Praxiologia Motriz Na América Latina. Aportes para A Didática Na Educação Física

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(Organizador)

Praxiologia Motriz
na América Latina
Aportes para a Didática na Educação Física
Coleção Educação Física

João Francisco Magno Ribas


(Organizador)

Praxiologia Motriz
na América Latina
Aportes para a Didática na Educação Física

Ijuí
2017
 2017, Editora Unijuí
Rua do Comércio, 1364
98700-000 – Ijuí – RS – Brasil
Fones: (0__55) 3332-0217
E-mail: [email protected]
Http://www.editoraunijui.com.br
Editor: Fernando Jaime González
Editor-adjunto: Joel Corso
Capa: Alexandre Sadi Dallepiane
Ilustração da capa: João Pedro Ritter Barbosa, da Facos Agência (UFSM)
Responsabilidade Editorial, Gráfica e Administrativa:
Editora Unijuí da Universidade Regional do Noroeste
do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí; Ijuí, RS, Brasil)

Catalogação na Publicação:
Biblioteca Universitária Mario Osorio Marques – Unijuí

P919 Praxiologia motriz na América Latina: aportes para a didática na


educação física / organizador João Francisco Magno Ribas. –
Ijuí: Ed. Unijuí, 2017. – 368 p. – (Coleção educação física).
ISBN : 978-85-419-0226-7
1. Educação física. 2. Esportes. 3. Didática. 4. Educação. 5.
Praxiologia. I. Ribas, João Francisco Magno. (Org.). II. Título:
Aportes para a didática na educação física. III. Série.
CDU : 796
37:796
ÇÃO
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A coleção Educação Física é um projeto editorial da Editora Unijuí,


vinculado a um conselho editorial interinstitucional, que visa dar publicida-
de a pesquisas que buscam um constante aprofundamento da compreensão
teórica desta área que vem constituindo sua reflexão conceitual, bem como
os trabalhos que garantam uma maior aproximação entre a pesquisa aca-
dêmica e os profissionais que encontram-se nos espaços de intervenção.
Promover este movimento é sem dúvida o maior desafio desta coleção.

Conselho Editorial
Carmen Lucia Soares – Unicamp
Mauro Betti – Unesp/Bauru
Tarcisio Mauro Vago – UFMG
Amauri Bassoli de Oliveira – UEM
Giovani De Lorenzi Pires – UFSC
Valter Bracht – Ufes
Nelson Carvalho Marcellino – Unicamp
Paulo Evaldo Fensterseifer – Unijuí
Vicente Molina Neto – UFRGS
Elenor Kunz – UFSC
Victor Andrade de Melo – UFRJ
Silvana Vilodre Goellner – UFRGS

Comitê de Redação
Paulo Evaldo Fensterseifer
Fernando González
Maria Simone Vione Schwengber
Leopoldo Schonardie Filho
Joel Corso
SUMÁRIO

PRÉFACE...............................................................................................11
Pierre Parlebas

PREFÁCIO.............................................................................................15
Pierre Parlebas

INTRODUÇÃO.....................................................................................19
Daiane Dalla Nora, Janaíne Welter, Jaqueline Welter,
Elciana Buffon, João Francisco Magno Ribas

PARTE 1 – A PEDAGOGIA DAS CONDUTAS


MOTRIZES NA EDUCAÇÃO FÍSICA....................................31

Praxiología Motriz y Educación Física:


Estudiando la lógica interna de las prácticas corporales.......................33
Jorge Ricardo Saravi, Nestor Lombardo, Mario Orlovsky,
Jorge Aldao, José David Ruffino, Rodolfo Laborda,
Martín Marelli, Antonio Pellegrino, Germán Scazzola,
Jonathan Manzur, Achucarro Santiago

La Lógica Interna del Circo: rasgos fundamentales.............................49


Mercè Mateu, Marco Antonio Coelho Bortoleto

Aplicação da Pedagogia das Condutas Motrizes


na Educação Física Escolar.....................................................................77
Glauco Nunes Souto Ramos

A Pedagogia das Condutas Motrizes no Ensino do Conteúdo


Esporte na Educação Física Escolar......................................................93
Lilian Aparecida Ferreira
Motricidad y Significación: hacia una perspectiva dialéctica
en praxiología motriz – En agradecimiento a Pierre Parlebas............113
Raúl Horacio Gómez

