Linfonomegalia - SBP
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Documento Científico
Departamento Científico
de Oncologia
(2016-2018)
Linfonodomegalia periférica
na criança e no adolescente:
quando pensar em câncer
Introdução
O corpo humano possui em torno de 600 nó- Neste contexto, é importante o pediatra estar
dulos linfáticos. O baço, as amígdalas, as adenoi- ciente que nem todos os linfonodos palpáveis es-
des e as placas de Peyer fazem parte do tecido tão aumentados por doença maligna, e que a maio-
linfoide e seu papel é realizar a depuração dos ria deles são secundários a etiologia benigna2-4.
antígenos provenientes do fluído extracelular1.
Usualmente o tamanho normal do linfonodo é
O tecido linfoide aumenta rapidamente na in- menor que 1 cm de diâmetro, embora haja varia-
fância, alcançando dimensões do adulto em torno ções nas diferentes regiões e idades. Nas crianças
dos seis anos de idade. O pico máximo de cresci- (2-10 anos) geralmente os linfonodos normais
mento é no período pré-puberal, ocorrendo, pos- são maiores em tamanho, e aqueles > 2-3 cm são
teriormente, involução2. usualmente sugestivos de malignidade ou de do-
ença granulomatosa1,5,6.
No período neonatal geralmente os linfono-
dos não são palpáveis, pois esta é uma fase em Cerca de 75% das linfonodomegalias periféri-
que há pouca estimulação antigênica. Na infân- cas são localizadas e mais de 50% são observadas
cia, a resposta hiperplásica do linfonodo tende na região de cabeça e pescoço. Estão frequente-
a ser mais imediata e intensa que no adulto, mas mente associadas a uma doença específica na re-
à medida que a criança cresce os mecanismos de gião de drenagem linfática e não necessitam de in-
defesa tornam-se mais específicos e a reatividade vestigações adicionais ao exame clínico para o seu
ganglionar tende a ser menos intensa e, comu- diagnóstico. As linfonodomegalias generalizadas
mente, mais localizada2. representam 25% dos casos e estão geralmente
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Linfonodomegalia periférica na criança e no adolescente: quando pensar em câncer
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naqueles linfonodos maiores, nos que estão rapi- Os padrões de drenagem dos linfonodos po-
damente aumentando de tamanho, naqueles com dem auxiliar o raciocínio clínico e a investigação
consistência firme ou que são confluentes e fixos, inicial, pois fornecem informações quanto à ori-
e nos localizados em área supraclavicular2-4. gem do câncer (Tabela 1)2,3,5,7.
Tabela 1. Localização das linfonodomegalias periféricas e centrais, áreas de drenagem e neoplasias malignas mais
comumente associadas na criança e no adolescente2,3,5,7
Etiopatogenia
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são leucemias, linfomas não Hodgkin, neuro- cífico. Normalmente está elevada nas neoplasias
blastoma e rabdomiossarcoma. Em crianças, na malignas (como marcador do turnover celular),
faixa etária entre sete e 13 anos são mais pre- miocardites, distrofia muscular, mononucleose
valentes os linfomas (Hodgkin e não Hodgkin), infecciosa, hepatopatias, pneumopatias, anemia
carcinoma de tireoide e rabdomiossarcoma. hemolítica, pancreatite, falência renal, uso de
Nos adolescentes maiores de 13 anos de idade, determinados medicamentos (anestésicos, aspi-
o linfoma de Hodgkin é mais prevalente2; rina, fluoretos), entre outras causas. Este exame
também é usado para monitorar a resposta ao
• Presença de sinais/sintomas constitucionais su-
tratamento do câncer, uma vez que os valores de
gestivos de doença sistêmica: febre inexplicada;
lactato desidrogenase tendem a baixar com a ade-
perda de peso, astenia, sangramentos, palidez, dor
quada resposta à terapia antineoplásica. Em um
óssea ou articular inexplicadas; sudorese notur-
estudo conduzido por Barbosa e colaboradores13
na; prurido constante; dor abdominal recorrente
foi observado que no grupo das neoplasias malig-
e inexplicada. Febre, sudorese noturna e perda de
nas, os níveis de LDH foram de 2,2 vezes o normal,
peso inexplicada podem ocorrer nas doenças linfo-
enquanto, que nas crianças com artrite reumatoi-
proliferativas, em especial no linfoma de Hodgkin.
de juvenil (ARJ), foi de apenas 0,8 vezes. Portanto,
Petéquias, equimoses, febre e hepatoesplenome-
os autores desse estudo concluíram que crianças
galia podem ser observadas nas leucemias agudas;
com sintomas consistentes com ARJ e que apre-
• Presença de hepatoesplenomegalia e manifes- sentem níveis elevados de LDH devem ser sub-
tações hemorrágicas: estão mais frequente- metidas à investigação para descartar neoplasia
mente associadas às leucemias; maligna. No estudo realizado por Aynur e colabo-
radores11 em um Serviço de Oncologia, a possibili-
• Resposta ao tratamento antimicrobiano: em al-
dade de malignidade foi maior nos pacientes com
gumas crianças com linfonodomegalia localiza-
níveis mais elevados de LDH e ácido úrico.
