-
ge for a new global economic reality. Small Business Economics, 45, issue 2, p. 245-253, 2015.
10
LEHMANN, P. Corporate Accelerators: characteristics and motives – a case study of corporate accel-
erators in the context of startup acceleration, business incubation and corporate venturing. 2013. (Master
Thesis in Management of Innovation and Business Development) – Copenhagen Business School, 2013.
11
VISNJIC, I.; WIENGARTEN, F.; NEELY, A. Only the Brave: Product Innovation, Service Business
Model Innovation, and Their Impact on Performance. J Prod Innov Manag, n. 33, p. 3652, 2016.
64 Fabiana de Menezes Soares / Esther Külkamp Eyng Prete (Orgs.)
12
LEE, S. M.; OLSON, D. L.; TRIMI, S. Co-innovation: convergenomics, collaboration, and co-creation for
organizational values. Emerald Group Publishing: Management Decision, v. 50, n. 5, p. 817-831, 2012.
13
YAN, B.; MALADZHI, W. R.; MAKINDE, O. D. Creating innovation culture through visionary leader-
ship in small medium enterprises. IEEE International Conference on Industrial Engineering and
Engineering Management, Hong Kong, p. 1170-1174, 2012.
66 Fabiana de Menezes Soares / Esther Külkamp Eyng Prete (Orgs.)
REFERÊNCIAS
BELLOC, F. Corporate governance and innovation: a survey. Journal of Economic Surveys, 26, n. 5, p. 835-
864, 2012.
BIRKINSHAW, J.; GIBSON, C. Building Ambidexterity into your Organization. MIT Sloan Management
Review, v. 45, n. 4, p. 47-55, 2004.
CAMISÓN, C.; VILLAR-LÓPEZ, A. Organizational innovation as an enabler of technological innovation capa-
bilities and firm performance. Journal of Business Research, v. 67, n. 1, p. 2891-2902, 2014.
GRONUM, S.; VERREYNNE, M.; KASTELLE, T. The Role of Networks in Small and Medium-Sized Enterprise
Innovation and Firm Performance. Journal of Small Business Management, 50(2), p. 257-282, 2012.
KURATKO, D. F.; AUDRETSCH, D. B. Clarifying the domains of corporate entrepreneurship. International
Entrepreneurship and Management Journal, 9, Issue 3, p. 323-335, 2013.
KURATKO, D. F.; HORNSBY, J. S.; HAYTON, J. Corporate entrepreneurship: the innovative challenge for a
new global economic reality. Small Business Economics, 45, issue 2, p. 245-253, 2015.
LEE, S. M.; OLSON, D. L.; TRIMI, S. Co-innovation: convergenomics, collaboration, and co-creation for orga-
nizational values. Emerald Group Publishing: Management Decision, v. 50, n. 5, p. 817-831, 2012.
LEHMANN, P. Corporate Accelerators: characteristics and motives – a case study of corporate accelerators in
the context of startup acceleration, business incubation and corporate venturing. 2013. (Master Thesis in Mana-
gement of Innovation and Business Development) – Copenhagen Business School, 2013.
LENDEL, V.; HITTMÁR, Š.; SIANTOVÁ, E. Management of Innovation Processes in Company. Procedia
Economics and Finance, 23, p. 861-866, 2015.
LIN, H.-F.; SU, J.-Q.; HIGGINS, A. How dynamic capabilities affect adoption of management innovations.
Journal of Business Research, v. 69, n. 2, p. 862-876, 2016.
O´SULLIVAN, M. The innovative enterprise and corporate governance. Cambridge Journal of Economics,
24, p. 393-416, 2000.
PINCHOT III, G. Intrapreneuring: porque você não precisa sair da empresa para tornar-se um empreendedor.
São Paulo: Harbra, 1989.
REINMOELLER, P.; BAARDWIJK, N. V. The Link between Diversity and Resilience. MIT Sloan Management
Review, v. 46, n. 4, p. 61-66, 2005.
RODRIGUES, L. C.; MACCARI, E. A.; PEREIRA, A. Estratégias de estímulo ao empreendedorismo corporati-
vo. Revista Ibero Americana de Estratégia, São Paulo, v. 8, n. 2, pp. 183-205, 2009.
TIDD, J.; BESSANT, J. Gestão da Inovação. 5ª ed. Porto Alegre: Bookman, 2015.
SCHROEDER, R.; Van de VEN, A.; SCUDDER, G.; POLLEY, D. Managing Innovation and Change Processes:
Findings from the Minnesota Innovation Research Program. John Wiley & Sons: Agribusiness, v. 2, n. 4, p.
501-523, 1986.
VISNJIC, I.; WIENGARTEN, F.; NEELY, A. Only the Brave: Product Innovation, Service Business Model Inno-
vation, and Their Impact on Performance. J Prod Innov Manag, n. 33, p. 36-52, 2016.
WOOD, C. Innovation Management: realizing the value of innovation. White Paper. TATA Consultancy Ser-
vices. 2013. Disponível em: <www.tcs.com>.
YAN, B.; MALADZHI, W. R.; MAKINDE, O. D. Creating innovation culture through visionary leadership
in small medium enterprises. IEEE International Conference on Industrial Engineering and Engineering
Management, Hong Kong, p. 1170-1174, 2012.
Capítulo 5
O Protagonismo das Fundações de Apoio na Cadeia
de Ciência, Tecnologia e Inovação e seus Desafios
para Uma Regulamentação Jurídica Adequada
5.1. INTRODUÇÃO
1
SILVA, José Afonso da. Comentário Contextual à Constituição. 7. ed. São Paulo: Malheiros Editores,
2010. p. 32-33.
68 Fabiana de Menezes Soares / Esther Külkamp Eyng Prete (Orgs.)
Art. 2º (...)
VII – fundação de apoio: fundação criada com a finalidade de dar apoio a pro-
jetos de pesquisa, ensino e extensão, projetos de desenvolvimento institucional,
científico, tecnológico e projetos de estímulo à inovação de interesse das ICTs,
registrada e credenciada no Ministério da Educação e no Ministério da Ciência,
Tecnologia e Inovação, nos termos da Lei no 8.958, de 20 de dezembro de 1994,
e das demais legislações pertinentes nas esferas estadual, distrital e municipal; (...)
Sob a ótica do papel da fundação de apoio, resta bem claro que os cen-
tros de pesquisa brasileiros ainda carecem de uma estrutura administrativa
e gerencial avançada na gestão da política de propriedade intelectual, o que
compreende uma estrutura de pessoal com capacitação nessa área de conheci-
mento e também um sistema de normas que permita maior flexibilidade no
gerenciamento das oportunidades decorrentes da geração de conhecimento e
inovação tecnológicos. A princípio, a Lei de Inovação, publicada em 2004, teve
esse objetivo quando definiu o papel dos NITs. Contudo, ao longo desses 13
anos de publicação, a referida norma não conseguiu determinar uma mudança
de prática social, de forma que o objetivo esperado, à época, que era o de que
o NIT garantisse a centralização das informações sobre os processos de geração
de conhecimento, não logrou êxito.
Do mesmo modo, carece a compreensão aos órgãos governamentais de
que eles integram a cadeia da C, T e I e que suas organizações internas também
devem estar orientadas no mesmo sentido. A exemplo, reforçamos a grande
importância da aderência a esse grupo dos órgãos financiadores de pesquisa,
desenvolvimento e inovação (P, D e I) e os órgãos fiscalizadores estatais. Todos
são conjuntamente responsáveis pelo desenvolvimento e progresso do País.
Frente a toda complexidade dessas interfaces na articulação dos agentes
de C, T e I, ficou evidente que o legislador atual achou por bem delegar essa
possibilidade de gestão à fundação de apoio, que tem uma atribuição mais
dinâmica na referenciada cadeia face ao modelo gerencial da Administração
Marco Regulatório em Ciência, Tecnologia e Inovação 77
Pública que permeia o formato de gestão da maioria dos centros de pesquisa
no Brasil.
Demais disso, a fundação de apoio conquistou algumas prerrogativas, no
que tange aos seus procedimentos internos, para atender àquelas diretrizes gerais
previstas na Constituição Federal e no artigo 1º da Lei de Inovação, que são:
autorização para estabelecer regras próprias na gestão de recursos que não sejam
públicos (nova redação do artigo 3º, § 3º, da Lei nº 8.958/94), facilidades na gestão
do patrimônio adquirido no escopo dos projetos, definição da IFE credenciada
como responsável pela regulamentação da concessão de bolsas pelas fundações de
apoio, aumento do escopo das isenções sobre as importações de bens para pesquisa
realizadas no âmbito dos projetos administrados pelas ditas fundações.
A nova legislação, diante das questões refletidas, trará muitos avanços
para o desenvolvimento da ciência e da inovação tecnológica no País. Con-
tudo, ainda temos um longo caminho a percorrer. Compreendemos que a
produção legislativa no nível federal é o primeiro passo desse longo percurso.
Será necessário, ainda, que os agentes da cadeia de C, T e I estejam afinados
numa mesma linguagem e arrimados nos mesmos propósitos recentemente
inseridos na Carta Magna.
Igualmente, entendemos que, para a produção de uma boa legislação,
esta deve encontrar respaldo em políticas públicas que expressem de forma
autêntica as demandas sociais. Desse modo, os agentes de C, T e I devem ser
atuantes e devem ter autonomia, jurídica e econômica (orçamentária) para
cumprir e aplicar os preceitos fundamentais sobre essa matéria. Por isso, todas
as esferas de governo precisam ter liberdade de definir quais são suas políticas
e estratégias para tutelar a ciência, a tecnologia e a inovação nos seus âmbitos
internos. Some-se a isso que todos os poderes (executivo, legislativo e judiciá-
rio) dentro de uma mesma esfera de governo também precisam estar alinhados
a esses propósitos estratégicos e a população precisa ter acesso às informações
referentes a essas políticas e programas de governos para cobrarem dos agentes
responsáveis que eles transformem essas diretrizes em bem-estar e qualidade de
vida para a sociedade.
Por fim, resta claro que o papel da fundação de apoio, estabelecido na
nova legislação, precisa ser reconhecido pelos agentes de C, T e I para que todo
o propósito estabelecido na Constituição Federal cumpra o objetivo principal
da ciência, tecnologia e inovação, qual seja: o desenvolvimento econômico,
social e geopolítico do Brasil.
5.6. REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição (1988). Emenda Constitucional nº 85, de 26 de fevereiro de 2015. Altera e adiciona dis-
positivos na Constituição Federal para atualizar o tratamento das atividades de ciência, tecnologia e inovação.
78 Fabiana de Menezes Soares / Esther Külkamp Eyng Prete (Orgs.)
Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 27 fev. 2015. Disponível em: <http://www.planal-
to.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc85.htm>. Acesso em: 10 jul. 2017.
BRASIL. Lei nº 8.958, de 20 de dezembro de 1994. Dispõe sobre as relações entre as instituições federais de
ensino superior e de pesquisa científica e tecnológica e as fundações de apoio e dá outras providências. Diário
Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 21 dez. 1994. Disponível em: <http://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/leis/L8958.htm>. Acesso em: 10 jul. 2017.
BRASIL. Lei nº 10.973, de 2 de dezembro de 2004. Dispõe sobre incentivos à inovação e à pesquisa científica
e tecnológica no ambiente produtivo e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Bra-
sil, Brasília, DF, 3 dez. 2004. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/lei/
l10.973.htm>. Acesso em: 10 jul. 2017.
BRASIL. Lei nº 13.019, de 31 de julho de 2014. Estabelece o regime jurídico das parcerias entre a administração
pública e as organizações da sociedade civil, em regime de mútua cooperação, para a consecução de finalidades
de interesse público e recíproco, mediante a execução de atividades ou de projetos previamente estabelecidos em
planos de trabalho inseridos em termos de colaboração, em termos de fomento ou em acordos de cooperação;
define diretrizes para a política de fomento, de colaboração e de cooperação com organizações da sociedade civil;
e altera as Leis nos 8.429, de 2 de junho de 1992, e 9.790, de 23 de março de 1999. Diário Oficial da República
Federativa do Brasil, Brasília, DF, 1º ago. 2014. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-
2014/2014/lei/l13019.htm>. Acesso em: 10 jul. 2017.
BRASIL. Lei nº 13.243, de 11 de janeiro de 2016. Dispõe sobre estímulos ao desenvolvimento científico, à
pesquisa, à capacitação científica e tecnológica e à inovação e altera a Lei no 10.973, de 2 de dezembro de 2004,
a Lei no 6.815, de 19 de agosto de 1980, a Lei no 8.666, de 21 de junho de 1993, a Lei no 12.462, de 4 de agosto
de 2011, a Lei no 8.745, de 9 de dezembro de 1993, a Lei no 8.958, de 20 de dezembro de 1994, a Lei no 8.010, de
29 de março de 1990, a Lei no 8.032, de 12 de abril de 1990, e a Lei no 12.772, de 28 de dezembro de 2012, nos
termos da Emenda Constitucional no 85, de 26 de fevereiro de 2015. Diário Oficial da República Federativa do
Brasil, Brasília, DF, 12 jan. 2016. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/
lei/l13243.htm>. Acesso em: 10 jul. 2017.
BRASIL. Decreto nº 7.423, de 31 de dezembro de 2010. Regulamenta a Lei nº 8.958, de 20 de dezembro de 1994,
que dispõe sobre as relações entre as instituições federais de ensino superior e de pesquisa científica e tecnológica
e as fundações de apoio, e revoga o Decreto no 5.205, de 14 de setembro de 2004. Diário Oficial da República Fe-
derativa do Brasil, Brasília, DF, 31 dez. 2010. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
2010/2010/decreto/d7423.htm>. Acesso em: 10 jul. 2017.
SILVA, José Afonso da. Comentário Contextual à Constituição. 7. ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2010.
INSTITUTO NACIONAL DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL (BRASIL). Presidência. Assessoria de Assuntos
Econômicos. Indicadores de Propriedade Industrial (2000-2012): O uso do sistema de Propriedade Industrial no
Brasil. Rio de Janeiro: Instituto Nacional da Propriedade Industrial – INPI, 2015.
Capítulo 6
A relação entre Empresas e Instituições
de Ensino e Pesquisa e seu Papel no
Desenvolvimento Econômico
Gustavo Costa de Souza
Cynthia Mendonça Barbosa
6.1. INTRODUÇÃO
1
ETZKOWITZ, H. et al. The future of the university and the university of the future: evolution of ivory
tower to entrepreneurial paradigm. Research Policy. v. 29, n. 2, p. 313-330, 2000. BRAMWELL, A.;
WOLFE, D. Universities and regional economic development: The entrepreneurial University of Water-
loo. Research Policy, v. 37, p. 1175-1187, 2008. BRUNDENIUS, C.; LUNDVALL, B.; SUTZ, J. The
Role of universities in innovation systems in developing countries: developmental university systems
– empirical, analytical, and normative perspectives. In: LUNDVALL, B. et al. (Eds.) Handbook of
Innovation Systems and Developing Countries: Building Domestic Capabilities in a Global Setting.
1. ed. Cheltenham: Edward Elgar, 2009. p. 311- 333.
2
Instituições de Ensino e Pesquisa, doravante IEPs, também se referem às Instituições Científicas, Tec-
nológicas e de Inovação (ICTs) conforme definidas por lei (Lei n. 10.973, de 02 de dezembro de 2004).
3
Tradução nossa. No original: “As knowledge becomes an increasingly important part of innovation,
the university as a knowledge- producing and disseminating institution plays a larger role in industrial
innovation”. ETZKOWITZ, H. et al., op. cit., p. 314.
80 Fabiana de Menezes Soares / Esther Külkamp Eyng Prete (Orgs.)
9
LUNDVALL, B. op. cit.
10
ETZKOWITZ, H.; LEYDESDORFF, L. The dynamics of innovation: From national systems and model 2 to a
triple helix of university industry-government relations. Research Policy, Amsterdam, n. 29, p. 109-123, 2000.
11
Ibid., p. 109-123.
12
Ibid., p. 109-123.
13
ETZKOWITZ, H.; LEYDESDORFF, L. The dynamics of innovation: From national systems and model 2 to a
triple helix of university industry-government relations. Research Policy, Amsterdam, n. 29, p. 109-123, 2000.
14
Etzkowitz e Leydesdorff (2000) citam como exemplo de marco regulatório para ciência, tecnologia e
inovação o Bayh-Dole Act, criado nos Estados Unidos, em 1980, que representou uma mudança signi-
ficativa na participação das IEPs no processo de transferência de tecnologia. O novo marco regulatório
em discussão nesta obra configura, no caso brasileiro, uma representação clara da ação do estado de
encorajar as relações entre empresas e IEPs, como prevê o tipo III da Hélice Tríplice.
15
ETZKOWITZ, H.; LEYDESDORFF, L. op. cit., p. 109-123.
Marco Regulatório em Ciência, Tecnologia e Inovação 83
As perspectivas teóricas consideradas nessa sessão indicam entendimen-
tos divergentes acerca do processo de inovação. Mais especificamente sobre a
relação entre IEPs com empresas, Bramwell e Wolfe16 reforçam o argumento
de que o processo de transferência de conhecimento para o mercado não é
linear. Ademais, pode se observar sinergia entre as abordagens de sistemas de
inovação e do tipo III da Hélice Tríplice, especialmente no que diz respeito
à visão da relação institucional entre empresas e as IEPs como dinâmica,
interativa e fruto de um processo social. Destaca-se também a sinergia quan-
to à necessidade de um marco institucional e regulatório que favoreça esse
relacionamento.
20
Tradução própria. No original: “[…] as a result, while universities continue to fulfill their traditional
roles of performing primary research and training highly qualified people, they have shifted their em-
phasis to include more applied research of greater relevance to industry, and to diffuse technical knowl-
edge and provide technical support to industry.” Ibid., p.4.
21
MARTINELLI, A.; MEYER, M.; VON TUNZELMANN, N. Becoming an entrepreneurial university?
A case study of knowledge exchange relationships and faculty attitudes in a medium-sized, research-
oriented university. Journal of Technology Transfer, 33 (3). pp. 259-283, 2008.
22
SIEGEL, D.; WALDAM, D.; LINK A. Assessing the impact of organisational practises on the relative
productivity of university transfer offices: an exploratory case. Research Policy, 32(1), 27–48, 2003.
Marco Regulatório em Ciência, Tecnologia e Inovação 85
Nas IEPs, os pesquisadores também têm um papel igualmente importan-
te no estabelecimento de parcerias com empresas. Em um estudo que buscou
analisar as formas emergentes de carreiras dos profissionais envolvidos na
relação entre empresas e IEPs, Lam23 nomeou de “cientistas conectados” os
estudantes de Pós-graduação e professores que desenvolvem projetos conjuntos
com empresas ou que buscam empreender a pesquisa. Para a autora, esses pes-
quisadores possuem capacidades que são essenciais nos profissionais lotados
tanto nas IEPs como nas empresas.
... os ‘cientistas conectados’ eram tão importantes para esses dois processos
de formação de rede, pois conseguiram conciliar tais divergências intrínsecas,
atuando na integração dos diversos quadros mentais. Além disso, as evidências
sugerem que os ‘cientistas conectados’ possuem “capacidades integradoras”
bem desenvolvidas. [...] isso significa que eles provaram ser capazes de avançar
da ciência básica para aplicações tecnológicas ou comerciais – uma capacidade
crucial em parcerias de P&D que envolvem organizações de conhecimento e
empresas privadas.24
23
LAM, Alice. Knowledge Networks and Careers: Academic Scientists in Industry–University Links.
Journal of Management Studies, 44: 993–1016, 2007.
24
Tradução nossa. No original: “[…] the ‘linked scientists’ were so important for these two networks forma-
tion process, as they were able to reconcile such intrinsic divergences, acting towards the integration of
the diverse frames of mind. Moreover, the evidence suggests that the ‘linked scientists’ have well developed
‘integrative capabilities’. […] it means that they have proved to be able to move back and forth from basic
science to commercial or technological applications – a crucial capability within R&D partnerships which
involve both knowledge organisations and private firms”. Ibid., p. 120.
25
LAM, Alice. Knowledge Networks and Careers: Academic Scientists in Industry–University Links.
Journal of Management Studies, 44: 993–1016, 2007.
26
SIEGEL, D.; WALDAM, D.; LINK A. Assessing the impact of organisational practises on the relative
productivity of university transfer offices: An exploratory case. Research Policy, 32(1), 27–48, 2003.
27
Tradução nossa. No original: “When they were asked about their motivation to engage in collaboration,
they put altruist motives before commercial gains (i.e. contribute to the technological development of
86 Fabiana de Menezes Soares / Esther Külkamp Eyng Prete (Orgs.)
the country). Purely commercial interest seemed to be dissuaded within the scientific community in
the country. Yet the obtainment of resources to research projects was one of most common drives for
cooperation, together with the enrichment of research agenda and the offer of work opportunities to
students”. LAM, Alice., op. cit., p. 121.
28
LAM, Alice., op. cit., p. 993-1016.
29
ETZKOWITZ, H. et al. The future of the university and the university of the future: evolution of ivory
tower to entrepreneurial paradigm. Research Policy. v. 29, n. 2, p. 313-330, 2000.
30
BRUNDENIUS, C.; LUNDVALL, B.; SUTZ, J. The Role of universities in innovation systems in de-
veloping countries: developmental university systems – empirical, analytical, and normative perspec-
tives. In: LUNDVALL, B. et al. (Eds.) Handbook of Innovation Systems and Developing Countries:
Building Domestic Capabilities in a Global Setting. 1. ed. Cheltenham: Edward Elgar, 2009. p. 311-333.
31
Ibid., p. 311-333.
32
Tradução nossa. No original: “In the developed part of the world, there has been increasing focus on
the entrepreneurial university that is engaged in national and local problem solving – often with a
short-run focus on market-oriented interaction with industry. Alternatively, we propose the universities
in national innovation systems in developing countries should be developmental universities […]. The
Marco Regulatório em Ciência, Tecnologia e Inovação 87
O contexto latino-americano apresenta um cenário singular devido a sua
trajetória histórica, cultural e econômica. É possível visualizar ainda dentro
do próprio continente grandes desigualdades, o que torna pouco efetiva a uti-
lização de modelos baseados em experiências de países desenvolvidos. No caso
brasileiro, Suzigan e Albuquerque33 realizaram um estudo sobre a perspectiva
histórica da interação entre IEPs e Empresa no qual argumentam que essa inte-
ração é caraterística de sistemas de inovação em uma fase de desenvolvimento
intermediário marcada por “pontos de interação”34.
A partir da referida análise histórica, Suzigan e Albuquerque35 apontam
a existência de cinco elementos fundamentais para construção da interação
entre empresas e IEPs:
developmental universities, as we defined it here, is open and interacts with different groups in society,
including industrialists, but it does not operate according to the logic of making profit. Its major aim
is to contribute to social and economic development while at the same time safeguarding a certain
degree of autonomy.” BRUNDENIUS, C.; LUNDVALL, B.; SUTZ, J. The Role of universities in in-
novation systems in developing countries: developmental university systems – empirical, analytical,
and normative perspectives. In: LUNDVALL, B. et al. (Eds.) Handbook of Innovation Systems
and Developing Countries: Building Domestic Capabilities in a Global Setting. 1. ed. Cheltenham:
Edward Elgar, 2009. p. 326.
