Agrodok 01-Criação de Porcos Nas Regiões Tropicais
Agrodok 01-Criação de Porcos Nas Regiões Tropicais
Agrodok 01-Criação de Porcos Nas Regiões Tropicais
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escala e de subsistência nas regiões tropicais. As publicações da AGRODOK encontram-se
disponíveis em inglês (I), francês (F), português (P) e espanhol (E). Os livros da AGRODOK
podem ser encomendados na Agromisa ou CTA.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida qual-
quer que seja a forma, impressa, fotográfica ou em microfilme, ou por quaisquer outros
meios, sem autorização prévia e escrita do editor.
Agradecimentos
Gostaríamos de expressar os nossos agradecimentos a todos os autores
da anterior versão deste Agrodok e outras pessoas que colaboraram na
elaboração e revisão desta publicação, desde a primeira edição em
1982. Para a presente revisão agradecemos particularmente a Johan
van 't Klooster, Marisa Obdeyn da Silva e Arie Wingelaar, que ainda
estão envolvidos em actividades de aconselhamento prático no âmbito
da criação de porcos e da saúde destes animais.
A equipa da Agromisa
Prefácio 3
Índice
1 Introdução 6
2 Sistemas suinícolas 9
2.1 Criação de porcos ao ar livre 9
2.2 Suinicultura semi-intensiva 13
2.3 Suinicultura intensiva em pequena escala 17
3 Alojamento 22
3.1 Condições climáticas 23
3.2 Requisitos técnicos para um alojamento adequado 24
5 Nutrição 63
5.1 Introdução 63
5.2 Necessidades nutricionais 64
5.3 Alimentação consoante as necessidades 66
5.4 Preparação das rações para porcos 74
Glossário 113
Índice 5
1 Introdução
Em quase todo o mundo pratica-se uma ou outra forma de criação de
porcos (suinicultura). Nas zonas rurais de muitas partes do mundo
ainda é comum que as comunidades criem porcos que andam soltos e
chafurdam, e que são vendidos ou abatidos quando as necessidades
dos agregados familiares o requerem. Também há explorações suiní-
colas, nas povoações, cidades e nas suas imediações, que desempe-
nham um papel importante na alimentação das populações urbanas.
Neste Agrodok tratam-se três sistemas suinícolas típicos:
? Suinicultura semi-intensiva
Neste sistema de criação os porcos são mantidos em pocilgas e presta-
se mais atenção à sua saúde e alimentação. Os objectivos deste siste-
ma suinícola são, em parte, similares aos da criação de porcos ao ar
livre, com investimentos modestos. Para além disso, o nível de produ-
ção é mais elevada e os porcos são comercializados.
? Suinicultura intensiva
Este sistema de criação de porcos visa produzir carne para o mercado,
de uma forma eficiente e rentável, havendo na exploração, geralmente,
uma maior quantidade de porcos. Este sistema requer insumos signifi-
cativos em tempo e dinheiro, fazendo-se um cálculo meticuloso dos
custos e benefícios resultantes.
Introdução 7
lidade. No Capítulo 5 trata-se das necessidades nutritivas e dos aspec-
tos práticos da alimentação das diferentes categorias de suínos. No
Capítulo 6 descrevem-se as doenças principais que afectam os porcos,
e também os seus sintomas e tratamentos. Também se descrevem,
detalhadamente, as medidas preventivas, e apresentam-se observações
gerais sobre o uso de medicamentos. No Capítulo 7 discute-se o tema
importante de manter um registo de dados do maneio e da gestão
financeira básica.
Características principais
As características principais deste sistema são que os porcos se deslo-
cam livremente na vizinhança da casa e no terreno adjacente, buscan-
do e recolhendo eles mesmos a maior parte da sua alimentação. Esta é
suplementada com desperdícios da cozinha ou resíduos agrícolas.
Sistemas suinícolas 9
Quase não se investe dinheiro ou muito pouco na alimentação e cui-
dados médicos.
Metas de produção
Na maioria dos casos, os porcos não são mantidos para fornecerem
carne para o agregado familiar, ou como fonte de rendimento monetá-
rio regular. (Se houver algum rendimento monetário regular, este é
gerado através de outras actividades.) Os porcos mantidos ao ar livre
servem como poupança ou ‘apólice de seguro’, quer dizer que se ven-
dem apenas quando se precisa de dinheiro adicional, p.ex. para com-
prar sementes ou fertilizante, aquando de casos de doença ou festas da
família, para pagamento das propinas escolares, para compensar por
uma perda da colheita, etc. Desta forma, poder-se-á evitar ter que con-
trair empréstimos (com os problemas a tal inerentes, como sejam as
taxas de juros elevadas e o reembolso). Os porcos também podem
desempenhar um papel específico na vida social, sendo por exemplo
oferecidos como prendas ou como alimento durante festas de casa-
mento e outras festividades.
Sistemas suinícolas 11
Nas explorações em pequena escala, com menos de 3 porcas, os ani-
mais ainda podem sair durante o dia para procurarem alimentos. Mas
em muitas zonas rurais, esta prática provoca problemas, visto que os
porcos podem causar danos nas culturas e hortícolas.
Higiene e prevenção
Como as condições climáticas das regiões tropicais húmidas são ideais
para a reprodução de parasitas, estes constituem um problema grave,
tanto para os porcos criados ao ar livre como para os mantidos em
recintos fechados. Os parasitas mais comuns são os vermes. Um porco
infectado por vermes estará em mau estado de saúde e crescerá muito
lentamente. Se os porcos forem mantidos num curral, dever-se-ão
tomar medidas para controlar o nível da infestação dos vermes. No
Capítulo 6 apresenta-se uma explicação sobre este tópico.
Características principais
Nos sistemas suinícolas semi-intensivos, os porcos estão, geralmente,
encerrados num espaço limitado. Isto implica que a maior parte deles
(ou todos) não podem procurar alimentos e que, nesse aspecto, depen-
Sistemas suinícolas 13
dem completamente do suinicultor. É necessário que os porcos sejam
abastecidos, uma ou duas vezes por dia, com água fresca e alimentos
(geralmente desperdícios da cozinha ou resíduos agrícolas). Este sis-
tema suinícola dá possibilidades para uma melhoria da alimentação e
controlo de doenças, que pode dar origem, por sua vez, a um cresci-
mento mais rápido e melhor estado de saúde do gado e/ou maiores
ninhadas.
