ARTIGO Saberes Docentes Sob A Ótica de Tardif Revisado PDF
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ÓTICA DE TARDIF
RESUMO: O presente trabalho trata de uma pesquisa qualitativa a respeito dos saberes do-
centes e formação continuada, realizada em escolas municipais, estaduais e federais do muni-
cípio de São Borja. A pesquisa consiste na aplicação de uma entrevista semiestruturada, com
o objetivo de compreender, a partir dos referenciais de Tardif (2014) o que os professores
entendem por saberes docentes: saber profissional, saber curricular, saber disciplinar e os sa-
beres da experiência. Neste trabalho estaremos aprofundando os saberes experienciais. Ao
final da pesquisa pode-se constatar que 100% dos entrevistados entendem que os saberes ex-
periênciais, aqueles advindos da prática pedagógica, são produzidos na experiência e tornam-
se subjetivos.
INTRODUÇÃO
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Tardif (2014) esclarece em sua obra, que esses saberes docentes são constituídos a
partir da formação acadêmica, das disciplinas estudadas, do currículo que o professor trabalha
em sala de aula e, claro, também a partir da sua experiência enquanto educador. Entende-se
que os saberes profissionais, disciplinares e curriculares são sondáveis através de estudo b i-
bliográfico e, para isso, usa-se Tardif como referencial para a análise e discussão dos resulta-
dos da referida pesquisa. No entanto, os saberes experienciais, na maioria das vezes, só po-
dem ser identificados ao analisar o trabalho realizado em sala de aula pelo professor.
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Disponível em: https://slidex.tips/download/a-docencia-contemporanea-entre-saberes-docentes-e-praticas
Acesso em 03/10/2018 às 18h30min.
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Ao final deste artigo, pretende-se refletir criticamente sobre saberes docentes em São
Borja, sob o ponto de vista de profissionais da educação que atuam na cidade. As análises
partem do pressuposto de que o professor mobiliza os saberes na ação pedagógica, sejam
eles: saberes curriculares, disciplinares, profissionais e até mesmo os experiênciais,
utilizando-se os referencias segundo Tardif ( 2014).
MATERIAIS E MÉTODOS
Para o desenvolvimento desta pesquisa, foi realizada uma entrevista com professores
que trabalham na rede pública municipal, estadual e federal. Na esfera muncipal, foi entrevis-
tada uma professora do ensino fundamental - anos iniciais, formada em pedagogia e que atua
em uma escola situada na zona rural. Na esfera estadual, foi entrevistada uma professora de
Ciências da Natureza, que atua no Ensino Médio, sendo essa Mestre em Educação. E na esfe-
ra federal, uma professora de Física que atua no Ensino Médio Profissionalizante e Ensino
Superior, cuja formação inclui doutorado. Em função do trabalho ser realizado através de en-
trevista com um recorte muito específico, entende-se que esta pesquisa é do tipo qualitativa,
conforme Gil:
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RESULTADOS E DISCUSSÃO
Neste tópico, serão apresentadas as respostas das professoras entrevistadas. Para isso,
utilzaremos a seguinte tabela para melhor comparar as respostas dadas, considerando que
“Professor 1” corresponde à docente da rede municipal, “Professor 2” à rede estadual, e “Pro-
fessor 3” à rede federal.
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alunos e do contexto
onde a escola se insere.
