CP8
CP8
CP8
PROFISSIONALIDADE
DA REFLEXÃO SOBRE A PRÁTICA DE ENSINO SUPERVISIONADA
AOS CURSOS DE EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO DE ADULTOS
Setembro de 2011
A FILOSOFIA NA ÁREA DE COMPETÊNCIAS DE CIDADANIA E
PROFISSIONALIDADE
DA REFLEXÃO SOBRE A PRÁTICA DE ENSINO SUPERVISIONADA
AOS CURSOS DE EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO DE ADULTOS
Setembro de 2011
Relatório apresentado para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção
do grau de Mestre em Ensino da Filosofia no Ensino Secundário, realizado sob a
orientação científica do Professor Doutor Luís Crespo de Andrade da Faculdade de
Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.
AGRADECIMENTOS
À minha família, em geral, e ao meu pai, à minha mãe e ao meu irmão, em particular,
pelo seu amor e apoio incondicional, mesmo nos momentos em que as opções relativas
ao percurso académico a percorrer não foram as mais óbvias.
À minha mulher, Isaura Carvalho, sem a qual esta árdua caminhada não teria sido
concluída com sucesso.
RESUMO
ABSTRACT
This report focuses on the Supervised Teaching Practice (PES) in Escola Secundária
Quinta do Marquês during the academic year 2010/2011. The respective description and
critical reflection will focus on teaching practice in the level of the tenth and tenth first
forms of the discipline of philosophy and how the skills acquired in this context can be
an asset when mobilized for adult education and training courses.
Índice
Introdução ..................................................................................................................................... 1
I – Reflexão sobre a Prática de Ensino Supervisionada ................................................................. 3
I.1 – A Escola.................................................................................................................................. 3
I.2 – O Núcleo de Estágio de Filosofia ........................................................................................... 6
I.3 – A Prática em Contexto Profissional ....................................................................................... 8
I.3.1 – Planificação....................................................................................................................... 10
I.3.2 – Realização/ Execução ....................................................................................................... 13
I.3.3 – Avaliação .......................................................................................................................... 16
I.4 – Conclusão da Reflexão sobre a Prática de Ensino Supervisionada ..................................... 17
II – A Filosofia nos Cursos de Educação e Formação de Adultos ................................................ 18
II.1 - A Filosofia e as diversas ofertas educativas ........................................................................ 18
II.1.1 – Os Cursos Profissionais .................................................................................................... 20
II.1.2 – Os Cursos de Educação e Formação ................................................................................ 21
II.1.3 – Os Cursos de Educação e Formação de Adultos ............................................................. 22
II.2 – Os Cursos de Educação e Formação de Adultos: Princípios Orientadores, Elementos
Metodológicos Estruturantes e Análise Crítica ........................................................................... 22
II.4- O programa de Filosofia nos Cursos de Educação e Formação de Adultos ......................... 30
II.4.1 – A Filosofia na Área de Competências-chave de Cidadania e Profissionalidade .............. 33
II.4.2 – A Planificação de Actividades Integradoras e a Planificação de Unidade de Formação de
Curta Duração (UFCD) ................................................................................................................. 42
Reflexão Final .............................................................................................................................. 52
Conclusão .................................................................................................................................... 57
Bibliografia .................................................................................................................................. 58
Anexos ............................................................................................................................................ i
Anexo 1: Modelo de Planificação .................................................................................................. ii
Anexo 2: Planificações das Aulas Assistidas do 10º Ano ...............................................................iv
AULA N.º10.................................................................................................................................. v
Anexo 3: Planificações das Aulas Assistidas do 11º Ano ............................................................. lxv
Anexo 4: Instrumentos de Avaliação do 10º Ano .................................................................... cxxx
Anexo 5: Instrumentos de Avaliação do 11º Ano .................................................................... cxliv
Anexo 6: Fichas de Registo dos Resultados/ Evolução dos Alunos ....................................... clxxxiv
LISTA DE ABREVIATURAS
CNO - Centro
1
Por outro lado, sentíamos também necessidade de adquirir e consolidar
competências científicas e pedagógicas no exercício das funções de formador,
necessidade essa que se foi fazendo sentir cada vez mais ao longo dos anos, à medida
que foi aumentando o grau de exigência sobre os cursos EFA e o próprio perfil dos
formandos foi mudando. Nesse sentido, consideramos que a realização deste Mestrado,
e em particular do Estágio Pedagógico, foi essencial para a aquisição e desenvolvimento
de competências, tanto para o desempenho de funções docentes no Grupo de
Recrutamento de Filosofia, como para o exercício da função de formador, tendo o
mesmo contribuído de forma inequívoca para o melhoramento da nossa actividade
profissional.
2
I – Reflexão sobre a Prática de Ensino Supervisionada
I.1 – A Escola
No que diz respeito ao espaço físico da escola, esta possui quarenta salas de aula
e de apoio lectivo, sendo que algumas destas constituem gabinetes de trabalho e outras
funcionam como laboratórios (são exemplos desta situação, as salas de computadores e
1 Cf. Escola Secundária da Quinta do Marquês, Regulamento Interno da Escola Secundária da Quinta do
Marquês - ano lectivo 2008-2009, Oeiras, 2008, p. 4.
3
a sala de audiovisuais). Não possui pavilhão gimnodesportivo, partilhando o da Escola
Conde de Oeiras, resultando deste facto condicionantes fortíssimas à boa prática
pedagógica e à gestão do espaço. A escola apresenta, também, um Centro de Recursos e
uma Biblioteca com boas instalações e condições de funcionamento, embora nos
parecessem espaços insuficientes para o número de utilizadores. Actualmente a escola
encontra-se em obras, uma vez que foi uma das instituições abrangidas no âmbito da
reestruturação do parque escolar, estando prevista a resolução de todos os referidos
problemas, já que estão contempladas no projecto soluções para as diferentes situações
apresentadas. Importa referir que as obras se iniciaram no 2º período, tendo algumas das
aulas do 11ºE decorrido nos monoblocos construídos para esse efeito, não resultando,
no entanto, grandes transtornos à prática lectiva.
2 Cf. Escola Secundária da Quinta do Marquês, Regulamento Interno da Escola Secundária da Quinta do
Marquês - ano lectivo 2008-2009, Oeiras, 2008, p.7.
4
Domínio Avaliação
Resultados Bom
Prestação do Serviço Educativo Muito Bom
Organização e Gestão Escolar Bom
Liderança Muito Bom
Capacidade de Auto-regulação e
Muito Bom
Progresso da Escola
Domínios Resultados
Taxa de abandono E. Básico 0%
Taxa de abandono E. Secundário 2,4%
Média de aproveitamento E. Básico 3,79
Média de aproveitamento E. Secundário 14,36
Taxa de retenção Ensino Básico 1%
Alunos aprovados sem negativas (9º ano) 86%
Taxa de sucesso em Matemática E. Básico 93,9%
Taxa de sucesso no exame de Matemática
83,5%
(Ensino Básico)
Taxa de Transição E. Básico 99,1/%
Taxa de Transição E. Secundário 96,4%
Taxa de Conclusão E. Básico 98,9%
Taxa de Conclusão E. Secundário 81,8%
3 Cf. Escola Secundária da Quinta do Marquês, Regulamento Interno da Escola Secundária da Quinta do
Marquês - ano lectivo 2008-2009, Oeiras, 2008, p.10.
5
Por este facto, os planos curriculares vão do 7º ao 12º ano, predominando, no
ensino secundário, a oferta de cursos gerais/ Científico-Humanísticos, na área das
ciências e tecnologias (maioritária), artes visuais, ciências socioeconómicas e línguas e
humanidades. A escola oferece ainda cursos profissionalizantes na área da Multimédia
(o qual termina este ano lectivo, não estando prevista a abertura de novos cursos
profissionais).
6
os dotar de toda a informação essencial para a realização do trabalho a que se
propuseram.
7
Argumentação e Filosofia (Tema: Persuasão e manipulação ou os dois usos da
Retórica e Argumentação: Verdade e Ser).
Quanto à Integração no Núcleo, é nossa opinião que a mesma foi muito positiva,
tanto no que diz respeito à colaboração na actividade pedagógica como à interacção
com o orientador. Consideramos que cumprimos e contribuímos na elaboração e
desenvolvimento do plano de actividades do núcleo, colaborando na elaboração de
panfletos e folhetos informativos das actividades propostas, a saber, visita de estudo às
Caldas da Rainha – Museu José Malhoa –, exposição organizada no âmbito de “2011
Ano Internacional do Voluntariado”, a qual contou com a colaboração do Grupo Missão
Mundo, e Seminário “Educação e República”.
8
1) A acção humana - análise e compreensão do agir, subdividido em dois
subtemas, A rede conceptual da acção e Determinismo e liberdade na acção humana.
Tendo em conta estes dois sub-temas, foi elaborado o seguinte percurso de
aprendizagens: análise da especificidade humana do agir, procedendo à distinção entre o
que se faz e o que acontece - distinguir acontecer, fazer e agir - e reconhecendo na acção
humana a sua relevância antropológica e a existência de razões, fins, intenções e
projectos, análise da complexidade do agir, em particular no que concerne ao carácter
voluntário ou involuntário dos motivos e desejos e à experiência da deliberação e
decisão e c) reflexão sobre o problema do determinismo na acção humana –
compreender a acção face ao binómio determinismo/ livre arbítrio, identificar as
condicionantes da acção e reflectir sobre a relação liberdade/ responsabilidade).
No que ao Décimo Primeiro Ano diz respeito, foram leccionadas, também, treze
aulas, repartidas pelas seguintes subunidades: Lógica Formal (composta pelos subtemas
relativos às regras de validade do silogismo categórico e às falácias formais),
Argumentação e Retórica (domínio do discurso argumentativo – procura de adesão do
auditório, tendo sido realizado um percurso de aprendizagens assente na distinção entre
demonstração e argumentação, relativo aos momentos da Racionalidade Argumentativa
e do Discurso Argumentativo) e Argumentação e Filosofia (centrado nos subtemas da
Persuasão e manipulação ou os dois usos da Retórica e Argumentação: Verdade e Ser -
o percurso de aprendizagens constituído por dois momentos: Os dois usos da Retórica,
persuasão e manipulação e A crítica de Platão à Retórica sofista - leitura e análise de um
excerto da obra Górgias, de Platão).
9
Relativamente à análise e avaliação do trabalho desenvolvido em contexto
profissional nas suas diversas vertentes, serão consideradas três dimensões:
Planificação, Realização/ Execução e Avaliação.
I.3.1 – Planificação
Por outro lado, apesar de uma planificação cuidadosa poder fazer com que as
aulas decorram de forma regular, ela pode também ter como consequência não
intencional tornar os professores menos abertos às ideias e necessidades dos alunos, mas
tal não significa, no nosso entender, que se deva considerar o abandono das
planificações, visto que este facto originaria por certo uma aprendizagem ao acaso e,
provavelmente, improdutiva.
10
Em termos gerais, poderemos dizer que a definição clara dos fins e objectivos do
ensino (a intenção/ finalidade que se pretende que o aluno atinja no processo de ensino-
aprendizagem) permite, em primeiro lugar, direccionar os processos de ensino (por
exemplo, no que diz respeito à selecção de estratégias e recursos de apoio), em segundo,
proporcionar aos alunos núcleos de interesses com os quais se articulam os objectivos
de aprendizagem, em terceiro, indicar o nível de aprofundamento na abordagem dos
conceitos, adequando-o ao nível etário e ao desenvolvimento cognitivo dos alunos, em
quarto lugar, proporcionar meios diversificados para avaliar a aprendizagem dos alunos
e, em quinto lugar, favorecem o funcionamento regular das turmas.
Nas últimas duas décadas o termo competência tem aparecido a par dos termos
finalidades e objectivos, passando também aquele a ser considerado apropriado para
expressar resultados de aprendizagem importantes.
O termo competência designa aquilo que os alunos deverão saber e ser capazes
de fazer, por outras palavras, é a faculdade de mobilizar um conjunto de recursos
cognitivos (saberes, capacidades, informações, etc.) para solucionar com pertinência e
eficácia uma série de situações, isto é, a competência é o conjunto dos diferentes saberes
e capacidades que, em situação real e concreta, o aluno é capaz, em simultâneo, de
mobilizar, combinar e aplicar na antecipação ou resolução de um problema ou, ainda, na
concretização de um desempenho. Isto significa, ao definir-se aquilo que os alunos
devem saber e ser capazes de saber, que têm de apresentar um determinado nível de
abstracção para que possam ser aceites pelo maior número possível de participantes no
ensino. 6
6
Cf. ARENDS, Richard, Aprender a Ensinar, MCGraw-Hill, 2008, p.93.
11
Noutra perspectiva, apesar do grau de abstracção que é inerente às competências,
estas são passíveis de ser avaliadas, pois referem-se exclusivamente à pessoa (aluno),
são indissociáveis da acção, assentando, por isso, na resolução de problemas, exigindo,
portanto, autonomia, pensamento crítico e liberdade, pois revela-se através dos
desempenhos, sendo transferível e podendo ser aplicada em situações novas ou
distintas, o que é concordante, como é natural, com as finalidades, e com os próprios
objectivos gerais, que constam do programa de Filosofia 7.
7
Cf. BASTOS DE ALMEIDA (coord.), Maria Manuela, HENRIQUES, Fernanda, VICENTE, Joaquim
N., BARROS, Maria do Rosário, Programa de Filosofia (10º e 11º anos), Ministério da Educação,
Departamento do Ensino Secundário, Fevereiro de 2001, p. 4.
12
Procurámos, igualmente, que as planificações da subunidade Argumentação e
Filosofia estivessem correctas do ponto de vista pedagógico e científico, apresentando
todas elas, em complemento ao excerto da obra Górgias, actividades para realização em
sala ou para trabalho de casa, que possibilitassem a contextualização histórica de textos,
problemas e respostas, distinção entre argumentação filosófica e outros modos de prova
e o reconhecimento da complexidade da verdade.
Em termos gerais, foi nosso objectivo elaborar planificações para os dois níveis
de ensino que permitissem desenvolver as competências constantes do programa, em
particular no que diz respeito às competências de análise e interpretação de texto, no
quanto à identificação do tema/problema, da(s) tese(s) que defende ou a(s) resposta(s)
que dá e das teses ou respostas que visa refutar. Nesse sentido, as planificações
procuraram trabalhar as competências de análise da estrutura lógico-argumentativa de
um texto, de identificação e explicitação dos argumentos e respectivo percurso
argumentativo, explorando possíveis objecções e refutações. Procurámos, assim,
desenvolver-se, deste modo, as capacidades dos alunos para questionar filosoficamente
as opiniões, ultrapassando o nível do senso comum na abordagem dos problemas,
procedendo a uma correcta formulação, oral ou escrita, destes, identificando e
clarificando adequadamente os conceitos nucleares envolvidos, explicitando o seu
significado e as suas articulações, utilizando os conceitos operatórios – transversais da
Filosofia, e desenvolvendo a análise e confronto de argumentos.
13
Em ambos os níveis, procurámos pensar as aulas do ponto de vista didáctico e
em função dos alunos. Nesse sentido, usámos a estratégia de primeiro analisar os textos
e a partir deles ir fazendo de imediato a sua explicitação/decomposição no quadro.
Procurámos detectar os conceitos mais importantes para ir orientando e estruturando as
aprendizagens.
Foi também nosso objectivo a utilização do quadro como recurso didáctico, com
a realização de esquemas e sínteses intermédias, em articulação com os textos, que, no
nosso entender, facilitaram a articulação conceptual, sendo exemplos deste facto, a
análise de texto de um excerto do Górgias e textos de comentadores acerca das éticas de
Stuart Mill e Kant. Procurámos, nos exemplos referidos, estruturar as aulas em torno
dos conceitos-chave, no sentido de orientar as aprendizagens e a realização de sínteses
no quadro. As próprias actividades propostas foram pensadas como sequências no
sentido de reforçar a aprendizagem e, tal como as aulas, estruturadas do mais simples
para o mais complexo.
Deste modo, podemos afirmar que o nosso desempenho procurou seguir o que
vem estipulado no Regulamento Interno da Escola, o qual determina as linhas de
orientação relativamente à relação educativa e pedagógica na sala de aula 8, em
particular no que se refere à autoridade assente em valores de competência e atitudes de
disponibilidade e respeito pelos outros, elementos essenciais à construção de um bom
ambiente de trabalho, ao uso de metodologias adequadas aos distintos interesses e
8
Cf. Escola Secundária da Quinta do Marquês, Regulamento Interno da Escola Secundária da Quinta do
Marquês - ano lectivo 2008-2009, Oeiras, 2008, p. 3.
14
diferentes ritmos de aprendizagem, ao incentivo à participação dos alunos, visando o
desenvolvimento de hábitos de trabalho no sentido da autonomia.
15
preso ao domínio científico, do qual resultou uma aula pouco participada por parte dos
alunos, dificultando a apreensão e compreensão dos conceitos envolvidos, e muito
“fechado sobre si”, no que se refere às articulações e ligações que esses mesmos
conteúdos estabelecem com outros, não desenvolvendo devidamente este aspecto,
essencial do ponto de vista didáctico.
I.3.3 – Avaliação
9
Cf. Anexos 4 e 5, Instrumentos de Avaliação para o 10º ano (pags. 186 e seguintes) e para o 11º ano
(pags. 199 e seguintes).
10
Cf. Escola Secundária da Quinta do Marquês, Regulamento Interno da Escola Secundária da Quinta do
Marquês - ano lectivo 2008-2009, Oeiras, 2008, p. 4.
16
Para cada um dos níveis de ensino foram criadas grelhas de registo de resultados
que permitiam, simultaneamente, aferir do desenvolvimento dos alunos 11, uma vez que
registavam a evolução dos resultados nos diferentes elementos considerados para a
avaliação.
Convém sublinhar que não foi sentida qualquer tipo de dificuldade na elaboração
destes instrumentos, tendo em conta as orientações dadas pelo orientador e trabalho
desenvolvido nos seminários de mestrado.
11
Cf. Anexo 6, Fichas de Registo dos Resultados/ Evolução dos Alunos, pag. 238.
17
II – A Filosofia nos Cursos de Educação e Formação de Adultos
18
b) Cursos artísticos especializados, orientados na dupla perspectiva da inserção
no mercado de trabalho e do prosseguimento de estudos, tendo em conta a área artística;
Com a extinção do Ensino Recorrente, foi criada uma oferta alternativa que visa
colmatar a ausência de cursos que permitam a conclusão de um percurso educativo ou
formativo a adultos, a saber, os Cursos de Educação e Formação de Adultos.
19
II.1.1 – Os Cursos Profissionais
20
No caso dos Cursos Profissionais, aos docentes do Grupo de Recrutamento de
Filosofia poderão ser atribuídas horas lectivas da disciplina de Área de Integração, a
qual é relativa ao domínio Sociocultural da Formação de Base.
21
caso se trate de um CEF que permita a conclusão do Ensino Secundário ou Básico,
relativa ao domínio de Cidadania e Sociedade da Formação Sócio Cultural. Tal como no
âmbito dos cursos profissionais o docente mantém, como poderemos constatar para o
Curso de Educação e Formação de Adultos, uma nova nomenclatura e conteúdos
funcionais relacionados.
12
Em casos excepcionais, o organismo competente para a autorização de funcionamento do curso EFA
pode aprovar a frequência por formandos com idade inferior a 18 anos, desde que estejam
comprovadamente inseridos no mercado de trabalho à data do início da formação.
22
Efectivamente, pretende-se que o adulto melhore o conceito de si enquanto
aprendente (auto-conceito), transformando-o no responsável pelo seu processo de
aprendizagem, ao torná-lo consciente de que o contexto formal concretizado nas
instituições de ensino não esgota as possibilidades de aprendizagem. A percepção deste
facto permite-lhe colaborar na construção do seu edifício do conhecimento, ou seja, o
adulto pode, então, seleccionar os recursos que possui, mobilizando competências,
saberes e conhecimentos na superação de desafios e na resolução de problemas.
13
No caso de o adulto não ter sido encaminhado por um Centro Novas Oportunidades, o diagnóstico
prévio deverá ser realizado pela entidade formadora, sendo o mesmo orientado para o posicionamento do
adulto na oferta EFA que lhe for mais favorável, tendo em conta a escolaridade/formação detida, a
certificação pretendida, etc.) e é desenvolvido pelo mediador, em colaboração com a restante equipa
pedagógica do curso. Neste diagnóstico, é definido, através da análise e avaliação do seu perfil e da
identificação das suas necessidades de formação em língua estrangeira, se o adulto deverá iniciar um
percurso EFA de dupla certificação, EFA escolar ou realizar apenas a componente tecnológica de um
EFA ou eventualmente, o encaminhamento para um Centro Novas Oportunidades.
23
formação se desenvolverá 14. Estes princípios incluem uma perspectiva de abertura e
flexibilidade do referencial, o qual deve ser entendido como um quadro de referência
que se adequará a cada adulto ou grupo, nos seus contextos de vida, valorizando todas
as aprendizagens realizadas e organizando-as de modo a facilitar o processo de
formação.
14
Cf. RODRIGUES, Sandra Pratas, Guia de operacionalização de cursos de educação e formação de
adultos, Agência Nacional para a Qualificação, I.P., Lisboa, 2009, pg. 15.
15
Estes podem ser consultados em http://www.catalogo.anq.gov.pt/
16
Cf. RODRIGUES, Sandra Pratas, Guia de operacionalização de cursos de educação e formação de
adultos, Agência Nacional para a Qualificação, I.P., Lisboa, 2009, p. 28.
24
Trabalho
Portefólio Reflexivo de Aprendizagens
Formação de Base
Formação Tecnológica
Dupla Certificação Formação Prática em Contexto de
Trabalho
Portefólio Reflexivo de Aprendizagens
A Formação de Base consiste numa componente que tem como objectivo dotar o
adulto de conhecimentos e reforçar as suas competências pessoais, sociais e
profissionais visando a sua (re)inserção na vida activa, procurando incrementar a sua
adaptabilidade aos diferentes contextos de trabalho e capacidade de resposta à mudança.
Nesse sentido, esta componente apresenta um vincado carácter transdisciplinar
(remetendo para diversos saberes e competências do âmbito de diferentes disciplinas) e
transversal (a presença dos diferentes saberes não ocorre numa perspectiva
compartimentada, mas antes em contexto de interacção, tal como o conceito de
competência em acção remete para diferentes saberes, conhecimentos, técnicas, etc., em
uso na resolução de um dado problema), sendo constituída, em termos gerais, por três
áreas de competências-chave (Cidadania e Profissionalidade, Cultura, Língua,
Comunicação, Língua Estrangeira e Sociedade, Tecnologia e Ciência).
