GESTAR II tp5 - Portugues - Jul08 PDF
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GESTAR II
Ministério
da Educação
GESTAR II
Presidência da República
Ministério da Educação
Secretaria Executiva
LÍNGUA PORTUGUESA
DISTRIBUIÇÃO
SEB - Secretaria de Educação Básica
Esplanada dos Ministérios, Bloco L, 5o Andar, Sala 500
CEP: 70047-900 - Brasília-DF - Brasil
Programa Gestão da Aprendizagem Escolar - Gestar II. Língua Portuguesa: Caderno de Teoria e
Prática 5 - TP5: estilo, coerência e coesão. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de
Educação Básica, 2008.
260 p.: il.
CDU 371.13
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA
PROGRAMA GESTÃO DA
APRENDIZAGEM ESCOLAR
GESTAR II
LÍNGUA PORTUGUESA
BRASÍLIA
2008
Sumário
Apresentação..........................................................................................................7
PARTE I
Leituras sugeridas.............................................................................................52
Bibliografia................................................................................................53
Ampliando nossas referências..................................................................................54
Correção das atividades..........................................................................................63
Leituras sugeridas.................................................................................................106
Bibliografia...................................................................................................107
Correção das atividades........................................................................................111
Leituras sugeridas...............................................................................................232
Bibliografia.................................................................................................233
Correção das atividades........................................................................................237
PARTE II
PARTE III
Oficina 9............................................................................................................253
Oficina 10...........................................................................................................257
GESTAR II
Língua Portuguesa
Apresentação
TEORIA E PRÁTICA 5
• Unidade 17
• Unidade 18
• Unidade 19
• Unidade 20
GESTAR II
Língua Portuguesa - TP5
Estilística
Leila Teresinha Simões Rensi
Iniciando
nossa conversa
Definindo nosso
ponto de chegada
Esperamos que, depois das reflexões e das atividades propostas nesta unidade, você seja
capaz de:
1- compreender a noção de estilo no domínio da linguagem e o objetivo da
Estilística;
2- reconhecer alguns recursos expressivos ligados ao som e à palavra;
3- relacionar os discursos direto, indireto e indireto livre a alguns recursos expressivos
da frase e da enunciação.
15
Cada um é cada um
Cada um é cada um, diz a sabedoria popular. E, ouvindo diferentes pessoas
contarem o mesmo gol, chega-se à conclusão de que esta é uma verdade inquestio-
nável, uma lei irrefutável.
Alguns falam rapidamente, outros são lentos, alguns têm um vocabulário rebus-
cado, outros inventam gírias, uns capricham nos erres, outros deslizam nos esses,
A noção de estilo e o objetivo da Estilística
Seção 1
uns são fanhos, outros são gagos etc... E cada um conta o gol que viu de um jeito
particular, único.
[...]
O narrador objetivo falaria:
“Aos 23 min do segundo tempo, Luís Fernando cruzou para Trindade, que
cabeceou a bola e fez 2 a 1.”
O econômico diria: “Luís. Cruzamento. Trindade. Cabeça. Bola. Redes. Gol.”
O interrogativo: “E não é que o Paysandu ganhou, mesmo depois de estar
perdendo? Quando aconteceu a virada? No meio do segundo tempo, você acredita?
Quem fez o cruzamento? O Luís Fernando. Para quem? Para o Trindade, sabe aquele
que entrou no fim do primeiro tempo? E o que o Trindade fez? Cabeceou para o gol.
Assim o Paysandu está no final contra o Cruzeiro e a dois jogos de disputar a Liberta-
dores da América, não é demais?”.
[...]
O matemático: “Aos 23 min e 12 s do tempo segundo, o atleta de número 6 fez
um cruzamento parabólico a cinco passos da linha lateral, pondo o círculo na cabe-
ça do atleta de camisa 16, sendo que este solucionou o problema desviando a esfera
a 45º de sua posição referencial, fazendo-a alojar-se no canto baixo do delta, a 12
centímetros da mão esquerda do palmeirense de camisa número 1.”
O rabugento: “Depois de várias tentativas fracassadas, o Luís Fernando final-
16 mente acertou um cruzamento, fazendo a bola, sabe Deus como, chegar à cabeça
do Trindade, que, enfim, estava onde devia estar. Contando com a ajuda dos zaguei-
ros palmeirenses, uns cabeças-de-bagre, ele subiu e desviou a bola sem muita força,
mas o goleiro, mal colocado, não conseguiu defender.”
[...]
O caipira: “Uê, gente, ses não viram, não? Foi assim, ó: O Luís Fernando deu
uma bicanca, e a bola foi parar no meio do fuzuê, onde tava o Trindade. Aí o
danado triscou de cabeça, assim meio de banda, e a bola foi parar lá dentro da rede.
Nem que o goleiro fosse passarinho, ele pegava não.”
Ou seja, cada um é cada um, e cada gol é muitos.
Unidade 17
Atividade 1
a) O título “Cada um é cada um” faz parte, como diz Torero, da sabedoria popular. E é
bem coloquial, não é mesmo?
Você o considera adequado ao texto? Como defenderia sua opinião?
b) Crie um outro título para o mesmo texto, em que apareça a palavra estilo e que
mantenha o sentido dado pelo colunista.
c) Na sua opinião, qual dos narradores envolve mais o ouvinte ao narrar o gol? Por quê?
17
d) No segundo parágrafo, Torero apresenta “estilos” de fala. E você, como classificaria
seu “estilo” de fala? Você está satisfeito com ele ou gostaria que fosse diferente? Por quê?
Você viu, no texto de Torero, que o último narrador, dito caipira, usa um dialeto
regional. Então, qual a diferença entre estilo e variante lingüística? Em outras pala-
vras, entre estilo e dialeto, se ambos são marcados por traços diferenciadores no
universo da linguagem?
Segundo alguns teóricos, a diferença está na intenção do indivíduo no momen-
to da fala. Se esta contém uma carga de expressividade, porque o falante deseja
manifestar ou transmitir emoção naquele ato de fala específico, esse fato é matéria da
Estilística. Se, ao contrário, um certo indivíduo tem como característica permanente
uma forma particular de uso da língua, esse fato constitui um idioleto e não pertence
à área da Estilística, mas da Lingüística.
A noção de estilo e o objetivo da Estilística
Seção 1
Lembrete
A língua apresenta variações, conforme os grupos que a usem. Cada uma das
variantes da língua usada por um grupo apresenta regularidades, recursos normais
para aquele grupo, que constituem o dialeto. Há vários tipos de dialeto: o etário, o
regional, o de gênero, o social, o profissional.
O idioleto é o conjunto de marcas pessoais da língua de cada indivíduo, como
resultante do cruzamento dos vários dialetos (etário, regional, profissional, de gênero,
social) que constituem a sua fala.
Trem de ferro
Agora sim
Café com pão
Agora sim
Voa, fumaça
Corre, cerca
Unidade 17
Ai seu foguista
Bota fogo
Na fornalha
Que eu preciso
Muita força
Muita força
Muita força
Oô...
Foge, bicho
Foge, povo
Passa ponte
Passa poste
Passa pasto
Passa boi
19
Passa boiada
Passa galho
De ingazeira
Debruçada
No riacho
Que vontade
De cantar!
Oô ...
Quando me prendero
No canaviá
Cada pé de cana
Era um oficiá
A noção de estilo e o objetivo da Estilística
Seção 1
Oô...
Menina bonita
Do vestido verde
Me dá tua boca
Pra matá minha sede
Oô...
Vou mimbora vou mimbora
Não gosto daqui
Nasci no sertão
Sou de Ouricuri
Oô...
Vou depressa
Vou correndo
Vou na toda
20
Que só levo
Pouca gente
Pouca gente
Pouca gente...
Bandeira, Manuel. Estrela da vida inteira. 2a. ed. Rio de Janeiro, José Olympio/INL, 1970.
Unidade 17
Atividade 2
b) Pela sonoridade e pelo ritmo dos três primeiros versos do poema, sabemos que o trem
de ferro já deu a partida, iniciando a viagem. O quarto verso, no entanto, é mais longo,
e nele predomina o som dos ii: “Virge Maria que foi isso maquinista ?”. Que ruído do
trem este verso procura imitar?
c) A terceira estrofe indica que o trem adquiriu maior velocidade. Que palavras desta
estrofe têm a função de mostrar o aumento da velocidade?
21
d) Observe o verso “Corre, cerca”. Explique como a cerca, que é um elemento sem vida,
pode correr.
e) Na quarta estrofe, há dois versos iniciados com a palavra “foge” e seis com a palavra
“passa”. A repetição destes verbos e o significado deles indicam que velocidade para o
trem no trecho em questão?
g) Na quinta estrofe o trem está preso num canavial e cada pé de cana lhe parece um
oficial, isto é, um soldado. Quais as semelhanças entre o pé de cana e o oficial que
permitem a Manuel Bandeira fazer essa comparação?
h) Quem é o eu que fala no poema? Qual o dialeto usado por ele? Que marcas lingüísti-
cas desse dialeto aparecem no texto?
Você percebeu que, para compor seu “Trem de Ferro”, o poeta trabalhou com a
sonoridade das palavras de modo a obter um ritmo expressivo para o poema. Ele conse-
gue imitar o ritmo do trem de duas maneiras:
1) alternando sílabas fortes e fracas nos versos:
Unidade 17
2) repetindo versos, o que significa que ele repete também alguns sons:
Ex.: Café com pão/ Café com pão/ Café com pão
Pouca gente/ Pouca gente/Pouca gente
Importante
Lembrete
A norma é a forma de cada grupo usar a sua língua, a forma que seus integrantes
percebem como normal, ou comum ao grupo. O sujeito aprende a sua língua em
convívio com a família, amigos, pessoas que estão ao seu redor e participam do seu
cotidiano. Em geral, o sujeito não tem consciência dessa “norma”, que ele vai inter-
nalizando no contato com os outros elementos do grupo.
Indo à sala
de aula
Leve o “Trem de ferro” para a sala de aula. Leia o poema para os alunos, com
bastante expressividade, para que eles imaginem o movimento da máquina e dos va-
gões, a paisagem percorrida, os ruídos, a velocidade. Depois organize um jogral, de
modo que um grupo leia os versos repetidos, e outro, o restante do poema.
Avançando
na prática
Apresentamos, a seguir, uma sugestão para você desenvolver com seus alunos, de
modo a facilitar o entendimento da noção de estilo no sentido genérico e no domínio
da linguagem. Tendo que descobrir seu próprio estilo em situações diversas, eles não
só farão um exercício de auto-observação como poderão se divertir com as descober-
tas. Depois dessa atividade, será mais fácil trabalhar com o texto e nele perceber que
o estilo é um conjunto de recursos expressivos usados para gerar um efeito de sentido.
Você poderá alterar o que achar necessário na atividade de modo que ela atenda
à realidade da sua escola. Depois, relate, por escrito, os aspectos positivos e negativos
desse trabalho. Suas observações são muito importantes para o desenvolvimento do
24 nosso trabalho.
1. Leve para a sala de aula figuras que apresentem estilos de vestimenta, de
arquitetura, ou gravações de locutores esportivos, cantores, orquestras que apresen-
tem estilos diversos. Estimule comentários dos alunos sobre a diversidade dos estilos
apresentados pelo material.
2. Converse com os alunos sobre estilo na acepção de “modo de fazer algo”. Leia
o texto de José Roberto Torero. Faça referência a situações, como jeito de se vestir,
contar algo que aconteceu, jogar bola, tocar um instrumento, escrever um texto..., e
peça que descubram seu estilo em algumas delas.
3. Comente sobre o estilo como conjunto de recursos expressivos usados para
gerar um efeito de sentido. Lembre os procedimentos expressivos que aparecem no
“Trem de ferro”.
4. Leia este poema de Almir Correia, que dialoga com o de Bandeira e trabalha
também com a repetição de sons e a sugestão de ruídos do trem. Incentive os alunos
a perceber esses aspectos; peça-lhes que comparem os dois textos e emitam opiniões.
Observe ainda: a intertextualidade está evidente na referência a Bandeira (com
letra maiúscula, pois é substantivo próprio) no verso entre parênteses e no título, assim
como na composição dos versos, que são uma espécie de paródia daqueles do “Trem
de ferro”.
Unidade 17
O trem do Manuel
Mas
tomava café
tomava café
tomava café
tomava café
tomava café...
tomava café...
Correia, Almir. Poemas malandrinhos. 12a ed., São Paulo: Atual, 1991, p. 17.
25
Resumindo
Seção 2
A Estilística do som e da palavra
Objetivo
da seção
Você já percebeu que algumas brincadeiras com palavras são o resultado da com-
binação de sons? Tente repetir em voz alta, sem “engasgar”, esta seqüência:
Ou esta quadrinha:
Difícil? É o jogo com a sonoridade das palavras o responsável pelo desafio. Obser-
ve que o sentido desse tipo de texto fica em segundo plano; importa mesmo é o efeito
sonoro obtido pela repetição dos sons.
Os sons da língua podem provocar sensações ou sugerir impressões. Não só os
poetas e escritores lançam mão desse recurso em suas obras, mas também nós, usando
no dia-a-dia a linguagem comum, recorremos aos sons da língua para expressarmos
nossa emoção e afetividade. Fazem parte desse conjunto de recursos expressivos os
fonemas e os prosodemas; estes últimos são o acento, a entoação, a altura e o ritmo de
sílabas, palavras ou frases.
O aspecto lúdico das palavras, que permite jogar, brincar com seus sons (e também
com seus sentidos), é tematizado no poema que apresentamos a seguir.
Unidade 17
Convite
Poesia
é brincar com palavras
como se brinca
com bola, papagaio, pião.
Só que
bola, papagaio, pião
de tanto brincar
se gastam.
As palavras não:
quanto mais se brinca
com elas
mais novas ficam.
27
Paes, José Paulo. Poemas para brincar. São Paulo: Ática, 1990.
A Estilística do som e da palavra
Seção 2
Atividade 3
a) O que o poeta quer dizer com os versos “Poesia / é brincar com palavras”?
b) Pense em nossa conversa sobre estilo e responda: por que, ao contrário dos brinquedos
concretos, as palavras ficam cada vez mais novas à medida que mais brincamos com elas?
28
Pode-se brincar com as palavras de várias maneiras. Vamos ver algumas possibili-
dades ligadas ao valor sonoro das palavras.
Importante
Unidade 17
Há vários recursos sonoros que podem ser explorados ao mesmo tempo, combina-
damente, numa frase ou parágrafo, num verso ou numa estrofe inteira.
Vamos ver, em outro poema de Manuel Bandeira, a combinação de diferentes
recursos sonoros.
Berimbau
Bandeira, Manuel. Estrela da vida inteira. 2a ed., Rio de Janeiro: José Olympio, 1970, p. 98.
A Estilística do som e da palavra
Seção 2
Atividade 4
Vamos trabalhar alguns recursos usados por Bandeira juntamente com você:
a) A aliteração e a assonância estão presentes em versos do tipo:
“Os aguapés dos aguaçais
Neles, repetem-se os sons da consoante oclusiva [g] e das nasais [m] e [nh]. Repe-
30 tem-se também as vogais [a] e [u].
Lembrete
Unidade 17
Escolha outro verso que apresente assonância e aliteração. Escreva-o, destacando os
sons explorados.
b) A rima realça a relação entre as palavras, como em: boto / canhoto. Registre outra rima
do poema.
Lembrete
A rima é o jogo sonoro que se constrói com sons semelhantes, ou mesmo iguais,
ao final de cada verso.
O ritmo no poema resulta do emprego de vários recursos formais e lingüísticos, 31
entre eles a rima e a métrica.
Métrica é o jogo entre o número de sílabas que constituem os versos.
A onomatopéia é a tentativa de imitação de um ruído por um grupo de sons da
linguagem. Ela é usada tanto na linguagem literária quanto na comum, sempre que se
deseja causar no interlocutor ou leitor a impressão de um ruído natural.
Indo à sala
de aula
32 Atividade 5
c) As pessoas costumam divertir-se com um tipo de pergunta cuja resposta tem como
base a semelhança sonora entre palavras e a diferença de sentido. Veja uma:
Pergunta: “O que é um ponto marrom no alto de uma árvore usando uma calculadora?”
Resposta: “Um mico-computador.”
Você conhece outras perguntas desse tipo? Registre-as com as respectivas respostas.
e) QueINSERIR
vantagens você identifica
PÁGINA em trabalhar
TODA Figura 10 com as criações populares em sala de
aula? Como você trabalharia em sala de aula com as criações populares?
Importante
A duração não representa um som, mas tem função expressiva. Na língua escrita,
34 ela pode ser marcada pela repetição de uma letra, geralmente aquela em que recai o
acento tônico, ou pela pronúncia exagerada de uma sílaba átona, como em:
“Ela é uma mentirosa!” (em vez de mentirosa)
Unidade 17
30 de junho
Querido diário,
FÉRIAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAS!!!!!!!!
Puxa, como demorou, parecia que não ia chegar nunca. Não via a hora de jogar o
material para cima e relaxar, poder dormir até mais tarde, ir para a cama mais tarde
e brincar de escolinha com meu irmãozinho.
35
Lembrete
Vamos ver outras possibilidades estilísticas com palavras, observando uma crônica
publicada em um jornal goiano.
A Estilística do som e da palavra
Seção 2
Unidade 17
E para terminar vou ser benevolente. Já viram palavra mais doce que essa: benevo-
lente. É falar e transmitir aquela sensação gostosa de que as coisas vão dar certo, que
todo mundo vai se unir, dar as mãos e sair fazendo caridade por aí, numa bondade
opalescente danada.
Opalescente? Olha, eu escrevi esta palavra assim de repente e depois fui ao Houaiss
ver se ela cabia aqui. Não cabe, não. Quer dizer outra coisa. Mas agora embirrei.
Ninguém me tira ela daqui. Achei que dá um certo brilho ao texto e, como a língua é
dinâmica como a política, quem sabe um dia ela mude de opinião sobre si própria,
reveja seus conceitos, se adeqüe aos novos tempos e venha finalmente se encaixar ao
que eu quis dizer sem nenhum melindre.
Melindre? Ah, não, chega, melindre é frescura! Paro por aqui.
Atividade 6
c) Abjeta é palavra usada no texto como feminino de objeto, apesar de uma não ter nada
a ver com a outra quanto a origem e significado. Que característica dessas palavras
permitiu esse jogo entre masculino e feminino?
A Estilística do som e da palavra
Seção 2
f) O cronista sente que certas palavras transmitem sensações, como benevolente e opa-
lescente. Para você, há palavras que transmitem sensações? Registre essas palavras e
conte quais são as sensações que elas lhe passam.
38
Unidade 17
Atividade 7
a) Há palavras que têm uma tonalidade emotiva, isto é, exprimem emoção, sentimento
devido ao sentido ou à relação deste com algo vivido pelo falante; por exemplo: amor, triste,
radiante, xodó. Apresente outras três que, para você, têm também uma tonalidade emotiva.
c) As palavras podem ter uma tonalidade emotiva porque lembram a origem ou a varian-
te lingüística a que pertencem. Nesse grupo entram:
9 as palavras emprestadas de outras línguas, chamadas estrangeirismos. Atualmen-
te, por causa da informática, os estrangeirismos da língua inglesa inundam as páginas de
nosso jornais, revistas e Internet;
9 os arcaísmos, que são palavras que caíram da moda, como retrato, em vez de
foto; reclame, em vez de propaganda;
9 as palavras típicas das regiões brasileiras, e que são conhecidas como regionalismos;
9 a gíria, linguagem típica de determinadas classes sociais ou grupos profissionais.
39
Você conhece outros exemplos de palavras como essas, que evocam uma época, um
lugar, um meio social ou cultural?
d) Você viu que, no texto de Celso Ferreira Costa, a palavra abjeta é usada no diálogo
como feminino de objeto:
“– Abjeta, senhora? Não seria objeto?
– Não. Objeto ela já tem. Eu quero fazer um parzinho.”
Qual a intenção do cronista ao usar esse recurso de estilo?
A Estilística do som e da palavra
Seção 2
Importante
Avançando
na prática
Palavra
As gramáticas classificam as palavras em substantivo, adjetivo, verbo, advérbio,
conjunção, pronome, numeral, artigo e preposição. Os poetas classificam as palavras
pela alma porque gostam de brincar com elas e para brincar com elas é preciso ter
intimidade primeiro. É a alma da palavra que define, explica, ofende ou elogia, se
coloca entre o significante e o significado para dizer o que quer, dar sentimento às
coisas, fazer sentido. Nada é mais fúnebre do que a palavra fúnebre. Nada é mais
amarelo do que o amarelo-palavra. Nada é mais concreto do que as letras c, o, n, c,
r, e, t, o, dispostas nessa ordem e ditas dessa forma, assim, concreto, e já se disse
tudo, pois as palavras agem, sentem e falam por elas próprias. A palavra nuvem
chove. A palavra triste chora. A palavra sono dorme. A palavra tempo passa. A
palavra fogo queima. A palavra faca corta. A palavra carro corre.
A palavra palavra diz. O que quer. E nunca desdiz depois. As palavras têm corpo
e alma mas são diferentes das pessoas em vários pontos. As palavras dizem o que
querem, está dito e pronto. As palavras são sinceras, as segundas intenções são
sempre das pessoas. A palavra juro não mente. A palavra mando não rouba. A
Unidade 17
palavra cor não destoa. A palavra sou não vira casaca.
A palavra liberdade não se prende. A palavra amor não se acaba. A palavra
idéia não muda. Palavras nunca mudam de idéia. Palavras sempre sabem o que
querem. Quero não será desisto. Sim jamais será não. Árvore não será madeira.
Lagarta não será borboleta. Felicidade não será traição. Tesão nunca será amizade.
Sexta-feira não vira sábado nem depois da meia-noite. Noite nunca vai ser manhã.
Um não serão dois em tempo algum. Dois não será solidão. Dor não será constante-
mente. Semente nunca será flor. As palavras também têm raízes mas não se parecem
com plantas, a não ser algumas delas, verde, caule, folha, gota. As células das
palavras são as letras. Algumas são mais importantes do que as outras. As consoantes
são um tanto insolentes. Roubam as vogais para construírem sílabas e obrigam a
língua a dançar dentro. da boca. A boca abre ou fecha quando a vogal manda. As
palavras fechadas nem sempre são mais tímidas. A palavra sem-vergonha está aí de
prova. Prova é uma palavra difícil. Porta é uma palavra que fecha. Janela é uma
palavra que abre. Entreaberto é uma palavra que vaza. Vigésimo é uma palavra bem
alta. Carinho é uma palavra que falta. Miséria é uma palavra que sobra. A palavra
óculos é séria. Cambalhota é uma palavra engraçada. A palavra lágrima é triste. A
palavra catástrofe é trágica. A palavra súbito é rápida. Demoradamente é uma pala-
vra lenta. Espelho é uma palavra prata. Ótimo é uma palavra ótima. Queijo é uma
palavra rato. Rato é uma palavra rua.
Existem palavras frias como mármore. Existem palavras quentes como sangue.
Existem palavras mangue, caranguejo. Existem palavras lusas, Alentejo. Existem pa-
lavras itálicas, ciao. Existem palavras grandes, anticonstitucional. Existem palavras
41
pequenas, microscópico, minúsculo, molécula, partícula, quinhão, grão, covardia.
