Ipb Jacinto

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2- Bases Teológicas da Mordomia Cristã

Desejamos que a nossa proposta de uma teologia da mordomia cristã para América Latina, não seja
pressionada pelas influências materialistas que subjazem na memória genética do continente, desde a
colonização, desenvolvida mais por aventureiros em busca de ouro do que por missionários ou
conquistadores movidos por impulsos religiosos ou culturais. Para descobrir ouro, os colonizadores
exauriram as riquezas do solo e destruíram civilizações milenares. Só não arruinaram totalmente este
continente, porque as riquezas que encontraram eram maiores do que as suas ambições. Eles
deixaram, porém, como herança, uma visão materialista do mundo, uma mentalidade de usufruto da
natureza e das relações humanas em todos os sentidos, mesmo que esse usufruto possa significar a
pregação da natureza e a deterioração do convívio social. Será muito difícil formular uma teologia da
mordomia cristã na América Latina, sem se deixar influenciar por uma visão materialista do mundo.
Para os teólogos dos países desenvolvidos, o problema da mordomia é o que fazer com o excedente.
Para os teólogos das nações pobres, o problema da mordomia cristã é o que fazer com a fome. Ambas
as colocações, entretanto, pecam pela insistência com que os bens materiais são postos em destaque
como preocupação pela felicidade e pelo destino do ser humano.
Por outro lado, devemos estar igualmente atentos para que a nossa proposta de uma teologia da
mordomia cristã não seja influenciada pelo pensamento de que tudo o que é material é perverso, é
maligno. Wadislau M. Gomes considera que, em contraposição ao materialismo, que tem como fonte
a crença na salvação pelas obras, relacionando-se prioritariamente com o material, veio para a
América Latina, via imigrações do norte europeu e missões protestantes, uma influência pietista que
tende a considerar a matéria como maligna, dada a ênfase na salvação pela fé. 1 O Dr. Leo Green
chega a denunciar resíduos de gnosticismo na visão protestante do mundo. 2
Desejamos contribuir para que sejam resgatados os valores da verdade evangélica no entendimento
das igrejas batistas do nosso continente, propondo uma teologia da mordomia que reconheça:
* a precedência do eterno sobre o secular;
* a supremacia do espiritual sobre o material;
* a transcendência do divino sobre o humano; mas que reconheça também que a nossa
responsabilidade como cristãos abrange:
* encarnar profeticamente, neste século, os valores eternos;
* administrar o mundo material, com o mesmo senso de responsabilidade com que administramos o
espiritual;
* resgatar o conceito bíblico de que o ser humano é cooperador de Deus, participe da obra da
Redenção com liberdade e criatividade.
Nossa proposta de uma consideração teológica sobre mordomia cristã para a América Latina,
começou com uma indagação que precisa ser levada a sério: qual a missão e quais os objetivos das
igrejas batistas latino-americanas em nosso continente e no mundo? Estaremos dispostos a aceitar
nossa responsabilidade como povo de Deus e encarnar profeticamente a nossa missão? Depois,
achamos de suma importância que cada igreja tome conhecimento, objetivamente, do seu próprio
contexto. A teologia da mordomia, como toda teologia, deve ser relacionada com a missão da igreja
no mundo, e essa visão não pode ser dissociada da realidade, sob pena de perder sua eficácia. Agora
chegou o momento de nos debruçarmos sobre a Palavra Viva, a fim de descobrirmos os parâmetros
para que cada igreja formule sua própria teologia para o seu tempo e no seu contexto.
Assim como os seres humanos são diferentes, as igrejas, compostas de seres humanos que são,
também são diferentes umas das outras. Não há duas igrejas iguais, e poucas tem características
semelhantes. Mas deve haver um mínimo multiplicador comum, desde que todas as igrejas tenham
como base a mesma Palavra de Deus e como objetivo, a glória de Deus. Assim como os cristãos,
sendo personalidades diferentes, têm que ser solidários entre si, descobrindo e explorando todos os
pontos que podem ter em comum para a sua boa convivência na igreja, também as igrejas locais
devem ser solidárias entre si, devem descobrir e desenvolver tudo o que for comum para os
propósitos do Reino de Deus, seja em matéria de teologia, seja em matéria de ética e disciplina, seja
em matéria de missão e testemunho. E essa cooperação que elimina o que poderia ser uma
contradição entre o principio por nós defendido, do livre exame das Escrituras, e a existência das
nossas declarações de fé.3 Impõe-se, portanto, que busquemos valores absolutos para a nossa
proposta, valores definitivos, que transcendam nossas diferenças genéticas, culturais, econômicas e
que sejam imunes, tanto quanto possível, às pressões que recebemos de todos os lados.
Nossa proposta tem como fundamento o caráter de Deus. Primeiro, porque o homem foi criado à
imagem e semelhança de Deus. O caráter do ser humano deve reproduzir as virtudes do caráter de
Deus. Segundo, porque Deus é o único ser imutável e perfeito, o único aferidor absoluto, universal e
eterno do caráter humano. Nem heranças culturais e genéticas, nem tradições religiosas, nem
inovações ditadas por um mundo em constantes transformações, devem distorcer nosso conceito de
Deus, do homem e do mundo. Devemos olhar para Deus como Deus a si mesmo se revela em Cristo.
A mordomia cristã não parte da necessidade do homem - seja do homem salvo (necessidade de
compreender e desenvolver sua própria experiência religiosa), seja do homem ímpio (necessidade de
ser alcançado pela Graça da Redenção), nem da necessidade da igreja como instituição (consolidar-se
e expandir-se), mas parte do caráter de Deus.
A SANTIDADE DE DEUS
O entendimento da santidade de Deus, levará o cristão a buscar ser santo em toda a sua maneira de
viver. "Sede santos porque eu, O Senhor vosso Deus sou santo." O fiel mordo mo cristão tem
propósitos santos para o seu corpo, para a sua mente, para o seu tempo, para os seus bens, para todo o
seu viver. O que é ser santo? Antes de mais nada, ser santo é refletir o caráter de Deus no modo de
agir e de ser. Muitos cristãos imaginam que a santificação seja algo parecido com o que a mãe faz
com seu filho à tarde, antes da janta. O menino está brincando na rua, todo sujo de terra, ela o chama,
separa-o do brinquedo que ele tanto aprecia, coloca-o numa bacia e lhe dá uma boa esfregada de
sabão com uma bucha ou escova, enquanto o menino reage, zangado, frustrado porque o banho
interrompeu o seu brinquedo. Mas a santificação não se processa à revelia da vontade e da decisão do
cristão. Ser santificado não é passar por um banho de emoção, por um trauma psicológico, que resulte
em euforia de momento. Ser santificado é agir corretamente, por decisão própria, consciente,
constante, sempre seguindo a vontade de Deus, conforme revelada na Palavra de Deus. O Espírito
Santo não força, não violenta a vontade humana na busca da santificação. Ele ilumina a nossa mente
para que compreendamos a vontade de Deus e deixa a decisão conosco. Agir corretamente ou não, é
decisão nossa. A decisão de Deus jâ foi tomada no momento da nossa criação, e referendada na nossa
redenção. Fomos criados para sermos santos. Como caímos em pecado, Deus nos resgatou da
maldição do pecado para sermos santos. Ser santo é o modo cristão de viver diariamente, e isso é
mordomia cristã. Nosso corpo se torna santo, porque é o templo do Espírito Santo. Nossa mente se
torna santa, porque iluminada pelo Espírito Santo. Nossa vontade é santa, na medida em que é
motivada pela presença do Espírito Santo. Nossos bens são santos, porque pertencem a pessoas
santificadas. Somos movidos por um propósito santo na maneira de ganhar , gastar, investir e
contribuir com nosso dinheiro. Se o coração pertence a um Deus santo, tudo o que o homem é e tudo
o que possui deve ser santo. Este é o entendimento do mordomo cristão.
Um jovem cristão estava trabalhando no banco, quando foi abordado por um colega que queria o seu
carro emprestado para levar uma mulher a um motel. Resposta do jovem crente: "Meu carro pertence
a Jesus; não pode ser usado para propósitos contrários à vontade de Jesus." Meu coração não pode ser
santo ao mesmo tempo em que os objetos que me pertencem sejam usados para o pecado. Meu carro,
minha caneta, meu dinheiro, meu terreno, tudo é santificado porque a minha vontade é santa. Um
crente alugou uma casa para um estranho, que a utilizou para vender bebidas alcoólicas. Ao saber
disso, o crente exigiu, na justiça, a devolução do imóvel, sob a alegação de que não poderia admitir
que uma casa de sua propriedade fosse utilizada para aquele fim. Muitos crentes não compram quotas
de fundos mútuos de ações, porque esses fundos aplicam elevados valores em ações de companhias
de bebidas e cigarros. Estão certos. Como pode o dinheiro de um servo de Jesus ser usado para
financiar a fabricação e a comercialização de produtos que causam dano à humanidade, contrariando
a vontade de Jesus?
O que torna santo um objeto é a santidade de propósito de quem dele se utiliza. Nesse sentido, tudo o
que estiver à mão de um crente deve ser santo.
O que é ser6anto? Ser santo é também consagrar, dedicar a vida a Deus.
"Quanto mais o sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno se ofereceu a si mesmo imaculado a Deus,
purificará as vossas consciências das obras mortas para servirdes ao Deus vivo?" (Heb.9:14).
Ao consagrar os seus bens ao Senhor de sua vida, voluntária e conscientemente, com alegria, o
cristão está demonstrando que tudo aquilo que ele possui pertence a Deus e está sendo empregado
conforme o propósito de Deus, para a glória de Deus. Ao consagrar a Deus o seu tempo, a sua
profissão, a sua mente, o cristão está demonstrando o caráter santo de Deus, nele restabelecido pela
presença do Espírito Santo. Vemos assim, que mordomia cristã não é uma questão de contabilidade,
mas é uma questão da natureza do homem regenerado.
Ser santo é ser puro, seja nas intenções mais secretas do coração, seja nos atos expressos da vida. A
pungente oração de Davi, depois de reconhecer a onisciência e a onipresença de Deus, tem sido
repetida com emoção e sinceridade por milhões de pessoas: "Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu
coração; prova-me, e conhece os meus pensamentos; vê se há em mim algum caminho perverso e
guia-me pelo caminho eterno" (Salmo 139:23,24).
A palavra santo usada em I Pedro 1:15,16 tem a acepção de "diferente em essência daquilo que é
comum". Dessemelhante. É o mesmo que separado, de natureza diferente. Convivemos com o mundo
do pecado mas não temos a natureza do mundo do pecado, porque Deus nos santifica em Cristo.
A santidade de Deus alcança seu píncaro no alto do Calvário. É ali, naquela cruz, que a santidade de
Deus esplende em todo o seu fulgor. Deus demonstra seu caráter santo em grau absoluto no Calvário,
porque ali ele nos diz o que ele pensa sobre o pecado. Ele não poupou seu próprio Filho, a fim de
julgar e condenar o pecado. Jesus cumpriu ajusta exigência da Lei em nosso favor, e não o fez de um
modo abstrato, mas levou uma pesada cruz de madeira sobre seus ombros. Por que deveríamos nós
oferecer a Deus uma santidade abstrata, em espírito, sem que essa santidade abrangesse nossa vida
material, o nosso corpo com todos os seus relacionamentos, e os nossos bens? Deus é santo. Ao
tratarmos com Deus, devemos ter em mente que ele exige de nós santidade em toda a nossa maneira
de viver. Assim como no caráter de Deus não pode haver qualquer laivo de impureza, os filhos de
Deus devem buscar ser santos em suas emoções, na sua vontade, na sua mente, no emprego das suas
energias e habilidades, na aplicação do seu tempo e dos seus bens.
Não será o brado que vem da cruz, um chamado suficientemente comovedor para nos levar à
santificação de tudo quanto somos e possuímos, para o louvor de Deus?