Cada uma das áreas está organizada em Unidades de Competência (UC) a que
correspondem as Unidades de Formação de Curta Duração (UFCD), oito para
Cidadania e Profissionalidade (CP) e sete para cada uma das outras áreas, Cultura,
Língua, Comunicação (CLC) e Sociedade, Tecnologia e Ciência (STC) 17. A área de
Língua Estrangeira possui duas Unidades de Competência. Todas as UFCD’s da
Formação de Base têm uma carga horária de 50 horas. Tomemos a título
exemplificativo a estrutura da área de Cidadania e Profissionalidade 18:
Código UFCD
CP1 Liberdade e responsabilidade democráticas
CP2 Processos sociais de mudança
17
O número de UFCD’s a realizar pelo formando é determinado pela conjugação do tipo de curso a que
se candidata (Escolar, Profissional ou Dupla Certificação), o seu nível de escolaridade e a frequência (ou
não) de um processo RVCC do qual tenha resultado a certificação parcial em algumas das Unidades de
Competência.
18
Catálogo nacional de Qualificações, Referenciais de Formação, Agência Nacional para a Qualificação.
25
CP3 Reflexão e crítica
CP4 Processos identitários
CP5 Deontologia e princípios éticos
CP6 Tolerância e mediação
CP7 Processos e técnicas de negociação
CP8 Construção de projectos pessoais e sociais
26
saberes de diversas áreas que se articulam e interseccionam para resolver problemas em
conjunto. Assim, a equipa técnico-pedagógica partirá da Unidade de Competência a ser
trabalhada, procurará as articulações possíveis com as diferentes Áreas de Competência
e Componentes de Formação e criará uma situação-problema cuja resolução implique
uma demonstração daquelas competências por parte do formando. Esta metodologia de
formação com base em actividades integradoras assenta na realização de tarefas que
envolvem várias UFCD’s de diversas áreas de competência, respeitando a lógica de
articulação entre estas e as diferentes componentes de formação.
É também na área de PRA que se procede à validação das UFCD que estiverem
evidenciadas no Portefólio do formando, participando os formadores obrigatoriamente
nas sessões em que forem avaliadas as competências relacionadas com as Unidades de
27
Competência (UC)/Unidades de Formação de Curta Duração (UFCD) nas quais
intervêm. Estes momentos de avaliação realizam-se ao longo do percurso e não
exclusivamente no seu final, devendo os resultados ser partilhados por todos os
elementos da equipa técnico-pedagógica.
28
profissional e social com uma atitude aberta à aprendizagem ao longo da vida. Neste
caso o professor não irá leccionar uma temática específica no âmbito do programa de
Filosofia, mas antes procurará criar nas aulas uma dinâmica de feed-back, assente num
contexto de confiança e inter-ajuda, que valorize a decisão do formando de frequentar
um curso EFA, fazendo-o sentir-se competente e capaz de realizar o percurso formativo,
ou seja, estimulando o conceito de si enquanto aprendente do adulto. Trata-se de uma
metodologia assente no balanço de competências, o qual constitui um dispositivo
epistemológico através do qual se procede ao diagnóstico e avaliação das competências
mobilizadas ou desenvolvidas ao longo da vida, evidenciando as suas diversas
interacções em diferentes contextos, pressupondo o envolvimento dos formandos na
construção e monitorização do seu desenvolvimento e um olhar sobre as experiências
vividas, num processo de reapropriação. 19
19
Cf. GOMES, Maria do Carmo; UMBELINO, Ana; MARTINS, Isabel Ferreira; OLIVEIRA, José
Baeta; BENTES, Júlia; ABRANTES, Pedro; Referencial de competências-chave, para a educação e
formação de adultos, guia de operacionalização, Ministério da educação e Direcção Geral de Formação
Vocacional, Lisboa, Novembro de 2006, p.33.
20
Cf. Idem Op. Cit, p.33.
29
profissional, não se reportando, por isso, a competências adquiridas em contextos de
vida passados, como será o caso dos portefólios resultantes de processos RVCC 21. Nesta
perspectiva, um portefólio reflexivo de aprendizagens bem construído é o portefólio que
resulta de um processo de formação no qual o adulto tenha desempenhado um papel
activo na elaboração e selecção do respectivo conteúdo. Assim, o portefólio não será o
mero agregado de materiais resultantes das várias etapas de formação, mas será antes o
documento que espelha, com sentido crítico, a imagem que o próprio autor possui do
percurso formativo por si realizado.
Tal como refere a introdução do Programa de Filosofia para os 10º e 11º anos 22,
a UNESCO tem solicitado e incentivado a introdução ou alargamento da Filosofia nos
diversos níveis de educação, uma vez que considera essencial a relação entre Filosofia e
Democracia e entre Filosofia e Cidadania. Neste sentido, releva-se a ligação entre a
Filosofia e a prática da cidadania democrática, e a própria manutenção desta última,
consubstanciada no reconhecimento da importância desta disciplina no
desenvolvimento e aperfeiçoamento das dimensões cognitiva e ética do sujeito, no
âmbito de um processo de saber de si, do outro e do mundo, dotando-o de juízo crítico e
possibilitando o seu envolvimento na comunidade democrática. Cumprem-se, então,
três funções essenciais 23: a) Possibilitar o aperfeiçoamento da análise das convicções
pessoais; b) Desenvolver a sensibilidade, respeito e compreensão aos argumentos e
questões dos outros; c) Evidenciar o carácter limitado dos saberes.
21
No que diz respeito à história de vida dos formandos, e ao contrário do que acontece nos processos de
RVCC, esta é explorada apenas no sentido de determinar as motivações e expectativas pessoais que se
projectam na formação, podendo, no entanto, resultar num documento autobiográfico, no qual vão sendo
integradas e contextualizadas todas as aprendizagens desenvolvidas durante o percurso formativo. Assim,
nos percursos tipificados, o passado do formando surge apenas, e caso este o deseje, para enquadrar o
momento presente e as razões que o levam a procurar a formação.
22
Cf. BASTOS DE ALMEIDA (coord.), Maria Manuela, HENRIQUES, Fernanda, VICENTE, Joaquim
N., BARROS, Maria do Rosário, Programa de Filosofia (10º e 11º anos), Ministério da Educação,
Departamento do Ensino Secundário, Fevereiro de 2001, p. 4.
23
Cf. idem, p.4.
30
apresentados no Relatório Delors: aprender a viver juntos 24. Este pilar essencial
corresponde à necessidade de formar jovens e adultos numa perspectiva de
interdependência mútua da humanidade e valorização das estruturas comunitárias e
culturais e suas diferenças, as quais consubstanciam o enriquecimento do património
comum.
24
Cf. Idem, p. 3.
31
As finalidades identificadas no Programa de Filosofia de 10º e 11º Anos 25, as
quais visam a) o desenvolvimento da reflexão e raciocínio científico, b) o
aperfeiçoamento da análise crítica das convicções pessoais e construção de um diálogo
aberto com o outro e o mundo, c) proporcionar o desenvolvimento de um pensamento
ético-político crítico e responsável, catalisador de uma participação na vida democrática
e de respeito pelos princípios orientadores desta, d) promover o desenvolvimento de
uma atitude de respeito e tolerância face à diversidade cultural e estética e possibilitar
uma tomada de posição relativamente ao sentido da existência, em particular no que se
refere à consciência de si, do mundo e de si no mundo, e mais especificamente alguns
dos seus conteúdos / temas, subjazem aos objectivos e conteúdos para as Unidades de
Formação de Curta Duração (UFCD) 26 da área de Cidadania e Profissionalidade, cujas
horas lectivas são, na maioria dos casos, atribuídas aos docentes do grupo de
recrutamento de Filosofia.
Num primeiro momento faremos uma análise geral dos conteúdos das Unidades
de Formação da área numa leitura cruzada com o Programa de Filosofia para os 10º e
25 Cf. Idem, p. 8.
26 Cf. Referenciais de Formação, Catálogo Nacional de Qualificações, 2011, Agência Nacional para a
Qualificação, disponíveis em http://www.catalogo.anq.gov.pt/
32
11º anos e, num segundo momento, exemplificaremos a elaboração de uma planificação
de uma Actividade Integradora que envolva a Unidade de Formação de Curta Duração
Deontologia e princípios éticos (CP5), com a respectiva planificação da unidade.
Existe, como poderemos verificar no quadro seguinte, uma relação directa entre
as Unidades de Competências (UC) do referencial do processo RVCC e as Unidades de
Formação de Curta Duração do referencial dos EFA:
UC UFCD
Direitos e deveres Liberdade e responsabilidade democráticas
Complexidade e mudança Processos sociais de mudança
Reflexividade e pensamento crítico Reflexão e crítica
27
GOMES, Maria do Carmo (Coord.), Referencial de Competências-Chave para a Educação e Formação
de Adultos – Nível Secundário, Direcção-Geral de Formação Vocacional (DGFV), Lisboa, Novembro de
2006, p. 34
28
Cf. Idem, pp. 34-35.
33
Identidade e Alteridade Processos identitários
Convicção e firmeza ética Deontologia e princípios éticos
Abertura Moral Tolerância e mediação
Argumentação e assertividade Processos e técnicas de negociação
Programação Construção de projectos pessoais e sociais
29
Existe inclusive a alguma semelhança com o que foi feito para os planos dos Cursos de Educação e
Formação e Profissionais com as disciplinas de área de Integração, Cidadania e Mundo Actual e
Cidadania e Sociedade.
34
do saber, procurando abrir a perspectiva de trabalho sobre os conteúdos e conceitos-
chave propostos pelo referencial.
Assim, no referencial de Formação dos Cursos EFA, para cada UFCD são
apresentados os objectivos, os conceitos chaves e conteúdos no âmbito dos domínios de
referência e associados às diferentes áreas do saber nos quais aqueles se inserem 30.
Passemos, então, à análise de alguns dos conteúdos propostos pelo referencial à luz dos
programas de Filosofia para os 10º e 11º anos. Atendendo à especificidade do tema em
discussão, apenas serão referidos os conceitos que tenham uma relação directa com os
Programas de Filosofia para o 10º e 11º anos, dadas as diversas áreas do saber
abordadas em cada UFCD, podendo não ser abordados todos os contextos e, como
consequência, todos os conteúdos e conceitos-chave.
30
São abordadas na área de Cidadania e Profissionalidade, no que se refere ao referencial dos cursos EFA,
as áreas de Sociologia, Filosofia, Direito, Relações Internacionais, Geografia, Economia, Psicologia,
História.
35
função de formadores em diferentes UFCD’s da mesma área 31 e que alguns formandos
não estejam obrigados à frequência de todas as UFCD’s.
Por outro lado, deve referir-se que as temáticas constantes dos Programas de
Filosofia não estão presentes nos referenciais de formação dos EFA de um modo
simples e linear orientado para a leccionação da disciplina de Filosofia, mas antes
permitem a reflexão filosófica, enquanto horizonte de trabalho, sobre os conceitos da
área, mobilizando simultaneamente saberes, instrumentos e competências no
desenvolvimento dos conteúdos do referencial de formação, realizando, nesta
perspectiva relacional, simultaneamente os objectivos gerais constantes do programa de
Filosofia.
No âmbito desta UFCD poderá ser trabalhado o tema Ética, direito e política -
liberdade e justiça social; igualdade e diferenças; justiça e equidade, constante no
módulo relativo à dimensão ético-política - Análise e compreensão da experiência
convivencial do programa do 10º ano. Numa perspectiva mais prática, poderá ser
31
Em alguns estabelecimentos de ensino da rede pública a mesma UFCD pode ser dada por dois
professores de áreas disciplinares diferentes atribuindo-se dois domínios de referência para a acção a cada
um deles (exemplo: um professor de Filosofia seria responsável pelos domínios de referência Privado e
Profissional e um professor de Geografia leccionaria os domínios Institucional e Macro-estrutural).
36
desenvolvida a questão dos Direitos Humanos na linha do trabalho proposto pelo
programa de 10º ano no módulo 4 Temas e Problemas do Mundo Contemporâneo.
A UFCD CP2 é uma das unidades que possibilita o cruzamento dos programas
para os dois níveis de ensino, em particular no que diz respeito ao módulo 2 A Filosofia
na cidade e aos respectivos temas Espaço público e espaço privado e Convicção,
tolerância e diálogo - a construção da cidadania (11º ano). No seguimento do trabalho
desenvolvido poderia ser trabalhado o tema Os direitos humanos e a globalização
constante do módulo Temas/Problemas do mundo contemporâneo (10º ano).
37
Relativamente à UFCD Processos identitários (CP4), na qual são trabalhadas
temáticas como A interdependência e a solidariedade enquanto elementos geradores de
um património comum da humanidade, As principais manifestações de intolerância à
diferença: racismo e xenofobia, desigualdades de género, estado civil, homofobia,
portadores de necessidades especiais, religião ou crenças religiosas, O papel da
Deontologia e A educação para a cidadania e a preservação da unidade na
diversidade, entre outros, podemos identificar conceitos-chave como equidade,
cidadania, igualdade, ética, deontologia, multiculturalidade, democracia, justiça,
Património Comum da Humanidade, etc.
38
comparativa de duas perspectivas Filosóficas. Podemos afirmar que é um tema ao qual
os alunos do 10º ano, e também os adultos/ formandos dos EFA, aderem com muito
interesse. Talvez por isso constitua um tema que possibilita a introdução de uma
dinâmica mais expositiva, assente em conceitos, a par de uma componente mais prática,
que explora a dinâmica de reflexão e debate sobre temas da actualidade.
39
Os objectivos definidos para a UFCD Processos e técnicas de negociação (CP7)
enquadram-se no âmbito da articulação do módulo A Filosofia na cidade e os temas
respectivos, Espaço público e espaço privado e Convicção, tolerância e diálogo - a
construção da cidadania, com o módulo Argumentação e retórica, e dos temas O
domínio do discurso argumentativo - a procura de adesão do auditório e O discurso
argumentativo - principais tipos de argumentos e de falácias informais (11º ano). No
entanto, parece-nos também possível, e até desejável, considerando os desafios com que
se depara a democracia e as constantes discussões em torno da competência e estatuto
da classe política em Portugal, desenvolver o módulo Argumentação e Filosofia e os
temas que o constituem: Filosofia, retórica e democracia, Persuasão e manipulação ou
os dois usos da retórica, Argumentação, verdade e ser (11º ano).
40
Com base nesta proposta de relacionamento e articulação conceptual e temática
entre o referencial dos Cursos de Educação e Formação de adultos e o Programa de
Filosofia para os 10º e 11º anos é possível verificar que a maior parte dos objectivos
gerais deste último foram trabalhados nos seus diferentes domínios e remetem para os
as dimensões de competências do referencial de Cidadania e Profissionalidade
(Cognitivas, Éticas e Sociais).
Quanto ao domínio das atitudes e dos valores 33, importa sublinhar a aquisição de
hábitos de estudo e de trabalho autónomo, promovendo o desenvolvimento de uma
atitude crítica perante a informação e os saberes transmitidos que se manifesta no
respeito pelas convicções, atitudes, sentimentos, ideias e comportamentos e
manifestações culturais, descobrindo as razões dos que pensam de modo distinto e
assumindo as suas posições pessoais com convicção e tolerância. Pode ainda referir-se o
desenvolvimento de atitudes de solidariedade social e participação na vida da
comunidade, assumindo o exercício da cidadania, informando-se e participando no
debate dos problemas de interesse público, nacionais e internacionais, com consciência
do significado ético e da importância política dos direitos humanos, numa sociedade
cada vez mais marcada pela globalização.
32
Cf. BASTOS DE ALMEIDA (coord.), Maria Manuela, HENRIQUES, Fernanda, VICENTE, Joaquim
N., BARROS, Maria do Rosário, Programa de Filosofia (10º e 11º anos), Ministério da Educação,
Departamento do Ensino Secundário, Fevereiro de 2001, p.9.
33
Cf. Idem, p.9.
34
Cf. Idem, p.9.
41
Profissionalidade no âmbito do referencial para os cursos EFA de nível Secundário.
Parece-nos da maior importância a aquisição e/ ou desenvolvimento por parte dos
formandos de competências de análise e interpretação de textos (analisando a
problemática sobre a qual um texto toma posição, identificando o tema/problema, a(s)
tese(s)que apresenta, as teses ou respostas que contraria e/ou ou as teses que refuta) e de
comunicação (escrita e oral), concretizadas em práticas de exposição (escrita e/ ou oral)
e de intervenção em debate, demonstrando competências específicas de
problematização, conceptualização e argumentação, ultrapassando o domínio do senso
comum na análise dos problemas.
42
condicionada na sua determinação pelos objectivos a realizar por cada uma das áreas de
competências-chave que participam da mesma.
36
Cf. RODRIGUES, Sandra Pratas, Guia de operacionalização de cursos de educação e formação de
adultos, Agência Nacional para a Qualificação, I.P., Lisboa, 2009, p.73.
43
das competências das diferentes áreas, os quais poderão coincidir com a realização/
concretização da actividade integradora.
44
Matriz estruturante da Actividade Integradora
Actividade Integradora: A Globalização e os Novos Desafios da Cidadania (exposição)
Sociedade, Tecnologia e Ciência Cultura, Língua e Comunicação
Cidadania e Profissionalidade (STC7) (CLC7)
(CP5)
Elementos Estruturantes
Fundamentos de Sociedade, Fundamentos de cultura, língua e
Deontologia e princípios éticos
tecnologia e ciência comunicação
37
Apesar de não existir uma referência directa aos domínios de referência para a acção no referencial de formação dos cursos EFA, os objectivos em si e a sua organização
estrutural remetem, no entanto, para esses contextos de referência: privado, profissional, institucional e macro-estrutural.
- Visionamento do filme Mar Adentro de
Alejandro Amenábar seguido de debate.
(DR1)
- Palestra com orador convidado sobre a
temática da Eutanásia. (DR1)
- Visionamento do filme Tropa de Elite de
José Padilha seguido de debate. (DR2)
- Palestra com especialista de uma área
profissional (jornalista, médico, advogado,
etc.) tendo como objectivo caracterizar a
relação entre o desempenho profissional e o
código deontológico que regula essa mesma
actividade. (DR2)
- Debate subordinado ao tema: Deveres
Actividades a Desenvolver Éticos Fundamentais em Contexto
A propor pelo formador responsável A propor pelo formador responsável
Institucional. (DR3)
- Visita a uma Empresa de referência em
termos de responsabilidade Social. (DR3)
- Palestra com orador convidado
subordinada ao tema da Ética Empresarial.
(DR3)
- Visionamento do filme O Fiel Jardineiro de
Fernando Meirelles seguido de debate.(DR4)
- Palestra subordinada ao tema: A
construção de uma cidadania mundial
inclusiva: o exemplo português. (DR4)
- Realização da exposição: Globalização e os
Novos Desafios da Cidadania. (DR4)
46
CIDADANIA E PROFISSIONALIDADE
UFCD 5 – DEONTOLOGIA E PRINCÍPIOS ÉTICOS
- Posiciona-se, em consciência, relativamente a valores éticos e culturais. (DR1)
- Articula responsabilidade pessoal e profissional, adoptando normas deontológicas e profissionais. (DR2)
OBJECTIVOS:
- Identifica factores éticos de promoção do desenvolvimento institucional. (DR3)
- Reconhece condutas éticas conducentes à preservação da solidariedade e do respeito numa comunidade global. (DR4)
CONCEITOS RECURSOS
CONTEÚDOS ACTIVIDADES/ ESTRATÉGIAS AVALIAÇÃO
CHAVE DIDÁCTICOS
- Explicitação e exploração dos conceitos de Ética,
Moral e Deontologia com recurso a textos e diálogo
aberto, apelando a experiência pessoal e profissional
dos formandos.
- Visionamento do filme Mar Adentro, de A.
Princípios Fundamentais da Ética Amenábar, relacionado com a problemática da
- Ética, Deontologia e Moral; Eutanásia.
Formativa e contínua.
- Exploração dos conceitos; - Palestra com orador convidado sobre a temática da Textos fornecidos pelo
Produção de textos
-Distinção e intersecção entre campos eutanásia; formador
reflexivos.
de reflexão/intervenção; Ética, Moral, - Preparação de debate: O discurso argumentativo, Capacidade
Filme Mar Adentro
- O método analítico como Deontologia, principais tipos de argumentos e falácias informais, a argumentativa.
fundamentação da Ética; Consciência. adesão do auditório. Debate.
Palestra
- Valores fundamentais de um código de - Debate sobre a problemática da eutanásia, do prisma Participação.
Assiduidade.
ética; da dicotomia bem público/ bem privado, ética/ Debate
- A ética e a liberdade: responsabilidade liberdade.
e intencionalidade; - Produção de texto crítico reflexivo tendo como base
o visionamento do filme, a palestra e as conclusões do
debate.
- Exploração do tema Valores fundamentais para uma
conduta livre e responsável com recurso aos
contributos pessoais dos formandos.
Códigos de Ética e Padrões
Deontológicos
- Exploração dos conceitos.
- Os códigos de ética pessoal e a - Visionamento do filme: "Tropa de elite" de José
deontologia profissional: da “ciência dos Textos fornecidos pelo
Padilha. Formativa e contínua.
formador explicitando os
costumes” ao conjunto de deveres, Deontologia, - Debate acerca do tema abordado no filme e Produção de textos
conceitos
princípios e normas específicos de um códigos de realização de documento de reflexão tendo como base reflexivos.
grupo profissional; O papel das normas ética; o visionamento do filme e as conclusões do debate. Capacidade
Filme Tropa de Elite
argumentativa.
de conduta profissional na definição da conduta - Exploração de textos com exemplos de vários
Debate.
deontologia de uma profissão; profissional, códigos deontológicos. Debate
Participação.
- Relação entre as normas deontológicas dever. - Palestra com especialista de uma área profissional Assiduidade.
Palestra
e a responsabilidade social de um grupo acerca da sua relação com o código deontológico que
profissional; Dinâmica entre a rege.
responsabilidade profissional e os - Reflexão crítica tendo como base as principais ideias
diferentes contextos sociais. apresentadas na palestra.
Ética e Desenvolvimento
- Explicitação e problematização dos conceitos com
Institucional
recurso a textos e a exemplos concretos extraídos da
experiência profissional dos formandos. Textos fornecidos pelo
- Relação entre a ética individual e os Formativa e contínua.