Existem palavras dia, feijoada, praia, boné, guarda-sol. Existem palavras bonitas,
madrugada. Existem palavras complicadas, enigma, trigonometria, adolescente, ca-
sal. Existem palavras mágicas, shazam, abracadabra, pirlimpimpim, sim e não. Exis-
tem palavras que dispensam imagens, nunca, vazio, nada, escuridão. Existem pala-
vras sozinhas, eu, um, apenas, sertão. Existem palavras plurais, mais, muito, coleti-
vo, milhão. Existem palavras que são palavrão. Existem palavras pesadas, chumbo,
elefante, tonelada. Existem palavras doces, goiabada, marshmallow, quindim, bom-
bom. Existem palavras que andam, automóvel. Existem palavras imóveis, montanha.
Existem palavras cariocas, Corcovado. Existem palavras completas, elas todas.
Toda palavra tem a cara do seu significado.
A palavra pela palavra tirando o seu significado fica estranha. Palavra, palavra,
palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, pala-
vra, palavra, palavra, palavra, palavra não diz nada, é só letra e som.
Falcão, Adriana. Pequeno dicionário de palavras ao vento. São Paulo: Planeta do Brasil, 2003, p.108-10.
Você sabe que os processos de formação de palavras constituem um recurso impor-
tantíssimo para a renovação do léxico da língua. Mas, sabia que podem ser usados com
finalidades expressivas?
Atividade 8
42
Resumindo
Objetivo
da seção
Como de costume, vamos iniciar o trabalho desta seção com um texto. É um conto
breve, sobre uma moça que é secretária, cujo apelido é Su. Ela tem tanto medo de perder a
hora e chegar atrasada ao serviço, que tem pesadelos.
Leia o texto.
44 Su não acorda, mas sonha que está acordando; o despertador toca, e o pesadelo
recomeça, de modo que um sonho está dentro do outro, que está dentro do outro, que está
dentro do outro, sucessivamente. Daí a repetição de pensamentos, falas, situações.
E o que o texto tem a ver com o estilo da frase e da enunciação? Vamos, antes de
responder a essa pergunta, recordar o que é frase.
Lembrete
Unidade 17
Atividade 9
45
No trecho que destacamos para a atividade, não foi usada a pontuação do discurso
direto, que ocorre quando o narrador transcreve o enunciado da personagem, indican-
do seus traços próprios por meio da pontuação. No discurso direto, procura-se reprodu-
zir fielmente o enunciado tal como saiu da boca da personagem. É o que acontece, por
exemplo, nesta anedota, em que se reproduz a conversa entre o cliente e o vendedor:
A Estilística da frase e da enunciação
Seção 3
Unidade 17
Importante
Atividade 10
b) Você percebe diferença entre esse tipo de discurso e os dois já estudados, o direto e
indireto? Qual?
47
Você percebeu que, nesse tipo de discurso, a fala da personagem (“Raios. Tudo por
fazer”) entrou no discurso indireto usado pelo narrador para contar que “Su acordou final-
mente com o despertar vibrante do despertador Westclox e se deu conta de que sequer havia
se levantado”?
Estamos falando de um discurso que apareceu na literatura a partir do final do século
XIX e que mistura as vozes do narrador e da personagem, conhecido como discurso indireto
livre. Nele as falas do narrador e da personagem se confundem: o narrador relata os fatos
usando o discurso indireto e introduz a fala da personagem sem empregar verbos como dizer,
perguntar, responder, etc., nem os dois pontos e o travessão.
A Estilística da frase e da enunciação
Seção 3
O discurso indireto livre torna mais fluente a narrativa e permite ao leitor penetrar na
alma da personagem, cujos pensamentos se tornam visíveis. É bastante adequado ao texto de
Fiorani, em que a personagem Su está no limiar entre o sonho ilógico, incoerente, fragmenta-
do e a realidade, que é lógica, coerente, linear.
Além dos valores estilísticos do discurso indireto e do indireto livre, o texto Nunca é
tarde, sempre é tarde apresenta um tipo de frase bastante expressiva: a frase fragmentária,
cujo sentido depende da entoação e da relação com outras frases do trecho. Veja os exem-
plos destacados:
Percebeu como o termo que forma a frase fragmentária se destaca muito mais do
que se estivesse integrada às demais?
Esse tipo de linguagem é comum no discurso indireto livre, dada a sua vivacidade.
Para que você perceba essa característica, vamos substituir as frases fragmentárias de um
48
dos trechos citados por outras, longas. Observe como o trecho perde em rapidez e
concisão:
“Avançou a mão para a fechadura e assustou-se com o toque insistente da campa-
inha. Pensou que algum dedo nervoso a apertava continuamente. Em seguida, ficou em
dúvida se não seria o ruído do despertador Westclox, e não o da campainha.”
Escrito desse modo, esse trecho e outros do mesmo tipo presentes no texto de
Fiorani deixariam de adequar-se ao clima onírico da narrativa, cuja característica princi-
pal é a sucessão de flashes imediatos e incisivos.
Atividade 11
“Estava ali esperando o bonde. O último bonde que ia para a Lapa. A garoa
brincando no ar. Levantou a gola do paletó, desceu a aba do chapéu, enfiou as mãos no
bolso das calças. [...] Olhou o relógio: dez para as duas. A sensação sem propósito de
estar sozinho, sozinho, sem ninguém, é que o desanimava. Não podia ficar quieto.
Unidade 17
Precisava fazer alguma cousa. Pensou numa. Olhou o relógio: sete para as duas. Tarde.
A Lapa é longe. [...] Alguém atravessou a praça. Vinha ao encontro dele. Uma mulher.
Uma mulher com uma pele no pescoço. Tinha certeza que ia acontecer alguma cousa. A
mulher parou a dois metros se tanto. Olhou para ele. Desviou os olhos, puxou o relógio.
- Pode me dizer que horas são?
- Duas. Duas menos três minutos.
Agradeceu e sorriu. Se o Anísio estivesse ali logo diria que era um gado e atracaria o
gado. Ele se afastou. Disfarçadamente examinava a mulher. Aquilo era fácil. 0 Anísio? 0
Anísio já teria dado um jeito. Na boca é que a gente conhece a sem-vergonhice da mulher.”
Machado, Antônio de Alcântara. In Novelas Paulistanas. 1a ed. São Paulo: Edusp-Itatiaia, 1988.
49
Outro fato estilístico no texto de Sílvio Fiorani é a seqüência de frases curtas, que
sugerem a sucessão de ações rápidas, como neste trecho:
Indo à sala
de aula
Ao abordar com seus alunos o valor estilístico da frase fragmentária, faça a distinção
entre esta, que é usada com a intenção de provocar um efeito de sentido, e outra que
decorre da má pontuação, sendo comum em textos de alunos. Por exemplo:
Aproveitando toda minha coragem. Segui direto até a janela. Imediatamente. Mas
50 muita dificuldade. Subi na mureta...
Lembre os alunos de que existe uma grande diferença em romper com a norma
gramatical por razões de estilo e romper com a norma gramatical por ignorância do
funcionamento da língua. Quando um autor transgride a norma gramatical com a inten-
ção de dar expressividade ao texto, a transgressão é consciente e tem uma função espe-
cífica. Trata-se, portanto, de recurso de estilo. É preciso conhecer as normas gramaticais
para poder transgredi-las propositalmente, de modo que o fato resulte em qualidade, e
não defeito de estilo.
Avançando
na prática
Unidade 17
2. Propõe o trabalho de produção e explica como deve ser desenvolvido.
3. Sugere que os alunos elaborem um esquema prévio para a estrutura do texto.
Por exemplo:
a) Que fato narrar?
b) Que personagens participarão da narrativa?
c) Que fato se tornará um obstáculo para os personagens?
d) Como ultrapassarão tal obstáculo?
e) Como terminará a história?
4. Solicita que a primeira versão do texto seja revista, chamando atenção para
os seguintes pontos:
a) O tipo de discurso escolhido é adequado aos sentidos do texto?
b) Os desvios da norma foram identificados? Verificou-se se são estilísticos ou
defeituosos?
Você tem toda liberdade para alterar os passos sugeridos, de modo a adequar a
atividade à sua sala de aula. De qualquer maneira, é importante lembrar que, no
ensino da língua materna, o aluno deve conhecer e explorar os recursos de estilo
capazes de valorizar o texto. 51
Resumindo
52
Unidade 17
Bibliografia
DISCINI, Norma. O estilo nos textos. São Paulo: Contexto, 2003.
GARCIA, Othon M. Comunicação em prosa moderna. 4a ed., Rio de Janeiro: Fundação
Getúlio Vargas, 1976.
LAPA, Manuel Rodrigues. Estilística da Língua Portuguesa. 4a ed., São Paulo: Martins
Fontes, 1998.
MARTINS, Nilce Sant’anna. Introdução à Estilística. 2a ed., São Paulo: T. A. Queiroz,
1997.
POSSENTI, Sírio. “O estilo na lingüística”. In: Discurso, estilo e subjetividade. São Paulo:
Martins Fontes, 2001. p. 249-74.
53
Ampliando nossas referências
O vocabulário português
“A esse tempo, no céu alto e lavado, a estrela-d’alva fenecera por fim, e o horizonte
começava de carminar-se ao de leve.”
“A esse tempo, no céu alto e lavado, a estrela-d’alva fenecera por fim, e o horizonte
começava de carminar-se ao de leve.”
54 Se quiséssemos levar mais longe a exploração, verificaríamos que entre estes termos
principais se poderia fazer ainda uma redução, omitindo os menos importantes e deixan-
do ficar apenas aqueles em que recai plenamente o sentido do trecho:
Unidade 17
pronome, conforme o papel que desempenham no discurso. Os instrumentos gramati-
cais (também chamados morfemas) são constituídos por todos os outros elementos de
relação e precisão: artigos, preposições, conjunções e, por vezes, advérbios, numerais e
pronomes. Com absoluto rigor, poder-se-ia dizer, como vimos, que lexemas são apenas
os substantivos e os verbos: o substantivo designando o agente da ação, o verbo expri-
mindo a própria ação. Com efeito, a ligação do agente com o ato realizado ou a realizar
constitui a forma mais simples, mais primitiva do pensamento. Exemplo: Rei ordena,
Deus punirá, etc.
Na vida prática, esta divisão em lexemas e morfemas tem várias aplicações. O
caráter vertiginoso da nossa civilização impõe-nos a economia das palavras para se não
perder tempo... e dinheiro. Na vida dos negócios há por vezes necessidade de fazer
condensações enérgicas, limitando as palavras ao máximo, sem quebra de clareza do
pensamento. O homem de ação, o político, o chefe civil ou militar não arredondam a
frase para dar ordens. As palavras reais têm neles um caráter incisivo, quase dispensam
os instrumentos gramaticais. Um dia, o escritor português D. Francisco Manuel de Melo,
antigo soldado, escreveu a um jovem parente que partia para a guerra. O seu estilo
adquiriu então o laconismo, a concisão disciplinada duma ordem militar:
“Ide com Nosso Senhor. Lembrai-vos sempre dele e de quem sois. Falai verdade.
Perguntai pouco. Jogai menos. Segui os bons; obedecei aos maiores. Não vos esqueçais
de mim. E sede embora Plínio Júnior; que, se tudo isto fizerdes, ainda sereis mais. Deus
vos leve, defenda e traga. Torre, sábado.”
55
Há porém na vida social uma esfera de atividade em que a destrinça entre lexemas
e morfemas adquire particular importância: referimo-nos à técnica do telegrama. O tele-
grama terá de encerrar o maior laconismo - as palavras custam dinheiro! - dentro da
maior força expressiva: faz pois avultar a palavra real à custa do instrumento gramatical.
Um exemplo tirado de A ilustre casa de Ramires, de Eça de Queirós:
“Recebi os capítulos do teu romance. Fez-se uma leitura aos nossos amigos. Foi
enorme o entusiasmo, e todos o classificaram de verdadeira obra-prima. Envio-te um
grande abraço.”
Ficaria talvez mais completo, porventura mais elegante; mas nada adiantava ao
sentido fundamental, e o autor deste desenvolvimento pagaria quase o triplo da taxa que
pagaria, se o mandasse sob a forma abreviada, verdadeiramente telegráfica.
Sendo o português, por natureza, descomedido em palavras, como todos os povos
do sul, a Direção dos Correios, no seu interesse, pôs um travão ao chorrilho de frases
que enchiam os simples cartões de visita, preceituando um máximo de cinco palavras
(morfemas e lexemas) para essas fórmulas de cortesia, como sejam agradecimentos e
felicitações. Não há dúvida que a ordem embaraçou muito gente; mas teve pelo menos a
vantagem de chamar atenção para o valor das palavras. Agora, quando quisermos res-
ponder a um cartão de boas-festas, teremos de nos cingir a uma frase destas, em que há
apenas um morfema:
FULANO...
retribui, agradecido, os amáveis cumprimentos.
Isto não quer dizer, evidentemente, que preconizemos o estilo telegráfico para as
redações dos nossos leitores. De modo nenhum; mas faz-lhes sentir a importância dos
vocábulos e adverte-os de um perigo: a multiplicação inútil das palavras que nada acres-
centam ao sentido. No bom estilo não se diz nem de mais nem de menos; diz-se o que é
preciso, na medida exata do que se pensa e sente, com vigor e com clareza. E, pecar por
56 pecar, antes pecar por sobriedade do que por inútil sobrecarga de palavras.
2. A fantasia das palavras. As palavras reais distinguem-se, como vimos, pela sua
força expressiva. Despertam a imagem das coisas mais energicamente; e essa imagem
viva ilumina o pensamento, dispensando outros acessórios de que se serve a frase logica-
mente constituída. E como elas podem revestir vários aspectos, cada um de nós apreen-
de na palavra o seu aspecto pessoal, aquele que particularmente lhe interessa.
Por exemplo, a palavra sino pode evocar diferentes imagens, conforme as pessoas
que a ouvirem: o campônio terá uma representação sonora; outro, o filho do dinheiro,
sentirá na palavra o movimento do puxar da corda e do voltear do sino (imagem motriz);
enfim, o serralheiro terá a representação visual do objeto. A estes três tipos de imagens,
sonora, motriz, visual, outras se poderiam talvez ainda acrescentar.
Já se tem afirmado que numa simples palavra se pode resumir todo o universo.
Quer isto dizer que um vocábulo pode suscitar uma infinidade de imagens e idéias que
abranjam todos os domínios do pensamento e da vida. Vejamos, por exemplo, a peque-
nina palavra lar. Poderá apresentar-nos a imagem concreta da casa, do seu conforto ou
desconforto material, ou ainda a noção espiritual, sentimental, do lugar onde vive a
família. A primeira representação pode repartir-se em várias imagens subsidiárias: a cons-
trução da casa, a sua situação, a paisagem em redor, a luz ou sombra de que é banhada,
etc. A segunda representação levar-nos-á a considerar: o nosso nascimento, os afetos ou
desafetos da nossa infância, a nossa educação, a harmonia ou desarmonia entre os
membros da família, etc. E essas representações familiares poderão ainda suscitar, por
Unidade 17
associação, sentimentos de caráter social: o desabrigo das pessoas que vivem em barra-
cas, a miséria dos que não têm eira nem beira, etc. É neste sentido que se diz que numa
palavra se podem conter todos os fenômenos da vida. O seu poder evocador não conhe-
ce limites.
Vemos pois que, em volta de cada palavra ou, para melhor dizer, de certas pala-
vras, se estabelece uma atmosfera fantasiosa e sentimental que constitui o seu valor
expressivo.
[...]
3. A parafantasia. Se observarmos o resultado das experiências acima exposto,
vemos que predominam largamente as imagens visuais, como é próprio de objetos mate-
riais; e que estas, como é natural em coisas tangíveis, andam não raro ligadas a imagens
tácteis. Vemos ainda mais: a imagem alude geralmente ao objeto, representa-o direta-
mente, em um ou outro dos seus aspectos. Há porém exceções, e essas oferecem grande
interesse. Por vezes, a fantasia transcende para além do objeto e dá representações que
pouca ou nenhuma relação têm já com ele. Vimos acima um curioso exemplo deste
fenômeno, a que se chama parafantasia: ao ouvir a palavra avião, a B representou-se-lhe
um selo de correio aéreo; ao ouvir chave, não viu logo o objeto, imaginou ouvir abrir
uma porta.
Mais alguns casos de parafantasia: E, quando ouve o Fulano proferir a palavra
maçã vê a macieira com folhas, sem maçãs; em vento vê terra; em sino vê o adro duma
capela; em seda vê o bicho e fios em baba. F, quando ouve o vocábulo vento, tem logo
a imagem ora de um barco, ora de um moinho. G, à palavra música, tem a imagem de 57
um baile; em leite, vê a tigela do leite; em ponte, ouve um comboio atravessando a
ponte; à palavra maçã, vê um livro de aritmética, onde havia alguns pequenos proble-
mas sobre maçãs.
[...]
Lapa, Manuel Rodrigues. Estilística da Língua Portuguesa. 4a ed., São Paulo: Martins Fontes, 1998.
Questões
1. Que diferença o autor estabelece entre lexemas e morfemas?
2. Segundo o autor, por que é importante distinguir entre morfemas e lexemas, na
vida prática?
4. O item 2 tem como subtítulo “A fantasia das palavras”. O que é a fantasia das palavras?
Unidade 17
b) Houve algum caso de parafantasia?
59
Correção das atividades
61
Estilística
Unidade 17
Correção das atividades
Atividade 1
a) Resposta pessoal, mas a expectativa é de que a resposta seja sim, pois o título traduz
um dito popular que combina com o texto de humor, cujo assunto está ligado a um
esporte também popular. Além disso, o texto tem como suporte o jornal e aparece em
uma seção destinada à opinião do colunista.
b) Respostas possíveis: Cada um tem seu estilo./ Cada gooool, um estilo.
c) Resposta possível: O interrogativo, porque o narrador dá a impressão de conversar
com o ouvinte ao emitir opinião ou perguntar e responder.
d) Resposta pessoal.
Atividade 2
a) Resposta pessoal, mas provavelmente serão citados os versos em que aparece a expressão
“Café com pão”.
b) Procura imitar o apito agudo do trem.
c) “Agora sim”, “voa”, “corre”.
d) A ilusão de que a cerca corre é dada pelo movimento do trem.
63
e) A repetição indica que o trem se movimenta numa velocidade bem maior, espantando
animais e gente que encontra pelo caminho e deixando rapidamente para trás os pontos
do seu trajeto.
f) Sua velocidade é menor. A causa é travessia de um canavial, onde ele se sente preso.
g) Os pés de cana estão enfileirados, como soldados; a cor verde da cana é semelhante à
cor da farda dos soldados.
h) O eu que fala no poema é o trem de ferro. Ele usa o dialeto popular.
Algumas marcas lingüísticas desse dialeto: a supressão da letra final de palavras como
“Virge”, “prendero”, “canaviá”, “oficiá”, “matá”; a anteposição do pronome oblíquo ao
verbo em início de frase (“Me dá tua boca”); a junção de pronome átono e palavra
iniciada por vogal (“mimbora”); o uso de gíria (“Vou na toda”).
i) Embora domine o dialeto culto, o poeta atribui ao trem o dialeto popular para efeito de
sentido: o trem é do sertão pernambucano (“Sou de Ouricuri”), portanto o uso do dialeto
popular é um elemento de coerência.
Correção
Atividade 3
a) Para criar um poema é preciso jogar com a expressividade das palavras, isto é, usar os
recursos de estilo disponíveis na língua.
b) Porque quando brincamos com as palavras, extraindo delas expressividade, fugimos
do plano meramente gramatical da língua; esse desvio da norma renova a combinação
das palavras provocando resultados inesperados.
c) Resposta pessoal.
Atividade 4
a) “O boto bate - bite bite”: repetem-se os sons das vogais [o] e [e] e da consoante [b].
“- Ui ui ui ui ui! uiva a iara”: repete-se o som das vogais [u], [i], [a].
b) quebrantos / espantos.
c) As onomatopéias buscam imitar:
9o chamamento do saci’! “si, si, si, si!”
9o uivo da iara ’! “Ui, ui, ui, ui, ui!
9o som emitido pelo boto ’! “bite bite”.
64
Atividade 5
a) Resposta possível: “Quem conta um conto, aumenta um ponto”. “Comer e coçar é só
começar”. “Quem não tem cão, caça com gato”. “Sua alma, sua palma”. “Filho criado,
trabalho dobrado”.
b) Resposta possível: (prometer) mundos e fundos, cara ou coroa, pagar o pato, saco
sem fundo.
c) Respostas possíveis: Quem é a mãe do pão? A mãeteiga.// Quem é a avó da horta?
Avóbora. // Quem é a mãe do mingau? A Mãezena.// Quem é o dono do cemitério? Seu
Pultura. // Quem é o pai do carro? O Painel. // Quem é o avô do carro? O Volante. // O
que o carro diz quando ele tá com fome? Estoufamento.
Unidade 17
d) Respostas possíveis:
“Lá vem o velho Félix,
com um fole velho nas costas;
Tanto fede o velho Félix
como o fole do velho Félix fede”.
“Pinga a pipa,
dentro do prato;
Pia o pinto
e mia o gato”.
e) Resposta pessoal.
Atividade 6
a) Concupiscência significa desejo intenso de bens e prazeres materiais; elucubração
quer dizer meditação profunda. Uma razão possível para justificar a opinião do jornalista
é o uso pouco freqüente das palavras, o que causaria estranheza a quem as ouvisse.
65
b) Despirocar é enlouquecer, endoidar.
c) O som das palavras, que é muito parecido.
d) Em gazebo dela, cuja junção resultou em bodela.
e) Resposta possível: Quero amá-la até o fim dos meus dias./ Vou-me já para não atrasar.
/ O menino pegou a boneca dela. / Vivemos o boom da informática.
f) Resposta pessoal.
g) Abjeta: desprezível, nojenta; gazebo: construção com pilares e teto, comum em jar-
dins; benevolente: bondoso; opalescente: que tem cor de opala, leitosa e azulada.
Atividade 7
a) Resposta possível: atormentado, paixão, terror.
b) Resposta possível: lindo, micho, hipócrita, legal, patife.
c) Resposta pessoal.
d) Ele quer destacar a ignorância da mulher e provocar o riso ao criar um trecho de
humor.
Correção
Atividade 8
a) Namorado com quem se mora, como se fosse marido.
b) Comícios com show de artistas.
c) Comemorar com bebidas.
d) Quilômetros tranqüilos.
e) Literatura que é lixo, sem valor.
Atividade 9
a) Não foram usados os sinais de pontuação que, na modalidade escrita da língua,
indicam a fala de alguém.
b) Resposta pessoal, mas a esperada é: Ele certamente procurou sugerir a rapidez com
que os fatos se sucederam, e a ausência dos sinais de pontuação contribuem para a
fluência da narrativa.
c) Cruzou a sala e o hall em disparada, na direção da porta de saída, ao mesmo
tempo em que gritava para a mãe envolvida em vapores da cozinha:
- Eu como alguma cousa lá mesmo. Sempre tem alguém com alguma bolachinha
disponível. Café nunca falta.
A mãe reclamou mais uma vez:
66
- Você acaba doente, Su. Assim não pode. Assim não.
Su, enlouquecida pela pressa, nada ouviu.
d) Resposta pessoal, mas espera-se que seja percebido o prejuízo estilístico causado pela
nova redação: perde-se a sugestão de rapidez dos fatos e de indefinição própria do
estado de sonolência.