Metas de produção
A criação duma ‘poupança’ ou duma ‘apólice de seguro’ é sempre a
estratégia principal na qual se baseia esta forma de suinicultura. Con-
tudo, em zonas perto de centros urbanos ou das grandes estradas de
tráfego ou em qualquer outro lugar onde se possam vender porcos, os
pequenos produtores podem usar a sua exploração intensificada de
porcos para produzirem porcos para o mercado. Em outras palavras,
os porcos são criados para gerarem rendimentos, o que implica que a
exploração deve ser lucrativa.
Possibilidades de melhoramento
O melhoramento dos sistemas suinícolas semi-intensivos realiza-se
concentrando-se nas práticas de alimentação e dos cuidados de saúde,
e através da criação selectiva. Também é necessário prestar a devida
atenção ao alojamento, particularmente ao das porcas em lactação e
dos leitões novos. Assim que os resultados económicos e técnicos
começam a ser importantes deve-se manter um registo de dados.
Melhoramento da espécie
Os produtores podem melhorar a qualidade dos animais novos empre-
gando os animais de melhor qualidade para a reprodução (reprodução
selectiva). Se as porcas em lactação e os seus leitões forem mantidos
separados dos outros animais, será mais fácil seleccionar os leitões
mais robustos para a reprodução. Com base no registo de dados poder-
se-ão determinar quais são as porcas de melhor qualidade, de forma
que se possam seleccionar os seus leitões. Os leitões restantes podem
ser vendidos ou engordados para o abate. Uma maneira rápida para se
melhorar a qualidade dos animais reprodutores é a compra dum var-
rasco (levemente) melhorado. Se a aquisição dum varrasco for dispen-
diosa, possivelmente alguns produtores poderão comprá-lo em conjun-
to. Deve-se verificar se o varrasco comprado não é aparentado com as
porcas já existentes na exploração. Se o seu objectivo for a produção
de leitões desmamados para engorda, será recomendável aplicar o cru-
zamento, implicando o emprego dum varrasco de raça diferente das
porcas. Para além disso, as porcas híbridas são, geralmente, mais pro-
Sistemas suinícolas 15
dutivas do que as porcas de raça pura. Contudo, este nível de maneio
requer que se disponha dum nível mais elevado de conhecimentos,
experiência e tempo. Ver o Capítulo 4 para mais informação sobre o
melhoramento das espécies.
Saúde e higiene
Quando o gado suíno for melhorado e se receber rações de melhor
qualidade, prevemos uma melhoria dos resultados. Contudo, os porcos
melhorados são menos resistentes às doenças e parasitas, de modo se
deve prestar mais atenção a medidas sanitárias preventivas. Os visitan-
tes devem desinfectar o calçado antes de entrar no terrreno da explora-
ção. Ou ainda melhor, deve-se fornecer botas (e vestuário exterior) aos
visitantes e fazer com que lavem as mãos. É importante que se mante-
nha a exploração o mais limpo possível. Se o gado suíno for mantido
num chão lamacento, será recomendável trasladar, pelo menos uma
vez por ano, toda a unidade de exploração suinícola para um local
diferente, realizando desta forma um sistema de rotação. Isto implica
muito trabalho, de modo que os chãos de argamassa inclinados para o
fundo das currais se tornam populares, facilitando o controlo dos para-
sitas e higiene (para mais informação ver o Capítulo 6).
Características principais
A característica principal do sistema de suinicultura intensiva é que os
porcos são criados para gerarem um rendimento. Em geral, o gado
suíno é mantido num recinto fechado, embora se possa permitir às
porcas prenhes pastarem no campo. As pocilgas são construídas com
chãos de argamassa, telhados adequados e compartimentos separados
para as porcas em lactação, leitões desmamados, porcas prenhes, var-
rascos e porcos de engorda. Nas explorações suinícolas de maior
dimensão é mesmo recomendável manter os leitões desmamados e os
porcos de engorda em locais separados. Neste sistema o alojamento
implica muito mais do que o fornecimento dum simples abrigo. Alo-
jam-se maiores quantidades de porcos e deve haver um bom maneio
dos suínos, visto que se fizeram compromissos comerciais. Para tomar
decisões correctas, no momento propício, é necessário ter o know-how
Sistemas suinícolas 17
requerido (experiência e conhecimento adequados). Nos capítulos
seguintes deste manual apresenta-se informação sobre o sistema de
suinicultura intensiva em pequena escala.
Possibilidades de melhoramento
O melhoramento de sistemas de suinicultura intensiva em pequena
escala requer que se disponha de know-how especializado. Este pro-
gresso pode ser realizado, particularmente, prestando atenção ao esta-
do de saúde e de alojamento dos animais. A estabilidade da exploração
depende da adopção duma nova abordagem no que diz respeito à pro-
dução. O produtor deve começar a pensar mais e mais em função do
mercado e duma produtividade mais elevada e mais eficiente.
Comercialização
A realização dum sistema de suinicultura intensiva, economicamente
viável, requer uma abordagem completamente diferente da criação de
porcos ao ar livre. Os animais devem ser transportados para o mercado
quando atingirem o peso desejado. Para além disso, deve-se desenvol-
ver uma estratégia para a compra e venda, que requer a presença de
meios de transporte regular e pontos-de-venda seguros.
Sistemas suinícolas 19
podem ser vendidos a um bom preço. O produtor pode tornar-se
especialista em questões de reprodução.
? Exploração fechada
Isto implica que a criação de porcas e também a engorda dos leitões
se realizam na mesma exploração. Os produtores com suficiente
Conhecimentos técnicos
Um serviço de extensão agrícola local constitui uma fonte importante
de informação e aconselhamento técnico. Também os serviços veteri-
nários devem ser acessíveis quando for necessário. Nas explorações de
maior dimensão o proprietário ou o gerente deve ter recebido alguma
formação de maneio de gado suíno e, quando for possível, deve ser
capaz de encontrar um volume considerável de informação no Inter-
net. Mais uma vez: é importante manter, meticulosamente, um registo
detalhado de dados em função da gestão adequada duma exploração
de suinicultura intensiva (ver o Capítulo 7).