2) Há algum conhe- Na prática a gente a- Com certeza, pois só Tudo o que aprende-
cimento que você prende sempre. Muito na prática diária é pos- mos na formação inici-
adquiriu apenas na mais com a prática do sível vivenciar situa- al pode ser re-
prática docente, que que com a teoria. E aí ções que jamais pode- significado a partir da
não aprendeu na tu vês que em todos riam ser imaginadas e prática docente. Com
formação inicial? esses anos, cada aluno que acontecem com isso, quero dizer que
é um, é diferente. Cada frequência no cotidiano basicamente aprendi
turma é uma, cada escolar. tudo com a prática e
aluno é um, e aí tu aprendo todos os dias.
aprendes a lidar com as Cada vez que organi-
diferenças. Nenhum zamos uma nova práti-
aluno aprende do ca pedagógica, que
mesmo jeito, por e- planejamos e desen-
xemplo. Às vezes, tu volvemos diferentes
vais lá e faz um semi- práticas, com diferen-
nário e eles dizem “vai tes alunos estamos
lá e aplica assim e as- aprendendo. Para tanto
sim que vai dar certo” é necessário ter um
e quando tu chegas na olhar sobre a prática a
sala de aula, não dá. partir da pesquisa, ou
Um, dois ou três alunos seja, procuro fazer do
aprendem daquele jei- espaço da sala de aula
to, outro aluno tu tens um espaço para a pes-
de fazer diferente. Nem quisa refletindo sobre
todos aprendem do as práticas desenvolvi-
mesmo jeito, nem no das. Desta forma, tam-
mesmo tempo. Isso é bém a que se pensar
algo que tu aprendes que não há sempre uma
no dia-a-dia, na prática, receita pronta, que
a conhecer a tua turma existem desafios novos
e a ver que não adianta todos os dias e que
tu chegares aqui com aprendemos sempre
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um planejamento e com a prática.
querer que todos a-
prendam do mesmo
jeito e no mesmo tem-
po. Eles não aprendem.
Isso tu vês na prática
que não é assim.
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aula” e a gente não
deixava e não dava
abertura para trabalhar.
Hoje em dia não é mais
assim.
Ou seja, os cientistas e pesquisadores trabalham sob condições ideais para suas pes-
quisas. O professor de sala de aula, porém, está sujeito à muitas situações não previstas, que
dependem de improviso e habilidade que são adquiridas no passar do tempo. O tempo traz a
maturidade pedagógica, que para Paulo Freire tem relação com a paciência pedagógica, que
está intimamente ligada à impaciência, é neste campo da tensão que Freire, ressalta “a virtude
está, pois, em nenhuma delas sem a outra, mas em viver a permanente tensão entre elas”
(2003, p. 62).
Na segunda questão, a Professora 1 discorre que aprendeu na prática que cada aluno é
diferente e que nem sempre a teoria contempla a especificidade de cada educando, sendo ne-
cessário o professor ter a sensibilidade de adaptar seu ensino. Há uma certa consonância entre
o que respondeu a Professora 3, entretanto, esta acrescentou um dado importante, o de se uti-
lizar disso para promover a pesquisa acadêmica no âmbito educacional. A professora 2 da
rede estadual, afirma que só a prática pode dar conta dos desafios do cotidiano escolar.
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Na questão 3, as professoras apresentaram respostas diferentes, porém que são impor-
tantíssimas para a compreensão da prática docente. A Professora 1 fala sobre não desestimular
os alunos pelos assuntos que eles querem aprender, mas sim ouvi- los e tentar ensinar a partir
daquilo que eles mesmos trazem para sala de aula. Nesse ponto, é possível lembrar de Paulo
Freire quando diz, em sua Pedagogia da Autonomia, que:
Ou seja, cada educando traz para a sala de aula algo da sua vivência social e comunitá-
ria, algo que lhe chama mais a atenção, e o docente não deve arbitrariamente impor suas vi-
sões de mundo sobre aquilo que é importante para o educando. Fazendo da curiosidade dos
alunos, possiblidade de construção do conhecimento.
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CONCLUSÕES
Neste trabalho, pode-se observar o que as três professoras que atuam em São Borja
entendem por saberes docentes. Ao analisar as respostas percebemos que as professoras
conheciam em linhas gerais, os conceitos de saberes experienciais, sendo que a Professora 3
ainda faz menção a conhecimentos específicos a partir de bibliografia da área. Todas
consideram importante o aprendizado adquirido na prática pedagógica, mas apenas a
professora 3 correlaciona esses conhecimentos à teoria aprendida no formação acadêmica,
ressiginificando-os.
Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses quefazeres se encontram
um no corpo do outro. Enquanto ensino continuo buscando, rep rocurando. Ensino
porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar,
constatando, intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que
ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade. (FREIRE, 2018, p.30)
O autor deixa claro que ensinar e pesquisar não são apenas atividades indossociáveis
uma da outra, mas também parte da natureza da prática docente. O educador que ensina e
pesquisa não tem necessariamente um diferencial, mas sim uma qualidade fundamental para a
boa execução do seu trabalho. Percebe-se, através desta pesquisa, que embora professores em
geral reconheçam que é importante continuar pesquisando, muitos deles não vão muito além
daquilo que adquirem de forma pragmática. Tardif (2014), explica a problemática dessa
situação defendendo que esse comportamento desvaloriza o professor, pois este aceita que
deve assumir um conhecimento oferecido na academia, mas não se preocupa em aprimorá- lo,
após começar a atuar no mundo de trabalho.
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como espaço de verdade de sua prática. Noutras palavras, a função docente se define
em relação aos saberes, mas parece incapaz de defin ir u m saber produzido ou
controlado pelos que a exercem (TARDIF, 2014, p.40).
Ou seja, o fato dos professores valorizarem mais a prática e ignorarem, por vezes, a
produção científica, recusando-se a produzir conhecimento como pesquisador, resulta em uma
desvalorização da própria profissão, pois os profissionais saem da universidade
desvinculando-se dos saberes lá adquiridos e quebrando o ethos acadêmico entre educadores.
Mais uma vez, fica clara a necessidade de haver a indissociabilidade entre ensino e pesquisa.
Havendo incentivo para formação docente, as escolas públicas do país poderão contar
com profissionais cada vez mais preparados para os desafios da Educação. Somand o-se esse
tipo de ganho ao investimento na área, é possível que o país obtenha melhores resultados na
questão de desempenho dos estudantes e também aprimoramento no quesito educação
profissional, tão importante para o desenvolvimento da sociedade, ao mesmo tempo em que
os saberes docentes vão sendo cada vez mais lapidados.
REFERÊNCIAS
DONATO, Sueli Pereira.; ENS, Romilda Teodora . A docência conte mporânea: entre sabe-
res docentes e práticas. In: VIII Congresso Nacional de Educação - EDUCERE e III Con-
gresso Ibero-Americano sobre Violências das Escolas - CIAVE, 2008, Curitiba. FORMA-
ÇÃO DE PROFESSORES. Curitiba: Champagnat, 2008. v. 1. p. 155-167. Disponível em:
https://slidex.tips/download/a-docencia-contemporanea-entre-saberes-docentes-e-praticas
Acesso em 03/10/2018 às 18h30min.
FREIRE, Paulo. Professora, sim. Tia, não: cartas a que m ousa ensinar. São Paulo: Olho
D´água, 2003.
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__________. Pedagogia da autonomia. 56ª ed – Rio de Janeiro/São Paulo: Paz e Terra, 2018.
GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002.
TERRAZZAN, Eduardo A.; SANTOS, Maria Eliza G.; LISOVSKI, Lisandra A. Desigualda-
des nas relações universidade-escola em ações de formação inicial e continuada de pro-
fessores. In: Reunião anual da ANPED – Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa
em Educação, 28., 16 a 19 de Out. de 2005, Hotel Glória, Caxambu, MG, Brasil. CALDAS,
Alessandra; RIBEIRO, Luciene; CARNEIRO, Tarsila M. (org.). ‘40 anos de Pós-Graduação
em Educação no Brasil: produção de conhecimentos, poderes e práticas’. Atas... 21p.
(CD-ROM, arq t0814798.pdf), 2005. ISBN 85-86392-15-4.
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