Atividade 10
a) A primeira frase é do narrador; as outras duas, de Su.
b) Espera-se que se perceba a mistura dos dois anteriormente estudados.
c) Uma forma de resposta seria esta: Su acordou finalmente com o despertar vibrante do
despertador Westclox e se deu conta de que sequer havia se levantado. Resmungou que
tinha tudo por fazer.
d) Uma forma de resposta seria esta: Su acordou finalmente com o despertar vibrante do
despertador Westclox e se deu conta de que sequer havia se levantado. Resmungou:
“Raios. Tudo por fazer.”
Unidade 17
Atividade 11
a) O personagem espera um ônibus e dá a impressão de estar impaciente, incomodado
com a solidão.
b) “- Pode me dizer que horas são?
- Duas. Duas menos três minutos “.
c) “...dez para as duas.” ”...sete para as duas. Tarde. A Lapa é longe.” “Uma mulher.
Uma mulher com uma pele no pescoço.” “Se o Anísio estivesse ali logo diria que era um
gado e atracaria o gado. Ele se afastou. Disfarçadamente examinava a mulher. Aquilo era
fácil. O Anísio? O Anísio já teria dado um jeito. Na boca é que a gente conhece a sem-
vergonhice da mulher.”
d) Sim, porque o narrador quer apresentar uma série de ações rápidas.
Coerência textual
Maria Luiza Monteiro Sales Coroa
Iniciando
nossa conversa
Nesta unidade, você vai ver como é importante uma interligação harmoniosa entre
as partes de um todo. Isso vale para qualquer tipo de “todo”. Na natureza, relações
harmoniosas entre os seres humanos e o meio ambiente garantem vida saudável, tanto
ao planeta quanto aos seres que nele vivem. Também nos textos, relações harmoniosas
entre as partes garantem sua inteligibilidade, sua compreensão.
Nestas unidades, o tema transversal será o meio ambiente.
Todos nós sabemos que os seres humanos dependem da natureza para sobreviver.
É respirando, é nos alimentando, é interagindo socialmente que construímos nossa “hu-
manidade”, ou seja, nossa qualidade de sermos humanos. 69
O meio ambiente, definido como o conjunto de condições naturais e de influências
que atuam sobre os organismos vivos e os seres humanos, não é algo externo a nós,
separado de nós. Qualquer alteração nesse conjunto de condições produz alteração nos
seres vivos e nos seres humanos, de tal modo que, muitas vezes, essas alterações retor-
nam ao meio ambiente e produzem novas alterações.
O mundo civilizado, como o conhecemos, é resultado de alterações consideradas
boas porque tiveram como conseqüência melhores condições de influência mútua entre
homens e mulheres e o mundo em que vivem.
Mas, do mesmo modo que boas alterações podem desencadear boas conseqüên-
cias, más alterações podem desencadear outra série de conseqüências nefastas para os
homens e para o meio ambiente.
O cuidado com as condições naturais que podem atuar sobre nossa qualidade de
vida é uma preocupação cada vez mais freqüente nos dias atuais. Isso porque, nas
últimas décadas do século XX é que tomamos consciência de que todo o mal (ou bem)
que causamos à natureza para nós retorna mais rapidamente do que pensávamos. A isso
tem-se chamado consciência ecológica.
O mais importante de tudo isso é que, cada vez mais, percebemos que a nossa
sobrevivência depende profundamente da sobrevivência do planeta. A exploração de-
senfreada dos recursos, sem possibilidades de reposição, vai criando focos de caos, que
vão minando nossa qualidade de vida.
A partir desse reconhecimento, pela consciência ecológica, percebemos que até a
exploração dos recursos naturais para nossa sobrevivência deve ser feita de maneira
harmoniosa com a própria natureza, para que dela também recebamos tratamento har-
monioso – ou seja, sem agressões mútuas.
Um tema lingüístico bem adequado a um raciocínio baseado em harmonia e soli-
dariedade entre as partes envolvidas (num todo) é o da coerência textual.
Também os textos têm seus sentidos organizados a partir – podemos dizer – de um
pacto de não-agressividade, não-violência. Cada frase, cada palavra de um texto tem
seu papel na construção de uma unidade de sentido. A adequação entre cada um desses
elementos lingüísticos cria uma harmonia que será percebida na leitura ou na recepção
desse texto. Se um elemento destoar – “agredir” o conjunto – , a leitura não “flui” e a
compreensão do texto fica prejudicada.
Nesta unidade, conduzimos nossa atenção para os modos como os textos, tanto
verbais quanto não verbais, “encaixam” seus elementos, objetivando essa solidariedade
entre as partes e, conseqüentemente, a inteligibilidade.
Vamos ver também que muito da coerência depende dos “olhos” do leitor porque,
em alguns casos, o que pode parecer coerente para uns pode não o ser para outros.
Nessa decisão entra nosso conhecimento de mundo e nossa experiência prévia, seja do
assunto, seja dos interlocutores, ou até mesmo do código utilizado. Estamos reconhecen-
do, assim, que a coerência é uma qualidade do texto, mas é também dependente dos
interlocutores que a constróem textualmente.
Vamos, portanto, trabalhar com os próximos textos de forma solidária, integrada e
70 integradora.
Definindo nosso
ponto de chegada
Unidade 18
Seção 1
Continuidade de sentidos
Objetivo
da seção
Lembrete
Mesmo na figura anterior, interpretada como uma montagem, não se verifica o caos
total, nela é representado um corpo humano, com cabeça e peito acima das pernas.
Verifica-se, então, que um princípio de condições de interpretação é possível, tanto que
lhe atribuímos um “mundo” de realização possível: dizemos que se trata de uma montagem
porque reconhecemos tanto as partes quanto o fato de que essas partes não existem
como um todo coerente. Mas para isso precisamos saber que existem montagens
fotográficas... Precisamos desse conhecimento de mundo.
Atividade 1
72
Observe como recorremos ao que sabemos sobre gatos e sobre desenhos na interpreta-
ção da figura seguinte.
Unidade 18
1. Como você responderia à pergunta: o que é isso?
2. Enumere alguns argumentos pelos quais você sabe que não se trata de um retrato fiel
de um ser vivo, que circula pelo nosso meio ambiente, a que chamamos gato.
Você vai perceber, ao reler suas respostas, que você recorreu a muito do conheci-
mento que você tem de mundo para justificá-las. Se você tem mais interesse em animais
ou familiaridade com gatos, principalmente, você provavelmente focalizou mais suas
respostas no que ele não é. Ao contrário, se você tem alguma familiaridade com arte,
você pode ter explorado mais a expressão artística da figura para apoiar suas respostas.
Vamos refletir mais sobre nossas interpretações das coisas do mundo.
Observe a figura seguinte.
73
Você conhece algo ou alguém que se apresente dessa maneira? É claro que não!
No nosso mundo de experiências não conhecemos nada como tal. Mas na imaginação,
sim!
Sabemos que esse pode ser um desenho usado para criticar, exagerar certos atributos,
ironizar uma situação. Concebemos, portanto, uma situação ou um “mundo” em que
essa figura tenha coerência, faça sentido. Reconhecemos que se trata do desenho de
algo que não tem correspondência no mundo real, mas que foi fruto da imaginação de
alguém e serve a algum propósito.
É assim que atribuímos, ou não, sentido a um texto, ao interpretá-lo: fazendo as
ligações entre aquilo que sabemos do mundo e o que diz o texto que lemos. É assim que
se constrói a coerência de um texto.
É procurando a coerência das imagens – visuais ou textuais – que compreendemos
o que vemos ou o que lemos. É esse exercício, semelhante a um “quebra-cabeças”, que
fazemos quando interpretamos – e compreendemos – um texto.
Continuidade de sentidos
Seção 1
Importante
Lembrete
Atividade 2
Unidade 18
2. O que seria, por exemplo, uma resposta coerente para a primeira pergunta?
3. Crie um comentário para a segunda fala de Maurício de modo que torne coerente a
última observação de Daniel.
4. Imagine uma situação em que essa conversa não fosse tão absurda. Pense, por exem-
plo, em um personagem que está ansioso esperando a namorada que deve chegar, por
exemplo, às 8 horas. Nesse horário, o ônibus costuma passar.... Como seria a continui-
dade dessa situação para que o diálogo fosse coerente?
Como você pode perceber, os textos visuais partilham com os textos verbais essa 75
“capacidade” para poderem ser coerentes: dependem da situação em que ocorrem e
dependem do conhecimento dos interlocutores neles envolvidos.
Lembrete
Atividade 3
É muito conhecida a história infantil de Pinóquio, menino de madeira criado por Gepeto,
que se tornou de carne e osso por suas boas ações.
Faça o seguinte joguinho infantil, observando os passos de seu raciocínio para resol-
ver o desafio.
2. Por que não tem relevância o fato de os narizes terem uma folhinha, ou mesmo de
não serem “narizes” realmente?
3. Por que sabemos que não é possível essa situação – a de colarmos pedaços de nariz –
em humanos?
4. Reflita sobre como você resolveu o desafio e justifique por que a coerência é uma
qualidade textual também atribuída pelo leitor.
Unidade 18
Você, certamente, terá notado nesse joguinho que sua escolha e, conseqüentemen-
te, as opções descartadas tiveram a ver com o que você sabe sobre formas geométricas.
Quanto maior facilidade você tiver para manusear esse conhecimento, maior facilidade
você tem para responder ao desafio. Suas experiências prévias, portanto, são decisivas
para sua prontidão de leitura de um determinado texto – visual ou não.
Indo à sala
de aula
Atividade 4
77
Como você interpreta o seguinte texto?
2. Que relevância tem para a compreensão do texto perceber que o cãozinho está correndo?
Continuidade de sentidos
Seção 1
3. Como podemos saber que o cãozinho está correndo, apesar da imagem ser estática?
4. Além do que a tirinha mostra, que conhecimento de mundo é importante para atribuir
coerência / para interpretá-la?
Atividade 5
Unidade 18
1. A partir do que diz o texto verbal, como podemos interpretar as cores das latas de
lixo da foto?
2. Por que o Brasil é um dos países que mais desperdiça no mundo, sendo que o
paulistano, por exemplo, gera menos lixo domiciliar que o americano e o japonês?
79
4. Por que a liderança do Brasil na reciclagem de latas de alumínio e papelão não é
incompatível – não provoca incoerência – com a informação da primeira oração?
Indo à sala
de aula
Muitas vezes o “jogo” de informações vindas de várias fontes diferentes nos permite
compreender códigos até então desconhecidos. Pela composição global dos sentidos de
um texto, “adivinhamos” ou inferimos os sentidos de sinais ou palavras desconhecidos,
mas que passam a significar alguma coisa quando integram um texto coerentemente. O
“código das cores das latas de lixo”, por exemplo, mesmo que nos seja desconhecido no
80 início da leitura do texto acima, passa a ser significativo e coerente quando integra o
texto mais completo – e quando fazemos a leitura desse texto, atribuindo-lhe coerência.
Fazemos isso muitas vezes no dia-a-dia, quando, por exemplo, completamos por gestos
ou mesmo caretas certos sentidos que não queremos, ou não podemos, dizer por pala-
vras.
Mesmo não utilizando esses mecanismos de atribuição de sentidos sistematicamen-
te em sala de aula, você poderá ir, aos poucos, levando seus alunos a perceberem que
conseguimos “montar o quebra-cabeças” das significações textuais completando, com
nossos conhecimentos, lacunas que os textos vão deixando.
Essa prática vai desenvolvendo habilidades importantes para a construção da coerência
textual e familiarizando os alunos com as estratégias de leitura envolvidas nesse processo.
O tradicional e conhecido jogo de mímica explora essa articulação entre “lingua-
gens” verbais e visuais para veicular informações. Aproveite um espaço entre atividades
pedagógicas para propor exercícios de linguagem que tenham objetivos lúdicos mas que
permitem o amadurecimento de habilidades e competências de cunho lingüístico. Ao
final de cada uma dessas atividades, aproveite a oportunidade para mostrar as relações
com temas estudados em Língua Portuguesa: são inúmeros!
Unidade 18
Atividade 6
Observe a tirinha que ilustra como a compreensão de códigos desconhecidos pode se dar.
1. Relacione o que o gato pensa no terceiro quadrinho ao miado do primeiro: foi usado
o código língua portuguesa nos dois casos? Por quê?
81
3. Por que o texto não é incoerente, apesar de mostrar um gato pensando em português?
Avançando
na prática
Resumindo
Objetivo
da seção
Atividade 7
83
2. Que fato político da atualidade está relacionado ao joguinho? Como sabemos disso?
3. Que peça o presidente tem na mão? De acordo com a brincadeira, o que precisa
fazer com ela?
84
Muitas vezes é importante saber onde o texto saiu publicado, quem o escreveu, em
que situação, para compreender as pistas que conduzem à construção de sua coerência.
Importante
Quanto mais fácil for para o leitor/ouvinte perceber a “boa formação” da organiza-
ção das informações, mais fácil será atribuir continuidade de sentidos, interpretabilidade
ao texto. Esse processo se dá mobilizando fatores diversos, que podem variar de leitor
para leitor e de leitura para leitura.
Unidade 18
Lembrete
85
A construção da coerência textual
Seção 2
Atividade 8
2. Mesmo para quem não sabe dessa data, qual pode ser ela? Como se pode depreender
isso pelas informações do texto?
3. Que opinião tem o autor sobre a data e os ecologistas? Como sabemos disso?
4. Como o leitor é levado a considerar que o Clube da Semente é mais eficiente que a
comemoração do dia mundial do meio ambiente?
86
Indo à sala
de aula
Este texto da Atividade 8 pode servir de motivador para organizar grupos de discus-
sões sobre diversas maneiras de cuidar do meio ambiente. Isso poderá estimular seus
alunos não apenas a desenvolver o senso de responsabilidade sobre o mundo que nos
cerca, como também a organizar suas idéias em torno de um tema.
Explorar o fato de que se trata de uma coluna de opinião também pode servir para
reforçar a capacidade de argumentação dos alunos, confrontando opiniões diferentes em
textos orais e escritos.
Unidade 18
Como você pode ter percebido, suas respostas à Atividade 8 buscaram informações que
não seguiram uma ordem linear no texto. Apesar da linearidade ser necessária para construir o
mundo textual, ele nem sempre é tão organizado quanto a superfície do texto. Muitas vezes
esse “mundo textual” também surge do imprevisível, ou é fruto de “outra maneira” de ver as
coisas. Em resumo: é um “mundo” que não precisa coincidir com uma versão estabelecida do
mundo real. Pode ser uma ficção ou uma interpretação fantasiosa desse mundo.
Temos o hábito de “brincar” com a construção de mundos imaginários – até mesmo
improváveis – mais do que temos consciência disso. Nossa imaginação costuma “voar”
em brincadeiras e jogos de linguagem que “rompem” com a objetividade e a realidade
tal qual a conhecemos.
Brincadeiras infantis com a linguagem costumam explorar bem isso, como veremos
na atividade seguinte.
Atividade 9
1. Tente responder às seguintes adivinhas, antes de olhar as respostas, que estão logo
abaixo. Lembre-se de que se trata de brincar com as palavras.
Indo à sala
de aula
Esse tipo de jogos, como adivinhas e charadas, além de atraente aos alunos, serve
para estimular o raciocínio e o manuseio da linguagem.
No nosso caso, de analisar a construção da coerência textual, têm a vantagem
adicional de provocar a busca pelas possibilidades dessa coerência.
Faça com seus alunos esse tipo de brincadeira e explore outras semelhantes que a
cultura de sua região pode oferecer: peça que eles tragam para a sala de aula vários tipos
de jogos com a linguagem.
Importante
Lembrete
Vamos refletir agora sobre a coerência ligada a um gênero de texto que depende
muito da “colaboração” do leitor para ser eficaz, adequado, bem formado; enfim, para
ter coerência: o gênero publicitário.
Unidade 18
Atividade 10
89
4. Por que, apesar das repetições, a primeira parte do texto verbal – Eco significa casa.
Adivinha agora em que lugar você pode começar a colocar em prática sua consciência
ecológica. – não deve ser suprimida?
90
Importante
Unidade 18
Além desses fatores – que envolvem quem produz e quem lê o texto, em que situação
sócio-comunicativa, com quais propósitos –, é óbvio que não podemos menosprezar o
papel importante dos elementos lingüísticos. Afinal de contas, são eles as “pistas” iniciais que
desencadeiam nossas interpretações.
Vamos analisar como elementos lingüísticos desempenham seu papel nesse conjunto
de “ingredientes” que compõem a coerência.
Atividade 11
91
3. Reflita sobre o que estamos discutindo a respeito da construção da coerência textual e justifique
por que ocorrem mal-entendidos e por que os textos admitem mais de uma interpretação.
A construção da coerência textual
Seção 2
Da mesma forma que uma palavra pode desencadear uma interpretação coerente de
um texto, uma simples palavra também pode frustrar a interpretação de um texto, seja por ser
desconhecida para o leitor, seja por provocar nele uma reação imprevista na produção inicial
do texto. Por outro lado, um texto pode ser levado a ser considerado como coerente a partir
de uma palavra ou de uma frase que articule uma continuidade de sentidos.
Vejamos, por exemplo, como isso pode se dar.
Atividade 12
3. A partir do assunto e da forma lingüística, que objetivo você acha que tais instruções têm?
Unidade 18
4. Considerando que esse conjunto de instruções faz parte de uma seção de jornal (FOLHAon-
line, 14/08/2003) dedicada à ciência, sugira uma possibilidade de introdução para esse conjun-
to de frases, de modo que o leitor possa construir um fio condutor da coerência textual.
Por tudo que já vimos a respeito de texto – definido como unidade de sentidos – e
características textuais, não temos dificuldade em depreender que a coerência é uma
dessas características. É por saber, mesmo antes de lhe dar um nome, que ela é compo-
nente do texto que nos permitimos, enquanto leitores, buscar um fio condutor de harmo-
nia entre as partes de um todo e considerar esse todo um texto.
Avançando
na prática
Escolha um texto publicitário que mescle linguagem verbal e não verbal para
analisar com seus alunos.
Se quiser, você poderá utilizar o texto publicitário que reproduzimos a seguir,
bem adequado ao nosso tema transversal.
Algumas sugestões:
94
Resumindo
Unidade 18
Seção 3
As partes do todo
Objetivo
da seção
Vamos ver agora como, entre tão variados fatores (lingüísticos, sociais, culturais e
interpessoais), desenvolvemos nossas habilidades na leitura e interpretação de textos,
atribuindo-lhes coerência.
Quando lemos um texto, vamos construindo expectativas a respeito do que virá,
em seguida, compondo as imagens que fazemos, como leitores, do mundo textual que
esse texto nos propõe.
Vamos observar como “lemos” os textos abaixo
Atividade 13
95
A comparação entre as duas figuras permite-nos algumas inferências que vão orien-
tar a coerência textual que construímos a partir das “pistas” do texto.
1. A que inferência induz a legenda na figura 1?
As partes do todo
Seção 3
3. Que pistas temos para não interpretar esse texto não verbal como uma fotografia, por
exemplo, de um jardim?
4. A “leitura” dessas duas figuras segue uma ordem necessariamente linear (o nosso olhar
se desloca da esquerda para a direita, de cima para baixo) ou não? Por quê?
Como você vê, pelas estratégias de leitura que você desenvolveu nessa atividade,
para construir a coerência de um texto – de qualquer texto, seja verbal ou não verbal – o
96 leitor faz um trabalho de “detetive” que interpreta pistas, juntando todas as informações
que considera relevantes para articular os sentidos do texto.
Lembrete
Já analisamos, nas seções anteriores, como muitas dessas informações (ou pistas)
extrapolam o nível lingüístico e se baseiam na interação, no contexto e no conheci-
mento que os interlocutores têm um do outro e do assunto.
Para comparar como essas estratégias se aplicam a um texto verbal, vamos desen-
volver a atividade seguinte.
Unidade 18
Atividade 14
5. Por que, neste gênero textual, a frase “Eu queria crescer pra passarinho” não provoca
incoerência, mesmo sendo poética?
Lembrete
Indo à sala
de aula
Unidade 18
ver, em uma folha de papel, uma frase sob estímulo dessa música. Pare o som depois
de um minuto, e os alunos devem entregar a folha (com a frase escrita) para o colega
da direita. Toque novamente a música por mais um minuto, tempo em que o segun-
do aluno deve dar continuidade à frase que recebeu. Continue, dessa maneira, até
ter uma extensão de parágrafo razoável escrito por diversos alunos. A leitura em voz
alta de diversos textos mostrará o objetivo da “brincadeira”: como cada um de nós
decifra marcas ou pistas de informações que vão compondo textos. (A música ao
fundo serve para fazer os alunos se desligarem do mundo imediatamente ao seu
redor e para você marcar o tempo de troca de papéis).
Atividade 15
99
4. Os dois quadros poderiam trocar de ordem para compor um texto com coerência?
Que mudanças isso acarretaria na forma de o leitor apreender os sentidos?
5. Por que, neste caso, não percebemos como incoerente uma televisão pensar?
Importante
Em textos verbais, a ordenação das partes pode ser um dos critérios de atribuição
de coerência. Nem sempre os fatos são narrados obedecendo à ordem cronológica de
sua ocorrência. Mesmo assim, há palavras próprias que resgatam a seqüência dos fatos.
Veremos isso na próxima unidade. Por ora, vamos examinar como um texto expositivo
articula suas partes para compor um todo harmônico.
Unidade 18
Atividade 16
(1) As temperaturas no planeta Terra se mostram mais altas desde 1980 do que em
qualquer época dos últimos 18 séculos, dizem cientistas norte-americanos e britânicos.
(2) Philip Jones, da Universidade de East Anglia, na Grã-Bretanha, e Michael
Mann, da Universidade de Virgínia, nos Estados Unidos, reconstruíram o clima global a partir
do estudo de vários elementos da natureza, como as camadas polares e a vegetação do
planeta.
(3) Os dois cientistas acreditam que a pesquisa comprova, sem equívocos, que os
seres humanos afetam o clima — embora muitos especialistas ainda insistam que qualquer
contribuição humana é muito pequena para explicar o que está acontecendo.
(4) Os cientistas reconstruíram o clima global nos dois últimos milênios, tentando
confirmar se o mundo era realmente mais quente antes de 1000 DC. 101
Análises
(5) Os cientistas examinaram o tronco de árvores antigas de diferentes regiões,
observando o crescimento anual do tronco, que é determinado pelo clima. Os cientistas
também estudaram camadas polares da Groenlândia e da Antártida. A terceira fonte de
informação usada foram documentos históricos, especialmente da Holanda, Suíça e da China.
(6) Os autores não conseguiram encontrar informações suficientes para saber como
era o clima no Hemisfério Sul, mas ficaram satisfeitos com a conclusão de que o Hemisfério
Norte está passando por seu período mais quente dos últimos 2.000 anos.
(7) Mesmo que em alguns pontos da Terra a temperatura tenha registrado índices
mais altos, de acordo com a teoria dos cientistas, a média da temperatura era mais baixa.
(8) A Terra estaria mais quente pelo menos 0,2ºC nos últimos 20 anos do que na
média dos últimos séculos, de acordo com os pesquisadores.
2. Por que prejudicaria a coerência do texto o parágrafo (3) vir antes do parágrafo (2)?
3. Cite algumas inversões na ordem dos parágrafos que não prejudicariam a coerência
do texto. Por quê?
5. Compare os parágrafos (1) e (8) e justifique por que devem iniciar e finalizar o texto e
por que podem, ou não, ter sua ordem trocada.