- Realização de um documento de trabalho com base formador explicitando os
padrões de ética institucional; Produção de textos
no ponto anterior. conceitos
- Os códigos de ética e conduta Igualdade; reflexivos.
- Debate de ideias subordinado ao tema Deveres Capacidade
institucional como elementos de diferença; Debate
Éticos Fundamentais em Contexto Institucional. argumentativa.
identidade e formação de princípios organização
- Preparação da Visita de Estudo a uma empresa de Debate.
reguladores das relações inter-pessoais comunitária. Visita de Estudo
referência no âmbito da responsabilidade social. Participação.
e socioculturais; Assiduidade.
- Palestra com orador convidado subordinado ao tema Palestra
- O papel dos princípios éticos e
da Ética Empresarial.
deontológicos institucionais na
- Reflexão crítica tendo como base as conclusões e
mediação de conflitos colectivos;
principais ideias apresentadas no debate e na palestra.
48
Comunidade Global
49
Como podemos verificar, a planificação de Actividades Integradoras concretiza
o carácter transversal dos cursos EFA, pois possibilita a articulação e combinação de
diferentes componentes de formação, áreas de competências-chave e Unidades de
Formação de Curta Duração (UFCD). A planificação de uma Unidade de Formação de
Curta Duração de uma área de competências-chave específica, se por um lado é
condicionada pela actividade geradora e actividades relacionadas definidas pela equipa
técnico-pedagógica, por outro orienta o percurso formativo que visa dotar os formandos
de competências e saberes que lhes permitam a realização das actividades apresentadas.
No que diz respeito ainda à preparação dos debates, também neste âmbito o
professor de Filosofia deverá desempenhar um papel crucial no incremento de qualidade
dos debates já que ao abordar questões como o discurso argumentativo, principais tipos
de argumentos e falácias informais e a adesão do auditório poderá contribuir para que o
debate ultrapasse o nível do senso comum na abordagem aos problemas e ideias a
discutir. Também a organização e realização de uma exposição estará condicionada
pelos três factores apresentados. Se em alguns cursos EFA poderemos organizar uma
exposição dinâmica e interactiva, com apresentação de PowerPoints elaborados pelos
formandos, pequenas palestras realizadas por estes e mostra de trabalhos (reflexões em
forma de texto, vídeos, fotografias, cartazes, pinturas, etc.) noutros tal não será possível,
ou será possível com algumas condicionantes. É por este facto que as planificações, se
elaboradas de modo aberto, como é o caso desta, deverão permitir ao formador cumprir
o que nela está estabelecido, mas criando e seleccionando instrumentos adequados ao
perfil dos seus formandos e a tipologia dos cursos.
51
do referencial, ao trabalharem-se conceitos e conteúdos do domínio da Filosofia de
modo filosoficamente disciplinado. É essa outra dimensão, a qual permite por si
concretizar alguns dos princípios dos cursos EFA, que o professor de Filosofia pode
acrescentar e desenvolver no âmbito destes cursos. Esta dimensão deverá ser trabalhada
procurando desenvolver os conceitos-chave e conteúdos temáticos na relação com as
experiências de vida dos adultos sempre que possível, partindo de situações-problema
actuais, representativas das vivências do quotidiano, através das quais são introduzidos
os conceitos e desenvolvidas as temáticas, estimulando a reflexão e a troca de ideias e
sublinhando importância da aprendizagem ao longo da vida. E se, em termos formais, o
professor que desempenha funções de formador não irá ensinar, por exemplo, as
perspectivas deontológica de Kant e consequencialista de Stuart Mill, tal não significa
que estas não possam ser abordadas e relativamente desenvolvidas no âmbito das
situações-problemas ou experiências de vida analisadas, em particular no que diz
respeito aos conceitos mais importantes e problemas a que visem responder,
problematizando, até, em torno dos limites de cada uma delas, se tomadas como solução
às questões propostas em sala. Em suma, a Filosofia enriquece o processo formativo,
mesmo sem estar formalmente presente.
Reflexão Final
52
e modos de utilização dos materiais 38 e recursos didácticos, a reconversão e a
elaboração de novos instrumentos de trabalho em sala. Esta exigência, a qual se
processa no domínio da necessidade profissional, resultou naquele que é o preconceito
(atrás desconstruído) mais disseminado e perigoso que afecta este tipo de cursos: nos
cursos EFA nada se ensina e neles nada se aprende.
38
Atente-se nas diferenças entre o programa de Filosofia e o referencial de formação para um curso EFA.
Também relevante é a inexistência de um manual pedagógico neste tipo de cursos, abrindo um maior
leque de opções ao formador para elaborar ou seleccionar este tipo de materiais (e aumentando também o
trabalho e a responsabilidade).
53
facto de que documentos produzidos pelo formando numa dada área de competências
poderão servir para validar competências em outras áreas, se os formadores o
entenderem. De algum modo, estes princípios chocam com o estatuto quase que
autónomo de funcionamento das disciplinas que constituem a matriz das outras ofertas
educativas.
54
momento, como ponto de partida para a construção de um plano de formação nas áreas
que a constituem.
39
Este efeito foi abordado na proposta de trabalho apresentada para a área de Cidadania e
Profissionalidade.
40
Este problema faz-se sentir essencialmente em cursos das áreas técnicas, cujas UFCD’s da componente
tecnologia implicam conhecimentos de Matemática e de Física, por exemplo, que os formandos não
possuem.
55
articulação coordenada, uma efectiva sinergia, entre as duas áreas constituintes desta via
formativa.
56
Conclusão
Com base na nossa experiência profissional nos cursos EFA, podemos afirmar a
importância da realização da Prática de Ensino Supervisionada no que se refere à
melhoria no desempenho de funções no âmbito deste tipo de oferta, tendo em conta as
competências de ordem pedagógica e didáctica que nos permitiu adquirir, no que
concerne a estratégias de aulas, recursos utilizados, criação de instrumentos e rigor
científico.
57
Bibliografia
58
BRANQUINHO, João, MURCHO, Desidério (org) - Enciclopédia de termos
lógico-filosóficos, Gradiva, Lisboa, 2001.
59
Anexos
i
Anexo 1: Modelo de Planificação
ii
ESCOLA SECUNDÁRIA QUINTA DO MARQUÊS
Planificação de aula assistida: ___º ano
UNIDADE I:
SUBUNIDADE:
TEMA:
Objectivos
Gerais
Objectivos
Específicos
Conteúdos
Conceitos
Estratégias
Instrumentos
Avaliação
Tempo
iii
Anexo 2: Planificações das Aulas
Assistidas do 10º Ano
iv
AULA N.º10
v
transforma a realidade, intervém no curso dos acontecimentos, torna-
se num agente de mudança. As suas acções projectam-no no futuro.
As acções denominadas humanas são as específicas do homem, as
que são inerentes à sua natureza.
Mas o que significa o termo acção?
Na linguagem corrente podemos verificar uma certa equivocidade do
termo “acção”, já que este pode ser utilizado para designar coisas
diferentes, como, por exemplo, quando dizemos que “a acção dos
pesticidas na agricultura resultou prejudicial para certas espécies de
animais”. Por outro lado, caracterizamos indiferentemente o
comportamento humano quando afirmamos “agiu bem” ou “fez bem”
ao utilizarmos os termos como sinónimos. No entanto,
etimologicamente, “fazer” deriva do latim facere, tendo um significado
mais amplo do que “agir” (do latim agere), o qual designa apenas
algumas das nossas actividades.
Em Filosofia os termos “acção” e “agir” são utilizados apenas para
designar os comportamentos intencionais que realizamos consciente e
voluntariamente, ou seja, o efeito remete para a interioridade do sujeito
agente, isto é, para a consciência voluntária e estrutura de valores
deste.
Do domínio do “Fazer” podemos dizer que este se situa no plano da
acção, distinguindo-se, no entanto, desta devido ao facto da produção
se centrar no objecto, isto é, assenta na exterioridade do efeito, ou
seja, a diferenciação dessa acção define-se nessa mesma
exterioridade (sentido geral), podendo ser enquadrado no domínio do
voluntário ou do involuntário. Quando no domínio do voluntário
(sentido restrito), e já mais próximo do conceito de acção apresentado,
o “Fazer” pode ser definido como uma produção técnica que
igualmente se centra na exterioridade do efeito produzido, isto é, no
objecto.
Podemos, então, dizer que o homem pratica dois tipos de actos: os
que são comportamentos reflexos, instintivos, habituais, comuns a
outros animais, e que designamos por actos do homem, e os que só
ele próprio realiza (actividades resultantes de reflexão), os quais
designaremos por actos humanos, que se caracterizam por ser
intencionais, voluntários, únicos e irrepetíveis, ou seja, actos que
decorrem da estrutura valorativa do próprio sujeito agente.
Podemos, agora, introduzir a distinção entre agir e acontecer. Se o
termo “agir” se refere aos comportamentos intencionais conscientes e
voluntários, aquilo que acontece refere-se a um evento independente
da vontade do sujeito, não sendo por isso uma acção. Por exemplo, ter
uma pneumonia é algo que acontece, independentemente da vontade
do sujeito. Por outro lado, por exemplo, ir ao hospital é uma acção
porque resulta de uma deliberação consciente (convém ir ou não?) e
da decisão voluntária de uma agente (vou!), que tem uma intenção
(receber o tratamento adequado, mas também desejo curar-me e
acredito que no hospital isso será possível) e um motivo (estar doente
– pneumonia).
vi
Neste caso, do conceito de acção ficam excluídos:
- aquilo que fazem instintivamente os animais;
- os movimentos que fazemos durante o sono;
- as reacções fisiológicas e psicológicas automáticas de resposta a
estímulos.
Relativamente aos três domínios referidos, Acontecer, Fazer e Agir
temos então a seguinte estrutura:
Acções
Actos Actos
Humanos Humanos
Actos do Homem
Fazer Agir
(enquanto técnica)
vii
necessidades, constituindo-se como humano e moldando-se a si
mesmo.
Em suma, podemos representar a rede conceptual da acção da
seguinte forma:
Livre-
Consciência
arbítrio/
Agente Intenção Motivo (percepção
Vontade
(sujeito da (propósito (porquê de si como
(capacida
acção) da acção) da acção) autor da
de de
acção)
escolher)
Alguém que Razões Capacidade
Implica
age e que que do agente se Capacida
deliberação
por sua permitem aperceber de de de
e definição
opção faz compreen si mesmo em opção do
do propósito
com que der a relação ao agente.
da acção.
algo ocorra. intenção. meio.
Acção; Intenção; Motivo; Causa; Agente; Vontade; Consciência;
Conceitos Desejo; Crença; Instinto; Deliberação; Decisão; Liberdade; Fazer; Agir;
Decisão; Deliberação; Rede Conceptual da Acção.
Introdução oral ao tema;
Leitura orientada do Texto 1;
Estratégias
Leitura orientada do texto 2;
Realização de actividade.
Instrumentos Quadro, textos, actividade.
Avaliação Participação oral e resolução de actividade
Entrada, chamada e sumário: 10 minutos
Introdução oral: 10 minutos
Tempo Leitura orientada do texto 1: 25 minutos
Leitura orientada do texto 2: 25 minutos
Resolução da actividade: 30 minutos
viii
TEXTO 1
ix
TEXTO 2
x
ACTIVIDADE
xi
Com base no texto de Fernando Savater, responda às seguintes questões:
1- O que distingue o comportamento das formigas soldado do comportamento de
Heitor?
2- Preenche o quadro relativo à rede conceptual da acção para o comportamento de
Heitor.
LIVRE-ARBÍTRIO/
AGENTE INTENÇÃO MOTIVO CONSCIÊNCIA
VONTADE
Grelha de Correcção
1- As formigas reagem a uma ameaça e cada uma desempenha uma tarefa para que está
programada instintivamente sem poder questioná-la ou recusá-la. Nenhuma das formigas
pode contrariar o instinto: as formigas operário não podem escolher não fechar o formigueiro
nem as formigas soldado podem escolher não lutar.
Heitor não reage instintivamente; apesar de ter interiorizado valores como o dever de
defender a Pátria, a família e os concidadãos, pode recusar-se a lutar, mesmo correndo o risco
de ser considerado cobarde. Tem consciência do risco que corre, talvez sinta medo, mas
escolhe lutar.
2-
LIVRE-ARBÍTRIO/
AGENTE INTENÇÃO MOTIVO CONSCIÊNCIA
VONTADE
Razões que
levaram Heitor a
Heitor
lutar contra
reconhece-se e
Defender a Aquiles: o dever Heitor escolhe
assume-se
cidade, a família de defender a lutar quando
Heitor como aquele a
e os cidade, a família poderia ter
quem incumbe
concidadãos. e os fugido.
defender a
concidadãos, a
cidade.
sua honra e
dignidade.
xii
AULA N.º11
xiii
voluntários e involuntários, responsabilizando a vontade, logo o
agente, na acção.
Mas, dada a inserção do humano no mundo, na realidade, será que
temos de facto a possibilidade de fazer opções? Não existem limites à
capacidade de escolha? Até que ponto é sustentável o pressuposto de
que os seres humanos são seres dotados de livre-arbítrio?
Existem algumas respostas possíveis a esta questão. São elas:
a) Determinismo radical (incompatibilismo);
b) Indeterminismo;
c) Determinismo moderado (compatibilismo);
d) Libertarismo;
O determinismo apresenta no seu cerne a concepção científica da
natureza (Física Clássica), segundo a qual se cada acontecimento
decorre necessariamente da série de acontecimentos que o
antecederam, então não pode dar-se o caso de um determinado
fenómeno X não ocorrer se tiver ocorrido o fenómeno Y seu
antecedente. Segundo o determinismo radical, e de acordo com o que
acontece nos mundos físico e biológico, também as nossas acções
estão relacionadas causalmente ao impulsos, carácter e experiências
construtoras da personalidade. Assim, os seres humanos não
possuem livre-arbítrio. Neste caso, ter livre arbítrio é incompatível com
um mundo regido por leis, no qual os acontecimentos, incluído as
acções, se sucedem em cadeias causais, as quais definem que a uma
dada causa se segue necessariamente um determinado efeito. Nestes
acontecimentos, mesmo que deles tenhamos consciência, não
podemos interferir, nem as as leis que as regem estão sob o nosso
controlo.
O indeterminismo, que resulta dos mais recentes desenvolvimentos da
Física Contemporânea no campo dos sistemas de partículas, defende
que é impossível prever o comportamento de um dado sistema de
partículas, dado a variabilidade de comportamento destas em
diferentes momentos. Assim, aplicando o indeterminismo à vontade
humana, as acções não são determinadas.
Já o determinismo moderado, ou compatibilismo, defende a ideia de
que não existindo constrangimentos (físicos, compulsão, coação) que
o impeçam, será possível ao agente agir de outra forma, que não
aquela como agiu, se assim tivesse escolhido, aceitando, no entanto,
que no mundo material todos os fenómenos são causalmente
relacionados. Ou seja, a vontade humana, sendo determinada, é livre
de escolher uma dada opção desde que não constrangida, ou seja,
algumas acções humanas são livres por serem determinadas mas não
constrangidas.
Quanto ao libertarismo, esta concepção considera que as acções nem
são causalmente determinadas nem são aleatórias. Parte-se do
pressuposto que leis diferentes regem o mundo material e a acção
humana, ou seja, as leis físicas que regem os fenómenos materiais
não se aplicam aos fenómenos mentais. Esta é uma posição dualista
pois assenta na teoria de que há substâncias diferentes (matéria e
xiv
espírito) no universo e que, por conseguinte, os fenómenos mentais
não são fenómenos físicos. Nesta concepção o ser humano pode
escolher e agir livremente de acordo com a sua escolha e decisão,
pois sendo na mente que se verificam os estados mentais intencionais,
a mente como não é uma entidade física não está sujeita à
causalidade natural.
Uma das respostas possíveis ao problema da compatibilidade do livre-
arbítrio com o determinismo é dada por Searle, segundo o qual as
acções humanas são o resultado de deliberações racionais e podem
alterar o curso dos acontecimentos no mundo, pois ao agir o agente
racional tem a convicção de que a acção é resultado da sua decisão,
de que é o autor daquilo que acontece, e portanto tem experiência da
sua liberdade.
Mas é a acção humana completamente livre? A acção humana nunca
é completamente livre, pois a escolha humana faz-se num contexto
que condiciona e limita as alternativas passíveis de escolha através de
condicionantes físico-biológicas e psicológicas, as quais remetem para
o património genético, para o ambiente em que se insere o agente e
para a personalidade deste, e condicionantes histórico-socioculturais,
que se referem ao processo de socialização e à cultura.
Mas, por outro lado, a consciência desses limites constitui um desafio
à sua superação, pelo que é nesse domínio situacional que o agente
experiencia a sua liberdade no agir, da escolha e decisão à
concretização, pois a acção é o campo do projecto, da construção do
futuro, da construção de si próprio enquanto humano do agente, em
suma, é o espaço de possibilidades do agente, é o espaço privilegiado
da liberdade.
Acção; Intenção; Motivo; Causa; Agente; Vontade; Consciência;
Desejo; Crença; Instinto; Deliberação; Decisão; Liberdade; Fazer; Agir;
Conceitos Decisão; Deliberação; Rede Conceptual da Acção; Determinismo;
Liberdade; Causalidade; Livre-Arbítrio; Responsabilidade;
Possibilidade; Condicionantes Físico-Biológicas e Histórico-Culturais.
Introdução oral ao tema;
Leitura orientada do Texto 1;
Estratégias
Leitura orientada do texto 2;
Realização de actividade.
Instrumentos Quadro, textos, actividade.
Avaliação Participação oral e resolução de actividade
Entrada, chamada e sumário: 10 minutos
Introdução oral: 10 minutos
Tempo Leitura orientada do texto 1: 30 minutos
Leitura orientada do texto 2: 30 minutos
Resolução da actividade: 20 minutos
xv
TEXTO 1
xvi
TEXTO 2
ACTIVIDADE 1
xvii
1- Explique o problema a que o texto se refere.
ACTIVIDADE 2
xviii
b) Escolher o que queremos fazer ou não fazer, dentro das possibilidades que nos são
dadas pelo nosso contexto vital.
c) Escolher o que quisermos fazer ou não fazer, se para tal nos sentirmos inclinados.
d) Decidir tudo, mesmo deixarmos de ser livres.
CRITÉRIOS DE CORRECÇÃO
ACTIVIDADE 1
1- A teoria defendida no texto é o determinismo, segundo o qual todos os
acontecimentos, inclusive as opções humanas, são causadas por acontecimentos
anteriores, por isso as nossas opções não estão sob o nosso controlo. Trata-se de
saber se temos ou não livre arbítrio, pois se assim quisesse o agente poderia deixar
de bater no outro sujeito.
ACTIVIDADE 2
1-D; 2-D; 3-D; 4-A; 5-B; 6-A.
xix
AULA N.º14
xx
- um conjunto de normas;
Contudo os conceitos têm significados diferentes e não é este o
sentido que no âmbito da dimensão ética da acção lhe é atribuído: a
ética é a reflexão sobre os fundamentos (justificação) e os princípios
que regem a constituição das normas, propondo fins e ideais a realizar
tendo em vista o aperfeiçoamento do ser humano, enquanto que a
moral é o conjunto das normas (regra socialmente estabelecida que
serve de padrão para a acção) obrigatórias reconhecidas por um grupo
social. Assim, a moral apresenta-se como um conjunto de regras (um
sistema), que é universal (para todos os sujeitos) e aplicado de forma
uniforme (cada sujeito pressupõe que um dado valor tem a sua
aplicação igual para todos os sujeitos em situações semelhantes).
Nesse sentido, o código moral de uma comunidade é o resultado de
um conjunto de princípios e crenças que servem de orientação para a
forma como um sujeito deve agir com os outros (os quais constituem
uma condição necessária da Moral, já que são estes que permitem ao
sujeito reconhecer-se a si próprio).
Sendo um conjunto de crenças e orientações, a Moral não pode
separar-se da liberdade humana. É na medida que o ser humano é
livre e não determinado que:
1) tem o poder e o dever de decidir em cada momento no domínio das
possibilidades que se lhe apresentam;
2) esta experiência de opção, de decisão, no âmbito de uma situação/
circunstância concreta, é a experiência moral;
3) nesta experiência, o ser humano pode seguir o código moral da
sociedade em que está inserido ou rejeitá-lo, tomando uma atitude que
os outros designarão como imoral.
Comparativamente, poderemos dizer:
ÉTICA MORAL
Analisa os princípios que regem
a constituição das normas Designa o conjunto das normas
orientadoras da acção e os obrigatórias (imperativos e
respectivos fundamentos (razões interditos) estabelecido no
justificadoras); reflecte sobre os interior de um grupo, sociedade
fins que dão sentido à vida ou cultura, para orientar a acção.
humana.
Responde à questão: que Responde à questão: que devo
princípios devem orientar a vida fazer ou como devo agir em tal
humana? circunstância?
Princípio: a vida humana tem A norma moral responde: não se
valor incalculável. deve matar.
Questões:
O que é o bem? Porque razão
Analisa os problemas práticos e
devemos agir moralmente?
as dificuldades que a sua
Porque razão não é permitido
realização coloca.
matar, ou seja, que valor ou
princípio justifica tal proibição?
xxi
No entanto, apesar da distinção, ambos os conceitos remetem para
uma vida com projectos e ideais a alcançar (fins).
A Ética enquanto disciplina filosófica tem como ponto de partida a vida
moral e tem como tarefas:
a) Clarificar e justificar a inevitabilidade da experiência moral na
vida humana;
b) Apresentar os critérios que conduzem a uma acção moral;
c) Apresentar argumentos que justifiquem a necessidade de o ser
humano construir um carácter moral, a partir de um conjunto de
hábitos que orientem a vida para a virtude e evitem os
comportamentos destruidores da sua humanidade e da dos
demais seres humanos.
Podemos então concluir que a reflexão filosófica sobre a pessoa como
ser moral, a experiência moral, e os pressupostos que estão na base
dos diferentes códigos morais designa-se por Ética.
Ética; Moral; Norma; Intenção; Êthos; Dever; Liberdade/Livre-Arbítrio;
Valor; Princípios; Acção; Finalidade; Hábito/Costume; Exterior/Interior;
Conceitos
Sociedade Civil; Obrigação; Prática Social; Cultura; Orientação;
Sabedoria de Vida/Realização Pessoal; Autonomia; Universal.
Introdução oral ao tema;
Estratégias Leitura orientada do Texto 1;
Actividade;
Instrumentos Quadro, textos, actividade.
