Fichamento A Ideia de Justiça em Hegel
Fichamento A Ideia de Justiça em Hegel
Fichamento A Ideia de Justiça em Hegel
° 07/2019
SALGADO, Joaquim Carlos. A idéia de justiça em Hegel. São Paulo: Loyola, 1996.
Palavras-chave
p. CONTEÚDO Observações Item
14 “A filosofia de Hegel é esse gigantesco esforço unificador da razão: pensar o Introdução
absoluto (seu aspecto ‘idealista’) imanente (se aspecto ‘realista’), pensar a
liberdade na história”
15 “O que marcou de forma indelével a civilização ocidental foi ter se dado a
consciência da cisão ôntica a que se submete o ser humano na sua vida social
concreta: de um lado, a necessidade do conhecer teórico da natureza que ele
precisa dominar para estar-aí; de outro, o mundo da cultura em que se impõe
a ordem normativa para a sua conduta (...)”
15 “(...) entre os gregos que surge a necessidade de justificar essas duas ordens,
não mais como realidades externas ao homem por um poder que lhe
transcende, mas como realidades que lhe pertencem na medida em que
conhecidas, ou seja, que só a ele pertencem enquanto conhecimento através
do poder infinito que lhe é próprio: o logos”
16 “(...) o critério de conhecimento de uma não se aplica à outra, sob pena de
antinomias e paralogismos. Com Kant, a cisão atinge não só o objeto de
conhecimento como lei da natureza e liberdade, natureza e ética, mas a
própria esfera do conhecimento que para o grego parecia uma unidade:
noumenon e fenômeno, sujeito e objeto”
17 “Daí a questão fundamental ou a aporia hegeliana despertada pelo desejo
romântico da restauração da unidade pensada pelos gregos. Como pensar a
unidade do teórico e do prático? Como pensar a unidade do homem, ser
natural e moral, necessidade e liberdade? Ou, em suma: como pensar a
liberdade na natureza e na ordem social?”
18 “Ora, se nada de que dá conta o homem, enquanto homem, pode estar fora
do pensamento, para Hegel, pensar a própria estrutura do logos, não mais
simplesmente submetê-lo à crítica para mostrar os seus limites diante de algo
diverso, o sentido, pensar essa estrutura do logos como totalidade na qual (e
apenas na qual) se dá o saber e, portanto, todo o ser, enfim, pensar o
pensamento, eis o seu trajeto para a unidade e a superação do dualismo”
18 “(...) no pensamento tudo se dá, inclusive o dualismo. Desde o início, é
evidente a unidade do pensar, ao mesmo tempo em que essa unidade do
pensar, ao mesmo tempo em que essa unidade se mostra totalidade. Os
dualismos internos do pensamento são, portanto, não realidades que se
excluem abstratamente por eliminação, mas aspectos que se superam na
unidade total do pensamento (...)”
22 “(...) é conhecimento sistemático, isto é, uma totalidade em que as partes não
estão simplesmente justapostas, agregadas, mas em íntima conexão umas
com as outras, à guisa do que ocorre no organismo, em que as partes não tem
existência independente do todo”
23 “A Filosofia do Direito não é, pois, um conhecimento do direito natural, o
que caracterizaria um pré-conceito. É filosofia a partir do direito positivo, na
medida em que objetiva encontrar a sua inteligibilidade última, a sua
justificação radical. É, ainda, o momento do conhecer filosófico, pelo qual o
direito positivo é posto diante do tribunal da razão. Ela tem, portanto, uma
dimensão teórica e, ao mesmo tempo, prática. É teórica porque busca a
inteligibilidade da forma da expressão cultural que é o direito; é prática por
ser também ‘uma constante reflexão crítica no sentido de fazer o direito cada
vez mais justo’, no sentido de submetê-lo constantemente ao tribunal da
razão”
26 “O idealismo alemão constitui o movimento filosófico que se deu à
gigantesca tarefa de pensar a essência do homem, não como animal
simplesmente dotado de inteligência, mas como ser pensante livre, como
morada da liberdade”
27 “(...) para Hegel o direito não busca fora de si uma ideia que lhe dê suporte
de validade denominada, na cultura jurídica, justiça. A justiça para Hegel é o
próprio direito que se efetiva na história”
28 “A ideia do direito tal como ele se apresenta na história, ideia de liberdade
imanente no direito positivo, é o que constitui o critério do direito justo, sem
que se queira com isso significar um parâmetro de julgamento do direito
positivo, no sentido do dever-ser”
33 “A importância de Kant para Hegel é a mesma de Aristóteles para Santo O caminho
Tomás de Aquino da Lógica
33 “O momento lógico de superação do dualismo filosófico desde os gregos
desfaz-se no capítulo em que Hegel trata do fenômeno”
37-ss Kant
38 “A metafísica kantiana tem como particularidade ser uma metafísica interior,
do sujeito, ao contrário da metafísica clássica, cuja característica é ser uma
metafísica do ser, uma ontologia. Como metafísica do sujeito é metafísica da
liberdade”
40 “Ora, o acerto de Kant está em buscar a objetividade no pensar. Seu erro,
contudo, está em apartar do pensar o ser, o objeto, a coisa em si, os quais
aparecem apenas como sensações. Entretanto, as determinações do pensar
são as determinações do objeto; são, porém, determinações do pensar como
razão e não do pensar como entendimento finito, cuja primeira tarefa foi
separar, finitizar sujeito e objeto. Kant nega objeto à razão. Hegel empreende
o esforço de pensar as categorias da razão como categorias do objeto, que
será tão universal quanto a razão”
40 “A característica lógico-transcendental está exatamente em que se trata de
uma lógica do sujeito, isto é, uma lógica que investiga, a partir do fato, as
condições subjetivas a priori do conhecimento dos fatos empíricos”
41 “Na lógica dialética, a Lógica da razão e não do entendimento, a totalidade
do real está na identidade universal de ser e pensar”
44 “A lógica dialética, ao contrário, começa por eliminar o sujeito. Não se trata
mais de buscar as condições subjetivas de pensar o objeto, mas as
determinações do próprio pensar e do próprio objeto que se dá no pensar. O
pensar (não o sujeito) e o pensável (não a experiência sensível) é que,
identificados, produzem as suas próprias determinações”
45 Nota de rodapé 8: “No adendo ao § 48 da Enciclopédia, Hegel critica o
resultado puramente negativo das antinomias e assinala seu lado positivo, o
da contradição real. "Ora, a significação verdadeira e positiva das
antinomias", diz Hegel, "consiste, de um modo geral, em que toda realidade
efetiva contém em si determinações opostas" e que o conhecimento ou a
"concepção de um objeto" é pôr-se consciente da "unidade concreta de
determinações opostas (...)”
46 “Identidade concreta significa para Hegel, ao contrário da identidade vazia
consigo mesma, sem objeto na consideração de Kant, a identidade do pensar
com o ser, em todas as suas diferenças (do ser na sua totalidade), nem
separadas entre si, nem da própria determinação do pensar, da razão”
47 “Assim, a contradição é conatural ao ser e ao pensar. Pertence à sua essência:
à essência do ser enquanto inteligível, à essência do pensar enquanto o que
intelige. Essa contradição do pensável e do pensar dá o traço essencial do
"momento dialético do lógico”
51 “É na ordem prática que a idéia, o inteligível, é o real. Na esfera do conhecer
é o sensível que traça os limites desse conhecer e dá o conteúdo do objeto do
conhecimento; aí, a idéia é apenas aparência (Schein). No âmbito da razão
teórica a idéia não dá a verdade; na razão prática é ela a fonte de toda
validade do agir”
56 “Resta a possibilidade de uma metafísica da razão para substituir a
metafísica do entendimento (Lima Vaz”
57 “Kant, contudo, permanece na dualidade sujeito-objeto e enfrenta o
problema da objetividade sem superar essa dualidade. Acaba por isso
colocando a objetividade no subjetivo”
59 “O imediato para Hegel é o que se dá sem significado, o dado à consciência
ou ao espírito. O mediato é o que remete ao significado do que em si mesmo
não tem a sua essência, a sua razão de ser, mas que remete a esse significado
velado pela sua aparência. Ora, só o pensamento capta o significado das
coisas, porque só ele significa as coisas. Estes dados, imediatamente, em si
mesmos são tão rudes e exteriores como para um animal. O que processa a
mediação, negando, em primeiro lugar, o dado sensível, é o pensamento”
59 “A experiência para Hegel, não é, pois, a experiência sensível apenas, mas a
experiência da razão, o estar presente da razão na realidade. A experiência
sensível não é algo desprezado, mas superado, elevado ao plano superior da
experiência racional. Essa elevação dá-se pela mediação, a negação do dado
sensível, do imediato, no sentido de elevá-lo ao plano dialético da razão”
61 “A experiência é uma relação de objeto e consciência. É própria da
Fenomenologia. O que está diante da consciência, em face do pensamento, é
que dá a experiência. Essa relação do objeto com a consciência, vista na
perspectiva da consciência, é estudada em três planos: o da consciência, o da
consciência de si e o da razão; do ponto de vista do objeto, a experiência
natural, a experiência científica e a experiência filosófica”
62 “Ora, a necessidade de sair do particular para o universal é a característica
do pensar”
63 “Mas esse pensar finito, o finito na presença do pensar dialético, contém em
si a prova da presença efetiva do infinito, do ilimitado, de que o saber do
limite só é possível se o ilimitado não está num além, mas do mesmo lado do
limitado, a consciência em que ambos se dão”
64 “Para isso, a Fenomenologia desenvolveu todo o trabalho da experiência da
consciência, que é o sujeito, cuja certeza aparece como verdade no momento
ascendente da consciência (consciência de um objeto qualquer), consciência
de si (consciência de outra consciência) e razão (consciência de uma
consciência que é um nós). No momento da razão é que se chega ao saber
absoluto, no qual a diferença entre certeza do sujeito e verdade do objeto se
superam no conceito de pensamento objetivo ou idéia”
67 “Ora, a mediação do absoluto, o seu conceito só é possível pela razão, não O começo
pelo entendimento, que era a forma do pensar da metafísica. Porque não e o objeto
mediatizado, mas dado pela representação religiosa, a própria razão se da Lógica
recusou a aceitar tal objeto como conteúdo do pensar na forma do conceito e,
como pensar no nível do entendimento, considerou inatingível o objeto
absoluto”
69 “O verdadeiro para Hegel é a totalidade de forma e conteúdo, razão e
substância. Por isso, o modo de sua expressão estrutural é o sistema”
70 “Forma é conteúdo, conteúdo é forma, porque forma é o pensamento
enquanto pensar, nas suas categorias, conteúdo é. o pensamento enquanto
pensado no desdobramento do movimento dessas categorias (...)"
74 “A unidade do pensar filosófico dá-se em Hegel fundamentalmente na
Doutrina do Conceito pela superação da unidade de pensar imediata da
filosofia grega, que não passou pela reflexão ou divisão, e a filosofia da
reflexão kantiana que divide o absoluto e, definitivamente, separa o sujeito
do objeto, de modo que o sujeito só possa conhecer a si mesmo na medida
em que o próprio objeto, o fenômeno, seja interiorizado no sujeito, mas nele
separado como forma e matéria”
74 “A Lógica de Hegel, que estuda a estrutura do pensar, no qual tudo o que é
se dá, portanto que estuda a estrutura do próprio real, do sujeito e do objeto,
os dois pólos do real (por Hegel denominado idéia), é o momento de
chegada de toda a filosofia ocidental, no qual se mostra a sua verdade
especulativa, em virtude da qual se acham presentes os traços significativos
dessa filosofia pela superação das oposições através da dialética nas
diferenças e da unidade nas cisões”
75 “Kant trata a questão de forma e matéria no prisma da dicotomia sujeito-
objeto. Ambos, contudo, ocorrem no sujeito, já que as sensações como
matéria das formas da sensibilidade são meras afecções sensíveis produzidas
no sujeito e as formas a priori da sensibilidade, espaço e tempo, são formas
do sujeito. Assim, o dualismo de sujeito e objeto reduz-se não a sujeito e
fenômeno, mas a sujeito e noumenon, que é incognoscível. Isso feito, o
dualismo entre forma e matéria em Kant acaba no monismo da forma”
77 “Em Hegel, o sensível não tem explicação em si mesmo (...) Somente como
pensado ou somente na estrutura do pensar o sensível tem sua ‘existência’”
79 “A Fenomenologia é o começo do filosofar hegeliano, a partir do sujeito, da
consciência”
79-80 “Hegel pretende realizar essa suprema tarefa da filosofia: a possibilidade da
metafísica como saber, humano, rigoroso, do absoluto, como ciência,
portanto saber refletido, que procede por exposição do absoluto, vale dizer: o
saber da identidade do pensar e do ser, no plano do conceito ou no
desdobramento dos seus momentos e do que nele se dá como condição do
conhecimento. O centro, entretanto, não é mais o ser, as idéias, mas o sujeito.
O criador do objeto de conhecimento não é o demiurgo, mas o intelecto
finito do homem e o verdadeiro criado, conhecimento finito”
82 “Hegel, na perspectiva do idealismo especulativo, pretende superar o
objetivismo ontológico de Platão e o subjetivismo gnosiológico de Kant pela
superação da dualidade fenômeno-noumenon”
84 “O ponto de partida de toda a filosofia hegeliana é a identidade entre ser e
pensar”
85 Essa é a tarefa da Fenomenologia do Espírito, que ao cabo elimina a
diferença rígida e unilateral de sujeito e objeto. A Fenomenologia, dentro do
sistema filosófico hegeliano, é o "pressuposto" desse mesmo sistema, ou
melhor, é o "pressuposto" da Ciência da Lógica, cuja tarefa é estudar a
estrutura do pensar, já identificado com o ser, como estrutura do próprio ser”
86 “Essas determinações não são apenas do objeto, estranhas; são
determinações também da consciência, sem a qual não há saber (Lima Vaz).