102
Importante
Unidade 18
Mais uma vez, temos que reconhecer que a coerência depende muito do que os
interlocutores sabem sobre si e sobre o texto que serve de base para a (re)construção do
mundo textual. Leitores diferentes podem ser levados, por suas próprias experiências, a
construir diferentes coerências, ou incoerências, para o mesmo texto...
Também deve ser considerado o conhecimento que o leitor tem sobre a relação
entre um determinado texto, sob análise de coerência, e outros textos que com ele
podem se relacionar; ou seja, a intertextualidade.
Por isso dizemos que a coerência não está no texto, mas é construída a partir dele.
E, nesse caso, o contexto em que o texto deve ser interpretado tem seu valor realçado.
Atividade 17
103
Isto É, 10/07/2003.
5. Que pistas contextuais temos para identificar esse texto como pertencente ao gênero
carta? Mais especificamente, que tipo de carta?
6. Que relação tem este texto, carta, com o texto da atividade anterior? Cite alguns
pontos que justificam a intertextualidade.
Tudo que temos visto a respeito desta característica textual – a coerência – nos
leva facilmente a concluir que um texto não faz sentido se apenas considerado na
sua dimensão lingüística.
A coerência textual decorre do uso e das finalidades de um texto. Por isso, não é algo
104 que possamos considerar, radicalmente, como presente ou ausente de um texto.
Lembrete
Uma “leitura” que não se considere superficial e incompleta – de textos não verbais
ou verbais, orais ou escritos – deve estar alerta para a necessidade de se considerem
todos os fatores que contribuem para que de um amontoado de frases se faça um texto. A
possibilidade de atribuir coerência é decididamente um dos fatores mais relevantes nessa
decisão. E nesse processo entram também as experiências pessoais de cada leitor.
Unidade 18
Avançando
na prática
Resumindo
105
Leituras sugeridas
BASTOS, L. K. Coesão e coerência em narrativas escolares. Campinas: Unicamp, 1985.
Originada de uma tese de doutorado, a obra faz uma revisão sobre a bibliografia perti-
nente ao assunto e aplica os conceitos de coerência e coesão a narrativas escolares,
mostrando as qualidades e as deficiências desses textos.
106 KOCH, I. & Travaglia, L. C. A coerência textual. São Paulo: Contexto, 1990.
Os autores trazem farta fundamentação teórica, em linguagem simples e acessível, a
respeito dos conceitos fundamentais da lingüística textual, de onde se origina a definição
de coerência. Além disso, esses conceitos são aplicados à análise de textos de vários
gêneros.
MARCUSCHI, L.A. Lingüística textual: o que é e como se faz. Recife: UFPE (série debates),
1983.
Obra fundamental sobre lingüística textual, apresenta, de forma introdutória, os concei-
tos básicos que analisam a boa formação do texto, entre eles a coerência. A farta exem-
plificação nos textos mostra com clareza como utilizar os conceitos em análises.
Unidade 18
Bibliografia
AUSTIN, J. L. How to do things with words. Cambridge, Harvard University Press. (Edição
brasileira: Quando fazer é dizer) Porto Alegre: Artes Médicas, 1989.
BASTOS, L. K. Coesão e coerência em narrativas escolares. Campinas: Unicamp, 1985.
BEAUGRANDE, R. de & Dressler, W. Introduction to textlinguistics. Londres/New York:
Longman, 1981.
BRAIT, B. (org.) Estudos enunciativos no Brasil. Campinas: Pontes, 2001.
BRONCKART, J. P. Atividades de linguagem, textos e discursos. São Paulo: EDUC,
1999.
BENTES, A. C. “A lingüística Textual”. In: Mussalin, F. & Bentes, A. C. Introdução à
Lingüística – domínios e fronteiras. Vol.1. São Paulo: Cortez, p.245-285, 2000.
CALKINS, L. M. A arte de ensinar a escrever. Porto Alegre: Artes Médicas, 1989.
FÁVERO, L. & Koch, I. Lingüística textual. São Paulo, Cortez, 1983.
FIORIN, J. L. Elementos de análise do discurso. São Paulo: Martins Fontes, 1989.
GUIMARÃES, E. R. J. Os limites do sentido. Campinas: Pontes, 1995.
KOCH, I. G. V. Desvendando os segredos do texto. São Paulo: Cortez, 2002.
KOCH, I. & Travaglia, L. C. A coerência textual. São Paulo: Contexto, 1990.
107
KOCH, I. G. V. A coesão textual. São Paulo: Contexto, 1989.
KOCH, I. G. V A inter-ação pela linguagem. São Paulo: Contexto,1992.
MACHADO, A. N., Dionísio, A. P. & Bezerra, N. A. (orgs.) Gêneros textuais e ensino.
Rio de Janeiro: Lucerna, 2002.
MAINGUENEAU, D. Termos-chave da análise do discurso. Lisboa: Gradiva, 1997.
MARCUSCHI, L. A. Lingüística textual: o que é e como se faz. Recife: UFPE (série debates),
1983.
VAN DIJK, T. Cognição, discurso e interação. São Paulo: Contexto, 1992.
VÉRON, E. A produção do sentido. São Paulo: Cultrix/Edusp, 1980.
VOTRE, S. J. “Lingüística e Educação, ou por uma teoria da atividade linguajeira em sala de
aula”. In: Passeggi & Oliveira. Lingüística e educação. São Paulo: Terceira Margem, 2001.
Correção das atividades
Correção
110
Unidade 18
Correção das atividades
Atividade 1
1. Um gato. A figura de um gato. Um gato estilizado. O quadro de um gato.
2. As linhas do desenho são geométricas. O colorido não confere com um gato real. A
legenda mostra se tratar de um quadro.
Atividade 2
1. Porque as respostas não atendem ao que pedem as perguntas. Porque os assuntos são
diferentes. Porque os interlocutores parecem estar em “mundos” diferentes.
2. Por exemplo: (São) oito horas. Ou: Não sei. Não tenho relógio.
3. Resposta livre. Sugestão: Como o trânsito está confuso hoje! Ou: Que correria!
4. Resposta livre. Sugestão: Mas quando chove o ônibus costuma se atrasar. Hoje, no
entanto, apesar de não haver sinal de chuva, o ônibus está atrasado. O comentário de
Daniel mostra que outros fatores, além da chuva, podem provocar atraso, como os
engarrafamentos típicos das sextas-feiras.
Atividade 3
1. A opção D completa coerentemente o nariz de Pinóquio. Porque os “cortes”, as linhas 111
geométricas do pedaço do nariz encaixam nos cortes do nariz de Pinóquio. Há comple-
mentaridade entre eles.
2. Sugestão: Porque a figura de Pinóquio é ficcional, é um desenho. Sua existência não
se dá no mundo real, mas num mundo criado pela imaginação.
3. Isso não é possível porque as relações entre partes dos seres vivos são diferentes dessas
relações nos bonecos de madeira ou nas histórias de ficção.
4. Sugestão: o raciocínio do leitor é decisivo para “completar” a história. Escolher opções
adequadas é parte da tarefa do leitor na construção da harmonia da figura, como na harmo-
nia textual.
Correção
Atividade 4
1. Sugestão: Um homem está sendo puxado pelo cachorro que leva na coleira porque
esse cachorro está correndo atrás de um operário que arrancou uma árvore e a carrega
para longe.
2. Porque, se não estivesse correndo, a figura do homem que o conduz na coleira não
teria explicação (como a perda do chapéu, por exemplo).
3. Pela figura do homem que o conduz – que parece em movimento brusco – e pela
idéia que o texto sugere de o cão seguir o homem carregando a árvore. A língua do cão
– de fora da boca – também mostra que ele está correndo.
4. É necessário saber, por exemplo, que, ao correr, os cães põem a língua de fora; que
objetos como chapéus pulam da cabeça; que cachorros fazem xixi em árvores e, por
isso, elas são importantes para eles; que operários usando bonés cuidam do plantio e
replantio de árvores; etc.
Atividade 5
1. Sugestão: as cores organizam a seleção do lixo, classificando-o de acordo com a
destinação.
2. Porque, mesmo gerando menos lixo, o reaproveitamento é menor do que nos países
que geram mais lixo.
3. Esses dados reforçam a informação do parágrafo anterior.
112 4. Porque a primeira oração refere-se ao lixo em geral e a reciclagem de latas e papelão
não compensa o desperdício do resto.
5. Porque a figura é compatível com as informações do texto e reforça as idéias principais.
Atividade 6
1. O gato considera que “miau” é língua portuguesa. No primeiro quadrinho, o gato mia:
não é Língua Portuguesa. Mas, nos dois quadrinhos, há o emprego da língua portuguesa
para transcrever a “fala” do gato porque o código empregado na escrita é de Língua
Portuguesa.
2. A situação, o contexto, que deve ser rotineiro entre o gato e as pessoas, atribui
significado ao miado.
3. Porque o mundo textual, na tirinha, é o da imaginação e brinca com a personificação
de animais. A seqüência de situações faz sentido.
Unidade 18
Atividade 7
1. As figuras geométricas lembram um popular jogo de encaixar muito conhecido nas
brincadeiras e no desenvolvimento motor das crianças.
2. O fato político está escrito abaixo dos espaços de encaixe: as reformas constitucionais.
3. Ele tem um paralelepípedo, que representa o Fundo Monetário Internacional, na mão.
Deve encaixá-lo em um espaço correspondente na base.
4. Que o FMI não se encaixa no jogo das reformas. O formato da peça não tem espaço
correspondente na base do jogo.
5. O desenho, nitidamente uma sátira à situação; a expressão de perplexidade do presi-
dente; uma personalidade do porte de um presidente da República brincando com
joguinho infantil; a incompatibilidade entre a peça e o espaço na base do jogo.
Atividade 8
1. É o dia mundial do meio ambiente.
2. O título informa sobre a data. As frases iniciais do texto também.
3. Ele acha pouco apenas pensar na natureza na data comemorativa: “dia seguinte vai
jogar pneu velho no rio, etc.”. Ele tem críticas aos ecologistas: “os ecologistas se fazem
de grão-senhores da natureza e falam dando ordens.”
4. Pelo apoio que o autor dá ao movimento e pela extensão das informações prestadas.
5. Quando mostra “como cresceu o número de pássaros no Brasil porque as crianças já 113
não usam mais estilingues para matá-los”.
Atividade 9
1. Respostas logo abaixo da atividade.
2. (a) que rio tem leito, além de “leito” ser sinônimo de “cama”.
(b) que as formas das palavras podem ser usadas no lugar de seu conteúdo significativo.
(c) que a girafa tem pescoço comprido e a centopéia tem muitos pés.
(d) que a palavra “pena” tanto pode significar o material que cobre o corpo dos pássaros
quanto pode significar “dó”, “piedade”.
(e) que a expressão “quebrar segredo” significa “revelar segredo”.
3. Num mundo textual que se projeta para além das referências costumeiras e brinca
com significações alternativas.
Correção
Atividade 10
1. Refere-se à residência do leitor.
2. À folha onde mora a joaninha.
3. À natureza, casa do leitor e da joaninha.
4. Porque desperta o leitor para repensar a noção de casa para além de sua residência;
aciona um conhecimento ecológico e levanta expectativa sobre o que será dito a seguir.
5. Porque a imagem “diz” a mesma coisa que o texto verbal. Acionando diversas áreas
do conhecimento, reforça-se o poder de convencimento.
Atividade 11
1. O verbo tomar, que pode significar tanto “comer” quanto “tirar”.
2. Cada um deles toma a palavra “tomar” na acepção que lhe convém e o mal-entendi-
do é estabelecido.
3. Sugestão: Porque nem sempre os significados ficam claros. A significação depende
da interlocução, da maneira como o autor e o leitor constróem a coerência. Textos
não são unívocos e as interpretações dependem de conhecimentos que extrapolam o
nível lingüístico.
Atividade 12
1. Em contextos de instruções, recomendações. Mais especificamente, quanto à preser-
114 vação do meio ambiente em relação ao lixo produzido pelo consumo.
2. Verbos como “comprar” e substantivos ligados ao consumo, como “produtos”, “em-
balagens”, etc.
3. Recomendar, ou instruir o consumidor sobre formas de não juntar lixo indesejável ao
meio ambiente.
4. Sugestão: Eis aqui algumas maneiras de você ir às compras colaborando para a quali-
dade de vida do planeta. Ou: Os dez mandamentos do consumidor consciente. Ou:
Preserve seu planeta quando for às compras. Etc.
Unidade 18
Atividade 13
1. Que não se trata de flores da natureza; trata-se de um quadro de uma exposição.
2. O vaso faz lembrar uma figura de mulher. Várias interpretações são possíveis, como:
flores substituem a cabeça da mulher; flores cabem em um corpo de mulher; etc.
3. As flores são estilizadas; espalham-se por um espaço diferente daquele que seria
ocupado por flores naturais, as folhas e galhos têm formas quase geométricas.
4. A observação não é linear, é espacial. Como imagem, as partes não se articulam
linearmente, mas espacialmente. É irrelevante a ordem de “leitura” porque as partes não
são seqüenciais.
Atividade 14
1. Que se trata de um jogo, de um teste; não de um texto expositivo. Que vai se falar de
um zoológico comum. Provoca-se o acionamento de conhecimento a respeito de passei-
os, de zoológicos, não exatamente a respeito de natureza.
2. “Acertou quem respondeu a letra (b)” porque não haveria possibilidade de escolha no
jogo.
3. Por referência ao que o parágrafo anterior diz sobre o Pantanal Mato-grossense.
4. Como linguagem figurada que reforça a idéia de serem muitos bichos. Não pode ser
literalmente interpretada porque os bichos mencionados são incompatíveis com o tama-
nho do olho.
115
5. Porque o assunto sobre o Pantanal preserva o fio condutor da coerência.
Atividade 15
1. Representam pensamentos ligados aos personagens.
2. Sugestão: Ai, que saudade da televisão lá de casa!
3. Sugestão: Ai, que saudade do pessoal aqui de casa me assistindo!
4. As informações não seriam prejudicadas, mas a televisão pensando depois das pesso-
as cria maior impacto do que se as pessoas pensassem depois; explora-se o inusitado
depois de conduzir o leitor a considerar a saudade das pessoas.
5. Porque se trata de um mundo textual de ficção. Tirinhas exploram o inusitado e,
freqüentemente, propõem críticas. Por isso, podem criar mundos textuais diferentes da-
quilo que conhecemos como real.
6. Sugestão: Que as pessoas estão tão apegadas aos hábitos urbanos que não conseguem
desfrutar da natureza sem sentir saudade da tecnologia que tomou suas vidas.
Correção
Atividade 16
1. O título antecipa, resumidamente, o assunto que será exposto e atrai atenção para um
fato climático que pode ser preocupante. Provoca a atenção.
2. Porque os cientistas foram nomeados no parágrafo (2): não haveria como recuperar a
informação de quem seriam “Os dois cientistas”.
3. Por exemplo: o (4) pode vir antes do (3); o (7), antes do (6); o (5) pode vir depois do (6)
ou do (7); etc. Porque a ordem dos eventos seria compreendida.
4. Hierarquiza a informação e conduz a leitura para a metodologia da pesquisa, mais do
que para os resultados. Mais para o “como” do que para “o que”.
5. A ordem pode ser trocada, desde que se mantenham abrindo e fechando o texto
porque são os de informação mais genérica.
Atividade 17
1. Na revista ISTOÉ.
2. A frase inicial da carta explicita isso.
3. Além de antecipar o assunto da carta, retoma o artigo do número anterior da revista
sobre o qual tecerá comentários.
4. Contextualmente, quem conhece o gênero identifica aí o título do artigo ou reporta-
gem a ser comentado.
116 5. O direcionamento direto a um interlocutor e a assinatura final caracterizam a carta. É
uma carta de leitor porque há pistas contextuais de que se dirige a uma revista.
6. Partilham o tema, mais especificamente a questão do aquecimento exagerado. Trazem
alguns pontos de mesma informação. O mesmo assunto, na mesma direção argumentati-
va (o aquecimento na Europa) constrói a intertextualidade.
Coesão textual
Maria Luiza Monteiro Sales Coroa
Iniciando
nossa conversa
Continuamos a conduzir nosso olhar sobre a harmonia das coisas: do meio em que
vivemos aos textos que produzimos – lendo ou escrevendo.
Da harmonia entre os seres que integram o meio ambiente colhemos nossa qualida-
de de vida. Da harmonia entre os fatores que integram um texto ganhamos a qualidade
da comunicação.
Já tivemos a oportunidade de ver, em unidades anteriores, que um texto não é
apenas um amontoado de palavras ou uma seqüência de frases. Na unidade anterior,
desenvolvemos reflexões a respeito de como a adequação entre o texto e a situação
sócio-comunicativa permite interpretá-lo como coerente, ou não, de acordo com o co-
nhecimento que temos do assunto, dos interlocutores e dos propósitos comunicativos. 117
Nesta unidade, vamos focalizar procedimentos lingüísticos que permitem fazer, de
um texto, um texto bem formado. Vamos examinar como alguns termos ou palavras
formam mecanismos textuais, conhecidos como coesão textual. A ligação entre esses
termos torna-se responsável por articular os sentidos de cada parte de um texto ao senti-
do do todo. Metaforicamente, podemos dizer que a coesão assemelha-se à linha que
costura e mantém unidas as partes de um vestido, explorando e valorizando o tecido de
que é feito esse vestido. A coesão pode ser comparada, também, à cola ou ao cimento,
que fazem de meros pedaços ou tijolos um objeto mais consistente e que firma o muro, a
parede ou a casa...
Nessa comparação, podemos dizer que os mecanismos de coesão lingüística trans-
formam idéias e palavras em textos.
Juntamente com a coerência, a coesão é a responsável por manter a continuidade
significativa do texto; é por causa delas – da coesão e da coerência – que um texto pode
ser definido como uma unidade de sentido.
Enquanto a coerência “combina” os textos com seu exterior, com a situação sócio-
comunicativa, com suas finalidades, com seu contexto, a coesão “combina” os textos no
seu interior, ligando as partes de maneira a formar um todo. Esses dois aspectos de
construção textual – a coerência e a coesão – são responsáveis pela interpretação signi-
ficativa e coerente de um texto.
As estratégias lingüísticas usadas nessa tarefa de “colar” as idéias e as palavras
podem ser diversas, mas os nomes e as classificações que têm em diferentes abordagens
Marcas de coesão
Seção 1
teóricas não vão nos interessar muito aqui, porque nosso principal objetivo é analisar
como funcionam, textualmente, os termos que constituem a coesão. A bibliografia suge-
rida ao final poderá suprir as informações de nomenclatura.
Com as atividades aqui propostas, esperamos poder contribuir para o bom desen-
volvimento de suas atividades didático-pedagógicas com textos junto aos seus alunos.
Esperamos facilitar seu trabalho quanto aos objetivos que visam à boa formação de um
texto. Fazemos isso propondo atividades com textos que tratam de um meio ambiente
bem formado. O cuidado com cada elemento que compõe a natureza é uma forma de
respeito com o cuidado que devemos ter com cada um de nós mesmos.
Transportando esse cuidado para a elaboração e leitura de textos, podemos obser-
var que o cuidado com cada elemento que compõe o texto resulta no respeito às nossas
idéias e às dos outros – leitores e produtores de textos – com quem convivemos: os
nossos interlocutores.
Definindo nosso
ponto de chegada
Seção 1
Marcas de coesão
Objetivo
da seção
Unidade 19
No entanto, como já vimos na unidade anterior, quando focalizamos a coerência
textual, talvez possamos encontrar uma interpretação coerente para idéias tão disparatadas se
as contextualizarmos. Ou seja: talvez possamos imaginar (ou reconhecer) uma situação em
que esse aparente amontoado de frases possa ser interpretado como um texto.
Lembrete
Uma possibilidade para essa indicação seria criar um tópico que antecedesse essa
seqüência e orientasse como deve ser lida, como, por exemplo:
Ou
Você pode pensar em outras possibilidades de indicar ao leitor como esse texto
pode ser interpretado, como numa enumeração, numa listas de tópicos ou assuntos, etc.
A coesão pode, portanto, ser considerada parceira da coerência nos objetivos de fazer
um texto ter sentido porque ela colabora para a interpretação (ou leitura) de um texto.
Marcas de coesão
Seção 1
Atividade 1
O texto seguinte não se compõe linearmente: suas partes podem ser “lidas” em
diversas configurações, mas, mesmo assim, nossa leitura pode lhe atribuir sentido.
Observe como a informação iniciada por “O céu em Brasília...” não depende de
gráficos. Vamos transformar as demais informações em linguagens parecidas a essa, ou
seja, com a menor dependência de imagens possível.
120
1. Como você entende que deva ser lida a informação a respeito do sol?
3. Como você poderia “traduzir” a variação de temperatura para uma linguagem que
não precise recorrer ao gráfico?
Unidade 19
Pelas respostas que você deu a essa atividade, não será difícil perceber que, quanto mais
distantes – mais independentes – estamos das imagens ou do contexto, mais informações
lingüísticas são necessárias para a compreensão, ou interpretação, do texto. Isso se dá porque,
no lugar de “pistas” visuais, precisamos fornecer aos nossos interlocutores pistas lingüísticas.
Ao construir o texto, devemos, portanto, fornecer aos possíveis leitores informações
suficientes para que (re)criem o “mundo textual”, o universo de significações criado pelo
texto. Por isso, ao produzir um texto, não damos apenas informações, mas orientamos
também sobre como essas informações devem ser organizadas no mundo textual que o
interlocutor recria na sua compreensão.
Os termos lingüísticos que funcionam, assim, como uma espécie de “instruções”
para os modos de articular as idéias constituem os mecanismos de coesão textual.
Lembrete
121
Atividade 2
Antes de ler a legenda, observe bem que interpretação você pode dar a esta imagem.
3. Que informações mais o restante do texto da legenda traz que a imagem não traz?
4. Cada um dos textos, verbal e visual, tomado separadamente seria tão eficaz quanto o
conjunto para conduzir o leitor na criação do mundo textual? Por quê?
Importante
Quando um texto não depende, para apoiar as idéias expressas, de nenhum outro
recurso – como imagens, por exemplo –, o conjunto de elementos lingüísticos de coesão
se torna ainda mais importante, pois, para que a leitura não se afaste muito das intenções
do autor ao criar o mundo textual, mais “pistas” se fazem necessárias.
Unidade 19
Indo à sala
de aula
Vamos analisar um texto rico nessas “pistas”, ou seja, rico em recursos coesivos.
Atividade 3
123
O governo do Amazonas anunciou hoje a criação de seis novas áreas de preserva-
ção ambiental no Estado. São 4,2 milhões de hectares transformados em parque, floresta
estadual, reservas extrativistas e de desenvolvimento sustentável.
As regiões onde se situam essas áreas são ricas em biodiversidade e ambiente
natural das espécies em extinção, como o peixe-boi, a ariranha e o boto tucuxi.
O secretário de Estado do Meio Ambiente disse que com as seis novas áreas, o
governo aumenta para 12,2 milhões de hectares o total de áreas protegidas na esfera
estadual.
“O fato de nós termos 98,2% da cobertura vegetal intacta não significa que vá ficar
assim eternamente. Estamos evitando que o desmatamento chegue a essa área, que é o
coração da Amazônia.”
“Essas reservas possibilitam a permanência das populações tradicionais e, ao mes-
mo tempo, a conservação da natureza. Isso é responsabilidade social”, disse o secretário.