Avaliação Participação oral
Entrada, chamada e sumário: 10 minutos
Introdução oral: 10 minutos
Tempo
Leitura orientada do texto 1: 35 minutos
Realização da actividade: 35 minutos
TEXTO 1
“A palavra “moral” tem que ver etimologicamente com os costumes, pois é precisamente
“costumes” o que significa a palavra latina mores, e também as ordens, pois a maior parte dos
preceitos morais dizem qualquer coisa como “deves fazer isto” ou “não te lembres sequer de
fazer aquilo”. Todavia, há costumes e ordens – como já vimos – que podem ser maus, ou seja,
“imorais”, por muito ordenados e costumeiros que se nos apresentem. Se quisermos
aprofundar deveras a moral, se quisermos aprender a sério como empregar bem a liberdade
que temos (e nessa aprendizagem consiste justamente a “moral” ou “ética” de que estamos
aqui a falar), o melhor será deixarmo-nos de ordens, costumes e caprichos. O primeiro aspecto
que devemos deixar claro é que a ética de um homem livre nada tem a ver com os castigos ou
os prémios distribuídos por qualquer autoridade que seja – autoridade humana ou divina, para
xxii
o caso tanto faz. Aquele que se limita a fugir do castigo e a procurar a recompensa que outros
dispensam, segundo normas por eles estabelecidas, não goza de condição melhor do que a de
um pobre escravo. Talvez a uma criança pequena bastem o pau e a cenoura como guias de
conduta, mas para alguém já mais crescidote torna-se muito triste continuar com essa
mentalidade. A pessoa deve orientar-se de modo diferente. Mas é aqui necessário um certo
esclarecimento dos termos. Embora eu use as palavras “moral” e “ética” como equivalentes,
de um ponto de vista técnico[…]elas não significam o mesmo. “Moral” é o conjunto de
condutas e normas que tu, eu e alguns dos que nos rodeiam costumamos aceitar como válidas;
“ética” é a reflexão sobre o porquê de as considerarmos válidas, bem como a sua comparação
com as outras “morais”, assumidas por pessoas diferentes. […] a ética é a arte de escolher o
que mais nos convém para vivermos o melhor possível; […] a ética ocupa-se do que a própria
pessoa (tu, eu ou qualquer outra pessoa) faz com a sua liberdade […]. Em ética, o importante é
querer bem, porque se trata somente daquilo que cada um faz porque quer (e não do que
acontece a alguém, queira-o ou não, nem do que é levado a fazer pela força).”
SAVATER, Fernando, Ética para um Jovem, Editorial Presença, adaptado, pp. 46 e 113.
ACTIVIDADE 1
“Que se entende por dimensão moral? A conduta humana, não estando predefinida nem
completamente determinada pelo meio, é de natureza deliberativa; por isso, tem de se
confrontar constantemente com o dilema da escolha: que fazer? Que é preferível? Como devo
comportar-me? O dilema moral é, pois, conatural ao homem, mais concretamente à sua
conduta deliberativa livre.”
Ángeles M. Garcia, Introdução ao pensamento filosófico
xxiii
3- Tendo em conta os conceitos de Ética e de Moral trabalhados na aula, comente a
seguinte imagem:
CORRECÇÃO DA ACTIVIDADE
xxiv
AULA N.º15
xxv
no domínio ético, implica que seja concretizado sob a forma de
avaliação subjectiva do seu comportamento e do comportamento dos
outros. A grelha de avaliação ou de auto-avaliação do sujeito para
esses comportamentos e que serve de modelo para o agir avaliativo é
a Moral.
Neste sentido o agir ético é um agir voluntário, consciente e orientado
para um fim específico (telos – aquilo para o qual todas as acções
tendem), e acima de tudo, intencional. A intenção, no sentido ético,
implica um sujeito que tem em vista uma determinada finalidade. Isto
exige que o sujeito seja um sujeito racional, que tenha vontade própria
e um projecto consciente – a finalidade que pretende atingir com os
seus actos. Por outro lado, a intencionalidade ética exige a reflexão
própria sobre as normas morais (conjunto de regras previamente
estabelecidas e pelas quais vai orientar-se na sua experiência ética e
no seu agir), já que não é suficiente o acordo externo da acção com a
norma para avaliar a moralidade de uma acção, pois é fundamental a
intenção, isto é, o julgamento interior que cada sujeito faz do que é
permitido e do que é proibido, pois não devemos esquecer que duas
motivações distintas podem ser razão para a mesma acção (devolver
algo por dever ou por temer as consequências legais) e que objectivos
idênticos podem originar distintas intencionalidades (para obter um
emprego, subornar o avaliador ou apresentar o currículo e aguardar
pelos resultados). A intenção pode então ser observada pela relação
entre consequência, motivos e decisão, deliberação ou escolha por
esta ou aquela acção.
Na sua deliberação acerca da melhor decisão a tomar na sua vida
convivencial, a consciência moral desempenha um papel importante. A
consciência moral é a capacidade do agente julgar o que é bom ou
mau, justo ou injusto, relativamente às suas próprias acções ou às
acções dos outros. A consciência moral constitui um saber, um
discernimento, que se foi construído com aquilo que o sujeito agente
foi assimilando na família, na escola, no grupo de amigos, no
emprego. Ela permite reconhecer e avaliar as acções e abre
possibilidades acerca do que se deve fazer, para que o agente se
considere aos seus próprios olhos um ser digno. Assim, podemos
dizer que a consciência moral se vai desenvolvendo à medida que o
indivíduo interioriza as regras e os padrões do grupo (heteronomia –
do grego: hetero + nomos – significa seguir uma norma proveniente do
exterior), e vai amadurecendo à medida que o indivíduo se
autodetermina a agir por princípios racionalmente justificados
(autonomia – do grego auto + nomos – significa a capacidade de
estabelecer e seguir normas do seu próprio agir), assumindo-se,
então, como uma capacidade interior de orientação e de avaliação da
conduta.
O conceito de consciência inclui, portanto, um sentido:
a) Apelativo para valores e normas ideias, funcionando como uma
espécie de bússola orientadora da acção;
xxvi
b) Imperativo, pois ordena uma acção compatível com os valores
do agente;
c) Judicativo, pois assume-se como juiz dos actos e das
intenções do agente;
d) Censório, pois censura ou elogia o agente conforme a acção
obedece ou não aos ideais e valores por ele assumidos.
É exactamente por existir como ser livre que o ser humano não pode
recusar-se a tomar uma decisão, uma vez que isso já implica decidir.
Nenhum ser humano pode abster-se de ser livre, de ser uma pessoa
moral. Por nascermos dependentes de uma sociedade já nascemos
inseridos num universo de normas morais, pelo que podemos decidir
agir ou não em conformidade com o código moral da nossa sociedade.
Assim, se o ser humano é um ser que não existe fora de uma
comunidade, também é um ser que não existe à margem da
experiência moral. Deste modo, a Moral não pode separar-se da
liberdade própria do ser humano. É na medida em que é livre e não
determinado o ser humano tem o poder e o dever de decidir a cada
momento, optando dentro de um campo de possibilidades, e esta
experiência de decisão é a experiência moral.
Neste sentido, são características da acção moral a liberdade e a
responsabilidade, pois é o indivíduo que se obriga a si mesmo e, por
isso, ao reconhecer-se como agente, isto é, como sujeito que
voluntária e livremente decide e realiza uma acção, assume o
compromisso de responder por ela. A liberdade moral traduz, assim, a
obrigação do sujeito moral de orientar-se pela razão, pelos valores e
ideais que reconhece como bons e a partir dos quais estabelece os
fins ou as metas que dão sentido à sua existência. A responsabilidade
moral expressa assim o reconhecimento da autoria e a obrigação de
responder perante a consciência.
Mas será que todas as decisões são simples e estão devidamente
enquadradas nos códigos morais?
Às situações que nos desafiam enquanto sujeitos morais chamamos
dilemas morais. Um dilema moral é uma situação em que um agente
tem uma forte obrigação ou exigência moral de adoptar duas
alternativas, sendo que nenhuma das duas está derrotada, mas o
agente não pode adoptar ambas as alternativas.
Constitui um exemplo de um dilema moral o episódio bíblico em que
Deus ordena a Abraão que sacrifique o seu filho, ainda que ele não
tenha qualquer razão moral para obedecer. Outro exemplo é o do
estudante de Sartre que tinha o dever moral de cuidar da sua mãe em
Paris, mas que ao mesmo tempo tinha o dever moral de ir para
Inglaterra para entrar para a França Livre e lutar contra os nazis.
Ética; Moral; Norma; Intenção; Êthos; Dever; Liberdade/Livre-Arbítrio;
Valor; Hierarquia; Polaridade; Princípios; Acção; Finalidade;
Conceitos Hábito/Costume; Exterior/Interior; Sociedade Civil; Deontologia;
Obrigação; Prática Social; Cultura; Orientação; Sabedoria de
Vida/Realização Pessoal; Autonomia; Universal.
xxvii
Introdução oral ao tema;
Estratégias Leitura orientada do Texto 1;
Leitura orientada do texto 2;
Instrumentos Quadro, textos, actividade.
Avaliação Participação oral e resolução de actividade
Entrada, chamada e sumário: 10 minutos
Introdução oral: 10 minutos
Tempo
Leitura orientada do texto 1: 30 minutos
Leitura orientada do texto 2: 50 minutos
TEXTO 1
“Seja, por exemplo, o caso seguinte: alguém tem em seu poder um bem alheio que lhe foi
confiado em depósito pelo seu dono, que entretanto faleceu sem que os seus herdeiros
saibam nem possam vir a saber nunca desse depósito. […] O possuidor desse depósito,
exactamente nessa altura, caiu na ruína total, vendo a sua família, mulher e filhos aflitos e
cheios de privações, e sabendo que ao apropriar-se do depósito poderia livrar-se de privações
num abrir e fechar de olhos. Além disso, suponhamos que o nosso homem é filantropo
caritativo, enquanto que os herdeiros são ricos e egoístas, e de tal modo gastadores que
acrescentar o depósito à sua fortuna seria como atirá-lo directamente ao mar. Se se pergunta
agora se em tais circunstâncias seria permitido o uso do depósito em benefício próprio, sem
dúvida se poderia responder: “Não!” E em vez de evocar todo o tipo de justificações, dir-se-ia
tão somente: “é injusto”, isto é, opõe-se ao dever.”
KANT, Sobre o lugar comum: isso pode ser correcto em teoria, mas nada vale na prática, AK, VIII, 286-287 (adaptado)
TEXTO 2
O dilema de Henrique
Numa cidade da Europa, uma mulher estava quase a morrer com um tipo muito raro de
cancro. Havia um remédio, feito à base de Rádio, que os médicos imaginavam que poderia
salvá-la, e que um farmacêutico da mesma cidade havia descoberto recentemente. A produção
do remédio era cara, mas o farmacêutico cobrava por ele dez vezes mais do que lhe custava
produzi-lo: O farmacêutico pagou €400 pelo Rádio e cobrava €4000 por uma pequena dose do
remédio. Henrique, o marido da enferma, procurou todos os seus conhecidos para lhes pedir
dinheiro emprestado, e tentou todos os meios legais para consegui-lo, mas só pôde obter uns
€2000, que é justamente a metade do que custava o medicamento. Henrique disse ao
farmacêutico que a sua mulher estava a morrer e pediu-lhe que vendesse o remédio mais
barato, ou que o deixasse pagar a prestações. Mas o farmacêutico respondeu: ‘Não, eu
xxviii
descobri o remédio e vou ganhar dinheiro com ele’. Assim, tendo tentado obter o
medicamento por todos os meios legais, Henrique, desesperado, considera a hipótese de
assaltar a farmácia para roubar o medicamento para a sua esposa. O Henrique deve roubar o
medicamento?”
Kholberg
5 Dilemas Morais
O comboio descontrolado
Um comboio vai atingir 5 pessoas que trabalham desprevenidas numa linha férrea. Tens a
possibilidade de evitar a tragédia accionando uma alavanca que leva o comboio para outra
linha, onde ele atingirá apenas uma pessoa. Mudarias o trajecto, salvando as 5 e matando 1?
O Comboio descontrolado - parte 2
Imagina a mesma situação anterior: um comboio a alta velocidade irá atingir 5 trabalhadores
desprevenidos. Agora, porém, há uma linha só. O comboio pode ser parado colocando um
objecto pesado à sua frente. Um homem com uma mochila muito grande está ao lado da linha.
Se o empurrares para a linha, o comboio vai parar, salvando 5 pessoas, mas matando uma.
Empurrarias o homem da mochila para a linha?
Totem e tabu
No teu país, a tortura de prisioneiros de guerra é proibida. És tenente do Exército e recebes um
prisioneiro recém-capturado que grita: "Alguns de vós morrerão às 21h35". Suspeita-se que ele
sabe de um ataque terrorista a um restaurante. Para saber mais e salvar civis, torturá-lo-ias?
Os limites da promessa
Um amigo quer contar-te um segredo e pede que prometas não contar a ninguém. Dás a tua
palavra. Ele conta que atropelou um pedestre e, por isso, vai esconder-se na casa de uma
prima. Quando a polícia te questionar acerca do teu amigo, o que farás?
Choque cultural
És um funcionário de uma empresa a operar na Amazónia sob ordem expressa de jamais
intervir na cultura indígena. Ao passeares perto de uma clareira, notas que ianomânis (índios
de uma tribo) estão a envenenar o bebé de uma índia, que está desesperada. Impedirias a
morte do bebé?
In http://tiagoluchini.eu/2008/09/14/dilemas-morais/
xxix
AULA N.º16
xxx
se encontram e que, ao mesmo tempo, são condição para que
cada sujeito, enquanto elemento de uma comunidade, se sinta
tratado como cidadão de corpo inteiro).
Se um sujeito assistir a um assalto, ele não pode deixar de tomar
partido entre o assaltante e o assaltado, tem de escolher entre a acção
realizada e a correcção dessa acção, tem de fazer uma apreciação
sobre o que pensa daquele acto, tem de escolher agir ou não fazer
nada, e tem consciência do acto que observou. A tudo isto chamamos
experiência valorativa, que é o resultado do que o sujeito estabelece
com outros sujeitos, isto é, é resultado da experiência convivencial.
Por outro lado, vivemos numa sociedade organizada que garante o
direito à propriedade privada, constituída por instituições que têm
como função fazer cumprir esses princípios, e que constituem
entidades que resultam de um esforço humano de racionalização e
organização sistemática do viver dos cidadãos, e cuja força reside
num poder de delegação dado pelos cidadãos, individualmente, para
que os que têm essa função a apliquem em nome do grupo – lei ou
algo equivalente. As instituições garantem a convivencialidade entre
os sujeitos individuais, e por isso são condição da relação ética
correcta entre os indivíduos e os interesses individuais que os movem
no seu agir. É à política que cabe o dever de regular estas interacções
de modo a que as liberdades individuais sejam respeitadas, ou seja, é
à Política que compete organizar e criar normas para evitar e gerir
conflitos decorrentes da vida em sociedade.
POLÍTICA
ÉTICA ÉTICA
EXPERIÊNCIA CONVIVENCIAL
xxxi
individual), de tal modo que o agente alcança a perspectiva da
universalidade do agir.
Neste sentido, um princípio ético não pode ser justificado com base
nos interesses de um indivíduo ou grupo, nem em função de situações
concretas e particulares. Um princípio ético tem de ser imparcial, ou
seja, tem de ter em igual consideração os nossos interesses e os
interesses de todos os outros. É isto que distingue um juízo moral das
afirmações relativas ao gosto geral.
Juízos morais são proposições que expressam a avaliação das
acções a partir da adopção de um determinado padrão ou critério
valorativo.
Para alguém afirmar que, por exemplo, “praticar um aborto é um acto
contrário à moral”, necessita de ter razões que justifiquem o seu juízo
moral e estas razões têm de constituir argumentos sólidos.
Assim, emitir um juízo moral:
1) Exige compreensão dos factos;
2) Envolve um conjunto de princípios éticos (ex: a vida humana é
sagrada);
3) Exige imparcialidade, isto é consideram-se os interesses de
cada indivíduo como igualmente importantes.
Se a existência individual só se realiza e ganha sentido na convivência
com os outros se a realização de cada indivíduo supõe a realização de
todos os outros, então a Ética, para promover a vida social e adopção
de valores comuns deve:
a) Definir princípios reguladores da convivência social (ex:
solidariedade em vez da competição);
b) Estabelecer os direitos e os deveres de cada um;
c) Propor fins para a realização pessoal e social do indivíduo.
Então, porque devemos agir moralmente?
Devemos agir moralmente porque a nossa realização enquanto
humanos depende da dimensão social, por isso é imperativo
compatibilizar os nossos direitos como direito dos outros de modo a
garantir a coexistência e a realização de todos, e porque queremos
viver humanamente, isto é, ser pessoas e tratar os outros como
pessoas.
Ética; Moral; Norma; Intenção; Êthos; Dever; Liberdade/Livre-Arbítrio;
Valor; Hierarquia; Polaridade; Princípios; Acção; Finalidade;
Conceitos Hábito/Costume; Exterior/Interior; Sociedade Civil; Deontologia;
Obrigação; Prática Social; Cultura; Orientação; Sabedoria de
Vida/Realização Pessoal; Autonomia; Universal.
Introdução oral ao tema;
Leitura orientada dos Textos 1 (A. De O. Fernandes ,Paul Ricoeur – O
sujeito e a Ética, APPACDM, 1996), 2 (Paul Ricoeur, Soi-même
Estratégias comme un autre, Paris, Éditions du Seuil, 1990.) e 3 (Fernando
Savater, Ética para um jovem, 5ª edição, Lisboa, Editorial Presença,
1988.);
Realização Actividade 1;
xxxii
Realização Actividade 2: Palavras Cruzadas Filosóficas.
Instrumentos Quadro, textos, actividade.
Avaliação Participação oral e resolução das actividades
Entrada, chamada e sumário: 10 minutos
Introdução oral: 10 minutos
Tempo Leitura orientada dos textos 1, 2 e 3: 30 minutos
Realização da actividade 1: 15 minutos
Realização da actividade 2: 25 minutos
TEXTO 1
“Os outros agentes são como eu, seres capazes de iniciativa, de escolher, de agir por razões,
de hierarquizar os seus fins, de ser responsáveis e de, julgando boas as suas acções, se
estimarem a si mesmos como eu me estimo a mim.”
A. de O. Fernandes, Paul Ricoeur – O sujeito e a Ética, APPACDM, 1996
TEXTO 2
“As instituições – o viver bem não se limita às relações interpessoais, estendendo-se também
às instituições. (…) Por instituições entenderemos a estrutura do viver em conjunto de uma
comunidade histórica – povo, nação, região, etc. – estrutura irredutível às relações
interpessoais e todavia a elas ligada. (…) É pelos costumes comuns e não por regras limitativas
que a ideia de instituição fundamentalmente se caracteriza. Ela reenvia-nos ao éthos de onde
derivou o termo ética.”
Paul Ricoeur, Soi-même comme un autre, Paris, Éditions du Seuil, 1990.
TEXTO 3
“Em Ética, o importante é querer bem, porque se trata somente daquilo que cada um faz
porque quer (e não do que acontece a alguém, queira-o ou não, nem do que é levado a fazer
pela força). Para a política, em contrapartida, o que conta são os resultados das acções, sejam
estas feitas lá pelo que for (…).”
Fernando Savater, Ética para um jovem, 5ª edição, Lisboa, Editorial Presença, 1988.
xxxiii
ACTIVIDADE 1
Classifique (com uma cruz) cada uma das afirmações como verdadeira ou falsa:
xxxiv
ACTIVIDADE 2
Palavras cruzadas filosóficas
9
3 4
5 2
8
6
12
11
10
13
1- Reflexão sobre os fundamentos e os princípios que regem a constituição das normas,
propondo fins e ideais a realizar tendo em vista o aperfeiçoamento do ser humano.
2- Conjunto de regras, universal e aplicado de forma uniforme a cada sujeito.
3- Constitui o esforço, por parte do sujeito, para orientar a conduta por princípios racionais
justificados, tendo em conta, tanto os seus interesses como os interesses de todos os que
serão afectados pelas suas acções.
4- Pode então ser observada pela relação entre consequência, motivos e decisão, deliberação
ou escolha por esta ou aquela acção.
5- A capacidade do agente julgar o que é bom ou mau, justo ou injusto, relativamente às suas
próprias acções ou às acções dos outros. (2 palavras)
6- Traduz a obrigação do sujeito moral de orientar-se pela razão, pelos valores e ideais que
reconhece como bons e a partir dos quais estabelece os fins ou as metas que dão sentido à
sua existência. (2 palavras)
7- Expressa o reconhecimento da autoria e a obrigação de responder perante a consciência. (2
palavras)
8- Significa a capacidade de estabelecer e seguir normas do seu próprio agir.
9- Significa seguir uma norma proveniente do exterior.
10- Proposições que expressam a avaliação das acções a partir da adopção de um
determinado padrão ou critério valorativo. (Plural, 2 palavras)
11- Situação em que um agente tem uma forte obrigação ou exigência moral de adoptar duas
alternativas, sendo que nenhuma das duas está derrotada, mas o agente não pode adoptar
ambas as alternativas. (2 palavras)
12- Termo que designa as estruturas através das quais os sujeitos se encontram e que, ao
mesmo tempo, são condição para que cada sujeito, enquanto elemento de uma comunidade,
se sinta tratado como cidadão de corpo inteiro. (Plural)
13- Domínio da acção orientada por princípios, visando fins de dignificação e aperfeiçoamento
humano. (2 palavras)
xxxv
CORRECÇÃO
ACTIVIDADE 1
Classifique (com uma cruz) cada uma das afirmações como verdadeira ou falsa:
A Ética diz respeito às regras de actuação do indivíduo em sociedade. V
A Ética diz respeito a todos os actos do ser humano. F
A experiência convivencial é diferente da experiência valorativa. F
Existe um conjunto de estruturas a regular a interacção entre os sujeitos. V
O conjunto de estruturas que regulam a interacção humana é a Instituição. V
O conjunto de estruturas que regulam a interacção humana é a experiência
F
convivencial.
O Eu é a base do comportamento Ético. V
O conjunto de estruturas que regulam a interacção humana é de ordem
F
biológica.