PARTE 2 – PRAXIOLOGIA MOTRIZ,


PRÁTICAS PSICOMOTRIZES
E PRÁTICAS MOTRIZES INTROJETIVAS.......................151

Brinquedos e Brincadeiras na Educação Física:


uma proposição didática da Pedagogia da Corporeidade...................153
Pierre Normando Gomes-da-Silva

Praxiologia Motriz e Equoterapia:


uma radiografia praxiológica da lógica interna
das mediações equoterápicas dentro da escola....................................177
José Ricardo da Silva Ramos

Las Prácticas Motrices Introyectivas


a la Luz de la Praxiología Motriz..........................................................197
Francisco Lagardera

PARTE 3 – PRAXIOLOGIA MOTRIZ E A


SISTEMATIZAÇÃO DOS CONTEÚDOS
DA EDUCAÇÃO FÍSICA A PARTIR
DOS DOMÍNIOS DA AÇÃO MOTRIZ...................................219

Los Contenidos de Exclusividad Disciplinar en la


Formación Docente de Educación Física de Argentina:
Aportes de la Praxiología Motriz..........................................................221
Roberto Stahringer

Dominios de Acción Motriz: una brújula


para el profesor de educación física......................................................237
Pere Lavega
Planejamento Curricular na Educação Física Escolar:
diálogos com a praxiologia motriz ........................................................261
Fernando Jaime González

PARTE 4 – APLICAÇÕES DE CONCEITOS


DA PRAXIOLOGIA MOTRIZ A DISTINTOS
ÂMBITOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA.....................................291

Enseñanza del Rugby com Perspectiva Praziológica..........................293


José David Ruffino

Adaptación de un Ludograma, una Herramienta Sociomotriz..........307


César Armando Araya Zarricueta

Voleibol e a Praxiologia Motriz.............................................................313


Bruno Minuzzi Lanes, Cesar Vieira Marques Filho,
Dainan Lanes de Souza, Felipe Menezes Fagundes,
Raquel Valente de Oliveira

Praxiologia Motriz e as Manifestações Tradicionais


e Contemporâneas da Cultura Corporal..............................................321
Artemis Soares

Caminhos para o Ensino dos Jogos Tradicionais na Escola................339


Sabrine Damian da Silva, Silvester Franchi,
Leonardo Machado da Silva, Joseane Alba,
João Francisco Magno Ribas

Sobre os Autores....................................................................................357
PRÉFACE

Le grand intérêt des rencontres internationales, tel ce Séminaire


de Praxéologie Motrice, coordonné par le Professeur Joao Francisco
Magno Ribas, est de faire le point sur l’état des connaissances dans le
domaine considéré. Où en sommes-nous dans le cas des activités physi-
ques et sportives? Peut-on faire apparaître de grandes tendances qui se
dégagent des travaux menés à bien dans les différents pays européens,
africains ou latino-américains?
Le point le plus frappant est que, de la part des multiples inter-
venants, se dessine une grande communauté de vues, une solide envie
de travailler ensemble dans la perspective de la praxéologie motrice.
On observe un désir constant de relier la théorie et la pratique, qui se
manifeste par l’étude praxéologique de terrains d’application extrême-
ment variés. Les conférenciers et les débatteurs du Congrès ont fait
appel à une multitude de secteurs d’intervention: le cirque, les jeux
traditionnels, les sports collectifs, les pratiques urbaines, les activités
scolaires… et à chaque fois, le recours à la logique interne des situations,
a souligné le rôle original et déterminant de l’action motrice, en tant que
socle fondamental.
Le souci de mettre en œuvre une démarche véritablement
scientifique, notamment de type expérimental, s’est affirmé de façon
appuyée: cette orientation est capitale car elle dote la praxéologie
motrice des fondements indispensables à tout développement objec-
tif et contrôlable. A ce titre, de nombreux intervenants ont utilisé de
façon efficace les apports de la classification des situations motrices.
En effet, une classification n’est pas une proposition gratuite à simple
12 Pi e r r e Pa r l e b a s