A JUSTIÇA DE DEUS
A justiça de Deus está intimamente relacionada com a santidade de Deus. Deus não apenas é justo,
mas Ele é a própria Justiça em ação. Não há um tribunal superior a Deus, ao qual o homem possa
recorrer. Deus é fiel ao seu próprio caráter santo. Desse modo, a Justiça de Deus é absoluta, é
perfeita.
Justo é o que tem como qualidade inerente do caráter. cumprir a lei (Kittel). Em muitas passagens do
Novo Testamento, a justiça é associada a outras virtudes sem jamais se confundir com elas (Yeager,
vol I, pág. 53). Em Marcos 6:20 e Atos 3:14, é associada com santidade. Em Romanos 7:12, é
declarado que a Lei é santa, o mandamento é santo, justo e bom (perfeito; corresponde ao seu
propósito). Em Tito 1:8, justiça é arrolada com sobriedade, santidade e temperança. Mas a perfeição
da Justiça é exclusiva de Deus (Heb. 12:23), porque Deus mesmo é o legislador e o juiz. Nos limites
do humano, é impossível ao legislador ser perfeito para fazer ou impor leis, devido às limitações do
seu conhecimento. O poder de fazer leis implica no poder de reformar, emendar supressiva ou
aditivamente, e até anular leis que se tornam absoletas. A Lei de Deus, porém, ê perfeita, é imutável,
é eterna, porque o entendimento de Deus não tem limite (Salmo 147:5). O juiz também é limitado no
juízo porque é suscetível de fraqueza. Daí o instrumento do recurso a instâncias superiores, e quando
a última instância dá seu veredicto, o assunto pode não estar encerrado, pois ainda resta a
possibilidade de uma revisão processual. A justiça de Deus, porém, é irrecorrível, pelo simples fato
de que não há juiz nem tribunal acima dele. Ao ditar leis, assim no mundo moral e espiritual como
cabe questionar ou reformar as leis de Deus, mas tomar conhecimento delas e obedece-las. “Dá-me
entendimento para que eu guarde a tua lei, e a observe de todo o meu coração”, é a oração que todo
ser humano deveria fazer (Salmo 119:34). Os padrões éticos estabelecidos por Deus para o homem
são imutáveis, porque os critérios de justiça de Deus emanam da sua santidade e perfeição.