33
SUZIGAN, W.; ALBUQUERQUE, E. M. A Interação entre universidades e empresas em perspec-
tiva histórica no Brasil. Belo Horizonte: UFMG/Cedeplar (Texto para Discussão, 329). 2008. 27p.
34
Nesse caso, o termo “pontos de interação” se refere às áreas nas quais a excelência acadêmica influencia
a performance do setor produtivo em termos de competitividade internacional. Essas áreas são: ciências
da saúde; ciências agrárias e engenharia florestal; mineração e metalurgia; e, engenharia aeronáutica.
35
SUZIGAN, W.; ALBUQUERQUE, E. M., op. cit., p. 11.
88 Fabiana de Menezes Soares / Esther Külkamp Eyng Prete (Orgs.)
36
VIOTTI, Eduardo. B. “Brasil: de política de C&T para política de inovação? Evolução das políticas
brasileiras de ciência, tecnologia e inovação”. Em: VELHO, L.; SOUZA PAULA, M. C. Avaliação
de políticas de ciência, tecnologia e inovação: diálogo entre experiências internacionais e brasileiras.
Brasília: Centro de Gestão e Estudos Estratégicos. 2008.
37
DIAS, Rafael B. Sessenta Anos de Políticas Científica e Tecnológica no Brasil. Campinas: Editora
Unicamp. 2012.
38
VIOTTI, op. cit.
39
Ver nota de rodapé 15.
40
Mais informações sobre a Pesquisa de Inovação Tecnológica – PINTEC 2014 podem ser acessadas em:
<http://www.pintec.ibge.gov.br/>. Último acesso em: 24/06/2017.
41
SUZIGAN, W.; ALBUQUERQUE, E. M. A Interação entre universidades e empresas em perspec-
tiva histórica no Brasil. Belo Horizonte: UFMG/Cedeplar (Texto para Discussão, 329). 2008. p. 11.
Marco Regulatório em Ciência, Tecnologia e Inovação 89
6.4. CONSTRUÇÃO DE MECANISMOS DE INTERAÇÃO NO
BRASIL: O AMBIENTE REGULATÓRIO BRASILEIRO
Como visto nas sessões anteriores, o sucesso da relação entre IEPs e em-
presas representa um dos fatores fundamentais para o desenvolvimento econô-
mico e social do Brasil. Nesse contexto, de acordo com o que foi discutido, a
existência de um ambiente regulatório no país que ampare, encoraje e viabilize
essa interação é imprescindível para o alcance desse sucesso.
Em face disso, o Brasil passou por recentes mudanças em suas legislações
no que tange à C,T&I no país. A responsável por essas alterações, comumente
denominada como “Novo Marco Legal Brasileiro da C,T&I”, a Lei n. 13.243,
de 11 de janeiro de 2016, veio reduzir as barreiras legais e burocráticas exis-
tentes no Brasil, promovendo maior flexibilidade às instituições atuantes no
sistema de inovação do país 42. Ele objetiva, entre outros pontos, construir
mecanismos de interação eficazes, visando a um ambiente de inovação efetivo
por meio da intensificação da parceria público-privada.
Com vistas à articulação das IEPs com as empresas, o ambiente regulató-
rio brasileiro, especialmente em virtude da Lei n. 13.243/201643, permite, entre
outros, a utilização dos seguintes mecanismos de interação:
42
RAUEN, Cristiane Vianna. O novo marco legal da inovação no Brasil: o que muda na relação ICT-Em-
presa? Radar: tecnologia, produção e comércio exterior, Brasília, DF, n. 43, p. 21-34, fev. 2016.
Disponível em: <http://www.mestradoprofissional.gov.br/portal/images/stories/PDFs/radar/160309_ra-
dar43.pdf>. Acesso em: 25 jul. 2017.
43
BRASIL. Lei n. 13.243, de 11 de janeiro de 2016. Dispõe sobre estímulos ao desenvolvimento cientí-
fico, à pesquisa, à capacitação científica e tecnológica e à inovação [...] Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/lei/l13243.htm>. Acesso em: 25 jul. 2017.
90 Fabiana de Menezes Soares / Esther Külkamp Eyng Prete (Orgs.)
6.6. REFERÊNCIAS
BRAMWELL, A.; WOLFE, D. Universities and regional economic development: The entrepreneurial University
of Waterloo. Research Policy, v. 37, p. 1175-1187, 2008.
BRASIL. Lei n. 13.243, de 11 de janeiro de 2016. Dispõe sobre estímulos ao desenvolvimento científico, à
pesquisa, à capacitação científica e tecnológica e à inovação [...] Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/_ato2015-2018/2016/lei/l13243.htm>. Acesso em: 25 jul. 2017.
BRUNDENIUS, C.; LUNDVALL, B.; SUTZ, J. The Role of universities in innovation systems in developing
countries: developmental university systems - empirical, analytical, and normative perspectives. In: LUNDVALL,
B. et al. (Eds.) Handbook of Innovation Systems and Developing Countries: Building Domestic Capabilities
in a Global Setting. 1. ed. Cheltenham: Edward Elgar, 2009. p. 311-333.
BUSH, Vannevar. Science: the endless frontier: a report to the president on a program for postwar
scientific research, United States Government Printing Office, Washington, 1945. Washington: National
Science Foundation, 1990. Disponível em: https://www.nsf.gov/od/lpa/nsf50/vbush1945.htm> Acesso em:
04 de jun. 2017.
CASSIOLATO, J. E.; LASTRES, H. M. Sistemas de inovação e desenvolvimento: as implicações de políti-
ca. São Paulo Perspec., São Paulo, v. 19, n. 1, p. 34-45, 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.
php?script=sci_arttext&pid =S0102-88392005000100003&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 07 de jul. 2017.
DIAS, Rafael B. Sessenta Anos de Políticas Científica e Tecnológica no Brasil. Campinas: Editora Uni-
camp. 2012.
ETZKOWITZ, H.; LEYDESDORFF, L. The dynamics of innovation: From national systems and model 2 to a
triple helix of university industry-government relations. Research Policy, Amsterdam, n. 29, p. 109-123, 2000.
ETZKOWITZ, H. et al. The future of the university and the university of the future: evolution of ivory tower to
entrepreneurial paradigm. Research Policy. v. 29, n. 2, p. 313-330, 2000.
FREEMAN, C. Technology and Economic Performance: Lessons from Japan, Pinter, London. 1987.
LAM, Alice. Knowledge Networks and Careers: Academic Scientists in Industry–University Links. Journal of
Management Studies, 44: 993–1016. 2007.
LUNDVALL, B. National systems of innovation: towards a theory of innovation and interactive learning.
London: Pinter, 1992.
44
BRUNDENIUS, C.; LUNDVALL, B.; SUTZ, J. The Role of universities in innovation systems in de-
veloping countries: developmental university systems - empirical, analytical, and normative perspec-
tives. In: LUNDVALL, B. et al. (Eds.) Handbook of Innovation Systems and Developing Countries:
Building Domestic Capabilities in a Global Setting. 1. ed. Cheltenham: Edward Elgar, 2009.
45
LAM, Alice. Knowledge Networks and Careers: Academic Scientists in Industry–University Links.
Journal of Management Studies, 44: 993–1016, 2007.
92 Fabiana de Menezes Soares / Esther Külkamp Eyng Prete (Orgs.)
MARTINELLI, A.; MEYER, M.; VON TUNZELMANN, N. Becoming an entrepreneurial university? A case
study of knowledge exchange relationships and faculty attitudes in a medium-sized, research-oriented univer-
sity. Journal of Technology Transfer, 33 (3). pp. 259-283, 2008.
NELSON, R; ROSENBERG, N. Technical innovation and national system. In: Innovation systems. A compa-
rative analysis. Chap. 1. New Cork-Oxford: Oxford University Press. 1993.
RAUEN, Cristiane Vianna. O novo marco legal da inovação no Brasil: o que muda na relação ICT-Empresa?.Radar:
tecnologia, produção e comércio exterior, Brasília, DF, n. 43, p. 21-34, Fev. 2016. Disponível em: <http://www.
mestradoprofissional.gov.br/ portal/images/stories/PDFs/radar/160309_radar43.pdf>. Acesso em: 25 jul. 2017.
SIEGEL, D.; WALDAM, D.; LINK A.; Assessing the impact of organisational practises on the relative producti-
vity of university transfer offices: An exploratory case. Research Policy, 32(1), 27–48, 2003.
STOKES, Donald. O quadrante de Pasteur: a ciência básica e a inovação tecnológica. Campinas: Editora da
Unicamp. 2005.
SUZIGAN, W.; ALBUQUERQUE, E. M. A Interação entre universidades e empresas em perspectiva históri-
ca no Brasil. Belo Horizonte: UFMG/Cedeplar (Texto para Discussão, 329). 2008. 27p.
VIOTTI, Eduardo. B. “Brasil: de política de C&T para política de inovação? Evolução das políticas brasileiras
de ciência, tecnologia e inovação”. Em: VELHO, L. & SOUZA PAULA, M. C. Avaliação de políticas de ciên-
cia, tecnologia e inovação: diálogo entre experiências internacionais e brasileiras. Brasília: Centro de Gestão e
Estudos Estratégicos. 2008.
Capítulo 7
Considerações para uma Abordagem Sistemática
da Emenda Constitucional 85 de 2015
7.1. INTRODUÇÃO
2
DELLEY, Jean-Daniel. Pensar a Lei. Introdução a um procedimento Metódico, 2004, p. 122 e seg.
3
Op. cit. p. 101.
Marco Regulatório em Ciência, Tecnologia e Inovação 95
constitucionais, para além dos formalmente aludidos pela Ementa 85/15,
ganham novas “camadas” interpretativas.
Tendo em conta essas palavras introdutórias, gostaríamos de propor uma
reflexão introdutória, não exaustiva, a respeito dos reflexos constitucionais
latentes na Emenda 85/15 segundo o seguinte projeto: primeiramente, chamar
a atenção, ainda que muito brevemente, para o fenômeno econômico-social de
dimensão internacional – senão global – que provocou a discussão a respeito
da atualização do tratamento da Ciência e Tecnologia em nossa Constituição,
o qual esclarece o porquê disso se refletir na norma constitucional numa arti-
culação mais próxima entre o binômio tradicional ciência-tecnologia e a área
econômica mediante a inserção do conceito de “inovação” na Constituição.
Após a apresentação desse contexto mais geral, faz-se necessário destacar, ain-
da que brevemente, o contexto brasileiro específico que levou à promulgação
da emenda, mediante o relato do desenvolvimento da política e da legislação
referentes à seara da Ciência, Tecnologia e Inovação. A Emenda 85/15 nasce
já tendo “sob” si todo um corpo legal: sua criação teve como um dos seus
objetivos o de fornecer um “guarda-chuva” constitucional para um marco re-
gulatório em parte já existente e em parte então latente, além das normas que
ainda se darão nascimento.
Tendo apresentado essa descrição das circunstâncias, poderemos abordar
com maior propriedade considerações que, no nosso entender, fundamentam
qualquer estudo sistemático da emenda em tela. No caso, chamaremos atenção
para aqueles que nos parecem ser os três principais eixos que articulam a inte-
ligibilidade do corpo da Emenda Constitucional 85: a) a adoção da inovação
como política de Estado, o que nos obriga a chamar a atenção para o que está
implícito no conceito de Inovação e os impactos de sua inserção constitu-
cional; b) a descentralização e desconcentração de poderes da Administração
Pública e Entes Políticos para fins da densificação local e regional jurídico-
-administrativa do sistema de C,T&I e sua relação com a tarefa hercúlea de
capilarizar e desburocratizar a gestão e promoção das ações de C,T&I ; c) a
vocação da política de C,T &I para se articular com diversas searas estratégicas
da vida social tanto por conta do seu conteúdo concreto, quanto por aquilo
que pode ser depreendido da própria Emenda 85/15.
6
Nesse sentido, remetemos ao primeiro capítulo desse livro “Questões sobre a burocracia e as sociedades
industrial e do conhecimento” do Prof. Fernando Peregrino, o qual traz um relato mais detalhado sobre
as dificuldades aqui mencionadas.
7
Conselho Nacional de Secretários para Assuntos de Ciência, Tecnologia e Inovação (CONSECTI).
8
GARCIA, Francilene Procópio. Construção do Marco Legal da Ciência Tecnologia e Inovação no
Brasil: um relato do esforço colegiado e transformador. In: NADER, Helena B e Outros (organiza-
dores). A Ciência e o Poder Legislativo no Brasil – relatos e experiências. p. 25.
98 Fabiana de Menezes Soares / Esther Külkamp Eyng Prete (Orgs.)
Nas discussões inicias do PL [projeto de lei], foram destacados dois pontos mais
urgentes para a transformação da CT&I do país: (1) a maior integração do sistema
público de P&D com o setor privado e; (2) a simplificação dos processos adminis-
trativos, de pessoal e financeiro nas instituições públicas de P&D, ampliando as fle-
xibilizações em comparação com aquelas já previstas na Lei de Inovação de 2004.10
9
Op. cit. p. 26.
10
GARCIA, Francilene Procopio. op. cit., p. 28.
Marco Regulatório em Ciência, Tecnologia e Inovação 99
Entretanto, o maior desafio logo se revelou ser a necessidade de adequa-
ção da própria Constituição com a legislação infraconstitucional em gestação:
11
Op. cit. p. 28.
100 Fabiana de Menezes Soares / Esther Külkamp Eyng Prete (Orgs.)
Nova redação dada pela Emenda Constitucional 85/15: “Art. 218. O Estado
promoverá e incentivará o desenvolvimento científico, a pesquisa, a capacita-
ção científica e tecnológica e a inovação.” (sem grifos no original)
“Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios:”
13
Para uma explanação mais detalhada sobre o conceito de inovação, remetemos o leitor ao capítulo do
presente livro “O que é ‘’Inovação’, seus tipos, e como tal fenômeno relaciona-se com uma forte estru-
tura institucional para o desenvolvimento científico” de autoria da prof.ª Adriana Ferreira de Faria.
14
Plano de Ação à Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (ENCTI) 2016-2019, p. 6.
Marco Regulatório em Ciência, Tecnologia e Inovação 103
estanques, como o demonstra a própria divisão constitucional sob os Títulos
VII e VIII (“Da Ordem Econômica e Financeira” e “Da Ordem Social”, res-
pectivamente). O Capítulo IV do Título VIII traz a economia de forma plena
para dentro do tratamento constitucional da “Ordem Social”, entrelaçando
a atividade econômica com o próprio bem-estar social mediante a ponte da
ciência, tecnologia e inovação.
Nesse sentido, a Constituição passa a estabelecer também o “apoio” e
“estímulo” às empresas inovadoras:
Com base nas mesmas razões, a Lei 10.973/2004 já dispunha sobre “in-
centivos à inovação e à pesquisa científica e tecnológica no ambiente produti-
vo”. Afirma seu art. 1º (alterado pela Lei 13.243):
Outra razão que nos leva a concluir pela organicidade ontológica – e não
apenas formal – dos elementos esposados pela emenda consiste na aparente
adoção constitucional da teoria da tríplice hélice, a qual é utilizada para explicar
como a Economia da Era do Conhecimento é uma resultante da ação integra-
da e sinérgica das searas do Poder Público, Instituições Públicas e Privadas de
Ensino e Pesquisa e Setor Produtivo:
Como exposto em nosso item 1.2, nas discussões parlamentares que ante-
cederam a promulgação do novo marco Regulatório de C,T&I (Lei nº 13.243),
um dos principais obstáculos diagnosticados foi o da existência de barreiras
jurídicas à maior integração do sistema público de P&D com o setor privado.
Compreendeu-se que somente a adoção constitucional de uma autorização
expressa à integração entre setor público e privado no que tange C,T&I per-
mitiria uma revisão ampla dos obstáculos jurídicos existentes na legislação
infraconstitucional assim como serviria de fundamento para futuras regula-
mentações com vistas a instrumentalizar tal integração.
Tendo isso em mente, apontamos aqui a importância dada pela emenda
à “integração entre entes público e privados” para a concretização dos fins da
C,T&I no Capítulo IV do Livro VIII da Constituição, “Da Ciência, Tecnologia
e Inovação”:
15
ETZKOWITZ, HENRY; ZHOU, CHUNYAN. Hélice Tríplice: inovação e empreendedorismo univer-
sidade-indústria-governo. Estud. av., São Paulo , v. 31, n. 90, p. 23-48, May 2017. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142017000200023>.
Marco Regulatório em Ciência, Tecnologia e Inovação 105
Destaque-se a autorização expressa de novas formas de articulação entre entes
públicos e privados trazida pela Emenda 85 especialmente no novo art. 219-A:
Art. 3º
A União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e as respectivas agên-
cias de fomento poderão estimular e apoiar a constituição de alianças estratégi-
cas e o desenvolvimento de projetos de cooperação envolvendo empresas, ICTs
e entidades privadas sem fins lucrativos voltados para atividades de pesquisa
e desenvolvimento, que objetivem a geração de produtos, processos e serviços
inovadores e a transferência e a difusão de tecnologia.
106 Fabiana de Menezes Soares / Esther Külkamp Eyng Prete (Orgs.)
Tudo o que foi mencionado nesse item ficará mais claro ao olharmos
para uma descrição gráfica da estrutura do Sistema Nacional de Ciência, Tec-
nologia e Inovação, a fim de visualizarmos sua complexidade e abrangência.
Note-se especialmente a interação entre Sociedade, Governo e entidades de
educação e pesquisa científica:
Do diagrama, destacamos16:
16
Conforme descrições fornecidas pelo ENCTI 2016-2019, p. 22-23.
Marco Regulatório em Ciência, Tecnologia e Inovação 107
dos recursos aportados, especialmente em concessões públicas e em re-
gimes especiais de incentivos econômicos, geridos por agências regula-
doras como a Aneel, a ANP, a Agência Nacional de Telecomunicações
(Anatel), entre outras.
• Secretarias Estaduais de CT&I: atuam como Coordenadoras dos Siste-
mas Regionais.
• Comissão Permanente de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Infor-
mática (CCTCI): com atuação junto à Câmara dos Deputados.
• Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informá-
tica (CCTICI): comissão também permanente com atuação junto ao
Senado Federal.
• Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a Sociedade Brasileira para o
Progresso da Ciência (SBPC): atuam no âmbito da representação aca-
dêmica, canalizando junto ao Governo as demandas de pesquisadores
e professores. Tiveram, historicamente, um papel importante para o
desenvolvimento do SNCTI e na concepção e aprovação das principais
leis pertinentes.
• Agências de fomento: destacam-se no plano federal o CNPq, a Coorde-
nação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Finep
e o BNDES no que concerne à inovação empresarial. Além das entida-
des federais, as Fundações de Amparo à Pesquisa (FAPs) são as agências
de fomento de âmbito estadual.
• CT&Is e operadores: ‘Outro grupo de operadores é aquele relacionado com
os processos de desenvolvimento tecnológico e de inovação empresarial.
Esses operadores podem compor ecossistemas de inovação circunscritos
territorialmente, nos moldes dos polos tecnológicos ou clusters de alta tec-
nologia. Nesses ambientes, além da proximidade territorial, as instituições
podem contar com o apoio de universidades, tal como se constata em par-
ques tecnológicos e em incubadoras de empresas. As entidades também po-
dem compor outros ecossistemas de inovação, com intensidades variadas
de relacionamento entre startups e empresas inovadoras já consolidadas no
mercado. Esses atores privados utilizam diversos instrumentos disponíveis
no SNCTI, seguindo as tendências internacionais de apoio à inovação, e
apresentam como desafio contínuo para a expansão do SNCTI o aumento
da interação entre universidades e empresas.’17
17
ENCTI 2016-2019, p. 22-23.
108 Fabiana de Menezes Soares / Esther Külkamp Eyng Prete (Orgs.)
18
ENCTI 2016-2019, p. 6.
110 Fabiana de Menezes Soares / Esther Külkamp Eyng Prete (Orgs.)
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concor-
rentemente sobre:
IX – educação, cultura, ensino, desporto, ciência, tecnologia, pesquisa, desen-
volvimento e inovação;
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 85, de 2015)
Saúde
Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos
termos da lei.
(...)
V – incrementar, em sua área de atuação, o desenvolvimento científico e tecnológico e
a inovação. (sem itálico no original)
and Legisprudence In: OLIVER-LALANA, A. Daniel; WINTGENS, Luc J. (org.). The Rationality
and Justification of Legislation – Essays in Legisprudence. Switzerland: Springer, 2013.
23
PORTER, Theodore M. Trust in Numbers: The Pursuit of Objectivity in Science and Public Life.
Princeton University Press, 1996.
24
“A inclusão desses parâmetros ‘é para assegurar que a participação econômica, social e política no futuro apenas
será permitida para indivíduos e empresas que cumpram com as normas sociais e políticas do Partido Comunis-
ta da China’, explica Mirjam Meissner, do centro de estudos alemão MERICS e coautora de um estudo recente
no qual descreve o projeto como ‘autoritarismo apoiado pela tecnologia da informação’”. LIY, Macarena Vi-
dal. China vai usar dados pessoais para catalogar cidadãos e empresas: Sistema será usado para avaliar
a confiabilidade e a lealdade política de cada indivíduo e companhia. Jornal El País. 23 de outubro de
2016. Disponível em: <https://brasil.elpais.com/brasil/2016/10/20/internacional/1476970091_757096.html>.
25
Utilizamos a expressão com o sentido que lhe emprestou originalmente o economista Murray Rothbard:
em sua obra o termo serve para descrever uma parceria entre governo e grandes empresas na qual o
aparato estatal é utilizado para o benefício dos primeiros contra os interesses dos consumidores ou da
população em geral, diferenciado esse fenômeno do verdadeiro livre mercado. A Future of Peace and
Capitalism. In: James H. Weaver, ed., Modern Political Economy. Boston: Allyn and Bacon, 1973,
capítulo 28, pp. 419-430. Disponível em: <https://mises.org/library/future-peace-and-capitalism>.
114 Fabiana de Menezes Soares / Esther Külkamp Eyng Prete (Orgs.)
7.7. REFERÊNCIAS
ALBAGLI, Salita et al. Desafios e Oportunidades da Era do Conhecimento. São Paulo Perspec. vol. 16 n. 3 São
Paulo 2002. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/spp/v16n3/13562.pdf>. Acesso em: jan. 2018.
ARISTÓTELES. Metafísica: volume II/ Aristóteles; ensaio introdutório, texto grego com tradução e comentário
de Giovanni Reale; tradução Marcelo Perine. 5ª ed., São Paulo: Edições Loyola, 2015.