O Eu não necessita de outros seres humanos para adquirir sentido humano. F
A dimensão biológica do ser humano realiza-se através da dimensão cultural. V
O ser humano é um ser objectivo que se projecta no real. F
A experiência valorativa resulta da interacção entre os seres humanos. V
As instituições servem de filtro às acções humanas. V
As instituições são uma garantia de convivencialidade entre os sujeitos humanos. V
O ser humano é, tal como os outros animais, um sujeito de cultura. F
xxxvi
CORRECÇÃO
ACTIVIDADE 2
PALAVRAS CRUZADAS
9
h
e
t
7 r e s p o n s a b i l i d a d e m o r a l
r
1 o
e n
t o
i 3 m 4
5 c o n s c i e n c i a m o r a l 2
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e 8 a u t o n o m i a
n 6 l i b e r d a d e m o r a l
ç 12 i n s t i t u i ç o e s
a 11 d i l e m a m o r a l
10 j u i z o s m o r a i s a
d
13 d i m e n s a o e t i c a
xxxvii
AULA N.º17
xxxviii
que agimos, mas pelo que fazemos, pelo que da acção resulta. As
éticas materiais estabelecem que a acção moral deve procurar realizar
um determinado fim ou bem (a felicidade, o prazer, por exemplo), ou
seja, é a acção que constitui um bom meio para o fim em vista. Um
bom exemplo deste tipo de concepção moral é a ética de Stuart-Mill.
As éticas formais definem que a validade moral de uma acção não
está propriamente no que se faz, mas na forma como fazemos o que
fazemos, isto é, no modo como agimos, na intenção que preside aos
nossos actos. Um bom exemplo deste tipo de ética é a ética kantiana,
a qual não estabelece qualquer fim exterior à acção moralmente boa,
pelo contrário, a acção moralmente boa tem o seu fim em si mesma,
vale não pelo dever que cumpre, mas pela forma como visa cumprir
esse dever.
Neste sentido, podemos dizer que uma teoria cujo critério de avaliação
seja o respeito pelos princípios constitui uma teoria deontológica
(Kant) e que uma teoria cujo critério de avaliação é o respeito pelas
consequências é uma teoria consequencialista (Stuart Mill).
TEORIAS
TEORIAS DEONTOLÓGICAS
CONSEQUENCIALISTAS
As teorias éticas fazem As teorias éticas que fazem
depender a moralidade ou depender a moralidade ou
imoralidade de uma acção do imoralidade de uma acção, das
respeito pelos princípios. suas consequências.
xxxix
Entrada, chamada e sumário: 10 minutos
Tempo Introdução oral: 20 minutos
Resolução de Actividade: 60 minutos
ACTIVIDADE
1- Faça a correspondência entre as duas colunas de modo a obter afirmações
verdadeiras:
Definem concretamente as
finalidades ou bens que deve
perseguir a conduta moral.
Concede a prioridade à
matéria da acção (ao bem, à
vida boa, à felicidade, à
utilidade, etc.).
Sem indicarem quaisquer
bens concretos, indicam os Éticas formais.
procedimentos para
decidirmos, de forma
autónoma e universal, o que
devemos fazer.
O valor de uma acção é Éticas materiais.
determinado unicamente
pelo “modo de acção” que
nela se realiza ou pela
intenção com que foi
praticada.
Concede a prioridade à
forma da acção (ao dever, à
obrigação, a princípios
universais e abstractos).
O valor de uma acção
depende do bem ou
finalidade perseguidos (a
felicidade, o prazer, a boa
vida, o bem-estar).
xl
CORRECÇÃO
Definem concretamente as
finalidades ou bens que deve
perseguir a conduta moral.
Concede a prioridade à
matéria da acção (ao bem, à
vida boa, à felicidade, à
utilidade, etc.).
Sem indicarem quaisquer
bens concretos, indicam os Éticas formais.
procedimentos para
decidirmos, de forma
autónoma e universal, o que
devemos fazer.
O valor de uma acção é Éticas materiais.
determinado unicamente
pelo “modo de acção” que
nela se realiza ou pela
intenção com que foi
praticada.
Concede a prioridade à
forma da acção (ao dever, à
obrigação, a princípios
universais e abstractos).
O valor de uma acção
depende do bem ou
finalidade perseguidos (a
felicidade, o prazer, a boa
vida, o bem-estar).
xli
AULA N.º18
Objectivos
• Compreender o utilitarismo de Stuart Mill.
Gerais
Objectivos • Definir o conceito de utilitarismo.
• Definir o princípio da máxima felicidade.
Específicos
• Identificar o critério das acções morais na ética utilitarista.
xlii
age em busca da felicidade, a acção realizada pode não conseguir
realizar esse objectivo. Por isso, para garantir que a acção conduza
efectivamente à maior felicidade possível para todos os implicados,
torna-se necessário recorrer ao critério de utilidade: a decisão de agir
deve considerar a utilidade das consequências que dela resultam. Só
assim, dirá Stuart Mill, será possível garantir que estas acções
produzam o maior grau de felicidade possível.
Segundo o Utilitarismo, nas situações concretas da vida, quando
somos chamados a decidir se devemos praticar esta ou aquela acção,
o que devemos ter em conta é qual delas produzirá resultados mais
úteis, ou seja, a acção que pretendemos levar a cabo deve ser
avaliada de modo a indicar-nos qual o grau de felicidade que ela é
capaz de proporcionar. Assim, e de acordo com esse critério, uma
acção terá maior qualidade moral quanto maior for a felicidade que as
suas consequências produzirem. No entanto, não se pretende instituir
uma filosofia moral que seja considerada como a defesa do egoísmo e
dos meros interesses individuais. Segundo a filosofia utilitarista de
Stuart Mill, o princípio primeiro da acção deve ser compreendido do
seguinte modo: uma acção será aceitável do ponto de vista moral, se
das suas consequências resultar o maior grau de felicidade e bem-
estar para o maior número de pessoas possível.
Neste sentido, o Utilitarismo é uma moral consequencialista, isto é, o
valor moral das acções não se mede pela pura intenção do agente,
mede-se pelas consequências que produz.
Assim, ao tomar como critério de moralidade a maior soma da
felicidade que o acto praticado produz, a ética utilitarista exige que o
agente se coloque de um ponto de vista imparcial e desinteressado,
pois não é a sua felicidade pessoal, mas a felicidade geral que serve
de critério para determinar o valor moral das acções praticadas.
Podemos então afirmar segundo o utilitarismo de Stuart Mill que:
- o fim da moralidade é a felicidade;
- o que torna uma acção boa (critério de moralidade das acções) é a
sua utilidade, isto é, o seu contributo para criar a maior felicidade
(consequencialismo);
- na avaliação das consequências duma acção o que se deve ter em
conta é a felicidade/ infelicidade ou prazer/ sofrimento que ela poderá
provocar;
- para podermos fazer uma opção moral temos de:
1) inventariar todas as alternativas possíveis;
2) avaliar as consequências de cada uma das alternativas;
3) seleccionar a alternativa que previsivelmente produzirá mais
felicidade/ prazer/ bem-estar.
Ao Utilitarismo coloca-se então o seguinte problema: Como medir e
hierarquizar o prazer e o sofrimento? Haverá uma medida objectiva
rigorosa?
A identificação do bem com a felicidade, e desta com o prazer e
ausência de sofrimento foi um dos aspectos mais polémicos do
utilitarismo clássico, quer por o conceito de prazer poder ser
xliii
interpretado em termos puramente físicos, quer por ser um conceito
vago e difícil de avaliar.
Stuart Mill reagiu às objecções críticas dos adversários do utilitarismo
e introduziu a diferenciação qualitativa dos prazeres, distinguindo, por
um lado, prazeres intelectuais ou espirituais, e, por outro, prazeres
sensoriais ou corporais. A tese defendida pelo autor é que os prazeres
espirituais são os mais valiosos: “mais vale um homem insatisfeito do
que um porco satisfeito” ou “ melhor um Sócrates insatisfeito do que
um tolo satisfeito”.
Neste sentido, Stuart Mill distingue entre:
Prazeres Superiores Prazeres Inferiores
Prazeres espirituais ligados a
necessidades intelectuais,
sociais, morais, estáticas, etc., Prazeres sensoriais ligados às
como o prazer de apreciar uma necessidades físicas, como
obra de arte, de partilhar beber, comer, sexo.
conhecimentos e afectos, ou de
ajudar os outros.
xliv
que sirva de critério universal, ao individualismo e ao relativismo ético?
- Dada a sociedade pragmática em que vivemos, não correremos o
risco de esquecer a solidariedade ao transformarmos a opção moral
num cálculo de riscos?
Utilitarismo; Pragmatismo; Consequencialismo; Ética Formal e Ética
Material; Bem; Próprio; Felicidade; Hedonismo/Prazer; Virtude;
Excelência; Justo Meio/Equidade; Prudência; Meio; Fim; Fim Último;
Conceitos Dever; Exterior/Interior; Forma; Lei Moral; Lei Universal; Imperativo
Categórico e Imperativo Hipotético; Universalidade; Razão; Vontade;
Máxima; Intenção; Validade Moral; Princípio da Maior Felicidade
Global; Deontologia; Teologia.
Introdução oral ao tema;
Estratégias Leitura orientada do Texto 1;
Leitura orientada do texto 2;
Instrumentos Quadro, textos.
Avaliação Participação oral
Entrada, chamada e sumário: 10 minutos
Introdução oral: 10 minutos
Tempo
Leitura orientada do texto 1: 40 minutos
Leitura orientada do texto 2: 30 minutos
xlv
TEXTO 1
xlvi
TEXTO 2
xlvii
AULA N.º19
Objectivos
• Compreender a perspectiva deontológica de Kant.
Gerais
• Identificar o fundamento e o critério de avaliação da moralidade
na ética kantiana.
Objectivos • Definir imperativo categórico.
Específicos • Definir “vontade boa”, dever, acção moral.
• Explicitar o conceito de autonomia da vontade.
• Explicitar o conceito de pessoa.
A ética defendida por Kant é um dos exemplos mais representativos
de uma teoria deontológica. Na sua obra Fundamentação da
Metafísica dos Costumes, Kant caracteriza o domínio da moralidade e
apresenta um critério para avaliar a moralidade das acções. Kant
procura estabelecer quando e em que condições uma acção é boa.
Neste sentido, Kant procura a resposta à questão “o que devo fazer?”.
No entanto, Kant não procurou apenas reunir um conjunto de normas
ou prescrições que orientem o viver quotidiano dos homens, isto é,
não quis produzir mais um “modelo de vida” que, segundo padrões
exteriormente impostos, fornecesse aos homens um código de regras
onde se especificasse quais são as virtudes ou os pecados, o que é
certo ou errado.
Kant recusa enveredar por um moralismo normativo, cuja finalidade
Conteúdos
seria produzir uma tábua de virtudes ou um manual de bom
comportamento. Kant visa estabelecer racionalmente o princípio
supremo de toda a moralidade. Para tal, Kant começa por abstrair de
todo o conteúdo as acções, podendo desse modo, estabelecer os
elementos puramente formais que constituem as condições
necessárias para todo e qualquer acto moral.
Kant identifica, então, a boa vontade/ vontade boa como a única coisa
que pode ser considerada boa em si mesma, isto porque a boa
vontade, enquanto princípio que oriente as acções humanas, não vai
buscar o seu valor aos objectivos ou impulsos que nos levam a agir
deste ou daquele modo e menos ainda nos proveitos particulares que
podem resultar das acções praticadas. Ninguém reconhecerá valor
moral num acto de caridade praticado com o intuito de dele obter
xlviii
benefícios pessoais, mesmo que indirectamente.
Por isso, o valor de uma boa vontade consiste, apenas, na pura
intenção de praticar o bem, e isto independentemente de qualquer
interesse subjectivo que possamos ter pelo resultado da acção
praticada.
Mas o que é então uma acção moralmente válida? Respondemos
imediatamente que é uma acção que cumpre o dever ou evita infringi-
lo. Mas será que agir bem, cumprir o dever – o que é sempre louvável
– é suficiente para que uma acção seja moralmente válida? Kant diz
que não. Para Kant uma acção moralmente válida é uma acção em
que cumprimos o dever por dever. Isto significa cumprir o dever tendo
como único e exclusivo motivo o respeito pelo dever, ou seja, o
cumprimento do dever é um fim em si mesmo. Assim, quando
cumprimos o dever sem qualquer outro motivo a influenciar-nos a não
ser a vontade de o cumprir estamos, segundo Kant, a agir de uma
forma moralmente válida. Melhor dizendo, esta é a única forma de agir
que Kant considera moralmente válida. O que Kant está a dizer é que
para avaliar a moralidade de uma acção o que conta é a intenção de
quem age. O que nos motiva a cumprir o dever é, para a ética
kantiana, o problema decisivo. Não se trata simplesmente de cumprir o
dever, mas sim de como cumprir o dever.
Manifesta-se, então, aqui a distinção entre Legalidade (o carácter das
acções simplesmente boas, isto é, em conformidade com a norma) e
Moralidade (o carácter das acções morais, isto é, das acções
realizadas não só em conformidade com a norma, mas realizadas por
dever).
Esta distinção é importante porque, segundo Kant, só a moralidade
manifesta a racionalidade, de que depende a dignidade humana e o
seu valor absoluto. Então porque razão o ser humano não escolhe
sempre a racionalidade? Porque a vontade (faculdade do “querer”), a
quem compete escolher e decidir realizar a acção, pode ser
influenciada por aquilo a que Kant chamou disposições:
- Animalidade: enquanto ser vivo (a natureza em nós – inclinações e
necessidades sensíveis);
- Humanidade: enquanto ser vivo e, ao mesmo tempo, ser racional
(influências da sociedade/ comunidade de interesses);
- Personalidade: enquanto ser racional e capaz de responsabilidade
(exigências auto-impostas pela razão – desprendimento e autonomia).
A vontade está assim sujeita aos conflitos entre os diferentes tipos de
disposições e dividida entre o dever de respeitar as motivações
provenientes da racionalidade e as inclinações e necessidades
sensíveis. Ela pode e tem de escolher (livre-arbítrio), mas nem sempre
escolhe o dever, isto é, a moralidade. Na verdade, somente a escolha
da moralidade, isto é, a escolha do dever por dever torna a nossa
vontade numa vontade boa. É por esta razão que Kant propõe como
ideal moral que cada ser humano se esforce por transformar a sua
vontade dividida e imperfeita numa vontade boa, isto é, numa vontade
que somente se determine a agir por dever.
xlix
Agir por dever é então determinar-se pela disposição para a
personalidade, que consiste na produção, pela razão, de leias a que a
própria razão se submete. Estas leis, tal como as leis da natureza,
valem universalmente, contudo são diferentes, pois:
- as leis naturais são descritivas (dizem como a natureza funciona);
- a lei moral é normativa (diz como os seres humanos se devem
comportar).
Assim, o princípio que nos diz como devermos cumprir o dever é a lei
moral. A lei moral diz-nos: “deves absolutamente e em qualquer
circunstância cumprir o dever pelo dever”. A lei moral exige um
absoluto e incondicional respeito pelo dever.
Dizendo-nos a forma como devemos agir ao cumprir o dever, a lei
moral é, para Kant, uma lei puramente formal. Não dá regras
concretas e particulares, antes exige que as nossas acções boas
tenham sempre uma determinada forma. Tal exigência é absoluta:
deve-se cumprir o que a lei moral ordena por puro e simples respeito
por ela. Isto significa que a lei moral é um imperativo categórico e não
um imperativo hipotético. Ou seja, as leis morais são incondicionais e
absolutas, a priori, apresentando-se como uma ordem incondicional
que impõe a acção como necessária e justificando-a como fim em si
mesma.
Um imperativo categórico é uma ordem que não está submetida a
condições, ordenando que se cumpra o dever tendo em conta
simplesmente o dever. O cumprimento do dever é exigido como fim
em si mesmo.
O imperativo hipotético é uma ordem condicionada, tendo como forma
geral: se queres A tens de fazer B. Neste caso o cumprimento do
dever não é exigido por si mesmo. É um meio para um fim.
O enunciado do imperativo categórico é então: Age apenas segundo
uma máxima tal que possas, ao mesmo tempo, querer que ela se
torne lei universal.
Isto quer então dizer que a regra particular que individualmente
seguimos quando realizamos uma acção, isto é, a máxima (princípio
subjectivo segundo o qual um dado agente tenciona agir), deve poder
ser aceite por todos os seres racionais; esta é a exigência de
universalização da máxima que, ao garantir a imparcialidade e a
independência do agente em relação aos seus interesses particulares,
torna a acção boa.
O sentimento de respeito absoluto pelo dever é o único sentimento
que Kant admite no plano moral.
A lei moral, enquanto imperativo categórico, indica-nos as
características que devem possuir as diversas normas morais para
que tenham forma racional, isto é, sejam princípios objectivos (normas
que valem para todos os seres racionais). Um norma de acção só terá
validade moral se:
a) for dotada de universalidade – “Age segundo uma máxima tal que
possas querer ao mesmo tempo que se torne lei universal”;
b) não reduzir o ser humano à condição de simples meio – “Age de tal
l
maneira que uses a humanidade tanto na tua pessoa como na pessoa
de qualquer outro sempre e simultaneamente como fim e nunca
simplesmente como meio” – Princípio supremo da moralidade.
É, então, a escolha da moralidade que permite ao ser humano tornar-
se ser moral ou pessoa. Esse novo estatuto confere-lhe dignidade e
valor absoluto. A vontade, na medida em que se subordina a uma
“legislação universal” que ela própria elaborou, é digna de respeito,
pois:
a) é legisladora universal;
b) só obedece à razão, isto é, à lei que impõe a si mesma,
constituindo-se como sua própria lei;
c) não está dependente das inclinações sensíveis.
É esta propriedade da vontade de se constituir como a sua própria lei
que Kant chama autonomia. A autonomia da vontade é, portanto, o
princípio supremo da moralidade e o fundamento da dignidade e do
respeito devido ao ser moral ou pessoa.
Kant rejeita então que a acção moralmente válida consista na
obediência a algo exterior à vontade racional humana. Nem Deus, nem
o Estado, nem a sociedade são o fundamento da obrigação moral ou
do dever. Ao cumprir o dever de modo incondicional obedeço a uma lei
que é instituída pela minha razão. E isto é a autonomia da vontade: a
capacidade de se autodeterminar, de se tornar racional, rejeitando
influências exteriores à razão humana. Só há um motivo válido para
que cumpramos o que a lei moral ordena: é que exigimos isso a nós
mesmos em nome da nossa racionalidade como seres humanos. Se
faço meu o imperativo não é (ou não deve ser) porque a sociedade o
ordene ou porque Deus o exija, mas porque a dignidade racional do
ser humano, o seu valor absoluto como pessoa, assim o exigem.
Temos então a seguinte tipologia das acções:
À vontade que age por dever dá Kant o nome de boa vontade. Esta
vontade é boa pelo querer, pelo que o que a motiva ou determina para
li
agir é o respeito absoluto pelo dever. Assim, se ao agirmos
determinados por uma boa vontade fracassarmos ou formos
impedidos de levar a cabo a nossa boa intenção, isso em nada
desvaloriza a acção. Não é pelas consequências de uma acção que
avaliamos a sua moralidade. A intenção, o modo como cumprimos o
dever, é o critério decisivo na avaliação moral de uma acção e da
vontade que a decidiu.
Assim, para Kant, o fundamento da moralidade das acções é a
racionalidade, ou seja, a autonomia da vontade (o que implica o
cumprimento do dever pelo dever). O critério para identificar uma
acção como boa é o carácter incondicional e universalizável da
máxima que determina a escolha, ou seja, o carácter racional da lei.
Utilitarismo; Pragmatismo; Consequencialismo; Ética Formal e Ética
Material; Bem; Próprio; Felicidade; Hedonismo/Prazer; Virtude;
Excelência; Justo Meio/Equidade; Prudência; Meio; Fim; Fim Último;
Conceitos Dever; Exterior/Interior; Forma; Lei Moral; Lei Universal; Imperativo
Categórico e Imperativo Hipotético; Universalidade; Razão; Vontade;
Máxima; Intenção; Validade Moral; Princípio da Maior Felicidade
Global; Deontologia; Teologia.
Introdução oral ao tema;
Estratégias Leitura orientada do Texto 1;
Leitura orientada do texto 2;
Instrumentos Quadro, textos.
Avaliação Participação oral.
Entrada, chamada e sumário: 10 minutos
Introdução oral: 10 minutos
Tempo Leitura orientada do texto 1: 30 minutos
Leitura orientada do texto 2: 20 minutos
Leitura orientada do texto 2: 20 minutos
lii
TEXTO 1
liii
TEXTO 2
liv
TEXTO 3
lv
AULA N.º20
lvi
UTILITARISMO Devemos agir Critério moral: Uma acção está
com a finalidade são as moralmente
de promover o consequências certa apenas
máximo de bem- que as acções quando
estar a um têm para o maximiza o
maior número maior número bem-estar, ou
possível de de pessoas que seja, quando
pessoas, numa as tornam certas promove tanto
perspectiva ou erradas. quanto possível
imparcial. o bem-estar e
O utilitarismo é está errada
também uma quando não o
teoria promove.
consequencialist
a: o que conta
são as
consequências
que as acções
têm para a
generalidade
das pessoas (e
não já apenas
para nós
próprios).
REGRA MORAL:
Age de tal modo
que as tuas
acções possam
proporcionar o
maior bem
possível ao
maior número
de pessoas,
imparcialmente
consideradas.
ÉTICA Devemos agir de Critério moral: é Uma acção está
DEONTOLÓGICA acordo com o a relação das moralmente
Dever e não a acções com os certa quando
pensar nas deveres não infringe os
consequências universais nossos deveres
das nossas (são os mesmos e está errada
acções. A para todos os quando infringe
pergunta a fazer seres humanos) intencionalment
é: toda a gente que as tornam e algum desses
deveria fazer o certas ou deveres.
mesmo em erradas.
idênticas Há, portanto,
circunstâncias? acções
A ética intrinsecamente
deontológica é, más (ou seja,
portanto, uma são más em si
lvii
teoria anti- mesmas), ainda
consequencialist que tenham
a. consequências
REGRA MORAL: boas.
Age de tal modo
que as tuas
acções possam
valer para todo
o ser racional,
sem nunca
infringir os
deveres
universais.
lviii
projectos pessoais?
- Em nome da
maximização do bem-
estar, justifica acções
que contrariam as
nossas intuições
morais básicas. (Ex:
Espiar secretamente
alguém não seria
errado, desde que essa
pessoa não soubesse e
nós não disséssemos
nada a ninguém…)
- Permite a
instrumentalização das
pessoas, ao aceitar que
sejam utilizadas como
um meio para atingir
determinado fim,
desde que este seja
mais útil para um
maior número de
pessoas.