3. Que palavras se referem no texto ao espaço político e geográfico onde foram criadas
as áreas de reserva?
4. Como o leitor pode identificar a que se refere a expressão “essas áreas”, no segundo
parágrafo?
6. Como o leitor é levado a entender “assim”, no quarto parágrafo? Onde pode encontrar
essa informação?
124
9. Localize no texto outras expressões que se referem à mesma coisa que “Essas reser-
vas”, no último parágrafo.
Unidade 19
Como podemos perceber, a partir das perguntas e das respostas a essa ativida-
de, muitas expressões retomam idéias e informações anteriores. São essas expressões
que desempenham a função de “ir costurando” a textualidade; são elas os recursos,
ou mecanismos, coesivos que compõem o fenômeno denominado coesão textual.
Cada um desses recursos é chamado de elo ou laço coesivo. O encadeamento
desses elos constitui a cadeia coesiva, responsável por marcar lingüisticamente a
continuidade dos sentidos.
Qualquer texto que produzimos deve também orientar o leitor para a continuidade
das informações. Por isso, é importante que os alunos percebam que há palavras respon-
sáveis por certas orientações. Ou seja: faz parte da leitura e da interpretação de um texto
o reconhecimento das cadeias coesivas que o estruturam e lhe dão continuidade.
Importante
A coesão textual é responsável pela ligação das idéias nos textos. Termos lin-
güísticos que orientam como as informações devem ser organizadas são os elos ou
laços coesivos, que compõem as cadeias coesivas.
Lembrete
Atividade 4
1. Por que o leitor é levado a interpretar que peixe-boi, ariranha e boto tucuxi são
espécies em extinção? Que relação semântica ocorre aí?
2. Considerando que o conjunto dos elementos – elos – que retomam a mesma idéia
compõe uma cadeia coesiva, identifique a cadeia coesiva que se refere às áreas de
preservação ambiental.
3. Observe as expressões que retomam outras idéias, como “assim”, “essa área” e “que”,
no quarto parágrafo, “Essas reservas”e “isso”, no quinto parágrafo, e diga a que classes
gramaticais pertencem.
126
Lembrete
Unidade 19
Atividade 5
127
Observando as atividades desta seção e os textos analisados, é fácil perceber que em alguns
casos temos textos de coesão bem organizada; em outros a coesão parece “mais frouxa”.
Por isso, é importante reconhecer que a coesão não é uma condição necessária para que
um texto seja um texto, embora isso não seja um caso muito comum. Quando temos poucas
marcas de coesão – poucos elos coesivos – em um texto, nossa tendência é considerar a
simples ordem das idéias como a seqüência em que deve ser (re)construído o mundo textual.
Sem mesmo perceber, fazemos muito disso na prática. Vamos, no entanto, sistema-
tizar esse reconhecimento na próxima atividade.
Marcas de coesão
Seção 1
Atividade 6
A pesca
a garganta
o anil
a âncora
o anzol
o peixe
o azul
128
a boca
o silêncio
o arranco
o tempo
o rasgão
o peixe
aberta a água
a agulha
aberta a chaga
vertical
aberto o anzol
mergulha
aquelíneo
a água
ágilclaro
a linha
estabanado
a espuma
o peixe
o tempo
a areia
a âncora
o sol
o peixe
Unidade 19
O show
O estádio
O cartaz A multidão
O desejo A expectativa
O pai A música
O dinheiro A vibração
O ingresso A participação
O dia O fim
A preparação A volta
A ida O vazio
129
5. Por que não foram necessários laços coesivos para estabelecer a continuidade de
sentidos do texto e a sua coerência?
Marcas de coesão
Seção 1
A esse tipo de coesão costuma-se chamar coesão por justaposição, pois não
são usados termos que “amarram” as idéias umas às outras, é a própria colocação de
uma seguindo a outra que constrói os sentidos.
Nesta forma de construir a textualidade, fica claro por que muitos autores consi-
deram a coerência um fator necessário à textualidade, mas a coesão, não. É possível
(re)construir o mundo textual “proposto” pelas palavras do texto sem que haja marcas
explícitas de coesão, mas sem se perceber a coerência do texto não é possível consi-
derá-lo um texto.
No caso do gênero poético, as rimas, a construção das estrofes e o ritmo tam-
bém constituem fonte de significação, pois funcionam de maneira semelhante a uma
“listagem” de memorização de situações específicas. A ordem das palavras e expres-
sões vai conduzindo a memória que temos de acontecimentos semelhantes e nosso
conhecimento prévio, nossas experiências anteriores acerca da situação vão suprin-
do os elos de coesão que não estão lingüisticamente explícitos.
Nas próximas seções, detalharemos a classificação de cadeias coesivas.
Avançando
na prática
Vamos exercitar, com seus alunos, como podemos explorar os elos de coesão
130 ao tecer um texto.
Dê dois, ou mais textos, para leitura sobre um determinado aspecto do tema
“meio ambiente”. Sugerimos abaixo dois exemplos.
Respeitando o nível de escolaridade, proponha a redação conjunta, no quadro
negro, de um texto que inclua as informações lidas.
Uma discussão antecedendo a elaboração escrita poderá enriquecer a atividade.
Ao escrever o texto, cuide para que os mecanismos de coesão sejam explora-
dos, como, por exemplo, a retomada de substantivos por pronomes, substantivos e
advérbios resumindo idéias, etc.
Depois do texto escrito, com o texto no quadro – ou, alternativamente, em
papel pardo – à frente da classe, vá sublinhando as expressões que compõem cadeias
coesivas.
Lembre-se de que a nomenclatura não é muito importante; o mais importante é
que os alunos reconheçam que algumas idéias são expressas de diferentes maneiras e
estão ligadas por laços lingüísticos que orientam a tessitura do texto.
Também muito relevante é “dar pistas” para que a continuidade de idéias seja
(re)construída adequadamente pelo leitor.
Unidade 19
Exemplos de textos:
Texto 1
131
Texto 2
Unidade 19
Pesquisas), o desmatamento na Amazônia, entre agosto de 2001 a agosto de 2002,
é de aproximadamente 25 mil quilômetros quadrados.
Para saber mais sobre as ações do Governo Federal na área ambiental, visite a
página do Ministério do Meio Ambiente: http://www.mma.gov.br
Para que um texto faça sentido, alguns termos lingüísticos colaboram com as
relações de coerência. Esses termos são encarregados de “orientar” os modos como
as informações fornecidas no texto devem ser interpretadas, marcando a interdepen-
dência entre elas.
A coesão textual refere-se, assim, às relações de sentido que se estabelecem no
interior do texto.
Enquanto a coerência textual se constrói na relação entre o texto e seu contexto,
a coesão se constrói na inter-relação entre as partes do texto, fazendo dele um todo
significativo. Por isso, dizemos que o fenômeno da coesão textual é solidário ao da
coerência.
Cada um dos elementos que marca essa continuidade é chamado de elo ou
laço coesivo. O encadeamento desses elos constitui a cadeia coesiva.
Na falta de marcas explícitas, a própria ordenação das idéias pode ser um
elemento de coesão; chama-se, então, coesão por justaposição.
Seção 2
135
Os elos coesivos
Objetivo
da seção
Lembrete
Atividade 7
Unidade 19
Existe, nesses dois exemplos, uma referência a elementos fora do texto, mas que
com ele mantêm estreitas ligações de significação. Os pronomes nós referem-se a ele-
mentos fora do mundo textual e os representam no texto.
Temos aqui uma primeira possibilidade de definição dos mecanismos de coesão:
são elementos que, por meio de termos variados, “trazem” para dentro do texto algum
elemento fora dele, mas que é presente na situação sócio-comunicativa e relevante na
continuidade de sentidos. Pessoas do discurso, termos que expressam tempo e espaço
são muito úteis nessa forma de coesão.
Importante
Alguns elementos de coesão textual começam tendo referência fora do texto, como
o pronome nós no exemplo acima, mesmo que subentendido nas flexões verbais. De-
pois, ao longo do texto, são retomados por outros elos da cadeia coesiva. 137
Lembrete
Atividade 8
3. Que expressão anterior é necessária em (c) para que o pronome outras seja adequada-
mente interpretado?
7. Ainda em (d), que modificação sofreu a palavra brejos para ser retomada?
Unidade 19
8. Em (e), o pronome que remete a que expressão da oração anterior?
A partir de suas respostas a estas duas últimas atividades, podemos chegar a algu-
mas conclusões a respeito do funcionamento da coesão textual.
Primeiramente, concluímos que alguns elementos de coesão textual apontam para
referentes fora do texto – vimos isso na Atividade 7; outros elementos são a retomada de
termos já explicitados no texto – como na Atividade 8.
Em segundo lugar, percebemos que quando os elementos de coesão retomam
elementos já presentes no texto o fazem de diversas maneiras. Podem resumir idéias já
expressas, como em (b) e (c); substituir essas idéias por advérbios ou pronomes, como
em (a) e (e); ou ainda substituí-las por outros sintagmas nominais, como esse grupo de
animais, em (c). Esses elementos de coesão podem também fazer comparações, como
vemos em (c) e (e), ou acrescentar palavras modificadoras às expressões empregadas,
como ocorre com tais, em (d), etc.
Lembrete
Neste caso, a expressão que introduz a previsão que será explicitada depois dos
dois pontos aparece antes da própria informação a que se refere. Ou seja, o pronome o
remete ao que será dito depois, e não antes dele.
Embora seja mais importante reconhecer e saber utilizar os diferentes modos de
construir a coesão textual, pode acontecer que você tenha necessidade de aprofundar o
estudo e saber os nomes dessas classificações:
Os elos coesivos
Seção 2
Importante
140
Atividade 9
Luar do sertão
Catulo da Paixão Cearense
Se Deus me ouvisse
Com amor e caridade
141
Me faria essa vontade
O ideal do coração
Era que a morte a descontar me surpreendesse
E eu morresse numa noite
De luar do meu sertão.
1. Por meio de que palavras e expressões pode-se perceber onde está o poeta: no sertão
ou na cidade?
4. Como você pode ver, o poema não tem marcas de pontuação. Sugira uma pontuação
para os dois versos seguintes, de modo que os três últimos versos da canção sejam
interpretados como a explicitação da “vontade”:
Me faria essa vontade
O ideal do coração
142
Indo à sala
de aula
Unidade 19
Atividade 10
Segredos da seda
Cientistas desvendam parte do mistério dos bichos-da-seda e abrem caminho para a
produção artificial de fios.
Eles são tão finos que mal podem ser vistos a olho nu. Ainda assim, são mais
resistentes do que o aço. Se tecer esse fio é natural para os bichos-da-seda e as aranhas,
há décadas a ciência tenta, sem sucesso, reproduzi-lo em laboratório. Em experimentos
anteriores, os cientistas já conseguiram purificar a seda, mas nunca foram capazes de
transformá-la em material. Desta vez, pesquisadores americanos da Universidade de Tufts
anunciaram ter desvendado parte do mistério envolvido no processo natural de fabrica-
ção da seda. O estudo deve se somar aos esforços para investigar como criar proteínas
em laboratório e, assim, aprimorar as técnicas de produção de fios artificiais.
Os fios da seda são constituídos por uma proteína que se solidifica em contato com
o ar e é expelida por uma glândula localizada no abdome dos animais, cujo ciclo de 143
vida é de 50 dias. O grande mistério da produção dos bichos-da-seda é a mudança da
estrutura, textura e morfologia das proteínas para se tornarem fibras solúveis. Pois foi
justamente parte desse processo que os cientistas americanos desvendaram. A chave está
em entender como os bichos-da-seda e as aranhas equilibram a solubilidade da proteína
da seda nas suas glândulas. Descobriu-se que todo o processo é controlado pela quanti-
dade de água usada para evitar a cristalização prematura do fio.
2. A expressão esse fio antecede a identificação de que fio é esse. Localize no texto a
expressão que é anunciada por esse fio.
4. Que expressões orientam o leitor a interpretar que o experimento relatado faz parte de
uma seqüência de experimentos?
8. Pela organização das idéias subentende-se que a expressão A chave é chave de quê?
10. Recupere no texto todas as referências que têm laços coesivos com a expressão o fio,
no final do último parágrafo.
Observe que o pronome que inicia o texto vai ter seu referente explicitado apenas
no segundo parágrafo, mas a leitura já vai podendo antecipar de que se trata. Em torno
das idéias de estudo e de fio da seda é que se organizam as cadeias de coesão analisa-
144 das. Mas o texto apresenta ainda outros laços coesivos, que você pode detectar.
Mas de que maneira essas cadeias são constituídas?
Alguns dos elementos de coesão apenas retomam, por meio de pronomes ou ou-
tros nomes, o referente inicial. Mas encontramos também outros que fazem uma espécie
de redefinição na significação desse referente. Por isso, não podemos considerar que a
retomada de referentes por mecanismos de coesão mantenha a mesma identidade dos
elementos referidos. Por exemplo, no texto da atividade 10, o pronome átono em repro-
duzi-lo retoma, por coesão, esse fio, na linha anterior. Mas o pronome recoloca o fio em
outro contexto, o da produção artificial, que não estava relacionada ao primeiro termo.
Importante
Unidade 19
Vejamos como analisamos exemplos desses vários modos de construção textual
da referência.
Atividade 11
Alguns trechos de notícias sobre assuntos ligados ao mundo que nos cerca – ao
nosso meio ambiente – podem servir de apoio para nossas reflexões a respeito do que se
disse acima. (Para facilitar a análise, os parágrafos são identificados por letras.)
a) Três novos filhotes de lince são a atração do zôo de São Paulo. Ainda sem nome
os filhotes de lince nasceram no Zôo há três meses, mas só agora estão em exposição.
Até então eles estavam sendo amamentados pela mãe longe do público.
b) A característica dos linces africanos é sua pelagem curta e rala, típica de felinos
de regiões quentes. Outras espécies vivem na Ásia e na Europa.
c) No último dia 13, um morador de São Paulo entregou ao Ibama um exemplar de
ararajuba, ave brasileira ameaçada de extinção. Dias antes, o animal havia entrado
voando em sua casa depois de um vendaval. Agora a ararajuba está sendo cuidada por
um criadouro autorizado.
d) A atuação do Ministério do Meio Ambiente no campo da gestão ambiental
urbana tem origem em 1999. Essa atuação objetiva articular a questão ambiental aos
problemas econômicos e sociais do país.
145
e) Foi formado um grupo interministerial para encaminhar medidas de controle do
desmatamento na Amazônia. O grupo também analisará medidas que privilegiem o
desenvolvimento sustentável.
Compare os exemplos citados e diga:
3. Em qual deles um termo mais genérico e abrangente é usado para fazer remissão ao
referente?
Glossário
Considera-se expressão definida aquela que se refere a um objeto (ou pessoa)
identificável individualmente no mundo real ou das idéias; expressão indefinida,
aquela que aponta para qualquer objeto (ou pessoa) de um certo conjunto.
As expressões definidas normalmente são marcadas pelo emprego dos artigos
definidos e as indefinidas, pelos artigos indefinidos ou por sua ausência.
Importante
Unidade 19
É importante ainda mencionar duas outras maneiras muito produtivas de estabeleci-
mento da coesão referencial. A primeira verifica-se nos seguintes exemplos:
(a) - Você quer café? (b) Meu irmão foi à festa, mas eu não.
- Quero.
Percebe-se facilmente, nesses exemplos, que algumas palavras ficaram subentendi-
das: eu, em (a) e fui, em (b).
Lembrete
Nas gramáticas é conhecida como elipse essa omissão de um termo que o con-
texto ou situação permitem suprir.
Avançando
na prática
148
Unidade 19
Aproveite o tema transversal que estamos abordando para estimular a discus-
são sobre a importância do meio ambiente na nossa qualidade de vida.
Relacione texto verbal com não verbal – como a imagem dos peixes com a
expressão Para gerar mais vida, vamos direto à fonte. Mostre a necessidade de um
bom relacionamento entre as partes de um todo para obter-se um resultado harmo-
nioso, seja num texto, seja no meio ambiente.
Analise os mecanismos de coesão que “orientam” nossa leitura, ressaltando os
elementos que retomam referências – como FURNAS, uma empresa, a empresa –
ao longo do texto verbal.
Mostre o efeito de sentido que se obtém na relação entre a expressão todo
mundo e a variação entre terceira e primeira pessoa do plural no texto verbal.
Analise como cada parte do texto está articulada com as outras por meio e
mecanismos de coesão, seja retomando termos lingüísticos, seja associando ima-
gens a esses termos.
Resumindo
149
A progressão textual
Objetivo
da seção
Atividade 12
150
Observe a interligação entre a figura (texto visual) e a legenda (texto verbal) no
seguinte texto.
Unidade 19
1. Localize, no texto, expressões que estabelecem a comparação entre dois “tempos”.
151
Como você poderá observar, a partir de uma análise de suas respostas, a expressão
temporal que inicia a legenda levanta uma expectativa de continuidade de raciocínio
que o restante do texto vai resolvendo.
Pelo modo de enunciar, o primeiro período sintático faz uma afirmação que o leitor
antecipa que será negada. De fato, as idéias de guardar a residência e ficar ao relento serão
substituídas, na seqüenciação do texto, por viver dentro de casa com toda a mordomia.
O jogo entre as expectativas levantadas na interpretação do leitor e a continuidade
do texto constitui o processo de coesão por seqüenciação, ou coesão seqüencial.
Os processos de coesão seqüencial podem se apoiar em expressões que indicam
ordenação dos fatos, como vimos na atividade anterior com os advérbios e preposições,
tempos verbais e mesmo frases que situam um fato em relação ao outro.
Importante
Importante
Atividade 13
VEJA – Criar reservas, como vem sendo feito, não é o caminho para a preservação
da Amazônia?
McGrath – Não. Dentro do movimento ambientalista, há mesmo uma corrente que
trabalha com a idéia fixa de só criar áreas de proteção. Esse grupo parte do princípio de
que o que está cercado está protegido. Mas isso é um engano. Por mais que haja
reservas, elas vão cobrir, no máximo, 10% do território da Amazônia. Consideradas as
terras indígenas, esse número sobe para 26%. Mas essa é uma garantia que só existe no
papel. Além disso, a integridade dessas reservas vai depender do que acontecer na
Amazônia. O futuro da floresta depende também do que ocorre do lado de fora das
reservas, e não apenas dentro de seus limites, como pensam muitas pessoas.
Unidade 19
1. Uma interpretação coerente e coesa do texto indica que o Não, no início da resposta
corresponde à negativa de que idéia?
2. Como continuidade dessa idéia, como você justificaria todo o resto da resposta?
4. Existem outros elementos em função coesiva nesse texto. Escolha alguns e diga com
quais outros eles se relacionam para estabelecer cadeias coesivas.
153
5. O texto, incluindo pergunta e resposta, progride de que idéia mais simples para qual
argumento (justificativa) mais complexo?
Lembrete
Atividade 14
Encontro de mentirosos
- Tenho um tambor que se escuta a vinte quilômetros de distância.
- Pois eu tenho uns bois que ficam com as patas traseiras do lado de cá do rio e as
dianteiras do lado de lá, para pastar no sítio do vizinho.
- Ah, não! Não existe boi desse tamanho!
- E de onde você tira o couro pro seu tambor?
1. Com qual informação do texto a expressão desse tamanho constitui uma ca-
deia de coesão?
2. Com qual informação a expressão seu tambor constitui uma cadeia de coesão?
154
4. Por que a falta de resposta à pergunta final do texto não prejudica a interpretação do
texto como coerente?
Unidade 19
Indo à sala
de aula
Por criar mundos textuais inusitados, estranhos, fora do comum, o texto cômico ou
irônico presta-se bem à análise de como as marcas textuais nos orientam na atribuição de
interpretação de uma unidade textual.
Explore, sempre que possível, essa vantagem do texto cômico, levando seus alunos a se
perguntarem por que e como a ironia, e o humor, produzem os efeitos que produzem.
Organize uma sessão de piadas, pedindo que os alunos tragam piadas adequadas para
contar aos colegas em sala de aula. Registre mentalmente alguns casos em que a ironia é
resultante de falta de coesão ou de compreensão incorreta de fenômenos coesivos.
Depois da sessão, faça uma reflexão conjunta sobre isso.
Importante
Lembrete
Atividade 15
Observe como a letra da canção Passe em casa, sucesso dos Tribalistas (Arnaldo
Antunes, Carlinhos Brown, Marisa Monte e Margareth Menezes) explora de maneira
inteligente e criativa a reiteração.
Unidade 19
Passe um tempo, passe lá
Passo mal com meus lençóis
Passe agora, passe enfim
Um momento pra ficarmos sós
Passe em casa
Tô te esperando, tô te esperando
Passe em casa
Tô te esperando, tô te esperando
Estou esperando visita
Tão impaciente e aflita
Se você não passa no morro
Eu quase morro, eu quase morro
Estou implorando socorro
Ou quase morro, ou quase morro
Vida sem graça
Se você não passa no morro
157
Já estou pedindo que
Passem pássaros e aviões
E no chão os caminhões
Passe o tempo, as estações
Passem andorinhas e verões
Passe em casa...
2. Localize outros versos no poema que estejam intimamente ligados à reiteração dos
versos Tô te esperando, tô te esperando, seja justificando-os, seja explicando-os.
A progressão textual
Seção 3
4. Os cinco últimos versos são uma pequena alteração dos cinco primeiros. Justifi-
que, usando outros versos do poema, por que eles não são simples repetição das
idéias que iniciam o texto.
158
Esta atividade nos mostra que, na constituição dos elos coesivos, mesmo a repeti-
ção não retoma exatamente o referente anterior. Cada ocorrência traz consigo novas
instruções de sentido acrescentadas às anteriores. Até mesmo a pergunta “por que estará
o autor repetindo isso?” vem à mente do leitor na interpretação dos sentidos do texto. E
esse porquê estabelece a coesão, pois a cada vez que se repete um termo, novas sensa-
ções – ou interpretações – podem ser provocadas no leitor ou no ouvinte.
Importante
Unidade 19
A partir de tudo que dissemos e analisamos em termos da função de fazer avançar
o texto da coesão seqüencial, torna-se fácil compreender como estes elementos coesivos
são responsáveis pela reorganização de fatos que podem vir expressos numa ordem
diferente daquela em que ocorreram. Preposições e advérbios que marcam antecedência
e posterioridade de eventos, ou localizam informações no espaço, são, nesse objetivo,
elementos de alto poder coesivo.
Indo à sala
de aula
Atividade 16
159
Almôndegas de carne
Ingredientes
1 cabeça de alho
1 cebola
cheiro verde (salsinha e cebolinha)
½ kg de carne moída
2 colheres (de sopa) de farinha de trigo
400 ml de molho de tomate
sal e pimenta do reino
azeite
A progressão textual
Seção 3
Modo de preparo
160
2. Justifique por que não é necessário incluir no preparo moa a carne, ou aqueça o óleo.
3. Releia seu texto da resposta 1 e justifique a razão dos recursos coesivos, e a ordena-
ção, que você usou.
Unidade 19
Importante
Atividade 17
2. Volte ao seu texto e destaque os elementos usados como laços de coesão seqüencial.
Além de ligar as partes do enunciado para compor um todo, cada elemento coesi-
162 vo estabelece entre elas tipos de relacionamento distintos. Portanto, os elos de uma
cadeia coesiva não têm apenas a função de ligar informações, mas também de agregar a
elas uma direção, ou intenção, interpretativa.