visée ornementale; elle propose une organisation cohérente des prati-


ques fondée sur les rapports, qu’au cours de leurs conduites motrices, les
pratiquants entretiennent avec le milieu matériel et avec leur entourage
humain. L’environnement est-il stable ou incertain? Faut-il se coor-
donner avec des partenaires et/ou affronter des adversaires? La prise
d’information est ici à la base des conduites motrices. Il faut classer
pour comprendre; il faut classer pour agir. Sont ainsi définis des “domai-
nes d’action motrice” qui distribuent les activités physiques et sporti-
ves dans des catégories distinctives chargées de significations d’action
précises, riches d’effets éducatifs potentiels: la solidarité, l’affrontement,
l’automatisation gestuelle, l’adaptabilité au changement.
Dans cette optique, on a pu noter l’effort des conférenciers en
vue de bien préciser le sens des mots utilisés. Cet effort d’élucidation
conceptuelle est très important. Il est capital d’associer chaque concept
à une catégorie de phénomènes, bien caractérisée. Ainsi, les défini-
tions respectives de la psychomotricité et de la sociomotricité sont-elles
opérationnelles, c’est-à-dire traductibles en opérations concrètes, obser-
vables et vérifiables. Dans le premier cas, la personne agissante agit
en solo et n’est partie prenante dans aucune interaction instrumentale
avec quiconque; dans le second cas, des interactions motrices fonctio-
nnelles s’accomplissent de façon nécessaire entre les participants. Ces
définitions sont sans ambiguïté: une situation qui met en co-présence
différents acteurs qui n’interagissent pas corporellement dans le cadre
de la logique interne de l’activité concernée, n’est pas de type socio-
moteur; elle est psychomotrice et correspond alors à une situation dite
“comotrice” (course de 100 mètres, saut à la perche, marelle…). Nous
devons apprendre à nous méfier des apparences et à éviter le piège des
fausses évidences: la baleine n’est pas un poisson mais un mammifère!
Parfois, les définitions se situent à des niveaux différents et il est
important de bien distinguer les champs de signification correspondants.
Ainsi, la notion “d’ethnomotricité” est-elle une notion généralisante
indiquant que les pratiques corporelles sont dépendantes des contextes
Préface
13

sociaux au sein desquelles elles se sont épanouies. Ce concept est capi-


tal, car il souligne que l’environnement culturel façonne les conduites
ludosportives par le truchement de l’éducation, des habitudes sociales,
des rites et des prestiges qui exercent une influence souvent décisive.
Les mots ne sont pas neutres; ils créent du sens et nous devons être
particulièrement vigilants à l’égard de ce sens. Parler d’ethnomotricité,
c’est souligner que les pratiques corporelles, et notamment les jeux
traditionnels, mettent en scène la mémoire d’une culture qui s’est
inscrite dans les gestes du corps. Sous cet aspect, les jeux tradition-
nels représentent un patrimoine culturel d’une grande richesse, aussi
intéressant que les contes par exemple. On sort ainsi de la stricte bio-
-mécanique. Les analyses praxéologiques débouchent ici sur un univers
anthropologique pétri de significations culturelles, peu exploré mais
passionnant.
La comparaison des études menées dans différents pays se révèle
féconde: elle fait surgir parfois des rapprochements inédits et parfois des
écarts insoupçonnés. Les travaux de terrain confirment les potentialités
de la praxéologie motrice qui prouve ainsi le mouvement en marchant.
Il est frappant de constater que le travail en équipe a constamment été
évoqué comme un facteur important d’adhésion des chercheurs et de
leur réussite. Soulignée par de nombreux auteurs, l’une des tâches qui
se révèle désormais urgente est la mise au point d’un programme de
formation des futurs enseignants-motriciens, programme globalement
fondé sur les domaines d’action motrice. Cette réalisation est cruciale
car l’éducation physique de demain dépendra de la formation dispensée
aujourd’hui aux jeunes étudiants.
Ainsi que nous l’avons noté depuis plusieurs années, nous
pouvons désormais penser que la “masse critique” a été atteinte dans les
travaux de praxéologie motrice; c’est toute une nouvelle génération de
chercheurs venus de divers continents qui conjuguent leurs efforts afin
de forger un corpus de connaissances et de pratiques validées, fondées
sur l’action motrice. Et dans ce cas, la cohérence des démarches coïncide
14 Pi e r r e Pa r l e b a s

avec la cohésion des équipes. Ce n’est pas le moindre des intérêts de


la praxéologie motrice que de nouer entre ses adeptes d’origines très
différentes, des relations d’efficace solidarité et de profonde amitié.
Pierre Parlebas
PLANEJAMENTO CURRICULAR
NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR
diálogos com a praxiologia motriz1