Controlo de doenças
Quando um número elevado de porcos é mantido no mesmo espaço,
existe um maior risco da propagação rápida de infecções entre os ani-
mais. No caso da peste suína africana, devem-se tomar medidas de
isolamento rigoroso. Mesmo se a sua própria exploração não estiver
infectada, as outras explorações onde houver gado suíno infectado
implicam um risco de contaminação. Portanto, quando se começar
uma exploração de suinicultura intensiva, é recomendável escolher um
local a uma distância razoavelmente grande de outras explorações sui-
nícolas. Basta apenas um visitante que não siga as regras para poder
contaminar o seu gado, o que poderia provocar a morte de todos os
animais do rebanho. Ver o Capítulo 6.
Sistemas suinícolas 21
3 Alojamento
O alojamento melhorado é um factor essencial na conversão para a
suinicultura comercial. Neste capítulo trata-se dos aspectos técnicos
do alojamento adequado do gado suíno.
São muitas as vantagens de manter os porcos num recinto:
? Os animais poupam energia, visto que não devem ir em busca de
alimentos e abrigo.
? O gado fica protegido contra a luz do sol e a chuva.
? Mais leitões sobreviverão se nascerem num ambiente seguro, quen-
te e saudável.
? O alojamento facilita manter uma boa higiene e contribui para a
saúde dos porcos.
? As rotinas da alimentação podem ser verificadas com mais meticu-
losidade, particularmente quando são ajustadas às diferentes catego-
rias de leitões.
? O desmame, o controlo de calor e o maneio de cobrição podem ser
realizados no momento oportuno e de maneira apropriada.
? O registo e maneio de dados são mais fáceis.
? O estrume pode ser recolhido facilmente e ser empregue para adu-
bar o campo.
Figura 4: Pocilga
Alojamento 23
jovens possam ser mantidos a uma temperatura suficientemente eleva-
da durante as noites e os períodos frescos.
Temperatura corporal
Uma temperatura normal dum suíno adulto é de 38 a 39 °C. Para os
leitões é de 39–39.5 °C. A temperatura dum porco doente sobe acima
de 40 °C. Os porcos de engorda pesados, mas também as porcas pre-
nhes e que estão a parir, têm dificuldades de ajustar a sua temperatura
corporal se a temperatura do ar for demasiadamente elevada. Nesse
caso, comem menos, provocando taxas de crescimento mais baixas
e/ou uma produção leiteira mais baixa. Os porcos tornam-se menos
férteis quando a temperatura sobe acima de 32 °C. Os suínos não são
capazes de suar e, por conseguinte, a temperatura deve ficar abaixo de
35 °C nas pocilgas nas regiões tropicais. Contudo, deve ser suficien-
temente quente para os porcos jovens, particularmente para os leitões
recém-nascidos.
Alojamento 25
Nas regiões tropicais, o alojamento mais adequado para as explora-
ções de tipo menos intensivo é constituído por compartimentos com
paredes e telhado, junto com um pátio (um terreno reduzido e fechado,
destinado aos animais). Na parte telhada pode-se fornecer material de
cama e no pátio deve-se colocar uma gamela.
Escolha do local
Para a construção dum edifício deve-se escolher, cuidadosamente, o
local. Nas regiões quentes, a melhor orientação da construção é de
leste-oeste. Um grupo de árvores pode fornecer sombra, e as árvores
absorvem e protegem bastante contra o calor. O alojamento deve
encontrar-se perto dum ponto de abastecimento de água, de forma que
a água esteja facilmente disponível para o gado e para a limpeza.
O telhado
O primeiro elemento essencial é o telhado, que pode ser construído de
vários materiais. A abordagem mais prática é utilizar um material local
de cobertura. Um telhado feito de folhas isola bem contra o calor e o
frio, mas a sua desvantagem é que apodrece rapidamente e que será
destruído por ventos fortes. Um telhado construído de folhas deve ser
renovado cada 2 –3 anos. Chapas de ferro ou alumínio onduladas,
cobertas de folhas, são mais duradouras mas também mais dispendio-
sas. Não se recomenda utilizar, somente, chapas de ferro onduladas,
devido às suas características deficientes de isolamento (ficam quentes
durante períodos de calor e frias durante períodos de temperaturas bai-
xas). Para além disso, as chapas onduladas provocam condensação de
forma que o chão fica húmido devido ao gotejo da água.
Os chãos e a cama
O chão do alojamento deve ser ligeiramente levantado acima de onde
está colocado, com uma leve inclinação de forma a evitar o seu ala-
gamento durante os períodos de chuvas. Uma inclinação de 3 cm por
metro também permite ao estrume líquido escorrer mais facilmente.
Deve-se construir uma sarjeta de descarga no lado inferior do pátio, de
forma a que a água de escoamento e o estrume possam ser recolhidos
numa fossa. O estrume de porco é um bom adubo, de modo que é
importante recolhê-lo. O chão pode ser feito de terra ou barro compac-
tado. Deve-se mantê-lo duro e liso, de forma que possa ser limpo
facilmente. Não se recomenda utilizar chãos de madeira: estes são
difíceis de limpar e os porcos mastigam-nos. A madeira apodrece e
pode tornar-se muito escorregadio.
Alojamento 27
calor corporal. Para os animais jovens o cimento será demasiadamente
frio, aumentando o risco de doenças como seja a pneumonia. Pode-se
reduzir o frio do cimento revestindo o chão do alojamento com mate-
rial de cama. Para os porcos jovens pode-se colocar um pedaço de
pano ou algumas tábuas de madeira no chão. Deve-se remover, dia-
riamente, o material de cama húmido, de forma a manter a pocilga
limpa e para evitar uma acumulação de parasitas. Uma cama mistura-
da com estrume e urina constitui um adubo excelente para o campo,
particularmente se for convertido, primeiro, em composto (ver a últi-
ma secção deste capítulo).
As paredes
A construção das paredes depende das condições climáticas. Nas
regiões tropicais deve-se construí-las tão abertas quanto possível para
conseguir uma ventilação adequada. Uma parede baixa de, aproxima-
damente, 1 metro de altura será suficiente, com uma abertura de 1
metro, no mínimo, entre a parede e o telhado. A parede do comparti-
mento dum varrasco deve medir, no mínimo, 1,2 metro de altura. Em
regiões com muito vento, o telhado (ou o tecto) não deve ser demasia-
damente alto, senão o alojamento arrefecerá demasiadamente rápido
caso o vento seja forte. Não se recomenda o uso de paredes comple-
tamente abertas, feitas p.ex. de rede de arame, visto que os suínos gos-
tam de abrigar-se do vento e da chuva. Nas regiões altas e frias,
devem-se construir as paredes de tal forma que seja possível fechar,
completamente, as aberturas abaixo do telhado. De dia, quando a tem-
peratura é mais elevada, pode-se abrir a secção superior das paredes e
fechá-la ao anoitecer para manter o calor adentro. Deve ser possível
fechar, completamente, o lado do alojamento exposto às chuvas. Em
locais onde as diferenças de temperatura não são extremas, a pocilga
pode ser aberta, mas pode-se realizar uma área reduzida com um
microclima mais quente cobrindo (parte de) alguns compartimentos.