ÉTICA - Dá especial - Em nome do respeito
DEONTOLÓGICA importância aos pelo Dever, aprova
direitos das pessoas actos cujas
- Opõe-se a qualquer consequências são
instrumentalização das horríveis. (Ex: Dever
pessoas, ao considerar dizer a verdade a um
que cada pessoa deve assassino que nos
ser tratada como um questiona acerca do
fim em si mesmo e não paradeiro de um nosso
como um simples meio amigo com o objectivo
para atingir de o matar).
determinados fins, por - Parece não se aplicar
muito bons que aos conflitos entre
possam parecer. deveres. Por exemplo:
Que dever é mais
importante: não
roubar ou salvar uma
vida? Ou ainda: E se o
dilema moral tornar
inevitável infringir o
mesmo dever?
- Parece levar à
conclusão de que
apenas somos
moralmente
responsáveis pelos
actos em que agimos
intencionalmente, o
lix
que nos
desresponsabilizaria de
todas as asneiras que
fizéssemos, desde que
não tivéssemos tido a
intenção de infringir
algum dos nossos
deveres essenciais.
lx
TEXTO 1
lxi
TEXTO 2
lxii
ACTIVIDADE
Critérios de Correcção
1- a) O problema é saber qual é a acção moralmente correcta: salvar uma vida ou desviar
o medicamento para salvar cinco.
b) O utilitarista tem em conta as consequências da acção e escolherá a acção que tem
mais benefícios para o maior número, desviando o medicamento para salvar os cinco.
c) O deontologista, dado que concebe a vida como um valor, não desviará o
medicamento e fará o que estiver ao seu alcance para encontrar os meios necessários
para salvar os outros.
d) Resposta aberta: desviaria porque…/ não desviaria porque…
2- O utilitarismo de Stuart Mill faz depender a moralidade das acções da utilidade, isto é,
das suas consequências, valorizadas em termos da capacidade de proporcionar bem-
estar ao maior número. São morais as acções que respeitam o Princípio da Maior
Felicidade, isto é, as que trouxerem maior felicidade para o maior número possível de
pessoas. A felicidade a que se refere o Princípio da Maior Felicidade é concebida como
um estado de prazer e de ausência de dor, valorizando o prazer espiritual em
detrimento dos prazeres sensíveis.
lxiii
3- Kant define a lei moral como a regra universal que se apresenta sob a forma de um
imperativo categórico. O imperativo categórico ordena o respeito incondicional e
absoluto pela lei moral: age sempre de tal modo que a máxima da tua acção possa
tornar-se numa lei universal. Respeitar o imperativo categórico é agir por dever, isto é,
agir de modo que as regras particulares que adoptamos (máximas) possam ser
adoptadas por todos (tornar-se leis universais). Somente quando agimos por dever
somos autónomos. É a autonomia a que nos faz ser livres, fins em si, portanto pessoas,
isto é, seres com dignidade.
lxiv
Anexo 3: Planificações das Aulas
Assistidas do 11º Ano
lxv
AULA N.º9
Falácias silogísticas:
1) Falácia dos Quatro Termos: esta falácia ocorre quando um
silogismo tem mais que três termos. Geralmente, o termo médio
apresenta uma ambiguidade, podendo, por esse facto, ser tomado
em dois sentidos, o que implica considerá-lo como dois termos.
Exemplo:
Quem guarda gado é pastor.
Quem é pastor é sacerdote protestante.
Logo, quem guarda gado é sacerdote protestante.
lxvi
Exemplo:
Todos os padres são ministros.
Todos os ministros são políticos.
Logo, todos os padres são políticos.
Exemplo:
Todos os milionários são ricos.
Algumas dietas são ricas.
Logo, algumas dietas são milionárias.
Exemplo:
Alguns ricos são proprietários de um Ferrari.
Cristiano Ronaldo é proprietário de um Ferrari.
Logo, Cristiano Ronaldo é Rico.
Exemplo:
Todos os tigres são carnívoros.
Nenhum golfinho é um tigre.
Logo, nenhum golfinho é carnívoro.
lxvii
(predicado numa proposição do tipo A).
Exemplo:
Todos os seres humanos são mortais.
Alguns seres humanos são portugueses.
Logo, todos os mortais são portugueses.
Exemplo:
Todos os músicos são criativos.
Alguns pintores são criativos.
Logo, nenhum pintor é músico.
TEXTO
lxviii
imputada a raciocínios (dedutivos ou indutivos) num sentido muito mais alargado do
que aquele que têm o que em Lógica chamamos argumento (dedutivos ou indutivos).
[…] a noção de falácia envolve sempre um caso de non sequitur, aquilo que se
pretende justificar (se for um argumento no sentido mais técnico) ou promover […]
não é suficientemente justificado pelo raciocínio que se apresenta. […] Uma falácia
pode iludir, ou enganar, umas vezes obscurecendo a forma do argumento e criando a
ilusão de validade; outras vezes, construindo o raciocínio de um modo tal que se torne
(virtualmente) imperceptível a falta de uma premissa que, se descoberta, seria
imediatamente compreendida como falsa; outras vezes ainda, dando a uma premissa
falsa uma formulação que é susceptível de a fazer passar por verdadeira. A principal
motivação para o raciocínio falacioso reside, talvez, na vontade de persuadir um
auditório sem ter razões (ou provas) suficientes para o convencer. […]”
ACTIVIDADE
2- Quais dos seguintes argumentos são silogismos e quais não são? Porquê?
lxix
Logo, todas as dificuldades são insolúveis.
a) Todo o B é A.
Todo o B é C.
Logo, algum A não é C.
b) Todo o B é A.
Algum B não é C.
Logo, algum A é C.
c) Algum B não é A.
Todo o B é C.
lxx
Logo, algum A não é C.
d) Todo o B é A.
Nenhum B é C.
Logo, algum A é C.
a) Termo Maior: “mal”; Termo Menor: “perigo”; Termo Médio: “ilusão”; 4ª figura; Modo:
A, E, E.
b) Termo Maior: “mal”; Termo Menor: “perigo”; Termo Médio: “ilusão”; 1ª figura; Modo:
E, I, O.
c) Termo Maior: “irreal”; Termo Menor: “mal”; Termo Médio: “ilusão”; 3ª figura; Modo:
A, A, A.
d) Termo Maior: “perigo”; Termo Menor: mal”; Termo Médio: “ilusão”; 2ª figura; Modo:
O, A, O.
lxxi
7- Identifique as falácias formais nos seguintes silogismos.
a) Todos os padres são ministros.
Todos os ministros são políticos.
Logo, todos os padres são políticos
GRELHA DE CORRECÇÃO
2- a) Não é um silogismo. Não existe termo médio. Os termos maior e menor surgem na
mesma premissa. Existem quatro termos.
b) É um silogismo.
3- a) Válido
b) Inválido. Existem quatro termos. O termo “ministros” é utilizado com sentidos
diferentes nas duas premissas.
c) Inválido. Termo médio não está distribuído em pelo menos uma das premissas.
d) Inválido. Termo médio não está distribuído em pelo menos uma das premissas.
e) Inválido. Nenhuma das premissas é afirmativa.
f) Inválido. Uma das premissas é negativa, pelo que a conclusão terá de ser negativa.
g) Inválido. O termo menor está distribuído na conclusão e não está distribuído na
premissa.
h) Inválido. Uma das premissas é negativa, logo a conclusão teria de ser negativa.
lxxii
i) Inválido. O termo maior está distribuído na conclusão e não está distribuído na
premissa maior.
4- a) Inválido. Regra nº 4
b) Inválido. Regra nº 8
c) Inválido. Regra nº 4
d) Inválido. Regra nº8
5- a) Nenhum mal é uma ilusão. Todas as ilusões são perigosas. Nenhum perigo é um mal.
Viola a regra nº 4.
b) Nenhuma ilusão é um mal. Alguns perigos são ilusões. Conclusão: Alguns perigos
não são males. Válido.
c) Toda a ilusão é um mal. Toda a ilusão é irreal. Todo o mal é irreal. Inválido. Viola a
regra nº 4.
d) Alguns perigos não são ilusões. Todo o mal é uma ilusão. Alguns males não são
perigosos. Inválido. Viola a regra nº 4.
6- a) O silogismo não tem três termos como diz a regra nº1, mas quatro, pois o termo
“canto” expressa em casa uso dois conceitos diferentes
b) O termo médio não está distribuído em pelo menos uma das premissas (regra nº3);
a conclusão não segue a parte mais fraca (regra nº8).
c) O termo médio entra na conclusão (regra nº2).
d) O silogismo tem duas premissas negativas por isso delas nada se pode concluir
(regra nº6).
lxxiii
AULA N.º10
Objectivos
• Compreender a relação entre a Retórica e a Argumentação
Gerais
Objectivos • Caracterizar a natureza da Retórica
• Caracterizar a natureza da argumentação
Específicos
• Distinguir Ethos, Pathos e Logos
Vivemos em sociedade, por isso precisamos de comunicar.
Comunicar significa expressar e transmitir o nosso pensamento,
pôr em comum os pensamentos. Todos os dias, sem nos
apercebermos, usamos a argumentação, a retórica. Quando
questionamos, criticamos, defendemos os nossos argumentos,
queremos apresentar as nossas razões, convencer aqueles que
nos escutam. Procuramos convencer o auditório e levá-lo a alterar
as suas atitudes e comportamentos. Nesses momentos somos
sensíveis à lógica dos raciocínios e às emoções que se manifestam
através da linguagem. Nesses momentos manifesta-se o fenómeno
da comunicação, e esse fenómeno subjaz a toda a retórica. Esta
comunicação é a comunicação de seres possuidores de
racionalidade, expressa pela e na palavra. No entanto, à retórica
apenas interessa a comunicação com fins persuasivos. Interessa
persuadir, e para isso importa “falar bem”.
lxxiv
preocupar-se mais com a adesão do que com a verdade, a qual é,
nesses momentos, uma questão secundária, já que o objectivo é
garantir o assentimento do auditório à tese que se apresenta,
visando um determinado comportamento, modificar convicções,
atitudes e comportamentos.
lxxv
Ao argumentarmos, temos de ter em atenção e respeitar a
natureza da argumentação. A natureza da argumentação deve ser
caracterizada de acordo com dois domínios: o técnico e o
relacional.
Relativamente ao primeiro, o orador deverá utilizar:
- A palavra e não de qualquer tipo de violência;
- Uma linguagem natural, não abstracta e simbólica;
- Razões direccionadas para o objectivo;
- Uma técnica argumentativa que se apresente capaz de proceder
à selecção e apresentação de razões de uma forma ordenada,
dinâmica e viva;
- Estratégias, com vista a alterar opiniões, crenças e atitudes;
- A dúvida, para destabilizar e desconstruir as convicções dos
outros para que essas possa ser substituídas pelas que
defendemos no contexto em causa.
No que diz respeito ao domínio relacional, o orador deverá
apresentar uma atitude:
- De abertura ao diálogo e permuta de pontos de vista;
- De valorização do contributo mental de outros pontos de vista;
- De predisposição para o contacto humano sem adoptar uma
atitude de sobranceria e arrogância ou depreciativa face aos
outros;
- De uma atitude possibilitadora e empenhada na construção de
uma comunidade que se alimenta de e valoriza a contribuição de
cada um.
lxxvi
(locutor) e o auditório (interlocutor) é a constante da argumentação.
Para Aristóteles, o orador é o ethos (revelador do carácter, da
honestidade, da importância e da credibilidade e integridade do
orador), o auditório é o pathos (diz respeito às emoções originadas
pelo discurso, aos sentimentos e paixões que o mesmo desperta) e
o discurso é o logos (referente aos argumentos lógicos e racionais
apresentados pelo discurso, sendo a componente mais objectiva e
racional deste).
lxxvii
TEXTO 1
TEXTO 2
A IMPORTÂNCIA DA ARGUMENTAÇÃO
“Os argumentos são essenciais, em primeiro lugar, porque são uma forma de tentar
descobrir quais os melhores pontos de vista. Nem todos os pontos de vista são iguais.
Algumas conclusões podem ser apoiadas com boas razões; outras, com razões menos
boas. Mas muitas vezes não sabemos quais são as melhores conclusões. Precisamos de
apresentar argumentos para apoiar diferentes conclusões, e depois avaliar tais
argumentos para ver se são realmente bons.
Neste sentido, um argumento é uma forma de investigação. Alguns filósofos e
activistas argumentaram, por exemplo, que criar animais só para fornecer carne causa
um sofrimento imenso aos animais e que, portanto, isto é injustificado e imoral. Será
que eles têm razão? Não se pode decidir consultando os preconceitos que se têm.
Estão envolvidas muitas questões. Temos obrigações morais para com outras espécies,
por exemplo, ou é só o sofrimento humano que é realmente mau? Podem os seres
humanos viver realmente bem sem carne? Alguns vegetarianos viveram até idades
muito avançadas. Será que este facto mostra que as dietas vegetarianas são mais
saudáveis? Ou é esse facto irrelevante, considerando que alguns não vegetarianos
também viveram até idades muito avançadas? (É melhor perguntar se uma
percentagem mais elevada de vegetarianos vivem até idades avançadas.) Talvez as
lxxviii
pessoas mais saudáveis tenham tendência para se tornarem vegetarianas, ao contrário
das outras? Todas estas questões têm de ser consideradas cuidadosamente, e as
respostas não são, à partida, óbvias.
Os argumentos também são essenciais por outra razão. Uma vez chegados a uma
conclusão bem apoiada por razões, os argumentos são a maneira pela qual a
explicamos e defendemos. Um bom argumento não se limita a repetir as conclusões.
Em vez disso, oferece razões e dados para que as outras pessoas possam formar a sua
opinião. Se o leitor ficar convencido que devemos mudar a forma como criamos e
usamos os animais, por exemplo, terá de usar argumentos para explicar como chegou
a essa conclusão: é assim que convencerá as outras pessoas. Ofereça as razões e os
dados que o convenceram a si. Ter opiniões fortes não é um erro. O erro é não ter
mais nada.”
GRELHA DE CORRECÇÃO
(manual p.96)
1- V; F; F; V; F; F; V; V; F; F.
2- C; D; B; A; D; D; B; C; D; B.
3- B; A; C; C; C
lxxix
AULA N.º11
lxxx
- ser independente do contexto existencial do seu autor, do espaço-
tempo em que é realizada.
Em suma, a demonstração analisa o argumento para avaliar se há
ou não uma relação de necessidade entre as premissas e a
conclusão do argumento. Estamos no domínio do constringente,
isto é, a demonstração expressa o carácter de necessidade de uma
conclusão.
lxxxi
um orador seja bem sucedido ele tem de compreender o que é um
auditório. Assim, a questão impõe-se por si só:
O que é um auditório?
O auditório pode ser definido como o conjunto daqueles que o
orador visa influenciar com a sua argumentação. Podemos
identificar três tipos de auditório:
- Auditório individual (apenas uma pessoa; a argumentação decorre
sob a forma de diálogo; pode ser formal ou informal; ex: entrevista
profissional, conversa entre pai e filho);
- Auditório particular (grupo restrito de pessoas; a argumentação
assume uma forma persuasiva; discurso Ad Hominem – para
alguns - ex: assistência de uma conferência; relato de um guia
acerca de um monumento);
- Auditório universal (auditório global; a argumentação assume uma
forma de convencimento; discurso Ad Humanitatem – para todos –
ex: audiência de um filme, leitores de um livro).
lxxxii
Opinião Pública; Manipulação; Persuasão; Diálogo.
Exposição do tema; Leitura orientada do texto e resolução da
Estratégias
actividade proposta; Resolução de actividade p. 112 do manual.
Instrumentos Quadro, texto, actividade.
Avaliação Participação oral e resolução das actividades.
Entrada, chamada e sumário: 10 minutos
Introdução temática: 5 minutos
Leitura orientada do texto: 30 minutos
Tempo
Resolução da actividade: 15 minutos
Desenvolvimento expositivo do tema: 15 minutos
Resolução da actividade: 15 minutos
TEXTO 1
TEXTO 2
“Na argumentação, uma proposição é sugerida por uma outra proposição ou pela
situação (entendendo-se esta como dinâmica); na demonstração, tudo quanto faz com
que a conclusão se imponha deve ser especificado e tornar a conclusão necessária. A
argumentação assenta na equivocidade da linguagem natural; a demonstração assenta
na univocidade da linguagem simbólica. A argumentação pode convencer ou não; a
demonstração é um cálculo em que, dadas certas premissas, somos obrigados a
aceitar uma certa conclusão.”
lxxxiii
Grelha de Correcção
GRELHA DE CORRECÇÃO
(manual p.112)
1- F; F; V; F; F; V; V; F; F; V.
2- C; A; A; B; A; D; A; B; B; D.
3- A; C; B; A; C.
lxxxiv
AULA N.º14
lxxxv
visando a adesão acrítica e involuntária deste às teses
apresentadas. Ilude o carácter circunstancial, provisório e
problemático das soluções, razões e ideias apresentadas, ou seja,
é demagógica e ideológica.
Considerem-se os seguintes exemplos:
lxxxvi
aos restantes. Nos tribunais, a absolvição ou condenação dos réus
e a decisão da pena a aplicar é tomada após um confronto entre os
argumentos da acusação e da defesa. Já a publicidade procura
induzir o consumo de um qualquer produto, aliciando e incitando à
acção.
lxxxvii
seduzir e a convencer não manipula ou engana, pelo contrário, ela
visa esclarecer e apelar ao sentido crítico do interlocutor,
respeitando-o e permitindo que este realize em consciência o
exercício da sua racionalidade e sentido crítico, conjugando o
pensar com o querer.
Sofista; Filósofo; Verdade; Ser; retórica; Democracia; Persuasão;
Manipulação; Ethos; Pathos; Cidadania/ Cidadão/ Cidade; Téchne;
Conceitos
Discurso Argumentativo; Ágora; Dialéctica; Relativismo; Validade
Universal; Cepticismo; Doxa; Opinião Pública.
Exposição do tema; Leitura orientada do texto 1 e 2. Resolução da
Estratégias
actividade.
Instrumentos Quadro, texto, actividades.
Avaliação Participação oral e resolução das actividades.
Entrada, chamada e sumário: 10 minutos
Introdução temática: 10 minutos
Tempo Leitura orientada do texto 1: 25 minutos
Leitura orientada do texto 2: 25 minutos
Resolução da actividade: 20 minutos
lxxxviii
TEXTO 1
lxxxix
TEXTO 2
xc
ACTIVIDADE 1
xci
3 – Identifique a falácia presente no seguinte argumento:
A retórica não tem nada a ver com o discurso jurídico, pois nos tribunais não é o
7
discurso mas as provas que têm que sustentar a decisão do juiz.
Um bom orador não precisa de conhecer o assunto ou tema a defender nem ter
9
um conhecimento adequado do seu auditório.
CRITÉRIOS DE CORRECÇÃO
1.2 – Manipulação. Não há análise dos argumentos que estão na base da situação. O condutor
é colocado perante 2 hipóteses, sem considerar a existência de uma terceira: circular
devagar sem ser multado e sem ser assaltado.
2 – Falácia dos quatro termos, já que o termo mãe é aqui utilizado em dois sentidos.
3 – Petição de Princípio.
4 – 1, 4, 6 e 8
xcii
AULA N.º15
xciii
O ensino e a concepção de educação defendidos pelos sofistas
foram combatidos por Sócrates (Sócrates, 470-399 a.C.) e,
sobretudo, por Platão (428-347/48 a.C.), o seu mais famoso
discípulo. Graças a Platão, o termo “sofista” adquiriu um sentido
pejorativo e muitas das acepções actuais da palavra Retórica –
como a que a identifica com um discurso empolado ou pomposo,
cheio de truques lógicos e jogos de palavras, muitas vezes com o
intuito de enganar – correspondem a interpretações influenciadas
pela crítica platónica da Retórica, tal como era ensinada e utilizada
pelos sofistas.
xciv
foi certamente um dos mais ilustres oradores de toda a antiguidade
clássica e, por isso, é natural que Platão tenha escolhido o seu
nome para título de um diálogo cujo tema central é a retórica.
Quando Górgias foi escrito por Platão, Atenas vivia uma profunda
crise económica e política. Após uma longa guerra contra Esparta
(431-404), Atenas perde a guerra e o poder que tinha entre os
gregos. O regime Democrático é substituído por uma Tirania (404-
403) por imposição de Esparta. A Democracia, restaurada em 403,
estava mais frágil que nunca. Os recursos económicos dos
atenienses eram bastante mais escassos, procurando a cidade
recuperar a sua prosperidade económica. A antiga aristocracia
culpava os oradores e os democratas desta perda do poder e
exigia um governo forte. No início do século IV a.C. devido ao
elevado absentismo dos cidadãos nas sessões da Assembleia foi
decidido remunerá-los sempre que o fizessem. A Assembleia
tornou-se rapidamente num local de ociosos e cidadãos
empobrecidos que dessa forma procuravam adquirir algum
sustento. O exército passou a ser constituído por mercenários
afastando-se dos cidadãos. As sucessivas guerras empobreceram
ainda mais a vida dos atenienses. A Democracia continuava a
resistir, mas a tendência era para a adopção de regimes fortes
(tirânicos). No final do século IV a.C., Atenas deixou de ser
Independente e a Democracia foi substituída definitivamente por
uma Oligarquia.
xcv
As personagens do diálogo são Górgias (sofista), Sócrates
(filósofo, personagem principal), Polo (Sofista, discípulo de
Górgias), Cálicles (político ateniense, defensor de ideias sofistas) e
Querefonte.
xcvi
se assim o carácter indissolúvel entre poder, bem e felicidade, pelo
que deverá ser preocupação do cidadão não cometer a injustiça e
nesse sentido a retórica deixa de ter utilidade, pois apenas servirá
para quem não se quer submeter à justiça e pretende fugir ao
castigo.
Sofista; Filósofo; Verdade; Retórica; Democracia; Persuasão;
Manipulação; Uso Ético da Retórica; Maiêutica; Ironia; Ética;
Conceitos Racionalidade Argumentativa; Finalidade; Téchne; Empeiria;
Relativismo; Persuasão Racional/ Irracional; Método
Argumentativo.
Texto 1: Fernandes, Marcelo e Barros, Nazaré, Górgias – 12º ano,
Lisboa Editora, 2004, p. 29.