Fernando Jaime González

A Educação Física, entendida como prática pedagógica que tema-


tiza o universo da cultura corporal de movimento na escola (Bracht, 1992,
1999), exige um suporte teórico para fundamentar as decisões com as
quais está constantemente confrontada. Esse suporte se constitui de um
conjunto diversificado de conhecimentos que inclui tanto o saber fático
como o ético-normativo.

A Praxiologia Motriz, entendida como uma disciplina científica


que se ocupa “da ação motriz e especialmente das condições, modos de
funcionamento e resultado de seu desenvolvimento” (Parlebas, 2001,
p. 265), proporciona um conhecimento importante ao campo teórico da
Educação Física, o qual busca articular organicamente os conhecimentos
das disciplinas científicas sobre os fenômenos com e nos quais inter-

1
Texto-base da apresentação realizada na Mesa Temática: Praxiologia Motriz e a sistema-
tização dos Conteúdos da Educação Física a partir dos domínios da ação motriz na Escola
no III Seminário Latino-Americano de Praxiologia Motriz e III Seminário Brasileiro
de Praxiologia Motriz, UFSM, cidade de Santa Maria, RS, 2/5/2015. Participaram da
mesa o doutor Pere Lavega Burgués – INEFC, Universidad de Lleida, Espanha e o
doutor Roberto Stahringer – Universidad Nacional de Cuyo, Argentina. A mediação
ficou com a professora doutora Maristela da Silva Souza.
262 Fernando Jaime González

vém, com o conhecimento ético-normativo que necessariamente orienta


a intervenção. Os conhecimentos praxiológicos, desta forma, auxiliam
na compreensão de uma dimensão intrínseca às práticas corporais que,
junto com outros saberes, são fundamentais para “articular o conheci-
mento da realidade com uma visão prospectiva da realidade” (Betti,
2005, p. 187).

Neste texto apresento uma forma específica de uso dos conheci-


mentos da Praxiologia Motriz no processo de tomadas de decisão que
orientou a formulação de uma proposta curricular para a Educação Física
escolar. Conhecimentos utilizados de forma stricto sensu, bem como de
forma lato sensu.

Dessa forma, na primeira parte do texto apresento o sentido que


a Educação Física ganha dentro desta proposta, bem como quais são os
campos de conhecimentos com os quais se ocupa. Na segunda parte
explicito como alguns conhecimentos do campo da praxiologia são mobi-
lizados para estruturar os saberes com os quais trata a Educação Física
e como critérios vinculados à estrutura dos esportes são utilizados para
propor a tematização de parte dos conhecimentos vinculados a esse
universo.

EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR NO BRASIL


A Educação Física escolar no Brasil tem passado, nas últimas
décadas, por muitas e significativas mudanças, quando comparada com
sua história desde a inclusão no sistema de educação formal no século
19. Muitas destas mudanças podem ser atribuídas ao denominado
Movimento Renovador da Educação Física, iniciado na década de 80
do século 20, em meio à ampla mobilização social e política em prol da
redemocratização do país.
Planejamento curricular na educação física escolar
273

O foco da disciplina é o estudo da cultura corporal de movimento e


tematiza a pluralidade do rico patrimônio de práticas corporais siste-
matizadas, bem como as representações sociais a elas atreladas. Tal
proposição se baseia na ideia de que cada uma das manifestações da
cultura corporal de movimento proporciona ao sujeito o acesso a uma
dimensão de conhecimento e de experiências que ele não teria de
outro modo. A vivência destas manifestações corporais não é apenas
um meio para aprender outras coisas, e sim um uma experiência
geradora de um tipo de conhecimento muito particular, insubsti-
tuível.4 Logo, se não for oferecida ao educando a oportunidade de
experimentar o leque de possibilidades de movimento sistematizado
pelos seres humanos ao longo dos tempos, ele estará perdendo parte
do acervo cultural da humanidade, uma possibilidade singular de
perceber o mundo e de perceber-se (González, 2006a).