É a posição do idealismo hegeliano. O objeto é submetido ao processo de
saber da consciência. No processo de relacionamento com o objeto, a
consciência se determina segundo os momentos diversos desse
relacionamento: consciência na relação com a coisa, consciência de si na
relação com a outra consciência e que nessa relação passa a uma relação da
identidade entre o eu e os outros, ou o nós, razão”
89 “O conceito é o modo pelo qual o real efetivo se expressa no pensamento, ou
seja, em que o ser, após desenvolver todo o seu processo de aparecimento, se
perfaz e se revela no pensar”
89-90 “Só no plano do conceito é que se dá o filosofar. Nesse plano, o real é o
efetivamente real, a totalidade dos momentos de um processo· que chega ao
seu termo, ou ainda o espírito vivente no ·momento da sua revelação a si
mesmo. Captar o sentido imanente à história (o espírito ou a história como
sentido, racionalidade e não aventura absurda -Lima Vaz), eis a tarefa da
filosofia executada pela experiência do pensar, que é o ato de pôr à
consciência um objeto, no caso, o real efetivo”
92 “Para a compreensão da filosofia de Hegel é de fundamental importância ter
em mente, como já se expôs acima, que o sensível é o exterior, o pensar, o
interior, regiões diversas, do finito e do infinito, do particular e do universal.
Entretanto, o sensível não é desprezado a favor de um pen-__ sar a priori e
abstrato, que o relegasse à margem do caminho do conhecimento. O exterior
tem de ser negado na sua exterioridade para ser elevado ao plano do
pensamento. O sensível enquanto sensível, na esfera do puramente animal,
não tem significado se não penetrado pelo pensar, pela razão, pois essa é que
lhe dá significado”
92 “A posição de Hegel é aí radical: o sensível está presente no intelecto, mas
no sensível não há possibilidade de conhecimento a não ser pelo intelecto.
Somente se perpassado pelo pensamento a sua opacidade se ilumina, a sua
exterioridade se interioriza”
93 “A filosofia procede, assim, na busca do seu conhecimento próprio, o
infinito, no plano do conceito, por meio de dois processos internos: a
reflexão, na esfera do pensar, como volta do pensamento sobre si mesmo,
como consciência de si;· e a experiência que não é a experiência intencional
do absoluto na consciência, "mas presença como conceito”
93 “A atividade que leva ao universal gera o que se concebe como essência, o
verdadeiro da coisa que é seu outro, o outro do seu aparecer na sensibilidade
ou na particularidade”
93-94 “Isso significa que o pensamento só recebe determinações de si mesmo,
permanecendo integralmente em si, despojando-se do sujeito empírico que
pensa, do ‘ato particular do sujeito", para produzir somente o universal, "no
qual é idêntico em todas as consciências individuais’”
95 “Pensar é, nesse sentido, demonstrar, elevar a coisa do plano da sua situação
temporal e espacial para um nível superior, o da universalidade ou
objetividade. Daí a liberdade do pensar. Não é algo imposto ao outro, mas
algo que o outro recebe como seu, ou se se quiser recorrer à socrática
compreensão do que seja esse pensar: o demonstrar não é senão a descoberta
por quem pensa do universal da coisa demonstrada”
95 “Daí a característica essencial do pensar enquanto universalidade: ser
liberdade ou interiorização. Interiorização porque, no pensar, no demonstrar,
enquanto não imposto do exterior, está o que é mais livre”
95 “A terceira forma de considerar o pensamento é o conceito, pelo qual o
absoluto é pensado, não abstratamente, mas concretamente com o conteúdo
do pensar, isto é, o universal é pensado com o particular. Essa é a atitude
especulativa”
98-99 “Objetivo para Hegel é o conceito no seu momento mais acabado, a idéia: a
realidade que se mostra na sua estrutura inteligível. O objetivo para Hegel é
o pensar, o universal. O subjetivo é a representação, o particular. A
representação não, se comunica como tal ao outro, mas é fechada no sujeito.
É a opinião (doxa). O pensar é o que se dá igualmente em todos, é a
demonstração (epistéme)”
102 “O conceito é, pois, a forma pela qual a efetividade, o conteúdo, se expressa
em sistema; é o pensamento na mais alta forma de expressão do conteúdo
que lhe é próprio, a efetividade que, expressa nessa forma, é a idéia”
111 “O ser como imediata negação do não ser e vice-versa são dois momentos O Ser
lógicos internos do pensamento que tornam possível pensar qualquer coisa,
determinando-a”
111 “Por trazer o pensamento em si a própria negação - que não é abstrata ou
eliminatória, mas é também ser-, é possível o pensar determinar-se, porque
determinar é negar, ou é dar forma. A negatividade é, assim, o momento do
pensar pelo qual é possível logicamente a diferença entre as coisas ou pelo
qual é possível determinar pela forma as coisas pensáveis. A negação é o
momento em que a determinação é introduzida na indeterminação, ou que
determina o indeterminado, introduzindo a forma”
113 “Lógica objetiva é o momento do lógico nas determinações do pensável, o
ser; lógica subjetiva é o momento das determinações a priori do pensável, o
pensar. Subjetivo refere-se ao conceito, isto é, à essência que se liberou "de
sua relação com um ser", o imediato, e que nas suas determinações "já não é
mais exterior", mas livre, o conceito na sua plena explicatio, pela supressão
da imediatidade do ser, no puro desdobramento analítico de si mesmo, já que
essa explicatio consiste em ‘pôr o que já está contido no conceito’”
116 “O que é importante sempre ter em conta na dialética do ser é que, para
Hegel, o pensamento não pode, por mais esforço de abstração que se tenha
de fazer (e é realmente esse ponto da Lógica o momento de maior abstração
a que o pensamento humano pode chegar), encontrar apoio ou descanso no
seu infinito mover-se. Não há estação para repouso. Assim, não pode ele
nem fixar-se num termo, no ser ou no nada -o que seria fixar-se num dos
aspectos da pura indeterminação como, por exemplo, na religião ocidental (o
ser absoluto do cristianismo) (...)”
116 “O resultado da contradição entre ser e nada, que conduz à permanente
passagem de um no outro, é o devir; o resultado do devir é o estar presente,
existir (Dasein)”
117 “Nessas ciências, a busca da unidade na pluralidade e da permanência na
mudança, que caracterizou o pensamento grego como aporia fundamental,
por meio do entendimento, é perfeitamente válida. O pensar dialético,
entretanto, como pensar do todo (e não de parte da natureza), pensar do
pensamento, não elimina o nada, a negação do ser”
118 “O ser é esse imediato que só a si se refere, vale dizer, a nada se refere,
porque é absoluta indeterminação ou pura abstração. Como ausência total de
determinação, pura imediatidade sem forma nem matéria, é pelo mesmo
modo negação absoluta: é o nada. O ser é o nada; o nada, o ser. O tornar-·se
(Werden) é o seu resultado, ser e não ser. Ora, o vir-a-ser é ao mesmo tempo
o princípio da determinação, do limite, do estar presente. O devir que faz
desaparecer a polarização do ser e do nada com sua unidade tem a forma do
Dasein (ser presente, ser-aí)”
118 “Para Hegel o princípio fundamental do idealismo é que nada existe para o
homem a não ser no pensar”
119 “A realidade para Hegel só se mostra como tal como ·idealidade, realidade
no plano do pensamento. Esse conceito de idealidade pelo qual o pensável é
o real ou em que o real é pensável e o verdadeiro é o pensável, é o princípio
supremo do idealismo, segundo Hegel, e mesmo de toda filosofia, na medida
em que é saber no plano infinito do pensar”
119 “Todos os momentos lógicos, ser, essência e conceito, trazem, cada um no
seu nível (imediatidade, mediação e totalidade mediatizada), a dialética do
finito e do infinito”
120 “Daí a dialética do uno e do múltiplo, pela qual o mesmo e o outro não se
remetem sucessivamente a um terceiro, etc., mas encontram uma unidade no
aliud; isto é, o mesmo, sendo carência do outro, tem o outro como seu
negativo e viceversa. Se o outro se remetesse para um terceiro e esse para
um quarto entrar-se-ia no processo do infinito extensivo”
121 “A dialética da presença (Dasein), nos seus momentos do algo e do outro,
leva ao conceito de infinitude que, na linguagem de Hegel, é o ser-para-si”
121 “Esse infinito concreto, pelo qual se supera a dialética do ser indeterminado
e do ser-aí como determinação do algo, é o ser-para-si, que por meio da
determinação do algo voltou a si, como infinito verdadeiro ou singular
(individualidade)”
122 “O ser-para-si é, no sentido que lhe é dado na estruturação do pensamento na
Lógica, o ser que sabe de si mesmo, portanto um eu, ao passo que o ser-aí é
um ser para o outro, tal como a natureza que tem seu ser-aí para o outro, para
o espírito que sabe de si, que é para si”
129 “Enquanto o pensamento é pensamento de alguma coisa (e sempre é, sob A Essência
pena de abstração), o pensamento está voltado para o conhecimento da coisa
como objeto. Entretanto, na mais simples experiência do pensar está a
reflexão como pensar consciente. Ora, na medida em que pensar certa coisa
é também pensar o pensamento, volta do pensamento sobre si, o pensamento
toma-se reflexivo e surge o objeto da filosofia”
130 “(...) o momento da reflexão está na dialética da essência, porque é o
momento da negação ou separação do imediato e do mediato. O mediato já é
conceito, mas guarda no momento da reflexão a diferença com o imediato, o
ser. A essência está a meio caminho do ser e do conceito: essa separação
desenvolvida pela negação é o que Hegel chama de Reflexão, isto é, "o ser
que passa para o estar dentro de si mesmo do conceito" (Insichsein), e que
não está posto por si como tal, mas que ao mesmo tempo mantém o ser
imediato como algo diferente ou estranho a ele”
132 “O pensar na sua primeira designação é ser e na sua última determinação é o
conceito a que chegou pelo movimento da essência. A essência é assim o
movimento do pensar que se designa como ser e que se determina como
conceito, o pensar que sabe plenamente o que é”
133 “Não há eliminação, pela consciência, do sensível, pois ela começa como
consciência do "aqui e agora", captando nele tudo o que é pensável. Desse
modo, o sensível passa integralmente para o plano da consciência no que ele
tem de pensável”
133 “Desse modo, todo o sistema da filosofia de Hegel é um ir e voltar do real
para o racional e do racional para o real (Hin-und Hergehen); real tomado no
sentido mais elementar, no sentido mesmo de sensível, embora o real não
seja para Hegel o sensível como tal”
134 “A essência é o interior do ser; a aparência é o exterior, o imediato que se
supera para mostrar o que está recôndito no interior por ela encoberto”
134 “(...)o imediato na Lógica de Hegel não é o que mostra o sensível, mas o
próprio pensamento, pois este, por ser o que tudo pensa, pode pensar a si
mesmo, instalar-se em si mesmo e desenvolver as suas determinações”
135 “(...) pode-se dizer que o momento do ser imediato poderia ser representado
como o que comumente é denominado de intuição, que capta a totalidade
imediata; o da essência poderia ser representado como o do entendimento
que divide, e o do conceito como o da razão que une a totalidade”
135 “Como elemento de diferença, a essência põe a oposição mais interiorizada
do ser: ser e aparência. A dialética do ser e da aparência conduz à existência
como essência que se manifesta”
137 “Por isso, a dialética torna-se não mais uma fraca oposição como no ser e no
nada, mas verdadeira. contradição. Na esfera do ser, ou do imediato, a
passagem de uma a outra determinação é direta, imediata, sem que haja
oposição forte ou contradição. Entre o ser e o nada não há a diferença da
essência; são pela mesma forma indeterminados. Entre o algo e o outro, não
há diferença a não ser pelo número. Entre o ser e a essência, a diferença
introduz-se por uma divisão nítida: a explicação (verdade) e a aparência, ou
seja, a essência nega a aparência e a aparência nega a essência”
138 “Existência é, portanto, o ser que mostra a sua essência”
139 “A contradição entre a identidade e a diferença que aparece na esfera da
essência resolve-se pelo fundamento; a do fundamento com o fundado que é
o puro Schein diante da essência, resolve-se na existência”
140 “Assim, Hegel pretende dar cabo da dicotomia coisa em si e fenômeno, sob
o argumento de que o causador do fenômeno é ele qualquer modo pensado,
colocado no plano do pensar. Se separado do seu aparecer no sujeito, então,
sim, a conseqüência será a sua incognoscibilidade (...) Para Hegel esse
"pensado" estaria precisamente no plano das determinações do ser,
entretanto, no puro indeterminado, que não passa sequer pelas
autodesignações do pensar imediato. É, entretanto, aí que o pensamento não
pode parar, na indeterminação”
141 “(...) nesse reenviar-se ao fundamento, completa-se o círculo dialético do
fenômeno ou da existência e seu fundamento: é a realidade efetiva
(Wirklichkeit)”
144 “A oposição entre esses termos é de tal modo que não existe um sem o seu
oposto. Um é o aparecer do outro, um é o que explica o outro. Nessa
dialética em que um passa no outro está o conceito de fundamento,
dissolução da oposição positivo-negativo. Nessa altura, a dialética aparece
como dialética entre a relação em que um termo é fundamento de um outro.