A justiça de Deus, expressão que se encontra mais de 10 vezes nos escritos paulinos, indica que este é
um atributo exclusivo de Deus. "Não se trata de um mero atributo do caráter de Deus no sentido
estático que o termo possui no grego clássico (DIKAIOSYNE), mas indica o poder de Deus em ação,
a autoridade com que o Deus da Aliança age" (Kittel). A Justiça de Deus significa que Deus é justo
em si mesmo, Ele é inimputável de erro em seu caráter, em seus propósitos e em seus atos. Deus é
justo em seus atos -jus agendi -tanto na ira com que pune a transgressão, como na compaixão com
que perdoa e absolve o réu penitente. Richard Holden expressa essa suprema verdade na letra do hino
que cantamos com o adeste fidelis :
"Em ti concilia-se a santa justiça Que não pode a culpa deixar sem castigo, Com a compaixão, que
por graças recebe E exime de culpas o réu pecador. ' ,
A justiça dos homens pode ser aplicada com excessivo rigor, como diziam os latinos - summa jus
summa injuria, mas a justiça de Deus não se dissocia da misericórdia. Por isso, é a justiça perfeita.
Aliás, Paulo revela que a imperfeição da justiça humana "traz a lume a justiça de Deus" (Romanos
3:5 VSB). E vamos mais uma vez ao Calvário porque, como a santidade de Deus, também a sua
justiça ali se revela em seu ponto mais alto. Deus exige justiça por parte do homem, o que significa
obediência. Obediência às suas leis. O homem transgrediu a justiça de Deus. Agora é réu de eterna
punição. Mas "a misericórdia de Deus triunfa sobre o juízo" (Tiago 2:13). O supremo Legislador
desce do seu trono de glória e assume a culpa do réu a fim de cumprir-lhe a merecida pena.
"Ele tomou sobre si as nossas enfermidades e carregou com as nossas dores; e nós o reputávamos por
aflito, ferido de Deus e oprimido. Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões e esmagado
por causa das nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras,
fomos sarados; o Senhor fez cair sobre ele a iniqüidade de nós todos" (Isaías 53:4-6).
Pois é no Evangelho do poder de Deus, que salva a todo aquele que crê, que a plena justiça é
revelada, conforme nos faz alcançar Romanos 1:16,17. Pela fé no cumprimento da justiça de Deus
em seu favor, na consumação do Calvário, o ser humano, transgressor da Lei de Deus, é justificado
pelo sangue de Cristo. Como conseqüência, não apenas muda o seu estado jurídico no tribunal de
Deus (condenado/absolvido), mas ele adquire um novo caráter, que se conforma com a Lei de Deus
revelada na Cruz. Por sua decisão voluntária, pela fé, ele passa a ter paz com Deus (Romanos 5:1).
Cessa o estado de beligerância entre o seu caráter rebelado e a justiça de Deus. O amor de Deus é
derramado em seu coração pelo Espírito Santo ( verso 5) .Ele se toma justificado. Passa a agir como
um justo. E é isto que é mordomia cristã. Um viver justo aos olhos de Deus. "0 justo viverá pela fé. "
Certa vez, um rapaz foi acusado de roubar uma bicicleta. Levado perante o Delegado, chorou e
confessou sua culpa; contou que vendera a bicicleta a desconhecidos, e se colocou à mercê da justiça.
Um advogado presente condoeu-se com o caso, e decidiu defender o acusado. Seria impossível
provar sua inocência, mas o advogado encontrou um meio, o único possível, para liberta-lo: Mandou
comprar uma bicicleta igual à que fora roubada e a entregou à vitima. A queixa foi retirada e
desapareceu o ilícito penal. Quando o Sr. Delegado declarou que o rapaz estava livre, os olhos deste
brilharam. 0 advogado colocou a mão sobre o seu ombro e o foi conduzindo pelas portas e corredores
da Delegacia até a rua. Ao chegarem à rua, o moço olhou para o seu benfeitor. Como poderia
recompensa-lo? impossível! Apenas agradeceu e disse que, como gratidão, naquele dia começava
uma nova vida. Sua nova vida em obediência à justiça, seria a melhor maneira de mostrar sua
gratidão.
Jesus Cristo pagou nossa divida. Agora, "nenhuma condenação há para os que estão em Cristo
Jesus; que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito. Porque a lei do espírito e da vida,
em Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado e da morte" (Romanos 8: 1,2) . Defendido por Graça e
guiado por quem pagou sua divida, o homem vai atravessar também várias portas:
1ª) Ele reconhece o seu estado de transgressor, "pois todos nós somos como o imundo, e todas as
nossas justiças como trapo de imundícia; e todos nós murchamos como a folha e as nossas
iniqüidades, como os ventos nos arrebatam" (lsaias 64:6). E a porta do quebrantamento. E o cair em
si " do filho pródigo.
2ª) Ele confessa a sua transgressão e entrega sua sorte nas mãos do Juiz, pois confia que o Juiz fará
justiça com misericórdia: “Confessei-te o meu pecado e a minha transgressão não encobri”. Disse eu:
confessarei ao Senhor as minhas transgressões e tu perdoaste a culpa do meu pecado" (Salmo 32:5).
A porta do arrependimento e confissão.