Estratégias Leitura orientada de excertos do Diálogo Górgias: 462b-466a e
478a-481b; Fernandes, Texto 1: Marcelo e Barros, Nazaré, Górgias
– 12º ano, Lisboa Editora, 2004, pp. 28-29, adapt;
Instrumentos Quadro, textos.
Avaliação Participação oral e resolução das actividades.
Entrada, chamada e sumário: 10 minutos
Tempo Leitura orientada do texto 1: 20 minutos
Leitura orientada do Górgias: 60 minutos
TEXTO 1
Fernandes, Marcelo e Barros, Nazaré, Górgias – 12º ano, Lisboa Editora, 2004, p. 29.
xcvii
TEXTO GÓRGIAS
xcviii
xcix
c
ci
cii
ciii
civ
cv
cvi
cvii
cviii
Górgias, Texto de Apoio, Lisboa Editora
cix
AULA N.º16
UNIDADE III: RACIONALIDADE ARGUMENTATIVA E FILOSOFIA
cx
questão permitirá a Sócrates firmar que é dever do político tornar a
polis e os cidadãos melhores, tendo o governante uma tarefa
educativa, algo que não se verifica na realidade nos governantes
da polis. Assim, segundo Sócrates, o governante não tem o direito
de criticar ou censurar o seu povo pois é ele o responsável pela
sua educação, e se não o tornou melhor foi porque o seu dever de
governante não foi cumprido.
Assim, as realizações materiais, que constituem a glória de muitos
estadistas, não passam por vezes de uma máscara de prepotência
de um desvio perigoso da missão essencial, que é para Sócrates a
promoção religiosa e moral da comunidade. A política é assim
julgada por alguém que se situa fora e acima dela, com o critério
isento de um filósofo e de um moralista.
Deste modo, a missão educativa do Estado implica a própria
remodelação deste e dos objectivos dos governantes, devendo
estes ter o conhecimento do bem, pelo que aquele mais capaz para
o exercício desta missão será o filósofo.
Sócrates critica seguidamente os sofistas, acusando-os de visarem
exclusivamente ganhar dinheiro, e faz uma alusão irónica à
possibilidade da sua morte. O que Sócrates combate na figura do
orador é a ignorância, origem do mal e da infelicidade humana, já
que o perigo do retórico resulta do seu sucesso depender da
ignorância do seu público, não sendo esta actividade mais do que
um simulacro da sabedoria, que conduz o espírito pela via da
opinião e da aparência. Logo, todo aquele que se dedica à arte da
adulação não só corrompe a cidade como a si próprio. É possível
identificar a identidade entre os princípios éticos orientadores da
acção do indivíduo e os princípios que governam a cidade,
decorrendo então a unidade entre o plano ético e o político – a
filosofia platónica submete o exercício do poder e toda a praxis
política individual ao princípio de uma razão universal.
No âmbito do diálogo, à medida que Sócrates vai expondo a
incoerência das respostas dadas por Polo e Cálicles, os seus
oponentes vão abandonando a discussão, acusando-o de não
aceitar as opiniões que até os homens mais simples da cidade
aceitam. É efectivamente esta intransigência de Sócrates na
investigação da verdade que acaba por cessar o diálogo. A
distinção entre sabedoria e opinião é uma questão central do
pensamento de Platão, mas essa distinção não se faz ao nível do
discurso, a ruptura entre o verdadeiro e o falso não é de ordem
lógica, mas de natureza ontológica. Quando Sócrates pergunta o
que é a justiça e o bem, o que ele procura é a verdadeira essência
da realidade presente na ideia de bem e na ideia de justiça. Assim,
o discurso da filosofia é verdadeiro porque reitera a unidade eterna
e imutável do Ser, constituindo um esforço da razão para se elevar
além das aparências das coisas mutáveis e da contingência, em
direcção à realidade imutável do ser. O fundamento metafísico da
verdade do discurso estabelece-se na ruptura entre o mundo do
cxi
ser e o da aparência.
O pressuposto de que Platão parte é o de que há de facto uma
verdade e que ela é a expressão de uma realidade imutável e
perfeita – o mundo do ser – de que a realidade que continuamente
captamos através dos nossos sentidos e da experiência quotidiana
é apenas um reflexo ou uma cópia. Para Platão existe uma
verdade universal e absoluta a respeito de cada assunto, cabendo
ao nosso discurso traduzir adequadamente essa realidade ideal.
Neste contexto, a retórica só será legítima quando o orador colocar
a sua capacidade oratória ao serviço da descoberta e da partilha
do conhecimento dessa verdade universal.
A filosofia segue apenas razão, lógica, Justiça e Bem. O que a
filosofia procura é aquilo que é eterno e imutável (a utilidade da
Filosofia). As paixões produzem a inconstância nos homens,
desviando-os da razão e tornando-os incoerentes.
Neste sentido, a filosofia não serve os interesses particulares dos
homens, nem se submete às ordens dos que detêm o poder na
cidade, ela está comprometida com a verdade, não procura seduzir
a multidão. Este afastamento da filosofia em relação aos homens
da cidade é o perigo e o risco do cariz pedagógico da filosofia, o
qual deverá ser superado através da acção do filósofo: voltar à
“caverna” para dialogar com os homens e unir o sensível e o
inteligível através da prática da virtude. Assim, a educação deriva
de um conhecimento racional, distinguindo-se de um qualquer
fazer, de uma empeiria.
Sofista; Filósofo; Verdade; Retórica; Democracia; Persuasão;
Manipulação; Uso Ético da Retórica; Maiêutica; Ironia; Ética;
Conceitos Racionalidade Argumentativa; Finalidade; Téchne; Empiria;
Relativismo; Persuasão Racional/ Irracional; Método
Argumentativo.
Leitura orientada de excertos do Diálogo Górgias: 484d-486d e
Estratégias
515a-4522a.
Instrumentos Quadro, texto, actividade.
Avaliação Participação oral e resolução da actividade.
Entrada, chamada e sumário: 10 minutos
Tempo Leitura orientada do texto: 60 minutos
Resolução da actividade: 20 minutos
cxii
TEXTO
cxiii
cxiv
cxv
cxvi
cxvii
cxviii
cxix
cxx
cxxi
cxxii
cxxiii
cxxiv
cxxv
cxxvi
Górgias, Texto de Apoio, Lisboa Editora
cxxvii
ACTIVIDADE
COLUNA 1 COLUNA 2
4. A retórica é um 4. A um conjunto de
instrumento opiniões.
essencial para a
filosofia porque o
que o filósofo faz é
cxxviii
CRITÉRIOS DE CORRECÇÃO
cxxix
Anexo 4: Instrumentos de Avaliação
do 10º Ano
cxxx
Escola Secundária Quinta do Marquês
Grupo I
“ O filósofo, em vez de aceitar passivamente aquilo que é considerado como óbvio e evidente,
começa por duvidar do conhecimento habitual, questiona criticamente a sua aceitação
imediata e procura a sua razão de ser.”
Texto Editora, Pensar Azul – Filosofia 10º ano
Grupo II
“Se a filosofia é realmente uma reflexão sobre os problemas que a realidade apresenta,
entretanto, ela não é qualquer tipo de reflexão. Para que uma reflexão possa ser adjectivada
de filosofia é preciso que satisfaça uma série de exigências.”
Grupo III
“[…] A questão da liberdade não se põe no campo da causalidade física – ninguém supõe que
os actos humanos têm de ter causas que as leis da ciência experimental possam explicar, por
cxxxi
exemplo a neurofisiologia – mas no campo da acção humana enquanto tal, que não pode ser
vista apenas de fora como sequência de acontecimentos mas deve ser considerada também a
partir de dentro, fazendo intervir variáveis tão difíceis de manejar como a “vontade”, a
“intenção”, “os motivos”, a “previsão”, etc. […] A acção é livre porque a sua causa é um sujeito
capaz de querer, de escolher e de pôr em prática projectos, isto é, de realizar intenções.”
Cotações:
CRITÉRIOS DE CORRECÇÃO
Grupo I
Grupo II
cxxxii
características que dão especificidade à reflexão filosófica são a autonomia, a
radicalidade, a historicidade e a universalidade. As questões filosóficas não são
questões de facto; as questões filosóficas são universais, racionais, abstractas e
abertas. As respostas filosóficas não oferecem soluções; as respostas dependem da
argumentação usada. Exemplos de problemas filosóficos: o que é o conhecimento?
(problema epistemológico), O que é a realidade? (problema ontológico), O que é o ser
humano? (problema antropológico), Quais os valores que devem guiar a nossa
existência? (problema axiológico e existencial).
Grupo III
cxxxiii
Escola Secundária Quinta do Marquês
Grupo I
1 - Comente o seguinte texto esclarecendo justificadamente o sentido da frase sublinhada.
“A questão que o filósofo coloca não é: «de onde vim e para onde vou» mas «quem» ou
melhor: «que sou eu?». Para o filósofo a relação natural e imediata com a vida deve ser
superada. É essa superação que constitui a passagem do vivido ao pensado, das ideias e do
pensamento espontâneo à reflexão crítica e ao conceito”.
B.Groethuysen, Antropologia Filosófica.
2 - “Por isso, é mais fácil formular perguntas filosóficas do que encontrar as suas respostas”.
J. Gaarder, O Mundo de Sofia
Esclareça as condições/natureza das questões filosóficas.
Grupo II
1 – Explicite o sentido da Alegoria da Caverna que estudou. Na sua resposta evite fazer uma
descrição ou contar a narrativa. De preferência deve ater-se à análise dos seus elementos
simbólicos.
Grupo III
1. “Nesta altura, a questão importante é determinar o que é a acção e o que é agir (…) A
verdade é que existe uma diferença entre o que simplesmente me acontece (…), o que faço
sem me dar conta (…) e o que faço, apercebendo-me (…)”.
Fernando Savater, As Perguntas da vida
Explicite o sentido do texto.
Cotações:
cxxxiv
CRITÉRIOS DE CORRECÇÃO
Grupo I
2- Distinguir as questões filosóficas das questões científicas: Não são questões de facto; Não
aceitação universal; as respostas filosóficas não oferecem soluções; as respostas dependem da
argumentação usada. As questões filosóficas são universais, racionais, abstractas e abertas. O
objecto da filosofia. Os problemas filosóficos.
Grupo II
1- Explicite o sentido da Alegoria da Caverna que estudou. Na sua resposta evite fazer uma
descrição ou contar a narrativa. De preferência deve ater-se à análise dos seus elementos
simbólicos.
cxxxv
natural do olhar, não nos interrogamos sobre o mundo. As coisas são assim, porque sim e
lidamos e vivemos com elas sem qualquer problema. Não nos interrogamos, não
problematizamos, simplesmente não pensamos nisso.
- Os prisioneiros somos todos nós / condição Humana. Tal como os prisioneiros da caverna
também nós estamos presos e acorrentados às cadeias da ignorância, das crenças, a um saber
que representa todos os tipos de ilusão.
- As cadeias representam o peso dos costumes, dos hábitos e das opiniões gratuitas. As cadeias
que prendem os pescoços são as que atam o espírito e as cadeias que atam as pernas
prendem-nos ao chão da caverna, à ignorância.
Grupo III
1- O texto evidencia a distinção entre a acção ou agir, o que fazemos e o que nos acontece. O
que nos acontece é algo independente da vontade do sujeito. O que o agente faz de modo
instintivo, reflexo, habitual designamos por actos do homem e integra-se na ordem do fazer (o
qual pode ser, neste caso, voluntário ou involuntário). O que fazemos, e do qual nos
apercebemos, situa-se no espaço da acção, mas a sua diferenciação face ao agir assenta na
exterioridade da sua produção e efeito, estando associado à produção técnica. A acção ou agir
humano pode ser definida como os comportamentos voluntários, conscientes e intencionais
realizados pelo sujeito agente, únicos e irrepetíveis, constituindo efectivamente aquilo que
identificamos como os actos humanos.
cxxxvi
Escola Secundária Quinta do Marquês
Filosofia – 10º A
Grupo I
1 – Leia atentamente o seguinte texto e responda à questão.
Grupo II
Partindo do texto anterior, proceda a uma caracterização geral do Utilitarismo proposto por
Stuart Mill.
cxxxvii
3 – “O formalismo moral de Kant recusa qualquer fundamento moral recto às acções
praticadas para alcançar o prazer, a felicidade ou a utilidade que as suas consequências
possam produzir.”
Cotações:
Grupos Questão Pontuação
1) 40 pontos
Grupo I
2) 30 pontos
1) 25 pontos
Grupo II 2) 45 pontos
3) 60 pontos
Total 200 pontos
CRITÉRIOS DE CORRECÇÃO
Grupo I
cxxxviii
humana, sendo determinada, é livre de escolher uma dada opção desde que não constrangida,
ou seja, algumas acções humanas são livres por serem determinadas, mas não constrangidas.
A acção humana nunca é completamente livre, pois a escolha humana faz-se num contexto
que condiciona e limita as alternativas passíveis de escolha através de condicionantes físico-
biológicas e psicológicas, as quais remetem para o património genético, para o ambiente em
que se insere o agente e para a personalidade deste, e condicionantes histórico-socioculturais,
que se referem ao processo de socialização e à cultura.
Mas, por outro lado, a consciência desses limites constitui um desafio à sua superação, pelo
que é nesse domínio situacional que o agente experiencia a sua liberdade no agir, da escolha e
decisão à concretização, pois a acção é o campo do projecto, da construção do futuro, da
construção de si próprio enquanto humano do agente, em suma, é o espaço de possibilidades
do agente, é o espaço privilegiado da liberdade.
cxxxix
- Absolutividade e Relatividade: a alguns valores, enquanto princípios orientadores necessários
para a acção, como, por exemplo, os valores éticos, é atribuído um sentido impositivo de
carácter absoluto, enquanto que a outros, por serem específicos de uma sociedade e sujeitos a
um tempo histórico e a uma cultura, é atribuído um carácter relativo.
Grupo II
1- As diversas teorias éticas podem ser agrupadas em dois grandes grupos: o das éticas
materiais e o das éticas formais.
As éticas materiais são as doutrinas ou teorias que põem o acento tónico no conteúdo ou na
matéria da acção livre. Por outras palavras, a validade moral de um acto é determinada, não
pela intenção com que agimos, mas pelo que fazemos, pelo que da acção resulta. As éticas
materiais estabelecem que a acção moral deve procurar realizar um determinado fim ou bem
(a felicidade, o prazer, por exemplo), ou seja, é a acção que constitui um bom meio para o fim
em vista. Um bom exemplo deste tipo de concepção moral é a ética consequencialista de
Stuart-Mill.
As éticas formais definem que a validade moral de uma acção não está propriamente no que
se faz, mas na forma como fazemos o que fazemos, isto é, no modo como agimos, na intenção
que preside aos nossos actos. Um bom exemplo deste tipo de ética é a ética deontológica
kantiana, a qual não estabelece qualquer fim exterior à acção moralmente boa, pelo contrário,
a acção moralmente boa tem o seu fim em si mesma, vale não pelo dever que cumpre, mas
pela forma como visa cumprir esse dever.
2- Para os fundadores do Utilitarismo moderno, a ética constitui-se, apenas, pelo esforço para
trazer a este mundo tanta felicidade quanto possível. Assim, Stuart Mill afirma que a Utilidade
ou o Princípio da Maior Felicidade é o princípio moral em que se baseia o utilitarismo. Segundo
este princípio, uma acção é boa quando promove a felicidade (enquanto estado de bem-estar,
isto é, de prazer e ausência de dor ou sofrimento – concepção hedonista), a única coisa
desejável como fim, isto é, boa em si mesma.
Para garantir que a acção conduza efectivamente à maior felicidade possível para todos os
implicados, torna-se necessário recorrer ao critério de utilidade: a decisão de agir deve
considerar a utilidade das consequências que dela resultam. Só assim, dirá Stuart Mill, será
possível garantir que estas acções produzam o maior grau de felicidade possível.
Segundo a filosofia utilitarista de Stuart Mill, o princípio primeiro da acção deve ser
compreendido do seguinte modo: uma acção será aceitável do ponto de vista moral, se das
cxl
suas consequências resultar o maior grau de felicidade e bem-estar para o maior número de
pessoas possível.
Neste sentido, o Utilitarismo é uma moral consequencialista, isto é, o valor moral das acções
não se mede pela pura intenção do agente, mede-se pelas consequências que produz.
3- A ética defendida por Kant é um dos exemplos mais representativos de uma teoria
deontológica. Kant procura estabelecer quando e em que condições uma acção é boa. Kant
identifica, então, a boa vontade/ vontade boa como a única coisa que pode ser considerada
boa em si mesma, isto porque a boa vontade, enquanto princípio que oriente as acções
humanas, não vai buscar o seu valor aos objectivos ou impulsos que nos levam a agir deste ou
daquele modo e menos ainda nos proveitos particulares que podem resultar das acções
praticadas. Para Kant uma acção moralmente válida é uma acção em que cumprimos o dever
por dever. Isto significa cumprir o dever tendo como único e exclusivo motivo o respeito pelo
dever, ou seja, o cumprimento do dever é um fim em si mesmo. O que Kant está a dizer é que
para avaliar a moralidade de uma acção o que conta é a intenção de quem age. Temos então
de distinguir entre Legalidade (o carácter das acções simplesmente boas, isto é, em
conformidade com a norma) e Moralidade (o carácter das acções morais, isto é, das acções
realizadas não só em conformidade com a norma, mas realizadas por dever). Agir por dever é
então determinar-se, o que consiste na produção, pela razão, de leias a que a própria razão se
submete. O princípio que nos diz como devermos cumprir o dever é a lei moral. A lei moral
exige um absoluto e incondicional respeito pelo dever. Dizendo-nos a forma como devemos
agir ao cumprir o dever, a lei moral é, para Kant, uma lei puramente formal. Não dá regras
concretas e particulares, antes exige que as nossas acções boas tenham sempre uma
determinada forma. A lei moral é um imperativo categórico e não um imperativo hipotético.
Ou seja, as leis morais são incondicionais e absolutas, apresentando-se como uma ordem
incondicional que impõe a acção como necessária e justificando-a como fim em si mesma. O
enunciado do imperativo categórico é: Age apenas segundo uma máxima tal que possas, ao
mesmo tempo, querer que ela se torne lei universal. A lei moral, enquanto imperativo
categórico, indica-nos as características que devem possuir as diversas normas morais para
que tenham forma racional, isto é, sejam princípios objectivos (normas que valem para todos
os seres racionais). É esta propriedade da vontade de se constituir como a sua própria lei que
Kant chama autonomia. A autonomia da vontade é, portanto, o princípio supremo da
moralidade e o fundamento da dignidade e do respeito devido ao ser moral ou pessoa.
cxli
Escola Secundária Quinta do Marquês
Filosofia – 10º A
Grupo I
1- Esta afirmação constitui uma crítica à teoria ética de Kant ou à teoria ética de Stuart Mill?
Justifique a sua resposta, explicitando as principais críticas às duas teorias referidas.
Grupo II
“(…)Na situação inicial escolheriam dois princípios bastante diferentes: o primeiro exige a
igualdade na atribuição dos direitos e deveres básicos, enquanto o segundo afirma que as
desigualdades económicas e sociais, por exemplo, as que ocorrem na distribuição da riqueza e
do poder, são justas apenas se resultarem em vantagens compensadoras para todos, e em
particular para os mais desfavorecidos membros da sociedade.”
Cotações:
cxlii
CRITÉRIOS DE CORRECÇÃO
GRUPO I
- A teoria ética de Kant, em nome do respeito pelo Dever, aprova actos cujas consequências
são horríveis; parece não se aplicar aos conflitos entre deveres; excesso de formalismo, não
orienta para as questões “prático-morais”; não considera o interesse pessoal, admitindo um
único sentimento, o de absoluto respeito pelo dever.
- À teoria ética de Stuart Mill podem ser feitas as seguintes críticas: a) considera como morais
acções que violam valores universais como o valor da vida ou o valor da justiça; b) faz
depender a moralidade de uma avaliação mais ou menos subjectiva, levando ao individualismo
e ao relativismo ético; c) transforma a opção moral numa estratégia racional de cálculo de
riscos; d) Dificuldade em conhecer todas as variáveis envolvidas numa dada situação, pelo que
está limitada na sua capacidade de previsão das consequências.
GRUPO II
1 – Para Rawls, colocados numa Posição Original, os seres humanos escolheriam dois
princípios fundamentais, identificados e caracterizados do seguinte modo:
- O primeiro Princípio (Princípio de liberdade igual para todos) exige a igualdade na atribuição
dos direitos e deveres básicos, enquanto o segundo princípio (Princípio da igualdade) afirma
que as desigualdades económicas e sociais que ocorrem na distribuição da riqueza e do poder,
são justas apenas se delas resultarem vantagens compensadoras para todos, em particular
para os membros mais desfavorecidos da sociedade. A obtenção de maiores benefícios
económicos e sociais não pode servir de justificação para a violação do direito a iguais
liberdades básicas. O direito a liberdades básicas é a base da «coexistência pacífica» e da
tolerância e só pode ser limitado ou ser objecto de compromisso quando entrar em conflito
com outras liberdades básicas. Assim uma sociedade é justa quando opta por um princípio
geral de distribuição igualitária (ainda que não haja injustiça no facto de alguns conseguirem
benefícios maiores que outros, desde que a situação das pessoas menos afortunadas, seja, por
esse meio melhorada).
cxliii
Anexo 5: Instrumentos de Avaliação
do 11º Ano
cxliv
Escola Secundária Quinta do Marquês
Grupo I
Grupo II
1- “A retórica, tal como a filosofia, teve origem na Grécia antiga, tendo surgido e adquirido
importância mercê das novas relações sociais advindas do surgimento da democracia.”
Grupo III
“Os argumentos são essenciais, em primeiro lugar, porque são uma forma de tentar descobrir
quais os melhores pontos de vista. (…) Os argumentos também são essenciais por outra razão.
Uma vez chegados a uma conclusão bem apoiada por razões, os argumentos são a maneira
pela qual a explicamos e defendemos. (…) Ofereça as razões e os dados que o convenceram a
si. Ter opiniões fortes não é um erro. O erro é não ter mais nada.”
Grupo IV
cxlv
“O álcool e uma dieta pobre também são grandes assassinos. Deve o governo regular o que
vai à nossa mesa? A perseguição à indústria do fumo pode parecer justa, mas pode também
ser o começo do fim para a liberdade. Por isso, o governo deve proibir a propaganda dos
cigarros.”