A realidade na sua aparência não mostra a sua razão, não oferece
imediatamente a sua explicação; esta é fundamento, razão de ser”
145 “A essência, uma vez manifestada, é a existência, forma do Dasein que
passou pela mediação da essência. A existência é, então, fenômeno porque
nela aparece totalmente”
147 “A questão da essência então se coloca assim: é o quê? "Que" é um signo de
linguagem que representa o que ainda está oculto, o interior do ser. É
exatamente a essência que se esconde na aparência do "é", que só se mostra
imediatamente, aparece sem dar a sua verdade”
147 “Ao dar a resposta à pergunta "que é?", já se entra no momento do conceito
que é em si (ser imediato ou aparência) e para si (essência refletida ou
exposição verdadeira). A essência é, pois, na Lógica tão-só o trânsito do
imediato para o mediatizado, apenas o pôr a questão, momento da pura
separação do est ("é") e do quid ("quê"), seu interior. A explicação da
essência é a um só tempo a sua própria superação e a formação do conceito”
148 “Ao negar o ser, a essência coloca entre ela como a verdade e o ser como a
aparência, a cisão, a diferença, enfim, a oposição”
149 “O que nega o ser como imediato afirma-o agora na reposta, pois o real, o
conceito, não é só a explicação, mas a explicação do ser. A essência é, pois, a
negação do ser porque implica não estar a verdade no ser. Ao mesmo tempo
é sua afirmação porque é essência do ser e não algo dele separado
absolutamente”
149 “Essência e existência são desse modo momentos de uma só verdade e não
podem ser separados. Essa unidade é a realidade efetiva, em que a "essência
sem configuração" (das gestaltose Wesen) "e a aparência inconsistente"
(haltlose Erscheinung), ou seja, "o subsistir sem determinação e a instável
multiplicidade têm sua verdade. Essa indeterminada consistência e
inconsistente determinação mostram a instabilidade da essência”
150 “A realidade efetiva é o momento de unidade da dualidade mais aguda da
essência, o da própria essência e da aparência, essência e existência, que se
dá como forma e matéria”
153 “(...) se se pensa dando-se prioridade à totalidade do movimento e não a um
dos termos, chega-se ao conceito de ação-recíproca (Weckselwirkung),
última forma de manifestação da essência e passagem para a esfera do
conceito. Nessa altura, todo o movimento passa da esfera do pensável, da
Lógica objetiva, para a esfera do pensar, a Lógica subjetiva”
154 “A substância, essa totalidade que traz em si o próprio movimento, é o
absolutamente necessário e livre de toda determinação exterior, é
autodeterminação, necessidade livre ou necessidade do pensar (do pensável e
do próprio pensar)”
155 “A Fenomenologia do Espírito é processo que se desenvolve em etapas,
consciência, consciência de si e razão, em que aparecem as figuras
intermediárias, até chegar-se ao saber absoluto, que é a Lógica ou o conceito
do próprio Espírito (ou da consciência). O percurso explicativo que revela o
sentido do Espírito nessa sua autoformação na experiência que a consciência
faz do processo tem seu resultado no conceito da própria razão ou do
pensamento. A efetividade é todo esse processo até a Lógica”
159 “Com efeito, o conceito é para Hegel a identidade do ser e da essência, ou O Conceito
seja, o imediato elevado ao plano do pensar”
160 “A verdade absoluta é a verdade total definida como o processo do aparecer,
do refletir, do conceber até a sua última forma de desdobramento, a idéia, o
próprio movimento dialético e a plenitude de inteligibilidade do próprio
conceito”
160 “Resultado imediatamente do ser e da essência, o conceito opera a
identidade do pensar e do pensável, separados na essência pelo aparecer do
pensável e pela explicação do pensar, que, ao mesmo tempo, é fundamento
do aparecer do pensável”
161 “A idéia é o momento de chegada de todo o processo, não como ponto fixo
que se definiu para alcançar, mas como o próprio processo, a dialética”
162 “A ontologia de Hegel, como se vê, exposta na Lógica do Conceito e cujo
objeto é a idéia, é uma ontologia da liberdade., do pensar que, após
desdobrar-se, se manifesta ou se exterioriza na natureza, sob a forma da
necessidade, e no mundo do espírito, sob a forma da liberdade, não como
algo contraposto à necessidade, mas como seu resultado”
164- “A esfera do conceito é pois dividida em três momentos que Hegel designa:
165 da subjetividade, da objetividade e da idéia. O momento do conceito
subjetivo desenvolve as formas do pensar (conceito imediato, juízo e
silogismo), o da objetividade, as formas do objeto, enquanto pensáveis por
meio das formas do pensar (mecanismo, quimismo e teleologia), e o da idéia,
momento da absoluta identidade das diferenças entre o conceito subjetivo e a
objetividade”
166 “A Lógica dialética pretende ultrapassar a Lógica clássica e a Lógica
transcendental.
O conceito é, destarte, pensado não como abstração no pensar a partir da
experiência, nem como síntese das suas formas a priori com as intuições
sensíveis, mas como realidade total que se diferencia nos momentos da
universalidade, da particularidade e da singularidade”
167 “Essa cisão que permanece dentro do próprio conceito é o juízo (Ur-teil),
cisão que está na própria origem e pressupõe o conceito como totalidade
imediata. O conceito que é o universal efetivo se particulariza e se
singulariza nas formas dos juízos, pelos quais, somente, é possível pensar
todas as coisas. O juízo é a estrutura lógica pela qual o infinito estabelece o
finito na diferença que lhe é absolutamente interna, para depois retomar a
unidade do conceito, por meio da pluralidade, no silogismo”
167 “Na Lógica do Conceito Subjetivo reproduz-se a estrutura da Lógica: o
momento da imediatidade do conceito, o momento do juízo e o momento do
silogismo, distinguindo-se, ainda, no momento do juízo, o de existência
(Dasein) - que poderia ser identificado como o juízo do saber comum -, o
juízo reflexivo (juízo do saber científico) e o necessário (juízo do saber
filosófico), o mesmo ocorrendo com o silogismo, que é o momento de
unidade completa do conceito, visto ser o silogismo a forma própria do
pensar dialético”
168 “O conceito subjetivo é assim a verdade ou identidade do ser e da essência,
que se mostra: como identidade ou unidade imediata (unidade originária),
como conceito que se divide no juízo (cisão originária) em sujeito e
predicado, em que cada um dos seus momentos (universal, particular e
singular) se apresenta separado e unido ao mesmo tempo pelo "é", e a
recuperação da unidade originária que passou pela divisão, o silogismo, no
qual se integram universalidade, particularidade e singularidade”
169 “A "passagem" do juízo para o silogismo dá-se quando o sujeito e o
predicado alcançam uma unidade universal, na forma do juízo necessário,
em que a particularidade do conceito (o juízo) volta à sua universalidade,
integrando os três momentos”
174 “Verificar no mundo objetivo a realização dessa natureza conceptual
sistemática é o plano do primeiro momento da objetividade, o mecanismo,
em que o mundo aparece como conjunto de leis separadas. O mecanismo é o
âmbito da ação violenta dos elementos uns sobre os outros, separando os
elementos químicos infinitamente. O quimismo realiza a unidade dessas
partes que se chocam, pressupõe portanto o mecanismo”
175 “O fim tem a natureza de realizar-se internamente, negando a exterioridade
dos elementos uns com relação aos outros, existente no mecanismo e no
quimismo”
176 “O conceito como finalidade encontra o seu momento de realização no
Estado. A dialética do trabalho como meio e da liberdade como fim
representam a dialética que se desenvolve da sociedade civil ao Estado”
177 “A Idéia é a noção central da filosofia hegeliana. É o processo do lógico, do A Idéia
pensar e do pensável, é o sistema”
178 “A Idéia determina-se como exterioridade enquanto natureza e como
interioridade ou existência subjetiva enquanto Espírito, e retorna a si no
sentido absoluto como Espírito absoluto, no qual se dá o saber absoluto,
saber de uma ciência absoluta que tem um objeto absoluto e um método
absoluto numa unidade, segundo a qual a ciência, o método e objeto são
apenas aspectos de uma totalidade. A Idéia é essa totalidade”
178 “Exatamente onde Kant encontrou a fraqueza da idéia, Hegel encontra a sua
potência: a contradição. Os opostos não se anulam como na lógica do
entendimento que os recusa, mas se movimentam num processo infinito”
179 “Em Hegel a idéia é a unidade do conceito e da realidade efetiva. Não se
trata de fixar num projeto uma realidade que deve ser alcançada (ainda que
esse dever-ser seja concebido a partir da própria realidade), mas de captar a
realidade mesma no seu conceito, tal como ela é. Essa é a sua idéia”
180 “O saber absoluto é o resultado da Fenomenologia e o começo da caminhada
lógica da Idéia. O saber absoluto é, pois, a própria Idéia no momento do
imediato, depois de ter superado, na passagem das figuras, a dualidade
sujeito-objeto”
180 “A Fenomenologia do Espírito teve como tarefa desenvolver os processos
pelos quais o sujeito conhece o objeto, numa perspectiva da Teoria do
Conhecimento, sem perder o caráter especulativo que caracteriza o pensar
hegeliano”
181 “O puro pensar ou o lógico parte, portanto, de onde chegou a
Fenomenologia”
181 “O lógico está presente na fenomenologia da consciência, pois seus
momentos nela aparecem como figuras num processo que vai da consciência
do "aqui e agora” ao saber absoluto”
182- “A dialética tem um só campo de exercício, uma só esfera de validade: o
183 absoluto. Só o absoluto é dialético e só a dialética se mostra como processo
válido não para conhecer, mas para o conhecer-se do absoluto. Daí não se
poder falar em dialética como simples método; isso implicaria algo que lhe é
externo, um objeto e um sujeito como termos separados no processo de
conhecimento”
183 “(...) a dialética só tem significado para Hegel como movimento interno do
conceito, de certo modo como "instrumento" filosófico de conhecimento,
nunca como método de conhecimento científico da realidade objetivizada
como exterior”
184 “Pensar o absoluto implica pensar a unidade que supera todas as
contradições. Por isso, sua estrutura tem de ser dialética”
184 “O proceder da razão é dialético, porque dialético é o seu conteúdo, a
totalidade. Assim, a dialética só pode ser entendida como movimento próprio
da totalidade, do conteúdo universal, o conceito”
184 “O método é o próprio objeto no seu movimento. E, como esse objeto é o
Espírito, o método é o movimento e o trabalho do Espírito no seu conhecer”
185 “O momento dialético (negativo) e o especulativo (positivo) constituem a
estrutura própria do absoluto, do pensar e do real ou do pensar-real”
186 “O real manifesta-se pelo lógico na sua estrutura integral; é o ser como
primeiro momento abstrato e imediato; é a essência como momento de pura
negatividade e mediação (dialético no sentido estrito) e é o conceito como
momento racional positivo ou especulativo, em que o efetivo se mostra na
sua verdade total, ou seja, em todos os seus momentos dialéticos, e o
conceito na sua efetividade total, ou seja, em todos os seus momentos
dialéticos”
186 “Vale dizer: a dialética é própria à idéia, ou seja, ao pensar (das Denken) e ao
real (das Wirkliche)”
189 “A dialética é, assim, o movimento do pensar na sua -característica: negar o
imediato, o isolado. Nesse momento, o pensar não é um pensar abstrato,
fixo, que isola, mas pensar em movimento que nega e dissolve o isolamento.
O pensar como movimento ou negação do que é fixo é a razão. O
entendimento é pensar que produz o positivo, o universal abstrato, separado
do particular; a razão é o pensar que nega, que considera o outro como
negação que a coisa traz em si mesma. O pensar dialético só é possível como
segundo movimento, isto é, a partir do momento da identidade abstrata do
entendimento. Negado esse momento abstrato positivo, a razão concebe a
coisa positivamente, mas na sua relação negativa ou mediatizada pelo outro.
O pensamento aparece, aí, no seu terceiro aspecto, o da totalidade ou o
universal positivo, mas, dessa vez, concreto, por ter em si, pela negação da
mediação, o particular. Entendimento, razão dialética e razão especulativa
são as formas do pensar, pelas quais o pensar produz (ou se produz como) o
universal abstrato positivo, a sua negação e o universal concreto positivo,
momentos das suas determinações que, como momentos do processo lógico
real (do pensável ou do verdadeiro), são, na Lógica, o ser, a essência e o
conceito”
190 “Em suma, o processo de formação da verdade engloba os três momentos,
inseparáveis, a que Hegel se referiu no § 79 da Enciclopédia: o abstrato, o
dialético e o especulativo”
191- “Por isso, o negativo é ao mesmo tempo positivo, isto é, as oposições "não
192 resultam num zero" ou em um "nada abstrato", pois o que se nega é o seu
conteúdo particular, a coisa determinada, mas de tal forma que o resultado
ou o novo conceito a que se chega pela negação do anterior é um conceito
enriquecido com seu contrário”
193 “O concreto é, pois, a unidade dos dois momentos por meio dos quais se
processa o desenvolvimento; é o momento de chegada do processo,
considerado como uma totalidade. É a verdade do desenvolvimento (ou
processo)”
194 “O momento especulativo é, pois, o momento do positivo mediatizado pela
negação, ou da união da identidade e da diferença”
196 “A Lógica nada mais é do que o sucessivo definir, cada vez mais concreto ou
mais verdadeiro, do absoluto”
197 “A ontologia de Hegel é, portanto, o estudo das condições a priori (portanto,
do pensamento puro -Reich des reinen Gedankens) de pensabilidade do real.
Assim, têm-se: em Hegel, condições (ou determinações) a priori de
pensabilidade do real ontologia; em Kant, condições a priori de
cognoscibilidade do real empírico -crítica gnosiológica; em Hegel, explicatio
das determinações a priori (do pensar) do pensável, do real como tal
(noumenon); em Kant: deductio das condições a priori (do sujeito) do
conhecimento do real enquanto dado numa experiência possível (fenômeno).