3ª) Ele é justificado, recebe a sentença da sua absolvição medi ante a sua fé pessoal em Jesus Cristo e
passa a viver um novo viver em Cristo. "Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem
de vós: é dom de Deus" (Efésios 2:8). A porta da justificação pela fé.
41) Depois, o cristão passa pela porta do batismo e toma seu lugar ao lado dos remidos na Igreja
"para que agora, a multiforme sabedoria de Deus seja manifestada por meio da igreja, aos
principados e potestades nas regiões celestes" (Efésios 3: 10).
Si) Finalmente, está reservada para o cristão a porta da glória. Depois de viver neste mundo em
harmonia com a justiça de Deus, há um galardão à sua espera: "e quem é justo faça justiça ainda; e
quem é santo, santifique-se ainda. Eis que cedo venho e está comigo a minha recompensa, para
retribuir a cada um segundo a sua obra" (Ap. 22:12).
O cristão não pode negar, com seus atos, a justiça da sua fé, a justiça na qual ele afirma crer e na qual
está firme a sua esperança. É no seu novo viver conforme a justiça de Deus, que o crente glorifica ao
seu Senhor:
"Regozijemo-nos, e exultemos, e demos-lhe a glória, porque são chegadas as bodas do Cordeiro e já
a sua noiva se preparou; e foi-lhe permitido vestir-se de linho fino resplandecente, pois o linho fino
são as obras justas (as justiças) dos santos" (Apoc. 19:7,8)
A mordomia cristã é a prática da justiça. Se servimos a um Deus justo, devemos praticar a justiça.
Há algumas implicações bem objetivas deste ensino bíblico, que nos convém rememorar a
estabelecer como princípios de mordomia bíblica, fundamentados na doutrina da Justiça de Deus.
a) Deus respeita o direito do homem, porque Ele se respeita a si mesmo. Este principio deverá norte
ar a justiça do viver cristão. Não é justo apropriar-se alguém do fruto do trabalho alheio. O
trabalhador cristão receberá sempre um salário justo, ou seja, que corresponda à aplicação de tempo,
energias e habilidades para os quais recebe salário. Ele corresponde, com seu trabalho, ao salário que
recebe. O patrão crente recompensará aos seus empregados com o salário justo, correspondente ao
trabalho efetuado. Em uma sociedade justa, onde se praticar a justiça, não haverá conflito de classes.
A usurpação dos bens alheios é injustiça, é pecado, mesmo que a pessoa lesada consinta no prejuízo.
Esse é o problema dos jogos de azar. E a apropriação do resultado do trabalho alheio, não importa
que o jogador saiba que está perdendo, pois o dinheiro que ele joga é o patrimônio da sua família que
está sendo desperdiçado. Loteria esportiva, lotos, corridas de cavalo, loterias federais e estaduais,
ainda que tenham uma capa de finalidade social, são intrinsecamente malignas porque depauperam o
orçamento das famílias, especialmente das camadas mais carentes da população, que são levadas pela
ilusão de um enriquecimento à custa do suor alheio, à custa de uma injustiça. As loterias são
legalizadas, mas nem tudo o que é legalizado se torna legítimo para o cristão. Haverá ainda os jogos
ilegais, os quais se tornam duplamente nocivos: por ferirem o direito de quem perde, e por
transgredirem as leis do País.
b) A Justiça de Deus se basta a si mesma, porque é perfeita. Submisso à Justiça de Deus, o cristão
não alimentará ambições (concupiscências mundanas, para usar uma expressão do Novo
Testamento). Ele se compraz com o que é justo. Ele não entra na desenfreada competição carnal da
busca de valores materiais, à custa de valores morais e espirituais. Seus ideais de prosperidade, além
de respeitarem o direito do seu próximo, incluirão o seu próximo no usufruto dos seus resultados. O
rico louco da parábola de Jesus cometeu, na verdade, três loucuras: 1º) excluiu de qualquer
cons1deração, os valores morais e espirituais de sua própria personalidade ("descansa, come, bebe,
folga"); 2º) excluiu o juízo de Deus do seu futuro; pensou viver como se jamais tivesse que prestar
contas a Deus (Louco, esta noite te pedirão a tua alma"); 3º) foi uma loucura também excluir o seu
próximo do gozo da sua prosperidade ("e o que tens preparado, para quem será?") "Ninguém vive
para si ou morre para si". A justiça do viver cristão abrange a solidariedade e obriga ao amor. A
justiça de Deus, refletida em nosso viver, nos torna sábios para colocarmos os valores espirituais em
primeiro lugar, para temermos a Deus e obedecermos ao seu JUIZO, e para nos preocuparmos com o
nosso prox1mo.
c) A justiça de Deus não exclui a miseric6rdia. Deus abriu mão do seu direito de ter junto a si o seu
Filho amado, e o deu em nossa redenção. Dar de si mesmo e dos seus bens para a adoração a Deus ou
para o bem do próximo, é ser justo na medida da justiça de Deus. Tiago 2: 13 diz que a misericórdia
triunfa sobre o juízo. Isso significa que aqueles que usam de misericórdia, ajustam-se à justiça de
Deus, e também serão alvo da misericórdia no juízo. O homem que se retirou triste da presença de
Jesus, possuía muitos bens materiais, mas não possuía sua própria alma, Ela era escrava das riquezas.
"Uma coisa" faltava ao homem que se considerava cumpridor da lei, para ser justo aos olhos de
Jesus: faltava-lhe a graça da generosidade. Faltava-lhe a liberdade de sua própria alma em relação aos
bens materiais, "Retirou-se triste". E o amor, revelado na graça da generosidade, que liberta a alma e
traz alegria; que revela a justiça em sua dimensão mais profunda e eterna: a justiça conforme o
caráter de Deus.
d) Deus toma a iniciativa em nosso favor. A Justiça de Deus vai ao ponto de colocar em nossas mãos
os elementos necessários para que o adoremos. Não é justo, portanto, ao cristão, reter em suas mãos a
oferta com que deve adorar ao seu Deus. Como um credor que desse por graça, ao devedor, o
dinheiro para pagar a dívida e. ..suponha que o devedor, em vez de ir ao banco resgatar a promissória,
gastasse aquele dinheiro em outras coisas, ainda que corretas. Não seria isto uma dobrada injustiça?
Deus toma a iniciativa e nos chama à adoração. Mas vai além, e nos dá os recursos para que lhos
ofertemos em adoração. Se gastamos em outras coisas, ainda que corretas, o que pertence a Deusjure
et de jures, não estamos sendo justos. A retenção do nosso dízimo é injustiça porque "o dizimo é do
Senhor". Ao entregar os seus dízimos, o cristão está demonstrando sua justiça porque, em seu próprio
benefício, está devolvendo a Deus o que a Deus pertence. As conseqüências da injustiça (de não ser
fiel mordomo), são tão severas como agradáveis são os resultados da generosidade.