BRASIL, MINISTÉRIO DA CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO (MCTI). Estratégia Nacional de Ciên-
cia, Tecnologia e Inovação 2016-2019. Disponível em: <http://www.propesq.unir.br/uploads/76767676/arquivos/
Estrat_gia_Nacional_de_Ci_ncia__Tecnologia_e_Inova__o_2016_2019_1248378469.pdf>. Acesso em: 05.04.2018.
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Consituição. 7 edição, Almedina: Coim-
bra, 2003.
____________. Constituição Dirigente e Vinculação do Legislador: Contributo para a Compreensão das
normas Constitucionais Programáticas. Reimpressão. Coimbra Editora Limitada, 1994.
CHEVALIER, Jacques. L´État post-moderne. 4ª ed. Coleção Droit et Société, Paris : Maison des Scienses de
L´Homme. 2014.
DELLEY, Jean-Daniel. Pensar A Lei: Introdução A Um Procedimento Metódico. Cad. Esc. Legisl., Belo Hori-
zonte, v. 7, n. 12, p. 101-143, jan./jun. 2004.
DELLEY, Jean-Daniel; FLÜCKIGER, Alexandre. A Elaboração Racional Do Direito Privado: Da Codificação
À Legística. Tradução: Paulo Roberto Magalhães. Revisão da tradução: Maria Lina Soares Souza. Cad. Esc.
Legisl., Belo Horizonte, v. 9, n. 14, p. 35-58, jan./dez. 2007.
ETZKOWITZ, HENRY; ZHOU, CHUNYAN. Hélice Tríplice: inovação e empreendedorismo universidade-
-indústria-governo. Estud. av., São Paulo , v. 31, n. 90, p. 23-48, May 2017 . Disponível em: <http://www.scielo.
br/scielo.php?script= sci_arttext&pid = S0103-40142017000200023&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 25 de abril
de 2018. <http://dx.doi.org/10.1590/s0103-40142017.3190003>.
LIY, Macarena Vidal. China vai usar dados pessoais para catalogar cidadãos e empresas: Sistema será usado
para avaliar a confiabilidade e a lealdade política de cada indivíduo e companhia. Jornal El País. 23 de outubro
de 2016. Disponível em: <https://brasil.elpais.com/brasil/2016/10/20/internacional/1476970091_757096.html>.
Acessado em: fev. 2018.
KUHN, Thomas. A Estrutura das Revoluções Cientificas. Coleção Debates, Editora Perspectiva, 2013.
NADER, Helena B e Outros (organizadores). A Ciência e o Poder Legislativo no Brasil – relatos e experiên-
cias. Sociedade Brasileira para o Progresso das Ciências, 2017. Disponível em: <http://portal.sbpcnet.org.br/
livro/cienciaepoderlegislativo.pdf>. Acesso em: nov. 2017.
PORTER, Theodore M. Trust in Numbers: The Pursuit of Objectivity in Science and Public Life. Princeton
University Press, 1996.
ROTHBARD, Murray. A Future of Peace and Capitalism. In: James H. Weaver, ed., Modern Political
Economy. Boston: Allyn and Bacon, 1973, capítulo 28, pp. 419-430. Disponível em: <https://mises.org/library/
future-peace-and-capitalism>. Acesso em: 01.05.2018.
WINTGENS, Luc J. The Rational Legislator Revisited: Bounded Rationality and Legisprudence IN: OLI-
VER-LALANA, A. Daniel; WINTGENS, Luc J. (org.). The Rationality and Justification of Legislation – Essays
in Legisprudence. Switzerland: Springer, 2013.
LEGISLAÇÃO:
BRASIL. Emenda Constitucional n. 85, de 26 de fevereiro de 2015. Altera e adiciona dispositivos na Cons-
tituição Federal para atualizar o tratamento das atividades de ciência, tecnologia e inovação. Diário Oficial
Marco Regulatório em Ciência, Tecnologia e Inovação 115
da União, Brasília, 03 de mar. De 2015. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/
emendas/emc/emc85.htm>.
Brasil. Lei n. 10.973, de 2 de dezembro de 2004. Diário oficial da União, Brasília, 03 de dez. de 2004. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/lei/l10.973.htm>.
BRASIL. Lei n. 13.243, de 11 de janeiro de 2016. Diário oficial da União, Brasília, 12 de dez. de 2016. Disponí-
vel em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/lei/l13243.htm>.
Capítulo 8
Os princípios do Novo Marco Regulatório
de Ciência, Tecnologia e Inovação
8.1. INTRODUÇÃO
1
BRASIL. Lei n. 13243. Congresso Nacional, Brasília, janeiro de 2016. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/lei/l13243.htm>. Acesso em: 10/12/2017.
2
DWORKIN, Ronald. Taking Rights seriously. Massachusetts: Harvard University Press, 1978, p. 22 e
ss.; ALEXY, Robert. Teoria dos Direitos Fundamentais. Tradução de Virgílio Afonso da Silva. São
Paulo: Malheiros, 2008.
3
CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição. 4ª ed. Coimbra:
Almedina, 2000.
4
JELLINEK, Georg. Reforma y mutación de la Constitución. Tradução Christian Foster. Madrid: Cen-
tro de Estudios Constitucuionales, 1991.
Marco Regulatório em Ciência, Tecnologia e Inovação 117
sabe-se que os princípios, enquanto normas que conformam os direitos funda-
mentais e garantias institucionais, protegem os direitos de todos os indivíduos
submetidos à jurisdição constitucional, e, portanto, nunca cedem perante normas
infraconstitucionais, sendo necessário que estas se conformem aos padrões estipu-
lados pelo conjunto de princípios presentes no ordenamento.
Em suma, os princípios em comento representam para o Estado De-
mocrático de Direito no Brasil a possibilidade de concreção de todo e
quaisquer direitos, implementando o projeto de sociedade preconizada
pelo constituinte5.
Nesse sentido, a importância dos princípios no âmbito da Ciência,
Tecnologia e Inovação deve ser ressaltada e o objetivo principal desse artigo
é analisar o art. 1º da Lei nº 10.973/04, a qual “dispõe sobre incentivos à
inovação e à pesquisa científica e tecnológica no ambiente produtivo e dá
outras providências”6.
Vale apontar que Nieheus, citado por Assunção7, “acredita que essa inclu-
são de princípios reforça, ainda mais, a inovação como interesse não apenas
privado, mas também público, para o bem de toda a coletividade, especialmen-
te quando faz referência ao desenvolvimento social e à redução das desigualda-
des regionais, principais problemas do Brasil”.
Já Garcia8 considera que o processo de construção do novo código “iden-
tificou pontos de ajustes em outras nove leis relacionadas ao tema, de forma
que, ao final, o Brasil pudesse contar com um ambiente menos burocrático,
menos vulnerável aos obstáculos legais, e mais apto às flexibilidades desejáveis
para a operação de instituições junto aos inúmeros desafios do país”.
Desse modo, visando facilitar a compreensão dos princípios do Marco
Regulatório de Ciência, Tecnologia e Inovação, as autoras optaram por uma
divisão em cinco grandes áreas, quais sejam:
5
LASSALE, Ferdinand. A Essência da Constituição. Trad. Walter Stönner. 3ª ed. Rio de Janeiro: Edi-
tora Lumen Juris, 1995.
6
BRASIL. Lei n. 13.243. Congresso Nacional, Brasília, janeiro de 2016. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/lei/l13243.htm>. Acesso em: 10/12/2017.
7
ASSUNÇÃO, Linara Oeiras. Legislação, desenvolvimento e inovação: caminhos metodológicos para
elaboração de marcos legais propulsores de desenvolvimento com inovação. Tese (doutorado). Univer-
sidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Direito: 2017. p. 209.
8
GARCIA, Francilene Procópio. Construção do novo “marco legal da ciência, tecnologia e inovação”
do Brasil: um relato do esforço colegiado e transformador. In: NADER, Helena Bonciani; OLIVEIRA,
Fabíola de; MOSSRI, Beatriz de Bulhões (Organizadoras). A ciência e o poder legislativo: relatos e
experiências. São Paulo: SBPC, 2017. p. 29.
118 Fabiana de Menezes Soares / Esther Külkamp Eyng Prete (Orgs.)
9
BRASIL. Lei n. 13.243. Congresso Nacional, Brasília, janeiro de 2016. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/lei/l13243.htm>. Acesso em: 10/12/2017.
10
BRASIL. Constituição Federal de 1988. Congresso Nacional, Brasília, 1988. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 10/12/2017.
11
SILVEIRA, Vladmir Oliveira da; NASPOLINI, Samyra Haydêe Dal Farra. Direito e Desenvolvimento
no Brasil do Século XXI: uma análise da normatização internacional e da Constituição Brasileira. Bra-
sília: Ipea, CONPEDI, 2013, p. 123-150.
12
Informação disponibilizada pelo Banco Mundial. Disponível em: <http://www.worldbank.org/
pt/news/feature/2015/04/20/brazil-low-economic-growth-versus-poverty-reduction>. Acesso em:
20/04/2018.
Marco Regulatório em Ciência, Tecnologia e Inovação 119
Por outro lado, há o aspecto social do desenvolvimento, o qual, nos úl-
timos tempos, vem ganhando destaque no cenário mundial. Reconhecido na
doutrina do direito internacional e também em instrumentos jurídicos dessa
seara, pode ser compreendido como um
(...)
CAPÍTULO IX
COOPERAÇÃO ECONÔMICA E SOCIAL INTERNACIONAL
Artigo 28: Toda a pessoa tem direito a que reine, no plano social e no plano
internacional, uma ordem capaz de tornar plenamente efectivos os direi-
tos e as liberdades enunciadas na presente Declaração. (grifo nosso)
18
SCHUMPETER, Joseph A. Teoria do Desenvolvimento Econômico. São Paulo: Abril Cultural, 1985.
Marco Regulatório em Ciência, Tecnologia e Inovação 121
em meados do século XX, que as longas ondas dos ciclos do desenvolvimento
no capitalismo resultavam da conjugação ou da combinação de inovações, o que
pode ser identificado, também, nos dias atuais.
Inclusive, a história do desenvolvimento das tecnologias corrobora essa
proposição, visto que desvela o nexo de causalidade entre o crescimento do
número de inovações e os diversos avanços tecnológicos que marcaram os
últimos séculos, modificando veementemente as esferas política, econômica,
cultural e social.
Segundo Hoffmann19, a velocidade da produção de novos conhecimen-
tos cria, continuamente, novas perspectivas para o bem-estar dos indivíduos e
para a melhoria da sociedade em geral. Entretanto, vários aspectos ou riscos
surgem nesse processo que, muitas vezes, podem escapar do controle e exigem
a ampliação da visão do mundo e do relacionamento entre as pessoas ou en-
tre os cientistas/pesquisadores, tendo por escopo a relação harmônica entre
Ciência, Tecnologia e Sociedade.
Dessa forma, resta evidente que o desenvolvimento da ciência e da tecno-
logia deve ser entendida não como um processo ou atividade autônoma, mas
sim como “um processo ou produto inerentemente social e relevante para a
valorização das condições da vida humana”20.
19
HOFFMANN, Wanda Aparecida Machado (Org.). Ciência, Tecnologia e Sociedade: desafios da cons-
trução do conhecimento. São Carlos: Ed UFSCar, 2011.
20
Op. cit.
21
Estudo realizado pela FAPESP, denominado “Análise da produção científica a partir de indicadores
bibliométricos”. Disponível em: <http://www.fapesp.br/indicadores2004/volume1/cap05_vol1.pdf>.
Acesso em: 19/04/2018.
122 Fabiana de Menezes Soares / Esther Külkamp Eyng Prete (Orgs.)
22
BRASIL. Lei n. 13.243. Congresso Nacional, Brasília, janeiro de 2016. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/lei/l13243.htm>. Acesso em: 10/12/2017.
23
MAZZUCATO, Mariana. O Estado Empreendedor: desmascarando o mito do setor público vs. setor
privado. Tradução Elvira Serapicos. 1ª ed. São Paulo: Portfolio-Penguin, 2014.
24
BRASIL. Lei n. 13.243. Congresso Nacional, Brasília, janeiro de 2016. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/lei/l13243.htm>. Acesso em: 10/12/2017.
Marco Regulatório em Ciência, Tecnologia e Inovação 123
dos interessados deve ser promovido pelo Estado nas regiões consideradas
menos interessantes pela iniciativa privada.
A busca do equilíbrio é importante para que o ecossistema de ciência,
tecnologia e inovação consiga obter bons resultados para a sociedade e, ao
mesmo tempo, para que continue havendo a produção um estoque consistente
de conhecimento fundamental.
A parceria entre o setor público e o setor privado é necessária para que haja
concretos benefícios em Ciência, Tecnologia e Inovação, sendo imprescindível que
se construa um sistema dinâmico de cooperação entre os entes. É o que determina
o princípio contido no inciso V, qual seja: “promoção da cooperação e interação
entre os entes públicos, entre os setores público e privado e entre empresas”25.
Dada a intrínseca conexão entre o desenvolvimento da tecnologia e a socie-
dade, apontamos a presença de três agentes responsáveis pelo sucesso da inovação,
a qual passa a possuir competitividade no cenário econômico e um diferencial no
mercado: a academia (universidades/institutos de pesquisa), as empresas e o governo.
A forma com que esses agentes se relacionam foi objeto de diversos estu-
dos, porém, com a intenção de apenas apresentar graficamente essa interação,
apresentaremos um modelo que representa o engajamento dos citados atores
de forma mais fidedigna e equilibrada, a denominada “hélice tríplice”26:
25
Op. cit.
26
Imagem extraída de sítio eletrônico. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttex-
t&pid=S0100-40422012000300038>. Acesso em: 20/04/2018.
124 Fabiana de Menezes Soares / Esther Külkamp Eyng Prete (Orgs.)
31
Op. cit. p. 27.
32
Op. cit. p. 28.
33
DRUKER, Peter apud SARKAR, Soumodip. Empreendedorismo e Inovação. Lisboa (Portugal): Es-
colar Editora, 2014. p. 28.
34
DORNELAS, 2005, apud AMÂNCIO VIEIRA, Saulo Fabiano; MELATTI, Gerson Antonio; SEIKI
OGUIDO, Wagner; PELISSON, Cleufe; FERNANDES de Negreiros, Letícia. Ensino de Empreendedo-
rismo em Cursos De Administração: um Levantamento da Realidade Brasileira. Rev. Administração
FACES Journal, vol. 12, núm. 2, abril-junho, 2013, pp. 93-114, FUMEC MG, Brasil.
126 Fabiana de Menezes Soares / Esther Külkamp Eyng Prete (Orgs.)
35
Entrepreneurship and Innovation at MIT: Continuing Global Growth and Impact - Edward B. Roberts,
Fiona Murray, and J. Daniel Kim MIT (2015) Sloan School of Management, APUD: ENDEAVOR, 2016, p. 3.
36
BRASIL. Lei n. 13.243. Congresso Nacional, Brasília, janeiro de 2016. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/lei/l13243.htm>. Acesso em: 10/12/2017.
37
Op. cit.
38
Informação contida em sítio eletrônico. Disponível em: <http://www.inpi.gov.br/menu-servicos/transfe-
rencia/transferencia-de-tecnologia-mais-informacoes>. Acesso em: 31/10/2016.
Marco Regulatório em Ciência, Tecnologia e Inovação 127
Por fim, como forma de incentivo a essa visão inovadora e empreendedo-
ra, há que salientar os incisos VII, que determina a “promoção da competitivi-
dade empresarial nos mercados nacional e internacional”, e XIII, que autoriza
a “utilização do poder de compra do Estado para fomento à inovação”39.
Tais permissões e incentivos são frutos de uma visão ampliada do Estado, a
qual permite que se transforme de “‘leviatã’ burocrático inativo a novo catalisador
de investimentos empresariais; de ‘ajustador’ a formador e criador de mercados;
deixando de ser ‘eliminador de riscos’ para o setor privado para acolher e assumir
o risco devido às oportunidade que oferece para o crescimento futuro”40.
Assim, diante do grande potencial consumidor do Estado, o uso de seu
poder de compra é amplamente considerado com vistas a estimular a compe-
titividade de mercado de empresas incipientes e, de um modo geral, favorece
a competitividade no mercado nacional e internacional.
39
BRASIL. Lei n. 13.243. Congresso Nacional, Brasília, janeiro de 2016. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/lei/l13243.htm>. Acesso em: 10/12/2017.
40
MAZZUCATO, Mariana. O Estado Empreendedor: desmascarando o mito do setor público vs. setor
privado. Tradução Elvira Serapicos. 1ª ed. São Paulo: Portfolio-Penguin, 2014. p. 33.
41
BRASIL. Lei n. 13.243. Congresso Nacional, Brasília, janeiro de 2016. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/lei/l13243.htm>. Acesso em: 10/12/2017.
42
BRASIL. Constituição Federal de 1988. Congresso Nacional, Brasília, 1988. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 10/12/2017.
128 Fabiana de Menezes Soares / Esther Külkamp Eyng Prete (Orgs.)
43
Op. cit.
44
BRASIL. Lei n. 13.243. Congresso Nacional, Brasília, janeiro de 2016. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/lei/l13243.htm>. Acesso em: 10/12/2017.
45
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 30ª ed. Forense: Rio de Janeiro, 2017.
p. 566.
46
Op. cit. p. 266.
47
BRASIL. Constituição Federal de 1988. Congresso Nacional, Brasília, 1988. Disponível em <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 10/12/2017.
Marco Regulatório em Ciência, Tecnologia e Inovação 129
Estado estimulará a formação e o fortalecimento da inovação nas empresas,
bem como nos demais entes, públicos ou privados, a constituição e a manu-
tenção de parques e polos tecnológicos e de demais ambientes promotores
da inovação, a atuação dos inventores independentes e a criação, absorção,
difusão e transferência de tecnologia.48
dores sobre renda e emprego. Destarte, observa-se um efeito cascata positivo que
se gera ao investir em ciência e tecnologia, e, principalmente, em fazer perdurar
tais investimentos, garantindo benesses amplas e duradouras.
Por fim, necessário afirmar que o grande gargalo para a ciência, tecno-
logia e inovação no cenário brasileiro é a burocratização dos procedimentos
para a gestão dos projetos. Inclusive, a Associação Nacional de Pesquisa e
Desenvolvimento das Empresas Inovadoras – ANPEI divulgou uma pesquisa
na 14ª Conferência de Inovação Tecnológica52 em que ficou demonstrado que
a “redução da burocracia” liderou o ranking temático que demonstrava o que
os atores querem no futuro, alcançando 22%.
Diante desse quadro de insatisfação, o inciso XII do arcabouço de prin-
cípios do Marco Regulatório de Ciência, Tecnologia e Inovação indica como
princípio a “simplificação de procedimentos para gestão de projetos de ciência,
tecnologia e inovação e adoção de controle por resultados em sua avaliação”53.
Entretanto, essa disposição legislativa trata-se de uma inversão na preo-
cupação com os mecanismos de controle de gestão da pesquisa científica,
especialmente porque envolvidos o repasse de recursos públicos para o fi-
nanciamento dessas atividades. Controle por resultados é essencialmente a
preocupação com eficiência no dispêndio do dinheiro público traduzida, in-
clusive, na flexibilização do controle e do accountability, combinando transpa-
rência e flexibilidade na medida das necessidades do pesquisador.
52
Informação obtida em sítio eletrônico. Disponível em: <http://anpei.org.br/anpeinews/burocracia-garan-
tias-e-contrapartidas-sao-obstaculos-no-caminho-da-inovacao-das-pequenas-empresas/>. Acesso em:
20/04/2018.
53
BRASIL. Lei n. 13.243. Congresso Nacional, Brasília, janeiro de 2016. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/lei/l13243.htm>. Acesso em: 10/12/2017.
Marco Regulatório em Ciência, Tecnologia e Inovação 131
desburocratizar os procedimentos relativos a essa seara, especialmente ao
considerarmos todas as possibilidades de desenvolvimento que a inovação
propicia nos âmbitos nacional e estadual.
Ademais, a atual escassez de recursos orçamentários para investimento
em C,T&I no Brasil pode gerar a desmobilização e desestruturação de todo
esse avanço alcançado por instituições pertencentes a todo o país, além de
prejudicar o desenvolvimento nacional e o investimento em políticas públicas.
Por tais razões, diante de tais princípios, cabe citar e enfatizar Mazzucato54,
entusiasta do papel ativo do Estado na Inovação, a qual preleciona que no final
dessa história, “quando o Estado é organizado eficientemente, sua mão é firme
mas não pesada, proporcionando a visão e o impulso dinâmico (...), acontecem
coisas que de outra forma não aconteceriam”. É, definitivamente, o que se espera.
8.8. REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Fernando Barcellos de. Teoria Geral dos Direitos Humanos. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris,
1996. p. 24.
ARBIX, G.; MARTIN, Scott. Beyond developmentalism and market fundamentalismo in Brazil: inclusionary
State activism without Statism. In: Workshop On “States, Development, And Global Governance”, Madison:
Global Legal Studies Center and the Center for World Affairs and the Global Economy (WAGE). University of
Wisconsin-Madison, Mar., 2010. Disponível em: <https://law.wisc.edu/gls/governance.workshop.html> . Acesso
em: 10 jun. 2016.
ASSUNÇÃO, Linara Oeiras. Legislação, desenvolvimento e inovação: caminhos metodológicos para elabora-
ção de marcos legais propulsores de desenvolvimento com inovação. Tese (doutorado). Universidade Federal de
Minas Gerais, Faculdade de Direito: 2017.
BIELSCHOWSKY, Ricardo. Estratégia de desenvolvimento e as três frentes de expansão no Brasil: um desenho
conceitual. In: CALIXTRE, André B.; BIANCARELLI, André Martins; CINTRA; Marcos Antônio M. (Ed.).
Presente e Futuro do Desenvolvimento Brasileiro. Brasília: IPEA, 2014, p. 115-133.
BRASIL. Constituição Federal De 1988. Congresso Nacional, Brasília, 1988. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 10/12/2017.
BRASIL. Lei n. 13243. Congresso Nacional, Brasília, janeiro de 2016. Disponível em: <http://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/lei/l13243.htm>. Acesso em: 10/12/2017.
CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição. 4ª ed. Coimbra: Almedina, 2000.
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 30ª ed. Forense: Rio de Janeiro, 2017. p. 566.
DORNELAS, 2005, apud AMÂNCIO VIEIRA, Saulo Fabiano; MELATTI, Gerson Antonio; SEIKI OGUIDO,
Wagner; PELISSON, Cleufe; FERNANDES de Negreiros, Letícia. Ensino de Empreendedorismo em Cursos de
Administração: um Levantamento da Realidade Brasileira. Rev. Administração FACES Journal, vol. 12, núm.
2, abril-junho, 2013, pp. 93-114, FUMEC MG, Brasil.
DWORKIN, Ronald. Taking Rights seriously. Massachusetts: Harvard University Press, 1978, p. 22 e
ss.; ALEXY, Robert. Teoria dos Direitos Fundamentais. Tradução de Virgílio Afonso da Silva. São Paulo:
Malheiros, 2008.