Hegel: Ex-posição do real em si; Kant: dedução da validade objetiva dos
elementos a priori do conhecimento do fenômeno”
197 “(...)pode-se dizer que a dialética como puro movimento do pensar nas suas
determinações é o aspecto lógico propriamente dito da Ciência da Lógica; já
a especulação ou o caráter especulativo da Ciência da Lógica é o conteúdo
que se movimenta dialeticamente, o pensado”
197 Nota de rodapé 32: “A metafísica de Hegel não é do real, tal como
conceberam os clássicos, mas do pensável como tal”
198 “Idéia pura significa a idéia depurada das dimensões da sua divisão e
finitude. É a idéia no momento da superação do sujeito que formula a idéia e
do objeto de que se tem a idéia”
199 “A idéia pura é, portanto, o objeto enquanto pensável ou elevado no plano do
universal. A coisa particular universaliza-se no pensamento”
199- “A Idéia é o pensar no seu movimento; é o pensar num processo. Enfim, é o
200 universal do pensar no processo de sua autodiferenciação ou
autodeterminação. A idéia de modo geral é o processo de ida do particular
(esta árvore pensada por este sujeito) até a indeterminação do pensável,
como universal. É também o processo de retorno do universal do pensar até
o particular da imagem”
201 “(...)ser, essência e conceito são estruturas do pensar, universais, portanto, ao
mesmo tempo que estrutura revelada do pensável”
201 “Esse nível do pensar que é a Idéia (a totalidade no seu movimento) é o nível
da razão (nous, intellectus, Vernunft), diversamente da forma do pensar no
nível do entendimento, o plano do finito em que o pensamento se determina
por conceitos separados, a que se acrescentam propriedades ou qualidades,
meramente classificatórias; por isso, divide e apenas junta com ligações
meramente externas”
205 “Como se vê, a Dialética platônica como explicação do logos acerca das
idéias, do real, desenvolve um movimento semelhante ao que terá a idéia
para Hegel; do universal para o particular e do particular para o universal,
guardadas as diferenças evidentemente existentes entre a ontologia platônica
e a hegeliana”
205 “Hegel, contudo, reconhece em Platão o mérito de ter dado as bases do
pensamento especulativo, que introduz o negativo no positivo, o múltiplo no
uno e ‘reúne os pensamentos’”
206 “Essa identidade do ser e pensar que Hegel chama idéia terá então a sua
própria dialética, isto é, o seu próprio movimento interno, pelo qual ela se
determina ou se mostra na sua estrutura íntima, uma vez eliminada toda
exterioridade entre objeto e pensar”
207 “Descartes ocupa uma posição privilegiada para a compreensão da filosofia
hegeliana. Se de um lado é ele, como Galileu na Física, Copérnico na
Astronomia, o filósofo que revoluciona o pensar filosófico, instaurando uma
ruptura com a metafísica tradicional, pela consideração do eu como ponto de
partida radical para a demonstração filosófica, inaugurando assim uma nova
fase para esse saber, por outro lado, na sua filosofia, essa nova perspectiva
apresenta-se na forma do imediato, vale dizer, o pensar (cogito) e o ser (sum)
estão numa identidade imediata, segundo Hegel. Coube a Kant cindir a
unidade dessa imediatidade e, separando pensar e ser, noumenon e
fenômeno, preparar a Hegel o caminho da reconstrução dessa unidade, já
então pela mediação dialética”
208 “A Idéia é o conceito adequado à realidade ou a realidade adequada ao
conceito, que mostrou o processo da sua idealidade; é ‘o objetivo verdadeiro
ou o verdadeiro como tal’”
209 “A Idéia é esse verdadeiro concreto, adequação da coisa (o real) com o
intelecto (o racional). Só é verdadeiro o que se mostra ao final do processo
da idéia”
209 “Na esfera do entendimento, somente uma verdade parcial é possível”
210 “A Idéia é verdade porque dialética, e dialética porque verdade. Só é verdade
se considerada como identidade concreta, ou seja, do finito e do infinito, do
conceito e do objete-. Só é verdade como identidade da identidade e da
diferença”
211 “O absoluto é o totalmente livre, que tem em si mesmo a atividade do
processo da sua realidade e que tem o começo, o desenvolvimento e o fim
desse processo como seu resultado”
211 “Por outro lado, o absoluto não tem um conteúdo determinado; se o tivesse,
teria de continuar o processo dialético e não seria o absoluto. Por isso, o
conteúdo do absoluto é ele mesmo, o seu processo ou a sua dialética”
211- “Como é a identidade do ser e da essência, o absoluto é a realidade que se
212 expõe, no momento do conceito, na forma da Idéia”
213 “A solução hegeliana para essa separação na altura da lógica é especulativa,
de forma a eliminar qualquer unilateralidade, quer da subjetividade, quer da
objetividade, pois ‘a objetividade não é um oposto estranho para o conhecer,
mas é em si o próprio conceito’”
214 “No conhecimento teórico pretende-se, em primeiro lugar, que seja um
conhecimento do objeto, aparecendo o sujeito apenas como uma tela em que
se imprime o conhecimento do mundo exterior e objetivo”
215 “No saber prático, o movimento é contrário. A idéia que está no plano do
sujeito deve realizar-se no objeto; esse deve fazer com que ela se efetive. O
pressuposto do saber prático não é o objeto dado, mas um objeto que deve
ser, segundo a "representação" do bem. O impulso ou busca infinita da
verdade no saber teórico aparece então como impulso ou busca infinita da
realização do bem”
215 “O bem deve ser realizado e a vontade trabalha ativamente para produzi-lo.
Isso quer dizer que o mundo não é tal como deveria ser; se fosse, o trabalho
da vontade seria inútil”
215- “Ora, essa presença do saber teórico no prático e a volta do prático no saber
216 teórico é, no fundo, a identidade da necessidade e da liberdade ou é a própria
liberdade no momento da idéia, nesse ponto, idéia especulativa ou absoluta
ou verdade dos momentos nela ultrapassados”
217 “A Idéia no plano do finito é verdade, mas verdade incompleta. Por mais
mérito que possa ter a verdade de uma ciência particular, por mais que sua
verdade se mostre como idéia do seu objeto, é ainda verdade finita. Somente
a verdade do conhecimento é:a Idéia absoluta. A Idéia é verdade, processo e
sistema”
217 “O método é essa vitalidade da Idéia, a energia pela qual ela se impulsiona,
por meio da autodeterminação de cada momento, na direção da totalidade
que ele é: (nóesis noéseos)”
218 “Nesse sentido, a própria Enciclopédia, vale dizer, o sistema, expõe-se pelo
mesmo modo com que se expõe a idéia; parte de um imediato, o próprio
pensamento (como idéia), para, por meio da exteriorização de si mesmo na
natureza, retornar a si como Espírito absoluto. Em toda atividade humana
penetrada da razão está presente o Espírito na sua totalidade”
221 “A Idéia é a "unidade absoluta" do conceito puro e da sua realidade", "da
subjetividade e da objetividade”, ou forma da totalidade que assume em si
mesma todos os momentos da "processualidade lógica, e dá a identidade
jamais terminada da interioridade e da exterioridade”
221- “(...) a Idéia não é o simples conceito abstrato, mas o conceito na sua
222 efetividade ou o processo histórico concreto da cultura. Por isso, Hegel pode
dizer que a Filosofia do Direito ou a Ciência Filosófica do Direito tem por
objeto a idéia do direito, que não é um pensar abstrato, mas exatamente o
conceito do direito na forma do pensar, na medida em que essa forma do
pensar é a própria estrutura da realidade histórica desse fenômeno espiritual,
desse modo de aparecer dó espírito ou cultura, o direito”
223 “Na filosofia, dissolve-se o imediato, o dado, externo e fixo; tudo deve ser
posto e provado no processo do pensar. Destarte, a verdade do Espírito
Subjetivo é demonstrada no Espírito Objetivo e a verdade do Espírito
Objetivo, provada como verdade absoluta no Espírito Absoluto, de forma a
não existir no conhecimento especulativo qualquer pressuposto (ou algo
dado ao pensamento, externo a ele, antes da sua atividade) (...)”
224 “O modo pelo qual a filosofia dissolve o pressuposto e demonstra a sua
verdade é a circularidade dialética. Exatamente por não ser linear, e com isso
não ter um ponto inicial, não tem como começo um imediato não
demonstrado ou pressuposto”
224 “A imediatidade não demonstrada ou pressuposto ou começo (ver o Segundo
Capítulo) não pode existir na filosofia, uma vez que seu instrumento e objeto
é o próprio pensar e o pensar é a faculdade de significar e mediatizar. E
porque seu objeto é a totalidade, não há lugar para o começo. Tudo é
circular. A imediatidade é própria da intuição e do dado. Nada na filosofia
pode ser dado ao pensamento. No pensamento tudo é posto e não
pressuposto, ele é o ato de pôr e por isso de negar, vale dizer, de mediatizar”
225 “Num certo sentido a essência opera a passagem do ser para o conceito, Cf. o
como a natureza o faz entre a idéia e o Espírito” esquema
desenvolvid
o pelo Pe.
Lima Vaz
225 “A natureza é a substância alienada da Idéia, como no seu outro, que aparece
como o diferente e exterior ao pensamento livre”
226 “É no momento da cultura, na ação do homem sobre a natureza, pelo
trabalho e pela ciência, que a substância se perpassa pela razão e se mostra
como total transparência”
226 “Assim, Hegel acompanha Aristóteles ao considerar o mundo da cultura
como um segundo universo, uma segunda natureza do próprio homem. O
homem cria um mundo que opõe ao mundo natural. É nessa oposição, e não
na criação da natureza ou no aparecimento do homem, que está a matéria
que possibilitará o saber filosófico ou o saber racional, tomado como
··conhecimento de um objeto racional, um saber cuja tarefa é_ da razão que,
na relação com o mundo, busca o "fim último" desse mundo”
227 “A razão busca, pois, o saber de si mesma na história, que é o
desdobramento da cultura, um segundo universo por ela criado, o seu objeto.
Nisso está o que lhe é próprio: ter ela mesma como objeto. Como pensante, o
Espírito "é um pensamento que toma por objeto o que ele é e como ele é. É o
saber e o saber é o conhecimento de um objeto racional”
227 “O Espírito assim se produz na história, no seu próprio elemento espiritual, e
produzindo-se a partir de si mesmo para chegar a "perfazer a sua liberdade"
é o começo e fim de si mesmo, é o absoluto: convergência do saber da razão
e do agir da vontade”
231 “(...) entendida a enérgeia como a força pela qual o Espírito se mostra como A Vontade
processo (idéia) no tempo (saber), ou seja, como Espírito Absoluto”
232 “A Fenomenologia é esse liame entre história e lógica. É descrição das
figuras do conhecer e dos movimentos históricos desse conhecer”
232 “Esse é o momento da Lógica, que revelará a sua estrutura até a noção da
idéia, enérgeia, que o projeta na exterioridade e inicia nova dialética por
meio da qual o Espírito se reintegra.”
232 “É pela mediação da natureza, estrutura exteriorizada da Idéia, ou Espírito
posto como outro de si, que o Espírito se revela como livre, isto é, saberá
que é livre. Só então, pela mediação da natureza, forma-se o saber da
liberdade”
233 “A Filosofia do Espírito, que sucede à Filosofia da Natureza como superação
do teórico e do prático, do pensar puro em si da Lógica e da estrutura
exteriorizada desse pensar na natureza, é o momento da liberdade. A
liberdade não é, portanto, algo que se pensa em contraposição com a
natureza, mas o que resulta da contraposição pensar-natureza”
235 “(...)Hegel dá à razão prática, ao sujeito, à fé, o seu lugar na verdade da
formação da cultura ocidental, na medida em que razão teórica e razão
prática são aspectos de uma mesma totalidade, o Espírito, que é movimento,
síntese desses dois pólos ou dois momentos, "unidade de si mesmo e da
natureza", "do sujeito e da substância, do pensamento e da intuição”
236 “A vontade traz em si o teórico, que está contido no prático; "não se tem
vontade sem inteligência", diz Hegel. Ao determinar-se a vontade, está ela
no seu interior, pois aí está o pensar que se coloca interiormente um objeto”
237 “A liberdade é assim um postulado, uma exigência da razão; ao mesmo
tempo, na razão prática, é um fato”
237- “Hegel procura deduzir as categorias a partir da imediatidade do ser, pela
238 mediação posta no momento da reflexão. As categorias são um
desdobramento do próprio ser e não formas a priori do sujeito que pensa
separadamente os fenômenos que se dão diante dele pela sensibilidade”
238 “Na acepção de Hegel, pensar é intelecto e vontade a um só tempo”
239 “A demonstração de Hegel, na nota ao § 4 da Filosofia do Direito, da
unidade da teoria e da prática é uma decorrência da unidade da própria Idéia
que, na dimensão da Lógica, é a superação da diferença entre os dois modos
de manifestação da razão”
241 “Em síntese, a unidade da theoria e da praxis, incluída a poiésis está em que
para Hegel o prático envolve toda ação, pelo pensar e pela vontade que só o
homem possui”
241 “Não há na concepção de Hegel duas faculdades, razão e vontade, mas uma
diferença entre a atividade prática e a atividade teórica do pensar. A vontade
é um modo especial da razão, da atividade do pensar, o lugar da liberdade;
pelo pensar o homem está em si mesmo e não fora ou alienado em outro; o
objeto (Gegen-Stand), que se opõe ao homem no mundo da exterioridade,
toma-se algo próprio do homem quando conhecido, e o homem faz do
mundo "sua morada se o conhece", ou melhor, se o tiver concebido”
242 “A vontade é o aspecto ativo do pensar ao dirigir-se à exterioridade. Pelo
agir a vontade determina-se ou põe a diferença, mas só pode expressar um
querer se representa o objeto, e só representa o objeto se se move pelo
querer”
247 “Hegel acompanhará os passos do indivíduo livre na história para a O
construção de uma nova ordem social: a sociedade racional do indivíduo Reconheci
livre, pelo reconhecimento” mento
248 “História e dialética compõem os elementos básicos da Fenomenologia na
descrição da experiência da consciência na formação do saber de si mesma
ou saber absoluto, cuja forma acabada de expressão é a razão, eu coletivo,
em que se resolvem por definitivo as contradições da consciência de si,
dentre as quais a da igualdade e da desigualdade, com o árduo trabalho do
Espírito”
249 “O processo da formação do homem livre, portanto a estrutura dialética
subjacente que faz aparecer essa sagrada força espiritual do ser pensante que
se denomina liberdade, constitui a própria intimidade da Fenomenologia, e
tem o seu momento de maior significação, principalmente para a
compreensão do nosso mundo, na luta pelo reconhecimento, vale dizer, pela
afirmação da liberdade da individualidade do homem na relação com o
outro, precisamente na figura da relação de trabalho travada entre o senhor e
o escravo”
250 “Na Seção A da Fenomenologia do Espírito, Hegel descreve a experiência da
consciência no processo de conhecimento do mundo exterior. Nessa esfera, o
trabalho da consciência consiste em encontrar o ponto de unidade entre o
aspecto subjetivo do conhecer, por ele denominado certeza, e o aspecto
objetivo, denominado verdade”
251 “Na relação de desejo, o objeto desejado é consumido e, por isso, a relação
processa-se no modo infinito abstrato; a consciência, ao consumir o seu
objeto, passa ao desejo de outro e assim indefinidamente”
251- “A consciência busca, então, para descansar a sua certeza, um universal
252 verdadeiramente concreto, em si e para si, que só pode ser outra consciência.