Gamelas e bebedouros
A alimentação pode ser realizada dentro ou fora. Para locais onde as
estações de chuvas são prolongadas, recomenda-se alimentar o gado
suíno dentro dos compartimentos. Particularmente os porcos jovens
tendem a comer mais quando as rações se encontram dentro. Contudo,
a água pode ser fornecida fora. Deste modo, os porcos serão forçados
a sair da pocilga e defecarem fora. A gamela pode ser feita de cimento,
ferro, madeira dura ou plástico. Deve-se construir a gamela com sufi-
ciente comprimento para que todos os animais presentes na pocilga
possam comer ao mesmo tempo. As porcas necessitam de 40–50 cm
de espaço, enquanto os suínos de engorda com um peso de 90 kg pre-
cisam de, aproximadamente, 30 cm para se alimentarem. Para um
grupo de 10 leitões desmamados ou porcos de engorda, poder-se-á
empregar, em vez de uma gamela comprida, um alimentador automá-
tico. O bebedouro não deve ser muito largo, senão os porcos poderiam
tentar banhar-se nele. Se o bebedouro for grande, deve-se fixar uma
barra de ferro acima deste.
Alojamento 29
Figura 6: Alimentador automático
Alojamento 31
O alojamento do gado suíno deve dispor de três espaços diferentes:
um local de descanso com arejamento apropriado e temperatura
cómoda; um espaço limpo para a sua alimentação, onde há uma game-
la e um bebedouro; e um espaço sanitário para defecar. Num aloja-
mento assim desenhado os suínos são estimulados a manifestar o seu
comportamento higiénico natural, mantendo limpos os locais de des-
canso e de alimentação. Nas grandes explorações de suinicultura
intensiva, estes três espaços encontram-se, geralmente, no mesmo
recinto. Neste tipo de alojamento os chãos estão construídos, muitas
das vezes, com pequenos buracos (chão de ripas). O estrume cai atra-
vés destes buracos e é armazenado abaixo do chão.
Compartimento de parto
Uma solução ainda melhor para prevenir que os leitões sejam esmaga-
dos durante ou após o seu nascimento é o uso duma gaiola móvel de
parto. Esta é um tipo de gaiola, feita de barras de ferro ou de madeira,
que encerra a porca, limitando os seus movimentos. No lado traseiro
da gaiola encontra-se uma porta e, em alguns casos, também há uma
porta no lado dianteiro. As barras presentes no lado de cima previnem
que a porca saia da gaiola. A gaiola é instalada no compartimento e
mesmo ao seu lado há um ponto de calor para os leitões, de forma a
que possam ficar em contacto directo com a porca-mãe mas que tam-
bém possam mover-se livremente e, se quiserem, afastar-se dela. As
dimensões da gaiola de parto dependem do tamanho da porca-mãe.
Para as porcas de tamanho reduzido a gaiola deve medir, aproxima-
damente, 60x180 cm e 65x220 cm para as raças comerciais, de maior
tamanho.
Alojamento 33
Figura 8: Gaiola de parto com espaço coberto de “rastejo” para os
leitões
Este sistema mostrou ser muito eficiente. Os leitões quase sempre pre-
ferem o espaço de rastejo protegido ao deitarem-se junto à porca. A
porca deve ser mantida na gaiola de parto durante duas semanas, no
mínimo, depois do parto. Nas explorações de suinicultura intensiva as
porcas ficam na gaiola de parto até ao desmame dos leitões.
Antes de re-usar a gaiola para a porca seguinte, esta deverá ser limpa
meticulosamente. Quando a porca sair, definitivamente, da gaiola,
dever-se-á pôr os leitões num local aquecido. Este pode ser um canto
separado do compartimento, onde os leitões podem ser acostumados a
rações especiais para leitões e ser mantidos em segurança até serem
desmamados.
Alojamento 35
Nos sistemas de suinicultura intensiva não se permite, geralmente, ao
gado suíno que vá para fora, embora haja situações em que se permite
aos animais reprodutores, particularmente às porcas prenhes, circula-
rem livremente em busca de alimentação. Se os animais forem para
fora, é muito importante seguir-se um programa rigoroso de desparasi-
tação e, se for possível, é recomendável usar mais dum terreno fecha-
do de forma a poder aplicar um esquema de rotação.
Alojamento 37
4 Reprodução do gado suíno
As porcas jovens que entram em cio, pela primeira vez, não devem ser
cobertas imediatamente. Ainda são demasiadamente jovens e os seus
corpos ainda não são suficientemente robustos para a gestação e o par-
to duma ninhada de boa qualidade. As porcas jovens em bom estado
de saúde podem ser cobertas pela primeira vez depois de terem entra-
do, regularmente, em cio pelo menos duas vezes e quando tiverem
atingido um peso razoável (manter um registo de dados, ver o Capítu-
lo 7). Se for possível, aconselha-se empregar um varrasco novo não
muito pesado, visto que as porcas jovens são demasiadamente peque-
nas para um varrasco pesado.
Alimentação
Durante as semanas antes de se realizar o acasalamento, as porcas
jovens e adultas devem ser bem alimentadas (se for possível com
rações ricas em proteínas, e/ou em quantidades maiores), visto que
devem estar robustas e em boa saúde para o acasalamento. Uma ali-
mentação adequada também dará origem a uma maior disponibilidade
de ovos prontos para serem fertilizados.
Selecção do varrasco
A selecção do varrasco é ainda mais importante do que a escolha das
porcas reprodutoras. Durante a escolha do varrasco reprodutor deve-se
ter em conta os mesmos factores que para a escolha das porcas. Isto
inclui a presença de, no mínimo, 12 mamilos bem desenvolvidos.