A SOBERANIA DE DEUS
Estejamos atentos para o fato de que não podemos isolar as virtudes do caráter de Deus, como se
cada virtude fosse um outro deus. Separamos cada característica do ser divino para efeito didático
apenas, mas estamos conscientes de que o caráter de Deus é único e indivisível. A santidade de Deus
se revela em sua justiça, está estampada em toda a criação e exalta o seu amor. Ao criar o ser humano
e nele imprimir a semelhança do seu caráter, Deus o fez com um propósito definido: para que o
homem exercesse domínio sobre a criação, como agente responsável perante Deus (Gênesis 1:26). Ê
racional que toda a criação leve estampa<ia a marca do caráter do seu criador. As mesmas virtudes
que existem no caráter de Deus em grau infinito, estão presentes também no caráter do homem, em
grau finito. A criação imita, mas não pode igualar ao Criador. Aliás, o desejo de "ser como Deus" é o
motivo da sedução do ser humano, desde o Éden até hoje. Ao negar a existência ou a soberania de
Deus ou desobedecer suas leis, o ser humano apenas revela sua presunção de ser como Deus .
A soberania de Deus é o poder da vontade de Deus em ação; é o poder de executar sua vontade, sem
qualquer empecilho ou inibição. Basta Deus querer, para que se faça. A soberania de Deus está
patente na criação, na preservação e no julgamento final de tudo o que existe. A expressão clássica
creatio ex nihilo tem sido usada para indicar que tudo quanto existe foi tirado por Deus do nada.
Tudo o que existe, um dia inexistiu, com exceção do próprio Deus. Não podemos, porém, pensar que
Deus tenha esgotado no primeiro capitulo de Gênesis, as possibilidades da criação, como se Deus
tivesse criado tudo do nada e agora o nada já não mais existisse. "0 que falta não se pode enumerar"
(Eclesiastes 1:15). 0 pensamento de que Deus já fez tudo o que poderia ser feito, implicaria
competência humana de determinar o que pode/ deve ser feito e o que não pode/não deve. Essa
competência é exclusiva de Deus, e nisso reside a sua soberania. Jesus esclareceu o assunto quando
disse: "Meu Pai trabalha até agora e eu trabalho também." 0 Deus soberano trabalha criativa e
incessantemente, e o agente da criação -o verbo divino, trabalha também. A soberania -os direitos de
posse e domínio de Deus, está patente não apenas na criação narrada no primeiro capitulo de Gênesis,
mas na continuidade do processo de criação, na preservação e no julgamento final de cada objeto ou
ser criado. Deus cria incessantemente, porque Ele é um Deus vivo e pessoal e porque criar é uma
prerrogativa do seu poder. No belo salmo 104, que exalta a Deus pela sua criação, exclama o
salmista: "Envias o teu fôlego, e são criados; e assim renovas a face da terra" (verso 30). O sábado de
Gênesis 2:3 não significa que tudo o que poderia ser criado já o foi. Isto equivaleria à morte de Deus.
Quando Jesus diz "Vou preparar-vos lugar" (João 14:2), não está inovando, pois essa idéia já está em
Isaías 65:17: "Pois eis que eu crio novos céus e nova terra; e não haverá lembrança das coisas
passadas, nem mais se recordarão." "Novo", aqui, como em Apocalipse 21: 1, é novo em natureza,
melhor do que o anterior, superior em valor (Kittel).
Deus criou a massa cósmica, a luz, todas as formas de energia em todo o universo. Deus criou as leis
que regem o comportamento da matéria e do seu relacionamento com a energia. Há uma ordem
cósmica a preservar, a prosseguir criando, e, enquanto se ocupa disso, Deus acha tempo para vir ao
minúsculo planeta Terra, onde fixa montanhas, estende os rios através dos vales, cobre os montes de
neve, pinta a moldura dos mares com praias e coqueiros, veste o lírio de incomparável pureza, dá o
perfume às flores, povoa os mares de milhares de peixes, cada qual com seus costumes diferentes,
cada qual segundo a sua espécie, sem a necessidade de espécies intermediárias transmigrantes, faz
florescer o capim que dá a semente para os bandos ruidosos de biquinhos da lacre, ensina o sabiá a
trinar o seu canto ao entardecer, cria milhares de espécies de flores, insetos, aves, animais, e nesse
jardim único, exclusivo no universo, Deus coloca o ser humano.
E~ Isaías 43:7, vemos que Deus cria um povo para a sua glória.
No Êxodo, Deus toma a iniciativa de prescrever as normas para a conduta do homem e para o culto
com que Ele quer ser adorado. Depois, Deus cria um momento eterno de beleza inexaurível nas
cercanias de Belém, quando Ele vem tornar-se UM conosco, participar da nossa humanidade. Na
encarnação, parece que a obra criadora de Deus está apenas começando. Deus tem todo o infinito,
além de todas as dimensões da nossa percepção, e tem toda a eternidade além da nossa imaginação,
para exercer o seu soberano poder criador. "Mas alegrai-vos e regozijai-vos perpetuamente no que eu
crio" (Isaías 65:18).
No Velho Testamento, Deus se revela como IA VÉ, o único Senhor. IA VÊ reivindica soberania
plena, ou seja, não admite compatibilidade de adoração com as divindades dos povos, porque Ele é o
único Deus. Não é admissível que os ídolos das nações tenham qualquer poder (Salmo 115; Isaías 44)
e não é admissível que IA VE seja representado ..por qualquer tipo de figuração objetiva. Em I Reis
18:21 vemos IA VE exigindo o fim da ambigüidade a que o povo tinha sido levado pelos falsos
profetas: " Até quando coxeareis entre dois pensamentos? Se IA VÉ é Deus, segui-o; mas se Baal é
Deus, segui-o." O povo deu-o silêncio como resposta a Elias, mas quando a soberania de JA VE se
demonstrou pelo fogo, <J povo caiu prostrado, exclamando: "Só JA VE é Deus! Só JA VE é Deus"
(vers039). A palavra grega traduzida por Senhor em português é Kyrios . No Velho Testamento,
Kyrios, na versão grega, figura quando no hebraico aparece ADON, ADONAI, ELOHIM e ELOAH.
No lugar do "nome inefável" , S's escribas grafavam ADONAI e, por isso, também o nome JA VE é
representado por Kyrios, embora, stricto sensu, JA VÉ tenha outra significação (Kitte). Kyrios é o
"detentor de poder" é o titulo conferido àquele a quem algo ou alguém pertence. E aquele que pode
dispor, que possui e que governa. Em resumo;
* Deus é o Senhor, porque é o único Deus.
* Deus é o Senhor, porque é o Criador de tudo quanto existe e de tudo quanto venha a existir.
* Deus é o Senhor, porque é o sustentador de toda a criação.
* Deus é o Senhor, porque é o soberano Juiz que tem autoridade para julgar todas as coisas.
* Deus é o Senhor, porque conserva sua soberania mesmo quando sua autoridade é desafiada pelo
mal.
Dentro da sua soberania, Deus criou o ser humano e lhe deu capacidade para compreender que Deus
é o Senhor e de dar como prova desse reconhecimento, a sua obediência e o seu piedoso temor . Veja
as seguintes passagens: Jó 10:9; Isaias 45:9; Salmo 8:3; Salmo 148:13.
No Novo Testamento, o titulo Kyrios, Senhor, é transferido para Jesus. Ele é reconhecido como
Senhor, não apenas no sentido da reverente piedade com que Kyrios é aplicado a homens e anjos,
mas no mesmo nível de autoridade com que esse titulo é aplicado ao Deus Criador:
"E nos transportou para o reino do seu Filho amado, em quem temos a redenção a saber, a remissão
dos pecados; o qual é imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; porque nele foram
criadas todas as coisas nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam
dominações, sejam principados, sejam potestades; tudo foi criado por ele e para ele. Ele é antes de
todas as coisas e nele subsistem todas as coisas" (Colossenses 1:13-17).
Jesus Cristo é o Senhor divino e único, a quem toda a humanidade prestará contas no juízo
(Filipenses 2:10,11). Em Lucas 2:11, Jesus é apresentado como "o Salvador, que é Cristo, o Senhor".
Após a sua ressurreição, Jesus é reconhecido pela igreja como "o Senhor de todos" (Atos 10:36). No
livro de Apocalipse, Jesus é chamado Todo- poderoso (PANTOCRATOR), detentor de toda a
autoridade e poder, como Jesus reivindica na grande comissão.