É nesse passo que a consciência descobre ser ela mesma o objeto da sua
experiência. Com isso, a consciência emerge do processo da vida em que se
insere, para iniciar uma nova dialética, a da vida do Espírito ou da história, o
elemento da sua existência”
252- “Somente como consciência de si para outra consciência de si, na medida em
253 que é eu e objeto ao mesmo tempo, ela é Espírito cuja dialética começa pela
cisão da luta de morte e da desigualdade do senhor e do escravo, cisão
decorrente do fato de reivindicar a consciência de si, isoladamente, a
absoluta universalidade e reconhecimento, até o advento do nós ou do
momento em que a consciência é um eu e um nós”
254 “O mundo do Espírito ou da cultura, mundo criado e não dado como a
natureza, só é possível por essa força negadora do dado natural, a razão, que,
por ser princípio de negatividade dialética, que não elimina, mas eleva o
existente ao plano da novidade, do que não existia, é princípio criador”
254- “O logos é a palavra que só tem sentido na dimensão do outro, pois
255 pensamento não é pensamento só de certo indivíduo situado, a menos que
fosse a divindade absoluta. Só é pensamento porque é comunicado, é social”
255- “O processo de reconhecimento desenvolve-se no momento em que a
256 consciência, voltando-se reflexivamente para si, se conhece como tal e, no
relacionar-se com a outra consciência de si, relaciona-se consigo mesma,
fechando-se, contudo, no seu absoluto para si, o que a leva a pôr-se diante da
outra (que é ela mesma) como diante da coisa com que se relaciona na
dialética do desejo (da "imediatidade da vida") para a fruição”
256 “A primeira figura pela qual Hegel expõe a dialética do reconhecimento é a
da luta de vida e de morte entre as consciências de si. Nessa luta, a
consciência de si põe em jogo seus dois valores essenciais, sem os quais não
se define como consciência de si: a vida e a liberdade”
257 “Nessa luta em que se põe a vida em risco para ganhar ou preservar a
liberdade, a vida não pode sacrificar-se, pois sem ela não há liberdade”
257 “(...) ao mostrar o vencedor, ao vencido, a morte, sua mestra, o vencido
aliena a sua liberdade pela vida e, evitando a pura extinção do processo de
reconhecimento e da própria possibilidade da liberdade com a extinção da
vida, submete-se ao senhor na relação de consciência de si (ou o senhor) e a
coisa (ou escravo)”
257 “O senhor é consciência de si livre; o escravo, consciência de si que
renunciou a sua liberdade pela vida e passou a ter a liberdade e a própria
vida como dons, dependentes do senhor. O senhor, entretanto, só é
consciência de si independente na relação de fruição das coisas produzidas
pelo escravo, consciência que renunciou seu para si, cuja relação com a coisa
é diversa da relação de desejo, porque a coisa não mais lhe é posta como sua
para sua fruição, mas para a do senhor. A relação que estabelecerá com as-
coisas, por força de alienar a substância do seu ser ou do seu existir ao
senhor, deixando de ser para si para tornar-se para o outro, é a relação de
trabalho. Sendo para o outro, sua vida é posta ao serviço do senhor como
coisa dele, posta à produção dos objetos de sua fruição. Por isso mesmo, a
consciência de si independente mostra-se também como dependente, quer
dizer, a consciência de si do senhor só é tal na mediação do trabalho do
escravo e da fruição do seu produto (...)”
259 “A ação dialética da luta tem já desde o início o sentido da espiritualidade. A
relação senhor e escravo não decorre de terem pactuado o armistício para
evitar a selva, mas do processo do autoconhecer do homem e, a partir desse
autoconhecimento, o re-conhecimento de que a sua essência é ser livre, em si
e para si (...)”
261 “A luta, contudo, terminaria na negação abstrata, sem sequência dialética, se
terminasse com a morte, portanto a vida é tão essencial como a pura
consciência de si. Por essa razão, a luta de vida e de morte tem de trazer a
negação da vida, dialeticamente, isto é, negar a vida como a essência
imediata e unilateral do homem ou negá-la conservando-a”
262 “Na relação de senhor e escravo, o senhor é exclusiva consciência de si e o
escravo é reduzido à coisidade da vida”
262 “A segunda dialética do reconhecimento, superior à primeira, é a do
trabalho. Ao fim da luta pelo reconhecimento, ambas as consciências de si
preservam-se, mas em nível desigual”
263 “Na relação do trabalho, o objeto, produto do trabalho, é tratado
diversamente, segundo seja do ponto de vista do senhor ou do escravo.
Enquanto o senhor frui o objeto, consumindo-o pelo desejo, o escravo
forma-o pelo trabalho, dominando seu desejo e, com isso, forma-se a si
mesmo, superando o temor, como consciência de si que é. O temor e o
trabalho são assim os elementos dialéticos em que a consciência de si
escrava ganha a sua consciência de si livre, pois, enquanto ela pode ver-se no
senhor como sua verdade, o senhor não pode ver-se no escravo, que é sua
verdade”
263 “A consciência de si servil que forma a coisa pelo trabalho faz inverter a
posição da consciência de si que frui a coisa trabalhada: o senhor passa a ser
dependente da consciência de si escrava”
264 “A consciência de si escrava, contudo, assume a sua independência, em
primeiro lugar, como liberdade puramente interior, que lhe permite
reconhecer-se como universalmente igual, mas de forma abstrata. A
expressão filosófica dessa liberdade interior e igualdade universal abstrata
que põe em mesmo plano senhor e escravo, Marco Aurélio e Epiteto, é o
estoicismo”
265 “O escravo mira no senhor a sua própria imagem e vê que é consciência de si
livre como o senhor; o senhor, entretanto, não pode ver no escravo a sua
própria imagem”
266- “A luta pelo reconhecimento e a submissão a um senhor é o fenômeno do
267 qual surge o convívio dos homens como origem dos Estados”
269 “O estoicismo é assim a primeira forma do reconhecimento, puramente A
interior, segundo o qual todos são iguais porque todos são centelhas da razão Revolução
e livres. A sua liberdade interior, abstrata, não se realizando plenamente e
contrapondo-se à universalidade da razão, traz, a partir desse conflito, o
ceticismo, pelo qual, não podendo o escravo alcançar a liberdade concreta
pela ação do trabalho -o que se fará pela ação de uma nova luta -, dirige-se
ao mundo não para negá-lo pela ação física e racional do trabalho, mas pelo
puro pensamento, cuja liberdade ou poder de negação é absoluta”
269 “Assim a liberdade aparece nas figuras do estoicismo e do ceticismo, como
liberdade individual e interior do estóico oposta ao mundo externo
concebido como razão universal ou cosmo, e liberdade cética que dissolve. o
mundo externo e se afirma como negatividade pura e única universalidade”
271 “Surge a infelicidade da consciência que consiste em reconhecer no absoluto
transcendente sua essência, tudo, e nela nada. É o reconhecimento do seu
nada diante do tudo do absoluto”
271 “Dilacerada, é consciência infeliz. Entretanto, sendo ainda consciência,
resta-lhe tão-só a consciência de seu nada e vazio e nisso está o começo da
consciência de ser tudo”
271- “A consciência de si, atribuindo tudo ao universal transcendente, inclusive a
272 sua essência, e reconhecendo-o como tal pela ação de graças, descobre que
tudo isso é ela mesma, é trabalho dela, inclusive o ato de reconhecimento do
absoluto transcendente pela ação de graças. Descobre-se, portanto, como
universal, não na forma de uma individualidade abstrata e exclusiva - pois
experimentou a sua bifurcação ou teve a experiência do universal fora de si -
mas na forma de um nós”
272 “O Espírito é considerado nos seus diversos aspectos num processo global
que vai da consciência ao saber absoluto. Na verdade, é o próprio Espírito
que faz a experiência de si como consciência, consciência de si e razão. Ao
chegar a consciência de si à razão, abandona o seu caráter particular e
isolado para entrar no plano da universalidade”
273 “Ao remeter ao outro, a obra faz com que a consciência individual se
conheça como uma consciência no seu mundo, mundo em que uma cadeia de
inter-relações das consciências de si se processa. A obra é obra coletiva, é
obra de todos e só pode realizar a unidade das consciências de si, como
unidade com elas”
274 “O que para a consciência continua a processar-se é a experiência do que o
Espírito é: essa substância absoluta que na completa liberdade e
independência de sua oposição, vale dizer, das diferentes consciências de si
que são para si, é delas unidade: Eu que é Nós, Nós que é Eu". A razão é o
Espírito, ou um ‘eu que é um nós e um nós que é um eu’”
274 “O Espírito é um nós, uma consciência de si universal, cujo momento de
efetividade é o Estado; o Espírito é, ainda, história, pela qual a sua essência é
um tornar-se o que é; finalmente, o Espírito é o saber desse tornar-se
universal e do processo pelo qual ele se torna saber de si mesmo: é sujeito
universal”
275 “Como reconhecimento concreto (ou o que se poderia chamar de "igualdade
concreta") se dá na esfera do Espírito e, nessa esfera, no nível do Estado,
convém, sucintamente, acompanhar o curso do pensamento hegeliano nessa
etapa, para encontrar-se, a partir daí, o conceito do reconhecimento universal
que se dá no momento do Estado, cuja importância não é suplantada pela
moralidade ou pela religião”
276 “A ordem observada na Fenomenologia (Eticidade, Moralidade, Religião)
não significa, assim, abandono da eticidade política (...) Hegel, na
Fenomenologia, continua colocando no Estado o momento de maior
realização do Espírito no mundo objetivo”
276 “Hegel começa o estudo do Estado a partir do Espírito imediato, que
corresponde à cidade antiga, o mundo greco-romano, passando pela Idade
Média para, finalmente, estuda-lo na forma do Estado que se desenvolve por
força e a partir da Revolução Francesa, o Estado de Napoleão e, para ele, o
da Alemanha do seu tempo”
277 “O mundo greco-romano é para Hegel o começo próprio da história do
Espírito e o fim que o seu esforço e trabalho alcançou no longo período da
sua pré-história, que constitui o tempo anterior ao nascimento da civilização
ocidental”
277 “A Fenomenologia desenvolve a passagem do Espírito imediato na
totalidade harmônica da vida ética antiga, introduzindo nela a divisão pela
afirmação da individualidade livre ou sujeito, para chegar à sua plena
efetividade como universalidade e singularidade, numa comunidade ética, na
qual o indivíduo se insere, afirmando-se como a própria universalidade, ou
seja, como sujeito livre”
278 “O Espírito é a vida ética de um povo, na medida em que é a verdade
imediata, o indivíduo que é um mundo”
279 “No Estado grego realiza-se a unidade do eu no nós de modo imediato. O
cidadão estava totalmente integrado na comunidade: o interesse da
comunidade era o seu interesse; seu trabalho, trabalho da comunidade e para
a comunidade. Nele realizava-se a harmonia: a liberdade do cidadão
integrava-se perfeitamente na ordem política, por força de ser a própria
vontade da cidade; sua vida privada ·identificava-se com a sua vida pública,
o fim último e o objeto mais valioso da vida do cidadão. A substância ética
tem na sua unidade a consciência individual do cidadão, por meio da
família”
280 “O conflito interno na substância ética surge, portanto, na forma da lei
humana representada pelo Estado e na da lei divina representada pela
família, e consiste em, de um lado, reconhecer apenas a família, representada
pela mulher, ou a lei divina em colisão com a da cidade, como a verdade e
totalidade da substância ética, diante da qual a lei humana é simples arbítrio,
a que se nega o reconhecimento de validade, e, de outro lado, reconhecer
apenas o Estado, representado pelo governante, ou reconhecer validade
apenas à sua lei, negando-a à função familiar da mulher no zelo pelo
conteúdo ético-religioso, considerado em Antígona mero capricho e
teimosia”
281 “Ao tirar o indivíduo da família, submetendo-o diretamente à sua lei, e
desvinculando-o totalmente da família, o Estado desintegra-a e, ao
desintegrá-la, dissolve a própria base da sua existência como mundo ético
harmônico. Sem a família que tornava possível a mediação do indivíduo com
o Estado, o próprio Estado desintegra-se”
281- “Com a dissolução do mundo ético, o eu concentra em si toda a essência que
282 pertencera à comunidade e se afirma essência em si e para si. Com essa
afirmação individual de cada consciência de si tem-se que cada indivíduo,
como se resumisse todo o Estado, é pessoa de direito, ou seja, indivíduo a
que se reconhecem todos os direitos; por isso é reconhecido como uma
universalidade formal, como igual perante a lei. A unidade dessa pluralidade
de pessoas, que lhes dá universalidade, é o direito abstrato, unidade pura
mente externa e reconhecimento sem conteúdo”
282 “Desse caos individualista resulta a alienação dessa substância ou o refluxo
dessa essência ética num único indivíduo que dá unidade à pluralidade de
todos e que concentra toda a sua substância: o Estado de direito que instaura
a universalidade abstrata da pessoa pela igualdade de todos perante a lei. É
Estado soberano, cuja soberania, entretanto, se concentra numa única pessoa,
o imperador”
283 “Aos indivíduos considerados como pessoas do direito privado, cujo direito
tem como conteúdo a coisa exterior - direito, contudo, que não compõe a
vida política -, se opõe o eu todo poderoso do senhor do mundo, que domina,
mas sem governar segundo "uma constituição e organização do Estado". O
Estado é assim personalizado na individualidade do imperador, ao passo que
os indivíduos são apenas súditos e sujeitos de direitos meramente privados”
284 “No âmbito do direito privado, o direito romano realizou a igualdade dos
indivíduos como pessoa. A personalidade é a capacidade de direitos,
especificamente do direito de propriedade”
284 “A liberdade interior abstrata, que, no estoicismo, iguala o escravo ao
imperador toma-se igualdade da pessoa abstrata perante a lei, cuja liberdade
tem como conteúdo externo a propriedade”
285 “Hegel conclui que o Estado de direito romano trouxe de positivo o
reconhecimento do homem como pessoa, mostrando, de um lado, o dado
positivo da pessoa no direito privado, que tem seu conteúdo e determinação
na coisa exterior, e de outro, o esvaziamento do indivíduo ou
desessencialização da consciência de si, no que se refere à vida política, e a
concentração do poder do Estado na pessoa do imperador”
285 “Essa perda da essência da vida política do indivíduo determina uma nova
dialética: a conquista da individualidade plena”
287 “A Ilustração na forma da pura intelecção opõe-se à fé com a finalidade de
restaurar a força da razão como unidade do mundo cultural e com isso
restaurar a unidade ética vivida no período clássico, cindido pela alienação
no processo de formação do Espírito”
288 “O universal da fé, que se fundamenta na exterioridade dos sentidos, ao
sofrer a ação demolidora da Ilustração, como pura negação abstrata, provoca
o aparecimento de outra forma de imediatidade do sentimento: o
romantismo. A individualidade do romantismo ou sua particularidade que se
exprime "na sensibilidade, nas emoções e paixões" aspira ao universal na
forma do orgânico, ao passo que a individualidade preconizada pela
Ilustração aspira a um universal na forma de uma totalidade mecanicista”
290 “A unidade será encontrada no plano da filosofia e não no da religião, do
conceito e não das formas intuitivas e representativas do sentimento e da fé.