ENDEAVOR BRASIL; Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE). Empreendedoris-
mo nas Universidades Brasileiras 2016. ENDEAVOR/SEBRAE, outubro de 2016.
54
MAZZUCATO, Mariana. O Estado Empreendedor: desmascarando o mito do setor público vs. setor
privado. Tradução Elvira Serapicos. 1ª ed. São Paulo: Portfolio-Penguin, 2014. p. 28.
132 Fabiana de Menezes Soares / Esther Külkamp Eyng Prete (Orgs.)
ETZKOWITZ, Henry. Hélice Tríplice: Universidade-indústria–governo: inovação em ação. Porto Alegre: EDI-
PUCRS, 2009.
FAPESP. Análise da produção científica a partir de indicadores bibliométricos. Disponível em: <http://www.
fapesp.br/indicadores2004/volume1/cap05_vol1.pdf>. Acesso em: 19/04/2018.
GARCIA, Francilene Procópio. Construção do novo “marco legal da ciência, tecnologia e inovação” do
Brasil: um relato do esforço colegiado e transformador. In: NADER, Helena Bonciani; OLIVEIRA, Fabíola de;
MOSSRI, Beatriz de Bulhões (Organizadoras). A ciência e o poder legislativo: relatos e experiências. São Paulo:
SBPC, 2017. p. 29.
HOFFMANN, Wanda Aparecida Machado (Org.). Ciência, Tecnologia e Sociedade: desafios da construção do
conhecimento. São Carlos: EdUFSCar, 2011.
JELLINEK, Georg. Reforma y mutación de la Constitución. Tradução Christian Foster. Madrid: Centro de
Estudios Constitucuionales, 1991.
LASSALE, Ferdinand. A Essência da Constituição. Trad. Walter Stönner. 3ª ed. Rio de Janeiro: Editora Lumen
Juris, 1995.
MAZZUCATO, Mariana. O Estado Empreendedor: desmascarando o mito do setor público vs. setor privado.
Tradução Elvira Serapicos. 1ª ed. São Paulo: Portfolio-Penguin, 2014.
SARKAR, Soumodip. Empreendedorismo e Inovação. Lisboa (Portugal): Escolar Editora, 2014. p. 26.
SCHUMPETER, Joseph A. Teoria do Desenvolvimento Econômico. São Paulo: Abril Cultural, 1985.
SILVEIRA, Vladmir Oliveira da; NASPOLINI, Samyra Haydêe Dal Farra. Direito e Desenvolvimento no Brasil
do Século XXI: uma análise da normatização internacional e da Constituição Brasileira. Brasília: Ipea, CON-
PEDI, 2013, p. 123-150.
SOARES, Fabiana de Menezes. A prestação de contas e atividade legislativo-regulamentatória do Executivo
brasileiro: tensões de simplificação e desburocratização no contexto do Código de Ciência, Tecnologia e Inova-
ção. 9º Congresso Latinoamericano de Ciência Política. Montevideu: ALACIP, 2017.
Capítulo 9
Os Instrumentos de Estímulo à Inovação
nas Empresas Trazidos pela Lei nº 13.243/2016
e seu Comparativo com a Lei Mineira
9.1. INTRODUÇÃO
5
Referido no capítulo como “Decreto Regulamentador”.
6
PDTI e PDTA foram programas que tinham por objetivo a capacitação tecnológica da empresa por meio
de uma estrutura permanente de gestão tecnológica que, de modo sistemático e contínuo, visasse à ma-
ximização da sua competitividade por meio da inovação tecnológica.
7
Conforme o art. 21 da Lei do Bem, é possível a aplicação da subvenção econômica para a contratação de
pesquisadores titulados pelas empresas.
8
Lei nº 8.661/1993.
Marco Regulatório em Ciência, Tecnologia e Inovação 135
destina-se à cobertura tanto de despesas de custeio quanto, conforme alteração
promovida pela Lei nº 13.243/2016, das despesas correntes da empresa, desde
que voltadas preponderantemente à atividade financiada.
De fato, a subvenção econômica é um instrumento pelo qual o Estado visa
reduzir os riscos que as empresas tomariam ao investirem em inovação, com o
objetivo de estimular esse comportamento nos agentes, potencializando o desen-
volvimento de inovações por meio do compartilhamento de seus riscos e custos9.
No Estado de Minas Gerais, a subvenção econômica voltada para a
inovação é uma das modalidades de apoio por meio de recursos financeiros
previstos na Lei Estadual nº 17.348/2008, sendo potenciais beneficiárias as
Instituições Científicas e Tecnológicas do Estado de Minas Gerais (ICTMGs),
públicas e privadas, e as Empresas de Base Tecnológica (EBT), empresas cuja
atividade produtiva se volta para o desenvolvimento de produtos e processos
inovadores ou que desenvolvam projetos de C,T&I.
A subvenção econômica “pode representar um dos instrumentos mais
poderosos para se induzir o processo de inovação nas empresas e ao mesmo
tempo atender interesses públicos”10 em razão de permitir à empresa tomar
recurso não reembolsável. Nesse sentido:
9.3. FINANCIAMENTO
9
MCTIC, 2018.
10
COSTA; SZAPIRO; CASSIOLATO, 2013, p. 01.
11
Op. cit. p. 02.
12
Inclusa a subvenção econômica.
136 Fabiana de Menezes Soares / Esther Külkamp Eyng Prete (Orgs.)
13
LUNA; MOREIRA; GONÇALVES, 2008, p. 245.
14
Lei nº 1.628/1952.
15
Decreto-Lei nº 719/1969.
16
A FINEP é uma empresa pública vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comuni-
cações (MCTIC).
17
CIRANI et al., 2016, p. 223.
18
Art. 19 da Lei nº 13.243/2016.
19
O conceito de agência de fomento já contemplava qualquer entidade que tenha como fim o financiamen-
to de ações de C,T&I, cf. art. 2º, I, da Lei nº 10.973/2004.
Marco Regulatório em Ciência, Tecnologia e Inovação 137
Por sua vez, o Decreto Regulamentador federal manteve como condição
do financiamento a necessidade de aprovação de projeto pelo órgão ou entida-
de concedente20, bem como reforçou a competência da administração pública
direta, das ICTs e das agências de fomento para a concessão desse instrumento
a nível federal21.
Na legislação estadual mineira, o financiamento como incentivo à ino-
vação tecnológica fica a cargo, sobretudo, de suas agências de fomento22, mas
também compete ao Poder Executivo23, inclusive às ICTMGs24, condicionado
à aprovação de projeto pela agência respectiva25. No caso específico do Fundo
de Incentivo à Inovação Tecnológica (FIIT), previsto na Lei de Inovação minei-
ra, a aprovação depende de deliberação da Fapemig, com requisito necessário
de destinação dos recursos do fundo estadual a comprovação da regularidade
jurídica, fiscal e financeira do beneficiário e a disponibilidade de recursos do
fundo26, podendo ser destinado às EBTs e às ICTs privadas.
20
Art. 9º-A, § 1º, da Lei nº 13.243/2016 e art. 20, § 1º, do Decreto Federal nº 9.238/2017
21
Art. 3º, art. 3º-B Lei nº 13.243/2016, e art. 6º, § 1º, III, do Decreto Federal nº 9.238/2017.
22
Para listar algumas: CODEMIG, BDMG e, em destaque, a FAPEMIG (art. 2º, parágrafo único, Lei Esta-
dual nº 17.348/2008). Como exemplo de programas de financiamento para inovação tecnológica, cite-se
o Pró-Inovação e o Programa de Apoio a Empresas em Parques Tecnológicos – PROPTEC, ambos da
parceria entre FAPEMIG e BDMG.
23
Art. 20 da Lei Estadual nº 17.348/2008.
24
Art. 20 c/c art. 3º da Lei Estadual nº 17.348/2008.
25
Art. 39 Lei Estadual nº 17.348/2008.
26
Art. 25 da Lei Estadual nº 17.348/2008.
27
Art. 4º do Decreto 9.283/2018
138 Fabiana de Menezes Soares / Esther Külkamp Eyng Prete (Orgs.)
28
§ 1º do art. 4º do Decreto 9.283/2018
29
Art. 4º, § 4º, I, II, do Dec. 9.283/2018.
30
Art. 39 da Lei nº 17.348/2008.
31
LEMES, 2017, p. 03.
Marco Regulatório em Ciência, Tecnologia e Inovação 139
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o inno-
vation voucher caracteriza:
35
RAUEN, 2014, p. 49.
36
Art. 20, § 4º, Lei nº 10.973/2004.
37
Art. 27, § 8º, II, Decreto 9.238/2018.
38
RAUEN; BARBOSA, 2016, p. 5.
Marco Regulatório em Ciência, Tecnologia e Inovação 141
custos sem remuneração adicional, reembolso dos custos mais remuneração
variável de incentivo e reembolso dos custos mais remuneração fixa de incen-
tivo. O pagamento deve se orientar, ainda, pela possibilidade de fracasso no
empreendimento e na subsunção desse risco ao contrato.
Na legislação mineira39, há a previsão do instrumento de uma forma um
pouco mais desenvolvida que na legislação federal anterior a 2016, em que se
utiliza como procedimento de aquisição a Lei nº 8.666/1993, mas se prevê a
confidencialidade dos resultados obtidos, bem como a propriedade industrial
e de exploração do bem como pertencentes à administração pública estadual,
o que não ocorre na legislação federal, inclusive após 2016 e após o decreto
regulamentador de 2018.
Na atual legislação federal, é previsto que as partes deverão definir, no
instrumento contratual, a quem pertencerá a titularidade e o exercício dos
direitos de propriedade intelectual, que, no caso de omissão, pertencerão ape-
nas ao contratante, havendo liberdade para que a administração pública ceda
ao contratado a totalidade dos direitos de propriedade intelectual, mediante
contrapartida compensação financeira ou não financeira. Contudo, devido ao
interesse público, que é inato desse instrumento, caso o contratado detentor
do direito exclusivo de exploração não comercialize a criação no prazo e nas
condições previstas em contrato, deve o direito ser revertido em favor da ad-
ministração pública.
42
“Art. 28. A União fomentará a inovação na empresa mediante a concessão de incentivos fiscais com
vistas na consecução dos objetivos estabelecidos nesta Lei.”
43
Justamente por não se tratar de previsão legislativa inovadora, é possível observar que a concessão de in-
centivos fiscais voltados para a inovação já foi instituída no direito brasileiro. A nível federal, exemplos
são a Lei nº 11.196/05 (Lei do Bem) e a Lei nº 8.248/91 (Lei de Informática).
44
CORREIA NETO, 2016, p. 18.
45
Art. 155, § 2º, inciso XII, alínea “g”, Constituição da República Federativa do Brasil.
46
ALMG, 2018, p. 2.
47
Lei nº 18.030/2009.
Marco Regulatório em Ciência, Tecnologia e Inovação 143
9.8. CONCESSÃO DE BOLSAS DE ESTÍMULO À INOVAÇÃO
inovação configura-se doação civil, não configura vínculo empregatício, não carac-
teriza contraprestação de serviços nem vantagem para o doador e não integra a base de
cálculo da contribuição previdenciária, aplicando-se o novo dispositivo inclusive
à interpretação tributária de fato pretérito.
A definição de bolsa, para esses efeitos, também restou definida no Decre-
to Federal nº 9.283/2018, segundo o qual caracteriza-se bolsa:
51
RIBEIRO; INÁCIO JÚNIOR, 2014, p. 283.
52
RIBEIRO; INÁCIO JÚNIOR, 2014.
Marco Regulatório em Ciência, Tecnologia e Inovação 145
Para Edquist e Zabala-Iturriagagoitia53, uma política de uso do poder de
compra do Estado para promover inovação deve: (i) servir como catalisadora
da demanda por produtos, serviços ou processos inovadores, já que o objeto
de interesse do Estado pode surtir efeitos reflexos no lado da demanda por ou-
tros consumidores; (ii) prevenir que os gestores utilizem especificações muito
técnicas ou minuciosas para o objeto da compra, uma vez que isso pode afetar
negativamente o desenvolvimento da inovação a cargo do ofertante; (iii) en-
contrar o equilíbrio entre a competição e a cooperação, sem impedir a comu-
nicação e cooperação, já que a aprendizagem interativa entre as organizações
é um fator importante para o surgimento de inovações; (iv) se preocupar com
o treinamento dos gestores de compras públicas para questões como o sope-
samento entre questões orçamentárias e eventuais benefícios para o bem-estar
público a longo prazo; (v) estar aliada a outros tipos de políticas, relacionadas
a outros instrumentos de estímulo.
Nesse sentido, Denis Borges Barbosa54 aponta para três hipóteses possí-
veis de utilização do poder de compra do Estado para estimular a inovação em
empresas, duas delas de caráter objetivo e uma de caráter subjetivo. A primeira
de caráter objetivo é pela escolha do objeto da aquisição, isto é, quando o Es-
tado-comprador requer objeto já existente no mercado de modo a especificar
características que contribuam para determinados fins públicos, acarretem na
agregação de valores ao objeto procurado e privilegiem objetos com emprego
de tecnologias inovadoras55.
A segunda hipótese que também atende a uma escolha objetiva é o caso
em que o Estado procura “bem ainda não existente, cujo risco e incerteza de
vir a existir é assumido pelo comprador”56, tal qual a hipótese da encomenda
tecnológica. Assim, o desenvolvimento de determinado produto inovador é
favorecido pela assunção da incerteza pelo Estado, seja ele consumidor direto
do bem gerado ou de novidade a ser disponibilizada para a sociedade.
A terceira hipótese, essa de elemento subjetivo, consiste em o Estado
conceder tratamento diferenciado em razão da qualidade do fornecedor, e não
do objeto contratado. É quando o Estado estipula tratamento preferencial às
empresas inovadoras na escolha de seu fornecedor, mesmo que as tecnologias
53
EDQUIST; ZABALA-ITURRIAGAGOITIA, 2012.
54
BARBOSA, 2011.
55
Op. cit. Para ilustrar essa hipótese, Barbosa (2011) se valeu do exemplo de um órgão que procura um
carro para comprar. Embora seja produto já existente no mercado, que servirá a uma finalidade imediata
de transporte, na especificação do produto pode ser que o Estado estimule outros fins mediatos, estipu-
lando, por exemplo, requisitos como a escolha de propostas menos poluentes e que propiciem maior
economia de energia, água e outros recursos naturais, em conformidade com a Política Nacional sobre
Mudança do Clima (Lei nº 12.187/2009). Assim, pode o Estado estimular a competição entre os concor-
rentes para oferecerem a proposta mais inovadora.
56
Op. cit.
146 Fabiana de Menezes Soares / Esther Külkamp Eyng Prete (Orgs.)
60
Lei nº 6.385/1976.
61
Os principais fundos estruturados são: Fundos de Investimento Imobiliário – FII; Fundos de Investimen-
to em Direitos Creditórios – FIDC e FIDC-NP; Fundos de Investimento em Participações – FIP; Fundos
Mútuos de Investimento em Empresas Emergentes – FMIEE; Fundos de Financiamento da Indústria
Cinematográfica Nacional – FUNCINE (CVM, 2017).
62
CVM, 2017.
63
Art. 22, I, VI e XIX, Constituição da República Federativa do Brasil.
64
SOARES et al., 2017.
148 Fabiana de Menezes Soares / Esther Külkamp Eyng Prete (Orgs.)
65
ABVCAP, 2015.
66
Art. 22, I, VI e XIX, Constituição da República Federativa do Brasil.
67
Para mais informações, acessar: <http://fundepar.com.br/seed4science/#sobre>. Acesso em: 7 maio 2018.
68
Para mais informações, acessar: <http://www.agenciaminas.mg.gov.br/noticia/governo-de-minas-gerais
-e-codemig-lancam-fundo-de-investimento-para-alavancar-o-setor-mineral>. Acesso em: 7 maio 2018.
69
SILVA, 2011, p. 49.
Marco Regulatório em Ciência, Tecnologia e Inovação 149
investimento, sendo qualificado, ao lado dos empréstimos bancários, como um
mecanismo de financiamento direto. Outras formas possíveis de captação de
recursos são a emissão de ações (outra espécie de títulos financeiros), referente à
captação de recursos dos acionistas ou com o público em troca de participação
societária, ou a reinversão dos lucros retidos, isto é, autofinanciamento70.
Deve-se mencionar que a emissão de títulos financeiros é atrativa para em-
presas que buscam recursos no mercado. Isso se deve a que as outras modalidades
de financiamento tendem a ter mais custos: no caso dos empréstimos, em geral,
as instituições financeiras exigem garantias para realizá-los; no caso do autofinan-
ciamento, a condição para que a empresa possa fazê-lo é a existência de recursos
suficientes em caixa; e para a emissão de ações deve haver interesse dos acionistas
atuais das companhias fechadas conjugado com a existência de recursos para tan-
to, haja vista ser a abertura de capital um processo burocrático que envolve ma-
nutenção de uma estrutura custosa, pouco viável para grande parte das empresas.
Em verdade, a facilidade ou dificuldade que a empresa tem na emissão de
títulos financeiros privados deriva da percepção de risco do eventual investi-
dor, que vai ser determinada em razão das garantias, do potencial de desenvol-
vimento e da saúde financeira da companhia. Além disso, o risco envolvendo
esse ativo é acompanhado pelas agências de classificação de risco e crédito,
sendo desejável que as companhias, na montagem de sua estrutura de capital,
busquem um equilíbrio eficiente entre recursos próprios, financiamento ban-
cário e recursos de terceiros (ações e títulos de dívida).
Para o investidor, por outro lado, importa que o título tenha as condi-
ções de pagamento e rentabilidade almejadas, quando em comparação com
outros tipos de investimentos disponíveis no mercado; que o emissor tenha
nota de crédito, capacidade de pagamento e garantias reais compatíveis ao
risco do investimento; que o título envolva uma boa ordem de custo-benefício
quanto à tributação dos eventuais rendimentos auferidos.
Neste último aspecto, o da tributação, é que decorre a classificação dos
títulos de dívida emitido entre “incentivados” e “não incentivados”, uma vez
que os primeiros compreendem algum tipo de benefício ou incentivo fiscal
na sua aquisição, enquanto os últimos não. Assim, tem-se que um exemplo de
título de dívida incentivado emitido por empresas são as debêntures incenti-
vadas, que são emitidas por empresas que vão financiar projetos de infraes-
trutura, títulos estes cujos rendimentos estão sujeitos à alíquota reduzida de
imposto de renda e isenção no caso de rendimento de pessoa física.71–72
70
MELO, 2009, p. 89.
71
WAJNBERG, 2014, p. 335.
72
Conforme a Lei nº 12.431/2011, que estipulou o referido incentivo fiscal como forma de estimular o
financiamento dos programas de expansão da infraestrutura promovidos pelo governo federal.
150 Fabiana de Menezes Soares / Esther Külkamp Eyng Prete (Orgs.)
9.14. CONCLUSÃO
79
SOARES et al., 2017.
80
DINIZ; NEVES, 2016, p. 17.
Marco Regulatório em Ciência, Tecnologia e Inovação 153
inovação menos afetada pelos riscos e mais cooperativa, tal qual introduz a
Lei nº 13.243/2016.
9.15. REFERÊNCIAS
ALMG, Assembleia Legislativa de MG. Fórum Técnico Startups em Minas: Documento Final. 2018. Disponí-
vel em <https://www.almg.gov.br/export/sites/default/acompanhe/eventos/hotsites/2016/forum_tecnico_star-
tups/documentos/documentos_etapa_final/documento_final.pdf>. Acesso: 11 mai. 2018.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PRIVATE EQUITY & VENTURE CAPITAL (ABVCAP). Como funciona a
indústria de private equity, seed e venture capital?. 2015. Disponível em <http://www.abvcap.com.br/pesqui-
sas/estudos.aspx>. Acesso em: 25 nov. 2017.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PRIVATE EQUITY & VENTURE CAPITAL (ABVCAP) (Org.). Estrutura
Legal dos fundos de Private Equity e Venture Capital no Brasil. 2015a. Disponível em: <http://www.abvcap.
com.br/pesquisas/estudos.aspx>. Acesso em: 25 nov. 2017.
BARBOSA, Denis Borges. Licitações, Subsídios e Patentes. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 1997.
BARBOSA, Denis Borges. Licitação como instrumento de incentivo à Inovação: o impacto da Lei
12.349/2010. Disponível em <https://s3.amazonaws.com/academia.edu.documents/31826681/Licitacao_como_
instrumento_de_incentivo_a_Inovacao.pdf?AWSAccessKeyId=AKIAIWOWYYGZ2Y53UL3A&Expires=1512-
139160&Signature=8vOZ7BluNoSa2rLLJChUfWDjXMU%3D&response-content-disposition=inline%3B%20
filename%3DPreferencias_nos_empates.pdf>. Acesso em: 15 dez. 2017.
BARBOSA, Denis Borges. Licitação como instrumento de incentivo à Inovação: o impacto da Lei 12.349/2010.
In: BARBOSA, Denis Borges. Direito da Inovação: comentários à lei federal de inovação, incentivos fiscais à
inovação, legislação estadual e local, poder de compra do Estado (modificações à lei de licitações). 2ª ed., Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2011.
BARROSO, Luís Roberto. Constituição e Ordem Econômica e Agências Reguladoras. Revista Eletrônica de
Direito Administrativo Econômico, Salvador, Instituto de Direito Público da Bahia, n. 1, fevereiro, 2005.
BRASIL. Instrução CVM nº 555, de 17 de dezembro de 2014. Dispõe sobre a constituição, a administração, o
funcionamento e a divulgação das informações dos fundos de investimento. Disponível em: <http://www.cvm.
gov.br/legislacao/instrucoes/inst555.html>. Acesso em: 25 nov. 2017.
BRASIL. Instrução CVM nº 578, de 30 de agosto de 2016. Dispõe sobre a constituição, o funcionamento e a ad-
ministração dos Fundos de Investimento em Participações. Disponível em <http://www.cvm.gov.br/legislacao/
instrucoes/inst578.html>. Acesso em: 25 nov. 2017.
CASSIOLATO, J. E.; SZAPIRO, M. (2015) “Os dilemas da política industrial e de inovação: os problemas da
Região Sudeste são os do Brasil”. In: LEAL, C. F. C.; LINHARES, L., et al. (orgs.). Um olhar territoral para o
desenvolvimento: sudeste. Rio de Janeiro: BNDES, cap. 11, p.512p.
CASSIOLATO, J. E; LASTRES, H. M. M. Sistemas de Inovação e Desenvolvimento – as implicações de políti-
ca. São Paulo em Perspectiva, v. 19, nº 1, jan./mar. 2005, p. 34-45.
CIRANI, Cláudia Brito Silva; KONO, Carlos Mamori; SANTOS, André Moraes dos; CASSIA, Adalberto Ra-
mos. O Papel das Agências Públicas de Fomento à Inovação no Brasil. BBR, Braz. Bus. Rev. (Engl. ed., Onli-
ne), Vitória, v. 13, n. 6, Art. 3, p. 217-238, nov.-dez, 2016.