Mais uma vez, subamos ao Calvário. É ali que Deus mostra em Cristo, a plenitude do seu poder e o
ponto mais alto da sua soberania divina. Na cruz de Cristo, Deus julga, condena e aniquila o poder do
pecado, e cria um novo homem, um novo universo moral, um novo homem espiritual. Nada, em toda
a portentosa criação, demonstra em mais alto grau a plenitude do domínio de Deus, do que a
redenção. A partir dos eventos redentivos do Evangelho -a morte e ressurreição de Jesus Cristo -o
pecado, contestador da soberania de Deus, foi julgado e condenado. Agora, a autoridade de Deus
resplandece com todo o fulgor, tanto na terra como no céu (Efésios 1:10).
O caráter santo de Deus nos impõe a santificação da nossa vida, de tudo o que somos e de todos os
nossos bens, para o louvor e a adoração do nosso Deus. Devemos ser santos, tanto na esfera do
material quanto na esfera do espiritual, e isso é mordomia cristã. A justiça de Deus exige de nós
obediência -piedade, que é o oposto de anomia, e isso é mordomia cristã.
O que tem a ver a soberania de Deus com a mordomia cristã ? Tem tudo a ver:
a) O cristão é chamado a participar da criação de um novo homem, para habitar o novo mundo que
Deus cria em Cristo. Através do seu testemunho, das suas orações e da sua contribuição, o cristão
participa, voluntária e criativamente, da nova criação, não como um robô eletrônico-humano, mas
como um ser livre e responsável. A mordomia cristã é um chamado que nos vem do alto do Calvário,
para participarmos dessa guerra contra o mal, a fim de que as hostes da impiedade sejam
definitivamente derrotadas. A mordomia do vosso viver e das nossas ofertas fortalece a igreja,
apressa o resgate do mundo inteiro para o domínio moral e espiritual do Kyrios, Jesus Salvador .
b) A mordomia dos bens materiais é um significativo indicador da aceitação do senhorio de Jesus
Cristo. Ao entregarem a parte dos frutos que pertenciam ao legítimo dono da vinha, os vinhateiros
estariam, não somente dando a sua contribuição para a consolidação da propriedade do seu senhor,
mas igualmente reconhecendo e publicando que o seu amo era o senhor da vinha jure et facto. Ao
negarem dos frutos a parte do amo, os lavradores maus estavam deixando de reconhecer os direitos
de soberania do seu senhor sobre a vinha. Esta foi a base da cobiça, da tentativa de usurpar, pela
violência, um direito que já estavam negando pela negação dos frutos. A infidelidade na mordomia é
uma violência ao direito divino, e uma agressão ao propósito de Deus para o seu Reino.
c) Mordomia cristã é o reconhecimento da soberania de Deus não somente sobre a vida dos salvos,
mas sobre todo o universo. Dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus, significa
reconhecer os direitos de César nos domínios de César e o direito de Deus nos domínios de Deus. Isto
não põe Deus e César em uma escala de igualdade, porque o domínio de Deus abrange e vai adiante
dos limites de César. O domínio de Cristo abrange todos os domínios "até os confins da terra". Ele é
o Rei dos reis e Senhor dos senhores .
"Do aumento do seu governo e da paz não haverá fim sobre o trono de Davi e no seu reino, para o
estabelecer e fortificar em retidão e em justiça, desde agora e para sempre" (Isaías 9:7).
Não se pode dizer: o domínio de César vai até aqui -são os deveres cívicos, os impostos, as
obrigações de cidadania. A partir daqui é o domínio de Jesus -são as obrigações religiosas, os
dízimos. O cristão é cidadão de duas pátrias. Como cristão, ele deve ser o melhor cidadão do seu
país: o mais ordeiro, o mais honesto nos seus impostos, o mais fiel cumpridor <!os seus deveres
cívicos. Mas a sua lealdade suprema não é a César. E a Cristo. O domínio de César se desenvolve nas
dimensões político-econômico-militares, mas o domínio de Cristo se estende também às dimensões
do espírito, da vontade, da consciência. O domínio de César se circunscreve ao tempo e ao espaço,
mas o domínio de Cristo se estende ao infinito e à eternidade. "Jesus Cristo é Senhor", não significa
apenas uma concepção religiosa, uma concepção que nada tem a ver com o dia a dia do cidadão de
um país. Ao contrário, o senhorio de Cristo inclui nossas relações político-econômicas, nossa
profissão, nossa cidadania terrena. Os cristãos do primeiro século entenderam assim e o
demonstraram, aos milhares, pagando o preço com suas próprias vidas.
Mordomia total é dar a Deus o que realmente a Deus pertence; TUDO. O que damos a César
também pertence a Deus, porque as autoridades são por Deus constituídas e serão julgadas por Deus.
Foi Deus quem estabeleceu o princípio da autoridade. O que retemos para o nosso sustento também
pertence a Deus, porque a nossa vontade pertence a Deus. O que damos para a Igreja na medida do
nosso amor, não do nosso potencial, também pertence a Deus para a sua adoração, para a canalização
da sua Graça em favor dos necessitados e para que o seu reino se estenda ao mundo inteiro. A cara
( tributo) é de César, mas a coroa ( o domínio) é de Deus.
d) A mordomia cristã indica a confiança/entrega no poder da Providência de um Deus soberano. Ao
negar-se a ser um fiel mor domo, o cristão está negando, na prática, o que dificilmente negaria na
doutrina: sua fé na suficiência de Deus, para o seu sustento e de sua família.
"E Deus é poderoso para fazer abundar em vós toda a graça, a fim de que, tendo sempre, em tudo,
toda a suficiência, abundeis em toda a boa obra" (11 Coríntios 9:8).
Deus é Senhor do sol, da chuva, do solo, de cada semente de milho que germina em sua cova, de
cada bezerrinho que nasce no curral. É Ele que nos dá as nossas habilidades para o trabalho. O poder
soberano de Deus sobre o universo é a fonte da nossa vida e do nosso sustento, e é isso que
demonstramos com a nossa mordomia.

II A DEUS O QUE É DE DEUS"

O DOMÍNIO DE DEUS ABRANGE E ULTRAPASSA O DE CÉSAR

e) Deus não é o dono apenas do presente, mas também do futuro. Nossa mordomia deve abranger
também os dias do porvir. Os reis da terra passam. Pela espada, pelo voto, pela morte, pelo tempo.
Mas o Senhor das nossas vidas aumentará mais e mais o seu domínio, até a eternidade. A soberania
de Deus sobre o porvir traz duas implicações para a nossa mordomia: 1º ) Devemos planejar para que
os nossos bens continuem servindo a Deus no futuro, mesmo que Deus nos chame à sua glória antes
de alcançarmos a senectude. Um mordomo fiel contemplará sua igreja na destinação futura dos seus
bens. 2º) A prática da mordomia cristã nos prepara, não somente para uma vida de segurança e paz
aqui na pátria terrena, mas nos projeta, na antecipação da fé, para a pátria celestial. Quem não viver
sob o senhorio de Cristo nesta vida, não tem por que esperar servi-lo na eternidade. "Nem todo o que
me diz Senhor, Senhor! entrará no Reino dos céus, mas aquele que pratica a vontade do meu Pai, que
está nos céus" (Mateus 7:21). "Muito bem, bom e fiel servo; sobre o pouco foste fiel, sobre o muito te
colocarei; entra no gozo do teu Senhor" (Mateus 25:23).