A noção de Espírito (Geist) aparece num nível superior de racionalidade em
que se superam as unilateralidades romântica (do sentimento) e racionalista
abstrata da Ilustração (do entendimento)”
290 “(...) no direito encontra-se a forma de vida e de pensar na qual o Espírito se
manifesta como liberdade total: como liberdade objetivada na lei e como
liberdade subjetiva, no sujeito de direito”
292 “Coube a Hegel, herdeiro dos sacerdotes da razão, encontrar, imerso no
mundo das aparências irracionais ou absurdas do terror, o fio referencial do
sentido da história, expondo um novo modo de manifestação da razão, agora
considerada como o pensamento que capta o sentido de totalidade da
natureza e da história”
293- “O Estado de Hegel busca a sua base nas idéias da Ilustração na medida em
294 que o universal por ele representado não é uma unidade orgânica análoga à
do organismo vivo, mas um universal organizado em que o cidadão não é
mera peça submetida à determinação da unidade individual do todo, mas a
um só tempo parte e sujeito desse todo, particular enquanto . não pode existir
sem o todo, e universal como autônomo sujeito dessa organização ética, o
Estado”
294 “Entretanto, o universal oferecido pela Ilustração é ainda posto no plano
abstrato e imediato, não refletido dialética e especulativamente como fará
Hegel. A contribuição do romantismo para a formação do pensamento
político filosófico de Hegel está simplesmente no conceito de totalidade
orgânica ou totalidade cujas partes não se unem por justaposição.
Diferentemente, contudo, a totalidade orgânica de que se poderia falar em
Hegel é dialética: a parte de tal forma integra-se no todo, que traz em si a
própria universalidade do todo”
296 “Hegel retoma a tradição política grega e a integra no movimento vibrante
da razão no tempo da Revolução. Tradição filosófica grega e direito racional
formam a díade convergente do pensamento político hegeliano”
297 “Essa finalidade ética da Revolução, que traz no seu bojo a semente do
Estado ético de Hegel, não foi encetada tão-só contra o despotismo medieval
da monarquia francesa, mas teve um caráter universal porque afrontava todo
despotismo existente; pretendia declarar definitivamente que todo homem é
igual e livre”
297 “Hegel aponta Rousseau como a origem da moderna concepção do Estado,
por operar a síntese do iluminismo racionalista francês com a interioridade
sentimental. A partir de Rousseau, a justificação do Estado não se dá mais na
realização da felicidade dos indivíduos. Seu fundamento está -na vontade
livre que é a essência do homem enquanto determinação de si mesmo
(Sichselbstbestimmug) e que não tem outro objeto senão a si mesmo, visto
ser não determinada por qualquer coisa de externo”
299 “A vontade geral no Estado democrático é do mesmo modo
autodeterminação do povo; é o próprio conceito de vontade, a qual não
coincide com a vontade de todos, mas é o universal, de que as leis são
determinações particulares48. Eis por que em Rousseau se desfaz o conflito
entre liberdade e lei, que em Hegel se expressam na forma da liberdade
subjetiva e liberdade objetiva no momento da eticidade”
300 “Removidos os escombros da superstição, Hegel encontra a conciliação da fé
e da razão no sentido de que a religião nada mais é do que uma das formas
pela qual o homem capta o absoluto. A religião, embora se coloque no plano
do pensamento, fá-1o por representação e não na forma do conceito”
300- “Esse conceito de formação, cultura (Bildung), dá a tônica da primeira e uma
301 das principais obras de Hegel, a Fenomenologia do Espírito. A
fenomenologia da cultura (Geist, o mundo da cultura), o processo de
formação da consciência, que é um processo pelo qual ela se desenvolve de
estágios mais rudimentares de conhecimento dos objetos até chegar à forma
da razão, em que ela sabe que o--conhecimento de si é o conhecimento da
realidade . interiorizada, é exatamente o modelo da Ilustração alemã”
301 “Enfim: é possível o conhecimento do absoluto? Essa é a questão aberta pelo
dualismo interno da filosofia, que Hegel pretendeu resolver. A Revolução
oferece-lhe os elementos para pensar esse absoluto na história”
302 “A alienação, quer no sentido amplo de exteriorização, quer no sentido
estrito do momento do Espírito que se toma estranho a si mesmo, é conceito
novo introduzido por Hegel na filosofia; constitui o modo pelo qual a
dialética se desenvolve, desde o pôr-se do ser na essência, passando pelo
exteriorizar-se da idéia na natureza até o objetivar-se do Espírito na história”
303 “A alienação é, desse modo, a despedida da razão que, ao mesmo tempo,
anuncia seu retorno; é o destino já na forma do conceito, não como rumo
determinado pelos acontecimentos cegos, mas como ‘lógica imanente de um
processo histórico que se constitui e avança pelo entrelaçamento dialético
entre natureza e liberdade, entre o aleatório acontecer histórico e a densa
necessidade que o livre agir do homem inscreve na face muda das coisas e
do tempo’”
303- “Essa alienação da substância eia é uma "dessencialização da consciência de
304 si" (Entwesung des Selbstbewusstseins), tornando-se estranha a si mesma
(Entfremdung)”
305 “Essa contradição é figurada por Hegel na contradição entre a consciência
nobre e a consciência vil, que dão, a primeira, a marca do Estado tal como o
concebe Hegel, seguindo a tradição -e a segunda, a do Estado que nega esse
conceito. A consciência nobre, na verdade, representa o verdadeiro Estado
que para Hegel tem a mesma unidade da família; cada indivíduo serve-o
acima dos seus interesses particulares. Assim, os nobres que tinham a função
de dirigir o Estado entregaram-se a esse ofício, empenhando a sua própria
vida. De outro lado, a consciência vil representa a consciência burguesa, cujo
interesse imediato, a serviço do qual ele põe o da própria comunidade
política, é o seu, particular. Esse sistema, naturalmente, reduz-se à riqueza. A
consciência nobre, por um processo de degeneração, acaba por usar o Estado
como instrumento de enriquecimento, ou seja, põe acima do interesse
público o seu interesse particular. O resultado é a decadência do Estado e o
aparecimento de uma nobreza estéril e corrompida, cujos componentes
cuidam, como os burgueses, de seus interesses individuais”
306 “A Ilustração consegue, assim, dissolver o mundo da fé no mundo efetivo da
riqueza. Com isso dissolve-se o Estado. A verdade da Ilustração é a
Revolução, ou a liberdade absoluta”
306 “No céu das idéias, o que, embora abstratamente, se concebia como o justo
era a igualdade e a liberdade de todos. No chão da realidade, porém, o
privilégio. Hegel descreve a estrutura da ordem política e jurídica francesa,
mostrando as condições históricas materiais da Revolução, considerando-as
injustas, porque de privilégios: ‘a riqueza extorquida ao suor do povo não foi
empregada para os fins do Estado, mas esbanjada em algo sem sentido. Todo
o sistema estatal mostrou-se como injusto’”
307 “A Revolução está sempre presente no pensamento filosófico de Hegel, pois
a idéia determinante do seu pensar é a liberdade”
307 “Eis por que Hegel reconhece na Revolução Francesa o momento histórico
da realização da liberdade, objetiva e subjetiva, bem como do direito nela
fundado, pois uma constituição foi elaborada segundo o conceito do direito;
nela tudo encontra seu fundamento”
309 “Para Hegel, o princípio abstrato da razão intelectiva, pelo qual, no momento
da Ilustração, o Espírito chegou ao pensar, constitui o grande passo dado no
sentido da efetividade da liberdade. Com efeito, a razão envolve não só o
conhecimento da realidade objetiva mas também é princípio de ação; com
isso se alcança a última estação da história (das letzte Stadium der
Geschichte), o reino da vontade que se afirma como existente”
309 “A vontade, contudo, só é livre se independente-de todos os impulsos
sensíveis, isto é, como ação da pura razão prática. Entretanto, a vontade livre
que não se dá um conteúdo que a determine não é vontade alguma, mas pura
abstração. Daí toda ação revolucionária que objetiva substituir uma ordem
estatal injusta ter como fundamento teórico a noção de vontade livre. A
Ilustração, no aspecto da consideração da vontade, dá a fundamentação
teórica da Revolução e, ao mesmo tempo, instaura a contradição entre a
vontade livre absoluta e a vontade em suas determinações diante do objeto”
310 “A vontade que quer a si é o fundamento de todo direito, de toda obrigação,
por isso de todas as leis jurídica”
311 “De qualquer modo, somente a Revolução tornou possível que o homem
conduzisse a sua própria vida e fizesse livremente a sua história, organizando
racionalmente a vida por meio do direito racional, por Hegel considerado
forma de realização da liberdade”
311 “Esse duplo sentido da liberdade, o direito subjetivo (liberdade do sujeito) e
a lei, é reconhecido por Hegel como conquista da Revolução”
312 “O terror é assim uma necessidade, trágica, mas que pertence ao próprio
momento histórico e à dialética da sua transformação”
312 “Ao afirmar-se a liberdade individual como absoluta, exclui-se o
reconhecimento de qualquer outra. Afirma-se como exclusiva”
312 “Não se trata agora do reconhecimento da consciência de si, mas da sua
liberdade absoluta; isso, porém, só ocorreria com a eliminação das outras
liberdades que também se querem absolutas. O terror é, pois, uma
conseqüência inevitável no processo revolucionário, cujo conteúdo era a
liberdade individual”
312- “O terror é a característica da dialética do aparecimento do Estado
313 contemporâneo e que o torna totalmente diverso do Império romano: a
ditadura jacobina na sua contradição interna, pois mantinha como seu
objetivo a liberdade subjetiva e a virtude dos cidadãos, que põe a
comunidade livre como seu fim ético. A palavra que encerra toda densidade
ética da Revolução é cidadão”
313 “Foi preciso que a consciência de si experimentasse a mais profunda
dilaceração no Espírito, a sua própria negação abstrata, para que, diante
dessa eliminação abstrata, a morte -que põe fim ao próprio substrato da
liberdade absoluta, a vida -, a consciência de si, que se afirmou como
absoluto isoladamente, restabelecesse uma nova ordem, em que o sujeito
livre afirme a sua presença, mas reconheça a subjetividade dos outros numa
forma racional de convivência”
314 “O que se forma pela Ilustração é a própria razão, a consciência de si que é
um nós”
314 “Constitui para a formação do pensamento de Hegel o mais importante
acontecimento, pois somente a partir daí foi possível a clara visão de um
elemento subterrâneo do espírito ocidental, a individualidade”
315 “Na Revolução, o que a consciência de si pretende - ela que já experimentou
o momento da razão e, portanto, sabe da sua universalidade e exige o seu
reconhecimento como tal, vale dizer, a consciência que sabe ser um nós e um
eu - é realizar a liberdade concretamente na sua individualidade, insurgindo-
se contra a servidão real. A consciência de si individual livre não é mais a do
estóico, para o qual a liberdade interior é indiferença diante das coisas (é
deixar que aconteçam), nem a do cético, para o qual a liberdade é
negatividade que se dirige às coisas nas suas diferenças e as dissolve (Lima
Vaz), permanecendo ambas na ataraxia, mas uma consciência de si que,
como razão, se dirige às coisas, ao seu mundo, para dissolvê-lo na sua
dureza, pela ação que transforma esse mundo, e realizar a liberdade”
316- “"A neutralização política do judiciário estava ligada, como se sabe, às
317 necessidades de segurança da burguesia. O Antigo Regime caracterizava-se
pelo enfraquecimento da justiça, cuja dependência política se projetava no
arbítrio das decisões. A crítica dos pensadores iluministas passou, então, a
exigir a valorização dos preceitos legais" que em Hegel ·assume um caráter
quase sagrado: a lei geral escrita é a linguagem da liberdade”
317 “O que caracteriza, pois, a Revolução é a introdução da liberdade individual
na vida social, como fundamento de uma nova ordem política (...)”