Cotações:
1 20
Grupo I
2 30
1 50
Grupo II
2 30
Grupo III 1 40
Grupo IV 1 30
CRITÉRIOS DE CORRECÇÃO
Grupo I
cxlvi
Refutar é usar a argumentação para rebater uma determinada tese, isto é, para provar
que ela não é razoável nem aceitável, recorrendo a contra-argumentos e a contra-
exemplos.
Grupo II
Grupo III
cxlvii
No entanto, não basta ter opiniões fortes, ao argumentarmos temos de ter em
consideração o seguinte: conhecimento prévio do auditório, enunciar claramente a
conclusão, distinguindo-a das premissas, usar uma linguagem clara, precisa, concreta e
imparcial, evitar termos vagos, equívocos, abstractos e gerais, procurando explicitar os
conceitos usados, definir previamente os conceitos técnicos, partir de premissas
fidedignas, verdadeiras e mais plausíveis que a conclusão, apresentar as razões e ideias
da forma mais natural possível, valorizar as razões sérias das perspectivas opostas e
ser capaz de as analisar criticamente, não fazer apelo às emoções do auditório, criar
uma ligação sustentada entre as premissas e a conclusão.
Grupo IV
1- 1ª premissa: Falsa analogia (a dieta não possui semelhanças relevantes com o fumo)
2ª premissa: Apelo à emoção (medo colectivo que o governo venha a intervir na nossa
mesa – associação aos estados ditatoriais)
O argumento é inválido.
cxlviii
FILOSOFIA
11º ANO
TESTE DE AVALIAÇÃO
Professor Nelson Bernardo
(Outubro 2010)
GRUPO I
GRUPO II
Henry Sarkozy, Paris, Planeta, Via Láctea, Universo, Europa, Sistema Solar, França
cxlix
6- Classifique, justificando, as seguintes proposições quanto à relação quantidade/
qualidade:
a) Há coisas fantásticas.
b) Nenhum fenómeno é vulgar.
c) Cristiano Ronaldo não é um fenómeno.
cl
b) Nenhum herói é desumano.
Algumas pessoas desumanas são infelizes.
Logo, algumas pessoas infelizes não são heróis.
12- Determine, justificando, a validade de cada um dos silogismos seguintes de acordo com
as regras de validade do silogismo categórico.
cli
d) Há pessoas solidárias e humildes.
Alguns homens são solidários.
Logo, há homens humildes.
Bom trabalho!
COTAÇÕES:
clii
GRELHA DE CORRECÇÃO
GRUPO I
1- Tal como refere a afirmação, a Lógica pretende estudar as condições de validade (formais)
do pensamento. O objecto da Lógica é, então, o raciocínio/ pensamento do ponto de vista da
sua validade estrutural, a argumentação sob o ponto de vista da sua forma lógica.
GRUPO II
4- Universo, Via Láctea, Sistema Solar, Planeta, Europa, França, Paris, Henry Sarkozy.
cliii
9- a) P – “vertebrados”; S – “cães”; m – “animais”; PM – onde ocorre o P; pm -
onde ocorre o tm. b) P – “leitores”; S – “homens”; m – “ignorante”; PM – onde
ocorre o P; pm - onde ocorre o S.
10- a) 2ª figura – A, E, E. b) 4ª figura – E, I, O. c) 3ª figura - I, A, I. d) 1ª figura – E, I,
O. e) 1ª figura – A, I, I.
11- a) Nenhum político é músico. Todos os deputados são políticos. Logo, nenhum
deputado é músico. b) Nenhum vampiro é humano. Alguns humanos são
vegetarianos. Alguns vegetarianos não são vampiros. c) Todos os ribatejanos
são campinos. Alguns ribatejanos são corajosos. Alguns corajosos são
campinos. d) Nenhum algarvio é mentiroso. Alguns turistas são mentirosos.
Alguns turistas não são algarvios.
12- a) Inválido – termo médio não distribuído. b) Válido. c) Inválido – conclusão não segue
a parte mais fraca. d) Inválido – de duas premissas particulares não se segue
conclusão. e) Inválido – 4 termos. f) Inválido – de duas premissas afirmativas não se
segue uma premissa negativa; termo maior não distribuído na premissa onde ocorre.
g) Inválido - termo maior não distribuído na premissa onde ocorre. h) Inválido – termo
menor não distribuído na premissa onde ocorre.
cliv
FILOSOFIA
11º E
TESTE DE AVALIAÇÃO
Professor Nelson Bernardo
(Novembro de 2010)
GRUPO I
d) Só há animais racionais.
e) Não há seres humanos quadrúpedes.
f) Descartes não é um engenheiro agrónomo.
g) Existem seres humanos simpáticos.
clv
GRUPO II
GRUPO III
clvi
j) Todos os planetas são bonitos.
Alguns artistas são geniais.
Logo, alguns artistas são bonitos.
clvii
i) Alguns vinhos são finos.
Todos os indivíduos magros são finos.
Alguns indivíduos magros são vinhos.
Bom trabalho!
COTAÇÕES:
GRELHA DE CORRECÇÃO
clviii
3- a) Tipo O – termo P distribuído; b) Tipo I – nenhum termo distribuído; c) Tipo A –
termo S distribuído; d) Tipo E – termos S e P distribuídos; e) Tipo I – nenhum termo
distribuído; f) Tipo I – nenhum termo distribuído.
4- a) “Todos os homens são animais racionais.” b) “Todas as mulheres são inteligentes.”
c) “Nenhum peixe é um peixe voador.” d) Algumas respostas não são respostas.”
5- a) 2ª figura – A, E, E. b) 4ª figura – E, I, O. c) 3ª figura - I, A, I. d) 1ª figura – E, I,
O.
6- a) Todos os aviões a jacto são aviões. Alguns aviões comerciais são aviões.
Logo, alguns aviões comerciais são a jacto. b) Nenhum artista é insensível.
Alguns filósofos são artistas. Logo, alguns filósofos não são insensíveis. c) Todos
os gatos são felinos. Todos os gatos são quadrúpedes. Logo, todos os
quadrúpedes são felinos. d) Todos os planetas são corpos celestes. Alguns
corpos celestes são desprovidos de luz. Logo, alguns corpos desprovidos de luz
são planetas.
7- a) Válido; b) Inválido – 4 termos; c) Válido; d) Inválido – termo médio não
distribuído; e) Inválido – de duas proposições negativas não se segue
conclusão; f) Inválido – de duas proposições afirmativas não se segue uma
conclusão negativa; g) Inválido – termo menor distribuído na conclusão e não
na premissa onde ocorre; h) Inválido – termo médio não distribuído.
8- a) Válido; b) Falácia do termo médio não distribuído; c) Ilícita Maior; d) Ilícita Menor; e)
Falácia dos 4 termos; f) Ilícita Maior; g) Ilícita Menor; h) Falácia do termo médio não
distribuído.
clix
Escola Secundária Quinta do Marquês
Filosofia – 11º E
Grupo I
c) Karl Marx afirma que só haverá justiça social num mundo sem classes.
Logo, só haverá justiça social num mundo sem classes.
a) Nas duas vezes que fui assaltado, os ladrões eram negros. Todos os negros são ladrões.
b) Fulano não tem autoridade para criticar a política educativa do governo, pois nem
sequer é um bom pai de família.
c) Se a lei permitir o aborto nos hospitais públicos em casos de risco de vida para a mãe,
toda a gente vai querer abortar por qualquer motivo, ninguém mais vai valorizar a
gravidez e a taxa da natalidade vai acabar por baixar prejudicando a economia do país.
d) O Filósofo Nozick defendeu que a riqueza não deve ser redistribuída pelos mais
pobres, através de impostos.
Mas Nozick era um americano rico.
Logo, a riqueza deve ser distribuída pelos mais pobres.
clx
Grupo II
Grupo III
As respostas às questões deste grupo deverão ocupar no máximo 35 linhas.
As respostas que não cumpram este critério sofrerão uma penalização de 5% na cotação da
respectiva questão.
6- “ Julgo ser um dos raros atenienses, para não dizer o único, que cultiva a verdadeira
arte política e o único que hoje põe em prática esta arte.”
PLATÃO, Górgias, Lisboa Editora
Cotações:
clxi
GRELHA DE CORRECÇÃO
Grupo I
1-
a) Argumento por analogia.
b) Argumento indutivo.
c) Argumento de autoridade.
2-
a) Generalização Apressada.
b)Falácia Ad Hominem.
c) Generalização apressada.
d) Falácia Ad Hominem.
Grupo II
1-Na argumentação retórica, arte de persuadir, ensinar, motivar e convencer/ fazer aderir um
auditório das/ às teses ou opiniões defendidas por um orador, e que se exerce no âmbito do
verosímil/ preferível/ razoável, estão presentes três dimensões/ elementos essenciais: a
dimensão do orador (ethos), relativa ao carácter, força moral e virtudes de autoridade
daquele, a dimensão do auditório (pathos), relativa às emoções e paixões do auditório deste,
essenciais da sua adesão à tese apresentada, e a dimensão da linguagem (logos), definida pelo
estilo e pela razão, pelas figuras e pelos argumentos, a dimensão mais objectiva. Se
colocarmos a tónica no pathos, ficaremos no âmbito de uma retórica da manipulação (crítica
platónica). Se se colocar a ênfase no logos, estaremos no domínio lógico, argumentativo e
linguístico da retórica. Se, por outro lado, se acentuar a dimensão do orador (ethos), os valores
e conduta veiculados por este serão determinantes para a argumentação retórica.
clxii
por isso, expressa um enunciado mais ou menos correcto ou incorrecto, verosímil (mas não
necessário), com mais ou menos força; assenta na equivocidade da linguagem natural; visa um
auditório concreto e particular, está sempre situada num contexto preciso e depende da
capacidade persuasiva do orador; a argumentação pode convencer ou não; apresenta uma
proposta de adesão e visa conquistar a aceitação do auditório.
Grupo III
1-O modelo de homem preconizado por Cálicles são aqueles que souberam utilizar a retórica,
a arte do verosímil e do persuasivo, visando a adesão/ manipulação do auditório
(assembleias), no âmbito do desempenho das funções de Estado, participando das assembleias
e nas disputas de justiça, colocando-se ao serviço dos outros, para adquirir fortuna, reputação
e outras vantagens. Este homem procura a vitória nos debates e não a verdade. Neste sentido,
a filosofia tem sentido apenas na juventude, pois é sinal da natureza de um homem livre, mas
na idade adulta a continuação da sua prática tornará pior um homem dotado, uma vez que
tudo aquilo que é necessário conhecer para se tornar um homem bem educado, segundo
Cálicles, se lhe tornará estranho, ou seja, resultará no seu afastamento dos seus concidadãos,
tendo como consequências ignorar as leis da cidade, a maneira de falar nos negócios privados
e públicos (ignorante na prática da argumentação retórica), caindo assim no ridículo, e de nada
saber da natureza humana, no que esta concerne aos prazeres e às paixões. A prática da
filosofia encerra em si mesma uma vaidade concretizada no elogio de si próprio, da qual
resultará prejuízo, no que à sua defesa e dos seus bens se refere.
clxiii
Escola Secundária Quinta do Marquês
Filosofia – 11º E
Grupo I
clxiv
V.S.F.F
t) Todos os solidários são humildes.
Alguns homens não são solidários.
Logo, há homens que não são humildes.
Grupo II
Nicolai HARTMANN, Les Principes dùne Métaphysique de la Connaissance, Paris Aubier- Montaigne,
Tomo I, pp.87-88 (Trad. livre, Adapt)
3 – “ O céptico será vencido pelas suas próprias armas. Duvida…pois bem! Vamos ensinar-lhe a
duvidar. A nossa dúvida não será estado (…) será uma acção, um acto livre, voluntário e que
levaremos às últimas consequências. Dúvida-estado, dúvida-acção: a ruptura é profunda. E, no
fundo, a vitória – em princípio já está alcançada”.
b) Refaça o encadeamento lógico das razões que levam Descartes a duvidar. (A sua resposta
não deverá exceder as 20 linhas).
Cotações:
Grupos Questões Cotação
1 25
I
2 25
1 40
II 2 50
3 30+30
Total 200
clxv
GRELHA DE CORRECÇÃO
Grupo I
13- a) Nenhum mafioso é honesto. Todos os bandidos são mafiosos. Logo, nenhum
bandido é honesto.
b) Nenhum aluno é estudioso. Alguns estudiosos são inteligentes. Alguns
inteligentes não são alunos.
c) Todos os ribatejanos são forcados. Alguns ribatejanos são artistas. Alguns
artistas são forcados.
d) Nenhum filósofo é mentiroso. Alguns políticos são mentirosos. Alguns
políticos não são filósofos.
e) Alguns animais alados são brancos. Todos os cavalos são animais alados.
Alguns cavalos são brancos.
Grupo II
1 – Conhecer é aquilo que tem lugar quando um sujeito apreende um objecto e cabe-lhe
clarificar o que significa ser objecto de conhecimento, ser sujeito cognosnente. O sujeito
cognoscente ou consciência que conhece, estabelece uma relação, que é o próprio
conhecimento, com o objecto que é conhecido, sendo esta uma relação de reciprocidade.
Nesta correlação, cada pólo possui papéis diferentes: o papel do sujeito é activo – conhecer o
objecto – e o do objecto é passivo – ser conhecido. No conhecimento, sujeito e objecto
desempenham papéis específicos e não permutáveis. O sujeito desloca-se da sua esfera para a
esfera do objecto, de modo a apreender as características do objecto – que está fora do
sujeito e possui uma natureza diferente – e transporta-as novamente para a sua esfera de
sujeito. A oposição entre sujeito e objecto permanece indestrutível durante o conhecimento;
este só acontece uma vez que o sujeito se transcende, ou seja, sai para fora da sua esfera, mas
clxvi
é fundamental que regresse a ela. Assim, o conhecimento resulta da representação mental
que o sujeito constrói sobre o objecto, passando a fazer parte do conteúdo da sua consciência.
Desta relação que é o conhecimento apenas o sujeito sai modificado, uma vez que apreende as
determinações do objecto, construindo daí uma imagem com conteúdo idêntico ao do
objecto.
3 – a) A estratégia usada por Descartes para a investigação acerca da verdade exigiu o uso da
dúvida como método inicial. A dúvida em Descartes é metódica, isto é, ela postula-se como um
instrumento gnoseológico cujo percurso tem como meta atingir a verdade. Os erros dos
sentidos, as contradições dos filósofos, a diversidade dos costumes segundo as culturas e os
próprios erros nas demonstrações matemáticas são apresentados como justificação da dúvida
metódica. Esta é ponto de partida e não ponto de chegada e por essa razão não é uma dúvida-
estado mas sim uma dúvida-acção, isto é, uma dúvida da qual resultará a verdade indubitável
que é o cogito.
b) Descartes apresenta as seguintes razões para duvidar: os erros dos sentidos, os
paralogismos da razão, a indistinção sonho/vigília e, finalmente, o argumento do génio
maligno.
clxvii
FILOSOFIA
11º ANO
FICHA DE AULA
(Outubro 2010) – Professor Nelson Bernardo
GRUPO I
1- Organize segundo a extensão crescente os seguintes conceitos:
Joanesburgo, Terra, Via Láctea, África, Sistema Solar, África do Sul, Nelson Mandela
GRUPO II
GRUPO III
clxviii
q) Todas as mulheres são flores.
r) Nem todos os homens famosos são inteligentes.
GRUPO IV
GRUPO V
clxix
k) Toda a maldade é dolorosa.
Alguma maldade é violenta.
Logo, alguma violência é dolorosa.
GRUPO VI
Bom trabalho!
COTAÇÕES:
GRELHA DE CORRECÇÃO
1- Nelson Mandela, Joanesburgo, África do Sul, África, Terra, Sistema Solar, Via Láctea.
2- Animal, Vertebrado, Mamífero, Carnívoro, Canídeo, Cão.
clxx
3- a) Juízo Universal; b) Juízo Singular.
4- a) Juízo afirmativo; b) Juízo negativo.
5- a) Universal Afirmativa (Tipo A); b) Particular Afirmativa (Tipo I); c) Particular Negativa
(Tipo O); d) Universal Negativa (Tipo E); e) Universal Afirmativa (Tipo A).
6- a) Tipo A – S distribuído; b) Tipo O – P distribuído; c) Tipo E – S e P distribuídos; d) Tipo
I – nenhum dos termos distribuído; e) Tipo A – S distribuído; f) Tipo O – P distribuído.
7- a) “Algumas coisas que brilham não são ouro.” b) “Alguns actos de liberdade são vis.”
c) “Alguns animais peludos não são animais que mordem.”
8- a) P – “três ângulos”; S – “caixas”; m – “triângulos”; PM – onde ocorre o P; pm -
onde ocorre o tm. b) P – “portugueses”; S – “lisboetas”; m – “europeus”; PM –
onde ocorre o P; pm - onde ocorre o S. c) P – “gesto bondoso”; S – “gesto vil”;
m – “gestos agressivos”; PM – onde ocorre o P; pm - onde ocorre o m. d) P –
“diamantes”; S – “coisas valiosas”; m – “pedras preciosas”; PM – onde ocorre P;
pm – onde ocorre S.
9- a) 2ª figura – A, E, E. b) 4ª figura – E, I, O. c) 3ª figura - A, I, I. d) 1ª figura – I, A, I.
10- a) Todos os sábios são homens. Todos os intelectuais são sábios. Logo, todos os
intelectuais são homens. b) Nenhum filósofo é advogado. Alguns advogados
são políticos. Alguns políticos não são filósofos. c) Todos os surfistas são loiros.
Alguns surfistas são aventureiros. Alguns aventureiros são loiros. d) Todos os
estudantes são alpinistas. Alguns empresários não são alpinistas. Alguns
empresários não são estudantes.
clxxi
Escola Secundária Quinta do Marquês
Filosofia – 11º E
Ficha de Aula – Março de 2011
Professor Nelson Bernardo
Grupo I
“O retórico, como o sofista, é mestre da opinião, logo, da aparência, ao passo que o que
importa ao filósofo e ao sábio é o conhecimento da verdade e a prática do bem conforme a
esta verdade.”
Grupo II
«O que Descartes faz na obra Discurso do Método é aplicar a sua “dúvida metódica” ao
problema da verdade e do erro na filosofia tradicional. Propondo que o entendimento (agora
chamar-lhe-íamos “mente”) só deve aceitar como certo o que é evidente, a marcha metódica
em busca da evidência será uma marcha analítica, pela redução da realidade complexa e
confusa aos seus elementos simples e claros que a constituem e depois, numa marcha inversa,
sintética, a composição gradual desses elementos em sistemas cada vez mais complexos,
seguindo a ordem natural das coisas. Nessa marcha em busca da evidência (o que é claro e
distinto), o entendimento irá, numa atitude de cepticismo propositado, metódico, rejeitando
como falso tudo aquilo de que puder duvidar, para que a evidência de uma realidade, se é que
existe, diante da qual a dúvida tenha de se curvar, ressalte mais fortemente.»
Cotações:
clxxii
CRITÉRIOS DE CORRECÇÃO
GRUPO I
1-
- A Retórica como produtora de crença sem ciência, funda-se na opinião (doxa) – técnica da
aparência;
- O papel da Dialéctica;
GRUPO II
clxxiii
não deve partir portanto de opiniões e da fé. A razão deve começar como se desde o início
tivéssemos o uso inteiro da mesma.
A dúvida metódica e universal conduz à indubitabilidade da existência do cogito (eu ou
consciência) O eu (res cogitans) ou pensamento. O cogito possui a ideia de Deus (é uma ideia
inata. A ideia de Deus concebe-o como um ser sumamente perfeito. A percepção da ideia de
Deus implica a existência de Deus. A perfeição é a garantia de que é verdadeiro o
conhecimento apreendido com clareza e distinção ou deduzido dela.
Conclusão: para Descartes a razão é a origem do conhecimento. A razão possui ideias inatas
por exemplo a ideia de Deus. A matemática é o método mais certo. O método cartesiano
adapta o método matemático à investigação filosófica. O cumprimento rigoroso das regras do
método e o respeito pelo critério da verdade (só aceitar como verdadeiro os conhecimentos
claros e distintos ou o que deles forem deduzidos verdadeiramente.)
clxxiv
TRABALHO PARA CASA Nº1
11ºE
1º Período - Novembro
b) Todo o B é C.
Todo o B é A.
Logo, todo o A é C.
c) Todo o B é A.
Algum B não é C.
Logo, algum C não é A.
clxxv
GRELHA DE CORRECÇÃO
8- a) Válido
b) Inválido. Termo menor não distribuído na premissa onde ocorre.
c) Inválido. Termo maior não distribuído na premissa onde ocorre.
d) Inválido. Termo médio não distribuído.
COLUNA 1 COLUNA 2
clxxvi
convencendo desse
modo o seu
auditório.
6. A retórica é um 5. A um conjunto de
instrumento opiniões.
essencial para a
filosofia porque o
que o filósofo faz é
CRITÉRIOS DE CORRECÇÃO
clxxvii
FILOSOFIA
11º ANO
Ficha de Apoio nº1
Professor Nelson Bernardo
(Novembro de 2010)
Cristiano Ronaldo, Espanha, Equipa, Península Ibérica, Real Madrid, Sistema Solar,
Europa, Planeta Terra, Via Láctea.
j) Há coisas fantásticas.
k) Nem todas as dúvidas interessam.
clxxviii
6- Coloque os seguintes silogismos na sua forma padrão:
h) Há homens simpáticos.
Nenhum intelectual é simpático.
Logo, alguns homens não são intelectuais.
clxxix
w) Todos as flores são belas.
Todas as dálias são flores.
Logo, todas as dálias são belas.
Bom trabalho!
GRELHA DE CORRECÇÃO
1) Via láctea, Sistema Solar, Planeta Terra, Europa, Península Ibérica, Espanha, Real
Madrid, Equipa, Cristiano Ronaldo.
clxxx
FILOSOFIA
11º ANO
Ficha de Apoio nº2
Professor Nelson Bernardo
(Novembro de 2010)
clxxxi
w) Termo maior: “minhoto”; Termo menor: “galego”; Termo médio: “cantor”;
Modo: E, I, O; 2ª figura.
clxxxii
GRELHA DE CORRECÇÃO
clxxxiii
Anexo 6: Fichas de Registo dos
Resultados/ Evolução dos Alunos
clxxxiv
AVALIAÇÃO ___º PERÍODO
Turma: ______
2010/ 2011
Avaliação Trabalho Avaliação Avaliação Atitudes e Avaliação
Nº. Aluno 1º Teste 2º Teste TPC Total
Testes de aula TA TPC Valores AV
1
2
3
4
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
clxxxv