COÊLHO, Sacha Calmon Navarro. Curso de direito tributário brasileiro. 12ª ed., Rio de Janeiro: Ed.
Forense, 2012.
COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS. Fundos de investimento. Disponível em <http://www.cvm.gov.
br/menu/regulados/fundos/sobre.html>. Acesso em: 29 nov. 2017.
CORREIA NETO, Celso de Barros. O avesso do Tributo: incentivos e renúncias fiscais no direito brasileiro.
2016. Tese (Doutorado em Direito) – Faculdade de Direito do Largo São Francisco, Universidade de São Paulo,
São Paulo.
COSTA, Ana Czeresnia. Política de Inovação Brasileira: Análise dos novos instrumentos operados pela FINEP.
Rio de Janeiro, 2013. Orientador: Marina Szapiro. Tese de Doutorado apresentada no Instituto de Economia da
Universidade Federal do Rio de Janeiro.
154 Fabiana de Menezes Soares / Esther Külkamp Eyng Prete (Orgs.)
COSTA, Ana Czeresnia; SZAPIRO, Marina; CASSIOLATO, José Eduardo. Análise da operação do instrumento
de subvenção econômica à inovação no Brasil. Conferência Internacional LALICS 2013. “Sistemas Nacionais
de Inovação e Políticas de CTI para um Desenvolvimento Inclusivo e Sustentável”. Rio de Janeiro, 2013. Dis-
ponível em: <http://www.redesist.ie.ufrj.br/lalics/papers/88_Analise_da_operacao_do_instrumento_de_subven-
cao_economica_a_inovacao_no_Brasil.pdf>. Acesso em: 16 mar. 2018.
DINIZ, Davi Monteiro; NEVES, Rúbia Carneiro. Da Recente Legislação sobre Inovação e seus Efeitos para as
Universidades Federais. Revista de Direito, Inovação, Propriedade Intelectual e Concorrência, v. 2, n. 2, p.
01-23, 2016.
EDQUIST, Charles; ZABALA-ITURRIAGAGOITIA, Jon Mikel. Public Procurement for Innovation as mission-
-oriented innovation policy. Research policy, 2012, 41.10: 1757-1769.
FIANI, R. Afinal, a quais interesses serve a regulação? Economia e sociedade, Campinas, v. 13, n. 2, p. 81-105,
jul./dez. 2004. Disponível em <https://www.researchgate.net/profile/Ronaldo_Fiani/publication/244995494_
Afinal_a_quais_interesses_serve_a_regulacao/links/00b4951d5710164092000000/Afinal-a-quais-interesses-serve-
-a-regulacao.pdf>. Acesso em: 24 de nov. de 2017.
FREEMAN, C. Technological infrastructure and international competitiveness. Texto submetido ao grupo
ad hoc em ciência, tecnologia e competitividade da OCDE. Paris: OECD, 1982.
GLOBO, O. 2017. Disponível em: <https://oglobo.globo.com/economia/saiba-os-cuidados-na-hora-de-comprar-
-um-titulo-de-credito-privado-21117255>. Acesso em: 23 abr. 2018.
JUSTEN FILHO, Marçal. As diversas configurações da concessão de serviço público. Revista de direito público
da economia – RDPE, Belo Horizonte, ano 1, n. 1, p. 95-135, jan./mar. 2003.
LEMES, Gustavo. Bônus Tecnológico: a redução de desigualdades sociais e regionais por meio da subvenção
econômica. Mostra Científica UEE-MG. Diamantina, 2017.
LUNA, Francisco; MOREIRA, Sérvulo; GONÇALVES, Ada. Financiamento à inovação. Capítulo 5. Políticas de
Incentivo à Inovação Tecnológica no Brasil. IPEA E FINEP. In: Políticas de Incentivo à Inovação Tecnológica.
João Alberto De Negri e Luis Claudio Kubota (Editores) / Brasília, 2008. Disponível em: <http://www.en.ipea.
gov.br/agencia/images/stories/PDFs/livros/capitulo05_27.pdf>. Acesso em: 13 dez. 2017.
LUNDVALL, B. Å. (ed.). National innovation systems: towards atheory of innovation and interactive learning.
London: Pinter, 1992.
MACHADO, Filipe Molinar; RUPPHENTAL, Janis Elisa. Estudo dos pontos de conflito da lei de inovação.
Int. J. Knowl. Eng. Manag., ISSN 2316-6517, Florianópolis, v. 3, n. 6, p. 230-245, jul./nov. 2014.
MATIAS-PEREIRA, José. Políticas de defesa da concorrência e de regulação econômica: as deficiências do siste-
ma brasileiro de defesa da concorrência. Revista de Administração Contemporânea, v. 10, n. 2, 2006, p. 51-73.
MCTIC. Subvenção Econômica para Inovação, 2018. Disponível em: <http://fndct.mcti.gov.br/subvencao-
-economica-para-inovacao>. Acesso em: 10 mai. 2018.
MELO, Luiz Martins de. Financiamento à inovação no Brasil: análise da aplicação dos recursos do Fundo Na-
cional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) e da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP)
de 1967 a 2006. Revista Brasileira de Inovação, vol. 8, n. 1, p. 87-120, jan./jun. 2009.
OECD. Innovation Vouchers. OECD Innovation Policy Platform. 2010. Disponível em: <http://www.oecd.
org/innovation/policyplatform/48135973.pdf>. Acesso em: 25 ago. 2017.
PINTO JR., Helder Q.; SILVEIRA, Joyce Perin. Elementos da regulação setorial e de defesa da concorrência:
uma agenda de questões para o setor de energia. Brasília: Agência Nacional do Petróleo, 1999, 22p.
RAUEN, A. T. Encomendas tecnológicas nos Estados Unidos: possibilidades do regulamento federal de aqui-
sições. Radar: tecnologia, produção e comércio exterior, v. 1, p. 49, 2014.
RAUEN, André Tortato; BARBOSA, C. Proposta de redação à regulamentação do art. 20 da Lei de Inovação.
Nota Técnica n. 30 (Diset). Brasília, 2016.
RAUEN, Cristiane Vianna. O Novo Marco Legal da Inovação no Brasil: o que Muda na Relação ICT-Empresa?.
RADAR Tecnologia, produção e comércio exterior / Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, n. 43, p.
21-35, 2016.
RIBEIRO, Cássio Garcia; INÁCIO JÚNIOR, Edmundo. Mensurando o mercado de compras governamentais
brasileiro. Caderno de Finanças Públicas, Brasília, n. 14, p. 265-287, 2014.
Marco Regulatório em Ciência, Tecnologia e Inovação 155
ROTHWELL, R. Towards the fifth-generation innovation process. International Marketing Review, vol. 11,
n. 1, 1994. p. 7-31.
SALA, Alessandro; LANDONI, Paolo; VERGANTI, Roberto. Small and Medium Enterprises collaborations
with knowledge intensive services: an explorative analysis of the impact of innovation vouchers. R&D Mana-
gement, 46, p. 291-302. 2015.
SILVA, Alexandre Messa Peixoto da. Contratos financeiros, desenho de títulos e estrutura de capital. 2011.
Tese (Doutorado em Economia) – Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, Universidade de
São Paulo, São Paulo.
SOARES, Fabiana de Menezes; ROSA, Ana Beatriz Resende; JESUS, Ana Elisa Cordeiro; LEMES, Gustavo;
SALES, Matheus Vinícius Lage. Perspectivas para a regulamentação de um fundo público de C,T&I em Minas
Gerais a partir da experiência dos Tigres Asiáticos. In: Anais da 27ª Conferência ANPROTEC. Inovação e
empreendedorismo transformando cidades. Orgs. TONHOLO, Josealdo; SÁ, Vanusa Leitoguinho; SANTANA,
Maria Bonfim. Rio de Janeiro, 2017.
WAJNBERG, D. Debêntures de infraestrutura: emissões realizadas e perspectivas. Revista do BNDES, Rio de Ja-
neiro, n. 41, p. 331-378, jun. 2014. Disponível em: <https://web.bndes.gov.br/bib/jspui/bitstream/1408/2604/1/
RB%2041%20Debentures%20de%20infraestrutura_P.pdf>. Acesso em: 12 mar. 2018.
Capítulo 10
Arcabouços Legais em Ciência, Tecnologia
e Inovação de Ecossistemas Maduros:
Paradigmas e Subsídios para a Legislação Mineira
Caroline Stéphanie Francis dos Santos Maciel
Ana Beatriz Rezende Rosa
10.1. INTRODUÇÃO
1
GOVERNO BRITÂNICO. Science & innovation investment framework 2004 – 2014, Londres: HM
Treasury, 2004, p. 1. Disponível em: <http://news.bbc.co.uk/nol/shared/bsp/hi/pdfs/science_innova-
tion_120704.pdf>. Acesso em: 22 maio 2017.
2
DUTTA, S.; LANVIN, B.; WUNSCH-VINCENT, S (Eds.). The Global Innovation Index 2016: Win-
ning with Global Innovation, Geneva: WIPO, p. 18-19. Disponível em: <http://www.wipo.int/edocs/
pubdocs/en/wipo_pub_gii_2016.pdf>. Acesso em: 25 maio 2017.
3
Op. cit. p. 24.
Marco Regulatório em Ciência, Tecnologia e Inovação 157
estruturas familiares e de rotinas habituais”4, e, assim, nada é mais compatível
com o espírito inovador do que a empreitada de buscar experiências interna-
cionais bem-sucedidas para quebrar com o ciclo de práticas nacionais de praxe.
A criação de um ambiente favorável ao empreendedorismo em um país en-
volve uma série de fatores, entre os quais se incluem as políticas de financiamento
público à C,T&I, a acessibilidade do mercado, o sistema normativo e tributário em
C,T&I, entre outros5. Aqui o foco será apenas em como o sistema normativo exis-
tente impacta nas práticas em inovação, isto é, se a legislação se configura como
um estímulo ou um entrave à C,T&I. Esse é, inclusive, o escopo da Legística, uma
metodologia que “procura determinar as melhores modalidades de elaboração, de
redação, de edição e de aplicação da norma”6. Políticas de boa legislação têm um
papel estratégico na efetivação de direitos e de cenários econômico-sociais positi-
vos e, portanto, são cruciais para o fomento da inovação.
Nesse contexto, o presente artigo6 irá traçar os elementos básicos e funda-
mentais dos sistemas normativos de alguns países com histórico de prosperi-
dade tecnológica para, a partir disso, trazer potenciais contribuições à imple-
mentação do novo marco legal brasileiro em C,T&I nos estados, em especial,
em Minas Gerais. A produção de um estudo juscomparativista nesse tema
tem o condão de trazer inúmeros benefícios ao processo de amadurecimento
normativo brasileiro em C,T&I. Nas palavras de Taruffo7, “o melhor modo de
conhecer o próprio ordenamento é conhecer outros ordenamentos”. Assim,
a análise desses sistemas poderá contribuir para o desenvolvimento de instru-
mentos normativos mais bem-sucedidos8 a serem aplicados no Brasil.
Não obstante, não se sugere aqui a reprodução integral e irrefletida de ins-
titutos, políticas e técnicas especialmente desenvolvidos em contextos econômi-
cos e políticos profundamente distintos do brasileiro. Uma política ou prática
em inovação que se mostrou adequada e efetiva em um determinado contexto
específico não será necessariamente benéfica se reproduzida automaticamente
4
BROWN, Helen. Knowledge and Innovation: a comparative study of the USA, the UK and Japan. New
York: Routledge, 2008, p. 8.
5
SCHWARZKOPF, Christian. Fostering Innovation and Entrepreneurship – Entrepreneurial Eco-
system and Entrepreneurial Fundamentals in the USA and Germany. Karlsruhe, Germany: Sprin-
ger Gabler, 2015, p. 150.
6 CHEVALLIER, Jacques. A racionalização da produção jurídica. Legislação – Cadernos de Ciência
de Legislação, n. 3, 1992, p. 15.
6
O artigo é fruto de pesquisa teórica juscomparativista desenvolvida pelas autoras no âmago do grupo
de pesquisa Observatório para a Qualidade da Lei da Faculdade de Direito da Universidade Federal de
Minas Gerais.
7
TARELLO, Giovanni. Ideologias Setecentistas da Codificação e Estrutura dos Códigos. Meritum –
Revista de Direito da Universidade FUMEC, v. 3, n. 2, 2008. Disponível em: <http://www.fumec.br/
revistas/meritum/article/view/857/641>. Acesso em: 10 março 2017, p. 12.
8
BROWN, Helen. Knowledge and Innovation: a comparative study of the USA, the UK and Japan. New
York: Routledge, 2008, p. 2.
158 Fabiana de Menezes Soares / Esther Külkamp Eyng Prete (Orgs.)
para outra realidade. Dessa forma, o objetivo ora proposto é aprender o proces-
so normativo de implementação de práticas em C,T&I em países de referência
e, em sequência, ajustar e adequar9 o que for compatível com a complexa reali-
dade nacional e segundo as particularidades locais.
Para tanto, o artigo irá criticamente expor os fundamentos básicos do sis-
tema legal de C,T&I dos Estados Unidos e do Japão10 e, em sequência, analisar
as suas potenciais contribuições ao cenário normativo brasileiro.
9
Op. cit.
10
A triagem dos países a serem analisados foi feita com base nos seguintes critérios: i. experiências estrangeiras
bem-sucedidas; ii. potencialidade de contribuições ao Brasil; iii. volume e disponibilidade de material; iv. pro-
ximidade com a realidade normativa brasileira; v. limitações de tempo e de espaço disponível para a escrita.
11
GOVERNO DOS ESTADOS UNIDOS. Portal do Office of the Law Revision Counsel of the United
States House. Disponível em: <http://uscode.house.gov>. Acesso em: 20 maio 2017.
12
O símbolo § nos diplomas legais norte-americanos recebe o nome de seção e não de parágrafo, como no Brasil.
13
CORNELL LAW SCHOOL. Portal do Legal Information Institute. Disponível em: <https://www.
law.cornell.edu/uscode/text/42/chapter-79> . Acesso em: 20 maio 2017.
14
Op. cit.
15
Trata-se do Research and Development Efficiency Act (CONGRESSO DOS ESTADOS UNIDOS.
Research and Development Efficiency Act. Disponível em: <https://www.congress.gov/bill/114th-
congress/housebill/1119>. Acesso em: 21 maio 2017).
Marco Regulatório em Ciência, Tecnologia e Inovação 159
ao desenvolvimento científico e tecnológico dos EUA, em diagnóstico elaborado
em 06 de janeiro de 201716. A partir disso, para lidar com tais entraves, previu a
criação de um grupo de trabalho envolvendo membros de diversas instituições
e órgãos de C,T&I dos EUA (§6604, d), cuja função é revisar as regulamentações
federais vigentes e elaborar recomendações para a coerência, a simplificação e a
atualização desse sistema normativo (§6604, e, 1). As suas recomendações devem
levar em conta os afetados do setor a fim de garantir a efetividade da legislação.
Por fim, o grupo de trabalho deve apresentar seu relatório anualmente ao Congres-
so americano para que proceda às modificações normativas indicadas17 (§6604, g).
Preliminarmente, o diploma legal constata que o crescimento econômico
dos EUA nos últimos 50 anos tem sido conduzido por avanços tecnológicos
e científicos e que o maior investidor em pesquisa básica tem sido o governo
federal (§6604, b, 1). Dessa primeira constatação podem ser extraídas duas
importantes lições: i) o papel crucial do investimento público em ciência e tec-
nologia e, consequentemente, no fortalecimento econômico; ii) a importância
de investimentos em pesquisa básica.
Quanto à primeira lição, cabe destacar que, quanto mais arriscado e maio-
res os custos de uma pesquisa, menores serão os investimentos das empresas,
cabendo ao Estado atuar como o principal ente empreendedor. A realidade
mostra que o setor privado só financia as pesquisas a partir do momento em
que a certeza de resultados e da sua aplicabilidade é maior. Por isso, o finan-
ciamento público nas fases iniciais da pesquisa é tão importante. Como ilustra
Mazzucato18, “o Estado está por trás da maioria das revoluções tecnológicas
e dos longos períodos de crescimento. É por isso que um ‘Estado empreende-
dor’ é necessário para assumir o risco e a criação de uma nova visão, em vez
de apenas corrigir as falhas do mercado”.19
A discussão seguinte é acerca da forma de distribuição dos recursos pú-
blicos entre as categorias de pesquisa. Existe uma tendência atual de concen-
trar investimentos na chamada “pesquisa aplicada” em oposição à “pesquisa
básica”.20 No entanto, como bem demonstra análise sobre o assunto produzida
pela FAPESP, os investimentos devem ser equilibridamente distribuídos entre
essas duas grandes categorias21, sendo mais importante determinar os potenciais
16
CORNELL LAW SCHOOL. Portal do Legal Information Institute. Disponível em: < https://www.
law.cornell.edu/uscode/text/42/6604> . Acesso em: 22 maio 2017.
17
Op. cit.
18
MAZZUCATO, Mariana. O Estado empreendedor. São Paulo: Companhia das Letras, 2014.
19
MARQUES, Fabrício. Os impactos do investimento, Revista Pesquisa FAPESP, n. 246, ago./2016, p.
22. Disponível em: <http://revistapesquisa.fapesp.br/wp-content/uploads/2016/08/016-023_CAPA-Im-
pactociencia_246_CORRECAO.pdf?14207a>. Acesso em: 20 fevereiro 2017.
20
Op. cit. p. 16.
21
Op. cit. p. 23.
160 Fabiana de Menezes Soares / Esther Külkamp Eyng Prete (Orgs.)
impactos que a pesquisa pode produzir para além dessa categorização.22 Essa é
inclusive a lição deixada pelo governo norte-americano: em 2013, um terço dos
investimentos em C,T&I foram destinados para a pesquisa básica23 e as divisões
dos orçamentos das principais agências de fomento em C,T&I dos EUA se deu
da seguinte forma:
22
Op. cit. p. 18.
23
PATEL, P.; JAGGER, N.; NEMOTO, R. Comparative study on Research Policy – Final Report.
Universidade de Sussex: SPRU, outubro/2015. Disponível em: < h t -
tps://www.sussex.ac.uk/webteam/gateway/file.php?name=finalreportpublished.pdf&site=25>. Acesso
em: 05 março 2017.
24
MARQUES, Fabrício. Os impactos do investimento, Revista Pesquisa FAPESP, n. 246, agosto/2016, p.
20. Disponível em: <http://revistapesquisa.fapesp.br/wp-content/uploads/2016/08/016-023_
CAPA-Impactociencia_246_CORRECAO.pdf?14207a>. Acesso em: 20 fevereiro 2017.
Marco Regulatório em Ciência, Tecnologia e Inovação 161
O site concentra as oportunidades de financiamento das mais diversas agên-
cias federais (hoje com mais de 1.000 programas de subsídios cadastrados de
mais de 30 órgãos públicos), padroniza as informações e as formas de solici-
tação e, com isso, facilita que os pesquisadores as encontrem e se inscrevam25.
Em 2016, foram disponibilizadas 5.930 oportunidades de financiamento e
registradas 248.072 inscrições no Grants.gov26.
Por sua vez, foi constatado um aumento dos custos administrativos
na fase posterior à concessão do subsídio, devido ao estabelecimento de
rigorosos requisitos, relatórios e exigências pelas agências de fomento aos
pesquisadores e instituições de pesquisa beneficiados (§§6604, b, 5). Os pes-
quisadores gastam até 42% do seu tempo em atividades burocráticas e ad-
ministrativas, tais como inscrição a subsídios, elaboração de relatório nos
padrões exigidos pelas agências, enfim, em obediência às regulamentações
federais (§§6604, b, 6). Este é novamente um problema compartilhado pelo
Brasil: a existência de excessivos trâmites administrativos e de exigências
burocráticas, inclusive no setor de C,T&I. Com base nisso, o Congresso
norte-americano avalia que esses encargos administrativos podem impac-
tar negativamente o retorno do investimento federal feito em pesquisa e
desenvolvimento, na medida em que o pesquisador gasta grande parte do
seu tempo disponível nessas questões e não diretamente na atividade de
pesquisa. Dessa forma, a avaliação novamente foi pela necessidade de sim-
plificação para inverter esse quadro.
Por fim, nas seções seguintes do capítulo 79 do Código de Leis do EUA,
são criados e organizados os institutos, os órgãos e os departamentos públicos
responsáveis pelas políticas em C,T&I, entre os quais se inclui: o Departamen-
to de políticas em ciência e tecnologia, o Comitê presidencial em ciência e
tecnologia, o Conselho Federal de coordenação em ciência, engenharia e tec-
nologia e o Instituto de políticas em ciência e tecnologia27. Tratam-se, assim,
das normas sistematizadoras da organização e funcionamento da máquina
estatal em C,T&I, que, por suas peculiaridades, fogem do objeto ora proposto.
Além das normas gerais do US Code, a legislação mais importante que
regula o setor de C,T&I nos EUA é composta pelas Leis de Criação de Oportu-
nidades Significativas para a Promoção de Excelência em Tecnologia, Educação
e Ciência na América, de 2007 e de 2010, conhecidas como America COMPETES
25
GOVERNO DOS EUA. Portal Grants.gov. Disponível em: <https://www.grants.gov/web/grants/ou-
treach/about-grants-gov.html>. Acesso em: 15 maio 2017.
26
GOVERNO DOS EUA. Annual Report for Fiscal Year 2016, Grants.gov., 2017, p. 18 e 20. Dis-
ponível em: <https://www.grants.gov/documents/19/23905/Grantsgov_Annual_Report_FY2016.pdf>.
Acesso em: 17 maio 2017.
27
CORNELL LAW SCHOOL. Portal do Legal Information Institute. Disponível em: <https://www.
law.cornell.edu/uscode/text/42/chapter-79> . Acesso em: 22 maio 2017.
162 Fabiana de Menezes Soares / Esther Külkamp Eyng Prete (Orgs.)
Act (ACA), 200728 e 201029. Os principais objetivos dessas leis foram aumentar
o financiamento público federal em C,T&I, especialmente em pesquisa na física
e na engenharia; melhorar a infraestrutura dos centros de pesquisa e investir na
capacitação profissional na área30, com a finalidade de aumentar a competitivi-
dade econômica dos EUA. A sua promulgação foi muito aclamada no setor e
a legislação “foi vista como tendo o potencial para ser a política legislativa em
ciência e inovação mais notável do novo milênio”.31
Antes de mais nada, é importante notar que os dois ACA são autoriza-
ções legislativas dadas pelo Congresso para o uso dos recursos públicos ali
listados pelo Executivo em C,T&I32; a sua implementação depende, portanto,
da iniciativa governamental. Foi autorizado o uso de 33,6 bilhões de dólares
entre os anos de 2008 e 2010 para a consecução dos objetivos trazidos pelo
ACA 200733. Com o fim do período de vigência do ACA 2007, foi aprovado
o ACA 2010, que não apenas prorrogou a vigência de alguns programas cria-
dos pelo ACA 2007, mas também criou novos programas e revogou aqueles
que não eram mais cabíveis.34 O ACA 2010 autorizou um orçamento de 45,6
bilhões de dólares em C,T&I no período de 2010 a 201335. Outros esforços
legislativos foram feitos para aprovar a reautorização do ACA em 2015, mas
não foram bem-sucedidos36.