Passo agora, a partir de um novo recorte, a descrever como um


desses temas, o Esporte, é organizado a partir desta proposta curricular.
Para tanto apresento um “sistema de classificação dos esportes”, o qual
dialoga com a proposta da Praxiologia Motriz.

SISTEMA DE CLASSIFICAÇÃO DOS ESPORTES:


segundo recorte
O Sistema de Classificação dos Esportes foi formulado com base
nas características “da lógica interna”, segundo a definição do professor
Pierre Parlebas, ou seja “[...] o sistema de características próprias de uma
situação motora e das consequências que esta situação demanda para a
realização de uma ação motora correspondente” (Parlebas, 2001, p. 302).
Trata-se dos aspectos peculiares de uma modalidade que exigem dos
praticantes uma atuação de um jeito específica durante sua realização.

4
Os saberes que se produzem pela experiência do “se-movimentar” (Kunz, 1994) se
constituem como um “saber orgânico” (Betti, 1994), um saber percebido e compreen-
dido por intermédio das sensações corporais (González; Fraga, 2012), o qual não pode
ser substituído nem pela palavra (oral ou escrita) nem pela observação.
274 Fernando Jaime González

O conhecimento da lógica interna permite ler as características


das diversas modalidades esportivas existentes com base nos desafios
motores postos aos participantes. Estas características são tão importan-
tes para pensar o ensino que é possível encontrar diversos sistemas de
categorização na literatura5 dedicada ao assunto.

O sistema ora exposta combina um conjunto de categorias presen-


tes em outras classificações, particularmente o “Sistema de Interação
Global” de Pierre Parlebas, a “Classificação de Jogos” de Almond (1986),
a classificação dos esportes segundo Dudley (1986, citado por Castejón,
1995) e a classificação de esportes proposta por Ritzdorf (2000), porém
arranjadas de um modo particular que permite uma leitura consistente
da lógica interna de “todas” as modalidades esportivas na perspectiva
do ensino tanto dos conhecimentos necessários para praticar as moda-
lidades, quanto para saber sobre essas práticas (González, 2004, 2006b;
González; Fraga, 2009b, 2009c). A seguir passo a descrever a citada clas-
sificação.

Relações entre adversários


O sistema de classificação ora apresentado tem como critério
fundamental de categorização a relação que os adversários estabelecem
durante a participação na prova ou jogo. Como sabido, num sentido
restrito, só é possível caracterizar uma prática corporal como esporte
quando há comparação de desempenho entre adversários. Se não houver
rival não há como confrontar desempenhos numa prova ou numa partida.
E, se não houver prova ou partida, não é possível saber quem ganhou,
portanto, uma das principais características do esporte é a existência de
adversários.

5
Parlebas (1988, 2001), Riera (1989), Werner e Almond (1990); Famose (1992), Ruiz
(1994), Castejón (1995); Hernández (1994, 1995, 2000), Hernández et al. (1999);
Ritzdorf (2000); Schmid e Wrisberg (2001).
278 Fernando Jaime González

essas modalidades os árbitros responsáveis dão notas ao desempenho


realizado pelos atletas com base em tabelas que estabelecem o grau
de dificuldade dos movimentos realizados e a forma como eles devem
ser executados. Nos esportes técnico-combinatórios, como já foi refe-
rido, o vencedor da prova não é aquele que consegue ir mais longe ou
ser mais rápido, o que se compara aqui é quem consegue executar os
movimentos com maior grau de dificuldade e de forma adequada.