da pode ser um fator importante na definição da
abordagem diagnóstica. • Ácido úrico: é resultante da quebra das mo-
léculas de purina, por ação da enzima xantina
Alguns exames complementares que podem
oxidase. Causas de produção excessiva incluem
auxiliar o pediatra na avaliação de uma criança
câncer metastático, leucemias, linfomas, ane-
com suspeita diagnóstica de câncer1-4,7,8,10,12:
mias hemolíticas, policitemia, quimioterapia,
• Hemograma: neutropenia com ou sem blastos, radioterapia, alguns medicamentos, dieta rica
bicitopenia ou pancitopenia podem sugerir o em proteínas e alguns distúrbios hereditários.
diagnóstico de leucemia. A presença de bicito- No momento do diagnóstico pode estar aumen-
penia ou anemia normocrômica e normocítica tado principalmente nas linfonodomegalias por
inexplicada e alterações leucoeritrobláticas po- leucemias e linfomas.
dem sugerir infiltração metastática;
• Exames de imagem
• Mielograma: as indicações para sua realização
1. Radiografia de tórax: fornece informações
incluem, presença de diminuição significativa
acerca da linfonodomegalia generalizada e hilar,
e inexplicada do número de células, de uma ou
além de evidenciar a presença de possível massa
mais séries no hemograma; blastos ou altera-
mediastinal. Em relação à localização das massas
ções leucoeritroblásticas no sangue periférico;
mediastinais, as neoplasias malignas mais fre-
citopenias ou leucocitose associadas a linfono-
quentes do mediastino anterior são os linfomas
domegalia ou hepatoesplenomegalia não infec-
e tumores mesenquimais; no mediastino médio
ciosas; citopenias ou leucocitose associadas a
são linfomas e sarcomas; e no mediastino pos-
massa mediastinal;
terior são neuroblastoma, tumor neuroectodér-
• Desidrogenase láctica (LDH): maiores concentra- mico primitivo, sarcomas e tumores das células
ções são obtidas durante dano tecidual inespe- germinativas.
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Tabela 2. Critérios ultrassonográficos que auxiliam na diferenciação entre linfonodos com características benignas e malignas1,12
3. Ultrassonografia abdominal, tomografia de tórax biópsia excisional é o padrão ouro é que remo-
e abdome avaliam linfonodomegalias no tórax e ca- ve os linfonodos inteiros e, assim, geralmente
vidade abdominal e pélvica, permitindo a diferen- fornece tecido suficiente e permite o exame mi-
ciação com massas não ganglionares. croscópico de todas as regiões dos linfonodos. O
tecido obtido por biópsia de excisão é enviado
Os exames de imagem também são úteis para para análises histológicas, que compreendem
guiar as biópsias por agulha, melhorando assim, a avaliação morfológica, imuno-histoquímica e,
acurácia do método. em alguns casos, testes para mutações específi-
cas, como translocações ou mutações pontuais.
• Biópsia do linfonodo (diagnóstico tecidual): é o
Além disso, os linfonodos podem ser analisados
padrão ouro para avaliação das linfonodomega-
por citometria de fluxo, semelhante ao sangue e
lias periféricas. Deve ser realizada preferencial-
à medula óssea. O tecido também pode ser en-
mente a biópsia excisional, do maior linfonodo, e
viado para análise microbiológica, conforme de-
se possível, do mais profundo, pois os linfonodos
terminado pela avaliação clínica.
mais periféricos podem geralmente ser reacio-
nais. Caso nenhum linfonodo seja predominante A core biópsia tem sido proposta por alguns pro-
devemos optar por ordem decrescente de esco- fissionais como alternativa à excisional, mas as
lha pelos linfonodos supraclaviculares, cervicais evidências, até o momento, são insuficientes para
baixos, axilares e inguinais. A razão pela qual a responder esta questão.
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A biópsia realizada por punção com agulha fina • Linfonodomegalia em região cervical inferior ou
(PAF) é uma técnica limitada, particularmente nas supraclavicular e/ou associada a linfonodomega-
crianças. Suas maiores limitações técnicas estão lia profunda;
relacionadas à inadequada/insuficiente amostra
• Linfonodomegalia associada à sintomatologia su-
e à alta taxa de diagnóstico falso negativo para o
gestiva de doença grave (presença de sinais/sin-
linfoma de Hodgkin e à incompleta classificação
tomas sistêmicos persistentes e inexplicados);
para o linfoma não Hodgkin. A PAF, no entanto,
pode assumir papel importante nas áreas onde • Linfonodomegalia associada a anormalidades ra-
não é possível a realização de biópsia excisional. diológicas ou alterações no hemograma inexpli-
Na suspeita de tumor sólido localizado em cabeça cadas pela avaliação de medula óssea;
e pescoço e nos cânceres metastáticos, na maioria
• Linfonodomegalia generalizada associada a hepa-
dos casos, a PAF também é suficiente para eluci-
tomegalia e/ou esplenomegalia inexplicada;
dação diagnóstica.
