Morte e Vida Severina
Morte e Vida Severina
Morte e Vida Severina
Estrutura geral
Morte e Vida Severina se divide em 18 cenas ou fragmentos poéticos, todos precedidos por um título
explicativo de seu conteúdo, praticamente resumos do que encontramos nos poemas em si. Podemos
separá-los em dois grandes gupos: as primeiras 12 cenas descrevem a peregrinação de Severino. Trata-se
do Caminho ou Fuga da Morte. Nesta parte o poeta habilmente alterna monólogos de Severino com
diálogos que trava ou escuta no caminho; as últimas 6 cenas apresentam O Presépio ou O Encontro com a
Vida, em que é descrito o nascimento do filho de José, mestre carpina, em clara alusão ao nascimento de
Jesus.
As cenas da morte
1. (Monólogo) - Severino se apresenta. Tem dificuldades para se diferenciar dos outros "severinos", pois
são "iguais em tudo na vida". Este Severino representa a todos.
2. (Diálogo) - Conversa com dois homens carregando um defunto numa rede.
3. (Monólogo) - Teme se perder porque o rio Capibaribe secou com o verão.
4. (Diálogo) - Ouve cantarem excelências para um defunto dentro de uma casa, enquanto um homem, do
lado de fora, vai ironizando as palavras dos cantadores.
5. (Monólogo) - Cansado da viagem e desiludido, pensa interrompê-la por algum tempo e procurar trabalho
ali onde se encontra.
6. (Diálogo) - Dirige-se a uma mulher na janela em busca de trabalho, mas esta, rezadeira, diz que por lá
não há serviço para lavradores como ele, só para quem lida profissionalmente com a morte.
7. (Monólogo) - Chega, maravilhado, à Zona da Mata, região de vegetação mais rica, que o faz pensar,
outra vez, em interromper a viagem.
8. (Diálogo) - Assiste ao enterro de um lavrador e ouve os amigos do morto dizerem, com ironia, que agora
sim este tinha a sua terra, a terra da cova rasa.
9. (Monólogo) - Cercado pela morte, resolve apressar os passos para chegar logo a Recife, na esperança
de uma mudança para melhor.
10. (Diálogo) - Chegando a Recife, senta-se para descansar ao pé do muro de um cemitério e ouve, sem
ser notado, a conversa pessimista de dois coveiros.
11. (Monólogo) - Desiludido, aproxima-se de um dos cais do Capibaribe e pensa em se atirar ao rio para
acabar de vez com seu sofrimento.
12. (Diálogo) - Conversa com José, mestre carpina, morador de um dos mocambos à margem do rio, e lhe
pergunta se não é melhor se atirar logo ao rio e à morte.
O presépio: encontro com a vida
13. Uma mulher, da porta da casa de José, anuncia-lhe que seu filho nascera.
14. Os vizinhos, os amigos, duas ciganas, etc. cantam em louvor ao menino.
15. Falam as pessoas que trazem presentes de todos os tipos e de todos os cantos de Pernambuco para o
recém-nascido.
16. Falam as duas ciganas que haviam aparecido com os vizinhos. Uma prevê uma vida enlameada de
pescador pobre, outra de operário um pouco menos pobre.
17. Todos cantam a beleza do recém-nascido. Beleza da novidade, da vida que se multiplica e renova,
incansável.
18. O carpina responde à pergunta que Severino fizera, reafirmando o valor da vida, mesmo que seja
"severina".
Resumo
Severino é um retirante: ele é como muitos outros e que está partindo para o litoral, fugindo da seca, da
morte _ _ . A vida na Capital parece mais atraente, mais "vida", menos "severina". Em suas andanças,
entretanto, Severino se depara a todo momento não com a vida, mas sim com o que já conhece como
coisa vulgar: a morte e o desespero que a cerca _ .