− Esportes de Precisão: aqueles cujo objetivo principal é arremessar/bater/


lançar um objeto (bocha, bola, bolão, flecha, projétil) procurando acer-
tar um alvo específico fixo ou em movimento. Para ver quem ganhou
uma prova nas modalidades desse tipo, leva-se em consideração o
número de vezes que um atleta tentou acertar o alvo (leva vantagem
na pontuação quem conseguir acertar o alvo no menor número de
tentativas), ou então se compara a proximidade do objeto arremessado
em relação ao alvo (mais perto/longe do que o adversário). Exem-
plos: bocha, croquet, curling, golfe, sinuca, tiro com arco, tiro esportivo,
etc. Entre outras características comuns nesses esportes, destaca-se a
importância do controle do movimento do atleta no manejo preciso
do objeto. Aqui é muito mais importante ter boa pontaria do que
velocidade, força, resistência física, que são capacidades motoras
muito importantes em outros tipos de esporte. É provavelmente por
isso que a média de idade dos atletas dessas modalidades é mais alta
do que nos demais tipos de esporte.

TIPOS DE ESPORTES DENTRO DO CONJUNTO


COM INTERAÇÃO ENTRE ADVERSÁRIOS
Para os esportes com interação, o critério de classificação está
vinculado aos princípios táticos da ação, ou seja, está baseado naquilo
que um único atleta (esportes individuais) ou um atleta juntamente
com seus companheiros de equipe (esportes coletivos) devem fazer para
Planejamento curricular na educação física escolar
279

atingir a meta estabelecida. Tratando-se de modalidades com interação


entre adversários, não é suficiente realizar de forma adequada os gestos
técnicos demandados pelo esporte, também é imprescindível escolher/
decidir (individual ou individual e coletivamente) o que fazer diante
da situação criada pela dinâmica da prova ou jogo. Quando levamos
em consideração esse critério, é possível perceber que existem traços
comuns na forma de atacar e defender em modalidades que parecem ser
bem diferentes umas das outras. O polo aquático e o futebol, por exem-
plo, têm o mesmo princípio de organização tática, apesar de o primeiro
ser praticado dentro de uma piscina e o segundo num campo gramado.
Tanto num quanto noutro a defesa de uma equipe só funciona quando
todos os jogadores adversários estiverem marcados e quando, ao mesmo
tempo, cada defensor estiver de costas para o seu próprio gol e de frente
para o jogador marcado, tentando lhe tirar o espaço para o arremesso ou
o chute a gol. Então, de acordo com os “princípios táticos” do jogo, o
conjunto de esportes com interação pode ser subdividido, pelo menos,
em cinco tipos, com os três últimos sendo parte das categorias propostas
pelo sistema de classificação de Almond (1986):
− Esportes de Translação: aqueles caraterizados por percorrer um deter-
minado percurso em menor tempo, com a particularidade de os
competidores poderem, dentro dos limites do regulamento, dificul-
tar a ultrapassagem dos adversários. Muitas destas modalidades usam
veículos a motor e se desenvolvem em pistas de corrida especial-
mente desenvolvidas para tais provas.
− Esportes de Combate: caracterizados como disputas nas quais uns
tentam vencer os outros por meio de toques, desequilíbrios, imobili-
zação, exclusão de um determinado espaço e, dependendo da modali-
dade, por contusões, combinando ações de ataque e defesa. É impor-
tante destacar que, para alcançar o objetivo nesses esportes, é preciso
atingir o corpo do adversário ou conseguir algum grau de controle
sobre ele (por exemplo: boxe, esgrima, jiu-jitsu, judô, karatê, luta,
sumô, tae kwon do, etc.).
282 Fernando Jaime González

Figura 1).7 Com esse mapa é possível reconhecer os elementos comuns


entre as diversas práticas, compreender de forma global como se define
quem ganha ou quem perde uma prova ou partida, além de ajudar a
entender o que devem fazer os jogadores para poder participar de dife-
rentes modalidades.

Figura 1 – O mapa dos esportes

Fonte: González; Fraga, 2009b.

