Revolucoes Organizado Por Michael Lowy PDF
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Bruna Triana
University of São Paulo
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All content following this page was uploaded by Bruna Triana on 02 August 2017.
Resenha
Revoluções:
entre o passado e o futuro
2011 203
Bruna Nunes da Costa Triana
laridade, bem como sua universalidade. O texto nos remete, então, para a história,
para a cadeia de dominação e opressão que faz insurgirem os levantes da massa.
A imagem nos mostra a força e o espírito de cada revolução, e, ao mesmo tempo,
o texto nos faz compreender as condições e possibilita sentir e ver nas fotografias
essa força. Logo, existe uma relação de colaboração: se texto e imagem são inde-
pendentes, se são equivalentes, também colaboram um com o outro.
O objetivo central do livro é, portanto, recuperar nas fotografias “a qualidade
mágica, ou profética, que as torna sempre atuais, sempre subversivas” (Löwy, 2009,
p. 19). A separação entre os textos e as imagens é a condição de possibilidade
de uma resistência na relação entre as fotos e os textos. Com essa resistência, a
independência entre ambos permite ao leitor, sabendo de seu contexto, ser atra-
vessado pela imagem. Os autores reconhecem que a fotografia vai além de seus
usos políticos, pois se presta a muitos usos.
Quando as revoluções são o tema, os exemplos abundam. A primeira revo-
lução realmente fotografada foi a Comuna de Paris, contemporânea do advento do
instantâneo, conforme lembra Achcar (2009, p. 23). Ali, a fotografia, instrumento
urbano e burguês, finalmente encontrou a população que habitava as cidades.
Conforme salienta Rouillé (2009, p. 46), “foi necessária, assim, uma insurreição
popular para que a fotografia encontrasse a cidade e seus habitantes, e para que
nascesse a reportagem”. No entanto, se, em um primeiro momento, as imagens
celebravam a vitória dos communards, “após o fracasso da insurreição, a fotografia
será utilizada contra ele [o povo]: a polícia identificará os ‘insurgentes’ com a ajuda
de fotos das barricadas” (Rouillé, 2009, p. 46).
Este é um motivo e uma justificativa para o livro: revisitar essas fotografias,
ver a concretude, os segredos, a “magia” dessas revoluções e dessas imagens
para recuperar sua carga utópica e cultivar seu potencial subversivo. E é daqui
que decorre a equivalência entre textos e imagens. Apesar de comentarem as
fotografias, além de contextualizarem as revoluções, o que poderia aparentar um
uso ilustrativo das imagens, uma leitura mais cuidadosa dos textos revela que os
autores procuram aprofundar as imagens e se deixar levar por elas. Buscam ser
tocados, o que faz com que o leitor também sinta e pense com, através e além das
imagens. Se, como diz Löwy, falar de revoluções pode parecer curioso atualmente,
as fotos causam estranhamento ao revelarem a concretude, os rostos, os gestos e
a ansiedade. E, aos olhos do observador, também a derrota está presente; trata-se
dos vencidos da história. Assim, pelas imagens, busca-se recuperar a magia da
fotografia e a tradição dos oprimidos.
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Bruna Nunes da Costa Triana
fotografia, por sua magia, captura são, justamente, os momentos mágicos em que
os oprimidos, os sem vozes, transformam-se em sujeitos de sua própria história e
de sua emancipação. A fotografia, precisamente, para o tempo, congela um instante
e capta esses momentos únicos em que a história é interrompida. No limite, o
próprio tempo para, cedendo lugar a outras formas de vida.
O conjunto das fotografias do livro “oferece uma viagem no tempo e no espaço
revolucionário, um mergulho na história” (Löwy, 2009, p. 16). Nessa medida, as
fotografias tornam visíveis aspectos não presentes nas narrativas historiográficas,
pois elas colocam o passado no presente, como queria Benjamin, confrontando-
-as com o texto: “elas captam o que nenhum texto escrito pode transmitir: certos
rostos, gestos, situações e movimentos. A fotografia possibilita que se veja [...] o
que constitui o espírito único e singular de cada revolução” (Löwy, 2009, p. 13).
No entanto, ao apresentar a particularidade e a singularidade de cada revo-
lução, essa diversidade apresenta cada revolução também naquilo
[...] que ela tem de universal, em sua especificidade histórica, cultural e nacio-
nal. Vemos aparecer a revolução não como uma abstração, uma idéia, um con-
ceito, uma “estrutura”, mas como uma ação de seres humanos vivos, homens e
mulheres que se insurgem contra uma ordem que se tornou insuportável (Löwy,
2009, p. 15).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Achcar, G. A Comuna de Paris, 1871. In: Löwy, M. (Org.). Revoluções. São Paulo: Boitempo,
2009.
Benjamin, W. Magia e técnica, arte e política. São Paulo: Brasiliense, 1994.
. Libro de los Pasajes. Madri: Akal, 2005.
Löwy, M. Introdução. In: (Org.). Revoluções. São Paulo: Boitempo, 2009.
Rouillé, André. A fotografia. São Paulo: Editora Senac, 2009.
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