Também é muito importante seleccionar um varrasco que é filho duma
porca grande, saudável e bem produtiva e seleccionar somente os
maiores machos da ninhada. Deve-se evitar a escolha dum varrasco
demasiadamente consanguíneo (o termo consanguíneo refere-se ao
parentesco entre o varrasco e a porca, sendo, por exemplo, irmãos) do
rebanho existente, visto que o cruzamento consanguíneo levará a uma
fertilidade reduzida, um crescimento deficiente e a níveis mais baixos
de resistência.
Idade do Frequência de
varrasco cobrições
8 - 10 Uma vez por Nesta fase dever-se-á verificar se o varrasco cobre adequa-
meses semana damente e que as porcas por ele cobertas ficam, com efeito,
prenhes
10 - 15 3 vezes por Pode-se aumentar , gradualmente, a frequência das cobri-
meses semana no ções até o varrasco cobrir 3 vezes por semana.
máximo
15 meses 4 - 5 vezes por Os varrascos precisam de ter períodos de descanso. Portan-
ou mais semana to, não deve haver mais de 20 cobrições por mês. Pode-se
permitir aos varrascos maiores acasalar , de vez em quando,
duas vezes por dia, mas nunca mais de 6 vezes por sema-
na, com um máximo de 20 vezes por mês.
Cuidado do varrasco
Os varrascos não devem ficar nem demasiadamente magros nem
demasiadamente gordos. Necessitam de muito movimento. Em condi-
ções climáticas de muito calor ou quando sofrem de febre, os varras-
cos podem continuar a ser inférteis durante um período prolongado.
Um varrasco doente deve descansar durante 1 a 2 meses e outro var-
rasco deve desempenhar as cobrições durante este período. Os varras-
cos devem ser alojados em compartimentos individuais, separados das
porcas. Se forem alojados conjuntamente com as porcas será impossí-
vel detectar-se se certas porcas foram cobertas e se ficaram prenhes.
No dia do parto não se deve fornecer à porca a sua ração normal mas
apenas uma ração muito reduzida (aproximadamente 0,5 kg por dia).
Se a porca estiver com prisão de ventre (obstipação), deve-se fornecer
rações laxativas (p.ex. forragem verde).
Se não houver nenhum aquecedor, cada leitão deve ser esfregado, cui-
dadosamente, com um pano até ficar seco e colocado no úbere. A sua
acção de mamar estimulará a porca para parir e libertar o leite. É
importante que os leitões beneficiem, imediatamente, do valioso
colostro que os protegerá contra doenças nas semanas seguintes (ver a
Secção 4.5).
Anemia
Os leitões novos que são mantidos em chãos de cimento podem
desenvolver, rapidamente, anemia grave (escassez de ferro no sangue),
visto que o leite da porca-mãe não contém suficiente ferro para satis-
fazer as necessidades dos leitões. Depois de, aproximadamente, uma
semana, tornam-se pálidos e o seu ritmo de crescimento diminui. Pos-
sivelmente ficam com um pescoço gordo.
A anemia pode ser prevenida deitando, cada dia, uma pá de terra ‘lim-
pa’ (ou composto), rica em ferro num canto do compartimento. Terra
limpa é solo que não esteve em contacto com outros suínos, de modo
que não há o risco de contaminação de parasitas. Os leitões podem
remexer nela e absorver uma parte do ferro presente na terra. A maio-
ria dos solos vermelhos, castanhos e amarelos nas regiões tropicais
contêm ferro adequado. Nas explorações de suinicultura intensiva ou
semi-intensiva injecta-se nos leitões uma preparação de ferro, a 1–3
dias após o nascimento. Também se pode depositar cinza de madeira
no compartimento. Embora esta não forneça ferro, contém outros
minerais importantes (ver a Secção 6.7).
Uma porca nem sempre aceitará a presença de pessoas quando ela está
a parir. Deve-se manter distância e estar pronto para intervir apenas se
realmente parecer necessário.
Parto lento
Se parecer que o parto já começou mas o primeiro leitão ainda não
surgir, pode ser necessário tirá-lo para fora à mão. Portanto, é de
importância primordial que se mantenha uma higiene rigorosa: deve-
se limpar e desinfectar, meticulosamente, a parte traseira da porca, e
também a mão e braço do operador. Lubrificar a mão e o braço do
operador e a vagina da porca com óleo vegetal (evitar o uso de sabão)
e introduzir, lentamente, a mão na vagina, com um movimente leve-
mente rotativo. Desta maneira, podem-se provocar as contracções da
porca, fazendo com que ela empurre o leitão para fora. Se tal não
suceder, pode-se tirar os leitões para fora introduzindo o dedo médio
na boca do leitão e fechando a sua boca com outros dois dedos.
Metrite
É reconhecível pela secreção branca-amarelenta malcheirosa da vagi-
na (contudo, a aparência duma quantidade reduzida de muco averme-
lhado é normal durante alguns dias depois do parto, nem sempre sendo
muito significativo). A qualquer sinal de se exsudar um líquido mal-
cheiroso, sanguinolento, devem-se fazer controlos para verificar se
ainda há leitões no interior. Caso assim seja, devem ser tirados como
foi descrito na entrada anterior sobre o ‘Parto lento’. Deve-se medir a
temperatura da porca. Se for acima de 39,5 °C e a porca não comer
bem, deve ser tratada com oxitocina e antibióticos (ver, a seguir, a
entrada sobre mastite). Se a porca não entrar em cio de novo, dentro
de, aproximadamente, 4 semanas após o desmame, deve ser abatida.
Prisão de ventre/obstipação
É normal que as porcas comam menos ou parem completamente de
comer pouco antes de começarem a parir. Contudo, isto pode provocar
prisão de ventre, e uma porca com prisão de ventre comerá ainda
menos e descuidará os seus leitões recém-nascidos. A prisão de ventre
pode ser aliviada com rações laxativas (legumes de folhas, frutos e
rações ricas em fibras, p.ex. o farelo de trigo). Também se pode mistu-
rar as rações com óleo ou banha de porco. Se a obstipação parecer
persistente, poder-se-á administrar óleo de rícino ou sais Epsom. Os
sais devem ser dissolvidos numa pequena quantidade de água. De
forma a prevenir a prisão de ventre antes do parto, deve-se misturar,
diariamente, uma ou duas colheres de sais Epsom com as rações e for-
necer rações adicionais de legumes de folhas. Os leitões esfomeados
devem ser mantidos quentes (com o uso duma lâmpada, caixa ou
cama) e serem abastecidos com rações adicionais de leite de cabra ou
de vaca, ou papas de farinha de feijão adoçadas. Em casos extremos,
os leitões devem ser levados para uma outra porca ou ser criados à
mão.