Avançando
na prática
· Proponha criar, juntamente com seus alunos, uma história a partir de um tema
ou de um título dado.
Unidade 19
· Coloque todas as respostas a cada pergunta em caixas ou sacos separados.
· Cada aluno deverá retirar, por sorteio, uma resposta de cada caixa.
· De posse de respostas a todas as perguntas, ele deve escrever uma história,
que, muito provavelmente, não terá as informações escritas por ele na primeira fase
da atividade.
· Para que cada história faça sentido – ou cada texto tenha unidade de sentido
– será necessário interligar cada um desses “pedaços” de história aos outros por
meio de mecanismos de coesão.
Resumindo
Leituras sugeridas
Em geral, as obras que tratam de coerência textual também tratam de coesão textual,
porque, para a maioria dos autores, trata-se de duas faces da mesma moeda. Daí, a
repetição de algumas sugestões de leitura.
PLATÃO & FIORIN. Para entender o texto – leitura e redação. São Paulo: Ática, 1995.
Apenas dois capítulos e pouco menos de vinte páginas são dedicados à coesão, mas as
análises apresentadas valem pela utilidade ao professor de Língua Portuguesa, especial-
mente porque a obra toda focaliza os mais relevantes aspectos de produção textual e
coloca a coesão, a par da coerência, como parte desses aspectos.
Unidade 19
Bibliografia
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DAHLET, Patrick “A produção da escrita. Abordagens cognitivas e textuais.” In: Cadernos
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MACHADO, A. N., Dionísio, A. P. & Bezerra, N. A. (orgs.) Gêneros textuais e ensino.
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de aula”. In: Passeggi & Oliveira. Lingüística e educação. São Paulo: Terceira Margem,
2001.
A progressão textual
Seção 3
[...]
Em obra que se tornou clássica sobre o assunto, Halliday & Hasan (1976) apresen-
tam o conceito de coesão textual como um conceito semântico que se refere às relações
de sentido existentes no interior do texto que o definem como um texto.
Segundo eles, “a coesão ocorre quando a interpretação de algum elemento no
discurso é dependente da de outro. Um pressupõe o outro, no sentido de que não pode
166 ser efetivamente decodificado a não ser por recurso ao outro”. (p.4)
Consideram a coesão como parte do sistema de uma língua: embora se trate de
uma relação semântica, ela é realizada – como ocorre com todos os componentes do
sistema semântico – através do sistema léxico-gramatical. Há, portanto, formas de coesão
realizadas através da gramática e outras, através do léxico.
Para esses autores, a coesão é, pois, uma relação semântica entre um elemento do
texto e algum outro elemento crucial para a sua interpretação. A coesão, por estabelecer
relações de sentido, diz respeito ao conjunto de recursos semânticos por meio dos quais
uma sentença se liga com a que veio antes, aos recursos semânticos mobilizados com o
propósito de criar textos. A cada ocorrência de um recurso coesivo no texto, denominam
“laço”, “elo coesivo”.
Halliday & Hasan citam como principais fatores de coesão a referência, a substitui-
ção, a elipse, a conjunção, e a coesão lexical. Seu trabalho tem servido de base para um
grande número de pesquisas sobre o assunto.
Para Beaugrande & Dressler (1981), a coesão concerne ao modo como os compo-
nentes da superfície textual – isto é, as palavras e frases que compõem um texto –
encontram-se conectadas entre si numa seqüência linear, por meio de dependências de
ordem gramatical.
Unidade 19
Marcuschi (1983) define os fatores de coesão como “aqueles que dão conta da
estruturação da seqüência superficial do texto”, afirmando que não se trata de princípios
meramente sintáticos, mas de “uma espécie de semântica da sintaxe textual”, isto é, dos
mecanismos formais de uma língua que permitem estabelecer, entre os elementos lingüís-
ticos do texto, relações de sentido. Em discordância com Halliday & Hasan, para quem a
coesão é uma condição necessária, embora não suficiente para a criação do texto,
Marcuschi mostra que não se trata de condição necessária, nem suficiente: existem textos
destituídos de recursos coesivos, mas em que “a continuidade se dá ao nível do sentido
e não ao nível das relações entre os constituintes lingüísticos”. Por outro lado, há textos
em que ocorre “um seqüenciamento coesivo de fatos isolados que permanecem isola-
dos, e com isto não têm condições de formar uma textura”.
Tais afirmações levam à distinção entre coesão e coerência: embora muitos autores
tenham desconsiderado essa distinção, hoje em dia já se tornou praticamente um con-
senso que se trata de noções diferentes.
Para Beaugrande & Dressler, “a coerência diz respeito ao modo como os compo-
nentes do universo textual, ou seja, os conceitos e relações subjacentes ao texto de
superfície são mutuamente acessíveis e relevantes entre si, entrando numa configuração
veiculadora de sentidos”.
A coerência, responsável pela continuidade dos sentidos no texto, não se apresen-
ta, pois, como mero traço dos textos, mas como o resultado de uma complexa rede de
fatores de ordem lingüística, cognitiva e interacional. Assim, diz Marcuschi, “a simples
justaposição de eventos e situações em um texto pode ativar operações que recobrem ou
criam relações de coerência”.
167
Parece fora de dúvida que pode haver textos destituídos de elementos de coesão,
mas cuja textualidade se dá no nível da coerência, como em:
Olhar fixo no horizonte. Apenas o mar imenso. Nenhum sinal de vida humana.
Tentativa desesperada de recordar alguma coisa. Nada.
Por outro lado, podem ocorrer seqüenciamentos coesivos de enunciados que, po-
rém, não chegam a constituir textos, por faltar-lhes coerência. É o caso de:
O dia está bonito, pois ontem encontrei seu irmão no cinema. Não gosto de ir ao
cinema. Lá passam muitos filmes divertidos.
Se é verdade que a coesão não constitui condição necessária nem suficiente para
que um texto seja um texto, não é menos verdade, também, que o uso de elementos
coesivos dá ao texto maior legibilidade, explicitando os tipos de relações estabelecidas
entre os elementos lingüísticos que o compõem. Assim, em muitos tipos de textos –
científicos, didáticos, expositivos, opinativos, por exemplo – a coesão é altamente dese-
jável, como mecanismo de manifestação superficial da coerência.
Concluindo, pode-se afirmar que o conceito de coesão textual diz respeito a todos
os processos de seqüencialização que asseguram (ou tornam recuperável) uma ligação
lingüística significativa entre os elementos que ocorrem na superfície textual.
A progressão textual
Seção 3
Questões
1. Como se conceitua coesão textual?
7. Por que não pode ser considerado um texto o exemplo iniciado por “O dia está bonito”?
8. Justifique por que alguns autores consideram que a coesão não é condição nem
necessária nem suficiente para a constituição da textualidade.
169
Coesão textual
Unidade 19
Correção das atividades
Atividade 1
1. Que o sol nascerá às seis horas e vinte e sete minutos e se porá às cinco horas e
quarenta e oito minutos da tarde.
2. Que no dia 16 de maio ela será cheia; minguante, no dia 22 de maio; nova, no dia 31
de maio; e será crescente no dia 7 de junho.
3. Sugestão: A temperatura máxima ficará nos 25 graus centígrados e a mínima oscilará
entre um pouco mais de 15 graus, passará por perto de 20 e cairá para 13 graus ao final
do período.
4. Sugestão: A máxima umidade relativa do ar será de 75% e a mínima será de 40%.
Atividade 2
1. Localiza onde a cena ocorre, na vila de Natwarghad, na parte oeste da Índia.
2. A descrição de que os moradores se reúnem em volta de um poço.
3. Informa sobre a seca na região e por que a população se reúne ao redor do tanque.
4. Não. Os dois se reforçam mutuamente e a imagem produz maior impacto para as
informações que o texto verbal traz mais detalhadamente.
171
Atividade 3
1. O dia da publicação do jornal, 5 de setembro de 2003.
2. Caracteriza as novas áreas de preservação ambiental.
3. Amazonas, Estado, regiões, esfera estadual, coração da Amazônia.
4. As “seis novas áreas”, por serem áreas de “preservação ambiental”.
5. A “essas áreas”, no segundo parágrafo, e “seis novas áreas de preservação ambiental”,
no primeiro parágrafo.
6. À informação de com 98,2% de cobertura vegetal intacta, localizada na oração
anterior.
7. À área da cobertura vegetal intacta.
8. Refere-se a “essa área”, na oração anterior.
9. “seis novas áreas de preservação ambiental”, “seis novas áreas”, “essas áreas”, “as seis
novas áreas”.
10. Tudo que disse o período anterior: essas reservas possibilitam a permanência das
populações tradicionais e ao mesmo tempo a conservação da natureza.
Correção
Atividade 4
1. Porque “como” introduz uma explicitação de “espécies em extinção”. Este último
termo é um hiperônimo de peixe-boi, ariranha e boto tucuxi.
2. São “seis novas áreas de preservação ambiental”, “seis novas áreas”, “essas áreas”, “as
seis novas áreas”, “Essas reservas”.
3. Temos um advérbio, “assim”, pronomes demonstrativos em sintagmas nominais ou
não: “essa área”, “essas reservas”e “isso”; e pronome relativo, “que”.
Atividade 5
a. Resposta livre. Sugestão:
Uma pesquisa britânica reuniu documentos e concluiu que as temperaturas registradas
na Terra estão mais altas que em qualquer período no último milênio. Essa pesquisa
aponta que a temperatura média no planeta aumentou entre 0,6 e 1 grau nos últimos
100 anos. Só nos últimos vinte anos desse período, a temperatura ficou 0,2 grau mais
alta que a média registrada no século XX.
Considerando o período de 1950 para cá, a temperatura tem subido, em média, 0,15
grau por década.
Atividade 6
172
1. Cada estrofe indica uma idéia ou subtema dentro do tema maior.
2. As três primeiras estrofes indicam espera e expectativa; a expectativa antes do show, mais
especificamente, na terceira. A expectativa durante o show, já no estádio, na quarta.
3. Está no estádio, no meio da multidão, vibrando com a música.
4. Que o fim do show e a volta para casa são o anticlímax da vibração.
5. Porque a seqüência dos substantivos orienta a leitura para a seqüência de acontecimentos.
Atividade 7
1. Ao grupo a que pertence o biólogo, pesquisador de quem foram citadas as palavras.
2. Sim. Pela desinência verbal de primeira pessoa do plural.
Unidade 19
Atividade 8
1. Refere-se à caatinga. Só é recuperável a partir da atividade anterior.
2. Retoma “os dados”, no mesmo exemplo; e “pesquisa”, na atividade anterior.
3. É necessário mencionar primeiro “algumas espécies”.
4. A descrição de algumas espécies e o reconhecimento de outras como distintas.
5. A “os roedores”.
6. Por comparação, a “trechos de floresta úmida, os chamados brejos”.
7. Foi precedida pelo demonstrativo “Tais”.
8. Remete a “caatinga”.
Atividade 9
1. Está na cidade por associar demonstrativos próximos: “luar cá da cidade”; e por
associar demonstrativos de distância ao sertão: “luar lá do sertão”.
2. O vocativo, “ó gente”, no primeiro verso.
3. A expressão “do luar lá do sertão” indica onde a “lua nasce...”, a partir da terceira
estrofe.
4. Me faria essa vontade,
173
O ideal do coração: (vírgula e dois pontos)
5. “cá” aglutina expressões da cidade e “lá” aglutina expressões do sertão. O desejo, a
saudade, a beleza estão “lá”; o escuro está “cá”. A oposição se dá entre o luar da cidade
e o luar do sertão.
Atividade 10
1. A fios de seda.
2. “Os fios de seda”, no segundo parágrafo.
3. Retoma “esse fio”.
4. A expressão “desta vez” e a de que “o estudo deve se somar aos esforços...”.
5. “O estudo” refere-se a desvendar “parte do mistério envolvido no processo natural de
fabricação da seda”.
6. Refere-se a “investigar como criar proteínas em laboratório”.
7. “que” refere-se a “proteína”; e “cujo” refere-se a “dos animais”.
8. Subentende-se como a chave do processo.
9. São glândulas do bicho-da-seda e das aranhas.
10. A cadeia é constituída por “Eles”, “esse fio” e “-lo”.
Correção
Atividade 11
1. Em (a) e em (c).
2. Em (b).
3. Em (a), com o pronome “eles”.
4. Em (d).
5. Em (e).
Atividade 12
1. As expressões são “Foi-se o tempo” e “hoje”.
2. É introduzida por “por isso” e justifica que os “cachorros guardavam a residência”.
3. A cadeia é: “os cachorros”, o sujeito subentendido em “ficavam”, “Totó”, sujeito
subentendido em “vive”, “muitos”.
4. A idéia de incorporar as angústias que afligem os donos.
5. O tempo que passou, e seus hábitos, estão associados ao pretérito. Os hábitos do
tempo presente estão associados ao presente.
Atividade 13
174 1. É uma negativa de que criar reservas não é o caminho para a preservação da Amazô-
nia.
2. Trata-se de uma seqüência de argumentos para justificar essa negativa.
3. Eles constituem as pistas para o desenvolvimento das idéias. Vão orientando em que
direção argumentativa o texto se desenvolverá.
4. Resposta livre. Sugestão:
Uma corrente > esse grupo
O que está cercado está protegido > isso
Reservas > elas
10% > esse número
reservas > dessas reservas
Amazônia > floresta
5. O argumento mais simples é “Criar reservas é o caminho para a preservação”; a
justificativa, argumento mais complexo, é: “o futuro da floresta depende também do que
ocorre do lado de fora das reservas”.
Unidade 19
Atividade 14
1. Retoma ficar “com as patas traseiras do lado de cá do rio e as dianteiras do lado de lá”.
2. Com “um tambor”, na primeira fala.
3. Que o couro do tambor é tirado do boi “desse” tamanho.
4. Porque ela é uma ironia para a afirmação correspondente e não espera ser respondida.
5. Porque elas articulam respostas com as idéias das falas anteriores, do outro interlocu-
tor. É o caso de construção de coesão pela interlocução.
Atividade 15
1. Faz subentender no ar ou no céu.
2. Outros versos: Passe em casa / estou esperando visita / tão impaciente e aflita / passe
agora, passe enfim
3. Passar: pássaros e aviões
caminhões
o tempo, as estações
andorinhas e verões
você (lá em casa) ——— a relação central do texto
mal 175
Atividade 16
1. Resposta livre. Sugestão:
Pique o alho, a cebola e o cheiro verde. Misture-os à carne moída. Tempere com sal e
pimenta. Junte a farinha e misture bem. Depois, com as mãos, faça os bolinhos do
tamanho de uma ameixa e frite-os em uma panela com duas colheres de azeite até que
fiquem bem dourados. Em seguida, junte o molho de tomate e deixe cozinhar até reduzir
o molho à metade.
2. Porque nos ingredientes já vem explicitado “carne moída”. E porque o conhecimento
de mundo fornece a informação de que para fritar o óleo deve estar quente.
3. Resposta livre. A idéia geral é a de que facilitam a orientação do leitor.
Correção
Atividade 17
1. Sugestão: Siga pela Estrutural, passando por Taguatinga, à esquerda, e Brazlândia, à
direita. Você vai deixar, depois de Brazlândia, o posto de gasolina da Petrobrás à direita,
e o posto da Texaco, à esquerda. Nesse ponto, você vira à direita e segue por uma
seqüência de três balões até ultrapassar a unidade de compostagem e reciclagem. Até aí
a estrada é asfaltada. Siga, por uma estrada de terra, à esquerda, passe por baixo de uma
ponte de cimento, atravesse o rego d’água e, depois de deixar a chácara Santo Antônio à
esquerda, terá chegado ao Sítio Alegria.
2. Resposta livre, dependendo dos recursos coesivos utilizados.
176
Unidade 19
Respostas às questões sobre Ampliando nossas referências
1. Sugestão: Coesão textual é um conceito semântico que se refere às relações de sentido
estabelecidas no interior do texto que asseguram uma ligação lingüística significativa
entre os elementos que ocorrem na superfície textual.
2. Sugestão: Pode haver coesão realizada por meio de elementos gramaticais, lexicais ou
sintáticos.
3. Sugestão: Denomina-se elo ou laço coesivo cada ocorrência de um recurso coesivo
que estabelece a cadeia coesiva.
4. Sugestão: Porque a coesão se apóia em mecanismos formais de língua que permitem
estabelecer relações de sentido; ao mesmo tempo em que estão entre os elementos
lingüísticos do texto recuperam significados referidos no texto.
5. Sugestão: A coerência se estabelece nas relações de sentido subjacentes ao texto e
não se apresenta como mero traço da superfície textual, mas como resultado de uma
complexa rede de fatores de ordem lingüística, cognitiva e interacional (discursiva). A
coesão se estabelece na interligação entre fatores lingüísticos, entre elementos que apare-
cem na superfície textual construindo as referências.
6. Sugestão: A textualidade nesse texto se dá no nível da coerência, da continuidade de
sentidos ligada à seqüenciação das idéias que compõem o tema pois o texto é destituído
de elementos de coesão.
7. Sugestão: Apesar da recorrência de alguns termos, o fragmento não chega a constituir um
texto pela impossibilidade de se criar um “mundo textual” em que as idéias sejam coerentes. 177
8. Sugestão: Porque em muitos textos a ligação entre as idéias não é explicitada, mas é
de possível recuperação devido à coerência. A mera justaposição de idéias pode orientar
para a continuidade de sentidos.
Unidade 20
Iniciando
nossa conversa
Definindo nosso
ponto de chegada
180
Esperamos que, ao final desta unidade, tenhamos propiciado a você oportunidades
para melhor compreender e sistematizar marcas lingüísticas de relações lógicas do texto.
Para isso buscamos três objetivos:
Unidade 20
Seção 1
Objetivo
da seção
Lembrete
181
Pela coerência textual, o leitor/ouvinte (re)constrói um mundo textual, representa uma
leitura possível do mundo real. Não precisa coincidir com a versão estabelecida do
mundo real, tal como o conhecemos: o importante é que, também nesse mundo textual,
as relações de sentido tenham coerência, façam sentido.
Na Unidade 18, vimos, por exemplo, como um gato pode ser reconhecido numa
fotografia ou num quadro, apesar das evidentes diferenças. Cada uma das figuras representa
um "gato" em seu respectivo "mundo": na nossa experiência do dia-a-dia ou num universo
criado pela arte do pintor.
Assim são os textos: sua coerência não depende da existência real, ou não, de um
cavalo alado, por exemplo; depende da criação de um "mundo" em que possam existir
cavalos alados, como na ficção.
Atividade 1
Para chegar à solução, você, como leitor(a), teve que desenvolver certas atividades
mentais que o levaram a "reconstituir" as laçadas de cada emaranhado. Você teve que
comparar possibilidades e rejeitar as que não conduziam à solução desejada. Você
seguiu as "pistas" que levaram à solução do quebra-cabeças.
Na interpretação de um texto, fazemos algo semelhante: reconstituímos mentalmente
toda a textualidade para depreender daí os sentidos responsáveis pela organização desse
"emaranhado" como um texto, para que não seja apenas um emaranhado de frases e
palavras, mas faça sentido e represente uma interpretação de mundo possível.
Por outro lado, na elaboração de um texto, seguimos procedimentos semelhantes
àqueles exigidos para a solução do desafio das laçadas acima: precisamos dar "pistas"
para que os leitores consigam "reconstituir" nossas idéias e intenções. E, para que cumpram
seu objetivo de criar um texto coerente e coeso, essas "pistas" devem seguir uma lógica,
um fio de raciocínio coerente.
Uma das relações lógicas que mais freqüentemente sustentam a coerência textual é
a relação de temporalidade, que será focalizada na atividade a seguir.
Unidade 20
Atividade 2
183
b) Compare as informações dadas pelo texto verbal e pelo texto visual (as quatro fotos):
por que precisamente essas imagens estão junto a esse texto?
Indo à sala
de aula
Importante
Unidade 20
Lembrete
A interpretação de um texto envolve, assim, tanto o seu produtor quanto seu leitor/
ouvinte, pois ambos precisam estar engajados na situação sócio-comunicativa que produz
os sentidos: um fornece as “pistas” que o outro deve “decifrar”. Assim, as relações
lógicas em um texto não são apenas uma organização formal de idéias, mas devem fazer
sentido para os interlocutores; devem “ser lógicas” em relação a um determinado contexto.
185
Importante
Atividade 3
Unidade 20
a) Como os sentidos humanos estão associados às imagens percebidas no passar
do tempo?
b) Destaque uma seqüência de expressões do texto que servem para marcar o tempo
passando (as pistas para as relações lógicas de temporalidade).
c) Imagine que você nunca viu um nascer do sol como esse: como seria possível recuperar
as relações de tempo nesse texto?
187
d) Em que trecho do texto podemos perceber uma certa crítica do autor à cidade grande?
Como isso é marcado lingüisticamente (através de que cor, por exemplo)?
Lembrete
Atividade 4
Vamos ler uma lenda brasileira, recolhida por Luís da Câmara Cascudo, em
Contos tradicionais do Brasil, para analisar como as relações lógicas de temporalidade
estão nela explicitamente indicadas.
Um dos mais renomados etnógrafos brasileiros, Luís da Câmara Cascudo era
formado em direito e exerceu as profissões de jornalista e professor. Passou a infância
e a adolescência entre a cidade de Natal (onde nasceu em 1898) e o interior do Rio
188 Grande do Norte e da Paraíba. A casa de seu pai era lugar de convergência de gente
de todas as classes sociais. A memória do menino registrava as conversas
caracterizadoras do Nordeste e formadoras da fisionomia nacional. Na sua vida de
pesquisador, suas origens sociais e culturais continuaram a ser seu material de trabalho,
registrando o que ouvia com fidelidade fotográfica.
Touro e homem
Um touro que vivia nas montanhas nunca tinha visto um homem. Sempre ouvia
dizer que era ele o animal mais valente do mundo. Resolveu procurar o homem
para saber. Saiu das brenhas e seguiu pela estrada. Encontrou um velho. Perguntou:
- Você é o bicho homem?
- Não! Já fui, mas não sou mais!
Encontrou uma velha:
- Você é o bicho homem?
- Não! Sou a mãe do bicho homem!
Encontrou um menino:
- Você é o bicho homem?
Unidade 20
- Não! Eu ainda hei de ser, sou o filho do bicho homem.
Encontrou o bicho homem que vinha com um bacamarte no ombro.
- Você é o bicho homem?
- Está falando com ele!
- Estou cansado de ouvir dizer que o bicho homem é o mais valente do mundo
e vim procurá-lo para saber se é mais do que eu!
- Então, lá vai! – disse o homem, armando o bacamarte e disparando-lhe um
tiro nas ventas.
O touro, desesperado de dor, meteu-se no mato e correu para casa, onde passou
muito tempo tratando do ferimento. Numa reunião, um colega lhe perguntou:
- Então, camarada touro, encontrou o bicho homem?
- Ai, meu amigo, só com um espirro que ele me deu na cara, olhe em que
estado fiquei!
Conto recolhido por Câmara Cascudo em Contos Tradicionais do Brasil. Belo Horizonte/São Paulo: Itatiaia/
EDUSP, 1986.
a) A expressão nunca tinha visto situa o fato a que se refere em que tempo relativamente 189
ao desenvolvimento da história?
b) Que tempos verbais marcam trechos narrativos? E quais marcam o diálogo? Por que
você acha que foram assim usados?
c) Que ordem nos encontros com o velho, a mulher, o menino e o homem é real-
mente relevante para que a história atinja seu objetivo? Ou seja: que fato precisa ser
o último para que a história possa terminar com o reconhecimento de que o bicho
homem é valente?