O AMOR DE DEUS
Os poetas cristãos têm se revezado na busca de adjetivos para descrever o amor de Deus. Insondável
amor, amor incomparável, sublime amor, não há um adjetivo magnificante que já não tenha sido
usado. A hinódia cristã trata abundamente de exaltar o amor de Deus. Mas há um lugar - um único
lugar, onde o amor de Deus pode ser visto sem adjetivos. E no -Calvário. Na cruz, o amor de Deus
não precisa ser magnificado. E o amor absoluto, que liberta aos que o prendem, que absolve aos que
o condenam, que dá a vida, pelo perdão, aos que o matam; que dá o paraíso, pela regeneração da fé, a
quem só o inferno merecia; que ali sofre sua maior tragédia -a solidão, para que a humanidade possa
ser restituída à presença do Pai.
Por que Êle não saltou do pináculo do templo? Por que não chamou doze legiões de anjos? Um único
anjo teria poder para livrá-lo da morte, e levar de vencida a todas as hostes inimigas! Por que aceitou
uma coroa, mas de espinhos, e um cetro, mas de cana ? Por que levou o pesado lenho sobre os
ombros ? Por que estendeu os braços para ser pregado na cruz? Foi por amor. Ao vermos seu corpo
machucado, sangrando, suspenso entre o céu e a terra, como se Ele fora indigno do céu e digno
demais para a terra, precisamos ainda de adjetivos? Jesus é a dádiva de Deus à humanidade, não para
ser portador de um novo ensino ou arauto de um novo reino, mas como preço do seu amor .
Por amor, Cristo pagou o preço da nossa redenção. Não há contradição entre o caráter propiciatório
da morte de Jesus, conforme o uso da palavra hilasterion na Septuaginta (Isaías 53:6), e o seu sentido
expiatório, conforme o uso corrente dessa mesma palavra no grego clássico. Será de todo impossível
radicalizar um ou outro sentido. A morte de Jesus é, ao mesmo tempo, propiciação, um evento de
valor jurídico, que satisfaz a justiça divina, e expiação, um ato de amor de Deus pelos transgressores,
conforme vimos no tópico sobre a justiça de Deus. São as duas pontas do mesmo fio escarlate. Uma
das pontas está atada à janela da alma do transgressor, como aviso do seu arrependimento e fé, e a
outra ponta está ligada à misericórdia divina, que perdoa e livra da morte ao transgressor. Ladd
coloca essa questão nos seus devidos termos, quando diz: .'Um reconhecimento total do caráter
propiciatório, substitutivo, da morte de Cristo, não tem que permitir-nos negligenciar ou menosprezar
a doutrina de que a morte de Cristo, como a demonstração suprema do amor divino, está designada a
atear uma reação amorosa no coração dos homens".5 Há uma palavra que parece abranger todo o
imenso significado da morte de Cristo. E a palavra usada por Paulo em II Coríntios 5:19: RECONCI-
LIAÇAO. "Pois Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo." Pela sua morte na cruz,
Cristo pagou o preço. Comprou- nos para sermos morada do seu Espirito. Agora pertencemos a
Deus, e a Deus devemos glorificar em nosso espírito e em nosso corpo. Esse é o entendimento da
mordomia cristã, conforme I Cor . 6:19,20:
"Ou não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que habita em vós, o qual possuís da
parte de Deus e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por bom preço; glorificai pois
a Deus no vosso corpo. "
O segredo do alto preço pago por Jesus pelo resgate da nossa alma, é o amor. Quanto maior o amor,
maior a disposição de quem ama em pagar o preço pela felicidade do ser amado. "Ninguém tem
maior amor do que este, de dar alguém a sua vida pelos seus amigos" (João 15:13). Ele nos amou,
mesmo sabendo que éramos rebeldes transgressores (Romanos 5:8) .
Havia um pastor que maltratava suas ovelhas. Estava sempre alcoolizado e dormia na hora quando
deveria estar conduzindo suas ovelhas para os pastos. Ele espancava e até feria as ovelhas, e elas
viviam magras e doentes. Outro pastor viu quando uma daquelas ovelhas, ferida, era espancada.
Percebeu que ela iria morrer . Condoeu-se. Desejou comprá-la, e perguntou pelo preço. Com um
sorriso irônico, o mau pastor estipulou elevada quantia, que cor- respondia a todo o dinheiro que o
outro pastor possuía. Mas este foi à sua tenda, trouxe o dinheiro e pagou, sem regatear. Comprou a
ovelha doente e a levou em seus braços. Cuidou das suas feridas. Alimentou-a com carinho. Integrou-
a no seu rebanho. Logo ela aprendeu a conhecer a voz do seu novo pastor e o seguia junto com o
rebanho, enquanto ele ia à frente cantando as suas canções. A ovelha engordou, criou uma lã espessa
e forte. Deu lindas e saudáveis crias. Justificou sua aquisição. Se ela pudesse dar sentido aos seus
balidos, certamente diria: "Como posso me esquecer do que o meu pastor fez por mim? Como posso
deixar de dar-lhe da minha melhor lã e o melhor das minhas crias?" Ela não podia expressar-se, e
nem era necessário. Era o que ela fazia. Mas quão facilmente as ovelhas de Jesus se esquecem do
preço que Jesus pagou para tê-las em seu aprisco. Quão facilmente, e por que tolos motivos
invocados, deixam de expressar a sua gratidão e o seu amor com o que deveria ser o fruto da sua
generosidade.
A morte de Jesus não foi um acidente, um imprevisto, a menos que queiramos negar tudo o que a
Bíblia afirma sobre sua vinda ao mundo, desde o proto-evangelho ("tu lhe ferirás o calcanhar").
nos Salmos (22:16), nos profetas (Isaías 53), nas palavras de todos os autores do Novo Testamento e
especialmente no registro da cons- ciência que o próprio Jesus tinha da sua missão:
"Porque o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de
muitos" (Marcos 10:45).
O preço pago por Jesus não foi prata nem foi ouro, mas o seu sangue, como de um cordeiro sem
mancha (I Pedro 1:18,19). Jesus adquiriu a igreja com o seu próprio sangue (Atos 20:28). "Ele
morreu por todos." Nós fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho" (Romanos 5:10), "E
a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou e se entregou a si
mesmo por mim" (Gálatas 2:20). Ele pagou o preço da nossa redenção porque nos ama e, porque nos
ama, Ele nos dá a vida, a salvação, a paz com Deus, a esperança, o amor que jamais acaba, e nos dá
também a Graça da generosidade, para que, dando-nos como Ele se nos deu, possamos demonstrar
que a ele somos semelhantes.
O verbo grego que define o amor de Deus é AGAPE, uma interessante palavra acerca da qual muito
já se tem escrito. Segundo o excelente dicionarista Abott-Smith, AGAPE significa "sentir e
demonstrar estima e boa vontade para com uma pessoa; ter prazer e deleitar-se com alguma coisa". 6
Não se trata, portanto, de um sentimento passivo, contemplativo, mas de um sentimento que de se
demonstra, que se compromete. Para o amor-sentimento, apreciação que não inclui necessariamente
qualquer manifestação, os gregos preferem as palavras derivadas de FILEO, que também se traduz
por amar. Isidro Pereira, no seu dicionário de grego atual- português registra: "AGAPÁO -receber ou
tratar com amor." AGAPE abrange o sentimento de afeto e sua manifestação externa
englobadamente. O Prof. Yeager perguntou a um estudante grego que fazia seu doutorado na
América, o que AGAPE significava no grego moderno. Eis a resposta: "E o tipo de sentimento de um
rapaz por uma moça, quando ele a ama o suficiente para se casar com ela. Ele a ama tanto que está
disposto a fazer qualquer sacrifício por ela." 7 Este é o sentido de amor-agápe na Bíblia, conforme o
contexto em cada uma das suas figurações. Uma das mais expressivas é aquela em que Jesus dá como
expressão do nosso amor a Ele, o guardarmos os seus mandamentos (João 14:15).
AGAPE é um sentimento de afeto que resulta em ação. Não é apenas resultado -a ação, mas é
também a causa, o sentimento que a origina. Não é somente a causa, o sentimento de afeto, mas é
simultaneamente o seu resultado, a ação. Tudo o que está envolvido na dádiva por amor: o afeto, o
desejo, a decisão, o gesto da mão estendida, a intenção, o propósito -este amor abrange tudo. O
exemplo definidor vem de Deus. O modo como Deus demonstra o seu amor é dando o seu Filho
unigênito (João 3:16). O autor do Renassence Comentary chama a nossa atenção para o fato de que o
advérbio OUTOS, traduzido por "de tal maneira" nas nossas traduções em português (em inglês,
francês e castelhano se dá o mesmo), não indica intensidade, mas modalidade. A interpretação usual é
que o amor de Deus foi tão grande que Ele deu o seu Filho. Esta compreensão implicaria em que, se
Deus tivesse amado o mundo um pouco menos, não teria dado seu Filho unigênito, o que é um
absurdo, porque o amor de Deus é absoluto, como todas as virtudes do seu caráter. Deus não poderia
amar menos do que amou. Deus é constante em todos os seus atributos. O que João 3:16 nos diz é
que "Deus demonstrou o seu amor pelo mundo, um amor que foi sempre constante, jamais sujeito a
variações de intensidade, através do fato de que Ele deu o seu Filho unigênito".8 Temos, então, que o
amor de Deus é eterno e absoluto, e que esse amor assim absoluto e eterno foi demonstrado na dádiva
de Jesus Cristo pela nossa redenção.
Como os demais atributos de Deus, o amor também é inerente ao seu caráter. Amar é o modo de Deus
ser. Quando Deus demonstra o seu amor, está sendo Deus. Por isso, João diz que "Deus é amor".
Deus não tem outro modo de ser e de tratar que não seja amor. Ao imprimir no ser humano o seu
caráter, Deus o fez capacitado para amar (1 João 4:10,19) e dar o seu amor como resposta ao amor de
Deus. Mas essa manifestação de amor no ser humano só é legítima, obviamente, só lhe traz
felicidade, quando reflete o amor de Deus. O chamado que nos vem do Calvário, portando, é um
chamado para o verdadeiro amor .
Todo ser humano, não importa a sua cultura, sua situação econômica, sua raça, é, ao mesmo tempo,
resultado e objeto do amor de Deus. Nisto reside o mais alto significado da mordomia cristã:
reconhecer e projetar o amor de Deus no modo de viver. Algumas implicações notáveis desse
conceito devem merecer nossa reflexão:
a) A causa de oferecermos nossa vida, nossos bens, nossos talentos, nosso tempo a Deus, não é o
nosso amor a Deus, mas o amor de Deus por nós. Os meus dízimos não provam o meu amor a Deus,
mas provam o amor de Deus para comigo. A minha adoração a Deus não prova que eu amo a Deus,
pois adorar a Deus me faz bem, preenche um vazio na minha alma. A minha adoração prova q\le
Deus me ama. Ao pregar o Evangelho, ao contribuir para missões e para beneficência, não estou
provando o meu amor . mas o amor de Deus para comigo e para com o meu próximo. E por entender
que Deus me ama que eu devo ser um mordomo fiel na totalidade do meu ser. Se não fosse o amor de
Deus para comigo, eu estaria como a ovelha carente, espancada e enferma pelo pecado. Foi o amor
de Deus que fez de mim uma ovelha do seu rebanho.