O programa de alimentação
No Quadro 3 apresenta-se o número de alimentações que se deve for-
necer, diariamente, durante as primeiras duas semanas, e também a
quantidade de leite que se deve fornecer. Depois de 14 dias, deve-se
aumentar a quantidade de leite a cada alimentação, mas também
começar a diminuir o número de alimentações por dia. Mudar, gra-
dualmente, para rações mais sólidas, de modo a que os leitões sejam
capazes a consumirem rações normais 3–4 semanas depois do seu
nascimento. Se houver rações comerciais de boa qualidade para lei-
tões, estes podem sobreviver com rações sólidas a partir de 2 semanas
após o nascimento. Se não houver rações nutritivas, deverão continuar
a consumir leite durante mais tempo. Os leitões mais fracos podem ser
alimentados quatro vezes por dia, durante um período mais prolonga-
do.
Castração
Os leitões machos são castrados para prevenir que a sua carne fique
estragada devido a mau cheiro. Este odor a varrasco manifesta-se em,
aproximadamente, 2% dos porcos machos abatidos. Contudo, a per-
centagem varia consoante o clima e o ritmo de crescimento dos suí-
nos. Nas regiões tropicais o odor a varrasco pode afectar até 5% dos
machos, e esta cifra pode ser ainda mais elevada quando os suínos
crescem muito lentamente. O peso final também é um factor: quanto
mais cedo os porcos forem abatidos, tanto mais baixa será a percenta-
gem de odor a varrasco.
O cordão é cortado com uso duma lâmina especial (ou uma faca muito
afiada) que foi limpa, meticulosamente, com um desinfectante. Deve-
se lavar a ferida também, meticulosamente, com um desinfectante.
Leptospirose
Esta doença é caracterizada pelo aborto repentino de várias porcas,
geralmente no final do período de gestação. Os leitões têm, geralmen-
te, tamanhos diferentes. Às vezes, nascem leitões muito fracos no
momento previsto. Depois do aborto, as porcas não manifestam
nenhuma perda de fertilidade e a doença desaparece dentro de alguns
meses. Durante uma epidemia de leptospirose, pode-se prevenir a
5.1 Introdução
Os porcos, tal com as pessoas, podem comer de tudo, quer dizer,
podem digerir tanto rações de origem animal como de origem vegetal.
Embora aceitem a maioria dos alimentos disponíveis, isso não quer
dizer que a qualidade do alimento não seja importante. Os suínos não
se desenvolvem bem com uma base de alimentação apenas fibrosa e
de pastagem. Para o gado suíno ficar em bom estado de saúde e pro-
duzir bem é necessário que receba suficientes rações de boa qualidade.
Usando uma manjedoura adequada, as rações manter-se-ão mais lim-
pas e evitar-se-á o seu derramamento.
Nutrição 63
Em regiões com escassos recursos, deve-se considerar cuidadosamen-
te o uso de cereais de qualidade elevada como rações do gado suíno.
Em geral, os porcos terão de satisfazer-se com alimentos que não são
directamente úteis como alimento para as pessoas, e com produtos
residuais, tais como: subprodutos agro-industriais (farelo, melaço,
etc.), lixo da cozinha, e resíduos de jardins/hortas e agrícolas. Contu-
do, o desempenho do gado suíno depende da qualidade das rações dis-
poníveis.
Energia
Um suíno necessita de receber energia das rações para poder desem-
penhar todas as funções e processos corporais:
? Precisa de manter o corpo quente (particularmente importante nas
regiões de clima frio). O total de movimento e das funções corpo-
rais levam ao total das necessidades de energia para a manutenção.
Proteínas
As proteínas são necessárias para o desenvolvimento físico: o cresci-
mento, a reprodução e a produção de leite. As proteínas constituem os
nutrientes mais importantes para o corpo, visto que todos os órgãos,
músculos e enzimas são feitos de proteínas. Para as rações do gado, a
qualidade das proteínas é tão importante como a sua quantidade. As
proteínas estão compostas por partes constituintes específicas, deno-
minadas aminoácidos. É importante que o gado suíno receba os tipos
apropriados de aminoácidos, visto que os emprega para formar as suas
próprias proteínas (proteínas musculares, proteínas lácteas etc.).
Nutrição 65
Minerais e vitaminas
Estes desempenham um papel importante no corpo animal. O cálcio e
o fósforo são minerais muito importantes para a construção de ossos
fortes, mas há outros elementos, como sejam o ferro, o cobre e o zin-
co, que são necessários em quantidades reduzidas. As vitaminas e os
minerais são essenciais para todos os processos corporais e uma pro-
dução óptima (resistência às doenças, uso de energia, crescimento,
reprodução, lactação).
Quando o gado suíno tem que procurar, ele mesmo, o alimento, con-
some as partes suculentas dos alimentos grosseiros, mas também pre-
cisa de encontrar raízes ou tubérculos e, remexendo o solo, encontra
vermes e insectos, dos quais extrai os nutrientes necessários para
sobreviver e se reproduzir. Contudo, a sua produtividade dependerá
fortemente dos alimentos que consiga obter.
Nutrição 67
Quadro 4: Concentrações recomendadas de nutrientes nas rações
do gado suíno (baseadas em rações ‘secas’: com um teor de
humidade de, aproximadamente, 12 %)
Nutrição 69
Alguns dias antes de a porca parir (deve-se registar a data de acasala-
mento!), reduzem-se, gradualmente, as rações da porca e, no dia mes-
mo do parto, deve-se fornecer-lhe apenas 1–1,5 kg.
Nutrição 71
Alimentação dos leitões a partir de 2 semanas depois do
desmame
Aproximadamente 6–8 semanas depois do seu nascimento, os leitões
ainda estão muito sensíveis e necessitam de receber rações que contêm
proteínas animais e amido digerível, do milho ou da mandioca. Como
já não são alimentados com o leite da porca-mãe, beneficiarão de uma
dose adicional de vitaminas e minerais (comparável com crianças
desmamadas). Muitas das vezes, os produtores continuam a fornecer o
mesmo tipo de rações para leitões até estes atingirem um peso corpo-
ral de 15 – 20 kg. Deve-se ter em conta a qualidade das rações dispo-
níveis para leitões ao decidir sobre o momento do desmame. Se não se
puder obter rações de alta qualidade (dispendiosas) para os leitões, o
momento do desmame deverá ser adiado até a 6–8 semanas depois do
nascimento dos mesmos. Contudo, recomendamos fornecer-lhes
rações suplementares a partir de, aproximadamente, 2 semanas depois
do seu nascimento.