• Linfonodomegalia sem sinais de involução após
tratamento específico.
Quando o linfonodo
deve ser biopsiado? É de responsabilidade do pediatra o seguimen-
to clínico seriado do paciente com linfonodomega-
Considerando que há poucos estudos publica- lia, visando estabelecer seu diagnóstico etiológico.
dos com qualidade de evidências, no manejo das Sempre que houver suspeita de câncer o paciente
linfonodomegalias periféricas em crianças, é ne- deve ser encaminhado, o mais rápido possível, para
cessária a realização de estudos prospectivos com um centro de referência em oncologia pediátrica,
protocolos de diagnóstico clínico padronizado, uti- objetivando agilizar o diagnóstico e iniciar o trata-
lizando modelos preditivos multivariados para ade- mento antineoplásico para melhor prognóstico da
quada tomada de decisão. doença. É importante lembrar que os centros de re-
ferência estão melhor preparados para a realização
As recomendações de consenso na literatura
dos inúmeros exames necessários para adequada
para realização de biópsia são2-6,10,14,15:
caracterização da neoplasia, assim, é conveniente
• Linfonodomegalia localizada em que a pesquisa que a biopsia seja feita em centros de referência.
clínica e laboratorial (incluindo aspirado de me-
dula óssea) foi inconclusiva, e o linfonodo conti- A terapêutica a ser instituída, bem como o prog-
nue aumentando de tamanho após duas semanas nóstico da neoplasia maligna estará na dependên-
de observação, ou não apresente regressão em 4 cia do diagnóstico histológico e do estadiamento
a 6 semanas; clínico da doença (extensão clínica).
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Linfonodomegalia periférica na criança e no adolescente: quando pensar em câncer
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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2002;66(11):2103-10. 39(9):433-43.
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Diretoria
Triênio 2016/2018
PRESIDENTE: Galton Carvalho Vasconcelos (MG) Paulo Cesar Pinho Pinheiro (MG)
Luciana Rodrigues Silva (BA) Julia Dutra Rossetto (RJ) Flávio Diniz Capanema (MG)
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Clóvis Francisco Constantino (SP) Rosa Maria Graziano (SP) Renato Procianoy (RS)
2º VICE-PRESIDENTE: Celia Regina Nakanami (SP) EDITOR REVISTA RESIDÊNCIA PEDIÁTRICA
Edson Ferreira Liberal (RJ) DIRETORIA E COORDENAÇÕES: Clémax Couto Sant’Anna (RJ)
SECRETÁRIO GERAL: DIRETORIA DE QUALIFICAÇÃO E CERTIFICAÇÃO PROFISSIONAL EDITOR ADJUNTO REVISTA RESIDÊNCIA PEDIÁTRICA
Sidnei Ferreira (RJ) Maria Marluce dos Santos Vilela (SP) Marilene Augusta Rocha Crispino Santos (RJ)
1º SECRETÁRIO: COORDENAÇÃO DO CEXTEP: Márcia Garcia Alves Galvão (RJ)
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2º SECRETÁRIO: COORDENAÇÃO DE ÁREA DE ATUAÇÃO Gil Simões Batista (RJ)
Paulo de Jesus Hartmann Nader (RS) Mauro Batista de Morais (SP) Sidnei Ferreira (RJ)
3º SECRETÁRIO: COORDENAÇÃO DE CERTIFICAÇÃO PROFISSIONAL Isabel Rey Madeira (RJ)
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DIRETORIA FINANCEIRA: Bianca Carareto Alves Verardino (RJ)
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Sílvio da Rocha Carvalho (RJ)
2ª DIRETORIA FINANCEIRA: REPRESENTANTE NO GPEC (Global Pediatric Education Consortium) Rafaela Baroni Aurilio (RJ)
Ana Cristina Ribeiro Zöllner (SP) Ricardo do Rego Barros (RJ)
COORDENAÇÃO DO PRONAP
3ª DIRETORIA FINANCEIRA: REPRESENTANTE NA ACADEMIA AMERICANA DE PEDIATRIA (AAP) Carlos Alberto Nogueira-de-Almeida (SP)
Fátima Maria Lindoso da Silva Lima (GO) Sérgio Augusto Cabral (RJ) Fernanda Luísa Ceragioli Oliveira (SP)
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