b) Ê muito difícil acreditar na realidade de um amor que não se transforma em dádiva. Nosso amor
deve reproduzir o amor de Deus, que se manifesta em dar-nos, não apenas o melhor que podemos
desejar, mas o melhor que Ele possui. O nível do nosso reconhecimento do amor de Deus para
conosco é que determina o nível da nossa dedicação a Cristo. Nenhuma dedicação = nenhum amor.
Pouca dedicação = pouco amor. Dedicação vacilante, inconstante = amor dobre (ilude-se a si mesmo
e cogita de iludir a Deus) .Muita dedicação = muito amor. Dedicação total = amor pleno, mordomia
total. Substitua, nessa equação, a palavra dedicação pelas palavras tempo, dons, influência, profissão,
propriedades, bens, e o resultado será o mesmo.
c) Nem toda a contribuição indica amor, mas todo amor resulta necessariamente em generosidade na
contribuição. E o amor que valida a oferta, e não a oferta que valida o amor. O amor de Bamabé
validou sua oferta, mas a oferta de Ananias e Safira não validou o seu amor. A preocupação dos
líderes cristãos não deve ser fazer subir as ofertas, mas fazer aprofundar o amor. As ofertas podem ser
aumentadas por emulação (concursos, competição entre grupos na igreja), por pressão da liderança,
por uma boa administração das oportunidades, sem, contudo, fazer crescer o amor. Isso não é
mordomia cristã. Se o amor de Deus se tomar real, vivenciado pela igreja, não somente crescerão as
contribuições, mas também a dedicação dos talentos, do tempo, da vida. Isso é mordomia cristã.
d) Quem se dá por amor, e não espera outra recompensa a não ser o bem do ser amado, está refletindo
o amor de Deus. Está demonstrando a sua maturidade espiritual. "Mais bem-aventurada coisa é dar
do que receber", disse o Senhor. Uma igreja onde reina o amor de Deus não dá apenas suas
contribuições para missões e seu espaço para educação e beneficência, mas dá seus líderes para
formar novas igrejas, dá vidas também para missões, dá talentos e profissões para atender à
necessidade do mundo em desespero. Em uma igreja onde há mordomia total, as famílias se sentem
seguras, há harmonia nos lares, vitória sobre as dificuldades, há paz, há crescimento espiritual e
também prosperidade.
George Elton Ladd, na Teologia do Novo Testamento diz que "Se o Reino significa o domínio de
Deus, então todo o aspecto do Reino deve ser derivado do caráter e ação de Deus." A base da
mordomia cristã, o seu ponto de partida tanto quanto o seu ápice, é o caráter de Deus.
A SANTIDADE DE DEUS impõe-nos que não menos do que tudo em nosso viver deve ser "santo ao
Senhor". Não apenas 10%, mas a totalidade do nosso ser deve ser separado do mundo para servir ao
propósito de Deus. Não podemos consagrar a Deus a nossa sala, e aos demônios o quarto e a
despensa. Todos os espaços ao nosso dispor pertencem a Deus, e devem ser santificados pela
presença do Espírito Santo em nós. Mordomia total é santificação total.
A JUSTIÇA DE DEUS clama pelo reconhecimento do direito de Deus e do direito do nosso próximo.
Ser justo é ser obediente às leis de Deus. Mordomia total é a Justiça de Deus em ação, na totalidade
da vida dos filhos de Deus.
A SOBERANIA DE DEUS nos conclama à participação responsável e criativa na obra da redenção e
da criação de um novo mundo. Mordomia total é a consciência-confiança-entrega no poder de Deus.
É o entendimento do senhorio de Cristo levado às conseqüências de um comprometimento com Deus.
O AMOR DE DEUS manifesto em Cristo nos convida a uma dedicação sem reserva do nosso viver,
pela confiança, pelo desejo de servir por amor. Mordomia total é o reconhecimento, na profundidade
do ser, de que Deus nos ama; é a submissão ao amor de Deus.
Ao reconhecer e aceitar o amor de um Deus santo, justo e soberano, o cristão está fazendo uso
correto da sua liberdade. O seu "sim" ao amor de Deus, significa a disposição de servir a Deus como
um ser livre e responsável. Eric C. Rust expressa este pensamento citando Radhakrishanan, erudito
hindu, que certa vez ilustrou esse tema referindo-se à corda do violino. "Deixada à vontade, sem estar
presa a nada, é um simples pedaço de fio: as suas pontas estão livres para serem movidas em
qualquer direção; entretanto, não está livre para exercer sua própria função. Somente quando as suas
pontas estão presas a um violino, é que a corda está livre para cantar . Agostinho, o maior teólogo dos
primeiros séculos, pôs esta verdade na seguinte oração:
"O tu que és a luz das mentes que te conhecem, a vida das almas que te amam e a força das vontades
que te servem: Ajuda-nos a conhecer-te de tal forma que possamos verdadeiramente amar-te, e amar-
te de tal forma que possamos completamente servir-te, pois o servir-te é a perfeita liberdade ,
por Jesus Cristo, nosso Senhor".
Bases Teológicas da Mordomia Cristã

Capítulo 2

Do Livro:

“Teologia da Mordomia Cristã”


Pr. João Falcão Sobrinho

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