Nutrição 73
total de alimentos (kg) comidos pelo(s) suíno (s)
Em fórmula: FCR =
aumento total do peso corporal em kg
210
FCR = =3
70
Nutrição 75
As ervilhas, feijões, lentilhas, feijão-frade/feijão-nhemba e ervilhacas
contêm um teor de proteínas de, aproximadamente, 20%; orbs e grão-
de-bico: aproximadamente, de 16%; tremoço doce (deve ser cozido) e
feijões de soja: aproximadamente de 30%; os amendoins descascados
têm um teor de proteínas de 24%.
O teor de proteínas dos cereais e dos resíduos dos cereais não supera
os 10%. As culturas de raízes e tubérculos têm, geralmente, um teor
muito baixo de proteínas e, portanto, devem ser suplementadas com
alimentos ricos em proteínas (p.ex. soja, farinha animal ou de peixe,
ou produtos lácteos).
Formulação da ração
Para a preparação duma ração normal com um teor de proteínas de 15%,
deve-se misturar 1 parte de feijões (teor de proteínas de 20– 30%) com 2 par-
tes de cereais (teor de proteínas de 10%).
Nutrição 77
antes de serem fornecidos ao gado. Desta forma, previne-se a trans-
missão de doenças como sejam a peste suína (africana e clássica) e o
parasita Cysticercus.
A cozedura das rações dos porcos tem ainda mais vantagens: para os
porcos particularmente os legumes são difíceis de digerir, se não tive-
rem sido cozidos. As proteínas presentes nos legumes, geralmente
atingindo um teor de, aproximadamente, 20%, não são bem digeríveis
sem estarem cozidas. A cozedura faz com que os porcos possam dige-
rir estas proteínas com mais facilidade.
É uma boa prática reservar uma panela para cozer uma mistura de
resíduos da cozinha e de legumes. Os suínos desfrutarão de uma dieta
mais saborosa, isenta de doenças e mais digerível e tal será evidencia-
do pelo ritmo mais elevado do seu crescimento!
Não há vacinas contra todas as doenças. Por exemplo, ainda não existe
uma vacina contra a Peste Suína Africana (PSA). Esta doença afecta
tanto as raças locais como as comerciais de forma igual. Em efeito, os
porcos criados ao ar livre fazem com que a doença se propague mais
rapidamente, visto que se deambulam em maior medida do que os suí-
nos mantidos num espaço confinado.
Vírus
Organismos extremamente minúsculos, nem sequer visíveis com um
microscópio! As doenças virais são difíceis de tratar, nem existem
muitos medicamentos. Às vezes, os antibióticos são eficazes contra as
infecções secundárias (bacterianas) e algumas doenças virais podem
ser prevenidas com vacinas.
Parasitas
Animais minúsculos acima ou dentro do suíno: vários tipos de vermes,
carraças, piolhos, pulgas, etc. A higiene é importante para a sua pre-
venção. O tratamento varia consoante o tipo de parasita.
Resistência a medicamentos
Todos os organismos patogénicos podem desenvolver uma resistência
contra medicamentos. Tornar-se-ão resistentes se os medicamentos
forem administrados em doses não apropriadas, ou com uma frequên-
cia demasiadamente elevada ou sem respeitar as ocasiões apropriadas
para tratamento.
Antibióticos
Os antibióticos são medicamentos muito úteis mas devem ser usados
correctamente.
Vermes pulmonares
Deve-se tomar as precauções higiénicas gerais para controlar este pro-
blema. Os animais infectados têm uma tosse típica quando são força-
dos a se moverem e o seu crescimento é deficiente. Para o tratamento
administram-se injecções de Riperol (ou de Levamisole) mas, em mui-
tos lugares, estes produtos são provavelmente difíceis de obter.
Sarna
A sarna é uma irritação cutânea (irritação da pele) provocada por áca-
ros minúsculos externos. Causam uma grave comichão e irritação,
afectando principalmente a pele entre as pernas, ao redor dos olhos,
orelhas e pescoço. O tratamento implica a remoção das crostas e da
sujidade com sabão e água e uma escova dura. Depois deve-se lavar o
porco com sulfureto de cálcio (CaS). Repetir este tratamento várias
vezes.
Pulgas da areia
As pulgas da areia (pulgas do porco ou bichos-do-pé) vivem em plan-
tas e capim seco e daí trasladam-se para os leitões em particular. As
fêmeas cavam na pele do hospedeiro para pôr ovos (geralmente entre
os dedos e ao redor do queixo). Os bichos devem ser removidos dos
seus locais de reprodução na pele sem arrebentar as bolhas, que estão
cheias de ovos. O melhor remédio é limpar os locais de reprodução e
aplicar desinfectante.
Disenteria (Doyle)
Pode-se obter resultados variáveis com algum dos seguintes medica-
mentos: tilosina, espiramicina, arsénio orgânico e preparações de
dimetridazol.
Salmonelose
Pode-se administrar neomicina durante 3 dias (diariamente 20 mg/kg
do peso corporal).
Bactérias E. coli
Administram-se antibióticos, muitas das vezes a colistina.
Tétano
As bactérias do tétano podem desenvolver-se se se contrair uma ferida
profunda, fechada, de metal enferrujado (pisando p.ex. num prego
enferrujado). Os animais infectados acabam por morrer devido a cãi-
bras graves. Não existe nenhum tratamento.
Mastite
A mastite afecta o tecido do úbere, podendo dar origem a uma danifi-
cação permanente, de modo que, nesse caso, as porcas reprodutoras já
não podem ser usadas. A infecção pode ser evitada, até a certo ponto,
através duma higiene adequada. Se se detectar um caso de mastite,
deve-se injectar, o mais rapidamente possível, antibióticos e oxitocina
na porca afectada. Ver a Secção 4.4 para mais informação.
Brucelose
A brucelose provoca abortos em fêmeas e infecção dos órgãos repro-
dutores em machos. Pode provocar esterilidade. Embora se possa, por
vezes, efectuar um tratamento com antibióticos nas fêmeas, é reco-
mendável eliminar os animais infectados. Os varrascos devem ser con-
trolados meticulosamente, visto que podem transmitir os germes sem
ficar doentes eles mesmos. Ver a Secção 4.7 para mais informação.