317- “A Filosofia do Direito é a unidade dialética da eticidade clássica e da
318 subjetividade moderna. A eticidade clássica era forma objetiva de vida, na
qual o indivíduo se inseria e que, ao mesmo tempo, era interiorizada pelo
indivíduo no processo da educação, a paidéia”
318 “Paidéia é, assim, o elemento em que indivíduo e sociedade se articulam na
unidade do produzido pela participação do indivíduo na pólis e interiorizado
pelo processo de formação ou educação para a pólis”
318 “O nomos é assim apenas forma superior de manifestação do ethos, ou seja,
a lei grega como a romana exprimem, no seu conteúdo, a forma objetiva de
vida do povo; forma que a virtude da phrónesis ou prudentia produz segundo
um princípio do logos”
319 “A subjetividade é uma conquista ou uma forma de cultura característica do
mundo ocidental e está presente como fermento dessa cultura, desde o seu
início histórico, entre os gregos e romanos”
319 “O cristianismo, que se desenvolveu na cultura ocidental, absorvendo-a,
mantendo esse ideal da subjetividade sempre presente na sua doutrina, mercê
de ser ele mesmo criação dessa cultura, é considerado por Hegel na trajetória
da explicação da idéia da subjetividade, no plano da representação, como o
elemento de sua preservação ao longo da história”
320 “O Estado de Hegel, pós-revolucionário, realiza essa unidade da liberdade
substancial e da liberdade subjetiva”
321 “A Filosofia do Direito é a explicitação da idéia da Lógica no seu conteúdo, O Direito:
a liberdade” a
Igualdade
321 “Resta demonstrar como essa vontade que é livre, como idéia, se mostra
objetivamente ou se exterioriza no mundo da cultura, o Espírito Objetivo”
321 “No processo de exteriorização, a idéia faz-se como necessidade na natureza
e como liberdade no espírito, sem deixarem de ser esses momentos uma
totalidade”
322 “O Direito Abstrato é, pois, o momento do desenvolvimento dialético da
liberdade, no qual a idéia se mostra não só como liberdade mas também
como igualdade. Como pessoa, capacidade de ter direitos, introduz-se a
desigualdade, tal como mostra a objetivação da vontade na noção de
propriedade”
322 “A vontade exteriorizada na propriedade e dividida afirma a sua
subjetividade diante do universal e determina-se como vontade do sujeito
diante do bem (esfera da Moralidade), cujo resultado será a Eticidade,
unidade da vontade subjetiva ou refletida e do mundo exterior. A liberdade é,
então, realidade ou necessidade e vontade subjetiva. Essa unidade é a idéia
de liberdade em si e para si como existente e que se desenvolve como
conceito na Família, na Sociedade Civil e no Estado”
322 “Percorrendo os degraus da exposição do Espírito Objetivo encontrar-se-á,
num primeiro momento, o do direito abstrato e da moralidade, a liberdade
como livre-arbítrio, igual em todas as pessoas; no segundo momento da
Eticidade, a liberdade é domínio da natureza pelo trabalho e, num terceiro, a
liberdade é autonomia do cidadão”
322 “A Filosofia do Direito encaminha a unidade na práxis e na teoria, que está
na raiz do pensar e da civilização ocidental: a práxis romana do direito, a
teoria grega da filosofia”
323- “A dialética do Espírito objetivo obedece a uma trilogia comparável à da
324 Fenomenologia; o Direito Abstrato é a objetivização do Espírito na relação
com as coisas do mundo exterior, comparável à dialética da consciência com
o mundo na relação do conhecer; na Moralidade, momento de subjetivização
da vontade, o Espírito procura a afirmação de si como consciência de si, em
que o objeto da consciência é ela mesma; e na dialética da Eticidade, o
Espírito move-se não mais como relação direta com a coisa, mas relação
consigo (Moralidade), na medida em que passa no outro para si (ou
consciência de si), num movimento ao nível da razão, de um nós que ao
mesmo tempo é um eu, uma sociedade em que, ao-mesmo tempo, o sujeito
afirma a sua identidade de ser livre com o outro”
324 “Para Hegel como -para Kant, o direito continua a ser a única forma de
existência da liberdade, e a razão o critério da sua validade. Entretanto,
Hegel procura relacionar esses conceitos dialeticamente, introduzindo a
categoria da historicidél.de do direito e da sociedade em que o direito se
desenvolve”
325 “Para Hegel, entretanto, a razão não é uma regra de como deve ser o direito,
mas elemento do próprio ser do direito, que diz como ele é e tem de ser. Isso
porque a história do homem outra coisa não é senão o curso da razão que
progressivamente se revela, portanto o elemento em que se processa, ' se
desenvolve e se mostra a liberdade”
325 “Se a razão é o elemento diretor da história a informar o ethos através do
tempo, o direito produzido nessa história é o revelar-se dessa razão, portanto
da liberdade. O direito positivo é, nesse sentido, o modo pelo qual o justo
aparece, o modo pelo qual a essência do direito se mostra mais perfeita num
determinado momento histórico, modo de aparecer o direito, que é a razão
na história”
325 “É o conjunto das normas jurídicas ordenadas a formar a estrutura do Estado,
na forma mais expressiva da razão: o sistema, cujos passos são a lei, o
código e a constituição”
326 “Hegel busca conhecer na aparência ou manifestação positiva do direito a
sua essência, a sua razão real ou a sua racional realidade (...)”
327 “O direito existente - as normas jurídicas positivas -, embora seja para Hegel
o modo pelo qual a liberdade se revela, não é a essência do direito na
dialética da existência, isto é, não é a realidade substancial do direito ou o
direito no seu conceito. O direito no sentido filosófico decorre de um
desenvolvimento "racional da sociedade", desenvolve-se com essa sociedade
ou com a "realização da razão" nessa sociedade por meio da história”
328- “A idéia do direito é o objeto da Ciência Filosófica do Direito; é o direito
329 como uma realidade e não o conceito vazio do direito, ainda que assim possa
ser concebido pela razão abstratamente. O direito, conteúdo da idéia do
direito expressa pela Filosofia do Direito, é o direito real, tal como é e não
como deve ser. A idéia do direito é, então, a verdade do direito, entendida
como a correspondência do conceito com a realidade (...) No Prefácio à
Filosofia do Direito, Hegel esclarece, mais uma vez, a tarefa dessa
disciplina: tomar o direito como realidade que é, no seu situar histórico, e
elevá-lo ao plano do racional é a tarefa da Filosofia do Direito”
329 “A Filosofia do Direito capta essa idéia do direito no seu tempo, portanto o
direito como ele é e não como deve ser no futuro”
330 “O direito que a Filosofia do Direito capta no seu tempo como idéia não é
um fato que ocorre punctualmente, mas um desenvolvimento até o momento
do resultado. Também não é a representação desse resultado, mas a elevação
de todo o processo, desde o início, ao plano do pensar, de modo que o
resultado é a "eliminação" e a conservação dos momentos anteriores
(aufheben)”
331 Nota de rodapé 14: “Convém lembrar que o processo da cultura é uma forma
de exteriorização. O
é, portanto, a liberdade na sua exterioridade, o direito”
332 “Desse modo, não acompanha Hegel o formalismo ético de Kant, para o qual
a lei moral é a própria ação da razão pura prática, a boa vontade ou vontade
pura, não afetada por nenhum dos obstáculos sensíveis, ou, no direito
especificamente, uma lei universal que coordena os arbítrios dos indivíduos”
333 “Hegel pensa a liberdade não do ponto de vista formal, mas dialético. A
liberdade como livre-arbítrio é apenas um momento da liberdade que pode
explicar o direito no seu momento abstrato, mas não no plano da eticidade
ou do Estado. No plano da eticidade, a liberdade é a idéia que compreende a
unidade da subjetividade e da· objetividade do direito”
333 “O direito explica-se pela idealidade, não pelo empírico, nem pelo racional
abstrato”
334 “Sua justificação ou inteligibilidade está na sua idealidade, ou seja, na
presença da razão na sua forma e conteúdo”
334 “A idéia do direito é a estrutura pensável do real objetivo, que é o direito, e
não o projeto do que deve ser o direito. O direito tal como é no seu tempo e
tal como se forma na conjunção dos seus momentos, pensado, é a idéia do
direito, o conceito da realidade denominada direito”
335 “O terror da Revolução Francesa ainda é racional, pois serve à razão, embora
pela sua astúcia”
336 “É no dever de reconhecimento que se move a vontade fundante do direito;
por ele, a vontade livre realiza-se como objetiva na lei reconhecida e por ela
se reconhece a liberdade subjetiva do outro, igual titular de direitos”
336 “Direito e dever são dois momentos da realidade concreta do direito. Por
exemplo, o direito de propriedade de uma pessoa tem como correlato o dever
de respeito de uma outra”
338 “A forma racional mais elevada de expressão do direito é a lei. Por meio da
lei o direito arbitrário perde a existência. Toda forma de unilateralidade e
privilégio desaparece com a lei, cuja característica não é ser norma para este
ou aquele indivíduo, mas preceito geral”
339 “Hegel, fiel, nesse sentido, ao profundo ideal de justiça da Revolução
Francesa, de certo modo teorizada na Escola Exegética, segundo a qual a lei,
sendo a vontade soberana do povo, não pode estar à mercê do arbítrio do
julgador, que a ela tem o dever de ater-se, sob pena de negação do próprio
direito e retrocesso à sua pré-história, não deixa dúvida quanto ao
significado da aplicação da lei como subsunção do caso concreto
qualificado, no seu fato abstrato, por um tribunal qualificado como órgão da
lei”
339- “A lei é, para Hegel, o direito no plano do conceito, o direito refletido, Parágrafos
340 consciente ou sabido, o direito para si, preciso nas suas determinações, que 225, 226 e
determina o arbítrio e dá acesso e segurança, ao contrário do costume, direito 227.
inconstitucional, sem precisão nem segurança jurídica, nem conhecimento
claro, inconsistente, sujeito ao arbítrio da escolha e da interpretação, e
submetido à irracionalidade da contingência”
340 “Quanto ao conteúdo, é a liberdade que constitui a essência do direito, a sua
substância. Quanto à forma de existir do direito, a que torna possível a
manifestação mais clara e inequívoca da sua racionalidade, considerada
como estruturação da liberdade, é a lei”
341 “-Já no § 3º da Filosofia do Direito Hegel estabelece a diferença da
consideração histórico-fenomenológica, cujo objeto é o fenômeno externo de
uma realidade, no caso o direito, e a consideração do aspecto interno ou
natureza da coisa (a essência do real), objeto do direito filosófico. No
primeiro caso, o método é a exposição, no segundo, a interpretação do
conteúdo de racionalidade do fenômeno jurídico. O aspecto filosófico é que
dá o absoluto do direito, como se desenvolve no§ 4º da Filosofia do Direito
cujo método de revelação é a interpretação”
341 “Interpretar o absoluto na história é o que faz a Filosofia do Direito, pois o
direito é a história na sua racionalidade mais profunda, que realiza, pelo
trabalho do conceito, a sua forma mais acabada no Estado livre pós-
revolucionário”
342 “Ora, a resposta pelo fundamento último do conteúdo do direito está no
próprio direito enquanto realidade efetiva e não enquanto algo separado do
seu fundamento. O direito natural é posto como explicação externa do direito
positivo de modo que cada um se fixa na sua posição, como coisas distintas e
isoladas, só se conciliando por submissão ou justaposição de um no outro”
343 “O direito é eminentemente histórico, cultural. Seu terreno é o Espírito e seu
ponto de partida, a vontade livre, como demonstrou no § 4 º da Filosofia do
Direito”
343 “Há duas posições teóricas claramente combatidas por Hegel pela sua
unilateralidade: o jusnaturalismo, que apresenta como fundamento do direito
positivo a razão no modo abstrato e formal do Iluminismo, e o historicismo
da Escola Histórica, que fundamenta o direito, não na natureza da coisa, mas
na aparência ou contingência fenomenal dos fatos históricos (...)”