A lógica do (no) texto
Seção 1
d) Que posição do autor a respeito da valentia do bicho homem pode ser depreendida
do texto?
190
Atividade 5
Vamos voltar às atividades anteriores e destacar alguma coisa que foi objeto de
comparação para que fossem dadas as respostas adequadas à atividade.
Unidade 20
c) Que elementos foram comparados na atividade 3 (Raiou, resplandeceu, iluminou)?
Atividade 6
Uma das maneiras mais comuns de trabalhar com a relação de identidade ocorre nas
definições, como por exemplo:
191
(a) Migrações internas são os deslocamentos populacionais que ocorrem dentro de um
determinado país.
(b) Conceitua-se urbanização como o aumento da população urbana em relação à
população rural.
(c) Metrópoles são as cidades principais, ou “cidades-mãe”, quer dizer, são as cidades
que possuem os melhores equipamentos urbanos de um país ou de uma região do país.
Importante
Unidade 20
Lembrete
Dizemos, assim, que um certo objeto pode ser referido ou designado por termos
diferentes em discursos diferentes. Por exemplo, “o senhor presidente” pode designar
o mesmo referente que “aquele político retrógrado”, dependendo da situação discursiva
e das intenções dos falantes envolvidos.
193
O caso dos sinônimos é muito ilustrativo a esse respeito.
Atividade 7
Vamos “brincar” com alguns pares de sinônimos que têm seu emprego limitado por
alguns contextos.
2. Por que em alguns desses exemplos deve ser usada apenas uma das formas, e nunca
a outra? Serão essas duas palavras realmente sinônimas?
3. Escolha você também alguns pares de sinônimos para criar exemplos de uso em
contextos diferentes.
194
Indo à sala
de aula
Essa flexibilidade da língua para designar os mesmos objetos por nomes ou termos
diferentes pode ser explorada em várias atividades de sala de aula, mesmo em forma de
jogos ou brincadeiras.
O objetivo será despertar a atenção dos alunos para a relação lógica de identidade
ou identificação como recurso lingüístico.
Unidade 20
Atividade 8
Vamos ler a tirinha abaixo para analisar como uma relação lógica ganha novos
sentidos na interação.
1. Que expressões lingüísticas estabelecem uma relação de comparação que nos permite
considerar como identidade nesse diálogo?
195
2. Que sentidos podem ser depreendidos como diferentes na fala do primeiro balão em
relação à do segundo?
3. Por que os leitores não entendem a fala da mulher como incoerente (como Crock quer
fazer entender)?
Para interpretar a tirinha acima com coerência, é preciso fazer comparações (gastar
mais/menos do que ganha) e decidir por que uma idéia aparentemente diferente pode ser
considerada igual. Ou seja: é necessário raciocinar de acordo com as relações de
comparação e identidade dentro de um determinado contexto.
A lógica do (no) texto
Seção 1
Como os fatos ou idéias que alimentam a composição desse mundo textual costumam
guardar entre si uma ordenação no tempo, a relação lógica de temporalidade constitui
um “fio de raciocínio” importante para a textualidade.
De forma semelhante, a relação lógica de identidade, que se define na
comparação entre objetos semelhantes, dá condições para que, ao fazer referência
aos objetos do mundo fora do texto, as expressões lingüísticas se organizem
textualmente. Isso porque podemos designar objetos e idéias de maneiras diferentes
– como mostra a atividade 8 – e, mesmo assim, manter a continuidade de sentidos e,
conseqüentemente, a coerência do texto.
Avançando
na prática
Unidade 20
1. O calendário do Pantanal é um desafio para os turistas. Nos meses de
chuva, de novembro a fevereiro, os pássaros tomam conta do lugar.
2. Mas é raro encontrar mamíferos, como onças, tamanduás e macacos-prego.
Todos fogem dos campos encharcados em busca de terras mais altas e secas.
3. Quando a chuva pára, o cenário se inverte. Quem parte são os pássaros
em busca de água e peixes nos rios.
Resumindo
Para produzir sentidos, para ser coerente, um texto deve fornecer informações
adequadas para que o leitor/ouvinte seja capaz de construir uma representação do
mundo textual. As relações lógicas dão “pistas” sobre como essas informações devem
ser organizadas. Reconhecer isso é parte das competências de leitura, de interpretação
e de produção de um texto.
As relações lógicas de tempo têm a função de localizar os fatos ou eventos referidos
pelo texto em “tempos” relacionados ao momento da interação. Podem ser marcadas
pela flexão verbal, por expressões substantivas e pronominais (por exemplo, esta
semana, próximo ano), por advérbios (por exemplo, agora, amanhã) ou mesmo por
preposições (por exemplo, depois, antes).
A relação lógica de identidade estabelece a comparação entre elementos lingüísticos
que designam o mesmo objeto de discurso. Ou seja: há diversos nomes pelos quais
podemos identificar um objeto quando lemos ou escrevemos um texto. Em uma
língua natural, essa identidade nunca é absoluta e total porque o contexto de uso é
relevante para criar certos efeitos de sentido ou estabelecer certa orientação na
argumentação. O emprego de uma expressão pode apenas indicar um objeto ou
pode, também, sugerir uma crítica ou um elogio juntamente com essa indicação.
As “pistas” que levam ao reconhecimento dessas relações lógicas tanto podem
estar mais intimamente ligadas aos elementos lingüísticos que tecem a textualidade,
198 como podem estar mais ligadas à situação sócio-comunicativa, “fora” do texto,
articulando-o com o conhecimento de mundo dos interlocutores.
Embora as relações lógicas sejam, antes de tudo, operações de raciocínio
lógico expressas lingüisticamente, a organização lógica de um texto depende
também da situação de interação, ou do contexto. Por isso, a escolha de como
será feita essa organização corresponde sempre a uma intenção comunicativa que
está incorporada ao texto.
Unidade 20
Seção 2
A negação
Objetivo
da seção
Importante
Atividade 9
200
1. A fala do último balão nega alguma coisa dita anteriormente por Woodstock. O que
você acha que ele pode ter dito?
Unidade 20
3. Que possibilidade de ação é excluída no último quadrinho?
Podemos notar que, às vezes, não é muito simples perceber o que está, de fato,
sendo negado. Quando se trata de uma ação complexa, que envolve mais de um
procedimento, fica difícil identificar que parte dela está sendo rejeitada como possibilidade.
Nesse caso, a interpretação do que está sendo negado pode ser ambígua.
Lembrete
Atividade 10
Glossário
Entende-se por escopo da negação a parte de conteúdos de uma informação
que é negada. Assim, a negação pode recair sobre uma palavra, uma parte do
enunciado, ou sobre o nexo (expresso por certas conjunções) entre orações ou
enunciados.
Unidade 20
Atividade 11
Primeiro elas não são insetos; são aracnídeos. Confundi-las é desconhecer sua
verdadeira natureza: é como chamar tartaruga de mamífero. Quem sabe um pouco
de ciências sabe que isso é falso. Muitas vezes fugimos delas não porque todas sejam
venenosas, mas porque não sabemos reconhecer quais são as peçonhentas dentre
elas. Aranhas enganam na aparência, despertam medo. Bobagem. Nem todas são
perigosas. As horríveis caranguejeiras, por exemplo, não fazem nada, no máximo
irritam um pouco a pele.
(a)__________________________________________________________.
(b)___________________________________________________________.
(c)____________________________________________________________. 203
(d)____________________________________________________________.
(e)____________________________________________________________.
(f)____________________________________________________________.
(g)___________________________________________________________
3. Analise cada conteúdo afetado pela negação (escopo) e identifique quais são expressos
por uma só palavra ou idéia, quais são expressos por uma oração (pensamento), quais
são um nexo lógico (articulação entre orações).
A negação
Seção 2
Indo à sala
de aula
Atividade 12
204
Insira uma marca de negação em cada um dos lugares identificados por letras no seguinte
período sintático, variando, se possível, as expressões usadas para negar. Negue uma
informação de cada vez, reescrevendo o trecho oito vezes.
(a) Tente (b) desqualificar os órgãos (c) responsáveis pela (d) preservação do nosso
patrimônio histórico, porque (e) sabemos que (f) há recursos suficientes para (g) restaurar
(h) todas as construções históricas do país.
(1)
(2)
(3)
Unidade 20
(4)
(5)
(6)
(7)
(8)
Atividade 13
Analise as conseqüências nos variados trechos afetados pela negação: (a) Que conteúdo
lingüístico está sendo negado? (b) Que informações temos como conseqüência (que
efeitos de sentido são obtidos)?
1
(a)
(b)
2
(a)
(b)
A negação
Seção 2
3
(a)
(b)
4
(a)
(b)
5
(a)
(b)
6
(a)
(b)
7
(a)
206
(b)
8
(a)
(b)
Cada uma das porções de texto afetada pela negação constitui um escopo diferente
para essa relação lógica. E vimos que a orientação para a interpretação do texto varia de
acordo com a variação desse escopo.
A continuidade de sentidos, no entanto, nem sempre permite a exclusão de uma
informação. Isso porque as relações lógicas de negação também se inter-relacionam com
a coerência e a coesão textuais. O equilíbrio entre o que é afirmado e o que é negado é
parte constitutiva de um texto bem formado.
Unidade 20
Importante
Lembrete
De acordo com as gramáticas, há dois tipos de morfemas, que são as unidades 207
mínimas de significado: os morfemas livres e os morfemas presos. As palavras
correspondem aos morfemas livres porque são unidades de significado independen-
tes; os afixos, entre eles os prefixos, constituem os morfemas presos porque são
unidades mínimas de significado dependentes de outras unidades, ou seja, entram na
formação de significados sem que tenham existência autônoma. Por exemplo, a pala-
vra casas é constituída por dois morfemas: o morfema autônomo, livre, casa e o
sufixo –s, morfema preso que indica a noção de plural.
Atividade 14
2. O senhor fez com que entrasse, um tanto ressabiado. Era exatamente o que esperava,
mas um tanto melhor.
3. Ela foi logo botando ordem na casa; varreu a sala, arrumou o quarto, limpou a
cozinha, preparou o jantar.
4. Ao fim de alguns dias, ele se acostumou à sua silenciosa iniciativa e se deu por
satisfeito: vou aumentar-lhe o salário, pensou.
208
As atividades anteriores deixam claro como a colocação de uma expressão
negativa contribui para orientar o leitor/ouvinte sobre que parte da informação deve
ser excluída, ou negada. Mostra também como dispomos de uma grande variedade
de recursos lingüísticos para fazer isso.
Às vezes, porém, usamos negativas que não têm o objetivo de excluir
informações: usamos uma negação também para expressar afirmações. Fazemos isso
por diversas razões, como para amenizar a força da afirmação, quando, por exemplo,
para afirmar sua esperteza ou inteligência, dizemos: Ele não é nada bobo!
Isso é muito comum de acontecer quando se empregam duas negativas juntas, a
dupla negativa. Mas acontece também quando o objetivo é amenizar uma reação
que pode vir como decorrência da negação.
Vamos analisar como a negativa pode ser empregada com objetivos de afirmação.
Unidade 20
Atividade 15
4. As vantagens que o projeto de saneamento traz para a região não são nada irrelevantes.
a)
b)
Importante
Indo à sala
de aula
Considerando que usar duas expressões negativas numa mesma frase pode ser um
recurso lingüístico, devemos ter cuidado para sistematizar esses usos nas atividades de
210 sala de aula. Precisamos reconhecer que pode não constituir erro, mas um recurso
argumentativo e conduzir os alunos a sistematizar também esse conhecimento.
Quando dizemos, por exemplo, isso não é impossível, estamos orientando a reação
do leitor para uma interpretação diferente daquela em que dizemos: isso é possível.
Além disso, algumas expressões só são usadas na língua em frases negativas.
Nesse caso, sua significação não é uma negativa absoluta, mas uma forma de construir
significação que acaba sendo compreendida como afirmativa. Vejamos alguns exemplos
na atividade 16.
Atividade 16
Unidade 20
2. Não tenho um tostão furado.
(c) Compare as afirmações obtidas em (b) com as frases negativas e justifique por que o
contexto de uso das negativas rejeita o emprego das afirmativas correspondentes.
211
(d) Faça uma relação de alguns outros exemplos que você conhece de frases negativas,
como essas dos exemplos, que têm objetivos afirmativos.
Avançando
na prática
Dona Custódia
Ar de empregada ela não tinha: era uma velha mirrada, muito bem arranjadinha,
mangas compridas, cabelos em bando num vago ar de camafeu – e usava mesmo um,
fechando-lhe o vestido ao pescoço. Mas via-se que era humilde – atendera ao anúncio
publicado no jornal porque satisfazia às especificações, conforme ela própria fez questão
212 de dizer: sabia cozinhar, arrumar a casa e servir com eficiência a senhor só.
O senhor só fê-la entrar, meio ressabiado. Não era propriamente o que esperava,
mas tanto melhor: a velhinha podia muito bem dar conta do recado, por que não? E
além do mais impunha dentro de casa certo ar de discrição e respeito, propício ao seu
trabalho de escritor. Chamava-se Custódia.
Dona Custódia foi logo botando ordem na casa: varreu a sala, arrumou o quarto,
limpou a cozinha, preparou o jantar. Deslizava como uma sombra para lá e para cá – em
pouco sobejavam provas de sua eficiência doméstica. Ao fim de alguns dias ele se
acostumou à sua silenciosa iniciativa (fazia de vez em quando uns quitutes) e se deu por
satisfeito: chegou mesmo a pensar em aumentar-lhe o ordenado, sob a feliz impressão de
que se tratava de uma empregada de categoria.
De tanta categoria que no dia do aniversário do pai, em que almoçaria fora, ele
aproveitou-se para dispensar também o jantar, só para lhe proporcionar o dia inteiro de
folga. Dona Custódia ficou muito satisfeitinha, disse que assim sendo iria também passar
o dia com uns parentes no Rio Comprido.
Mas às quatro horas da tarde ele precisou dar um pulo no apartamento para apanhar
qualquer coisa que não vem à história. A história se restringe à impressão estranha que
teve, então, ao abrir a porta e entrar na sala: julgou mesmo ter errado de andar e
invadido casa alheia. Porque aconteceu que deu com os móveis da sala dispostos de
maneira diferente, tudo muito bem arranjadinho e limpo, mas cheio de enfeites mimosos:
paninho de renda no consolo, toalha bordada na mesa, dois bibelôs sobre a cristaleira –
Unidade 20
e em lugar da gravura impressionista na parede, que se via? Um velho de bigodes o
espiava para além do tempo, dentro de uma moldura oval. Nem pôde examinar direito
tudo isso, porque, espalhadas pela sala, muito formalizadas e de chapéu, oito ou dez
senhoras tomavam chá! Só então reconheceu entre elas dona Custódia, que antes proseava
muito à vontade mas ao vê-lo se calou estatelada. Estupefato, ele ficou parado sem saber
o que fazer e já ia dando o fora quando sua empregada se recompôs do susto e acorreu,
pressurosa:
- Entre, não faça cerimônia! – puxou-o pelo braço, voltando-se para as demais
velhinhas: - Este é o moço que eu falava, a quem alugo um quarto.
- Foi apresentado a uma por uma: viúva do desembargador Fulano de Tal; senhora
Assim-Assim; senhora Assim-Assado; viúva de Beltrano, aquele escritor da Academia!
Depois de estender a mão a todas elas, sentou-se na ponta de uma cadeira, sem saber o
que dizer. Dona Custódia veio em sua salvação.
- Aceita um chazinho?
- Não, muito obrigado. Eu...
- Deixa de cerimônia. Olha aqui, experimenta uma brevidade, que o senhor gosta
tanto. Eu mesma fiz.
Que ela mesma fizera ele sabia – não haveria também de pretender que ele é que
cozinhava. Que diabo ela fizera de seu quadro? E os livros, seus cachimbos, o nu de
Modigliani junto à porta substituído por uma aquarelinha....
- A senhora vai dar licença, dona Custódia. 213
Foi ao quarto – tudo sobre a cama, nas cadeiras, na cômoda. Apanhou o tal objeto
que buscava e voltou à sala:
- Muito prazer, muito prazer – despediu-se, balançando a cabeça e caminhando de
costas como um chinês. Ganhou a porta e saiu.
Quando regressou, tarde da noite, encontrou como por encanto o apartamento
restituído à arrumação original, que o fazia seu. O velho bigodudo desaparecera, o
paninho de renda, tudo – e os objetos familiares haviam retornado ao lugar.
- A senhora...
Dona Custódia o aguardava, ereta como uma estátua, plantada no meio da sala.
Ao vê-lo, abriu os braços dramaticamente, falou apenas:
- Eu sou a pobreza envergonhada!
Não precisou dizer mais nada: ao olhá-la, ele reconheceu logo que era ela: a
própria Pobreza Envergonhada. E a tal certeza nem seria preciso acrescentar-se as
explicações, a aflição, as lágrimas com que a pobre se desculpava, envergonhadíssima:
perdera o marido, passava necessidade, não tinha outro remédio – escondida das amigas
se fizera empregada doméstica! E aquela tinha sido sua oportunidade de reaparecer para
elas, justificar seu sumiço... Ele balançava a cabeça, concordando: não se afligisse,
estava tudo bem. Concordava mesmo que de vez em quando, ele não estando em casa,
evidentemente, voltasse a recebê-las como na véspera, para um chazinho.
A negação
Seção 2
O que passou a acontecer dali por diante, sem mais incidentes. E às vezes se acaso
regressava mais cedo detinha-se na sala para bater um papo com as velhinhas, a quem já
se ia afeiçoando.
Não tão velhinhas que um dia não surgisse uma viúva bem mais conservada, a
quem acabou também se afeiçoando, mas de maneira especial. Até que dona Custódia
soube, descobriu tudo, ficou escandalizada! Não admitia que uma amiga fizesse aquilo
com seu hóspede. E despediu-se, foi-se embora para nunca mais.
Sabino, Fernando. O homem nu. Rio de Janeiro: Record, 1995.
3. Atividades
· Separe a classe em grupos de não mais de 5 alunos. Não distribua ainda o texto
original, que só você conhece, por enquanto.
· Prepare, a partir do texto, descrições físicas e psicológicas de Da. Custódia, empregando
apenas frases negativas. A extensão e complexidade das descrições devem ser adequadas ao
nível de escolaridade de seus alunos. Você poderá escrever esta etapa para facilitar a
continuidade da tarefa. É importante que a descrição seja sempre orientada por negações,
como, por exemplo, não era gorda; não falava muito, não andava encurvada etc.
· “Apresente” oralmente Da. Custódia a seus alunos, lendo ou mesmo teatralizando
a descrição.
· Cada grupo deve escrever como entendeu que seria Da. Custódia, física e
psicologicamente.
214 · Cada grupo escolhe um relator que lerá para a classe sua descrição.
· Só agora distribua o texto a seus alunos, para leitura e comparação com o que
escreveram.
Resumindo
Unidade 20
Há várias maneiras de negar uma idéia. As expressões lingüísticas mais utilizadas
para negar uma informação podem ter a extensão mínima de um prefixo, de uma
palavra ou até constituir uma oração e um enunciado inteiro. Alguns exemplos são:
não, nenhum, nada, ninguém, nem; nego que..., refuto que...; deixe de..., pare
de...; não é verdade que..., é falso que.... Além desses, temos ainda os prefixos que
negam: infeliz, desfazer, sem-terra, não-pertinente, etc.
Negativas também podem ser usadas para expressar afirmações quando queremos,
por exemplo, amenizar a força da afirmação ou orientar a compreensão do texto
para determinadas reações no leitor/ouvinte. Por isso, a dupla negativa em língua
portuguesa nem sempre corresponde a uma afirmação.
Algumas frases-feitas são sempre usadas na forma negativa, e sua correspondente
afirmativa provoca efeitos de sentido diferentes, como na expressão não vale um
tostão furado.
Seção 3
Significados implícitos
215
Objetivo
da seção
Vamos tornar explícitas algumas das operações mentais que fazemos, muitas vezes
inconscientemente, na leitura e produção de textos, explorando algumas relações lógicas
de implicação.
Significados implícitos
Seção 3
Atividade 17
(a) Explicite que outras informações podem ser depreendidas a partir de cada um dos
seguintes exemplos, além das explicitadas:
1. O Edmundo brigou novamente.
216 5. Saramago já tinha deixado Portugal quando soube que tinha sido premiado.
Ao realizar esta atividade, é possível perceber que podemos ir além dos significados
explicitados no texto, mas que não se pode depreender qualquer coisa a partir de uma
frase ou expressão, porque na leitura e interpretação de um texto buscamos sempre a
coerência do mundo textual. Depreendemos, portanto, idéias que façam sentido no
conjunto da textualidade.
Ao responder à segunda parte da atividade, foi possível notar, também, que não
apenas palavras podem desencadear uma informação implícita: expressões mais longas e
complexas construções sintáticas também.
Unidade 20
Importante
Lembrete
Indo à sala
de aula
Atividade 18
Estas são piadas que circularam na Internet, atribuídas ao livro Desordem no tribunal.
Vamos analisar que relações lógicas estão sendo desrespeitadas para provocar humor.
(b) Sugira algumas alterações no texto para que a conversa fique lógica (e sem humor...)
(b) Sugira uma alteração no texto, uma situação, um contexto em que essa conversa
possa se tornar lógica.
Unidade 20
4. Pergunta: Sobre esta foto sua... O senhor estava presente quando ela foi tirada?
(a) Por que essa pergunta fere a lógica?
Lembrete
219
Numa leitura ou numa conversa, a continuidade de sentidos é proposta pelo
elaborador ou autor do texto, mas é na interlocução que se processa a interpretação
dos sentidos de um texto. É, portanto, um trabalho conjunto. Por isso, dizemos que
“para bom entendedor, meia palavra basta”: o conhecimento partilhado pode suprir
muitas informações que nem precisam ficar explícitas.
Indo à sala
de aula
Relações lógicas são muitas vezes expressas por estruturas sintáticas que articulam
as partes e o todo no nível da sentença. Mas no nível do texto, mais abrangente, essas
relações também são muito freqüentes. As relações focalizadas nas próximas atividades,
19 e 20, podem servir de “mote”, de “pretexto”, para seus alunos observarem algumas
das informações que, em um texto, fazem a articulação entre as partes e o todo.
Interpretar tais relações na textualidade significa também saber “ler” informações
implícitas.
Significados implícitos
Seção 3
Atividade 19
Ex: Todas as formigas são insetos, mas nem todos os insetos são formigas.
1. flores/rosas
2. veículos/automóveis
3. cariocas/brasileiros
4. tenistas/esportistas
(b) Dê alguns exemplos semelhantes a estes que tenham a ver com sua experiência.
220
Importante
Unidade 20
Essa relação lógica de abrangência de significação nos permite também construir
outro tipo de relação lógica: a de condição. Esta relação se explicita lingüisticamente, em
especial, pela expressão se... então.
Atividade 20
(a) Construa períodos sintáticos que expressem a relação lógica de condição para os
pares dos exemplos da atividade anterior.
1. flores/rosas
2. veículos/automóveis
3. cariocas/brasileiros
4. tenistas/desportistas
221
Importante
Nem sempre todas as etapas do raciocínio que leva a uma conclusão são explícitas.
Mas, por ora, como exercício, vamos considerar explicitamente o raciocínio completo
na próxima atividade.