Em seu primeiro encontro com ela, o retirante topa com dois homens carregando um defunto até sua última
morada. Durante uma conversa, descobre que o pobre coitado havia sido assassinado e que o motivo fora
ter querido expandir um pouco suas terras, que praticamente não eram produtíveis _ _ . O retirante segue
sua viagem e percebe que na região onde se encontra, nem o rio Capibaribe - seco no verão - consegue
cumprir o seu papel. Severino sente medo de não conseguir chegar ao seu destino.
Escuta, então, uma cantoria e, aproximando-se, vê que está sendo encomendado um defunto. Pela
primeira vez, Severino pensa em interromper sua "descida" para o litoral e procurar trabalho naquela vila.
Ao dirigir-se a uma mulher, descobre que tudo que sabe fazer não serve ali, e o único trabalho existente e
lucrativo é o que ajuda na morte: médico, rezadeira, farmacêutico, coveiro _ _ . E o lucro é certo nessas
profissões, pois não faltam fregueses, uma vez que ali a morte também é coisa vulgar _ .
Se não há como trabalhar, mais uma vez Severino retoma seu rumo e chega à Zona da Mata, onde
novamente pensa em interromper sua viagem e se fixar naquela terra branda e macia, tão diferente da solo
do Sertão. Mais do que isso: começou a acreditar que não via ninguém porque a vida ali deveria ser tão
boa, que todos estavam de folga e que ninguém deveria conhecer a morte em vida, a vida severina _ .
Ilusão de quem está à procura do paraíso: logo Severino assiste ao enterro de um trabalhador de eito e
ouve o que dizem do morto os amigos que o levaram ao cemitério _ . Severino se dá conta que ali as
privações são as mesmas que ele conhece bem e que também a única parte que pode ser sua daquela
terra é uma cova para sepultura, nada mais _ _ .
O retirante resolve então apressar o passo para chegar logo ao Recife. Severino senta-se para descansar
ao pé de um muro alto e ouve uma conversa _ . É mais uma vez a morte rondando, são dois coveiros que
lhe dão a má notícia: toda a gente que vai do Sertão até ali procurando morrer de velhice, vai na verdade é
seguindo o próprio enterro, pois logo que chegam, são os cemitérios que os esperam _ _ _ .
Severino nunca quis muito da vida, mas está desiludido: esperava encontrar trabalho, trabalho duro mas
agora - desespero! - já se imagina um defunto como aqueles que os coveiros descreviam, faltava apenas
cumprir seu destino de retirante _ _ _ .
Nesse momento, aproxima-se de Severino seu José, mestre carpina, morador de um dos mocambos que
havia entre o cais e a água do rio. O retirante, desesperançado, revela ao mestre carpina sua intenção de
suicídio, de se jogar naquele rio e ter uma mortalha "macia e líquida". Se José tenta convencer Severino
que ainda vale a pena lutar pela vida, mesmo que seja vida severina _ . Mas Severino não vê mais
diferença entre vida e morte e lança a pergunta: "que diferença faria/ se em vez de continuar/tomasse
melhor saída:/a de saltar, numa noite,/ fora da ponte e da vida?"
Da porta de onde havia saído o mestre carpina, surge uma mulher, que grita uma notícia. Um filho nascera,
o filho de seu José _ ! Chegam vizinhos, amigos, pessoas trazendo presentes ao recém-nascido _ _ . Vêm
também duas ciganas, que fazem a previsão do futuro do menino: ele crescerá aprendendo com os bichos
e no futuro trabalhará numa fábrica, lambuzado de graxa e, quem sabe, poderá morar num lugar um pouco
melhor _ .
Severino assiste ao movimento, ao clima de euforia com a vinda do menino _ _ . O carpina se aproxima
novamente do retirante e reata a conversa que estavam levando. Diz que não sabe a resposta da pergunta
feita, mas, melhor que palavras, o nascimento da criança podia ser uma resposta: a vida vale a pena ser
defendida.