343- “Esse último é combatido por Hegel tanto nas obras teóricas (Gustavo Hugo
344 e K. von Savigny), como na forma prática da legislação nele inspirada, como
se manifestou em A Constituição Alemã, no começo do seu filosofar e em
Reform Bill, no final do período de sua maturidade”
344 Nota de Rodapé 32: “O historicismo de Hegel é racionalismo; o historicismo
da escola histórica é irracionalismo” (BOBBIO, Estudos Sobre Hegel)
346 “A precedência lógica do todo sobre a parte ou do povo sobre o indivíduo, de
Aristóteles, é para Hegel o único modo do pensar ou do conceito, que, sendo
universal, começa com o universal, como mostrou a Lógica”
346- “O "espírito do povo" nada tem de comum com o espírito na concepção de
347 Hegel. Para a· Escola Histórica, o espírito do povo "serve para afirmar a
prioridade da sociedade sobre o Estado", enquanto que, para Hegel, esse
conceito "serve para dar um conteúdo racional ao Estado’”
347 “Na Filosofia do Direito consolida o seu pensar, afirmando contra Savigny a
superioridade da codificação do direito, forma sistemática, portanto racional,
e da sua publicação, que toma possível o acesso e a compreensão do direito
por quantos têm de vivê-lo, pois o direito refere-se à liberdade, "o que há de
mais digno e sagrado no homem”
348 “O direito filosófico de Hegel pretende ser uma justificação ideal do direito
positivo, isto é, uma expressão racional do direito que é forma objetiva
histórica do aparecer da liberdade”
348 “Esse direito que se quer e que se sabe, a lei, realiza-se em dois planos: o da
posição, pela qual a lei é posta pelo poder competente e vale (gelten), e o da
aplicação, pela qual a lei deve ser seguida ou cumprida”
350 “O conteúdo ela lei· há de ser justo, racional. Por isso mesmo, Hegel está
sempre procurando mostrar o aspecto mais ou menos justo da lei, segundo
seja mais ou menos racional o seu conteúdo”
350 “A justiça é, assim, antes de tudo, o universal que oferece a lei ou a
neutralização das contingências do tribunal”
351 “O código é a sistematização dessa pluralidade de leis, dando unidade à
multiplicidade, como a lei dá consciência e certeza permanente na
instabilidade, formando um todo orgânico e racional, pois o direito não é
formado das contingências históricas quanto à sua racionalidade (...) Essa é a
sua contradição: de um lado as leis devem "formar um todo acabado" e de
"outro a necessidade contínua de novas leis”
354 “Destarte, tanto na lei como na sua aplicação, poderá haver injustiça ou·
menos correspondência com a racionalidade. O fato de tratar-se de lei
pública e de jurisdição pública, porém, por si só, é já um dado de
racionalidade que não existe na ausência da norma pública e menos ainda no
arbítrio do particular”
355 “A Filosofia do Direito é, também, num certo sentido, a filosofia do Sollen,
isto é, de uma realidade que se desdobra no momento em que é e que deve
ser”
355 “O direito interioriza a sua própria negação e faz com que a contingência da
sua negação seja o próprio direito, por meio da sanção. A sanção nega a
negação do direito”
355 “Na dialética da negação do direito, o elemento que faz com que o direito se
reconcilie consigo mesmo é a sanção; especificamente no crime, a pena”
356 “Ora, "o direito e a justiça têm sua sede na liberdade", assim sendo, a pena
ou a coação jurídica (se é jurídica) têm de buscar também seu fundamento na
liberdade. A consideração psicológica. e empírica da pena não lhe dá
justificação racional; somente a vontade livre pode constituir o fundamento
radical do direito. A pena não é uma ameaça, mas, antes, um direito do
próprio criminoso, pois por meio dela ele mesmo restaura o direito lesado e
se reinsere na eticidade social”
357 “A vontade subjetiva que nega o direito faz surgir a moralidade. Como
subjetiva, a vontade se manifesta livremente no poder de escolha entre
cumprir ou não cumprir o direito, reconhecê-lo ou não”
358 “(...)a lei jurídica é a expressão conceptual do fenômeno social, não no nível
natural ou empírico, mas da vontade racional, consciente, ou idéia. A lei
jurídica suplanta assim, a norma costumeira, guardada na memória
inconsciente dá: coletividade e seguida na forma da imediatidade. A lei é a
norma universal no momento do conceito, mediatizado, refletida e levada à
expressão verbal precisa”
359- “Na ordem jurídica legal, o sistema das necessidades transforma-se em
360 sistema da liberdade. Por meio do sistema legal, a sociedade "liberta-se da
necessidade mecânica da produção", de caráter fenomenal e contraditório, e
entra no plano da liberdade. Nesse ponto chega-se a um dos pensamentos
mais genuinamente hegelianos: a dialética da necessidade e da liberdade
estudada na Lógica realiza-se na·· esfera do Espírito Objetivo”
360- “No mundo humano, do Espírito, a lei jurídica realiza a unidade da
361 necessidade e da liberdade na medida em que não tem sua causa fora do
homem, mas tem fundamento no homem, isto é, é feita conscientemente pelo
homem e para o homem, como vontade livre que é. No adendo ao § 211 da
Filosofia do Direito, Hegel esclarece: "O Sol assim como os .planetas têm
também suas leis, mas não têm conhecimento delas. Os bárbaros são regidos
por instintos, costumes, sentimentos, mas não têm consciência disso. Do fato
de ser o direito posto e sabido, desaparece toda contingência da sensação, da
opinião" e a lei se torna reconhecida e obrigatória universalmente; torna-se
uma necessidade livre. Aqui, a liberdade e necessidade são definidas pelo
conhecimento da lei ou pelo saber da lei. Esse o princípio formal da
racionalidade da lei, ou seja, da sua validade”
361 “Nesse aspecto puramente formal da validade da lei (a lei é justa se
conhecida ou sabida), não se definindo ainda o seu conteúdo, que pode ser
contingente, a necessidade da lei, ou o desaparecimento da contingência, dá-
se por ser universalmente conhecida. Esse primeiro momento da lei justa é
puramente formal, sem contudo descurar Hegel que também o conteúdo
"deve" ser necessário ou racional e sabido”
362 “Conhecimento universal, quanto à forma, e vontade livre, quanto ao
conteúdo, formam os dois lados da racionalidade, validade ou justiça da lei”
363 “O justo universal da lei ou da consciência do povo não se realiza
mecanicamente na solução do caso concreto. A subsunção do caso à lei
universal é obra do entendimento e, como tal, situa-se na esfera do finito, em
que não pode evidentemente ser reconhecido o absoluto em todas as suas
determinações”
363 “Nesse plano, a justiça é puramente a eliminação do arbitrário subjetivo e a
instauração da possibilidade de uma jurisdição neutra, imparcial”
363 “Ora, essa contingência do justo na esfera do finito só pode ser superada no
plano do infinito, da idéia do direito, que se dá no Estado. Só aí é possível a
justiça no sentido absoluto, qual seja, o momento de superação da
unilateralidade da liberdade subjetiva - que, absolutizada, leva ao terror e,
parcial, leva à injustiça - pela ordem política, na medida em que o homem
toma consciência da sua liberdade individual e, uma vez consciente dela,
realiza-a sob a forma de um direito subjetivo, cuja face objetiva é uma
"declaração" universal, pela qual a liberdade se torna direito”
365 “Inversamente ao cidadão, o bourgeois é o indivíduo que na sociedade cuida
dos seus interesses particulares, sem qualquer consideração da ordem
política como um bem comum”
365- “O cidadão no sentido dado por Hegel ao vocábulo é o próprio cidadão na A
366 acepção antiga, partícipe da substância ética, a pólis, cujos interesses Sociedade
prevalecem sobre suas preocupações particulares, mas com o novo dado do Civil e o
mundo moderno, a subjetividade” Trabalho
366 “Assim, no direito abstrato, o Dasein do homem é a pessoa que realiza sua § 190
liberdade na propriedade; na moralidade, o sujeito que a realiza no seu
interior; na sociedade civil é o homem que produz para uma comunidade, a
fim de satisfazer suas necessidades de vida; e no Estado o homem ético que
realiza a unidade da subjetividade e da substância ética, o cidadão”
366 “A sociedade civil é um sistema funcionando sem que se tenha como
finalidade o universal que esse sistema representa. A sua estrutura é
mecânica e não teleológica; o sistema é universal e tem unidade, não por si
mesmo ou como fim dos indivíduos, mas pelos fins particulares dos
indivíduos na satisfação dos seus interesses privados”
367 “O resultado do sistema de necessidades é o trabalho de cada um, que, por § 199
sua vez, decorre da mesma necessidade de cada um, cujo produto universal é
a riqueza social, da qual cada um quer participar. Assim, a sociedade civil
estrutura-se segundo o jogo dos interesses e das necessidades reciprocamente
determinadas”
368 “A liberdade individual na satisfação dos interesses é a liberdade absoluta da
Revolução, mas agora dirigida para o econômico e não para o político”
369 “De qualquer modo tem uma racionalidade imanente; não é um caos como
ocorreria no estado de natureza, mas também não é a forma de racionalidade
completa. A ordem mecânica do sistema das necessidades é econômica e
exige a esfera da ordem racional, ética, do Estado”
369 “É por meio classe, da sua integração nela, que o indivíduo pode afirmar a
sua igualdade. Pertencendo à classe, supera-se a desigualdade, não só do
indivíduo que nela se afirma como um igual na desigualdade com os outros e
que pode por ele ser superada, mas também das próprias classes, que no
sistema das necessidades são pela mesma forma necessárias e, por isso,
iguais nas suas diferenças”
371 “O Estado de direito na Fenomenologia, o direito abstrato na primeira parte
da Filosofia do Direito e a sociedade civil no segundo momento da Eticidade
têm em comum a ausência da unidade do Estado”
371 “Em todos esses segmentos da obra de Hegel está presente a pluralidade
inorgânica dos indivíduos considerados como pessoas de direito privado,
numa sociedade cuja ligação entre eles é externa, e não a de cidadãos do
Estado, numa sociedade orgânica, estruturada na forma do direito público”
372 “A originalidade de Hegel no trato do tema da sociedade civil é introduzir o
que se considerava como Estado na teoria liberal, como momento do que se
considerava Estado na tradição político-teórica da Europa, desde Aristóteles”
372 “No fundo, portanto, a novidade do conceito de sociedade civil em Hegel é o
trabalho livre como fonte de organização dessa sociedade economicamente
e, ao mesmo tempo, juridicamente”
372 “Assim sendo, a sociedade civil tem os três elementos básicos de um Estado Poder
de direito liberal: uma economia liberal, um direito privado e um aparelho Judiciário
para garantir as regras do jogo dos interesses individuais” como
elemento da
Soc. Civil,
que de certa
forma
também é
Estado (em
sentido
amplo).
373 “O Estado no momento da sociedade civil é o Estado do entendimento,
Estado em que as particularidades se fixam umas ao lado das outras, de tal
modo que também o Estado, aparelho administrador dessas particularidades,
é algo particular, um aparelho separado da sociedade e dos indivíduos que a
compõem”
374 “A sociedade civil em Hegel é um momento econômico, definido pelo
trabalho livre e pelo direito privado, do Estado racional”
374 “O trabalho é a força negadora da razão que, na sua exterioridade, dissolve a
fixidez do mundo natural, é força positiva da mesma razão que constrói, a
partir da negação que conserva, o seu próprio mundo, o mundo da cultura”
376 “A sociedade civil é que revela concretamente o sujeito livre da
modernidade, e o trabalho livre é a ação que cria as bases dessa sociedade”
380- “Embora não se possa dizer que Hegel tenha tratado de forma temática do
381 Estado social, todo o contexto da sociedade civil leva à conclusão de que o
Estado, entendido como uma organização racional de vida, não é um
resultado separado da dialética do Espírito objetivo que começa com o
direito abstrato, mas é uma totalidade, compreendendo o direito abstrato, a
moralidade e a eticidade e, nessa última, a família e a sociedade civil. Hegel
não declara, mas .deixa implícito que, com o advento da sociedade civil, o
Estado (no sentido amplo), se quer ser um Estado ético (no sentido estrito),
tem de atender ao princípio de justiça social”
381 “Hegel, com efeito, distingue, diversamente da teoria tradicional, o aspecto
social e econômico da sociedade civil do aspecto político e ético do Estado
(em sentido estrito). Entretanto, essa distinção não é abstrata; a sociedade
civil é momento do Estado; não é algo a que se superpõe o Estado”
381- “A realidade do Estado consiste em que o seu fim é o interesse geral como
382 tal e, nesse interesse, considerado como substância dos interesses
particulares, a preservação dos próprios interesses particulares”
382 “O ético da sociedade antiga e o econômico da moderna encontram sua
unidade dialética, por meio da subjetividade moral, no Estado ético”
383 “No sistema das necessidades, o indivíduo é a peça central e o egoísmo a
força que o move e dá a unidade do sistema”
383 “Daí a função tutelar do Estado e o seu caráter de Estado coercitivo, antes de
ser um Estado ético. Com efeito, nessa estrutura de organização é a força do
Estado aparelhado que define o direito, não o ético ou a liberdade como seu
fim”
384 “É nesse âmbito de dualidade que Hegel propõe a solução de um Estado
ético, em que os princípios éticos do que ele denomina Moralidade, na qual
prevalece a idéia de liberdade individual, e o sistema mecânico de
necessidades em que o indivíduo se satisfaz na produção para o outro, pelo
trabalho, sob a lei abstrata que os rege, encontrem a sua unidade numa forma
de organização livre, vale dizer, numa ordem conjugada dialeticamente com
a liberdade, em . que a lei é a objetivação da liberdade e a liberdade
individual, realização da lei no sujeito de direitos universalmente
reconhecidos”
387 “A Filosofia do Direito cumpre, assim, uma dialética que vai da pessoa no O Estado e
direito abstrato e do sujeito na moralidade, pelo indivíduo que trabalha na a
sociedade civil e termina na sociedade política como realização da liberdade Liberdade
individual universalmente reconhecida, unidade da liberdade subjetiva do
indivíduo e da liberdade objetiva na sociedade (na forma das suas
instituições e normas) ou liberdade concreta no Estado; esse é então uma
organização de poder em que as formas objetivas da liberdade (não coisas,
mas normas e instituições) se encontram e se realizam com a liberdade
subjetiva”
388 “O elemento central da Filosofia do Direito é a ideia de liberdade”
390- “Como é possível ser ético o Estado (porque o ético é da sua natureza) e ao
391 mesmo tempo poiético, na medida em que serve de instrumento para o
progresso material e promove o bem-estar social, uma vez que o indivíduo
está só, desprendido da família, no mundo da produção?”
391 “Eticidade é então nada mais do que a "concreção da liberdade" (Konkretion § 106
der Freiheit) na unidade do mundo objetivo e da consciência subjetiva5, sem
a qual não há liberdade ou vontade em si real ou em ato”
392 “Hegel considera, no processo histórico de revelação do Espírito como
Estado, três figuras principais: a do Estado Grego (Estado antigo), a que se
formou a partir da sua dissolução (o Estado moderno) e o Estado pós-
revolucionário, a partir de Napoleão (o Estado contemporâneo)”
392 “No Estado antigo, os elementos de sua realidade, ordem e liberdade
subjetiva, pólis e cidadão, estavam de tal modo integrados que a ação do
cidadão tinha como finalidade a ordem ética da pólis e esta voltava-se para a
realização dos interesses do indivíduo”
393 “No adendo ao § 262 da Filosofia do Direito põe-se em relevo uma das
condições do exercício da liberdade: a escolha da atividade que pretende
exercer na sociedade, com o livre acesso aos vários postos por ela criados,
como ocorre posteriormente na sociedade civil (...)”
394 “O segundo momento da figuração histórica do Estado é marcado pela
ruptura entre a substância ética concentrada no Estado e a consciência de si
estóica no Estado romano, cuja característica foi a interioridade que o
cristianismo assumiu e a exterioridade da pessoa no direito romano. O germe
da individualidade inicia-se com o daímon socrático e percorre todo o
período histórico até a modernidade, em seu início, quando definitivamente a
subjetividade se torna_ para si na expressão teórica do cogito cartesiano e na
ação prática da Revolução_ Francesa,· com o aparecimento da sociedade
civil na nova forma de produção econômica, fundada no princípio da
liberdade individual. Esse momento caracteriza-se pela separação da
sociedade civil e do Estado”
395 “O princípio do Estado moderno tem essa força gigantesca: o princípio da § 260
subjetividade”
396 “A identidade de um povo é a particularidade em que o Espírito se manifesta
na história, e pela qual o indivíduo pertence ao universal”
396 “Organização racional e realização da liberdade são momentos que
compõem a história da liberdade e apontam, no estágio do saber dessa
liberdade, a presença do Espírito universal, absoluto. Daí a expressão de
Hegel, ao presenciar a entrada de Napoleão em lena: "eu vi cavalgar o
espírito do universo". Pela primeira vez na história, um Estado realizava a
liberdade, numa organização racional, após a Revolução Francesa18, ou,
pelo menos, a partir da batalha de lena, eram estabelecidas as condições de
existência desse Estado na Europa, e não só na França”
397 “Têm-se assim os dois elementos dialéticos da concepção hegeliana de
Estado: a ordem e a liberdade”
397 “Com efeito, se o Espírito é razão, que superou a natureza, ou seja, é Cf. esquema
liberdade, não há como defini-lo senão como absoluto” Pe. Lima
Vaz.
398 “Na Filosofia do Direito trata-se de captar o Espírito no momento da sua
objetividade e da sua organização institucionalizada, o Estado, expressando-
o no seu conceito, e não de estabelecer princípios de como ele deve ser. Esse
momento do pensamento hegeliano diz no máximo como o Estado deve ser
conhecido. Daí a famosa passagem do Prefácio da Filosofia do Direito:
"Assim, deve este tratado, na medida em que contém a ciência do Estado, ser
tão-somente a tentativa de conceber e apresentar o Estado como algo em si
[in sich] racional. Como escrito filosófico tem ele de afastar-se totalmente da
intenção de construir um Estado tal como deve ser”