Atividade 21
Unidade 20
Essas conclusões exemplificam como usamos o raciocínio sobre a articulação entre
informações para construir o mundo textual. Quando esse caminho para recuperar informações
explícitas fica “bloqueado” – por não fornecer pistas suficientes, por exemplo – , o texto se
torna incoerente porque não permite a recuperação das relações lógicas.
Indo à sala
de aula
Importante
As relações lógicas que expressam a condição para uma idéia ser verdadeira ou
que estabelecem as causas e conseqüências entre idéias também ocorrem na construção 223
da textualidade, como idéias mais complexas (juntando mais informações) que dão
origem a conclusões mais complexas.
Do ponto de vista textual, podemos dizer que a organização do conjunto de idéias
em um texto deve ser esquematizada como uma grande relação lógica, procurando
encadear raciocínios coerentes que permitam depreender conclusões pertinentes.
Lembrete
Atividade 22
Dê uma redação coesa aos seguintes grupos de informações, de modo a explicitar relações
lógicas entre elas. Utilize elementos lingüísticos que ligam as informações em (a) e (b).
1. (a) Ir ao Pantanal e não experimentar certas comidas é o mesmo que não ter ido.
(b) Comece experimentando o caldo de piranha.
2. (a) O arroz carreteiro mistura arroz com carne e tem muita durabilidade.
(b) O prato é freqüentemente levado pelos peões em comitivas.
3. (a) A carne do famoso churrasco pantaneiro demora mais de quatro horas para assar.
(b) A madeira usada para preparar o churrasco pantaneiro precisa ser escolhida
224
entre as que queimam mais devagar.
(c) O resultado é uma carne macia e saborosa.
4. (a) Utilize os textos obtidos nas respostas a cada uma das questões anteriores e
organize-os num texto, com coerência – ou continuidade de sentidos.
(b) Faça os ajustes necessários e escreva uma frase introdutória e uma frase
conclusiva, se for pertinente.
Unidade 20
Como podemos observar nessa atividade, ao produzir um texto, articulamos as
várias idéias em relações lógicas. Por isso, algumas das informações não precisam ser
explicitadas: elas decorrem de outras idéias anteriormente expressas. E os significados
construídos implicitamente também compõem a textualidade, por isso devem ser
compatíveis com os significados do todo.
Indo à sala
de aula
Atividade 23
O texto abaixo foi transcrito da revista Planeta, de dezembro de 2003 (p. 9) e apresenta
várias relações lógicas explicitadas. Vamos analisar como isso se dá.
225
4. Dê uma outra redação a esse texto, sugerindo uma ordenação diferente nas informações,
mas preservando as relações lógicas entre elas por meio do emprego de conjunções,
advérbios ou mesmo tempos verbais.
226
Lembrete
Unidade 20
Atividade 24
Este é o texto de uma canção popular de Rita Lee e Roberto de Carvalho, autores
de MPB e rock. Faz parte do disco Balacobaco, da Som Livre.
Observe se o gênero textual não lhe parece conhecido.
Nave Terra
Rita Lee/Roberto de Carvalho
1. Associe esse texto à oração Ave Maria. A quem cada um se dirige? Para quê?
2. Que relações de sentido são mostradas, nos três primeiros versos, entre a Terra, o
Sol e os planetas?
Significados implícitos
Seção 3
4. Que relações de sentido permitem aceitar como coerente a afirmação de que a Terra é
mãe dos humanos?
Indo à sala
de aula
Se você tiver oportunidade, coloque para seus alunos ouvirem a canção, porque
a utilização de múltiplas formas de linguagem tende a facilitar a compreensão e o
desenvolvimento de habilidades de leitura dos textos e do mundo, e, quanto mais
próxima for da realidade dos alunos a atividade de sala de aula, mais significativa se
torna a aprendizagem.
228
Importante
Não podemos nos esquecer de que, por objetivos didáticos, estamos tratando
isoladamente de conceitos que, solidariamente, contribuem para a boa formação de
um texto; na leitura, na interpretação ou na elaboração de um texto, tanto o
reconhecimento do gênero adequado é importante quanto a continuidade de sentidos,
que produz a coerência textual, e construção de significados implícitos que emergem
de relações lógicas. E esses conceitos estão intimamente ligados à situação de
comunicação e às experiências prévias dos interlocutores.
Unidade 20
Na construção da textualidade, todos os fatores de constituição de sentidos articulam-
se solidariamente e, entre eles, reconhecemos as marcas lingüísticas que orientam a
organização lógica das idéias.
Focalizamos nesta unidade algumas das mais importantes relações lógicas que
tecem a construção de sentidos de um texto e os elementos lingüísticos que as marcam:
as relações de abrangência de significação (hiponímia e hiperonímia), as de condição
e de conclusão.
Avançando
na prática
230
Resumindo
Unidade 20
Relações de condição e de conclusão também marcam a construção de
significados implícitos.
A língua dispõe de variados recursos para marcar as relações lógicas que
constituem a textualidade e funcionam como “pistas” para a depreensão dos
implícitos. As orientações para uma correta interpretação das relações lógicas são
parte das relações de coesão e coerência de um texto.
Como o conhecimento partilhado pelos interlocutores e as finalidades
comunicativas são fatores decisivos para marcar essas orientações, os gêneros
textuais são relevantes na construção lógica do texto – e na conseqüente busca
de coerência.
A flexibilidade nas marcas lingüísticas dessas relações está intimamente
relacionada ao gênero. Em geral, textos que exploram mais a linguagem poética
exigem menor articulação entre as relações lógicas; textos que objetivam maior
grau de “cientificidade” fundamentam-se em fortes relações lógicas.
231
Significados implícitos
Seção 3
Leituras sugeridas
ILARI, R. Introdução à semântica. São Paulo: Contexto, 2001.
A vasta experiência do autor permite-lhe apresentar algumas das mais fundamentais
relações lógicas em língua natural por meio de uma bem-humorada coleção de exemplos
e exercícios. A obra apresenta muitas outras relações lógicas, além daquelas focalizadas
nesta unidade, e que podem interessar ao professor de Língua Portuguesa.
232 OLIVEIRA, R. P. de. “Semântica”. In: Mussalim, F. & Bentes, A . C. (org.) Introdução à
Lingüística. São Paulo: Cortez, 2001.
Trata-se de um capítulo que integra uma obra, em dois volumes, dedicada a introduzir
os iniciantes em estudos da linguagem nos vários níveis de estudos lingüísticos. Mesmo
em menor número que os exemplos e exercícios das obras de Rodolfo Ilari, as análises
apresentadas são claras e muito úteis para os trabalhos com as relações lógicas em
língua natural.
Unidade 20
Bibliografia
CHIERCHIA, G. Semântica. Campinas: Unicamp, 2003. (tradução: L.A . Pagani, L.
Negri e R. Ilari)
___________& McCONNEL-GINET, S. Meaning and grammar. An
introduction to semantics. Cambridge: MIT Press, 1990.
COROA, M. L. O tempo nos verbos do Português- uma introdução à sua
interpretação semântica. Brasília: Thesaurus, 1985.
DUCROT, O. Princípios de Semântica Lingüística (dizer e não dizer). São
Paulo: Cultrix, 1979.
_________ O dizer e o dito. Campinas: Pontes, 1987.
FIORIN, J. L. As astúcias da enunciação. São Paulo: Ática, 1996.
FREGE, G. Lógica e filosofia da linguagem. São Paulo: Cutrix, 1978.
GUIMARÃES, E. Os limites do sentido. Campinas: Pontes, 1995.
ILARI, R. Introdução à Semântica. São Paulo; Contexto, 2001.
______ Introdução ao estudo do léxico. São Paulo: Contexto, 2003.
_______& GERALDI, J. W. Semântica. Série Princípios. São Paulo: Ática, 1985. 233
KOCH, I. V. Desvendando os segredos do texto. São Paulo: Cortez, 2002.
LYONS, J. Semântica. Lisboa: Presença, 1977.
MOURA, H. M. M. Significação e contexto. Florianópolis: Insular, 1999.
OLIVEIRA, R. P. de. “Semântica”. In: Mussalim, F. & Bentes, A . C. (org.)
Introdução à Lingüística. São Paulo: Cortez, 2001.
______________ Semântica Formal. Campinas: Mercado de Letras, 2000.
SAEED, J. I. Semantics. Oxford: Blackwell, 1997.
VAN DIJK, T. Cognição, Discurso e Interação. São Paulo, Contexto, 1992.
VAN DIJK, T. & KINTSCH, W. Strategies of discourse comprehension. New
York: Academic Press, 1983.
VILELA, M. & KOCH, I. V. Gramática da Língua Portuguesa. Coimbra:
Almedina, 2001.
Correção das atividades
235
Relações lógicas no texto
Unidade 20
Correção das atividades
Atividade 1
1. Apenas o emaranhado 3.
2. Simulando o desamarre e seguindo o provável movimento do fio.
Atividade 2
a. A seqüência lógica seria: 4,3,2,1.
Porque seguiria a cronologia das ações: corte, quebra, queda. Porque a ação que gerou
a queda da árvore viria em primeiro lugar.
b. Sugestão: um texto explica e situa o outro no espaço e no tempo, contextualiza-o.
Porque as imagens provocam maior impacto e reforçam o texto verbal.
c. Sugestão: é uma forma de estimular o combate ao desmatamento. O próprio texto
explica em forma de aposto: é um mecanismo de remuneração para países que diminuam
o desmatamento.
Atividade 3
1. Sugestão: no início é a audição associada ao início do amanhecer. Depois é a visão o
sentido mais explorado. É associada às mudanças de cores no céu provocadas pelo
amanhecer. No final aparece o tato, associado ao vento na pele. 237
2. Por exemplo, o trecho entre “Lentamente” e “oposta”, no segundo parágrafo. Ou, no
quarto parágrafo, especialmente o último período. Ou ainda, o quinto parágrafo inteiro.
3. Sugestão: Pela mudança de cores relatada. Começaria no cinzento, prateado, vai para
o amarelo cada vez mais intenso, até a bola alaranjada.
4. No início do terceiro parágrafo, a cor associada à cidade grande é cinzento e há
apenas “fendas” no céu.
Atividade 4
a. O fato ocorreu antes do início da narrativa, ou mesmo do relato da história.
b. As seqüências narrativas empregam pretérito perfeito; nas de diálogo, predomina o
presente. Os tempos ressaltam que o que é narrado já aconteceu; aquilo que é conversado
está acontecendo.
c. O importante é que o homem seja encontrado por último, para terminar a procura. A
ordem entre os outros encontros pode ser alterada.
d. Sugestão: a “valentia” do homem não é verdadeira, pois precisa de uma arma; o
animal teme o homem por uma valentia falsa.
e. Resposta livre. O importante é que conjunções, preposições e advérbios reinstalem a
ordem dos acontecimentos.
Correção
Atividade 5
1. As laçadas são comparadas.
2. Comparam-se as fotos das árvores.
3. As diversas cores que mudam o céu ao amanhecer.
4. Compara-se o touro e o homem; também o menino, a velha e o velho são comparados
ao bicho-homem.
Atividade 6
1.(a) Deslocamentos populacionais que ocorrem dentro de um determinado país são
migrações internas.
(b) O aumento da população urbana em relação à população rural conceitua-se como
urbanização.
(c) As cidades principais são as metrópoles...
2. A definição se mantém porque a relação de identidade (ou igualdade) fica preservada.
3. Sugestões: (a) O êxodo rural é uma das formas de deslocamento populacional; em
geral, é a migração interna que tem caráter definitivo.
(b) Considera-se que, na maioria dos países, o aumento da população urbana em relação
ao da população rural provoca alterações não apenas na população, mas também no
238 meio ambiente porque a urbanização é um processo ligado à substituição de atividades
produtivas.
(c) A partir da década de 1950, o crescimento e a multiplicação de metrópoles foi
espetacular, no mundo todo. Antes disso, por exemplo, só existiam sete cidades principais.
Muitas dessas cidades principais se expandiram tanto que acabaram se encontrando com
outras cidades.
Atividade 7
1. (a) careca
(b) careca
(c) careca/ calvo
(b) careca
(c) careca/calvo
2. Porque nelas os sinônimos não valem. Não é possível utilizar a relação de identidade
em qualquer contexto, de qualquer maneira.
3. Resposta livre.
Unidade 20
Atividade 8
1. “gastando mais do que você ganha”, no primeiro quadrinho, e “ganhando menos do
que estamos gastando”, no segundo.
2. No primeiro fica reforçada a idéia de gastar mais (ou muito); no segundo, a de ganhar
menos (ou pouco).
3. Porque percebem o humor, além de perceber que as relações lógicas de comparação
estão corretamente empregadas.
Atividade 9
1. Algo como: Você pode convencê-la a trazer as migalhas aqui?
2. Ela jogar migalhas para os passarinhos.
3. Ela trazer migalhas até aqui.
Atividade 10
1. (1o) Você me dizer algo e (2o) O professor gostar de laranjas.
2. Mais provavelmente é o segundo.
3. Sugestão: Perguntar diretamente: O professor gosta de laranjas?
4. Sugestão: Não posso dizer ou ele não gosta de laranjas. Ou seja, explicitar o fato negado.
239
Atividade 11
1. Primeiro elas não são insetos (a) ; são aracnídeos. Confundi-las é desconhecer sua
verdadeira natureza (b): é como chamar tartaruga de mamífero. Quem sabe um pouco
de ciências sabe que isso é falso (c). Muitas vezes fugimos delas não porque (d) todas
sejam venenosas, mas porque não sabemos reconhecer quais são as peçonhentas dentre
elas (e). Aranhas enganam na aparência, despertam medo. Bobagem. Nem todas (f) são
perigosas. As horríveis caranguejeiras, por exemplo, não fazem nada (g), no máximo
irritam um pouco a pele.
2. (a) ser insetos.
(b) conhecer sua verdadeira natureza.
(c ) isso (que as aranhas são insetos).
(d) porque (o nexo entre ser venenosas e não o ser).
(e) saber reconhecer quais são as peçonhentas dentre elas.
(f) Serem todas perigosas.
(g) Fazer nada.
3. palavras: (c) e (f); orações: (a), (b), (e), (g); nexo (d)
Correção
Atividade 12
Sugestões:
(1.) Não tente desqualificar os órgãos responsáveis pela preservação do nosso patrimônio
histórico, porque sabemos que há recursos suficientes para restaurar todas as construções
históricas do país.
(2) Tente não desqualificar os órgãos responsáveis pela preservação do nosso patrimônio
histórico, porque sabemos que há recursos suficientes para restaurar todas as construções
históricas do país.
(3 ) Tente desqualificar os órgãos não responsáveis pela preservação do nosso patrimônio
histórico, porque sabemos que há recursos suficientes para restaurar todas as construções
históricas do país.
(4) Tente desqualificar os órgãos responsáveis pela não preservação do nosso patrimônio
histórico, porque sabemos que há recursos suficientes para restaurar todas as construções
históricas do país.
(5) Tente desqualificar os órgãos responsáveis pela preservação do nosso patrimônio
histórico, porque não sabemos (que) se há recursos suficientes para restaurar todas as
construções históricas do país.
(6) Tente desqualificar os órgãos responsáveis pela preservação do nosso patrimônio
240 histórico, porque sabemos que não há recursos suficientes para restaurar todas as
construções históricas do país.
(7) Tente desqualificar os órgãos responsáveis pela preservação do nosso patrimônio
histórico, porque sabemos que há recursos suficientes para não restaurar todas as
construções históricas do país.
(8) Tente desqualificar os órgãos responsáveis pela preservação do nosso patrimônio
histórico, porque sabemos que há recursos suficientes para restaurar nem todas as
construções históricas do país.
Unidade 20
Atividade 13
1.(a) tente
(b) A tentativa de desqualificação é negada.
2. (a) desqualificar
(b) A sugestão é de qualificar os órgãos responsáveis.
3. (a) responsáveis
(b) É a caracterização dos órgãos, focalizados como não responsáveis.
4. (a) preservação do nosso patrimônio histórico
(b) É a preservação do patrimônio histórico que fica fora da alçada desses órgãos.
5. (a) sabemos
(b) É o nosso conhecimento que é posto em causa, ou negado.
6. (a) há
(b) Não haver recursos suficientes é a razão para o resto da afirmação.
7. (a) restaurar
(b) É a restauração de todas as construções históricas que é negada. 241
8. (a) todas
(b) É a quantidade, a totalidade das construções que não é contemplada pela restauração.
Atividade 14
Sugestões
1. Muito desarranjadinha.
2. Não era exatamente o que esperava.
3. Não varreu a sala, nem arrumou o quarto.
4. Vou negar aumentar-lhe o salário, pensou.
Correção
Atividade 15
1. (a) Admitir um erro é fácil para alguém.
(b) Sugestão: A afirmativa não corresponde à negativa. A negativa que incide sobre fácil
é mais abrangente que a afirmativa particularizada.
2.(a) Deixe-se influenciar por alguém.
(b) Sugestão: Na afirmativa, existe alguém por quem você deve ser influenciado; na
negativa, nega-se totalmente essa possibilidade.
3. (a) Há alguém que se impressione com as belezas do litoral brasileiro.
(b) Sugestão: A afirmativa acaba por negar que todos se impressionam.
4. (a) As vantagens... são relevantes.
(b) O efeito de reforçar a idéia de relevância diminui com a afirmativa.
Atividade 16
(a)
1. Algo como: ele não presta, não é confiável.
2. Algo como: estou completamente sem dinheiro.
3. Algo como: ficou completamente calado.
242
4. Algo como: nem cheguei perto, não lhe toquei.
(b)
1. Ele é flor que se cheire.
2. Tenho um tostão furado.
3. Disse um pio.
4. Toquei num fio de cabelo dele.
(c)
Não constituem verdadeiras negativas porque negam mais do que o fato afirmado; são
consideradas frases feitas que informam como estão, sem o jogo direto com as afirmativas;
existem contextos específicos para elas. O efeito dessas negativas é de negações mais
absolutas do que as previstas pela negação apenas do escopo.
(d)
Resposta livre.
Unidade 20
Atividade 17
(a) 1. Ele já tinha brigado, ao menos uma vez, antes.
2.Ele já tinha estudado antes. Tinha parado de estudar.
3. Tanto Margarida quanto Antônia foram à festa.
4. O copo foi quebrado. Alguém quebrou o copo.
5. Saramago esteve em Portugal. Ele não estava mais em Portugal quando soube de algo.
Saramago foi premiado.
(b) 1. novamente; 2. voltou; 3. depois; 4. Não foi ... que; 5. já tinha deixado.... tinha
sido premiado.
Atividade 18
1.(a) Porque cada um de nós não nasce todos os anos.
(b) Qual é a data de seu aniversário?
2. (a) Porque não se espera que algo esquecido possa ser dado como exemplo. Esquecer
não permite lembrar para exemplo.
(b) Sugestão: É necessário lembrar em algum momento, nem que seja depois; ou que
alguém se lembre no lugar do “esquecido”.
3. (a) Porque pela significação de “morrer” elimina-se a possibilidade de “saber”.
243
4. Porque é de conhecimento comum que uma foto só se tira de alguém presente.
Atividade 19
(a)
1. Todas as rosas são flores, mas nem todas as flores são rosas.
2. Todos os automóveis são veículos, mas nem todos os veículos são automóveis.
3. Todos os cariocas são brasileiros, mas nem todos os brasileiros são cariocas.
4. Todos os tenistas são desportistas, mas nem todos os desportistas são tenistas.
(b) Resposta livre.
Atividade 20
(a)
1. Se são rosas, então são flores.
2. Se são automóveis, então são veículos.
3. Se são cariocas, então são brasileiros.
4. Se são tenistas, então são desportistas.
(b) Resposta livre.
Correção
Atividade 21
1. Marcelo não é cliente de prestígio da empresa.
2. Carlão não ganhou no futebol.
3. Carolina é loira e inteligente.
4. Eu não sou amigo íntimo de Osvaldo.
Atividade 22
Sugestões
1. Ir ao Pantanal e não experimentar certas comidas é o mesmo que não ter ido.
Então, comece experimentando o caldo de piranha.
2. O arroz carreteiro mistura arroz com carne e tem muita durabilidade. Por isso, o prato
é freqüentemente levado pelos peões em comitivas.
3. A carne do famoso churrasco pantaneiro demora mais de quatro horas para assar. Por
causa disso, a madeira usada para preparar o churrasco pantaneiro precisa ser escolhida
entre as que queimam mais devagar. Como conseqüência, o resultado é uma carne
macia e saborosa.
4. Resposta livre, desde que preserve as relações lógicas e seja compatível com o parágrafo
conclusivo.
244
Atividade 23
1. O trecho inicial: concluiu através de uma pesquisa o que já sabíamos intuitivamente:
em contato com a natureza, o ser humano é capaz de se curar mais depressa do estresse.
2. Linha inicial: Terry Hartig, na Universidade de Upsala, na Suécia.
3. Na pesquisa, 112 foram submetidos a tarefas estressantes; foram então divididos em
dois grupos: (1o) descansou junto à natureza e (2o), em ambiente urbano, sem janelas.
4. Resposta livre. Marcas lingüísticas devem estabelecer a ordem e as relações de causa e
conseqüência entre os fatos.
Atividade 24
1. Orações dirigem-se a santos, a seres superiores protetores dos humanos.
2. A Terra é um planeta e está com o Sol.
3. Vida tem relação de identidade com semente e, metaforicamente, os humanos são a
semente da Terra, seus filhos.
4. A relação de que também se usa a metáfora de semente para a vida gerada por uma mãe.
TEORIA E PRÁTICA 5
LIÇÃO DE CASA
Lição de casa 1
Lição de casa
Lição de casa
TEORIA E PRÁTICA 5
OFICINAS
Oficina 9
Unidade 18
Apresentamos aqui uma sugestão de Oficina para ser desenvolvida junto com seus cole-
gas e o Formador. O tema, como não poderia deixar de ser, é a tessitura do texto, nos
aspectos de construção de sua coerência.
Nosso objetivo é que, neste período de quatro horas, dedicado a esta Oficina, as ativida-
des propostas possam auxiliá-lo na sua prática pedagógica.
253
Parte II - Relato de experiência (50 minutos)
Como costumamos fazer, esta parte é dedicada a avaliar atividades propostas na seção
Avançando na prática. Escolha uma das seis propostas para desenvolver com seus alu-
nos e anote aspectos positivos e negativos observados, e tudo mais que você achar
pertinente.
Você entregará, por escrito, ao seu Formador essas observações e comentará com seus
colegas. Eles também vão trocar impressões com você a respeito das atividades que
desenvolveram.
Essa troca de informações é muito importante para que o trabalho pedagógico de todos
nós seja, de fato, bem-sucedido.
Oficina
Tendo em vista os objetivos desta Oficina e das unidades que lhe serviram de base, teça
seus comentários a respeito das atividades desenvolvidas. O aprimoramento do nosso
trabalho depende muito de sua avaliação.
256
Propomos aqui uma oficina a ser desenvolvida com seus colegas e o Formador.
Nosso objetivo será consolidar as reflexões provocadas pela leitura e o desenvolvimento
das atividades propostas nestas duas unidades de construção da textualidade, em que
focalizamos a coesão e as relações lógicas.
258
· Ao final, cada grupo fará a apresentação de seu texto para a classe e todos devem ser
convidados a dar suas opiniões sobre a construção das significações e seus efeitos no
poder de convencimento atingido.