Em linhas gerais, os ACA preveem as responsabilidades dos órgãos públi-
cos e agências de fomento à C,T&I, bem como a autorização orçamentária a eles
destinadas e também destinadas a programas específicos por eles desenvolvidos.
Entre as disposições mais relevantes trazidas pelos ACA, cabe trazer à baila as
28
CONGRESSO DOS ESTADOS UNIDOS. America COMPETES Act 2007. Disponível em: <https://
www.congress.gov/110/plaws/publ69/PLAW-110publ69.pdf>. Acesso em: 12 maio 2017.
29
CONGRESSO DOS ESTADOS UNIDOS. America COMPETES Act 2010. Disponível em: <https://
www.congress.gov/111/plaws/publ358/PLAW-111publ358.pdf>. Acesso em: 12 maio 2017.
30
FURMAN, Jeffrey. The America COMPETES Acts:
The Future of U.S. Physical Science & Engineer-
ing Research?, NBER Innovation Policy & the Economy Workshop, Washington, DC, 2012, p. 1.
31
Op. cit.
32
Op. cit. p. 2 e 16.
33
AMERICAN ENERGY INNOVATION. Everything You Need to Know About the America COM-
PETES Act, jun/2015. Disponível em: <http://americanenergyinnovation.org/2015/06/everything-you-
need-to-know-aboutthe-america-competes-act/>. Acesso em: 02 junho 2017.
34
FURMAN, Jeffrey. The America COMPETES Acts: The Future of U.S. Physical Science & Engineer-
ing Research?, NBER Innovation Policy & the Economy Workshop, Washington, DC, 2012, p. 16.
35
AMERICAN ENERGY INNOVATION. Everything You Need to Know About the America COM-
PETES Act, jun/2015. Disponível em: <http://americanenergyinnovation.org/2015/06/everything-you-
need-to-know-aboutthe-america-competes-act/>. Acesso em: 02 junho 2017.
36
CONGRESSO DOS ESTADOS UNIDOS. America COMPETES Act 2015. Disponível em: <https://
www.congress.gov/114/bills/hr1806/BILLS-114hr1806rfs.pdf>. Acesso em: 13 maio 2017. O projeto
de lei do ACA 2015 não foi aprovado como uma lei individual, sendo que seu conteúdo foi incorporado
ao American Innovation Competitiveness Act, aprovado como lei em junho de 2017.
Marco Regulatório em Ciência, Tecnologia e Inovação 163
seguintes: i) o ACA 2007 autorizou a duplicação do orçamento público aplicado
em C,T&I em um período de sete anos37; o ACA 2010 estendeu o tempo previsto
para esse aumento para dez anos; ii) o ACA 2007 trouxe programas de incentivo
à educação em C,T&I, relativos à qualificação de professores, estímulo à carreira
no setor, incentivos para grupos minoritários,38 entre outros, que foram, com
algumas modificações, mantidos pelo ACA 201039 iii) o ACA 2010 trouxe como
novidade a criação de programas para estímulo regional à inovação e para con-
cessão de empréstimos a pequenos e médios empreendedores40; iv) por fim, o
ACA 2010 autorizou a criação de programas de concessão de prêmios a fim de
estimular, de modo competitivo, a inovação em áreas específicas (seção 105)41.
Um bom exemplo de iniciativa autorizada pelo ACA e implementada
pelas agências de fomento foi a criação do site Challenge.gov42, que unifica
as oportunidades federais de premiação em inovação. Já existiam práticas de
concessão de prêmios antes do ACA 2010, mas após a sua promulgação houve
a concentração das iniciativas nesse mesmo local (congrega desafios de mais
de 100 agências federais)43, um aumento da quantidade de prêmios e também
dos valores concedidos44. Desde 2010, mais de 740 desafios já foram lançados
pelo governo federal no site45.
Ainda que os ACA não tenham sido efetivamente implementados em
toda a sua completude pelo governo federal46, foram iniciativas de grande
valor legislativo que criaram um ambiente normativo de estímulo à ciência,
tecnologia e inovação.
Outra lei muito importante para o setor de C,T&I nos EUA é o American
Innovation and Competitiveness Act (AICA)47 – Lei americana de Inovação e Com-
petitividade, aprovada em junho deste ano, após uma longa tramitação legislati-
va. Essa lei incorporou o conteúdo de diversos projetos de leis apresentados no
37
FURMAN, Jeffrey. The America COMPETES Acts: The Future of U.S. Physical Science & Engineer-
ing Research?, NBER Innovation Policy & the Economy Workshop, Washington, DC, 2012, p. 17.
38
Op. cit. p. 18-19.
39
Op. cit. p. 27-28.
40
Op. cit. p. 29.
41
Op. cit, p. 28-29.
42
GOVERNO DOS ESTADOS UNIDOS. Portal Challenge.gov. Disponível em: <https://www.challen-
ge.gov/>. Acesso em: 03 junho 2017.
43
Op. cit.
44
FURMAN, Jeffrey. The America COMPETES Acts: The Future of U.S. Physical Science & Engineer-
ing Research?, NBER Innovation Policy & the Economy Workshop, Washington, DC, 2012, p. 37.
45
GOVERNO DOS ESTADOS UNIDOS. Portal Challenge.gov. Disponível em: <https://www.challen-
ge.gov/>. Acesso em: 03 junho 2017.
46
FURMAN, Jeffrey. The America COMPETES Acts: The Future of U.S. Physical Science & Engineer-
ing Research?, NBER Innovation Policy & the Economy Workshop, Washington, DC, 2012, p. 38-39.
47
CONGRESSO DOS ESTADOS UNIDOS. American Innovation and Competitiveness Act. Disponí-
vel em: <https://www.congress.gov/bill/114th-congress/senate-bill/3084>. Acesso em: 10 junho 2017.
164 Fabiana de Menezes Soares / Esther Külkamp Eyng Prete (Orgs.)
Congresso sobre o tema e foi fruto de uma série de discussões geradas após a
divulgação do relatório “Restaurando a base: o papel vital da pesquisa na preser-
vação do sonho americano”48, que mostrou que os EUA caiu para a 10a posição
entre as nações da OECD em investimentos em C,T&I, no ano de 201249.
Os grandes objetivos do AICA são: i) maximização do investimento em pes-
quisa básica; ii) redução dos encargos regulatórios na pesquisa; iii) qualificação em
pesquisa; iv) parcerias com o setor privado para desenvolvimento de pesquisas50.
Para tanto, algumas medidas são tomadas, tais como: de transparência e respon-
sabilização na distribuição de recursos públicos; investimentos em pesquisas so-
bre segurança na internet; revogação de encargos burocráticos obsoletos; investi-
mentos em educação, sobretudo nas áreas de Ciência, Tecnologia, Engenharia e
Matemática; criação de programas de parceria entre setor público e privado no
desenvolvimento de pesquisa; promoção do empreendedorismo; entre outras51.
Diante dos parâmetros gerais do quadro normativo estadunidense em
C,T&I acima exposto, algumas contribuições podem ser traçadas para o cená-
rio brasileiro:
48
AMERICAN ACADEMY OF ARTS & SCIENCES. Restoring the foundation: the vital role of re-
search in preserving the American Dream. Cambridge, 2014. Disponível em: <https://www.amacad.
org/multimedia/pdfs/publications/researchpapersmonographs/AmericanAcad_RestoringtheFounda-
tion_Brief.pdf>. Acesso em: 15 julho 2017.
49
Op. cit, p. 3.
50
U.S. SENATE COMMITTE ON COMMERCE, SCIENCE & TRANSPORTATION. Senate Science
and Technology Leaders Introduce the American Innovation and Competitiveness Act, 2016. Dis-
ponível em: <https://www.commerce.senate.gov/public/index.cfm/pressreleases?ID=75030AEA-8D42-
4F70-B363-74292E2EB53A>. Acesso em: 18 julho 2017.
51
COMMITTE ON SCIENCE, SPACE & TECHNOLOGY. President Signs American Innovation and
Competitiveness Act Into Law: general summary of each title, 2017. Disponível em: <https://scien-
ce.house.gov/sites/republicans.science.house.gov/files/documents/121616%20American%20Innova-
tion%20and%20Competitiveness%20Act.pdf>. Acesso em: 15 julho 2017.
Marco Regulatório em Ciência, Tecnologia e Inovação 165
de parceria entre o público e o privado em C,T&I, conjugando esforços
para o avanço no setor.
iii) a atuação intergovernamental coordenada e integrada, de tal forma que
haja comunicação e interlocução entre as esferas da federação (gover-
no federal e governos locais) e também entre órgãos e departamentos
públicos. Caso contrário, as medidas implementadas em um nível ou
setor não se repetem nos demais, tornando-se iniciativas isoladas ou
pode ainda haver choque entre medidas contraditórias adotadas pelos
diferentes entes.
iv) o uso de ferramentas da tecnologia da informação para facilitar e sim-
plificar o processo de divulgação de oportunidades para obtenção de
subsídios públicos e de prêmios para inovação, como foi feito nos
EUA nos programas Grants.gov e Challenge.gov. São frutos de atuações
coordenadas de diversos órgãos e de agências federais que facilitam
a vida do administrado e do pesquisador, dando ampla divulgação a
oportunidades de pesquisa e de incentivo público.
v) a adoção de mecanismos de avaliação legislativa para garantir a coe-
rência normativa, a simplicidade das normas do setor, a redução da
burocracia, e, sobretudo, a revisão e atualização constante das normas,
por se tratar de setor que muda e avança constantemente.
vi) a participação dos setores afetados no processo de elaboração de atos
normativos e de políticas públicas em C,T&I, o que contribui enorme-
mente para a efetividade da legislação.
52
WORLD BANK. Gross domestic product 2015. Disponível em: <http://databank.worldbank.org/data/
download/GDP.pdf>. Acesso em: 25 maio 2017.
53
DUTTA, S.; LANVIN, B.; WUNSCH-VINCENT, S (Eds.). The Global Innovation Index 2016: Win-
ning with Global Innovation, Geneva: WIPO, p. 232. Disponível em: <http://www.wipo.int/edocs/
pubdocs/en/wipo_pub_gii_2016.pdf>. Acesso em: 26 maio 2017.
54
CENTRAL INTELLIGENCE AGENCY. The World Factbook: East & Southeast Asia: Japan. Dis-
ponível em: <https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/geos/ja.html>. Acesso em:
26 maio 2017.
166 Fabiana de Menezes Soares / Esther Külkamp Eyng Prete (Orgs.)
62
Op. cit.
63
PAULA, Tomás Bruginski de. Diretrizes das Políticas Tecnológicas e de Inovação – uma Análise
Comparada: Japão, 2005, p. 3. Disponível em: <http://www.iedi.org.br/admin_ori/pdf/diretrizes_ti_
japao.pdf>. Acesso em: 26 maio 2017.
64
GOVERNO DO JAPÃO. Council for Science and Technology Policy. Disponível em: <http://japan.
kantei.go.jp/policy/index/science/index_e.html>. Acesso em: 5 junho 2017.
65
GOVERNO DO JAPÃO. The 5th Science dnd Technology Basic Plan, p. 5. Disponível em: <http://
www8.cao.go.jp/cstp/english/basic/5thbasicplan.pdf>. Acesso em: 5 junho 2017.
66
DIVISÃO DE POLÍTICA CIENTÍFICA E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DA UNES-
CO. Relatório UNESCO sobre Ciência 2010: o atual status da ciência em torno do mundo. Brasil:
UNESCO, 2010, p. 27. Disponível em: <http://unb2.unb.br/administracao/decanatos/dpp/diape/Arqui-
vos/189883por.pdf>. Acesso em: 5 junho 2017.
67
SETOR DE CIÊNCIAS NA REPRESENTAÇÃO DA UNESCO. Relatório da Ciência da UNESCO:
Rumo a 2030. Visão Geral e Cenário Brasileiro. Brasil: UNESCO. p. 32. Disponível em: <http://unes-
doc.unesco.org/images/0023/002354/235407por.pdf>. Acesso em: 5 junho 2017.
68
SANT’ANNA, Nanahira de Rabelo e. Cooperação em ciência, tecnologia e inovação entre brasil e japão
no século xxi: contribuições para o desenvolvimento. 2013. 119 f. Dissertação (Mestrado), Universidade
de Brasília, Brasília, 2013, p. 42. Disponível em: <http://repositorio.unb.br/bitstream/10482/14559/1/2013_
NanahiradeRabeloeSantAnna.pdf>. Acesso em: 26 de maio 2017.
69
GOVERNO DO JAPÃO. What is Innovation 25h? Disponível em: <http://japan.kantei.go.jp/innova-
tion/okotae2_e.html>. Acesso em: 5 junho 2017.
168 Fabiana de Menezes Soares / Esther Külkamp Eyng Prete (Orgs.)
70
GOVERNO DO JAPÃO. The 5th Science And Technology Basic Plan. Japão, 2016, p. 1-5. Disponí-
vel em: <http://www8.cao.go.jp/cstp/english/basic/5thbasicplan.pdf>. Acesso em: 5 junho 2017.
71
AGÊNCIA BRASILEIRA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL. Inovação: estratégia de
sete países. In: ARBIX, Glauco et al. (Org.). Cadernos da indústria ABDI – XV. Brasília, DF,
2010, p. 290. Disponível em: <http://www.abdi.com.br/Estudo/MOBITnovofinal.pdf>. Acesso
em: 05 junho 2017.
72
GOMES, Myller; PEREIRA, Fernando. Hélice tríplice: um ensaio teórico sobre a relação universi-
dade-empresa-governo em busca da inovação. International Journal Of Knowledge Engineering And
Management, Florianópolis, v. 4, n. 8, p. 136-155, 2015. Disponível em: <http://incubadora.periodicos.
ufsc.br/index.php/IJKEM/article/viewFile/3309/4071>. Acesso em: 05 junho 2017
73
O Bayh-Dole Act é uma lei estadunidense que regula a transferência de tecnologia feita por entidades
públicas e por meio de recursos públicos, permitindo que “pequenas empresas, universidades, organizações
sem fins lucrativos se tornassem proprietárias de tecnologia desenvolvida com financiamento público”
(AGÊNCIA BRASILEIRA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL. Inovação: estratégia de sete
países. In: ARBIX, Glauco et al. (Org.). Cadernos da indústria ABDI – XV. Brasília, DF, 2010, p. 108.
Disponível em: <http://www.abdi.com.br/Estudo/MOBITnovofinal.pdf>. Acesso em: 05 junho 2017).
74
ORGANISATION FOR ECONOMIC CO-OPERATION AND DEVELOPMENT. Innovation Policy
And Performance: A Cross-Country Comparison, 2005. Disponível em: <http://s3.amazonaws.com/
zanran_storage/www.eib.org/ContentPages/31067713.pdf>. Acesso em: 14 julho 2017.
75
AGÊNCIA BRASILEIRA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL. Inovação: estratégia de sete
países. In: ARBIX, Glauco et al. (Org.). Cadernos da indústria ABDI – XV. Brasília, DF, 2010, p. 301.
Disponível em: <http://www.abdi.com.br/Estudo/MOBITnovofinal.pdf>. Acesso em: 05 junho 2017.
Marco Regulatório em Ciência, Tecnologia e Inovação 169
Outro problema enfrentado pelo Brasil e pelo Japão é a cultura de aver-
são ao risco por parte do empresariado, que representa um impasse para o
avanço de C,T&I. Algumas iniciativas tomadas pelo governo japonês foram a
modernização da regulação financeira e a expansão do tratamento fiscal pre-
ferencial para investimentos de risco76. Além disso, tendo em vista a manuten-
ção de empreendimentos de risco, o governo passou a incentivar a criação de
incubadoras e fundos pelas universidades para fomento de empreendimentos
dos próprios estudantes77.
Ademais, um entendimento trazido pelo sistema japonês foi a importância
de um plano norteador do desenvolvimento de C,T&I78, em que se delimite
diretrizes e temas que devem ser trabalhadas por um determinado período. Essa
tendência é substancializada nos Planos Básicos para a promoção da Ciência e
Tecnologia que dão coordenação e centralidade às políticas. E, devido à duração
de médio prazo dos planos, permite-se que se fomente novas temáticas conforme
o desenvolvimento e as necessidades da sociedade e viabiliza-se a concentração
de esforços em assuntos de maior urgência, o que foi bem ilustrado pelo contex-
to posterior ao acidente na usina nuclear de Fukushima.
Como explanado anteriormente, esses Planos são elaborados pelo Con-
selho para Ciência, Tecnologia e Inovação que, apesar do papel central no
sistema, sofre muitas limitações no plano político. De fato, observa-se que
sua atuação fica muito restrita a questões tecnológicas, não sendo aprovei-
tado o potencial desse órgão, que deveria ser consultado para políticas nos
mais diversos âmbitos, como, por exemplo, o econômico. Em outras palavras,
nota-se a falta de dinamicidade das relações governamentais que inviabiliza a
conformação de políticas que deem a devida relevância à C,T&I79. Apesar da
falta de medidas governamentais japonesas para a solução dessa questão, ela
serve como um ponto de reflexão para o Brasil em relação à elaboração de suas
políticas de C,T&I, pois deve ser pensando em como possibilitar que a C,T&I,
76
ORGANISATION FOR ECONOMIC CO-OPERATION AND DEVELOPMENT. Upgrading Ja-
pan’s Innovation System To Sustain Economic Growth, 2006. Disponível em: <http://www.
oecd.org/officialdocuments/publicdisplaydocumentpdf/?doclanguage=en&cote=eco/wkp(2006)55>.
Acesso em: 14 julho 2017.
77
SCIENCE AND TECHNOLOGY OFFICE TOKYO. Startup funding, Venture Capital and fintech
in Japan. Disponível em: <http://www.stofficetokyo.ch/Wordpress/wp-content/uploads/2013/04/Star-
tupsVCandFintechInJapan.pdf>. Acesso em: 15 junho 2017.
78
AGÊNCIA BRASILEIRA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL. Inovação: estratégia de sete
países. ARBIX, Glauco et al. (Org.). Cadernos da indústria ABDI – XV. Brasília, DF, 2010, p. 310.
Disponível em: <http://www.abdi.com.br/Estudo/MOBITnovofinal.pdf>. Acesso em: 05 junho 2017.
79
ORGANISATION FOR ECONOMIC CO-OPERATION AND DEVELOPMENT. Upgrading Ja-
pan’s Innovation System To Sustain Economic Growth, 2006. Disponível em: <http://www.
oecd.org/officialdocuments/publicdisplaydocumentpdf/?doclanguage=en&cote=eco/wkp(2006)55>.
Acesso em: 14 julho 2017.
170 Fabiana de Menezes Soares / Esther Külkamp Eyng Prete (Orgs.)
tendo em vista seu caráter interdisciplinar, seja considerada nas políticas go-
vernamentais em geral.
Ainda na perspectiva macro, algumas lições podem ser tiradas da res-
truturação estatal promovida pelo Japão. O país, diante dos problemas de
dimensão econômica e social enfrentados na década de 1990, decidiu focar
seus investimentos na C,T&I, vendo nesse caminho a possibilidade de enfren-
tamento dos seus problemas econômico-sociais. Além disso, tiveram como
foco da renovação institucional a sinergia entre os atores envolvidos na área,
reforçando a importância da coordenação e da racionalização das relações
existentes nesse campo.
10.5. REFERÊNCIAS
AMERICAN ACADEMY OF ARTS & SCIENCES. Restoring the foundation: the vital role of research in preser-
ving the American Dream. Cambridge, 2014. Disponível em: <https://www.amacad.org/multimedia/pdfs/publica-
tions/researchpapersmonographs/AmericanAcad_RestoringtheFoundation_Brief.pdf>. Acesso em: 15 julho 2017.
AMERICAN ENERGY INNOVATION. Everything You Need to Know About the America COMPETES
Act, jun/2015. Disponível em: <http://americanenergyinnovation.org/2015/06/everything-you-need-to-know-
-about-theamerica-competes-act/>. Acesso em: 02 junho 2017.
AGÊNCIA BRASILEIRA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL. Inovação: estratégia de sete países. In:
ARBIX, Glauco et al. (Org.). Cadernos da indústria ABDI – XV. Brasília/DF, 2010. Disponível em: <http://
www.abdi.com.br/Estudo/MOBITnovofinal.pdf>. Acesso em: 05 junho 2017.
BROWN, Helen. Knowledge and Innovation: a comparative study of the USA, the UK and Japan. New York:
Routledge, 2008.
CENTRAL INTELLIGENCE AGENCY. The World Factbook: East & Southeast Asia: Japan. Disponível em:
<https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/geos/ja.html>. Acesso em: 26 maio 2017.
CHEVALLIER, Jacques. A racionalização da produção jurídica. Legislação – Cadernos de Ciência de Legisla-
ção, n. 3, p. 9-23, 1992.
COMMITTE ON SCIENCE, SPACE & TECHNOLOGY. President Signs American Innovation and Compe-
titiveness Act Into Law: general summary of each title, 2017. Disponível em: < https://science.house.gov/sites/
republicans.science.house.gov/files/documents/121616%20American%20Innovation%20and%20Competitive-
ness%20Act.pdf>. Acesso em: 15 julho 2017.
CONGRESSO DOS ESTADOS UNIDOS. America COMPETES Act 2007. Disponível em: <https://www.
congress.gov/110/plaws/publ69/PLAW-110publ69.pdf>. Acesso em: 12 maio 2017.
______. America COMPETES Act 2010. Disponível em: <https://www.congress.gov/111/plaws/publ358/
PLAW-111publ358.pdf>. Acesso em: 12 maio 2017.
______. America COMPETES Act 2015. Disponível em: <https://www.congress.gov/114/bills/hr1806/BILLS-
-114hr1806rfs.pdf>. Acesso em: 13 maio 2017.
______. American Innovation and Competitiveness Act. Disponível em: <https://www.congress.gov/
bill/114th-congress/senate-bill/3084>. Acesso em: 10 junho 2017.
______. Research and Development Efficiency Act. Disponível em: <https://www.congress.gov/bill/114th-
-congress/house-bill/1119>. Acesso em: 21 maio 2017.
CORNELL LAW SCHOOL. Portal do Legal Information Institute. Disponível em: <https://www.law.cornell.
edu/uscode/text/42/chapter-79> . Acesso em: 20 maio 2017.
DIVISÃO DE POLÍTICA CIENTÍFICA E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DA UNESCO. Relató-
rio UNESCO sobre Ciência 2010: o atual status da ciência em torno do mundo. Brasil: UNESCO, 2010.
Disponível em: <http://unb2.unb.br/administracao/decanatos/dpp/diape/Arquivos/189883por.pdf>. Acesso
em: 5 junho 2017.