Tripanossomíase
Esta doença é transmitida pelas moscas tsé-tsé. Os animais infectados
ficam febris, sem apetite e respiram muito rapidamente. A prevenção é
apenas factível erradicando a mosca de toda a região. Portanto, a cria-
ção de porcos é quase impossível em regiões infestadas pelas moscas
tsé-tsé. Para proteger os suínos pode-se administrar medicamentos de
prolongada actividade.
Pneumonia
A pneumonia pode ser provocada por bactérias, vírus (em geral,
simultaneamente por ambos os tipos de organismos) ou por parasitas
(vermes pulmonares e vermes intestinais que se deslocaram para os
pulmões). O problema piora ao manter-se demasiados suínos num
espaço reduzido, caso haja uma temperatura baixa, correntes de ar, um
nível deficiente da humidade do ar e um ambiente poeirento. A doença
é mais comum durante a estação das chuvas e, nessa altura, os suínos
devem ser mantidos em condições secas e isentas de correntes de ar.
Os animais doentes começam a tossir, particularmente depois de
esforços e ao serem instigados, e respiram com convulsões. Mostram
um crescimento retardado. Caso a doença seja causada por vírus e
bactérias, é tratada com antibióticos (estreptomicina-penicilina, tetra-
ciclina). Caso seja provocada por vermes pulmonares, a doença é tra-
tada com Ripercol R ou ivermectina.
Prisão de ventre
Às porcas com prisão de ventre deve dar-se-lhes, diariamente, uma
dose de 60 g de óleo de linhaça nas suas rações. Se isto não for eficaz,
deve-se administrar 60 g de sais Epsom e obrigar a porca a mover-se.
Feridas ou lesões
Causa: devido ao alojamento ou lutas. Prevenção: melhorar o aloja-
mento, manter os suínos separados. Tratamento: injecções com anti-
bióticos durante 3–5 dias, desinfectar a ferida e aplicar pomada.
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Entalhamento
O entalhamento implica cortar pequenos pedaços de pele dos rebordos
das orelhas. Pode-se individualizar a marcação para identificação,
variando o padrão dos entalhes. Isto é um método muito barato que
apenas requer uma faca muito afiada. Fica ainda mais fácil se houver
um tenaz para entalhamento. Manter o equipamento limpo! As des-
vantagens deste método são que custa tempo ‘ler’ os padrões (códigos)
e que poderá haver problemas se as orelhas forem danificadas.
Exemplo
Um suíno de 70 kg rende, aproximadamente, 60.
70 kg de peso vivo equivalem, aproximadamente, a 50 kg de peso de
carne limpa (pode variar consoante o país).
Portanto, 1 kg de carne limpa rende 60:50 = 1,20
Suponhamos que 1 kg de alimentos mistos = 0,15
Então, a razão é de 1,2:0,15 = 8,0
Com base nas cifras médias das regiões tropicais, com rações bem
balanceadas e porcas ligeiramente melhoradas, supomos o seguinte:
Nascidos vivos/ninhada = 9,5
Desmamados 7,5 × 1,6 (ninhadas/ano) = 12 leitões produzidos por
porca por ano. Um leitão consome, aproximadamente, 26 kg de rações
para leitões para atingir um peso de 20 kg.
? Despesas:
Rações para porcas: 900 × 0,15 = 135,00
Rações para leitões: 12 × 26 × 0,20 = 62,40
Custo do varrasco 105,0: 2 (porcas) = 52,50
Outras despesas (medicamentos, vacinas, alojamento) = 15,00
Total de despesas = 264,90:12 = aproximadamente 22/leitão.
Perez, R., Feeding pigs in the tropics. 1997, 185 pp., FAO, Roma.
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Scheepens, Kees, and Jan Hulsen, Pig signals – Look, think and act.
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Yourself, ISBN: 978-0340927434.
Zodiac
Departamento de Ciências Animais/Animal science department, WUR
O Zodiac é o centro de investigação do departamento de Ciências
Animais da Wageningen University and Research Centre (WUR). As
actividades principais deste departamento são a formação científica e
investigação no âmbito das ciências animais. O departamento
visa contribuir para uma produção pecuária, aquacultura e pesca sus-
tentáveis. Endereço: Marijkeweg 40, 6700 PG, Wageningen, Países
Baixos. T: +31 317 483952; F: +31 317 483962
E: [email protected]; W: www.zod.wau.nl
Websites no Internet:
http://pigtrop.cirad.fr/
Website do PigTrop apresentado pelo CIRAD: Centro de Cooperação
Internacional em Investigação Agronómica para o Desenvolvimento
(França). Compreende rubricas sobre Saúde Animal, Nutrição Animal,
Genética, Meio Ambiente, Sócio-economia, Qualidade e Segurança
alimentar, Zootecnia. Tanto em inglês como em francês
www.nda.agric.za/publications
Info Paks: República da África do Sul, Departamento de Agricultura.
Glossário 113
Misturas completas Rações compradas que são suficientemente
equilibradas para ser dadas de comer sem
outros alimentos (à excepção de água).
Muco Fluido aguado na vulva quando a porca está
em cio.
Nado-morto Nascido sem vida, morto ao nascer.
Parasitas Organismos que vivem à custa do seu hospe-
deiro, outro animal como seja um porco. Os
parasitas vivem dentro do corpo do hospedeiro
(p.ex. vermes) ou na sua pele (p.ex. piolhos e
pulgas). Muitas das vezes causam uma doença.
Patogénico Organismo que causa doenças
Placenta A massa de tecido dentro do útero através da
qual o animal nascituro é alimentado e que é
expelida depois do nascimento (também
conhecida como as secundinas).
Porca nova Uma porca jovem que ainda não pariu leitões.
Porcos de engorda Porcos destinados à produção de carne, em vez
de reprodução.
Pré-misturas (para completar) Alimentos concentrados comprados
para ser acrescentados às rações locais de for-
ma a aumentar a qualidade dos alimentos.
Ruminantes Animais (como sejam vacas, cabras e ovelhas)
com um estômago complexo, que lhes facilita
digerir capins e outros alimentos vegetais.
Útero Órgão na fêmea no qual se desenvolve o ani-
mal nascituro.
Varrasco Porco macho não castrado.
Vírus Organismos microscópicos patogénicos, mais
pequenos do que as bactérias.