O sistema de classificação completa-se incluindo outras duas cate-


gorizações dos esportes do “Sistema de Interação Global” ou o CAI
de Pierre Parlebas, uma vinculada com a relação com os companheiros

7
É importante observar que não aparece no “Mapa dos esportes” o tipo de esporte de
“translação”. Trata-se de uma escolha didática centrada na ideia de que as modalidades
que constituem essa categoria não necessitam de maior atenção na Educação Física
escolar.
284 Fernando Jaime González

USOS DO SISTEMA DE CLASSIFICAÇÃO DOS ESPORTES


O Sistema de Classificação dos Esportes é entendido como uma
ferramenta conceitual para sistematizar conhecimento no campo da
Educação Física quando se busca planejar o ensino. O uso se dá pelo
menos em três planos:
a) Para o professor de Educação Física poder ler as diversas lógicas inter-
nas que regem as distintas modalidades esportivas de forma a ter um
critério que lhe permita, sob esta perspectiva, tomar decisões sobre
como tematizar um universo tão rico e diverso. Nesse sentido, quando
perguntarmos que esportes ensinar na escola diante das inúmeras
modalidades existentes, desde o ponto de vista de a lógica interna,8 a
resposta poderia ser todos os “tipos” de esportes (González, 2006a).
Isso porque, considerando só os anos finais de Ensino Fundamental
é possível tematizar de forma consistente os sete ou oito “tipos” de
esportes, utilizando-se para isso de diferentes modalidades dentro
da mesma categoria. Ver, por exemplo, as experiências descritas por
Martins e Fensterseifer (2009) e Carlan, Kunz e Fensterseifer (2012),
entre outras. Nessa perspectiva, o Referencial Curricular de Educação
Física da coleção Lições do Rio Grande (González; Fraga, 2009c)
também propõe trabalhar todos os tipos de esporte, sem “impor” o
ensino de uma ou outra modalidade.
b) Para o professor de Educação Física alinhar as experiências de apren-
dizagem oferecidas a seus alunos à lógica interna da modalidade ensi-
nada, reconhecendo os conhecimentos demandados para convertê-los
em conteúdos, bem como as estratégias pedagógicas a serem privi-
legiadas em seu ensino, dada a natureza de tais conteúdos. O domí-
nio de uma classificação como essa permite que o professor opere
com metodologias compreensivas, como largamente documentadas
na bibliografia internacional, por exemplo, as propostas de Griffin,

8
É importante observar que não aparece no “Mapa dos esportes” o tipo de esporte de
“translação”. Trata-se de uma escolha didática centrada na ideia de que as modalidades
que constituem essa categoria não necessitam de maior atenção na Educação Física
escolar.
Planejamento curricular na educação física escolar
285

Mitchell e Oslin (1997) e Griffin e Butler (2005), entre muitos outros.


Os livros que tratam sobre esporte da coleção Práticas Corporais e a
Organização do Conhecimento, volumes 1 e 2, do Programa Esporte
da Escola (González; Darido; Oliveira, 2014a, b), vinculado à Secre-
tária Nacional de Esporte, Educação, Lazer e Inclusão Social, do
Ministério dos Esportes, foram organizados nesta perspectiva, e têm
possibilitado que os professores identifiquem as semelhanças e dife-
renças das modalidades esportivas a partir desta classificação, bem
como reconheçam as possibilidades de transferir (ou não) procedi-
mentos didáticos quando se ensina um ou outro tipo de modalidade.
c) O sistema de classificação dos esportes como conhecimento concei-
tual para os alunos conhecerem melhor o universo esportivo a partir
de sua lógica interna, reconhecendo as semelhanças e diferenças dos
diferentes esportes. Trata-se então de não apenas aprender/expe-
rimentar todos os tipos de esporte, mas também aprender sobre as
diferentes modalidades esportivas, neste caso sobre a classificação
dos esportes segundo sua lógica interna. Nesse sentido, dentro da
coleção Lições do Rio Grande foi elaborada uma unidade didática,
com caderno do aluno e do professor (González; Fraga, 2009b, c),
para tematizar a lógica interna do esporte com os aprendizes, parti-
cularmente o sistema de classificação ora apresentado. Esse material
curricular (cadernos do professor e do aluno) foi objeto de estudo de
Barroso (2015) e embora o foco principal não tenha sido o sistema
de classificação e sim a qualidade dos “livros”, a pesquisa mostrou
resultados muito interessantes em relação à pertinência de estudar
esse tema nas aulas de Educação Física na perspectiva dos professores
participantes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Resta enfatizar mais uma vez que os conhecimentos formulados
no universo da Praxiologia Motriz são muito importantes para analisar os
“objetos culturais” a serem ensinado aos alunos, bem como dimensionar

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