DUTTA, S.; LANVIN, B.; WUNSCH-VINCENT, S (Eds.). The Global Innovation Index 2016: Winning with
Global Innovation, Geneva: WIPO, 422 p. Disponível em: <http://www.wipo.int/edocs/pubdocs/en/wipo_pub_
gii_2016.pdf>. Acesso em: 25 maio 2017.
FERREIRA, Edna. Burocracia X autonomia universitária: muito se discute, pouco se resolve. Disponível
em: <http://www.andifes.org.br/burocracia-x-autonomia-universitaria-muito-se-discute-pouco-se-resolve/>. Aces-
so em: 06 junho 2017.
FURMAN, Jeffrey. The America COMPETES Acts:
The Future of U.S. Physical Science & Engineering Re-
search?, NBER Innovation Policy & the Economy Workshop, Washington/DC, 2012.
172 Fabiana de Menezes Soares / Esther Külkamp Eyng Prete (Orgs.)
GOVERNO BRITÂNICO. Science & innovation investment framework 2004 – 2014, Londres: HM Treasury,
2004, 190 p. Disponível em: <http://news.bbc.co.uk/nol/shared/bsp/hi/pdfs/science_innovation_120704.pdf>.
Acesso em: 22 maio 2017.
GOVERNO DOS ESTADOS UNIDOS. Annual Report for Fiscal Year 2016, Grants.gov., 2017, p. 18 e 20.
Disponível em: <https://www.grants.gov/documents/19/23905/Grantsgov_Annual_Report_FY2016.pdf>. Aces-
so em: 17 maio 2017.
______. Portal Challenge.gov. Disponível em <https://www.challenge.gov/>. Acesso em: 03 junho 2017.
______. Portal do Congresso dos EUA. Disponível em: <https://www.congress.gov/bill/114th-congress/house-
-bill/1119>. Acesso em: 21 maio 2017.
______. Portal do Office of the Law Revision Counsel of the United States House. Disponível em: <http://
uscode.house.gov>. Acesso em: 20 maio 2017.
______. Portal Grants.gov. Disponível em: <https://www.grants.gov/web/grants/outreach/about-grants-gov.
html>. Acesso em: 15 maio 2017.
GOVERNO DO JAPÃO. Council for Science and Technology Policy. Disponível em: <http://japan.kantei.
go.jp/policy/index/science/index_e.html>. Acesso em: 5 junho 2017.
______. The 5th Science And Technology Basic Plan. Japão, 22 jan. 2016. Disponível em: <http://www8.cao.
go.jp/cstp/english/basic/5thbasicplan.pdf>. Acesso em: 5 junho 2017.
______. The Science And Technology Basic Law. Disponível em: <http://www8.cao.go.jp/cstp/english/law/
law.html>. Acesso em: 26 maio 2017.
______. What is Innovation 25h?. Disponível em: <http://japan.kantei.go.jp/innovation/okotae2_e.html>.
Acesso em: 5 junho 2017.
GOMES, Myller; PEREIRA, Fernando. Hélice tríplice: um ensaio teórico sobre a relação universidade-empresa-
-governo em busca da inovação, International Journal Of Knowledge Engineering And Management, v. 4,
n. 8, p. 136-155, 2015. Disponível em: <http://incubadora.periodicos.ufsc.br/index.php/IJKEM/article/viewFi-
le/3309/4071>. Acesso em: 05 junho 2017
MARQUES, Fabrício. Os impactos do investimento, Revista Pesquisa FAPESP, n. 246, ago/2016, p. 22. Dispo-
nível em: <http://revistapesquisa.fapesp.br/wp-content/uploads/2016/08/016-023_CAPA-Impacto-ciencia_246_
CORRECAO.pdf?14207a> Acesso em: 20 fevereiro 2017.
MAZZUCATO, Mariana. O Estado empreendedor. São Paulo: Companhia das Letras, 2014.
PAULA, Tomás Bruginski de. Diretrizes das políticas tecnológicas e de inovação – uma análise comparada:
Japão, set. 2005. Disponível em: <http://www.iedi.org.br/admin_ori/pdf/diretrizes_ti_japao.pdf>. Acesso em: 26
maio 2017.
PATEL, P.; JAGGER, N.; NEMOTO, R. Comparative study on Research Policy – Final Report. Uni-
versidade de Sussex: SPRU, out/2015. Disponível em: <https://www.sussex.ac.uk/webteam/gateway/file.
php?name=finalreportpublished.pdf&site=25>. Acesso em: 05 março 2017.
SANT’ANNA, Nanahira de Rabelo e. Cooperação em ciência, tecnologia e inovação entre brasil e japão no
século xxi: contribuições para o desenvolvimento. 2013. 119 f. Dissertação (Mestrado), Universidade de Brasília,
Brasília, 2013. Disponível em: <http://repositorio.unb.br/bitstream/10482/14559/1/2013_NanahiradeRabeloe-
SantAnna.pdf>. Acesso em: 26 maio 2017.
SCHWARZKOPF, Christian. Fostering Innovation and Entrepreneurship – Entrepreneurial Ecosystem and
Entrepreneurial Fundamentals in the USA and Germany. Karlsruhe, Germany: Springer Gabler, 2015.
SCIENCE AND TECHNOLOGY OFFICE TOKYO. Startup funding, Venture Capital and fintech in Japan.
Disponível em: <http://www.stofficetokyo.ch/Wordpress/wp-content/uploads/2013/04/StartupsVCandFinte-
chInJapan.pdf>. Acesso em: 15 junho 2017.
SETOR DE CIÊNCIAS NA REPRESENTAÇÃO DA UNESCO. Relatório da Ciência da UNESCO: Rumo
a 2030. Visão Geral e Cenário Brasileiro. Brasil: UNESCO. Disponível em: <http://unesdoc.unesco.org/
images/0023/002354/235407por.pdf>. Acesso em: 5 junho 2017.
TARELLO, Giovanni. Ideologias Setecentistas da Codificação e Estrutura dos Códigos. Meritum – Revista de
Direito da Universidade FUMEC, v. 3, n. 2, 2008. Disponível em: <http://www.fumec.br/revistas/meritum/
article/view/857/641>. Acesso em: 10 março 2017.
Marco Regulatório em Ciência, Tecnologia e Inovação 173
U.S. SENATE COMMITTE ON COMMERCE, SCIENCE & TRANSPORTATION. Senate Science and
Technology Leaders Introduce the American Innovation and Competitiveness Act, 2016. Disponível em:
<https://www.commerce.senate.gov/public/index.cfm/pressreleases?ID=75030AEA-8D42-4F70-B363-74292E2E-
B53A>. Acesso em: 18 julho 2017.
WORLD BANK. Gross domestic product 2015. Disponível em: <http://databank.worldbank.org/data/down-
load/GDP.pdf>. Acesso em: 25 maio 2017.
ORGANISATION FOR ECONOMIC CO-OPERATION AND DEVELOPMENT. Innovation Policy And
Performance: A Cross-Country Comparison, 2005. Disponível em: <http://s3.amazonaws.com/zanran_stora-
ge/www.eib.org/ContentPages/31067713.pdf>. Acesso em: 14 julho 2017.
______. Upgrading Japan’s Innovation System To Sustain Economic Growth, 2006. Disponível em: <http://
www.oecd.org/officialdocuments/publicdisplaydocumentpdf/?doclanguage=en&cote=eco/wkp(2006)55>. Aces-
so em: 14 julho 2017.
Capítulo 11
O Marco de Ciência, Tecnologia e Inovação:
Práticas da Gestão Pública nos
Processos Licitatórios
Fabiana de Menezes Soares
Pedro Augusto Costa Gontijo
11.1. INTRODUÇÃO
1
LUHMANN, Niklas. Sociologia do Direito I. Tradução de Gustavo Bayer. – Rio de Janeiro, Edições
Tempo Brasileiro, 1983, p. 7.
2
É o que Tércio Sampaio Ferraz Jr., bebendo da lógica, denomina de “funtores”, ou seja, “operadores
linguísticos que nos permitem mobilizar asserções”. As normas jurídicas emanam três tipos de funtores
básicos, quais sejam o deôntico, o proibitivo e o permissivo. Os funtores são estudados dentro do critério
pragmático de classificação das normas jurídicas com base na semiótica, oportunidade a qual se analisa
“os efeitos sobre sujeitos, sua função junto aos sujeitos normativos”. A interação estabelecida entre
a norma e os seus destinatários é importante instrumento para se avaliar a efetividade e eficácia das
normas jurídicas. As normas de ciência e tecnologia garantem direitos aos pesquisadores e ao mesmo
tempo estabelece um conjunto de deveres aos gestores. Estes não possuem a faculdade de querer ou não
realizar os preceitos normativos, principalmente de nível constitucional, mas devem executar e dar con-
Marco Regulatório em Ciência, Tecnologia e Inovação 175
É a par desse caminho que as novas conformações normativas no campo
da ciência, tecnologia e inovação se inserem em nosso sistema jurídico. As novas
diretrizes estabelecem um conjunto de inovações informacionais para o orde-
namento jurídico, a exponenciar a aplicabilidade de preceitos constitucionais
de matrizes econômicas, políticas e sociais, além de amoldar a necessidade de
estabelecimento de novos mecanismos institucionais para a gestão e o fomento
do próprio Estado. A Emenda Constitucional n. 85 de 26 de fevereiro de 2015
e o novo marco regulatório de ciência, tecnologia e inovação – Lei n. 13.243 de
11 de janeiro de 2016 – estabelecem as balizas da necessidade de uma nova con-
formação institucional para o desenvolvimento econômico, científico, social,
acadêmico e produtivo de nosso país, dando pistas sobre quais trilhos devemos
seguir para alcançar o desenvolvimento tecnológico e social que faz parte do
projeto de emancipação do Brasil em níveis interno e internacional.
cretude por meio de políticas administrativas e políticas de estado”. FERRAZ JUNIOR, Tércio Sampaio.
Introdução ao estudo do direito: técnica, decisão, dominação. – 6. ed., 3. reimp. – São Paulo, Atlas,
2011, p. 101-103.
3
Efetivamente, a história político-social brasileira foi permeada durante o século XX por quatro grandes
paradigmas ideológicos a respeito da forma como o Estado deveria se conduzir no que diz respeito à
interseção entre política e economia e política e relações internacionais, conforme Amado Cervo. Nesse
contexto, as análises tinham um grande apelo à questão das desigualdades sociais e das assimetrias de
distribuição e delineamento do poder político em nível mundial. Dentro desse espectro, pode-se identifi-
car o movimento associacionista, que defendia um alinhamento da política e dos ideais sociais e econô-
micos com as práticas realizadas pelos Estado Unidos. Havia também a corrente dos independentistas,
que comungavam da ideia da necessidade de uma coexistência pacífica entre a polarização internacional,
de maneira a adotar uma postura neutra, apostando no multilateralismo como mecanismo para inserção
e para o desenvolvimento econômico, a comungar com uma visão econômica mercadológica, um pouco
mais protecionista do que os associacionistas, de estimula à industrialização e à produção nacional. Por
outro lado, vê-se no extremo a corrente dos dependentes, que proferiam a necessidade de se cindir com
o sistema capitalista para que as desigualdades e assimetrias pudessem ser estancadas. Por fim, haviam
os cepalistas, influenciadores diretos das correntes nacional-desenvolvimentistas no Brasil, que tinham
como ponto de partida a constatação da divisão do mundo entre periferia e centro. Para superar esse
176 Fabiana de Menezes Soares / Esther Külkamp Eyng Prete (Orgs.)
5
Conforme ensina Ana Paula Paes de Paula, com base nos trabalhos de Faoro (1995) e Lafer (1975).
DE PAULA, Ana Paula Paes. Por uma nova gestão pública: limites e potencialidades da experiência
contemporânea. – Rio de Janeiro, Editora FGV, 2005, p. 106.
6
Essas influências foram diretas nos aspectos de gestão pública, gestão financeira, gestão econômica e
na mediação de questões sociais. Como exemplo, tem-se o caso da formulação dos novos paradigmas
de gestão financeira estatal, que no Brasil sofreu grande influência das diretrizes colocadas pelo Fundo
178 Fabiana de Menezes Soares / Esther Külkamp Eyng Prete (Orgs.)
Monetário Internacional (FMI) e Banco Interamericano de Desenvolvimento (BIRD), além dos modelos
implementados pela Austrália e, principalmente, pela Nova Zelândia. Neste último caso, as balizas da
Administração Pública gerencial brasileira foram formatadas, no que diz respeito à lógica orçamento-
despesa, nos seguintes critérios: “A legislação da Nova Zelândia também foi responsável por diversas
características absorvidas por nossa Lei de Responsabilidade Fiscal, especialmente no tocante à transpa-
rência fiscal. Aquele país passou por um longo processo de reestruturação no modelo de administração
pública ao longo das décadas de 1980 e 1990, com a adoção de diversas normas específicas [The State
Owned Enterprises Act (1986), The State Sector Act (1988) e The Public Finance Act (1989)], até que,
em 1994, foi promulgada sua Fiscal Responsability Act. A reorganização neozelandesa do seu setor pú-
blico teve as seguintes metas que nos serviram de inspiração: a) fixação de parâmetro do curso/benefício
para o gasto público e melhora na qualidade dos bens e serviços prestados pelo Estado; b) aumento da
transparência do setor público; c) imposição de limites e restrições aos gastos públicos para uma Admi-
nistração responsável”. ABRAHAM, Marcus. Lei de responsabilidade fiscal comentada. – 2. ed., rev.
e atual. – Rio de Janeiro, Forense, 2017, p. 12. No campo do movimento administrativo, a Nova Zelân-
dia realizou reformas no sentido de implementar amplo projeto de terceirizações e privatizações, tendo
como princípio “a melhoria na relação custo/eficiência na produção de bens e serviços públicos e a qua-
lidade desses bens e serviços e sua adequação aos desejos dos consumidores” (DE PAULA, Ana Paula
Paes. Por uma nova gestão pública: limites e potencialidades da experiência contemporânea. – Rio de
Janeiro, Editora FGV, 2005, p. 50), o que revela uma inversão do valor cidadão/consumidor no que se
refere à lógica administração/administrado. Como se sabe, a implementação de mecanismos e a adoção
de institutos criados em outras realidades é uma das grandes amarras ao desenvolvimento econômico e
social brasileiros, tendo em vista que as condições de procedibilidade, aplicabilidade e de assimilação
desses mecanismos desenvolvidos em outros países encontram sérias e insuperáveis distorções, que
devem ser reavaliadas e refletidas por parte da inteligência brasileira, especialmente pelos sujeitos que
participam em caráter efetivo da conformação do Estado.
Marco Regulatório em Ciência, Tecnologia e Inovação 179
Apoiado nesses novos valores de Administração, o Estado brasileiro pas-
sou a corresponder não somente aos anseios sociais por desenvolvimento,
como também começou a traçar os passos fundamentais estabelecidos pela
Constituição Federal de 1988 no que concerne à consolidação dos mecanismos
de fomento econômico-social estabelecidos pelo constituinte como política de
Estado, a serviço de um projeto maior de construção das bases do desenvolvi-
mento econômico e intelectual seguro, sedimentado e com vistas à erradicação
das assimetrias sociais, ao desenvolvimento humano, e à potencialização dos
valores normativos constitucionais. O Estado, em conjunto com a sociedade
civil que lhe dá corporificação psicológica e o legitima, passa paulatinamente
a ter que servir como órgão de planejamento plural e participativo, local onde
as questões estratégicas para o desenvolvimento são discutidas, gestadas, fo-
mentadas, financiadas, incentivadas e concretizadas. Apesar de ainda persistir
o paradigma gerencial7, vê-se a abertura da Administração Pública brasileira
para um novo modelo de gestão e planejamento, o modelo societal.
8
BRASIL. Constituição Federal de 1988.
9
DE PAULA, Ana Paula Paes. Por uma nova gestão pública: limites e potencialidades da experiência
contemporânea. – Rio de Janeiro, Editora FGV, 2005, p. 175.
10
Conforme Ana Paula Paes de Paula, o modelo de administração pública gerencial possui como pro-
jeto político a modelização do Estado conforme padrões de eficiência administrativa similares ao
da administração privada. Para isso, deveria ser implementado amplo ajustes estrutural, conforme
as recomendações estabelecidas por organismos multilaterais internacionais (principalmente FMI e
BIRD) e as advindas dos grandes centros de irradiação dessas ideias, como Estados Unidos, Reino
Unido, Austrália e Nova Zelândia. Enfatiza-se a reforma do Estado em dimensões estruturais focadas
no aspecto econômico-financeiro e no institucional-administrativo, o que gera um impacto na orga-
nização administrativa do aparelho estatal a partir da separação entre as atividades exclusivas e não
exclusivas do Estado em três níveis governamentais. Por fim, observa-se que o movimento gerencia-
lista tem como marca principal uma porosidade formal do nível de participação social nas decisões
Marco Regulatório em Ciência, Tecnologia e Inovação 181
Nesse aspecto, observa-se que o modelo societal ainda está em desenvol-
vimento teórico, mas aponta para importantes aspectos que devem ser leva-
dos em consideração para que a Administração Pública aperfeiçoe sua prática
institucional e os resultados da implementação de seus Planos de Governo e
de Estado. Dos aspectos mais pujantes se destacam a abertura das instituições
políticas para a participação social11 em um nível não apenas formal, como
também substancial. Observa-se que a elaboração de projetos, a racionalidade
e a inteligência estatais devem ser tecidas a partir de um critério plural e dia-
lógico, em que atores interessados, afetados e estudiosos projetem e perfaçam
uma contínua oxigenação do saber administrativo. A partir disso, criam-se as
condições de desarticulação da fratura atualmente existente entre sociedade ci-
vil e política/Estado em nossa realidade. A experiência da gestão participativa
tem como resultado inarredável a elaboração de uma “gestão focalizada nas
demandas do público alvo, incluindo questões culturais e participativas12”.
Isso traz uma necessidade de resposta tanto do Estado como da sociedade civil.
Essa resposta, no campo de ciência, tecnologia e inovação se dá a partir
da implementação de ações de fomento intermediadas por canais de partici-
pação que visem a simplificação das estruturas de obtenção de recursos e dos
procedimentos de prestação de contas, conforme será aprofundado. Todavia,
conforme assevera a Professora Ana Paula Paes de Paula, a atual conformação
da Administração brasileira não possui em seu bojo
estatais, uma vez que segundo a autora ele é “participativo no nível do discurso, mas centralizador no
que se refere ao processo decisório, à organização das instituições políticas e à construção de canais
de participação popular” (Op. cit., p. 175).
11
Nesse sentido, Ana Paula Paes de Paula ensina que “No que se refere à abertura das instituições à
participação social, quando analisamos a vertente gerencial, constatamos uma clara concentração do
poder no núcleo estratégico. Há uma crença na eficiência do controle social, uma delegação da formu-
lação de políticas públicas para os burocratas das secretarias de governo e uma atribuição da execução
às agências executivas, a terceiros ou às organizações sociais. Assim, verificamos que o controle
social é idealizado, pois na prática não há a transparências esperada nem os mecanismos para que o
controle ocorra. Outro sinal do caráter da participação social na estrutura e dinâmica governamental
da vertente gerencial é a ênfase no engajamento da própria burocracia pública ou dos quadros das
organizações sociais no processo de gestão. A estrutura e a dinâmica do aparelho de Estado pós-refor-
ma não apontam os canais que permitiriam a infiltração das demandas populares”. DE PAULA, Ana
Paula Paes. Por uma nova gestão pública: limites e potencialidades da experiência contemporânea.
– Rio de Janeiro, Editora FGV, 2005, p. 175-176.
12
Op. cit., p. 175.
182 Fabiana de Menezes Soares / Esther Külkamp Eyng Prete (Orgs.)
13
Brasil. Lei n. 10.973, de 2 de dezembro de 2004. Dispõe sobre incentivos à inovação e à pesquisa cien-
tífica e tecnológica no ambiente produtivo e dá outras providências. Diário oficial da União, Brasília,
03 de dez. de 2004. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/lei/
l10.973.htm>. Modificada pela Lei n. 13.243/2016.
Marco Regulatório em Ciência, Tecnologia e Inovação 183
estrutura estatal, como já apontado. Segundo, e talvez o mais importante, a
desburocratização a partir da simplificação dos mecanismos e procedimentos
para a implementação de programas e para a realização de parcerias entre
particulares e o Estado.
Simplificar é reduzir a complexidade. Do ponto de vista normativo, a
simplificação implica na ideia de racionalização da interseção entre o sistema
normativo e o meio para o qual aponta, ou seja, o meio sobre o qual incide.
Essa redução de complexidade é importante instrumento para que o sistema
possa operacionalizar seus códigos de modo mais fluido, com mecanismos de
autocontenção e autoavaliação que sejam suficientes para os fins que pretenda
alcançar. Inclusive, um dos princípios adotados no MRCTI é justamente a
“simplificação de procedimentos para gestão de projetos de ciência, tecnologia
e inovação e adoção de controle por resultados em sua avaliação”, no caminho
da nova redação do art. 1º, parágrafo único, XII, da Lei n. 10.973/200414.
Essa simplificação dos mecanismos de gestão e fiscalização é estrategi-
camente utilizada por meio dos procedimentos licitatórios. A atividade de
cooperação entre a esfera estatal e a esfera particular deve, necessariamente,
ser mediada por procedimentos especiais no intuito de preservar as bases axio-
lógicas de fundamentação do Estado democrático hodierno, quais sejam os
princípios da moralidade, da impessoalidade, da eficiência, da transparência,
do republicanismo e da supremacia da Constituição.
14
Brasil. Lei n. 10.973, de 2 de dezembro de 2004. Dispõe sobre incentivos à inovação e à pesquisa
científica e tecnológica no ambiente produtivo e dá outras providências. Diário oficial da União,
Brasília, 03 de dez. de 2004. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-
2006/2004/lei/l10.973.htm>.
15
Conforme José dos Santos Carvalho Filho, os procedimentos licitatórios vêm a cumprir importante papel
para a manutenção do sistema normativo constitucional, uma vez que na hipótese de o administrador
poder escolher ao seu bem querer quais seriam os agentes a contratar com a administração seria fácil
prever que “essa liberdade daria margem a escolhas impróprias, ou mesmo a concertos escusos entre al-
184 Fabiana de Menezes Soares / Esther Külkamp Eyng Prete (Orgs.)
guns administradores públicos inescrupulosos e particulares, com o que prejudicada, em última análise,
seria a Administração Pública, gestora dos interesses coletivos”. CARVALHO FILHO, José dos Santos.
Manual de Direito Administrativo. – 27. ed., rev., ampl. e atual. – São Paulo, Atlas, 2014, p. 237.
16
BRASIL. Lei n. 8.666, de 21 de junho de 1993. Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da Constituição
Federal, institui normas para licitações e contratos da Administração Pública e dá outras providências.
Diário oficial da União, 22 de junho de 1993. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
leis/l8666cons.htm>.
17
Cabe ressaltar que uma abordagem dogmática da dispensa de licitação é imprescindível para articular
o fenômeno da simplificação na ordem de ciência e tecnologia e as modificações legislativas estuda-
das. Segundo Marçal Justen Filho, “a dispensa de licitação verifica-se em situações em que, embora
viável competição entre particulares, a lei reconhece a incompatibilidade entre a licitação e os valores
norteadores da atividade administrativa, sob um prisma de proporcionalidade. A dispensa de licitação é
consagrada por lei para situações em que é viável a competição. A lei determina a dispensa da licitação
por reconhecer que a sua ocorrência não traria os benefícios pretendidos ou, mesmo, acarretaria outros
malefícios indesejáveis. A licitação seria uma solução inadequada ou desnecessária para promover o
atendimento às necessidades coletivas ou comprometeria a realização de outros valores igualmente pro-
tegidos pelo direito”. (MARÇAL, p. 468).
18
Assim era a dicção do art. 24, XXI, inserido à Lei n. 8.666/93 pela Lei n. 9.648/98: “Art. 24. É dispen-
sável a licitação: (...) XXI – Para a aquisição de bens destinados exclusivamente a pesquisa científica e
tecnológica com recursos concedidos pela CAPES, FINEP, CNPq ou outras instituições de fomento a
pesquisa credenciadas pelo CNPq para esse fim específico.” (BRASIL, 1993)
19
BRASIL. Lei n. 12.349, de 15 de dezembro de 2010. Altera as Leis nºs 8.666, de 21 de junho de 1993,
8.958, de 20 de dezembro de 1994, e 10.973, de 2 de dezembro de 2004; e revoga o § 1º do art. 2º da Lei
nº 11.273, de 6 de fevereiro de 2006. Diário Oficial da União, 16 de dezembro de 2010. Disponível em
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12349.htm>.
Marco Regulatório em Ciência, Tecnologia e Inovação 185
palavra “insumo” ao dispositivo, permitindo-se a dispensa de licitação tanto
para a aquisição de “bens” como de “insumos”. Por fim, o MRCTI modificou
o dispositivo, que passou a ter a seguinte dicção:
20
É visível que os procedimentos de simplificação estão ligados a procedimentos de praxe que devem ser
levados em consideração pelo Administrador e pelos interessados na realização da contratação realizada
entre a Administração e sujeitos particulares. Nesse sentido, o art. 26 da Lei n. 8.666/93 comanda que a
dispensa deve ser devidamente justificada – conforme o motivo, a motivação e a finalidade, principalmente
–, devendo ser estritamente fundamentados os motivos que levaram à escolha do fornecedor ou executante,
a justificativa dos preços – que no caso de ciência e tecnologia seguem padrões singulares e específicos, a
depender do objeto da pesquisa –, e os pertinentes documentos que comprovem a aprovação dos projetos de
pesquisa aos quais os bens serão alocados. Esta última ressalva, conforme José dos Santos Carvalho Filho,
visa a evitar que, atrás das finalidades legítimas para adquirir bens voltados àqueles objetivos, se escondam
interesses escusos na utilização ilegal das verbas públicas. Por via de consequência, a omissão na juntada do
referido documento, ou sua falsidade ideológica, ensejará a responsabilização dos administradores envolvi-
dos no âmbito civil, administrativo e criminal. CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito
Administrativo. – 27. ed., rev., ampl. e atual. – São Paulo, Atlas, 2014, p. 264-265.
21
JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à lei de licitações e contratos administrativos. – 17. ed., rev.,
atual. e ampl.. 3ª tiragem. – São Paulo, Editora Revista dos Tribunais, 2016, p. 538.
186 Fabiana de Menezes Soares / Esther Külkamp Eyng Prete (Orgs.)
22
Essas condições materiais envolvem toda a gama de bens ou insumos necessários ou úteis à pesquisa.
Conforme Marçal Justen Filho, esses bens ou insumos “compreendem tanto aqueles que sejam essen-
ciais à atividade de pesquisa, como, também, os meramente úteis a ela. A aplicação da regra não exige
evidenciar que, sem dado equipamento, a pesquisa será impossível. Basta verificar que o bem será
utilizado na atividade de pesquisa, ainda que acessoriamente”. JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários
à lei de licitações e contratos administrativos. – 17. ed., rev., atual. e ampl.. 3ª tiragem. – São Paulo,
Editora Revista dos Tribunais, 2016, p. 541.
23
Op. cit., p. 539.
Marco Regulatório em Ciência, Tecnologia e Inovação 187
uma certa sofisticação da legislação nesse ponto, que na orientação de uma
gestão societal deve trazer em consideração mecanismos de controle comuni-
tário – comunidade científica e sociedade civil, ou seja, há uma intersecção de
saberes e a postulação de um regime de fiscalização que expanda os interesses
da própria sociedade civil em face da ciência e da tecnologia – para que se
possa evitar possíveis ingerências de interesses escusos.
Por outro lado, dentro da sistemática de dispensa de licitação, a Lei n.
10.973/2004 incluiu no rol do art. 24 o inciso XXV, que estatui a dispensa
de licitação “na contratação realizada por Instituição Científica e Tecnoló-
gica – ICT24 ou por agência de fomento para a transferência de tecnologia
e para o licenciamento de direito de uso ou de exploração de criação pro-
tegida25”. Nesse caso, o primeiro marco normativo de ciência, tecnologia
e inovação26 estabeleceu hipótese de dispensa no que diz respeito à trans-
ferência de tecnologia, ou seja, o objeto da contratação é a utilização dos
frutos advindos das pesquisas nessa seara por parte da Administração. Nos
ensinamentos de José dos Santos Carvalho Filho, o referido dispositivo
tem aplicabilidade
24
O MRCTI define normativamente o que é uma Instituição Científica, Tecnológica e de Inovação (ICT)
nos sequentes termos, conforme art. 2º, V: “órgão ou entidade da administração pública direta ou indire-
ta ou pessoa jurídica de direito privado sem fins lucrativos legalmente constituída sob as leis brasileiras,
com sede e foro no País, que inclua em sua missão institucional ou em seu objetivo social ou estatutário
a pesquisa básica ou aplicada de caráter científico ou tecnológico ou o desenvolvimento de novos pro-
dutos, serviços ou processos.” Brasil. Lei n. 10.973, de 2 de dezembro de 2004. Dispõe sobre incentivos
à inovação e à pesquisa científica e tecnológica no ambiente produtivo e dá outras providências. Diário
oficial da União, Brasília, 03 de dez. de 2004. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
ato2004-2006/2004/lei/l10.973.htm>. Modificada pelo MTCTI.
25
BRASIL. Lei n. 8.666, de 21 de junho de 1993. Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da Constituição
Federal, institui normas para licitações e contratos da Administração Pública e dá outras providências.
Diário oficial da União, 22 de junho de 1993. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
leis/l8666cons.htm>.
26
Como bem avaliar Marçal Justen Filho, “A Lei 10.973/2004 (com a redação alterada pela Lei
13.243/2016) introduziu incentivos à pesquisa científica e tecnológica ‘no ambiente produtivo’. Suas
regras foram orientadas a ampliar a capacitação e a autonomia tecnológica, de modo a assegurar o
desenvolvimento industrial brasileiro. Como providência acessória, admitiu-se a contratação direta nas
hipóteses de transferência de tecnologia para o licenciamento de direito de uso ou de exploração de
criação protegida”.
27
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. – 27. ed., rev., ampl. e
atual. – São Paulo, Atlas, 2014, p. 266.
188 Fabiana de Menezes Soares / Esther Külkamp Eyng Prete (Orgs.)
Nesse quesito, as inovações contidas com base no fomento dado pela Ad-
ministração e agências de investimento em inventividade tecnológica poderão
ser objeto de contrato conforme os termos da Lei n. 9.279/1996, que regula
direitos e obrigações relativos à propriedade industrial, de maneira que os
contratos de licença de uso e cessão de uso deverão ser consubstanciados na es-
teira desse diploma normativo28. Por outro lado, a transferência de saberes no
ramo de ciência e tecnologia é normativamente assentada no art. 3º da Lei n.
10.973/2004, com redação dada pelo MRCTI, em que se comanda o estímulo
e o apoio na conformação de alianças estratégicas e de projetos de cooperação
na seara estudada29. Assim, observa-se que toda a metodização estabelecida na
atual legislação possui compromisso com o desenvolvimento cooperativo, o
que oxigena a interseção estabelecida entre a gestão pública administrativo-
-financeira e a esfera dos sistemas sociais.
Em sequência, a terceira modificação introduzida pelo MRCTI em maté-
ria de contratação é a norma inscrita no § 3º do art. 24 da Lei de Licitações, a
partir da qual se observa que a dispensa de licitação do inciso XXI, acima ex-
plicitado, quando aplicada a serviços de engenharia, deverá seguir procedimen-
tos especiais estabelecidos em regulamentação específica30. Os procedimentos
especiais foram estabelecidos pelo Decreto n. 9.283 de 7 de fevereiro de 2018,
em especial nos artigos 61 a 66. O destaque em matéria de descomplicação dos
procedimentos é certamente o art. 63 desse diploma, que demarca:
28
A questão também é discutida no âmbito do regulamento à Lei n. 10.973/2004, substancialmente mo-
dificada pelo MRCTI. Os artigos 11 a 13 do Decreto n. 9.283/2018 estabelecem regramento específico
para a transferência de tecnologia. Para maior aprofundamento, vide a referida norma regulamentadora.
29
Assim é a enunciação do dispositivo indigitado: Art. 3º A União, os Estados, o Distrito Federal, os
Municípios e as respectivas agências de fomento poderão estimular e apoiar a constituição de alianças
estratégicas e o desenvolvimento de projetos de cooperação envolvendo empresas, ICTs e entidades
privadas sem fins lucrativos voltados para atividades de pesquisa e desenvolvimento, que objetivem
a geração de produtos, processos e serviços inovadores e a transferência e a difusão de tecnologia.
Parágrafo único. O apoio previsto no caput poderá contemplar as redes e os projetos internacionais de
pesquisa tecnológica, as ações de empreendedorismo tecnológico e de criação de ambientes de inova-
ção, inclusive incubadoras e parques tecnológicos, e a formação e a capacitação de recursos humanos
qualificados. Brasil. Lei n. 10.973, de 2 de dezembro de 2004. Dispõe sobre incentivos à inovação e
à pesquisa científica e tecnológica no ambiente produtivo e dá outras providências. Diário oficial da
União, Brasília, 03 de dez. de 2004. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-
2006/2004/lei/l10.973.htm>.
30
BRASIL. Lei n. 8.666, de 21 de junho de 1993. Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da Constituição
Federal, institui normas para licitações e contratos da Administração Pública e dá outras providências.
Diário oficial da União, 22 de junho de 1993. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
leis/l8666cons.htm>.
Marco Regulatório em Ciência, Tecnologia e Inovação 189
similares ou na avaliação do custo global da obra, aferida mediante orçamento
sintético ou metodologia expedita ou paramétrica31.
elevar desmedidamente o preço, não poderá promover-se a compra. Até se poderá caracterizar abuso de
poder econômico”. JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à lei de licitações e contratos administra-
tivos. – 17. ed., rev., atual. e ampl.. 3ª tiragem. – São Paulo, Editora Revista dos Tribunais, 2016, p. 543.
34
JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à lei de licitações e contratos administrativos. – 17. ed., rev.,
atual. e ampl.. 3ª tiragem. – São Paulo, Editora Revista dos Tribunais, 2016, p. 543.
35
O art. 67 do Decreto n. 9.283/2018 estabelece que poderá haver dispensa das documentações para a
contratação de produto de pesquisa e desenvolvimento desde que para pronta entrega ou até o valor de
R$80.000,00 (oitenta mil reais), observadas as demais prescrições do artigo. Nos demais dispositivos do
art. 67, observa-se o claro intuito do legislador infralegal em quebrar os obstáculos à pesquisa científica,
flexibilizando regras para a importação de produtos ligados a esse fazer. O único documento que não
é dispensável para fornecedores nacionais é a comprovação de regularidade com a Seguridade Social,
tendo em vista o § 3º do art. 196 da Constituição Federal (BRASIL, op. cit., 2018).
Marco Regulatório em Ciência, Tecnologia e Inovação 191
por meio de uma alta inflação legislativa. Assim, as regras atuais de licitação
envolvendo procedimentos de ciência e tecnologia podem ser brevemente alte-
radas por projetos de lei que têm como objetivo revogar a Lei de Licitações e
estabelecer um marco normativo mais moderno e consolidado. A partir daí é
que se passa a refletir e analisar.
36
A referida modalidade é conceituada normativamente pelo art. 5º, XLI, do PL n. 6.814/2017, que es-
tabelece ser o diálogo competitivo “modalidade de licitação em que a Administração Pública realiza
diálogos com licitantes previamente selecionados com o intuito de desenvolver uma ou mais alterna-
tivas capazes de atender às suas necessidades, devendo os licitantes apresentar proposta final após o
encerramento do diálogo”. BRASIL. Projeto de Lei n. 6.814 de 03 de fevereiro de 2017. Câmara dos
Deputados. Disponível em <http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idPro-
posicao=2122766>.
37
BRASIL, op. cit, 2017, art. 29, I, “a”, “b” e “c”.
192 Fabiana de Menezes Soares / Esther Külkamp Eyng Prete (Orgs.)
mas que reflete enormemente a estruturação do modelo brasileiro, “a nossa herança organizacional,
nomeadamente no Estado, ainda é, no essencial, fruto do modelo burocrático. É caracterizada pela valo-
rização do caráter legal das normas e regulamentos, da formalidade das comunicações, da divisão rígida
do trabalho, de um modelo hierárquico de autoridade e da hegemonia de rotinas e procedimentos (Gid-
dens, 2002). Este modelo tem hoje evidentes dificuldades, se nos quisermos focar nos resultados obtidos
(eficácia). Aliás, tradicionalmente, o modelo burocrático situa a sua grelha de avaliação ao nível dos
processos e da organização, sendo mínima a valorização dos resultados, entendidos aqui como resolução
efetiva dos problemas sobre os quais se atua”. MARQUES, Rui; FERRAZ, David (org.). Governança
Integrada e Administração Pública. – Lisboa, Portugal, INA Editora, 2015, p. 16.
43
Como estabelece o sociólogo, “A confiança, no mais amplo sentido da fé nas nossas expectativas, é
um fato básico da vida social. Por suposto que em muitas situações o homem pode decidir se outorga
confiança ou não. Mas uma completa ausência de confiança o impediria inclusive levantar-se pela ma-
nhã. Seria vítima de um sentido vago de medo e de temores paralisantes. Inclusive não seria capaz de
formular uma desconfiança definitiva e fazer disso um fundamento para medidas preventivas, já que isso
pressuporia confiança em outras direções. Qualquer coisa e tudo seria possível. Tal confrontação abrupta
com a complexidade do mundo ao grau máximo é mais do que suportaria o ser humano”. LUHMANN,
Niklas. Confianza. Tradución de Amada Flores. – 1ª reimp. – Mexico, Anthropos editorial, 2005, p. 5.
Marco Regulatório em Ciência, Tecnologia e Inovação 195
Partindo disso, o legislador deve ter atenção para o fato de que as ações
realizadas no âmbito dos procedimentos licitatórios devem ser cercadas de cer-
tos requisitos que estabelecem um rito básico para a normalização de condu-
tas. Todavia, o excesso de burocratização e entraves no âmbito dos esquemas
de ações nessa seara acaba por causar efeitos deletérios à pesquisa nacional, o
que contribui para a fuga de cérebros e para a deflação intelectual em nossa
realidade. Esses pontos são especialmente fatais no que diz respeito aos proce-
dimentos de prestação de contas. O MRCTI modificou a Lei n. 10.973/2004
inserindo o art. 27-A, que determina a simplificação e uniformização dos pro-
cedimentos de prestação de contas dos recursos repassados com base na legisla-
ção de incentivo a partir da ideia de garantia da governança e da transparência
das informações. Nesse sentido, os relatórios de prestação de contas passam a
ser realizados preferencialmente em período anual, por meio eletrônico e nos
termos do regulamento específico, no caso o Decreto n. 9.283/201844.
Portanto, a prática em ciência, tecnologia e informação acaba por exigir
uma nova postura da Administração Pública em face da normatividade e dos
atores sociais. Há inúmeras formas de se cercar a atividade inventiva dos cui-
dados necessários para o resguardo do interesse público que não seja dentro
da fórmula simplória e desgastante da burocracia. Os mecanismos sanciona-
dores em relação às condutas que tentem a prejudicar o interesse público e
enriquecer ou desviar recursos para sujeitos particulares devem ser enrijecidos
e contar com a participação dos órgãos estatais aptos a investigarem mal feitos,
bem como com a da própria sociedade civil e dos pesquisadores. Todavia, a
simplificação dos procedimentos é caminho sem volta. Deve-se atentar mais
aos resultados do que com o iter.
As atividades de pesquisa, assim, acabam por contribuir para a reformu-
lação do sistema de gestão pública, determinando novos rumos para os para-
digmas de administração, conectados com a realidade do século XXI e com
a ideal velocidade de mudanças e de aspirações que nosso desenvolvimento
econômico, social e cultural necessitam implementar.
44
O indicado regulamento possui um capítulo relativo exclusivamente à prestação de contas, o capítulo
VII. Apesar de alguns avanços, como os relatórios anuais e em meio eletrônico, parece que ainda há uma
visão tecnicista gerencial que leva em consideração a necessidade de mecanismos burocráticos para o
resguardo do interesse público.
196 Fabiana de Menezes Soares / Esther Külkamp Eyng Prete (Orgs.)
11.9. CONCLUSÃO
FERRAZ JUNIOR, Tércio Sampaio. Introdução ao estudo do direito: técnica, decisão, dominação. – 6. ed., 3.
reimp. – São Paulo, Atlas, 2011.
MARQUES, Rui; FERRAZ, David (org.). Governança Integrada e Administração Pública. – Lisboa, Portugal,
INA Editora, 2015.
DE PAULA, Ana Paula Paes. Por uma nova gestão pública: limites e potencialidades da experiência contempo-
rânea. – Rio de Janeiro, Editora FGV, 2005.
ABRAHAM, Marcus. Lei de responsabilidade fiscal comentada. – 2. ed., rev. e atual. – Rio de Janeiro, Forense, 2017.
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. – 27. ed., rev., ampl. e atual. – São
Paulo, Atlas, 2014.
CERVO, Amado Luiz. Inserção internacional: formação dos conceitos brasileiros. – São Paulo, Saraiva, 2008.
LUHMANN, Niklas. Sociologia do Direito I. Tradução de Gustavo Bayer. – Rio de Janeiro, Edições Tempo
Brasileiro, 1983.
LUHMANN, Niklas. Confianza. Tradución de Amada Flores. – 1ª reimp. – Mexico, Anthropos editorial, 2005.
JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à lei de licitações e contratos administrativos. – 17. ed., rev., atual. e
ampl.. 3ª tiragem. – São Paulo, Editora Revista dos Tribunais, 2016.
CONFIES. O que pensa o pesquisador brasileiro sobre a burocracia? Disponível em: <http://confies.org.br/
institucional/wp-content/uploads/2017/03/pesquisa_o_que_pensa_o_pesquisador.pdf>.
LEGISLAÇÃO
BRASIL. Lei n. 13.243, de 11 de janeiro de 2016. Dispõe sobre estímulos ao desenvolvimento científico, à pesqui-
sa, à capacitação científica e tecnológica e à inovação e altera a Lei nº 10.973, de 2 de dezembro de 2004, a Lei nº
6.815, de 19 de agosto de 1980, a Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993, a Lei nº 12.462, de 4 de agosto de 2011,
a Lei nº 8.745, de 9 de dezembro de 1993, a Lei nº 8.958, de 20 de dezembro de 1994, a Lei nº 8.010, de 29 de
março de 1990, a Lei nº 8.032, de 12 de abril de 1990, e a Lei nº 12.772, de 28 de dezembro de 2012, nos termos
da Emenda Constitucional nº 85, de 26 de fevereiro de 2015. Diário oficial da União, Brasília, 12 de dez. de
2016. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/lei/l13243.htm>.
BRASIL. Emenda Constitucional n. 85, de 26 de fevereiro de 2015. Altera e adiciona dispositivos na Cons-
tituição Federal para atualizar o tratamento das atividades de ciência, tecnologia e inovação. Diário Oficial
da União, Brasília, 03 de mar. de 2015. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/
emendas/emc/emc85.htm>.
Brasil. Lei n. 10.973, de 2 de dezembro de 2004. Dispõe sobre incentivos à inovação e à pesquisa científica e tec-
nológica no ambiente produtivo e dá outras providências. Diário oficial da União, Brasília, 03 de dez. de 2004.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/lei/l10.973.htm>.
BRASIL. Lei Complementar n. 101, de 4 de maio de 2000. Estabelece normas de finanças públicas voltadas
para a responsabilidade na gestão fiscal e dá outras providências. Diário Oficial da União, 05 de maio de 2000.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp101.htm>.
BRASIL. Lei n. 8.666, de 21 de junho de 1993. Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal,
institui normas para licitações e contratos da Administração Pública e dá outras providências. Diário oficial
da União, 22 de junho de 1993. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8666cons.htm>.
BRASIL. Lei n. 12.349, de 15 de dezembro de 2010. Altera as Leis nos 8.666, de 21 de junho de 1993, 8.958, de
20 de dezembro de 1994, e 10.973, de 2 de dezembro de 2004; e revoga o § 1º do art. 2º da Lei no 11.273, de 6
de fevereiro de 2006. Diário Oficial da União, 16 de dezembro de 2010. Disponível em: <http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12349.htm>.
BRASIL. Decreto n. 9.283, de 7 de fevereiro de 2018. Regulamenta a Lei nº 10.973, de 2 de dezembro de 2004, a
Lei nº 13.243, de 11 de janeiro de 2016, o art. 24, § 3º, e o art. 32, § 7º, da Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993,
o art. 1º da Lei nº 8.010, de 29 de março de 1990, e o art. 2º, caput, inciso I, alínea “g”, da Lei nº 8.032, de 12
de abril de 1990, e altera o Decreto nº 6.759, de 5 de fevereiro de 2009, para estabelecer medidas de incentivo à
inovação e à pesquisa científica e tecnológica no ambiente produtivo, com vistas à capacitação tecnológica, ao
200 Fabiana de Menezes Soares / Esther Külkamp Eyng Prete (Orgs.)
alcance da autonomia tecnológica e ao desenvolvimento do sistema produtivo nacional e regional. Diário Ofi-
cial da União, 08 de fev de 2018. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2018/
Decreto/D9283.htm>.
BRASIL. Projeto de Lei n. 6.814 de 03 de fevereiro de 2017. Câmara dos Deputados. Disponível em: <http://
www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2122766>.
BRASIL. Lei Complementar n. 95, de 26 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre a elaboração, a redação, a alteração
e a consolidação das leis, conforme determina o parágrafo único do art. 59 da Constituição Federal, e estabelece
normas para a consolidação dos atos normativos que menciona. Diário Oficial da União, 27 de fev. de 1998.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp95.htm>.